Olá guardiões e guardiãs.
Todas as mensagens parasitas, postadas antes do autor, serão eliminadas e o usuário poderá ser punido.
Um abraço, e boa leitura!
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.。.:*♡ Agradecimentos ♡*:.。.
Agradeço à JinxCute por me abrir esse tópico,
À Especttra_ por me incentivar,
E a cada guardiã(ão) que ler esta minha historia.
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.。.:*♡ Personagens ♡*:.。.
Eldarya
Miiko
Ezarel
Nevra
Valkyon
Erika
Leiftan
Lance
Outros...
Originais
Cris
Absol
Anya
Oráculos Branca e Negra
Outros...
.。.:*♡ Sinopse ♡*:.。.
Todo fã de fantasia já teve ter sonhado ao menos uma vez viajar para um mundo mágico. Viver aventuras, descobrir poderes e realizar atos que fariam grande diferença naquele mundo... Mas, e quando isso acontece? Que tipos de sorrisos e lágrimas seriam vivenciados? A vida é um verdadeiro “mar de rosas”, porém nunca devemos esquecer que toda rosa possui espinhos.
♡
.。.:*♡ Prólogo ♡*:.。.
Ok. Era para eu estar aproveitando as minhas férias que a empresa onde eu trabalho junto da namorada de meu irmão mais novo forneceu-nos, mas nããããão! Se não fosse pelos “tratores” que dormiam no mesmo quarto que eu, não teria feito o que fiz, e nem terminado como terminei.
Nossas férias se resumem a uma viagem a um hotel em meio às florestas amazônicas. O lugar era lindo! Tirando é claro, os mãos-leves dos macacos da região. (Eles tentaram me roubar duas vezes e desde então carrego minha mochila com todas as minhas coisas pra onde for. Quando não estava à frente do meu corpo, estava em meu colo, alguns dos meus companheiros quiseram tirar sarro de mim por isso até um dos funcionários falar que eu estava sendo a mais esperta de todos, e de alguns darem falta de parte de seus pertences. Pelo menos tudo o que eu trouxe voltaria comigo.) Por conta de uma senhora tempestade com tudo que se tem direito, raios, trovões e uma tremenda queda d’água, nossa trilha de ontem foi cancelada, ou melhor, adiada.
Os responsáveis pelo lugar são indígenas e segundo o cabeça deles, aquela tempestade era um mau presságio. Sério. A tempestade foi mesmo assustadora, tanto que até os macacos da região se esconderam dentro do hotel em busca de abrigo. Uma fêmea com seu filhote nas costas chegou a dormir sobre mim com o pequeno (acho que era porque de todos os que estavam ali, eu era a mais tranquila e muito provavelmente aquela mãe pensou que estar junto de mim seria a coisa mais segura a se fazer). Enfim, como esta noite é uma noite de “super-lua de sangue” (quando a lua está bem pertinho da Terra e ainda por cima com um eclipse lunar) o chefe proibiu todos de estarem fora de seus quartos durante a noite, pois ainda pressentia um “mau agouro”.
O problema, é que meu desejo de poder finalmente dormir era muito maior que o meu bom senso. Levantei-me de minha cama carregando o mosqueteiro e as cobertas que usava, além de minha mochila é claro. Todos foram pra cama cedo, incluindo os funcionários! Saí de fininho até o lado de fora, onde havia uma imensa arvore fácil de escalar até pra mim, que sou deficiente física. Ela havia sido atingida pela tempestade de ontem de forma que sua copa foi transformada numa espécie de “berço”. Os galhos do centro da copa foram atingidos pelos raios como se eles estivessem “esculpindo” aquele espaço, e como quem olhava de baixo não conseguia ver direito se havia ou não alguém naquele “berço”, era o lugar perfeito para escapar daqueles roncos infernais.
Usei as cobertas para forrar o local e como a noite estava extremamente quente (mesmo depois do céu se desfazer em agua durante quase 24hs e uma brisa suave soprando por entre as folhas) aproveitei que ninguém podia me ver mesmo e usei minha camisola como travesseiro. Ajeitei o mosqueteiro que trouxe comigo para me proteger dos insetos e quando finalmente estava “instalada” na arvore, abraçando minha mochila, passei a ficar observando a lua pra dormir.
A lua estava realmente linda, imensa, brilhante e perto do ápice do eclipse. A lua estava com um belo vermelho, sem perceber acabei cantarolando pra ela, aquele cantarolar sem sentido que eu nunca conseguia repetir. E bem aos poucos adormeci.
O problema, foi o despertar.
Última modificação feita por Tsuki-Hime (04-12-2020, às 13h28)
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.。.:*♡ Cap.1 ♡*:.。.
Erika, Leiftan e os líderes das guardas estavam reunidos no salão conversando, já era tarde e eles estavam prestes a se recolherem quando do nada, Erika e Leiftan começaram a se sentirem mal. Erika que foi socorrida pelo namorado, Valkyon, o líder da Obsidiana, sentia-se tonta, enquanto Leiftan, que foi socorrido pelo Ezarel, líder da Absinto, sentiu uma terrível ânsia e Nevra, da Sombra, correu em busca de ajuda para os dois.
Os dois pareciam piorar a cada segundo e os líderes presentes não tinham ideia de como ajudá-los, até que tanto Erika quanto Leiftan visualizaram uma silhueta feminina em suas mentes voltando ao normal logo após a revelação que, no mesmo instante que foi revelada aos aengels, fez com que Valkyon e um certo prisioneiro do QG começassem a notar uma estranha presença. Valkyon não conseguia perceber direito de onde aquela presença vinha, já o prisioneiro sabia que ela estava na floresta..。.:*♡ Cap.50 ♡*:.。.
Cris
Seguimos para o meu quarto, Anya, Erika e eu. Por conta do meu cansaço pelo esforço feito, acabamos demorando um pouquinho mais para chegarmos lá. Entreguei minha chave à Anya para que ela “abrisse caminho” para nós, quando alcançamos o último andar.
Lance estava envolto pela “névoa” dele atrás do biombo quando Erika e eu entramos, sentei-me em uma das cadeiras e Erika pediu para que Anya buscasse alguma coisa na enfermaria. Nesse meio tempo, ela me explicou tudo o que eu precisava fazer para evitar que cenas como a que ocorreu na Sala do Cristal se repetisse. Ela me contou que eu precisava pingar algumas gotas de uma das poções que Anya me ensinara a preparar para defender-se de criaturas sombrias na esponja cíclica, além de alguns outros truques (anotei em meu not para não esquecer).
Anya retornou acompanhada da Ewelein que me trouxe algumas vitaminas e pediu ajuda da Erika para cuidar dos que eu havia purificado, com as duas saindo quase que imediatamente e me lembrando para permanecer no quarto hoje.
– O que foi que aconteceu dessa vez? – Lance perguntou saindo do esconderijo assim que tranquei a porta.
– O homem que veio me chamar era vampiro, acho que com isso você já pode imaginar o resto já que ele estava na Sala do Cristal e você pôde ouvir minha conversa com a Erika. – respondi.
– O que foi que a Erika conversou com você Cris?
– Apenas o que eu precisava saber Anya.
– Me contem exatamente o que aconteceu. – ele nos exigia.
– Por quê? – qual o problema com ele? – Terei sempre que relatar tudo que me acontece pra você?
– Apenas não quero ter surpresas incomodas como a visita de meu irmão.
– Como foi que fez para ele não te descobrir naquela noite? – perguntava Anya.
– Alguém parece estar me ajudando, porque e pra quê ainda não sei. Vão me disser o que aconteceu agora? – eu não sei se agradecia ou desconfiava da preocupação dele para comigo, mas acabei por contar o acontecido (e ele me pareceu bem irritado com a historia) – Eu teria o matado se fosse eu no lugar de Nevra!
– Não teria resolvido nada fazer isso. – respondi meio que o repreendendo.
– Seria um vampiro a menos em cima de você. – foi a resposta dele ao sentar na poltrona de braços cruzados. Respirei fundo.
Como eu já estava “presa” no quarto mesmo, resolvi continuar o meu livro com Anya me ajudando. Como acabei sem tinta, Anya foi ao mercado comprar mais para mim. Enquanto ela saía, vimos Shiro no corredor com uma cadeira em suas mãos, foi aí que ficamos sabendo que Shiro tinha sido escolhido por Valkyon para vigiar-me o quarto junto de Réalta (acho que por causa de nossa amizade... sempre tive mais facilidade em ficar amiga de homens do que de mulheres, talvez por só ter um homem como irmão caçula) que fariam turnos entre si, começando pelo Shiro.
– E como é que serão esses turnos de vocês? – perguntei a Shiro sentado na cadeira a mais ou menos cinco passos de distância da minha porta, com eu recostada à patente da porta meio aberta com Lance ouvindo a conversa.
– Bem, até o almoço serei eu a lhe fazer guarda, e lá pras seis da tarde eu reassumo sua vigília até o meio da noite.
– Então seus turnos serão de aproximadamente 6hs cada um. – eu observava Lance no fundo de meu quarto.
– Foi o que Réalta e eu combinamos junto de nosso chefe. – ele me sorria.
– O que foi que aconteceu com o tal do Viktwa?
– Foi deixado em uma cela até esfriar os ânimos, Ezarel está encrencado com a Miiko. – acabei rindo e vi que Lance achou pouco o que foi feito – Eu teria dado um soco nele se estive no lugar do Valkyon.
– E porque isso? – Lance erguia uma sobrancelha pelo aguardo da resposta.
– Você é uma das nossas, ninguém da nossa guarda iria admitir que um colega fosse machucado por um cara qualquer. – ele me desviava o olhar ao dar a resposta (não creio que seja só isso...).
– Por isso que eu fui cercada por vocês quando Ezarel tentou usar uma poção de invisibilidade pra cima de mim?
– Sim, foi... A menina da Sombra não está demorando? – estava na cara que ele parecia nervoso.
– Anya deve estar com dificuldades ou então algo a está distraindo. – vi Twylda se aproximando com três embrulhos nas mãos.
– Olá para vocês.
– Olá! – respondemos nós dois.
– Karuto me pediu para trazer os almoços de vocês. – dizia ela entregando o de Shiro – O de Shiro, o seu e o de Anya. Ela está aí dentro?
– Não. – respondia – Ela foi ao mercado pra mim, mas pode me entregar o dela. A farei comer assim que chegar.
– Agradeço muito. – respondeu ela me entregando os dois embrulhos.
– Alguém já lhe convidou para lhe ser par durante o baile Twylda? – Shiro perguntava.
– Oh sim, Karuto me convidou e eu aceitei. Prefiro um grande amigo como ele para ser meu par a outras pessoas. – ela sorria com timidez (só amigos é?...) – Mas e você Shiro, já convidou alguém?
– Não, ainda não... – ele corava e Lance me pareceu inquieto.
– E quem planeja convidar? – perguntei.
– Alguém já chegou a te convidar?
– Não e... mesmo depois de Anya e Absol terem me forçado a comprar roupas para a noite, não tenho muita vontade de participar... – ele pareceu chateado (será que ele planejava me convidar?).
– E porque não Cris! – falava Twylda – Soube por Purriry que você estará linda no dia.
– Bom... eu não sou fã de multidões... – ainda sinto um mau pressentimento, mas guardarei isso pra mim.
– Bobagem moça, sei que vai gostar do baile. Virei buscá-la pessoalmente se eu souber que você está enfurnada aí dentro no dia! – um riso me escapou e Lance revirava os olhos.
– Tá, tudo bem. Eu vou a esse baile... Mas só porque não quero ninguém me arrastando pra ele!
– Já é alguma coisa. – ela sorria – Agora se me dão licença, ainda tenho trabalho a fazer. Por favor, não se esqueçam de devolver as vasilhas à cozinha.
– Pode deixar. – respondeu Shiro e eu entrei no quarto fechando a porta para eu e Lance comermos.Lance
Quando a Anya retornou à frente da Cris que estava acompanhada da Erika (com a Branca ainda dependurada nela), imaginei que tinha acontecido alguma coisa. Ainda mais com todos os conselhos que Erika dava à ela enquanto Anya estava fora. E depois que a Cris e a Anya me explicaram o que tinha acontecido...
“Entendeu porque minha irmãzinha se pendurou na Cris?” – (e porque você não ficou tomando conta dela?) – “Eu tenho que vigiar suas ações e minha irmã as emoções dela. É assim que iremos poder olhar vocês.”
Não pude esconder meu descontentamento pelo ocorrido daquelas duas, (ainda preciso da Cris).
“Porque não admite que você tem ciúmes da Cris hein? Sei que está gostando dela!...” – (não tem nada melhor pra fazer não?) – “Quer que lhe deixe sozinho com a Cris!?” – ela sorria de orelha a orelha (Negra...) – “Hihihihi” – ela sumiu, argh.
A Branca continuava em cima da Cris e só a deixou depois que o tal de Shiro chegou para vigiar o quarto, em turnos com o Réalta (meu irmão não podia ter escolhido outros membros quaisquer para o trabalho?). Não gostei da conversa que eles tiveram, ainda mais depois da chegada da mulher que exigiu que a Cris participasse do baile daqui uma semana.
Sentamos para comer. A Cris só tirou uma parte da comida de Anya para mim porque eu ameacei fazê-lo eu mesmo.
– Não gosto muito desse Shiro. – cochichei enquanto comíamos para que o brownie não nos ouvisse conversar.
– Não sei por quê. Acaso está com ciúme de mim? Por isso toda essa preocupação? – ela questionava em voz baixa (até ela!?).
– Não é ciúme. Só não quero que você abra a boca sem querer e eu perca toda a minha mordomia.
– Não vou falar... não intencionalmente.
– Pois é com isso que me preocupo. – falei seco e ela pareceu chateada.
– De qualquer forma... – eu a encarava de soslaio – Preciso do meu mínimo de liberdade, ou as pessoas poderão desconfiar. Já basta Nevra, que parece que me deixará um pouco mais em paz agora. – (não tenha tanta certeza) dizia ela brincando com o prato.
– Não aceite o convite de ninguém para este baile. – senti que ela me encarava – Assim os riscos serão menores, mesmo que seja arrastada para ele.
– Tá, como quiser... – era claro que ela não havia gostado de minha exigência – Quem escuta melhor, elfos ou vampiros?
Estranhei a pergunta – Vampiros, pois são caçadores natos, por quê?
– Réalta é um elfo esqueceu-se? Ele já deve estar trocando de lugar com o Shiro agora. – quase me esqueci.
– Tem razão. É melhor só conversarmos enquanto for o brownie que estiver de vigia. – ela apenas assentiu e terminou a parte dela da comida.Anya
Ooo dificuldade pra achar um pouco de tinta hoje, só encontrei na terceira das quatro lojas que tinham e ainda precisei negociar como se já tivesse ido à quarta. Também procurei por colchonetes que a Cris me pediu secretamente, mas este eu não achei em loja alguma. Cheguei ao corredor junto do Réalta que se preparava para trocar de turno com Shiro, bati à porta enquanto eles conversavam rápido sobre tudo e entrei antes que eles se dessem conta. (Réalta é amigo de meu pai e por isso sei o quanto a audição dele é boa, só não supera o Becola).
– O que aconteceu? Porque demorou tanto Anya? – a Cris me perguntava.
– Tava difícil achar tinta no mercado hoje. – coloquei a sacola sobre a mesa – E muito menos o seu outro pedido – cochichei.
– Entendo. Twylda trouxe a sua comida... – ela me entregava uma marmita meio aberta – ...e eu já comi a minha. – terminou encarando o Gelinho que estava na poltrona com um livro nas mãos.
– Réalta e Shiro já estão trocando de lugares. – falei me sentando para comer enquanto ela guardava a tinta.
– Obrigada por avisar. – ela ligou o celular dela nas músicas – Vou cumprimentá-lo já, já. E muito obrigada por ter ido ao mercado pra mim.
– Sem problemas. – Vi Absol saindo de dentro de uma sombra – Ele tinha saído também? – a Cris virou para trás, onde eu olhava, e notei que havia vários pergaminhos com Absol que ela os olhou por cima.
– Parece que ele resolveu explorar... E ele me trouxe nove pergaminhos de roupas ao que parece. – ela os guardava no baú.
– Vamos retomar o seu livro quando eu acabar de comer?
– Mas é claro!
Enquanto eu comia, a Cris conversou um pouquinho com o Réalta e logo fechou a porta (pensei que ele ia tentar convidá-la pro baile), e notei que Lance não tinha gostado muito dela conversando com outro (acaso ele está se achando dono dela!?). Ela me contou sobre o que havia conversado com Shiro (Réalta não era o único que a queria como par??) e com Twylda, e com Lance (que parecia mesmo se achar dono dela) enquanto eu estava no mercado e eu lhe repassei como foram minhas buscas pelo que ela me pediu.
Depois que terminei de comer, tratamos do livro dela. Traduzia-lhe mais um pedaço do livro sobre mascotes que trabalhávamos agora e que ela resumia para colocar no guia dela, Lance se mantinha extremamente calado naquela poltrona (acho que é por causa da audição de Réalta).
Cris e eu nem vimos o tempo passar, só nos damos conta da hora quando o Réalta bateu a porta para me fazer ir pra casa.
– Anya, já está tarde e você sabe que sua mãe sempre fica preocupada! – ele dizia do outro lado da porta. A Cris abriu logo depois de Lance se “esconder”.
– O que foi Réalta, virou pai da Anya agora? – a Cris perguntou.
– Não, mas o pai dela e grande amigo meu, pediu-me para cuidar dela e de sua mãe de vez enquanto durante o tempo em que ele estivesse em missão.
– Cuidou muito bem de mim enquanto fugia pra floresta não é mesmo! – provoquei-o.
– Sabe por que foi que seu chefe de apelidou de “verdheleon”? – ele cruzava os braços.
– Ahm... Porque sou rápida e escorregadia como um? – arrisquei e a Cris segurava uma risada.
– Ainda bem que sabe. E você ficou bem pior depois de entrar na sombra “pés-leves”. – não sei se estava me elogiando ou me insultando, mas eu gostei do apelido – Vamos, te acompanharei até em casa.
– Vai pra casa Anya, amanhã nos encontraremos de novo, está bem? – pra Cris estar sendo doce ou ela está cansada ou o Gelinho está doido pra voltar a ficar visível _suspiro_.
– Tá bom! Vamos logo! – saí deixando a Cris e o Gelinho, com Réalta no meu pé e Shiro de vigia outra vez.Cris 2
Anya e eu aproveitamos que eu estava usando o meu not quase o tempo todo para “conversamos” através dele sem que Lance nos percebesse. Eu não podia simplesmente deixá-lo lá se fortalecendo, tinha que encontrar uma maneira de ao menos fazê-lo adiar ao máximo qualquer plano de vingança que ele pudesse estar elaborando.
– porque você não conversa com ele devagar? – Anya escreveu.
– ele pareceu querer tentar me fazer deixá-lo mais “à vontade” no QG hoje cedo. – respondi.
– como assim?
– me pediu para deixá-lo roubar comida ao invés de pegar a nossa.
– você negou, né? Ele não pode deixar este quarto! Não é seguro.
– claro que neguei, porque acha que convenci Ezarel a recolocar as proteções?
– você podia tentar conversar com ele, assim como ele fez. Acha que pode convencê-lo?
– só ele pode convencer ele mesmo a desistir, mas posso tentar lhe sugerir.
– já é alguma coisa.
– vou ver o que posso fazer.
Acabamos aí com a nossa “conversa” antes que levantássemos alguma suspeita e passamos a trabalhar de fato nas traduções para a criação do que seria um “Guia para Recém-chegadas em Eldarya” (_riso_).
Karuto nos enviou um lanche reforçado que ele entregou pessoalmente, levando as vasilhas da marmita do almoço após me elogiar pelo belo quarto (ainda bem que ele estava cheio de serviço!).
Quando ficou tarde, Réalta fez questão de acompanhar Anya até em casa enquanto Anya queria ficar mais. Pude notar o incomodo que a presença de Réalta provocava em Lance (que se manteve o tempo todo naquela poltrona para não fazer ruídos) e por isso convenci Anya a ir com ele logo. Ainda dei um “boa noite!” ao Shiro que reassumia a vigília de meu quarto (em situações normais, acharia isso tudo um pouco demais) antes de trancar a porta em seguida.
Lance foi direto para o banho e eu arrumei as coisas da mesa. Ele saindo, foi minha vez de ficar limpa. Não demorei muito porque estava meio limpa, mas fiquei o tempo todo refletindo como que eu poderia puxar conversa para o assunto com ele. Saindo do banheiro, eu o vi de novo na poltrona só que dessa vez ele parecia tentar concentrar-se em algo, de olhos fechados e sua expressão não me parecia muito boa, percebi que era por causa do pescoço pelo jeito que ele o esticou para um dos lados (talvez...).
Me aproximei com calma para não lhe interromper a concentração. Cheguei por trás, e antes que pudesse encostar, ele agarrou-me pelos pulsos sem sair do lugar.
– O que pensa que vai fazer. – ele me questionou sem nem mesmo abrir os olhos ao que pude notar pelo espelho da penteadeira.
– Devolver o favor. Por ontem à noite. Seu pescoço ainda não lhe incomoda? – a forma com que ele pressionava os meus pulsos estava começando a deixar minhas mãos dormentes.
– O que me garante que não vai tentar fazer é uma outra coisa? – agora ele me observava pelo mesmo espelho, respirei fundo.
– Só pela força com que está me segurando, tenho certeza que não teria capacidade para prejudicar lhe. – isso o fez amenizar a pressão – Mas se não quer ajuda com o pescoço... – ele só me soltou depois de uns dois minutos apoiando minhas mãos nele.
– Da próxima vez, avise antes se não quiser acabar machucada.
– Tudo bem. – respondi já massageando lhe o pescoço e ele voltou a fechar os olhos (e que pescoço duro!) – Você está bem tenso... – tentei começar uma conversa – ...Não é só por causa das noites nessa poltrona, é? – ele estava me ignorando – Posso ao menos saber em quê se concentra tanto?
– Minha maana. – seco, mas foi uma resposta – Até que você não é ruim. – comentou relaxando o rosto um pouco.
– Não sou profissional, mas meus pais e amigos sempre me pediam massagem de vez enquanto.
– Sente falta de casa?
– Um pouco às vezes... Você tem sorte de já estar em casa, mais ou menos.
– Casa. Hunf!!
– Você nasceu em Eldarya, não é? Tudo o que conhece está aqui, não é verdade? Pra quê agir assim... – senti seus músculos enrijecerem outra vez.
– Está tentando me fazer perdoar todos esses cretinos?
– Só você pode decidir se perdoa ou não alguém, o máximo que eu poderia fazer é tentar aconselhá-lo a refletir melhor. – vi ele me erguer uma sobrancelha no reflexo – Me diz, acaso você recebeu alguma coisa boa depois de seus feitos? Algum espírito de dragão acaso lhe visitou, nem que seja em sonhos, para lhe agradecer por tudo o que fez? – seu rosto ficou vazio – Aposto que não. – deixei-o e comecei a ajeitar a cama para deitar-me – E tem mais, eu não fiz nada que você já não tenha feito comigo, ou vai negar que tentou me colocar contra os faerys mais cedo? – Ele não dizia nada, apenas refletia em completo silêncio – Uma vez, eu ouvi uma frase em uma série que assisti um pouco “Guardar mágoas é carregar pedras no coração.” (Claire Browne - The Good Doctor).
Deixei-o com seus pensamentos. Rezei minhas orações e fui dormir.***
Aquela teria sido a noite perfeita se eu não tivesse acordado em um lugar totalmente diferente daquele em que dormir. Até parece que eu fui tele transportada! Por conta das minhas colegas de quarto, fui tentar dormir no alto de uma arvore, mas ao invés de acordar sobre a mesma, acordei entre as raízes de uma outra totalmente diferente. E o mais esquisito é que além de não reconhecer coisa alguma no espaço a minha volta, eu estava praticamente da mesma forma com que me deitei! A coberta forrava o meu “leito”, minha camisola estava sendo o meu travesseiro (que por sinal aproveitei para guardá-la rápido e vestir-me antes que alguém me visse seminua) e a tela do mosqueteiro ainda me cobria.
Dobrei a coberta e o mosqueteiro e dei um jeito de prendê-los em minha mochila (afinal eu tinha que devolvê-los, não?), e comecei a observar melhor o lugar onde estava. Rezava por Nossa Senhora pra me ajudar a pelo menos descobrir aonde é que eu havia ido parar e respirava fundo toda hora, pois desespero é que não ia me ajudar ali.
Me sentia um pouco estranha, meus chinelos que perturbavam para andar, principalmente o que possuía a compensação. Carreguei-os na mão e passei a andar descalça, com bastante cuidado. O sol estava amanhecendo com toda a certeza, mas de acordo com o meu relógio novinho, ou era 3hs da manhã ou era 15hs da tarde. Definitivamente não estava fazendo sentido. Parei de andar por um momento e conferi minhas coisas para ver o que eu podia fazer para não me ferrar ainda mais naquelas circunstâncias.
Além de quatro mudas de roupa, um conjunto íntimo, três calcinhas recém-lavadas, uma tiara e um par de sandálias rasteirinha, mais a roupa do corpo, também tinha meu celular com fone e notebook novos (e olha que demorei em trocar os antigos! Porém continuava sem sinal); o carregador solar que forcei meu irmão a comprar e quase não chegou a tempo da viagem (estava viajando para floresta, que certeza eu tinha se haveria ou não luz elétrica?); meu óculos de descanso; alguns doces e bolos típicos do norte junto de alguns sanduíches (fome ao menos não passaria tão cedo); minha garrafa térmica cheia de suco e uma garrafinha de meio-litro de água também cheia (mas eu precisaria encontrar logo uma fonte segura de água, a fome posso até segurar, já que estou meio gorda mesmo, mas a sede...); meus itens de higiene: shampoo, condicionador, creme sem enxague, sabonete, escova de cabelo, pasta e escova de dente (e repelente de insetos); dois colares e uma pulseira que havia trazido comigo de São Paulo mais as bijuterias locais (duas pulseiras e um par de brincos) que comprei de lembrança, preferi colocá-los no corpo pra amenizar um pouquinho a mochila; um pequeno kit de primeiros socorros (um rolo de bandagem, um antisséptico, algumas bolinhas de algodão e uma caixinha cheia de band-aid); e material para escrita/desenho: um caderno (livro) brochura de 500pags. totalmente brancas, meia dúzia de lápis 2B, 2 borrachas, um apontador de ferro (só assim pra não se quebrar na minha mão) e 6 canetas BIC (3 azuis, 2 pretas e 1 vermelha), além de uma régua de 20cm; o livro de astronomia que pequei emprestado no hotel para ler; minha toalha de viagem e “toalhinha de baba”... e a coberta mais o mosqueteiro do hotel. Sério, eu praticamente fiz um milagre para conseguir colocar tudo isto naquela mochila que não havia ficado nada leve, principalmente depois de adicionar a coberta. A única coisa que me estava faltando era o meu terço de hematita, que devia estar enrolado no meu pulso. Droga.
Comecei a caminhar por aquela floresta outra vez, em busca da fonte de água e com bastante cuidado já que quanto maior é a fonte maiores também são os animais, e dar de cara com algum carnívoro era a última coisa que eu precisava. Mas mesmo assim, tive que tropeçar no meio de algumas raízes e meio que machucar um dos pés. Ainda me forcei a procurar mais um pouco porém o cansaço (porque já estava nessa “nova” floresta há pelo menos umas 3hs) e a dor falaram mais alto comigo. Sentei a sombra dos pés de uma arvore para recuperar o fôlego e massagear o meu pé dolorido. Me encostei-me ao tronco e fechei os olhos por um instante recuperando o fôlego. Foi então que comecei a ouvir um barulho que me deixou com medo de abrir os olhos.
.。.:*♡ Cap.2 ♡*:.。.
Minutos depois do mal-estar e revelação dos aengels, os principais membros do QG da guarda Reluzente se reuniram na antiga Sala do Cristal, que depois de ter o cristal quebrado pela segunda vez por Lance, era mais um imenso salão, com os pedaços restantes do grande cristal reunidos em um dos cantos, e palco do ritual efetuado por Erika, Leiftan e Valkyon, que precisava ser repetido pelo menos uma vez por semana para que Eldarya pudesse se permanecer em pé agora. Lance também seria de grande ajuda neste ritual se ele não se recusasse a pagar por seus crimes de uma maneira diferente que a de estar acorrentado dos pés à cabeça dentro de uma cela seladora de magia. Ele ainda carregava um profundo ódio pelos faerys.
– Foi parecido. – explicava Leiftan – Quando Erika chegou ao QG pela primeira vez, eu senti uma dor no peito, e a dor só acabou depois que vi a silhueta dela em minha mente. Eu só não entendi porque senti ânsia dessa vez! Além de você também ter se sentido mal Erika.
– Eu também não entendi isso. – continuou Erika – Eu nunca havia passado por algo assim antes. E olha que eu já passei por muita coisa depois de chegar a Eldarya!
– Há algum problema Valkyon? Você me parece inquieto. – perguntou Nevra observando o amigo fazendo com que todos o olhassem também.
– Talvez. – respondeu com seu semblante de sempre e braços cruzados – Desde que estes dois voltaram ao normal, não paro de sentir uma presença estranha que ainda não consegui identificar.
– Presença estranha? – falou Ezarel com seu costumeiro sarcasmo – Não vai me dizer que o que vocês sentiram foi a chegada de mais uma faeliana.
– Isso não é piada Ezarel. – repreendeu Miiko.
– De qualquer forma, – cortou Keroshane – o que Ezarel disse pode ter lógica. Talvez o mal-estar de Erika e Leiftan seja algum tipo de resposta para a chegada de outro aengel, e como Fáfnir nos explicou, a presença que Valkyon está sentido pode ser um outro dragão ou descendente de um, isso se Lance também sentir essa presença o que nos confirmaria realmente tratar-se de outro dragão.
Todos ficaram em profundo silêncio, até que Nevra resolveu quebrá-lo.
– Deixa ver se eu entendi Kero, está nos dizendo que provavelmente dois novos faelianos acabaram de chegar da Terra em Eldarya?
– Kero tem razão. – a voz era da Miiko – Essa é uma possibilidade que não pode ser descartada. O problema é: onde estes faeliano estariam agora? E também: eles são amigos ou inimigos?
– Primeiro temos que confirmar com meu irmão se ele realmente sente essa presença também ou não.
– Miiko, está tarde e é noite. Seja lá quem tiver chegado, por conta da hora, creio que a primeira coisa que fará vai ser encontrar um abrigo seguro até que o sol surja! Por que não continuamos com isso amanhã? – sugeriu Erika.
– Erika tem razão. – concordou Nevra – Amanhã cedo reunirei grupos para vasculhar os arredores do QG e a floresta. Pois se Valkyon consegue sentir a presença de pelo menos um, significa que não estão muito longe de nós.
– Está decidido então. – ordenou Miiko – Agora vamos todos descansar, mas amanhã cedo Nevra ficará responsável por vasculhar os arredores de Eel e Valkyon vai conferir com Lance se ele também consegue sentir a tal presença. Por precaução... Ezarel, quero que você verifique nossos estoques de poção de cura e de defesa, além de preparar mais algumas por prevenção.
– Sim senhora. – afirmou Ezarel com um toque de gracinha. E todos deixaram a sala para os seus quartos e assim descansar para o dia seguinte.***
Eu realmente estava com uma sorte maravilhosa. Já que quando abro meus olhos descubro uma espécie de lobo branco imenso, com um tipo de névoa lilás azulado ao redor do pescoço e de um dos olhos, rosnando de leve pra mim. Eu gelei. Senti minha respiração travar por um instante e o costumeiro nervoso que jogava minha pressão no chão querer tomar conta de mim.
Respirei fundo. Pois aquela não era uma boa hora para querer desmaiar. Fiquei imóvel apenas o observando e acabei por reparar que uma das patas traseiras parecia ferida. Me movendo o mais devagar possível, retirei um sanduíche da mochila que acho ter chamado à atenção do lobo (devo ter acertado na suposição que ele estaria com fome), já que ele parou de rosnar pra ficar me observando e farejando o ar em minha direção. Estendi um pedaço do meu lanche para ele e ele se aproximou só um pouquinho, devagar e mancando. Joguei o pedaço para um pouco longe de mim e ele se aproximou do pedaço.
Ele o farejou por uns instantes e depois de me observar por um momento, o comeu. Tirei outro pedaço do meu lanche e lhe estendi como antes, o vi abanar a cauda e pegar o pedaço de minha mão e comê-lo. Mantive minha mão estendida até ele se aproximar e lambê-la pra logo em seguida esfregar-se nela e acabar com eu lhe acariciando a cabeça (ou ele é muito mansinho ou muito carente. Sorte a minha). Dei-lhe mais um pedaço e outra vez reparei em sua pata ferida e, não esquecendo que seja lá qual for aquela criatura mítica (sim, mítica, ou vai me dizer que você já viu algum animal com névoa saindo de seu corpo?) ela ainda era selvagem e poderia muito bem me atacar se eu mexe-se em seu ferimento sem cuidado. Cacei meu kit de primeiros socorros, junto da minha garrafa d’água e minha toalhinha na mochila e fiz um curativo em meu pé fingindo dor. O lobo só me observava. Quando terminei o curativo (que não precisava) passei a olhar fixo para a pata ferida dele. Me chame de maluca (o que não é lá uma mentira) mas tenho certeza que ele me entendeu, ou do contrário ele não teria me erguido a pata ferida para eu tratá-la, e sem reclamar até o fim!
– Agora seria bom se você descansasse essa pata um pouco. – acabei dizendo a ele.
Realmente acho que ele me entendeu, ele bocejou e deitou-se ao meu lado tirando um cochilo. Eu lhe acariciei as costas um pouco e acabei cochilando também.
.。.:*♡ Cap.3 ♡*:.。.
Surgido os primeiros raios de sol, Nevra já reunira os grupos que examinariam os arredores de Eel e estava lhes passando as ordens já tendo explicado os possíveis eventos que estavam ocorrendo. Ezarel estava no laboratório fazendo o inventario das poções para poder escolher melhor quais produzir. E Valkyon estava descendo as escadarias para a prisão.
Ele aproximou-se de uma cela onde havia um homem em vestes de algodão amarelada com correntes presas aos pés, pulsos, cintura e pescoço e com o cabelo com metade do tamanho do cabelo de Valkyon. Era o Lance.
– Parece que algo interessante resolveu acontecer em Eel. – disse Lance sem tirar os olhos do chão em que estava sentado.
– O quê quer dizer? – Valkyon se mantinha impassível.
– Acha que eu não sei o porquê de você estar aqui agora? De quem é a presença que vem da floresta?
Valkyon ficou estático por um instante – Então, realmente pode ser outro dragão.
– Rá! Se não fosse por toda essa segurança, eu já teria ido atrás da criatura. E assim alertá-la de todos os traidores aqui existentes.
– Você foi o único que nos traiu Lance.
– Mentiroso!! – gritou Lance furioso – São vocês os traidores! Você me traiu! Acha que eu irei esquecer o que você e até mesmo meu ex-sócio fizeram comigo dois anos atrás? Acha que vou esquecer que aquele maldito do Leiftan se deixou ter uma parada cardíaca que quase lhe custou a vida só para romper o pacto entre nós e assim abrir a boca? E a forma com que vocês me enganaram para impedir a destruição deste mundo usando o meu poder, acha que esquecerei? E aliás... – agora seu tom era provocativo – como anda o cachorrinho do Leiftan? Depois que ele se acorrentou a sua namoradinha, ele conseguiu fazer dela a Eva dos aengels? Sendo ele o Adão?
Valkyon não se importava de ouvir os insultos do irmão, desde que não envolve-se sua amada, também membro da Reluzente agora.
– Em primeiro lugar, eu nunca permitiria que eles ficassem juntos sozinhos, nem ela o quer, e segundo, eu confio plenamente na Erika.
– Oh, sim! A Erika é realmente uma mulher confiável, mas... e o Leiftan? Confia nele? O que lhe garante que ele não tente seduzi-la em cada mínima oportunidade que obter?
Valkyon estava cada vez mais furioso e apenas foi embora dizendo que já conseguiu o que queria deixando Lance gargalhando para trás.***
Quando acordei de meu cochilo, estava sozinha. O tal lobo havia sumido. Bom ele teve ter ido procurar pelos seus. Resolvi guardar minhas coisas de volta na mochila e tomar coragem para voltar a procurar uma fonte de água, ainda mais depois de ter desperdiçado um pouco lavando o meu pé para poder lavar a ferida daquele lobo. Quando estava terminando de me erguer eu o vejo chegando com um enorme bastão de madeira na boca e abanando a cauda.
– Isso é pra mim? – o questiono que apenas o deixa aos meus pés sentando e sacudindo a língua e cauda como um cachorro qualquer. Pequei o bastão e o examinei mais ou menos. Não era muito pesado e me parecia bem resistente. – Obrigada! Isso com certeza vai me ajudar. – Ele latiu uma vez como se estivesse dizendo: “de nada”. – Agora o que eu preciso mesmo é encontrar uma fonte de agua potável, ou irei passar sede.
Seja lá qual for a espécie daquele canino, ele com certeza me compreendia, pois assim que terminei de falar ele se ergueu e começou a caminhar me olhando de forma que parecia dizer: “então me siga!”. Eu ainda duvidei um pouco do que a minha imaginação me revelava, aquilo tudo poderia muito bem ser um dos meus sonhos loucos! Mas, por mais louco que seja o que sonhe, eu nunca me machucava, e aquela torção em meu pé não era uma ilusão. Só depois que ele deu um latido me chamando a atenção é que passei a segui-lo. – Tá bom, tá bom! Já estou indo! – disse a ele.
O segui por quase meia hora até chegarmos a uma pequena cascata de aguas tão cristalinas que quase pensei que fossem mágicas. Ele se aproximou da agua e começou a bebê-la, não demorei pra fazer o mesmo, o bastão foi útil, mas a caminhada ainda me deixou com sede. A agua estava uma delícia! Geladinha e docinha. Enchi logo a minha garrafa.
Bom, já sabia onde encontrar agua, mas e quanto àquela floresta? Ainda não tinha ideia de onde eu estava.
– Preciso ao menos encontrar um lugar seguro para dormir as noites enquanto não descubro aonde raios vim parar. – acabei dizendo.
O cachorro (é cachorro, o comportamento dele mais lembrava um cachorro do que um lobo sem falar que ele parecia ter o tamanho do Scooby Doo! Ainda bem que ele era amigo, até agora...) apenas terminou de beber a agua que lhe escorria pela boca esfregando a língua e começou a caminhar outra vez. De novo ele precisou me dar um latido para que eu o seguisse. Caminhamos menos dessa vez, ele me levou até uma espécie de caverna ou gruta, não sei, e ele outra vez precisou me chamar pra que pudesse continuar lhe seguindo.
Era uma caverna, uma caverna longa, meio úmida e um pouco escura, mas dava pra enxerga o chão sem problemas. Continuamos penetrando até alcançarmos o fim da caverna, onde havia um espaço aberto quase do tamanho de metade da minha casa (que por sinal minha casa tinha 6 cômodos, mais lavanderia, garagem para três, área de lazer e “quarto da bagunça”. Ou seja, mesmo sendo menor que minha casa, ainda era enorme). Havia algumas passagens de ar e luz nas extremidades do teto, deixando as condições daquele ambiente aceitável para moradia. Estalactites e estalagmites eram mais presentes no caminho até o fundo, naquela área aberta, o chão era irregular mas possuía poucas “colunas”, nada que um pouco de esforço braçal não resolvesse.
Levei um susto quando uma espécie de aranha gigante (com ênfase no gigante) se aproximou de mim. Ela parecia uma tarântula albina mutante do tamanho de um cachorro médio. Quase tive um piripaqui com o susto! O cachorro se aproximou dela e pareceu que eles “conversavam”. Jesus amado! Eu realmente não devia estar no meu mundo. É loucura demais para acreditar que se tratava de espécies ainda não descobertas pelo homem!
Depois da “conversa” entre eles, a aranha fez um barulho estranho e pro meu desespero um enorme grupo de aranhas menores (filhotes com certeza, socorro Mãezinha) desceram do teto, as menores observavam a maior com mais atenção do que à mim. Depois que ela terminou de falar com as outras, todas voltaram para os espaços escuros do teto.
– Ahff! Esse será um looongo dia! – acabei dizendo.
.。.:*♡ Cap.4 ♡*:.。.
Já tinha se passado três dias desde que a procura havia começado, assim que Nevra soube por Valkyon que a presença estava na floresta, segundo Lance, ele aumentou o número de grupos que investigaria a floresta e diminuiu das outras áreas, mas era estranho. Será que o ou os recém-chegados tinham conhecimento de sobrevivência? Por isso que ninguém achava nada?
– Valkyon, tem certeza que ainda sente aquela tal presença?
– Sim Ez, e ela fica bem mais forte aqui na floresta. Acho que Lance encontraria na hora se não fosse tão arriscado soltá-lo.
– Oh sim, o dragãozinho ferido. – disse com deboche.
– Ezarel. – repreendia Valkyon – Ele pode não ser o melhor dos faerys agora, mas ainda é o meu irmão.
Ezarel riu um pouco e os dois voltaram a ficar em silêncio enquanto ele terminava de colher ervas para as poções.
– Será que sou eu ou mais alguém percebeu? – disse Ezarel juntando as ervas colhidas.
– O quê?
– Desde que o nosso visitante misterioso chegou, uma maana estranha começou a aparecer na floresta, queria estudar isso. – disse Ezarel sério.
– Tudo o que eu queria era encontrar logo o dono dessa presença. Lance também está ficando incomodado de acordo com os guardas.
– Bom, vamos voltar. Espero que o pessoal do Nevra tenha mais sorte dessa vez... e que ele não tenha desperdiçado tempo as paquerando! – declarou Ezarel com um enorme sorriso de lado na cara, o que fez um pequeno riso escapar de Valkyon.***
Isso deu trabalho. Depois de ter conhecido minhas “vizinhas”, comecei a dar um jeito naquela caverna, já que da forma que estava, não seria muito confortável. Precisei de três dias para terminar tudo. As aranhas me ajudaram e Absol trouxe mais “amigos” que ajudaram também. Quem é Absol? É como eu decidi chamar o cão, lobo ou seja lá o que for o canino que estava comigo. Querem saber como foi que eu cheguei nesse nome? Em um dos meus momentos de descanso eu resolvi dar uma olhada no conteúdo de meu not para não surtar de vez, estava olhando as imagens de animês e quando uma bela imagem de um absol apareceu na tela, o canino começou a observá-la.
– Gostou do absol? – acabei perguntando e ele apenas fez um ganido como aprovação – Eu também gosto. Ele é um pokémon especial sabe? Seus instintos pela presença de perigo são extremamente fortes, assim como a bondade de seu coração. – expliquei – Tanto que sempre que sente o perigo em determinados lugares ele aparece para proteger todos dos desastres, o que acabou lhe gerando um mal entendido por parte dos humanos. – o vi fazer uma expressão de “como assim” para mim, e continuei – Os humanos acharam que absol era a fonte desses desastres, que era ele que os causava e não que os protegia.
Absol acabou fazendo uma cara que dizia “faça-me o favor!” e acabei rindo. Foi depois disso que sugeri a ele que eu o chamasse de Absol, o que ele realmente gostou. Ah! Os amigos que eu disse que ele trouxe para ajudar foram criaturas tão estranhas quanto às aranhas: gorilas-pássaros de patas estranhas com chamas nas costas; cavalos que pareciam fantasiados para o halloween e uma espécie de avestruz-galinha que também ajudou um pouco. Foram os gorilas-ave quem mais ajudaram, já que foram eles que deram um jeito nas pedras mais pesadas.
Aproveitei as pedras que dava para “montar” os móveis, consegui construir uma espécie de fogão e também uma mesa. As aranhas criaram redes que eu usava como prateleiras (o fio delas é realmente forte!), cortinas e até uma rede que Absol testou pra mim (pelo menos eu não ia ficar presa nela). Também construí uma espécie de cofre para a comida daquelas aranhas, pois percebi que elas estavam sempre brigando com alguma outra criatura para protegê-la. As aranhas conseguiam pegá-la do cofre sem problemas já as outras criaturas... bom, elas precisariam aprender um pouco mais de destreza.
Tanto as aranhas quanto Absol sempre traziam coisas que quase sempre se mostravam úteis como frascos, roupas, comida, tecidos e kits de costura (Absol era quem trazia as roupas mais bonitas), além de pergaminhos que não entendia (mais uma prova de que não estava na Terra) e outras coisas que às vezes encontrava utilidade como uma luminária e uma colcha por exemplo. Uma das aranhas me trouxe agua salgada, todo dia tomava só um golinho por conta de minha pressão que tem tendência a ser baixa. Guardava tudo o que me traziam, afinal, nunca se sabe!
.。.:*♡ Cap.5 ♡*:.。.
Erika estava em um espaço vazio muito amplo e branco. – Onde estou? – ela se perguntou. Começou a sentir uma maana estranha, era calma e tranquilizante, mas ainda assim, incomum. Ela seguiu aquela maana até encontrar sua fonte, uma pessoa. Por causa das roupas que vestia não conseguiu ver se era ele ou ela, mas estava ajoelhada, rezando. A frente da pessoa havia uma espécie de cristal branco flutuando que brilhava diante da oração daquela pessoa. Ela ficava se questionando qual seria o significado daquela visão até ter os pensamentos interrompidos por uma voz dizendo: “Aguentem mais um pouco.” Quando ela se voltou para a fonte da voz que ouviu vindo detrás dela tomou um susto! Eram duas mulheres muito parecidas com o Oráculo. Uma tinha a pele bem branca e suas asas e cabelos eram rosa mesclado com loiro e lilás, a outra tinha a pele morena bem escura com cabelos e asas negros mesclados de roxo e azul claro.
O susto não foi tudo o que a fez acordar de seu estranho sonho, uma correria vinda dos corredores também ajudou. Ela ergueu-se de sua cama-flor para descobrir o que estava acontecendo.
Era o quinto dia de buscas pelo estranho visitante que, segundo Valkyon, ainda estava vivo. Quando Erika chegou à sala das portas, quase soltou um grito pelo que via. Nevra e alguns de seus “homens” estavam todos feridos sendo atendidos às pressas por Ewelein e os outros enfermeiros, indo ajudá-los também.
– Mas o que foi que aconteceu com vocês?!? – foi Miiko quem gritou a pergunta.
– Contaminados. Ai! – era Nevra que respondia entre dores – Cinco deles. Nós só conseguimos lidar com dois, – disse ele mostrando os dois fragmentos recuperados – os outros três fugiram. Ai, Ewelein!
Ewelein só deu um desculpa e continuou o atendendo.
– Peraí, você esta me dizendo que há três contaminados soltos por aí, é isso mesmo? – perguntou Miiko nervosa com a chama de seu bastão começando a aumentar.
– Infelizmente. – disse uma das garotas que estavam sendo atendidas.
Miiko começou a respirar fundo para não acabar surtando, e era claro que Nevra era o mais irritado pela situação já que falhara em seu dever de manter Eel segura.
Erika apenas chegou de mansinho na Miiko e lhe disse: – Preciso falar com você.***
Logo cedo Absol me trouxe algo incrível, um cristal branco do tamanho de uma manga média com uma espécie de anjo esculpido em seu interior. A pedra era linda. Resolvi usar ela como referência santa durante minhas orações (podia ter perdido meu terço de hematita, mas o meu terço de prata continuava em meu pescoço). Montei um pequeno suporte com pedras para ele sobre a mesa. Não sei por que, mas fiquei com vontade de rezar meu terço mais cedo aquele dia, e pra minha surpresa (que não foi pouca) o cristal começou a brilhar. Não parei de rezar até o fim e o cristal só parou de brilhar quando eu terminei.
– Cada vez mais estou convencida que estou em algum tipo de mundo mágico. – acabei dizendo.
Fui atrás de comer alguma coisa. A comida daquele mundo não era muito boa, já que não me saciava totalmente, pelo menos minha gordura extra estava diminuindo finalmente (sempre me foi uma guerra perder peso por conta da minha gula, principalmente com doces). Se bem que... eu não tenho ideia de como explicar, mas as coisas que cresciam dentro daquela caverna (porque eu plantei as sementes das frutas que havia comido e... como elas cresceram rápido!!) onde estava morando, pareciam me sustentar muito melhor do que os que eram trazidos por Absol e suas amigas.
Aquele cristal vivo, devia ser a peça final para transformar aquela caverna em uma casa. Não que eu já tenha visto uma morada de fadas, mas era assim que eu me sentia. Com os objetos que me trouxeram e a ajuda das aranhas, pude criar vários “candelabros” e sinos de vento de cristais gerando uma iluminação fascinante na caverna, seja dia ou seja noite (principalmente com a lua cheia). As flores naturais que cresciam pelas laterais e vinhas que cobriam algumas das paredes e colunas davam um colorido e um ar natural delicado muito bonito e por mais “rústico” e simples que fossem os móveis que eu criei (agora além da mesa, da rede que servia de cama e do fogão, também tinha uma poltrona e alguns bancos, alguns almofadões que serviam de puff e um armário que improvisei com teias, galhos e cortinas para minhas roupas e acessórios, e até armas brancas) aquele agora era um lugar bem aconchegante. A “latrina” ainda era na floresta, mas meus banhos eram de canequinho em um local reservado dentro da caverna (tá louco que vou me arriscar a ter alguém me espionando) deixando pra lavar o meu cabelo na cascata que, apesar de pequena, ainda se assemelhava a um chuveiro, um chuveiro gelado.
O riacho era pequeno de forma que não dava para eu praticar natação nele, tinha que me contentar com os alongamentos. Mais uma coisa estranha para se notar, lembra lá atrás que eu disse que meu sapato compensado me incomodava para andar? Pois é, parece que minha deficiência física sumiu! Não, é sério! Por causa da minha má formação óssea no quadril sempre tive a perna esquerda menor que a direita e mancava por isso, mas desde que cheguei aqui, além das duas parecerem ter o mesmo tamanho, não manquei nenhuma vez, nem mesmo uma! E as dores? Não senti nenhuma! Sempre considerei minha deficiência como uma espécie de “selo” depois que finalmente me dei conta de como funcionava o meu psicológico, uma maldição abençoada e vice-versa.
Enfim. Não sei se agradeço ou se choro por ter vindo a este mundo, que definitivamente não é o meu. Tá certo que fantasia sempre foi meu tema favorito entre livros e animês, e que sempre me imaginava viajando para mundos diferentes (vai ver é por isso que ainda não enlouqueci de vez até agora), mas ainda assim, é uma experiência estranha. Sem falar que ainda não sabia nada sobre esse mundo, do mar de rosas que ele era, até agora só havia visto as flores. Ainda não vi os espinhos.
O dia seguiu normal como os demais, varri as folhas espalhadas pra junto das raízes das plantas com uma vassoura improvisada. Deixei meu notebook recarregando (o sol daqui é incrível! Normalmente meu not leva 4hs pra recarregar, mas aqui ele só precisa de duas! O mesmo vale pro meu celular) e deixei meu celular sobre a mesa tocando músicas suaves (pelo menos as suaves sei que não irrita os animais, e tudo o que eu não queria era uma tempestade de aranhas irritadas em cima de mim).
Chegada a noite e fim de meu quinto dia naquele mundo, estava deitada em minha rede lendo o livro que trouxe comigo que falava de tudo sobre cada constelação. Posição, nomenclaturas de cada estrela que as compunham, lendas e período de melhor visualização, com bônus astrológico para aquelas que representavam o zodíaco oficial e extraoficial, como era o caso da Serpentário, que seria meu signo regente verdadeiro. Estava tudo bastante quieto e tranquilo, quero dizer, até começar a ouvir alguns grunhidos e baixos rosnados vindos do corredor da caverna. Pronto, um dos “espinhos” desse mar de rosas estava prestes a se apresentar para mim.
Levantei-me bem devagar para tentar visualizar o que é que estava se aproximando com o máximo de cuidado possível para não ser vista. Foi quando eu vi. O gelo que senti quando vi Absol pela primeira vez era fichinha se comparado ao que eu estava vendo agora. Uma espécie de humano com orelhas e rabo de cachorro inconsciente meio ferido totalmente acorrentado envolto por uma névoa negra arroxeada que assumia uma forma sinistra assustadora com olhos arrepiantemente vermelhos. Eu já vi muitas criaturas horríveis em filmes e alguns animês que me causaram pesadelos, mas nada se comparava com aquela coisa que parecia ter mais de 2m de altura.
Agora sim, eu estava de fato ferrada. Como que eu ia lidar com aquela coisa?!? Tentei me manter o mais oculta possível dela, rezando para todos os santos e santas que conhecia para que ela fosse embora logo sem mais problemas. Pude até perceber que as aranhas faziam o mesmo e Absol não estava lá agora, (ainda...) o que me preocupou bastante. E pra aumentar a minha “sorte”, acabei sem querer chutando uma pedrinha para trás, chamando a atenção daquela... sombra.
Achei que a minha alma ia me abandonar o corpo quando ele me viu e começou a se aproximar, bem devagar. Andei para trás até me chocar contra a parede. Não parava de tremer, mas por sorte, aquela calma impossível que eu havia sentido nas vezes em que havia sido assaltada (ou quase, só na primeira das três me foi levado alguma coisa) e de quando conheci Absol havia se apossado de mim. Quando ele se aproximou pra bem perto, estava prestes a me atacar com aquelas garras que pareciam ser capazes de cortar aço, saltei para o lado escapando por um triz de ser retalhada. As aranhas lançaram suas teias contra ele o que lhe atrapalhou os movimentos em minha perseguição. Tentei me afastar meio que me arrastando pelo chão e ele, por conta das teias, acabou se chocando contra a mesa, derrubando o cristal que Absol tinha me trazido hoje de manhã. Eu o peguei sem pensar muito e, no momento em que o toquei uma forte luz começou a emanar dele, quase me cegando por um instante.
A luz começou a envolver o meu corpo e a sombra começou a querer se afastar de mim agora. Sem me dar conta de como ou porque, comecei a cantarolar e me aproximar daquela sombra (sério?! Isso lá é hora pra cantarolar?! E o que pensa que está fazendo chegando perto dessa coisa?). Mesmo me repreendendo sem parar com a loucura que estava fazendo, como se aquele cristal tivesse assumido o controle sobre mim, eu continuei me aproximando até abraçar aquela sombra. Ela era sólida!! E mais, de acordo continua cantando, ela era sugada para dentro daquelas correntes. Quando as correntes terminaram de absorver aquela sombra, foi a vez delas se transformarem. Aos poucos elas foram se desfazendo do corpo do homem e se transformando em uma espécie de líquido roxo que se cristalizava e que também foi ficando branco com uma fumaça escura que era liberada dele, sumindo a fumaça para fora da caverna e fundindo a pedra agora branca ao cristal que segurava.
Ok. Acho que pirei e ainda não percebi. Dei uma olhada melhor naquele homem que parecia estar bem, fraco, mas bem. Comecei a levá-lo pra fora da caverna com algumas aranhas me ajudando. O deixei na entrada da caverna envolto por uma colcha que fiz com alguns dos tecidos mais grossos que foram trazidos e algumas frutas e um frasco de água em uma sacola que também costurei. Já era tarde e voltei para o fundo da caverna (eu é que não ia me aventurar na floresta àquela hora, ainda mais depois do que tinha acabado de viver), desmaiei de cansaço antes mesmo de alcançar a minha rede.
.。.:*♡ Cap.6 ♡*:.。.
– Deixa ver se eu entendi Erika. – disse Ezarel na nova reunião da Reluzente – Você sonhou com... duas Oráculos! E que ainda por cima uma delas lhe pediu para que “aguentássemos mais um pouco”, é isso mesmo o que eu ouvi?
– Sim Ezarel, foi isso mesmo. – respondeu Erika após um longo suspiro.
– Isso é muito estranho. – falou Kero – Será que tem a ver com o nosso dragão misterioso?
– Claro!! – exaltou Ezarel com sarcasmo – O dragão que ninguém consegue encontrar. Estou quase arrastando o Lance para aquela floresta só para acabarmos logo com essas buscas.
– Não diga isso nem de brincadeira! – disseram Erika e Miiko em uníssono fazendo-o revirar os olhos, cruzando os braços como se rezasse por paciência.
– Olha, ter três contaminados próximos da gente não é brincadeira. Ai. – disse Nevra – Mas acho difícil de acreditar que tudo o que está acontecendo até agora não esteja de alguma forma conectado.
– Que quer dizer com isso Nevra? – questionou Valkyon.
– Bom, foi só depois da chegada do nosso ser misterioso que nossos aengels e dragões começaram a ter reações. – Nevra observava Erika e Valkyon enquanto falava – Depois a Erika começa a sonhar com versões do Oráculo que nos pede para nos aguentarmos mais um pouco junto de uma pessoa desconhecida, sendo que na mesma tarde dou de cara não com um ou com dois, mas cinco infectados na mesma área em que nosso visitante está perdido.
– E aonde você quer chegar Nevra. – disse Miiko.
– Que a pessoa do sonho de Erika e o nosso visitante sejam os mesmos; que não está aqui por mero acidente, assim como foi com a Erika; e que esses infectados estão de alguma forma ligados ao nosso visitante.
O silêncio caiu entre eles. Alguns de boca aberta pela teoria de Nevra e outros cogitando aquelas possibilidades com seriedade. Foram os barulhos vindos de fora que os tiraram daquele estado.
– Anda logo Jamon, preciso falar com a Miiko agora!
– Mas o que é que está acontecendo aqui? – Gritou Miiko e viu que quem a requeria era um dos novos assistentes da Ewelein.
– Miiko, a Ewelein me mandou levá-la urgente até a enfermaria, nem que fosse arrastada. Por favor me acompanhe. – implorou o rapaz.
Ouvindo isso, Miiko não foi a única a querer voar até a enfermaria. Ao chegar lá, acompanhada da Erika e dos líderes das outras guardas (que ficaram aguardando do lado de fora) foi direto até Ewelein.
– O que é tão urgente assim Ewelein! – perguntou Miiko.
– Ele! – respondeu Ewelein apontando para um brownie cachorro que estava recebendo cuidados.
– Você interrompeu uma reunião séria por causa de um paciente? – questionou Miiko meio nervosa.
– Se fosse um paciente qualquer, não teria a interrompido. – falou Ewelein em tom sério o que deixou Miiko um pouco confusa.
– E o que é que ele tem de diferente? – perguntou Erika.
Ewelein as levou para um pouco mais longe do paciente e falou em voz baixa. – Ele é um contaminado, ou melhor, um ex-contaminado.
– QUÊ!!! – gritaram Erika e Miiko em uníssono fazendo Ewelein pedir silêncio às duas.
– Mas, como você pode afirmar isso?! Que historia é essa?! – perguntou Miiko.
– Este homem era parente de uma antiga recruta nossa que veio a falecer na missão marinha. Antes disso, ela me contou que esse tio conseguiu fugir com vida quando ficou contaminado e ainda me mostrou um desenho dele de antes de sofrer. Ele chegou aqui hoje cedo, desorientado, pedindo para poder falar com a sobrinha. Quando eu o reconheci, fiz o teste de contaminação na hora e ele está completamente limpo! Não há um único vestígio de contaminação nele!
Tanto Miiko quanto Erika estavam boquiabertas.***
Acordei em minha rede, coberta. Pela iluminação da caverna devia ser entre 10 e 11hs da manhã. Vi Absol do outro lado da caverna conversando com a “aranha mãe”. Tentei me levantar, foi quando percebi que havia peso sobre mim, três aranhas me observavam com o que parecia ser preocupação em seus vários olhos.
– Bom dia pra vocês! – foi tudo o que eu falei. Elas pareceram sorrir e duas delas se dirigiram até Absol e sua mãe para avisar que eu estava acordada, a outra se manteve em meu colo. Absol veio a mim com ar preocupado enquanto me sentava na rede.
– Eu estou bem Absol. Levei o pior susto que já tive até agora, mas estou bem. – ele ainda não parecia convencido. – Olha, eu não sei o que as aranhas lhe contou, mas não tenho nenhum machucado no corpo. E era pra eu ter pelo menos alguns arranhões! – disse a ele esticando meus braços e pernas para ele as ver.
Absol pareceu ficar refletindo por um momento enquanto a aranha mãe me dava um pouco de comida e uma das pequenas me dava agua, estava faminta. Absol ficou me observando comer sentado em completo silêncio, quando terminei, ele pegou uma roupa para que eu me trocasse (sim, Absol quase sempre escolhia quais roupas eu iria vestir, e como era sempre ele que trazia as melhores e mais bonitas, não dava à mínima) o que fiz logo. Trocada, procurei por ele. – Absol? – Ele estava na “porta” de saída com uma das espadas de madeira que haviam me trazido na boca com aquela expressão de “siga-me!”. Tive um mau pressentimento, mas fui.
Ele me guiou até uma clareira no meio daquela floresta e colocou a espada de frente aos meus pés, afastando-se um pouco. Agora ferrou de vez mesmo. – Você quer que eu aprenda a manusear uma espada? – eu que já estava incrédula, fiquei ainda mais quando ele fez sinal de positivo com a cabeça. – Mas eu nunca peguei em uma espada antes! Eu até posso ter uma leve referência da teoria por conta de todos os filmes e animês que assisti... Mas mesmo assim! Teoria e prática NÃO é a mesma coisa. – falei, mas ele não pareceu importar, apenas ficou de olhar fixo na espada aos meus pés. – Táaa, que seja! – me dei por vencida.
Peguei a espada de madeira e segurei com as duas mãos, não era muito pesada, mas com certeza eu era atrapalhada. Tentei os mesmos movimentos de kêndo que via nos animês para poder me acostumar com ela. Absol ficou só me observando nos primeiros momentos, até decidir me atacar. Por muito pouco não acabava com o braço sangrando. – Enlouqueceu Absol?! Não acabei de dizer que nunca havia pegado em uma espada antes? – ele me ignorou, apenas ficou me contornando a distância para me atacar novamente. É minha querida, seu treinamento acabou de começar.
.。.:*♡ Cap.7 ♡*:.。.
Agora já eram 14 dias desde a chegada do dragão misterioso. Novos contaminados e ex-contaminados resolveram aparecer em Eel, e nada de encontrarem o bendito do faeliano que parecia ser a causa daquilo tudo.
– Qual é!?! – gritava Ezarel pra lá de nervoso – Todo esse tempo e não conseguimos encontrar nada naquela floresta além de contaminados e... EX-contaminados? E aquela maana estranha vinda da floresta? Aposto que pertence ao nosso senhor mistério. Não podemos mesmo usar o Lance para encontrá-lo de uma vez?
– Ezarel... – repreendia Erika e Valkyon juntos.
– Parece, que de alguma forma. O nosso visitante não só está atraindo os contaminados da região, como também está os purificando por completo. Só queria entender como. – disse Ewelein, participando dessa vez da reunião.
– O que é uma coisa boa e ao mesmo tempo ruim. – disse Nevra – Sem falar que há boatos sobre estranhas vozes cantando e um black-dog perambulando por aquela floresta... usando um colar. – riu ele nas últimas palavras.
– Essa bagunça toda está realmente me dando dor de cabeça. – declarou Miiko massageando a testa – E o pior é que nem sei se o fato dos contaminados que estão vindo para Eel estarem sendo purificados é realmente bom ou ruim. Quero dizer, é ótimo para eles, que podem voltar a ter uma vida. Mas, e quanto aos fragmentos? O que estão sendo feito deles? – terminou Miiko escorando contra uma das colunas.***
Duas semanas, era o tempo que já havia passado, desde a minha chegada. Estava começando a melhorar com meus treinos e Absol era severo, assim que consegui dominar mais ou menos uma luta contra ele, ele colocou mais criaturas para me “ajudar” com o treinamento. As aranhas ficaram de fora, mas em compensação começaram a me trazer armaduras e outros equipamentos de proteção e batalha. Mãe celeste!...
Isso sem mencionar que mais sombras resolveram aparecer na caverna. Lidava com todas da mesma maneira e o Cristal Vivo (foi como resolvi nomear aquele cristal que parecia ter vontade própria) ficava cada vez maior, tanto que Absol me trouxe algum tipo de cajado para que eu pudesse prender a pedra e carregá-la sempre comigo, seu tamanho agora parecia uns 50% maior. Como ao final dessas libertações eu sempre estava exausta (culpa dos treinos intensivos), eram as aranhas quem se encarregavam de carregá-los para fora com uma pequena quantia de agua e comida, onde que os deixavam não sei! Mas nunca era na entrada da caverna.
Aproveitei um pouco da argila azulada que usei para fixar o Cristal ao cajado para fazer um colar para Absol em um dos meus momentos de folga. Uma cruz meio mal feita, mas que ainda ficou muito bonita com aquele material azulado e brilhante, presa a um cordão trançado que eu mesma trancei com as teias daquelas aranhas, o que não deixaria que se arrebentasse tão cedo.
Absol também começou a me trazer alguns livros que pareciam ser bastante antigos, mas bem conservados (pena que não conseguia os ler) e a cada fim de treino que acabava, sentia uma fome de leão!
Outra coisa que começou a acontecer depois da primeira sombra aparecer, foi que de vez em quando, Absol trazia diferentes grupos de criaturas formados por aparentemente uma mãe e alguns filhotes. Sempre que eles chegavam uma das aranhas derrubava um dos objetos trazidos por elas em minhas mãos e sempre, sempre um dos filhotes acabava por ter a atenção chamada pelo o objeto e, assim que o tocavam, viravam um ovo. (Mas hein?!?!) E depois disso a mãe com os filhotes restantes ia embora me deixando responsável por aquele ovo, logo após uma reverência de gratidão de Absol para eles. Nisso eu já tinha 4 ovos diferentes e eu não tinha ideia do que fazer com eles.
.。.:*♡ Cap.8 ♡*:.。.
Agora já eram 30 dias depois do começo daquela confusão. Ezarel estava insuportável de tanto mal humor. Saídas para a floresta só mediante autorização direta da Miiko. Os ex-contaminados já somavam 20. Todos já estavam incomodados com aquela situação com a floresta perigosa como nunca, sem falar de um ladrão de comida noturno. Mas foi a chegada de um purreko acompanhado do 21º ex-contaminado que acabou trazendo alguma luz (e uma nova sombra) para aquele lugar.***
Tá legal, agora já é um mês que estou aqui. Já consigo manejar melhor a espada (mesmo depois de Absol me fazer a sacanagem de me vendar os olhos para treinar agora e de ainda me trocar a espada por outra de maior peso), já coleciono 12 ovos (quase morri quando vi uma espécie de ursa polar semi coberta de gelo com três filhotes entrando) e Absol parece ter encontrado um meio de achar comida da Terra (ou acho que era apesar de não entender a língua usada nas embalagens).
O dia estava nublado e por isso meio escuro, como parecia que ia chover a qualquer momento, vesti uma capa com capuz. Estava a caminho de mais um dia de treino ao lado de Absol quando senti a presença de uma sombra (mais uma? Quantas são no total?), mas foi o berro de um gato que me fez ir correndo atrás dela.
Deparei-me com uma sombra que tinha uma mulher dentro dela e ela estava prestes a matar... um gato sobre duas patas?? O Cristal Vivo se ativou quase que imediatamente e no momento que sua luz começou a brilhar a sombra parou. Comecei o meu cantarolar que não tinha ideia do estava cantando (mas rezava pra que tudo terminasse bem como nas outras vezes) e aos poucos fui me aproximando dela que parecia querer ir embora sem conseguir se mexer direito. A abracei como nas outras vezes e aos poucos a sombra foi absorvida pela corrente, que logo se tornou aquela pedra medonha, que liberou aquela fumaça negra tornando-se branca e fundindo com o Cristal Vivo.
Acabado tudo e vendo que a mulher fada (por conta das orelhas pontudas) parecia bem, acabei voltando o olhar para o gato. Ele era preto com rajadas de marrom e cinza, vestia (sério? É que nem o Gato de Botas?) uma capa preta com capuz e o que parecia ser um bracelete com um pingente de ouro em cada pata dianteira.
– Tudo bem com você bichano? – acabei perguntando.
– Q-quem é você?
O gato falou. É, é realmente como o Gato de Botas. O primeiro ser que encontro desde que cheguei a este mundo capaz de falar comigo tinha quer ser um gato? – Acho que o mais importante é saber se você está bem ou não. – acabei por dizer.
– E-e-eu estou bem! O-o – ele engoliu seco – o quê você fez com ela? Miau, salvou minha vida! – disse ele se acalmando e aproximando da mulher em meus braços.
– Hum... acho que sou uma viajante. Hoje completa 30 dias que cheguei aqui... que não sei exatamente onde é aqui. Quanto a ela, só a libertei da sombra que a estava aprisionando. Algo mais?
– Viajante? – ele me farejou de longe – Você é humana?!
– Sim, sou humana. Poderia me dizer que mundo é esse? Você é o primeiro que encontro capaz de falar, senhor gato.
– S, me chame de S. E você está em Eldarya, mais especificamente em Eel.
– Eldarya... nunca ouvi falar... – mas pelo menos agora sabia onde estava.
– Há o-outro humano com você? – perguntou S meio receoso.
Neguei com a cabeça. – Minhas únicas companhias até hoje é a de Absol, uma enorme quantia de aranhas brancas imensas e algumas criaturas que acredito serem amigas de Absol. – acabei respondendo.
– Absol? – e Absol se aproximou com cautela – Aaaa! Um black-dog!!!!!
– Black-dog? – olhei para Absol que deitou atrás de mim e depois para S de novo. – É isso o que Absol é?
– Vo-vo-você controla u-u-u-um black-do-do-dog? E-e-e-ele é seu mas-mas-mascote?
– Eu não controlo Absol. – comecei a explicar – Eu o conheci em meu primeiro dia em Eldarya, e é graças a ele que estou viva até agora. Eu o vejo como um guardião, não um mascote.
S ficou boquiaberto, não parecia acreditar no que ouvia. – Há algum problema? – perguntei.
Ele apenas sacudiu a cabeça e começou a me olhar desconfiado pra finalmente me perguntar. – Você está sabendo de algum exército?
– Exército?? – não tô gostando da historia – Que exército??
– Humano. – disse ele de modo seco.
Eu disse que não estava gostando, até Absol estava ficando interessado – Nãão, e... sei que não vou gostar da resposta. Mas o que esse exército humano deseja?
– Atacar os faerys, os seres de Eldarya. – respondeu ele de braços cruzados me observando com cautela.
– Aaai. Temia essa resposta. – disse massageando minha testa – Porque a maioria dos humanos são tão covardes e burros, procurando a destruição do que teme ao invés de procurar compreender, caramba. – Terminei por falar, indignada.
Acho que ele pensou que eu fazia parte deles no começo, pois depois de minhas palavras ele arregalou os olhos. – Você gosta de faerys? – ele perguntou.
– Se com faerys você se refere às fadas, dragões e outros seres místicos, sim. Principalmente os dragões. – respondi a ele. – Agora... tem como você ajudar essa mulher pra mim? – perguntei olhando-lhe nos olhos.
– Mas é claro! – respondeu ele dando um assobio com os “dedos” logo em seguida. Uma daquelas galinhas-avestruz se aproximou para receber carinho de S. S percebeu que eu olhava com atenção para criatura e falou – Essa é Kaniia, miau, minha Shau'kobow.
– Sua o quê?
– Shau'kobow, ela é minha mascote.
– Ah. Quer ajuda para colocar essa...
– Elfa.
– Isso. Quer ajuda para colocar essa elfa sobre Kaniia?
– Aceito sim. Afinal, purrekos são bem pequenos se comparados aos elfos. – disse ele com um sorriso e ronronando. Eu apenas sorri de volta. Depois de finalmente terminarmos de colocar a elfa deitada sobre a cela de Kaniia, ele subiu nela dizendo – Vou levá-la até o QG de Eel e alertá-los sobre o exército humano que está a caminho daqui. É bom você tomar cuidado.
– Pode deixar que eu tomarei. E boa sorte pra você S.
Ele apenas me acenou dando um tchau e foi embora. – Acho que vou precisar treinar muito mais agora, não é Absol. – Absol concordou com a cabeça e ergueu-se. Seguimos para o meu treino do dia onde dei tudo de mim.
.。.:*♡ Cap.9 ♡*:.。.
– Me deixa ver se eu ouvi direito sua historia Sirius. – Miiko conversava com S – Você foi salvo pela humana que disse estar sozinha e que libertou aquela elfa das sombras; descobriu que ela tem um black-dog como guardião, e não se lembrou de lhe perguntar o nome ou onde estava vivendo naquela floresta? E nem viu o seu rosto direito?
– Bom, ela não tirou o capuz por nenhum momento; eu a vi descontaminar aquela elfa com meus próprios olhos, e realmente foi falha minha me esquecer de perguntar seu nome e sobre seu esconderijo que, pelo o que entendi, ela o compartilha com um grupo de Cheads, miau.
– Até que a humana não é tão fraca pra conviver com essas criaturas. – comentou Ezarel com um sorriso de canto.
– Gente, esse não é o maior problema aqui! – comentou Erika com falta de animação e paciência na voz.
– Erika tem razão. – era Valkyon quem falava – Fale-nos mais desse exército humano. Tem certeza que essa mulher não tinha nada a ver com eles?
– Tenho sim, miau. – respondeu S – Quando lhe falei sobre o exército, ela pareceu tão chateada quanto a moça de branco. – S se referia à Erika que trajava um longo vestido branco simples. – E se minhas contas estiverem mais ou menos certas, eles estarão aqui em aproximadamente duas semanas.
– Isso não é nada bom. – comentou Nevra – Estamos com a enfermaria cada vez mais cheia, alguns dos habitantes do refúgio ofereceram quartos para ajudar os descontaminados, mas até eles vão precisar ser realocados para sua segurança. E acho que não estamos nas melhores condições para enfrentar um exército.
– Nevra tem razão. Kero, faça um levantamento sobre nossos estoques, Ezarel faça o mesmo sobre as poções e Valkyon sobre nossas armas. Tente obter mais informações sobre esse exército Nevra, e Erika, tente encontrar uma forma de abrigarmos todos em Eel com o máximo de segurança possível. Estão dispensados.
– Como quiser Miiko. – respondeu Erika por todos que deixaram a sala do cristal logo em seguida.***
Aquela historia de exército me deixou preocupada. Já estou tentando entender mais sobre Eldarya, (graças a S que me iluminou um pouquinho) e descubro que há humanos aqui? Esses humanos vieram da Terra como eu ou de alguma Terra alternativa? Ou são daqui mesmo? Queria achar pelo menos um livro sobre Eldarya em minha língua. Como eu gosto de seres fantásticos é bem possível que esses humanos que querem atacar me vejam como inimiga, como uma traidora. Não posso confiar neles. E pelo que pude entender das reações de S, nem nos faerys posso confiar (ao menos não de cara). _suspiro_ Eu realmente espero que tudo isso termine da forma mais pacífica possível. Oh Nossa Senhora... não sei se a senhora aprova ou não a existência dos faerys, mas, pelo menos aqueles que são boas almas, proteja-os! Por favor, Mãe.
.。.:*♡ Cap.10 ♡*:.。.
O trigésimo primeiro dia amanheceu e as exigências de Miiko já estavam sendo cumpridas. Nevra partiu pessoalmente com Chrome e mais dois dos seus para saber mais informações sobre o tal exército; Valkyon conferia as armas junto de Caméria e Jamon; Ezarel com o auxílio de Ewelein conferia as poções, e Erika junto de Leiftan e Miiko estudavam como abrigar melhor os moradores de Eel.
No refúgio, um grupo de crianças brincavam de esconde-esconde e uma delas, uma menina elfa, decidiu esconder-se no QG! Na sala do cristal para ser mais exata, bem onde Erika e os demais conversavam e a menina achou a conversa beeeem interessante. Ela queria ir à floresta, mesmo sabendo que era muito perigoso, e o que eles conversavam naquele momento era sobre a possibilidade de usarem os túneis subterrâneos para evacuar ao menos uma parte dos moradores sem precisarem ter de encarar os contaminados na floresta. Leiftan só estava naquele meio porque Lance, que era quem conhecia os túneis melhor, recusou-se a ajudar (mais uma vez).
A menina ouviu a conversa com cuidado, sorte dela de Nevra não estar presente, já que ele seria o único capaz de percebê-la naquele momento. Se algum dia decidisse fazer parte de uma das guardas, a Sombra seria sua guarda com toda a certeza.
Quando enfim aquela reunião terminou, ela saiu de seu esconderijo e foi atrás de cada uma das passagens que ouviu durante a conversa.
Pro seu azar, todas estavam vigiadas de certo modo, só faltava a que ficava na prisão. Sem ser notada por ninguém, ela desceu aquele “mar” de escadas, até chegar à prisão. O lugar lhe parecia escuro e sinistro, mas seu desejo de ir à floresta era cem vezes maior que seu medo. Ela começou a procurar pela passagem sem sucesso.
– O que faz aqui menina?
A garota quase deu um salto com a voz que vinha detrás dela, vinda de um homem preso por várias correntes.
– Lhe fiz uma pergunta. Acaso é muda?
– E-eu não sou muda. Só procuro uma saída pra floresta. – respondeu ela recuperando o fôlego do susto.
– Uma saída pra floresta? Mas a floresta não está cheia de contaminados? É bem perigoso pra uma criança.
– Eu não ligo! – disse a menina – Há algo lá que eu preciso buscar.
– Mesmo ao custo de sua vida?
– Sim. – falou ela determinada.
Lance deu um sorriso que causou calafrios na menina, “quem sabe aquela menina não seria a chave para a minha liberdade”, era o que ele pensava.
– Qual seu nome?
– Anya.
– Bom Anya, a passagem que existia aqui na prisão foi totalmente selada. Sugiro que tente as outras.
– Já tentei todas. Todas elas têm pelo menos uma pessoa atrapalhando de eu atravessar sem ser vista.
– Quais que você tentou? – Anya citou todas as passagens que estavam “bloqueadas” – É... você realmente tentou todas Anya. – a garota estava ficando cabisbaixa – Todas, menos uma.
Isso a animou novamente. – Qual? – perguntou ela. Lance apenas sorriu outra vez dando-lhe o silêncio. – Por favor, me diga! Eu preciso mesmo ir à floresta. – implorou ela.
– O que estaria disposta a fazer por essa informação?
A garota percebeu na hora o que ele estava tentando obter, então apenas respondeu: – Se o senhor está aí cheio de correntes é porque fez algo muito errado, então não posso prometer muita coisa.
Lance ficou surpreso com a esperteza da criança, então decidiu obter o que realmente queria mais tarde. – Se eu lhe pedisse uma refeição decente, além de você me contar como foi seu “passeio” a floresta, você faria?
Anya refletiu um pouco sobre o pedido e não achando problemas aceitou com um sinal de cabeça.
– Combinados então, mas, o que você me dá como garantia de que realmente cumprira o nosso acordo?
A menina refletiu mais uma vez, começando a esfregar as mãos e, sentindo o anel que acabara de receber de presente de sua avó mais querida, se decidiu. – Este anel! Ele é muito importante pra mim porque ganhei de uma pessoa que amo muito. – disse ela lhe estendendo a joia com certo receio em entregar, confirmando seu valor para Lance – Definitivamente eu vou voltar pra buscá-lo.
– Ok. Ficarei com seu anel. E além do mais, essa é uma passagem que só você pode usar mesmo, por ser pequena.
– Onde fica.
– No parque do chafariz, escondida entre os arbustos próximos aos fundos da muralha. A passagem é estreita, por isso é necessário ser bem pequeno para aproveitá-la. Você só precisa seguir reto o tempo todo e chegará à clareira da floresta.
– Direto pra clareira!?! – perguntou ela com um grande sorriso, deixando claro para onde da floresta que ela queria ir.
– Exatamente. Ficarei com isso enquanto espero seu retorno. – confirmou Lance colocando o anel em seu mindinho até a metade.
– Feito! – gritou a menina correndo para cima.
Anya deixou o QG e atravessou seu caminho como uma flecha. Chegou ao parque que estava vazio e se dirigiu ao local explicado encontrando a passagem que realmente só daria para uma criança passar. Ela tirou uma pequena esfera de luz que carregava sempre em um dos bolsos e começou a descer. Correu pelo longo túnel, pois quando mais rápido chegasse, mais rápido voltaria.***
Estava em mais um treino de Absol, junto das aves-gorila com meu cajado preso às costas. Era a minha merecida pausa e Absol foi buscar agua, quando eu senti uma nova presença naquela clareira. Tirei a venda e vi uma menininha saindo do meio dos arbustos, ela vestia uma calça verde escura com uma blusa de manga até os cotovelos do mesmo verde e sandálias marrons. Seus cabelos compridos de um azul pálido estavam presos em um rabo de cavalo e pelas suas orelhas, devia tratar-se de uma elfa ou algo próximo.
– Quem é você? – perguntei. A menina parecia surpresa por haver alguém ali.
– Sou Anya, e você?
– Sou Cris. O que faz na floresta? Não sabe que ela anda extremamente perigosa?
– Sim eu sei. Por isso que eu precisava vir, custe o que custar. – depois de dizer isso ela foi até uma das arvores que rodeavam a clareira, onde havia um buraco entre as raízes, e de lá ela retirou um ovo de aparência meio viscosa (ao menos de longe). – Eu escondi este ovo ali alguns dias atrás. Era pra ficar aqui por no máximo uns cinco dias, mas aí a saída pra floresta foi proibida e eu estou a semanas tentando resgatá-lo. E você, o que faz aqui?
– Eu estava treinando com Absol e alguns amigos dele, estou na minha pausa agora. Já, já eles retornam para me fazer sofrer mais um pouco. – Anya riu com a minha resposta.
Conversamos um pouco, ela me contou sobre o QG de onde vinha e em seguida eu falei de minhas experiências depois de chegar a Eldarya.
– Então você é humana!?
– Sim eu sou e pelo jeito você é realmente uma elfa.
– Sou sim. Você realmente tem um black-dog?!?
– Absol é meu amigo, meu guardião. Às vezes acho que ele me vê como um filhote dele. E eu só descobri sua espécie graças a um felino que conheci ontem. Ele me traz alguns livros desse mundo, mas nenhum em meu idioma o que me atrapalha de saber mais sobre este mundo.
– Se quiser eu posso lê-los pra você. Ou então arranjar alguns na sua língua! Qual seria o idioma?
– Português. Meu idioma original é o português brasileiro.
– Certo, entendi. Então e... – ela esbugalhou os olhos e eu olhei na direção que a fez ficar muda. Era Absol junto dos pássaros-gorila.
– Oi Absol! Vocês demoraram.
– Era contra eles que você estava lutando? – acendi com a cabeça – Você é incrível! Lidar com um black-dog já não é pra qualquer um, e ainda encarando... – ela contava as aves deixando-a ainda mais surpresa – ...CINCO alcopaféis!?!
– Acopa-o-quê?
– Al-co-pa-féis. O nome do tipo de mascote que está de ajudando é alcopafel.
– Alcopafel... e o nome de uma aranha branca mais ou menos dessa altura – ergui a mão até a altura aproximada da aranha mãe – com mais olhos no corpo do que estrelas no céu?
– Hum... pela descrição, parece que são cheads.
– Chead. Ok. Mas acho que é melhor você voltar agora, não é não? Estamos conversando aqui ha pelo menos meia hora e já devem estar preocupados com você não?
– Tem razão. Era pra eu ter ido assim que recuperasse o meu ovo e acabei ficando. Posso voltar aqui para conversar mais com você?
Refleti por instante e acabei respondendo – Pode. Mas com uma condição.
– Qual?
– Que ao menos por enquanto não fale de mim para o pessoal de Eel. – ela fez uma cara estranha e eu expliquei – Sabe o que é? Eu ainda não conheço bem dizer nada sobre Eldarya e eu também não sei em quem posso de fato confiar ou não.
– Tudo bem, mas você terá que me mostrar onde está morando um dia. É uma troca de segredos.
– Fechado! – apertamos as mãos pra confirmar o acordo – Agora vá antes que fique tarde demais.
– Certo. – ela ergueu-se e correu até os arbustos de onde tinha surgido pra desaparecer novamente.
Absol se aproximou de mim enquanto observava Anya sumir, com uma cara que parecia dizer: “isto ainda vai gerar problemas”. – Qual é Absol. Apesar de Anya ainda ser uma criança, ela parece ser confiável. Sabia que ela estava a dias tentando vir especificamente para esta clareira apenas para resgatar o ovo dela? – “tá falando sério?”, era o que a expressão dele parecia dizer – Você a viu sair daqui com um ovo nas mãos, não viu? Pois quando ela chegou estava de mãos limpas. – ele apenas revirou os olhos e começou a andar em direção à caverna com cara que dizia: “vamos pra casa” – Você quem sabe, Absol. – respondi apenas.
.。.:*♡ Cap.11 ♡*:.。.
Lance aproveitava o sanduíche divino (uma vez comparado à gororoba que Karuto lhe preparava sempre em quantia mínima) que Anya havia lhe levado como pagamento pela informação. Essa era a sua terceira refeição decente que ela lhe trazia após visitar a humana da floresta pela terceira vez. Graças à Anya, ele sabia muito mais sobre a tal da Cris do que qualquer outro membro do QG. Sabia que ela treinava autodefesa com o auxílio de mascotes fortes; que se escondia no fundo de uma das cavernas da floresta; que era Absol o ladrão noturno de comida do QG; as vozes que os outros ouviam no meio da floresta vinham dos itens que a humana havia trazido consigo da Terra, e Anya lhe ensinava a verdadeira história de Eldarya além de alquimia, as guardas e seus líderes e outras coisas.
Ele sentia com clareza a presenta da Cris quando ela estava na clareira, mas a presença dela deixava de ser tão nítida na parte da noite, o que muito provavelmente significava que ela estaria na tal caverna. Anya lhe facilitou sobre o sigilo dessas informações com ela mesmo lhe pedindo segredo já que, de acordo com o trato feito entre ela a Cris, Anya precisava guardar segredo sobre ela uma vez que Cris não sabia em quem ela podia ou não confiar. Isso lhe dava oportunidades de tentar fazer dela uma “aliada”.***
Anya voltou outras vezes (todo dia pra ser mais exato, pelo menos até agora), hoje é o quarto dia depois que conheci Anya, ou seja, 34 dias em Eldarya. Vamos ver se ela vai aparecer hoje de novo.
Ontem, Absol aceitou levá-la até a caverna, ela acabou por me confirmar sobre a aparência de meu “lar”, comparando-o com algum refúgio de fadas ou esconderijo de uma princesa. Mostrei tudo a ela desde meus itens terrestres até os eldaryanos. Ela ficou de boca aberta com minhas roupas e totalmente incrédula quando disse que as mais bonitas tinha sido Absol quem me trouxera. Ainda falando nas roupas, fiquei espantada de descobrir os conjuntos que eu tinha e não sabia, além dela me mostrar como vestir algumas peças, segundo ela, seus conhecimentos em vestuário eram graças às vezes que acabou ajudando uma purreko chamada Purriry, que era dona de uma loja de roupas dentro de Eel.
Expliquei como foi que “adquiri” os meus móveis e ela me explicou o que era cada coisa que Absol e as cheads (sim, aprendi o nome certo delas, mas ainda as chamo de aranhas às vezes. Nunca vou esquecer a cara que Anya fez ao reparar na quantia que havia delas ali. _risos_), fiquei meio irritada quando descobri que Absol estava roubando a comida terráquea do QG, ainda mais depois de descobrir que a comida da Terra era racionada porque era difícil de obter já que a comida da própria Eldarya não era nutricionalmente saudável (bem que notei que as frutas daqui não me saciavam direito).
Entre os livros que ela conseguia ler, havia um de alquimia para iniciantes e outra também de alquimia só que para mulheres (poções para cabelo, anticoncepcionais, contra cólicas, cuidados com a pele etc.), um que explicava em detalhes sobre cada raça faery existente em Eldarya e outro sobre mascotes. Dentre os que ela não conseguia, havia dois que ela afirmou estarem na “língua original” e como ela ainda estava começando a aprender essa língua, não teria como me ajudar muito com eles (se bem que alguma coisa me dizia que aqueles dois não eram pra ser mostrados a qualquer um).
Quando eu comecei a rezar o meu terço junto ao Cristal Vivo, ela pareceu hipnotizada por ele. Não desgrudava os olhos de seu brilho e olhava com ainda mais atenção à figura em seu centro. Assim que terminei de rezar, ela me pediu o cajado para poder ver melhor o Cristal, sei que ela sussurrou uma palavra que não consegui entender direito.
– Como é que é? – perguntei recuperando o cajado.
– O Oráculo! A figura dentro desse cristal é igualzinha à nossa falecida Oráculo!
– Como assim? O que você está querendo dizer? Quem é... foi essa Oráculo? – foi quando ela me falou sobre o Sacrifício Azul que deu origem à Eldarya e o Grande Exílio (pera! Os faerys nasceram na Terra?! E foram os humanos que os expulsaram?! Cada vez fico mais decepcionada com os humanos do passado...). Pobre Oráculo, e coitada dessa tal Erika que estava mantendo um mundo inteiro em pé no lugar dela. Me pergunto se há um motivo maior para estar em Eldarya depois dessa historia.
Anya ainda comentou que a maana que eu emitia enquanto rezava também lhe parecia estranha, muito agradável e confortável, mas ainda estranha (maana?). Como ela reparou minha expressão de quem não entendia do que se tratava, ela me explicou sobre a maana e como ela era utilizada em Eldarya.
Depois de tantas explicações resumidas, Anya decidiu que seria minha professora de eldaryano e alquimia. Achei graça, mas definitivamente aceitei e Absol pareceu concordar com a ideia também, pelo abanar da cauda. E depois do choque que tive ao ouvir o elogio dela sobre o pêlo de Absol... aí que eu precisava mesmo de aulas sobre Eldarya (ela elogiou o pelo Negro de Absol! E eu sempre o enxerguei Branco! Tanto que resolvi tirar uma foto com o meu celular pela primeira vez, e não a-cre-di-ta-va nas divergências que eu via), nem ela acreditou quando eu revelei que o quê eu enxergava com meus olhos era diferente do que estava diante deles.
Absol e algumas cheads a acompanharam até a passagem da clareira quando o sol ameaçava a começar a se pôr (sozinha que eu não a ia deixar andar naquela floresta, ainda mais anoitecendo) e eu fiquei pra trás para arrumar a nossa “bagunça”. Enquanto arrumava tudo, pensei em um jeito de organizar o nosso tempo juntas, hoje vou ver se ela aceita. Achei melhor dividir nosso tempo em três partes: de manhã eu treinaria luta com Absol e os outros mascotes já que ela sempre chegava mais ou menos no meio (que passaria a ser final) do treino; depois, para que eu pudesse descansar um pouco, eu iria lhe mostrar um pouco das coisas e mídias que tinha da Terra comigo (por causa dela ter comentado querer saber mais sobre elas); e depois ela me daria às aulas sobre Eldarya e alquimia. Tomara que ela concorde.
.。.:*♡ Cap.12 ♡*:.。.
– Com licença, senhorita Erika. – falou uma mulher elfa do refúgio aproximando-se de Erika – Acaso a senhora viu minha filha? É uma menina mais ou menos desta altura, – ela vez o gesto com a mão – pele clara e cabelos bem compridos, quase da mesma cor que os meus. Seu nome é Anya.
– Sinto muito, mas não a vi. Há algum problema com ela? – Erika perguntou ao perceber a aflição daquela mãe.
– Espero que não...
– O que aconteceu?
– É que... já faz sete dias que ela some de manhã e só reaparece quando está anoitecendo. Pergunto-lhe onde ela estava e ela sempre diz que com uma amiga. Mas eu já perguntei a todos os amigos dela e pessoas de Eel, e todos dizem não saber de Anya. Estou meio preocupada...
– Hum... é mesmo um pouco estranho. Vou ver se acho alguém disponível para ajudar a encontrá-la. – respondeu Erika tentando confortá-la.
– Muito obrigada Erika.***
– Porque você não quer me deixar ver esse tal de Hellsing Ultimate? – perguntou-me Anya quando ela me pediu para ver aquele animê agora.
– Porque você ainda é inocente demais para este tipo de animê! – respondi. Fiquei impressionada com o nível de pureza das crianças de Eldarya. Ainda bem que lhe perguntei se ela sabia como que um bebê nascia, ela não tinha ideia! E eu é que não ia destruir essa inocência já praticamente perdida na Terra.
– Ah, qual é! Eu já sou bem crescida sabia.
– Considerando que você nem sonhava como que uma criança nascia, é óbvio que o conteúdo desse animê aí é um pouco pesado demais pra você. Ele é até mesmo contra indicado para menores de idade na Terra!
– Por favor... deixa vai.
– Olha, os animês que coloquei nas pastas +18 e +16 são todos animês que não te deixarei assistir ainda, terá que se contentar com os das outras pastas ou deletarei essas duas pastas do meu not!
– Ei! Mas isso não é justo!
– A decisão é sua.
Ela não gostou muito, mas acabou por começar a assistir Hantaro ao invés do Hellsing. Ela ia virar uma semi-otako que nem eu, Anya já tinha até começado a pular as aberturas e encerramentos para conseguir assistir mais episódios até minhas aulas de alquimia e eldaryano começarem! E ela nem precisava se preocupar com legendas, assistia entre 6 e 8 episódios por dia. Aprendeu japonês com os kappas, me pergunto se eles me ensinariam também...
Minha mesa parecia pertencer há algum tipo de laboratório e com a ajuda de Anya e dos livros de alquimia, já sabia preparar algumas poções de cura e cosméticos (os que eu trouxe da Terra já acabou há dias!) e já compreendia melhor sobre a criação de Eldarya. Enquanto ela assistia os animês, eu comia um pouco (ela comia enquanto assistia mesmo), arrumava as coisas de minha aula e depois montava o meu próprio livro sobre Eldarya (vocês se lembram do “caderninho” que eu trouxe da Terra, não é?), onde comecei falando sobre a criação de Eldarya e os motivos dela ter sido criada, passando depois para as raças faerys, seguido dos mascotes, também decidi que colocaria as receitas das poções que mais me ajudaria (mas pra esses precisava que Anya me devolvesse o not, pois sempre fui ruim para memorizar coisas complicadas e não queria arriscar uma explosão por conta de algum erro pequeno. Porque eu precisava do not? Eu escrevia o que Anya me traduzia nele para ser mais rápido).
Eu estava copiando os desenhos dos mascotes em meu “livro” do livro sobre mascotes que ela ia me traduzir em seguida. Eu não os copiava tão bem quanto gostaria, mas Anya disse que eu desenhava muito bem (Oh horror que é ser perfeccionista!).
Quando finalmente acabou sua cota de episódios do dia, minhas aulas começaram.
Ah! Sobre a história de enxergar algumas coisas de forma diferente (como no caso do Absol, por exemplo), Anya sugeriu que talvez eu pudesse ser uma faeliana (meio humana, meio faery), sendo estas divergências algum tipo de dom meu que só se manifestou depois de chegar a Eldarya. Ela disse que existe uma poção capaz de comprovar isso e que tentaria obter a receita. Confesso que essa teoria me atrai... e me assusta também.
.。.:*♡ Cap.13 ♡*:.。.
Anya estava no parque do chafariz mais cedo que o de costume, olhava para todos os lados, e o parque estava vazio. Ou era o que pensava...
– Onde pensa que vai senhorita?! – perguntou uma mulher fazendo-a gelar por um instante. Virou devagar para ver que a voz pertencia à Erika.
– Bo-bom dia, Erika. – respondeu Anya nervosa.
– Booom dia. Você é Anya, não é?
– Ham, sim. Me chamo Anya sim... O quê a senhora deseja? – Anya tinha receio no tom de voz.
– Desejo saber pra on...
– ERIKA!!! – uma terceira voz chamou a atenção das duas.
– Nevra? Finalmente! Já estávamos todos preocupados! Onde estão Chrome, Elina e Bell? – disse Erika enquanto Nevra terminava de se aproximar, apoiando uma das mãos sobre o ombro dela para recuperar o fôlego. Anya resolveu aproveitar a oportunidade e principalmente que Nevra não a percebera.
– Bell está levando Elina pra enfermaria; Chrome ficou pra trás por precaução; acho que só temos mais cinco dias até a chegada do exército humano, no máximo, e precisamos reunir a Reluzente urgente para eu repassar o que descobrimos. – respondeu Nevra. Anya andava de costas com extremo cuidado sem deixar de prestar atenção às palavras do líder vampiro. Pois sabia que também a afetaria.
– Nevra, você está me assustando. O que foi que lhes aconteceu? – Perguntou Erika preocupada, sem perceber Anya desaparecendo por entre os arbustos.
– Me ajude a reunir a Reluzente o mais rápido possível e saberá. – disse ele sério.
– Certo. Então An... – Erika finalmente percebeu o sumiço de Anya – Anya? Onde você está?!
– Qual o problema?
– Anya! Ela estava aqui agora mesmo... e sumiu!
– É uma menina elfa de cabelos azulados? – Erika concordou com a cabeça ainda a procurando com os olhos – Ahff! Não temos tempo a perder com aquela elfinha escorregadia! – declarou ele irritado.
– Conhece ela?
– Sim. Não vejo a hora de ela crescer e fazer parte da minha guarda, que é onde tenho certeza que ela vai se encaixar. Mas agora temos que reunir a Reluzente, já!!***
Anya chegou cedo dessa vez, e com cara de quem correu uma maratona.
– O que aconteceu com você Anya? – perguntei desviando de um golpe no último segundo e removendo a venda em seguida. Normalmente Absol me repreenderia por deixar o treino assim, mas ele parecia tão preocupado com Anya quanto eu.
– Nevra... ele finalmente... exército... cinco dias...
– Calma! Sente, respire e explique direito.
Ela sentou sobre uma das pedras da clareira, respirou umas três ou quatro vezes, e falou: – Nevra que foi atrás de informações sobre o exército humano, chegou agora a pouco.
– E... – disse oferecendo a ela minha garrafa d’água, com ela tomando um gole.
– Eu não pude ouvir muita coisa porque Erika quase descobriu a passagem do chafariz e eu aproveitei que Nevra a distraiu para vir. Parece que o exército humano vai chegar em Eel em cinco dias no máximo. – ela tomou outro gole de agua – Alguém se machucou e Nevra parece desesperado para reunir a Reluzente e repassar o que descobriu.
Já esperava coisa ruim ao vê-la daquele jeito, mas não esperava por isso. E agora que me toquei! Esse exército humano está usando armas brancas ou... Ai. Prefiro nem pensar.
– Acho melhor irmos à minha morada agora, não concorda Absol? – Absol fez um positivo com a cabeça e pediu para os alcopaféis e crowmeros irem embora (sim, estava enfrentando adversários por terra e por ar, e sim, com os olhos vendados. Eu já falei que Absol às vezes me parece um tanto sádico?) e seguimos em direção à caverna.
Caminhamos em silêncio até a caverna, chegando lá dentro, eu sentei Anya em um dos bancos de pedra com almofadas (que eu mesma costurei) de estofado e comecei a falar.
– Deixa eu ver se eu entendi direitinho... – Anya me observava – Você estava a caminho da passagem que te levava até a clareira, mas Erika acabou te surpreendendo, correto? – olhava para ela que me confirmou com a cabeça, continuei – Para a sua sorte, o tal Nevra que havia viajado pra espionar os exércitos humanos chegou, lhe dando uma chance pra fugir, certo? – mais uma vez, ela assentiu. Continuei – Mas antes de você entrar na passagem, você o ouviu dizer que alguém acabou ferido e que o exército chegaria aqui em uns cinco dias, é isso?
– Quanto a essa parte, tem mais.
– Mais o que?
– O grupo que foi os espionar era de quatro pessoas, uma ficou pra trás para continuar espionando enquanto outra ficou ferida, como eu não sei. Nevra parecia desesperado para repassar o que descobriu durante esse tempo.
– Olha, eu até tenho medo de pensar, mas acho que sei aos menos uma parte do porque desse Nevra estar desesperado.
– Você sabe?!? – assenti com a cabeça – E qual é?!
– Armas de fogo.
– Armas de fogo? Tá certo que o fogo é perigoso, mas porque armas feitas de fogo causaria uma grande preocupação?
Revirei os olhos. – Não são armas de fogo, e sim armas com poder de fogo – às vezes Anya era lenta...! – Você viu exemplos quando assistiu Black Cat e Versailles no Bara.
– Mas... uma armadura completa e grossa não seria o suficiente para encará-las?
Jesus, me ajude aqui, por favor. – Se fosse como as armas antigas, até que esse seu método poderia funcionar. Maaas, infelizmente, os seres humanos se aprimoraram muito na “arte” da destruição. Os exemplos que você viu em meus animês até agora, são coisa de criança se comparado ao que se tem nos dias de hoje! – acho que agora ela entendeu de verdade, pois quando terminei de explicar, ela ficou boquiaberta e de olhos arregalados.
– Então... – começou ela – ...você está dizendo que só um daqueles humanos pode ser capaz de... – ela engoliu seco – ...destruir vários faerys?
Eu sentei em minha poltrona, cansada psicologicamente e com um longo suspiro – Sim. É possível.
Agora Anya realmente entendeu de verdade, ela estava claramente assustada. Talvez tanto quanto Nevra. Eu posso não conhecer o pessoal de Eel, mas me importo com Anya e acho que tenho um pouco de compaixão com aquela gente também. Tenho que dar um jeito de ao menos atrapalhar esse exército ainda na floresta.
– Anya... – minha voz soou cansada e preocupada (o que de fato eu estava) – ...acho melhor cancelarmos minhas aulas por um tempo. As coisas aqui podem ficar bastante feias e é melhor você ficar dentro das muralhas de Eel, onde deve ser mais seguro.
– Aaah não! Depois do que você me disse, agora que preciso mesmo lhe ensinar alquimia. Ainda temos cinco dias!
– Ei pensei ter ouvido que tínhamos no máximo cinco dias. E nisso já estou contando hoje.
– Por favor, me deixe ensiná-la por mais três dias então. Eu até deixo de assistir os animês pra me dedicar às suas aulas, mas deixa, vai. – ela implorou. Eu realmente não estava me sentindo confortável com isso, e pela expressão de Absol... nem ele.
Mãe, nos cubra com teu manto, por favor. – Três dias! – acabei por ceder porque sei que ela ia acabar vindo mesmo – Já contanto por hoje, e depois de amanhã é o último dia que você bota os pés nesta floresta. Até esse exército ter se mandado daqui! Aceita?
– Comecemos a aula! – disse ela correndo pegar o livro de alquimia com um sorriso enooorme, e eu fui preparar o not para escrever as novas receitas (e já separar as de cura, que sinto que irei precisar).
.。.:*♡ Cap.14 ♡*:.。.
– 250 soldados que valem por 10? Cada um?! E armados até os dentes com armas de fogo?! – Miiko não estava aceitando bem as noticias trazida por Nevra.
– E ainda por cima carregando bombas e misseis de curto alcance?! – completou Erika as “ótimas” noticias.
Nevra apenas assentiu com a cabeça, deixando todos os presentes assustados e nervosos.
– Isso realmente não é bom. – disse Valkyon observando um mapa – Pelo menos eles estão vindo por terra, podemos tentar algo na floresta. E posso parecer frio agora, mas os contaminados que vem aparecendo, podem acabar nos sendo de grande ajuda nessa situação.
– Valkyon! Como pôde?! – indignou-se Erika, soldando-lhe o braço que segurava.
– Você vai ter que me desculpar Erika, mas o que o Valkyon disse tem bastante lógica. – comentou Ezarel com um sorrisinho malicioso.
– Até você Ezarel! – Erika estava se irritando.
– Erika, – intercedeu Miiko – eu sei o quando você se importa com as vidas dos outros, especialmente agora que apareceu um meio de recuperar os faerys contaminados. – Miiko tentava soar neutra, mas ainda tinha medo em sua voz – Porém precisamos usar tudo o que for possível utilizar.
– Aaahff! – Bufou Erika se apoiando em uma das colunas de braços cruzados e cara amarrada. – Só espero que não cometam erros irreparáveis por causa do medo! De novo. – as últimas palavras só foram ouvidas por Nevra e Ezarel, que tinham as audições mais sensíveis, fazendo-os ficarem cabisbaixos.
– Eu só espero que Chrome e Elina fiquem bem. – comentou Bell, uma das que participaram da missão de espionagem.
– Talvez tenhamos mesmo que evacuar Eel através dos túneis subterrâneos. – apontou Kero.
– É. Talvez. – Erika ainda estava irritada.
A reunião levou horas.***
– Acho que já está dando a sua hora Anya. – falei quando comecei a dar falta da luz natural.
– Mais já? Nós nem fizemos nada ainda!
– Nada ainda?! – disse rindo – Nós produzimos 25 frascos de poção cicatrizante, 15 analgésicas e 10 soníferas que só durante o preparo colocou meia dúzia de cheads pra dormir. Ou seja, nós duas sozinhas criamos 50 poções e me diz que não fizemos nada?
– Tem certeza dessas suas contas? – ahff, até Absol revirou os olhos.
– Tenho. E você vai pra casa, agora!
– Tá legal, né. – respondeu terminando de engarrafar a última poção, depois de finalmente organizar todas as ervas e ingredientes trazidas pelas cheads.
– Absol, por favor. – Absol, que estava deitado, levantou se alongando para poder acompanhar Anya. Ultimamente nem estou precisando dizer o que eu quero e Absol já começa a fazer, como se ele lê-se os meus pensamentos. Com os dias complicados que estavam vindo, isso seria de grande ajuda.
Anya, Absol e algumas aranhas, deixaram a caverna e como sempre eu fiquei arrumando as coisas.
Quando Absol retornou, decidi compartilhar com ele e as cheads algumas ideias que tive para proteger a floresta e a caverna enquanto arrumava tudo.
Iríamos espalhar armadilhas, algumas armadilhas simples, reforçadas com as poções de sono, usando as teias das cheads, e encheríamos os corredores da caverna com tantas teias que fariam até as sombras ficarem com receio de entrar (assim espero). Minhas ideias acabaram sendo aceitas, já que quase na mesma hora que terminei de falar, todas as aranhas começaram a trabalhar nos corredores.
Agora estava um pouco tarde e não tínhamos muita poção do sono. Então as armadilhas ficariam para amanhã (e ainda tinha que conferir as condições das armas que tinha disponível... Deus nos proteja).
.。.:*♡ Cap.15 ♡*:.。.
– Concordo com a Cris, você não devia mais voltar à floresta. Estou surpreso que a tenha convencido a lhe permitir voltar por mais três dias. Dois, porque hoje já se foi. – disse Lance para Anya enquanto se deliciava com um rico prato de sopa acompanhado de meio pão fresco.
– Mesmo ela tendo Absol e aquelas montanhas de cheads com ela, eu não podia deixá-la sem conhecimentos de defesa ou cura! Ainda mais depois de entender o quão perigoso aquele exército humano pode ser.
– Por isso mesmo... – ele mastigou um pedaço do pão – ...os humanos podem chegar antes do prazo de 5 dias. – Anya apenas deu um suspiro de desabafo e Lance continuou – E por sinal, você ainda não conseguiu a receita do teste pra faeliano dela?
– Ainda não. – respondeu ela apoiando-se sobre os braços apoiados nas pernas – Ezarel praticamente não sai do laboratório quando estou no QG. Não estou conseguindo nem me aproximar do livro, quanto mais obter a receita.
– Não é pra menos. Até eu, que estou preso aqui embaixo, pude notar que as coisas lá em cima estão bem agitadas. – Lance terminava de esvaziar o prato – Tem sobremesa?
Anya deixou escapar um pequeno riso, retirou de seu bolso um pequeno bombom colorido que estava guardando para mais tarde e o estendeu para Lance. – É pegar ou largar! – respondeu ela.
Lance pegou o doce ao mesmo tempo em que entregava o prato vazio e a colher para Anya. Ele a agradeceu com um sorriso.
– Porque você se recusa a ajudar? Quando os humanos atacarem, você também não vai estar em perigo? – Lance ficou impassível e em completo silêncio – Ai, não sei por que te perguntei isso. – ele ficou a observando retirar-se – Até amanhã moço! – despediu-se ela correndo.
Por mais que Lance detestasse aquele lugar e sua gente, ele era obrigado a concordar que, quando os humanos atacassem, uma vez conseguindo invadir o QG, ele podia correr o risco de ser morto. E o desejo de Lance era ser livre.***
Acordei com Absol me chamando. Droga, eu queria dormir mais! Deu trabalho abrir os olhos (acho que a poção do sono acabou me afetando) e quando consegui olhar pra frente, uma enorme quantidade de ingredientes para poção do sono estava diante de mim! (parece que não fui a única a prestar atenção nas aulas de alquimia) Todas só esperando para serem preparadas. Levantei na hora para poder por a mão na massa.
Apesar de ser o segundo dia de nosso acordo, não fui à clareira para buscar Anya. Absol buscou-a sozinho.
– Porque é que você não foi treinar com a espada hoje Cris? E porque as cavernas estão tão cheias de teias? Senti calafrios ao atravessá-las.
– Estava ocupada fazendo mais poção do sono para umas ideias que eu tive; e se você sentiu vontade de dar o fora enquanto vinha pra cá, quer dizer que minha ideia para defender este lugar está funcionando.
– Acho que nem mesmo um maluco teria coragem de entrar nessas cavernas do jeito que estão. E que ideias são essas que envolvem tanta poção? – Anya aproximou-se para ajudar.
– Absol, as cheads e eu iremos montar armadilhas na floresta! A poção é para impedir os “felizardos” de pedir socorro ou alertar os outros.
– Hum... até que é uma boa ideia. Quando vão fazê-las?
– Assim que terminar as poções.
– Posso ajudar a montá-las também?
– Bem. Acho que é melhor que pelo menos uma pessoa de Eel saiba delas, não é?
– Sim. É sim. – disse Anya entre risos.
Ficamos preparando as poções por umas duas ou três horas, enchendo pequenos frascos redondos muito frágeis que colocávamos com todo cuidado dentro de cestas com folhas, para que pudéssemos carregá-las com mais segurança. Finalmente terminadas as poções (um total de 56 bombinhas para dormir _risos_) partimos em direção à floresta (notei que as cheads realmente fizeram um ótimo trabalho, ui!).
Cavamos alguns buracos com fios de teia próximos para garantir a queda da vítima, a bombinha, ficou pendurada entre os galhos e folhas que ocultavam o buraco. Como a poção era mais poderosa na forma gasosa, era só quebrar para o “sortudo” se abraçar com Morpheus.
Também colocamos redes de teias (essas tinha mais bombinhas) e alguns laços. Anya era boa nesse tipo de coisa, e Absol avisava a todas as mascotes que encontrávamos sobre as armadilhas e estes repassavam para os demais (acho que até os mascotes de Eel vão ficar sabendo das armadilhas assim). Devia ser umas 3hs ou 4hs da tarde quando as poções acabaram. Decidimos voltar pra caverna.
Chegando à entrada da caverna, o Cristal Vivo começou a brilhar em minhas costas (não tô com um bom pressentimento).
– O que foi? – perguntou Anya – Porque seu cristal começou a brilhar?
– Eu não sei, mas seja lá o que for... vai acabar tudo bem. – respondi-lhe dando o sorriso mais tranquilizador que podia.
Continuamos em frente e nossa! Como aquelas teias estavam me dando arrepios! Jesus, Maria e José! Foi quase entrando em meu abrigo que eu vi a causa do Cristal ter se manifestado e de eu ter tido um mau pressentimento. Uma sombra. A vítima era um senhor de idade, ela estava agachada próxima à parede do outro lado da caverna de costas para a entrada e pude ver que o senhor possuía um corte que parecia sério.
– Anya, – sussurrei – fique aqui perto de Absol até que eu diga que é seguro.
– Mas por quê? – ela me perguntou também sussurrando. Como resposta, apenas apontei para a sombra. Ao vê-la, Anya tapou a boca com as duas mãos para prender o grito e eu comecei a entrar devagar com ela esperando escondida.
Como sempre, o Cristal Vivo me “possuiu”, seu brilho começou a me envolver e eu a cantarolar seja lá o que for enquanto que, dentro de mim, só rezava ao Senhor pra que tudo aquilo acabasse logo e para que o senhorzinho estivesse bem. Mais uma vez a sombra ficou com medo de mim, e parecia um tanto fraca se comparada às outras que encontrei antes (será que era por causa do ferimento do velho?). Prossegui como sempre, a sombra foi absorvida pela corrente, que se transformou em cristal, que liberou aquela fumaça negra até ficar branco e se fundir ao Cristal, deixando apenas o velho ferido diante de mim.
– Já pode vir aqui Anya! – a chamei.
Anya se aproximou devagar com as mãos ainda cobrindo a boca e ao ver o ferimento daquele velho cuja raça sabia que conhecia, mas não lembrava o nome (sabe a criatura que treinou Hércules no desenho da Disney ou que era amigo e guardião do Percy, de Percy Jackson? Há! Lembrei o nome. Sátiro!), ela correu até as poções de cura e venho até mim com duas delas. Uma ela me pediu para fazê-lo engolir (pra isso eu lhe ergui a cabeça deixando a garganta reta e tampei-lhe o nariz, derramando a poção devagar,) enquanto ela passava a outra sobre a ferida.
Rapidinho tudo começou a se cicatrizar e a respiração do velho sátiro começou a se acalmar (pois estava acelerada). Eu ajeitei o senhor deitado no chão e Anya colocou bandagens para proteger os ferimentos que levariam um tempinho para terminar de curar.
– O que foi tudo aquilo lá atrás? O que você fez daquele fragmento contaminado? – perguntou Anya depois de terminar tudo.
– Como é que é?
– Este sátiro! Ele estava contaminado com um fragmento corrompido do Grande Cristal, já vi fragmentos contaminados antes. E você só não o fez voltar ao normal como também removeu o pedaço do corpo dele. O que esse seu Cristal fez com ele?
– Acho que estamos com novas divergências aqui...
Expliquei a ela como exatamente eu enxergava aquela sombra, com todos os detalhes que podia lembrar deixando ela boquiaberta. Depois foi a vez dela falar o que ela enxergou, ficando eu boquiaberta dessa vez. De acordo com a visão dela, a sombra era a criatura (se eu já achava a sombra medonha, imagina se eu a enxergasse da mesma forma que ela me descreveu: pálida, cheia de veias negras espalhadas pelo corpo, garras e chifres negros cumpridos, olhos vermelhos como se estivessem em chamas... Ui! Senti até um calafrio!). Já o cristal, continuava sem explicações.
– Desculpe...
– Pelo o quê Anya? – perguntei deixando o velho descansar.
– Por não ter conseguido a receita do teste para confirmamos se você é mesmo uma faeliana ou não...
– Anya, saber se eu sou 100% humana ou não, é o menor de nossos problemas no momento. Relaxa!
– Eu sei, você tem razão, mas... eu realmente queria poder entender esse seu poder. Saber como ele... Tive uma ideia!
– O que é que você vai aprontar? – acabei perguntando ao vê-la disparar para as ervas e itens que carregava para a mesa e começar algum tipo novo de poção. – Ei Anya, o que você está fazendo aí?
– Já, já você descobre. – ela respondeu. Decidi apenas esperar em silêncio pela “ideia” que levou uma hora pra ficar pronta. Quando terminou, ela retirou toda a roupa (Absol chegou a ficar de costas para Anya) e bebeu aquela coisa.
Aos poucos ela pareceu estar sofrendo com algo e uma espécie de vulto começou a se formar ao redor dela. Aquilo era estranho e estava começando a me assustar. Terminado finalmente seja lá o que for que aquela poção devia ter feito, Anya flutuava envolta por aquele vulto que tomava uma silhueta estranha.
– E aí? Como eu pareço pra você?
– ... Deixa eu pegar a câmera um minuto. – tirei-lhe a foto com meu celular e acabei por arregalar os olhos com o que tinha fotografado. Uma espécie de mulher-gafanhoto adulta com asas de fada/ninfa, não sei, e olhos ovais pontudos como dos alienígenas dos filmes antigos. Olhei da foto pra ela e vice-versa várias vezes antes de falar – Mas o que foi que você bebeu?!?
– Me deixe ver a foto e me diz como é que você está me enxergando. – ela me pediu e eu expliquei como que a enxergava. – Interessante, parece que você consegue de alguma forma filtrar a imagem dos seres que estão a sua frente... te deixando ver apenas a verdade sobre o que está diante de você.
– Legal! Isso é bem interessante, mas no que foi exatamente que você se transformou?
– Em uma Batta nojosei.
– Uma o quê?!
– Batta nojosei, é uma espécie de fada. Normalmente elas pesam no máximo uns 50Kg e são capazes que carregar até 5x o seu peso, além de poderem voar por até 16hs seguidas carregando este peso.
– Legal! Ser uma Batta nojosei teve ser bem vantajoso, quero dizer, exceto quando precisa usar as mãos. No caso as patas! – ela concordou gargalhando e eu ria também – Essa poção é permanente? – perguntei enfim.
– Não. Normalmente esta poção dura no máximo 24hs, e eu a preparei de modo que só dure algumas poucas horas.
– Entendi. – Absol começou a reclamar ainda de costas e eu entendi na hora o que ele queria dizer. Corri pro meu guarda-roupa.
– O quê está fazendo?
– Procurando uma roupa pra você. Não acho que as que estava usando antes lhe servirão agora.
– Tem razão, não pensei nisso na hora.
Peguei um vestido azul claro de alcinhas longo e a ajudei a vesti-lo. Me guiei pelo vulto ao redor dela para ajudá-la, depois peguei fitas e cordões para amarrar nas alças e na cintura do vestido.
– Mas o que é que você está fazendo?
– Dando um jeito de o vestido continuar te servindo mesmo depois de voltar ao normal, ou quer arriscar a ficar nua por causa de um vestido grande demais?
– Isso não!
– Pois bem. – eu prendi a fitas às alças do vestido de modo que Anya só precisaria puxar as pontas a frente do corpo para juntá-las e acertar o tamanho no busto. E o cordão à cintura ficaria responsável por acertar o comprimento. – Acho, que agora está tudo ok. – disse ao concluir meu trabalho.
– Concordo. – conferia Anya – Eu devia é voltar agora...
– Pois é. E com seu tamanho atual é melhor usar a porta da frente!
– Tem toda a razão de novo.
– Aproveita e leva também o sátiro pra Eel! Não tenho condições para cuidar dele...
– Certo. Faço isso. Pode me ajudar a pegá-lo?
– Claro. – eu a ajudei e ela parecia carregá-lo como se fosse uma criança de colo. Definitivamente ela estava mais forte agora.
Durante o percurso da caverna, ela me perguntou se eu a autorizava a falar de mim pra mais alguém por conta da situação (ela já conversava sobre mim com um tal de amigo secreto); refleti um pouco e disse que se fosse para uma pessoa de extrema confiança dela, eu deixava. Ela sorriu em agradecimento. Alcançando o lado de fora, ela partiu voando (atravessar a floresta devia ser mais seguro assim) e eu fiquei rezando por sua segurança, mas... algo me encucava. Como foi que aquele senhor conseguiu aquela ferida?
.。.:*♡ Cap.16 ♡*:.。.
Anya Batta nojosei entrou em Eel voando acima da Grande Porta, surpreendendo os guardas que vigiavam. Ela voava direto para o QG com o velho sátiro e alguns membros das guardas a seguindo. Passando a entrada da sala das portas começou a ter uma estranha sensação, o efeito da poção estava acabando. Ela voltou ao normal logo depois de deixar o senhor deitado em uma das macas da enfermaria. Ajeitou o vestido como a Cris havia lhe explicado para fazer até colocar roupas de seu tamanho. Saindo da enfermaria, foi surpreendida pela Reluzente.
– Será que a senhorita poderia nos explicar onde e o quê esteve fazendo até agora e como você encontrou aquele sátiro?? – começou Erika com todos os líderes observando Anya nervosos. Foram para a Sala do Cristal.
Dentro da Sala, Anya não disse nada, apenas abaixou a cabeça como se fosse chorar. Nevra que era o mais próximo da menina naquele meio, aproximou-se.
– Anya, será que poderia ao menos contar pra mim o que aconteceu? – perguntou ele.
Ela apenas sussurrou um talvez sem levantar a cabeça. Sussurrou tão baixo que só o Nevra conseguiu ouvir, fazendo-o dar um de seus sorrisos mulherengos. – Deixem-me falar com ela. – disse Nevra para os demais.
– O que é que você pretende fazer?! – questionou Miiko receosa com aquele sorriso.
– Apenas conversar. – respondeu ele se afastando com Anya para um dos cantos da sala.
Eles conversavam tão baixo que Ezarel, por conta da distância, não conseguia ouvir direito. Leitura labial estava fora de cogitação! Além de Anya estar de costas para eles, estava na frente do Nevra que havia se abaixado para alcançar a altura dela.
Anya contou quase tudo para Nevra. Ocultou apenas seus encontros com Lance, como chegava na floresta e o poder de ver a verdade da Cris. Terminada a conversa, Nevra ergueu-se e se aproximou dos outros que estavam ansiosos com Anya.
– Acho que não precisamos nos preocupar com a floresta por enquanto. – falou Nevra.
– Como é? – perguntou Ezarel.
– Parece que estamos recebendo uma ajudinha da humana que está vivendo na floresta. – Respondeu Nevra.
– Espera! Está me dizendo que Anya estava na floresta?! – perguntou Erika.
– E junto da humana?! – completou Miiko.
Nevra assentiu com a cabeça e Anya se escondendo atrás do vampiro, deixando todos boquiabertos. – Eu disse que essa menina vai acabar fazendo parte da Sombra, Erika.
– Por mim ela já fazia os testes de guarda agora. – comentou Valkyon.
– Valkyon! Ela ainda é uma criança! – criticou Erika.
– Já aviso que não serei babá de ninguém! – reclamou Ezarel.
– Ao que parece, a Cris... – Nevra retornava ao assunto observando Anya que lhe assentiu para continuar – ...só não veio para Eel ainda, pois não tinha certeza se podia ou não confiar em nós.
– E porque isso? – questionou Miiko.
– Talvez seja por causa dos protocolos de segurança... – comentou Erika recordando a sua chegada à Eldarya, fazendo Miiko revirar os olhos e os líderes darem pequenos risos.
– Concordo com você Erika. – disse Nevra com alguns risos ainda – Pressa que não ia poder nos ajudar.
Terminaram a reunião um pouco depois e Nevra acompanhou Anya até sua casa, onde ela ficou ouvindo horas de sermões de sua mãe. Só se sentiu mal por não ter ido falar com Lance. Deixou para vê-lo no dia seguinte, com um desjejum reforçado para compensá-lo.***
Sentia falta de casa. Mas em que hora que eu vim parar nesse mundo, hein! Já foram nem sei mais quantos dias direito, 40? (por causa da falta de sinal tanto meu celular quando o meu not estavam começando a dar a louca no calendário.) Ainda bem que decidi marcar em uma das colunas que, quando esquecia de marcar, Absol era avisado e ele mesmo marcava pra mim. Até as reclamações repetitivas que me esquentavam os ouvidos de minha mãe estavam me fazendo uma grande falta agora. Absol apoiava a cabeça em meu colo, como que me reconfortando, e eu lhe acariciava. Pensava no quanto eles deviam estar preocupados comigo. Rezava para que todos estivessem bem e para que um dia pudesse retornar para Terra (nem que fosse uma visita rápida!).
Me preparei para mais um dia de treino (o último na clareira e apenas porque Anya viria mais hoje,) acompanhada de Absol e algumas cheads. Todos os outros mascotes pareciam ter evaporado da floresta depois que a noticia das armadilhas se espalhou. Mas mesmo assim... estava tudo quieto demais pro meu gosto.
.。.:*♡ Cap.17 ♡*:.。.
Anya foi sorrateira para se encontrar com Lance. Ele estava claramente irritado com ela por não ter aparecido no dia anterior, mas as torradas com geleia ou mel, os sanduíches de frios, o leite e o suco, mais as castanhas e frutas o acalmou.
Lance pareceu não gostar muito da ideia de ela se unir as guardas (na verdade ele odiou, mas tentou se contiver) e achou interessantes as armadilhas com poção do sono (na opinião dele, elas podiam ter usado veneno no lugar). Alertou-a para tomar cuidado e se fosse possível, aparecesse para conversar mesmo com ela não indo mais a floresta por causa dos humanos (Lance ainda a considerava essencial para escapar, por isso fazia o possível para garantir a confiança de Anya). Despediram-se, e Anya correu para a passagem do parque. Chegando à clareira, não avistou nem a Cris e muito menos Absol, sem falar no silêncio quase assustador... Quando estava prestes a gritar por eles, sentiu mãos tampando lhe a boca e puxando-a para detrás das arvores e arbustos.***
– Shhiii! Não faça nenhum barulho! – sussurrei para Anya que me olhava assustada depois de puxá-la para nos escondermos.
– Tá tentando me matar por acaso? O que foi que aconteceu? – perguntou-me ela baixinho.
– Eles chegaram. – respondi apenas.
– Eles?! – Anya arregalava os olhos – Fala dos humanos??
– Exatamente. Vamos até a caverna, lá eu lhe explico.
Anya apenas assentiu e seguimos para a caverna o mais silenciosas possível. Enquanto atravessávamos os corredores cheios de teias, ela cobriu a boca com a mão para não acabar gritando com as cheads que carregavam humanos envoltos em casulos de teia deixando apenas a área do nariz de fora para que eles pudessem respirar e bolas de casulo distorcido que ela não soube dizer o que continha. Só quando alcançamos o fundo em que vivia que ela se acalmou um pouco e eu comecei a explicar.
– Quando eu estava indo pra clareira treinar e te encontrar acompanhada do Absol e algumas das cheads, nos deparamos com uma das armadilhas que havíamos colocado no caminho desarmada, com alguns homens inconscientes ao redor e dois dentro dela. Nós caprichamos mesmo naquelas poções do sono!
– Tá, ótimo, mas e aí?! – Anya estava ansiosa (no mal sentido).
– Me aproximei deles devagar. Dormiam feito pedra! E todos estavam armados dos pés a cabeça, com armas de fogo, sem falar que cada um deles parecia valer por 10 ou 20 soldados... – ela estava boquiaberta, continuei – Desarmei eles um por um e pedi pras aranhas que estavam comigo para os prenderem o mais forte possível, só deixaram um espaço para eles respirarem porque reclamei! Enrolei as armas na capa que usava e as amarrei. Voltamos todos pra caverna e acho que Absol pediu para que todas as cheads conferissem as outras armadilhas e fizessem o mesmo que a gente já que do nada todas saíram. Todos os soldados estão sendo deixados nos labirintos da caverna. Enquanto as armas são trazidas pra cá. – falei apontando para uns dez casulos de armas em um canto da caverna. – Acho que com isso já capturamos uns 50 inimigos e Absol me forçou a trocar de roupas.
– Pelo Oráculo! Ainda bem que espalhamos aquelas armadilhas ou Eel teria sido atacada ainda ontem à noite!
– Também pensei isso ao ver o monte de soldados que estavam sendo trazidos.
– E agora? O que pretende fazer Cris?
– Bom, já que comecei... – Senhor, me entrego a ti! – ...minha obrigação é terminar! Pensei em tentar descobrir se há algum acampamento por perto e ver o que mais eu posso fazer. Já, já as armadilhas acabam.
– Isso é verdade. Sem falar que se fosse eu no lado deles, já estaria desconfiando de todo esse silêncio contra Eel... Quer que eu te ajude?!
Ela estava sorrindo quando me perguntou, cocei a cabeça pra falar – Sinceramente, não. Eu não quero arriscar a sua segurança mais o que já está arriscada, mas... querendo ou não, vamos precisar de ajuda. – que todos os santos guerreiros nos protejam!
– Então acho que vou precisar dá um jeito de ficar mais segura, se é assim! – os olhos dela brilhavam – Posso dar uma olhada em suas coisas?
– Claro. O que servir é seu! – disse apenas (anjos de Eldarya nos guardem).
Anya foi até os equipamentos de segurança, vestiu braçadeiras e tornozeleiras de couro; prendeu uma adaga a uma das pernas e duas facas estilo cimitarra à cintura, com uma de cada lado; colocou um colar de couro grosso com pontas para cobrir o pescoço; vestiu uma blusa de malha frente única que em mim ficava justa, mas nela era preciso ajustar (o que ajudei), e pegou uma grande bolsa de ombro onde colocou todo o resto das poções soníferas que havíamos produzido e algumas de cura, além de alimento e agua, dizendo que se íamos ao encontro dos black-dogs, devíamos estar preparadas (claro, ela pediu desculpa à Absol que pareceu não se importar com o comentário).
Partimos logo em seguida. Rondamos a floresta por horas, e aquele excesso de camadas de tecido, couro e metal já estava me perturbando, se não fosse o vento frio e o céu nublado, com certeza já estaria derretendo dentro daquilo tudo. Meu pescoço coçava com o coque baixo que eu fiz para ajeitar o cabelo no capuz, as luvas e botas (se é que podia chamar aquilo de botas) não paravam de querer me pinicar em alguns pontos e as espadas já estavam me pesando (não, você não leu errado não. Absol podia ser sádico nos treinos, mas graças à ele eu era capaz de lutar com duas espadas ao mesmo tempo. só espero que seja o suficiente pra continuar respirando), sem mencionar o meu cajado preso às costas.
Estava prestes a começar a comer umas castanhas que tinha em minha pochete já que estava entardecendo (disse que procuramos por horas) quando ouvimos algo. Seguimos o som e encontramos um acampamento (estávamos bem do lado dos suprimentos e animais pelos cheiros). Anya subiu em uma arvore imensa próxima de nós, com algumas cheads dando-lhe cobertura, para visualizar melhor as coisas. Segundo ela, o acampamento parecia conter uns 200 homens; perto de nós havia um homem que preparava algum tipo de sopa para todos; rawists e shau'kobows estavam presos às arvores um pouco afastadas de onde estávamos; no centro do acampamento havia duas grandes barracas que continham um guarda em cada canto e entrada delas, e todo o acampamento parecia preocupado (provavelmente pela falta de noticia de seus companheiros que estavam nas cavernas).
– E aí? O que acha que devemos fazer? – me cochichou Anya.
– Duzentos homens grandalhões como esses aí e coisa demais para só duas mulheres, ainda mais com uma sendo criança.
– Desculpe se ainda sou nova. – ela se irritou...
– Foi mal aí, mas ainda temos que dar um jeito de diminuir este número sem nos arriscarmos demais, e as barracas no centro teve conter as armas e munições em uma, e os cabeças desse pessoal em outra. O que ainda temos?
– Além das poções que não utilizamos nenhuma, uma garrafa d’água e três frutas? Só nossas lâminas. – disse ela abrindo a bolsa e conferindo o conteúdo.
– Hum... Anya, acho que tive uma ideia maluca. Me confere se é possível cumpri-la.
– Desembucha. – disse ela fechando a bolsa.
Eu expliquei a ideia. Tratava-se de derramar poção do sono na sopa que seria servida por cima deles, algo que só as cheads poderiam efetuar aproveitando as arvores enormes que rodeavam o acampamento. Desenhei na terra para que ela entendesse melhor. As aranhas usariam suas teias para se locomoverem acima deles, derramariam a poção no caldeirão sem ninguém perceber e, aqueles que comessem logo estariam fora do caminho. Aí com quase todos dormindo, invadiríamos de fininho para descobrir qual das barracas guardava a munição onde criaríamos algum tipo de armadilha que explodisse tudo quando estivéssemos bem longe dali.
Anya amou a ideia e disse que conhecia o feitiço perfeito para mandar suas armas para os ares, mas que pelo tamanho da panelona só podíamos usar uma poção para que não percebessem. Absol também pareceu aprovar o plano e deu um sinal às cheads que subiam nas arvores e saltavam entre elas. Quando os “caminhos aéreos” estavam prontos, entregamos uma poção a chead que ficaria responsável por misturá-la na comida enquanto outra se encarregaria de distrair os soldados para que isso fosse feito (me chame de pessimista e sem fé, mas tenho certeza que a coitada vai acabar é morta. Senhor, que isso termine logo).
Começando a operação: “Boa noite Cinderela armada”. As cheads caminhavam de ponta cabeça pelos fios, enquanto a “isca” manteria os soldados longe da comida que estava sendo preparada (acho que eles já estavam cansados de rações ou não encontraria outra explicação para eles estarem preparando a comida. De qualquer forma, sorte a nossa). Ouvimos um grito vindo do lado de onde a comida estava sendo feita, começou.
A chead isca parecia correr desesperada enquanto afastava todos e conseguia desviar bem dos tiros contra ela, e a chead da poção desceu até o caldeirão segurando com a teia o frasco de ponta cabeça, removendo a rolha e deixando o líquido cair e se misturar. Subiu rápido antes que fosse vista. Infelizmente eu estava certa, a chead isca fez um excelente trabalho distraindo os soldados, mas acabou morta com uma chuva de balas quando foi finalmente cercada. Não pude evitar de chorar uma lágrima por ela e Anya me abraçou.
Enquanto esperávamos pelo efeito da poção, Anya teve a ideia de soltarmos os mascotes por trás das arvores e acabei concordando. Como todos os mascotes de Eldarya são bem espertos, pedíamos a eles para esperassem um pouquinho antes de sumirem do acampamento (já que era claro que eles não eram bem tratados ali) para que os soldados não percebessem seus desaparecimentos, e eles entenderam.
Tivemos que esperar quase duas horas para ouvirmos os roncos. Entramos devagar e pelas sombras, com todo o cuidado possível. Eram poucos os que ainda estavam acordados (ou porque não comeram ou porque ainda resistia ao sono). Conseguimos nos aproximar dos barracões. Por garantia, Anya usou um feitiço de agua com a poção para que os guardas a inalassem, não tivemos dificuldades em descobrir qual delas guardava a munição e como havia munição.
Estranhei mesmo foi algumas caixas reforçadas que pareciam proteger demais o seu conteúdo, olhei ao meu redor até bater os meus olhos nos brincos de Anya, compridos, rígidos e finos – Anya! – chamei-a sussurrando e ela se aproximou – Esses seus brincos, eles são importantes pra você?
– Não. – ela me respondeu sem entender – Por quê?
– Você me empresta um? Já aviso que posso acabar estragando.
Ela ainda não parecia entender, mas acabou me entregando um e se manteve perto para ver o que eu ia fazer com ele. (Eu nunca arrombei uma fechadura antes em toda a minha vida, mas Mãe, se o conteúdo dessas caixas for algo que definitivamente não deve ser utilizado, que eu consiga.) Gastei alguns minutos, mas creio que fui ouvida, pois consegui. Até Anya ficou impressionada – Como fez isso? – ela me perguntou.
– Regra de sobrevivência número um que acho que todo ser humano já aprendeu na vida: qualquer coisa pode virar uma arma se usada a imaginação. – respondi apenas em meio a um sorriso que sumiu ao ver o conteúdo da caixa. A caixa era completamente forrada por dentro, cheio de objetos que me lembravam a misseis e com mais estofado entre eles. Gelei ao imaginar aquelas coisas em ação. Deixei a caixa aberta ou do contrário aquelas coisas não seriam destruídas na barraca e comecei a arrombar as outras.
– Agora você pode fazer aquele feitiço que falou que era perfeito pra acabar com tudo isso aqui. – disse para Anya, devolvendo-lhe o brinco meio amassado após sete cadeados que consegui encontrar.
– Certo. Só me dê um minuto e vamos cair fora logo daqui. – disse acendendo algumas chamas nas palmas das mãos enquanto citava alguma coisa. – Pronto. Agora temos meia hora para estarmos o mais longe possível daqui. – falou ela depois de terminar de colocá-las flutuando no centro da barraca e se afastar delas lentamente.
Meia hora... este acabou sendo o tempo para alcançarmos os limites do acampamento sem sermos vistas. A explosão foi escabrosa! Se quiser ter uma noção do que nos vimos, basta ver o vídeo de um vulcão em erupção. Acredito que um dos motivos daquilo ter sido tão assustadoramente poderoso (até mesmo conseguiu cortar o efeito da poção!) era o conteúdo das caixas que arrombei.
Estava noite, porém a explosão fez o lugar virar dia outra vez. Corríamos ouvindo gritos de: “apaguem esse fogo!” ou “os animais sumiram!” e “ajudem os feridos!”, mas o que nos fez apertar o passo mesmo foi o grito de: “aqui! Espiões! E estão fugindo!”. Desesperada, comecei a rezar a oração de Santa Teresinha das Rosas sem parar. Tanto que Anya acabou por ficar a rezando também durante a nossa fuga. Quanto mais eles nos mandavam parar, mais nós tentávamos acelerar. Só não íamos mais rápido porque não tínhamos asas.
Foi então que começamos a ouvir um “argh” ou um “Aaah!” durante nossa fuga, não me atrevi a olhar pra trás para entender o que acontecia com medo de cair, mas Anya o fez, gritou com o que viu e começou a correr mais rápido ainda, tentei segui-la (eu é que não ia ficar pra trás!).
Já havíamos alcançado a floresta de Eel, conhecíamos o terreno então podíamos despistá-los para que recuperássemos nossos fôlegos. Finalmente estávamos com sorte! Ou foi o que pensei. Um dos tiros que havíamos conseguido evitar até àquela hora atingiu Anya de lado fazendo-a cair.
– ANYA!!! – gritei parando para pegá-la em meus braços. O cansaço da corrida somado ao choque do tiro e da queda a fez desmaiar. – Anya, acorde, por favor! Anya! – estava desesperada.
– Finalmente te alcançamos faerys dos infernos! – disse um dos soldados que nos perseguia. Eu não parava de chamar pela Anya e rezava a Deus para que não a deixasse morrer. – Relaxa, vou te mandar pra junto dela nesse instante.
Ele atirou, mas não fui atingida. O Cristal Vivo me envolveu novamente, era como se um campo de força poderoso estivesse me protegendo. Meu desespero foi substituído por calma. Comecei a rezar uma Ave Maria atrás da outra desejando a morte bem longe de nós. Ajeitei-a no chão, eu me ergui pegando minhas espadas, cujas lâminas se afinaram ao pegá-las (elas tinham a largura de uns quatro dedos e agora parecem ter a metade disso) e me pus na direção daqueles soldados que não se intimidaram no começo, mas pareciam nervosos.
Eles descarregaram suas armas em cima de mim inutilmente. Acabadas as balas começaram a me atacar corpo-a-corpo. Não parava de rezar, e meus movimentos fluíam. Eu os atingia com as espadas precisamente e me desviava facilmente de seus ataques. Por mais terrível que meus golpes parecessem, sabia que eles estavam bem, eu não queria mesmo a morte naquele local. Acho que enfrentava uns vinte deles e aos poucos eles começavam a correr me chamando de bruxa e carregando os colegas feridos.
Não fui atrás deles, ainda estava chorando e rezando por Anya (acho que rezei mais de três rosários durante a batalha) , e notei que as espadas voltavam ao normal. Ao me virar na direção dela, um homem pálido de cabelos e vestes (eldaryanas) negras estava com ela nos braços, me observando. Tentei chamar Anya mais uma vez, mas minha voz não saiu. Eu desmaiei.Psiu!
Capitulo longo não? Mas se quiser entender melhor a minha vestimenta de batalha nesse capitulo, basta vestir sua guardiã com os seguintes itens nessa ordem: Macacão Holy Knight, Botas Nightmare Chivalry, Top Holy Knight, Vestido Nightmare Chivalry, Luvas Nightmare Chivalry, Blusa Winter Warrior, Espada Winter Warrior e Pochete de Viagem. Todos na cor negra.)
Assim:
.。.:*♡ Cap.18 ♡*:.。.
Estava ficando tarde e Anya não retornava, o que deixou Nevra preocupado e com um mau pressentimento, principalmente depois de o Valkyon ter dito que a presença da humana havia “sumido”. Foi até o parque do chafariz onde Erika havia perdido Anya de vista. Procurou até descobrir um pequeno buraco entre os arbustos ao fundo da muralha, na hora entendeu que era a passagem que Anya usava. – Anya, sua pequena verdheleon... – disse ele pra si mesmo sorrindo com a descoberta feita.
Captou com sua audição o que parecia ser uma explosão a muitos quilômetros dali e decidiu ir a floresta procurá-la. Prestou atenção em cada mínimo ruído da floresta que atravessava com cuidado para não cair nas armadilhas daquelas duas, até ouvir um disparo, seguido de um grito feminino chamando por Anya. Nevra sentiu seu coração parar e correu na direção do grito, onde ouviu mais um disparo e alguns segundos depois centenas deles, o fazendo correr ainda mais até o local com suas adagas em mãos.
Chegando finalmente ao local, encontrou Anya no chão e uma mulher vestida de negro envolta por uma luz branca lutando contra vários soldados, os mesmos que ele espionara alguns dias atrás. Foi de encontro a Anya e viu o ferimento, ela ainda respirava então ainda dava tempo de salvá-la. Abriu a bolsa que estava com ela e encontrou as poções, cheirou cada uma delas até encontrar o que queria para salvá-la.
Após os primeiros socorros passou a observar a mulher que lutava. Ela era incrível! Usava duas espadas e parecia dançar entre eles. Uma dançarina sangrenta, sem mencionar a estranha maana que ela emitia. Demorou em perceber que por mais certeiro que os golpes fossem, os soldados continuavam vivos. Como era possível? Aos poucos os soldados fugiam dela carregando os feridos e a chamando de bruxa, ele já estava de pé com Anya em seus braços. Acabada a luta, a mulher olhou para ele segurando Anya, ela chorava e o brilho envolta de seu corpo sumia aos poucos.
Ela tentou dizer alguma coisa, mas Nevra não ouviu nada e ela desmaiou logo em seguida. Antes que ele pudesse fazer algo, um black-dog aparou a queda da mulher e um grupo de cheads usou suas teias para prendê-la nele. – Vocês devem ser Cris e Absol. – acabou dizendo.
Absol pareceu observá-lo como se estive pensando se podia ou não confiar nele, e depois de uns instantes, sumiu floresta adentro. Nevra pensou em segui-los, mas ajudar Anya era mais urgente. Correu de volta para o QG.
Anya ficou inconsciente por quase duas semanas e não houve ataques por parte dos humanos neste período, mas em compensação cheads traziam homens encasulados. Libertaram um deles e Bell que estava junto o pões pra dormir imediatamente. Ela o reconheceu de entre os humanos que pretendiam atacá-los e Miiko ordenou a prisão imediata deles.
No dia em que Anya acordou, ninguém estava acreditando na proeza que elas duas haviam feito. Tanto que Miiko ordenou a imediata ingressão delas na guarda! De Anya (que acabou ficando na Sombra) e da humana, assim que fosse encontrada.***
Estávamos na floresta, era um dia bonito e tudo parecia calmo e tranquilo. Vi Anya dormindo no colo de uma mulher branca de tão pálida, seus cabelos eram penas coloridas de rosa, amarelo e lilás, grandes asas com as mesmas cores e uma longa cauda de lagarto da cor de sua pele (será que era a tal da Oráculo? Mas ela não estava morta?).
– Anya... – acabei a chamando.
A mulher que a acariciava falou – “Ela está bem. Este homem a salvou.” – disse ela apontando a mão para o lado que virei e vi aquele mesmo homem que segurava Anya antes de eu desmaiar, e que me acenava em cumprimento com a cabeça.
“Vocês fizeram um ótimo trabalho juntas!” – falou uma outra mulher que parecia ser a versão oposta da primeira, com pele morena bem escura e as penas negras, roxas e azuis claras, apoiando uma das mãos em meu ombro – “E sugiro que você dê uma procurada na floresta.” – terminou ela me dando uma piscadela.
Eu estava feliz por Anya. Tão feliz que comecei a cantar a consagração à Nossa Senhora em agradecimento e uma forte luz branca começou a envolver tudo e todos. Abri meus olhos antes de terminar de cantar, mas nem por isso parei de cantá-la. Estava em minha rede na caverna e ficava repetindo as imagens e palavras de meu sonho sem parar pra ter certeza que não esqueceria nada.
Absol e algumas cheads se aproximaram de mim com ar preocupado. – Bom dia pessoal! – acabei por dizer sorrindo e eles vieram pra cima de mim transportando alegria e me fazendo cair na risada. – Calma gente! – acabei dizendo e eles amenizaram na empolgação, senti uma senhora fome em seguida – O que temos pra comer? Sinto que sou capaz de devorar um rawist de tanta fome!
Dito isso, a aranha mãe me entregou uma bacia cheia de pães e frutas que eu literalmente ataquei. Meu corpo tremia de fome, nunca havia me sentido assim antes até parecia que meu corpo não via... parei um instante pra engolir o tinha na boca, e com medo da resposta, perguntei – Ahm, pessoal... há quanto tempo... que eu estou dormindo? – eles se entreolharam sérios e um grupo de aranhas se colocou a minha frente erguendo cada uma, uma pata, contei 14. Porque é que catorze delas ergueriam uma pata cad... já entendi. E meus olhos estão esbugalhados. – Vocês estão me dizendo que eu dormi por 14 dias seguidos?!?!
Todos assentiram com a cabeça. Misericórdia... O máximo que eu já dormi até hoje foi 14 horas seguidas, quando criança. E agora eu dormi 14 dias??
– E quanto aos soldados capturados? O que foi feito deles? – outro grupo de cheads resolveu se juntar criando uma espécie de silhueta medonha assim como... as sombras... Anya havia me dito que os faerys que eu resgatava das sombras estavam sendo levados a Eel. E que isso estava até mesmo gerando confusão. – Vocês os levaram para Eel? Assim como os que eu ajudava? – mais uma vez, todos assentiram com a cabeça.
Terminei de comer digerindo não só a comida como também toda aquela informação. Céus! Espero que Anya esteja melhor do que eu. Anya... aquelas mulheres disseram que Anya estava bem graças aquele homem que vi na floresta... e também pediram para dar uma procurada nela? Procurar o quê exatamente? Anya? Aquele homem? Ou seria alguma outra coisa?
– Absol... – ele ficou atento – ...vou tomar um banho pois devo estar mais que precisando e depois disso, acho que tem alguma coisa na floresta que precisa ser encontrada.
.。.:*♡ Cap.19 ♡*:.。.
Três dias haviam se passado depois que Anya despertou. Sua mãe ficou furiosa com a decisão de Miiko, como ela se atreveu a recrutar sua filha ainda criança?! Nevra que agora era o seu líder, jurou a sua mãe que enquanto ela ainda fosse menor de idade, de forma alguma lhe mandaria para alguma missão de risco e quando recebesse uma missão fora de Eel, ele estaria junto como se fosse a sombra da menina e prometeu que lhe cuidaria como uma filha ou uma irmãzinha. Anya não gostou muito da ideia de ter seu chefe tão colado nela, porém sua mãe acabou aceitando.
Quando Anya conseguiu se encontrar com Lance, sua reação foi semelhante à de sua mãe e dos demais. “Mas o quê aquela kitsune desvairada pensa que tem na cabeça?” Foi o que ele acabou dizendo ao ouvir sobre a ordem da Miiko. Também ficou incrédulo com o que ela e Cris fizeram com o exército humano e lamentou por não saber como que ela estava. Ao menos sabiam que Absol estava com ela, segundo o Nevra.
Podiam considerar que agora estava tudo em paz outra vez, se não fosse por um detalhe: Chrome ainda não retornou. Foram enviados alguns membros da Sombra e da Obsidiana para averiguar o que tinha acontecido. Os humanos sumiram, o que era bom, mas nem um sinal do lobisomem ou de seu mascote.
Também fizeram buscas na floresta por Cris para a levarem ao QG como a Miiko ordenou. Anya se recusou a ajudar alegando que se sua amiga precisava se juntar a eles seria por vontade própria e não por ordens da Miiko. Erika lhe apoiava (e Lance também).
Era noite, e Ewelein estava na enfermaria conferindo os prontuários de seus pacientes e montando alguns kit’s de primeiros socorros para um grupo que faria uma missão na Costa de Jade logo pela manhã que se aproximava. Estava concentrada e foi um rosnado vindo da porta que lhe despertou a atenção.
Quando olhou para trás, um enorme black-dog a encarava. Abafou um grito com as mãos deixando cair o kit pronto que estava em sua mão e que foi aparado por ele antes que tocasse o chão. O black-dog virou-se para a porta e a abriu, ficou observando Ewelein com o kit na boca como se estivesse lhe dizendo: “venha!”.
Ewelein começou a imaginar que estava alucinando, que estava cansada, mas como o black-dog parecia insistir, ela acabou o seguindo. Ela o seguiu até a cerejeira e o viu atravessar a passagem que levava aos túneis subterrâneos, ficou com receio de continuar o seguindo, mas como ele reclamou outra vez continuou andando.
Seguiu pelos túneis até chegar à floresta. E da floresta até um labirinto de cavernas infestadas de teias. “Será que esse black-dog é o Absol?”, pensou ela enquanto continuava o seguindo. Chegando no fundo, ficou maravilhada com o que via, o lugar parecia ter sido decorado por elfos! Se não fosse pelo choramingo dele, lhe chamando a atenção para alguém que estava deitado sobre uma rede, ela ainda estaria admirando o lugar.
Ewelein se aproximou devagar daquela rede e quando percebeu quem que estava deitado nela, começou a examiná-lo e tratá-lo imediatamente. Era Chrome, e ele não parecia nada bem, o ferimento no lado das costelas parecia tratado, mas ele precisava de cirurgia naquela área para ficar bem de verdade. Tinha febre e várias escoriações meio tratadas. Por causa do escuro, estava com dificuldades para atendê-lo e como resposta a suas necessidades, uma luz branca surgiu por trás dela.
Não quis nem saber qual era a fonte daquela luz, apenas começou a trabalhar com mais afinco.***
Depois do meu banho, Absol e eu fomos à floresta revistá-la. Não tinha ideia do que eu precisava encontrar, então observava tudo com muito cuidado, eu e Absol nos separamos para podermos cobrir uma área maior. Foi ele que achou o que devíamos encontrar.
Absol me guiou até uma arvore rodeada por arbustos e no meio deles... Jesus, misericórdia. Um homem... lobo... lobisomem? Ferido e inconsciente, com roupas pretas e verdes, além de cabelo comprido com as pontas vermelhas. Me aproximei e ele parecia ainda respirar, peguei uma das poções de cura que havia trazido comigo (não sabia o que devia procurar!) e lhe dei. Ele a bebeu com um pouco de dificuldade e precisava dar um jeito naqueles ferimentos.
– Absol... – foi tudo o que eu disse olhando para Absol que saiu correndo na hora. Fiquei dando um jeito como podia naqueles machucados e Absol voltou acompanhado de um crylasm adulto, que nos ajudou a levar o ferido até a caverna.
Lá, tirei-lhe a roupa para lavar as feridas e preparei algumas das poções de cura que aprendi com Anya. O vesti com uma calça larga trazida por uma das cheads e o deixei deitado na rede. Costurei um colchonete para mim e fiz o que pude por ele.
Anya não apareceu nenhuma vez e isso estava me preocupando. Será que ela pensa que eu morri? Não, acho que não. Percebi que enquanto eu lavava o corpo daquele ser, o que minha pele sentia e os meus olhos via pareciam divergir novamente, nem acreditei na foto que tirei. Será que além de ver a verdade, eu também reconhecia a real natureza dos faerys?
Dois dias depois de tê-lo encontrado, ele começou a apresentar febre, não sabia mais o que fazer! Teria ido a Eel buscar ajuda, mas, tinha receio de ir até lá sozinha. Se tivesse a companhia de Anya, por exemplo, me sentiria mais segura (francamente não é mesmo? Enfrentou um bando de mercenários armados até os dentes, mas não tem coragem de enfrentar alguns elfos e brownies. Meu Senhor...).
– Nesse ritmo não conseguiremos ajudá-lo. – comentei pro Absol – Ele precisa de um médico de verdade! Se ao menos Anya aparecesse para ajudar... – Absol pareceu ficar refletindo, eu apenas dei um longo suspiro e fui me deitar um pouco, rezando por um milagre (eu podia não ser a melhor das católicas, mas nunca rezei tanto quanto depois que cheguei a Eldarya).
Ainda era madrugada (eu acho) quando Absol me acordou. Nem tive tempo de dizer qualquer coisa quando vi uma mulher alta ao lado daquele homem. Peguei o meu cajado e me aproximei deles devagar, quando vi que ela estava cuidando dele agradeci a Deus, e na mesma hora, o Cristal Vivo começou a brilhar como se fosse uma lâmpada de LED, o que pareceu ajudar aquela elfa (ao menos me parecia uma elfa, será que era a tal da Ewelein, que Anya me falou?)
– Ele precisa ser operado urgente. – arregalei meus olhos quando ela disse isso, me olhando logo em seguida – Me ajuda a levá-lo ao QG?
Não falei nada. Apenas olhei para Absol que já estava saindo da caverna às pressas. – Se vamos tirá-lo daqui, precisamos nos preparar. – disse-lhe já jogando uma camisa larga e uma coberta para que ela colocasse nele e me troquei também, pela brisa que entrava, estava fria a noite.
Absol chegou acompanhado de um crylasm (acho que o mesmo de antes) onde colocamos o lobisomem junto da rede. As aranhas ajudaram a fixá-lo sob o mascote com suas teias e partimos.
Atravessamos a floresta sem problemas e bem rápido. O Cristal ainda brilhava, o que nos garantia luz e Absol se mantinha ao meu lado. Chegando diante da Grande Porta (e põe grande nisso!) a mulher gritou para os guardas o que acontecia e logo, logo já estávamos atravessando a cidade. Ainda sentia um certo receio em adentrar aquele lugar, mas Absol me empurrava incentivando-me a continuar.
Entramos em um grande prédio ou torre e seguimos até uma sala após algumas escadas onde já havia alguns faerys em nossa espera. Ajudei a retirar aquele moço do crylasm e depois fiquei só os observando trabalhar em um canto daquela sala, rezando um rosário com Absol sentado ao meu lado e o Cristal brilhando pouco agora.
.。.:*♡ Cap.20 ♡*:.。.
“Olá, guardiões!”
“E ai galerinha!!”
– Pera, vocês não são as... Oráculos alternativas?
“Olha aqui oh humaninha, nós não somos alternativas coisa nenhuma! Eu e minha irmã somos autênticas.”
– Tá, foi mal aí. Mas o que é que vocês querem aqui?
“Queremos apenas avisar aos leitores que a forma de ser contada esta história vai mudar um pouco agora.”
– Como é que é!?!
“Foi o que ouviu dona. Até agora a historia ficou dividida entre eventos de Eel, na terceira pessoa, e eventos da floresta e da caverna, na primeira pessoa.”
– Claro! É minha historia afinal.
“Só que você está em Eel agora. E fica meio complicado de continuar a história da mesma forma que antes.” – disse ela gentilmente.
– E... o quê exatamente irá mudar?
“Até agora, oh tantã...” – não estou gostando dessa oráculo negra – “Só você é que expressava seus pensamentos e emoções aqui. Agora é hora dos outros terem vez também. Ah! E os capítulos poderão ficar maiores também.”
– Tá, já entendi. Mas dá pra parar de me tratar como uma burra?
“Sua professora é uma criança!”
“Chega irmã. Anya não é uma criança qualquer e você sabe muito bem disso. Ela não podia ter recebido professora melhor.” – disse a branca a repreendendo (gostei da branca!).
A negra pareceu não se importar com a branca. – De qualquer forma, – comecei a falar – porque foi que vocês apareceram para avisar isso aí? Quem são vocês de verdade?
“Depois. Nós aparecemos para que os leitores não ficassem confusos.”
“E mais tarde você nos conhece direito. É só deixar a historia seguir.”
– Se dizem... Mas eu ainda serei a principal aqui né? – as duas assentiram com a cabeça. – Então... sigamos com ela.***
Cris
A cirurgia durou o rosário inteiro e eu não sabia bem o que fazer naquele lugar. Era quase como quando cheguei à floresta pela primeira vez. Me sentia desorientada.
– Você nos deu uma ajuda e tanto. – disse a elfa cinzenta tirando as luvas para me cumprimentar – Sou Ewelein, é um prazer conhecê-la.
– Cris. – respondi apertando-lhe a mão – Não creio ter ajudado tanto assim... – ela me sorria – Sem querer ser rude... mas você sabe me dizer o que foi que aconteceu com Anya? – acabei por perguntar. Estava mesmo pensando nela depois de tudo.
– Ela está bem. Assim que o dia amanhecer direito poderá encontrá-la. – ela me respondeu.
Senti um grande alívio. Suspirei e sorri com aquelas palavras e minha reação a fez sorrir também. Mas se era verdade... – Desculpe incomodar de novo, mas se ela estava bem, porque não me procurou novamente?
– Hum... é um pouco complicado. – Ewelein explicava – Acho que seria melhor se você conversasse com ela pessoalmente. E Anya não é a única que deseja falar com você, Cris.
Ok. Agora estou preocupada por ter vindo aqui.
Anya
Levantei da cama antes do sol terminar de mostrar a cara. Estava comendo uma fruta da lua quando ouvi uns guardas que passavam de frente a minha casa (caramba, seria tão mais fácil minha vida na guarda se minha mãe me deixasse mudar pro QG... “Você ainda é uma criança e enquanto for menor de idade, continuará debaixo do meu teto!”, foi o que ela me disse.) conversando sobre a chegada de uma mulher acompanhada de um black-dog. A Cris tá no QG!?!
Corri pra fora a tempo de ainda os ver e fui logo perguntando que historia era aquela que eles estavam falando. Eles me explicaram que durante a madruga, a “forasteira” com o black-dog haviam chegado à Grande Porta acompanhando Ewelein e Chrome, este estava inconsciente e sob um crylasm, e que até onde sabiam, ainda estavam todos na enfermaria.
Fui pra enfermaria o mais rápido possível. Ela não sabia nada da ordem da Miiko e o Chefinho (ou será que vou chamá-lo de becola hoje? Nevra vivia me chamando de verdheleon então em resposta o chamava de becola, agora quando ele me chamava pelo nome, eu o chamava de Chefinho, justo não?) não sabe sobre o poder dos olhos dela (será que ela descobriu mais detalhes disso?) e o mais importante de tudo, estou louca de vontade de vê-la. Eu a teria visto assim que tinha acordado (como fiz com o Lance), mas por causa da nossa líder, estava sempre sendo seguida.
Cheguei à enfermaria e entrei, Ewelein e ela estavam sentadas conversando enquanto Ewe a examinava, Absol observava em um canto afastado. – Cris!
– Anya! – disse ela se erguendo e eu corri para abraçá-la com ela me abraçando de volta bem forte – Anya... graças aos céus, você está bem.
– E graças à Oráculo você também está! – a respondi aproveitando o nosso abraço.
– Me pergunto como é que vocês estariam se uma tivesse acordado mais cedo que a outra... – comentou Ewe.
– Que quis dizer Ewelein?
– Any... – a Cris falava – ...nós duas ficamos dormindo por duas semanas inteiras. – terminou ela meio vermelha.
– Nossa! Então aquela aventura acabou mesmo com nós duas. Mas me diz, o que foi que aconteceu depois que cai? Eu só sei o que Nevra me contou depois de me achar.
– Se você me contar o que foi que ele contou, tudo bem!
Trocamos explicações enquanto Ewelein terminava de examiná-la ouvindo com atenção nossas palavras. Ela pareceu se arrepiar quando disse o que eram os gritos dos homens que nos perseguiam durante a fuga! Absol saltava das sombras derrubando-os. Contei o porquê de não ter ido vê-la depois de acordar e ela não me pareceu muito confortável com a ordem dela se tornar parte da guarda, até Absol que esteve o tempo todo em silêncio acabou deixando um pequeno rosnar escapar. Falei também quais informações sobre ela havia repassado para Nevra, meu chefe agora (nesse ponto ela me deu os parabéns e deu risada quando disse as condições de minha mãe que precisei engolir).
Quando acabei de contar o meu lado, foi a vez dela de contar. Contou de seu sonho e de como encontrou o Chrome e disse também que, muito provavelmente descobriu mais um detalhe sobre seus olhos, mas que precisava se encontrar com mais faerys primeiro, para ter certeza. Ewelein parecia querer nos questionar sobre isso, só que bateram na porta.
.。.:*♡ Cap.21 ♡*:.。.
Cris
Ewelein abriu a porta e um grupo de pessoas entrou. Um bárbaro de cabelos brancos muito bonito; uma kitsune carregando um bastão com uma chama engaiolada (deve ser a tal Miiko de quem Anya tanto me falou nas aulas); um elfo de cabelos azuis; o homem que tinha visto antes de desmaiar!; um rapaz com um chifre na testa e óculos; e dois anjos, uma mulher e um homem (ele estava ferido?).
Esfreguei meus olhos para olhar direito alguns dos que entravam. O bárbaro tinha asas translúcidas azulada nas costas e sua sombra tinha uma forma diferente de seu corpo (não pude ver o formado direito por conta de todo aquele pessoal junto), e os anjos... estavam acorrentados? Uma das pontas estava presa ao pescoço do homem (eram tocos de chifre na cabeça dele?) e a outra ponta estava presa ao pulso da mulher (por acaso ele estava pagando algum tipo de penitência pra ela?). Acho que Anya me observava.
– É ela... – disseram os anjos e o bárbaro juntos e ao que parecia, sem querer, logo depois de entrar.
– Ela? – perguntou o elfo por todos que ficaram observando aqueles três.
– É dela a presença que sinto. – falou o bárbaro com voz calma e controlada (presença?).
– E de minhas visões também! – falou a anja.
– Nossas. – corrigiu o anjo machucado (visões?).
– Ah... Anya? Pode me explicar? – Pedi a ela.
– Acho que eu posso fazer isso. – começou a kitsune – Meu nome é Miiko, sou a líder da Guarda Reluzente.
– Prazer. Sou a Cris, humana terráquea que não tem ideia de como chegou em Eldarya. – houve alguns risinhos que pararam assim que Miiko “limpou” a garganta.
– Bom, depois nos gostaríamos que nos explicasse o que pudesse sobre isso, mas atendendo ao seu pedido, quando você chegou ao nosso mundo, acabou provocando... reações, em alguns dos nossos. Tanto que acreditamos que você não seja exatamente humana.
– Em outras palavras, uma faeliana. Anya já me falou dessa possibilidade. Até me prometeu conseguir a receita para fazermos o teste, mas algumas coisas meio que atrapalharam esses planos. – vi que Anya se encolhia enquanto o elfo parecia olhar feio para nós. A Miiko só nos ergueu uma sobrancelha.
– Continuando... – acho que Miiko está se irritando – ...já planejávamos fazer o teste para ter certeza sobre isso de qualquer maneira e ainda vamos. Normalmente, devíamos ter seguido os protocolos contra intrusos, porém não a encontramos. Anya escondeu, e ainda esconde, – obrigada Anya – a informação de onde você estava exatamente, só que depois do que vocês duas fizeram juntas, além do que você já estava fazendo sozinha, não tinha mais sentido segui-lo! Além de não nos trazer beneficio algum, perderíamos uma preciosa aliada.
– Desculpe interromper já o fazendo. – ela realmente se irritava com isso – Mas o que você acabou de dizer sobre mim, é opinião de todos ou opinião sua?
– Da maioria. – respondeu a anja.
– Enfim! – retomou Miiko respirando fundo – Após ouvir sobre os atos de vocês duas enquanto a Guarda passava por dificuldades, tomei a decisão de torná-las oficialmente membros das Guardas de Eel. Acredito que Anya já tenha falado delas pra você.
– Sim. Se bem me recordo são quatro: a Reluzente, responsável por toda a administração de Eel e as demais guardas, onde só alguns escolhidos podem fazer parte; A Absinto, especializada em poções de todo tipo; a Sombra, que trabalha com espionagem e coisas do tipo; e a Obsidiana, formada por guerreiros. Tudo certo?
– Perfeito! – comentou o rapaz de chifre enquanto todos sorriam satisfeitos. – O que mais Anya lhe ensinou?
– Depois Kero. – cortou-o Miiko – Como você não tem meios de retornar para Terra, aceita fazer parte da Guarda de Eel? A não ser que prefira continuar vivendo na floresta a própria sorte...
Absol rosnou com o comentário de Miiko chamando a atenção de todos que não haviam o notado (além de Miiko dar um pulo quase gritando junto _risos_). – Absol!... – foi tudo o que disse a ele. Como resposta ele apenas “bufou” e desviou o olhar pro lado oposto da Miiko. Eu e Anya rimos sem querer.
– B-bem. Ainda... – ela respirou fundo pra se acalmar do susto – ...espero uma resposta.
– Serei bem franca com a senhora. – comecei – Depois de passar o tempo que passei com Anya e todas as experiências que tive antes e depois de conhecê-la, tive vontade de conhecer Eel. Mas alguma coisa sempre me dizia pra não vir... – eles começaram a me olhar desconfiados – ...ainda. Se Absol não tivesse ficado me empurrando enquanto trazíamos aquele rapaz, – eu apontava para Chrome (segundo Ewelein, este era o nome dele) – eu não teria nem mesmo conseguido passar a Grande Porta, quanto mais entrar na enfermaria.
– E do que exatamente você tinha medo mulher? – perguntou-me o elfo com ironia.
– Sei lá! – ele fechou a cara – Humanos costumam ter medo daquilo que desconhecem, vai ver foi isso.
– Concordo com ela. – disse a anja – Quando cheguei a Eel pela primeira vez estava quase apavorada sem entender nada. Principalmente depois da forma com que fui tratada logo de cara. – ela olhava para a Miiko e o bárbaro a abraçou por trás, beijando-lhe a cabeça, como que a consolando (devem ser namorados ou coisa do tipo... com ela acorrentada a outro?) enquanto Miiko revirava os olhos.
– Certo. Daremos-lhe até o fim do dia para pensar então. – respondeu o rapaz de chifre e todos pareceram concordar – Ah! E meu nome é Keroshane, mas pode me chamar de Kero se quiser. Até lá, você pode aproveitar para nos conhecer e à Eel um pouco melhor.
– Deixa que eu mostre tudo pra ela! – ofereceu-se Anya.
– Muito obrigada! Mas me tirem uma dúvida... – não pude mais resistir – Porque é que os dois anjos aí estão acorrentados? – perguntei apontando para a corrente de uma ponta a outra. Eles começaram a me olhar sem entender minha pergunta e Anya pareceu nervosa, será que era só para os meus olhos de novo?
Anya
Comecei a suar frio quando a Cris fez aquela pergunta. Todos alternavam o olhar entre os aengels e ela confusos enquanto o Chefinho me lançava um olhar me exigindo explicações. – O que exatamente você está vendo Cris? Me diga enquanto apresento cada um dos que ainda faltam, tudo bem?
– Ok. – ela respondeu e fui até o Nevra primeiro. – Um homem pálido, de cabelos e vestes negras, orelhas pontudas e... presas? Você é o que? Pois elfo que não é. – ela disse.
– Este é o Nevra. – apresentei – O vampiro mulherengo, competitivo e líder da Sombra que é meu chefe. – falei e todos seguraram o riso (ele não gostou muito da minha apresentação). Passei pro próximo.
– Esse sim parece ser um elfo. Cabelos azuis longos e... você vai me desculpar, mas está vestindo roupas demais. Só de olhá-lo já estou com calor!
– É o quê?!? – Ezarel reclamou com o comentário dela e eu acabei rindo.
– Este é Ezarel. – disse ainda rindo – O elfo mais cheio de frescura e crianção que conheço. Ele é o líder da Absinto, um gênio nas poções e uma peste nas brincadeiras. – todos exceto Ezarel (que cruzou os braços me olhando feio) riram com a minha apresentação. Me pus entre Erika e Leiftan (já que chamou aos dois de anjo).
– Uma anja, com lindas e grandes asas brancas e uma auréola branca sob a cabeça, e... um anjo meio ferido? Suas asas também são grandes e brancas, mas parecem manchadas e isso saindo de sua cabeça são tocos de chifre? Você era um caído? Por isso essa corrente prendendo seu pescoço ao pulso dela? – novamente todos ficaram se entreolhando por conta das palavras dela.
– Estes são Erika e Leiftan. Ambos são aengels só que Erika é faeliana e Leiftan, é o que podemos chamar de daemon e agora está servindo à Erika e trabalhando de mensageiro no QG como meio de pagar por seus atos do passado. Sobre as asas, correntes e tudo mais, acho que só você pode ver. – ela olhava incrédula, o que já esperava. Fui até o último.
– Hum... um belo bárbaro com asas azuis translúcida e... será que poderia me deixar ver melhor sua sombra? – nem eu entendi essa. Mas nos afastamos do Valkyon para que sua sombra ficasse mais clara, e ela arregalou os olhos – Porque que sua sombra parece ter a forma de um... – ela engoliu seco? – ...Dragão!?
Sério que ela enxergava a sombra dele com uma forma diferente? – Esse é Valkyon e ele é um dragão! Líder da Obsidiana, guerreiro poderoso, não fala muito e sobre o seu primeiro comentário, ele é namorado da Erika. Foi mal. – a Cris ficou de boca aberta. – Ah! E mais uma vez, as asas e o formato da sombra dele também estão só nos seus olhos.
Terminadas as apresentações explicamos para todos sobre a habilidade dos olhos dela, já que estavam bem perdidos. Ela descreveu como que enxergava as coisas, como descobrimos as divergências de sua visão com o que estava diante dela, sobre o meu teste quando me transformei em uma Batta nojosei com uma poção. Se não fosse as descrições assertivas dos que estavam conosco, ninguém iria acreditar em nós duas. Ezarel e Miiko ainda pareciam não acreditar.
– Se o que vocês estão nos dizendo for mesmo verdade, – Leiftan dizia – a corrente que a Cris está vendo entre Erika e eu, deve ser o feitiço que usamos para que minhas ações pudessem ser vigiadas constantemente. – ele explicava – E caso esteja curiosa sobre ele...
– Por isso perguntei o porquê da corrente. – cortou ela prestando atenção.
– ...Certo. Se por acaso eu tentar fazer qualquer coisa que seja de desagrado de Erika, a quem estou confinado, meu corpo recebe um enorme choque me impedindo de mover-me antes de fazer o que pretendia.
– Nossa! E o que foi que você fez para receber uma punição dessas? – a Cris é mesmo curiosa e direta... todos ficaram um pouco desconfortáveis.
– Ahmmm, acho melhor deixarmos isso para um outro dia. – respondeu o Nevra – Agora que tal seguirmos com o seu passeio? – terminou ele com o seu sorriso mulherengo e piscando-lhe um olho.
Ela lhe ergueu uma sobrancelha desconfiada (claro! Ele não era flor que se cheire. Além de vampiro) e antes de responder qualquer coisa, todos ouvimos um enorme barulho.
.。.:*♡ Cap.22 ♡*:.。.
Cris
Abracei o meu estômago com força. Acho até que fiquei vermelha! Estou morrendo de fome.
– Acho que a primeira parada do passeio ao QG terá que ser no salão principal. Alguém aqui está morrendo de fome. – disse Erika e todos estavam tentando segurar o riso. Ai que vergonha... queria ter um buraco pra me esconder agora. – Venha comigo, vamos dar um jeito nesse ocemas aí.
A acompanhei junto de Anya e Absol sumiu nas sombras, acho que os demais permaneceram na enfermaria para saberem mais sobre o Chrome (e provavelmente sobre mim também, já que fui examinada). Descemos as escadas e atravessamos uma enorme despensa que fez meus olhos brilharem! E meu estômago roncar mais uma vez (fica quieto!). Nos aproximamos da cozinha do outro lado do que parecia ser um grande refeitório quase vazio, onde um sátiro cortava alguma coisa cantarolando.
– Bom dia Karuto! – disseram Erika e Anya para ele juntas.
– Muito bom dia meninas!
– Está de bom humor hoje Karuto. Aconteceu alguma coisa? – Anya perguntou.
– Hehehe, isso é segredo por hora, mas... quem é a moça? Não me lembro de já ter a visto. – senti o cheiro de comida e o barulhento reclamou de novo (céus! Que vergonha!) – E pelo visto está com mais fome que um xylvra.
– Esta é a Cris. A pessoa que ajudou Anya a salvar nossas vidas. Cris, te apresento Karuto, o cozinheiro do QG e um de meus amigos mais queridos. – Erika nos apresentou.
– Ela é a outra heroína?! Aquela que vem trazendo os faerys contaminados de volta ao seu normal e nos protegeu do ataque dos humanos?!?
– Prazer conhecê-lo. – disse meio tímida (EU QUERO COMIDA!!!).
– O prazer é totalmente meu!! Só um momento e te dou o que comer por conta da casa!
– Obrigada. – respondemos todas.
Escolhemos uma mesa próxima para sentarmos, Erika ia buscar as bandejas e Karuto já estava a meio caminho de nós, deixando Erika e Anya impressionadas (acho que ele não tem o costume de servir pessoalmente). Enchi a boca d’água quando vi o que ele trouxe: leite, suco, torrada com geleia, bolo, frutas, biscoitos, sanduíches... Ai! Ataquei sem pensar duas vezes e QUE DE-LÍ-CIA!!!
– Hehehehe, parece que minha comida de agradou mesmo. – disse ele.
– Nem me lembro direito qual foi a última vez que comi algo tão bom assim! – falei após engolir um pedaço de bolo e ele sorria de orelha a orelha.
Ele voltou pra cozinha feliz da vida, elas me contaram o quanto era difícil acreditar no que ele acabou de fazer e como ele costuma ser (Agora entendi porque elas ficaram boquiabertas). Não demorou muito e os líderes adentraram o salão, Erika acenou para eles, onde eles acenaram de volta e foram buscar a comida deles para depois se juntarem a nós.
Quando viram a nossa comida (minha na verdade, apenas dividia com Anya e Erika), ficaram indignados com o que receberam pra comer.
– Oh Karuto! Porque é que elas estão sendo tratadas como rainhas e nós como ralé qualquer?!? – reclamou Ezarel.
– Porque elas merecem! Com apenas alguns meses cada uma, já fizeram muito mais por Eldarya inteira do que vocês juntos em séculos! E além do mais Ezarel, você ainda me deve por roubar aquele mel! – gritou Karuto da cozinha.
Nós três rimos. Valkyon sentou-se ao lado de Erika com expressão neutra, Nevra que parecia conformado ficou perto de Anya, e Ezarel que reclamava baixinho sentou à minha frente. Reparei em seus pratos, era quase nada se comparado ao que nós garotas recebemos pra comer, mas o prato do Ezarel... uma espécie de mingau verde azulado quase me fez perder o apetite (quaaase). Conversamos durante a refeição, os rapazes (com exceção de Ezarel) tentavam me convencer a fazer parte da guarda e Karuto se aproximou de nós.
– E então rainha Cris, – Ezarel fez cara feia outra vez – decidiu-se se irá fazer parte das Guardas de Eel?
– Ainda não, se bem que... – engoli uma uva – ...se eu puder desfrutar de refeições maravilhosas assim todo dia, vou acabar aceitando. – ele deu uma gargalhada.
– Está nos dizendo que Karuto está te comprando com comida? – perguntou Nevra sorrindo de jeito sem vergonha – E nós aqui quebrando a cabeça pra lhe convencer a isso.
– Não vou mentir, sou gulosa. Principalmente com doces... – taquei uma das facas que só não acertou a mão do Ezarel, prestes a roubar do meu prato sem sucesso, porque ele foi mais rápido – ...e com exceção dos meus pais, não admito que peguem do meu prato sem que eu autorize. – olhei sério para Ezarel que parecia mais irritado do que antes. Karuto ao contrário, ria.
– Hehehe, estou gostando cada vez mais de você menina. – comentou Karuto voltando pra cozinha.
– Pode deixar que irei tomar nota! – era Nevra quem quebrava o silêncio que ficou por conta da tentativa de Ezarel, causando espanto em quase todos – Eu é que não quero acabar como os soldados que lhe vi enfrentando na floresta quando fui atrás de Anya.
– Nem sei como foi que eu fiz aquilo. – confessei, agora mais tranquila – Aquilo tudo fluiu de uma forma tão estranha... tenho certeza que tudo foi coisa do Cristal Vivo. Não há como o treinamento de Absol ter me deixado boa daquele jeito.
– Treinamento com Absol? Está nos dizendo que você aprendeu a usar uma espada com um black-dog? – perguntou Ezarel cínico.
– Mas é verdade Ezarel! – era Anya – Eu assistia aos treinos deles antes mesmo de decidir ensiná-la sobre Eldarya e alquimia.
– Estou curioso sobre esses treinos. – disse Valkyon.
– Talvez se ela acabar entrando em sua guarda amor, você veja. – comentou Erika acariciando lhe o ombro.
– Estou de saída. – disse Ezarel se levantando.
– Qual o problema Ezarel? Cansou de ver nós rainhas comendo? – provocou-o Anya.
– Não pirralha. Apenas tenho que preparar o teste que você não conseguiu roubar de mim. – respondeu ele sarcasticamente e saindo.
– Que Cristal Vivo é esse? – perguntou Erika.
– É esse aqui. – Respondi retirando o cajado de minhas costas (tinha virado um hábito carregá-lo assim) e mostrando-o a todos – Foi Absol que o encontrou e me trouxe. E no mesmo dia, encontrei a primeira sombra, quero dizer, contaminado.
Eles o olhavam com atenção e admiração, Anya só os observava.
– Essa no centro do Cristal... é a Oráculo? – perguntou Nevra.
– Não temos ideia. – falamos eu e Anya juntas.
– Onde que Absol o conseguiu? – perguntou Erika.
– Não tenho ideia! Terá que perguntar pro Absol se quiser saber.
– E falando nele... aonde ele es... – Absol apareceu dando um latido, sentado entre Erika e eu, interrompendo Nevra e assustando a todos.
– Absol! Onde você estava? – ele apenas baixou a cabeça até os próprios pés para me entregar com a boca um colar, feito de pequenas contas negras de 0,5cm de tamanho com uma ovalada chata, que parecia ser de obsidiana nevada (aquela que é cheia de manchas brancas que lembram a flores ou flocos de neve) de uns 5cm no centro. Fiquei encantada – É lindo Absol! Muito obrigada. – ele abanava a cauda enquanto colocava o colar no pescoço. Anya e Erika também o admiravam.
– Definitivamente não há explorador melhor que Absol em toda a Eldarya. – Anya acabou dizendo e Absol ficou todo orgulhoso.
Anya
Depois de rimos mais um pouco por causa de Absol, terminamos de comer e comecei minha visita com a Cris. Erika não veio junto porque foi chamada pela Miiko e os rapazes tinham tarefas a cumprir com suas respectivas guardas. Foi divertido ver todos se assustando com Absol.
Mostrei tudo a ela, fosse dentro ou fora do QG, os corredores, escadas, salas, laboratório, locais de treino, jardins, o mercado, o refúgio, tudo! (até a passagem que eu usava pra ir à floresta.) Ela reconheceu sereias, lâmias e alguns outros faerys que estavam ocultando sua natureza (ainda bem que ela está do nosso lado. Já pensou um poder desses usado contra os faerys?). Quando chegou lá pras três da tarde, Ezarel mandou alguém nos chamar pro laboratório, a poção do teste estava pronta.
Fomos até lá. Além de Ezarel; Miiko, Erika, Valkyon, Kero e Nevra também estavam lá nos esperando. Erika explicou mais ou menos como o teste funcionava antes que Ezarel falasse besteira.
A mistura foi aplicada em sua palma e alguns segundos depois, a chama surgiu. Não pude deixar de achar graça da reação que ela teve com o surgir dela, arregalando os olhos e afastando a mão do corpo como se pudesse fugir dela. Ezarel gargalhava, mas ficou sério quando Kero comentou que as chamas emitidas pela poção pareciam estranhas (o que havia de diferente?), sério e muito interessado nas chamas que sumiam aos poucos.
– Ao menos confirmamos que ela é mesmo uma faeliana. – falei quando as chamas sumiram de vez. – Tá tudo bem com você Cris? – ela apenas assentiu com a cabeça sem tirar os olhos de sua mão.
– E até já sabemos o que ela é. – disse Ezarel como se tivesse se livrado de um peso.
– Eu não teria tanta certeza. – Valkyon o cortou.
– Que quer dizer? – Ezarel perguntou com uma sobrancelha erguida.
– Apesar de sentir a presença dela claramente, não me parece pertencer a um dragão, e ainda tem as visões de Erika e Leiftan, que são aengels.
– Uma mestiça dos dois? – perguntou Ezarel dando de ombros.
– Não acha isso um pouco conveniente demais, Ezarel. – disse Miiko revirando os olhos.
– Se tudo o que elas disseram terem feito for verdade... não.
A Miiko deu um longo suspiro... – Nós precisamos ter certeza! – disse ela.
– Fáfnir! Fáfnir pode nos ajudar a ter essa certeza, afinal, ele sabia o que eu era desde a hora que me viu pela primeira vez.
– Essa é uma excelente ideia Erika. – disse o Chefinho de braços cruzados com o seu sorriso de sempre.
– Apesar dos problemas que tivemos com os humanos, ainda temos condições de efetuar uma viagem para Memória com um grupo pequeno. – ponderou Kero.
– Tá, mas ainda precisamos saber se essa aí vai ou não fazer parte da guarda. – disse Ezarel apontando para a Cris que ainda olhava fixo para mão que esteve em chamas (ela está bem mesmo?).
– Muito bem Cris. Ezarel está certo, qual é a sua decisão? – Miiko perguntou.
A Cris fechou os olhos e respirou fundo. – Tenho algumas perguntas. – ela disse.
– Pergunte. – Ezarel parecia querer uma brecha para provocá-la.
– Essa viagem de que vocês estão falando, é de longa ou curta duração?
– Longa. – quase todos responderam.
– Ok. Se é longa isso quer dizer que existe uma preparação. Quanto tempo essa preparação levaria?
– De três a cinco dias, se começarmos amanhã cedo. – foi Kero quem deu a resposta.
– Certo... – ela olhou pro alto de novo, no que ela está pensando? – Façamos o seguinte então, amanhã cedo farei o tal teste pra saber de que guarda farei parte. Depois irei me transferir da floresta pro QG, pra me facilitar as coisas na guarda, e após isso eu começo a me preparar pra viagem também. Ficamos acordados assim?
– Perfeito! – Miiko parecia satisfeita – Faremos como sugeriu, pois é um ótimo plano. Só uma curiosidade, você vai voltar pra sua caverna hoje? – acaso a Miiko tem ideia da distância que é de lá pra cá?
– Honestamente esperava poder passar essa noite em Eel... – você não é a única Cris.
– Se quiser, pode dormir em minha cama. – sério Becola que já a está paquerando ela desse jeito? Absol, que estava do lado da porta também não gostou e a Cris ergueu lhe a sobrancelha desconfiada.
– Bom, eu até poderia aceitar... – Tá falando sério? Ele está até sorrindo vitória! – Mas só se aceitar a condição de Absol ficar entre nós e de eu ter uma adaga debaixo do travesseiro pra prevenir gracinhas.
Agora sim. – Parece que ela não será tão fácil assim de conquistar Chefinho. – disse feliz com a substituição do sorriso de vitória dele por um queixo caído de incredulidade.
.。.:*♡ Cap.23 ♡*:.。.
Cris
Mesmo com Erika me explicando como aquele teste funcionava, não pude deixar de assustar-me ao ver minha mão em chamas (depois dessa é melhor eu entrar pra guarda logo). E aquela historia de eu ser um dragão ou uma aengel? Ou os dois?! Aceito que a ideia me atrai, mas quem eles pensam que são para quererem decidir as coisas por mim sem mais nem menos? Questionei como que era aquela viagem para sabermos que tipo de seres decidiram se unir com algum de meus antepassados e depois de alguns instantes, dei minha opinião e sugestão. Que foi aceita na hora.
A Miiko é doida né? A distância que existe entre Eel e a caverna são de uns 40 minutos mais ou menos! E aquele tal Nevra é mesmo abusado. Estava na cara que ele tinha segundas intenções com aquela oferta (pelo menos a minha contraoferta o fez desistir). Passei a noite na casa de Anya, tive de ouvir alguns sermões da mãe dela e eu pedi minhas mais profundas desculpas por ter deixado ela me acompanhar naquela missão suicida. Não sei se ela ficou satisfeita ou constrangida com as minhas desculpas, porque ela só ficou em silêncio.
Eu apaguei! Dormi a noite in-tei-ri-nha. Coisa que só fiz durante os 14 dias em que estive inconsciente. Amanhecido o dia, só acordei por causa da Anya me chamando (tem ideia do que é ficar três noites quase em claro cuidando de um ferido sem saber como ajudá-lo de verdade?). Comemos alguma coisa e seguimos para o QG.
Quando chegamos, Kero estava abrindo a biblioteca que, ao nos ver, foi logo pedindo para eu entrar com Anya aguardando do lado de fora. A biblioteca era incrível, mas as perguntas do teste eram impossíveis! Ainda tinha coisas que não conhecia e por isso apelei ao chutômetro para acabar logo com aquilo, e que historia era aquela de “faca e coragem”? E teve uma pergunta que mais parecia uma pegadinha: opção A, Miiko; opção B, Miiko, e opção C, Miiko (era algum teste de fidelidade ao líder?). No fim, quando ele me perguntou a que guarda eu queria pertencer, Obsidiana era a única que me surgia na mente. Desde nova desejava ser uma guerreira, mas graças à minha deficiência, só em sonho. Mas aqui em Eldarya, as coisas eram diferentes. Recebi minha chance de não ficar apenas no sonho e vou aproveitá-la o máximo que puder.
Resultado: Obsidiana. Sorri de alegria com o resultado! Kero ainda me explicou mais algumas coisas sobre as guardas (ele me pareceu ser bem metódico) e eu acabei por lhe pedir um favor especial. Depois de tudo resolvido, ele me liberou. Quando saí da biblioteca, os três líderes aguardavam o resultado junto de Anya.
– Espero poder contar com suas orientações... – disse olhando suas reações até me curvar diante de Valkyon – ...meu caro líder. – ele sorriu, enquanto Nevra parecia decepcionado e Ezarel, aliviado. Vi Nevra entregar alguma coisa pro Ezarel (Acho que fizeram algum tipo de aposta) e Anya correu até mim.
– Parabéns Cris, pegou o líder mais legal de todo o QG. – disse Anya me abraçando e causando revolta em Nevra e Ezarel – E como você já está acostumada com Absol, nem vai ter muitos problemas.
– Pra você me dizer isso significa que o Valkyon é bem durão com os seus, não é?
– De fato! – respondeu os outros dois líderes e acho que Valkyon não gostou muito.
– Vocês não tem o que resolver em suas guardas não? – Valkyon disse apenas. Os dois sorriram maliciosamente e saíram quase em silêncio (Nevra assoviava) – Ainda tenho tempo antes de começar a cuidar de minha própria guarda, o que acham de informamos à Miiko e a Erika sobre o seu resultado?
– Por mim, tudo bem. – respondi apenas.
– Ótimo. E há mais alguém lá que vai adorar te conhecer. Ela chegou de surpresa durante a noite. Vocês duas serão as primeiras a vê-la. – não sei quanto à Anya, mas eu fiquei curiosa.
Seguimos até a antiga Sala do Cristal, apesar de Anya ter me mostrado a entrada ontem, nos não tínhamos entrado (não sei por que e foi o único lugar em que não entramos). Logo que entramos, senti o Cristal Vivo se manifestar outra vez me envolvendo, e depois... nada.
Valkyon
Vai fazer um mês que Erika decidiu se mudar para o meu quarto em definitivo. O antigo quarto dela, que Ezarel decorou foi repassado para uma nova recruta na semana seguinte. Minha Erika... ela parecia tão bela dormindo. Podia até passar dias que eu não me cansaria de admirar ela.
Mas bateram na porta, acordando ela.
– Valkyon! Erika! – chamaram na porta batendo outra vez.
– O que quer. – respondi meio mal humorado.
– Desculpe acordá-los, mas a Miiko está lhes chamando na Antiga Sala do Cristal.
– Tudo bem. – Erika bocejava enquanto respondia – Estaremos lá em breve.
A pessoa foi embora e nós nos levantamos depois de um longo beijo. Em poucos minutos estávamos na sala e quase não acreditei em quem estava junto de Miiko.
– Huang Hua!! – Erika correu para abraçá-la – Mas que surpresa você aqui! Quando chegou? E a Fênix? Ela já se recuperou?
– De madrugada. Pedi para Miiko guardar segredo por que queria mesmo fazer uma surpresa, principalmente depois de todos os perrengues que vocês viveram e sim, a atual Fênix recuperou a saúde dela. Eu ainda sou apenas uma aprendiz ou você acha que eu teria a coragem de não chamá-la para estar presente em minha sucessão?
Elas continuavam conversando – Feng Zifu está com você? – interrompi.
– Deve estar com Karuto na cozinha. Miiko me disse que ele era o único no QG inteiro que sabia de nossa visita.
– Isso explica o bom humor dele ontem. – acabei dizendo.
– É verdade. – concordou Erika sorrindo – Mesmo depois de Ezarel ter roubado mel da despensa, o Karuto só lhe deu mingau no café da manhã, as demais refeições foram normais.
– Hahahahaha! Esse Karuto gosta mesmo do meu tutor, o Zif. – riu a Huang Hua – Mas me diz, é mesmo verdade o que a Miiko me disse?! Há mesmo uma nova humana no QG?! – perguntou ela animada e Erika apenas assentiu com a cabeça, deixando Huang Hua ainda mais eufórica – Aaah! Não vejo a hora de poder conhecê-la!
– Ela deve estar a caminho da biblioteca para o teste das guardas... – comecei a explicar, mas acabei interrompido.
– Senhorita Huang Hua?! Você por aqui?!? Quando que chegou? – questionou Ezarel entrando na sala acompanhado de Nevra, tão surpresos quanto Erika e eu.
– Você poderia ao menos nos ter avisado. – Nevra sorria, malandro como sempre.
– Huang Hua me mandou uma carta avisando. Vocês só não estavam sabendo por que foi a própria Huang Hua que pediu segredo para poder fazer uma surpresa ao QG. – esclarecia a Miiko – Karuto sabia e me ajudou a organizar tudo para a chegada deles.
– Feng Zifu está com você? – questionou Nevra e Huang Hua respondeu que sim com a cabeça.
– Agora tá explicado! – exclamou Ezarel revirando os olhos, todos riram.
– De qualquer forma... – retomei a palavra – ...como dizia antes, a Cris, deve estar a caminho da biblioteca para fazer o teste de guarda. Se quiser, depois que ela descobrir com quem de nós... – indicava com o polegar para Nevra, Ezarel e eu – ...ela vai ficar, posso trazê-la até aqui para que a conheça.
– Aaah... eu adoraria se puder fazê-lo Valkyon! – Huang Hua respondeu.
– Então é melhor irmos indo, conhecendo Anya como conheço, tenho certeza que a Cris já está lá! – disse Nevra com um sorriso de canto.
– Então vão logo vocês três. – disse Miiko nos empurrando pra fora – A razão de os terem chamado foi pra avisá-los que Huang Hua está aqui, e já que já sabem, vão cuidar logo de seus afazeres. Anunciarei a presença de Huang Hua no QG para todos daqui uma hora, é o tempo que vocês têm para ajeitarem tudo o que precisam.
– Sim senhora. – responderam Nevra e Ezarel juntos enquanto me mantive calado.
Estávamos quase saindo do corredor quando Ezarel começou a resmungar consigo.
– O que é que você está resmungando aí, Ezarel? – perguntou o Nevra.
– Obsidiana ou Sombra.
– É o quê? – perguntei.
– A guarda em que a Cris vai cair. Ou vai ser na Obsidiana, ou vai ser na Sombra.
– Mas e quanto a Absinto? – questionou Nevra.
– Não... com certeza não corro esse risco. – ele ria nervoso – Não depois de tudo que Anya nos contou.
– Ah! Eu adoraria que ela caísse na minha guarda... – falava Nevra ao terminarmos de subir as escadas para a biblioteca – ...Ih, olha a Anya ali!
Anya andava de um lado para o outro em frente à biblioteca.
– Bom dia Anya! – cumprimentei – A Cris já está lá dentro?
– Está. E eu a estou esperando.
– E não acha que está um pouco nervosa demais? – perguntou Ezarel cruzando os braços.
– Pelo pouco que a conheço, ou ela vai pra Sombra ou pra Obsidiana. – nos três nos entreolhamos – Por mim, ela cairia na Sombra, mas conhecendo o pouco que sei dela, é melhor que caia na Obsidiana.
– E você pensa assim por que... – começou Nevra.
– Porque ela detesta homens mulherengos. Cris dá muito valor à fidelidade de um homem para com a mulher, o que não é o seu caso Becola. Se por algum pesadelo ela cair na Absinto, não haverá um dia nesse QG sem confusão entre ela e o Ezarel. O único confiável entre vocês três é o Valkyon! Mesmo ela já o tendo como favorito, uma vez que ele já seja comprometido, ela vai respeitá-lo com toda a certeza.
Não sei se Nevra ficou chateado por ser chamado de becola ou por conta das palavras de Anya sobre a Cris, pois fechou a cara e cruzou os braços. – Tomara então que caia na Sombra. – foi tudo o que ele disse.
– Eu não contaria com isso Nevra. – Ezarel sorria – Aposto que ela vai pra Obsidiana.
– Eu realmente gostaria de tê-la na minha guarda. – confessei – Estou curioso sobre como um black-dog pode ensinar alguém a usar uma espada.
– 500 maanas que ela cai na Sombra. – apostou Nevra.
– Tá apostado. – aceitou Ezarel – Não vejo a hora de ela sair daí.
– Você vai me desculpar Chefinho, mas essa você já perdeu. – Anya finalmente se acalmou um pouco e Nevra apenas ficou em silêncio aguardando. Ezarel (que parecia nervoso) e eu o imitamos.
Não demorou muito para ela sair, estávamos apreensivos e ela sabia como nos deixar ainda mais nervosos, mas não consegui esconder minha satisfação em tê-la sob minha tutela quando ela revelou ter caído na Obsidiana.
O comentário de Anya não me agradou muito (o quê ela quis dizer ao me comparar com um black-dog?). Dispensei Nevra e Ezarel que bancavam os engraçadinhos e convidei as meninas para verem a Huang Hua.
Seguimos até a antiga Sala do Cristal e logo depois da Cris terminar de adentrar a sala, o cristal do cajado que ela levava às costas começou a brilhar. Esse brilho a envolveu por completo e ela começou a cantar em outra língua. Todos estavam impressionados.
Enquanto ela cantava, os pedaços de cristal desvitalizados que estavam no fundo da sala, junto dos contaminados que guardávamos no meio deles, começaram a flutuar em direção da Cris que continuava cantando e emanando uma maana incomum. Os cristais se liquefizeram junto do cristal que pertencia a Cris, formando um único cristal branco depois de uma fumaça negra deixar os fragmentos contaminados.
– Ela está orando na língua original... – comentou Huang Hua de olhos arregalados quase sussurrando.
Mas o mais impressionante de tudo isso, foi a aparição de uma Oráculo branca, que começou a falar conosco enquanto a Cris ainda cantava, ambas na língua original.
“A Oráculo não pode mais cuidar de Eldarya como antes, por isso deixou as sementes. Quando as sementes forem reunidas, sob a tutela dela, elas renasceram o Grande Cristal. Ela...” – ela apontava para Cris – “...é o catalisador atraído pelas sementes e a conexão que Eldarya precisava.” – agora ela olhava fixo para a Miiko – “Deixem-na viver como ela precisa viver.”
Depois ela estendeu uma das mãos para a Cris e uma pequena parte do Novo Cristal se transformou em um colar em volta de seu pescoço.
A Oráculo branca entrou no Cristal que agora tinha a mesma aparência do cristal que a Cris carregava só que em maior escala. A Cris parou de cantar ao mesmo tempo em que a Oráculo sumiu, desmaiando e sendo aparada por Nevra logo em seguida (quando foi que eles chegaram aqui?) com Ezarel petrificado atrás dele.
– Mas o quê foi tudo isso?!? – perguntou Nevra segurando a Cris nos braços.
– Desde quando vocês estão aí? – perguntou Miiko.
– Desde que os pedaços de cristal começaram a se transformar com essa aí brilhando. – respondeu Ezarel apontando para Cris inconsciente.
– Eu me esqueci de passar à Anya uma tarefa, por isso voltei aqui. Ezarel me seguiu pra me perturbar. – explicou-se Nevra.
– Eu sabia que o cantarolar dela me parecia familiar. – comentou Anya como que para consigo mesma.
– O que você quer dizer com isso Anya?? – questionou Miiko.
– Lembram quando eu trouxe o último descontaminado? Durante o processo, ela estava cantando como agora! Eu não reconheci a língua porque eu mal comecei a aprendê-la, mas sabia que era familiar.
– Ah, é verdade. Você é péssima em idiomas!
– Cala a boca Ezarel! Só porque eu gastei quase dez anos para aprender a língua dos kappas? A Cris nem tem consciência que conhece a língua original, ela acha que apenas cantarola qualquer coisa enquanto reza em seu coração. Ao menos foi isso que ela me disse. – terminou ela de explicar meio emburrada por culpa do Ezarel.
Todos estavam sem saber o que dizer ou fazer. Foi Erika quem interveio naquela situação.
– Aquela Oráculo Branca... É a mesma que apareceu em meus sonhos, talvez ela e a Oráculo Negra sejam as sementes que ela mencionou e seus espíritos devem estar habitando em fragmentos específicos. Como a Branca estava no Cristal Vivo da Cris, é possível que a Negra esteja habitando em outro fragmento em algum lugar de Eldarya.
– E que aparentemente só a Cris é capaz de reuni-las da devida forma, por isso que elas a atraíram pra cá. – complementava Huang Hua – Mas para que isso aconteça, ela precisa fazê-lo naturalmente, sem ser forçada a nada. Foi o que eu entendi.
– Acho melhor ela não ficar sabendo de tudo isso por enquanto. – declarou-se Miiko – Vamos deixá-la descansar por hora. Nevra, tente obter pistas desse possível fragmento com o espírito da outra Oráculo... – Miiko olhava fixo para Cris nos braços dele – e aproveite para deixá-la na enfermaria. Em que guarda ela entrou?
– Obsidiana. – respondemos Anya e eu juntos, enquanto Nevra saía com a Cris para a enfermaria.
– Certo. Isso facilita então. Valkyon, gostaria que você ficasse de olho nela junto de Erika. Como ela parece ser uma possível mestiça de aengel e dragão, vocês dois são as melhores opções para esta tarefa.
– Como desejar Miiko. – respondi e Erika assentiu com a cabeça em concordância à ordem.
Nevra retornou em seguida, discutimos mais um pouco sobre a Cris e Anya foi para junto dela, esperando-a acordar.
.。.:*♡ Cap.24 ♡*:.。.
Cris
Voltei a mim na enfermaria (mas eu não entrei foi na Sala do Cristal?? Como é que fui parar aqui?), Anya cochilava perto de mim. Esfreguei as mãos no rosto para despertar direito, deslizando-as até o pescoço onde senti um colar (que colar é este??). Confusa, me levantei devagar e fui a um espelho que havia ali. O colar era... feito de cristal? Uma corrente fina de cristal branco sem fecho (como e quem o colocou em mim?!) com uma pedra ovalada também meio branca no centro. A pedra tinha uma pena desenhada em seu centro, até parecia uma versão menor do Cristal Vivo. Alguém poderia me explicar o que se passa aqui?
– Cris?...
– Anya. – ela acordou – Pode, por favor, me dizer o que foi que aconteceu? A última coisa que me lembro foi de estar sendo outra vez envolvida pelo Cristal Vivo ao entrar na Sala do Cristal e depois, nada.
– Talvez nós possamos responder isso. – foi Erika quem falou acompanhada de uma mulher negra que parecia ser uma modelo ou uma atriz famosa de tão bonita (quando foi que elas entraram?).
– Por favor! – disse gesticulando para que entrassem.
– Antes de qualquer coisa, esta é a Huang Hua. Era ela quem Valkyon queria lhe apresentar antes de tudo isso acontecer. Miiko acabou de avisar sobre a presença dela em Eel para todos.
– É um prazer conhecê-la Cris! – disse a Huang Hua pegando carinhosamente em minhas mãos e com um largo sorriso.
– O prazer é meu. – lhe fiz uma reverência – Agora... quanto ao o quê que aconteceu...
– Onde está Ewelein? – a Erika perguntou.
– Ela foi ao mercado atrás de algumas ervas. – respondia Anya – Disse que não demoraria e eu fiquei com a Cris.
– Compreendemos. – falou Huang Hua com ternura – Agora... você realmente não se lembra de nada fora de ter sido envolvida pela luz de seu cristal? – apenas neguei com a cabeça e todas elas se entreolharam – Bom. Como podemos lhe explicar...
– Você reconstruiu o Grande Cristal. Uma pequena parte dele pra ser honesta. – começou Erika.
– Eu o quê?!?
– Você começou a agir que nem quando fazia com os infectados. Começou a cantar e os pedaços de cristal começaram a flutuar, se fundindo como se fossem líquido. Os fragmentos corrompidos que estavam sendo guardados entre eles fizeram igual aos fragmentos que você removia dos faerys contaminados, ficando brancos após liberarem uma fumaça negra que partia não sei pra onde. – falou Anya, eu estava de boca aberta.
– Eu percebi que sua canção na verdade era uma oração entoada na língua original. Recebemos a aparição de uma outra Oráculo que acreditamos ser uma das sementes deixadas pela nossa Oráculo original. – prosseguiu a Huang Hua.
– Ao que parece, nós duas já sonhamos com essas oráculos pelo o que Anya nos contou. – agora era Erika que explicava – E segundo o que a Branca nos revelou, elas estão de certa forma envolvidas em sua vinda para Eldarya, pois necessitam de sua ajuda para ressuscitarem o Grande Cristal.
– Além de nos alertar que sua ajuda deve ser natural. Você precisa fazer as coisas que precisa fazer no seu tempo e sem ninguém a pressionando em nada. – concluiu Huang Hua.
Eu estava transtornada com todas aquelas informações, nunca gostei de enrolação e por isso sempre preferi que me dissessem as coisas na lata, mas aquilo era um pouco demais. Achei que tinha ficado chocada com a forma que meu teste faery se realizou, mas me enganei. Chocada estou agora! – Quero vê-lo. – foi tudo o que eu consegui dizer.
– Ver... quem? – perguntou Anya.
– O Cristal. Eu quero vê-lo. – respondi.
– Você tem certeza? – perguntou-me Erika apoiando uma das mãos em meu ombro e como resposta, apenas assenti com a cabeça. – Então vamos. – disse ela em meio a um longo suspiro.
Ao terminarmos de descer as escadas, nos encontramos com Ewelein que, ao saber para onde íamos, quis nos acompanhar. Ela deixou as ervas compradas na enfermaria e correu ao nosso encontro. Seguimos até a Sala do Cristal e eu estava nervosa. Ainda não tinha engolido toda aquela história que as meninas me contaram. Ao colocar o pé pra dentro da sala (por favor, Senhor, que eu continue desperta dessa vez...) nada aconteceu (ufa!... _suspirando_).
A sala era enorme e um cristal branco mais ou menos do meu tamanho (tenho 1,65m) se encontrava no centro da sala. Me aproximei devagar dele para observá-lo melhor. Miiko estava lá o examinando e ficou me observando junto das outras. A largura do cristal tinha pelo menos 3x o meu tamanho e pude enxergar a pequena anja que devia ser a tal Oráculo bem no meio do cristal. Rezei uma Ave-Maria com toda a devoção possível e ele brilhou deixando todas elas surpresas. Um Cristal Vivo gigante, era isso que resumia aquela pedra enorme.
– Contem-me exatamente o que a Branca falou. – disse enfim quebrando aquele silêncio atrás de mim. Elas pareciam receosas, mas repetiram tudo (catalisador? Como assim? E que tipo de conexão eu seria?), refletia sobre tudo aquilo e Ezarel nos interrompeu.
– Ewelein, preciso dos resultados de sua análise para poder usar a poção nos humanos... Interrompo alguma coisa? – ele nos observava meio desconcertado pelo grupo de mulheres.
– Não. – respondi – Esses humanos que mencionou, são os que foram pegos nas armadilhas da floresta?
– Exatamente. – disse Ewelein – Eles estão prontos sob a minha mesa, vou buscá-los. Com licença. – e ela saiu.
Antes que Ezarel a seguisse, voltei a perguntar. – O que exatamente vocês estão fazendo com eles? E o que aconteceu com os demais Ezarel?
Ele olhou para a Miiko como se estivesse lhe pedindo o consentimento para falar, recebendo-o. – Os que nos foram entregues pelos cheads, estão sendo mantidos na prisão enquanto não decidimos o que fazer com eles, já que Erika os protege. – pelo jeito que ele falava, acho que a punição dele seria morte (obrigada Erika) – E quanto aos que se salvaram da explosão que você e Anya causaram no acampamento deles... – engoli seco (espero que não tenha muitos mortos. Não estou a fim de carregar almas nas costas) – ...segundo Nevra, por causa da perda, eles voltaram pra Terra, abandonando os que estão conosco.
– Nós tentamos interrogá-los para descobrir como é que eles conseguiam chegar em Eldarya,... – era a vez da Miiko falar – ...mas eles se negam a colaborar com qualquer informação. Então pedi à Ezarel que criasse uma poção que os fizesse esquecer tudo sobre Eldarya já que a única poção que conhecemos apaga as memórias sobre aquele que a bebe, e o que queremos é o contrário.
– Erika não permitiu o uso de nenhuma poção que não fosse aprovada pela Ewelein e o Ezarel está doido pra se livrar dos humanos. – comentou Anya e Ezarel lhe fuzilava com os olhos.
– Tudo bem se eu vê-los? – perguntei sem saber se olhava para Miiko ou para Ezarel pra obter a autorização.
– Eles não deixam nem a mim! – reclamou a Anya – Tá certo que ainda sou criança, mas fui eu quem ajudou com aquelas armadilhas. Tenho direito de saber como são os homens que ajudei a capturar. – terminou ela com os braços cruzados e fazendo bico. Ezarel revirava os olhos.
– Acho que não há problemas em deixá-las vê-los. – opinou a Huang Hua, deixando Ezarel louco, Erika e Miiko abismadas, e Anya e eu esperançosas – Quero dizer, como foi graças às duas que aqueles homens foram capturados, é um direito e dever delas saber como eles estão sendo tratados já que faz parte da responsabilidade delas. E sei que tudo lá embaixo está seguro o suficiente para que elas possam vê-los.
Diante dos argumentos de Huang Hua, Miiko acabou concedendo, deixando Ezarel bem mal humorado já que ele é quem deveria nos acompanhar até a prisão.
Ewelein chegou em seguida, entregando a Ezarel os resultados de suas análises (não senti confiança nela sobre aqueles resultados) e autorizando o uso da poção. Ezarel resolveu juntar o útil ao agradável quando exigiu que Anya e eu o ajudássemos na prisão.
A caminho de lá, esqueci que pra chegar à prisão era necessário passar por uma infinidade de escadas (ai minhas pernas...), mas como Huang Hua havia dito, era minha obrigação e direito vê-los, pois parte da responsabilidade sobre eles era minha!
Nós mal adentramos a prisão e ouvi um estalo. Ezarel batia na própria testa dizendo que esquecera algo importante no laboratório e que precisava buscar. Tanto Anya como eu nos recusamos a subir aquela montanha de escadas para descemos de novo logo em seguida.
– Tudo bem. – falou ele – Me esperem aqui. – ele apontava para o chão próximo à saída – Eu não me demoro. – e saiu correndo.
Nós duas nos olhamos e sorrimos cúmplices (até parece que eu ia obedecer aquele chato). A prisão era escura e úmida, com uma espécie de grande lago ou poço esverdeado (que de certa forma parecia ser a maior fonte de luz daquele lugar) que sem dúvida devia estar ligado ao lado de fora em seu centro, começamos a olhar as celas com prisioneiros com Anya seguindo por um lado e eu pelo outro. Os soldados nos encaravam em silêncio. Eles não me pareciam maltratados, mas com certeza precisavam de alguma higienização. Não sabia e nem conseguia falar.
Continuei os observando e ouvi um som que parecia correntes vindas mais do fundo (estranho, ninguém ali estava acorrentado), chegando em frente à cela (que era a última) de onde parecia ser a origem do barulho, ela estava... vazia? Esfreguei os olhos para ter certeza e a cela realmente parecia vazia (mesmo ouvindo claramente as correntes ali). Fiz sinal para Anya que venho logo até mim. – Anya... – sussurrava – ...são os meus olhos ou esta cela está vazia? – a reação dela me deu a resposta: são meus olhos.
– Esta cela possui a capacidade de neutralizar todo e qualquer poder mágico de quem estiver dentro. – ela me explicava sussurrando – Será que ela também tem a capacidade de bloquear a sua visão especial?
– Se for isso mesmo, é melhor ficar só entre nós duas por enquanto.
– Boa ideia. Pois eu aposto que, se for isso mesmo, Ezarel vai tentar tirar proveito! – deixamos escapar um riso abafado.
Dei mais uma olhada na cela “vazia” e me afastei. Anya ficou conversando com quem estava lá (será ele o amigo secreto dela que a ajudou a ir pra floresta? Isso não me cheira muito bem). Passou-se o que? 10 ou 15 minutos? E Ezarel estava de volta, brigando com nós duas por não o termos obedecido (ele deve ter se aproveitado das pernas longas para ter ido tão rápido).
– O quê exatamente você foi buscar? – perguntei.
– Uma contra-poção universal. Caso essa não funcione como deve. – comecei a suar frio com a resposta dele e acho que os soldados que puderam ouvir reagiram da mesma forma.
– Está me dizendo que esta poção pode acabar sendo como algum tipo de veneno para eles? É isso que eu entendi? – perguntei nervosa e ele apenas assentiu com a cabeça como se falássemos da coisa mais banal do mundo. Aquilo me irritou. Aqueles soldados podiam não ser os melhores exemplos da humanidade, mas ainda eram vidas! – Me dê essa poção! – exigi estendendo a mão.
– Ficou louca? – respondeu ele e Anya se afastou ao perceber minha irritação. Os soldados só prestavam atenção.
– Louca ficarei no momento em que você ferir qualquer um deles com suas misturas malucas. Não é à toa que não senti segurança na Ewelein quando ela lhe autorizou usar essa poção. – ele preparava uma seringa com a tal poção.
– Olha aqui, oh mulher, quanto mais rápido eu ficar livre da responsabilidade de cuidar deles, mais rápido vou poder voltar a me ocupar com o que realmente me interessa.
– Eu não estou nem ai com o que ti interessa ou não. ME. DÊ. ESSA. POÇÃO! – esse cara está me provocando...
Ele me ignorou e começou a se dirigir a primeira vítima, (não mesmo!) dei-lhe uma rasteira que fez a seringa quebrar, o soldado ao qual ele se dirigia parecia aliviado. Ezarel veio furioso para o meu lado.
– Agora sei que está louca. O que pensa que está fazendo?! – disse ele de forma ameaçadora.
– Assumindo minha responsabilidade! – respondi sem me acovardar (ele realmente me deixou irritada) – Foram as minhas armadilhas armadas junto de Anya e das cheads que capturaram esses homens. Vivos! E não vai ser um alquimista qualquer que vai colocar a vida deles em risco.
Agora ele parecia tão irritado quanto eu, foi para a mesa onde tinha colocado a tal poção e equipamentos, mudando de expressão ao dar falta de algo – Onde está a minha poção?!?
– Aqui! – disse Anya saindo de trás de mim com o frasco na mão.
– Me devolva! – ele ordenava.
– Não! – disse ela deixando-o vermelho – Concordo com a Cris. Criamos aquelas armadilhas para proteger Eel, não para tirar vidas. Prefiro entregá-la à Cris. – ela me entregava a garrafa que peguei antes que ele pudesse recuperá-la.
No instante que toquei aquela poção, o colar de cristal começou a brilhar e sua luz me envolver como o Cristal Vivo fazia. Tudo escureceu (de novo?!?!).
Lance
Tudo parecia ser mais um dia monótono, fazia os exercícios que as correntes me permitiam para não perder a forma física com um ou outro humano reclamando das correntes. Foi quando que comecei a sentir a presença da possível dragoa se aproximando.
Parei tudo e comecei a observar, logo o elfo da Absinto apareceu junto de Anya e de uma mulher que percebi na hora se tratar da tal Cris por conta de sua presença cada vez mais forte e... (meus olhos devem estar me pregando peças) há duas Oráculos fantasmas atrás dela?!?
Uma versão branca e uma negra. Esfreguei os olhos e ainda me belisquei para ter certeza que não estava sonhando. Olhei de novo e as duas me encaravam, a branca com expressão que lembrava uma monja e a negra, de uma criança travessa (ela me acenava um tchau?).
Parece que Ezarel esqueceu-se de algo e saiu deixando as duas pra trás. Elas começaram a andar por entre as celas ignorando as ordens do elfo. A Cris seguia para o meu lado com as Oráculos flutuando atrás dela (só eu as estava enxergando?). Ela era uma mulher de altura média, longos cabelos cacheados e castanhos escuros, pele clara e parecia que os grandes olhos também eram castanhos, uma mulher bonita no final de tudo ao que dava pra perceber em suas roupas justas e capa. Acabei me mexendo e fazendo barulho com as correntes, barulho que chamou a atenção dela e ela começou a se aproximar de onde eu estava.
Antes que ela pudesse me ver, a Oráculo branca cobriu seus olhos com as mãos translúcidas (porque motivo?) e a negra fazia sinal de silêncio para mim (ela estava me dando ordens!?). Quando a mulher ficou de frente a mim, era claro que alguma coisa estava errada, ela parecia não me ver (como a branca estava fazendo isso?) além de ficar nítido que eu era o único que estava vendo aquelas duas já que a mulher diante de mim parecia não notar que a branca lhe cobria os olhos.
Tentei falar com ela, mas minha voz não saía, por mais que eu forçasse tudo o que conseguia era fazer barulho com as correntes a qual ela reagia. A negra parecia estar segurando uma gargalhada com a situação e aquilo estava me deixando irritado. Ela fez sinal para que Anya se aproximasse e elas começaram a cochichar entre si e pelas suas reações, acho que sei o motivo. Ela se afastou, deixando Anya diante de mim e conversamos em voz baixa (acho que não conseguia falar por culpa daquela Oráculo negra).
– Ela é a tal da Cris, não é? O que cochichavam? – perguntei.
– Sim é ela e... por algum motivo ela não estava conseguindo te ver. Acho que pode ser por causa dessa cela.
Eu sabia – Não creio que seja culpa dessas grades... – elas realmente não estão enxergando aquelas Oráculos grudadas na Cris, mas... por outro lado... – ...e ainda bem que ela não pôde me enxergar nesse estado.
– O que quer dizer?
Acho que minha chance de fuga está mais perto – Tenho meu orgulho. – respondi sorrindo – Não acho que ela ia gostar de me conhecer nesse estado. Até você assustou-se quando me viu pela primeira vez!
– É, bem... você pode ter razão.
Estava prestes a lhe pedir algo para “consertar” a minha “situação” quando o elfo chegou fazendo Anya afastar-se depressa (porcaria de elfo!).
O elfo se preparava pra injetar alguma coisa nos humanos, a Cris se mostrou contra e pude perceber Anya roubando a garrafa com uma tal poção bem debaixo dos narizes deles enquanto discutiam. Não pude evitar de rir quando o elfo levou uma rasteira da mulher (a negra se segurava para não dar uma gargalhada ecoante) que, apesar daquele papinho meloso de proteção ao que é vivo dela, me surpreendeu com aquela demonstração de ousadia e coragem.
Ééé... Ela não é qualquer mulher mesmo. Anya estava do lado dela, estava adorando ver aquele elfo cada vez mais vermelho. Mas tudo mudou no momento em que a mulher pegou naquela poção.
O colar que a Cris usava começou a brilhar e as Oráculos... possuíam ela!?! Aquelas fantasmas entravam juntas no corpo da humana por trás dela e a luz que saía do colar que usava evolveu-lhe todo o corpo (acho que não havia um que não estivesse abismado e isso sendo eu o único a enxergar aquelas Oráculos).
Ela começou a cantar estendo a poção diante de si. A poção que antes era verde amarelada foi aos poucos tomando uma aparência azul cristalina. A tampa que fechava a garrafa sumiu e a poção começou a flutuar se transformando numa espécie de névoa, que flutuou até cada um daqueles humanos presos (o que exatamente elas estão fazendo?). Alguns dos homens tentaram fugir da névoa em vão, todos eles a aspiraram aceitando ou não.
Consumida toda a poção (Ezarel parecia uma estátua de boca aberta) um dos soldados se aproximou de suas grades e estendeu uma das mãos que continha... Isso é possível? Durante todo esse tempo ele escondia um pedaço do Grande Cristal?!... Um pedaço limpo, azul e brilhante (como ninguém, e nem eu, o percebeu?), Ezarel estava branco e Anya parecia cada vez mais excitada com tudo o que via. Antes que o elfo assumisse qualquer ação, a mulher estendeu a mão para o cristal que flutuou até ela, no instante em que ele estava em suas mãos, todas as celas que continham os humanos se abriram.
Na hora Ezarel pegou na espada que carregava, mas Anya o impediu de sacá-la (ela devia querer saber o que mais ia acontecer, como eu) e um a um, aqueles homens deixavam suas celas (porque eu também não era liberto?), esperava por algum tipo de rebelião naquele momento, mas não houve nada. Cris emanava uma maana tão estranha e suave enquanto cantava que estava conseguindo acalmar até a mim! Os homens agiam como se estivessem diante de seu líder.
Ela se aproximou do poço de agua da prisão, estendeu as mãos, contendo o cristal, mais uma vez e... um portal se abriu?!? Aqui na prisão?!? Quem era aquela mulher?? O que aquelas Oráculos que a possuíram planejavam?
Aberto o portal, todos os soldados o atravessaram, um de cada vez. Após a passagem do último, o portal foi fechado. O cristal na mão dela tornou branco e fundiu-se com seu colar. As Oráculos deixaram-lhe o corpo e sumiram, com a luz que a envolvia sumindo junto. Ela só não se esborrachou desmaiada no chão porque Ezarel a segurou a tempo e Anya parecia estar preocupada com ela. – Ela deve ter gasto maana demais! – ouvi o elfo dizer – Vamos levá-la de novo à enfermaria e reportar a Miiko. – de novo? Algo assim já aconteceu hoje?
Eles saíram às pressas da prisão. Terei de esperar a boa vontade da Anya de retornar à prisão para conversarmos.
.。.:*♡ Cap.25 ♡*:.。.
Cris
Abri os olhos já os revirando, olhei para os lados sem erguer a cabeça (estou outra vez na enfermaria... o que fiz dessa vez?), sentei devagar na cama procurando alguém para iluminar-me sobre os fatos, mas parecia que estava sozinha dessa vez. Ia chamar por alguém quando a porta abriu com Ezarel entrando.
– Mas vejam... A senhorita mistério acordou outra vez! – eu não estava com muita paciência para ironias.
– Desembucha! O que foi que eu fiz dessa vez? Porque precisei ser trazida pra cá de novo?
– Vai me dizer que não se lembra. – o elfo tinha um sorriso irritante na cara.
– Lembro-me de lhe dar uma rasteira e da sua cara quando Anya disse-lhe que estava do meu lado lá embaixo. – falei. O sorriso dele sumiu (e o meu surgiu).
– E quanto ao que fez ao ter a poção em suas mãos? – Ewelein que surgia dos fundos, perguntou. Um negar com a cabeça foi a minha resposta.
– Está de brincadeira conosco, né? – Ezarel reclamava com sarcasmo – Acha mesmo que vamos acreditar nessa baboseira? – ele tem o dom de me irritar com as piores coisas.
– Muito cuidado ao me chamar de mentirosa quando eu disser a verdade, seu canalha. – respondi contendo a minha raiva e vontade de esganar lhe, ele perdeu o sorriso.
– Ezarel, deixe de brincadeiras e apenas conte à ela o que aconteceu. – a ordem veio da Miiko que estava ao lado de Ewelein (desde quando ela estava aqui dentro?).
Ele apenas cruzou os braços em protesto e começou à contar tudo. Eu adulterei a poção e a transformei em névoa para os prisioneiros a inalarem? E... abri um portal por onde todos eles passaram? E ainda usando um pedaço do Grande Cristal que eles escondiam e que se fundiu com o meu colar? (pensando bem, a pedra no meu pescoço parece mesmo maior). Mas o que é que me acontece neste lugar?
– Pra onde exatamente eu os mandei? – perguntei.
– E eu que vou saber? – reclamava Ezarel – Esperava que você nos desse essa resposta!
– Eu teria o maior prazer de responder, se eu soubesse.
– Ok vocês dois, já chega. – Ewelein intrometeu-se – Isto é uma enfermaria e não uma esquina de rua! Deixem as discussões inúteis lá pra fora!
Respirei fundo e nós dois pedimos desculpas a ela. Como era a minha segunda “visita” à enfermaria naquele dia, Ewelein me examinou rigorosamente. Não constando nada de estranho após me recolher uma amostra de sangue (detesto agulhas e ver Ezarel rindo de mim antes de sair, reanimava a minha raiva) para estudá-la mais tarde, liberou-me em seguida.
Huang Hua e Erika me aguardavam do lado de fora, Miiko me seguia – Ainda tenho algumas perguntas pra você. – disse ela depois de fechada a porta.
– E o que mais deseja saber... – meu dia não está lá sendo algo muito animador.
– Você sabia sobre o Cristal que estava com aqueles humanos? – perguntou a Miiko enquanto íamos não sei pra onde com Erika e Huang Hua junto.
– Não. Nem sonhava pra dizer a verdade. E como foi que vocês não perceberam? – Miiko não respondeu, nenhuma delas pra dizer a verdade. – E aí? Eu sou obrigada a responder e vocês não? Um pouquinho injusto não acha?
– Eles souberam esconder bem. – falou Erika coçando a cabeça – Quando nos foi tido que aqueles homens faziam parte dos soldados que queriam nos atacar revistamos um por um e não encontramos quase nada. Apenas um canivete ou outro ainda estava com eles.
– As cheads não devem ter acreditado que se tratassem de armas ocultas quando os desarmaram... – falei e Erika concordou-me.
Estávamos no corredor onde o quartos começavam – Onde estamos indo exatamente? – acabei por perguntar e Absol apareceu do nada ao meu lado todo carente e causando um pequeno susto em todas nós.
– Ah, bom... – Miiko pigarreava – Estamos indo para o seu quarto.
– Meu quarto?
– Sim. – agora era a Erika – Por causa de uma certa missão que fracassou, perdermos alguns dos nossos e... apesar de termos recebido novos recrutas, dos três quartos ainda disponíveis, só um tornou-se aceitável para entregá-lo a você.
– E porque isso? – perguntei e tanto Erika quanto Miiko dirigiram o olhar para Absol que caminhava colado ao meu lado – Entendi. Ninguém aqui está acostumado a presença de um black-dog.
– Geralmente os black-dogs são 0% confiáveis então...
– Talvez Absol seja uma ovelha negra. – comentei sorrindo. Erika riu já Miiko e Huang Hua ficaram por entender.
Nós praticamente subimos a torre inteira, Miiko explicou que meu quarto seria o último da torre (mas que maravilha...) e que ele havia pertencido a um titã que se recusava a dormir ou banhar-se sem o seu mascote e, como ele gostava de dormir em sua forma original (Erika explicou que ele tomava poções para assumir uma forma menos gigantesca no QG) o quarto seria forte, espaçoso e seguro o suficiente para abrigar Absol e a mim uma vez que o tal do Celsior era muito preocupado com isso, e como eu estava habituada a viver em uma caverna (comecei a desconfiar nesse ponto) o quarto deveria me agradar. Como o cara era sozinho e sem parentes ao que ela sabia, me autorizou a vender as coisas dele para que eu pudesse reunir algum dinheiro de imediato (a consciência queria doar as coisas ao invés de vendê-las mas a razão lembrou-me que se eu ia mudar o meu quarto, ia precisar de dinheiro).
Ao chegarmos finalmente diante da porta do meu quarto, Anya, Ezarel e Nevra estavam tentando arrombar a porta. – Vocês ainda não conseguiram abrir isto?! – reclamou a Miiko (eles perderam as chaves?).
– Celsior levava a segurança do quarto dele a sério. Havia uma montanha de encantamentos de proteção nessa porta! Só agora é que conseguimos remover todas para arrombar lhe, aquele titã tinha que ter perdido os pertences no mar?!
– Cuidado ao insultar os mortos... – falei – Vai que ele decide lhe tirar satisfações! – Ezarel me fez cara feia enquanto Anya e Nevra sorriam quase rindo e as mulheres comigo mantinham-se neutras.
Ouvimos um click – Consegui! – exclamou Nevra.
– Até que fim! – falava Ezarel – Vamos logo trocar essa fechadur... – todos nós cobrimos a boca e o nariz quando a porta foi aberta. Um fedor enorme de mofo e podridão saía do quarto.
– Agora entendo porque Celsior me pedia poções de purificação do ar além das de encolhimento e crescimento. – comentou Ezarel.
Só aquele cheiro horrível já estava me deixando com mais medo de olhar o quarto e quando fiquei diante da porta, minha vontade foi de chorar (de desespero!!). O quarto era um enorme breu (as paredes deviam ser brancas, mas pareciam cinza), todos os “móveis” além de serem enormes pareciam todos apodrecerem e sem falar que o piso parecia chão batido (nós não estávamos no topo de uma torre?) a parede de pedra que fazia divisão com um outro espaço estava coberta de mofo e musgo escuro, o chão tinha (aquilo vermelho era uma mancha de sangue?!?) sujeira e plantas espalhadas além de rachaduras e teias por todos os lados.Quarto Celsior:
Fiquem a vontade para piorá-lo em suas imaginações. Não consegui desenhar exatamente o que tinha imaginado...
Entrei para abrir a janela imunda e com alguns vidros quebrados para que algum ar pudesse circular ali, Nevra precisou me ajudar, pois ela estava emperrada. E quando cheguei perto para ver o que havia do outro lado daquela divisa, quase vomitei. A luz não funcionava, mas pude enxergar o banheiro mais asqueroso e nojento que podia ter conhecido em toda a minha vida. Todos entraram sem se afastarem da porta.
– E eu que achava que o meu era ruim quando você me entregou Miiko. – comentou Erika tão horrorizada quanto os outros.
– Miiko. – Huang Hua estava séria (e meio irritada) – Esse! É o quarto que pretende entregar à menina?
– Juro Huang Hua. Não tinha ideia que aquele titã vivia em um ambiente assim!
– Pois devia! – repreendeu Huang Hua.
A “cama” que mais parecia uma almofada gigante se não era amarela daquele jeito mesmo, estava encardida. Eu abri o guarda-roupa e tive uma surpresa (não esperava que existissem traças em Eldarya) nunca que esperaria ver roupas tão grandes e capazes de sobreviver aquele caos.
– Ao menos as roupas podem nos render uma quantia melhor. – disse Anya ao meu lado conferindo as roupas e armaduras junto.
– Olha... – falei – Eu não me importo de ficar neste quarto, mas só se me ajudarem a deixar este lugar... habitável.
– Eu não me importo de ajudá-la depois de tudo que fez por nós. – ofereceu-se Nevra.
– Nem eu! – disse Anya e Erika quase ao mesmo tempo.
– Miiko e eu também ajudaremos, não é verdade Miiko. – falou Huang Hua com um olhar requisitor sobre a kitsune que assentiu meio a contragosto.
– Quanto a mim, vocês po...
– Também vai ajudar! – proclamou Miiko cortando a fala de Ezarel que ficou tão injuriado quanto ela.
– Santo Oráculo!! – uma voz vinda da porta chamou a atenção de todos. Era Ewelein – Este é o quarto que você disponibilizou para ela Miiko? – sua expressão era de horrorizada e tornou-se branca ao receber a confirmação de todos – Como representante da Reluzente, em nome de toda a Guarda de Eel, suplico-vos o mais sincero perdão, Cris. – pediu ela com uma reverência em minha direção deixando todos (especialmente eu) sem graça.
– Não acha que está exagerando um pouco? – perguntou Ezarel incomodado.
– Conheceu o lugar onde ela estava morando até agora? – ele negou – Então não pode reclamar. – Absol e Anya concordavam com ela.
– Porque veio aqui Ewelein? – cortou Miiko – Você não deixaria a enfermaria apenas para conferir um quarto.
– Oh, sim. – Ewelein retomou a postura – Chrome acordou e eu vim chamá-la. Karenn está com ele agora.
– Chrome acordou! – Nevra parecia exaltado e aliviado. Ele estava prestes a sair quando Huang Hua o impediu.
– Um momentinho só, senhor Nevra. – ele congelou no lugar – Miiko, você pode ir com Ewelein para conferir o estado do Chrome, sortuda. Mas ainda vai ajudar com isso! – ela apontava para o quarto ao redor, tirando a pouca animação que Miiko tivera ao ser “dispensada” do trabalho – Anya e Erika ficarão responsáveis de vender o que for possível para conseguir algum dinheiro para Cris, e vocês dois – ela apontava para Nevra e Ezarel – ficarão responsáveis de limpar e consertar este lugar, Miiko lhes ajudarão quando retornar.
– E quanto à senhora e a Cris? – perguntou Ezarel ainda contrariado.
– Eu e a Cris vamos ao mercado em busca de móveis decentes. Podem pedir ajuda à Anya enquanto ela separa as coisas pra vender ou quando ela voltar, já que conhece bem melhor que qualquer um de nós os gostos da Cris.
– Mas Huang Hua, eu... não tenho dinheiro para os móveis...
– Pode por na minha conta! – eu encarei Nevra desconfiada – Relaxa, é sem compromisso. Eel... não, Eldarya toda te deve um imenso favor! Eu em particular lhe devo a vida! O que eu puder fazer para ajudá-la farei.
Antes que eu pudesse rejeitar a oferta, Huang Hua agarrou-me pelo braço dizendo um “Resolvido!”, guiando-me para o mercado. Saindo do QG, um grande grupo de faerys cercou Huang Hua e eu ouvi um “psiu” me chamando por trás de alguns arbustos e árvores próximas.
Era S, e antes de pronunciar o seu nome, ele me fez um sinal de silêncio e me aproximei dele desconfiando daquele comportamento.
– Olá de novo S. O que faz aí escondido? – disse quase sussurrando.
– Miau, é um prazer revê-la também, mas preciso lhe pedir para que nunca me chame de S perto de outras pessoas. – respondeu ele mantendo o mesmo volume.
– E eu poderia saber o por quê?
– Minha profissão. Ninguém pode saber que eu sou S, este é um segredo que lhe confiei como gratidão por salvar-me a vida. Todos os outros que tiveram acesso a essa informação antes já não se encontram mais entre nós, se é que me entende.
Senti um calafrio com a revelação do bichano – Hum... se é assim... por qual nome devo chamá-lo então?
– Aqui? Pode me chamar de Sirius.
– Esse não é o seu nome verdadeiro, é? – ele começou a ronronar.
– Não. Mas o meu nome verdadeiro também começa com ‘s’. Era para eu ter deixado Eel no dia seguinte em que me salvou, mas...
– Mas...?
– Os ex-contaminados, aqueles que você salvou das “sombras”, contataram-me para que eu pudesse compensá-la em nome deles! O que você ia fazer com a dama Huang Hua?
– Olha... pela consciência eu não posso aceitar a oferta, mas...
– Mas pela razão você não pode rejeitar, acertei? – eu apenas dei um longo suspiro – Miau. Parece que acertei. E então, o que ia fazer?
– Comprar móveis decentes para mobiliar o quarto que recebi no QG.
– Vai se mudar para Eel?! – assenti com a cabeça – Perfeito! – disse ele e retirou de um dos bolsos um pedaço de papel onde escreveu alguma coisa que não pude compreender – Toma, pegue. Aconselho a fazer suas compras apenas com os purrekos, basta apresentar esse papel ao purreko responsável da loja e estará tudo resolvido.
– O que é isso exatamente?
– Algo que só nós purrekos podemos compreender. A dama Huang Hua parece procurá-la.
Eu me virei para o lado em que deixei a Huang Hua e ela realmente parecia estar me procurando. Voltei para me despedir de S... quero dizer, de Sirius, mas ele tinha sumido (pra onde ele foi?). Resolvi então juntar-me à Huang Hua.
– Onde você estava? – ela perguntou.
– Conversando com um purreko que salvei quando estava morando na floresta. Contei a ele o que fazia com você e ele me deu isso. – mostrei-lhe o papel – Disse-me para procurar as lojas chefiadas por purrekos durante as compras.
– E o papel?
– Devo apresentá-lo ao purreko responsável antes de qualquer coisa ao que entendi.
– Se é assim, vamos seguir lhe o conselho então.
E partimos para a procura.
Eu não sabia o quanto poderia estar gastando naquelas compras já que sempre que questionávamos o preço de algo após mostrar o papel aos gatos negociantes eles sempre nos respondiam a mesma coisa: “já está pago” ou “é um presente, como agradecimento” e coisas do tipo. E sendo assim eu só podia usar duas das três conquistas que me convenciam a comprar algo (1. Brilho nos olhos; 2. Acelerar do coração; 3. Disponibilidade do bolso; já está claro com qual não dava pra contar né?) então precisei usar uma quarta para me controlar: necessidade.
Muitos dos bichanos tentaram me convencer a comprar coisas de que não precisava, mas apenas um conseguiu me convencer a comprar um biombo de cerejeira que achei lindo! (e que talvez me pudesse ser útil mais pra frente).
Minhas compras começaram por uma janela nova (a que tinha no quarto precisava ser trocada por inteiro, não só os vidros) e fiquei encantada com uma grande janela branca com vidrais de anjos, estrelas e flores, o purreko da loja me explicou que, depois que a verdadeira historia do Sacrifício Azul foi revelada, muitos foram os que decidiram homenagear de alguma forma os aengels injustiçados e aqueles vidrais era uma dessas formas. Informei a ele sobre as reformas de meu quarto e ele se prontificou de instalar a nova janela pessoalmente antes que o dia terminasse.
Prosseguimos com as compras, durante o trajeto nós acabamos encontrando Ezarel que tentava negociar alguma coisa com um purreko para ajudar na reforma. Conversei com o gato mostrando-lhe o papel que Sirius havia me dado e ele não cobrou mais nada já que era pra mim. Ezarel ainda brincou dizendo que iria acabar tomando aquele papel pra si quando fosse fazer compras com os purrekos novamente, mas o gato cortou-lhe a artimanha avisando que, se ele fizesse isso teria de pagar o triplo do preço.
Ele saiu injuriado com seus pacotes enquanto eu e Huang Hua ficamos a rir. Era umas 14hs quando passamos diante de uma loja de doces que me fez lembrar que minha última refeição tinha sido o café da manhã na casa de Anya. Fizemos uma pausa para um lanche pelo menos e não pude resistir a encomendar um pote de doces (foi difícil escolher entre tantas maravilhas de encher a boca d’água).
Já era tarde quando concluímos as compras e Huang Hua me disse ter ficado impressionada com o meu gosto para decoração. Tudo (com exceção da janela, armário de banheiro e do imenso guarda-roupa) seria entregue e montado no dia seguinte, logo pela manhã.
Quando chegamos de volta ao quarto, já era outro! Miiko e Ezarel terminavam de limpar o chão e o cheiro da tinta rosa pálida, argamassa e cimento ainda eram frescos (a janela ficaria aberta, mas a porta fechada durante a noite) e a parede de pedra foi mantida (sem o mofo é claro) além de um pequeno jardim ter sido construído ao redor dela no lado de fora do banheiro que lembrava os jardins de dentro da caverna (Anya...). Nevra me pediu explicações sobre a historia dos purrekos que Ezarel havia lhes contado e eu expliquei que aquilo tudo era a retribuição que os contaminados que salvei queriam me dar por meio de Sirius e que não tive muita escolha a não ser aceitar (quando ele pediu-me as explicações pareceu chateado, mas ao final voltou a querer me paquerar. Mulherengo). Para que desse tempo de todos os móveis chegarem, ficou decidido que buscaríamos minhas coisas na caverna no dia seguinte depois das 10hs. Nevra e Huang Hua me convidaram a passar a noite com um deles, mas eu preferi continuar com Anya.
Ezarel
Ainda não acredito que a Huang Hua e a Miiko me fizeram trabalhar no quarto daquela mulher. Maldito Celsior! EU fiquei responsável de cuidar do banheiro (não era à toa que ela pareceu prestes a vomitar ao olhar para aquele lugar, terei pesadelos por anos!) enquanto Nevra e Miiko cuidavam do quarto enorme auxiliados por Anya que foi bem rápida em levar todas as coisas que conseguia pro leilão com o auxílio da Erika, e ainda retornar com um bando de purrekos para buscar o resto.
Não acreditei na janela que um grupo de faerys liderados por um purreko tinham trazido para substituir a atual (não imaginei que a selvagem poderia ter um gosto tão refinado) e o guarda-roupa que chegou mais tarde? Ocupando uma parede inteira? (quanta coisa ela queria colocar ali dentro?) Já planejava desculpas para não ajudar na mudança da caverna.
Precisei ir ao mercado para comprar mais produtos de limpeza pra dar um jeito naquele apocalipse (de verdade, o que é que Celsior fazia para deixar tudo naquele estado?), tentava negociar com o Purroy e elas apareceram, Cris e Huang Hua. Onde diabos ela conseguiu aquele papel?? Me arrependi de insinuar tomá-lo para mim depois da ameaça que o purreko alquimista me fez e saí do mercado o mais rápido possível antes que que o Purroy mudasse de ideia e me cobrasse por tudo aquilo. Não pude deixar de ouvir as risadas delas. Argh.
Ao contar ao Nevra e à Miiko sobre as compras da Cris eles me mandaram parar de fazer piadas e trabalhar (uma coisa eu tenho que concordar com aquela esfaqueadora, ser chamado de mentiroso quando se fala a verdade é realmente irritante), mas o meu comportamento durante o trabalho pareceu deixar uma pulga atrás da orelha do Nevra.
Quando elas chegaram finalmente, já tínhamos terminado de transformar aquele inferno em um quarto. Nevra não esperou nem 10 segundos para tirar satisfações sobre a minha historia (sabia que ele tinha se intrigado! _sorriso_) e fiquei quase boquiaberto com a verdade sobre aquele papel que lhe garantiu o que quisesse de graça dos purrekos.Quarto arrumado:
Combinamos de buscar as coisas dela no dia seguinte. Eu até tentei fugir da tarefa, mas eles acabaram é chamando mais gente pra ajudar naquilo tudo (filhos de um black-dog!). Acabou que Valkyon e mais dois membros da Obsidiana se juntariam ao grupo; Miiko conseguiu escapar por conta de suas responsabilidades no QG como líder (sortuda).
Nos encontramos no quiosque e dali partimos para a floresta, Absol correu na frente e nós seguimos com calma. Estava explicado porque a Cris preferira se mudar pro QG ao invés de continuar na caverna dela, ela estava mesmo morando longe e escondida (não era à toa que não a achávamos).
– Definitivamente, com exceção do cheiro, essa caverna não me parece muito diferente do que o quarto de Celsius era. – acabei por dizer por conta de todas aquelas teias, ao atravessarmos os corredores.
– Essa é a segurança! – disseram Anya e Cris em uníssono, seguindo a frente do grupo.
– Admito que cheguei a suspeitar dessas cavernas quando eu estava a sua procura na floresta. – declarava Valkyon (como?) – Mas esta montanha de teias não me permitia imaginar ninguém além de aracnídeos vivendo nelas, principalmente depois das teias terem quintuplicado.
– Como é que é? Está nos dizendo que havia bem menos teias quando as viu pela primeira vez? – acabei por questionar e ele apenas me assentiu com Erika grudada em seu braço.
Não pude evitar deixar um suspiro me escapar. – Ainda falta muito? – Acabei perguntando, mas nem foi preciso receber resposta delas, segundos depois começamos a enxergar uma luz nítida vindo do fundo da caverna. Não acreditei no que tinha diante dos meus olhos quando finalmente alcançamos a morada dela.
– A Ewelein não estava mesmo exagerando quando lhe fez aquele pedido de desculpas Cris, este lugar é maravilhoso!! – falou Erika ao deslumbrar aquela morada e todos concordavam (até eu).
– De fato o lugar é lindo, mas onde estão Absol e as cheads que viviam com você?
– Absol está perto do que acredito serem as estantes falando com uma chead. – disse Nevra apontando para os dois.
– Só uma? – falei – Pela montanha de teias pensei que eram bem mais.
Todos vimos o sorriso malicioso que Cris e Anya tinham no rosto depois das minhas palavras e foi o grito de um dos obsidianos que nos fizeram olhar para cima. Santo Oráculo, acho que fiquei branco diante de tantas cheads! Aquela caverna seria uma armadilha perfeita se não fossem pelas teias no caminho. Nunca iria imaginar algo tão tenebroso em um lugar tão belo.
– Acho que entendi melhor porque é que aqueles humanos que você enfrentava a chamavam de bruxa. – comentou Nevra com uma expressão tão horrorizada quanto a dos demais.
– Tá, ok. Já chega dessas caras de quem viu fantasmas, temos trabalho a fazer. – falava Cris com dificuldades para não rir de todos nós (Anya também se segurava, malditas) – Absol, já terminou de falar com a “mãe”?
– “Mãe”? – perguntou Valkyon próximo a algumas armaduras (Cris era mesmo uma obsidiana).
– A Cris me disse que quando chegou nesta caverna pela primeira vez só existia uma chead adulta, logo, a mãe. – explicou a Anya e a chead “mãe” começou a fazer barulhos que fez aquelas centenas penduradas no teto descerem e criarem “cestos” de teia – Por onde começamos Cris?
– Pelos mais frágeis. – disse ela.
– Imagino que sejam os ovos então. – sugeriu Erika com a Cris assentindo e aproximando-se deles com todos nós a seguindo.
Fiquei surpreendido pela terceira vez, ela tinha muitos ovos! E não eram quaisquer ovos...
– Isso é um ovo de ocemas? – perguntou Huang Hua.
– Se acaso se refere a uma espécie de grande urso polar revestido de gelo, sim. – respondeu aquela bruxinha da Cris.
Por todos os deuses, não acreditei no que eu vi em meio aqueles ovos – Como conseguiu este?!? – perguntei com Anya arregalando os olhos para o que tinha em mãos.
– Isso é um ovo de chiromagnus? – todos pararam para ver o ovo.
– Chiromagnus? – questionava Cris – Fala de um grande touro-centauro com asas? – Anya e eu assentimos – Aaah, Absol o trouxe pra cá no segundo dia em que cuidava do Chrome. Achei estranho ele trazer apenas um adulto ao invés de um grupo de filhotes acompanhados da mãe como sempre fazia.
– Isso porque o chiromagnus não é um mascote comum, é um mascote criado por alquimia. – disse a ela sorrindo de lado (e como assim grupo de filhotes?).
Ela pareceu meio surpresa – Então... acho que deve ter acontecido alguma coisa com o antigo mestre dele, pois quando chegou aqui, além de andar com o auxílio de um bastão, tornou-se um ovo assim que me fez uma reverência. – foi o que ela disse (que tipo de demônio aquelas “sementes” atraíram??).
Colocamos os ovos nas cestas para levarmos ao QG. Durante o percurso a Cris nos explicou como que havia conseguido cada um daqueles ovos à pedido de Erika e Huang Hua já que quase todos aqueles ovos eram extremamente raros e a maioria nem era da região. Eu e Nevra aproveitamos para aconselhá-la a não chocar alguns deles se ela quisesse evitar dores de cabeça ou problemas mais graves.
Já no quarto dela (sinto que essas viagens vão acabar comigo), a cama e uma estante que ela havia comprado, além de um lustre já estavam instalados no quarto. Depois do que eu vi na caverna, não iria esperar por nada menos... sofisticado.
Íamos deixar os ovos sobre a cama (que prontamente seria o lugar mais seguro até tudo estar no lugar) e Anya correu para o canteiro de jardim que ela me impediu de plantar algumas flores, com o que pareciam sementes que ela estava encantado antes de plantá-las.
– O que está fazendo Anya? – a Cris perguntou por mim.
– Já vai descobrir. – foi a resposta da pivete enquanto jogava a poção de crescimento que havia me tomado ontem para ter certeza que não jogaria nenhuma semente floral ali.
Trepadeiras de grandes flores azuis, algumas mais abertas que outras, mas todas assumindo uma forma “vasal” que se cristalizava logo em seguida surgiram. – Imaginei que podíamos guardar os ovos dentro delas! – foi a resposta dela depois da Cris se aproximar das flores de boca aberta, admirando-as e as examinando.
– Ovos guardados entre as flores... – Huang Hua falava – Esta é uma ideia bem poética Anya!
– Concordo. – a Cris e a Erika disseram mesmo isso juntas?
Sobrou para mim e para Huang Hua colocar os ovos nas flores mais altas já que ainda não haviam cadeiras no lugar. “Guardados” todos os ovos, voltamos para a caverna buscar o restante das coisas. Gastamos um total de quatro viagens para transferirmos todos os itens, roupas e equipamentos para o QG, e a cada chegada, mais móveis estavam montados.
Antes de deixarmos a caverna de vez, pude ouvir um pequeno grito de surpresa vindo da Cris. Virei-me para ela e ela estava segurando uma harpa assombrada nas mãos (não acredito, mais um mascote?) e a chead “mãe” acompanhada de um grupo de filhotes que pareciam recém-nascidos se aproximou dela. Cris abaixou-se e estendeu a harpa para os pequenos e um deles se aproximou convertendo-se em um novo ovo (ainda bem que sobrou flores vazias), e ohh despedida melosa entre ela e as cheads (Huang Hua até chorou!).
As meninas cuidaram de guardar as roupas, Valkyon e os outros obsidianos cuidaram das armas e proteções, e Nevra e eu ficamos responsáveis pelos itens restantes. Tava explicado o porquê de ela precisar de um armário tão grande, ocupamo-lo todo com tudo aquilo. Além de ela ter optado por guardar todos aqueles tecidos, mantas, kits de costura e semelhantes dentro de um imenso baú de madeira que foi posicionado a frente da cama.Quarto decorado:
A Miiko chegou depois que tudo estava finalmente em seu devido lugar. Nem ela acreditou no resultado final daquela transmutação de ambiente! Do inferno para o paraíso! Ou, do calabouço para o pequeno palácio, era essa a minha visão daquilo tudo. Isso sem comentar que agora a Cris se dispunha de mais de 2500 maanas e 300 moedas de ouro graças a Celsior (Anya negociou bem no leilão e nas vendas que ainda não haviam acabado).
Para agradecer por toda a ajuda recebida, ela abriu um dos quatro potes de doce (potes que a deixaram confusa já que ela foi clara ao dizer que só havia encomendado um e não quatro. O sorriso de Huang Hua me explicava tudo) e dividiu-o com todos nós. Eu fui quem mais aproveitou os doces já que da última vez quase perdi um dedo.
Acabados os doces, nos despedimos aos poucos, mas não antes da Miiko avisar que a viagem para Memória iria ser daqui dois dias e que este era o tempo para Cris se preparar.
Valkyon, Erika, Anya (e consequentemente Nevra) iriam acompanhá-la. Huang Hua insistiu para que lhe permitissem participar também e precisou de muito para convencer Feng Zifu para conseguir a autorização (com ele a acompanhando é claro).
Terminadas enfim todas as discussões, deixamos a Cris sozinha aproveitando o novo quarto.
.。.:*♡ Cap.26 ♡*:.。.
Cris
Ontem foi mesmo um dia e tanto. Minhas pernas ficaram moídas depois de quatro viagens entre a caverna e Eel para efetuarmos a mudança (graças a Deus que tive bastante ajuda, ou sabe-se lá quantas teriam sido.), ofereci a todos um dos potes extras (não sei direito de onde saíram ainda, mas agradeço) de doce que me foi entregue e todos aceitaram, especialmente o Ezarel (ele levou o pode com os últimos junto! Aproveita guloso...). Quando todos se despediram a primeira coisa que eu fiz foi tomar um banho. Um banho de chuveiro quente. Aaah... não pude nem resistir a lavar minha cabeça naquela agua quentinha em que eu não precisava ficar agachada, mesmo sendo tarde para isso (sempre evitei dormir com o cabelo molhado uma vez que cachos e secador de cabelo não são compatíveis).
E que saudades eu já estava de poder dormir sob um colchão macio... Não que eu não goste de dormir em uma rede (sempre que tinha que ceder minha cama à parentes eu gostava de dormir na rede) ou que a cama que dividi com Anya nas duas noites passadas fosse ruim, não. É que não há nada como dormir sob a sua cama, com um maravilhoso colchão (acordei sem qualquer rastro de dor de ontem).
E além do mais, segundo a Miiko, eu só tenho mais hoje para terminar de fazer tudo o que não pude fazer ontem e anteontem (com a cortesia do Cristal Vivo, que agora é o Novo Grande Cristal, e de Celsior, por conta do estado em que ele havia deixado seu antigo quarto) como me apresentar oficialmente à minha guarda: a Obsidiana, por exemplo.
Quanto a viagem, deixei minha mochila pronta ontem mesmo (estava inquieta e precisava deixar o cabelo secar um pouco) com umas três mudas de roupa e itens básicos. Carregarei meu celular e o carregador solar junto para poder tirar fotos de Eldarya (já que estou em um outro mundo, vou aproveitar) além de também me ajudar a reconhecer o que de fato estará diante dos meus olhos (quem sabe assim evito novas confusões como foi com a Erika e o Leiftan, concordam?).
A única coisa que estranhei foi o pedido de Anya antes de sair pra casa dela... porque foi que ela me pediu para usar um vestido solto no dia da viagem? (e sem a roupa íntima...) Espero que essa surpresa dela não me faça ficar arrependida e que alívio eu senti quando ela me garantiu que não havia risco de um certo vampiro me fazer uma “visita noturna”. De forma alguma irei baixar minha guarda com aquele sedutor sem descobrir ao menos um meio de mantê-lo longe de minhas veias, mas ainda assim... preciso falar com ele.
Só acordei cedo porque Absol me chamou já me entregando uma roupa própria para treinar (ele está ansioso demais pro meu gosto) que não demorei a vestir. Arrumei a cama, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, deixei tudo mais ou menos no lugar e tranquei o quarto para ir ao salão atrás do meu café da manhã.
Encontrei Nevra no corredor durante o caminho. – Bom dia Nevra. – disse e ele se virou na hora para mim.
– Muito bom dia, minha bela guerreira! – respondeu ele com um enorme sorriso e uma reverência cavalheiresca (já tão cedo!?).
Não conseguia dizer o que eu queria à ele e ele parecia estar ocupado pois não se demorou pra começar a ir embora. Respirei fundo pra tomar coragem – Obrigada... – foi tudo o que eu consegui dizer.
– Não precisa me agradecer quando eu lhe disser uma verdade. – falou ele se voltando de novo para mim.
– Não é por isso que eu agradeci.
– É pelo quarto então? Aquilo não foi nada... Disse que todos nós lhe devíamos. – ele agora se aproximava (o que ele planeja?).
– Também não é por isso.
– Está me agradecendo pelo o quê então? – (ele está quase me colocando contra a parede?? Respira Cris).
– Por Anya. – falei enfim e agora ele parece ter ficado sério e me encarava em silêncio – Sei que estou meio atrasada para agradecer-lhe por isso, mas... No dia em que Anya e eu sabotamos aqueles mercenários, enquanto nós fugíamos, se não fosse por você talvez Anya... – as lágrimas começaram a querer se formar com as lembranças e tremia – Quando vi Anya cair com aqueles homens atrás de nós, eu entrei em um desespero tão grande, mas tão grande... Sabia que havia poções dentro da bolsa que ela carregava, mas minha mente estava travada, em branco! Não conseguia fazer mais nada além de chamá-la. – acabei engolindo seco enquanto enxugava um pouco das lágrimas – E... mesmo que eu me lembrasse o que precisava fazer para salvá-la, aqueles soldados não me permitiriam. – o Nevra continuava me ouvindo, sério e em silêncio – Tanto que eles não hesitaram em derramar uma chuva de balas sobre mim enquanto o meu Cristal me protegia. E se não fosse pelo Cristal, nem mesmo eles eu teria conseguido encarar. Se não fosse você... – agora eu o encarava nos olhos – ...muito provavelmente, Anya não teria resistido o suficiente para que eu pudesse ajudá-la. Por isso... muito obrigada, Nevra.
Assim que eu consegui terminar de falar o que precisava, ele me abraçou. Um abraço reconfortante que aos poucos me tranquilizava e que não pude deixar de retribuir. – Eu é que lhe devo gratidão Cris... – disse ele sem me soltar e me surpreendendo – Se eu consegui encontrá-las naquele dia, foi graças aos tiros que aqueles homens lançaram em você, e você têm razão! Eu só pude ajudar Anya dando-lhe as poções de que necessitava porque você estava mantendo todos aqueles mercenários ocupados. – minhas lágrimas vieram de novo – Eles estavam tão ocupados te enfrentando e depois fugindo, que nem perceberam que eu estava lá, socorrendo uma das mulheres que eles tentavam matar. – ele se afastou um pouco para poder me secar as lágrimas com uma das mãos – E não é só por Anya que eu lhe devo e muito... – voltei a lhe encarar nos olhos – Eu tenho uma irmã mais nova, Karenn, ela é um pouco instável emocionalmente, principalmente em certas épocas, além de noiva do Chrome, o rapaz que você salvou. – estou começando a achar que ele realmente não vai querer me ferir intencionalmente se isso continuar – Pra ser mais sincero, eles ficaram noivos duas semanas antes de sua chegada e... se não fosse por todos os problemas por conta dos contaminados, do exército humano e do desaparecimento dele, hoje estaríamos comemorando a união deles.
Comecei a me sentir meio culpada – Então... de certa forma eu atrapalhei com as vidas de vocês...?
– Atrapalhar? – ele me sorria – Podemos não estar comemorando um casamento hoje, mas graças a você, não iremos precisar nos preocupar com um velório. Um não, vários! Pois com certeza nós teríamos sido massacrados por eles se não fossem você e Anya. – reparei que Absol nos observa sentado – E como líder da Sombra, sempre me considerei responsável por cada vida que está sob a minha tutela, como Anya e Chrome, e você as protegeu para mim. Obrigado.
Comecei a chorar outra vez emocionada (como é duro ser uma manteiga derretida!) e ele me deu um novo abraço que outra vez retribuí. Aquele abraço teria demorado se eu não o tivesse sentido cheirando o meu pescoço (ele pode até me dever o mundo como gratidão, mas ainda é um vampiro e eu não posso me descuidar das minhas artérias), afastei-o delicadamente.
– É melhor eu ir logo ao salão para comer ou nunca irei me apresentar oficialmente à minha guarda, coisa que já devia ter feito há muito tempo. – falei terminando de me afastar de seu corpo.
– Eu realmente queria que você tivesse caído na Sombra. Você me parece ter um cheiro interessante. – disse ele sorrindo. Engoli seco.
– Te vejo uma outra hora então. – falei andando de costas pelo corredor com Absol me acompanhando.
– Tudo bem se eu acompanhá-la na refeição? – ele me seguia de braços cruzados.
Travei com sua pergunta – Que tipo de refeição? – Absol o observava de lado, aguardando a resposta.
– Do mesmo tipo da sua. Relaxa, nunca lhe tomaria o sangue sem o seu consentimento. – isso me acalmou – Apesar de não resistir a querer beijar uma bela mulher. – porque me devolveu o nervoso?
Pelo calor que sentia, sei que estava vermelha, só não sabia se era só de constrangimento ou se de raiva também (Não quero saber de galinhas!). Absol se manteve entre nós dois o tempo todo, o que parecia incomodar à Nevra, sempre o vigiando (eu não enxergo o Absol como um guardião à toa).
Chegamos ao salão principal, era cedo e havia poucas pessoas, logo vimos Erika e Valkyon em uma das mesas que nos acenaram para que nos juntássemos a eles. Nevra foi avisá-los que iríamos pegar nossa comida primeiro com eu indo à frente.
– Bom dia dama Cris! O que vai querer pro café? – Karuto estava de bom humor.
– Muito bom dia Karuto. Poderia me ver um copo de leite levemente adoçado com chocolate e alguma coisa que me ajude a aguentar um treino da Obsidiana pra acompanhar?
– Hehe, Obsidiana hein. O que acha de um belo sanduíche? Prefere doce ou salgado?
– Doce de quê? – perguntei com os meus olhos brilhando.
– Geleia de chocoamoras com morango-pistache, você vai amar.
– Quero! – eu não sei que frutas são essas e nem que gosto tem, mas já estou com água na boca.
Nevra chegou para fazer o pedido dele com Karuto entregando o meu. Sentei-me à mesa em que meu chefe estava e Nevra sentou-se ao meu lado cinco minutos depois. Conversamos sobre o que eu achei da minha primeira noite em meu quarto e também sobre a viagem que faríamos no dia seguinte logo pela manhã. Fiquei surpresa de saber que o tal de Fáfnir era bisavô de Valkyon (e mais ainda de ele ser um tipo de fantasma). Nevra me questionou sobre o porquê de eu não comer enquanto tomava o meu leite e eu expliquei que era muito raro eu misturar líquidos com a refeição de forma que ou eu bebia primeiro, ou eu comia primeiro (e que delícia de doce!!). Valkyon pareceu animado de eu querer me apresentar à guarda quando terminássemos.
Acabada a refeição, terminávamos de atravessar a dispensa e penetrar o Salão das Portas, quando voltei meu olhar para o Corredor das Guardas.
– Algum problema Cris? – perguntou-me Erika.
– Tudo bem se eu der uma olhadinha no Cristal antes? De repente senti vontade de vê-lo.
– Problema algum! – afirmou Erika.
– Vocês duas podem ir ver o Cristal enquanto Nevra e eu nos dirigimos aos locais de treino das nossas guardas. Anya lhe explicou onde a Obsidiana costuma treinar? Qualquer dúvida Erika pode acompanhá-la, ela também já foi uma Obsidiana. – Valkyon tinha uma expressão serena.
– Obrigada. Logo estarei com o senhor.
Tomamos nossas direções e logo estava diante do Cristal e, mais uma vez Miiko parecia estudá-lo. Erika e eu a cumprimentamos juntas e Miiko devolveu a saudação. Questionei-a do porque dela examinar tanto o Cristal (muito mais que os outros) e ela me explicou que além de líder da Reluzente, ela também era a sacerdotisa do Cristal junto de Erika e que as duas estavam trabalhando para compreender melhor o Novo Cristal e as “sementes” do Oráculo original.
Eu realmente não entendia muito sobre a realidade religiosa de Eldarya, e desde que comecei a ter aulas com Anya, passei a acreditar que muitos dos deuses pagãos (como os greco-romanos e os egípcios) talvez tivessem sido faerys que acabaram sendo adorados por esses povos (o que explicaria tanta confusão nada divina entre eles) e que a tal Oráculo que eles veneravam, era algum tipo de anjo escolhido do Senhor para vir a ser o regente de Eldarya, uma vez que foi parte da distorção dos ensinamentos de seu filho que auxiliaram na perseguição aos faerys (porque é que a arte foi uma das poucas heranças históricas que se salvou na era medieval, heim?).
Porque eu pensava isso sobre a Oráculo? Que outra explicação você consegue me fornecer para justificar a reação do Cristal mediante as minhas orações? Reação que se repetiu mais uma vez quando me aproximei dele e fiz a oração de São Bento e do Santo Anjo, novamente ouvindo um som de admiração vindo da Miiko e da Erika. Outra coisa que aconteceu foi uma parte do meu colar se transferir para o Cristal, provavelmente o equivalente do Cristal que estava com os prisioneiros (pro meu alívio), me permitindo relaxar sobre o possível tamanho que a pedra de meu pescoço assumiria. Mas ainda gostaria de saber quando e como eles tinham conseguido aquele pedaço.
Despedi-me finalmente da Miiko avisando-a que eu tentaria ver o Cristal pelo menos uma vez por dia. Ou quando eu sentisse uma grande vontade de vê-lo como foi hoje.
– Me estenda sua mão, por favor. – a Miiko me pediu e eu o fiz.
Ela ergueu o bastão com a chama azul engaiolada e removeu-lhe uma parte que ela colocou sobre a minha mão enquanto recitava alguma coisa. – O que está fazendo? – perguntei ao sentir minha mão arder com aquilo tudo.
– Às vezes precisamos selar a entrada desta sala... – começou a explicar a Miiko depois da chama ter sido “absorvida” pela minha mão (até a chama do teste faery foi mais confortável) – ...e esta chave que lhe dei, lhe permitirá poder entrar nela sempre que desejar, caso ela esteja selada.
– Entendi. – respondi analisando a minha mão que não parecia ter nada de diferente – Agora é melhor eu ir logo me apresentar à minha guarda. Valkyon está esperando, não é mesmo Absol? – ele que observou tudo sentado em um canto e em silêncio, assentiu com a cabeça se erguendo para fora da Sala.
Erika nos acompanhou até o quiosque central. De lá ela seguiu para os seus afazeres enquanto eu e Absol seguimos para a cerejeira que era o lugar onde a Obsidiana costumava treinar. Já havia bastante gente treinando e Valkyon (de costas para mim) observava a todos.
– Recruta Cris e Absol se apresentando senhor. – falei chamando-lhe a atenção.
– Bem vinda. – e deu um longo assobio com os dedos para chamar a atenção de todos – Atenção! – o que ele está fazendo?! (detesto ser centro da atenção) – Esta é a Cris, nossa nova recruta e Absol, o seu...
– Guardião. – cortei ele – O senhor ia dizer que Absol era o meu mascote, não ia? – ele apenas assentiu meio sem graça, respirei fundo – Por favor, que fique bem claro agora: eu não capturei Absol. Ele veio até mim no meu primeiro dia em Eldarya e têm cuidado de mim desde aquele dia. Ele NÃO É MEU MASCOTE! É meu amigo e também meu guardião, espero não precisar mais fazer esse tipo de correção. – todos ficaram me olhando.
– E onde ele está agora? – perguntou alguém em meio aos membros da guarda.
O procurei do meu lado (quando foi que ele sumiu?) e ele mesmo se anunciou com um latido no meio deles, causando gritos e descomposturas dos que estavam próximos. Valkyon fez uma expressão que parecia ser de decepção (me pergunto se era da atitude de Absol ou da reação de seus subordinados) e Absol parecia sentir-se igual (esse eu sabia que era decepção da reação deles).
– Bom... – Valkyon tomava a palavra – ...já que as apresentações e explicações já foram feitas, é hora de você nos mostrar o que sabe, para que eu possa decidir como prosseguir com seu treinamento Cris.
Voltei meu olhar para Absol que se dirigia até as armas de treino, Valkyon e os demais fizeram o mesmo. Absol farejava e erguia as espadas de madeira como que procurando por uma específica (isso não me cheira bem...) até parar na quarta espada que trouxe até mim. Quando eu peguei na espada, eu estava certa.
– Aumentou o peso de novo?! – Absol apenas soltou um leve rosnado de “não reclame e use!”, correndo até um certo canto de onde retornou com uma venda na boca. – E de olhos vendados!?! – ele fungou um “sim!”.
Todos nos observavam curiosos e/ou injuriados. Vendei meus olhos e comecei a me concentrar na espada para me acostumar logo ao peso, e na minha volta para quando o primeiro ataque viesse que, ou seria rápido ou ia demorar. Me pergunto como que será o treino dessa vez, já que não temos mais os amigos de Absol para me ajudar com os treinos (será que ele vai por os membros da guarda para me enfrentar? Espero que não).
Pelo visto, Absol testará minha paciência hoje. Alguns dos que me observavam começaram a reclamar, mas não estou nem aí pra eles (da última vez que perdi a paciência pelo primeiro ataque quase tive a perna cortada, nem pensar que cometerei o mesmo erro outra vez).
Valkyon
Estava curioso sobre a forma que a Cris e o Absol iria nos mostrar o que sabiam fazer. Não esperava que meus membros pudessem ser tão covardes como se mostraram quando Absol se denunciou entre eles, depois da Cris deixar bem claro que o mesmo não era mascote dela.
Fiquei interessado na forma como ele escolhia a espada de treino (e que pela reclamação da Cris, ele trocava o peso da espada de tempos em tempos) depois de pedir para que eles nos mostrassem do que eram capazes e mais ainda quando vi que o treino dela seria de olhos vendados (são poucos os que conseguem treinar assim).
Vi Absol ir até um alcopafel com um crowmero sobre as costas que deviam estar em exploração e passava por perto e, ao contrário do que eu esperava, os mascotes não correram de Absol, eles conversavam. O crowmero saiu voando, enquanto o alcopafel se aproximou (com uma certa distância da Cris) junto do Absol.
Tudo estava quieto entre eles. Quieto demais, tanto que alguns dos membros que assistiam reclamavam. Estava prestes a reclamar também quando o mesmo crowmero de antes chegou acompanhado de uma ciralak, um lapy, um maulix, um homúnculo e... Shaitan? Todos se reuniram com o Absol e o alcopafel de antes, pareceram conversar sobre algo, e logo em seguida começaram a cercar a Cris (eles iriam atacá-la em conjunto?), Absol (que resolveu ficar do meu lado) ficou observando a todos.
Depois que Absol deu um sinal de cabeça para os mascotes, o alcopafel que estava às costas da Cris foi o primeiro a atacar. Cris se desviou do golpe com maestria como se nem estivesse vendada (nada mal.), e um atrás do outro a atacava sem qualquer pena dela. A Cris era mesmo impressionante, até o momento, desviou-se de todos os ataques feitos pelos mascotes e aparou alguns sem perder a espada que manejava com dificuldade ou cair no chão (ela parecia dançar entre eles!). Alguns dos que passavam por perto acabaram por parar para assistir a tal luta.
Uma hora se passou mais ou menos, e só agora que a Cris estava dando os primeiros sinais de cansaço por conta da falta de costume com a espada. Desviei meu olhar dela ao ouvir um de meus subordinados reclamar da mesma forma que haviam feito mais cedo, e Absol estava ao seu lado (quando foi que ele se afastou de mim?). Absol parecia querer que o brownie raposa se juntasse a batalha. O mesmo me olhou como se estivesse aguardando a minha aprovação, que dei com um aceno de cabeça. Ele pegou a espada de treino que o próprio Absol lhe oferecia e se aproximou da batalha, esta foi a primeira vez que a Cris caiu após um golpe, e os mascotes não cessavam os seus ataques! Mais dois de meus homens (um elfo e um lâmia) foram convidados por Absol a participarem da luta.
Eu era exigente nos treinos de meus soldados, mas aquilo era demais! Agora entendo o que Anya quis dizer quando fez aquele comentário no dia do teste para as guardas. Quem aguenta um treino de Absol, aguenta o treino de qualquer um! Absol era extremo demais para o meu gosto, e ela só teve uma pausa depois de mais uma hora de treino após a adição de meus homens (ela lidava incrivelmente bem com os mascotes, mas já estava mais do que claro que lhe faltava experiência contra faerys). Já tenho uma boa noção do que eu posso fazer por ela.
– Eu sempre sou rígido com os meus, mas Absol me pareceu sádico com você. – disse me aproximando dela que ofegava no chão.
– Absol sempre sabe como piorar os treinos. – respondeu ela removendo a venda – Quem eram meus adversários?
– Shiroiyoru, um brownie raposa (apontei para onde ele descansava sentado), Thueban, um lâmia (este estava do lado de Shiroiyoru) e Réalta, um elfo (apontei para ele que estava sentado bem aos pés da cerejeira). Já os mascotes foram: um alcopafel, um crowmero, uma ciralak, um lapy, um maulix, um homúnculo do meio-dia e um black gallytrot. Este último era a Shaitan, mascote do Nevra.
– Sério? Essa Shaitan devia ser a que estava me dando mais trabalho... Algum dos outros mascotes era o seu? – ela continuava deitada.
– Não. Minha Floppy não é capaz de provocar nem um centésimo do dano que todos os outros quase lhe causaram. Você lutou muito bem!
– Bem até Absol acrescentar os seus homens... – nós dois rimos – Você pode me ajudar com as lutas humanoides, não é?
– É exatamente sobre isso que pretendo trabalhar com você. Você já domina a capacidade de batalhar em qualquer situação, só falta aprender contra qualquer adversário. – tomei um susto quando Absol deu um latido bem do meu lado (pelo santo Oráculo, se ele não fosse dócil...) abanando a cauda.
– Absol concorda com você. – explicou ela – Será que poderíamos começar essa nova etapa de treino sem vendar os olhos? De preferência depois de retornamos de Memória!
Não pude evitar dar uma risada e Absol revirava os olhos por conta do pedido que a Cris fez. Cinco minutos depois retomamos o treino, mas desta vez sem os mascotes e sem a venda (o que a agradou e muito). Bem, quase sem mascotes, eu e Absol fomos os seus adversários dessa vez. Absol era frio porém gentil, nunca tentava acertar os pontos vitais, e eu, sem dar mole algum, dava-lhe sugestões e conselhos o tempo todo. Ela pegava rápido as coisas.
Os outros só não ficaram assistindo ao treino da Cris porque eu havia lhes ordenado que seguissem com seus próprios treinos antes de começarmos, ressaltando o meu desgosto pela covardia que muitos deles tinham mostrado mais cedo com Absol.
Treinamos até o meio-dia. A Cris ainda precisava trabalhar um pouco mais a resistência, já que ela mal se mantinha em pé. Absol e eu a ajudamos a se sustentar até chegarmos à enfermaria (era óbvio que ela estava coberta de dores e além do mais, fui ordenado a ficar responsável por ela junto de Erika) onde Ewelein lhe deu uma poção para as dores e passou uma pomada sobre as pernas, braços e costas.
Depois de alguns minutos, acompanhei a Cris até o salão principal (o Absol sumiu) para almoçarmos. As poções da Ewelein são ótimas para recuperar o físico, mas nada substitui uma boa refeição para reaver a energia. Deixei-a na mesa e fui buscar comida para nós dois.
– O que foi que você fez com ela? – Karuto me fazia cara feia.
– Ela quem? – perguntei.
– A Cris. Vi vocês entrando e ela me parece acabada, o que foi que você fez com ela? – ele estava sério (acho que Absol não será o único guardião dela aqui).
– Parte da culpa da condição dela é de Absol, nós apenas treinamos e a primeira metade do treinamento foi todo orquestrado pelo black-dog dela, por isso ela está assim acabada.
– Como que foi esse treinamento. – ele inqueriu. Respirei fundo e comecei a descrever o treinamento que ela teve desde o começo, Karuto não parecia acreditar, mas pra minha sorte uma das ajudantes de Karuto assistiu ao treino e confirmou a minha historia.
O Karuto ficou boquiaberto, quase horrorizado, e preparou um senhor almoço pedindo pra que eu entregasse rápido a ela. Quase que sou obrigado a fazer duas viagens para pegar o meu próprio almoço (Feng Zifu bem que podia estar ajudando na cozinha também).
Quando cheguei à mesa com a comida, Cris cochilava apoiada em uma das mãos (ela estava mesmo acabada) e acordou assim que pus as bandejas na mesa. Vi Erika entrando no salão.
– Demorei muito com a comida?
– Não! – ela esfregava os olhos – Eu apenas estou exausta, Absol pegou realmente pesado dessa vez. – ela não demorou a comer depois de observar o prato por alguns instantes (ela estava admirando a comida?) – O que você disse ao Karuto para ter tanta comida assim?
– Apenas expliquei como foi o seu treino, que por pouco não acreditou em mim.
– E ele não acreditou em você porque Valk? – perguntou minha Erika, sentando ao meu lado com a bandeja de comida na mão.
Expliquei mais uma vez sobre o treino dela e foi a vez dela de ficar com aqueles lindos olhos lilases arregalados, com a Cris me confirmando ou dando alguns detalhes.
– Então era com vocês que Shaitan estava hoje cedo? – Nevra chegou (tomara que tenha ouvido a historia toda) sentando-se próximo a Cris, que se afastou um pouco dele (acho que ela não confia muito em vampiros).
– Ouviu a conversa ou foram outros que contaram pra você? – Cris perguntava ao Nevra.
– Seu treino fez sucesso. – ele respondia – Os boatos estão se espalhando feito um incêndio, ouvir a historia direto de vocês dois apenas me filtrou os exageros.
– Que tipo de exageros? – perguntei e pelo o que ele contou, alguns faerys misturaram os treinos, e outros confundiram sobre quando a Cris estava vendada. Mudamos de assunto sobre como tinha sido o dia de Erika e como estava a saúde de Chrome, que no momento não podia sair da cama (Cris pareceu ter ficado vermelha quando falamos de Chrome, já que Nevra não dava uma folga para ela com seu “charme”), sem falar que o mascote dele finalmente apareceu carregando um bilhete de Chrome, repassando os detalhes que ficaram faltando em seu relato, e outro de um algum faery que ficou cuidando do chestok que havia sido ferido ao tentar escapar dos mercenários.
– Cris! – Anya nos surpreendeu abraçando a Cris por trás com Kero atrás dela segurando alguns pergaminhos – Como foi o seu treino? Ouvi vários boatos!
– Horrivelmente terrível, – não pude evitar de rir – como sempre. Hoje Absol foi especialmente cruel! – respondeu ela, arrastando Anya para o seu lado – Ainda estou toda dolorida, e olha que nem pensei duas vezes em aceitar a medicação da Ewelein!
– Não gosta de remédios? – perguntou o Nevra sorrindo pra Cris.
– Prefiro não precisar deles.
– E por quê? – perguntei.
– Para evitar resistência. Tomar remédio demais faz seu organismo se acostumar e os remédios deixam de fazer o efeito deles.
– Você prefere só tomá-los em última necessidade, não é? – Cris afirmou com a cabeça para responder Anya – Queria ter assistido seu treino, mas o Chefinho me colocou pra trabalhar na biblioteca. – queixou-se ela.
– Não foi tão ruim. – declarou Kero já sentado.
– Realmente, não foi ruim... foi maçante! – Kero pareceu magoado – Ah! E Cris, falei sobre os livros que Absol lhe trouxe à Kero e ele ficou bem interessado.
– Verdade?! – Cris parecia meio surpresa.
– Bom, sim. Quero dizer... – Kero, nervoso como sempre... – Fiquei curioso sobre os livros que Anya me falou, e gostaria de saber se não há problemas em eu dar uma olhada. Quem sabe não há uma cópia em seu idioma na biblioteca?! – a animação de Kero nesse ponto pareceu ter influenciado a Cris, julgando pelo brilho dos olhos dela.
– É uma ótima ideia! Acabei de acabar de comer, vai almoçar agora? – Kero assentiu para Cris junto de Anya – Tá certo então. Você já sabe onde é o meu quarto aqui no QG, não é? Depois que terminar de comer, você pode me encontrar lá e eu lhe mostro os livros, combinados assim? – sugeriu ela se levantando.
– Combinado. – foi a resposta do Kero.
– Eu o acompanho até o seu quarto. – falou Anya – Nossas aulas de “eldaryano” ainda continuam, não é?
– E porque é que eu iria procurar outra professora se já tenho você?! – a Cris respondeu sorrindo, o que fez Anya (e todos nós) ficar com um enorme sorriso no rosto.
Cris se despediu e foi para o quarto dela. Nevra ainda tentou acompanhá-la, mas ela o dispensou afirmando que o Absol tinha sumido e por isso não podia aceitar, deixando Nevra pra trás disfarçando a decepção (o que terá acontecido entre eles?).
Anya e Kero comeram às pressas para não deixarem a Cris esperando muito, Nevra decidiu ir com eles para o quarto da Cris, usando a desculpa de querer supervisionar as aulas, já que não havia conseguido acompanhá-la. Quanto a mim, depois de conversar um pouco com minha amada na sala do Cristal sobre o ritual de amanhã, voltei aos meus afazeres em minha guarda.
.。.:*♡ Cap.27 ♡*:.。.
Cris
Aquele Nevra... não desiste de tentar me ganhar. Ele que tire o cavalinho da chuva, pois eu não irei ceder a ele. Gastei uns 15 minutos do salão até o meu quarto (tinham mesmo que me darem o último de cima?), mas pelo menos tinha o meu próprio banheiro, o que a maioria não tinha.
Ao entrar encontrei Absol dormindo sobre a nova cama dele (o treino de hoje deve ter sido mesmo puxado) e reparei uma roupa nova sobre a cama (então ele sumiu para explorar também?).
Era um vestido longo de amarrar atrás do pescoço, batendo o calcanhar, branco com um decote em V e costas nuas. Peça única e totalmente rodado (será que foi feito com alquimia?) e havia bordados dourados de arabescos ao redor do decote e da beirada da saia. O tecido parecia algodão e brilhava como cetim (será algo parecido com algodão egípcio?). Arranquei logo aquelas roupas suadas e passei uma agua no corpo por causa daquele suor todo que já me pregava, para poder provar o vestido.
O vestido era maravilhosamente confortável, e do tamanho certo! Me olhava no espelho com ele quando bateram à porta. – Entre! – disse sem desviar o olhar.
– Já chegamos Cris,... e que vestido lindo é esse?! – perguntou Anya com Kero entrando atrás dela.
– Você está mesmo muito bonita! – disse Kero meio corado.
– Obrigada. – respondi – Foi Absol que o trouxe para mim depois do treino.
– Diga que você vai usar ele para a viagem de amanhã, ele é perfeito para o que estou planejando para nós duas!
– O que exatamente você está querendo me aprontar amanhã Anya? Eu ainda não me esqueci do outro pedido que você me fez. – perguntei cruzando os braços.
– Se eu dizer agora, não será mais uma surpresa. E é apenas algo que eu tenho certeza que você irá gostar de experimentar, além de servir para ajudar a matar o tempo. Dois ou três dias no meio do oceano pode ser bem entediantes.
– Sei. Assim como me ajudar na biblioteca, não é verdade?
Acabei rindo – Certo, tudo bem. – Anya me parecia bem sem graça – Deseja ver todos os livros de uma vez ou prefere examiná-los aos poucos Kero?
– Vou querer dar uma olhada por cima de todos para conferir se há algum outro exemplar na biblioteca, e quem sabe, na sua língua. Depois irei selecionar os que me forem mais interessantes para que possa fazer uma cópia para a biblioteca.
– Você pode muito bem fazer uma cópia de todos na minha língua e ficar com os originais se quiser. – disse para ele.
– Fala sério? – ele parecia contente.
– Claro que ela deve estar falando sério Kero, que utilidade ela poderia dar a um livro que ela não consegue ler? – Nevra? Quando foi que ele entrou?
– E você está aqui por que... – insinuei.
– Queria saber como eram as aulas que minha subordinada lhe dava. Problema?
– Não. – respirei fundo – Se sua intenção for mesmo de só assistir e não me paquerar pra nos atrapalhar... você pode ficar. – terminei por dizer e ele apenas me sorriu enquanto fazia uma reverência (Senhor! Daime paciência!). – Anya, tudo bem se eu colocar música pra evitar distrações?
– Claro que não! Vai ajudar a mim também.
– E música ajuda a evitar distrações? – perguntou Kero. – Como vai conseguir tocar instrumentos enquanto estuda?
A inocência de Kero fez a mim e a Anya sorrir. Abri o meu not e o liguei, tanto Nevra como Kero pareciam curiosos com o meu notebook; ligado, fui logo abrindo o mídia player e colocando-o para tocar todas as músicas que tinha no aleatório (agora que não estava mais vivendo com as cheads, não precisava mais tomar cuidado com o tipo de música. Talvez tivesse que velar pelo volume, mas só), os dois ficaram de queixo caído.
– A tecnologia da Terra evoluiu o suficiente para que você só precise tocar uma música uma vez, para poder ouvi-la quantas vezes quiser e onde quiser. Sobre as distrações, foi confirmado cientificamente que a música ajuda a evitar que você pense em coisas aleatórias enquanto tem que se concentrar em algo. Comigo sempre funcionou! Esclareci suas perguntas Kero? – falei, e ele apenas assentiu com a cabeça, voltando-se para os livros e os examinando em minha cama. Anya e eu ficamos ocupando a mesa e Nevra a poltrona nos observando.
A aula seguiu de forma tranquila. Nevra realmente ficou quietinho no canto dele e Kero me disse que iria querer todos os meus livros, pois todos eram obras raras, algumas até haviam sido consideradas “sabedoria perdida” (imagino o que ele falaria dos dois que mantenho escondido debaixo de meus travesseiros... vocês lembram não é? Que tenho dois que, por algum motivo, sinto que não posso estar mostrando pra ninguém, né?) e deixou o quarto carregando metade deles para começar a traduzi-los e me fornecer as cópias traduzidas no lugar dos originais.
Na aula de alquimia, Anya me ensinava poções para serem utilizadas como proteção contra faerys do tipo sombrio, como um certo vampiro que não largava do meu pé (acho que o Nevra estava bem distraído com as músicas, já que não se importou com o que Anya estava me ensinando).
– Será que eu poderia vir aqui às vezes para poder ouvir de suas músicas? – perguntou-me Nevra ao serem dadas como acabadas as aulas.
– Gostou tanto assim delas ou só está arranjando uma desculpa pra ficar no meu quarto? – Perguntei.
– Confesso que essa seria mesmo uma boa desculpa... – ele estava sorrindo ao falar (Jesus!!) – Mas eu realmente gostei de ouvir algumas de suas melodias e canções. Me ensinaria a usar este seu aparelho? – agora ele parecia sério.
– Hum, eu realmente preciso de meu not, é mais rápido digitar do que escrever. Sem falar que a energia está sempre perto do fim quando essas aulas terminam e por isso fico incapacitada de utilizá-lo até o dia seguinte, quando uso o recarregador solar para recuperar a energia consumida. – falei enquanto deixava meu not em suspensão, desligando o player antes.
– É só me explicar tudo o que eu preciso saber e eu sempre o deixarei pronto pra você. – ele estava quase me abraçando por trás (credo! O andar dele é silencioso demais!), ainda bem que Absol havia acordado e já estava rosnando pro Nevra, que se afastou de mim com as mãos erguidas na hora (obrigada Senhor!).
– Olha aqui Chefinho, – Anya parecia tão incomodada quanto eu – se você quiser aproveitar da música durante as aulas, por mim tudo bem. Mas se você continuar perturbando minha aluna e amiga desse jeito, vou abrir queixa de você para a Miiko e a Erika. O senhor está me entendendo?
Ele apenas deu de ombros como se não se importasse. Os dois deixaram meu quarto (Nevra primeiro, Absol não parava de vigiá-lo _sorriso_) com Anya me reforçando o pedido de usar aquele vestido na viagem, sem roupas íntimas (mas o que raios ela pretende?). Reabri o meu not e comecei a transcrever o que considerei importante para o meu “livro de Eldarya” até ele pedir por bateria, que foi quando eu de fato o desliguei já que ficaria ao menos uma semana sem mexer nele. Tomei um banho de verdade e dei uma última olhada em minha mochila para a viagem, fiz minhas orações (o colar de Cristal brilhava da mesma forma que o Cristal em si) e dormi.
Chegado o grande dia, acordei com alguém me batendo a porta. Estava cedo e me levantei meio sonolenta, até Absol bocejava enquanto se espreguiçava em sua cama. Quando abri a porta, levei um susto!
– Chrome? É você mesmo? – ele estava lá, apoiando na patente da porta, me sorrindo.
– E você deve ser a Cris, minha salvadora. – ele realmente devia estar de pé?
– Desculpe, mas você não devia estar na enfermaria, de cama?
– Lobisomens se recuperam depressa. – foi o que ele disse, mas ainda não estava convencida.
– E Ewelein, ela sabe que você está aqui? – ele mudou para um sorriso sem vergonha (eu sabia!) – Ela não sabe não é. O que veio fazer aqui nessas condições?
– Soube que você ia viajar hoje, e eu não podia deixar que partisse sem antes lhe agradecer por me salvar a vida. – respondeu ele, meio sem graça.
– Se o que diz for mesmo verdade... – não tenho paciência pra com quem age feito pirralho – ...você estaria na cama da enfermaria se recuperando ao invés de estar aqui, arriscando todo o trabalho que eu e Ewelein tivemos para te salvar. Quase perdi meus cabelos por conta da preocupação que tive com você naqueles três dias por não saber o que fazer! Vai voltar já para lá!! – falei.
– Gostei de você! – falou uma voz feminina que chamou a atenção de nós dois, era uma mulher mais ou menos da minha altura com vestes negras e vermelhas além de cabelo preso em marias-chiquinhas, sendo metade rosa e metade preta – Tem ideia do susto que levei quando não te vi deitado naquela maca Chrome? Se Ewelein descobre que você está aqui ao invés de lá, ela vai surtar!
– Mas Karenn...
– Mas nada! Você vem comigo agora! Já vi que vou ter muitos problemas com você toda vez que ficar doente, mas que noivo eu fui arranjar hein! – vi Chrome baixar as orelhas com a bronca dela, quase senti pena dele. Quase porque ele havia me irritado ao ser inconsequente.
– Então... você que é a Karenn? A irmã mais nova de Nevra e noiva desse lobo inconsequente? – ele revirava os olhos.
– Eu mesma. – ela se aproximou para apertar-me a mão, mas acabou a cheirando, aquilo meio que me arrepiou – Meu irmão tem razão, seu cheiro é bem interessante.
– Interessante como? – perguntei.
– Como posso dizer... Ao mesmo tempo em que ele é extremamente sedutor, ele é repulsivo. Como se você fosse uma flor de precioso perfume, e também de um veneno mortal.
– Ao ponto de você preferir não arriscar-se a me tomar o sangue? – ela apenas assentiu – Então... corro risco apenas de ser beijada pelo Nevra? Meu pescoço está a salvo? – ela riu.
– Não se preocupe. – ela começou a fornecer apoio para Chrome – Meu irmão pode ser mulherengo, mas nunca morderia uma mulher sem pensar muito antes. Ou se estiver à beira da morte como aconteceu com a Erika uma vez. – arregalei meus olhos – Relaxa, ela que se ofereceu para salvá-lo! – suspirei de alívio. – De qualquer forma, obrigada por ter salvado a vida do meu lobinho. – ela lhe afagava a cabeça e percebi o abanar da cauda (ele fugiu de propósito é?) – Desejo-lhe boa sorte na viagem!
– Igualmente com esse seu lobo. – Karenn deu uma risada alta enquanto Chrome parecia evitar de sorrir (devia estar sentindo dores até pra rir).
Esperei perder os dois de vista no corredor balançando a cabeça negativamente para a situação (hoje o dia promete). Antes que eu pudesse fechar a porta, a Anya chegou.
Anya
Eu praticamente madruguei, não via a hora de alcançar o mar aberto para poder tomar os Filtros de Syronomajie que preparei para nós duas. Se bem que... é melhor eu ir vê-la pra ter certeza que ela vai vestida de um jeito que não vai destruir as próprias roupas com a transformação.
Peguei minhas coisas e corri até o quarto da Cris. Não acreditei quando vi a Karenn carregando o Chrome no corredor em direção à enfermaria (com ela dando broncas neles, ele deve ter fugido) e por muito pouco não dou com a cara na porta.
– Bom dia Cris!
– Bom dia Anya. Você madrugou, tudo isso é ansiedade é? – apenas lhe sorri e entrei no quarto. Até Absol já estava acordado.
– Vi Chrome e Karenn nos corredores, eles estavam aqui?
– Estavam... – aquilo foi um suspiro de cansaço? – Chrome, que foi quem me acordou, venho para me “agradecer” – ele fez aspas com os dedos – por ter salvo a vida dele. Me disse que não podia me deixar partir antes de fazê-lo. – não pude evitar de rir.
– Te conhecendo, você deve ter dado uma bronca nele, não é? – ela apenas me assentiu.
– Mas e você, porque é que veio tão cedo me ver?
– Vim pra ter certeza que você vai fazer o que eu lhe pedi!
– Anya. Eu posso até usar o vestido que Absol me trouxe ontem como me pediu, mas... sobre a roupa íntima...
– Prefere que elas sejam destruídas? – ainda bem que eu vim.
– Como assim destruídas? O que é que você está planejando? – até Absol parecia curioso, vou mesmo ter que deixar escapar alguma coisa.
– Lembra quando eu me transformei em uma Batta nojosei? O que eu fiz antes de tomar aquela poção?
– Como esquecer! Até Absol ficou constrangido por você tirar a roupa daquele jeito... Pera, você arrancou a roupa daquele jeito para que ela não acabasse destruída por conta da transformação? – assenti com a cabeça e a cara que ela assumiu cobrindo a boca com a mão quase me fez gargalhar – No que exatamente você está querendo me transformar?
– Apenas direi que é um ser das aguas e que tenho quase certeza que você irá gostar. – ela pareceu refletir antes de decidir aceitar ou não.
– Vai ajudar a manter os homens longe de mim para que não percebam que estarei apenas com o vestido como vestimenta, e nada mais?
– Claro! Nenhum homem ficará perto demais de nós duas, até eu estou de vestido folgado pra ter certeza que não vai se despedaçar durante a transformação. – falei mostrando a roupa que vestia.
– Você já se transformou em muitas criaturas diferentes da sua raça?
Essa é com certeza minha última chance de convencê-la. – Tantas quanto posso me lembrar. Fugir de certas obrigações pode ser uma tarefa difícil, principalmente se o Ezarel estiver te bloqueando o acesso ao laboratório de alquimia. – uma risada abafada escapou dela (acho que consegui).
– Tá tudo bem. – maravilha! – Mas se eu não gostar dessa transformação, nunca mais faço isso, fui clara?! – disse ela bem séria (lembro que ela me disse que detestava sentir dor, espero poder lhe fornecer uma experiência que supere os desconfortos da transformação...).
– Certo. Prometo fazer todo o possível para que não se arrependa.
E ficamos acertadas assim. Ajeitamos tudo mais que faltaria ser acertado sobre o quarto dela e achei ótima a ideia que ela teve de deixar uma garrafa com a tampa furada de ponta cabeça para manter o jardim regado, apesar do trabalho para furar as rolhas das outras garrafas (só uma não daria conta dos dois jardins) aquelas flores com certeza não passariam sede até a nossa volta.
Descemos para poder tomar o café da manhã e pegar os nossos suprimentos de viagem com o Karuto. Quando passamos em frente à entrada da Sala do Cristal (que estava selada), a Cris quis vê-lo e me perguntou o porquê da sala estar selada naquele momento e eu lhe expliquei sobre o ritual que Erika sempre fazia ao menos uma vez por semana com o auxílio de Valkyon e Leiftan. Não fiquei surpresa de ela ter recebido uma chave para acessar a sala (afinal, foi ela que reconstruiu parte do Grande Cristal) e assim entrar – aproveitei a chance para dar uma passada rápida no salão principal e corri até a prisão para ver o Lance.
– Bom dia Lance. – ele parecia perdido em pensamentos, sentado olhando para o teto.
– Ora se não é a minha elfinha preferida...! O quê te impediu de me ver ontem dessa vez? – aquele sorriso dele sempre me causa calafrios.
– Desculpe. Fiquei tão ansiosa por hoje, que acabei te esquecendo... – ele sabia como fazer me sentir meio culpada.
– Ansiosa pelo quê? O que você fará hoje? – perguntou ele naquela expressão indecifrável que me deixava em dúvida sobre o quanto eu podia contar.
– Vamos para Memória. Cris, Valkyon, Erika, Nevra e eu. Vamos ao encontro de Fáfnir para confirmarmos a descendência faery da Cris. – (será que eu falei demais?) ele pareceu refletir sobre a minha informação – Aqui, pegue. – disse lhe estendendo o meu pacote de provisões para a viagem. – Acha que consegue escondê-lo?
– O quê é isso? – ele perguntou pegando o pacote.
– São as minhas provisões. Pode não ser muita coisa, mas tenho certeza que ainda é melhor que a gororoba do Karuto. Ou prefere comer o mingau dele até eu retornar da viagem?
Ele fez uma cara de nojo – Consigo esconder isso sem problemas, mas e você? Vai comer o quê?
– Tenho alguns lanches escondidos em minha mochila, e qualquer coisa posso pedir para a Cris dividir um pouco comigo.
– E porque ela dividiria com você? Além de vocês serem amigas é claro.
– Ela sabe que eu tenho um amigo na prisão que me ajudou a chegar à floresta no dia que a conheci, e que forneço comida decente para ele quase todos os dias desde então. Como eu tirava da minha cota o que lhe trazia, ela nunca me negou comida. – ele me olhava meio incrédulo. Observou o pacote por um momento antes de voltar a falar.
– Quanto a essa viagem... – ele começou – Não tenho dúvida alguma sobre o sangue dragão dela.
– E sobre o possível sangue aengel?
– Sobre isso, eu precisaria passar mais tempo com ela. Os poucos momentos em que ela esteve aqui embaixo não foram suficientes para que eu pudesse confirmar isso.
– E você conseguiria confirmar isso? – eu não estava totalmente convencida dessas palavras.
– Talvez. Não tenho plena certeza, mas se Fáfnir consegue, há uma chance que eu consiga também.
– Porque você também é um dragão, não é? – a única coisa que ele me deu como resposta foi um sorriso frio. – Você... (espero não me arrepender de perguntar isso) ainda deseja vingar-se dos faerys e destruir Eldarya? Quero disser,... – ele voltou à expressão vazia. – ...enquanto ensinava sobre Eldarya para Cris, acabei descobrindo mais sobre você. – ele continuava em silêncio. Percebendo que ele não iria me responder nada, resolvi ir embora – Tudo bem. – eu me ergui – Não precisa me responder agora. Até a volta. – disse com a mesma expressão dele antes de começar a correr.
Respirei fundo para recuperar o fôlego (e a calma) antes de entrar no salão. (Essas escadas matam!) E entrando, encontrei a Cris junto de Valkyon e Erika. Cumprimentei-os e começamos a tomar o café, eles estavam conversando sobre o Ritual de Maana que estava mantendo Eldarya de pé (agora era a Cris que sabia mais sobre ele do que eu) e estranhei o Nevra ainda não ter aparecido para paquerar a Cris. Foi Valkyon que disse que ele estava confirmando o nosso barco (o que me facilitava a esconder sobre as vestimentas íntima da Cris, como ela me pediu, já que Valkyon é meio desligado quando o assunto é outras mulheres. Nevra notaria na hora!).
Acabada a refeição, nos colocamos a caminho do barco na praia. Cris não deixava de abraçar o próprio corpo para disfarçar a falta de roupas que a convenci a não usar. Assim que chegamos à praia, Miiko, Jamon e Colaïa ajudavam Nevra com os últimos detalhes (não demorei nem um segundo para me por entre o Becola e a Cris, depois que ele nos viu), Huang Hua e Feng Zifu já estavam a bordo. O Jamon ajudou a Cris e eu a embarcarmos enquanto Valkyon ajudava Erika que ainda estava bem cansada por causa do ritual, e Absol já estava no navio (quando e como ele embarcou?) que demorou ainda menos que eu para proteger a Cris do Nevra (pela cara dele, o Chefinho com certeza acreditava que Absol ficaria para trás, coitadinho... _risos_ Já Feng Zifu não lhe tirava os olhos). Partimos depois que a Miiko e companhia deixou o navio, que claro, não deixou de dar um mar de avisos e recomendações antes de voltar à praia. Gastamos umas duas horas para alcançarmos o mar aberto.
Cris estava sentada na beira da proa, observando o horizonte sozinha, com Absol de guarda.
– Já esteve em um barco antes Cris? – perguntei me aproximando dela e trazendo-a de volta à terra.
– Não. Esta é minha primeira viagem no mar. Espero que o que disseram sobre como evitar enjoos realmente funcione.
– E o que é?
– Observar o horizonte... Já que não importa o quanto um barco balance, o horizonte sempre parecerá firme no lugar.
– Saquei. Um ponto firme contra todo o resto.
– Exatamente. – eu lhe estendi um dos Filtros de Syronomajie que havia preparado – O que é isso Anya?
– É a poção que preparei para nós duas. Essa é a sua, tomarei a minha em seguida. – disse mostrando a minha.
– Isso vai doer? – ela perguntou após cheirar a poção com desagrado.
– Nenhuma transformação é muito agradável, principalmente se houver grandes diferenças físicas.
– Que quer dizer?
– Por exemplo, se você usa uma poção para transformasse em algo cujo tamanho é claramente maior que o seu natural, há o desconforto do corpo esticar-se a força, mas, se a transformação for para se tornar algo menor que o seu tamanho original, você mal sente a transformação.
– E essa transformação vai afetar-me de que forma exatamente?
– Se eu dizer, a surpresa já era. Bebe logo! – falei tentando encorajá-la.
Ela ainda encarou o frasco não muito convencida, mas acabou por virar tudo de uma vez. Peguei o frasco vazio dela e aguardei pelos primeiros sinais que não demorou nada para ela levar as mãos à garganta e, aproveitando que ela já estava sentada na borda do barco mesmo, empurrei-a para cair na agua só com uma mão.
– Mas o que é que você está fazendo?!? – ouvi Nevra correndo com Huang Hua logo atrás até mim, que já estava sentada na beirada assim como a Cris estava e destampando a minha poção.
– Dando à Cris uma experiência especial. – disse após virar a poção assim como a Cris e entregando o frasco vazio a ele (que arregalou os olhos ao descobrir pelo cheiro o que eu havia bebido) – Prometo que nos manteremos perto do barco. – e me joguei de costas para a agua aos primeiros sinais de falta de ar.
.。.:*♡ Cap.28 ♡*:.。.
Cris
Anya conseguiu me convencer a deixar o quarto sem estar usando roupa íntima (por favor, Senhor, que eu encontre qualquer um MENOS o Nevra!), ela me ajudou com algumas últimas preocupações e seguimos pelos corredores sem mais problemas.
Novamente senti vontade de ver o Cristal e quando paramos de frente a entrada, havia uma espécie de parede transparente, cheia de círculos e símbolos que imaginei serem runas ou algo do tipo. Anya me explicou que a sala estava selada, e só quem possuía uma chave era capaz de entrar.
– Porque selaram a sala do Cristal? É para protegê-lo? – perguntei.
– É bem provável que passe a ser por isso também uma vez que voltamos a ter um Cristal, mas agora é porque a Erika deve estar efetuando o Ritual de Maana com a ajuda do Leiftan e do Valkyon.
– E como é esse ritual?
– Sei tanto quanto você.
Coloquei minha mão sobre a barreira com um pouco de receio, e a atravessei com um pequeno formigamento por onde a barreira me tocava. Anya pareceu surpresa de início, mas logo pareceu conformada.
– Vai lá! – ela me incentivava – Você pode assistir se quiser já que tem uma chave.
– Na verdade, o que eu queria era ver o Cristal...
– Aproveita para ver os dois! Vou só me acertar com algumas coisas e te encontro no salão. Normalmente o Chefinho fica longe daqui durante o ritual, então não precisa se preocupar.
– Certo... – respondi a ela sorrindo e atravessei o resto da barreira enquanto Anya corria para fora do corredor com Absol a seguindo (pela cara dele, acho que não consegue atravessar a barreira).
Ao entrar, vi Erika de pé perto do Cristal “segurando” uma enorme esfera de luz azulada que crescia lentamente enquanto ela parecia estar recitando alguma coisa. Valkyon e Leiftan estavam de joelhos perante ela de mãos estendidas para a esfera de luz (era a energia deles que a estava fazendo crescer?) cabisbaixos como se estivessem diante de uma santa ou uma grande soberana. Huang Hua, junto de um senhor oriental, observavam tudo como se estivessem inspecionando o ritual.
– Bom dia Huang Hua. – cochichei-lhe após me aproximar devagar, prestando atenção ao tal ritual.
– Bom dia Cris. – respondeu ela também cochichando e sem tirar os olhos dos três – Veio ver o Cristal de novo?
– Também. O que eles estão fazendo exatamente? – mantive o tom de cochicho para não atrapalhar.
– Os rapazes estão doando a sua maana que será amplificada pela senhorita Erika e distribuída por toda a Eldarya. – respondeu o senhor oriental em voz baixa – Miiko está ocupada e pediu para que a Dama Huang Hua lhe assistisse com este ritual. E por sinal, sou Feng Zifu, guardião e conselheiro de Fen Huang Hua.
– Prazer, sou a Cris. E obrigada pelas explicações.
– Disponha. É uma honra conhecer aquela que está ressuscitando o Grande Cristal.
Se a intenção dele era me colocar o peso da responsabilidade sobre as costas, estava conseguindo. Acho que Huang Hua percebeu, pois ela olhou o homem com repreensão no olhar. Voltei a me concentrar naqueles três e a bola de energia (maana) que Erika segurava acima da cabeça, parecia ser do tamanho das bolas que apareciam no seriado do Chaves, e sua tonalidade de azul era mais densa; Valkyon e Leiftan estavam de mãos juntas como em oração agora, sem mudar a posição de antes.
Erika continuava recitando alguma coisa enquanto mantinha o olhar fixo na esfera. De repente, a grande esfera encolheu-se até o tamanho de uma bola de vôlei e explodiu em uma onda horizontal poderosa que atravessava tudo como se a onda fosse fantasma. Eu já havia sentido aquela energia antes, quando ainda estava vivendo na caverna, e sempre a sentia a cada sete dias mais ou menos (então era desse ritual).
Dispersada a onda por toda a Eldarya, Erika caiu sentada no chão, exausta. Foi Valkyon que ergueu-se para ajudá-la, enquanto Leiftan se erguia dando um longo suspiro com a cena a sua frente (deve realmente ser bem difícil amar alguém que gosta de outro...). Huang Hua aproximou-se de Erika e eu segui até o Cristal, Leiftan resolveu juntar-se a mim.
– O que foi que você achou do nosso ritual? – Leiftan me perguntou olhando fixo para o “anjo” do Cristal.
– Interessante. – respondi o observando pelo reflexo no Cristal – Agora sei o que era aquela onda que sentia de tempos em tempos na floresta. – ele pareceu sorrir.
– Estive observando o novo Cristal, assim como também fui até a caverna em que você vivia. – ele me parecia sério no reflexo – A maana que sinto fluir do Novo Cristal e que eu senti ao redor da morada das cheads é idêntica à sua, que é de certa forma, estranha para todos nós.
– Estranha como. – segurava meu terço.
– Mais poderosa se me permite dizer. – acabei por o olhar diretamente ao invés de pelo reflexo – Sua maana parece ser capaz de fornecer o equilíbrio que faltou à Eldarya em sua criação. Reparei que os frutos que nasciam onde morava são nutricionalmente melhores que os demais.
– Eu realmente notei que as frutas que eu havia plantado lá me satisfaziam melhor, mas não havia ligado isso à minha... maana (o termo ainda me soava meio estranho), enfim, devo acreditar que você supõe que eu possa ser a verdadeira salvação de Eldarya, já que a Erika apenas a está mantendo de pé? – um sorriso lhe escapou ao rosto.
– Talvez. Eu bem que gostaria de acompanhá-los na viagem, mas Fáfnir me detesta.
– Por quê?
– Porque eu sou um daemon. E também ajudei o bisneto dele a cometer atrocidades impronunciáveis. Graças a isso, por mais que me esforce para me redimir de meus erros, ele nunca confiará em mim. – seu rosto era triste mesmo sorrindo.
– Ver a mulher amada nos braços de outro não é castigo suficiente? – perguntei sem pensar, o que o fez olhar meio assustado para mim – Desculpe. Não tive a intenção. – preciso trabalhar ainda este meu defeito de falar sem pensar – É que... pude aprender um pouco da historia de alguns membros da guarda enquanto Anya me ensinava sobre a historia de Eldarya, então... – caramba, eu devia estar vermelha considerando o calor que me subiu agora.
– Tudo bem. – seu rosto parecia melhor agora, o que me aliviou um pouco – Agradeço a sua preocupação, e independente de minhas teorias estarem certas ou não, assim como a nova Oráculo nos avisou, é preciso que tudo aconteça no seu devido tempo, ninguém pode forçá-la a fazer nada. – ele apoiou uma mão em meu ombro – Ainda mais porque você nem tem controle sobre o próprio poder direito, e forçá-la só irá lhe prejudicar. Talvez eu tenha compreendido o que ela quis dizer ao chamá-la de catalisador, mas ainda estou tentando entender a parte sobre você ser a “ligação” que precisávamos.
Não conseguia mais conversar sobre o assunto, então apenas dei início ao meu terço, fazendo o Cristal brilhar e emanar mais maana.
Dirigi-me ao salão junto de Erika e Valkyon enquanto Huang Hua e Feng Zifu ficaram na sala do Cristal com Leiftan. Toda aquela historia do Ritual de Maana havia feito me esquecer por um momento sobre minha roupa íntima, coisa que só me recordei com o elogio de Karuto sobre o meu vestido quando lhe pedi meu desjejum.
– Obrigada Karuto, mas não acho que eu esteja tão bonita assim.
– Se Memória não fosse quente se comparada à Eel nessa época, eu te aconselharia a vestir um casaco; mas me diz, o que irá querer comer hoje?
– Pode ser um copo de leite levemente adoçado com chocolate como ontem?
– Acaso leite é seu favorito? – Karuto tinha um enorme sorriso malandro no rosto.
– Na Terra, quase sempre meu café da manhã era apenas um copo de leite adoçado com chocolate. Dificilmente eu comia alguma coisa junto, e quando comia, era alguns momentos depois.
– Certo, já tá anotado. O que achou do pão com creme de chocoamoras e morango-pistache que lhe servi ontem?
– DI-VI-NO!! – minha boca encheu d’água só de lembrar – Amoras são uma das minhas frutas favoritas, e eu não resisto ao chocolate... a adição doce dos morangos então...!
– Hehehe, já vi que você é boa de garfo. Só me preocupo se será tão gulosa quanto o Ezarel...
– Já passei fome antes e eu sempre me controlava na Terra por causa de problemas de saúde que me obrigavam a controlar o meu peso se eu quisesse dispensar o uso de remédios... – Anya já havia me contado da fama de Ezarel com os doces e pude confirmar na primeira vez que comi no QG – ..., por isso pode ter certeza que nunca me atreveria a roubar nada. Principalmente sabendo que a comida daqui é racionada.
– É muito bom saber disso. – disse ele entrando para prepara-me o meu leite – Já bastam os ladrões que nos aparece de vez enquanto. – acabei me lembrando de Absol – Aqui. – ele me entregava a bandeja com o leite que pedi e um pequeno sanduíche de frios – E aproveite para já levar isso também. – ele me entregava um pequeno embrulho.
– O que é isso?
– Suas provisões para a viagem. Será quase uma semana longe da minha comida! – disse ele convencido.
– Muitíssimo obrigada Karuto! – falei sorrindo e me dirigi à mesa onde Erika e Valkyon me aguardavam.
Anya chegou instantes depois e não demorou a perguntar sobre o Nevra. Senti um grande alívio ao saber que só o encontraria no barco. Pedi à Erika que me explicasse mais sobre o Ritual de Maana e assim que terminamos de comer, partimos em direção à praia, que era onde estaria o nosso barco. (é impressão minha ou o inverno está se aproximando? Esfria cada dia mais!)
Notei que Huang Hua e Feng Zifu já estavam no barco. Miiko, Jamon e uma sereia (provavelmente sob o efeito de uma poção) estavam com Nevra que, se não fosse Anya, não teria pensado duas vezes em tentar me cortejar (só a consciência de como eu estava vestida já me deixava nervosa, ele perceber isso seria um pesadelo). Foi Jamon quem me ajudou com o embarque, vi Absol assim que entrei e quase voei para junto dele (sinto muito Nevra). Miiko nos deixou um monte de explicações e recomendações antes de deixar o pequeno barco com Jamon e a tal da Colaia (é esse o nome que ela disse mesmo?), para depois partirmos.
Huang Hua ficou cuidando de Erika que ainda parecia exausta e Feng Zifu averiguava nossa rota junto de Valkyon. Resolvi sentar-me na beira da proa (era perigoso cair, mas como Anya ia me transformar em alguma coisa da água mesmo, só precisava ter a certeza de ter bebido a poção antes) e lá fiquei até perdermos Eel de vista. Concentrei-me no horizonte para ter certeza que não ficaria enjoada, estava perdida na brisa e no cheiro do mar quando Anya apareceu.
– Já esteve em um barco antes Cris? – ela me perguntou.
– Não. Esta é minha primeira viagem no mar. Espero que o que disseram sobre como evitar enjoos realmente funcione.
– E o que é?
– Observar o horizonte... Já que não importa o quanto um barco balance, o horizonte sempre parecerá firme no lugar.
– Saquei. Um ponto firme contra todo o resto.
– Exatamente. – ela me estendeu um frasco com poção – O que é isso Anya?
– É a poção que preparei para nós duas. Essa é a sua, tomarei a minha em seguida. – ela me mostrava a dela.
– Isso vai doer? – perguntei após cheirar a poção que me parecia ter gosto ruim.
– Nenhuma transformação é muito agradável, principalmente se houver grandes diferenças físicas.
– Que quer dizer?
– Por exemplo, se você usa uma poção para transformasse em algo cujo tamanho é claramente maior que o seu natural, há o desconforto do corpo esticar-se a força, mas, se a transformação for para se tornar algo menor que o seu tamanho original, você mal sente a transformação.
– E essa transformação vai afetar-me de que forma exatamente?
– Se eu dizer, a surpresa já era. Bebe logo! – ela me encorajava.
A ideia de engolir aquela coisa ainda não me agradava muito, então virei o líquido (que realmente tinha um gosto horrível) goela abaixo e entreguei o frasco vazio à Anya.
Não demorou a eu começar a sentir que minhas pernas grudavam igual a quando estamos com os dedos sujos de supercola, mas o que realmente me perturbou foi a sensação de sufocamento que só me lembrava de ter sentido duas vezes em minha vida (uma durante o ensino fundamental em que um colega quase me estrangulou por conta de um mal entendido; e outra quando minha sinusite resolveu atacar-me enquanto dormia e que precisei me sentar para voltar a respirar), levei as mãos à minha garganta tentando respirar e senti uma outra mão me empurrar para a agua.
Ao cair na agua, a sensação de sufocamento foi substituída por litros de agua que bebia sem parar, mas não parecia querer me afogar. Comecei a sentir um formigamento em meus braços, orelhas, costas e cintura, e quando as sensações ruins acabaram resolvi abrir os olhos finalmente.
Quão grande foi a minha surpresa quando vi que as minhas pernas eram uma cauda agora, uma imensa cauda rosada com reflexos lilases e azuis sobre o rosa perolado e nadadeiras translúcidas, e... tinha asas em minhas costas?? Elas eram feitas de penas das mesmas cores que minha cauda (parece que algumas sereias realmente tiveram asas no passado, como contam as lendas).
– Cris!?! – olhei em direção a voz de Anya que me olhava de olhos arregalados, ela parecia ter tido uma transformação muito mais simples que a minha, já que ela não tinha asas e nem aquela montanha de nadadeiras espalhadas pelo corpo como eu. Sua cauda e suas escamas, além de mais singelas, eram azuis escuras.
– Porque minha transformação parece ser tão diferente da sua, Anya? – perguntei desamarrando o laço de meu vestido que agora me incomodava (e para me ver melhor).
– Não tenho ideia. A poção que preparei para nós duas devia ter funcionado de maneira igual. Talvez sua verdadeira natureza faery tenha interferido nos efeitos para que assumisse a forma de uma espécie de sereia em específico. – disse ela me rodeando e removendo o próprio vestido do corpo ao mesmo tempo. Com um movimento de minha cauda, removi o meu também.
Me observando melhor, vi que meus seios estavam cobertos por escamas das mesmas cores de minha cauda e asas, e que elas pareciam desenhar um maiô vulgar em meu corpo seguindo quase o mesmo formato de meu vestido. Várias nadadeiras rodeavam minha cintura como se formassem uma saia de tamanho médio, feita de “pétalas” translúcidas. Minhas orelhas haviam sido substituídas por guelras, mas nem por isso deixava de ouvir bem (acho que estava ouvindo até melhor agora), comecei a sentir uma sensação semelhante a quando o Cristal Vivo me assumia o controle. A diferença? Não estava sendo comandada por nada, simplesmente sentia como se toda a vida que havia no mar me envolvesse e preenchesse cada milímetro de meu ser (Obrigada Senhor por me permitir experimentar uma sensação tão maravilhosa). Comecei a ouvir o que parecia ser gritos vindos do barco nos chamando.O momento
(outra vez não consegui desenhar como eu queria. Sinto que estraguei o desenho quando fiz esses contornos )
– Alguém nos viu caindo na agua, Anya? – voltei-me para ela.
– O Chefinho. Ele me viu lhe empurrando instantes antes de eu tomar a minha poção. Acredito que ele saiba o que fiz assim que sentiu o cheiro do frasco vazio que entreguei para ele. – nós duas olhávamos para cima.
– Será que ele saberia que tipo de sereia é a em que me transformei?
– Não sei. Pode até ser que ele saiba, mas não tenho muita certeza. O pessoal lá em cima com certeza deve estar preocupado com a gente.
– Então é melhor mostrarmos que estamos bem! – falei sorrindo
Eu não sabia quais poderes eu tinha como sereia. Acabei imaginando uma espécie de tromba d’água nos erguendo até o barco (e não é que surgiu mesmo?). Nós duas fomos erguidas até uma das beiras do barco onde nos sentamos. Lá, pude notar que a transformação de Anya em sereia era menos evidente do que dentro d’água, podia ver suas pernas envoltas por algum tipo de saco, casulo, sei lá o quê transparente que mantinha suas pernas juntas. E pela reação de Anya diante da tromba d’água que criei, aquilo também não deveria ser possível para mim. Huang Hua, Feng Zifu, Nevra e Valkyon se aproximavam da gente tão surpresos quanto Anya (espero que ao menos um deles saiba que tipo de sereia acabei me tornando).
– Mas o quê...? – Nevra parecia estar sem palavras.
– Não acredito... Uma evigêneia... – disse Huang Hua com Feng Zifu boquiaberto ao seu lado.
– Uma o quê? – perguntamos Anya, Nevra e eu juntos.
– Uma evigêneia. – explicava Feng Zifu – Uma espécie de sereia considerada a mais poderosa de todas por conta de sua grande resistência fora da agua, além de sua capacidade de voar e de seu grande controle sobre as aguas e criaturas marinhas. Acreditasse que todas dessa espécie tenham sido extintas durante as guerras que seguiram o Grande Exílio. Há poucos registros sobre elas na biblioteca de nosso templo e são todos antiquíssimos.
– Sério!?! – ter me transformado em uma sereia já era uma grande emoção para mim, já que vivia me imaginando como uma quando praticava natação na Terra, e transformar-me em uma espécie especial de sereia era no mínimo, incrível! – Quanto tempo dura o efeito da poção Anya? Pode cuidar disso para mim, Huang Hua? – perguntei observando melhor minha transformação e entregando meu vestido molhado a Huang Hua que o pegou com um sorriso.
– Geralmente? Umas sessenta horas. Voltaremos a ter pernas quando estivermos chegando em Memória.
Lance
Será mais difícil fazer Anya me ajudar a escapar já que ela aprendeu mais sobre mim, mas ainda não está tudo perdido. Eu só preciso dizer as palavras certas para convencê-la que já não tenho certeza se ainda quero ou não destruir Eldarya e os outros faerys. Sem falar que ainda tem a Cris e essas “oráculos” que só eu posso enxergar, realmente quero saber mais sobre essas três antes de planejar qualquer coisa. Não quero cometer os mesmos erros que cometi por não procurar aprender mais sobre meus possíveis obstáculos, como fiz com a Erika.
Eu sabia que Erika estava ligada ao Cristal (já que ela chegou em Eldarya surgindo logo na sala do Cristal e só não morreu quando eu quase consegui destruir o Cristal de vez, por que meu ex-sócio a salvou) e quando a usei de escudo e refém pude descobrir que ela também era uma aengel (o que me deixou mais que claro o interesse de Leiftan nela) ao me encontrar com Fáfnir em Memória, me permitindo saber mais sobre a verdade do Sacrifício Azul e sobre os dragões (em especial os meus pais e parentes) e os aengels.
Memória... (_riso_) Então é pra lá que eles estão indo para confirmar a descendência da nova faeliana. Isso quer dizer que tenho uma semana para planejar um meio de fazer com que Anya me ajude a escapar, já que pelo jeito, apenas dando o fora dessa prisão que poderei descobrir mais sobre meus três enigmas: Cris e as Oráculos branca e negra. Preciso pensar com cuidado, e é possível que eu tenha que cumprir promessas que vou detestar fazer.
.。.:*♡ Cap.29 ♡*:.。.
Cris
Anya e eu voltamos para a agua, onde pretendíamos ficar durante o dia todo, retornaríamos para dentro do barco durante a noite por segurança. Anya se mantinha vigiando o barco para ter certeza que não ficaríamos para trás.
Passávamos por alguns rochedos cobertos de recifes lindos que quase me faziam esquecer do barco (se não fosse por Anya...). Um brilho vindo de uma cavidade entre os corais acabou me chamando a atenção.
– Onde é que você está indo dessa vez, hein Cris?! – Anya se colocava no meu caminho.
– Uma coisa me chamou a atenção entre os corais, só quero confirmar o que é.
– Nós quase perdemos o barco de vista umas três vezes, ser sereia te animou tanto assim?
– Qual é Anya... Façamos o seguinte então, você me deixa conferir o que foi que me chamou a atenção, e eu até deixo a agua se você quiser pra ter certeza de que não perderemos o barco. Aceita?
Anya pensou um pouco enquanto vigiava o barco – Tudo bem! Mas você vai ter que sair da agua depois, eu sou sua amiga, não sua babá. – ela me apontava um dedo com a outra mão na cintura.
– Fechado! Já volto! – e fui até o espaço que me chamou a atenção o mais rápido que pude.
Na caverninha, rodeada de corais arredondados, notei que a fonte do brilho era uma ponta de cristal semi enterrada na areia e, de acordo ia afastando a areia, a ponta revelava na verdade ser uma concha, um búzio, daqueles que dizem ser possível ouvir o mar dentro se colocado ao ouvido.
Um grande búzio de cristal furta-cor transparente enterrado no meio da areia. A ponta do búzio parecia ter sido quebrada (por acidente ou de propósito, não sabia dizer) o que transformava a concha numa espécie de corneta ou flauta, já que pude notar alguns furos no correr da concha, uma ocarina de concha enfim.
– Ei Cris!!
O grito de Anya me fez acordar, e como promessa é dívida... estava na hora de deixar a agua. Imaginei uma nova tromba d’água para poder retornar ao barco com Anya ao meu lado (notei que bastava eu imaginar para a agua agir exatamente como eu queria, será que tem a ver com minha natureza faery?).
– O que aconteceu? – perguntava Huang Hua com Erika ao seu lado (Erika ainda não tinha me visto transformada e por isso estava impressionada comigo) – Cansaram-se da agua?
– Quem dera tivesse sido isso. – respondi.
– Essa aí não parava de se afastar do barco e como não sou babá de ninguém, a fiz prometer que deixaria a agua por hoje se a permitisse averiguar o que chamou a atenção dela lá embaixo. – explicou Anya – Vai nos mostrar o que foi que você achou aí? – as outras se aproximavam do que tinha em mãos com curiosidade e eu lhes estendi a concha cristalina que deixou todas maravilhadas, assim como eu.
– Mas que linda! – elogiou Erika.
– Como foi que a encontrou? – perguntava Huang Hua.
– O brilho de um dos espinhos dela me chamou a atenção. – envolvi meu dedo ao redor de um dos espinhos – Isso era tudo o que estava para fora, o resto da concha estava enterrada na areia de uma pequena cavidade entre os corais por onde estamos passando.
– Nossa! – era Erika – Você deve ter uma visão e tanto para encontrar essa concha linda com apenas um pedacinho à vista!
– A Cris é como um lapy! Se brilha, ela encontra. – declarou Anya. Huang Hua deu uma forte risada que acabou por chamar a atenção dos rapazes.
– Já voltaram? O que as trouxeram de volta para o barco tão cedo? – perguntava Nevra com Valkyon o seguindo.
– Isto. – mostrei a concha.
– A nossa lapy precisava de uma pausa nas explorações antes que perdêssemos o barco de vista. – disse Anya a quem fiz cara feia e todos os outros riam de leve.
– Permita-me vê-la? Oh, bela evigêneia... – pediu-me Nevra com seus galanteios e eu apenas lhe entreguei a concha.
Ele a examinava com cuidado e muita atenção. – Até parece que essa concha foi criada para ser algum tipo de instrumento musical. – dizia ele – Como ela foi criada... só consigo pensar em alquimia ou algum feitiço específico, para poder criar algo tão complexo assim. – todos nós o observávamos – Posso tentar? – perguntou ele antes de levar o “bocal” a própria boca.
– À vontade. – disse dando de ombros.
Ele tentou soprá-la, mas não saiu som algum (nem mesmo um apito!). Erika e Huang Hua tentaram também, mas infelizmente tiveram o mesmo resultado de Nevra. Apenas Anya (que por sinal, precisei invocar um pouco de agua sobre ela para que não se ressecasse) que teve sucesso em tirar algum som daquela ocarina de concha (apesar do som não ter sido muito bom). Terminei por pegar a concha de volta e tentei eu mesma.
Antes respirei fundo e deixei o meu eu sereia tomar conta de mim, do mesmo jeito que fazia na agua. A melodia que saía de dentro da concha era semelhante a uma flauta; tranquila, intensa e suave, como o mar tranquilo (créditos da poção! Nunca toquei instrumentos musicais, especialmente de sopro!), estendendo-se por milhas aquele som delicioso de se ouvir.
– Onde aprendeu a tocar desse jeito?! – perguntou-me Huang Hua quando parei de tocar, com todos sorrindo para mim.
– Foi a poção. – confessei – Nunca toquei flauta, semelhantes ou qualquer outro instrumento.
– Parece que as evigêneias são verdadeiras caixinhas de surpresa. – comentou Valkyon com uma expressão serena.
– A concha deve ser encantada... – ponderava Erika – ...para que apenas sereias, evigêneias para ser mais exata, pudessem ser capazes de tocá-la. Esta concha é definitivamente um tesouro perdido!
– Concordo contigo Erika. – dizia Nevra. Todos concordavam para ser mais direta.
Como estava proibida de voltar para a agua naquele dia, permaneci sentada na ponta da proa, onde tinha mais apoio, e lá fiquei tocando aquela flauta de som tão agradável. Anya voltou para agua, já que não tinha a mesma resistência que eu fora dela, e Nevra permaneceu na proa junto de Huang Hua, me ouvindo tocar. Erika e Valkyon voltaram para dentro saindo de lá apenas para comer (estranho, porque é que eu não estava com fome depois de tudo?).
Tudo parecia estar indo às mil maravilhas. Devia ser umas três da tarde já quando, de olhos fechados, comecei a sentir o que parecia ser gotas de chuva enquanto tocava a minha melodia. Abri os olhos devagar e surpreendi-me com um imenso polvo (correção lula) gigante, olhando diretamente para mim.
Ele aproximou a ponta de um de seus tentáculos, acariciando-me o rosto. Devolvi o carinho com um pouco de receio e vi que em um outro tentáculo, ele segurava Anya pela cintura, que parecia um fantasma de tão branca.
– Pode devolver minha amiga? – não sei se aquela criatura podia ou não me compreender, mas pedi mesmo assim. Ele olhou um pouco para ela e depois a sentou do meu lado e Anya, assim que se viu livre dos tentáculos, agarrou-me a cintura como um náufrago agarra-se a uma boia. – Obrigada. – agradeci, e ele me fez um novo carinho no rosto que novamente retribuí. Um terceiro tentáculo se ergueu até mim e este continha um pequeno baú de madeira claramente antigo, que apanhei com as duas mãos assim que apoiei a concha de forma segura em meu colo. Depois dele o soltar, deu-me um novo carinho no rosto e foi embora.
Nevra
A concha-flauta que a Cris achou era bem misteriosa, assim como tudo o que envolvia a transformação dela. Evigêneias, sereias que possuem asas e um grande poder sobre as aguas, além de poderem ficar quanto tempo quisessem fora d’água. Eu geralmente não sou fã de sereias (é difícil não estarem cobertas com cheiro de peixe), mas a Cris era diferente. Seu cheiro continuava igual e ela era a sereia mais bela que eu já havia visto em toda a minha vida! Nunca vi alguém sob os efeitos de um Filtro de Syronomajie dominar logo de cara os poderes de uma sereia como ela (se bem que ela não parecia saber usar as suas asas).
A melodia que saía daquela concha, que só ela conseguia de fato tocar, era incansável de se ouvir. Realmente Anya fez muito bem em produzir aquelas poções, a viagem não foi nada monótona até aqui, levei um enorme susto quando vi ela empurrar a Cris para fora do barco, mas graças a isso pude conhecer uma espécie rara (e linda!) de sereia. Encontramos um tesouro perdido graças a ela e agora tínhamos uma melodia divina para nos entreter. Tudo estava praticamente perfeito, só não estava sendo melhor porque a Cris se recusou a almoçar conosco (porque sereias podiam ficar tanto tempo sem comida, hein?), não tive a Cris do meu lado, mas tive a sua música.
Como disse, tudo quase perfeito... até o que parecia ser uma possível tempestade querer se aproximar de nós, literalmente. A Cris parecia bem concentrada na sua música, pois não vacilava as notas em momento algum; Valkyon e eu tentávamos nos desviar da tempestade em vão; Erika tentava encontrar Anya na agua e Huang Hua, junto de Feng Zifu, vigiavam a Cris (onde está aquele black-dog?).
Já estava achando aquela tempestade estranha preocupante, mas a revelação da causa daquilo me apavorou: um Kraken. A criatura estava sozinha e apareceu bem a frente da Cris que continuava tocando, e pior, segurava Anya apavorada em um de seus tentáculos. Valkyon e eu pegamos em armas e disparamos para a proa ao resgate delas.
– Espere. – Huang Hua nos parava junto de Erika, quase sem desviarem o olhar da criatura.
– Esperar pelo quê? – falei – É um kraken!
– Vai matar as duas! – completou Valkyon.
– Olhem de novo. – Huang Hua estava de olhos impressionados – Ele não veio para nos atacar.
Minha mente travou. Comecei a observar melhor a situação e não conseguia acreditar no que via. Ele estava fazendo... carinho na Cris?
– Pode devolver a minha amiga? – a ouvi pedir pra criatura que, por mais incrível que pareça, atendeu-a (isso era o poder de uma evigêneia?) colocando Anya ao seu lado e ela agradeceu. Eles trocaram mais carinhos e o kraken pareceu entregar alguma coisa à Cris, sumindo finalmente logo em seguida e levando o tempo ruim com ele.
Quando ela se virou para nós, estávamos todos estáticos por conta daquela cena.
– Porque é que vocês estão assim, petrificados? – a Cris nos perguntava – Até posso entender o pavor de Anya, mas e vocês?
– Você sabe o que era a criatura que lhe acariciou agora a pouco? – perguntou Feng Zifu com uma calma e seriedade incompreensível na voz.
– Ahm... Um kraken? – chutou ela.
– Exatamente. – falava Huang Hua – E o “alimento” favorito dos krakens são sereias. – Cris ficou surpreendida – Mas parece que evigêneias são uma exceção.
– O que é isso que ele lhe deu? – perguntava Erika à Cris que parecia estar em dificuldade em segurar um pequeno baú, sua concha e Anya que parecia estar grudada nela agora.
– Não sei. Está trancado. – ela estendia o baú à Erika – Acha que uma faca ou algo do tipo é capaz de abri-lo sem danificar muito?
– Pode ser que sirva. – comentei ao reparar na condição do baú depois de me aproximar delas, e quase dei um pulo de susto com Absol surgindo do meu lado com ferramentas na boca (acaso ele estava adivinhando tudo é?) que entregava à Erika.
– Obrigada Absol. – agradeceu Erika sentando no chão para abrir o baú enquanto a Cris acalmava Anya que ainda estava em choque, confiando sua concha à Huang Hua, que não tirava os olhos do baú.
Eu me ofereci para abrir o baú, mas Erika insistiu em fazê-lo ela mesma, e quando finalmente conseguiu, dei um belo de um assobio. O baú estava cheio de moedas de ouro e gemas preciosas (mas que sorte era essa que a Cris tinha! Ou é coisa das evigêneias?)!
– Porque será que o kraken lhe deu isso? – Anya pareceu finalmente voltar ao normal.
– Adoração, talvez? – todos nós olhamos para a Huang Hua – Vi a aura dele brilhando enquanto lidava com a Cris. Ele realmente a amava.
– Essa é boa! – soltei – Só espero que ele não retorne e descubra que a Cris não é uma evigêneia de verdade.
– E se foi a minha música que o atraiu até nós? – não gostei da ponderação dela, mas era uma possibilidade – Talvez o presente também seja um agradecimento por ela. – a Cris estava tentando ser otimista?
– Se este for o caso... – Huang Hua observava a concha em suas mãos – ...É melhor não tocá-la mais, para prevenirmos novos visitantes que podem acabar nos prejudicando.
Cris pareceu chateada, mas acabou aceitando. Na verdade, todos nos sentimos do mesmo jeito. A música que a Cris tocava com a concha era maravilhosa... Mas não ao ponto de estarmos dispostos a arriscar a nossa segurança. O dia terminou com as garotas conversando na proa. Erika contava de sua experiência quando se transformou pela primeira (e última) vez em sereia e Anya contava as delas de dentro de um barril cheio d’água (ela se recusou a voltar pro mar por causa da poção depois de quase virar comida de kraken).
Imaginei que depois disso tudo não teríamos mais preocupações nos dois dias restantes de viagem. Quanta ilusão!
Logo cedo, Cris assistia a aurora oceânica com a concha nas mãos. Me aproximei dela aproveitando que Absol estava dormindo no porão.
– Acordou cedo, linda sereia.
– Bom dia pra você também Nevra. – um fio de agua veio umedecê-la – Na verdade... eu nem dormi noite passada. Não me lembrava de poder ver tantas estrelas no céu como ontem.
– Se eu soubesse que você ficaria em claro só para observar as estrelas, teria lhe feito companhia.
– Para ter aberturas para me conquistar? – ela me erguia uma das sobrancelhas – Foi melhor assim.
Não pude deixar de rir, e acabei por pôr os olhos sobre a concha nas mãos dela – Você não pretende tocá-la, né? – agora era ela que deixava escapar um sorriso.
– Não vou negar que estou com vontade de fazê-lo. Ainda mais com esse nascer tão bonito.
Acabei me sentindo triste por ela. Se ao menos entendêssemos melhor sobre a transformação dela e aquela concha que ela achou... O dia já estava bem claro, resolvi deixá-la e retornar a cabine de comando, mas no meio do caminho, o som de várias trombas d’água se erguendo ao redor do barco me fez parar, além de acordar todos que ainda dormiam e fazê-los irem até a proa, como foi com o kraken.
.。.:*♡ Cap.30 ♡*:.。.
Cris
Eu realmente queria entender mais sobre aquela concha e sobre as evigêneias, a conversa que tive com as meninas até altas horas me ajudou a entender um pouco mais sobre as sereias (em especial, a minha falta de apetite) e também um pouco preocupada quando chegasse a hora de voltar ao normal. Não tive sono como elas e fiquei a noite inteira observando as estrelas que quase conseguiam iluminar a noite com a ajuda das aguas. Atraía pequenas “cordas d’água” para me manter úmida enquanto Anya dormia dentro de um barril com agua no porão, sob a vigília de Absol a meu pedido (ela realmente ficou apavorada depois de quase virar refeição por causa de uma de suas transformações).
Perdida em memórias e imaginações dos últimos eventos, fui surpreendida com uma aurora magnifica. Senti uma vontade enorme de tocar a concha que ainda mantinha em minhas mãos (o baú Huang Hua guardou junto de minha mochila) e não demorou para Nevra aparecer.
Aquele “Don Juan”... Não demorou em lamentar por não me ter feito companhia à noite, mas acho que a nossa troca de palavras acabou o calando. Ele ainda continuou do meu lado, em silêncio, até o sol iluminar o bastante para sumir com todas as demais estrelas. Ainda ouvia os seus passos pela proa com direção para dentro, quando um grupo de evigêneias, femininas e masculinas, se ergueram da agua em meio à trombas d’água, cercando o nosso barco.
Fiquei sem reação. Estava encantada e confusa com todos eles (Feng Zifu e Huang Hua não disseram que as evigêneias estavam extintas?) todos estavam usando joias de pérolas, conchas e corais. Alguns portavam tridentes e o que poderia vir a ser considerada uma armadura marinha. A mulher no centro deles era magnifica! Suas asas e escamas eram brancas com um reluzir perolado muito delicado, e suas joias me faziam acreditar que ela era uma rainha. Ouvi um enorme número de passos atrás de mim.
– Το κόσμημα της θάλασσας! – disse a “rainha” com os olhos brilhando sobre a minha concha – Βρέθηκε τελικά!
– É o quê? – falei envolvendo a concha em meus braços.
A mulher pareceu perceber que eu não havia entendido bulhufas do que ela falou e chamou por um evigêneia homem (qual é o termo correto para sereias do sexo masculino mesmo? Sereio? Tritão? Sereia macho?) que começou a falar na minha língua com um sotaque estranho.
– Saudações cara irmã. – ainda não senti confiança... – Meu nome é Kyrius, e somos evigêneias como você.
– Não sou uma de verdade. – falei – Só acabei me transformando por acaso em uma com uma poção de Syronomajie. – ele arregalou os olhos – O que querem exatamente?
O sereio(?) repassou o que falei aos outros e todos tiveram a mesma reação que ele. Senti uma mão sobre meu ombro e vi que era Huang Hua.
– Quem são? – cochichou ela.
– Não tenho ideia. – respondi em mesmo volume.
– Minha cara... – Kyrius voltou a falar-me.
– Cris. Meu nome é Cris.
– Sostá, cara Cris... Acaso tem consciência do que segura em suas mãos?
– Não...
– E suponho que você seja uma dragoa com a bênção de Anfitrite. – até Huang Hua ficou boquiaberta com essa.
– Na verdade... Estamos à caminho de nos encontrarmos com o espírito de um dragão para confirmamos as minhas antecedências, pois sou faeliana. – e ele espantou-se de novo, assim como os seus companheiros ao traduzir minhas palavras (aquilo acaso era grego?).
– Αγαπητέ μου, δεν ξέρετε πόσο χαρούμενοι είμαστε που βρήκαμε τον μεγαλύτερο θησαυρό μας, που χάθηκε πριν από χιλιετίες. – falou a mulher com ar de rainha, aproximando-se de mim. Eu apenas entortei a cabeça para o lado de Kyrius, olhando-o diretamente.
– Nossa rainha disse: – (sabia que era uma rainha) – “Minha querida, não sabe o quanto ficamos felizes por ter encontrado o nosso maior tesouro, há milênios perdido.” – explicou Kyrius.
– Falam dessa concha? – deixei-a mais à mostra. Todos assentiram com a cabeça.
– Nós a chamamos de Thalássio Kósmima, Joia do Mar. – continuava Kyrius – Ela foi perdida durante as guerras que nasceram após o Grande Exílio, é um tesouro sagrado para todas as evigêneias.
– Διακόψαμε την επαφή με όλα τα άλλα faerys, μετά την γελοία τους απόφαση να προσπαθήσουν να προσφέρουν ισορροπία στο Great Crystal του Eldarya. – falou a rainha com ar revoltado – Και παρεμπιπτόντως, το όνομά μου είναι η Μαργαριτάρη, 20η βασίλισσα των Ευγενιών. – outra vez, olhei para Kyrius.
– Dessa vez, ela disse: “Nós cortamos contato com todos os demais faerys, depois da decisão ridícula que tiveram para tentar fornecer equilíbrio ao Grande Cristal de Eldarya.” E também disse: “E por sinal, meu nome é Margaritári, 20ª rainha das evigêneias.”
– É uma honra. – falei fazendo uma reverência junto de Huang Hua (será que os outros estão o fazendo também?).
– Nos explique umas coisas: – falou Anya, surgindo do meu lado (como ela chegou?) – Qual é a relação de vocês com os krakens? E como foi que nos acharam? – quase que eu esquecia de fazer essas perguntas...
Kyrius não pareceu gostar muito do jeito de falar da Anya, e a rainha Margaritári riu após a tradução das perguntas de Anya (acho que ela já imaginava o que tinha acontecido).
– Vou explicar-lhes em nome da rainha. – começou Kyrius – Algo que hoje quase ninguém mais sabe, por conta de nosso isolamento, é que para os krakens, somente as evigêneias são consideradas criaturas por conta de nossas asas, o que nos permite recebermos uma grande afeição e respeito por parte deles. As demais tribos e clãs sereianos são apenas... peixes grandes para eles, mera comida ou bichos de estimação de nós evigêneias. – não sabia se me sentia lisonjeada ou insultada com a explicação dele – Quanto ao fato de conseguirmos os encontrar, isso foi graças a você. – ele me estendia a mão para indicar-me a todos – Nossa Thalássio Kósmima, foi criada pela primeira rainha das evigêneias com encantamentos muito especiais e que ficaram perdidos com o decorrer do tempo, para que fosse utilizada corretamente apenas por uma evigêneia e na intenção de reunir todas nós sempre que necessário. Quando você Cris, a tocou, nós que estávamos escondidos no mais profundo dos oceanos eldaryanos, a ouvimos, e na mesma hora partimos para que pudéssemos recuperar este tesouro precioso. – e eu achando que apenas tocava uma melodia bonita... – Ficamos perdidos quando paramos de ouvir o chamado, mas foi graças a um kraken, que já os havia contatado por reconhecer o chamado, que pudemos encontrar este barco.
A explicação toda de Kyrius me deixou pasma, realmente fui eu que atraí o kraken, além de todos eles, e tava explicado o motivo de só eu ter conseguido tocar aquela concha. Olhei para Anya, Huang Hua e todos os demais que pareciam tão impressionados quanto eu.
– O quê quis disser quando supôs que ela era uma dragoa com a bênção de Anfitrite? – ouvi Valkyon perguntar.
Valkyon
Eu sabia que essa viagem estaria cheia de surpresas só pelo motivo de a estarmos fazendo, mas não esperava tantas como as que estávamos tendo. Primeiro a transformação incomum da Cris, seguida da concha misteriosa, para depois um kraken “amigo” que havia presenteado a Cris com um pequeno tesouro, e agora um grupo de evigêneias (que deveriam estar extintas) aparece dizendo serem os donos originais da concha que a Cris achou e que nos encontrou por causa da música que ela havia tocado e do kraken que a havia presenteado apenas porque ela havia se transformado em uma deles. Tudo parecia ser coincidência demais para o meu gosto.
– O quê quis disser quando supôs que ela era uma dragoa com a bênção de Anfitrite? – acabei por perguntar, aquilo realmente me intrigou.
– E quem você seria? – perguntou o tal de Kyrius com desdém.
– Meu nome Valkyon, sou um dragão de fogo. – eu não costumava declarar minha raça assim, mas senti que seria necessário naquele momento. E como foi, o Kyrius ficou branco com a minha revelação e todos os evigêneias pareciam maravilhados com a tradução dele.
– Είναι τιμή να στέκεται μπροστά σε έναν νόμιμο δράκο, ακόμα ζωντανός! – dizia a rainha após entrar no barco, curvando-se diante de mim, o que me deixou bastante desconfortável, e pelo olhar de Erika, não era o único.
– “É uma honra estar diante de um legítimo dragão, ainda vivo!” são as palavras de minha rainha – traduzia o Kyrius – E peço-lhe perdão por minha falta de respeito antes. – ele se curvava.
– Vocês ainda não lhe responderam a pergunta... – comentou Erika segurando o meu braço (a ação da rainha a deixou com ciúme por acaso?).
– A senhora também é uma dragoa? – perguntou o Kyrius com cuidado.
– Não. Sou uma faeliana aengel. – ele parecia pego de surpresa – E acreditamos que a Cris possa ter um pouco de aengel no sangue também. O que os faz ter certeza sobre o lado dragão dela?
Todos pareceram bastante surpresos com a tradução do que minha Erika havia dito. A rainha que se mantinha curvada diante de mim, se ergueu e foi para junto de onde Kyrius estava, fazendo algum tipo de pedido de forma gentil. Kyrius voltou-se para nós mais uma vez.
– Antes de qualquer coisa, minha rainha deseja saber quem e quais são as raças de cada um de vocês. – inquiriu Kyrius respeitosamente.
– Eu apresento! – ofereceu-se a Cris – Como dito antes, Valkyon é um dragão; Erika e eu somo faelianas, sendo que ela é uma aengel e eu sou suspeita de ser mestiça de dragão e aengel; Anya, a sereia transformada em meu lado, é uma elfa; Nevra, o rapaz moreno é um vampiro; Huang Hua, a morena de vermelho, é uma fenghuang, aprendiz de fênix e favorita ao título; e finalmente Feng Zifu, também um fenghuang, guardião de Huang Hua.
Cada um de nós fez uma reverência após a apresentação da Cris, causando algumas comoções entre eles com alguns de nós de acordo Kyrius traduzia as apresentações feitas.
– Ok, – chamei a atenção deles – agora que as apresentações estão feitas e vocês sabem exatamente com o que estão lidando aqui, já podem responder a minha pergunta de antes: o quê os leva a crer que a Cris é uma dragoa com a bênção de Anfitrite?
Kyrius traduziu-me e, com o assentir de cabeça da rainha, Kyrius começou a falar.
– Nós, evigêneias, sempre tivemos um profundo respeito e amizade pelos dragões, em especial os dragões de agua. Toda vez que um dragão se utilizava de uma poção de Syronomajie, ele se transformava em um de nós, sem mencionar que eles nunca tinham dificuldades em utilizar os poderes sereianos que recebiam com a transformação. Acredito que isso não tenha chegado a ser uma exceção com a sua amiga. – todos ficamos sem palavras – E acredito também que vocês estejam a caminho de Memória para verem Fáfnir, já que mencionaram viajar para se encontrarem com o espírito de um dragão.
– Vocês conhecem meu bisavô?! – aqueles faerys me impressionavam cada vez mais, assim como eles quando revelei minha ligação com Fáfnir.
Margaritári pareceu falar algo sério para Kyrius que parecia receoso em nos traduzir, mas como ela “insistiu” acabou cedendo – É costume das evigêneias que a cada mil luas, a atual rainha se aconselhe com um dos guardiões espirituais de uma das três grandes raças. Os aengels foram exterminados, ou quase; – ele olhava para Erika e de soslaio para a Cris – A Fênix, dos fenghuangs, está muito longe do mar, sem ofensas; – agora ele reverenciava a Huang Hua e ela sorria – o que só nos restou o Grande Fáfnir, dos dragões, vivendo na ilha de Memória. – ele olhava para a rainha e ela parecia mandá-lo continuar, o que fez a contragosto – E por coincidência ou não, esta será a milésima lua, ou seja, nossa rainha já ia se encontrar com seu bisavô em breve.
– Acho que qualquer dúvida que ainda tenhamos, pode esperar agora. – falou Nevra coçando a nuca. Um momento de silêncio desconfortante nos envolveu.
– Vocês vão querer reaver o seu tesouro? – perguntou Huang Hua, quebrando aquele silêncio.
– De fato gostaríamos. – falava Kyrius – Agora senhorita, será que poderia?
– Entregar-lhes a minha concha?! – ela realmente gostou daquela concha. Anya não exagerou em compará-la com um lapy – Bem, eu...
Era claro o apreço dela pelo tesouro e acho que a rainha percebeu. Ela chamou uma das mulheres que a acompanhava que sumiu por alguns momentos depois dela pedir-lhe algo. Quando voltou, carregava um grande baú que fez Kyrius arregalar os olhos. Não ficamos curiosos por muito tempo, pois a própria rainha o abriu revelando uma enorme quantidade de joias impressionantes.
– Καθώς φαίνεται ότι σας αρέσει πολύ ο θησαυρός μας, θέλω να επιλέξετε ένα κόσμημα που θέλετε να το αντισταθμίσετε επειδή πρέπει να το επιστρέψετε σε εμάς. – falou a rainha Margaritári apresentando o baú à Cris.
– “Como você parece gostar muito de nosso tesouro,” – Kyrius traduzia outra vez a contragosto – “quero que escolha uma joia de seu agrado para compensá-la por tê-lo de nos devolver.”
– A senhora tem certeza?! – isso pareceu agradar a Cris e a rainha puxou ela para mais perto do baú após ouvir a tradução de Kyrius, ela demorou uns quinze minutos para escolher. – Este,... – ela pegava um colar azul, pousando a concha sobre as outras joias – ...gostei deste colar. – Kyrius arregalou boca e olhos com a escolha dela (o que aquele colar tinha de tão especial?).
– Έχεις υπέροχο μάτι. – falava a rainha enquanto a ajudava a colocar o colar – Αυτό το κολιέ φτιάχτηκε από έναν εξαιρετικά ταλαντούχο τεχνίτη δράκο με την ευλογία του Αμφιτρίτη. Χρησιμοποίησε τις δικές του ζυγαριές για να το δημιουργήσει, τα μαργαριτάρια και το κέλυφος ελήφθησαν από τους υφάλους της Ατλαντίδας, και οι πολύτιμοι λίθοι έσκαψαν στον πυθμένα ενός γκρεμού.
Todos nós olhamos para Kyrius (até mesmo Margaritári) – “Você tem um ótimo olho.” – começou ele a traduzir – “Esse colar foi feito por um dragão artesão extremamente talentoso com a bênção de Anfitrite. Ele usou as próprias escamas para criá-lo, as pérolas e a concha foram tiradas dos recifes de Atlântida, e as gemas foram escavadas no fundo de um precipício oceânico.” Um tesouro tão precioso quanto a nossa Thalássio Kósmima. – comentou ele, em voz baixa no final (agora entendi o desgosto).
É... a Cris tinha mesmo um gosto refinado.
Seguimos com a nossa viagem, onde a rainha Margaritári, Kyrius e mais três evigêneias nos acompanharam até Memória, o restante do grupo retornou para o seu lar carregando a Thalássio com eles. Uma das três sereias que ficou falava mais ou menos a nossa língua e por isso ensinava a Cris a controlar melhor seus poderes sereianos caso viesse a usar da poção novamente (já tínhamos a comprovação de seu sangue dragônico e até o tipo de dragão dela, mas ainda precisávamos conferir o aengel).
Kyrius continuou servindo de tradutor para o nosso grupo e para a rainha, onde foi conversado sobre os acontecimentos dos últimos oitenta anos (ainda bem que meu irmão não se encontrou com as evigêneias, ou metade delas teriam lhe ajudado).
O efeito da poção acabou algumas horas antes de chegarmos à Memória, com Anya voltando ao normal primeiro. Absol e Feng Zifu é que ficaram responsáveis de velá-las enquanto não estavam... “apresentáveis”.
.。.:*♡ Cap.31 ♡*:.。.
Cris
Nunca imaginei que uma viagem de barco pudesse ser tão assustadoramente emocionante. Com a ajuda de Erika tirei várias fotos incríveis dessa viagem (ninguém nunca vai acreditar que elas são reais) e quase que eu havia conseguido aprender a voar usando as minhas asas de evigêneia. Ainda estava na agua quando comecei a me sentir estranha e retornei para o barco, de acordo com Anya, o tempo de duração das poções estava para acabar em algumas horas. Resolvemos aguardar o fim da poção fora d’água e cercadas pelas mulheres que havia no barco, foi Erika quem buscou nossas roupas para quando voltássemos ao normal (Absol e Feng Zifu vigiavam os homens, especialmente o Nevra).
O voltar ao normal não foi muito agradável, assim como a transformação. Minhas pernas começaram a se “desgrudar” o que foi um alívio, mas minhas nadadeiras ardiam. O retroceder das asas para o meu corpo pareciam agulhas me fincando, me fazendo chorar de dor. E como já estava fora d’água há algum tempo, apenas comecei a vomitar agua (devia ser o que ainda estava nos meus pulmões). Vesti-me instantes antes de finalmente estar humana outra vez.
Ainda foi preciso aguardar umas duas horas para avistarmos Memória, e nesse tempo, Erika nos contava sobre as coisas que viveu naquela ilha. Margaritári pareceu horrorizada com sua historia (e não era pra menos!).
Um grupo de brownies (que passaram a viver na ilha um ano após a Guerra do Cristal, para tentarem resgatar o conhecimento da biblioteca que tinha na ilha, além da ligação entre os faerys e os dragões) nos recebeu na praia. Nem preciso dizer que eles ficaram impressionados com as evigêneias e felicíssimos com a Huang Hua presentes em nosso grupo.
Atravessamos a ilha até chegarmos ao povoado construído (aparentemente de modo a reconstruir as ruínas que nos rodeavam) para os faerys que estavam vivendo ali e explicamos sobre as evigêneias e os nossos motivos de estarmos em Memória. Aquela historia de eu ter sido “trazida” para Eldarya já estava começando a me incomodar, e se não fosse por Erika e Huang Hua, estaria sob uma imensa pressão agora, pela forma com que todos me olhavam com esperança.
Depois que tudo havia sido esclarecido (e de estarmos reacostumados com terra firme), nós nos dirigimos ao encontro de Fáfnir todos juntos (menos Nevra que ficou para cuidar do barco). Me senti de volta a caverna enquanto seguíamos por todos aqueles túneis sem fim e não pude esconder a minha admiração perante a Porta dos Dragões, pena que não entendi um A do que Valkyon falou para que ela abrisse...
Ao passarmos o Portão, demos logo de cara com uma imensa esfera cristalina que parecia viva! Segui os outros que me chamavam até uma sala que ficava ao lado. Aquela enorme balança sobre o que parecia ser um altar de fogo me deixou intrigada (pra que servia?) e fiquei com um pouco de medo ao ver que cada um deles sumia em meio às chamas daquele altar.
– Não precisa ter medo. – dizia Erika atrás de mim – Pode parecer assustador logo de cara, mas não lhe acontecerá nada. Te garanto.
Ainda tinha receio, mas segui em frente. Passei de olhos fechados, não senti nada e quando abri meus olhos... Minha imaginação era bem fértil às vezes, mas nunca que iria sonhar com uma visão daquelas, especialmente com o imenso dragão fantasma que apareceu instantes depois de nossa chegada (esse era o bisavô de Valkyon!?!), eu estava cheia de fascínio por aquela criatura.
– Bem vinda, Pequena Eldarya! – (oi??) disse o grande espírito, me tirando do meu fascínio e me fazendo olhar para os lados à procura da qual ele se referia – É você mesma, criança. – voltei a olhar para ele apontando um dedo para mim, pra confirmar o que ele dizia, e ele assentiu com a cabeça sorrindo.
Eu não pude prestar muita atenção nos outros com essa revelação e foi Valkyon quem pediu a “luz” para aquilo tudo – O que quis dizer com isso, Fáfnir? Porque chamou a Cris de “pequena Eldarya”?
– Porque ela é o que Eldarya deveria ter sido se Dogon não tivesse feito o que fez com Lilith e seus partidários.
– Então, ela é mesmo uma mestiça de dragão e aengel? – perguntou Erika e ele assentiu.
– O poder que emana dela é extremamente poderoso, mesmo adormecido. Acredito que vocês tenham achado a maana que ela emite um pouco estranha, não? – todos admitiram – Isso se deve ao fato da combinação do sangue dragônico e aengel ter dito sucesso em se combinarem em uma forma de vida.
– Um minuto! – o interrompi – Está me dizendo que o motivo de eu quase não ter conseguido nascer é por que tenho sangue aengel e dragão dentro de mim?!
– Precisamente minha cara. Dragões e aengels são criaturas poderosas demais, e a combinação de tais poderes possui uma grande dificuldade para obterem a harmonização entre eles. Principalmente na gestação de mulheres, que são espiritualmente mais poderosas.
– Então, está dizendo que minha mãe teve menos dificuldade no parto de meu irmão porque ele era homem, e a razão dela ter precisado de medicação para me manter até o fim da gestação, era porque eu era mulher?
– Correto outra vez. – disse ele (e eu achando que a causa dos problemas de gestação dela era o fato de minha mãe possuir o útero virado...).
– Quais as chances de um dos pais dela também ser mestiço de dragão e aengel? – Perguntou Huang Hua.
– Nenhuma. – respondeu ele – Um deles é descendente direto dos dragões enquanto o outro, dos aengels. Se um deles fosse mestiço de dragão e aengel, o aumento do sangue humano não permitiria a formação de vida por um deles. Posso dizer isso pelo poder que sinto de você, Pequena Eldarya.
– Será que pode me chamar de Cris ao invés de Pequena Eldarya? – aquilo de pequena Eldarya estava me incomodando – E... como assim o aumento de sangue humano deixaria um dos dois inférteis?
– O sangue humano enfraquece o poder faery, e quanto maior a porcentagem humana, maior é a possibilidade de tornar o faeliano estéril, para que ocorra o fim definitivo da herança faérica entre os humanos, de forma que se algum dia você vier a querer ser mãe, terá de ter um faery como parceiro. – pronto; minhas opções de relacionamento estavam limitadas a Eldarya – E também... hum?
– O quê? – de repente Fáfnir parecia estar olhando para algo um pouco acima de mim – O quê que foi? – ele me ignorou e todos ficamos tentando achar o que ele olhava. Até parecia que... (pirei de vez) conversava com alguém invisível pra nós e em pensamento, julgando por suas reações e pela forma que me olhava às vezes (Mãezinha, pode pegar o meu juízo de volta?).
– Preciso cuidar de alguns assuntos delicados, se importam de continuarmos outra hora? Βασίλισσα Μαργαριτάρι, θα σας πείραζε αν συνεχίσουμε αργότερα? – perguntou Fáfnir a nós e à Margaritári.
– Não vemos problema. – disse Huang Hua (se bem que todos pareciam querer explicações tanto quanto eu).
– Καθόλου, υπέροχο Fáfnir. – respondeu a rainha já se retirando.
Mas o que foi que aconteceu?
Fáfnir
Quando Erika chegou à Eldarya como escolhida da Oráculo, tive minhas dúvidas sobre confiar na aengel. Eu sei que a fizemos sofrer quando testamos sua pureza e lamentei por não ter impedido o Lance de cometer tantos crimes. Ele até mesmo tentou matar a escolhida e o irmão! Nunca irei perdoar o daemon por ajudá-lo a cometer todos aqueles crimes, não importa o que ele faça para se redimir de seus erros.
Estava preocupado com a escolhida, o ritual que ela desenvolveu durante a Guerra do Cristal não iria sustentar Eldarya por muito tempo, já que aos poucos lhe consumia a vida. Nem quero pensar no quão arrasado Valkyon ficará quando ela não puder mais continuar entre nós.
Perdido em pensamentos sobre como poderia ajudar sobre isso, recebi uma esperança. Senti a chegada de uma nova faeliana em Eel, e ainda mais poderosa que Erika, pois ela era mestiça das duas raças mais poderosas que já existiram (só por este fato ela já era um milagre).
Observei-a à distância e senti a pequena área em que ela vivia obter aos poucos o equilíbrio e poder que nós dragões, não conseguimos sem o poder dos aengels. Ainda tinha uma certa desconfiança de seu sangue aengel, mas as habilidades que ela manifestava ao lado das sementes da Oráculo, junto de suas ações auxiliadas por aquele black-dog revixit e a criança elfa, me fizeram enxergar que ela era confiável (sem mencionar que tinha uma esperança de que ela conseguisse fazer por Lance o que eu não consegui, já que a elfa estava em contado com ele).
Pus-me a me preparar para a sua chegada quando percebi que ela se aproximava de Memória. Graças à jovem elfa, agora sabia até mesmo o tipo de bênção que a Pequena Eldarya havia recebido. E a julgar pela época, logo eles se encontrariam com as evigêneias (só não espera ouvir a Thalássio Kósmima das evigêneias, após tantos séculos...). Era inevitável, a Pequena Eldarya mudaria este mundo mais uma vez.
Quando eles finalmente chegaram, fiquei os observando de longe. Aquele vampiro desrespeitoso fez bem em não vir ao meu encontro novamente (era possível que eu o matasse dessa vez se me faltasse com o respeito de novo), e percebi a admiração que a Pequena Eldarya demonstrava com tudo aquilo que estava ligado a nós, os dragões.
Achei graça, a forma como ela reagiu quando apareci diante deles na Sala dos Dragões e da forma como me referi a ela. Respondia e explicava suas dúvidas e perguntas, ela me pediu para chamá-la pelo nome ao invés de Pequena Eldarya. Ainda lhe tirava algumas dúvidas quando uma das sementes da Oráculo apareceu acima dela.
“Shhiii!! Ela não pode saber de mim ainda. Preciso aconselhar-me com o senhor, por favor conversemos em particular ou telepaticamente, sim?” – ela me pediu. Dispensei todos para que pudéssemos conversar sem problemas.
– Agora diga, o que a preocupa ao ponto de desejar aconselhar-se comigo?
“É sobre o guardião faery que tenho que fornecer à ela. Absol não é capaz de protegê-la de tudo.”
– E quem você planeja usar como guardião?
“Dos três possíveis, apenas um pode ser considerado. O problema está em seu passado.”
– Esclareça, por favor.
“É necessário que o guardião seja da mesma raça dela, ou seja, dragão ou aengel” – acho que já sei aonde ela quer chegar – “E dos três disponíveis, dois só tem cabeça para Erika, o que nos reduz para apenas um.”
– Lance.
“Sim. Apesar de um certo detalhe que eu minha irmã enxergamos, acha que ele cuidará dela como deve? Ou ele vai acabar por tentar feri-la?”
Suas dúvidas eram válidas, mas também pude observar bem Valkyon e Lance enquanto cresciam – Não creio que ele lhe faltará com o respeito como mulher... – refletia – E também não acho que ele conseguirá feri-la de fato, não com seu sangue dragão correndo nela.
“Mas ele ainda pode querer abandoná-la.”
– Assim como ele também pode acabar desistindo de fazê-lo ou até mesmo tentar fazê-la atender suas vontades.
“O que seria muito mais perigoso.”
Não importa o modo que olhasse a situação, sempre havia um grave risco. – Quais são as chances de ela conseguir mudar o Lance? – ainda nutria essa esperança.
“Honestamente?” – assenti – “São as mesmas de ele a prejudicar.”
– O que torna a relação entre eles uma aposta.
“Que tanto poderá nos fazer muito bem, quanto muito mal.” – ela coçava a cabeça.
Uma ideia me passou pela cabeça. – Como exatamente planeja reunir os dois? Sua irmã não tem uma opinião sobre o assunto?
“Minha irmã só conseguiu obter o poder que tem agora, graças à interferência da Cris. Ela não conseguia atrair os fragmentos até ela como eu, por isso combinamos que eu me encarregaria de encontrar guardiões para a Cris, enquanto ela lhe trabalharia os dons.”
– E quanto ao encontro dos dois...
“Hum... O que você acha... de torná-lo prisioneiro dela?”
– Que quer dizer?
.。.:*♡ Cap.32 ♡*:.。.
Cris
Ficamos esperando pelo Fáfnir no antigo ágora, um pequeno espírito de dragão veio ao nosso encontro chamando a rainha Margaritári para ter sua audiência com ele, o que levou algumas horas. Ela foi acompanhada de duas das três guarda-costas que estavam com ela, permanecendo Kyrius e Siece conosco. Siece era a evigêneia que me ensinou um pouco sobre os poderes que tinha como sereia (quando ouvi o nome dela, logo lembrei de Circe, a bruxa que transformava os homens em animais na Odisseia) e Kyrius era um legítimo poliglota, falava com todos em seus devidos idiomas (ele podia me xingar que eu nem iria notar) sem qualquer dificuldade.
Aproveitei para conhecer as ruínas junto de Huang Hua com Erika e Valkyon (Feng Zifu se mantinha alguns passos atrás de nós). Valkyon contou que de tempos em tempos, ele vinha para Memória para poder treinar e aprender mais sobre seus poderes dragônicos e ainda se ofereceu para ajudar-me quando os meus despertassem (os meus olhos já não eram o suficiente não? O resto não pode continuar dormindo? Quanto mais poderes, mais problemas!) e Absol pareceu gostar da oferta. Erika também se ofereceu a ajudar-me com o meu lado aengel, mas deixou claro que o Leiftan me seria de mais ajuda do que ela para a sua tristeza.
Agradeci a ambos e apenas tentei aproveitar a ilha (eu já sou doida, se não tiver um descanso dessa montanha-russa de emoções e descobertas ia ter um colapso!). O mesmo dragão fantasma que havia chamado a rainha evigêneia para junto de Fáfnir, veio nos chamar para o encontro deles mais uma vez (será que Fáfnir conseguiu resolver o que havia nos interrompido?).
Ao adentrarmos a Sala dos Dragões, recebemos a notícia de que as evigêneias iriam reaver o seu contato com os demais faerys, assim como era antes do Grande Exílio e convidaram a Huang Hua para ser a intercessora da rainha junto à Eel (aquela guarda realmente cuida desse mundo todo!), o que ela aceitou com um imenso prazer.
– Então... – tentei retomar o assunto de antes – ...Você explicou que se eu quisesse ter família precisava de um parceiro faery e o que mais?
– Me diga Pequena, – ao menos não completou com “Eldarya” – de que tamanho é a sua família?
– De que tamanho!? – isso sempre acabava impressionando a quem contava – Só de tios e tias, irmãos de meus pais, tenho 22. – como esperava todos ficaram surpresos, boquiabertos e de olhos arregalados (_riso_) – 11 do lado meu pai, sendo ele o primeiro dos 12, e mais 11 do lado da minha mãe, sendo ela a sexta dos 12, e por muito pouco que não foram 24, pois as minhas duas avós tiveram um aborto cada uma. Não tenho ideia de quantos tios-avôs eu tenho e nem vou perder meu tempo contando os primos, já que minha avó materna já é até Tataravó!
– Santo Oráculo! – falava Huang Hua – Só a sua família já é uma enorme esperança para os dragões e aengels!
– A sua família tem um pouco de coelho no sangue também? – brincava Anya.
– Seus avós eram do campo, eu aposto. – comentou Erika tirando um pouco da atenção deles sobre mim.
– Pois acertou. – eles voltaram a me encarar – Dá pra contar nos dedos quais tios, ou primos já adultos, que tiveram só um ou dois filhos, e estes todos vivem na cidade. Mas me diz Fáfnir, quando é que eles irão ficar inférteis? – todos passaram a olhar para ele.
– Não vão.
– É o quê!? – (ele está se contradizendo??).
– A infertilidade chega à aqueles que nascem com um imensurável poder adormecido, se comparado aos demais de sua espécie. Acredito que você seja a primeira de sua família a depender de um faery para prosseguir com a sua linhagem. Só sua existência já é um milagre. – ele está brincando comigo, não é? – Outra pergunta, como é a saúde de seus familiares?
– O que exatamente deseja saber?
– Quando senti sua chegada em Eldarya, havia vestígios de selamento sobre você e eu também soube que você era portadora de uma doença na Terra.
– Ou seja...
– A sua doença na verdade era um selo especial para bloquear totalmente o seu poder.
– Mas, o meu problema era ósseo! Como uma má formação óssea pode selar um poder que se concentra nos olhos? E como uma doença pode ser um selo?
– Entre os faeliens, se algum deles nascer com poder suficiente para poder destruir todos a sua volta,... – isso me é familiar – ...o próprio corpo desenvolve uma forma de bloquear tudo ao limitar as capacidades físicas do faelien em questão. Quanto maior a limitação, maior o poder.
– Está nos dizendo que todos os deficientes físicos da Terra são faelianos portadores de grande poder?? – Perguntou Erika antes de mim.
– Não exatamente, Guardiã.
– Então nos deixe tudo às claras, por favor!! – estou começando a me desesperar com toda essa enrolação.
Fáfnir soltou um longo suspiro antes de voltar a falar – Algumas doenças, assim como algumas mutações físicas são sinais de sangue faery junto ao sangue humano. Sendo as doenças selos de poder e as mutações sinais de descendência. – tanto eu quanto a Erika acabamos por cruzar os braços diante dele com uma sobrancelha erguida – Nem todas as doenças que causam deficiência física são selos, já que em primeiro lugar elas precisam ser congênitas e preservar o corpo do faelien inteiro, limitando porém não incapacitando a vida do mesmo. – definitivamente era o meu caso – Quanto aos sinais que denunciam a presença faery, eles sempre são pequenos detalhes a mais que não costumam aparecer com frequência entre os humanos ou habilidades consideradas paranormais. No caso de Erika, são seus olhos lilases.
– Meu irmão não tem nenhum desses sinais aí, a menos que doenças hereditárias como pressão, coração, diabetes e câncer possam ser selos também. – desabafei e Erika me arregalou os olhos. Na minha família era possível achar de tudo!
– Quais problemas mais é possível encontrar entre seus parentes? – perguntou o pequeno dragão fantasma.
– Acho que dá pra adicionar paralisia infantil, vícios, distúrbio de ansiedade, problemas respiratórios e como disse antes, má formação óssea. – respondi contando nos dedos (será que esqueci alguma coisa?).
– Que tipo de vício? – perguntou Anya.
– Bebida e jogatina. A bebida está do lado de minha mãe, meu avô faleceu por conta de cirrose alcoólica; já a jogatina reina sobre o lado do meu pai, ou pelo menos na maioria dos homens. Meu pai não faz parte!
– Quanto maior a família, maiores os problemas, eu acho. – refletia Anya.
– Dentre os problemas que mencionou, apenas o de má formação óssea tem a possibilidade de ser um selo sem sombras de dúvida. – disse Fáfnir.
– Então só há mais um como eu na família que, devido a inconvenientes durante seu nascimento, também é deficiente mental.
– De qual lado? – nem sei quem foi que perguntou.
– Paterno. – quer saber, cansei! – Vamos ficar falando de doenças até quanto?
– O que você quis disser com “detalhes a mais”, Fáfnir? – questionou Erika.
– Olhos incomuns, caudas, membros extras e semelhantes. – respondeu ele. – Mais alguma dúvida sobre como reconhecer um faelien? – nós duas negamos com a cabeça (ao menos por hora, eu não tinha) – Pois voltemos ao que realmente interessa então.
– E isso seria...? – será que é agora que eu descubro minha missão em Eldarya?
– Sua maana. Que pode salvar tanto Eldarya quanto a vida de Erika.
– Como?!?! – ouvi Valkyon disser quase que em desespero e todos os outros pareceram tão surpresos quanto ele, só Erika parecia indiferente.
– Sinto disser meu filho, mas o ritual desenvolvido por ela lhe consome a vida aos poucos... – Valkyon estava branco com as palavras de Fáfnir – Mas a maana que a Cris é capaz de emitir tem a capacidade de restaurar a vitalidade perdida de Eldarya, incluindo a que Erika sacrificou, e fornecer o que nós dragões não conseguimos durante o Sacrifício Azul. – isso pareceu trazer um pouco de esperança aos olhos de Valkyon (e mais peso pra mim) – Ser-lhe-ia pedir muito Cris, que rezasse junto à Erika durante o Ritual de Maana? Afinal, você só emite a sua maana quando ora.
– Não! Claro que não. Mas... O que a minha maana tem de tão diferente? Todos me dizem que ela parece estranha... estranha em quê?
– Como dragão, você recebeu a bênção de Anfitrite; como aengel, o poder da luz; e para finalizar, seu espírito carrega os dons da terra. Resumindo, sua maana carrega o poder da vida. – (Poder da vida?!?!) todos ficaram surpresos, mas não tanto quanto eu.
– É por isso que sou a única capaz de ajudar a ressuscitar o Grande Cristal?
– Não só isso. – acaso ele sabe de mais? – Você também será capaz de reunir todos os faerys novamente, assim como começou a fazer com as evigêneias.
– Mas tudo o que fiz foi achar o tesouro delas!
– E será com ações parecidas que você unirá a todos. As evigêneias não são o único povo que se isolou de todos os outros faerys.
– E como é que vou fazer para achar todos eles?! – sério, isso já está sendo trabalho demais!
– Tudo ocorrerá no seu devido tempo. Sua maana já funciona como um poderoso catalisador para a revitalização de Eldarya. A caverna em que você esteve vivendo até pouco tempo por exemplo; a maana daquele lugar ficou quase completa com a sua passagem!
– Só de viver um pouco mais de dois meses lá? – Fáfnir assentiu (talvez não demore tanto assim...).
– O senhor conseguiria nos dizer uma estimativa de que quanto tempo seria necessário para que ela pudesse consertar a maana de Eldarya? – perguntou Huang Hua séria.
Fáfnir pareceu refletir um pouco antes de responder – Eu diria... alguns anos... – (adeus Terra... _suspiro_) – Mas se as sementes da Oráculo puderem ser unidas, alguns meses.
– Sabe onde está a outra!? – tenho mais esperança de poder voltar à Terra (nem que seja só uma visita rápida) com o prazo de meses.
– Não posso dizer com certeza, mas acredito que ela possa estar em algum lugar de Apókries, as terras sombrias.
– Naquele pesadelo?!? – perguntou a Erika e todos pareciam temerosos (o lugar é tão ruim assim?).
– Que tipo de lugar é esse? – perguntei.
– É uma terra de Eldarya que reúne todos os tipos de sombra e escuridão que você possa imaginar. – explicava-me Anya – As criaturas mais sombrias e sórdidas vivem lá, e a energia sombria emitida por elas é tanta que, por mais forte que o sol brilhe sobre Apókries, sempre parece estar de noite naquele lugar.
– Um eterno Halloween, onde as roupas não são fantasias. – disse Erika (já quero distância de lá! Não consigo confiar nem na minha própria sombra quanto estou na rua de noite!!).
– Nevra ou alguma outra pessoa da Sombra pode ir até Apókries investigar. E uma vez identificada a localização exata, podemos ir até lá buscar a outra Oráculo. – sugeriu Valkyon recebendo a concordância de todos (será que vou mesmo poder tirar férias do galanteio de Nevra?).
Falamos mais um pouco sobre Apókries e depois conversamos sobre o encontro das evigêneias com a Guarda. Assim que tudo ficou acertado entre nós, nos recolhemos em uma casa preparada pelos faerys locais e partimos de volta pra Eel ao amanhecer.
No barco, durante o caminho de volta, o pessoal se reuniu para repassar entre si todos os eventos de Memória (ainda haviam informações a serem trocadas entre nós que o cansaço não permitiu antes) e ver quem ficaria responsável pelo quê quando chegássemos (relatórios, apresentações etc.).
A viagem de volta pareceu beeeem mais longa que a ida (o uso daquela poção fez mesmo uma grande diferença naquela viagem) e olha que a rainha usou um pouco de seu poder sobre as aguas para reduzir o tempo do percurso! Quando finalmente pudemos por nossos olhos sobre a praia de Eel, não sabia se me sentia aliviada ou preocupada. Miiko estava à nossa espera andando de um lado para o outro. Nem tivemos tempo direito de colocarmos os pés na areia para ela começar a dar ordens.
– Jamon, já sabe o que fazer! – disse ela sem nem reparar nas evigêneias e Jamon foi logo me lançando sobre os seus ombros.
– Mas o que é que está fazendo?!? – relutei.
– Cris precisar ir à prisão com Jamon.
– Pra quê? – perguntei, Anya e Erika se aproximavam de nós.
– Chegar lá, Cris saber. – e ainda sem me soltar continuou – Erika e Anya nos acompanhar se quiser.
Miiko
Se eu soubesse que esta viagem iria acabar nos trazendo problemas teria pedido para eles irem voando ao invés de barco (assim seriam mais rápidos). O Novo Grande Cristal ainda era um grande mistério para mim, e graças à Anya e ao Leiftan pudemos desvendar o motivo dele brilhar quando a Cris está longe: “o colar que a Oráculo branca cedeu à Cris deve garantir o contato entre elas quando a Cris ora. O Cristal só brilha desse jeito quando ela reza junto a ele e, agora que ele adquiriu este tamanho, é impossível para a Cris carregá-lo para cima e pra baixo como fazia antes”. Foi o que Leiftan me afirmou depois de conversar com Anya sobre as vezes em que ela viu o Cristal da Cris brilhar, e também justifica ele ter brilhado daquele jeito enquanto ela e os demais lidavam com os humanos na prisão.
A chave estava nas orações da Cris, e ela parecia rezar muito (qual seria o motivo maior?). De um lado até que era bom, confirmamos que a nova maana que era emitida pelo Cristal estava revivendo a terra e melhorando-a até! O problema era o extra que aquela maana trazia...
– Miiko! Capturamos mais um em frente a Grande Porta! – um dos guardas me reportava.
– Sério? Não se passou nem um dia de viagem deles ainda e dois contaminados apareceram em Eel? Como se já não bastasse todas as preocupações que já temos...
– Coloco-o na prisão em uma cela isolada como o outro até o retorno deles?
– Sim. E avise a todos para que façam o mesmo sempre que encontrarem um contaminado. Agora que existe uma forma de salvar os faerys da contaminação sem precisar matá-los como antes, – o que sempre me foi um grande peso – é melhor apenas os mantermos encarcerados até o retorno da Cris.
– Como desejar senhora Miiko. – reverenciou o guarda e saiu com Leiftan entrando atrás dele.
– Já terminei de entregar as mensagens que me ordenou sobre os preparativos do Baile de Máscaras do Solstício e... eu fiquei sabendo. Dois novos contaminados apareceram em Eel? Pensei que a chegada deles havia acabado quando os humanos tentaram nos atacar.
– Somos dois, mas parece que os humanos apenas os atrapalharam de chegar até nós.
– Pelo o que ouvi dos guardas, os contaminados capturados pareciam estar sendo atraídos por alguma coisa.
– Atraídos? Atraídos pelo quê? – Leiftan não disse nada, apenas começou a olhar para o Cristal (ele não pode estar pensando nisso!) – Acha que é o Cristal que está os atraindo?
– É possível. Afinal, eles só começaram a aparecer depois da Cris se apossar do fragmento da Oráculo. – não dava para discordar dele neste ponto, mas mesmo assim...
– Digamos que você esteja certo. – a ideia ainda não me agrada – Isso significa que não teremos de ir encontrar parte dos fragmentos, eles virão até nós! Mas como estarão dentro do corpo de faerys, ainda nos fornecerão um risco considerável.
– Se pudermos capturá-los antes que tenham oportunidade de causarem problemas... Não acho que teremos que esquentar nossas cabeças.
– Jamon!
– Jamon aqui.
– Quero que você leve a Cris até a prisão para ela purificá-los, assim que eles chegarem. Entendeu?
– Como Miiko desejar. Jamon impedir se alguém quiser atrapalhar?
Conhecendo o modo gentil de Jamon, aquela era uma pergunta válida – Não é necessário. E se por acaso Anya, Valkyon ou um dos nossos aengels quiser acompanhar, pode permitir. – Jamon deixou um guincho com riso sair.
– Huang Hua não podia ter escolhido momento melhor para visitar Eel, o baile já ia ser uma promessa de reconforto por tudo o que estávamos passando, com a presença dela então...
– Tem toda a razão Leiftan. Mesmo ainda faltando três semanas para o baile, temos muito que resolver. Ajude-me a lembrar de montar um plano de segurança contra os contaminados assim que Nevra e Valkyon aportarem.
– Como desejar Miiko.
No decorrer da semana comecei a ficar cada vez mais preocupada. O número de contaminados capturados aumentava e foi observado (assim como Leiftan suspeitava) que toda vez que o Cristal brilhava, eles agiam de forma estranha, parecendo atraídos por algo. Nós precisamos montar rápido um esquema eficaz de captura deles, já que éramos nós (ou melhor, o Cristal) quem estava os trazendo à Eel.
Chegado o dia em que eles provavelmente retornariam, fui cedo até à praia (mesmo sabendo que se eles chegassem, seria entre a tarde e a noite) acompanhada de Jamon por conta de um pressentimento. A mensagem que recebemos por meio de um mascote assim que eles chegaram em Memória, me deixou confusa com algumas coisas (que historia era aquela de sereias raras?) e eu não via a hora daqueles faerys serem limpos. Já tínhamos 15 ocupando a prisão! (de onde é que eles estavam saindo???) E para a minha surpresa, eles realmente haviam chegado cedo.
Nem esperei que eles terminassem de desembarcar direito quando mandei Jamon cumprir minha ordem e, assim como esperado, a Cris não gostou muito dos modos de Jamon (ao menos ele a estava carregando e não a puxando pelo braço. Era óbvio que ela precisava se firmar sobre a terra) e Erika e Anya acabaram por os acompanhar, só notei as sereias que estavam junto deles depois disso.
– Mas o que é que o Jamon vai fazer com a Cris, Miiko? – perguntava Huang Hua meio irritada.
– Ele está a levando até a prisão. Vários contaminados apareceram durante a ausência de vocês. – ouvi cochichos entre as sereias que estavam atrás de Huang Hua que ficou boquiaberta com minha revelação – E eles? Quem são?
– São evigêneias. Uma tribo de sereias que acreditávamos estarem extintas até o nosso segundo dia de viagem, graças à Cris. – como foi que a Cris os encontrou?? – Esta é Margaritári, – dois representantes das sereias se aproximavam – 20ª rainha das evigêneias e Kyrius, seu tradutor.
– Sejam bem vindos a Eel. Sou Miiko, líder da Guarda de Eel. – reverenciei-os e eles me devolveram a cortesia.
– Fui convidada por eles a coordenar, como embaixadora, o recontado das evigêneias com o restante dos povos de Eldarya, o que aceitei. – Huang Hua me parecia bem feliz – Temos uma longa conversa pela frente, podemos nos acomodar logo?
– Claro! Mas... acho melhor pedir para Ezarel preparar algumas poções para eles antes não é? Quanto tempo eles conseguem resistir fora d’água?
– Hahahahaha, isso não será problema Miiko!
Eu não entendi o que Huang Hua quis disser com isso, mas compreendi quando olhei para as evigêneias outra vez. Era incrível. Cada um deles atraía a agua de maneira a formar uma espécie de segunda pele sobre todo o corpo deles. Não pude evitar ficar boquiaberta.
– Vamos logo até a Sala do Cristal ou onde quer que queira se reunir com elas para conversarem, estou faminto! – comentou Nevra carregando três mochilas com ele enquanto Valkyon e Feng Zifu carregavam duas cada um (as extras devem pertencer às meninas e com certeza a da Cris está com o Nevra).
– Sim, vamos.
.。.:*♡ Cap.33 ♡*:.。.
Cris
Eu queria mesmo era firmar os pés no chão, não ficar sendo carregada pela Eel inteira feito um saco de batatas. Mas uma coisa que acabei notando entre os que nos viam atravessar a cidade era a expressão de alívio deles com a nossa chegada (o que foi que aconteceu?).
Perguntávamos à Jamon porque é que eu tinha de ir até a prisão, mas a única resposta que ela dava a nós três era: “Meninas saber quando chegar em prisão”. Ahff! Só espero que ele me carregue escadas acima depois. Graças à ele, minhas pernas ainda estavam bambas (e logo, logo, dormentes).
Quando estávamos quase entrando na prisão, senti meu Cristal se manifestar. Sua luz me envolvia o corpo e ainda estava consciente (tinha contaminados ali?!?). Um guarda que estava com um imenso molho de chaves preso à cintura nos aguardava, Jamon me colocou com cuidado no chão e eu pude finalmente descobrir o porquê de eu ser levada às pressas para lá.
Haviam mesmo contaminados lá, e não eram poucos! Anya e Erika pareciam horrorizadas com todos eles, já eu, envolta pela luz do Cristal, estava tranquila. Aproximei-me da primeira cela, onde o faery (todos na verdade) começou a afastar-se o máximo possível de mim. Estava em silêncio ainda e olhei para o molho de chaves que devia conter aquela que me permitiria entrar na cela.
– A chave. – falou Anya para o guarda – A Cris precisa entrar nas celas para ajudá-los.
O guarda arregalou os olhos e correu até onde eu estava já pegando a chave daquela cela. Aberta as grades, comecei o meu canto gregoriano, me aproximando e abraçando aquela kitsune diante de mim.
Sinto que terei um grande desgaste aqui.
Lance
Será que alguém poderia me explicar o que raios está acontecendo? Desde que Cris e Anya partiram pra Memória a prisão não tem mais sossego, todos os dias contaminados são trazidos até a prisão (porque não se livravam logo deles como sempre fizeram?). Toda vez que tentava consumir as provisões que Anya me deixou, um novo contaminado chegava. Que inferno! Até perdi o número das contas de tantos que eram.
Só conseguia comer decentemente mesmo quando os guardas estavam distraídos com o comportamento estranho que aqueles contaminados tinham às vezes e na hora que me serviam aquela porcaria que chamavam de mingau (o guarda esquecia-se de me vigiar comendo ao ficar observando aquelas criaturas _sorriso_).
Sempre que perguntava de onde haviam saído aqueles contaminados e porque os estavam deixando lá, era ignorado (se Anya estivesse aqui, ela me contaria). No sétimo dia, ainda de manhã, comecei a ouvir um alvoroço vindo da entrada da prisão e, ao ver que Jamon trazia a Cris sobre os ombros, também pude notar a Branca possuir a Cris, sozinha, ao mesmo tempo em que a luz que era emanada pelo colar dela lhe envolvia o corpo (o que é que vai acontecer aqui dessa vez?!). Cris que antes estava agitada, de repente ficou calma e muda. E todos aqueles contaminados pareceram ter ficado com medo dela.
Ela se aproximou de uma das celas que só foi aberta por causa de Anya, e depois disso, a Cris começou a cantar na língua original e se aproximar daquele contaminado que eu via aos poucos se transformar em uma kitsune de acordo ela o abraçava; além de um cristal contaminado deixar-lhe o corpo, ficando o fragmento branco após liberar uma fumaça negra e fundir-se ao colar da Cris. Notei que Erika (que também a acompanhava) havia sumido.
O processo se repetiu várias vezes, e no quinto contaminado, Erika retornou acompanhada por um grupo de faerys que começou a carregar os já descontaminados para fora da prisão. Quando a Cris já estava no nono, pude ver o quão cansada ela já estava. Os outros estavam maravilhados e ocupados demais com os descontaminados para perceberem o suor que lhe escorria no rosto.
“Porque não ajuda ela?”
Virei-me para onde ouvia a voz e era a Negra de novo.
“Você percebeu, não é? A Cris está exausta e você é o único a notar isso. Porque não doa um pouco da sua maana pra ela!?”
– Eu não consigo nem acumular pra mim mesmo, como poderia sequer oferecer a alguém? – perguntei a ela (agora consigo falar?).
“Não estou o impedindo de falar agora” – (ela está lendo a minha mente?) – “E você tem maana mais que suficiente para ajudá-la, sem falar que essas grades não lhe serão problema. E sim, eu posso ler sua mente.”
– E porque motivo eu iria ajudá-la se o que diz for verdade?
“Você ainda deseja deixar de vez essa prisão, correto? Pois bem, só o conseguirá se ela permanecer viva e com saúde! A Cris não vai parar até ter resgatado todos ou acabar morta.” – ela encostou as costas às grades de braços cruzados – “Está mesmo disposto a perder a sua segurança de liberdade?”
Se o que ela me dizia era verdade ou mentira não tinha como comprovar, mas não estava afim de me arriscar. Concentrei toda a maana que eu estava guardando para escapar daquele lugar e tentei direcioná-la para a Cris. Realmente as grades não me forneceram problemas para ajudá-la, e pude notar rápido o recompor da Cris com a maana que lhe enviava até acabar o que podia oferecer.
– O que você estava fazendo? – olhei para a entrada de minha cela onde Anya me observava.
– Fornecendo maana à Cris antes que ela desmaie. Vocês não estão enxergando o quão cansada ela está ficando com isso aí não? – Anya arregalou os olhos como se tivesse sido pega fazendo algo errado sem saber, e ainda pude ouvir uma risada divertida da Negra.
– Você... se preocupa com a Cris?
– Um pouco. – (principalmente se for mesmo verdade que ela é importante para a minha fuga).
“E é. Você verá.” – (não te perguntei nada Negra) – “Hunf!”
– Sobre a pergunta que lhe fiz, antes de viajar... – acaso é a minha chance? – ... você... agora pode me dar um resposta?
Preciso ser cauteloso, e o mais “honesto” possível – Já estou nessa prisão há muito tempo. Não tenho mais muita certeza se quero a destruição de Eldarya, – comecei e ela me olhava desconfiada – mas ainda sinto um pouco de rancor da guarda. Quanto à Cris, apenas não quero que ela acabe enganada, ou pior, – pousei meu olhar sobre a Cris – prejudicada por essa guarda. – Anya observava a Cris, agora lhe prestando atenção de verdade.
– Quando tudo isso acabar, – dizia ela – volto para lhe falar sobre a viagem. – e afastou-se.
(Será que a minha preocupação com a Cris é o que me dará o que preciso para fugir daqui?).
“Em breve irá descobrir.”
Argh!!!
.。.:*♡ Cap.34 ♡*:.。.
Leiftan
Estava no corredor das guardas quando vi Miiko acompanhada de Huang Hua e um grupo de... sereias aladas? A caminho da Sala do Cristal (Já não é uma surpresa eles terem conseguido chegar tão cedo?). Com toda a certeza a Cris já devia estar cuidando dos contaminados na prisão. Vi Nevra carregando duas mochilas consigo ao sair de seu quarto.
– O que são essas mochilas e como é que foi a viagem?
– A viagem foi uma tremenda caixa de surpresas! E quanto às mochilas, são as bagagens da Cris e da Anya. Vou levá-las até a morada das mesmas e escrever o relatório dessa viagem o mais rápido possível. O que foi que aconteceu para que a Cris fosse levada à prisão?
– Permita-me acompanhá-lo e lhe explicarei no caminho.
Acompanhei o vampiro até o quarto da Cris primeiro para depois à casa de Anya. Ele quase não me acreditou quando falei o número de contaminados que havíamos capturado na prisão, muito provavelmente por causa do Novo Cristal, assim como eu também quase não acreditei nas descobertas meio que miraculosas que surgiram na viagem deles. Separei-me dele na biblioteca, onde ele iria escrever o relatório da missão à Memória (que não seria nada pequeno) e fui para a Sala do Cristal.
– Até que fim resolveu aparecer Leiftan. – repreendia-me a Miiko.
– Desculpe, estava com Nevra até agora pouco, adiantando-lhe os últimos eventos de Eel.
– Tá, tá, tudo bem. Apenas me entregue essas mensagens pra ontem, por favor. – ela me entregava uma pilha de pergaminhos – E depois auxilie Huang Hua com tudo o que ela precisar de Eel.
– Como desejar. – deixei a sala para começar o meu trabalho.
Ezarel com toda certeza ainda não tinha deixado o laboratório desde ontem à noite, ou do contrário não teria me questionado o pedido de tantas poções para pernas, pois já teria visto as evigêneias (será que Miiko convidará a rainha para o baile?). Também entreguei mensagens ao Karuto, à segurança, aos purrekos e à Ewelein. Ewelein estava bem ocupada cuidando de todos os faerys resgatados pela Cris (espero que elas não fiquem cansadas demais com tudo isso).
Terminadas as entregas, acompanhei Huang Hua e as evigêneias até a loja da Purriry (aproveitando também para apresentar-lhes Eel).
– Huang Hua, é uma honra tê-la em minha loja! Como posso serrvi-lhe, miau?
– Olá Purriry. Viemos em busca de roupas para as evigêneias usarem depois de receberem as poções para pernas de Ezarel. – explicou Huang Hua.
Purriry observou as sereias aladas com cuidado – E o que exxatamente eles têm em mente?
Ouvi a rainha falar algo em que parecia ser grego arcaico (não sou muito bom nessa língua) e o tal de Kyrius nos falou que a rainha se daria por satisfeita com algo que fosse parecido com o vestido branco que a Cris havia vestido minutos antes de voltar à forma humana.
– Acaso é o mesmo vestido que ela usou quando partiu para Memória? – questionei e Huang Hua me confirmou assentindo.
Eu me lembrava bem daquela roupa, era linda e eu imaginava a Erika dentro dele. Descrevi a roupa em detalhes para a Purriry e ela não demorou em trazer algo parecido com ele, além de opções que atendiam às mesmas necessidades daquelas sereias (até peças com menos detalhes para Kyrius, que lhe agradou muito). Acabadas as compras, pagas por mim e por Huang Hua, receberíamos as poções solicitadas à Ezarel no salão principal.
Não importava aonde íamos, mesmo já vestidas antes mesmo de adquirirem as pernas, principalmente as mulheres, as evigêneias não paravam de chamar a atenção por sua beleza. Não pude deixar de escapar um riso quando ouvi um casal discutindo porque o rapaz havia as seguido com o olhar, provocando o ciúme em sua companheira.
Fomos ao salão para aguardarmos pelas poções. Erika estava lá, ajudando Karuto na cozinha para poderem servir as evigêneias e um prato reforçado para a Cris por conta do esforço que a obrigou a ser carregada depois de terminar de resgatar os faerys da contaminação (já imaginava algo assim por conta do número de contaminados que apareceu). Deixei Huang Hua e as sereias conversando em uma mesa e fui ajudar na cozinha também (cada minuto que pudesse estar junto de Erika era precioso pra mim) com Karuto me vigiando, é claro.
Cris
Aqueles contaminados iam mesmo acabar comigo, mas enquanto ajudava o nono deles, senti algo renovar-me as forças. Isso foi um alívio, acho que eu ia acabar desmaiando em breve se não tivesse recebido esse reforço, mas será que irá durar até o fim?
Foi por pouco, se tivesse mais dois ou três, desmaiaria com toda a certeza depois de tantas horas. Jamon me carregou nos braços até o meu quarto. Destrancado por Anya, que ficou cuidando de mim até conseguir me levantar outra vez (o que só aconteceu lá pra hora do almoço) e onde minha mochila me aguardava do lado de fora (quem será que a trouxe? Tenho que agradecer).
Quando finalmente conseguia andar novamente (meio cambaleando como se tivesse acabado de acordar, mas andava), Anya e eu descemos para almoçarmos. Chegando lá, logo vimos Huang Hua e as evigêneias sentados em uma mesa com Ezarel junto delas (acho que acabaram de receber as tais poções para pernas que Anya me falou).
– Tudo bem se nos juntarmos a vocês? – perguntei com Huang Hua e Ezarel, que estavam de costas, se virando para mim.
– Olha se não é a bruxinha favorita de todos! – Ezarel brincava.
– Claro que pode querida. Como se sente? – Huang Hua me puxava uma cadeira.
– Com fome. – respondi – Pensei que ia desmaiar de cansaço antes mesmo de terminar de cuidar de todos os contaminados.
– É só você ficar em Eel até que todos os contaminados de Eldarya acabem! – Ezarel sorria de lado ao falar. – Capturar um contaminado é bem difícil sabia!?
– Ela encarou mais contaminados em um mês do que você em um ano, acha mesmo que ela não tem ideia do problema que um contaminado é capaz de causar? – defendia-me Anya – E quanto à ela ficar sempre em Eel, graças ao que descobrimos em Memória, não vai rolar. – Ezarel acabou por revirar os olhos.
– Dê espaço elfo! Não posso entregar a comida da Cris à ela se você ficar parado no caminho. – Karuto pedia com uma bandeja cheia de comida nas mãos.
– A rainha aqui é a evigêneia de nome Margaritári! – reclamou Ezarel ao ver minha comida – E não a Cris.
– Reclame menos e trabalhe mais Ezarel. – requisitou a Erika que vinha logo atrás com outra bandeja que colocava em frente de Anya. – Você não viu o quão exausta ela ficou depois de gastar tanta maana sem parar para ajudar aqueles faerys!
– E chegou a aengel mais amada de Eldarya. – Ezarel não tem limites não?
– Há algum problema Ezarel? – disse Leiftan apoiando uma das mãos sobre um dos ombros de Ezarel, com um sorriso inquietante no rosto que pareceu fazer Ezarel tremer.
– Leiftan... – Erika lhe chamou a atenção e Karuto ria disfarçadamente da expressão de Ezarel.
– Nenhum. – Ezarel se afastava com um novo sorriso – Se me permitem, tenho de voltar ao laboratório para terminar algumas poções. Mais tarde volto para comer. – e deixou o salão quase correndo (acho melhor tomar certo cuidado com Leiftan).
– Mas então Cris... – Karuto me observava comendo – Já encontrou algum par para o baile do Solstício? – quase engasguei.
– Baile? Que baile?!
– Não falou do baile para ela ainda Anya? – questionou Erika.
– Acho... que me esqueci. – encolheu-se Anya no lugar.
– Será que podem me explicar que raio de baile é esse? – perguntei olhando para todos eles.
– É o Baile de Máscaras do Solstício. Um evento que comemora a chegada do inverno e o início de um novo ano, e que acontecerá daqui duas semanas. – explicava Huang Hua (sabia que estava esfriando demais).
– As máscaras são para nos lembrar que não importa qual é a raça ou aparência de um faery, todos somos seres vivos... com os mesmos direitos à vida. – seguia Erika.
– Não é obrigatório estar com um acompanhante para esse baile, mas é quase um costume que os rapazes façam o convite, quando já não se é um casal declarado. – prosseguiu Leiftan, olhando de lado para Erika no final (e com um pouco de tristeza na voz). Pobre Leiftan...
– Imagino que Nevra só não lhe convidou ainda por estar ocupado. – disse Anya apoiada em um dos braços sobre a mesa (Nevra como par?? Nem pensar!!).
– Hehe, conhecendo aquele vampiro, ele vai é preferir convidá-la pra dançar durante o baile, e não para ser seu par nele. – comentou Karuto, fazendo Anya despertar para algo.
– Que quer dizer? – perguntei.
– Isso é porque se um rapaz tem seu convite rejeitado, ele é obrigado a deixar aquela que tentou convidar em paz até o fim do baile! – esclareceu Anya.
– Realmente o Nevra nunca convida ninguém para lhe ser par. – Valkyon apareceu – Erika me contou como foi tudo lá na prisão, está tudo bem com você Cris?
– Estou muito bem. Obrigada pela preocupação.
– Não tem como ela ficar fraca por muito tempo depois de comer da minha comida, hehe. – disse Karuto – Melhor voltar pra minha cozinha agora, antes que os tontos que estão lá façam alguma besteira.
– Muito obrigada Karuto. Ah! E só pra você saber, está uma delícia! – falei colocando mais uma garfada de comida na boca, ele voltou ao trabalho sorrindo. Notei que as sereias (agora com roupas e provavelmente com pernas também, já que ainda lhes enxergava as caudas e nadadeiras) não pararam de cochichar e rir durante toda a conversa. – Acaso nossos novos amigos também irão participar do baile? – Siece me sorria.
– Sim, elas participarão. – respondia Huang Hua – Miiko as convidou para podermos ganhar tempo em reunir representantes de outras nações e assim readicioná-los à lista de raças faerys que habitam Eldarya.
– Amanhã retornaremos ao nosso lar para repassarmos ao restante de nosso povo as decisões tomadas por nossa rainha junto à Fáfnir, e depois retornaremos para participarmos do baile. Além de efetuarmos a reunião mencionada. – declarou Kyrius.
– O que me faz lembrar! – Anya acabou chamando a atenção de todos da mesa – Temos que procurar uma roupa apropriada para você usar no baile Cris!
– Tenho mesmo que participar? Eu não sei dançar... – confessei.
– Não acredito. – era Valkyon agora – Não depois de como a vi lutar, você literalmente dançava enquanto manipulava a espada! – fiquei vermelha.
– Isso será muito interessante! – falou Huang Hua com um largo sorriso no rosto.
.。.:*♡ Cap.35 ♡*:.。.
Cris
Por algum motivo, aquela historia de baile não me agradava muito, como se pressentisse que algo meio ruim fosse acontecer nele. Depois que acabei o meu almoço, estava forte e em forma de novo. Pensei em treinar um pouquinho com Valkyon, de leve, mas Anya me tinha planos diferentes. Ela me arrastou para o meu quarto para que pudéssemos confirmar se havia algo “digno” em meu armário, Absol pareceu ter tido a mesma ideia. Roupas espalhadas pra tudo o que é lado foi o que encontramos ao entrar no meu quarto, e Absol não parecia satisfeito com nada do que via.
– Parece que o Absol quer escolher o que você irá vestir pro baile.
– Concordo Anya. Absol, precisava fazer essa zona?
Ele apenas olhou para as roupas ao seu redor insatisfeito. Foi até uma das gavetas do armário e pegou a bolsa em que guardava o meu “dinheiro” (só em um mundo de fantasia mesmo para energia vital ser vista como moeda) e foi até a porta nos chamando com um balançar de cabeça. É... está na hora das compras...
Seguimos direto até a loja de uma purreko de nome Purriry (a mesma que Anya ajudara algumas vezes) que quase pulou até o lustre da loja ao ver Absol entrando.
– Oi Purriry! Deixe-me apresentar, estes são Absol e Cris. Viemos atrás de um vestido para o baile!
– E-entendo. – tentava a gata malhada recuperar a compostura. Absol me entregou a bolsa de dinheiro e começou a rodear a loja, causando um pouco de indignação na felina – Mas o que ele está fazendo?!
– Escolhendo um vestido. – dissemos eu e Anya juntas.
– Está me dizendo que aquele black-dog é capaz de escolher uma roupa?! – Purriry permaneceu incrédula mesmo depois de Anya e eu lhe assentirmos. – Miau. Essa eu quero verrr!
Absol andava de um lado para o outro, percebia quando ele queria ver melhor alguma peça e a erguia para que ele pudesse vê-la melhor e quase sempre ele balançava a cabeça negativamente. Purriry já parecia impaciente até que finalmente ele começou a assentir sobre algumas peças (ele até retornou para algumas que havia rejeitado antes!). Decidida quais vestes ele tinha gostado (acho que ele estava me montando um vestido ao estilo medieval para encarar o possível frio da noite mais confortavelmente), uma a uma ele me dava para vestir no provador.
Quando finalmente sai do provador, até a gata pareceu surpreendida. Absol me fez vestir: uma blusa branca de gola alta e manga comprida com detalhes em dourado; um vestido branco de tecido metalizado, perolado, não sei, também de gola alta e de manga cumprida, além de uma abertura no busto, expondo a cruz dourada da blusa embaixo; uma meia-calça azul escura; sapatos azuis com uma gema dourada; um vestido longo de decote ousado do mesmo azul da meia, com detalhes em dourado e penas azuis e douradas; luvas que iam até o ombro (aparentemente de pele) também azuis com uma capa translúcida com penas brancas e douradas que combinavam com o vestido azul fixa a elas e com o que parecia ser uma camada fofa de lã branca cobrindo a região ao redor dos ombros; mais um colar azul, brinco dourados iguais as gemas dos sapatos, conjunto de pulseiras de argola dourada em cada pulso e uma máscara dourada com detalhes em preto que pareciam se desenhar e desfazer-se com mágica. Soltei os cabelos.
– Preciso dizerrr... – virei-me para Purriry (toda essa roupa está começando a me dar calor, mas quando for o dia talvez seja o bastante) – ...este black-dog tem mesmo estilo para moda. Está linda!
– Concordo plenamente com ela Cris. Você vai arrasar no baile com toda a certeza! – fiquei um pouco vermelha com o argumento de Anya (não me sentia tão incrível assim...).
– Purriry, preciso falar com você um momen... Quem é essa princesa linda?! – entrava um novo purreko laranja de olhos cromáticos me deixando ainda mais envergonhada.
– Essa é a Cris, a faeliana que vem rrresgatando os faerys contaminados. – apresentou-me Purriry – E ela está comprando o vestido para o baile, miau.
– Ela!? – ele me olhava de cima abaixo de queixo caído – Espere um instante! – ele tirou a sacola de pano que carregava aos ombros com uma vareta e abriu-a revelando outras menores que, farejava ou sentia-lhes o peso até encontrar a que queria. Acabou por abrir duas de onde retirou um ornamento dourado de uma e uma presilha de rosas violetas de outra. Vi Anya arregalar os olhos com a ação daquele gato.
– Dei-me isso aqui, Purral. – falou a Purriry pegando nos ornamentos e, com a ajuda de Absol que lhe servia de escada, colocou os dois em minha cabeça – Ficou perrrfeito! – Absol balançava a cauda em concordância.
– Você está realmente incrível Cris. – elogiou-me Anya mais uma vez, acabei por pegar um leque azul com flores rosa para esconder mais o rosto, o que pareceu tirar um sorriso de todos – Adicionando um toque de mistério é? Assim vai acabar roubando os pares das outras garotas! – Os elogios que eles não paravam de me dar já estavam me fazendo começar a suar frio.
– Me diga Purriry, – falava o tal do Purral – quanto pretende cobrar da nossa bela dama pelas roupas?
– Acho que... – ela me analisava – ...3.000 maanas.
– 3.000!? Acaso está lhe cobrando os meus presentes também?! – disse o gato meio irritado.
– Tá! Tudo bem, 1.800 então. – cobrou ela a contra gosto (de 3.000 para 1.800? Quão gananciosa aquela gata podia ser?).
Voltei a vestir minhas roupas de antes e Anya não só escolheu uma roupa para ela nesse meio tempo (que infelizmente não pude ver como era), como também efetuou o pagamento por mim enquanto Purriry embrulhava tudo. Retornamos ao meu quarto e arrumamos a bagunça que Absol havia feito. Anya cancelou nossas aulas do dia para poder organizar as coisas dela também, eu nem me importei.
Dei uma limpada por cima na poeira do meu quarto (ainda preciso planejar a faxina dele) e aproveitei que Anya colocou meu notebook pra carregar enquanto estava incapacitada e assisti a um filme, pra me distrair.
Eu não sei por que, mas desde que começaram a me explicar essa historia de baile, tive um mau pressentimento que me persegue até agora. Espero que seja apenas coisa de minha cabeça ou quem sabe, apenas medo do Nevra ficar em cima de mim no baile (te peço Senhor).
Anya
Me senti mal pela Cris por não ter percebido o cansaço dela quando salvava aqueles contaminados. Ainda bem que Lance não só percebeu, como também a ajudou (não posso deixar de falar com ele hoje). Decidi compensar minha falha cuidando dela.
Fazia tudo o que ela dizia precisar fazer enquanto não conseguia se levantar, como arrumar a bagagem dela (que aposto que foi o Chefinho que a deixou em frente à porta) e por o not dela pra carregar a bateria. Acabei conseguindo um acordo com ela para poder assistir o tal do Hellsing Ultimate (tenho quase certeza que ela me fez essa promessa sem nem perceber de tão cansada, sorte Absol ter sido testemunha) pra disfarçar meu sentimento de culpa que ela parecia estar notando.
No almoço, eu não acredito que me esqueci de falar do baile pra ela... É simplesmente um dos eventos mais esperados de Eel! Fomos até o quarto dela verificar se ela tinha alguma coisa que servisse para ser usado e, (Pelo Oráculo!!) que furacão foi aquele que passou dentro do quarto?
Acabamos foi é deixando aquele caos de roupa pra trás e fomos à loja de Purriry encontrar o vestido perfeito pra Cris (tive de me segurar para não rir de Purriry quando ela viu o Absol). Absol parecia ser pior que a própria Purriry no que se refere a montar o look ideal e que belo trabalho quando ela finalmente deixou o provador! A Cris estava simples, mas rica em detalhes; ousada porém comportada (e duvido que ela vá passar frio no dia do baile). Ela estava bem a cara dela mesmo, mas o toque final foi dado pelo Purral que chegou para falar com a Purriry e se encantou com a Cris, presenteando-a com alguns ornamentos de cabeça. Esperteza dela adicionar aquele leque (pode ajudar contra o Chefinho).
Enquanto a Cris se livrava daquela montanha de tecidos que a protegeria belamente do frio, fui questionar o Purral.
– Porque foi que você presenteou a Cris com aquelas coisas, Purral?
– Nos dias em que a Cris mudou-se para Eel, eu estava fora da cidade mocinha linda, e por isso não pude dar a minha retribuição por tudo o que ela fez por nós e pela sociedade dos purrekos.
– E o completar do look de baile dela, além de nos garantir um bom preço, é a sua forma de contribuir?
– Eu teria lhe presenteado com um ovo, miau. Mas fiquei sabendo que ela já tinha vários!
– 20! Para ser mais preciso, e alguns são bem raros...
– Miau, mais um motivo para presenteá-la com algo que ela use ao invés de um ovo, não concorda mocinha linda?
– Sim, concordo sim.
– A propósito... – Purriry nos interrompia – A senhorita também não vai comprrrar um vestido para o baile?
– Se você tiver alguma coisa que me faça parecer mais adulta e que consiga competir com a Cris... – respondi a Purriry.
– Preferência de cor? – ela perguntou com um sorriso largo no rosto.
Verde sempre foi minha cor favorita, mas aprendi a também gostar do preto depois de entrar na Sombra. Acabei convencida a comprar um vestido preto e esverdeado escuro, brilhoso de alças que realmente me deixava mais adulta; uma longa capa verde de gola com detalhes dourados forrada por dentro; botas e luvas longas verdes com detalhes dourados, combinando com a capa; quis copiar a ideia de Absol sobre várias camadas para aquecer o tronco e acabei adicionando uma blusa preta de renda (ou será que ela é verde escura?) cujas mangas iam até os cotovelos, a mesma altura da capa nos braços; para ajudar ainda mais a modelar a cintura, Purriry ainda me escolheu um cinto aramado dourado. Gastamos menos da metade do tempo que Absol para escolhermos tudo, tanto que quando Purriry começou a embrulhar meu vestido, a Cris ainda estava terminando de vestir as roupas dela.
Não foi fácil convencê-la a me permitir usar os acessórios que eu já tinha ao invés de comprar novos (o que ganho de salário não é tanto assim) e se não fosse pela intervenção de Purral, aposto que ela ia tentar me assaltar assim como quase fez com a Cris. Fui eu quem fez o pagamento das nossas compras pra ter certeza que a Purriry não ia tentar bancar a esperta pra cima de nós duas nos fazendo comprar algo mais.
Voltamos para o quarto da Cris e demos um jeito na bagunça que Absol fez. Pedi a Cris para cancelarmos nossas aulas do dia para que eu pudesse arrumar minhas próprias coisas e ela aceitou sorrindo. Deixei-a sozinha com Absol e corri para casa. Assim que cheguei, minha mãe já havia arrumado minha mochila, entregue por Nevra (ela não podia ter me deixado responsável por minhas próprias coisas não?) e ficou furiosa comigo por ter gastado com roupas novas para o baile, isto é, até ela me ver vestida... Ela não parava de chorar emocionada: “Minha menininha já é uma moça linda...!” (ahff!) foi o que ela acabou dizendo depois de lhe mostrar a roupa que comprei pra mim e que completei com um colar de camadas e um par de brincos, ambos dourados com detalhes verdes, o chapéu e a máscara dos meus uniformes da Sombra e uma coroa de flores que usei alquimia para eternizá-la.
Guardei tudo para o grande dia e disse à minha mãe que havia esquecido uma coisa com o Nevra e por isso precisava voltar rapidinho pro QG (ainda preciso conversar com o Lance). Pequei uma porção de biscoitos, um sanduíche, uma maçã e um pouco de leite escondida de minha mãe, pra poder levar pra ele. O treino da Sombra realmente me fez bem (fiquei bem mais sorrateira, hihi!), não tive dificuldade alguma pra chegar à prisão, e quando fiquei de frente à cela do Lance, ele parecia dormir (ele realmente se esgotou pela Cris??).
– Já estava pensando que você tinha se esquecido de mim, mais uma vez. – ele dizia ainda de olhos fechados.
– E eu que você estava dormindo. O quanto de maana você deu para a Cris?
– O suficiente para que eu pudesse continuar acordado. – ele se erguia do chão devagar – Até aquela gosma que o Karuto me manda foi bem vinda para recuperar o que dei a ela.
– Aqui. – lhe estendia a comida que havia pegado às escondidas, que ele não demorou nem um pouco pra pegar e devorar. Aquilo me fez entender o quanto ele quis ajudar...
Talvez... (só talvez!) Seja seguro confiar nele agora. Contei a ele sobre a aventura que foi nossa viagem à Memória e sobre nossas descobertas. A reação de surpresa e choque dele já me era esperada (todos ficamos iguais!).
– O que vocês viveram e descobriram nessa viagem daria um ótimo livro. Que historia! – falava ele me devolvendo o tecido que utilizei para carregar a comida.
– Não tenho como discordar.
– Anya, posso lhe pedir um favor?
– Vai depender do favor.
– Pode me dar algo para poder corrigir minha aparência?
– Como!? – eu não esperava esse tipo de pedido dele.
– Pode ser qualquer coisa. – ele falava neutro – Só quero poder dar um jeito nessa juba que se formou na minha cabeça. – ainda não estou convencida... – Eu não quero que a Cris me conheça com essa aparência deplorável, quer dizer, caso eu consiga me apresentar algum dia à ela...
– E porque exatamente você deseja conhecê-la? Além de já se preocupar com ela...
– As coisas que você me contou sobre ela, além das que eu já testemunhei me deixaram com uma imensa vontade de tê-la como... uma amiga. Enfim, quero compreendê-la melhor. E pra ser sincero, sabe a maana que doei para a Cris?
– O que tem ela?
– Eu estava acumulando para fugir dessa prisão. – (ele o quê!?!) – Mas priorizei o bem estar da Cris ao invés do meu. – suas palavras me atordoavam – Isso não é o bastante para que eu lhe convença que não desejo mal para a Cris? E sim o contrário, que lhe desejo o bem?
Acabei por coçar a cabeça sem saber direito se o ajudava ou não a realizar sua vontade de ajeitar o visual – O quê exatamente você quer que eu lhe forneça? – acabei perguntando.
– Como eu disse... – ele sorria tímido? – Pode ser qualquer coisa... como uma pequena faca por exemplo.
Ainda não estava confiante nessa situação. Peguei a pequena faca que mantinha escondida dentro de minha bota (outro truque que aprendi na Sombra) e a observei por um momento. Lance parecia ansioso e decidi bater com tudo a ponta da faca contra a rocha em que estava sentada para lhe quebrar a ponta.
– Apenas me prometa uma coisa... – só quebrar a ponta não me dava segurança o bastante para lhe entregar uma faca.
– O que desejar. – foi a resposta dele aproximando-se das grades para receber a minha faca.
– Que de forma alguma irá utilizá-la para machucar alguém. – pedi ainda não soltando a faca.
– Juro por todas as almas dos dragões que participaram do Sacrifício Azul, esta faca não vai sequer provar o sangue de alguém enquanto estiver em minhas mãos. – prometeu ele.
Resisti um pouco ainda à lhe entregar a faca danificada, mas terminei por soltá-la. Me despedi e saí correndo pra casa (Santo Oráculo, que eu não tenha cometido um erro letal!).
.。.:*✧ Capitulo especial – Sonhos ✧*:.。.
Pesadelo 1
Era noite de lua cheia, estava no meio de uma floresta de arvores mortas, com uivos ao longe podendo ser ouvidos de tempos em tempos. Eu caminhava com cautela, pois estava perdida. Perdida... e sozinha.
Caminhei e caminhei por um caminho que não parecia mudar ou acabar e pra piorar, me sentia observada. Comecei a ouvir gravetos e folhas secas se quebrarem por passos, passos que não me pertenciam...
Acelerei o meu próprio passo na tentativa de me afastar de seja lá o que for que estivesse perto sem ser notada, mas os passos misteriosos me acompanharam. Quanto mais eu andava, mais eu acelerava, tanto que quando me dei por mim já estava correndo e não mais andando, e o pior, o que me seguia continuava me seguindo. Não queria olhar para trás enquanto fugia de sei lá o que, mas mesmo assim eu olhei, e tudo o que vi foram vultos, sombras, de vários seres não definidos me seguindo. Acabei dando um grito e correndo ainda mais rápido.
Corri até me trombar com alguém que me segurou firme nos braços.
– Olá Cris. – ergui o rosto para ver quem era, pois não tinha reconhecido a voz.
– Nevra? – olhei ao redor. Não estava mais sendo perseguida por nada, era apenas eu e o Nevra, e estávamos em uma enorme clareira.
– É uma bela noite não acha? – ele me acariciava o rosto (porque sua voz parece diferente?).
– Eu não acho. – não estou gostando disso – Alguma coisa estava me perseguindo até agora a pouco.
– Ninguém vai lhe tocar, não comigo aqui. – ele me aproxima cada vez mais de seu corpo.
– N-Nevra, v-você está me assustando... – meu coração parece que vai sair pela boca!
– Não se preocupe... – ele me sussurrava ao ouvido e eu ofegava – Não vai doer nada...
Arregalei meus olhos ao ouvir isso, e comecei a tentar me livrar de seu abraço, mas ele me segurava forte. Me desesperei mesmo quando o senti fincar as presas em meu pescoço – Nevra... – não havia dor, mas algo era sugado de mim – Por favor, pare... – sentia a sua respiração assim como o ouvia engolir meu sangue – Já chega... – chorava, e quanto mais ele continuava, menos conseguia relutar – Pare Nevra! – ele continuava a me ignorar e também me sentia cada vez mais fraca em seus braços – Ne...vra... – tudo começou a escurecer, a sumir, a desaparecer...
.。.:*♡ Cap.36 ♡*:.。.
Oráculos
“E então? Fez o que Fáfnir nos sugeriu?”
“Já está feito. Mas ainda não acho o bastante para confiar nele.”
“Tente usar suas necessidades pessoais contra ele!”
“Já o estou fazendo. Mas não consigo deixar de temer a ideia de ele cometer uma burrice antes de enxergar o mesmo que nós! Vai demorar muito pra ela conseguir usar os poderes dela, sem precisar de um empurrãozinho nosso?”
“Enquanto ela não aprender a falar a língua original conscientemente, ela vai continuar dependendo de nós para cumprir suas “obrigações”. O poder que nasceu nela é realmente impressionante!”
“É... não é qualquer um que já nasce sabendo falar a língua original... É realmente incrível que o poder dela tenha conseguido extrair este conhecimento das profundezas de seu sangue. Hum... Posso tentar fazer ele a ensinar.”
“Falando em sangue...”
“O quê?”
“Acho que já sei quem podemos usar para garantir a segurança dela no começo.”
“Quem?!”
Cris
Tive uma noite horrível. Pesadelos me perturbaram a noite inteira! Enquanto assistia ao filme ontem, Kero me bateu à porta entregando a cópia traduzida de dois dos oito livros que ele havia levado (como ele conseguiu tão depressa se está sempre ocupado?) e ainda por cima era a cópia dos maiores! Aproveitamos para falar da viagem que tive, onde ele acabou falando um pouco mais de Apókries pra mim. Só o pouco do que eu havia ouvido em Memória não era nada se comparado ao que Kero me contou. Definitivamente não quero ir para lá, e olha que o Kero nem falou sobre os seus habitantes, ao perceber minha inquietação!
Os pesadelos combinavam o que Kero havia me contado com a minha preocupação sobre o Nevra e o baile: ambientes sombrios, sombras me perseguindo, Nevra me consumindo todo o sangue, enfim, não descansei nada! Foi a pior noite em que eu consigo me lembrar, e pelo jeito que Absol parecia estar ansioso pelo treino de hoje, isso seria apenas a ponta do iceberg.
Me levantei a contragosto e me vesti para treinar após comer alguma coisa como Absol queria (parece que não há nenhuma desculpa que possa funcionar com ele hoje para fugir do treino...). Desci a torre e entrei na sala do Cristal sem nem perceber... a sala estava vazia e eu sentia o colar pesar em meu pescoço (vai ver é por isso que entrei automaticamente assim), me aproximei do Cristal, apoiando-me sobre ele. Cantei o Pai-nosso que conhecia e gostava (pude conhecer uma terceira versão dele enquanto pesquisava cantos gregorianos) fazendo o Cristal brilhar ao mesmo tempo em que todos os fragmentos coletados ontem se transferiam do colar para ele.
– Bom dia Cris! Já tão cedo visitando o Cristal!? – virei-me para ver Erika que entrava acompanhada da Miiko.
– Bom dia _bocejo_ pra vocês também.
– Aconteceu alguma coisa? Sua cara está péssima! – questionou a Miiko, então lhes contei da “bela” noite que tive.
– Nossa! – falava Erika quando terminei de contar – Mas que noite a sua hein? Não acha melhor descansar um pouco mais por hoje? Apesar das “férias” – Erika fazia aspas no ar – que Memória nos deu, você se desgastou muito ontem!
– Não acho que Absol concorde, ou do contrário ele teria me deixado dormir mais.
– Esse black-dog realmente parece um guardião. – comentava a Miiko – Te cuidando, protegendo e ensinando. Soube que até os mascotes gostam dele!
– Isso é novidade. – acordei finalmente – Tá certo que na floresta todos os mascotes pareciam amigos de Absol, mas até os de Eel?
– Absol é mesmo uma ovelha negra entre os seus. – afirmou Erika com um sorriso.
Ouvi o latido do Absol vindo do lado de fora e elas me disseram que a sala estava selada naquele momento (e eu nem percebi) por isso que ele não havia entrado. Me despedi delas e fui até o salão para comer o meu desjejum. Algum desastrado derrubou suco no chão do refeitório e eu quase caí ao escorregar no líquido (o dia está prometendo...). Tomei o meu leite e comi uma porção de salada de frutas com pedaços de chocolate e castanhas (ao menos Karuto tentava me amenizar o dia).
No treino as coisas não estavam melhores... Não estava vendada e eram apenas Valkyon, Absol e eu, mas nem por isso deixei de cair umas três vezes durante os golpes deles.
– Não está muito concentrada hoje, – falava Valkyon em nossa primeira pausa – o que foi que aconteceu?
– Tive uma noite ruim. – respondia – E parece que o dia quer seguir o mesmo caminho.
Falei a ele sobre os pesadelos e do quase acidente no salão principal, ainda lhe falava quando notei um Ezarel fantasma se aproximando de nós. Esfreguei meus olhos pra ter certeza do que estava vendo.
Ele estava vestindo apenas uma túnica e estava translúcido nos pés e mãos, com um enorme sorriso de quem está planejando algo. – O que foi que aconteceu com você Ezarel?! – perguntei. Ezarel travou no lugar, perdendo o sorriso quando lhe fiz a pergunta.
– Do que está falando Cris? – perguntou o Valkyon. Foi quando notei que era a única que o estava vendo.
– Me diz Ezarel, o que foi que você fez? Isso é alguma poção que tomou ou alguma forma de projeção astral? Porque está parecendo um fantasma? – isso chamou a atenção de Valkyon e dos que estavam próximos.
– Você está mesmo me vendo? – ele me perguntava ainda incrédulo.
– E te ouvindo também. Vai falar logo o porquê de estar assim ou não?
– Ezarel? Você está mesmo aqui? – perguntava o Valkyon sem saber para onde olhar direito.
– Sim estou. – ele cruzava os braços, indignado, e fornecendo à Valkyon um ponto para olhar.
– Explique-se, por favor. – Valkyon exigiu. Ezarel revirava os olhos.
– Quis testar essa habilidade dela enxergar as coisas de uma forma diferente, por isso optei por tomar uma poção de invisibilidade.
– E o que pretendia fazer se eu tivesse perguntado nada? Ou pior, se eu tivesse fingido não lhe enxergar. – alguns dos obsidianos se juntavam às minhas costas como que para me protegerem.
– Nada de mais. – agora ele colocava os braços às costas (vou fingir que acredito) – Apenas pensei em me divertir um pouco durante o teste.
– Se divertir... como? – Valkyon parecia nervoso.
– Só ia atrapalhar o treino um pouco. – (pra piorar ainda mais o meu dia?!?) – Não tenho intenções de feri-la.
Eu respirei fundo. – Quanto tempo para o efeito da poção acabar?
– Tenho mais duas horas.
– Então Ezarel, – nunca vi Valkyon tão sério – sugiro que permaneça bem longe de nossos treinos durante as próximas duas horas. Para o seu bem!
Ezarel cruzou os braços outra vez e fechou a cara, segui-o com o olhar até perdê-lo de vista e me prontifiquei de avisar se o visse entre nós outra vez. Valkyon ainda elogiou minha habilidade já que ela me ajudaria a nos proteger de muitos problemas. Ele até brincou em querer me colocar para fazer vigília à noite! (sorte minha não ter treino suficiente pra isso) O treino foi retomado até chegar a hora do almoço, onde pude colecionar calos e conduções por pelo menos duas semanas (ai...!).
No almoço tudo estava correndo bem, até um grupo de uma mesa próxima começar a discutir e um de seus membros jogar um prato frio de sopa que acabou acertando a mim por trás (e enfurecendo o Karuto). O prato em si não me acertou, mas fiquei uma verdadeira meleca lá, o elfo que me acertou sem querer ainda tentou me ajudar a me limpar pedindo mil desculpas. Karuto deu uma senhora bronca em todos eles, obrigando-os a limpar toda a sujeira que eles haviam provocado além de lhes prometer dar-lhes apenas mingau como refeição pelos próximos trinta dias! Ele me levou até a cozinha onde me limpei da sopa.
Uma tal de Twylda me ajudava a me limpar ainda quando um par de guardas chegaram dizendo que haviam capturado cinco contaminados de uma vez e que era para eu ajudá-los (mas que maravilha de dia...!). Acompanhei-os até os que precisava ajudar no porão e acabei exausta como sempre. Um deles me forneceu apoio escadas acima até a sala das portas e me virei sozinha até chegar em meu quarto (acho que Absol está explorando outra vez. Ele sempre ia e vinha quando queria).
Estava um bagaço ao entrar no quarto. Anya chegou cinco minutos depois e estava tão cansada quanto eu. Nevra também não lhe poupou no treinamento de hoje. Trocamos nossas más experiências do dia e optamos por assistir animês ao invés de termos aulas de eldaryano, já que ambas não tínhamos cabeça pra isso. Assistimos a metade da primeira temporada de Sword Art Online (um de meus favoritos) e decidimos por encerrar o dia. Ela foi pra casa e eu fui tomar banho após desligar o not, foi uma dureza desembaraçar os meus cabelos durante o banho, parecia que estava a pelo menos um mês sem lavá-los de tão embaraçados que estavam! Metade dele me pareceu ter saído na escova. Pude notar algum tipo de algazarra vindo de fora ao deixar o banheiro só de lingerie (não quis arriscar sujar uma roupa limpa antes de eu mesma estar limpa ao entrar no banheiro) e não demorou para que me batessem à porta (queria não ter reconhecido o dono da voz...).
– Cris? Você está aí?
– O que quer, Nevra?
– Desculpe perguntar, mas algum estranho entrou no seu quarto? – ele tá de brincadeira comigo, né?
– Acabei de sair do banho, não estou apresentável, e acha mesmo que se alguém tivesse entrado aqui, eu estaria tão calma assim?! – ele está me irritando.
– Posso entrar?
– Ficou louco?!? Cai fora daqui!! – gritei à ele, jogando uma almofada na porta.
– Tá, tudo bem! Esqueça o que falei! Mas poderia ajudar a procurar por um fugitivo perigoso depois?
– Ok, eu ajudo. MAS SE MANDA! – o ouvi se afastar.
Mais essa agora. Como se não bastasse todas as provações do meu dia, agora tinha de me preocupar com um criminoso foragido? Respirei fundo achando que não tinha mais como as coisas piorarem, mas (doce ilusão...!) do nada um par de mãos me agarrou pra fechar o meu dia com “chave de ouro”. Uma mão me agarrava à garganta enquanto a outra me cobria a boca. Mãos grandes e fortes (e meio frias) pertencentes à um homem de aparência psicopata que me gelou a espinha...Obs
Sword Art Online ou S.A.O., anime legendado do gênero ação +14, com mais de 100 episódios se somadas todas as temporadas e especiais/filme (ainda estava em lançamento no momento em postei esse capitulo). Quem gosta de jogos e de animes, com certeza gostará desse anime de sucesso, não só pela ação, mas também pela historia bem trabalhada.
.。.:*♡ Cap.37 ♡*:.。.
“Olá meu bando de curiosos favorito!”
“Irmã...!”
– Vocês de novo? Porque foi que apareceram dessa vez? E que conversa era aquela no último capitulo?
“Viemos para avisar sobre o início da terceira etapa dessa historia...” – ela se espreguiçava – “E quanto a conversa que tive com minha irmãzinha querida... Por hora... Não te interessa!”
_boquiaberta_
“Irmã... Um pouco mais de educação não faz mal a ninguém!”
“Ah...!”
– Que querem dizer com terceira fase? Quando começou a segunda?
“Começou quando aparecemos diante dos leitores pela primeira vez. Quando você veio para Eel, lembra?” – (e como esquecer...).
– Vocês vão aparecer toda vez que uma nova fase começar?
“Talvez” – as duas responderam juntas.
“Ah! O ritmo da historia vai mudar de novo.”
– Outra vez?! Assim os leitores vão pensar que sou incapaz de manter um estilo de escrita!
“Isso não é verdade, minha querida...”
“Olha aqui Cris, se tudo na vida pudesse ser regrado sempre, não teria sido necessário um Sacrifício Azul e muito menos um Grande Exílio para garantir a sobrevivência dos faerys!”
O que a Negra disse até podia parecer não ter sentido, mas pensando bem, nada se mantêm na mesma forma pra sempre. Animês “vitalícios” como One piece, Dragon Ball e Detective Conan, que evoluíram seus traços com o decorrer do tempo; diferentes métodos de governo, de acordo trocavam seus governantes, e até mesmo a tecnologia! São todos exemplos disso, tudo acaba mudando em certos momentos. Até nossas vidas! (a minha que eu o diga...).
– Ok. O que é que vai mudar dessa vez.
“Uma coisa que podemos adiantar, é que minha irmã e eu estaremos bem mais presentes na historia agora.”
– E o que mais...
“Os capítulos serão mais fragmentados daqui por diante, e com vários pontos de vista!”
“E isso é o máximo que podemos adiantar no momento...”
Respirei fundo – Certo então... Vamos em frente!***Lance
Estava esgotado. Ainda espero não me arrepender de dar à Cris toda a maana que tive tanto trabalho para acumular, principalmente com a demora de Anya de me trazer comida.
Fiquei impressionado com a viagem que elas tiveram quando Anya me contou. Quem diria... Então a Cris tem o poder da vida, por isso sua maana era tão diferente... (agora que preciso saber ainda mais sobre ela) e quase não acreditei na quantia de parentes faeliens que ela havia revelado ter, em Memória. Sou obrigado a concordar com Huang Hua.
Quando o assunto tornou-se a maana que dei para a Cris, me deu um enorme trabalho convencer Anya de me fornecer uma faca. Precisei bancar o santo para que ela não notasse minha fúria quando ela quebrou a ponta da faca que escondia em sua bota (ficará muito mais difícil abrir minhas algemas) e como imaginei, precisei fazer promessas que vou detestar cumprir para poder convencê-la de vez a me entregar a faca.
Comecei a trabalhar em meus grilhões. De vez enquanto a Negra aparecia me mandando parar o que fazia, na primeira eu fiquei irritadíssimo, mas como guardas apareceram assim que eu parei com o barulho, só tive tempo de esconder a faca (porque está me ajudando?).
“Ainda é cedo para que eu possa lhe dizer.” – detesto quando ela fica lendo a minha mente!
Continuamos daquele jeito até eu conseguir abrir todas as correntes (e o que me gastou a noite toda). Sempre que alguém se aproximava, ela me avisava instantes antes. Não pude evitar de sorrir com satisfação ao abrir a última trava das correntes. Agora, só me faltava a cela em si. Não tinha visão para a fechadura e por isso seria difícil arrombá-la.
“Relaxa! A chave já está a caminho!” – como é?
Não demorou muito, e o guarda que possuía o molho de chaves de todas as celas era quem me trazia o café da manhã.
“Não faça nada ainda!” – ela me pedia, mas o quê que ela está planejando? Tudo o que ela fez foi me sorrir, aquele mesmo sorriso de uma criança traquina prestes a aprontar uma. Como ela só me ajudou até agora, resolvi obedecer.
O guarda afastou-se me levando aquele prato nojento que acabei limpando de tanta maana que precisava recuperar, e uma chave caiu em meu colo ao perdê-lo de vista.
“Espere o meu sinal pra sair.” – não tive vontade de aceitar, mas toda vez que tentei sair sem o consentimento dela, meu corpo parecia congelado no lugar, assim como a minha voz quando a Cris esteve diante de minha cela pela primeira vez.
Já era tarde quando a Negra finalmente me deu permissão pra sair (deixei a faca de Anya na cela, podia criar a minha própria agora que estava livre pra usar o meu poder, mesmo limitadamente), e ela continuou me ajudando a escapar, sempre me mandando esconder-me quando alguém aparecia. Tentei sair do QG quando alcancei a sala das portas, mas ela me impediu.
“Você não pode deixar o QG ainda, está sem maana!” – (e o que sugere que eu faça?) – “Apenas me siga.” – fiz a contragosto.Nevra
A conversa que tive com Ezarel e Valkyon sobre o teste de Ezarel em relação à habilidade da Cris deixou o jantar bem interessante. Anya não exagerou quando nos disse que poções não conseguiam enganar os olhos dela! Ver através de uma poção de invisibilidade era para muito poucos, até eu tinha dificuldades às vezes.
Havia acabado de deixar o salão quando vi algo que mais parecia uma alucinação: Lance passava para o corredor das guardas. Não tinha como eu acreditar em meus olhos, e quando corri para diante de onde eu o vi, não havia ninguém. Tinha que ser uma alucinação causada por algo que comi ou bebi, mas precisava ter certeza.
Desci até a prisão e acho que fiquei branco ao ver a cela de Lance vazia. Avisei a todos imediatamente sobre sua fuga e corri pelos corredores por onde o perdi de vista enquanto o restante dos membros vasculhava ao redor do QG. Será que os olhos da Cris podem nos ajudar?Lance 2
Assim que entrei nos corredores que levavam aos quartos dos residentes do QG, aquela Negra resolveu agarrar-se ao meu pescoço.
– Mas o qu...
“Shhiii! Não diga nada se não quiser ser pego.” – estou mesmo ficando irritado com ela – “Agora vá até o último quarto, que é onde vai poder se esconder por um tempo.”
Não tinha vontade de segui-la, mas meu corpo parecia obedecer somente a ela (está me controlando por acaso?).
“Apenas siga em frente, está bem?!” – revirei os olhos, e uma coisa estranha eu pude perceber. Durante o percurso, as pessoas passavam por mim como se eu nem estivesse ali, só tinha que me desviar delas para prosseguir sem problemas (elas estão cegas ou o quê?) – “Estou o ocultando deles, por isso me agarrei ao seu pescoço, mas não posso fazer isso pra sempre. Tente se apressar!” – ela me ordenava. Ao menos estava seguro.
Chegando ao tal quarto, usei meu poder de gelo para criar uma chave e entrei, a Negra me soltou assim que entrei. O quarto parecia um pequeno palácio e havia alguém tomando banho, prestando um pouco mais de atenção, notei que tratava-se do quarto de uma mulher pelas roupas jogadas no chão. (Pra onde exatamente fui levado?).
“Psiu! Vem pra cá!” – a Negra chamava de trás de um biombo – “Ela já vai sair, aí você descobre de quem é esse quarto.”
Fui até o lugar esconder-me e a mulher saiu logo em seguida, apenas de roupa íntima (teoricamente, ela está em um quarto trancada e sozinha), de dentro do banheiro, mas, aquela é a Cris?!? (Você me trouxe para o quarto dela?!?).
“Ué? Não era você quem vivia dizendo que queria estar um pouco com ela?” – nem tive tempo de me enfurecer com aquela Negra ao ouvir uma balburdia vinda de fora que não estava pra perturbar só a mim.Nevra 2
Eu verifiquei todos os quartos de todos os andares dessa torre, só falta o quarto da Cris. Já estou sabendo que o dia dela foi ruim hoje, então é melhor eu ser mais cauteloso com ela.
Bati-lhe a porta. – Cris? Você está aí? – perguntei da forma mais gentil que podia.
– O que quer, Nevra? – pelo seu tom de voz, ela ainda estava bastante nervosa.
– Desculpe perguntar, mas algum estranho entrou no seu quarto?
– Acabei de sair do banho, não estou apresentável, e acha mesmo que se alguém tivesse entrado aqui, eu estaria tão calma assim?! – se nesse tom ela está calma, não quero estar perto quando ela estiver nervosa.
– Posso entrar?
– Ficou louco?!? Cai fora daqui!! – gritou ela, jogando alguma coisa contra a porta.
– Tá, tudo bem! Esqueça o que falei! Mas poderia ajudar a procurar por um fugitivo perigoso depois?
– Ok, eu ajudo. MAS SE MANDA! – me afastei com calma.
Pretendia recomeçar as minhas buscas (será que deixei passar alguma coisa?), porém tive um forte pressentimento que me dizia para retornar ao quarto da Cris. Forte o bastante para fazer me arriscar a conhecer sua verdadeira fúria.Cris
Minha Nossa Senhora... o que foi que eu fiz para merecer tanto azar de uma vez? Não! Eu já sei. Lei do retorno! Depois de tantas experiências maravilhosamente incríveis durante a viagem à Memória, eu já esperava algumas experiências ruins para compensar... Mas tudo de uma vez só? Não podia ser aos poucos não?
A forma com que aquele homem, que me lembrava um pouco o Valkyon, me olhava me constrangia. Não pude evitar de tentar cobrir ao menos meu busto enquanto lhe segurava os pulsos (é óbvio que não tenho força física suficiente para enfrentá-lo, mas o meu pescoço já teve traumas demais em vida).
– Façamos o seguinte... – ele começou a falar – Eu irei tirar minha mão de sua boca e você ficará bem quietinha. Ou do contrário, seu lindo pescocinho vai experimentar a força da minha outra mão, tudo bem? – minha respiração estava acelerada e eu assenti com a cabeça em concordância (não pretendo morrer tão cedo...).
Ele afastou devagar a mão de cima da minha boca e passei a segurar o pulso em meu pescoço com as duas mãos – O que quer de mim. – questionei o mais calma e fria que podia ficar naquela situação (lágrimas queriam me escorrer pelo rosto, mas fiz o possível para segurá-las e continuava com a respiração intensa).
– Muito bem. – sua voz era tranquila, mas seu sorriso era pior que o de Nevra – Como pode perceber preciso me esconder por um tempinho. Ao menos até me recuperar... só um pouquinho.
Eu sabia que tinha uma pequena adaga escondida entre as roupas sujas perto de meu pé, por isso aproveitei que ele olhava fixo pro meu rosto para tentar pegá-la sem que ele percebesse (não sou capaz de enfrentá-lo, mas espero ser capaz de fugir). Meu pé estava quase com a adaga entre os dedos quando chamaram na porta.
– Cris! – não acredito – Sei que você me mandou ir embora... – droga Nevra! O que é que você está fazendo aqui? – ...Mas está tudo bem com você?
– Não. – respondi com aquele homem começando a querer me apertar a garganta – E se você entrar aqui, estarei ainda pior! – (por favor, vai embora!) aquele homem me observava curioso.
Não ouvi nada por uns segundos (por favor meu Deus, que ele tenha finalmente ido embora...), mas começaram a mexer na maçaneta e a porta abria com cautela (mas eu não a tranquei?!? Ela foi arrombada?!? Foi assim que aquele homem entrou aqui?!?).
– Cris? – Nevra estava pra entrar. Além de não querer ser vista seminua por mais gente (principalmente por Nevra) e de ter a certeza que seria feita de refém se ele acaba-se entrando, acabei não pensando duas vezes. Mais rápida do que jamais pensei ser capaz, peguei a adaga com o pé levando-a à mão e a atirei contra a porta, quase acertando o nariz de quem tentasse entrar, fazendo a porta fechar-se bruscamente. – T-tudo bem! Tudo bem! – (droga Nevra!) – N-não vou mais incomodá-la!
A mesma surpresa clara na voz de Nevra, parecia igualmente presente no olhar daquele homem que ainda me segurava o pescoço (céus!! Que o Nevra não tenha estragado tudo!). Ao mesmo tempo em que era claro o afastar do Nevra de meu quarto, aquele homem, antes concentrado na porta, substituiu a surpresa do rosto por um sorriso malicioso em minha direção. Acabei me esquecendo da raiva de Nevra...
O homem começou a dizer alguma coisa em uma língua diferente. Não tive de esperar muito pra saber o que ele havia feito, o som de algo craquelando vinda da porta forneceu-me a resposta da pergunta. Gelo parecia formar-se pelas frestas, selando a porta. E não só a porta! O armário, a janela e até as gavetas da penteadeira foram seladas também (nem o baú escapou de ser selado!).
Senti meu pescoço ser libertado – Espero que não se importe de me prevenir de visitas ou surpresas indesejadas. – ele se afastou devagar (ele é um dragão?!?) e de costas foi até a porta. Pegou a adaga da parede (mais precisamente sobre o interruptor, que acabou por apagar a luz do quarto quando atingido) examinando lhe a lâmina – Acredito que não precisará disso por hora. – ele se aproximava outra vez – Importa-se se eu tomar um banho? Afinal, não estou com uma aparência digna para se estar no quarto de uma bela mulher...
Senti o calor me subir. Neguei com a cabeça para disser que não me importava, e ele sumiu para dentro do banheiro com a adaga em mãos. Minhas pernas cederam; sentia minha pressão caindo e engatinhei, quase me arrastando, até a penteadeira onde havia um pequeno pote com sal dentro. Pus uma pitada dele debaixo da língua antes que eu desmaiasse, e permaneci agachada no chão, encolhida entre a cama e a penteadeira. As lágrimas que antes continha, agora caíam feito cachoeiras (Mãe Celeste... o que é que vai acontecer comigo?!?).
A luz vinda da lua cheia pela janela era tudo o que iluminava o quarto na hora e vi Absol sair de dentro de uma sombra (então é assim que ele entra e sai de onde quiser...) e depois se aproximar de mim com uma expressão que misturava confusão e preocupação.
– Absol... – foi tudo o que consegui disser, abraçando-o forte até não sei que horas enquanto chorava. Acho que adormeci ali.Obs.
One piece, Dragon Ball e Detective Conan são animes lançados nos anos 90 (Dragon Ball foi em 86) e que continuam recebendo novos episódios até hoje, passando dos 1000 episódios. Seus gêneros são ação (+14), ação (+14) e mistério (+14). Acho bem difícil ninguém conhecer ao menos dois desses animês, onde cada um tem uns 20 filmes lançados e sabe-se lá quantos especiais, mas... pro caso de haver alguém aqui que não os conhece...
.。.:*♡ Cap.38 ♡*:.。.
Lance
Após um merecido banho, comecei a me livrar daquele excesso de cabelo usando a adaga da Cris enquanto recordava meus pequenos momentos com ela no quarto: a surpresa misturada com o medo e raiva em seus olhos quando lhe agarrei o pescoço, cobrindo-lhe a boca; o rubor de seu rosto enquanto analisava o seu corpo (como será que ela havia conseguido aquela cicatriz enorme no quadril?) focando em seus olhos o tempo todo depois; a forma curiosa como ela tentou se livrar do vampiro (nunca fiquei tão surpreso com uma mulher como fiquei hoje! Ela era uma sacola de truques); e sua expressão quando selei todas as saídas e esconderijos? Não posso negar que tudo foi de certa forma... divertido _sorriso_.
Durante aquilo tudo, a Negra apenas me pediu de forma bem clara para que eu não machucasse a Cris (o que já não pretendia fazer mesmo. Assustar talvez, mas não machucar). Destruí todo o cabelo que cortei ao invés de apenas jogar fora (se a Sombra ainda estava trabalhando direito, só aquele cabelo seria o suficiente para eles me encontrarem) e vesti aqueles maltrapilhos encardidos a contragosto (pela diferença de tamanho, duvido que exista entre as roupas dela uma que me sirva, eu não ia ficar nu diante de uma mulher), ao acabar, fui-me encontrar novamente com ela.
Deixado o banheiro, as luzes ainda estavam apagadas (ela realmente estava mirando quando lançou aquela adaga?) e não a encontrei de imediato no quarto. Dirigia-me até o centro dele para procurá-la melhor já que não lhe deixei qualquer escapatória, e um imenso black-dog começou a rosnar vindo em minha direção (aquele era o famoso Absol? Como ele entrou?), se tivéssemos uma batalha longa ali, com toda a certeza denunciaria onde eu estava. Preparei-me para dar um fim rápido à ele se me atacasse.
“Absol, não!” – a Negra apareceu (e ele a obedecia? Por quê?) – “Precisamos que ele fique aqui. Pelo menos por um tempo.” – ele parou de rosnar, mas sem perder o olhar de desconfiança, e parecia até dizer alguma coisa para a Negra – “Eu sei que você não confia nem um pouco nele, já que ele tentou destruir Eldarya uma vez...” – espera, eles realmente estão conversando? (ele é capaz de entendê-la?) – “Todos os mascotes são capazes de ver a mim e a minha irmã. E principalmente, nos compreendermos.” – agora ela voltava a falar comigo... – “Agora Absol... tente não denunciar o Lance, por favorzinho, sim?”
O tal do Absol ainda parecia contra a minha estadia e o vi ir até um canto do quarto onde encontrei a Cris, encolhida, adormecida e com o rosto úmido. Uma versão muito mais frágil da que encarei momentos atrás.
“Ela teve um dia bem difícil hoje... Porque não a deita direito na cama?”
– Eu?!?
“E tem outro alguém capaz disso aqui?” – ela apoiava as mãos na cintura – “Absol não pode fazê-lo sem machucá-la e eu não tenho poder ainda para me materializar... Acaso tem medo de mulheres para não querer fazê-lo?”
Isso me irritou. Não tenho medo de mulheres, só não quero ser mal interpretado! Faltar-lhes sem querer com o respeito e ser julgado como depravado.
“Anda logo, põe ela na cama! Isso pode amenizar o que ela deve estar pensando de você agora...” – (não gosto de suas ordens. Porque é que tenho que ficar nesse quarto?) – “Sua maana está fraca, não é verdade? Se ficar perto da Cris enquanto ela erradia a maana dela, vai poder recuperar muito mais do que conseguiu acumular com a ajuda de Anya! E em bem menos tempo também. Anya não explicou as descobertas sobre ela não?” – claro que já estava sabendo sobre o poder da Cris.
Acabei por ceder e me aproximei dela. Afastei as cobertas da cama para deitá-la direito e tomei o máximo de cuidado possível para não tocá-la em partes inapropriadas (ainda mais considerando as poucas “vestes” que ela tinha no momento) para depois cobri-la. Enquanto a ajeitava, encontrei dois livros debaixo de seus travesseiros.
“Já encontrando os tesouros dela?” – (tesouros? Estes livros velhos?) – “Na Terra tem um ditado que diz: “Nunca julgue um livro pela capa”. Considerando o que realmente tem em mãos, sugiro que o siga...” – ainda estava incrédulo – “Ah e, te aconselho a não deixá-la pegá-lo com eles na mão!” – agora eu fiquei curioso.Anya
Mais uma vez, madruguei. Espero que o dia de hoje seja bem melhor do que ontem... Tomei meu café como sempre e corri pro QG. A movimentação me pareceu estranha.
– O que foi que aconteceu Chefinho? – perguntei me aproximando dele (ele passou a noite em claro?).
– Lance fugiu. – (ele o quê?!?!) – Tudo o que conseguimos encontrar foi essa faca danificada dentro de sua cela... – ele me mostrava minha faca – ...Ela é sua não é? – eu estava em choque – Fiz-lhe uma pergunta, é sua essa faca?
– Talvez. – era quase impossível mentir para o Nevra sem ele perceber (ainda bem que já estava aprendendo alguns truques da Cris desde a caverna...) – Ontem me dei falta de algumas coisas minhas... – (não pude encontrar minha coleção de cristais que ia mostrar para a Cris hoje) – Não sei dizer com certeza porque ela foi encontrada lá... – (o Lance podia muito bem a ter levado consigo, né?).
– Ele não deve estar muito longe. – falava um dos guardas da prisão – Nós o alimentávamos minimamente para que não tivesse forças pra fugir... – (ops!) – ...e segundo Valkyon, ele ainda está no QG.
– Alguém sabe da Cris? – ouvi alguém, não sei quem perguntar, e eu me toquei: será que ele deu um jeito de conseguir ficar perto da Cris??? Pus-me a correr.
– Pra onde está indo verdheleon?! – me gritou o Becola.
– Pra junto da Cris saber se ela está bem! – respondi aproveitando que ele estava “amarrado” e por isso não podia me seguir de imediato.
Corri o máximo que conseguia, para conseguir o maior tempo possível para averiguar minha hipótese (espero estar enganada. E se estiver certa... santo Oráculo, que a Cris esteja bem). Bati na porta.
– Cris, você está aí? – sem resposta, bati de novo – Sou eu! Anya! Abra por favor! – ainda sem resposta (estou preocupada). Bati uma última vez – Cris? – estava prestes a pedir por socorro quando a porta abriu.
Entrei devagar, sem fechar a porta – Cris? Está tudo bem com você? – notei que ela ainda estava na cama e Absol estava ao lado dela (quem foi que abriu a porta?), tomei um enorme susto ao ouvir a porta sendo fechada. Virei-me na direção da saída e lá estava ele, senti raiva (de mim mesma).
– Lance.Lance 2
Não acreditei no conteúdo daqueles livros, eram grimórios. Um dragônico e um aengel. Verdadeiros tesouros lendários.
“Agora entendeu o valor desses livros...” – a Negra se achava – “Ela notou seu valor na hora! E olha que ela nem consegue lê-los.”
Eu no lugar dela, também os esconderia (em um cofre com proteções mágicas). E eram grimórios de uso quase exclusivo dela (o dragônico era em especial para dragões com a bênção das aguas, como ela. Como será que ela conseguiu estes livros?).
“Foi Absol quem os encontrou para ela.” – o black-dog?! – “Assim como quase todos os tesouros mais preciosos que há nesse quarto! Não escolhi Absol como guardião dela à toa, sabia.”
– Como assim, escolheu? O que exatamente você e a Branca planejam para ela?
“No momento você já sabe muito mais do que deveria. Quando a hora certa chegar, tudo vai ficar às claras.”
Acabamos por encerrar o assunto naquele ponto. Aproveitei que ela dormia para remover o gelo que nos mantinha presos no quarto e tranquei a porta com a verdadeira chave dessa vez. Absol ficou me observando de cima da cama durante todo o tempo, protegendo aquela mulher. Passei a noite em claro lendo o grimório dragônico em uma poltrona de pele felpuda clara, averiguando pela janela vez ou outra, o que acontecia lá fora (realmente teria de ficar naquele quarto por um tempo, gostando ou não).
O dia já começava a amanhecer, devolvi os livros para o lugar em que os encontrei antes que a Cris acordasse (se eu ia ficar, tinha que convencê-la a me aceitar hoje, e para isso, precisava conquistar cada gota de confiança que pudesse dela). Estava em dúvida se a acordava ou a deixava acordar sozinha, quando bateram na porta.
– Cris, você está aí? – maldição. Isso é hora de aparecer alguém?
“Não vai abrir a porta? Você conhece muito bem quem está do outro lado.” – (não me lembro de lhe ter perguntado nada...)
– Sou eu! Anya! Abra por favor! – Anya?
“Vai precisar de mais aliados... Só Absol não será o suficiente para ajudar a Cris a mantê-lo escondido aqui. Faça Anya lhe ajudar também!”
– Cris? – estava claro que Anya ia acabar chamando alguém se não a deixa-se entrar. Acabei por abrir para Anya.
Usei meu poder ilusório para me esconder no início (não sei se está acompanhada ou não) e a vi entrar com cuidado, sozinha e deixando a porta aberta. Esperei que ela penetrasse o quarto mais um pouco antes de trancar a porta por trás dela.
Com o som da porta trancada, ela se virou com tudo para me ver – Lance. – era óbvio que havia raiva na voz dela.
– Bom dia Anya. – eu lhe sorria e ela me olhava de cima abaixo com expressão fria.
– Seu rosto está mesmo melhor, se comparado a antes... e minha faca parece ter lhe ajudado mais do que deveria.
– Eu mantive minha palavra. Aquela faca não provou do sangue de ninguém, e apenas porque a abandonei. Queria também dar um jeito nessas roupas, mas... não é algo possível no momento.
– O que planeja? Porque é que está se escondendo no quarto da Cris? Ou melhor, como descobriu qual era o quarto dela? – ela não baixava sua guarda durante seu interrogatório, o que por algum motivo, me deixou satisfeito.
“Sugiro que não fale de mim à Anya. E nem à Cris também! Ao menos por enquanto...”
– Estou esperando. Dessa vez você não pode deixar de responder minhas perguntas. – cobrou-me Anya.
Esfregava o queixo, sem tirar meus olhos dela e de Absol que me vigiava com bem mais intensidade agora, pensando em uma resposta satisfatória que me beneficiasse.
“É só você dizer a verdade. Quero disser... Parte dela!” – (e estaria ocultando apenas você, eu imagino...) a Negra me assentiu. Do jeito que Anya era esperta, só com a verdade para conseguir o que desejo.
– Minha maana está bem fraca para que eu seja capaz de me virar sozinho lá fora... – Anya me erguia uma das sobrancelhas – ...e fiquei sabendo que estar perto da Cris me ajudaria. Quanto a como eu ter chegado a este quarto... eu apenas segui até o último nos corredores e não tinha ideia que ele pertencia à Cris até vê-la saindo do banho.
– Você não a machucou por acaso, machucou?
– Bom... – comecei a andar um pouco pelo quarto com Anya me seguindo com o olhar – Tivemos uma conversinha um pouco... intensa, eu diria, mas ela está totalmente bem. E Absol ainda ficou me vigiando a noite inteira. – essa foi a primeira vez que Anya se desviou de mim para olhar Absol, que lhe confirmou o que eu dizia com um assentir de cabeça.
– E como que planeja permanecer aqui? Não senti que isso ficou acertado na sua explicação.
– Porque não tivemos tempo.
– Que quer dizer?
– O porcaria do seu chefe nos impediu de conversarmos propriamente tido. Ele quase invadiu o quarto com ela seminua. – pela primeira vez Anya mostrava alguma outra expressão, espanto – Ela conseguiu se livrar do vampiro antes que ele o conseguisse e, como ela parecia bastante nervosa, pedi seu consentimento para que eu pudesse tomar um banho e recebi. Quando acabei, ela já estava dormindo.
– Ela devia estar muito cansada... – dizia ela em meio a um suspiro – Como pretende convencê-la a lhe permitir aqui? E mais importante, porque é que eu deveria permitir isso?? – alarguei meu sorriso com as perguntas dela.
“Acaso vai chantageá-la?” – (e há outra maneira?) – “Cuidado na escolha de palavras! Cris tem lhe ensinado muitos truques sobre isso.” – (me pergunto o quão seguro é, até para elas, confiar em você...) – “Sou cem vezes mais confiável do que você.”
– E então Lance, o que me responde? – vê-la impaciente me agrada, não sei por quê.
– Planejo fazer algum tipo de acordo com ela.
– Um acordo...! Como? Manipulando-a!?
– Bom... Isso vou ter de ver com ela, quando acordar. – apontei para a Cris atrás dela (ela dorme como uma pedra!) – E se eu tiver sucesso nisso, sei que ela precisará de ajuda. Ajuda que eu só vou aceitar se for vinda de você! Afinal, se eu estou aqui, parte é graças a você.
Vi Anya mudar de cor várias vezes. Branca, azul, vermelha, verde... Tudo enquanto andava de um lado para o outro, procurando um meio de resolver aquela situação. – O que pretende fazer quando estiver totalmente recuperado? – perguntou ela quando finalmente parou.
– Não posso lhe dizer com certeza. Isto vai depender do meu tempo aqui.
– Me deixe sair.
– Para?
– Vou verificar tudo o que a guarda já conseguiu descobrir de você. Se, e apenas se, você conseguir um acordo com a Cris, eu irei ajudar... À ELA! E ai de você se machucá-la! Porque se o fizer, posso até ser expulsa de Eel que não me importo, EU VOU te entregar. Fui clara?
Não respondi nada. Apenas me mantive sorrindo tranquilamente e abri a porta para ela, gesticulando para que saísse. Apesar de Anya ser uma elfa, seu andar até a saída parecia ser a de uma ogra (me segurei para não rir). Desisti de acordar a Cris depois de trancar a porta, peguei um dos livros da estante dela e sentei na poltrona em que havia usado para ler o grimório antes, fiquei lendo até ela acordar (o estado dela ontem devia ser muito pior do que imaginei, ou do contrário já teria acordado várias vezes).Cris
Dormi uma noite tranquila. Sem sonhos, interrupções, ou qualquer outra coisa que fosse. Ao contrário de ontem, hoje eu acordei super bem.
Absol me deixou acordar por conta dessa vez (obrigada meu Jesus...!) e como ele estava ao lado, acabei o abraçando. Eu estava me sentindo ótima... Até as minhas últimas memórias de ontem retornarem... (eu não estava no chão quando adormeci? Como foi que cheguei na cama?).Lance 3
Finalmente ela resolveu acordar!
“Não fale com ela ainda!” – (como!?) – “Ela precisava muito de todo aquele descanso. Espere ela se lembrar de ontem a noite primeiro. E POR-FA-VOR! Seja gentil...” – (se há alguém aqui que está devendo na gentileza é você!). – “Sei. Assim como você foi, ao segurar o pescoço dela ontem.”
Essa Negra ainda vai me fazer perder a paciência... fechei o livro que lia em silêncio e fiquei a observando acordar. Falei com ela apenas depois que ela começou a levantar-se sem sair da cama.
– Bom dia, bela dama.Cris 2
Não fazia sentido e... comecei a me lembrar de que eu não deveria estar sozinha... não por causa de Absol ao meu lado (já que ele sempre prefere dormir na cama dele), mas por causa do homem que entrou em meu quarto ontem (ele ainda está aqui ou será que já se foi?). Sinto que eu só estou bem agora por causa de Absol (e eu ainda estava só de calcinha e sutiã!? Naquele frio que está só aumentando a cada dia mais!? Oh, meu Jesus amado, o que foi que me aconteceu ontem?).
Comecei a me levantar sem sair propriamente da cama. – Bom dia, bela dama. – ouvi um homem dizer, o que me fez congelar. Virei para a origem da voz me cobrindo outra vez e me sentando o mais perto possível da cabeceira de minha cama tão rápido quanto agi com aquela adaga ontem à noite.
– O que você quer... – questionei ao homem sentado em minha poltrona com um livro fechado entre as mãos e sorrindo. De cara não parecia ser o mesmo homem que me atacou ontem, mas pelas roupas e pelas asas translúcidas atrás dele, é definitivamente ele.
– Se eu quisesse machucá-la, já o teria feito. – ele levantou-se – Relaxa! Vamos conversar... – ele guardou o livro e sentou-se em uma das cadeiras à mesa, Absol o observava – Melhor... eu aguardar que se vista primeiro? – corei. Realmente acho que me sentiria um pouquiiinho melhor se tivesse mais pano sobre o meu corpo.
Ele virou a cadeira para ficar de costas para mim com um enorme sorriso de uma malícia que não sei se preferiria os sorrisos conquistadores do Nevra nessa hora, e Absol ficou a sua frente vigiando-lhe os movimentos. Conferindo de tempos em tempos, corri para vestir uma calça e uma blusa, além de um agasalho (está friozinho...). Absol se aproximou quando eu terminei, fazendo o homem se virar para mim novamente.
– Por favor... – ele me apresentava a outra cadeira para que eu me sentasse (ainda tenho receio de chegar perto dele) e acabei sentando o mais distante possível dele na mesa. Absol se pôs do meu lado. – Meu nome é Lance. Fico feliz de poder finalmente te conhecer e... quanto à ontem... desculpe-me os modos.
Seu nome me parece familiar... – Como entrou em meu quarto ontem? E pra quê? Alguém te falou algo em especial sobre mim? – ele não parava com aquele sorriso arrepiante.
– Digamos que temos uma amiguinha em comum, que me contou tudo o que sabia e podia sobre você. E por sinal ela já esteve aqui.
(Amiguinha? Será que... não pode ser.) – Acaso você... é o “amigo secreto” de Anya?
– Interessante... o que ela lhe falou sobre mim?
– Que pode ser bastante perigoso, considerando a forma como era mantido preso e... – comecei a observá-lo de cima abaixo (acho... que acabei de lembrar de onde ouvi o nome “Lance”...) – Você... não é o mesmo Lance que criou a Guerra do Cristal, é? – tudo o que ele fez foi apoiar-se no braço direito sobre a mesa me olhando satisfeito com aquele sorriso sinistro. Se a intenção dele era me assustar, estava conseguindo. Fechei os olhos e respirei beeeem fundo, antes de voltar a perguntar – Já não sei mais quantas vezes lhe perguntei e você ainda não me respondeu. Por favor, me diga, o que quer de mim?
– Gostaria que me deixasse ficar escondido aqui por um tempo. – quê?!?!? Me diz isso com a maior cara de pau que já vi na vida?!?!
Comecei a tremer de nervoso. Medo, raiva, confusão, tudo e mais um pouco estava querendo se juntar dentro de mim naquele momento. Juntei as mãos ao rosto, (todos os anjos e santos da Terra e de Eldarya, me ajudem a pensar!!) e fiquei respirando fundo para tentar me acalmar – E pra quê exatamente, você: um dos seres mais perigosos que Eldarya já viu; deseja ficar aqui? O que espera conseguir comigo de verdade?
– Antes de mais nada, porque não tenta se acalmar um pouco? Está tremendo a mesa!
– Ajudaria se você tirasse esse sorriso arrepiante do rosto. – raiva está começando a ser o sentimento principal em mim agora.
– Certo. – ele finalmente passou a ficar sério – Estou fraco, quase sem maana. Fiquei sabendo, não por Anya! – (menos mal) – Que se eu me mantivesse perto de você por tempo suficiente, poderia reaver toda a maana que perdi naquela guerra. Por isso, uma certeza você pode ter: enquanto eu precisar de você, não farei e nem permitirei que aconteça nenhum mal à você.
– E se eu recusar?
– Bom, se você recusar... não vai poder reclamar se começar a aparecer corpos pelo QG... – (como consegue dizer isso tão levianamente assim?!) – Nem MORTO que retorno para aquela prisão. – terminou ele com uma seriedade assustadora.
O medo começou a querer me dominar outra vez. Ele não estava me deixando muita escolha! Ou estava... – Está me dizendo que quer trocar a prisão por uma “gaiola dourada”? Sendo ela o meu quarto?
– Gaiola dourada?
– É um termo usado para: prisão de luxo. Uma prisão confortável que não parece ser uma prisão propriamente tida. – ele pareceu refletir minhas palavras.
– Acho que isso significa que você me permitirá ficar, contanto que eu lhe garanta que não irei deixar este quarto, não é isso?
– Ao menos sem supervisão minha ou de Absol, não. – ele refletia mais um pouco.
– Tudo bem. É justo.
– Tem mais alguns detalhes, se não se importa... – (alguma vantagem vou ter que ganhar aqui!) ele fez gesto pra que eu prosseguisse – Se vou mesmo te deixar ficar aqui, vamos ter de estabelecer algumas regras...
– Diga-as. – ele se mostrava tranquilo e eu respirei fundo mais uma vez.
– Primeira:... – erguia um dos dedos – ...para me ajudar a escondê-lo, tenho que seguir minhas rotinas como se você não estivesse aqui, ou seja, além de não sair deste quarto, não poderá fornecer qualquer sinal de que está aqui.
– Isso é um pouco óbvio. Segunda?
– Segunda:... – erguia mais um dedo – ...alimentação; você vai ter que se contentar em receber apenas metade de minhas porções. Não vou e nem irei admitir o roubo de comida ou qualquer outra coisa que seja! – ele não pareceu gostar muito...
– É um pouco desagradável, mas compreensível. Mais alguma?
– Sim, terceira:... – ergui outro dedo, agora é que vem o mais importante – ...higiene; já tenho preguiça de cuidar da minha própria sujeira... – que por sinal, sou beeeem preguiçosa para limpeza – ...e agora vou ter de cuidar da sua também? Não. Você vai ter de ajudar com a faxina e limpeza daqui dentro. – agora sim que ele não gostou.
– Está tentando me fazer seu escravo?!
– Escravo não, colaborador! Qual o problema em ajudar na manutenção do seu próprio esconderijo? – ele realmente não gostou da ideia de ter que trabalhar – Eu também não sou escrava, sabia?
– Acabou ou tem mais alguma? – ele estava mesmo irritado, e é agora que vou tentar garantir minha segurança.
– Acho... que só mais uma...
– Que seria? – ele me erguia uma sobrancelha.
– Quarta regra de convivência; você terá que manter sempre a distância de pelo menos dois passos entre nós. – eu não sei se essa regra o deixou interessado ou apenas mais calmo – Uma proximidade sua de mim maior que isso, só mediante consentimento meu ou de Absol. E o mesmo vale para as minhas coisas! Quero que, por favor, peça permissão antes de pegar qualquer coisa minha. – sinto-me mais calma agora, mas não aliviada ainda – Aceita todas essas regras?
.。.:*♡ Cap.39 ♡*:.。.
Anya
Maldito miserável, como que aquele crápula do Lance se atreve a me enganar daquele jeito? Ainda tenho muito que aprender sobre as palavras. A cada dia que passa, eu acredito mais no que a Cris me ensinou na caverna: “as palavras conseguem ser mais poderosas do que qualquer arma que você possa imaginar, desde que as certas sejam ditas na hora e no lugar correto.” E também: “só a verdade é mais poderosa que a verdade. Por isso, sempre que precisar esconder alguma coisa, use meias verdades para ocultar a verdade inteira, assim ninguém poderá te chamar de falsa ou mentirosa!”
As lições da Cris sobre este assunto, me foram extremamente úteis em todos os momentos. Nevra sempre foi capaz de descobrir se alguém lhe mentia ou não (só queria saber como...), mas graças à essas lições, eu não precisava mais me preocupar com ele _sorriso_. E falando nele...
– E então Anya, está tudo bem com a Cris? – nos encontramos bem na entrada dos corredores.
– Talvez. Ela ainda estava dormindo quando cheguei em seu quarto. O que descobriram sobre o Lance? – preciso dessas respostas.
– Por enquanto, só que ele ainda está no QG. Como é que ela está se sentindo hoje? – espero que ao menos parte do que Lance me disse seja mentira...
– Eu não sei. Quando a deixei ela ainda estava dormindo.
– Ainda estava? – (pra que a incredulidade?) – Não foi ela que lhe abriu a porta?
– Absol está com ela. – (...e Lance também).
– Quer mesmo que eu acredite que um black-dog é capaz de abrir portas?! – ele não precisa de portas... descobri isso no barco.
– Acredite no que quiser! Agora se me der licença... – ainda não sou boa o suficiente pra conseguir enganá-lo por muito tempo.
– Porque a sua primeira preocupação ao saber que Lance fugiu foi a Cris? – ele me segurou o pulso (está me irritando becola...!)
– Você está de brincadeira, né? – ele ainda não percebeu (como pode?!) – Não foi uma e sim duas vezes em que a Cris esteve na prisão... usando o poder dela! – pela cara de espanto, acho que ele acordou – E é por isso. Ele viu do que ela é capaz, e qualquer um com desejo de poder será o pior dos idiotas, se não acabar correndo atrás do poder dela. Ainda acha que estou errada em me preocupar com a Cris?Nevra
Fiquei enrolado por uns 20 minutos depois que Anya correu para ver a Cris. Sempre confiei em minha audição para analisar os batimentos cardíacos de quem interrogo, mas quando questionei Anya sobre aquela faca... não pude perceber mentiras nela, mas era claro que escondia alguma coisa. Encontrei-me com ela entre o corredor e a Sala das Portas, e outra vez não encontrei mentiras no que ela me falava.
Ela estava nervosa, falava a verdade e eu sabia que ela ainda me escondia as coisas. Não acredito no quão cego eu pude ser quando lhe questionei do porque de ela estar tão preocupada com a Cris quando a impedi de ir embora para arrancar minhas respostas.
– Ô becola... – chamou-me ela instantes depois de se soltar de mim – Você...
– Eu o quê? – vi que ela tomava coragem (qual era o motivo do medo em falar?).
– Você não tentou invadir o quarto da Cris, tentou? – (como ela descobriu?).
– Acho que isso me seria um pouco arriscado, não? – tentei disfarçar.
– No dia em que o fizer, acho que ela vai querer matá-lo. – disse Anya correndo para fora (ela quase o fez).
Aquela sensação que me fez quase perder o outro olho, ainda me invadia até agora. E depois dos motivos de Anya, ela parecia muito mais forte (espero que ela já esteja acordada, depois de ontem, nunca mais que a provoco estando irritada!). Atravessei os corredores até o seu quarto prestando o máximo de atenção em cada ruído que ouvia, Anya podia estar certa, Lance poderia estar sim se escondendo em um dos quartos.
Acabei por gastar quase uma hora pra chegar de frente ao quarto dela (e ainda não sei se quero bater-lhe a porta).
– Por favor... – comecei a ouvir antes de bater na porta (conheço essa voz...) e resolvi continuar em silêncio – Meu nome é Lance. – Lance!?!?! – Fico feliz de poder finalmente te conhecer e... quanto à ontem... desculpe-me os modos.
Não estava conseguindo acreditar, Lance realmente estava com a Cris (e desde ontem!? Será que foi ele e não ela quem me lançou aquela faca?), pensei em entrar na hora, mas...
– Acaso você é o “amigo secreto” de Anya? – ouvia a Cris perguntar (Anya está envolvida?!?) resolvi continuar ouvindo mais um pouco.
Santo Oráculo, não estava digerindo as informações que a Cris estava conseguindo obter (quem é que está ajudando ele?) e quando ele revelou suas intenções...
“Deixem-na viver como ela precisa viver.”
Eu não sei se me lembrei dessas palavras ou se eu realmente as ouvi novamente atrás de mim, só sei que foram elas que me impediram de invadir o quarto naquele momento (isso significa que é ela quem deve decidir como vão ser as coisas?). Resolvi então continuar ouvindo.
Canalha, como pode fazer uma chantagem daquelas? (será que Anya também está sendo chantageada? Por isso que estava nervosa?) Respirei fundo para poder continuar ouvindo e eu ficava cada vez mais angustiado de acordo escutava as regras que a Cris exigia que fossem cumpridas. Ela estava se sacrificando demais por todos nós, mas ao menos ela procurou obter alguma vantagem naquela situação toda. Será que o Lance vai aceitar as regras dela?Lance
Eu sabia por Anya, que a Cris era esperta, e seu coração mole ficou-me bem claro quando a vi agindo na prisão, mas aquelas regras dela... Não vou negar que todas não só fazem muito sentido, como também seria ilógico não obedecê-las, porém não via nenhuma vantagem para mim.
“Qual o problema?” – a Negra não parava de falar atrás de mim – “Aceite logo as regras dela!”
Durante a conversa toda, a Negra ficava me repassando os sentimentos que a Cris tinha, meio que para me guiar naquele acordo. As reações da Cris (especialmente as de medo) me agradavam muito. Esperava que isso me facilitasse nas negociações, mas parece que ela é mais corajosa do que eu esperava.
“Anda logo... está deixando a Cris ansiosa! Aceite as regras dela, você pode confiar.”
– Não confio em você. – disse para a Negra em voz alta sem querer.
– E quem disse que eu lhe confio? – a Cris me respondia (ótimo! Tudo o que eu precisava), me mantive impassível.
“Se não quiser ser tachado de louco, é melhor não falar comigo enquanto estiver acompanhado. A não ser mentalmente.” – me levantei e fui pra perto da janela (porque não quer que ela saiba de você?) – “Primeiro, porque se ouvir de você, ela não vai acreditar; e segundo... _suspiro_ porque ela ainda não está preparada.” – a Negra esclareceu e a Cris ainda esperava minha resposta.
– Quero acrescentar mais uma condição. – de jeito nenhum vou ficar sem vantagens.
“Fala sééério!!”
– E qual é. – o olhar da Cris era bem sério, diferente da Negra.
– Sei que Absol não é suficiente para ajudá-la comigo aqui, então Anya é a única pessoa que pode saber onde estou.
– Agora sou eu que digo que isso já era um pouco óbvio. – ela me sorria como se eu tivesse dito uma piada, mas só se eu tivesse terminado.
– E se por acaso, alguém que não sejam vocês duas ou um mascote descobrir onde é a minha “gaiola dourada”... – com o tom de voz que usava, o sorriso dela sumia enquanto o meu surgia – ...irei te arrastar comigo pra fora de Eel, matando cada faery que se colocar em meu caminho... – o medo dela me agrada muito – ...e, assim que eu não precisar mais de você... – sua respiração estava intensa – Eu me livro de você!
Vê-la engolir seco sumiu com o meu rancor de antes e o suor frio dela me deu a satisfação que tanto me deliciava. Teria aproveitado aquele momento por mais tempo se o meu estômago não resolvesse me lembrar que ele estava vazio. Acabei por perder o sorriso.
– A-acho que é melhor eu ir buscar o meu café da manhã... – eu a olhei de canto – Q-quero dizer, o nosso café da manhã.
– Como me garante que irá voltar? – questionei após ela se levantar e ficar de costas para mim, fazendo-a congelar no lugar.
– Não posso deixá-lo sozinho em meu quarto, mesmo com Absol lhe vigiando. – ela virou para me ver – E além do mais...
– Do mais o quê. – ela parecia procurar algo ao redor do quarto com o olhar.
– Nada. Prometo que irei cumprir minha parte do acordo se cumprir com a sua, o que quer dizer que você não pode deixar este lugar. Não ainda, pelo menos...
Tive a impressão de vê-la chorar nas últimas palavras que disse deixando o quarto logo em seguida. Prestei atenção ao som de seus passos até não os ouvir mais. Sumidos os passos, me virei para Negra que me olhava feio com os braços cruzados.
– Satisfeita agora?!
“Não exatamente...” – ouvi Absol falar alguma coisa com ela, onde ela assentia – “Concordo com Absol, você não precisava ameaçar a coitada daquele jeito. Ela é uma mulher de palavra!”
– Não estou nem aí para o que Absol pensa ou deixa de pensar, Negra. – porque é que estou tão irritado...?
“Olha, esfria a cabeça. Você conseguiu ficar aqui e sob condições mais que aceitáveis. Vê se tenta ser mais legal com ela!” – um riso me escapou e fui até a poltrona me sentar – “Ela já é meio lelé, e se você ficar a tratando sempre como agora, ela vai surtar!”
– Ela ser louca ou não, não é problema meu.
“Cuide dela.” – ela parecia implorar – “Não deixe e nem faça nada de mal à ela.”
– E porque eu deveria?
“Porque sua vida está ligada à dela.” – (como é que é??) – “Você mesmo irá descobrir... Na hora certa.” – ela sumiu. O que diabos ela quis dizer com isso?
Nevra 2
Filho de um black-dog miserável do inferno! (sinto muito, Absol) Como que aquele... Argh!! Tenho vontade de transformá-lo em saco de pancadas da minha guarda inteira depois dessa última ameaça. Agora sim que eu precisava dar um jeito de tirar a Cris daquela situação de forma segura.
Escondi-me nas sombras quando vi que a Cris ia sair. Não pude deixar de notar a lágrima que lhe fugia no rosto... (Que vontade de matá-lo!!) Depois de a ter perdido de vista, me aproximei da porta na intenção de acabar com aquele desgraçado.
– Satisfeita agora?! – (espera...) travei antes de tocar na maçaneta (com quem ele está falando?) – Não estou nem aí para o que Absol pensa ou deixa de pensar, Negra. – Negra? Quem é Negra? Não escuto ninguém além dele e de Absol.
Pude ouvir um riso lhe escapando e ele parecia ter se sentado – Ela ser louca ou não, não é problema meu. – ficar tanto tempo na prisão o afetou por acaso??
– E porque eu deveria? – deveria... o quê? Não posso mais simplesmente invadir e atacá-lo. Não até descobrir o que é que está acontecendo ali dentro.Cris
Preciso me acalmar. Me acalmar e tentar ser o mais natural possível (ainda bem que já sou meio maluca, isso pode me ajudar). Como ele pode me dizer aquelas coisas todas, e ainda por cima me deixar responsável pelas vidas de todos que estão no QG?! Ainda sinto o meu corpo tremer de nervoso por conta daquilo tudo (Meu Senhor, Mãe amada, meu querido Anjo da guarda, São Jorge, Santo Expedito e todos os outros santos guerreiros, por favor, GUARDAI-ME e DAI-ME FORÇAS!! Pois eu precisarei muito...) Ainda atravessava os corredores, secando as lágrimas, quando alguém me chamou.
– Cris!
– Leiftan? – secava as lágrimas insistentes – Precisa de algo?
– Sim e não. Está chorando? Por quê?
– Não é nada. – terminei de secar minhas lágrimas – O que quer me pedir? – de início ele me olhou desconfiado, mas depois começou a dizer o que queria.
– Finalmente descobri como você conseguiu chegar em Eldarya, graças as descobertas feitas em Memória.
– E como foi que eu consegui chegar aqui? – isso vai me ajudar a distrair um pouco.
– Uma “Passagem da Lua”.
Virei a cabeça de lado – Oi??
– Uma Passagem da Lua é uma espécie de portal desenvolvido pelos Lorialets, faerys que dominam o poder da luz e da agua, e apenas Lorialets ou outros usuários desses mesmos elementos são capazes de utilizá-lo.
– Minha herança aengel e minha bênção dragônica...
– Isso mesmo. Esse encantamento só pode ser utilizado durante um tipo certo de lua, a Lua de Sangue, que é a que fornece mais poder para o ritual.
– E imagino que uma Super Lua deve dar o impulso que falta para quem não é exatamente faery, não? – ele me assentiu.
– Um outro detalhe desse tipo de encantamento, é que se necessita de pelo menos duas pessoas: uma para abrir a passagem, e outra para orientar o caminho que deve ser feito.
– Acho que é aí que entram as “sementes”, acertei?
– Precisamente.
Ótimo, agora estava explicado como que eu havia chegado em Eldarya. E outra vez estava ligado a mim mesma _suspiro_ – Obrigada Leiftan, é bom eu ficar sabendo claramente isso. – eu lhe sorria e começava e retomar meu caminho.
– Espere! – me virei pra ele – Há mais uma coisa que preciso lhe dizer.
– E seria...
– Às 10hs haverá uma reunião na Sala do Cristal e a Miiko pediu para que você esteja presente.
– EU?!?!
– Vê se não se atrasa! – e disparou pelos corredores me deixando a ver navios (Jesus! Será que tem a ver com o Lance?).
Apertei o passo, ou do contrário não conseguiria nem comer e nem levar comida para aquele cara (se em estado normal ele já era perigoso, imagine de mau humor). Cheguei ao salão avistando Anya que conversava com o Karuto.
– Cris! – ela correu pra me abraçar – Você está bem? Soube de coisas... desagradáveis.
– Por exemplo...
– É verdade... – ela cochichava – ...que o Becola tentou lhe invadir o quarto ontem à noite? E que na hora você estava... é... seminua? – corei com a lembrança daquilo, passando a minha preocupação do Lance para o Nevra (como será que está a minha situação?) – E aí? – sua voz estava normal agora – O Becola realmente fez isso? – apenas lhe assenti com a cabeça como resposta (queria não ter me lembrado daquela cena...) e Anya pareceu se enfurecer – Ah... esse Becola me paga! Vou denunciá-lo à Miiko sem falta!!
– Então o vampiro realmente fez isso?! – ouvi Karuto questionando (pra quem mais ela contou?).
– Fez! – respondeu Anya sem diminuir uma só gota de raiva.
– Ah aquele vampiro mexeu com a pessoa errada... Ele terá uma bela surpresa quando vier para buscar suas porções...
– Por quanto tempo? – havia malícia no sorriso dela.
– Se depender de mim? A vida toda!
– Anya... Karuto... Não acho que será necessário...
– E porque não? – eles me perguntaram juntos. Expliquei-lhes como tudo aconteceu (ocultando o Lance, é claro) e eles acabaram por cair na gargalhada.
– Ainda assim... – Karuto secava uma lágrima de tanto rir – Ele ainda vai receber uma punição minha. Alguém precisa lhe ensinar limites.
– De qualquer forma Karuto, – ainda tinha de voltar para o quarto com o “meu” café – acho que ainda estou sofrendo um pouco dos efeitos do dia de ontem... Posso tomar meu desjejum em meu quarto?
– Está tentando evitar aquele sem vergonha hoje? – Karuto me olhava nos olhos (realmente não quero me encontrar com ele).
– Também... – respondi – É possível?
– Só um momento, menina.
– O Lance te machucou? – perguntou-me Anya cochichando enquanto Karuto me preparava o café.
– Não exatamente. Podemos conversar sobre isso em meu quarto? – cochichei de volta e ela assentiu.
– Aqui está Cris. – ele me entregava uma garrafinha quente e um embrulho – Caso queira passar o dia no quarto pra evitar se encontrar com aquele depravado, peça pra Anya me avisar. Assim, na hora do almoço, eu lhe envio uma marmita pra que não fique passando fome, além de um lanche mais tarde.
– Muito obrigada Karuto. – ele sabia como me fazer sorrir – Mas fui chamada pra participar de uma reunião hoje e... Acho que querendo ou não, vou acabar me encontrando com ele.
– Mais um motivo para ele não escapar de Karuto hoje. – com o brilho no olhar de Karuto, sinto até pena do Nevra – Agora vá! Antes que seu leite esfrie.
– Obrigada de novo Karuto.
Comecei a voltar para o meu quarto junto de Anya.
.。.:*♡ Cap.40 ♡*:.。.
Leiftan
Já consegui avisar à todos que precisava sobre a reunião, ou quase (onde Nevra se meteu?). A Cris não me parecia bem quando a encontrei, por isso lhe contei na hora sobre a Passagem da Lua, na tentativa de distrai-la um pouco, e funcionou _sorriso_. Será que...
Me pus em direção do quarto dela (ele não faria, faria?) e bingo, encontrei Nevra durante o percurso seguindo direção contraria à minha, com uma preocupação estampada na cara que nunca vi antes (o que foi que aquele vampiro fez?). – Nevra!
– Hum? – ele não é tão distraído assim, aconteceu alguma coisa.
– Estava te procurando.
– Para? – o que há com ele?
– Miiko convocou uma reunião de última hora, às 10hs na Sala do Cristal.
– Ok, estarei lá. Obrigado por avisar. – continuo não gostando disso.
– A Cris também foi chamada para participar... – falei, e isso pareceu chamar a atenção dele.
– Porque motivo ela foi chamada?
– Aconteceu alguma coisa entre você e ela? A Cris me pareceu bem aborrecida quando a encontrei antes de você... – pude notar fúria em seus olhos quando disse isso.
– Eu não me encontrei com ela hoje ainda. – mas parece que já a viu... – Ela estava muito mal quando falou com ela?
– O suficiente para me preocupar... Tem certeza que não aconteceu nada? Soube que ela teve um dia bem complicado ontem.
– E que pode ser bem pior hoje...
– Como?? – não tinha como reagir diferente com toda aquela preocupação e cansaço na voz dele (preciso descobrir o que acontece aqui).
– Olha Leiftan... Esquece isso por enquanto. E pode deixar que eu não vou me atrasar para essa reunião.
Ele foi embora. E não é qualquer coisa que o deixa daquele jeito, disso eu sei.Anya
Quando nos aproximávamos do quarto dela, a Cris resolveu me contar como realmente as coisas aconteceram quando o Becola tentou entrar no quarto dela (Lance seu...) e ao ficarmos de frente à porta, ela não parecia querer entrar.
– Estou com você. – disse segurando-lhe a mão.
– Obrigada Anya. – ela me sorria com os olhos marejados.
Nós duas respiramos fundo, e entramos.
– Estava começando a achar que não apareceria mais. – dizia Lance se erguendo da poltrona.
– Sinceramente preferiria não retornar, – dizia a Cris enquanto ajeitava a comida na mesa – mas como lhe disse antes, não posso deixá-lo sozinho em meu quarto por muito tempo. – não sabia dizer se a Cris estava sendo fria ou se ela estava irritada.
– Podem me dizer o que é que ficou exatamente decidido entre vocês? – perguntei.
– Mas é claro! – ele se aproximava – Afinal, nós dois iremos precisar de sua ajuda.
– Pode parar bem aí! – a Cris o ordenava, ficando o mais longe possível dele na mesa – Venha cá Anya. – ela me chamou e eu me sentei em seu colo (será que a convenço a comprar mais uma cadeira?).
– Aconteceu alguma coisa? – perguntei sem tirar os olhos de Lance que se pões a sorrir com a minha pergunta.
– Anya... – o tom da Cris não me agradava – Precisamos conversar.
Ela me explicou sobre tudo que havia acontecido naquele quarto na visão dela, e não pude deixar de sentir calafrios com tudo o que ela me dizia (apesar de ainda não compreender todo o nervosismo dela, será que tem a ver com o que minha mãe sempre me dizia? “uma mulher só pode estar sozinha com um homem se os dois forem casados!”). E pior, Lance não negava nada do que ela relatava.
– Você não precisa dar sempre metade de sua comida Cris, posso fornecer uma parte da minha também! Afinal, antes era eu quem lhe alimentava...
– Obrigada Anya. – a Cris chorava (culpa desse idiota!).
– É mesmo uma boa ideia. – ele está abusando... – Não queremos que ela fique doente por falta de alimentação.
– Isso se ela não o ficar por conta de estresse... – não pretendo poupar esse cretino – Agora é a sua vez de falar. – ele começou a me prestar atenção – O que foi que aconteceu aqui dentro que a Cris não viu?Cris
Tive vontade de tirar o agasalho por conta do calor que me invadiu o corpo depois de ouvir tudo o que Lance havia feito ontem à noite, após deixar o banho (sabia que não tinha adormecido na cama) e eu devia estar mais vermelha que um tomate (só espero que ele não esteja mentindo sobre se concentrar em meus olhos, ontem à noite), além de tremer e estar com a garganta pra lá de seca.
– Está tudo bem com você, Cris? – Anya me perguntava (até quando ele vai ficar com aquele sorriso na cara?).
– Sim! – (na verdade, não) respirei fundo pra me acalmar – Está tudo bem. – não conseguia olhá-lo sem desconfiança em meu olhar.
– Tá. – Anya retomava o assunto – Você colocou a Cris na cama e passou a noite lendo enquanto Absol o vigiava. – (qual livro será que ele estava lendo?) – O dia amanheceu e você ficou em dúvida se acordava a Cris ou não e foi quando eu apareci. – ele só assentia – Depois de eu sair, você optou por deixar a Cris dormir e quando ela acordou, tiveram a sua conversa e... “negociação”. – se é que dá pra chamar aquilo de negociação... – E quando a Cris deixou o quarto? O que ficou fazendo?
– Nada.
– Verdade?! – questionei duvidosa.
– Fiquei quietinho esperando por você. – ainda não confio – E também...
– E também o quê? – interrogava Anya.
– Meditava a maana que peguei de volta durante nossa conversa.
– Pera, como?? – do que ele estava falando? E ainda alargando o sorriso?
– Anya não lhe contou, não é mesmo? – neguei com a cabeça e Anya se encolhia em meu colo, e ele parecia cada vez mais satisfeito – Acredito que quando retornaram de Memória, você não esperava encontrar tantos contaminados lhe esperando, estou certo?
– Nem me lembre daquilo... – desabafei, mas onde ele estava querendo chegar?
– E se bem me lembro, houve um momento em que você estava prestes a desabar por conta de todo aquele esforço, não é mesmo?
– Como você sabe? – aonde ele quer chegar!
– Sabe... eu aproveitava a comida que Anya me trazia para reaver minha maana aos poucos, já que essa guarda só me alimentava o suficiente pra continuar vivo... – a dívida dele devia estar enorme para o temerem tanto – No entanto, eu a usei toda antes mesmo de poder deixar aquela cela. – ele ficou me encarando esperando que eu adivinhasse o resto, (acho) mas a conversa de hoje cedo deve ter cansado o meu psicológico, pois ainda estou boiando... – Parece que você usou todos os seus neurônios hoje cedo... – disse ele enfim, recostando-se na cadeira com ar decepcionado.
– Talvez eu lhe concorde. – e isso porque ainda tenho uma reunião daqui a pouco pra participar... comecei a massagear a testa – Por favor... diga de uma vez. Já estou cansada de jogos por hoje.
Ele suspirou – É uma pena. Estava me divertindo tanto...
– Por favor... – quase implorei.
– Tudo bem. – ele finalmente voltou a ficar sério – Durante o momento que você desvanecia, acaso não sentiu um renovar de forças... do nada?
Refleti um instante, não tinha como eu me esquecer daquilo! E finalmente me caiu a ficha – Foi você... Você me ajudou! – ele sorria satisfeito – Mas por quê? Porque me ajudou naquela hora?
– Alguma coisa me disse que conseguiria sair mais fácil daquele lugar se eu te ajudasse... – Anya finalmente reagia (e parecia zangada) – ...o que acabou sendo verdade. Se eu não tivesse feito aquilo, muito provavelmente, nenhum de nós estaria aqui agora.
– Obrigada... eu acho. – uma vez ouvi uma historia em que a moral dela ficou em minha memória até hoje: “Quando Deus manda, até o diabo obedece!”, não importa os motivos dele para me ajudar, ele me salvou.
– Como planejam manter a rotina da Cris? – questionou-nos Anya (realmente, ainda não elaboramos isso...) – E como iremos arranjar roupas descentes pra ele Cris? Você não vai querer um maltrapilho vivendo com você, vai? – outro ponto pra se trabalhar (aquelas roupas desgastadas pareciam que iam se partir a qualquer momento)...
– Já possuem minha palavra que irei me comportar aqui dentro.
– E se alguém que não seja nós duas quiser entrar...? – pontuava Anya.
– Fácil! Uso as minhas habilidades ilusórias como hoje cedo.
– Que habilidades? – perguntei. Ele me sorriu e uma névoa branca começou a envolvê-lo – E como exatamente essa névoa aí vai ajudar?
– Ele ainda está aí?!? – perguntou-me Anya, tão surpresa quanto ele com a minha pergunta.
– Mas é claro! A não ser... Anya, você não o está enxergando? – ela apenas me negou com a cabeça.
– Vejo que, se eu quiser enganá-la, terei de fazer sem uso de poderes.
– Ou de poções! – ele me arregalava os olhos – Ezarel tentou usar uma poção de invisibilidade pra cima de mim ontem e falhou.
– Ter seus olhos como inimigos seria bem desagradável... – ele insinuava.
– E Absol pode ficar na sua cola onde você estiver no quarto caso alguém entre.
– E por quê? – ele não gostou de minha sugestão.
– Para ajudar no seu disfarce. Todos tem receio de se aproximar do Absol e se ele estiver ao seu lado, ninguém irá desconfiar quando eu resolver vigiá-lo em algum momento. – ele não disse nada, mais concordou.
– Certo. Primeiro problema resolvido. – declarava Anya – Agora vamos ao segundo: como vamos lhe arranjar roupas sem levantar suspeitas?
– Vocês poderiam fazê-las pra mim. – disse Lance dando de ombros.
– Oi?!?! – respondemos juntas.
– O quê? Anya não está te ensinando alquimia? Façam disso parte de suas aulas! – nada folgado...!
– E que tal te deixarmos assim até amanhã? – provoquei.
– Tem alguma coisa mais importante pra fazer? – ele estava frio.
– Tenho. Miiko me chamou para participar de uma reunião hoje às 10hs, ou seja, daqui a pouco.
– Eu posso ir atrás de pergaminhos durante a reunião, – sugeria Anya – e aquilo que não tivermos aqui dentro, você pode buscar mais tarde. Só temos que dar um jeito de ele nos pagar por esses gastos extras... – ela o olhava de lado.
– Não brinquem comigo... – ele ameaçava.
– Pois saiba que dinheiro não cresce em arvore. – me interpus – E só o auxílio nas tarefas daqui de dentro pode não ser o suficiente para compensar todo o seu sustento. – ele pareceu refletir.
– Tudo bem. Depois penso em algo.
Acabamos nossa conversa por aí. Anya saiu para procurar os pergaminhos e eu esperei dar a hora da reunião acertando com o Lance todos os previstos e imprevistos do que seria a minha nova rotina.
.。.:*♡ Cap.41 ♡*:.。.
Nevra
Era cedo, então tinha tempo para pensar em alguma coisa até dar a hora da reunião, tinha que arrancar as patas do Lance de cima da Cris sem prejudicá-la ou a Eel. Não havia muito movimento ainda no mercado ou no refúgio, mas prestei atenção em todas as conversas mesmo assim pra ver se encontrava alguma ideia.
No começo, não ouvia nada de útil: “hoje preciso comprar tantas coisas...”, “preciso me apressar ou vou me atrasar...”, “preste atenção na aula hoje ou ficará sem sobremesa...”, enfim. Estava quase desistindo quando ouvi algo que realmente me interessou: “quase perdi meus móveis por causa daquela porcaria de mincus! E a fortuna que o Purroy me cobrou na poção para me livrar deles?”.
Mincu... Se não me engano, Erika disse que um inseto da Terra, um tal de cupim, era muito parecido com ele. E se houvessem alguns deles em algum dos quartos do QG...? _sorriso_.Miiko
A hora marcada para aquela reunião se aproximava, e aos poucos os participantes chegavam. – É uma pena que não possa ficar conosco, Huang Hua.
– Eu também lamento Miiko, mas tenho que me apressar para falar com a Fênix sobre o caso das evigêneias! Sem falar que também temos que decidir o que fazer sobre o baile e... sobre o Lance...
Já sinto dor de cabeça – Ainda não descobrimos como exatamente ele escapou. Ordenei para que fizessem o maior sigilo possível sobre isso para evitar pânico...
– Mas a falta de informação sobre sua localização está sendo o mais preocupante aqui.
– Sim. – essa reunião será beeeem longa – E ainda temos que conversar sobre o Cristal com a Cris.
– Pobre menina... Ela está sendo obrigada a carregar um farto enorme! Espero que ela consiga cumprir sua missão logo.
– Eu também Huang Hua. Não tinha ideia do peso que a Erika carregava em silêncio e agora tem a Cris com o maior dos deveres que já vi até hoje.
– Recuperar e estabilizar Eldarya e seus habitantes, além de encontrar e reunir todos os povos faerys isolados por aí.
– E temos que fazer o possível para ajudá-la a ressuscitar o Cristal pra que ela o consiga mais facilmente. – eu acariciava o Novo Cristal com um longo suspiro.Cris
Depois de algumas discussões, Lance e eu finalmente conseguimos entrar num consenso no que seria a nossa rotina. Leiftan meio que me ordenou a estar presente na reunião, e a Miiko não teria pedido a minha presença se não fosse importante então, mesmo com os nervos a flor da pele, desci para a Sala do Cristal.
Entrei e reconheci a maioria das pessoas que iriam participar dela: Miiko (claro), Huang Hua, Erika, Valkyon, Ezarel, Leiftan, Kero, Ewelein...
– Pega! – Nevra me jogava uma maçã que quase deixei cair.
– O que pretende? – nunca posso baixar minha guarda com esse vampiro...
– Oferta de paz. – foi o que ele me respondeu. Alguns estranharam (e com razão).
– O que foi que você aprontou dessa vez Nevra? – Erika lhe erguia uma sobrancelha.
– Tentou invadir o meu quarto quando eu não estava... apresentável. – joguei na cara e alguns o olharam indignados.
– Será que terei que repetir tudo o que falei ao Ezarel pra você, Nevra? – Valkyon parecia nervoso, de braços cruzados, com ele.
– Já está mais que na hora de você adquirir limites Nevra! – Ewelein lhe dava bronca.
– Fico me perguntando que tipo de punição o faria aprender... – Miiko massageava a testa.
– Acho, que nesse ponto, já estejamos resolvidos...
– Que quer disser? – perguntou-me Huang Hua.
Contei a todos eles a mesma historia que contei ao Karuto e suas reações não podiam ser outras. Alguns caíram na risada enquanto outros me olhavam com espanto por causa do que fiz ao Nevra.
– Definitivamente, – Ezarel era um dos que ria – não é seguro deixarmos facas perto dela!
Todos tiravam sarro do Nevra, o que me fez sentir um pouco de pena dele – Você tem certeza que quer me dar sua preciosa comida Nevra? – ainda tinha fome, mas não podia deixar que todos descobrissem por que.
– Coma. É sua. – é imaginação minha ou por um instante ele parecia preocupado comigo? – E qual é afinal o motivo dessa reunião Miiko? Pois tirar sarro da minha cara que não é.
– Tem toda a razão. – falou a Miiko. Todos os que ainda riam ficaram sérios. – Convoquei esta reunião para tratarmos de quatro pontos chave: a viagem de Huang Hua por conta de seu compromisso com as evigêneias; as descobertas feitas em Memória sobre a Cris; a... – ela parecia tomar coragem para continuar – fuga de Lance – todos assumiram uma expressão de preocupação – e, consequentemente, o baile do solstício...Lance
Aquela mulher é osso duro quando está nervosa. Ela me enfrentou sem medo durante a elaboração da nossa rotina. Concordamos e discordamos várias vezes, decidimos como que seriam divididas as tarefas aqui dentro (banhos, limpeza, privacidade etc.) e Anya iria receber uma cópia da chave para ajudar com os meus cuidados (óbvio que não terei o mesmo acesso).
À contragosto, por conta da forma com que eu as havia tratado logo de cara, as minhas tarefas começariam hoje. Tinha que lavar o banheiro, limpar o chão e tirar a poeira, com Absol me vigiando. Minhas roupas serão lavadas pela Cris sendo eu o responsável pelas íntimas (ou todas se eu não quiser esperar por ela) enquanto ela usará o serviço de lavanderia para as roupas dela (de início queria usar o serviço de lavanderia também, mas depois que ela me questionou como que ela iria explicar roupas masculinas entre as dela, desisti).
“E como é que você pretende compensá-las pelas roupas, hein?” – a Negra tinha voltado pra me atazanar (o que você quer dessa vez?) – “Mau humoraaaado...” – (quer trabalhar no meu lugar?) – “Não, obrigada. ... Escuta, você realmente só vai sair desse quarto se estiver acompanhado da Cris ou do Absol, correto?”
– Essa é a ideia do nosso acordo, não é.
“Bom, sim, mas... e se você quiser sair e não lhe derem o consentimento?” – (só preciso fazer a Cris me acompanhar) – “E como o faria?” – (memorizei um feitiço bem interessante daquele grimório dragônico) – “Sério? E ele funciona mesmo?”
– Acaso está querendo que eu saia deste quarto?
“Sim e não. Quero é saber se você será capaz de sair daqui de dentro, sem quebrar o acordo, caso seja necessário.” – (você quer que eu teste o feitiço, é isso.) – “Tem todo o material de que você precisaria, não tem?” – de fato, todos os itens necessários haviam no quarto, e se eu quisesse prepará-lo teria que ser enquanto a Cris e a Anya estão fora, mas... (e quanto ao Absol?) – “Se for ordem minha, não há problema.”
Tinha acabado de terminar com o banheiro e acabei por erguer uma sobrancelha para Absol. Em resposta, ele pegou o grimório do meio dos travesseiros da cama e deixou-o em cima da mesa, ficando de costas pra mim logo em seguida.
“Faça o teste! Você pode ir com ela até um de seus esconderijos ainda secretos. Aposto que você tem com o que compensá-las em um deles.” – nisso ela estava certa. Em um de meus esconderijos (ao menos no mais secreto de todos) ainda devo ter coisas de valor que posso usar para pagar pelas roupas, mas ainda assim...
Bom, como essa chance não ia se repetir tão facilmente, comecei a fazer o preparado do feitiço.Cris 2
Tinha me esquecido que era ontem que as evigêneias partiriam de volta para a casa delas até o dia do baile... Nem pude me despedir (também, estava cuidando dos contaminados na hora). Huang Hua partiria hoje ao encontro da Fênix atual para conversar sobre elas, se quisesse retornar a tempo.
Quando o assunto passou a ser eu, além de todos agora saberem sobre o que sou e qual é minha tarefa em Eldarya, Leiftan aproveitou para repassar a todos sobre a descoberta de meu meio de chegada. Nevra já havia enviado um grupo para Apókries na intenção de descobrir onde o fragmento da outra “semente” estava, e assim me facilitar as coisas. O ambiente só ficou tenso mesmo, quando Lance se tornou a próxima pauta da reunião.
– Por conta da ameaça que Lance nos representa, estou pensando seriamente em cancelarmos o Baile de Máscaras do Solstício. – declarou a Miiko, causando o descontentamento geral.
– Você não pode cancelar o baile Miiko! Todos estão ansiosos por ele. – Erika comentava.
– Sem falar que é a única coisa que está mantendo os ânimos em Eel. – completava Ewelein.
– E o que sugerem que eu faça? Um baile agora nos deixaria totalmente vulneráveis! – retrucou a Miiko.
– Então porque não transforma o baile em uma armadilha. – falei por falar e todos começaram a me olhar (quem foi que mexeu no ar condicionado? Ficou quente aqui!).
– O que quis disser? – Nevra perguntou.
– Bom... já que tecnicamente ficamos mais vulneráveis a um ataque durante o baile... – respirei fundo (detesto ser o centro das atenções!) – Porque não transformar isso em uma vantagem?
– E como exatamente faríamos isso? – foi a vez do Valkyon.
Céus, estou tremendo! – Poderíamos deixar guerreiros de elite em pontos estratégicos para prevenir qualquer tipo de ataque, além de deixar gente de confiança disfarçadamente armada dentro da festa.
– Não me parece uma má ideia... – considerava a Miiko – Mas ainda acho que todos não conseguirão aproveitar bem o baile com Lance a solta... – ela se lamentava – Quero dizer, proibi a divulgação da fuga dele por enquanto, mas boatos se espalham depressa!
– Mesmo se ele já estiver preso? – tampei a boca (Ops!).
– É O QUÊ!?!?! – quase todos gritaram (Cuidado com o que diz Cris!).
– O que você quis disser com isso? – questionou-me Miiko, quase me fazendo dar um passo para trás.
– Desculpe. – Senhor me ajude! – Foi só uma ideia que me passou pela cabeça...
– Que ideia Cris? – o tom de Huang Hua me acalmava – Diga-nos, talvez possa nos ajudar...
– Bom... – (pensa rápido Cris!) – E se alguém fingir ser o Lance até o encontrarmos de fato? – todos me olhavam curiosos – Pode ser que essa informação não só forneça tranquilidade aos civis de Eel, como também desperte alguma curiosidade no verdadeiro Lance e o mantenha em Eel. Quero dizer... se ele ainda estiver por aqui, né!?
Todos começaram a refletir sobre essa ideia maluca (Jesus, Maria e José, SOCORRO!).
– Lance ainda está sim em Eel. – Valkyon rompia o silêncio – E supondo que essa sua ideia funcione, quem é que iria se passar pelo Lance?
– Eu posso fazê-lo se quiserem. – ofereceu-se um homem cuja raça ainda não tinha identificado, com pele pálida e cabelos cobreados compridos até o ombro – Eu só precisaria tingir meu cabelo e disfarçar minha pele.
– Tem razão, Almir. – Ezarel lhe apoiava – Conheço as poções certas para isso. E qualquer coisa é só a gente dizer que você foi mandado em missão para algum lugar longe de Eel!
– E você está mesmo disposto a ficar por sabe-se lá quanto tempo na prisão? – interrogava a Miiko.
– Ele vai fingir ser ele, não é ele. – intercedi – Vocês irão tratá-lo de forma diferente a que tratavam o Lance não é? Irão deixá-lo a par do que acontece, não vão?
– A Cris tem toda a razão sobre o tipo de tratamento. – apontava Ewelein – E mantê-lo informado é essencial pra que esse plano tenha alguma chance de êxito.
– Votemos então. Aqueles a favor da ideia de mantermos o baile e criar um falso Lance, ergam a mão. – ordenou a Miiko (e quase todos levantou? Eles aceitaram essa maluquice!? Pai eterno...) – Sendo assim... está decidido.
– Acaso posso fazer um pedido, Miiko?
.。.:*♡ Cap.42 ♡*:.。.
Nevra
Não esperava que a Cris contasse sobre ontem à noite para todos e pra piorar, foi realmente ela que me atirou aquela faca. A Cris me assusta (porque é que ela não caiu na sombra?), ao menos ela comeu a maçã, mas o que ela quis dizer com “precioso alimento”?
Durante a reunião, ela não só escapou de dar com a língua nos dentes logo no primeiro dia do acordo dela com o Lance, como também conseguiu manter o baile e criar um plano para evitar o pânico em Eldarya. Sem esquecer que ela arranjou uma desculpa para explicar o motivo de Lance ainda estar em Eel (no quarto dela, pra ser mais exato).
Mas eu ainda tenho meus próprios planos para essa historia do Lance. – Acaso posso fazer um pedido, Miiko?
– Que pedido Nevra.
– Queria sua autorização para criar um grupo e revistarmos todos os quartos.
– É o quê???? – a Cris ficava branca.
– Com que intenção? – Miiko me fuzilava.
– Hoje cedo, eu encontrei alguns mincus em meu quarto, já dei um jeito neles porque tinha uma poção própria pra isso guardada, mas... e se meu quarto não for o único?
– Mincus no QG?! Preciso inspecionar a biblioteca assim que acabarmos. – Kero pareceu desesperado (isso vai me ajudar).
– E além do mais, – tenho que usar todas as cartas que consegui hoje – de manhã, Anya acabou me lembrando de um possível detalhe.
– Que detalhe Nevra? – Erika se mostrou curiosa enquanto a Cris me parecia cada vez mais pálida (é pro seu bem Cris...).
– A possibilidade de Lance estar se escondendo dentro de um dos quartos. Temos vários quartos vazios por que seus respectivos donos estão em missão, o que garante que ele não esteja em um deles? Ou pior, que alguém esteja escondendo ele! Por vontade própria ou sob pressão, aí é outra historia. – isso semeou dúvida entre eles.
– Tem certeza que não está apenas arranjando uma desculpa para entrar no quarto da Cris? – perguntava Ezarel bancando o engraçadinho como sempre.
– Há um terceiro motivo... – ele ergueu-me uma sobrancelha – E quanto a possibilidade de um segundo “Celsior”? – Ezarel teve ânsia na hora (também, depois do que vimos).
– Todas as razões de Nevra são válidas. – concordava a Huang Hua (muito obrigado!) – É realmente importante conferirmos todos os quartos, e para um maior sucesso nas buscas, só o primeiro e terceiro motivos devem ser declarados aos demais. Assim como seria melhor que o número de pessoas que saibam sobre o falso Lance limite-se apenas a todos nós.
– Não quero homens no meu quarto, especialmente o Nevra. – ouvi a Cris falar (e como ela estava branca!).
– Cris! – Ewelein correu até ela junto de Erika – Você está mais pálida que um cadáver! O que aconteceu?
– Não é nada. – você não está enganando ninguém... – É apenas uma queda de pressão por nervosismo. Não se preocupe Ewelein e obrigada Erika. – (você é tão frágil assim?).
– Nevra não entrará em seu quarto. – declarou Valkyon – EU não permitirei. – ótimo! Valkyon ficará pelo menos uma semana irritado comigo. E tudo por culpa do Lance.Cris
O Lance e aquela reunião já estavam me deixando à flor-da-pele e o Nevra quase me fez alcançar os limites com aquele pedido (será que ele desconfia de alguma coisa ou só está seguindo seus instintos?).
Tenho medo do que possa acontecer. O lado bom de estar nesse estado é que não me farão participar dos grupos de “fiscalização” nos quartos, e como a reunião terminou bem depois da uma da tarde, quase duas (mais que fome!), todos nos dirigimos direto para o refeitório.
Estava rachando a cabeça imaginando uma desculpa para levar minha comida pro quarto, quando Anya chegou em mim antes de fazer meu pedido, “O gelinho já foi alimentado” ela me cochichou no ouvido. “Gelinho” foi o termo que nós duas decidimos usar para nos referirmos ao Lance pra evitar suspeitas (melhor, posso comer minha comida quase toda).
– Então quer dizer que a Anya tem permissão de pegar do seu prato, esfaqueadora?
– Perturbe outro Ezarel. – eu estava dividindo a mesa com ele, Anya, Erika, Valkyon, Nevra e Miiko.
– É Ezarel, não me faça tomar atitudes contra você assim como acho que terei que fazer com o Nevra, se tentar prejudicar minha subordinada outra vez. – Valkyon estava sério (pena que ele já é comprometido... _suspiro_).
– Já disse que não tive intenção... – Nevra se defendia.
– Não importa Nevra, – Miiko começou – todo mundo agora sabe que a Cris é importante para a Eldarya inteira, e se qualquer um de vocês ou algum outro membro desse QG se atrever a prejudicá-la... juro por tudo o que for mais sagrado que os farei se arrepender, até mesmo na pós vida.
– Não precisa de tanto Miiko. – Erika intercedia – Não acho que eles seriam burros a este ponto, mas como o Nevra parece meio obcecado pela Cris...
– Eu não estou obcecado por ela!
– Conseguiu então lhe roubar o beijo que tanto deseja? – Ezarel caçoava (ele só vai me largar quando me beijar?!?!) e Nevra apenas fechou a cara.
– É por isso que precisa de vigia Nevra. – terminou Erika.
– E o que acham que eu tenho feito desde que ela chegou? – reclamava Anya – Não posso me descuidar um minuto desse Becola! – todos rimos um pouco (menos Nevra é claro, que só deu uma risada sem graça).
– Cris! – chamava-me a Miiko – Antes de entrar na Sala do Cristal hoje, eu e Huang Hua conversávamos sobre um convite que queria lhe fazer, mas ela diz ter certeza que você não irá aceitar por hora.
– Que convite? – perguntei e todos estavam curiosos.
– Para que faça parte da Reluzente. – (QUÊ!!) – Sua missão em Eldarya é no mínimo colossal! E é por isso que gostaria que entrasse pra Reluzente, pois teria mais liberdades.
Um posto de alta confiança quando estou agindo pelas costas deles? Sinto muito. – Miiko, me perdoe... O que Huang Hua lhe disse está certo! Ao menos agora, não sou digna de tal oferta... – (e talvez nunca seja...) – Eu nem se quer consigo me defender direito! Gostando ou não, ainda sou muito dependente dos outros. – Miiko pareceu decepcionada, porém compreensiva. O clima parecia meio triste.
– Mas é inteligente, corajosa e poderosa. – falava Nevra, animando um pouco as coisas – E estou curioso... Como foi que você pensou naquelas ideias que todos concordaram?
Também queria saber... – Acho que foi por causa das muitas historias que eu já vi...
– Que tipo de historias? – Erika perguntava.
– Filmes, animês, livros... Sou um pouco eclética e por isso já vi muitos temas, apesar de fantasia sempre ter sido o meu favorito.
– Parecem ser interessantes. – falava Valkyon pra si mesmo.
– Acaso você tem alguns no seu notebook? – perguntava-me Erika.
– Meu not tem 16T de memória e mais da metade está ocupada com vídeos, deseja ver algum? – ela arregalou os olhos enquanto os demais, exceto Anya, não entendiam nada. Normal.
– Deixe eu perguntar. – interrompia Anya – Algum de vocês sabe nipon?Anya
Não foi nada fácil, mas consegui encontrar alguns pergaminhos para produção de roupas masculinas com alquimia e como estava perto da hora do almoço (e aquela bendita reunião não acabava), resolvi dar da minha comida para o Lance ao invés de deixar a Cris fazê-lo.
Bati na porta em código como combinamos e o Lance abriu a porta (ele estava limpando o chão?), entrei e deixei as coisas na mesa, incluindo a comida. Lance me repassou as decisões deles sobre as rotinas que seguiriam e me informou que eu ia receber uma cópia da chave que deveria ser mantida em segredo, especialmente do Becola.
Terminei de comer minha parte e deixei o Lance com o Absol. Quando passava pela Sala do Cristal, vi que todos saiam e iam direto ao refeitório (preciso avisar a Cris que o “Gelinho” já ganhou comida), corri para lá e a vi antes dela falar com o Karuto (ainda bem!).
Na mesa, como sempre Ezarel arranjou um jeito de reclamar (vale mesmo a pena proteger este cara?); houve “novas” reclamações do Becola; não esperava que a Miiko a quisesse na Reluzente tão rápido e eu já esperava qual era a resposta da Cris (se não fosse pelo Lance...), mas o que me interessou mesmo, foi quando o assunto chegou às series da Cris. Era a minha chance!
– Deixe eu perguntar. – interrompi eles – Algum de vocês sabe nipon? – a Cris me olhava desconfiada.
– Nipon? A língua dos kappas? – questionava Ezarel.
– Na Terra acredito se chamar Japonês, não é isso? – perguntou Nevra recebendo a confirmação da Erika – Sinto muito, mas essa eu não conheço.
– E você Erika?
– Sei um pouco de francês porque a bisavó que eu puxei era francesa. Tanto que era lá que eu estava quando encontrei aquele Circulo de Bruxas que me trouxe para Eldarya. A Miiko deve conhecer...
– De fato eu sei, mas porque você está nos perguntando isso?
– Para conseguir cumprir um acordo que fiz com a Cris.
– Que acordo Anya?!? – sabia que ela não se deu conta...
– Quando fiquei cuidando de você, depois que chegamos de Memória. – e que se não fosse pelo Lance, poderia estar morta (quanta ironia...).
– Que tipo de acordo Anya? – Erika me questionava.
– Tem um animê em especial que eu quero muito ver, mas ela não deixa. – a Cris já está me entendendo – Naquele dia, nós acordamos que, se eu conseguir encontrar alguém que fale Nipon tão bem quanto eu para que o assista comigo e, conseguir encontrar a resposta correta sobre uma certa pergunta, ela me deixaria assistir. Absol foi testemunha! – disse antes que a Cris tivesse chance de negar.
– Que... “animê”? – questionava a Miiko.
– Hellsing Ultimate. Maior de 18. – a Cris respondeu com frieza.
– Como?! – a Erika conhece? – Anya, não! Eu já ouvi falar dele quando vivia na Terra, é de terror... em termos humanos você só tem uns catorze anos Anya, de jeito nenhum você pode vê-lo! Só o restante de nós é que tem idade pra assisti-lo. – ótimo, agora que vai ficar difícil convencer a Miiko.
– Pode ser que ela seja até mais nova, considerando a inocência dela... – não piora Cris...
– Inocente? Essa Verdheleon? – (Nevra...) – Em que sentido?
– Me diz Nevra... – não estou gostando – Qual você acha que é essa certa pergunta que a Anya precisa me responder? – parece que ela se lembrou do acordo... (justo agora?). Nevra apenas balançou a cabeça com rosto de quem não tinha ideia, e a Cris sorriu com malícia se apoiando sobre a mesa (tenho um mau pressentimento...). – Você saberia me dizer, verdadeiramente, como que nascem os bebês?
Todos na mesa coraram. Ferrou tudo.Nevra 2
A alimentação da Cris me preocupava, ainda bem que Anya já tomou conta da praga, a ouvia cochichando para a Cris que ela já tinha alimentado o “gelinho” (só podia ser o Lance!) e eu entendi o que a Cris quis disser mais cedo quando Karuto me deu minha comida... Ainda assim, pedi ao Karuto que repassasse um terço de minhas porções para a Cris e a Anya, como um pedido de desculpas... (não posso admitir que elas passem fome por conta daquele #%&#@) e claro, pedi-lhe segredo (também não posso abrir brechas para que elas, e o Lance, descubram o que sei).
Nem durante a refeição eles pararam de me torturar! Sem falar que mais uma vez, o Lance estragava a vida da Cris... Não posso falhar em pegar aquele miserável.
Aquela conversa sobre o acordo entre a Cris e Anya me surpreendeu (quantos acordos a Cris já fez até agora? E com quem?), não esperava aquilo de Anya. Ao saber que tipo de resposta Anya precisava descobrir, não há como não concordar que ela ainda era bem inocente. Miiko negou-se terminantemente a acompanhar Anya com o tal animê deixando Anya emburrada (se bem que eu fiquei curioso...). E aproveitou quando quase todos estavam finalmente reunidos no refeitório para passar a noticia das “fiscalizações” nos quartos (a Anya e a Cris ficaram nervosas, claro), decidindo ela que o grupo que faria isso seria formado por Ezarel, Karenn, Erika, Lua, Doriann, Leiftan e eu, explicando os motivos daquilo (do jeito que Huang Hua aconselhou).
Tava na cara que ela queria ter adicionado a Cris também, mas ela precisava de um pouco de descanso segundo a Ewelein, por isso foi deixada de lado. A historia do falso Lance, só seria repassada no dia seguinte, após confirmação da revista nos quartos (se o capturarmos, não precisaremos usar aquela mentira).
– Cris. – chamei-a antes dela se retirar lhe segurando pelo pulso da forma mais delicada que podia (já estou bem encrencado com ela).
– O que você quer Nevra... – ela suspirava como que exausta e Valkyon me olhava de soslaio.
– Só queria pedir para que tentasse seguir seu dia normalmente. Você sabe... Sem relatar nada da reunião à ninguém... – especialmente ao Lance, será que ela vai me entender? – E mais uma vez, me desculpe por ontem.
– Está tudo bem. – ela me olhava desconfiada – Só me faça o favor de me dar mais espaço, sim? – ela olhava minha mão que a segurava e a soltei na hora.
– Sinto muito mesmo. – disse ao vê-la se afastar com Anya ao seu lado.
– Estamos de olho em você Nevra. – falou-me Erika próxima ao meu ouvido com Valkyon do seu lado.
Vou ter muitos problemas com essa historia.Cris 2
Estou cansada. Minha cabeça parece que está pesando uma tonelada. Como é que eu vou fazer com essa fiscalização? Consegui convencer Anya a voltar para casa ao invés de termos as aulas de alquimia (Anya já tinha me dado a lista do que ainda nos faltava) e tudo o que eu queria, era que esse dia terminasse o mais rápido possível.
Outra vez não tive vontade de entrar em meu quarto, mas entrei.
– Já voltei. – senti logo o cheiro de flores dos produtos de limpeza que Ezarel havia deixado no banheiro – Vejo que cumpriu com o que combinamos.
– Mesmo não gostando nenhum pouco. – reclamou ele enquanto fazia flexões no meio do quarto – Como foi a reunião?
– Exaustiva. Não posso falar muito. – deitei de bruços na minha cama – Anya me disse que já deu o almoço...
– Ela me deu o suficiente. Mas ainda prefiro a sua maana. – Absol rosnou para ele. – O que você pode me dizer dessa reunião?
Preciso tomar cuidado com o que digo, para não cometer o mesmo erro da reunião – Huang Hua partirá de Eel hoje para falar com a Fênix sobre as evigêneias; em breve todo o QG estará sabendo sobre mim e o que foi descoberto em Memória; e o baile do solstício será mantido.
– Só isso? – ele se erguia cruzando os braços.
– Do que eu posso falar? – me sentei na cama – Só.
– E não falaram nada sobre mim?
– Falaram. – ele me ergueu uma sobrancelha – Mas não posso lhe dizer nada. – dirigi-me ao banheiro.
– Você não precisa falar,... – o olhei desconfiada – ...basta escrever.
– Até parece que vou fazer isso. – agora ele me irritou e continuei meu caminho.
– Quer apostar?
Acabei me virando para ele e um pó estranho foi jogado em mim que me fez tossir. Eu o ouvi dizer coisas estranhas assim como ontem à noite, e senti o meu corpo ficar estranho. – O que você fez?
.。.:*♡ Cap.43 ♡*:.。.
Lance
Consegui terminar rápido de preparar o pó do encanto que me permitiria fazer a Cris atender parte de minhas vontades, e tinha acabado de retomar minhas “tarefas” quando Anya chegou com o meu almoço e uns seis pergaminhos de roupas masculinas que acabei dando uma olhada. Como ela estranhou me ver trabalhando, repassei à ela todas as discussões que a Cris e eu tivemos depois que ela saiu, e ela pareceu satisfeita em saber que só iria precisar do código se estivesse acompanhada, já que receberia uma chave para a minha “gaiola” também.
Acabamos a refeição e ela saiu ao encontro da Cris, enquanto eu fui terminar os meus “afazeres”. Resolvi fazer algumas flexões depois de terminar tudo e a Cris chegou, claramente cansada. Tanto que ela foi direto deitar-se na cama. Perguntei sobre a reunião e ela só me falou sobre a Huang Hua, Memória e o baile. Sobre mim, ela se negou a falar.
“Palavras tem duas formas de serem contadas...”, foi o que a Negra havia me dito antes de finalmente me deixar em paz, e ela estava certa. Se antes eu estava com receio de testar aquele feitiço, agora não estou mais. Ela ia me dizer o que foi que disseram de mim naquela reunião.
Como ela se recusou a escrever por si mesma como lhe sugeri, a desafiei, jogando-lhe o pó do encantamento e citando o encanto que pareceu ter efeito imediato.
– O que você fez? – ela me perguntou e eu lhe sorri. Arrastei uma cadeira para ela e coloquei papel e pena para ela escrever.
– Sente-se. – ela obedeceu sem entender o porquê. – Agora quero que escreva tudo o que foi tido na reunião com referência a mim. – ela começou a escrever tudo o que aconteceu chorando.
– Me fala, – ela soluçava (e também rezava) – o que foi que você fez? Porque meu corpo não quer me obedecer?
– Terminou de escrever? – ela me entregou a folha que a li com bastante cuidado. – Então... uma fiscalização será feita hoje em todos os quartos para me procurar... – ela me desviava o olhar – Além de você ter sugerido um “falso Lance” para enganar Eldarya sobre o meu esconderijo...
– Acho que nosso acordo não durará muito.
– Só se eu estiver aqui dentro quando eles chegarem... – a vi engolir seco.
– Pretende quebrar nosso acordo?!?
– Não. – me aproximei dela – Eu só preciso que me acompanhe até onde desejo ir, afinal... Preciso estar acompanhado para deixar este lugar.
Seus olhos se arregalaram e, pela maana que ela emitia, suas orações se intensificaram.Cris
Eu não sei o que foi que esse cretino fez comigo, mas me sinto uma boneca. Meu corpo não me obedece, e eu estou fazendo tudo o que ele me pede (Jesus... me ajuda!...). Graças a seja lá o que for que ele fez, agora ele sabia sobre as fiscalizações e sobre o meu plano maluco para enganar todo mundo sobre ele.
Suei frio e engoli seco quando ele disse que não ia estar no quarto na hora em que eles chegassem ao meu quarto (eu tinha que ter dado uma brecha para ele escapar? Mãe santíssima me envolva com seu manto...). Vi ele destruir o papel em que escrevi sobre a reunião com fogo saindo de sua boca e colocou uma nova folha diante de mim.
– Quero que escreva um bilhete. – eu o olhei de canto – Escreva algo que justifique você não estar no quarto, e que não pareça ser uma mentira, por conta daquele vampiro que não larga do seu pé.
– E que desculpa exatamente eu devo dar? – questionei. Ele pareceu refletir.
– Diga... que você foi procurar por algumas coisas na floresta para as suas aulas de alquimia. E aproveite para deixar sugestivo que irá demorar, pois não retornaremos antes da madrugada. Ah! E pode também colocar alguma restrição sobre as buscas aqui dentro para que possa ficar mais convincente.
Acabei fazendo como ele mandou. Ele o leu, e pareceu satisfeito com o bilhete que escrevi. – Ótimo. Vai querer tomar um banho antes de sairmos ou vai só trocar de roupa?
– Banho. Não vou passar a noite suja. – ele gesticulou para que eu prosseguisse e fui.
Durante o banho, fiz de tudo para tentar lavar aquele pó que ele me jogou, mas não me livrava daquela “sensação boneca”. Absol me trouxe uma troca de roupa até o banheiro. Ao deixar o banheiro, vi que Lance ativava sua habilidade ilusória com uma pequena sacola nas mãos.
– Vamos?
– Para onde exatamente?
– Se eu dizer agora, seu bilhete poderá ficar mentiroso. – revirei os olhos enquanto bufava.
– Vamos de uma vez.
– Me permita ficar próximo de você durante o percurso. – tá de brincadeira... – É uma ordem.
Senti o meu corpo reagir (minha Mãe!) – Por quanto tempo isso vai durar?
– Algumas horas. – ela dava de ombros – Mas prometo que não lhe farei nada.
Mal deixei o bilhete grudado na porta e ele já começou a me dar mais ordens ao pé do meu ouvido – Não quero que nem eu ou mais ninguém te veja chorando, entendeu? – (meu São Jorge, você que segundo sua historia já matou um dragão, não quer matar mais um não?). – Vamos até a cerejeira. – determinou ele, respirei fundo.
Durante o percurso acabamos encontrando a Erika no caminho, e ela acabou me vendo. – Livre-se dela! – ordenou-me outra vez ao pé do ouvido (está me irritando demais, senhor Lance...).
– Aonde você está indo Cris? Ewelein foi clara que era pra você descansar hoje!
– Vou apenas procurar algumas coisas para as minhas aulas de alquimia de amanhã. – não foi isso que ele me fez escrever?
– Entendo, mas procure não se esforçar muito e... tome cuidado! – um riso me escapou.
– Pode deixar. – estou em suas mãos meu Pai. – Pretendo voltar inteira.
Ela me sorriu e nós nos despedimos. Lance pareceu irritado, mas se manteve calado. A cerejeira costuma ser vazia à tarde, já que a Obsidiana só treinava lá durante a manhã. Ele me envolveu com a névoa dele quando ninguém nos via, e me guiou até uma parte próxima aos arbustos onde havia uma passagem secreta.
– Entre. – ele me cochichava a ordem que não tinha opção que não fosse obedecer (meu santo anjo, remova logo essa porcaria de mim, por favor!) – Agora mantenha os olhos fechados. E só os abra quando eu mandar – ordenou ele em seguida naqueles túneis escuros por onde ele me guiaria (mas pra onde ele está me levando?!).Nevra
Aquela minha mentira sobre os mincus acabou não sendo tão mentirosa assim... Descobrimos duas infestações deles e três inícios de infestação entre os quartos, além de descobrirmos que um dos absintianos, fora de Eel, estava pesquisando necromancia às escondidas (pela cara do Ezarel, ele ia exigir a sua expulsão à Miiko. Necromancia é magia negra altamente proibida!), e eu não pude acreditar no bilhete que estava na porta da Cris:
“Saí em busca de algumas coisas para as minhas aulas de alquimia. Talvez eu vá visitar as cheads com quem morava antes, por isso posso demorar. Deixei a porta aberta.
Cris.
P.S.= Ai de vocês se eu descobrir que um homem me conferiu as gavetas. Especialmente o Nevra!”
Porque é que ela continuava ajudando aquele crápula?! Será que ela falou por si mesma ou ele conseguiu fazer com que ela abrisse o jogo? Tive que me esforçar ao máximo para conter minha raiva e frustração por Lance ter me escapado, mesmo esperando pela fiscalização do lado de fora por causa da exigência do bilhete. E claro, não encontramos nada lá dentro.
– Há algum problema Nevra? – Me perguntou o Ezarel depois que deixamos o quarto (éramos os mais afastados do grupo).
– Nenhum.
– Mentira. – nos olhávamos sérios – Percebi sua raiva ao ler o bilhete da Cris, e isso não seria o bastante pra deixá-lo daquele jeito. O que aconteceu?
Não tinha como negar, mas também não podia arriscar a vida da Cris e dos outros – A Cris está nos escondendo alguma coisa... – falei – E eu não consegui descobrir ainda.
– Está me dizendo que a esfaqueadora conseguiu mentir pra você?
– Mentir não, esconder. Ela parece saber usar bem as palavras, e Anya está aprendendo com ela.
Ele sorriu um sorriso largo – Parece que você terá bastante trabalho...
– Queria que existisse uma poção que forçasse as pessoas a falar a verdade... – confessei (e ele pareceu interessar-se no meu pedido).Lance 2
Foi somente graças à maana que ela liberou durante o caminho até os túneis que pude me manter oculto e depois ocultá-la até entrarmos neles. Guiei-a pelos ombros dentro daqueles corredores escavados até chegarmos ao quarto secreto que tinha lá dentro, somente depois de fechar a parede que servia de porta, que lhe autorizei a abrir os olhos.Cris 3
– Já pode abrir os olhos. – declarou ele após eu ouvir algo grande se movendo.
O lugar estava meio escuro, e vi Lance acender uma lamparina para aumentar a claridade do lugar, era um quarto simples, com uma cama de solteiro humilde; uma mesinha de centro com um vaso de planta, ainda viva, sobre ela; uma cadeira; algumas caixas encostadas nas paredes, e uma estante simples com alguns livros e frascos.
– Onde estamos? – perguntei ainda observando o lugar.
– Em um de meus esconderijos mais secretos. – ele me parecia impassível – Nem meu ex-sócio conhece este lugar.
– Fala do Leiftan?
– Exatamente. Sente! – mostrou-me a cadeira e meu corpo obedeceu. Ele começou a buscar algo entre as caixas.
– O que está procurando? Porque viemos para cá? E onde exatamente é aqui? Ao menos tenho direito a essas respostas não? – ele não parava de procurar.
– O que estou procurando é o motivo de virmos aqui e sobre este lugar... Ainda estamos em Eel, e se eu falar mais que isso, seu bilhete pode acabar virando uma mentira. – respondeu ele. Comecei a não me importar com mais nada naquele lugar.
Lance ainda continuou as suas buscas naquelas caixas por mais alguns minutos. Via-o colocar sobre a cama pedras e cristais, orbes, pergaminhos e outros livros e até facas e uma armadura negra com vermelho, e nada parecia ser o que ele procurava. – Achei. – ele sorria diante de um saquinho de veludo escuro.
– O que é isso? Posso saber? – ele me sorria orgulhoso.
– Esta... – ele apresentava um colar feito de uma enorme gema – ...é a Pedra Cintamani.
– Pedra Cintamani? Nunca ouvi falar. – eu observava a joia.
– Acho que reconhecerá o seu outro nome: Pedra Filosofal.
Arregalei os olhos – Como?!? Ela realmente existe?? – o vi guardar a joia no saquinho novamente.
– Existe sim. E não me foi fácil adquiri-la! Com ela você e Anya não vão mais precisar de essências de transmutação para suas alquimias nunca mais e ainda vão poder aproveitar o mesmo pergaminho até 5x. – ele me estendia a relíquia.
– É a sua compensação pelas roupas que teremos que fazer pra você?
– Acaso não a quer?
– Claro que eu quero! – pequei o tesouro e segurei firme – Ela nos dará uma grande economia! Mas... como vou explicar o aparecer deste tesouro nas minhas mãos?
– Basta insinuar que foi Absol que lhe trouxe! Você já possui muitos tesouros por causa dele. – ele começou a se afastar – Assim como o livro em que aprendi o encantamento que usei em você... – ele quase sussurrou essa parte, que ainda pude ouvir em alto e bom som (que aprendeu com um livro meu?!?).
– De que livro você está falando? – me ergui para aproximar-me dele (quero estrangulá-lo!!).
– Fique calma. – meu corpo travou no lugar (até quando essa maldição vai durar?!) e eu respirei fundo.
– Responda minha pergunta, por favor.
– Pode voltar a sentar? – outra vez meu corpo agiu por si mesmo – Foi quando lhe ajeitava na cama que acabei os encontrando... os seus grimórios.
– Grimórios? Aqueles livros são grimórios?! – não acredito!
– Sim. Um de dragão, em especial para portadores da bênção de Anfitrite, e um aengel. – não pude evitar ficar boquiaberta – Como os dois estão na língua original, pude lê-los sem problemas.
– E com qual deles você aprendeu essa maldição? – perguntei pra saber qual definitivamente não podia lhe permitir mais acesso.
– Li o dragônico, apenas até a metade. – respirava outra vez para não explodir – E como foi antes de decidirmos nosso acordo... – ele começou a guardar as coisas que estava sobre a cama, separando-as – ...não pode me acusar de faltar com ele.
– Então minha intuição estava certa, não posso mesmo mostrá-los a qualquer um.
– A qualquer um não. Você... ainda não aprendeu a língua original, não é mesmo? – ele acha que sou tola?
– Acaso está querendo me ensinar apenas para ter acesso a eles?
– Fui tão óbvio assim?
– Foi!! – ele apenas riu e continuou guardando as coisas.
Ficamos em silêncio por um tempo. Lance terminou de guardar as coisas e acho que acabou esquecendo que eu estava lá, pois ele quase começou a despir-se para colocar a armadura. Desviei o olhar, constrangida.
– Desculpe. – ele dizia – Pode virar-se por um momento. – outra vez meu corpo agiu por si, me fazendo virar a cadeira para ficar de costas para ele – Já pode olhar outra vez. – ordenou depois de alguns minutos.
– Até quando vou ser sua boneca, hein...? Já me cansei!...
– Segundo o grimório, – ele terminava de ajeitar a armadura – “Lutka”, como é chamado o feitiço que usei, tem duração de até seis horas.
– Então... por seis horas... você vai poder fazer o que bem entender de mim? – (Mãe me guarde!).
.。.:*♡ Cap.44 ♡*:.。.
Lance
O efeito de Lutka sobre ela realmente a preocupava, o que me permitia acumular uma grande quantia de maana, quanto maior era a sua preocupação, mais ela rezava. E isso porque nem eram suas orações de verdade! Quase não acreditei na quantia de maana que ela liberou quando começou a rezar o tal terço dela (pensei que o colar só lhe brilhava quando era possuída).
Nós nos alimentamos de alguns dos doces que havia pegado no quarto dela e me aproveitei do efeito de Lutka para fazê-la dormir na cama. Provocá-la era realmente divertido _sorriso_. Sentei no chão, recostado ao pé da cama para dormir depois de encher a sacola que trouxe com alguns itens daquele lugar. Acho que dormi por umas cinco ou seis horas, considerando o óleo que ainda restava na lamparina. Era hora de voltarmos.
– Ei, acorda! Vamos voltar. – lhe mexia e ela parecia me ignorar, está mais que nítido que o feitiço acabou – Levanta! Eu não vou carregá-la.
– Só mais uns minutinhos... – disse ela se encolhendo ainda mais, pelos deuses...
– Terei que usar o Lutka em você outra vez? – isso a fez arregalar os olhos.
– NÃO! – ela se levantava com tudo, quase caindo (eu não passo mesmo tédio com ela _riso_).
Dei a sacola pra que ela a carregasse e abri a passagem, fechando-a logo após a saída da Cris. Ela ainda cambaleava, de sono talvez, por isso lhe segurei a mão para que não se afastasse de mim lá embaixo (ao menos ela não ia perceber o caminho). Aproveitei para largar os trapos que vestia antes nos túneis para fazê-los acreditar melhor que me escondia em Eel, ajudei-a a subir para a cerejeira após cercar nós dois com a minha ilusão, e continuei a guiando pela mão até chegarmos ao seu quarto.
Ela largou minha sacola e a Pedra Cintamani sobre a mesa e jogou-se na cama.
“A Pedra Cintamani... Sabia que ia fazer uso dela.” – chegou a chata (como sabia que eu tinha a pedra?) – “Posso estar fraca ainda, mas não deixei de ser uma oráculo, e por isso sei de muitas coisas.”
Oráculo ou não, ela ainda me irritava, comecei a ajeitar as coisas da sacola e Absol apareceu, sei lá de onde, com algo em sua boca e se aproximando da Cris.
“Ele conseguiu...” – (ele conseguiu o quê?) – “Veja você mesmo!” – lá vem ela de novo, mas Absol nunca traz qualquer coisa pelo que eu soube, então fui conferir.
Tive cautela ao me aproximar com ele rosnando, e peguei uma pulseira de contas próxima de sua mão (o que é isso?).
“Contas de Ovira.” – (as mesmas que dizem proteger contra feitiços como o Lutka?) – “Exatamente.” – (e porque Absol foi atrás dessa porcaria? A proteção delas é mito!) – “Só se o seu usuário nunca tiver experimentado este tipo de feitiço.” – (do que está falando?) – “Porque não tenta usar o Lutka nela outra vez, sob a proteção das contas? Não vai funcionar! Pois é preciso que o portador delas já conheça o efeito desse tipo de feitiço para que elas realmente lhe protejam.” – (você me fez testar o Lutka nela apenas para que as Contas de Ovira pudessem protegê-la de mim?) ela realmente consegue me irritar– “De você não, mas dos outros.” – (que outros?).
Ela apenas sumiu.Cris
Eu o-di-ei quando ele se aproveitou desse tal de Lukta(?) para me fazer deitar na cama dele, e se não fosse pela ordem de dormir, nunca que teria conseguido fechar os olhos (o que é seu te espera Lance... pode acreditar! Deus nunca tarda). A cama não era das mais confortáveis, mas já dormi em lugares piores (quando o sono me vem, ele vem), eu só não dormi em pé ainda.
Quando ele me acordou para irmos embora, não queria me levantar, o feitiço acabou (Obrigada meu Senhor!!), sentia minhas pernas um pouco dormentes e ficar em pé agora não era uma boa ideia, mas quando ele me ameaçou usar outra vez aquela maldição em mim... Que se dane! Me levantei mesmo sabendo que podia cair dando um belo “não” para ele.
Ele me pões pra carregar a sacola, que ele tinha voltado a encher, enquanto mexia na “porta” do esconderijo e durante o percurso de volta. Minhas pernas ainda não tinham acordado e nem o sono me largado, por isso cambaleava (queria ter condições de guardar esse caminho, minha Mãe). Não tive outra escolha se não aceitar dar a mão a ele e receber ajuda para sairmos na cerejeira.
Acho que ele estava usando o poder dele, já que passamos por alguns guardas que nem nos deu atenção. Assim que entramos no quarto, larguei tudo o que carregava na mesa e me joguei na cama, voltando a dormir. Acordei com o som de pássaros e Absol ao meu lado, Lance dormia na poltrona e apenas a Pedra Cintamani permanecia sobre a mesa (o que e onde estão as coisas que ele me fez carregar?).
Fui ao banheiro e somente na hora em que ia lavar o rosto que eu percebi a pulseira que usava em meu pulso direito (desde quando a estou usando?). Deixei o banheiro a examinando.
– São Contas de Ovira. – Lance me observava ainda na poltrona.
– Pra que servem? Foi Absol quem me trouxe ou foi você que me deu? – um riso de escárnio lhe escapou (dependendo da resposta, jogo essa pulseira pela janela!).
– Absol lhe trouxe. – ele se levantava espreguiçando-se – E elas servem para lhe proteger de feitiços como o Lutka. – não tiro essa pulseira nunca mais!! – Que tal buscar o nosso café agora? Até dar a hora de todas as lojas abrirem? – ele ficou observando Eel pela janela (também, graças a minha localização... Tinha uma ótima visão da cidade e da floresta. Pena estar de costas para o mar) e eu acabei por lembrar.
– Você não esteve mexendo em meus grimórios de novo, né? – perguntei sem lhe tirar os olhos, aproximando-me da cama. Ele me sorriu outra vez, e sempre com malícia... (ele me arrepia!)
– Eu adoraria ao menos terminar de ler o dragônico, mas... – ele se afastou da janela com os braços nas costas – Preciso de sua permissão, não é verdade?
– Sim. – eu já os segurava nas mãos – E só por garantia... – peguei uma bolsa de ombro do meu guarda-roupa onde coloquei os grimórios – Os manterei sempre comigo agora. – (ainda bem que eles não pesavam!)
– E se alguém desconfiar? – ele estava preocupado comigo ou com os livros?
– Arranjo uma desculpa. – coloquei mais algumas coisas que me ajudariam com a “desculpa” – Vou buscar nossa comida. – saía – Não me demoro. – avisei antes de fechar a porta.
Durante o caminho nos corredores uma ideia me surgiu: será que Ezarel conhece proteções para impedir a entrada e saída de pessoas em meu quarto?Anya
A Cris conseguiu me convencer a deixá-la sozinha com o Lance ontem depois que a Miiko informou sobre as fiscalizações nos quartos, mas não consigo parar de me preocupar. Mais tarde, quase tremi quando me encontrei com a Erika e ela me disse que a Cris havia saído. Reavaliei o acordo entre eles baseado apenas na palavra do outro.
Se Lance quisesse sair, a Cris ou o Absol deveriam acompanhá-lo... Será que ele fez alguma coisa para forçá-la a acompanhá-lo? Tive que ouvir a reunião inteira que os líderes tiveram naquele fim de tarde e, tinha alguém pesquisando necromancia em Eel? Que perigo!! Também acharam mincus, mas nada do Lance (isso eu já esperava, mas minha preocupação só aumenta) e ficou pior ainda quando ouvi Valkyon dizendo que a presença de seu irmão estava com interferências (pra onde que ele foi com a Cris?!).
Só consegui tirar breves cochilos durante a noite. Levantei quando comecei a ouvir lapys e crowmeros cantando (eles ainda não terminaram de migrar não? Ou são todos pertencentes à alguém?). Saí em silêncio deixando um bilhete pra minha mãe, explicando que comeria no QG (tenho que ver a Cris!) e segui o meu caminho.
Mal passei a entrada da Sala das Portas e a vi deixando os corredores (graças aos deuses...!), corri até ela com um enorme alívio no peito.
– O que foi que aconteceu? Aonde você estava? E... – cochichei – ...o Lance?
– Vamos pegar a comida primeiro,... – ela falava após um suspiro (estou me preocupando de novo) – ...no quarto eu lhe conto tudo. Já tomou seu café?
Fiz que não com a cabeça e seguimos até o salão onde Karuto já estava de pé.
– Bom dia minhas Rainhas! – Karuto nos cumprimentava (o apelido que Ezarel nos deu pegou mesmo pro Karuto _riso_).
– Bom dia Karuto. – respondemos juntas.
– Caíram da cama hoje! Acaso havia mincus nas camas de vocês?
– Não! Nada disso! – nós riamos (mas bem que gostaria que fosse esse o motivo) – Apenas estamos querendo aproveitar um momento de paz. – a Cris explicava, olhando para mim – Tudo bem se nós duas comermos em meu quarto? Anya me disse que não comeu ainda e... prefiro não me arriscar.
– Não se ariscar a encontrarem aquele vampiro, estou certo? – perguntou o Karuto com cara de poucos amigos e nós só assentimos. Ele soltou um longo suspiro – Só um momento. A Cris eu já sei o que servir, e você Anya?
– Pode ser o mesmo que ela.
– Ok então. Dois leites com chocolate e um acompanhamento surpresa. – ele sorria ao entrar na cozinha e aguardamos ansiosas.
Notei a pulseira que ela usava – E essa pulseira? – ela apenas me disse um “depois” como resposta, já que Karuto nos entregava a comida. Pegamos, agradecemos e seguimos para “a gaiola dourada” o mais silenciosas possível. Fiquei abismada com o que nós duas vimos ao nos aproximarmos do quarto.
– Mas o que é que você está fazendo Becola?!?Nevra
Ainda não engoli o fato do Lance ter me escapado (pra onde será que ele foi?). Com certeza ele arranjou um jeito de fazer a Cris acompanhá-lo e, ou a Cris é muito boa em enganar os outros ou ela estava sob o efeito de algum feitiço para Erika não perceber nada de estranho com ela, considerando o estado em que ela ficou depois da reunião.
Todos (menos eu) que participaram das fiscalizações estavam aliviados e receosos ao mesmo tempo quando repassávamos os resultados para a Miiko. Aliviados por “ninguém” estar escondendo o Lance e receosos por “ninguém” saber onde ele de fato estava. Como esperava, Ezarel exigia a expulsão do absintiano que pesquisava necromancia e Miiko considerava fazê-lo. Suei quando Valkyon afirmou do nada que havia uma interferência na presença do outro dragão e da Cris (a Cris tinha-nos deixado uma desculpa, já o Lance...) o que me deixou ainda mais preocupado.
Ficou decidido então que aplicaríamos a ideia da Cris para que o baile (que seria daqui dez dias, contando a partir de amanhã) ocorresse o mais tranquilamente possível. A noticia seria dada entre nove e dez horas da manhã de amanhã, e o vanires que se ofereceu para ser o “falso Lance” iria tomar seu lugar na prisão durante a madrugada, acompanhado de Ezarel, Valkyon e eu.
Sabia que alguém havia ficado escutando nossa reunião e, como Karenn já estava fazendo parte dela, só havia mais uma pessoa que pudesse estar interessada nela. Ao deixarmos a Sala do Cristal, pude ver Anya afastar-se. Só não lhe fiz perguntas por que pela cara dela, estava tão perdida e nervosa quanto eu (nem ela sabe onde eles estão?!).
Na prisão, durante a madrugada, Valkyon e eu colocávamos as correntes em Almir, logo após ele ter tomado as poções que passaria a receber misturada à comida para manter o disfarce, quando Valkyon voltou a reagir do nada.
– Meu irmão voltou.
– O quê?! – todos nós olhamos para ele.
– E não só ele. Parece que a Cris também está voltando e ela... está perto de nós? – aquilo não me era surpresa. Graças ao bilhete que ela deixou, todos imaginaram que ela pudesse estar com as cheads quando ele deixou de senti-la com clareza, só o Lance era preocupação de todos.
– Vou tentar verificar! – disse deixando-os às pressas (se eu puder interceptá-los antes de alcançarem os quartos...)
Corri por aquelas escadarias o mais rápido e imperceptível que conseguia para não alertar aqueles dois. Confiei em meus sentidos para procurá-los: nos meus ouvidos para os seus passos (que é o que havia menos) e no meu olfato (o cheiro atraente dela era inconfundível!). Pro meu azar, eles já estavam nos corredores.
Tentei alcançá-los, mas não consegui. Ouvi a porta ser trancada bem diante de mim (mais que $@*%&*!!). Havia perdido não uma, mas duas vezes para aquele lagarto gelado. Tentei espiar pela fechadura, aproveitando que a porta ficava no meio do quarto e pude vê-la na cama, enquanto Lance mexia em alguma coisa na mesa (eu ainda pego esse canalha!!!).
Voltei à prisão para dizer aos outros que não havia achado nada e eles estavam tão chateados quanto eu.
– Onde está Valkyon? – perguntei ao dar falta dele.
– Foi tentar se encontrar com a Cris para lhe perguntar o que foi que ela fez para se esconder dele entre a floresta e o QG. – me disse Almir.
– Nevra, é impressão minha ou você já esperava que a Cris aparecesse junto do Lance? – me perguntou Ezarel cochichando.
Tentei disfarçar. – Mas do que é que você está falando?
– Tem a ver com o que me contou sobre ela esconder algo? – ele continuou sussurrando, próximo de mim.
– Me consiga uma “poção da verdade” que realmente funcione e saberá. – respondi a ele no mesmo volume.
Deixei a prisão novamente em silêncio, dessa vez para ir atrás de Valkyon. Disse-lhe que tinha visto a Cris no quarto enquanto procurava por Lance, o que o deixou desconfiado de mim (qual é Valkyon!). Segui com a ronda por Eel, já que era minha noite, pensando em um novo plano para dar um fim naquele acordo inaceitável sem prejudicar ninguém.
Amanheceu e resolvi voltar para dentro do QG. Vi a Cris e a Anya se encaminharem para o salão principal, ou seja, Lance estava sozinho. Corri até o quarto da Cris (será que ele falará sozinho hoje de novo?), qualquer informação que eu pudesse obter era preciosa. Comecei a escutar assim que fiquei diante da porta.
Eu não o ouvia falando sozinho, mas ainda ouvia barulhos muito baixos lá dentro. Dei uma espiada rápida pela fechadura e vi Lance arrumando alguma coisa na mesa e entrando no banheiro em seguida. Fiquei observando por mais alguns segundos.
– Mas o que é que você está fazendo Becola?!? – quase caí para trás de susto. O treino que dei a Anya foi melhor do que eu esperava! Seu “passo fantasma” estava perfeito (onde foi que a Cris o aprendeu também?).
– Cris! Anya. – ajeitava os cabelos para disfarçar minha surpresa – Não esperava encontrá-las assim. – elas me olhavam desconfiadas.
– O que planejava espiando meu quarto pela fechadura? – pensa Nevra...
– Queria lhe ver Cris, saber se estava tudo bem com você.
– Espiando-a pela fechadura?
– Não sabia se ela estava acordada ou não, e depois de anteontem... preferi não me arriscar outra vez. – elas ainda estavam nervosas e eu compreendo – Mas tudo o que vi foi um quarto vazio. – acho que elas relaxaram um pouco...
– E se eu estivesse lá dentro, sei lá, ME TROCANDO. – acabei coçando a cabeça sem graça (diacho, como é que eu fui me meter nisso?).
– Pararia de espiar na hora e esperaria um pouco antes de lhe bater. – continuava sem graça e elas, sem paciência ao que podia perceber.
– Já viu que eu estou bem... Bem irritada com você! Mais alguma coisa?
– Conseguiu achar o que queria para as suas aulas de alquimia?
– Consegui. – direta e seca.
– Como fez para voltar sem ser vista? – responder as perguntas de Valkyon sobre ela (com o Lance) também era importante.
– Usei os túneis subterrâneos. – sem mentiras (acho que irei lhes dar uma olhada depois).
– Sozinha?
– Eu nunca estou sozinha. – e continua sabendo como usar as palavras... – Algo mais?
Não tinha mais como fazer perguntas sem levantar suspeitas – Não. Perdoa-me por minha nova intromissão. – fiz-lhes uma longa reverência e saí fora de lá, antes que me fosse tarde.Lance 2
Depois que a Cris saiu, resolvi dar uma nova olhada nos pergaminhos de vestimenta que a Anya trouxe e na lista de materiais faltantes. Aproveitei para fazer algumas mudanças (eram minhas roupas afinal) e depois ajeitei tudo para que pudéssemos comer. Estava no banheiro quando comecei a ouvir conversas do lado de fora (aquela praga de vampiro estava espionando?).
“Nevra não lhes será um problema.” – apareceu a outra praga (e como que ele não será um problema?) – “Porque ele está morrendo de medo que você faça algo com a Cris, ou pior! Medo que a leve embora de Eel.” – continuava ouvindo a conversa vinda de fora (ele já sabe que eu estou aqui?) – “Ele ouviu o acordo que vocês fizeram e está tentando dar um jeito de acabar com ele. Sem vocês descobrirem...” – (eu devia era levá-la embora de Eel assim como ele está temendo.) – “Mesmo já lhe tendo frustrado os planos duas vezes?” – (quando?) – “Ao escapar desse quarto com a Cris lhe cobrindo e ao conseguir retornar para cá antes dele os flagrarem.” – então, já tínhamos um placar de 2x0 pra mim _sorriso_ (mas ele pode acabar nos delatando.) – “Não o fará.” – lhe ergui uma sobrancelha e a conversa lá fora parecia ter terminado – “Não sem antes adquirir provas e garantias de segurança para a Cris, Anya e todos mais de Eel. Ah! Ele também está tentando esconder isso das meninas para automaticamente esconder de você.”
– Chegamos. – Cris entrava com Anya ao seu lado, ambas claramente nervosas.
“Pense bem... Nevra faz parte da Reluzente e é responsável pelo controle de informações dentro e fora de Eel. Não é melhor tê-lo do nosso lado mesmo que secretamente?” – ela sumiu de novo (essa negra...) mas, as suas palavras... hum...
.。.:*♡ Cap.45 ♡*:.。.
Cris
Aquele Nevra... ARGH! Está passando cada vez mais dos limites. E vai acabar descobrindo sobre o Lance se continuar nesse ritmo! Preciso de férias, e dessa vez, férias de verdade _suspiro_. Depois que Anya e eu entramos, Lance não pareceu querer conversar sobre o que aconteceu (e nem nós duas também). Dividimos toda a comida em três e comemos enquanto repassava à Anya o que Lance havia me obrigado a fazer.
– E além da Pedra Cintamani, o que mais você e a Cris trouxeram desse seu esconderijo nos túneis?
– Apenas repus o que eu usei para o Lutka. Não estou a fim de ser cobrado por aquilo. – ele terminava de tomar o leite dele (então era isso o que ele me fez carregar...).
– E essas Contas de Ovira vão mesmo protegê-la de feitiços como esse aí? O poder delas não é um mito?
– Acha mesmo que o Absol ia ter o trabalho de trazer algo para ela se realmente não fosse útil? E além do mais, graças a um ser que conheci, e que sabe até demais pro meu gosto, sei que essas contas realmente protegem, desde que seu usuário já tenha sido vítima uma vez, como já fiz ontem.
– E que tipo de ser lhe contou isso? – acabei por perguntar.
– Uma espécie de vidente. Vocês não tem uma rotina pra seguirem hoje não?
– Está tentando se livrar da gente? – perguntou Anya.
– Estou tentando não dar motivos para aquele sanguessuga desconfiar de nós, caso ele realmente esteja apenas obcecado por ela... – ele me apontava o polegar – como vocês me disseram todos acreditarem.
– Acho que pode ter razão neste ponto. – disse corada.
– Ô Cris... – lá vem a Anya! – Qual é o problema de um homem e uma mulher ficarem sozinhos juntos? – quase engasguei com o lanche que Karuto nos deu e Lance pareceu corar de leve (será que ele era tímido com este tipo de assunto, por isso não me fez nada ainda?).
– Porque você está perguntando isso Anya? – Lance a questionava (por favor fica caladinha!).
– Bem... – (já era!) Anya explicou todo o acordo que ela conseguiu obter comigo ao se aproveitar quando eu não estava em condições, e escondia o rosto que me queimava. Falou até a pergunta que ela tinha de responder! – ...Minha mãe sempre me disse que um homem e uma mulher só podem ficar juntos sozinhos se forem casados; e outro dia, consegui perturbar minha mãe o suficiente para ela dizer que apenas marido e mulher podiam ter um bebê, então...
– Para que um bebê nasça é preciso que um homem e uma mulher fiquem juntos e sozinhos, é isso? – ele lhe completava o raciocínio.
– Exatamente! Eu estou certa? – vi Lance dar mais um de seus sorrisos maliciosos que me gelavam a espinha. E pro aumento do meu desespero (ele sabe falar japonês?!?!) seja lá o que ele disse à Anya, deixo-a muito contente. Ela lhe respondeu alguma coisa em resposta à cara séria que ele havia feito no final na mesma língua e correu pra fora do quarto dando um “Sayonara” para nós (meu Deus, misericórdia!).
Olhei meio receosa para ele – O que é que você disse para Anya...? – ele me sorria cúmplice.
– Apenas disse à ela que estava no caminho certo para a resposta da tal pergunta e... se ela conseguisse me convencer... faria companhia à ela para ver esse... animê? É isso?
– É _suspiro_ é isso. – ele sorria de canto (preciso lhe falar sobre o que se trata esse animê em particular depois) – Escuta... – ele me prestou atenção – ...quando eu recebi este quarto...
– O quê tem ele?
Coragem Cris... – Ele era cheio de proteções que foram removidas e pensei em pedir à Ezarel para recolocá-las nele... Algo contra?
– Que tipo de proteções? – ele me erguia uma sobrancelha.
– Contra intrusos... fugitivos... feitiços... – falei rápido.
– E você está querendo a recolocação dessas proteções por causa do vampiro ou de mim?
– Por causa do Nevra e de você. – ele recostou-se na cadeira para refletir, demorando-se em me responder – E então? Algum problema?
– Não. Realmente é melhor aumentarmos as nossas garantias. – aquilo me deu um pouco de alívio – Melhor você ir logo para a sua rotina.Leiftan
A Miiko fez o pronunciamento sobre a “captura” de Lance no momento combinado e a Cris estava certa, tirando aqueles que sabiam quem era o “Lance” da prisão (e que iriam fazer parte da segurança secreta durante o baile) todos ficaram extremamente aliviados com a noticia (ao menos por hora...).
Nevra resolveu vasculhar por conta os túneis outra vez e acabou encontrando as roupas que pertenciam ao Lance quando ele estava na prisão, e ficou decidido que vigiaríamos todas as entradas e saídas dos túneis, além de rondas periódicas dentro deles, com atenção redobrada (todo cuidado é pouco com o Lance).
Recomecei meu trabalho de mensageiro e faz tudo da Miiko, fui para o laboratório de alquimia deixar e recolher alguns relatórios com Ezarel e quase tomei um susto. Ezarel, um dos caras mais organizados que já conheci na vida no que se refere à alquimia, estava cercado por uma confusão de livros.
– Mas o que é que você está fazendo Ezarel? – me aproximei desviando de alguns livros.
– Leiftan? Oi! Pra quê veio? – ele mal tirava os olhos do que lia.
– Deixar alguns documentos e buscar os relatórios que não entregou ainda. – notei várias anotações sobre alguns livros – O que está pesquisando?
– Nevra me fez um comentário que tomei como desafio.
– E esse desafio seria...
– Uma poção da verdade, – isso me surpreendeu – já que ninguém conseguiu criar uma ainda.
– Não exatamente... – deixei escapar por conta de minha surpresa tapando a boca logo em seguida, Ezarel passou a me olhar sério.
– O que você quis disser com isso?
– Bom... – eu ainda estou tentando me redimir com a Erika e se isso ajudar... E foi um pedido de Nevra? – Lembra da explosão que acabei causando no laboratório uns dois meses antes da chegada da Erika em Eldarya?
– Aquela que deixou o laboratório interditado por mais de uma semana?!? – ele era o que tinha ficado mais furioso com aquilo.
– Essa mesma.
– Como esquecer!?! Você disse que estava preparando uma poção para uma missão que pretendia fazer, com Amaya ao seu lado e, que graças a um besouro iridescente, Amaya saiu atrás dele derrubando e misturando tudo o que tinha em seu caminho até aquilo acontecer!
Amaya ficou furiosa comigo por quase um mês com essa mentira – Na verdade, isso foi uma desculpa que eu dei pra esconder a verdadeira poção que tentava fazer.
Ele me olhava com uma mistura de fúria e curiosidade – E que poção você estava tentando fazer...?
– A mesma que você está pesquisando.
– Me mostre. – pediu-me ele estático.Cris 2
Não consegui encontrar Ezarel para perguntar-lhe sobre as proteções então decidi ter a minha sessão de treino antes de fazer as compras para o Lance e ainda bem que não deixei de colocar um bom agasalho depois que saí para fora (mas que friiiiio!!!!).
O treino dessa vez foi vendado, primeiro apenas com Valkyon, e depois com Shiro (Shiroiyoru) e Réalta, que acabaram ficando amigos meus nos treinos. Valkyon chegou a me perguntar sobre a ausência de Absol nos treinos e eu disse que ele estava me fazendo um “favor”. Como ele ficou desconfiado, tive que contar que flagrei Nevra me espionando (ele ameaçou colocar uma coleira no Nevra _riso_). Durante o treino, já tinha começado a me defender melhor, mas ainda tinha um longo caminho para o nível que eu desejava alcançar.
Na hora do almoço, o salão estava lo-ta-do! E foi a desculpa perfeita para pedir ao Karuto que me permitisse almoçar em meu quarto. Dividi a comida com o Lance, conversamos, me troquei, e fui às compras. Quando achei o último item que precisava, estava ficando tarde; minhas mãos cheias de sacolas, e estava quase sem ouro (é muito mais barato pagar com ouro do que com maana. Dureza me será repô-lo!). Parecia que estava carregando uns 50kg em cada mão, e olha que eu amarrei as sacolas ao pulso de modo a fazer tudo parecer mais leve. Não via a hora de me livrar daquele peso e tomar um merecido banho, Maaas um certo vampiro quis intervir em meus planos...
– Estou vendo que você teve um dia bastante cheio no mercado. – ele se aproximava de mim, cheio de charme (agora nããããão...). Estávamos no corredor do primeiro andar da torre – O que tanto tem nas sacolas?
– Itens para minhas aulas de alquimia, por que. – ele não parava de chegar perto.
– Parecem pesadas, não gostaria de ajuda para carregá-las?
– Não obrigada. Dou conta sozinha. – me virei pra seguir caminho e do nada ele apareceu bem diante de mim (meu Jesus, O QUE ELE ESTÁ TRAMANDO?!?), acabei dando um passo pra trás.
– Sabia que... – me afastava enquanto ele se aproximava – O seu cheiro está especialmente atraente agora? – acabei ficando contra a parede.
– E quanto ao toque de “mantenha distância” que a Karenn me falou? – não estava conseguindo desamarrar as sacolas para usar as mãos pra me defender (SOCORRO MEU DEUS!!).
– Também está aí. – impressão minha ou seus olhos brilhavam? (ALGUÉM!!!) Ele me cercou usando as mãos e estava próximo demais para um chute – Mas o lado atrativo está... com mais efeito.
Sua voz parecia mais doce e suave que o normal, e a forma com que ele me olhava naquele momento me levou o coração a boca. Estava tão nervosa que a minha voz tinha dificuldades pra sair e acabei por fechar os olhos quando lhe senti colocar uma das mãos no meu pescoço. Esperava o pior. Mas... o senti se afastar às pressas de mim com quase um grito. Abri os olhos e o vi sacudindo a mão que havia pegado em meu pescoço como se tivesse tocado em algo que não devia, na hora não me toquei, mas depois eu me lembrei: meu terço de prata, estava exposto hoje.Nevra
Eu só estava conseguindo me dar mal com a Cris, então pensei em me concentrar no treinamento de minha guarda hoje. Anya chegou contente para o treinamento (o que será que aconteceu?), mas perdeu o sorriso assim que me viu.
Durante o treinamento (onde Anya preferiu fazê-lo com a minha irmã) houve um momento em que ela me questionou se Contas de Ovira funcionavam contra poderes vampíricos (a Cris tem Contas de Ovira?!), eu lhe disse que elas só protegiam contra o nosso “controle” e, se o dono das contas já tivesse sido afetado pelo menos uma vez. “Então Absol fez mesmo bem...” a ouvi dizendo em um sussurro com um sorriso largo no rosto ao retornar pra junto da Karenn (é, a Cris ganhou Contas de Ovira...).
O dia seguiu e eu não vi mais a Cris hoje. Acho que irei ficar de olho no que acontece no quarto dela somente de madrugada, fazê-lo durante o dia só me ferrava! Eu ainda nem tinha acessado a Sala das Portas quando comecei a sentir... um cheiro inesquecível que estava especialmente forte e mexendo com a minha cabeça... era o cheiro da Cris. O sentia mais sedutor e atraente como nunca jamais tinha visto igual, assim como aquela sensação que me gritava “fique longe”. Talvez Ezarel tenha um pouco de razão, talvez eu realmente esteja querendo provar o sabor dos lábios dela e por isso cometia tantas gafes ao querer ajudá-la com o Lance.
A vi entrando nos corredores com as mãos sobrecarregadas, corri para alcançá-la (se não puder usar as mãos, tenho mais chances de conseguir o que quero e ainda sair inteiro). Usei todo o meu charme para assustá-la o mínimo possível, ela ainda tentava escapar de mim, mas consegui cercá-la. Quanto mais próximo ficava da fonte daquele aroma, menos conseguia controlar meus instintos, e as reações dela me deixavam cada vez mais fascinado.
Eu teria a beijado, dando-lhe um beijo que ela nunca esqueceria... se eu não tivesse sido obrigado a me afastar com algo queimando dolorosamente a palma de minha mão que estava segurando-lhe a base do pescoço (mas o que é que...???).
– Me diga Nevra... – não parava de analisar a minha mão e ela parecia falar tranquila (será que foi ela?) – ...alho é capaz de afastar os vampiros?
Não pude evitar de deixar uma risada me escapar – Pão de alho é um dos meus favoritos!
– E a luz do sol? Não o de Eldarya, mas sim o da Terra.
– Digamos que somos meio alérgicos, mas como iria trazê-lo?
– Agua benta!?
– É alguma nova bebida da Terra? – brinquei.
– E... Prata abençoada...? – prata?
– Eu não sei o que você quer dizer com prata abençoada, – Karenn surgia de trás de mim quase me fazendo dar um passo na direção oposta a ela – mas prata energizada é capaz de nos queimar tanto quanto o sol terráqueo. – Karenn exibia o mesmo sorriso da Cris.
– O que faz aqui Karenn? – segui com o meu olhar para Cris que ainda sorria e prestei-lhe atenção no colar negro que ela usava – Esse seu colar, é de PRATA?
– Prata pura... – respondia ela com doçura (não acredito). – Metais não costumam se dar bem com a minha pele...
– Anya me contou o que você fez mais cedo irmão querido. – voltei a olhar pra Karenn – E ela me pediu pra tentar dar um jeito em você! Só não esperava que o cheiro da Cris fosse capaz de nos afetar tanto assim... – ela dava de ombros e eu voltava a analisar minha mão meio que sem saber o que fazer – Anda, vem comigo. – Karenn me puxava pelo pulso – Vamos até a Ewelein para tratar disso e... Cris, vá logo tomar um banho para amenizar o seu cheiro com sabão. Nevra e eu não somos os únicos vampiros por aqui sabia!
– Pode deixar. – respondeu ela sumindo pelos corredores.
MAS QUE INFERNO!!Lance 2
Depois que a Cris me deixou sozinho com Absol, não sabia bem o que fazer. Comecei produzindo uma pomada analgésica com parte dos itens que trouxemos do esconderijo, pois já começava a sentir dores por dormir sentado. Depois resolvi assistir ao treinamento da Cris pela janela (é melhor não abaixar minha guarda com ela...), ela era boa com a espada.
Durante o almoço, ela me contou que não havia encontrado o elfo e me explicou do que se tratava aquele tal de Hellsing. Ela aproveitou que Anya não estava e nem tinha uma cópia da chave ainda para me mostrar o primeiro dos dez episódios que ele tinha. Achei o conteúdo bem interessante (não esperava aquele lado sombrio de alguém tão defensora da vida), mas definitivamente não é algo que recomendaria à uma criança (Anya vai ter trabalho para me convencer à acompanhá-la).
Acabada a refeição, ela se livrou da roupa de treino e saiu para comprar os itens da lista de alquimia e para encomendar a chave de Anya. Tentei acompanhá-la pela janela lá fora, mas não consegui. Quando ela retornou, estava feliz (feliz demais pro meu gosto) mesmo parecendo exausta.
– O que foi que aconteceu? – ela abriu ainda mais o sorriso.
– Descobri que trouxe uma proteção anti-vampiros comigo da Terra, sem saber.
– Como?? – ela me contou toda a historia enquanto se livrava das sacolas, em detalhes.
Não sei bem o porquê, mas tive uma vontade enorme de arrancar a cabeça daquele vampiro. E pelo o que ela contava, ele usou o “controle” nela (ainda bem que ela estava com as contas...). Aproximei-me dela enquanto ainda se libertava de todas as sacolas para examinar lhe o colar e ela se afastou por reflexo.
– Posso? – apontava-lhe o colar e ela me permitiu tocá-lo – Então... – eu sentia a energia dela fluindo na joia – O seu “terço” é feito de prata, e que está energizada. – ela sorria de leve.
– Provavelmente tenho muita acidez no sangue e no suor, pois quando o coloquei em meu pescoço pela primeira vez, ele era mais branco que qualquer metal novo.
– E eu que pensava que ele fosse de ouro negro ou rotinide...
– Rotinide?
– Pode ser que na Terra ele tenha outro nome... Você provavelmente foi quem energizou a joia. Deve ter rezado muito com ele enquanto emitia maana na caverna.
– Acha que eu caí na floresta para ganhar tempo antes de vir a Eel? – ela se livrava da última sacola.
– Não é impossível. – por um instante ela pareceu preocupada – Melhor ir logo esconder o seu cheiro natural, não?
– Cuida das suas coisas enquanto eu tomo banho? – ela já começava a tirar a camada de roupas extras e eu apenas comecei a separar tudo.
Estávamos no meio de nossas ações específicas quando bateram na porta. Era Anya, e pelas batidas usadas, estava acompanhada. Fui para um dos cantos do quarto e Absol foi atrás da Cris para que ela abrisse a porta. Ela deixou o banheiro enrolada em uma toalha e me olhando séria. Em resposta, apenas passei para trás do biombo que tinha às minhas costas. A ouvi destrancar a porta.
– O que houve Anya? Eu estava no banho!
– Foi mau aí, mas é que chegou trabalho para você.
– Trabalho? – (como é?).
– Sinto muito por interromper o seu banho,... – a voz era de um homem, mas ao menos não era do sanguessuga – ...mas capturamos dois contaminados agora a pouco.
– Ah, entendi... – eles ainda estão vindo? – Aonde eles estão agora?
– A senhorita Karenn nos repassou que você estaria muito cansada provavelmente então, para lhe facilitarmos, os estamos levando para a Sala do Cristal.
– Agradeço a consideração. – vão enrolar até quando? – Assim que estiver arrumada irei descer. – finalmente ela voltou a trancar a porta – Já pode sair.
– Porque se preocupa com esses contaminados? – perguntei retornando para a mesa e ela já havia retornado ao banheiro.
– Pensei que tinha ouvido o discurso da Cris pro Ezarel quando ela esteve lá pela primeira vez. – Anya conferia os itens ainda ensacados sobre a mesa.
– Fala daquele papinho meloso sobre respeito à vida? – voltei a terminar de separar as coisas.
– Não me banque o Ezarel, por favor... – ela deixava o banheiro já vestida (hah. Quando ela quer, ela é rápida).
– Não me compare com aquele elfo engraçadinho.
– Então não aja como ele! Nada é capaz de substituir uma vida.
– Se não fosse por mim, você nem teria mais uma vida para continuar os ajudando. – ela suspirava como que cansada (ainda quero eliminar cada raça faery que agiu contra os dragões).
– Tentarei ser rápida. Anya, você me acompanha ou vai ficar?
– Vou junto! – criança... largou tudo assim que a Cris perguntou se ia ficar.
Elas saíram logo depois da Cris pegar alguma coisa de dentro das sacolas (deve ser a chave da Anya). Acho que foram uns quarenta minutos que se passaram depois que a Cris chegou acompanhada de Anya, Erika e... meu irmão (isso vai ser um problema...).
– Deixe que eu pego a chave dela. – era a Erika.
Ouvi o som da chave destrancando enquanto me escondia atrás do biombo, mas se eu conheço o suficiente dos poderes de Valkyon, isso não ia bastar.
“Não se mecha.” – (o que está fazendo Negra?) ela me grudava ao pescoço – “Te ajudando.” – a porta abriu – “Estou enfraquecendo sua presença para que seu irmãozinho não o descubra.”
Revirei os olhos para ela e passei a prestar atenção no que acontecia.
– Acho melhor não a chamarmos mais ao final do dia.
– Erika, eu estou bem!
– Tão bem que precisou ser carregada por seu chefe para poder retornar ao quarto. – porque vê-la nos braços de meu irmão me incomoda?
“Está com ciúme!?” – (não enche!) – “Hihihihi!”Cris 2
Mal entrei na Sala do Cristal e eu já fui assumida pela minha pedra como sempre. Os contaminados eram duas mulheres, uma com asas membranosas e pele pálida e a outra com asas ao invés de braços e garras no lugar dos pés (a segunda deve ser uma harpia), elas estavam sendo contidas por Jamon e Valkyon que, após a minha entrada, soltava-as devagar. Ewelein, Erika, Karenn e Miiko também estavam presentes.
Dessa vez eu as abracei juntas, e não um de cada vez como sempre tem sido até agora. Os fragmentos que lhe deixavam os corpos se fundiram direto com o Grande Cristal, assim como os fragmentos que ainda estavam em meu colar (não tinha ido ver o Cristal depois dos cinco últimos...). Acabado tudo, Erika e Ewelein correram até as duas para lhe conferirem a saúde e eu, comecei a perder as forças nas pernas sentando com tudo no chão e quase derrubando Anya que se pões do meu lado. Meu corpo havia alcançado o limite. Ewelein ainda me examinou um pouco enquanto aquelas mulheres eram levadas para a enfermaria por Jamon e Karenn (Karenn é mais forte do que imaginei!).
– Eu estou bem Ewelein. – lhe explicava – Apenas cansada. Uma boa noite de sono e ficarei normal outra vez.
– É melhor que Valkyon a carregue até o quarto... – (oi?!?) – ...e amanhã cedo, Ewelein pode te examinar melhor. – declarava Miiko. Óbvio que eu e Anya ficamos preocupadas.
– É uma boa ideia, Miiko. – (não diz isso, Erika...) – Valk? – em silêncio ele me pegou em seus braços (como ele era quentinho!). Eu até tentei resistir à ideia (que me deixou vermelha), mas ele apenas me lançou o mesmo olhar que Absol me dava para dizer “obedeça!” (fala sério meu Deus!) – Não se preocupe Cris. – acho que a Erika notou o porquê do meu corar – Eu vou junto de vocês.
Saímos. Preocupada com a possibilidade de Valkyon perceber o irmão em meu quarto, tanto Anya quanto eu tentava convencer o casal a me deixar seguir só com Anya, mas não adiantava. “Miiko encarregou a mim e a Erika a cuidarmos de você e é o que faremos” confessou Valkyon durante o percurso (Senhor, forneça o milagre por favor... Desde já agradeço!).
.。.:*♡ Cap.46 ♡*:.。.
Ezarel
Não sei se sinto raiva ou gratidão com o que o Leiftan disse, a verdade sobre aquela maldita explosão que ele causou...
– Me mostre. – foi tudo o que falei com o choque de saber que já existia uma poção da verdade.
– Venha comigo até o meu quarto então. – segui-o.
Estando nós dois lá dentro, Leiftan foi até a estante e, detrás dos livros, ele tirou um pequeno livro de aparência antiga. – Que livro é esse que estava escondendo?
– Este é meu livro de encantamentos secretos aengel, meu grimório por assim disser. – ele lhe folheava as páginas.
– Grimório aengel. – aquilo me parecia piada.
– Erika só está viva ainda graças a este livro. – sério isso? – Foi desse livro que eu tirei o ritual que me permitiu salvá-la quando o meu ex-sócio quase terminou de destruir o Cristal... Achei! – ele me estendia o livro aberto – Foi essa a poção que eu estava tentando recriar naquele dia.
– Deixe-me ver. – peguei o livro que estava escrito na língua original e, Santo Oráculo! Numa classificação de um a dez, com o dez sendo o mais difícil, aquela poção era cem! – Mas essa poção é quase impossível! Tem certeza que ela funciona?
– Porque acha que me arrisquei fazê-la? E nem você consegue reproduzi-la!?
– Eu disse que era quase impossível. Não há poção neste mundo que eu não consiga produzir. E não vai ser essa a primeira. – o problema era o tempo.
– Devolva o livro, irei copiar a receita para você. Prefere traduzida ou pode ser na língua original?
– Copie exatamente como está escrito. – lhe devolvi o livro – Pelo pouco que vi, tenho quase tudo o que preciso já no laboratório, o resto encontro no mercado.
– E qual seria o problema maior? – ele não tirava os olhos do papel em que escrevia.
– O tempo de preparo. Muitos dos elementos precisam passar por um processo antes.
– Processo? – ele parou com a cópia – Que tipo de processo? – estava explicado o motivo da explosão.
Contei-lhe quais itens tinham de receber uma preparação antes de serem utilizados para evitar “acidentes”. Foi a pressa dele que quase mandou o meu laboratório para os ares naquele dia. Depois que ele terminou de me copiar a bendita fórmula, fui ao mercado eu mesmo atrás dos itens faltantes (não vou arriscar repetir o mesmo erro de Leiftan por usar ingredientes de má qualidade) e depois voltei ao laboratório para prepará-los.
Estava tão concentrado naquela poção nível S Arcano, que nem percebi o dia e a noite acabarem. Era a pré-preparação de meu último ingrediente que terminava, quando senti uma mão cadavérica congelada em minha nuca. Gritei de espanto (como é que pude baixar a minha guarda desse jeito?).Cris
Chegamos ao meu quarto. Eu ainda tentei uma última vez ser deixada sozinha com Anya, mas não dava. Eu já havia entregado a cópia da chave à Anya, porém o combinado era de manter isso em segredo, então Erika pegou a chave que eu tinha passado a carregar em meu pescoço por baixo da roupa (como Lance parecia decente, ali ele não ia mexer. Espero.) para destrancar e entrarmos (oh meu Jesus...!).
Entramos e Valkyon foi direto me deixar na cama, de onde vi Lance atrás do biombo usando os seus dons e... Valkyon não o estava percebendo? (mas ele não havia me reparado assim que entrou na enfermaria naquele dia?). À pedido da Erika, Valkyon ficou esperando do lado de fora enquanto ela e Anya me ajudavam a colocar um pijama. Claro que encarei o Lance por um segundo e, mesmo ele parecendo estar impaciente, ele entendeu que era pra ficar de costas pra mim, e fiz o que pude para Erika sair logo também.
“Todos” saíram acompanhados de Absol, que pegou a chave passada por baixo da porta depois de trancada e entregou-a a mim. Dormi quase que na hora e por isso não pude conversar com o Lance, estava de fato cansada. Amanhecido o dia (que parecia estar mais frio que ontem), vi Absol dormindo do meu lado e Lance dormindo na poltrona outra vez. Sua expressão ao dormir não me era muito agradável.
Fui ao banheiro já carregando uma troca de roupa, quando voltei, Lance se espreguiçava e o estalar do pescoço dele não me agradava.
– Bom dia, está tudo bem com você? – falei receosa com ele ainda estalando o pescoço.
– Posso dar um jeito nisso. – respondia ele inexpressivo, prova que estava certa em me preocupar.
– Depois de arranjar-lhe roupas, vou tentar lhe conseguir nem que seja um colchonete para que possa dormir melhor. – o que eu fiz enquanto cuidava do Chrome foi tomado pelas cheads bebês, por isso ficou na caverna.
Ele me sorria com escárnio – Não é necessário.
– É sim! – paciência meu Senhor... – Sei o valor de uma boa noite de sono para a saúde física e mental, e uma poltrona não fornece o mesmo que uma cama.
– Preocupada que eu faça algo por conta de mau humor?! – ele me erguia uma sobrancelha.
– Pode ser... – acho que estou me acostumando a conviver com ele... e outra... – Me diz Lance, porque foi que o Valkyon não o descobriu ontem? – aquilo ainda não me fazia sentido e aquela cara vazia com a minha pergunta...
– Acho, que não é errado dizer que alguém me protegeu.
– Alguém, quem? – ele ficou calado com a mesma expressão, respirei fundo – Não importa. Contando que tudo continue bem... – (obrigada Senhor pelo milagre.)
– Vai tentar falar com o elfo de novo? – ele dobrava a coberta por ele usada enquanto eu arrumava minha cama.
– Vou sim. Querendo mudar de ideia? – ele não respondeu nada e o som da porta sendo destrancada me chamou a atenção.Anya
Ontem à noite eu suei frio. Ainda não entendi o que foi que aconteceu pra que ninguém desconfiasse do Lance ali dentro, mas agradeço à todos os deuses por tudo ter corrido bem. Achei melhor eu mesma levar a comida da Cris pra ela, ao invés dela ter de descer para subir outra vez e assim alimentar o Gelinho, depois de tudo o que aconteceu com ela ontem (ainda dou um jeito naquele Becola. E em pensar que eu já o respeitei antes...).
Quando entrei no salão, a Ewelein conversava com o Karuto – Anya! – Karuto me chamava – Chegou na hora certa, pequena Rainha!
– E o que deseja de mim Karuto? – me aproximei com um sorriso (amo aquele apelido).
– Quero que leve o desjejum da Cris para ela. Ewelein acabou de me contar o que aconteceu ontem.
– Sobre o meu chefe ou sobre os contaminados?
– Os dois. – ele me sorria maliciosamente (tadinho do becola... _sorriso_).
Ele me entregou a bandeja de comida e Ewelein me pediu pra lembrar a Cris que ela tinha uma consulta, o que prometi fazer. Segui meu caminho com a bandeja em mãos e usei a chave que a Cris me confiou em segredo do QG.
– Bom dia vocês dois. – cumprimentei ao ver os dois já de pé – Trouxe o café de vocês a pedido do Karuto. Ewelein conversou com ele... – colocava a bandeja sobre a mesa.
– Obrigada Anya. – ela se aproximava da mesa – Sabe a que horas o Ezarel está no laboratório?
– Está lá desde ontem. Pra que quer falar com ele?
– Lembra que tiveram que remover uma tonelada de proteções para poderem abrir este quarto pela primeira vez? – (e como esquecer...)
– Está querendo manter o Becola fora ou o Gelinho dentro? – só havia essas razões para aquele tipo de pergunta.
– “Gelinho”?!? – Lance interrompia de morder uma torrada ainda quente.
– Os dois. – ela respondeu e se voltou para o Lance – “Gelinho” foi o que decidimos usar para nos referirmos a você lá fora sem levantarmos suspeitas, tem uma sugestão melhor?
– Parece nome de mascote. – ele não escondia o desprezo pelo apelido.
– Por isso mesmo! – dissemos juntas e ele pareceu ainda mais chateado enquanto nós, acabamos por sorrir uma pra outra.
– Ewelein me pediu para lembrá-la de sua consulta hoje.
– Irei vê-la antes de qualquer coisa. Pode deixar. – ela me sorria.
Os observei comerem um pouco e depois comecei a olhar para os materiais que usaríamos para fazer as roupas de Lance com alquimia. – Quando é que iremos fazê-las?
– Não pode ser na hora de nossa aula mesmo?
– Apenas queria confirmar. Ah! – coloquei a marmita que minha mãe me deu em frente ao Lance – Antes que eu me esqueça, este é o seu almoço... – Ele me olhava – O almoço que minha mãe me preparou hoje. Depois eu como com a Cris.
– E se lhe questionar sobre a comida? – Lance erguia uma sobrancelha.
– Fácil! Apenas digo que alguém comeu. Pronto! – olhei para o relógio – E acho melhor eu ir indo, antes que o Becola resolva pegar no meu pé. – corri para a porta.
– Boa sorte pra você! – ouvia a Cris me dizer.Cris 2
Terminei de comer a minha parte e segui para a minha rotina do dia, deixando Lance sozinho com o Absol (assim que as proteções forem recolocadas, Absol volta a ficar livre). Devolvi a bandeja que Anya trouxe à cozinha, agradecendo ao Karuto pela (meia) refeição e depois me dirigi à enfermaria. Ewelein me examinou dos pés à cabeça.
– Você tem mesmo comido tudo o que Karuto vem dando à você? – Ewelein me questionava ao final dos primeiros exames.
– Nem mesmo um farelo fica pra trás! – nenhum de nós dois queria desperdiçar um grão que fosse.
– Estranho. – ela analisava um gráfico – De acordo com essas linhas, sua alimentação está um pouco fraca.
– Pode ser que eu esteja me cobrando demais nos treinos... – tentava eu entornar aquela situação – E pode ser que a descontaminação dos faerys cobre bem mais de mim do que imaginávamos...
– Hum... – ela me olhava de lado com uma sobrancelha erguida (aiaiai, meu Pai...) – É, pode ser. – (ufa!) – Conversarei com Valkyon mais tarde, e repassarei a Miiko que só lhe chame para purificar os contaminados de manhã. E apenas os que forem capturados até o começo do dia! – ela me apontava um dedo acusatório (a segunda parte eu agradeço!) – Nenhum mais até o dia seguinte.
– Como ordenar, Senhora Ewelein. – disse com uma reverência de cabeça.
Ela terminou de me examinar e depois me liberou. (MAIS QUE FRIO!!!) Detesto extremos de tempo. Minhas mãos estavam tão frias ao esfregá-las, já que elas sempre me agiram como uma espécie de termômetro, que eu acho que até o gelo está mais quente do que elas agora.
Fui para o laboratório e bati na porta de leve. Sem resposta. Bati mais uma vez e testei a maçaneta. Destrancada.
Entrei devagar, Ezarel estava lá e parecia bem concentrado. Me aproximei com cautela para não lhe atrapalhar e ter certeza que podia falar (não vou me arriscar a causar um “acidente”). Ele pingava alguma coisa em um frasco com folhas imersas e uma imensa vontade de tocar-lhe a nuca exposta com as minhas “mãos de gelo” me subiu (é maldade, mas AMO essa “brincadeirinha”). Seja lá o que ele estiver preparando estava mesmo lhe tomando a atenção ou do contrário ele já teria me notado, esperei ele terminar. Assim que suas mãos ficaram livres... foi a vez de uma das minhas aprontar.
– AAAAAAAAAAHHHHHHHH! – a reação do Ezarel foi uma das melhores que eu já vi! (como eu amo isso!) Não parava de rir por causa dele! – Demônio! O que é que você está fazendo aqui sua morta!? – ele esfregava a própria nuca.
– Desculpe, não resisti! – tentei controlar o riso – Queria lhe perguntar uma coisa e também... – ainda ria – ...lhe pedir um favor.
– Faça a sua pergunta! – ele voltava a se sentar – Mas esqueça o favor!!
– As proteções que vocês removeram de meu quarto, – me controlei – ...antes dele se transformar em um quarto, podem ser recolocadas?
– Podem. Mas pra quê que você as quer de volta?
– Para me proteger, ora essa. Pra quê mais seria?
– Proteger do quê? – ele está mesmo aborrecido.
– Além de Nevra? – vou ter que apelar... – Que tal de Lance. – se ele ficar incapaz de sair, protegerá muita gente.
– E porque Lance lhe seria um problema? – esse elfo está falando sério?
– Ué, mas não foi ele quem quase destruiu Eldarya? E eu pensei que tivesse sido trazida pra Eldarya porque era a chave para salvá-la...
– Hum... – agora ele ficou sério – De fato aquelas proteções todas impediam tanto a entrada quanto a saída de intrusos e maldições, e eram todos encantamentos de alto nível que poucos podem reproduzir.
– E você é um deles?Ezarel 2
Se eu sou um deles... hunf. Quem ela pensa que eu sou? – Sou o melhor deles!
– Então você poderia repô-las pra mim, Ezarel. – pediu ela toda doce... até parece!
– Depois do que me fez? Arranje outro! – lhe dei as costas.
– Ok. Me diz então quem é melhor que você.
– É o quê?!?!? – voltei a encará-la – Não existe ninguém melhor do que eu em toda a Eldarya!
– Não foi isso o que a Anya me contou... – ela só pode estar brincando comigo – Acho... que ela disse que...
– Que o quê?
– Chrome era melhor que você!
– Nunca! – me comparar ao encrenqueiro da Sombra? – Ele não é capaz se quer de chegar aos meus pés!
– Como posso ter certeza? Você não que me ajudar... – ela está me provocando (será por isso que Nevra a persegue?) – Vou ver se o Chrome pode fazê-lo pra mim. Tchauzinho.
– Espere! – peguei-lhe no pulso para não sair – Eu faço. – de jeito nenhum vou deixar aquele lobo levar vantagem sobre mim.
– Tem alguma coisa que você precisa que eu tenha que buscar? – ela me perguntou sorrindo (sua...).
– Só preciso que tenha em mãos todas as chaves de seu quarto. E eu preciso preparar algumas coisas antes.
– Quanto tempo vai levar?
– Até o almoço eu termino. Passo no seu quarto depois de comer.
– Combinado então. – ela saía – Obrigadinha!
Fechou a porta. Sorrateira e manipuladora... O que foi que a impediu de entrar na Sombra??
.。.:*✧ Capitulo especial – Amores e Amizades ✧*:.。.
EZAREL e Nevra
Depois de ter terminado de arrumar as coisas para as proteções do quarto da... “caçadora” (este serve), fui ao refeitório almoçar. Encontrei Nevra deixando a enfermaria e seguindo para a mesma direção.
– Nevra!
– Ah, oi Ezarel, como vai. – ele me parece meio disperso, não é comum dele.
– O que foi que aconteceu? Pra quê essa mão enfaixada? – perguntei ao notar lhe a mão.
– Prefiro não comentar... – ele encarava a própria mão com desgosto – Vai almoçar agora também?
– Sim. Antes que o salão fique cheio.
– Então vamos logo. – e seguimos para o salão.
Já sentados em uma mesa, voltei a olhar a mão enfaixada dele e me recordei de meu pescoço (será que...) – Acaso a Cris está envolvida na historia dessa sua mão aí? – perguntei.
– Tá tão na cara assim? – acabei esfregando minha própria nuca.
– Não, mas eu imaginei... ela me pediu hoje cedo para que eu recolocasse a proteções que removemos do atual quarto dela.
– Aquelas que impediam a entrada e saída de qualquer um que não tivesse a chave do quarto? – porque parece que ele está suando frio?
– Essas mesmas, algum problema?
Ele esfregava o rosto antes de responder – Estou só um pouco preocupado com ela e... com o Lance. – sussurrou ele as últimas palavras.
– Você não está começando a gostar da Cris como foi com a Erika, está? – um erguia uma sobrancelha para o outro.
– Não acredito que seja isso, mas e você? Alguma chance de acabar acontecendo o mesmo? Afinal, você já beijou a Erika uma vez...
– Está falando da poção de Mnemosine? Aquilo nem foi um beijo e eu nem sei o que é que eu estava pensando na hora!
– Pode ser, mas Valkyon ficou de evitando por quase duas semanas depois que ela revelou a forma com que bebeu aquilo no caso da Colaïa. – o Nevra tinha que lembrar...
– E você só está vivo hoje graças à ela. – completei.
– Deve ter sido retribuição. Afinal, fui eu que a salvei da água em sua primeira missão com Chrome.
Acabamos por ficar em silêncio por um momento e foi ele que o quebrou.
– Teve alguma sorte com o que eu lhe pedi?
– Fala da poção da verdade?
– Essa mesmo.
– Não vai me acreditar...
– O quê?
– Lembra da explosão que o Leiftan causou no meu laboratório?
– Como esquecer... Você reclamou daquilo por mais de mês! – ele disse sorrindo e ficando sério em seguida – Mas o quê isso tem a ver?
– Leiftan mentiu. O que ele estava tentando fazer quando destruiu o laboratório era uma poção da verdade.
– É o que! – ele me arregalava os olhos – Bem que eu percebi que tinha mentira naquela historia dele.
– Ele me copiou a receita da poção, mas ela é de nível arcano, classe S. – o vi coçar a cabeça.
– Quanto tempo para ficar pronta?
– Eu diria... umas duas semanas. Há vários preparativos a serem feitos se eu quiser evitar aquele desastre.
– Tudo isso!? Ao menos essa poção funciona de verdade?
– Bom... pra isso pretendo testá-la com o Kero. – falei.
– Porque ele? Sei que Kero é um dos caras mais confiáveis para guardar segredos e informações de sigilo, mas não tem outras pessoas em quem gostaria de testá-la mais? Como o Karuto por exemplo?
– Não vou negar que realmente tenho questões com o Karuto, mas só vou lhe dizer o motivo se me falar sobre essa mão aí.
– Porque foi que Leiftan resolveu te ajudar? – ele mudou de assunto por quê?
– Não sei. Vai ver ele acha que pode se redimir um pouco com isso. Tudo bem se ele ficar sabendo o porquê de seu pedido por essa poção?
– Ele já anda me cercando de alguns dias pra cá, então ele pode ajudar.
– E porque ele está na sua cola? O que foi que você fez?
– Não é o que fiz, e sim o que descobri. – eu o encarei por um instante – Só que eu preciso de confirmação, por isso lhe pedi pela poção. – ele completava – Acha... que a Cris seria capaz de nos trair?
– Tanto quanto a Erika seria capaz de fazê-lo. Elas meio que se parecem.
– Aí é que está o meu maior medo...
– O que quis dizer? – ele já está é me intrigando.
– A Erika está vindo. – foi tudo o que ele me disse e acabamos por encerrar a conversa.
.。.:*♡ Cap.47 ♡*:.。.
Cris
Deixei Ezarel e segui para o meu treino (ainda bem que Absol estava de olho no Lance ou meu treino seria um inferno!), nem dá pra comparar o treino de Valkyon com o treino de Absol, o de Valkyon é mais... gentil, vamos assim disser. Shiro e Réalta foram meus parceiros outra vez, enfrentei os dois de olhos vendados e ao mesmo tempo, dessa vez com duas espadas. Aos poucos retomava as capacidades que tinha antes de Absol aumentar o peso das espadas.
– Já chega de treino. – declarou Valkyon – Principalmente você, Cris!
– A Ewelein já conversou com o senhor? – tirava a venda ofegante.
– Acabei de encontrá-la. E ela não quis me acreditar quando falei que seus treinos já estavam sendo mais leves sem Absol aqui!
– Você vai me desculpar Cris... – falava Shiro – Mas aquele seu guardião, é uma peste de mestre! O que foi que fez para ele não aparecer no treino?
– Ele está fazendo a segurança do meu quarto. – vai ser dureza quando ele voltar a me treinar... – Pelo menos até as proteções que haviam nele antes serem recolocadas.
– Quem vai fazer isso? – Valkyon perguntou.
– Pedi ao Ezarel antes de vir para o treino.
– E ele aceitou!? – era Réalta – Como?!?
– Meio que o convenci, usando seu ego contra ele...
Um riso escapou de Valkyon – Essa você vai ter que me contar! – ele recolhia nossas espadas de treino – Mas agora, vamos almoçar, eu te acompanho.
– Réalta, Shiro, vocês querem comer com a gente? – convidei-os (assim só preciso contar o que fiz uma vez) e eles aceitaram de bom grado.
O salão hoje estava bem mais vazio que os outros dias, porém a Erika junto de Nevra, Ezarel e Anya havia nos chamado para a mesa deles (bom, há lugar pra mais quatro então, porque não?), fomos até lá.Erika
Ewelein já havia conversado com a Miiko e comigo sobre os exames da Cris e aquilo me pareceu um pouco estranho. Perguntei se mais alguém parecia estar passando pelo o mesmo que a Cris e ela me contou que Anya também estava dando pequenos sinais de fraqueza e por isso teria uma conversinha com o Nevra (não acho que seja culpa dele...).
Terminados os meus deveres da manhã, resolvi ir almoçar. Encontrei Nevra e Ezarel conversando sentados em uma mesa grande no salão.
– Olá vocês dois.
– Olá Erika! – responderam em uníssono (sobre o quê que eles conversavam?) e notei a mão enfaixada de Nevra.
– O que lhe aconteceu Nevra?
– Prefiro não comentar. – ele fechava a cara (aí tem...!).
– Tudo bem se eu e Valkyon comermos com vocês?
– O seu noivo já está vindo? – (_corada_) me perguntou Ezarel.
– Provavelmente... mas, não somos noivos... – (ainda).
– Vocês já habitam o mesmo quarto, o que ele está esperando? – Ezarel sorria de canto.
– Deixe eles Ezarel! – Anya! – Quando for a hora, o casamento deles sai! – é o que!? (_mais corada_).
– Se forem comer com a gente, sentem logo. – ordenava o Nevra. Eu fui pegar comida pra mim e Anya ficou para trás, disse que ia esperar pela Cris. Mal me sentei à mesa com a minha bandeja e vi o Valk entrar no salão acompanhado da Cris, do Shiroiyoru e do Réalta.
– Valk! Aqui! – chamei-os e eles vieram.
– Olá a todos! – cumprimentou a Cris (do lado de Nevra??) deixando a mostra o colar de terço que tinha no pescoço. Nevra se afastou dela como se estivesse se afastando de um raio de sol terráqueo (o QUÊ foi isso?).
– Aconteceu alguma coisa entre vocês? – perguntei a ela enquanto todos sentavam tão abismados quanto eu.
– Nevra já contou da mão dele? – a Cris me perguntava, com ela e Anya sorrindo inocentementes.
– Ele se recusou. – falei. Um sorriso enorme surgiu no rosto dela enquanto Nevra começou a se encolher no lugar – O que foi que o Nevra fez agora!?
– Ele tentou me beijar ontem à tarde. – falou ela brincando com o colar. Aquilo surpreendeu todos. Se eu não estivesse entre o Valk e o Nevra, com toda a certeza o Valkyon teria o erguido pelo colarinho.
– E você está contente com isso por quê? – perguntou Ezarel fazendo com que Nevra escondesse a mão enfaixada por baixo da mesa e cobrisse o rosto com a outra – Acaso o beijo foi bom?
– Não houve beijo... – ficamos ainda mais curiosos. Ela explicou o que havia acontecido, e quem diria... Tava explicado o porquê de Nevra fugir da Cris com o colar tão perto dele.
– Seu cheiro ainda está forte. – tentava defender-se o Nevra – Menos que ontem, mas ainda está!
– Eu devia mudar seu apelido de “esfaqueadora” para “caçadora” mesmo. – comentava Ezarel esfregando a nuca (ele também?).
– Ela vez algo com você também!? – Réalta questionava e todos o olhamos curiosos.
– Já lhe pedi desculpas Ezarel... – a Cris se lamentava (o que foi que ela fez?).
– Eu devia era me negar a repor as proteções do seu quarto. – Ezarel lhe fechava cara (mas o que foi que ela fez!?).
– Tudo bem. – a Cris dava de ombros – Nevra, sabe me dizer onde que o Chrome está agora?
– Eu disse que eu DEVIA, não disse que VOU. – reclamou o Ezarel antes que o Nevra tivesse chance de disser alguma coisa (ela descobriu o seu ponto fraco!?).
– Tá bom, tá bom, desculpe! Entendi mal... – entendeu nada.
– Será que dá pra nos disser o que foi que aconteceu entre vocês dois?? Porque é que a Cris precisou lhe pedir desculpas Ezarel? – Valk perguntou (desembuchem de uma vez!).
– Bem... – a Cris começou a nos contar.
Santo Oráculo! Não sei se a Cris é parte aengel ou parte daemon, todos ficamos do mesmo jeito de quando ela disse ter jogado uma adaga contra Nevra quando este tentou lhe invadir o quarto, alguns espantados com ela e outros gargalhando de Ezarel.
– Você é mais venenosa que um ornak! – Ezarel acabou comentando e a Cris nem lhe deu bola.
– Hehehe, não é qualquer um que sai ganhando sobre este elfo. – Karuto apareceu com uma bandeja cheia de comida que servia à Cris (fazendo Ezarel arregalar os olhos para a quantia e espantar o restante de nós com sua ação). Ele começava a se afastar quando a Cris lhe segurou.
– Espere Karuto! – ela falava.
– Sim, o que foi?
– Não que eu esteja reclamando, mas gostaria de saber. Porque você me trata tão diferente de todos os outros? – boa pergunta. Todo mundo queria ouvir essa resposta, em especial Ezarel.
– Não sei do que está falando...
– Sabe sim. Me disseram que você é quase sempre um tanto... rabugento. Mas você nunca deixou de ser legal comigo desde o primeiro dia! Por quê?
Karuto pareceu ter corado e se mantinha em silêncio. Todos o observamos com atenção pela resposta que demorava. – Karuto... – chamei-o – Não vai responder?
– É Karuto, explique porque ela é sua favorita... – pedia Ezarel com escárnio, alguns de audição mais sensível nas mesas próximas pareceram se atentar à conversa. Ele soltou um longo suspiro e sentou-se junto a nós.
– Lembra o sátiro que ajudou, trazido por esta pequena? – ele apoiava a mão sobre a cabeça de Anya. Cris apenas assentiu – Ele se chama Selang e é um de meus amigos mais chegados...
– Ela salvou um conhecido seu!? – Ezarel lhe arregalava os olhos.
– Não é qualquer conhecido, elfo! – os dois fizeram cara feia.
– Esquece ele Karuto. – reclamou Anya – Continua com a historia!
Todos nós concordávamos, ele deu um leve riso e prosseguiu – Certo... Antes do Cristal ter sido atacado pela primeira vez, eu ainda não fazia parte do QG. Era general em uma vila costeira e Selang era o cara mais estudioso e sábio que eu já havia conhecido na vida! Além de meu melhor amigo... – a atenção sobre ele ampliava às outras mesas – Quando o Cristal foi atacado, Selang e eu conversávamos nos campos aos arredores de nossa vila, eu o vi ser atingido por um dos fragmentos e se transformar naquela coisa que a Cris encontrou. Ele fugiu na hora. Eu tentei encontrá-lo algumas vezes, mas nunca o encontrei. E depois que eu descobri como que os faerys contaminados estavam sendo “tratados”... – ele fazia aspas no ar – Passei a rezar para a Oráculo e para todos os deuses que Selang continuasse desaparecido, pelo menos até que uma verdadeira forma de salvá-lo aparecesse.
– E parece que suas orações foram ouvidas, não é mesmo? – Cris sorria com uma pequena lágrima em um dos cantos dos olhos.
– Foi sim. – ele lhe segurava as mãos – Você foi a resposta de todas as minhas orações. Graças a você, Selang agora pode voltar a viver. – seu sorriso pra Cris era gentil – Você Cris, é a resposta de anos de prece, e o alívio de anos de aflição. – estávamos todos emocionados – E é por isso que ai daquele que a magoar! – ameaçou ele olhando os rapazes.
– O que aconteceu com ele, depois que se recuperou? – perguntou o Shiro e a Cris pareceu interessada.
– Ele está se readaptando a vida, no refúgio. Trabalha como professor para as crianças ao mesmo tempo em que se atualiza sobre tudo o que aconteceu enquanto ele estava contaminado. Às vezes ele aparece na cozinha para relembrarmos os velhos tempos...
– Então é isso... – Ezarel se recostava na cadeira – Se deu bem!... Caçadora Branca. – Ezarel me olhou de canto... _sorriso_ já entendi a referência.
– Porque caçadora branca, Ezarel? – a Cris questionou (vou deixar essa pra ele!).
Ezarel revirou os olhos quando notou que eu não ia responder e a Cris insistia, começou ele a falar – Branca porque você parecesse uma sacerdotisa quando não está sendo um ornak. – respondeu com desdém.
Eu não sei se a Cris entendia aquilo como elogio ou não, Karuto retornou à cozinha e continuamos conversando sobre outras coisas. Anya comia junto com a Cris (temos um novo ladrão de comida? E que atacava as duas!? Não é à toa que estão fracas!) e Nevra se prontificou a investigar o caso delas (deve estar querendo se salvar com elas) mesmo com as duas dizendo que queriam resolver aquilo sozinhas.
Ouve um instante em que a Cris não me pareceu bem, mas ela disse não ser nada. Também falamos sobre o tal cheiro dela que fazia Nevra ficar agitado e sobre a recolocação das proteções no quarto da Cris. Anya questionou sobre a influência delas em Absol, quase não acreditamos quando ela disse que o black-dog era umbracinesiano, raros são aqueles com este tipo de poder! Por conta disso, Ezarel avisou que iria passar no laboratório antes para algumas pequenas alterações, e que precisaria de uma gota de sangue de Absol.
Aos poucos deixamos a mesa. Anya e Cris seguiram para o quarto da última para suas aulas de alquimia; Ezarel foi para o laboratório; Nevra, Valk, Réalta e Shiro tinham missões a cumprir, e eu voltei para a Sala do Cristal.Lance
Estou começando a me entediar. Vai ver é por isso que a Cris decidiu recolocar as seguranças que Anya me contou ter ajudado a remover deste quarto. Ficar preso nele só não é pior que a prisão porque tenho mais conforto. Muito mais conforto.
Como não tinha “tarefas”, decidi adiantar meus exercícios diários (sem correntes é bem mais rentável) e quando fui meditar a minha maana que consegui reaver tão depressa (mesmo gastando toda hora, consegui reaver quase metade do que havia acumulado com Anya só nesses poucos dias ao lado da Cris. Aquela Negra tinha razão...), tive dificuldades em concentrar-me por conta das noites mal dormidas.
Resolvi então observar o resto do treino dela pela janela. Ela melhorava cada vez mais ao que pude observar (quem serão aqueles com ela?) e logo a vi retornar para dentro. Hora do almoço. Comi o almoço de Anya e voltei a não ter o que fazer. Me aproximei da estante com livros, Absol que esteve o tempo todo deitado na cama dele, somente agora me erguia a cabeça. Eu o encarei por alguns instantes e peguei em um livro qualquer, ele não fez nada, porém ficou me seguindo com o olhar até eu me sentar na poltrona com o livro na mão que fiquei lendo até elas chegarem.
Que ironia... O livro que peguei era um registro completo das decisões que ocorreram durante o Grande Exílio, incluindo a decisão de se livrar dos dragões restantes para “equilibrar” o Cristal. Registro perdido depois que fiz a Erika libertar aquele monstro devorador de informações (eles mereceram, quem mandou apagá-la da memória de sua família e amigos?), Erika era boazinha demais com aquele bando de patifes, mesmo depois de eu ter lhe aberto os olhos sobre os portais para a Terra. O que mais há entre esses livros?
“Olá pra você.” – era a Negra de novo (o que você quer dessa vez?) – “Apenas ti fazer um pedido que também é um conselho.” – (conselho?) – “Hoje a Cris está um pouco... sensível, por isso tente ser legal com ela.” – (sensível como.) sinto minha cabeça doer – “Preste atenção nela e irá entender.” – sumiu outra vez. O que é que vou ter de aturar dessa vez...
A porta estava sendo destrancada, elas chegaram.
– Conseguiu falar com o elfo dessa vez? – questionei sem me mover do lugar e com Absol seguindo para o seu lado.
– Logo Ezarel vai vir para por as proteções no quarto. – as duas se sentavam – Anya, a sua chave.
Ela tirou um colar de dentro da roupa com um saquinho cobrindo o pingente que tinha a chave junto – Pegue. Tomara que o Ezarel não tente nenhuma gracinha como vingança.
– Com esse aí “à solta”? – ela me apontava o polegar – Ele não se arriscaria...
– Porque ele iria se vingar? – perguntei e elas me explicaram a historia. Queria ter visto o elfo na hora (_riso_).
Do nada, a Cris que parecia estar muito bem, fez uma expressão estranha, apoiando uma das mãos sobre o ventre.
– Com licença. – ela foi ao banheiro (tem a ver com o que a Negra me disse?) – MAIS QUE MARAVILHA. – ela acabou dizendo lá dentro, saindo instantes depois nervosa, em direção ao guarda-roupa.
– Aconteceu alguma coisa? – Anya perguntou receosa (mas que troca de humor é essa?).
– Acho que descobri o que foi que deixou meu cheiro tão especial assim para o Nevra. – ela pegava uma muda de roupa – Você não sabe a sorte que tem por ainda ser uma criança, Anya. – e voltava pro banheiro.
– Acaso se machucou? – perguntei ao sentir cheiro de sangue quando ela passou perto de mim.
– Antes fosse... – ela tomava banho.
Mudança de humor, possível descoberta da intensificação de seu cheiro para alguns, dores abdominais, Anya com sorte de ser criança, cheiro de sangue e o aviso da Negra... Ela não está na época em que estou pensando, está? A última coisa que quero no momento é uma “poção instável” nas mãos.Cris 2
– MAS QUE MARAVILHA.
Não acredito nisso. Não é à toa que eu senti um desconforto durante o almoço e estava explicado o porquê de Nevra ter me sugerido discretamente para não deixar o quarto hoje (ele deve ter sentido o cheiro) e o pior, é que o meu remédio para cólicas, o postan, tinha acabado.
Como que eu tinha conseguido remédio terráqueo? Agradeço a minha mãe. Durante a minha primeira sessão de dor em Eldarya, uma chead bebê resolveu brincar com a minha mochila tentando abrir um bolso em específico, fui até ela pra saber o que tanto tinha naquele bolso para chamar a atenção dela e que alegria a minha!... meia cartela de postan estava dentro dele com um bilhete: “Da próxima vez que você se esquecer de pegar o remédio, te deixo passando dor.” _riso_ Era a letra de minha mãe (mãe! Geralmente a senhora é a minha cruz, mas nesse dia você foi a minha espada! Muito, muito, muito obrigada.), tomei dois comprimidos naquele dia.
Fui atrás de uma muda de roupa para tomar banho. Aquele “acidente” acabou com o meu humor, espero que o Lance pense bem antes de me provocar hoje (se bem que parece que ele já percebeu o que me aconteceu). Lavei minha roupa debaixo da agua quente do chuveiro. Quando ainda vivia nas cavernas, Absol havia me trazido uma espécie de esponja que eu resolvi utilizar como protetor durante dias como este, e dei graças aos céus quando percebi ter descoberto a utilidade certa dela enquanto buscava pelos materiais das roupas (acabei comprando mais algumas. mesmo laváveis elas tinham um limite de uso).
Antes de Anya e eu começarmos a fazer as roupas de Lance, preparei uma das poções para cólicas que Anya me traduziu (tomara que funcione!). O efeito foi quase imediato (OBRIGADA minha Mãe!).
Combinamos entre nós três como que faríamos quando Ezarel chegasse, Lance se manteria o mais distante possível de nós usando seus dons com Absol ao seu lado e eu e Anya esconderíamos as roupas de Ezarel (ou melhor, esconderíamos o fato de serem roupas masculinas). Para impedir que ele ouvisse demais, deixei meu celular tocando as músicas que tinha (que por sinal, era mais de um dia nele). Já trabalhávamos nas roupas quando bateram à porta.
– Quem é? – perguntei.
– Ok. Volto outro dia.
– Parado aí, Ezarel!! – dizemos eu e Anya juntas e ele dava risada lá fora.
Tomamos nossas posições e abri a porta – Me diz o que preciso fazer para que tudo fique no devido lugar, engraçadinho. – Falei enquanto ele entrava com uma caixa de poções e pergaminhos na mão, sorrindo de orelha a orelha.
– Aconteceu alguma coisa... pra onde foi o seu humor de hoje cedo...!? – perguntava ele todo animado.
– Resolveu dar uma volta. – fui seca e ele foi para a mesa onde Anya tirou os pergaminhos do caminho.
Vi ele arregalar os olhos ao notar a joia que Lance nos deu sobre a mesa – Isso é o que eu penso que é?!?!? – ele a erguia.
– O quê? A Pedra Cintamani? – o queixo dele caiu.
– Como conseguiram uma coisa dessas?!? – ele analisava a pedra.
– Não existe explorador melhor que Absol neste mundo. – declarou Anya lhe tirando a gema da mão.
– Foi o black-dog!?! – ele ficava cada fez mais abismado (e não vou negar, é divertido vê-lo assim. E Lance também parecia gostar).
– Já esqueceu a quantidade de tesouros que ela tem graças ao Absol?
– Deste nível??
– Se não maior. – comentei – Ainda estou descobrindo tudo o que Absol me trouxe. – falei mostrando minhas Contas de Ovira.
– Como pagamento, quero que me mostre tudo o que ele lhe trouxe. – ele me exigia e Lance pareceu interessado.
– TUDO eu não posso mostrar... – pensava em minhas roupas íntimas de renda (e em meus grimórios) abraçando o meu corpo e ele pareceu entender, pois corou – Mas posso lhe mostrar a maior parte.
– Já é alguma coisa. Podem desligar o barulho para que eu possa trabalhar? – ele começava a mexer na caixa – E também quero que me entregue todas as chaves daqui.
– Se quiser, eu posso diminuir o volume, mas não irei desligá-lo. – falei lhe entregando as chaves em meu pescoço.
– E porque não? – ele se aproximava da porta com um pergaminho e uma poção na mão, mais as minhas chaves.
– E arriscarmos você ficar ouvindo a nossa conversa? – questionou Anya de um jeito meio engraçado.
– Eu sou líder da Absinto, não da Sombra. Não preciso prestar atenção em conversas femininas... – ele debochava e se preparava para mexer na porta.
– Ainda assim, melhor prevenir do que remediar. – falei abaixando o volume, ele só deu de ombros.
Anya e eu voltamos a trabalhar nas roupas o mais discretas possível, ficando eu de olho em Ezarel. Achei interessante a forma com que as orelhas do chefe absintiano se movia de acordo as músicas mudavam.
Ele trabalhou primeiro na porta, depois na janela e no centro do quarto onde pediu para eu ficar. Antes desse último, ele veio até a mesa várias vezes (tantas que quase irritou a nós duas), e na última vez, ele tirava uma adaga.
– Pra quê a faca? – perguntei.
– Para poder construir a última barreira usando uma gota de sangue do Absol, assim ele será o único capaz de atravessá-la. Outros? Só se estiverem sendo carregados por ele ou se a chave abrir a porta. – balançava as chaves ainda em sua mão.
Ele se dirigia com a adaga para o Absol que ameaçou o atacar fazendo-o parar no lugar (claro, Lance estava com ele).
– Me dê a adaga, – pedi a Ezarel – deixe que eu faça, antes que alguém se machuque.
– É toda sua! – disse ele me entregando-a sem tirar os olhos de Absol.
Me aproximei com calma de Absol. Ele me estendeu a pata de boa vontade e eu lhe fiz um pequeno corte em um dos dedos de sua pata, acumulando o sangue sobre a lâmina – Desculpe Absol. – pedi com o gemido de dor que ele deu e logo que eu afastei cuidadosamente a faca pra não derramar o sangue, ele começou a lamber a ferida que fiz.
– Aqui. – entreguei-lhe a faca – Mais alguma coisa?
– Fique no centro do quarto.
Ele começou a fazer desenhos ao meu redor (até parece Fullmetal Alchemist!) e fincou a adaga no centro de um circulo em específico daquele emaranhado de formas e letras (ou serão runas?) enquanto dizia alguma coisa no que devia ser a tal da língua original, fazendo o sangue de Absol brilhar de uma forma sombria, que começou a contornar todo o desenho que, depois de iluminado, expandiu-se por todo o quarto como se o desenho estivesse sendo virado do avesso, até sumir no teto acima de mim.
– Pra que exatamente essa barreira serve? – perguntei.
– Além de barrar qualquer tipo de feitiço negro e impedir a entrada de umbracinesianos que não sejam o Absol? – assenti – Serve para bloquear a passagem de qualquer habilidade que lhe permita atravessar paredes como a intangibilidade, projeção astral e telepatia por exemplo.
– Telepatia não atravessa paredes. – comentei.
– Sua mente é uma parede. – arregalei os olhos (realmente é possível alguém entrar se eu for controlada pra isso...) – Agora... será que pode me mostrar tudo o que Absol lhe trouxe!? – o olhei com espanto – Ou quase... – consertou ele.Obs:
Fullmetal Alchemist, animê de mais de 50 episódios, +14, ação e possui duas versões: Fullmetal Alchemist e Fullmetal Alchemist Brotherhood (honestamente, o Brotherhood é cem vezes melhor). Quem gosta do tema alquimia, vai gostar desse animê.
.。.:*♡ Cap.48 ♡*:.。.
Ezarel
Deixei o salão e fui ao laboratório, eu sabia que o Karuto estava sendo bonzinho demais com a caçadora, mas não esperava aquele favoritismo todo. Agora sim que ficou difícil de dar o troco nela pela rasteira que ela me deu, e mais agora pela mão de gelo hoje de manhã. Não posso deixar que eles saibam que a poção de invisibilidade não foi a minha única tentativa. Depois daquela falha, eu pensei em bloquear a fechadura da porta dela (ela anda ficando muito dentro do quarto...) para que ficasse impedida de entrar, porém o black-dog dela me impediu. No dia, não tinha ideia de como ele havia aparecido do nada atrás de mim, mas graças a Anya, agora eu sei. Droga! Não posso nem confiar nas sombras mais com aquele umbracinesiano no QG!
Expulsei todos que estavam no laboratório para que eu pudesse conferir o processamento dos ingredientes para a poção da verdade enquanto juntava as coisas necessárias para colocar as proteções no quarto daquela louca, além de fazer as alterações por causa de Absol.
– Ezarel, posso entrar?
– Leiftan? Entre, estou meio ocupado, então diz logo o que é que deseja.
– O de sempre. Deixar alguns papéis e recolher documentos não entregues e... – ele se aproximou de mim pra falar num sussurro – ...como vai a preparação da poção?
– Não terminarei antes do Baile de Solstício se é o que deseja saber. – Leiftan soltou um longo suspiro – E eu já sei exatamente em quem vou testar essa poção quando a acabar.
– Em quem?
– Kero.
– O Keroshane? Por quê?
– Quero saber o que foi que impediu a Caçadora de ir pra Sombra ao invés da Obsidiana.
– Que caçadora!? – expliquei ao Leiftan quem e porque resolvi apelidar aquela mulher de “caçadora”. Claro, ele tinha que conter o riso como os outros... – Entendo, faz sentido sua escolha. Sem falar que se a poção fizer o Kero falar...
– Qualquer um irá falar ao tomá-la. – completei-o – E eu concordo com Nevra...
– O que tem o Nevra?
– Ele me comentou que a Cris esconde alguma coisa e Anya parece ajudá-la. Acredita que alguém está levando parte da comida das duas?
– Como!?
– Estou mais determinado ainda a obter essa poção da verdade.
– Acha que Nevra sabe o que as duas escondem?
– Se não sabe, suspeita. – comecei a colocar as proteções dentro de uma caixa.
– É verdade que irá repor as proteções que havia no quarto de Celsior, agora da Cris?
– Sim. E adivinha: Absol é umbracinesiano. – ele arregalou os olhos _riso_.
– Isso explica como é que ele faz para sumir e aparecer onde e quando quer. – entreguei-lhe os relatórios que ele venho buscar.
– E também com quem mais se deve tomar cuidado ao querer fazer algo àquela Caçadora. – Leiftan riu e eu peguei a caixa já completa com o que iria usar.
Deixamos o laboratório e nos separamos. Bati na porta assim que cheguei.
– Quem é? – ouvi a voz da Caçadora e resolvi tirar uma com a cara dela.
– Ok. Volto outro dia.
– Parado aí, Ezarel!! – ouvi as duas dizerem juntas, eu ri e de quebra ainda consegui irritar a Caçadora.
Assim que deixei minha caixa em cima da mesa não acreditei no que meus olhos viram e elas me confirmaram (aquele black-dog é mais útil do que pensei!) e exigi que ela me mostrasse tudo o que ela havia ganhado dele (ou quase...). Ainda pedi à ela que desligasse aquele aparelho dela e elas se recusaram, mas o abaixaram (pra quê que eu iria me importar com a fabricação das roupas delas?).
Comecei o meu trabalho assim mesmo. Confesso que algumas daquelas músicas me forneceram interesse. Algumas até me divertiam enquanto outras me irritavam. A Caçadora cantou algumas delas junto (até que a voz dela não é ruim...) e nessas ela acabava emitindo maana. Poupei parte da que tinha comigo graças à ela (se ela está com sobras, porque não aproveitar?).
Acabei com a porta e com a janela, ficou faltando apenas o quarto em si com a mais importante das barreiras e onde eu precisaria do sangue de Absol para que apenas ele tivesse livre acesso por ela. Não pensei duas vezes em passar a adaga pra Cris quando ele quase me avançou (ela não o avisou ou é ele que não gosta de mim?). Concluída a barreira do quarto, era hora de cobrar meu pagamento.
Ela começou me mostrando as coisas que estavam à vista como a pulseira de Contas de Ovira em seu pulso e os livros que Kero ainda não tinha pegado para traduzir (Kero não brincou com a raridade daqueles livros...)
– A Ewelein vai querer fazer de tudo para ficar com este livro! – disse segurando um dos livros que mais me surpreendeu por ela tê-lo.
– E por quê? – olhei a pestinha com incredulidade.
– Anya está certa, porque a Ewelein vai querer fazer de tudo por este em especial?
– ESTE é o único livro deixado por Trótula de Salerno, uma ninfa especializada em medicina feminina e uma das poucas faerys que chegou a dar aulas na única escola de medicina onde humanos e faerys aprendiam juntos.
– Há quanto tempo foi isso!? – a Caçadora perguntava.
– Segundo a Ewelein? Um pouco antes das perseguições aos faerys começarem. Trótula escreveu cem cópias de seu livro para ajudar a ensinar suas alunas enquanto o volume original foi encantado de forma que só mulheres pudessem ler, já que os humanos da época não aceitavam muito que mulheres estudassem.
– Huuumm... parece que isso foi no começo da idade média... O que mais a Ewelein falou?
– Que o conhecimento medicinal feminino dela estava além de tudo, e suas poções e tratamentos de cura eram infalíveis. – entreguei-lhe o livro.
– Bem... – a Caçadora o folheava – Ao menos a poção que eu testei desse livro se mostrou bem eficaz.
– Que poção? – perguntei (ela está doente?).
– Para cólicas. – gelei, cólicas!? Eu estava tentando provocar uma explosão!?
– Mas, você está mesmo bem agora? – se normal ela já é pior que um ornak, o que dirá instável!
– Eu disse que foi eficaz, não disse?
– Tá, e quanto aos outros sintomas?
– O que são cólicas Cris? E que outros sintomas são esses Ezarel? – esqueci que Anya ainda é uma criança...
– Isso é algo que só poderá de fato compreender quando deixar de ser uma criança, Anya. – explicou a Cris acariciando a cabeça da pirralha. – Ainda deseja ver o resto das coisas Ezarel?
– Mas é claro! – e depois saio daqui o mais rápido que conseguir.
Ela me mostrou joias, roupas finas, amuletos e mais uma montanha de coisas que, só dela possuir tudo aquilo, a Caçadora podia ser considerada uma “rainha” de tanto ouro que seria necessário para obter metade daquelas coisas. E ela ainda é essencial para Eldarya... Mas que mulher $!#¨*¨*&$!#@.Obs.:
Trótula de Salermo ou Trotula di Ruggiero (1050-1097), foi uma médica e professora italiana ginecologista que foi considerada homem assim como a guerreira viking de Birka (porcaria de machismo da época em que os arqueólogos as encontraram) e que mais tarde foi reconhecida como uma mulher legitima de grande influência na historia. Deixou bem mais que um livro escrito para trás e como o próprio jogo transformou alguns personagens de renome da historia como a Joana D’ark (1412 – 30 de maio de 1431) em faerys (faelianos pra ser mais exata), fiz questão de mergulhar na internet para achar alguém como Trótula. Se quiserem saber mais, terão de pesquisar.Lance
Porcaria de elfo, ele já chegou provocando a xylvra (ele é louco!) e sou eu quem vai ter que aturar o humor dela depois. Pelo menos a minha compensação àquelas duas o incomodou. Tenho certeza que ele sentiu inveja delas e até que o “pagamento” que ele cobrou dela me interessou.
Ele não enrolou pra começar a trabalhar e assim cair fora logo daqui. Notei que a Cris não parava de reparar nas orelhas se mexendo do elfo, o que por algum motivo não me agradou, apenas a maana dela é o que estava me mantendo frio no lugar com aquela visão.
“Por que não admite que está com ciúme?” – e mais essa (não tem nada melhor a fazer não?) – “Está preocupado!?...” – aquele sorrisinho travesso de novo... (estou com uma “poção instável” nas mãos e estou prestes a ser algemado a este lugar, como quer que eu não me preocupe?) – “Não terá de se preocupar com muito, o mexer das orelhas do alquimista está a distraindo do mau humor junto das músicas. E a poção que ela tomou ajudará também, mas...” – (mas o quê?) – “Você ainda tem daquela pomada para dores musculares que criou pra você?” – (tenho. Porque.) – “Porque acho que ela vai precisar. Melhor ficar de olho nela!” – sumiu outra vez, essa Negra me cansa. Se bem, que aquelas idas e vindas do elfo à mesa, interrompendo aquelas duas o tempo todo, está começando a virar um problema.
– Pra quê a faca? – faca?
– Para poder construir a última barreira usando uma gota de sangue do Absol, assim ele será o único capaz de atravessá-la. Outros? Só se estiverem sendo carregados por ele. – do que é que eles estão falando? Posso não compreender essa historia aí, mas a cara que o elfo fez ao se aproximar de Absol (e de mim) foi impagável! Foi a Cris quem tirou algumas gotas de sangue de Absol e, alguns minutos depois, eu estava definitivamente engaiolado (ao menos espero que aquele vampiro desgrude um pouco da minha carcereira).
– Pra que exatamente essa barreira serve? – perguntou a Cris e eu também estava estranhando os símbolos que ele havia utilizado.
– Além de barrar qualquer tipo de feitiço negro e impedir a entrada de umbracinesianos que não sejam o Absol? – (Absol possui umbracinese!?!) olhei o black-dog que pereceu me sorrir. Não acredito que ele pode ir aonde quiser com apenas uma sombra.
Assim que o elfo terminou de explicar sobre a barreira, a Cris começou a mostrar as suas coisas que recebeu de Absol. Ezarel não era o único surpreso aqui dentro, e ele finalmente parou de provocá-las depois que a Cris confirmou de vez qualquer suspeita de ela estar em um período não muito favorável graças à aquele exemplar raro de Trótula. Depois que ela terminou de mostrar tudo (com exceção dos grimórios e de roupas íntimas que eu sei que ela ganhou do black-dog), Ezarel deixou o quarto verde de inveja (_sorriso_) e eu finalmente posso parar de gastar maana.
– Pensei que ele ainda ia demorar pra sumir. – comentei surpreendendo Anya por estar do lado dela.
– Pois é. Mas o serviço agora está feito e você tirou proveito do pagamento dele que eu sei. – ela realmente não deixou de manter os olhos sobre mim quando mostrava as coisas dela – Aqui Anya, pode pegar sua chave de volta.
– Valeu. – como eu estava perto dela agora, pude notar que a forma do pingente de seu colar não me era estranha.
– Que pingente é este elfinha? – ela pareceu suar frio e a Cris notou.
– O que tem o colar de Anya? – a Cris se aproximou e, apesar de receosa, Anya nos estendeu seu colar revelando o pingente que estava mantendo ensacado.
– Uma presa de greifmar. – Aquele vampiro tem o quê na cabeça??? – Se eu usá-lo exposto desse jeito, poderei atrair azar e pesadelos a todos que estiverem até dois metros de distância de mim.
– E por que é que você tem uma coisa dessas com você? – Cris perguntava de olhos arregalados enquanto Anya cobria o amuleto maldito guardando a cópia da chave junto.
– Karenn me deu de presente, ela disse que eu só deveria deixá-lo exposto se eu estive sozinha e como proteção.
– E o seu “chefe” e os seus pais sabem que você tem uma coisa dessas? – perguntei já sabendo a resposta.
– Claro que não! – (como eu pensei) – Essa presa era da própria Karenn, e ela me fez jurar que não deixaria nem o Becola e nem meus pais descobrirem ela! Mas agora pegue Gelinho. – ela me entregava alguma das peças produzidas – Deixe a gente ver o resultado de nosso trabalho, anda.
Não gosto de receber ordens, ainda mais de uma pirralha, mas eu também estava curioso sobre aquelas roupas (a armadura pode me deixar mais seguro, mas não mais confortável), troquei-me no banheiro. Elas optaram por me fazer roupas simples: umas três calças, cinco camisas, dois pares de sapatos e umas seis roupas íntimas. Fui bem claro com elas ao dizer que o frio não me incomodava por isso elas não desperdiçaram material me produzindo agasalhos e coisas do tipo.
– Parece que acabaram ficando bons. – comentou a Cris quando deixei o banheiro já vestindo uma calça e uma camisa que elas produziram.
– Só não entendi porque tudo tinha que ser preto e/ou vermelho. – Anya reclamava – Qual o problema do azul, roxo ou verde? Tonalidade não é desculpa.
– Prefiro essas cores. – Anya revirou os olhos enquanto a Cris parecia me cobrar com o olhar (sério mulher!) – Obrigado. – disse apenas, e isso pareceu satisfazê-la.
O Karuto enviou um lanche para elas por uma mulher, comemos a comida e elas contaram que durante o almoço, tiveram que revelar que “alguém” estava levando parte da comida delas, e Nevra determinou-se em ajudar (espero que ele só esteja querendo protegê-las...) o que me fez refletir sobre as ações dele.
– Eu tentei convencê-los de que não precisavam se preocupar com a gente, explicando como era a minha alimentação quando estava vivendo com as cheads...
– Só que lá, você não tinha que se preocupar com quem estava dividindo o quarto! – Anya me encarava ao falar.
– Vocês agora possuem a garantia que não irei deixar este quarto,... – me mantinha neutro – ...podem ficar um pouco mais despreocupadas.
– Talvez, mas ainda manterei meus grimórios comigo. – ela é mesmo desconfiada.
Anya foi embora e a Cris ficou arrumando as coisas enquanto eu tomava um banho rápido. Minhas coisas ficariam guardadas escondidas dentro do baú dela. Ela fez as orações dela (que me pareciam mais suaves dessa vez pela maana emitida) e se deitou. Como a Negra me sugeriu, fiquei de olho nela o tempo todo, e ela não parava de se remexer na cama.
– O que houve? – perguntei meio sem interesse quando ela finalmente se sentou na cama para massagear as próprias pernas.
– Nada demais. – foi a resposta dela. Hunf.
– Mentirosa. – acusei-a – Você dorme feito pedra. Isso, quando não acaba roncando.
– Foi mal se eu ronco... – ela me olhava incomodada – Minhas pernas estão me perturbando um pouco, só isso.
Me ergui da poltrona em direção do banheiro buscar minha pomada – Me mostre as pernas. – ordenei a ela com o pote na mão e arrastando uma das cadeiras pra perto da cama. Reparei na forma com que ela me olhava, encolhida – Não pense coisas estranhas, isso só é uma pomada para dores que eu mesmo fiz.
Ela ainda parecia receosa, mas fez o que mandei.Cris
Depois do “acidente” e das cólicas que tinha resolvido ao experimentar aquela poção milagrosa, pensei que não iria mais ter problemas por conta do meu ciclo. Foi já deitada na cama que descobri ter me enganado. Minhas pernas começaram a me incomodar, elas estavam pesadas e meio doloridas e por isso, não encontrava uma posição na cama. Cansei de me revirar e sentei-me para massageá-las antes que piorassem.
Pensei que o Lance havia conseguido dormir ou quase quando ele me questionou o que me acontecia. Tentei não incomodá-lo com meus problemas e acabei sendo chamada de mentirosa, dorminhoca e roncadora (praga!), por isso confessei que minhas pernas me incomodavam.
Vi ele ir para o banheiro e sair de lá com um pote nas mãos (eu meio que reparei algumas coisas a mais no banheiro...), quando ele me pediu pra mostrar as pernas fiquei vermelha. O vestido que eu decidi usar só como camisola por ser curto demais pro meu gosto (curto, saia com fendas, decote coração e manga comprida), já expunha totalmente minhas pernas e ele ainda queria ver mais?
– Não pense coisas estranhas, – acho que percebeu minha perturbação – isso só é uma pomada para dores que eu mesmo fiz. – ele mostrava o pote enquanto sentava em uma das cadeiras que trouxe para perto da cama.
Bom, eu vivo me preocupando com ele em meu quarto, por que não o fazer cuidar só um pouquinho de mim também? Ainda tinha receio, mas aproximei minhas pernas dele. Sério, ele começou a passar aquela pomada fria massageando minha perna. Ou ele tinha mãos muito boas ou eu que estava muito... sensível.
(Isso não é hora pra perder a cabeça...) ficava me repreendendo enquanto fazia de tudo para controlar aquele desejo que me erguia. Comecei a procurar qualquer coisa para me distrair.
– Assisti um pouco do seu treino hoje. – ele puxava conversa (deve servir) – Quem eram aqueles?
– Aqueles quem? – questionei respirando fundo para me acalmar.
– A raposa e o elfo que treinavam com você, junto de meu irmão.
– Shiro e Réalta? Colegas de guarda com quem fiz amizade durante os treinos. – (se acalma Cris).
– Entendi. – (impressão minha ou ele está com ciúme?) – Você até que é boa com a espada, mas não acha que exagera um pouco com os treinos?
– Acredite, eles estão leves. Você não tem ideia de como Absol é cruel comigo durante um treinamento. – controlei um arrepio ao trocar de perna.
– Imagino que o motivo dele não estar a acompanhando nos treinos seja eu. – ele sorria de canto (termine logo com essa pomada...).
– É possível. Mas... agora que você está realmente preso aqui... – contive outro “choque” onde respirei fundo (ai, minha Nossa Senhora!) e ele me mandava relaxar – ...acho... que agora o Absol voltará a estar presente nos treinos. – o frio que antes estava sentindo sumiu.
– Me pergunto como foi que ele fez pra você saber como usar uma espada.
– Na marra. – as lembranças dos treinos ajudavam a esfriar os meus ânimos (ainda bem!) – Eu só passei a saber mesmo como segurar uma espada direito com o Valkyon. E eu ainda não consigo me defender corretamente contra humanoides.
– Lembro que Anya me contava que você treinava enfrentando outros mascotes. – deixei a cabeça cair pra trás por um momento, retornando-a ao lugar em seguida, o senti me apertar com um pouco mais de força naquele instante.
– Mascotes são mais fáceis de se perceber prestes a atacar do que faerys, eles não escondem suas intenções, por isso é mais fácil de se defender deles.
– Entendi, você está aprendendo a sentir suas presenças, uma vez que já aprendeu suas intenções. – ele soltava as minhas pernas (finalmente!!).
– Algo assim. – mexia em minhas pernas que agora pareciam muito mais leves (terá sido a pomada ou a massagem?) – Obrigada.
– Não agradeça, só queria que você parasse de ficar se remexendo daquele jeito. – dizia ele enquanto guardava a tal pomada de volta no banheiro – E a última coisa que eu preciso é de uma maluca irritada aqui dentro. – ele voltava a se sentar na poltrona.
– Mesmo assim, obrigada. – eu lhe sorria sinceramente.
– Vá dormir logo!
.。.:*♡ Cap.49 ♡*:.。.
Nevra
Agora que Ezarel devolveu àquele quarto todas as proteções que antes tinha, Lance passou a realmente estar preso lá dentro... e eu do lado de fora. Se ele tentar alguma coisa com ela, a única ajuda que ela conseguirá obter é a de Absol e dela mesma. Anya ainda não tem condições de enfrentar alguém como ele e o que eu vi ontem à noite não para de me preocupar.
Durante o almoço ontem, um cheiro de sangue específico vinda de uma certa parte da Cris me fez entender o porque do cheiro natural dela ter se intensificado ao ponto de mexer com a minha natureza vampírica, por isso dei um jeito de aconselhá-la a não deixar o quarto dela (mesmo com aquele canalha lá dentro) sem ninguém me perceber, mas isso não foi o suficiente para me fazer deixar de me preocupar.
Eu devia era evitar a Cris em todos os sentidos enquanto ela estivesse no auge de seu ciclo (só as crises da Karenn já são experiências cíclicas suficientes pra mim), mas como é que o lagarto de gelo ia tratar a Cris neste estado? Valkyon comentou uma vez que a Erika fica meio mal humorada nesses dias, e a Cris? Como será que ela reage? (porque quase toda mulher fica tão temperamental nesses dias?). Mesmo sabendo que me faria mais mal do que bem, fui vigiar a noite daqueles dois.
Quase cai pra trás com o que vi logo de cara, Lance massageando as pernas da Cris (ele não está tentando “conquistá-la” está?). Consegui ouvir a conversa deles (assim como um gemido contido ou outro dela) que quase me fazia suar frio. Mesmo que ele tenha dito que só a ajudou para se auto preservar, pude notar muito bem o toque de ciúme que ele deixou naquela conversa toda, sem mencionar o instante em que percebi um aceleramento cardíaco nele. Com a noite seguindo dos dois dormindo o tempo todo.
Passei a noite engolindo seco com aquele doce aroma férreo no ar, assim como a possibilidade de Lance querer conquistar o coração da Cris para que ela ajude ele em vez de Eldarya. Preciso conversar com ela depois que todo esse sangue dela acabar.
Com o dia amanhecendo mais uma vez, e já não aguentando mais aquele cheiro, desci para pedir a Miiko que mantivesse a Cris no quarto dela por pelo menos até o final do dia (como a Karenn mesmo disse, eu e ela não somos os únicos vampiros no QG). O problema é que eu fiquei tão transtornado por conta do cheiro que me esqueci de dizer a Miiko o porquê disso.Anya
Me levantei como todos os dias e segui pro QG, uma de nossas preocupações com o Gelinho já estava resolvida, duas na verdade: roupas e segurança. Só faltava maana, alimentação,... e fazê-lo desistir de vingança (_suspiro_).
Ainda estava pensando sobre um meio de lidar com o terceiro ao entrar na Sala das portas já que o primeiro, era só a Cris rezar perto dele e o segundo... nós duas estávamos dando um jeito!
– Anya espere! – era Ewelein quem me chamava – É mesmo verdade o que Ezarel me contou ontem no jantar? A Cris tem uma das cópias de Trótula?
– É. – vi os olhos dela brilharem – E parece que ele realmente não mentiu quando nos disse que você procurava por uma.
– Se eu estou à procura de uma? Metade delas se perdeu no tempo! Há décadas que busco por uma, mesmo que em mau estado.
– E a da Cris está muito bem conservada. – a felicidade da Ewe só aumentava.
– Vamos vê-la agora. Quero ver se eu consigo por as mãos naquela cópia antes do Kero! – ela começava a me puxar pelo pulso.
– Espere! – ela parou pra me encarar – Não seria melhor já aproveitar pra levar o café da manhã pra ela? Eu também não tomei ainda.
– Boa ideia! Assim talvez eu consiga mais fácil. – ela me arrastava para a cozinha agora (credo! Que desespero é esse por um livro!?).
Karuto preparou uma senhora bandeja, pra nós três (a Ewelein também estava fugindo do café!?), que levamos para o quarto da Cris. Encontramos com o Chefinho no caminho e ele não parecia nada bem. A resposta que ele deu a Ewelein quando questionado, era que havia mulheres demais reiniciando os seus ciclos (o que é um ciclo?) e a Cris era uma delas sendo ela mais atraente para a natureza dele do que a Erika (será que tem a ver com as tais cólicas que a Cris disse ter sentido?), por isso iria pedir à Miiko que mantivesse a Cris no quarto até o fim do dia. Ele até me dispensou dos treinos apenas para fazer companhia a ela! (se bem que deixá-la tanto tempo sozinha com o Lance, não me parece uma boa ideia).
Bati à porta já que Ewelein estava comigo e por isso não podia usar a minha chave, a Cris não demorou muito a abrir.Lance
Espero estar fora daqui antes do próximo ciclo dela, aqueles gemidos dela enquanto lhe medicava ainda tremem em meus ouvidos, sem falar do instante em que ela jogou a cabeça para trás, se eu não tivesse começado a conversar com ela para distrai-la... Não quero nem pensar no que poderia ter acontecido.
Do jeito que ela dorme agora, nem parece que aquilo aconteceu ontem. E ela ainda se levantou uma vez no meio da noite (tenho que dar um jeito de sair daqui outra vez). Como já amanhecia mesmo, resolvi me levantar, deixando o banheiro, quase levei um choque com o que via. Ela tinha acordado, estava sentando na cama e a Branca estava dependurada nela (mas o quê mais vai acontecer aqui?).
– Bom dia pra você. – ela ficava de pé com a Branca meio que cochilando agarrada ao pescoço dela – Há algum problema? – acho que encarei a Branca demais...
– Está tudo bem com você? – perguntei tentando não olhar mais para elas.
– Estou ótima! – ela se espreguiçava após prender os cabelos – E graças a você... – via pelo reflexo da penteadeira que ela sorria como ontem (espero não ter problemas depois).
“É só você não ficar querendo falar com a minha irmã.” – chegou a que sempre me perturba, mas... (não era para a barreira impedir a entrada de vocês??) – “Minha irmã deu um jeitinho enquanto Ezarel fazia as mudanças para Absol ter livre acesso aqui.” – ótimo... (o que quis dizer ao me mandar não falar com a Branca) ouvia a Cris cantarolar no banheiro – “Nossos poderes são um pouco diferentes, ela não possui telepatia como eu. E se ela disser uma palavra que seja, vai se denunciar na hora!” – (e por qual motivo ela está agarrada à Cris? O ciclo dela já não me é dor de cabeça suficiente?) – “Relaxa dragãozinho, graças aos seus “dedos mágicos” ela só ficará de mau humor se passar por um problema grande hoje ou se ficar sem chocolates!” – (chocolate!?) – “Uma descoberta da Terra. Os chocolates costumam ser o melhor amigo de uma mulher reiniciando seu ciclo. Ainda bem que a Huang Hua a presenteou com alguns!”
Eu realmente tinha reparado. Ontem a Cris comia um dos doces do pote sobre a mesa a cada hora (e o repete agora).
– Quer um? – ela me oferecia o pote.
– Tem certeza que prefere abrir mão de sua comida ao invés de me deixar conseguir a minha? Você não pode adoecer.
– Não vou ficar doente. – ela fechava o pote e o rosto – Na caverna comia bem menos do que aqui e nem por isso adoeci, e de jeito maneira vou permitir que você prejudique inocentes.
– E por isso prefere se sacrificar? Eles valem tanto assim pra você?
“Tá tentando colocá-la contra Eldarya?” – (não enche).
– Farei aquilo que meu coração achar melhor. – ela suspirava para me encarar em seguida – E isso é tudo o que tenho a lhe dizer.
“Gostei da resposta.” – hunf.
Bateram à porta. Era Anya que estava acompanhada, ocultei-me como sempre para que ela pudesse abrir.
– Bom dia Anya. Ewelein! Precisa de algo? – (o que a elfa quer aqui? E porque é que a Branca não larga da Cris?).
– Ezarel me contou que você possui uma cópia do livro escrito por Trótula de Salerno, posso vê-lo? – ela falava enquanto deixava uma enorme bandeja de comida sobre a mesa.
“Minha irmã vai precisar cuidar um pouquinho da Cris hoje, para que você também fique bem.” – a Negra respondeu quase em cima da resposta da enfermeira (mas o que é que vai acontecer hoje?).
– Claro, mas... Porque tanta comida?
– Ewelein também não tomou café ainda... – Anya esclarecia – Porque não comemos primeiro para depois vermos este livro? – pirralha...
– Pois eu prefiro ver o livro. Por favor, Cris, diga que sim!... – implorava a elfa, a Cris acabou por soltar um suspiro.
– Tudo bem Ewelein... – ela a arrastava pra junto da estante em que estava o livro, ao mesmo tempo em que me fazia sinal para me aproximar (já entendi) – O livro é este.
Enquanto a Cris mantinha a enfermeira distraída com o livro, Anya me separava minha parte da comida, tirando apenas dela e da Cris para não levantar muita suspeita, afastei-me e a Cris retornou com a elfa que não desgrudava os olhos das páginas em suas mãos (isso com certeza as ajudará).
– Me diz Ewelein, – tanto a Cris quanto a Anya enrolavam para comer – porque tanta euforia por este livro?
– Minha bisavó foi aluna de Trótula quando nova, ela me contou que precisou vender o exemplar dela por conta das condições em que vivia na época e eu jurei em seu leito de morte que eu encontraria um exemplar, mesmo que difer... – ela parou de falar para começar a chorar (por quê?).
– Ewelein?... – a Cris se preocupava.
– O que houve Ewelein? Porque começou a chorar de repente? – responde a Anya, elfa!
– Dette eksemplar hører til Hvid Stjerne... – (como?) Anya arregalava os olhos enquanto a Cris ficava sem entender nada (não deve conhecer a língua) – Este exemplar pertence a Hvid Stjerne... – traduziu ela ao notar a “ignorância” da Cris (Hvid Stjerne?) – ESTE é o exemplar que pertenceu a minha bisavó!
– O QUÊ!!?? – até eu fiquei boquiaberto com essa! E quase que questionava junto das duas.
“Hahahahaha! Absol você é o melhor!” – gargalhava a Negra.
Cris
Depois daquele milagre inesperado, não tinha como eu negar o livro à Ewelein. Ela me prometeu que conversaria com o Kero sobre ele e que daria um jeito de me dar uma cópia traduzida, como me havia sido prometido antes. Tinha acabado de comer “toda” a minha comida quando bateram à porta outra vez.
– Pois não?
– Desculpe incomodá-la tão cedo... – era um faery que ainda não conhecia com gorro cobrindo as orelhas na cabeça – ...Mas a Miiko me pediu para chamá-la na Sala do Cristal.
– Para...
– Ontem, no decorrer do dia, capturamos um total de cinco contaminados. Por favor, me acompanhe.
– Estranho... O Chefinho não nos disse que ia pedir à Miiko que a Cris ficasse no quarto hoje Ewelein? – (oi?)
– Eu vou na frente para verificar, Anya ajude a Cris. – falou a Ewelein saindo com o livro na mão (como é?).
– Mas do que é que vocês estão falando? – perguntei à Anya uma vez que a Ewelein já tinha sumido nos corredores arrastando o homem com ela.
– Nos encontramos com o Chefinho quando vínhamos para cá, ele não parecia muito bem e disse que era porque muitas mulheres estavam “reiniciando os seus ciclos”, sendo você mais “atraente” que a Erika. – um arrepio me subiu a espinha – Por isso que ele disse que era melhor você não sair do quarto hoje e que falaria com a Miiko sobre isso. – (“Nevra e eu não somos os únicos vampiros por aqui sabia!”) foi o que a Karenn me avisou anteontem... – O que é um ciclo Cris?
– Ah... acho melhor você conversar sobre isso com a sua mãe, Anya. – não sabia lhe explicar sem dar a resposta que ela tinha de descobrir e ela me emburrava a cara, tentei mudar de assunto – Porque é que ninguém me contou sobre os contaminados?
– Ordens da Ewelein. Para ter certeza que você não iria se encontrar com eles durante o dia.
– E o que exatamente está trazendo os contaminados à Eel? – perguntou Lance (até que é uma boa pergunta...).
– Pelo que eu soube, parece que o Cristal está atraindo os seus pedaços que estão espalhados, ou seja, ele está atraindo os contaminados para reaver os fragmentos.
– Então, _suspiro_ não precisarei ir à busca do meu trabalho. ELE virá até mim...
– Queria era poder estar ao seu lado nessas horas... – encarei o Lance – ...é quando você mais emite maana. – seu rosto era inexpressivo. Fui ao guarda-roupa pegar uma muda e me troquei no banheiro.
– Vamos logo Anya, – disse ao sair – quanto mais rápido descermos, mais rápido voltamos. Não estou a fim de me arriscar com vampiros.
Trancamos Lance no quarto e fomos até a Sala do Cristal, havia guardas na entrada do lado de dentro e de fora para que apenas autorizados entrassem (não estão exagerando?). Quando entrei e vi aqueles cinco, não pude evitar chorar... um dos contaminados era uma CRIANÇA! Também havia um brownie pássaro, uma mulher inteiramente branca, uma senhorinha de pele cinzenta e um elfo. Todos contidos por membros da Obsidiana. Miiko, Ewelein, Erika e outras duas mulheres também estavam lá.
O poder do Cristal foi rápido e eu fui direto para o menino no meio daqueles cinco, vi Erika correr até ele quando estava de volta ao normal. Cuidei de um de cada vez e, assim como da última vez, os cristais dentro de cada um deles iam direto para o Grande Cristal.
Acabado tudo, outra vez estava cansada, sentada no chão. – Posso lhe ajudar? – me perguntava o mesmo faery que havia ido me avisar no quarto sobre o chamado da Miiko.
Estava prestes a lhe ceder minha mão, mas a recolhi imediatamente – O que houve com seus olhos? – perguntei ao reparar que eles brilhavam e ele, pareceu não compreender...Nevra
Saí para fora e assim tomar um pouco de ar fresco (tenho que me livrar desse atordoamento do sangue), acabei me encontrando com o Valkyon no quiosque uma meia hora depois.
– Que cara é essa Nevra?
– Reiniciamento cíclico. Várias mulheres. A Cris é uma, por isso ela está mexendo comigo.
– Ezarel me comentou algo assim. Humanos é a raça que mais mexe com os vampiros, não é verdade? – ele me encarava (será que agora ele vai pegar mais leve comigo?)
– A Cris nem se compara à Erika. Acho que é por causa da maana dela, pedi à Miiko que a mantenha no quarto hoje. – e tenho a sensação que esqueci-me de algo.
– Todos os vampiros ou estão na Sombra ou na Absinto, não vejo problema em deixá-la treinar mais tarde.
– Mais tarde? – ela não sempre treina de manhã?
– Estou indo à Sala do Cristal para reforçar a ajuda com os contaminados capturados ontem.
– Espera. Está me dizendo que a Miiko já chamou a Cris para a Sala do Cristal?
– Sim. São os meus homens quem estão os contendo, com membros da Absinto dando apoio.
– Quais membros? – me ergui na hora (já sei o que foi que eu me esqueci).
Valkyon pareceu refletir um pouco sobre minha pergunta e o vi arregalar os olhos por um instante. – Vem comigo. – foi tudo o que ele respondeu (não tenho um bom pressentimento).
Fomos rápido até a Sala do Cristal (e bem na hora), Ezarel parece ter esquecido de avisar os seus subordinados (ainda bem que ela tinha aquelas contas) – Precisa de ajuda Viktwa?Miiko
Estava conferindo o Cristal enquanto os outros ajudavam os ex-contaminados e a Cris quando do nada, ouvi o som de algo se chocando contra uma parede. Virei-me e vi Viktwa junto à parede exibindo as presas para Nevra.
– Recolha suas presas Viktwa, se não quiser que eu as arranque! – Nevra lhe ameaçava.
– Será que pode se explicar Nevra!? – atiçava a chama de meu bastão.
– Eu não lhe pedi para que mantivesse a Cris no quarto hoje? – ainda havia irritação em sua voz.
– E o que isso tem a ver?
– Miiko... – era Ewelein – Ele se esqueceu de esclarecer, não foi?
– Esclarecer o quê? – perguntei. A Ewelein se aproximou e explicou ao meu ouvido sob a condição atual da Cris.
Pelos deuses... acabei por arregalar os olhos! Não só estava explicada a possível possessão de Nevra pela Cris, como também o porquê daquele ataque. Viktwa podia pertencer à Absinto, mas também era um vampiro (e eu tinha que ter mandado justo ele para chamar a Cris?). Erika e Anya a ajudavam.
– Está tudo bem com você Cris? – perguntei me aproximando.
– Estou. O que é que aconteceu? – eu não sabia dizer se ela estava calma ou nervosa.
– Isso tudo foi descuido meu, sinto muito. Viktwa é um vampiro que faz parte da Absinto.
– Da Absinto!? – reclamava Anya – E aquele... Ezarel, não teve a coragem de avisar os dele se até o Chefinho estava tentando tomar distância da Cris agora? – acho que o quê Anya queria mesmo era insultá-lo (e eu também, Ezarel seu irresponsável!).
– Terei uma conversa com ele depois. Erika, pode acompanhar a Cris até o quarto? Cris, se importa de passar o resto de seu dia lá dentro?
– Sem problemas. – a Cris respondeu pelas duas se erguendo.
Olhei novamente para o lado onde os vampiros estavam e vi Nevra e Valkyon cuidando de Viktwa – Valkyon! – ele me prestou atenção – Poderia me ver alguém de sua confiança para zelar o quarto da Cris hoje?
– Claro. – respondeu ele acompanhando Viktwa e Nevra para fora da sala.
– Cris... – ainda tenho algo pra saber dela – ...Quanto tempo... seus ciclos costumam durar?
– De cinco à sete dias. – nossa! – Sendo os três primeiros os piores.
– Nesse caso, quero que fique hoje e amanhã confinada em seu quarto.
– Isso não é um pouco exagerado? – ela não parece gostar de estar presa.
– Tudo bem. Fica só hoje. Mas de jeito nenhum poderá caminhar por Eel desacompanhada durante os próximos sete dias!
– Seis, ontem já foi...! – lamentava ela, se ela não fosse essencial pra Eldarya...
– Prefiro pecar por excesso. – ela respirava vencida _sorriso_ – Agora vão, avisarei o Karuto pessoalmente então não precisa se preocupar com nada.
– Nevra me pediu para fazer companhia à ela. – declarou Anya.
– Excelente ideia, assim ela não fica sozinha. Vão, vão, antes que outro vampiro desavisado lhes cruze o caminho. Ela parece ser pior que você Erika!
– Ao menos eu tive alguém para me mostrar como prevenir situações assim a tempo.
– Pois explique o mesmo à ela e... – observei Anya por um instante – ...apenas o essencial.
.。.:*♡ Cap.50 ♡*:.。.
Cris
Seguimos para o meu quarto, Anya, Erika e eu. Por conta do meu cansaço pelo esforço feito, acabamos demorando um pouquinho mais para chegarmos lá. Entreguei minha chave à Anya para que ela “abrisse caminho” para nós, quando alcançamos o último andar.
Lance estava envolto pela “névoa” dele atrás do biombo quando Erika e eu entramos, sentei-me em uma das cadeiras e Erika pediu para que Anya buscasse alguma coisa na enfermaria. Nesse meio tempo, ela me explicou tudo o que eu precisava fazer para evitar que cenas como a que ocorreu na Sala do Cristal se repetisse. Ela me contou que eu precisava pingar algumas gotas de uma das poções que Anya me ensinara a preparar para defender-se de criaturas sombrias na esponja cíclica, além de alguns outros truques (anotei em meu not para não esquecer).
Anya retornou acompanhada da Ewelein que me trouxe algumas vitaminas e pediu ajuda da Erika para cuidar dos que eu havia purificado, com as duas saindo quase que imediatamente e me lembrando para permanecer no quarto hoje.
– O que foi que aconteceu dessa vez? – Lance perguntou saindo do esconderijo assim que tranquei a porta.
– O homem que veio me chamar era vampiro, acho que com isso você já pode imaginar o resto já que ele estava na Sala do Cristal e você pôde ouvir minha conversa com a Erika. – respondi.
– O que foi que a Erika conversou com você Cris?
– Apenas o que eu precisava saber Anya.
– Me contem exatamente o que aconteceu. – ele nos exigia.
– Por quê? – qual o problema com ele? – Terei sempre que relatar tudo que me acontece pra você?
– Apenas não quero ter surpresas incomodas como a visita de meu irmão.
– Como foi que fez para ele não te descobrir naquela noite? – perguntava Anya.
– Alguém parece estar me ajudando, porque e pra quê ainda não sei. Vão me disser o que aconteceu agora? – eu não sei se agradecia ou desconfiava da preocupação dele para comigo, mas acabei por contar o acontecido (e ele me pareceu bem irritado com a historia) – Eu teria o matado se fosse eu no lugar de Nevra!
– Não teria resolvido nada fazer isso. – respondi meio que o repreendendo.
– Seria um vampiro a menos em cima de você. – foi a resposta dele ao sentar na poltrona de braços cruzados. Respirei fundo.
Como eu já estava “presa” no quarto mesmo, resolvi continuar o meu livro com Anya me ajudando. Como acabei sem tinta, Anya foi ao mercado comprar mais para mim. Enquanto ela saía, vimos Shiro no corredor com uma cadeira em suas mãos, foi aí que ficamos sabendo que Shiro tinha sido escolhido por Valkyon para vigiar-me o quarto junto de Réalta (acho que por causa de nossa amizade... sempre tive mais facilidade em ficar amiga de homens do que de mulheres, talvez por só ter um homem como irmão caçula) que fariam turnos entre si, começando pelo Shiro.
– E como é que serão esses turnos de vocês? – perguntei a Shiro sentado na cadeira a mais ou menos cinco passos de distância da minha porta, com eu recostada à patente da porta meio aberta com Lance ouvindo a conversa.
– Bem, até o almoço serei eu a lhe fazer guarda, e lá pras seis da tarde eu reassumo sua vigília até o meio da noite.
– Então seus turnos serão de aproximadamente 6hs cada um. – eu observava Lance no fundo de meu quarto.
– Foi o que Réalta e eu combinamos junto de nosso chefe. – ele me sorria.
– O que foi que aconteceu com o tal do Viktwa?
– Foi deixado em uma cela até esfriar os ânimos, Ezarel está encrencado com a Miiko. – acabei rindo e vi que Lance achou pouco o que foi feito – Eu teria dado um soco nele se estive no lugar do Valkyon.
– E porque isso? – Lance erguia uma sobrancelha pelo aguardo da resposta.
– Você é uma das nossas, ninguém da nossa guarda iria admitir que um colega fosse machucado por um cara qualquer. – ele me desviava o olhar ao dar a resposta (não creio que seja só isso...).
– Por isso que eu fui cercada por vocês quando Ezarel tentou usar uma poção de invisibilidade pra cima de mim?
– Sim, foi... A menina da Sombra não está demorando? – estava na cara que ele parecia nervoso.
– Anya deve estar com dificuldades ou então algo a está distraindo. – vi Twylda se aproximando com três embrulhos nas mãos.
– Olá para vocês.
– Olá! – respondemos nós dois.
– Karuto me pediu para trazer os almoços de vocês. – dizia ela entregando o de Shiro – O de Shiro, o seu e o de Anya. Ela está aí dentro?
– Não. – respondia – Ela foi ao mercado pra mim, mas pode me entregar o dela. A farei comer assim que chegar.
– Agradeço muito. – respondeu ela me entregando os dois embrulhos.
– Alguém já lhe convidou para lhe ser par durante o baile Twylda? – Shiro perguntava.
– Oh sim, Karuto me convidou e eu aceitei. Prefiro um grande amigo como ele para ser meu par a outras pessoas. – ela sorria com timidez (só amigos é?...) – Mas e você Shiro, já convidou alguém?
– Não, ainda não... – ele corava e Lance me pareceu inquieto.
– E quem planeja convidar? – perguntei.
– Alguém já chegou a te convidar?
– Não e... mesmo depois de Anya e Absol terem me forçado a comprar roupas para a noite, não tenho muita vontade de participar... – ele pareceu chateado (será que ele planejava me convidar?).
– E porque não Cris! – falava Twylda – Soube por Purriry que você estará linda no dia.
– Bom... eu não sou fã de multidões... – ainda sinto um mau pressentimento, mas guardarei isso pra mim.
– Bobagem moça, sei que vai gostar do baile. Virei buscá-la pessoalmente se eu souber que você está enfurnada aí dentro no dia! – um riso me escapou e Lance revirava os olhos.
– Tá, tudo bem. Eu vou a esse baile... Mas só porque não quero ninguém me arrastando pra ele!
– Já é alguma coisa. – ela sorria – Agora se me dão licença, ainda tenho trabalho a fazer. Por favor, não se esqueçam de devolver as vasilhas à cozinha.
– Pode deixar. – respondeu Shiro e eu entrei no quarto fechando a porta para eu e Lance comermos.Lance
Quando a Anya retornou à frente da Cris que estava acompanhada da Erika (com a Branca ainda dependurada nela), imaginei que tinha acontecido alguma coisa. Ainda mais com todos os conselhos que Erika dava à ela enquanto Anya estava fora. E depois que a Cris e a Anya me explicaram o que tinha acontecido...
“Entendeu porque minha irmãzinha se pendurou na Cris?” – (e porque você não ficou tomando conta dela?) – “Eu tenho que vigiar suas ações e minha irmã as emoções dela. É assim que iremos poder olhar vocês.”
Não pude esconder meu descontentamento pelo ocorrido daquelas duas, (ainda preciso da Cris).
“Porque não admite que você tem ciúmes da Cris hein? Sei que está gostando dela!...” – (não tem nada melhor pra fazer não?) – “Quer que lhe deixe sozinho com a Cris!?” – ela sorria de orelha a orelha (Negra...) – “Hihihihi” – ela sumiu, argh.
A Branca continuava em cima da Cris e só a deixou depois que o tal de Shiro chegou para vigiar o quarto, em turnos com o Réalta (meu irmão não podia ter escolhido outros membros quaisquer para o trabalho?). Não gostei da conversa que eles tiveram, ainda mais depois da chegada da mulher que exigiu que a Cris participasse do baile daqui uma semana.
Sentamos para comer. A Cris só tirou uma parte da comida de Anya para mim porque eu ameacei fazê-lo eu mesmo.
– Não gosto muito desse Shiro. – cochichei enquanto comíamos para que o brownie não nos ouvisse conversar.
– Não sei por quê. Acaso está com ciúme de mim? Por isso toda essa preocupação? – ela questionava em voz baixa (até ela!?).
– Não é ciúme. Só não quero que você abra a boca sem querer e eu perca toda a minha mordomia.
– Não vou falar... não intencionalmente.
– Pois é com isso que me preocupo. – falei seco e ela pareceu chateada.
– De qualquer forma... – eu a encarava de soslaio – Preciso do meu mínimo de liberdade, ou as pessoas poderão desconfiar. Já basta Nevra, que parece que me deixará um pouco mais em paz agora. – (não tenha tanta certeza) dizia ela brincando com o prato.
– Não aceite o convite de ninguém para este baile. – senti que ela me encarava – Assim os riscos serão menores, mesmo que seja arrastada para ele.
– Tá, como quiser... – era claro que ela não havia gostado de minha exigência – Quem escuta melhor, elfos ou vampiros?
Estranhei a pergunta – Vampiros, pois são caçadores natos, por quê?
– Réalta é um elfo esqueceu-se? Ele já deve estar trocando de lugar com o Shiro agora. – quase me esqueci.
– Tem razão. É melhor só conversarmos enquanto for o brownie que estiver de vigia. – ela apenas assentiu e terminou a parte dela da comida.Anya
Ooo dificuldade pra achar um pouco de tinta hoje, só encontrei na terceira das quatro lojas que tinham e ainda precisei negociar como se já tivesse ido à quarta. Também procurei por colchonetes que a Cris me pediu secretamente, mas este eu não achei em loja alguma. Cheguei ao corredor junto do Réalta que se preparava para trocar de turno com Shiro, bati à porta enquanto eles conversavam rápido sobre tudo e entrei antes que eles se dessem conta. (Réalta é amigo de meu pai e por isso sei o quanto a audição dele é boa, só não supera o Becola).
– O que aconteceu? Porque demorou tanto Anya? – a Cris me perguntava.
– Tava difícil achar tinta no mercado hoje. – coloquei a sacola sobre a mesa – E muito menos o seu outro pedido – cochichei.
– Entendo. Twylda trouxe a sua comida... – ela me entregava uma marmita meio aberta – ...e eu já comi a minha. – terminou encarando o Gelinho que estava na poltrona com um livro nas mãos.
– Réalta e Shiro já estão trocando de lugares. – falei me sentando para comer enquanto ela guardava a tinta.
– Obrigada por avisar. – ela ligou o celular dela nas músicas – Vou cumprimentá-lo já, já. E muito obrigada por ter ido ao mercado pra mim.
– Sem problemas. – Vi Absol saindo de dentro de uma sombra – Ele tinha saído também? – a Cris virou para trás, onde eu olhava, e notei que havia vários pergaminhos com Absol que ela os olhou por cima.
– Parece que ele resolveu explorar... E ele me trouxe nove pergaminhos de roupas ao que parece. – ela os guardava no baú.
– Vamos retomar o seu livro quando eu acabar de comer?
– Mas é claro!
Enquanto eu comia, a Cris conversou um pouquinho com o Réalta e logo fechou a porta (pensei que ele ia tentar convidá-la pro baile), e notei que Lance não tinha gostado muito dela conversando com outro (acaso ele está se achando dono dela!?). Ela me contou sobre o que havia conversado com Shiro (Réalta não era o único que a queria como par??) e com Twylda, e com Lance (que parecia mesmo se achar dono dela) enquanto eu estava no mercado e eu lhe repassei como foram minhas buscas pelo que ela me pediu.
Depois que terminei de comer, tratamos do livro dela. Traduzia-lhe mais um pedaço do livro sobre mascotes que trabalhávamos agora e que ela resumia para colocar no guia dela, Lance se mantinha extremamente calado naquela poltrona (acho que é por causa da audição de Réalta).
Cris e eu nem vimos o tempo passar, só nos damos conta da hora quando o Réalta bateu a porta para me fazer ir pra casa.
– Anya, já está tarde e você sabe que sua mãe sempre fica preocupada! – ele dizia do outro lado da porta. A Cris abriu logo depois de Lance se “esconder”.
– O que foi Réalta, virou pai da Anya agora? – a Cris perguntou.
– Não, mas o pai dela e grande amigo meu, pediu-me para cuidar dela e de sua mãe de vez enquanto durante o tempo em que ele estivesse em missão.
– Cuidou muito bem de mim enquanto fugia pra floresta não é mesmo! – provoquei-o.
– Sabe por que foi que seu chefe de apelidou de “verdheleon”? – ele cruzava os braços.
– Ahm... Porque sou rápida e escorregadia como um? – arrisquei e a Cris segurava uma risada.
– Ainda bem que sabe. E você ficou bem pior depois de entrar na sombra “pés-leves”. – não sei se estava me elogiando ou me insultando, mas eu gostei do apelido – Vamos, te acompanharei até em casa.
– Vai pra casa Anya, amanhã nos encontraremos de novo, está bem? – pra Cris estar sendo doce ou ela está cansada ou o Gelinho está doido pra voltar a ficar visível _suspiro_.
– Tá bom! Vamos logo! – saí deixando a Cris e o Gelinho, com Réalta no meu pé e Shiro de vigia outra vez.Cris 2
Anya e eu aproveitamos que eu estava usando o meu not quase o tempo todo para “conversamos” através dele sem que Lance nos percebesse. Eu não podia simplesmente deixá-lo lá se fortalecendo, tinha que encontrar uma maneira de ao menos fazê-lo adiar ao máximo qualquer plano de vingança que ele pudesse estar elaborando.
– porque você não conversa com ele devagar? – Anya escreveu.
– ele pareceu querer tentar me fazer deixá-lo mais “à vontade” no QG hoje cedo. – respondi.
– como assim?
– me pediu para deixá-lo roubar comida ao invés de pegar a nossa.
– você negou, né? Ele não pode deixar este quarto! Não é seguro.
– claro que neguei, porque acha que convenci Ezarel a recolocar as proteções?
– você podia tentar conversar com ele, assim como ele fez. Acha que pode convencê-lo?
– só ele pode convencer ele mesmo a desistir, mas posso tentar lhe sugerir.
– já é alguma coisa.
– vou ver o que posso fazer.
Acabamos aí com a nossa “conversa” antes que levantássemos alguma suspeita e passamos a trabalhar de fato nas traduções para a criação do que seria um “Guia para Recém-chegadas em Eldarya” (_riso_).
Karuto nos enviou um lanche reforçado que ele entregou pessoalmente, levando as vasilhas da marmita do almoço após me elogiar pelo belo quarto (ainda bem que ele estava cheio de serviço!).
Quando ficou tarde, Réalta fez questão de acompanhar Anya até em casa enquanto Anya queria ficar mais. Pude notar o incomodo que a presença de Réalta provocava em Lance (que se manteve o tempo todo naquela poltrona para não fazer ruídos) e por isso convenci Anya a ir com ele logo. Ainda dei um “boa noite!” ao Shiro que reassumia a vigília de meu quarto (em situações normais, acharia isso tudo um pouco demais) antes de trancar a porta em seguida.
Lance foi direto para o banho e eu arrumei as coisas da mesa. Ele saindo, foi minha vez de ficar limpa. Não demorei muito porque estava meio limpa, mas fiquei o tempo todo refletindo como que eu poderia puxar conversa para o assunto com ele. Saindo do banheiro, eu o vi de novo na poltrona só que dessa vez ele parecia tentar concentrar-se em algo, de olhos fechados e sua expressão não me parecia muito boa, percebi que era por causa do pescoço pelo jeito que ele o esticou para um dos lados (talvez...).
Me aproximei com calma para não lhe interromper a concentração. Cheguei por trás, e antes que pudesse encostar, ele agarrou-me pelos pulsos sem sair do lugar.
– O que pensa que vai fazer. – ele me questionou sem nem mesmo abrir os olhos ao que pude notar pelo espelho da penteadeira.
– Devolver o favor. Por ontem à noite. Seu pescoço ainda não lhe incomoda? – a forma com que ele pressionava os meus pulsos estava começando a deixar minhas mãos dormentes.
– O que me garante que não vai tentar fazer é uma outra coisa? – agora ele me observava pelo mesmo espelho, respirei fundo.
– Só pela força com que está me segurando, tenho certeza que não teria capacidade para prejudicar lhe. – isso o fez amenizar a pressão – Mas se não quer ajuda com o pescoço... – ele só me soltou depois de uns dois minutos apoiando minhas mãos nele.
– Da próxima vez, avise antes se não quiser acabar machucada.
– Tudo bem. – respondi já massageando lhe o pescoço e ele voltou a fechar os olhos (e que pescoço duro!) – Você está bem tenso... – tentei começar uma conversa – ...Não é só por causa das noites nessa poltrona, é? – ele estava me ignorando – Posso ao menos saber em quê se concentra tanto?
– Minha maana. – seco, mas foi uma resposta – Até que você não é ruim. – comentou relaxando o rosto um pouco.
– Não sou profissional, mas meus pais e amigos sempre me pediam massagem de vez enquanto.
– Sente falta de casa?
– Um pouco às vezes... Você tem sorte de já estar em casa, mais ou menos.
– Casa. Hunf!!
– Você nasceu em Eldarya, não é? Tudo o que conhece está aqui, não é verdade? Pra quê agir assim... – senti seus músculos enrijecerem outra vez.
– Está tentando me fazer perdoar todos esses cretinos?
– Só você pode decidir se perdoa ou não alguém, o máximo que eu poderia fazer é tentar aconselhá-lo a refletir melhor. – vi ele me erguer uma sobrancelha no reflexo – Me diz, acaso você recebeu alguma coisa boa depois de seus feitos? Algum espírito de dragão acaso lhe visitou, nem que seja em sonhos, para lhe agradecer por tudo o que fez? – seu rosto ficou vazio – Aposto que não. – deixei-o e comecei a ajeitar a cama para deitar-me – E tem mais, eu não fiz nada que você já não tenha feito comigo, ou vai negar que tentou me colocar contra os faerys mais cedo? – Ele não dizia nada, apenas refletia em completo silêncio – Uma vez, eu ouvi uma frase em uma série que assisti um pouco “Guardar mágoas é carregar pedras no coração.” (Claire Browne - The Good Doctor).
Deixei-o com seus pensamentos. Rezei minhas orações e fui dormir.
Última modificação feita por Tsuki-Hime (25-01-2024, às 10h25)
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Cris
Depois daquela noite, se passaram mais quatro dias, e nas três noites anteriores eu tentei conversar novamente com ele enquanto lhe ajudava com o pescoço (não preciso de um dragão mal humorado em meu quarto) da forma mais indireta possível, fazendo-o se abrir bem aos poucos com os mais diversos assuntos: família, raças faerys, costumes da Terra e de Eldarya, etc. E ao mesmo tempo, ele tentava me convencer que não valia a pena ajudar Eldarya (isso quem decide SOU EU!).
Anya conseguiu dar um jeitinho de alimentarmos o “gelinho” sem causar mais preocupação aos outros ou de estarmos sempre precisando comer em meu quarto. A mãe dela havia comprado vasilhas novas, e ela pegou as que seriam jogadas fora para guardarmos uma pequena parte de nossas refeições e Absol ficaria responsável por entregá-las ao Lance sem ninguém desconfiar. A desculpa que demos para explicar as vasilhas? “Decidimos criar uma armadilha. Uma isca para conseguirmos seguir um mascote que resolvemos chamar de gelinho, responsável por levar nossa comida não sei para onde...” foi a declaração de Anya para Karuto e os demais, e é claro que “o gelinho sempre consegue nos despistar...”(_sorriso_).
Tirando as conversas e o nosso método que encontramos para alimentar o Lance, segui minha rotina normalmente nesses dias, só lamento não ter encontrado um colchonete ou material para fazer um no mercado, e eu cheguei a pedir ajuda à Absol, mas até ele estava sem sorte.
Hoje eu madruguei. Era meu dia de cuidar da limpeza do quarto, uma vez que ficou decidido que uma semana seria eu e na outra seria Lance o responsável pela limpeza. Ainda não tinha nem sol quando eu cheguei ao salão e não esperava encontrar Karuto de pé tão cedo.
– Rainha Cris! Acaso não consegue dormir?
– Não é nada disso Karuto, eu que pensei que você ainda estaria dormindo agora.
– Então, o que a traz aqui tão cedo?
– Preciso cuidar da limpeza de meu quarto, _suspiro_ e queria fazê-lo antes de começar com minha rotina normal. Desci pra cá já pensando em como iria tomar meu leite sem você, já que não sei onde tudo fica aqui.
– Hehe, eu acho que sou o que levanta mais cedo por aqui. – via-o preparar minha refeição – Mas Cris, porque não utiliza os serviços dos purrekos? Alguns podem ser gananciosos, mas nunca nos decepcionam.
– Tentador... mas andei gastando muito nos últimos dias e, depois de ver o quanto que um deles pode ser ganancioso, prefiro só apelar a eles no que for inevitável. – falei tomando o meu leite na bancada (qualquer serviço de quarto com Lance lá não é boa ideia...).
– Tá sendo esperta. Mesmo com todas as melhoras que obtivemos depois de sua chegada, ainda é pago uma mixaria como salário para todo mundo. O que exatamente você vai fazer antes de começar de fato o seu dia? – ele me estendia uma vasilha de frutas com mel e biscoito (esse vou levar pro quarto).
– Nada de mais! Só vou lavar meu banheiro, limpar o chão e a poeira, e trocar os lençóis de minha cama.
– E ainda seguir a rotina de ver o Novo Cristal e prosseguir com o seu treino? – perguntou ele com uma sobrancelha erguida e eu apenas assenti com a cabeça como resposta – Passe aqui de novo antes de se encontrar com o Valkyon. É uma ordem!
O olhar dele era bem sério – Sim senhor, general Karuto! – respondi com uma continência que o fez rir. Terminei de beber meu leite e segui pro quarto.
Ainda comi umas duas colheradas de fruta antes de começar a trabalhar. Primeiro troquei a roupa de cama e a deixei na lavanderia junto de minha roupa suja para em seguida mexer no banheiro. Quando acabei com o banheiro, Lance também terminava de comer (ainda bem que eu provei antes!) o que me poupava do desconforto de ter que acordá-lo para poder limpar o chão.Lance
Tenho que dizer, se não fosse pelas massagens dela em meu pescoço eu com certeza estaria bem pior agora. Ainda não desisti de transformá-la em uma aliada (ela é útil demais para simplesmente matá-la) em invés de permiti-la de continuar ajudando esse bando de inúteis. Claro, ela também tentava me fazer desistir disso, mas, diferente dos outros, ela não queria me convencer a isso, e sim que eu me convencesse a desistir (mulher teimosa...). Como ela resolveu me contar um pouco da vida dela na Terra, acabei falando sobre uma coisa ou outra da minha. Quando o assunto foi sobre as raças faerys existentes, fiz questão de contar só as piores partes, o que ela acabou por perceber... “A vida é um mar de rosas... Com belas flores e terríveis espinhos. Por isso não podemos nos esquecer de nenhum dos dois para sermos felizes.” Foi o que ela acabou me dizendo nessa noite e me deixou a refletir (me pergunto se ela não tem um pouco de fenghuang no sangue).
Acordei com ela deixando o quarto com uma trouxa de roupa suja nas mãos. Parte de meu corpo estava dormente e resolvi me manter no lugar mais um pouco (ela está mesmo tentando me arranjar um lugar melhor pra dormir?). Ela não demorou a voltar e muito menos a trabalhar na limpeza, iniciando com o banheiro.
Me alonguei um pouco e senti o cheiro doce que vinha da mesa, uma vasilha cheia de frutas saborosas (depois de anos comendo apenas aquela porcaria azul, aprendi a valorizar muito o gosto da comida), comecei a comer. Enquanto ela trabalhava, fiquei surpreso com o que ela cantava (pensei que ela não conhecesse a língua original!), era uma oração, por um mundo melhor.
“Conscientemente, ela não conhece a língua original...” – e chegou ela... – “...Mas o seu subconsciente conhece, ao ponto dela acreditar que está só cantarolando agora.” – (como isso é possível? Como ela pode conhecer e não conhecer essa língua?) – “É o sangue faery dela. O poder que está adormecido dentro dela é tão poderoso, que conseguiu extrair esse conhecimento do mais profundo de sua existência. Além de se manifestar logo depois de ficar livre do selo, mesmo que minimamente.” – tanto assim? (e não é um pouco perigoso demais você me revelar essas coisas? Posso acabar é querendo dar um jeito de controlá-la se eu não convencê-la...) – “Você não seria o primeiro...” – encarei-a, e pela primeira vez em todo o tempo em que ela aparecia pra me perturbar, via tristeza no rosto dela (tem alguém querendo por as mãos nela?), ela sumiu sem me responder.Cris 2
– Bom dia. – o encarei por um instante para retomar o serviço – Como está o seu pescoço hoje? – perguntei enquanto varria.
– Mais ou menos... – ele raspava a colher na vasilha – Acordou cedo.
– É preciso se eu quiser acabar tudo antes de ver o Cristal e treinar.
– E acha que o meu irmãozinho vai te deixar treinar depois de trabalhar? – ele passava para onde já havia varrido.
– Acaso irá contar pra ele? Eu não acordei cedo assim à toa não! – ele ria (_suspiro_), comecei a cantarolar para poder ignorá-lo.
– Pensei que não conhecesse a língua original... – acabei por encará-lo de novo.
– E eu não sei. Ao menos ninguém me ensinou.
– Eu até que gostaria de fazê-lo, se você aceitasse...
– Tudo o que você quer são os meus grimórios, isso sim.
– Parece que alguém acordou de mal humor. Porque não usa isso como desculpa pra passar o dia aqui dentro hein? – acabei por respirar fundo antes de responder.
– Só deixarei de fazer o meu trabalho se eu estiver doente de cama! – disse terminando com a vassoura.
– Quaaanta responsabilidade... – ele revirava os olhos ao dizer (senhor, dai-me paciência!...).
Depois disso ficamos em silêncio. Comecei a cuidar da poeira para depois limpar o chão e assim acabar a limpeza. Absol, que havia passado para a cama dele depois que levantei, só agora acordava de verdade e eu já estava na metade da poeira. Aquele bruto... foi só ele não precisar mais ficar vigiando Lance pra começar a coordenar novamente os meu treinos. A Ewelein quase caiu pra trás ao me ver enfrentando os mesmos mascotes de quando me apresentei a guarda junto de Shiro, Réalta e Thueban ao mesmo tempo! (ao menos estava sem a venda _sorriso_) Suas explorações misteriosas agora eram sempre depois de entregar a comida do Lance (espero que hoje ele tenha mais sorte!).
Estava terminando de limpar a penteadeira quando vi Lance se aproximando silenciosamente pelo espelho, peguei a tesoura da gaveta e a apontei para ele em minha defesa (posso estar acostumada com a presença dele, mas não baixarei minha guarda ainda).
– Calma. – disse ele com as mãos erguidas e um sorriso malicioso no rosto (como eu detesto aquele sorriso!) – Não lhe farei nada. – me mantive na mesma posição e ele aproximou uma das mãos de meu cabelo, observando o que fazia pelo espelho para não perder a tesoura em minha mão de vista – Parece que uma das penas de seu travesseiro resolveu ornamenta lhe os cabelos! – ele me estendia a pluma que parecia estar atrás de minha cabeça (cachos são um saco para desembaraçar, então só o faço quando lavo) que eu não tinha notado e me fazendo corar.
– Obrigada? – (e me desculpe) pequei a pena com ele se afastando de mim (porque que ele continua sorrindo?), guardei a tesoura e comecei a limpar o chão.
Estava quase terminando de passar a segunda mão de pano quando a Anya chegou.Anya
Eu realmente não entendo, a quantidade de gente em Eel aumenta por causa do baile, mas não é possível achar nada no mercado que sirva de cama, e os materiais para fazer um colchãozinho está sempre esgotado. Já vi muita gente mal humorada por causa de noites mal dormidas, por isso entendo a preocupação da Cris com o bem estar do Gelinho, mas até parece que as coisas estão fugindo da gente! Muitos guardiões estão cedendo ou dividindo os seus quartos para poderem receber todos os convidados (será que há problema se eles dividirem a cama?).
São quatro dias para o baile do solstício contando com hoje, Réalta questionou minha mãe ontem à noite se ela queria que ele fosse o seu par como no ano passado, caso meu pai não retornasse da missão dele à tempo, mas ela foi clara que só participaria do baile esse ano na companhia do meu pai (até quanto ele vai ter de ficar em Lund'Mulhingar?), e eu ainda consegui fazer ela me explicar o que é um ciclo... e não gostei nem um pouco, ainda mais sabendo que estou na faixa etária do primeiro ciclo de uma elfa, entre os quarenta e cinquenta anos (ela ia esperar meu ciclo chegar primeiro? Vou fazer quarenta e seis daqui uma semana!).
Levantei cedo como sempre e... acho que vou tomar meu café no QG mesmo. Deixei um bilhete e saí. Mal entrei no salão e o Karuto já me chamava.
– Bom dia minha Pequena Rainha! Venha! Venha!
– Bom dia. Aconteceu alguma coisa? – me aproximei com cuidado do balcão.
– Já tomou seu desjejum? – apenas neguei com a cabeça – Hehehe, experimente este bolo que acabei de preparar. – ele me empurrava um pedaço de bolo branco e negro (como nunca tinha visto) em um pratinho.
– Erika o inspirou novamente ou foi o Feng Zifu? – perguntei antes de provar (esse bolo é seguro mesmo?).
– Erika. Ela me disse que na Terra há um bolo parecido conhecido como “bolo mesclado”, agora prove!
Bom, se foi a Erika que ajudou na receita então é seguro (se não tivesse dedo dela ou de Feng Zifu...), primeiro eu só provei, e acabei foi é devorando tudo. – Está muito bom Karuto! Uma delícia! A parte escura é chocolate mesmo!?
– Sim, é sim. – ele sorria orgulhoso – Agora preciso que me faça um favor.
– É só dizer.
– Quero que leve um pedaço para a Cris, ela já pegou o café dela há um bom tempo me dizendo que ia limpar o quarto. Um lanche pós-trabalho. – (que hora que ela levantou?).
– É pra já, mas... o meu vai ser só esse pedacinho mesmo? Eu esperava tomar o café com a Cris...
– Hehe, não se preocupe, imaginei que você podia querer fazer isso hoje de novo, e já deixei algo preparado pra você também, pegue. – ele me entregava duas marmitas – A com a garrafa é o seu café.
– Muito obrigada Karuto! – agradeci disparando ao encontro da Cris.
Alcancei rápido o quarto e não me demorei em destrancar a porta, entrei sentindo o cheiro de Clianthus.
– É seguro entrar? – perguntei, minha mãe só fica faltando me jogar o esfregão na cabeça quando ela está limpando (a Cris não tem esse risco, tem?).
– Claro Anya, mas passe rápido para o lado de Absol para que eu possa acabar logo. – não demorei nem dois segundos!
– O que é que tem aí nas mãos elfinha? – Lance perguntava ao meu lado.
– Meu café da manhã e um lanche que o Karuto mandou para a Cris pelo trabalho de limpeza. – respondi me aproximando da mesa por onde já era seguro – Você está começando ou terminando Cris?
– Terminando. Não queria me atrasar com o Cristal ou com o treino e eu ficaria cansada demais se deixasse pra tarde. – acabei dando um longo assobio.
– E que hora você levantou pra poder cuidar de tudo? – arrumava as coisas sobre a mesa com Lance se aproximando – E o quanto cedeu do seu café pro Gelinho? – Lance realmente não era fã desse apelido (_risinhos_).
– Pus meu celular pra me chamar às cinco já que Absol sempre me chama por volta das seis e quanto à comida, Karuto me deu leite, que tomei todo, e frutas com mel e biscoito que eu só provei. Ele comeu bem dizer tudo enquanto lavava o banheiro. Uff! – ao acabar de falar, ela tinha finalmente terminado a faxina.
Separei apenas a minha bebida para o Lance depois de provar-lhe um gole e comecei a comer meu sanduíche sozinha, garantindo que ele não mexeria no lanche da Cris. – Não provo do seu sanduíche? – ele me perguntava com uma sobrancelha erguida.
– Você comeu quase toda a fruta da Cris, ficar com quase toda a minha bebida não é o suficiente pra você? – Lance dava de ombros e a Cris terminava de guardar os utensílios de limpeza.
– Aaah, cansei. – ela alongava os braços para trás com as mãos juntas – O que foi que Karuto me mandou!? – dividíamos a cadeira (ainda não consegui a fazer comprar uma terceira, ainda mais depois de descobrir que cada uma daquelas cadeiras custava 800 maanas (que hora pra economizar!) e seus olhos pareceram brilhar ao ver o conteúdo da vasilha – Não acredito, bolo! E ainda quentinho...
Ela inspirava aquele aroma com um prazer, que tanto o Lance quanto eu ficamos com vontade (e isso porque eu já tinha comido), e acho que ela percebeu nosso desejo – Karuto deu pra você Anya? – ela me perguntou separando um pedaço da fatia dela.
– Eu fui a cobaia dele dessa vez. Estranhei na hora, mas acabei é querendo mais. – ela entregava o pedaço tirado para o Lance com uma cara que dizia: “pega, vai!” que ele comeu na hora com a mesma surpresa que eu tive ao prová-lo – Acho que à tarde eu consigo repetir, se sobrar...
– Vamos ver se até eu consigo essa sorte. – ela sorria, mas ficou apreensiva em seguida – Se bem que eu não me importaria em não conseguir repeti-lo se eu conseguisse achar algo que sirva de cama pro nosso Gelinho...
Ela ficou com o olhar sério e um sorriso aborrecido no rosto – Escuta... – eu olhava ora para o Lance e ora para a Cris – Porque é que vocês não dividem a cama? – os dois me pareceram estranhos por um momento (a Cris tá corada por quê? Será que...) – Acaso tem alguma coisa a ver com os bebês? – os dois se engasgavam; a Cris com o copo d’água que tomava e o Lance com o restante da bebida que cedi (acho que acertei em parte).
– Anya, _tosse_, eu não sei se devia te contar isso ou não, mas pra que “isso” aconteça, é preciso que um homem e uma mulher fiquem mais próximos do que nós duas estamos agora. – ela retomava a agua, ainda mais vermelha do que antes.
– Mas eu estou bem dizer no seu colo! – retruquei.
– Pra você ver... e eu só irei me permitir dividir a minha cama com ele em última circunstância, pois não lhe confio tanto assim.
– Somos dois então. – respondeu Lance quase tão vermelho e sem graça quanto a Cris (qual o maior problema desses dois?).Nevra
Depois de toda aquela confusão com a Cris e o ciclo dela, não lhe fiz vigília com os colegas de guarda dela o fazendo, pois graças às proteções que lhe foram repostas no quarto, eu precisava ficar perto da fechadura para ouvir o que acontecia lá dentro (se não fosse por elas eu seria capaz de ouvi-los a seis portas de distância) o que me deu tempo para me recuperar do atordoamento que tinha no dia.
De madrugada, madrugada, eu não pegava muita coisa então comecei a observá-los entre as sete e oito da noite, me utilizando de meus talentos da Sombra. Em parte senti-me aliviado ao ouvir que a Cris não só parecia estar fiel ao nosso lado como também dava um jeito de sugerir ao Lance que deixasse o mau caminho, mas as tentativas dele de colocá-la contra nós ainda me preocupa (santo Oráculo, que ela nunca o ceda).
Em uma das noites que se seguiu, acabei flagrando uma de minhas novas recrutas querendo invadir o quarto dela. “Este é o cômodo mais seguro do QG, tem forma melhor de testar minhas habilidades?”, foi a justificativa dela para suas ações. Dispensei-a na hora.
Não tive oportunidade de questioná-la sobre o quanto ela se importa com os faerys e com Eldarya e espero conseguir fazer isso hoje. Ontem, Felícia, uma das pessoas que enviei a Apókries investigar o possível fragmento da segunda Oráculo, retornou com a informação de sua localização e de alguns fatos no mínimo questionáveis, e que com certeza nos traria bastante problemas.Cris 3
Aquela Anya... Às vezes ela parecia uma peste! Ainda bem que ela (quase) mudou de assunto ao falar que conseguiu fazer a mãe dela explicar o que era o ciclo que todas nós mulheres somos obrigadas a aturar, e fiquei boquiaberta ao finalmente descobrir a idade dela (46 daqui sete dias?!?), estou hiper impressionada com a capacidade da mãe dela para lhe manter tamanha pureza.
Anya me explicou que a estimativa de vida dos elfos era entre 300 e 400 anos sendo que eles só envelheciam igual aos humanos até os sete anos de idade, depois disso, seu envelhecimento era proporcional à diferença de estimativas e a maioridade dos elfos ocorria após os 65anos (Anya ainda tinha chão...).
Descemos para a Sala do Novo Cristal (com Lance ficando para trás trancado, é claro) e tanto Nevra como Valkyon pareciam nos esperar diante da entrada, parados e calados como duas estátuas.
– Há algum problema? – perguntei chamando-lhes a atenção.
– Até agora nenhum. – respondia Nevra com charme na voz.
– Então porque vocês dois estão aí parados? – era Anya – Valkyon, hoje não é o dia do ritual de vocês? E Chefinho, você não costuma manter distância daqui, no dia do ritual? – os dois se entreolharam em silêncio antes de responderem.
– Eu estava esperando a Cris. – respondeu Valkyon sem mudar a posição e com bastante calma na voz.
– Já eu, recebi resposta dos que eu enviei para Apókries e irei repassar as informações aos maiores interessados no fim do ritual, aproveitando que estarão todos reunidos mesmo. – declarou Nevra me sorrindo (oh Pai, vai recomeçar...) e Valkyon lhe erguendo uma sobrancelha.
– Vamos entrar logo então... – falei em meio a um suspiro.
Lá dentro, Miiko, Erika e Leiftan conversavam entre si enquanto desenhavam algo no chão próximo ao Cristal. Valkyon começou a ajudá-los no lugar da Miiko que foi para o fundo da sala, onde estava a Ewelein, falar com Nevra, Anya (convidada pelo seu chefe a assistir o ritual e que claro, ela não pensou duas vezes em aceitar) e mais um novo faery (parecia ser uma harpia só que tinha mãos e não só penas como elas e pernas mais curtas, e era tão mais bonita e elegante, com sua pele clara e penas que de tão escuras eram quase literalmente negras, além do diadema de pedras roxas que usava. Vou ver se tiro uma foto dela depois...) junto da enfermeira. Eu me posicionei de joelhos diante do Cristal para rezar meu rosário (não sei quando tempo o ritual realmente gasta e como levo quase uma hora para rezar o rosário...) observando todos através do reflexo do Cristal.
O Cristal começou a brilhar assim que eu comecei, enchendo a sala com sua luz. Após cinco minutos, Erika e os rapazes pareceram começar com o ritual. Erika estava de pé no centro do desenho que eles criaram (que por sinal estava bem atrás de mim) de costas, com o Leiftan e o Valkyon curvando-se sobre um dos joelhos diante dela; ela começou a recitar alguma coisa que fez o desenho do chão se erguer até a altura de seus cotovelos e sumir de minha visão a frente dela. Os rapazes estavam para lhe erguer as duas mãos como eu tinha visto na primeira vez, quando a Oráculo Branca de meus sonhos saiu de dentro do Cristal, dizendo algo que não entendi, mas sabia que não podia me desconcentrar de minhas orações (que por sinal, eu pedia nelas que tudo terminasse bem para a Erika) e ainda pude ver a mulher branca abraçar a Erika por trás.
Ao final do ritual, eu ainda ia começar o último mistério de meu rosário; Erika não foi ao chão como na última vez e a Oráculo ainda a ajudou a sentar-se do meu lado enquanto terminava minhas orações (ela retornou para dentro do Cristal me lançando um sorriso). Sumida a Oráculo, Valkyon se aproximou de Erika lhe perguntando como ela se sentia e Leiftan, de pé do meu outro lado, intercalava o olhar entre mim, Erika e o Cristal.
.。.:*♡ Cap.52 ♡*:.。.
Leiftan
– Uma reunião assim que concluirmos o ritual ou as orações da Cris? – questionei a Miiko enquanto desenhávamos o circulo do ritual, Erika, Valkyon e eu.
– Sim, isso mesmo. Nevra e eu concordamos em falar sobre Apókries após o Ritual de Maana hoje, e também responsabilizei Ezarel a preparar algo que ajude vocês três a se recuperarem mais depressa do ritual e assim poderem participar da reunião sem muita dificuldade.
– Localizaram o fragmento da Oráculo Negra? – o olhar de Erika tinha um pouco de preocupação.
– Localizaram... – senti um porém na voz dela – Mas parece que há algumas inconveniências que a sirin, que Nevra enviou com mais duas pessoas que ficaram pra trás, nos explicará na reunião.
– Espero que a missão de recuperar o fragmento da outra semente não se torne algo do nível S. – comentei.
– Bem... Recuperá-lo já se torna uma missão de nível A, e se esses inconvenientes que Nevra me mencionou forem tão sérios como imagino ser...
– A missão pode se tornar acima de S, é isso? – complementava “minha” bela Erika e a Miiko lhe concordava com a cabeça.
Não demorou muito para Nevra chegar junto da sirin e de Ewelein. Miiko pediu que as duas aguardassem pela reunião no fundo da sala e pediu à Nevra e ao Valkyon para que aguardassem pela Cris na entrada da sala, com ela assumindo o lugar do Valkyon até a chegada dela, que ocorreu dez minutos depois da saída deles.
Depois que a Cris começou a fazer suas orações (e que maana a que era emitida), ainda demoramos um pouco para começarmos, mas depois de iniciado, fiquei impressionado ao perceber que até a nova Oráculo iria participar. Pude ouvi-la muito bem pedindo à Cris que não parasse com as orações dela, falando na língua original, e não pude evitar ficar pasmo ao ver Erika sendo coberta pela mesma luz que cobria a Cris e o Cristal quando a Branca a abraçou.
Tirando as presenças e fenômenos extras, o Ritual de Maana seguiu como sempre. Erika não me pareceu tão exausta como em todas as outras vezes (a presença daquelas duas realmente fez diferença) e não pude deixar de ficar me perguntando quais tinham sido todas a mudanças ocorridas com aquelas três mulheres juntas, já que a maana que eu senti se espalhar estava mais parecida com a da Cris e do Novo Cristal, além de parecer haver muito mais maana sendo dispersa para Eldarya dessa vez. Ezarel apareceu finalmente com as poções encomendadas pela Miiko instantes antes da Cris terminar de rezar, acompanhado de Kero, Jamon, os membros restantes da Reluzente e aqueles que iriam participar da segurança de Eel durante o baile.
Começamos a reunião assim que todos se ajeitaram.Cris
Mal terminei finalmente o meu rosário e notei que já havia bem mais gente dentro da sala. Ezarel me oferecia um frasco com um líquido amarelo dourado que só aceitei porque Erika, Valkyon e Leiftan tomavam também, o sabor do líquido era adocicado, mas não conseguia dizer se estava mais para açúcar ou para mel e sentia o cheiro de salada de frutas. Ewelein também aproveitou para nos fazer um exame rápido (onde eu fui a última, é claro).
– Como vocês se sentem? – Miiko nos perguntava e todos nós acabamos por dizer que estávamos muito bem, com Ewelein nos confirmando – Ótimo, assim podemos dar início a essa reunião que será sobre: os ocorridos durante o Ritual de Maana de hoje; as descobertas em Apókries; e o plano de segurança para o baile.
Kero anotava tudo o que era falado. Com relação ao ritual, não prestei muita atenção no que Miiko dizia, apenas o que eu não pude ver ou perceber através do reflexo do Cristal é que me causou um pouco de interesse, ainda mais com várias pessoas confirmando os comentários do Leiftan (ai, minha Mãe...). Mas quando o assunto passou para Apókries, mudei de postura.
– Muito bem minha cara, – Miiko convocava a mulher-pássaro – apresente-se e diga-nos o que foi descoberto.
– Me chamo Felícia, membro da Sombra – (a voz dela é linda!) – e para aqueles que não sabem, sou uma sirin. Fui enviada à Apókries acompanhada de Yakecan, um quimera, e de Aodh, um feiticeiro especializado no elemento do fogo, com a ordem de localizarmos algo semelhante ao Novo Cristal naquelas terras em segredo.
– E obtiveram sucesso? – Karenn perguntava.
– Sim e não.
– Como assim? Vocês encontraram ou não encontraram o fragmento da Oráculo Negra? – Erika falava por todos com aquela pergunta.
– Durante nossa investigação, descobrimos que o Mago Cientista de Apókries encontrou um cristal negro, uns dois meses antes da chegada de Cris em Eldarya, que era capaz de atrair contaminados para junto dele e, uma vez segurado por um deles por tempo suficiente, o contaminado voltava ao normal, fazendo o cristal crescer... – haviam alguns sussurros – ...e, diante disso, o Mago levou o cristal para o seu castelo, que aparentemente já tinha o tamanho de um liclion, na intenção de estudá-lo e o castelo passou a receber contaminados até hoje.
– E vocês conseguiram conversar com aquele mago biruta? – alguém do fundo questionou.
– É aí que começa os nossos problemas. – todos pareciam ficar apreensivos – Três semanas antes de a Cris aparecer, um grupo de faerys tentou invadir o castelo com o objetivo de obter o poder do cristal negro, mas graças aos deuses falharam.
– O que foi que aconteceu Felícia. – era Valkyon que falava.
– Durante o ataque desse grupo, um bando de vandrak’s cercou o castelo e começou a atacá-los. Os que conseguiram retornar da ponte que liga o castelo à terra se salvaram, já os que não conseguiram deixar a ponte... – novos murmúrios surgiram (vandrak?) – Os vandrak’s continuam protegendo o castelo, impedindo a aproximação de qualquer faery não contaminado dentro do raio de distância da ponte. O Mago nunca mais foi visto depois disso e os boatos é que ele tenha morrido no ataque.
– E não há como passarmos pelos vandrak’s por mar ou por céu? – perguntou a Miiko.
– Impossível. – mais uma onda de cochichos surgiu, a Miiko acabou por bater o cajado dela no chão para obter o silêncio e assim, Felícia poder continuar – O mar e o céu são os lados mais protegidos por eles, quase perdemos o Aodh ao tentar entrarmos por estes lados. Os vandrak’s só estão em menor número na ponte que só os contaminados conseguem atravessar.
– E acaso os contaminados estão sendo mantidos presos no castelo? – Ezarel tinha uma pestana erguida.
– Os vandrak’s impedem de entrar, mas não de sair, por isso que há boatos de que o Mago morreu, uma vez que nunca mais saiu.
– O que são vandrak’s? – perguntei finalmente chamando parte da atenção sobre Felícia para mim (continuem olhando pra sirin!...), foi Erika quem me respondeu.
– Você já assistiu ou leu o terceiro volume de Harry Potter? – (“Harry Potter e o Prisioneiro de Askabam”... _sorriso_) só nós duas entendemos a pergunta.
– Assisti a todos, por que.
– Lembra dos dementadores? – os outros continuavam perdidos.
– Eles são parecidos com os vandrak’s?
– Com apenas uma diferença: um vandrak só se afasta de sua vítima se for repelido ou se devorar-lhe a alma. – senti um arrepio me subir à espinha (cada vez gosto menos de Apókries).
– Certo, ok. – Miiko retomava a palavra – Explique-nos Felícia o quê e como aconteceu a tentativa de vocês para entrar no castelo e o quê vocês ficaram sabendo sobre esse grupo que queria se apossar do cristal.
Felícia contou tudo o que a Miiko pediu, e com tantos detalhes que parecia que eu estava ouvindo uma historia de terror (eu realmente não quero conhecer Apókries...), minha vontade era de fugir daquela sala para não ouvir mais aquelas coisas que me causavam cada vez mais agonia e aflição.
– Nós três achamos que seria melhor aguardarmos pelo solstício de Verão para tentarmos resgatar o cristal. – sugeriu Felícia ao fim de seu relatório.
– E porque esperar o solstício de verão? Qual a diferença se irmos agora ou depois? – perguntei meio receosa de ser tratada como tola, mas pude notar que eu não era a única com essas dúvidas (que alívio!).
– Todos aqui já sabem que Apókries também é conhecida como “terra da noite eterna”... – Nevra explicava – ...mas o que poucos sabem, é que durante o solstício de verão, por apenas um único minuto, o sol consegue penetrar naquelas terras. – (um ponto positivo para Apókries!) – E como muitos daqueles faerys não suportam a luz do sol...
– Eles evitam de deixar suas moradas durante este período, é isso? – completava as explicações de Nevra e ele me assentia com a satisfação estampada na cara. (É... Apókries vai ter que esperar...) Foi traçado um pré-plano para a missão de Apókries e os membros participantes seriam escolhidos uma semana antes da viagem para evitar inconveniências.
Em seguida foi a vez de traçar o plano de segurança do baile e pro meu azar, meus olhos foram escalados para a segurança. Eu teria que receber e cumprimentar todos os participantes ao lado da Miiko (claro que depois eu lhe pedi autorização para usar uma capa sobre o corpo para ficar mais fácil de me esconder de Nevra no dia, o que ela concordou com cara de quem se divertia). O baile... já tem quantos dias que Lance está se escondendo em meu quarto? E como será que está o cara que assumiu o lugar dele na prisão?Lance
Foi só aquelas duas deixarem de ser ouvidas no corredor que o black-dog passou a contemplar pela janela. Ele nunca fazia aquilo e por isso estranhei, mas nem por isso deixei de fazer meus exercícios. Assim que sentimos a onda de energia criada por aquele ritual dos infernos, ele abriu a janela e depois sumiu dentro de uma sombra. Não deu cinco minutos, vários mascotes começaram a entrar pela janela e o próprio Absol trazia mais alguns por meio de sua umbracinese.
– Mas o que é que está acontecendo aqui?!?
“Uma reunião de mascotes, o que mais seria?” – ótimo! A Negra está aqui também.
– Uma reunião pra quê? E porque justo aqui? Eu odeio essas criaturas!
“Os guardiões de Eel não são os únicos preocupados com a segurança daqui, no dia do baile...” – dizia ela com as mãos na cintura e aquele sorrisinho de escárnio que me irritava – “...por isso que os mascotes estão se reunindo.”
– E você ainda não explicou o porquê dessa reunião ser feita aqui! – estou cada vez mais irritado com essa situação – E me dê um motivo para não eliminar cada um deles agora!
“Nenhum outro lugar é grande ou reservado o suficiente para todos eles se reunirem como aqui...” – eles realmente tomavam quase todo o quarto – “E se você derramar uma única gota de sangue de qualquer um deles, não só vai erguer uma enorme desconfiança nos membros da guarda, como a Cris pode acabar decidindo lhe entregar à Guarda se encontrar uma chacina aqui dentro. É o que deseja?”
Nenhuma das possibilidades era boa pra mim e suportar compartilhar o mesmo espaço com aquelas criaturas era um teste de paciência e resistência – Tá! Tudo bem. Mas o que é que vou dizer para aquelas duas se elas chegarem com essa... “Guarda Mascote” aqui dentro?
“Adorei o nome! Hahahahaha!” – se aquela aparência dela não fosse uma projeção astral... – “Pode dizer isso mesmo! Que a Guarda Mascote resolveu se reunir aqui no quarto, e não foi você mesmo que disse que apenas os mascotes tinham a autorização de saber onde você está escondido!? Hum!?” – massageava minhas têmporas para me acalmar (e se algum deles resolver me deletar aos seus donos?) – “Ninguém aqui teria coragem de contrariar Absol, o Líder dessa guarda.” – ela sorria.Cris 2
Com o fim da reunião, me aproximei de meu chefe para perguntar se eu podia ver o “Lance” na prisão.
– Tudo bem. – ele me dizia – Na verdade, irei acompanhar você até lá para que não a barrem, além de servir de teste para os seus olhos para casos como o dele, e depois pode tirar o dia de folga. Não precisa treinar hoje. – a última parte me impressionou.
– O senhor tem certeza?
– Tenho. E você irá tirar folga dos treinos em todos os dias do Ritual de Maana. Espero que assim a Ewelein reclame um pouco menos comigo.
– Ewelein tem que reclamar com o Absol, e não com você, Valk querido... – Erika lhe apoiava uma das mãos sobre o rosto dele e eles trocavam olhares de ternura (_suspiro_ como é bom ter um amor... será que algum dia eu irei encontrar o meu?).
– Eu posso ir também? – Anya perguntava por trás de mim – Também quero ver o “Lance”.
Valkyon erguia uma sobrancelha diante do pedido de Anya – E porque você quer vê-lo? – perguntou a Erika.
– Ela sabe sobre Lance. – foi tudo o que respondi em voz baixa, e os dois me olharam sérios.
– E o quê ela sabe? – Valkyon tinha uma expressão neutra.
– Eu sei tudo. – declarou Anya de voz baixa – E de jeito nenhum irei permitir que aquele cara faça mal a Cris, no que me for possível fazer, ele vai receber o que merecer.
Uma mistura de preocupação e satisfação ficou presente nos rostos do casal – Está bem. – respondia Valkyon – Mas só se o Nevra permitir também.
– Ela pode. – disse Nevra surgindo entre Anya e eu, quase me fazendo saltar com o susto – Alguma coisa me diz que Anya precisa saber do “Lance” na prisão, assim como a Cris... – A forma com que ele me olhava não me agradava, e era impressão minha ou havia um toque de acusação nas palavras dele? – Bom, vou indo cuidar dos meus afazeres. Espero poder conversar com vocês no almoço.
E ele se retirou da sala. O almoço, Karuto me ordenou a vê-lo antes de seguir para o treino! Não terei mais treino, mas isso não significa que não devo vê-lo – Podemos dar um pulinho na cozinha primeiro? – vi que os olhos de Erika brilhavam – Karuto disse que queria me ver depois que terminasse com o Cristal...
– Vamos! Todos estão comentando sobre um bolo novo que parece estar uma delícia. – disse ela tirando um sorriso de Valkyon.
No salão, havia uma fila de gente querendo pedir e todas as mesas estavam ocupadas.
– Precisa de ajuda Karuto? – perguntei à porta da cozinha vendo ele, Twylda e mais três pessoas correrem de um lado pro outro com pratos, copos e talheres.
– Rainha Cris! Não precisa, pode não parecer, mas estamos dando conta. – ele não parava de trabalhar – O que achou do bolo que pedi para Anya lhe entregar?
– Maravilhoso. Era só por isso que você me exigiu vir aqui? – Twylda entregava um pedaço fresco do bolo para Erika e para Valkyon.
– Hehe, um pouco sim. Vai querer repetir antes do seu treino? – ele tirava uma nova fornada de bolos.
– Valkyon disse que eu estou de folga nos dias do Ritual de Maana, então não tenho mais treino hoje.
– Sério é!? – ele olhava para o obsidiano com um sorriso malandro – Até que ele teve bom senso, você sempre se esgota por aqui, e isso porque nem trabalha como os outros! – isso me fez me refletir por um instante – O trabalho que você realiza com os contaminados e o Cristal é algo que ninguém mais pode fazer. Twylda! – ele estendia uma tigela para ela – Pode levar a comida do Lance?
– Mas é claro, Karuto! – ela respondia largando os pratos com que mexia para pegar a tigela.
– Deixa isso conosco. – falava a Erika colocando a última garfada na boca – Estamos indo vê-lo agora, a gente entrega e nenhum de vocês deixa de terminar o seu trabalho... – ela trocava os pratos vazios do casal pela tigela com Twylda – ...que por sinal não acabará tão cedo com esse belo bolo de vocês. – todos da cozinha caíram na risada e nós fomos ao encontro do falso Lance.
Após aquele infinito de escadas, o guarda à porta da prisão realmente quis impedir eu e Anya de passarmos. – Elas podem nos acompanhar. – foi tudo o que Valkyon precisou dizer com uma seriedade de assustar e o guarda, que parecia não concordar, não ousou contrariar (aquele jeito de falar foi de propósito?).
Erika, Anya e eu nos aproximamos da última cela enquanto Valkyon ficou a duas celas de distância para ter certeza que ninguém nos atrapalharia ou ouviria nossa conversa.
– Me diz Cris, – Erika cochichava – o que você vê? – ela entregava a tigela a ele.
Olhei para a cela, e dessa vez eu vi alguém lá dentro (o que foi que me impediu de ver o Lance antes?) – O rapaz que se ofereceu antes a estar aqui, – Anya me encarou em silêncio – e ele parece coberto por uma fina camada de névoa cinzenta. E eu ainda não sei qual é a sua raça faery...
Erika ainda deu uma olhada para o lado da porta para ter certeza de que era mesmo seguro falar – Almir é um vanires, uma raça de magos que só pega em uma espada se for de seu interesse.
– Em nossa maioria, senhorita Erika, em nossa maioria. – corrigia Almir que comia (comida normal? Mas eu vi claramente que era mingau!) e tirando um sorriso dela.
– O que Karuto fez pra você? – os dois sorriram largamente, Erika e Almir.
– Contamos ao Karuto a verdade daqui. – esclarecia ela – Ele prepara comida de verdade para Almir e a disfarça com uma fina camada de mingau. Para explicar o aumento no tamanho da porção, espalhamos que “Lance” está meio doente.
– Você não se arrepende de se oferecer para estar aqui? – perguntei a ele.
– Não se preocupe, eu estou bem. Na verdade, eu até consigo compreender um pouco do desejo de nosso foragido querer estar fora daqui... – ele vagava o olhar entre as grades e as correntes – ...Apesar de eu não está sendo mal alimentado como ele era, este lugar ainda é bem desconfortável. E não é à toa que ele ficava resfriado mês sim e mês não, além de aqui ser muito úmido, fica um gelo a noite.
– Lance não se importa com o frio... – Anya e eu só ouvíamos em silêncio – ...mas a umidade realmente o prejudicava um pouco. Vou ver com a Miiko se lhe consigo um cobertor em segredo.
– Agradeço muito. Alguma noticia do dragão? – eu e Anya baixamos a cabeça (sabíamos a verdade afinal) e Erika apenas negou com a cabeça – Entendo, espero que ele apareça logo.
– Desculpe. – acabei dizendo – _suspiro_ É minha culpa você estar aqui agora.
– Eu me ofereci, então não se preocupe. – eu lhe olhava com compaixão e ele apenas me dava um leve sorriso para me reconfortar (você não entende Almir).
– Vamos voltar. – disse Valkyon tocando em meu ombro com Erika recebendo a tigela vazia de Almir.Anya
Depois de retornarmos à Sala das Portas, Cris e eu nos separamos de Valkyon e Erika e seguimos para o quarto dela. Como ela não ia mais ter treino ela ia aproveitar para tentar mais uma vez achar uma “cama” para o Gelinho (será que ela vai tentar encontrar uma maneira de poder tirar Almir da prisão?). Ao adentrarmos o quarto, levamos um tremendo susto.
– Mas o que é que está acontecendo aqui?!? – a Cris só faltava empalidecer e eu logo reconheci minha Esmeralda.
– Esmeralda! – ela correu até mim para me fazer um carinho – O que você e todos esses mascotes estão fazendo aqui? – ela retornava para a reunião deles.
– Conhece algum desses... “membros da Guarda Mascote” que resolveu se reunir aqui? – perguntou-me Lance na poltrona com uma sobrancelha erguida e claramente impaciente.
– Conheço. – disse entre risos e com a Cris arrastando uma cadeira para se sentar – Esmeralda é a minha corko, você se lembra do ovo que eu fui buscar quando nos conhecemos não é Cris? – ela me assentiu com um sorriso – Também reconheço Taro, o ornak da Miiko; Rose, a braukwin da Caméria; Floppy e Mia, a musarose de Valkyon montada na perceed da Erika; Shaitan, a black gallytrot de Nevra; Yumi, a bunraku da Karenn...
– Mas aquela vampira não tem um maulix? – Lance me interrompia, atiçando a curiosidade da Cris.
– Não. Ela engana a todos dizendo que tem um maulix, mas sua mascote sempre foi uma bunraku, que ela faz todos acreditarem que é apenas uma simples boneca ao invés de um mascote.
– Tinha que ser um membro da Sombra... – ele balançava a cabeça em negativa e eu a Cris sorriamos.
– Continuando: Schwarz, o chestok do Chrome; Blomstrende, o draflayel da Ewelein; Taenmil, o alfeli de Ezarel; Weisheit, o seryphon de Kero; Amaya, a panalulu de Leiftan; Mut, o alcopafel de Jamon... – continuei identificando mascote após mascote por quase meia hora.
– Você já teve um mascote, não é Lance... – a Cris questionava – O que ele era?
– Um skanis. – ele parecia irritado – Chamava a criatura de Nevihta. – respondeu ele com uma fúria contida no olhar para os mascotes. Aquilo não era bom...
– Aquele lobo enorme branco e azul lindo?! – Lance acabou erguendo uma sobrancelha pra ela – Mas que lástima, teria gostado de o ter conhecido...
– Será que essa reunião ainda vai demorar muito? – coçava a cabeça.
A Cris apenas lançou um olhar a Absol que, ao indicar o Lance para ele com a cabeça, ele pareceu lhe compreender. Um minuto depois, todos os mascotes capazes de voar saíram pela janela e os demais deixaram o quarto através da umbracinese de Absol, acalmando o Gelinho. O que será que eles tanto conversavam justo aqui dentro?Cris 3
Após a retirada de todos aqueles mascotes, fechei a janela para fazer parar de entrar aquele ar gelado antes que eu acabasse resfriada. Esperei com que Lance ficasse um pouco mais calmo daquela invasão inesperada para só depois sair pro mercado (por favor, meu Pai, que eu tenha sorte hoje!).
Dei uma nova olhada nas barracas primeiro, e as poucas que tinham o que procurava tinham acabado de vender as últimas peças (oh meu Senhor...). Estava prestes a começar a procurar dentro das lojas quando Erika, Karenn e mais duas garotas (sereias) sendo uma delas a mesma que ajudara Jamon no dia da viagem à Memória, me interceptaram.
– Cris! – Erika me chamava – O que você faz no mercado?
– Te pergunto o mesmo! Não era pra você estar descansando depois do Ritual de Maana? O chefe é sempre tão protetor com você.
– Eu nunca me senti tão bem assim depois de um ritual. Valk foi chamado pra resolver um problema e eu resolvi aproveitar a ausência dele para ter um tempo com minhas amigas. – as três me cumprimentavam com um tchauzinho.
– A Karenn já conheço, e as duas sereias?
– Sou Alajéa, e essa é minha irmã mais nova Colaïa.
– Oi. – disse a Colaïa meio tímida – Nós duas já nos encontramos antes, eu ajudei Jamon a preparar o barco para a viagem à Memória.
– Sim, eu lembro. Vocês duas também fazem parte da Guarda?
– Fazemos sim! Eu sou da Absinto, enquanto minha irmãzinha é da Obsidiana.
– Obsidiana? Não me lembro de já a ter visto durante os treinos...
– É que eu geralmente estou na segurança ou ajudando o Jamon. E quando treino, quase sempre o faço na praia.
– Entendi.
– Estamos indo fazer compras com a Purriry, – falava a Karenn – porque não vem com a gente?
– Bom eu... – não estou no mercado para comprar roupas.
– Anda, se junte a nós. – Erika e Alajéa me agarravam cada uma em um braço – Vai ser legal, você vai ver. Juro que não se arrependerá! – declarava Erika.
Elas me arrastaram para a loja da Purriry onde eu fiz de tudo para apenas fornecer opinião sobre o que elas escolhiam, mas fui convencida a comprar seis conjuntos íntimos e duas roupas para dormir. Só era possível provar o pijama e a camisola, feitos de um novo tecido que Purriry disse chamar-se crylpillar, e que era feito com a mistura de fio de lã de crylasm e fio de seda de catatapillar (que delícia de maciez e calor!). As roupas íntimas não podiam ser provadas e tínhamos dois dias para trocar apenas o tamanho, cor e modelo era sempre uma nova compra (normal).
Era um meio-dia e meio quando resolvemos ir almoçar. O salão só tinha uma mesa (grande) vazia e acabamos por ocupá-la antes que outro alguém o fizesse. Eu fui a primeira a ir buscar a comida junto de Colaïa (Karuto me confidenciou que separou um pedaço do bolo para o lanche da tarde pra mim. Aaah, eu amo esse sátiro!) e enquanto ela observava as meninas pegarem os pratos delas, eu separava a comida do “Gelinho”, com Absol embaixo da mesa tendo metade do corpo dentro da sombra aguardando a comida pra levar.
Quando as meninas chegaram, Absol já tinha sumido dentro da sombra e Anya acompanhada de Nevra, Réalta e Valkyon se uniam a nós à mesa. Ela e os rapazes pegaram a comida e começamos a conversar durante a refeição. No começo da conversa, Alajéa falou do marido, Sonze (pela conversa não descobri a raça dele), que pelo o que percebi, era um homem bastante carinhoso; depois foi o problema que ocupou meu chefe e que precisou da ajuda de Réalta; para depois falarmos do treino e trabalho que Anya teve hoje...
– A propósito Cris... – a vez era de Nevra – Tenho uma curiosidade, você gosta de Eldarya?
Todos pareceram ficar um pouquinho mais sérios ao esperarem minha resposta – Em que sentido deseja saber?
– Se lhe fosse dada uma chance de retornar à Terra, voltaria? – a pergunta de Nevra quase tirou o sorriso de todos.
– Huuumm... – tendia cabeça de lado para responder – Se houvesse uma forma de ir e voltar para Terra sempre que eu quisesse... – alguns pareceram ficar apreensivos com a minha resposta – Acho que me mudaria pra Eldarya. Na falta desse método, só me manteria aqui enquanto houvesse algo para me “prender” a este mundo. – alguns me lançavam olhares de compaixão, com Erika e Colaïa (que estavam cada uma de um lado meu) me apoiando a mão sobre meus ombros, e outros pareciam respirar com mais alívio.
– O quê seria esse “algo” para você Cris? – perguntava-me Erika.
– Não sei. O que lhe manteria aqui caso pudesse retornar à Terra?
– Valk. Se eu não tivesse sido apagada da memória de minha família e amigos, o Valkyon é a única coisa nesse mundo que me manteria nele. – respondeu a Erika tirando suspiros de nós garotas e fazendo o Valkyon corar com um largo sorriso enquanto ela lhe abraçava.
– Me diga Cris. – Colaïa cortava o clima romântico – Soube que seus olhos enxergam as coisas de um modo diferente, que é capaz de enxergar por trás de poções e identificar a real natureza dos faerys. Isso é verdade?
– Sim, é sim. E eu ainda estou entendendo este dom.
– Se é assim... Como é que você se enxerga? – voltei a ser alvo de curiosidade.
– Essa... é uma boa pergunta. – falei – Não sei por que, mas sempre que vejo meu reflexo, não há mudança alguma desde que deixei a Terra.
– Será que é porque a maior parte de seu poder faery está adormecido ainda? – Anya ponderava.
– Talvez, eu não sei. Só sei que eu ainda me enxergo, eu.
Tinha acabado de comer e nossa conversa ainda teria ido longe se não fosse pelo som de uma mulher implorando para ver alguém vindo de fora. Shiro e Caméria entraram e, assim que viram Valkyon, Shiro lhe cochichou algo no ouvido que o deixou sério – Preciso que as mulheres da mesa permaneçam no salão, e que Nevra e Réalta me acompanhem.
– O que aconteceu Valk?
– Apenas fiquem todas aqui. – disse ele dando um beijo na testa de Erika.
Vimos eles se afastarem da mesa, acompanhados do Shiro e Caméria, nos entreolhamos e acho que todas nós pensamos na mesma coisa (porque é que devíamos ficar no salão?). Nos erguemos carregando nossas coisas e seguimos para a Sala das Portas. Nem precisou sairmos direito da despensa para podermos ver o que acontecia. Réalta, Shiro e Valkyon sumiram, e uma mulher branca como a neve, dos pés à cabeça, chorava de joelhos diante de Nevra e Caméria que tentavam acalmá-la – Porque ela não pode ver meu marido? Porque vocês não podem chamá-la? Porque ele não pode receber ajuda da purificadora? – perguntava ela entre prantos (purificadora??).
Erika foi a que menos aguentou ver aquela cena – Mas o que é que está acontecendo aqui Nevra!?
– Erika? Meninas? Eram pra vocês aguardarem no salão! – respondia ele meio nervoso em nos ver.
– É uma delas não é? – falava a mulher branca mudando seu olhar de Nevra para nós – É uma delas a que é capaz de salvar os faerys contaminados, não é?
Nevra não parecia querer responder, então eu respondi pra ele – Sou eu que tenho feito isso. Porque a pergunta?
– Por favor... – ela largava de Nevra para se grudar às minhas mãos de joelhos – Por favor, eu imploro! Salve meu marido! Você é toda a esperança que eu tenho para impedir de o matarem, imploro por favor, SALVE MEU MARIDO!
Os apelos dela me arrancavam as lágrimas, e ao observar as meninas, vi que não era a única. Nevra me acenava um “não” com a cabeça, mas eu não podia dizer “não” àquela mulher – Aonde ele está? – foi tudo o que eu consegui dizer.
– Cris, não! – protestava Nevra – Você não pode!
– Olha aqui Nevra, – o nervoso começou a me invadir – ainda não vi nenhum contaminado, não tive treino hoje e acabei de me alimentar. Não vejo nenhuma desculpa para me impedirem de ajudar o marido dessa mulher! _expira_ Onde ele está, por favor. – apesar de pedir “por favor”, meu tom saiu quase como uma ordem e meu olhar para Nevra e os demais era sério.
Caméria sorria com orgulho e Nevra parecia não saber o que fazer. Com a ajuda das meninas, consegui fazê-lo dizer que o estavam levando para o porão, e seguimos na direção do mesmo. Chegando lá, estava na cara que meu chefe não gostou nem um pouco de nos ver lá embaixo, eu já estava envolta pela luz do cristal de meu colar e por isso só o ignorei. A sombra que aprisionava o homem (forte, com pele azul semelhante aos alienígenas do filme Avatar e rabo de cavalo curto de cabelos negros) parecia adormecida.
Me aproximei em silêncio e fiz um movimento de mão como se afastasse algo sobre ele, o que o fez acordar. Só comecei a cantar depois da sombra me encarar (estou imaginando coisas ou essa sombra parece grata ao invés de assustada ao me ver?), prossegui como sempre e não pude deixar de notar que havia mais um contaminado no fundo do porão. Um homem-lagarto verde cuja sombra parecia curiosa com a cena ao mesmo tempo em que me temia. Cuidei dele assim que terminei de ajudar o marido daquela mulher. Fiquei cansada, mas não ao ponto de não ser capaz de retornar ao meu quarto sem ajuda.
– Obrigada... – dizia a mulher ainda abraçada ao marido – Quando ouvi os boatos sobre você, sobre a sua capacidade, fiz de tudo para conseguir trazer meu marido à Eel vivo, mesmo com todos dizendo que devia ser uma mentira. Na vila em que nós vivemos, há outros contaminados... Teria como... você nos acompanhar até lá para ajudá-los?
– Infelizmente isso não será possível no momento. – dizia Valkyon sério (acho que ele ainda está zangado comigo) – O que podemos fazer é organizar um grupo para trazê-los à Eel. A Cris não pode deixar a cidade ou a Guarda por uns tempos. – (é, ele está zangado comigo).
– E porque ela não pode deixá-los? – o tom com que ela fez a pergunta me deixou um pouco desconfiada.
– Precisamos da ajuda dela para conseguir manter Eldarya viva, por isso ela não pode deixar o QG. – Valkyon estava impassível.
– Tudo bem, – a mulher parecia se entregar – assim que meu marido estiver em condições, retornaremos para nossa vila para que todos acreditem que o poder dela não é um mero boato, e para que todos ajudem a localizar os contaminados que se escondem no bosque da nossa região para assim trazê-los.
– Acaso são muitos? – perguntei.
– Não sabemos o número ao certo, por isso que eu preferiria que você nos acompanhasse. Não foi nada fácil a viagem de quase dez dias que precisei fazer para trazer o meu marido.
Dez dias!? É, não dá pra eu ir com eles, pelo menos não agora. Continuei entre os bancos do porão mais um pouco com Anya do meu lado, os ex-contaminados foram levados à enfermaria pelos líderes de guarda acompanhados de Erika, Alajéa e a mulher branca. Todos os outros reassumiram suas respectivas tarefas. Mas, aquela mulher branca... Senhor, porque ela me incomoda?
.。.:*♡ Cap.53 ♡*:.。.
“Olá mais uma vez para todos os curiosos que nos acompanham!”
“Irmã... quantas vezes terei que pedir? Seja mais educada!”
– Vocês de novo? Deixe-me adivinhar: vai começar a quarta fase... É isso?
“Pin-pon! Acertou faelianazinha!”
– Mas o que é que vocês duas estão usando de referência para determinar essas fases? A segunda foi quando me mudei para Eel e recebi várias surpresas inesperadas; na terceira, Lance invadiu o meu quarto e só vem me causando preocupações; e a quarta? O que é que eu tenho de esperar agora? – a Branca respirava fundo enquanto a Negra coçava a cabeça.
“O que está para acontecer, terá de perceber sozinha.” – (ai meu Senhor...) – “Mas fique ciente que você nunca esteve e nem estará sozinha.”
– Acaso falam de Absol e Anya?
“Não só eles, você tem mais de um guardião aqui em Eldarya!” – acabei por coçar a cabeça (será que é melhor eu esperar pelo pior?) – “Sem dúvida essa é uma excelente ideia! Mas pode esperar pelo melhor também.” – ela me dava uma piscadela.
– Oi? – (acaso Oráculos tem telepatia?).
“Geralmente não...” – ela está mesmo lendo a minha mente!? – “Oráculos só são capazes de enxergar possibilidades do futuro, mas no caso meu e de minha irmãzinha, enquanto nossos fragmentos estiverem separados, recebemos umas duas ou três habilidades extras temporárias.”
“E isso já basta de informação por hora. Vamos prosseguir com a historia.”
Me pergunto quais seriam essas habilidades das duas...***Leiftan
A Sala do Novo Cristal já estava quase vazia, quando aconteceu. Estávamos apenas Miiko, Kero, Ezarel, Jamon e eu ainda dentro da sala, e a Oráculo Branca resolveu aparecer mais uma vez diante de nós.
“Os feitos dela alcançaram os ouvidos das sombras de Eldarya. Não a deixem ultrapassar os muros! Não a afaste de seus guardiões! Ou a esperança de Eldarya se perderá.” – ela estava prestes a retornar para dentro do Cristal, mas se deteve por um instante – “Não lhe transmitam esse aviso!” – e sumiu no Cristal.
Ficamos todos atônitos – “Os feitos dela”? – pronunciava o Ezarel – Acaso ela está se referindo a Cris?
– Não deixá-la passar os muros ou se afastar de seus guardiões... – agora era Kero quem ponderava – ela sempre declarou que Absol é o guardião dela, acaso os outros seriam Erika e Valkyon, quem a Miiko ordenou a cuidar dela?
– Leiftan. – do jeito que a Miiko não desgrudava o olhar do Cristal, aí vem – Chame o Valkyon e a Erika AGORA, e Ezarel chame o Nevra. Essa historia de “ouvidos das sombras” não me agrada nem um pouco.
– Como desejar.
– Porque é que eu tenho de chamar o Nevra? – quis ouvir a resposta.
– Porque Ezarel, – a chama do cajado de Miiko se atiçava – ele só vem imediatamente quando é você ou o Valkyon quem o chama. Se mando o Leiftan, ele enrola assim como fazia com a Ykhar, e não temos tempo para isso. Agora VÃO!
Não esperei uma nova ordem, saí e fui direto bater à porta do quarto daqueles dois (mas que vontade de incendiar aquele quarto!) que era onde Erika costumava ficar descansando após o ritual, não tive resposta. Uma neko que passava no corredor me disse ter visto os dois saindo; Valkyon acompanhado de Shiroiyoru e Réalta, por conta de algum problema na guarda dele; e mais tarde, Erika acompanhada de Karenn e as irmãs sereias em direção ao mercado (devem ser Colaïa e Alajéa, são as únicas irmãs sereias que existe no QG).
Chegando ao mercado, não foi difícil encontrar Erika e as outras mulheres, mas elas estavam com a Cris? “Não a afaste de seus guardiões”, se Keroshane estiver certo, não é uma boa ideia separar aquelas duas. Passei reto e fui até a cerejeira que é onde costumo encontrar o Valkyon com os membros de sua guarda, e ele estava lá.
– Valkyon! – chamei-lhe a atenção enquanto ele falava com alguns de seus membros – A Miiko está lhe chamando na Sala do Cristal... – Réalta estava ao seu lado (depois de Nevra, era ele o guardião mais próximo de Anya, não é mesmo?) – E acho melhor você vir também Réalta.Valkyon
– O que foi que aconteceu. – perguntei ao Leiftan para entender e ele começou a encarar os novos recrutas que estavam próximos de nós. Dispensei-os, o problema que tinha me afastado de Erika já estava resolvido. Estando todos longe, menos o Réalta que ele resolveu chamar também, ele começou a falar em voz baixa.
– A nova Oráculo apareceu outra vez.
– A Oráculo Branca? – ele assentia.
– E ela nos deu um aviso sério. Vamos por favor.
Réalta e eu seguimos o Leiftan até a sala. Lá, estavam Nevra, Ezarel, Jamon e Kero com a Miiko que andava de um lado para o outro.
– Porque Réalta venho também? – perguntou a Miiko ao nos ver.
– Réalta é o guardião mais próximo de Anya depois de Nevra, e todos nós sabemos o quanto ela é grudada na Cris. E não sei se seria uma boa ideia a considerarmos conversando com a mãe dela. – explicou o Leiftan.
– Você tem razão... – Miiko refletia – ...Anya pode muito bem ser considerada uma guardiã para ela uma vez que estão juntas desde o começo... E a mãe dela ainda parece me querer arrancar a cabeça sempre que me vê. Mas e Erika? Onde ela está?
– Eu a vi no mercado junto com a Cris. Se ela for mesmo um dos guardiões mencionados... – respondia Leiftan.
– Tem a razão outra vez, depois eu ou o Valkyon podemos repassar tudo para ela. – afirmava a Miiko (isso já está me enchendo).
– Podem explicar do que é que vocês estão falando? O que foi que a Oráculo falou?
– Valkyon está certo Miiko, – pelo tom do Nevra, parece que não sou o único ansioso – o que foi que a semente branca falou de tão sério?
Miiko nos repediu os dizeres da Branca e eu tinha que concordar com ela, esses “ouvidos das sombras” realmente é preocupante, e no que se refere aos guardiões (no plural) da Cris, a única certeza absoluta era Absol e tínhamos que manter a Cris dentro de Eel, não só pela segurança dela, mas de toda Eldarya.
Discutimos várias possibilidades – Anya está mais para assistente da Cris do que pra guardiã! – comentou Nevra.
– Tenho que concordar... – continuava Réalta – Com o pouco que consegui conversar com aquela menina, ela e a Cris não possuem segredos entre si. Se quisermos que a Cris não saiba nada sobre isso, como a Oráculo pediu, teremos que fazer segredo para ela também.
– Entendo... – o olhar de Miiko estava longe – Sendo assim, podemos afirmar que Anya está mais para uma guia do que para uma guardiã.
– Réalta ou Nevra podiam ter uma conversa com a pirralha sobre a relação dela com a Caçadora. – sugeriu Ezarel – E de preferência o Réalta, pois ela tem perdido muita da confiança que tinha em Nevra depois que ele começou a perseguir a Cris.
– Ei! Posso ter exagerado um pouco, mas não foi 100% culpa minha!
– Tudo bem Nevra. – Miiko reassumia a palavra – Por hora, a Cris está proibida de deixar o lado de dentro de Eel e ela não pode saber disso. Alguém precisa dar um jeito de dizer isso à Absol para que ele não a tire daqui com a sua umbracinese. E vamos tentar considerar guardiões todos aqueles que estiverem mais próximos da Cris, além de Erika e Valkyon.
– Então você está colocando a pirralha, o Karuto, os colegas de treino e possivelmente o Nevra como prováveis guardiões dela, junto com Absol?
– Consegue colocar mais alguém nessa lista Ezarel? – perguntava Kero e Ezarel apenas coçava a cabeça negando.
Miiko encarregou Jamon de avisar à segurança dos muros sobre a proibição de saída da Cris; Ezarel revisaria os feitiços de proteção junto da Miiko; Nevra tentaria investigar que sombras seriam essas mencionadas pela Oráculo Branca; Leiftan ficaria observando a Cris para tentar identificar os guardiões dela; e eu ficaria responsável de repassar o assunto para Erika mais tarde.
Nevra foi buscar Anya que limpava os equipamentos da Sombra, como parte de seu treino, para almoçarmos (nos acostumamos a quase sempre almoçarmos juntos e se tínhamos de manter segredo das palavras da Oráculo...). E não foi difícil encontrá-las no refeitório! Conversamos sobre bastante coisa, Nevra e Colaïa ergueram questões interessantes para a Cris, mas fiquei surpreso mesmo foi com o que Caméria e Shiroiyoru me sussurram ao ouvido: uma yukina desesperada trazia o marido (contaminado) sob o efeito de poções do sono montado em um danalasm, e exigia ver a Cris para ajudá-lo.
A quantidade de contaminados atraídos pelo Cristal diminua gradualmente, e acreditávamos que isso seria um descanso para a Cris, mas se começarem a capturar e trazer os contaminados para Eel, não tem como ser assim. Pode até ser pior. Pedi para que as mulheres permanecessem no salão e pedi ajuda ao Nevra e ao Réalta que estavam conosco.
No momento em que pus os olhos naquele contaminado, algo não me parecia certo. Deixei Nevra e Caméria tentando convencer aquela yukina a esperar por amanhã de manhã para receber a ajuda desejada, enquanto eu e Réalta ajudávamos a carregar aquela criatura para o porão. Lá embaixo, não pude deixar de segurar minha irritação por não ter sido ouvido por elas.
Terminado tudo, quando aquela yukina pediu para a Cris deixar Eel, mais que me apressei para lhe negar o pedido, e pode ser impressão minha, mas tenho quase certeza que notei raiva escondida em seu olhar. Ajudei a levar o nan’vi e o argoniano para a enfermaria. Aproveitei a primeira chance que vi para conversar com minha amada.Cris
Anya ficou comigo no porão por mais um tempo antes de ir para casa, ela me explicou as raças daqueles três. A mulher era uma yukina, as famosas mulheres das neves, que já nasciam gravidas de meninas (provavelmente um tipo de clonagem), mas passavam a ter meninos caso se envolvessem com homens, e o menino ou nascia albino ou nascia com a capacidade de controlar chamas negras (ainda bem que Anya não sabia explicar como isso acontecia, biologicamente falando). O marido dela era um nan’vi, um tipo de indígena 10x mais resistente que os humanos e com tempo de vida entre 100 e 180 anos; e por último, o argoniano, uma criatura semelhante ao egakot, homem-lagarto. A diferença entre eles? Segundo Anya, os argonianos possuem traços mais suaves se comparados aos egakots e não possuem a mesma capacidade regenerativa deles (se perdessem uma parte não vital do corpo, como pés, pernas, cauda etc., outro nascia no lugar. Habilidade interessante.).
Passei na cozinha para pegar meu lanche e fui pro quarto. Quando cheguei, Lance estava no banho. As vasilhas que Anya e eu tínhamos usado para mandar comida pra ele estavam vazias e limpas sobre a mesa. Eu queria poder experimentar as peças que não pude provar na loja da Purriry, mas o único espelho que me ajudaria com isso era o do guarda roupa e com Lance no quarto...
– Aconteceu o que de interessante hoje? – Lance deixava o banheiro vestindo uma camisa – Vi um movimento diferente pela janela.
– Uma yukina trouxe o marido contaminado para Eel para que eu pudesse ajudá-lo. – falei colocando a sacola de roupas entre a cama e a penteadeira.
– Como assim? – seu tom não era muito agradável. Expliquei o ocorrido e ele me ouvia com uma expressão neutra – Esses faerys estão começando a abusar de você.
– Eu não acho, afinal, eles são um dos motivos de eu estar aqui agora. – ele ainda não parecia muito convencido e depois passou a notar a minha sacola.
– Conseguiu achar alguma coisa pra ser o meu leito?
– Bom... – acabei corando por causa disso – não exatamente... – ele me erguia uma sobrancelha – Na metade de minha procura, já havia acabado tudo, de novo. E quando eu ia começar a procurar dentro das lojas, Erika, Karenn, Alajéa e Colaïa me arrastaram a fazer compras com elas, e nisso acabei comprando coisas bem diferentes do que buscava...
– Que tipo de coisas? – curioooso.
– Coisas de mulher! – ele revirou os olhos. Depois, sentou-se no chão de pernas cruzadas e começou meio que a meditar. Aproveitei para tomar o meu banho.
Quando saí do banheiro, ele estava sentado sobre a poltrona outra vez e com um dos meus livros na mão. Kero já havia me entregado mais três cópias traduzidas, sem contar o que dei para Ewelein, e logo Lance não teria mais o que o pudesse distrair. Preciso arranjar livros novos ou me permitir deixá-lo usar o meu not (a segunda opção vou tentar evitar ao máximo).
– Vai querer ajuda com o pescoço de novo? – perguntei ao vê-lo mexer no pescoço.
– Não precisa. – o encarei de lado – Não estou muito afim de falar de mim pra você hoje. – hum, ele sorria como sempre _suspiro_.
– Você quem sabe. – fiquei escrevendo e desenhando o livro que estava quase terminando por um tempo, conferindo ele de vez enquanto, até que ele dormiu – Lance! – sussurrei. Sem resposta. Eu me aproximei em silêncio para retirar-lhe o livro das mãos – Você dormiu mesmo? – continuava com a voz baixinha e ele não reagia. Guardei o livro e o cobri com a manta que ele sempre usava – Lance? – o chamei uma última vez e ele continuava imóvel (por favor, meu Senhor, que ele continue dormindo, e que seja um sono pesado!).
Fazendo o máximo de silêncio possível, fui atrás da sacola com as roupas que não tinha experimentado. Eu ainda acabei por encarar o biombo próximo à parede (porque é que eu não me lembrei dele antes!), mas ele era pesado e grande demais para movê-lo, e arrastá-lo podia fazer o Lance acordar (mas como fui burra!). Passei a vigiá-lo de tempos em tempos enquanto provava aquelas lingeries sem remover a que vestia (se fosse ficar com todas, teria que as esterilizar antes de vesti-las de fato).Lance
Quando cansei de ler aquele romance sobre o Grande Exílio, apenas me escorei na poltrona de olhos fechados para aguardar o sono. Ignorei a Cris quando ela me chamou, e mantive meus olhos fechados o tempo todo (até que ela é bem atenciosa), mas a forma como ela queria ter certeza de que eu estava dormindo e os baixos sons que ela fazia me deixaram curioso (o que ela está aprontando?).
“Você quer mesmo descobrir?” – agora não... (o que você quer Negra.) – “Se você quiser descobrir o que ela está fazendo sem ser pego, vou te ajudar. Mas se não... vou só te ignorar.” – as duas opções eram interessantes, mas... (como exatamente você pretende me ajudar?) – “Avisando-o quando pode ou não abrir os olhos e quando ela estiver terminando o que está pra fazer.” – ... (já posso olhar?).
Ela me assentiu e eu abri os olhos sem me mover, quase corei ao descobrir o que ela de fato fazia. E apesar de ser um pouco antiético, continuei a observá-la, fechando meus olhos sempre que a Negra me alertava. Ela estava na sexta troca quando fui avisado que aquela era a última, achei um pouco injusto esconder dela que a observava às escondidas daquele jeito então... resolvi expressar minha opinião.
– Gostei mais dessa.Cris 2
Não parava de me preocupar com a possibilidade dele acordar, por isso tentei ser o mais rápida possível com o mínimo de ruído. Eu o espiava a cada dois minutos bem dizer, e quando estava provando o último conjunto, uma baby-doll que ia até a cintura com uma caleçon, ambas de renda negra florida, eu gelei.
– L-l-lance!? Desde quando v-você está acordado?
– Ainda nem dormi. – (ai, Mãe santíssima) engoli seco enquanto me cobria às pressas com um hobby que deixava perto da cama.
– E... posso saber porque você não disse que estava acordado? – colocava as que já tinha provado de volta na sacola.
– Fiquei curioso com o que pretendia fazer pelas minhas costas, por isso não falei nada e... não a quis interromper. – ele sorria maliciosamente de lado (como eu odeio esse sorriso dele!!) desviando-me do olhar em seguida (acho que fiquei vermelha, se for considerar o calor que me subiu com a resposta dele).
Respirei fundo – E você resolveu me deixar saber que estava acordado por que...
– Não achei uma boa ideia esconder que lhe observava. E eu não ligo muito pra isso.
– Você é gay? – perguntei sem pensar (ai meu Deus!...).
– Se eu sou o quê? – comecei a querer tremer.
Tentei explicar a ele da forma mais respeitosa que podia e quando terminei, ele pareceu não gostar muito (Absol, cadê você!?). Ele se ergueu da poltrona para minha direção. Por conta do nervoso, estava com a mente atrapalhada, nem percebi direito quando foi que ele me jogou sobre a cama me segurando firme pelos pulsos. Sua respiração estava intensa (de raiva ou desejo, não conseguia distinguir no momento) e por mais que eu já tivesse fantasiado coisas do tipo, aquilo me assustava.
– Será que, antes de você continuar... – engoli seco de novo – ...poderia me atender uns poucos pedidos?
– Fale. – sua voz era autoritária, senti meu coração na boca.
– Primeiro... se o que você está prestes a fazer for só por mera curiosidade ou raiva, por favor, não faça nada... – ele começava a sorrir de novo, só aumentando o meu nervoso – Se-segundo, se o que você está pra fazer for por puro desejo, por favor, me diga! – agora ele me erguia uma das sobrancelhas e eu começa a sentir as lágrimas se formarem – E... terceiro e último favor... – (por favor meu Pai que isso o faça me soltar...) – Se você, tiver algum sentimento por mim, por favor, se mantenha em silêncio o tempo todo que prosseguir.
Com esse pedido, sua expressão tornou-se vazia outra vez. Por um instante ele apenas se manteve imóvel sobre mim, de olhos fechados, refletindo meus pedidos (eu espero) e senti suas mãos afrouxarem os meus pulsos (obrigada Pai!) e ele se afastou com calma de mim – Antes de mais nada! – ele dizia com a voz meio irritada – Eu não sou um gejo, como são conhecidos os homens e mulheres que você descreveu, aqui em Eldarya.
Apenas lhe assenti enquanto ele terminava de sair de cima de mim para voltar pra a poltrona, dessa vez, para dormir de vez. Me ergui para poder beber um pouco de agua e assim me acalmar, antes de deitar direito na cama. Absol chegou um pouco depois e se deitou comigo.Lance 2
Não é a primeira vez que sou questionado se sou um gejo, que é o que entendi ela me questionar ser com as suas explicações, e nem por isso me incomodei antes. Mas aquela pergunta vinda dela, me ofendeu. Me ofendeu ao ponto de querer mostrar à ela do que eu era capaz (ela não seria a minha primeira mesmo), só que ela foi esperta. Conseguiu com aqueles pedidos dela colocar a minha cabeça no lugar. Eu gostar dela... Até parece! Retornei para poltrona.
“Até que você acabou sendo cavalheiro com ela, apesar de tudo...” – outro motivo para eu ter parado... (você ainda está aqui?) – “Fico me perguntando: quando é que você vai admitir que está gostando dela?” – (desaparece logo!!) ela apenas me lançou aquele sorriso travesso dela e sumiu. Absol retornou instantes depois, me encarando e rosnando de leve antes de deitar-se ao lado da Cris (onde ele estava?).
.。.:*✧ Capitulo especial – Sonhos ✧*:.。.
Pesadelo 2
Eu não sei onde eu estava, mas pela formação de pedra das paredes, parecia uma construção antiga. Seguia pelos longos corredores escuros, iluminados por archotes de chamas ou azuis ou verdes. Encontrei uma janela por onde o luar passava e podia ouvir o som do mar.
Olhando através dela, descobri que estava dentro de algum castelo, sobre um penhasco e cercado pelo mar. Comecei a buscar por uma saída.
De acordo penetrava aqueles corredores de luz bruxuleante, aos poucos era possível enxergar manchas e poças de um líquido escuro espalhado pelo chão e/ou pelas paredes. Comecei a entender que aquilo era sangue no momento que comecei a encontrar corpos de acordo avançava naqueles caminhos. Alguns tão massacrados, que sentia ânsia e compaixão ao mesmo tempo.
– Preciso sair daqui.
Apertei um pouco o meu passo, com o máximo de cuidado possível, para encontrar logo uma saída. E quanto mais eu avançava mais corpos eu encontrava (você está indo pelo caminho errado menina, ainda não percebeu isto?), mas mesmo assim eu continuava.
Alcancei uma sala ampla, lá havia vários corpos, e não eram quaisquer corpos! Eram sombras. Sombras de contaminados e havia várias delas, mas não tinha nenhum faery dentro delas! Elas estavam caídas, estáticas... elas estavam mortas. Senti a espinha gelar e comecei a ouvir lamentos (ou algo do tipo) vindos de onde eu saía, e senti que eu devia ficar o mais longe possível deles.
Atravessei a sala com o coração na boca, para encontrar mais corredores com cadáveres. O lamento parecia se aproximar e eu tirei o sapato para começar a correr sem fazer muito barulho.
Ali o sangue derramado parecia mais fresco, pois quase escorreguei umas duas vezes (quem será que fez isso com eles??).
Ainda ouvia o lamento e já estava cansada. Enviei-me entre algumas pilastras para me esconder e recuperar parte do meu fôlego. Uma grande cortina negra balançava contra o vento em uma janela e comecei a observá-la.
Antes não tivesse o feito, a “cortina” começou a descer como se fosse uma pessoa. Como se fosse um faery, como se fosse, um dementador... – Um vandrak... – sussurrei para mim mesma, congelada no lugar, com aquela criatura se aproximando de mim.
Pude sentir um intenso frio me apoderar de acordo ele se aproximava. Devia ter uns dois metros de altura com seus longos braços e movimentos fantasmagóricos. Ele me estendia uma das mãos para tocar-me o rosto quando uma espada lhe atravessou o corpo por trás, fazendo-o soltar um grito estridente.
A espada foi puxada de volta, fazendo o vandrak cair de lado, revelando o autor de tal feito, Lance. Ele estava vestido com a armadura e estava coberto de sangue, a visão dele naquele estado me encheu de temor, principalmente ao me lembrar de todos os corpos que encontrei.
– Foi você? Foi você quem matou todos aqueles faerys?
– Não permitirei que ninguém lhe toque. – disse ele se aproximando de mim.
– Porque fez isso? Pra quê fez isso!?
Ele me pegava pela cintura com a mão que ainda portava a espada pingando sangue – Você é minha. – a forma como ele me olhava e falava me lembrava a esses homens possesivos. Ele me acariciava o rosto sujando-me de vermelho, não diminuindo nem um pouco meu nervoso – E só minha. – após essas palavras, ele me beijou, e eu pude sentir o gosto do sangue que estava sobre o seu rosto.
.。.:*♡ Cap.54 ♡*:.。.
Cris
Outro pesadelo. Se toda vez que eu ouvir falar de Apókries eu ter noites assim, o que será de mim quando eu “visitar” aquelas terras? Não tive vontade de me arriscar a voltar a dormir pra correr o risco de continuar o sonho, como costumo fazer sempre com os mais intensos, então me sentei à beira da cama, ignorando o frio que fazia (eu estava dormindo com 4 cobertas mais o lençol!). Acho que ainda faltava uma meia hora pro sol mostrar a cara.
– Teve sonhos ruins? – virei para Lance que me observava da poltrona – Ficou se revirando quase a noite toda.
– Decidiu vigiar o meu sono agora? – não estava com muito humor para lidar com ele...
– Tive insônia esta noite, só isso. – _suspiro_ acabei por abraçar meu corpo.
– Sim, tive pesadelos... Com muito sangue, cadáveres, vandrak e... – (será que eu devia mesmo terminar?).
– E...? – ele me olhava de forma inquisidora (ele realmente está adquirindo interesse em mim ao invés de na minha maana? Não, sem chance).
– Com você. – acabei por dizer – Vestindo sua armadura e coberto de sangue.
– E eu poderia saber como ou porque eu apareci desse jeito em seu sonho? – ele me dava seu sorriso mais irritante.
Esfreguei o rosto com as mãos para esconder qualquer possível rubor e para me acalmar (ele não só me “protegeu” nele como também... me beijou) – Prefiro não responder isso, ainda mais depois do que aconteceu ontem à noite.
Ele deu de ombros como resposta, erguendo em direção ao banheiro em completo silêncio. O frio me apertou e resolvi colocar algo mais quente (só espero que essa noite ruim não afete o meu dia).Nevra
Ontem foi estranho. Como se não bastasse aquele aviso que a Branca nos deu e a chegada daquela mulher trazendo o marido contaminado com ela, querendo levar a Cris de Eel justo quando somos ordenados a não permitir isso; Absol me impediu de me aproximar da porta para vigiar um pouco das ações daqueles dois, ficando diante dela, claramente impaciente pelo bater da cauda no chão e me rosnando sempre que eu tentava me aproximar.
Aproveitei para tentar conversar com Absol, pedir-lhe para que não deixasse a Cris sair de dentro de Eel, à pedido da nova Oráculo. Ao mesmo tempo em que ele parecia me ouvir, ele parecia me ignorar. Do nada ele ergueu a cabeça em direção da porta (mas o que é que está acontecendo lá dentro?) e entrou através das sombras no quarto uns cinco minutos depois.
Me posicionei finalmente para poder observar aqueles dois e realmente alguma coisa pareceu ter acontecido. O quê, eu só saberia de verdade quando aquela bendita poção ficasse pronta. Seja lá o que for que aconteceu entre eles, os dois tiveram uma noite inquieta. Estava quase cochilando finalmente depois de tantos dias sem dormir quando a Cris resolveu se levantar, me atentei a breve conversa deles (o que será que a fez sonhar com o Gelinho - é eu gostei desse apelido - naquele estado que ela descreveu?). Depois disso, eles não conversaram mais nada, ficaram no mais absoluto silêncio.
Se eu perguntar, ela me falará ao menos desse sonho?Cris 2
Assim que deixei o banheiro (em que entrei no mesmo instante em que Lance o liberou), fui direto para a Sala do Cristal. Como ainda estava bem cedo, não encontrei ninguém até o momento. Rezei algumas poucas orações diante do Cristal, transferindo-lhe os fragmentos recolhidos ontem, e segui para a cozinha, onde Karuto já me aguardava com o meu leite e um prato de torradas com mel, geleia e requeijão. Coloquei algumas das torradas na vasilha para Absol entregar ao Lance (não quero retornar ao quarto hoje) e ele não me demorou em trazer a vasilha vazia de volta. Continuei meu caminho até a cerejeira, que estava vazia, encontrando no máximo umas cinco pessoas no percurso. Absol havia sumido (deve ter ido buscar os amigos que me “ajudarão” com o treino) e eu resolvi me sentar às raízes da cerejeira para tentar organizar minha mente. Fiquei escorada no tronco com os olhos fechados.
– Bom dia! Linda flor do dia... – (reconheço essa voz) abri apenas um de meus olhos para confirmar quem estava diante de mim.
– Bom dia Nevra. – respondi ajeitando meu terço para ter certeza que ele estava bem exposto, deixando-o sem graça.
– Não vou te atacar, eu juro!
– O que deseja Nevra? – tudo o que eu queria era um momento de paz.
– Aconteceu alguma coisa para você estar tão mal humorada logo cedo assim? – ele se sentava em um dos bancos próximos.
Acabei por respirar fundo (não terei paz dentro de Eel...) – Tive um novo pesadelo, só isso.
– Poderia me contar? Quem sabe assim você não melhora o humor? – eu o encarei por um momento, ele me pareceu curioso e preocupado ao mesmo tempo. Contei-lhe o sonho, e na hora em que Lance apareceu, eu apenas o descrevi em detalhes, sem mencionar o seu nome e ocultando o final – Sabia que o homem que descreveu é o Lance?
– Não pude ver Almir disfarçado. – foi tudo o que falei para escapar dele, e ele não pareceu muito satisfeito.
– Atrapalhamos? – Valkyon, acompanhado de Thueban, Shiro e mais duas obsidianas que não havia memorizado os nomes surgiram pra me salvar.
– Nenhum pouco! – declarava o Nevra para evitar encrenca – A Cris teve um novo pesadelo ontem à noite e estava tentando ajudá-la a se animar. – os obsidianos o olhavam com desconfiança – Parece que seu irmão esteve presente nele, Valkyon.
– Com o Lance? – meu chefe parecia ter adquirido interesse – O que você sonhou exatamente Cris?
Contei outra vez o que tinha sonhado, com Absol se aproximando acompanhado de meia dúzia de mascotes e um par de espadas (ainda mais pesadas) na boca, dando fim ao assunto quase imediatamente após eu terminar de falar meu sonho (as meninas coraram quando eu contei quase tudo o que Lance havia feito nele).
Valkyon mandou o Nevra embora e Absol me fez enfrentar todos os presentes de uma só vez com os olhos vendados (acaso ele tentava me matar??). Tive somente duas pausas e eu percebi a substituição de uma das meninas por Réalta assim que ele chegou, mas ainda não conseguia escapar de colecionar hematomas como era capaz enfrentando apenas mascotes.
Na hora do almoço e fim do treino, dei uma passada rápida na enfermaria para passar alguma coisa nos hematomas (Ewelein estava começando a detestar Absol por causa de meus treinos, “acaso ele está de preparando para uma guerra?”, ela chegou a comentar) e também onde acabei encontrando a yukina que disse se chamar Cíclames. Ela me acompanhou durante o almoço onde apenas Anya tinha se juntado a nós, todos os demais comeriam bem mais tarde ou em outro lugar por conta de suas respectivas tarefas.
Cíclames falou um pouco da vida dela com o marido Taiguara (que havia acordado, porém com amnésia sobre tudo, menos o nome), suas respectivas raças e sobre a vila em que eles viviam. Ela ainda tentou me convencer mais uma vez a deixar Eel com ela e o marido amanhã, mas eu lhe esclareci que ia participar da segurança durante o baile e isso pareceu fazê-la desistir finalmente (ou quase...). Terminado o almoço, Cíclames retornou para junto do marido na enfermaria e Anya foi arrastada por sua mãe para ajudá-la com alguns trabalhos domésticos.
Fiquei sozinha com Absol e eu não queria nem retornar ao quarto e muito menos ficar em algum lugar onde mais alguém pudesse estar. Comecei a andar a esmo pelo QG e Absol sumiu dentro de uma sombra, acabei diante da Grande Porta (nunca mais saí depois que cheguei de Memória...), pensei em caminhar na praia ou na floresta e acabei barrada pelos guardas.Erika
Quando Valkyon me disse que queria conversar comigo ontem, não pude evitar tirar satisfações sob a forma com que ele tratou todas nós ontem, incluindo a yukina. A sós em nosso quarto, ele me repassou a reunião que tiveram por conta do novo aviso da Oráculo Branca e aí sim pude entender o cuidado excessivo dele. Quando o nan’vi despertou, achei estranha a reação de sua esposa, e mais estranha ainda aquela amnésia de Taiguara (tem dedo de meeper nessa historia...).
Aceitei uma missão de buscar algumas ervas e frutos na floresta, algumas podiam ser encontradas dentro da caverna onde a Cris morava (sendo estas ainda melhores por conta da maana que preencheu o lugar. E as cheads que viviam ali ainda preservaram o lugar!) e convidei o Valk para “almoçarmos” por lá (às vezes era difícil ficarmos juntos fora do quarto. E eu não sei como é que não engravidei ainda, será que um de nós é estéril? Ou sou eu que estou tendo sorte? Se bem que também há o quê Fáfnir nos explicou...).
– Você não está achando que Lance possa ser um dos guardiões mencionados pela Branca, está? – questionei Valk depois de ele me repassar o pesadelo que a Cris disse ter tido com ele, enquanto deixávamos a caverna às pressas.
– Também não acho plausível, mas é estranho ela sonhar com meu irmão. E ainda por cima, com ele a protegendo. – nós já estávamos alcançando o Caminho dos Anciões.
– É bem estranho mesmo. Tanto quanto o despertar do nan’vi que a Cris ajudou ontem.
– A Cíclames, é isso? Deu alguma explicação para justificar a perda de memória dele?
– É. Ela disse que em uma das vezes que tentou ministrar a poção do sono nele, ele acabou reagindo e sem querer bateu forte com a cabeça. A Ewelein lhe fez um exame completo! Mas não encontrou nada fora do normal. – já começávamos a alcançar a saída da floresta.
– Eu não sei o quê Erika, mas no momento em que o vi contaminado, alguma coisa de diferente ele tinha. E a insistência daquela yukina em tirar a Cris de Eel não me deixa tranquilo.
– Principalmente com o aviso da Branca...
– Exatamente. – nós estávamos finalmente nos aproximando da porta e pudemos ver a Cris tentando persuadir os guardas responsáveis naquela hora a deixá-la passar. Valk decidiu intervir... – O que acontece aqui?Cris 3
Aquele minotauro e aquela fada eram mesmo ossos duros de roer. Nada do que eu dizia os convencia a me deixar sair, e ainda se negavam a me dizer o por que! Acho que senti um alívio quando vi o Valkyon, carregando uma imensa cesta cheia, e a Erika chegarem pelo lado de fora.
– Por favor Valkyon, chefinho lindo meu, peça a esses dois que me deixem sair só um pouquinho de Eel... Tudo o que quero é ficar sossegada em um lugar tranquilo, sem o risco de alguém me incomodar! Diz que sim, vai... – implorei a ele quando ele mesmo resolveu intervir. Os dois se olharam como que pensando no que fazer (ah não! Até eles não!) – Ao menos posso saber por que eu não posso sair?
– Olha Cris... – Erika explicava – nós notamos que você não escolhe ajudar ou não os contaminados, você simplesmente os ajuda! E acaba quase sempre exausta depois...
– E? Quando estava sozinha na floresta, também era assim e nem por isso tive problemas. – falei cruzando os braços.
– Entendemos o seu ponto Cris, juro! – agora era o meu chefe – Mas a Miiko acha que seria melhor você não ficar lá fora. Todos, tememos pela sua segurança.
Acabei coçando a cabeça. Não vou desistir tão fácil assim, Eel NÃO será a MINHA “gaiola dourada”, nem pensar! – E se vocês estiverem comigo? – tentei.
Pela cara deles, os dois estavam tentando encontrar uma desculpa para me darem um não (por favor, não se lembrem dessa cesta...) e os olhos da Erika acabaram brilhando ao cair sobre a cesta nas mãos de Valkyon (droga!) – Sinto muito Cris, – falava ela – mas ainda temos que entregar essa cesta no laboratório de alquimia. O Ezarel já deve estar doido por ela e ainda temos que preencher um relatório depois. – ela estendia a cesta pesada em suas mãos e os dois sorriam satisfeitos em terem encontrado uma desculpa para não me ajudarem (oh meu Pai...).
Do nada, como um golfinho que salta em uma apresentação de aquário, Absol saltou de dentro da sombra criada pelas grandes asas de borboleta daquela fada agarrando a cesta das mãos de Erika com a boca e mergulhando em seguida na sombra do minotauro que não perdia em nada para a sombra da fada, deixando todo mundo abismado. Erika estava prestes a reclamar quando Absol retornou, saindo da sombra do minotauro, com uma echarpe verde azulada na boca que entregava à Erika, abanando a cauda – Mas essa... é a echarpe do Ezarel! – afirmou o Valkyon com os olhos arregalados. Sorri com aquela afirmação.
– Nesse caso... – eles pararam de prestar atenção no tecido – vocês não precisam mais se preocupar com a cesta! Absol já se encarregou dela pra vocês. – comecei a pegar um pequeno bloco de notas em que escrevia um pequeno bilhete para Kero, pedindo um pergaminho para relatórios – E quanto ao relatório, sei que vocês não vão se importar em preencher mais tarde... Mas, se mesmo assim insistirem... – segurava o bilhete já pronto em minha mão – Absol pode buscar o material pra vocês, e vocês o preenchem enquanto me fazem companhia. Que tal?
Não foi difícil notar a derrota na cara deles (OBRIGADA JESUS!!). Valkyon pediu para que um dos guardas devolvesse a echarpe à Ezarel e eu pude sair do QG.
.。.:*♡ Cap.55 ♡*:.。.
Valkyon
Não acredito no que Absol fez (bem que o Nevra me avisou que não sabia se Absol havia lhe dado ouvidos ou não). Erika e eu já não tínhamos mais nenhuma desculpa para não permitir que a Cris saísse graças também à esperteza dela. Agora entendo porque Ezarel acredita que a Cris caiu na guarda errada.
Analisando o aviso dado pela Branca, ela disse “Não a deixem ultrapassar os muros!” e depois “Não a afaste de seus guardiões!”, e não “Não a deixem ultrapassar os muros e nem a afaste de seus guardiões!”. O que quer dizer que ela poderia sair se estiver acompanhada de pelo menos um de seus guardiões, e não precisamos nos preocupar em deixá-la sozinha se estiver dentro da segurança dos muros (espero ter interpretado isso certo).
Erika ainda questionou a Cris sobre onde ela queria ir exatamente, e sua resposta foi um lugar tranquilo, aberto e com pouca ou nenhuma gente, para assim poder colocar a mente e o coração no lugar e Erika disse conhecer o lugar certo para isso e eu acho que já sei para onde minha doce Erika planejava levá-la.
Fomos até o rochedo das planícies de Eel (eu sabia), lugar que se tornou ideal para aqueles de coração aflito. Absol resolveu correr e escalar o imenso rochedo, com a Cris lhe seguindo. Preocupado, tentei detê-la de escalar a rocha enorme, mas minha Erika, com seu olhar doce, sorriso suave e toque gentil em meu braço, me impediu. Parece que ela vai deixar pra que a nossa amiga de lá cuide da Cris.Cris
Lá do alto daquela pedra, era possível ver quase toda a planície. A extensão do oceano... parte da floresta... até o topo das torres do muro! O vento sobrava gelado, mas era suave e tranquilo.
“Você é minha.”
Acabei me recordando de uma das falas de Lance em meu sonho (ele pode muito bem estar me observando agora) e acabei por recordar não só o pesadelo como também a noite anterior, e tudo mais que eu já passei junto dele. Acabei por abraçar minhas pernas por conta de todas essas experiências, Absol ainda tentou esfregar a cabeça em minhas pernas para me animar um pouco e eu comecei a lhe acariciar.
O rochedo era bem frio, e seria impossível não perceber a lágrima quente que me escorria pelo rosto por conta de todas aquelas lembranças. O vento sobrou mais uma vez e um calor reconfortante pousou sobre os meus ombros, como se alguém me impusesse as mãos sobre eles em apoio. Uma sensação de aconchego começou a tomar conta de mim e quando eu finalmente me senti totalmente aquecida por dentro, uma nova brisa soprava... e pude ouvir uma risada! Uma risada feminina gentil, animada, amiga, que se afastava junto com o vento.
Procurei pela Erika e pelo Valkyon. Eles estavam ao pé do rochedo, sentados lado a lado com o olhar no horizonte (o sol logo iria se pôr). Fiquei em dúvida se falava com eles ou se esperava o sol partir. Mia e Floppy, que apareceram do nada para me rodear pelo ar, foram quem tomou a decisão.
– Foi só eu ou vocês também ouviram alguém rindo? – perguntei me aproximando enquanto seus mascotes se colocavam entre eles. Eles se olharam cúmplices.
– Parece que ela veio, como imaginei que aconteceria. – disse Erika acariciando Mia em seu colo (oi?).
– Sabia que você pensava nela quando sugeriu virmos para cá. – comentava Valkyon com a Floppy em seu ombro (nela? Nela quem?).
– Será que poderiam me explicar sobre quem estão falando?
– Ykhar. – responderam os dois juntos. Fiz cara de desentendida, já que essa eu não tinha conhecido ainda.
– Ykhar era uma amiga brownie coelha que morreu um pouco antes da Guerra do Cristal. – explicava Erika (morta??) – Ela amava este lugar, e seu velório, com o esparramar de suas cinzas por aqui, foi cheio de lágrimas, revelações e esclarecimentos.
– Todos nós pudemos a sentir entre nós ao final de tudo. – Valkyon envolvia Erika em seus braços.
– E pelo jeito, ela resolveu ficar, não é isso? – questionei (não esperava fantasmas em Eel).
– Sim e não. – Erika continuava – Depois que a guerra acabou, muitos foram os que sofreram, e Ykhar sempre foi uma grande amiga para todos quando viva...
– Tão amiga que resolveu aparecer entre aqueles que vinham pra cá com o coração pesado, aliviando-os, acertei? – os dois sorriram.
– Sim. – Valkyon tinha o olhar nostálgico – Por isso, esse lugar recebeu o apelido de “reconforto dos aflitos”, pois ela sempre acaba aparecendo para aliviar os corações de quem vem para cá.
– E a Ykhar também acabou sendo apelidada de “a calorosa pernas-curtas”. Ela meio que se tornou um espírito guardião de todos nós.
– Pernas-curtas? Acaso ela era baixinha? – para um apelido desses...
– Não! Não era! – Erika falava rindo – Na verdade ela era maior do que eu e vivia correndo pra cima e pra baixo como mensageira no lugar de Leiftan. – seu sorriso se tornou melancólico – Ela era maluquinha, sempre reclamando das pernas que de curtas não tinham nada, desconfiada e altamente ansiosa, mas muito querida por todos.
– Acho que teria gostado de tê-la conhecido. – falei com um suspiro em seguida acompanhada de Erika.
Um forte vento gélido (que por alguma razão, não me pareceu normal) fez com que nós duas nos arrepiássemos dos pés à cabeça, e as mascotes se encolherem em seus donos. Só Absol que parecia incomodado com alguma coisa, rosnando de leve para os arredores.
– É melhor retornarmos agora, – Valkyon se erguia – antes que alguma de vocês acabe doente.Lance
Depois de ontem à noite, acho que ela não vai querer retornar ao quarto tão cedo, pela forma com que recebi meu desjejum. Fiquei curioso sobre o sonho que ela disse ter tido, mas como ela não parecia muito à vontade comigo hoje, evitei de falar-lhe (tento de novo uma outra hora).
Observei o treino dela que me pareceu bem complicado dessa vez, e comi minha refeição quando Absol a trouxe ainda na janela. Minha vontade era de permanecer ali, observando tudo e todos até o fim do dia.
Vi meu irmão deixar Eel ao lado de Erika; observei o movimento no mercado e no refúgio; avistei Anya sendo puxada pela mão por uma outra elfa meio parecida com ela (devia ser a mãe dela) até uma casa; e também via a Cris, caminhando sem rumo por Eel até alcançar os portões onde estava sendo barrada (resolveram a aprisionar finalmente?).
Ela pareceu discutir com os guardas, meu irmão e a namorada pareceram intervir ao chegarem, e depois de alguns momentos, os três se colocaram a caminho do rochedo que ficava nas planícies de Eel. Pude observá-la bem, do alto daquele rochedo em que permaneceu por um bom tempo. Comecei a relembrar as conversas que tive com Anya sobre ela, as vezes em que ela esteve na prisão e toda a nossa convivência até aqui (preciso lhe pedir desculpas por ontem...).
A vi descer daquele rochedo e algo curioso me tirou a atenção sobre ela. Uma mulher branca entrava às escondidas em uma das torres de vigília. Não me era possível entender o que ela vazia, mas parecia que ela invocava algum tipo de ventania que recaiu sobre meu irmão e as mulheres com ele. Quando ela se afastou da torre, parecia carregar algo contra o peito, achei suspeito (não gosto disso. Nem um pouco).
Os três retornavam para dentro dos muros, com Valkyon posicionado no meio das duas: ele envolvia Erika lhe abraçando em seu lado esquerdo com o braço, e apoiava a outra mão sobre os ombros da Cris em seu outro lado (contente-se com uma irmãozinho...).
“E ainda assim você nega que tem ciúmes da Cris...”
– O que quer Negra. – falei sem desviar o olhar deles pela janela.
“Estava pensando... Será que a Cris aceitaria ter você como par no baile?” – lá vem ela outra vez...
– O que é que está planejando dessa vez? – perguntei desconfiado.
“Apenas curiosidade! Porque não lhe pergunta hipoteticamente?” – ela parecia brincar no ar.
– E porque é que eu faria isso? – lhe cruzava os braços.
“Só pergunta! ... Façamos assim, se você perguntar e ela lhe der um ‘sim’ como resposta, eu te deixo em paz até o dia do baile.” – isso me interessa – “Mas se ela te der um ‘não’, fico lhe perturbando o tempo inteiro até o dia do baile!”
– Pra quê quer que eu a convença a me aceitar como par? – ela não me disse nada apenas me sorriu da forma mais brincalhona que podia – Responde criatura!
“Pergunte. Você ter paz ou não nos próximos dias, vai depender de você.”
Sumiu de novo. Mas o que é que aquela criatura sabe?Cris 2
Por mais frio que estivesse fazendo e mais quentinho que a pele de meu chefe fosse, não tinha como eu deixar de ficar vermelha com o braço dele sobre mim (principalmente com alguns olhares maliciosos caindo sobre nós). Valkyon só me soltou depois de entrarmos no QG, ele e Erika seguiram para a biblioteca e eu fui para o salão.
Hoje, o jantar era sopa, e tinha três tipos diferentes! Pedi a Karuto um pouquinho de cada uma (não sei qual o Lance prefere) e que me deixasse comer no quarto, uma vez que não havia mesa vazia e eu queria comer “sozinha”. Ele não pareceu se importar e me preparou o que pedi e ainda me acrescentou um pão de grãos fresco e algum tipo de doce como sobremesa.
Cheguei em meu quarto ainda sem vontade de me encontrar com o Lance. Respirei bem fundo antes de entrar. Eu o vi sentado à janela, observando o movimento de fora.
– Gosta de sopa? – perguntei lhe chamando a atenção.
– Não sendo aquela gororoba azul, gosto de qualquer coisa. – ele aproximava-se devagar da mesa.
Coloquei as vasilhas sobre a mesa e comecei a reparti o pão, Lance me erguia uma sobrancelha ao ver as vasilhas – Não sabia qual era a sua preferência, por isso pedi um pouquinho de cada.
– Há alguma que você não gosta? – ele se sentava.
Encarei as vasilhas. Uma era sopa de legumes com frango, muito parecida com a que minha mãe prepara; outra era uma sopa cremosa alaranjada com pedacinhos de carne nadando, e a última parecia uma agua colorida bem clarinha e temperada – Teria que provar primeiro para dizer com certeza. – ele apenas me estendeu a colher.
Comecei com a “agua”, era salgadinha e parecia ser a mistura do caldo liberado ao preparar folhas refogadas, como espinafre, couve, repolho ou qualquer outra folha. A alaranjada era adocicada e levemente apimentada, a carne parecia bacon frito. E a última só não era igual à da minha mãe por causa do tempero, ou a falta dele.
– Todas são saborosas pra mim. – falei ao terminar de prová-las.
– Então vamos dividir tudo meio-a-meio. – declarou Lance.
E foi o que fizemos. Cada um pegou uma vasilha e lhe consumiu metade da sopa, deixando a outra metade pro outro. A gente só não pensou na escolha das metades, nenhum de nós dois queria misturar os sabores e deixamos a cremosa pro final.
– Me dê a sua vasilha. – ele pedia.
– O que vai fazer?
– Lavá-las. Ou prefere tomar a última junto comigo? – fiquei vermelha, e ele acabou me dando um sorriso. Enquanto ele dividia a última entre as vasilhas já limpas, ele passou a me encarar meio que nervoso.
– Há algum problema?
– Você... continua recebendo pedidos de par para o baile? – aquilo meio que me surpreendeu.
– Além dos três que lhe disse ter rejeitado? Não.
– E você vai continuar rejeitando, não é?
– Não foi você mesmo que me pediu isso para não corrermos o risco de eu vir a falar demais?
Ele se manteve em silêncio por um instante – Estive pensando...
– No quê. – comecei a tomar minha metade da sopa.
– Há uma outra maneira de evitar de você falar demais e ainda garantir que ninguém ficaria no seu pé, como o sanguessuga, hipoteticamente falando é claro.
Aquela conversa estava ficando estranha... – Que maneira?... – ele corava.
– Bem... eu... poderia ser o seu par. – (hein?!?) ele colocava comida na boca e evitava me olhar.
– Você está querendo ser o meu par durante o baile para poder me vigiar, é isso que eu entendi? – questionei ainda incrédula.
– É só teoria. Se eu saísse daqui para participar da festa, Valkyon me notaria mesmo de máscara. E você me pareceu bem à vontade ao lado de meu irmão.
– Do que é que está falando?
– Passei o dia na janela hoje, e pude ver muitas coisas, como você sendo acompanhada por meu irmão para dentro, envolta pelo braço dele.
– Está com ciúme!?
– Sei que ele só tem cabeça para aquela aengel...
– Mas você está com ciúme! – ele passou a me olhar feio – Admita que está com ciúme e eu lhe respondo se aceito ou não você como possível par!
Ele começou a passar a mão por entre os cabelos como que refletindo na resposta, e me encarou por alguns instantes – Tudo bem, admito. – (sério mesmo!?!) – Me incomodo quando outros homens ficam muito perto de você. – aquilo me deixou boquiaberta e comecei a lembrar sobre ontem à noite.
– O... que aconteceu ontem... por acaso...
– Sinto muito por ontem. – hoje ele está mesmo me impressionando – Não sei bem o que me deu naquela hora. Nunca reagi daquele jeito antes.
– Sim. – acabei por dizer e ele me encarou meio que sem entender.
– Sim, o quê?
– Sim, eu lhe perdoo e sim, poderia aceitá-lo como par. Se me garantisse que se comportaria para não ser descoberto, é claro! – falei terminando a minha sopa.
Ele primeiro me encarou de olhos arregalados para depois me sorrir satisfeito. Terminei meu pão enquanto ele terminava a sopa, só faltou o doce que Karuto me havia dado para sobremesa – Não vai dividir? – ele me questionava.
Um riso me escapou e fiquei com vontade de provocá-lo. Desembrulhei o doce do tamanho de um bombom e mordi-lhe até a metade, oferecendo-a a outra metade em minha mão (alguns têm nojo disso ou enxerga como um “beijo indireto”, eu simplesmente não ligo, mas e ele? como será que ele vê?). De cara ele ficou receoso, o que alargou meu sorriso, mas ele acabou por comê-lo sem expressar ou dizer nada (que pena!).
Tomamos banho (cada um na sua vez!) e esclarecemos um ao outro como foi exatamente o nossos dias hoje. Lhe ajudei com o pescoço mais uma vez e ele acabou meio que me ensinando a como compreender a minha maana, meditando-a. Fiz minhas orações e cada um foi dormir.
.。.:*♡ Cap.56 ♡*:.。.
Miiko
Estava lendo pela milionésima vez a carta que Huang Hua me enviou três dias depois de ter partido...
“Boas notícias Miiko,
Consegui contatar a Fênix e ela está animada em saber sobre as evigêneias. Ela queria que EU fosse a sua representante! Mas como eu já estou representando a rainha Margaritári, outro fará este papel. Ela também forneceu uma grande ajuda ao contatar os líderes mais influentes das outras cidades e reinos, convencendo-os a mandarem um representante SEM FALTA!
Também falei sobre a Cris para ela. Sobre seu poder purificador e sobre a sua missão. Miiko, prepare a prisão ou seja lá onde for que esteja colocando os contaminados que aguardam o tratamento da Cris! Pois a Fênix estará enviando 40 contaminados à Eel para que possam ser salvos. E claro, mantimentos para podermos cuidar deles.
Eu chegarei em Eel junto deles, uns dois ou três dias antes do baile. Espero haver boas noticias do seu lado também.
Ass.: Fen Huang Hua.”
40 contaminados!? De onde saiu esse número!? O baile agora é depois de amanhã, o que quer dizer que ela chegará a qualquer momento. Coloquei Leiftan e Valkyon para se encarregarem dos preparativos em relação aos contaminados; Nevra já estava encarregado do caso de Lance (e parece que Ezarel está lhe dando uma ajuda); Kero, Erika e eu estávamos organizando os representantes de acordo eles iam chegando; e ainda tem a Cris... eu não consegui me lembrar de avisá-la sobre esse grupo enorme até agora! Sem falar do aviso da Oráculo Branca para me preocupar com ela (incluindo o relatório da missão extra que Erika e Valkyon tiveram ontem). E ela não pode saber disso...
Eu não dormi nada desde ontem, no aguardo da Huang Hua. Não deixei a Sala do Cristal com medo que a Oráculo aparecesse outra vez (aquela historia de sombras continua me perturbando e a chegada daquela yukina me deixou mais alerta ainda).
– Miiko! – Leiftan entrava na sala – Huang Hua chegou finalmente!
– GRAÇAS AOS CÉUS! – acabei exclamando seguindo ao encontro de Huang Hua.
Atravessei Eel e me encontrei com ela nos jardins, com várias carroças cobertas seguindo em direção ao QG (devem ser os contaminados. Ainda bem que quase todos ainda estão dormindo).
– Miiko, minha querida! Desculpe a demora.
– Você tendo conseguido chegar em segurança é o mais importante. E dá pra me explicar de onde que a Fênix tirou 40 contaminados?!?
– Haha, nem eu acreditei nesse número. A Fênix não aceitava que a única forma de ajudar os contaminados fosse lhes matando, por isso os mantinha aprisionados enquanto seus alquimistas e magos pesquisavam por maneiras de purificá-los. Resgatá-los daquele estado!
– E foi só você falar da Cris para ela, que ordenou a trazida deles pra cá...
– Isso mesmo. Usamos poções do sono para mantê-los calmos durante a viagem, mas sempre tinha um ou outro querendo acordar. A Cris já está preparada para eles?
– Não. – falei meio sem graça e Huang Hua pareceu não gostar muito – Por conta de todos os “problemas” do baile, ninguém conseguiu avisá-la e tem mais...
– O quê aconteceu Miiko?Lance
Ontem foi... diferente. Não esperava que a Cris pudesse me dizer um ‘sim’ para um convite meu, logo eu, quem mais a prejudicava. Não comentei sobre a mulher branca que vi, que devia ser a tal yukina que apareceu, e ainda bem que ela não conseguiu levar a Cris de Eel (eu ficaria bem encrencado com ela fora).
Também não pude esconder a minha satisfação com a expressão que a Negra fez ao saber a resposta da Cris, “e eu que já planejava como me divertir com você” foi o que ela comentou antes de sumir emburrada como uma criança que não conseguiu o que queria de seus pais _sorriso_.
Diferente das outras noites, consegui dormir bem dessa vez, e acordei com Absol andando de um lado para o outro, sem desviar o olhar da janela, ao invés de deitado ao lado da Cris, lhe protegendo. Aquilo era estranho. Me levantei para ver o que acontecia e várias carroças estavam entrando em Eel. Tive um mau pressentimento (mas o que é que vai acontecer agora?). Ao menos a Cris dormia tranquila e acho que Absol não carrega intenções de acordá-la cedo hoje.Anya
Acordei com o som de um barulho estranho, olhei pela janela de meu quarto e vi um monte de carroças na direção do QG (mas o que é que está acontecendo?), me arrumei para mais um dia e para descobrir o que é que acontecia.
Me aproximando do quiosque, encontrei a Miiko e a Huang Hua conversando.
– Ainda assim Huang Hua, vocês estão trazendo contaminados demais para Eel. A Ewelein vai querer me matar ao descobrir que agora temos 40 deles na prisão. – (COMO!?!?!?!).
– Eu imagino Miiko, e é por isso que você não devia ter se esquecido de avisá-las quando lhe mandei aquela carta. – prosseguia a Huang Hua (e já faz tempo que ela sabe disso?!?).
– A Ewelein vai reclamar comigo por dias por causa da Cris, mas, por conta do grande número, pensei em fazer a Cris cuidar de 15 em 15 para acabarmos lo...
– VÃO MATÁ-LA!! – interrompi a Miiko surpreendendo as duas (a Miiko está louca!!).
– Anya!? – Huang Hua me encarava ainda surpresa – Bom dia pra você também!
– O que quis dizer com “matá-la”? – Miiko me erguia uma sobrancelha – Ela não morreu quando retornou de Memória.
– Porque ela recebeu ajuda! – falei sem pensar, tanto que acabei por cobrir a boca.
– Ajuda? – elas me encaravam desconfiadas – Que tipo de ajuda Anya? – Miiko me interrogava e eu comecei a olhar a minha volta.
– Vamos para um lugar mais reservado, – sugeria a Huang Hua – parece que este é um assunto delicado.
Miiko concordou e fomos até a Sala do Cristal que ainda estava vazia. Por conta dos contaminados que ainda estavam sendo levados à prisão, ela pediu à Jamon que não deixasse a Cris deixar o quarto até que todos já estivessem lá, e que, por favor, lhe dissesse o por que.
– Muito bem Anya. – começava Huang Hua com seu jeito amigável – Nos explique melhor essa historia, porque é que a Cris pode morrer se cuidar de tantos ao mesmo tempo? Que ajuda é essa que ela recebeu naquele dia?
Por favor, Oráculo, me ajude com o que posso ou não dizer – Como posso dizer... – coçava a cabeça em busca das palavras.
– Apenas conte o que a Erika não colocou no relatório, você o leu não é verdade? – sugeria a Miiko.
Respirei fundo – Lance doou maana para Cris.
– Como!?!? – falaram elas juntas.
– Antes de qualquer coisa, eu me preocupo com a Cris acima de tudo! – falei ao notar a chama da Miiko inquieta – Quando a Cris estava cuidando do nono ou décimo, não lembro direito, contaminado, notei que o Lance parecia concentrado em algo, estendendo uma das mãos em direção à Cris... – (acho que estou pegando as manias da Cris, nunca tremi de nervoso antes!) – Cheguei perto dele, questionando o que fazia depois que parou de fazê-lo e ele me disse que estava passando a maana dele pra ela, antes que ela desmaiasse.
– Espere um momento! – pedia a Miiko – Está me dizendo que o Lance tem interesse na Cris?
– E quem é que não teria? Esqueceu-se da yukina que venho anteontem? Acho que o quê o está realmente mantendo dentro de Eel é a Cris, e não a nossa isca. – (o que não deixa de ser verdade) a Miiko assumiu uma expressão preocupada e Huang Hua passou a respirar fundo.
– Continue Anya, o que mais ele lhe disse? Disse o porquê de tê-la ajudado? E como sabe que ele não lhe mentiu? – perguntava Huang Hua.
– Bom, segundo ele, ele não queria que a guarda prejudicasse ela. Ele tem uma grande mágoa contra nós. Sobre isso ser verdade ou não, podem perguntar à Cris! Ela me confirmou ter ficado perto de desmaiar quando ainda estava no meio do trabalho, e que sentiu um reforço vindo de não sei onde.
– Tudo bem Anya, mas uma coisa ainda não está batendo... – Miiko começava a caminhar pela sala – De onde que o Lance conseguiu juntar maana para que pudesse ajudá-la? E pra quê de verdade? Pois eu não acredito nessa preocupação dele por ela.
Agora sim é que eu fiquei nervosa (Oráculo por favor me socorre!!) – Anya? – Huang Hua me questionava – Você têm a resposta dessas perguntas? – a chama do bastão da Miiko revelava suas emoções no lugar de seu rosto (quero minha mãe...).
Engoli seco antes de começar a falar quase sem voz – Eu... o alimentava...
– Você o quê!?! – Miiko parecia querer me matar, ainda bem que Huang Hua estava junto.
– Era um acordo. Ele ia me dizer como eu podia sair de Eel para a floresta sem ser pega por ninguém e em troca eu lhe levaria comida decente. Só soube o porquê da forma como ele era alimentado quando soube de sua fuga. – falei com as lágrimas me escorrendo – Se não fosse por ele, eu nunca teria conhecido a Cris. E se eu não o tivesse alimentado por todo aquele tempo, é possível que ela nem estivesse mais entre nós... – as duas pareceram se acalmar depois desses detalhes e eu ainda chorava, mas é melhor eu dizer a elas mais uma coisa... – E tem mais um detalhe...
– E o que seria Anya. – pedia Huang Hua de forma suave.
– No final do dia, eu ainda voltei a falar com ele, para entender o interesse dele pela Cris, e ele me confessou que planejava usar aquela maana para fugir e não para ajudar a Cris. – as duas arregalaram os olhos.
– Ele confessou que estava te usando para fugir?? – perguntou a Miiko e eu apenas lhe assenti com a cabeça, a chama dela quase sumiu por um instante – Isso não faz sentido. Qual seria o maior interesse dele na Cris? E... soube que encontraram uma faca dentro de sua cela... – oh-ou... – Você não ajudou Lance a escapar também, ajudou?
Procurei respirar fundo – Nunca ajudaria aquele cara a fazer algo errado. – falei com o máximo de sinceridade e determinação (estamos até mesmo tentando colocá-lo na linha!) – E além do mais, o Becola só se lembrou do risco para a Cris, depois que me questionou sobre essa faca, quando eu o falei.
– Tudo bem Anya, – Huang Hua acalmava outra vez a Miiko – não lhe perguntaremos mais nada por enquanto. Vá vê a Cris! Assim você pode avisá-la sobre tudo o que foi conversado aqui e também sobre os contaminados. Ah! E se possível, gostaríamos de confirmar tudo o que você disse com ela, sobre o dia que retornamos de Memória.
– Sim senhora. – falei após respirar fundo e com a alma um pouco aliviada. Fui direto para o quarto da Cris.Cris
Acordei aos poucos (Absol não venho me chamar cedo por quê?), o frio me deixava com preguiça de abandonar minha cama quentinha, e pude observar Lance à janela encarando Eel.
– Aconteceu alguma coisa? – perguntei ainda deitada lhe chamando a atenção.
– Há várias carroças entrando em Eel, e não parecem trazer boa coisa.
– O que há nelas? – permanecia encolhida.
– Eu sou um dragão e não um brownie-falcão. – não pude deixar de rir – E elas estão cobertas também.
– Algum palpite sobre suas cargas?
– São contaminados. – ergui a cabeça para Anya, que havia entrado sem fazer barulho sequer na fechadura.
– Contaminados? – questionava Lance voltando a observar na janela – Eles são quantos? E de onde estão vindo?
– 40...
– QUÊ!? – acabei me levantando com o susto.
– A Fênix não executava os contaminados encontrados como a guarda sempre fazia, pelo que parece, por isso que juntou esse monte.
– Mas foi só ela saber do poder da Cris pra mandar todos para ela, não é isso? – questionou o Lance com uma cara meio zangada, a qual Anya só assentiu.
– E como exatamente essa guarda planeja me fazer cuidar deles? – comecei a sair da cama de vez (depois dessa...).
– Ainda não tenho muita certeza, eu soube desse número porque estava ouvindo a conversa de Miiko e Huang Hua por acaso. Antes de eu me meter, a Miiko dizia que ia colocá-la para cuidar de 15 em 15 contaminados... – me apavorei, 15!?!
– O limite dela é de menos de dez, o que foi que você disse para aquela kitsune sem noção?
– Bom, eu...
– Você?... – me impedi de entrar no banheiro para ouvir o resto (isso não está me cheirando bem).
– Eu... meio que falei, do Lance...
– Você o quê?! – Lance se aproximava de Anya e eu corri para me por entre eles, mais Absol que começou a rosnar para ele.
– Se acalme Lance. Anya, explique direito, o que foi que vocês três conversaram?
Anya começou a explicar cada palavra trocada entre elas, e aos poucos Lance se acalmava. Só pela conversa que elas tiveram, já sabia que hoje ia ser um looongo dia...Nevra
Depois de ter sido informado sobre a aparição da Oráculo Branca, deixei a Karenn responsável pela Sombra e fui dormir (ou do contrário eu dormiria durante a vigília), mas se eu soubesse que os dois teriam uma noite completa de sono, teria dormido junto deles. Quando comecei a vigília dessa vez, a Cris já o ajudava com o pescoço, e eu não esperava que Lance resolvesse ensiná-la a controlar a própria maana (isso seria bom para ela), só me preocupo com o que ele pode vir a lhe cobrar em troca.
Amanhecido o dia, pensei em ir embora, mas o comportamento de Absol de repente me deixou curioso. E eu não fui o único. Instantes depois de Absol começar a agir daquele jeito, Lance se levantou e foi pra junto da janela (será que ele falará sozinho hoje?), fiquei atento.
De dentro do quarto não ouvia nada, porém um batimento cardíaco diferente surgia no corredor. Me escondi para saber a quem pertencia e vi Anya, com sinais de choro no rosto. Ela entrava no quarto (desde quando ela tem uma chave??) e retornei pra junto da porta pra lhes ouvir a conversa.
Então Huang Hua finalmente chegou, e a Miiko ainda não tinha avisado a Cris sobre os contaminados? E que historia era aquela de limite? Eu simplesmente não pude evitar de ficar boquiaberto sobre as confissões que Anya fez à Miiko e à Huang Hua (o Lance já salvou a vida da Cris?!?) e eu estava realmente certo ao supor que a faca que ele tinha usado para escapar pertencia à Anya, que entregou-a enganada (até que ela foi esperta em danificar a faca ela mesma para atrapalhá-lo). Mas eu ainda não entendo, além da “liberdade” obtida através de Anya e da maana adquirida através da Cris, o quê mais ele pode estar querendo delas?Cris 2
Depois de Anya nos ter explicado tudo, de eu já ter me trocado e arrumado minha cama, comecei a sentir fome. Lance disse ter contado 12 carroças entrando em Eel que ainda terminavam de alcançar o QG. Pedi para Anya conferir se eu já podia descer para o salão (já que o Jamon estaria no caminho), e se eu não pudesse, ela buscaria a comida pra mim. Tive que esperar por ela no final das contas, e quando chegou, não estava sozinha.
– Leiftan? Huang Hua? Precisam de alguma coisa? Entre Anya!
– Nós gostaríamos de conversar um pouco com você. – Falava Leiftan enquanto Anya colocava duas vasilhas de frutas picadas, duas garrafas de bebida e mais dois embrulhos que deviam ser lanches.
– Tudo bem se Leiftan e eu entrarmos? – questionava Huang Hua com um jeito calmo, mas ainda preocupado.
– Claro! – (que não, especialmente o Leiftan) – Acaso é sobre o que Anya me avisou hoje de manhã? – lhes puxava as cadeiras para que se sentassem.
– Bom, sim. – pus Leiftan e Huang Hua de costas para onde Lance estava e comecei a provar as frutas – A Miiko me pediu para falar com você no lugar dela.
– E o quê exatamente vocês querem que eu lhes diga? – deixei o lanche em cima da cama, bem em uma sombra. Anya se sentou na poltrona onde fez o mesmo que eu só que com as frutas (o resto é com Absol!).
– Acho melhor começar do começo. – pediu-me Huang Hua.Lance 2
Ela tinha que permitir a entrada daqueles dois... A passarinha, com aquele dom irritante dela, e o meu ex-sócio eram capazes de me descobrir na primeira chance em pusessem os olhos sobre mim. Sentei-me o mais silenciosamente que pude, pois estava na cara que a conversa ia demorar, mas ao menos fome eu não ia passar.
Como aquelas duas colocaram a parte que me seria cedida na sombra, Absol apenas afundou uma das patas na própria sombra para a mesma emergir na sombra em que as comidas estavam, arrastando a comida para onde eu estava sem ninguém perceber (ter umbracinese é bem vantajoso).
Banquei o inexistente durante aquela conversa enquanto comia.Cris 3
Terminei de consumir o meu café da manhã e contei tudo o que sabia (e podia) sobre Lance naquele dia e eles ainda pareciam incrédulos.
– Você consegue imaginar por qual motivo ele teria lhe ajudado? – Leiftan me perguntava.
– Além da minha maana e da minha vida, já que sou a chave de salvação de Eldarya? Não consigo pensar em outro motivo não.
– Só espero que ele não tenha intenções... íntimas para com você. – Leiftan comentava em voz baixa, me fazendo corar.
– Como assim, Leiftan? – perguntou a Anya, ainda bem que Huang Hua interveio.
– Vamos encerrar a conversa sobre o Lance, e passarmos a tratar dos contaminados em si. Você lembra quantos já tinha ajudado antes de começar a fraquejar?
– Infelizmente não. Só sei que eu já tinha passado da metade quando recebi aquela ajuda. Que aliás, eu sou muito grata por a ter recebido!
– Mesmo sendo vinda de um assassino? – me questionava o Leiftan.
– Eu já estava rezando por ajuda naquela hora. Quase que imediatamente recebi o reforço de que tanto necessitava. “Quando Deus manda, até o diabo obedece!”
– Amei essa frase! – dizia Huang Hua – De onde a tirou?
– De uma historia, onde essa frase é a moral.
– Quero ouvi-la. Conte por favor! – contei a historia, sobre uma senhora necessitada que pediu ajuda em nome de Deus via rádio e um empresário, que era ateu, resolveu ajudá-la mandando dizer que quem a ajudava era o demônio. Como a senhorinha não questionou os entregadores, que entregavam toda a comida e itens de higiene comprados pelo empresário para ela e que ela não parava de agradecer, sobre quem a ajudava, eles mesmos a questionaram se ela não tinha essa curiosidade. A resposta? Ela disse que não precisava e completou com a frase – É realmente uma bela historia, e essa senhora foi realmente bastante sábia. Fico imaginando qual teria sido a cara do empresário ao receber a resposta dela...
– Com certeza seria algo divertido de se ver. – falei imaginando as possibilidades, com Anya segurando o riso também.
– Certo. – Leiftan nos cortava – Que tal agora retornar ao assunto? Acha que é capaz de cuidar de sete faerys de uma vez?
– Acho que sim... mas como vocês decidirão a ordem deles?
– A Fênix me passou uma lista informando a ordem dos que estavam sendo mantidos presos há mais tempo, pensamos em segui-la. No dia do baile não terá de se preocupar com eles.
– Entendo. E é com eles que a Miiko está ocupada? Por isso mandou o Leiftan em seu lugar? – ambos ficaram desconfortáveis (por quê?).
– Bom... isso também... – Leiftan se erguia – Eu vou repassar o combinado aqui para ela. Por favor, se mantenha no quarto mais um pouco. Anya, pode me acompanhar para que possa avisar a Cris quando estiver tudo no lugar? – Anya ficou receosa.
– Pode ir Anya... – falava a Huang Hua com aquele jeito tranquilizador de falar – Ficarei para que a Cris tenha companhia até sua volta.
Meu pensamento estava em Lance, e acho que o de Anya também. Olhei para Absol que apenas me assentiu como se dissesse “tudo bem”. Fiz o mesmo para Anya que me encarava e ela e Leiftan deixaram o quarto.
– O quê mais impediu a Miiko de vir aqui ao invés de mandar o Leiftan? – perguntei me sentando ao lado de Huang Hua (aquele desconforto dos dois não era normal).
– Bom. Isso é meio que pessoal para a Miiko...
– Pessoal em quê? O quê os contaminados poderiam ter de pessoal?
– Os contaminados não, Lance é o problema. – (oi!?) – Não conte à ela que fui eu que falei, mas ela ainda está tentando esquecê-lo...
_boquiaberta_ Lance acabou fazendo um barulho que Absol conseguiu lhe cobrir – Como assim esquecê-lo? Ela ama o Lance??
– Bom, hoje ela tem mais mágoa do que amor, mas antes dele se passar por morto para todos nós, Miiko só não se declarou pra ele porque tinha medo de ser rejeitada. Tanto que ela demorou meses para fazer o luto dele. Ainda mais com o grande número de garotas que tinham interesse nele.
– Quantas mais ou menos? – perguntei por curiosidade (mas no fundo estou incomodada).
– Eu não sei lhe dizer... assim como Nevra, Ezarel e até o Valkyon e o Leiftan, ele tinha uma espécie de fã-clube de admiradoras.
– Aqueles quatro, especialmente Ezarel, possuem clubes de admiradoras?...
– Possuem. Pelo o quê a Miiko me disse, o clube de Lance sofreu o mesmo que o de Leiftan, quando descobrimos que ele era um daemon.
– Leiftan fingia ser um lorialet, não é isso? O que houve com esses fã-clubes?
– Exatamente. As mulheres que os compunham desistiram deles, seguiram com a vida. Algumas fizeram luto por eles, mas ainda há uma ou outra que ainda gosta desses dois. E como essas seriam relações impossíveis...
– Leiftan pertence de coração à Erika, e não creio que Lance poderia ter algum interesse nelas se a raiva que dizem que ele carrega for tão grande quanto eu imagino. – (ou ele teria?) – E você tem certeza sobre os líderes de guarda? Valkyon já está comprometido e eu não consigo imaginar alguém correndo atrás do Ezarel. Nevra é um Don Juan, então dele eu não duvido.
– Concordo com você, – ela falava rindo – Leiftan me contou que as interessadas por Valkyon diminuiu, pois graças ao que já sabia antes de ser desmascarado e agora trabalhando como mensageiro, ele sabe qual é o preferido de cada garota que está no QG. – sorri de lado – Também acho um pouco difícil imaginar o Ezarel com uma garota, mas tenho certeza que ele apenas não encontrou a certa ainda. E tem mais uma coisa, – ela assumiu um tom sério – parece que as admiradoras do Nevra estão um pouco insatisfeitas com você.
– Comigo porque se eu não tenho interesse nele? E sim o contrário, quero a distância?
– Só que ele não parece querer o mesmo que você, e por isso está gerando ciúmes entre elas. – ótimo. Tudo o que eu precisava _suspiro_.
– Vou ver se eu consigo fazê-lo enxergar isso.
– Te ajudarei se quiser. – sorri-lhe como agradecimento e bateram à porta.
– Cris! – era a Anya – A Miiko disse que já está tudo pronto, vem!
Desci junto de Anya e Huang Hua.
.。.:*♡ Cap.57 ♡*:.。.
Lance
Tive de comer bem devagar para não ser descoberto e deixei a bebida por último. Quase engasguei quando a passarinha disse que aquela raposa incendiária me amava (tá certo que antes eu a achava uma mulher interessante, mas nem tanto) e ainda bem que o Absol conseguiu enganar a Huang Hua (tenho que tomar mais cuidado).
Aquele papo de admiradoras não estava me agradando muito. Absol acabou por erguer uma das orelhas quando disseram que as seguidoras do sanguessuga estavam com ciúmes da Cris. Eu mesmo arrancaria a cabeça dele se ela me permitisse! Mas como a Negra falou, ele pode ser útil mais pra frente.
Ainda esperei mais alguns instantes antes de levantar, depois que aquelas duas saíram com o chamado de Anya. Pela cara que a Cris me fez ao pegar um agasalho no armário, ela ia querer conversar comigo depois (será que aquela historia de admiradoras causou ciúmes nela?). _sorriso_ Acho que será divertido...Cris
Como sempre, foi só eu colocar os pés pra dentro da Sala do Cristal para que o pedaço em meu pescoço se manifestasse. Quase toda a Reluzente estava na sala. Aqueles sete contaminados ainda estavam adormecidos e eu acabei agindo da mesma forma que fiz com o nan’vi, só que estes se assustaram ao me ver (o que será que tinha de diferente naquele faery?). Ao final de tudo estava exausta. Até parecia que eu tinha acabado de terminar um dos treinos de Absol! E eu ainda tinha mais 33 para tomar conta... (Mãezinha, me ajuda!).
Jamon, com olhos parecendo duas jabuticabas maduras (mais que fofo!!), me perguntava se eu estava bem e se eu queria que ele me levasse no colo até o quarto para descansar.
– Bem, eu...
– Leve-a Jamon. – ordenava a Miiko sem desviar o olhar dos contaminados – Ela realmente não consegue ajudar muitos faerys de uma vez. Quero que a ajude sempre depois dela acabar até não haverem mais contaminados. E Cris, no dia do baile você não precisará cuidar deles, para que consiga trabalhar melhor na segurança como combinamos.
– Compreendo Miiko, e muito obrigada. – ela ainda evitava me olhar (será por causa do Lance? Se for, eu estarei frita, assada e cozida quando ela descobrir que venho o escondendo).
Jamon me erguia em seus braços e Anya, que começava a nos acompanhar, foi ordenada a ficar (parece que a Miiko ainda tem perguntas para ela. Mãe santíssima e Oráculo, protejam ela! E obrigada desde já). Jamon ainda me ajudou a me manter em pé para eu poder destrancar a porta, e ele fez questão de me ajudar a me sentar na cama (eu realmente gostei daqueles olhinhos!).
– Cris descansar agora. – ordenava ele – Não deixar quarto até o almoço. Logo Anya chegar e fazer companhia.
– Mais uma vez obrigada, Jamon. Pode fechar a porta pra mim? – Jamon apenas sorriu e se retirou fechando a porta com delicadeza para não fazer barulho (para um ogro, ele é mesmo um doce).
– Como é que foi dessa vez? – Lance me questionava, deixando o esconderijo e se sentando na poltrona.
– Semelhante ao dia em que você me ajudou. Só um tiquinho mais suave. – falei me deitando para me recuperar mais depressa.
– Você parecia querer conversar sobre aquela historia de “admiradoras” que Huang Hua estava falando... – ergui a cabeça para observá-lo um instante, e ele estava com aquele sorriso malicioso irritante de sempre.
– Já chegou a se interessar por alguma delas por acaso? – seu sorriso alargava (mas que...!).
– Já me envolvi com umas duas ou três mulheres antes de descobrir os podres dessa guarda, mas nunca amei uma de verdade. – ele apoiava as mãos atrás da cabeça – E quanto à você? Tinha muitos admiradores na Terra?
– Nunca cheguei a namorar de verdade. Só um encontro ou outro com um rapaz que conheci via face. E algumas declarações de uns dois colegas de trabalho, que não ficamos trabalhando juntos por muito tempo.
– Esse tal de “face” é um dos métodos de comunicação da Terra?
– Sim. É sim. – Absol não está aqui dentro... – Onde está Absol?
– Saiu instantes depois de você e Huang Hua. Desconfortável comigo? – eu não o estava o olhando, mas seu tom de voz denunciava que estava sorrindo, e eu acabei me encolhendo, corando. Ele começou a rir de leve.
– A Miiko teria tido alguma chance com você, se você não tivesse feito o que fez? – acabei por perguntar.
– Confesso que achava aquela raposa bipolar divertida, – ele se ergueu e aproximava-se da janela – mas sinto dizer que ela só ia receber um ‘não’ de mim. E isso antes mesmo de eu descobrir tudo sobre essas pragas.
Não tive coragem de lhe perguntar mais nada, e não sabia se me sentia bem ou mal com as palavras dele. Ele começou a me encarar de lado, o que me deixou meio sem graça, e por isso virei para o outro lado da cama. Pude ouvir mais um riso baixo vindo dele que me fez encolher (e corar) ainda mais. (mas o quê é que está dando em mim?) Acabei cochilando.Anya
Eu queria ter acompanhado a Cris e o Jamon, mas a Miiko me impediu (o que mais ela quer comigo? Eu já falei tudo o que podia!) – Sente-se Anya. – ordenou-me ela me apontando uma cadeira. Aquele tom sério dela não estava me agradando, ainda mais com quase toda a Reluzente reunida – Poderia nos repetir tudo o que você disse sobre o Lance e a Cris? – sabia que ia dar leite. Acabei engolindo seco.
– Sobre Lance a ter ajudado ou...
– Sobre tudo. – disse ela firme. Respirei bem fundo antes de começar a falar.
Recontei tudo que podia desde o dia que o conheci na prisão até o dia que cheguei de Memória. Muitos pareceram se enfurecer comigo.
– Nos diga Anya, – o Chefinho me perguntava – para quem está sua lealdade? Para Lance, ou para a guarda?
– Para Eldarya. – respondi causando espanto em alguns – Tudo o que desejo é ajudar a minha amiga e a minha casa. O quê mais vocês querem que eu diga? Que eu sei onde Lance está e o que faz!? Não tenho todas as respostas! – (mas tenho algumas...).
– Anya, se acalme. – Erika me pedia se aproximando – Nós todos só estamos um pouco surpresos e meio chateados por sabermos que você ajudava Lance às escondidas... E também não podemos tirar a sua razão. Seus atos podem não ser aprovados por todos nós, mas nos poupou de grandes problemas! Então... apenas continue ajudando a Cris, está bem?
– Vou receber alguma punição? – perguntei com algumas lágrimas me escorrendo pelo rosto, ela não me respondeu nada. Olhei para todos eles e a maioria parecia refletir sobre tudo.
– Ainda precisamos conversar mais sobre isso Anya. – Leiftan se pronunciava – Este é um assunto muito delicado. Quando tivermos uma decisão, você será informada.
Assenti a cabeça para ele – Posso ir agora? – perguntei.
– Pode. – Miiko me liberava.
Deixei a Sala do Cristal sob o peso dos olhares de todos eles e corri para o encontro da Cris. Cheguei no quarto dela com ela dormindo, coberta, sobre a cama e com Lance fazendo abdominais.
– E aí? O que mais eles queriam com você? – ele me perguntava.
– Não quero falar sobre isso. – fui me deitar junto da Cris em silêncio, abraçando-a. A Cris era a única capaz de me compreender agora.Nevra
As coisas estavam mesmo complicadas para a Anya. Mesmo com a justificativa que ela nos deu que envolvia a Cris indiretamente, ainda havia alguns que queriam a retirada dela da guarda (e isso eu não posso permitir, não agora).
– O quê nos garante que Anya não vai acabar cometendo outro ato que possa ser enxergado como traição? É arriscado mantê-la entre nós!
– Mas Ezarel, Anya é a mais próxima da Cris, e quem mais a ajuda também. – intercedia a Erika.
– Mesmo assim! E se algum dos representantes descobre sobre isso?
– “Deixe-a viver como deve viver” – interrompi a discussão daqueles dois – Parece que a Oráculo não se referia apenas à Cris quando disse isso. – todos passaram a me observar.
– Do que está falando Nevra? – Miiko me erguia uma sobrancelha.
– Que Anya tem sido mais um suporte para a Cris do que uma guia, como você insinuou Miiko. Já que: foi Anya quem lhe ensinou sobre Eldarya e alquimia; foi Anya quem lhe ajudou a defender Eel, sabotar, e se livrar dos humanos que tencionavam nos atacar; foi Anya que preparou a poção de Syronomajie que nos permitiu redescobrirmos as evigêneias; indiretamente, foi graças à Anya que a Cris não acabou em risco de vida diante de todos os contaminados que chegaram durante a viagem à Memória... – (e está ajudando a manter Eel segura, cuidando de Lance) – Será que eu me esqueci de mais alguma coisa que só aconteceu graças à Anya? – Todos que antes queriam a expulsão de Anya, passaram a pensar melhor.
“Obrigada.”
Pensei ter ouvido a Oráculo branca sussurrando em meu ouvido e aquilo me surpreendeu (Anya é mesmo o suporte da Cris!?). Olhei para todos na sala, tinha que garantir a proximidade entre aquelas duas. E pelo bem de todos nós.
– “Deus escreve certo em linhas tortas...” – falou Erika.
– E “há males que vem para o bem”. – lhe completava Valkyon abraçando-a por trás.
– Do que é que vocês estão falando? – perguntou um brownie.
– Que por mais estranhas e ruins que estejam as coisas, – Kero falava pela primeira vez – pra tudo há um motivo para que aconteça, assim como Nevra nos listou os resultados das ações de Anya. Que às vezes, o que achamos ser uma coisa ruim na verdade é algo essencial para prevenir o futuro.
Novamente ficamos todos reflexivos.
– Tudo bem se eu decidir a punição de Anya, Miiko? – perguntei.
– E o que você planeja para ela Nevra? – Ewelein me questionava.
– Apenas lhe fornecer um treinamento especial e encarregá-la de cuidar de todos os equipamentos de minha guarda por um mês. Acha muito?
– Não a fazendo precisar de mim... – Ewelein me perfurava com o olhar.
– Tem a minha palavra que farei o possível para que isso não aconteça! – me defendi.
– Tudo bem Nevra. Vamos tratar o caso de Anya desse modo. Ainda mais se o que foi apontado sobre ela for mesmo verdade. Peço que mantenham sigilo sobre este assunto ao menos até termos finalmente encontrado o Lance, o verdadeiro. Estão dispensados.Cris 2
Acordei com Anya cochilando do meu lado, me abraçando, e o som de agua caindo no banheiro (Lance deve estar tomando banho), me levantei devagar para não acordar Anya (não me lembro de ter me coberto... foi Anya ou...) e procurei saber que hora era. Olhei no relógio e já eram onze e meia, e eu já me sentia ótima.
– Descansou bem? – perguntou-me Lance deixando o banheiro sem camisa, sem me olhar e pegando uma camisa limpa no baú.
– Descansei sim. – lhe desviei o olhar – Quando Anya chegou?
– Uma meia hora depois de você ter adormecido. Estava chorando e não quis me dizer o que aconteceu. Foi direto pra debaixo das cobertas com você. – então foi mesmo ele... (por quê?).
– Só espero que nada de ruim aconteça à ela. Ficaria bem difícil cuidar de você sem ela.
– Posso matar um se ela for expulsa?
– NÃO! – respondi imediatamente (outra vez aquele sorriso!!), acordando Anya sem querer.
– Cris?? – ela se erguia confusa.
– Anya... – me sentei ao lado dela e ela voltou a me abraçar – Me diga, o que aconteceu? – perguntei lhe acariciando os cabelos.
– Tive que repetir tudo outra vez, só que dessa vez, para a Reluzente inteira. Me perguntaram a quem eu devia a minha lealdade e eu respondi: para Eldarya. Não sei o que decidirão fazer comigo...
– Tudo bem Anya... – ela chorava em meus braços – Se eles a mandarem embora ou coisa parecida... Eu vou com você! Deixarei Eel se eles me afastarem de minha amiga! – vi um sorriso em Anya.
– E eu? Seria deixado para trás, assim? – reclamava Lance sentado em uma das cadeiras. Nós duas nos entreolhamos e começamos a rir.
– Claro que não! – falava – Não sou tão desumana assim! Ainda preciso continuar de olho em você. – terminei de falar mais séria. Voltei a olhar Anya – O que acha de irmos almoçar agora? Eu não sei você, mas eu estou com fome. Cuidar de contaminados cansa!
– Vamos. – respondeu-me ela sorrindo.
– Vê se não se esquecem de mim! – alertou-nos Lance antes de passarmos a porta, alargando nosso sorriso.
Descemos até o salão que estava quase lotado, a maioria se concentrava próxima à mesa que Huang Hua ocupava. Passávamos por um trio de rapazes que eu recordava pertencerem à Reluzente e que olhavam torto para Anya. Abracei-a e comecei a encará-los com desdém, o que pareceu surpreendê-los (mexeu com quem amo, mexeu comigo) e seguimos reto até a cozinha.
– Olá para o meu sátiro favorito! – Karuto não parecia estar com cara boa na hora que lhe falei, mas sorriu assim que nos viu.
– Hehe, olá para as minhas Rainhas favoritas também. Soube da montanha de faerys que chegou para receber tratamento com você, Cris. Como se sente?
– Caí no sono em meu quarto, por isso estou muito bem. Só meio esfomeada agora.
– E Anya? Porque ela parece estar tão abatida? E ainda ouvi uns rumores sobre quererem mandá-la embora de Eel, que historia é essa?
– Bom acontece...
– Que isso é invenção de quem não tem o que fazer. – Nevra apareceu do nada ao lado de Anya me interrompendo.
– Que quer dizer, morceguinho? – questionou Karuto voltando a parecer mal humorado – O que é que aconteceu de verdade?
– Anya nos escondeu uma informação preciosa que podia ter custado a vida da Cris, mas isso só porque não esperava, que algum dia, a Cris pudesse correr este risco outra vez.
– E o que vocês decidiram fazer comigo? – Anya parecia agoniada.
– Depois que fiz aqueles cabeças duras perceberem o quão importante você é para Cris, eu mesmo decidi sua punição. Esteja preparada, pois vai receber um treinamento especial meu, além de ficar responsável pela manutenção de todos os equipamentos da Sombra por um mês! Alguma objeção?
Anya suspirou aliviada, e eu me senti igual – Ainda bem. Se vocês tivessem decidido mandá-la embora, eu teria ido junto com ela. – falei séria e fazendo Nevra arregalar o olho.
– Ainda bem que decidimos ouvi-lo então. – Agora era Ezarel quem aparecia – Seria um problema e tanto se você resolvesse sumir por Eldarya, Caçadora.
– É, eu imagino... Karuto, pode por favor me ver nosso almoço?
– Mas é claro minhas Rainhas!
Anya e eu pegamos a nossa comida e nos sentamos à mesa mais reservada que havia naquele salão. Nevra e Ezarel, que decidiram por se juntarem a nós duas, nos explicaram como havia sido a reunião que decidiu o destino de Anya (eu não tinha notado o quanto ela realmente havia me ajudado, e onde é que Absol está? Assim o Lance vai pensar que nos esquecemos dele!). Ainda conversávamos quando reparei Erika entrando no salão com uma preocupação estampada na cara.Leiftan
Aquela reunião sobre as ações de Anya foi realmente complicada, e Nevra foi esperto em usar a Oráculo para poder protegê-la (se bem, que ele parecia saber bem mais do que nos contava). Estava repassando algumas mensagens à alguns representantes que optaram por ficar no refúgio, quando vi Absol entre as sombras (o quê aquele black-dog está tramando?). Resolvi segui-lo.
Eu o acompanhava a distância, mas o perdi de vista no Jardim de Música (pra onde ele foi?). Pensava em que direção seguir para encontrá-lo e ouvi gritos vindos do Parque do Chafariz, pra onde me dirigi. Chegando ao parque, duas mulheres que pareciam em estado de choque, cada uma com um braço ferido, encaravam Absol que parecia “discutir” com um liclion e um maulix (devem ser os mascotes delas). Instantes depois, os dois mascotes seguiram Absol, sumindo dentro de uma sombra. Fui ao socorro das mulheres (eu conheço elas...).
– O que foi que aconteceu com vocês? Podem se levantar? – perguntava-lhes e um par de guardas se aproximava. Devem ter ouvidos os gritos como eu.
– Foi ele! Foi aquele monstro! – dizia uma delas.
– Foi aquele Black-dog que nos atacou! – completou a outra (Absol as atacou?!?).
– Vamos à enfermaria tratar disso primeiro, – conversava com elas – lá conversamos melhor. Vocês dois, por favor me ajudem.
Os guardas me atenderam e os acompanhei até a enfermaria. Na enfermaria, nós já estávamos sendo aguardados.
– Leiftan, o que foi que aconteceu? Porque Absol chegou à enfermaria com a pata suja de sangue?
– Aquele monstro está aí dentro!? – perguntou uma delas e foi quando Erika lhe notou os arranhões em seus braços.
– Não me diga que foi Absol quem as feriu desse jeito.
– Absol está mesmo aí dentro? – perguntei.
– Sim. Ele chegou saindo de uma sombra, acompanhado de um liclion e um maulix, que não querem soltar a Ewelein. Absol está deitado em um canto como que esperando por alguma coisa. – nós dois forçávamos a entrada daquelas duas para serem tratadas.
Essa historia está mal contada... – Chame a Cris, essas duas afirmam que foi Absol quem as feriu. Precisamos tirar isso a limpo. Pela hora, ela deve estar no salão, almoçando.
– Pode deixar. – disse Erika já saindo.
– Agora... – voltei minha atenção às duas que estavam recebendo os cuidados de Ewelein – Nos diga exatamente o que foi que aconteceu.
– Nós duas havíamos acabado de completar uma missão de coleta e descansávamos no Parque do Chafariz... – começou uma.
– Nós não fazíamos nada, apenas conversávamos, quando de repente ele – a outra que falava apontou para Absol – começou a rosnar para nós e depois nos atacou! – Absol se mostrava indiferente à elas.
– Só isso? Vocês tem certeza?
– Sim! – disseram elas juntas e Absol começou a rosnar de leve (tem mais coisa aqui...).
– Chegamos Leiftan. – Erika entrava junto da Cris e _suspiro_ do Nevra (sabia que conhecia essas mulheres...).Cris 3
– Que negócio é esse de Absol estar atacando as pessoas? – perguntei assim que entrei na enfermaria, após ser arrastada pela Erika para lá.
– Eu vi Absol enquanto trabalhava e resolvi segui-lo, – Leiftan explicava ajudando Ewelein a enfaixar o braço de duas mulheres – quando o perdi de vista. Ouvi gritos e encontrei essas duas assustadas e com um braço ferido de leve cada uma. Absol ainda estava lá e o vi sumir dentro de uma sombra acompanhado das mascotes delas.
– E o que foi que elas fizeram pra ele decidir agir desse jeito? – encarei-as seguindo meu olhar para Absol que se mostrava tranquilo deitado no canto com dois mascotes lhe fazendo guarda.
– De acordo elas, nada. – falou Ewelein terminando com os curativos.
– Não acredito. Absol não feriria alguém sem um bom motivo! – aquelas duas começaram a me fuzilar com o olhar (como se eu ligasse...) – Contem tudo o que de fato aconteceu. – pedi. Leiftan me repassou a historia contada por elas, e acho que o problema está nessa conversa – Sobre o quê vocês duas conversavam?
– Nada que lhe interesse. – disseram as duas juntas (é, a chave está na conversa).
– Mas nós queremos saber. – nem vi que Nevra nos acompanhou! – Diga-nos agora. – exigia ele. As duas coraram e engoliram seco.
– Bom... nós duas, conversávamos, sobre, você. – falou uma delas (não era só isso!).
– E o quê mais? – pediu o Leiftan – A Cris não foi incluída nessa conversa, foi?
Era nisso que eu queria chegar. As duas passaram a uma expressão mais assustada, ficando uma branca e a outra engolindo seco (se denunciaram). Vi que Absol parecia sorrir.
– O que é que vocês falavam de mim nessa conversa? E por que é que eu entrei se vocês falavam sobre o vampiro aqui? – questionei-as apontando o polegar para o Nevra.
– N-nada. – disse uma delas e Absol começou a lhes rosnar.
– É mentira... – falava Nevra em um tom sombrio (melhor me afastar dois passos!) – Até Absol deixou claro que isso não é verdade.
– Me lembrei delas assim que você entrou Nevra, – era Leiftan – elas fazem parte do seu fã-clube. – agora sim que elas mudaram de cor! Nevra ficou sério.
– E então? – tomei a voz outra vez – O quê falavam de mim?
Entre gaguejos, uma completava a outra. Já estava acostumada a ter COBRAS me cercando, até mesmo entre os parentes, por isso me mantive indiferente àquelas duas, enquanto Erika e Ewelein cobriam a boca, espantadas; Leiftan ficava boquiaberto; Nevra se mantinha sério; e Absol parecia se contiver, rosnando, sem sair do lugar.
– Bem... – começou Erika quando aquelas duas terminaram de nos repassar todos os insultos que me deram pelas costas – Acho que já está mais que claro o porque de Absol lhes ter ferido. – ela parecia sem graça, assim como todos – O que pretende fazer sobre isso Nevra? Afinal, elas são as suas admiradoras.
– Sobre isso... – ele respirava fundo com os olhos fechados antes de continuar – Tudo o que posso dizer é: Desprezo pessoas que agem como essas duas fizeram. Desprezo quem menospreza outras pessoas por mero ciúme. Principalmente se for uma pessoa importante para todos, como a Cris.
Engoli seco, sem jeito com a dureza com que ele as tratava, fazendo-as até mesmo chorar. Elas me pediram desculpas e eu as perdoei (Absol e Nevra já as haviam castigado o suficiente pra mim). Comecei a deixar a enfermaria com Absol do meu lado. Nevra tentou me acompanhar.
– É melhor não Nevra. Você viu e ouviu o que esse seu grude comigo resultou. Dê um jeito em suas seguidoras e tente se afastar um pouco mais de mim. – falei pra ele.
– Tudo bem, mas quero um favor em troca.
– Do quê está falando? – perguntei desconfiada.
– Uma dança. Apenas me conceda uma dança durante o baile. É tudo o que lhe peço. – me pedia ele sério, mas sem perder o charme. Olhei-o de cima abaixo.
– Se você conseguir me encontrar e se eu estiver sozinha, concedo uma dança. E só dessa forma. – ele me sorriu satisfeito.
– Pode se esconder o quanto quiser, irei encontrá-la antes que alguém lhe faça companhia depois que você terminar com a Miiko. – disse-me ele retornando para a enfermaria, me sorrindo determinado (céus me protejam!).Lance 2
Já estava fazendo quase uma hora que aquelas duas saíram e nada de minha comida chegar (elas não me esqueceram de verdade, esqueceram?). Ainda havia passado alguns minutos quando Anya apareceu com a minha comida em vez de Absol. Questionei o que é que estava acontecendo agora e ela me repassou que estavam acusando o black-dog de atacar alguém (essa eu quero ver!). Aguardamos pela Cris, para podermos entender melhor o ocorrido, e ela chegou quase uma hora depois.
– Absol realmente atacou alguém? – perguntei assim que ela fechou a porta.
– “Atacou” não. Me defendeu! – encarei-a sem entender e ela nos repassou toda a historia.
Esses faerys... realmente não a merecem!
.。.:*♡ Cap.58 ♡*:.。.
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– Mestre, a yukina retornou. – disse um homem encapuzado, curvando-se para um mago que descansava em sua poltrona.
– Ela trouxe o nosso alvo primário?
– Infelizmente não, meu senhor. – o Mestre lhe ergueu uma sobrancelha – O alvo parece ter um outro poder especial, e por isso foi escalado para fazer a segurança de Eel durante o solstício.
– E isso foi tudo o que ela conseguiu nos trazer!? O que aconteceu com a nossa isca?
– A isca foi purificada bem diante dos olhos dela e ela já cuidou dele. Além da informação que o alvo estará na segurança, ela também conseguiu um pouco da essência das mulheres que alvejamos.
– Menos mau. Envie o chestok 46 e mande a ordem de garantir que o alvo primário estará do lado de fora quando lançarmos o Plano B.
– Como desejar Mestre. – o homem acabou por soltar um suspiro – Se aquela criatura não estivesse enganando a todos...
– ...Eldarya já estaria em nossas mãos. – completou o mestre com o homem se retirando.Ezarel
No que a Erika arrastou a Cris para enfermaria, eu segui para a Sala do Cristal para avisar a Miiko. Como se não bastasse descobrirmos que Anya ajudava o irmãozinho do Valkyon, agora era Absol que resolvia nos dar dor de cabeça atacando os outros? Faça-me o favor!
Entrando na sala, Miiko conversava com alguns diplomatas (por todos os deuses, isso é hora?), esperei ela terminar com eles, para que os nossos visitantes não entrassem em pânico. Miiko percebeu meu nervoso.
– Pode dizer Ezarel, – ela me chamava ao terminar de conversar – o que é que deseja? – apenas sussurrei-lhe ao ouvido o que parecia ter acontecido e ela arregalou os olhos – Como!?!?
– Há algum problema, senhora Miiko? – perguntou um dos representantes.
– Nada com que precisem se preocupar. – respondeu nossa kitsune.
– Erika a levou à enfermaria, com sorte elas ainda estão lá. Me acompanhe, por favor.
– Mas é claro Ezarel. Vamos logo. Com sua licença senhores. – despediu-se a Miiko deles aos quais responderam com uma leve reverência.
Encaminhamo-nos para a enfermaria quase correndo, e quando chegamos lá, a Cris já tinha retornado ao quarto. Leiftan e Erika nos repassou o acontecido e a Miiko só faltou incinerar aquelas duas que ainda choravam, abraçadas aos seus mascotes, por conta das palavras de Nevra (eu no lugar da Caçadora, não teria as perdoado tão fácil).
Nevra e eu aproveitamos para contar à Miiko e os demais membros reluzidianos presentes a conversa que havíamos tido com a Cris durante o almoço, ela quase empalideceu ao ouvir que a Cris nos deixaria se Anya tivesse sido mandada embora. E deixá-la ir, ao que entendemos da Oráculo, é o que não devemos permitir.
– Parece que você tinha mesmo razão Nevra, – cochichava Leiftan para que as duas mulheres não nos ouvisse – Anya é realmente importante para Cris. Ainda bem que lhe demos ouvidos.
– Já conversei com essas duas aí atrás e acho que não teremos mais problemas com “avisos” de Absol.
– É bom mesmo! – dizia – Ainda bem que eu já terminei de colocar proteções contra umbracinesianos em meu quarto. Eu é que não quero ter uma visita surpresa daquele guardião dela!
– É só você não ficar tentando aprontar uma com ela, Ezarel. – falava a Erika – Assim como quando tentou se utilizar de uma poção de invisibilidade com ela...
– Foi Valkyon que lhe contou, não é? – ela me assentia – Nem me lembre disso, Erika!
Estávamos para dar um ponto final naquela historia quando bateram à porta em busca da Miiko.
– Ezarel, – falava ela – parece que a representante de Lund'Mulhingar chegou finalmente. Como é possível que você a conheça, quero que me acompanhe.
– Tudo bem. – respondi, mas tenho um mau pressentimento.
Seguimos em direção à Grande Porta, encontrando a representante enviada no Caminho dos Arcos. Suei frio quando vi quem eles enviaram – Emiery? Você é a representante mandada de Lund’Mulhingar?
– Ezarel!... Há quanto tempo, não!? Acaso você será o meu guia em Eel, por isso está aqui? E quem é a raposinha?
– Me chamo Miiko, líder da Guarda de Eel. – pelo tom autoritário, a Miiko não foi com a cara de Emiery (nem eu a suporto) – É Emiery, correto?
– Sim. Emiery Mikléas Nitorida, ao seu dispor.
– Apenas por curiosidade: qual era a sua relação com o nosso líder da Absinto?
– Ela era minha assistente. – Emiery conseguia ser pior do que eu – Mas era sempre um desastre nos laboratórios.
– Realmente, eu não tenho jeito para a alquimia... Mas sempre soube falar muito bem!
– Por isso o Rei escolheu você como representante? – (estamos ferrados!).
– Eu mudei Ezarel... Você vai ver!
– Bom. Como vocês dois parecem ser bem íntimos... Ezarel, te deixo responsável por Emiery durante sua estadia em Eel.
– É o quê!?! – Miiko não pode estar fazendo isso comigo!
– Boa sorte pra você! – respondeu ela com um sorrisinho (aaah, Miiko...) – Com a licença de vocês, ainda tenho muito que fazer. Faça um bom trabalho Ezarel.
Vi aquela... RAPOSA, se afastar e me deixando sem saber o que fazer com aquela criatura.
– E então Zar? Vai me mostrar o muquifo para o qual fugiu depois de esconder aquela pirralha humana?
E a verdadeira Emiery aparece... – Vou Desastre. Comecemos pelos jardins que é onde já estamos.
Mostrei Eel para aquela peste que só ficava mais ou menos educada diante dos diplomatas. Questionei porque é que os membros da guarda que estavam em Lund’Mulhingar não a acompanhavam e ela me explicou que se fosse esperar por eles, só chegaria depois do baile (ainda bem que ela não se interessou em me ter como par). Ela me reclamou de fome ao final do passeio e eu a levei ao salão para comer.Cris
Depois de explicar o que foi que aconteceu àqueles dois, Anya ficou com o queixo no chão e Lance estava impassível (mas com um brilho no olhar que não me agradou). Optei por permanecer no quarto hoje.
Anya ficou a ensinar-me o resto do que podia a mim enquanto Lance lia o último livro disponível para ele se distrair (aiaiai, meu Pai...), quero dizer, isso até dar as quatro da tarde onde Kero, acompanhado de Twylda que nos trazia um lanche à pedido do Karuto, me trouxe mais duas das traduções que ele me devia (ufa!).
Kero ainda nos convidou para jantar, e apesar de não ter esse costume, aceitei seu convite. (claro, Lance não gostou!). Tomei banho e descemos, ficando Lance e Absol no quarto, e o salão parecia outra vez estar cheio. Notei que algumas garotas evitavam me olhar no salão enquanto pegávamos a comida (devem ser fãs do Nevra que ficaram sabendo daquelas duas mais cedo). A única mesa com lugar disponível para nós era a que Ezarel ocupava, acompanhado de uma elfa com cabelos azuis bem escuros e glamourosamente vestida, que me disseram ser uma das representantes enviadas para o caso das evigêneias. Estas chegariam pela manhã.
– Tudo bem se lhes fizermos companhia? – perguntou Anya com uma sobrancelha erguida para os dois.
– Sem problemas, queridinha. – respondeu ela para Anya – Meu nome é Emiery Mikléas Nitorida, representante enviada de Lund’Mulhingar, e vocês, quem são? – acho que não fui com a cara daquela mulher.
– Sou Anya, membro da Sombra. Estes são a Cris, da Obsidiana, e Keroshane, nosso escrivão e bibliotecário da Reluzente. – vi que ela nos olhava de cima abaixo.
– Prazer em conhecê-los. Sentem! – ela nos indicava e acabamos por sentar (e Ezarel se mostrava incomodado? Por quê?).
Conversamos até que mais ou menos tranquilos (é impressão minha ou essa Emiery está tomando cuidado ao falar?), mas quando Kero saiu da mesa à chamado da Miiko, as coisas começaram a mudar.
– Me diga Anyazinha, quantos anos você tem? Você me parece um pouco pequena para estar trabalhando.
– Quarenta e cinco, logo farei quarenta e seis.
– Ainda uma criança... Eel deve estar mesmo precisando de gente, para alistar menores... – ninguém disse nada – E você Cris? Quem é você em Eel?
– Apenas uma guardiã que faz o que pode por Eldarya. – respondi. Ezarel pareceu ficar branco e Emiery começou a sorrir com desagrado (sabe aquele sorriso que damos quando nos damos conta que só perdemos o nosso tempo com alguém? Foi assim que ela sorriu). Anya e eu nos encaramos de lado (essa mulher é problema...).
– Bom Zar, eu já estou satisfeita. Poderia me mostrar onde que irei dormir neste fim de mundo? – o jeito com que ela passou a falar só comprovava que era melhor ficar longe dela.
– C-claro. Vamos. – porque é que Ezarel está nervoso?
Anya e eu também nos erguemos. Ainda na despensa, Nevra apareceu e pediu para que Anya o acompanhasse por um momento (ele deve estar querendo falar sobre o tal treinamento especial. Pobre Anya...). Entramos nos corredores com aceso aos quartos juntos. Estava continuando meu caminho para o meu quarto quando aquela mulher voltou a reclamar.
– Este é o meu quarto?!?
– Qual é, Emiery. Alguns dos representantes receberam quartos piores e nem por isso reclamaram, vê se colabora!
– Qual é o quarto mais seguro desse lugar? – sei que o melhor seria apenas ir embora, mas...
– É o meu, por que. – disse a ela e Ezarel acabou por arregalar os olhos (vamos ver quem é essa criatura de verdade).
– Tudo bem se eu lhe der uma olhada? – Ezarel fazia que não por trás dela.
– Uma olhada não deve fazer mal. – Ezarel parecia desesperado enquanto Emiery sorria satisfeita – Venha! – chamei-a e ela me seguiu.
Pude ouvi-la resmungar pela distância em que o meu quarto estava de onde saímos e eu abri a porta através do código para que Lance se escondesse. Mal abri a porta e ela já saiu entrando.
– Ééé... Este é mesmo um belo quarto! Nem se compara ao que arranjaram para mim. – Ezarel e eu entramos e ela começou a sentir o cheiro no ar – Argh. Parece que você tem um canino como mascote. Detesto caninos! Vou precisar de uma poção purificadora para poder passar a noite aqui.
É o quê?? – Desculpe Emiery, mas não sei se seria uma boa ideia dividir o meu quarto com você. – falei colocando a vasilha com a comida que trouxe para o Lance sobre a mesa.
– E quem falou em dividir? Eu vou ficar aqui sozinha! – _boquiaberta_ – Pelas suas roupas, pensei que você fosse uma mera troglodita, mas parece que me enganei. Como é que uma maltrapilha consegue ter um palacete como quarto?
Meu sangue ferveu. Só não bati naquelas duas mais cedo, por conta dos insultos delas, porque Absol já havia se encarregado delas e agora vem essa zinha aí? Juntei minhas mãos frente ao rosto, pedindo forças à Deus para não estraçalhar aquela mulher.
– Olha aqui, ô PRAGA REPUGNANTE! Desmerecida do cargo que tem! Quem você pensa que é para chegar assim? Insultar-me dessa forma e ainda por cima querer me tomar o quarto sem mais e nem menos?!? – agarrei-a pelo braço enxotando-a do meu quarto (Ezarel saiu na frente) com ela me resistindo – SAIA. JÁ. DO. MEU. QUARTO!! – e bati a porta com tudo na cara dela.
ARGH!!!Lance
Pra quê que eu fui admitir que tinha ciúmes pra ela? Ela pareceu ter aceitado o convite do unicórnio só para me provocar! Demorou um tempo antes de ela retornar, e Absol resolveu dar uma saída rápida do quarto (eu espero). Quando ela chegou, estranhei ela estar acompanhada àquela hora e não gostei nem um pouco da mulher que “invadiu” o quarto (quem era aquela nojenta?).
Surpreendi-me com a ira da Cris. A última vez que a vi tão furiosa daquele jeito, foi quando lhe invadi o quarto, sendo o sanguessuga o seu alvo principal. Depois do estrondo que ela fez ao bater a porta, saí com cautela de trás do biombo e Absol retornava de uma sombra.
– Porque não respira fundo? Para se acalmar? – disse a ela mantendo a distância (de jeito nenhum que vou deixar sobrar pra mim!) e ela começou a me encarar.
– Me diz Lance, aquele seu esconderijo, o que você me forçou a acompanhá-lo sob o efeito do Lutka, Lukta, sei lá! Ele fica dentro ou fora dos muros de Eel?
– Fica dentro, por quê? – o quê ela está planejando?
– Gostaria de passar esta noite nele? – como?!?Ezarel 2
Maldição! Sabia que Emiery ia causar problemas. Agarrei-a pelo pulso assim que a Caçadora nos chutou do quarto dela e a arrastei até o quarto de antes (encarar uma segunda Marie-Anne é mil vezes melhor!).
– Mas quem aquela mulherzinha pensa que é?
– Aquela “mulherzinha”, é ninguém mais e ninguém menos que a salvação de Eldarya! Ela é quem está reconstruindo o Cristal e purificando os contaminados! Ela é quem está reconectando Eldarya! E você, acabou de tratá-la como lixo!
– Está mentindo. – ela me sorria incrédula – Você mesmo a ouviu dizendo que era uma guardiã qualquer.
– Nem todos é como você, Desastre! A Cris detesta ser o centro das atenções. – ela ainda não me acreditava.
– Quer parar de m...
– Você mesma mencionou: como é possível uma “maltrapilha” ter um palacete como quarto... Fácil, sendo muito mais do que se diz ser! – agora a ficha parecia cair pra ela. – Você, com essa sua mania de só respeitar quem é alguém, pode muito bem acabar de ter cometido o pior erro de sua vida! Ainda mais como representante de Lund’Mulhingar.
Seu rosto passou de incrédulo para preocupado, como que analisando as suas ações.
– Tá, tudo bem. Amanhã eu peço desculpas a ela. – foi tudo o que ela me respondeu.
Esfreguei o rosto pensando em uma maneira de contar aquilo tudo à Miiko, sem me ferrar demais. Quando do nada, Anya e Nevra, com expressões furiosas, invadiram o quarto.
– O quê foi que você fez, Ezarel de uma figa?!? – ameaçava-me Anya.
Santo Oráculo, o que foi que aconteceu agora??Cris 2
Aquele projeto de diva mexeu com os meus nervos. Estou quase chorando de raiva! Vi Absol retornando ao quarto com a sua umbracinese com Lance me pedindo para ficar calma logo em seguida. O esconderijo dos túneis me veio à mente.
Questionei o Lance sobre a localização mais ou menos dele em Eel, como ele me confirmou que aquele quarto ficava dentro de Eel, não haveria problema.
– Como assim, passar essa noite nele? Está planejando deixar aquela porcaria ficar aqui essa noite? – ele me questionava e eu começava a escrever um bilhete.
– Se a praga quer tanto ficar no meu quarto, tudo bem. Mas não sem consequências! – prendi o bilhete pronto na porta do lado de fora e comecei a juntar algumas coisas em minha bolsa – Duvido que não apareça ninguém querendo falar comigo depois dessa, mas infelizmente, como eles andam muito preocupados com a minha segurança, além de não me encontrarem aqui, ninguém vai saber onde passei essa noite!
– Valkyon me notará na hora.
– Não se usarmos a umbracinese de Absol para ficarmos abaixo da cerejeira. – Absol pareceu se animar com a ideia.
– Abaixo da cerejeira?? Porque não direto no meu esconderijo?
– Porque eu quero saber como chegar lá outra vez se necessário, ou você vai me impedir? – ele pareceu refletir.
– Tudo bem, eu mostro. Mas irei cobrar por isso depois!
– Se estiver no meu alcance e não ferir minhas crenças, eu pago! Vai levar alguma coisa?
– Vou vestir minha armadura, – ele já pegava a mesma – não ficarei fora desse quarto sem proteção. Também é melhor levarmos um cobertor, mesmo debaixo da terra, as correntes de ar que atravessam os túneis conseguem deixar aquele lugar frio, especialmente nessa época do ano.
– Tudo bem, eu pego a coberta. Só põe logo essa armadura para irmos.
Ele gastou uns cinco minutos para se vestir. Segurei na mão dele com receio, apoiando a outra sobre Absol. Aos poucos começamos a afundar na sombra abaixo de nós que havia se tornado mais escura. Era uma sensação estranha, fria, era como se um vazio tomasse conta do meu corpo. Fechei os olhos antes de terminar de mergulhar naquela escuridão e pensei ouvir alguém na porta.Nevra
Depois de deixar tudo claramente esclarecido para as minhas fãs, fui atrás de Anya para repassar os horários que ela teria que seguir para pagar sua punição (se eu puder torná-la capaz de enfrentar o Lance, se necessário, já será o suficiente para mim). Conversei com ela na forja, aproveitando para lhe dar facas novas, uma vez que ela destruiu a que tinha para entregar ao Lance.
Do nada, Anya quis ver a Cris uma última vez antes de eu levá-la para casa e resolvi acompanhá-la. No caminho encontramos Ezarel arrastando uma bela elfa pelo pulso, que Anya explicou ser a representante de Lund’Mulhingar, furioso (melhor não nos metermos!).
– Como estava o humor da Cris depois que deixou a enfermaria? – puxei conversa.
– Mais ou menos. Ela não parecia chateada, mas também não estava muito animada. Tem certeza que Absol não vai mais ter que se preocupar com garotas como as que ele castigou?
– Depois do que eu conversei com Ailyndria e Flora? Não creio. – nós estávamos quase no quarto dela.
– É bom mesmo. Porque não acho que Absol vai... O quê é isso?!? – Anya tirava um papel que estava grudado na porta da Cris.
Vi Anya o ler confusa, depois branca e por último vermelha – EZAREL!!!! – Ela estrondou ao final do bilhete que me entregou saindo tempestiva. Fiquei igual a ela ao lê-lo.
“Se a “representante” de Lund’Mulhingar ainda desejar passar a noite em meu quarto, tudo bem. EU NÃO LIGO! Deixei a porta destrancada, mas não pensem que não irei passar a noite onde eu desejar.
Me manterei dentro dos muros, então não precisam se preocupar comigo e nem perderem tempo me procurando. Também não adianta perguntar à Anya em que buraco que eu me escondi porque nem ela sabe onde vou estar.
Mais uma coisa, se quando eu retornar ao meu quarto, estiver faltando uma pétala de flor que seja dentro dele, A CULPA É TODA DO EZAREL! E eu vou cobrar!
Cris.”
Corri para alcançar Anya e chegamos juntos no quarto que estava reservado para a elfa em questão.
– O quê foi que você fez, Ezarel de uma figa?!? – Anya entrou dizendo.
– Do que é que estão falando? Sobre o quê se referem? – ele nos questionava.
– Sobre isso! – falei lhe entregando o bilhete que o fez ficar possesso ao terminar de ler.
– OLHA ISSO! OLHA O QUÊ VOCÊ FEZ, DESASTRE! – disse ele entregando o bilhete à mulher (que sorriu ao lê-lo?) – Vamos falar com a Miiko, antes que seja tarde. E você nos acompanha! – terminou ele segurando-a pelo pulso da mesma forma que vi nos corredores.
Para nossa sorte, Miiko estava prestes a entrar no quarto dela, facilitando para que a encontrássemos.
– Miiko, temos um problema.
– Que tipo de problema Nevra?
– Este! – Ezarel entregava o bilhete que ele mesmo tirou da mão de Emiery para a Miiko. Pela forma como a chama do cajado dela se elevou, pensei que um incêndio começaria no corredor.
– Vamos para a Sala do Cristal. – a raiva era nítida na voz da Miiko – Leiftan e Kero ainda estão lá. Anya, poderia me chamar o Valkyon e a Erika? Eles acabaram de entrar no quarto.
– Sim senhora. – e ela foi bater à porta dos dois.
– Emiery, parece que o quê me foi dito sobre você, não é tão exagerado assim... – como ela pode parecer nem dar bola pra Miiko? – Nos acompanhe, por favor.
– Qual o problema Miiko? Valkyon e eu queremos dormir... – os dois pareciam meio dormentes.
– Vamos à Sala do Cristal. Lá, Ezarel e nossa querida Emiery nos explicará o que aconteceu.
A raiva contida da Miiko assustava qualquer um. E depois de Ezarel nos contar o que Emiery havia feito então... (como aquela sgarkellogy conseguiu ser diplomata? Se bem que compará-la a eles é o mesmo que ofendê-los!).
– Você disse que havia mudado mais cedo, mas continua a mesma praga que era desde o tempo em que eu servia ao rei de Lund’Mulhingar. Como pretende resolver isso?? – todos nós tínhamos vontade de rechaçar aquela mulher.
– Acaso tem noção da real importância que a Cris tem para Eldarya? – questionava Valkyon.
– Sem falar que essa sua falta de respeito, ninguém merece. – lhe completava Erika.
– Está bem! Eu entendi! Exagerei nas palavras com ela, mas ela também teve culpa por esconder quem de fato era.
– Um diplomata de verdade não escolhe quem deve ou não ser tratado com respeito. – Kero se pronunciava – O rei de Lund’Mulhingar será reportado sobre você e suas atitudes. – ela passou a olhar Kero com desdém (mas que &@#*%!% de elfa!).
– Já falei que irei lhe pedir desculpas! Assim que ela voltar para o quarto. – todos nós a encaramos.
– Do que é que você está falando? – perguntei.
– Ué? Ela não disse no bilhete que eu podia ficar no quarto dela? Pois então, quando ela resolver retornar, falo com ela.
É a primeira vez na vida que, se dependesse do sangue de uma pessoa em específico para sobreviver, eu preferiria morrer. Essa Emiery tem veneno no lugar do sangue! – Valkyon, Nevra, Leiftan. – Miiko chamava nossa atenção – Sei que vocês três estão cansados, mas poderiam tentar descobrir onde que a Cris pode estar agora?
– Tudo bem Miiko. – respondia Valkyon esfregando os olhos.
– Anya, sabe de alguma coisa, alguma dica de onde ela poderia estar? – perguntei a ela.
– Não. – senti que ela mentia.
– Você tem certeza?
– Tenho. Quero dizer, uma vez ela me falou sobre um esconderijo, mas não soube me dizer onde que fica exatamente.
– Tentem o seu melhor, está bem!? – Miiko nos pedia e nós três consentimos. Vi Anya deixando a Sala do Cristal.
– Aonde você vai Verdheleon?
– Conferir se o quarto da Cris está mesmo aberto. – todo mundo estranhou.
– Está nos dizendo que concorda em deixar a... – Emiery erguia uma pestana para Miiko – Emiery, ficar no quarto da Cris essa noite?
– Esqueceu que Absol tem acesso livre aquele quarto? – Anya sorria com malícia – E também o que ele fez mais cedo? – todos nós que sabíamos do que ela falava, compartilhávamos do sorriso de Anya.
– Vou com você pirralha. – Ezarel se juntava a ela – Se a Desastre continua do jeito que eu conheço, preciso prevenir alguns “incidentes” naquele quarto. – e os dois saíram juntos.
Emiery tentou segui-los, mas a Miiko e a Erika a impediu. Ela ficaria esperando junto a elas até Ezarel terminar seja lá o que fosse que estivesse fazendo, e Valkyon, Leiftan e eu passamos à noite inteira procurando a Cris por cada canto do QG, sem sucesso.
.。.:*♡ Cap.59 ♡*:.。.
Cris
Abri meus olhos e reconheci as escadas da passagem da cerejeira (Sob as raízes do eterno florir...) a única coisa que tinha de diferente, era que alguns dos túneis estavam iluminados dessa vez e pude notar que havia três percursos de onde estávamos.
– Vamos logo, antes que alguém nos veja. – disse Lance me puxando para uma das direções (à nordeste do apoio...).
O caminho era uma subida até acharmos um cruzamento em que, um caminho continuava subindo, outro parecia descer, e um terceiro parecia plano. Seguimos pelo que descia (caindo, se deve seguir...). Depois, encontramos uma bifurcação que, à direita pude notar uma pedra desenhando um coração, fomos pela esquerda (no caminho indicado pelo coração...).
Chegamos no que parecia ser algumas estalagmites em uma passagem sem saída, eu vi Lance dobrar uma delas, destravando alguma coisa (selada pela falsa lança que guarda...) e permitindo que a pedra pudesse ser movida com força bruta. Entramos e ele recolocou a pedra no lugar para depois acender a lamparina (e eis a Morada do Dragão). Corri até a mesa, puxando a cadeira, para transcrever tudo o que eu fiquei repetindo sem parar na cabeça.
– O quê está fazendo?
– Anotando o caminho para se chegar até aqui... Pronto! Agora se eu quiser voltar, sei como.
– Deixe-me ver. – entreguei o papel a ele.
Tenho certeza que a intenção dele era destruí-lo assim que terminasse de ler, porém, ele se mostrou confuso ao terminar de ler – Você não disse que escreveu o caminho até aqui? Isso mais parece uma poesia!
– Eu sei. Assim não vai ser qualquer um que descobrirá este lugar por meio dele. – acho que consegui surpreender ele, e ele começou a analisar os meus versos.
– O “eterno florir” está na cara que se refere à Cerejeira Centenária, mas o que é este “apoio”?
– As escadas ué, ou vai me dizer que havia alguma outra coisa para se apoiar naquela passagem? – ele continuou a análise.
– No cruzamento descemos... Como assim “caminho indicado pelo coração”?
– Na bifurcação, havia uma pedra que tinha a forma de um coração à direita.
– Mas nós seguimos pela esquerda!
– A anatomia humana e a anatomia faery são parecidas? Pois até onde sei, o coração costuma ficar mais para o lado esquerdo!
Ele sorriu – Uma cilada de interpretação... gostei. – acabei por sorrir – A “falsa lança” deve ser a alavanca escondida entre as estalagmites e... Você nomeou este lugar como “Morada do Dragão”?
– É o que este lugar é. Não é? A morada secreta de um dragão?
Ele me sorriu aquele sorriso que geralmente me deixa louca de raiva, mas eu só revirei os olhos dessa vez, com ele me entregando o papel para eu guardar.
– Com todos esses truques, você devia estar na Sombra ao invés da Obsidiana.
– E estar ainda mais perto do Nevra!? Deus me livre e guarde! – ele começou a rir e depois começou a mexer nas caixas dele – Procurando por algo em particular?
– Apenas mais ingredientes para produzir aquela pomada muscular.
– Hum... – comecei a analisar o quarto como na primeira vez.
Tudo parecia igual, até a planta que ornamentava a mesa. A cama era meio estreita para duas pessoas dormirem, mas como o quarto era de Lance, também era dele a prioridade sobre a cama e como ele está há dias dormindo em uma poltrona... Peguei a coberta trazida e comecei a estendê-la sobre o chão ao lado da cama.
– O quê está fazendo?
– Preparando meu lugar para eu dormir. – respondi sem parar o que fazia.
– Você? Dormindo no chão?
– Não seria a primeira vez. Consigo dormir em qualquer lugar, basta que eu tenha sono suficiente! Já cheguei até a dormir abaixo da caixa de som durante um evento escolar...
– E o quê que é isso? – ai, esqueci que não estou na Terra...
– Imagine o meu not com o volume umas cinco ou dez vezes mais alto, e eu dormindo sentada bem do ladinho dele. É mais ou menos isso.
– Você é louca!
– Sou mesmo! Só não tomo remédio.Anya
A Cris largou mesmo a porta destrancada. Não demorou e Ezarel começou a pegar as coisas da Cris e enviá-las dentro das gavetas, armário e baú.
– Mas o que é que está fazendo Ezarel?
– Aquele Desastre não mudou absolutamente nada de como a conhecia. Um dos maus hábitos que me recordo dela, é de sempre pegar “lembrancinhas” de onde ela passa a noite.
– Aquela coisa ainda por cima é ladra!?
– A Desastre que eu conhecia era. Ela me disse que havia mudado mais cedo, só que eu não vi mudança alguma até agora, e depois daquele bilhete... Melhor eu me prevenir!
– Pelo Oráculo... Como ela conseguiu chegar onde está agora? – questionei entrando no banheiro para pegar a minha cópia da chave do quarto, já que a Cris não deixou nenhuma.
– No laboratório, a Desastre sempre explodia tudo, mas ela sempre foi hábil na fala e sempre conseguia escapar das punições. Não tem nada que possa interessar a ela no banheiro, há?
– Só um momento! – deixei apenas uma barra de sabonete e o papel higiênico disponíveis, o resto guardei quase tudo – Acha que ela irá se interessar por uma toalha de rosto?
– Se for de boa qualidade, é melhor esconder! – pelos deuses! Mas que criatura!
– Terminei de guardar tudo que podia interessar no armário e nas gavetas. Também peguei uma chave da porta. – coloquei minha chave na mesa sob os olhos de Ezarel – Você vai selar tudo por aqui?
– Tudo e mais um pouco. Ainda bem que você conseguiu achar uma chave, assim diminui as desculpas que a Desastre poderia fornecer. ... Acha mesmo que Absol pode resolver visitar Emiery?
– Se fez o que fez com aquelas duas mais cedo, porque é que não faria o mesmo ou pior com ela?
Ezarel sorria – Eu não devia, mas estou torcendo pra que isso realmente aconteça! – ele conferia se não havia mais nada sob o alcance da mão – Agora, me ajude a manter as “patas de veludo” de Emiery longe de tudo por aqui. Sabe criar um Selo Padlock?
– Sei.
– Ótimo. Sele os armários e gavetas, enquanto eu selo os jardins e a estante. Estes vão ter que usar uma barreira Henso.
– Quanto trabalho aquela mulher ainda vai nos causar? Ela é uma desgraça para os elfos!
– Se depender dela!? Muito mais do que os humanos que tentou nos atacar e que os contaminados poderiam nos fornecer juntos.
Ai Absol, você não poderia dar um susto em Emiery por todos nós não?Lance
Essa mulher consegue ter a cabeça mais dura que um grookhan! Tentei convencê-la a dormir na cama ao invés do chão, mas a lógica dela conseguia me superar.
– Que planta é essa? – ela mudava de assunto – Você não retornou a este lugar por um bom tempo, como é que ela consegue continuar viva?
– Se você prestar mais atenção, há uma goteira sobre ela que a rega a cada quinze minutos.
– E quanto à luz?
– As schmidtianas odeiam luz! Só prolifera bem na mais completa escuridão. Ela também produz uma substância sonífera poderosa, que pode te deixar dormindo por dias dependendo do quanto se consome de suas folhas. As flores são o antídoto e essas só florescem a cada cinco anos, com um máximo de seis por florada. Mais alguma pergunta?
– Nooossa! – ela encarava a planta surpresa como uma criança (uma criança teimosa) – É a primeira vez que vejo uma planta que não precisa de luz pra viver... Mas como é que se consegue encontrar uma delas? A luz da lamparina não lhe é prejudicial? – ela brincava com as folhas sem tocá-las.
– As flores são bioluminescente. Se for por menos de doze horas, a luz não consegue prejudicá-la, mas enfraquece seu poder sonífero...
– Uma planta com propriedades soníferas... Nos seus pertences!?
– Às vezes é útil ter um bom tranquilizante à mão. Mortos não falam sabia? – ela me arregalou os olhos por um instante e começou a mexer nos botões sem lhes encostar.
– Quanto tempo para as flores abrirem?
– Você está com sorte, acho que daqui uma semana, os quatro botões que estão aí, abrem.
– Ainda bem que agora sei como chegar aqui. Assim não perco o desabrochar delas. – ela sorria, admirando os botões.
– Falando nisso, acho que já sei o quê vou querer por permiti-la saber isso... – ela passou a me olhar preocupada.
– E... o quê você vai querer?
– Matar você não vai me permitir, mas um susto eu posso dar naquela coisa que a fez querer vir para cá, ou estou enganado? Quem era aquela mulher?
– Pra quê que você resolveu me lembrar daquela criatura!?! – percebi que ela beliscou uma das folhas mais novas antes de se afastar da mesa – Emiery não sei das contas, a “diplomata” enviada por Lund’Mulhingar. Não vou sair daqui até o dia amanhecer!
– Você não precisa sair daqui, Absol me leva e me trás com a sua umbracinese. – falei conferindo a folha beliscada (aquilo a fará dormir por quatro ou cinco horas se ela engolir), e Absol parecia me sorrir, abanando a cauda.
– Não quero saber de sangue sendo derramado. Você me entendeu? – disse ela ajoelhada de costas para mim.
– Como minha querida carcereira desejar...
A ouvi suspirar. Ela começou a fazer suas orações e eu a fazer uma nova pomada. Quando terminei, ela já dormia. Virei-me para Absol que a observava sentado.
– E então Absol, eu posso dar um merecido susto na praga de elfa que fez pouco da nossa obsidiana?
Ele se aproximou de mim como resposta. Tocou minha sombra que começou a se misturar com a dele e escurecer. Abaixei-me para poder “mergulhar” mais depressa e fechei os olhos (é bem desconfortável atravessar a umbracinese de olhos abertos). Ao reabri-los, estava de volta ao quarto, e a nojenta estava lá, de costas para mim e aparentemente irritada. Absol ficou com meia cabeça para fora da sombra, observando.Emiery
Bando de caipiras exagerados. Se aquela Cris é tão capaz como os rumores dizem, não há necessidade de protegê-la tanto assim! E ainda tenho que dar um jeito de me consertar com o rei... Maldito unicórnio!
Fui forçada a ficar com aquelas duas aspirantes de sacerdotisa por quase uma hora antes de poder entrar no quartinho da fujona. (Droga, Zar! Você tinha que lacrar tudo? Não deixou nem mesmo uma portinhola para eu dar uma olhadinha...) E como se não bastasse, ainda colocou uma barreira em volta dos pequenos jardins daqui de dentro. Não pude analisar as flores cristalizadas que estavam portando vários ovos de mascotes! (se bem que, se eu pudesse por as mãos no ovo de greifmar...).
Estava prestes a ir pro banheiro para conferir se ali eu conseguiria ter um pouco mais de sorte, quando alguém me agarrou por trás, tampando-me a boca com uma mão e pressionando uma faca em meu pescoço com a outra.
– Shhiii – sussurrava ele ao meu ouvido – É melhor não gritar! A menos que você queira que eu cometa um erro com o susto...
Ele soltou minha boca para agarrar meu braço e segurá-lo às minhas costas. Devíamos ter quase a mesma altura. Engoli seco com a faca querendo apertar minha garganta – O que pensa estar fazendo?
– Vi você irritar... Não, enfurecer uma pessoa consideravelmente importante para mim, e tenho certeza que ela não foi a única que você deixou desse jeito.
– Quem ou o quê é você? – a porta está trancada, como foi que ele entrou?
– Alguém que não devia existir, e que tem a umbracinese à minha disposição. – (Umbracinese?!?)
Comecei a sentir que iria suar frio, por isso respirei fundo – O que você quer de mim exatamente?
– O que eu quero de um projeto de estrume que você se mostrou ser? – (projeto de QUÊ?!?) – Nada. Apenas alertá-la.
– Sobre?
– Se eu souber que você provocou essa pessoa em especial só mais uma vez, só mais uma vezinha. Você vai me pagar!... – respirei fundo mais uma vez – E é melhor você não dizer nada sobre minha visita, a menos que queira que Lund’Mulhingar receba sua representante de volta, dentro de um caixão...
Senti gelo percorrer-me a espinha – Eu não vi a cara de ninguém aqui dentro.
– Muito bom. – ele começava a baixar a faca – Agora quero que você conte até dez. Devagar e sem se virar. Ou do contrário, a faca que esteve em seu pescoço, perfurará as suas costas!
Uma lágrima conseguiu me escapar dos olhos. Comecei a contar como ele pediu e aos poucos ele se afastava. Nunca me senti tão humilhada. Comecei a olhar em minha volta assim que terminei de contar. Estava sozinha outra vez (eu espero).
Umbracinese... Como é que eu vou lidar com alguém que possui um poder miserável como esse?!Lance 2
Retornamos para a “Morada” satisfeitos, mas algo não estava muito certo naquele lugar. Atrás de onde fica este esconderijo, tem um túnel com acesso direto ao lado de fora, e por isso há sempre muitas correntes frias de ar naquele túnel em específico. Neutralizando boa parte do calor da terra, principalmente no inverno (que nos bate a porta).
Aproximei-me da Cris e ela tremia. Toquei o chão próximo a ela e estava frio. Aquilo me preocupou. Conseguia pensar em vários tipos de problemas caso ela adoecesse, encarei Absol.
– Ela me fez prometer que dormiria na cama, mas não podemos permitir que ela continue no chão!
Absol pareceu entender, e espero que ela não resolva acordar antes de mim.Ezarel
Depois do dia que passei suportando aquela Emiery, que só veio para nos causar problemas, e de ter bloqueado qualquer coisa em que ela pudesse passar a mão com a ajuda de Anya, tudo o que eu queria era dormir. Uma simples e completa noite de sono.
As primeiras luzes do dia ameaçavam invadir-me o quarto quando acordei... aos gritos e caindo da cama!
– MAS O QUE É QUE VOCE ESTÁ FAZENDO AQUI!! – gritei para a Desastre que acordava aos poucos em minha cama.
– Um bom dia para você também, Zar... – disse ela com voz de sono e cobrindo as orelhas – Se mudar pra este fim de mundo te deixou meio surto por acaso?
– Não. Você não devia estar dentro do quarto da Cris? O que diabos faz em meu quarto!? Na minha cama!!
– Não quero retornar para lá nunca mais! – ela se encolhia nas cobertas – Como o unicórnio mencionou que este quarto tinha proteção contra umbracinesianos, resolvi vir para cá. – um sorriso acabou me escapando, ela deve ter conhecido Absol – Entrar aqui foi moleza! Difícil foi tentar atravessar todos os lacres que você deixou lá em cima.
– Todos aqui temem Absol, que deve ser quem você acabou conhecendo ontem. E se você não tem nenhum arranhão, quer dizer que teve mais sorte que as duas brownies de ontem.
– Do que está falando? – agora ela parece acordada.
– Ontem, – começava a me vestir longe das vistas dela – duas brownies que são loucas por um de nossos líderes, foram flagradas por Absol dando mil insultos à Cris por ciúme. Como ele não gostou, feriu o braço de cada uma como punição!
Vi Emiery engolir seco – Espero que ela não demore muito a voltar. Quero dizer, preciso pedir-lhe desculpas por ontem, não é mesmo?
– Sim! Você precisa! E eu não quero você se enviando em meu quarto Desastre! Colocarei uma barreira anti-umbracinesianos no quarto que lhe foi atribuído, para que não retorne mais aqui.
– Obrigada... Zar. – respondeu ela abraçando os joelhos.
Emiery?? Agradecendo?? O que foi que Absol fez com ela, para fornecer o milagre??
Ela se vestiu e eu a ajudei a descer a bagagem dela do quarto da Caçadora para o que seria dela. Deixei-a ajeitando as coisas enquanto ia ao laboratório pegar o que precisava para colocar a proteção. (Espero achar Anya logo. Ela pode ir removendo os lacres assim que eu lhe entregar a chave da Caçadora. Terei menos trabalho assim).
Alguns dos diplomatas, que pediram à Miiko permissão para assistir a purificação dos contaminados pela Caçadora Branca (na condição de ajudar a cuidar deles depois!), começavam a se reunir diante da Sala do Cristal, ainda selada. (Ela costuma ver o Cristal cedo, não é verdade?) Deixei as coisas para a barreira no quarto de Emiery, já a arrastando comigo para a Sala. Miiko liberava a entrada.
Mal coloquei os pés na entrada e pude sentir que a sala estava repleta daquela maana... A Caçadora voltou (UFA!!).Cris 2
Convencer Lance a me deixar dormir no chão e ele na cama, mais a conversa sobre aquela planta curiosa dele, me ajudou a distrair-me da raiva, mas ele tinha que me lembrar daquela praga?? Acabei por tirar o equivalente à meia semente de gergelim de uma das folhas daquela planta (já ia ter dificuldades para dormir por causa do friozinho, nervosa então...).
Quando Lance me pediu para deixá-lo dar um susto em Emiery, como compensação por não me destruir o poema, não pude deixar de temê-lo pela ridícula. Rezei meu terço e engoli aquele ponto de folha que mantinha na unha. Nem vi quando foi que dormi!
Acordei me sentindo mais aquecida do que esperava, mas comecei a querer suar assim que percebi como que eu dormia. Abraçava Absol que estava à minha frente, debaixo das cobertas comigo (até aí, tudo bem!), mas também pude notar que Lance me abraçava por trás, tendo apenas a coberta como divisa entre nós (calma Cris... _suspiro_ ele teve um bom motivo para lhe fazer isso. Ele TEM que ter).
– Absol... – sussurrava chamando ele – Absol acorde! – ele começava a me resmungar – Será que poderia conferir se já podemos voltar para o meu quarto? Por favor! – ele me erguia o olhar e eu senti Lance me apertar o abraço (ai meu Jesus!...) – E não demore, eu suplico! – Absol meio que me revirou os olhos e desceu da cama mergulhando.
Um imenso frio assumiu o lugar que ele deixou, e eu não sabia se queria ou não acordar o Lance para que este me soltasse (o que é que está me acontecendo meu Deus? Eu estou com medo por acaso?). Notei que ele vestia apenas os tecidos que lhe velavam pela pele sob as proteções. O tempo parecia não andar. E ficava cada vez mais agoniada com aquela situação (Absol, cadê você?...). Sentia o meu rosto queimar e minha cabeça cada vez mais confusa! Até eu o perceber acordando.
– Dormiu bem por acaso? – perguntei sem o olhar.
– Cris!? – ele levantava às pressas (mas que gelo que ficou!) – Desculpe, eu... esperava acordar primeiro. – o olhei de soslaio, ele parecia sem jeito.
– Não era para eu estar no chão e você sozinho na cama? – perguntei sem lhe mostrar o rosto (tá frio, mas ainda estou queimando!).
– O frio aqui dentro aumentou, e você estava tremendo. Não quis arriscar que adoecesse. – respondeu ele (é, é um bom motivo. Eu acho).
Absol retornou próximo à mesa, nos acenando com a cabeça um “vamos”. Juntamos nossas coisas para retornamos ao quarto e acabei por observar aquela planta mais um pouco – O frio não as incomoda? – perguntei alisando uma das folhas.
– Acaso o escuro é quente? – lhe revirei os olhos (lá vem ele com aquele sorriso... Ahff!) – Cada flor aberta dura meio inverno, eu a deixei aqui porque este lugar não consegue ficar muito quente, nem mesmo no verão.
_suspiro_ – Vamos logo, sim?
Absol nos deixou no quarto, e o sol ainda nem havia mostrado a cara (ainda são quinze para as cinco!?) E porque é que tudo parece trancafiado?
– Tudo aqui foi selado. – comentava Lance do centro do quarto, observando tudo.
– E selado pra quê? Quero poder pegar minhas coisas! Que nem estão todas no lugar... – disse mexendo no armário enquanto observava a penteadeira vazia.
Lance começou a sorrir seu pior sorriso mais uma vez, aproximando-se do guarda-roupa. Pronunciou algo que devia estar na língua original (ele vive falando aquela língua para me fazer aceitar aprendê-la com ele) e um som de estalo surgiu. A porta se abria outra vez.
– O que fez?
– Os selos utilizados aqui geralmente só podem ser rompidos por uma chave ou por quem os colocou, mas...
– Você conhece o encantamento certo para rompê-los sem precisar de uma chave. É isso? – e lá vinha aquele sorriso outra vez... _inspira, ..., expira_– Pode removê-los todos para mim? – pedi gentilmente.
Ele removeu todos os lacres do guarda-roupa (onde encontrei o que devia estar sob a penteadeira), da penteadeira, do baú e do banheiro. Os “escudos” sobre a estante e os jardins, ele disse que só era possível removê-los com a chave certa.
Comecei a massagear o lado da cabeça (Emiery e Ezarel me devem explicações).
– Vou para a Sala do Cristal. Tem pressa com o desjejum?
– Leve o tempo que quiser. – ele estava impassível observando à janela – Não vou morrer por esperar alguns minutos a mais ou a menos.
– Como desejar.
Deixei-o sozinho (Absol já sumiu de novo!) trancado no quarto e desci. A sala estava selada, mas não havia problema pra mim. Entrei e as primeiras luzes da aurora podiam ser percebidas lá dentro. Comecei a refletir sobre tudo o que eu teria de encarar, no mínimo, hoje e decidi adiantar o meu terço de hoje (pois vou precisar de toda a paciência do mundo...).
Estava nas orações finais quando alguns faerys (reconheci um ou outro como parte dos diplomatas presentes em Eel) começaram a entrar na sala. Eu os observava através do reflexo no Cristal (acho que estão fascinados com o Cristal). E pude ver claramente a expressão de alívio da Miiko ao me ver.
– Aonde que você estava Cris? – perguntava ela após eu concluir minhas orações – Te procuramos por tudo que é lugar!
– Pensei ter escrito no bilhete que deixei, para que não perdessem tempo me procurando... Acaso Emiery desistiu de ficar no meu quarto? E porque é que tudo dentro dele estava trancado?
– Para prevenir alguns maus hábitos de uma certa elfa, que parece ter recebido a visita de um certo guardião. – Ezarel surgia com a praga a dois passos atrás dele e com cara de assustada.
– Emiery conheceu Absol? O black-dog que é meu guardião? – ela me encarou de olhos escancarados quando eu disse “black-dog” (não, não foi Absol que ela conheceu ontem...) – Ele te fez alguma coisa Emiery?
– N-não. Absol... não me fez nada. Eu... Sinto muito por tudo que lhe disse e pela forma que lhe tratei ontem. – ela fazia uma reverência – Não devia ter feito o que fiz, por favor, me perdoe.
– Contanto que esteja sendo sincera agora... – ela pareceu estremecer (acho que não sente é nada!) – Por mim tudo bem.
– Obrigada. – disse ela aliviada, com Ezarel a olhando desconfiado.
– Quer que eu deixe a sala para que possa ter a sua reunião, Miiko? – voltei-me à kitsune.
– Que reunião? – ela me perguntava.
– A que você terá agora. Não é por isso que estão entrando vários diplomatas na sala?
– Ah! – agora ela os observava (o quê está acontecendo?) – Eles não estão aqui para fazerem parte de uma reunião.
– Não? – ela negava com a cabeça.
– Eles estão aqui para assisti-la. – disse ela (hein!?) – Eu pensei em te avisar depois do banho se alguém, não a tivesse feito sumir no QG. Todos eles querem ver como que você ajuda os faerys contaminados.
– Miiko, – não gostei muito da historia – eu não sou nenhuma “atração de circo”! – eles me olhavam sem entender – Porque não me questionou sobre isso antes?
– Ninguém aqui vai te ver como um espetáculo Cris... – Erika chegava acompanhada de um obsidiano e de Nevra, esclarecendo tudo a todos.
– E será que a senhorita poderia nos dizer onde é o “buraco” em que você passou essa noite? – Nevra perguntava.
– Eu conto se você me disser TUDO o que é escondido de mim, que tal? – falei brincando, mas notei um nervosismo nos olhos de alguns (pera, eles estão mesmo me escondendo algo?).
– Hum... Deixe pra lá então... – Nevra me jogava charme – Descubro sozinho. – ele me sorria.
– Enfim Cris, – Erika retomava – todos eles desejam saber como que é feita a purificação por você. E todos se prontificaram de ajudar a cuidar deles e de você, para poderem assistir.
– Ainda assim... – coçava a nuca – Mesmo sabendo que quando o faço, não dou bola pra nada, em meu íntimo, eu não me sinto confortável...
– Eles só desejam saber se há uma forma de eles mesmos tratarem de seus contaminados, – dizia Emiery – para que não tenham a necessidade de trazê-los a Eel e assim sobrecarregá-la.
Não fui a única a parecer surpresa com aquela mulher.
– Me diz Miiko, – era Erika de novo – podemos autorizar o Valkyon a mandar os contaminados para cá?
– Mas nem café eu tomei ainda! – retruquei.
– Com licença senhorita, – um senhor negro de olhos azuis como o céu e que parecia ter de 2m a 2,5m de altura se aproximou – aceite isso como desjejum. – ele me estendia uma garrafa com um líquido branco-róseo furta-cor – Sei que a ajudará bastante.
Eu peguei a garrafa observando o líquido e depois o cheirando (um cheiro meio doce, meio ácido). Absol apareceu do meu lado, surpreendendo alguns. Mostrei-lhe a garrafa e ele me assentiu para beber. Provei finalmente.
Não me lembro de provar nada parecido! Ora de gosto forte, ora de gosto suave, lembrando frutas cítricas e garapa. Deixei quase um terço da garrafa sem beber – Muito obrigada senhor! Isso é uma delícia! Tudo bem se eu deixar o resto pra mais tarde?
– Sinta-se à vontade minha cara. Alegra-me saber que o eliksir agradou o seu paladar. Sou Dono, um dos representantes de Afurika, e sou um aziza. Ouvi muitas coisas sobre você, espero poder conversar-lhe em algum momento.
– Estou lisonjeada senhor Dono. Mais uma vez, obrigada. – ambos nos reverenciamos. Ele se afastou para o fundo da sala e eu entreguei a garrafa para Absol (ele já sabe o que fazer) que sumiu logo depois. Miiko autorizou a trazida dos contaminados em seguida.
Mal se passou quinze minutos e o Cristal de meu colar começou a reagir (eles chegaram). Valkyon, Shiro, Réalta, Jamon, Leiftan e mais alguns membros da minha guarda os traziam. Tratei de dois em dois até chegar no sétimo. Os que estavam presentes pareciam impressionados com tudo. Aquele tal de eliksir realmente me ajudou. Estava exausta, mas se eu recebesse apoio, conseguia andar. Fiquei observando aqueles ex-contaminados serem atendidos e levados.
– Agora eu entendo porque eles se preocupam tanto com você. – Emiery, sentava ao meu lado – Você fica bem vulnerável ao final desses tratamentos.
Procurei ficar neutra – Sim, mas isso depende do número que eu ajudo.
– Aposto que você se aproveita desse estado para conseguir o que quiser de todos eles.
– Se eu fizesse isso, não seria eu.
– Qual é? Se você quisesse poderia ser a líder de toda a Eldarya com o poder que tem.
– Não tenho vocação e muito menos desejo de ser líder de ninguém Emiery.
– Está me dizendo que não iria querer ter todos lhe servindo!? – ela me sorria desacreditada.
Eu a olhei com seriedade – Emiery. Eu não sei se você sabe, mas... Um REI só é rei, se ele tiver um povo para segui-lo. Mas um POVO não precisa de um rei para continuar sendo um povo. – seu sorriso morria – O bom rei, é aquele que usa a sua coroa para SERVIR, e não para ser servido. – ela pareceu refletir minhas palavras após ouvi-las. Shiro me observava e eu fiz sinal para ele.
Ele se aproximou – Precisa de ajuda com alguma coisa? – ele olhava torto para Emiery (deve estar sabendo como ela me tratou ontem).
– Pode me ajudar a chegar à cozinha ou então em meu quarto?
– Claro! Por favor. – ele me estendia a mão que eu segurei firme para poder me levantar, e ele me ajudava a andar. Emiery ficou para trás.
.。.:*♡ Cap.60 ♡*:.。.
Anya
Ontem eu fiquei preocupada. Não comentei a ninguém, mas tenho certeza que a Cris foi para aquele tal esconderijo nos túneis (que outro “buraco” ela conhece?) arrastando o Lance junto, ou do contrário não consigo pensar em nenhum outro lugar para ela desaparecer e deixar o quarto liberado para aquela... Desastre. Ezarel não podia ter escolhido definição melhor para aquela criatura! Tanto que minha mãe me mandou evitar a... Emiery, quando expliquei à ela o porque de eu estar nervosa ao chegar em casa.
Quando retornei ao QG de manhã, vi o pessoal carregar mais sete contaminados para receberem tratamento da Cris (ela já voltou finalmente?!), entrei na grande sala e um imenso alívio se apoderou de mim ao vê-la já fazendo o trabalho dela.
Ezarel me chamou de lado assim que me notou, entregando-me a minha chave e pedindo para que eu removesse todos os lacres que havíamos colocado no quarto dela. Fui pra cima correndo! (Com a Cris não vai ser possível agora, mas com Lance poderei ter explicações). Entrei com ele observando pela janela com uma garrafa vazia na mão.
– Onde é que vocês estavam passando a noite?
– Bom dia elfinha. Ficamos na “Morada do Dragão”. – (Hein!?) ele sorria com a minha confusão – Foi assim que a Cris resolveu nomear o meu esconderijo nos túneis.
– Então eu estava certa. Vocês realmente foram para lá.
– E que outro lugar ela teria para ir e sumir de todos? – o ignorei. Fui até o armário para começar a liberar tudo e estranhei a porta abrir na hora – Já removi os lacres dos armários, baú e penteadeira. – o encarei espantada (como ele fez isso??) – Só faltaram esses campos de força que só saem com a chave. Selaram tudo aqui dentro por quê?
– Segundo Ezarel, Emiery tem péssimos hábitos. Nós dois fizemos isso por prevenção. – expliquei me aproximando das barreiras que faltavam (ele facilitou meu trabalho! E também me deixou alerta sobre alguns encantamentos que são inúteis contra ele).
– Só espero que a nossa conversa a faça repensar como se comportar diante da Cris.
– Do que é que você está falando? – ele me contou sobre a visitinha que ele fez à Emiery enquanto a Cris dormia na tal Morada. Suei frio ao me imaginar no lugar daquela sem noção (será o suficiente para ela aprender bons modos?).
Um moço, portando uma bandeja de comida, chegou logo depois.Cris
Primeiro Shiro quis me levar à cozinha para comer algo, mas um rapaz que estava sendo obrigado a servir como ajudante do Karuto (alguma punição, pelo o que entendi), já carregava uma bandeja com comida nas mãos que era para ser entregue em meu quarto, ou seja, pra mim. Mudamos o percurso para o meu quarto, com o rapaz da bandeja indo na frente, pois ele havia sido avisado por Ezarel que Anya já estaria lá.
Shiro ainda se ofereceu para me carregar em seus braços e assim chegássemos mais rápido, mas eu rejeitei (de jeito nenhum que darei motivos para Emiery me perturbar). Demoramos, mas chegamos com Anya me arrumando a refeição.
– Até que fim! Miiko já lhe questionou sobre onde você estava Cris? – Anya me perguntava.
– Acho que ela nem nos viu saindo da sala. – explicava Shiro me ajudando a sentar (já vi que Lance está de cara feia. Sério mesmo que ele tem ciúme?).
– Muito obrigada Shiro por me ajudar. É... você já pode ir agora, Anya me faz companhia.
– Tudo bem. Descanse bastante Cris. – lhe sorri em agradecimento e ele saiu com Anya fechando a porta.
– Este brownie não está um pouquinho atrevido não? – Lance reclamava, se aproximando da mesa.
– Bebeu o que Absol lhe trouxe? – o questionei enquanto sentava e comecei a olhar pelo quarto – E onde ele está agora?
– Deixou a garrafa e sumiu. Deve estar explorando ou patrulhando. Onde conseguiu eliksir? Essa bebida é muito rara!
– Um aziza chamado Dono me ofereceu para que eu pudesse cuidar dos faerys contaminados.
– Dono? – esse ciúme ainda me vai ser um problema...
– Ele é um dos diplomatas que vieram à Eel... – Anya explicou.
– E acaso a “purificação” deles agora virou apresentação? – dizia ele com aquele sorriso que detesto.
Expliquei a ele sobre os ocorridos de hoje na Sala do Cristal. E em contrapartida, lhe questionei sobre o quê ele havia feito com Emiery (será que o estremecer dela mais cedo era de temor e não de arrogância?).
A comida de Karuto me ajudou bastante (ainda bem que estou dividindo ou eu vou virar uma bola se ele me mandar esse monte de comida sempre!) e resolvi descer para saber em quê eu podia ajudar sobre o baile, já que Anya tinha o tal treino especial com o Nevra. Lance ainda me lembrou para não aceitar nenhum convite para ser par (ainda bem que eu não comentei sobre o pedido de dança do Nevra...).
Lá embaixo, todo o QG parecia ocupado. Aqueles que não estavam cuidando dos diplomatas ou dos contaminados, cuidavam da segurança e das decorações. A decoração deles era semelhante às decorações de natal: guirlandas e festões de ramos de pinheiro (ou uma planta parecida); enfeites de laços, flores e frutos; grandes velas brancas que seriam acesas durante a festa; e também alguns incensários que pareciam estarem sendo colocados em lugares estratégicos. Fui dar uma olhada no salão. Lá o lugar já estava arrumado com cortinas, toalhas de mesa, mais guirlandas e um corre-corre na cozinha com os pré-preparativos de amanhã. Não quis atrapalhar. Saí da Torre.
Do lado de fora, o mercado já estava completamente enfeitado. E muitas casas do refúgio também! Seguindo para os jardins, notei que a festa se estenderia para eles. Tudo estava sendo decorado: o quiosque, as colunas, as fontes, os bancos. Luzes coloridas, que pareciam vivas, eram liberadas sobre as plantas, e elas lembravam vaga-lumes pela forma com que rodeavam os arbustos que observava próxima à cerejeira.
– Bonitas, não é? – uma elfa de pele cinzenta (mais escura que a de Ewelein) se aproximava por trás de mim.
– Muito. O quê elas são?
– São lunduris, um pequeno feitiço de três dias que dizem atrair a felicidade. – disse ela sorrindo.
– Lindas... E você é?... Não me lembro de tê-la conhecido.
– Sou Visa, uma das novas recrutas da Sombra. É normal que não tenhamos sido apresentadas ainda Cris. – ela me estendia a mão para apertá-la e o fiz.
– Todos me conhecem, mas eu quase não conheço ninguém... _suspiro_ Chega a me ser estranho.
– É um pequeno preço da fama, não concorda?
– Ter fama é perder sua liberdade. Não estou muito interessada nesse tipo de coisa.
– Compreendo o quê quer dizer. A fama às vezes pode ser sinônima de problemas ao invés de benefícios. – a malícia estava estampada na cara daquela mulher e senti um calafrio.
– Eu... vou ver se encontro o meu chefe, o Valkyon. – disse me afastando dela – Até outra hora, Visa.
– Até! – respondeu ela num sorriso e tom gentil e eu retornei quase correndo para o QG (mas quem é ela??).Nevra
– Vê se sonha menos e se concentra mais! – disse para Anya que escapou por um triz de perder um pedaço do corpo. Pela terceira vez...
– Eu sei que fiz algumas coisas que não devia, mas no final elas acabaram nos beneficiando! Porque é que você está tentando me matar com esse seu treino maluco?
– Porque eu quero que você seja capaz de se defender de qualquer um! Agora levanta e continua! E não se esqueça que você ainda tem que afiar todas as lâminas de nossa guarda na forja.
– Pensei que você havia prometido a minha mãe cuidar de mim como uma irmã ou uma filha...
– Não é porque eu prometi isso a ela, que irei pegar leve com quem não é capaz nem de me enfrentar direito. – me aproximei bem perto do ouvido dela para sussurrar-lhe – E se você precisar enfrentar o Lance? O verdadeiro?
Ela esbugalhou os olhos – E-eu acho, que consigo me virar...
– Só se virar não é o bastante. Temos um longo caminho se quiser proteger todos aqueles que ama Verdheleon.
– Tá, já entendi Becola! – retomamos o treino.
Continuamos nos enfrentando por mais uma hora antes de pausarmos – Me diz Anya.
– O quê... você quer... Becola... ? – ela ofegava no chão.
– Como é que a Cris estará vestida amanhã? – Anya começou a me olhar desconfiada.
– Pra quê é que... está me perguntando isso? – ela se levantava aos poucos.
– Curiosidade...
– Terá de descobrir sozinho.
– Não posso ao menos receber uma dica?! – Anya pareceu refletir.
– Amanhã eu vejo o que posso lhe dar como dica, mas agora... – ela começava a se afastar – como você mesmo disse, tenho trabalho a cumprir na forja.
– Ei, Anya, espera!
– Tchauzinho, Chefinho! – e sumiu escadas acima.
Bom, eu só tenho que encontrar a Cris antes que ela esteja com alguém. Espero conseguir fazê-la falar alguma coisa durante a nossa dança.Leiftan
Os diplomatas e os contaminados desviaram bem a nossa atenção sobre a Cris, praticamente ninguém percebeu a saída dela, e quando a Emiery disse que ela havia saído para o quarto ou para a cozinha, ficamos um pouco desconfiados (ela saiu por conta da exaustão ou por conta de algo que ela disse?).
Miiko me mandou procurá-la e buscá-la, pois aqueles que haviam assistido à purificação efetuada pela Cris tinham muitas perguntas para ela. Primeiro fui ao salão onde nem a encontrei e nem Karuto sabia dela. Foi um dos novatos que estava sendo obrigado a ajudar na cozinha como punição do Ezarel, que me disse a ter encontrado a caminho do quarto. Segui para lá e lhe bati a porta sem resposta. Com a possibilidade de ela estar dormindo, olhei pela fechadura e não havia ninguém sobre a cama vazia (_suspiro_), voltei a procurá-la.
Não a encontrando dentro do QG, fui para fora. Alguns me disseram a ter visto meio que procurando por algo e um ainda a viu retornar para o QG (mas ela é boa em sumir, hein!). Fui para dentro novamente e a encontrei no Salão das Portas falando com alguém na porta das escadarias que levam ao porão (e consequentemente à prisão).
– Desculpe, mas ele não estava lá. – ouvi Shakti lhe falar – E de acordo com os guardas, ele deve estar na Sala do Cristal agora.
– Hum. Tudo bem, obrigada pela ajuda... Shakti? É isso o seu nome?
– Exatamente, dona Cris. – ele me avistou – Algum problema senhor Leiftan?
A Cris se virou para mim quase que assustada – Não, nenhum Shakti, pode fazer o que tem pra fazer. – ele saiu e voltei-me para a Cris – Estava à sua procura, Miiko e os demais ainda têm o que conversar com você.
– Sobre a minha fuga ou sobre os contaminados?
– A fuga é algo que resolveremos em particular mais tarde... – ela fazia careta – O assunto são os contaminados mesmo Lys.
– É Cris e não Lys. – ela me pareceu irritada por um instante – Você nunca errou meu nome antes. – começamos a nos encaminhar à Sala do Cristal.
– Eu não errei. – falei com ela me erguendo uma sobrancelha, desconfiada – Alguns dos diplomatas não conseguem pronunciar seu nome corretamente, por isso eles decidiram por lhe conceder um título: Lys de Eldarya.
– E o quê, isso significa? – ela congelou no lugar ao perguntar antes de adentrarmos a sala.
– É melhor não saber agora. – disse-lhe gentilmente, mas ela não parecia disposta a se acalmar.
– E porque não? – eu tentava fazê-la entrar – Não me movo até me responder. – (bem que Anya nos contou que ela podia ser teimosa...) respirei fundo.
– Lys, significa luz. Como você fica um pouco nervosa com algumas coisas, a Miiko achou melhor não lhe explicar isso agora. Como é semelhante ao seu nome, pensamos que talvez você não se importasse muito. – ela suspirava, revirando o olhar.
– Prefiro que me digam na cara a me esconderem as coisas. – (até mesmo se for ordem do Oráculo?) – Vamos acabar logo com isso. – ela ia entrando e eu lhe segurei o braço por um instante.
– Só uma coisinha...
– O que é Leiftan?
– Não diga à Miiko que eu lhe contei isso, já sabe como ela é.
– Contanto que ela não me pergunte nada...Cris 2
Decido encontrar o meu chefe e encontro o Leiftan no lugar. Descubro que recebi um título (espero que ao menos sirva pra ajudar a esconder um segredo que só confiei à duas pessoas) e sou obrigada a responder um mar de perguntas que não sei explicar sobre a purificação dos faerys contaminados. Perguntas que continuaram até mesmo durante o almoço! Mas essas estavam um pouco mais pessoais e com menos gente.
Ainda bem que alguns dos diplomatas que me enchiam de perguntas estavam sobre o efeito de poções ou nem todos teriam acreditado em meus olhos e em minhas palavras. A rainha evigêneia estava presente nessa reunião, acompanhada novamente do Kyrius, Siece e mais cinco sereias, sendo dois tritões entre elas, e dos cinco três eram nobres e parentes de Margaritári (estes acabaram me presenteando com uma pequena joia cada um, como agradecimento por ter encontrado o tesouro deles. Aiaiaiaiai...).
Como ainda aparecia um ou outro contaminado (atraídos pelo Cristal...), Miiko me pediu para que eu “evitasse rezar” (COMO é que se faz isso?!?) até o baile ter acabado. Reforçou que eu não teria que tratar de nenhum contaminado amanhã e mais tarde declarou folga para todos os guardiões com menos de dois meses na guarda (no meu caso, a folga era dos treinos, pois só estaria liberada da segurança amanhã depois da primeira metade do baile).
Fiquei jogando conversa fora com várias pessoas durante a tarde, além de ter conversado um pouco com alguns dos ex-contaminados que eu tinha ajudado e que se recuperavam muito bem segundo a Ewelein. Notei que aquela elfa, Visa, de mais cedo parecia me seguir. Acabei recebendo mais dois pedidos para par no baile que recusei (e ainda bem, Lance só faltou quebrar o copo que tinha em mãos quando lhe contei ter recebido mais convites).
Com o amanhecer do grande dia, acordei cedo como sempre, mas acho que metade do QG passou a noite em claro de ansiedade. Tinha gente demais terminando os últimos preparativos da festa que teria início por volta das cinco da tarde. Ajudei no que pude em relação à festa, até dar a hora de eu me arrumar para ela. Eram umas três quando retornei ao meu quarto para isso.
– Pelo menos hoje você tem que admitir que esses seres estão abusando de você! – Lance reclamava mais uma vez enquanto eu terminava de me arrumar no banheiro.
– Eu consigo enxergar através de qualquer poção que alguém tente usar diante de mim, qual é o abuso em usar esse dom para prevenir fraudes?
– E você vai ter que acompanhar a kitsune incendiária até terminar de cumprimentar cada faery presente em Eel. Tem ideia de quantos faerys costumam se reunir nesses eventos? Ainda mais com representantes de tudo que é canto participando também.
– Olha Lance, se isso me ajudar a me manter longe do Nevra esta noite, eu não ligo nem um pouco.
– O quê o sanguessuga tem a ver com essa historia? Você já não vai coberta para poder se esconder dele?
– Sim, mas ele pode acabar seguindo o meu cheiro. – deixava o banheiro finalmente com ele de costas para mim, entrando momentos depois.
– Duvido sobre ele a encontrar assim, um incenso especial é liberado após a cerimônia de boas vindas do solstício e ele atrapalha o olfato de qualquer um. Quanto mais apurada a capacidade, mais prejudicado fica o usuário. – explicou ele enquanto eu me maquiava com uma sombra e um batom claro.
– Disso não fui avisada. Vou aproveitar para pedir a todos que não o ajudem a me encontrar depois que eu remover o casaco. E por sinal... Pode me ajudar a vesti-lo? – disse após terminar de colocar a máscara, o leque e as pulseiras dentro dos bolsos internos dele. O ouvi bufar, mas ao finalmente me ver arrumada, ele pareceu ter ficado surpreso comigo – Qual o problema?
– Você... está bonita. Muito bonita. – disse ele meio corado.
– Obrigada. – elogios sinceros dele é algo que eu não espero... – Vai me ajudar? – eu estendia de leve o casaco nas mãos, que ele pegou sem me desviar o olhar. Acho que acabei corando. – Obrigada Lance. Você... realmente não vai poder sair, vai? Mesmo com todos usando máscaras, né?
– A menos que alguém dê um jeito na percepção dragônica de meu irmão, não. – e lá vem aquele sorriso...
– Certo, vou indo então. – parei um instante em frente da porta – Tem certeza que não quer que eu lhe envie quitutes da festa?
– Vá de uma vez para que aquela líder volátil não venha te procurar!
– Ok! Tchauzinho!
Deixei o Lance e comecei a descer. No caminho acabei encontrando a Miiko (não é que ela foi mesmo me procurar?) vestindo o que parecia ser a mistura de vestido chinês com quimono, preto e roxo com flores e joias magenta e azul.
– Belo casaco! A máscara está escondida dentro dele ou debaixo do capuz?
– No bolso. Não vou me arriscar a fornecer dicas para o Nevra. Fiquei sabendo que os incensos liberados atrapalham os de olfato apurado, é verdade?
– Oh sim, é verdade sim. No quesito segurança não é algo lá muito assegurado já que ajuda a esconder todos de todos. Mas vamos de uma vez. Quanto mais rápido confirmamos todos os participantes, mais rápido nós duas poderemos desfrutar do baile. – disse ela já me arrastando pelo braço (quanta ansiedade!).
Começamos primeiro averiguando todos os que participariam da segurança para garantirmos que não havia impostores entre nós, e depois passamos a cumprimentar os convidados para a festa. Pude encontrar de tudo durante esse momento. Sereias, lobisomens, fadas e ninfas (ainda não entendi direito a diferença entre elas, fisicamente falando), nekos, brownies, azizas, anões... Até titãs eu pude conhecer! Enxergava os imensos gigantes em seus tamanhos naturais com um vulto lhes denunciando onde de fato eu tinha que olhar à minha frente.
– Uau! Sabia que você ia dificultar as coisas para mim, mas não pensei que fosse tanto!
– Olá para você também, Nevra. – disse para o vampiro espantado com o meu casaco que só revelava o meu rosto e nada mais.
– Posso saber o que deseja Nevra? Ainda não terminamos de “cumprimentar” todos. – questionava a Miiko à ele.
– A Erika me pediu para avisá-la que já está tudo pronto para a cerimônia do solstício e Cris, posso ao menos saber que cor está escondendo debaixo desse preto?
– Boa pergunta! Que cor será que eu estou escondendo...? – vi a Miiko segurar o riso e Nevra me sorria com charme.
– Você vai ver. Eu vou ter a minha dança.
– Boa sorte! – disse a ele que se afastou em seguida.
– De que dança ele falava? – Miiko me olhava maliciosamente.
– Prometi uma dança a ele se ele conseguir me encontrar sozinha durante o baile.
– É por isso que está pedindo a todos que, se o Nevra perguntar por você, não é para ajudá-lo?
– Exatamente por isso... – disse suspirando. Continuamos os cumprimentos por mais alguns minutos (que me pareceram horas!) e aparentemente estavam todos limpos.
Fomos todos para a Sala do Cristal onde seria efetuada a cerimônia, pressentida pela Miiko, junto de Erika, Huang Hua e mais duas mulheres que também serviam como sacerdotisas em suas respectivas terras. Fiquei bem no fundo da sala, escondida de todos e sem ninguém me perceber, retirei o casaco (que abandonei junto à coluna em que me escondia) e coloquei a máscara e os demais acessórios. Foi uma cerimônia interessante, com cânticos, ritos e uma espécie de procissão até os incensários e velas espalhados por Eel. Acendida a última chama instalada nos jardins do QG, o baile estava oficialmente iniciado.
Aproveitei que já estava do lado de fora mesmo e comecei a admirar as lunduris que ficavam cada vez mais bonitas de acordo o sol desaparecia. Encontrei-me com Dono e Siece no parque, onde conversamos um pouco (mais precisamente sobre a minha experiência como evigêneia. Acho que vou seguir o exemplo da Erika nesse caso... Sereia somente uma e única vez!) e depois os deixei. Continuei meu passeio. Havia alguns músicos no quiosque e fui até a cerejeira que parecia ainda mais bonita com o pousar da noite. Pena que o vento frio conseguiu me forçar a querer entrar...
Fui direto para o salão, já estava com fome – O que temos de guloseimas para este baile Karuto? – perguntei ao sátiro que pela primeira vez vestia muito mais que um avental. E um avental pra lá de limpo!
– Ora, ora, ora! E não é que temos mesmo uma rainha aqui!
– Não exagera Karuto! – falei meio sem jeito – Estou vendo pães doces, bolos, alguns embrulhinhos, sanduíches...
– Além de frutas, chocolates, sucos, ponche, vinho quente e outras delícias que preparamos com todo o carinho e amor. – completou-me Twylda, que trajava um vestido azul simples muito bonito e a máscara pendurada ao pescoço, contrastando com o kilt e o colete de Karuto – O quê quer que lhe sirvamos?
– Tirando as bebidas alcoólicas, aceito de tudo um pouco!
– Hehehe, melhor tomar cuidado, ou a sua gula vai te denunciar para os outros. Soube que você anda pedindo ajuda para se esconder daquele vampiro.
– Prometi uma dança a ele se ele conseguisse me encontrar sozinha. – os dois riram de leve – Falando em esconder... Cadê a sua máscara Karuto?
– Bem aqui! – disse ele baixando a bandana que se revelou na verdade ser uma máscara estilo Zorro.
– Bem esperto Karuto. _sorriso_ Mas como você e a Twylda vão aproveitar o baile trabalhando na cozinha?
– Temos pausas de uma hora a cada duas trabalhadas. – explicava Twylda – Nós dois não somos os únicos trabalhando na cozinha.
– Entendi. Bem! Vocês se importam de eu comer agora? – eles riram mais um pouco e me deram uma bandeja com uma unidade de cada prato e sentei-me à mesa mais escondida que achei.
Ainda estava comendo quando Valkyon e Erika entraram no salão e a percepção de meu chefe denunciou-me para eles. Eles me perguntaram se havia problema em eles se juntarem a mim na mesa e eu não me importei. Erika foi atrás da refeição para eles enquanto Valkyon aguardava comigo, totalmente inquieto.
– Qual o problema? – perguntei à ele.
– Como?
– Porque é que está tão nervoso!? Aconteceu alguma coisa? – ele deu um sorriso amarelo e começou a olhar na direção de Erika que esperava pela comida antes de retirar uma pequena caixinha de um dos bolsos.
– Depois de descobrir a verdade sobre o Ritual de Maana, me dei conta que não tratava a Erika como ela merecia por isso... – ele abriu a caixinha revelando um anel prateado com um coração lilás (que tipo de pedra será?) rodeado por brilhantes – Você veio da Terra assim como ela, acha que ela vai gostar?
– É Lindo! Quando pretende pedir a mão dela?
– Daqui a pouco, na cerejeira. Encomendei este anel assim que chegamos de Memória e só me foi entregue hoje de manhã. Purriry teve dificuldades em encontrar uma pedra que fosse da mesma cor dos olhos de Erika. Realmente espero que ela goste. – disse ele guardando o anel.
– Se ela não o quiser, eu quero. – vi Valkyon me arregalar os olhos – Roxo é a minha cor favorita, se alguém perguntar, apenas digo que vi, gostei e comprei no leilão. Mas duvido que a Erika não o aceite. Não depois de tudo que eu vi entre vocês dois.
– Obrigado Cris.
Apenas lhe sorri e Erika chegou em seguida. Permaneci com eles até a minha comida acabar, depois deixei o salão e fui à Sala das Portas que havia sido transformada em salão de dança. As músicas tocadas era algo entre o clássico e o medieval. Eu não era boa de dança e como não tinha par (e por favor meu Pai, que o Nevra continue não me encontrando) sentei-me em uma cadeira meio escondida de todos.
– Será que o meu par me daria à honra de uma dança?
Senti meu coração saltar pra garganta ao reconhecer a voz por trás de mim.Lance
“Muito bem, agora é a sua vez de se arrumar.” – disse a Negra surgindo do nada, dois minutos depois da Cris ter saído.
– Mas do que é que você está falando? E eu pensei que iria me deixar em paz!
“Eu disse que se ela aceitasse o seu convite, eu o deixaria em paz até o dia do baile. Ou seja, hoje!” – esfreguei o rosto com uma das mãos para me acalmar.
– O que você quis dizer com “me arrumar”?
“Não é óbvio? A Cris aceitou seu convite. Vá fazer companhia a ela na festa!”
– Com quê roupa? – perguntei com ironia (e se eu descer, o Valkyon me acha!).
“Absol!...” – foi só ela chamá-lo para ele sair de debaixo da cama arrastando tecidos, kits de costura e outros itens. Ela abriu o baú, pegando os últimos pergaminhos trazidos por ele, colocando-os sobre a mesa. Estava pasmo – “Sobre as roupas, você irá criá-las com alquimia, incluindo disfarce. Sobre seu irmão... Minha irmãzinha querida deu uma mexidinha nos incensos acessos hoje. Desde que você se mantenha do lado da Cris, é claro.”
– Eu não quero ir. – falei seco.
“Nesse caso, me diz, o quê você prefere que aconteça? Nevra dançando com a Cris e lhe arrancando algumas informações sobre você, ou ela se apaixonando por alguém nessa festa?”
– É o QUÊ!? – ela me sorriu – Isso é alguma piada?? Não aceito nenhum dos dois!
“Pois fique sabendo que a Cris aceitou dançar com ele se ele a encontrar sozinha. E há um grande clima romântico lá embaixo...”
Respirei fundo, refletindo sobre todos os possíveis danos que sofreria – Ela não me disse nada sobre dançar com o sanguessuga.
“Do jeito que você tem se mostrado ciumento? Que garota contaria!?”
Quis matar a Negra, já que não podia fazer isso com a Cris ainda. Dei-me por vencido e comecei a trabalhar nas roupas (ao menos se preocupou com as cores...).
“Não vejo a hora de a Cris lhe ver lá embaixo.” – ela se divertia.
.。.:*♡ Cap.61 ♡*:.。.
Nevra
Após terminar de ajudar com os preparativos da cerimônia, Erika me pediu para encontrar a Miiko e avisá-la. Não esperava encontrar a Cris completamente coberta daquele jeito, terei um belo desafio depois que o incenso for queimado para encontrá-la. Concluída a cerimônia e começado o baile, comecei a minha “caça” por ela, sem deixar de aproveitar algumas flores que encontrava no caminho. Achei estranho todo mundo só me responder que não sabiam dela ou que quando a viram estava com um enorme casaco preto lhe ocultando por inteira (ela pediu ajuda a todos?!?).
Avistei uma bela dama de verde e preto que supus ser uma ninfa d’água pela estatura e cabelos levemente azulados, passeando tranquila perto do quiosque (porcaria de incenso. Só posso confiar em meus olhos e ouvidos agora). Resolvi tentar a sorte com ela.
– Boa noite “Rainha da Noite”, importasse de me fazer companhia por alguns momentos?
– Mesmo com o Karuto sempre me chamando de “rainha”, não acho que eu possa ser comparada a uma tulipa negra Becola...
Só pode ser brincadeira – Anya?!?!
– Irmã do Cendoc que eu não sou. E... se meu pai descobre que você esteve paquerando a filha menor de idade dele...
– Nem brinque com isso! Não há um faery em toda a Eldarya que não conheça a fama de seu pai! – “o Elfo Berserker”... ninguém é louco de lhe cruzar o caminho quando enfurecido! – E não sou totalmente culpado, graças a esse incenso não lhe reconheci o cheiro, sem falar que a forma com que está vestida a deixa parecendo uma mulher e não a mocinha que entrou prematura em minha guarda. – ela sorriu com meu último comentário.
– Me diz Chefinho, que flor você usaria para resumir a Cris?
– Bom “botão” Anya, a Cris é uma mandrágora. Uma flor de grande poder místico e capaz tanto de tranquilizar quanto de enlouquecer uma pessoa, e... Estava tentando encontrá-la pelos colares dela ou pelas contas de Ovira, mas nenhuma mulher parece usá-los.
– A Cris não é tonta. Mesmo nunca tirando aqueles colares, ela os colocou por baixo das roupas para que você não os usasse para identificá-la. E quanto às contas, ela me disse que as usaria no tornozelo e pela mesma razão dos colares.
Ajeitei os cabelos. A Cris foi mais esperta do que eu esperava. Foi aí que me lembrei – Ontem você me prometeu uma dica para que eu possa encontrá-la... Dá pra me dizer que dica é essa? Todos estão agindo contra mim!
– Eu não sei... Não quero que a Cris fique brava comigo... – fala sério.
– Qual é Verdheleon!? Qualquer dica serve! Quando a vi junto da Miiko, ela usava um casaco que a escondia de cima abaixo!
– Hum... ainda assim... – ela está testando a minha paciência...
– Façamos o seguinte: você me dá essa dica, e eu modero o seu trabalho com os equipamentos da Sombra. – pelo sorriso de canto, ela com certeza estava relevando.
– Tá, tudo bem. – (ótimo!) – Com quantas mulheres você já falou hoje depois do baile ter sido iniciado?
– Uns 10% delas, por quê?
– Jura que vai diminuir meu trabalho com os equipamentos?
– Se cumprir com a sua palavra, cumprirei com a minha.
– Ok. O vestido dela é predominantemente azul.
– Quase dois terços das mulheres estão usando azul hoje!... – disse sorrindo nervoso.
– Ótimo! Você só terá que confirmar estes dois terços! Quantas de azul você já consegue eliminar da busca?
– Umas 35... De 1000! Isso que você me falou nem é uma dica direito!
– Mas foi o senhor mesmo que disse que qualquer dica servia... – disse ela toda inocente... Ahff! Ela está parecendo mais um purreko!
– Tudo bem, eu me viro. – (mas você me paga Verdheleon).
Deixei Anya quase rindo para trás e passei a me concentrar nas mulheres de azul. Uma vez ela comentou que gostava de sua aparência natural então, qualquer mulher que não tivesse os cabelos castanhos cacheados podiam ser tiradas da busca também. O que me reduz a umas quinhentas mulheres. Muito obrigado evigêneias!
Eu conferi o jardim inteiro, e lá ela não estava. Voltei para a torre. Conferi todos os lugares em que ela poderia usar para se esconder de mim: o porão, a enfermaria, a Sala do Cristal e até o salão, onde o Karuto estava de pausa com o par dele em algum canto do QG e os que estavam em seu lugar, não tinham visto a Cris ali (tenho certeza que o Karuto sabe onde eu posso encontrá-la...).
Mesmo já limitando bastante a minha busca, parecia que tinha voltado para a época em que a Cris estava vivendo na floresta. Ô mulher difícil de encontrar! Resolvi fazer uma pausa na pista de dança e como não queria dançar com ninguém ainda, busquei os lugares mais reservados. E adivinha quem eu acabei encontrando ao desistir de procurá-la (se eu soubesse, teria parado que vasculhar Eel há mais tempo!).
O problema, é que eu acho que a encontrei tarde demais...Cris
– Eu pensei que você havia tido que se descesse aqui, o Valkyon te achava! – questionei Lance me erguendo da cadeira furiosa e ocultando os lábios com o leque, falando em voz baixa.
– Recebi um aviso de que eu tinha como fazer companhia ao meu par, contanto que não me afastasse de você. De quem, ainda não posso lhe dizer. – senti o sangue me subir. Observei-o de cima abaixo.
– E de onde tirou essas roupas? E essa máscara? E que névoa é essa envolvendo seu cabelo? – ele vestia o que parecia ser um fraque vitoriano preto e vermelho, com uma máscara de dragão na cara (não vou negar, ele está bonito).
– Eu mesmo as fiz. Absol escondeu material para produzi-las e foi ele quem me trouxe direto para cá com a umbracinese. – ele apontou com o polegar para a sombra das cortinas – Entre os pergaminhos havia uma receita capilar que usei para ajudar a me disfarçar. Nesse momento, meus cabelos estão longos e negros, mas não é assim que você os enxerga, não é?
Tentei respirar fundo (essa droga de sorriso infernal... se não fosse por isso, ele estaria lindo!) ou do contrário iria chamar atenção indevida – O quê você quis dizer com “desde que não se afaste de mim”? Mesmo me escondendo, seu irmão me descobriu no mesmo instante!
– Por isso que não posso me afastar de você! Há algo de diferente nos incensos usados hoje... Ficar perto de você só me ajudará a confundi-lo.
– Ai meu Senhor Deus...
– A Miiko não lhe pediu para “evitar” de rezar? – ele realmente ama me provocar!
– E acaso você deixa!?Lance
“Hahahahaha! Foi ainda melhor do que eu esperava! Hahahahahaaha!” – rolava no ar a Negra após vermos a reação da Cris quando apareci ao seu lado do nada (e se eu soubesse que conseguiria provocá-la tanto, teria enrolado menos lá em cima).
– Você já comeu? Porque não buscamos uma agua para você se acalmar?
– Não me provoque mais, por amor ao que lhe for mais sagrado, eu te peço!
– Sabia que me divirto quando você fica desse jeito? – falei lhe acariciando o rosto que corava.
“Tenta pegar leve! Olha quem está aí.”
– Finalmente consegui encontrá-la! – o sanguessuga se aproximava (justo agora?) – Mas quem é o seu acompanhante? Ao que soube você negou todos os convites que lhe foram feitos.
– Bom, eu... – a Cris começava a ficar branca. Senti a Negra envolver minha garganta com as mãos (o que pensa estar fazendo??)
“Apenas fale normalmente. E lembre que não dá pra mentir para o Nevra!”
– Foi um convite condicional. – falei não acreditando na voz que saiu de mim. Parecia uma mistura das vozes de Fáfnir, Valkyon e da minha mãe, causando espanto até na Cris. Me mantive tranquilo – Nenhum de nós dois esperava que me fosse realmente possível participar do baile.
– Ah é? E o quê que aconteceu? – o sanguessuga desconfiava e a Cris parecia procurar por algo na sala.
– Acabei recebendo ajuda. Só isso. – (some logo!).
– Nós já nos conhecemos?
– Talvez. Eu tiraria minha máscara se você tirasse a sua, mas... O costume é retirar a máscara apenas para o seu par durante o baile. Ou assim que o sol surgir, anunciando o fim da festa.
– Infelizmente você tem razão.
– Ahm Nevra,... – a Cris nos interrompia – Aquelas mulheres, que parecem olhar para cá com ódio, não são membros do seu fã-clube? Não seria melhor passar a dar atenção a elas ao invés de interrogar o meu par? – nós dois viramos o olhar para onde ela olhava e ela parecia certa – E mais. Caso elas não sejam o suficiente, dê uma olhada na mureta à frente da biblioteca! – Absol e Shaitan pareciam nos observar com cara de poucos amigos (se manda de uma vez sanguessuga!!).
Nevra ficava cada vez mais sem graça, de acordo a Cris lhe apresentava motivos para nos deixar sozinhos – É... Realmente é melhor eu os deixar agora... – ele pegou a mão dela e lhe beijou (...) – Mas na próxima conseguirei minha dança, bela dama.
Ela ficou parecendo uma maçã de tão vermelha (parece que não era mesmo piada...).
“Eu avisei. Não avisei!?”
– O quê ele quis dizer com aquilo, Cris... – sussurrei ao ouvido dela, lhe envolvendo os braços. Ela engoliu seco.
– Primeiro; pare de me tratar como posse. Não sou propriedade sua! Segundo; não tenho porque lhe contar tudo. Mas já que Nevra começou, ele me pediu uma dança no dia que Absol puniu aquelas duas que me insultaram pelas costas e eu lhe disse que, se ele me encontrasse sozinha, eu aceitava dançar com ele uma vez. O que não aconteceu. E terceiro! O quê você fez com a sua voz??
Nos encaramos por um instante. – Acredite. Eu falei normalmente. – ela é mesmo complicada de lidar quando irritada – Porque não tomamos um pouco de ar fresco? Assim nós dois ficamos mais calmos. – disse lhe cedendo o meu braço e ela pareceu ficar sem saber o que fazer. Tomei o braço dela e começamos a caminhar para fora.
Lá fora pude notar que outra vez a Negra não parecia ter tentado me enganar. Havia casais casais demais para o meu gosto nesse ano espalhados por Eel. Chegamos ao quiosque e pensei em ir para a Morada e assim escapar de todo aquele namorico, mas a Cris me impediu.
– A cerejeira não, por favor.
– E porque não.
– Não quero interromper o seu irmão.
– Do que está falando?
Ela me explicou enquanto íamos à direção oposta (até que fim ele tomou atitude!). Me senti vigiado por um instante enquanto ela falava, mas não notei ninguém que parecesse nos seguir. Paramos no parque onde começou a nevar. Ela, que antes estava toda nervosa, agora mais parecia uma criança, encantada com os pequenos flocos de gelo que começavam a cair.
“A música combinada com esses cristais caindo a favorece bem, não concorda?” – (realmente, ela fica mais bonita nesse ambiente... Mas o quê é que eu estou dizendo? Cai fora de uma vez Negra!) – “E quem é que vai lhe disfarçar a voz outra vez?” – detesto quando ela está certa (apenas finja que não está aqui, ok?) – “Hihihihihi.”
– Você nunca viu neve de perto, não é verdade? – disse chamando-lhe a atenção.
– Não. Esta é a primeira vez que vejo neve. Não há neve onde eu vivia.
– Você morava em uma região subtropical de seu país e que por mais frio que faça, nunca neva. Lembrei direito?
– Exatamente... ATHIM! Você lembrou direitinho... ATHIM!
– Vamos entrar. Consigo pensar em mil inconveniências caso você venha a adoecer.Cris 2
– Tudo bem, vamos entrar... – eu realmente queria aproveitar mais aqueles flocos de neve, mas mesmo Absol tendo me enchido de tecidos ao escolher minha roupa, não foi o suficiente para encarar o frio que estava por vir.
Me senti sem jeito outra vez quando ele me ofereceu o braço para caminharmos juntos até o QG. Lá dentro, passamos no salão para tomarmos algo quente, onde outra vez a voz de Lance ficou estranha. Twylda e Karuto me pareciam bem felizes, e seguimos para a pista de dança. Ficamos em um canto mais isolado e a música tocada no momento me parecia uma valsa.
– Posso ter o pedido que lhe fiz mais cedo atendido agora? – sussurrou ele ao pé do meu ouvido, causando-me arrepios.
Me virei para ele – Do que é que você está falando?
– Daquilo que o vampiro não conseguiu. – ele me estendia a mão (ai) – Graças a mim. – (esse sorriso Nãão...).
– Não sei dançar direito.
– É só me deixar guiá-la que ficará tudo bem. – falou ele já me pegando pela cintura e me fazendo arder em calor com isso.
– Não reclame se eu pisar no seu pé! – ele só sorria mais e eu, corava mais – Eu avisei!
– Tente relaxar um pouquinho. – ele pegava em minha mão ao mesmo tempo em que já começava a me guiar – Ou podem acabar desconfiando. Se bem que parece que já há alguém de olho em nós dois...
Acabei engolindo seco – Fala do Nevra?
– Não é ele. Ele sabe ser bem mais discreto.
– É quem então? – comecei a olhar ao nosso redor – E por quê? Por minha causa ou pela sua?
– Você está bem convencida, não acha? – voltei a me concentrar nele.
– O que você quis dizer? – perguntei quase parando de dançar. E ele sorria aquele sorriso detestável outra vez.
– Você está bela, mas não divina. – lhe desviei o olhar dele irritada – E só aqueles que falaram com você depois de remover aquele casaco e eu sabemos que você é você neste baile. – ainda estou irritada com a forma com que ele me diminuiu e não sei o porquê – Qual é, olha para mim!
Eu o olhei pelo canto dos olhos da forma mais fria que podia. Isso lhe pareceu diminuir o sorriso.
– Eu não passo de uma bateria pra você, não é? – (o que eu estou dizendo?).
– Como assim? – ele me prestava mais atenção.
– Sou só uma fonte de energia e abrigo pra você. Você não está nem aí para o que sinto ou deixo de sentir. E, aliás, por quanto tempo ainda tenho que suportar suas provocações e suposto ciúme? – (sério. Qual o problema comigo?) seu rosto ficou sério, quase inexpressivo.
– Sinto muito.
– Oi?
– Por magoá-la. – acho que estou ouvindo coisas... – Acho que já alcancei 70% do meu poder original. Mais algumas semanas e poderei lhe deixar em paz se é o que deseja.
Meu corpo entrou no modo automático. Não sabia no que pensar ou falar! Estava em choque com ele. Principalmente com o que ele fez depois de me observar naquele estado por alguns instantes: um beijo.
Foi no canto do rosto, próximo à boca. Aquilo fez meu coração disparar e senti que começava a suar por causa dele. Continuamos dançando em silêncio por um tempo, com a minha mente a mil! E quando paramos, comecei a sentir do nada um enorme sono.Lance 2
“Mas você tinha que irritar a menina, não é?” – (não enche, Negra!) eu não esperava que ela se importasse com o que penso dela assim. Tá certo que eu só venho a perturbando desde que lhe invadi o quarto e raras vezes eu fui gentil com ela. Mais por autopreservação do que por consideração – “Ela realmente gostou do seu elogio mais cedo, antes dela descer. Você tinha que chateá-la agora? Fazer a noite dela lhe deixar um gosto ruim na boca?” – (está me dizendo que ela ficou irritada porque eu insinuei que há mulheres mais bonitas que ela?) – “Não está na cara!? Até o Nevra seria mais cavalheiro que isso!”
Desculpei-me com ela, além de lhe responder as perguntas, mas não pareceu que ela melhorou depois disso (o que há com ela agora?...).
“Sua mente travou.” – (e por quê?) – “Porque ela está entrando no mesmo barco que você!” – (do que é que está falando Negra?) – “Quando você for sincero consigo mesmo, vai entender...” – ela sorria com malícia (Argh!).
Passei a observar seu rosto por um momento. Os olhos que brilhavam confusos e os lábios entreabertos sem saberem o que falar enquanto não parávamos de dançar. Nem me dei conta que a estava beijando no rosto. E muito perto da boca... (Negra??...).
“Não olhe pra mim! Você agiu sozinho e... Parece que isso a agradoôou...”
Me afastei e a vi corada. Não ficaria surpreso se eu também estivesse assim (ainda bem que a máscara me esconde bem o rosto...). Pude ouvir a Negra rir baixinho próxima de nós depois desse pensamento. Continuamos dançando por mais um tempo e paramos um pouco depois de finalmente parar de me sentir observado. Nos sentamos e comecei a observar um pouco a nossa volta para ver se encontrava alguém familiar que pudesse me ter deixado aquela sensação, sem sorte. Nem Absol ou outro mascote estava a vista naquele salão. Ao me voltar de volta para a Cris, a Branca lhe tocava a nuca e a Cris pendia para frente.
(O quê sua irmã está fazendo Negra?) – “Já chega de baile pra ela. Está na hora de ela ir para cama, mas você a deixou elétrica demais para poder dormir sozinha. Minha irmã só a está relaxando!” – olhei de novo para a Cris (pois eu acho que ela já está relaxada demais!) – “Aaah, não reclame! Apenas a leve direto pro quarto, está bem?”
Lancei lhe um olhar irritado e fui atrás de ajudar a Cris a andar. Precisei segurá-la firme para que ela não caísse dormindo. Isso quando não parecia querer dormir em cima de mim! Estávamos perto das escadas para subir quando uma elfa negra se pôs em nosso caminho.
– Aonde vocês estão indo? – ela nos sorria com o olhar concentrado na Cris.
– Estou a levando para o quarto, como bem pode ver.
– Seu par é a Cris, não é mesmo? – não gosto dela.
– E se for?
– Eu a estava procurando. Preciso levá-la até um lugar. – ela me parece meio nervosa mesmo com a expressão calma.
– Que lugar?
– Não posso dizer. – isso me é estranho... Tentei manter meu disfarce.
– Como você se chama?
– Visa, por quê?
– Bom Visa, a menos que você precise de óculos, entenderá que ela não está em condições de acompanhar ninguém. – (suma de uma vez!).
– É você que não entende. Eu preciso levá-la até um certo lugar! Ééé, uma ordem da Miiko! – estava mais que nítido que era uma mentira.
– Até mesmo a Miiko a mandaria pro quarto se visse a Cris assim. – porque é que ela não desiste? Isso não me agrada.
– Ainda assim. – ela avançou sobre uma das mãos da Cris – Eu preciso lev... – lhe segurei um dos pulsos com quase toda a força que podia conter.
– Vou lhe dizer só mais uma vez. – ela tentava soltar o pulso que eu segurava firme afastando-a de meu par – A Cris, NÃO. IRÁ. COM. VOCÊ! Fui claro agora?
– O que acontece? – nós dois nos viramos para trás de mim, onde a sereia alada que fez amizade com a Cris estava – Há algum problema entre vocês?
– Não sei ao certo. – respondi soltando o pulso da Visa (sorri ao vê-lo roxo. Mais um pouquinho de força e o teria quebrado) – A elfa diante de nós insiste em levar a Cris para algum lugar que não deseja revelar, sendo que ela não está em condições de perambular por aí.
Siece observou a Cris de cima abaixo, percebendo que ela me fornecia cada vez mais dificuldade em mantê-la em pé – Né. Ela precisa é de uma cama e não de um passeio. Eu ajudo o senhor a fazer isto.
– Mas... a Miiko... – retrucava a Visa (vai insistir na mentira?).
– Acabei de me separar da Senhora Miiko. – a sereia lhe dizia lhe causando espanto – Sei que ela concordará com nós dois sobre essa decisão. Agora, retire-se gynaíka!
Visa nos olhou com uma imensa fúria contida no olhar. Tanto que não ficaria surpreso se ela decidisse nos atacar para poder fazer o que queria, mas ela apenas foi embora sem olhar para trás.
Siece me ajudou a levá-la e para ajudar a disfarçar, pedi para que ela abrisse a porta com a chave que a Cris mantinha por baixo das roupas. Ela o fez. Colocamos a Cris deitada na cama juntos e passei para a janela enquanto Siece lhe retirava os sapatos e os ornamentos.
– Quem é essa Visa? – a sereia me perguntava.
– Eu não sei. E achei estranho o seu comportamento. – respondi.
– Pragmatiká. Também achei estranho. Não acho uma boa... ideia, deixá-la sozinha por enquanto.
– Eu posso lhe fazer companhia. – a sereia me encarava – Você disse que tinha acabado de se separar da Miiko, acha que ainda pode encontrá-la no mesmo lugar para alertá-la sobre isso?
– Posso tentar. Mas... Deixá-la a sós com um ándras?
– Te dou minha palavra. Mesmo sendo um homem não irei tocá-la sem que tenha seu consentimento. Enquanto ela estiver dormindo, você pode ficar tranquila. – ela me encarou por alguns momentos – Acha mesmo que eu teria conseguido ser aceito como par dela se ela não confiasse em mim?
Acho que isso lhe bastou. Depois de cobrirmos a Cris com uma coberta, Siece se retirou do quarto e eu fechei a porta. Esperei a sereia se afastar para poder trancá-la. Removi minha máscara, colocando-a sobre a mesa. Ao olhar outra vez para a janela, vi a Negra de frente a ela, olhando pela janela de punhos fechados. Isso... foi inesperado.
Me aproximei da janela para conferir o que tanto incomodava a Negra e notei um movimento incomum do outro lado dos muros (mas o que é que está acontecendo?).
“A terceira possibilidade...”Trajes usados para quem estiver curioso
Anya
Cris
Lance
Miiko
Não criei nada para os outros porque estava com preguiça. E ainda usei e abusei do photoshop nessas aí em cima! Só a Cris que já tinha tudo.
.。.:*♡ Cap.62 ♡*:.。.
Anya
Eu ainda tentei convencer minha mãe a participar da festa, mas ela estava determinada. Sem meu pai, sem festa pra ela. Ooo Oráculo...
Me arrumei e outra vez ela começou a chorar ao me ver vestida, mas me questionou o cinto com as minhas novas adagas presas nele. Expliquei que no dia da minha “aventura” com a Cris no acampamento dos humanos, enquanto eu me equipava para ficar protegida, eu tinha visto um cinto grosso de metal que cobriria quase todo o tronco; como ele pesava e eu queria ter mais mobilidade, não o coloquei mesmo com minha intuição me mandando vesti-lo. Resultado: fui atingida bem onde o cinto me protegeria. Tive a mesma intuição quando vi minhas adagas, e eu que não ia cometer o mesmo erro outra vez!
Na hora minha mãe queria que eu tirasse, mas depois de minha explicação e, após me observar com mais atenção, ela preferiu que eu as mantivesse para que elas me servissem como “espanta interesseiro” (ela se recusou a explicar...) e para garantir que nada daquele tipo viesse a se repetir outra vez.
Durante a festa, fiz questão de me manter longe da Cris para reduzir ainda mais as chances do Chefinho conseguir achá-la. Graças ao vestido, muitos dos que me conheciam acabavam chocados ao me descobrirem por trás da máscara. Enganei até o meu chefe! (se bem que, depois da dica que dei a ele sobre a Cris, acho que ele vai querer vingança) Havia outras dicas que eu podia dar à ele, mas dizer para ele seguir “os sinos” (aquelas pulseiras eram bem barulhentas) ou procurar por leques ia facilitar demais para ele, por isso tinha que ser algo que lhe complicasse.
Notei que Cupido parecia ter passado por Eel, tinha bastante gente namorando pelos lugares. Comecei a me entediar até a neve começar a cair (maravilha!). Atravessei o portão para poder aproveitar os flocos sem preocupar-me com nada (até o Becola me chamou de mulher, não vou agir como criança antes do sol nascer diante dos outros).
O chão já começava a assumir uma camada branca quando comecei a perceber algo estranho próximo à floresta. Fui até um dos guardas do portão para avisá-los e ele apenas fez um sinal para os colegas que seguiu para outros, e para mais outros.
Um assobio rápido me fez saltar para trás. Uma flecha vinda da floresta quase me acertou.Lance
– Terceira possibilidade? Mas do que é que você está falando Negra? – Voltei a olhar pela janela.
“Se você ficasse preocupado, ela também ficaria e a espiã desconfiaria.” – espiã? (que espiã?) – “Você se sentiu vigiado lá embaixo não foi? Pois saiba que era alguém que tinha a Cris como alvo. E você a atrapalhou bastante!”
– Não me diga que essa tal espiã era a elfa que queria levá-la... – a Negra apenas assentiu com a cabeça, sem desviar o olhar sério da janela – Eu devia ter a matado!
“Não, não devia. Mortos não falam sabia?”Anya 2
Eu não sei que grupo é esse que resolveu nos atacar, e muito menos o porquê de estarem fazendo isso, mas ainda bem que resolvi ouvir minha intuição dessa vez, sem falar do treino absurdo que o Chefinho resolveu me dar como punição. Mal escapei daquela flecha e esses loucos partiram pra cima da gente.
Um ponto positivo em ser o Almir e não o Lance a estar naquela prisão: eles pareciam surpresos por estarmos aguardando o ataque de alguém. Até a Guarda Mascote estava mostrando do que era capaz! (Esmeralda, por favor, tome cuidado...)
Eu devia ter corrido para dentro por falta de experiência (todos os inimigos pareciam mais velhos do que eu), mas resolvi enfrentá-los ao invés de evitá-los. Sou de menor, mas sou uma guardiã! Eu até que estava me saindo bem contra quem vinha pra cima de mim, só que o cara que eu estou enfrentando agora é complicado (bem que o Chefinho disse que eu tinha um longo caminho...).
Ele era tão rápido quanto eu e estava difícil conseguir feri-lo. Me preocupei mesmo quando acabei escorregando em um pouco de neve. Era a chance dele. A chance de acabar comigo. Pude ver claramente o sorriso que ele dava por causa dessa brecha, mas... que foi substituída por espanto e confusão. Uma espada lhe atravessava o peito.
– O que pensa que está fazendo com a minha Estrelinha? – não acredito!
– Papai! – me ergui para abraçá-lo enquanto ele removia a espada do inimigo.
– Minha Estrelinha... Que saudades... – ele me abraçava forte como sempre – E que mocinha mais linda! Sua mãe não exagerou nas cartas.
– Papai... Como me reconheceu? E não era pro senhor chegar mais tarde? – ele riu.
– Esqueceu que elfos Natlig são capazes de enxergar a aura dos seres vivos? Mesmo que eu ficasse séculos longe de minhas estrelas, NUNCA que eu esqueceria o brilho de vocês. – vi um kajit se aproximar por trás de meu pai – E quanto a eu conseguir chegar mais cedo... – meu pai girou a espada na mão e atravessou o kajit antes mesmo que esse tivesse oportunidade de fazer algo, sem sequer ele olhar para trás, como se estivesse espantando um mosquito – ...Tive um sonho. Uma voz me avisou que se eu não chegasse em Eel antes do sol nascer, perderia minhas estrelas. Ainda bem que lhe dei ouvidos e corri para cá! Não suportaria perdê-las por conta desses miseráveis... – olhei para trás já com minhas adagas em mãos ao ouvir um rosnar, ferindo o braço da criatura que tentou me atacar como o kajit tentou com meu pai, e caiu no chão. Meu pai deu um assobio – O que tem nessas adagas!?
– Veneno paralisante. Não dá pra interrogar um morto.
– Bem pensado. Vou tentar me conter para termos mais opções. – ele guardava a espada. Acho que vai usar os punhos, mas ainda assim...
– Com a fama que o senhor tem, acho bem difícil conseguir isso! – disse sorrindo.
– Se você continuar dentro dessa confusão, realmente não irei. Entre agora. E nós temos muito o que conversar, novata da Sombra. – (vish!... estou encrencada!).
– Ah, papai! – chamei-o antes de nos afastarmos – Pro senhor saber, a mamãe se recusou a participar da festa hoje sem o senhor! – ele deu uma forte gargalhada e partiu pra cima dos inimigos, ainda mais determinado.
No caminho para dentro, encontrei o Chefinho lutando, só que... no que é que ele estava concentrado?Nevra
Estava de boa conversando com um trio de moças, quando me chega a informação de que algo está acontecendo do lado de fora. Mal me separei daquelas rosas e começo a ouvir o som de metal se chocando (estamos sob ataque?? De quem?). Corri até a entrada. Atravessando o portão, vejo que quem nos ataca é um grupo de faerys mascarados do tipo sombrio, aparentemente liderados por um ankou. Pela forma de lutar deles, eles com certeza não esperavam que estivéssemos tão preparados (se bem que estávamos esperando por um dragão e não um grupo mercenário).
O plano de segurança que criamos estava sendo aplicado. Todos os guardiões visivelmente armados enfrentava quem ameaçava Eel e os que estavam escondidos entre os convidados, evacuavam todos os civis para dentro do QG. Me juntei à batalha.
Do outro lado do muro, apesar dos inimigos estarem surpreendidos com a nossa resposta eficaz ao ataque, eles se mostravam determinados a seguir em frente. O que mais me surpreendeu foi ver os mascotes lutando junto de nós! E ao que pude notar, com Absol lhes dando apoio, pois eles atacavam protegendo os nossos, saindo e entrando nas sombras (eles também haviam se preparado? E cadê aquele black-dog?).
– Me apresento humildemente às sombras. – acabei conseguindo ouvir em meio aquela luta (de onde vem isso?) – Falhei em meu dever e por isso não mereço viver. – era uma voz feminina sem dúvida, familiar, mas aonde ela está?
– Digas em que falhastes e talvez tenhas uma esperança. – agora é uma voz masculina, mas onde estão!?
– Eu deveria trazer o alvo para fora, – (que alvo?) – para que a capturássemos mais facilmente, mas fui impedida. – não consigo encontrá-los e meus adversários não me dão trégua para procurá-los.
– Carrega algum tributo?
– Informação. – de que tipo? – Seus próximos, seus dons e suas rotinas.
– E seus segredos? – isso tudo já não é informação demais não?
– Não pude obter. Aquele que recebi como chefe ao me infiltrar me impediu de lhe invadir o quarto. – que se infiltrou? Temos espiões entre nós?
Continuei procurando por eles de acordo lhes acompanhava a conversa e continuo não conseguindo por conta dos ataques lançados contra mim – Há como ainda o adquirirmos?
– Não. Ela está no quarto agora. Mais segura que o próprio cristal de Eel. – ela? Mais segura que o Cristal! O alvo deles é a Cris?!?
– Pegue. Retorne para a Noite e se apresente ao Mestre. Como a guarda sabia de nós?
– Eu não sei senhor. Todos faziam alto sigilo sobre a segurança de hoje. Traidores? – o que, há mais de um espião?
– Vamos recuar. – não! Eu ainda não os encontrei! – Se realmente houver traidores, o Mestre saberá.
Ouvi um forte assobio que ecoou por todo o campo de batalha. Os atacantes pararam de atacar na mesma hora e começaram a se dispersar floresta adentro (MALDIÇÃO!!).Miiko
Apesar de estarmos preparados para um ataque eminente, eu esperava por Lance e não por aquele grupo! Não tivemos baixas graças aos mascotes que conseguiram se manter mais ou menos seguros por causa do Absol, ele é o único com umbracinese no QG! Mas ainda assim, tivemos vários feridos, Valkyon era um deles. A enfermaria encheu e foi preciso ocupar o salão das portas e o porão para continuar os atendendo. Até os diplomatas estavam nos ajudando.
Fiquei preocupada quando soube do ocorrido à Cris, testemunhado por Siece (pensei que a Cris havia rejeitado todos os convites para par...) e senti um alívio quando me chegou a noticia de que os inimigos recuavam (Louvado seja o Oráculo!).
Resolvi realizar uma reunião de emergência na Sala do Cristal, juntando todos os líderes de cada setor, as testemunhas do início do ataque e alguns dos representantes convidados que participaram do auxílio prestado.
– Quem eram aqueles faerys? Porque é que eles atacaram Eel? – perguntava um dos diplomatas.
– Vocês definitivamente os esperavam, ou do contrário não teriam conseguido uma resposta tão eficaz ao ataque. O que está acontecendo? – uma das evigêneias questionava.
– Por favor, fiquem todos calmos! – pedia à eles – Estávamos sim preparados para caso houvesse um ataque, mas não imaginávamos que realmente sofreríamos um! Não sabemos quem eles são, mas conseguimos capturar alguns deles para que possamos lhes interrogar.
– Eles queriam a Cris. – ouvimos Nevra comentar recostado em um canto, causando preocupação em todo mundo – Eu consegui ouvir uma conversa durante a batalha. Parece que alguém, aparentemente de Apókries, tem sério interesse nela. Tínhamos um espião.
Precisei bater com meu cajado para que todos se calassem – Conseguiu ver quem era que conversava? O espião ainda está entre nós? – perguntei a ele.
– Eu até que tentei, mas meus adversários não me permitiram encontrá-los. A mulher, que ao que entendi era uma das novas recrutas, foi ordenada a retornar para a “noite”, por isso acredito que eles sejam de Apókries. E... é possível que ela não seja a única... – murmúrios começaram a se formar.
– Ewelein, Leiftan, quantos inimigos foram capturados? – me voltei para eles.
– Algo próximo de uma dúzia. – respondia Leiftan – Mas nenhum deles está em condições de ser interrogado no momento.
– Vai demorar para que o efeito do veneno das armas de Anya desapareça. Sem falar dos que foram nocauteados pelo pai dela que chegou durante a batalha. – completava Ewelein (Voronwe retornou? Mas que ótimo! E ele conseguiu deixar inimigos vivos?!?).
– Compreendo. Não deixem de me avisar quando for possível interrogá-los. Eles podem ter ao menos algumas das respostas que queremos.
– Se realmente houver outros escondidos em Eel... – um dos representantes do norte falava – Não é seguro confiar a Lys de Eldarya à Eel. Mesmo com o Cristal estando aqui! – isso não me cheia bem – Seria melhor levar os dois para um outro lugar. Mais seguro.
Essa não. Sabia que aquilo não era bom e agora quase todos os representantes começaram a querer discutir entre si sobre onde seria mais seguro deixar a Cris e o Cristal. Lancei minhas chamas acima de todos para que lhes chamasse a atenção e os fizesse calar.
– O que Rámofles sugeriu é impossível. – declarei firme e eles começavam a quererem reclamar outra vez. Estava prestes a perder a paciência quando a própria Oráculo Branca resolveu se impor.
“Esta não foi a primeira tentativa. E não será a última.” – ela parecia firme em suas palavras – “Não se esqueça de meus últimos avisos!” – terminou ela me olhando fixa para depois retornar ao Cristal.
Como todos pareceram não entender o final, expliquei que ela mesma havia avisado que a Cris não podia deixar Eel, o que os obrigou a aceitar que eles não podiam tirá-la daqui. Sobre os “ouvidos das sombras”, foi Nevra quem explicou sobre as descobertas feitas sobre o segundo fragmento e que davam crédito as suas suspeitas sobre aquele ataque ter origem de Apókries, e Leiftan explicou sobre os possíveis guardiões que ela teria aqui em Eel.
Os convencemos a manter sigilo daquilo tudo à Cris como a Oráculo pediu (ainda bem que Anya não estava entre nós e sim com a mãe dela) e combinamos que, se alguém perguntasse, o motivo do ataque era para sequestrar um dos diplomatas presentes que não seria identificado para maior segurança.
Siece nos descreveu como era a pessoa que insistia em levar a Cris para algum lugar e Nevra confirmou ser uma das recrutas que havia entrado na guarda dele. Bem na época do recrutamento _suspiro_ será bem trabalhoso identificar outros espiões... mesmo se todos tiverem se infiltrado na mesma época.
Mas, pelo oráculo, quando foi a primeira tentativa? E ainda haverão outras!? Tomara que aqueles que estão na prisão agora tenham as respostas.Cris
Acordei com o sol e Absol do meu lado. Não me lembro de ter retornado para o quarto. Ainda estava usando o vestido, porém não tinha nenhum dos acessórios que usava sobre mim. Me levantei devagar sem sair da cama.
– Como se sente? – olhei para Lance que me olhava com uma expressão preocupada ao lado da janela e com as roupas cotidianas.
– Bem. Mas o que houve? A última coisa que me lembro foi de pararmos de dançar!
– Alguém parece ter te colocado pra dormir. – (oi?!?) – Não fui eu! E aquela tal de Siece, me ajudou a trazê-la para o quarto.
– E como se livrou dela? Ela ainda está viva, não é.
– Tão viva quanto eu e você. – que alívio... – Parece que alguns loucos resolveram atacar o QG, então não foi difícil fazê-la ir embora.
– Ataque? Que ataque? – levantei-me para trocar de roupas.
– Não posso lhe responder com certezas. – a forma como ele falava isso era suspeita – Terá de perguntar aos seus amiguinhos lá embaixo.
– Tudo bem. Mas o que é que você pode me dizer sobre isso? – perguntei entrando no banheiro.
– Só que a “Guarda Mascote” resolveu ajudar na defesa. Vi Absol sobre o teto de uma das torres de vigília enquanto mascotes sumiam e apareciam no campo de batalha que foi mantido do lado de fora dos muros. Meu irmãozinho e os demais se defenderam bem ao que pude notar.
Pobre Valkyon... espero que ele tenha conseguido pedir a mão da Erika sem problemas. – Vou tentar ver o que descubro enquanto busco o nosso café da manhã. Deseja saber como está o seu irmão?
– Não é preciso. Sei que ele está bem.
– Sendo assim... – saí do banheiro direto para a porta – Volto assim que puder com a comida.
– Não demore! – o ouvi dizer depois de fechar a porta (será que ele passou a noite em claro?).
Desci. Pude notar movimento em quase todo lugar e parece que foram poucos os que dormiram. Deixava o último corredor quando alguém acabou esbarrando em mim.
– Ah, me desculpe! Não tive _bocejo_ intenção.
– Emiery?
– Oh, Cris! É você. – ela estava pra lá de desarrumada, um fiapo do que eu vi durante o baile.
– O que foi que lhe aconteceu? Você está um horror!
– Eu sei. Nem eu me reconheci quando vi meu reflexo. Passei a noite em claro ajudando no atendimento dos feridos. – ela foi “humana”? – Tinha que me redimir por meus erros... – tá explicado – E preciso confessar, ajudar todos eles foi uma experiência... diferente.
– Diferente como?
– Como você mesmo disse, estou irreconhecível. E... o que eu vivi me fez recordar de nossa conversa na Sala do Cristal. Você sabe! No dia em que assistimos a sua purificação dos contaminados.
– Ok... – espero que isso a melhore um pouquinho – Sabe me dizer por que ou quem nos atacou?
– Tudo que estou sabendo é que esse ataque foi uma tentativa furada de sequestrar algum dos diplomatas que vieram pra reunião com as evigêneias. E só! Agora, se não se importa, preciso dormir.
Lhe dei passagem e ela até agradeceu. Voltei a seguir meu caminho para o refeitório e vi os leitos improvisados na entrada (me diz que todos que eu conheço estão bem...). No salão, que estava transbordando de famintos, quase todos pareciam estar na mesma condição de Emiery (quem será que me pões pra dormir? Eu podia ter ajudado!).
– Bom dia Karuto! Bom dia Twylda! Vocês estão bem? Sobrou alguma coisa pra mim? – perguntei da bancada.
– Bom dia minha querida.
– Bom dia Rainha Cris! A guardiã mais sortuda desse QG. O seu está sempre reservado!
– Porque mais sortuda? – perguntei enquanto ele pegava um embrulho escondido em um dos armários.
– Porque você foi a única guardiã que a Miiko não quis tirar da cama para poder trabalhar e assim poupar os diplomatas que se ofereceram para ajudar. – explicou Twylda ajudando o Karuto.
– Obrigado meu doce. – ouvi direito?!? – Aqui está seu café Cris, e pela situação do salão, acho que você vai querer comê-lo em seu quarto. – ele me entregava a comida com um sorriso.
– Obrigada Karuto e... “meu doce”?!?
– Bom... é... eu... – Karuto ficava vermelho e a Twylda segurava os risos.
– É que ontem Karuto me pediu em namoro e eu aceitei! Ele ainda não se acostumou direito com a ideia.
– Meus parabéns Twylda! E Karuto também. – os dois sorriam sendo o Karuto o mais corado dos dois – E só pra vocês saberem, eu ia preferir ajudar ao invés de ter sido posta pra dormir.
– Como!? – os dois questionaram juntos e eu apenas corri para o quarto.
Dividi com o Lance a refeição formada por parte das melhores guloseimas que sobrou da festa e lhe repassei o que me foi contado sobre o ataque. Ele me pareceu se encher de ironia. O questionei sobre o que ele achava engraçado e ele só me negou as respostas com aquele sorriso detestável (meu Pai!!).
Deixei-o sozinho e fui atrás de Kero na biblioteca. Ele com certeza saberia o que eu podia fazer para ajudar naquela situação. Refleti muito sobre o que o Karuto me disse uma vez sobre eu não trabalhar como todos os outros e ele tinha razão. Não que eu não goste de ficar “à toa”, eu apenas queria ser um pouco mais útil, além de só resgatar os faerys contaminados. Fiquei irritada de descobrir que a Miiko ordenou que não me fosse repassada NENHUMA missão do quê que fosse.
Pensei em procurar Anya e fiquei sabendo que o pai dela havia finalmente retornado de sua missão. Não quis atrapalhar o reencontro. Absol sumiu quando eu ainda estava no quarto. Pensei em procurar o meu chefe ou a Miiko para que um deles pudesse me fornecer algo em que ajudar (se eu não cobrar, como vou receber?), mas eles haviam sumido. Acabei foi é voltando para a cozinha.
– Acho que a Miiko só quer que você se poupe para poder ficar mais disposta depois de cuidar dos contaminados. – Karuto dizia após eu lhe contar sobre as missões. Twylda tinha ido ao mercado para ele.
– Ainda assim Karuto, não precisa ser uma grande missão. Até ajudar na limpeza de algum lugar serviria...
– Não fique assim Rainha... – nem quis encará-lo de tão emburrada – Já sei, porque você não ajuda a mim e a Twylda aqui na cozinha? Como você é no fogão?
– No fogão? Na metade das vezes, um desastre. – o vi arregalar os olhos e eu notei a pia cheia de louça suja – Mas posso lavar a louça antes que vire uma montanha se me deixar.
– Hehe, isso seria uma grande ajuda mesmo. Todos os ajudantes extras que me foram passados por causa da reunião das evigêneias foram realocados para ajudarem a Ewelein e a segurança por causa do ataque de ontem.
– Houve... alguma baixa? – perguntei já começando a pegar no batente.
– Só do lado deles! – (menos mal...).
Enquanto cuidava daquela louça, Karuto sumia por uma porta que levava ao lado externo, hora sim e hora não. Saía de mãos limpas e retornava sempre carregando alguma coisa – O que é que tem atrás dessa porta Karuto? – perguntei ao vê-lo retornar mais uma vez – Será que eu posso saber?
– Não mostrou à ela ainda? – Twylda chegava com uma enorme cesta que Karuto correu para lhe ajudar.
– Eu meio que esqueci... Pause um pouco com a louça Rainha, venha comigo ver.
Enxaguei o sabão das mãos e o segui. Fiquei maravilhada... um jardim eldaryano secreto! (correção, um pomar eldaryano secreto). Me aproximei de todas aquelas flores lindas que eram todas do tipo comestível, quase não notei os pequenos frutos que cresciam espalhados. Sem falar nas ervas! E o lugar estava cheio de lunduris (aposto que foi aqui que o Karuto pediu a Twylda em namoro) – É lindo Karuto! Desde quando existe este lugar? Anya não me mostrou ele quando me apresentou o QG.
– Hehehe. Este lugar existe é graças a você!
– Oi?!? – me virei para ele com Twylda lhe segurando o braço e os dois me sorrindo.
– Antes, aqui só havia uma ou duas ervas que eu conseguia cultivar para não precisar mandar buscarem na floresta. – Karuto explicava – Mas depois que você chegou no QG, após uma longa conversa entre os líderes e a Ewelein que te examinou, o Leiftan foi até a caverna em que você morava e recolheu algumas amostras das plantas que cresciam lá. Parte do que você vê plantado aqui, saiu da sua caverna.
– Leiftan me comentou que tinha ido para lá, mas não me disse nada sobre esse lugar. – comentei, ainda observando tudo.
– Isso porque eles só me pediram para plantar as amostras aqui depois que eles as analisaram. Ewelein ainda aparece de vez em quando para averiguar a qualidade do que cresce aqui. E que a cada dia fica cada vez mais apto para consumo comum. Não usei nenhuma poção de crescimento aqui e todas cresceram como se eu tivesse colocado alguma!
– Deixe eu adivinhar: culpa da minha maana!
– Com toda a certeza Cris. – falou a Twylda.
Voltamos para dentro (afinal, nem a louça se lava sozinha e nem a comida se prepara sozinha, né!?) e Karuto me explicou que aos poucos estava adicionando os frutos de seu local especial no que preparava, e que apenas os líderes, Leiftan e Ewelein tinham conhecimento daquele lugar, além de Twylda e eu. Karuto ainda me contava como tudo se desenvolveu quando Ezarel apareceu no balcão.
– Ei Karuto, acaso você sabe... Mas olha só! Justo quem eu procurava.
– Procurava quem, elfo ladrão? – um riso me escapou com o jeito de falar do Karuto.
– A Cris. A Miiko está lhe chamando na Sala do Cristal, Caçadora. Largue isso aí e venha comigo.
– O que a Miiko quer de mim Ezarel? É sobre os contaminados? – perguntei sem parar de lavar a louça.
– Saberá quando chegarmos, agora vem Caçadora.
– Hum... estou ocupada. Diga a Miiko que vou assim que terminar, e se ela não estiver na Sala quando eu chegar, a esperarei por lá.
– É o quê?!?
– Você ouviu Ezarel! Mais cedo eu procurei por ela e pelo Valkyon para fazer umas perguntas e não achei nenhum dos dois. E agora que eu estou ocupada ela me procura? Mande-a esperar ou assuma o meu lugar. Não mandei tirarem a ajuda do Karuto...
Ouvi um estalar e notei que Ezarel esfregava o rosto com uma das mãos enquanto Karuto continha o riso – Valkyon foi ordenado a repousar na enfermaria hoje por causa do ferimento que ganhou ontem... – explicava Ezarel (o Valk foi ferido?!?) – ...e realmente, de manhã, a Miiko não parou em nenhum lugar por conta de todos os problemas causados pelo ataque. – e aposto que não são poucos – Se eu tiver que esperar você terminar de lavar toda a louça, isso só vai acontecer tarde da noite, por isso VENHA! – nervosinho...
– Quem vai me assumir...? – não vou dar o braço a torcer de graça.
Ele parecia cada vez mais impaciente. Vi ele procurar por alguém no salão (que pelo sorriso, encontrou) e depois seguir até uma mesa da qual retornou com um rapaz que eu já vi trabalhando com a Ewelein.
– Pronto. Hillmer lhe assumirá o lugar. Eu já lhe devia uma punição, e ajudar o Karuto até o fim do dia deve bastar.
– Punição pelo quê Ezarel? – Karuto lhe perguntava erguendo uma pestana.
– Por usar material que eu estava reservando para uma poção específica sem o meu consentimento. Agora vem Caçadora!
.。.:*✧ Capitulo especial – Amores e Amizades 2 ✧*:.。.
VALKYON e Erika
Depois que meu avô revelou o quanto que Erika estava se prejudicando em sacrifício por Eldarya, passei a refletir tudo o que já vivemos juntos e me dei conta que eu não fiz por ela nem mesmo metade do que ela merece.
Não tive coragem de conversar com ela sobre o fato dela me ter escondido essa verdade. E não era pra menos. Se Fáfnir não tivesse também avisado que a maana da Cris tinha condições de salvá-la, EU iria fazer de tudo para salvar lhe a vida (inclusive ir para Terra com ela e abandonar Eldarya se não encontrasse um meio).
Mas tomei uma decisão. Assim que nós aportamos em Eel, aproveitando que Erika seguia Jamon, que carregava a Cris não sei para onde, eu fui direto para a loja da Purriry lhe encomendar uma joia. Um anel de noivado. Purriry parecia felicíssima com o meu pedido e ainda reclamou por eu ter demorado em procurá-la para lhe fazer esse pedido (o que tenho que admitir, infelizmente). Por causa de minhas exigências no pedido ela me disse que iria demorar para cumpri-lo e me deu garantia que iria fazer de tudo para me entregar a peça antes do baile, que é quando planejo pedir-lhe a mão.
Deixei nossas coisas no quarto e fui procurar minha amada. A encontrei deixando a enfermaria acompanhada de dois enfermeiros. Perguntei à ela o porque da Cris ter sido levada daquele jeito e fiquei impressionado ao saber o motivo. Como alguns dos meus estavam próximos, pedi a eles que os ajudassem também para depois ir conferir as condições de minha guarda após minha ausência, mas não antes de beijar a fronte de minha Erika e lhe desejar boa sorte.
Nos reencontramos no almoço, onde acabamos falando sobre o baile. Duas semanas... Espero mesmo que a Purriry consiga a tempo.
Os dias se seguiam e eu fazia de tudo para que ela não desconfiasse de nada. Eu cheguei a pedir a carta que Miiko recebeu de Huang Hua para lê-la eu mesmo depois de saber que 40 contaminados seriam trazidos para Eel! (coitada de minha recruta...) Como se já não bastasse a fuga de meu irmão que ainda continuava em Eel. Mas o que mais me perturbou nesses dias, foi o aviso da nova Oráculo.
No dia seguinte, Erika me convidou a ajudá-la em uma missão de coleta na qual ela passaria na caverna das cheads, e aproveitar para almoçarmos juntos lá, só nós dois. Não tinha como lhe dar “não” ao perceber suas intenções por trás daqueles belos olhos com esse convite.
Na caverna, tivemos a conversa sobre o Ritual de Maana que evitávamos, partindo dela o assunto. Ela chegou a me confessar que havia tentado engravidar apenas para que eu não ficasse sozinho quando ela... bem. Eu realmente não teria coragem de abandonar um fruto nosso, onde falta de tentativas não houve. Nem depois de nossa conversa (ainda bem que as cheads já haviam terminado de deixar o lugar).
Quando finalmente decidimos voltar pro QG, conversamos sobre o estranho sonho da Cris possivelmente com o meu irmão e sobre a yukina e seu marido que chegaram ontem. Encontramos a Cris querendo sair da segurança dos muros e fiquei abismado com as ações de Absol em favor dela. Enquanto a Cris recebia a ajuda de Ykhar, nós dois retomávamos a conversa da caverna vendo o pôr do sol. Mia e Floppy apareceram com a Cris atrás (sempre fico agoniado com a forma que elas passeiam juntas). Enquanto falávamos de Ykhar, um forte vento gélido venho sobre nós, e eu pude notar uma pequena luz sair das duas e desaparecer junto com o vento. Isso me preocupou.
Retornamos para dentro com eu protegendo as duas (mais minha Erika do que a Cris) e eu e Erika fomos nos reportar com a Miiko que brigava com Ezarel na hora sobre ele querer colocar uma barreira anti-umbracinesianos no laboratório, porque será?... (_riso_) E aproveitei que Erika foi escrever o relatório na biblioteca para contar sobre as luzes que vi para Miiko e assim como eu, ela não achou aquilo muito bom. Principalmente com a reação de Absol.
Por conta da proximidade cada vez maior do baile, sempre que podia questionava a Purriry sobre minha encomenda. Que nunca estava pronta (_suspiro_). Os dias continuaram mais ou menos dentro do normal até a chegada do grande dia, apesar de todas as inconveniências que surgiram (especialmente com a chegada da “amiga” de Ezarel). Evitei a Erika na véspera do baile para esconder minha ansiedade por causa do anel que não ficava pronto. No dia do baile, enquanto verificava as armas que seriam usadas durante a segurança do baile, uma criança me procurou dizendo que Purriry pedia a minha “ajuda” em sua loja (até que fim!). Fui para lá o mais rápido que pude.
– Sinto muitíssimo pela demora, Valkyon querrido. Você não tem ideia do trabalho que me foi encontrarrr uma pedra com a mesma tonalidade dos olhos de Erika.
– Tudo bem Purriry. Onde está a joia?
– Aqui! – ela me apresentou uma caixinha de veludo preta que abri.
– Ficou lindo Purriry. Acha que ela vai mesmo gostar?
– Se vai gostar!? Meu querrido, ela vai amar!! Sinceramente, você já a enrrrrolou demais meu caro.
– Muito obrigado Purriry.
– Disponha sempre!
Guardei o anel e paguei a Purriry, segui para minhas últimas tarefas antes da cerimônia de abertura do baile, onde Erika auxiliaria a Miiko. Minha Erika... Ela parecia uma rainha com a roupa que ela havia escolhido para hoje. E eu vesti o traje de gala de minha guarda. Estava nervoso, e para disfarçar eu dizia à Erika que era por causa de meu irmão.
Eu planejava lhe pedir a mão na cerejeira à noite, afinal, eu cuidei de preparar o lugar pessoalmente só para isso. O problema, é que havia bastante gente aproveitando o lugar (se eu soubesse...). Decidimos por comer alguma coisa enquanto a cerejeira estava ocupada e acabamos por encontrar a Cris em um canto escondida no salão. Enquanto Erika buscava comida para nós dois depois da Cris ter aceitado dividir a mesa, mostrei-lhe o anel que a Cris pareceu amá-lo. Fiquei pasmo quando ela me disse que iria querê-lo caso a Erika me dissesse um “não” como resposta, e ela ainda me deu a confiança que me faltava para pedir a Erika em casamento.
Depois da Cris se separar da gente e de termos acabado a refeição, voltamos a caminhar pelos jardins. E infelizmente a cerejeira continuava ocupada com vários casais. Eu queria pedi-la em um momento um pouco mais reservado, e isso estava difícil.
Quando finalmente a cerejeira estava vazia, tive a minha chance arrancada de mim ao ouvirmos o sinal de que um ataque estava acontecendo (argh, os deuses não estão do meu lado hoje). Como líder da Obsidiana, eu estava entre a segurança e Erika fazia parte da guarda secreta. Corri para o portão enquanto ela ajudava a evacuar todos para dentro do QG e nos encontrarmos mais tarde.
Nos preparamos para o meu irmão e recebemos a “visita” de um grupo totalmente diferente (e tão agressivo quanto ele). Removi minha capa para poder enfrentá-los melhor com o meu machado e não demorou para eu ver Erika entre os arqueiros. Não acreditei ao ver mascotes salvando os nossos, saltando entre as sombras (Absol está liderando os mascotes!? Espero que Mia e Floppy estejam bem) e se não fosse por eles estaríamos em sérios problemas, pois os faerys que nos atacavam pareciam muito bem preparados. Acabei me distraindo sem querer e um lupino conseguiu me esfaquear de lado. Apesar da dor e do grito que ouvi vindo de Erika, eu consegui afastá-lo e jogá-lo para bem longe de mim.
– Valkyon! Você está bem? Deixe-me ver o ferimento.
– Erika? O que faz aqui!? O que houve com sua roupa? – perguntei ao ver sua saia rasgada até a altura das coxas.
– Precisava de mobilidade. – dizia ela me examinando e arregalando aqueles belos olhos ao ver a ferida – Use seus poderes. Agora!
– Erika, você sabe que nós dois e o Leiftan temos que poupar nossas maanas...
– Se você não fizer o que estou dizendo, farei em mim o mesmo ferimento que há em você agora! – eu não estava acreditando em sua ameaça, mas quando ela pegou a faca com que o lupino me feriu, me apavorei. Ignorei totalmente o acordo que tínhamos sobre reservarmos a maior parte de nossa energia para o ritual e comecei a curar minha ferida com meu poder – Já está bom. Venha, eu te ajudo a chegar à enfermaria para terminarmos de lhe tratar lá.
Não ousei contrariá-la, não depois do susto que ela me deu. Mal entramos na enfermaria e Erika já me empurrou para uma maca vazia onde ela começou a me prestar atendimento médico, uma vez que ela estava a apenas dois níveis atrás da Ewelein agora.
Mas que situação. Não queria que essa noite fosse tão desastrosa, mas não tinha jeito, se eu quisesse pedir a mão dela tinha que ser agora. Coloquei minha mão sobre o bolso em que guardava a caixa e... acho que senti meu coração querendo parar por um instante. A caixa sumiu!! Comecei a conferir todos os bolsos.
– O que foi Valk? Alguma coisa errada? – ela me perguntava ao ver meu transtorno por não encontrar a joia.
– Sim. Perdi uma coisa importante. Uma coisa que eu queria mostrar a você. Que eu queria perguntar a você.
– Para mim? E o que é?
– Bom, eu... – não sabia como explicar a ela que perdi o anel de noivado que encomendei para ela. Quando de repente, Mia e Floppy entravam pela janela aberta da enfermaria, cobertas de lunduris, e com a caixa enrolada na cauda da Floppy. Enquanto a Mia distraía a Erika, eu abri a caixa e lá estava o anel (nunca serei grato o suficiente a vocês duas, pequeninas) – Erika, – ela me olhava – poderia me ajudar a chegar à varanda?
– Sim, mas, pra quê?
– Apenas me ajude está bem!?
– Tá.
Me levantei com a ajuda de Erika e seguimos para a varanda que ficava meio que nos fundos da enfermaria. As grades, cheias de trepadeiras de flores vermelhas, ainda não haviam sido cobertas pela neve e estavam com lunduris. Mia e Floppy nos rodeavam, espalhando os lunduris que havia sobre elas ao nosso redor, deixando o ambiente tão bonito quanto a cerejeira.
– Erika. – chamei-a daquela visão incrível que nossas mascotes nos forneciam – Sei que já conversamos sobre isso, mas...
– O que foi Valkyon?
– Depois da revelação de Fáfnir sobre você e o ritual que você criou, eu... tomei uma decisão.
– Que tipo de decisão Valkyon? Você não comentou nada disso quando conversamos na caverna.
Eu estava nervoso, mas de jeito nenhum vou desistir agora – Bom. Eu refleti muito sobre nós dois e por isso...
– Não! O que é que está fazendo? – protestava ela ao me ajoelhar diante dela e lhe estendendo a caixa que a fez congelar no lugar.
– A decisão que eu tomei, – abri-a a caixa revelando o anel a ela – foi a de lhe pedir que aceite ser minha por todo o tempo que pudermos viver juntos e além. – ela cobria a boca com as mãos e lágrimas lhe escapavam aos olhos – Então, você aceita?
– É tudo o que eu mais desejo... Sim, sim, sim e sim!
Não pude evitar de sorrir largamente. Me ergui devagar por causa do meu ferimento e lhe pus o anel em seu dedo, beijando-lhe a mão que tremia em seguida. Lhe soltei a mão para que ela pudesse observar melhor o anel.
– O coração desse anel...
– É da mesma cor das joias mais preciosas que eu já vi em minha vida.
– Oh... Valk... – ela beijou-me os lábios – Eu te amo!
Lhe acariciei os cabelos enquanto lhe enxugava algumas lágrimas – Eu é que te amo, minha vida! – e beijei-a o mais apaixonadamente possível.
.。.:*♡ Cap.63 ♡*:.。.
Ezarel
Pragas miseráveis. Aqueles loucos tinham que estragar a festa? Não tivemos mortos, mas alguns dos nossos acabaram gravemente feridos. Nem o Valkyon escapou! E pra piorar, o Hillmer usou as raízes de mainon que eu estava reservando para fazer a poção e agora preciso preparar mais raízes, (tá certo que elas foram uma maravilha para os feridos) que me custarão mais uma semana de espera. Sabia que devia ter escondido os ingredientes...
Como anfitriões, tínhamos que sermos capazes de cuidar de tudo sem o auxílio dos representantes convidados, mas alguns simplesmente ignoraram nossos pedidos e começaram a ajudar por conta própria. E convenhamos que pelo andar da carruagem, íamos precisar. Também consegui fazer a Desastre ajudar já que a encontrei fugindo de tudo sendo que ela estava devendo à Eel por conta de seu comportamento (ela podia ser péssima dentro de um laboratório e pior ainda com uma arma, mas era ótima com curativos). Ainda bem que eu sabia como a cabeça dela funcionava ou ela teria recusado.
Com a ajuda de Leiftan e de alguns membros da Sombra e da Obsidiana, Ewelein e eu conseguimos encontrar os sobreviventes de nossos inimigos para levá-los à prisão para interrogatório assim que fossem tratados. Nunca imaginei que Voronwe seria capaz de deixar um inimigo vivo em meio ao calor da batalha (se bem que eles pareciam apenas meio vivos...) e o veneno que a pirralha da Anya usou ainda levaria umas quatro horas para perderem o efeito, pelo o que constatamos.
Uma reunião de emergência foi realizada quando tudo estava mais ou menos no lugar, com a participação de alguns dos convidados que resolveram ajudar. Agora estava explicado aquele aviso estranho da Branca, principalmente depois dela resolver aparecer para calar a boca dos sem noção que estavam presentes e nos alertar que ainda não havia acabado aquele caos (Pelo Oráculo original!). Descansei umas duas horas depois de tudo ter terminado.
Retomando o dia, ainda havia muito que fazer. Ajudei outra vez os feridos (onde metade deles puderam ser liberados) e escondi em minha sala secreta os ingredientes da poção da verdade (dessa vez eu não me esqueço!!). Lá pras dez, Miiko me pediu para encontrar a Caçadora e levá-la até a Sala do Cristal para que elas pudessem conversar, e fui a contragosto. Deu trabalho achar aquela mulher! E quando finalmente a encontro, ela resolve me dar mais trabalho (mas quê...!!). No entanto, ela me ajudou a acertar dois pimpéis de uma vez. Deixei a Caçadora com a Miiko e pensei em passar em meu quarto para tomar um banho depois. Acabei me encontrando com o Nevra nos chuveiros.
– E aí Ez, como anda a poção?
– Vai atrasar. – ele me arregalou o olho – Hillmer me consumiu um dos ingredientes por completo.
– Mas como? Você não guardou os ingredientes naquela sua sala secreta?
– Antes, toda vez que ia guardá-los, acontecia alguma coisa e eu acabava esquecendo de o fazer depois. Agora está tudo seguro!
– _suspiro_ Quanto tempo mais teremos de esperar...?
– Mais duas semanas. – ele me revirava o olho enquanto entrava no chuveiro – Uma para que as raízes de mainon fiquem prontas e mais uma para preparar a poção.
– Do jeito que essa poção é trabalhosa, é bom que ela funcione!
– Somos dois, meu amigo! Somos dois.
Durante o banho, continuamos conversando sobre os inconvenientes em geral causados pelo ataque e sobre a Cris (não acredito na quantidade de malucos que quiseram a Caçadora como par!). Deixamos as duchas e seguimos para os nossos quartos e para nossos afazeres em seguida. Mal adentrei a Sala das Portas e Ewelein chega em mim com ar desesperado e meio sem fôlego.
– Ewelein? O que foi que aconteceu? – perguntei.
– Acabei de vir da prisão. Temos um problema sério!
– O que aconteceu? – Ewelein nunca fica assim por nada.
– Os prisioneiros... eles... estão todos mortos.
– O QUÊ!?!?Cris
Após provocar aquele elfo metido à esperto e de garantir ajuda ao Karuto, era a vez da Miiko me trocar algumas palavrinhas...
Como havia diplomatas na sala, tentei ser o mais educada possível em meus questionamentos sobre as missões (com ela me confirmando a suposição do Karuto) e a Miiko aproveitou para me perguntar se eu havia notado alguma coisa estranha durante o baile depois que ele havia sido iniciado, além de me explicar o que foi que aconteceu enquanto eu dormia (nesse ponto, eu sentia que ela não me contava tudo). Repassei tudo o que podia sobre o baile (ela me pareceu desconfiada com o meu par, mas também...!) e ela me pediu que, enquanto eles não descobriam por quem ou porque Eel tinha sido atacada, que eu não deixasse a segurança dos muros sob hipótese alguma (não gosto de me sentir presa...). Aceitei a contragosto (também não sou tão sem noção assim, né!?).
Com a minha “prisão” acertada, os diplomatas começaram a me fazer várias perguntas que tentei responder dentro do possível. Isso até a chegada dos contaminados do dia. Notei que a Miiko pareceu alterada com alguma coisa que lhe foi cochichada ao ouvido por um dos guardas que ajudavam a trazer os contaminados, tanto que ela deixou a sala às pressas quase sem ser notada.
Terminei com mais sete e falta 25 (ai...). E esse número ia aumentar mais tarde, pra quanto, dependeria de todos aqueles diplomatas e os líderes que eles representavam (a Fênix não foi a única que se recusou a matar como “tratamento” _suspiro_).
Foi Shiro quem me ajudou a retornar para o quarto e lá, outra vez precisei lidar com o “ciúme” do Lance (eu ainda não entendo o motivo, pois não acredito estar o conquistando. Não mesmo! E aposto que aquele beijo que ele me deu na festa foi só para me provocar). Repassei para ele tudo que eu fiquei sabendo sobre o ataque e ele ficou sério, reflexivo enquanto observava pela janela (isso não é comum dele... estou ficando preocupada...). Karuto me trouxe o almoço e ficou por uns cinco minutos antes de voltar ao batente. Almoçávamos e o Lance não parava de me observar.
– Há algum problema comigo? – perguntei ao me cansar.
– Que quer dizer?
– O que tanto me observa? O que você tanto está vendo que eu não vi?
– Acredita mesmo que o alvo daquele ataque era um dos estrangeiros?
– Não é impossível... – ele está insinuando que o alvo era eu? – Porque pergunta isso?
– ... Queria levá-la comigo pra longe daqui. – ele falou baixo, mas pude ouvir bem e acabei meio que me engasgando com a comida.
– Como é que é?!? Nada de sequestro por favor. – ele voltou a me observar com o rosto inexpressivo (Mãezinha... socorro...) – P-por que você faria isso?
– Separá-la do Cristal não é possível. Esse seu colar não quebra.
– Tentou tirar o colar de cristal do meu pescoço?!?
– Sim. – ele não demonstrava emoção alguma – Mas posso separá-la desse bando de miseráveis e escondê-la de todos.
– Me esconder como? Esqueceu que minha maana me denuncia? E ainda tem o Valkyon! – ele começou a dar aquele sorriso detestável que me assustava agora – Você... não... vai fazer isso de verdade, vai? – (por favor meu Pai, que ele responda “não”).
– Talvez... – (Senhor!?...) – Nunca se sabe o dia de amanhã...
E eu que pensei que podia dar uma chance de confiança à ele... Terminamos a refeição e fui tomar banho. Saindo do banheiro, o vi fazendo flexões apoiado apenas nos dedos de uma das mãos... sem camisa... (acorda Cris!! esqueceu que ele acabou de ameaçar sequestrá-la?!?) Sacudi a cabeça e fui dar uma olhada na janela. Não estava nevando agora, mas perece que nevou o tempo inteiro depois de ter começado. Tudo estava coberto por uma camada branca. Se tinha sangue em algum lugar, a neve o escondia totalmente.
– Nem parece que houve um ataque, não é mesmo? – senti um arrepio quando ele me perguntou bem próximo de mim, com aquele peitoral definido e escorrendo quase me encostando.
– Re-realmente. – sentia meu corpo queimar (ele está fazendo isso de propósito ou ele é meio sem noção como Valkyon?) – A neve parece ter escondido qualquer sinal de batalha.
No que ele olhou para o meu rosto (provavelmente vermelho), o vi abrir aquele sorriso que eu odeio e lhe desviei o olhar.Miiko
Quando o guarda me deu a noticia, eu não acreditei. Um ou outro não resistir a surra de Voronwe já era esperado, e sempre há faerys mais sensíveis aos efeitos de venenos, mas todos estarem mortos?!? Definitivamente há algo errado. Deixei a Sala do Cristal da forma mais discreta que pude e corri até a prisão.
– Mas o que é que está acontecendo? – cheguei perguntando assim que vi Ezarel e Ewelein examinando um dos mortos.
– Foi veneno. – disse Ezarel sem desviar a atenção do corpo.
– O veneno usado por Anya não era tão poderoso assim. – comentei me aproximando.
– Não veneno paralisante Miiko... É veneno mortal!
– Como!?
– Eu procurei o Ezarel porque não estava conseguindo identificar o veneno... – a Ewelein começou.
– ...E até onde eu pude notar, o veneno utilizado não é parecido com nada que eu já tenha visto antes. No entanto...
– No entanto, o que Ezarel?
– Há um forte cheiro de casca de mamona-espirradeira. Uma planta comum em Apókries.
Se ainda havia alguma dúvida sobre as suspeitas de Nevra, elas acabaram de ser supridas – Encontraram alguma coisa que pudesse nos dar alguma pista sobre este grupo ou intenções?
– Ainda não Miiko. – desviei do corpo para a Ewelein – Ainda temos muitas autópsias a fazer para termos algo assim para dar.
– E quanto aos que morreram em batalha? – questionei-a – Eles não podem nos fornecer nenhuma informação?
– Pedi para que Leiftan me ajudasse com eles. E até agora, nada foi encontrado.
– Ewelein! Acho que encontrei algo interessante!... – Leiftan entrava às pressas – Oh, Miiko... e Ezarel também. Acho melhor vocês virem junto.
– O que foi que descobriu Leiftan?
– Terá de ver por si mesma para acreditar Ewelein. Quem nos atacou não brinca em serviço!
Acompanhamos o Leiftan até um espaço próximo dos muros onde os corpos dos inimigos estavam sendo analisados para depois serem cremados. Ele chegou perto de uma pilha de caixas que servia como mesa e nos trouxe uma pequena bandeja com o que pareciam ser cápsulas sobre ela.
– O que é isso Leiftan? – perguntou a Ewelein já pegando uma para examinar melhor – Até parece que... Há um encanto sobre isso? – (como?) Ezarel e eu também pegamos uma cada um para olharmos melhor.
– Encontramos isso dentro dos corpos deles. Cada um tinha pelo menos uma dessas dentro de si, e o pior dessa descoberta é o conteúdo dessas esferas.
– O que tem dentro delas Leiftan? – Ezarel perguntava.
– Quebre-as e saberá. Mas é bom estar de luvas!
Ezarel recolocou as luvas que usava na prisão e estilhaçou a cápsula que liberou o líquido azul que se tornou púrpura em contato com o ar. Vi que Ezarel arregalava os olhos – O que foi Ezarel? O que é esse líquido!?
– Não pode ser. Esse cheiro... – também me pareceu familiar, mas de onde?
– Será que foi isso Ez? – perguntava a Ewelein.
– Do que estão falando? Que cheiro é esse?
– Mamona-espirradeira. – responderam os dois juntos.
Pelo Oráculo...!Cris 2
Depois da situação constrangedora na janela, Lance foi tomar banho. Voltou a nevar e por isso toda e qualquer vontade de visitar os jardins nevados se foi. Tentei me distrair vendo as imagens guardadas em meu not, mas acho que isso não estava dando muito certo... As imagens que eu via eram de dragões. Sozinhos, com mulheres ou crianças, desenhando corações, voando, se exibindo, tribais, chineses, várias situações.
– Então é assim que os humanos imaginam os da minha raça? – Lance falava bem atrás de mim, fazendo-me balançar a mesa com o susto (desde quando comecei a baixar minha guarda com ele desse jeito?) – Alguns não se parecem muito com a gente...
– Já se passaram alguns séculos desde que os faerys deixaram a Terra. Não é surpresa que não saibamos mais qual é a aparência correta de um dragão. – falei começando a baixar a tela e ele me impediu para ver melhor as imagens. Isso levou uns cinco minutos.
– Hunf. Até que a imaginação humana é bem interessante...
– Você não viu nem um centésimo do que a imaginação humana já criou. – dessa vez fechei o meu not.
– Gostaria de conhecer a verdadeira forma de um dragão de gelo pelo menos? – sussurrou ele ao meu ouvido, me causando arrepios de cima a baixo.
– Do que está falando? – virei-me para ele (que está perto demais pro meu gosto...).
Sorrindo aquele sorriso, ele afastou-se e arrastou a poltrona para perto do armário. Colocou-se no centro do espaço vazio e aos poucos o vi se transformar em um dragão. Seu pescoço se alongava e sua pele assumia uma cor branca-azulada; placas e espinhos de gelo se formavam na cabeça, espinha dorsal, peitoral e pescoço; membranas translúcidas saíam de seus “braços”; se antes eu o achava alto, agora ele parecia um gigante, alcançando a altura de Dono ou mais, e suas garras e espinhos pareciam ser extremamente afiados, da cabeça à cauda. Estava tão fascinada com o que via bem diante de mim, que só me dei conta do que fazia quando estava prestes a tocá-lo.
– Eu... posso? – perguntei e ele me assentiu com a cabeça com o que parecia ser um sorriso e sem mover um músculo do corpo depois.
Toquei-lhe começando pelo pescoço. Ele era gélido de início, mas o frio logo era substituído por calor se ficasse tocando na mesma área por alguns segundos. Deslizei minha mão até alcançar os espinhos que começavam na região dos ombros e depois passei a examinar a membrana cristalina que seria sua asa (pelo gracejar que ouvi, acho que acabei lhe fazendo cócegas nesta parte).
– Lembro que Anya me disse que dragões é a sua raça faery favorita.
(Então ele é capaz de falar nessa forma!?) – Sim. Sempre gostei muito de dragões. – o rodeava ainda examinando-o.
– E o quanto gosta de dragões? – acabei por encará-lo por um instante.
– Espero não ofender, mas... – ele aproximou um pouco a cabeça – Caso os dragões fossem como feras, eu iria gostar de ter um como mascote...
– Um pensamento um pouco arrogante, não acha? Se não dizer, infantil.
– Se vocês fossem como feras. Mas se os dragões fossem seres pensantes como os humanos...
– Que é o caso...
– ...Eu... desejava pelo menos... ser amiga de um...
– Hum. Acho que meu irmão já a considera algo próximo disso. Mas não é bem esse o tipo de relacionamento que eu gostaria de ter com você.
– E... que tipo, de relação, você quer ter? – perguntei me afastando com cautela.
– Eu não sei.
– Hein!?
Pela primeira vez ele começou a se mover de verdade. Não conseguia me mexer, sem entender o porquê. Ele me ergueu o queixo com uma das garras para me olhar nos olhos por alguns momentos e depois me arrastar para perto dele numa espécie de abraço. Aquilo era estranho. Me sentia confortável e desconfortável ao mesmo tempo. (O que há com ele? E o que há comigo!) Respirei fundo. Tentei me afastar dele, mas ele apertou o abraço. Podia ouvir seu batimento cardíaco que parecia tranquilo (enquanto o meu está a mil!), comecei a lhe acariciar o pescoço com uma mão, apoiando a outra sobre seu ombro e mantendo os meus olhos fechados.
Ficamos naquela situação por alguns momentos e ainda de olhos fechados, senti que seu corpo mudava. Ele devia estar voltando à forma humanoide e tinha medo de saber o que eu veria quando ele terminasse de se transformar. Minhas mãos se mantinham nas mesmas partes em que estavam de seu corpo, assim como as mãos dele se mantinham firmes em minhas costas. Estava tão sem graça com aquela situação, que comecei a rezar. Momentos depois (acho que foram só uns poucos minutos, mas mais pareciam horas) ele começou a me soltar.
– Me desculpe. Eu... não sei bem o quê me deu.
– T-tudo bem. – eu não sei eu, mas ele estava vermelho – Acho que você precisava de algo assim e, como eu era a única pessoa disponível...
Não falamos mais nada. Mantivemos o silêncio o tempo todo e ele assumiu um rosto inexpressivo (até quanto isso vai durar hein? Como foi que eu consegui me meter nesse tipo de situação!?!).Nevra
A mando da Miiko, comecei a investigar tudo o que podia dentro do QG. Interrogando todos sobre Visa; sobre o baile; sobre o ataque antes, durante e depois. O par da Cris ainda me era estranho, mas conversando com o Valkyon, ele me garantiu que não havia sentido o irmão no baile, e eu não encontrei ninguém que tivesse a voz parecida com a dele. Conversei com Siece sobre ele e algumas coisas ainda não pareciam fazer sentido pra mim (se o par dela tiver sido o Lance, como foi que ele fez para se esconder do Valkyon? E aquela voz?).
Eu já havia falado com praticamente todos, só faltavam as carcereiras do Gelinho e o pai de uma delas. Fui à casa de Anya e quem atendeu foi o Voronwe (e pela cara dele, eles estavam tendo uma conversa séria em família) que me pediu para retornar uma outra hora. O fiz sem nem pensar duas vezes! Como não dava pra falar com a Verdheleon e o pai dela, fui atrás da Cris.
Quando eu ia bater na porta dela, pude ouvi-los conversando. Não sei se estava pegando o começo ou o meio, só sei que quando resolvi espiar pela fechadura quase caí para trás. Lance havia se transformado diante dela! E ela o examinava atentamente... (pensando bem, acho que ela nunca viu um dragão vivo em sua forma natural antes...) A Cris é louca. Querer um dragão como mascote?? Mas foi a confissão de Lance o que mais me preocupou, ainda mais depois de ficar quase meia hora abraçando ela (se esse pessoal de Apókries não tivesse se tornado uma urgência maior...). Esperei uma meia hora antes de bater finalmente na porta.
– Nevra? Que cara estranha é essa? Precisa de alguma coisa? – esfreguei o rosto pra melhorar a aparência.
– Só estou um pouco cansado. Ainda estou de serviço. Será que eu poderia conversar com você um pouco sobre ontem?
– Eu já disse o que podia para a Miiko.
– Queria ouvir de você. Vai que você se lembra de algo que não contou à Miiko!
– Bom, eu... – vi que ela começava a procurar alguma coisa no quarto (hunf. Lance) – Tudo bem. Mas sem gracinhas, hein!? – lhe sorri meu melhor sorriso e entrei.
– Vê se não demora sanguessuga... – ouvi Lance cochichar muitíssimo baixo (mas como? E por quê?).
– Algum problema? – a Cris me perguntava colocando alguns doces na mesa.
– Absol não está com você? – tentei não me abalar.
– Não o vejo desde ontem, no baile. – ela me erguia uma sobrancelha (Shaitan realmente não gostou de me ver incomodando o par da Cris...) – Soube que a “Guarda mascote” ajudou na defesa...
– Guarda Mascote?!? – ela me estendeu a cadeira e falou sobre a reunião dos mascotes no quarto dela (isso explica o desaparecimento de todos os mascotes de tempos em tempos... E o Lance não os atacou?!?), depois sobre a recepção ao lado da Miiko, e em seguida do baile em si – Não consegui reencontrar o seu par durante as minhas investigações... Quem era? – (estou curioso com a sua resposta).Lance
Apesar de eu ter deixado escapar um sussurro mandando o sanguessuga cair fora daqui logo, ele não parecia querer colaborar. Eu estava me esforçando para continuar escondido enquanto ele a interrogava, mas quanto a conversa chegou em mim...
– Bom... eu... – ela se apoiava em um dos punhos sobre a mesa olhando em minha direção como se olhasse para o nada (ela tinha essa mania, então sem problemas), como que querendo saber minha opinião. Apenas lhe estendi a mão para que ela prosseguisse como bem desejasse e a vi respirando fundo – Eu não posso lhe dizer o seu nome com certeza, mas digamos que nós meio que não nos damos tão bem quanto eu gostaria... – (eu estou sempre a provocando e tentando colocá-la contra Eldarya, enquanto ela parece querer me por na linha sem se deixar levar por mim.) – No dia que ele me convidou, ele me disse que era por curiosidade, pois ele não tinha condições de participar da festa.
“Rápido! Faça uma esfera de cristal com gelo!” – (Como é que é? Isso é hora de aparecer Negra?!) – “DEPRESA!!”
– Se ele não tinha como participar da festa, o quê que ele fazia ao seu lado? – a pergunta dele me fez entender o porquê da ordem da Negra.
– Ele disse que recebeu ajuda.
– De quem? – nesse segundo, a esfera estava feita. Uma perfeita “bola de cristal” que estendi olhando para ela e ela entendeu o recado.
– Uma vez ele me comentou que conhecia uma vidente ou coisa do tipo... Talvez tenha sido dessa pessoa?
– Hum... Ok. Agora, continuando... – eles continuaram com a conversa e eu me virei para a Negra que flutuava diante de mim.
– O que quer aqui dessa vez Negra? – sussurrei.
“Sussurre tudo o que desejar! Mas não está preocupado com o líder da Sombra? Ele está te ouvindo...!”
– Eu não ligo. – continuei sussurrando – Sempre que você aparece fico cheio de perguntas que, pra você não responder, você simplesmente some!
“Que perguntas? Dependendo eu posso até responder agora.” – disse ela com aquele jeito de pirralha traquina.
– Primeiro: porque é que você não me falou sobre aquela terceira possibilidade? Porque não me falou que ia acontecer um ataque? Era deles que você falava quando deixou escapar que alguém estava querendo colocar as mãos nela?
“Se eu tivesse tido, você teria alarmado aquela elfa natlig que tentou levar a Cris. E sim, era à eles que me referia.”
– Tá. Mas o que eles querem com a Cris? Pra quê que eles precisam dela?
“Isso... Tem primeiro a ver comigo e com a minha irmã. Aqueles canalhas querem roubar os nossos poderes, mas não possuem poder suficiente pra isso.”
– Como? Eles querem apenas poder!? – ela me assentiu – Já estou vendo que eles serão uma baita dor de cabeça...
“De fato eles serão. Mais alguma pergunta?”
– Sim. O que você quis dizer com “a minha vida está ligada a dela”? – ouvi o sanguessuga se engasgar por um instante – O que é que eu tenho a ver com essa mulher? – a Negra respirou fundo.
“Como eu disse antes, você descobrirá na hora certa.”
Estava prestes a retrucar, mas... – Ótimo. SUMIU DE NOVO! – disse ainda mantendo a voz num sussurro.Nevra 2
Eu realmente não entendi o porquê dele começar a cochichar, se sabia quão boa era a minha audição, mas como a tal da Negra parecia ter voltado... Prestei o máximo de atenção no que era falado.
Então aquele ataque definitivamente era para sequestrar a Cris, e por poder? O que eles planejavam fazer com a Cris? Mas o que me deixou em choque mesmo, foi ouvir que a Cris e Lance estão ligados. – Está tudo bem mesmo Nevra? – perguntou-me a Cris após eu me engasgar ao ouvir aquilo.
– Sim está. – mas que tipo de ligação poderia haver entre esses dois?!? – Me distraí enquanto bebia a agua.
– Ok, então! – consegui disfarçar, mas a tal Negra parece ter ido embora (e ela parece ser a única capaz de se esconder dos olhos da Cris...) – Bem. Como eu estava dizendo... Anya e eu encontramos o faery por trás do Gelinho...
Para tentar desmascarar aquele parasita e assim livrar as duas dele, eu havia tido que iria colocar alguns dos meus homens para vigiá-las e assim pegar o “Gelinho” (mais os possíveis espiões entre nós), mas parece que a Cris pretende continuar o escondendo – Encontraram? E quem é que está comendo a comida de vocês duas? – claro que não irei as deixar descobrirem o que eu sei.
– É complicado. É um homem que só confiou em nós duas porque o Gelinho confia em nós. Juramos guardar segredo sobre ele enquanto estivesse incapaz de poder ir embora, ele realmente me parece um homem amargurado. Disse que mataria qualquer um que aparecesse diante dele sem ser uma de nós duas!
Que talento é esse de mentir sem mentir? – E se eu ou um dos meus homens o encontrar?
– Está disposto a ter o corpo atravessado por uma arma??
– Está bem. Não vou colocar ninguém pra seguir a duas. – só a Cris até encontrarmos todos os espiões – Depois converso com Anya.
– Ela pode negar tudo...
– E por que...?
– Porque, juramos, guardar, segredo! Por favor... não conte isso a ninguém... – me pergunto se a Cris é masoquista por acaso...
_suspiro_ – Tudo bem... Não tocarei mais no assunto. Deixarei este cara com vocês.
– Obrigada Nevra. – ela sorria mesmo agradecida.
– Olha a hora sanguessuga... Não me faça perder a paciência... – ouvia o miserável cochichando outra vez.
– Bom, é melhor eu ir indo. – Lance sempre foi um inimigo perigoso. Não sei o que deu nele de falar comigo daquele jeito, mas me forneceu informações... interessantes – Vê se se cuida Cris. – beijei-lhe a mão como despedida (como é lindo um rosto feminino corado...).
– Vampiro miserável de uma figa!... – ouvia o Gelinho me xingar baixinho (Rá! Ponto pra mim!).
– Sabe, você não devia fazer essas coisas aqui dentro... – disse a Cris recolhendo a mão ainda corada.
– E porque não? – perguntei seguindo-a até a porta.
– Porque, se você não sabe, há um ciumento morando neste quarto! Tá mesmo afim de perder o outro olho, por exemplo?? – acabei rindo um pouco. Com certeza ela quer que eu pense em Absol.
– Tudo bem. Tentarei respeitar seu quarto. Mas se algum dia quiser conhecer o meu... – ela voltou a ficar vermelha e Lance começou a me xingar outra vez _riso_ – Até mais bela guerreira!
– Vá de uma vez, Nevra!
.。.:*♡ Cap.64 ♡*:.。.
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– Então o nosso alvo mais fácil de controlar está sendo protegido... – refletia após terminar de ouvir o relatório sobre a falha no ataque e sobre as informações adquiridas.
– Lamento muitíssimo Mestre por não ter cumprido sua ordem como desejado.
– Você nos trouxe informações. E informação é uma das armas mais preciosas que podemos adquirir se as mesmas não estiverem envenenadas Visa. – falei para Visa que permanecia curvada sobre um joelho o tempo todo diante de mim, junto do Zeiffer, o ankou que liderou o ataque – Zeiffer, deixe-me sozinho com Visa. Re-treine nosso exército e dê atenção à nossa defesa por hora.
– Como desejar Mestre. – falou o ankou, deixando a sala.
– Visa...!
– Sim Mestre. – pela primeira vez ela me erguia o rosto, me observando pegar um enorme livro da estante.
– Quero que você me identifique umas pessoas... – coloquei o livro sobre uma mesa próxima a minha poltrona, convidando Visa a sentar-se nela. O que ela fez com receio e em silêncio – Depois vou querer que você me ajude com um pequeno ritual...
– Como desejar Mestre. – respondeu Visa abrindo o livro diante de si.Cris
Já se passou quase uma semana depois do ataque. Metade dos diplomatas já tinham deixado Eel, inclusive Emiery (essa eu fiz questão de vê-la partindo! No caso de ela não ter aprendido a lição...). Eu só não terminei de ajudar todos os contaminados ainda porque novos chegaram (manter contaminados em cárcere deve ser bem complicado para terem tanta pressa) e a Miiko está me deixando na ignorância sobre toda e qualquer descoberta do ataque no solstício, afirmando que eu só preciso me preocupar com o Cristal e os contaminados por hora. E sempre me reforçando para não deixar a segurança dos muros! (acaso ela pensa que sou de vidro ou que tenho cinco anos para me repetir a mesma coisa o tempo todo?? Até parecia a minha mãe!).
Todos pareceram chocados quando eu parabenizei Valkyon e Erika ao notar que ela usava o anel que ele havia me mostrado, com todos eles os parabenizando também. Foi durante o almoço que eles nos contaram como foi que tudo ocorreu (eita sorte das avessas!).
Também comemorei o aniversário de Anya com a família e amigos dela (e ela ainda ganhou um presentinho especial da natureza: seu primeiro ciclo. _riso_ Irônico não!?). Conheci o pai dela no dia seguinte a aquela confusão do ataque, no treino (Dono, Margaritári e mais alguns nobres convenceram a Miiko a me fazer ajudar aquele monte de contaminados dia sim e dia não. Podendo eu treinar dia sim e dia não também, o que os deixou admirados com as minhas capacidades. E esse é outro motivo para não ter terminado ainda com a purificação...) que me fez lembrar muito os primeiros dias que treinava com Absol. Fiquei bastante nervosa enquanto o enfrentava, pois, além de ele não me poupar nem um pouco no treino, ele ainda conversava comigo (sobre Anya) durante o treino, quase me fazendo perder a concentração em vários momentos (será que foi justamente por isso que Absol impediu Shiro e Réalta de treinarem comigo e chamou o Voronve(?) no lugar deles?). Pelo menos consegui alguns elogios dele! E uma perigosa bronca...
Lance e eu estivemos meio que afastados um do outro nesses últimos dias (e eu ainda não consegui um colchonete para aquele cara. O mau humor dele já começou a dar sinais claros... _suspiro_) depois do jeito estranho de agir dele no dia do baile e no seguinte. Quanto ao Absol, ele está saindo após o almoço como sempre, mas voltando tarde. E quando chega, ou está decepcionado consigo mesmo ou está nervoso. Sem falar que sempre retorna de patas vazias (pelo o quê ele está procurando dessa vez? Pois material para um colchonete é o que não parece ser).
Hoje foi dia de cuidar dos contaminados. Já almocei, tomei banho e estou de boa sentada à janela do meu quarto enquanto ouço um pouco de música no meu celular. No aleatório.
Dali eu pude ver o pai de Anya partindo, escoltando mais um grupo de diplomatas que deixava Eel, e que retornaria acompanhado de mais contaminados ou de mercadorias (Miiko aproveitou a reunião por causa das evigêneias para poder fazer negócios. Uma raposinha de quatro caudas sem dúvidas). Não pude evitar de sentir um pouco de inveja de Anya nesses dias, afinal, ela estava com a família completa! Nem me importei com o fato de ela ter me ignorado nesses dias para poder aproveitar a presença do pai. E pra piorar pro meu lado, havia muitas famílias se divertindo nos jardins em meio à neve hoje.
Vendo um casal de crianças discutindo para depois levarem bronca da mãe por brigarem no jardim de música, me lembrei de mim e do meu irmão. Nós dois éramos como cão e gato! Brigávamos de tapa, e mesmo meu irmão sendo mais novo, ele sempre teve a mão mais pesada que a minha, (sendo que eu era a “bola” e ele o “saco de osso”!) por isso me defendia como podia. Cheguei até a quebrar um vaso de minha mãe na cabeça dele (e tive que pagar por ele pra minha mãe...), só depois de crescidos que passamos a apenas discutir. Também vi algumas crianças pequenas brincando com o pai perto da cerejeira, lembrei que quando pequena, gostava de ficar engatinhando entre as pernas de meu pai junto com o meu irmão, e às vezes ele nos balançava em sua perna, quando não nos erguia para o alto! No caminho dos arcos, pude ver uma menininha tomando bronca da mãe enquanto era levada a força pelo braço para casa. Me vi junto de minha mãe. Nossa!... A maioria de minhas lembranças com ela é dela reclamando, brigando ou batendo. Não ficaria surpresa se meu lado aengel/daemon tiver vindo dela...
_suspiro_ (Será que assim como a Erika, eu nunca mais irei vê-los?).Lance
Depois que a Cris liberou o banheiro após o almoço, eu fui tomar o meu banho (não sou fã de agua quente, mas isso estava ajudando muito o meu corpo que já não se limitava mais a só o pescoço) e ao sair, pude vê-la chorando na janela. Não vou negar que gosto de ver o rosto dela úmido, e recentemente, descobri que vê-la corada também me agradava. Mas isso, só se eu for a causa!
Ela estava com aquele tal de celular ligado nas músicas e aquela música triste que tocava agora com certeza não estava a ajudando – Como se desliga essa coisa? – perguntei já o pegando.
– Desligá-lo pra quê?
– Se não o desligar, eu o quebro. Porque está chorando? – ela arregalou os olhos com o que eu disse. Ela nem notou que chorava!
– Não precisa quebrá-lo. – ela me tomava o aparelho e depois passou o dedo dançando na tela do objeto – Pronto. Está desligado.
– Ainda não me respondeu por que chorava. – cruzei os braços escorando na parede enquanto aguardava sua resposta.
– Nada demais. – ela deu um longo suspiro – Não precisa se preocupar com isso.
Hunf. Ela é uma péssima mentirosa. Vai ver é por isso que ela evita de mentir. Mas, acabei tendo uma ideia... – Pode abrir a janela um pouco?
– Porque você mesmo não abre.
– Por isso! – coloquei minha mão sobre a tranca da janela, levando um choque que me repeliu e a fez se surpreender – A barreira não me permite abri-la. Só quem esteja portando uma das chaves deste lugar é quem pode fazer isso.
– Pra quê quer que eu a abra? – oh mulher desconfiada!
– Quero conferir uma coisa. – ela me ergueu uma sobrancelha, mas acabou por abrir a janela. Não era possível observar o mar daquela janela, mas pelo o quê percebi do clima, havia uma pequena chance – Acho que será possível.
– O quê vai ser possível?
– Coloque um casaco, quero lhe mostrar uma coisa. Se tivermos sorte, é claro.
– Não é arriscado sairmos?
– Valkyon poderá me sentir deixando a “gaiola”, mas garanto que ele não nos verá. – ela ainda parecia em dúvida – Garanto que valerá a pena. Mesmo que eu não consiga mostrar o que quero que veja exatamente. – ela suspirou mais uma vez.
– Tá! Tudo bem! – “reclamava” ela pegando um casaco grosso – Mas como exatamente se chega até este lugar aí? – aproveitei que o black-dog não estava por perto mesmo, e a segurei o mais firme possível em seu tronco. Claro, ela não gostou – Mas o que pensa que está fazendo!?
– Tente não gritar. – foi tudo o que disse antes de nos jogar pela janela, após nos envolver por minha ilusão.
Não demorei em abrir minhas asas (e do jeito que ela me apertava para se segurar, temi acabar com algum osso quebrado). Voei até o penhasco atrás do QG e bem no meio dele.Cris 2
Sabia que podia não ser uma boa ideia confiar naquele dragão, principalmente depois de o ver sorrir daquele jeito após me agarrar. Me segurei o mais forte que consegui à ele para não me soltar e de olhos fechados (ele não resistiria a uma queda daquelas, resistiria?), sentindo o ar gelado correr por nós, até eu parar de senti-lo.
– Ok. Já pode me deixar respirar agora.
Abri meus olhos para descobrir que estávamos em chão firme novamente e no que parecia ser a entrada de uma caverna – TÁ QUERENDO ME MATAR DE SUSTO POR ACASO! – gritei me afastando dele – Que maluquice é essa de pular a janela desse jeito!?
– Parece que temos uma chance. – foi tudo o que ele respondeu olhando para trás de mim. Fiquei boquiaberta com o que vi ao me virar para a mesma direção.
O sol se punha. O mar havia assumido uma cor dourada e não tinha uma nuvem que fosse no horizonte para esconder a paisagem – É lindo! – falei impressionada e depois me virando para ele – Mas pela sua cara, não é isso o que você queria que eu visse. Onde estamos?
– Pra saber onde estamos é só observar bem à nossa volta. E quanto ao que eu queria lhe mostrar, nem sempre eu acerto, por isso disse que tínhamos uma chance.
Como ele sugeriu, comecei a observar ao nosso redor. Estávamos nos penhascos, com o mar imponente abaixo de nós, sem praias. Olhei para cima e pude notar uma construção branca (construção branca!?). Lembro que da sala do Cristal dá para ver o oceano sem problemas... – Aquilo lá em cima é o que eu penso que é?
– O quê? A sala do Cristal!? O que mais poderia ser? – ele sorria debochando. Voltei a olhar para o horizonte – O único jeito de se chegar onde estamos é voando. Não é qualquer um que consegue lidar com os ventos que passam por aqui, assim como é quase impossível não ser visto se aproximando desse lugar.
– Mas você consegue. Pensei que me havia sido tido que o QG possui encantamentos contra invisibilidade. Como faz isso? E porque que voar é a única maneira? – perguntei ainda observando o sol que agora estava pela metade.
– Eu já fui líder de uma guarda. Conheço perfeitamente cada feitiço usado para proteger este lugar. Apesar de me consumir bastante maana esconder-me... – ele sussurrava a última frase – Um bote até poderia conseguir se aproximar se o mar estiver calminho, mas não ia conseguir enxergar essa caverna de lá debaixo. Já um barco grande conseguiria enxergar este lugar, porém, ficaria totalmente encalhado antes mesmo de consegui-lo alcançar.
– Como foi que conseguiu achar este lugar? – perguntei desviando o olhar do horizonte enquanto ele se mantinha fixo sobre ele.
– Eu me perdi.
– Oi?
– Essa entrada está ligada aos túneis subterrâneos. A descobri ao me perder enquanto os explorava e como é muito mais fácil pra mim chegar aqui voando, não me preocupei de memorizar o caminho por dentro. – aquele homem... é quase um mistério – É melhor você continuar com o olhar no horizonte!
– E por q... – uma mudança de coloração me fez voltar rápido para o horizonte e eu não estava acreditando no que via – O brilho verde... – consegui dizer em meio a um sussurro.
– Rá! Acertei de novo! – era claro pelo tom de sua voz que ele sorria – Mas parece que não consegui o que eu queria... – falou ele se sentando no chão, próximo de mim.
– O que você quer disser?
Ele apenas me olhou de soslaio para responder – Você continua chorando. – disse ele seco (oi!? Ele fez isso pra me animar?!? Ele está doente?) e eu nem percebi que estava chorando, de novo.
– Não são as mesmas lágrimas. – falei e ele começou a me encarar enquanto me mantinha naquela visão que mudou de dourado pra verde esmeralda – Antes, eu chorava de saudade, de tristeza e de solidão. – o brilho acabou – Pensava em minha família... em minha infância... em minha casa. Mas agora, elas são de alegria, esperança e fascinação por este fenômeno natural. – quase não havia mais luz, mas pude notar bem que ele parecia sem graça – Obrigada Lance. – disse sorrindo.
A claridade sumia, mas tenho certeza que o vi corando antes dele se levantar – É melhor nós retornarmos para a “gaiola” agora. – disse ele.
– Vamos usar os túneis?
– E desperdiçar uma janela aberta? – declarou ele com aquele sorriso (pra quê que eu fui perguntar meu Pai?...).Ezarel
– ...E é isso Miiko. Não adianta nós capturarmos nossos inimigos. A pessoa responsável por manter as esferas intactas por meio desse feitiço pode rompê-lo quando quiser, ou seja, se ele quiser um dos seus mortos, ele só precisa de um estalar de dedos _estalo_ e finito! O cara já era. – concluía minhas descobertas para toda a reluzente.
– Obrigada Ezarel. – dizia a Miiko com uma cara exausta – O que nós leva a ter que encontrar os possíveis espiões por nós mesmos. E de modo a não levantar suspeitas, já que com certeza, eles também terão dessas cápsulas envenenadas dentro do corpo.
– Com certeza não será uma tarefa fácil. – comentou Valkyon olhando pela janela para baixo.
– Algum problema Valkyon? – perguntava o Nevra.
– Bom, é que... – uma luz verde vinda de fora invadiu a sala (ora, ora, se não é o brilho verde...) – Hunf. Era isso.
Todos nós nos aproximamos das janelas para observar aquele fenômeno raro – Me diz Valkyon... – era Nevra de novo – Era o Lance quem costumava adivinhar quando coisas assim iriam acontecer, não é mesmo?
– Sim, era sim. Não sei se tem a ver com o seu elemento, o gelo, mas ele dificilmente errava sobre fenômenos climáticos raros. E ele sempre os aproveitava para animar alguém ou a ele mesmo quando os pressentia.
– Quais as chances dele o estar fazendo agora?
– Que quer dizer com isso Nevra? – perguntou a Miiko.
– Não são nulas. – todos nós nos voltamos para o Valkyon – Não consigo vê-lo, mas sei que ele está lá fora, próximo de nós agora.
Fomos todos até a beira das janelas à procura de qualquer sinal dele, e não víamos nada. Pude notar que Nevra parecia seguir algo com o olhar, de punhos cerrados depois que o sol sumiu de vez. Me aproximei devagar dele – Viu algo interessante?
– Não. Nada.
– Então porque parece irritado?
– É apenas estresse. – (sei...) – Combinado com muita fome, podemos terminar por aqui Miiko?
– Mas e quanto ao...
– Se escondeu de novo. – disse Valkyon interrompendo a Miiko e fazendo-a soltar um longo suspiro.
– Tudo bem então. Amanhã falaremos mais sobre isso, também estou cansada e faminta.
Pra Miiko admitir algo assim, é porque ela já está nos limites! Fomos todos até o salão para jantarmos. Nós, líderes (e parceiros amorosos), sentamos todos na mesma mesa. Depois do pedido de noivado, Valkyon e Erika pareciam mais grudados que cola nos momentos livres.
– Vocês dois não preferem comer no quarto não? – dizia eu – Mas que grude!
– Está com inveja deles ou só é insensível mesmo? – reconheci a voz que os defendia e retirei imediatamente a mão dela de meu ombro.
– Oi pra você também Caçadora. Cansou de ficar no quarto?
– Não a perturbe Ezarel. – agora é o Valkyon que a defende. Obsidianos...
– Não se preocupe Cris. Há tempos que aprendi a ignorar esse bobo!
– Muito obrigado pelo elogio Erika! – todos na mesa acabaram rindo.
– Só vim atrás de um lanche Ezarel. Afinal, no meu quarto eu fico isolada de tudo não é mesmo?
– Oh sim, com todas aquelas barrei... – não acredito. Por que foi que não pensamos nisso antes!? – É isso! Valeu Caçadora!
– O que foi que te deu Ezarel? – me perguntava a Miiko.
– As barreiras que foram colocadas no quarto dessa aqui, elas são capazes de intervir no feitiço das esferas! Mas nós ainda teríamos que agir com cautela.
– É verdade... Como foi que ninguém lembrou disso até agora? Hum... Nevra, você poderia nos ver uma sala, quarto, ou seja lá o que for para que os mesmos tipos de barreiras do quarto da Cris possam ser colocadas?
– Agora não estou com cabeça, mas até o final do dia de amanhã terei o nosso cômodo.
– Ótimo. Ezarel, quero que esteja preparado para quando o Nevra fizer isso.
– Pode deixar Miiko!
– Será que eu poderia saber no que foi que eu acabei ajudando? – perguntou a Caçadora com um olhar confuso.
– Você apenas nos garantiu uma chance de obtermos respostas, só isso. – falei.
– Dá pra ser mais claro?
– Não. Isso já é informação suficiente por hora pra você Cris. – declarou a Miiko. E pela cara que a Caçadora fez, ela não gostou nem um pouco – Sei que não gosta de ficar presa ou na ignorância, mas enquanto não estivermos garantidamente seguros, peço que seja paciente.
– Hunf. Que seja.
– O que acha de comer com a gente Cris? – Nevra a convidava – Você tem estado bastante sozinha nesses últimos dias, não é mesmo?
– Não sei se quero... – ela olhava torto para a Miiko.
– Por favor, Cris. Vejo pelo seu rosto que você anda precisando de um pouco de companhia. – disse Erika a fazendo sentar em uma das cadeiras vazias (e reparando bem... a Caçadora esteve chorando?).
– Tá. Só um pouquinho.Nevra
Sinceramente, eu não sei o que é que o Lance anda tendo na cabeça (e nem eu pra ser honesto). Primeiro ele age de forma estranha ao lado da Cris; depois ele começa a “se fazer presente” quando estou “sozinho” com a Cris no quarto dela; para depois ficar a evitando quando juntos. E agora ele resolve consolá-la? Eu me segurei quando distingui o grito furioso que ela deu enquanto estavam abaixo de nós (ainda bem que não fui o único a notá-los). Ouvi a conversa toda. Assim como os ouvi voando de volta para o quarto da Cris. Sem dúvidas eu perdi mais uma chance de livrá-la.
Para disfarçar minha irritação culpei o estresse e a fome, que graças ao Oráculo, a Miiko compartilhava desses males. Eu só não esperava que justo a Lys de Eldarya fosse quem nos iluminaria parte da escuridão que Apókries jogava em Eel (sendo ela quem precisava de mais luz ao que ouvi da conversa). Mais tarde tentarei encontrar aquela caverna.
Erika conseguiu convencê-la a ficar conosco e ainda acordou o restante da mesa para as necessidades psicológicas da Cris. E eu a percebi escondendo parte da comida dela dentro da bolsa que passou a carregar consigo desde o dia em que o plano dos mincus falhou.
Não demorou muito e Karenn e Chrome resolveram se juntar a nós também. A conversa ia bem e tranquila, até Chrome começar a me fornecer o relatório oral de sua vigília nos túneis subterrâneos – Me diz Cris... – o lobo questionava – Você deixou o seu quarto durante a tarde?
– Não passei a porta, por quê? – a porta não, mas a janela...
– Tenho certeza que senti o seu cheiro nos túneis hoje.
– Pois pode ter certeza que não entrei neles hoje. Minha porta se manteve trancada.
– E quanto à janela? – perguntei (e pude ouvir seu coração disparar).
– Irmãozinho querido... A Cris não tem asas! Ou tem? – terminou Karenn de me dar bronca encarando a Cris.
– Se tenho, não sei como abri-las. E muito menos usá-las! Estou bem no solo mesmo.
– Caso elas venham a aparecer, Valkyon ou Leiftan ou eu podemos ajudá-la.
– Obrigada Erika. Mas acho que por causa do meu lado terra prefiro ficar no chão.
– Agua, pelo sangue dragônico. Luz, pelo sangue aengel. E terra, pelo seu espírito humano. Como Fáfnir conseguiu descobrir tudo isso sobre você? – acabei perguntando meio que para mim mesmo.
– Porque não pergunta você mesmo a ele? Medo de se arriscar mais uma vez Nevra? – provocava o Ez.
– Diz isso porque não foi você que ficou a beira da morte por falar demais. Nunca mais que me arrisco com espíritos de dragões!
– É por isso que você não foi falar com Fáfnir junto de nós?
– Pode ter certeza Caçadora! Se não fosse pela Erika, ele já teria batido as botas há muito tempo.
A Cris apenas olhou para Erika com a mão no pescoço. E Erika, com o compreender da pergunta muda, apenas assentiu com a cabeça, fazendo a Cris soltar um longo suspiro em seguida – Bom! O papo está muito bom, mas já estou começando a ficar cansada. Boa noite pra vocês.
– Espera Cris! – falei lhe segurando o pulso – Tem certeza que você está mesmo bem agora?
– Que quer dizer Nevra?
– Não sei se fui o primeiro, mas notei o seu rosto marcado por lágrimas. Porque chorava? – não posso permitir que ela fique dependente do Lance nesses momentos. Todos a encarou em silêncio e ela olhava para todos nós.
– Saudades de casa. – alguns acabaram engolindo seco – Senti falta de minha família ao observar outras da minha janela. Não é a primeira vez que isso acontece.
– Cris... – Erika se aproximava dela – Sei como se sente. Passei por isso. E uma coisa eu preciso lhe dizer, ficar sozinha não ajuda. Quando essas saudades vierem... Procure um de nós!
– É Caçadora. E se resolver aparecer no laboratório, tenha certeza que terei uma poção da felicidade prontinha pra você!
– Hm... Essa sua poção me cheira a morfina emocional...
– Morfina!?
– É o nome de uma droga terráquea usada para tratamentos contra dor altamente viciante, Ezarel. – explicava Erika. E pela cara que o Ezarel fez com a explicação, ele parecia maquinar algo que a Erika também notou – E espero sinceramente que você não se esqueça do Absol...
Ele assumiu uma expressão indignada – E nem do aviso que eu dei no dia que a chamei para fazer parte da Reluzente... – completava a Miiko deixando-o mais emburrado e arrancando alguns sorrisos dos demais.
– De qualquer forma, muito obrigada. – a Cris nos sorria, um sorriso meio triste – Prometo que tentarei procurá-los se me sentir assim novamente. Boa noite.
– Boa noite. – dissemos quase todos juntos e ela se retirou.
Aos poucos todos foram se retirando também, ficando apenas eu e o Ezarel. Leiftan se juntou a nós dois quando ficamos sozinhos.
– Agora desabava Nevra! – dizia Ezarel controlando o volume da voz.
– Nevra, o Valkyon não foi o único que percebeu que o Lance estava próximo de nós na reunião, foi? – Leiftan me encarava (é... enganar esses caras seria algo mesmo complicado...).
– Tem alguma coisa a ver com o fato de você estar desconfiando da Cris? Por isso me pediu aquela poção?
Oh, situação!... – Não tenho provas. E a Cris é vital para Eldarya. – eles ainda me encaravam com um misto de irritação e confusão – Se quisermos uma melhor compreensão de tudo, vamos ter que ouvir da boca dela!
.。.:*♡ Cap.65 ♡*:.。.
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– O senhor chamou Mestre? – disse o serviçal fiel daquele mago ao entrar na sala.
– Sim. – o mago guardava um pesado livro em sua estante – Preciso que cuide disso. – dizia ele apontando para algo que se assemelhava a uma múmia sobre a poltrona do mago que, de tão seca, não era possível dizer se era ele ou ela, humano ou faery, ou seja lá o que fosse. Só um exame de DNA seria capaz de identificar o que foi aquele ser.
– Como desejar Mestre. – respondeu o servo se aproximando do ser seco.
– E lembre-se! – falava o mago com ar severo – Dê-lhe...
– Todos os direitos e honras fúnebres que seriam prestados a um grande nobre. – interrompeu o servo pegando a criatura em seus braços com extremo cuidado, pois estava muito frágil – Eu sei bem Mestre. Farei como sempre e com o máximo de atenção e zelo.
– Ótimo. E depois gostaria que me fizesse o favor de enviar isso... – ele colocava dois pequenos pergaminhos sobre a mesa – ...através dos chestoks 16... – ele erguia o pergaminho correspondente – ...e 19. – fez o mesmo com o outro.
– Como ordenar Mestre.
– Dessa vez, ela não nos escapa!Ezarel
Assim que Nevra nos separou uma pequena sala nos fundos do porão, fui imediatamente colocar as barreiras de proteção no cômodo (sei que não estou enganado sobre o encantamento daquelas esferas). Era uma sala pequena, sem janelas, que foi equipada com um aparelho fornecedor de ar, pra compensar a falta de janelas é claro (melhor sem janelas para evitar fugas caso identifiquemos um); uma mesa e duas cadeiras, para interrogatórios; e uma maca e primeiros socorros, para tentar impedir a morte dos espiões caso as barreiras não protegessem por muito tempo.
Como a barreira principal precisava de um “mestre”, foi decidido que Ewelein seria a dona do lugar, e Miiko teria uma cópia da chave. Terminado o serviço, já tínhamos o mais fácil. Agora era a vez do complicado... Como que iremos identificar os espiões de Apókries? Ainda precisávamos montar uma estratégia para isso.
Durante as autópsias, Ewelein comentou ter encontrado uma outra substância sobre a pele dos que morreram em batalha. Substância essa que, durante os testes feitos por ela, era totalmente destruída pelo veneno. O que significa que os que morreram envenenados também a teriam, mas a dúvida é: para quê servia essa substância? E como identificá-la sem levantar suspeitas?
Essa historia já me deu bastante dor de cabeça...
Como por hora não há mais nada que eu posa fazer, fui conferir os ingredientes da bendita poção. E adivinha quem eu encontro cochilando sobre a minha bancada...
– Ei Caçadora! Acorde! – disse lhe batendo o dedo na cabeça – Esse aqui não é o seu quarto não!
– Hum?? Ah! Oi Ezarel, onde vo... _bocejo_ ...cê estava?
– Trabalhando. E você? O que faz em meu laboratório?
– Não encontrei um parceiro de treino para hoje, sendo que Absol sumiu mais cedo também. E como um certo ser com quem divido o meu quarto tem tido problemas para dormir... Não me deixando dormir direito por causa de preocupação... Decidi fazer uma poção do sono para nós dois. Só que eu não tenho todos os ingredientes e os mesmos estão em falta por hora no mercado, então... Pensei em lhe pedir ajuda. Mas como você não estava, resolvi te esperar e sem querer cochilei. Alguma pergunta?
– Não. Já entendi a sua narração. – ela esfregava o rosto para terminar de acordar – Mas não é a Anya a sua “professora”?
– Ela está amarrada com o Nevra e o “treino maluco” dela. Eu até pensei em procurar o Chrome, mas ele está ocupado também.
Outra vez o lobo encrenqueiro... Isso me irrita! – Não tenho tempo a oferecer pra você Caçadora. Procure outro! Tenho muita coisa pra fazer e uma louca aqui só vai me atrapalhar.
– Posso ajudar se quiser. A Miiko não me deixa ter missões mesmo...
Olhei-a de cima a baixo, e ela realmente parecia entediada – Você realmente quer trabalhar comigo?
– Não estou afim de ficar à toa no meu quarto hoje... – como eu queria essa vida mansa...
– Tudo bem então. – pequei um papel e anotei vários ingredientes que estavam quase em falta no laboratório (se eu quiser entrar em minha sala secreta, ela vai ter que cair fora daqui) – Tente encontrar tudo isso pra mim e em troca eu mesmo faço as poções do sono para você e Absol. – falei lhe entregando a lista que ela leu com cuidado.
– Tem certeza que está tudo aqui?
– Tenho sim, por que.
– Porque se for isso mesmo... – ela riscou uns dois itens de minha lista – Esses aqui faz parte dos ingredientes que eu não consegui achar. Só isso.
Ela realmente não está pra brincadeiras... – Mas ainda tem mais um monte anotado aí. Agora vá, vá, vá.
– O dinheiro. – disse ela me estendendo a mão (ahff!) e eu lhe revirei os olhos.
Tirei minha carteira de dentro da minha túnica e coloquei em sua mão, mas só soltei depois de mandá-la economizar ao máximo as minhas maanas. Ela me afirmou que faria o possível e saiu. (finalmente posso conferir meu projeto secreto!).
Tranquei a porta do laboratório vazio e movi o livro que abria a passagem e assim começar a conferir os ingredientes. Tudo estava na mais perfeita ordem, o que queria dizer que eu finalmente poderia por mãos à obra.Cris
Fui pro mercado como Ezarel me pediu. Pra ajudar a economizar o dinheiro dele, tirei metade da carteira e escondi dentro de minha bolsa. Negociar com os gatos até que é fácil, já que eles fazem quase de tudo pra que você compre. E mostrar o dinheiro que tem “disponível” para compras junto da lista de 25 itens (com dois riscados, ou seja, 23) ajudava a conseguir um descontinho (se fosse na Terra, era pagar o preço ou ficar sem!). Também aproveitei para conferir os colchonetes e/ou materiais para fazer um (uma poção pode até te colocar pra dormir, mas não dá pra depender pra sempre disso, né!?), e eles pareciam terem sumido da face de Eldarya... (AI! Meu Senhor...!).
Gastei umas três horas para achar tudo da lista. Bem, quase tudo. Dos 25 itens, só foi possível encontrar 20. Usei toda a metade que mantive na carteira para pagar as compras. Voltei pro QG.
Antes de bater na porta do laboratório, devolvi o dinheiro de Ezarel pra carteira dele. Acho que ele é tão mão-de-vaca quanto alguns tios meus pelo jeito que ele me ordenou com o olhar a economizar. Tentei abrir primeiro para não o interromper caso estivesse concentrado, mas a porta estava trancada (é, não vai ter jeito!). Bati na porta com força, mas sem parecer grosseira (se ele estiver concentrado é necessário um solavanco para chamá-lo), porém não tive resposta.
Bati outra vez com mais insistência, mas continuei ignorada – Ezarel! Ou seja lá quem for que estiver trancado aí dentro! ABRA a porta por favor! – falei batendo mais uma vez. Foi aí que comecei a ouvir barulhos lá dentro e após uns dois minutos, a porta era destrancada.
– Sabia que você é bem barulhenta?
– Não precisaria ser barulhenta se você não tivesse trancado a porta. – falei já entrando – Trouxe o que me pediu, mas cinco dos itens da lista inteira estava em falta e gastei metade do que você me deu.
– Sério? Você não comprou mercadoria ruim, comprou? – ele me olhava incrédulo, pegando a carteira de volta.
– Como minha mãe vivia me repetindo: “faça bem feito para não ter de fazer duas vezes!”. E ao contrário de você, os purrekos não me odeiam.
– Hm... – ele me olhava desconfiado e eu lhe ergui uma sobrancelha e as sacolas em minhas mãos com as compras – Coloque essas coisas sobre aquela mesa. – ele a apontava e eu já fui me livrando do peso – E aproveite para já desembalar tudo das sacolas. Estou no meio de uma poção complicada.
– De que tipo? – perguntei.
– De um tipo extremamente difícil. Saia assim que terminar. – ele retornava a mesa dele.
– E quanto às poções do sono?
– Eu as farei. Assim que acabá-las irei entregá-las pessoalmente a você. Agora anda logo!
(Como quiser ranzinza.) Esvaziei as sacolas e saí dando um tchau que foi ignorado (depois reclama quando é pego desprevenido... esse Ezarel é um chato!). Já era uma da tarde e meu estômago roncava. Eu não sei se Absol vai aparecer para ajudar com o “Gelinho” hoje, mas por via das dúvidas, resolvi pedir meu almoço como marmita mesmo e me dirigi pro quarto.
Estou começando a me desesperar com aquele dragão.Lance
Estou com um humor dos infernos! Já não adianta mais aquela pomada e estou cada fez pior por conta das noites mal dormidas. Pra evitar de acabar descontando em minha carcereira (ou de agir estranho novamente) procurei manter distância dela (se bem que aquele brilho verde ajudou a me distrair um pouco...).
Não tenho me exercitado por causa das dores e também por causa delas, não estou conseguindo concentrar maana direito, atrasando a minha recuperação da mesma. Pensei em conferir o treino dela pela janela, mas só a vi perambular pra cima e pra baixo no mercado, fazendo uma pausa dentro do QG no meio. (sério!? Ela fugiu dos treinos? Mas ela nunca faz isso!) E para completar as coisas, a Negra resolve me encher a paciência um pouco antes da Cris retornar de vez ao QG.
– Pode me dizer o que é que aquele black-dog tanto procura? Pois definitivamente não é algo que me ajude.
“Engano seu. Vai ajudá-lo também, mas é algo extremamente difícil de se encontrar.” – (sei...) – “Quando vai ensiná-la finalmente a controlar sua maana ou a língua original?” – lá vem ela de novo...
– E o que você pediu exatamente ao Absol? – a vi soltar um suspiro enquanto coçava a nuca.
“Descobrirá quando Absol encontrar.”
Senti meu sangue ferver. Eu não estava mais afim de ficar só com meias respostas (ou, no caso, resposta nenhuma), mas antes de voltar a questioná-la, ela sumiu dizendo que a Cris estava chegando. Não deu nem dois minutos e comecei a ouvir a porta sendo destrancada.
– Com fome? – perguntou ela entrando.
– Um pouco. Fugiu do treino? Onde estão as suas compras? – sei que estou a evitando, mas às vezes isso me distrai.
– Eu não fugi, apenas não encontrei ninguém com quem treinar. Ainda mais depois de Absol resolver sumir. Quanto às compras... Eram do Ezarel e não minhas.
– Desde quando você é criada dele. – falei fazendo o possível para não mostrar interesse.
– Estava sem o que fazer e decidi fazer algumas poções do sono para nós dois...
– Poções do sono... Para nós dois?
– Acha que eu também não fico temerosa quando você se revira sem dormir naquela poltrona? Continuando. Pensei em fazer as poções, mas não tenho todos os ingredientes, então fui ao laboratório de alquimia atrás do Ezarel...
– Não era só entrar e pegar o que queria?
– 1º, não sei onde fica cada coisa naquele laboratório, sempre preparei o que precisava aqui dentro. 2º, não estou afim de ser acusada de roubo, já tenho problemas éticos suficientes.
– É a primeira vez que sou chamado de “problema ético”. – disse já me sentando à mesa com ela me revirando os olhos.
– Enfim... quando me encontrei com a peste, ele me pediu para comprar algumas coisas em troca das poções, que não consegui achar tudo. Ainda tentei encontrar algo mais confortável para você dormir, mas... ...
– Você não conseguiu achar de novo. – um respirar fundo foi a sua resposta – E as poções? Onde estão?
– Assim que achei uns 80% da lista dele, voltei pro laboratório onde até trancar a porta ele trancou para poder trabalhar com uma poção especial. Entrei, deixei as coisas, e ele bem dizer me expulsou de lá dizendo que ele mesmo as faria e me entregaria depois. – terminou ela começando a comer finalmente.
– A raposa bipolar ainda não lhe deixa cumprir missões? – ela me negou com a cabeça. Durante a semana inteira, a Negra vem me enchendo o saco para ensinar a língua original à Cris (até parece que ela não vê como essa mulher é teimosa) e também a ensiná-la a controlar sua maana como eu, pois, segundo ela “você mesmo vai precisar disso mais adiante, Lance!” (as charadinhas dela me irritam!) Sem falar que ela sempre retornava ao quarto numa condição deplorável para isso. Só que hoje... – Já que não conseguiu treinar com as espadas, porque não treina com a sua maana?
– Oi?Cris 2
Quando Lance resolveu me ensinar a concentrar a minha maana como agradecimento por o ajudar com o pescoço, eu não me incomodei muito. Era como meditar. E ajudava a relaxar. Mas nunca me preocupei em aprender a ter controle sobre ela com medo de acabar fazendo meu “poder adormecido” aflorar. E como eu já mencionei aqui antes: quanto mais poder, mais problemas. (todo excesso para o mais ou para o menos é sempre dor de cabeça sabia?) E agora ele está se oferecendo a me ensinar a controlar o meu poder que ainda está muito bem guardado e obrigada?
– Você não pode ignorar o poder que dorme em você pra sempre... – disse ele sem me encarar.
– Poder esse que de acordo com seu bisavô é grande demais. Tem certeza que quer me ensinar a despertar e ter controle sobre ele? Isso não seria uma faca de dois gumes pra você?
– Tem medo do seu poder? – ele tentava não mostrar, mas um pequeno riso lhe escapava no canto do rosto.
– Bom... eu...
– Já vi que tem. – calei por conta do nervosismo – Olha, você pode até achar que pode se virar sem seus poderes, mas uma hora, vai ser o seu total controle sobre eles que irá definir sua vida ou sua morte! – engoli seco ao mesmo tempo em que respirava fundo para não ficar ainda mais nervosa. Tomei um “choque” quando senti a mão dele sobre a minha (me impedindo de afastá-la...) – Vamos enxergar isso como um pagamento por toda a maana que você tem me fornecido. – terminou ele me sorrindo aquele sorriso detestável que me fez desviar o olhar dele (com eu revirando os olhos). E gostando ou não... ele tinha um pouco de razão. Uma hora ou outra, aqui em Eldarya, esse conhecimento poderá me ser cobrado.
_suspiro profundo_ – Tudo bem... Eu aceito... Mas não reclame depois! – falei lhe apontando um dedo e ele continuava com aquele sorriso.
Optamos por começar uns 15 minutos depois de terminarmos nossa refeição (claro, enrolei o máximo possível com a minha). Mas ainda não confio totalmente nesse cara! E nem sei por que ando baixando tanto a minha guarda com ele ultimamente...
– Antes de começarmos... – chamei sua atenção antes assumir a posição ordenada por ele – O quê você quer de mim Lance? – ele me encarou impassível – Honestamente; pois não acho que o quê você queira seja só a minha maana ou uma possível aliada. – completei antes de ouvir sua resposta que levou uns cinco minutos para ser dada.
– No começo... Era estudá-la. Conhecê-la e compreendê-la melhor, para saber se poderia ou não tirar proveito de você. – engoli seco – Quando deixei finalmente aquelas correntes da prisão e invadi este lugar, era também sua maana e abrigo. – respirei fundo – E agora... ...
– E agora... o quê? – perguntei diante de sua pausa.
– Vamos começar logo. – me espantei com a mudança de assunto dele – E preciso que confie em mim!
– Assim como ontem?? – falei lhe erguendo uma sobrancelha e em resposta ele apenas deu uma risada debochada (minha Mãe! qual o problema dessa criatura?).
Começamos com o trabalho. Segundo ele, íamos começar com o básico do básico. Não demorei a entender o porquê dele ter me pedido para confiar nele. Ele corrigia minha postura e me tocava como meio de auxiliar suas explicações de como eu devia prosseguir.
– Você precisa se manter o mais tranquila e equilibrada possível. Suas emoções são capazes de afetar a sua maana de várias formas. – explicava ele atrás de mim com as mãos sobre os meus ombros.
– As emoções são capazes de afetar qualquer coisa que façamos. – comentei tentando me concentrar.
– Realmente. Se eu tivesse me lembrado disso anos atrás, não teria perdido aquela guerra.
– Vitória que teria causado a sua morte. Se o caminho leva a um suicídio, não é um caminho, é uma armadilha! – encerramos o assunto “guerra” nesse ponto e seguimos com o treino.
Ficamos horas nisso, mas acabei foi é impressionando ele (e a mim também!). Ao contrário do que imaginei, terminei o primeiro treino podendo criar pequeninas esferas de maana (as mesmas usadas como moeda aqui), coisa que eu não conseguia de jeito nenhum antes, por mais que Anya ou qualquer outra pessoa tentasse me ensinar. O crepúsculo já se anunciava quando decidimos encerrar o treino. Fui atrás de um lanche (pois acabei faminta) enquanto ele tomava um banho, e tomei o meu depois dele sair e nós comermos.
Deitada já na cama, não conseguia dormir. Lance não parava de fazer barulho se revirando na poltrona que lhe servia de cama. Alcancei o meu limite. (Mãe Celeste, que eu não me arrependa do que estou prestes a fazer!) Geralmente, eu retiro um dos travesseiros e durmo bem no meio da cama. Mas, após respirar fundo, peguei o travesseiro afastado e o recoloquei na cabeceira, deixando os dois travesseiros o mais longe possível um do outro e me empurrei para o canto da cama que ficava para a janela.
– Deita. – disse olhando para ele que me encarava em silêncio – Não foi dizer duas vezes então anda!
– Tem certeza disso? – perguntou ele me sorrindo desprezívelmente. Corei.
– N-não é nada disso! E é temporário! – respirei fundo lhe desviando o olhar – Agora, se você prefere continuar relutando contra o sono aí... – senti o declinar do colchão atrás de mim, me assustando. Virei e o vi terminando de se ajeitar do outro lado da cama, de costas para mim e me deixando todas as cobertas que havia sobre a cama (que agora eram cinco mais o agasalho que eu usava para conseguir lidar com o frio do inverno) para mim, garantindo a nossa separação.
Me ajeitei o mais próximo possível da beirada (também de costas para ele) e tentei dormir. Mas quem disse que a minha mente o queria? (e Ezarel nem trouxe as poções como prometeu. Ele me paga!) Tentei todos os truques que conhecia para pegar no sono. Ficar o mais quieta possível; rezar; contar crylasns (já que aqui não tem ovelhas...); mergulhar em camadas e mais camadas de escuridão e nada. Já era mais de meia-noite e só havia mais um truque (que até hoje não me falhou) que eu pudesse tentar. Músicas suaves.
Me levantei com o máximo de cuidado para não acordar o Lance (que parecia ter adormecido quase que imediatamente. Inveja...) e fui até o meu not que estava com a bateria cheia por não o ter usado hoje. Liguei-o e coloquei a playlist Sonolência (tinha várias playlists salvas para diferentes situações) para tocar o mais baixo possível e comecei a ouvi-las.
Enquanto ouvia aquelas músicas suaves, tranquilas e calmantes, fui me deixando levar e comecei a dançá-las de olhos semifechados. Eu não bem dançaaava!... Eu apenas deixava meu corpo fluir com a música, fazendo movimentos que eu nunca conseguiria repetir outra vez (a quanto tempo que não me deixo levar assim?), até tirei minha blusa, ficando apenas de camisola (longa e de mangas compridas, expondo a região ao redor do pescoço) para que meus movimentos ficassem mais suaves e confortáveis. Aos poucos me sentia mais tranquila, mais relaxada, mas quando senti chocar-me contra algo durante um de meus movimentos e duas mãos segurando-me os ombros... virei me afastando na hora, com o coração na boca!Lance 2
Não é à toa que ela era tão boa com a espada. A Cris aprende mais rápido do que eu pensei! Não é qualquer um que consegue solidificar maana logo no primeiro dia de treino. E isso com ela se mantendo tensa quase o tempo todo! Eu só não fiquei debaixo da agua quente que relaxava um pouco o meu corpo porque não podia me demorar.
Na hora de dormir, eu ainda encarei aquela maldita poltrona por um instante (vou acabar é me deitando na cama dela...). Sentei naquela porcaria onde eu dormia e fiquei procurando posição por uma meia hora. Não esperava que o meu incomodo estivesse afetando tanto assim aquela mulher ou ela não teria me chamado para deitar junto dela, mesmo que a contragosto. Cheguei até a provocá-la, mas antes mesmo que ela desse algum sinal de desistência, me deitei o mais longe possível dela em sua cama (se eu soubesse que o colchão dela era tão confortável, teria dado um jeito de dormir nele a bem mais tempo). Menos de um minuto e já estava com Morpheus.
“Ei, Lance!” – mas ela é mesmo uma praga... – “Lance acorda!” – (me deixe dormir Negra...) comecei a notar uma melodia baixa – “Qual é... Depois não diga que eu não o avisei!” – (o quê você quer? Sabe que estou a noites sem dormir direito, e quando o consigo você vem me perturbar!?) – “Não está curioso com a melodia?!” – perguntava ela meio que cantarolando e pensando bem... não faz parte do arsenal dos aparelhos da Cris? – “Vai! Abre logo esses olhos um pouquinho!”
Não sei o que essa chata quer comigo a essa hora, mas resolvi dar um olhada na Cris, o que deveria ser a vontade daquela imitação de Oráculo. Porém, ela não está na cama. Estendo meu olhar mais pra frente e consigo encontrá-la, dançando. Bela, suave e delicadamente sedutora sob a luz da lua que invade pela janela, parcialmente colorida pelos vitrais.
“Agora me diz: valeu ou não valeu a pena?” – não conseguia desgrudar meu olhar da Cris (o quê ela está fazendo?) – “Digamos que alguém a deixou um tanto agitada e por isso estava com dificuldades de dormir. E nem queira empurrar o problema pra minha irmã!” – hunf! A culpa é só dela. E além do mais, (ela é uma mentirosa! Disse que não sabia dançar e olha só pra ela...) – “Eu não teria tanta certeza...” – (que quer dizer?) – “Todos os seus movimentos são improvisados. Resultado da música sob o corpo...” – cantarolou ela no final e, observando bem, há mesmo alguns atrasos de movimento em relação à música... (mas porque você me acordou?) – “Notou que às vezes ela parece estar com um parceiro?” – já entendi aonde a Negra quer chegar... (pra quê você quer que eu faça par pra ela?) – “Não gostaria de poder continuar dormindo nessa cama sem grandes problemas?” – agora eu irritei (mas afinal, você é um Oráculo ou um cupido!?) senti que ela dava de ombros pra mim – “Você é quem sabe. Só não se esqueça que, se a Cris não conseguir dormir, você poderá ter vários problemas.”
Eu detesto aquela Negra. E detesto mais ainda quando ela tem um pouco de razão. Me levantei o mais silenciosamente possível e, aproveitando que ela estava com os olhos fechados, me aproximei da janela ainda a observando. Pensava em como despertá-la daquele “transi” quando ela mesma acabou se chocando de costas em mim me fazendo achar graça (que bela a expressão de surpresa dela ao me ver).
– La-Lance? E-eu não queria...
– Me concede uma dança? – perguntei em meio a uma reverência e lhe sorrindo (aqueles olhos esbugalhados estavam mesmo agradáveis de se olhar) – Acaso eu te decepcionei no dia do baile? – questionei para acordá-la do choque de meu pedido. Como resposta, ela apenas negou com a cabeça, me fazendo alargar ainda mais o sorriso. Aproximei-me dela para tomá-la.Melodia da dança
Uma música lenta começava, o que ajudava com a situação, já que ela precisava ficar confortável comigo tão próximo dela. No meio da dança, ela acabou apoiando o rosto em meu peito, me pegando de surpresa (o sono deve estar começando a te afetar). E quase ao mesmo tempo, vejo a Negra atravessando a parede ao lado da porta, rindo ao entrar.
(Está rindo do quê, Negra?) – “Da cara que o Nevra fez quando a Cris se apoiou em você! Hihihihi, você devia ter visto! Hahahahaha!” – então o sanguessuga estava nos observando hoje também... Não pude evitar um sorriso provocativo em direção à fechadura da porta (como está a condição emocional da Cris agora?) – “Bem melhor, hihihi! Ela será capaz de dormir agora.”
Fiquei meio aliviado ao saber. Convidei a Cris a dormirmos e ela aceitou. Acompanhei-a até a cama e depois fechei aquele aparelho que calou-se instantes depois. Voltei a dormir satisfeito.Nevra
Para evitar de não ter tempo suficiente para os meus afazeres e interesses pessoais, conferi as plantas do QG que tinha em meu quarto assim que entrei nele, conferindo os possíveis lugares em seguida (deixei de vigiar aqueles dois, pois eu realmente tinha muito o que fazer). Amanhecido o dia (que não me foi nada fácil), a Reluzente se reuniu por quase uma hora logo cedo. Ezarel não perdeu tempo para preparar a sala que escolhi, junto da Ewelein depois que eu lhes entreguei as chaves do lugar.
Todos estavam sobrecarregados de deveres e missões por culpa de Apókries e dos negócios que a Miiko fez. A primeira coisa que fiz após deixar a reunião, foi fazer o treinamento de Anya. Ainda não esqueço a “conversa” que Voronwe veio ter comigo e com a Miiko depois de ter conversado com a família sobre Anya fazer parte da guarda agora (Miiko chegou a cair de joelhos quando não estávamos mais diante dele!), ter aquele elfo como inimigo é a pior coisa que alguém pode fazer.
Depois do treino de Anya, foi a vez de cuidar das burocracias de minha guarda. Era tanta papelada pra arrumar que, se não fosse pela Karenn e pelo Chrome me ajudando, eu só teria terminado no dia seguinte ao invés de às três da tarde. Concluídas as tarefas burocráticas, fiz Chrome me acompanhar até os túneis. Com a ajuda dele e de minha audição, conseguimos encontrar a entrada da qual eu ouvi ontem. Repassei a descoberta para a Miiko e ela decidiu deixar sempre um guarda no local por garantia (nós já sabíamos que os túneis interviriam nas capacidades de percepção do Valkyon sobre outros dragões e o lugar era um ótimo ponto de vigília).
Eu só fui ver comida mesmo na hora do jantar. Comemos juntos eu e meus dois melhores amigos, Valkyon e Ezarel. Erika ainda estava ocupada com as meninas segundo o Valkyon e Ezarel, como sempre, não perdia uma chance de fazer piada. Ficamos um boom tempo conversando. Eu não sei mais quem foi que comentou, mas no momento que foi mencionada a palavra ‘sono’, me surpreendi com o Ezarel dando um tapa na própria testa.
– Qual o problema Ezarel, esqueceu algo? – perguntou o Valkyon tão intrigado quanto eu com aquela reação.
– Eu me esqueci totalmente das poções do sono que ela me pediu e que eu fiquei de lhe entregar. E eu nem consegui descontar as coisas que ela já me aprontou ainda... – sussurrava ele a segunda frase.
– Ela? Ela quem? Quem precisa de poções do sono? – estou tão cansado que estou com um pouco de dificuldade para pensar agora, principalmente depois de três taças de vinho quente.
– A Caçadora. Mais cedo ela me fez um senhor favor em troca de minha ajuda para poder fazer poções do sono pra ela e pro Absol, pois segundo ela, ambos estão com dificuldades para dormir. Eu fiquei tão ocupado com uma poção pra lá de delicada – deve estar se referindo a poção da verdade – que eu esqueci as poções dela.
– A Cris com certeza irá lhe cobrar... – comentei, só que não acho que era ao Absol que ela se referia sobre a poção – Ela não apareceu para lhe cobrar elas hoje?
– Não. Acho que ela conseguiu encontrar algo para fazer e por isso até ela as esqueceu.
– Mas se você continuar enrolando para entregar o que prometeu a ela, vai comer mingau por duas semanas elfo! – Karuto nos surpreendia com um sorriso no rosto – E caiam fora logo daqui para que eu possa fechar o lugar!
– Você parece de bom humor, o que houve? – perguntou o Valkyon na minha frente.
– Hehehehe, deem uma olhada. – ele nos mostrava um pouco de maana solidificada.
– Mas isso é apenas maana! – falou Ezarel sem prestar atenção e com o Karuto assumindo uma cara rabugenta.
– Mas porque está branca? – disse o Valkyon fazendo Ezarel acordar e devolvendo o sorriso do Karuto.
– Não me diga que essa maana... é a maana da Cris?
– Hehe, acertou morceguinho. – ficamos impressionados – Quando ela veio buscar um lanche, me contou que passou a tarde treinando o controle de maana. Esse é o resultado.
– A Caçadora é ainda melhor do que eu pensei! Quantos que conseguem fazer isso com um dia de treino!?
– A Cris aprende rápido. – Valkyon se levantava – Agora se me dão licença, vou descansar.
Ezarel e eu lhe seguimos com Karuto todo contente com a maana da Cris fechando o salão. Ezarel me comentou que ele, Anya, Alajéa e até mesmo o Leiftan tentaram ensiná-la a fazer aquilo e ela não havia conseguido e por isso, todos acreditavam que ela não tinha essa capacidade (será que foi o Lance que conseguiu fazê-la aprender? Com que intuído? Tenho que dar uma olhada naqueles dois). Me despedi de meus amigos dando a desculpa que ia dar uma olhada em minha irmã quando passei direto pelo meu quarto, já que o dela ficava um pouco mais a frente.
Já estava dando meia noite quando cheguei diante do quarto da Cris. Fiquei observando um pouco o novo emblema que foi posto na porta dela, um coração vermelho envolto por duas asas de penas brancas de um lado e duas asas membranosas negras do outro, substituindo o de clavas espinhosas cruzadas com uma caveira no centro (é incrível o mau gosto que Celsior tinha!). Resolvi ouvir as coisas lá dentro primeiro.
Notei que só havia dois batimentos cardíacos, um tranquilo e um agitado (parece que Absol vai retornar tarde de novo... O quê ele tanto busca?). Comecei a olhar pela fechadura e fiquei confuso por não ver Lance na poltrona logo de cara, e a Cris se levantava da cama com cuidado (O QUÊ QUE ESSE CANALHA ESTÁ FAZENDO NA CAMA DELA???), acabei lembrando das poções que Ezarel comentou ter se esquecido de preparar para ela e também fiquei sabendo que ela esteve à procura de materiais específicos (devia ser para fazer um colchão ou algo do tipo pra ele e como não achou nada... Argh! A poção devia ser para garantir que nenhum tentaria nada com o outro, mas ainda assim...).
Um som melodioso me tirou de meus pensamentos e voltei a olhar para dentro do quarto, era a Cris com o tal “not” dela. Ouvi que ela se acalmava aos poucos e não demorou muito para que ela começasse a dançar. Aquela visão era realmente agradável (queria ter conseguido aquela dança com ela no baile...). Estava tão focado nela que eu só percebi que o lagarto estava de pé, quando a Cris se chocou com o mesmo. E eu não acredito, era realmente ele o par dela naquele dia!! Como foi que ele conseguiu se esconder do Valkyon?!? (“Acabei recebendo ajuda. Só isso.” Foi o que ele disse, mas quem o está ajudando? A tal da Negra? Será essa a tal vidente que a Cris comentou antes?).
Fiquei boquiaberto com o aceitar dela, ainda mais diante de uma música lenta. E quando ela resolveu se apoiar nele durante aquela dança? Senti que ia cair para trás. Mas o golpe final foi quando o Lance começou a sorrir em minha direção (não é possível... ele sabe que eu estou os vigiando? Por isso que ele não se importou por eu ouvi-lo quando interroguei a Cris? Desde quando ele sabe?).
Só consegui sentir um pingo de alívio quando os dois começaram a dormir feito pedras. E não demorou para Absol finalmente aparecer e eu o ver se deitando bem no meio daqueles dois. Tenho que descobrir que raio de ligação é essa que existe entre os dois se eu quiser tirar esse crápula de perto dela, antes que seja tarde demais.
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Cris
Tá ok, daqui a pouco vou começar a querer um psiquiatra. Mas o quê foi que eu fiz ontem à noite!? Acordei ao som dos mascotes que cumprimentavam a aurora, e assim que percebi Absol entre mim e o Lance (obrigada meu Pai), comecei a lhe acariciar a cabeça (me pergunto que hora que ele chegou para parecer tão cansado) e também a recordar o que fiz...
Eu não esperava acabar acordando o Lance e muito menos que ele decidisse se juntar a mim naquela situação. Quando ele se aproximou de mim, com a brincadeira da “formiguinha” para me por em seus braços, senti meu corpo inteiro se arrepiar. Ele me guiou de forma suave e, combinado com a música que ouvíamos, aos poucos me tranquilizava novamente. Parte de minha insônia era por causa do fato de ele estar muito perto de mim. Meio que por impulso, acabei me apoiando em seu peito e, ouvindo as batidas... gentis, de seu coração, fui ficando cada vez mais calma novamente. Tanto que quando ele chamou para voltar a deitar, não demorei a dormir dessa vez.
_suspiro_ Realmente espero que isso não tenha que durar muito tempo mais. Deixei os dois continuarem dormindo e fui me arrumar para mais um dia (hoje é a vez dos contaminados...). Desci e o Karuto estava em seu jardim secreto, foi a Twylda quem me serviu (meu costumeiro leite com chocolate e dois muffin’s de fruta de mel e fruta da lua vermelha como acompanhamento). Voltei pro quarto e os dois ainda dormiam.
Enquanto comia minha parte do café, fiquei observando o Lance, e eu não me lembro de já o ter visto com uma expressão tão tranquila quanto a que tinha naquele momento (quem o olha assim, nem acredita no quão perigoso ele é). Se não fossem pelas batidas na porta, me chamando para a sala do Cristal, tenho certeza que ele dormiria por um longo tempo ainda.
– Que horas são? – perguntou ele com aquela confusão de quando se acorda.
– Umas sete e meia mais ou menos. – Absol passava para a cama dele enquanto Lance sentava na minha – Sua parte do café já está na mesa.
– Não quis me acordar?
– Não. Depois de tantas noites ruins, preferi te deixar descansar.
– Hunf. Boazinha...! – falou ele entrando no banheiro (_suspiro_ Ai, meu Pai...) – Deixe que eu lhe arrume a cama, já que me deixou dormir. – completou ele ainda no banheiro.
– Tem certeza?
– Tenho. – saía ele – Tecnicamente você não tem motivos pra se demorar. Ainda mais você que nunca se atrasa pra nada. Agora vá! Eu cuido de tudo aqui dentro.
– Como desejar!... – falei já saindo do quarto.
Chegando na Sala, os contaminados já estavam lá e dei graças a Deus por não encontrar uma terceira criança entre eles. Apesar de eu poder enxergar claramente cada tipo de faery envolto por aquelas sombras, ao olhar dos outros, isso era impossível! A maioria dos faerys ficavam tão alterados se comparados as suas formas originais, que poucos podiam ter suas espécies reconhecidas. O que então falar de suas idades. E se eu descesse para conferir se haviam ou não mais crianças naquele meio, não conseguiria parar até terminar de ajudar todos, então... SEM CHANCE!
Acabado tudo, Jamon e uma brownie da Absinto me levaram de volta para o quarto (bem que eles podiam me arranjar mais um pouco daquele eliksir que Dono havia me oferecido...), me deixando outra vez sozinha com o dragão de gelo (Absol já sumiu outra vez!? Mas o que é que ele está procurando afinal??).
– Sem crianças hoje? – perguntou Lance, sentando aos pés da cama. Eu lhe assenti – Que tipos você salvou agora?
– Três mulheres e quatro homens. Dois dos homens eram idosos. Foram um kappa, dois brownies, dois fenghuangs, uma gnoma e uma ninfa.
– A terceira era fenghuang ou brownie?
– Brownie. – comecei a sentir meus olhos pesarem.
– Me pergunto: será que se você aprender a ter controle sobre sua maana, passará a poder ajudar mais faerys ou a dizer ‘não’ para eles? – ele se deitava de costas apoiando a cabeça sobre os braços, se mantendo aos pés da cama.
– Você quer que eu controle esse poder? É isso?
– E acaso seria ruim? – (não. Não seria...).Nevra
– Ei Nevra! Você está me ouvindo? – perguntava-me Karenn durante o treino de Anya (ainda não consigo tirar aqueles dois da cabeça).
– Mais ou menos. Não tive uma boa noite ontem.
– Nesse caso Chefinho, porque não cancelamos meu treino hoje e o senhor descansa enquanto a Karenn e o Chrome cuidam de tudo para você?
– Boa tentativa Verdheleon, mas não. Seu treino continuará até que seja capaz de me derrotar dez vezes seguidas.
– Mas assim esse treino doido não vai acabar é nunca!
– Então trate de se esforçar, Anya!
– Sinceramente irmãozinho, Anya ainda é criança e você parece querer transformá-la em um membro de elite! Não dá pra pegar mais leve não? – (ah Karenn... se soubesse o que eu sei...).
– Anya sabe muito bem porque eu exijo tanto dela Karenn. – ela me ergueu uma sobrancelha com os braços cruzados enquanto Anya engolia seco – Que tal prosseguirmos?
As duas ainda não pareciam gostar, mas aceitaram. Sempre que eu lembrava Anya do porque de eu treiná-la daquela forma, ela parecia responder melhor ao treinamento (o que é muito bom). Continuamos com o treino até o meio-dia e meio. Como eu havia prometido no dia do baile, Anya agora só tinha que cuidar da manutenção dos equipamentos da Sombra dia sim e dia não, coincidindo com os dias de treino da Cris, por isso, hoje ela já estava livre. Chegamos ao salão das portas e logo vimos o Karuto com uma bandeja na mão, deixando a despensa em direção ao corredor das guardas.
– Ei Karuto! – corremos até ele – Essa é a comida da Cris?
– É sim, Pequena Rainha. A sua já está aqui. – os olhos de Anya brilharam.
– Nesse caso. – falei já tentando pegar a bandeja das mãos do cozinheiro – Deixe que nós levamos isso.
– E o que é que você pretende morcego? – Karuto me olhava sério e segurava firme a bandeja.
– Apenas carregar a bandeja para a Anya, já que ela acabou de terminar o treino de hoje. Depois que chegarmos ao quarto da Cris, eu desapareço.
– Se eu ouvir qualquer reclamação delas vindo de você...
– E ficar mais duas semanas recebendo mingau? Não, não darei nenhum motivo a elas para reclamarem. – Karuto não parecia muito convencido, mas acabou cedendo.
Após ele pedir a Anya que o avisasse se eu faltasse com a palavra, seguimos até o quarto.
– Me diz Becola... – estávamos no meio do caminho ainda.
– O que foi Verdheleon?
– Por acaso o senhor está gostando da Cris? – fiquei surpreso.
– Porque é que está me perguntando uma coisa dessas?
– Porque você parece ser o reluzidiano mais preocupado com ela, só isso.
– Hum... – pensei bem na resposta – Acho que me preocupo com ela, assim como me preocupo com você e com a Karenn. Só que com ela eu me dou um pouquinho mais de liberdade, já que ela é adulta.
– Mas a Karenn já não está até noiva!? – um riso me escapou.
– Está. Mas pra mim, a Karenn sempre será a mesma menininha que venho comigo quando fugimos do inferno em que vivíamos.
– Então... o senhor não está se apaixonando pela Cris, é isso?
– Não, não estou. – (pelo menos não ainda...) – Você mesma disse que não faço o tipo dela, e ela parece gostar mais de homens como o Valkyon.
– Talvez. Mas ela sabe respeitar o que é dos outros.
– Bom... Já chegamos. Pegue a bandeja de vocês agora porque tenho coisas a fazer ainda. Tchau Verdheleon! – falei me afastando para poder me esconder (preciso saber o quão próximo aqueles dois estão. E Anya, você vai me ajudar).Anya
– Tchau Becola! – me despedi enquanto Nevra se afastava.
Primeiro eu bati na porta usando código “sou eu e estou sozinha” para que o Chefinho não viesse a descobrir com a audição dele. Como não recebi resposta (um deve estar dormindo e o outro ocupado), apoiei a bandeja no chão e peguei a minha chave. Aberta a porta, fui direto deixar a bandeja que pesava na mesa e só depois de trancar a porta outra vez que eu percebi que os dois dormiam na cama. A Cris ocupava o lado da janela enquanto o Lance estava atravessado ocupando os pés. Esfreguei os olhos para acreditar no que via.
– Cris. Ei, Cris. – chamava-lhe sem querer acordar o Gelinho.
– Hum... Anya? Seu treinamento já acabou? Que horas são? – ela levantava a cabeça em busca de um relógio.
– Sim, já acabou e é hora de almoço. Pode me explicar isso aos seus pés? – falei apontando o polegar para o Gelinho.
– Uou! _suspiro_ Como não consegui achar nada e ele estava cada vez pior naquela poltrona, acabei cedendo autorização.
– Desde quando?
– Desde ontem. Foi difícil tomar essa decisão e espero encontrar um substituto para a minha cama logo. – dizia ela ao mesmo tempo em que se esticava e alongava como um mascote do tipo felino para se levantar. – Demorei pra conseguir pegar no sono ontem e ir dormir preocupada... não é nada bom.
– Se não for como o seu colchão, espero que não encontre nada. – nós duas nos assustamos.
– Gelinho? Desde quando você está acordado?
– Desde o momento que essa aí percebeu que eu dormia aos pés dela. – falava ele ainda deitado e de olhos fechados – Fazer as pazes com o sono é realmente muito bom. – agora era ele que se levantava – O que temos de rango?
Nos aproximamos os três da mesa para repartirmos a refeição. Durante a mesma, a Cris contou que conseguiu aprender a materializar maana com a ajuda de Lance (pelo menos um conseguiu ensinar ela!) e também me falou sobre o brilho verde (não acredito que não estive do lado de minha amiga quando ela mais precisou...). Conversamos sobre outras coisas e quando terminamos de comer, Lance chamou a Cris para voltar a treinar maana, usando o poder de purificação dela como argumento para dar continuidade.
Pedi a Cris que me deixasse assistir mais alguns animês enquanto ela treinava e quase que ela não me permitia. Só deixou porque o Lance se dispôs a ficar me vigiando para que eu não mexesse nas pastas proibidas (mas que chatice!). Acabei por assistir a continuação da historia daqueles hamsters(?) onde o principal se chamava Hantaro. As historias me parecem meio bobas, mas são legais e ainda conta um pouco dos costumes da Terra (até que seria legal se os mascotes falassem também...).Nevra 2
Assim que ouvi a porta sendo trancada, voltei a me aproximar do quarto, sem deixar de prestar atenção a qualquer um que se aproximasse. Sabia que eu poderia contar com Anya, logo de cara ela já foi interrogando aqueles dois, confirmando algumas hipóteses que tinha. Esse Lance... Nada folgado. Vou ver no que consigo ajudar a Cris e ainda não consigo compreender bem o interesse de Lance sobre o controle de maana da Cris (se bem que seria bom se ela o adquirisse, mas ele tinha de ficar tão perto para ensiná-la?), ao menos com Anya do lado ele não tentará nenhuma gracinha (eu espero...).
Logo eu ouvi alguém vindo, e me escondi nas sombras. Era Ezarel. Como carregava alguns frascos, imaginei que fossem as poções que ele havia prometido, pois ele foi logo batendo na porta da Cris.
– Quem é?
– A Caçadora está aí, pirralha?
– Ela está tentando treinar o controle de maana dela, por quê? – falou Anya assim que abriu a porta.
– Prometi uma coisa pra ela ontem, posso falar com ela pirralha?
– Deixe-o entrar Anya! – ouvimos a Cris gritar lá dentro e ele logo foi entrando (depois vou conversar com o Ezarel).
O Ez não se demorou muito lá dentro e eu continuei os observando até chegar o fim da tarde, quando as duas resolveram sair para comerem alguma coisa, e o Gelinho foi tomar banho. Decidi conversar com o Ezarel agora, depois volto para observá-los.Cris 2
Eu não sei direito como, mas ele conseguiu me fazer aceitar a dar continuidade ao treino de controle sobre maana. Não estou dizendo isto por conta do meu receio em acabar despertando os meus poderes aengel/dragão, não. Estou dizendo isto é pelo método de ensino dele! (pelo menos Anya está aqui dentro...).
– Tente se concentrar no que faz sim? – me cobrava ele (como se fosse fácil).
– É mais fácil falar do que fazer. Temos mesmo que ficarmos assim? – estávamos os dois sentados no chão, com ele atrás de mim como se eu fosse uma criança à frente dele, em seu colo.
– Foi assim que eu aprendi a controlar a minha maana e esse parece ser o único método que funciona com você. O mesmo de quando eu era pequeno.
– Quem lhe ensinou? – ele me olhou desconfiado (preciso disso para me acalmar aqui, meu querido!).
– Uma fenghuang que foi como uma mãe para mim e para o Valkyon.
– Ela tem nome?
– Alanis. O nome dela era Alanis. – sua voz soou meio triste.
– Era...?
– Acho que tinha lá para os meus quinze anos quando ela morreu em um acidente nas montanhas.
– Eu... sinto muito... – (ai caramba...).
– Sem problema. Ela é uma das poucas pessoas que não guardo rancor. Na verdade... foi um pouco depois de sua despedida que eu encontrei a musarose que dei de presente ao meu irmão.
– Fala da Floppy?
– Sim. Alanis amava musaroses, e como o Valkyon havia ficado pior que eu depois de recebermos a noticia de sua morte, decidi presenteá-lo com ela. O que realmente funcionou.
– Você é bem gentil quanto quer, não é mesmo? – falei olhando para ele com um leve sorriso (e ele engole seco!?).
– Que tal retornarmos ao treino? – apenas sorri, pois ele estava levemente corado – Quero que você imagine sua maana como um rio de energia correndo dentro de si, onde a nascente se encontra no centro de seu corpo, e fazendo o mesmo caminho que lhe mostrarei. – terminou ele já guiando o caminho que eu deveria imaginar. Respirava fundo para me manter calma.
– Uma pergunta. Para tentar me acalmar um pouco melhor.
– O que é dessa vez...
– Você... não... quero dizer, essa... situação... – sentia-me queimar, e por mais ininteligível que eu parecesse, ele me compreendeu.
– Vou ser bem claro com você. – ele assumia uma expressão bastante séria, e me olhando nos olhos – Não sou como algumas pragas nojentas que existem por aí. Sei diferenciar as coisas. Por isso... Eu. Não. Lhe. Farei. Nada.
Não sei se foi sua seriedade ou se foi as palavras em si, mas aquilo me atingiu fundo – Obrigada. Estou mais calma agora.
– Então vamos continuar.
– Há algum problema entre vocês dois? – Anya nos perguntava se desviando por um momento dos animês (ela ficou fazendo isso entre cada episódio bem dizer).
– Não Anya, está tudo bem. – falei e ela retornou o olhar para a tela de meu not, recolocando os fones de ouvido.
– E se ainda lhe resta mais alguma dúvida... – Lance me sussurrava ao ouvido – A pirralha seria mais um motivo para não lhe tocar. Não me sinto à vontade com plateia. – acho que me transformei em um pimentão nessa hora.
Alguém batia à porta instantes depois e Anya atendeu para mim. Era o Ezarel. Lance se afastou e escondeu-se rápido, e eu pedi para que Anya o deixasse entrar.
– Então você finalmente aprendeu a brincar com a maana Caçadora?
– E você finalmente se lembrou que havia me prometido entregar-me algo ontem? – falei no mesmo tom de deboche dele.
– A poção em que eu trabalhava me ocupou o dia inteiro. Karuto já me ameaçou caso eu demorasse a lhe entregar suas poções que aqui estão. – disse ele mostrando duas garrafas que colocava sobre a mesa – Para ter certeza que não a encontraria dormindo em meu local de trabalho outra vez, fiz logo duas. Basta uma colher para você ter oito horas perfeitas de sono e uma gota para o Absol que... – ele começava a procurar pelo quarto – Onde ele está?
– Absol saiu cedo outra vez em busca de algo que não sei o que é. Espero que dessa vez ele encontre o que tanto procura. – expliquei.
– Ei Ezarel! Isso é mesmo poção do sono? O cheiro parece diferente! – reclamou Anya mexendo nas garrafas.
– É uma receita diferente. Agora pare de brincar com isso antes que comece a ficar sonolenta pirralha. – Ezarel lhe tomava as poções, recolocando-as sobre a mesa – Quando seu guardião achar o que tanto procura Caçadora, gostaria de ver o que ele lhe trouxe de tão precioso. Posso?
– Sem problemas. – falei.
– Ótimo e... o que você fez para conseguir finalmente a controlar a sua maana?
– Encontrei um método diferente do de vocês. Um que funciona comigo.
– Ok então. Tchau Caçadora e pirralha.
– Tchau. – respondemos juntas com Anya lhe fechando a porta.
– Ezarel está certo. – Anya coçava a cabeça – Porque nós não conseguimos te ensinar e Lance sim?
– Porque vocês apenas davam a teoria para ela, não a informação prática. – Lance voltava a ficar atrás de mim – E não é só palavras que conseguem ensinar essa aqui.
– Ôu! Que culpa eu tenho de ser cinética!?
– Eu também sou meio assim. Só teoria não me basta, preciso agir também.
– Ok, ok. Vocês podem voltar pro treino de vocês que eu vou voltar pros roedores. – um sorriso me escapou quando Anya disse isso.
Lance e eu seguimos com o treino e no fim de tudo, passei a conseguir materializar a maana sem mais dificuldades (já que antes eu precisava me concentrar muito pra consegui-lo). O fato de ele me mostrar como eu tinha de imaginar as coisas dentro de mim, facilitava muito as coisas (apesar do desconforto...). O crepúsculo já dava seus sinais quando paramos com tudo.
Fomos nós duas atrás de alguma coisa para comermos e nos separamos no salão, já que Anya decidiu ir pra casa (nos mandando tomarmos meia colher de sonífero cada um antes de deitarmos... _sorriso_). Retornei para o meu quarto. Lance havia terminado o banho dele e eu fui tomar o meu enquanto ele comia. Deixado o chuveiro quente, acabei por encarar o frasco para dormir.
– Você vai tomar essa coisa? – Lance me perguntava enquanto olhava pela janela (será que ele usa o mesmo tipo de truque que eu?).
– Você não parece precisar de algo assim, ao menos pelo que pude perceber ontem.
– Quer comparar um espinheiro com um gramado macio? – um sorriso me escapou com essa comparação dele.
– Se eu sentir dificuldades para dormir outra vez, eu tomo.
– Tudo bem. Mas se acaso tiver interesse em ter um parceiro de dança novamente...
Corei – V-você não se importou de eu lhe acordar? Eu... não esperava que tivesse sono leve...
– Não foi você quem me acordou, e eu não queria perder a chance de recuperar as noites perdidas só porque minha carcereira não estava confortável. – fiquei sem o quê dizer, pensar ou agir. Principalmente com ele me dando aquele sorriso de sempre – Me acompanha até os braços de Morpheus? – convidou-me ele.
Não falei nada e deixei o frasco de poção no chão, próxima à cabeceira, para me deitar. Outra vez, Lance não pareceu ter qualquer problema para cair no sono (onde é que Absol está hein...?). Tive menos dificuldade que ontem para dormir, ou melhor, cochilar (mas quem é que está tocando flauta a essa hora???).
.。.:*♡ Cap.67 ♡*:.。.
Nevra
– Então, você não viu nada de anormal lá dentro? – perguntei ao Ezarel após ele responder todas as perguntas que fiz de forma disfarçada.
– Nada mesmo. E eu aproveitei para pedir à Caçadora que me mostrasse o que aquele black-dog tanto procura quando finalmente encontrar.
– E deixe-me adivinhar, ela aceitou.
– É, pois é. Acho que ela apenas quer me provocar inveja... Com EU a procurando...
Ainda conversamos e já começava a pensar em uma desculpa para me afastar dele sem deixar suspeitas.
– Nevra? – uma bela ninfa me chamava.
– Sim, em que posso ajudá-la my lady? – falei jogando o meu melhor sorriso.
– A Miiko está lhe chamando na Sala do Cristal e...
– E...? – não pude deixar de notar o quanto ela corava enquanto brincava com uma mecha de cabelo.
– Bom, é que... eu gostaria de saber... se o senhor... aceita, meio que me fazer companhia, durante uma missão de coleta que tenho amanhã. Na floresta. – um convite pra sair comigo _sorriso_.
– Seria-me uma honra, mas primeiro preciso saber se me será possível. – peguei-lhe a mão para lhe pousar um beijo enquanto me levantava, deixando-a ainda mais corada – Agora se me der licença, preciso me encontrar com minha líder. Até uma outra hora Ez.
– Até! – Ezarel sorria com malícia.
Deixei aqueles dois pra trás e fui até a Sala do Cristal. Chegando lá, Leiftan ajudava o Kero a carregar pilhas de livros e pergaminhos para fora, ficando apenas eu e a Miiko dentro da sala.
– Se importa em me dizer por qual motivo fui chamado Miiko? – ela mexia em alguns papéis.
– Sim. Chegue mais perto. – me aproximei até ficar a um passo de distância dela – Kero conseguiu encontrar alguns mapas antigos de Apókries e eu separei alguns que queria que você ou alguém de sua escolha os examinasse... droga!
– O que houve? – ela parecia não encontrar algo em específico.
– Acho que aqueles dois pegaram um dos que deviam me deixar sem querer. Espere aqui, vou conferir se foi isso mesmo. Eu já volto! – disse ela saindo correndo.
(Mapas de Apókries, hum...) Fiquei dando uma olhada meio que por cima daqueles mapas, mas quase que entrei em choque ao ver a Oráculo Branca bem diante de mim.
“A injustiça a colocará contra Eldarya. Não deixe que a injustiça se sobressaia diante da nossa esperança.”
Foi tudo o que ela me disse antes de sumir assim como apareceu. Nossa esperança é a Cris! E qualquer injustiça que ela sofra a fará ficar contra nós!? Já não basta o Lance que vive tentando a colocar contra Eldarya!?!Miiko
Aqueles dois atrapalhados... Mas não posso culpá-los. Todo o QG anda meio estressado por causa das investigações sobre a tentativa de rapto da Cris.
– Aqui está o mapa que faltava. Esse ataque está deixando todo mundo maluco! Ainda bem que a maana da Cris está nos ajudando a nos mantermos calmos, não concorda Nevra? – falei ao entrar na Sala do Cristal, porém o Nevra parecia estar em outro mundo quando entrei – Nevra? Eu falei com você! NEVRA!!
– Oh, Miiko! Já voltou? Nem a percebi.
– Mas o que raios te deu?
– Não é nada.
– Nevra...
– A Cris... – (o que tem ela?) – Ela odeia ser chamada de mentirosa, não é?
– Sim. Lembro que, no dia em que ela mandou os humanos embora, ela só faltou avançar em cima do Ezarel quando ele insinuou que ela mentia sobre não lembrar o que tinha feito.
– Então é melhor nunca a julgarmos antes de ter certeza se o que ela nos contar é ou não verdade, principalmente porque eu nunca consegui a ver mentindo.
– Não entendo aonde você quer chegar. Porque começou a pensar nisso?
– Se só de insinuar ela já quis partir pra violência, o que ela fará se for injustiçada de verdade?
Tremi com as possibilidades.Cris
Eu estava dormindo tão sossegada... (Quem é o sem noção que me resolve ficar tocando flauta a noite inteira!?) A música em si não é ruim, mas ao invés de ter efeito sonífero em mim, considerando o ritmo da melodia interminável, ela me mantinha era acordada! Meio como se ela estivesse me chamando. Nem colocando o travesseiro por cima da cabeça eu deixava de ouvi-la.
Pensei em tomar a poção que estava ao alcance de minha mão, mas era uma imensa sacanagem eu ter de apelar a remédios por culpa de uma praga. Nem o barulhento do meu vizinho na Terra me atrapalhava! Me levantei (Seja lá quem for esse flautista, vai se ver comigo!).
– O que está fazendo? – Lance estava imóvel no canto dele da cama.
– Você não está ouvindo? – questionei enquanto terminava de vestir o casaco.
– Do quê está falando?
– Da flauta! Já faz um tempão que tem um flautista tocando sem parar e não me deixa dormir!
– Não ouço nada. Você deve estar sonhando ou é uma armadilha. Volte a dormir.
– Eu tentei. Mas como pode ver, não consigo.
– E o que pretende fazer? – ele finalmente erguia ao menos a cabeça do travesseiro.
– Vou tentar ao menos ver quem é o responsável por não me deixar dormir. – falei já abrindo a porta.
– Volte aqui! – ordenava ele se levantando, mas eu já estava era trancando a porta outra vez.Lance
Droga! Mas que mulher mais teimosa! O black-dog ainda não retornou e... já passa da meia noite?? Só os responsáveis pela vigília noturna é quem estariam de pé a essa hora. (E ela disse que escutava uma flauta?) Parei para prestar atenção um instante e continuava não ouvindo nada.
– Vejamos: – comecei a recordar todas as flautas que existiam em Eldarya – Flauta de Oberon; flauta doce; flauta de Pan; flauta de ouro; flauta de Hameln Weser; flauta de Hemera; flau... FLAUTA DE HEMERA?!?!?
Quase que imediatamente ouvi o som de alguém correndo do lado de fora (aquele sanguessuga estava aqui e não foi atrás da Cris???), passei a ficar observando tudo da janela.
– É bom que nenhum idiota tente se apossar da minha carcereira, ou então...Nevra 2
Depois que a Miiko me entregou os mapas que ela queria que fossem confirmados, eu os deixei todos em meu quarto (amanhã eu os vejo) e voltei a vigiar aqueles dois que logo se deitaram (ela bem que podia telo feito tomar do sonífero...).
Os dois pareciam dormirem profundamente. Isso até a Cris acordar e começar a se irritar por não conseguir voltar a dormir. Tanto que acabou acordando até o lagarto (que historia de flauta era aquela?). Liberei minha audição para toda e qualquer melodia, mas não escutava nada. E quase que não consigo me esconder a tempo quando a Cris resolveu sair do quarto! Fiquei em dúvida se continuava observando o Lance ou se ia atrás da Cris. A decisão ficou clara depois que o Gelinho começou a dizer os nomes de várias flautas que podiam ser encontradas em Eldarya, pois, quando ele mencionou a Flauta de Hemera... Disparei para encontrar a Cris.
A Flauta de Hemera é uma flauta mágica que permite ao seu portador atrair um ser em específico, que será o único capaz de ouvir a melodia, para onde quiser. Tudo que o flautista precisa para fazer a flauta funcionar é depositar uma pequena amostra da aura da vítima sobre a flauta e tocá-la sem parar, pois no momento em que se para de tocar o instrumento, é necessário colocar novamente a amostra ou a flauta não funcionará.
Segui o rastro deixado pelo perfume natural da Cris e acabei chegando nos jardins. Cheguei bem a tempo de ver alguém tentando capturar a Cris por trás. Pensei em socorrê-la na hora, mas ela soube se virar sozinha. Cheguei a sentir a dor do último golpe que ela deu no cara! Bem na virilha (Ai...!).
Um guarda resolveu aparecer segundos depois, e o canalha no chão não perdeu tempo em querer jogar a culpa na Cris!? E aquele imbecil ainda preferiu dar ouvidos ao sequestrador a acreditar na Lys de Eldarya!?! (“A injustiça a colocará contra Eldarya.”) Não posso permitir que isso continue. (“Não deixe que a injustiça se sobressaia diante da nossa esperança.”) Posso estar perdendo um dos espiões de Apókries, mas antes eles do que a Lys de Eldarya! Nossa esperança!Cris 2
Atravessei todos aqueles corredores o mais rápida e silenciosa que eu pude (só preciso saber quem é o flautista. Amanhã eu converso com a criatura). Percebi que a melodia interminável (mas que fôlego que essa pessoa tem hein!) vinha de fora (tomara que o Lance esteja errado...).
Atravessei o mercado... O refúgio... O quiosque... E parei no jardim de música, que foi onde ouvia a música parar também. Não tinha ninguém. Ou foi o que eu pensei...
– Boa noite Lys! – alguém me segurava por trás tampando-me a boca – Fico feliz que tenha aparecido. Me acompanhe um pouquinho, sim?
Até parece... Eu me senti a Sandra Bullock no filme “Miss Simpatia” naquela hora. Me afastava daquele crápula e um guarda resolveu aparecer.
– O que está acontecendo?
– É ela! – começou o canalha antes de mim, ainda no chão – Ela enlouqueceu! Me atacou do nada!
– MENTIROSO. – rebati – VOCÊ estava tentando me sequestrar! Eu só me defendi. Era você o flautista, não é mesmo?
– Flautista!? – perguntou o guarda confuso.
– Sim. Não vai me disser que você não ouviu a flauta que ficou sendo tocada sem parar por mais de uma hora!?
– Eu disse que ela enlouqueceu... – falou aquele cretino que me sorria às escondidas do guarda.
– Cris... – o guarda me olhava sério – Será que pode me acompanhar por um momento?
– Vai acreditar nesse... criminoso ao invés de mim!?! Vai deixá-lo fugir?!?
– Por favor, se acalme. – o guarda vinha pro meu lado enquanto o miserável se afastava devagar – Vamos até a enfermaria apenas.
– NÃO! Você está acreditando na pessoa ERRADA! – falei ao mesmo tempo em que tentava me afastar do idiota, só que ele foi mais rápido. Agarrou-me o braço com as duas mãos.
– Solte-a imediatamente.
Nunca fiquei tão feliz em ouvir a voz do Nevra, ainda mais com ele imobilizando o canalha que havia tentado me capturar e por pouco não fugiu.
– Senhor Nevra!? – o guarda os olhava confuso – Mas o quê está fazendo?
– Sou testemunha de que a Cris disse a verdade. – arranquei o meu braço das mãos daquele idiota – Eu vi esse senhor tentando imobilizá-la. É realmente preciso tomar cuidado com você, Cris!
– Já me dou por satisfeita se não me chamarem de mentirosa... – falei assassinando com o olhar o guarda que ainda parecia não entender nada do que acontecia.
– E o que é que nós temos aqui... – voltei a encarar o Nevra que tirava uma flauta negra de dentro das roupas daquela peste, encarando-a com olhos frios – Uma Flauta de Hemera. – notei que o guarda ficou de olhos esbugalhados e boquiaberto – Não é à toa que só você ouviu o som de uma flauta Cris.
Estava prestes a perguntar o que ele quis dizer com isso quando do nada, o cara segurado por ele começou a ter convulsões – Mas o que há com ele!? – perguntei assustada.
– Cris... – Nevra me falava enquanto examinava o cara já desmaiado – Quero que você retorne ao seu quarto e não me saia de lá até que eu ou algum outro líder lhe diga que pode sair. Por favor.
De imediato não gostei da ordem, mas... como eu quase sofri um sequestro e ainda por pouco não fui tratada como louca mentirosa... fiz meu caminho em silêncio. O guarda que quase foi injusto comigo, me acompanhou até minha porta e ainda me pediu desculpas antes de me deixar “sozinha” no quarto.
– Você está bem? Vi o que aconteceu da janela.
– Estou ótima Lance.
– Não é o que seu tom me diz. – ele se aproximava de mim impassível, me observando.
– Quase virei vítima de sequestro e quase fui tratada como uma louca. Só estou aqui graças ao Nevra que testemunhou a verdade. – esclareci ainda um pouco irritada pelas recordações de tudo isso – Como acha que eu deveria estar?
Ele soltou um longo suspiro para depois pegar a poção que havia deixado aos pés da cama para me estendê-la – Acho que você vai precisar disso para descansar o resto da noite.
Foi a minha vez de respirar fundo. Tomei meia colher daquele líquido e me ajeitei na cama. Lance tinha o que parecia ser um olhar preocupado para comigo enquanto me ajeitava. Absol já chegava se deitando entre nós dois.Miiko 2
Eu não acreditava no que me era contado depois de ter sido acordada (estava tão bem sonhando com aquelas montanhas de doces...) e muito menos da confirmação que Ewelein obteve depois de alguns minutos de análise.
– Como foi que você deixou uma coisa dessas acontecer Nevra!? – estava o cerne da Reluzente reunida na enfermaria – Como pode deixar a nossa maior chance de respostas morrer desse jeito!?
– Este cara usou uma Flauta de Hemera para tentar sequestrar a Cris, e com exceção da Erika, acredito que todos aqui saibam como que essa flauta funciona. – (Santo Oráculo!...)
– Mesmo assim! Nós poderíamos inocentar a Cris depois disso.
– “A injustiça a colocará contra Eldarya.” – Nevra começou a dizer olhando fixo para o corpo daquele faery, deixando todos nós confusos – “Não deixe que a injustiça se sobressaia diante da nossa esperança.”
– Do que é que você está falando Nevra? Que historia é essa?
– Ezarel está certo. Dá para nos explicar isso Nevra? – me sentia cada vez mais nervosa com essa historia.
– Miiko. – ele passou a me encarar – Durante os minutos que você me deixou sozinho com o Cristal, a Branca me apareceu dizendo essas mesmas palavras. – pasmei – Eu testemunhei tudo o que aconteceu. Agora me diz, em meu lugar, tendo visto e ouvido tudo isso, acha mesmo que tomei a decisão errada? Acha mesmo que obter informações era mais importante que garantir o afeto da Cris por Eldarya?
Todos ficamos em silêncio por um momento.
– Como que a Cris está agora? – Erika cortava o silêncio.
– Eu pedi ao guarda que quase nos prejudicou a acompanhá-la até o quarto, e segundo ele, a Cris está irritada pela injustiça que quase sofreu. – explicava o Nevra – De acordo com as conversas que tive com Anya, nada a faz odiar mais uma pessoa do que ser tratada como mentirosa quando ela fala a verdade. Se eu tivesse deixado aquilo continuar, a Reluzente inteira poderia estar em sua lista negra agora. Sem falar que aquele cara teria conseguido se livrar da prova. – terminou ele segurando a flauta.
Alguns de nós, incluindo eu, acabamos por engolir seco por conta disso.
– Fez algum pedido à ela, além de retornar para o quarto? – Leiftan questionava.
– Pedi para que não deixasse o quarto até que um dos líderes lhe chamasse. Para evitar novas tentativas.
– Você fez bem. E admito que realmente foi melhor assim, se for considerar tudo o que disse.
– Bem que a Branca nos avisou. – declarou o Valkyon.
– Será que a primeira tentativa, foi com a yukina? – Erika se questionava em voz alta.
– Seja como for, é melhor priorizarmos a palavra da Cris nesses casos.
– Você está certo Leiftan. – massageava minha cabeça – Alguém por favor avise a todos o guardas que, se a Cris se declarar vítima de alguém que se diz ser inocente e ela der sinais de irritação, devem dar ouvidos à ela e não ao “inocente”. – fiz aspas no ar – Preciso de mais um pouco de descanso. Amanhã analisamos isto tudo mais a fundo e Valkyon! – ele me prestou atenção – Coloque algum dos guardas que estão de vigília hoje para velar o quarto da Cris.
– Pode deixar Miiko.
Nos dispersamos. Chegando em meu quarto, comecei a ter o pressentimento que esse ataque não seria o único dessa semana (Oh Kiuuby! Oh Oráculo! Guiai-nos por favor!).
.。.:*♡ Cap.68 ♡*:.。.
Ezarel
Na chegada do terceiro dia após o inconveniente que aconteceu com a Caçadora, finalmente terminei a bendita poção. Não via a hora de testá-la. Deixei o laboratório com uma amostra escondida nos bolsos (onde será que o Kero está agora?). Não tive dificuldades para achá-lo, ele deixava a biblioteca acompanhado do Leiftan, em direção ao salão (mas que chance mais perfeita!).
– Posso me juntar a vocês? – perguntei os interceptando ainda na despensa.
– C-claro Ezarel! Também não tomou o café ainda?
– É, pois é meu caro Keroshane. – notei que o salão estava bem ocupado – Porque você não pega uma mesa enquanto eu e Leiftan buscamos a comida?
– Não é uma má ideia. – _sorriso_ – Mas quero que o Leiftan pegue a minha comida. Você está bonzinho demais Ezarel. – fingi indignação. Leiftan e eu fomos atrás da comida.
– Acaso a poção ficou finalmente pronta Ezarel? – sussurrava-me o Leiftan.
– Está na mão. – disse sorrindo – E não vejo a hora de testá-la.
– Use apenas a dose mínima e de preferência na bebida.
– Ok.
Segui o conselho de Leiftan e misturei apenas uma gota que, segundo a receita, seria o suficiente para que o efeito imediato durasse meia hora. Já na mesa, nós três começamos a jogar conversa fora para que o Kero não percebesse quando fosse me responder minhas perguntas, que comecei depois de doze minutos de conversa fiada.
– E então Kero, quando que terei novos escravos? Quando serão os próximos testes de guarda?
– Daqui dois meses Ezarel. Mas é possível que a Miiko os adie por causa de todo esse problema com a Cris.
– Oh sim. Eu ainda não entendi como foi que ela caiu na Obsidiana ao invés da Sombra... – comentei.
– Foi a escolha dela. – Leiftan e eu nos entreolhamos disfarçados.
– Como assim Kero? – Leiftan me ajudava.
– As perguntas que a Cris respondeu a deixava dividida entre a Sombra e a Obsidiana. Apenas uma de suas respostas a guiava para a Absinto. Foi a pergunta final, a que questionamos de qual guarda o candidato gostaria de fazer parte, que decidiu seu destino.
– Uau! – (então foi isso...) – Isso já chegou a acontecer outras vezes? – perguntei para disfarçar (e está mais que óbvio que a poção funciona. Nunca que o Kero daria uma informação dessas!).
– É bem raro. Mas o mesmo aconteceu com a Anya.
– Anya também ficou dividida entre duas guardas? – perguntava o Leiftan.
– Sim, entre Sombra e Absinto. – (O QUÊ!) – E assim como a Cris, só uma resposta a guiava para a Obsidiana. – (ainda bem que a pirralha gostava mais do Nevra do que de mim!).
– Bom dia a vocês três! – (xi! Chegou a Caçadora) demos todos bom dia à ela – Sobre o que vocês estão conversando? Tudo bem eu saber?
– Conversamos sobre os resultados de alguns testes de guarda. – respondeu o Keroshane antes que eu ou o Leiftan disséssemos alguma coisa. Claro, ela desconfiou.
– Sobre os resultados? – ferrou – Mas Kero, você não me disse que este tipo de informação é extremamente confidencial até para os líderes?
– Sim e... – ele percebeu, não sei o Leiftan, mas eu comecei a ficar nervoso – Eu realmente não devia estar falando sobre isso... Colocou alguma coisa em minha comida Ezarel?
– De jeito nenhum! Leiftan é testemunha.
– Tá. Mas e quanto à bebida? – maldita Caçadora.
– Essa não, olha a hora! – falei.
– Está quase na hora da reunião que a Miiko convocou para hoje. – disse o Leiftan com nós dois nos levantando da mesa e nos retirando o mais rápido possível e ignorando os dois que ficavam para trás – A Cris é mais perceptiva do que nós imaginamos... – Leiftan me sussurrava.
– Pois é, vamos ter que planejar bem o nosso interrogatório com o Nevra. – sussurrei de volta.
Fomos para a reunião antes que alguém nos perguntasse qualquer coisa.Erika
Essa noite tive um sonho muito estranho: sonhei com um espaço vazio. Caminhando naquele espaço, encontrei a Cris coberta por correntes transparentes que se desfaziam. Diante dela, estavam Ezarel, Leiftan e Nevra com a Oráculo Branca atrás deles. A Cris parecia entregar “palavras” da cor do ouro para eles e eles faziam o mesmo (se bem que, sempre que um deles tentava dar alguma de cor diferente, acabava levando um tabefe da Branca na cabeça).
Depois, com as correntes da Cris estando um pouco menores, ela estava ao que parecia ser cinco metros de distância do... Lance!? Lance estava coberto por correntes assim como a Cris, só que as dele eram Negras e pareciam crescer ao invés de encolher. A Oráculo Negra estava bem no meio daqueles dois segurando o que parecia ser uma luz entre as mãos. Outra vez a Cris começou a fornecer aquelas “palavras” douradas, dessa vez para Lance. Assim que as “palavras” tocavam o Lance, as correntes sobre ele caíam; e aqueles dois se aproximavam, fazendo a luz que a Negra segurava brilhar cada vez mais forte. Aquela luz tornou-se quase cegante quando os dois ficaram bem próximos, e com Lance quase sem correntes negras nele.
(Mas que tipo de visão é essa?) – ““Erika...” – virei para trás, e pude sentir as lágrimas escorrerem por meu rosto.
– Oráculo Eldarya...
“Minha querida, só repasse o que viu a quem lhe cabe saber.” – me disse ela antes de me segurar o rosto com as mãos em meio a um sorriso amoroso, e sumir em seguida.
Acordei entre lágrimas, preocupando o meu querido Valk. (“Só repasse o que viu a quem lhe cabe saber”) Pensando com cuidado, só o que eu vi com o Lance é o que eu poderia estar repassando ao meu noivo. Contei essa parte do sonho pra ele e expliquei que a causa de meu choro foi ter visto a antiga Oráculo depois de tanto tempo, o que o fez ficar feliz assim como eu.
Ele também não entendia direito o que significava aquela interação entre a Cris e seu irmão, mas uma coisa podíamos ter certeza: Só a Cris será capaz de ajudar o Lance. Valk me disse que iria contar isso à Miiko assim que a vise (ótimo, assim só me faltará os outros três).
Nos levantamos e nos preparamos para o dia que seria pequeno hoje para nós, graças à reunião que a Miiko marcou. Acabamos por nos encontrar com a Cris nos corredores. Fiquei em dúvida se contava a ela ou não sobre minhas visões, mas ela saiu correndo toda feliz ao conseguir uma folga de suas “babás” durante a reunião _suspiro_.
Valkyon e eu fomos uns dos primeiros a chegar na Sala do Cristal, onde teria a reunião. Nevra e Miiko já estavam lá. Enquanto o Valk conversa com a Miiko sobre o que lhe contei, fui até o Nevra para repassar para ele o que havia sonhado com aqueles quatro.
O Nevra se mostrou bastante surpreso com o que lhe transmitia e se prontificou de repassar o que contei para o Leiftan e o Ezarel assim que os encontrasse. Não vou dizer que não gostei do que ele me prometeu, mas achei muito estranho a forma como ele reagiu à minha visão! Especialmente com a rapidez que ele teve para contar à eles dois assim que chegaram (o que será que aqueles três estão tramando?...).Keroshane
Encarei meu copo vazio, me questionando o que raios aquele Ezarel se atreveu a colocar em minha bebida – O que eu faço agora... A Miiko vai querer me matar quando souber disso.
– Ah Kero, a Miiko não precisa saber!
Me espantei – Está me dizendo para mentir pra ela Cris!?
– Mentir não, omitir. Só conte à ela se ela mesma perguntar, e além do mais, você não teve culpa nenhuma! A culpa é daqueles dois!
– Você tem razão Cris, mas... Ainda assim...
– Olha Kero, – ela me segurava as mãos – Você. Não. Teve. Culpa! Se por acaso a Miiko quiser te causar dano por causa disso, pode me chamar como testemunha contra aqueles dois! Eu até mesmo lhe confiei um dos meus maiores segredos!
– Tudo bem Cris. – as palavras dela me animaram – Farei como me disse, só irei dizer à Miiko se ela perguntar. E te chamarei se eu precisar de ajuda. – a Cris às vezes é meio egoísta, mas é uma boa amiga.
– Me diz Kero, quanto tempo essa reunião vai levar?
– Porque a pergunta?
– Porque a duração dela é o meu tempo sem a Erika ou o Valkyon no meu pé... – um riso me escapou.
– Você realmente não gosta de estar sob vigília, não é.
– Se não fosse pela condição em que Absol retornou ontem, eu estaria arrancando os cabelos agora!
– O que aconteceu com ele? Soube que há dias que ele não lhe dirige seus treinos.
– Eu não sei o quê ele está tentando encontrar, mas ontem ele chegou com lama escorrendo até das orelhas! Não imagina o trabalho que tive para deixá-lo limpo.
Acabei rindo – Bom, seja lá o que for, realmente será algo que valerá a pena. Ele já te trouxe cada preciosidade... – um sorriso escapou de seus lábios – E quanto à reunião, não tenho como lhe dizer se ela será demorada ou não.
– Que pena. Acho que irei ficar passeando nos jardins então, já que: meu chefe não poderá treinar comigo; meus colegas de treino estão em missões; e os recrutas não são capazes de acompanhar o meu ritmo. – dizia ela contanto nos dedos as razões para não treinar hoje. Ela era mesmo temível.
Acabei me recordando do alerta da Oráculo Branca – Me diz Cris, – ela me encarava – acha que se Absol não estivesse nessa busca, o ocorrido de outro dia teria sido evitado?
– Talvez. Não sei. Não posso prever o futuro. Mas também não preciso ser tratada como uma princesinha que tem de ser pajeada o tempo todo. – acabei rindo outra vez.
– Certo. É melhor eu ir à reunião agora.
– Vá com Deus!
– Ah! E Cris...
– Sim?
– Vê se toma cuidado, está bem?
– Pode deixar! Tchauzinho Kero! – despediu-se ela correndo pra fora após me dar um beijo no rosto, me fazendo corar (essa Cris...).Cris
Se passaram três dias depois do meu atentado e essa informação foi mantida em sigilo. Só quem era da segurança ou da Reluzente é que ficou sabendo o que havia me acontecido. No treino do dia seguinte, o Valkyon me pediu para que eu mostrasse o quê que eu tinha feito para me defender, usando o Shiro (que tinha mais ou menos a mesma altura do cara) como substituto. Pobre Shiro... eu bem que o questionei se ele tinha certeza em querer fazer aquilo! Arrepiei-me dos pés à cabeça quando meu chefe me respondeu que o sequestrador havia cometido suicídio para se manter calado quando o questionei sobre o que foi feito dele (aquele cara era tipo nazista por acaso? Santa Mãe, misericórdia!) e que a Reluzente não sossegaria até descobrirem quem ou pra quê alguém iria querer me sequestrar (consigo pensar em algumas razões, mas Lance já me é dor de cabeça suficiente).
Passei a estar quase sempre acompanhada da Erika ou do Valkyon durante o dia e ter meu quarto vigiado durante a noite. Até o Lance me fez prometer que nunca mais deixaria meu quarto de noite sem estar acompanhada dele ou de Absol (que por sinal continua procurando não sei o quê!). Francamente, estou começando a me sentir sufocada.
Se não fosse pela chegada quase humilhante de Absol ontem e a conversa que tive com o Kero hoje, eu estaria gritando de estresse agora. Absol não chegou tão tarde como nas outras vezes, mas em compensação, chegou choramingando perto do banheiro, pingando lama por tudo que era canto do corpo. Quase não o reconheci!
** – Mas Absol! O que foi que aconteceu com você!?
– Parece que o seu guardião teve problemas nas explorações de hoje! – Lance se divertia com o estado lastimável de Absol.
– Limpe o chão para mim por favor. – pedi já acompanhando Absol para dentro do banheiro.
– E porque eu deveria fazer isso? – dizia ele indignado.
– Porque é o mais fácil! Ou prefere dar banho em Absol no meu lugar? **
Lance parou de reclamar na hora e foi logo atrás do esfregão. Gastei mais de uma hora para conseguir voltar a enxergar o pêlo “branco” de Absol, e Lance me ajudou a secá-lo para que a cama não ficasse com cheiro de cachorro molhado. Esperava que essa experiência desagradável fizesse Absol desistir de seja lá o que for que ele tanto procura, mas me enganei (o quê será que ele tanto busca, heim meu Pai?).
Com uma ajudinha da reunião da Reluzente, consegui fazer com que minhas ”babás” me deixassem passear pelos jardins sossegada. Nunca tinha visto neve até o dia do baile, e sempre ouvia falar que a neve fedia. Mas a neve de Eldarya só me faz sentir aquele cheiro de chuva! (Será a ausência de poluição ou só a diferença de idade da agua mesmo? Afinal, a Terra é alguns bilhões de anos mais velha que Eldarya!). Lance me disse que as flores da schmidtiana deviam estar se abrindo agora (será que eu consigo chegar na Morada sozinha?). Segui para a cerejeira.
Como esperado, o lugar estava vigiado – Ei Cris! – o guarda responsável no momento me chamava.
– Sim, o que foi? – me aproximei.
– Será que você poderia me fazer o grande favor de ficar no meu lugar por uns dez minutos? – (até que a sorte não me abandonou totalmente...).
– Claro! Mas o que você vai fazer?
– Digamos que a natureza está me chamando... – (Virgem Mãe! cadê a latrina mais próxima?) – Por favor, não me suma daqui!
– Sem problemas. Não vou sumir. – (só se enviar abaixo da terra mesmo).
– Não me demoro! – gritou ele já sumindo.
(Bom! É agora ou nunca menina!) Ainda dei mais uma olhada a minha volta para ter certeza que desceria sem ser vista por ninguém. Estando a barra limpa, fui até a entrada e desci o mais rápido que consegui.
Já lá embaixo, tirei uma esfera de luz que ganhei de Anya e o caderninho em que anotei o poema que criei para guardar o caminho. Segui minhas próprias palavras até chegar nas “lanças” (qual delas que esconde a alavanca mesmo?). Tentei uma estalagmite de cada vez, encontrando a alavanca na quinta delas. A “porta” se destravou, mas quem disse que foi fácil movê-la?
– Mas afinal... o quão forte... pode ser... um dragão!? – usava as costas e as pernas para empurrar aquela pedra o suficiente pra eu conseguir entrar – AI!! – e quando o espaço entre a parede e as minhas pernas acabaram, caí de bunda no chão (aiaiaiaiaiai!...).
Como eu já consegui dar uma emagrecida saudável há um bom tempo, não foi difícil entrar pela pouca abertura que consegui. Eu mal entrei e já pude ver o brilho das flores daquela planta. As flores tinham um brilho branco quase hipnotizante. Uma das flores já havia caído, mas ela ainda brilhava tanto quanto as que permaneciam em seus lugares. As observei por menos de um minuto (depois retorno com Absol...) e peguei a que já estava caída, ajeitando-a em meu cabelo.
Empurrar a “porta” para fechá-la foi mais fácil, pois havia menos distância entre a rocha e a parede. Não passei por uma segunda bundada no chão. Consegui retornar à cerejeira antes do guarda de antes retornar também, então resolvi esperar por ele. O problema, é que uma família passava por perto. Se divertindo. As saudades retornaram à minha mente e ao meu coração (tinha que me sentir assim justo hoje!?). Dois minutos depois daquela família ir embora, o guarda chegou.
– Muito obrigado, Cris. Lembre-me de lhe pagar uma bebida ou um lanche como agradecimento.
– Não é preciso... – (afinal só fiquei por uns três ou quatro minutos no total) – Eu vou indo agora. Bom trabalho pra você.
– E um excelente dia pra você!
Agradeci e me retirei. A saudade desperta ainda me afligia, fui dar uma olhada se algum de meus amigos podiam me dar um pouco de companhia (afinal, prometi à Erika que os procuraria se eu me sentisse assim novamente), mas ainda estavam todos ocupados... e eu não queria interrompê-los!
Eu até que voltaria para o meu quarto, mas... Prefiro evitar os consolos de Lance. Como eu posso dizer? O Lance é um pouco... intenso! Ewelein me fez um checkup ontem, dizendo que, tirando o estresse, eu estava ótima. Mas não sei se meu coração está disposto a enfrentar tanta adrenalina...
Voltei a caminhar pelos jardins, sem rumo. Até eu me ver diante da Grande Porta, aberta, e sem vigília. Por conta de tudo que me aconteceu, eu não devia atravessar aqueles muros... Mas só havia uma alma capaz de me fazer companhia agora. Após esperar um tempão pra ver se alguém aparecia (e nada de aparecer ao menos um guarda), rezei algumas orações e fui até o “reconforto dos aflitos”. Estando lá em cima daquele rochedo (como a visão daqui de cima é bem ampla, acho que notarei se alguém resolver se aproximar) pude aproveitar o pouco sol que havia resolvido se mostrar hoje.
O fato de estar longe de casa nem é o maior problema em sentir falta de minha família hoje em especial... Segundo as minhas contas, HOJE é meu aniversário!! Meu primeiro aniversário longe de meus pais, meu irmão e minhas tias... Todo ano era comemorado com um bolo, nem que fosse só um bolinho comprado no mercado com meus pais e meu irmão.
O motivo de eu ter dúvidas sobre realmente ser hoje ou não minha “primavera” é a forma com que o tempo é contado em Eldarya. De acordo com as explicações de Kero, Eldarya vive um pouco diferente da Terra. Não há diferença de tempo como: enquanto se passa um dia na Terra, cinco se passam em Eldarya. Não. A diferença que existe é: enquanto a Terra vive o seu Inverno-Verão, Eldarya vive sua Primavera-Outono! Enquanto a Terra vive sua Aurora-Crepúsculo, Eldarya vive seu Zênite-Nadir (ou pelo menos era até Lance quebrar o Cristal pela segunda vez, deixando o tempo desengonçado por um período. _suspiro_).
Outra diferença a ser considerada: a forma de contagem. Eldarya também conta com um ano de 365 dias, só que eles só possuem sete meses! E com um pouco mais de sete semanas cada um! Sem falar que a cada sete anos (que não foi o caso desse, que é o quarto) ocorre o A Uhvahnla, “o encontro”, onde os líderes – nada de representantes! – de todos os reinos, cidades e vilas se reúnem em um único lugar – sorteado no sexto ano – para discutirem políticas, tratados, costumes, enfim, uma reunião semelhante a que foi feita para a reinclusão das evigêneias, mas como disse... apenas “reis”! Nada de “regentes”. Foi Erika quem me ajudou a montar mais ou menos um calendário.
Eu ainda estava recordando meus últimos aniversários em família quando senti a chegada da “Pernas-curtas”. A presença dela é mesmo acolhedora... Só que, acabei ouvindo uma voz feminina meio que gritar um “não”! E antes que eu pudesse procurar pela origem daquele grito, senti algo gelado envolver meu pescoço ao mesmo tempo em que ouvia correntes ou algo do tipo.Lance
– SOCORRO!! – ouvi o grito já reconhecendo a voz – ALGUÉM ME AJUDE!! – estava em um espaço totalmente escuro e vazio, mas fui atrás da Cris mesmo assim.
– Desista e se entregue de uma vez... – era um homem (mas quem é o canalha?) – Sofrerá menos se parar de resistir!
– NUNCA! – (essa é a Cris que eu conheço _sorriso_) – O que você quer de mim demônio!? Me solte de uma vez! – começava a ouvir várias vozes em cântico de acordo me aproximava deles.
– Já que você vai morrer de qualquer forma, – (como é que é??) – eu vou lhe explicar. Planejo tomar posse do poder do Cristal Negro que está em Apókries para assim dominar toda a Eldarya, mas meu poder não é o suficiente para sobrepujá-lo. Minha vidente de confiança me disse que se eu quisesse fazer isso, teria que tomar para mim o poder de todos os dragões e aengels vivos em Eldarya. – (desgraçado!).
– E onde que eu entro nisso!?
– Minha cara... Roubar todo esse poder não é tarefa fácil... Só consegui bolar um plano depois de sua chegada. E caso tenha se esquecido, você é tanto dragão quanto aengel, ou seja, você está inclusa em minha lista.
Finalmente consegui encontrá-los e eu não poderia estar mais nervoso com o que via. A Cris tinha o corpo praticamente coberto de correntes que eram puxadas por um homem velho de túnica e capuz negros, com ela resistindo o máximo que podia ao arrastar daquele desprezível.
– E o quê que está planejando? SOCORRO!!
– Você é a mais poderosa dos cinco que almejo, mas pra minha sorte este poder todo está adormecido, o que me permitiu usar esse feitiço em você agora. Você nos deu bastante trabalho sabia?
– Está fazendo o quê comigo!?! – cada vez era mais nítida a raiva presente na voz dela (e porque é que eu não consigo me mexer?).
– Pretendo usá-la para roubar a alma de Miiko e assim enfraquecer as defesas de Eel, para assim poder usar este mesmo feitiço no traidor que se encontra preso e enfraquecido. – (o canalha está falando de mim!?!) – Eu já teria usado esse feitiço nele se os escudos de Eel não me atrapalhassem tanto. O farei ir atrás da alma de Erika, o que vai abalar a alma dos outros dois o suficiente para que eu possa refazer o feitiço pela terceira e última vez em um deles.
– Você é pior que um demônio!!
Ouvia o miserável gargalhando como resposta. A minha vontade era de me transformar naquele mesmo momento e incinerá-lo com as minhas chamas! No entanto acabei por acordar, suando e ainda com um forte sentimento de raiva.
Durante minha meditação na poltrona, acabei cochilando (porque raios fui ter esse pesadelo?)
“Não foi pesadelo.”
Travei por um segundo. Quando pousei meu olhar pra janela, lá estava a Negra, observando o lado de fora com punhos cerrados. Fui até lá para ver o que acontecia dessa vez. É possível que eu tenha ficado pálido com o que eu via entre os arcos. A Cris se arrastava pelo chão envolta por uma massa translúcida, coberta por correntes brancas que eram puxadas pela Branca e...
– Mas o quê que aquela coelha ruiva faz ali?!?
“Ela está ajudando minha irmã a tentar impedir a concretização dos planos daquele mago de araque.” – (espere! Então o que eu sonhei...) – “Realmente aconteceu. Ou melhor, está acontecendo.”
– Nem morto que serei usado de ferramenta por algum faery imundo!
“Porque acha que eu lhe mostrei aquela conversa? Você é o único que pode deter isso tudo! Sem falar que se você não pará-lo, não vai conseguir se defender dele se ele adquirir o poder da Cris.” – (o que tenho que fazer) percebi que além de mim, ninguém parecia enxergar a Cris, chutando-a ou tropeçando nela sem notá-la enquanto ela fazia de tudo para não avançar ainda mais para o QG – “Você não leu o grimório dragônico todo, não é mesmo?” – (Não).
Por conta de todos os problemas e estresse causados por aquele atentado, a Cris se esqueceu de carregar a bolsa dela hoje. Sei que prometi não lhe mexer em suas coisas sem permissão, mas é uma emergência. Assim que peguei no livro a Negra me gritou o número de uma página em que fui direto. Era um ritual de libertação bem complicado.
– Não sei se vou ter tempo. – falei conferindo tudo de que eu precisava.
“Ykhar e minha irmã estão ganhando tempo! E graças ao que ela aprendeu com você sobre o controle de maana, a Cris está resistindo bastante! Apesar de estar quase no quiosque...”
– O que você quer dizer? – perguntei enquanto pegava as coisas de que precisava, e também... – Porque que é que as contas não estão funcionando agora?
“As contas protegem de feitiços que controlam o corpo de seu usuário, o feitiço usado com ela agora controla a alma. Esse feitiço se mantêm roubando a maana da vítima para tirar sua resistência ao mesmo. Por causa do seu treino, a Cris está conseguindo manter metade de sua maana consigo e a Ykhar está absorvendo metade da maana roubada para ajudar a impedir aquele estúpido.”
– Pela primeira vez vejo aquela ruiva tagarela fazer algo útil.
“Ela irá fazer muito mais do que você imagina.” – já desenhava o circulo do ritual com o máximo de atenção e cuidado. Só temos uma chance aqui. Estava quase terminando tudo quando notei que me faltava apenas uma coisa, um item pessoal da Cris com parte de sua aura (MALDIÇÃO!) – “Use isso.” – a Negra deixava o terço da Cris cair bem diante de mim – “E se apresse! Ela já está quase deixando o mercado.”
Não perdi tempo perguntando como que ela havia conseguido o colar, apenas comecei com aquele ritual o mais rápido possível.Nevra
Depois daquele incidente, eu só pude vigiar aqueles dois uma noite. E eu ainda não consigo me sentir seguro com toda aquela possessão do Gelinho pela Cris. Não esperava que a Oráculo resolvesse se mostrar nos sonhos da Erika, tenho quase certeza que o quê ela viu, foi eu, Leiftan e Ezarel interrogando a Cris sob o efeito da poção que Ezarel está fazendo (e que teremos problemas se não respondermos com verdades as perguntas da Cris, ao que pude compreender).
Assim que vi aqueles dois entrando, fui falar com eles. Repassei-lhes a historia e eles acabaram por encarar a Erika por um segundo. Eles me falaram como foi o teste da poção que finalmente ficou pronta (não acredito que estava tão perto de ter a Cris em minha guarda) e reforçaram sobre a percepção da Cris. Como a reunião não tinha se iniciado ainda, começamos a planejar como que faríamos este interrogatório e quais cuidados extras precisávamos ter caso ela notasse estar sob o efeito da poção.
A reunião (que demorou pra caramba) seguiu sem grandes problemas. Nós três havíamos combinado de procurar a Cris depois da reunião e interrogá-la no laboratório, já que hoje ele estaria livre. Ao fim dela, Ezarel foi “arrumar” o laboratório enquanto Leiftan foi entregar e recolher todos os documentos de que precisava, inclusive os que estavam no laboratório. Fiquei na Sala porque a Miiko ainda não tinha me liberado ou do contrário teria ido procurar a Cris (tarefa essa que ficaria para quem terminasse primeiro).
Após uma hora e meia, tanto Ezarel quanto o Leiftan apareceram na sala – Alguém aqui viu a Cris em algum lugar? – perguntava o Ezarel (já deve estar tudo pronto, mas porque ele parece tão sério?).
– Ela me disse que iria ficar passeando nos jardins. – declarou Kero.
– Eu a procurei no QG inteiro, ela não está em lugar nenhum! – falou Leiftan muito sério. Claro que isso deixou todos nós nervosos.
– Como você a procurou Leiftan? E o seu trabalho? – questionou a Miiko.
– Tinha algo para perguntar à ela, por isso só precisei de quarenta minutos para conclui-lo. Erika, Valkyon, me desculpem, mas por precaução resolvi observar Eel de cima. Fiquei um tempão no ar e não a encontrei.
– Já eu, que resolvi dar uma mãozinha ao Leiftan, a procurei na torre inteira e não encontrei. – completou Ezarel. Isto não está nada bem!
– Alguém aí viu a Cris? – Anya entrava na sala.
É oficial. A Cris sumiu! Miiko tentava manter a calma no lugar e já começamos a decidir como que faríamos as buscas por ela, mas antes que qualquer um deixasse a sala, uma fraca onda energética partiu do Cristal, chamando a nossa atenção.
O grito de Erika com o olhar voltado para a porta foi o que nos acordou. Todos nós nos assustamos. A Cris estava lá, com as roupas rasgadas, se arrastando no chão, cheia de hematomas e cortes leves. E ela está chorando sangue! Corremos até ela na intenção de ajudá-la, mas algo nos repeliu. Pude ler em seus lábios um pedido de socorro.
Com muito custo, como se recusasse-se a fazê-lo, a Cris se erguia e elevava uma das mãos em direção à Miiko que acabou erguida no ar.
– De... tenham... na! – Miiko conseguiu nos disser ao mesmo tempo em que parecia tentar algo. Mas como!? – De... Depressa... Parem-na!
Miiko parecia sofrer e ninguém sabia o que fazer já que ninguém conseguia se aproximar da Cris! Estávamos começando a entrar em desespero quando um craquelar de gelo começou a ser ouvido na sala. MUITAS correntes começavam a ser tornar visíveis ao redor da Cris, com elas se congelando. Congelada a última algema que prendia-se à Cris, todas elas se quebraram. Liberando tanto a Cris quanto a Miiko. Nos dividimos para ajudar as duas.
A Miiko estava ofegante e tossia como se tivesse acabado de escapar de ser estrangulada. Já a Cris, a quem fui socorrer, estava horrível de fraca... A ouvi, em meio a um sussurro, falar o nome do lagarto de gelo antes de desmaiar, e pela reação de Anya, acho que ela também ouviu, pois saiu correndo da sala.
– Estúpidossemnoção! Comofoiquepermitiramqueissoacontesesse!
– Ykhar!?! – dissemos todos nós em uníssono ao nos viramos na direção do Cristal. Ykhar, a nossa brownie favorita estava lá, no meio de todos nós com roupas brancas de detalhes verdes e rosas, assim como as que gostava de vestir quando viva (sem os detalhes bufantes) e tinha vários ornamentos de flores rosas e brancas.
– Porqueéquevocêsaindanãocapturaramtodososespiõesescondidosnaguarda!?
– E acaso acha que não estamos tentando “Pernas-curtas”? – reclamou Ezarel, fazendo-a ficar vermelha. Todo mundo sabe que não há nada pior que ter um espírito furioso vivendo ao seu lado e Ezarel nos decide provocar justo a coelha mais irritável que já existiu?
– POR QUE É QUE VOCES NÃO PROCURARAM AS FLORES DE SCHMIDTIANA? A luz emitida por elas são capazes de revelar a marca da seita a qual eles fazem parte!
– COMO!?! – dissemos todos juntos outra vez.
– Mas Ykhar, – era a Erika quem falava de modo a tentar acalmar a brownie – não temos ideia de onde podemos encontrar essas flores.
– Olhem de novo! – Ykhar nos apontava para a Cris com confiança e sarcasmo misturados em seu rosto.
Prestando mais atenção na Cris, notei uma flor meio amassada entre os cabelos dela. Peguei a flor e Ezarel que estava a minha frente ficou boquiaberto, tomando-a de minhas mãos extremamente chocado.
– Onde foi que a Caçadora conseguiu achar uma!?! – falou Ezarel já correndo com ela para o laboratório, acredito eu. Ykhar ainda deu uma bela risada com a reação do Ez e sumiu em seguida.
Levei a Cris até a enfermaria onde só faltou a Ewelein cair pra trás ao por os olhos nela. Coloquei-a na maca como ordenado, enquanto nossa enfermeira pegava remédios. Aquele cheiro de sangue começava a me dar fome. Como saliva vampírica tem propriedades regenerativas, comecei a lamber-lhe os cortes. O sangue da Cris era doce, um doce que poderia me viciar se não fosse por um toque de amargo que me obrigava a me conter.
– Mas o que pensa que está fazendo!? – era a Ewelein com os medicamentos já em mãos.
– Estou com um pouco de fome. – falei – E posso ajudar um pouco.
– Se você encostar uma só presa nela...
– Não se preocupe Ewelein, o amargo do sangue dela me mantêm frio.Anya
Quando ouvi a Cris chamando pelo Lance... Disparei como um furacão até o quarto da Cris! (O QUE FOI QUE AQUELE CARA FEZ!?) Não gastei nem dois minutos para destrancar a porta e assim ver Lance se arrastando até a poltrona para se sentar.
– Mas o que foi que você fez criatura?!? – perguntei me contento para não pegar em uma de minhas adagas.
– Apenas me diga que consegui acabar com a maldição que estava sendo lançada em minha carcereira. – pediu ele exausto ao terminar de sentar-se na poltrona.
– Como é que é!?! Uma maldição!?!
– Isso mesmo que ouviu. – ele cobria o rosto com uma das mãos e pude ver um dos livros da Cris aberto no chão – Usei um dos rituais descrito no grimório dela, – (grimório!?) – e isso me esgotou tanto quanto a vez em que a ajudei quando vocês retornaram de Memória.
– Você salvou a Cris? De novo!?
– Digamos que eu não tinha muita escolha. Tem como me trazer alguma comida e, se possível, me abrir a janela? O vento gelado vai me ajudar também.
Estava pasma. O que ele quis dizer com “não tinha muita escolha”? O que o fez salvar a Cris outra vez? E se não foi culpa dele, quem foi que fez aquilo com a Cris? Abri a janela como ele me pediu ainda transtornada, e fui atrás de sua refeição uma vez que já estávamos em horário de almoço mesmo.
Da minha comida, comi apenas a sobremesa para ter alguma energia, pois estava sem apetite com a situação da Cris. Ewelein nos repassou que a Cris estava bem, seus ferimentos eram todos leves e ela apenas precisava descansar. Mas por via das dúvidas, ficaria em observação na enfermaria por 48hs.
Repassei essa informação ao Lance e ele pareceu aliviado.
– É melhor você ir pra casa agora Anya. Você pode ficar tranquila que não farei nada que desagrade a Cris. – dizia-me ele ao terminar de me ouvir.
– Tem certeza que é seguro lhe deixar agora? Você realmente voltou à estaca zero? – ele acabou rindo.
– Se eu tivesse deixado àquela maldição terminar o que estava fazendo, eu mesmo estaria com sérios problemas agora.
Ainda não entendo tudo isso que aconteceu direito. Ezarel se enfurnou no laboratório e ninguém viu quando que a Cris desapareceu. A Miiko parece saber que tipo de maldição é essa que tentaram usar na Cris, mas a Ewelein disse que é melhor falarmos disso amanhã para que ela pudesse descansar. Acabei é ouvindo o conselho de Lance e voltei para casa.
.。.:*♡ Cap.69 ♡*:.。.
– Ai que dor... Mas o que foi que aconteceu?
“Descanse um pouco mais. Você ser esforçou muito lá atrás e ainda vai ter muito trabalho nessa nova fase...”
– Oráculo Negra? Onde está a Branca? E já temos outra fase?!
“É, pois é. Minha irmã... digamos que ela está tão bem quanto você agora. E já está na hora de você recuperar algumas conexões!”
– Que conexões? Não acho que o pessoal vá me deixar sair em viagem por aí.
“Nem todas as conexões que você é capaz de reconstruir são entre raças, como foi com as evigêneias. Algumas são um pouco... diferentes!”
– Diferentes como?
“Você verá mais pra frente. E... sugiro que não libere sua confiança a alguns ainda.”
– Está se referindo ao Lance?
“Também, mas no caso dele é só até ele finalmente ser sincero consigo mesmo.”
– Como assim?
“Vamos prosseguir com a historia?”????
– COMO?! COMO?!? – joguei outro frasco de poção contra a parede na tentativa de reduzir minha raiva – COMO ELA CONSEGUIU NOS ESCAPAR?!?
– Mestre... por favor...
– QUIETO!! – comecei a observar aqueles quase sessenta usuários de magia que me ajudaram com o feitiço que não devia ter fracassado – Saiam todos. Menos você, Eralco! – ordenei.
Fui obedecido de imediato. Peguei dois pergaminhos limpos para escrever uma ordem e uma encomenda, além de uma sacola pesada de ouro, chamando Eralco para perto ao terminar de selar os pergaminhos.
– Em que ainda posso servi-lo, Mestre?
– Quero que envie isto pelo chestok 05. – entreguei-lhe a ordem – E isso... – entregava a encomenda com a sacola – Quero que encontre O Ladrão!
Não foi surpresa ver Eralco arregalar os olhos com a segunda tarefa. Até eu reagiria desse jeito diante da insinuação daquele ser. Eu não queria, mas se nem aquele biltre conseguir o que eu quero... Melídia vai receber uma visitinha minha.Lance
Estou exausto. Não esperava que aquele ritual fosse me consumir maana daquele jeito. Estava quase pronto pra abandonar a “gaiola”! Aquela mulher está me afetando cada vez mais e depois do que ouvi naquela conversa bizarra... Terei de ficar mais tempo, e não sei o que fazer depois de tudo isso. Preciso pensar!
Pedi a Anya que abrisse a janela dizendo que o vento iria me ajudar a me recuperar. Eu não menti, mas não foi só por isso que pedi para ela fazer isso. Tenho que ver por mim mesmo a condição de minha carcereira.
Esperei dar um horário em que quase ninguém esteja de pé. Vesti minha armadura e prendi uma daquelas poções de sono que o elfo deixou por aqui na cintura, pro caso de encontrar contratempos. Voei mais ou menos até uma das janelas da enfermaria, destranquei-a, e entrei.
“Você demorou.” – a Negra estava bem ao lado da Cris que dormia – “Pode vir! Nós três somos os únicos vivos aqui.”
– Como que ela está? – me aproximei para observar a Cris – O que aconteceu?
“Minha irmã recebeu todos os danos espirituais no lugar dela e conseguiu remover a cobertura que a ocultava a tempo para que Miiko conseguisse se defender...” – observava o estado da Cris enquanto ela falava, toda enfaixada e usando uma camisola hospitalar – “...Ela também apagou parte da memória da Cris para que ela consiga se recuperar mais depressa.”
– Apagou-lhe a memória?
“Só do que aconteceu enquanto estava sobre o efeito daquela maldição.” – disse uma voz familiar que me fez arregalar os olhos ao vê-la.
– O quê essa fantasma coelha tagarela faz aqui?!? – a ruiva me lançou um olhar irritado.
“Hihihihi! Por causa da maana que a Ykhar absorveu da Cris, ela não só conseguiu passar uma mensagem para Reluzente como também ficou presa à Cris até que as duas retornem àquele rochedo.”
Só pode ser brincadeira – Está me dizendo que, enquanto a Cris não retornar pro lugar que essa ruiva fica assombrando, ela vai estar presa à minha carcereira? – falei incrédulo.
Vi aquela brownie ficar vermelha enquanto a Negra apenas assentia em resposta.
“Acaso acha que eu gosto disso? Sua lagartixa de gelo subdesenvolvida!”
– Existe algum feitiço capaz de destruir ou exorcizar espíritos em algum dos grimórios da Cris? – perguntei à Negra, contento a minha raiva.
“Não, não tem!” – respondeu ela animada. Fechei a cara – “E gostaria de lhe pedir que deixe a Cris se lembrar de tudo por si mesma.” – terminou ela olhando com ternura para a Cris.
– Porque ela precisa se lembrar sozinha? – sentei-me em uma cadeira próxima a cama dela.
“Porque assim ela vai poder se recuperar mais depressa! Eu já disse isso. E quer motivo melhor?”
– Tudo bem, não irei dizer nada à ela sobre o que eu vi e ouvi. _suspiro_ Por quanto tempo ela ficará dormindo? E onde é que estão os enfermeiros?
“Logo, logo ela acorda.”
“Ewelein é quem está de plantão hoje. Ela deu uma saída para buscar o de comer. E o Nevra está de vigia do lado de fora!” – explicava a brownie.
– Hunf! O sanguessuga de vigia é? Sem problemas. – mas acabei me dando conta de um detalhe... – Negra, me explica! Eu nunca tive o poder de ver espíritos, porque é que estou vendo a orelhuda?
“Como é que é!?” – a coelha se eriçava.
“Hahahahaha! O motivo é simples! Como a Ykhar ajudou a minha irmã a atrasar o avanço da Cris, nossa querida Pernas-curtas recebeu um pouco da energia dela! Podendo assim lhe ficar visível assim como eu e minha irmã.”
– Outra pergunta: porque é que só eu sou capaz de enxergar você e a Branca?
“Hum... Isso é complicado de explicar agora...”
– Complicado de explicar? É só falar!
“Outra hora. Ela está pra acordar!” – desviou-se a Negra, sumindo e nos deixando sozinhos com a ruiva.Ewelein
– Deixe-me ver se compreendi tudo Miiko. – conversava com ela em seu quarto, estando ela na cama, depois de terminar de fazer os curativos da Cris, auxiliada pelo Nevra – Esse... “ritual” do qual vocês duas estavam sendo vítimas tem como objetivo roubar TODO o poder existente na “ponte”, que foi a Cris, e no “alvo”, que foi você, junto das almas das duas!? E independente desses poderes estarem ou não despertos!?
– Exatamente Ewelein. Eu não sei o que a minha raça tinha na cabeça na época em que inventaram essa magia. Sem falar que é um ritual proibido que necessita de ao menos cinco kitsunes, com pelo menos seis caudas cada uma para ser efetuado.
– E você também me disse que começou a ouvir o cântico assim que o Cristal removeu a “camuflagem” que esse feitiço lançava sobre a Cris.
– Como eu nasci fraca, temendo pela família real, meus pais me obrigaram a aprender a defender-me de toda e qualquer magia que pudesse ser utilizada contra a família, tendo a mim como intermédio. Esse ritual, o Tamashi Noyukai, estava entre as magias que tive de aprender. Foi apenas por isso que eu reconheci o cântico.
– Fáfnir nos revelou que o poder da Cris era enorme, e ela tem uma missão gigantesca a cumprir em Eldarya. Quem raios se beneficiaria com uma coisa dessas? Lance?
– Até onde eu sei, ele não conhece esse ritual, e pela quantidade de vozes que ouvi entoando aquele cântico, que pareciam ser umas cinquenta ou mais, não consigo acreditar nessa possibilidade. Mesmo que ele tenha conseguido reunir toda essa gente, onde ele se esconderia com todos eles? Ele nunca deixou Eel. Valkyon sempre me avisa quando o sente mais próximo de nós, ao falhar de encontrá-lo.
– É verdade. E ainda há algumas questões sobre ele até aqui...
Miiko e eu ainda conversamos por mais algum tempo sobre aquele ritual e depois lhe ordenei repouso até o dia seguinte. Deixei Erika e Leiftan responsáveis de assumir a maior parte do trabalho da Miiko até que ela estive liberada outra vez. E ainda pedi ao Jamon que não deixasse a Miiko sair do quarto por hipótese alguma!
Retornei à enfermaria para dar mais uma olhada na Cris que ainda dormia. Tanto Nevra quanto Leiftan tinham se oferecido para ficarem de vigia na porta da enfermaria enquanto a Cris continuasse inconsciente. Acabei aceitando o Nevra por conta de sua audição e porque o Leiftan era o único que podia de fato ajudar Erika a substituir a Miiko (apesar de Nevra parecer querer conferir alguma coisa...). Cuidando da Cris, passei a me sentir observada. Mesmo estando apenas nós duas na enfermaria inteira.
Faltava pouco para o salão fechar quando resolvi buscar um lanche noturno e o Karuto acabou me segurando para poder saber mais sobre a condição de saúde da Cris. Depois de conseguir fazer o Karuto me liberar, segui de volta para meu local de trabalho e fiquei pasma ao terminar de subir as escadarias. Nevra estava de orelha grudada na porta! Ele estava tão concentrado em ouvir lá dentro que nem me percebeu ao seu lado. Estava prestes a lhe pedir explicações quando...
– E a princesa acorda de seu sono!... – reconheço a voz de Lance em qualquer lugar. Acabei foi é fazendo companhia ao Nevra naquela porta.
(Por todos os deuses!...).Cris
– Mas o quê!? NÃO!!
Ouvia um homem gritando confuso e furioso com alguma coisa, e sua voz parecia estar cada vez mais distante.
– Você está livre agora.
Agora era uma outra voz, também de homem! Só que mais suave, carinhosa, e familiar (mas de quem é?). Pude ouvir algo como vidro se quebrando com tudo no chão quase que imediatamente depois.
Escuridão e vazio, era tudo o que via. Além de sentimentos desagradáveis que eu sentia não sei por que (acaso tive um pesadelo do qual não consigo lembrar?). Comecei a sentir dores, muitas dores. Dores nos braços, nas pernas, no tronco... (mas o que foi que aconteceu comigo?). Resolvi abrir meus olhos, que de começo, estava com a visão embaçada.
– E a princesa acorda de seu sono!... – procurei o dono daquela voz atrevida cheia de graça, e minha visão normalizou diante do Lance.
– Lance? O que foi que aconteceu? – tentei me mexer, mas acabei parando por conta da dor – Dá pra me dizer pelo o quê que fui atropelada?
– Não consegue se lembrar de nada?
– Só me recordo de ter ouvido dois homens: um que parecia confuso e com raiva, e outro que parecia gentil me dizendo que eu estava livre. Logo depois, escutei alguma coisa se quebrando. – comecei a observar a minha volta.
– Consegue se lembrar de mais alguma coisa?
– Não, eu... Não sei o porquê ao certo, mas sinto que tive medo,... angustia,... desespero... e muita raiva. Nós estamos na enfermaria?? Quando foi que ficou de noite?
– Bem. Vamos ver o que posso te falar... – prestei-lhe atenção enquanto ele começava a andar e reparei que eu estava parecendo uma múmia de tanta bandagem – Alguém tentou usar uma maldição em você. Maldição essa que pretendia tirar sua vida e a da Miiko.
– Como é que é?!? – acabei tentando me levantar outra vez com as dores me obrigando a me acalmar.
– Fui eu que dei um fim naquilo usando o seu grimório dragônico. Espero que não se importe de eu ter faltado com a palavra.
– Se isso me salvou, não há problema. Mas porque o fez? Sem querer ser ingrata, é claro!
– Tente se lembrar e saberá. – (não entendi) respirei fundo.
– O que mais eu posso saber? – ele voltava a sentar ao meu lado.
– Que a Ewelein cuidou de você. E que você ficará aqui na enfermaria por dois dias para observação. Além de outras coisinhas que seria melhor você saber pelos idiotas daqui. Ah! E antes que eu me esqueça. Você perdeu isso. – disse ele colocando o meu terço(!) em meu pescoço.
– Obrigada. – comecei a refletir sobre tudo por um momento – Mas espera aí! Não era pra você estar na “gaiola”? Eu já estava sozinha ou... – ele começou a rir e eu o encarava preocupada.
– Pode relaxar, somos os únicos aqui. Lhe dei minha palavra que não machucaria nenhum desses imbecis enquanto estivesse vivendo na “gaiola”, esqueceu? E com você mantendo a boca fechada é claro. Se alguém tivesse resolvido aparecer, teria usado esse remedinho aqui... – ele balançava uma das poções que Ezarel me havia dado diante de nós dois – ...combinado com meus truques de ilusão.
– Anya não podia lhe informar sobre mim? Ela chegou a ir te ver, não chegou? – me forcei a ficar um pouco mais sentada com ele me dando apoio (??).
– Ela já fez isso, mas preferi vê-la eu mesmo. Sabia que você não teria precisado de minha ajuda se tivesse me deixado lhe ensinar a língua original?
– Do que está falando? – ainda não consigo acreditar nesse zelo dele para comigo.
– Enquanto eu esperava que todo mundo fosse dormir, fiquei dando uma olhada melhor no seu grimório. Há vários encantamentos nele que teriam lhe permitido se proteger daquela maldição.
– Sério!? – ele apenas me deu um sorriso de lado – Bom... talvez eu aceite aprender com você agora... – ele me dava aquele sorriso detestável outra vez, quase me fazendo me arrepender de aceitar suas aulas. Ouvimos um choramingo vindo de meio das sombras, era Absol. Ele se aproximou devagar de meu leito, se deitando próximo de minhas pernas. Ele depositou uma pedra quase do tamanho de um ovo de galinha em minha mão – O que é isso?
– Deixe eu ver. – disse Lance já pegando a pedra e arregalando os olhos em seguida – Está explicado o porquê de ter insistido tanto em encontrar essa coisa, mas não acha que está um pouquinho atrasado não, oh guardião!?
– O que é isso Lance. – não gosto do jeito que ele está tratando Absol.
– Uma gema Tamashi. – (uma o quê?) ele observava a pedra branca azulada – Uma pedra extremamente rara que pode, comprovadamente, proteger quem carrega uma de todo tipo de feitiço ou maldição lançado contra a alma do mesmo. Isto teria prevenido de você estar aí agora. Tem gente capaz de pagar verdadeiras fortunas apenas para adquirir um décimo dessa gema!
Respirei fundo – Antes atrasado do que inutilizado... – falei acariciando o focinho de Absol que parecia triste consigo mesmo enquanto Lance revirava os olhos pro alto. Um riso acabou me escapando.
– O que é engraçado.
– Nada! Eu só estava pensando: ao menos um presente ganhei hoje! Esse com certeza é o pior aniversário que eu já tive...
– Aniversário!?
– Se Erika e eu não tivermos errado as contas... Sim! Hoje eu completo mais um ano de vida.
Lance tinha claramente surpresa em seu rosto. Ele levantou da cadeira, ainda segurando a gema, e foi até a mesa e armários em busca de algo.
– O que está fazendo? – perguntei curiosa.
– Espere e já vai descobrir. – falou ele pegando acho que um arame no meio daquelas coisas. Eu não conseguia ver bem o que ele fazia, torcendo e retorcendo alguma coisa e usando o fogo dele uma hora ou outra. Acho que se passou uns cinco minutos – Pronto! – disse ele antes de retornar para perto de mim – Depois do que você passou hoje, nada mais justo que um presente decente. – falava ele colocando a gema, agora transformada em bracelete, em meu pulso livre, com Absol abanando a cauda.
– Não sabia que você tinha habilidades como joalheiro... – falei admirando a joia – Gostei muito! Obrigada.
– Fiquei vivendo por um bom tempo dependendo apenas de mim mesmo, por isso aprendi a fazer algumas coisinhas... – explicou ele com um pouco de orgulho – E acho que já fiquei aqui tempo demais. Melhor eu voltar pra “gaiola” agora. Vê se volta logo a cuidar de mim carcereira!
– Engraçadinho... – ele segurava a risada – Pode levá-lo até a “gaiola” Absol? Será mais rápido assim, e seguro. – terminei de falar encarando o Lance que parecia querer retornar ao quarto de outro jeito.
Absol fez o que eu pedi gastando apenas um minuto, se muito, para retornar à enfermaria e assim deitar-se novamente ao meu lado. Meu corpo ainda estava bem dolorido, mas acabei caindo no sono outra vez.Nevra
A Ewelein realmente ficou com um olho na Cris e o outro sobre mim. Lambi cada corte que a Cris tinha, alguns sumiram na hora, já outros insistiram em ficar um pouco mais. Quase fiquei tentado a mordê-la de tantos cortes que ela tinha, sem falar nos hematomas! Quando a Ewelein finalmente terminou de enfaixar todos os ferimentos, limpos e medicados, ela informou ao pessoal que a Cris estava bem e que ela só precisava de repouso agora. O alívio de todos foi mais que nítido.
Eu me ofereci para guardar a enfermaria durante a noite (apesar de ainda ter que dar uma olhada no lagarto de gelo) junto de Leiftan, e a Ewelein aceitou a mim, colocando Leiftan para ajudar a Erika com o trabalho da Miiko; Jamon para vigiar o quarto da Miiko, para ter certeza que ela repousaria; Valkyon para averiguar a segurança dentro de Eel; e Karenn e Chrome para averiguarem a segurança do lado de fora em meu lugar (depois da Miiko, na ausência de Huang Hua, era Ewelein quem tinha autoridade de voz no QG).
Passei a guardar a enfermaria desde o primeiro minuto que Ewelein me aceitou, dali de cima pude ver Anya deixando o corredor das guardas para a despensa e vice-versa alguns minutos depois (ela está cuidando do Lance? Acaso ele está inocente nessa historia?). Muitos foram os que quiseram ver a Cris, mas a Ewelein foi clara ao me mandar permitir a entrada somente aos enfermeiros e aos doentes doentes até que a Cris acordasse. Ficou decidido que só trataríamos o caso com mais profundidade após escutarmos a Cris. Saber o que foi que aconteceu com ela para termos como cuidar de verdade de toda essa situação.
Estava começando a ficar tarde, e a Cris não acordava. Ewelein era quem ia ficar de plantão hoje na enfermaria, sozinha. Ela resolveu descer até o salão para buscar algo de comer para encarar a longa noite e me pediu para avisá-la caso a Cris acordasse. Cinco minutos. Foram cinco minutos exatos que se passaram depois da saída de Ewelein e eu começo a ouvir o Lance lá dentro (ele está tirando uma da minha cara por acaso?!?) e parece que a tal Negra está lá dentro?
Como assim “apagou a memória”? Ykhar está lá dentro!?! E ela está presa à Cris!? O que é que o Lance sabe que não pode dizer? Desde quando a Cris tem grimórios!? E ele não tá nem aí se sou eu a estar vigiando a enfermaria!?! Ele já descobriu que eu sei dele, mas como permaneci calado, é apenas por isso que não cumpriu com suas ameaças ainda? É isso? Só ele enxerga essa tal Negra e a Branca??? Será que... Não, não pode ser. A tal Negra é a Oráculo cujo fragmento está em Apókries?? ELA é quem vem ajudando o Lance?? Pra quê!! Tem alguma coisa a ver com o que ele havia a questionado outro dia? Sobre ele e a Cris estarem conectados? Queria ter acesso às respostas desse turbilhão de perguntas... (Será que a poção é capaz de ajudar com isso?).
Minha cabeça parecia que ia explodir com tudo isso. Não consigo aceitar que haja alguém com mais informações cruciais do que eu. Ainda mais um inimigo! Apesar de parecer que nem o Lance consegue descobrir tudo o que gostaria. Parece que a “Negra” se mandou outra vez, e a Cris resolveu acordar.
Segundo round de questionamentos. Pelo jeito, a Cris realmente não se lembra de nada do que aconteceu e... Foi o lagarto de gelo quem pôs fim naquele horror?! E ele pretende mesmo deixar ela se lembrar do que aconteceu sozinha. Esse cuidado todo dele com ela é um pouco preocupante, mas ao menos parece que ela não confia totalmente nele (por favor Oráculo, que ela continue assim!). O motivo de Absol estar desaparecido era uma Gema Tamashi?? Por que é que ele não pediu ajuda aos outros mascotes?!? HOJE ERA O ANIVERSÁRIO DA CRIS?!?!? Realmente não consigo imaginar uma forma pior de se começar um novo ano de vida...
Passei a ficar curioso assim como a Cris sobre o que ele estaria fazendo após ouvir a revelação dela, mas fiquei é surpreso mesmo ao só agora notar que a Ewelein estava do meu lado! Ouvindo aqueles dois assim como eu (desde quando ela está junto?). Ela me fez um sinal de silêncio para poder continuar escutando sem alarmar os dois lá dentro, e concordei (converso com ela quando isso acabar). Então, ele fez um presente para ela... e ainda bancando o folgado!? Bom, pelo menos a Cris pões Absol para devolver aquele lagarto à cela.
Ewelein e eu nos encaramos por um segundo, eu a chamei com um gesto para que me seguisse e descemos as escadas, nos ocultamos de todos debaixo delas.
– O quê foi isso Nevra? Porque é que a Cris e o Lance pareciam tão... íntimos, lá dentro?
– Desde quando você estava os ouvindo comigo? – preciso conferir o que ela sabe primeiro.
– Desde o momento em que a Cris acordou. Que historia é essa de “gaiola”? E Anya está metida nisso também!?
Respirei fundo – Olha Ewelein, eu vou lhe explicar o quê sei, mas você tem que prometer que vai fingir nunca ter visto ou ouvido nada disso! – ela concordou. Eu lhe contei sobre o acordo existente entre eles, esclareci alguns de meus comportamentos para com a Cris, falei sobre o caso do “Gelinho” e como que Anya se metia nesse rolo todo (claro que ocultei sobre onde era a “gaiola” em que Lance estava sendo mantido). Ela me ouvia com bastante atenção e preocupação. E pensando bem... acho que a Ewelein pode me ajudar! – E tem mais Ewe...
– O quê pode ter a mais Nevra.
– Às vezes, parece que Lance conversa com alguém através de algum tipo de meio de comunicação quase telepática, escondido da Cris, e em uma dessas “conversas” eu o ouvi questionar sobre algo que me intrigou muito!
– Que seria...
– Que a vida dele e da Cris estejam de alguma forma conectadas. – Ewelein arregalou os olhos com essa informação – Teria como você tentar descobrir algo examinando a Cris, já que ela vai ficar internada em observação? Pois parece que nem o Lance sabe que conexão é essa da qual a Cris desconhece totalmente, até onde eu sei.
– Só uma pergunta: Como você pretende lidar com essa situação? E está claro que você ainda está escondendo algumas coisas. – é difícil negociar com a Ewelein quando ela está séria...
– Bem, Ezarel conseguiu produzir uma poção da verdade com a ajuda do Leiftan. Planejávamos obter respostas diretamente dela, para assim eu poder receber ajuda com as decisões. Nós três íamos fazer isso hoje, mas...
– Já entendi. Não precisa dizer mais nada. No entanto, quero que adiem esse interrogatório. E eu nem preciso dizer o porquê!
– Vou conversar com os rapazes depois. Isso nos dará mais tempo para planejarmos melhor como que faremos esse interrogatório sem a prejudicar demais.
– Ótimo, pois quero um relatório completo sobre a reação física/emocional da Cris sobre essa poção. E se possível, quero uma cópia da fórmula para eu analisá-la.
– Tudo bem.
Ewelein e eu ainda discutimos mais alguns detalhes rapidamente e depois voltamos para a enfermaria. Entrei junto com a Ewelein e a Cris já tinha voltado a dormir e Absol dormia ao seu lado. Ficamos boquiabertos com o bracelete e o tamanho da gema Tamashi que a Cris tinha no pulso! Pedi à Ewelein que descontasse o material gasto naquela joia do meu salário e ela começou a preparar todos os exames para investigar o corpo da Cris. Também reparei no terço que estava de volta ao seu pescoço (bem que notei que lhe faltava alguma coisa... _suspiro_ Quando é que essa mulher vai poder ter paz em Eel?).
.。.:*♡ Cap.70 ♡*:.。.
Lance
Depois de retornar ao quarto por meio da umbracinese de Absol, acabei vendo a Negra outra vez. Ela terminava de fechar a janela para sumir me dando aquele sorriso traquina dela (estava adivinhando, não é mesmo Negra?...). Não consegui dormir. Primeiro porque não parava de sentir o cheiro da Cris naquela cama, e segundo porque esse mesmo cheiro me fazia lembrar do estado em que a vi junto daquele canalha. Fiquei a noite inteira pensando naquele plano absurdo que ele tinha revelado. E é claro que quero ficar bem fora dele.
– Qual será a melhor forma de resolver isto?...Cris
Abri os olhos novamente com a claridade da manhã. Ewelein dormia em uma cadeira apoiada sobre a mesa e Absol permanecia próximo às minhas pernas. Tentei me mover. Apesar de ser menos, eu ainda sentia várias dores pelo corpo, tanto que um gemido me escapou, despertando a Ewelein.
– Bom dia mocinha. Como você se sente?
– Dolorida. – respondi – E ainda tentando entender o que foi que me aconteceu...
– Vou lhe fazer um checkup minucioso para ter certeza que nada escapou de mim. Tente responder todas as minhas perguntas e por favor, me avise se sentir qualquer desconforto que seja. – disse ela já pegando em alguns instrumentos.
E assim fizemos. Ewelein parecia me estudar como se eu fosse tão frágil quanto uma lótus preciosa. Tentei respondê-la o melhor que pude, fazendo o possível para não engolir a dor e assim adulterar os resultados. Acho que nisso se passou quase uma hora.
– Ewe, não é por nada não, mas estou com fome! Ainda vai demorar muito?
– Nesse caso, eu vou logo tirar as amostras de sangue para pedir que LHE TRAGAM UMA REFEIÇÃO. Espere só mais um pouquinho, está bem?
Tive que concordar, só não entendi o elevar da voz dela no meio da fala. Passaram-se mais alguns minutos e mal ela terminou, alguém batia na porta. A Ewe autorizou a entrada sem se afastar de mim e, uma vez aberta, eu compreendi o elevar de voz dela antes. Nevra entrava com uma bandeja de comida nas mãos.
– Bom dia linda flor! Espero que esteja com fome, pois o Karuto caprichou pra você!
– Obrigada Nevra. Já posso comer Ewelein?
– Só mais um minuto Cris. Nevra, poderia chamar a Miiko e os outros daqui pelo menos uma hora? Sei que todos vocês tem pilhas de perguntas para a Cris. – acabei engolindo seco com a ideia disso tudo.
– Claro! Eu espero. Mas acha que Anya já pode ver a Cris? – (Anya?) – Acabei de encontrá-la no salão... – (meu Pai, o Lance!) – ...e ela disse que ia dar uma passada no quarto da Cris para dar uma olhada em tudo... – (ufa!) – ...enquanto eu verificava a permissão com você.
– Bom... é melhor ela ver a Cris antes de vocês a interrogarem. Tenho certeza que vocês irão esgotar a coitada já que a Cris tem a mania de ficar escondendo as dores.
– Eu só tento suportar até onde eu consigo... – me defendia. Ewelein revirava os olhos enquanto balançava a cabeça em negativa e Nevra ria de leve.
– Bem... – dizia Nevra enquanto colocava a bandeja sobre um apoio – Vou deixar isso aqui e voltar a vigiar a porta da enfermaria.
– Desde quando você está fazendo isso!? – perguntei assustada (será que ele ouviu minha conversa com o Lance??).
– Fiquei vigiando quase a noite inteira. Precisei me afastar da porta por alguns minutos em um momento, mas tirando isso... Não me deparei com nenhum problema. Acaso eu te causo incomodo?
– Não! – (será que ele está dizendo a verdade mesmo?...) – Nenhum problema! – (no caso dele estar mentido, porque o estaria fazendo?...) – Eu apenas fiquei um pouco surpresa. – (acaso seria para me proteger, se ele tiver ouvido tudo?).
– Tudo bem então. Avisarei Anya que ela pode vê-la e avisarei para os outros aguardarem pra vir. De acordo assim Ewelein? – Ewelein apenas assentiu, terminando de anotar alguma coisa e depois trazendo o mesário em que estava a minha badeja de comida para que eu pudesse comer.
– Vou terminar de lhe examinar depois que os outros terminarem de falar com você. Já pode ir Nevra.
– Belas damas... – Nevra fazia uma reverência – Até daqui a pouco. – terminou ele saindo.
Respirei fundo e comecei a comer (será um looongo dia...).Anya
Não consegui dormir direito por conta do estado em que a Cris estava quando a vi antes de tirar satisfações com o Gelinho, e por não puder vê-la depois que a Ewelein cuidou dela. Minha mãe ainda me deu um chá de ervas para que eu pudesse me acalmar. Eu e o meu pai! O fator Obsidiana dele somado ao fato da Cris ser a minha mais querida amiga, quase acordou o lado berserker dele após ouvir minha descrição da condição anterior dela. Ele retornou à Eel no fim do dia (mas o que foi que aconteceu com a Cris de verdade?).
Bom, ao menos o Lance a protegeu novamente. A dúvida é: por intenção de quê dessa vez? Quando o deixei ontem, ele parecia tremer de exaustão ainda (seja qual for a razão para ele a ter ajudado outra vez, devia ser algo realmente importante para ele).
Saí cedo de casa para que meu pai não me impedisse de ir cuidar do Gelinho (ele sempre madrugou, mas quando retorna de uma missão... Ele e minha mãe sempre dormem até tarde nos dois primeiros dias. Me pergunto o porque). Fui direto pro salão onde Karuto já pré-preparava uma refeição para Cris, imagino eu.
– Bom dia Karuto. É o café da Cris? Ela já acordou?
– Bom dia Pequena Rainha! Sim, é o café dela que estou preparando, mas ela ainda não acordou pelo que sei. Estou só me adiantando, pois tenho certeza que quando ela acordar...
– Irá estar com tanta fome quanto no dia em que a conheceu. Acertei?
– Hehe, em cheio pequena.
– Tomara que ela acorde logo... – e de preferência ainda hoje – O que tem pra mim? Há como fazer pra viagem? Quero arrumar o quarto da Cris pra ela.
– Já te preparo. Ontem conversei com a Ewelein e ela me confirmou que as chances da Cris acordar até a manhã de hoje eram altas! – (mas que maravilha!) – O que há pra ser arrumado no quarto dela Anya?
– O quarto da Cris é limpo uma vez por semana; as plantas regadas uma vez ao dia; os ovos dela são conferidos dia sim dia não, assim como vários itens perecíveis que ela tem; e às vezes ela recebe ajuda para cuidar de tudo.
– Sendo você essa ajuda, não é mesmo!? – Gritava ele do fundo da cozinha.
– Bom, sim. – (se bem que é o Gelinho quem é colocado para ajudar em quase tudo isso...) – E de qualquer forma, não acho que ela vá gostar de ver o quarto “abandonado” quando for liberada da enfermaria.
– Nem eu iria gostar de uma coisa dessas, mas como vai fazer pra entrar? Ela não sempre deixa a porta trancada? – ele voltava pra perto.
– Tenho uma cópia comigo... – não era para eu estar dizendo isso...
– Acaso a Cris de emprestou a chave e você esqueceu de devolver, é? – fiquei em silêncio (melhor deixá-lo acreditar nisso!) – Até que veio a calhar você não a ter devolvido ainda.
– Pois é, não é. – fico me perguntando quantos dias de mingau eu teria que suportar se a verdade disso tudo se mostrar algum dia.
– Pegue! – ele me entregava uma marmita – A Cris tem mesmo sorte em ter uma amiga como você!
– E por quê? – perguntava o Chefinho atrás de mim, me assustando – O que Anya fez ou vai fazer para a Cris?
– Que susto Becola! Eu vou ajeitar o quarto dela enquanto ela não pode retornar para lá.
– Entendi. Realmente o Karuto tem toda a razão, você é uma boa amiga Anya. Você a ajuda bastante! Até demais se quer a minha opinião... – (do que ele está falando exatamente?).
– O que é que você quer, morceguinho? Não era para você estar de guarda na enfermaria?
– A Cris acordou.
– Sério!?! – Karuto e eu falamos juntos.
– Sim. Ewelein a está examinando e me pediu para buscar uma refeição para a nossa Lys.
– Quando que eu posso vê-la?!? – perguntei sem hesitar enquanto Karuto corria com a comida que já estava preparando antes.
– Perguntarei a Ewelein assim que levar a comida. Depois te passo a resposta. É no quarto dela em que você vai estar, certo?
– Sim. E agora vou correr pra lá! – comecei a disparar parando por um instante na saída do salão – E vê se não demora para me dizer quando é que posso vê-la!
– Pode deixar, Verdheleon! – pude ouvi-lo gritar em resposta antes de eu deixar a despensa.
Eu praticamente voei até o quarto da Cris. Lance olhava pela janela quando eu entrei.
– Acordou cedo... – comentei enquanto colocava a comida sobre a mesa para dividi-la.
– Eu nem dormi. – o observei sem parar o que fazia – Não consegui tirar o que vi ontem da cabeça.
– E o quê que você viu? – pensando bem, eu não o questionei direito ontem... – Ou melhor, como sabia que a Cris precisava de ajuda ontem? E como sabia o que precisava fazer para ajudá-la?
– Infelizmente Anya, não posso lhe explicar tudo. – comecei a observá-lo com desconfiança – Mas o que eu posso dizer é que eu vi a Cris na enfermaria.
– Você o quê!?! – ele começava a comer.
– Aproveitei a janela aberta para vê-la e ela acordou durante a minha visita.
Fiquei sem reação – Ela... acordou? – e ele parecia se divertir com o meu choque.
– Sim. Conversei com ela um pouco e depois ela pediu para que Absol me trouxesse de volta.
– O que vocês conversaram. – ainda não estou acreditando que ele foi o primeiro a vê-la...
– Ela não se lembra do que aconteceu. – abismei – Disse sentir dores no corpo todo, mas também! Toda enfaixada daquele jeito!
– Eu a vi quando ela desmaiou. Não estaria surpresa se ela estiver parecendo uma múmia agora... _suspiro_ Continua.
– Absol trouxe uma Gema Tamashi para ela. – acabei arregalando os olhos – E ela ainda me disse que ontem foi seu aniversário. – (C-COMO??) – Acabei meio que aprimorando a gema para ela antes de voltar como compensação pelo dia ruim.
Fiquei tão desnorteada quanto ontem ao saber que tinha sido ele quem a salvou. Teria ficado em estado de choque por mais tempo se não tivessem batido na porta – Q-quem é?
– Anya, sou eu! A Ewelein mandou dizer que seria melhor você ver a Cris agora. Antes da Reluzente a amarrotar de perguntas!
– Já vou Chefinho! Vou só terminar umas coisinhas!
– Melhor não demorar! – o ouvi se afastando.
– Que desculpa você deu para não estranharem você aqui? – Lance me perguntava já acabando de comer.
– Que vim para cuidar do quarto dela em sua ausência. Karuto acha que eu tenho uma chave emprestada da Cris, e provavelmente foi o que repassou para o Nevra.
– Bom. Hoje é a minha vez de cuidar desse lugar de qualquer forma. Vá aproveitar o tempo que pode com ela hoje.
– Obrigada?
Ele me jogou um sorriso de lado e eu fui antes que o lado bonzinho dele resolvesse se mandar.Nevra
Passei o restante da noite pensando nas conversas que ouvi e que tive com a Ewelein (espero ter feito mesmo bem em envolver nossa enfermeira chefe!), ao menos espero que Absol se mantenha mais próximo da Cris agora que finalmente encontrou o que tanto procurava (deixá-la sozinha é algo que realmente não podemos fazer agora) e preciso concordar com a Cris, antes atrasado do que inutilizado. Segundo a Miiko, aquela maldição pode sim ser usada mais de uma vez na mesma pessoa se a primeira tentativa falhar, apesar de ser muito arriscado.
Assim que ouvi o despertar da Cris outra vez, senti um pequeno alívio. Não pensei duas vezes em me encontrar com o Karuto quando a Ewelein pediu para eu ir atrás de uma refeição para a Cris (e espero que ela consiga descobrir essa “ligação” entre a Cris e o Gelinho). Me deparei com Anya conversando com o cozinheiro ao chegar. Acabei deixando escapar uma indireta para Anya por causa do lagarto de gelo, mas acho que ela se esqueceu totalmente ao ouvir que a Cris está desperta. Ela saiu correndo para cuidar do “quarto” da Cris, tive uma conversa rápida com o Karuto e voltei para a enfermaria.
Não posso discordar da Ewelein, Miiko e os outros vão realmente tentar atolar a Cris de perguntas. Assim que as deixei, corri para avisar Anya e a Reluzente do jeito que a Ewelein me pediu. Fui direto para o quarto da Cris, consegui pegar o finalzinho da conversa deles com ele falando da gema para Anya (o que mais será que ele repassou para ela?). Repassei o aviso e fui procurar os membros da Reluzente que só poderiam se reunir na enfermaria com a Cris depois das 9h (agora é 7:30hs, vou dar um tempo maior para Anya por causa do Gelinho. Sem falar que vai dar tempo para todos ficarem despertos).
Alguns já se levantavam e outros ainda dormiam e ainda tinha de encontrar os que já estavam em serviço. Chegando no quarto da Miiko, tive que me contentar em repassar o recado para o Jamon. Ezarel ainda estava no laboratório, convertendo aquela flor de schmidtiana em uma esfera de luz, Leiftan estava com ele. Aproveitei para repassar o pedido da Ewelein (sem revelar que foi a Ewelein que o fez) sobre o adiamento do interrogatório e assim melhorarmos os planos para o mesmo o que eles concordaram sem reclamar e ainda levantando detalhes que havíamos nos esquecido no primeiro planejamento. Procurei os membros restantes e só depois voltei a guardar a enfermaria. Anya já estava lá dentro. E sozinha com a Cris e o Absol, já que via a Ewelein entrando na despensa em direção do salão.
Passei a lhes ouvir em segredo o que cochichavam.Anya 2
Ainda estava no quarto quando Absol resolveu aparecer para pegar a vasilha que usávamos para alimentar o Gelinho, ele a levou e retornou dois minutos depois. Mal terminei minha parte da refeição e Absol me levou direto para a enfermaria (legal! Posso aproveitar ainda mais tempo assim!) e acho que entendi o porquê de Lance dizer que ficou com a imagem da Cris lhe atrapalhando o sono. Ela parecia mesmo uma múmia.
– Anya! Que bom que Absol já a trouxe... Me dá um abraço? A Ewelein teve que sair!
– Claro! – me aproximei depressa, mas a abracei com bastante cuidado.
– Nevra está de guarda na porta... – cochichou-me ela durante o abraço.
– Já entendi. – lhe respondi – Como você se sente Cris?
– Um pouco melhor, ainda sinto dores até nas dores... – um riso me escapou – Você foi ver o Gelinho não foi? – apenas lhe assenti – Ainda está com fome? Karuto meio que me exagerou na porção... não dou conta sozinha.
Fiquei animada. Ainda tinha um pouco de fome e os treinos do Becola cobram muito! Enquanto comia acabei percebendo o bracelete em um dos pulsos da Cris (aquela é a gema Tamashi?!?) – Então era isso que Absol tanto buscava?
– É, era sim. Se bem que ele me trouxe somente a pedra! Foi o Gelinho que a transformou em bracelete...
– Ficou bonito. E acho que nunca vi uma Tamashi enorme desse jeito!
– Que tamanho elas costumam ter?
– Acho... que a maior que já vi até hoje,... era do tamanho de uma uva!
– Uau! – ela ria ao falar – Isso explica porque que ele ficou tão surpreso com essa pedra. Como será que Ezarel vai reagir ao vê-la?
– Acho que será igual ou pior que a Pedra Cintamani. – nós duas rimos um pouco – Queria ter sido a primeira a lhe ver depois de tudo aquilo... – confessei meio chateada.
– Sinto muito Anya. Acho que ainda era madrugada ou quase quando acordei. Sem falar que o Gelinho era o único comigo naquela hora...
– Ele lhe explicou alguma coisa?
– Bom, ele me disse que eu e a Miiko fomos vítimas de uma maldição, e que foi ele quem nos salvou. O porquê de ele ter feito isso, ele disse que eu tinha que me lembrar por mim mesma...
– Você realmente não se lembra do que aconteceu? Nada de antes, durante ou depois?
– Eu até que me lembro de tudo que havia feito de manhã, mas quanto ao durante e depois... Só consigo me lembrar de duas vozes diferentes, alguma coisa se quebrando, e que experimentei algumas coisas ruins. Tirando isso... Não sei de nada!! – terminou ela com uma expressão engraçada.
Continuamos conversando. Eu lhe contei tudo o que aconteceu enquanto ela estava desacordada. No QG, no quarto dela e em casa. Depois ela me contou toda a conversa que teve com o Lance à noite, e com a Ewelein e o Nevra hoje de manhã. Nossa conversa durou um bom tempo.Cris 2
Anya e eu ainda conversávamos quando começamos a ouvir o que parecia ser uma discussão do lado de fora – Mas o que é que está acontecendo?
– Pera aí que já vou ver! – falou Anya correndo para a porta que, foi aberta por Ewelein antes que Anya tocasse a maçaneta (com quase toda a Reluzente entrando atrás dela... tenho a sensação que me ferrei!). Acenei para os que entravam, sem graça e sem dizer nada, com alguns me respondendo o aceno com um reverenciar de cabeça.
– Como você se sente Cris? – perguntava-me a Miiko se aproximando de mim enquanto os outros arranjavam cadeiras para se sentarem a minha volta.
– Tirando a dor no corpo todo e uma aparente amnésia, estou ótima! – lhe respondi com alguns deles se entreolhando (aiaiai meu Pai...).
– Alguém já lhe explicou alguma coisa sobre o que aconteceu ontem? – perguntava Erika com Valkyon ao seu lado.
– Anya me explicou algumas coisas, mas não soube explicar tudo. Como por exemplo: que maldição é essa que lançaram em cima de mim e da Miiko?
– Bom, sobre isso...
– Me desculpem a demora! – entrava Ezarel interrompendo a Miiko e acompanhado do Leiftan – Pegue Ewelein, – ele lhe estendia uma pequena caixa – fiz o melhor que pude, mas eu queria mesmo é que tivéssemos mais daquela flor.
– Como é que você vai Ezarel!? – falei exibindo o meu bracelete para ele.
– Muito bem Caçadora e... Que joia é essa!?! – disse ele espantado e causando interesse em alguns.
– O quê? Isso? – falava como se não soubesse de nada – É só o que Absol estava procurando todo esse tempo. Lembra que você me pediu para lhe mostrar quando ele finalmente encontrasse o que tanto procurava? – estendia o meu braço na direção dele para que ele a vise.
– Só pode ser brincadeira... – falou ele se aproximando rápido com uma cara de espanto e pegando em meu braço de forma meio bruta – Nunca vi uma gigantesca desse jeito!
– Ai! Ezarel, você está me machucando! Sabe que pedra é essa para me tratar desse jeito!? – reclamei e ele soltou o meu braço.
– Sei. As coroas de Lund'Mulhingar possuem uma dessas em cada uma delas, mas nenhuma chega ter a metade do tamanho de sua gema Tamashi. – disse ele com o olhar frio, causando surpresa e espanto em todos os demais (Absol, que se manteve o tempo todo deitado ao lado de minhas pernas, parecia orgulhoso!) – Desse jeito vou ter que mudar seu apelido outra vez! – voltava ele ao módulo “pirralho chato”.
– E você diz isso por que... – eu provocava Ezarel.
– Porque do jeito que esse seu black-dog lhe traz tesouros, vamos ter que começar a tratá-la como algum tipo de imperatriz! – explicava ele com um sorriso nervoso.
– Nem brinque com isso Ezarel! Já me basta o título “Lys de Eldarya”... Já tenho fama e importância suficiente para mais de uma vida! – alguns dos presentes acabaram rindo com as minhas palavras, incluindo Ezarel que parecia se divertir com meu desespero.
– De qualquer forma... – Miiko interrompia – É ótimo que a Cris tenha uma gema Tamashi consigo. Assim não teremos mais que nos preocupar com o ritual Tamashi Noyukai.
– Ritual o quê? – perguntei.
– Tamashi Noyukai. Este é o nome do feitiço-ritual que usaram contra nós duas. – o assunto deixou todos sérios.
– E o que esse ritual faz exatamente? – (queria me lembrar o que foi que aconteceu...).
– Esse ritual... – Miiko parecia desconfortável – Ele foi desenvolvido pela minha raça milênios atrás! – já vi tudo... – A função desse ritual é controlar, roubar e matar dois seres em específico. – (roubar??) – Ele foi proibido muito tempo atrás por conta de todo o poder necessário para executá-lo, que exige que muito mais de uma kitsune poderosa, ou algumas dezenas de magos, estejam presentes. Sem falar de sua falta de ética!
– Explique direito. – pedia a ela.
– Como posso fazê-lo... Você Cris, possui um imenso poder adormecido dentro de si, eu no entanto, não possuo grande poder, mas em compensação carrego um alto cargo em Eel.
– Até aí, tudo bem.
– Digamos que algum ser mal intencionado queira se livrar de mim e de quebra, aumentar o próprio poder. Esse ritual lhe permitiria isso.
– Como assim “aumentar o próprio poder”? – (comecei a sentir uma pontada na cabeça – “Minha cara... Roubar todo esse poder não é tarefa fácil...” – Hunm!?).
– Aquele que lidera esse ritual, consegue absorver para si TODO o poder existente dentro da pessoa que ele controla para alcançar o seu alvo, e do próprio alvo também! Matando aos dois no final...
– Acho que entendi... O que o seu povo tinha na cabeça quando criaram esse ritual? – ainda sentia dor de cabeça.
– Me pergunto a mesma coisa Cris... – ela suspirava e todos pareciam tensos – Mas me diz, o que você consegue se lembrar de ontem?
– Bem!... Deixe-me ver... – todo mundo começou a me prestar atenção – Eu levantei; tomei meu café da manhã em meu quarto; me encontrei com a Erika e o Valkyon que me deram folga das minhas “babás” durante a reunião da Reluzente; encontrei Kero no salão que parecia ter sido sabotado pelo Ezarel e pelo Leiftan...
– Como!? – quase todos disseram. Ezarel escondia, mas o vi engolir em seco enquanto Kero, que anotava tudo, se encolhia.
– Continue Cris. – pedia Leiftan – Depois trataremos desse outro assunto. – Miiko parecia meio irritada com ele e com Ezarel, e eu preferi continuar (não sei se vou aguentar mais problemas agora...).
– Ok. Conversei mais um pouco com o Kero e depois fui dar uma volta nos jardins.
– E o quê mais. – pedia Nevra.
– Bom... Eu visitei um lugar rapidinho e depois acabei vendo uma família passeando junta... – estou começando a ficar triste de novo... e com alguns me olhando com pena ou compaixão – Tentei procurar por alguns de vocês como tinha prometido antes, mas... Todo mundo estava ocupado. Não quis ficar em meu quarto e fiquei andando a esmo pelos jardins, até... – (aiaiai meu Pai... me ajuda por favor...).
– Até o quê Cris? – Miiko me encarava e eu comecei a observar as minhas mãos enquanto brincava com os dedos para me acalmar.
– Beeeem, eu acabei me deparando com a grande porta aberta e sem guardas...
– O quê foi que você fez Cris!? – era Valkyon quem questionava sério, me deixando mais nervosa.
– Olha eu... ainda me sentia chateada com as lembranças e acabei me lembrando de uma alma que poderia me ajudar...
– VOCÊ SAIU PRA FORA!? – Miiko gritava comigo e comecei a chorar.
– Miiko, se acalme! – lhe repreendia a Ewelein – Ela ainda não terminou de falar tudo! Sem falar que estamos em uma enfermaria!
– Tu-do bem. – Miiko continha a raiva que estava nítida em sua voz, e eu peguei um copo de agua que tinha próximo para beber e assim tentar me acalmar – Continue Cris...
– C-como o lugar era aberto, pensei q-que notaria se algo ou alguém aparecesse. – respirei fundo – Foi depois que a tal da Ykhar apareceu que ouvi uma mulher gritando um “não” com algo me envolvendo o pescoço. Ouvi barulho de correntes e depois,... eu...
– Acalme-se Cris. – falava Erika pegando em minha mão um pouco – Você disse que o portão estava aberto e sem segurança? – apenas lhe assenti como resposta – Isso é estranho, pois tenho certeza que o Valk e o Jamon ordenaram a segurança inteira de mantê-lo fechado e nunca o deixar sozinho...
– Pois ele estava aberto e vazio. Posso lhe garantir isso. Cheguei a ter receio de sair, mas...
– Irei verificar isso depois junto de Jamon. – falava meu chefe – Não tem mais nada que consiga se lembrar?
– Bom. – coçava a nuca – Antes de acordar ontem à noite... – alguns me arregalaram os olhos – Lembro de ter ouvido duas vozes masculinas. A primeira parecia confusa e muito irritada. Talvez... fosse a voz do responsável pelo ritual? – o olhar de raiva da Miiko foi substituído por um de espanto – Já a segunda voz era calma e gentil. Ela me pareceu familiar, mas não consegui reconhecê-la... – (será que era... Não, sem chance. Mas ainda assim...) – Ela me dizia que eu estava livre e assim que essa segunda voz se calou, ouvi um grande estrondo de algo se quebrando.
– Devia ser o feitiço sendo quebrado. – comentou Leiftan – Mais alguma coisa Cris?
– Só que senti muita raiva, desespero e agonia. E a sensação de ter sido atropelada por uma manada! – parte da tensão se foi com meu último comentário.
– Aqui Cris. – Ewelein me estendia uma garrafa – Isso deve lhe ajudar com as dores que parece ainda sentir.
– Obrigada Ewelein. – agradeci já virando a garrafa goela abaixo – Dizem que remédios de gosto ruim são mais eficazes. Do jeito que isso é amargo, espero não sentir mais dor nenhuma Ewelein. – falei lhe devolvendo a garrafa vazia e cara feia, um riso escapou de alguns.
– Não se preocupe com isso! – Ewelein sorria – Há mais alguma pergunta que vocês queiram fazer à minha paciente? – perguntava ela para todos.
– Eu tenho! Onde foi que conseguiu achar aquela flor que estava em seu cabelo Caçadora?
– Hum... Porque a pergunta?
– Porque preciso de mais delas para conseguir uma coisa.
Respirei fundo – Não vou dizer onde foi.
– E porque não? – perguntava-me a Miiko com Ezarel ficando nervoso.
– Porque está no mesmo lugar em que me escondi quando a Emiery me irritou. Só isso. E se eu quiser me esconder de todo mundo outra vez? – terminei de dizer cruzando os braços e evitando de olhar para qualquer um deles.
– É sério. Nós realmente precisamos de mais dessas flores e com urgência! – falava Ezarel. Absol que se manteve quietinho nas minhas pernas, levantou a cabeça e começou a encarar ele, assustando claramente o alquimista – O que é que deu no seu guardião? Porque é que ele está me olhando desse jeito? – não respondi nada. Depois de quase um minuto, eu acho, ele se desviou do elfo com uma fungada. “Esse não serve” é o que costuma dizer aquilo.
– Parece que você foi rejeitado Ezarel. – falei quase rindo e com todos confusos. Absol saiu da cama e foi até a Ewelein e, puxando uma das pontas da roupa dela, ele choramingava o “vem comigo, por favor” dele – Já a Ewelein não posso dizer o mesmo. Porque não vai com ele Ewelein? Parece importante.
– EU?!?
– Acompanhe-o Ewelein. – encorajava o Nevra – Da última vez que você o fez, encontrou o Chrome!
– Mas eu... Tá, tudo bem. – ela mal terminou de falar isso e Absol a arrastou até uma sombra, sumindo os dois nela.
Ficamos aguardando o retorno deles em silêncio. Miiko ainda me questionou se eu saberia para onde que Absol teria levado a Ewelein, mas eu apenas disse que não sabia. Passados uns quinze minutos, os dois retornaram, e a Ewelein segurava três flores de schmidtiana nas mãos.
– Aqui estão as suas flores Ezarel. – entregava ela para ele em meio a um sorriso.
– Não acredito! Porque este black-dog confiou em você e em mim não? – dizia ele já se levantando.
– Talvez porque ela nunca tentou prejudicar a Cris? – sugeriu Anya que se manteve ao lado da porta o tempo todo, surpreendendo quase todo mundo por ela ainda estar na enfermaria.
– E você ainda continuou aqui pirralha? – parava ele diante da porta que Anya abria para ele.
– Ninguém me mandou ir embora... – respondeu ela dando de ombros – Por isso fiquei.
Alguns respiraram fundo enquanto outros riam de leve.
– Bom. Acho que todas as perguntas acabaram por hora. – retomava a Miiko – Como você tem uma gema Tamashi agora, não precisaremos nos preocupar com a pequena possibilidade de tentarem usar aquele ritual outra vez...
– E ele pode ser repetido com as mesmas pessoas!? – perguntei a interrompendo.
– Pode. Mas seria extremamente arriscado já que, no momento em que tentassem usá-lo outra vez em você, além de podermos nos defender um pouco melhor dele, ainda poderíamos rastrear o autor do ritual e identificá-lo. – foi o que a Miiko respondeu, mas pelo seu olhar, ainda tinha mais – Mas tem uma coisa que eu não entendi direito...
– E o que é, Miiko? – Ewelein lhe questionava.
– Como esse ritual geralmente nunca falha, pois é difícil interrompê-lo, e de acordo com os poucos relatos de sobreviventes que eu li, a “ponte” e o “alvo” não perdem a memória do que aconteceu enquanto sob o controle dele.
– Ela estava chorando sangue quando a vimos Miiko! – falou o Nevra (eu chorava O QUÊ???) – Vai ver ela acabou fazendo o mesmo que a Erika quando fomos à Memória para investigar a natureza faery dela.
– Nevra pode ter razão. – apoiava-lhe a Erika – Para alguém chorar sangue é preciso estar sofrendo demais. Não é surpresa se a mente dela tiver resolvido bloquear o que viveu por autopreservação.
– Vamos deixá-la se lembrar de tudo por si mesma. Não quero ter que resistir ao sangue dela outra vez. Se bem que o próprio sangue dela me ajudou a me controlar...
– Do que é que você está falando Nevra?!? – perguntei colocando a mão automaticamente no pescoço.
– Saliva e sangue vampíricos possuem propriedades regenerativas. Nevra fez a primeira “limpeza” em seus ferimentos, curando metade deles. – senti vontade de tomar um banho com essa informação da Ewelein e... (acho que o Lance não vai gostar de saber disso...) – Também fiquei de olho nele para que suas presas não lhe tocasse enquanto ele me ajudava com os curativos.
– O que você quis dizer ao falar que meu sangue te ajudou a se conter, Nevra? – virei-me para ele meio que sem saber ao certo o que pensar dele.
– Seu sangue é de um doce que seria viciante se não fosse pelo toque amargo que é capaz de obrigar qualquer vampiro a se controlar. – respondeu ele com seu sorriso “conquistador” (oh minha Nossa Senhora... ainda bem que o Lance já me devolveu o meu terço!).
– Ainda há mais alguma pergunta a ser feita? – Ewelein encarava todo mundo, recebendo negativas de cabeça de quase todos – Então saiam todos agora. Não terminei de examiná-la e vocês já têm com o que trabalhar, portanto vão logo que a Cris ainda precisa de repouso. Principalmente depois desse interrogatório! Você também Anya. – terminou ela encarando a menina.
Todos deixaram a enfermaria como ordenado, mas reparei que a Miiko agiu de uma forma meio estranha antes de sair feliz(?) da enfermaria (o que será que ela viu antes de sair?). Absol ficou em um canto próximo de meu leito para que Ewelein pudesse terminar de me examinar para depois voltar a ficar deitado do meu lado. Recebi uma visita ou outra no decorrer do dia e consegui convencer a Ewelein a me deixar tomar um senhor banho depois de almoçar (tinha que me livrar daquela baba), banho que foi difícil de tomar já que qualquer pressão sobre os roxos que estavam escondidos pelas bandagens (eu até parecia um dálmata!) os fazia doer.
Após o banho, Ewelein me passou uma pomada que ela garantiu que iria acabar com todos aqueles hematomas rapidinho, e que eu tive sorte de não ter acabado com alguma fratura, principalmente com os pacientes que ela havia recebido antes de eu ser levada à ela. Todos tinham pequenos machucados devido a tropeços em “algo que não viram” (com certeza tropeçaram em mim _emburrada_).
Enquanto estivesse internada, de jeito nenhum poderia treinar ou ajudar os contaminados (e consequentemente nada de treino de controle de maana com o Lance. Espero que ele não dê trabalho para a Anya!).
.。.:*♡ Cap.71 ♡*:.。.
Nevra
Concluída a “conversa” que todos nós tivemos com a Cris, era hora de averiguarmos algumas coisas.
– O quê que foi Miiko? Porque está com este sorriso?? – perguntava o Ezarel no corredor, após terminarmos de deixar a enfermaria (e acho que sei a resposta).
– Eu não sei se foi culpa do ritual ou não, mas eu senti a Ykhar lá dentro! – (eu sabia) todos a olharam surpresos – A Ykhar está com a Cris... Acho que tentarei conversar com ela mais tarde, caso permaneça com ela.
– Isso talvez explique o porquê dela ter aparecido na Sala do Cristal... – comentei como que pra mim mesmo (Lance havia tido que as duas permaneceriam “grudadas” até a Cris retornar àquele rochedo) – Será que a Ykhar seria capaz de nos dar mais informações, assim como a dica que ela nos deu?
– Isso sim seria algo útil daquela coelha. AI! – terminou Ezarel recebendo um chute de Erika no calcanhar que lhe olhava feio junto de Valkyon e Miiko.
– Ezarel, vou lhe repetir o mesmo que a Cris quando vocês liberaram o acesso ao atual quarto dela: Cuidado ao insultar os mortos!!
– Tá! Tudo bem Miiko, ficarei sério agora. – cruzava ele os braços (esse Ezarel... _cabeça em negativa_).
Miiko ainda lhe olhava feio quando ela pareceu se lembrar de algo com espanto, assumindo uma posição refletiva que me intrigou – Algum problema Miiko? – perguntei.
– A Cris... – (??) – Ela acordou rápido demais...
– C-como!? – acho que todos nós a questionamos.
– Vamos à Sala do Cristal. – disse ela já seguindo caminho com todos nós atrás. Lá dentro, ela começou a nos explicar – Lembram que eu disse que existem documentos relatando sobre os sobreviventes do Tamashi Noyukai?
– Os que você mencionou quando desconfiou da perda de memória da Cris? – questionava Kero.
– Esses mesmo. – todos nós assentíamos com a cabeça – Bom, segundo esses documentos, todas as “pontes” ficaram inconscientes por pelo menos duas semanas devido a todos os danos que esse ritual causa à alma da mesma. – disse ela ainda refletindo e deixando todos nós chocados.
– Será que... – intercedia Leiftan – ...que a Ykhar tem algo a ver com isso?
– Será!? – Erika se questionava por todos nós (recordando o que ouvi ontem, aposto que o lagarto de gelo tem a resposta).
– Miiko. – chamava a atenção – Será que, se a Cris refizer os caminhos de ontem, ela consegue se recordar de alguma coisa que nos permita identificar nosso inimigo? – já sei que a memória dela vai retornar aos poucos (e não acho que ela vai gostar de saber que há um espírito grudado nela). – Claro, ela não vai estar sozinha!
– Não acho impossível... – ela refletia – Vamos dar ao menos um dia de descanso para ela depois de deixar a enfermaria. Nevra, te deixarei responsável de cuidá-la junto de Valkyon e Ezarel durante o percurso.
– É o quê!? Porque é que eu tenho que ser babá da Caçadora também?
– Você Ezarel, irá para garantir a saúde dela! – Miiko o encarava séria e ele passou a olhar para mim e para o Valkyon. Ela logo entendeu – Nevra para observar o redor e Valkyon para garantir a defesa. Erika, gostaria que você e o Leiftan me ajudassem a reforçar a barreira de Eel.
– Pode deixar Miiko. – disseram os dois ao mesmo tempo.
Todos nos dispersamos. Miiko foi reforçar a barreira com Erika e Leiftan; Ezarel retornou para as schmidtianas; Kero decidiu pesquisar mais sobre o ritual usado contra as duas, e eu voltei a cuidar da porta da enfermaria, confiando minha guarda às mãos de Karenn e Chrome (antigamente não o faria nem morto, mas aqueles dois não só amadureceram bastante como juntos são capazes de cuidar da Sombra em meu lugar) fazendo uma pausa apenas para jantar, com Jamon assumindo o meu lugar. Aproveitei o jantar para conversar ainda mais com o Ezarel e Leiftan, e eles concordaram que precisávamos esperar para interrogarmos a Cris, além de revisarmos as nossas abordagens.
Reassumi a vigília da enfermaria e não demorou muito para a Ewelein sair me pedindo ajuda. Estava na cara que ela não estava me dizendo tudo (_suspiro_ tomara que a Ewelein tenha conseguido descobrir que conexão é essa que existe entre a Cris e o Lance...).Ewelein
Eu ainda não consigo acreditar no que a Cris estava escondendo de todos nós... Ela que tem sido responsável por Lance estar tão quieto? E foi ele quem salvou a ela e a Miiko? Se não fosse pelas explicações de Nevra que os estava vigiando às escondidas, eu nunca que seria capaz de compreender o interesse dele na Cris.
Eu fiz TODOS os exames que eu conhecia na Cris. Eu TENHO que descobrir sobre essa ligação que o Nevra me falou para podermos garantir a segurança dela sobre o Lance. Só terminei de obter os resultados (aos quais eu dei tripla atenção e cuidado) no fim da tarde. Não encontrei a tal ligação, no entanto...
Peguei a esfera de luz de schmidtiana (ainda não acredito que o Absol confiou em mim para me levar até o possível esconderijo da Cris. Mesmo escuro, eu pude enxergar bastante coisa daquele lugar. Principalmente o pequeno vaso onde uma muda de schmidtiana floria) e pedi ao Nevra que me acompanhasse até a sala selada com a desculpa que precisava de ajuda para instalar a esfera no ambiente enquanto Ezarel transformava as outras flores em mais esferas. Lá dentro, encarei o Nevra.
– Não consegui encontrar nenhuma ligação na Cris... – falei colocando a esfera sobre a mesa e pude ouvir o suspiro desanimado do vampiro – Mas alguém colocou um feitiço na Cris...
– Como!?
_suspiro_ – Eu não sei quem o fez e muito menos o propósito, mas há um feitiço sobre a Cris. E isso foi tudo o que consegui descobri ao examiná-la.
– Que tipo de feitiço? Ela sabe disso? – perguntou ele pegando a esfera para substituir uma das esferas instaladas no lugar.
– Eu não sei que tipo de feitiço é esse e pelo o que conversei com ela, a Cris não tem qualquer consciência da existência dele.
– Não conseguiu identificar nada que pudesse denunciar ao menos o autor do feitiço?
– A única energia que encontrei nela pertencia à própria, mas...
– Mas o quê Ewelein? Opa! – ele quase deixou a esfera comum cair durante a troca.
– Considerando as coisas que Absol traz para ela... – peguei a esfera normal para apoiá-la na mesa – Junto de minha própria intuição, acredito que o feitiço possa ser de proteção.
– Será que é para protegê-la do Gelinho?
– Talvez, não sei. Mas seria ótimo se for isso mesmo. – Nevra pareceu pensativo ao terminar de trocar as esferas – Acho melhor retornarmos a enfermaria...
– Tudo bem Ewe. Ah! Eu aproveitei o jantar para conversar com os outros dois, vamos esperar uma semana depois que ela deixar os seus cuidados, tudo bem pra você?
– Hum... Tudo bem. Mas eu ainda quero a fórmula dessa poção e um relatório completo das reações dela! – falei séria para ele.
– Pode deixar Ewelein! Eu é que não quero ainda mais problemas pra cima de mim! – terminou ele conseguindo me fazer sorrir.
Saímos da sala e voltamos. Nevra me prometeu tentar entregar a fórmula até o dia seguinte. À noite, deixei o Gastiano de plantão e fui descansar. Acabei me recordando da conversa entre aqueles dois em detalhes (será que a Cris é capaz de mudar aquele grookhan do Lance? Tenho certeza que Valkyon e Miiko iriam gostar disso) e também na descoberta que tive ao examiná-la (quem será o responsável por aquele feitiço?).Anya
Fui ao quarto da Cris apenas para levar comida pro Gelinho, aquele chato. Ainda estou chateada pelo fato da Cris ter passado por tudo aquilo justo no dia de seu aniversário, (informação que ela escondeu até de mim!) e consegui convencer a Karenn, que estava responsável pela nossa guarda no lugar do Chefinho, a não fazermos aquele treino louco hoje (claro que pra isso eu precisei explicar o motivo) e ela acabou me acompanhando em meus planos, aproveitando para criar os dela também. Fomos até a Purriry.
– Bom dia minhas querrridas! Em que posso ajudá-las em minha humiilde loja!?
– Bom dia. Estamos em busca de um presente, mais especificamente um presente de aniversário. – começou a Karenn.
– É para o lobinho?... – sorria a gata com malícia.
– Não, não Purriry. O presente que vamos comprar é para a Cris! Eu meio que descobri que o aniversário dela foi ontem...
– Pelo Oráculo, que horrrrror!
– É, pois é Purriry. Tem alguma sugestão para nós? Conseguiu aprender um pouco sobre os gostos dela ao vê-la por aí? – perguntava a Karenn.
– Hum... ao que pude perrrceber, ela não gosta de chamar a atenção, mas ama brilhos e detalhes.
– Realmente. A Cris é meio tímida em relação ao seu corpo, lembra do vestido que Absol escolheu para ela?
– Como esquecerrr, – ela apoiava a mão na cabeça – não me lembro de ter levado outro susto como aquele! – nós rimos.
Começamos as nossas buscas. E não estava sendo fácil comprar um presente ali. Toda hora a Purriry e a Karenn tentavam me empurrar alguma coisa... reveladora, vamos assim dizer. Mas foi só depois que lhes contei a quantidade de cobertas que a Cris vinha usando nesses últimos dias, que elas começaram a optar por peças mais comportadas. Escolhi um conjunto fofo de lã com alguns complementos para a Cris se sentir bem aquecida. Minha intenção era vê-la deixar a enfermaria com a roupa nova já que as que ela usava antes haviam virado trapos sem salvação.
No caminho de volta, Karenn contou que ia conversar com a Reluzente para fazermos uma festa de aniversário surpresa para a Cris (gostei da ideia). Sugeri a ela que fizéssemos a festa no final de semana já que havia esse costume na família da Cris quando o grande dia caía no meio da semana, e também avisei que a Cris é super desconfiada, por isso teríamos que tomar cuidado. Evitá-la se possível. Karenn concordou e nós nos separamos.
Não vejo a hora de amanhecer outra vez para eu entregar o presente!Nevra 2
Depois de “dar uma mãozinha” para a Ewelein, fiquei pensando em como conseguir a fórmula da poção que prometi. Jamon me questionou se eu queria que ele assumisse o meu lugar outra vez por um tempo, nem pensei duas vezes pra aceitar. Durante a minha primeira troca de turno com o Jamon (essa noite ou amanhã eu preciso dormir), fui direto ao laboratório de alquimia para tentar fazer o que precisava, e com sorte, ainda acertamos de vez o interrogatório.
– Como tá indo aí Ezarel? – perguntei já entrando ao vê-lo trabalhar.
– Melhor sem ninguém para atrapalhar. Não era pra você estar vigiando a enfermaria?
– Jamon me forneceu um descanso, mas você não precisa tratar um velho amigo assim, não é mesmo? – falei me aproximando do livro onde ele costuma transcrever novas poções.
– Fui obrigado a ficar de babá daquela Caçadora; tenho que aguardar pelo menos uma semana para usarmos isto – ele mostrava um pequeno frasco que tirava do cinto e reguardava em seguida – para conseguirmos algumas respostas; a desastrada da Alajéa me derrubou vários livros onde haviam anotações importantes me fazendo expulsá-la daqui pra floresta, para me coletar algumas ervas. Sem falar que ainda tenho que terminar de transformar essas flores em esferas de luz para a Ewelein e a Miiko, como queria que eu estivesse?
– Ehhh... – falava coçando a cabeça e reparando em um papel ou outro no chão – Você realmente não está tendo um bom dia... – comecei a recolher as anotações espalhadas pelos cantos enquanto Ezarel resmungava em élfico. Reconheci a letra do Leiftan em um deles – Me diz Ezarel, essa aqui é a receita da poção que me mostrou? – ele se virou para mim enquanto mostrava o papel e seus olhos arregalaram com ele (é, é a receita. Valeu pela “mãozinha” Alajéa).
– Tá vendo! A receita dessa poção não é algo que possa ficar por aí de qualquer jeito!
– Se importa se eu lê-la? – perguntei antes dele se erguer para tomar o papel de mim.
– Não, tudo bem. Apenas a guarde dentro do livro de capa vermelha da ponta daquela prateleira depois de ler. – pediu ele apontando para a prateleira em questão enquanto voltava para mesa.
Guardei a fórmula no bolso sem ele ver. Farei uma cópia para a Ewelein e depois guardo o papel onde ele me pediu. Comecei a recolher o restante das anotações espalhadas e as coloquei em cima de uma mesa com um pedaço de cristal harmonia para lhes fazer peso. Leiftan entrou nessa hora.
– Oh, Nevra! Que bom vê-lo por aqui. Nós três ainda não terminamos aquela conversa do almoço.
– Fala da conversa sobre a “nossa experiência”?
– Exatamente Ezarel. Conversei um pouquinho com a Erika sobre a Cris já que elas estavam passando bastante tempo juntas, e nós realmente iremos ter que tomar cuidado.
– Anya uma vez me contou que ela é bastante desconfiada... – comentava – Não ficaria surpreso se ela resolvesse trocar a bebida dela por uma das nossas depois de ter testemunhado o que aconteceu com o Kero.
– Bom, se a Caçadora realmente vier a fazer isto, ela provavelmente vai trocar pela sua, Nevra.
– Ezarel está certo Nevra. Temos que ao menos garantir que ela vai tomar a poção de um jeito ou de outro. Por isso, não poderemos usar bebidas alcoólicas no dia, já que ela já deixou bem claro que detesta álcool.
– Tem alguma outra coisa que a Caçadora não bebe de jeito nenhum?
– Têm. Anya me contou, mas não me recordo o que era agora... – coçava a cabeça.
– Tente se lembrar. Podemos usar disso para garantir que a Cris beba o que queremos.
– Vou tentar. – falei para eles. Decidimos aproveitar o assunto para escolhermos melhor nossas abordagens e questionamentos para antes e depois da Cris perceber o que teríamos feito com ela (ainda bem que a Erika já havia nos alertado graças ao sonho dela com a Oráculo Branca. Isso vai nos ajudar com certeza).Lance
Anya continuou cuidando de mim sozinha com a desculpa que cuidava do quarto e me contou sobre o interrogatório que foi feito com a Cris e as explicações que foram dadas a ela (malditas kitsunes!!). Eu não tinha mais a companhia de minha carcereira para recuperar a minha maana e por isso ainda me sinto indisposto, mas... Depois de muito pensar nas palavras daquele mago de araque, no poder da Cris e nos meus próprios desejos, acabei chegando a duas soluções (já que eu não quero continuar grudado com ela): abandonava Eel ou... De qualquer forma, eu ia ter que me virar sozinho para recuperar a minha força outra vez.
O dia passou logo. Anya ainda tentou tirar proveito que a Cris estava internada para conseguir assistir o que queria naquele aparelho dela, mas, como ela ainda não tinha cumprido sua parte do acordo que elas tinham, guardei o aparelho fora do alcance dela (eu sei que desejo o fim de Eldarya e todos os faerys, então porque que eu me importo tanto com essa pirralha??), como ela não gostou, deixou a janela do quarto fechada (a Cris tinha que ter lhe contado que só elas duas eram capazes de mexer na janela sem sofrer danos!?). Fiquei trancado sozinho naquele quarto. Absol está do lado da Cris na enfermaria (eu acho...). Peguei uma das bolsas de viagem que a Cris tinha no armário e coloquei tudo o que era meu dentro para ir embora. Fui até a janela e tive que suportar uma dor miserável que encheu as minhas mãos e antebraços de feridas (queria poder usar as minhas chamas para poder me curar agora).
Aberta a janela, desci voando, cambaleante, até a cerejeira e fui ao meu esconderijo para completar a minha mala com o que mais me faltava e fiz curativos para poder ir embora finalmente. Mas, antes de chegar próximo dos muros por dentro dos túneis, comecei a ficar repreensivo. Me lembrei de todas as vezes que esses idiotas da guarda falharam em proteger aquela mulher, e também das palavras da Negra quando me pediu para colocar um fim naquele ritual dos infernos. Ainda dei mais alguns passos em direção para fora, mas a minha preocupação acabou falando mais alto (eu não posso ser feito de brinquedo por um idiota qualquer porque a deixei nas mãos de um bando de incapazes!!).
Voltei para a cerejeira. Mal deixei os túneis e vejo a Negra, de braços cruzados e me olhando de forma que parecia tirar sarro de mim. E Absol estava ao seu lado me encarando sentado com que parecia ser indiferença nos olhos.
“A Cris começou a se lembrar.” – (como é?) – “Vá vê-la. Eu cuido da sua mala e Absol te dá uma carona.”
Não tive tempo de contestar. A Negra me tomava a bolsa antes mesmo de terminar de falar e Absol me arrastava para uma sombra próxima e quando me dei conta, já estávamos na enfermaria. Vi a branca segurando a nuca de um enfermeiro e ela me fez sinal de silêncio assim que me viu, sumindo em seguida.
“Boa noite lagartixa!” – “cumprimentou-me” a ruiva, evitando de me olhar – “Demorou para aparecer.”
– Não te devo satisfação alguma tagarela! – sussurrei com um pouco de raiva.
Ela apenas deu de ombros e foi para junto do enfermeiro adormecido de rosto para o lado oposto da Cris. Me aproximei de sua cama e ela parecia estar tendo um pesadelo, não demorou para ela abrir o olhos assustada e depois começar a se encolher sem notar minha presença.Cris
“* Era arrastada pelo pescoço para uma escuridão profunda, mas que me permitia enxergar-me sem problemas, e começava a ouvir umas centenas de vozes que cantavam algo que me deixava apavorada. Tentei resistir e algemas prenderam-se em meus pulsos me forçando ainda mais para onde as correntes presas a mim queriam me levar.
– Até que fim eu consegui colocar minhas mãos em você! – a voz era de um homem. Era a primeira vez que ouvia naquele momento, mas parece que me é familiar. E eu A DETESTO!!
Virei-me para a origem da voz, um homem totalmente coberto e segurando as pontas das correntes que me arrastavam para não sei onde.
– Me solte! AGORA! – gritei para ele. Ele deu uma gargalhada que parecia ecoar em meio àquelas vozes que não paravam de cantar e novas correntes se prendiam a mim.
– Depois de todo o trabalho que tivemos em capturá-la? Não mesmo... – ele parecia se divertir com a minha situação, e quanto mais eu resistia, mais correntes me envolvia.
Comecei a gritar – SOCORRO!!! *”
Eu acordei no susto. Ainda estava na enfermaria e comecei a sentir um frio lascado (quero minhas cobertas!... _choramingando_). Me encolhi de lado e pude ver um enfermeiro dormindo na mesma posição em que havia visto Ewelein ao acordar de manhã, só que olhando para a parede.
– Pesadelos? – levei um choque ao ouvi-lo outra vez na enfermaria. Virei-me na direção das minhas costas e lá estava ele, de armadura e me encarando com aquela cara inexpressiva.
– Que faz aqui de novo Lance? – perguntei em tom baixo, meio que tremendo de frio (que ele pareceu notar já que foi até um dos armários, retornando com alguns cobertores nas mãos).
– Absol me deu uma carona. – disse ele estendendo as cobertas sobre mim (aiii... muito melhor...) mantendo a voz baixa – Vou perguntar só mais uma vez, estava tendo um pesadelo? – se eu estava tendo um pesadelo!? Definitivamente não estava tendo um dos meus melhores sonhos, mas... parecia... uma lembrança? – Acaso mordeu a língua enquanto dormia? – perguntou ele me tirando de mim mesma.
– Eu... Acho que sim. Não sobre a língua e sim sobre o pesadelo! Mas... – lhe respondi ainda confusa.
– Está se lembrando do que aconteceu por acaso? – senti um calafrio pela espinha.
– Tal-vez? – lhe encarei ainda assustada. O vi respirar fundo e assumir uma expressão mais calma.
– Me conte o que houve. – sentou ele na beira da cama – Isso pode ajudá-la. – pediu-me ele e assim o fiz.
Contei-lhe todo o meu “pesadelo” que me pareceu real demais. Cheguei até a voltar a sentir algumas das dores que tinham quase terminado de irem embora enquanto contava. Ele me encarava sério, bem sério (acho que são mesmo lembranças...). Ao final de tudo, senti uma lágrima me correr pelo rosto, seguido de um abraço delicado de Lance.
Não vou negar, eu queria muito um abraço naquele momento, mesmo que fosse de um assassino. Mais lágrimas correram de meu rosto e ele continuou me abraçando com cuidado até que meu choro mudo acabasse.
– Sente-se melhor agora? – ele me perguntou, soltando-me devagar depois de um tempo. Como resposta, eu apenas lhe assenti com a cabeça – Nesse caso é melhor você voltar a dormir ou nunca irá conseguir se recuperar.
– Tudo bem... – respondi de cabeça baixa. Eu não estava sozinha, mas me sentia assim. Senti Absol me subir as pernas com um choramingo de preocupação.
– Olha... – me virei para Lance (ele parecia estar sem graça?) – O seu controle de maana está muito bom sabe.
– E...? – virava a cabeça de lado.
– E se não fosse por isso tudo aí... – ele gesticulava com a mão para indicar a situação em si – Eu teria começado a lhe ensinar a Crista de Maana.
– Como!?
– Crista de Maana, também conhecido como Escudo de Maana. Um feitiço de proteção que se assemelha a uma espécie de segunda pele e repele feitiços e magias lançados contra você, além de lhe permitir estar em ambientes que seu corpo considere inóspito por um tempo. – explicou ele meio corado.
– Sóoo por curiosidade... – (preciso tirar a dúvida, pois o feitiço me interessou e muito) – Seu método para ensinar este feitiço, é semelhante ao método que usou para me ensinar a controlar maana?
– Sim e não. – lhe ergui uma sobrancelha – Não é preciso... tantos... “toques”. – respirei meio que aliviada – Agora, volte a dormir! – terminou ele me ajeitando as cobertas na cama para eu me deitar direito.
Antes que ele tivesse a chance de se afastar, sem bem saber o porquê, eu segurei a sua mão (e porque ele reagiu com dor se eu mal lhe encostei?) – Pode... ficar ao meu lado?... – (MAS O QUE É QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO???) – Só até... eu pegar no sono? – terminei de falar sem lhe soltar a mão e escondendo parte do rosto nas cobertas (devo estar parecendo um tomate bem maduro).
Eu esperei ouvir um “está com febre?” ou “você tem certeza?” ou até mesmo aquele sorriso desprezível dele, mas ele não disse nada. Ele apenas se sentou mais próximo de mim na cama, passou a segurar minha mão que o segurava também, e com a mão livre começou a acariciar o topo da minha cabeça. Me virei para confirmar o seu rosto e ele estava calmo, um calmo inexpressivo, mas calmo.
Eu não sei que raio de loucura resolveu me atingir agora e nem de onde saiu toda aquela bondade dele, mas resolvi aproveitar o cafuné fechando os olhos e me acalmando aos poucos. Lance me sussurrou que me deixaria assim que adormecesse com o auxílio de Absol, mas também avisou que eu podia ficar tranquila que não estaria sozinha. Não entendi bem o que ele quis disser, mas consegui voltar a dormir em paz.Lance 2
Droga! Essa mulher está bagunçando com o meu juízo! Tenho que dar um jeito de me afastar dela logo. Mas não dá pra confiar ela nem mesmo ao meu irmão! Falar sobre a Crista de Maana, o mesmo feitiço que usei em Erika quando fomos conhecer o Recanto de Hefesto em Memória, pareceu ajudá-la a se acalmar pra voltar a dormir já que a memória dela parece estar mesmo voltando ao normal. Ela até pareceu uma criança assustada quando me pediu pra ficar! Acabei ficando mais por remorso do que por boa vontade (se ela soubesse o que pretendo fazer...). Fiquei lhe fazendo companhia, ela pareceu ter dormido, mas preferi ter certeza chegando perto de seu ouvido.
– Assim que você dormir, eu irei embora como entrei, através da umbracinese de Absol. E relaxa, pois sozinha que não vai ficar. – sussurrei para ela.
A ouvi soltar um resmungo em concordância, confirmando que ela ainda estava acordada (dorme de uma vez, está bem?...). Fiquei acho que mais uns cinco minutos naquela situação.
“Já pode ir lagartixa de gelo.” – falava a linguaruda chegando perto – “Ela adormeceu de verdade agora. Vá logo voltar pra sua gaiola!”
Não respondi aquela morta irritante e Absol se levantou com cuidado para poder me deixar no quarto. Chegando lá, a janela já estava fechada outra vez e a bolsa que eu preparei para ir embora estava sobre a cama. Absol retornou pra junto da Cris quase que imediatamente. Fui até a bolsa e somente as coisas que havia pegado no esconderijo continuavam dentro dela, todas as demais já tinham sido devolvidas aos lugares em que costumava guardá-las no quarto (Negra, sua atrevida!). Troquei de vestes e me deitei pra dormir. Estava cansado. Exausto pra ser mais honesto, já que estava há quase 48hs sem dormir por ficar pensando na Cris.
– Amanhã ela recebe alta. – falava comigo mesmo com o sono me dominando aos poucos – Irei ensiná-la a Crista de Maana como disse para que não desconfie. – (vou ser bonzinho com ela. A Cris não precisa sofrer).
.。.:*♡ Cap.72 ♡*:.。.
Erika
Depois que a Karenn contou para mim e para a Miiko que a Cris tinha feito aniversário no dia do ataque que ela e a Miiko sofreram, e que ela estava planejando uma festa surpresa no final de semana (sugestão de Anya), nós duas aceitamos sem nem pensar duas vezes! A Cris mais do que nunca precisava de algo bom acontecendo com ela depois de tudo isso.
Contei à Karenn tudo o que eu sabia sobre os gostos da Cris (ela é bem livro-aberto nesse requisito) para que pudesse ser usado como base para a decoração. Karenn e eu resolvemos reunir todos no salão, durante o jantar, para repassarmos sobre a festa surpresa, onde todo mundo se ofereceu para ajudar com alguma coisa. Planejamos tudo ali mesmo.
Depois de tudo acertado, como o Valk ia ter ronda noturna hoje (e que ia durar a noooite inteeeira...), convidei a Anya para passar a noite comigo, pois eu também queria ver a reação da Cris ao receber o presente que Anya comprou com a Karenn. Claro, nós duas tivemos que conversar com os pais dela primeiro. De início sua mãe não queria deixar, mas seu pai sussurrou alguma coisa em seu ouvido fazendo-a mudar de ideia (_sorriso malicioso_).
Anya me explicou o que ela havia comprado para que eu pudesse ajudá-la a se arrumar e deixar finalmente a enfermaria. Depois de tudo ajeitado nos deitamos, mas só conseguimos dormir depois de eu pegar mais duas cobertas. Essa noite foi fria! (que saudade do meu dragão de fogo...).
Anya foi a primeira a acordar (como ela consegue tanta energia logo cedo? O sol nem se mostrou direito!) e eu precisei de um banho para conseguir acordar. Enquanto eu me arrumava, Anya havia saído sem carregar o presente da Cris consigo (mas pra onde ela foi?). Terminei de me arrumar e peguei o embrulho. Estava trancando a porta quando a vejo se aproximar correndo da direção dos corredores.
– Aonde é que você estava Anya?
– Eu apenas fui... conferir o quarto da Cris... – ela reavia o fôlego da corrida – Aproveitei que você estava tomando banho e já pedi pro Karuto separar o café dela. _respira fundo_ Vamos lá passar no salão para podermos vê-la?
– Claro, vamos!
Seguimos até o salão e Karuto caprichou outra vez no café da manhã da Cris! Nos dirigimos a enfermaria pedindo licença ao Nevra, e ela já estava acordada com Ewelein lhe trocando as bandagens dos ferimentos que ainda não haviam terminado de se curar.Cris
Acordei com o sol invadindo a enfermaria e com Ewelein conversando com o enfermeiro que eu vi dormindo enquanto Lance me visitava.
– Bom dia para vocês. – falei fazendo-os parar.
– Bom dia Cris. – Ewelein se aproximava – Como foi que conseguiu todas essas cobertas?
– Acordei com frio no meio da noite. Não tenho culpa se o rapaz ali estava com Morpheus ainda quando me foi entregue mais cobertas. – (será que é o bastante para fazê-la acreditar que foi ele e não o Lance quem me deu mais cobertas?) – E... também tive um sonho... pesadelo, estranho. – se aquilo era realmente parte de uma lembrança, é melhor eu contar.
– Que tipo de pesadelo? Pode me contar? – pediu-me ela.
Eu apenas lhe assenti e comecei a contar-lhe assim como fiz com o Lance. A Ewelein me confirmou que aquilo poderia ser realmente lembranças (ai...) e que iria repassar pra Miiko depois, pois, mesmo recebendo alta hoje (maravilha!) eu ainda precisava de repouso.
Ela me trocava as ataduras onde metade dos hematomas haviam sumido e a outra metade estava mais clara (mais um dia e eu deixo de ser um dálmata _riso_). Ewelein estava enfaixando as últimas manchas medicadas quando Anya e Erika entraram na enfermaria trazendo algo que deixou meu estômago feliz de ver.
– Oba! Oba! Comida! – elas riam.
– Espero que esteja mesmo com toda essa fome! – falava Erika já colocando a bandeja diante de mim enquanto a Ewelein anotava alguma coisa no que devia ser o meu prontuário.
– Prefiro fome a sono. – falei já começando a beber o leite quente e elas riam novamente. Reparei no pacote que Anya segurava – O que é isso Anya?
– Bom... mesmo com você recebendo alta hoje, não há como você deixar a enfermaria de camisola, sem falar que as roupas que você usava antes... viraram trapo.
– Aaai... minha blusa preferida da Terra...
– Sinto muito Cris. – Erika lamentava comigo.
– Enfim,... – Anya continuava – ...aproveitando que você não tinha roupa nenhuma para deixar a enfermaria e o pequeno fato de você ter me escondido sobre o seu aniversário...
– Quanto a isso, como defesa, me uso do mesmo segredinho que lhe confiei na caverna!
– Que segredo?? – perguntou a Erika com Ewelein nos olhando de soslaio.
– Um que com certeza a está ajudando a se manter bem,... – retomava Anya – ...agora voltando ao que eu dizia. Ao invés de pegar uma muda de roupa em seu quarto, eu resolvi lhe comprar uma como presente atrasado de aniversário. – terminou ela me entregando o embrulho que peguei meio ansiosa.
Abri o embrulho com cuidado após empurrar um pouco a bandeja de comida para o lado. Eu amei as roupas. Eram uma blusa, um agasalho, uma calça, um par de luvas e um sapato-meia, todos lembrando a um crylasm (o agasalho e o sapato-meia tinham até detalhes do rosto de um crylasm!).
– Muito obrigada Anya! É a roupa mais fofa e quentinha que já ganhei na vida! – agradeci abraçando aquela roupa gostosa.
– Sabia que ia gostar. A Karenn e a Purriry que me ajudaram a escolher. Apesar de elas terem tentado me empurrar um monte de coisa que com certeza você não usaria tão cedo...
Rimos todas juntas. Terminei de comer e depois troquei de roupas. Erika ainda me arrumou o cabelo fazendo uma espécie de tiara de trança nele. Quando finalmente estava pronta para deixar a enfermaria, senti alguém me abraçando a cintura por trás.
Nevra
Terminada (ou quase) a conversa entre nós três, aproveitei os poucos minutos que ainda tinha de descanso graças ao Jamon e dei um pulo em meu quarto para fazer a cópia da fórmula pra Ewelein (entregarei assim que tiver um minuto a sós com ela). Voltei ao trabalho de vigília na enfermaria.
Depois de um tempo, Chrome me apareceu pedindo para que eu lhe assinasse uns dez papéis que precisavam de minha assinatura (claro que não deixei de notar Karenn e Anya saindo do QG juntas. Depois as questiono). Aproveitei que Chrome já estava ali mesmo e pedi para que ele ficasse em meu lugar apenas para eu dar um pulinho rápido no laboratório (se eu não colocar a receita da poção onde ele me pediu, nunca mais ele me permitirá ver nada!). Ezarel estava tão concentrado em terminar seu trabalho que nem me percebeu entrar e sair de lá.
Retomei o meu posto até dar a hora do jantar, onde Miiko, Erika, Karenn e Anya contaram a todos sobre os planos de uma festa de aniversário surpresa pra Cris. Claro que Ewelein e eu fingimos surpresa sobre a data (como iríamos explicar o que sabíamos sem revelar à Cris que tínhamos ouvido a conversa dela com o Lance?) e aproveitei que a Ewelein se sentou na mesma mesa que eu para lhe entregar a cópia sem ninguém perceber. Leiftan, Ezarel e eu também decidimos realizar o nosso interrogatório no dia seguinte à festa em que todos quiseram colaborar.
Depois de tudo combinado (sobre a festa e sobre o interrogatório), retornei pra frente da enfermaria. De início estava tudo bem tranquilo. Quase cochilei algumas vezes. Isso até eu notar o Absol deixando a enfermaria, e retornando com o Gelinho... (de novo esse praga veio vê-la?? Não estou gostando nada disso!) Prestei atenção à conversa deles, e parece que o recuperar das memórias da Cris não será nada confortável. Ele realmente está disposto a continuar ensinando magia à Cris? Mas o que me preocupou mesmo, foi o pedido dela para que ele lhe fizesse companhia até ela voltar a dormir (se pudesse eu faria aquele interrogatório agora. Ela está dando sinais perigosos!! E o quê é que aquele enfermeiro e a Ykhar estão fazendo lá dentro?).
Só consegui ter um pingo de alívio depois que o lagarto de gelo foi embora. Mil ideias de como afastar ou pelo menos “desaproximar” aqueles dois, mais o frio que resolveu fazer esta noite, me ajudaram a permanecer acordado sem problemas até o amanhecer. Ewelein chegou para o trabalho antes da aurora e quase na mesma hora também vejo a Anya correndo para o salão (lá vai ela cuidar da praga! Se bem que, gostando ou não, ele tem sido de alguma ajuda).
Não demorou muito para Anya e Erika me pedirem passagem carregando uma boa quantia de comida pra Cris (ainda bem que os alimentos naturais de Eldarya estão adquirindo nutrição, mas será que eles estarão consumíveis antes da comida terráquea acabar?) e fiquei ouvindo a conversa delas para poder saber quando seria seguro entrar.
Estava com sono, e só estaria liberado da vigília quando a Cris estivesse liberada da enfermaria. Percebi que a Cris já estava vestida com o correr da conversa delas e por isso resolvi entrar. Apesar da Cris estar de costas para mim, ao vê-la parecendo uma versão humanoide de um crylasm, na hora uma ideia me passou pela cabeça (ideia que com certeza não funcionaria, mas não custava nada tentar).
– Será que essa pequena crylasm aceita ser minha mascote por um dia? – falei abraçando-a por trás.
– Sinto muito, mas essa crylasm aqui tem medo de morcegos! – ela me respondia enquanto me fazia soltá-la – Ainda mais morcegos babões! – Anya e Erika seguravam os risos enquanto eu ficava sem graça – Precisa de alguma coisa?
Anya
– Apenas dormir. E quando vi essa bela e fofa crylasm... – o Chefinho fazia a Cris dar uma volta – Fiquei querendo a companhia dessa mascote em meu quarto. Só isso.
– Ah, Nevra! Depois não quer que todos achem que você está obcecado por ela.
– Eu também aceitaria a companhia de uma bela aengel, Erika,... – piscava ele para Erika (mas que atrevido!) – ...mas não estou afim de me encrencar com um certo dragão de fogo que eu conheço. E nem com um certo daemon! – a Cris apenas negava com a cabeça erguendo os olhos para o céu enquanto nós riamos de leve mais um pouquinho.
– Mas agora é sério Becola, a Cris já ficou em cima de uma cama tempo demais. Se quer dormir, durma com a Shaitan ou então com uma de suas admiradoras. – falei, e as meninas concordavam comigo.
– A Shaitan não é fofinha como uma crylasm... – e lá vem ele jogando charme outra vez nos fazendo revirarmos os olhos – E quanto as minhas “admiradoras”, estou dando um gelo em todas como punição.
– Não tem medo que isso tenha efeito contrário? – perguntou a Cris.
– Esse final de semana o castigo acaba. – respondeu ele dando de ombros _suspiro_.
– Muito bem todos vocês, já está na hora de deixarem logo a enfermaria. Vão! Vão! Vão! – éramos expulsos por Ewelein de lá de dentro.
Mal passamos a porta fechada pela Ewe e a Cris já começou a se espreguiçar (e a estalar metade dos ossos do corpo) por finalmente poder estar de pé mais uma vez.
– Caramba, mas que sinfonia!
– Perturba outro Nevra, perturba outro. – reclamou a Cris terminando de esticar os braços.
– Não há mesmo como convencê-la a me fazer companhia?
– Neeevraaa! – dissemos todas juntas.
– Ok! Ok. Me viro sozinho mesmo. – rendeu-se ele com as mãos para cima, beijando uma das mãos da Cris em seguida, fazendo-a corar – Retiro-me, mas caso mude de ideia, já sabe onde me encontrar. – e ele saiu dando um daqueles sorrisos que costumavam derreter metade das mulheres (pude ouvir a Cris grunhir de raiva para ele).
– Certo, certo. Agora que o Becola já se foi e... – comecei a olhar em nossa volta e não achei Absol – E ao que parece seu guardião também Cris... – ela soltou um suspiro enquanto sussurrava um “pra onde que ele foi dessa vez...” – O quê você deseja fazer Cris? E lembre-se que ainda está repouso!Cris 2
Esse Nevra... ele não perde uma! Tanto que por culpa dele nós fomos simplesmente expulsos da enfermaria. Quase que eu esqueço a loção que Ewelein me deu para passar nos hematomas mais essa noite. E acho que nunca estalei tantos ossos de uma vez como agora. Só me senti aliviada mesmo quando o Nevra sumiu de minha vista (apesar de Absol resolver sumir também...).
– Pra onde que ele foi dessa vez... – sussurrei pra mim mesma enquanto escutava Anya me questionar – Bom meninas,... – assumi um tom normal – ...primeiro eu quero guardar essa loção e depois quero ir ver todo mundo pra mostrar a todos que já estou bem.
– Boa ideia. – falava a Erika – Você nem imagina o susto que foi para Eel inteira o que aconteceu com você!
– Só para Eel é?
– Até parece Cris. Não ficaria nada surpresa se algum dos diplomatas que gostou de lhe conhecer, resolvesse se mudar pra Eel apenas para poder viver perto de você.
– Ahm, eu já não tenho gente demais querendo ficar perto de mim Anya? – falei com um sorriso brincalhão.
– Vamos lá guardar logo essa loção e fazer o nosso passeio meninas. – Erika nos empurrava de leve para descermos logo as escadas com todas nós rindo de leve (como senti falta dessa sensação de sossego...).
Chegamos lá embaixo e mal adentramos o Corredor das Guardas e a Miiko já vinha chamando a gente para falarmos com ela na Sala do Cristal. Erika foi entrando enquanto eu corri pro meu quarto para guardar a loção com Anya me acompanhando e reclamando que eu não devia correr já que tinha acabado de receber alta (nunca fui de ficar 100% quieta). Entrei no quarto e o Lance estava observando pela janela.
– Vejo que já foi liberada... “Mascote”! Como se sente? – perguntou ele me observando sem sair do lugar em que estava.
– Um pouquinho melhor. Na verdade, eu só vim pro quarto agora para poder guardar a medicação que a Ewelein me passou, quero ver todo mundo para poder dizer que já estou bem. – respondi deixando a loção no banheiro.
– Tente não abusar. – tanto sua voz como seu rosto estavam neutros (ele tá me parecendo meio estranho) – Conseguiu se lembrar de mais alguma coisa?
– Por hora, só o que já lhe contei.
– Vamos logo Cris! A Miiko não vai querer ficar lhe esperando a vida toda não! – chamava Anya do corredor.
– Já vou! – respondi a ela – Volto mais tarde e... você vai mesmo me ensinar a língua original e aquele feitiço de proteção que mencionou ontem?
– Se você ainda tiver interesse... – ele respondeu com aquele sorriso (pelo menos alguma expressão).
– Tenho. Vou tentar voltar antes do almoço. Se comporta! – falei saindo e já trancando a porta. Deu para ouvir ele rindo de leve enquanto o fazia (aconteceu algo com ele durante minha internação?).
Anya me chamou outra vez a atenção e fomos de encontro com a Miiko. Na sala, Miiko apenas me repassou as ordens de segurança de antes (não ultrapassar os portões, não ficar sozinha com desconhecidos, me manter junto de algum reluzidiano ou membro de confiança dela e blá, blá, blá...); avisou que eu teria um descanso sobre os contaminados nessa semana; que amanhã, Nevra, Valkyon e Ezarel me acompanhariam por Eel na tentativa de conseguir me lembrar de algo, e que ela queria me fazer várias perguntas das quais ela prefere me deixar descansar mais um pouco antes de me questionar já que a Ewelein tinha acabado de me liberar (é melhor eu aproveitar o pouco tempo que tenho hoje!).
Erika, Anya e eu deixamos o local e começamos a nos dirigir para a Cerejeira primeiro. Cumprimentar a minha guarda. Chegamos na sala das portas e meio que nos assustamos com um ser estrambelhado deixando a biblioteca, descendo as escadas quase caindo. Era o Kero.
– Que desespero é esse Kero!? Aconteceu alguma coisa? – perguntou a Erika que o segurou para não acabar com a cara no chão.
– Acabamos de receber uma mensagem de Lunna. – respondeu ele meio exasperado (quem é Lunna?).
– Espera! Vamos ter uma nova Lua de Sangue? – Erika parecia preocupada.
– Antes fosse Erika... Será Lua Púrpura! – (Oi?!?) e Kero disparou em direção a Sala do Cristal, eu acho...
– O que é uma “Lua Púrpura” Erika? E quem é essa tal de Lunna?
– Lunna é a astronâmini mais famosa de Eldarya. Uma espécie de astrônoma astróloga, estudiosa dos astros tanto no sentido científico quanto no sentido místico.
– Ok. E quanto à lua?
– Você sabe o que é uma Lua de Sangue e uma Lua Azul, não é?
– Bom Erika, eu sei que a Lua de Sangue nada mais é que um eclipse lunar, já a Lua Azul, na Terra, é a segunda lua cheia do mês e que não fica propriamente azul como aqui em Eldarya.
– E os efeitos dessas luas sobre os faerys? Eu já cheguei a lhe ensinar Cris?
– Acho... que essa parte você pulou Anya. – Anya acabou soltando um suspiro e a Erika um sorriso fungado.
– A Lua de Sangue... – retomava a Erika – ...consegue ampliar o poder místico de todos os faerys com influência direta da lua ou das sombras como lorialets, lobisomens, daemons e vampiros por exemplo. A Lua Azul, que é toda a quarta lua cheia e, assim como você mencionou Cris, em Eldarya, assume um tom de turquesa cristalino, consegue ampliar o poder místico dos faerys com poderes lunares e/ou espirituais como, outra vez os lorialets e lobisomens, e as kitsunes e fenghuangs por exemplo. Sendo que o ápice dessas luas, aqui em Eldarya, ao invés de durar apenas alguns instantes, duram entre quatro e cinco horas antes de retrocederem. Ou seja, elas duram quase a noite toda.
– Há outro fator em comum além dos faerys ligados com a lua cheia?
– Há sim. – agora era Anya que explicava – A amplificação fornecida por essas luas podem deixar o faery meio sem controle se for muito jovem. Se for um faery do tipo sombrio, como os vampiros, eles acabam se tornando um pouco mais violentos, pois passam a agir se guiando mais pelos instintos do que pela razão. E se for do tipo espiritual, como as kitsunes, o poder pode lhe fugir do controle e acabar... estragando, as coisas a sua volta. – acabei imaginando as chamas da Miiko queimando tudo em seu caminho (Jeeeesuus!).
– Hum... então... Vermelho mais azul dá roxo. Púrpura é um tipo de roxo... a Lua Púrpura é a combinação das luas de Sangue e Azul?
– Exatamente! – responderam as duas.
– Kero deixou subentendido que a Lua Púrpura é pior que a Lua de Sangue, como exatamente ela afeta os faerys?
– É, bem, Anya explicou que só os mais jovens costumam se descontrolar, correto? – apenas assenti com a cabeça – Pois bem, a Lua Púrpura é muito mais forte que as outras luas sozinhas, e por isso... Nem os adultos conseguem evitar a perda de controle. Sem falar que quase todos os faerys afetados pela Púrpura não conseguem se recordar de nada do que fizeram durante a sua passagem. Ao menos foi o que eu ouvi falar!
Comecei a refletir um pouco sobre tudo o que as duas explicaram – Me diz uma coisa Erika...
– Fala.
– A Lua de Sangue afeta os daemons, e consequentemente a Púrpura os afeta também... Os aengels são afetados pela Lua Azul? E os dragões? Também sofrem mudanças com essas luas?
.。.:*♡ Cap.73 ♡*:.。.
Cris
Aquela historia de luas e efeitos colaterais nos faerys me deixaram um pouco preocupada, sem falar que nós três continuamos com o nosso caminho até a cerejeira durante a conversa (em passo de lesma). Antes, eu não sentia nada quando ocorria uma Lua Azul, por exemplo, já que estava “dormente”, mas... e agora que comecei a ter controle da minha própria maana? Ou será que eu não havia me dado conta das mudanças?
– E então Erika? Aengels e dragões sofrem algum efeito com essas luas? – perguntei à ela e ela parecia refletir em alguma coisa.
– Olha, sinceramente, nunca senti ou percebi mudanças em mim durante a Lua Azul ou a de Sangue. Essa será a primeira vez que encaro uma Lua Púrpura! E Valk nunca me comentou nada. Se bem...
– Se bem que o quê?
– Preciso falar com ele primeiro para ter certeza. Não quero ser precipitada.
– Ok então. – (que tipo de suspeita será que ela guarda?).
– A última Lua Púrpura foi há uns dez anos atrás. – intercedia Anya – Meu pai, como elfo negro, sofreu influência naquela época. Minha mãe o manteve sobre efeito de soníferos até o amanhecer do dia se eu me lembro bem.
– Bom. Tenho certeza que em breve a Miiko estará fazendo um pronunciamento informando como que todos deverão agir, assim como ocorre com as Luas de Sangue. – declarou Erika.
– O último eclipse foi no meio de mesame que passou agora. – comentava Anya – Não esperava por um novo logo em p’irveli deste ano.
Mesame e p’irveli são nomes dos meses de Eldarya. Pela ordem são: P’irveli, 1º mês com 50 dias; Meore, 2º mês com 49 dias; Mesame, 3º mês com 50 dias; Sadzinebeli, 4º mês com 49 dias; Mekhute, 5º mês com 50 dias; Meekvse, 6º mês com 49 dias; e Meshvide, 7º mês com 50 dias (mas que nominhos hein!).
– Realmente, considerando que isso costuma acontecer uma vez a cada quase dois anos, está se repetindo rápido demais mesmo. E em cima de uma Azul!?
– O quê está se repetindo rápido demais? – Valkyon era quem nos questionava (já chegamos na cerejeira? Eu nem vi!).
Íamos começar a explicar quando a voz de Kero apareceu não sei de onde avisando que a Miiko ordenou que todos se reunissem no salão das portas para um aviso de extrema urgência – Não sabia que vocês tinham alto-falantes... – comentei.
– Alto o quê?
– Alto-falantes Anya. E não Cris, até onde eu sei, Eldarya não se dispõe desse tipo de equipamento, no entanto, eles possuem um feitiço cuja função é semelhante, que é o que o Kero acabou de usar com certeza.
– Nesse caso então, mais nova mascote da Obsidiana,... – Shiro me abraçava os ombros por trás (espero que Shiro esteja só na brincadeira. Já me basta aqueles dois) – ...vamos lá descobrir o que a nossa respeitável líder Miiko deseja para com todos nós de Eel.
Assentimos e seguimos todos para dentro do QG.Miiko
Eu realmente não estou tendo sorte nesta virada de ano... O ataque vindo de Apókries, as ameaças lançadas contra a Cris (e contra mim), o Lance foragido e agora a “novidade” trazida por Keroshane.
Conversava com Oluhua e Ezarel sobre alguns itens que, graças à reunião efetuada por conta das evigêneias, não ficarão em falta por muito tempo. Levei um susto ao ver o Kero entrando na Sala do Cristal com cara de quem correu por Eel inteira.
– Mas o que foi que aconteceu Kero? – perguntei.
– Lunna contatou Eldarya. – (eu mereço...) – A próxima lua cheia não será Azul, será Púrpura!
– Ótimo! – fui sarcástica – Alguém se lembra dos procedimentos que adotamos na última vez?
– Se não me engano, a última vez ocorreu há exatos 15 anos atrás. Nessa época eu estava em missão longe daqui então não tenho ideia do que foi feito. – comentou Ezarel.
– E na época, Miiko estava doente de cama. – Oluhua está na guarda há bastante tempo (sem falar que por estar de cama, eu nem vi a Lua passar) – Não sobrou nada sobre o assunto não Kero?
– Só o que nos foi fornecido pelos próprios habitantes, depois do ataque daquela criatura que Lance soltou na biblioteca. – explicou Kero enquanto me estendia alguns pergaminhos contento os registros junto da mensagem de Lunna. Comecei lendo os registros.
– De acordo com isso... Os métodos utilizados foram semelhantes ao que fazemos durante a Lua de Sangue e a Lua Azul, porém, com cuidados estendidos aos adultos também. E também há a explicação de como reconhecer aqueles que são afetados e como são afetados.
– Ainda bem que eu sempre escapo! – revirei os olhos com as palavras de Ezarel – Mas quando irá repassar a noticia Miiko?
– O mais rápido possível. Kero, convoque todos com urgência na Sala das Portas para comunicarmos todos; Ezarel, ponha a Absinto para preparar o máximo de poções e feitiços possíveis para garantirmos a sobrevivência de todos antes, durante e depois da Lua Púrpura, e Oluhua, faça-me o favor de enviar o aviso sobre a Lua para todos que estão fora em missão, peça ajuda ao Purrero se necessário. Todos os afetados e suspeitos terão três horas para encontrarem um “guarda” para a noite depois que avisarmos todos.
– E quem vai ser o seu “guarda” Miiko.
– Pedirei a Jamon como sempre Ezarel. Agora vão logo!
– Sim senhora. – disseram todos saindo logo em seguida.
Saí da sala também acompanhada de Jamon a quem eu já estava deixando ciente que o queria cuidando de mim enquanto ajudava a preparar o palanque improvisado para poder dar o aviso. Vinte minutos se passaram e parece que todos já estão aqui considerando o quão apertado ficou o lugar.
– Peço silêncio, por favor. – metade ainda me ignorava (eu já não estou com paciência...) – SILÊNCIO!!!! – agora todos calaram – Fui informada mais cedo que Lunna, a astronâmini, alertou toda Eldarya de que a próxima lua cheia, que seria uma Lua Azul, na verdade será uma Lua Púrpura. – alguns cochichos começaram a se formar – E devido a isso, todos deverão seguir os procedimentos utilizados para as Luas de Sangue e Azul, com o diferencial que não haverá exceções por faixa etária. Ou seja, independente do faery influenciado ser jovem ou não, terá que se rebaixar às exigências impostas.
– E como são esses procedimentos? – alguém perguntava, provavelmente um novato ou recém-chegado.
– Como há muitos recém-chegados, eu irei explicar: 1º - todos os faerys influenciados pela Lua deverão ficar confinados em seus quartos ou residências durante a passagem da mesma até que o sol surja. 2º - para garantir que os afetados cumprirão com o exigido, os mesmos deverão escolher alguém de sua confiança que aceite vigiá-lo durante toda a noite. No meu caso, como kitsune que geralmente sofro influência com a Lua Azul, já escolhi o Jamon para velar pelo meu confinamento. – alguns pareceram surpresos com isso – Os “guardas” que aceitarem passar a noite em claro terão folga no dia seguinte para que possam descansar. 3º - para uma maior segurança, as “celas” de vocês deverão ser reforçadas com encantamentos que só permitam aos seus ”guardas” as abrirem. Já imbui a Absinto de produzir e fornecer os mesmos, mas se alguém preferir usar métodos próprios para manterem seus “cativeiros”, confirmem com o líder da Guarda Absinto, o Ezarel, se eles possuem o mesmo efeito. 4º - no que se refere às missões, todas as de longo prazo estão suspensas ou adiadas até o dia seguinte da Lua Púrpura, para que assim saibamos se os responsáveis pela efetuação das mesmas estarão ou não em condições de prossegui-las.
– Oh Miiko... – vi a Cris levantando a mão – Como que sabemos com certeza quem sofre ou não efeitos da lua? – daqui de cima pude notar que a Cris não era a única com essa dúvida, e aposto que ela só perguntou isso por causa dela mesma.
– Segundo alguns registros que temos, assim como as luas de Sangue e Azul - cuja as listas de faerys influenciados são somadas para formar a lista da Púrpura - os afetados passam a assumir e/ou adquirir reflexos da cor da lua em questão em seus olhos. Aqueles que já possuem a íris da cor da lua, nesse caso, púrpura, apresentam um tom mais escuro, e de acordo com esses mesmos registros, os faerys em questão sofrem amnésia sobre a passagem. Se algum de vocês já passaram por uma Lua Púrpura, mas não recordam do fato, considerem-se como parte da lista. Há alguma dúvida?
– Tem alguma recomendação específica para aqueles que não sofrem influência ou que não trabalharão como “guarda”? – pude ver um rapaz perguntar.
– Sim. Aqueles que não sofrem influência e que não estarão auxiliando na segurança dos mesmos, evitem ao máximo de deixarem seus quartos ou casas por conta da possibilidade de um influenciado sair de seu “cativeiro”. Lembrem-se que tanto a nossa enfermaria como nossos enfermeiros e curandeiros possuem limites. – aguardei mais alguns instantes e ninguém mais perguntou nada – Muito bem, dentre os membros do QG, todos receberão uma pausa de três horas de suas respectivas atividades para se acertarem. Caso haja algum desinformado que não tenha comparecido a esta reunião, peço para que os presentes repassem tudo o que lhes informei. Já ordenei que aqueles que estão fora em missão neste momento sejam contatados por meio de mascotes. É isso, que tenhamos boa sorte e que o Oráculo olhe por todos nós. Estão dispensados.Anya
Enquanto a Miiko deixava a mesa que ela usava de palanque com a ajuda de Jamon, metade daquele povo saiu para fora. Da metade que ficou, alguns subiram para o laboratório de alquimia e outros começaram a conversar entre si. Notei que a Cris parecia reflexiva.
– Planeja adicionar as explicações sobre as Luas em seu guia Cris? – questionei-a.
– Ainda bem que eu deixei algumas páginas em branco, não é mesmo? – disse ela sorrindo, eu apenas concordei.
– Bom Estrelinha, acho melhor avisarmos sua mãe para que nós possamos ir nos preparando, tenho sua licença senhor? – meu pai perguntava ao Valkyon.
– Certamente. Como a Miiko acabou de declarar, todos estão suspensos por no máximo três horas para se organizarem, mas assim que acabarem assumam seus postos imediatamente. Irei falar com a Miiko sobre a segurança de Eel depois de amanhã.
– Boa sorte e... – Erika começou a cochichar alguma coisa ao ouvido dele – Nos vemos mais tarde?
– Claro meu amor. – o Valkyon beijava a testa dela – Até breve para todos. – e ele se foi em direção à sala do Cristal.
– Ô pai! Eu não posso ficar mais um tempo com a Cris não? Ela mal deixou a enfermaria e já temos uma Lua Púrpura para lidarmos. Tenho certeza que a mamãe já tem quase tudo pronto como sempre.
Meu pai deu uma risada que até chamou a atenção dos mais próximos – Concordo com você. Não duvido nada de que será moleza para a sua mãe cuidar de mim e, quem sabe, de você também Estrelinha. E duvido que aquele alquimista metido a engraçadinho irá discordar dos métodos dela que, se nós dois a conhecemos bem, ela já está trabalhando nisso.
Todos nós acabamos rindo de leve – Mas agora é sério papai. Posso permanecer com a minha amiga por mais um tempo?
Ele começou a nos encarar com um olhar sério – O quê vocês irão fazer? – meu pai encarava a Cris.
– Bom, graças a essa reunião, um monte de gente já sabe que eu deixei a enfermaria, então vou apenas até aqueles que considero mais próximos para dar um oi e depois vou ver se estudo alguma coisa já que não posso treinar ou “trabalhar” por enquanto.
Meu pai acabou erguendo uma sobrancelha, mas cedeu de boa (ufa!!). Ele nos deixou pra ir ver a minha mãe, nos mandando tomarmos cuidado. Erika e eu continuamos fazendo companhia à Cris e conversamos com algumas pessoas no salão principal. No meio disso, Absol apareceu com alguns objetos e acompanhado do Purral. Apesar de tudo, a Cris tem mesmo uma grande sorte, os itens trazidos por Absol eram os mesmos que Purral pedia hoje por uma de suas sacolas e a Cris acabou ganhando um par de brincos de ouro com pedras azuis (acho que ele disse que o nome da pedra era labradorita) que ela experimentou na hora!
Conversa vem, conversa vai, a Cris resolveu almoçar no quarto dela, “sozinha”, com Absol lhe fazendo companhia e eu... acabei indo pra casa.Cris 2
Com o fim daquela reunião informativa e após Anya receber permissão de continuar comigo, as únicas pessoas que eu tinha certeza que talvez pudessem falar dois minutos comigo eram Karuto e Twylda. Seguimos até o salão e lá estavam eles trabalhando na cozinha. Erika continuou comigo, mas assim como a Twylda, ela quase deu um pulo quando Absol resolveu aparecer no meio de nós e com o Purral junto dele (que por sinal parecia se divertir montado em um black-dog).
Eu não sei sobre os mascotes de Eldarya, mas Absol chega a me parecer meio humano de tão esperto que ele é. Já que, graças a ele, eu pude ter a sorte de ganhar um par de brincos de argola que achei lindo.
Ao que entendi durante nossa conversa, brownies, sátiros e purrekos estavam fora da lista de faerys afetados pelas luas especiais. Para que mascotes sofressem algum tipo de influência, depende muito da espécie, pois poucas tinham um relacionamento especial com a lua.
Na hora de almoçar, achei melhor comer em meu quarto (Erika não parecia ter certeza sobre a relação dos dragões com a lua então... vamos falar diretamente com a fonte) antes que alguém achasse uma boa ideia me chamar para servir de “guarda” (meus olhos e amuletos, mais os treinos de Absol e meu chefe podem até me ajudar a me proteger, mas à noite eu prefiro é dormir!). Fui para o meu quarto e Anya para casa, antes que seu pai ficasse nervoso. Entrando em meu quarto, Lance estava meditando nos fundos e Absol foi logo se deitar na cama dele onde ficou só observando.
– Almoço. Vem comer? – falei enquanto separava a comida.
– O que temos para hoje. – via-o se erguer sem pressa.
– Purê de batata com mandioquinha, filé de peixe empanado e... – encarei o terceiro item – acho que um refogado de legumes? Também trouxe suco de fruta da lua com maçã e laranja. E para sobremesa, um pedaço de bolo de chocolate. Objeções?
– Nenhuma! – ele sentava-se animado para comer – Ser a favorita do cozinheiro tem mesmo muitas vantagens.
Ignorei-o. Nos sentamos pra começar a comer e o fizemos em silêncio (silêncio até demais). Assim como hoje cedo, Lance parecia distante durante a refeição, frio até. Estava terminando de consumir a minha parte quando eu finalmente tomei coragem para falar.
– Me diz Lance... – ele continuou “longe” – A Lua de Sangue tem algum efeito sobre os dragões?
– Não. – (que seco!).
– E a Lua Azul?
– ...
– Não vai me responder?
– Porque você está perguntando sobre isso. – ele continua me evitando.
– Porque a próxima lua cheia será Púrpura! – mal terminei de falar e ele começou a me encarar surpreso (finalmente uma reação!).
– Como sabe que a próxima lua será Púrpura? – expliquei a ele sobre o aviso de Lunna e as medidas que Miiko tomou para seguirmos – Faz sentido. – e ele voltou para a cara vazia... Ahff!
– Mas agora diz, a Lua Azul afeta os dragões? Vou precisar ter cuidados especiais com você Lance?
De início ele pareceu pensar no que dizer de olhos fechados e depois de uns dois minutos, ele soltou um longo suspiro antes de voltar a falar.
– A Lua Azul em si, não mexe muito com nós dragões, no entanto... – apenas me concentrei mais nele enquanto ele dava outro suspiro – A Lua Púrpura consegue nos afetar um pouco.
– De que forma?
– Passamos a agir mais pela emoção do que pela razão. Quase sempre preferimos atender aos nossos instintos. Como Valkyon e eu fingíamos ser faelianos, para nos protegermos durante a Lua, nos dois nos isolávamos para ficar o tempo todo meditando e assim escondermos nossa verdadeira natureza.
– E o que mais? Vocês realmente sofrem amnésia como a Miiko disse?
– Mais ou menos. – (??) – Não nos esquecemos de tudo, e se tiver alguém junto, é possível controlarmos nossos atos se o mesmo nos lembrar de usarmos a razão.
– Então... a única coisa que preciso me preocupar é o possível efeito da Lua sobre mim? – Lance começou a me lançar aquele sorriso detestável (e sinceramente, prefiro ele à aquele gelo!).
– Se quiser podemos vigiar um ao outro durante a passagem da Lua, mas sugiro que ao invés de meditar como eu, você apenas reze o seu tal terço, pois com certeza sua maana estará muito mais forte.
Acabei revirando os olhos ao mesmo tempo em que respirava fundo – Você vai me ensinar o que me prometeu quando ainda estava internada ou vou ter que convencê-lo...
– A Língua Original ou a Crista de Maana?
– Qual é o mais fácil?
– Crista de Maana.Nevra
Dormi como uma pedra. O crepúsculo ainda se iniciava quando despertei finalmente. Como estava com fome, fui direto para a dispensa pedir uma bolsa antes que eu começasse a procurar uma pessoa. Notei que o QG parecia mais agitado que o normal e quando estou com fome não consigo pensar muito bem. Peguei minha bolsa e sentei-me em uma mesa mais isolada, mas não demorou para que eu adquirisse companhia...
– Meu caro sanguessuga! – (estou quase ouvindo o Gelinho falando...) – Já se preparou para depois de amanhã!?
– Depois de amanhã?? O que terá depois de amanhã Ezarel?
– Mas aonde que você esteve durante o dia todo?!?
– Dormindo. Agora desenrola. – Ezarel sentou-se rindo da minha cara e repassando as novidades enquanto eu consumia a minha bolsa – Droga. Ainda há gente livre que possa ser o meu “guarda”?
– Só um quarto de Eel bem dizer não terá de ficar “presa” ou vigiando durante a passagem e dentre eles, metade vai estar trabalhando na segurança da cidade e a outra metade é de crianças, idosos e doentes. Eu já vou estar de olho nos elfos negros, que são sete, que fazem parte da minha guarda, então não posso ajudá-lo.
– Sabe quem que minha irmã e meu futuro cunhado chamaram para vigiá-los...? – coçava a cabeça tentando pensar em quem procurar primeiro.
– Sei. Eles chamaram a Alajéa e o Sonze para cuidarem deles. Os dois não são afetados pelas Luas - apesar da Alajéa ser uma sereia - então os quatro já combinaram entre si.
– Tudo bem, uma preocupação a menos. Agora só preciso de alguém para cuidar de mim! – falei terminando finalmente de me alimentar.
– Nisso eu só posso lhe desejar boa sorte meu amigo...
Respirei fundo, e comecei a correr o olhar pelo salão sem me focar em nada especificamente, mas acabei retornando meu olhar sobre uma pessoa que... talvez? – Ezarel... – chamei-o.
– Fale Nevra.
– Sabe me dizer se a Cris faz parte dos que precisam se isolar? Quero dizer, ela é parte aengel/daemon e parte dragão não é mesmo?
– Bom... se ela for mais daemon que aengel, talvez. Quanto ao lado dragão, imagino que Valkyon teria nos contado depois que descobrimos a verdade sobre a natureza dele e do irmão. Se bem que ainda temos que levar a parte humana dela em consideração...
– Durante a Lua Azul, Valkyon gosta de meditar assim como os fenghuangs e Erika lhe faz companhia. Me questiono se ele o faz por costume ou porque não quer dar trabalho para a Guarda.
– O que está querendo dizer com isso Nevra?
– Você já chegou a ver os olhos de um deles na passagem da Lua Azul? Tanto os aengels quanto os dragões tem grande envolvimento espiritual. Será que eles nem notam uma possível influência?
– Você acha?
– A Lua Púrpura tem muito mais poder que a Lua Azul ou a Lua de Sangue, então... essa seria a chance de descobrirmos a verdade?
– Te achei finalmente! – Anya se aproximava de nossa mesa – Tem ideia de há quanto tempo eu estou te procurando Ezarel?
– E porque motivo você estaria atrás de mim pirralha?
– Aqui. – ela entregava um pergaminho a ele – Era pro meu pai lhe entregar, mas como ele está ajudando minha mãe para a Lua Púrpura, vim lhe entregar no lugar dele.
– Ok, já pode ir se for só isso pirralha.
– E era “rabujo”. – Ezarel lhe estendia um olhar confuso – Se me dão licença.
– Espere Anya... – a Cris já não estava mais na bancada da cozinha – Saberia me dizer o que a crylasm que me rejeitou hoje cedo planeja?
– Olha Becola, até onde eu sei, a Cris passou quase o dia todo no quarto estudando e fugindo de quem poderia pensar nela como “guarda”. Ela me pareceu bem preocupada com a possibilidade de poder sofrer algum efeito com a Lua.
– Isso quer dizer que ninguém teve a oportunidade de chamá-la ou te tentar convencê-la a aceitar ser uma “guarda”?
– Tira o sorriso do rosto Becola! E como é que o senhor faria para convencê-la a aceitar cuidar justo do senhor?
Dei de ombros – Absol... – (e Lance) – podem ajudá-la nessa missão.
– Pois vá falar com ela! – dito isto, Anya saiu meio que brava do salão.
– Você realmente pretende chamar a Caçadora para tomar conta de você? E se ela decidir dar um jeito em você e depois usar a Lua como desculpa? – um riso fungado me escapou.
Ignorei o meu amigo e fui bater na porta da Cris. Claro que antes dei uma escutada nas conversas deles (mas o que é que eles estão fazendo agora?).Cris 3
Crista de Maana. Ou Escudo de Maana, um feitiço cujo propósito é criar uma espécie de segunda pele para proteger o seu corpo de feitiços e maldições e/ou permitir que você percorra ambientes inóspitos sem correr risco de vida. Há duas formas de se utilizar esse feitiço:
1ª - Você utiliza toda a sua concentração para criar e manter a segunda pele. A duração deste feitiço depende do quanto de maana seu corpo é capaz de armazenar. Mas, se você se desconcentrar por um instante que seja... o feitiço quebra.
2ª - Você utiliza de concentração para criá-la, mas com o auxílio de um encantamento na Língua Original, não há a necessidade de continuar se concentrando na pele para mantê-la. O encantamento o faz por você. E assim você pode se concentrar no que quiser, no entanto há um limite de duas horas.
De acordo com o Lance, a Crista de Maana é umas dez vezes mais fácil de se aprender do que a Língua Original (aham, sei...).
– Você não está se concentrando direito. Quantas vezes terei que lhe explicar? – Lance me dava bronca por não conseguir fazer o que ele dizia – Invoque a sua maana como lhe ensinei antes; imagine-a como uma bolha de energia maciça, para em seguida imaginá-la crescendo e lhe envolvendo como se fosse uma pele. Não é difícil.
E o pior é que ele continuava frio comigo – Juro a você que estou tentando! E quando é que você vai parar de continuar frio desse jeito comigo? – ele respirou bem fundo antes de voltar a falar.
– Vamos fazer uma pausa, já devem até estar servindo o jantar agora. Eu vou tomar banho, nisso você busca o de comer para nós dois. – disse ele já se levantando.
– Tá! Como você quiser! – levantei-me meio irritada enquanto ele seguia pro banheiro e Absol bocejava na cama dele.
Nós dois estávamos sentados de pernas cruzadas no meio do quarto, só que um a frente do outro dessa vez. E ele estava certo, já era tarde. Começamos com aquele treino lá pra uma da tarde, e agora já é quase seis. E não fizemos pausa alguma durante o treino! Com tanto tempo sem comer mais a frustração de não conseguir avançar muito (a minha “bolha” tinha que sempre se estourar no segundo seguinte que a criava!?...) não é surpresa eu estar irritada agora.
Desci rápido e me desviando de qualquer um que pudesse querer me “convidar” a ser seu carcereiro (já tenho o Lance para me preocupar e eu nem sei direito como isso vai ser). Chegando no balcão da cozinha, vi Karuto ameaçando um par de faerys que o questionava justamente sobre a possibilidade de eu cuidar de algum deles (eu queria dormir nessa noite... _choramingando_), fazendo-os correr em disparada. Peguei um lanche e agradeci ao Karuto tanto pela comida quanto pela sua consideração para comigo. Não me demorei mais que o necessário.
Cheguei de volta ao meu quarto e o Lance deixava o banheiro. Dividi a comida (um sanduíche de frios e um de geleia com chocolate mais uns 400ml de suco (agua) de coco) entre nós e ele começou a me explicar com mais detalhes sobre como funcionava a Lua Púrpura, além de me listar com precisão quais raças faerys sofriam com cada lua... sem abandonar aquela frieza esquisita (_fazendo beiço_). A conversa foi interrompida com alguém batendo na porta.
(Tenha santa paciência) – O que o vampiro mais chato de Eel deseja de mim agora? – perguntava ao Nevra.
– Lhe implorar por um imenso favor. – ele me respondia (já estou vendo tudo...) – Fico de joelhos se for preciso para poder obter o seu sim!
– Que favor?...
– Que você seja a minha carcereira. – me espantei (é o quê!?) – Por favor, por favor, por favor, diga que sim! – ele já se ajoelhava diante de mim, me agarrando os joelhos.
– Posso saber por que raios você quer que EU te vigie? Eu nem sei se EU vou estar livre de influências! – tentava afastá-lo de mim (e pela forma com que Lance está apertando as mãos, ele está se segurando).
– Eu estou contando com as suas orações! Com a sua maana para ser mais preciso. Eu sempre me sinto mais calmo quando envolto por ela, tenho certeza que isso não só ajudara a te manter segura como a me manter mais sossegado também.
– Olha Nevra, eu...
– Pode ir acompanhada de quem você quiser se assim preferir! – pude notar um sorriso surgindo no Lance (esse vampiro tem ciência do que está me dizendo?) – Por favor, por favor! Atento qualquer pedido seu se aceitar! Mas diga que aceita... – vi que o sorriso do dragão alargava (meu Cristo amado!!).
Ergui as mãos fechadas em oração ao rosto, apertando os olhos, e respirei beeem fuuundo... (Mãe santíssima, seja minha guia) – Eu realmente posso levar quem eu quiser? – perguntei e ele me assentiu com a cabeça – E poderei mesmo lhe pedir qualquer coisa em troca?
– Se estiver no meu alcance... Pode! – respondeu ele ainda de joelhos.
Sentei-me em uma cadeira próxima, ergui a cabeça para o teto e respirei fundo mais uma vez (devo ou não devo...). Pensei em tudo que me foi explicado sobre as luas, sobre os faerys afetados (incluindo o Lance), sobre os comentários de minha maana... _suspiro_.
Dei uma olhada ao redor do quarto para poder disfarçar quando eu olha-se para o Lance (que me pareceu curioso com a minha decisão). Nevra ainda aguardava por minha resposta sem se erguer do chão ou se afastar da porta. Respirei mais uma vez (Pai que eu esteja fazendo a escolha certa).
– Tudo bem Nevra. – respondia o encarando (e ele nitidamente feliz com minha escolha) – Eu aceito ser a sua babá durante a Lua Púrpura...
– Muito, muito, muito obrigado!! – dizia ele ainda de joelhos e agora diante de mim, me beijando a mão (Lance se aguente, pelo amor de Deus!!).
– Mas fique ciente que vou lhe cobrar as promessas que acabou de me fazer! – falei vermelha.
– Sem problemas. Você pode ir acompanhada de seu guardião, guarda-costas, ou de seja lá quem for. E quanto ao pedido, mesmo que ele não me agrade, estando na minha alçada, irei lhe atender. – declarou ele me dando um último beijo na mão.
– Tá, tá, tudo bem! – (meu Pai, eu estou suando!) – Agora saia do meu quarto antes que eu resolva mudar de ideia!
Com um sorriso largo no rosto, ele se ergueu, me fez uma reverência, e saiu do quarto fechando a porta atrás dele. Não sei disser o que a cara que Lance fazia significava, mas meu Pai, no quê que eu fui me meter???“Mascote” Cris
.。.:*♡ Cap.74 ♡*:.。.
Nevra
(“E como é que o senhor faria para convencê-la a aceitar cuidar justo do senhor?”) Durante o caminho até o quarto da Cris, as palavras de Anya se repetiam em minha cabeça, não é segredo algum que a Cris preza e muito a sua liberdade, fica irritada se não consegue dormir ou se não a deixam dormir e ao que pude notar, tem medo do que pode estar se escondendo na escuridão. Em poucas palavras, a Cris não vai querer aceitar qualquer pedido para ser guarda durante a passagem da Lua Púrpura, pois, se minhas suspeitas estiverem certas, ela já tem o Gelinho e ela mesma para poder ficar de olho (vou ter que apelar com tudo logo de cara...).
Antes de lhe bater à porta, pude ouvi-los conversando sobre a relação das luas com os faerys (e os dragões realmente sofrem efeito!? Ao menos a Cris pode contornar com o Lance, mas qual é a dessa frieza dele com ela??). No que ela abriu, não me demorei em implorar-lhe para que aceitasse cuidar de mim, rezando à todas as deusas da lua que conhecia para que ela dissesse sim, e lhe prometendo alguns favores. Ainda bem que ela aceitou (muito obrigado Arianrhod, Awehai, Auchimaigen, Britomaris, Candi, Caotlicue, Chang-o, Dea- Soon, Diana/Artêmis, Europa, Gwaten, Hécate, Hina, Huitaca, Ishtar, Inanna, Isis, IX Chel, Juno, Kuu, Lalal, Mah, Mama Quilla, Mawa, Metztil, Pandia, Rabie, Ri, Sardarnuna, Selene, Ursula, Yohuaticeti e Zirna. Será que me esqueci de alguma?). Deixei-a com o Gelinho assim que ela me pediu para não me arriscar dela mudar de ideia.
É bem provável que ela decida ter a companhia do Lance (pois tenho certeza que o Lance vai ao menos tentar convencê-la a isso, essa Lua é a melhor das desculpas para um criminoso) por isso é melhor eu ir atrás de saber sobre quem estará velando quem e rápido!Cris
– Você tem certeza do que está me dizendo Lance?
– Claro! Eu não tenho dúvidas!
Depois do Nevra ter ido embora, resolvi tomar um bom banho. Durante o meu banho, Lance resolveu querer ter certeza que eu não o deixaria sozinho no quarto enquanto cuidava do “sanguessuga”, ou seja, tentava garantir que ele estaria comigo durante a vigília – Mas e se a minha maana não for suficiente para te manter com a cabeça fria? O quê que eu vou fazer?
– Eu já lhe expliquei... Você só precisa me lembrar de usar a lógica!
Ele estava encostado na patente da entrada, de costas pro banheiro, e com Absol o vigiando de frente para ter certeza que ele não olharia para dentro sem o meu consentimento. Nessa altura, eu já estava me preparando para passar a loção que a Ewelein me deu – Tem certeza que a única forma de descobrirmos se eu sou ou não afetada por essa lua é com a passagem da mesma?
– Eu e Valkyon quase não dávamos qualquer tipo de sinal durante as Luas Azuis e a Alanis só descobriu a influência de fato delas sobre nós dois durante a nossa primeira Lua Púrpura, que ocorreu lá pros nossos quatro ou cinco anos.
– Se bem me lembro, você disse que vocês dois ficam mais impulsivos, e se lembram vagamente do que fazem, não é isso?
– Exatamente. – acabei por deixar um gemido escapar – O que aconteceu?
– Não é nada. – eu já havia passado a loção em todos os hematomas bem dizer, só faltava um que ficava no meio das costas onde geralmente alcanço sem problemas – Não há nada para você se preocupar. – mas se eu tentava forçar meus braços ainda doloridos para alcançar o local, a dor me impedia de fazê-lo (sabia que devia ter pedido ajuda à Anya!).
– Está com dificuldade pra passar o remédio em algum lugar?
– Eu me viro. – respondi já soltando outro gemido (droga! Tenho que alcançar esse último!).
– É aonde que você está tentando passar agora? – pude ouvir Absol rosnar de leve.
– Porque está me perguntando isso?
– Porque dependendo, posso ajudá-la. – aquele tom vazio voltou _suspiro_.
– No meio das costas. – acabei contando – E é o último. – e gemia com mais uma tentativa.
– Enrole a toalha no corpo que eu lhe ajudo. Ou prefere continuar sofrendo aí? – (isso é hora pra querer voltar a ser irônico?).
– ... Tudo bem, só... espere um tiquinho... – acabei por aceitar depois de uma quarta tentativa falha – P-pode vir. – falei ao terminar de me cobrir com a toalha e me mantendo de costas para ele sobre o pequeno banco que havia no banheiro.
– Esse é um hematoma e tanto. – comentou ele ao ver minhas costas. Eu o observava pelo espelho.
– Só... anda logo. T-tudo bem? – comecei a me lembrar da noite em que ele me pediu para deixá-lo passar um unguento em minhas pernas (por favor dona Cris, não vá me querer pensar besteiras outra vez...!).
– Como desejar. – falou ele me causando um arrepio por causa de sua mão gelada sobre o meu corpo ainda quente do banho – Você... vai conseguir colocar as bandagens sozinha? – _rosto queimando_.
– Po-porque v-você quer saber?
– Sei que você consegue alcançar esse ponto sem problemas, mas se não está conseguindo fazê-lo... As bandagens também te trarão dificuldades. – acabei engolindo seco – E então?
_respira fundo_ – Seja sincero: porque você está estranho comigo?
– Como? – ele afastava a mão de mim.
– Antes, por causa das noites mal dormidas, eu compreendia o porquê de você me evitar ou não querer conversa comigo. Mas e agora? O que foi que aconteceu pra você hora ser gentil e hora ser um gelo para comigo?
Lance apoiou o frasco da loção sobre a pia em silêncio e sem me encarar. Pegou um rolo de bandagem e sentou-se no chão atrás de mim sem desenrolá-lo. Fiquei o observando pelo espelho – Durante a maldição... – começou ele – Por algum motivo que não posso lhe explicar, estivemos com nossas mentes conectadas... – senti um choque no corpo – ...por alguns minutos e eu vi e ouvi coisas que me deram vontade de incinerar o responsável por aquilo tudo e... – acabei virando o rosto para vê-lo – ... Ainda não sei bem como lidar com isso tudo.
– Você conhece quem me atacou? – ele só negou com a cabeça – Sabe o motivo do ataque? – ele apenas assentiu com um suspiro irritado – Foi você que decidiu que seria melhor eu me lembrar do que aconteceu sozinha?
– Não. – respondeu ele me olhando nos olhos. Acabei por lhe erguer uma pestana – Lembra da tal vidente que lhe falei antes? – assenti apenas – Foi ela que me disse que era melhor você se recordar por conta própria, porque isso a ajudaria a se recuperar mais depressa.
Acabei por respirar fundo mais uma vez (mas espere um momento!) – Como é que você entra em contato com ela??
– Não sou eu que a contato, é ela que me fala. – (mas heim?!?) – Também me disse que ela se apresentaria a você quando achasse que você está preparada.
– Hum... – voltei a olhar para frente (mas quem será que é essa???).
– Posso? – estendia ele a bandagem ainda enrolada na mão. Acabei assentindo – Tente me ajudar também, sim?
Funguei um riso. Ele se manteve às minhas costas e eu lhe ajudava fazendo o caminho da frente da bandagem com ele firmando e completando o caminho por trás. Pelo espelho pude ver que nós dois estávamos vermelhos. Com o tronco enfaixado, ele me deixou sozinha. Terminei de me vestir. O vi lendo na poltrona ao deixar o banheiro finalmente.
– Não vai dormir? – questionei-o – Já ficou tarde...
– Não estou com sono ainda. – ele respondia sem tirar os olhos do, agora sim, último livro disponível – Já você é melhor descansar. Ainda não está 100% e gastamos muito tempo com a Crista de Maana.
Não dava para discordar dele agora – Cadê o Absol? – perguntei o procurando no quarto.
– Acabou de sair. Logo ele volta pra ficar no meio de nós como sempre. – ele ainda estava fixo no livro.
Dei de ombros, estava mesmo cansada, então fiz minhas orações e me deitei. Ainda desejei um “boa noite” pra ele e ele continuou não se desviando do livro (quais são as chances de ele querer reler este livro aí?).Leiftan
– Então... você vai passar a noite na prisão e sob o efeito de soníferos?
– Exatamente Nevra.
Ao verificar se todas as medidas de segurança ordenadas pela Miiko para amanhã estavam sendo cumpridas, encontrei o Nevra questionando várias pessoas sobre como cada um iria lidar com a passagem da Lua Púrpura. Eu não fui uma exceção.
– E quantos mais vão fazer como você Leiftan?
– Acho que só mais três pessoas, mas isso somente porque eles não conseguiram encontrar alguém que aceitasse tomar conta deles.
– Como você fez para se esconder durante a última Lua Púrpura?
– Na vila em que eu morava antes de vir para Eel, acabei salvando a vida de um rapaz que compartilhava de meus ideais e que veio para Eel junto comigo. Foi ele que aceitou me ajudar para garantir a segurança de todos e o meu segredo. É realmente uma grande pena ele ter morrido na Guerra do Cristal...
– Se ele ainda estivesse aqui, você teria pedido ajuda à ele, não é? – apenas lhe assenti – Valeu Leiftan. Vou ver se descubro sobre os outros agora.
– Espere Nevra! – lhe segurei o braço – Quem vai vigiar você?
– Consegui convencer a Cris. – respondia ele com um sorriso (É O QUÊ!?!) – Eu estou contanto com a maana tranquilizante dela, mas por garantia resolvi verificar pessoalmente se não vai ser mesmo muito arriscado para ela.
– Eu ouvi direito?!? – Anya apareceu perto de nós – Como foi que conseguiu a convencer Becola?
– Bom dia pra você também Verdheleon, e eu implorei. Literalmente. – quase que não ouvia a última palavra que ele só sussurrou (queria ter visto _sorriso_).
– Como o seu pai vai resolver isso Anya? – perguntei à menina que parecia estar tendo alguma irritação nos olhos de tanto os esfregar.
– Do mesmo jeito que a última vez. Minha mãe o manterá dormindo no quarto e fazendo-o inalar mais poção do sono caso ele venha a querer despertar antes da hora.
– E quanto a você... – questionava o Nevra.
– Eu não me lembro bem de como foi exatamente a minha passagem por essa lua, e tanto meu pai como minha mãe acham que é melhor eu passar a noite em casa amanhã. Alguém aqui sabe se a Cris já acordou?
– Eu ainda não a vi. – respondi. Nevra apenas negou com a cabeça.
– Tudo bem, vou ver com o Karuto. Se ela não o tiver visto, ou ela está dormindo ainda ou está prestes a sair do quarto.
– Boa sorte.
– Valeu Leiftan. E é bom você não machucar a minha amiga Becola! – disse Anya que correu logo em seguida. Nevra parecia querer rir.
– Você tem que admitir que Anya está certa. – segurei-lhe o ombro para sussurrar-lhe – E se tivermos que adiar o interrogatório outra vez, farei você beber da poção ao invés da Cris.
– Lhe garanto Leiftan, se ela for fazer como acho que fará amanhã a noite, será mais fácil eu ser machucado do que ela. – me respondeu ele já se afastando depressa (mas o quê que ele quis dizer com isso???).Cris 2
“* – SOCOOOORRROOO!! ALGUÉM PELO AMOR DE DEUS ME AJUDE!!!
– Desista de uma vez mulher teimosa! – estava naquela escuridão com aquele mesmo homem mais uma vez e que tinha a voz enfadonha agora. Coberta de correntes que prendiam o meu corpo todo e com aquelas não sei quantas mil vozes entoando o seu cântico sem fim.
– De jeito nenhum irei derramar sangue inocente, entendeu? DE JEITO NENHUM!! – sentia todo o meu corpo doer, estava fraca, chorando, mas nem por isso deixava de relutar.
– Pois saiba que agora falta pouco para eu conseguir o primeiro de meus alvos, VOCÊ! Mais alguns passos e seu poder será meu.
– Você não vai conseguir seu demônio miserável. Ah não, espere! Você não é um demônio. Chamá-lo disso é ofender os mesmos!! – ele riu. Riu forte e alto, continuou me arrastando mais um pouco para depois fazer as correntes me forçar a ficar à frente dele.
– Finalmente. – ele sorria satisfeito – Finalmente poderei dar início a tudo. – as correntes começaram a agir como se fossem as cordas de uma marionete (com eu sendo a marionete) e não demorou muito para que eu visse a Miiko diante de mim (meu Deus, socorro...) – Mate-a. – ele me ordenava com gentileza.
Eu não queria, as correntes me forçavam a ficar de pé e, ao estender uma de minhas mãos em direção à Miiko, uma espécie de feixe de névoa saia da minha mão, amarrando-se à garganta da kitsune. Tentava de tudo para não avançar ainda mais com aquilo, e continuava pedindo por ajuda a qualquer um. Miiko também parecia resistir àquilo tudo – QUEBRE! – a ordem vinha de outra pessoa.
– Mas o quê!? – a névoa congelou, e as correntes que me prendiam começaram a congelar também – NÃO!! – as vozes calavam e aquele homem era arrastado escuridão adentro e longe de mim.
– Você está livre agora. – ouvi como um sussurro, mas sabia bem no fundo que aquela era a ajuda pela qual fiquei implorando o tempo todo.
O forte estalo dado por aquele gelo em seguida, me deixou de visão turva. As vozes se silenciaram, aos poucos a Sala do Cristal se mostrava diante de mim, mas antes de desmaiar, pude ver um vulto azulado que sumia junto daquela escuridão em que estava presa. Não estava nítido, e eu podia estar enganada, mas não acho que erraria tanto assim...
– Lance... *”
Acordei com um rio escapando de cada olho (será que me lembrei do momento que o Lance me salvou? E que historia era aquela de “primeiro alvo”?). Absol estava deitado ao meu lado, só percebi que ele estava acordado porque ele me choramingava preocupado, acabei por abraçá-lo. Fiquei abraçada a ele até parar de chorar (de medo e de alívio).
Quando eu finalmente me acalmei, percebi que só estava eu e Absol sobre a cama (cadê o Lance?). Acabei o encontrando adormecido... na poltrona? (Até que horas ele ficou lendo??). Levantei em silêncio e cheguei perto dele, tocando-lhe o ombro de leve para chamá-lo.
– Lance? – ele acordou na hora – O quê aconteceu? Porque dormiu na poltrona ao invés da cama?
– Não vi quando dormi. – respondeu ele esfregando o rosto (mas tá na cara que é mentira) – E porque você está com cara de choro? – ele perguntou me encarando (_suspiro_).
Peguei papel e caneta e fui para a mesa – Acho que “sonhei” com mais um pouco do que me aconteceu durante aquele ritual dos infernos.
– E o que você está fazendo?
– Sugestão da Ewelein. Ela me pediu para anotar tudo o que eu pudesse estar lembrando, para o caso de haver alguma pista sobre quem atacou à mim e à Miiko.
– E do que você se lembrou agora? – perguntou ele já lendo o papel que eu escrevia. Alguns poucos minutos se passaram.
– Interrompo alguma coisa? – nós dois olhamos em direção à porta.
– Anya! – ela carregava um embrulho e uma garrafinha consigo – Bom dia! Acaso o que tem aí é o “meu” café?
– Isso mesmo. – trancava ela a porta (como ela consegue fazê-lo sem um único ruído?) – E o que vocês estão fazendo?
– Ela se lembrou do momento em que eu interrompi aquele ritual de kitsune. – respondeu ele indo para o banheiro.
– É o quê?! – interrompeu-se ela de dividir a comida ao qual eu dei continuidade.
– Ewelein me pediu para que eu escrevesse o que eu lembrasse e Lance ficou lendo enquanto eu escrevia... – dei um golinho no leite que estava perfeito – Depois vou mostrá-lo à Miiko ou à Ewelein.
– Eu posso ler? – pediu-me ela esfregando os olhos.
– Claro! Mas o que há com seu olho? – entregava-lhe o papel me incomodando com aquele esfregar incessante.
– Lembra o que eu lhe expliquei sobre os Elfos Natlig?
– Elfos de pele cinzenta à negra e cabelos brancos ou negros; capazes de enxergar a aura dos seres vivos e mais voltados à vida guerreira e caça noturna?
– Exato. Tanto que eles também são conhecidos como elfos negros por isso, como o meu pai. Já os Elfos Dagtimerne, como minha mãe e o Ezarel por exemplo, possuem uma maior sensibilidade para a presença de maana e também possuem uma grande afinidade com plantas e animais.
– Sim. E aonde você quer chegar? – comecei a comer minha refeição.
– Elfos Tusmørke, mestiços desses dois tipos como eu e a Ewelein, podem ou não desenvolver as habilidades de uma ou das duas tipagens. Eu queria ter conversado com a Ewelein antes de vir para cá, mas ela não para quieta nem na enfermaria e nem no laboratório por causa das poções para a noite de amanhã. – explicou ela com a voz frustrada na vez da Ewe (_sorriso singelo_).
– Hummm!... Sei que você possui a afinidade da natureza pois é uma excelente alquimista, mas o que você está vendo para coçar tanto os olhos?
– Às vezes parece que estou vendo o que é vivo brilhar um pouco, mas não é firme. Isso começou hoje, depois de eu acordar. Meus pais me explicaram que algumas habilidades só se desenvolvem durante a puberdade que me foi iniciada no meu aniversário, mas eles disseram também que isso podia ser efeito da Lua.
– Por isso você queria conversar com a Ewelein para tirar a dúvida. – ela me assentia com a cabeça e começa a ler minha lembrança.
– Duvido que isso seja efeito da Lua Púrpura. – Lance se sentava para comer a parte dele – As luas só agem durante a sua passagem. Como sua habilidade está começando, o mais provável é que ela acelere o seu desenvolvimento. – explicou ele comendo em seguida. Nós duas nos entreolhamos por um instante.
Ficamos em silêncio. Anya terminava de ler e Lance e eu terminávamos nossa meia refeição. Fiquei os observando. Anya parecia cada vez mais espantada/horrorizada com o que lia e Lance parecia incomodado com alguma coisa (porque foi que ele decidiu dormir na poltrona essa noite? Ele está muito estranho...).
– Me diz uma coisa Cris... – Anya me chamava a atenção – Que vulto azul é esse que você viu?
_respira fundo_ – Eu ocultei alguns detalhes do que escrevi no final porque iria me comprometer, mas... – apenas comecei a encarar o Lance que terminava sua parte da comida.
– Você viu o Lance?? Mas ele não é azul!!
– Minha visão estava totalmente embaçada, posso até estar enganada! Mas eu tenho certeza que foi ele que eu vi em sua forma dragônica.
– Como é?!
– Esqueceu que ela te contou que eu havia me transformado na frente dela depois do baile? – ele deixava a mesa para observar pela janela – Não sabia bem como aquele ritual de libertação que eu fiz funcionaria e como estava sem tempo, apenas o segui.
– Bem que eu gostaria de ver também... – meio que sussurrou ela – Como é que se chama esse ritual Gelinho?
– Anima Release. – respondeu ele mal humorado por causa do apelido.
– Vou ver se acho mais sobre ele depois que essa confusão toda passar! – declarou Anya me devolvendo a folha. – Mas me diz Cris: o que foi que o Chefinho fez para te convencer a tomar conta dele amanhã?
(Ainda me sinto sem jeito ao lembrar...) Contei a ela como foi que ele fez para me pedir aquilo e Anya só não ficou com o queixo literalmente no chão porque ela não era um desenho animado _riso contido_.
– Por muito pouco que eu não o arrancava de perto dela! – declarou Lance com tom irritado e sem nos encarar.
– Tenho que dizer Cris, você com certeza é a primeira mulher que o faz implorar desse jeito! Queria ter visto... – disse ela com um toque traquina nas últimas palavras.
Bateram na porta e quando abri era Leiftan dizendo que a Miiko queria me ver na Sala do Cristal. Anya saiu pra ver se conseguia conversar com a Ewelein e eu fui me vestir pra descer, consegui passar a loção sem precisar de ajuda (ao menos só me resta duas ou três manchas no corpo agora) e deixei Lance com Absol no quarto.
.。.:*♡ Cap.75 ♡*:.。.
Miiko
Essa Lua veio mesmo em má hora, já estávamos sobrecarregados por causa dos ataques de Apókries e me chega essa Púrpura para fritar o resto dos nossos neurônios?! Graças ao Kero, pude estudar melhor os registros sobre os sobreviventes do Tamashi Noyukai e encontrei várias incoerências sobre o que aconteceu com a Cris. Só agora pude ler sobre o “sonho” dela (ainda bem que a Ewelein teve aquela ideia!) e estou cada vez mais certa que o culpado por aquilo faz parte das “sombras” de Apókries (tenho a forte impressão que ela acabou recebendo informações vitais para esse mistério todo. _suspiro_ tomara que ela se lembre logo...). Pedi ao Leiftan que a chamasse para a Sala do Cristal.
Ainda analisava alguns documentos quando ela entrou – Bom dia Miiko, queria mesmo falar com você. – cumprimentava ela.
– Então somos duas. Sente-se! – apontava-lhe uma cadeira e ela me estendia uma folha enrolada – O que é isso?
– Mais um pedaço do que nos aconteceu. Sonhei isso hoje. – sentava ela. Comecei a ler no ato e santo Oráculo!
– Cris, se importa se alguns membros da Reluzente ouvir a nossa conversa?
– Acho que não... – respondeu ela intrigada.
Fui até um guarda próximo e lhe pedi para que chamasse os líderes de guarda, Erika, Leiftan, Kero e Ewelein, só. E para ele dizer que era uma emergência.
Fiquei relendo os escritos dela enquanto aguardávamos pela chegada de todos, notei que a Ykhar ainda parecia estar próxima da Cris. A Cris acabou por tocar no Cristal e eu lhe pedi para que, por favor, não rezasse agora (se o Cristal não ficasse atraindo os contaminados...) o que ela não pareceu gostar (o Cristal já reagiu o suficiente por hoje). Tivemos de esperar por uns dez minutos.
– Qual é a emergência Miiko? Ewelein e eu ainda temos muito o quê fazer para pararmos por uma reunião!
(_suspiro_) – Sei que vocês dois conseguirão dar conta de seus deveres sem problemas como sempre Ezarel. Cris, pode voltar a se sentar por favor? – ela deu de ombros e o fez.
– E então Miiko, – agora é o Nevra... – todos nós realmente temos muito o quê fazer até amanhã.
– O motivo de eu os ter chamado é isso. – entregava as folhas à eles.
– E o que é isso? – perguntava a Erika.
– Minhas memórias. – explicava a Cris – Foi ideia da Ewelein. O que eu consegui lembrar daquele inferno está aí, mas ainda falta muita coisa que eu sei. – isso despertou a atenção de todos, foi Kero que leu tudo em voz alta.
– Pelo Oráculo!... – Erika falava – Isso foi tudo o que você conseguiu lembrar Cris?
– Hum... – ela caía a cabeça (detesto quando ela pende a cabeça daquele jeito, parece que o pescoço vai quebrar!) – Eu... acho que não...
– O que quer dizer com isso? – a questionava.
– Sabe... durante a sua explicação sobre o tal Tamashi não sei das contas, senti uma pontada na cabeça seguida de uma voz me dizendo que: “juntar tanto poder não é algo fácil” ou alguma coisa assim... Na hora eu nem me toquei, mas pensando bem, acredito que aquilo foi uma lembrança... Que foi aquele homem. – senti um calafrio com a irritação que ela apresentou nas últimas palavras.
– Isso aconteceu mais alguma vez? – perguntava a Ewelein lhe examinando a cabeça.
– Por enquanto não.
– Com isso está claro que seja lá quem lhes atacou, o fez por poder. Mas se ele só tinha você como alvo naquele momento, porque atacou a Miiko? E quais seriam os outros alvos se você era apenas a primeira? – Leiftan era quem levantava as questões. – E você tem ideia de o quê que seja esse “vulto azulado” que comentou?
– Não sei lhe responder... Pra isso vou precisar me lembrar do resto.
– E quanto ao “vulto azul”? – perguntava o Nevra (e porque a Cris pareceu não gostar?).
– Assim como deixei escrito, minha visão estava desfocada. Não teria como eu saber quem ou o que era aquele grande ser azulado sem o ter conhecido antes. – respondeu ela com um pouco de irritação para com o Nevra (ele lhe aprontou mais uma por acaso? _nervosa_).
– Nos diga Cris, – vez do Valkyon – esse vulto, lembrava a forma de um réptil? – (Hum?!?).
– Para tudo amor! Você não está insinuando que...
– Que o vulto azul que a Cris viu pode ser o Lance? – todos nós acabamos por encarar o obsidiano – Considerando que meu irmão é azulado quando transformado e que vimos gelo na hora que aquilo tudo foi interrompido, não seria estranho imaginar o seu envolvimento.
– O que nos levaria para outra pergunta: Por quê? – comentei (sério! O quê que o Lance tanto quer com a Cris?!?).
– Na primeira vez, foi para que pudesse enganar a Anya, mas nessa segunda... – ponderava a Erika.
– Já posso ir embora ou há algo mais que queira me perguntar Miiko. – pedia a Cris visivelmente ansiosa.
– Tenho sim. – (preciso me focar) – Sobre as correntes que a aprisionava e controlava, você se lembra de ter sentido algo em específico?
– Por exemplo. – pedia-me ela.
– Alguma ardência ou algo do gênero sobre onde as correntes te prendiam. – todos os depoimentos comentavam sobre esse efeito. E segundo o que eu li, era bem doloroso.
– Não. Só o metal frio mesmo. Era pra eu ter sentido alguma coisa? – (o quanto Lance a protegeu??) acabei por começar a sentir minha amiga “Pernas-curtas” a tentar me acalmar. Incrível como o ser mais ansioso, quando vivo, que já conheci na vida seja capaz de acalmar os outros como ela faz agora... Retomei meu foco graças à ela.
– Segundo os documentos que consultei depois de nossa primeira conversa, aquelas correntes tinham a função de enfraquecê-la, lhe ferindo o espírito, e não só a controlar. – falei da forma mais doce possível, mas nem isso a impediu de arregalar os olhos. Fiz-lhe outras perguntas e só as correntes divergiram dos outros casos – Bom Cris, o que planeja fazer hoje?
– Não sei. Há algo em que eu possa ajudar? Pois para treinar não estou disposta ainda, e Ewe, acha que eu já tenho condições de ajudar mais alguns contaminados?
– Se for três agora e três mais tarde, acho que você pode sim. – diagnosticou a Ewelein.
Encarei Valkyon que acabou chamando o Leiftan e o Nevra para ajudá-lo, e após a saída deles pedi ao Ezarel que buscasse algo para Cris poder se recuperar melhor depois.Nevra
Acho que já tinha conferido dois terços de Eel sobre a noite de amanhã quando aquele cara me chamou para a reunião emergencial da Miiko (serão mais problemas?). Chegando lá, ao ver a Cris, suspeitei que tivesse a ver com o ataque que as duas sofreram e bingo, era mesmo sobre isso. Eu já sabia que estavam atrás da Cris por poder, mas ela não é a única? É só a primeira?
Sabia que ela não nos estava contanto tudo. Imaginei que o tal vulto que ela comentou fosse o Gelinho e pela reação e resposta dela ao lhe questionar, acabei o confirmando. Ewelein e eu nos encaramos sem sermos notados, ela com certeza percebeu o mesmo que eu já que lhe contei quase tudo sobre eles dois.
Acompanhei o Valkyon com o Leiftan até a prisão para buscarmos os contaminados. Graças ao Cristal e às outras cidades e reinos, temos uns 90 contaminados presos. Ela vai precisar de quase um mês para cuidar de todos se esse número não resolver aumentar (bem que aquelas “sementes” podiam nos “atrair” uma segunda Cris). Retornamos à Sala do Cristal com cada um de nós carregando um inconsciente (por conta da lotação nas celas, estamos os mantendo dormindo para evitar que se ataquem) e a Cris foi rápida em revelar aquelas amazonas e aquele mantícora.
– E então Cris... – chamava-a enquanto ela bebia algo que Ezarel lhe tinha entregado ao final de tudo – O que acha de darmos uma volta por Eel refazendo os caminhos que fez no dia do ataque? Isso pode lhe trazer mais algumas memórias, não?!
– Não acho impossível. – respondia ela – Mas acho que estou com receio do que vou me lembrar.
– Valkyon e Ezarel acompanhará vocês dois. – intercedia a Miiko – Francamente eu queria que você tivesse feito isso ainda ontem Cris, mas achei melhor que você repousasse um pouco mais. Eu não sei o que você passou, mas pelo o que li nos registros...
– Tudo bem Miiko, mas... É mesmo necessário os três líderes me pajeando??
– Compreendo a sua dor Caçadora. – respondeu o Ezarel com um sorriso de lado.
– Como já lhe disse uma vez, prefiro pecar por excesso. E se vocês forem mesmo refazer todos os passos, vocês terão que ir até o rochedo não é mesmo?
A Cris soltou um suspiro para evitar discutir e eu acabei me aproximando da Miiko – Me diz Miiko. – sussurrava-lhe – Você já tentou falar com a Ykhar?
– Ainda não. – respondia ela baixinho – Essa lua me super atarefou e eu não pude fazê-lo.
Temia aquela resposta – E se ela se separar da Cris durante o trajeto? – (Lance não falou que elas só se manteriam juntas até que a Cris retornasse ao rochedo?) ela respirou fundo.
– Se isso acontecer, terá sido culpa minha não ter aproveitado a chance que tínhamos. – disse ela encarando um espaço vazio (deve ser onde a Ykhar está) – Prestem atenção em tudo que acontecer com ela, fui clara!? – ordenava ela.
– Sim senhora. – respondi – Podemos ir agora ou alguém deseja fazer algo antes? – perguntei à Cris e aos outros.
– Sinceramente?! – falava Ezarel ainda contrariado.
– Vão agora. Quanto mais rápidos vocês forem, mais rápido poderão fazer o que quiserem. Satisfeito assim Ezarel? – mandou a Miiko sem se quer nos encarar.
Com alguns rindo e outros bufando, deixamos a Sala do Cristal (o que a Anya quis conversar com a Ewelein quando saímos?) e começamos o trajeto desde o mercado por “ordem” do Valkyon (espertalhão, aproveitou para cuidar das tarefas dele ao mesmo tempo em que acompanhávamos a Cris).
Durante o caminho alguns colegas da guarda dela e conhecidos a cumprimentava e Valkyon lhe questionava sobre o que ela lembrava da segurança naquele dia, nos demoramos mesmo foi diante dos portões (se me lembro bem, Valkyon e Jamon nos disseram que o guarda responsável daquela hora simplesmente desapareceu). Mal a passagem nos foi aberta e Absol nos aguardava do outro lado. “Não a afaste de seus guardiões”... Parece que o Valkyon não é um deles já que Absol precisou vir.
Absol não desgrudava da Cris até chegarmos ao rochedo, onde ele disparou pra cima da grande rocha com a Cris logo atrás. Ezarel e eu a seguimos enquanto o Valkyon ficou embaixo para cuidar da nossa retaguarda. Lá em cima acabamos presenciando algo que não esperávamos, a Ykhar se mostrou novamente! Com a mesma aparência de antes, só que dessa vez ela parecia calma e estava diante da Cris. Absol forçava a distância de nós dois entre elas de forma que não nos foi possível escutar nada do que elas cochichavam (com o vento soprando a favor delas para não escutarmos nada mesmo...). A conversa delas até que foi rápida, Ykhar a abraçou um pouco antes de ir embora com um sorriso no rosto (é impressão minha ou aquela brownie me encarou com malícia por um instante?).
– Sobre o que foi que vocês duas conversaram Caçadora? – Absol já nos tinha consentido a aproximação.
– Eu... prefiro falar disso na frente da Miiko. – respondeu ela já descendo do rochedo (agora eu fiquei curioso!). Corremos atrás dela.
– O que houve? O que vocês duas conversaram? – perguntava o Valkyon à Cris que quase que tropeça com a pressa.
– Apenas vamos para dentro logo, sim? – pedia ela – Não quero ficar aqui fora mais que o necessário.
– Tudo bem. – respondia ele lhe segurando os ombros e nos pedindo com os olhos para nos apressarmos – Vamos logo voltar.
Eu não sei o que a Ykhar lhe disse, mas a Cris está bastante nervosa agora. Retornamos ligeiro, quase correndo, e a Cris só parou quando alcançamos os arcos. O comportamento dela já estava um pouco estranho, mas quando ela se apoiou em um dos arcos... piorou.
– Tá tudo bem com você Caçadora? – nos aproximávamos com cautela, e Absol estava deitado diante dela choramingando – O que é que você está sentindo?
Ela não respondia nada. Apenas estava lá, parada e apoiada ao ferro moldado, não demorou para começar a chorar e ainda cobrir a boca, caindo de joelhos em seguida. Ezarel não demorou em socorrê-la enquanto o Valkyon vigiava ao nosso redor com cautela, e graças à minha audição apurada, podia dizer um pouco do que acontecia dentro dela naquele momento. Ela estava se consumindo em raiva (será que...).
– Ezarel. – chamei-o – Quais são as chances dela estar reavendo parte de sua memória agora?
– Considerando as reações dela? Muito provável. – eu meio que temia.
– É melhor você lhe preparar um calmante, ela está ardendo de raiva!
– Como!? – Valkyon questionava e agora afastando qualquer curioso.
Ezarel começou a lhe esfregar as costas e, aos poucos, a Cris que respirava pesado, passou a nos encarar depois de alguns minutos, já um pouco mais calma – Beba isso. – o Ez lhe estendia um tubo de ensaio.
– O que é isso? – perguntou ela.
– Depende! Se for uma gota, calmante. E se for uma colherada, sonífero. Qual dose você quer Caçadora? – explicou ele com um sorriso.
Como resposta, ela apenas mergulhou a ponta do mindinho no remédio e o sorveu, devolvendo-lhe o frasco.
– Agora Cris, pode por favor nos explicar o que foi que aconteceu? – pedia o Valkyon de braços cruzados.
Na hora seu olhar não era lá muito amigável e depois que ela nos contou o quê que ela tinha lembrado... (se o Lance não matar o responsável por tudo isso, EU MATO!).Cris
Eu mereço... Como se não bastasse o Nevra tentando me atrapalhar de manter segredo sobre minha relação com o Gelinho, a Miiko me bota os três líderes de Eel para me pajearem durante uma tentativa de recuperar mais um pedaço de memória... Não basta o calado do meu chefe e agora vou ter que aturar o namoradeiro do Nevra e o chato sem graça do Ezarel?
Já que o Valkyon é o meu chefe mesmo, nem me importei com o seu pedido de refazermos os meus passos desde minha saída da torre. Atravessamos o mercado, refúgio e chegamos na cerejeira. Quase todos que eu conhecia acabavam parando o que fazia para me dar um oi e me desejar melhoras ou boa sorte (deste segundo ando precisando e muito!). Dependendo de quem aparecia, como o Shiro por exemplo, Valkyon aproveitava para repassar algumas ordens, como a de deixar Shiro, tenente 1 da obsidiana, no comando de tudo enquanto “passeava” comigo (notei que Nevra e Ezarel se corroíam por não poderem fazer o mesmo _riso_).
Continuamos nosso caminho pra fora parando um momento diante da grande porta, onde aqueles três me fizeram várias perguntas. Fiquei surpresa ao ver Absol nos aguardando do lado de fora (pensei que ele estaria explorando agora...) e ele estava todo amoroso comigo hoje. Graças a Absol, minha caminhada até o rochedo mais pareceu um passeio comum e quando ele subiu naquela rocha não quis ficar para trás. Só não esperava o que eu veria lá em cima...
Alguns segundos após sentir a brisa suave que soprava de lá de cima, uma mulher coelha (deve ser uma brownie) ruiva alaranjado e de olhos verdes, usando um vestido branco que se assemelhava a uma túnica curta com detalhes rosas e verdes e ornada com flores brancas e rosas, mais alta que eu, apareceu diante de mim.
– Olá Cris. – falava ela com voz contida – Me chamo Ykhar. A “pernas-curtas” de Eel.
– Se você tem as pernas curtas, eu sou um goblin azul! – mantinha o mesmo volume.
– Você não é um goblin! – disse ela com as mãos na cintura.
– E suas pernas não tem nada de curtas! – nos encaramos e depois rimos – Porque resolveu me aparecer agora? E como já sabia o meu nome?
– Hum... Digamos que eu tenho estado ao seu lado desde o ritual lançado em você. – (o QUÊ!) – Calmaporfavor! – nos duas respirávamos fundo – Eu meio que ajudei a atrapalhar aquela maldição.
– O que você fez? – será que ela pode me fornecer algumas respostas?
– Absorvi parte da maana que aquele ritual roubava de você para enfraquecê-la ao mesmo tempo em que segurava aquelas correntes, junto da Oráculo branca que estava tomando pra si os danos que era pra você, para atrasar o seu avanço até a Miiko.
– Espera. Volta a fita. A Oráculo se feriu no meu lugar?!?
– Sim. Por isso eu precisei repassar alguns dos recados dela para a Reluzente, sem falar que graças à maana que peguei de ti, fiquei um tanto presa à você. – estou pasma – A Oráculo se recuperou no dia seguinte graças ao poder que recebia de suas orações. E querendo ou não, acabei a observando nesses últimos dias.
(Meu Pai eterno!...) – Acaso você... estaria se referindo, ao “Gelinho”?
– Hunhum... – assentia ela com desaprovação (eu não estou muito bem...) – Não vou negar que aquele cara lhe foi de grande ajuda até agora, mas ainda o detesto pelas coisas que fez.
– Você não contou dele para a Reluzente, contou? – (isso me vai ser um problema?).
– Ah não!... Não sou eu quem deve abrir a boca sobre isso. – (UUfaaa!) – Mas agora já é hora de nos separarmos. Tenho certeza que você não vai querer um espírito grudado em você por toda a vida!
– Ah não! Nem pensar! Sem ofensas, mas não quero nenhuma assombração em cima de mim! – acabamos por rir outra vez.
– Foi um prazer conhecê-la. – ela me abraçava – Mas não confie naquela Lagartixa de Gelo Subdesenvolvida ainda. – sussurrou ela ao meu ouvido, um riso nasal me escapou. – Avise a Miiko sobre a Oráculo por mim, e foi ela quem dispersou a camuflagem que aquele ritual havia jogado sobre você. E também é melhor você voltar depressa pra dentro de Eel. E não me saia da cidade sem estar acompanhada do Absol ou do Lagartixa. E não desista de continuar aprendendo a Crista de Maana ou a Língua Original. Também... – ela ficou quase cinco minutos me passando recomendações antes de me soltar (bem que me disseram que ela era tagarela) – ...E tente visitar a biblioteca, tenho certeza que encontrará livros que lhe serão muito úteis. Bom, já falei demais até agora. Não deixe de avisar a Miiko!
– Pode deixar. – (só guardei o que você me falou sobre o ritual e sobre o Lance mesmo...).
– Ótimo. Agora vá já para dentro e não me volte aqui antes desse problema estar resolvido! – bronqueava ela me dando um sorriso leve antes de sumir.
Não pensei duas vezes, corri para dentro como a Ykhar havia mandado e só parei depois de alcançar o Caminho dos Arcos. Todo aquele tempo de cama e sem fazer nada me deixou meio fora de forma, me apoiei em um dos arcos para descansar um pouco, mas antes não o tivesse feito...
** Aquele coro sinistro continuava e eu fazia de tudo para não ser arrastada por aquele homem desprezível sem parar de pedir ajuda. Sempre que eu sentia encostar-me em algo firme (que infelizmente não o enxergava naquela negridão) me agarrava à ele para poder resistir melhor, mas não o conseguia nem por mais de um minuto.
– Pare de bancar a difícil! – reclamava ele – Você é mais perseverante do que imaginei.
– Me liberte de uma vez e desista de toda essa maluquice que eu paro. – disse-lhe ríspida.
Ele apenas balançou a cabeça em negativa enquanto eu continuava tentando resistir. Aos poucos sentia como se algo ou alguém me chutasse ou meio que tropeçasse em mim, e sei que acabei me ferindo em algumas de minhas tentativas de segurar sei lá o quê.
– Acho que já sei como fazê-la parar de resistir tanto... – comentava ele consigo mesmo. Já me segurava em algo outra vez.
– É o q... – (maldito miserável de uma figa!!) mal me virei para questioná-lo sobre ao quê que ele se referia e o desgraçado me roubava um beijo!
Acabei ficando em choque por causa da ação dele (que pelo risinho dele estava mais que clara a sua satisfação) e graças à isso ele conseguiu me arrastar por uns 10 ou 15 minutos sem resistência da minha parte.
Foi a dor de algo me acertando as costelas que me vez despertar, e eu agarrei com tudo à primeira coisa firme que senti ao meu alcance.
– Como é trabalhosa... – dizia ele com uma voz risonha. Mas ao invés de me conseguir roubar outro beijo, ele recebeu um belo arranhão das minhas longas unhas na cara, com eu ainda lhe rosnando – Mas que tinhosa... – ele examinava o sangue que lhe havia arrancado, sorrindo – Tudo bem minha pequena xylvra, não vou mais tocar-lhe os belos lábios. – falou ele sorrindo com maldade.
– ME SOLTE DE UMA VEZ SEU DESPRESÍVEL!! – a fúria e o desespero dentro de mim já estavam ficando insuportáveis.
Ele apenas deu de ombros e continuou me arrastando com eu lhe dando o máximo de trabalho por isso e implorando por ajuda a quem quer que fosse. **
Meu corpo tremia, DE RAIVA! – Beba isso. – Ezarel me estendia um tubo contento um líquido verde-azulado.
– O que é isso? – perguntei.
– Depende! Se for uma gota, calmante. E se for uma colherada, sonífero. Qual dose você quer Caçadora? – explicou ele com um sorriso.
Mergulhei a ponta do meu mindinho direito no remédio e lambi lhe devolvendo o frasco.
– Agora Cris, pode por favor nos explicar o que foi que aconteceu? – pedia-me o Valkyon de braços cruzados.
Só de voltar a pensar naquilo tudo, tinha vontade de matar alguém. Contei a eles, e sem conter um pingo da raiva que tinha naquele momento, e sentindo dores fantasmas ainda por cima. Cheguei a enrijecer a mão em forma de garra quando contei como impedi a segunda tentativa daquele... Argh! Compará-lo a um demônio é mesmo ofender os mesmos... Enfim, quando aquela criatura tentou me beijar pela segunda vez.
– É melhor vermos a Ewelein. – falava meu chefe sem expressão com Ezarel me ajudando a ficar de pé e com Absol me acariciando com a cabeça – Depois nós conversamos com a Miiko.
Fizemos como o Valkyon disse.
.。.:*♡ Cap.76 ♡*:.。.
Anya
Fiquei esperando o fim daquela conversa próxima a entrada da Sala do Cristal depois que a Miiko mandou chamar a Ewe, os líderes e mais alguns para falarem do “sonho” da Cris. Como era o Jamon quem estava de guarda, não pude ficar perto o bastante para lhes ouvir a conversa. Fiquei preocupada quando vi o Chefinho, o Valk e o Leiftan saindo para buscarem novos contaminados, (pelo menos foram só três! Já são quantos mesmo que estão na prisão?) e até o Ezarel foi atrás de algo para ajudar a Cris. Não demorou muito para que aquele pessoal quase todo deixa-se a sala.
– Ewe! – segurava a mão dela quando a vi sair – Você pode me ceder uns quinze minutos do seu tempo? Por favor... – implorava já esfregando os olhos outra vez.
– Tem a ver com esses olhos vermelhos de tanto esfregar? – assenti com a cabeça – Então vamos pra enfermaria. – pediu ela. Chegando lá, ela foi logo pegando um dos seus instrumentos de exame – Assim de vista, não vejo nada de errado em seus olhos, porque os está coçando tanto?
– Ewelein, você também é sinesteta, não é? Mesmo sendo uma Tusmørke como eu, certo?
– Sim, mas aonde você quer chegar? Não me diga que... – acho que ela já entendeu.
– Como foi pra você no começo? E como é agora?
– Bom, como explicar... Elfos Natlig já nascem com a sinestesia desenvolvida, mas os Tusmørke como nós duas só começam a desenvolvê-la, quando desenvolvem, no início da puberdade.
– Isso meu pai já me explicou mais cedo. O que eu quero saber é como ela se desenvolveu em você!
– Foi desagradável. – ela sorria? – Ficava esfregando os olhos do mesmo jeito que você está fazendo agora. Em um momento eu enxergava as auras e no outro não. Hora parecia fraco e hora parecia forte. Minha sinestesia só se firmou depois de um ano.
– Um ano inteiro?!?! – (me diz que é mentira...).
– Infelizmente. – pelos deuses... – Mas você está com mais sorte do que eu tive.
– Como assim?
– A sinestesia é um poder espiritual que fica mais forte com a Lua Azul, e no caso dos que a desenvolvem aos poucos, como os Elfos Tusmørkes, tem o seu desenvolvimento acelerado. E amanhã será noite de Lua Púrpura! Será como se você encarasse de cinco a dez Luas Azuis de uma vez só! Não me surpreenderia se você amanhecesse com a sua sinestesia totalmente desenvolvida.
_boquiaberta_ Não acredito que o Gelinho estava certo. – Então... – voltava a mim – Tem algum conselho para essa “sortuda” aqui? – precisei fazer as aspas no ar pois não me sentia nem um pouco agraciada por Tyhke. E a Ewelein parecia sorrir cada vez mais...
– Tenho sim. – ela falou quase rindo antes de ficar séria pra continuar – Siga o exemplo de seu pai. – ?? – Mantenha-se dormindo durante a passagem da Lua.
– Por quê?
– Como eu disse, a sinestesia é um poder espiritual, e durante a Lua Azul você passa a ver as auras com pelo menos o dobro da força. Principalmente se for a aura de um influenciado por ela, chegando a dar dor de cabeça nos sinestetas mais sensíveis. Com uma Lua Púrpura então...
– Já entendi. – falei lhe estendendo uma mão para parar – Farei como o meu pai então. Me manterei dormindo nem que seja à base de remédio.
– Ótimo e...
– Ewelein, desculpe interromper, – um outro enfermeiro a chamava – mas estamos precisando de ajuda no laboratório. Onde está o chefe?
– Ezarel está cumprindo uma pequena missão a mando da Miiko e eu já estou indo ajudar.
– Ewe... – chamei ela – Há algo em que eu possa ajudar? Por eu estar com a visão “instável”, meu pai me mandou não treinar hoje, e que ele mesmo conversaria com o Chefinho depois. Em casa já está tudo certo, já aqui, pelo que vejo...
– Eu realmente lhe seria muito grata Anya. Estamos tão atolados que o Ezarel nem teve como recusar a ajuda do Chrome. – acabei rindo de leve.
Os segui até o laboratório onde ajudei na produção de algumas poções que conhecia muito bem. Depois do que acho ter sido uma hora, Ezarel apareceu preocupado procurando pela Ewelein. Larguei tudo quando o ouvi dizer que a Cris precisava da ajuda dela.Nevra
– Alguém pode me ver uma folha e uma caneta? – pedia a Cris após entrarmos na enfermaria vazia.
– E você quer isso pra quê, Caçadora?
– Para não ter que repetir aquela historia outra vez. É o bastante pra você?! – quem estiver procurando uma “xylvra” ou uma “ocemas” hoje, a Cris está um prato cheio!
– Deve ter na escrivaninha. – disse ele apontando para a mesa – Vou ver se a Ewelein está no laboratório. – terminou ele já saindo.
Acompanhei a Cris até lá e Valkyon saiu dizendo que ia chamar a Miiko, me deixando sozinho com a fera. Não demorou muito e a Ewelein entrava acompanhada do Ezarel e de Anya. A Cris ainda estava na metade da historia (que escreveu chorando de raiva...).
– Mas o que foi que aconteceu com ela? – perguntava a Ewelein já analisando o estado da Cris.
– Fomos até o rochedo onde a Cris e a Ykhar conversaram um pouco. Depois de se separarem entramos em Eel às pressas, à pedido dela, e quando ela se apoiou nos arcos para descansar; recuperou parte da sua memória.
– E não foi tudo ainda. – completou-me a Cris ainda irritada, terminando de escrever. A Miiko entrou em seguida com o Valkyon, Erika e Leiftan.
– O que foi que você lembrou Cris? Seu chefe não quis nos dizer. – requeria a Miiko. A Cris apenas lhe entregou a folha com um olhar assassino voltado para o papel. Erika e Ewelein leram juntas, e as três liam pra si, com todas tendo reações semelhantes às que tiveram no caso das minhas fãs – Mas, esse ser é totalmente inescrupuloso!! – declarou ela ao terminar.
– Não é à toa que você está nesse estado Cris... – Ewelein corria até um dos armários de onde pegou um frasco vermelho, despejando uma colher de seu conteúdo em um copo d’água – Aqui, beba. – ela oferecia o copo em que misturava – Vai lhe fazer bem.
– Obrigada Ewelein. – falou a Cris virando o copo em seguida.
– Pelo que vejo... – Leiftan agora lia o papel acompanhado de Ezarel – Encontrar o responsável pelo o que lhes aconteceu não nos será uma tarefa muito fácil.
– Jura Leiftan? – resmungava a Anya – O que é que tem escrito aí? Deixe-me ver!
– Acho melhor não Verdheleon, e por que é que você não está treinando agora?
– Meu pai não falou com você não Becola? – apenas neguei com a cabeça.
– A sinestesia de Anya começou a se manifestar hoje. – intercedia a Ewe antes que eu pudesse questionar minha subordinada – Se ela treinar nesse estado é capaz de acabar ferida. Ela estava ajudando no laboratório até o Ezarel me chamar.
– Ok, mas Cris, poderia nos dizer agora o que foi que você e a Ykhar conversaram? – pediu o Valkyon fazendo a Miiko arregalar os olhos.
– Bom... – a Cris já se mostrava muito mais calma (ainda bem) – Ela me disse que ajudou a Oráculo Branca a retardar o avanço do ritual, com ela recebendo parte da maana que me era roubada e com a Oráculo recebendo os danos que seriam na minha alma. – acho que todos nós ficamos boquiabertos – Também me disse que foi a Oráculo que removeu a camuflagem de cima de mim e que ela aproveitou a maana que absorveu para lhes passar alguns recados da Branca. Que recados foram esses?
– Estamos com alguns problemas que, de acordo com a Ykhar, a luz emitida pelas schmidtianas podem nos ajudar. – explicou o Leiftan – Conversaram sobre algo mais?
– Que também por causa da maana que absorveu, havia ficado meio que grudada em mim nesses últimos dias, mas agora ela já está no lugar dela. – a chama da Miiko anuiu por um instante – Ela também me deixou uma montanha de recomendações e eu só guardei o que estava relacionado ao Oráculo... – (não foi só isso...) – Bem que vocês me avisaram que ela era tagarela Erika! – um riso nostálgico acabou escapando dos que lhe eram mais próximos.
– Acho melhor você não pensar no que aconteceu hoje Cris, ou do contrário não poderá cuidar do Becola amanhã. – (poxa Verdheleon!).
– É O QUÊ?!?
– COMO?!?
– Como é que é?!?
Gritaram/falaram ao mesmo tempo Miiko, Erika e Valkyon (com Miiko furiosa). Ewelein parecia em estado de choque e Ezarel boquiaberto.
– Nevra pediu para a Cris tomar conta dele durante a Lua Púrpura e ao que parece, ela realmente aceitou. – explicou o Leiftan meio chocado.
– Como foi que esse milagre aconteceu? O Karuto vai te ferrar meu amigo morcego! – comentava o Ezarel (e acho que nunca mais vou ver comida normal nesse ritmo...).
– Nevra me fez algumas promessas, mas se ele não tivesse me pedido do jeito que pediu, nem com mais promessas teria aceitado. – explicou a Cris me lançando um olhar maliciosamente suspeito depois – Conto à eles como foi que você fez para me convencer, senhor Nevra?...
(NÃO!!!) – Acho melhor não... – sorria nervoso – É melhor os deixarmos descobrirem por si mesmos...
– Você que sabe! – ela dava de ombros – Mas Anya já sabe... – sussurrou ela, e pela reação dos elfos presentes, eles também ouviram.
– Anya, será que você poderia me ver se a Karenn está precisando de alguma coisa? – pedi-lhe antes que Ezarel abrisse a boca – E depois gostaria de poder conversar com você, a sós, pode ser?
– Tudo bem, Becola. – disse ela saindo com cara de quem ia aprontar (vou mesmo ter que negociar bastante o silêncio dela...) e deixando um Ezarel injuriado pra trás.
– Acaso andou bebendo sangue estragado Nevra? – me esculachava a Miiko – Você sabe melhor que ninguém como a lua de amanhã é perigosa e me chama justo a nossa Lys para ser a sua vigia?!
– Por isso que ajudei Leiftan confirmando se mais da metade de Eel realmente estava preparada para amanhã. – Miiko - e Valkyon - ainda estava nervosa – Estou contanto com a maana-calmante da Cris, mas nem por isso iria deixar de lhe garantir a segurança.
– Sabe que às vezes há falhas. – comentou o Valkyon – Que promessas são essas que você fez?
– De que eu podia levar quem eu quiser comigo e que atenderia a um pedido meu que ele tivesse condições de realizar, não importando qual fosse.
– Entendo, mas acho melhor aumentar esse número de pedidos para três. – oh Miiko! – E se alguma coisa acontecer com a Cris... Nevra... Você, vai passar o resto da sua vida nas masmorras!! – disse ela saindo em seguida com os pêlos eriçados e as chamas da gaiola lhe escapando as grades.
Ewelein pediu à Cris que ela descanse e que tentasse se distrair com qualquer coisa e o resto de nós deu continuidade aos seus trabalhos para amanhã à noite. Acabei escrevendo uma cópia daquele papel com as memórias descritas e o entreguei a Absol que acabou ficando perto de mim (definitivamente, ela não precisa repassar isso oralmente ao Gelinho).Lance
Não consegui fazer o que pretendia ontem à noite, e como se não bastasse ainda tive que ouvir as reclamações daquela coelha tagarela e o olhar de reprovação da Negra a noite toda. Por causa do que fiz, ou melhor, do que tentei fazer, não me sentia digno de ficar tão perto dela e dormi na poltrona mesmo, ao menos por essa noite (mesmo com eu preferindo mil vezes deitar na cama com ela).
Em breve não serei capaz de enganar nem mesmo a Anya já que a sinestesia costuma atravessar as ilusões. E talvez, quem sabe, eu não possa me aproveitar da lua de amanhã? Como será que reagirei amanhã perto dela? Será que ela também sofrerá alguma influência? Continuarei com as aulas dela, se ela quiser, mantendo-lhe a distância. E amanhã vamos ver como isso tudo se prossegue...
Um tempo depois que a Cris desceu, Absol voltou me entregando uma folha de papel enrolada e quando eu li o conteúdo... (aquele miserável teve coragem de usar o vankila na Cris?? Com tantas magias negras de controle/prisão, ele tinha que escolher justo um que funcionava por meio de um beijo?!?). Uma coisa eu prometo aqui e agora, independente de eu fugir ou não de Eel, se este cara aparecer na minha frente... Ele está morto!Cris
Eu não sei o que foi que a Ewelein me deu pra beber, mas aquilo realmente me acalmou. Graças à Miiko, o pagamento que Nevra me deve triplicou e eu resolvi seguir o conselho da Ewelein. Para ajudar a me distrair, fiquei ajudando o Karuto e a Twylda até a hora do almoço (o Karuto quase deixou os pratos que tinha nas mãos cair quando lhe contei que vigiaria o Nevra amanhã, _risos_ e ele ainda prometeu que ele só ia receber mingau até o ano acabar, coitado _mais risos_). Anya e eu mandamos a parte do Gelinho por meio de Absol e ela me contou que conseguiu ganhar três favores do Nevra para ela poder ficar calada sobre como ele havia conseguido me convencer a cuidá-lo amanhã (ele conseguiu ficar bem ferrado _sorriso largo_).
Subi pro meu quarto e voltei a tentar fazer aquela porcaria de Crista de Maana (ao menos dessa vez minha bolha se sustentava por quase um minuto) e Lance nem me questionou sobre o que me aconteceu hoje. Vi em cima da mesa uma cópia do papel que escrevi e que Lance logo o destruiu dizendo que eu não precisava esquentar minha cabeça com bobagens (quem será que enviou isso pro Gelinho??). Não consegui avançar tanto quanto gostaria naquele treinamento, mas aquele encantamento era útil demais para desistir tão fácil dele (até a Ykhar me pediu para aprender ele!) por isso fiz o que pude para avançar.
Era umas sete da noite quando o Nevra me perguntou se eu me considerava em condições de ajudar mais três contaminados como a Ewelein me havia permitido e eu lhe respondi que sim (aquele feitiço podia ser difícil, mas não me desgastava). Após trazer mais três brownies de volta ao normal, Nevra me carregou nos braços até o meu quarto, no estilo princesa, dizendo que aquilo era o mínimo do mínimo que ele me devia por me ter convencido a cuidar dele, já que eu mal me aguentava em pé (claro, Lance não pareceu gostar daquilo).
Descansei um pouco sentada à mesa para não acabar dormindo sem ao menos tomar um banho. E como o Lance não tinha mais livros para ler, acabei deixando ele assistir ao filme “Sempre ao seu lado” que foi o único que considerei tranquilo (para mim) deixá-lo assistir. Acho que já era perto das 22hs quando eu resolvi me deitar finalmente e quando acordei, dessa vez Lance estava do meu lado de novo. Dormindo feito pedra. Absol mergulhou em uma sombra e eu pensei em ficar enrolando na cama por um tempo, mas a possibilidade de Nevra aparecer com o meu café da manhã em mãos... me fez mudar de ideia (do jeito que ele resolveu me tratar ontem depois que a Miiko ficou sabendo que eu iria cuidar dele essa noite, não duvido que ele faça algo assim).
Deixava o banheiro pronta para descer e alguém me bate a porta. Abri, mas não havia ninguém. Só uma bandeja farta de comida no chão em frente a minha porta com um bilhete: “Esqueça qualquer responsabilidade até dar as 6hs da noite. Durma o máximo que puder e eu mesmo irei me encarregar de lhe trazer as suas refeições. Sem segundas intenções, Nevra.” _boquiaberta_ Eu realmente não esperava por essa, e nem sei se é uma boa ideia mostrar este bilhete ao Gelinho. Coloquei a bandeja sobre a mesa e dividi a comida, ainda o fazia quando o Lance resolveu acordar. Não consegui evitar dele ver o bilhete...
– Juro que ainda me acerto com esse sanguessuga. – dizia ele amassando o papel.
– Você não vai se acertar com ninguém. – falava calma – Você vai é me ajudar, dentro do possível, a cuidar dele.
– Mas sou obrigado a concordar com ele, é melhor você não treinar nada hoje. No máximo meditar sua maana, e tente dormir tudo o que puder.
– E você? O que vai fazer?
– O de sempre. Meus exercícios, meditação, posso ler os textos que você disse ter em seu not? Os de sua autoria?
– São só poemas e algumas historias incompletas.
– E o tais de PDF’s e pesquisas que você disse ter feito por curiosidade?
– Os livros em PDF não são meus e quanto às pesquisas, além de estarem bem dizer todas uma bagunça, pode conter muitos erros se parar pra pensar bem.
– Ainda assim seria algo bem melhor para me distrair do que aquele filme de mascote que me fez lembrar o Nevihta. – disse ele emburrado.
– Tudo bem, Lance. – falei – Mas não venha me julgar depois!
– Eu só serei sincero, como você. – me respondeu ele com aquele sorriso (pelo menos não me está sendo uma geladeira).
Arrumei o meu not para que ele pudesse ler o que me pediu, e eu resolvi complementar o meu guia com as luas, o que não tinha feito ainda, tirando uma dúvida ou outra com o Lance. Também deixei uma nota debaixo de cada raça faery que tinha escrita que sofria influência com alguma lua. Na página dos aengels/daemons, por exemplo, eu adicionei a nota que os daemons eram afetados pela Lua Vermelha e os aengels pela Azul (espero não estar enganada). Assim como eu questionava o Lance, às vezes ele me pedia para explicar uma coisa ou outra do que não entendia dos meus versos (e quase sempre os surrealistas). Quando terminei, decidi meditar. Lance só me leu os poemas e depois começou a se exercitar (precisei lhe dar as costas pois ele tirou a camisa. Meu Jesus...).
Na hora do almoço, Nevra realmente me trouxe a minha refeição e ele aproveitou para me explicar mais ou menos como que eu teria que fazer para velá-lo. Basicamente eu ficaria responsável pela chave do quarto dele que estaria selado por um encanto especial com duração de umas doze horas que só permitirá a mim trancar e destrancar o seu quarto, quanto mais próxima eu estivesse da porta, mais forte será o encantamento. Aquela explicação demorou um pouco (o que deixou o Gelinho mal humorado depois) e Nevra ainda me alertou que, segundo os que já lhe vigiaram antes (e sobreviveram), ele não costuma reconhecer as pessoas diante dele, apenas se transforma em um caçador de fome insaciável (mas que maravilha...) e que por isso, por mais que ele implorasse, eu não devia lhe atender seus desejos, pedidos ou ordens (oh céus!...), me reforçando que começaríamos a acertar tudo a partir das 18hs. Tendo ele ido embora, Lance e eu almoçamos.
Adiantei meu banho; arrumei uma bolsa pequena com agua, poções do sono, espelho de mão, lenços e mais tarde pegava um lanche com o Karuto. Lance vestiu a armadura dele. Estava quase na hora de descer quando Absol retornou finalmente de seja lá onde que ele foi me trazendo algumas novas peças de roupa feitas de seda. Desci acompanhada do Absol que iria me buscar o Lance com a umbracinese depois que desse as 19hs, hora em que todos os quartos devem estar devidamente trancados.
Depois de tudo estar nos conformes entre Nevra e eu (e após correr até a cozinha que quase não a encontro aberta), me sentei recostada à porta do Nevra esperando dar sete da noite para começar a rezar. Guardas passaram revistando todos os corredores até dar a hora que não poderiam mais deixarem os seus postos. Ouvidas as sete badaladas do relógio instalado para ajudar os vigias como eu, tudo parecia estar um enorme silêncio. No Corredor das Guardas, Nevra era o único Lua Vermelha presente ali, por isso eu era a única vigiando do lado de fora do quarto. Absol buscou o Lance que ficou de pé ao meu lado, recostado contra a parede e já envolto por sua névoa. Comecei minhas orações.
Tudo estava quieto e tranquilo. Isso até dar umas oito e meia da noite onde pude começar a ouvir gritos, nem precisava ver a lua para saber que ela já começava à ficar púrpura.
– Isso é só o começo. – comentou Lance de olhos fechados – Esteja preparada.
Ele mal terminou de dizer e Nevra começou a mexer na maçaneta, socando a porta ao notar estar trancado e me assustando – Eu não sei quem está aí do outro lado... – falava ele nervoso à porta – Mas se não abrir essa porta irá se arrepender!
Engoli seco, e quando ele bateu outra vez na porta, quase que saltei do lugar, e corri para apoiar-me na parede a frente da porta com o coração na boca e rezando com ainda mais intensidade (sabia que não devia ter aceitado...). Absol que estava deitado do meu outro lado quando estava sentada, me pareceu ter ouvido alguma coisa e correu em direção à Sala da Portas. Nevra continuava exigindo sua liberdade e Lance começou a me encarar.
– H-há algo errado? – perguntei contento o meu temor e sem abandonar minhas orações.
– A sua maana... Está ficando mais forte. – ele começou a se aproximar – Tão forte que chega a ser atraente. – engoli seco – Acho melhor continuarmos essa missão dentro do quarto.
_pálida_ – Enlouqueceu?! Você esqueceu ou apenas não ouviu os avisos que Nevra me deu hoje cedo? Olha como ele está! Não estou nem um pouco afim de morrer hoje não!
– Não se preocupe. – falava ele com tranquilidade – Não permitirei que nenhum mal lhe aconteça.
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Cris
– Não permitirei que nenhum mal lhe aconteça.
Apesar da confiança que havia naquela promessa, os gritos que ouvia não só de Nevra, mas de bem disser de todos os quartos ou mais longe ainda, me deixavam aflita – Como pretende fazer isso? Sabe que estou aqui para cuidar dele e te manter frio, certo?
– Ilusões não são a única forma que tenho de defesa sem uma arma. – ainda não estou convencida... – Negocie com ele a sua entrada! Duvido que ele lhe negue qualquer pedido que possa acabar lhe facilitando o acesso à sangue.
Encarei hora o Lance que me sorria confiante e hora a porta que Nevra socava vez sim e vez não – Você não vai machucá-lo, não é? Ele só está assim por causa da lua, certo? – ele apenas me assentiu e resolvi me aproximar da porta. Pensei alguns instantes sobre como poderia entrar de forma mais ou menos segura para depois chamar o vampiro bem perto da porta – Nevra... – ele parou de bater.
– Mas olha se não temos uma flor à minha porta!... – falava ele lá dentro, todo galanteador – O que acha de me deixar sair para poder conhecê-la, hum?
– Eu... tenho uma, ideia melhor.
– Sou todo ouvidos. – encarei Lance um segundo e ele me assentia para continuar.
– Se você me prometer ficar o mais longe possível da porta, em um lugar em que eu possa vê-lo e, não se mover por nada até que a porta esteja novamente trancada... – (ai meu Deus) – Eu entro e lhe faço companhia. – só ouvia o silêncio lá dentro – E então?
– Ficarei em frente à janela, não se demore belezinha. – respondeu ele.
Respirei fundo. Contei até cinco antes de abrir a porta. Lance entrou na frente envolto por sua ilusão e eu ainda dei uma olhada nos corredores antes de trancar a porta (e tenho quase certeza que vi algo entrando no corredor). Fui logo procurando a janela e avistei o Nevra, parado de braços cruzados, com o olho brilhando em violeta e me sorrindo, fechei logo a porta antes que algo acontecesse. Eu nem terminei de remover a chave da fechadura e ouço o som de algo se chocando. Me virei e vi Nevra atordoado se erguendo ao lado de uma parede do outro lado de onde o vi por último. Lance estava à minha frente livre de qualquer camuflagem e começando a citar alguma coisa na língua Original.
– O que você fez?! – perguntei assustada e Nevra disparou contra nós batendo contra uma “caixa” de vidro que se formou ao redor dele no meio do caminho.
– O que lhe prometi. A protegi dele. – engoli seco mais uma vez.
– Isso é trapaça! – reclamava o Nevra – Você não me disse que estava acompanhada! Tirem-me daqui!!
– Com você nervoso desse jeito?! Isso aí não vai se desfazer, vai Lance?
– De jeito nenhum. – me respondia ele com um sorriso de quem se divertia com o que via – Essa prisão só irá desaparecer quando eu desejar. Não importa o quanto ele tente livrar-se dela.
Consegui me sentir um pouco mais calma, mesmo com Nevra se debatendo contra aquela caixa. Retomei minhas orações de onde tinha pausado ao mesmo tempo em que observava aquele quarto. O quarto tinha o estilo gótico, praticamente todo em tons de vermelho e madeira escura. A janela é um vitral de uma rosa vermelha. A cama (que devia ser queen pelo tamanho) tem um dossel com cortinas que combinam com os lençóis. Na cômoda, um vaso de rosas vermelhas deixando um toque romântico no lugar. Era um quarto bem bonito apesar de achá-lo um pouco escuro. Levei um susto quando Lance resolveu me abraçar por trás.
– O q-quê que você está fazendo!?! – até o Nevra parou de reclamar!
– Sua maana está realmente atraente... – ainda tentava me soltar – Forte ao ponto que chego a lhe desejar... – _corada_ terminou ele quase sussurrando ao meu ouvido. Consegui me virar.
– Lance, olhe pra mim! – pedia lhe segurando o rosto – Você, não, está, usando, sua, cabeça! – ele me encarava – Foi você mesmo que me disse que consegue lembrar vagamente de tudo o que faz durante noites como essa, não faça nada do que irá se arrepender! Está me compreendendo?
– Interessante... – respondia ele olhando em meus olhos e eu pude enxergar pintinhas de roxo naqueles olhos azuis dele – Parece heterocromia... – (é o QUÊ!?!) – Ficou bonito até.
Me afastei dele que me acariciava o rosto e peguei o espelho que carregava na bolsa e de fato, meu olho direito estava normal já o esquerdo... Ele estava completamente roxo! Não vou mentir que não gostei da cor, mas peraí! _respira fundo_ Eu ainda sou eu mesma? (claro né! Ou do contrário não estaria tendo essa conversa consigo mesma!) Fica quieta consciência! (_outro eu mostrando a língua_) Ok, ainda consigo pensar por mim mesma. Mas estou notando alguma diferença anormal? (estamos com medo que é o normal. Não esquecemos nossa tarefa aqui e ainda estamos tentando cumpri-la, o que quer disser que o nosso psíquico/físico está normal). Certo, até aqui ok, e Lance comentou que minha maana estava mais forte? E ao ponto de me querer!?! (ele disse que age por instinto, problema será se mais alguém resolver fazer o mesmo... Acho que foi mesmo melhor nos arriscarmos com o Nevra.)
Lance me abraçava por trás novamente interrompendo minha autoanálise e me deixando constrangida com ele me cheirando a nuca – Por favor, minha presbítera... – Nevra pedia – Não me torture... Deixe-me sair, vai...
– O que vai fazer se for solto? – questionei me afastando novamente de Lance que sorria com aquilo tudo.
– O que me pedir minha musa, só peço que me deixe matar minha sede. Juro que não passarei dos limites!
– Me engana que eu gosto. – soltou Lance cruzando os braços e encarando o Nevra que parecia matá-lo com os olhos.
– Por favor... – Nevra voltava a me pedir melosamente – Minha bela mandrágora, atenda ao pedido desse desafortunado. Curvo-me aos seus pés se assim desejar! Mas não me deixe sofrendo desse jeito...
Sentei-me no sofá que havia ali e comecei a encarar aqueles dois homens. Nevra me encarava como se fosse um cachorrinho pidão e Lance me olhava de cima a abaixo sem parar, me deixando sem jeito. Rezei mais algumas ave-marias antes de tomar uma decisão.
– Nevra e Lance,... – eles me ouviam com atenção – ...se vocês aceitarem fazer tudo o que eu lhes pedir, acho que todos nós poderemos ter o que queremos que, ao que posso compreender, é: Lance me ter em seus braços; Nevra beber de meu sangue; e eu, paz e respeito dentro desse quarto.
– Diga o que quer. – falou o Lance.
– Mande e eu obedeço. – se prontificou o Nevra.
– Ok. _respira fundo_ Vocês me prometem que ninguém atacará ninguém durante a noite inteira? – os dois assentiram – Me prometem que não irão brigar, discutir ou qualquer outra coisa do tipo? – os dois se entreolharam, mas concordaram – E também me prometem que quando eu disser não ou chega, vocês vão me obedecer? – eles fizeram cara feia porém aceitaram – Muito bem! _respira bem fundo_ Lance, venha cá. – ele se aproximou – Vou deixar que fique me abraçando, mas é só! Não se atreva a passar disso, fui bem clara? – como resposta ele apenas sorriu me puxando para que eu ficasse sentada em seu colo com a cabeça dele apoiada em meu ombro ao mesmo tempo em que me abraçava a cintura.
– Totalmente clara. – sussurrou ele ao meu ouvido.
Fiquei vermelha e vi Nevra engolindo seco – O-ok. Nevra? – ele me olhava – Vai cumprir com suas promessas?
– Sim. – respondeu decidido.
– Tudo bem. Lance, por favor. – sem me soltar, Lance começou a murmurar algo que, ao terminar, Nevra se encontrava livre outra vez. Ele ficou diante de mim com um piscar de olhos – Certo Nevra, vou lhe estender apenas o meu pulso, e no momento em que eu sentir qualquer parte do meu corpo formigar, você vai parar! Entendeu?
– Como ordenar. My lady? – pedia ele a minha mão, curvando-se sobre um joelho.
Estendi-lhe meu braço esquerdo tremendo e com a palma para cima. Ele começou a beijar-me a mão, formando uma trilha, até chegar no pulso onde fincou suas presas. Foi como tomar uma agulhada de injeção. Duas e ao mesmo tempo. A dor durou somente alguns instantes, pois logo ela foi substituída por uma sensação tão agradável que, combinada com o abraço que Lance me apertava agora, tornava-se algo perigoso. Concentrei-me o máximo que pude em minhas orações para que pudesse continuar ciente de mim mesma e quando comecei a sentir meus dedos adormecerem... – Nevra... Chega. Já chega Nevra.
Ele não demorou em remover os dentes de meu pulso. Lambeu a mordida até ela desaparecer, não desperdiçando uma gota que fosse, e terminou beijando a área mordida demoradamente (minha Nossa Senhora! Socorre-me aqui!).
– É sem dúvidas o sangue mais fascinante que já bebi. – dizia Nevra com a testa apoiada em minha mão – Conseguiu saciar o que pensei que não acabaria nem mesmo tomando todo o sangue de vocês. – (Ave Cheia de Graça!!) – Não gostaria de deitar-se e dormir um pouco? Está me parecendo cansada. – pedia ele agora me olhando nos olhos. Não vou negar, ele estava certo. Me sentia exausta! Mais no psicológico do que no físico, mas será que isso era uma boa ideia?
– Hunf! Você está é arranjando uma desculpa pra agarrá-la, isso sim! – retrucava o Lance.
– Não sou eu que está com ela no colo, e vem acusar à mim? – falou ele sorrindo nervoso (oh meu Pai... Nunca mais aceito uma coisa dessas!).
– Chega vocês dois! Já se esqueceram as promessas que me fizeram? – falei irritada e os dois me desviaram o olhar. Pude ouvir o relógio badalar uma vez, o que significava que agora era uma da manhã (quando foi que o tempo passou??) _respira fundo_ – Olha, eu realmente estou com sono, mas como dormiria sem me arriscar a vocês se matarem?
– É só você dormir ao meu lado! – sugeriu Nevra me beijando a mão em seguida – Tenho certeza que ficará muitíssimo confortável em meus lençóis.
– Não abusa sanguessuga... – Lance se continha – É mais seguro pra ela ficar no sofá.
– Com você colado nela como tem estado até agora?
– Ra-pa-zes... – interrompi os dois. Acabei por encarar a cama – Podemos nós três deitarmos juntos, pois vejo daqui que sua cama é capaz disso Nevra. – eles não pareceram gostar e eu os ignorei – Eu ficaria no meio dos dois, só que, EU ficarei debaixo das cobertas, e VOCÊS acima dela para garantir que nenhuma mão boba venha me perturbar. E mais uma coisa Nevra! – ele me prestou atenção – Como você não parece ter um pingo de sono, vai ter que aceitar beber um pouco de poção sonífera que tenho comigo. Tudo bem assim pra vocês?
Eles pareceram analisar o que eu disse e meio que a contragosto aceitaram. Me levantei do colo de Lance com o corpo trêmulo (provavelmente por conta do sangue que Nevra bebeu) e fui até a cama. Apoiei a minha bolsa na cômoda e entreguei o frasco da poção para o Nevra, descalcei-me, me ajeitei mais ou menos e comecei a encarar o vampiro para que ele tomasse a poção. Virado o frasco, ele se deitou já fechando os olhos ao meu lado. Lance logo fez o mesmo e me abraçando a cintura (Meu Jesus!!... NUNCA MAIS que aceito um trabalho desses novamente!). Fiquei por cantarolar até cair no sono.Lance
Acordei cedo, e não conseguia acreditar no pouco que eu lembrava, muito menos diante do que eu via. Não consigo aceitar que fiquei desejando a Cris daquele jeito. Isso nunca me aconteceu antes! E ela não ficou afetada pela lua? Lembro que vi um de seus olhos assumir a cor roxa, mas além da maana, que estava definitivamente mais forte, ela passou por alguma outra mudança? Bom, não tenho tempo para pensar sobre isso agora, tenho que cair fora daqui o mais rápido possível.
Procurei por um relógio e vi que era 05:35hs da manhã (pra onde que aquele umbracinesiano se foi?). Encarei a Cris que parecia dormir consideravelmente em paz, com o sanguessuga de frente pra ela. Pensei em tentar fazer o que não tinha conseguido antes (a culpa vai cair em cima desse vampiro mesmo), mas não seria justo com ela, ainda mais com tudo o que ela suportou.
– Ei Cris, acorde. – comecei a chamá-la – Vamos lá. Tenho que sumir daqui e não vou deixá-la com esse sugador de sangue!
– Mais cinco minutos... – pediu ela já voltando à dormir (tenha santa paciência!).
Eu não podia me arriscar demais então peguei as coisas dela e comecei a carregá-la nos braços de forma que pudesse ficar com uma mão livre fácil e com ela se segurando em mim. Mal abri a porta e me deparo com um corredor cheio de faerys adormecidos (não me diga que foi a maana dela que os atraiu até aqui!). Passei como pude entre eles sem acordá-los e só consegui voltar a andar sem problemas quando alcancei as escadas. Peguei as chaves do pescoço dela com cuidado e destranquei o quarto. Pousei-a na cama, deixei suas coisas na mesa e fui no banheiro. Lá de dentro pude ouvir as seis badaladas.
“Como foi a noite de vocês três?” – me perguntava a traquina da Negra quando deixei o banheiro (porque não lê minha mente e descobre você mesma?) – “É mais interessante ouvir de você.” – falou ela dando de ombros, sei... (cadê o black-dog? Ele não devia ter permanecido ao lado dela ontem não?) – “Ah, bem, na verdade ele nos fez um favor! Foi mais pra minha irmã do que pra mim, mas ele fez.” – (do que é que você está falando?) – “Quem entrar na Sala do Cristal agora descobrirá.” – falou ela sorrindo de orelha a orelha (tem a ver com todos aqueles faerys no corredor?) – “Quem sabe?...” – brincava ela outra vez _suspiro_ – “Eu vou indo agora, mas nada de tentar gracinhas outra vez!” – retrucou ela sumindo em seguida.
Eu bem que pensei em me aproveitar que todos estão incapacitados por causa da lua para deixar Eel, mas se eu tive toda aquela facilidade em carregar a Cris sem ser notado (e sem nem mesmo usar a minha ilusão), o quê que aquele cretino que a almeja não poderia ter tentado fazer?Nevra
Quando acordei, saltei da cama ao perceber que o quê eu havia “sonhado” aconteceu de fato (como é possível? Nunca me lembrei de minhas ações durante uma Púrpura antes!). A Cris entrou em meu quarto, e como pensei, trouxe o Gelinho consigo, o que acabou a salvando. Lembro tudo o que foi conversado aqui dentro e sabia que o Valkyon podia estar sofrendo influência das luas com aquele comportamento dele, só não esperava que ele tivesse o privilégio de continuar se lembrando. Mas porque eu me lembrei dessa vez??
Também me lembro que a maana da Cris estava extremamente poderosa ontem, e que também bebi de seu sangue (será que foi isso que me permitiu lembrar dessa vez?). E ela dormiu em minha cama... (se não fosse pelo cheiro dela - e dele - em meus lençóis, nunca que iria aceitar que aquilo tudo foi realidade). Provavelmente um deles acordou cedo e fez com que o outro o acompanhasse até o quarto da Cris.
– É melhor eu tomar uma ducha pra despertar direito. – sugeri para mim mesmo já pegando o que precisava para usar os banheiros públicos, uma vez que não tinha o mesmo privilégio da Miiko, do Valk e da Cris por exemplo.
Ao abrir minha porta, tomei um novo susto (de onde saiu toda essa gente? E porque eles estão dormindo justo à minha porta?). Recordei que Lance comentou que a maana dela estava “atraente” (não vou ser hipócrita, também cheguei a olhá-la com desejo, apesar da minha sede ter sido maior), será que foi ela que os atraiu até aqui? Por quê? E quem eram aqueles faerys? Não reconhecia nenhum! Continuei meu caminho até os banheiros, pois enquanto eu não esclarecer as ideias não estarei apto a desvendar esses mistérios.Cris 2
Abri os olhos com calma... e a barriga doendo de fome. Levantei devagar ao notar que estava em meu quarto e não no de Nevra, e peguei meu celular que estava próximo para ver a hora. Eram 09:35hs da manhã. Comecei a prestar um pouco mais de atenção em meu quarto e encontrei Absol dormindo em sua cama, Lance meditando perto dos jardins e minha bolsa sobre a mesa (fui até ela para ver se ainda encontrava o meu sanduíche).
– Se estiver procurando pelo lanche... – Lance me chamava a atenção – Eu já o comi, ou acha que eu iria ficar esperando com fome desde as cinco da manhã por você?
– Já eram cinco quando acordou? – questionei entrando no banheiro para me trocar.
– Mais de cinco. E não me foi muito fácil trazê-la aqui sem sermos vistos, um monte de faerys resolveu dormir no meio do corredor em frente ao quarto do sanguessuga.
– Você não fez nada com eles, né? Nem com o Nevra, certo? – perguntei já que ele não mudava de posição ou postura.
– Já estava ocupado demais carregando uma certa dorminhoca. – corei.
– Porque não tentou me acordar se eu lhe atrapalhava tanto assim. – falei lhe evitando o olhar.
– Eu também te dei trabalho ontem... Nada mais justo deixá-la descansar, não concorda? – sabia que ele sorria só pelo seu tom de voz.
– É... bem, eu... – estava sem jeito por conta das lembranças de ontem – Eu acho que vou descer para me arranjar alguma comida!...
– Aproveita e tenta descobrir de onde aquele monte de pragas saiu. – pediu ele antes de eu sair.
Quando eu terminei de descer, Lance não tinha brincado ao falar que o corredor estava cheio de gente. Ewelein, auxiliada por três enfermeiros e cinco guardas, examinava um monte de gente enquanto eram removidos aos poucos do corredor.
– Mas o que foi que aconteceu aqui Ewe?! – perguntei enquanto ela examinava uma brownie-pássaro.
– Também não sabemos ao certo. Quando os membros começaram a acordar, se depararam com esse monte de gente inconsciente no corredor. Quando foi que você deixou a vigia do Nevra?
– Não lembro ao certo... – (já que estava dormindo) – Eu só me lembro de tudo que precisei aturar enquanto cuidava dele. Nunca mais quero repetir uma coisa dessas!! – a Ewelein ria, mas só porque ela não sabia o que precisei aguentar (e nem posso contar tudo...).
– MAS O QUE É QUE ESTÁ HAVENDO AQUI!!!!
Todos pararam ao ouvirmos aquele grito que parecia pertencer à Miiko. Ewelein e eu corremos até a Sala do Cristal que foi de onde pareceu ter vindo o grito e quando entramos... Meu, Deus. Acho que tinha de cinquenta a cem faerys de diferentes raças e idades, inconscientes dentro da sala (e é impressão minha ou o Cristal parece maior?).
– MAS QUE MONTE DE GENTE É ESSA?! E COMO FOI QUE ELES ROMPERAM O LACRE!?! – continuava gritando a Miiko com Erika e Jamon tentando acalmar a kitsune – VOCÊ!! – ela me apontava (xiii... Ferrei!) – VOCÊ TEM ALGUMA COISA A VER COM ISSO?!?
– Miiko, acalme-se agora!! – repreendeu-lhe a Ewelein – Gritar desse jeito não vai ajudar a nada e nem a ninguém!
A Miiko começou a respirar fundo e contanto de um até dez a cada respiração.
– Certo... – até as chamas antes descontroladas de seu cajado estavam normais outra vez – Já me acalmei...
– MIIKO!!! – aiaiaiaiaiai... – Miiko nós temos um... – Réalta entrava se assustando com o estado da sala – problema...
– O que foi que aconteceu Réalta? – perguntou a Erika no lugar da Miiko que parecia estar se segurando.
– Os contaminados que estavam na prisão desapareceram. Ou era o que pensávamos...
– Um momento! – Miiko lhe chamava – Está me dizendo que todos estes seres são ex-contaminados?!
– Acho, que seria o mais plausível... – Miiko voltou a me encarar (eu estou mesmo ferrada...).
.。.:*♡ Cap.78 ♡*:.。.
Miiko
Para me garantir, além de tentar me concentrar em ficar meditando durante a passagem da Lua Púrpura, eu me cobri de selos de magia para evitar o meu descontrole sobre minhas chamas enquanto Jamon me vigiava. Não demorou muito para eu sentir meu poder aumentar, sem falar que pude sentir a maana da Cris como se eu estive bem diante dela. Isso significa que, ou a Cris está mais para o lado do Leiftan; ou a Erika ou o Valkyon e o Lance são afetados pela Lua Azul (se não for os dois! Vou ter uma conversinha com a Erika e com o Valkyon...).
Minha percepção espiritual também se fortaleceu. Pude sentir a presença de várias almas no QG e... elas estavam sendo guiadas e purificadas? Por quem? Como esperado, também pude ouvir alguns gritos e gemidos, além do que parecia ser golpes vindos de outros quartos (acho que preferiria estar doente agora, como na última Púrpura...).
Amanhecido finalmente o dia, quase todos estavam dormindo por culpa da exaustão ou das poções que alguns decidiram tomar. Seria tão bom se as poções também fizessem efeito durante a passagem dos afetados pela Vermelha... Mas como fazer um vampiro ensandecido beber uma poção do sono se tudo o que eles querem é sangue, por exemplo? Já que as luas costumam cortar o efeito de qualquer poção que você beba antes de sua passagem?
Pedi a Jamon, que ainda se mantinha firme e acordado, para remover todos aqueles selos para mim enquanto tomava um banho para organizar as ideias (esse excesso de poder me deixou um pouco atordoada, não é à toa que muitos nem conseguem se lembrar do que aconteceu).
Quando eu abri minha porta, pronta para sair, fiquei em choque ao ver todos aqueles estranhos dormindo no Corredor das Guardas – Santo Oráculo, o Cristal!! – foi a primeira coisa que veio à minha mente e disparei para a Sala do Cristal. Fiquei com o coração na boca ao ver que o selo que eu havia deixado guardando o Cristal tinha desaparecido (Por todos os deuses!!) e quando eu finalmente entrei...
– MAS O QUE É QUE ESTÁ HAVENDO AQUI!!!! – Jamon entrava seguido da Erika e ambos estavam tão desconcertados quanto eu.
Os dois até que tentavam me acalmar e tudo o que desejava saber era: de onde, como e o quê todos aqueles faerys faziam dormindo dentro da Sala do Cristal. No que eu pus meus olhos sobre a Cris... – VOCÊ!! – lembrei-me que ela era a única no corredor ontem à noite – VOCÊ TEM ALGUMA COISA A VER COM ISSO?!? – sem falar de todo aquele aumento de maana dela.
A Cris pareceu assustada e eu só relaxei um pouco com as reclamações da Ewelein (e que sou obrigada a admitir que estou mesmo exagerando um pouco), mas com a chegada do Réalta sugerindo que todos aqueles faerys eram os mesmos que antes ocupavam as prisões e que estavam contaminados por fragmentos do Cristal... Não tinha como haver dúvidas.
– Cris... – chamava-a a atenção e Valkyon e Nevra entravam em seguida (perfeito) – Consegue se lembrar do que fez ontem à noite?
– C-como assim? – ela está mesmo nervosa (e porque os dois que entraram pareceram petrificar?).
– Eu senti a sua maana Cris, você sofreu influência não sofreu? O que significa que, ou o Valkyon nos mentiu sobre os dragões serem atingidos pelas luas, ou os aengels que o sofrem. Isso se você não for mais daemon do que aengel! – voltei-me para o dragão com um “sorriso” – Vaaalkyon?! – ele acabou por engolir seco.
– M-me desculpem. – começou ele – Mas a influência sobre ela não vem só dos dragões, lembro-me perfeitamente que os olhos da Erika estavam mais escuros do que o normal.
– Como foi a noite de vocês? – perguntou a Ewelein.
– Eh... Digamos que foi... quente! – respondeu a Erika corada.
– Eu não posso dizer nada sobre os aengels porque Erika é faeliana, mas nós dragões, quase não notamos diferenças durante a Lua Azul, no entanto, na Lua Púrpura...
– Vocês ficam mais animados? – perguntou o Nevra. Acho que todas coraram, até eu.
– N-n-não! Nada disso! – defendia-se o Valkyon vermelho – Lance e eu apenas não conseguimos usar bem a cabeça! Agimos mais por impulso do que pela razão, mas se houver alguém que nos lembre de usar a lógica conseguimos nos conter. Nós também não nos esquecemos do que fazemos, não totalmente, por isso que nos isolávamos para meditar durante as Azuis. Não só é um costume que adquirimos por convivermos com os fenghuangs como também era uma forma de escondermos a nossa natureza. – explicou ele já mais calmo.
– Eeerika... – agora me voltava para ela.
– Ta-também me lembro de tudo! – respondeu ela vermelha como uma maçã – Eu meio que desconfiava sobre a relação do Valk com as luas, mas só porque ele se recusava a abrir os olhos durante as Luas Azuis e... ontem eu pude ver bem pintinhas e reflexos violetas nos olhos dele. – ela se encolhia sorrindo _revirando os olhos_ – Nunca senti nada durante as Azuis, então me foi uma surpresa ver os meus olhos roxos ao invés de lilases.
– E quanto a você Cris? – perguntei voltando a quem me interessava.
– Bom, eu, também me lembro de tudo. Levei um enorme susto quando me disseram que eu parecia ter heterocromia... – (quem contou isso à ela?) – ...e ainda mais ao ver num espelho que meu olho esquerdo estava completamente roxo enquanto o direito continuou normal... – essa... foi uma mudança diferente.
– E quanto ao que aconteceu nos corredores? Quando foi que os contaminados escaparam? E o selo que deixei na entrada, foi você que o desfez?
– Não sei. – respondeu ela brincando com os dedos.
– Como assim?... – me segurei.
– É, bom, olha. _respira fundo_ Vocês lembram que Nevra me prometeu que eu podia levar quem eu quisesse para me ajudar a vigiá-lo, né? – todos nós assentimos – Pois bem. Foi um pouco depois, mas a pessoa que resolvi levar comigo apareceu, e foi ela quem me disse que a maana que eu estava emitindo com minhas orações estava ficando forte e... atraente...
Todos começaram a resmungar e, batendo com o meu cajado no chão, os fiz calarem – Continue Cris. Quem é essa pessoa e o que foi que vocês fizeram.
– Olha... não houve apresentações quando nos conhecemos... – (Como é que é??) – E temendo pelo o que talvez minha maana atraísse... nós... meio que... entramosnoquartodoNevra.
Por um instante pensei ter a Ykhar diante de nós. Eles entraram aonde?!? Ewelein correu para verificar os locais que os vampiros costumam morder da Cris enquanto todos se atropelavam nas perguntas. Exigi o silêncio novamente e encarei o Nevra.
– Não olha pra mim! Nunca me recordei do que faço durante a Lua Púrpura! E a Cris parece estar em melhor estado do que eu! – ele sorria nervoso, só não sei dizer se é porque está me escondendo algo ou se é por causa da situação em si.
– Não vejo nenhuma marca em você Cris. Pode nos dizer o que foi que aconteceu?
– Bom Ewelein, eu meio que negociei com o Nevra para poder entrar... e se não fosse pelo meu... guarda-costas, acho que já não estaria mais aqui...
– O que foi que aconteceu. – pediu o Valkyon com o Nevra mais pálido que o normal.
– Depois que terminei de trancar a porta; e Miiko, tive a impressão de ver alguém entrando no corredor nessa hora; – menos mal – ...Foi o meu acompanhante que impediu e imobilizou o Nevra depois de entrarmos. Acabei negociando a liberdade do Nevra, e ele parecia bem disposto em atender minhas exigências. Se foi por causa do efeito de minha maana ou de sua sede, não sei te responder.
– Mas você chegou a dar sangue à ele? E eu não me lembro de ter deixado de senti-la emitindo maana... Conseguiu se manter rezando por todo aquele tempo? – indaguei.
– Sim e sim. – !! – Por causa de tudo que acontecia, não deixava de pedir auxílio ao divino, e permiti que o Nevra bebesse só um pouquinho do meu sangue, com eu controlando a quantia, fazia parte dos acordos que fiz com ele. Ele lambeu cada gota que conseguia sorver enquanto curava o meu pulso e ainda comentou que não espera saciar a sede dele com tão pouco...
– E o que aconteceu depois? – pedia a Erika.
– Senti-me exausta. – respondeu a Cris dando de ombros – Nevra me sugeriu dormir na cama dele, deitada ao seu lado, mas só aceitei na condição de que ele tomasse uma das poções soníferas que tinha comigo. Ele virou o frasco.
Estávamos todos pasmos. Já é difícil lidar com um vampiro sedento em condições normais, e a Cris o fez em plena Lua Púrpura!?!
– Lembra de mais alguma coisa que possa ter acontecido? E quanto ao seu “guarda-costas”? – questionava a Ewelein.
– Bom, ele também se deitou conosco, acho que foi ele que me levou pro meu quarto já que acordei lá e... se me lembro bem... eu “cantarolei” um pouco antes de adormecer?...
– O seu “cantarolar” é quase sempre algum tipo de oração ou encantamento na Língua Original, não seria surpresa se nesse momento, com o reforço da Púrpura, você tivesse conseguido purificar toda essa gente sem que precisasse deixar o seu “refúgio” para isso. – ponderei (e que realmente foi muito bom).
– Se isso facilitou minha vida e a da deles... – falava ela despreocupada – Na próxima Púrpura passo a noite junto ao Cristal e nunca, jamais, sob hipótese alguma volto a tomar conta de alguém durante uma lua outra vez! – declarou a Cris fazendo alguns de nós rir sem querer.Nevra
Caramba, a Cris teve ter mesmo detestado tudo que passou comigo e com o Gelinho ontem pra falar daquele jeito (e estou cada vez mais convencido que foi o sangue dela que me permitiu lembrar de tudo). Nós mal conseguimos conter os nossos risos e os enfermeiros e guardas que estavam ajudando nos corredores agora começam a trabalhar com os faerys dentro da sala. O barulho de algumas barrigas roncando foi o que convenceu a Miiko a nos liberar para podermos comer alguma coisa. No salão, a Cris foi quem tirou a maior sorte. Karuto serviu à ela o que geralmente só servia ao Feng Zifu. Ele me lembrou a um ocemas ao cuidar de seu filhote!
Por volta de 10hs, 10:30hs, todos, menos os que receberam folga hoje, retomavam suas atividades normais e os guardas que vigiavam a prisão à noite, e que haviam sumido, chegaram em Eel explicando que: momentos depois da Púrpura começar, todas as celas que continham contaminados, se abriram sozinhas. E com todos os contaminados despertando! Segundo eles, quando começaram a correr para fecharem as celas antes que seus ocupantes escapassem, Absol (de acordo com o Almir que os assistiu serem levados) transportou-os através da umbracinese para Balenvia. Os coitados passaram a noite inteira correndo de volta para Eel.
Ally, um de meus recrutas que, assim como eu é afetado pela Vermelha e assim como o Leiftan passou a noite na prisão, foi um dos primeiros a acordar. Ele disse ter visto Absol vigiando os que ainda estavam nas celas junto de mais uns dez mascotes (ao menos Absol substituiu os guardas e explica o porquê dele não ter ficado com a Cris), o que fortaleceu ainda mais a teoria da Miiko de que a maana da Cris teve culpa naquela confusão toda.
Consegui uma consulta particular com a Ewelein e repassei à ela tudo o que a Cris tinha ocultado naquela explicação dela e que eu conseguia lembrar (sendo que eu não devia me lembrar de nada). Ela me recolheu algumas amostras de sangue para analisá-las e me questionou sobre o que Leiftan, Ezarel e eu planejamos para poder interrogá-la e repassei pra ela que tudo o que nos faltava era a desculpa para fazê-la ir ao laboratório sem desconfiar de nós. Ezarel garantiu que encontraria essa solução, e eu estou indo agora falar com ele.Ezarel
Cuidar de elfos Natlig e Tusmørke foi mais fácil do que eu imaginei. Mantê-los dormindo e garantir que, se acordassem, não veriam nada nem ninguém por causa da sinestesia deles. Bem que Hadassa, a mulher de Voronwe, avisou que era fácil cuidar de alguém assim. E como hoje estou de folga... Posso pesquisar o que eu quiser sem ter de me preocupar com a Absinto!
– Oi Ezarel! Estava te procurando. – e entra o inconveniente...
– Nevra, se estiver atrás de mim como líder... Vá falar com a Ewelein! Quem mandou ela se tornar a sub-líder da Absinto? Caso contrário, tente não me atrapalhar.
– Agora é sério. – ele arrastava uma cadeira para o meu lado – Você não devia estar descansando não? Como consegue continuar trabalhando!?
– Sou um mestre das poções meu amigo, já resolvi este pequeno problema. – lhe respondi sorrindo – E tenho projetos demais que não receberam a devida atenção por causa de tudo que nos vem acontecendo.
– Inclusive o nosso projeto particular? – sussurrou ele.
– Sim. – olhei para ter certeza que éramos os únicos no recinto – E acho que já sei como fazê-la vir até aqui de bom grado... Mas vou ter que esperar pela festa surpresa dela. – sussurrei no final.
– O que você está planejando? Sabe que dependendo do que aprontar com ela Absol não será o único que irá querer lhe pedir contas, não é?
– Não planejo nada de mais... – (eu espero) – Se vai ser bom ou ruim, vai depender totalmente dela! E eu ainda me vingo das afrontas da Caçadora.
– O que vai fazer?
– É melhor você não saber se não quiser ser considerado cúmplice. – respondi sorrindo de lado.
– Ezarel... Você sabe que mexer com ela é mexer com muita gente. Viu o que ela fez sem nem mesmo se dar conta? – alertava-me ele.
– O que sou muito grato! – continuei com o que fazia – Todos aqueles contaminados já estavam me enchendo a paciência. Ainda vão enviar mais deles pra Eel? – perguntei enquanto observa o misturar de uma das poções que pesquisava.
– Acho que só mais três cidades não conseguiram nos enviar os seus ainda. E quase todos os negócios que a Miiko fez naquela reunião já estão concluídos. Logo, logo, Eel volta a ter paz.
– Falsa paz, você quis dizer. Esqueceu-se do peste do irmãozinho do Valkyon? – perguntei sussurrando e ele me sorriu largo, deixando-me confuso.
– Melhor eu ir indo... – ele ainda sorria – Veremos isso no dia que aplicarmos o nosso projeto. – falou ele se erguendo pra sair.
– Mas do que é que você está falando!?! – ele parou na porta.
– Ewelein anda bem preocupada com a saúde da Cris nesses últimos dias... – ele me encarava de lado – É melhor você fazer um relatório completo sobre o nosso “projeto especial” para a sua sub-líder! – disse ele fechando a porta.
Mas o quê foi que ele descobriu??? Tomara que Tyhke esteja do nosso lado no dia!Cris
E outra vez me senti como no começo... Mais precisamente como no dia que resolvi vir pra Eel acompanhando a Ewe e o Chrome. Dei graças à Deus da Miiko ter nos liberado para comermos ao invés de me segurar ainda mais para poder continuar fazendo perguntas. E mais uma vez me senti super feliz com o que Karuto me serviu, quase igual a aquele mesmo dia!
Com boa parte do meu trabalho já feito; uma sessão de exames da Ewelein e mais um pouco de conversa (que eu já sabia) sobre luas e dragões, além do fato de eu estar livre para fazer o que eu quiser (ou quase, pois não podia sair) preferi passar o dia no quarto, uma vez que Anya não iria poder me fazer companhia (estava saindo do salão quando a mãe dela me parou dizendo que, Anya ia passar o dia com o pai dela por causa da sua sinestesia que realmente evoluiu durante a noite).
Já no meu quarto, Lance não estava querendo acreditar em tudo que havia acontecido durante o tempo em que estávamos dentro do quarto de Nevra. Também lhe contei sobre Anya e ele me pareceu refletir o assunto. Decidi ficar tentando a Crista de Maana até o almoço e acabei levando um susto. Acertei de primeira!
– Andou praticando enquanto eu dormia por acaso? – perguntou ele tão surpreso quanto eu.
– De jeito nenhum! Eu só tinha condições de dormir depois que nós três nos deitamos, e eu acabei demorando pra fazê-lo. Ainda não entendi como é que consegui purificar todos aqueles contaminados sem ao menos tocá-los!
– Talvez... – ele segurava o próprio queixo – A Lua Púrpura tenha despertado parte do seu poder?...
(Oooiii?!?! Não gostei disso não!!) – Suponhamos que você esteja de alguma forma certo... que faço agora? – perguntei meio sem saber até o que pensar!
– Bom. Pra começar, podemos dar início às suas aulas sobre a Língua Original para que possa usar esse encanto sem ter de se concentrar nele. Ou prefere ficar dependente de mim o resto da vida? – me sorria ele.
– A ideia de depender de você realmente não me agrada, já andei prestando mais atenção no que cantarolo quando cuido dos contaminados e no que você fica falando aqui também. Nafibu é algum tipo de insulto?
– É na-fyh-bo, e tem certeza que quer descobrir agora? – aquele sorriso cada vez mais largo me fez ficar com medo de descobrir.
– Vamos logo com isso vai. – falei meio nervosa.
Ele apenas me estendeu uma mão convidando-me a sentar à mesa. Ele começou a me ensinar primeiro os nomes dos objetos próximos de nós ao mesmo tempo em que os escrevia em uma folha. Eu até que pegava mais ou menos o que ele me ensinava (apesar de quase sempre eu errar as pronúncias...). Fiquei uma arara quando descobri que “nafyhbo” significa “tolinha” na língua Original. Ao ponto de lhe bater no braço como se eu fosse uma criancinha, fazendo-o se divertir ainda mais durante essas aulas às minhas custas (Céus! Isso vai ser complicado...).
Última modificação feita por Tsuki-Hime (25-01-2024, às 11h03)
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.。.:*♡ Cap.79 ♡*:.。.
Lance
Não tinha como eu conseguir acreditar no que a Cris me contava sobre os faerys que encontrei no corredor quando deixamos o quarto do sanguessuga, e nem naquela facilidade absurda que ela resolveu demonstrar agora sobre o seu controle de maana (a Negra vai ter que me explicar umas coisas). Como eu suspeitei, a pirralha realmente desenvolveu a sinestesia dela (preciso encontrar um meio de isso não me virar um problema). Decidimos por dar início as suas aulas de Língua Original como eu havia prometido.
Eu não devia, principalmente depois do que fiz (ou quase), mas nunca pensei que me divertiria tanto ensinando alguém. Ainda não compreendo o porquê, mas vê-la agindo como criança e/ou vermelha me satisfaz e muito! Não perdia uma chance de provocá-la apenas para vê-la corar ou emburrar como uma criança fofa.
No geral, ela estava como sempre. Nada havia mudado nela. Nada exceto o seu nível e controle de maana. Nesse ponto ela parecia outra pessoa, ela agora conseguia acertar tudo que lhe ensinava de primeira! Enquanto nas primeiras lições que lhe dei, ela só conseguia uma parte do que eu a ensinava, e no final do dia! Comecei a temer o poder dela... Depois que ela adormeceu (após uma liberação impressionante de maana durante suas orações), tentei fazer aquilo de novo aproveitando que o black-dog saiu novamente, e mais uma vez... não consegui.
Estou neste momento a observando dormir recostado à mesa e sentado em uma das cadeiras. – “Mas será possível?!” – apareceu quem eu queria ver – “Eu não lhe disse para não tentar tolices outra vez?” – (apenas responda as minhas perguntas pra variar está bem) não preciso dela me dando sermão.
– Explique essa historia dos contaminados. – sussurrei.
“Foi graças à Púrpura.” – lhe ergui uma pestana – “A Lua Púrpura conseguiu decuplicar o poder dela e, com a conexão que ela tem através do colar com o Cristal de minha irmã, foi possível realizar aquilo ontem.” – explicava ela já mais calma.
– O que exatamente você e sua irmã fizeram? – mantinha a voz baixa para não acordar a Cris, e Absol retornava deixando vários cristais aos pés da cama e deitando-se logo em seguida ao lado de minha carcereira.
“Eu abri as celas e despertei os contaminados. Minha irmã removeu o selo que havia na entrada da Sala do Cristal enquanto a maana da Cris os atraía para cima, e depois eu fiz a Cris recitar o encantamento para que todos aqueles faerys tivessem os fragmentos removidos deles. Também fui eu que carreguei para Sala do Cristal os fragmentos liberados em frente do quarto do vampiro. Mesmo com a conexão delas por meio do colar, minha irmã não conseguiu sobrepujar a maana da Cris para arrastar todos até ela...” – terminou ela de contar, mas ainda não respondeu tudo.
– A Lua já se foi, então porque ela ainda está tão poderosa? – indaguei.
“Hã... Deixe-me ver como que eu explico... Antes da Lua, o poder da Cris estava sendo represado. Ela não conseguia acessá-lo com liberdade, e a Lua destruiu essa represa. Por isso que ela continua tão poderosa. Porque este é o real poder dela.” – senti o queixo cair – “Mas de nada lhe adianta este poder se ela não tiver conhecimento para usá-lo. E é aí que você entra “Gelinho”.” – outra vez aquele apelido dos infernos...
– Por isso que você ficava insistindo para que eu a ensinasse?! – perguntei me erguendo e indo até a janela.
“Também!” – encarei-a irritado por me sentir usado – “Você era o único em condições de fazer isso de forma que ela realmente aprendesse. Ao menos de forma tão rápida!” – _revira os olhos_ (acaso aquilo que você me disse sobre nossas vidas estarem conectadas foi só uma desculpa para que eu não me afastasse dela?) – “Não.” – voltei a encará-la – “De fato existe uma conexão entre vocês dois. E nenhum de vocês a percebeu ainda!” – falava ela inconformada. Fiquei um pouco surpreso.
– E agora? Como é que tudo fica? – questionei e ela começou a sorrir traquina novamente.
“Você bem que podia ensiná-la a lidar com os elementos de seu poder. Você sabe! A agua, a terra e a luz.” – (o meu elemento é o gelo!) – “Gelo, agua, dá no mesmo. Senão você não conseguia usar alguns dos truques do grimório dela.” – nisso não tinha como negar... – “Absol já vem trabalhando a parte terra dela. Você pode muito bem ensiná-la a enxergar o ambiente ao redor dela. E quanto a luz... Hum... Acho que vou bater um papinho com minha irmãzinha sobre isso...”
– Este quarto não é lá o melhor lugar para esse tipo de coisa... – falei sorrindo de canto e indo pro banheiro.
“E quem disse que vocês o farão aqui dentro?” – interrompi meu caminho – “Absol os levará para lugares seguros e apropriados. E sei muito bem que você consegue garantir a segurança de vocês dois!” – e outra vez ela estava certa...
Graças à noite anterior, eu já estava 100% finalmente! Mas... se eu decidisse enfrentar a Cris, com ela tendo todo o conhecimento de que precisa, seria o mesmo que enfrentar a mim mesmo e ao antigo Leiftan juntos! Se aquele cretino conseguir colocar as mãos em metade do poder que ela tem agora, nem mesmo eu seria capaz de detê-lo. Portanto, assegurar-me que ele não conseguirá encostar nela é o mesmo que salvar a minha própria pele dele.
– Quando que iremos começar?Cris
– Para Absol... Só mais um pouquinho... – Absol me acordava mais uma vez (acho que a mordomia acabou) – Tá, tudo bem! Eu acordo! – resolvi me render.
Olhei para o lado e Lance não estava lá. Olhei para a poltrona e o encontrei (ele odeia aquela poltrona como cama, então o que é que está acontecendo com ele?). Fui pro banheiro com Absol me trazendo o que vestir logo atrás (pelas roupas e animação dele, hoje volto à forma). Desci para ir atrás do café.
– Bom dia Karuto, como foi a sua noite? – cumprimentava-o ao vê-lo na cozinha.
– Oh minha Rainha! Minha noite foi ótima! Vai treinar hoje? – ele já me arrumava minha comida.
– Aparentemente sim. Acho que Absol quer me fazer recuperar todo o tempo em que estive de repouso... E ainda tenho que terminar umas coisinhas no meu quarto.
– Hehehehe, espero que ele não abuse de você.
– Somos dois então. – nós dois rimos.
– Escuta Rainha...
– Sim?
– Bem... Eu estou meio que planejando uma surpresa para uma pessoa especial e... – acho que ele está falando da Twylda – Será que, você poderia me dar uma mãozinha? Já pedi ajuda a outros, mas ninguém tem condições de fazê-lo. Você é minha última alternativa. Na verdade, eu devia ter lhe procurado em primeiro lugar, mas com tudo que te acontecia...
– Já entendi Karuto, ajudo com o maior prazer. Quando que será essa surpresa?
– Amanhã. – ele me entregava minha comida em forma de marmita – Esteja aqui às seis da tarde para que ela não desconfie de nada.
– Pode deixar Karuto. Amanhã, seis horas, estarei aqui sem falta. – ele sorriu largo – Bom, vou indo agora. – pegava a comida – Tenho que terminar com o meu quarto pra poder começar a treinar logo. Até mais tarde Karuto!
– Até Rainha.
Voltei pro quarto e Lance ainda dormia (o que será que deu nele...). Arrumei a comida e o que mais tinha de fazer no quarto. Comi minha parte e saí deixando Lance dormindo ainda (vou ter que ter uma conversa com ele).Anya
– E então? Acha que já consegue lidar com tudo hoje Estrelinha?
– Acho que sim pai. – ontem, depois de enxergar tudo e todos brilhando ao ponto de querer me dar dor de cabeça, meu pai me ensinou a lidar com minha sinestesia já evoluída – Vou ver a Cris ou a Ewelein, quem eu achar primeiro.
– Leve isso com você. – ele me entregava um par de óculos de lentes meio escuras – Sempre que começar a sentir dor de cabeça use-os. E assim faça até estar acostumada à sua sinestesia, entendeu?
– Pode deixar pai. – dependurava os óculos na blusa.
– Ótimo. Pode ir agora, logo irei para o QG também.
– Ok.
Despedi-me dos meus pais e segui para o QG. Mal entrei no Salão das Portas e encontrei a Cris deixando o Corredor das Guardas.
– Cris! – corri até ela.
– Oi Anya! Sua sinestesia está melhor? – Absol meio que nos separava para que continuássemos o caminho que ele queria.
– Um pouco. Meu pai me ajudou muito ontem, mas ainda quero falar com a Ewelein quando a encontrar. Mas e você? Como foi o seu dia ontem?
– Ah, Anya...
Ela começou a me contar tudo e caramba! Estávamos tão concentrados, meu pai e eu, em minha sinestesia recém-adquirida que nem percebemos que nossas prisões já se encontravam vazias. E a Cris nem se deu conta do que fez? Sem falar sobre a Erika e Valkyon. Quando a questionei sobre a passagem da Púrpura, ela ficou vermelha, e não quis me contar tudo porque “ainda sou nova demais” (o que foi que aconteceu?).
Ela também me contou sobre seus avanços nas aulas do Gelinho e sobre ele estar dormindo na poltrona às vezes, e concordo, tem dedo de meeper nessa historia. Me falou que aceitou ajudar Karuto com um favor especial amanhã (boa Karuto! Meu sátiro favorito, a Cris nem desconfiou!) e quando chegamos na cerejeira, um grupo de mascotes já nos aguardava. Deixei-a com seu treino e fui atrás da Ewelein.
– Bom dia Ewe! – cumprimentei ao vê-la na enfermaria.
– Bom dia Anya. E esses óculos?
– Ah, isso? – ajeitei o acessório que pus nos rosto à caminho daqui – Meu pai me mandou usar sempre que eu começar a ter dores de cabeça. Ao menos até o meu corpo se acostumar.
– É uma boa ideia considerando que seu dom se manifestou de uma vez e não gradualmente como foi comigo. – reparei que a enfermaria estava lotada.
– É sério mesmo o que a Cris me contou? Realmente todos os contaminados que tínhamos foram limpos de uma só vez anteontem?
– Difícil acreditar... – ela revirava os olhos – Mas sim, é verdade. A enfermaria e o porão estão lotados e metade deles só poderá ser liberada no fim da tarde. Como você enxergou a aura da Cris?
– Brilhante! De todos que eu já encontrei até agora, a Cris é quem possui a aura mais forte e iluminada.
– Voronwe lhe explicou o que a intensidade e brilho de uma aura significam? – Ewelein me perguntava ao mesmo tempo em que me averiguava a visão.
– Sim. Ele disse que o brilho denuncia as emoções do indivíduo, quanto mais forte o sentimento, mais brilhante, e a intensidade revela o poder dentro dele, quanto mais intensa é a aura, mais poderosa é a dona dela. Ele também me explicou que é possível identificar os sentimentos de alguém observando a tonalidade que sua aura apresenta.
– Verdade. Mas às vezes é melhor deixar que as pessoas percebam e falem de seus sentimentos por si mesmos ao invés de lhes contar o que estão sentindo. No caso daqueles que sofrem, isso lhes alivia o coração, e no caso daqueles que não compreendem, evita a negação.
– Você já viu muitos casos assim, não é.
– Ooooh... – _risos_.
Ewelein e eu conversamos mais um pouco, ela me deu um livro que me ajudaria a compreender melhor minha sinestesia e depois fui para o meu próprio treino até dar a hora do almoço (vou ver se faço o Chefinho me contar o que a Cris não quis falar _sorriso traquina_).Cris 2
Absol hoje não tava de brincadeiras... me pões pra treinar com uns cinco mascotes diferentes e, assim que Caméria, Shiro, Réalta e Voronwe chegaram, eles foram inclusos ao treino de hoje. Shiro e Réalta são rápidos enquanto Caméria e Voronwe são pesos pesados. Junte-os com dois mascotes voadores (sendo um maluco), um felino e dois caninos e me diz o que isso tudo resultou. Fiquei um caco.
Voronwe chegou a me questionar em uma das pausas o que foi que eu tinha feito para adquirir tanto poder (???), com Valk chegando em seguida e explicando à ele todas as consequências deixadas pela Lua Púrpura. “Minha Estrelinha não foi a única despertada pela Lua...” Senti um calafrio quando ele comentou isso. Assim que o treino acabou, eu dei no pé pra pegar minha comida e fugir pro meu quarto.
Lá dentro outra vez, Lance parecia estudar algo que rabiscava em algumas folhas sobre a mesa e Absol foi direto para a cama dele. Me pus a separar a comida.
– Como foi o treino. Eu não te vi sair. – falou ele sem desgrudar dos próprios papéis.
– Absol pareceu querer que eu recuperasse o tempo perdido. E você me teria visto sair se tivesse dormido na cama ao invés da poltrona. O que está me escondendo? Sei que detesta aquela cadeira.
– Acho que já é hora de treinarmos seus poderes faerys. – !! – Podemos começar com a agua já que é semelhante ao gelo e me será mais fácil de ensiná-la...
– Não muda de assunto! – interrompi-o – Me diga o que é que você está me tramando! – pela primeira vez desde que entrei, ele tirou os olhos do papel e me sorriu aquele sorriso detestável e cheio de malícia que me fez tremer. Acabei me recordando de como ele se comportou durante a Lua Púrpura – N-não me diga que, _engole seco_ tem a ver como você agiu na noite retrasada...
– Quem sabe um dia eu tenha a coragem de lhe dizer. – (acho que acabei de virar uma pimenta malagueta) – Agora, ficando sério. Parece que a Lua acabou acordando seu poder ou algo assim, pois sua maana além de estar muito mais forte, sinto que não seria capaz de enfrentá-la se tivesse total consciência do que é capaz. – disse ele voltando aos seus papéis – Estou montando possíveis esquemas para poder compreender suas capacidades e ver o quê e como posso te ensinar.
– Porque quer tanto que eu aprenda essas coisas? Do que você está com medo exatamente? – perguntei já comendo.
– Ainda não se lembrou de tudo sobre aquele ritual, não é mesmo? – perguntou ele largando os papéis de lado e começando a comer sem nem mesmo me olhar.
– E o que uma coisa tem a ver com a outra? – perguntei receosa.
– Quando lembrar, saberá. – foi tudo o que ele respondeu. Ficamos em silêncio no restante da refeição.
Terminando de comer, precisei ir no banheiro e quando saí de lá, Lance arrumava uma bolsa e vestia sua armadura – O que pensa que está fazendo?!?
– Seu quarto não é um bom lugar para treinos. – respondeu ele com um sorriso de lado.
– C-como??? – começava a andar para trás. Absol me empurrou na direção dele e no que Lance me abraçou (totalmente contra a minha vontade apesar do choque!), Absol nos mergulhava em sua umbracinese. Ainda assustada fechei os meus olhos e aquilo pareceu durar uma eternidade.
Ao chegarmos em seja lá onde que Absol nos transportou, estávamos em um lugar muito bonito. Era uma clareira de aparência encantada. Diferentes árvores formavam um belo cenário, sendo dois salgueiros que cresceram emaranhados o que mais me chamou a atenção. Também havia um riacho límpido e, pequenas flores e vaga-lumes meio que decoravam o lugar. E mesmo sendo inverno, não tinha neve alguma naquela área. Uma brisa suave com um sol caloroso parecia convidar-nos para apreciar o lugar.
– É lindo!... – deixei escapar.
– Um tanto primoroso para o meu gosto. – declarou o Lance pousando a bolsa que segurava em um galho de arvore onde, sobre as raízes, Absol descansava – Mas se Absol considera este lugar seguro o suficiente até para dormir despreocupado, não vou reclamar. Vem! – chamou ele se dirigindo ao riacho – Vamos ver do que você é capaz de fazer com a agua.
– Não tenho escolha não?
– Se tivesse, acha que estaria aqui? – falava ele com um sorriso de lado.
(Ô minha Mãe...) Sem muita escolha, tirei meus sapatos e fui pra agua. E até que aquele treino foi bem interessante! Era como “brincar” com a agua, só havia uma coisa ou outra que ele me pedia e que eu não conseguia direito e, em um desses momentos, acabei o encharcando sem querer. Não pude conter o riso e isso me custou caro – Lance, não! Espera! Foi sem querer! – por conta da minha falha tentativa de não rir ele me encarava com um sorriso que me causou arrepios até nas pontas dos cabelos – Foi mal, desculpa aí. – me afastava com cuidado.
– Pelo seu riso, isso foi de propósito, então...
– Não!! – tentei correr, mas ele foi mais rápido e me ergueu para depois me jogar com tudo dentro d'água. – Droga Lance, eu disse que foi sem querer! – ele gargalhava.
– Pelo menos agora estamos quites. – respondeu ele diminuindo a risada e eu me emburrando – Anda, levanta, pois não podemos ficar a tarde inteira aqui. – ele me oferecia uma mão para me ajudar a sair, mas ao invés disso... usei do que aprendi com meus colegas de guarda e o puxei para dentro da agua gelada, onde ele caiu como eu – Ora sua!...
– Agora sim foi de propósito. – falei sorrindo vitoriosa.
Brincadeiras à parte retomamos o treino. O mais difícil daquilo tudo foi deixar nós dois secos outra vez. O crepúsculo se anunciava quando paramos para descansar um pouco e ele decidiu que estava mais que na hora de voltarmos. Antes de nos levantarmos, um mascote branco que parecia ser a mistura de um cavalo com uma corsa e de crinas e caudas róseas parecendo de éter e com corações nelas, segurando o que parecia ser uma flor na boca, acompanhado de um jovem dalafa noturno, que parecia ter ferido uma das patas, se aproximaram de onde estávamos.
Acariciei o dalafa que ficou bem pertinho de mim enquanto o outro mascote nos observava. Uma imensa vontade de querer ajudar o coitado me surgiu, e antes que me desse conta, uma “mecha” de agua envolveu o meu braço começando a brilhar e depois seguiu para a perna ferida que segurava da criatura noturna, sumindo como se o corpo dele tivesse a absorvido. Soltei o pequeno, ele testou a própria pata dando alguns passos e pequenos pulos, para depois voltar correndo para junto do outro mascote que me pareceu feliz assim como o jovem.
– Poder de Cura. – Lance se agachava ao meu lado – Você fez isso consciente ou inconscientemente?
– Segunda opção. Eu só tive vontade de poder ajudá-lo, não esperava curá-lo.
– Será bom se você treinar esse dom. Ele faz parte da lista de talentos dos dragões.
– Você e o Valkyon também podem curar os outros? – me virei para ele.
– Aos outros e a nós mesmos e... – o mascote branco o interrompeu. Ele o encarava por uns instantes e depois depositou a flor que tinha na boca nas mãos dele (o que Lance pareceu não gostar nem um pouco) e esfregou de leve o focinho em meu rosto, partindo com o dalafa em seguida.
– Se não gostou do presente eu posso ficar com ele no seu lugar. Afinal, quem curou aqui fui eu. – falei percebendo a raiva que ele parecia ter daquela flor.
– O problema não é a flor e sim o que ela significa. – falou ele com cara de quem iria destruí-la.
– E o que ela significa? – perguntei sem tirar os olhos daquela flor.
– Bom ela... Ah quer saber? FIQUE COM ELA SE GOSTOU TANTO! – falou ele grosseiro já me entregando a flor, quase a jogando na minha cara – E VOCÊ BLACK-DOG? – agora ele se voltava para Absol que se alongava abanando a cauda – JÁ NÃO PASSOU DA HORA DE NOS LEVAR PRA CASA NÃO? Aposto que aqueles idiotas devem estar que nem loucos atrás dessa aqui. – terminou ele me apontando com o polegar (tanto mau humor por causa de uma flor?).
Voltamos para o meu quarto. Lance foi tomar banho e eu peguei um frasco de Icaro (não há como negar que ele é um frasco bonito) que enchi com agua gelada para depositar a flor que deixei sobre a mesa. Enquanto esperava minha vez no banheiro, fiquei observando aquela planta. Ela parecia uma mistura entre lótus e lírio. Finas pétalas semi translúcidas parecendo serem de cristal com um dégradé que ia da base à ponta de cada pétala, do roxo escuro ao rosa bebê. Seu perfume era intenso e delicado, uma flor maravilhosa na minha opinião (o que será que ela significa, heim...).Valkyon
– E aí? Alguém a encontrou? – perguntava aos meus subordinados, recebendo um balançar negativo de cabeça como resposta deles.
– Ninguém viu nem ela e nem Absol depois do almoço. – respondia-me Caméria – Tem certeza que não sabe onde é o tal esconderijo que ela arranjou na cidade?
– Tenho. Ela se recusou a revelá-lo para ter certeza que ele continuaria sendo um refúgio contra a Guarda se precisasse. Nem o Chrome conseguiu achar aquele lugar usando o seu cheiro.
– A Cris é um tanto maluca, mas não é irresponsável. Ela vai aparecer. – comentou Actinio.
– Realmente, mas todos nós não esquecemos o que foi que aconteceu da última vez que ela sumiu. – ninguém quer que aquilo se repita.
– Não se preocupe chefe, – Caméria apoiava uma mão em meu ombro – Absol está com ela, e se nem a Miiko está perambulando preocupada por aí ou fazendo exigências, uma vez que só nós e Anya estamos cientes do “sumiço” dela, significa que ela está bem.
– Assim espero Caméria. – (só que esse não é todo o problema...) – Mesmo assim, procurem-na mais uma vez.
– Certo chefe. – me respondeu todos e nos dispersamos.
– Fique calmo meu amor... – minha amada me acompanhava – Sinto em meu coração que ela está bem...
– Confio em sua intuição Erika. – disse-lhe beijando os lábios em seguida (mas ainda não é o bastante para me sentir tranquilo...).
Eu estava na forja averiguando os novos equipamentos de treino, quando deixei de sentir tanto a presença da Cris (que me passou a ser bem mais nítida depois da Púrpura) quanto a de meu irmão. Fui até o quarto dela e não tive qualquer resposta de lá de dentro. Me encontrei com Erika e a Anya no corredor, e foi Erika que me disse que a Miiko não havia pressentido nada (o que costuma ser um bom sinal. A intuição da Miiko nunca falha). Anya comentou alguma coisa sobre ela poder estar treinando ou algo do tipo, mas quando disse que eu havia deixado de senti-la junto de meu irmão, ela saiu correndo dizendo que ia verificar uma coisa no quarto da Cris. Não sei como, mas Anya voltou trazendo consigo um bilhete dizendo: “Fomos treinar os poderes de agua. Mais tarde retornamos.” Só. A letra daquele bilhete me pareceu familiar, mas não conseguia me lembrar de onde, já que não parecia pertencer à Cris.
Decidimos procurá-la apenas por garantia, e se ela não aparecesse até o pôr do sol... avisaríamos a Miiko e o restante do QG. Pedi ajuda para alguns membros de minha Guarda, repassando o ocorrido, e eles aceitaram de bom grado. Estava prestes a falar com a Miiko quando voltei a sentir a presença dos dois. Juntos outra vez... (será que meu irmão a está seguindo? Pra quê?).
Erika e eu corremos até o quarto dela e ouvimos o barulho do chuveiro ligado. Me senti aliviado, porém, não despreocupado.
– Vá descendo amor, assim que ela acabar, a chamo para podermos conversar, tudo bem?
_suspiro_ – Tudo bem. Só espero que ela não se demore muito.
– Então torça para ela não estar lavando o cabelo! – comentou ela entre risos me fazendo sorrir.
Desci. Estava para entrar em meu quarto e também tomar um banho, quando acabei sendo parado pela Miiko.
– Valkyon, que historia é essa de você estar procurando pela Cris em Eel inteira? Pode me explicar? – exigia ela.
– Como soube?
– Ora meu amigo, – Ezarel estava com ela – ...fui questionado pelo menos umas seis vezes por alguns dos seus. Claro que tinha alguma coisa errada.
– Pois é, Ezarel me contou e outras pessoas me confirmaram o fato. Dá para se explicar?
– Estou vindo do quarto da Cris onde ela parece estar tomando banho. Erika ficou por lá para chamá-la para conversamos. Se quiser ouvir a conversa...
.。.:*♡ Cap.80 ♡*:.。.
Cris
Lance gastou menos de dez minutos no banho, já eu devo ter gasto ao menos o dobro do tempo (aquela agua do riacho estava um gelo!). Quando acabei, ele estava meditando próximo ao guarda-roupas. Resolvi não o incomodar entretanto, tenho certeza que ele está com fome agora, porque eu devoraria uma pizza de boa. Mal abri a porta e me deparo com Erika (tranquei a porta depressa).
– Oi Erika! Posso ajudá-la? Se bem que estou indo atrás de algo pra comer se não se importa.
– Sem problemas. Valkyon e eu queremos conversar com você um pouquinho, podemos fazê-lo enquanto você come!
– Ok? – ainda bem que eu estava com a bolsa que continha a vasilha (só espero que Absol tenha ouvido...).
Descemos até o salão, mas Miiko nos interceptou – Onde é que você estava, Lys de Eldarya?
– No meu quarto? – ela pareceu se irritar – Não é por nada não Miiko, mas estou com fome. Se nos der licença...
– Eu as acompanho com tooodo o prazer. – respondeu ela “sorrindo” (já vi tudo!).
Valkyon que deixava o quarto dele se juntou a nós três até o salão. Lá, a única mesa com lugares disponíveis para todos nós naquele momento era a mesa ocupada por Nevra e Ezarel (lei do retorno? É você?). Karuto me serviu alguns muffin’s e um pouco de suco (será que a Erika já chegou a falar sobre as pizzas com ele? Tô com uma vontade de comer uma...) enquanto os outros só pediram bebidas.
– Então Cris... – meu chefe puxava o assunto – Onde esteve durante à tarde? Não estava em seu quarto e nem em parte alguma de Eel.
– Não sei ti dizer... – todos pararam o que faziam para me encarar – Absol me levou de supetão não sei pra onde para treinar com a agua.
– Como era esse lugar?! Você estava sozinha?? – Miiko me questionava.
– Bom, o lugar era bem bonito, e tinha alguém com algum entendimento sobre a agua que me ajudou bastante.
– Quem. – Nevra pedia antes de Valkyon.
– O mesmo ser que foi meu par no Baile... – eles começaram a se encarar preocupados (também!).
– O que aconteceu neste treino? Pode nos descrever como era esse lugar? – me pediu a Erika.
Eu lhes contei tudo (sem citar nomes é claro) e eles ainda me pediram para fazer algumas pequenas demonstrações do que havia aprendido. Quase que eu molhava o Ezarel _riso_, que acabou ficando curioso sobre a flor que disse ter ganhado (e outra vez, sem mencionar que foi o Lance quem a recebeu primeiro), ele me exigiu deixá-lo identificar a planta como compensação pelo quase acidente! Valk também me explicou mais ou menos como fazia para usar o poder de cura dele para que eu pudesse compreender melhor o meu. Quando eu descrevi o lugar, Erika e Valkyon me pareceram nostálgicos.
– Conheço o lugar de que fala. – comentava a Erika abraçada ao noivo – Valk já me levou lá uma vez durante o Dia dos Amores.
– Dia dos Amores?
– É o equivalente ao Dia dos Namorados na Terra, só que aqui se festeja todos os tipos de amor: amor fraterno; amor carnal; amor platônico; amor próprio;... – explicava ela contando nos dedos – ...todas as formas de amar que você consiga imaginar ganha destaque nesse dia que costuma ser comemorado no sétimo dia de primavera.
– Hum... Já até sei que tipo de amor vocês comemoraram... – falei sorrindo e o casal sorria corado com os outros rindo de leve.
Consegui acalmá-los aparentemente sobre o meu “sumiço” e consegui guardar alguma comida para o Lance (e Absol nem apareceu). Prometi mostrar a flor para o Ezarel amanhã e, pode ser impressão minha, mas acho que Nevra e o meu chefe não ficaram totalmente satisfeitos com as minhas explicações.Nevra
Agora é demais. O quê que o lagarto de gelo está tramando ao querer ensinar a Cris à controlar o próprio poder?? E Absol, suposto guardião dela, ainda está de acordo com isso? Depois da Cris ter saído, de volta para o quarto, Miiko foi se deitar; Ezarel foi atrás de seus livros de flores raras e Erika foi ao banheiro, ficando apenas eu e o Valkyon na mesa por alguns momentos.
– Diz aí Valk... – aproveitei a chance que ficamos sozinhos – O que mais está te preocupando nessa historia? O que foi que você não nos contou?
– Essa pessoa que ajudou a Cris à treinar...
– O que tem ela? – (será que ele está desconfiando do irmão?).
– Tenho algumas suspeitas de quem possa ser, mas...
– Mas...? – (é, acho que ele suspeita do irmão).
– Algumas coisas não batem. Principalmente se ele realmente tiver sido o par da Cris no baile.
– Quando a questionei sobre o par dela, ela me contou que ele havia recebido ajuda de alguma vidente para conseguir participar da festa. – e se essa vidente for mesmo uma das “sementes”... – De qualquer forma, venho a observando sem ela perceber desde o dia do ataque. Já até sei quem vem afanando da comida dela e de Anya!
– Quem. – ele me olhava sério.
– Estou tentando obter provas físicas primeiro, ainda mais depois de descobrir que o responsável não é muito fã da Guarda. – ele assumiu o seu rosto vazio de sempre – E Absol parece estar confiando nele por hora então...
– Vai se abster por enquanto. – lhe assenti – Você sabe que se alguma coisa acontecer com ela, todos nós teremos problemas, não é?
– Você deve ser o mais interessado no bem estar dela, uma vez que ela é a única esperança que a Erika tem de permanecer viva até a velhice, se lhe for permitido. – ele apenas soltou um longo suspiro.
Como Erika voltou em seguida, mudamos de assunto. Ficamos jogando conversa fora até o Karuto começar a expulsar todos para fechar o salão. Era minha noite de ronda dentro do QG, então comecei com os andares de baixo. Dei um oi pro Almir que continuava se passando pelo Lance e ele parecia bastante refletivo desde o dia do ataque de Apókries. Bom, ter ele lá é quase como ter um espião na prisão.
Acho que já era umas duas da madrugada quando minha ronda me levou até o quarto da Cris (e gaiola do Gelinho). Me aprontei para poder vigiá-los e... Eles estão acordados?? A Cris estava sobre a cama abraçando Absol enquanto parecia chorar e Lance estava à mesa. Os dois evitavam de se olharem (mas o quê foi que esse &$@@$!%¨*%#$ aprontou!?!).Lance
A Negra até que me forneceu algumas sugestões sobre o que fazer para que minha carcereira tenha meios de defender-se com o apoio de seus próprios dons, e os colocaria em prática logo depois que acorda-se (de uma noite bem desagradável naquela poltrona... Porque é que eu sinto tanta culpa em me deitar ao lado dela após tentar aquilo?).
Quando acordei, já estava sozinho. Pude vê-la treinando na cerejeira, então resolvi por mãos à obra enquanto comia mesmo. Já estava bem dizer acabando os planos de treino dela quando ela chegou com o almoço. Ela ainda tentou me arrancar o motivo de eu estar me “penalizando” e, mesmo por meio de um mal entendido, consegui fazê-la desistir de descobrir a causa de meu comportamento.
No que ela foi ao banheiro, me preparei para sairmos, e se Absol não tivesse agido como agiu, não acho que a Cris aceitaria aquilo tudo de bom grado. O lugar ao qual Absol nos levou era um tanto... meloso na minha opinião, mas como íamos trabalhar com a agua e estávamos em pleno inverno... estava de bom tamanho. Ainda mais com ele se sentindo tão sossegado naquela clareira ao ponto de cochilar.
Durante o treinamento, ela demonstrou uma grande capacidade. Nas coisas mais simples, a Cris acertava de primeira; nas medianas, se ela se concentrava um pouco mais, conseguia também; já nas difíceis... ela até mesmo me deu um banho! O que não deixei barato pra ela por ficar rindo de mim (só não esperava que ela fosse me dar um novo banho por conta daquilo). Apesar dos pesares, me senti muito bem durante o treino. Me diverti do mesmo jeito que tinha me divertido ontem durante as aulas de Língua Original e não compreendia bem o porque. Isso até aquele etheralm e aquele dalafa noturno chegarem.
Não esperava que a Cris fosse evoluir tanto com apenas algumas horas de treino, ao ponto de já conseguir usar suas habilidades curativas. Quando aquele ser branco e rosa nos interrompeu e me entregou aquela flor, me recusei imperativamente de aceitar a razão de me sentir daquele jeito ao lado da Cris. Eu deveria a ter destruído ao invés de tê-la dado à Cris, como ela pedia (se ela descobrir o significado daquela flor... e ainda mais depois do que eu fiz!). Não, nem pensar. Acabei agindo da forma mais rude que podia para que ela não pudesse vir a desconfiar daquele sentimento que nem eu aceito ser verdade.
Não me demorei no banho depois que voltamos porque queria refletir melhor sobre mim mesmo. Minha barriga roncava quando ela finalmente voltou com comida e ela me repassou sobre tudo o que ela conversou com o meu irmão e os outros enquanto se preparava para dormir (ainda bem que deixei aquele pequeno recado para Anya).
Minha cabeça ainda borbulhava por conta daquela flor que a Cris fez questão de deixar bem à mostra sobre a mesa então, quando ela começou com as orações dela, acabei lhe abraçando a cintura por trás, escondendo o meu rosto em suas costas, deitado sobre a cama em que ela estava sentada, e dizendo que daquele jeito eu absorvia melhor a maana dela (da qual só queria o efeito tranquilizante que existia nela). O nervoso dela diante de meu pedido era claro (e acabei mordendo os lábios para não lhe ver o rosto provavelmente corado). Sem querer acabei lhe pedindo desculpas. Aproveitei a calma que ela repassava para tentar pensar melhor em tudo.
Quase cochilei naquela posição, em que fingi estar dormindo quando ela terminou de rezar e tentou se ajeitar para dormir sem ter que “acordar-me”. Ao perceber que ela havia caído em sono profundo, me afastei com cuidado para não despertá-la e dei uma olhada no quarto. Absol havia resolvido sair outra vez, deixando apenas nós dois. O que significava que eu poderia tentar aquilo mais uma vez (e se eu falhar outra vez... Desisto e nunca mais me atrevo a tentar tal coisa com ela novamente!).
Ajeitei-a mais ou menos sobre a cama para que não me houvesse dificuldades. Peguei a mais afiada das facas que ela tinha e me aproximei dela. Ainda encarei a faca em minhas mãos e o rosto sereno dela por alguns instantes e... mais uma vez... tentei fincar-lhe a lâmina no coração... Em vão.
Assim como nas outras tentativas, eu me esforçava... Jogava o peso do corpo sobre a faca... Forçava o avanço de minha mão até ficar vermelho! Mas não adiantava. Era como se algum encantamento especial tivesse sido lançado sobre ela. Um escudo poderoso que não aceitava sob hipótese alguma permitir que o menor arranhão surgisse na pele da Cris.
Fiquei ajoelhado do lado da cama (derrotado novamente), encarando a lâmina que tinha em mãos me perguntando como que aquilo era possível.
– O que você está fazendo? – petrifiquei ao ouvi-la fazendo aquela pergunta quase sem emoção alguma.Cris 2
Assim que pus a vasilha sobre a mesa, Lance se ergueu para vir comer (sabia que ele estava com fome). Contei-lhe o que Erika e Valkyon queriam comigo e me ajeitei pra dormir, pois estava beeem cansada. Sentei-me na cama para não acabar dormindo enquanto rezava de olhos fechados, e suei frio, quando o senti envolvendo minha cintura por trás.
– O que pensa que está fazendo?? – perguntei com o rosto queimando e virando para olhá-lo.
– Me deixe ficar assim um pouco... – pedia ele atravessado na cama, de rosto nas cobertas e com a cabeça em minhas costas – Notei que abraçá-la me permite absorver mais maana. Não tentarei nada indecente, eu juro!
– Tu-tudo bem... eu acho. Mas nada de gracinhas!! – exaltei à ele e voltei à rezar (Jesus! Como eu consigo permitir algo assim?) e pude ouvir um “me desculpe” abafado pelas cobertas _suspiro_.
Terminadas minhas orações, Lance tinha adormecido naquela posição (ou pelo menos parecia!). Livrei-me como podia dele para poder dormir mais sossegada e dormi assim que fechei meus olhos.
Essa seria uma daquelas noites de acorda e dorme... ou foi o que eu pensei quando abri os meus olhos. Eu podia esperar tudo! Menos aquela cena... Cheguei a engolir seco, e tenho certeza que ele não percebeu que estou acordada. Lance tentava forçar uma faca contra o meu peito...
Estava chocada demais para qualquer tipo de reação. Ele se esforçava e muito para terminar aquilo, mas a lâmina não encostava em mim. Controlei minha respiração que estava descompassada por conta do susto e, sem mover muito a cabeça, notei um leve brilho na ponta da faca que parecia ser o responsável por eu estar respirando ainda. Continuei observando aquela cena horrenda ao mesmo tempo em que me lembrava de tudo que havíamos convivido nesses últimos dias sem me mover por medo daquela luzinha falhar (bem que a Ykhar me avisou para não lhe confiar ainda...). Lágrimas quiseram se formar, mas não permiti que escorressem.
Quando ele se deu por vencido, caindo de joelhos ao lado da cama e encarando as próprias mãos que portavam a faca, só me permiti um respirar fundo antes de questioná-lo.
– O que você está fazendo? – falei da forma mais fria que consegui e ele parecia tão surpreso quanto eu ao abrir meus olhos no que pude vê-lo pelo canto do olho.
– Cr-Cris! Eu... – ele empurrava a faca para longe de minha vista – Eu... O que você viu?
– Vi você tentando me matar. – falei seca – Porque está nervoso com isso.
– Sei que não mereço. Mas me desculpe. – dizia ele de cabeça baixa.
_respira fundo_ – Vai se explicar ou não? – questionei ainda segurando as lágrimas. Ele deu um longo suspiro antes de começar e sem sair do lugar ou me encarar.
– Depois daquele ritual que eu estraguei, lhe salvando... Depois do que eu vi e ouvi quando ficamos brevemente ligados mentalmente... Não sabia o que fazer. Passei aquela noite em claro, pensando. E acabei por chegar à apenas três possíveis decisões.
– Que seriam? – ainda me mantinha deitada.
– Ou eu fugia de Eel, abandonando-a com a Guarda; ou me mantinha ao seu lado, garantindo que aquele canalha não lhe tocaria outra vez; ou... a matava.
– E de todas as escolhas você preferiu a mais estúpida hoje. – comentei me sentando à cabeceira.
– Dessas três, a única que não estava querendo aceitar era de continuar ao seu lado.
– Tentou ir embora? Quando? – perguntei surpresa.
– Em sua segunda noite na enfermaria. Fiquei com os braços feridos por forçar minha saída pela janela e não consegui te deixar sozinha nas mãos dessa Guarda incompetente. Por isso desisti de fugir.
Voltei às minhas lembranças daquela noite e, pensando bem, foi a partir daí que ele começou a agir de forma estranha... – Porque ficar ao meu lado lhe era ruim? – perguntei ainda refletindo sobre os comportamentos dele.
– Eu... Não me sinto eu mesmo perto de você. – ainda só o olhando de lado, vi seu rosto ficar corado.
– Explique. – Pedi e ele respirou fundo.
– Sei que você nem tenta, mas você me provoca, me enlouquece! – (!?) – É como se você fosse uma mandrágora: me acalma com sua maana e com suas palavras sábias, e me enlouquece com sua infantilidade, maluquices e provocações! – _boquiaberta_ – Me faz querê-la longe e perto ao mesmo tempo de mim.
(Ooook... isso... é estranho...) tentei me focar na situação atual – Aproveitando tudo isso, porque você estava dormindo na poltrona? O verdadeiro motivo. – o ouvi engolir seco.
– Foi porque... eu tentei... matá-la naquelas vezes também. – (O QUÊ!?!?!) – Pensei até em aproveitar a Púrpura para jogar a culpa no sanguessuga, mas, diante do que eu fiz durante a passagem... – ele passava a mão na cabeça – Não tive coragem.
Sentia meu coração doer (sei que ele já disse que se livraria de mim antes, mas...) – E o quê exatamente o levava a ficar longe de mim? Sabe que eu desconfiei. – já nem conseguia mais segurar as lágrimas direito.
– Culpa. – pela primeira vez o encarei – Eu realmente sabia que você ia estranhar se eu fizesse aquilo, mas não conseguia ficar tão perto de você depois de tentar matá-la. Não me sentia digno... – (ao menos, algum bom senso) nós dois respiramos fundo – Pegue. – ele me estendia a faca com a lâmina apontada para ele – Faça aquilo que considerar melhor.
– Do que está falando?!
– Diante do que fiz, e de tantas falhas ao ponto de ter sido descoberto, estou disposto a aceitar o que você decidir ser o correto. Só peço que seja lá qual for a sua decisão, não me mande para a prisão. Aceito qualquer coisa, menos voltar para lá.
Ainda receosa e meio que não querendo, peguei na empunhadura daquela faca (aquilo que eu considerar certo?) e passei a observá-la em minhas mãos (ele está querendo que eu me iguale a ele? é isso?). Respirei bem fundo (ele pode não ter conseguido me matar, mas ainda me feriu o coração. Conto com a Senhora, minha Mãe) e apoiei a faca sobre o lado em que ele dormiria – Você me magoou... – comecei a falar – Mas não sou como você. E também não o quero perto de mim, não à noite pelo menos. – o ouvi suspirar – Você disse que viu e ouviu coisas durante aquele ritual que o levou a essas decisões absurdas... – me recusava a encará-lo com as lágrimas me escorrendo – ...me dizendo também que preciso recordar-me do que aconteceu por mim mesma. Mesmo agindo pelas minhas costas, o que eu não devia me surpreender, você me ensinou bastante coisa que irá me ajudar mais pra frente então, ao menos nesse requisito, gostaria que você continuasse. Que me ensine como me proteger sozinha com o uso de meus próprios dons e sem mais tramoias.
– É realmente isso o que você deseja?
– Se tentar algo contra mim, ou qualquer outra coisa sem meu consentimento outra vez, você volta pra prisão que tanto odeia. É o bastante? – passei a observá-lo pelo espelho.
– Se sente-se mais tranquila com isso, tudo bem. Vou ensiná-la tudo o que puder, mas prefiro que Absol rasgue a minha garganta se eu vier a tentar novamente contra você do que voltar para aquelas correntes. – respondeu ele se erguendo e sentando-se à mesa.
Ainda observando pelo espelho, vi Absol entrar por uma das sombras no banheiro e ao chegar perto de Lance... Fincou com tudo suas garras em uma das pernas de Lance e ficou lhe rosnando enquanto se aproximava de mim – É melhor tratar desse ferimento. – falei sem desviar do espelho – Não quero cuidar de um dragão doente. – ele apenas me assentiu com a cabeça e começou a se tratar.
Absol subiu na cama e eu o abracei. Chorei e chorei por causa daquela dor que sentia na alma. Absol choramingava preocupado comigo. Mantive-me abraçada à ele até adormecer outra vez. Quando abri meus olhos outra vez, TUDO estava mais claro.
.。.:*♡ Cap.81 ♡*:.。.
Cris
"* – SOCORRO!! – eu gritava – ALGUÉM ME AJUDE!! – era aquele espaço escuro novamente, ouvindo claramente aquele punhado de vozes arrepiantes.
– Desista e se entregue de uma vez... – aquele miserável me pedia – Sofrerá menos se parar de resistir!
– NUNCA! O que você quer de mim demônio!? Me solte de uma vez! – aquele cara me irritava cada vez mais!
– Já que você vai morrer de qualquer forma, – (QUÊ??) – eu vou lhe explicar. Planejo tomar posse do poder do Cristal Negro que está em Apókries para assim dominar toda a Eldarya, mas meu poder não é o suficiente para sobrepujá-lo. Minha vidente de confiança me disse que se eu quisesse fazer isso teria que tomar para mim o poder de todos os dragões e aengels vivos em Eldarya. – (minha Mãe santíssima...).
– E onde que eu entro nisso!? – perguntei assustada.
– Minha cara... Roubar todo esse poder não é tarefa fácil... Só consegui bolar um plano depois de sua chegada. E caso tenha se esquecido, você é tanto dragão quanto aengel, ou seja, você está inclusa em minha lista.
Cada vez que eu resistia ao arrastar daquele desprezível, mais correntes surgiam sobre mim, aumentando o meu pavor. – E o quê que está planejando? SOCORRO!!
– Você é a mais poderosa dos cinco que almejo, mas pra minha sorte este poder todo está adormecido, o que me permitiu usar esse feitiço em você agora. Você nos deu bastante trabalho sabia?
– Está fazendo o quê comigo!?! – minha raiva apenas crescia (pelo amor de Deus, ALGUÉM ME AJUDA!!).
– Pretendo usá-la para roubar a alma de Miiko e assim enfraquecer as defesas de Eel, para assim poder usar este mesmo feitiço no traidor que se encontra preso e enfraquecido. – (como é que é??) – Eu já teria usado esse feitiço nele se os escudos de Eel não me atrapalhassem tanto. O farei ir atrás da alma de Erika, o que vai abalar a alma dos outros dois o suficiente para que eu possa refazer o feitiço pela terceira e última vez em um deles.
Aquilo só podia ser um pesadelo – Você é pior que um demônio!!
O miserável gargalhou como resposta, aumentando o meu desprezo por ele. E... Por um instante... Pensei ter visto Lance furioso naquela escuridão... *"
Acordei transpirando (mas isso explica muita coisa!), saltei da cama e fui até a mesa para transcrever tudo aquilo antes que eu me esquecesse de alguma coisa importante, assustando o Lance que dormia sobre a mesa.
– O que aconteceu!?
– Lembrei-me o que me faltava. – disse sem parar de escrever – Agora entendo porque você pensou na possibilidade de me matar, mas ainda estou magoada com você.
O ouvi respirar fundo e ir pro banheiro. Quando acabei de escrever, saí do quarto do jeito que estava e corri atrás da Miiko. Acabei me esbarrando com a Erika no corredor.
– Owowow, onde você pensa que vai vestida de camisola neste frio? – me segurava ela.
– Preciso falar com você, Valkyon, Leiftan e com a Miiko. URGENTE!
– Calma aí! Você está me assustando!
– Assustada você irá ficar depois de saber o quê que eu me lembrei essa noite. – disse com malícia e ela acabou por arregalar os olhos.
– Olha, deixe que eu chamo todo mundo e você, vai voltar pro quarto e vestir uma roupa quente antes que pegue uma gripe ou coisa pior. Depois de vestida você vai direto para a Sala do Cristal onde irei reunir todo mundo. Que tal assim?
– Erika, a coisa é mesmo séria... – choraminguei.
– Então vamos logo fazer o que eu sugeri! – disse Erika me empurrando em direção das escadas.
– Querem que eu dê uma mãozinha? – viramos para Anya que nos olhava com as mãos na cintura.Anya
Como a Cris diz às vezes: sinto que minha cabeça vai explodir! Além de não treinar por causa da minha sinestesia, não consegui fazer o Becola me contar o que aconteceu, mas pelas palavras que ele usou: “normalmente não me lembro de nada do que faço durante uma Lua Púrpura...” por alguma razão extraordinária, ele se lembra sim de tudo o que aconteceu, afinal... ele estava com a Cris! E a Cris não é o que classificamos como “normal”. E se isso estiver mesmo certo, porque é que ele escondeu isso? E ele viu o Lance! O que significa que ele sabe que o Gelinho e a Cris possuem algum tipo de relacionamento, então... Ou ele está tentando descobrir sobre isso sozinho, ou ele já sabia que aqueles dois estavam juntos de alguma forma. O que nos retorna à pergunta: porque ele está escondendo isso? E, o quê ele sabe exatamente??
Não sabia se alertava ou não a Cris e o Gelinho sobre isso, e como aqueles dois resolveram sumir (ainda bem que tinha uma cópia da chave do quarto ou nunca que iria encontrar o bilhete do Lance sobre a mesa), decidi estudar as auras com o livro que a Ewelein me emprestou, e santo Oráculo... Aquilo tudo é complexo demais! Cada cor, dependendo de sua tonalidade significava um sentimento diferente. Se as cores se combinassem, dependendo da combinação, o significado mudava. Também tinha as questões sobre cores escuras costumarem ser sentimentos ruins e cores claras sentimentos bons. A opacidade de cada cor também influenciava na compreensão dos sentimentos das pessoas. São tantos detalhes, que passarei meses conversando com meu pai e com a Ewelein para entender só metade de tudo isso!
Meu pai me pediu para que eu desse um passo de cada vez. Me aconselhou a escolher uma pessoa e observá-la por um tempo... Ele também me sugeriu a escolher a Cris para o meu estudo, pois com ela eu teria muitas emoções para estudar (dizem que os loucos tem sentimentos complexos, e sendo a Cris tão doida quanto eu, com certeza meu pai não se enganou sobre a variedade de emoções dela). Estava a caminho do salão para pegar o café dela e do Gelinho quando escutei a voz dela que vinha do corredor, discutindo com a Erika. Pelo pouco que ouvi, o assunto era sério e quando eu vi o jeito que a Cris estava vestida para correr atrás da Miiko... (de camisola de alças e que ia até os joelhos e totalmente descalça) definitivamente o assunto era MUITO sério.
– Querem que eu dê uma mãozinha? – perguntei e elas me encararam – Concordo com a Erika Cris, você parece congelar mais rápido que agua exposta ao tempo, de noite, e você me anda por aí assim?!
– Mas Anya...
– Nada de “mas” ou meio “mas” Cris, vá já pro seu quarto vestir alguma roupa! Anya, será que você pode me garantir que essa aqui faça isso enquanto eu junto o pessoal? E não a deixe sair do quarto sem ela estar devidamente aquecida!
– Pode deixar Erika. – falei já assumindo-lhe o lugar – Subindo dona Cris... Quanto mais rápido irmos, mais rápido você poderá descer.
– Tá certo! – reclamou ela (ainda bem que ela é transparente, fica mais fácil de compreender as cores dela!) _sorriso_.
Chegando lá em cima, ela já foi entrando direto para o armário (ela nem trancou a porta???) e Lance nos encarava com uma expressão vazia. Diferente de sua aura que, se eu tiver entendido bem parte de tudo aquilo que li, apesar de se mostrar indiferente, ele estava triste. Bem triste.
– Bom dia elfinha. Quem foi o responsável por dar a bronca que a fez voltar? – ele apontava o polegar para a Cris – Até largar a porta aberta ela largou.
– Bom dia... Foi a Erika que a mandou voltar e eu reforcei a bronca... – encarei a Cris e pude notar que as cores dela tinham mudado. Ela passou do que parecia ser “frustração” para “tristeza” e “raiva”? Aquilo era “mágoa”? – Aconteceu alguma coisa entre vocês?
– Em outra hora Anya. Em outra hora. – respondeu a Cris entrando no banheiro e Lance respirava fundo em seguida. Com aquele clima tenso, é realmente melhor deixar pra depois do problema de antes.
Rapidinho a Cris se vestiu corretamente para o tempo frio que fazia e descemos para a Sala do Cristal onde quase todos já nos aguardavam.Erika
Voltei a ter aquele sonho que tive no dia em que a Cris e a Miiko quase foram mortas por meio daquele “ritual de praga”, só que sem a aparição da Oráculo original (o que será que isso quer dizer...). Deixava o quarto enquanto Valkyon tomava banho para nos garantir uma mesa pro café caso o salão resolvesse encher hoje, pra acabar me deparando com uma pessoa praticamente pelada pelo clima em que estamos e desesperada.
Consegui fazer a Cris voltar para o quarto com a ajuda de Anya e fui atrás de reunir as pessoas que ela disse que tinha que conversar. Primeiro alertei o Valk já que esse eu já sabia com certeza onde estava e depois fui bater à porta dos outros. Leiftan ainda se arrumava então foi fácil avisá-lo, porém a Miiko já tinha saído... (se ela já não estiver na Sala do Cristal, está no salão comendo). Fui ver o Cristal e ela não estava lá, fui pro salão e a encontro junto do Jamon, Nevra e do Karuto. E como imaginei, comendo.
– Miiko! Estava te procurando! – me aproximei deles.
– O que foi Erika? Não vê que estou comendo? – disse ela já abocanhando um sanduíche.
– Acabei de obrigar a Cris a voltar para o quarto e vestir uma roupa quente já que ela estava só de camisola e te procurando que nem louca, dizendo que tinha algo sério para contar à você, ao Valkyon, ao Leiftan e a mim. É o bastante? – a Miiko quase engasgou com a comida!
– O que ela queria contar? Ela te adiantou? – Nevra perguntou enquanto Karuto socorria a Miiko.
– Só me disse que é algo que iria me apavorar, só isso. Combinamos de nos encontrarmos dentro da Sala do Cristal, Valkyon e Leiftan já estão avisados, só faltava achar você Miiko.
– Bem, cof, sendo assim é melhor irmos logo. – ela massageava a garganta – Nevra, como parece ser um caso grave, quero que corra e me chame o Ezarel e o Kero para participarem também, incluindo você!
– Pode deixar.
– Ah Karuto, com isso Valkyon e eu não poderemos comer aqui. Poderia nos preparar o café como marmitas? Incluindo o da Cris? E de preferência algo que seja capaz de acalmá-la. Um chá talvez?
– Sem problemas Erika, mas servirei algo bem melhor que chá para ela, já que ela detesta chás. Ontem fiz um doce que com certeza vai acalmá-la bastante. Só espero que o quê planejamos para hoje possa acontecer sem problemas.
– Muito bem Karuto, agradeço sua consideração. Nevra! O que está fazendo que ainda não foi cumprir minha ordem? Se manda! – bronqueava a Miiko e Nevra sumiu em um instante.
Esperei pelas marmitas e a Miiko terminou de comer, saindo às pressas para a Sala do Cristal com Jamon a seguindo. Fui para lá assim que Karuto me entregou as sacolas de estopa contendo a comida, dizendo qual era de quem. E chegando lá, Jamon segurava Anya no alto com ela emburrada de braços cruzados (ela me lembra a Karenn de alguns anos atrás _risinho_). A Cris andava de um lado ao outro em frente ao Cristal que agora tinha o dobro do tamanho dela. Nevra e Ezarel, os últimos a chegar, entraram em seguida.Cris 2
Ficar perto do Lance só recordava a minha mágoa, por isso pretendo evitá-lo ao máximo por hoje. Me troquei o mais rápido que conseguia e desci voando para a Sala do Cristal (dessa vez lembrando de trancar a porta). Estava impaciente, foi até bom Miiko ordenar ao Jamon para manter Anya fora da reunião. Erika trouxe marmitas para todos que não tinham comido ainda, com a minha contendo o meu costumeiro leite achocolatado com o que parecia ser um bolo de cenoura recheado com nutella (eu já falei que amo esse sátiro?) como acompanhamento, aquilo com certeza iria animar minha alma...
– Muito bem Cris,... – pedia-me a Miiko – ...já estamos todos aqui. O que é que você estava tão desesperada em mostrar a mim e aos seus semelhantes? – apenas entreguei o rolo de papel que não tinha soltado em momento algum para ela ler, e assim como esperava, ela ficou horrorizada – Mas isso é...
– Absurdo? Abominável? Inacreditável? Inescrupuloso? Qual termo acha que combina mais com isso aí? – a questionei.
– Consigo pensar em pelo menos 100 palavras que descrevem isso só no nosso idioma. – falou ela passando o papel para o Kero que o leu em voz alta tão perplexo quanto a Miiko. Os outros também não tiveram boas reações.
– Então... isso quer dizer... que o tempo todo, todos os dragões e aengels eram alvos? – questionou a Erika abraçando a si mesma.
– E ainda usando de um plano vil, sórtido e totalmente ridículo contra nós. – declarou Valkyon nervoso enquanto abraçava a Erika de forma protetora.
– Bom... Ao menos já sabemos por que o Lance a salvou, ele estava salvando a si mesmo ao resgatá-la. A única dúvida que sobra é como ele conseguiu descobrir isso a tempo. – comentou o Leiftan aparentemente chocado (e isso porque ele não sabe nem metade da historia).
– Temos que encontrá-lo assim que possível... Ainda não achou nenhuma pista Nevra? Ele ainda permanece em Eel, não é mesmo Valkyon? – perguntou a Miiko e os dois responderam com a cabeça. Positivo para o Valkyon e negativo para o Nevra.
– Ele conseguiu se esconder de nós por anos Miiko. O que são alguns meses para ele?
– Só que antes Ezarel, ele tinha aliados e usava uma máscara para fingir ser outra pessoa. Ninguém o viu desde a sua fuga, o que significa que deve ter alguém o escondendo enquanto recupera a própria força e, de alguma forma que não sabemos qual, está conseguindo mais informação do que nós. – respondeu a Miiko sem paciência para ele.
Eles continuaram discutindo aquele desastre de noticia e eu me sentei em um canto sombrio da sala para comer, Absol levou só um quarto do bolo para o quarto (É ruim que vou dar metade de um doce tão gostoso para alguém que me magoou daquele jeito!).
– Cris. – Miiko me chamava – Tem planos para hoje?
– Depois de descobrir finalmente o quê que esse cretino aí queria de mim? Tudo o que eu quero é descansar minha mente. E eu ainda prometi ao Karuto ajudá-lo com um favor hoje à noite.
– Muito bem, faça isso mesmo. Vá para os jardins, para a biblioteca, fique em seu quarto, o que achar melhor. – “ordenava-me” a Miiko.
– Mas evite o salão e a cozinha! – apontava a Erika – Karuto conseguiu um grupo de pessoas para lavar o salão de cima a baixo. Não acho que ficar coberta de agua de sabão suja seja uma boa maneira de relaxar. – realmente, não consigo discordar.
– Você também pode passar um tempinho no laboratório, esqueceu que me prometeu mostrar a tal flor, Caçadora? – quase que esquecia...
– Deixe-me apenas devolver as vasilhas do Karuto e já irei buscá-la, pode ser?
– Pode.Ezarel
– É chá!
– Como? – lá estava eu em meu amado laboratório me preparando para mais um dia de trabalho quando Nevra me invade o meu santuário.
– A outra bebida que a Cris não suporta. É chá.
– Além de você levar alguns séculos para descobrir a bebida que a desagrada, você me invade o laboratório só para me dizer isso??
– Olha aqui, não tenho culpa se nem Anya e nem Karuto quiseram colaborar comigo. – disse ele indignado (e eu sei bem o motivo _sorriso malicioso_) – Mas graças à Erika que sugeriu que fosse preparado um desses para que a Cris se acalmasse, eu consegui redescobrir.
– E porque que a Caçadora precisaria de calmantes logo cedo?!? – (isso vai dar leite...).
– Eu não sei, mas se a Cris nem se preocupou em se vestir para poder falar com Miiko, Valkyon, Leiftan e Erika, boa coisa que não é.
– E deixe-me adivinhar: Miiko aproveitou para também adicionar alguns membros da Reluzente a este grupo...
– Sim, e nós dois estamos no meio. – _suspiro profundo_ – Já chamei o Kero e só faltava você. Temos que nos reunir todos na Sala do Cristal.
– Tudo bem. Só espero que essa urgência aí não estrague a festa que planejamos hoje.
– Nem me lembre Ez... A última vez que comi comida de verdade foi na semana do baile!
– Quem foi que te mandou se deslumbrar com a Caçadora? – provoquei-o e ele acabou revirando o olho.
– Vamos logo, tá legal? Sabe como a Miiko é diante de uma possível crise.
Segui-o até a Sala do Cristal ainda sorrindo. Ao ver a Caçadora, já lá dentro, andando de um lado para o outro enquanto mordia uma das unhas, pude constatar o quanto que aquilo seria sério. Depois que a Erika finalmente terminou de distribuir o desjejum de alguns dos presentes é que pudemos finalmente saber a fonte de tanto nervosismo. Aquele plano ignóbil mexeu com todos nós, e o miserável queria tomar o poder do cristal da semente negra com isso tudo? Até eu me esconderia se estivesse no lugar do dragão fujão! A Cris foi até um canto da sala para comer a refeição dela sem nem ao menos se importar com o que discutíamos (e do jeito que ela saboreava aquele bolo... parecia que ela o fazia de propósito).
– Só me confirme Miiko, aquele ritual que Apókries usou contra vocês duas não pode mesmo ser reutilizado sem que ele termine por se entregar, certo? – perguntei.
– Shiiiiiii, Ezarel! Esqueceu-se da ordem da Branca? – respondia ela falando baixo com alguns verificando a Caçadora de forma discreta.
– Ela está no mundo dos panalulus com aquele bolo. – continuei – Mas voltando, aquilo é mesmo sério ou não?
– Eles precisariam do dobro de poder que usaram antes para conseguirem usar a mesma “ponte” naquele ritual e a camuflagem não iria funcionar também.
– Quando descobrirmos onde meu irmão está, teremos que mantê-lo escondido até recuperarmos o fragmento de Apókries pelo menos.
– Tem razão. Esse... cretino que ainda não descobrimos o nome, o tem como objetivo também, e se ele conseguir botar uma garra que seja na Caçadora outra vez... Mais alguém aqui notou o poder quase avassalador que ela começou a expor depois dessa Lua? – não acredito que alguns se surpreenderam com minha questão.
– Voronwe comentou algo assim ontem... – disse o Valkyon pensando em sei lá o que.
– E ela também passou a evitar todo mundo depois de ouvir isso. – comentou a Erika pensativa.
– Miiko, me diz que você não planeja cancelar a nossa “reunião” de hoje à noite. – meio que implorava o Nevra.
– Deixar a Cris sem uma merecida compensação depois de tudo que passou e uma informação dessas?!? É bom que ninguém se atreva a estragar essa “reunião” ou o responsável vai se ver comigo! – ameaçava ela.
– Ok. – Kero ajeitava os óculos – Já sabemos o que esse grupo de Apókries deseja e o porquê que Lance salvou a Cris. Mas ainda temos que descobrir quem e quantos são os espiões deles que estão dentro da Guarda.
– Kero está certo. Você já terminou de transformar aquelas flores em orbes de luz?
– Ontem à noite. – respondia para Miiko – E já ajudei a Ewelein a instalá-las na sala de resguarda. Só nos falta encontrar uma desculpa para expor todos de Eel àquelas luzes.
– Acho que Ewe e eu encontramos uma solução para isso... – dizia a Erika – Nós podemos dizer que apareceu um faery com uma doença possivelmente contagiosa, e que será necessário uma checagem corporal completa, pois essa doença deixa sinais em diferentes partes do corpo...
– E para garantir o risco de contaminação, essa checagem seria particular, não é isso?
– Exatamente Leiftan. Anotaríamos aqueles que possuem a tal marca oculta que a Ykhar falou e fingiríamos não notarmos nada por conta das cápsulas de veneno dentro deles.
– Com isso já saberíamos em quem temos que ficar de olho, mas porque não me disseram essa ideia antes Erika?
– Bom Miiko, nós duas achamos melhor priorizar a nossa “reunião”, sem falar que nem todos estão 100% ainda por causa da Lua. – Miiko respirava fundo.
– Vejamos... Amanhã é dia do Ritual de Maana então... Depois de amanhã, durante o almoço, vocês duas planejem algum tipo de encenação com alguém, séria o bastante para que ninguém procure desculpas para escapar dos “exames” quando eu ordenar para todos o fazerem.
– E também fingimos planejar tudo na hora. Correto?
– Exatamente Nevra. Vamos encerrar estes assuntos por hoje. Temos uma “reunião” para arrumarmos sem que alguém... – Miiko olhava de soslaio para a Caçadora – ...saiba e tudo precisa correr bem.
Todos nós concordamos. Miiko chamou a atenção da Caçadora (mas que facilidade a dessa mulher pra se distrair de tudo!) para poder mandá-la ficar longe do salão, com o auxílio da Erika, assim como havíamos combinado durante o planejamento da festa dela (que com certeza farei ficar bem interessante...). Lembrei-me da flor e a cobrei dela, e para ajudar a manter o disfarce, concordei com o pedido dela de ver o Karuto primeiro.
Eu a acompanhei até a cozinha, onde ela bateu um papo rápido com o Karuto, fazendo-a rir, e depois fomos ao seu quarto. E quando eu vi a flor dela... (Ela nasceu de mãos dadas com a sorte por acaso?! Não é possível!!!) Arrastei-a correndo até o laboratório levando a flor para que eu pudesse lhe mostrar o livro sobre ela. Atiku duweke, uma flor que às vezes é considerada apenas uma lenda de Eldarya, só não entendi o mal-estar dela depois das minhas explicações.Cris 3
Liberada daquela reunião. Aceitei que Ezarel me acompanhasse até eu mostrar a minha flor que ganhei ontem, já que Nevra arrastava Anya para saber a condição da sinestesia dela, ficando apenas eu com o Ezarel... Chegando no balcão, Karuto descascava algumas cebolas.
– Bom dia ao meu chef de cozinha favorito... – cumprimentei-o colocando as vasilhas na bancada.
– Minha Rainha! – ele interrompeu o que fazia – Me diz aí, meu bolo especial ajudou esse coraçãozinho a se animar?!
– Eu já te falei que te amo?! Aquele foi o melhor remédio que eu já tomei até hoje!! Muito obrigada Karuto.
– Hehehehe, não precisa agradecer. Só esse sorriso largo seu é o bastante pra mim.
– Puxa saco... – Ezarel acabou sussurrando.
– O que não posso dizer o mesmo sobre seu acompanhante. – declarou o Karuto fechando o cenho.
– Karuto! – tentei sumir com o mau humor – É verdade que o salão ficará fechado durante o dia?
– Oh sim, é sim Rainha. Finalmente a Miiko atendeu meu pedido de colocar um pessoal pra fazer uma verdadeira limpeza neste lugar. E dessa vez é pra valer! Já que geralmente os que são enviados só limpam por cima.
– O salão não me parece tão sujo assim... Ao menos não antes do término das refeições.
– Isso porque você não prestou atenção nas paredes e nos cantos do teto! Acho que a última vez que se lembraram do lustre foi no começo do ano passado! E é bom que tudo esteja terminado até as 17:30hs de hoje, ou eles vão se ver comigo! Hehe...
_riso_ – Estou até com pena dos responsáveis pela limpeza desse lugar, mas como que ficará o almoço?
– Ah... não precisa se preocupar Rainha. Quem tiver casa no refúgio, vai se virar; e quem mora no QG, como você, receberá uma marmita aonde estiver.
– Ótimo. Então manda a dela para o laboratório que é onde ela poderá estar hoje, vamos atrás daquela sua flor ou não Caçadora? – pedia um Ezarel impaciente.
– Vamos seu chato! Até as seis Karuto.
– Até minha Rainha. Estarei de esperando, hehe.
Deixamos a cozinha com Ezarel reclamando pra si mesmo por eu ser a “favorita” do Karuto. Diante de minha porta, parte de minha animação foi embora (eu ainda não quero ter que encarar o Lance...).
– Algum problema Caçadora? – perguntava-me o Ez.
– Não é nada demais... – falei forçando um sorriso.
Mal abri a porta e, quando o Ezarel viu a flor sobre a mesa, me pareceu entrar em choque – Isso só pode ser brincadeira!... – falou ele se aproximando dela – Eu não acredito que você possa ter uma! Vem comigo. – disse ele já pegando a flor com uma mão e meu braço esquerdo com o outro. Resisti um pouco.
– Ir pra onde?!
– Pro laboratório. O livro que fala sobre essa espécie aqui está lá. E eu ainda não consigo acreditar que seja ela! – disse ele conseguindo me arrastar (quase que não tranco a porta!).
Chegando ao laboratório, ele me deixou segurando a flor no pequeno sofá que havia ali e começou a folear alguns livros procurando pelo certo.
– Me diz Ezarel... – puxava o assunto por me sentir desconfortável – Que flor é essa que te deixou tão desconcertado?
– Se eu não estiver enganado, e eu nunca me engano, você tem uma Atiku duweke nas mãos. Achei! – ele colocava um grande livro sobre a bancada, me acenando para que me aproximasse – Aqui, veja. – olhava para a página e reconheci o desenho (já a escrita parecia ser a língua original) – Atiku duweke, – ele lia traduzidamente – ...uma flor de extrema raridade cujo significado é de alta relevância para parceiros amorosos.
– Como é?
– De acordo com esse livro, o nome dessa flor é a tradução de uma das línguas da Terra, e essa tradução é exatamente o significado dela.
– Que seria...
– “Meu coração te pertence”. – ... _em choque_ ... – Também diz que se você oferece essa flor para alguém, é porque carrega exatamente este sentimento dentro de si. – me apoiei em uma cadeira próxima (“O problema não é a flor e sim o que ela significa”) as coisas que Lance me disse antes voltava na minha mente – Essa flor é tão rara que alguns acreditam que ela não passa de lenda em Eldarya.
(“Ah quer saber? FIQUE COM ELA SE GOSTOU TANTO!”) – Mas, e se alguém a der por dar? – perguntava ao recordar a grosseria do Lance naquela hora – O que garante que a pessoa realmente carrega ou não tal sentimento? – Ezarel ainda não havia desgrudado do livro.
– A menos que tenham registrado informação errônea neste livro, é impossível de isso acontecer. – QUÊ!!! – Isso porque, por causa de algum fator que ainda não foi identificado por falta de amostras para estudo, essa flor incapacita as pessoas de a oferecerem sem o sentimento sincero dentro delas. – fui para o chão. Aquilo não podia ser verdade! As lembranças de Lance com a lâmina contra o meu peito voltavam – O quê que foi Caçadora? – (“Sei que você nem tenta, mas você me provoca, me enlouquece!”) Céus! Não pode ser possível! – Cris, responde mulher! – sentia Ezarel me sacudindo (“Me faz querê-la longe e perto ao mesmo tempo de mim.”) junto das lágrimas que me escorriam por conta dessas lembranças que na hora não tinha notado, mas elas bem podiam ser consideradas como uma declaração – Pelo amor ao Deus que você reza, beba isso Caçadora! – Ezarel colocava um frasco em minhas mãos e as guiava para que eu bebesse (“Dessas três, a única que não estava querendo aceitar era de continuar ao seu lado.”) como que alguém pode fazer aquilo tendo um sentimento desses? (“Foi porque... eu tentei... matá-la naquelas vezes também”) e mais de uma vez... – Vamos lá Caçadora... não me banque a difícil e bebe essa poção. – não conseguia parar de chorar e voltar a sentir toda aquela mágoa com ainda mais força, e sem entender bem o porque daquele sofrimento – Vira esse frasco mulher! – acabei engolindo finalmente o que ele tentava me empurrar goela abaixo. Era um líquido grosso de sabor doce, como danone de morango com mel e chocolate misturados – Isso... bebe tudo. – aos poucos aquela dor desaparecia, sentia acalmar-me e até consegui começar a sorrir – Ótimo, muito bem. Como se sente agora? – perguntou ele com gentileza.
– Muito melhor. Obrigada Ezarel. O quê foi que você me fez beber? – ele me ajudava a sentar na cadeira.
– Lembra que eu lhe disse que deixaria uma Poção da Felicidade sempre pronta pra você aqui? Eu não estava brincando! – explicou ele com seu jeito sarcástico. – Mas o que foi que aconteceu pra você despencar desse jeito? Você me assustou!
– Eu... – não podia dizer toda a verdade – Acabei me lembrando de coisas MUITO desagradáveis. – falei.
– Foi alguém da Guarda?
– Não.
– De Eel então.
_suspiro_ – Também não. E agradeceria se não insistisse no assunto.
– Tá, tudo bem. Mas posso recolher algumas amostras da sua flo...
– NÃO!! – acabei me exaltando (mas porque exagerei na reação??).
– Ooook... – ele consultava mais uma vez aquele livro, sorrindo de lado com o que lia – No entanto eu me contentaria com apenas uma ou duas pétalas, nada mais.
Passei a encarar, hora o livro, hora a flor, e hora o Ezarel – Duas pétalas no máximo,... – consentia à ele – Mas só se você me ler traduzidamente tudo o que está escrito neste livro sobre ela.
– Ficou curiosa com a Atiku duweke?... – sorria ele com aquela malícia.
– Você quer as pétalas ou não?
– Quero! – declarou ele puxando uma outra cadeira para me ler o conteúdo do livro.
Se não fosse por aquela poção que ele me deu, meu coração estaria em frangalhos agora. E mesmo tendo pedido para que Ezarel me lesse tudo aquilo, não conseguia prestar atenção direito, pois as lembranças de ontem continuavam me perturbando. Lance foi vil, traiçoeiro, mas não era para eu ficar tão triste assim por causa dele... Eu sabia que ele era um criminoso perigoso! A única razão de eu ter aceitado “cuidar” dele, foi a sua ameaça de sair matando todo mundo se eu me negasse. Só por isso. Será que convivi tempo demais com ele? Será que o seu comportamento para comigo acabou mexendo com o meu julgamento sobre ele, e por isso acabei assim? Tão magoada com ele? Mas também é possível que eu tenha chegado a acreditar que estava conseguindo fazê-lo mudar um pouco, virando uma grande decepção.
– Mas o que houve com ela? – Ewe entrava com Alajéa – O que foi que você fez com a Cris, Ezarel?
– Eu, nada. Apenas estou traduzindo pra ela o que este livro fala sobre a Atiku duweke.
– Atiku duweke? O que é isso? – questionava a Alajéa pousando uma cesta de ervas sobre uma mesa do outro lado do laboratório.
– A flor que ganhei ontem... – falei encarando minha flor – Em troca ele poderá ficar com apenas duas de suas pétalas para poder estudá-la.
– Eu pensei que essa flor era apenas um mito! – falou a Ewelein erguendo a flor para examiná-la de perto. Alajéa lhe fazia companhia – Se importa se eu também der uma olhada nesse livro Ezarel?
– À vontade. Seja lá o que for que fez a Caçadora se sentir mal ao ponto de eu ter que forçá-la a tomar uma Poção da Felicidade para não despencar, não é culpa minha.
– Como?? – as duas o encarava e Ewelein começou a me examinar.
– Eu não encontro nenhum sinal de possíveis doenças... Erika me contou à pouco o que aconteceu hoje cedo e vim vê-la, Cris. – tentava lhe prestar atenção apesar de querer é sumir do mundo por um tempo – Parece que você está ficando com acúmulo de estresse outra vez, como foi a sua noite ontem?
– Não quero lembrar. – falei lhe desviando o olhar e acho que meu tom acabou preocupando todo mundo.
– Bom, nesse caso, sugiro que você descanse um pouco... Gostaria de ajuda para ir pro seu quarto?
(Pro meu quarto!?) – Hum... Ezarel... – de jeito nenhum quero estar em “meu” quarto – Se importa se eu dormir um pouco por aqui?...
– Quer dormir no laboratório por quê?? – ele me questionava intrigado.
– Porque eu queria meio que sumir um pouquinho... eu até iria pro “meu” esconderijo, mas... – em meu estado atual, até o ar me faria lembrar dele lá dentro – Posso acabar perdendo a hora, e você já avisou ao Karuto que ele me encontraria aqui.
– Eu disse que você po-de-ria estar aqui na hora, mas tem razão. Se deseja “sumir”, é melhor que o faça em um lugar em possamos a achar. Ainda mais depois do susto que você me deu a pouco. – terminou ele de dizer se aproximando da flor com uma pinça e uma caixa de petri nas mãos – Mas vou querer uma terceira pétala por tomar conta de você.
– Eeeweee... – choramingava uma mãozinha à ela, fazendo cara de cachorrinho pidão.
Ela soltou um longo suspiro e tomou a pinça de Ezarel tirando ela mesma uma pétala, uma folha e um pouco de pólen da flor, colocando cada um em uma caixinha separada – Pronto. – ela devolvia a pinça ao chefe dela – Espero que isso seja mais que suficiente para que cuide da Cris e não queira dissecar a flor dela. – terminou ela, carregando minha flor para longe dele.
– Não se preocupe! – falava Ezarel feliz com as amostras – Não tinha pensado em variar as amostras já que o livro avisa que a incógnita pode estar no perfume, tenho muuuito o que trabalhar... – todas nós acabamos revirando os olhos para aquele elfo.
Alajéa me arranjou um cobertor e eu me ajeitei no sofá do laboratório enquanto a Ewelein prometeu cuidar de minha flor na enfermaria. Acabei adormecendo rápido. Mas acordei um pouco antes de ser chamada para comer.
.。.:*♡ Cap.82 ♡*:.。.
P.S.:
No capitulo a seguir, Ezarel meio que apronta uma usando uma bebida de alto teor alcoólico, mas eu quero deixar bem claro que não tenho nenhuma conciliação com este tipo de bebida.
Não bebo nem mesmo no social e, consequentemente, não tenho ideia de como poderia reagir diante de uma alta ingestão.
O que está por vir é totalmente fruto de minha imaginação, e POR-FA-VOR! Não imitem esse elfo idiota! E sejam responsáveis aqueles que já são maiores de idade.
Sigamos com a historia.
Anya
Aquilo foi sacanagem! Depois de entrarmos na Sala do Cristal a Miiko foi logo me mandando sair de lá, e como me recusava, Jamon me ergueu dependurada pela blusa com a mão dele e se manteve me segurando no alto e longe da entrada até o fim daquela reunião (se eu tivesse um espelho, aprenderia a cor da “raiva perante injustiça”). E olha que aquela reunião demorou! Sem falar que antes mesmo que eu pudesse me aproximar de minha amiga, o Becola me arrastou até o porão para testar a minha sinestesia e assim saber se eu já podia voltar para o (palavras da Karenn!) “Treino de Sombra” ou não (eu ainda morro nestes treinos...). O Chefinho achou melhor esperarmos o final de semana passar para recomeçarmos (O-BRI-GA-DA divindades!!!) e me avisou para procurar o Ezarel se eu quisesse encontrar a Cris.
– Como assim “procure pelo Ezarel...”?
– Ontem a Cris conseguiu obter uma flor que despertou o interesse dele, que ela prometeu lhe mostrar hoje. E você sabe como o Ezarel é quanto adquire interesse em algo.
– Já entendi. Ficarei de olho nela para que não acabe desconfiando de nada como combinado.
– Certo. Ela nos revelou uma verdadeira desgraça sobre o ataque que ela e Miiko sofreram, mantê-la distraída não é só uma necessidade nossa, é dela também.
Assenti em concordância, pois com certeza essa informação que ela revelou não é tudo que está a perturbando. Subi aquelas escadarias e encontrei-me com a Ewe deixando o laboratório com uma flor que nunca vi na vida nas mãos – Ewe! – chamei-a correndo até ela, e ela parou – Ewe, pode me dizer se a Cris ainda está no laboratório?
– Estar, ela está. Mas é melhor que ninguém a perturbe agora...
– Do quê está falando? – ela me explicou o ocorrido (e alguma coisa me diz que Lance está envolvido nisso...) – Essa na sua mão é a tal flor?
– Sim é sim. Prometi-lhe cuidar dela para que Ezarel não acabe a destruindo apenas para obter respostas.
– Ewe... – sussurrei – Você me guarda um segredo?
– Qual...?
– A Cris me confiou uma cópia da chave do quarto dela, posso guardar a flor lá... E quero ver Ezarel conseguir encostar nela! – contei-lhe com um sorriso no final.
– Anya, Anya... – ela me olhava como me fosse dar uma pequena bronca, alargando um sorriso após verificar o nosso redor – Leve-a depressa, e se a Cris me perguntar, só direi que você a levou não sei pra onde. – sussurrou ela me entregando a flor (acho que farei algumas perguntinhas ao Gelinho...).
Peguei a flor e corri para o quarto da Cris. Chegando, fui entrando e recolocando a flor na mesa. O Gelinho deixava o banheiro.
– Onde está a carcereira? E como ela está se sentindo?
– Se escondendo no laboratório, segundo a Ewelein... – (porque ele engoliu seco?) – E ela também disse que a Cris parece estar ficando estressada outra vez. – (agora ele suspira??) – Lance! O que foi que aconteceu entre vocês? Tenho certeza que o mal-estar dela tem a ver com você! Ou acha que dá pra ignorar aquele “clima” entre vocês hoje de manhã?
Ele suspirou mais uma vez e foi olhar pela janela – Digamos... que eu fui o maior dos néscios que ela já conheceu ontem.
– Você foi o que? – (que palavra é aquela?).
– Um idiota! – ele falou nervoso – E acabei com o pouco de confiança que ela tinha em mim...
– O que foi que você fez? – aquela mistura de cores que enxergava na aura dele estava me preocupando.
– Um pecado que não imaginei que faria eu me odiar tanto. – respondeu ele murmurando.
– Ok... – comecei a sair devagar – Estou indo tomar conta dela até a hora da festa...
– Festa?
– Uma festa de aniversário surpresa para compensá-la de tudo de ruim que ela suportou até agora, e também uma tentativa de fazê-la esquecer o pior aniversário da vida dela!...
– Se conseguirem fazê-la sorrir de coração, terão a animado com toda a certeza. – alegou ele com um meio sorriso.
Deixei-o trancado com seus pensamentos e fui até o laboratório, onde Ezarel estava mergulhado em sua bancada. Encontrei Alajéa acariciando os cabelos da Cris que estava adormecida sobre o sofá. Pedi à Alajéa que me deixasse ficar tomando conta da Cris no lugar dela e ela aceitou de bom grado (acho que ela já tinha outros problemas pra resolver). Ficar olhando a Cris dormir até a hora do almoço, se ela não acordar antes, ia ser chato. E como eu estava curiosa sobre a nova flor dela...
– Ôooo... Ezarel! – chamava-o – E-za-re-el!... – ele começou a se incomodar – Eeeeezaaaareeeel!?
– Fala o que quer de uma vez, pirralha chata! – _sorriso traquina_.
– Qual é o livro que fala sobre a flor da Cris? A que a Ewelein me disse que você está pesquisando? – perguntei toda doce.
– É esse sobre a mesa. – sorria ele maldoso enquanto apontava o livro – Mas está na Língua Original. Ou seja, não te adianta nada saber qual é. – afirmava ele, voltando para sua pesquisa – E se quiser que eu o leia para você... terá que me dar suas porções de mel por um mês! – terminou ele de dizer.
– Hum... Te dou todo o meu mel por uma semana se o ler para mim. – (vamos tentar negociar um pouquinho aqui, né?!).
– Cinco semanas, e olhe lá! – ele ainda se mantinha de olho em sua mesa.
– Duas semanas, se quiser! – (elfo guloso!).
– Meio mês? – ele finalmente me encarava, e com uma sobrancelha erguida.
– Fechado. – três semanas e meia está de bom tamanho – Pode lê-lo para mim agora? – ele soltava um longo suspiro, já pegando o livro.
– Preste bastante atenção! Só vou lê-lo pra você uma vez! – assenti e ele começou a fazê-lo.
Essa Atiku duweke é realmente uma flor interessante, mas não consegui encontrar onde que o Gelinho se metia naquela historia de forma tão negativa (acho que vou ter que bancar o verdheleon para obter minhas respostas...).Cris
Aquela soneca foi boa. Me sentia bem mais leve depois daquele cochilo e como estava bem quentinha daquele jeito, fiquei sem me mexer e comecei a refletir sobre tudo que descobri e vivi ontem e hoje. Tentar enxergar tudo de modo mais calculista para assim poupar um pouco o meu espírito. Como estava com o corpo de lado e com o rosto virado para as costas do sofá, não dava pra saber quem estava ou não no laboratório. Fiquei pensando que hora poderia ser aquela e sem muita demora ouço baterem na porta. Pude ouvir a voz de Anya que recebia nossos almoços.
– Já pode parar de bancar o beriflore, Caçadora. – ouvia-o me chamando – Sei que já tem um tempo que você está acordada.
– E como percebeu que eu havia acordado se me mantive quietinha? – virei para vê-lo, de olhar fixo em seu trabalho.
– Percebi quando você começou a ficar soltando suspiros, precisa de uma segunda dose de Poção da Felicidade por acaso?
– Agradeço a oferta, mas não. – disse me sentando – O que temos pra hoje Anya?
– As marmitas estão nomeadas. – falou Anya arrumando uma mesa para nós três – Levanta daí logo e vem comer. Você também Ezarel.
Nos juntamos à ela e começamos a consumir nossas refeições e claro, Ezarel tinha que ficar invejando o meu prato. Eu não tinha me esquecido de Lance ainda, mas depois do que ele me fez, não serei mais tão boazinha...
– Não quero mais...
– Qual o problema Caçadora? Karuto mandou comida demais para a Rainha Favorita dele?...
Ignorei o Ezarel com seu sarcasmo – Anya, pode cuidar disso para mim? – empurrava a marmita com quase um quarto da comida que tinha pro lado dela já que Absol não está aqui.
– Posso mas... porque deixou tão pouco? – perguntou ela encarando o que sobrou de minha marmita.
– Minha vontade era de comer tudo, porém não estou com apetite. _suspiro_
– Karuto não vai gostar de saber que você andou desperdiçando comida... – comentava o Ezarel raspando o próprio prato – Não quer que eu coma o resto pra você não? Ele sempre te serve o melhor.
– E quem disse que a gente desperdiça, hein? Seu idiota! – declarou Anya já saindo com as partes do Lance.
– Se for agir como criança, me avise para eu poder deixar o laboratório! – falei antes que Ezarel começasse a reclamar com Anya que deixava a porta aberta ao terminar de sair.
– Eu não ajo como criança. Sou líder da Absinto! – retrucava ele com orgulho.
– Líder presunçoso, orgulhoso, exibido, crianção, guloso, reclamão, e o que mais? – falei contanto nos dedos o que o fez ficar vermelho.
– Melhor eu voltar ao meu trabalho. – declarou ele com um sorriso maligno no rosto, já retornando à sua mesa.
– Nesse caso então, vou devolver essas vasilhas à cozinha. – disse começando a juntar as que Anya deixara para trás.
– Não vai não!
– E porque que eu não vou? – (qual é a dele?).
– Porque preciso de ajuda e você é a única disponível no momento! – (hein?!) – Largue isso aí e vem aqui.
– Porque eu deveria? – ainda não estou convencida...
– Porque várias pessoas apareceram aqui te procurando enquanto dormia, e pra todas elas eu falei que você já tinha ido embora daqui há muito tempo, hora de devolver o favor não?
Se aquilo era verdade ou não, só ia saber quando Anya voltasse. Resolvi então ajudá-lo como ele queria (mas se ele se atrever a me encher o saco... jogo o que tiver na mão na cabeça dele!). Não demorou muito e Anya tinha voltado e, mesmo sendo de uma Guarda diferente, ela aceitou ajudar Ezarel a preparar algumas poções que deviam ter sido produzidas pela Absinto, sem muito reclamar (mas o que há com esses elfos hoje?).
Continuei ajudando Ezarel, e ao notar que já ia dar quatro da tarde, deixei-os dizendo que ia tomar banho e que eu queria lavar meu cabelo. O que eu teria de fazer cedo se eu quisesse me encontrar com Karuto na hora combinada. Anya ainda me perguntou se ela podia passar em meu quarto mais tarde e eu lhe assenti. Deixei o laboratório com ela me agradecendo.
Notei um movimento curioso de entra e sai da despensa. Provavelmente do pessoal que estava trabalhando até agora no salão (Karuto deve estar esfolando este pessoal!). Eu até que daria uma espiada, mas meu quarto é meio longe e meu cabelo trabalhoso, então empurrei a curiosidade de lado e fui cuidar de mim.
Lance fazia seus exercícios quando entrei, parando imediatamente ao me ver.
– Não há porque parar só porque eu cheguei... – comentei sem encará-lo para pegar uma muda de roupa.
– Se importa de me dizer qual será todo o meu castigo? – seu tom parecia indiferente, mas ainda era possível notar uma tristeza ou arrependimento, não sei... (mas se ele acha que podemos voltar ao que era antes, está muito enganado).
– Bom, como já deve ter percebido, não vou mais te dar tanto da minha comida. – mantive-me fria – Também passará a ser o único responsável pela limpeza deste quarto pelos próximos cinco meses pelo menos.
– Cinco!?
– Tivesse pensado nas consequências ao tomar aquela decisão idiota! – um pouco de raiva me escapou da voz – Pois com certeza você se esqueceu totalmente de tudo o que fiz por você! Eu podia muito bem tratá-lo como escravo depois daquilo, sabia?...
Tudo que ouvi como resposta foi um suspiro. Apoiei a roupa sobre o banco que tinha no banheiro e entrei pro chuveiro para dar um jeito na minha querida gaforinha. Terminado com o chuveiro (onde provavelmente gastei uma hora mais ou menos), havia outra roupa no lugar da que eu tinha escolhido com Absol do lado dela, abanando a cauda – O que você está me aprontando dessa vez, hein Absol... – a animação dele não vacilava. Eu que antes tinha escolhido uma calça e duas blusas, mais um agasalho e um par de tênis; agora vestiria um macacão, um vestido e uma capa de peles (provavelmente sintéticas), um sapato plataforma com lacinho e mais alguns acessórios que consegui com as trocas do Purral ou que Absol me trouxe. Tudo nas cores negra ou roxa. Anya já tinha entrado (super arrumada) quando deixei o banheiro de toalha na cabeça – Que surpresa é essa que o Karuto pretende fazer para a Twylda?
– Cris!? – ela me olhava de cima a baixo, já Lance meditava em um canto do quarto – Sua roupa está incrível! O que planeja fazer com o cabelo? Eu posso arrumá-lo?! Posso, posso, posso?!
– E você sabe arrumar cabelos? – questionei já me sentando à frente da penteadeira.
– Uma amiga de minha mãe me ensinou algumas coisas... Posso cuidar do seu cabelo agora?!
– Você vai ficar me enchendo a paciência se eu disser “não”, não é? – ela assentia _suspiro_ – Só não me suma com meus cachos, tudo bem.
– Pode confiar em mim! – disse ela já pegando uma escova (ainda bem que já os desembaracei no banho!).
Anya fez como eu pedi, deixou meus cachos evidentes ao mesmo tempo em que encheu meu cabelo de tranças e me pôs o chapéu que fizemos com alquimia em uma de nossas aulas. Passei uma sombra e um brilho como maquiagem enquanto ela dava os “toques finais” e quase tomei um susto ao ver que já era vinte para as seis.
– Já terminou aí Anya? Olha a hora que é!
– Deixa só eu terminar mais essa trancinha e... Acabei! – comecei a me levantar – Cris... você está linda!! Não concorda Gelinho?
Lance, que agora estava lendo algo sobre a mesa, corou assim que me viu (a última vez que ele reagiu assim foi no dia do baile, não é mesmo?). Vê-lo me encarar daquele jeito começou a me incomodar, mas antes mesmo que eu ou Anya abríssemos a boca para reclamar, ele se levantou e tirou uma de minhas atames (é este mesmo o nome daquele tipo de faca?) do armário já a estendendo para mim.
– É melhor você carregar uma dessas... – dizia ele sem jeito (e Absol parecia concordar).
– E eu devia carregá-la por que...
– Anya está aqui, então, só direi que é por segurança. – terminou ele com um suspiro.
– Mas do que é que vocês estão falando?! Segurança contra o quê?! – um riso acabou me escapando.
– Vamos indo Anya... – falava ao mesmo tempo em que prendia a faca na coxa – Eu prometi ao Karuto estar no salão até as seis! E não depois disso...
– Tudo beeem, mas vocês podem parar com esse negócio de que não posso ficar ouvindo as coisas! Já tenho mais de quarenta, poxa!... – Anya saía à minha frente do quarto e eu tranquei a porta.
O QG costuma ser bem movimentado nesses horários, já que é quando começam a servir o jantar, mas... Onde é que está todo mundo??? – Anya... Está acontecendo alguma coisa? – aquele vazio me intrigava.
– Como assim?
– Como assim “como assim”? Os momentos em que mais há movimento neste lugar é nos horários de refeição, e cadê todo mundo?!
– Hum... É mesmo um pouco estranho... Mas não era você que estava com pressa de ver o Karuto?
– Sim, mas...
– Então vamos logo. Depois você questiona onde todo mundo foi parar.
Continuei seguindo Anya, mas definitivamente aquilo não estava certo. Chegamos na despensa e logo vi que o salão estava nas escuras, o que me assustou um pouco (meu Deus! Será que vou mesmo precisar da minha faca?). Anya ficou me empurrando para entrarmos e eu pude ouvir alguns murmurinhos e, no que a Anya disse “pronto”...
– SURPRESA!!!! – foi a declaração de quase todo o QG reunido naquele lugar que revelou um lindo ambiente festivo com tema cristalino assim que a luz se acendeu. E quando eu li uma faixa me dando os parabéns atrasado... Não pude me conter e comecei a chorar emocionada.
– Não acredito nisso... – falei sem saber se ria ou se continuava chorando com os vários desejos de parabéns que ouvia – Muito, muito, muito obrigada pessoal!... – e comecei a abraçar cada um que encontrava mais próximo de mim.
– SAI pra lá Caçadora! Não gosto de abraços! – Ezarel tentava me evitar.
– Quando eu disse que ia vir para cá, você requisitou minha ajuda apenas para que eu não descobrisse nada, estou certa?
– Claro! Parte do nosso plano era garantir que você não tivesse oportunidade de saber o que aprontávamos pelas suas costas de uma forma que você não desconfiasse!
– Nesse caso... – o abracei forte ignorando seus protestos – Você me deve um abraço tanto quanto todo mundo aqui! – falei já soltando aquele elfo vermelho _sorriso_ – Karuto!! – corri até ele ao vê-lo – Malandro. O senhor foi a garantia de que eu iria estar aqui na hora certa, não é mesmo?!
– Hehehe, eu disse que planejava uma surpresa para alguém especial...
– Só que eu pensei que essa pessoa fosse a Twylda! – falei a encarando ao lado do velho sátiro (e contendo o próprio riso).
– Hehe, não tenho culpa se você se confundiu com o meu Doce, Rainha... – eu revirava meus olhos sorrindo e voltei a cumprimentar todo mundo.
Cumprimentados todos, aqueles que me eram mais próximos começaram a fazer discursos homenageadores para mim, onde mais uma vez agradeci a todos, e depois começou a entrega de presentes. E eu ganhei muuuuitos presentes... De roupas à comida. E depois... HORA DE COMER!!!
Eu não sei a quem eu devia agradecer mais, além do bolo de chocolate com frutas (um de meus favoritos), coxinhas, kibes, mini pizzas(!), pasteizinhos, carolinnas, brigadeiros, cocadas... Eram tantas as guloseimas que eu achei que ia passar mal depois. E isso porque eu só provava um de cada!
– Mas que apetite hein! Nem parece a mesma Caçadora do almoço. – Ezarel e Nevra se juntavam a minha mesa que dividia com Leiftan, Karenn, Chrome, Erika e Valkyon.
– Nem vem Ezarel! A comida do Karuto é boa, mas eu já estava morrendo de saudades das guloseimas da Terra.
– É... Deu pra notar... – comentava a Karenn – Estou ficando cheia só de te ver comer! – _risos_.
– Tem alguma coisa que você não tenha provado ainda Caçadora? – Ezarel perguntava meio que observando alguma coisa.
– O único prato que não provei ainda são as carolinnas...
– Então eu vou ser bonzinho e trazer algumas pra você, MAS NADA DE ME ABRAÇAR OUTRA VEZ! – acabei rindo mais um pouco.
– Tá, tudo bem. Eu lhe agradeço. – falei ainda rindo.
No meio tempo em que Ezarel saiu, uma pessoa ou outra começou a se despedir e me reforçar os parabéns. Anya e seus pais foram alguns desses. Logo Ezarel resolveu aparecer me trazendo um prato cheio de carolinnas – Não sei qual sabor ia lhe agradar mais... – falava ele – ...então eu trouxe uma de cada. Quero ver você conseguir por isso tudo pra dentro!
– Pois você fez exatamente o que eu já planejava... – falei já começando a degustar aquelas pequenas delícias.
– Nossa! Ainda bem que Absol já voltou a te treinar e que seu quarto é o último! Ou do contrário você estaria rolando por aí, desse jeito...
– Inveja, Karenn?
– Não irmãozinho querido... Eu só estou preocupada!
– Esquenta não, Karenn. Se eu passar mal, foi porque não controlei a minha gula! E você tem razão, ainda bem que sou obrigada a fazer muuuuito exercício...
Todos riamos e continuávamos com as brincadeiras sem eu parar de comer. Quero dizer, sem parar até sentir como se a lava de um vulcão tivesse decidido invadir minha boca. Virei o primeiro copo cheio que encontrei goela abaixo. O que eu bebia desesperadamente não era agua, mas o gosto era parcialmente agradável, no entanto, minha mente apagou.Ezarel
– E aí, a Caçadora já foi? – perguntava pra pirralha que ficou a observando sair para o quarto.
– Acabou de entrar nos corredores... – respirei aliviado – E eu vou correr pra casa me arrumar, precisa de alguma coisa Ez-chato? Não deve ter sido muito fácil convencê-la a lhe ajudar...
– Na verdade foi bem fácil. – apesar de que eu já estava ficando sem ideias para continuar a mantendo no laboratório – Ela realmente não gosta de ficar devendo favores...
– Isso porque se ela ficasse de devendo alguma coisa, você iria até o inferno se necessário apenas para cobrá-la. – e o pior é que eu o faria mesmo _sorriso malicioso_ – Já que não precisa de nada, fui! E vê se não se atrasa! – corria ela pra fora do QG.
– Pode deixar pirralha, de modo algum planejo perder essa festa. – dizia para mim mesmo trancando o laboratório para visitar rapidinho meu esconderijo – Vamos ver o que a Caçadora vai achar dessa pequena guloseima... – me falava encarando as pequenas Carolinnas Reaper que havia conseguido para a minha pequena vingança, guardando-as em uma sacolinha que deixaria escondida em meu casaco junto de uma pequena garrafa de raelcreve, que iria me garantir conseguir fazer a Caçadora passar mais um tempinho no laboratório amanhã (e aproveito para saber o quê que a derrubou daquele jeito ao ponto de eu ter que dar uma poção à ela).
Deixei o laboratório em direção ao meu quarto para me arrumar e juntei-me ao pessoal no salão para esperarmos a Caçadora em seguida. Não imaginei que ela iria se emocionar tanto assim, a Caçadora é bem mais intensa nas emoções se comparada à Erika. E quando ela ignorou minhas objeções me abraçando (quase destruindo as carolinnas reaper) até eu sentir minha coluna estalar e meu rosto ferver? (Ah!... que com essa pegadinha você me paga por tudo...).
Fiquei aguardando pelo melhor momento para oferecer as carolinnas e a bebida pra Caçadora, mas do jeito que aquela mulher comia, comecei a temer! – Se ela continuar comendo assim, meu plano vai ir por agua abaixo... – murmurei para mim mesmo.
– Do que é que você está falando Ez? – perguntou o Nevra que estava do meu lado.
– Do que eu planejei para garantir a nossa “experiência”. – respondi.
– Vamos nos juntar à mesa dela, você pode acabar encontrando uma chance mais fácil assim.
– Boa ideia. – e nos juntamos à ela e aos que estavam junto dela.
Mal começamos a conversar e vi a Miiko deixando o salão por um momento. Aproveitei a deixa e me ofereci para buscar as carolinnas que a Caçadora disse não ter provado ainda (junto das que arranjei especialmente para ela). Coloquei apenas uma das especiais no prato para evitar desconfianças, assim só precisaria ficar de olho para lhe dar a bebida “em socorro”, e ainda pude ver Voronwe e família deixando o salão enquanto preparava o prato (com os dois sendo da mesma Guarda e a Caçadora melhor amiga de sua “estrelinha”, tê-lo longe é mais uma mãozinha de Tyhke para mim).
Dei o prato com os doces pra Caçadora e fiquei aguardando. Foi só ela pegar a especial, que me apressei em encher um copo com raelcreve e como esperado, a reação dela à carolinna reaper assustou à todos.
– Cris! O que houve!?! – Erika corria até ela enquanto a Caçadora virava o copo que lhe entreguei (será que exagerei?).
– Ezarel, o que foi que você aprontou?! – me questionava o Leiftan depois que a Caçadora petrificou com o copo ainda virado na boca.
– Parece que você foi longe demais dessa vez Ezarel! – declarava o Nevra repreensivo.
Ainda sem disser nada, a Caçadora bateu com o copo na mesa de modo tão forte que, se o copo não fosse esculpido em madeira, teria quebrado, chamando a atenção das outras mesas. Ela começou a nos encarar com olhos sonolentos como se não nos reconhecesse.
– Está tudo bem com você, Cris? – falava o Valkyon receoso. Ela ainda não dizia nada e isso acabou me preocupando.
– Consegue nos reconhecer Caçadora? Sabe quem você é pelo menos? – ela passou a me encarar.
– Diabinho? – disse ela ainda me encarando (como é?!?) – Outro diabinho. – ela encarava o Nevra – Um anjo... caído? – agora era o Leiftan e ela pendia a cabeça – Hum... não sei ainda. – esse era o Valkyon – Uma anjinha. – Erika – Agora uma diabinha. – Karenn – E... Um cachorrinho fofo! – terminou ela abraçando o Chrome que ficou vermelho (e Karenn insatisfeita).
– EU NÃO SOU CACHORRO! – gritou ele tentando se soltar da Caçadora e fazendo alguns dos que assistiam rir – Mas o que foi que você deu para ela!?!
– Não é cachorrinho? – perguntava a Caçadora com voz infantil.
– Não! Sou um lobo! – vociferava o encrenqueiro.
– Lobinho fofinho então. – falou a Cris abraçando-o como se ele fosse um brinquedo de pelúcia, o deixando ainda mais envergonhado.
– Não acredito! – Valkyon segurava o copo que havia dado à ela – Você deu raelcreve pra ela?!
– Espera. Essa não é aquela bebida que é quase 90% álcool?!? – questionava a Erika que estava tentando acalmar a Karenn.
– Então é isso. Ela está bêbada. – vociferava a Karenn que se levantou e cutucou o ombro da Cris.
– O que a diabinha quer. – a Caçadora a desdenhava.
– Meu lobo de volta!
– Seu lobo?
– Sim!!
– Lobinho é da diabinha? – perguntava ela ao Chrome que estava totalmente vermelho.
– Eh... Sou! Sou sim. – falava o encrenqueiro quase sem jeito.
– Ah, então... Não quero mais. – declarou a Caçadora o soltando e esquecendo-o como uma criança que enjoou do brinquedo, para alívio do casal.
A caçadora se ergueu aos tropeços do lugar e, como se ela fosse uma criancinha, começou a abraçar e fazer carinho em tudo que era faery com características animais e afastando qualquer um que tivesse orelhas pontudas como elfos e vampiros chamando-os de diabinhos, ameaçando de usar a faca que tinha às vezes. Causando desconcertos em alguns e ciúmes em outros (não vou negar, isso está engraçado! _rindo_).
– Mas alguém pode me explicar o que é que deu nela?! – Karuto nos questionava.
– A culpa é toda do Ezarel!! – me denunciava a Karenn que vigiava os passos da Cris.
– O que foi que você fez, seu elfo de uma figa!? – questionou-me o sátiro ao mesmo tempo em que ele ajudava uma neko a se soltar da Caçadora.
– Nada. Apenas lhe servi um prato de carolinnas e depois uma bebida. – respondi dando de ombros.
– Só que a bebida que você deu é super alcoólica. – me apontava o Leiftan de forma fria.
– Isso é uma Carolinna Reaper?!? – perguntava a Twylda ao verificar o doce pela metade que a Caçadora não conseguiu comer.
– O QUÊ!? – todos questionavam.
– Enlouqueceu por acaso!? – me vociferava o Nevra – Esqueceu que apenas os sgarkellogys conseguem comer essa coisa?!
– Elfo... Você está encrencado comigo... – me sorria assustadoramente o Karuto (droga, esqueci desse detalhe).
– Bodezinho? – perguntava ela ao sátiro.
– Ô Cris... o que esse idiota foi fazer com você... – comentava a Twylda se aproximando dela.
– Ovelhinha fofinha! – e a Caçadora atacava mais um... (está difícil de segurar minha risada).
– Muito bem Cris, já chega. Hora de você ir para cama. – declarou o Valkyon a separando gentilmente da brownie.
No que a Caçadora voltou a ver o seu chefe, ela começou a encarar algo atrás dele, arregalou os olhos para a sua sombra, e depois encarou o rosto do Valkyon. Repetindo a sequencia umas três vezes – Dragãozinho? – questionava a “criança”.
– Eh... Sim? – perguntou o Valk com receio e Erika começou a prestar atenção.
– Dragãozinho!! – e a vítima agora era o seu chefe que ficou totalmente sem graça (_gargalhando_) – Tão quentinho... – Erika ficou arreliada e Leiftan tentava segurar o riso diante do rosto vermelho do dragão – Mas... não é o meu dragãozinho... – terminou ela o soltando com tristeza (e para alívio de mais um casal _riso_) – Anjinha... – ela se aproximava de Erika – Você pode me dar meu dragão?
– É o quê!?! – (como??).
– Cris agindo estranho. – Jamon entrava no salão – O que haver com Cris?
– Ah! Um gigante feio!! – meio que gritava a Caçadora que se escondia atrás da Erika.
– Jamon não querer assustar Cris... – começou ele a chorar (cara, os olhos desse ogro são azuis! Como é que ele consegue dilatar as pupilas daquele jeito?!?).
– Não se magoe Jamon... Graças ao Ezarel, a Cris não está reconhecendo ninguém. – consolava-o o Leiftan.
– Gigante... não malvado? – perguntava a Caçadora ainda atrás de Erika.
– Jamon sempre bom. – choramingava o grandão.
– Então, Jamon não feio. – ela saía para se aproximar dele – Só diferente. – agora ela segurava-lhe as mãos de Jamon – Jamon perdoa Cris? – Jamon parou de chorar e a abraçou com cuidado.
– Cris, que confusão é ess...
– RAPOSINHA!! – interrompia ela a Miiko já a abraçando como fez com os outros (xiii!).
– SANTO ORÁCULO! Me solta Cris!! Mas o que é que está acontecendo com ela?!? – questionava ela sem conseguir se soltar da Caçadora.
– Ezarel a fez beber quase meio litro de raelcreve. – falava um dos membros da Obsidiana.
– E se utilizando de uma Carolinna Reaper para consegui-lo. – completou Twylda. As chamas da Miiko começaram a subir.
– EEE-ZAAA-REEEL... – (me ferrei...) – O que, você AAAHH!!
– Caudas fofinhas... – eu devia ter escolhido uma bebida mais fraca...
– Solte as minhas caudas!! Elas são o ponto mais sensível que eu tenho!!
– Mas são tão bonitinhas... – choramingava a Caçadora sem perder o tom infantil em nenhum momento.
– E são minhas!! Alguém a leve pra cama por amor a todos os deuses! – ordenava ela enquanto segurava as quatro caudas a frente do corpo.
– Eu não quero!! – pirraçava a Caçadora se sentando no chão, fazendo a Miiko puxar um pouco de suas chamas para ameaçá-la, mas acabou foi é chamando a atenção dela – Faz de novo! É tão bonito... – pedia ela com um sorriso.
– Só se você for pro seu quarto! – tirava proveito a nossa kitsune.
– Se você fizer primeiro e depois me acompanhar, eu vou. – insistia ela sem perder o foco das chamas.
– _suspiro_ Tudo bem. – começa a Miiko a brincar com as próprias chamas animando a mini Caçadora – Mas nem pense que me esqueci de você, Ezarel... – (eu estou mesmo encrencado...).
.。.:*♡ Cap.83 ♡*:.。.
ATENÇÃO!
O capítulo a seguir possui cenas de faixa etária elevada, porém, dentro do sentido da inocência.
Cuidado ao lerem!
Agradecida.
Lance
Sinceramente, não sei mais o que pensar. Não esperava que ela realmente viesse a acordar durante aquela tentativa, e a forma com que ela falava comigo me doía muito mais que aquele ferimento que Absol me fez. E ouvi-la chorando me fez me sentir um lixo. Apenas caí no sono depois de não ouvi-la chorando mais e nisso acabei sonhando com minhas mães (Alanis e Tia), que me encaravam claramente desapontadas, e sumiam em seguida. Acordei no susto com a Cris escrevendo algo desesperada. Não pude fazer mais que suspirar diante da mágoa que lhe causei, e isso porque ela nem sabe sobre a flor que entreguei à ela! (Atiku duweke...)
Ela deixou o quarto com tanta pressa que largou a porta escancarada. Eu podia ter aproveitado e ido embora, mas não sou do tipo que quebra promessas à toa, sem falar que se eu a deixar desprotegida, eu é que vou me ferrar!
Anya que a trouxe de volta depois de minha futura cunhada barrar a Cris. Elas não se demoraram muito e dessa vez, a porta foi trancada. Quando vi a mixaria de comida que Absol me trouxe, tive a certeza que se eu tivesse continuado na prisão seria alimentado melhor _suspiro_. Decidi meditar um pouco pra ver se eu conseguia aproveitar um pouco melhor aquele doce e pude ouvir o som da tranca sendo aberta e também do elfo que estava junto. Me ocultei rápido. (Maldição! O porcaria da Absinto conhece aquela flor!) Ele não esperou nem dois segundos pra sair disparado pro laboratório carregando a Cris e aquela flor com ele (minha situação só está piorando...).
Passou um tempinho e Anya retornou com a Atiku duweke nas mãos. Já esperava que a Cris não reagisse bem ao descobrir a verdade por trás daquela planta, o que me fez recordar tudo o que ela chorou antes de voltar a dormir, e confessei à Anya ter sido um imbecil com minha carcereira (pela forma que ela me olhava e reagia, a sinestesia dela teve estar lhe revelando muito mais do que minhas palavras) e espero que essa festa realmente faça bem à Cris. Ela foi embora e passei a observar aquela flor e também a recordar com mais atenção de tudo que vivi ao lado da Cris (mas quando será que eu comecei a gostar dela?...).
“Acho que foi quando você passou a tratá-la por ‘minha’...” – virei-me espantado – “Eu bem que te avisei para não ficar fazendo besteira. Não me ouviu... Agora assuma as consequências, estúpido!”
– Veio apenas para me fazer sentir-me ainda pior? – perguntei voltando para a flor.
“Talvez! Quem sabe...” – _suspiro_ – “Já deu um jeito no ferimento que Absol lhe fez?” – (já. Foi você que o ordenou a fazer aquilo?) – “Absol agiu por si mesmo. Um dragão doente não é ajuda de nada pra ninguém!” – preciso mesmo tomar mais cuidado por causa do black-dog... – “Você... vai finalmente admitir que gosta dela?”
– De uma maluca, infantil, distraída, egoísta, fria às vezes, teimosa, curiosa, medrosa, atrevida, maliciosa e sei lá mais o quê? – ela me assentia. Joguei a cabeça para trás – Por mais que eu não consiga acreditar, sim.
“Percebeu que teve o coração levado por causa da Atiku duweke, e ainda assim teve a ousadia de fazer aquilo com ela. E teima em aceitar seus próprios sentimentos!?” – (em momento algum esperava que algo assim pudesse acontecer...) – “Ao menos ela lhe permitiu continuar ao lado dela! Quem sabe ainda não haja alguma esperança?...”
– Sabe de alguma coisa que pretende me dizer?
“Huuuum... Pode ser que você tenha uma segunda chance...” – sumiu em seguida antes que eu pudesse questioná-la mais (uma segunda chance?).
Logo Anya entrou – Mas afinal, o que foi que você fez para irritar a Cris??
– Eu já lhe disse, fui um néscio. – respondia enquanto ela colocava as marmitas sobre a mesa. Me surpreendi pela quantia que havia em uma.
– Essa aí é a parte que a Cris deixou pra você. – (até que tem mais do que eu esperava) – Ezarel me leu um livro que fala bastante dessa Atiku duweke... – _suspiro_ (agora que estou mesmo na lama...) – ...e eu não consegui entender como que essa flor e você se relacionam. Não dá pra me explicar não?
– Acho melhor que a Cris lhe explique. Caso ela queira... – comecei a comer o pouco que havia recebido. Anya balançava a cabeça em negativa.
– Seja lá o que tenha feito à ela, é bom você se consertar logo! Ou isso vai acabar dando leite. – disse ela saindo em seguida.
O problema é: COMO que eu vou fazer isso?Miiko
Eu vou matar o Ezarel!! Como é que ele se atreve a me aprontar uma dessas?!
– Para de querer pegar nas minhas caudas! – dava bronca na Cris mais uma vez que não parava de me abraçar enquanto seguíamos para o quarto dela.
– Mas elas são tão bonitas!... Esse pêlo negro sedoso, e as pontinhas azuis assim como o fogo da sua gaiolinha... – é por essa e por outras que eu detesto crianças!
Devia ter desconfiado assim que reparei pessoas deixando o salão jurando vingança contra o Ezarel quando eu retornava do banheiro. Por mais sem noção que ela pudesse ser, nunca que imaginaria a Cris agindo dessa forma. E pior! Ela podia ter sofrido um coma alcoólico por conta da quantia que aquele irresponsável a fez ingerir sem ela ter qualquer costume. Isso se a Carolinna Reaper não a tivesse matado antes!
Consegui convencer essa... criança maluca, a aceitar ir pra cama depois de “brincar” um pouco com o meu fogo-de-raposa que pareceu impressioná-la e, pelos aplausos que recebi ao final da “brincadeira”, agradou bastante gente.
– Agora me solte e destranque logo essa porta mulher. – ordenava-a ao estarmos diante de seu quarto.
– Destrancar como? – (que todos os deuses me deem mais paciência...!!).
– Com a chave que você carrega no pescoço por baixo das roupas! – falei sem muita tolerância.
– Hihihihihihi, não é que tenho mesmo uma? Hihihihihihi! – ria ela ao achar a própria chave. Acabei dando um tapa contra a minha testa – Abri, Hehehehe!
– Vamos entrar logo! – falei já a empurrando para dentro.
– Onde vamos deixar os presentes dela, Miiko? – Réalta que havia se oferecido para carregar as coisas que ela havia ganhado para o quarto com a ajuda de Jamon, me questionava com os dois entrando atrás de nós.
– Deixem sobre a mesa e sobre as cadeiras. Amanhã, quando ela estiver mais sóbria, ela arruma essas coisas. – falei e assim eles fizeram.
– O que a Raposinha vai fazer com o diabinho azul? – perguntava a Cris já tentando me pegar minhas caudas outra vez.
– Pare de mexer nelas!! – ela só me sorria traquina. Uma ideia me surgiu – Acho que já sei como punir o Ezarel... _sorriso macabro_.
– O que Miiko pensar?
– Boa pergunta Jamon! Pois tem um monte de gente já fazendo fila pra castigar aquele maluco.
– Bom rapazes... – colocava a Cris sentada na cama enquanto eles terminavam de se livrar de todos os presentes – Ezarel ama tratar os seus como escravos ou quase. E como Réalta disse, tem uma fila de gente querendo pegar ele depois dessa noite então... Como punição, ele terá de servir como “escravo”, por um dia inteiro, de cada um que acabou prejudicado por causa dele hoje! – Réalta deu um assobio enquanto Jamon soltava um guincho de riso e a Cris gargalhava um pouquinho.
– Agora que ele se ferrou mesmo! – declarava o Réalta – Mas quem vai ser o primeiro a tê-lo? A Cris ou a senhora? No final, as duas foram as mais prejudicadas por ele.
– A Cris pode ser a primeira, mas eu serei a última! Ele vai ver com quantas iscas se captura um blobbiathan...
– Melhor fazer lista. Muitos odiar Ezarel hoje!
– Eu imagino Jamon. Cris, hora de você dormir! Vamos embora rapazes.
– Raposinha dorme comigo?...
– QUÊ!? Nem pensar!! Você quer é agarrar as minhas caudas, isso sim! Vamos embora daqui logo, vocês dois. E não se atreva a me sair desse quarto menina! – empurrava os rapazes para fora com a Cris me choramingando atrás – E tranque essa porta pra dormir! – mandei com a gente terminando de sair do quarto.
– Tá bom! – declarou ela meio brava e batendo a porta ao nos afastarmos (PELO ORÁCULO!!).Lance 2
Enquanto comia, eu rachava minha cabeça pensando em como poderia me redimir honestamente com a Cris (se é que existe uma maneira...) e também sobre que segunda chance seria essa que a Negra me falou. Terminada minha refeição e cansado de não conseguir pensar em nada muito útil para o meu lado enquanto encarava Eel pela janela, comecei a fazer exercícios para tentar não pensar em absolutamente nada (quem sabe isso não me clareia o raciocínio?).
Parei assim que a Cris entrou no quarto e, recordando a quantia que ela me reservou no almoço, questionei sobre o que mais receberia de punição (esqueci que ela tinha um lado sombrio). Ela já falou com raiva comigo antes, mas dessa vez foi como levar um soco no estômago... (e do jeito que Absol me rosnava durante o banho dela, acho que ele queria ter me ferido em outro lugar ao invés de minha perna).
Vi Absol trazer a roupa que a Cris tinha levado pro banheiro de volta e pegar outras para deixar no lugar. Anya chegou uns cinco minutos depois dele terminar.
– Sabe me dizer que roupa que a Cris pegou para vestir?
– Pergunte ao Absol que trocou as roupas que ela escolheu. Acaso vocês planejam uma festa de gala? – perguntei observando Anya.
– Eu não me arrumei tanto assim! Você não me viu no dia do baile!! – um riso me escapou – Já se acertou com a Cris?? – acabei soltando um longo suspiro.
– Eu ainda não tenho ideia de como fazer isso. – sentei-me em um dos cantos do quarto para tentar meditar um pouco – Mas por enquanto vou só aceitar as imposições dela calado, pois mereço mesmo.
– Só que trate de se resolver logo com ela! Se vire e descubra uma maneira porque não gosto nenhum pouco da aura dela quando está com você! Sem falar que a sua não me parece nem um pouco melhor. – sabia que não estava conseguindo me esconder dela...
Anya ficou aguardando a Cris sair do banheiro e eu comecei a meditar para ver se adquiria alguma luz para o meu problema. Não consegui continuar quando as duas começaram a falar de cabelo. Já que não conseguia meditar e nem pensar em algum meio de conseguir ao menos acalmar minha carcereira sobre a minha pessoa, comecei a dar uma olhada nos planos que eu havia feito para ensiná-la a controlar seus poderes.
Pasmei ao ver a Cris pronta para a festa surpresa dela. Estava tão bonita quanto no dia do baile. Acabei pedindo que ela carregasse uma arma consigo, pois ela estava bonita demais para o meu gosto (ainda bem que não fui o único a achar isso!). Voltei a ficar sozinho outra vez em minha “gaiola” e não sabia o que fazer....
Meus exercícios... já os tinha feito. Meditação... não o estava conseguindo mais. Leitura... já li até o guia que ela mesma montou para si. Planos de treino ou aulas de língua Original... revistos mais de dez vezes. Resolvi tomar meu banho, o que não me ocupou por muito tempo. Pela janela trancada não era possível ver muito movimento, já que todas as lojas já haviam fechado e quase todos estavam festejando para animar a Cris.
Fiquei surpreso ao ver alguns quitutes sobre a mesa antes vazia de alimentos. Bem sobre uma sombra... (ou ela está bem feliz agora ou o black-dog teve pena de mim). Passou-se um tempo.
– Agora me solte e destranque logo essa porta mulher. – espera, esta não é a voz da Miiko?
– Destrancar como? – e essa é a da Cris. Corri até o biombo, mas o que houve com ela?
– Com a chave que você carrega no pescoço por baixo das roupas! – isso está muito estranho.
– Hihihihihihi, não é que tenho mesmo uma? Hihihihihihi! – muito bem, o que foi que aconteceu lá embaixo?! – Abri, Hehehehe!
Fiquei os observando o mais bem escondido possível. A Cris parecia uma criança de uns três anos! Eram ela, a Miiko, o tal do Réalta e Jamon. Absol não estava com eles, precisei me segurar para não rir da Raposinha (_riso_) e lhes prestei atenção à conversa. Quando ela estiver sóbria? Aquele elfo miserável a embebedou?! (Com que truque??) Pena que não posso fazer parte da lista de “senhores”...
Eles saíram, mas a Cris bateu a porta tão forte depois que a Miiko a ordenou para trancar, que acabou se abrindo outra vez e eu tive que correr para trancá-la _suspiro_, mas tomei um susto quando me virei para a Cris.
Ela removia a roupa que Absol lhe escolheu por completo enquanto andava pelo quarto (definitivamente ela está bêbada além da conta) deixando uma trilha de roupas por onde passava.
– O que está fazendo maluquinha?! – perguntei quando ela estava prestes a tirar até as íntimas.
– Hehehe... Não tô com sono, mas se tenho que dormir, dormirei confortável. – lhe desviei o olhar _corado_ para não ver a parte de cima caindo.
– Você já está confortável até demais! É melhor se deitar agora. – falei recolhendo aquelas roupas sem a olhar e as juntando em um canto.
– Me ajuda a deitar...? – (eu mato aquele elfo por isso!).
– Consegue fazê-lo sozinha. – eu não sei se ela vai conseguir se lembrar ou não disso tudo, mas de jeito nenhum que vou me arriscar.
– Por favooooor... – (sei que vou me arrepender...).
– Tente... se manter de costas pra mim, pode ser? – pedi à ela tentando olhar apenas para o chão.
– BRIGADINHA!!
– Shiiiiiii!!! Sem berros sua maluca!
– Hihihihihi! Tá bom! Hihihihihi! – ria ela baixinho (por favor, que ela não se lembre de nada depois...).
Fiz o que pude para ajeitá-la entre as cobertas sem olhá-la, o que estava um pouco difícil e ela, com sua criancice, não ajudava muito (até tu, “parceiro”, quer me trair?). Deixei-a coberta até o pescoço e fui à janela para tentar me acalmar (aonde que aquele black-dog se meteu?). Mantive meus olhos fechados para me acalmar mais depressa e acabei tomando um choque ao senti-la me abraçando por trás.
– O qu... Mas o que pensa que está fazendo?!? – perguntei sem tocá-la.
– Tô sozinha... dorme comigo?... – a janela não tinha muito reflexo, mas pude ver meu rosto vermelho claramente.
– V-você está bêbada! Volte já pra cama e durma! – falei e ela acabou apertando o abraço que me fazia sentir claramente o corpo dela no meu (se comporta “parceiro”! Quer que ela nos odeie de vez? De jeito nenhum que irei me aproveitar dela desse jeito!).
– Você tem alguém?
– Como é que é? – comecei a ficar confuso.
– Quero saber se você já tem dono! – falava ela com o rosto afundado em minhas costas (dono?) – Você é um dragãozinho, não é? – (“Espero não ofender, mas... Caso os dragões fossem como feras, eu iria gostar de ter um como mascote...”) acabei me lembrando do dia que mostrei minha forma dragônica pra ela.
– Se eu dizer que não... – acabei ficando curioso – O que você vai fazer? – perguntei ainda concentrado em meu próprio reflexo.
– Eu posso ser sua dona?... – !! – Só até você encontrar o dono que deseja...
Pelos deuses... – Você... tem certeza disso? – (sossegue o facho, “parceiro”!) ela apenas deu um “huhum” ainda com o rosto nas minhas costas e com eu suando frio – Mas... você não estava com raiva de mim?
– Do que está falando dragãozinho?...
– De nada! – ela já está me dando trabalho carinhosa, se começar a fazer birra... – Dá para por favor me soltar e voltar para a sua cama?
– Dorme comiiiigo!... Por favooor!... Não me deixa soziiiinha... – (por tudo que é divindade...) choramingava ela.
– Só se ficarmos cada um do seu lado! – espero que ela não me mate ao acordar...
– Tudo bem! – disse ela me soltando finalmente e correndo para a cama – Vem logo! – chamava ela já se embrenhando às cobertas.
Fiz o que pude para não lhe ver daquele jeito e continuo com o rosto queimando (mais o meu “parceiro” querendo me contrariar _suspiro_). Deitei-me o mais afastado que pude dela na cama, e de costas. Mas no que comecei a sentir algo me tocando... – Nada de abraços! Ou você volta a ficar sozinha!
– Não seja malvado... – fungava ela querendo chorar (ela vai me matar...).
– Se quiser... – preciso fazer com que ela durma! – Eu seguro a sua mão. E só!
– Você fica olhando pra mim? – (eu estou realmente morto. E vou assombrar aquele maldito elfo!!).
– Só se você ficar bem cobertinha. Não quero ver nenhum pedacinho de pele que não seja do seu rosto ou da sua mão. Me entendeu? – ela não respondeu nada, mas percebi que ela se ajeitava nas cobertas.
– Já tô prontinha! – declarou ela.
A olhei de soslaio e ela estava mesmo coberta. Respirei fundo e virei para olhá-la e lhe segurar a mão como dito enquanto ela só me sorria feliz. Minha intenção era a de deixar a cama assim que ela adormecesse, mas acho que adormeci primeiro.Cris
Acordei sentindo uma dooor de cabeeeça... Ela parecia latejar! Abri meus olhos devagar e reparei já estar na minha cama (mas o que foi que aconteceu?!?), comecei a me mexer e despertei ao notar que segurava algo ou que algo me segurava. Virei, e Lance dormia ao meu lado segurando-me a mão (mas o quê!?...). Acabei me erguendo, soltando minha mão dele e, ao notar, graças ao frio, como que eu estava vestida... o frio que eu sentia desapareceu (MAS O QUE RAIOS FOI QUE ACONTECEU!?!?!?!).
– Me diz que é seguro abrir os olhos... – pedia ele sem se mexer.
– Não! – acabei falando alto demais e corri para o guarda-roupa para vestir alguma coisa. Peguei a primeira roupa que vi (que no caso foi um vestido curto de veludo e mangas compridas que adquiri no leilão. Dá para achar muita coisa boa lá! Claro, se você ficar de olho nos preços das lojas também), já vestida e não me recordando de muita coisa comecei a questioná-lo usando um tom de voz mais baixo – Pode me explicar o que é que o senhorio faz em minha cama?
– É seguro olhar agora?
– Sim. – ele respirou aliviado (!?).
– Bom, como eu posso explicar? – começava ele se levantando e eu pegando uma roupa melhor para vestir naquele frio – Acho... que você pode culpar o bobo-da-corte da Absinto por muito mais do que eu dormindo com você.
– Fala do Ezarel? Por quê?
– Consegue se lembrar de como chegou ao quarto pelo menos? – neguei com a cabeça e ele deu um novo suspiro de alívio – Não sei os detalhes, mas de acordo com o pouco que eu ouvi dos que lhe trouxeram pro quarto, aquele elfo miserável conseguiu embebedá-la.
– Como?!?
– Você não parecia reconhecer ninguém, e agia como se tivesse no máximo uns quatro anos! Suei frio para poder fazê-la dormir finalmente.
Estava chocada. Senti medo de perguntar, mas... – Lance, honestamente, pela forma que eu acordei, eu e você... não...
– Digamos que meu “parceiro” até que queria, – _super corada_ – e você não me facilitava, mas não encostei um dedo em você! Eu não... queria lhe dar mais motivos, para, me odiar... – terminou ele com um tom meio triste.
– Bom, ao menos você me respeitou!... – entrava no banheiro não só compreendendo o porquê daquele latejar que, mais calma percebi estar acompanhado de mal-estar e uma sede que Deus me livre, como também um pouco mais aliviada – Será que... poderia me dizer o que foi que você me viu fazer? Só pra eu ter uma ideia, do que esperar lá embaixo... – pedi já deixando o banheiro e o vendo arrumar a cama.
– Você... tem certeza? – o receio dele só ampliava o meu próprio medo daquilo, porém assenti do mesmo jeito. E quando ele começou a me explicar... (Jesus! Onde tem um poço, beeeem fundo e vazio pra eu me esconder??).
– E-eu re-realmente fiz isso?? – ele me assentia envergonhado por conta do que fiz com ele – E fiquei querendo pegar as caudas da Miiko?? – outra vez ele assentia só que dessa vez quase rindo (a Miiko deve estar me odiando. isso se ela não tiver matado o Ezarel!) – E foi o Jamon e o Réalta quem trouxeram as minhas coisas...
– Sendo que fui eu que tranquei a porta e Absol não estava com você.
– Mas pra ond... – Absol ressurgia carregando protetores de ouvido na boca que me entregava – Estava me evitando ou só estava todo esse tempo explorando para me ajudar, Absol? – perguntei à ele, e ele só virou a cabeça de forma que interpretei como “não sei de nada” me fazendo balançar a cabeça em negativa. Coloquei os protetores pra sair – Vou atrás do café da manhã. – começava a sair – Não esqueça que durante os próximos cinco meses terá de cuidar da limpeza do quarto sozinho Lance. – lembrava-o e ele apenas me assentia em meio a um suspiro – Vou ver se não me demoro muito. – falei já trancando a porta em seguida.
Eu não me sentia muito bem, então andei devagar. De acordo ia me aproximando do salão, os barulhos que ouvia só aumentavam ainda mais a minha dor de cabeça, e pude notar uma pessoa ou outra me evitando ou se afastando de mim (ai... o que foi que eu fiz com eles?...). No salão, todos os ruídos, geralmente baixos, mais pareciam com o ranger de uma dobradiça bem enferrujada ou o arranhar agudo de vidro ou louça. Já estava querendo lagrimejar de dor.
– Ei, Karuto! – chamava-o baixo – Karuto!
– Oh minha Rainha... – ele me olhava com compaixão – Como você está? O que está sentindo?
– Sinto que a minha cabeça vai explodir, que vou vomitar ou desmaiar a qualquer momento e a garganta mais seca que um deserto. Tem como me explicar o que foi que aconteceu? Não recordo de nada! – pedia à ele apertando os protetores para tentar me proteger daquele barulho.
– Vem comigo. – disse ele já me arrastando para dentro da cozinha (em que vi Twylda e mais duas mulheres) e depois para o seu jardim especial. Absol apareceu pra ficar do meu lado – Aqui, bebe. – ele me servia um grande copo d'água – Vou te contar tudo o que sei.
E assim ele fez. Fiquei tão constrangida e sem jeito quanto como fiquei ao ouvir Lance me contar minhas ações. Foi Twylda quem me trouxe o meu leite e uma salada de frutas com bastante mel para mim (deixei um pouco mais pro Lance em consideração por ele ter cuidado de mim).
– Ezarel ainda está vivo? Pois eu quero a minha parte dele! – perguntei ao terminar de ouvir tudo e de saber a quantidade de gente que ficou querendo acabar com ele ontem.
– Hehehe, sim ele está. Mas pela cara da Miiko quando ela passou para pegar a comida dela ao lhe perguntar sobre ele... Hehehe, ele está frito! – _sorriso maligno_.
– O que ela vai fazer? Ela já lhe adiantou o assunto?
– Não. Mas parece que Jamon e Réalta já sabem. – (ela se decidiu antes ou depois de entrar no meu quarto? Será que Lance sabe e esqueceu de me dizer?) – Miiko me disse que primeiro faria uma lista de todos que acabaram realmente afetados por causa dele. Só depois que ela ia anunciar sua decisão.
– Entendi. Hoje é dia do Ritual de Maana e não estou tão ruim ao ponto de deixar a Erika na mão. Vou indo Karuto. – me levantava do banquinho que havia sido colocado ali depois da minha primeira visita e entregando o copo e a vasilha vazios – E muito obrigada por me esclarecer quem devo querer matar por ontem e por que.
Karuto deu uma risada alta que tive que me conter para não levar a mão à cabeça por conta da dor. Segui para a Sala do Cristal e as pessoas continuavam me evitando. Encontrei o Chrome e a Karenn juntos no corredor.
– Bo-bom dia Cris! – era o Chrome – C-como você se sente?
– Lembra-se de alguma coisa que fez ontem? – já a Karenn me foi mais fria.
– Bom dia. – ainda falava baixo – Infelizmente não me lembro de nada e Karuto já me adiantou um pouco do que houve. Eu... “ataquei” vocês? – perguntei meio sem jeito ao julgar o comportamento deles comigo.
– Ehhh... Bem! De certo modo...
– Você praticamente agarrou o meu noivo e só o largou quando falei que ele pertencia à “diabinha” aqui. – respondeu a Karenn sem paciência para a falta de jeito do Chrome.
– Me desculpe! – pedi me curvando e completamente vermelha – Sinto muito, muito, muito mesmo!
– Tudo bem Cris. – a voz de Karenn soava mais tranquila agora – Você não teve culpa nenhuma. O único culpado dessa historia é o idiota do Ezarel, que por sinal... – ela sorria com malícia – Eu meio que descobri como é que a Miiko pretende puni-lo por ontem... Não vejo a hora de chegar a nossa vez!
– O que foi que descobriu Karenn? O Karuto já me deixou curiosa sobre isso.
– Vou deixar pra Miiko contar. _riso_ Vai ser muuuito mais divertido!... – disse ela quase gargalhando com Chrome a seguindo. Me choquei contra o Leiftan na entrada da sala.
– Cris! – falava ele um pouco alto pro meu gosto – Eu já ia vê-la pra saber se havia acordado. Como se sente? – entravamos juntos.
– Bem o bastante para poder ajudá-los. – todos lá dentro me evitavam o olhar (e eu também...).
– Consegue se lembrar de alguma coisa? – perguntava a Miiko enquanto parecia mexer na tal lista de que Karuto me falou. Apenas neguei de leve com a cabeça e me posicionei junto do Cristal. Ela deu um suspiro longo – Não se preocupe, depois dessa punição, acho que nunca mais o Ezarel vai se atrever a tentar algo assim novamente.
Foi a minha vez de suspirar agora. Seguimos com o ritual e ao final dele, Miiko já tinha sua lista concluída. Ewelein veio e me deu uma poção que conseguiu amenizar minha dor de cabeça e sumir com o meu mal-estar. Assim que terminei minhas orações, Miiko pediu para que todos os que haviam participado de minha festa ontem se reunissem no salão. Fiquei esperando em frente à cozinha, me enchendo de agua por conta da sede que ainda não tinha passado. Quando todo mundo terminou de chegar, Miiko me chamou para junto dela.
– Bom! – começava ela (quase berrando se deseja a minha opinião) – Acredito que todos aqui já saibam do porque de eu convocar esta reunião. – tirando aqueles que se despediram de mim antes daquilo tudo, todos pareciam assentir – Mas antes de lhes dizer o que desejo, Cris! Não a nada que você queira dizer? – engoli seco.
Encarei todo aquele povo ainda nervosa. – Bom eu... felizmente ou infelizmente, não sei... Não me lembro do que aconteceu ontem depois que um certo ser... – olhava de soslaio para Ezarel com alguns me copiando (Ah, se olhar matasse...!) – Me aprontou ontem. Já fui informada sobre o meu... comportamento inadequado e, peço-lhes desculpas por tudo aquilo. Juro que nunca pensei que eu pudesse agir daquela forma, ainda mais nunca tendo bebido álcool em toda a minha vida! Sinto muito mesmo. – terminei me inclinando para todos eles, extremamente vermelha.
Muitos repetiam o que a Karenn me havia dito, que não tinha problema e que a culpa era apenas do Ezarel. Aquilo acabou me aliviando um pouco.
– Muito bem. – Miiko retomava – Só o seu mal-estar e constrangimento por descobrir tudo o que fez já lhe é punição suficiente Cris. MAS... Não posso disser o mesmo sobre o causador de tudo isso. Ezarel! – ela o chamava e ele veio para junto engolindo seco – Enquanto levava a nossa Lys para o quarto, tive a ideia perfeita para fazê-lo repensar suas atitudes. – pude notar que Karenn, Leiftan, Erika, Jamon e Réalta sorriam (todos eles já sabem qual é o castigo dele?!) – Como você aaama fazer os seus subordinados de escravos, você, passará a servir cada um dos prejudicados por sua ação irresponsável como um por um dia inteiro.
– O QUÊ!?!?!?! – Ezarel se mostrou horrorizado. Muitos eram os que riam ou cochichavam antes da Miiko cobrar o silêncio novamente.
– E tem mais! Como não podemos deixar a Absinto sem um líder, você será “escravo” dia sim e dia não. Pedi a ajuda de nossos aengels para montar uma lista com o nome de todos aqueles a quem você deverá servir. Sendo a Cris a primeira e eu a última.
– Mas Mi...
– Se você se recusar... – ela interrompia a reclamação do elfo – Além de passar um tempo na prisão, a Absinto passará a ter um novo líder! – Ezarel se calou fechando o cenho – A lista com a ordem dos faerys que terão o Ezarel ao seu dispor será deixada no quadro de avisos. Caso alguém queira trocar de lugar com outra pessoa da lista... – pude ouvir alguns sons de insatisfação – por conta de algum fator pessoal, peço que me procure junto da pessoa com quem deseja fazer a troca. E também peço para que, apesar da grande vontade de alguns de vocês quererem humilhá-lo ou coisa parecida, – Ezarel acabou arregalando os olhos _risinho_ – tentem lhe preservar a dignidade e o pudor para com o restante de Eel. E que também se lembrem que ele precisará retornar como líder da Absinto no dia seguinte! Por isso cuidado ao lhe ensinar o significado de “trabalho duro”. – houve novos resmungos, especialmente de mulheres (Ezarel me pareceu estar suando frio) – Ah! E antes que eu me esqueça! Karuto, faça-me o favor de deixá-lo comer comida normal nos dias de “escravidão” dele para que ele possa dar conta de suas “obrigações”.
– Hehehe, apenas porque a senhora está me pedindo agora. Não vejo a hora de chegar a minha vez...
– Mas a Caçadora não te fez nada!
– Mas fez com a “ovelhinha fofinha” aqui! – retrucou-lhe a Twylda sorrindo.
Alguns risos surgiram depois que ela terminou de falar, no entanto – Miiko... – falava-lhe ainda contento a voz por conta da minha dor de cabeça – Quando que a punição dele terá início? Porque hoje... acho que só tenho condições de ficar no quarto ou na enfermaria.
– Hum... Como você só está assim por culpa desse sem-noção, Ezarel.
– O que foi agora... – perguntava ele enfadonho.
– Seus serviços de “escravo” terão início amanhã, porém... É por sua culpa que a Cris está de ressaca agora e por isso, você vai ter que tomar conta dela hoje. E não aceito reclamações! – um riso me escapou e ele revirava os olhos para o alto – Não quero saber de mais ninguém oferecendo álcool algum para a Cris! Isso está terminantemente proibido! Estão todos dispensados agora, e ai de você Ezarel se eu ouvir qualquer reclamação de você por causa do seu castigo!
Nos dispersamos. Anya e Voronwe vieram até mim para questionar sobre o que tudo aquilo se referia e quase que Ezarel acabava estrangulado pelo o meu colega de guarda se não fosse por mim e por Anya. Eu estava de folga, e Anya decidiu me fazer companhia para ter certeza que Ezarel não iria tentar nada do que não devia.
Fomos até a enfermaria para tentar encontrar alguma coisa que pudesse dar fim na minha dor de cabeça e, todo e qualquer remédio que pudesse me ajudar, sumiu! Nem a Ewelein entendeu, e agora era o Ezarel quem deveria fabricar os meus remédios (com Ewelein o alertando assim como a Miiko e o Voronwe _riso_).
No laboratório, fingi ter sido convencida pelo Ezarel a passar o dia no laboratório para facilitar as coisas pra ele (não dá pra deixá-lo cuidando de mim em meu quarto). Entreguei minha chave à Anya, pedindo-lhe que cuida-se de “meu quarto” para mim e ela o fez sem demorar. Ezarel até chegou a estranhar, mas no que ameacei de lhe adiantar alguns de seus “serviços”, acabou deixando pra lá.
Quando Anya voltou, Absol a acompanhava, ficando os dois quase o dia inteiro junto comigo. Nós almoçamos no salão e quase todo mundo que nos olhava acabava segurando um riso ou sorria com malícia para o Ezarel (acho que ele vai comer o pão que o diabo amassou com esse castigo). Passei o resto do dia no laboratório, mas se eu soubesse o que ele ia me aprontar junto do Leiftan e do Nevra... Teria dispensado os cuidados daquele elfo!
.。.:*♡ Cap.84 ♡*:.。.
Nevra
Depois que a Miiko saiu levando a Cris de volta para o quarto, Leiftan e eu emparedamos aquele alquimista maluco discretamente em busca de justificativas. Ele nos explicou que seu plano era conseguir convencer a Miiko, se necessário, a ter que tomar conta da Cris durante a sua ressaca, pois ele já havia analisado por meio das amostras e exames que a Ewelein tinha feito, se ela resistiria ou não àquele plano sem noção dele. Ele só não tinha como prever a reação psicológica dela pelo fato de ela nunca beber (bem que ele me comentou que tudo ia depender dela...).
Para aumentar ainda mais as chances de conseguir manter a Cris dentro do laboratório, ele me pediu para que eu “sumisse temporariamente” com alguns medicamentos da enfermaria. Eu também teria que arranjar uma desculpa para separar a Anya da Cris e Leiftan iria se encarregar de levar as bebidas e distrair a Cris para que ele conseguisse colocar a poção na bebida que a faríamos beber.
E assim fizemos (ou quase, pois repassei o que Ezarel me contou à Ewelein que estava quase partindo para estrangulá-lo e me entregou pessoalmente todas as poções em questão, menos uma que ela daria à Cris amanhã). Ezarel só não esperava receber aquela punição da Miiko... _riso_ Ser escravo da Cris e de todos que ela atacou por um dia inteiro? E cada um!? _riso_ Ele vai ser esfolado vivo por pelo menos metade daquela gente. E ele nem precisou pedir nada pra Miiko, ela própria o encarregou de tomar conta da Cris por conta do estado em que ela ficou por culpa dele.
Tudo parecia estar seguindo como o planejado. Leiftan tomou o cuidado de não trazer nada alcoólico e fingiu estar surpreso por eu, invés de Anya, estar com ela e com o Ezarel no laboratório naquele momento. Ela realmente trocou de bebida comigo. Só não esperávamos que ela acabasse percebendo o que fizemos com uma pergunta tão boba que acabou nos sendo uma senhora revelação... (mas quantos segredos essa mulher guarda?!?).Cris
Aquela dor de cabeça estava me incomodando, Anya e Absol tentavam me distrair enquanto a bendita poção não ficava pronta, foi só depois do almoço (onde Absol levou a comida pro Gelinho através de sua umbracinese e, que outra vez acabei lhe dando um pouco mais do que havia me prometido por consequência do que ele me fez, por causa de ontem a noite) que ela estava apta para consumo, já que quente, segundo Ezarel, só me faria passar mais mal ainda.
Absol sumiu como de costume e depois de uns cinco minutos após tomar aquela poção, me senti sonolenta e Ezarel me sugeriu que eu cochilasse no sofá como ontem, pois a poção teria mais efetividade, o que acabei fazendo, confiando minha segurança à Anya.
Quando acordei, finalmente me sentindo bem, Nevra estava no lugar de Anya.
– Onde está a Anya? – questionei ao mesmo tempo em que verifiquei ter dormido por mais ou menos uma hora.
– Foi mal aí Cris, mas pedi um favorzinho para a sua parceira e lhe assumi o lugar de vigiar esse maluco aqui. – explicava Nevra apontando para o Ezarel que não gostou nenhum pouco de ser chamado de maluco. Acabei rindo disso.
– Mas responde Caçadora, ainda sente algum efeito da ressaca? – me perguntava ele sem tirar os olhos de seu trabalho.
– Me sinto nova em folha. Nunca mais confio em nada que você me ofereça com “bondade”!
– Ao menos consegui me vingar de você pela rasteira, mão gelada e algumas outras coisinhas. – dizia ele com um sorriso de lado.
– Ao preço de virar escravo de cada um que sofreu junto comigo, não é mesmo!? – disse maldosa e o sorriso dele desapareceu e Nevra segurava o próprio riso.
– Não esperava que você se transformasse daquele jeito! – declarou ele mal-humorado guardando algumas coisas.
– Cris, você realmente não consegue se lembrar de nada do que fez enquanto bêbada? – Nevra me questionava e eu apenas lhe neguei com a cabeça – Quer que eu lhe conte!? Porque aceitando ou não, tudo aquilo acabou se tornando bem engraçado ao se lembrar.
– Hum... Tenho até medo agora... Mas desembucha. – pedi a ele e MEU. DEUS. Não sei quem foi que acabou sofrendo mais em minhas mãos ontem. Nevra ainda me contava todos os absurdos que eu acabei fazendo quando o Leiftan entrou carregando uma bandeja de bebidas com ele.
– Cadê a Anya? – perguntava ele apoiando a bandeja perto de Ezarel para ajudar a liberar uma mesa para nós.
– Ao que parece, atendendo a um pedido do chefe dela. O que foi que você trouxe Leiftan?
– Apenas alguns sucos para vocês se hidratarem sem deixar de se alimentarem um pouco, já que estavam se mantendo dentro do laboratório quase o tempo todo. Também trouxe um pra mim, pois estou de pausa.
– Valeu. Essa aí ainda precisa se hidratar bastante por causa de ontem. – opinava Ezarel trazendo a bandeja para a mesa já liberada e distribuindo as bebidas que eram, pelas cores: suco de uva, suco de fruta do Melier, agua de coco (que mania a deles a de chamar a agua do coco de suco!) e suco de morango-pistache.
Para mim foi servida a agua, uva pro Nevra, fruta de mel pro Ezarel e morango-pistache pro Leiftan. Achei muito estranho a forma com que Ezarel encarava o meu copo (estou achando que ele me aprontou mais uma! E o Leiftan já o ajudou uma vez...).
– Nevra!... – falei antes dele começar a beber.
– O que foi Cris?
– Você troca comigo? Tenho a impressão que Ezarel me batizou a bebida. Ele está encarando o meu copo demais!
Ezarel se fez de ofendido e os outros dois riram. Nevra trocou comigo me dizendo não se importar e começamos todos a beber. O suco me pareceu um tanto diferente, mas como tudo que comi e bebi hoje parecia estar diferente, ignorei. Nevra deu continuidade ao que me contava sobre ontem...
– Ezarel... Amanhã você me paga!
– Não recebo desconto por tomar conta de você hoje não?! – riamos – Será que vou ter que trocar o seu apelido de novo, Cris?
– Cris, já é meu apelido. – os risos pararam e eu travei (MAS O QUE FOI QUE EU ACABEI DE DIZER!?!?!?!) e comecei a encarar o meu copo quase vazio – O que foi... que você fez Ezarel!?
– Cris, se acalme. – me pedia o Leiftan e ao encarar a porta, Nevra já estava diante dela bloqueando a saída fechada – Lhe explicaremos tudo, apenas queremos que nos responda algumas perguntas.
Comecei a ficar com medo, e com raiva ao mesmo tempo (o que foi que vocês me fizeram!?) – O que vocês estão tramando? – perguntei ficando cada vez mais nervosa e Ezarel afastava tudo de mim sobre a mesa.
– Ehhh... acaso você se lembra da manhã do dia que sofreu com aquele ritual? O que o Ezarel e eu conversávamos com o Kero sobre os testes de guarda? – apenas lhe assenti – Bom, aquilo foi um teste para uma poção especial e...
– Que tipo de poção. – interrompi ele e todos começaram a respirar fundo (e eu já estou lacrimejando de nervoso).
– Beba um pouco d'água antes. – falava o Ezarel me servindo um copo que me fez encará-lo. Ele acabou revirando os olhos e tomou uma golada bem na minha frente e empurrou a cabeça para trás para que eu vise bem, ele engolindo – Confia em mim agora? – acabei aceitando a agua depois disso.
– Olha, tente não ficar muito brava... – pedia o Nevra sem sair da frente da porta – Mas o que o Ezarel escondeu no copo que você bebeu antes, era uma poção da verdade.
– UMA O QUÊ!?!?! – (agora sim que eu estou ferrada!!).
– Por favor! – era Leiftan, receoso, outra vez – Fique sentada. Tentaremos sermos o mais rápidos possível.
– Quan-to tem-po? – perguntei com raiva e eles pareceram não me entender – A duração dessa poção. Quan-to tem-po ela vai du-rar?!
– Alguns minutos... algumas horas... não sei... – falava Ezarel dando de ombros.
– MENTIROSO!!! – berrei – VOCÊ SABE SIM!!
– Cris... – encarei o Leiftan com uma grande vontade de matar cada um deles – T-tente se manter calma. – ele me fazia voltar a me sentar na cadeira – E Ezarel, melhor parar com as brincadeiras. Já esqueceu o que nos foi avisado?! – Ezarel apenas deu uma risadinha antes de se sentar à mesa, o mais longe de mim, e ficando sério em seguida (ah... se minhas mãos encostam nesse pescoço...).
– Vou aproveitar para explicar umas coisinhas... – pigarreava o Ezarel – De fato eu sei o quanto de poção coloquei naquele copo, mas prefiro deixá-la curiosa sobre isso já que vou virar escravo de um monte de gente de qualquer forma. – ele sorria (argh!) – Cada gota de poção garante efeito por meia hora e enquanto ela estiver ativa, nada além da mais absoluta e suprema verdade sairá de sua boca. Você pode até mesmo ter acreditado por anos em alguma mentira qualquer como verdade, mas se tentar dizê-la agora, não vai conseguir. – comecei a suar frio – Também não adianta se negar a responder por que a poção vai forçá-la. Pelo o que li ao fazê-la, te aconselho a não relutar! – (oh meu Deus, SOCORRO!!).
– É melhor começarmos logo, para podermos a liberar de uma vez. – recomendava o Nevra – Como assim o seu nome não é Cris? “Cris”! Você nos deus informações falsas?!
Respirei fundo e comecei a pensar nas minhas palavras – Kero e Anya sabem o meu nome completo. – comecei – Uma vez ouvi dizer que entregar o seu nome era o mesmo que entregar a sua alma. Foi durante as primeiras aulas de Anya que descobri isso ser verdade, quando ela me ensinou uma poção que era amplificada se adicionasse o nome de quem a bebesse na fórmula... – expliquei sem encará-los.
– É! Não podemos dizer que você está errada. E pensando bem, até que foi bom você esconder essa informação. – comentou Ezarel coçando a cabeça.
– Ainda mais com um maluco atrás dela... – falava o Nevra – O que mais você nos esconde?
– Todo mundo esconde alguma coisa. – falei apoiando-me sobre o cotovelo, e ele não gostou.
– Ok. – ele sorria maldoso – Vou mudar a pergunta então. Você tem feito alguma coisa pelas costas da Guarda? – engoli seco. E Ezarel e Leiftan ficaram meio surpresos.
– S-s-sim-im. – me escapou da garganta. Leiftan e Ezarel me encararam espantados e Nevra mantinha seu sorriso.
– E o que você está escondendo da Guarda? – questionava o Ezarel.
– Alguém a ajuda ou você o faz sozinha? – complementava o Leiftan. Comecei a procurar por uma saída.
– A-An-Anya... – eu até que tentava me conter – m-me ajuda a... a esconder!... – mas as palavras pareciam querer me fugir da boca! – O Gelinho.
– Quem é esse “Gelinho”? – pedia o Ezarel com frieza (minha Nossa Senhora, ME AJUDA!!!).
– É... É... o... – eu sentia como se as palavras me sufocassem para poderem sair – o La... La... – ao mesmo tempo em que fazia de tudo para não pronunciar aquele nome, mas... – Lance! – confessei ficando ofegante em seguida.
– O QUÊ!?! – não pude perceber quem gritava por conta da minha tentativa falha de me manter calada.
– Você e Anya sabem onde que o Lance está escondido?! – apesar de eu estar lacrimejando, pude ver Leiftan me fazendo aquela pergunta onde só lhe assenti envergonhada – E onde ele está? – perguntou ele neutro (aaaai meu Deeeeeus...!).
Eu não podia responder aquilo! Iria quebrar o acordo que fiz com o Lance. Tentei me segurar o máximo possível, quase me sufocando com as palavras que queriam sair e que eu tentava engolir para dentro.
– Pare de se conter Caçadora... Você só vai sofrer cada vez mais e ainda vai nos contar!
Não dava pra discordar daquele elfo miserável, mas, e se eu os fizer desistir da resposta? – Há... consequências. ... Existe... um acordo. – consegui falar entre lágrimas e engolir secos, o que pareceu incomodá-los (obrigada Mãezinha).
– Que consequências? – pedia o Leiftan.
– E que acordo é este? – pedia também o Ezarel e eu pude sentir um pouco de alívio daquela pressão.
Contei a eles sobre as ameaças que Lance me fez, além do que ele pedia de mim (omitindo que a “gaiola dourada” dele era o meu quarto!) e que Anya era a única pessoa que ele aceitou me ajudar a tomar conta dele (nem precisei explicar o motivo). Aproveitei também para dizer que tinha sido ele que me ensinou várias coisas e que ele havia até mesmo me visitado na enfermaria enquanto eu estava internada. Cada um tinha a sua própria expressão de surpresa.
– Uma curiosidade “Cris”, qual é o seu nome verdadeiro? E... Lance já lhe fez algo ruim? – respirei fundo.
– É Cristinne. E quanto ao Lance, bem... – respirava fundo outra vez. Não é que eu não queira falar (pois já falei muito mais do que gostaria), mas é que... – Ele... ele já tentou me matar. – até o Nevra pareceu chocado agora (acho que ele já desconfiava de mim e de Anya antes...) – Na verdade... – limpava as lágrimas – Eu o flagrei tentando fazê-lo e... fracassando em seguida.
– Co-como assim? – Pediu-me o Ezarel, desconcertado.
Respirei fundo mais uma vez e tentei lembrar o máximo de detalhes possíveis do que aconteceu, segurando toda e qualquer lágrima que quisesse me escorrer pelo rosto (já chorei demais por quem não merece minhas lágrimas) para lhes dizer tudo – E Ezarel, lembra da flor que ganhei durante meu primeiro treino de agua? A que você está analisando? – ele apenas me assentiu – Foi dele que eu recebi aquela flor...
Se o queixo de Ezarel não fosse preso ao corpo, teria caído no chão com toda a certeza. Leiftan e Nevra não entenderam por não saber de que flor eu falava – Tem mais alguma coisa que você ocultou da gente? – perguntou o Ezarel se recuperando.
Acabei respirando beeem fundo mais uma vez e contei da participação do Lance em alguns pesadelos e nas minhas memórias recuperadas do ritual Tamashi alguma coisa. Mas só eu que irei ficar abrindo o bico aqui? – Nevra... – chamava-o – Você não pareceu se surpreender com tudo o que eu disse. Você já sabia de alguma coisa? – os rapazes o encarou um tanto zangados.
– Ehr hum... Já que você pode me desmascarar sem problemas por causa da poção, não vou mentir. Digamos que eu acabei escutando este acordo que você e Lance fizeram...
– QuÊ!!??!! – acabamos dizendo todos.
– Então... você... sabe?... – perguntei quase sem voz.
– O quê? Onde é a “gaiola” dele? – acabei assentindo – Ainda não me esqueci de nenhum detalhe do acordo de vocês, mas tem muita coisa que eu ainda não entendi. Por exemplo: ele já usou algum tipo de feitiço ou maldição em você?
– Já. – falei irritada – Um tal de Lutka, ou Lukta, sei lá! Que me obrigou a fazer as coisas que ele me mandava no dia que você teve a graaande ideia, de procurar mincus nos quartos.
– O que foi que fizeram?! – perguntou o Leiftan e eu contei o mínimo que pude sobre aquilo mais o restante do que Lance me fez – Lance não tem nenhum esconderijo em Eel. Era eu quem costumava escondê-lo com o auxílio dos que trabalhavam pra mim.
– Pois ele tem sim! _sorriso_ Nos túneis. E também é o lugar que usei como refúgio contra aquela “amiguinha” do Ezarel. Eu anotei o caminho sob a forma de um poema para quando eu quisesse voltar sem ele ou sem a ajuda de Absol, que eu NÃO irei lhes mostrar! Bem que o Lance me disse que você não o conhecia, Leiftan.
– Ok. Tirando esse Lu alguma coisa aí, mais o “impulso” dele, o ritual que salvou você e a Miiko, e as tentativas frustradas de matá-la, – _respira fundo_ – ele já tentou alguma outra coisa com você? – me questionava o Nevra.
– Não. – !! – Absolutamente nada. – (sério mesmo?!) – Nesse momento ele quer que eu volte a confiar nele. – acabei rindo do que eu mesma disse (isso é mesmo verdade!?) enquanto os outros pareciam boquiabertos.
– Aquele lagarto de gelo idiota é algum guardião seu por acaso?!? – perguntava o Ezarel fazendo piada.
– É. – !?! – Espera. QUÊ!?!? – todos pareciam tão espantados como eu – Como assim, guardião meu? Que historia é essa? – encarava-os.
– Nós... não sabemos bem, como poderíamos lhe responder isso... – falava o Leiftan – E estamos tão surpresos quanto você. Por curiosidade, você tem mais algum “guardião” além de Lance e Absol?
– Não. – ?! – Por quê?
– Por nada. – falou o Nevra um tanto seco.
Eles continuaram me fazendo algumas perguntas cujas respostas saíam quase que automaticamente e às vezes me deixava confusa. Sempre que me apareciam com alguma pergunta comprometedora, era só eu disser “acordo?” que eles desistiam de querer ouvir a resposta. Comecei a sentir dor de cabeça. Era diferente da dor da ressaca e bem mais incomoda.
– Está tudo bem com você Caçadora? – perguntava Ezarel com o Leiftan me esfregando as costas com a mão.
– Não. – falei segurando o topo da minha cabeça – Minha cabeça está começando a doer... É efeito colateral da poção. ... Oi?!
– Eeeh. Me deem licença por um momento! – pediu Leiftan já correndo pra fora do laboratório.
– Oh Ezarel. – Nevra o chamava – Falando sério, quanto tempo a poção ainda tem de efeito?
– Não sei. – (Como é?!) – Falando a verdade, eu esqueci a quantidade da dose que dei pra ela. Mas posso garantir que ainda são algumas horas! Porque a preocupação?
– Você ainda vai ver o “Gelinho” hoje? – Nevra me perguntava e eu só assenti (infelizmente...).
– Entendi o problema. – Ezarel assumia uma expressão reflexiva – Não há como você evitá-lo hoje Caçadora? Peça ajuda ao seu black-dog!
– Bem que eu gostaria... Mas o Gelinho tem estado mais do meu lado do que o Absol. E acho... – olhava um relógio – Que Anya já foi pra casa a essa hora.
– Você conseguiu guardar algumas coisas de nós mesmo sob o efeito da poção. Acha que consegue fazer o mesmo com ele? – me perguntava o Nevra.
– Eu não sei. – Leiftan entrava em seguida com um livro na mão.
– Ezarel, Nevra, acho que podemos ter um pequeno problema. – disse ele mostrando uma página específica.
– Isso eu não tinha lido! – reclamava o Ezarel – Caçadora, tente fazer tudo o que puder para não ter que responder as perguntas de mais ninguém!
– Ooook... Mas... O que vocês vão fazer? Depois de tudo que “falei”...?
– Vamos discutir isso melhor entre nós três. – declarava o Nevra – E é possível que tenhamos que compartilhar o que nos contou com mais algumas pessoas. Por hora... pode continuar como tem feito até hoje. – soltei um suspiro.
– É melhor que você passe o resto do dia isolada em seu quarto. – (não me dificulta Leiftan!...) – Qualquer coisa podemos dizer que você ainda precisa de descanso. Um de nós avisa o Karuto e outro a Ewelein.
– Hum... Pode deixar Cris que iremos lhe contar tudo o que nós decidirmos. – prometia o Nevra – Permite-me acompanhá-la para termos certeza que ninguém lhe perguntará nada durante o caminho?
Um novo suspiro me escapou ao mesmo tempo em que o olhava desconfiada – Porque que eu não posso mais ficar falando a verdade Ezarel? – aquela preocupação deles de eu ficar calada me deixou curiosa. Nevra eu até entendo, já os outros dois...
– Efeito colateral. – ?! – Se a sua dor de cabeça que está sentindo agora ficar forte demais, não vai ser só as suas palavras que ficarão honestas.
– Como assim?!?
– Apenas tente se manter calada Caçadora. Leve ela logo Nevra e pode deixar que eu falo com a Ewe e Leiftan fala com o bode velho.
– Eu tomaria mais cuidado com as palavras Ezarel. Eu vi a lista que ajudei a Miiko à criar, e o Karuto será o seu terceiro “senhor” contando com a Cris. – Ezarel acabou engolindo seco _risinho_ – Vamos de uma vez para que possamos discutir sobre isso logo. – declarou Leiftan já empurrando todos nós até a porta.
Deixamos o laboratório e cada um seguiu com sua direção; Ezarel pra enfermaria, Leiftan pro salão, e Nevra e eu para o meu quarto. Nós dois até que encontramos um ou outro que me questionava se eu já estava melhor ou não e minha resposta era sempre “mais ou menos”, Nevra era quem respondia quase todas as perguntas e se “livrava” dos curiosos.
Chegando no quarto, ele me deixou na porta e foi embora em silêncio (apesar da expressão preocupada). Lance meditava e eu fui direto para um banho (o mais demorado possível...).Leiftan
Não era à toa que o Nevra não saía do pé da Cris, ou melhor, da Cristinne. Se fosse na época em que estava tentando tomar o controle do Cristal, ou ela seria uma “inimiga” pior que a Erika, ou uma aliada melhor que o Lance (será que ela aceitaria uma transferência de Guarda? Com esses talentos!...). Mas mais impressionante mesmo foi descobrir tudo o que ela realmente encarou desde a noite em que Lance fugiu da prisão.
Quando ela disse estar sentindo dor de cabeça por culpa da poção da verdade, tive um mal pressentimento e corri até o meu quarto para consultar o meu grimório. Acontece que o quê era referente àquela poção continuava na página seguinte. Um alerta, para ser mais preciso. Tão rápido quanto cheguei em meu quarto, voltei para o laboratório com o livro em mãos.
Mostrei o alerta aos rapazes e liberamos a Cris o mais breve possível, apenas não entendi direito o porquê daquela preocupação do Nevra...
– Abre o bico Nevra! – entrava um Ezarel zangado que voltava por último ao laboratório (e que deveria ter sido o primeiro) – Porque é que a Ewelein sabia da nossa “experiência”? – !? – Ela me forçou à dar um relatório completo sobre o que aconteceu aqui! Sem falar na bronca que ela me deu por ter exagerado na dose que dei pra Paladina.
– “Paladina”?? Já está mudando o apelido da Cris outra vez? Se bem que eu acho que ela está mais para uma ladina do que para uma paladina... – questionava o Nevra.
– Já chega de piadas! Nevra, responda agora, ou será que nós dois teremos que lhe forçar algumas gotas goela abaixo?
Ele respirou fundo, esfregando uma mão no rosto, como se pensasse em suas palavras – A porta está bem trancada? – questionou ele e Ezarel o confirmou. Ele nos chamou para o ponto mais distante da porta – Quero que vocês me jurem, sob a punição das Keres, que não irão revelar pra ninguém, mas pra ninguém mesmo, o que eu vou lhes contar. – sussurrou ele, Ezarel e eu estranhamos aquele pedido, mas pra ele apelar às deusas da morte violenta, aquilo não era brincadeira, por isso aceitamos. Nevra ainda verificou o nosso redor antes de falar – Eu ouvi a conversa que o Gelinho teve com a Cris quando ela estava internada, e Ewelein ouviu parte da conversa que eles tiveram no primeiro dia... – _pasmo_.
– Por isso que a Ewe me tratou daquele jeito?! Ela já estava sabendo de tudo antes mesmo de nós?!? – Nevra apenas assentiu.
– E tem mais. Querem saber onde é a “gaiola” do Gelinho? – Ezarel e eu nos entreolhamos e acabamos por assentir para o vampiro – É o quarto da Cris.
Ok. Estamos em graves problemas se Lance resolver cumprir qualquer das ameaças que havia feito pra Cris.
– Ao menos já sabemos que ele não consegue matar a nossa Lys e... – comentava o Ezarel – Também não acho que ele vá tentar cumprir suas ameaças... A Cris já domou aquele dragão.
– Como é?!?!? – perguntamos eu e Nevra juntos. Ezarel deu um suspiro e pegou um livro sobre a mesa dele.
– É melhor que vocês mesmos leiam, para não pensarem que estou fazendo piada.
Peguei o livro aberto na página sobre a tal da Atiku duweke que a Cris tinha comentado e comecei a ler em voz alta.
“ Atiku duweke, uma flor de extrema raridade cujo significado é de alta relevância para parceiros amorosos. O nome dessa flor é a tradução de um dos muitos idiomas da Terra, sendo essa tradução o mesmo significado dela, “Meu coração te pertence”.
A Atiku duweke é tão rara que alguns passaram a acreditar que ela fosse somente uma das muitas lendas que nasceram em Eldarya.
Se alguém oferece essa flor para outra pessoa, é porque carrega exatamente este sentimento dentro de si. Devido à algum fator que ainda não foi identificado por falta de amostras para estudo, essa flor incapacita as pessoas de a oferecerem sem o amor sincero vivendo dentro delas. Caso o receptor dessa flor tiver sentimentos recíprocos à aquele que lhe oferece, protegerá a flor a todo e qualquer custo.
O fator X que... ”
Parei de ler aquilo não acreditando no que havia lido.
– Droga, esse era o meu medo! – declarava o Nevra aparentemente tão surpreso quanto eu – E aquele lagarto idiota ainda tentou matar a mulher que ama apenas para se salvar?! Se ele não fosse guardião dela eu o matava agora!
– Calma aí Nevra. – ele me encarou irritado – Estou tão impressionado quanto você, e não acho que nos livrarmos de meu ex-sócio, que já salvou as vidas dela, da Miiko, do irmão, da Erika e a minha, seja uma solução.
– Ainda bem que a Ewelein descobriu sobre aquele feitiço no corpo da Cris... – (Como?!?) – Ela realmente acertou sobre ele ser de proteção.
– Espere aí Nevra! – Ezarel falava na minha frente – Como assim, “feitiço no corpo da Cris”?
Nevra nos explicou tudo o que ele havia testemunhado enquanto vigiava a Cris e o que a Ewelein havia descoberto ao se adicionar no cálculo dessa confusão.
– Acho melhor limitarmos o máximo possível sobre a quem compartilharemos todas essas informações...
– Realmente Leiftan, e a Miiko é uma dessas, pois foi o que lhe prometemos quando a Paladina nos denunciou.
– Também seria melhor adicionarmos o Karuto. Já está mais que na hora da Cris e da Anya voltarem a se alimentar como devem, apesar da Cris ter reduzido a parcela do Gelinho...
– Verdade. – refleti por um instante – Vamos pedir para que a Miiko, a Ewelein e o Karuto se reúnam conosco em meu quarto de madrugada e vamos repassar nossas descobertas. Lá decidimos como que iremos continuar isso tudo. Deixem que eu mesmo aviso a Miiko.
– É uma boa ideia. Deixem o Karuto comigo. – pediu o Nevra.
– O que só me resta chamar minha sub-líder. Francamente, o que é que as humanas tem que conseguem domar tão fácil os dragões??
Nevra e eu rimos. Acertamos o horário que iriamos nos reunir e deixamos o laboratório.
.。.:*♡ Cap.85 ♡*:.。.
Atenção!
O capítulo a seguir possui uma cena um pouco... caliente. Mas eu a deixei o mais subentendida possível porque o meu alvo não é a cena em si, e sim as reações psicológicas de nossa protagonista.
Deixo avisado e por favor, por favor, por favor, que as moderadoras não queiram me fechar o tópico por conta desse capítulo! Juro que fiz o possível para que somente aqueles de mente mais... poluída? Fossem capazes de compreender o que de fato acontece.
Boa leitura a todos.
Lance
Eu ainda estava pensando sobre qual que seria essa segunda chance que a Negra havia mencionado e também continuava nervoso sobre a reação da Cris ao despertar daquele estado (eu vou assombrar aquele elfo se acabar morto por ela!). Acordei com ela soltando a minha mão, não me atrevi a abrir os olhos, lembrando a forma como ela estava “vestida”. Pedi sua permissão para poder olhar e precisei aguardar um pouco. Tendo o seu consentimento, me senti extremamente aliviado ao saber que ela não se lembrava de nada de ontem (posso viver um pouco mais... obrigado à todos os deuses que me ajudaram).
Ela não me parecia muito bem (deve estar com aquela ressaca) e achei melhor cuidar de todo e qualquer pequeno dever existente no quarto. Contei meio que sem jeito o que a vi fazer ontem e como esperado, ela ficou bem desconcertada (e eu tenho quase certeza que o Absol ficou fugindo dela). Ela deixou o quarto me relembrando de minha punição e eu só fiquei imaginando no pouco que iria receber pra comer.
Estava cuidando de mim quando reparei através do espelho uma vasilha surgindo sobre uma sombra que havia na mesa. Me surpreendi ao ver que tinha quase a mesma quantidade que recebia antes! Absol não tinha recolhido sua pata, o que deveria dizer que ele queria a vasilha de volta e rápido. Pequei o primeiro recipiente capaz de portar a quantia que havia na vasilha que encontrei e despejei a comida, encostando a vasilha vazia na pata do black-dog que a levou embora de imediato. Algo semelhante ocorreu no almoço (parece que consegui alguns pontos ao respeitar minha carcereira _sorriso_).
Antes disso, enquanto eu cuidava da faxina, Anya apareceu e me repassou sobre tudo o que a raposa bipolar declarou sobre ontem (ainda bem que o Voronwe não matou o elfo, eu também quero a minha parte) e que a Cris passaria o dia ao lado do miserável a mando da mesma (que ele não se atreva a me aprontar uma nova!). Como ela me questionou se eu e a Cris já tínhamos feito as pazes (pois ela mencionou que nossas auras estavam com um aspecto muito melhor) expliquei um pouquinho do que tive de aguentar por culpa da “travessura” daquele imbecil orelhudo e a Anya foi embora gargalhando.
O dia seguiu. Terminei com a limpeza, fiz meus exercícios, acertei qualquer coisa que ainda tivesse para acertar, tomei banho, e não achando mais o que fazer, fui meditar. Não demorou muito e a Cris entrou indo direto para o banho. Banho esse que foi beeem demorado (mas ela já não lavou o cabelo ontem?). Quando ela deixou finalmente o banheiro, ela nem sequer me olhava quanto mais falava comigo. Sei que ela deve estar com dificuldade de ficar perto de mim por causa de tudo, mas ela estava estranha demais. Ela nem mesmo me questionou sobre o que fiz enquanto ela estava fora! Sem falar que ela começou a se preparar para dormir muito mais cedo.
Estávamos comendo um lanche que o Karuto havia trazido pessoalmente para ela, sem saber se eu a questionava ou não sobre aquele silêncio estranho.
“Se o Sgarkellogy não quer falar, é porque o segredo não quer partilhar.” – via a Negra deitada no ar, bem atrás de mim, através do espelho do guarda-roupa (do que é que você está falando Negra?) – “Hora essa! Se está tão curioso sobre o porquê dela estar agindo assim, pergunte!” – falava ela “de pé” e com as mãos na cintura – “E além do mais...” – ela assumia a aparência traquina – “A Cris não vai negar resposta alguma se for questionada. Sem falar que ela está tããão sincera...” – (que quer dizer com isso??) – “Hehehe, vou deixá-los a sós. Hihihihi.”
Sumia ela ao terminar de rir (mas do que é que ela estava falando?). Ainda me sentia um pouco inseguro, mas a Negra estava certa (de novo...), se eu não perguntasse, nunca que ia entender aquele comportamento estranho – Está... tudo bem com você? – perguntei (e ela travou?!).
– M-mais ou menos. – respondeu ela já suando frio.
– O que aconteceu? Porque está tão nervosa assim? – ela acabou levando a mão à boca (isso é muito estranho, até para ela) – É por causa do que aconteceu ontem? – ela apenas me negou rápido com a cabeça – Então porque você está tão estranha? Aquele orelhudo que lidera a Absinto lhe fez alguma coisa? – agora sim ela estava nervosa, ela estava inclusive prestes à chorar!
– S-s-sim. – falou ela tentando se afastar e eu acabei por lhe segurar o braço por impulso.
– O que foi que aquele canalha fez dessa fez?! – (eu vou estraçalhar aquele elfo!).
– E-ele me enganou de novo. – o nervoso dela só aumentava e eu quero saber o porquê.
– Como que ele te enganou? – ela respirava fundo e parecia com dificuldades para falar.
– Ele... me fez b-b-beber... uma poção.
– Que poção?? – as reações dela ao assunto só me deixava mais e mais intrigado, sem falar que ela parecia disputar consigo mesma sobre falar ou não. – Que poção era essa!? – perguntei outra vez e ela não parava de engolir seco.
– É uma... _engole seco_ uma... _limpa lágrima_ poção... da... _respira fundo_ da... da verdade.
Fiquei pasmo, uma poção da verdade?!?! Não é à toa que ela está tão nervosa, e ainda explica o que a Negra quis dizer – O que você contou à ele? Ele não estava sozinho, estava? – Ela não parava de morder os próprios lábios e parecia prestes a desabar em pranto, mas como insisti, ela acabou contanto tudo. Tudo o que ela havia contado e confessado para Nevra, Ezarel e Leiftan. Eu já sabia que “Cris” era apenas o seu apelido, mas nunca lhe questionei o nome porque concordava com o seu silêncio sobre o assunto, mas aqueles três vão se ver comigo – Então... Isso é tudo o que você contou àqueles três? – ela apenas me assentiu rápido – Você... realmente acredita nessa historia de eu ser seu “guardião”, mesmo depois do que já lhe fiz?
– É graças a você que ainda estou viva, então não me parece tão impossível, apesar de ainda achar esquisita essa historia toda...
– E você realmente não consegue mentir sobre nada?
– Muitas coisas das quais respondi para eles, foram no automático. Não tinha como eu saber aquelas coisas! E mesmo assim eu lhes respondia...
– Se importa se eu tirar proveito para resolver algumas dúvidas? – definitivamente esta é uma boa hora para seguir os conselhos da Negra.
– Taaalvez!?
– Se Valkyon e eu, tivéssemos revelado nossa verdadeira natureza à Miiko e os demais, eles teriam nos sacrificado como os faerys da época em que Eldarya foi criada?
– Não. – fiquei surpreso – Ela... teria protegido vocês. – falou a Cris sorrindo em seguida – A Miiko nunca quis te magoar. – terminou ela com um sorriso triste (provavelmente por causa da paixonite que a Miiko teve por mim).
– Independente dela ter sido apaixonada por mim ou não? – ainda tinha esse “porém” na minha cabeça.
– Sim. Os dragões... são seres sagrados para os faerys de hoje. Só os aengels recebiam seu desprezo por causa de tudo que acabou sendo escondido da historia que foi deixada. _riso_ A verdade sempre vem à tona em algum momento, não importa o quanto tentem escondê-la...
– Ok. – ainda estava incrédulo sobre o que ela revelara – Uma vez, quando crianças, Valkyon foi acusado de ter quebrado um tesouro...
Fiquei lhe fazendo várias perguntas sobre várias coisas que conseguia lembrar e que queria tirar minhas dúvidas. Coisas em que eu estava certo e coisas em que, por mais difícil que me fosse aceitar, eu estava errado, assim como a Miiko e a atual Guarda. Traições, roubos, acusações, enganações, de tudo e mais um pouco eu lhe questionava, com ela dando respostas automáticas quase o tempo todo. Notei que ela parecia estar sentindo dor de cabeça. Haviam algumas perguntas que eu queria lhe fazer, mas não queria que ela as percebesse, então continuei com minhas centenas de questões até ela parecer não estar mais prestando atenção no que respondia, e quando ela finalmente alcançou este ponto...
– Cris, você me odeia?
– Não. – foi a resposta dela (senti uma ponta de esperança).
– E porque não? Eu não lhe dei vários motivos para me odiar?
– E vários outros para gostar de você. – engoli seco me levantando e indo para perto do guarda-roupa.
– Ainda... está magoada comigo? – ela parecia querer espremer a própria cabeça de tanta dor.
– Um pouco... Por favor Lance, chega de perguntas. Minha cabeça está pior do que hoje de manhã. Te deixo fazer o que quiser se não fugir das consequências, nem eu irei fugir da minha culpa, mas por favor, CHEGA! Eu não aguento mais. – me pedia ela chorando.
– Posso fazer qualquer coisa? Qualquer coisa mesmo? – perguntei a observando de cima a baixo e só agora ela pareceu perceber o que me autorizava.
– Desde que não se arrependa e nem fuja das consequências... _respira fundo_ Pode. – disse ela me encarando séria e ainda segurando a cabeça – E apenas por hoje! – declarou ela ao final.
Essa carta branca foi um presente divino, tenho certeza. Eu não sabia bem o que queria fazer com essa liberdade, mas eu sabia o que não queria fazer: continuar negando o coração que não me pertencia mais. E quem sabe... brincar um pouquinho com ela...
– Posso até mesmo matá-la?Cris
Mas que problemão... Eu realmente fiz de tudo para me manter caladinha, mas não adiantou. Acabei revelando o que aquele trio de patetas me havia feito ao Lance, e pela cara que ele fez ao lhe contar tudo... os três estão fritos! Mesmo com o Ezarel me mandando não responder mais pergunta nenhuma (o que me estava sendo bem difícil), meio que deixei que o Lance me fizesse perguntas (vai que ele acaba desistindo de ao menos metade de seus planos assim!?).
Fiquei aliviada ao confirmar que a Miiko não intencionava sacrificar os dragões caso tivesse descoberto a verdade antes... E eu não acreditei ao saber que o Valkyon tinha sido falsamente acusado de quebrar uma coisa no lugar de uma criança fenghuang que o acusava! E pior! O moleque fazia parte da família que zelava pela ver-da-de, e nunca desmentiu (não é à toa que Lance quis matá-lo na hora ao confirmar a inocência do irmão. Será que meu chefinho ainda despreza o cretino?).
Lance ficou me fazendo milhares de perguntas que eu quase sempre respondia só com “sim” ou “não” (eu era um “super detector de mentiras”, não uma “bola de cristal”) e a dor de cabeça que havia maneirado durante o banho, retornava. Ela ficava cada mais intensa de acordo continuava respondendo ao Lance, ao ponto que nem estava mais conseguindo prestar atenção no que ele perguntava ou no que eu lhe dizia.
Tanto que travei quando ele me perguntou, me olhando detalhadamente demais, se eu tinha certeza de deixá-lo fazer o que quisesse (oh minha Nossa Senhora, o que eu fui fazer?) – Desde que não se arrependa e nem fuja das consequências... _respira fundo_ Pode. – falei séria para ele e ainda morrendo de dor. – E apenas por hoje!
– ... Posso até mesmo matá-la? – gelei.
– Se você acha que eu irei ficar parada para que faça uma coisa dessas, está muito enganado! – falei me erguendo da cadeira com cautela e ele começou a me sorrir aquele sorriso detestável que me fez sentir um calafrio na espinha inteira.
Pensei em fugir do quarto, deixando-o trancado aqui dentro (se ele quisesse mesmo a minha vida, teria que sair pela janela. O problema seria aqueles que aparecessem em seu caminho...). Mas quem disse que a Burra aqui foi pro lado certo? Ao invés de correr para o lado da porta, por causa de minha super dor de cabeça que me atrapalhava o raciocínio, corri para a janela ao invés da porta (mas quanta inteligência, heim Cris!... – não começa consciência). E mesmo que eu tivesse ido para a direção certa, não ia me adiantar muito. O “mestre do gelo” me fez o favor de selar toda e qualquer saída do mesmo jeito que ele havia feito no dia em que me invadiu o quarto. Ele começou a se aproximar lentamente, todas as minhas armas estavam dentro do guarda-roupas atrás dele e eu não tinha nem como conseguir uma simples agulha! (Agulha... costura... tesoura! Eu não tenho uma tesourinha no armário do banheiro? Não é muita coisa, mas já é algo para me defender!). Corri em direção ao banheiro para buscá-la, mas acabei foi é dando com a cara em uma “parede invisível” (mas que raios!... QUEM AUTORIZOU UMA PAREDE DE ACRÍLICO AQUI?!). Comecei a me desesperar. Lance estava cada vez mais perto e eu não achava nada que pudesse erguer e jogar nele facilmente e que me fornecesse tempo o bastante para escapar.
Quando ele ficou bem perto de mim, o medo me assumiu e acabei partindo pra cima dele, mas... como já imaginava... ele me conteve facilmente. Segurou-me os meus braços às minhas costas com apenas uma das mãos e me fez ficar contra a parede entre as flores rosas de meu pequeno jardim, me impossibilitando de defender-me com as pernas. Minha respiração estava acelerada, com o coração na boca, e no que ele apoiou a mão livre em meu pescoço... acabei por fechar os olhos. Os rostos de toda a minha família, amigos e conhecidos acabaram passando por minha mente. Senti lágrimas me escorrerem pelo rosto e tentei controlar minha respiração (parece que não vou mesmo poder rever meus parentes...).
– Se matá-la... – Lance me sussurrava ao ouvido – ...é uma lástima até para os deuses, o que dirá para mim?
– O quê?!?! – perguntei por conta do choque que tive com aquelas palavras. A expressão de Lance, que antes era de uma grande malícia, tinha sido substituída por uma de ternura (quem é esse e o que ele fez com o verdadeiro Lance?!?). Não tive tempo de questionar, isso porque o que ele fez me surpreendeu ao extremo! Ele... me beijava.
Era um beijo suave e ao mesmo tempo selvagem. Hora cuidadoso e hora bruto. Um beijo ao qual estava aos poucos me entregando (mas será possível dona Cris! acaso já se esqueceu de quem está te beijando!? – E eu não sei?! Onde é que tem um psiquiatra quando se precisa de um??). Senti meus braços livres e acabei os apoiando receosamente sobre os braços de Lance, quando nossos lábios se afastaram, nós dois estávamos um pouco ofegantes – Porque fez isso? – perguntei ainda um pouco perdida.
Ele apenas me sorriu suavemente, me acariciando o rosto e voltando a me beijar de forma um pouco mais intensa quase que imediatamente (mas mulher... cadê esse bendito psicólogo!? E larga logo essa criatura!!). Eu bem queria obedecer a minha consciência, mas meu corpo parecia discordar, e com as mãos do Lance me percorrendo, estava cada vez mais difícil seguir a razão. Eu mal percebi minha camisola longa, feita de crylpillar e de alças e tiras traçadas nas costas, escorrer-me feito agua (mas quando foi que?!...) ao mesmo tempo em que ele meio que me guiava pelo quarto. Já estávamos sobre o leito quando ele terminou com aquele beijo que, além ter sido bem mais longo que o primeiro, me deixou bem ofegante.
Ele continuou me acariciando e me beijando enquanto eu tentava recuperar ao menos um pouco do fôlego – Lance... – eu ainda não perdi minha noção de certo e errado – Nós nã... !! – antes mesmo que eu pudesse terminar de falar, o dragão me tomava os lábios outra vez. E ele foi ainda mais intenso! Senti que iria acabar desmaiando por falta de ar quando ele finalmente se afastou, me lançando aquele olhar que, quando vindo de Absol por exemplo, costuma significar “Calada”.
Se toda vez que eu tentava dizer alguma coisa ele me beijava pra que eu ficasse quieta, e cada beijo era “pior” que o outro, nesse ritmo, ele ia mesmo acabar me matando... por falta de ar (nunca imaginei que existissem formas “agradáveis” de morrer...).
Aquelas carícias que não paravam estavam se tornando cada vez mais perigosas, até que eu não aguentei mais. (Quer saber?) pensava comigo mesma (pode o meeper ficar solto; a vaca ir pro brejo, e o osstoplasm passear sem cabeça. Eu não sou feita de aço e esse dragão mexeu com o que não devia!) Voltei-me contra ele, assumindo o controle da situação. Ele até me pareceu surpreso de primeira, mas acabou foi me abrindo aquele sorriso detestável que, só agora que eu percebi! Que aquele sorriso também era de desafio. Ele sempre me desafiou a confrontá-lo e eu sempre o havia ignorado ou me acovardado diante dele (mas não dessa vez...).
Ficamos naquela disputa de controle e afeto por um tempo, ficando ambos expostos ao outro e, antes de começarmos a percorrer um caminho ainda mais profano, eu o encarei por um momento – Lance... – tinha medo que ele tentasse me calar outra vez, mas tinha que questioná-lo (e ele parecia querer me ouvir dessa vez) – Você realmente, não vai... – engoli seco (meu medo passou para continuar com aquilo) – Não vai se arrepender, né?
Ele não me respondeu nada. Apenas avançou naquele caminho de forma tão bruta que senti meu corpo inteiro doer, arrancando-me as lágrimas (FILHO DA...), lágrimas essas que ele sorveu, enchendo-me os olhos de beijos sem avançar. E quando senti a dor me acalmar, ele começou a percorrer aquela “colina proibida” de forma calma e gentil, ficando gradativamente selvagem e bruto. Sabia que não devia deixar aquilo avançar daquela forma. Sabia que tinha que parar aquilo tudo. Que não era certo e por isso precisava parar. Mas não conseguia... (ou era eu que não queria? estou mesmo com sérios problemas...).
O tempo todo eu tentei conter qualquer som que ele tentasse me arrancar durante aquilo tudo (que esse “torturador” não parecia poupar esforços para o conseguir...), mas agora estava ficando difícil. E piorava de acordo ele se “animava” mais e mais! Tanto que acho que acabei ferindo o lábio em um momento (eu vou ficar cheia de marcas...), momento esse que ele me acariciou o meu lábio com o polegar e me substituindo a dor aguda por uma sensação de frescor.
Aquela escalada, ousada e perigosa, fazia eu me perder cada vez mais de mim mesma (acho que vou precisar de pelo menos uns vinte especialistas psiquiátricos...). E quando eu alcancei o limite daquilo tudo (onde ele acabou me acompanhando junto), além de ter pressionado as minhas longas unhas com tudo contra a pele dele (o que não me deixaria nada surpresa se por acaso eu o ferisse), me sentia menos que o pó da rabiola. Estávamos os dois tão cansados, que apenas ficamos deitados, sem nos separarmos, e ofegantes.
Eu, que estava deitada sobre ele, só agora conseguia pensar direito nas consequências de tudo isso... (agora sim que a Guarda não vai mais poder confiar em mim...) – Errado. – acabei falando em voz alta... (mas peraí, a poção ainda está fazendo efeito?) – Sim. – (e mesmo depois de TUDO isso ainda sou digna da confiança da Guarda!?!?!?!) – Sim. – (essa poção está me sacaneando por acaso??) – Não. – eu desisto! Não tinha mais condição alguma de prosseguir com aquele autoquestionamento, fosse física ou psicologicamente falando. Acabei adormecendo do jeito que estava mesmo.Lance 2
Pelos deuses... _ofegante_ a Cris é definitivamente a mulher mais impressionante que já conheci em toda a minha vida! Acho que nem mesmo ao final do mais pesado de todos os treinos que já fiz me senti tão exaurido como agora. Ainda pude ouvi-la falar algumas coisas (provavelmente aquela poção ainda está ativa) antes dela adormecer sobre mim (quem diria que ela podia esconder tanto “fogo” assim?). Me recuperei um pouco e depois a ajeitei sobre a cama para que ela pudesse descansar melhor. A observei sentado sobre a cama e pensando no que fazer agora. Levantei-me e cobri as pernas, me apoiando sobre a mesa em seguida.
“E aí? Como foi o momento a sós?” – a Negra aparecia com um largo sorriso recheado de malícia, não quis arriscar acordar a Cris (a quanto tempo está aqui Negra?) – “Acabei de entrar. Aproveitou bem? Conseguiu todas as respostas que queria em sua vida?” – (consegui muitas. Até mais do que eu esperava. Onde está o Absol?) acabei me lembrando do black-dog – “Até dez minutos atrás, ele estava de vigia na porta. Agora ele está dando uma volta para não te matar.” – imagino o porque... – “Ah! E o Nevra está a caminho daqui agora. Já que a Cris foi forçada a contar quase tudo sobre você... O que fará sobre ele?”
Essa era mesmo uma boa pergunta... Eles podem ter usado de golpe baixo para conseguirem o que queriam, mas acabaram me fornecendo muito mais do que eu podia imaginar então... acho que posso ser um pouco mais justo com eles.
“O que está fazendo?” – perguntou ela ao me ver começar à escrever (leia a minha mente! Ou espere para descobrir, mas será que poderia me avisar quando o sanguessuga chegar na porta?) – “Sem problemas!” – comprometeu-se ela traquina.Nevra
Ainda estava preocupado com a Cris, e agora não era o único. Combinamos de nos encontrarmos todos às quatro e meia da manhã no quarto do Leiftan, e ele ainda colocaria um encantamento silenciador na porta assim como fizemos no laboratório sem a Cris perceber. Resolvi dar uma olhada naqueles dois. Segundo o Ezarel, de acordo com tudo o que a Cris tinha nos revelado, o único risco que corríamos era o de Lance tirar a Cris de Eel e fugir com ela. Ou fugir sozinho. Seja como fosse, ainda seria um problema.
Quando cheguei, a Cris dormia na cama, e o Lance parecia escrever alguma coisa (porque ele resolveu sorrir?). Assim que ele pareceu terminar, ele pegou algumas folhas e se aproximou da porta. Uma folha passou por baixo da porta e aquilo me surpreendeu (no mal sentido). Ainda receoso, peguei o papel para ler.
“Olá sanguessuga!” – !!! – “Vocês três se divertiram muito ao maltratarem a minha carcereira?” – suei frio (ela acabou falando?!?) – “Graças a vocês, consegui descobrir bastante coisa. Ah e eu já sabia que você estava na minha cola sanguessuga!” – pude ouvir o Gelinho contento o riso do outro lado da porta – “Assim como também imagino que você já saiba quem é que tem me ajudado a saber das coisas. Apesar... de aparentemente eu ter sido tão usado quanto você...” – (eu ter sido usado??) continuei lendo – “Já vou deixando claro que não pretendo abandonar Eel, mas... também não vou confiar a segurança da minha carcereira a vocês. Ela é minha! Então trate de parar de ficar dando em cima dela diante de mim se não quiser que eu lhe arranque a cabeça!” – acabei engolindo seco por um instante – “Se tiver alguma pergunta, escreva-a no verso, e responderei aquilo que eu achar melhor.”
Não estava acreditando naquilo que tinha em mãos, mas também não ia perder uma oportunidade dessas. Peguei o bastão de carvão que sempre carregava comigo para situações parecidas, e escrevi no verso. Passando a folha de volta, por baixo da porta.Lance 3
Não conseguia segurar o riso, só de imaginar a reação do sanguessuga ao ler o que tinha escrito para ele. E acho que até já imagino o que ele irá me perguntar e a Negra só observava calada. Não demorou muito para a folha aparecer por baixo da porta que fiquei aguardando sentado no chão e recostado contra a parede. Comecei a ler.
“O que foi que você “descobriu”? Desde quando sabia que eu estava os observando? A pessoa que vem lhe ajudando é realmente a oráculo do fragmento de Apókries? A Oráculo Negra?? O que quis dizer com “a Cris é sua”? E que história é essa de nós dois termos sido usados?” – escreveu ele, bem como havia imaginado. Escrevi a minha resposta em outra folha e passei tudo pela porta, me erguendo do lugar em seguida para poder me deitar. E com a Negra indo embora em seguida, rindo.Nevra 2
Assim que um novo papel apareceu, não esperei nem dois segundos para começar a ler.
“Nossa, mas você é previsível, hein? Se bem que não havia muita coisa que você pudesse me querer questionar de imediato, não é mesmo? A Cris me repassou tudo o que havia contado e revelado ao trio de ptérocorvus. Ela também me esclareceu sobre várias dúvidas e suspeitas que acumulei ao decorrer da vida. Acho que... acabei por desistir de pelo menos dois terços dos planos que eu tinha antes...” – nesse ponto eu senti um pouco de alívio – “Sobre a “praga” que me ajuda, sim, é a oráculo Negra de Apókries. Aquela peste é chata pra caramba sabia? Prefiro a irmã dela que quase não aparece e quase não fala!” – um riso me escapou (então a oráculo Negra o irrita. Bom saber...) – “Foi graças à ela que fiquei sabendo que você testemunhou o nosso acordo e também é graças à ela que eu resolvi fingir não saber de você.” – então, as oráculos ainda são confiáveis? – “O que eu quis disser ao declarar que a Cris é minha?! Aquele elfo desgraçado não explicou sobre a flor que eu acabei dando à ela não? A Atiku duweke? Se sim, não há mais nada para explicar. Eu fui pior que um greifmar com ela e tão útil quanto um blobby ao tentar feri-la. E tudo porque me neguei a acreditar no que sentia depois de ver aquela flor diante de mim, somado com o que aquele mago de meia tigela deseja fazer. A Cris é diferente. Por isso farei de tudo para só vê-la segura e sorrindo, se eu puder. Ela me deu carta branca, por hoje pelo menos! E acabei a fazendo minha.” – meu queixo caiu (eles fizeram aquilo!?) continuei com a leitura – “DE JEITO NENHUM PERMITIREI QUE OUTRO HOMEM “TOQUE” NELA! Espero ter sido claro o suficiente. Ah! E ela acabou se fazendo algumas perguntas antes de adormecer. O quanto de poção aquele canalha a fez consumir?? Se não se importa, eu vou me deitar. Não sei se é uma boa ideia ou não deixar os outros saberem dessa nossa “conversa”, então deixo a decisão pra você. Boa noite.”
Fiquei em choque. Eu ainda dei uma olhada pela fechadura e ele já estava na cama (ele realmente está disposto a tudo pela Cris agora?). Até termos a nossa conversa com a Miiko e os outros, acho melhor guardar isso pra mim por enquanto. Desci pro meu quarto para encontrar um bom esconderijo para aqueles documentos (ou para destruí-los de vez).
.。.:*♡ Cap.86 ♡*:.。.
Cris
Quando acordei, estava escuro, ou seja, ainda era de noite. Mas o quê que foi aquilo meu Deus! E o pior é que eu nem sei se posso culpar a poção, se posso culpar o Lance, a mim mesma, ou a tudo isso junto. Virei o rosto para o Lance que me observava, no mesmo instante que o senti acariciar o meu rosto.
– Como se sente? – me questionava ele, com o rosto sereno – Já consegue mentir se quiser agora?
– Hum... Consigo? – ele deu um risinho que me fez sorrir.
– É, você já está livre. Porque do contrário a poção não lhe deixaria dizer isso. – _suspiro_ – Mas, ainda não me falou como você se sente. – seu rosto ainda estava sereno, mas com um toque de preocupação. Acabei desviando o rosto.
– Bom... – (eu realmente quis fazer aquilo tudo?) – Eu... – (mesmo depois de tudo que esse ser já me fez?!) – Estou meio confusa! – (e ainda por cima continuo digna da confiança da Guarda...) – Preciso de um tempo pra mim. – (aquela poção realmente não me sacaneou?).
Eu o ouvi respirando fundo e ao encará-lo novamente, ele parecia meio chateado – Tudo bem, eu compreendo. Mas uma curiosidade, como pretende assumir responsabilidade sobre agora a pouco? Você aceitou, lembra?! E também me disse que não fugiria da sua parte de culpa. – acabei corando, eu acho.
– Eu... O que você acha que eu deveria fazer? – (o que será que ele tem em mente?).
– Hum... Você, me serviria? – (ele está de brincadeira comigo, né?).
– Que quer dizer?
– É, bom. Você... poderia atender minhas vontades! Ou parte delas...
– Vou deixar bem claro. Diante do que aconteceu, o máximo que posso te fornecer é minha fidelidade. De dar minha palavra que não me entregarei a nenhum outro homem enquanto você me quiser do seu lado. Já a minha lealdade, será apenas e somente para comigo mesma! Não me venha querer que eu faça nada que seja contra qualquer um de meus princípios. Não importa se o pedido vier de você ou dessa Guarda. – (que não sei o que vão pensar de mim quando souber disso...) – Compreendido?
– É o bastante pra mim. – disse ele sorrindo e acariciando o meu rosto mais uma vez. Senti meu coração disparar com esses gestos – Minha pequena ladra.
– Eu não sou ladra. – falei seca.
– Tem razão, você é muito mais esperta que um mero ladrão. Você é a ladina que conseguiu me levar o coração.
– La-ladina?? Eu!? – senti o meu rosto arder!
– Sim. – ele acabou se aproximando do meu ouvido – E eu serei o seu dragão... – cochichava ele me arrepiando toda – Seu eterno dragão.
– P-para de ser criança! – falei me afastando um pouco e querendo ficar de costas para ele – I-isso lá é coisa que se diga! Está p-parecendo um adolescente! – com ele me impedindo de fazê-lo.
– Ninguém te ensinou a respeitar os mais velhos não? – questionou-me ele sério e eu o encarei duvidosa (pensando bem...).
– E, quantos anos você tem? – (...nós nunca revelamos nossas idades pro outro. Eu não o fiz nem mesmo durante a minha festa surpresa!).
– Uns 27 ou 28 anos, por quê? – acabei sorrindo largo (como eu amo esse tipo de confusão!!).
– Sou mais velha. – disse ainda sorrindo e ele ficou incrédulo – Tenho mais de 30.
– Com esse rostinho de 20 ou menos!?! – assenti com a cabeça quase rindo de tão largo que era o meu sorriso – É porque você tem o Poder da Vida?
– Ou porque é genética. Todos os meus parentes, que cuidam da saúde, parecem ser bem mais novos do que são de verdade. Se há alguém aqui que deve respeito a alguém, esse é você a mim!
Ele riu de leve, negando com a cabeça por um instante – Acho... que acabei tirando a sorte grande...
– Ou a pior sorte do mundo. Quem em sã consciência se apaixona por uma maluca como eu? Você é muito bobo mesmo.
– De fato tê-la como companheira é um pouco arriscado. Minhas costas continuam ardendo por causa dessas suas unhas. – _corada_ (mas ele bem que mereceu!) – Mas, será que devo relembrá-la de que sou um homem para que pare de me tratar como uma criança? – perguntou ele sério, envolvendo minha cintura aos poucos.
– Homem!? Tudo o que eu vi foi uma fera selvagem que às vezes se continha! – falei recordando de nosso “pecado”.
– Ainda posso corrigir isso! – me sorria ele me abraçando por completo.
– Mas isso... – _selinho_ – ...continua send... – _beijo_ – ...uma, grande... – _beijo!_ – ...looucuuraaaa... – aaai, segundo round...
Acabei adormecendo de novo, e dessa vez ele foi mais... gentil? Bom, não foi a fera selvagem da primeira vez, e ele foi bem mais carinhoso comigo. Mas agora, depois de duas vezes, mais do que nunca preciso de tomar uma certa poção.
Me soltei de Lance que dessa vez dormia, com cuidado, me cobri com o meu hobby e fui até a minha estante (cadê minha cópia de Trótula?...). Com o livro na mão, vi em meu celular que ia dar cinco e quinze da manhã, e comecei a ir atrás dos ingredientes de acordo ia lendo a única receita compatível com a minha situação (espero ter tudo, quase todas as receitas são para antes do ato!), fazendo o máximo de silêncio para não acordar o dragão.
Estava no meio do processo ainda, que verificava a cada cinco segundos a receita para ter certeza que estava fazendo tudo certo (e que por sorte, tinha tudo de que precisava...), quando senti minha cintura sendo envolvida por trás.
– O que está fazendo? – me perguntava ele apoiando o queixo sobre o meu ombro.
– Apesar de até já ter escolhido os nomes há muito tempo, – respondia sem tirar os olhos do que fazia – ...agora não é uma boa hora para maternidade.
– Foi mal. Mas eu bem que gostaria disso. Se aquele fanático por poder não existisse, seria possível? – _suspiro_ (cadê os meus psiquiatras?).
– Eu não sei. Posso terminar agora? E ainda preciso tomar um banho!
– Pode. – ele me soltava após me beijar o topo da cabeça. Lhe segui com o canto do olho até ele entrar no banheiro onde, pelo barulho, tomava o banho dele.
Assim que concluí aquela mistura, virei-a goela abaixo (tomara que ela seja tão efetiva quanto as outras poções que testei). Engolida aquela coisa, azeda como limão, pensei em verificar as outras poções do livro e ir juntando os ingredientes. Mas mudei de ideia ao ver Lance deixando o banheiro. Tomei um banho beeeem caprichado. Acho até que acabei me livrando de uma camada de pele! (tem muito nariz potente em Eel) Quando deixei o banheiro, o quarto já estava arrumado, e era 06:20hs em ponto.
– Vou atrás do café. – falei já abrindo a porta – Depois... acho que ainda quero lhe fazer algumas perguntas. Para entender melhor tudo que aconteceu. – ele não respondeu nada, apenas me assentiu e eu saí.Miiko
No momento em que o Leiftan me interrompeu de ir tomar o meu banho ontem, logo tive um mal pressentimento. Não sei se é por causa dos contaminados que tinham acabado (e terminado) de chegar ou por outro motivo, mas com o pedido dele de que eu, Karuto e Ewelein, nos encontrássemos às quatro e meia da manhã em seu quarto, junto de Nevra e Ezarel, esse pressentimento ficou ainda mais forte.
Aproximada a hora do encontro, todos chegavam aos poucos e de forma discreta. Eu fui a primeira a chegar já que não estava conseguindo dormir direito. E quando aqueles três começaram a explicar o porquê de tudo aquilo...
– A-a Cris está, escondendo, o Lance!?! E-e ele ainda é-é o guardião dela?!?! – gaguejei ao terminar de ouvir aqueles três.
– E mesmo se apaixonando pela Rainha e ter sido bem tratado por ela, o imbecil tentou matá-la. – a voz do Karuto era indiferente, mas sua irritação estava bem clara em sua fisionomia.
– E você ainda os ajudou Ewelein!? – encarava a enfermeira que não parecia tão surpresa como eu – Foi você que colocou aquele aviso que o laboratório estava interditado para “esterilização”, para que eles não fossem interrompidos??
– Não. Não fui eu que coloquei o aviso, mas já imaginava que fosse apenas um disfarce. Nevra me convenceu a ficar calada quando ouvi o Lance conversando com a Cris na enfermaria na noite em que eu estava de plantão. – (ela sabia disso desde aquele dia!?!?).
– E graças a isso fui tratado como um inferior por minha própria Sub-líder. – declarou o Ezarel um tanto indignado.
– Bom lembrar “líder”. Quando é que vocês vão me entregar o relatório escrito sobre as reações dela nesse interrogatório? E eu pretendo examiná-la ainda hoje!
– Eu vou fazê-lo! – Ezarel parecia irritado – E conhecendo a Paladina...
– Paladina?!? – Karuto, Ewelein e eu questionamos juntos.
– Sim, Paladina. “Caçadora” não me parece mais combinar com a Cris. E tenho certeza que ela vai ficar me perturbando até eu lhe entregar o relatório Ewelein. ... Se não acabar me obrigando a fazer coisas desagradáveis...
– Ainda acho que a Cris está mais para uma “ladina” do que para uma “paladina”. – metia-se o Nevra – E boa sorte hoje com a sua “senhora”. – terminou ele com um risinho que fez Ezarel esfregar a mão no rosto, preocupado (ela com certeza vai se vingar dele...).
– Ok. – aquilo tudo era coisa demais para absorver de uma vez – Ainda tem mais dessa tal poção da verdade? E... só nós seis é que estamos sabendo de tudo do que está sendo tido aqui?
– Produzi algo próximo de dois tubos redondos G cheios até a boca, que pretendo transferir a frascos menores mais tarde para ficar mais fácil de esconder, e evitar abusos como acabei fazendo. – explicava o Ezarel.
– Abuso esse que acabou ativando seus efeitos colaterais, não é mesmo? – insinuava a Ewelein deixando o Ezarel desconfortável.
– Que efeitos? – Karuto questionava.
– Cada gota da poção tem duração de meia hora e elas se acumulam se tomada mais de uma gota. Segundo o meu grimório, não é aconselhável tomar mais que três gotas da poção, pois a poção meio que arranca a informação daquele que a toma, diretamente de sua mente, ao mesmo tempo em que completa a informação ausente, de modo simplista, para que aquele que a bebeu consiga continuar respondendo. É através desse “completar” que a poção distingue o que é absolutamente verdade e o que é mentira. O efeito disso é dor de cabeça, pelo aumento/extração de informação; e sensação de sufocamento, resultado da resistência em dizer a verdade ou de tentar contar uma mentira. Se a dor de cabeça se tornar insuportável com o continuar excessivo de perguntas, o corpo daquele que bebeu a poção também passa a agir de forma mais honesta. Por exemplo: se a pessoa estiver contento o desejo de matar alguém que está próximo, alcançado o limite da dor, o corpo realiza esse desejo...
– Qual é o nome dessa poção?
– Bom, Karuto, ela se chama Norns Visdom.
– “Norns”? As deusas bárbaras do passado, presente e futuro?
– Exatamente Miiko. Ao que entendi, essa poção cria uma espécie de conexão entre quem a consome e essas deusas, permitindo àquele que a bebe ter acesso à verdade absoluta.
– E quantas gotas vocês empurraram pra cima da Rainha, Leiftan? – voltava a questioná-los o Karuto.
– Acho, que, de seis a oito horas... – respondeu o Ezarel bem baixinho e meio encolhido. Pela forma com que o Karuto o encarou, não ficaria surpresa se hoje fosse servido “filé à lá elf”.
– E também graças a isso não fomos os únicos à obtermos resposta por meio da Cris...
– O que quer dizer com isso Nevra? – perguntei estranhando aquele olhar distante dele.
– Nevra, não vai me dizer que...
– Sim Leiftan, o Gelinho também fez as suas perguntas. – respondeu o vampiro ainda de olhar no vazio, com Leiftan e Ezarel ficando nervosos.
– Nevra, como é que você sabe disso? Você sabe onde que é a “gaiola dourada” do Lance?! – ele respirou fundo, sentando-se de modo a apoiar-se sobre os próprios braços com os dedos cruzados.
– Eu sei Miiko. – _boquiaberta_ – Tenho vigiado aqueles dois desde o começo, não contei nada por causa das ameaças que o Gelinho havia feito e porque eu conseguia uma informação ou outra observando aquele cara, como por exemplo, o fato da Ykhar ter ficado grudada na Cris até que as duas retornassem ao rochedo em que a nossa brownie costuma aparecer. – tomei um novo choque (então foi por isso que ele me questionou sobre eu já ter falado ou não com a Ykhar no dia que a Cris refez os passos dela?).
– E quando que foi isso? – Ezarel o questionava – Nós demoramos para nos separarmos ontem.
– A Cris já estava na cama quando eu cheguei. Foi, o Lance que “falou” comigo me dizendo ter descoberto o que fizemos. Ele até nos chamou de ptérocorvus pelo o que fizemos com a Cris!
– Como se ele tivesse agido de forma melhor... – declarava com sarcasmo o Karuto.
– Nisso ele se auto comparou com um greifmar e um blobby em relação ao seu comportamento com a Cris. – o sátiro acabou lhe erguendo uma pestana – Também disse não confiar nenhum pouco em nós para garantir a segurança dela... – (acho que é porque foi ele quem a salvou tantas vezes...) – ...e, que com o que descobriu por meio da poção que a fizemos beber, ele desistiu de uns dois terços de seus planos...
– E o que mais ele lhe disse? – era o Ezarel – Ainda é arriscado revelar sobre a “gaiola” dele? Quero dizer, tirando o fato que há um maluco atrás de todos os aengels e dragões de Eldarya?
– Como é que é a historia?! – esqueci que o Karuto não está sabendo desse detalhe.
– Depois eu explico isso pessoalmente Karuto. – (Lance e Cris são os meus focos agora) – Continue Nevra, o que mais ele lhe falou? Ele revelou a fonte de informações dele pelo menos? – ele ficou quieto (e eu não estou com paciência) – RESPONDA criatura!
– Há algumas coisas que eu queria confirmar a veracidade antes... E acho que ainda corremos o risco dele querer deixar Eel carregando a Cris consigo então... Não direi mais nada por hora. – _suspiro_ todos nós parecíamos desconfortáveis – Prometi a Cris que iriamos repassar para ela o que nós três decidíssemos, sobre tudo isso...
– De minha parte... – era o Karuto outra vez – Eu já sei o que fazer.
– E o que tem em mente Karuto? – lhe questionei.
Ficamos conversando por mais um tempinho (até quinze para as seis da manhã para ser mais precisa), decidindo manter aquilo tudo entre nós até recuperarmos o Cristal de Apókries ou nos livrarmos do nosso inimigo de lá. O que vier primeiro. Pedi um dos frascos de poção da verdade ao Ezarel (tenho as minhas próprias perguntas à fazer para a Cris...) e nos dispersamos com eu seguindo Ezarel até o laboratório.Cris 2
O ocorrido com o Lance ontem à noite não me abandonava a mente. Foi só depois que entrei no Corredor das Guardas que eu me lembrei que eu tinha um outro problema... (o que será que aqueles três decidiram, heim...? e com quem será que eles dividiram a minha “confissão”?). Respirei fundo para me manter calma até a hora da verdade. Cumprimentei o Karuto assim que o vi.
– Bom dia Karuto! – lhe sorria.
– Bom dia Rainha. – a frieza com que ele me deu “bom dia” me fez perder o sorriso na hora (será que...) – Entre na cozinha, agora! – não estava afim de irritar a fera então obedeci em silêncio – Sente. – me pediu ele me apontando o lugar sobre a mesa – Daqui você não sai até que tenha consumido até a última gota! – determinou ele enquanto deixava o meu leite e... um prato de mingau azulado (é, eles contaram pro Karuto).
– Eh... Ezarel, Leiftan e Nevra conversaram com o senhor? – perguntei analisando aquela coisa de aparência pegajosa.
– Sim. Comigo, com a Ewelein e com a Miiko. – (aiaiaiaiaiaiaiaiai...!).
– Eeeeuu, estoumuitoencrencada?? – questionei me demorando com o meu leite.
– Digamos que a partir de hoje, todas as suas refeições serão debaixo das minhas vistas! Também passará a trabalhar na cozinha como ajudante para garantir que comerá tudo o que eu lhe servir, e o “Gelinho”, receberá a sua própria refeição, que por sinal vai ser sempre igual à sua! Ah! E as próximas quinze refeições que Anya vier a fazer no QG será mingau, sem falar que irei parar de fornecer uma porção generosa a vocês duas, já que não existirá mais um “ladrão” de comida.
– Por... quanto tempo irei receber... “mingau”? – perguntei ainda não indo com a cara daquela coisa – E como é que o Gelinho vai receber a parte dele?
– Hehehe, ele já recebeu a parte dele. – encarei o cozinheiro que sorria assustadoramente – Absol esteve aqui e ele fez a entrega para mim, junto de um pequeno recado meu. Hehehe!... – (ai, caramba...) – Agora coma de uma vez. – reordenava ele.
Eu encarei aquele prato (que parecia queijo azul derretido com um cheiro adocicado) e, a contragosto, acabei provando. Não me pergunte como foi que cheguei nesse sabor, mas parecia que eu estava comendo banana amassada com requeijão e menta (não é à toa que todos detestam esse mingau) – Por quanto tempo mesmo que terei que comer essa coisa?
– Duas semanas. – (uahrg...) – E só no café da manhã. – menos mal (eu acho).
Eu ainda olhei pro Karuto um instante e ele parecia um segurança de shopping me vigiando comer. Ele só me desviava o olhar para atender alguém, mas nem por isso deixava de me vigiar comendo. Ele também conhece o truque dos espelhos...
Quando eu finalmente terminei de comer aquela coisa que me deixou meio enjoada, Karuto me mandou ir ver a Ewelein e depois a Miiko (oh meu Jesuuuus...) e que só não ia ter uma conversinha comigo, porque não queria me impedir de “aproveitar” o meu “escravo” (eu vou fazer o Ezarel se arrepender, aaah se vou!).
Fui devagar até a enfermaria para não acabar devolvendo aquele troço pro chão e a Ewelein me fez um checkup completo. Não tive coragem de dizer tudo o que passei ao lado de Lance ontem (quem é que teria na minha situação?!) e ela percebeu. Ela não me pressionou à dizer nada, mas se dispôs a me ouvir sempre que eu precisasse, o que me deixou um pouco mais aliviada e grata ao mesmo tempo. Ewelein me liberou, me mandando encontrar a Miiko que já me aguardava do outro lado da porta (_suspiro_ hora de enfrentar o chefão dessa dungeon...).Miiko 2
Chegando no laboratório, eu continuei seguindo o Ezarel até o quarto secreto dele (mas ele ainda não se livrou desse cômodo?!?) e lá dentro, me surpreendi com a variedade de frascos ornamentados que havia sobre uma das bancadas.
– Mas o que significa isso, Ezarel?? – questionei pegando um para ver melhor.
– Coisa minha e da Purriry. Consegui negociar a minha dívida com ela lhe prometendo algumas essências se ela me fornecesse os frascos. Como há alguns pequenos, pensei em utilizar alguns deles para guardar a Poção... – ele trazia dois grandes frascos redondos cheios de um líquido transparente – ...o que lhes servirá de disfarce, apesar... daquela purreka me cobrar 50 moedas por frasco que eu pegar para mim...
Fiquei impressionada. Alguns dos frascos não pareciam valer tanto assim, enquanto outros valeriam muito mais... – E os que estão com etiqueta são os já concluídos? – perguntei ao notar alguns cheios e outros vazios.
– Exatamente. A felina não veio buscá-las e nem eu tive tempo de entregá-las. Sem falar que das mil que preciso fornecer à ela, só pude entregar 250 até o momento.
– Contando com as prontas? – não parava de inspecionar aqueles frascos (o artesão que os criou tem os meus mais sinceros parabéns!).
– Não, só com as já entregues mesmo, eu aproveitei bem a folga que recebi por conta da Lua Púrpura. – continuei examinando os vazios – Te deixo escolher um para a sua parte da Poção se você pagar pelo frasco. – disse ele já enchendo um verde com corrente dourada – E por sinal, além de mim, é claro, e da senhora, quem mais vai ter direito à um frasco de poção da verdade?
– Bom, Nevra e Leiftan podem ter um frasco cada. Enche esse azul pra mim e peça que o Kero desconte do meu salário para pagar pra você. – falei após escolher uma garrafinha quadrada azul e coberta de gemas verdes e azuis.
– Está pegando um bem grande... Pretende fornecer o acesso da poção para mais alguém?
– Eu, acho que deixarei a Erika e mais uma pessoa ter da poção... enche esse aqui também. – agora entregava um redondo rosa ornado com uma ninfa, flores e cristais lilases – Qual devo escolher para a Erika?...
– Me diz que você vai pagar pelos três... E pra quem pretende entregar esse segundo?
– Não se preocupe, eu vou pagar. Não importa pra quem eu vou dar esse florido, acha que a Erika iria gostar desse coração aqui? – pegava um frasco com corrente em formato de coração.
– Sabia que você está pegando frascos bem grandes? Porque não aproveita e escolhe os frascos do Leiftan e do Nevra? Vai dar algum para a Ewelein ou para o Karuto? – ele já enchia o meu.
– Tudo bem. – peguei um roxo com corrente – Esse é do Nevra. – procurava um para o Leiftan – Mas não acho uma boa ideia dar uma poção dessas para o Karuto... aqui, – entregava um pequeno cosmos com corrente também – ...pro Leiftan, e tenho certeza que a Ewelein não teria coragem de usar uma coisa dessas em situação alguma!
– E eu ainda tenho que escrever o relatório sobre os efeitos dessa poção...
– Sem esquecer que hoje a Cris é a sua primeira “Mestra”.
– Eu posso acabar morrendo por causa dessa sua punição... – ele começava a preencher o frasco do Nevra – Pegue logo os frascos que já enchi, entrego os de Nevra e Leiftan depois.
– Qual é a data de validade dessa poção? – perguntei pegando os frascos das garotas.
– Se guardadas corretamente e mantidas em boa preservação, de um a dois anos.
Ezarel me explicou os cuidados que precisaria ter e me reforçou as recomendações de uso e contraindicações. Deixei-o terminando de preencher os frascos que dava até a poção terminar e pude ver a Cris entrando na enfermaria. Fui conversar com o Karuto sobre como que a Cris se comportou diante dele (ele pode ter melhorado incrivelmente na cozinha, mas isso só deixou o seu “mingau punição” ainda mais castigável) e aproveitei para pegar um jarro de suco de frutas vermelhas e dois copos (a Cris não vai querer beber a poção de boa depois do que aqueles três - e provavelmente o Lance - fizeram) deixando-os em meu quarto com os frascos de poção. Fiquei a esperando do lado de fora da enfermaria.Cris 3
Miiko me chamou para conversar com ela dentro de seu quarto, e como não tinha lá muita escolha, aceitei acompanhá-la. O quarto da Miiko era de aparência oriental com alguns toques de natureza ocidental. Quase todos os móveis eram próximos ao chão e feitos de madeira. Bem iluminado, as cores marrom, azul e violeta predominavam. A pequena mesa redonda no centro do quarto era cercada por almofadas que vinham a ser os assentos, e sobre ela, um arranjo de flores e uma garrafinha linda a enfeitando, mais uma jarra cheia com copos que ela enchia me convidando para sentar.
– Vamos lá Cris. – (e começa o terceiro interrogatório...) – Aqueles três me repassaram o que você contou à eles e... como eu posso dizer... Estou espantada? – respirei fundo já tomando um gole daquele suco que era um milhão de vezes melhor que aquela gosma (e que por algum motivo me deixou uma sensação familiar) – Foi por causa do, “Gelinho”, que você se recusou a fazer parte da Reluzente?
_suspiro_ – Foi. Eu disse que não me considerava digna de fazer parte dela...
– Mas não disse os verdadeiros motivos. – lhe desviei o olhar e tomei outro gole – Pelo pouco que aqueles três arrancaram de você...
– Não foi tão pouco assim. – falei terminando de beber metade do copo.
– É. Talvez. De qualquer forma, entendi que o Gelinho se esconde em seu quarto às vezes, isso é correto?
– Bom... – (não é “às vezes”, é quase sempre!) – Podemos dizer que sim. – (considerando que eu podia ter escolhido um lugar para substituir o meu quarto) declarei esvaziando o copo.
– Você teve chances para nos contar das ameaças dele, não é mesmo?
– Acho... que não aproveitei nenhuma, não é mesmo?...
– Não confiou em nós, na Guarda de Eel, para poder ajudá-la?!
– Nã... – senti minha voz travar. (?!?) Tentei falar que não era aquilo, mas não conseguia, e aquela sensação de sufocamento... – Miiko,... – ela me encarava sem entender o que acontecia – ...você, por acaso, não colocou daquela poção no copo que me serviu, colocou? – a vi arregalar os olhos (tá tudo explicado). Respirei fundo e comecei a analisar melhor o que eu pretendia dizer.
– Como descobriu? Estava tentando mentir pra mim, por isso está assim?!
– Não é que eu queira mentir Miiko... – eu tive chances de pedir ajuda, mas não queria quebrar o acordo feito! Acordo que arranjei por culpa do medo... – Tive uma sensação de familiaridade quando bebi esse suco e, pensando muito bem agora, eu realmente não confiei em vocês para poder pedir ajuda... Nevra e os outros explicaram o acordo que o Gelinho e eu fizemos?
Ela respirou fundo – Sim, eles contaram. O Gelinho a ameaçou de sair matando todos se você não o permitisse se esconder com a sua ajuda, onde você acabou criando o acordo que lhe protegeria e à Eel também.
– E que se eu o quebrasse, ele fugiria de Eel matando todos que lhe cruzassem o caminho e me levando com ele. _suspiro_ Sempre escutei a frase: “Promessa é divida!” Então eu não podia simplesmente quebrar o acordo que tinha feito, ainda mais com a possibilidade de ele ferir inocentes.
– Tudo bem, você agiu da forma que considerou mais segura para todos e isso acabou a salvando algumas vezes, já que foi ele que impediu o Wugâhya de conseguir todos os poderes que queria.
– O o quê?!
– Wu-gâ-hya, como não descobrimos quem é aquele mago, Leiftan sugeriu que o chamássemos assim por enquanto.
– E o que isso significa? – (acho que já ouvi essa palavra...).
– Significa “demônio” na Língua Original. – (sabia que era familiar) – O Gelinho está mesmo a ensinando a usar seus poderes e essa língua??
– Sim, é verdade. Não é muito fácil, quero dizer, os poderes eram bem complicados até a passagem da Lua Púrpura que me facilitou e muito, mas essa língua... é quase impossível!
– Você pode pedir ajuda de outras pessoas para aprender! Kero ou Leiftan são os melhores no que se refere à Língua Original, e Valkyon e Erika não podem ajudá-la com os seus poderes?
– Não é que eu não queira a ajuda de todos eles...
– Então é o quê?
– O método. Consigo avançar muito mais rápido e fácil com os métodos do Gelinho que, segundo ele, são os mesmo da mãe adotiva dele, Alanis.
– Ele te contou sobre o passado dele?!?
– Sim, e muito mais. – ficamos conversando por um tempo, que nem sei quanto tempo se foi! Das conversas que trocamos, da nossa convivência, como que Anya e Absol me ajudavam com ele, mas quando chegou sobre “contatos íntimos”... – Miiko, é... eeeuu não quero lhe mentir, mas...
– Ele não te forçou a nada, forçou?
– Não, nada disso!!! Quero disser, eu meio que o provoquei uma vez sem querer, mas consegui convencê-lo de mudar de ideia... – (será que foi por isso que ele não me deixava falar ontem?) – ...e ele me pediu desculpas no dia seguinte. – (também me confessando o seu ciúme) – Então... eu...
– Atiku duweke... – começou ela – Ezarel nos explicou das reações provocadas na presença dessa flor, o que sente por ele?
(ai caramba) – O que eu sinto? – (nem eu estou me entendendo depois de ontem!) – Acho, que me sinto um tanto confusa com toda essa historia. Afinal, você já sabe o que ele tentou fazer, certo? Que ele... Mesmo depois de se perceber...
– Sim, eu sei. – suspirava ela com um pouco de melancolia – Você é muito mais forte do que podia imaginar. Não é qualquer um que consegue aquentar tudo o que você passou.
– Mas não acho que seja mais difícil do que o Ezarel me aprontou anteontem... – comentei por comentar. Nos encaramos em silêncio por uns instantes, com ambas abrindo um sorriso bem devagarinho até finalmente rirmos um pouco.
– Realmente, aguentar você naquele estado é algo quase impossível de lidar. Você acha as minhas caudas tão bonitas assim?
– Honestamente? – ela me assentiu (será que o efeito da poção já acabou e eu nem vi?) – Talvez seja porque não estou muito acostumada a ter kitsunes como parte de uma vida normal, mas o brilho e mover das suas caudas são algo quase hipnotizante de tão bonitas.
– Er, bem, _corada_ acho que podemos dar por encerrada essa conversa. – assenti em concordância e comecei a me levantar – Mas espere! Há algo que quero lhe entregar!
– O quê? – a vi pegando e me estendendo a garrafinha que estava sobre a mesa.
– Isso. – ela me fazia segurar a garrafa – Um frasco contento Nonrs Visdom, a poção da verdade.
– Como?!?
– Como você é um dos principais alvos do Wugâhya, seria bom você ter um pouco da poção por segurança. Você já se mostrou ser muito esperta pra essas coisas então...
– Entendi Miiko. – falei suspirando – Agora se você me permitir, tenho um certo elfo para colocar pra trabalhar... – A Miiko deu uma risadinha.
– Ah! Antes que eu me esqueça, ontem à noite chegaram os últimos contaminados capturados nas outras províncias. Porque não vai vê-los depois do almoço?
– Pode deixar Miiko....
Abaixo estão os frascos que a Miiko escolheu para guardar a Norns Visdom, os que Ezarel pegou, e os que ficaram para trás. No lugar deles, vocês trocariam algum? (reforçando que os frascos não estão proporcionais).
Usados:
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Não usados:
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.。.:*♡ Cap.87 ♡*:.。.
Lance
Quando minha parte do café chegou, eu percebi três coisas estranhas: primeiro, chegou rápido demais; segundo, a vasilha estava mais pesada que o esperado; e terceiro, Absol nunca ficou animado em me entregar a minha comida antes.
Sentei-me à mesa e quando eu abri a vasilha... Eu simplesmente fiquei chocado. Era aquela porcaria azul!? E quando eu li o bilhete que havia sobre a comida...
“Então quer dizer que o “mascote” que anda roubando as minhas Rainhas é um lagarto de gelo?!” – não acredito que aqueles três abriram o bico pro sátiro... _enjoado_ – “Não gostei. Mas compreendo as razões delas para me esconderem a verdade, SEU CANALHA! Não pense que porque elas me fizeram um senhor bem que eu, o Grande Karuto, as deixarei sem punição.” – ao menos não sofrerei sozinho! – “Como me foi explicado que há um louco atrás da Cris e de seus semelhantes, e que você, apesar de ter sido um imbecil intratável...” – (bode velho) – “...diante do que fez com a minha Rainha,...” – (ok, eu mereço) – “...não irei te deixar passar fome já que você a salvou algumas vezes. Continuará comendo o mesmo que a Rainha, só que cada um com a sua própria porção. E ai de você se cometer mais uma burrice com a minha Rainha!! Absol me trará a vasilha de volta, QUE DEVE ESTAR VAZIA! Ele ficará te vigiando para que coma tudo assim como eu irei ficar vigiando a Cris.”
Encarei aquela coisa sem muita vontade. Pensei em jogar fora e passar fome de manhã, mas no que eu comecei a querer me mover pra fazer isso, o Absol começou a me rosnar.
“Não prestou atenção no que leu ou só realmente acredita que Absol não irá atender o pedido que o cozinheiro fez à ele?”
– Vou mesmo ter que comer esse troço?!? – mexia aquele negócio que repuxava.
“Se tivesse me ouvido e não continuado a fazer burrices como te mandei, teria uma garrafinha de leite acompanhando isso aí. MAS, como preferiu continuar sendo um idiota...” – _suspiro_ (a Cris está realmente sendo obrigada a comer isso??) – “Está. E ela gostou disso tanto quanto você.”
– Quem mais ficou sabendo de mim? – comecei a comer aquela gosma repulsiva.
“A Ewelein e a Miiko. É melhor não errar mais com a Cris agora!”
– E o quê que eles estão sabendo exatamente? O quê foi que o sanguessuga decidiu da nossa “conversa”?
A Negra me repassou tudo o que aqueles três relataram enquanto empurrava a minha “comida” pra dentro, com Absol de olho duro em mim, além das decisões tomadas por todos (ah, se eu pego aqueles três...).Ezarel
Assim que eu terminei de preencher o quinto frasquinho (após completar o sétimo preenchido com o primeiro frasco redondo que veio a faltar um pouco) com a poção do segundo frasco redondo, a Purriry me resolveu aparecer para me buscar as essências já prontas, mas aquela felina entrou tão rápido quando eu abri a porta que quase não a consigo impedir de começar a pegar os frascos errados (o primeiro que ela ia pegando era justo o meu!).
Entreguei à ela os frascos certos e ela se mostrou curiosa demais sobre o conteúdo dos outros frascos. Para calá-la, contei que era uma poção de classe Arcana, nível S (uma vez ouvi Purral dizer que o Purroy, melhor alquimista da sociedade purreka, só não era melhor ainda porque não conseguia produzir poções de classe Arcana, então devia ser o bastante para Purriry não me querer a fórmula para eles), mas infelizmente não foi o bastante. Pelo contrário, só a atiçou mais ainda!
Eu até que resisti bastante a lhe dar mais informação que isso, mas com a oferta de baixar o preço dos frascos vazios de 50 moedas para 35... Acabei soltando a língua. São poucos os alquimistas que conseguem reproduzir poções de classe Arcana, nível S então!... A Purriry me ofereceu cobrar apenas metade pelas garrafinhas se eu enchesse um frasco, de escolha dela, com a poção da verdade para uso exclusivo dos purrekos, mais a quitação de metade de minhas dívidas com os outros felinos. Nem é preciso dizer que eu aceitei. Só não esperava que ela fosse me escolher o maior de todos os frascos! Acabei despejando toda a poção que ainda restava no segundo frasco!! (mas ao menos agora, ao invés de ter que pagar 450 moedas de ouro (sem contar os 150 da Miiko), só tenho que lhe entregar 225. Será que repasso isso à Miiko? _sorriso ganancioso_).
Com a conclusão mais cedo de parte do meu serviço, e aquela purreka indo embora com as essências (e a poção) dela, guardei os frascos de Norns Visdom que permaneceriam no laboratório e saí para entregar os frascos do Nevra e do Leiftan para eles. Eu ainda pude ver a Paladina entrando no quarto da Miiko (espero que elas demorem pra caramba!). Me apressei para escrever aquele bendito relatório antes que a Ewelein viesse me cobrar ele outra vez. Coisa que acabei fazendo dentro do meu quarto mesmo.
Gastei uns 40min para escrevê-lo. Ao deixar o quarto para poder entregá-lo, a Miiko e a Paladina faziam o mesmo.
– Ora, ora! Se não é o meu elfo doméstico!
– O seu o quê?! – de onde raios a Paladina tirou isso??
– Já terminou o relatório que a Ewelein ficou te cobrando? – a kitsune me olhava com indiferença.
– Já Miiko. Eu estava indo entregá-lo agora, por quê?
– Porque você pode adicionar a este relatório que, se uma pessoa tomar da poção uma vez, ela percebe se tentarem lhe empurrar pela segunda vez.
– Como?!? – e eu que estava pensando em usá-la outra vez com o Kero... – Como foi que você percebeu Paladina?
– Paladina?? Você realmente acha que eu me pareço com algum tipo de heroína?
– Apenas me responda logo! – (já sei que ela vai me ferrar hoje mesmo!).
– Senti algo de estranho no gosto. – disse ela de cara feia – Algo que me pareceu bastante familiar. Uma... sensação desconfortável e nostálgica ao mesmo tempo. Mais ou menos isso. Quando que o Ezarel vai ser meu Miiko? – não estou gostando dessa ansiedade dela...
– Além do relatório que tem que entregar, o que mais você teria para fazer de urgente e de prioridade da Guarda, Ezarel? – (acho que vou mesmo guardar o desconto da Purriry pra mim).
– Nada. Só este relatório mesmo. – falei ainda inconformado.
– Então, assim que ele ficar nas mãos da Ewelein... Ele é todo seu Cris. – _injuriado_.
– Sendo assim, eu acompanho o Ezarel pra ter certeza que ele não vai me enrolar! Até uma outra hora Miiko!
– Até. E não se esqueça de tudo o que conversamos!
– Pode deixar!! – terminava as duas de conversar com a Paladina me empurrando pra fora do corredor enquanto a Miiko entrava na Sala do Cristal.
Entreguei o documento para a Ewelein, repassando a descoberta da Miiko. A Ewelein nos segurou por alguns minutos ainda para questionar a Paladina sobre isso. “Livres” finalmente, a Paladina começou a me arrastar até o quarto dela dizendo que precisava guardar uma coisa me segurando pelo pulso.
– Dá pra você soltar o meu braço?!
– Prefere que eu lhe coloque uma coleira? – (DEMÔNIA!).
– Pode puxar menos? Sou bem mais alto que você. – ela acabou rindo e reduziu só um pouquinho o seu passo – Você... não vai me colocar para limpar o seu quarto, vai? – perguntei no meio do percurso.
– Ah, não! Isso é castigo do Gelinho. – (ela o domou a este ponto?!?) – Francamente, eu nem sei como é que vou fazer pra você me pagar por sua “brin-ca-dei-ra”. – acabei engolindo seco com o tom dela. – Só por curiosidade, quantos anos você tem, hein, elfo idiota?
– Você quer a minha idade de fato ou a proximidade humana?
– Os dois.
– Tenho 90 e meio. Em termos humanos, seria uns 25 ou 26 anos mais ou menos.
– 25 ou 26, é?! Vou começar a te chamar de pirralho a partir de hoje.
– E porque se sou mais velho que você? – já havíamos chegado no quarto dela.
– Você só é mais velho como elfo, porque em termos humanos, o mais velho aqui sou eu! – reconheci o frasco que a Miiko levou enquanto ela o guardava na penteadeira (ela deu da poção pra Cris por causa do Gelinho??) e além do mais...
– Como assim “em termos humanos eu sou mais velha”? Quantos anos você comemorou?
– Faça as contas! – fechei o cenho – Isso se você conseguir obter a minha data de nascimento com o Kero SEM o uso da poção! – ela sabe complicar as coisas...
– Tem alguém que o saiba além do Kero?
– Ninguém. – _boquiaberto_ – A única coisa que uma pessoa sabe, e agora você também, é que eu sou mais velha que o meu chefe!
(mais velha que o Valkyon???) – Quem é essa outra pessoa?!?
– Eu.Lance 2
Após finalmente terminar de comer aquela gororoba, entregado a vasilha vazia para o black-dog e terminar de ouvir tudo que o sanguessuga, meu ex-sócio e o bobo-da-corte desembucharam entre si e com os outros três por meio da Negra, fiquei pensando o quê que eu iria fazer hoje.
“Porque não ajuda a Cris a cuidar do “escravo” dela? Você bem que merecia estar naquela lista.”
– Viu minhas lembranças ou só assistiu aquilo tudo mesmo?
“Hihihihihihihi, nenhum dos dois! Hihihihihihihhihihi.” – argh! – “Mas é sério. Você já sabe que o Nevra fez aqueles dois jurarem sob a ameaça de punição das Keres, que ficariam calados sobre você estar fixo neste quarto. E não, às vezes, como eles, deixaram, a entender...”
– E eu ainda “tenho” que ficar calado sobre você e a sua irmã?
“Sim. Você já falou até demais para o Nevra. Nós mesmas iremos nos apresentar e nos justificar quando for a hora certa.” – (e quando que vai ser isso?) – “Na hora certa! Hora essa...!” – essa Negra tem o dom de me irritar... – “Eu vou indo. Aqueles dois vão aparecer a qualquer momento. Até outra hora Gelinho!...” – (argh! Pra quê que aquelas duas me foram inventar um apelido desses!?!).
Não demorou muito para eu começar a ouvir aqueles dois à porta (continuo não acreditando que essa Ladina é mais velha que eu...). Por hábito, escondi-me atrás do biombo, porém, seguindo o conselho da Negra (que me informou que esse idiota já sabe onde é minha “gaiola”) e aproveitando que ele estava de costas pra mim, respondi eu mesmo a última pergunta dele.
– Eu. – ele quase deu um pulo ao me ouvir _riso_ – Cris, me diz que eu posso ficar com um pedacinho desse imbecil. Eu também tinha o direito de estar naquela lista!
– E o que você exigiria dele? Sabe que Eel precisa dele vivo, né? – o imbecil estava pálido e sem saber o que falar.
– Apesar dele merecer uma boa surra pelo o que te fez, contento-me em lhe torturar o psicológico, posso?
– Te imploro clemência Paladina! – pediu ele claramente assustado.
– Olha eu... Mas que cheiro é esse?! – um cheiro desagradável havia acabado de surgir no quarto.Cris
Depois de “enfrentar” a Miiko e “capturar” o meu “elfo doméstico” Ezarel (que o fiz ficar curioso sobre minha real idade _risinho_), eu não sabia bem o que fazer com o Ezarel primeiro. Fiquei nervosa quando o Lance resolveu sair e ainda mais quando ele me pediu um pedacinho do meu “servo por um dia”. Eu ainda estava tentando pensar em uma resposta quando um cheiro ruim que só, invadiu o quarto. Procurando a fonte, vi Absol, abanando a cauda, de frente ao banheiro.
– Absol! Não me diga que a fonte desse mau cheiro é você! – e ao chegar perto... – Argh! – era realmente ele, encarei meu “servo” (já sei qual vai ser a primeira ordem dele).
– Espera aí Paladina! Você não está querendo que eu banhe ele, está? – ele sorria nervoso (e eu maliciosa).
– Pois é exatamente ISSO que eu desejo...! – ele me arregalou os olhos enquanto o Lance segurava o riso – Da última vez que tive que dar um banho em Absol, gastei um booom tempo. O Gelinho é testemunha. – um riso escapou do Ezarel.
– Se você começar a me chamar por este apelido elfo de araque, eu te dou um soco! – ameaçou o Lance ao ouvi-lo e Ezarel não gostou muito.
– Mas e se ele resolver me morder? – Ezarel voltava a me encarar, de braços cruzados, não gostando de sua primeira ordem.
– É só não se deixar ser mordido, ora essa! E você é bem rápido quando quer. Lembra quando tentou roubar do meu prato pela primeira vez? – ele suspirou revirando os olhos.
– Tá, ok, eu banho o seu black-dog. – falou ele já enrolando as mangas e torcendo o nariz ao se aproximar de Absol – Vamos logo pro chuveiro, guardião fedorento.
– Depois vemos qual será sua próxima tarefa. E eu quero o Absol bem limpinho, hein! – tudo que recebi de Ezarel foi um resmungo.
– O que acha de retomarmos suas aulas de Língua Original enquanto o elfo está ocupado? – sugeriu-me o Lance ao pé do meu ouvido, arrepiando-me por inteiro.
– M-mas só se você me tratar com respeito! – acho que acabei corando, pois ele me deu um sorriso largo como resposta.Ezarel 2
ARGH!!! Pra quê que eu fui fazer aquilo com a Paladina?! Se com ela estou tento que passar por esse sufoco, o que os outros vão querer fazer comigo? Eu devia ter pensado em alguma outra coisa para garantir a presença da Paladina no laboratório ontem.
Eu gastei o quê? De duas a três horas para sumir com a catinga que Absol tinha? Até parece que ele tinha sido atingido por xixi de pelo menos 15 mascotes selvagens ao mesmo tempo! Sem falar que se eu não tivesse ficado atento a boca daquela criatura, eu teria levado ao menos duas mordidas. Até mesmo usei uma das novas essências que estava criando pra Purriry (para faerys de olfato e pele sensível) nele, pra ver se ele passava a carregar um cheiro melhor agora!
Quando eu finalmente terminei de secar o pêlo daquele traiçoeiro, começamos a deixar o banheiro sem fazermos barulho algum, e pude observar a Paladina e o Gelinho (é ruim que não vou usar esse apelido pelas costas dele!) sentados à mesa estudando, no que pude perceber. Fiquei lhes escutando a aula (assim descanso por mais tempo!), mas acabei lhes interrompendo quando tudo ficou um pouco mais... particular.Cris 2
Sei que disse ao Lance que tinha algumas perguntas para ele, mas com o Ezarel tão perto da gente, não quis me arriscar. Fiquei com as aulas de Língua Original mesmo e eu já estava começando à pegar algumas palavrinhas.
– Certo, agora tente ler esta frase aqui. – ele me mostrava o escrito.
– “Fyvlu, pan o ocu tlovo haim vúem lohkeyfem”? – ele suspirava (errei de novo...).
– A pronúncia é: “fyplu, pao o ovu tlohvo ham vúem nlohkeyfam”. Ao menos consegue traduzir corretamente? – encarei a frase novamente, coçando a cabeça.
– Er... “livre, voam as brancas... nos céus limpos”? – ele esfregava a mão no rosto (mas que droga!).
– “Livre, voa a ave branca nos céus tranquilos”. Ao menos você chegou mais perto dessa vez. – _suspiro_ – Vamos tentar algo mais curto. – ele escreveu apenas duas palavras – Tente ler e traduzir.
– “Gu julwau”? – ele me assentia (finalmente consegui ler certo!) – Hãm... “me...” o quê? – eu não me lembro dele já ter usado essa outra palavra...
– “Me perdoe”. – traduziu ele me segurando uma das mãos e me olhando de um jeito, que acabei muda e vermelha. Sem saber o que dizer.
– Er, hum... – Ezarel interrompia fazendo o Lance me soltar e eu me assustar – Eu já acabei com Absol. Interrompo algo importante? Já sabe qual vai ser a minha próxima... “tarefa”? – disse ele com um pouco de malícia e desgosto na voz.
– N-não. Quero dizer... – ai caramba, como é que eu me meto nessas situações?
– Já é quase hora do almoço,... – Lance estava diante da janela, observando o lado de fora – ...porque não o coloca para buscar as nossas refeições? Assim você poupa um pouco da sua energia já que verá mais “doentes” depois que comer. – aquela não era uma ideia ruim...
– Eh... Ezarel? – lhe perguntei com ele dando um suspiro.
– Vou procurar ser rápido. A não ser que queiram que eu demore...
– Se não estiver de volta em no máximo 20min, juro que o faço se arrepender! – o ameacei vermelha e ele saiu rindo do quarto (mas que peste!).
– Está com medo de ficar sozinha comigo depois de ontem? – Lance me perguntava de braços cruzados, recostado à janela e me olhando um pouco triste.
– Não é isso, é que...
– É que o quê?
– Argh! Eu ainda estou confusa! Não sei o quê foi ao certo que me deu ontem, assim como ainda não esqueci o que você me fez e nem o significado dessa flor que você meio que me deu. Essa Atiku duweke nunca erra mesmo? – falei apoiando a cabeça na mesa.
Lance se aproximou e se ajoelhou diante de mim – Juro que irei me redimir dessa barbárie que lhe fiz. Devia ter desisto de querer continuar aquilo no momento em que aquele etheralm me entregou essa flor, já que, assim que a tive em mãos, na hora eu quis entregá-la a ti. Prova irrefutável do que eu sentia e não queria admitir.
Acabei mordendo o lábio de nervoso – E... o motivo de você... não falar nada e nem quase me deixar falar também...
– Se recorda do que me pediu no dia em que me perguntou se eu era um gejo?
– Não muito...
– Você me pediu que, se aquilo que estava prestes a fazer com você fosse por sentimento de amor, que eu ficasse em silêncio. – _corada_ – E como você só precisou de palavras para me convencer a parar... não quis me arriscar. – terminou ele com um sorriso terno que me fez engolir seco e suar frio com o rosto queimando (oh minha Nossa Senhora, me acode aqui!).
– Ehr, bom, hum... – fiquei olhando por tudo que é lado procurando um jeito de escapar só um pouquinho daquilo – O... que você sabe sobre a Atiku duweke? Eu meio que não consegui prestar atenção no que Ezarel me contou. E... você já tinha visto uma antes? Por isso que a reconheceu? – falei pegando o frasco com a flor e os pousando em meu colo.
Ele me sorriu com uma mistura de ternura e tristeza, voltando a sentar-se à mesa – Eu nunca cheguei a ver uma dessas, essa aí é a primeira que eu vejo em minha vida.
– Então...??
– Alanis tinha um livro que falava sobre plantas especiais que eu gostava muito de ler. Foi com ele que eu conheci a Atiku duweke. – ele recolocava a flor sobre a mesa – As imagens eram bem detalhadas e com cores bem nítidas, então sou capaz de reconhecer qualquer uma delas se eu as ver hoje.
– E... o que esse livro falava dela? – ele começou a me contar o que sabia e eu não estava gostando do que ouvia, principalmente quando compreendi o porquê de ter ficado do jeito que fiquei quando Ezarel me pediu algumas amostras da flor (alguém me interne no hospício mais próximo. Eu fiquei louca de vez! Estou apaixonada por este assassino?!?! Se minha mãe descobre, ela me mata).
– Está tudo bem com você, Cris? – estou transtornada por compreender o porquê da “traição” dele ter me doído tanto.
– Tá! Está sim! – mas também não quero que ele tente tirar proveito disso – O Ezarel não está demorando com a comida, não? – (cadê este elfo para me tirar desse aperto?).
Ficamos em silêncio. Não deu nem dois minutos e ele finalmente me resolveu aparecer. Só que acompanhado...
.。.:*♡ Cap.88 ♡*:.。.
Nevra
Enquanto procurava um lugar para esconder a “conversa” que o Gelinho e eu tivemos, ficava relendo aquilo sem parar. Eu estava em dúvida se contava ou não aos outros sobre aquilo, e se eu contasse, eu contava tudo ou só uma parte?
“Não fale sobre nós.” – levei um susto ao ouvir isto, e fiquei mais chocado ainda ao ver a Semente Branca em minha porta – “Tudo tem o seu tempo certo.”
– É só sobre você e a Semente Negra que eu preciso ficar calado por enquanto? – acabei perguntado.
Como resposta, ela apenas me assentiu e sumiu em seguida. Parei pra refletir (ela não teria me pedido isso se não fosse realmente importante, não é? E se “tudo tem o seu tempo certo”... significa que elas mesmas vão revelar isso quando for a hora?). Depois de reler aqueles papéis mais umas cinco vezes, decidi manter segredo sobre as oráculos e sobre a “carta branca” que ele usou (ainda não consigo aceitar que aqueles dois estejam... “juntos”) _suspiro_.
Na reunião, muita coisa acabou sendo discutida. Karuto decidiu voltar a me fornecer minhas porções em quantidade normal, fazendo o mesmo com as suas “rainhas” e fornecer uma porção própria para o Gelinho. Miiko disse que, depois de conversar com a Cris, iria falar com o Almir para ver se ele preferia continuar fingindo ser o Gelinho, ou se saía de lá, informando à Eldarya inteira de sua fuga, para ver se atrapalhávamos os planos dessa seita de Apókries.
Ao acabarmos, Miiko seguiu Ezarel até o laboratório; Leiftan foi com a Ewelein para saber mais sobre a poção, e eu acompanhei o Karuto até a cozinha para poder falar com a Anya quando ela chegasse. Ela apareceu antes da Cris.
– Oi Chefinho. Bom dia, Karuto. Qual é o café de hoje? – falava ela animada. Karuto e eu nos entreolhamos sérios e ela notou – O... que aconteceu? Porque é que vocês dois estão estranhos?
– Anya, – comecei – ...vamos ter uma conversinha, pode ser?
– Sobre o quê? Vocês estão me assustando!
– A bancada não é um bom lugar para vocês se falarem. – comentava o Karuto – Me acompanhe vocês dois.
Karuto nos levou até o novo jardim dele e Anya pareceu impressionada com o lugar que por sinal, está cada vez melhor. Ele nos deixou sozinhos e pus Anya para sentar-se.
– Como que eu começo tudo Anya...
– Que tal, pelo motivo do senhor e do Karuto parecerem tão anormais hoje?
– Ok! – (já que foi você que pediu...) – Já sabemos que a Cris está escondendo o Lance com a sua ajuda. – Anya travou – Para ser franco, eu já sabia de tudo isso desde o começo. – ela ficou boquiaberta – Eu testemunhei o acordo que o “Gelinho” e a Cris fizeram.
– M-ma-mas... então, por... que...
– Porque eu não os denunciei antes? – ela apenas me assentiu – Por causa das ameaças que ele fez e porque estava conseguindo informações importantes demais enquanto vigiava aqueles dois.
– Q-quem mais sa-sabe? – ela esfregava as mãos nervosamente – E, p-porque re-resolveu... só falar a-agora?
– Antes eu queria resolver isso sozinho, mas o Leiftan e o Ezarel acabaram se envolvendo. – via-a engolir seco – Ewelein acabou ouvindo a conversa deles quando a Cris estava internada e, depois que fizemos a Cris nos contar tudo...
– Como fizeram isso!?!?
– Já chego lá. Bom, depois de ela contar tudo para mim, Leiftan e Ezarel, repassamos as revelações dela para a Miiko e para o Karuto, além de completar o que a Ewelein já sabia. – Anya estava branca.
– Como foi que conseguiram fazer a Cris quebrar com o acordo que ela tinha com o Gelinho? Ela é boa em guardar segredos.
– E você está aprendendo com ela, não é mesmo? – ela apenas engoliu seco mais uma vez – Ezarel conseguiu fazer uma poção da verdade com a ajuda de Leiftan. – Anya arregalava os olhos – Nós a fizemos beber ontem depois de ter lhe mandado cuidar da Shaitan pra mim, e ela nos contou muito mais do que eu esperava ouvir.
– Eu... posso saber o que foi que ela lhes contou? E o que é que a Miiko decidiu fazer com a gente? – ela até podia estar parecendo calma agora, mas com aquele coraçãozinho a mil...
– Vou deixar você saber isso com a Cris. Sobre as decisões tomadas... – repassei a ela que as duas continuariam escondendo o Lance por causa das pessoas que estavam atrás de todos os aengels e dragões de Eldarya; que as duas receberiam punições do Karuto por mentirem sobre a comida que recebiam e, que depois que a Miiko conversasse com o Almir, ficaria decidido se manteríamos ou não o “falso Lance”. Além de outras coisinhas.Miiko
A conversa que tive com a Cris me foi um tanto dolorosa, mas dentro do esperado. Só não imaginava que aquela poção pudesse ter mais um ponto fraco. Entreguei os frascos que tinha escolhido para confiar à ela e à Erika, para depois seguir para a prisão (o que será que o Almir vai pensar de tudo isso?...).
Chegando lá, após pedir ao guarda que vigiasse a entrada da prisão e que não permitisse a entrada de ninguém enquanto eu falava com o “prisioneiro”, notei que o Almir realmente parecia mais refletivo, como me havia sido dito.
– Bom dia meu caro, podemos conversar? – falei me sentando próxima às grades e de ouvidos atentos.
– Pela sua cara, vejo que o assunto é bem sério.
– De fato. – repassei ao Almir tudo o que a Cris havia “revelado” sobre o Lance, que pareceu deixá-lo muito mais pensativo e o questionei sobre ele querer continuar fingindo ou não ser o Lance – E então, qual seria a sua escolha.
– O que você acabou de me contar... – porque ele está tão estranho? – Responde bem a questão que eu não conseguia resolver...
– Que questão Almir?
– Você sabe que, depois que o pessoal aprisionou os sobreviventes que nos atacaram no dia do baile, eu vi aquela gente morrer assim que eles se viram dentro de uma cela, correto? – Apenas lhe assenti – Pois bem, um deles foi deixado bem ao meu lado e, enquanto ele agonizava por causa do veneno, ele acabou dizendo algo que me manteve intrigado até o momento.
– E o que foi que ele disse? – a intrigada agora sou eu.
– “O traidor ainda está aqui, então porque falhamos?” – fiquei perplexa (COMO???) – Miiko, você disse que o líder daquele pessoal está seguindo o que foi dito por uma vidente; Lance é o guardião da Cris e já estragou os planos desse mago várias vezes; e aquele subordinado disse uma coisa dessas ao me ver como Lance?! É óbvio que eles precisam de Lance acorrentado onde eu estou, o que significa...
– Que fazê-los acreditar que Lance continua preso, nos dá mais chances de atrapalhá-los...
– Exatamente Miiko. Eldarya precisa continuar acreditando que: Lance está na prisão de Eel.Anya
No momento em que o Chefinho me revelou que a Cris, tinha aberto a boca sobre o Gelinho após ele e o Karuto agirem de forma tão estranha, pensei que ia morrer. Meu coração batia tão rápido que quase acreditei que ia precisar de um Ritual de Captura de Alma.
Ele me contou como foi que descobriu tudo e com a ajuda de quem, e quem carrega o conhecimento da verdade sobre o Lance: ele, Ezarel, Leiftan, Ewelein, Karuto e (_suspiro_) Miiko. Ele me repassou algumas coisas, mas tenho certeza que ele não estava me contando tudo (vou ter que tentar descobrir com a Cris e com o Gelinho). Aproveitei para tirar algumas dúvidas.
– Quando eu te perguntei sobre o que tinha acontecido com você e a Cris, e claro, com o Gelinho, durante a Lua Púrpura, o senhor deixou a entender que se lembrava do que tinha acontecido. O senhor realmente se lembra do que houve?
– Err... Sim, eu me lembro. Não era para eu ter lembranças daquilo, tanto que de início pensei ter sonhado o que aconteceu, porém encontrei algumas provas que aquilo tudo tinha de fato acontecido. Principalmente depois da Cris ter confirmado algumas coisas ao falar de sua passagem para a Miiko.
– E porque o senhor conseguiu se lembrar dessa vez?
– Segundo os exames que a Ewelein me fez, o sangue que acabei tomando dela, me permitiu manter as minhas lembranças. Assim como a maana dela a ajudou a me manter mais ou menos controlado durante a passagem da Lua. – (mas a Cris é mesmo poderosa, hein).
– A razão de você quase me matar durante os treinos, era por causa do Gelinho tão perto de nós duas? – ele assentiu suspirando – E agora os meus treinos vão piorar ou continuar os mesmos?
– Olha Anya... – ele coçava a cabeça – Seus treinos já estão no limite da dificuldade que posso lhe fornecer. Preciso de você para continuar conseguindo certas respostas daqueles dois. Sem falar que, secretamente, vocês duas se encarregaram de garantir a segurança de Eldarya inteira ao risco de suas vidas. Até segunda ordem, tudo irá continuar como vocês duas... quero dizer, como vocês três – _suspiro longo_ – tem feito até agora.
– Com o diferencial que nós duas não vamos mais precisar abrir mão de nossas comidas porque o Gelinho vai ganhar a dele do Karuto; a Cris vai começar a ter um trabalho além de purificar contaminados; ela e eu vamos ser obrigadas a comer mingau; e que seis pessoas vão estar nos vigiando. – contava nos dedos – Esqueci de alguma coisa?
– De nada. – Karuto nos surpreendia – Venha logo comer a primeira das suas quinze refeições de mingau, Pequena Rainha. A Cris acabou de sair da cozinha ao terminar de comer o dela.
Quinze refeições?!? Considerando que como umas quatro vezes por dia e que sempre janto em casa sem falta, eu vou ter que ficar comendo mingau por pelo menos cinco dias?? _mareada_ Fui pra cozinha onde o Karuto me colocou no mesmo lugar em que a Cris esteve para que eu comesse a minha... gosma. Nevra sentou-se comigo para: ter certeza que eu ia comer aquela coisa toda, e para que ele me acompanhasse no castigo (já que eles abusaram da poção que empurraram na Cris). Também ficamos na cozinha para evitar suspeitas sobre o porquê de estarmos comendo aquilo ao invés de comida normal.
Acabada a “refeição”, o Chefinho me guiou direto para o treino (que procurei não reclamar mais já que agora sabia a verdadeira razão dele “tentar me matar”). Aquilo gastou a manhã toda. Mal dava conta de mim mesma ao fim daquele treino. Perguntei a ele se o Karuto me permitiria comer junto com a Cris (ela vai comer na cozinha ou no quarto, já que hoje é o primeiro dia de servidão do Ezarel?) e ele também pareceu curioso. Subimos e encontramos o Ezarel esperando pelas refeições que seriam consumidas no quarto dela.
Karuto me permitiu comer junto da Cris, mas só se o Chefinho me vigiasse comendo (eu não sei se existe alguém que goste dessa coisa...) e acabei levando um susto quando um homem passou mal bem no meio do salão causando o maior alvoroço.
Ewelein que estava perto, ao examiná-lo, disse que ele estava com uma doença de nome esquisito. Contagiosa, de avanço quase imperceptível e, que dependendo da espécie faery, mortal. A Miiko chegou em seguida e depois de ouvir a explicação da enfermeira sobre a doença, proclamou que todos deveriam ser examinados para conferir se mais ninguém estaria infectado. Ewelein e Erika montaram um plano mais ou menos para poderem examinar Eel e amanhã cedo começariam com as verificações em uma sala que já estavam preparando para alguma nova emergência como foi no baile e depois da Púrpura (_suspiro cansado_).
O Chefinho e eu subimos junto com o Ezarel.Cris
Eu pensei que quando o Ezarel retornasse finalmente com as marmitas, eu conseguiria fugir da saia justa em que estava me enviando, mas parece que a sorte gosta de brincar comigo.
– Será que eu posso saber por que é que você não está sozinho Ezarel? Sem ofensas Anya! – falei liberando a passagem para os três.
– Não me ofendi. – falou a Anya meio desanimada e ajudando o Nevra e o Ezarel a separar as marmitas.
– Eu estava aguardando a comida quando esses dois apareceram pedindo para lhe fazer companhia – explicava Ezarel – Demorei um pouco mais porque apareceu um hylian doente no meio do salão, e agora a Ewelein vai ter que examinar todo mundo de Eel para poder conferir se há outros com a mesma doença.
– O que é um hylian mesmo, Anya?
– De forma mais simplificada, hylians são como mini-elfos. Não passam de 1,5m de altura, são excelentes com todos os tipos de magia, vivem quase tanto quanto os elfos, e se se esforçarem um pouco, são super fortes também.
– Se não fosse pelas orelhas, eles seriam facilmente confundidos com os humanos, já que não possuem as mesmas capacidades dos elfos de verdade. – adicionou Ezarel à explicação de Anya – Agora chega de conversa e venham pegar os seus.
Fomos todos à mesa, inclusive o Lance (mais alguém está se sentindo um tanto, desconfortável?) e passamos a reparar nos pratos um do outro. Os pratos do Ezarel, Lance e meu estavam iguais: filé de frango acebolado, arroz com legumes e salada verde; Nevra tinha meia porção de (arrghh) mingau e meia porção de arroz; e a Anya, coitada, só tinha aquela coisa azul pra comer (Karuto que me perdoe, mas eu não vou deixar isso assim não!). Cortei uma ponta de meu frango e coloquei na vasilha de Anya, pegando e enviando uma garfada daquela gosma na boca (que tive que tampar com a mão para conseguir comer).
– Porque foi que você fez isso?! – perguntou ela (e pela cara dos outros, eles tinham a mesma pergunta).
– Não é justo que você só coma essa coisa se até o seu chefe recebe alguma comida de verdade junto. – falei ao terminar de engolir e comi um pouco do arroz para esquecer aquele gosto ruim. Nevra e Ezarel me olharam feio enquanto Anya sorria – E se algum de vocês dois se atrever a contar ao Karuto que eu fiz isso, deixo o Lance fazer o quiser com vocês! – ameacei eles – Menos matá-los! – alertei Lance que perdeu o sorriso que adquirira antes, para alívio dos líderes.
– Bom... – Lance repetia quase o mesmo que eu sobre a comida – Eu posso te ceder um pedacinho do meu também, uma vez que já tirei bastante de você, mas de jeito nenhum vou te ajudar com essa porcaria aí. – (me pergunto se há algum outro motivo...) – O sanguessuga e o bobo-da-corte tem algo contra? – Ezarel e Nevra apenas negaram com a cabeça.
Como eu não tinha muitas cadeiras (ainda estou acumulando para conseguir comprar mais duas pelo menos), Ezarel e Nevra ficaram na mesa, Anya e eu ocupamos a cama, e Lance sentou-se na poltrona. Durante a refeição, a pedido de Anya, eu contei tudo o que aquela poção me obrigou a revelar. Ou pelo menos, o que eu consegui lembrar (teve muita coisa que Lance me perguntou e eu não prestei atenção por causa da dor de cabeça).
Acabada a comida, apesar de Lance ter sugerido que Ezarel levasse todas as vasilhas vazias de volta pra cozinha, Anya se dispôs a fazê-lo com Nevra a acompanhando, assim Ezarel não poderia fugir de mim enquanto cuidava dos últimos contaminados de Eldarya (eu espero...). Deixei Lance com Absol e fui até o porão com o meu “servo”. Lá, Ezarel falou com o pessoal responsável que trouxeram até mim sete contaminados. Como eu já disse antes, eu passei a prestar mais atenção no que eu cantarolava para que talvez me passasse a ficar mais fácil de cuidar deles e graças a isso, além de já compreender algumas palavras, notei que eu ficava repetindo aquele cântico (espero aprendê-lo logo!).
Quando acabei com aqueles sete (três brownies, dois duendes e dois fenghuangs), ao invés de ficar livre do controle do Cristal, tive vontade de ir até a prisão. E eu fui (detalhe, eu não me sentia cansada ainda. Será que a Púrpura aumentou a minha resistência?). Ezarel até que tentou me impedir, mas eu acabei foi é o arrastando junto comigo. Na prisão, o guarda responsável pelas chaves, as escondia de mim, mas não foi lá muito útil... Entre os encantamentos que aprendi com o Lance, havia um para usar contra trancas. E ele funcionou direitinho!!
Passei a cuidar de todos os contaminados que estavam lá embaixo (senti o pescoço doer por conta do peso da pedra) e eu só comecei a sentir o meu corpo tremer de cansaço ao cuidar do último. Sem falar que agora eu tinha decorado o cântico (“Keu o vallejvõa julvo a mue jaeul. Keu a jlucewyvowa jammo fyplu mul! U keu ug jos jammo pafnol o pypul, vaga o fes wa Oráculo keu pafno o ovuhwul”. Espero que o Lance me ajude a compreender isso tudo de fato). Ainda tremendo e sob o controle de meu Cristal, fui até a antiga cela do Lance, onde o Almir a ocupava em seu lugar. A luz já me abandonava quando caí sentada diante dele.
– Trabalho impressionante, Lys de Eldarya. – falava ele (todos os outros estavam ocupados com os ex-contaminados).
– Não quis sair daí e deixar Eldarya saber, “Lance”?
– Aparentemente sou mais útil aqui dentro. – ele apoiava os braços, atrás da cabeça, sobre a parede – Por isso você pode ficar tranquila comigo aqui. E cá entre nós, concordo com o Nevra: você é mesmo uma ladina! Pena que você não foi para a Sombra...
– Olha, eu já desejei ser muitas coisas por conta das minhas fantasias, mas entre elas, espadachim ou arqueira eram sempre os principais. Tá certo que saber como manipular as palavras para conseguir sempre dizer a verdade, mesmo quando se esconde alguma coisa, não é lá uma tarefa muito fácil. E como não sou muito boa em mentir... – ele acabou deixando um riso escapar.
– Você é uma caixa de surpresas. Pena que não faz parte da Reluzente...
– Nem vem, que não tem!
– Cris?? – Ezarel me procurava e como resposta eu apenas lhe acenei com o braço, chamando-o em seguida com a mão – Não acha que já está na hora de voltar não? Que ideia foi essa de descer aqui!? E se você não aguentasse?
– Mas eu aguentei, não foi? – ele apenas soltou um suspiro injuriado – Ezarel...
– O quê que foi Paladina.
– Me carrega no colo...
– É o quê?!?
– Eu estou MUITO cansada. Meu corpo ainda está tremendo e meu pescoço parece que vai quebrar com o peso desse Cristal. Me carrega até a Sala do Cristal e depois até o meu quarto, vai.
– Tem ideia do quanto você pesa?
– É uma ordem. – falei da forma mais dura que podia – Ou será que terei que abrir reclamação para a Miiko.
Por um instante, Ezarel ficou irritadiço, fazendo até mesmo o Almir rir, mas acabou cedendo – Se o Gelinho tentar me matar por isso...
– Ele também está de castigo, esqueceu? Deixe que dele cuido eu.
Almir acabou segurando outro riso e Ezarel me pegava no colo. Subimos e depois seguimos para a Sala do Cristal, onde a Miiko quase caiu pra trás ao ver o Cristal em meu pescoço. Ezarel me sentou bem próxima à grande pedra onde eu devo ter rezado todas as orações que conhecia para poder me livrar de todos aqueles fragmentos, enquanto Ezarel repassava para Miiko o que eu tinha feito lá embaixo. Voltando a ter só uma pedrinha no meu pescoço, chamei outra vez o Ezarel para ele me levar ao quarto. E outra, vez, ele o fez contrariado (só que sem resistência, já que a Miiko estava do lado). Dentro do quarto, estava mais que na cara que Lance não gostou nem um pouco de me ver nos braços do elfo (Ezarel mais que se apresou em me deixar sobre a cama).
– Como foi lá embaixo. – questionava o Gelinho claramente enciumado.
– Cuidei de TODOS os que estavam lá. – ele ficou boquiaberto e Ezarel resmungava alguma coisa na língua dele bem baixinho – Pode me anotar uma coisa rápido, antes que eu me esqueça?
– Diga. – respondeu ele com papel e caneta já em mãos. Citei à ele o cântico que fiquei repetindo sem parar na cabeça para não esquecer – Isso por acaso é o seu cântico de purificação?
– Se eu não tiver trocado nenhuma letra enquanto memorizava... É. – ele começou a analisar o transcrito (e acho que ele esqueceu que Ezarel continua sentado na minha cama, só observando) – Eu... acabei pronunciando alguma coisa errada?
– Só se foi na hora de me repetir agora. – ele não tirava os olhos do papel – A forma como você cantava isso, me atrapalhava de compreender as palavras e agora...
– E agora o quê?
– “Que a corrupção perca o seu poder. Que o prejudicado possa livre ser! E que em paz possa voltar a viver, como a luz do Oráculo que volta a acender.” Até que seria um encanto bem simples se não fosse o formato da melodia.
– Hum... Ezarel! – meus pés ainda formigavam, assim como quase todo o resto do corpo – Massageia os meus pés.
– QuÊ!?!? – os dois falaram juntos.
– O que ouviram! Ezarel, os pés estão de certa forma conectados ao corpo inteiro, eu não peço pra me fazer uma massagem completa, porque você pode acabar sem a cabeça antes mesmo de terminar. – o vi engolir seco – E Lance, eu estou pedindo só os pés, e se você insistir em não aceitar, ele terá que massagear você! E o corpo inteiro. – os dois acabaram esfregando o rosto, cada um de um jeito.
– Isso é parte de suas punições para mim? – perguntou o Gelinho e eu assenti.
– O seu ciúme é exagerado demais pro meu gosto, então você pode usar isso pra dar um jeito nele. Sem falar que assim, Ezarel pensa duas vezes antes de tentar qualquer coisa. – os dois se encaram em silêncio – Mas... Se preferir ser você o massageado...
– De jeito nenhum!
– Nem pensar!
Os dois falaram quase juntos. Sorri traquina e, depois de me ajeitar deitada, estendi um de meus pés pro Ezarel que me encarou com cara feia, mas atendeu meu pedido. Mesmo sentindo cosquinhas às vezes, e observando hora Ezarel (que se mostrava desconfortável) e hora Lance (que parecia estar se corroendo), eu acabei adormecendo.Lance
Eu não sei bem o quê é que me faz me preocupar com Anya ao ponto de lhe ceder a minha própria comida (será que é por causa da Cris?). Observando-as durante a refeição, acabei me lembrando de mim e do Valkyon quando éramos mais novos (será essa irmandade que me faz preocupar-me com ela?). Aqueles líderes de araque conversavam entre si ao mesmo tempo em que prestavam atenção na conversa delas. Quando todos terminaram de comer, dei a ideia de colocar o “escravo temporário” para levar as vasilhas vazias para baixo, no entanto, a elfinha resolveu levar ela mesma as vasilhas (pelo menos ela levou o sanguessuga consigo. Pela cara dele, tenho certeza que ele ainda queria “conversar” comigo).
Sem o que fazer depois que a minha Ladina me deixou sozinho com o black-dog dela, resolvi fazer meus exercícios: aquecimento com alongamento... 50 agachamentos... 50 flexões... 50 simulações de movimento... e 50 abdominais (mas o que raios aqueles dois estão fazendo que não voltam??). Já ia dar umas três e meia da tarde e nada deles voltarem. Tomei meu banho, onde gastei apenas uns cinco minutos, eu mal deixei o banheiro e eles resolvem finalmente retornar (e ela faz de propósito; não é possível!).
Não tinha como eu não ficar incrédulo depois do que ela disse (o quão poderosa ela de fato ficou depois daquela Lua?!?). Transcrevi o que ela me pediu e eu só precisei corrigir duas ou três letras do que ela tinha me pronunciado enquanto traduzia aquilo (sei que ela vai querer entender isso melhor) e ela gosta de me ver remoendo. Só pode! Pedir pro elfo massageá-la bem diante dos meus olhos?! Precisei engolir, pois a segunda opção me era tão pior quanto. Mas uma coisa eu não podia discordar, tenho que dar um jeito neste meu ciúme, ou vou acabar cometendo uma besteira tão grande que me fará perdê-la de vez!
Tentei me manter no lugar em que estava. E se eu já a estiver conhecendo bem, mesmo com esses risos (tenho que me manter frio; tenho que me manter frio.), mais cedo ou mais tarde ela dormirá. Acho que não precisei esperar nem dez minutos para ver o rosto sereno dela ao dormir. Fui até o armário atrás de um cobertor.
– Você já amassou os pés dela o suficiente. – falei enquanto a cobria – Já pode soltá-la e a deixar dormindo.
– Com todo o prazer! – respondeu ele se dirigindo ao banheiro. Terminei de cobri-la e sentei-me à mesa – A Paladina é manhosa assim com você?
– Poção de raiz de mandrágora me torturaria menos. – respondi e ele deu um longo suspiro. Estendi-lhe a mão indicando que sentasse, enquanto eu olhava a Atiku duweke – Será que... poderia dizer, como foi a reação dela... ao descobrir a verdade sobre isso? – perguntei apontando-lhe a flor – E se possível, o que foi que ela fez depois de você embebedá-la? Além, claro, de me explicar sobre essa poção que vocês empurraram pra cima dela.
– Só se você me disser o porquê de você ter direito a estar naquela lista, e o quê a Paladina deixou de contar pra pirralha mais cedo.
– Você primeiro.
Ele começou a me contar tudo. Voltei a me sentir horrível ao saber qual foi a reação dela ao descobrir... Posso não ter conseguido tirar a vida dela (o que sou bem grato agora), mas eu quase lhe matei o espírito se ela precisou receber uma Poção da Felicidade às pressas. E também, recebi um pouco de esperança ao ouvir sobre a reação dela quando o elfo lhe pediu amostras (mais do que nunca preciso me redimir com ela).
Quando ele começou a me contar as coisas que ela fez enquanto bêbada, precisei cobrir a boca para não acabar a acordando com meu riso (que só não era continuo por culpa do meu ciúme). Chegada a minha vez de falar sobre o assunto, o elfo ficou vermelho com o que eu descrevi, sem deixar de ao menos sorrir com o desespero que senti naquela noite.
– Não esperava isso da Paladina! Ela é bonitinha, mas também é uma praga em minha opinião.
– Ela é um pouco infantil às vezes, mas eu não me importo. E trate de não ter interesse algum nela!
Ele revirou os olhos – Eu tenho bom gosto. De jeito nenhum que iria me permitir ter algum interesse mais íntimo com ela. – o encarei desconfiado – Sem falar que ela tem um dragão de gelo aos pés dela. – não gostei, mas não posso negar – Mas passe pra frente, o que você questionou a ela sob o efeito da Norns Visdom.
Lhe ergui uma sobrancelha e ele passou a me explicar sobre a poção da verdade ao lembrar que não tinha mencionado sobre ela ainda. Com eu lhe recontando todas as perguntas que eu fiz, forçando os limites da poção, em seguida. Ele me pareceu preocupado quando falei da carta branca que tinha recebido, e passou a ficar mais vermelho que uma maçã ao saber como que eu a utilizei.
– Então... Você e a Paladina... Realmente...
– Ao final da primeira vez...
– Primeira?!? – acabei olhando a Cris pra ver se ela ainda dormia.
– A tomei duas vezes. – o elfo parecia em choque – Acordei com ela preparando uma poção pra ela por causa disso hoje cedo. – falei indo buscar o livro dela na estante – E agradeceria se o “servo” dela pudesse preparar mais algumas, pois não irei me satisfazer com apenas uma noite. – ele acabou por arregalar os olhos – Tenho muito trabalho para compensá-la pelo mal que lhe fiz... – ele acabou assentindo em silêncio – Bom, continuando. Ela se fez algumas perguntas quando essa poção aí ainda estava ativa, e que eu não a questionei sobre isso.
– Quando e o quê você conversou com o Nevra? – ele verificava as poções do livro.
– Depois que ela adormeceu ao terminar de se interrogar. O sanguessuga não contou sobre a nossa “conversa”?
– Ele disse que tinha algumas coisas que ele queria confirmar primeiro. – _sorriso_ (resolveu guardar uma parte pra si) – E acho que já estou sabendo muito mais do que eu gostaria. – ele se erguia – Estou indo pro laboratório, se o que você disse for realmente verdade, o material que preciso está todo lá.
Abri a porta para ele (que não havia sido trancada) e me pus a encarar a dorminhoca (é melhor eu acordá-la ou ela passará a madrugada em claro).
.。.:*♡ Cap.89 ♡*:.。.
Cris
– Acorde. – alguém me balançava – Você já dormiu bastante. – (mas está tão quentinho...) – Vaaamos! Ou vai ficar acordada de madrugada. – acabei abrindo os olhos, era o Lance quem me chamava – Anda, levanta daí. – disse ele já tirando a coberta de cima de mim (ô! Tá frio!).
– Sabia que você é bem chato quando quer? – ele apenas fungou um riso, dobrando a coberta – Cadê o Ezarel? – questionei ao não achá-lo no quarto.
– No laboratório. – ?? – Fiz um “pedido” a ele e por isso o elfo não está aqui.
– Que tipo de pedido?
– Você não está com fome não? – não gosto quando ele fica mudando de assunto... – E nem com vontade de tomar banho? Já vai dar 05:30hs!
(Caramba!) – É mesmo melhor eu levantar agora. O que vocês fizeram enquanto eu dormia? – falei pegando as coisas para tomar um banho – E cadê o Absol? – (quando é que ele vai parar de desaparecer desse jeito?).
– O alquimista e eu só conversamos. Absol sumiu faz uns cinco minutos, o que será que ele está procurando pra você agora?
– Nem imagino! – falei do banheiro – Mas só espero que não seja nada importante ao ponto de ser um problema se chegar atrasado!
– Como a sua pedra Tamashi? – pela distância da voz, ele devia estar próximo ao armário.
– Exatamente como ela! – encarava o meu bracelete – O que você e o Ezarel conversaram? E que pedido é esse que você fez a ele?
– Conversamos sobre o que você não contou à Anya. – _corada_ (ai meu Pai...) – E quanto ao pedido que fiz, digamos que é algo que você vai precisar.
(Que eu vou precisar?) – Do que está falando?Ezarel
Não acredito na conversa que o Gelinho e eu tivemos. Até ele está chamando a Cris de Ladina! E depois daquela nossa conversa... estou começando à concordar com aqueles dois.
– Ezarel? O que faz no laboratório? – e falando do Minaloo... – Não era pra você estar “servindo” a Cris?
– E ao Gelinho. – ele se aproximou sem entender – Nevra, porque você não nos contou que o Gelinho tomou a Cris pra si? E ainda bem que a Miiko não sabe onde verdadeiramente é a Gaiola dele, ou é possível que ela desse mais um dia comigo para a Cris por causa dele. O que a Cris fez com ele nem chega aos pés do que ela fez com os outros! Anya já foi pra casa?
– Foi. E eu disse que queria confirmar algumas coisas primeiro. – ele se sentava próximo – E acaso você está se referindo à sua lista de “senhores”? O que a Cris aprontou com o Gelinho?
Contei o que o lagarto fugitivo me tinha repassado e o Nevra pareceu reagir quase do mesmo jeito que eu – Até eu fiquei com medo de que ela o matasse ao acordar, depois que ele me disse que pretendia me assombrar se fosse morto por causa daquilo...
– Nossa! Eu não pensei que a Cris pudesse ser tão...
– Ousada? Ou prefere maluca?
– Acho que os dois servem. Essa poção aí tem algo a ver com o que acabou de me contar? – suspirei.
– É başlamadan. – ele ficou boquiaberto – Estou fazendo 15 frascos, mas espero mesmo que ela não use nem metade disso. Se bem... que eu acho que o Gelinho não compartilha da minha opinião. Assim que terminar, irei entregar à ela. E meu primeiro dia de servidão acaba.
– Parece que você acabou confirmando uma das coisas que eu ainda tinha dúvida... – ele ainda se mostrava incrédulo – Mas... se isso é mesmo verdade, quem tem bom olfato, como eu e o Chrome, vai acabar desconfiando de algo ao sentir o cheiro do Gelinho.
– Já tenho uma solução para isso também. – pegava uma nova essência em que trabalhava antes da nossa reunião de madrugada – Dê uma cheirada nisso.
– Mas que coisa é essa?!? – perguntou ele repugnando o perfume – O cheiro em si não é ruim, mas é forte demais pra mim!
– Chrome também o refugaria? Você e ele são os com melhores olfatos em Eel.
– Sem hesitar. Pretende dar isso à Cris para evitar deles serem descobertos?
Assenti com a cabeça, concluindo a poção que preparava – Já que aqueles dois e o “Lance” vão continuar com o que fazem por enquanto, melhor dar uma mãozinha a eles. – levantei-me para buscar algumas rolhas para fechar as poções.
– Eu ainda quero ter uma conversa em particular com aqueles dois e... A Miiko me avisou antes de eu entrar aqui, que Almir descobriu algo interessante sobre o nosso “probleminha interno”.
– Apókries? – perguntei sem fazer som e ele assentiu.
– Parece que teremos uma nova reunião amanhã... – (já estou ficando de saco cheio dessas reuniões _desanimado_).
– Bom, – pegava a caixa com as poções e o perfume – ...se você me der licença, vou por fim ao meu dia de servidão entregando isso aqui.
– Até amanhã então. Já que a Ladina está mesmo com o Gelinho, acho melhor eu dormir essa noite antes que eu adormeça nos corredores!
Um riso me escapou. Permanecemos lado a lado até alcançarmos o quarto dele, onde passei a continuar sozinho.Lance
Enquanto a Cris tomava banho, guardei a coberta que havia usado nela e comecei a arrumar as coisas sobre a mesa. Ela ainda estava no banho quando alguém lhe bateu a porta (e aquele black-dog continua desaparecido...).
– Rainha, sou eu! – só tem uma pessoa que a chama assim – Soube o que você fez lá embaixo, e trouxe a sua refeição! – como a porta ainda estava destrancada, abri-lhe sem me deixar ser visto. O sátiro pareceu estranhar, mas entrou e foi logo deixando dois embrulhos sobre a mesa – Se você estiver aqui, “Gelinho”,... – (esse apelido deve ser parte do meu castigo...) – ...trouxe o seu também, já que está mais que claro que não foi ela quem abriu a porta.
– Você podia desconfiar de Absol, não? Ou quem sabe daquele elfo! – falei me aproximando e mantendo uma distância segura.
– Vi o ladrão de mel entrar no laboratório, então para ficar se escondendo de mim, só podia ser você. – ele me entregava um dos embrulhos – Uma outra hora quero ter uma conversa particular com cada um de vocês dois. – o olhar dele era sério.
– Então terei que me manter neste quarto para que saiba onde me encontrar, não concorda? – (principalmente se você não souber onde é minha “gaiola”).
– Não vou negar que pode ser melhor assim, “Gelinho”. – (aguente Lance... ou vai ter que comer aquela gororoba nas outras refeições também) – Amanhã converso com ela durante o café. E na minha primeira pausa, venho atrás de você. – apenas lhe assenti em concordância – Agora, com licença, ainda tenho muito trabalho.
Disse ele áspero, já saindo. A Cris deixou o banheiro uns dois minutos depois.
– Era qual dos seis, já que você abriu a porta de boa. – ela se aproximava da mesa já vestindo uma camisola e um hobby.
– O cozinheiro. Tenho até receio da “conversa” que ele deseja ter com nós dois. – a vi se arrepiar toda.
– Então somos dois. Também estou morrendo de medo dessa conversa dele. E ainda mais do café da manhã...
– Aguentei dois anos daquela coisa. – falei mordendo um pedaço daquele sanduíche que parecia ter saído do paraíso – Duas semanas para você não vai ser nada! – como resposta, ela apenas revirou os olhos com um longo suspiro.
Comemos nossos lanches e começamos a nos preparar para dormirmos. Eu não tinha muita certeza se ela iria me querer do lado dela ou não depois de ontem à noite, e também considerando tudo que aconteceu hoje... Resolvi que, a menos que ela me autorizasse, não iria chegar “perto” dela, portanto me pus a arrumar a (maldita) poltrona.
– O que está fazendo? – ela interrompia as próprias orações.
– Me ajeitando pra dormir?! – a mesma reação de impaciência dela.
– Acha mesmo, que depois do que você... e eu, fizemos ontem, eu vou me importar de tê-lo ao meu lado?!?
Acabei sorrindo – Isso significa...
– Que você pode dormir na minha cama. – não pude deixar de sentir um pouco de alívio sem perder o meu contentamento – Mas trate de me deixar dormir em paz! – me apontava ela.
Não disse nada, apenas passei a observá-la enquanto prosseguia com as suas preces sentada na cama, com eu escorado contra a mesa e feliz. Quando ela terminou, me pus de joelhos diante dela e, lhe segurando as mãos, perguntei.
– Você... realmente não vai, me mandar ficar longe de você?Cris 2
Depois de toda aquela soneca e daquele banho, sem falar no senhor lanche que o Karuto me trouxe, eu pensei que já me tornaria capaz de colocar a minha cabeça no lugar, depois de minhas novas descobertas. Mas não estava sendo bem assim...
No que eu notei que Lance planejava dormir fora da cama, eu não sabia dizer se isso era bom ou ruim. Digo, vai ser ruim pois vai prejudicar o humor dele. Mas também pode ser o jeito dele de tentar me respeitar? Apesar da forma que ele utilizou aquela carta branca... E ele estaria fazendo isso por medo ou por amor? Ai, nem sei mais em quê que estou pensando... (vamos deixar fluir como sempre garota! E as coisas vão se resolver - Mas essa é a primeira vez que me apaixono! Nunca passamos por nada disso antes, consciência. - mais um motivo para deixarmos fluir, não é mesmo? Ou prefere perder o resto de juízo que lhe resta se torturando com coisas complicadas?!) _suspiro_ De fato, ficar torrando os neurônios ainda sãos, não é uma boa ideia. Vou tentar continuar minha vida como sempre vivi. Como o rio que segue sempre em frente, sem se importar com as barreiras que lhe surge, ou com os pântanos que lhe cruza. E muito menos com os precipícios que lhe desafia (mas o jeito com que ele não para de nos encarar desde o momento que você o autorizou a dormir na cama, está ficando preocupante... - concordo consciência).
Mal concluí minhas orações, e o Lance resolve ficar sobre os dois joelhos diante de mim (de modo que ficamos quase da mesma altura) e ainda me pega as mãos _corada_ (que dom é esse que ele tem de me fazer ferver??).
– Você... – (até ele está corado?!) – realmente não vai, me mandar ficar longe de você? – (aiaiaiaiaiaiai...).
– Eh, Lance... – estava desconcertada, ele exibia o mesmo rosto que eu vi segundos antes de nosso primeiro beijo – Eu... ainda, ainda estou tentando assimilar tudo e... – comecei a sentir um arrepio com ele alisando minhas mãos sem deixar de prestar atenção em mim (ai meu Paaaai!...) – _suspiro_ E... agradeceria se você me facilitasse as coisas.
Ele apenas sorriu. Sorriu com gentileza e começou a acariciar o meu rosto e eu acabei me perdendo dentro dos olhos dele. Sempre gostei de admirar os olhos das pessoas, as “janelas da alma”, e eu reparava cada detalhe daqueles olhos, comparando com o que eu havia visto durante a Púrpura, a primeira vez em que tinha prestado atenção nos olhos daquela criatura que estava diante de mim. Estava tão mergulhada naquele azul gélido/celeste que mal percebi nossos lábios se tocando (Ah não! Esse dragão não acabou de ouvir que eu queria um tempo pra mim não??).Lance 2
Não pude me conter. Aquele rosto corado me era irresistível, e combinado com aquele olhar profundo, onde ela parecia me enxergar a alma, tive que beijá-la. Ela até que tentou se afastar, mas eu não permiti. Mesmo com ela tendo me dito que queria um tempo pra si.
Ela tentou me afastar com as mãos sobre os meus ombros, com ela meio sem jeito, (porque foi que eu demorei tanto pra enxergá-la??) mas eu apenas levei as mãos dela para as suas costas gentilmente (cadê aquele elfo com o que eu pedi?).Cris 3
(Acorda mulher! Bota logo esse dragão pra correr!) Não é porque eu não esteja me valorizando, e nem porque aquilo esteja sendo ruim. Mas aquilo estava ficando bom de um jeito, que ia se tornar perigoso. Com muito esforço, tentei lhe afastar pelos ombros, mas não deu muito certo... (mas o que é que esse ser planeja nos levando as mãos às costas!?!?!) Definitivamente estava começando a me deixar levar por aquele beijo (você é mesmo um caso perdido Cris!), mas a sensação de algo prendendo minhas mãos, junto de meu pescoço, me fez despertar.
– O que está fazendo? – perguntei como podia no meio daquele beijo.
– Me protegendo. – !?! – Não estou muito afim de experimentar suas garras outra vez.
Aaaaai... comecei a suar... – Me solte. – pedi com ele me beijando o pescoço – Agora. – ele parecia me ignorar, mas fui salva com as batidas da porta que o fez congelar – Acaso irá abrir no meu lugar?!
– Não podemos ignorar? – ele continuava imóvel (ô minha Mãe...).
– Ei Paladina, – (obrigada meu Pai por enviar o Ezarel!) – abre logo para que eu possa ficar livre! – terminou ele de disser batendo novamente na porta.
– Laaaance. – falei e, suspirando contrariado, ele me soltou. Deixei-o frustrado de joelhos ao lado da cama e fui ver o Ezarel – O que o meu “alquimista favorito” deseja com moá?
– Isto. – ele me estendia uma pequena caixa cheia de frascos, sendo um diferente – Os frascos menores são başlamadan, já o maior é uma coisinha que vai te ajudar a manter alguns narizes longe de você. Como o do Chrome, por exemplo.
– Muito obrigada. – falei conferindo o perfume (um pouco forte pro meu gosto) – Mas pra que serve esse, baş... lamadan? – ele me assentia para me confirmar o nome.
– Dê uma procurada em seu Trótula! Vai achar essa poção lá. – falou ele sorrindo de lado, mas ele logo deu um suspiro cansado – Essa poção tem validade de quatro a cinco meses se mantido sob abrigo da luz, calor e umidade. Tente, deixá-las vencer por consequência do tempo, e por desnecessidade de uso, tudo bem? – não entendi bem a preocupação dele (vou ter que dar uma olhada no meu livro), mas lhe concordei com a cabeça – Você... ainda tem alguma ordem pra mim, ou eu estou finalmente livre?
Eu até que podia pedir para que aquele elfo passa-se a noite em meu quarto (já que o Gelinho me confessou detestar plateia), mas isso seria muita sacanagem com ele, e eu tinha que colocar eu mesma limites naquele dragão.
– Err... – encarei o interior do meu quarto por um instante, deixando-o nervoso – Não. Você pode ir Ezarel.
Ele não escondeu nem um pouco do alívio que sentiu. Me desejou um “boa noite” e foi embora. Tranquei a porta e deixei a caixa que ele me trouxe sobre a mesa, pegando o perfume para deixá-lo na penteadeira. Ainda diante dela, pude sentir minha cintura ser envolvida como hoje cedo (minha Mãe, me dê a força necessária!...).
– Você sabe que não vai ser... “me agradando”, que conseguirá me fazer esquecer suas tolices, não é mesmo? – (fica fria mulher! Fica, fria!) o observa pelo o espelho, imóvel, com o rosto oculto em meu pescoço.
– Eu sei. – ele continuava me abraçando – Mas após admitir a mim mesmo o que sentia, não quero mais ignorá-la. Ou melhor, não quero mais me ignorar. – (o frasco que a Miiko me deu estava tão atraente...) – Não sei quando eu comecei a gostar de provocá-la, mas nunca me atrevi a desrespeitá-la, intimamente falando. – _suspiro_ (isso está ficando meloso...) – No entanto...
– No entanto, o quê. – falei me soltando dele e retornando para a mesa, para a caixa de poções.
– Não quero mais ficar longe de você. – eu ajeitava um espaço no armário para as poções em minha mão, sem deixar de lhe prestar atenção, mas fingindo ignorá-lo – Essas poções... – lhe olhei de soslaio – São o pedido que fiz ao elfo. – o olhei de frente enquanto deixava a caixa sobre a prateleira.
– Tem alguma coisa a ver com o pedido dele de que eu as evite precisar? – ele apenas suspirou, chateado talvez? E seguiu até a minha estante de onde tirou um de meus livros, procurando algo em específico, e o estendendo aberto para mim. Era a tal da başlamadan, e ela era... um anticoncepcional?!? _corada/olhos arregalados/suando frio_.
– Eu definitivamente não concordo com o pedido que ele lhe fez. – desviei do livro sobre a poção por apenas um instante (preciso saber tudo sobre ela) – Mas... tentarei não, lhe insistir muito, se não quiser... – desviei novamente para lhe pedir com o olhar para que continuasse – Olha eu, não sei bem como lhe provar isso mas...
– Mas... – fechei o livro, marcando a página com uma fita que gosto de deixar no meio dos livros (amanhã vejo melhor sobre isso) para ouvi-lo melhor.
– Eu... – ele voltou a ficar de joelhos diante de mim, e me abraçando as pernas (valhei-me minha Nossa Senhora...) – Eu realmente te amo. – (Mããããeziiiinhaaaa...) – Não vou querer diminuir o quão cretino e estúpido fui com você, mas eu definitivamente irei a compensar. Juro pelas almas dos dragões do “Sacrifício” Azul.
Acaso ele fez curso de “como deixar uma mulher constrangida”? (se bem que podermos ter convivido tempo demais juntos) _revirando os olhos para o outro eu_ – Lance. – continuei tentando me manter no controle – Se... o que está me dizendo é verdade, você vai parar de tentar me... “relaxar”, e me dar o tempo que lhe pedi, certo? – ele continuava mantendo o rosto escondido de mim (depois não quer que eu lhe trate como criança!). Lhe ergui o rosto com as duas mãos para lhe olhar nos olhos – Se o que você acabou de me dizer, que me ama, e que jura pelos seus ancestrais sacrificados me indenizar pelo mal que me fez, você vai me deixar eu me entender, sem ficar me provocaaaando, ceeeerto? – tudo que ele fez foi me olhar como um cachorrinho chorão (AHFF!!) – Ok, Lance. Já chega. Você não é desse jeito e nós dois sabemos muito bem disso! – ele acabou soltando um suspiro fechando os olhos e dando um sorriso malandro.
– Verdade. Acho que acabei me aproveitando de alguns dos seus pontos fracos. – ele continua agarrado as minhas pernas... – Mas... – seu rosto ficou terno, e corado (aaahhh, não fique fofo!!!) – Se não for lhe pedir muito... – _respira_ – Eu... posso, abraçá-la? Como durante a Púrpura ou na noite em que, você, me... flagrou? – tá. Agora estou super corada e um pouco triste – Por favor. – (aaaaaaiiiiiii) – Por favor! – (pare de me deixar sem jeito!) – Eu imploro...
_suspiro_ – Tudo bem. – ele me sorria (eu devia lhe dar um belo NÃO, mas a burra de coração mole aqui tinha que ceder?!) – Mas no primeiro momento em que eu me sentir incomodada, você vai ter que me largar! – terminei, retirando os seus braços das minhas pernas.Lance 3
Odeio aquele elfo! Mas não posso negar que eu estava passando um pouco dos limites, então, por mais que eu odeie admitir, foi bom ele ter aparecido e interrompido. Posso dizer que a Cris tem duas faces principais: a de uma princesinha (que pode se transformar em algo mais selvagem se pressionada) e a de uma ladina (onde se você não tomar cuidado, é totalmente manipulado por ela). Eu estava lidando com a princesa quando ele chegou, e ele partiu me deixando a ladina... (ainda bem que já aprendi a ter a “princesa” de volta!). Não foi lá muito fácil conseguir tê-la em meus braços, pelo menos, já que a “ladina” estava resistente depois daquela interrupção.
Esperei ela se deitar primeiro, aguardando seu consentimento para eu me aproximar, sentado na cama. No que ela me chamou com um sinal de mão, ficamos de conchinha. Posso não ter avançado como gostaria (já testando o başlamadan), mas ao menos podia aproveitar a presença dela um pouco mais (e dessa vez, sem ter que dividi-la com aquele sanguessuga).
Acho que nenhum de nós demorou pra dormir (o que estranhei no caso dela por ter dormido bastante à tarde), no entanto, acordei com ela querendo se levantar no meio da madrugada, tirando gentilmente meus braços de cima dela. Só abri meus olhos quando não ouvi nenhum som vindo do banheiro.
– Deixe eu adivinhar... – ela estava diante da janela e parecia surpresa por eu estar acordado – Não consegue mais dormir?
– _suspiro_ Sim. Acho que estou acordada a uma meia hora, e agora é?... – ela conferia um relógio – Três e quinze da madruga... – sorri com a cara de desgosto que ela fez ao ver a hora, comecei a me levantar também – Não! Não levante não. Pode voltar a dormir.
– Se você fica sozinha, acaba fazendo besteira. – falei me aproximando dela.
– Eu não sou tão irresponsável assim!
– Lembra da flauta?
– Isso... foi diferente. – disse ela se desviando para a janela e com o rosto meio corado. Sorri.
– E quanto a sua saída pela Grande Porta e visita para aquela coelha tagarela?
– Ah, qual é! Se levantou apenas pra ficar pegando no meu pé?! – acabei rindo (sempre consigo provocá-la tão fácil...) – De qualquer forma, – ela voltava a ficar calma – não vou sair do quarto. Pode voltar a se deitar. – ela cruzava os braços com o olhar na janela – Você não tem nenhuma obrigação de abrir mão do seu descanso por minha causa.
Comecei a abraçá-la por trás – Não tenho obrigação, mas não quero deixá-la sozinha. – reparei pelo reflexo do vidro que ela revirava os olhos enquanto suspirava – O que tanto olha? – procurei mudar de assunto.
– A cerejeira. Acabou de parar de nevar, e tudo parece tão claro com a meia lua que resolveu aparecer...
– Acaso está com vontade de visitá-la? – ela só assentiu devagar – Podemos ir se quiser. – ela me encarou – Planamos até lá e voltamos assim que você pedir ou a aurora se anunciar. Tá com medo de alguma coisa?
– Err, mais ou menos?
– Envolvo nós dois. E ao primeiro sinal de algum estranho se aproximando, nos escondemos e voltamos. – ela pareceu refletir.
– Você não vai tentar nada, vai?
– Nada que você não aprove ou aceite. – respondi lhe acariciando o rosto e ela mordendo os lábios aparentemente em dúvida – Vai querer ou não? Pela hora que você disse que era, já vão fazer a troca de vigília, a melhor hora para sairmos. E então?
– Deixe eu vestir uma roupa. – sorri – Ao contrário de você, não sou muito fã de frio.
Enquanto ela pegava camadas de roupa, vesti minha armadura no banheiro, fiquei um pouco surpreso quando a vi vestida – Está tentando combinar comigo? Porque preto e vermelho não são boas cores para se passar despercebido em meio à neve. – pode até parecer uma reclamação, mas ela ficou bonita.
– Eu não estou tentando ficar despercebida, estou tentando ficar aquecida! – disse abrindo a janela – Agora vamos logo antes que eu desista e recupere o juízo.
Eu ri. Levei-a da forma mais suave possível até a cerejeira (já que outra vez ela tentava “me quebrar os ossos”) e ela soltou aquele suspiro de alívio ao por os pés no chão.
– Você tem tanto medo assim de altura? – falei procurando por qualquer um que pudesse estar se aproximando.
– Eu não tenho asas, e se as tenho, enquanto não aprender a usá-las de forma segura, só me sentirei confortável com os pés bem firmes no chão. – _sorriso_ – E pelo o que estou vendo... – ela se aproximou de algumas armas de treino – Jamon vai dar bronca em alguém. Ele é o mais preocupado com a forma com que uma arma é tratada, e com certeza ele não permitiria que alguém as deixasse no meio do tempo ao invés de dentro da forja. – ela pegava um arco (e parece que o meu irmão está vindo). ...
– Você só sabe manusear a espada não é mesmo? – ela assentiu, agora com uma flecha de treino na mão – Porque não experimenta o arco? Saber usar mais de um tipo de arma é sempre bom sabia?
– Eu... não tenho muita certeza...
(Parece que o Valkyon resolveu nos observar um pouco) – Meu irmão que está te treinando, correto? Porque não pede à ele para te ensinar a usar o arco por exemplo? Ao menos ele já te ensinou defesa corpo-a-corpo, não é?
– Sim, mas é a Caméria quem me ajuda mais nesse ponto. Sobre as outras armas...
– Está com medo de pedir à ele, ou está querendo que eu te ensine?
– Quê!? Não! Nenhum dos dois! – ela ficou vermelha _sorriso_ – E você já está me ensinando a usar os meus dons... – ela voltava a encarar as armas de treino.
Senti que o meu irmão ia acabar nos interrompendo (vamos deixá-lo a par de algumas coisinhas...) – Você não esqueceu o nosso acordo inicial, não é mesmo? Que eu ficaria quietinho, sem fazer mal a ninguém, contanto que você tomasse conta de mim em segredo. Bom, não tão em segredo assim, graças ao sanguessuga da Sombra.
– Claro que eu lembro Lance. Mas se as coisas que você me disse ontem forem mesmo verdade, você não vai se atrever a cumprir nenhuma das ameaças que fez. Ou vai?!
Sorri, e ela parecia ficar nervosa (assim como meu irmão que parece querer continuar nos observando) – Já estou em maus lençóis com você, se eu for atacar alguém, vai ser por defesa. Sua defesa. Já que há um maluco de olho em seu poder... E dos seus semelhantes também... – ela soltou um novo suspiro, ainda segurando o arco – Vai tentar ou não??
.。.:*♡ Cap.90 ♡*:.。.
Valkyon
Hoje o dia foi longo (e com certeza foi bem pior pro Ezarel _riso_). Miiko, Nevra, Leiftan e Karuto me pareceram um pouco estranhos hoje. Erika e Ewelein ficaram ocupadas organizando as listas de faerys para serem “examinados”, e eu fiquei organizando a segurança com a ajuda do Jamon para depois aumentar um pouco os nossos estoques de armamentos, para o caso de Apókries resolver atacar mais uma vez. Miiko disse que o Almir conseguiu fazer uma descoberta interessante durante a sua missão e por isso marcou uma reunião para amanhã logo cedo (o que foi que ele conseguiu descobrir naquela cela?...).
Estou exausto. Hoje fiz parte da ronda noturna, mas como não estou conseguindo deixar a Erika sozinha por muito tempo (vai que aquele maluco decide tentar trocar de alvo primário!), sendo que até o Leiftan instalou uma barreira de segurança no quarto dele. Fiquei só até uma parte da noite e não toda de vigília (nosso quarto também recebeu uma barreira e eu também sou alvo daquele Wugâhya). No entanto... quando eu estava fechando a janela semiaberta para me deitar, comecei a sentir meu irmão outra vez, com nitidez,... e a Cris está com ele???
Olhei pela janela e pude notar uma sombra se aproximando da Cerejeira. Meu irmão sempre conseguia fugir de mim e se eu não corresse, ele fugiria de novo, então, ao invés de dar a volta por dentro do QG, pulei a janela para ser mais rápido.
– Porque não experimenta o arco? – reconheci a voz do meu irmão – Saber usar mais de um tipo de arma é sempre bom sabia?
– Eu... não tenho muita certeza... – definitivamente era a Cris que estava com ele.
Fiquei os observando conversarem sobre autodefesa, mas... desde quando eles possuem essa intimidade? E mais importante, porque que a Cris não falou nada sobre o meu irmão?!? E espera. É o Lance quem está ensinando a Cris?? Preciso de respostas mais claras.
– Você não esqueceu o nosso acordo inicial, não é mesmo? – (acordo?) travei no lugar – Que eu ficaria quietinho, sem fazer mal a ninguém, contanto que você tomasse conta de mim em segredo. – (como é que é!?!) – Bom, não tão em segredo assim, graças ao sanguessuga da Sombra.
Sanguessuga?? (“De qualquer forma, venho a observando sem ela perceber desde o dia do ataque.”) Me lembrei da conversa que tive com o Nevra, no dia que ela sumiu para treinar. (“Estou tentando obter provas físicas primeiro, ainda mais depois de descobrir que o responsável não é muito fã da Guarda.”) Pensando bem, tudo o que ele disse está aos poucos se encaixando. (“E Absol parece estar confiando nele por hora, então...”) Mas ainda não enxergo a lógica desses dois agirem tão próximos assim. E que ameaças serão essas que ele lhe fez antes?
– Já estou em maus lençóis com você, – (como assim?) – se eu for atacar alguém, vai ser por defesa. Sua defesa. – bom, isso já é uma preocupação a menos.
Continuei os observando por mais um tempo, onde a Cris começou a experimentar o arco e com Lance lhe mostrando onde ela podia melhorar. Fiquei pensando como que eu poderia abordar minha subordinada não só para prosseguir com aquele treino (que realmente será importante pra ela), como também sobre sua relação com meu irmão, sem levantar suspeitas (também vou ter que falar com o Nevra). Eu só deixei meu esconderijo depois que Absol apareceu. Aqueles dois ainda conversaram um pouco antes de Absol os levar embora por meio da umbracinese.
(Espero que essa reunião não demore muito, pois tenho muito o que falar com o Nevra).Cris
_suspiro_ Eu não esperava acabar acordando o Lance após ficar um tempo acordada (devo mesmo ter dormido demais à tarde) e muito menos que ele viesse me encher a paciência, sem falar da ideia sem noção que ele me convenceu a aceitar (e que você já queria! - tá, tá consciência, tá). Eu realmente não consigo me sentir bem sem um chão firme debaixo dos meus pés e quando chegamos na Cerejeira, o lugar estava mesmo bonito. Só não esperava ver armas de treino abandonadas ao relento do inverno (Jamon é dedicado com a segurança, o que só torna a irresponsabilidade de quem deixou os equipamentos ainda maior) _suspiro_. Acabei observando os arcos...
Não sei por que foi que o Lance resolveu comentar sobre o nosso acordo (que nem sei no que está se transformando agora), mas... Vou ser sincera aqui. Assim como confessei ao Almir, eu tinha interesse no arco (será que se Absol tivesse me dado escolha, eu teria tentado aprender o arco antes da espada?) e o Lance tinha que me fazer ficar vermelha?!
– Vai tentar ou não??
– _suspiro_ Só se você me prometer que não irá rir se eu errar! – e lá vem aquele sorriso...
– Faça do jeito que quiser. Depois eu digo o que tiver feito de errado.
Respirei beeeem fundo, ajeitei o arco que segurava para tentar um tiro, prestei atenção no vento para corrigir a mira e, após quase um minuto de concentração, soltei a flecha que acertou em cheio o centro do alvo. Lance soltou um assobio admirado.
– Nada mal, hein!
– Sorte de principiante. – falei – Acho que nunca mais acertarei desse jeito novamente.
– Se não treinar... é bem possível que nunca mais acerte mesmo.
– Alguma crítica ou sugestão? Meu caro “instrutor”.
– Porque a ironia?
– Há alguma outra pessoa próxima que possa fazê-lo? – e lá vem o sorriso malicioso mais uma vez...
– Mesmo se... houvesse outra pessoa aqui. Eu não deixaria que te ensinasse. – ele mexia no arco em que eu segurava – Você já me fez engolir aquele elfo ontem, não quero ter que me segurar com outro homem lhe tocando tão cedo. – sussurrou ele ao meu ouvido (cadê o frio de poucos instantes atrás??).
Continuei atirando mais um pouco, e como esperado, não acertei o centro mais nenhuma vez. Cheguei perto em alguns momentos, mas só fiquei no perto. Atirei até Absol me resolver aparecer com o que parecia ser uma pequena constelação nebulosa na boca.
– Mas o que é isso??
– Eu não acredito... – Lance pegava aquele... arco? Para examiná-lo – Um Sagittarius Spirit!
– Um o quê?
– Sabe, antes de eu criar a Guerra do Cristal, as Guardas de Eel disputavam entre si todo mês, e esse arco... – então é um arco mesmo – ...foi uma das recompensas dessas disputas que, se bem me lembro, foi a Absinto que o ganhou na época. Por conta de todo o caos que aquela guerra causou, a competição entre Guardas foi suspensa, já que não era hora de competir.
– Eu imagino. Mas eu não fiquei sabendo de competição alguma até hoje!
– Isso porque, ao perceberem que as Guardas estavam agindo de forma muito mais rentável sem as competições de Ranking para atrapalhar, a kitsune maluca resolveu suspendê-las de vez, gerando Guardas mais unidas até entre si. A Obsidiana foi a que se tornou mais unida entre as quatro. Ao menos foi isso o que ela, meu irmão e minha futura cunhada me disseram. – acabei encarando o arco que ele me devolvia – Nessas competições, apenas os membros da Guarda vencedora ou guardiões de alto destaque recebiam os prêmios. E também quem estivesse disposto a abrir mão de algumas moedas. Hoje ainda é possível achar um ou outro através do leilão mas...
– Mas é uma fortuna. – ele me assentia – Cheguei a ver algumas coisas que me fizeram ter medo até mesmo de dar um lance, o que dirá já as adquirir logo de cara!
– Sempre é possível achar um sem noção. Sem falar que esse bando de saco de pulgas são mestres em extorquir os outros.
– Também não é pra tanto...
– De qualquer forma, isto, – ele me apontava o arco – não é algo que pode ser simplesmente achado em exploração. – acabei encarando Absol que permanecia sentado, observando nossa conversa.
– Onde foi que você conseguiu isso Absol? Você não andou roubando de novo, nããão ééé...!
Ele apenas mexeu os olhos e cabeça como se disse-se “Ah, por favor!” e começou a puxar minha roupa até a sombra de onde ele havia surgido.
– Parece que ele quer lhe mostrar onde foi que ele o conseguiu.
– É, parece. E você vem junto porque não vou te deixar livre e solto por aí!
Ele fungou um riso ao mesmo tempo em que me abraçava por trás enquanto seguia Absol até a sombra por onde ele nos carregou pela umbracinese (eu não gosto nenhum pouco de “viajar” assim. Me sinto tão vazia e sozinha por dentro...) até o que parecia ser um quarto meio abandonado. Havia um cheiro desagradável no ar, Lance acendia uma luminária que encontrou e eu pude ouvir um leve rosnado baixo.
Me virando na direção do som, Lance logo vinha trazendo a luminária, já acessa, revelando um gato gelatinoso que velava (meu, Deus...) uma cama de onde era a fonte do mau cheiro: um corpo. Cobri a boca com uma das mãos com lágrimas nos olhos, e Lance se aproximou para examinar o defunto com o mascote lhe impedindo.
– Dá pra esse black-dog dar um jeito! Ou vou mandar esse molecat pra junto do mestre dele!... – Absol se aproximou tranquilizando o felino e permitindo a aproximação do Lance – Parece... que esse cara começou a mumificar.
– Ao menos foi morte natural ou...
– Não sei dizer com certeza, e nós não podemos voltar carregando um corpo.
– E nem deixá-lo aqui. O que vamos fazer? – perguntei meio chorosa e incomodada por ocupar um cômodo com um morto dentro. Lance começou a olhar envolta do quarto até pousar os olhos sobre uma escrivaninha, pra onde se dirigiu.
– Bom, se o seu guardião conseguir convencer o mascote aí; que pelo o que estou vendo, logo, logo vai virar ovo; – (pobre criaturinha...) – ele pode carregar uma mensagem até Eel e guiar alguém de lá até aqui. – disse ele já preparando uma mensagem – Absol só tem que explicar tudo à ele.
– Absol, isso é possível? – vi que ele já conversava com o bichinho (parece que é possível sim).
– Aqui, pegue. – voltei-me de volta para o Lance – Coloque você a mensagem nessa criatura, eu ainda tenho raiva desses seres. – pegava o rolinho da mensagem e o barbante que ele me estendia – Também acabei encontrando um frasco de Poção de energia, faça-o beber para termos certeza que ele vai conseguir chegar em Eel.
Fiz como ele pediu. Amarrei o pequeno pergaminho no pescoço dele com cuidado e, com o auxílio de Absol, dei a poção para o pequenino beber. Me aproximei da janela fechada em seguida, dando uma espiada no lado de fora e vendo que a aurora já começava a se anunciar (já passou tanto tempo assim?).
– É melhor voltarmos. – falei fechando a janela – Já está amanhecendo! Absol?
Lance apagou a lamparina e me abraçou novamente. Um minuto de viagem desconfortável e já me encontrava em meu quarto outra vez. Pousei meu novo arco sobre a mesa ainda um pouco triste pelo faery que havíamos deixado para trás. Absol sumiu logo em seguida.
– Já faz um bom tempo que está de pé... – virei para Lance que encarava a cama desfeita – Acha que consegue encarar o dia de hoje tendo dormido tão pouco?
– Bom, se eu continuar em jejum... – (ai minha barriga...) – Será muito difícil. – o vi pegando um relógio.
– Agora são 5:45hs, vai lá buscar o seu! Deixa que eu arrumo tudo por aqui. – terminou ele já arrumando a cama.
Lhe assenti com a cabeça e fui atrás do meu café da manhã (vi Absol retornar com uma vasilha na boca antes de eu fechar a porta). Segui direto para a cozinha, e eu tinha me esquecido, não só o quê que seria o meu café, como também que haveria um sátiro “zangado” querendo “bater um papo” comigo _suspiro longo_.Nevra
Ontem foi bem... como que eu posso descrever... diferente? Anya não se atreveu a reclamar durante o treino depois da conversa que tivemos, e no quarto da Cris, almoçamos junto da Cris, de seu “servo” (_risinho_) e do Gelinho (eu realmente não esperava aquela reação em relação ao prato de Anya. A Cris vai lá, mas o Gelinho?...). Enquanto a Cris repassava para Anya (quase) tudo o que nós três e o Lance fizemos com ela, Ezarel me contava o que ele tinha feito, visto e ouvido desde que a Cris o “capturou” (éé... o Ezarel estava encrencado...), sendo que nós dois não deixávamos de prestar atenção no que a Cris falava (e pelo jeito que o Gelinho nos olhava, ele fazia o mesmo. Ficou tão esquisito vigiá-lo dessa forma...).
Quando Anya e eu deixamos o quarto, ajudando Anya com as vasilhas, encontramos Leiftan nos corredores avisando que a Miiko havia marcado uma reunião para amanhã bem cedo (e apenas com os envolvidos sobre o “Lance”) por causa de uma descoberta do Almir (bem que eu o achei um pouco estranho ultimamente) e ele aproveitou para me pedir que avisasse o Ezarel quando pudesse (acho que ele vai querer evitar a Cris por um tempo...).
Fui cuidar de minhas coisas. Não me atrevi a contar o que a Cris e o Gelinho fizeram durante o almoço para a Anya ao Karuto (não acho que aquela foi uma ameaça vazia) e fiquei boquiaberto ao saber que a Cris tinha cuidado de todos os contaminados de uma, só, vez! Até eu tive de ajudar com os ex-contaminados. E acho que vi Ezarel carregando a Cris de relance (pelo jeito, ou o Ezarel, ou o Lance vai ficar perto de perder a cabeça hoje).
Mas o pior mesmo, foi quando eu encontrei o Ezarel dentro do laboratório. Eu realmente tinha esperanças que Lance havia me mentido sobre algumas coisas, mas parece que ele foi totalmente honesto comigo (o que raios essas Sementes planejam para a Cris??). Era minha noite de dormir, e definitivamente minha cabeça precisava de descanso. Mas, amanhecido o dia, encontro Valkyon me esperando na entrada da Sala do Cristal.
– Bom dia Valkyon, sua cara está péssima! Dormiu pouco à noite?
– Mais ou menos. Têm planos para depois da reunião? – perguntou ele seco (estou com um mau pressentimento).
– Apenas o de sempre, por quê?
– Porque quero trocar umas palavrinhas com você. A sós. – declarou ele já entrando (é, realmente tem algo aqui).
Não demorou muito para terminarmos de nos reunir e Miiko dar início à sua fala.
– Muito bem, eu vou tentar ser breve, e aconteça o que acontecer, o que vou dizer não deve sair daqui.
– O que foi que o Almir descobriu Miiko? – perguntou a Erika.
– Bom, todos os aqui presentes estão cientes da atual “missão” em que Almir vem trabalhando, certo? – todo mundo assentiu – Pois bem, por causa dessa “missão”, ele acabou testemunhando alguns “eventos” que nos tem gerado bastante dor de cabeça. Por causa da ameaça que Apókries tem se mostrado ser, pensei em revelar à Eldarya sobre a verdade no que se refere ao Lance, e por isso contatei o Almir para obter sua opinião, já que afetaria diretamente sua missão atual.
– E? – Ezarel falava – Sem ofender Miiko, mas a senhora está enrolando um pouco, não? O que foi que Almir te contou?
– Ele ouviu um dos membros desse grupo de Apókries dizer algo muito estranho antes de morrer, por causa do veneno que eles carregam dentro de si. – acho que todos nós ficamos um pouco nervosos.
– E... o que foi que ele ouviu? – acabei perguntando.
– “O traidor ainda está aqui, então porque falhamos?”
Sussurros começaram a surgir entre nós. Lance é quem realmente empaca com os planos deles? Não vou negar que ele tem os atrapalhado bastante ao ensinar e proteger a Cris, mas ainda assim?...
– Silêncio por favor! – pedia a Miiko – Conversando com o Almir, chegamos a conclusão que esse grupo que vem nos causando problemas, acredita fortemente que, Lance na prisão, é uma das chaves para que os planos deles deem certo e, infelizmente ou felizmente, isso pode estar se mostrando verdade por enquanto.
– E o que a senhora está querendo nos dizer, é que precisamos garantir que Eldarya inteira continue acreditando na mentira que a Cris nos sugeriu, e que desistamos de encontrar o Lance verdadeiro?
– Sim e não Benelli. – retomava a kitsune – Sim, temos que manter a mentira da Cris. Não, não podemos deixar de saber do Lance sendo que ele é um dos alvos de Apókries, e também uma chave para a ruína dos planos deles. Nevra, Leiftan e Ezarel, conseguiram juntos obter algumas, pistas, de onde Lance possa estar agora. E uma vez com ele localizado, temos que mantê-lo escondido e em segredo pelo bem da Lys, das Sementes, e de toda a Eldarya! – todos assentiam em silêncio – Bom, era isso que...
– Miiko! Miiko por favor! – um dos guardas que devia estar vigiando a Grande Porta invadia a reunião – Desculpe interromper, mas um mascote apareceu com uma mensagem estranha presa a ele! – falou ele lhe estendendo o papel. Miiko leu a mensagem em voz alta para todos.
“O mascote de uma conhecida minha encontrou algo impossível de se obter através de exploração. Pedimos para ele nos mostrar o local em que ele achou o artefato e acabamos em um lugar um pouco abandonado. Examinando o lugar, descobrimos um homem morto que parecia estar sendo protegido por seu mascote, o mesmo que lhes leva essa mensagem. Como não tínhamos condições de ajudar o defunto, e com o auxílio do mascote que nos levou até lá, fizemos o mascote do falecido carregar essa mensagem até Eel para que estes possam providenciar a ajuda necessária, guiados pelo mascote desse pedido.
P.S.= Eu não sou especialista, mas não parece que ele morreu de forma natural.”
Ficamos todos atônitos com essa mensagem (apesar de Valkyon ter me parecido mais pensativo do que assustado) – Onde está o mascote? O que ele é? – pedia Miiko ao guarda.
– É um molecat. O deixei na enfermaria porque ele me parecia bastante debilitado.
– Tudo bem. Volte ao seu posto. Ezarel,...
Miiko questionou Ezarel sobre quais membros capazes de analisar um corpo, com exceção de Ewelein (e Erika) que trabalhariam “examinando” Eel, ele tinha disponível; ao Valkyon, quais ele tinha livre para ajudar na segurança e transporte do corpo; e a mim, quem eu tinha disponível para investigar o lugar. Montamos a equipe que atenderia aquela mensagem e que partiria assim que o responsável pelos cuidados do molecat em questão, o liberasse para os levarem ao local.
Com tudo acertado, Miiko nos liberou para as nossas respectivas tarefas. Mas antes que eu pudesse me afastar da Sala, ainda no Corredor das Guardas, o Valkyon me segurou pelo ombro.
– Conversaremos no seu ou no meu quarto? O que eu quero lhe falar é realmente sério.
– Errr... – o Valkyon me segurava o ombro como se eu pudesse sumir a qualquer momento – _suspiro_ Vamos ao meu quarto, lá ninguém vai nos escutar com certeza.Cris 2
Cheguei no salão começando a sentir os efeitos de ter me levantado tão cedo.
– Tão cedo já de pé? – Karuto me questionava – Acaso o Gelinho te expulsou da cama?? – ele tinha um toque de irritação na voz.
– Foi o contrário _bocejo_. – falei já entrando na cozinha – Eu que acabei o acordando e ele resolveu me fazer companhia, para que eu não “fizesse besteira”. – fiz cara de deboche no final da frase, arrancando um sorriso do Karuto.
– Muito bem. – ele depositava aquela “coisa” diante de mim – Comece a contar a sua historia que eu estou ouvindo. E pode usar os truques que quiser para que os outros não percebam que você está falando de si, do Gelinho e daqueles três patifes, pois daqui você só vai sair depois do almoço. Cumprindo o seu expediente. – exigiu ele sério – E não me esconda nada! Nem o que você deixa de contar à Anya.
– OK... _respira fundo_ Tudo começou no dia que eu tomei o meu “banho de sopa”...
Eu contei tudo. Com o máximo de detalhes de eu podia lembrar. Desde a invasão do Lance até a nossa descoberta de hoje de manhã. Contei coisas que não teria coragem de contar nem mesmo à minha mãe, o que dirá ao meu pai! (e não sei se é presunção ou não, mas o Karuto me pareceu meio que agir como um comigo). Sempre que alguém aparecia e estranhava minha presença na cozinha ou as coisas que eu estava contando, era repassado que a Miiko tinha finalmente me fornecido um trabalho na Guarda (só que de meio período), e Karuto explicava que eu lhe contava uma historia que eu estava “inventando” para poder passar o tempo mais depressa, e que só não estava atraindo mais gente que queria ouvi-la porque ele acabava expulsando quem não estivesse trabalhando ou esperando sua comida (Ah, vá! Minha historia não estava tão impressionante assim!). E quando eu finalmente terminei de contar tudo, Karuto me deu um abraço tão... caloroso e fraterno, que uma lágrima me escapou (na hora estávamos sozinhos novamente).
Depois que consegui terminar de comer aquele troço, não parei um minuto de lavar e secar pratos e talheres. Às vezes Karuto me colocava para cortar ou descascar algo, ou me punha para ajudar a servir os pedidos. Quase me fez lembrar dos dias de reunião familiar em casa quando minha mãe, mineira generosa, preparava almoço para os que nos visitavam (a diferença, é que cada um se virava sozinho com seu prato nesses almoços, e às vezes alguma(s) tia ou prima assumia a pia em meu lugar).
– E então Karuto... – meu chefe entregava a bandeja vazia dele e eu lavava a minha – Já posso ter minha subordinada de volta, ou o horário de serviço dela ainda não acabou?Valkyon 2
– Entra aí, amigo. – me pedia o Nevra e fui logo me sentando no sofá – O que é que você tanto deseja me falar.
Suspirei por um instante para decidir como começar aquela conversa – Você já descobriu onde o meu irmão está, não é mesmo? – ele me pareceu assustado – E algo me diz que não faz pouco tempo. Estou errado?
– Ehhh... O, o quê o faz acreditar nisso? – pela sua “falta de jeito”, eu realmente estava certo.
– Quantos “sanguessugas” da Sombra estão no pé da Cris? – ele arregalou o olho e, soltando um suspiro, sentou-se no outro sofá diante de mim.
– Ok. Me diz o que você sabe para eu saber o que preciso lhe dizer. – pediu-me ele.
Lhe contei sobre essa madrugada e ele me pareceu... impressionado? Também aproveitei para comentar sobre o sonho que a Erika teve com aqueles dois e a Semente Negra, e ele ficou boquiaberto. Depois foi a vez dele de esclarecer as coisas, ou quase já que ele contava tudo de forma bem superficial. Sem mencionar nomes ou explicações de algumas ações. Como que tentando proteger alguma coisa. Quando ele terminou de falar, já conversávamos há quase uma hora, e estávamos perto de nos atrasarmos para os nossos serviços. E do que ele falou, eu só conseguiria mais detalhes conversando diretamente com a Cris, ou com o Lance. O problema é: como tirar isso deles? E onde que a Cris está cuidando do meu irmão?
Após deixarmos o quarto de Nevra, revisei tudo o que precisava e me concentrei na forja (com o auxílio do irresponsável que esqueceu os equipamentos de treino no relendo ajudando, como punição do Jamon), para decidir como falar com a Cris depois que ela terminasse o trabalho dela na cozinha. Erika e Ewelein já tinham começado a examinar Eel e, de acordo com a minha amada, elas iriam gastar um mês para conseguir examinar todo mundo, mesmo com a ajuda de Içaly, o hylian que aceitou tomar a poção que lhe deu os sintomas da doença que foi usada como pretexto para averiguar todo mundo. Claro que só o questionaram se aceitava ou não depois de o terem verificado (após receber a primeira esfera de schmidtiana, Ewelein a testou examinando os três corpos que não haviam sido cremados ainda e descobriu, em diferentes partes de cada um, o tal símbolo que a Ykhar nos avisou. Uma mistura bizarra dos símbolos do Illuminati e da Tríade). Elas começaram pelas equipes médicas e guardiões com missões de longa duração para cumprir.símbolo
Demorei para almoçar pois sabia que Karuto ia segurar a Cris o máximo possível pelo que fiquei sabendo. E quando finalmente pedi minha subordinada de volta, Karuto pareceu um tanto receoso em liberá-la.
– Aconteceu alguma coisa para o Karuto ficar com medo de liberá-la da cozinha? – perguntei para a Cris enquanto seguíamos para a Cerejeira.
– Bom... eu não dormi tudo o que eu gostaria... – (eu sei...) – Por isso ele está meio preocupado. Karuto é quase um pai comigo. – eu sorri.
– Nesse caso, – (obrigado por me fornecer a chance) – o quê acha de tentarmos algo diferente?
– Como assim?
– O responsável por guardar os equipamentos de treino ontem, deixou tudo ao relento. Ele passou o dia na forja comigo, consertando ou substituindo tudo o que acabou danificado por causa da neve por ordem do Jamon. – ela acabou dando um riso abafado – Observando ele trabalhar, percebi que a única arma que você sabe usar é a espada! E já que você está com a noite mal dormida, o que acha de tentar algo mais leve?
– E o que seria mais leve? – ela parecia pensativa (deve estar pensando nas aulas que recebeu de madrugada).
– O que você acha... de começarmos com o arco?
.。.:*♡ Cap.91 ♡*:.。.
Cris
Não esperava que meu chefe me sugerisse a mudarmos os treinos, e muito menos que começássemos justo com o arco (isso foi realmente uma coincidência??). De qualquer forma, as lições do Valk eram semelhantes às de Lance, então acho que eu estava indo bem.
Assim como de madrugada, eu não estava conseguindo acertar o centro (mas estava conseguindo acertar cada vez mais perto). Valkyon me elogiava pelo progresso rápido, e eu tive a impressão, que o tempo todo ele queria me dizer alguma coisa...
Ficamos treinando até um pouco antes do sol se pôr. Não só porque estava escurecendo, mas também porque meu corpo já estava me cobrando pelas horas não dormidas...
– Para alguém que não dormiu direito e que está começando a querer dormir em pé, seu treino foi excelente!
– Obrigada _bocejo_ senhor. – ele fungou um riso.
– Amanhã damos continuidade. Vê se dorme a noite inteira dessa vez!
– Juro que vou tentar. – vi Shiro e mais alguns guardiões passando em frente à cerejeira (carregando um grande embrulho...) – O que está acontecendo ali? – (como se eu já não tivesse suspeitas...).
Valkyon olhou na direção a qual eu me referia e chamou o Shiro para questioná-lo – E então? Como foi?
– Chefe, era o Wasi. O enfermeiro que nos acompanhou disse que precisávamos trazê-lo para descobrir melhor o que aconteceu com ele; o molecat dele virou um ovo assim que chegamos, e o pessoal da Sombra continuou no lugar para poder investigar.
Não gostei da cara que eles dois faziam... – Quem é esse Wasi? Do que vocês estão falando exatamente? – Shiro soltou um suspiro e o Valkyon assumiu um rosto vazio (tá mais que na cara que ele o Lance são irmãos _nervosa_) – Chefe?
Ele soltou um suspiro – Cris, lembra que você nos contou que a Grande Porta havia ficado aberta e sem vigia no dia em que você e a Miiko foram atacadas? – dei um “huhum” como resposta – E lembra que havíamos constatado o desaparecimento do responsável pela vigília naquele momento, após aquele dia?
– Lembro, mas aonde o senhor quer chegar? Não me diga que... – (por favor, que eu esteja errada).
– Wasi era o guarda responsável que desapareceu.
Senti as pernas quererem vacilar e uma vontade enorme de chorar. Parte do que aconteceu com aquele cara era culpa minha! Porque eu era o verdadeiro alvo... Valkyon e Shiro me socorreram.
– Cris, fique calma. – me pedia o Valkyon – Shiro, faça-me o favor de a acompanhar até a enfermaria, o salão, aonde ela quiser! Vou terminar de guardar o material de treino e depois me encontro com você e os outros para tratarmos melhor desse assunto.
– Sim, senhor. Vem comigo Cris...
Já era tarde e Shiro ouviu minha barriga reclamando. Ele me levou diretamente até o salão onde Karuto me serviu um novo lanche: um sanduíche de peixe empanado com molho de limão e mostarda, salada de alface e tomate, e batata-palha no pão de grãos, acompanhado de suco de mel. Nem preciso disser que aquilo me ajudou e muito em todos os sentidos. Vi o Karuto sair com uma sacola nas mãos assim que me entregou o de comer. Retornando um pouco depois.
Alguém chamou o Shiro e eu lhe disse que ele já podia me deixar sozinha e, apesar de receoso, acabou indo ver o que queriam com ele. Não fiquei sozinha por muito tempo.
– Se importa de eu me usufruir de sua mesa? – pedia-me um homem que me pareceu ser um mago ou algo do tipo.
– Não, pode sentar. Daqui a pouco eu termino de comer.
– Você é a Cris, não é? A Lys de Eldarya.
– Ah não, por favor! Só Cris é o bastante! – ele riu, e ficamos conversando por um tempinho enquanto acabava minha refeição – Bem Ghadar, se não se importa, vou me recolher agora. Meu dia hoje foi um pouco puxado.
– Mas já? Fique mais alguns minutos!
– Ghadar... É sério! Quero mesmo ir pro meu quarto.
– Então... Será que você poderia me experimentar uma nova bebida que eu estou desenvolvendo?
– Bebida?!?
– Não se preocupe, _riso_ eu não esqueci a proibição da Miiko, não há uma gota que seja de álcool no que quero que experimente... – o encarava duvidosa – ...E eu ouvi dizer que você não poupa ninguém quando dá a sua opinião, principalmente se for sobre comida.
– Ééé, isso meio que é verdade...
– Perfeito! Vai me ajudar? Por favor, diga que sim!...
Aquele jeito infantil de implorar acabou me convencendo. Assim que dei o meu sim para provar seja lá o quê que ele queria que eu bebe-se, ele foi logo enchendo um copo pequeno com uma bebida parecida com o eliksir, só que mais avermelhada e emanando um vapor meio pink. O cheiro me lembrava a chocolate, frutas vermelhas e mais alguma coisa que eu não conseguia identificar. Bebi até a metade.
– Até que não é ruim. – declarei – O cheiro é interessante e o gosto agradável também. – ele parecia me olhar confuso – Há algum problema?
– N-não, ehh... então você gostou? E não sentiu nada... diferente?
– Como o quê, por exemplo? – porque ele parece tão nervoso agora?
– Nada! – ele ficou tão diferente de repente... – Não... vai terminar de beber?
Eu estava pensando em levar aquilo para o Lance – Posso terminar no meu quarto? Eu realmente gostei disso aqui.
– Claro. Claro que pode. Quer que eu a acompanhe até lá? – disse ele já se levantando.
– Ah não, não é preciso. Agradeço mas posso seguir sozinha. – me levantei também – Até amanhã, talvez?
– Sim. Sim até. Tenha uma boa noite!
– Muito obrigada Ghadar, tchau!
Me retirei do salão com Ghadar me seguindo com o olhar. Eu só queria saber o porquê daquela cara de quem não entendeu nada dele.Lance
A Cris saiu e Absol chegou, trazendo a porcaria que seria o meu desjejum (argh...). Arrumei tudo no quarto antes de comer sob a vigília do black-dog (ao menos é só uma refeição, e não todas _enjoado_).
Já que eu resolvi passar parte da noite em claro, e ainda ensinar minha Ladina a usar o arco, preferi fazer minha meditação antes dos meus exercícios. Foi Anya quem me trouxe o almoço já que a Cris havia começado a trabalhar na cozinha, acompanhada do sanguessuga que foi deixado sozinho comigo e que me encheu de perguntas sobre o que eu e a Cris fizemos hoje cedo (sabia que meu irmão havia ficado intrigado _sorriso malicioso_), mostrando a ele o Sagittarius Spirit que Absol deu pra ela. Além de lhe repassar tudo que pude me lembrar do que eu havia visto naquele lugar, uma vez que ele parecia bem preocupado com isso (enquanto minha cabeça está na Cris. Ela não reagiu muito bem ao encontrarmos aquele homem) e ele repassou o que eles haviam decidido sobre isso antes de ir embora (Anya tinha me deixado com a porta destrancada).
Não demorou muito para eu ser deixado sozinho mais uma vez. Fiz meus exercícios que foram interrompidos pelo sátiro cozinheiro que me fez falar por quase duas horas. Não contei nenhuma mentira, mas também não quis falar tudo pra ele (e com “tudo” me refiro àquela peste da Negra e a Branca). E pelo jeito que aquele ser me encarava e falava comigo, até parecia que eu estava lidando com o pai da minha Ladina. Ficamos nessa “conversa” e, quando ele finalmente se sentiu satisfeito, retirou-se dizendo que traria minha janta mais tarde (sabia que isso ia ser difícil por causa das refeições, mas foi pior do que eu esperava!). Me senti tão exausto por conta do sátiro, que resolvi ficar olhando pela janela ao invés de terminar meus exercícios. E parece que meu irmão resolveu continuar o treino de arco dela... _riso_. Fiquei os observando até ela entrar (mas porque ela parecia estar passando mal?).
“A calmaria que procede a tempestade está prestes a acabar...” – virei-me e me deparei com a Negra que mais parecia uma criança emburrada pelo jeito que flutuava encolhida sobre a mesa.
– Do que é que você está falando? – me aproximei com cuidado dela, pois com certeza ela estava dando más noticias.
“Fala sério! Você realmente não estranhou tanto tempo de calmaria por parte daqueles cretinos?” – ele se ergueu com as mãos na cintura irritada – “Eles vão atacar outra vez. Tente ficar esperto!” – ordenava ela que parecia ir embora – “Ah! Antes que eu me esqueça! O treino de arco melhorou uma das capacidades da Cris, então fica de olho.” – e sumiu dando uma piscadela não me deixando qualquer chance de perguntar algo.
Eu não sou burro. Realmente as coisas estavam calmas demais pro meu gosto já (e que capacidade é essa que a Cris melhorou com a aprendizagem do arco?). Não demorou muito e o Karuto me batia a porta pra me deixar a minha janta. Deixei a comida sobre a mesa e fui tomar banho primeiro (o que será que aqueles patifes vão tentar aprontar?...). Comecei a comer aquela ma-ra-vi-lha de sanduíche, ainda pensando no que a Negra falou. Estava na metade quando a Cris chegou finalmente.
– Como foi seu primeiro dia na cozinha?
– Cansativo. – ela colocava um copo diante de mim – Enquanto jantava me pediram pra experimentar e dar minha opinião, trouxe pra você.
– Obrigado. Provo quando eu acabar.
– Tudo bem. Quando que o Karuto veio... “te ver”. – ela se preparava para tomar o banho dela.
– Foi um pouco depois do almoço. É impressão minha ou ele a vê como uma filha?
– _riso_ Então somos dois que achamos isso! – ela falava do banheiro (“O treino de arco melhorou uma das capacidades da Cris...”), as palavras da Negra ainda passeavam em minha mente.
– Aconteceu alguma coisa interessante durante o seu treino com o meu irmão? – ela se manteve calada – Qual o problema?
– Posso terminar o meu banho primeiro? – pediu ela já ligando o chuveiro _suspiro_.
– Pode. – esperei ela sair terminando minha refeição e quando ela saiu, só me faltava a tal bebida que estava enrolando para beber – E então? – ela se encaminhava à penteadeira – O que foi que aconteceu?
– _suspiro longo_ O homem que encontramos... – ? – Ele era o guarda que havia sumido no dia que aquele... ARGH! – pela irritação, já sei de quem ela está falando – Enfim, que sumiu no dia em que a Miiko e eu fomos atacadas e você nos salvou. – ela deve estar se sentindo um pouco responsável... Deve ser por isso que ela pareceu estar passando mal lá embaixo.
– Eu entendo... – levei finalmente aquela bebida a boca, mas ao sentir o cheiro... (QUEM É QUE FOI O MISERÁVEL??) – Cris!
– Hum?
– Você sentiu alguma coisa depois que bebeu isso aqui?
– Não. Por quê? – respirei fundo para eu não surtar enquanto ela mexia nos frascos dela – Oxi! Desde quando essa poção libera uma fumacinha verde? – como é?
– Do que é que você está falando? – ela conferia as outras poções.
– Não está vendo o vapor colorido que está saindo das poções? – ela continuava conferindo os frascos dela (“aumentou uma das capacidades...”, será que... “fique de olho!”).
– Cris, de que “vapor” você está falando?
– Mas hora essa! Acaso você nã... – ela travou por um instante – Você, não... Não está enxergando nada?
– Pra mim, suas poções estão com a mesma aparência de sempre. – ela pareceu não entender, mas vamos conferir se o que estou pensando é certo – Por acaso... tem algum “vapor colorido” saindo da bebida que você me trouxe?
– Tem... Uma fumacinha meio pink, porque?
– Você realmente não sentiu nada de diferente quando bebeu isto, né? – ela apenas fez que não com a cabeça – Quando você sentiu o cheiro dessa coisa, que cheiro você sentiu?
– Se eu me lembro bem... chocolate, frutas, e alguma coisa que eu não reconheci. Mas o que isso tem a ver?
– O cheiro que eu sinto, é o da minha cerveja favorita e o seu!
– QuÊ?!? Como isso é possível??
– Você... já ouviu falar em... poções do amor? – ela me arregalou os olhos – A principal característica delas que permitem sua identificação, é que elas sempre parecem ter o cheiro daquilo que você mais gosta. – ela sentou-se a minha frente – Poucas são aquelas que deixam algum gosto ou coloração no que são misturadas, mas todas carregam as mesmas fraquezas.
– Quais?
– Primeiro, elas costumam exalar o mesmo cheiro ou cheiros do que você mais gosta. E segundo, elas não funcionam em quem já ama de verdade uma pessoa. – ela corou e ficou tão... fofa _sorriso_ – E mesmo as que conseguem surtir algum efeito, ele é temporário.
– Deixa... eu ver se eu entendi. Eu... comecei a enxergar fumaças das poções e... o cara que me pediu pra experimentar essa bebida aí, tentou me enfeitiçar ou coisa parecida? Por isso ele pareceu tão confuso comigo depois de eu bebê-la?
– Aparentemente, sim. – conversando mais, resolvemos testar a “nova” habilidade da Cris.
Enchi alguns copos com agua e ela pegou cada poção que havia no quarto, colocando-as sobre a mesa. Eu iria despejar uma gota de cada poção em um copo diferente (sem ela ver), e ela teria que dizer corretamente qual poção coloquei em cada copo, só as observando. Ela acertou todas!
– Bom, eu não sei como isso aconteceu, mas agora ninguém mais vai conseguir mesmo me enganar com poções.
– Você está se tornando uma inimiga cada vez mais complicada, sabia? – ela revirou os olhos e eu sorri – Mas voltando ao problema, qual o nome do miserável que tentou te dar uma poção do amor?
– Quer saber pra ficar de olho nele ou para matar ele?
– Ainda estou pensando. – já vi que ela não vai me falar – De qualquer forma, não confie mais nele! E... até que não é uma má ideia ficar de olho no canalha. Tem como ele descobrir que você já está ciente do que ele tentou lhe fazer?
– Posso tentar ignorá-lo. Mas não seria melhor contarmos isso à Miiko ou ao Nevra? Ou quem sabe ao Ezarel?
– Aquele bando de loucos devem estar tramando alguma. Eles estão quietos a tempo demais. – ela acabou soltando um bocejo – Vamos tratar disso amanhã, você deve estar exausta e eu aliviado por essa porcaria não ter funcionado em você.
– Ok... – ela esfregava os olhos e se deitava na cama.
– Não vai fazer suas orações?
– Amanhã eu as faço... – terminava ela de se deitar e começando a pegar no sono. Comecei a abraçá-la para dormir também – Droga.
Parei de me mover – O que foi?
– O cheiro que eu não consegui identificar... – me aproximei, pois ela estava quase adormecida – Era, o seu... – terminou ela de dizer, já apagando.
Aquilo me deixou feliz. Bastante feliz. Terminei de aconchegá-la e adormeci, jurando protegê-la custe o que custar.Cris 2
Eu dormi que nem vi a noite passar. “Morri”! Sei que conversei alguma coisa com o Lance antes de tombar na cama, mas não consigo me lembrar... E se Absol não tivesse começado a pular em cima de mim, na cama, teria dormido bem mais! O sono não era a única coisa que estava me atrapalhando de levantar.
– Lance. – ele me envolvia ainda mais em seus braços – Lance eu sei que está acordado, então me deixa levantar!
– Não podemos ficar mais uns minutinhos? – Absol lhe rosnou como resposta – Certo, já entendi. Hora de levantar. – declarou ele já me soltando e se erguendo da cama também.
Me arrumei pra descer enquanto conversava mais com o Lance sobre o negócio das poções, e que precisamos dar um jeito de continuar com as minhas lições e treinos, principalmente com a possibilidade de um novo ataque se aproximando...
Fui pra cozinha com Absol me acompanhando. Assim que cheguei lá, Karuto foi logo me servindo aquela coisa e entregando uma vasilha pro Absol que sumiu com a umbracinese. Karuto me questionou sobre a minha noite e eu aproveitei que estávamos sozinhos ainda, e lhe contei sobre a poção.
– Até que o Gelinho teve uma boa ideia, poções do amor são proibidas e, por conta da confusão que elas são capazes de provocar, são consideradas magia negra. Devia falar sobre isso com o ladrão de mel primeiro, e depois falar com a Miiko. Esqueceu mesmo o nome do traíra?
– Se eu o ver... – forçava as últimas colheradas para dentro – Acho que o reconheço. O Gelinho me cobrou o tempo para as nossas aulas e treinos.
– Hum... Miiko e eu podemos conversar sobre isso com o Gelinho. Onde é mesmo que ele anda morando às escondidas?
– Ultimamente ele tem ficado mais no meu quarto... – (lamento Karuto, mas isso é o máximo que vou de contar sobre isso) – O que... tenha acabado sendo uma coisa boa, talvez?
– Hunf! Ele que não se atreva a querer machucá-la de novo!
Eu ri. Comecei com o meu expediente de acordo iam chegando as pessoas para pedirem suas porções. O cara da poção demorou um pouco para aparecer.
– Oh, Cris! Bom dia! Como foi a sua noite ontem?
– Foi muito boa, err... Desculpe, mas eu esqueci o seu nome. – vi pelo reflexo de uma bandeja, que Karuto nos olhava de canto.
– É Ghadar. Você... tomou o resto da bebida que lhe ofereci ontem?
– Mas é claro!... – (...que não!) – Pretende produzi-la para comércio?
– Eu... ainda estou analisando. Não ando satisfeito com os resultados dela. – (eu imagino bem o porquê) – Se importaria de passarmos um tempo juntos? Para conversarmos, sabe.
– Foi mal aí “Nevra segundo”. – interrompia ele o Karuto, deixando o Ghadar com um ar de ofendido – Mas a Cris aqui mal está tendo tempo para os deveres dela, o que dirá pra ficar saindo com um cara que ela mal conhece. Agora se manda antes que eu decida ficar lhe servindo mingau para aprender a deixar minha menina em paz!
Do jeito que o Karuto falou, Ghadar não tinha outra escolha senão se afastar. Karuto estava mesmo me saindo um segundo pai aqui. Ezarel apareceu uns dois minutos depois.
– Bom dia pra vocês. – cumprimentou ele meio seco.
– Bom dia, qual foi o bicho que te mordeu pra ficar com todo esse “bom” humor?
– Paladina, tem como, você me dar, novas amostras daquela sua flor especial? As que eu tinha sumiram.
– Como é? – questionava o Karuto.
– Sumiram. Desapareceram. Puhf! Alguém deve ter as roubado, e não só as amostras! O livro que falava sobre a Duweke também desapareceu, já que o Kero não o pegou de volta.
– E porque exatamente alguém iria querer essas coisas? – porque tenho a sensação de que isso tem tudo a ver com o que me aconteceu ontem?
– Ainda não sei ao certo. Me encontrei com o encrenqueiro e ele me disse não saber de nada. O ideal seria reencontrar o que sumiu, mas não tenho muito tempo livre.
Acabei rindo e acabei por encarar o Karuto (afinal, Ezarel estava me entregando a faca e o queijo aqui) e Karuto pareceu entender o que eu queria, pois me sorria – Karuto, você me dá alguns minutos para Ezarel me acompanhar até o meu quarto rapidinho?
– O quê? – Ezarel parecia surpreso.
– Pode. Mas não demorem! – autorizou-me ele.
– Valeu Karuto! E você ouviu Ezarel, temos que ser rápidos, então vem logo! – falei já quase correndo e com Ezarel reclamando para que eu o esperasse. Chegando no quarto, fui direto até o copo batizado que deixei coberto na mesa – Cheira isso aqui. – falei já entregando o copo ao elfo.
– Pra quê? Pensei que você ia me dar as amostras.
– Apenas faça o que eu pedi Ezarel. – ele ficou desconfiado e arregalou os olhos quando cheirou aquilo.
– Não é possível! – ele voltou a cheirar – Isso aqui... realmente contém...
– Uma poção do amor. – completou o Lance deixando o banheiro com os braços cruzados – Alguém deu essa porcaria pra ela ontem à noite. Sorte a nossa não ter tido efeito! – terminou ele se sentando à mesa e deixando o Ezarel boquiaberto.
– I-isso é verdade? – lhe respondi que sim com a cabeça e ele pareceu se lembrar de algo – Sabe se foi alguém da Guarda que lhe ofereceu isso?
– Conhece alguém... – encarei o Lance por um instante, que me ergueu as mãos em rendição – Chamado Ghadar?
– Faz parte da minha Guarda. Foi ele que te deu isso?
– Foi. – expliquei à ele todo o ocorrido, mas sem falar sobre a minha capacidade de poder perceber a presença de poções nas coisas. E ele disse que o livro desaparecido continha uma receita de poção do amor usando a Atiku duweke?? (ainda bem que a minha flor está segura!).
– Vou pedir pra Ewelein dar um jeito de averiguá-lo ainda hoje. Nem que eu tenha que pedir pra Miiko intervir de alguma forma.
– Melhor é vocês apresarem essas averiguações. Não ficaria surpreso se uma nova tentativa de roubarem a Cris de Eel acontecesse... – comentou o Lance. Senti mais um calafrio com a ideia.
– Melhor mesmo é eu voltar pra cozinha. Tenta conseguir me ajudar com isso Ezarel, ainda não quero ter que encarar aquela criatura outra vez. Ou seja lá o que ele mandar para fazer o trabalho sujo dele.
– Pode deixar Paladina, mas, eu posso pegar novas amostras? – ele sorria e eu comecei a morder os lábios (não quero que ele ache que pode me pedir e receber sempre que quiser).
– Uma pétala. E isso já é muito mais do que eu tenho vontade de lhe ceder! Já estou tendo trabalho para mantê-la viva e não vai ser você quem irá acabar com ela!
– É justo. – ele retirou uma ampola e uma pinça de um dos bolsos e recolheu a pétala dele – Juro que irei pagar por esse favorzinho aqui. – falava ele encarando sua amostra – Agora vamos, porque gostando ou não, hoje vou ser servo outra vez...
Tanto Lance quanto eu acabamos rindo. Acompanhei Ezarel até parte dos andares onde uma neko o interceptou (deve ser a sua “mestra” de hoje _riso_). Continuei meu caminho o deixando pra trás e segui com o meu dia.Ezarel
Assim que a Paladina me libertou, além de não ter segurado nenhum pouco o alívio que aquilo me foi, parti para as minhas pesquisas o mais rápido que pude. No dia seguinte, passei metade do dia resolvendo questões da Absinto e só depois eu pude dar uma olhada em meus projetos e pesquisas (tenho que dar um jeito de impedir que isso se repita, ou todas as minhas pesquisas vão atrasar). Ao finalmente terminar com aquela papelada burocrática, comecei a conferir os meus projetos mais urgentes.
Tentei concluir pelo menos 20% deles pra aliviar as coisas pro meu lado. Mexendo com as essências que havia prometido à Purriry, tive a ideia de criar uma usando a amostra da flor da Paladina, mas quando fui atrás de pegá-la... CADÊ?!?! Eu revirei o laboratório inteiro, e nem o livro que falava sobre a planta estava mais lá. Fui encontrar o Kero, pensando que talvez ele tivesse levado de volta, já que eu sempre demoro para devolver, mas ele se mostrou nervoso por eu não saber onde o livro estava, prova irrefutável que o livro também sumira (será que se eu prometer um grande favor, a Paladina me dá novas amostras??).
Questionei os membros de minha guarda e até mesmo o encrenqueiro do Chrome, mas ninguém sabia de nada sobre as amostras ou sobre o livro (tem alguma coisa errada aqui...). Passei a noite em claro tentando aliviar meu trabalho para amanhã (que agora seria “servo” da Birala _suspiro_).
Amanhecido o dia, terminei de ajeitar tudo mais o que podia ainda perturbado pelo sumiço das amostras. Logo que vi a Cris, quando fui pegar meu café, lhe pedi novas amostras após lhe contar o meu infortúnio e, ou eu não estava ouvindo direito ou eu estava sonhando. Ela aceitou de boa me fornecer novas amostras?!?!?
Eu ainda estava incrédulo, mas quando ela me deu aquele copo para sentir o cheiro de seu conteúdo... Não tem como eu sentir o cheiro do meu mel favorito, da minha colônia que eu mesmo desenvolvi, e da flor favorita de minha mãe ao mesmo tempo dentro daquele líquido. Mais que na hora percebi que aquilo estava contaminado com uma poção do amor (e o livro continha uma receita desse tipo de poção, usando as pétalas da Atiku duweke!).
Ela e o Gelinho me repassaram tudo sobre o caso, e definitivamente irei conversar com a Miiko sobre o Ghadar (e ele me paga!!). Acompanhando a Paladina de volta ao térreo, me deparei com a Birala me procurando.
– Até que fim eu te achei! Estou te caçando já faz umas duas horas! Esqueceu que hoje você é meu?
– Olha Birala, eu imagino o quão ansiosa você está para me ter em suas mãos, – (e parece que você será pior que a Paladina...) – mas eu preciso, não, necessito! Falar urgente com a Miiko sobre um assunto crítico.
– Está tentando fugir de mim?!? – (eu vou penar nas patas dessa neko...).
– Birala, me escute! Juro que não irei reclamar um piu que seja depois se me deixar resolver esse problema primeiro. – o brilho que surgiu nos olhos dela me fizeram arrepiar a espinha – Contando que não desrespeite as condições impostas pela Miiko!! – o rosto e a cauda dela desanimaram (UFA!!).
– Niah, tá legal Ezarel. Mas eu vou ficar na sua cola!
– Se a Miiko permitir... Justo. – fui de encontro com a Miiko tendo a Birala no meu encalço (ainda bem que a kitsune estava na Sala do Cristal e não perdida por aí) – Miiko preciso falar com você, agora.
– O que você quer Ezarel. Não está tentando fugir do seu castigo, está? Sei que Birala é a sua “dona” hoje.
– Antes fosse _revira olhos_! Tenho que lhe abrir queixa sobre roubo, produção de poções ilícitas e um futuro avanço de nosso “probleminha interno”.
– Como?? – fiquei apontando de soslaio com os olhos para a Birala, e ela me entendeu – Erika, pode por favor fazer companhia à Birala enquanto converso com Ezarel? A sós!
– Sem problemas. Vem comigo Birala, a coisa parece estar bem complicada aqui. – A neko a seguiu um tanto irritada. Ainda bem que a Erika era a única junto da Miiko.
– Certo Ezarel, explica direito isso tudo.
– Vamos por partes. Primeiro o roubo. – ela erguia uma das pestanas – Lembra a flor especial que o Gelinho deu para a Paladina? A Atiku duweke?
– O que tem ela.
– Bom, com um pouco de esforço, consegui convencer a Cris a me fornecer algumas amostras para estudo. No entanto, tanto as amostras que ela me deu quanto o livro que fala sobre essa planta desapareceram.
– Ainda não entendi a urgência sobre isso. Pra quê que alguém iria querer roubar isso?
– Isso, é o que nos leva para o segundo problema, e muito provavelmente ao terceiro também. Dá uma cheiradinha nisso! – falei lhe estendendo a bebida que continha a poção e que a Paladina me permitiu carregar comigo. De início a Miiko não parecia querer dar muita bola para o que lhe entregava, mas ao sentir o cheiro... ela até voltou a cheirar para ter certeza do que se tratava, assim como eu fiz.
– Ezarel, a poção ilícita que você mencionou, é uma poção do amor?
– Siiiim... – ela arregalava os olhos – E o alvo disso aí, foi a Cris!
– Quem deu isso pra ela!?!
– Segundo ela, o responsável foi um dos membros de minha guarda: Ghadar. Tem como a senhora dar um jeito da Ewelein “examiná-lo” ainda hoje? Sei lá, inventa uma missão ou algo do tipo, mas se ele não fizer parte do grupo que está nos dando dor de cabeça, não vejo um “pra quê” que ele faria uma coisa dessas.
– Eu estava mesmo pensando em pedir para alguém ir até Balenvia me conferir umas coisas, posso usar isso como desculpa... Mas me diz Ezarel, a Cris foi afetada de alguma forma? E essa poção? Algumas poções do amor possuem condições para funcionarem, sabe se aqui tem alguma?
– Se me lembro bem do que eu li do livro desaparecido, primeiramente, a pessoa que a bebe não pode estar amando ninguém. E ela também precisa tomar a dose inteira, o que como você mesma pôde ver, não aconteceu.
– Não sabia que a Cris já tinha aprendido tanto sobre poções...
– Mas não foi ela que descobriu a poção.
– Não?? – repassei a ela tudo o que aqueles dois me contaram, e pude notar pela chama do bastão dela a sua chateação (quando é que essa kitsune vai superar aquele lagarto de gelo? Eu heim!) – Entendi. Vou falar com a Ewelein agora mesmo. Eu já estava terminando de falar com a Erika para encontrá-la e saber mais sobre o Wasi e sobre as “verificações de saúde”. Por hora, tente ficar de olho nele até obtermos a confirmação se ele faz ou não parte do grupo de Apókries. Finja não saber de nada para não o perdermos para o veneno.
– Sim senhora.
– Agora vamos que Birala está te esperando e o meu dia será curto!
Ela tinha que me lembrar da neko que estava lá fora... E como temia, ela fez “gato e sapato” de mim, como diz a Erika (e ainda estou no começo do meu castigo...).
.。.:*♡ Cap.92 ♡*:.。.
Cris
Passaram-se o quê? Uns quatro ou cinco dias? Consegui manter o Lance um pouco mais comportado (mas se Anya não ficasse quase sempre do meu lado, seria complicado). Karuto conversou com a Miiko e agora eu só preciso trabalhar na cozinha durante a semana, nos finais de semana meu tempo é com o Gelinho. Foi por causa do Nevra que acabou ouvindo a conversa e, aproveitou que Anya lhe havia reclamado sobre dificuldades com a Língua Original, que sugeriu deixá-la nos fazer companhia enquanto ela tinha “aulas de reforço”. Claro, Miiko e Karuto não pensaram duas vezes em aceitar a ideia.
Ghadar não ficou no meu pé porque a Miiko e o Ezarel o mantinham ocupado com uma montanha de missões (Ufa! Vai que ele tenta me aprontar outra vez!). Ewelein, auxiliada pela Erika, conseguiu terminar de examinar todos os membros do QG e já começou a examinar os moradores de Eel. Sem falar que elas descobriram cinco pessoas que estavam doentes e não sabiam ou não perceberam, incluindo um dos enfermeiros mais antigos.
Hoje foi dia do Ritual. Erika parece cada vez mais disposta ao final dele, depois que comecei a rezar junto ao Cristal. Ainda aparece um contaminado ou outro atraídos pelo Cristal (esses deviam estar bem mais longe) e eu nem fico cansada ao cuidar deles mais (também, sendo tão pouco de cada vez!...). Lance começou a reclamar de tédio pelos cantos e outra vez ficou me pedindo para deixá-lo assistir/ler as coisas do meu not. Mas com uma biblioteca enorme a disposição? Aaaah não! Acabei me encontrando com a Erika nos corredores, que estava sobrecarregada de livros nas mãos, e já que estávamos na mesma direção...
– Precisa de uma mãozinha Erika?
– Cris! Minha salva-vidas, por favor! – ri já pegando alguns dos livros que ela equilibrava. Alguns volumes de “Titanomaquia, por Eycharistisi”, e “Além dos Portais, por Especttra”.
– De onde tirou esses livros? Parecem interessantes.
– Do antigo quarto de Ykhar.
– Oi?
– É, eu sei, eu sei. Somente agora que a Miiko não conseguiu arranjar nenhuma desculpa para esvaziar aquele quarto. Elas eram bastante amigas, sabe. – (deve ser difícil...) – _suspiro_ Ykhar estava traduzindo todos esses livros para que eu pudesse lê-los, pena que ela não pode terminar de traduzir a Titanomaquia... Todos eles são ótimos!
– Tem mais algum favorito? – estávamos terminando de subir as escadas para a biblioteca.
– A série “Laços” de Dee; a “Saga de Fogo e Gelo” da paullete; “Delicadeza e força” de AmandaMay, e mais um monte que não estou me lembrando agora.
– Mais livros??? – Ezarel nos recebia na biblioteca (hoje ele é servo do Kero) – Me diz que esses são os últimos. Quantos livros aquela coelha doida escondia no quarto?
– Reclame menos e trabalhe mais Ezarel. – exigia o Kero – Bom dia Cris, está só dando uma ajudinha à Erika ou você quer pegar algum livro pra ler?
– Ah, é... Bem... eu vinha atrás de alguns livros e acabei ajudando a Erika _riso amarelo_ – eu não sei como é que o Kero consegue me olhar como se não tivesse acontecido nada. Segundo o Nevra, se ele não tiver mentido pra mim, depois que Ezarel me embebedou, eu tentei montar no Kero ao saber que ele era um unicórnio! E eu ainda fiquei fazendo birra! Ainda bem que Caméria (a quem fiquei chamando de “arvore bonita”) o socorreu me dizendo que o Kero estava “com dor na coluna”, o que me convenceu a desistir – Vooocê tá de saída?
– Oh sim. Acabaram alguns materiais e estou indo comprar mais. Qualquer coisa, Ezarel vai lhe ajudar enquanto estou fora. Ainda falta muito Erika?
– Só mais uma pilha Kero. Acho que a Ykhar estava cuidando de uns mil livros ao mesmo tempo. – pude ouvir um resmungar atrás de uma mesa lotada de livros, onde colocamos os que trazíamos.
– Ykhar vivia levando o trabalho para o quarto ao invés de fazê-lo apenas na biblioteca. – falou Kero em meio a um suspiro – Vou ver se consigo ser rápido, assim te ajudo a terminar de trazer tudo. E não me atreva a deixar essa biblioteca antes de terminar de organizar esses livros Ezarel! – Erika e eu rimos, ao mesmo tempo em que o elfo voltava a resmungar em outra língua.
Acabei dando uma mãozinha à Erika para poder poupar um pouco o Kero. Acabado de trazer os livros, Erika voltou à ajudar a Ewelein; Ezarel estava perdido em meio a floresta de livros da Ykhar, e eu fui atrás de alguns para levar pro quarto.
Eu já tinha me interessado por uns cinco que segurava, quando começou.
– Ei, aqui! – alguém me chamava – Venha por favor! – mas aonde é que está?
– Nos ajude!
– Por favor, aqui! – eram... várias vozes, e todas vinham do fundo da biblioteca (será que algum grupo de gente ficou presa em algum lugar?) – Por favor, venha!
Continuei seguindo aqueles chamados até uma sala que estava... Aberta? (como é?) Na porta havia a placa “ÁREA RESTRITA - SOMENTE ENTRADA AUTORIZADA” (porque uma porta assim está aberta?). Como os chamados continuaram, pensei nas chances do problema vir do fundo da sala, mas... não via ninguém lá dentro! Pensei em ir embora por causa da possibilidade de ser uma armadilha.
– Não vá! – as vozes eram infantis agora.
– Não nos abandone!
– Por favor nos ajude!
– Imploramos!...
(Ooo minha Virgem Santíssima...) Acabei entrando na sala e segui as vozes até a última prateleira (por favor meu Deus, que eu não esteja de encontro a uma armadilha!) – Moça, aqui! – a voz de uma menininha pareceu vir bem de trás de mim e no que eu virei, me deparei com um grande domo verde escuro com detalhes dourados. Acabei pegando o livro e não ouvi mais nenhuma voz chamando. O livro parecia algum tipo de diário, com fechadura e tudo, porém, além dele ser enorme para um diário, não estava trancado. Nem vou dizer que senti vontade de lhe dar uma olhada ali mesmo, mas achei melhor fazê-lo em meu quarto (qualquer coisa digo que o encontrei em um dos corredores. Essa sala também possui vários corredores mesmo...).
Deixei logo o lugar, peguei mais um livro, e fui avisar o Ezarel sobre os livros que tinha escolhido – Ezarel!
– O que você quer Paladina. – ele nem se desviava daquelas montanhas de domos.
– Registrar alguns livros que vou levar. – ele ainda se mantinha de costas pra mim – Não vai me atender não?
– Tem um papel em branco aí na mesa. Anote o número de livros que está levando e depois eu vou até onde você estiver para corrigir a papelada. Mas só vou fazer isso pra você!
– Nesse caso... – anotava o número correto de livros que havia pego após contá-los – Pretendo passar o dia todo em meu quarto. Até mais tarde.
– Até, até! – se despediu ele sem me olhar. E como dito, fui direto para o meu quarto.Lance
“...A biblioteca possui uns cinquenta... Nos quartos do QG é possível juntar ao menos trinta...” – o que será que essa maluca pretende me aprontar agora... – “...Juntando os das lojas, conseguimos mais uns 800...” – desde que a Cris saiu pra biblioteca, essa Negra só fica me calculando não sei o quê, flutuando de um lado para o outro, como se eu nem estivesse aqui – “...e acho que no Refúgio há mais uns cem... Será que vai ser o suficiente?”
– O quê que vai ser suficiente? – perguntei já no meu limite.
“Um servicinho que só agora a Cris tem condições de efetuar. E acho que você vai ter que deixar este quarto por uns momentos também.”
– Como é que é?? Está tramando o que dessa vez??
“Ela está vindo.” – e me aparece a outra... – “E está com ele, tudo pronto por aqui?” – (hein?) Absol apareceu logo em seguida.
“Parece que já estamos todos a postos. Acha que a Cris vai demorar muito com ele?”
Realmente não estou gostando – Ele quem? – a Branca sorriu enquanto a Negra batia na própria testa.
“Não é quem, e sim o quê, seu ciumento. Vai saber quando a Cris entrar aqui, tá legal?!”
Esse mistério todo não me cheira coisa boa, e antes mesmo que eu pudesse ter a chance de retrucar, escuto o barulho da fechadura. Minha Ladina voltou.
– É muito me fornecer uma mãozinha aqui? Isso está pesado!
– Porque demorou tanto? Estava tão difícil escolher alguns livros assim? – falei já pegando os livros que ela tinha e os levando para a mesa, para que ela pudesse fechar a porta direito.
– Acabei fazendo um favorzinho pra Erika, e algo meio esquisito aconteceu enquanto escolhia os livros.
– Esquisito? – parei de verificar os livros – Como assim, “esquisito”?
– Ah, eu nem sei explicar. Cheguei até a pensar que pudesse ser uma armadilha de tão estranho que foi. Esse aqui é meu! – terminou ela pegando um dos livros e o abraçando (que por sinal... onde é que eu já o vi?...).
“Vamos começar, irmãzinha?” – a Branca só lhe assentiu e as duas começaram a possuir a Cris (pra quê?!?!?).
Não demorou muito e a Cris foi até o centro do quarto envolta por aquela luminosidade gerada pelas sementes e, em posição de lótus, sem largar aquele livro, ela começou com um cântico novo. Absol mais que imediatamente fez alguns livros e pergaminhos surgirem pela umbracinese diante da Cris, abrindo a janela do quarto logo em seguida, da mesma forma que ocorreu durante a primeira reunião da “Guarda Mascote”.
Eu ainda não estava entendendo nada, mas no primeiro instante que uma fumaça negra começou a deixar o livro que ela abraçava... Me recordei na hora que livro era aquele – Mas o que é que vocês estão fazendo!?!? – tentei arrancar aquele livro dela antes que pudesse ser machucada, mas Absol me impediu – Sai da frente seu maldito! Quer mesmo que aquela coisa ladra de memórias prejudique a Cris? – ele apenas me ignorou e continuou me impedindo de tentar proteger minha Ladina.
A fumaça que saía do livro começou a rodeá-la como se fosse uma corda viva, sem se aproximar muito da Cris, crescendo e crescendo até dar umas dez voltas ao redor dela, e me agoniando. Quando a ponta alcançou o alto, ela parecia a cauda de um ferrão prestes a atacar (e esse black-dog continua não fazendo nada para impedir???). A “ponta” que ficou pairando no ar por alguns instantes, desceu com tudo muito mais rápido do que gostaria de visualizar, mas... Para o meu espanto, aquela ponta se chocou com tudo contra um dos livros que havia sido trazido pelo Absol, e ela... estava sendo... absorvida pelo livro?
Depois do livro absorver aquela fumaça por uns dois ou três segundos, ele começou a flutuar, abriu-se, e de acordo as folhas que notei estarem em branco passavam, a fumaça ia sendo absorvida ainda mais e um texto surgia no livro. Preenchendo as páginas. Eu não assimilei direito o que acontecia, mas como eu parei de querer intervir em seja lá o que for que está acontecendo, Absol também parou de querer me barrar.
Acho que se passou uns dez minutos até as páginas do livro acabarem e a ponta daquela “corda” reaparecer e partir para o livro mais próximo, dando continuidade ao que fazia. Abandonando o livro anterior, fechado, sobre o chão. Peguei o mesmo assim que me pareceu seguro, e fiquei surpreso de novo. Antes de eu soltar aquela criatura a mando do Leiftan na biblioteca, ou melhor, antes mesmo de eu ter resolvido me voltar contra Eldarya e principalmente contra essa Guarda, havia um livro que eu gostava tanto de ler que cheguei até mesmo a decorá-lo, e ficou perdido depois de eu libertar aquela coisa que comia conhecimento. Mas o livro que tinha em mãos nesse momento... É definitivamente ele! Elas estavam extraindo o conhecimento roubado pela criatura!!
Nunca pensei que algo assim pudesse ser feito, ainda mais quando se sabe tão pouco sobre aquela coisa. Não demorou muito e mascotes começaram a trazer livros e pergaminhos pro quarto. E, aos poucos, a Cris ficava mais rápida nas transcrições. Tanto que em meia hora, ela já tinha recuperado 15 livros e 20 pergaminhos. Eram historias, mapas, dados, até biografias tinha ali! (que devem pertencer às pessoas que tiveram suas memórias roubadas).
As vindas dos mascotes através da janela e da umbracinese de Absol ficava cada vez mais frenética, ao mesmo tempo em que alguns mascotes separavam os papéis em branco dos já preenchidos. (Isso vai chamar a atenção... Já, já aparece alguém querendo entrar aqui pra saber o que está acontecendo) Aquela “zona” toda já tinha durado uma hora mais ou menos. A Cris só gastava, se muito, 30 segundos para reescrever os volumes agora. Metade do quarto estava tomado pelo conhecimento recuperado e, se esses mascotes não começarem a receber ajuda, vai faltar material para recuperar todo esse conhecimento (me pergunto a quanto tempo que aquela coisa existe).
Estava preocupado com a Cris, pois, se isso se prolongar demais, ela não vai aguentar o bastante para concluir isso aqui. Comecei a ouvir passos vindo de fora e antes mesmo que eu me desse conta, Absol me jogava ao chão (ou seria pro chão) me transportando imediatamente até o meu esconderijo que a Cris nomeou de Morada do Dragão. Não tive tempo nem de pensar direito, uma melodia me deixava sonolento.
– Mas o qu... _bocejo_ que está acon... _caindo na cama_ te... cendo... _dormindo_.Kero
Não foi fácil, mas eu finalmente consegui convencer a Miiko a permitir a liberação do quarto de Ykhar. Tenho certeza que ela odiaria saber que seus livros tão amados continuariam abandonados por sabe-se lá quanto tempo. Eu só não esperava que ela escondesse tantos! (Ezarel como servo me veio na melhor hora). Weisheit havia saído para explorar, mas ele já está demorando demais! Espero que ele esteja bem...
Como venho a faltar pergaminhos (estranho, tenho certeza que comprei dois lotes semana passada), fui atrás de mais, deixando o Ezarel responsável pelos livros que pertenceram a Ykhar, trazidos pra cá com a ajuda da Erika, e agora da Cris também, enquanto estava fora.
Durante a minha busca, pude notar que alguns mascotes pareciam estar esperando por alguma coisa. Fui até a loja em que eu sempre compro material pra biblioteca (que por sinal fica do outro lado do mercado), porém o vendedor me olhava de cara feia.
– Há algum problema amigo?
– Eu é que pergunto. – (parece ser sério) – Um bando de mascotes acabou de me deixar a loja carregando todos os meu papéis em branco.
– C-como?!
– Eles saíram daqui com a ajuda do guardião da Lys, aquele black-dog. – _boquiaberto_ – A não ser que exista algum outro umbracinesiano em Eel, ele é o único que pode fazer isso. – (pelo Oráculo!) – Espero que você esteja aqui para me ressarcir Keroshane, já que pelas minhas contas, os mascotes me levaram cerca de 950.000 maanas de produtos.
– Q-q-quanto!?! Isso é sério! Eu vim aqui em busca de pergaminhos porque os da biblioteca haviam sumido. – ele me pareceu cada vez mais irritado – Vou voltar agora pro QG e reportar isso a Miiko. Temos que descobrir quem e porque está fazendo isso.
– Tá, mas eu vou ser ressarcido ou não?
– P-primeiro precisamos descobrir o quê que está acontecendo _suando frio_, m-mas prometo que o senhor não terminará prejudicado. – saí da loja o mais rápido que pude e corri até a Miiko para lhe repassar o problema.
Mal entrei na Sala das Portas e pude ver várias pessoas cercando o Leiftan e a Miiko reclamando do mesmo assunto (por todos os deuses, mas o que é que está acontecendo aqui?!?). Estava prestes a me juntar ao grupo quando Weisheit me aparece e me puxa pela roupa até a biblioteca.
– O quê que foi Weisheit? O que é que tem na biblioteca? – o questionava enquanto lhe seguia – Calma aí Weisheit! – sussurrava – Sabe que você não pode ficar voando desse jeito aqui! – mas ele só parou de frente à Sala Restrita. Fiquei branco ao notar que a porta estava aberta com ele entrando – Weisheit, cadê você? – chamava-o já lá dentro. Segui seu som até uma das prateleiras dos fundos, onde ele apontava para um espaço vazio. Se a Ykhar ainda estivesse aqui, seria ela quem teria cada ordem de cada uma daquelas prateleiras memorizada, mas na ausência dela, fui eu quem tive que memorizar isso tudo e, por causa disso, acabei caindo pra trás, literalmente, ao perceber qual livro que devia estar ali – EZAREL!!!! – sai dali correndo aos tropeços depois que Weisheit me tirou do meu estado de choque – EZAREL!!!! – e esquecendo totalmente meus modos dentro da biblioteca.
– Que isso Kero?! Enlouqueceu por acaso?
– Você entrou na Sala Restrita hoje.
– Mas é claro que não. Já esqueceu a montanha de livros que você me mandou organizar? Sem falar que você e a Miiko são os únicos que possuem a chave daquela porta.
– Pois acabo de vir de lá e a porta estava aberta. E pior! O Livro-prisão, sumiu!
– É o quê?!?!
– Me diz Ezarel, _respira fundo_ você não permitiu ninguém deixar esta biblioteca sem registrar os livros que pegava, não é?
– Não! Claro que... Essa não!... – ele começou a procurar por algo na mesa.
– Quem. Foi. Ezarel.
– Só tem uma pessoa que eu não registrei os livros para não me desconcentrar dessas pilhas, com ela dizendo que ia passar o dia todo no quarto e... ela me levou sete livros?!
– Quem que levou esses livros Ezarel. Esqueceu o tipo de ameaça que está preso naquele livro?
– Mas é claro que não! – eu o seguia pra fora – Porque acha que procurei o papel que a Paladina me anotou?
– Um momento. – acabei travando no lugar – Está me dizendo que há a possibilidade dele estar com a Cris???
– Eu espero que a resposta seja “não”. – começamos a disparar em direção ao quarto dela e Leiftan pareceu perceber o nosso desespero, pois começou a nos seguir com Miiko vindo atrás também.
– Qual o problema de vocês dois? – perguntava o daemon.
– Alguém está com o Livro-prisão nas mãos...
– Como é?!? Do que você está falando Ezarel!
– Apenas continue nos seguindo tá Miiko, e reze para que eu esteja errado.
– Pra onde estamos correndo Kero?
– B-bom Leiftan, n-nós estamos indo até... até...
– Até onde Kero, pare de gaguejar!
– Até o quarto da Paladina.
– O QUÊ!?!?!?!?! – Leiftan e Miiko gritaram juntos disparando os dois a nossa frente. Eu precisei me esforçar para alcançá-los.
– Cris! Cris!! Responda Cris! – Miiko a chamava – Não estou gostando disso e, – ela forçava a maçaneta – ...a porta está trancada! CRIS!!!
– Onde está a Anya? – porque Ezarel está me pensando justo na Anya?
– Boa ideia, vou procurá-la. – comentou o Leiftan disparando em busca dela (??).
Miiko continuava a chamando na porta, mas continuávamos sem qualquer resposta (Santo Oráculo! Que a Cris esteja bem!).Anya
Depois de alguns dias, eu finalmente consegui me acostumar a minha sinestesia, mas ainda não a compreendo totalmente. Voltei a treinar com o Chefinho, ele continua um chato pelo tanto que me cobra, mas depois do que eles descobriram de modo baixo, eu não podia reclamar muito (mas ainda reclamo).
– De novo Verdheleon.
– Vamos fazer uma pausa Becola... sabe que fiquei dias sem treinar e já estamos nisso há duas horas, sem qualquer pausa!
– Anya, Anya... Sabe muito bem que seu nível ainda está muito baixo pra sua “situação”. Se a Cris não tivesse pedido por uma folga completa hoje, você estaria em “serviço” agora.
– Eu não sei não...
– ANYA! – Leiftan me chamava aos berros – Anya! Graças aos deuses lhe achei. Preciso que venha comigo agora!
– O que aconteceu Leiftan? Onde que é o incêndio?
– Não temos tempo Nevra. E Anya, eu preciso de você, ou melhor, da sua chave. – ele apontava para a cópia da chave da Cris.
– O que foi que aconteceu Leiftan. – perguntou o Chefinho bem mais sério agora.
– O Livro-prisão sumiu. – (o livro-o-quê?) – E parece que ele está com a Cris agora. – Leiftan já me arrastava com ele e o Chefinho nos seguia.
– Como é possível? E como vocês chegaram nessa possibilidade? – questionava o Chefinho.
– Eu não sei direito. Só sei que, quando Miiko, Ezarel, Kero e eu a chamamos no quarto dela, ela não respondia. Sem falar que estava trancada. – agora entendi porque ele está me arrastando (mas e quanto ao Gelinho?).
Chegamos rápido até os corredores, só que o Leiftan me puxava com tanta pressa que eu acabei tropeçando no meio do caminho. Eles até que pararam pra me ajudar, mas Absol apareceu me levando com ele. Quando dei por mim, estava dentro do quarto da Cris (ou ao menos parecia ele. De onde saiu tanto livro??). A voz da Miiko chamando do lado de fora me despertou. Olhei ao redor e encontrei a Cris cercada por uma enorme corda de fumaça que parecia entrar e preencher os papéis em branco. Mascotes corriam de um lado para o outro lhe fornecendo apoio e... Cadê o Gelinho??
Como não estava entendo nada do que acontecia direito e a Miiko insistia cada vez mais na porta, acabei abrindo pra eles. Eles entraram quase que desesperados e ficaram chocados ao ver o mesmo que eu.
– Mas... O que é que... – Miiko olhava em volta totalmente confusa – É o Livro-prisão que a Cris está segurando? E o que ela e esses mascotes estão fazendo exatamente?
– E-e-eu, n-não compreendo. – falava o Kero conferindo alguns dos livros não vazios – O-o quê a Cris está fazendo dessa vez? O cântico dela parece estar na língua Original, mas não consigo entendê-lo direito.
– Já eu consigo entender um pouco. – falava o Leiftan que chegava com o chefinho logo atrás.
– E o que é que ela está fazendo Leiftan? O que é tudo isso!? – a Miiko parecia desnorteada.
– Se... – o Leiftan pegava um livro arregalando os olhos com seu conteúdo – Se o que eu estiver entendendo for correto... – ele “pulava” de um livro para o outro cada vez mais impressionado – Ela está recuperando TODO o conhecimento que foi roubado por aquela coisa!
– QUÊÊÊÊÊÊÊ!!!! – todos eles disseram juntos (dá pra alguém me explicar?).
– Mas parece... – Leiftan finalmente começava a observar as coisas dentro do quarto – Que mesmo obtendo a reposta para os roubos dos mascotes, eles não estão conseguindo trazer material suficiente para a Cris...
– Não seja por isso! – (ihh, a kitsune vai começar...) – Kero, arranje quantas pessoas puder para levar os volumes já concluídos para a biblioteca; Leiftan, peça a todos os membros do QG para que peguem TODOS, mas é TODOS os livros, cadernos e pergaminhos em branco que tiverem e os tragam até aqui, eles também podem ajudar a esvaziar o quarto dos já terminados; Nevra, vá até o mercado e avise a todos os comerciantes que enviem tudo o que eles tiverem de papel pra cá, e que também serão ressarcidos mais tarde. Nós temos ouro e maana suficiente para isso, não temos Kero?
– Eu não sei ao certo, teria que fazer as contas primeiro.
– Que seja, qualquer coisa eu leiloo algumas coisas ou peço alguns empréstimos, o que for mais em conta. Anya, gostaria que você fizesse o mesmo que o Nevra, só que com o pessoal do refúgio.
– E você Miiko? Vai fazer o quê? – perguntei.
– Eu vou ir atrás da Ewelein. A Cris sempre fica esgotada depois dessas loucuras e pelo o que estou vendo... Isso aqui não será uma exceção. Pensando bem, há o risco de ser até pior! Agora vamos, vamos, vamos! – mandava ela já correndo na frente.
Como eu era a mais afastada da porta, esperei todos eles saírem para que pudesse sair também. Mas antes de eu poder fazê-lo, Absol já me arrastava outra vez (mas o que é dessa vez?!). Ele me levou por umbracinese até um lugar escuro que parecia um quarto. Reconheci na hora o Gelinho dormindo na cama e um ailikamp de aparência exausta (já entendi tudo).
O canto dos ailikamps são sinal de bom presságio, mas o que poucos sabem, é que eles também podem fazer os outros adormecerem ao cantar a melodia certa (e pelo cansaço do coitado, ele está fazendo isso com o Gelinho há um bom tempo). Absol me chamou a atenção até a mesa onde vi e reconheci a schmidtiana (minha mãe a usa muito para fazer os soníferos dela), mais que depressa comecei a preparar um vapor com o que achava, das folhas da planta para poder liberar o coitadinho da tarefa de manter o Gelinho dormindo (ainda bem que a minha sinestesia me permite enxergar no escuro!). Deixei a solução pronta em uma cadeira perto da cama, e Absol levou a mim e o pequeno ailikamp para a Cerejeira através da umbracinese (essas viagens são desconfortáveis...!). Confiei o mascotinho ao Purrero e fui atender a ordem da Miiko.
– Tomara mesmo que o QG consiga ressarcir todo mundo!Obs:
Apesar de eu ter mencionado algumas fanfic’s (que estão entre as minhas favoritas), a razão para eu fazer a Erika dizer que a Ykhar não havia terminado de traduzir a Titanomaquia, é porque no momento em que escrevi este capítulo, a Eychi ainda não havia concluído a historia dela. E não dá pra “traduzir” uma historia que está “inacabada” não é mesmo!
Ou seja, nessa Eldarya, Eycharistisi concluiu o seu trabalho, mas em uma língua que só alguns do QG conhecem, como a Ykhar.
(Espero que não se incomode Eychi. Se eu lembrar, posso estar fazendo uma mudancinha nessa observação aqui quando você concluir a Titanomaquia)
.。.:*♡ Cap.93 ♡*:.。.
P.S.
Preciso alertá-los que, este capítulo também possui cenas um pouco fortes, no qual o ato depressível que coloquei aqui (deixando bem claro, que não sou nada a favor) e que não deixei completar, é apenas para lembrar que não importa quanto tabu se tente colocar sobre algo, sempre existirá aqueles seres asquerosos e miseráveis que acham que podem fazer o que bem entendem e nada lhes acontecerá. Que se acham os superiores do mundo e por isso pouco importa o que suas vítimas sofrem com esses atos.
Bom... o que aparece aqui vai descobrir que as coisas não são assim...
Miiko
Depois de falar com a Ewelein sobre a tal poção do amor, nós duas fomos juntas ao encontro de Ghadar para que ela o examinasse e eu lhe passasse a missão de Balenvia. Eu não sei se estava tendo sorte ou azar, mas ele realmente fazia parte dos espiões (mas qual exatamente era o propósito deles ao quererem fazer a Cris se apaixonar?). Balenvia o fez ficar longe da Cris por dois dias, mas com a ajuda do Ezarel, consegui garantir muitas missões para mantê-lo ocupado e afastado dela.
Karuto conversou comigo sobre as aulas da Cris com... o “Gelinho” _suspiro_ e concordei em nos acertamos junto dele. Nevra acabou ouvindo os nossos planos e nos sugeriu a adicionarmos a presença de Anya nessas aulas, por conta das reclamações dela sobre a Língua Original (eu não devia permitir uma coisa dessas, mas como Lance já estava acostumado com a Anya, e a Cris me comentou que ele ficava mais “comportado” quando ela estava junto, acabei por aceitar sem nem hesitar). Karuto e eu nos encontramos com o Lance ainda no mesmo dia, no quarto da Cris (onde será o outro lugar em que ele fica?).
Ewelein apresou as verificações nos membros do QG depois de descobrir o Ghadar, usando a desculpa que entre os já examinados ela havia encontrado mais um portador da tal doença, cujo mesmo teria a identidade preservada e ele já estava recebendo o tratamento (mas chocada mesmo eu fiquei ao saber que um dos novos enfermeiros também fazia parte de Apókries. Com isso já temos dois). Quando ela concluiu esta etapa, Ewelein disse que iria me montar a lista dos espiões, com as fichas médicas de cada um, em segredo para poder nos repassar ao final do dia (sinto que hoje não vai ser um bom dia...).
Novamente o Kero veio me ver para poder obter autorização para esvaziar o quarto da Ykhar (sou a única com uma chave de lá, e aquele lugar é quase como um refúgio pra mim), mas os argumentos dele conseguiram me vencer dessa vez, e eu não tive outra escolha senão autorizá-lo. Erika, que ouviu a conversa, se ofereceu para ajudar o Kero e para recordar a nossa Pernas-curtas (_suspiro longo_).
Estava esperando que esses fossem os únicos infortúnios do dia, mas hoje é um dia ruim, sem dúvidas. Afinal, como que reclamações sobre roubos e desaparecimentos de livros e pergaminhos em branco, possivelmente por culpa dos mascotes, pode ser um bom sinal? Leiftan até que me ajudava a lidar com aquelas pessoas que me cobravam uma solução, no entanto, o estranho comportamento do Keroshane e do Ezarel acabou me chamando a atenção, e quando eles disseram qual que era o problema... TODOS OS DEUSES, EU IMPLORO! Que a Cris esteja bem!
Aquela falta de resposta vinda do quarto dela só ampliava a minha aflição (e cadê o Leiftan com a chave da Anya!?!?!?!). Não esperava que Anya me viesse abrir a porta por dentro e muito menos que eu fosse ver o que vi! Depois da explicação de Leiftan, coordenei mais ou menos todo mundo sobre como ajudar a Cris com aquele trabalho que nunca imaginei que fosse possível (a Cris me surpreende cada vez mais!).
Corri na frente atrás da Ewelein porque eu notei um leve cansaço no rosto da Cris depois do Leiftan comentar que os mascotes não pareciam dar conta do que faziam (acho que dessa vez ela vai ficar bem mais que uma hora inconsciente, mesmo aumentando sua força depois da Lua) – Ewelein!! – gritava por ela na enfermaria – Ewelein, cadê você?!
– Estou aqui Miiko. Quantas vezes preciso lhe pedir para não gritar na enfermaria?
– Sinto muito, mas é urgente! É a Cris.
– O que aconteceu com ela? – ela se assustava.
– Desculpe, mas só vendo pra acreditar. Largue o que estiver fazendo e me acompanhe depressa até o quarto dela! – e assim ela fez. Ela trancou algumas coisas em uma gaveta (provavelmente a lista dos espiões) e correu comigo.
Chegando lá, assim como eu a Ewelein ficou impressionada. Já havia gente trazendo mais material para Cris ao mesmo tempo em que carregavam alguns dos volumes prontos para baixo – Pelos mais poderosos deuses... – ela se aproximava da Cris e notei que ela reconhecia o livro-prisão – Miiko, explique.
Contei a ela o que Leiftan tinha nos explicado assim como as ordens que dei e as minhas suspeitas sobre a Cris e aquele processo todo – E então Ewelein, acha que a Cris vai conseguir dar conta do que ela está fazendo?
– Se ela não receber nutrientes e hidratação, não. – _engole seco_ – Ela está muito mais submersa nisso do que quando ela cuida dos contaminados! E pelo o que você falou, é bem possível que algo semelhante a vez que ela começou a consertar o Cristal, ou que mandou os humanos embora venha a acontecer novamente.
– Mas você pode ajudá-la, não é? O que ela está fazendo é realmente importante! E eu não sei se é seguro interrompê-la.
– Entendo o que quer dizer. Acho... que posso lhe fornecer o que ela precisa por intravenosa, mas vou precisar de tempo e ajuda para fazê-lo. Não quero encostar nessa coisa que a está rodeando.
– Faça o que tiver que fazer Ewelein. Peça o que quiser, e se alguém perguntar, você já possui a minha autorização. – declarei e a Ewelein saiu correndo me agradecendo.
Por algum motivo, sentia uma inquietação em deixar a Cris sem alguma vigília já que agora, por causa daquela montanha de livros que crescia mais rápido do que era possível transportá-la para baixo, todos estavam tendo livre acesso àquele quarto. Assim que vi o Valkyon, pedi para que ele permanecesse lá dentro, vigiando as coisas, e, quando aparecesse alguém de sua plena confiança, que o auxiliasse na segurança da Cris.
Após confiar a Cris ao chefe dela, fui atrás de resolver todos os problemas burocráticos que aquela situação causaria junto de Kero. Kero ainda me disse que o Ezarel havia colocado a Absinto inteira para criar alquimicamente o maior número de livros em branco que conseguissem a mando de MIM e do Kero (a ordem veio antes do pedido, mas tudo bem).
O QG se dividiu em bem dizer três grupos: os que levavam o material em branco para a Cris e trazia o preenchido até a Sala das Portas; os que levavam os livros prontos para dentro da biblioteca (com Kero, Leiftan e eu separando aqueles que precisavam ir urgente para a Sala Restrita); e os que forneciam suporte, como agua e cuidados, ou que traziam/faziam o material em branco para o QG. Erika chegou a comentar que o QG parecia um formigueiro com tanta gente andando de forma ordenada de um lado para o outro (contanto que consigamos por tudo em ordem sem grandes problemas, o QG pode se parecer com o que for!).
A Cris terminou aquilo junto com os últimos raios de sol (e acho que não há um só guardião que não esteja exausto). Segundo a Ewelein, a Cris desmaiou assim que largou o Livro-prisão, onde este passou a ser o último livro “escrito” por aquele encantamento. Se transformando em algum tipo de biografia intitulado: A Vida de Bilgi Hirsi e a Existência de Yiyen. O restante do material em branco mandei darem para aqueles que ficaram sem os seus, começando pelo pessoal do Refúgio. Aconteceu que a Absinto continuou criando mais livros e os comerciantes continuaram trazendo mais papéis para conseguirmos repor o que foi gasto e o Kero ainda calculava a dívida (será que a Cris pode nos dar uma mãozinha com a maana dela?).
Acabei dando uma olhada por cima do “ex” Livro-prisão, e ao que entendi, Bilgi era um mago de séculos atrás que tinha um desejo tão ávido por conhecimento, que acabou criando uma criatura para ajudá-lo a obter todo o conhecimento que alvejava, Yiyen. Ele só não esperava acabar vítima de sua própria criação, por isso ninguém tinha qualquer conhecimento sobre aquela coisa, uma vez que ela absorveu não só toda a memória de seu criador, como também tudo que era informação existente na casa desse Bilgi. Graças aos deuses que um sacerdote conseguiu o aprisionar com um encantamento de selamento demoníaco (e este livro vai voltar já para a Sala Restrita!).Nevra
Esse dia foi longo! Depois de finalmente concluir as papeladas sobre as investigações em relação ao o que aconteceu com o Wasi, onde foram encontrados vestígios de várias poções no corpo do coitado, como poção de Indução da Verdade e poção de Hipersensibilidade (além de ferimentos e venenos que lhe causaram uma longa e dolorosa morte...).
Após ouvir a conversa entre a Miiko e Karuto alguns dias atrás, procurei o Ezarel para poder saber mais daquela historia, pena que eu não conheço esse tal de Ghadar... E nem tive chance de conhecer a criatura.
Estava treinando Anya quando Leiftan apareceu doido atrás dela. Nunca imaginaria que algo daquele nível pudesse vir a acontecer em Eel com a Cris aqui (e acho que nem os espiões escondidos entre nós foram poupados).
Fiquei correndo pra tudo que é lado do mercado para poder adquirir o material que a Cris necessitava e pra minha grande sorte (já que Eel não parecia ter o suficiente para a demanda necessária), um grupo de comerciantes de papel chegava a cidade. Mais que depressa lhes pedi para que entregassem tudo o que tinham ao QG com urgência! Pulando toda a burocracia da segurança (e eu acho que até os membros do QG vão ter que ajudar a quitar essas dívidas _suspiro_ Minhas pobres maanas...).
Acabada finalmente com toda aquela bagunça, poucos eram os que ainda tinham condições de trabalhar. Ewelein deixou a Erika e a Anya cuidando da Cris para poder terminar a lista de traidores escondidos na Guarda. Fiquei vigiando o quarto enquanto o restante dos livros espalhados eram levados (também aproveitei para pegar o caderno que a Cris carregava pra cima e pra baixo, para ver se eu descobria onde ficava o tal esconderijo dos túneis, depois o devolvo).
Acho que já era umas 22hs ou 22:30hs quando a Ewelein reuniu parte da Reluzente, no quarto da Cris mesmo, para nos repassar as listas prontas. Quem estava e recebeu as cópias da lista eram a Erika, Valkyon, Miiko, Leiftan, Ezarel e eu. No meu caso, eu deixei para estudar a minha lista durante a ronda noturna, para poder fazê-lo de forma mais tranquila (qualquer coisa eu podia dizer que estava analisando candidatos para efetuar uma certa missão).
Já era madrugada, e eu estava na metade da lista quando comecei a sentir um cheiro estranho vindo do Parque do chafariz. Shaitan, que fazia a ronda comigo, começou a rosnar e correu para aquela direção. Fui verificar.
– Por todas as deusas!!Cris
Ainda mantinha meus olhos fechados (quando foi que eu adormeci?) e sentia uma mão me passeando (aff, Lance), só que... parecia... diferente? Cadê aquele toque gelado que me arrepia inteira? Resolvi afastá-lo com a mão, mas (o quê está acontecendo?) minhas mãos estavam... pressas? Não conseguia movê-las por nada, nem mesmo os meus pés (isso não tem cara do Lance! _indignada_). Resolvi abrir os olhos para entender o que é estava acontecendo e, além de notar que já era noite (mas o que...??) uma mão enorme e pesada me segurava o pulso. Comecei a virar a cabeça para descobrir o dono daquela mão e antes que eu pudesse ver algo direito, uma terceira mão me tampava a boca.
– Shi, shi, shi bonequinha. – era uma voz masculina grossa e um tanto melosa – Não faz barulho não...
Pisquei um pouco os olhos e foi quando passei a enxergar com clareza, tinha um homem enorme com quatro braços, quase tão musculoso quanto o Valkyon, sem camisa, de calça, capa e vários amuletos em cima de mim me alisando??? Eu estou aonde??
– Cê teve tá confusa, não é? Tô veno isso nesses seus olhinhos espantados, boneca. – (será que dá pra sair de cima de mim canalha!?) – Não adianta se remexer não porque não quero soltá-la belezinha. – _rosnando_ – Vou de dar umas luzinhas antes de brincarmos. – falava ele enquanto levava a mão que me percorria às costas dele (e o que ele está querendo dizer com “brincarmos”?!?!?) – Um certo mago doido por poder me pagou para roubar uma coisa pra ele... – (mago doido?) – E essa coisa... – ele revelava uma faca totalmente assustadora – É seu poder.
Eu não sabia o que me apavorava mais; as palavras dele que me faziam lembrar do canalha que está atrás do meu poder e dos outros; aquela faca cuja lâmina estava cheia de símbolos e tinha uma espécie de aura sombria emanando dela; ou a possibilidade nojenta do que aquele “brincarmos” podia significar. Mas pelo jeito que eu não conseguia desgrudar os olhos daquela faca, acho que é ela a ameaça pior aqui.
– Tô veno que gostou da minha arma. – me desviei da faca por apenas um segundo – Sabe, é com ela que vou pegar o que fui pago, mas se eu soubesse que meu alvo era tão bonito... – ele começa a passear a ponta da faca sobre mim (nojento!) – Eu teria enrolado menos para aceitar, ainda mais com tantos bônus aqui! – (hein!?) ele me sorria – Além de bonita, cê tem vários pertences de um valor e tanto. – revirei os olhos e encolhi o corpo tentando me afastar daquela lâmina – Gostaria... que eu te contasse mais sobre essa faquinha aqui? – acabei o encarando séria – Como cê teve ter notado, ela não é nada comum. Ela se chama Tyv, e tá veno essas runas desenhadas na lâmina? Elas são um feitiço muito especial que deixa: – ele voltou a passear a lâmina em mim, de acordo ia falando – Se eu cravá-la em suas belas pernas, cê nunca mais vai conseguir andar... Se eu a cravar em seus braços esguios, cê nunca mais vai consegui mexê-los... Se, eu a enviar aqui... – a faca estava sobre a minha testa – Pego tua vida e de quebra, pego também tooodo o conhecimento que mora nessa sua cacholinha bonita... – isso é mal, muito mal – E se eu a enviar aqui. – a faca agora estava acima de meu coração – Eu não vou matá-la, matá-la. – comecei a finalmente reparar que eu estava em meu quarto (QuÊ!?...) – Mas roubo pra mim a sua alma e cada gota de poder existente nessa belezura toda aqui. – (nojento, para de me encarar desse jeito! Eu não sou comida!!).
Voltei a querer me soltar daquele desprezível e ele apoiava a lâmina em cima dos travesseiros – Oh boneca, já disse que não adianta. Sabe, se a Tyv não causasse tanto estrago depois de trabalhar, eu deixaria para brincarmos depois... – comecei a suar frio – Mas não quero disperdiçar tanta belezura assim... – (cadê o Lance? E o Absol?? Alguém me ajuda aqui!!).
O porcaria começou a me lamber e eu continuei tentando de tudo para me soltar, mesmo não conseguindo afrouxar um só milímetro que fosse, e ele, parecia estar se divertindo com isso. Comecei a chorar quando ele pegou outra vez aquela faca para me cortar a camisola (agora é sério. O que raios me aconteceu??) da base até o alto, me devorando com os olhos diante do que via (qual é... DÁ PRA ALGUÉM ME AJUDAR!!)
– Quanto disperdício, quanto disperdício!... – (SAI DE CIMA SEU CANALHA!!!) – Que tal começarmos a brincar, hum?! – (alguém... _chorando_).
– Se importa de eu interferir?Nevra 2
Eu não conseguia acreditar no que via, Absol estava preso numa espécie de armadilha mágica, e o cheiro... tenho quase certeza que era de veneno paralisante ou algo parecido. Rompi com aquela armadilha e confiei o Absol à Shaitan, disparando em seguida para dentro do QG (o quarto dela não está trancado e Anya me contou, em segredo, os lugares que Absol a tinha levado e o que ela tinha feito. O que significa: a Cris está totalmente vulnerável).
Avancei com tanta pressa até o quarto dela que acabei me esbarrando com um cara que não conhecia no meio do caminho – O que faz aqui? Você não está entre os membros responsáveis pela patrulha dessa noite.
– S-sinto muito senhor, é que eu, estava procurando uma pessoa por causa de um assunto sério. – ele não estava mentindo, mas tem alguma coisa nele...
– Pois deixe pra procurar seja quem for amanhã. Volte já pro seu quarto! Ou melhor, alerte a segurança. Parece que temos intrusos. – e continuei meu caminho sem olhar pra trás o mais rápido que conseguia.
Me aproximando do quarto, comecei a ouvir os batimentos da Cris, e eles estavam desesperados, com outro ser junto dela (acabei de achar Absol e já sei que o Lance está fora de jogo, então quem é a criatura que parece estar tão tranquila assim??). Abri ainda mais a minha audição, conseguindo ouvir uma conversa que, se o Lance a escutasse... Acho que ia sentir pena do infeliz! E ainda bem que eu cheguei a tempo.
– Se importa de eu interferir? – perguntei já dando um golpe de lado na cabeça daquele ryōude nojento e o jogando para longe da Cris que se encolheu toda assim que se viu livre.
– Ora, seu miserável! – aquele maldito me atacava – Quem cê pensa que é pra atrapalhar!! – rosnava ele.
– Nevra Velika B. B. Constantinescu Dalca. – o contra-atacava – Líder da Sombra... – dava-lhe um belo soco na cara – E quem vai te ensinar bons modos! – rolávamos no chão nos golpeando.
– Desprezível duma figa! Não vou ti deixar me atrapalhar!!
Continuamos com aquela briga por mais uns dois minutos e a Cris parecia paralisada. Ele me tentou uma chave de braço e, pra me libertar, o empurrei com tudo em direção à janela. Por causa das barreiras existentes no quarto, o lógico era que a janela suportasse aquele choque, mas eu não sei o motivo certo, a janela se quebrou! E o ryōude me arrastava com ele para aquela queda de possível morte. Foram apenas alguns segundos, mas vi o cara com quem tinha me esbarrado na porta do quarto.
– Cuide dela! – acabei lhe mandando antes de começar a ver o lado de fora.
Ainda no ar, onde fazia de tudo para aumentar minhas chances de sobrevivência, a lista que eu carregava começou a se soltar do meu cinto e a revelar os membros que eu ainda não tinha visto. Foi um instante, mas o tempo me pareceu congelar quando reconheci um dos rostos que só agora eu via.
(Cometi um dos meus piores erros...).Cris 2
Acho que nunca me senti tão aliviada de ouvir a voz do Nevra como fiquei agora, e mais ainda ao finalmente me ver livre daquele ser asqueroso, mas ainda estou confusa! A última coisa da qual me lembro era de estar abraçando aquele livro que me chamou a atenção, então como é que já era noite e eu estava dormindo, vestida de acordo, em meu quarto?? Acordando com aquilo querendo me destruir? Sim porque, fazer aquilo e ainda por cima me levar a alma não é lá muito diferente de matar alguém (isso se não existir a chance de se voltar ao normal).
Ouvia a confusão que a luta daqueles dois causavam, mas eu ainda tentava arrancar uma resposta de dentro da minha mente, ao mesmo tempo em que tentava esquecer as ações daquele nojento enquanto abraçava a mim mesma (preciso de um banho. Um bom banho). Acabei ouvindo o som de algo quebrando seguido do pedido do Nevra para alguém (ele não estava sozinho?).
– Você está bem? – a voz que se aproximava de mim era familiar, mas estava tão atordoada com tudo isso que não pude reconhecer seu dono – Aquele praga... conseguiu... “machucá-la”? – claro que eu entendi o quê que ele me perguntava, e, ainda me abraçando sem desviar o olhar de meu próprio corpo, apenas lhe neguei com a cabeça.
Eu ainda estava nervosa por conta daquilo tudo e por isso não me mexia muito, sem falar que o cheiro daquele monstro em mim, estava começando a me enjoar. Seja lá quem for que entrou, me abraçou com cuidado, acalmando aos poucos o meu coração disparado.
– Temia que algo assim pudesse vir a acontecer... – (hã?).
– Mas do que q... – (Jesus amado) eu finalmente resolvi olhar para quem me aparava e reconheci o Ghadar na hora – Ghadar?! – ele começou a me segurar com mais força e meu nervoso começou a voltar – Por favor me solte Ghadar.
– Sabe, eu já havia escutado historias sobre aquele ryōude. Sobre como ele trabalhava.
– Ghadar... me solte! – ele não parecia ser tão forte assim antes.
– Quando o mestre me enviou a ordem de garantir o seu encontro com aquele ladrão descarado, sabia que alguma coisa ia dar errado.
– Por favor Ghadar... _chorando_ Não faz isso... – não parava de tentar afastá-lo de mim.
– Não é nada pessoal Cris... – mas será possível que as coisas só pioram? – Mas ordens, são ordens.
Percebi que ele segurava aquela faca maldita e a erguia de forma lenta me fornecendo o pânico que só aumentava.
– O que pensa que está fazendo com a minha Ladina?? – Lance o impedia de descer a mão em direção ao meu peito (será que dá pra pararem de quererem me enfartar!?!).Lance
“Anda logo, ACORDA DE UMA VEZ, GELINHO!!!” – me levantava da cama com dificuldade – “Depressa! Nós não temos muito tempo! A Anya tinha que fazer aquilo tão forte?” – (do que está falando Negra?...) – “Não há tempo pra explicações. Você precisa voltar correndo para o quarto, antes que seja tarde demais!”
– Pode ao menos me contar o que foi que aquele black-dog fez comigo? – me sentia sonso, e parte do meu corpo parecia dormente.
“Ele apenas te deixou aqui na companhia de um ailikamp, e depois trouxe Anya que lhe preparou o sonífero que aprendeu com a mãe dela para que o pequeno pudesse ir embora. Já tem uma meia hora que me livrei dele e estou tentando te acordar, agora SE MEXE!” – explicou ela enquanto eu me forçava para fora.
– E quanto a Cris? – ainda estava preocupado com ela.
“Desmaiou de cansaço assim que terminamos. O que aconteceu lá pelo crepúsculo. Preste atenção no caminho! Consegui fazer seu irmão te deixar um presentinho enquanto ele patrulhava aqui embaixo.” – isso me ajudou a despertar um pouco, e não demorou muito para eu encontrar a minha faca naqueles corredores – “Para de enrolar e anda logo!” – (posso saber o motivo de tanta pressa?) questionei sem parar de andar e conferindo o estado de minha arma que meu irmão havia mandado fazer especialmente pra mim, anos atrás – “Se eu começar a explicar, você vai travar no lugar, então apenas se apresse em retornar para o quarto.” – (...) estou achando isso cada vez mais suspeito.
Chegando na saída da Cerejeira, a Negra começou a me agarrar da mesma forma que fez no dia em que deixei a prisão – “Não desperdice energia, apenas se concentre em chegar rápido até a Cris. Deixa que eu o escondo dos outros.” – ordenava ela antes mesmo que eu pudesse reclamar, o que só me fazia desconfiar cada vez mais. Terminava de atravessar o Refúgio quando notei o que parecia ser o Nevra correndo a toda velocidade para dentro do QG.
“Droga, Absol já era!” – (como é que é?!?) – “Estamos correndo contra o tempo agora. Se apresse ou a Cris vai estar em perigo.” – acabei apertando o passo com este aviso (desembucha, o que está acontecendo. Aquele era mesmo o sanguessuga? E como assim, “Absol já era”?) – “CORRE!!” – acabei correndo mesmo e toda vez que pedia explicações, a Negra só parecia estar cada vez mais aflita.
“Eles se encontraram.” – agora é a Branca que me aparece – “Nevra só conseguirá impedir um.”
– Do que vocês estão falando? – sussurrei já que a Branca não tinha telepatia e sumia na direção em que eu seguia.
“Apenas corra!” – a expressão da Negra era de desespero – “Corra como se sua vida dependesse disso!” – acabei me desesperando como ela, e corri o máximo que pude até a minha Ladina.
– Por favor Ghadar... – (QUEM?!?!?) comecei a ouvir a Cris com a voz chorosa ainda do corredor – Não faz isso... – não faz isso o quê? _furioso_.
– Não é nada pessoal Cris... – parei de frente à porta (o que esse canalha pensa que está fazendo se agarrando à ela?!?) – Mas ordens, são ordens.
Ele erguia uma adaga de aparência suspeita e me apressei em socorrê-la (mas eu vou matar esse miserável!). A Negra me largou assim que agarrei o pulso do cretino.
– O que pensa que está fazendo com a minha Ladina?? – falei lhe apertando o punho até ele largar aquela faca e a Cris.
– Mas quê! C-como? – comecei a lhe pressionar o pescoço com a mão livre (você está morto, maldito!) – O que... você... – ele começava a perder a consciência.
– Lance, largue ele. Não o mate.
– Me dê um bom motivo. – pedi me segurando para não terminar o serviço.
– Como você mesmo já mencionou uma vez, mortos não falam. E eu não quero me arriscar a ter o fantasma dele neste quarto! – refleti um minuto e ela tinha razão (ele mencionou algo sobre ordens serem ordens, certo? E já estou farto de companhias espirituais para abrir brecha pra mais um fantasma), terminei de colocar o canalha pra dormir e o joguei no chão – Ele... ainda está vivo, né?
– Por enquanto. – comecei a reparar na forma com que ela estava vestida – O que ele fez com você?!
– _suspiro longo_ Não foi ele...
– Então quem foi. – tudo que ela fez foi apontar em direção à janela que... (como foi que ela acabou quebrada daquele jeito??).
Fui até a janela e pude notar um movimento estranho no caminho até a Cerejeira – Foi Nevra quem impediu aquele asqueroso... – (lembro que a Branca mencionou algo do tipo) – Você... não vai me deixar sozinha, vai? Absol ainda não voltou pelo que vejo...
(“Droga. Absol já era!” Será que esses miseráveis mataram o black-dog?) percebi que a presença do meu irmão ficava mais forte – Valkyon parece estar vindo... – me aproximei da cama puxando o edredom – Ele ao menos é confiável. – lhe cobria com a coberta – Não te deixarei antes dele chegar aqui, está bem? – ela me assentiu com a cabeça e eu lhe dei um beijo na testa. Vesti rápido a minha armadura e voltei pra janela reencontrando o miserável que o sanguessuga enfrentava, com a ajuda da Negra e da Branca.
(Este, ao menos é meu!).
.。.:*♡ Cap.94 ♡*:.。.
Valkyon
– Eu ainda não entendo... Onde é que perdi aquela faca se ela não está nos túneis?
– Relaxa chefe! Quando menos esperar, ela aparece.
– Chrome. – nós deixávamos os túneis pela cerejeira, após os averiguarmos (duas vezes...) – É a faca do Lance! Aquela não é uma arma qualquer. E se cai em mãos erradas?
– São poucos os que conseguem trafegar dentro desses túneis, Valkyon. Vamos comer primeiro porque meu estômago está afetando até o meu nariz! Depois voltamos pra procurar de novo.
Não podia discordar dele nesse ponto, as rondas completas dentro dos túneis gastam em média umas três horas, e o fizemos mais de uma vez para tentarmos encontrar aquela faca e eu também estava com fome (e cansado). Nos afastávamos da cerejeira quando um Leiftan quase sem fôlego nos abortava.
– Até que fim!... Só faltava... vocês dois!...
– Que aconteceu Leiftan? Valkyon e eu somos os únicos que faltam para o quê?
– A Miiko... – ele recuperava o fôlego – Ordenou que todos os membros pegasse todo tipo de caderno, livro ou pergaminho novos e em branco que tivessem, e levasse tudo para o quarto da Cris. Com urgência!
– QuÊ?! – Chrome e eu dizemos juntos.
– Explique isso Leiftan. – pedia.
– É. Porque eu estou morrendo de fome!
– É difícil de acreditar, terão que ver por seus próprios olhos. Agora eu vou pro meu quarto porque eu acho que tenho dois ou três livros em branco lá. Até uma outra hora! – e voltou a correr de volta pro QG.
Alcançando o mercado, vi o Nevra correndo de uma loja à outra cobrando o mesmo que o Leiftan nos disse, só que para os comerciantes. E alguns moradores do Refúgio também levavam material de escrita para o QG (mas o quê está acontecendo para a Cris precisar de tanto papel?).
Lembrei que Erika planejava transcrever suas experiências em Eldarya e por isso comprou 4 grandes livros em branco, ganhou mais 6 de presente tão grandes quanto os que ela adquiriu, e com certeza ela terá dificuldades já que, conhecendo ela como conheço, vai querer levar os dez ao mesmo tempo. Corri até o nosso quarto e como esperado, a encontrei tentando equilibrar os dez, com mais alguns pergaminhos enquanto trancava a porta. Tomei o peso dos livros pra mim.
Questionei-a sobre o que estava acontecendo e ela também não sabia de nada ainda, foi somente depois de chegarmos no quarto da Cris (onde várias pessoas já entravam e saiam com livros e pergaminhos nas mãos) que pudemos encontrar a Miiko que nos explicou tudo (aquela coisa devorou bem dizer a biblioteca inteira na época em que meu irmão a libertou, e mal conseguimos recuperar metade disso até agora, será que Eel vai ter papel suficiente?).
Erika ajudou a Ewelein a cuidar da Cris e a Miiko me impôs para velar pela segurança do quarto. Fiquei pensando na Ykhar ao ver aquilo tudo... Se ela ainda estivesse no mesmo plano que nós, tenho certeza que ela estaria monitorando pessoalmente os cuidados dados para aqueles livros, cujo conteúdo a Cris extraía daquela coisa. Ewelein se ausentou do quarto para concluir alguns “relatórios” depois que Anya chegou, confiando a Cris para ela e a Erika. Assim que o Nevra apareceu, após ter garantido o papel necessário por parte do mercado, pedi para que ele me assumisse (estou exausto... Ainda bem que Karuto enviou alguma coisa pra mim e pras mulheres).
Descansei só um pouco, pois a Miiko pediu para nos reunirmos, Ewelein, Erika, Ezarel, Leiftan, ela e eu no quarto da Cris. Nossa enfermeira chefe havia concluído as listas. Foi preciso que o Voronwe carregasse Anya para que ela fosse pra casa. No que eu cheguei no quarto, a Cris já estava na cama e todos os “novos” livros no térreo com Kero organizando a colocação de tudo aquilo na biblioteca. No que a Ewelein me entregou uma das listas, olhei apenas os rostos para saber se reconhecia alguém. Apenas um, pertencia a minha Guarda, e o mesmo está em missão de dois a três dias desde ontem (_suspiro aliviado_). Terminada a reunião, Miiko decidiu que, como estava todo mundo exausto do sobe e desce, e leva e traz de livros e pergaminhos pelo QG, não deixaríamos a Cris trancada em seu próprio quarto (já que provavelmente acordaria bem confusa), mas me encarregou de ver alguém para lhe fazer guarda na porta.
Pus Darfn, um de meus tenentes, para ficar de vigia e nos recolhemos. Com exceção do Nevra, todos nós queríamos uma “conversa” com Morpheus (mas no meu caso, ele não parecia muito interessado). Estava tendo uma noite de sono interrompido. Tentava tomar o cuidado de não acordar a Erika, ainda mais depois de saber o quanto ela se esforçou hoje não só com os livros do quarto de Ykhar e com a Cris, mas também examinando os moradores enquanto a Ewelein montava as listas que recebemos. Ia me levantando para ir ao banheiro quando eu senti a presença do meu irmão. Travei no lugar por um instante.
Desde que eu comecei a aprender verdadeiramente a usar os meus poderes dragônicos, tenho tido dificuldades para aprimorar minha capacidade de percepção sobre outros da minha raça. Fáfnir me disse que isso é porque eu não comecei a treiná-los quando criança, como o Lance, e por isso, já adulto, é normal eu ter dificuldades para utilizá-los e compreendê-los totalmente.
Outro empecilho: se há uma grande camada de terra ou barreiras potentes (como o subterrâneo de Eel ou as barreiras colocadas em todos os quartos pertencentes aos dragões e aengels), não consigo sentir os meus. Eu os sinto, mas não consigo localizá-los com precisão. E depois da barreira instalada no quarto, eu só tenho uma chance de sentir precisamente o meu irmão se a porta ou a janela estiver aberta (mas parece que se ele estiver bem diante de mim e possível senti-lo com mais clareza...). Entreabri a porta para não perder o seu rastro e corri para me vestir. Nisso acabei acordando a Erika sem querer.
– O que houve Valk? Porque está se arrumando?
– O meu irmão... – ela me prestou atenção – Ele está nos corredores. Abri a porta um pouco e sinto ele subindo a Torre.
– Vou chamar a Miiko. – disse ela se levando – Lance sempre dá um jeito de se esconder de você, e as chances de conseguir capturá-lo fica maior com mais gente. – determinava ela se trocando mais rápido que eu (essa é a minha Erika... destemida e astuciosa).
– Vou indo na frente. – me recordei da conversa que ouvi outra noite e que não tive boas chances de questionar (será que ele está indo até a Cris?) – Acho que ele pode querer ir ver a Cris, e Darfn não tem muitas chances contra ele.
– Toma cuidado amor. – pediu-me ela com nós dois nos separando após um beijo.
Tentei subir o mais rápido que podia sem fazer muito barulho para que meu irmão não desse um jeito de escapar outra vez. Me preocupei quando senti o Lance bem próximo da Cris (ele realmente foi atrás dela...), acabei apertando o meu passo.
Ao me aproximar do quarto da Cris, encontrei o Darfn caído no chão. Morto. Mas, por estrangulamento? Aquilo não é do feitio do Lance! Cheguei perto da porta e vi a Cris, encolhida sobre a cama envolta pelas cobertas, com os olhos vermelhos de choro grudados em um homem deitado no chão próximo da cama; e o meu irmão concentrado em alguma coisa que observava pela janela... quebrada?!?
– Você demorou. – meu irmão falava – Não tinham gente melhor pra cuidar da Cris, não? – _sacode a cabeça_ (como é?) como o Lance não parecia querer fugir ainda, me aproximei do homem no chão (será que ele...) – Ainda está vivo, mas só porque a Cris intercedeu por ele! Do contrário, ele já estaria no inferno! – percebi que o homem fazia parte da lista de traidores (“...se eu for atacar alguém, vai ser por defesa. Sua defesa.”) – Parece que o sanguessuga está com dificuldades com o patife maior... – (“patife” maior?) o encarei por um instante e ele estava pronto para saltar a janela – Vou dar uma mãozinha à ele, vê se protege a Cris direito. Ah! E põe a sua anjinha para ajudá-la, aquele miserável ali vai se ver comigo... – terminou ele já sumindo noite adentro.
Corri até a janela e pude vê-lo sumindo perto da cerejeira – O que aconteceu Cris? – perguntei me aproximando dela.
– Eles me salvaram... – vi uma faca de aparência suspeita perto dela – Nevra e Lance, eles impediram de eu ser... – ela voltava a chorar.
– Valk! – Erika entrava com a Miiko logo atrás – O que aconteceu? Cadê o Lance?
– Acho que o Lance é o menor dos nossos problemas agora... – comentei.Nevra
Caramba... Eu consegui impedir de me estrebuchar daquela queda me utilizando de uma técnica de fios que comecei a aprender combinado com as minhas lâminas e a minha agilidade, mas quase que eu não consigo! Já esse cara não só atingiu o chão com tudo e se ergueu como se nada tivesse acontecido, como também estava me dando uma surra com aquele par de mãos extras. Sem mencionar que não consigo parar de pensar que acabei deixando a Cris sozinha com o tal do Ghadar (Burro, burro, burro Nevra! Como é que você comete um erro desses?!).
Toda vez que eu tento correr para ter alguma esperança de que ela esteja bem ainda, esse ryōude miserável me impede. Lidar com um par de braços parecidos com os de Valkyon já não é fácil, dois então... E o pior, é que já estou começando a ficar com fome, o que só complica ainda mais a minha situação. Nossa luta nos levou até a cerejeira (e porque raios ninguém me socorreu até agora?) e eu já estava perto dos meus limites.
Não sei dizer como acabei nessa situação: o canalha estava sobre mim, segurando uma das minhas adagas, com uma mão agarrada sobre o meu pescoço, e as outras duas me mantendo no chão pelos ombros; e eu, com apenas o meu único par de mãos, tentava impedir aquele canalha de descer a adaga no meu peito com uma mão e libertar o meu pescoço com a outra (não era para eu estar passando por tanto sufoco, qual é o problema desse brutamontes?).
– Eu vou ti ensinar vampirinho duma figa, – “rosnava” ele – a nunca mais cruzar o meu caminho! – estava quase perdendo a consciência – ARGH!!... – quando a pressão parou de repente – Mas que disgrama!?
Recuperando parte do meu fôlego, pude reconhecer o Lance atravessando o ombro daquele canalha com... Como foi que ele recuperou a faca dele?
– Isso, seu nojento miserável, foi pelo black-dog dela. – o ryōude conseguiu se afastar um pouco, mas Lance lhe cravou a faca outra vez, em uma das coxas – Isso, foi por ter invadido o quarto dela.
– Nanico dos infernos, cê me paga! – disse o ryōude tentando socar o Lance, mas ele desviou e ainda atravessou a faca nos braços dele de modo a prendê-los juntos por uns instantes.
– Isso, – ele arrancava a faca fazendo o sangue do cretino jorrar – é pelas roupas dela. – (então ele a socorreu... Ghadar ainda está respirando?).
– Miséria... COMO QUE CÊ TÁ CONSEGUINDO!?!? – (como é que é??) – Era pra só esse vampirinho me enxerga! Que feitiçaria cê tá usando?!?
– Use todos os truques e amuletos que quiser seu asqueroso,... – comecei a reparar melhor, e reconhecendo alguns tipos, metade das minhas perguntas estavam respondidas – ...mas não surtirá efeito comigo. – (as Oráculos devem ter lhe dado algum tipo de ajuda, afinal elas precisam da Cris! e o Gelinho é guardião dela...) o ryōude gritou de raiva e, ignorando todos os seus ferimentos, partiu pra cima do Lance outra vez, só que agora, o contra-ataque foi em seu estômago – Já esse último... – Lance girava a lâmina para causar mais estrago – É pra você aprender a nunca mais se atrever a encostar um só que seja desses seus dedos asquerosos e nojentos na mulher dos outros.
– O que... que ocê... é?... – disse ele caindo morto em seguida. Lance limpou a faca na capa do infelizardo e depois começou a se aproximar de mim, que ainda descansava um pouco no gramado (eu preciso logo de um pouco de sangue).
– Obrigado. – (hein?) – Por impedir essa coisa aí. – (entendi agora...).
– Nesse caso, também tenho que agradecer. Graças a essa montanha de amuletos aí, não estava conseguindo me livrar dele e ajudar a Cris. Ela está bem, não está?
– A deixei com o meu irmão. Se vocês não arrancarem as respostas daquele maldito que não deixei terminar o serviço, eu vou esquartejá-lo!
– Fooooi... a Cris que o convenceu? – ele apenas soltou um suspiro (a Cris o tem na palma da mão!).
– Absol está morto por acaso? – perguntou ele se afastando.
– Morto não, mas incapacitado. Eu o encontrei preso em uma armadilha rúnica e cheirando à veneno paralisante. Eu o confiei a Shaitan depois de destruir a armadilha.
– Entendo... – ele começava a caminhar entre os arbustos – Vê se cuidam direito dela por hora. Não quero ficar longe dela, mas me parece que não é uma boa ideia ficar sendo visto por aí.
– Sabe que vou acabar descobrindo onde fica essa tal de “morada do dragão”, né? – ele acabou rindo.
– Vá explicar tudo aos outros. Se Absol não me buscar até a madrugada de amanhã, eu volto sozinho. – disse ele desaparecendo para os túneis.
_suspiro_ Juntei toda a força que ainda me tinha e fui atrás de algum sangue ou do contrário não me concentrarei em nada direito.Leiftan
Eu achava que dava trabalho a Guarda no passado, mas a Cris consegue me superar e muito! Quem ia imaginar que ela fosse capaz de transformar aquele ser desconhecido em informação? E que (quase) todos tivessem como acessar. Depois de avisar todo mundo da ordem da Miiko, levar o material que tinha até a Cris, e ajudar a trazer uma pequena parte daquela “biblioteca” que estava nascendo no quarto da Lys, me concentrei totalmente em separar os livros que obrigatoriamente tinham que ir para a Sala Restrita, pausando apenas para a reunião. Se o título já não denunciasse o seu conteúdo, eu dava uma olhada no prefácio. Miiko chegou a ajudar com isso depois que ela e o Kero terminaram com a burocracia e com as contas (parece que a dívida com o mercado será dividida entre os membros _suspiro_).
Quando eu terminei de separar aqueles que precisavam ser organizados a parte, já era bem tarde. Mal me aguentava em pé e não tinha vontade alguma de ver mais um livro na minha frente. Depois de entrar em meu quarto, estando quase pronto para dormir um pouco, comecei a ouvir a Erika e a Miiko conversando no corredor (Valkyon foi atrás do Lance? No quarto da Cris?!). Apesar do cansaço, me vesti correndo e subi até lá. Acho que algo semelhante aconteceu com o Ezarel, pois ele deixou o quarto dele ao mesmo tempo que eu e me acompanhou em silêncio até lá (quando nós três ficamos sozinhos, Nevra nos repassou o que Anya lhe contara).
Lá em cima, logo vi o cadáver, mas não reconheci o autor daquilo. Ezarel e eu concordávamos através do olhar que algo de muito errado estava acontecendo ali. Entramos, e encontramos o tal do Ghadar inconsciente no chão com Erika o examinando (ao qual Ezarel foi auxiliá-la), Valkyon conferia a janela... quebrada?!? E a Miiko tentando convencer a Cris a soltar as cobertas que a envolviam. Infelizmente, eu já vi casos como o que parecia ter acontecido com a Cris ao que pude observar... (como eu odeio esse tipo de gente!) me aproximei dela.
– Cris... – ela me olhou – Ghadar... conseguiu fazer algo com você? – senti que todos passaram a nos encarar e ela só me negou com a cabeça – Ele estava sozinho? Alguém o “ajudava” por acaso? – não compreendi o gesto de cabeça dela e Erika falou que aquilo costumava dizer mais ou menos.
– Meu irmão estava aqui quando cheguei. – comentava o Valkyon sem deixar a janela – Disse que ia ajudar o Nevra e pediu para que a Erika cuidasse dela antes de pular a janela.
– Ajudar o Nevra? Como assim?
– Não sei ao certo Miiko. Depois que ele pulou, pude ver que alguma coisa acontecia perto da cerejeira, mas não pude ver com clareza.
– Bom, concordo com ele que é melhor que uma mulher tome conta dela. – isso pareceu fazer a Miiko entender parte da situação agora – Ghadar ainda está vivo? – perguntei me voltando para o Ezarel.
– Está. Mas se o tirarmos daqui não sei se vai continuar assim.
– Cris... – Erika a chamava – Por que... você não vem comigo até o meu quarto? Você deve estar meio confusa e... querendo um banho não é mesmo? – ela apenas assentiu para a Erika.
– Eu acompanho vocês. – falava a Miiko de forma gentil – Assim aproveito e conto o que aconteceu com você, antes de a deixarmos sozinha...
Ela respirou fundo e, sem deixar as cobertas que a envolviam, acompanhou as duas para fora. Valkyon acompanhou as três para procurar o Nevra em seguida, deixando eu e o Ezarel com o Ghadar.
– E agora? O que faremos com ele?
– Não sei Ezarel. – colocava uma barreira improvisada na janela – Nevra deve saber parte do que aconteceu e o Lance outra. Não sei se a Cris vai querer falar o que aconteceu com ela agora e não é seguro tirar esse cara daqui nesse instante. Acha que devemos esperar pelo Nevra?
– Hum... talvez essa seja a melhor solução no momento... – respondeu ele olhando ao redor do quarto (e pensando bem, parece que houve alguma briga aqui dentro) – Assim que o Nevra aparecer, posso usar um de meus frascos para fazê-lo acordar mais depressa e além do mais... – ele se ergueu e foi até a penteadeira – Cadê o dela? Deixei o meu no quarto!
– O que está procurando?
– Isso! – falava ele erguendo um frasco ornamentado (aquilo é o que penso que é?!) – Vamos tentar arrancar as respostas da fonte depois que o nosso amigo morcego chegar pois concordo com você, a Cris não vai querer falar sobre o que aconteceu tão cedo pelo o que vi. Ainda mais se você estiver certo sobre a sua insinuação.
Não tivemos que esperar muito, logo Nevra apareceu tomando uma bolsa de sangue acompanhado de Valkyon. Ele nos contou mais ou menos o que aconteceu e acabamos por tirar a sorte para ver quem iria atrás do Absol para ajudá-lo. Valkyon foi o sorteado. Ele saiu lamentando e aproveitando para levar o corpo de seu tenente pra enfermaria. Ezarel acordou o Ghadar assim que ficamos sozinhos. Aproveitamos que ele ainda estava desnorteado e já o fizemos beber a Norns Visdom.
– Me diz, – Nevra começava a questioná-lo – você sabe quem você é? Qual é o seu trabalho aqui?
– Ghadar. – começou ele ainda confuso – E fui ordenado a me infiltrar na Guarda de Eel. – ao terminar de disser isso, ele pareceu terminar de despertar. Mais que depressa o imobilizamos – O que está acontecendo? Pra onde foi a Cris?
– Nossas perguntas primeiro Ghadar. – declarou o Nevra – Quem era aquele ryōude que atacou a Cris?
– Eu não sei quem ele é, só sei que é conhecido como O Ladrão. – respondeu ele com malícia.
– É ainda pior... – comentei – Já ouvi historias dele. É um crápula.
– Nisso nós dois concordamos. Se ele não fosse tão asqueroso, teria cumprido com o que foi pago e não estaríamos aqui. – (essa poção me surpreende cada vez mais) – O que aconteceu com ele?
– Está morto. – declarou o Nevra – Lance não foi nem um pouco gentil com ele depois do que o impedi de fazer. Se não gostava daquele cara, porque foi que o contratou?
– Nunca concordei por terem chamado ele... e quando foi que o traidor fugiu da cela? Não. Mais importante. Porque é que eu ainda estou vivo e falando isso tudo a vocês??
– Bom meu caro sortudo desafortunado... – falava o Ezarel com o seu toque – São as barreiras instaladas neste lugar que o estão mantendo vivo. Longe da influência de seu mestre que... quem é ele e vocês mesmo? – Ghadar começou a morder os lábios – E sobre você estar abrindo o bico tão facilmente... lhe demos uma poção da verdade! Uma legítima.
– É o que!?!
– O que ouviu Ghadar. – respondi sorrindo – Agora, agradeceríamos se respondesse o que Ezarel lhe questionou, além de porque Lance é uma preocupação pra vocês. Pois caso não tenha notado, mesmo que consiga se soltar e fugir, não terá tempo para repassar suas descobertas para o seu mestre! Já que no primeiro instante em que passar aquela porta... – apontava para mesma com o polegar – O veneno dentro de você vai matá-lo antes mesmo que tenha a chance de tentar qualquer coisa.
Ele respirou fundo claramente irritado – Infelizmente você tem razão. – ele nos encarava. Ghadar tentou começar a dizer alguma coisa que não conseguia, irritando-o ainda mais (deve ter testado a poção para nos mentir) e após um rosnar começou a falar – Por onde que eu começo essa porcaria... Nosso grupo se chama Ēnukungi, “senhores da sombra”, nossa base fica em Apókries, liderada por nosso Mestre que controla tudo com o auxílio de cápsulas envenenadas que carregamos em nossos corpos. Não me perguntem quantos somos e nem quem são meus compatriotas porque o Mestre é o único que possui essa informação. – nos três nos entreolhamos por um instante – Não nos revelamos uns aos outros nunca, e quando o fazemos, nunca mais deixamos a sede. Só os mais habilidosos e importantes de nós que tem a permissão pra mostrarem o rosto.
– Mas como é que vocês fazem para se ajudarem fora da sede? – interrompeu o Ezarel.
– Usamos contrassenhas. Escolhidas pelo Mestre ao nos enviar as ordens através de chestoks vinculados por magia a um membro cada um. Vinculo que só é rompido com a morte ou do mascote, ou do membro.
– E quanto ao Lance... – perguntei.
– Antes mesmo daquele traíra criar aquela guerra imbecil, sempre havia algo atrapalhando os planos do Mestre de tomar Eldarya...
– De fazer O QUÊ?! – Ghadar apenas abriu um sorriso com o nosso espanto.
– Enfim... quase sempre algo estragava os planos do Mestre, então ele resolveu procurar Melídia...
– Espere. – o interrompi – Você não está se referindo à Melídia, a Suprema; a mesma vidente que nunca errou uma previsão até hoje, está? – ele sorriu ainda mais largo.
– Exatamente ela. – acho que todos nós começamos a suar frio – Quando o Mestre foi vê-la, ela disse que: enquanto o traidor de Eldarya estivesse livre, nenhum plano dele contra Eldarya funcionaria. – ficamos boquiabertos (Almir não pode mesmo deixar aquele lugar... E nem Lance ser descoberto!) – No começo não entendemos que “traidor” poderia ser esse, isso até a Guerra do Cristal dois anos atrás. Foi só o Lance ser preso que mais da metade dos planos do Mestre passou a funcionar. Também foi Melídia que disse a ele que: “Para tomar o poder deixado pelo Oráculo, tomar o poder de todos os dragões e aengels de Eldarya para si é indispensável. Começando pelo mais poderoso!”, quando ele teve a ideia de usar o poder do fragmento que aquele maluco descobriu para ajudá-lo a controlar este mundo e não conseguiu.
Começamos nós três a respirarmos fundo – Como exatamente vocês ficaram sabendo da Cris? E quantas vezes vocês tentaram levá-la daqui? – perguntou o Nevra.
– Foi através do nosso necromante. – (aquele cara também fazia parte deles?!?!) – Antes ele era o nosso único infiltrado em Eel, mas depois que o perdemos... não sei lhes dizer quantos que foram enviados junto comigo.
– E sobre suas tentativas... – era Ezarel.
– Fiquei sabendo da Yukina; do ataque no solstício; da tentativa de sequestro, esse eu sabia que não ia ser fácil, pois vi os treinos daquela mulher. Do ritual e daquele ryōude imprestável, ao qual fui ordenado a facilitar o acesso dele à Cris, depois de ele ter enrolado não sei quanto tempo pra aceitar o serviço.
– Por isso que você tentou empurrar uma poção do amor pra cima dela? – (COMO???) questionava o Ezarel, e Nevra parecia tão surpreso quanto eu – Pra fazê-la atender suas vontades?
– Essa era a ideia, mas como soube disso? – Ezarel começou a explicar como ficou sabendo, além de revelar a verdade sobre o Lance que o deixou embasbacado (e Nevra e eu também com o caso da poção) – Agora está tudo explicado! – falava nervoso – Não é à toa que voltou a dar quase tudo errado! E vocês? São mais traiçoeiros que os verdheleons!
– Bom. Agora você tem suas respostas e nós parte das nossas e... o que é isso? – falei ao notar uma faca estranha sobre a cama da Cris.
– Pertence ao Ladrão. – reconhecia aos poucos os encantamentos presentes naquela faca – Ele ia usar isso para obter o que queremos... – ele suava frio – E eu tentei usá-la depois que o vampiro aí o impediu, com o dragão me impedindo também. Porque foi que ele não me matou antes?
– A Cris intercedeu. – respondeu o Nevra com Ezarel começando a examinar o Ghadar – Foi ela que o impediu de fazê-lo.
– E... porque que ele... faria isso? – Ghadar passava mal com toda a certeza. Ezarel conferiu que era efeito do veneno, o que significa que as barreiras não protegem tanto quanto esperávamos e uma vez que ele não tinha achado um antidoto para aquilo...
– Vamos tirá-lo agora daqui. – falava o Nevra – Tenho certeza que a Cris não vai gostar nem um pouco de saber que esse cara morreu aqui. A não ser que Ghadar saiba como interromper o feitiço dessas cápsulas ou tenha o antidoto.
– Só o Mestre... – ele piorava – sabe como... interromper... ... e, só em Apókries... há... antidoto.
– Vamos tirá-lo logo daqui. – falei – Como você mesmo disse Nevra, a Cris não vai querer tê-lo morrendo aqui dentro. Lamento por não podermos impedir isso Ghadar.
– Eu aceitei isso. ... Não precisa... se lamentar... por nada.
Ele morreu dois segundos depois de deixarmos o quarto, com uma convulsão.Cris
Eu queria um banho. Juro! Mas não conseguia largar aquela coberta de cima de mim, ainda mais depois que o quarto começou a encher de homens. Acompanhei a Erika que me pediu para descer pro quarto dela, junto da Miiko. As duas ficaram surpresas ao descobrirem a minha condição debaixo daquele edredom. Erika me ajudou com o banho, me emprestando uma de suas camisolas depois, e Miiko me explicou o que aconteceu antes de eu acordar como acordei. Nisso eu me acalmei o suficiente pra contar sobre como fui parar com o tal do livro-prisão na mão pelo menos (será que as vozes que eu ouvi eram das memórias que o tal do Yiyen roubou? E se foi, como que eu as pude ouvir?!?). Ainda não me sentia confortável para falar sobre o ocorrido no meu quarto e Miiko achou melhor chamar a Ewelein para ver se eu estava realmente bem.
Elas demoraram, mas a Ewelein veio e me examinou com cuidado. Conferindo que meus únicos males (físicos) eram os pulsos e tornozelos marcados pela pressão daquele nojento para me prender, ela me recomendou repouso e ainda pediu para que a Miiko a acompanhasse, e avisou que o Valkyon havia tido que iria passar a noite na enfermaria, assim eu podia passar tranquila a noite com a Erika. Bom, eu já não ia querer ficar em meu quarto sozinha e Absol sempre me acha, mas aonde é que ele está? Adormeci recebendo cafunés da Erika.
Não dormi muito... Foi só o sol aparecer e eu acabei despertando. Erika estava do meu lado ainda e no que me virei para poder me sentar na cama, vi Absol com uma pata enfaixada dormindo sobre um tapete, na companhia de Mia e Floppy. Achei a cena fooofa! Mas o que foi que aconteceu com o Absol?
Fui até o banheiro lavar um pouco o rosto e respirar fundo um bocadinho, pensar em como dar continuidade a esse novo dia depois do que aconteceu a noite. Erika começava a querer despertar depois que eu voltava ao quarto, e Absol não só já acordou, como também já sumia não sei pra onde.
– Como se sente hoje Cris? – perguntava a Erika em tom preguiçoso.
– Considerando tudo? Até que estou bem. – Ela se espreguiçava – Desculpe por impedi-la de passar a noite com seu noivo.
– Ah, nem esquenta! Passar uma noite ou outra sem o meu dragãozinho não irá me matar não. Às vezes é bom um momento entre garotas. Hei! Até que não é uma má ideia! Porque não marcamos uma festa do pijama qualquer noite dessas? Aí nós chamamos a Anya, a Karenn, a Alajéa, Colaïa, quem sabe também a Miiko, a Ewelein, a Twylda e a Caméria e... Você tem alguma amiga em especial que gostaria de chamar também? – acabei rindo daquela animação.
– Não que eu lembre no momento. – disse sorrindo e Absol me reaparece trazendo um vestido quente com um casaco longo.
– Beeeem, como Absol já até lhe trouxe a roupa, hora de eu me ajeitar também. – ri novamente.
Nós duas nos arrumamos e seguimos para o salão. Absol nos acompanhava carregando a Mia, que carregava a Floppy, um sobre as costas do outro. Não conseguia olhar para aqueles três sem rir um pouquinho daquela pirâmide.
No salão, Valkyon estava ocupando uma mesa acompanhado de uma ninfa e três crianças, mais um monte de musaroses que deviam ser uma de cada um que acompanhava meu chefe. Tanto Erika quanto ele me fizeram sentar à mesa deles. Erika foi buscar a comida e o Karuto veio junto trazendo o meu. Na hora eu meio que estranhei, ainda mais por receber comida normal (mas não eram duas semanas de castigo?).
– Ewelein e Nevra vieram falar comigo hoje cedo... – falava o Karuto antes de se afastar (tá explicado) – Não demore pra vir pra cozinha. Trabalhar ajuda a se distrair.
– Não se preocupe Karuto, irei assim que terminar de comer.
– Estou te esperando. – falou ele com o Absol o seguindo.
Mia pulou para o colo da Erika, e Floppy se juntou às outras musaroses sobre a mesa. Conversávamos sobre os cuidados e avanços das mesmas enquanto elas brincavam entre si – Olhando assim... – era Dália, a ninfa que falava – Nem dá pra saber direito qual é a musarose de quem já que as das crianças acabaram de crescer...
– Ah, mas a do Valkyon é fácil! – comentei já pegando a mesma – Ela é a única que possui a rosa da cauda azul ao invés de vermelha. – a mesa ficou em silêncio. Estranhando isso parei de acariciar a Floppy e vi que todos me encaravam como se eu tivesse tido algo estranho – Ela... tem a flor azul. Não tem? – perguntei receosa.
– Não. – Valkyon respondia – A flor da cauda de Floppy é vermelha como a de qualquer musarose.
– Sério? Verdade verdadeira? – todos assentiam com a cabeça – Errr, bom! – começava a juntar a minha louça – Eu... já terminei, então... acho melhor ir pra cozinha agora. Um... bom dia pra todos vocês. – e quase voei pra cozinha (mas o que é que há de errado com esses meus olhos, heim?).
.。.:*♡ Cap.95 ♡*:.。.
Nevra
Assim que entrei na enfermaria, encontrando a Ewelein, não perdi tempo em avisá-la sobre o ryōude, Lance e o Absol. Recebi uma bolsa dela e corri para o quarto da Cris enquanto ela, acompanhada de mais dois enfermeiros que estavam quase se recolhendo (uma vez que, por haverem ainda muitos pacientes na enfermaria, mais gente era necessária de plantão) para recolherem o corpo do ryōude.
Já lá em cima, acompanhado do Valkyon que encontrei no meio do caminho, contei a eles o que havia acontecido (e ainda bem que o sorteado a buscar Absol foi o Valkyon, mas fico imaginando até quando será possível esconder a “liberdade” do Lance nesse ritmo). Ezarel acordou o Ghadar e nós o interrogamos. Não gostei nem um pouco das informações dadas por ele, sem falar que ele era tão canalha quanto o miserável que eu enfrentei a pouco.
Repassei o recado do Lance depois que Ghadar deixou de respirar. Pensei em um de nós dar uma ajeitada dentro do quarto e Ezarel estava querendo deixar o trabalho para o Gelinho, nos revelando um dos castigos que a Cris impôs a ele (não é à toa que eu nunca subestimo uma mulher!), mas o Leiftan o convenceu com a sua argumentação e ele mesmo acabou ficando para ajeitar mais ou menos o lugar, me pedindo para levar a faca do Ladrão para a Miiko.
Acabei a encontrando com a Ewelein, entrando no quarto da Erika e do Valkyon. Passei reto (quando elas terminarem eu falo com a Miiko). Ajudei o Ezarel com o Ghadar e ficamos na enfermaria esperando pelas duas. Quando elas chegaram, com Leiftan entrando em seguida, repassamos os resultados do nosso pequeno interrogatório; da minha luta com o ryōude que carregava mais que o quíntuplo de amuletos (provavelmente roubados) protetores se comparado à Cris (e que explicavam a janela quebrada da Cris e minha falta de auxílio. Como que o Lance foi ajudado?); sobre a faca que tanto a Miiko quanto o Leiftan reconheceram o perigo que ela representava, e sobre Absol que foi para o quarto acompanhado de Valkyon ao invés de ir por umbracinese depois de tratado.
Miiko achou melhor reunir a Reluzente à tarde do dia que chegava para que todos pudessem ter um pouco mais de descanso por causa do longo dia (e noite), e pediu para que eu e a Ewelein conversássemos com o Karuto (já que estava quase na hora dele se levantar) uma vez que não era segredo algum o apreço dele para com a Lys de Eldarya.
_longo suspiro_ Espero que consigamos todos sobreviver até o solstício de verão...Cris
Depois da esquisitice sobre a flor da Floppy (que me fez lembrar muito do pêlo de Absol), meu dia seguiu de forma normal na cozinha. Quer dizer, até eu ficar sabendo que o Darfn, da mesma guarda que eu e que havia sido colocado para me velar enquanto eu estava inconsciente, havia sido morto. E foi a namorada dele quem me contou! Não pude deixar de ficar meio deprimida por mais essa morte ligada a mim... (é bom você me compensar depois Lei do Retorno! Está me ouvindo?!) Ao final do meu expediente, Leiftan me avisou que entrou em contato com os purrekos para que me concertassem a janela e por isso me pediu para ficar um pouco mais no quarto do meu chefe, até estar tudo pronto (além de me repassar o recado que o Lance deixou com o Nevra). Fiz como ele disse. Descansei sentada à janela do quarto de Valkyon e Erika, mas não esperava receber a pequena visita que me apareceu.
– Sirius!
– Miau, como vai princesa? – entrava ele fechando a porta.
– Mais ou menos. Está em Eel à negócios?
– Algo assim. Soube o que lhe aconteceu ontem... à noite... – (mas já?!?!) – As noticias voam entre os purrekos, e eu já havia sido contrato por vários nobres para encontrar aquele nojento que a atacou. Sem falar que ele já tinha contas a acertar com a sociedade purreka.
– Parece que você vai ter de passar um tempinho em Eel... – falei sem deixar a janela e com ele bem perto de mim.
– Purral está negociando a entrega do corpo daquele ryōude com a Miiko, há muitos itens roubados que não estão com ele agora e, se eu tiver a chance de examiná-lo, talvez encontre pistas de seu esconderijo.
– E consequentemente do restante das coisas roubadas, não é mesmo.
– Miau, com toda a certeza! – ronronava ele. Ficamos em silêncio por uns instantes com ele o interrompendo – Você... há algo em que eu possa ajudá-la? Quero dizer, ontem você causou o maior reboliço ao recuperar o equivalente de umas três ou quatro bibliotecas e ainda depois...
Ele parecia meio sem jeito e uma ideia me surgiu na cabeça ao observar o felino – Sirius...
– Hum?
– Será que... você se importaria... se eu lhe tratasse como um gato terráqueo, só um pouquinho?
– O-o-o quê?
– Por favorzinho...
– M-m-mas o que planeja e-exatamente?
– Se importa de eu ficar com você em meu colo por um tempinho?
– E-e-e-e-e-e-eu, eu, eu... – acho que o deixei envergonhado e acabei lhe fazendo carinha de cachorrinho pidão – Tá! Tudo bem. – ele olhava aos arredores – Mas se alguém me questionar, eu vou negar! Tenho uma reputação a zelar.
Ri um pouco e o peguei em seguida. Ajeitei-o mais ou menos em meu colo e comecei a acariciá-lo. Pelo ronronar, ele estava gostando. Aquilo meio que me acalmou um pouco.Miiko
Foi só depois do fim daquela confusão de papel e livros que eu me lembrei do Lance (ainda bem que o Nevra me acalmou um pouco sobre isso), mas ele ainda não era algo que eu pudesse apenas ignorar, principalmente com a Erika me chamando no meio da noite com Valkyon perseguindo o irmão (será que é melhor informar esses dois sobre o Gelinho ou é melhor continuar limitando o número de pessoas que sabe dele?).
Aproximando do quarto, vimos Darfn morto e lá dentro, Cris e Valkyon (e o Ghadar _nervosa_ no chão) eram os únicos no quarto. A Cris parecia em estado de choque. Tentei fazê-la largar aquela coberta, mas ela só a apertava ainda mais firme, não entendia o porquê. Isto é! Não entendia até aquela insinuação do Leiftan (ah se eu pego o responsável!). Deixamos os rapazes para trás e cuidamos da Cris no quarto da Erika, onde acabamos confirmando a suspeita do Leiftan (argh!).
Depois da Cris estar mais ou menos cuidada, fui em busca da Ewelein. Para saber qual era a verdadeira condição da Cris... Mas quem disse que foi fácil achá-la? Só a encontrei depois de uns dez minutos, ajudando a carregar um ryōude super trabalhado até a enfermaria. Fiz com que ela o deixasse com os outros enfermeiros e a arrastei até o quarto onde estava a Cris, com ela me dizendo já estar ciente sobre parte dos últimos eventos (oh noite longa!...). Confirmado que nada de mais havia acontecido com a Cris, fisicamente falando, nós duas deixamos a Erika cuidando da Cris e voltamos para a enfermaria.
Na enfermaria, Ewelein confirmou que aquele ryōude tinha sido o responsável pela morte do Darfn, e que o veneno presente no corpo daquele brutamontes era da faca do Lance (agora já sabemos com quem ela está. Lance até que foi bonzinho!...), mas mediante todos aqueles amuletos, não havia explicações sobre como que ele conseguiu matá-lo.
Por conta da hora, diante de tudo que ocorrera e que foi descoberto, mandei Nevra e Ewelein falarem com o Karuto; deixei a condição do quarto da Cris com o Leiftan, já lhe pedindo para depois que amanhecer para informar a todos que uma reunião será realizada hoje a tarde com a Reluzente; e fui eu mesma avisar a Greyn sobre a morte do Darfn (mas se eu soubesse que ela iria falar diretamente com a Cris sobre isso, eu não teria lhe informado a causa ainda. Não esqueço a reação que Valkyon me contou que ela teve ao saber “quem” que ela - e o Lance - encontraram).
E como se não bastasse, Sirius, um dos contatos de S, me resolve aparecer em Eel querendo o ryōude que estava sob os nossos cuidados. Eu até compreendo os argumentos de Purral que veio ter comigo, mas eu também tinha minhas próprias questões sobre ele. Após muita negociação, consegui uma pequena redução na dívida papírica, além da garantia que receberia um relatório detalhado completo sobre tudo que tivesse relação ao Ladrão após entregá-lo aos purrekos.
Na reunião, tivemos a agradável surpresa de recebermos a chegada da Huang Hua que acabou participando da reunião também.
– A situação é realmente complicada... – declarou ela ao eu terminar de fornecer “todos” os informes – Como a Cris está agora? Como ela está lidando com ontem a noite?
– Pelo o que observei, – respondia a Erika – ela até que está lidando bem com tudo isso. Se sentiu um pouco responsável pelo o que aconteceu com o Darfn, assim como foi com o Wasi, mas ela está encarando bem.
– A Cris é uma das mulheres mais fortes que já tive a chance de conhecer. – comentava – Mas ela é sensível também. E como não é possível expulsar todos os nossos inimigos sem sermos descobertos, fica difícil tomarmos uma decisão que nos dê plena garantia de segurança até o dia de resgatarmos a Semente Negra em Apókries.
– Precisamos é descobrir onde que o Lance está... – falava o Kero (_suando frio_).
– E como que ele consegue as informações que adquire também. – completava-lhe a Erika, respirei fundo.
– De qualquer forma... – Nevra tomava a palavra – Temos que reaver a nossa forma de nos organizarmos para impedir novas tentativas por parte de Apókries. Não dá pra continuarmos dando mancada desse jeito.
– Isso é verdade. – Ezarel coçava a cabeça – Alguém tem sugestões?
Montamos e analisamos várias possibilidades de reorganizar nossa segurança (e dando um jeito de auxiliar o retorno de Lance pra junto da Cris essa noite) o que nos custou umas duas horas de discussões. Resolvida essa parte sem muitas reclamações, lá se foram mais umas duas horas para colocarmos tudo em ação...Cris 2
Sirius estava quase cochilando em meus braços quando o mesmo purreko que me vendeu a janela de meu quarto me procurou para avisar que já estava tudo consertado (Sirius meio que fugiu de mim depois _riso_).
Já estava dando a hora do jantar e eu meio que queria poder retornar ao meu quarto... mas não sozinha. Karuto apareceu para me trazer um prato de sopa e ele me acompanhou até lá em cima.
Entrando no quarto, nem parecia que aquilo tudo tinha acontecido. Tudo estava perfeitamente arrumado! E ainda haviam mais duas cadeiras iguais às que eu já tinha à mesa (_riso fungado_), me totalizando as quatro cadeiras que eu queria...
Comi da sopa na companhia do Karuto, e ao terminar, ele me deixou sozinha para que eu pudesse tomar o meu banho após me avisar que, depois de Absol terminar de entregar as refeições do Gelinho por umbracinese (sem deixar propriamente dito a cozinha), ele resolveu sumir novamente. Isso me deixou um pouco preocupada. Depois de ter descoberto o porquê dele ter sido enfaixado em uma perna então... Absol pode ser forte, mas ele não é indestrutível.
Os lençóis e cobertas de minha cama haviam sido todos trocados, por isso não me senti desconfortável em minha própria cama. Mas eu ainda tinha as lembranças...
Isso não me impediu de dormir (ainda bem!), mas uma voz familiar, me chamando pelo o meu nome, acabou me acordando. Achei que ainda estava sonhando com o que vi diante dos meus olhos (MEU DEUS!!! Que isso seja mesmo real. VALEU Lei do Retorno!).Lance
Durante a minha espera por meu irmão na janela, a Negra me ordenou a estender minha faca por um momento. Nisso, a Branca pousou uma das mãos sobre ela, recitando em sussurro alguma coisa que não prestei muita atenção por que estava com dificuldade de entender o que acontecia com o sanguessuga, mas depois que a Branca terminou, foi como se uma névoa tivesse sido removida diante de meus olhos (o que sua irmã fez?).
“Por conta da nossa atual situação, e graças a todo o poder que minha irmã adquiriu depois da Púrpura com a ajuda da Cris, ela pode romper qualquer tipo de lacre ou proteção mística, enquanto eu só posso abrir fechaduras sólidas como as celas da prisão e a porta da Sala Restrita da biblioteca.” – (vocês duas gostam de manipular as coisas, heim!) – “Não começa! Enfim, ela depositou um poder parecido em sua faca para que você possa atravessar as proteções de todos aqueles amuletos usados por aquela criatura lá.” – (esse poder é permanente? _sorriso sinistro_) – “Não!...” – lamentável... – “Você só será capaz de usá-lo por no máximo umas duas horas... Não se demore a voltar pra Morada depois que cuidar daquilo ali.” – as duas encaravam a surra que o sanguessuga estava levando (tá demorando porque Valkyon...) – “Ele já tá quase aqui e você sabe. Depois que descer, espere por Absol pra voltar ou a madrugada pra vir por suas próprias pernas.” – (vocês me garantem que mais nada de ruim vai acontecer com ela, né?).
As duas me assentiram e Valkyon chegou finalmente. Mandei ele e Erika cuidarem da minha Ladina e fui ensinar uma lição à aquele quatro braços, salvando o sanguessuga dele. Agradeci ao sanguessuga por ele ter arrancado aquele verme de cima da minha amada (_sorriso fungado_ “minha amada”...) e informei como que eu faria pra voltar pro quarto depois de ter dito que havia deixado o outro miserável vivo.
Fiquei na Morada. Absol me entregava as minhas refeições da mesma forma que havia feito no dia que o meu ex-sócio e a passarinha resolveram ficar dentro do quarto e no dia em que aqueles três resolveram empurrar aquela poção na Cris, com recados do sátiro me avisando sobre o estado dela e agradecendo pela lição que dei no nojento.
O tempo passava e nada do black-dog vir me buscar (aquelas duas me assentiram que nada de ruim aconteceria com a Cris, mas e quanto ao guardião dela?). Esperei pela madrugada. Quando finalmente ficou bastante tarde (ou muito cedo), deixei os túneis e segui de volta para o quarto. Que por sinal, me foi bem fácil voltar! (o sanguessuga e os outros devem ter algo a ver com isso).
Chegando no quarto, que graças aos deuses estava aberto, a Cris já dormia. Ela parecia tão tranquila em seu sono, que me neguei a acender qualquer luz que pudesse perturbar o descanso dela, ainda mais estando acostumado com a escuridão. Tomei um banho rápido e ainda me arrumava quando ouvi alguém entrando.
– Cristinne! – era um homem quem sussurrava – Cristinne, é você mesma? – o vi se aproximando da Cris e tomei cuidado para não ser percebido (quem é esse cara? A presença dele é parecida com a dela!) – Cristinne, acorde!
– Quem é você e o que pensa que vai fazer com ela? – questionei-o o agarrando por trás e o afastando da cama.
– Lhe faço as mesmas perguntas. – respondeu ele se livrando de mim com uma cabeçada em meu nariz.
Começamos a lutar. Ele sacou uma espécie de faca enquanto acabei pegando uma que havia sobre a mesa. O cara não era ruim e quase não notei o filhote de fenrisulfr que Absol impediu de avançar sobre mim. Estávamos prestes a nos golpearmos com nossas respectivas lâminas quando a Cris se pões no meio de nós de repente. Quase que acontece uma tragédia.
– FICOU LOUCA SUA SEM NOÇÃO? – berrava aquele cara – Maluca desse jeito, só pode ser você mesmo Cristinne!
– Quem é esse homem Cris? Você o conhece?
– Conheço. – respondeu ela chorando... e sorrindo?? – Esse é o Christiano... – ela o abraçava (...) – Meu irmão mais novo! – (QuÊ?!?).
.。.:*✧ Capitulo especial – Flashback ✧*:.。.
Christiano
Já era hora daquela doida ligar, e nada! Minha mãe acordou no meio da noite dizendo que alguma coisa aconteceu com a Cristinne e não foi fácil meu pai convencê-la a esperar o sol nascer primeiro. Falta de sinal não é, pois o hotel aonde elas foram possui a sua própria torre, tanto para telefone quanto para internet e tv. Cansado de tanto ligar para aquela doida e só receber “este número de telefone está desligado ou fora de área”, resolvi ligar para a Bryana.
– Alô, Bryana?
“Fala meu amor! Está tudo bem aí em São Paulo?”
– Tá, tá tudo bem sim. Mas dá pra mandar pra avoada da minha irmã atender essa porcaria de celular? Estamos tentando falar com ela há horas e nem sinal do número dela a gente acha!
“Hãm... bom... Como que eu posso dizer...” – comecei a achar que a minha mãe não estava tão errada assim...
– O quê foi que aconteceu?
“Ela sumiu.”
– O QUÊ!?
“É amor. Ontem a noite caiu o maior pé d'água que já vi na vida. O pajé aqui...”
– É cacique...
“O que seja! Enfim, o chefe aqui mandou que todo mundo permanecesse nas camas ceeeedo. E quando amanheceu hoje, a Cristinne já não estava mais na cama. Como ela sempre é uma das primeiras a acordar, pensei que ela estaria no refeitório, só que ninguém viu ela.”
– E onde é que ela está? Minha mãe está que nem doida aqui!
“Pelas gravações das câmeras de segurança, ela desobedeceu o chefe daqui e foi subir numa arvore que foi pra lá de maltratada pela tempestade, e dali... nada.” – aquela historia estava muito esquisita – “O pessoal ainda está verificando os vídeos para tentar entender como foi que ela fugiu das câmeras, já que de acordo elas... sua irmã sumiu de cima da arvore!”
– Tô indo pra aí.
“Oi?!?”
– O que ouviu. Isso aí está estranho demais e eu ainda tenho os dados de como chegar nesse hotel aí. A Cristinne é doida, mas não sem noção. Tem alguma coisa acontecendo e eu vou descobrir o que é. – e desliguei.
Avisei minha mãe sobre o que a Bryana me contou e consegui permissão no serviço para ver isso direito. Levei dois dias pra chegar no lugar (que me deu trabalho para fazer a velha esperar em casa), e já haviam policiais ajudando nas investigações.
Não dei muita atenção à Bryana ao chegar, porque o que eu queria mesmo era saber pra onde que a doida se mandou. Medrosa do jeito que é, nunca que ela ia se embrenhar no meio de uma floresta sozinha, sem experiência e sem conhecer o lugar. Apesar de começar a achar o cacique meio maluco, não dava para duvidar muito daquela teoria dele de que a minha irmã havia sido “levada pela Lua de Sangue”. O problema é pra onde.
Vi as gravações e era verdade. O último lugar em que ela esteve foi sobre aquela arvore. Foi lá de cima que ela sumiu. Acabei subindo na mesma e de cara, não encontrei nada, mas se não fosse por um pássaro que passou quase me acertando a cabeça, nunca que teria encontrado aquele terço de pedra dela (que ela dizia ajudar o sangue) em meio a alguns ramos por causa do reflexo do sol.
A Cristinne é quase que ciumenta com as coisas delas, cuida muito bem delas e se for algo que ela considere realmente importante, como aquele terço, ela é capaz de passar dias procurando. O que aumentava ainda mais a possibilidade do cacique estar certo. Fui em busca dos oficiais para explicar sobre aquele terço e tive que aguardar pois a minha mãe, ainda em São Paulo, não parava de entrar em contato com o pessoal do hotel e da empresa responsável por aquela viagem para tirar satisfações sobre a minha irmã, e nisso, acabei tendo uma surpresa nada agradável.
Como eu falei, mesmo estando do lado da Bryana, eu não estava dando atenção a ela. Minha namorada não era o meu foco no momento. Então me digam, como que vocês acham que eu me senti quando eu a vi conversando com uma das amigas dela dizendo mil horrores sobre a Cristinne (a quem ela dizia gostar tanto), esculachando os meus parentes (que ela disse ter os amado) e armando sei lá quantos planos para obter a demissão de minha irmã e me afastar da minha família? (bem que minha mãe alertou que não gostava da Bryana...) Gravei tudo o que aquela p*** do c****** falou sem eu ser percebido com o meu celular e terminei com aquela praga. E ainda postei o vídeo! Que não só me poupou de ter que dar explicações sobre aquela cobra (ou será que estou insultando as cobras?) como foi ela a pessoa demitida da empresa. Por justa causa! E junto da comparsa dela.
Apresentei a pista que eu havia encontrado, mas não deixei que eles o tirassem de mim. Não sei explicar, mas... enquanto eu segurava aquele terço, era... como se algo estivesse me atraindo para algum lugar, eu não sei.
– Este colar pode te levar até ela. – falou o cacique me pegando de surpresa enquanto eu observava o topo daquela arvore – Vários subiram para obter pistas, e só você o achou.
– E por isso eu sou o único que posso procurar a minha irmã? – perguntei ainda incrédulo.
– Se você é o único, eu não sei. Mas aqui, só você recebe o chamado do colar de sua irmã. Siga-o! Sei que irá descobrir onde ela está. Te forneço tudo o que precisar para a sua busca, e meu filho pode ser o seu guia. – a oferta dele me era tentadora... e também uma completa loucura meu Deus do céu!
Após mais dois dias sem qualquer pista ou explicação do sumiço de minha irmã, acabei aceitando a oferta do chefe. Eu e o filho dele, o Ubiratan, juntamos nossas mochilas e partimos floresta adentro guiados (meu Deus do céu, preciso de um hospício...) apenas por aquela sensação misteriosa que sentia ao segurar o terço da Cristinne.
Essa aventura maluca (bem a cara da doida da minha irmã) durou sete dias. Sete dias “andando a esmo”. E por mais incrível que pareça, com resultados. Ubiratan e eu chegamos até uma área onde era cheio de névoa, quase que nos perdermos um do outro, e eu acabei duvidando da minha sanidade com o ser que acabamos encontrando.
– Vocês não deviam estar aqui. – falava aquele... curupira?? – Mas não estão aqui sem motivos.
O cara, de aparência indígena, seminu, ruivo, coberto de colares, pulseiras e penas, menor que eu (e com os pés do avesso) se aproximou de nós.
– Olha, foi mal aí meu amigo, mas eu só estou procurando a minha irmã. Acaso você a viu? Ela é menor que eu, branca, cabelo enrolado...
– Eu não a vi. – _suspiro_ – Mas sei como poder encontrá-la.
– Do que está falando, err...? – questionava o Ubiratan.
– Kurui’pira. – (eu tô sonhando) – E você, – ele me apontava um dedo – não é o que pensa o que é! – (hein??) – E ser só por isso que lhe irei ajudar.
– E... como exatamente você vai me ajudar? – (será que eu devo mesmo confiar nesse... ser?).
– O índio fica. Mas você me acompanha. Vou te mostrar um caminho. – determinou o tal curupira.
Ainda desconfiado, e vendo que seguindo aquela coisa a sensação que sentia com o terço só ficava mais forte, acabei seguindo em frente (mas juro que vou fazer a minha irmã me pagar por toda essa loucura!). Chegamos até a entrada de uma caverna.
– Minha irmã está aí dentro ou do outro lado dessa caverna? – questionei ainda sem entender nada.
– Como disse, você não é o que pensa que é. Senti sua irmã passando por estes caminhos, e só o colar em sua mão que pode lhe mostrar que caminho seguir.
– Tá me dizendo que minha irmã conseguiu sumir de onde estava e parar diante dessa caverna?!?
– Eu disse que ela passou por estes caminhos. Não por esta entrada. – aquilo estava ficando cada vez mais sem sentido. E me convencia cada vez mais que havia ficado louco – Estes caminhos possuem muitas entradas e muitas saídas, e todos se cruzam lá dentro. Tão rápido quanto Tupã eles atravessam estes corredores labirínticos. Senti sua irmã enquanto os atravessava. E ela não estava sozinha.
– Como que eu vou saber se eu estarei no caminho certo ou no errado? E como você pode saber se era a minha irmã ou não?
– Você e sua irmã são seres raros. Milagres! Não há como errar. – (ainda acho que estou pirando) – Posso acompanhá-lo até o outro lado do seu caminho. Mas você só encontrará o começo de sua busca. – ele começou a me encarar de cima abaixo – Só que você não está preparado para o que vai encontrar. Sem falar que poderá estar arriscando a sua vida do outro lado. Ainda deseja ver a sua irmã?
Que eu não estava preparado isso é óbvio. Estou seguindo um colar e falando com um ser que só existe nas lendas, que afirma que eu e minha irmã somos “especiais”, e que só por isso está “me ajudando” – Deixe que eu mesmo julgo se estou preparado ou não para o que me espera. – decidi.
Ele me entregou uma das pedras que ele usava dizendo que era para a minha proteção (que deixei por baixo das roupas. Vai lá saber!) e segui aquele cara. Ele me explicava umas teorias malucas sobre viagens dimensionais e sobre a existência de entradas e saídas naturais fixas em todos estes mundos, sendo aquela entrada de caverna a passagem da Terra (mas meu Pai, no que é que eu fui me meter...). Ele também me explicava como que funcionavam aqueles caminhos e como atravessá-los sem os errar ou se perder. E, apesar da escuridão, sempre era possível ver um tipo de raio de luz passando a mil por nós, que segundo ele, foi daquela forma que a Cristinne seguiu por aqueles túneis (Ave Maria...!).
Perdi a noção de tempo lá dentro. Com toda aquela escuridão (que ainda não entendo como é que conseguia enxergar o caminho), eu não sabia se estávamos neles há horas ou há dias, e quando finalmente saímos... (ainda seguindo o terço da minha irmã...) Acabamos em outra boca de caverna também envolta por névoa. E revelando mais um provável ser fantasioso...
– Quem é o marabá, irmão? – me cercava uma mulher de aparência animalesca – Não pensei que fosse possível existir jandaia como ele!
Aquela... coisa, tinha os longos cabelos desgrenhados ruivos, talvez... o mesmo tamanho da Cristinne ou um pouco menor e, se o tal curupira parecia algum tipo de feiticeiro indígena, ela parecia uma guerreira animalesca.
– Kaa’pora. Ele busca a irmã. Respeite sua antecedência.
– Não me venha dar ordens que eu te faço paçoca! – (eita, criatura violenta!) – E cês devem estar falando daquela que as Sementes trouxeram.
– Como é que é? – questionei eu, mas acabei dando um passo para trás ao ver o que parecia ser um cavalo com cara de esqueleto se aproximando por trás daquela mulher.
– Hihihihihi! Se o abaetê tá com medo desse aqui, ainda é cedo pra bancar o tucano. Macaxeira alimenta, mas tem que conhecer a brava. Ou tu morre!
Eu não entendi o falar daquela coisa, mas definitivamente tinha que voltar. Tinha que me preparar para encarar algo totalmente fora daquilo que considero comum (e por sabe-se lá quando tempo). A tal da Catapora me acompanhou de volta e me reencontrei com o Ubiratan que disse ter me esperado por dois dias (é preciso um dia para atravessar aquela caverna?!?). Voltamos pro hotel, onde recebi alguns conselhos do cacique sobre a minha aventura absurda.
No meio tempo em que estive no meio do mato, minha mãe conseguiu obter uma gorda compensação pelo sumiço da minha irmã, deficiente física, por parte da empresa, e já tinha gente a considerando morta (hum! Não depois do que eu vi!). Voltei pra São Paulo e informei ter conseguido algumas pistas sobre a Cristinne, mas que eu tinha que me preparar para poder ir atrás dela.
Comecei um curso intensivo de sobrevivência. Minha mãe só não ficou doida com o sumiço da minha irmã por causa de um sonho que ela teve com anjos, avisando que a Cristinne estava realizando uma missão (“cês devem estar falando daquela que as Sementes trouxeram”) e que quando fosse possível, elas se reencontrariam. Mas nem por isso ela deixava de se preocupar com a Cristinne.
Durante o curso, fiz alguns amigos. Eles me questionavam o porquê de eu estar fazendo aquele curso e eu só respondia que era para que eu pudesse buscar uma doida varrida de sei lá onde. Claro que eles me pediam mais explicações e eu só contava aquilo que não me taxasse de louco (ainda bem que aprendi alguns truques com aquela doida!).
Ainda no começo do meu curso, alguns desses colegas (que realizavam uma espécie de reciclagem) foram convocados para participarem de uma missão não sei onde, com o objetivo que não sei qual é. Do pouco que ouvi, ia ser um grupo de elite de umas duzentas pessoas. Passou-se mais ou menos um mês. O grupo retornou declarando fracasso na missão e anunciando a morte de uns 50 soldados. Ou era para ter sido isso...
Umas duas semanas depois de declararem aqueles homens mortos, eles reaparecem no meio de um oásis do Saara, resgatados por nômades e sem qualquer memória do que lhes aconteceu. Era como se eles fossem completos estranhos entre si! Não reconheciam nem mesmo os colegas que participaram da mesma missão que eles. E mais, com o efeito colateral de um ataque de ansiedade toda vez que pegassem em uma arma. Crises tão fortes que todos foram considerados incapazes para ações militares.
Houve boatos que alguns militares quiseram meio que “estudá-los”, descobrir o que aconteceu com eles, mas muitos acabaram recebendo proteção da ONU para que pudessem viver as suas vidas em paz. Três deles acabaram correndo pro Brasil com a família. O que será que aconteceu com esses caras?? E que missão esquisita foi essa da qual eles fizeram parte?!
Bom, enfim. Concluí o meu curso de sobrevivência após dois meses e meio e me preparei para voltar para aquela caverna do inferno. Voltei para o hotel onde o cacique já me aguardava com tudo que eu precisaria para começar minha jornada. Na floresta, acompanhado outra vez de Ubiratan, tive a leve impressão de estarmos sendo seguidos. Isto até alcançarmos aquela área cheia de névoa onde nem mesmo uma bússola funcionava (até o celular militar que eu comprei só pra efetuar esta jornada não estava tendo sinal!).
– Mas o que acontece aqui? – me questionava.
– Cês estão sendo seguidos. – surgiu aquela assombração feminina bem de trás da gente, nos assustando – Hihihihihihi! O timbó vai dispistá-los! Venham, venham! Vou mostrar as caçapavas de vocês.
– Sem ofender guardiã, – falava o Ubiratan – mas quais são os nossos caminhos? – (então foi isso que ela falou?!).
– Cê indiozinho, vai voltar pra tua oca. E distrair os abaités! – falava aquela criatura como se não se importasse com nada – Já tu, criatura... Vou te levar até a Passagem. Depois de o atravessar, estará por sua conta. Espero que cê tenha aprendido a evitar a pindaíba! Sóóóó queeee...
– Que o quê, ô dona Catapora. – ela acabou falando alguma coisa esquisita meio irritada.
– É Kaa’pora. E não catapora! E só pela cutucada, quero algo por levá-lo lá, ou te deixo na borborema! – (valhei-me meu Senhor...).
– E o que é que você quer... Kaa’pora?
– Melhor. – (como é duro lidar com mulheres...) ela começou a me farejar a mochila – Cê... _fareja_ não está carregando... _fareja_ nada de macaxeira não? _continua farejando_.
– Temos alguns bolos de macaxeira conosco, serve? – perguntou o Ubiratan e aquela coisa só faltou babar com o que ele disse.
– Claro que serve! Me dê! Me dê! Me dê!!! – pediu aquela assombração maluca que devorou o bolo assim que recebeu. Assim como criança pequena que se delicia com chocolate pela primeira vez – Huuuummmm... Tutóia...
– Podemos ir agora? – perguntei.
– Podemos sim. – disse ela ficando de corpo reto pela primeira vez (essa coisa é do meu tamanho??).
Ela deu um longo assobio e um javali ou cão monstro apareceu. Ela pões o Ubiratan para seguir o bicho de volta pra casa e me acompanhou até a tal Passagem. No caminho ela me questionou se eu ainda tinha o amuleto que o irmão dela havia me dado, e respondi que, desde aquele dia, eu nunca mais o tirei. Ela me reforçou a continuar com ele no pescoço porque haviam muitos “anhangueras” que estariam atrás da minha força no lugar onde minha irmã estava, e que o amuleto me ajudaria a me esconder deles (não estou gostando dessa historia...).
Alcançado o outro lado daqueles túneis, ela me deu algumas explicações extremamente vagas sobre o que fazer e não fazer, e sumiu em seguida. Me deixando a minha própria sorte. Respirei fundo. O terço de Cristinne continuava me atraindo pra algum lugar e ele, era a minha única “bússola” até a minha irmã.
Não vou negar, este lugar é impressionante! Uma criatura mais misteriosa que a outra, assim como as plantas exóticas. Evitei possíveis vilas ou acampamentos porque toda vez que encontrava “alguém”, não era exatamente humano...
Acho... que foi depois de um pouco mais de uma semana... Durante a minha jornada, encontrei um grupo de cães negros esfumaçados atacando o que parecia ser uma raposa-leão azul-roxeada. Eu não quis me meter, pois a raposa estava dando uma surra naqueles cães. Mas ela estava ficando tão ferida, que fiquei me perguntando: por que é que ela simplesmente não fugia?
A resposta? Ela estava protegendo um filhote. Um filhote que estava bem perto de um pequeno (e fundo) precipício. Continuei assistindo aquela luta natural até o fim. A raposa venceu! Mas foi demais pra ela. Corri para resgatar aquele filhote arisco antes que ele caísse (filho da p***) e o deixei ao lado da mãe.
Já era tarde, e acabei fazendo acampamento perto daquelas raposas diferentes. O pequeno ficou choramingando ao lado da mãe por um bom tempo. Eu até que tentei falar com o pequeno, mas não sei se estava adiantando muita coisa. Cheguei a jogar um pedaço de carne pra ele, pra que não morresse de fome, mas não fiquei acordado o suficiente pra saber se ele comeu ou não.
Amanhecido o dia, não encontrei o pequeno, e com um pouco de dó, acabei enterrando aquela raposa. Retomando a minha busca, percebi que alguma coisa estava me seguindo. Andei mais um pouco até descobrir que era aquele filhote que me seguia.
– Resolveu agora querer vir comigo é? – ele primeiro me rosnou para depois me fazer um choramingo – Venha, quem sabe você não acaba me salvando também. – ele apenas me abanou as caudas e continuou me seguindo. O bichinho era bem esperto! Acabei a chamando de Toby e houve vários momentos em que ele acabou me ajudando.
Após quase um mês de viagem (mas onde raios essa maluca foi se meter?), eu acabei me deparando... com um grupo de humanos? Eles eram soldados, austríacos (ainda bem que eu fiz aquele curso de alemão), mas não estava muito de acordo com o que eles estavam fazendo. Havia um menininho com eles, uma criança com pequenos chifres e o que parecia ser orelhas de algum animal. Uma criança daquele mundo. E que eles exigiam ao coitado a revelação de onde era a vila do pequeno para eles... _suspiro_ Exterminarem os coitados...
– Não podemos deixar isso continuar Toby... – cochichei para ela – Temos que dar um jeito de parar estes loucos!
Toby reagiu como se planejasse algo. Moveu as orelhas tentando encontrar alguma coisa, e depois sumiu mata adentro. Não demorou muito. Toby reapareceu e, do jeito dele, me pediu para cobrir as orelhas e eu fiz. Segundos depois, uma criatura voadora passou sobre o acampamento cantando. Um canto que fazia com que todos caíssem no sono. Aos poucos (precisei ficar mordendo a minha mão como podia para continuar acordado).
Quando todo mundo dormiu finalmente, Toby e eu nos aproximamos com cuidado. Revistei todos aqueles homens e tirei cada bala de munição que eles tinham e acabei com tudo (pelo amor de Deus, o que eles ganham destruindo seres que nem são do nosso mundo?!) ou quase (acho que não há problemas em colecionar algumas), enquanto o Toby se livrava das amarras do garotinho. Assim que terminei meu serviço (aproveitando para reduzir a comida deles e aumentando a minha, obrigando-os a voltar pra casa mais cedo), peguei a criança e pedi ao Toby que nos levasse até um lugar seguro.
Esse Toby sabe me surpreender... O danado me levou justo para a casa do avô do pirralho! E que já estava desesperado pelo pequeno. Não contei o quê que eu era (não sei como esse velho considera os humanos), mas revelei como encontrei o moleque e como o resgatei. Ele me pediu para passar a noite com eles como agradecimento e se surpreendeu por eu ter um... fenrisulfr(?) como mascote. E Toby era fêmea?! (ah, sua danada!).
Conversa vai, conversa vem, ele acabou me contando mais sobre esse mundo, Eldarya, e sobre a relação entre os faerys e humanos. Por conta do meu desconforto, e falta de características faerys, ele me questionou se eu era faeliano (o que concordei ser, seja lá o que for isso) e graças a isso mudamos de assunto.
Acabei falando de minha busca por minha irmã e o velho, chamado Kant, disse que se eu continuasse na direção que seguia, ia acabar chegando em uma cidade chamada Eel. Lar da Guarda de Eel, responsável por manter a ordem em Eldarya (como uma ONU, mas muito mais DEFICIENTE). Ele também me contou várias coisas que achei bem interessante... (será que essa tal de Lys pode ser a Cristinne? ... Vou ter que ver isso por mim mesmo).
Permaneci com o Kant e o pequeno Byull apenas o suficiente para definir uma rota segura até Eel, e Toby, minha pequena fenrisulfr, vivia me trazendo coisas que eu descobria o que eram com a ajuda do Byull, fingindo que testava o conhecimento dele. Ainda bem que era ele quem estava comigo quando a Toby me trouxe um Sino Antigo, que a fez se transformar em um ovo logo depois de eu lhe oferecer o sino de volta.
– Não acredito! A Toby era selvagem?! Ela não era a sua mascote?
– Bom Byull, eu lhe contei como foi que fiquei com a Toby, não foi? – ele me assentiu animado – Pois é, ela simplesmente veio comigo. Mas você sabe o que eu preciso fazer agora para ter a minha amiguinha de volta?!
– Sim! Você precisa colocar a Toby em uma incubadora, igual às que o vovô faz e esperar ela nascer outra vez. Acho... que isso vai levar... umas doze horas?
– Doze horas?! – (ô Toby, que sacanagem!) – É melhor a colocarmos logo em uma ou eu não poderei seguir viagem com ela, não é mesmo!
– Vem! – me arrastava o garoto entre risos para a cabana em que eles moravam.
Esse pequeno contratempo atrasou meus planos em um dia, mas depois de voltar a ver o focinho azul de minha Toby, ela parecia ainda mais ligada a mim. Me despedi daqueles brownies cabritos e me coloquei em direção de Eel.
Levou um tempo. E quase sempre encontrava algum empecilho em que a Toby me ajudava e muito (encontrar essa fenrisulfr foi uma das melhores coisas até agora nessa jornada). E quanto mais próximo eu ficava de Eel, mais forte era a sensação de estar perto da Cristinne ao segurar aquele terço (ao menos estou me aproximando daquela maluca).
Cheguei em Eel no meio da noite, com os portões de acesso fechados (e eu precisava mesmo confirmar se a Cristinne estava ali dentro). Não estava muito interessado em aguardar o abrir daqueles portões, por isso pedi para a Toby me ajudar a encontrar um jeito de entrar na cidade, sem ser visto!
Me arrastando de volta pra floresta, ela encontrou uma passagem subterrânea, na qual eu segui com a Toby na frente. Acabei encontrando um homem do qual consegui me esconder caminhando lá embaixo. Optei por segui-lo. Houve um momento em que ele simplesmente sumiu. Puff! Mas continuei e acabei saindo debaixo de uma arvore florida.
Com muito cuidado, tentei me aproximar da torre, que era pra onde eu sentia o terço me levar. E ou estou tendo muita sorte, ou a segurança deste lugar é uma vergonha! (Ô meu Deus...) Continuei avançando com a Toby causando uma distração ou outra para que eu pudesse seguir em frente. Subi a torre inteira (mulher, você tem que me complicar a vida, heim!). Foi diante do último quarto que eu senti, tão forte como nunca, que eu estava perto dela.
Por sorte, a porta estava destrancada. E que “quartinho” hein! _impressionado_ Bem o estilo daquela doida. Toby me chamou a atenção para alguém na cama e me aproximei pra ver quem era. Estava escuro. E a mulher deitada me parecia um pouco diferente, mas ainda muito parecida com a Cristinne (já se passaram alguns meses, é óbvio que ela ia mudar um pouco), então comecei a chamá-la (mas duvido que não seja ela).
Eu ainda a chamava quando fui atacado por trás (de onde foi que esse cara saiu??) e logo o reconheci dos túneis. Tivemos uma briga rápida (se a intenção dele for machucar a minha irmã...), mas logo obtive a minha confirmação sobre ela ser realmente a Cristinne ou não.
– FICOU LOUCA SUA SEM NOÇÃO? – berrei, surpreendendo o outro cara – Maluca desse jeito, só pode ser você mesmo Cristinne!Dicionário da Kaa’pora
.Pra quem não conhece alguns dos termos usados pela guerreira
Marabá = gente estrangeira.
Jandaia = errante.
Paçoca = coisa pilada.
Abaetê = pessoa boa / pessoa de palavra / pessoa honrada.
Tucano = que bate forte.
Macaxeira = mandioca.
Timbó = fumarada / vapor / espuma.
Caçapava = caminho pelo mato.
Oca = casa.
Abaité = homem feio, mal, cruel.
Pindaíba = completa miséria.
Cutucar = Tocar com objeto pontiagudo / ferir.
Borborena = sem habitantes / deserto.
Tutóia = “Que beleza!”
Anhanguera = diabo que já foi / diabo velho.
.。.:*♡ Cap.96 ♡*:.。.
“Olá para todos os curiosos que nos curtem aqui!!”
“Irmã! Quantas vezes tenho que... Ai, você não tem jeito... _cabeça em negativa_”
“Hihihi!”
– Até que fim vocês duas resolveram aparecer! Essa última fase não foi um pouquinho... LONGA! Demais não?!?
“Ah... Qual é Cris! Eu avisei que você tinha trabalho a fazer.”
“E você conseguiu reaver muitas conexões, Cris.”
– Hãm... Se importam de me refrescar a memória? Além da historia que recuperei de Eldarya, o que mais que eu reconectei?
“Bom, com a ajuda da Púrpura, você reaviu uns 80% dos contaminados de Eldarya com suas respectivas vidas; e também se conectou um pouco mais consigo mesma.”
“Através da Norns Visdom, você não só uniu um pouco mais a Guarda, como também removeu de Lance a maior parte de seu rancor. O reaproximando desse mundo.”
“E de quebra ainda pões uma coleira nele!”
– QuÊ!? – a Branca voltou a olhar para Negra com cara feia.
“Enfim, você trabalhou bastante... E com a chegada do seu irmão conseguiu reaver mais uma conexão...”
– Que conexão?
“Compreendera em breve, minha querida.”
“Con-ti-nu-an-do...” – (xiiii, to vendo a Miiko!) – “Há, há, muito engraçado!” – _sorriso_ – “Você já trabalhou e sofreu pra caramba, então está na hora de você tirar umas pequenas férias.”
– FÉRIAS!?! _olhos brilhando_
“Exatamente minha querida. Vamos prosseguir?”
– Vambora!!***Nevra
Para poder garantir o retorno do Gelinho até a sua gaiola, Leiftan, Ezarel e eu conseguimos fazer com que eu liderasse a vigília desta noite (pois assim o nossos mascotes poderiam ajudar a criar distrações se necessário), mas depois de ver algo que definitivamente não há em Eel, me pergunto se fizemos bem. De onde foi que saiu aquele fenrisulfr??
O mascote era jovem. E mesmo que ele seja selvagem, não é nem um pouco comum ter fenrisulfrs nas proximidades de Eel. Eles são mais comuns nas encostas das montanhas das Terras de Jade, então as chances dele não ter um mestre são baixas. Resolvi segui-lo, mas acabei o perdendo no meio do jardim! Foi Shaitan quem me ajudou a reencontrar o seu rastro, e ele tinha que seguir para o QG?!
Me apresei. Estava no meio dos corredores quando senti o cheiro do Gelinho neles e de mais uma outra pessoa que eu não conseguia reconhecer. Corri em direção ao quarto da Cris, e foi entrando no corredor que eu comecei a ouvir o que parecia ser uma briga seguida de alguém reclamando (e que conhece a Cris??).
– Esse é o Christiano... – havia chegado diante da porta dela, onde pude ver a Cris abraçando um cara maior que ela – Meu irmão mais novo!
– Como é que é?!? – falei espantando – Como isso é possível Cris? E tem certeza que ele é mesmo o seu parente?
– Se importa em me dizer quem são esses caras Cristinne? Você não sabe o que passei pra conseguir te achar mulher. Toby, vem cá.
Observei o mascote que se afastava de Absol ir pra junto daquele homem (então é dele o fenrisulfr...) – Tenho a impressão que vai nos gerar confusão... – comentei.
– Então somos dois. – falava o Lance aparentemente enciumado – Se esse cara...
– Meu nome é Christiano.
– Tá! Se o Christiano é mesmo irmão da Cris, ele corre tanto perigo quanto ela e eu.
– Que historia é essa? Do que é que eles estão falando Cristinne?
– Olha Christiano... Não sei bem como começar. – falava a Cris enxugando as próprias lágrimas – É uma historia longa e um tanto complicada. E eu ainda quero saber como foi que você conseguiu aparecer em Eldarya!
– Também é uma historia longa pra c******. Mas você está bem, né? Com saúde e tudo, né?
– Estou sim! – declarou ela rindo – Encarei alguns sufocos, mas estou ótima! E agradecendo a Deus por me permitir reaver o irmão mais chato do universo outra vez!
– Também estou feliz em te ver, sua maluca sem noção! – eles se abraçavam outra vez (isso é amor de irmão??).
– Acho melhor chamarmos a Miiko... – eu sugeria – Ela precisa saber disso. Sem falar que temos que dar um jeito de esconder o seu irmão! Ou pelo menos o parentesco de vocês. Ele tem algum apelido que possamos usar no lugar do nome dele?
– O nome do meu irmão é composto. Contanto que ele não revele a ninguém o seu segundo nome, não há risco em chamá-lo de Christiano.
– Como é que é?!?Cris
Ai! Que alegria! Que alegria! Que alegria! (e que problema também...) Não acredito que meu irmão está bem diante de mim! – Nevra, porque nós não conversamos no salão? A essa hora o lugar está vazio e poderemos falar com a Miiko de forma mais tranquila diante de um lanche, não concorda?
– Pode ser. Assim você explica ao seu irmão as nossas circunstâncias enquanto busco a Miiko. Mas e quanto ao seu... guardião?
Lance parecia emburrado, encostado à mesa – Lance? – ele me encarou em silêncio – Prefere permanecer no quarto ou voltar pra Morada?
– Hein? Porque é que esse cara precisa ficar no seu quarto Cristinne? – aaai. Como é que eu explico o Lance ao meu irmão?...
– Olha Christiano, pra começar: DE JEITO NENHUM você pode me chamar de CRISTINNE! Só de Cris. E eu já vou lhe explicar! – falei antes que ele reclamasse, já me olhando desconfiado – E então Lance?
– Absol é quem sabe. – respondeu ele com indiferença (não acredito que ele está com ciúmes do meu irmão).
Pelo gesto de Absol, Lance podia continuar no quarto. Descemos todos (menos o Lance que deixei trancado, e claro, com meu irmão ainda mais desconfiado) e segui com meu irmão até o salão, deixando o Nevra diante do quarto da Miiko. Já no salão, comecei a explicar mais ou menos a minha situação e porque de exigir que ele escondesse os nossos nomes (mas será que esse cabeça dura vai acreditar?).
– Então é ele? – perguntava a Miiko que chegava acompanhada do Nevra, Leiftan, Ezarel, Valkyon e Erika (precisava mesmo arrancar todo mundo da cama?) – De fato se parece um pouco com você Cris.
– Sinto muito por isso Miiko, mas como é que eu iria adivinhar?!
– Ao menos você teve mais sorte que eu Cris. – comentava a Erika – Vai nos apresentar?
– Claro! Irmão, estes são Miiko, líder da Guarda de Eel; Leiftan, mensageiro e faz tudo do QG; Nevra, líder da Guarda Sombra; Ezarel, líder da Guarda Absinto; Valkyon, líder da Guarda em que faço parte, a Obsidiana; e Erika, sacerdotisa do Cristal que veio parar em Eldarya a uns três anos atrás.
– Prazer. Christiano Ga...
– PARA! – interrompi meu irmão – Acabei de falar para não revelar o seu nome completo! E ainda disse o porquê!
– Sério mesmo esse absurdo sobre nomes, almas e poções?
– Ninguém mais da minha família se recorda de mim, graças a uma poção em que usei os nomes de meus pais... – comentava a Erika por comentar (e acho que sem perceber do assunto direito).
– E você realmente acredita que isso aconteceu de verdade?
– Depois daquela poção, ninguém mais quis “me resgatar” de Eldarya. – declarava ela fazendo as aspas – E eu ainda tenho aquela sensação horrível de vazio...
O ambiente ficou pesado. Alguns até engoliram seco. Foi Ezarel que rompeu aquele desconforto dizendo que ia pra cozinha ver alguma coisa pra gente, pedindo a ajuda de Leiftan. Continuei com as minhas explicações ao meu irmão sobre a nossa segurança (que por sinal ele não parecia acreditar muito) e logo Ezarel e Leiftan nos trouxe vários copos de suco de fruta que foram distribuídos.
– E é isso Christiano... – terminava de contar a minha historia – Até terminar de consertar o Cristal de Eldarya, estou meio que presa nesse mundo. Ou foi o que pensei... Como foi que você conseguiu chegar em Eldarya??
– Bom, tudo começou com a nossa mãe, que acordou do nada no meio da noite dizendo que tinha acontecido alguma coisa com você! – _boquiaberta_ – Ela passou o resto da noite em claro até dar a hora de ligar pra você e esse seu celular só dar fora de área.
– Que culpa tenho se não escolhi viajar pra outro mundo!...
– É, é, é, é. Como você não atendia de jeito nenhum, liguei pra #@%$*&*& da Bryana...
– Um minuto! O que aconteceu entre você e a Bryana? – (Eles sempre foram tão apaixonados...).
– Melhor que te falar, eu vou é te mostrar! – disse ele já pegando um celular diferente do que eu sabia ele ter e foi logo me mostrando um vídeo da namorada dele. FILHA DUMA ÉGUA! (ah não coitada. A égua não merece ser insultada não!) Acabei me recordando daquelas mulheres que Absol castigou. Mas será possível que só existe víbora no meu pé? Já tem uma dentro da família e ainda tenta se infiltrar outra!? Bem que a minha mãe estava certa sobre a Bryana...
– Você realmente não tem lá muita sorte com as companhias, heim Paladina...
– Nem vem pirralho! – falei nervosa e com ele me fechando a cara – Agora continua Christiano, depois de você... desmascarar essa... coisa! O que mais aconteceu?
– Consegui permissão para ir ao hotel e ver direito essa historia de você ter sumido sem mais, nem menos e acabei achando isso aqui... – ele me estendia o meu terço _olhos brilhando_ – No topo da arvore em que você desapareceu. E acredite se quiser, eu estive esse tempo todo seguindo ele para te achar. Foi a minha “bússola” até você.
– Tá de brincadeira... – falei recebendo o meu terço de volta (e inteiro! Ufa!...) – Mas como você conseguiu deixar a Terra pra vim parar em Eldarya?
– Bom... é aí que começa a verdadeira loucura... – ele começou a falar dos conselhos do chefe que lhe permitiu conhecer, inacreditável... O Curupira e a Caipora! E existe uma passagem dimensional fixa que liga todos os mundos??? – E Deus do céu!... Aqueles dois eram realmente preocupantes. Eles insistiam em dizer que eu e você éramos “especiais”, “seres raros”. Mas sério! Nós somos só h... – ele pareceu travar – Hu... Mas que diabos!?
Só agora notei uma pequena fumacinha dourada saindo do copo de meu irmão... Espero estar errada, mas... – Posso provar do seu suco Christiano? – notei que alguns ficaram desconfortáveis.
– Pode, mas pra quê? O seu não é igual ao meu?
– Não tenho essa certeza... – falei já provando do copo quase vazio dele, e aquela sensação veio... – Eeeezaaareeel...
– Nem vem Paladina! Eu só obedeci ordens! Mais nada!
– Miiko!!
– Sinto muito Cris. É que... Essa historia de irmão... Eu achei muito estranho. O que me garantia que não era um de nossos inimigos tentando lhe levar?!
_suspiro_ (Senhor, me dê paciência...) – Miiko. Use essa sua cabecinha de kitsune. Eu nunca me referi aos meus parentes por nome, justamente para protegê-los. Só pelo tipo de parentesco. Como raios, um dos seguidores daquele maluco, iria conseguir obter o nome do meu irmão? E mais! Como que eles descobririam o meu nome e não tentariam nada com essa informação? – ela baixou o rosto vermelha e vi que Valkyon e Erika estranharam.
– Tá pra me explicar!? – me pedia o meu irmão massageando a garganta.
– Ezarel colocou uma poção especial em sua bebida... – explicava o Leiftan e meu irmão pareceu se assustar – É uma poção da verdade. De um tipo tão poderosa que, mesmo se você tentar dizer algo que acredite ser verdade, mas não é, você não vai conseguir falar.
– Então... – meu irmão ainda parecia em choque – Quando eu tentei dizer que eu e a Crist...
– Irmão! – o impedi.
– Tá. Quando eu tentei dizer que eu e a Cris... – lhe assenti para que continuasse – Somos humanos, essa coisa me impediu de fazê-lo porque não somos meros humanos?!
– Exatamente... – falou a Erika, estranhando a mim e ao meu irmão.
– E o quê nós somos então??
– Somos faelianos Christiano. Parte humanos, parte faerys.
– Que tipo?
– Dragões e aengels... – falei com inocência.
– O QuÊ!?!?
– Olha camarada, deixe a crise existencial por enquanto, e continua nos contando como foi que você conseguiu parar em Eel. – pedia o Ezarel.
E assim o meu irmão fez. Ele contou sobre o treinamento que havia feito para poder me procurar e eu quase não acreditei que eu havia conseguido apagar as memórias daqueles mercenários que tentaram atacar Eel e ainda garantir que eles nunca mais tentariam algo parecido outra vez. Nem ele me acreditou quando eu contei o que fiz para impedi-los de fazer o que pretendiam fazer! E os dois lados só puderam acreditar realmente nisso após Nevra ter reconhecido alguns dos homens cujas fotos meu irmão apresentou pelo celular dele (Ave Maria...). Ele prosseguiu com seu relato nos contando como conheceu sua Toby (coitadinha...); alguns brownies que ele ajudou e que o ajudaram também; suas viagens por terra e por mar (essa Passagem fica em outro continente!?) e o interrompi quando ele chegou em meu quarto.
– Nossa! – falei meio sem jeito (assim como todo mundo) – Você realmente teve uma senhora aventura até aqui!
– E você vai voltar pra Terra comigo! Nem que seja só para colocar as coisas em ordem! Metade da nossa família pensa que você está morta! E estão quase internando a nossa mãe por causa disso.
– Epa! Epa! Epa! Explica isso direito! – exigi.
Ao que entendi, a peçonhenta de uma tia minha (praga da família) estava tentando convencer todo mundo que a minha mãe precisava de psiquiatra apenas porque ela acreditava fielmente que eu estava viva e em missão, graças ao tal sonho que ela teve. Eldarya que me perdoe, mas eu vou pra casa! De jeito nenhum vou deixar uma coisa dessas acontecer.
– Se eu tivesse algum meio de entrar em contato pra dizer que eu estava bem, teria o feito sem hesitar, Christiano.
– Sua madrinha e o nosso pai estão conseguindo protegê-la. Mas não sei por quanto tempo mais. Falei com ela semana passada...
– Você o quê!?!?! – Erika e eu exclamamos juntas. E meu irmão abriu um graaaande sorriso.
– Vamos voltar lá pro alto. – pedia ele já se levantando – Eu consegui trocar de celular, mas só consigo algum sinal se eu estiver beeeem alto.
Seguimos ele de volta para o meu quarto, ainda não acreditando que era possível falar com o pessoal de casa. Ao entrarmos, Lance não estava lá (Absol deve ter o levado pra Morada) e quase que não consigo impedir meu irmão de questionar sobre ele. Não sei se o meu chefe já desconfia de alguma coisa, já que ele é sempre fechado, mas com certeza a Erika está ficando com uma pulga atrás da orelha. Tanto eu quanto a Erika estávamos meio ansiosas sobre a possibilidade de termos algum contato com a Terra, e meu irmão começou a reclamar por não estar conseguindo nenhum ponto de sinal. Acabei me lembrando dos escudos.
– Por que não tenta do lado de fora do quarto? – sugeri.
– E porque do lado de fora faria diferença?
– Intuição. – respondi. Ele me fez cara feia e foi pro corredor quase bufando.
– Mas quê?! – parece que eu estava certa – Você vai me explicar isso, ô doida!
– Tá, tá, tá, que seja. Mas anda logo!
– Pera que tá chamando. E já vou avisando que o sinal ainda pode falhar! Até a tecnologia militar tem limites. – (não é à toa!...) demorou quase um minuto... – Alô? Mãe? – (ai meu Senhor Deus...) – Eu já lhe disse... é difícil conseguir sinal por aqui... ... Claro que eu tô bem! Não estou falando agora com a senhora? – (vai logo!) – Ham... Ham... Ok mãe, tenho uma surpresa pra senhora. – (aaaaaiiiiiii...) – Ah, mas você vai gostar! Peraí! – ele me passou o celular.
– Alô? Mãe?
“CRISTINNE!! MEU DEUS DO CÉU! SEU IRMÃO FINALMENTE CONSEGUIU TE ACHAR!!”
– Calma mãe! – não sabia se eu ria ou se chorava – Eu estou bem e super feliz de poder a ouvir outra vez.
“Volte já pra casa! Quero te ver AGORA! Tem ideia de toda a confusão que você causou criatura?!”
– Eu imagino... Christiano já me contou algumas coisas...
“Oxi!? Tratando o seu irmão pelo primeiro nome? O que aconteceu com você?”
– Ehhh... um pouco complicado de explicar... Especialmente por telefone. Mas eu vou me acertar aí em casa. Só que não vou poder ficar. Não ainda.
“Mas do que é que você está falando filha da p***?” – (e lá vem a chata...).
– Aí eu explico mãe. Realmente não dá pra falar sobre isso por telefone. E pode ficar tranquila que assim que me for possível, eu e o Christiano estamos aí.
“Deixa eu falar com o Gabriel. Você está me escondendo as coisas!” – passei o celular respirando fundo e sem saber bem como eu me sentia.
Meu irmão teve um pouco de dificuldade, mas conseguiu fazer minha mãe desligar. O pessoal de Eel ainda estava tentando entender como que eu havia conseguido falar com a minha mãe e ainda tínhamos muuuuuuuito o que resolver.Miiko
Isso é demais para a minha cabeça... A gente mal se livra de um par de assassinos e... o irmão da Cris aparece? O irmão?!? Se isso é mesmo verdade ou não, ao menos temos como tirar a prova. Mandei Nevra me ajudar a chamar os semelhantes da Cris (já que estão todos no mesmo barco) e o Ezarel para vermos isso. Ordenei ao Ezarel para dar da poção ao tal do Christiano sem ser percebido e fomos de encontro à criatura no salão com a Cris.
Estava impressionada. Ainda era difícil acreditar que um parente da Cris havia conseguido de alguma maneira viajar da Terra para Eldarya. E será que esses seres que o ajudaram são mesmo confiáveis? Não pude evitar de ficar envergonhada depois dos pontos apresentados pela Lys, após descobrirem sobre a poção. Estou sinceramente impressionada com esse Christiano! E já que ele estava sob o efeito da Norns Visdom, não há motivos para continuar desconfiando dele (ainda mais depois de tudo o que ele passou!).
Como ainda era madrugada, ordenei que continuássemos com aquela discussão depois que o sol surgisse. Pedi para que a Cris o levasse até a Ewelein para ter seu estado de saúde averiguado e que eles fizessem de tudo para esconder seu parentesco. E ainda tem o problema maior... Como permitir a partida da Cris se ela não pode deixar os muros de Eel?
Uma nova reunião ia ser necessária com toda a certeza... E ainda bem que a Huang Hua está aqui! Os conselhos dela nos serão muito bem-vindos. Nos dispersamos todos para os nossos respectivos quartos, com o Christiano ficando no quarto da Cris (e Nevra de olho nele).
Amanhecido o dia, a Cris foi logo cuidar do irmão. Erika e Valkyon me procuraram para entender melhor aquele negócio de nomes entre eles e acabei revelando que a Cris sempre esteve escondendo o nome dela por segurança, e que convenhamos, ela fez muito bem. Não revelei a eles quem mais além de mim tinha esse conhecimento e eles me compreenderam, especialmente a Erika (aquela poção de Mnemosine continua nos assombrando...). Pedi ao Leiftan que reunisse a Reluzente na Sala do Cristal e depois chamasse a Cris e seu irmão para que participassem da reunião também (sinto que se a efetuarmos sem a presença daqueles dois, teremos problemas) enquanto eu procurava a Huang Hua para pedirmos seus conselhos.
– E é isso Hua. – terminava eu de explicar tudo à ela – Por favor, diga que irá nos ajudar com essa decisão... Não quero que a Cris e o irmão dela nos vejam como inimigos.
– Eu compreendo Miiko, mas talvez...
– O quê?
– Hum... Vamos ter essa reunião primeiro. Deixar às claras todos os riscos que podemos revelar e, se realmente for melhor permitir a ausência temporária da Cris em Eldarya, planejarmos a melhor forma de lhe permitir essa viagem de modo seguro.
_longo suspiro_ – Tudo bem, Hua.
Terminamos de nos reunir às nove da manhã. Muitos eram os curiosos sobre o “estranho” que acompanhava a Lys de Eldarya pra cima e pra baixo que ela só dizia ser um conhecido próximo dela (ao menos ela atendeu meu pedido). Começamos a reunião explicando (sem revelar o verdadeiro parentesco) quem era o Christiano e o seu objetivo em Eel. Claro que ninguém gostou da ideia de ele levar a Cris de volta para a Terra. Com exceção de Erika.
Ele explicou todas as circunstâncias do lado dele e nos esclarecíamos as nossas. A impaciência da Cris sobre aquele assunto estava ficando cada vez mais nítida.
– JÁ CHEGA!!!!!!! – explodiu ela – OLHA AQUI SEUS BANDOS DE EGOÍSTAS! Não estou te incluindo Erika. – Erika me pareceu ter ficado sem jeito – Eu venho me matando por Eldarya, passando pelos maiores sufocos, só pra ajudar o mundo de vocês e quando me aparece a oportunidade de arrumar a minha vida, vocês querem me aprisionar?? Mesmo com eu já tendo dado a minha palavra que faria o que pudesse para salvar este mundo?! – ela está nitidamente irritada... – Vocês vão SIM me deixar voltar para casa! Aceitando ou não, pois não acho que tenham esquecido do que Absol é capaz. E depois que eu tiver resolvido os meus problemas pessoais, eu retorno para terminar esse inferno de missão.
Eu não era a única que queria dizer algo sobre isso, mas a aparição das duas Sementes, de mãos dadas, e atrás da Cris, obrigou a todos a permanecer em silêncio. A Semente Branca nos observava com o que parecia ser ternura, enquanto a Semente Negra, com carinha de criança traquina, nos pedia silêncio sobre a presença delas, acredito eu.
– Vocês... realmente acham prudente... permitir essa viagem? – perguntei para as Oráculos que se escondiam da Cris e de seu irmão.
– Mas é claro! – respondeu o Christiano com as Oráculos assentindo por trás deles – Se vocês realmente querem o bem dela, vão ter que permitir!
As Oráculos sumiram em seguida e quase todos os membros presentes começaram a cochichar entre si. Huang Hua pediu o silêncio.
– Muito bem pessoal. Vamos permitir à Lys de Eldarya que volte para Terra brevemente. Mas precisamos planejar essa viagem de modo que não sejam descobertos e que consigamos a garantia de que a família da Cris lhe permita o retorno para Eldarya.
– E o que tem em mente, Huang Hua? – perguntava o Kero.
Huang Hua nos deu sugestões do que poderíamos fazer e Nevra e Valkyon completavam os planos. Huang Hua e Valkyon iriam acompanhá-los para garantir não só a segurança da viagem como também para ter-mos uma maior chance de retorno da Cris para Eldarya. Erika também iria para ajudar os nossos a lidarem com a Terra.
Depois de todo o plano acertado (e que seria posto em ação dentro de dois dias), começamos a nos preparar.Cris 2
Ahhhh que dor de cabeça... Aquela droga de reunião quase fez meu irmão odiar essa Guarda (e sinceramente, eu também). Por um instante pensei ter alguém atrás de mim naquela porcariada toda e GRAÇAS A DEUS! _suspiro_ Que eles aceitaram me permitir fazer essa viagem. E com tudo finalmente planejado, graças à sensata da Huang Hua, tudo o que eu queria era respirar ar fresco.
– Esse povo não é um pouco obcecado por você não Cris?
– Christiano, eu já expliquei a minha situação aqui. E eles lhe reexplicaram tudo nessa reunião que eu só quero esquecer. Vai querer me acompanhar em minha rotina ou prefere que eu lhe apresente a cidade? Ainda tem alguma dúvida sobre este mundo depois de tudo que passou até aqui?
– Pra dizer a verd...
– Cris!! – Anya pulava em meus braços – Como se sente hoje? Já está melhor? Meu pai acabou deixando escapar que você teve um “probleminha” ontem. E este grandalhão aí? Quem é? – meu irmão lhe erguia uma das pestanas.
– Eu sou o Christiano. Um... conhecido da Cris. E vim da Terra. Quanto a você...
Anya ficou boquiaberta – Sou Anya. Melhor amiga da Cris em Eldarya. Como foi que você chegou aqui?
– Uma criança é a sua melhor amiga, doida?
– Vamos lá pra cozinha Christiano. Vou te apresentar o Karuto e lá você pode conversar com a Anya. E só pra você saber, Anya é uma elfa. E elfos vivem muuuuito tempo.
Seguimos para a cozinha, onde Leiftan conversava com o Karuto (ele devia estar lhe repassando sobre a reunião) e o Karuto não me pareceu ir com a cara do meu irmão... Isso até eu lhe sussurrar ao ouvido quem que o Christiano era. Como esperado, meu irmão ficou pasmo com a idade de Anya e ela o arrastou pra cima e pra baixo lhe apresentando a cidade e o QG, além de lhe tirar qualquer possível dúvida que lhe tenha ficado sobre Eldarya (a Anya é mesmo o meu suporte... _sorriso_).
Ainda nesse dia, um jovem bugbeear, contaminado, resolveu aparecer em Eel. Meu irmão quase teve um treco ao me ver me aproximando daquela “sombra” enorme. Fiquei muito grata à Karenn e ao Chrome que o impediram de intervir na purificação. E que por sinal... me senti um pouco mais eu mesma durante o processo.
Anya manteve o meu irmão ocupado e eu repassei os planos de viagem para o Lance quando pude ficar sozinha com ele. A ideia era simples (ou quase), partiríamos de Eel ainda de madrugada, disfarçados, e usando a umbracinese de Absol. Ele nos levaria até uma área onde Nevra estaria nos aguardando com shau'kobows que nos levariam até uma vila costeira, da qual partiríamos para as Terras de Jade e lá iriamos em busca da tal Passagem Dimensional. Na Terra, voltaríamos ao hotel do qual eu fui “arrancada” e voltaríamos para São Paulo assim que possível, reencontrando a minha família (não falei que não é tão simples?).
Valkyon estudou toda a nossa rota ao lado do Nevra e do Christiano, enquanto eu explicava o que podia sobre a Terra para a Huang Hua com a ajuda da Erika (e um pouco da minha família também. Isso vai ser complicaaaaado...). Erika e eu separamos roupas eldaryanas que passariam mais ou menos por terráqueas com a ajuda de Purriry (e que eu ainda não sei como que aquela gata conseguiu obter uma vaga nessa viagem) e também juntamos uma boa quantia de moedas para a viagem (só o ouro ia ter valor na Terra). Absol e Toby, seres de Eldarya, teriam que ficar para trás, mas poderiam nos acompanhar até chegarmos na Passagem. Na hora meu irmão não gostou muito da ideia de confiar sua Toby aos cuidados de Absol (e eu nem posso julgá-lo), mesmo com ele me dizendo que Absol tinha o dobro do tamanho dos black-dogs que mataram a mãe de Toby, mas conseguimos convencê-lo depois de Absol se mostrar confiável para a Toby. Também consegui fazer o Lance me prometer que iria se comportar enquanto eu fazia essa viagem, mas porque é que eu tenho a sensação de que ele ainda vai me aprontar?!
Mantivemos essa viagem em sigilo absoluto (Anya vai me falar um monte quando voltarmos...). E quando finalmente chegou o dia, com Nevra partindo na véspera, sob a desculpa de uma missão diferente, para nos preparar os mascotes, nos reunimos todos em meu quarto. Absol demorou pra chegar e ele me pareceu... incomodado? Por quê?
Miiko, Ewelein, Karuto e Ezarel foram os únicos que assistiram a nossa partida. E eu já falei que detesto viajar por umbracinese? Aquilo me pareceu durar uma e-ter-ni-da-de! E quando finalmente chegamos, Nevra parecia doido pra dar o fora (qual é o problema desses sombrios hoje?).
– Então... é nisso que a gente vai viajar? – questionava o meu irmão encarando as “galinhas-avestruzes” – Tem certeza que eles dão conta de todos nós? – haviam três shau'kobows a nossa espera.
– Se aguentam o meu chefe e mais uma pessoa, porque não aguentariam você e mais um Christiano? Você não disse que perdeu peso durante o seu treino e a sua jornada?!
– Disse. Baixei de 95 para 78, mas qual é a resistência desses bichos aí? E eles são mansos mesmo? – todo mundo acabou rindo um pouco.
– Não precisa se preocupar. – explicava o Valkyon em meio a um sorriso – Esses mascotes são capazes de suportar até 200kg sobre as suas costas e desde que você não lhes arranque nenhuma pena, poderá até tirar uma soneca em cima deles se quiser.
Estávamos nos preparando para montarmos e o Nevra já tinha dado no pé (mas que pressa!). Eu começava a montar o meu shau'kobow em que o meu irmão me acompanharia, quando o Valkyon começou a agir de forma estranha.
– Onde pensam que vão sem mim? – gelei de cima a baixo.
.。.:*♡ Cap.97 ♡*:.。.
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Melídia, a melhor vidente que Eldarya um dia já conheceu, de beleza singular e com total conhecimento sobre todos os tipos de vidência, estava tranquila com a limpeza de sua pequena cabana, oculta pelas arvores vivas da floresta desencantada, quando pressentiu a chegada de um visitante. Ela só não esperava que fosse justo aquele homem, pois esperava que ele fosse demorar um pouco mais para lhe procurar.
– Espero que esteja desocupada agora, – declarava o mago à sua porta – pois não vou aceitar um não como resposta. – terminou ele já entrando.
Melídia encarou o firmamento ainda na patente de sua porta e, não percebendo nenhuma presença da morte ou de seus mensageiros, sorriu.
– Em que posso ajudar meu “cliente favorito”! – falou ela se aproximando de sua mesa de trabalho com ele lhe contendo um rosnar.
– QUERO RESPOSTAS! – se exaltava ele – PORQUE É QUE EU NÃO CONSIGO BOTAR MINHAS MÃOS NA LYS DE ELDARYA?!
– Huuummm... Gritando comigo é que você não vai conseguir!... – falou ela assumindo uma posição reflexiva.
– Cheguei a procurar o Ladrão para conseguir o que eu queria e tudo o que ele conseguiu foi acabar morto! – reclamou ele batendo o punho sobre a mesa.
– Mas que maravilha! – espantava ela aquele mago – Eu odiava aquele ryōude. Já foi tarde! Ontem mesmo recebi a visita de um amiguinho que estava na cola dele, me pedindo alguma ajuda para conseguir encontrar o esconderijo daquele canalha um pouco mais fácil.
– Pouco me importa quem te procura ou não, eu quero as MINHAS respostas! – exigia ele batendo mais uma vez na mesa e fazendo Melídia soltar um suspiro.
– Hoje é mais garantido consultar a bola de cristal. – falou ela já pegando a esfera para a mesa – Vamos dar uma olhada... – ela se concentrava.
– O que está vendo? – perguntou o mago meio impaciente.
Melídia apenas o encarou por um segundo, retornando à sua concentração. Suspirando quase um minuto depois.
– Ao que consigo ver... Eu só posso lhe repetir o que já havia tido antes: Enquanto o traidor de Eldarya estiver livre, nenhum plano seu contra Eldarya funcionará.
– Impossível! Aquele dragão de gelo continua acorrentado! _nervoso_.
– É. De fato. Lance ainda possui correntes sobre ele. Hun-hun-hun-hun-hun, e que correntes! Hun-hun-hun!
– Mas qual que é a graça? Já disse que vim atrás de respostas!
– Sempre tãããão cavalheiro... – o mago continha outro rosnado – Deixe-me ver mais... hum... ... Huuummm!...
– O que é dessa vez...
– Parece que você está prestes a perder alguns dos seus alvos de vista!
– Como é que é??
– O que ouviu! Parece que alguns aengels e dragões vão sumir de Eldarya por um tempinho.
– PRA ONDE?!
– Eu não sei. – respondeu Melídia de forma tranquila e fazendo o mago se corroer por dentro – Te aconselho a esquecê-los por um tempo. Deixe-os em paz! Eldarya necessita das Sementes, e as Sementes necessitam da Lys de Eldarya.
– E EU QUERO ELDARYA INTEIRA!!
– Bom... tudo que posso dizer é que você poderá obter uma chance de ter os seus alvos em suas mãos. Mas não será como você deseja!
– O que você viu?
– Eles virão para Apókries. Quando o dia vencer a noite. Até lá, NÃO INCOMODE MAIS OS DRAGÕES E AENGELS DE ELDARYA! – terminou Melídia com toda a autoridade que pode colocar em sua voz.
O mago a encarou em silêncio por um tempo e, aparentemente mais calmo, encarou o globo cristalino por uns instantes antes de voltar a questionar – Eles... vão vir para Apókries?
– Sim! – respondeu ela simples.
– E... preciso deixá-los em paz?
– O ideal seria que você desistisse de tomar Eldarya, mas pelo o que te conheço...
O mago não disse mais nada. Ergueu-se da cadeira, deixando uma pesada bolsinha sobre a mesa, e saiu da cabana sem mencionar um “a”.
Assim que Melídia o perdeu de vista, ela suspirou como se tivesse acabado de se livrar de um monchon adulto de cima de suas costas.Lance
Depois de ser deixado trancado no quarto, comecei a andar de um lado para o outro.
“Porque está tão nervoso? Vai ficar até com ciúme dos parentes dela?![/center]”
– Ele vai querer levá-la embora não vai? Sei que vai! Pois é isso o que eu iria querer no lugar dele!
“Ahhh... Então você está com medo de perdêêêê-la...”
– Mas é claro! E se a família dela não a deixar voltar? E se eles resolverem prendê-la?
“Hihihihihi! É até engraçado de ver sofrendo assim, hihihi!” – acabei rosnando praquela Negra – “Se está tão preocupado assim, porque não vai junto?” – (ir junto?) – “É, ué. Você dá um jeito, e viaja junto com eles! Pra Terra. Absol não vai poder sair de Eldarya mesmo...” – ela dava de ombros.
– Espera. Você está me dizendo... que se a Cris fizer essa viagem... NINGUÉM vai a acompanhar para protegê-la?!?!
“Aaaai, exagerado... Ela não vai estar sozinha seu estúpido! E ela não é tão inofensiva assim, você sabe!” – ainda não consigo me sentir tranquilo... – “Olha, eu vou pedir para que Absol lhe ajude a participar dessa viagem, mas você vai ter que fazer tudo o que eu ou minha irmã te dissermos, fui bem clara?!”
– Se isso me der a garantia que poderei continuar do lado da Cris, aturo o sgarkellogy que quiser.
“Perfeito! Então escuta tudo o que vou lhe dizer.”
A Negra começou a me contar tudo o que eu ia precisar caso fosse mesmo acompanhar nessa viagem. Preparei tudo! Roupas, mantimentos, economias em ouro... O que me faltava, Absol me trazia (a contragosto). Depois da Cris me explicar como seria o trajeto da viagem, decidi que era melhor eu me juntar a eles no ponto de encontro em que os mascotes estariam esperando.
Como o tal do Christiano estava ocupando o quarto da minha Ladina (mais precisamente o meu lugar... Porque não o colocaram junto do sanguessuga ou do bobo da corte?), o black-dog me manteve na Morada enquanto ele tentava se manter próximo da Cris (sempre acontece alguma coisa se nós dois ficamos longe dela...).
Foi a Branca quem me apareceu para dar alguns últimos conselhos antes de Absol me levar na frente para o ponto de encontro (com uma paradinha rápida no quarto de Anya), e eu prometi a mim mesmo que não permitiria que nada de ruim acontecesse com a Cris nessa viagem. Chegando no lugar, o sanguessuga ficou realmente surpreso.
– Mas o que é que você está fazendo aqui?
– Não é óbvio? Eu vou junto! Acha mesmo que irei permitir que a minha Ladina parta de Eldarya com o risco de nunca mais voltar? Se ela for deixar este mundo, eu o deixo também!
– Cara! Ela te roubou a alma ao invés do coração. Isso é loucura!
– Loucura ou não eu vou. E você não vai me impedir! Já até deixei um recadinho com a pirralha...
Ele começou a esfregar o rosto nervoso – As Sementes estão de acordo com isso?
– Foram elas que me ajudaram a me preparar.
– Então... _suspiro_ Apenas tente não causar confusão. E me faça o favor de esperar eu dar o fora antes de declarar sua participação nessa missão.
– Missão. Rá! Tudo bem, eu espero você sumir.
Me ocultei mais ou menos entre as arvores (com a ajuda da Negra...), para aguardar a chegada dos outros. O sanguessuga não escondeu nem um pouco o nervoso que tinha por minha causa. Eu acabei me demorando um pouco para aparecer depois dele ter caído fora, e as caras que eles fizeram ao me ver... _riso_ Foi impagável!
– O que você pensa que está fazendo aqui criatura?! – minha Ladina veio logo me dando bronca (acho que ela acabou se esquecendo de tudo ao me ouvir _sorriso_).
– Cris?! – e a Cris travou! _sorriso largo_ – Desde quando você conhece o Lance? – perguntava a anjinha do meu irmão.Huang Hua
Não estava preparada para uma surpresa daquelas... Mas de onde foi que o Lance saiu?! E quando a Cris se aproximou furiosa dele... Não pude crer no que via! As suas auras... elas... estavam brilhando! Assim como as auras da Erika e do Valkyon quando juntos! Desde quando a Cris esconde isso?
– Mas o que é que acontece aqui? – reclamava o Christiano – Esse cara não é conhecido de vocês? O que significa tudo isso Crist... – ela o interrompeu – CRIS! Explique toda essa &$%@¨%$$!!
– O-o-olha... – a Cris estava claramente nervosa.
– Esse cara é Lance, meu irmão mais velho. – declarou o Valkyon neutro – E não era para ele estar aqui. – terminou ele se aproximando da Cris e de Lance que, causando ainda mais espanto em todos nós, não se demorou em colocar-se como “escudo” diante da Cris.
– Miau! Agora eu entendi onde foram pararrrr as minhas peças desaparecidas!
– Nem vem purreka dos infernos! Eu não deixei mais de 200 moedas pra trás sem motivo!
– Ah! Então era um pagamento?! Miau! Nesse caso... não tenho mais reclamações. – declarou a Purriry montada em Absol, com Toby lhes seguindo do lado.
– Será que... podemos todos nos acalmar... E você se explicar Lance? – pedi.
– Ainda não ficou claro, não é? Eu vou junto com vocês. Acham mesmo que vou confiar a segurança dela a vocês? Principalmente depois de toda a incompetência que eu assisti?! Mas nem por cima do meu cadáver!
– Do que é que este cara está falando... – nos cobrava o Christiano nervoso.
– Porque não colocamos logo o pé na estrada? – sugeria o Lance já guiando a Cris até um dos shau'kobows – No caminho eu lhes conto tudo. – a Cris acabou o encarando assustada – Prefere você falar tudo?!
Definitivamente a Cris não tinha condições de fazer aquilo. E acabamos subindo todos nos mascotes para começarmos logo com essa viagem. Já que o Lance montou junto da Cris, restou a mim dividir o shau'kobow com o Christiano. E quando Lance começou a nos contar... Meu bondoso deus, não foi fácil manter o Christiano frio! Lance foi totalmente indecoroso com a Cris. E pelo Oráculo! Como ela conseguiu aguentar tanto?!
Apesar de estarmos caminhando em fila por conta do caminho estreito, sendo Valkyon e Erika na dianteira, Lance e Cris no meio (com Absol levando Purriry um pouco a frente deles) e Christiano e eu no fim; pude notar que a Cris se encolhia cada vez mais de acordo Lance nos revelava todo o convívio deles. Sem falar... que tive a impressão... de sentir algo... próximo do Lance? (E eu acho que já terei aprendido todos os tipos de insultos existentes da Terra antes de alcançarmos o mar...).Erika
Lance fez com que todos nós ficássemos com os nervos a flor da pele apenas com a sua aparição, e quando ele começou a nos contar as coisas... Espero que a Huang Hua esteja lidando bem com o Christiano! Diante de tudo o que o Lance nos contava, eu acho... que se estivesse no lugar da Cris... é bem possível que eu tivesse feito o mesmo que ela (mas não sei se desenvolveria a mesma intimidade). Ainda estávamos no meio do caminho quando comecei a ouvir.
– Se esse desgraçado se atrever a magoar minha menina outra vez... – (de quem que é essa voz??) – Juro que não vai ser em uma perna em que eu irei fincar minhas garras novamente! – (ga-ga-garras?!?) acabei me virando para o lado de Absol, que estava bem próximo de mim e do Valkyon – Ah, ele não perde por esperar! – acabei sacudindo a cabeça, e quando voltei a encarar o black-dog só o ouvia rosnando outra vez.
– Algum problema querida?
– N-n-não! Quero dizer. Toda essa... historia! Bem... – (a última vez que algo assim aconteceu, foi com a Floppy. Quando o Valkyon partiu com o Lance em Memória).
– Eu entendo. – ele me beijava a cabeça – Ao menos a Cris sempre esteve do nosso lado.
– Nevra, Ezarel e Leiftan pegaram pesado com aquela poção, mas nos trouxe benefícios enormes então... Acho que dá pra ignorá-los por um tempo.
– Não posso negar os motivos deles para não terem nos incluído no grupo que eles contaram tudo isso, mas ainda me sinto chateado...
– Você já sabia ou desconfiava? Notei que você esteve mais disperso nesses últimos dias.
– Acabei os flagrando uma noite, ou quase. – lhe prestei mais atenção – Foi no dia que encontramos o Wasi, de madrugada. Senti meu irmão e fui atrás. Os dois estavam juntos, conversando e Lance me ignorando. Quando comecei a cansar de só observar, o Lance acabou comentando algo sobre um acordo e desisti de me meter. Eles ficaram treinando o arco e eu só fui embora depois deles partirem com a ajuda do Absol. – olhei para Absol de soslaio que continuava “resmungando” – Procurei pelo Nevra depois já que Lance havia comentado sobre “um sanguessuga da Sombra”, e ele acabou me confirmando algumas coisas.
– Mas não lhe disse tudo, não é mesmo.
– Exatamente.
Nos dois soltamos um longo suspiro.
– Lance!
– Que quer anjinha?
– O que você planeja vindo com a gente? – tive que perguntar. E ele fez uma expressão de escárnio.
– Mas vocês são bem lentos, heim. Não vou me afastar um só centímetro de perto da Cris! Eu não estou nem aí com o que acontecer com qualquer um de vocês! E nem adianta quererem me dar ordens, porque a única pessoa que irei ouvir é a Cris! – _boquiaberta_.
– Mas que coisa, heim doida... Com tanto homem, em dois mundos! Você tinha que se envolver justo com esse... esse... esse troço aí!
– Ô! Eu não planejei nada disso não! – declarou a Cris indignada, se anunciando pela primeira vez depois de tudo aquilo – Eeeeu, sinto muito... por tudo isso... – ela voltava a se encolher.
– Não se preocupe Cris... – era a Huang – Você só fez aquilo que achou ser o certo! E isso acabou salvando e protegendo muitas vidas.
– Só que acabou indo um pouquinho longe demais! – reclamou o Christiano, e Lance não gostou muito.
(Essa viagem vai ser looonga!).Cris
Estou perdida. Não tenho ideia do que pensar, fazer ou dizer com isso tudo. E o pior é que o Lance realmente contou TUDO sobre o que passamos lado a lado. Suas ameaças... promessas... condições... meu Deus do céu! E quando ele declarou que só obedeceria a mim? Aaaaaaaaaai... PARA DE ME COMPLICAR CRIATURA!! Eu quero sossego... _choramingando_.
– Tudo bem com você? – me sussurrava o Lance.
– O que você acha? – perguntei meio nervosa. Ele riu.
– Farei o possível para te compensar, você vai ver.
– É bom mesmo! Porque do contrário vou acabar tendo um infarto!
– Fique calma princesa... – ele me abraçava – Juro pelo o que você quiser que só quero o seu bem.
– Meu irmão deve estar te odiando agora.
– Ficaria surpreso se ele não estivesse! Mas acho que consigo fazê-lo acreditar que eu realmente não me atreveria a machucá-la outra vez. – e ele me envolvia outra vez _longo suspiro_...
– Ô Cris!
– Sim, Erika... – (não estou me sentindo animada...).
– Eu... estava meio que pensando... – eu só a escutava e Lance levava uma de suas mãos até o meu ombro – Acho que... depois dessa historia toda, a gen... – não escutei mais nada. Lance pressionou o meu ombro com tanta força, que acho que desmaiei.Lance 2
Sei que eu disse que iria aceitar a condição que fosse para poder acompanhar a minha Ladina, mas será que eu aguento? (Não tinha como ser a Branca ao invés de você, Negra?).
“Não, não tinha não. Já te falei que a minha irmã não tem telepatia como eu. E já que uma de nós precisa acompanhar vocês durante sua estadia na Terra... Eu sou a melhor escolha!” – _revira olhos_ – “Olha que ainda posso pedir pro Absol te levar de volta!” – (MAS NEM MORTO!) – “Então pare de reclamar, Gelinho.” – esse apelido... (será que poderia, pelo menos, não ficar me chamando de “Gelinho”?) – “É só aceitar as coisas como devem ser!... Assim como prometeu.”
Eu realmente iria ter uma prova de paciência com aquela coisa. Não dava pra ignorar o olhar assassino que o Christiano me lançava pelas costas, e ainda não entendo como é que eu só consigo sentir a presença clara dele se estivermos próximos. Será que tem a ver com o amuleto que ele recebeu dos tais Guardiões da Passagem? Eu realmente quero ter uma conversa com esses caras.
Não estava gostando muito do silêncio que a Cris fazia mesmo depois de eu ter terminado de contar toda a nossa historia, desde o dia que lhe invadi o quarto, até a chegada do Christiano. Tentei falar um pouco com ela, distrai-la, mas isso não ia ser muito fácil...
“Depressa, põe a Cris pra dormir!” – (e pra quê isso?) – “OBEDEÇA!”
– Ô Cris! – a chamava a anjinha de meu irmão. E a Cris estava mesmo desanimada... – Eu... estava meio que pensando... – pensando em quê?
“Tá esperando o quê?!”
– Acho que... depois dessa historia toda, a gente dev... – terminava de pressionar o ponto do ombro da Cris (ela ia dizer algo que não devia, não é? Pelos menos ainda) a Negra só me assentiu.
– MAS O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO COM A MINHA IRMÃ?!? – berrou o Christiano quase fazendo a passarinha perder o controle do mascote.
– Apenas quero que ela descanse um pouco. Sua irmã é bem nervosa, sabia?
– Tem alguma coisa a ver com a presença que sinto ao seu lado, Lance? – me perguntava a passarinha e fazendo todos encarar hora ela, hora eu.
Olhei para a Negra de soslaio e ela só me fez um sinal de silêncio – Não sei do que está falando passarinha. – respondi sorrindo. – E por curiosidade... o quê, você pretendia dizer, senhorita Erika.
Ela não respondeu de imediato – Quem está te ajudando Lance? Quem é essa... vidente que tanto o apoia?
– Descubra sozinha ou espere que ela se apresente! – falei dando de ombros. Tanto Absol quanto Christiano me rosnavam e a Negra segurava o riso (você se diverte com tudo, não é mesmo?).
“Mas é claro! Quem não aproveita, não vive.”
Prosseguimos com a viagem meio que em silêncio. A passarinha esfriava a cabeça do Christiano e o Valkyon, hora sim, hora não, me vigiava cuidando da Cris inconsciente. Ao menos a Negra se manteve quieta. Chegamos na vila em que pegaríamos o barco e embarcamos. Não deixei ninguém estranho ou homem se aproximar da minha Ladina. E não baixei a guarda em segundo algum. Já faziam algumas horas que estávamos em alto mar quando ela acordou.Cris 2
Acordei sentindo um balanço. Balanço esse que se não parasse logo não, me faria vomitar. Abri os olhos e me sentei devagar (parece que já estamos no barco...). Olhei em minha volta e, assim que vi a janela, me apresei até ela. Respirei um pouco daquele ar fresco e me foquei o máximo possível no horizonte distante, até me sentir normal outra vez.
– Tudo bem se eu entrar? – perguntava o Lance, batendo na porta.
– Porque é que você fez aquilo?
– Ao que se refere?
– O meu ombro. – ainda o sentia dolorido – Porque me pões pra dormir?
– Hum... Não sei bem o que posso te responder, mas você bem que precisava descansar. Quer subir? Mostrar aos outros que está bem?
Deixei um suspiro escapar – Como está o humor de todo mundo? – perguntei o acompanhando para fora.
– Tirando a “preocupação” do seu irmão para com a minha pessoa, até que está tudo bem calmo. Está com fome? Ou sede?
Quase dá pra desconfiar desse dragão... – Por hora eu estou bem. Deixe eu terminar de parar de sentir enjoo, que eu procuro comida depois.
– Mas agua você já pode beber! – ele me estendia um cantil – Com certeza vai te ajudar a se recuperar mais depressa. – virei alguns goles (ô minha Nossa Senhora...).
– Obrigada. – falei devolvendo o cantil – Mas aonde está todo mundo?
– Não posso te dizer com certeza. Fiquei lhe fazendo vigia o tempo todo enquanto dormia.
– Ficou cuidando de mim até agora?! – (assim você fica fofo!).
– Mas é claro! Só deixei os que estavam com a gente mexer com você. E ainda ficando de olho!
Um riso me escapou – Dragãozinho ciumento você. – falei lhe acariciando o rosto. E ele corou _sorriso largo_ – Vamos lá ver o pessoal, vai.
Seguimos até a ponte, de onde pude ver o Valkyon e o Christiano juntos na proa. Fui até eles (com Lance me seguindo _revira olhos_).
– E olha quem resolveu acordar... – era o Christiano – Seu “cão de guarda” ainda não largou do seu pé?
– Lance causou algum problema?
– Não. – era o Valkyon quem me respondia – Ele não causou problemas, mas também não deixou ninguém se aproximar de você. Com exceção da Erika e da Huang Hua. – ele e meu irmão bebiam alguma coisa.
– Isso que vocês estão tomando... – se metia o Lance – É o que eu penso que é? – os dois acabaram sorrindo com malícia.
– Quem sabe... – respondeu o meu irmão tomando um longo gole – Isso aqui até que é muito bom sabia?
– Ah, qual é Valkyon! Sabe a quanto tempo que eu nem cheiro uma dessas e você a traz consigo e não me fornece nem um gole?! Depois eu que sou o ruim!... – Lance parecia indignado.
– Bom... – novamente era o meu irmão – Mediante de tudo o que você fez com a Cris... Até que você merece passar vontade!
– Eu posso dar um soco nele? – me pedia o Lance.
– Você não vai encostar em nem mesmo um fio de cabelo do Christiano! Fui clara?! – Lance apenas fechou o cenho com meu irmão e meu chefe rindo de leve – E o que é que vocês tanto bebem pra ficarem com essa besteira toda? – me voltei para aqueles dois.
– É apenas cerveja. – respondia o Valkyon – Mais precisamente a favorita de seu guardião. – (mas só podia ser...) – Trouxe um pouco comigo como presente pro seus parentes. Essa aqui... – ele balançava o cantil que tinha em mãos – Trouxe para o nosso percurso em mar. Até chegarmos em terra firme outra vez, estaremos como se nunca tivéssemos bebido nada.
– Tá, tá, ok, já entendi. Mas onde estão as meninas? E o Absol?
– O seu cachorro gigante está junto dos mascotes e da Toby, já aquelas três estão descansando. Isso enquanto eu e o seu chefe trocávamos algumas historias. Quer um pouquinho? – ele me oferecia o cantil.
– Nem morta! Sabe que eu detesto álcool!
– É. Eu sei. Valkyon estava me contando o que aquele... elfo? – Valkyon assentia pra ele – Lhe fez. Queria ter gravado...
(Acho que acabei de me transformar em um tomate!) – Nem em sonho repita uma coisa dessas! – me desesperei – Eu não lembro o que aconteceu e pelo pouco que me contaram... Não quero nem pensar!
Os três riam. Acabei me afastando e Lance me seguiu logo depois de roubar um gole de bebida deles. Chegamos em terra quase 24hs depois. De lá, guiados por uma pedra ganha pelos “guardiões” que meu irmão tinha, alcançamos um lugar onde a névoa era tão densa, que duvido que uma faca não consiga cortá-la.
– Estava os esperando.
.。.:*♡ Cap.98 ♡*:.。.
Cris
– Estava os esperando. – saltei de susto por conta do ser que resolveu aparecer logo atrás de mim – Mas não aguardava tantos viajantes. – ele encarava cada um de nós – E nem de tais raças.
– Isso meio que aconteceu... – falava o Christiano com ele – Como você e aquela guerreira me haviam dito, minha irmã é realmente importante para este mundo aqui. Esse pessoal que nos acompanha só quer ter a certeza que ela vai conseguir voltar!
O Curupira, alto, coberto de contas e penas, carregando uma espécie de cajado ornado e lembrando algum tipo de pajé, começou a encarar algo no meio de nós por alguns minutos. Pra começar a querer se aproximar de mim em seguida.
– O que pensa que vai fazer? – Lance se colocava no meio.
– Acalme-se dragão. Não sou tolo de ferir alguém como ela. – Lance, meio desnorteado, acabou permitindo a aproximação dele, e ele, ficou me olhando tão profundamente nos olhos que acabei começando a suar frio (dá pra afastar só um pouquinho??) – Seu poder é mesmo grande... – ele começava a se afastar (finalmente!) – O maior poder que já pude ver em tantos ciclos. Mãe Natu’erza lhe abençoou muito. – (heim?).
– Desculpe, err... – Erika chamava a atenção – Como... que você se chama mesmo? E... será que poderíamos prosseguir logo com essa viagem?
– Sou Kurui’pira. Um dos filhos de Natu’erza escolhidos para guardar a Passagem. Amigo íntimo de Lilith. – terminou ele com um olhar de repreensão para Huang Hua e Purriry.
– Miau! Não tente nos culparrrr! A culpa é toda daquele miserável do irrrmão dela! Dogon.
– Os faerys não se preocuparam em diferenciar aengels de daemons. E isso sem mencionar os dragões. A gota d'água.
– Como... assim, a gota d'água? – perguntei.
– Kaa’pora e eu concordamos que não daríamos acesso à Passagem para qualquer faery depois da covardia com nossos amigos. E depois da decisão de sacrificar todos os dragões sobreviventes... selamos a Passagem para todos os de Eldarya depois de ajudarmos vários a fugir.
(xiiii... o bicho é rancoroso...) Estávamos todos um pouco sem jeito (menos o Lance que pareceu gostar do cara) e foi a Huang quem interviu.
– Senhor Kurui’pira, compreendo que o quê a Fênix da época, Yuè Qiú, sugeriu foi algo totalmente contrário a todas a crenças dos fenghuangs. Principalmente depois de ter se estendido para todas as demais raças faerys. Graças às mentiras de Dogon, muitos inocentes sofreram uma grande injustiça, e a verdade sobre estes fatos ficou oculta por muito tempo. Hoje, todos tentam de alguma forma compensar todo o mal que causamos e que só nos prejudicou ainda mais. Não ocultando mais nada sobre a realidade do que foi o Sacrifício Azul. Justamente para não cometermos os mesmos erros imperdoáveis outra vez.
Eu não sei dizer bem qual que estava sendo a reação do... Kurui’pira(?) para com as palavras de Huang Hua, e aquela espera por uma resposta dele estava começando a me incomodar.
– Ô amigo! – era o meu irmão – Ficar guardando mágoa não vai ajudar ninguém e eu quero voltar logo pra casa. Com exceção da morena e da gata, e de você, óbvio, todos aqui são dragões e aengels. Não dá pra abrir uma exceção, só para terminarmos essa viagem? Sei lá! Faz que nem aquela sua irmã! Cobra um pagamento deles!
– E o quê vocês estariam dispostos a me fornecer como pagamento? – perguntava ele com indiferença.
– Um momento! – pediu Huang indo até as coisas dela, retirando um pequeno pote – O que acha disso? – entregava ela o pote para o indígena.
– O mais poderoso dos remédios fenghuangs? – (ooooi??) – Eu aceito. Permitirei que todos sigam. – acho que ficamos todos aliviados... – No entanto... – (qual é?...) – Se o que a fenghuang diz é verdade... um novo pagamento será cobrado para retornarem.
– E que pagamento seria esse. – perguntava o Valkyon.
– Terão de descobrir com Kaa’pora. Ela é quem os trará de volta. – meu irmão deixou um riso escapar (acho que ele já sabe o que oferecer) – Agora deixem os mascotes e tragam só seus pertences. Os acompanharei até a Terra.
E assim fizemos. Me despedi de Absol (que levaria todos os mascotes para Eel) e meu irmão de sua Toby, prometendo à ela que continuaria visitando Eel por minha causa e dela. Chegando na entrada da caverna, o Kurui’pira nos explicou o que devíamos fazer para evitar nos perdermos. Tínhamos que ficar com nossos pensamentos focados na Terra. Seguir apenas em frente, sem se desviar por momento algum e nem olhar para trás. Ele também disse que pensar em algo ou alguém que estaria nos aguardando do outro lado, também ajudava a atravessar com garantia e segurança (ainda bem que tenho Anya, provavelmente querendo me matar a essa hora _riso_, me aguardando em Eel).
Quando finalmente terminamos de atravessar aquelas cavernas, voltando a encarar outro denso nevoeiro, aquele ser me segurou o pulso – Você ainda não pode correr pela Terra.
– É o quê?! – falei meio que assustada.
– Qual é o problema dessa vez. – Lance e Christiano acabaram falando juntos e desconfiando igualmente do Kurui’pira.
– Como eu disse antes, o poder dela é grande demais. E ela não o controla ainda.
– E... o que nos sugere? – perguntava a Erika.
– Uma parte desse poder fica aqui! E vocês, depois que deixarem os reinos de Natu’erza, estarão proibidos de usarem maana. A Maana é forte onde Mãe Natu’erza reina, mas só há o bastante para garantir a vida onde ela é fraca. Se invocarem a maana de onde estiverem para usar os seus dons, colocarão em risco a saúde dos que estiverem próximos. Alguns humanos até conseguem criar sua própria maana, como ela. Mas são poucos. E desses, quase todos faelianos.
– E como exatamente você vai... tirar o meu poder? Eu... vou poder recuperá-lo depois?
– Vem. – me pedia ele já me guiando até algumas raízes que envolviam aquela entrada.
Lance e Christiano ainda não pareciam confiar muito nele, e eles só não se aproximaram porque eu fiz sinal para pararem. O Kurui’pira começou a citar alguma coisa em uma língua provavelmente indígena e, segurando o Cristal de meu pescoço, ele começou a tirá-lo de mim com uma espécie de projeção energética azulada-esbranquiçada de mim mesma me deixando o corpo. Nem vou tentar explicar o quão nervosa fiquei diante disso! O Kurui’pira guiou a minha versão fantasma, usando meu Cristal e assumindo posição fetal, para ainda mais próximo daquelas raízes que, começaram a se mover e a envolver a minha outra eu, formando uma espécie de casulo ao redor dela. Me senti fraca. Muito fraca. Ele acabou me ajudando a conseguir andar até os outros.
– O que fez com ela?! – Lance já me pegava no colo – Isso tem como ser desfeito, né? Não vai prejudicá-la!
– Ou será que vai? – terminava o meu irmão de questionar.
– Separei do corpo dela a maior parte de seu poder. Agora ela está fraca, mas logo reaverá seu equilíbrio. Quando ela vier novamente, lhe devolverei os seus dons. Pois ela precisará deles. Se ela já os controlasse, não precisaria os tirar dela. – (mas que “maravilha”...).Lance
Até aqui, venho cumprindo minhas promessas. Estou fazendo o possível para controlar a minha vontade de bater naquele Christiano que não para de me provocar (provavelmente para fazer a Cris me mandar embora) ainda mais depois da sacanagem que ele e meu irmão me fizeram juntos (mas é ruim que eu não ia ter um gole daquele néctar!). Não deixei de ficar do lado dela de jeito nenhum, e de modo a respeitar a privacidade dela (já estou com problemas de confiança então vou evitar juntar mais) e a Negra está me mantendo informado sobre os outros para eu não precisar me afastar dela.
A viagem até que seguiu tranquila, apesar de tudo. E todos nós fingíamos ser outras pessoas (é impressionante o que uma mulher consegue fazer com uma escova de cabelo e um pouco de maquiagem). Ninguém desconfiou sequer da passarinha, que sempre chamou a atenção por onde passava. É quase estranho ver ela sendo tratada como uma mulher comum.
Chegando finalmente ao tal lugar, onde tinha mais névoa que ar para respirar, não fui muito com a cara daquele ser esquisito de pés invertidos que obviamente teve uma boa “conversa” com a Negra. Acabei sentindo um pouco de amizade com a criatura depois que ele se apresentou como amigo dos aengels e dragões. Mas acabei mudando de ideia novamente depois de ver o estado em que ele deixou a minha Ladina, após separá-la de sua... segunda alma, vamos assim dizer.
– Bem que eu lhe falei que seu controle sobre seus dons lhe seria cobrado... – comentava para ela, que eu carregava sobre as minhas costas.
– Por favor, não começa! Já não estou confortável com essa situação! Você me carregando e meu irmão carregando as minhas coisas. Assim eu me sinto um peso.
– Peso que eu carrego com o maior prazer. – disse sorrindo.
– Já esqueceu o aviso do Kurui’pira? Ninguém aqui pode ficar invocando maana. O que significa que você não pode abusar.
– Não posso se estivermos fora do mato! Enquanto estivermos onde a natureza domina, posso utilizar de minha força dragônica se eu quiser.
– Mas ainda assim é melhor evitar!
“Mas ainda assim é melhor evitar!”
Elas realmente disseram o mesmo juntas? (e você Negra, vai aprontar alguma coisa durante essa viagem?) – “Só se for necessário!... Não esquenta! Você quase não vai me perceber nessa viagem! Sua preocupação devia ser a família dela, isso sim.” – (nem brinca. Se com o irmão dela já estou tendo problemas, nem sei o que esperar do resto da família dela. Como Oráculo, você acha que eu tenho alguma chance?) – “Olha, eu não sei muito o que posso lhe dizer não, mas aconselho a manter essa historia de “faery” em segredo por hora. Ou as chances da Cris poder retornar pra Eldarya vai se tornar quase zero. E eu não acho que você esteja preparado para viver na Terra.”
Gastamos seis dias para chegar no tal hotel, onde tinha um monte de gente esquisita fazendo mil perguntas para Cris e para nós. Minha Ladina e a anjinha, apoiadas pela passarinha, conseguiram fazer com que aquele pessoal curioso nos deixasse em paz.
Eu realmente estou impressionado com o avanço tecnológico da Terra. As tv’s, celulares, veículos, tudo! Realmente não estou preparado para encarar a Terra. Não sem ajuda! Descansamos um dia naquele hotel, onde o líder do lugar teve uma conversa particular com cada um de nós explicando o básico que cada um de nós definitivamente precisava saber. A Cris foi atualizada sobre as mudanças na Terra em sua ausência ao mesmo tempo em que aproveitava aquela tal de... internet. Erika ficou fazendo algumas pesquisas usando esse mesmo mecanismo, e a purreka que veio conosco foi proibida de falar ou agir de forma que não a deixasse parecer uma gata terráquea comum (e o que será que o Christiano quis dizer com: “a mãe não vai gostar nada disso...”?).Cris 2
Ficar sendo carregada nas costas do Lance por quase um dia inteiro, de fato não estava em nossos planos, mas fiquei de consciência aliviada por poder devolver as coisas que pertenciam ao hotel. Aqueles investigadores e jornalistas eram mesmo uns malas! Ainda bem que recebi uma mãozinha da Erika e da diplomacia da Huang Hua para nos livrarmos daqueles chatos. Não vejo a hora de poder chegar em casa!
Sobre o que me aconteceu, eu apenas disse a verdade (ou quase. Não estou afim de ser internada como louca). Só o chefe é que ficou sabendo a verdade verdadeira. E GRAÇAS AOS CÉUS ele nos apoiava. Ele ainda conversou com cada um de nós para nos conhecer e nos aconselhar (acho que ele e a Huang acabaram se dando muito bem).
Me atualizei sobre tudo o que podia e finalmente arrumei o calendário do meu not e do meu celular. Trouxemos conosco caixas especiais que cabiam muito mais do quê pareciam, tipo, umas 10x mais do que sua aparente capacidade. Mais várias poções de encolhimento para que pudéssemos carregar ainda mais coisa! O objetivo disso era trazer o máximo de mantimentos possível para Eldarya (eu podia estar restaurando/completando a capacidade agrícola de Eldarya, mas não tão rápido quanto o que é necessário). E Ezarel me deu uma caixa só pra mim para que eu pudesse levar quantas coisas minhas eu quisesse para Eel (essa minha caixa vai pesar...).
O chefe nos prometeu todo o apoio e auxílio que precisássemos depois que eu me resolvesse em São Paulo. E ainda nos disse que iria se sentir honrado se seu hotel pudesse ser sempre usado como “ponte” nas transações entre a Terra e Eldarya. Principalmente depois de ele saber que era o “Curupira” e a “Caipora” os guardiões dessa Passagem. (O Curupira já foi até declarado o guardião oficial de uma cidade em São Paulo, e sendo o chefe um indígena legítimo, acho que auxiliar um dos maiores nomes de nosso folclore/mitologia, é sim uma grande honra...).
Seguimos pra São Paulo de avião. Geralmente não sou fã desse tipo de viagem, mas estava tão ansiosa em reaver os meus pais, tios, e quem mais que quisesse me ver, que ignorei totalmente meu receio de altura (mas não foi o bastante para evitar que Lance e Christiano continuassem se atritando). Christiano sempre dava um jeito de ficar empacando o Lance perto de mim (e até que ele está mais comportado!). Erika não parava de explicar tudo o que podia para Valkyon e Huang Hua durante o voo, enquanto meu irmão fazia quase o mesmo com o Lance. Purriry foi quem detestou a viagem, afinal... “animais” viajam com a bagagem! _risos_.
Pousamos no finalzinho da madrugada de domingo, e o humor da Purriry não estava nos auxiliando muito (eu tentei convencê-la a ficar em Eldarya quando ainda estávamos em Eel, mas ela não quis me ouvir!...), pegamos dois táxis pra casa. Acho que ia dar umas sete e meia quando finalmente chegamos. Minhas mãos tremiam em poder usar as minhas chaves para destrancar aquele portão mais uma vez. Deixei o Christiano ajudando a desembarcar nossas coisas enquanto abria na frente, e eu mal havia entrado quando um par de braços me envolveu com força (aaaai... não tem como eu não ser manteiga derretida agora...).
– Mãe... – meus olhos embaçavam com as lágrimas – Ô mãezinha...
– Ainda não acredito que você está finalmente de volta. – ela ainda me abraçava – Criatura! Sem noção! E sem coração! – ela me batia no braço (oh! Isso dói!) – Sua cavala velha, como é que você se atreve a nos dar um susto desse!
– Isso doeu, sabia? – esfregava o meu braço.
– E é pra doer mesmo! Mas era pra ser só em você. – (Hehehe, quem mandou ser violenta?!) – Mas agora deixa eu te ver. Minha filha! Mas como você ficou mais bonita! – acho que comecei a corar – Pegou um pouco de cor e ainda sumiu com aquela barriga de grávida!
– Mãe!! – (ai meu Senhor Jesus...).
– E que sapato é esse? Não tinha como você usar compensação no fim de mundo em que você estava? Já esqueceu do seu problema na perna?
– Ham... quanto a isso... Digamos que a medicina de onde eu estava é bem avançada em alguns pontos.
– Do que está falando?
– Não sou mais deficiente!
– QuÊ?!
– Não vai nos apresentar não? – me pedia o Lance com o Christiano já trancando o portão e todo mundo e nossas coisas já pra dentro. Minha mãe nem percebeu aquele povo entrando junto.
– Bom gente, essa é a minha mãe. Mãe, gostaria que conhecesse alguns amigos que fiz onde eu estava. Erika; Huang Hua; Valkyon, namorado da Erika; e Lance, irmão mais velho de Valkyon.
– E namorado dessa doida que trouxe de volta! – declarou o Christiano me fazendo me sentir como se eu estivesse cozinhando de calor.
– Não acredito!... Você finalmente achou o sujeito!!
– MÃÃÃEEE!!!! – (ai meu Jesus amado...).
– Vamos logo pra dentro mãe, – falava o meu irmão entre risos – que eu estou morrendo de fome.
– Claro, vamos, MAS ESPERE AÍ! Que BICHO é esse que vocês trouxeram consigo?! – tava demorando...
– Bem, Purriry... É a guardiã de Huang Hua. – (foi a mentira que combinamos!) – No lugar de onde saímos, a Huang é alguém muito importante, e a Purriry foi treinada para garantir que nada que fosse oferecida a ela estivesse envenenado. E ela foi tão bem treinada em relação ao seu comportamento que ela até pode ser confundida com um humano!...
– Um gato ainda é um gato! E você e o seu irmão sabem o que eu penso de gatos! Não quero essa porcaria soltando pelos dentro de casa! – Purriry que estava sendo segurada pela Huang quis reagir, mas a Huang foi mais rápida.
– Senhora, compreendo que os gatos aos quais a senhora está acostumada não sejam... Hãm... Civilizados. Mas meus guardiões só me permitiram vir até aqui na condição de que minha Purriry continuaria me protegendo.
– Se você é tão importante como diz, porque veio?
– Porque precisamos que sua filha nos acompanhe de volta. – minha mãe ficou em choque – Ela é a única que tem conseguido nos salvar.
– Do que ela está falando Cristinne? Que historia é essa?
– Vamos logo pra dentro mãe. Assim conversamos melhor.
– Tudo bem, mas eu não quero ver um só pêlo voando dentro de casa!!
(isso vai levar um tempo...).Erika
Agora ficou claro porque que a Cris tentou tanto fazer a Purriry desistir de “conhecer a moda da Terra”. Mesmo com a chance dela saber quais de suas roupas ela poderia levar tranquila para Eel. A mãe dela não gosta mesmo de gatos... É pior que a minha! E que historia era aquela de sujeito?... _curiosa_.
Entramos (com Purriry ficando do lado de fora, indignada) e tinha sobre a mesa nos aguardando leite, café, suco, pães, pães de queijo, frios, frutas, queijo, doces... uma mesa farta e bem mineira ao que notei.
– Muito bem. – era a mãe dela – Eu sou a Helena. Como exatamente a Cristinne está... salvando, vocês.
– Bom, senhora Helena, – começava a Huang Hua – nós somos descendentes de várias pessoas que sofreram muito com perseguições e preconceitos sem fundamento. – (não foi fácil desenvolver a historia que contaríamos) – Que a muito tempo, construiu um lar isolado do resto da Terra. Nossa tecnologia não avançou tanto quanto o restante do mundo, ao ponto que podemos ser considerados... medievais, de acordo com a Cris e a Erika.
– Mas a Erika não está com vocês?
– Eu acabei parando em Eel, a cidade que eles desenvolveram, uns três anos atrás, de forma um pouco parecida que a Cris.
– Que por sinal ainda não me foi explicado!... – cobrava a Helena – Mas continuem.
– Certo. – retomava Huang – A área que nós habitamos é de fato bem escondida, mas pouco frutífera. Nossos ancestrais até que conseguiram se manterem mais ou menos por um longo tempo, mas...
– Mas o quê?
– Uma doença da qual não tínhamos nenhuma cura resolveu nos assolar um pouco antes de Erika aparecer. – intercedeu o Valkyon – E com ela, muitos problemas surgiram. Conseguimos lidar com alguns deles graças à ajuda da Erika, mas não havíamos conseguido encontrar nenhuma solução definitiva.
– Isso até minha irmã aparecer, não é mesmo. – falava o Christiano enquanto comia – Cheguei a ver como que a Cristinne faz para ajudá-los mãe. Eu não tenho a coragem dela!
– Mas o que é que você faz de tão extraordinário Cristinne?
– Eu... não sei lhe explicar mãe. Alguns dos curandeiros até que tentaram imitar o que eu fazia, que eu nem sei bem como que faço direito, mas não funcionava. Querendo ou não, tem que ser eu, a ajudá-los. Eu estava praticamente sozinha quando ajudei o primeiro doente! Já consegui ajudar a maioria, mas ainda tenho que terminar o que comecei, já que ninguém mais pode fazê-lo. E eu meio que gosto de viver em Eel... apesar de não ter sinal de nada lá. – a Cris realmente sentiu falta da internet...
– E acaso o rapaz do seu lado tem a ver com o seu gostar dessa tal de Eel?... – perguntava ela com malícia.
– Mãe!! Pelo amor de Deus!!! – a Cris estava vermelha e todos nós acabamos rindo um pouco.
– Mas me diz... Lance, não é? – a Helena o questionava – O que você realmente quer com a minha filha?Lance 2
Depois de lidar com o meu possível futuro cunhado (que já me odeia), era vez de tentar lidar com a minha possível futura sogra. E não é à toa que minha Ladina parecia muito mais nova do que realmente era. Só de olhar, nunca que eu diria que a Helena já era mãe de uma moça com mais de trinta anos! Ela parecia estar na casa dos 35 ao invés de já ter passado dos 50! (e considerando a sua presença - ou falta dela -, ela descende dos aengels).
Fiquei impressionado com o sabor da comida preparada por ela (aquele bode velho bem que podia aprender umas coisinhas com ela!), e tentei ficar na minha enquanto a passarinha falava sobre a “nossa cidade” para ela com a ajuda dos outros. Mas quando ela resolveu saber sobre mim e a Ladina...
– Não, melhor ainda. O quê, o fez gostar de minha filha? – senti que ficava nervoso.
“É melhor não mentir pra ela!” – me falava Negra como se não ligasse para o quê fosse acontecer – “A intuição dela só não é melhor porque ela não tem acesso aos seus dons aengels.” – (“obrigado” por avisar...) – “Não há de queÊe...”
– Bom,... – (droga! Prefiro enfrentar uma guerra!) – Senhora Helena...
– Ah, por favor! Me chamem só de Helena. Senhora, é para os meus filhos. – (mas que mãe, hein!) a Negra deixou um riso escapar.
– Certo. Ehh, Helena. Quando... quando eu conheci a sua filha, eu... Não posso dizer que tinha as melhores intenções para com ela.
– Ficaria surpreso se tivesse tido. – resmungou o Christiano.
– Como assim?
– Digamos que...
– Quando a Cris chegou, – Valkyon completava a Erika – meu irmão não era um dos melhores exemplos de pessoa.
– E parece que a Cris foi a única que conseguiu mudar isso. – retomava a anjinha. Helena começou a me encarar.
– Não vou negar. Eu de fato podia ser considerado uma praga. E eu não fui lá um “amigo”, quando comecei a... a conviver com a sua filha.
– Sério isso Cristinne?
– Acho... que não era errado dizer que nós dois meio que nos detestávamos no começo mãe.
– E o que mudou? – havia um pouco de malícia naquele tom curioso.
– Ela abriu um pouco os meus olhos. – confessei – Mas eu também demorei pra aceitar que eu estava gostando dela. Não tinha planos de me envolver com ninguém, ainda mais alguém tão consideravelmente importante como a sua filha.
– Cristinne? Importante? Isso é mesmo verdade?
– Não devia menosprezar tanto a sua filha, senhora Helena. – ela me encarou desconfiada (principalmente porque você provavelmente nem a conhece mais como antes).
Comecei a sentir algumas fracas presenças dragônicas e acho que Valkyon também sentiu, seguido do barulho de um dos aparelhos da cozinha, que o Christiano se apresou em colocar na orelha – Quem é. ... Oi!! Peraí que já tô indo! – terminou ele já saindo assim que colocou o aparelho no lugar – Se prepare Cristinne porque hoje a casa vai ficar pequena! – ele já corria pra fora.
– Mas quem é que chegou Christiano?! – ela se levantava, seguindo pra fora (e as presenças se aproximavam cada vez mais) – Não acredito! – falava ela já lá fora – Sua benção!!Cris 3
Eu já esperava que o meu reencontro com minha mãe podia ter... complicações. Mas a Dona Helena estava tinindo, heim! Não perdia uma chance de me constranger ou diminuir! Isso sem mencionar a minha relação com o Lance... (e o quê que nós dois somos mesmo?? Tenho que ver isso direito com ele e logo!).
Já não estava mais sabendo como encarar aquela conversa quando a campainha tocou. Christiano não só correu para abrir o portão como também me deixou curiosa sobre quem chegava. Quando eu vi quem tinha chegado, quase me belisquei pra ter certeza que estava acordada.
– Vô! – corri pra abraçá-lo junto de dois tios meus – Não acredito que o senhor saiu lá do Ceará, só pra me ver...
– Ô minha filha... quando alguém retorna dos mortos, é difícil não visitar.
– Não começa papai, o senhor era um dos que dizia concordar com a Lena. Que Cristinne estava viva! E vem cá Cristinne! Deixa eu te dar um abraço também.
_riso_ – Benção Tia... – a abraçava – E de quem foi a ideia de dizer que eu estava morta? Não gostei do que o Gabriel me contou não!
– Deus a abençoe. E foi culpa da sua tia Eris! Depois do que ela aprontou no aniversário do seu avô, ela não merecia crédito nunca mais! Mas você sumiu por quase um ano sem deixar qualquer pista! E veja só como você está bonita, menina!...
– Eu só afinei um pouquinho... – falei sem jeito.
– Estamos felizes de vê-la bem. Mas dá pra explicar o que foi que a manteve presa em sei lá onde?
– Benção tio, e a historia é loooooonga...
Apresentei meu avô e meus tios ao pessoal, e começamos a conversar. Quinze minutos depois, mais tios chegaram (com o meu avô aqui, claro que a casa vai ficar pequena, mas o pessoal todo do Ceará veio junto por acaso?!?!?). Todos ficaram meio que impressionados com o pessoal de Eel, especialmente com o Valkyon (quatro por quatro daquele jeito!) e com o Lance (será que podemos mesmo nos considerar namorados?...).
Meus parentes mais distantes não paravam de chegar. E não ficou só no povo do Ceará não! Quando deu lá pra umas dez da manhã, foi a vez da minha avó dar o ar de sua graça! (agora que a casa fica pequena mesmo...) E o pessoal de Minas, também seguiu ela.
Tentei ajudar a minha mãe como podia no preparo do almoço para aquele batalhão que estava se reunindo (e que pelo visto, ela já sabia muito bem de todos eles em São Paulo). Nem nos meus quinze anos eu recebi tanto carinho (e tanta bronca) como recebi nesse dia. Ganhei vários presentes (COMIDA!!) junto de tapas e beliscões (meu braço vai ficar roxo...).
Foi depois que meu pai chegou, acompanhado de alguns tios-avós, que Valkyon ofereceu a tal cerveja que me havia mencionado lá no barco (quando ficou provocando o Lance junto do Gabriel) e todos que bebiam pareceram amar a bebida. Alguns tios (e até o meu pai, dono de bar/lanchonete) quiseram negociar a compra dela! Mas hoje é um dia de festa e por isso negociações teriam de esperar pelo dia seguinte. (acho que a minha família vai acabar ficando responsável pelo contato entre Eldarya e a Terra...).
Minha mãe caprichou na comida. E ela preparou vários dos meus pratos favoritos! Arroz com legumes e açafrão; salada de macarrão de arroz; macarrão com brócolis ao molho branco; escondidinho de salmão e purê de mandioquinha; aquele feijãozinho que só ela sabe preparar; churrasco no capricho com carne, linguiça, frango, queijo e pão de alho (esses foi o meu irmão quem ficou de olho); salada super colorida de alface, tomate, vagem, cenoura, beterraba, batata, chuchu, pepino, ovo de codorna, rúcula(argh!) e acelga; farofa caseira e farofa de cuscuz.
Se Karuto provasse aquelas maravilhas... tenho certeza que ele iria querer as receitas de tudo! Sem mencionar as duas barcas de comida japonesa (aAaAaAaAaAi... meu favorito supremo) que ganhei de minha tia-madrinha e de minha tia Tereza (escondi elas na geladeira, é gente demais pra dividir!). Comi de ficar mole por matar a saudade do tempero de minha mãe.
E ainda teve sobremesa!... Um bolo prestigio enorme que minha tia Marília fez, junto de melão, melancia, abacaxi e manga para quem não queria bolo. Beber, eu só bebi agua e refrigerante. Eles que aproveitem a cerveja, já que eu não estava afim de suco.
O pessoal de Eldarya acabou ficando espalhado. Valkyon e Lance acabaram subindo com parte dos homens para o quartinho da bagunça, onde tinha a mesa de sinuca do meu pai (pedi para que o meu irmão cuidasse deles); Erika e Purriry (sem a minha mãe saber) ficaram na sala com a maioria das crianças; Huang Hua ficou na área, onde várias tias minhas a cercava, e eu continuei na cozinha, ajudando (meu tempo com o Karuto me deixou bem mais esperta!).
Não pude evitar de me preocupar com eles naquela confraternização que durou até a noite (o povo de São Paulo trabalha!). Na hora de deitar, poucos foram os parentes que quiseram passar a noite em casa. Meu avô ficou na rede (como sempre...), cedi a minha cama para a Erika e a Huang Hua, Valkyon e Lance dividiriam o sofá-cama do quartinho, colchões infláveis foram usados na sala e nos quartos meu e de meus pais (eu fiquei no quarto deles e só o colchão da sala era de casal). Todos os sofás e a beliche no quartinho foram usados também. A “segunda” cama de meu irmão ficou ocupada com um primo.
Fui deitar já era mais de meia-noite (e estou dando graças à Deus por não ter acontecido nenhuma confusão como costuma acontecer quando esses irmãos se reúnem). Descansei que foi uma beleza... Mas na hora de acordar... eu não me sentia muito bem... Ainda me forcei um pouco para conseguir chegar na cozinha e aquecer um pouco de leite pra ver se melhorava (não comi nada que pudesse me fazer mal, mesmo tendo exagerado um pouco. Então porque estou assim?). O copo que peguei só não virou mil porque fui amparada a tempo.
– Mas o que pensa que está fazendo??
.。.:*♡ Cap.99 ♡*:.。.
Miiko
Mesmo com as Oráculos Sementes estando de acordo, e tendo a Huang Hua viajando com eles, não pude evitar de sentir um receio com a partida da Cris. Desde o fim da reunião até a partida deles, tudo ocorreu sem grandes problemas ou risco de levantarmos suspeitas. Mas a minha semi-paz não durou muito...
O dia não tinha terminado de amanhecer ainda quando a Anya veio correndo para dentro do QG atrás de mim (quando essa menina terminar de crescer, vai acabar sendo quase tão perigosa quanto o pai nesse ritmo). Ela me apresentou um bilhete que havia encontrado ao lado da cama ao acordar e quando eu o li... suei frio. Era um bilhete do Lance avisando que viajaria pra Terra junto deles!
Levei Anya até um local reservado para lhe explicar tudo antes que ela acabasse dizendo algo que não devia, pois o plano para escondermos o fato de que a Cris não estava mais nem mesmo em Eldarya, era que a Cris teria pego a tal doença que inventamos como desculpa para descobrirmos os espiões, e por isso ela teria que ficar de quarentena no quarto, com visitas restritas.
Também precisei revelar à Anya quem o Christiano era de verdade, e ela me pareceu feliz e triste ao mesmo tempo com as minhas palavras. Era algo próximo do meio-dia quando Nevra retornou para Eel, me confirmando o bilhete deixado pelo “Gelinho” (e ele devia ter ficado para saber como foi que todos reagiram com a decisão do Lance). Tenho certeza que não está sendo nada fácil pra Cris lidar com essa historia...
Quando Absol finalmente retornou quatro dias depois, trazendo a Toby (que passou a segui-lo por tudo que é lado) e os shau'kobows usados para a viagem deles, agora eu podia ter a certeza absoluta que a Lys de Eldarya não estava mais em Eldarya.
_suspiro..._ Que o Oráculo os protejam!Lance
Quando eu soube através de Anya o quão grande era a família da Cris, fiquei surpreso. Mas ver com meus próprios olhos toda aquela gente, onde apenas aqueles com ligação sanguínea direta com o avô dela emanavam a presença dragônica (não podia dizer o mesmo sobre o lado materno dela, mas de acordo com a Negra, o falecido avô materno dela é o que descendia dos aengels), reunida naquela casa, que acabou por ficar apertada, me deixou boquiaberto. E ela não conhecia/lembrava de pelo menos um terço daquele povo todo!? Notei que pelo menos cinco deles, eram capazes de emitirem maana, em quantia bem baixa, e a Helena era uma delas. E como ela cozinha bem! Repeti umas duas vezes (mas fiquei curioso com aquelas tais barcas de sushi(?) que minha Ladina escondeu).
E parece que a malícia é algo de família. Não sei quantas vezes fui questionado de forma íntima sobre o meu relacionamento com a Cris, e quando eu e o Valkyon ficamos reunidos no cômodo de cima junto de quase quatro dúzias de dragões, aengels e humanos? Me encarando, preocupados com o bem da mesma pessoa que eu? (É mil vezes melhor encarar uma guerra sanguinária que a encarar os parentes da minha Ladina...) E o pior é que a Negra se divertia com o meu sufoco! E Valkyon, como sempre, só falava quando questionado (“grande” ajuda...).
Valkyon e eu respondemos o que podíamos, como podíamos, com o Christiano nos apoiando. Fomos questionados sobre Eel, o que fazíamos lá, como vivíamos, como nos relacionávamos com a Cris... E acho que eles não estavam acreditando muito sobre a Cris ser uma boa guerreira (a Cris era tão... quieta, assim?). Já era noite quando o último parente dela (que não ia passar a noite naquela casa) resolveu ir embora. Eu ainda ajudei um pouco na limpeza antes de me deitar (quanto mais pontos eu conseguir obter aqui, melhor) depois de um bom banho. A Helena achou graça quando acabei contando sobre o meu “castigo” em casa (mas claro que não revelei o motivo exato!).
Dormi mais ou menos bem, considerando o barulho dos veículos que passavam próximo e dos roncos das cornetas que ocupavam a beliche. Mas a Negra tinha que me acordar novamente...
“Levanta logo Gelinho preguiçoso!” – (o que é dessa vez, sua chata...) – “Tá bom! Fica aí! Mas se a Cris acabar se machucando, não venha reclamar pra mim!” – (Como é que é?) me sentava assustado – “A Cris não está bem. Culpa do que o Kurui’pira fez. E você sabe como a Cris pode ser teimosa!” – (o que ela tem?) já me arrumava para descer – “Ela está com um pouco de febre agora. Vai melhorar assim que se livrar dela.” – (e porque que ela não adoeceu antes?) eu já descia as escadas – “Por causa da maana. Enquanto ela estava na floresta e depois com a presença daqueles parentes dela que também são capazes de fornecer maana, ela conseguiu se manter de pé!” – mal entro na cozinha e vejo minha Ladina quase deixando um copo cair.
– Mas o que pensa que está fazendo?? – peguei-lhe o copo no último instante.
– Lance? Eu só queria um pouco de leite... – ao tocar a testa dela, percebi que ela queimava.
– Você não devia ter se levantado... – a ajudava a sentar-se (isso vai acontecer de novo? Quando ela receber o poder dela de volta?).
“Vai. Essa febre aí é resultado do choque pela mudança brusca de poder dentro dela.” – (ela não passou mal depois da Lua Púrpura...).
– Eu não estou tão ruim assim Lance... e sei que me alimentar de líquidos vai me ajudar.
“O que ela encarou com a Púrpura e o que aquele guardião fez não tem nada a ver! A Lua só amplificou o poder que ela já tinha! Enquanto o feiticeiro removeu o poder de dentro dela. Quando ela o receber de volta, vai adoecer de novo por conta desse mesmo “choque”.”
A Cris queria insistir em continuar ela mesma com o que pretendia, mas consegui convencê-la a me permitir fazer em seu lugar – O que acontece? – perguntava a mãe dela, entrando na cozinha – O que você tem Cristinne?
– Ela está com um pouco de febre. – respondi e ela foi logo verificando a filha – Não posso dizer bem o motivo, mas acho que deve ter relação com algo que ela precisou fazer para poder voltar pra casa. – encarava minha Ladina, batendo em meus pés, na esperança que ela entendesse ao que eu me referia.
– Do que está falando?
– Não é nada de mais, mãe... É só que... Eu tive que... tomar um negócio, um chá! Que disseram que me faria bem e que era para a minha segurança.
– Ah... não acredito nisso não. Se fosse por causa desse chá aí, você teria passado mal antes! E não agora.
– Talvez... – intercedia – o emocional dela tenha interferido nos efeitos? E por isso só tenha provocado alguma coisa agora? – a Helena pareceu refletir.
– Isso... até que pode ser possível... Ela sempre adoecia nas vésperas de feriado e de seu aniversário quando pequena. Façamos o seguinte, se essa febre não baixar hoje não, a gente vai ao médico! – determinou ela pegando uma espécie de cesta de um dos armários – Aqui, tome. E trate de permanecer deitada!
– Tudo bem mãe. – falou ela já engolindo alguma coisa que imagino ser remédio.
Fiquei junto de minha Ladina até aquela febre resolver abandoná-la. O que acabou acontecendo perto da hora do almoço. O resto do pessoal ficou ajudando a Helena com a limpeza da casa enquanto o avô da Cris passeava.Cris
Mas que porcaria... Se Lance estiver certo sobre a fonte do meu mal-estar, a feitiçaria que o curupira fez comigo, é certeza que vou passar mal novamente quando receber o meu pedaço de volta. Afinal, é uma mudança brusca a que eu tive, mas concordo com a minha mãe, porque só estava passando mal agora? Acho que minha mãe me deu dipirona pra tomar. Lance ficou cuidando de mim, e hora sim, hora não, minha mãe nos conferia. Lance me contou que mais cinco parentes meus também conseguiam emitir maana, mas desde que chegamos na Terra, depois do Curupira fazer aquela feitiçaria comigo, eu não estava emitindo maana nenhuma (será que esse poder ficou naquele casulo de raízes?) e que provavelmente foi a alta presença de maana que atrasou a minha febre (Eldarya está com falta de maana... será que eu sentirei a febre mais depressa quando voltarmos?).
Fiquei foi em meu quarto mesmo, e Purriry aproveitou para conferir minhas roupas sem que minha mãe percebesse. E ao que pude entender... só as minhas roupas de renda estavam conseguindo obter a aprovação daquela “gata”, para poder as estar usando em Eel sem ser vista como esquisita (mas se essa purreka me fizer o favor de efetuar lançamentos parecidos com a moda da Terra, posso muito bem usar todas as minhas roupas!), sem falar que a maioria delas ficavam largas em mim agora (mas eu tava gorda mesmo heim!).
Aquela febre chata resolveu me deixar de vez lá pra perto do almoço (até que ela foi embora depressa!), mas a minha mãe me mandou continuar descansando por garantia. Então... resolvi aproveitar não só para terminar de atualizar meus animês, para também aliviar um pouco o meu not e já começar a separar parte das coisas que carregaria comigo para Eel. Tenho bastaaante coisa que me ajudará com o tédio.
– Você não estava brincando quando disse que tinha muitos livros, olha só pra isso! – Erika me ajudava a “separar” as coisas (se pudesse eu fazia a mudança completa!).
– Nem consegui adquirir todas as historias que eu queria!...
– Mas ainda assim, Cris... – Huang Hua ajudava – Pela forma com que você olha as suas coisas, e considerando a quantia de coisas que Ezarel lhe capacitou de poder carregar, imagino que você queira levar tudo o que está aqui dentro. Com exceção dos móveis.
– Huuuummmm... Tô tão na cara assim? – falei com vozinha infantil e todas acabamos rindo.
– Não acredito que você ainda guarda os seus bichos de pelúcia, aos quinze eu já tinha me livrado de quase todos os que eu tinha!
– Olha Erika, eu sou meio acumuladora. Não abro mão das minhas coisas com facilidade. Principalmente porque é difícil eu adquirir interesse em obter algo.
– Reparei isso quando fomos juntas atrás da mobília de seu quarto em Eel.
– Amanhã nós vamos ao banco. Trocar o dinheiro de Eel por dinheiro da Terra e assim começarmos a juntar os mantimentos. Tem ideia de por onde podemos começar nossas buscas, Cris?
– Acho... que podemos começar com os mercados atacadistas que tem nas proximidades Erika. E já que o solo de Eldarya está começando a melhorar, podemos dar prioridade a sementes ao invés dos alimentos em si.
– Mas ainda precisamos dos alimentos em si. – alertava a Huang – Nem toda planta lida bem com um crescimento forçado.
– É. Verdade. Mas... e se nós adquiríssemos alguns livros também?
– Que livros Cris?
– Bom Erika, como vocês podem ver, os meus livros... são bem dizer todos de fantasia. Contos de fadas. Eeeentãããão... o que acham de comprarmos alguns de culinária ou medicina? Tenho certeza que o Karuto e a Ewelein irão amar presentinhos assim.
– É uma excelente ideia Cris! Karuto pode acabar sendo um pouco orgulhoso no começo, mas tenho certeza que a Ewelein vai ficar muito feliz em ampliar o seu conhecimento.
– Por isso que eu pensei nela Huang! – rimos um pouco.
Continuamos com aquela pré-mudança onde guardei em minha caixa todos os meus pertences de papel e mídia, mais as roupas aprovadas por Purriry (que por sinal, ela já estava ficando doida com a precisão de se passar por uma gata comum. As alternativas para a suas capacidades purrekas não eram lá muito agradáveis, cientificamente falando).
No dia seguinte, deu trabalho fazer o gerente do banco nos ajudar a converter aquelas 500 moedas de ouro maciço em notas (que por sinal deu quase 160 mil). E eu ainda tinha que corrigir minha própria situação financeira (ainda bem que existe uma espera de uns sete anos para declararem a confirmação da morte do dono da conta!).
Aberta a nova conta em meu nome, pois infelizmente eu era a única que tinha documentos válidos para isso, decidimos que, aquilo que o dinheiro do ouro não cobrisse, iriamos tirar da minha conta poupança, já que eu não tinha mais tanta vontade de comprar minha própria casa (e ela deu uma engordadinha boa!).
Voltamos pra minha casa com o cartão provisório em mãos, e que ficaria com a Erika. Resolvemos planejar nossas compras, das quais minha mãe ou tios não poderiam participar (como iriamos explicar a magia à eles?) e decidimos por ir ao shopping essa tarde, para pegarmos os livros (além de dar uma passeada), e deixar a comida para amanhã, aproveitando a folga do meu irmão.
Como meu irmão chegou cedo, ele também quis ir ao shopping, e acabamos tendo que sortear entre nós quem ficaria para trás já que no carro dele só cabiam cinco. A azarada foi a Huang Hua.Erika
Caramba, eu havia me esquecido do quão grande era a burocracia da Terra (tenho que tentar me lembrar de não reclamar mais da burocracia eldariana). Sem falar na desconfiança que aquele gerente teve ao ver as moedas que levamos para trocar por dinheiro. Valkyon e Lance (que nos acompanharam para carregarem aquele peso) ficaram falando em uma das línguas de Eldarya todo o tempo e isso ajudou a fazer aquele gerente acreditar que vínhamos de um lugar longínquo. Como foi deixado claro que não iriamos poder ficar muito tempo na cidade (mais precisamente na Terra) nos foi prometido podermos buscar o cartão definitivo dentro de cinco dias, o retirando na agência. A Cris organizou as coisas dela com o banco e voltamos pra casa dela.
Chegamos, e decidimos as nossas buscas para Eel (e eu ainda tenho meus próprios planos para antes de retornamos à Eldarya...). Coitada da Huang... vai ter que esperar pela próxima para poder conhecer os shoppings! Pois como a Cris disse antes, “dinheiro não cresce em arvores” e com o transporte público caro do jeito que está (o valor simplesmente dobrou desde a minha última vez na Terra!), o melhor é aproveitar a carona do Christiano e guardar o dinheiro que trocamos para as compras de Eel.
Levamos Purriry conosco para que ela pudesse dar uma olhada nas vitrines como ela queria. Chegando lá, aproveitamos que o dia já estava quente mesmo e fomos atrás de sorvete, mas que saudade daquele creme gelado! (preciso achar um livro que tenha sorvete entre as receitas para dar pro Karuto _sorriso malandro_). Fomos de encontro aos livros assim que Valkyon e Lance se limparam das casquinhas meio derretidas. Coitados, ficaram parecendo crianças ao tomar aquilo _riso_.
– O que acha desse Erika? Para a Ewelein. – a Cris me mostrava um livro.
– Deixe eu ver... “Genética e DNA em Quadrinhos”?
– Bom, eu não sei o quanto ela compreende do assunto, e quando eu vi esse... Mas não é o único que pretendo comprar pra ela! Estou procurando coisas mais completas também. O que você já achou?
– “Fundamentos da Agricultura Biodinâmica” e “Comida caseira: Mais de 100 receitas clássicas e modernas criadas e testadas para você”. – mostrei os que já havia de fato escolhido.
– Vai pegar só um de cada assunto? Mesmo que alguém se disponha para fazer cópias deles, não acha que é pouco?
– Estou tentando ver mais, mas eu queria achar algo especial para o pessoal...
– Que dar um livro de presente pra cada um? Não esqueça que, mesmo juntando a minha poupança, não temos tanto assim se queremos comprar bastante comida!
– Sem falar das sementes, não é mesmo?
– Vocês ainda vão demorar muito? Eu tô com fome! Se continuarem demorando vou levar os seus namorados para comerem sem vocês.
– As escolhas aqui não estão fáceis Gabriel. Se quer que nos apresemos venha nos ajudar a escolher também!
– Eu não!! Vocês que se virem! Vou esperar só mais meia hora e se até lá vocês já não tiverem terminado, vou comprar o meu lanche sozinho! Já estou segurando vela mesmo. – declarou ele deixando a livraria e se sentando no banco em frente, onde ele aguardava a mim e a Cris junto de Lance, Valkyon e Purriry.
– Seu irmão é sempre assim... “prestativo”?
– Às vezes. Mas ele até que tem um pouco de razão, estamos olhando estes livros a um tempão e só temos três escolhidos!
Rimos um pouco e voltamos às nossas buscas. A Cris acabou pegando mais dois sobre medicina e um psiquiátrico, e eu peguei mais dois de receitas, mais um sobre agricultura tradicional e um sobre engenharia (Eldarya pode ganhar uma modernizada, não?). Concluímos a compra dos livros instantes antes do Christiano se mandar pra praça de alimentação. Valkyon e Lance carregaram os pesados livros para nós e eu carreguei a Purriry (acho que depois dessa viagem, ela nunca mais vai querer saber de vir pra Terra novamente _riso contido_). Na hora de comer, foi a Cris que pediu o lanche “extra” pra ela, e já na mesa, os dragões novamente se esbaldaram na comida, e com mais cuidado dessa vez _mais risos_.
Acabado o lanche (e pegando um para a Huang e outro para a Helena), terminamos de ver as vitrines para a Purriry, demos uma passadinha no caixa eletrônico e voltamos pra casa. Amanhã cedo começamos com as compras da comida.Cris 2
Aaaaaai... Que saudades que eu estava das gordices terráqueas... Aquele lanche estava uma maravilha! Lance e Valkyon que o digam. Até a Huang Hua gostou do lanche que levamos pra ela e pra minha mãe. Mais que imediatamente guardamos aqueles chumbos de papel em uma das caixas especiais que meu irmão colocou no porta-malas dele para nos facilitar amanhã.
Voltamos meio que de noite, e alguns dos que queriam da cerveja que Valkyon tinha trazido, estavam lá negociando com a Huang a compra dela. Que no caso seria uma troca de mercadorias já que só o ouro tinha valor em Eldarya, mais precisamente alimentos e sementes para plantio (se eles darem ao menos todas as sementes de que precisamos, vai facilitar muito pro nosso lado).
Após a nossa visita ao shopping, Purriry acabou mudando de ideia sobre algumas peças de roupa minha, me permitindo levar mais algumas. Fomos todos nos deitar para podermos ir aos mercados cedo.
Chegamos no primeiro mercado (apertadinhos no carro) antes das sete. E fomos direto atrás dos mais espaçosos: os grãos. Nos separamos em dois grupos para evitarmos problemas de limite de itens e ainda assim tivemos que efetuar várias compras. Compramos um palanque cheio de cada alimento, e no carro, usamos da poção de encolhimento para ficar mais fácil de colocar nas caixas. Meu irmão ficou impressionado pelo carro não ter ficado pesado com aquilo tudo! Das seis caixas que tínhamos, ocupamos duas só com os grãos. Partimos para os congelados, no caso, carnes e legumes. Reservamos uma das caixas só para as carnes e outra para os legumes (ainda bem que as caixas possuem isolamento térmico!). Tivemos de passar em três mercados diferentes e dois açougues para as terminar de encher. Reservamos as caixas restantes para: frutas e legumes não congelados em uma, e a outra para as sementes e outras coisas que decidirmos levar. Como os livros por exemplo.
Quando finalmente voltamos pra casa, para não termos que explicar à minha mãe as compras “pequenas”, contamos que só compramos sementes e fertilizantes (que no caso seriam as cascas e os restos que teríamos depois), onde alguns precisavam ser mantidos sob refrigeração. Deixamos os congelados no frízer e vamos pegar o que ainda falta um ou dois dias antes de partirmos. Nós gastamos mais de 10 mil só hoje! Ainda bem que passamos no banco após termos gasto os dois mil que Erika sacou no caixa do shopping. Sem falar que ela pagou as compras do grupo dela (ela, Valkyon e Huang) com o cartão, e o meu (eu, Lance e Christiano) com o dinheiro sacado. Assim não foi preciso andar por aí com um monte de notas na mão.
Erika falou que ainda queria ir atrás de algumas lembrancinhas para os nossos amigos e sugeri o fazermos nos centros comerciais como a 25 de março, Liberdade e Santo Amaro. Ficou combinado de reservarmos o dia de amanhã só para isso. Erika e eu passamos em uma banca que vendia alguns bilhetes únicos e o carregamos via internet, já que mesmo se estivéssemos de carro, usar o transporte público sairia bem mais barato (já que finalmente devolveram as quatros horas de espera para cobrar uma nova passagem. Quando eu deixei a Terra, tinham acabado de terminar com as eleições para presidente. E quanta mudança já teve... E pra melhor!!).
Logo cedo outra vez, começamos pela área mais longe, no caso, a 25 de março. Subimos no ônibus antes das seis e chegamos lá umas oito horas, hora em que as lojas estão abrindo. Lá acabamos achando uma coisa ou outra para darmos aos nossos amigos, que no caso, foi para o Chrome, pro Karuto e para a Twylda.
Purriry foi conosco outra vez, e ela acabou “invadindo” uma loja de tecidos bem diante de nossos olhos. O vendedor não gostou nem um pouco daquilo e quando ele chegou perto dela para lhe expulsar a vassouradas...
– Amei esse tecido! – declarou ela ronronando e causando o maior susto no homem (ainda bem que Erika e eu já havíamos entrado na loja!).
– Sinto muito. – comecei – A nossa gata meio que fugiu de nós ao ver sua loja.
– E-e-e-essa gata... FALOU??
– Sou ventríloqua! – declarou a Erika – Desculpe se nós o assustamos, mas é que Purriry ama tecidos. – o vendedor acabou fechando o cenho pra nós – Não consegui pensar em mais nada rápido o suficiente para que o senhor não a machuca-se. Sinto muito.
Como a Purriry estava do outro lado do balcão, não tinha como eu pegar aquela gata fujona. O vendedor ia me abrir a passagem para que eu pudesse recuperá-la, mas, ao se virar novamente para a purreka, pareceu ter ficado surpreso com o cuidado e atenção que ela tinha com os tecidos – Essa gata de vocês entende de tecidos??
Foi a minha vez de inventar a desculpa – Minha mãe é costureira! – acabou saindo – Foi ela que a ensinou a como se comportar diante dos tecidos. E essa Purriry sem vergonha... – falei a pegando e com ela me soltando um miado – Conseguiu aprender tanto que ela até parece uma estilista às vezes. Ajudando na escolha dos tecidos de vez em quanto.
O homem ficou de boca aberta. Erika pediu desculpas mais uma vez pelo seu “ventriloquismo” e, que como estávamos em um local muito cheio, para não chamarmos atenção demais, ela iria evitar de usar seu ventriloquismo novamente (claro que isso foi uma indireta para a Purriry). Antes que pudéssemos deixar a loja, Purriry nos pediu para que comprássemos alguns tecidos que a interessou, nos prometendo descontos de pelo menos 50% nas nossas próximas cinco compras, além de um look exclusivo gratuito para cada uma de nós.
Aquilo estava beeeem tentador. Após Erika e eu nos encararmos por alguns instantes, acabamos cedendo. Voltei pra loja com Purriry e Erika foi chamar os outros que ficaram esperando de onde a Purriry nos escapou. Expliquei o interesse da Purriry ao vendedor e ele acabou aceitando deixar a purreka solta para mostrar os tecidos que queria. Enquanto o vendedor se preparava para medir os panos, Erika chegava com o pessoal e Purriry me pedia para levarmos o rolo inteiro (ainda bem que é uma loja atacadista e que trouxemos a caixa que ainda não preenchemos com sementes).
– Vocês realmente querem levar o rolo todo?! – questionou o homem ao terminar de lhe repassar o pedido – Esses tecidos ficarão bem caros assim! Só este que estou mexendo agora vai lhe custar pelo menos uns doze mil!
Purriry acabou soltando um miado de imploração (é bom essa gata cumprir com a palavra!) – Não há problema. – Erika o respondeu – Vamos levar mesmo assim. Aceita débito?
Ainda desconfiado, o homem aceitou, voltou a enrolar os tecidos (que Valkyon e Lance guardaram na caixa enquanto ele não via, e saíam) e fez as contas para que pudéssemos pagar de uma vez. Os rolos nos custou de 12000 à 30000 cada um (Purriry vai ter que estender essa promessa pra mais gente...). Pagamos, e voltamos para as nossas reais buscas. Onde acabamos achando algumas coisas para o Kero e para a Karenn também.
Seguimos para o bairro da Liberdade por volta das onze. Compramos alguns tempurás como almoço, acompanhados de caldo de cana (ainda íamos andar muito!) e começamos a olhar as lojas. Dessa vez achamos lembranças para Miiko, Feng Zifu, Ezarel e Anya. Seguido de alguns takoyakis antes de partirmos para Santo Amaro, já que a área que nos interessava do bairro era pequena.
Em Santo Amaro, já dando as três da tarde, o lugar estava tão cheio quanto a 25. Erika conhecia o bairro com a palma da mão (ou quase) e por isso acabamos nos separando. Lance ficou comigo (pois era o mais seguro) e Huang, Valkyon e Purriry acabaram seguindo com a Erika. Mantivemos o nosso contato através do zap, com Erika usando o aparelho anterior do meu irmão, mais o número que ela adquiriu quando estávamos no shopping. Mas se eu soubesse o que essa divisão iria nos causar... Não teria aceitado nos separarmos.
.。.:*♡ Cap.100 ♡*:.。.
Nevra
Depois que eu finalmente consegui obter a caderneta da Cris, não tive tempo de procurar o tal poema que mostrava como chegar no esconderijo do Gelinho. Principalmente com a chegada do irmão dela, que me fez ficar bem ocupado com os preparativos daquela viagem.
Depois que eles partiram até o retorno de Absol, foi toda a historia inventada para explicar o sumiço da Cris, do Valkyon e da Erika de Eel. Para Cris, espalhamos que ela ficou doente (e muitos foram os que quiseram vê-la...), e o Valkyon e a Erika, dissemos que eles foram juntos para Memória, onde fui ordenado a ir pessoalmente explicar tudo pro pessoal de lá para evitar discordâncias (foi minha punição por não ter ficado para ver a partida de todos após Lance se apresentar a eles). E ainda tinha uma outra pilha de papéis acumulados da minha guarda para resolver que me custou uns dois dias para terminar (Karenn e Chrome estavam com outros afazeres e não puderam me ajudar...).
Quando finalmente adquiri um momento livre (já que durante a viagem à Memória eu esqueci a caderneta da Cris no meu quarto), comecei a dar uma olhada em todos os poemas da Cris. E haviam muitos! Gastei uma noite inteira lendo tudo e relendo alguns. Ela escreveu muitos com a palavra “dragão”, mas somente um tinha o termo “morada do dragão” (definitivamente era ele).
Esperei pelo dia seguinte para não levantar suspeitas sobre a minha busca. Deixei pra averiguar os túneis a noite mesmo, indo para a entrada da cerejeira sem ser notado (que outro “florir eterno” existe em Eel?). Lá embaixo, consegui interpretar os dois versos seguintes sem problemas, mas ao chegar no quarto, levei um tempo para conseguir achar um coração naquela bifurcação. Andei e andei, e não encontrava nada que se assemelhasse a uma lança. E eu nem sei mais aonde eu ia acabar indo daquele jeito (a Cris disse que o caminho não demora naquele questionamento, então, cadê?). Parei de avançar naquele túnel e comecei a reavaliar o poema.
– BU! – quase que esfaqueio a Karenn – Noooossa irmãozinho... O que está aprontando para ter ficado tão nervoso e distraído desse jeito?
– Coisa minha. E o que é que você está fazendo aqui embaixo? A esta hora?
– Esqueceu que hoje é a minha vez de fazer ronda nos túneis?! Assim você me magoa o coração... – disse ela com a mão sobre o mesmo.
– Como se isso fosse o suficiente... – comecei a perceber – para lhe magoar... – (como é que eu não pensei nisso antes!) – o coração... – acabei tanto um tapa na minha testa (a Lys me enganou outra vez...).
– Qual o seu problema Nevra?
– Nada. Apenas fui passado pra trás! – falei já correndo de volta para aquela bifurcação.
(Sério, porque que é que a Cris não entrou na minha Guarda!?).Lance
Eu pensei que o mercado de Eel fosse cheio, mas isso porque eu nunca conheci uma cidade verdadeiramente grande! Só no segundo lugar em que a gente foi é que encontrávamos espaço para andar sem ficarmos amontoados. Até os transportes que utilizamos nos espremia. Isso sem falar do olhar de cobiça que algumas mulheres (e às vezes homens) jogavam pra cima de mim, e imagino que do Valkyon e das mulheres também.
Depois de passarmos em três lojas diferentes, após nos separarmos no terceiro local de compras, um “zé ninguém”, como a Cris diz às vezes, teve a ousadia de tentar levar a bolsa da minha Ladina ao se esbarrar correndo contra nós dois, logo após ela guardar o celular. O agarrei pelo pescoço antes que ele tivesse a chance de se afastar de nós.
– Lance, solte-o imediatamente! – ordenava-me ela após recuperar a bolsa.
– “Porque deveria?” – lhe questionei na língua Original para testá-la – “Esse canalha mexeu com a mulher errada!” – apertava a garganta daquele cara bem devagar.
– “Olha aqui!” – parece que alguém andou treinando _sorriso_ – “Não... importa... o que ele... fez.” – lhe assenti diante de sua pronúncia correta – “So... solte-o agora! Nós não... podemos... chamar atenção.”
– “Você está melhorando bastante.” – e pela cara que ela fez, ainda tem muito o quê estudar.
– Apenas solte-o de uma vez! Olha o reboliço que você está provocando! – realmente tinha bastante gente se reunindo a nossa volta – Ele já está ficando roxo. Liberte-o de uma vez. – aquele tom impaciente às vezes me agrada tanto...
– “E se eu não quiser?” – falei sorrindo.
– “Pensei que você havia prometido a obedecer por completo.” – quando foi que os outros chegaram?Cris
Oh meu Pai... porque é que aquele maluco foi querer tentar roubar justo a mim?... E o Lance ainda resolve me dar trabalho falando na língua Original?! Ainda bem que enviei uma mensagem pra Erika pedindo socorro, eu continuo ruim que só nesse idioma! Lance o mantinha erguido pela mão que apertava o pescoço, e o pessoal não demorou nada para chegarem, sendo a Huang Hua quem o fez parar de sorrir.
– Pela última vez, SOLTE-O AGORA! – lhe mandava perdendo minha paciência com Valkyon lhe dizendo alguma coisa em seguida. Cuja resposta do Lance causou indignação nos outros com certeza – Olha aqui GELINHO! – agora ele me fez cara feia – Solte o pescoço dele JÁ! Duvido que depois de hoje ele seja doido de querer continuar roubando os outros como tentou fazer comigo. Então trate de deixá-lo vivo!
Lance acabou soltando um longo suspiro e apenas abriu a mão que sustentava o azarado, que caiu com tudo no chão, cruzando os braços em seguida. Dentre os que observavam a cena toda, duas mulheres se aproximaram do homem que tossia, reavendo o ar, no chão. E muitos continuavam gravando/fotografando tudo com os celulares ou aplaudindo pelo o ladrão ter sido salvo.
– É melhor voltarmos pra casa agora... – cochichava o meu chefe perto de mim – Graças à ele já chamamos atenção demais e acredito que já tenhamos comprado o bastante por hoje.
– Tem razão... – respondi em meio a um suspiro – Vamos pra casa... – falei lhe entregando as sacolas das poucas compras que havia feito – E você! – voltei para o Lance irritada – Vai se arrepender por isso Lance! – falei já o arrastando pela a orelha (sem falar dos guardas que eu vi chegando perto!).
No ônibus pra casa, ainda nervosa pelo o que Lance fez, hora ou outra eu lhe chutava ou dava-lhe uma cotovelada, para as quais ele se mantinha calado (eu devia era fazer ele carregar TODA a nossa bagagem durante a volta pra Eldarya). Chegando em casa, minha mãe tinha dado uma saída. Erika e eu arrumamos tudo o que tínhamos comprado e Valkyon e Huang continuaram repreendendo o Lance.
Minha mãe e meu irmão chegaram quase ao mesmo tempo. Minutos depois de já termos conseguido nos acalmar (sendo que só o meu irmão questionou o “showzinho” publicado na internet). E meu pai com alguns tios uns 15minutos depois, e logo subiram. Resolvi comer o restante das minhas barcas (onde só os dragões gêmeos e a Huang quiseram experimentar quando as abri. Sorte minha a Erika não ser chegada em um japa!) e os outros jantaram comida normal. Estávamos e-xaus-tos por conta de todas essas compras e por isso decidimos por descansar amanhã. Ou quase! Erika queria aproveitar para ver algumas coisas particulares e pediu para que apenas o Valkyon a acompanhasse. Ninguém foi contra!
Amanhecido o novo dia, Erika saiu cedo com o noivo, e minha mãe resolveu adiantar a roupa suja por causa do dia quente, me colocando para ajudar a colocar/tirar a roupa do varal (que continuam altos...).
– Quer uma mãozinha?
– Me viro sozinha Lance. E eu ainda estou irritada por causa de ontem. Tenho vontade de lhe bater toda vez que me lembro!
– Deixe eu ajudá-la. – ele pegava algumas peças – Não posso ignorar essa sua precisão de ficar na ponta dos pés para efetuar uma ação tão simples.
– Não tenho culpa se sou a mais baixa da casa. – falei meio sem graça (até o meu pai que é menor que a minha mãe é mais alto que eu!).
Depois que terminamos de estender as roupas, ele me arrastou suavemente até a mureta ao lado das escadas (estávamos na área de cima) – Fiquei impressionado, sabia?
– Com o quê? – lhe perguntei.
– Com o seu avanço na língua Original. – ele me abraçava a cintura.
– Mas ainda não é o bastante para conseguir continuar uma conversa...
– Talvez. Mas você não precisa se exigir além da conta só porque demorou para aceitar a aprender. – ele me acariciava o rosto (e está começando a me irritar outra vez...) – Qual é... Não faz essa carinha brava! Deixe eu ver um sorrisiiinho, vai.
– Bobo. – acabei rindo – Você sabe mesmo ser uma peste quando quer!
Ele sorriu e me aproximou ainda mais dele. Chegamos tão perto um do outro, mas tão perto, que acabamos nos beijando. Com calma. E quase me fazendo esquecer de tudo. Isso até ele começar a me passear a mão. Pensei que por conta de todos esses dias que se passaram, aquela noite não iria mais me incomodar.
– Para. – tentava me afastar – Para. Para, para, para Lance! – ele não me soltou a cintura, mas me afastei dele com o coração disparado.
– O que foi? Não estamos sozinhos aqui em cima?
– Nã... Na casa de meus pais não. Aqui não. – falei. Ele me encarou antes de continuar.
– Você não está nervosa desse jeito apenas porque estamos na casa dos seus pais, não é mesmo? – acabei engolindo seco – É aquele ryōude, não é? – meu nervoso aumentou – Não se preocupe... – ele me puxava para um abraço carinhoso – Quando voltarmos a Eel... – ele sussurrava em meu ouvido – Vou tirar esse medo de você.
Agora meu coração disparou! – O que planeja?? – questionei saindo daquele abraço. Tudo que ele fez foi me olhar com ternura. Sorrindo gentilmente. Nos aproximando devagar (mas peraí!) – Espera. Espera, espera, espera!
– O que foi dessa vez... – seu tom era meio triste e meio enfadado agora.
– O que somos Lance? Qual é a nossa relação exatamente?
– Hum... – ele parecia refletir – Aceito aquilo que você desejar. – (hein?!) – Posso ser seu parceiro, namorado, noivo, marido, o que você quiser. Podendo tê-la até o fim da minha vida, sou aquilo que você preferir. – acho que a “Cris tomate picante” voltou...
Ele apenas me sorriu novamente, e outra vez começou a me aproximar dele. Bem aos poucos, me levando para um novo beijo.
– Interrompo os lovigis? – era a Huang Hua, e o Lance me pareceu nervoso.
– O que quer passarinha?...
– O almoço já está servido. Desçam.
– Nós já vamos Huang. Obrigada por avisar. Vamos indo Lance?
– Fazer o quê...Lance 2
Caramba, eu não pensei que minha Ladina fosse ficar tão nervosa daquele jeito por eu tentar me livrar daquele inútil. Ela não ficou daquele jeito com o Ghadar! (Se bem que era uma situação diferente. Bem diferente). E a forma com que ela me arrastou pra longe daquela multidão? Minha orelha ficou ardendo até a noite, sem falar do meu calcanhar e das minhas costelas. E ainda tive que ficar ouvindo sermão do meu irmão mais novo, da passarinha, e da Negra! (essa foi a mais chata!)
Não deixei de notar o espanto que aqueles dois tiveram com a forma com que eu deixei a Ladina me tratar e nem a risada que a anjinha tentava conter com aquela situação. Mas eu ainda faço a Ladina parar de me tratar como uma criança, ah se faço.
No jantar, preferi a comida da Helena à aqueles bolinhos de arroz, e já que ficou decidido que a maioria de nós não ia sair novamente amanhã (aposto que a anjinha quer conferir se aquela poção a apagou mesmo), fiquei pensando em como fazer as pazes com a minha Ladina.
A anjinha fugiu cedo com meu irmão, e como a Helena resolveu cuidar dos afazeres domésticos antes da segunda-feira, dia reservado para a faxina da casa, pensei em ajudar a minha Ladina (vai que isso me ajuda a amansar um pouco a fera!). Primeiro eu a observei por uns segundos para ver como que ela fazia as coisas e assim conferir como eu podia a ajudar.
Acabei me deixando levar com os movimentos dela e... Desde que a pus pra dormir ainda em cima daqueles mascotes eu não havia lhe dado nem mesmo um beijinho? Não... As coisas não vão continuar assim... Assim que terminamos e, aproveitando que estávamos sozinhos, consegui beijá-la. Ela ficou nervosa demais depois que acabei avançando um pouquinho para acreditar naquela desculpa dela. Lembrei daquele nojento na hora, e não imaginei que ele ainda fosse capaz de afetá-la daquele jeito (pode deixar meu amor, eu vou cuidar de você!). Teria aproveitado um pouco mais o meu tempo com a Cris se a passarinha não tivesse aparecido para atrapalhar o momento. Almoçamos, e depois eu ajudei com a louça e continuei ajudando com a roupa.
A Cris estava brincando com aquele not dela quando não cuidava da roupa e, terminado o almoço, ela decidiu visitar o antigo local de trabalho dela. Eu fui junto, sem dúvida (após jurar que me comportaria e que não negaria os pedidos dela outra vez). Quase que eu consegui ter minha Ladina nos braços outra vez, mas ela estava decidida a chegar em Eel primeiro _suspiro longo_.
Meu irmão e a anjinha só voltaram de noite, e eu não sabia dizer se ela estava feliz, triste ou preocupada (definitivamente ela foi rever os pais dela). Terminamos o dia assistindo ao noticiário(?) onde acabou mostrando sobre um acidente provocado por um bêbado sob efeito de medicação pesada, do qual o casal de vítimas conseguiu sobreviver milagrosamente. E a menos que eu esteja imaginando coisas, essa noticia em específico foi o que mais chamou a atenção da Erika (mas o que foi que eles fizeram afinal de contas??).Cris 3
Enquanto eu atualizava meus animês, resolvi querer dar uma passada no meu antigo serviço (eu já me acertei com o banco, mas ainda falta me acertar com a empresa!), e como eu saía depois do almoço para trabalhar antes... Lance quis ir junto comigo, o que eu não queria de início, mas ele conseguiu me convencer (se ele atrever a me aprontar outra vez... ele que não ouse!).
Assim que chegamos no lugar, fui direto falar com a recepcionista que não acreditou em saber que era eu a funcionaria desaparecida. Perguntei se a equipe da qual fazia parte ainda ocupava o mesmo andar e pedi seu consentimento para falar com eles e depois ir no RH para conferir o que foi feito da minha situação, o que ela só permitiu eu fazer na companhia de um segurança (acho que ela ficou um pouco intimidada com o Lance), o que aceitei de boa. Em minha antiga área de trabalho, todos estavam super concentrados. Fiquei observando um pouco primeiro.
No que uma de minhas antigas colegas (e que eu tinha como mais próximo de uma amiga) me viu ao se levantar de seu lugar, ela assustou-se tanto que deixou os papéis que tinha em mãos caírem, além de dar um pequeno grito, chamando a atenção de todos. Ela não foi a única que pensou que eu era um fantasma _riso_.
Cumprimentei todos e expliquei mais ou menos o que tinha acontecido comigo, com poucos acreditando em mim. Como as meninas não conseguiam tirar os olhos de cima do Lance, o apresentei a todos como meu namorado (...).
– Essa tal Eel, – falava a Bianca, uma das minhas ex-colegas – tem mais pedaços de mau caminho dando sopa por lá?
– Eeeuuu... não sei lhe dizer com certeza _corada_. E mesmo que haja, não sei se as opções serão do seu agrado. – (já que nenhum é humano pra começo de conversa).
– Mas e o seu namorado? – chegava uma ousada – Ele não tem um irmão ou um primo que possa nos apresentar?
– O único parente vivo que tenho é o meu irmão mais novo. – ele respondia se afastando um tanto incomodado da Alessandra – E ele já tem uma noiva.
– Ah... mais que pena! – lamentou ela.
– E quanto às mulheres Cris? – um colega me envolvia os ombros – Há muitas solteiras bonitas por lá? – (lá vem o olhar de ciúme do Lance...).
– Olha, ter até tem. – respondi me afastando dele e me aproximando do Lance, antes que ele me arranjasse confusão – Mas assim como eu disse para a Bia, não sei se serão do seu gosto.
Conversamos só por mais uns cinco minutos e depois os deixei trabalhar para que eu pudesse ir ao RH (com meu antigo chefe quase tendo um treco ao me ver _riso_). Lá no RH, eu fiquei sabendo que por conta do vídeo que meu irmão gravou, mais o meu desaparecimento durante a viagem que era responsabilidade da empresa, uma indenização havia sido paga à minha família (porque é que ninguém me falou sobre isso??). Questionei se por causa do meu retorno eu teria que estar devolvendo alguma coisa e a responsável no momento não sabia me responder.
Quase que na mesma hora, um dos advogados da empresa entrou na sala em busca de alguns documentos. A moça repassou o meu caso à ele, pedindo ajuda, já que logo, logo eu deixaria a cidade novamente. Ele pareceu pensar um pouco. Pediu para ver os meus registros da empresa. E após ele fazer algumas contas, disse que se meus dados fossem alterados para como se eu tivesse sido demitida nesse dia mesmo, e com os meus honorários tendo sido pagos antecipadamente, eu não precisaria devolver nada em relação ao incidente da viagem. Mais que imediatamente ela fez como o advogado havia sugerido. Preparou os papéis, e eu lhe dei os documentos. O advogado assistiu a tudo e nós quatro assinamos um documento digitado por ele confirmando a aceitação daquele acordo onde, eu era quem aceitava aquele acordo, a moça quem aplicava, e ele mais o Lance as testemunhas de tudo isso.
Finalmente concluído tudo, alguns colegas nos cercaram e me questionaram sobre como foi tudo, nos convidando para um happy hour. Comi apenas um lanche e o Lance aceitou uma cerveja. Ao nos despedirmos, todos me desejaram boa sorte e “felicidades” (ô, eu ainda não casei não!). Chegamos em casa umas cinco da tarde.Valkyon
Quando Erika recebeu aquela mensagem de ajuda da Cris, fiquei preocupado. E quando encontramos eles, com meu irmão estrangulando um homem e ela tentando convencê-lo a soltá-lo, fiquei assustado. Eu não acredito que ele disse que eu faria o mesmo se eu estivesse no lugar dele, com a Erika no lugar da Cris, depois que pedi para que ele se colocasse no lugar de todos nós e que ele não podia continuar com aquilo. E depois que a Cris explicou o porquê de tudo aquilo enquanto o mandava parar com aquilo, passei a entender a resposta que ele me deu (mas ainda não concordo com a “solução” dele).
No entanto, eu fiquei pasmo mesmo foi com a forma com que a Cris tratou o Lance após sugerir voltarmos para casa. Mas nem mesmo antes de ele se voltar contra a Guarda, meu irmão permitiu que alguém o tratasse daquela forma! Mas nin-guém mesmo! (ele deve estar mesmo querendo provar o sentimento dele pra com ela depois de tudo o que ele fez. Não vejo nenhuma outra explicação).
Após uma boa conversa que eu e a Huang tivemos com ele, e com a chegada da família da Cris, jantamos e fomos para a cama depois de decidirmos dar um tempo nas compras.
Logo cedo, minha amada me chamou para sairmos. Agora me ficou esclarecido o que ela tanto procurava naquela internet... E que dia o que nós tivemos! Voltamos para casa quando já anoitecia. A Erika só ficou mais em paz após vermos aquela noticia que falava dos pais dela.
No dia seguinte, fomos até um mercado chamado ceasa, onde compramos as sementes e frutos que queríamos. Lance se comportou corretamente e as meninas acharam mais lembrancinhas para os nossos amigos.
O dia de voltarmos estava cada vez mais próximo.
.。.:*✧ Capitulo especial – Reencontros ✧*:.。.
Erika
Assim que fiquei sabendo que o irmão da Cris estava em Eel, na noite seguinte à tentativa de assassinato dela, não pude acreditar. Uma pequena esperança surgiu em meu peito. E quando, depois de ele nos contar a sua saga (que me aumentou a esperança), ele revelou ser capaz de se comunicar com quem estava na Terra, fazendo-o no topo da torre, esta esperança cresceu ainda mais! (Vou poder rever os meus pais... _sorriso_ E também... confirmar os efeitos da poção... _sorriso triste_).
Fiquei aliviada quando até mesmo as Sementes concordaram com a viagem que a Cris queria fazer. E a historia do Lance me foi um tremendo choque! Já naquele curupira... Não sei se senti muita confiança nele...
Quando alcançamos o hotel em que éramos aguardados, fui direto pesquisar tudo sobre mim e sobre a minha família. Minhas contas nas redes sociais ainda existiam, o que foi uma ajuda, mas pelo o que pude perceber, estava excluída de cada parente meu. Meu pai ainda era dono da mesma empresa e o endereço dele e da mamãe ainda era o mesmo, então... se eu me planejasse direitinho, eu poderia vê-los de longe ao menos. Tenho tantas saudades deles...
Chegando em São Paulo, pelo Oráculo, eu não tinha como acreditar no quão grande que a família da Cris realmente era! Mesmo com ela já tendo nos revelado que era grande, eu não imaginava que era tão grande assim (ainda bem que ela não sofreu o mesmo que eu...).
Esperei resolvermos as coisas mais urgentes primeiro, que era a troca do dinheiro e a junção de mantimentos e outras coisinhas. No dia em que o Lance nos aprontou, em que todos queriam uma pausa em nossas buscas no dia seguinte, não quis esperar por uma segunda chance.
– Olha gente, se não se importam, eu vou aproveitar para conferir algumas coisas particulares minhas, tudo bem pra vocês?
– Nenhum problema querida. Quer que algum de nós a acompanhe? – Me questionou a Huang Hua.
– Honestamente, eu só vou querer a companhia do Valkyon...
– E somente ele, não é mesmo? Consigo imaginar que particularidades sejam essas.
– Lance... – repreendia-o o Valk.
– Tudo bem Valk, – o acalmava – logo voltaremos para Eel e seu irmão fica mais comportado. – um riso escapou de quase todos.
– Vá tranquila Erika. E tenha a certeza que ficarei de olho vivo no Gelinho... – (parece que o Lance não gosta mesmo deste apelido _risinho_) – ... Tem três anos que você está vivendo em Eel, você teve ter tanta coisa quanto eu para querer organizar.
– É... tenho mesmo... Tudo bem se sairmos cedo amanhã amor? Quero acertar tudo logo.
– O que você quiser Erika. – declarou ele me segurando a mão.
– Nesse caso é melhor vocês irem dormir logo! Graças a alguém... – a Cris lançava um olhar reprovador para o Lance – O dia hoje foi super puxado.
– Você tem razão. Vou me deitar agora, boa noite pra todos. Boa noite amor. – demos um selinho.
– Boa noite querida. Que hora deseja sair amanhã? E pra onde?
– Pode deixar que eu lhe chamo. Amanhã nos falamos mais. – (ele havia concordado com a poção, não quero que se sinta mal agora).
Dei boa noite mais uma vez e me preparei para dormir.
Mesmo colocando o celular que o Christiano me emprestou para despertar às seis da manhã, acabei acordando antes dele uns quinze minutos. Não quis esperar pelo alarme. Me levantei com cuidado para não acordar ninguém e fui chamar o Valkyon. Ele acordou fácil, e tomou o mesmo cuidado que eu para não acordar os outros. Nos arrumamos, tomamos um café rápido, e saímos usando a chave reserva que tínhamos recebido autorização para carregar da Helena.
No ônibus, eu fiquei ansiosa durante toda a viagem, pois eu morava na zona oeste da cidade e estávamos bem longe de lá. Valkyon não falou nada, apenas me segurava a mão e me dava olhares de ternura que me ajudavam a manter um pouco de calma. Gastamos quase duas horas de ônibus, e tivemos que caminhar mais quinze minutos, até pararmos diante de um imenso casarão branco envolto por um jardim cercado por muros de grade de ferro negro (parece que não mudou nada...).
– Erika... – Valk me chamava com um pouco de temor na voz.
– O que foi Valkyon. – falei sem deixar de continuar observando as rosas e azaleias que havia ajudado a escolher.
– Este lugar... Acaso ele é...
– Sim. – respondi sentindo uma lágrima me correr pelo rosto enquanto observava tudo – Era aqui que eu vivia.
Pude ouvi-lo engolir seco. E o mais triste, é que eu só pude viver ali umas três semanas depois que nos mudamos do apartamento em que vivíamos antes e viajarmos para visitar os meus avós. Valkyon começou a me abraçar por trás e... minha mãe saiu para cuidar dos jardins! E ela também não mudou muito nesses três anos...
– Aquela...
– Mamãe. – ouvi o Valkyon dando um longo suspiro.
Ficamos lá, observando em silêncio por um tempo, e pude ouvir um carro parando próximo de nós.
– Posso ajudá-los em alguma coisa? – (papai!!) – Senhor? Senhorita? – (ele não me reconhece... não se lembra de mim...).
– D-desculpe. Nós... nós estávamos só olhando... – meu pai sempre foi desconfiado com estranhos, e aquela pestana erguida era um dos sinais que ele dava quando pensava em ligar pra polícia.
– Nos desculpe senhor, é que esta casa é parecida com a casa que minha noiva vivia algum tempo atrás. – me ajudava o Valkyon – Não temos nenhuma má intenção.
– Sério o que ele está dizendo moça?
– Infelizmente... – falei com as lágrimas de tristeza escorrendo – Já faz uns três anos desde que meus pais... bem... – (me tiveram arrancada de suas memórias).
– Algum problema querido? – minha mãe se aproximava de nós pelo outro lado.
– Nenhum querida. É só essa moça que viveu em uma casa parecida com a nossa, antes de... perder os pais? – não consegui dizer nada, apertando os olhos e os lábios (agora entendo a dor daqueles que tem algum parente com alzheimer).
– Oh, minha querida... Sinto muito.
– Eles... não morreram exatamente... – acabei falando.
– E o que foi que aconteceu com eles então? – (vocês me esqueceram, papai).
– Houve um incidente. – explicava secando as lágrimas – E os dois perderam toda a memória relacionada a mim.
– Tanto o seu pai quanto a sua mãe se esqueceram de você?!
– Não quis acreditar. Mas quando fiquei diante deles... – (de vocês!) – Nenhum deles me reconheceu...
– Hãm, Erika, meu anjo, porque... porque não damos uma volta? Para acalmar? – pedia-me o Valkyon.
– Seu nome é Erika?
– Sim. – (mamãe...) – E este grandão aqui é o meu noivo, Valkyon.
– É um belo rapaz com toda a certeza. Você é estrangeiro? Tem um nome e uma aparência bem diferentes. Tinge o cabelo?
– Mais ou menos senhora. E... sou assim desde que nasci.
– Exótico... tirou a sorte grande menina!
– Mirian!
– Não precisa ficar com ciúmes querido. Acha mesmo que eu ainda estaria casada com você se não o amasse como é? Depois de todos esses anos!... – nem eu e nem o Valkyon conseguimos evitar de rir – E por sinal Richard, não era pra você estar na empresa agora? – (é verdade!...).
– Lembra que você ficou me cobrando ao menos uma folga de três dias do trabalho?
– Se eu lembro?! Já tinha até desistido!
– Bom meu amor, eu consegui! A partir de hoje, e pelos próximos quatro dias, eu só quero estar entre aqueles que amo! – (pena que não vou estar entre vocês, né pai...) – E eu estava pensando... porque que nós dois não aproveitamos que o Erik está com a sua mãe... – (quem é Erik??) – ...e damos uma volta naquele parque juntos? Aquele, que seu irmão adora fazer acampamentos de vez enquanto.
– Isso é sério mesmo?! – meu pai só assentiu com a cabeça como resposta – Cinco minutos! Me dê cinco minutos que a gente já sai! – pediu ela já correndo para dentro em seguida. Valkyon me pediu baixinho para irmos indo e acabei aceitando.
– Ei vocês dois!
– Sim? – (o que foi papai?).
– Estão indo aonde?
– Acho... que pra casa? – me questionava o Valk.
– Porque não vem com a gente? Não sei por que, mas eu gostei de vocês.
– Vamos de carro para chegarmos no parque Alfredo Volpi. O lugar é lindo e ainda tem mata nativa. Venham! Meu marido não é o único que gostou de vocês dois.
– Nossa Mirian! Bateu o seu record!
– O meu querido... Quando o milagre acontece a gente aproveita! Não o perde...
Mais uma vez Valkyon e eu acabamos rindo. Meus pais sempre discutem, mas a maioria das “brigas” são tranquilas. Valkyon e eu ainda tentamos rejeitar o convite, mas acabamos convencidos a acompanhá-los.
No parque, meus pais contavam historias de quando eram jovens, e como Valkyon e eu estamos noivos, eles também nos davam dicas de como vivermos uma longa vida juntos. Também contamos um pouco do que fazíamos em Eel (sem parecermos ser de outro mundo, é claro) e como foi que nós acabamos juntos. Sem querer eu acabei me arranhando no braço ao tropeçar em uma brincadeira e minha mãe usou o lenço de mão dela para proteger o meu corte.
Ficamos bem dizer o dia inteiro juntos. E aquele tempo com eles... mesmo sendo tratada como uma desconhecida... foi muito bom.
– Está ficando tarde... – comentava a minha mãe – Acho que agora é hora de irmos todos pra casa.
– Concordo com a senhora. – Valk se erguia (mas, porque eu comecei a ter um mau pressentimento?) – Precisa de ajuda Erika?
– Não! Eu estou bem. – falei já me erguendo (não gosto dessa sensação) – Foi um imenso prazer passar todo esse tempo com os senhores, senhora Mirian e senhor Richard.
– Nós é que agradecemos querida. Foi como se você fosse a filha que nunca tivemos. – _olhos marejados_ (oh mãe...).
– E pra mim, foi como estar ao lado dos meus pais outra vez. Muito obrigada mesmo aos senhores.
– Ô minha cara... Assim você nos honra! É bom você cuidar bem dela rapaz! Não encontrará outra moça que nem ela tão cedo.
– Pode deixar senhor Richard. Sou capaz de atravessar mundos se for preciso apenas para fazê-la feliz.
– Wow... Espero poder encontrá-los novamente. Não estava brincando quando falei que havia gostado de vocês dois.
– Nós realmente agradecemos muito, senhora Mirian, e... Acho que se eu e Erika tivermos uma chance, podemos vir a vê-los novamente. – senti uma alegria dentro de mim ao ouvir isso.
– Então torçamos para que você esteja certo rapaz. Querem carona para algum lugar?
– Não é preciso... – (...pai.) – Podemos voltar por nós mesmos, mas... O estacionamento costuma ser tão vazio assim nesse horário? – (meu mau pressentimento não parava de me incomodar).
– Faz poucas semanas que finalmente terminaram de vacinar todo mundo contra a pandemia. Ainda tem gente que evita de sair nessa região. – respondia a minha mãe.
– Ok. É melhor nos despedirmos logo, ou ninguém vai conseguir voltar pra casa.
– Richard! Isso é jeito de falar com as pessoas? – e mais uma vez acabamos rindo.
Meus pais entraram no carro, e Valkyon e eu os víamos começar a se afastar. De repente, o barulho de um louco queimando pneu começou a se aproximar de onde estávamos. E antes mesmo que meus pais tivessem a chance de deixar o estacionamento, o mesmo louco invade o lugar e bateu contra o carro dos meus pais com tanta força, que ele não só foi atirado contra a janela dele, como também fez o veículo dos meus pais girar.
– PAIS!!! – acabei gritando e correndo até eles com Valkyon atrás de mim – Pai! Mãe! Respondam! – eles me pareceram atordoados, eu estava me desesperando com isso (droga de mau pressentimento! E ele continua por quê?!).
– Dá licença Erika. – pediu-me o Valkyon que usou de força bruta para arrancar a porta e assim me permitir tirar minha mãe do carro e arrastá-la até onde estávamos antes. Ele fez o mesmo com o meu pai após eu tirar os cintos dos dois.
Pelo pouco que aprendi com a Ewelein, podia dizer com toda a certeza que os dois não estavam nada bem – Valkyon... eu imploro. Por favor, usa o seu poder para salvar eles. A ajuda não vai conseguir chegar a tempo.
– Mas Erika...
– Por favor! Eu repasso minha energia pra você se for preciso, mas por favor Valkyon... Eles podem não se lembrar, mas ainda são os meus pais! Não os deixe morrer Valk... – minha visão embaçava com minhas lágrimas.
Ele começou a olhar ao nosso redor enquanto suspirava – Tudo bem. – (OBRIGADA!) – Mas preciso que me ajude. Há bastante maana por aqui, mas não quero me arriscar.
– Tudo bem.
Passei toda a energia que podia à ele, e ele cuidou dos meus pais. Os dois ao mesmo tempo. Eles ainda estavam em choque e por isso ficaram inconscientes. Mal ele terminou de cuidar dos dois e o carro em que eles estavam resolveu explodir. Sem pensar duas vezes me joguei sobre os meus pais e o Valkyon se jogou sobre mim. As chamas não conseguiram chegar perto de nós, mas havia o risco de atingir as arvores próximas (as câmeras já eram!).
– Tem como você enfraquecer o fogo antes que ele destrua o parque?
– Sim. Mas pra isso... – ele se afastou um pouco de nós e começou a se concentrar. Pude sentir claramente ele absorvendo a maana presente a nossa volta, e depois ele atraiu uma parte daquelas chamas pra si. Amenizando a ameaça que elas apresentavam. Comecei a ouvir o som de sirenes – Que barulho é esse?
– São sirenes. A ajuda está a caminho.
– Então é melhor partimos agora. Não sei se podemos evitar a verdade do que aconteceu aqui. – pedia ele me ajudando a levantar – Acho que podemos nos limpar no lago e os seus pais já estão fora de perigo.
_suspiro_ – Você está certo Valkyon. Quando começamos a nos despedir, tive um mau pressentimento. E depois que você reduziu as chamas, ele foi embora.
– Mais um sinal que podemos ir.
Olhei mais uma vez para os meus pais e meus olhos se marejaram novamente. Valkyon precisou me “arrastar” para que eu me afastasse deles, no chão. Nos limpamos no lago. Captamos a maior quantia de maana possível para conseguirmos voar para longe o suficiente do parque sem sermos percebidos (Valkyon aprendeu de verdade a usar ilusões um pouco antes de deixarmos Eldarya).
Após tomarmos uma distância segura, pegamos o ônibus para voltarmos. Foi só quando chegamos que eu percebi que havia perdido o lenço de minha mãe! E ainda bem que chegamos a tempo de assistir o noticiário. Era impossível que aquele incidente não acabasse aparecendo. E quando finalmente mostraram a noticia sobre os meus pais... fiquei aliviada de ouvir que eles estavam bem e que poderiam receber alta do hospital em breve.
Agora sim eu podia voltar tranquila para Eldarya.
.。.:*♡ Cap.101 ♡*:.。.
Cris
Gastamos mais um dia, mas finalmente havíamos terminado de comprar tudo o que queríamos para levar para Eel. Acho que tudo que compramos, seria o bastante para encher dois caminhões dos grandes! E guardamos aquilo tudo em seis caixas que não eram maiores que um cooler de 36L. _riso_. Acabamos passando na agência do banco, aproveitando que ainda estava aberta, para conferirmos se o cartão definitivo estava pronto. E dessa vez, a sorte estava do nosso lado. Concordamos em confiá-lo ao meu irmão enquanto estivéssemos em Eldarya.
Fazendo as contas, já estávamos a quase 20 dias fora de Eel (espero que o novo Cristal esteja conseguindo dar conta de Eldarya sem os Rituais de Maana regulares). E ainda íamos ficar mais uns dez dias fora mais ou menos? Eu já meio que estou sentindo falta de Anya e Absol...
Bom, amanhã é domingo novamente, e faz um tempão que não assisto uma missa, então decidi que a primeira coisa que eu faria amanhã, era assistir a primeira missa da paróquia que ficava a cinco minutos de casa (pois eu duvido que quase toda a família não se reúna outra vez, já que nessa segunda começamos nosso caminho de volta para Eel).
Depois que repassei isso para os outros, Huang Hua e Lance quiseram me acompanhar por curiosidade. Minha mãe também quis ir porque não teve a missa de sábado, e só agora me avisam que o padre Manuel faleceu?
– Mas o que houve com ele mãe? – lanchávamos quase todos na cozinha.
– Ah Cristinne... Foi um derrame. E ele já tinha passado dos sessenta...
– E como é o Padre que assumiu o seu lugar, mãe?
– Ele... é um tanto... diferente.
– Que quer dizer Helena? – perguntava a Huang.
– Bem, pra começar, ele é bem quieto se quer a minha opinião. Carismático, humilde, e não é todo dia que conhecemos alguém com um olho de cada cor...
– Como é?! – eu e Erika acabamos questionando juntas.
– Pois é! O olho direito dele é castanho escuro, e o esquerdo é verde claro. E também dizem que ele é... Qual foi mesmo a palavra que usaram?... _estala dedos_ Ah! Místico. – acho que a Erika e eu acabamos pensando na mesma coisa ao trocarmos olhares por um instante – Ele foi um dos primeiros a me apoiar depois que eu tive o sonho que me avisava que você estava bem, Cristinne.
– E como foi esse sonho? Gabriel comentou, mas não explicou.
– Foi assim: Estava em lugar bem iluminado. E meio que vazio. Um anjo com grandes asas e vestes azuis claras se aproximou de mim dizendo que eu não precisava me preocupar com você, porque você estava bem e segura. Que estava ajudando o povo protegido por um ser estranho que apareceu do seu lado logo em seguida.
– Ser estranho? – Valkyon interrompia.
– É... Era uma mulher nua cuja aparência lembrava um pouco um anjo. Mas ela tinha chifres e uma enorme cauda de lagarto, sem falar que o cabelo dela parecia ser só penas! – (ela sonhou com uma das Oráculos, sem sombra de dúvida) – Foi o anjo que pediu para que eu me acalmasse dizendo que: nem todas as criações do Senhor, viviam entre os humanos, e que aquela mulher, era tão bondosa quanto os próprios anjos.
– Ela chegou a lhe dizer alguma coisa? – perguntou a Huang.
– Sim. Depois que o anjo lhe segurou uma das mãos, aproximando-a de nós, ela me contou que naquele momento, você minha filha, não poderia estar voltando pra casa, mas... assim que fosse possível, você voltaria por um tempo, e apenas quando terminasse de ajudar o povo protegido por ela é que você seria livre para voltar se quisesse. – Fiquei embasbacada – Depois disso eu acordei.
– E foi por causa desse sonho que quiseram chamá-la de louca? – acabei perguntando.
– Foi. E a sua tia Eris foi a que mais tentava fazer todos acreditarem nisso. Ela só não conseguiu convencer todo mundo por causa da reprovação do padre, que assumiu o lugar do padre Manuel, lhe fez quando ela tentou o convencer também. Dizendo a ela o quanto era triste uma pessoa que tenta prejudicar o irmão por inveja...! – um sorriso acabou me escapando (com toda a certeza, tia Eris o mereceu).
– Hum... Senhora Helena... – Erika a chamava – Qual é a hora da primeira missa? Fiquei curiosa com esse padre... E qual é o seu nome? – perguntou ela.
– Ele se chama Zenas. Por ser um nome diferente, logo no primeiro dia que ele chegou, ele nos explicou que seu nome significava “Dádiva de Deus", mas pediu para que o tratassem apenas como o simples padre que ele disse ser. Ele também disse gostar muito de estudar esse tipo de coisa. Tanto que ele se refere a quase todos pelo significado de seus nomes... E a missa é às sete em ponto.
– Então é melhor todos nós dormirmos cedo. – comentava o Lance já se erguendo da mesa – Ou do contrário ninguém vai levantar a tempo. – terminou de dizer ele, deixando a cozinha e subindo para o quartinho.
Acabamos todos por o imitar. Além de cansados, já passava das nove e meia da noite e ninguém ia querer sair de estômago vazio.
Acho que a minha mãe foi a primeira a se levantar. Tomamos o café e saímos. Só o meu irmão e o meu avô é que quiseram permanecer deitados. Ao chegar na paróquia, o padre Zenas cumprimentava todos que chegavam com uma benção, e ele me pareceu se surpreender com o grupo que acompanhava a minha mãe.
– Deus a abençoe, “Reluzente”. Vejo que hoje está bem acompanhada.
– Realmente. Te apresento a minha filha, Cristinne. – ela me puxava para frente dela – A “sumida” que resolveu aparecer. Mais os amigos que revolveram a acompanhar.
Ele olhava cada um de nós como se procurasse ver algo em especial, mas o que estava me deixando curiosa mesmo eram aqueles olhos coloridos dele (ele definitivamente deve ser um faeliano...) – Você realmente não terá um caminho fácil para trilhar. – me dizia ele (mas, heim?).
– Do que está falando. – Lance questionava me envolvendo por trás.
– Ela já sofreu bastante desde que iniciou sua missão, e ainda encontrará muitas tristezas e dores em seu caminho. – (aiaiaiaiaiai, ele é tipo um oráculo ou coisa parecida?) – Não perca a sua fé criança, que tudo dará certo no final. Na glória de nosso Senhor. – terminou ele de me dizer.
– Err... amém? – ele me sorriu com carinho e fomos pra dentro, deixando o padre terminar de cumprimentar todos até a hora da missa começar.Lance
Assim que acabou aquela conversa de sonhos e padres, subi para tomar banho e dormir (pra onde que a Negra foi?). A Cris me pões pra ficar carregando as coisas o tempo todo naquele mercado! E eu nem podia apelar ao meu poder... Acabei esgotado hoje.
Não deu dois minutos após deixar o banheiro, em que eu fui rápido, e o Valkyon resolve aparecer. Estávamos só nós dois no momento.
– Porque motivo você quer ir, Lance?
– Como? – acabei lhe questionando de volta.
– Nem quando nós éramos crianças você gostava das cerimônias realizadas pelos fenghuangs, então porque o interesse pela fé da Cris? Está tentando saber mais sobre ela, ou tentando agradar ela?
– Nenhum dos dois. Ou os dois! Eu só... fiquei curioso. É isso. – acabei por respondê-lo.
– Pare de causar problemas. Principalmente para ela.
– Todos nós já estamos com um senhor problema na nossa cola, acha mesmo que vou me arriscar a ter mais com ela?! Você já conseguiu ver como ela é quando irritada? – ele acabou deixando um riso escapar.
– Nunca imaginei que você fosse permitir alguém te tratar do jeito que a Cris fez! – acabei por suspirar enquanto arrumava a cama-sofá – Você quer tanto assim que ela te ame? Que te perdoe pelo o que fez?
– Se a Cris não tivesse a resposta para salvar a vida da sua anjinha, o que você estaria disposto a fazer para salvar a vida dela? – acabei por lhe perguntar, e ele pareceu entender onde eu queria chegar.
– _suspiro longo_ Eu ia tentar tudo. Qualquer coisa que eu pudesse usar ou fazer... – respondeu ele se sentando.
– Até mesmo destruir Eldarya...? – (vamos ver até onde ele está disposto como eu).
– Destruir... Não. Abandonar... Talvez.
– E qual a diferença?
– Se Erika e eu abandonássemos Eldarya, todos teriam alguma chance de se salvarem. Mas, se eu destruísse Eldarya, como você tentou fazer, além de ninguém ter como se salvar, eu ia acabar sendo o responsável pela morte dela, e não Eldarya. – (de fato não é possível discordar...) – O que você teria feito se tivesse conseguido matar a Cris?
_suspiro_ – Provavelmente, estaria me martirizando agora por ter feito isso... – ele começou a me encarar com espanto e confusão – Sempre... sempre que eu estou ao lado dela, eu... não sei bem explicar! Eu... gosto de estar perto dela! De ver o seu rosto corado ou sorrindo... De sua voz quando cantarola ou diz palavras sábias... Da forma com que ela se movimenta durante o dia-a-dia ou nos treinos... Eu... eu sei lá! Como se ela fosse uma parte de mim que não quero perder de forma alguma. – no que encarei o meu irmão, ele me olhava com um sorriso malandro, o que me assustou um pouco.
– Você está totalmente perdido por ela. – (!!) – Sei disso porque é mais ou menos assim que eu me sinto com a Erika do meu lado. E... pensando bem, acho que não somos tão diferentes assim... – ele devia estar pensando na poção. Os primos da Cris que estavam dividindo o quarto conosco resolveram aparecer, e acabamos por todos nos deitar.
Amanhecido o dia outra vez (a Negra ainda não voltou?!), Valkyon e eu descemos, com os caras que estavam com a gente descendo cinco minutos depois. Eles também tinham a intenção de saírem cedo, mas não para o mesmo lugar que nós. Do portão era possível ver a tal igreja e ao chegarmos lá... O quê que a Negra está fazendo com aquele cara de túnica preta?
(Aonde esteve todo esse tempo Negra?) – “Bom dia pra você também Gelinho.” – (_grunhindo_) – “Assim como as meninas, eu também fiquei um pouco curiosa com esse faeliano aqui.” – (e o que ele tem de tão especial?) – “Além de parecer que ele tem descendência dos fenghuangs!?” – (QuÊ!? Esse cara é capaz de ler as emoções das pessoas?) – “Sim. E ele parece possuir clarividência, ou algo próximo disso também.”
Só pelas vestes, eu não tinha ido com a cara daquele homem. E depois que ele começou a dizer que a minha Ladina iria sofrer no futuro... – “Infelizmente, ele está certo sobre o que está por vir...” – o comentário entristecido da Negra não me deixou nem um pouco aliviado. Fomos para dentro. O lugar parecia ser capaz de acolher mais de cem pessoas sentadas, e quando os ritos começaram, foi possível notar que mais duas ou três pessoas, tirando a Helena, eram capazes de fornecer maana como a Cris (aquele feiticeiro do mato estava mesmo certo sobre esse tipo de poder??) – “Cris, Erika, Helena e o padre ali são os únicos faelianos existentes nesse salão. Caso queira saber.” – comecei a prestar atenção apenas no que acontecia mesmo, ao mesmo tempo em que acompanhava com o auxílio do folheto distribuído.
Lendo aquele folhetim, não foi difícil compreender a cerimônia, mas o tema abortado naquela celebração... O amor e o perdão (isso é algum tipo de perseguição?) – “Tenha vergonha nessa cara Gelinho! E vê se presta atenção na homilia! Quem sabe assim você não aprende alguma coisa!?” – forcei-me a engolir o desaforo da Negra. Prestando atenção no que aquele cara explicava dos textos lidos, notei que ele tinha jeito com as palavras. Havia bastante carisma no que ele dizia, e não vou negar que me senti convidado a exercer o tema abortado. Ao final da tal homilia, a Negra apenas me sorriu.
Quando começou a tal “preparação eucarística”, tive a sensação de haver algo circulando no lugar. Uma... energia positiva que eu não conseguia identificar a origem. E ao invés de ela ir embora, quase todos os presentes absorveram uma parte dela pra dentro de si! Minha Ladina e a Helena foram duas das que absorveram.
Terminado tudo, esperamos parte daquele povo sair para podermos voltar pra casa. Isso demorou um pouco, pois o tal do Zenas cumprimentava todo mundo outra vez. Não gostei quando ele sussurrou alguma coisa para a minha Ladina...Cris 2
Gostei desse novo padre! (Apesar do que ele me disse antes de entrarmos...) Ele fala de um jeito amigo, que nem o padre Manuel fazia, mas só um pouquinho mais conservador ao que pude notar. Durante a missa, às vezes eu observava Lance ou Huang Hua (pois eu estava no meio deles) e eles pareciam acompanhar tudo com o auxílio do folheto. Acho que meu tempo em Eldarya me deixou um pouco mais sensível, pois era impossível não reparar naquele calor agradável que começou a invadir a igreja no meio da celebração.
Em minhas orações, eu não pedia nada! Só agradecia. Agradecia por poder ter revisto minha família... por Absol... por Anya... pelos mascotes de Eldarya... por Eldarya em si! Agradecia pela minha missão, pelos problemas que enfrentei e superei (e também pelos que ainda estariam por vir!). Os humanos que eu mandei de volta pra Terra! E que agora só queriam saber de viver vidas pacíficas _sorriso_. Entregava minha existência nas mãos do Senhor.
E... pensando bem... eeeeuuuu acabei pedindo uma coisa sim... Pedi por luz e compreensão. Luz para poder encarar o “demônio” que me aguardava em Eldarya, e... compreensão para... _suspiro_ entender esse coração sem noção que resolveu querer se envolver justo com o encrenqueiro do Lance (que tomara que tenha prestado atenção na homilia! Amor e perdão... _suspiro_).
Acabada a missa, tivemos que aguardar um pouco para sairmos. O padre Zenas fazia questão de se despedir de cada um na saída, arrastando um ou outro para lhe sussurrar alguma coisa ao ouvido, creio eu. Chegada a minha vez, pude comprovar a minha teoria...
– Quando receber o laço vivo, após cumprir parte de sua missão,... – me sussurrava ele – ...volte para cá! Junto da outra ponta desse laço. – (CUMA?!?!?).
Não entendi nada do que ele quis dizer, então só me afastei o mais rápido possível e me juntei ao pessoal. Não demorou muito para o Lance começar a me questionar.
– O que foi que aquele... “sacerdote”, te sussurrou? – interrogava ele baixinho ao meu ouvido e com a gente um pouco mais afastado de todos.
– Eu... não entendi bem... – ele me erguia uma das pestanas.
– Que quer dizer?
– Ele me pediu para voltar. Depois que cumprir parte de minha missão e ao receber um tal de “laço vivo”. – ele pareceu ainda mais confuso.
– Que laço vivo??
– E eu vou lá saber!
– Ei, vocês dois! – minha mãe nos chamava – Venham e entrem logo!
Fomos pra dentro. Mal se passou quinze minutos depois de voltarmos da missa, e meus tios e tias começaram a aparecer (ainda bem que vamos embarcar de noite amanhã, assim minha mãe tem ajuda para arrumar a casa).
A “festa” de hoje foi semelhante ao dia em que chegamos. TODO MUNDO apareceu outra vez. E trazendo lembranças para cada um de nós! Na ordem, quem mais ganhou presentes foi: eu; Huang Hua; Erika e Valkyon, e por último o Lance.
Eu não comentei antes, mas o Valkyon, o Lance e a Huang Hua chamaram muito a atenção dos solteiros da minha família. Tanto que teve gente me perguntando se tinha mais gente solteira em Eel, assim como os meus ex-colegas de trabalho. Claro, respondi o mesmo que havia dito à eles. Mas sempre tem aquele/aquela que é mais abusado. Lance chegou a ficar na minha cola para poder evitar os outros dessa vez! Enquanto a Erika teve que bancar a “espantalho” junto do noivo dela.
No dia seguinte, Erika, Huang Hua e eu começamos a cuidar de nossas coisas para viajarmos, enquanto Lance e Valkyon ajudavam a minha mãe com os afazeres domésticos. Depois que nós três terminamos de ajeitar nossas coisas, meio que trocamos de lugar com os rapazes para que eles pudessem cuidar dos pertences deles.
Entre os meus, coloquei algumas coisas que não haviam recebido o consentimento da Purriry, e outras que eu simplesmente não queria deixar de ter de jeito nenhum! Pedi à minha mãe que desse o que eu estava deixando pra trás, pois eu já tinha bastante coisa em Eel, e ela ficou boquiaberta por eu estar abrindo mão de parte das minhas coisas (mas só porque ela não percebeu o quão pouco estava deixando para trás. Eram só as roupas bem mais velhas, alguns itens que necessitam de energia constante e outros objetos que não me serviriam em Eldarya).
Minha mãe e um tio meu nos deixariam no aeroporto. E não foi fácil “esconder” a nossa bagagem deles já que só pelos presentes que recebemos, era para estarmos carregando beeeem maaaais bagaaaagem... Meu irmão viajaria conosco novamente, mas só até a Passagem.
No aeroporto, lá pras seis da noite (nosso voo era às oito), Erika e eu distraímos minha mãe e meu tio para que os outros pegassem e arrumassem as coisas de modo a parecer que levávamos mais do que se via. Compramos um acento extra para a Purriry não ter que ir com as malas outra vez (vamos dar uma colher de chá pra ela vai), despachamos as nossas caixas especiais (mas não antes de as enchermos de avisos de “frágil”!) e nos despedimos.
Acabei dormindo durante o voo todo.Lance 2
Mas que coisa. Esses parentes da minha Ladina são realmente chatos! Nunca vi gente mais maliciosa, principalmente os aengels. Bem que ela nos avisou que sua família era complicada. Maluca! Pra ser mais honesto. Assim como a minha Ladina. Só consegui ficar um pouco mais em paz ao estar colado na minha amada. E quando foi no dia seguinte, eu logo me ofereci para ajudar a Helena na limpeza junto de Valkyon (assim como combinamos todos ontem à noite).
Enquanto o Valkyon ajudou com os quintais e as calhas, eu cuidava dos banheiros (o que me faz lembrar... será que Anya cuidou da limpeza da “gaiola”? ou ela só se preocupou de cuidar das plantas? _suspiro_...). Quando acabamos, as mulheres já haviam terminado de arrumar a parte delas da bagagem. Elas acabaram responsáveis pela limpeza do chão e dos objetos sobre os móveis, ao mesmo tempo em que eu e meu irmão cuidávamos de nossas coisas.
Honestamente, não foi ruim conhecer a família da Cris, mas eu não tinha ideia de como viver em Eldarya era melhor! Só a qualidade do ar dessa cidade já possui uma diferença gritante. Não é à toa que a Cris e outros parentes dela desenvolveram problemas respiratórios ao viver em cidades tão imensas (nem o maior reino de Eldarya consegue superar o tamanho dessa cidade!). A tecnologia da Terra é impressionante, mas ela não foi muito bem pensada. Isso sem mencionar os problemas causados por excesso populacional (de cada dez noticias que víamos na tv, só uma era boa, o resto era problemas, acidentes, crimes etc).
De volta ao imenso salão que nos daria acesso às... aeronaves, outra vez a Negra resolveu acompanhar a nossa bagagem (será que ela faz isso para ajudar a evitar os extravios que o Christiano avisou ocorrer às vezes?). Dentro daquela coisa, ao invés de ter o Christiano me impedindo de ficar junto da Cris, agora era aquela purreka que precisava ser mantida dentro da caixa felina. E Christiano, que estava no banco do lado, não parava de ficar me vigiando (porque não imita a sua irmã e dorme também? Que maldição!).
Quase não descansei durante o percurso nos céus, e após finalmente chegarmos, chegando na... roleta? Para pegarmos as nossas coisas, a Negra não tinha uma expressão boa para a caixa em que ela estava “sentada”.
(A viagem lhe foi ruim por acaso?) – “Podia ter sido pior...” – _riso fungado_ – “Pode por favor me remover este negocinho que foi colado debaixo dessa caixa?” – (como é?) eu já tirava a caixa daquele “caminho móvel” – “Impedi que alguns homens tentassem nos levar os suprimentos, mas eles esconderam alguma coisa em algumas delas. Bem aqui!” – ela me apontava o local e no que eu verifiquei, realmente havia algo.
– O que é isso? – perguntei de modo a chamar a atenção de todos.
– Onde achou isso? – me perguntou o Christiano. Mostrei o local e ele começou a conferir todas as caixas. Acabamos encontrando mais dois, e ele me pareceu irritado – Mas quem diabos está atrás da gente?
– Do que é que você está falando? – perguntou a passarinha.
– Essas coisas são rastreadores. Rastreadores militares para ser mais exato! Quem é que ganharia o quê, fazendo isso?
– Gabriel...
– Fala doida.
– Lembra dos seus colegas de curso que eu acabei mandando pra casa, e do grupo que você atrapalhou enquanto me procurava?
– Lembro, mas o qu... Pera! Você não acha que...
– Não vejo nenhuma outra explicação. E... você não havia comentado que... quando você reencontrou a caipora... ela havia tido que você e o seu guia estavam sendo seguidos?
– Ave Maria... E o quê que aqueles idiotas ganhariam nos seguindo? Tenho certeza que aqueles esquisitos os fariam se perder por não sei quanto tempo se ficarem no nosso pé!
– De qualquer forma... – era a passarinha outra vez – Melhor ficarmos mais atentos. E acho que também é uma boa ideia deixar a família de vocês dois sobre aviso.
– Tem razão Huang, mas o que vamos fazer com essas porcarias? – perguntava a anjinha ao encarar aquelas coisinhas.
– Tive uma ideia. Me deem tudo aqui. – pediu o Christiano já correndo com aquelas coisas na mão. Ele voltou uns vinte minutos depois – Pronto... resolvido...
– O que você fez? – perguntei.
– Além... de tirar uma foto daquelas coisas... e enviar pro nosso primo que é advogado... explicando tudo. _inspira, expira_ Aproveitei que há uma agência dos correios aqui no aeroporto e enviei pra ele aqueles transmissores. Tenho certeza que existe algumas leis que podem nos ajudar.
– Vamos embora logo. – sugeria meu irmão – Quanto mais rápido concluirmos essa viagem, menos riscos indesejados teremos.
Todos nós concordamos, seguindo em direção ao hotel após reaveriguarmos todas as nossas coisas.Erika
Espero que consigamos despistar os tolos que desejam o fim dos faerys... Eu realmente fiquei preocupada quando aqueles rastreadores foram encontrados (será que os meus pais correm algum risco? Mesmo com eles não se lembrando de mim?). E não há como discordar do Christiano, o quê eles ganham atacando os faerys? Custa tanto assim deixá-los em paz? Admito que nem todos possuem boa índole, mas que diferença há entre eles e os humanos nesse requisito?
Após terminarmos de verificar todas as nossas coisas antes de deixarmos o aeroporto, pegamos uma van que já nos aguardava para nos levar ao hotel. No hotel, Apoema, o chefe que comandava o hotel, já nos aguardava. Logo de cara, ele nos avisou que alguns hospedes “estranhos” haviam chegado ao lugar dois dias antes de nós. E que ele não gostava deles... (devem fazer parte dos responsáveis por aqueles transmissores em nossa bagagem).
Como teríamos que passar alguns dias mata adentro para alcançamos a Passagem, ficamos um dia no hotel (aproveitando para conhecermos, de longe, nossos possíveis obstáculos) não só para descansarmos um pouco, como para nos prepararmos para o resto da viagem (não vejo a hora de chegarmos em Eel e nos livrarmos desses malas-sem-alças...).
À noite, Apoema ofereceu um lanche cortesia para TODOS os hospedes do hotel, com ele entregando pessoalmente os lanches (e nos avisando que os nossos eram os únicos que não tinham sonífero _riso cúmplice_). Deixamos o hotel antes das seis e às pressas, com o Ubiratan de guia até a área enevoada (ele ficou refazendo o caminho várias vezes no intuito de se reencontrar com o Guardiões e assim conversar com eles à pedido de Apoema, mas eles nunca apareceram segundo ele) e a Cris dizendo carregar uma sensação estranha dentro dela, como se o poder que foi arrancado de dentro dela a chamasse de volta, ao que nos ficou entendido.
Durante o nosso trajeto 5 (Ubiratan criou 10 caminhos diferentes nas tentativas dele, para ajudar a despistar seguidores), houve duas vezes em que eu me senti observada, não sendo a única. Às vezes me dava os cinco minutos, e eu revistava com cuidado todas as minhas coisas (espero que eu não esteja ficando paranoica!).
.。.:*♡ Cap.102 ♡*:.。.
Anya
No dia que eu acordei com aquele bilhete ao lado do meu travesseiro, fiquei em choque por alguns momentos. Mesmo com aquele bilhete já destruído a não sei quanto tempo, eu não me esqueço de uma só linha do que eu li.
“A Cris está indo para a Terra com o Christiano para acertar algumas coisas. Como Absol vai ficar para trás e eu não estou afim de correr o risco dela acabar ficando por lá, eu vou junto. Seria pedir muito que você cuidasse da “gaiola” em nossa ausência? Prometo que irei devolver o favor!
Sobre essa viagem, converse com a Miiko! Duvido que ela lhe negue as respostas. Não sei quanto tempo a Cris e eu (mais os outros que participarão dessa viagem) levaremos para voltar. Mas vamos voltar!
Até não sei que dia ao certo,
Lance.”
Viagem pra Terra? Por tempo indeterminado?! Quase que eu reajo igual à Cris no dia que ela e o Lance brigaram, quando ela estava atrás da Miiko. Nunca havia conseguido me arrumar tão rápido quanto naquele dia. E o Gelinho estava certo, a Miiko não me escondeu nada depois que eu lhe mostrei o bilhete que ele me deixou.
Me senti feliz pela Cris ao descobrir que o Christiano era na verdade o irmão dela, e que o motivo dessa viagem era para arrumar algumas confusões que a chegada dela em Eldarya acabou deixando, além de buscarem mantimentos. Mas, poxa... Porque esconderam isso de mim? O que foi que eu fiz para que a Cris não me confiasse a verdade?...
Após a chegada do Chefinho naquele mesmo dia, não tive muitas chances de questioná-lo já que ele foi mandado pra Memória naquela mesma noite. E quando voltou... não tinha um minuto livre para poder me dar explicações. Nem nos meus treinos ele estava comparecendo! Mas eu fiquei boquiaberta quando ele me “devolveu” a caderneta da Cris, dizendo que a havia “encontrado” por aí (qual é Becola! Você já soube mentir melhor!).
Devolvi para o quarto da Cris. O Gelinho me pediu para cuidar do lugar, mas a única coisa que eu fiz mesmo foi regar as plantas e tirar o grosso da poeira de vez enquanto (ele que se vire com uma limpeza mais caprichada!). Por conta da historia que havia sido inventada para explicar a ausência da Cris por aí, meus pais não me permitiam ficar muito tempo no quarto dela. Tinham medo que eu também adoecesse... _suspiro_
Acho... que depois de mim, os únicos que entravam lá eram a Miiko, a Ewelein e o Leiftan. Ninguém além de nós entrava naquele quarto para manter a crença de que a Cris estava lá. E havia tanta gente quanto a vez em que ela ficou internada querendo ver ela.
Já se passou mais de quatro semanas! E ainda bem que o Cristal está conseguindo manter Eldarya de pé sem os Rituais de Maana... A desculpa dada à todos foi: como graças a interferência da Lys de Eldarya os rituais ficaram muito mais poderosos, era melhor aguardarmos a melhora da Cris para poderem voltar a efetuá-los como sempre! Alguns concordaram, mas outros ficaram receosos sobre o quê a não realização dos rituais poderiam nos causar (e eu só quero que eles cheguem logo e bem).
De vez enquanto, eu via Absol dando uma volta por aí com a Toby do Christiano o seguindo. Absol é mesmo um black-dog bem diferente. Mas ontem a noite aqueles dois me pareciam um tanto nervosos. Será que a Cris está finalmente voltando? Ahhhh... por todos os deuses! Que a resposta seja um sim.Cris
Ainda não acredito que tem um bando de desocupados perdendo o tempo nos seguindo. Assim que meu irmão disse o quê era aquela coisa miúda que o Lance encontrou, na hora eu me lembrei dos homens que Anya e eu impedimos de fazer mal à inocentes. E faço minhas as palavras do meu irmão sobre esses caras. Mas mesmo nos livrando daquelas porcarias, não íamos conseguir nos livrar deles tão fácil, pelo o que o chefe nos fez entender ao chegarmos no hotel _longo suspiro_...
Pelo menos o chefe está do nosso lado! E como o hotel havia sido construído dentro de uma área que faz parte de uma reserva indígena... (por isso todos os funcionários e o dono eram índios) Esses canalhas não podem fazer nada além de tentar ficar em nossa cola, já que por lei, eles não podiam de forma alguma tentar por as mãos naquele lugar. Uma parte da área também é uma reserva natural, limitando ainda mais suas ações contra nós naquele território. Sem falar das centenas de câmeras espalhadas pela região para melhor controle e preservação da área.
Mas... algumas horas depois de termos chegado no hotel, eu comecei a... sei lá! Sentia algo meio que tentando me atrair, talvez. Era como... um chamado ou algo assim, uma energia que tentava me levar para algum lugar. Não sei mesmo explicar. Foi a Huang Hua que deixou a entender que essa sensação podia ser o meu poder, que foi deixado na Passagem, tentando me chamar de volta (ao menos assim teremos a certeza que acharemos o caminho certo!).
Amei a ideia que o chefe (qual o nome dele mesmo? Eu sempre esqueço...) teve para nos dar tempo de escaparmos dos nossos stalkers. A única pena é que o lanche estava bom demais para ter sonífero misturado nele... Coitados dos outros hóspedes... Mas eu ainda estou tentando entender o quê que meu irmão tanto ficou fazendo na cozinha durante quase o tempo todo em que estávamos lá, e que ele se recusou a explicar _emburrada_...
Por causa daquele “chamado”, não consegui dormir bem à noite. E nós nos levantamos às cinco da manhã para deixarmos o hotel de modo a não abusarmos da sorte (vai que uma das pragas não quis comer da merenda noturna). Um pouco depois de termos perdido o hotel de vista (e bem mais acordada agora), comecei a perceber que aquela sensação de chamado, bem aos poucos, tornava-se mais forte... (acho que a Huang Hua acertou mesmo).
Seguimos nosso percurso sem problemas, ou quase... Erika chegou a reclamar de se sentir sendo observada, e ela não foi a única. Eu também senti isso, e várias vezes. Quase sempre que eu olhava na direção em questão, ou eu achava o Lance, ou eu achava algum bicho. Mas sempre havia um momento em que eu não achava nada (acho que se a Erika está ficando paranoica, não o está ficando sozinha).Lance
“Ô, Lance!” – (o que é que você quer Negra?) já fazia quase um dia que nos enviamos na selva quando ela resolveu se rejuntar a nós – “Será que tem como você deixar uma ilusão por onde já passaram?” – (e porque é que eu faria isso?) – “Porque tem um grupo de uns sete homens seguindo vocês!” – (como é que é?) perguntei olhando com cuidado para trás – “Alguém não conferiu suas coisas direito ao que consigo entender, porque eles estão utilizando algum tipo de rastreamento para alcançarem vocês.” – (o quão perto eles estão?) perguntei já imaginando que tipo de ilusão deixaria (e onde você estava até agora?) – “Eles não estão muito longe. Vocês tomaram uma distância boa deles até eles conseguirem acordar e se arrumar. E quanto a mim, estive de olho neles até o momento.” – (então o truque do pai de nosso guia funcionou) _sorriso_ – “Sim funcionou, mas não terá adiantado de nada se não os atrapalharmos de alguma forma.” – (não tem como você manipular os mascotes da Terra? Como você fazia em Eel?) – “Diferente dos mascotes, os animais da Terra são totalmente independentes, como os faerys. Não dá pra influenciá-los! Somente alguém com o poder de manipular a natureza poderia fazer isso com eles.” – (como aqueles dois que estamos indo encontrar?) – “Exatamente. Vai criar a ilusão ou não?” – já havia criado uma ideia, mas... (não é mais fácil nos livrarmos deles?) – “E dar ao chefe deles motivos para quererem continuar nos perseguindo, e de quebra, a família da Cris também?” – mas como eles são problemáticos... (apenas me avise quando eles estiverem a uns cinco metros de nós, para eu não gastar energia à toa) – “Pode deixar...”
Recebi o aviso durante a noite, no meu período de vigília. Criei uma ilusão em que todos nós passássemos a parecer com uma das criaturas que o Ubiratan nos mandou tomarmos cuidado, uma tal de onça (espero que nenhum deles tenha entendimento sobre esse mascote). Apaguei o fogo para ajudar a enganá-los. Eu cheguei a ouvir o som de algo se aproximando, mas que se afastou quase que imediatamente depois. Mantive isso entre mim e a Negra. Repedindo quase todas as noites.
Se não fosse pela maana abundante nessa selva, não me teria sido possível criar todas as ilusões que criei. Depois que amanhecia, e que nós deixávamos o pequeno e simples acampamento, a ilusão que eu deixava era a de várias plantas venenosas das que havíamos sido avisados a nem chegarmos perto, para forçar nossos perseguidores a procurarem outro caminho para nos seguir. A Negra se mantinha de olho neles, e eu, vigiava a minha Ladina.
Me senti aliviado quando finalmente alcançamos aquela névoa espessa.Cris 2
Quanto mais próximos ficávamos da Passagem, mais forte eu sentia aquele “chamado”, e quando finalmente encontramos a névoa então...!
– Mas não é possível! – quase gritei com o susto que aquela coisa me deu ao aparecer bem atrás de mim, me fazendo meio que pular pra junto do Lance – UAIUARA!!! – gritava aquela coisa, e um... cão-javali gigante apareceu – Tente achar pra mamãe, meu guri! – pediu ela pro bicho.
O bicho, que surgiu perto da Huang Hua, rodeava cada um de nós cheirando e ouvindo alguma coisa. Quando chegou na minha vez, ele começou a grunhir atrás de mim – Então foi cê que não ficou paca.
– Como é que é? – acabei perguntando para aquela coisa.
– Revire sua tralha! Vai achar a pereba que aqueles lá te deixaram. – (hein, quê, cuma?).
– Cris, – Lance que me falava – você lembrou de conferir as suas coisas antes de nós deixarmos o hotel?
– Eu... – tirei a minha mochila das costas e comecei a inspecionar tudo. Acabei achando um rastreador em um dos bolsos – De onde saiu isso?
– Porque é que você não verificou suas coisas antes, doida!
– Olha aqui Christiano, eu não consegui dormir bem aquela noite, e já estava com dificuldades pra prestar atenção no que fazia até perdemos o hotel de vista! – tivemos nossa atenção chamada pelo estalar de língua daquela coisa.
– Pelo menos o da ilusão aí atrapalhou os abaités. – falou ela pegando o transmissor que ela jogou pro meio da névoa e encarando o Lance.
– Do que ela está falando, Lance. – Valkyon lhe questionava.
– Explico quando chegarmos finalmente. Vai nos levar até a Passagem ou não? Errr... dona...?
– É Kaa’pora. Os dragões e aengels levo de boa, mas o que ganho por levar a passarinha e a bichana?
– Ei Kaa’pora! – meu irmão a chamava – Acaso você gosta de pudim de mandioca com coco?
– Macaxeira com coco?!?! – lembrei de mim diante de um japa com a reação dela – Cadê?! Cadê, cadê, cadê! Me dá, me dá, me dá!
Acho que todo mundo acabou meio que segurando o riso com ela – Pudim de mandioca com coco? – perguntei baixinho ao meu irmão enquanto a Kaa’pora se desmanchaaaava no doce.
– É o “cafuné de baiano” que pedi para mãe me ensinar. Essa coisa aí é louca por mandioca, por isso que quando o Curupira nos disse que ia depender dela o pagamento... Na hora me lembrei desse pudim. Já que ela aceitou bolo de mandioca como pagamento na primeira vez.
– E era isso o que você tanto fazia na cozinha do hotel? – como resposta, ele só me assentiu sorrindo. Aquela coisa devorou o equivalente a um pudim grande inteiro em apenas cinco minutos.
– Ah... Agradeço a Mãe Natu’erza por tal dádiva... – falou ela se espreguiçando deitada no chão após lamber os dedos.
– Agora nós já podemos ir? – perguntava a Purriry – E o que planeja para os nossos perrrseguidores, miau.
– Podemos dona miau. – me segurei para não rir – Vou deixar os jururus nas mãos do pajé do meu irmão. Ele deve querer deixá-los que nem perereca por um tempo e depois os largar em algum capoeira. Se fosse Kaa’pora, fazia paçoca deles. – (Jesus! Bem que Christiano a chamou de violenta!) – Vambora que ele já deve estar esperando cês tudo pra devolver a magia da avoada aí.
– Sabe nos traduzir o que foi que essa coisa disse? – me perguntava o Lance baixinho.
– Só sobre ela querer acabar com os nossos perseguidores na pancada. O resto, estou tão perdida quanto você. – lhe respondi baixinho.
– Antes que Kaa’pora esqueça! – parava aquela coisa – O índio também vem. Cansei de vê-lo igual curumim fazendo maloca aqui.
– Desculpe. É que meu pa...
– Se quer conversa, fale com Kurui’pira. Se quer luta, Kaa’pora escuta. – alguns de nós ficaram boquiabertos – Vambora que o manhuaçu vem e não quero ficar tremembé.
Nos aproximamos uns dos outros para podermos seguir aquele ser animalesco sem nos perdermos na neblina. Após umas duas horas, eu acho, chegamos finalmente à Passagem, e como aquela coisa havia tido, Kurui’pira nos aguardava (e aquela sensação de algo me chamando estava muito mais forte).
O Ubiratan fez o pedido que a Kaa’pora nem quis saber de ouvir. O pai dele queria poder conversar com os Guardiões, para que ele pudesse saber melhor como que poderia auxiliá-los caso mais faerys conseguissem a permissão de usar a Passagem, além de nós mesmos. Ainda bem que o Kurui’pira aceitou, já que a Kaa’pora parecia interessada apenas em se livrar de nós.
Não acreditei quando o meu irmão me presenteou com um celular capaz de me permitir contato com a Terra (agora que não vão mesmo poder me considerarem morta!), um pouco antes de ter o meu “outro eu” devolvido pra mim. Nessa hora, outra vez o curupira me guiou para as raízes (tinham tantas que eu nem conseguia enxergar o meu casulo direito!) e me deixou de costas para elas em um ponto que eu quase podia sentir aquele “outro eu” me tocando. Enquanto o Kurui’pira citava os seus encantamentos, pude sentir algo me preenchendo. Me aquecendo. E fazendo o mundo girar...Lance 2
A reação da Cris diante daquela aberração selvagem, não foi de toda ruim. Afinal, quando que tê-la em meus braços seria algo desagradável? Sabia que devia ter examinado os pertences de todo mundo durante as minhas vigílias... Mas a minha surpresa mesmo, foi aquela Kaa’pora revelando que eu estava atrapalhando os nossos perseguidores.
(Contou pra essa coisa sobre as ilusões por acaso?) – “Não mesmo. Ela que acabou vendo a sua última ilusão deixada. Além de colocar alguns animais perigosos no caminho deles.” – (eles foram atacados?) – “Pra você, infelizmente, não.” – filhos de um black-dog... como eles conseguem ter tanta sorte? (eles ainda vão poder continuar nos seguindo nessa névoa?) – “Se eles entrarem, só vão conseguir sair se os Guardiões deixarem.” – respondia ela traquina.
Após aquela Kaa’pora receber o pagamento dela (ela engoliu o equivalente a umas 20 porções!), ela meio que respondeu a purreka sobre o que seria feito dos homens atrás de nós. (Mas o que foi que essa coisa disse?) encarava a Negra – “Sei tanto quanto você! Não sou instruída em Tupi.” – _revira olhos_... Nem a minha Ladina sabia me traduzir tudo o que aquela mulher da guerra nos disse. Nós seguimos juntos até a Passagem em que demoramos pra chegar.
– Porque a demora Kaa’pora. Sabe que não podemos ficar os dois no mesmo lado por muito tempo. – questionava o feiticeiro.
– Ah! Culpa da tendy que não é paca! Ande logo com ela que não quero ficar de nhenhenhém. – (do que foi que essa coisa chamou a minha Ladina?!...) – Ah! Também tem alguns abaités pro cê toma conta!
Ele olhou praquela coisa com desconfiança por uns instantes, antes de se aproximar da Cris – Me acompanhe. – pediu ele já querendo levá-la pela mão até as raízes daquela entrada.
– Espera um pouquinho aí pajé!
– Mas o quê que foi Christiano?
– Antes que você fique sei lá como, tenho algo pra te dar. – falava ele mexendo na bolsa dele – E Ubiratan, tá esperando o quê pra falar com o Kurui’pira, já que a Kaa’pora não quis lhe escutar?
– E o quê o índio deseja falar? – perguntava o feiticeiro enquanto o Christiano caçava algo, nervoso, e começando a virar suas coisas.
– Meu pai deseja poder conversar com um dos guardiões, você ou Kaa’pora, para saber como melhor auxiliar os faerys com permissão de entrar ou sair da Terra. Como os que estão conosco. De modo que seja mais seguro...
– Tudo bem. Kurui’pira te acompanha até o seu pai. Assim que eu devolver o poder dela e cuidar dos que lhes perseguem.
– Sem querer ofender, mas vai fazer alguma coisa sobre esses seus pés do avesso? Achei! Finalmente. – ponderava o Christiano, sorrindo diante de uma caixa que devia estar no fundo da mochila dele.
– Não é a primeira vez que falo com os humanos. – declarou ele recitando alguma coisa que fez parte daquela névoa evolver-lhe as pernas, da cintura aos pés, e se tornar uma espécie de tecido claro. Acho que, tirando a Kaa’pora, ficamos todos impressionados.
– Nada mal! – Christiano se erguia recolocando a mochila às costas e segurando a caixa – Agora sim. Aqui Cristinne! Quero ver você continuar sem falar com a gente agora.
– Mas... Isso é... – surpreendia-se ela ao receber a caixa.
– Um celular capaz de obter sinal mesmo em Eldarya. Vê se tenta ligar de manhã. Qualquer coisa é só você não deixar esse celular sem sinal por muito tempo, assim você vê por ele que hora é em São Paulo. Eu já ajeitei quase tudo nele. Você nem viu que eu tirei o chip do seu celular! E olha que quase que essa coisa não chega a tempo... Igual ao carregador que você me fez comprar.
– Ai Christiano... Muito, muito, muito obrigada irmãozinho! – ela o abraçava com os olhos marejados.
– Podemos agora? – pedia o Kurui’pira.
Ela assentiu, entregando seus pertences para a Erika e o Valkyon e o seguiu. Ele a guiou até aquelas raízes, deixando-a de costas pra elas. Enquanto ele citava alguma coisa, as raízes se afastavam de modo a revelar a versão fantasma de minha Ladina, que, de acordo ressurgia aos nossos olhos do meio daquelas estirpes, ela se desenrolava de si mesma e retornava para dentro da Cris. De modo inverso ao que ocorreu quando ela foi arrancada. Ao acabar tudo, outra vez ela precisava de ajuda para andar...
– Está tudo bem com você? – acabei perguntando a ela já lhe ajudando a ficar de pé.
– Ficarei assim que tudo parar de rodar...
– Como assim Cris? – perguntava a anjinha.
– Parece que acabei de sair de uma cadeira giratória após dar umas quinhentas voltas nela. – a última vez em que ela se segurou tão forte como agora, foi na vez em que planei com ela.
– O poder dela é grande. – agora é o Kurui’pira – Grande o bastante para a embriagar diante do retorno, após esse tempo.
– Um minuto. – pedia o irmão dela – Tá nos dizendo que ela está bêbada?? Com o próprio “fantasma” dela?!
– Eu não estou bêbada! Estou sonsa.
– _riso_ Ficou me perguntando: quanto poder será que eu tenho dormindo em mim?
– Gostaria que não brincasse com isso Christiano. – a passarinha o repreendia – Senhor Kurui’pira, é seguro para a Cris prosseguir com a viagem nesse estado?
– Se ela for carregada, não. – falava o feiticeiro do mato – Ela sentiu algo com a retirada?
– Teve febre quando a maana ficou mais escassa. – falei antes que alguém tivesse a chance de abrir a boca – Eldarya ainda está fraca nesse ponto. Ela vai adoecer de novo?
– Pode ter certeza teju! – (ela me chamou de quê???) – Ela vai ficar de akãnundu de novo. Vamos partir ou não? Olha a amana! Se cês querem ficar tremembé, Kaa’pora não! E não foi cê irmão que ficou tiririca?
– Kaa’pora tem razão. Vamos todos. Mas vocês dois comigo! – declarou o Kurui’pira apoiando uma mão sobre o ombro do Ubiratan, e a outra sobre o Christiano.
Ajeitei minha Ladina sobre as minhas costas (e francamente, nem um bêbado fica sonso daquele jeito) e com o meu irmão carregando as coisas dela, seguimos aquele ser vermelho pelas cavernas após nos despedirmos dos que ficavam.Dicionário da Kaa'pora 2
Eita bichinha da fala complicada de entender!...
Segue em frente a tradução
Guri = terno, brando / Termo muito usado no Sul do Brasil para criança do sexo masculino.
Paca = ficar alerta.
Pereba = ferida / Ferida cutânea.
Jururu = Triste / abatido / chateado / desiludido.
Perereca = andar às tontas.
Capoeira = roça velha.
Curumim = criança indígena.
Maloca = casa de gente / Casa de residência fixa, onde o indígena vive em comum.
Manhuaçu = chuva grossa.
Tremembé = encharcado / alagadiço.
Tendy = Luz.
Nhenhenhém = falação / falar muito / tagarelice.
Teju = lagarto.
Akãnundu = febre.
Amana = chuva.
Tiririca = muito nervoso.
Última modificação feita por Tsuki-Hime (25-01-2024, às 11h13)
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.。.:*♡ Cap.103 ♡*:.。.
Cris
Eu realmente não estava gostando daquela tontura... Nem consegui prestar atenção direito no que foi falado depois que comecei a me segurar no Lance. No percurso dentro da caverna, além de manter os meus olhos fechados para evitar uma ânsia em cima do Lance, ficava o tempo todo imaginando a conversa que Anya teria com a gente, falando uma coisa ou outra em voz alta para não acabar dormindo.
– Se você não parar de ficar chamando pela elfinha, vou acabar ficando com ciúmes...
– Não enche Lance. Absol e Anya são os únicos que eu realmente estou com saudades em Eel. E já que temos que nos manter pensando em algo ou alguém de Eldarya para que sigamos o nosso caminho com mais segurança, porque não posso ficar imaginando o nosso reencontro com eles?
Ele ria baixinho – Espero que seja um encontro “amigável”... – (esse Gelinho...) – E eu só quero ver como é que ela e os outros reagiram ao saber que eu estou com você.
Foi minha vez de rir um pouquinho – A Anya deve ter ficado no mínimo chocada.
– E a Miiko querendo desmaiar... – completava ele – Será que Absol aparecerá para nos buscar?
– Se ele aparecer... nossa viagem de volta para Eel será mais rápida. Mas sinceramente, prefiro que nós voltemos a pé!
– E porque isso?
– Acaso você não se sente... sei lá! Desconfortável, durante a umbracinese?
– Um pouco. Mas nunca dei muita atenção para isso. Acredito que seja algum tipo de efeito por viajarmos dentro de uma sombra.
– Seja lá qual for a razão, Absol que me perdoe, mas eu detesto viagens por umbracinese!
Ele acabou rindo novamente e paramos de conversar. Voltei a imaginar nosso reencontro com todo mundo e, como eu passei a falar tudo ao invés de deixar só dentro da minha cabeça, Lance resolveu me ajudar a fantasiar tudo. Graças a isso, nem percebi o tempo passar até alcançarmos a saída.
– Miau! Até que fim, livres da escuridão! – Purriry tinha sido a primeira a sair da caverna.
– Hum!... Mas que botucatu... – se esticava a caipora (e caramba! Como essa criatura é alta!) – Hihihihi! A ycara de ocês já tá aqui!
– Absol? – descia das costas de Lance quase normal outra vez – Mas o que você e a Toby estão fazendo aqui!? – me aproximei dos dois. Toby chegou a olhar para a caverna sem sair do lugar, esperando ver mais alguém – Sinto muito Toby... – lhe acariciava, chamando-lhe a atenção – Mas meu irmão não voltou com a gente... – ela choramingou triste.
– Pegue cês tudo. – Kaa’pora entregava uma pedra para quase todos, Huang e Purriry foram as únicas que não ganharam uma.
– O que é isso? – perguntava o Valkyon.
– Uma coisinha que Kurui’pira aprendeu com Lilith, e me mandou dar pros dragões e aengels. Um muiraquitã especial que vai escondê-los do anhanguera que tá no pé de ocês. O irmão dessa aqui já tinha ganho um. – ela me apontava o polegar.
– Nesse caso, acho que falta o de Leiftan... – comentava a Erika.
– Se esse aí quiser o dele, terá de pegar com o Kurui’pira. E já aviso que ele e eu só vamos aparecer se sentimos uma dessas itás!
– Está nos dizendo, – questionava a Huang Hua – que a condição para podermos usar essa passagem para a Terra, é que pelo menos um dragão ou aengel faça parte do grupo que queira utilizá-la?
– Acertou gûyrá’im! Agora botem o revixit pra carregar suas tralhas e ocês para suas ocas, porque Kaa’pora quer é o kyririm.
– E esse tal de kyririm vai querer essa louca aí? – Lance me comentava baixinho, mas parece que ela ouviu...
– Jurupari, bicho atrevido! Ou faço paçoca de seu tembo! – ordenou ela irritada.
Absol transportou as caixas para Eel, para depois a Toby; Huang Hua e Purriry depois; Erika e Valkyon em seguida (porque é que ele não está levanto todos nós juntos?). Chegada a minha vez e do Lance, ele pareceu receoso por um momento...
– Não sei se é boa ideia ocês seguirem como os outros... – comentou a Kaa’pora que antes nos assistia partir em silêncio.Lance
No momento em que recebi aquela pedra, que me pareceu ser uma topázio citrina, logo notei uma familiaridade com as pérolas que meu ex-sócio usava na época em que se escondia (tenho que aprender esse encantamento...) o que agora me permitia compreender o porque de só conseguir sentir a presença do Christiano quando ele estava próximo (e eu que pensei que era impossível esconder a presença de um dragão para outro...).
Após um pouco de discussão com aquela coisa esquisita, Absol começou a levar as coisas para Eel com a umbracinese dele.
“A Cris não vai aguentar essa viagem...” – comentava a Negra (como é que é?) – “O que ouviu. Sabe por que viajar por umbracinese é tão desconfortável?” – (saberei se você explicar, não?) – “Umbracinese significa ‘controle das sombras’ ou ‘das trevas’. O que significa que este é um poder sombrio.” – (e?...) – “Poderes sombrios costumam enfraquecer aqueles cujo poder não provêm das trevas, e viagens por umbracinese costumam tirar temporariamente metade da força daqueles com poderes não sombrios, devolvendo-os ao normal no concluo da viagem. No entanto...” – (no entanto o quê? Como essas viagens afetam a Cris? E porque ele não está nos levando todos juntos como antes?) – “Se não me interromper, eu termino de dizer!”
Esperei ela continuar em silêncio, com Absol começando a nos levar para Eel – “Bom, continuando. A umbracinese enfraquece a força de todo ser não sombrio pela metade. Mas se o transportado tiver poder de luz, como a Cris...” – acabei engolindo seco – “...A umbracinese tira mais de dois terços da força ao invés de metade. A Cris ainda não superou a febre dela - que não deve demorar - e isso pode se tornar perigoso para ela! E sobre Absol estar carregando todo mundo aos poucos, a neblina criada pelos guardiões intervire em todo e qualquer tipo de poder.”
Fiquei realmente preocupado com a Cris agora. E Absol carregava meu irmão e a noiva agora. Mesmo com a gente recebendo os amuletos de proteção, ainda era muito arriscado voltar para Eel a pé. Comecei a me recordar de como costumo me sentir nessas viagens... (Negra!) uma ideia me surgia (e se eu envolver a Cris com minha energia? Você disse que a umbracinese toma metade do poder dos seres, mas o máximo que eu sinto nessas viagens é um leve incomodo!) – “Huummm... Pode ser que dê certo! Isso se a Cris conseguir chegar consciente...” – (ela vai chegar. E espero que essa febre não apareça antes de nós estarmos em Eel... não consegue conferir essa possibilidade não?) – “São poucas, mas há.”
Havia finalmente chegado a vez da Cris e minha, e a Kaa’pora, que antes havia ficado em seu canto, resolveu se impor naquela situação.
– Como assim, “não é uma boa ideia viajar como os outros”, porque os outros podem e eu não? – questionava a minha Ladina.
– Cê ainda não venceu o akãnundu. Umbracinese enfraquece quem não é o dono do poder. Cê pode nem chegar acordada de tão kane’õ.
– E se eu a proteger? Cobrindo-a com a minha própria força? – questionei aquela coisa como se a Negra não tivesse me explicado nada.
– Sei não!... Se cê é mbarete o bastante para cuidar de sua kunhã, quem sabe?...
Mesmo sem entender o que aquela coisa disse de verdade, comecei a abraçar a Cris, criando uma espécie de escudo energético ao redor dela. Absol começou a nos levar em seguida.
Não estava sendo fácil. A umbracinese de Absol realmente parecia querer me afetar dessa vez, mas eu não me rendi. Não quero nem pensar no que isso poderá significar para a Cris se não chegássemos primeiro. Me pergunto se a demora dessa viagem era por consequência de meu esforço; se era por causa da neblina que a Negra explicou afetar a umbracinese; ou se era por causa da distância entre Eel e a Passagem.
Quando finalmente chegamos, direto dentro do quarto dela, a Cris estava consciente. Mas ardendo em febre...Erika
Nossa! A umbracinese de Absol está especialmente chata hoje. Não é à toa que a Cris diz detestar viagens assim. Será que foi por isso que Absol resolveu levar a gente aos poucos ao invés de nos deixar todos em Eel de uma vez só? Acho que vou procurar saber mais sobre a umbracinese...
Absol deixou a mim e o Valkyon na Sala do Cristal, onde Huang Hua nos aguardava. Ela foi logo nos contando que quando chegou, Miiko e Leiftan eram os únicos presentes na sala. Ela lhes repassou sobre as caixas que Absol deixou em algum outro lugar, cabendo ao Leiftan a tarefa de descobrir onde que elas foram deixadas por ordem da Miiko (Purriry foi junto dele para que pudesse reaver seus tecidos). Também comentou sobre a Miiko ter tido algum tipo de pressentimento e deixou a sala às pressas. Ficando a Huang Hua em nossa espera.
Depois dessa historia, também comecei a ter um mau pressentimento... Valkyon foi atrás do Karuto para avisá-lo sobre a nossa chegada e eu fui atrás da Miiko (mas sinto que quem eu devo procurar é a Ewelein). Huang Hua permaneceu na Sala do Cristal para a pequena possibilidade de Absol trazer aqueles dois para lá.
Valkyon e eu mal terminamos de adentrar o salão das portas e eu encontro tanto a Miiko quanto a Ewelein, juntas – Miiko! Ewelein. Como é bom poder revê-las! – cumprimentava-as e Valkyon seguiu direto para o salão principal.
– Bem vinda de volta Erika! Não vejo a hora de poder receber seu relatório completo sobre sua viagem à “Memória”. – dizia-me a Miiko – Estamos indo ver a Cris no quarto dela, nos acompanha?
– Mas é claro! – (pois parece que tivemos o mesmo pressentimento, Miiko) – Como estão as coisas por aqui? Sequelas surgiram com a falta do Ritual? – perguntei enquanto fazíamos o caminho do quarto da Cris.
– Por incrível que pareça, não. Quase terminei de efetuar as verificações de saúde enquanto você esteve fora Erika.
– Desculpe por deixá-la na mão por esse tempo Ewelein, mas a Cris e eu escolhemos algumas lembrancinhas para vocês e para mais um monte de gente!
– Fiquei curiosa Erika... – falava a Miiko sem diminuir o passo – Huang Hua me adiantou algumas coisinhas de forma bem breve. Quando terminarmos de nos organizar, quero saber que “coisinhas” são essas. E... o... Gelinho, deu muito trabalho para vocês?
Soltei um longo suspiro – Alguns... E ele também nos deu várias explicações. A Cris quase entrou em pânico quando ele apareceu!
– Imaginamos... – respondeu as duas juntas, e já entravamos no corredor do quarto da Cris.
Quando adentramos, Anya ajudava Lance a colocar a Cris na cama – Mas o que houve com ela?? – questionava a Ewelein correndo até a Cris.
– Consequência do quê os guardiões fizeram com ela. – explicava o Lance sem se afastar da Cris – Eu a protegi durante a viagem dos efeitos da umbracinese, mas não sei se ela tem alguma coisa mais além da febre que já sabíamos que ela ia ter.
– Como assim? – perguntava a Miiko com a Ewe se concentrando em seu trabalho – De que consequências vocês estão falando? E que efeitos a umbracinese pode provocar? – a resposta da segunda pergunta, eu também quero ouvir!
Lance contou sobre o Kurui’pira e a Kaa’pora, e sobre o que eles fizeram à Cris e por que. Quando ele terminou de explicar esse assunto, Ewelein começou a explicar sobre que efeitos eram esses que o Lance comentou (o que explica o porquê das viagens de Absol serem tão desagradáveis...). Constatando ela que a febre era o único mal da Cris naquele momento, ela sugeriu que a deixássemos descansar, e ela saiu em seguida para pegar algum remédio para fazer aquela febre se dispersar mais depressa.
Nem Lance, nem Absol e muito menos Anya quiseram deixar o quarto, preocupados com a Cris. arrastei a Miiko comigo para fora, para poder lhe repassar melhor sobre a viagem, e para saber tudo que aconteceu enquanto estivemos fora.Leiftan
Eu fiquei em choque quando a Miiko repassou para mim, Ezarel, Ewelein e Karuto sobre o pequeno recado que Anya havia recebido. Meu ex-sócio ficou louco de vez! Mas mantivemos os nossos planos. A ausência do Ritual de Maana não pareceu fazer muita falta durante esses dias em que eles estiveram fora, mas ainda era necessário! Segundo minhas observações.
Os dias se passavam... Estava avisando a Miiko sobre o término de sua última ordem que me havia sido dada, quando Absol surgia dentro da Sala do Cristal, com Huang Hua e Purriry junto dele.
– Então era por isso que Absol e Toby desapareceram... Mas onde é que estão o resto do pessoal? – perguntava a Miiko com Absol partindo novamente.
– Acho... que a caminho... – comentava a Huang Hua o vendo partir.
– Onde que estão nossas caixas?! – procurava a Purriry.
– Absol não deixou nenhuma caixa por aqui... – comentava – Vocês são as primeiras a aparecer por aqui. Estão todos bem? Como foi a missão?
– Foi bem apesar tudo. Tivemos um começo um tanto turbulento e alguns pequenos problemas, mas tudo esteve sob controle.
– Menos mal. As caixas às quais vocês se referem, são as mesmas que vocês levaram?
– Exatamente, miau. – Purriry parecia nervosa – E eu vou já em busca delas! Não irei ficarrr no prejuízo de jeito nenhum!
– Espere Purriry! Leiftan, vá junto dela. E quando encontrá-las, avise Ezarel para utilizar o antidoto para a poção de encolhimento.
– Sim senhora. – falei saindo com Purriry à minha frente.
Como a intenção principal daquelas caixas era buscar mantimentos, imaginei que Absol as teria entregado para o Karuto. Pedi para que Purriry me acompanhasse até a cozinha para começarmos nossas buscas.
Chegando lá, Karuto já ordenava um grupo de pessoas para ajudá-lo a separar algumas coisas. Purriry mais que se apresou para dentro, encontrando as caixas que tanto buscávamos.
– Vou já levando meus tecidos, miau. Tenho poções de crescimento em minha loja e pequenos assim me é mais fácil levá-los. Boa sorrrte com o rrrestante das coisas, caro Leiftan. – despediu-se ela.
Conversei rápido com o Karuto e fui atrás do Ezarel que encontrei carregado de poções saindo do laboratório. Corri para ajudá-lo a carregar as poções necessárias para trazer tudo ao seu tamanho normal, e quanta coisa eles trouxeram! Na cozinha, só restauramos o tamanho dos alimentos. Ainda fazíamos isso quando o Valkyon apareceu para saber das caixas. Ele sugeriu só devolver o tamanho das sementes no jardim do Karuto. E o restante das coisas no quarto da Cris, já que uma das caixas era só pertences dela (e o quê ela tanto trouxe para ficar pesada daquele jeito?).
Assim fizemos. Valkyon esvaziou as sementes e mais uns dois livros sobre agricultura (boa ideia!) no lugar especial do Karuto, com Ezarel usando a poção de crescimento em tudo. Fomos todos juntos, Valkyon, Ezarel e eu, em direção ao quarto da Cris para restaurarmos o conteúdo do restante das caixas. Com Karuto cuidando da comida.
Quando chegamos, Erika (como ela está bonita...), Miiko e Ewelein conversavam do lado de fora.Anya
Com a possibilidade da Cris chegar hoje depois que Absol e Toby sumiram (e o Chefinho também sumiu), corri para o quarto da Cris e não saí mais de lá. Já era umas dez da manhã mais ou menos e eu terminava de dar uma varrida por cima quando eles chegaram.
– Até que fim! E parece que eu realmente acertei sobre o sumiço do Absol.
– Oi pra você também elfinha.
– O que há com a Cris? – acabei perguntando ao ver que ela parecia com dificuldades para ficar de pé sozinha e sua aura tinha uma cor estranha. Lance foi logo levando a mão à testa dela, e eu não gostei da cara dele... e muito menos de sua aura “preocupação”.
– Libera a cama para eu poder deitar a Cris, ela precisa de descanso mais do que qualquer um!
– Tá, mas o que houve com ela? – perguntei já tirando a colcha e a Miiko, Erika e Ewelein entraram logo em seguida (e já que a Erika não parece surpresa com o Gelinho aqui, com certeza já tem bem mais gente sabendo dele _suspiro_).
Prestei atenção à conversa de todos eles enquanto ajudava a deixar a Cris mais confortável na cama. A Cris teve o poder dela arrancado de si? Ficando doente por causa disso quando a maana ficou escassa ao redor dela?! E passou mal outra vez ao ter seu poder devolvido?? Ô Cris, você é trabalhosa, heim! Mas eu não sabia sobre as inconveniências das viagens que Absol fornecia com a sua umbracinese... (bem que essas viagens eram incômodas).
Ewelein saiu em busca de medicação para a Cris e a Erika arrastou a Miiko para fora, ficando apenas Absol, Gelinho e eu com a Cris – Me diz Lance... – puxava o assunto – Como que foi a viagem de vocês?
– Acho que foi boa apesar de tudo. Quando a Cris melhorar, conversamos melhor sobre o assunto. Você leu o meu recado?
– Sim. E eu praticamente voei até a Miiko em busca de respostas. Não fui informada sobre essa viagem por quê?
– No meu caso, foi pra que você não me entregasse e eu fosse impedido de alguma forma de ir junto.
– E sobre a Cris...
– Aí terá de ver com ela, quando ela melhorar. – ele passava a mão sobre a mesa – Você cuidou desse lugar como eu pedi?
– Só tirei o grosso. – ele fazia cara feia – Fiquei chateada por me terem escondido essa viagem. Esconderam até quem o Christiano era de verdade!
– Me faça o favor de ficar de olho nela enquanto começo a dar um jeito nesse lugar. – pedia-me ele entrando no banheiro.
Não falei nada. Apenas comecei a acariciar a cabeça de Absol que estava deitado do lado da Cris, tão preocupado quanto eu com ela. Lance começou a limpar o lugar e Ewelein chegou com a medicação para a Cris. Ajudei-a a cuidar da Cris e passei a observá-la enquanto a Ewelein conversava com a Erika e a Miiko do lado de fora. Lance fazia de tudo para efetuar a limpeza com o mínimo de ruídos e sem levantar uma só poeirinha para não arriscar ser prejudicial para a Cris. E mais tarde, quase na hora do almoço e com o Gelinho quase terminando a limpeza, o Valkyon veio deixar duas caixas no quarto da Cris, e Ezarel deixou três frascos de poção de crescimento sobre a mesa.
Acho que foi por causa da umbracinese! Pois a Cris passou o dia dormindo com aquela febre.Cris 2
Depois daquela explicação meio sem sentido da Kaa’pora, eu fiquei com receio de viajar através da umbracinese. Senti claramente a energia que Lance usou para me cobrir em proteção, mas, durante o percurso, notei que essa energia queria enfraquecer às vezes, e nem ela foi capaz de impedir de eu me sentir meio desconfortável no caminho. Já começava a me sentir fraca quando finalmente chegamos em meu quarto. Notei que Anya estava presente também, mas eu não estava bem... Apaguei assim que fui colocada na cama.
Quando eu acordei, já estava escuro (eu fiquei dormindo o dia inteiro??). Pude sentir o cheiro bem leve dos produtos de limpeza, o que significava que o quarto havia sido limpo hoje, uma vez que aqueles perfumes duravam um dia inteiro.
Eu não sei se era efeito da umbracinese ou da febre em si, mas eu me sentia um tanto... inquieta. Sozinha; nervosa; com vontade de estar outra vez na casa meus pais, e quem sabe... um pouco, vazia? Eu não sei...
Passei a observar o dossel de minha cama, tentando me entender, e uma mão começou a me abraçar a cintura com um beijo em meu ombro a acompanhando. Fechei meus olhos para aproveitar o carinho que, querendo ou não, estava me acalmando um pouco.
– Como que a minha Ladina se sente? – falava ele baixinho perto do meu ouvido.
– Não tenho muita certeza... – respondia – Fisicamente acho que já estou bem, mas...
– Mas? – acho que ele se sentava.
– Eu não sei, acho que estou me sentindo meio vazia de alguma forma...
– Mesmo comigo do seu lado?? – um riso me escapou.
– No momento em que senti o seu carinho, essa sensação diminuiu um pouco, então fique calmo. – falei lhe voltando o rosto e ele passou a me sorrir com ternura – O que aconteceu Lance?
– A febre lhe atacou logo depois que chegamos. A umbracinese deve ter a piorado de alguma forma, pois você passou o dia dormindo, mesmo depois da medicação da Ewelein fazer efeito.
– Sinto muito... Devo ter dado trabalho...
– Você não deu trabalho algum... – dizia-me ele sorrindo e me colocando alguns fios de cabelo para trás da orelha – Anya ajudou a lhe velar e eu cuidei da limpeza. Erika e os outros fizeram o relatório sobre a nossa viagem e já entregaram/guardaram a maior parte das coisas que trouxemos da Terra.
– E quanto à minha “mudança”? – indaguei me erguendo um pouco (estou com uma fominha...).
– Esperando por você encostada na parede do lado da porta com três frascos de poção de crescimento sobre a mesa. Que estão acompanhadas de um prato de frutas picadas levemente adoçadas. Com fome?
– Um pouquinho... – me erguia da cama em direção à mesa, e Lance me ria atrás.
– Imagino que queira tomar um banho em seguida. Ou quem sabe, alguns litros d'água? – acabei rindo outra vez já provando das frutas (e eu estou mesmo de garganta seca).
– Sobre Absol...? – questionava o procurando.
– Permaneceu deitado ao seu lado até o sumir de sua febre. Depois disso saiu. A Ewelein apareceu de vez em quando para lhe averiguar.
– Tudo isso aconteceu com você ao meu lado? Ninguém acabou... estranhando, você estar comigo?
– Se alguém ficou assim eu não sei, porque a minha única preocupação era você. – declarou ele se aproximando de mim – E só quem já sabia de mim é que entrou aqui. – terminou ele ficando atrás de mim.
Acabei não dizendo mais nada. Terminei as minhas frutas (bem molhadinhas) e depois bebi um meio litro de agua, seguido de um banho. Lance permaneceu fora do banheiro, mas sempre me questionava em um momento ou outro se eu precisava de ajuda em alguma coisa, que eu dispensava. Ele estava sendo bem zeloso comigo.
Acabado o banho, vi que agora era... onze e vinte da noite? E eu não estou sentindo sono algum... Mesmo se eu colocasse o Lance para me ajudar com as coisas que havia trazido, não teria lugar para guardar tudo. Querendo ou não, teria de esperar por amanhã...
Sentei-me na cama e, pensando no que fazer pra ver se eu conseguia dormir o resto da noite, resolvi rezar logo um rosário. Mas nem isso me deu sono! Rezei-o inteiro (deitada) sem nem piscar de sono. (se nem um rosário, que me gasta quase uma hora, foi capaz de me colocar pra dormir, o quê que vai conseguir?).
Martelava minha cabeça com isso quando o Lance começou a me passear um dedo gelado em meus braços, me causando alguns arrepios – Lance? – ele começou a me beijar o pescoço – Lance, não. Por favor. – ainda não me sentia bem com esse tipo de “afeto”.
– Relaxa princesa... – me sussurrava ele ao ouvido – Eu disse que cuidaria de você... – ele está começando a “mexer” comigo... – Quando acabarmos, garanto que nem se lembrará que um dia aquela coisa chegou perto de você. – terminou ele me beijando os lábios docemente em seguida.
Ele estava diferente. Estava cuidadoooso, carinhooooso, conseguindo que eu me entregasse cada vez mais. E não parava de me elogiar! Ele declarava tudo o que gostava em mim, fossem qualidades ou defeitos, da forma mais doce que eu jamais ouvira antes. Conseguindo aos poucos meu coração também... (esse comigo é realmente o Lance, né?). Acabei lhe questionando sobre a poção e ele me fez bebê-la por meio de um beijo (este homem está mesmo me derretendo...).
– Me desculpe... – pedia-me ele um tempo depois, mas antes que eu lhe questionasse o porquê daquele pedido, ele uniu-se de forma bruta. Arrancando um gemido de nós dois – Você me negou tanto na Terra, que não conseguirei me conter... – sussurrou ele ao meu ouvido outra vez, me enchendo de beijos e sendo um quase selvagem embaixo (tirando qualquer dúvida sobre ser realmente ele ou não).
Quando tudo acabou, com nós dois se entregando juntos, já não carregava mais nenhum receio sobre aquele tipo de afeto (bem como ele me prometeu), mas também não me sentia cansada ao ponto de querer dormir (_suspiro_). Ficamos deitados um de frente pro outro, com ele me acariciando os cabelos.
– Lance... – chamei-o – Tudo o que você me disse a pouco... é mesmo verdade? Você realmente pensa aquilo tudo de mim? – brincava com o indicador em seu peito (não quero me entregar se ele não estiver sendo sincero...).
– Nunca fui tão honesto em toda a minha vida. – travei, e acho que corei – E repetirei quantas vezes forem necessárias se assim você desejar.
– Nã... não acho que seja necessário... – (mas se puder repetir de vez enquanto agradeço!).
– Se importa... Se eu lhe fizer uma pergunta?
– Já está fazendo uma, mas dependendo da próxima, acho que sim. – falei lhe arrancando um riso.
– É só... uma dúvida que me passou pela cabeça... – lhe olhei de forma a pedir que continuasse – Se... – ele parecia sem jeito – O que você pensa do meu irmão?
– Quê quer saber?
– Bom... é... Se a Erika não tivesse se envolvido com ele, ele... teria alguma chance de conquistá-la? – terminou ele corado, um sorriso me escapou ao observá-lo naquele estado.
– Sinceramente, Valkyon tinha sido o único homem que havia me chamado a atenção depois que entrei em Eel. – reparei que ele engolia seco – Mas... – Lance me prestava atenção – Preciso dizer que aquela montanha de músculos me deixa um tanto... intimidada. Acho que eu demoraria para acabar me envolvendo com ele se a Erika já não lhe ocupasse o coração. – suspirou ele aliviado, fazendo-me rir de leve.
– Ainda bem que a Erika escolheu ele ao invés do Leiftan... Não ia gostar de ter que disputá-la com o Valkyon. – disse ele me passeando as pontas dos dedos em minha coluna, que me fez colar-me a ele involuntariamente.
– Sabia que você acaba me fazendo de marionete com esse seu toque gelado?! – ele me dava aquele sorriso.
– Se isso me garantir ter a mulher mais incrível do mundo ao meu lado... – _extremamente corada_ – Irei me aproveitar disso o máximo possível. – me confidenciava ele baixinho me beijando em seguida.
Não tivemos um segundo round, ficamos apenas nos beijos mesmo e eu acabei adormecendo.Dicionário da Kaa'pora 3
E vamos lá entender o que a guerreira do mato falou no capítulo?
Botucatu = clima bom
Ycara = canoa
Itá = pedra
Gûyrá’im - passarinho
Kyririm = silencioso
Jurupari = boca fechada
Tembo = órgão genital masculino (não vou colocar a palavra correta aqui)
Kane’õ = cansado
Mbarete = forte
Kunhã = mulher
.。.:*♡ Cap.104 ♡*:.。.
“ELDARYA PODE PARAR! PORQUE ACABAMOS DE CHEGAR!”
“Bem vindos de volta.”
– O quê? Já?! Mas essa foi a menor fase que já vi até agora!
“Olha aqui Cris, nós dizemos que você teria umas “férias”, não uma suspensão indeterminada de suas obrigações em Eldarya.”
– Tá... Eu sei, eu sei. Mas... Meu!?!
“Entendo que esteja desapontada Cris, depois de tudo o que já passou até aqui. Mas nós duas ainda precisamos de você em Eldarya...”
– Ok... Tudo bem... Esquece! Mas me diz, vai haver alguma mudança nessa nova fase?
“Bom... Podemos dizer que uma mudança está meio atrasada. Ou vai me dizer que tínhamos avisado que às vezes surgirão momentos em que não existirá um ponto de vista? Que estarão sendo apresentadas por um narrador e não por uma criatura em questão?”
– Hum... Não!... Não foi dado um aviso sobre isso não.
“Precisamente. E não acha que já passou da hora de você aprender de vez a usar esses seus poderes faerys, Cris?”
– Heim?!?
“Irmã! Não a pressione! Sabe que tudo ocorrerá como se deve!” – a Negra lhe revirava os olhos – “Agora Cris, porque não voltamos para a historia?”
– Fazer o quê, né!***Miiko
Não sei se eu comentei, mas depois que Nevra me confirmou a autenticidade do bilhete que Anya me apresentou, informando que o Lance havia dado um jeito de ir para a Terra também. Convoquei uma reunião particular com todos que tinham conhecimento sobre o Gelinho e repassei a noticia, que ninguém gostou muito de saber...
Como quase todos os responsáveis pelo Ritual de Maana não se encontravam mais em Eldarya, Leiftan ficou observando os efeitos que a sua ausência causava. Segundo ele, o interrompimento do Ritual não poderia durar muito tempo... O novo Cristal estava conseguindo sustentar Eldarya, mas ele ainda não tinha nem mesmo a força que o Cristal original carregava após ser quebrado pela primeira vez (temos que unir logo essas duas metades...). Sem falar, que o Cristal não reagiu mais nenhuma vez depois que a Cris deixou Eldarya.
Para ajudar com a historia da “doença” da Cris, acabei utilizando o quarto dela para pequenas reuniões sobre as “verificações de saúde” e outras coisinhas com a Ewelein e o Leiftan. Anya só entrava mesmo para dar uma cuidada mais ou menos no lugar. Muitos eram os que me questionavam sobre a “saúde” da Cris, e eu já estava começando a perder a paciência com os mais insistentes que pediam para vê-la (mas será que dá pra eles voltarem logo da Terra!? Pelo Oráculo!).
Por algum motivo, sentia que tinha de ficar de olho em Absol e Toby depois que a Cris partiu com os outros. Na manhã em que eles pareciam inquietos, fiquei com vontade de passar o dia na Sala do Cristal. Como o Leiftan havia tomado o café da manhã comigo nesse dia, eu já havia lhe passado alguns pedidos, mas, uma meia hora depois, com ele entrando na sala para me dizer que já tinha acabado o que eu lhe pedira, Absol me resolve aparecer trazendo a Huang Hua e a Purriry consigo através de sua umbracinese.
Ao mesmo tempo em que me senti assustada com aquilo, também me senti aliviada. Mas não entendi porque que o Absol não quis trazer todos de uma vez! Se o problema fosse o Gelinho, era só eles aparecerem no quarto da Cris ao invés da Sala do Cristal. De qualquer forma, assim que Absol se foi, fui logo questionando as duas e pus Leiftan para acompanhar a Purriry na busca dos mantimentos terrestres.
Enquanto a Huang Hua me explicava mais ou menos sobre a viagem, comecei a pensar na Cris e na Ewelein (isso não é bom...). Pedi para a Huang Hua ficar na Sala do Cristal para quando Absol retornasse com os outros, e saí atrás da Ewelein na enfermaria.
– Ewelein! – ela atendia um paciente – Você tem um minuto?
– Já vou Miiko. – ela voltou-se para o paciente – Agora trate de seguir o que lhe recomendei, e em duas semanas mais ou menos o problema estará resolvido. Me procure se notar algo estranho durante o tratamento.
– Muito obrigado Ewelein. Farei como disse. – respondeu o ser, saindo em seguida.
– E então Miiko, qual o problema?
– Huang Hua está no QG. – ela ficou atenta – Será que... pode me acompanhar até o quarto da Cris?
– Há algum problema com ela? – ela se levantava para me acompanhar.
– Não sei ao certo. Estou... com um pressentimento.
– Tudo bem. Vamos rápido.
Deixamos a enfermaria. E antes que pudéssemos alcançar a entrada do corredor das guardas, Erika e Valkyon apareceram. Erika nos acompanhou também comentando sobre a viagem e eu sobre o quê aconteceu na ausência deles. Chegando no quarto da Cris, fiquei assustada ao ver a Cris sendo colocada deitada na cama aparentemente inconsciente. Ewelein mais que se apressou em examiná-la.
Lance explicou o que aconteceu mais ou menos, e Ewelein comentou sobre as desvantagens de se viajar por umbracinese. Reparei que o Lance mostrava um imenso cuidado e preocupação com a Cris (é Miiko... não tem jeito. Esqueça-o de vez! _suspiro_). Erika me levou para fora, pra que assim pudéssemos conversar de forma mais tranquila. Ewelein saiu quase ao mesmo tempo que nós para buscar algum medicamento para a Cris, não demorando em voltar. Depois da Cris ter sido tratada, ela se juntou a nós naquele relatório.
Um tempo depois, Ezarel, Valkyon e Leiftan chegavam carregando duas das caixas usadas para o transporte dos mantimentos. Pedi para o Leiftan avisar Huang Hua que a Cris e o Gelinho já estavam no quarto da Cris e, após ele retornar acompanhado da Huang Hua, entramos todos no quarto. Lá dentro, Lance lavava o banheiro. O que me surpreendeu! E Ezarel me sussurrou que aquilo era um dos castigos que a Cris lhe tinha imposto por tentar matá-la (_boquiaberta_).
A caixa com os pertences apenas da Cris foi deixada em um canto do quarto, com as mochilas dela e do Lance dentro. De acordo Ezarel ia trazendo as demais coisas ao normal, Erika nos entregava dizendo o quê era e pra quem era cada uma daquelas coisas.
Amei o conjunto de grampos que ganhei de lembrança das meninas. Perfeito para uma festa de requinte (se usasse o conjunto completo) ou para o dia-a-dia (se usasse apenas um dos grampos). Ezarel e Leiftan também receberam alguma coisa. E eles compraram lembranças para todos por acaso? Bom, Erika também retirou alguns livros que realmente poderiam ser úteis, especialmente os de medicina para a Ewelein, e Valkyon disse que os de culinária e agricultura já havia sido deixados com o Karuto. Já o de engenharia, Ezarel que ficou com ele para estudá-lo (e ele pareceu gostar muito do tal... telescópio(?) que ganhou).
Como Karuto veio até o quarto nos trazendo as refeições da Cris (que acabou ficando para a Erika já que a Cris ainda dormia), da Anya e do Lance, nos alertando que a cozinha estava quase fechando para o almoço. Descemos todos para comer deixando Anya e Absol de olho no Gelinho e na Cris.
Durante a refeição, Erika e Valkyon começaram a me repassar os inconvenientes que tiveram na viagem (e tinha que ter alguns humanos nos perturbando o caminho...). Pedi a eles que quando fossem entregar o relatório escrito, o fizessem diretamente a mim (e agora que estou notando... Aonde que o Nevra foi parar??).
Ewelein retornou para o quarto da Cris umas duas ou três vezes, e senti-me aliviada quando ela nos deu a noticia que a febre já havia acabado, e que ela só dormia agora. Ela pediu ao Karuto que preparasse algo leve para a Cris e que não se estragasse fácil, pois ela não sabia dizer quando que a Cris acordaria, e que com certeza acordaria com fome após dormir por um dia todo.
Uma vez que não tínhamos ideia sobre a hora que a Cris acordaria, resolvemos realizar o Ritual de Maana no dia seguinte. Me pergunto se, esse tal de Kurui’pira não tivesse separado a Cris do colar dela e de seus poderes, o Cristal teria continuado recebendo a energia emitida pela Cris?Lance
Pestinha... Custava a Anya ter atendido ao meu pedido? Ela me disse que tirou apenas o grosso, mas só se for a superfície do grosso... Lavei bem dizer o quarto inteiro! Como aquele povo resolveu se reunir dentro do quarto, esperei que eles saíssem para poder cuidar do chão, o que só ocorreu depois do almoço.
Quanto à Cris, confiei ela à Anya e ao Absol que não saíam de cima da cama, a vigiando. Absol só deixou o quarto quando a Ewelein confirmou que a febre tinha sumido, o que ocorreu lá pras três da tarde. E Anya só foi embora umas duas horas depois, com a Ewelein a chamando para ir e deixando uma refeição leve para a Cris quando ela acordasse.
_suspiro_ Como a Cris demorou para acordar... Quando o sátiro apareceu me trazendo o jantar e querendo saber da Cris, ela ainda dormia. Até as sementes resolveram vê-la! – Me diz Negra, acaso o motivo dela ainda estar dormindo é a umbracinese do Absol?
“Um pouco sim. Mas pode ficar frio que já, já ela acorda.”
“A febre que ela sentiu tinha a função de normalizar a sua natureza. Se não fosse pela interferência da neblina criada pelos Guardiões da Passagem, somada aos efeitos da umbracinese, ela já estaria acordada.”
Fiquei surpreso pelo tanto que a Branca resolveu falar dessa vez – Quando ela acordar... ela vai estar normal outra vez, certo? Como se nunca tivessem lhe tirado o poder, correto?
“Pode ter a certeza que sim, Gelinho!” – _rosnando_ respondia a Negra toda animada com a Branca apenas assentindo com a cabeça em confirmação – “Depois que o dia raiar, tente fazer tudo o que ela lhe pedir! Desde que não a facilite/atrapalhe nos treinos. E vê se pega pesado com ela nesse ponto! Para ela não ter que passar por isso tudo outra vez.”
– Não acho que ela vá querer fugir dos treinos depois de hoje... – fiquei observando a Cris (tão serena... tão bela...).
“Terminem com a agua, e comecem com a terra. A luz precisa esperar mais.” – a Branca me tirava de mim.
“Quando menos esperar a Cris acorda. Tenham uma boa noite Gelinho!” – despediu-se a Negra sumindo junto da Branca.
Quando eu tiver a chance... Pelo menos alguns cascudos irei dar nessa Negra! Fui tomar banho pra esfriar a cabeça. Acabado o banho, resolvi dar uma nova olhada nos planos de treino que havia feito para ela, e já que ficamos quase um mês sem fazer nada, montei uma pequena revisão para lhe testar o retorno dos dons. Com tudo pronto e a Cris ainda dormindo, resolvi me deitar ao lado dela até seu despertar.
Voltando a observá-la, um desejo me quis subir... Mas ele só seria atendido se minha princesa estivesse consciente, sem esquecer que eu ainda tinha um pequeno problema para resolver (maldito ryōude...). Estava quase cochilando quando ela decidiu finalmente acordar e no pouco que conversamos de início, ela me pareceu um pouco insegura (ainda bem que consegui fazê-la sorrir).
Lhe repassei parte dos ocorridos enquanto ela estava na cama e/ou comendo. De vez enquanto lhe perguntava se ela estava bem mesmo, se precisava de uma mãozinha com qualquer coisa, e ela só dizia estar tudo bem. Depois que ela deixou o banho, vestindo uma camisola, (linda...) ela parecia procurar o que fazer. Deitou-se na cama mais uma vez e começou a rezar.
Pelos deuses... A maana dela parecia mais atrativa do que na Púrpura! (e me deixando cada vez mais fascinado por ela...) Precisei me manter longe dela enquanto ela rezava, ou lhe avançaria antes dela terminar. Quando ela finalmente acabou com suas preces, avancei devagar.
Como esperado ela quis me resistir no começo, e quase que me esqueço da poção. Me pus transparente diante dela, confessando todos os sentimentos que tinha por ela e como que a enxergava depois que parei de mentir para mim mesmo. Estava tendo dificuldades em me segurar, por isso acabei lhe pedindo desculpas antes de tomá-la por completo. Tenho certeza que ela ficou tão entregue como eu. Ainda conversamos um pouquinho depois de descansamos uns instantes, onde acabei me livrando de uma pequena aflição que às vezes me perturbava. E adormecemos após alguns beijos trocados.Cris
Acordei com o cantar dos pássaros, um pouco antes da aurora se impor sobre a noite. Lance me abraçava de forma protetora, e eu me desenrolei dele com cuidado. Coitado, devia estar mesmo cansado pelo sono pesado. Fui ao banheiro me espreguiçando (como estou me sentindo bem!).
Fiz o que eu precisava e fui atrás de uma roupa (pena que Eel ainda esteja tão gelada...), para poder descer em seguida. Antes de deixar Lance trancado, acabei lhe dando um beijinho na testa... (esse dragão está mesmo conseguindo ter posse de mim... Nunca me senti tão amada e especial como ontem à noite).
Me apressei até a cozinha porque já começava a me sentir com fome, e ainda preciso saber o que foi que aconteceu que Lance não pode me adiantar sobre Eel. E quando o mercado abrir, vou atrás de umas duas estantes (as paredes da porta estão nuas, então posso colocar uma estante de cada lado da porta sem problemas), isso se a maana que consegui acumular for o bastante, é claro.
Mal entrei na cozinha e o Karuto já me cumprimentava – Rainha! Mas que colírio poder vê-la novamente! – ele me dava um “abraço de urso” – Como está se sentindo? Melhor eu espero.
– Sem dúvidas Karuto. Mal notei o meu voltar, mas amanheci me sentindo tão bem como nem me lembrava antes. O que aconteceu que não estou sabendo? – terminava de falar saindo de seus braços.
– Sente que já lhe conto tudo! – pediu-me ele já me preparando o café-da-manhã.
Karuto me falou de como todo mundo reagiu com a minha “doença”; como se sucederam as coisas com a suspensão temporária do Ritual de Maana; do que ele sentiu ao descobrir que o Gelinho tinha “fugido”; e várias outras coisas. Agradeceu pelos livros de receitas que ele começou a estudá-los, e por toda a comida trazida. Karuto também me questionou sobre eu ter sentido ou não falta da comida dele e ainda me pediu uma comparação com a comida de minha mãe. Ele não pareceu muito confortável com a minha sinceridade...
Eu meio que me mantinha escondida dos que chegavam para pedir o café, pois, de acordo com tudo o que o Karuto me adiantou, assim que eu mostrasse o rosto para o povo, eu seria amarrotada de gente querendo saber como que eu estava. Até o Dono estava em Eel por causa da minha “doença”! Junto de várias outras pessoas que só estavam em Eel por minha causa (ô gente desesperada...!).Miiko 2
Após terminar de ouvir todos os prós e contras causados pelo Gelinho ao se juntar à eles naquela missão (mas quanto trabalho o Lance deu...), todos seguimos para a cama para que pudéssemos ter condições de efetuar o ritual amanhã.
Amanhecido o dia, a primeira coisa que eu me havia prometido fazer, era ver a Cris. No entanto, minha intuição não parava de me mandar ir para a cozinha primeiro! (Mas porque é que minha intuição está me mandando ir na direção contrária?) Eu a ouvi contrariada. Segui em direção ao salão ao invés do topo da torre. Cumprimentando o Karuto ao revê-lo.
– Posso ajudá-la em algo Miiko? Pois o seu café eu já te servi!
– Nada disso Karuto. – respondia à ele – O que eu quero mesmo é ir ver a Cris, mas a minha intuição me mandou pra cá...
– Nesse caso... – ele me abria um largo sorriso – Sugiro que você entre na cozinha! – (hein!?).
Fiz como ele me pediu. E vejam só quem eu encontro escondidinha lá dentro... – Então foi por isso que tinha que vir pra cozinha... Como é que está se sentindo Cris?
– Bom dia pra você também, Miiko! Hehe, eu acordei muito bem. Karuto estava me adiantando o quê que ocorreu enquanto estive fora. E pelo o que ele me contou... Acho que vou evitar as multidões! – um riso acabou me escapando – Já está me procurando por quê?
– Por causa do Ritual de Maana. E também para lhe pedir o seu relatório sobre essa viagem. Não tem que entregar hoje, pois a Erika e a Huang Hua já me avisaram sobre as coisas que você trouxe consigo. Mas se ele poder estar em minhas mãos até o final de semana, eu lhe agradeceria.
– Tudo bem, Miiko. Ainda bem que eu resolvi colocar um casaco com capuz! Assim eu consigo passar mais ou menos despercebida no povo... – declarou ela se levantando e cobrindo a cabeça, me arrancando mais um pequeno riso (porque eu realmente teria dificuldades em levá-la até a sala do Cristal se os outros a vissem).
Seguimos juntas para a Sala do Cristal após nos despedirmos do Karuto. Passada a entrada, Erika, Valkyon, Huang Hua e Jamon eram os únicos presentes na sala, que ainda não havia sido selada.
– Bom dia Cris! – Erika cumprimentava depois da Cris ter revelado o rosto – Sente-se melhor agora?
– Muitíssimo Erika, mas... Cadê o Leiftan? – também não o estava encontrando...
– Jamon o procurar. Eu não demorar. – pedia o Jamon já saindo da sala.
No que o Jamon saiu, Absol aparecia ao lado da Cris. Ficamos conversando entre nós sobre o quê cada um de nós pretendia fazer após o executar do ritual, ao mesmo tempo em que a Erika e o Valkyon começavam a desenhar o círculo do ritual. Leiftan chegou quando metade do círculo estava concluído.
– Desculpem a demora, me demorei porque cuidava de Amaya. – explicava-se ele – Ela não amanheceu bem hoje, mas já está tudo certo com ela.
– Sem problemas Leiftan. O circulo nem está pronto mesmo! Mas ao menos já estamos tod...
“Ainda falta um.” – senti um enorme susto com a Oráculo Branca surgindo do nada (como assim “ainda falta um”?) – “Não estão todos aqui.” – terminou ela de falar, voltando-se para Cris (e quem é que está faltando??).
A Cris pareceu em choque por alguns instantes assim como o resto de nós, mas logo cochichou ao ouvido de Absol que desapareceu em seguida – Miiko?
– O que foi?
– Tem como o Jamon ficar cuidando da entrada e você deixar a sala sem o selo hoje? Pelo menos até o Absol retornar...
– É possível, mas por quê?
– Já sei quem que está faltando.
– E quem é? – perguntava o Valkyon. A Cris esperou o Jamon sair para poder responder.
– Hum... Hora quem! Você não é o único dragão de Eldarya, chefe!
– Espere! – pedia o Leiftan com o circulo ficando quase pronto – Você está se referindo ao “Gelinho”? – ela assentia – Nós já cansamos de pedir à ele para nos auxiliar nesse ritual. Ninguém nunca conseguiu convencê-lo.
– Isso porque foram vocês! Quer apostar quanto que se for eu a pedir, ele aceita?
– Depois da forma que ele permitiu ser tratado por você,... – comentava o Valkyon – ...eu não duvido nada que você ganhe a aposta, Cris. – todos que participaram da viagem acabaram rindo.
Absol retornou finalmente à sala e ele trazia o Lance consigo. Só que dormindo?
– Ei, Lance. – a Cris o chamava – Lance, acorda.
– Só mais um pouquinho vai... – nunca pensei ver o Lance assim algum dia!
– Acorda dorminhoco! Ou você acha que ainda está na cama?
Isso foi o bastante. Lance se ergueu, sem entender nada. – Porque raios eu estou aqui? Foi por isso que ficou me perturbando, black-dog? – Absol acabou lhe rosnando de leve.
– Não começa Lance! Fui eu que pedi para ele o trazer, pois precisamos de mais gente pra efetuar o Ritual de Maana.
Só pela forma como ele a olhou, já sabia que ele não ia querer ajudar...
– Eu já cheguei a te contar o porquê de eu odiar esse ritual? – (eu sabia...).
– Não. Mas se você ajudar, eu... – ela cochichava-lhe algo que, pela cara que ele fazia, ele estava gostando – E se mesmo assim você se recusar, juro que o faço se arrepender! – ameaçou ela corada.
– Vou mesmo poder fazer o que me disse? – perguntava ele com um sorriso enorme.
– Por mais difícil que me seja dizer isso agora... _respira fundo_ Eu te prometo.
– Ok. – afastava-se ele dela, ficando sério em seguida – Me digam o que é que eu tenho que fazer. – pedia ele se aproximando do Valkyon e do Leiftan, deixando todos nós boquiabertos (mas o quê foi que ela prometeu???).
Enquanto Leiftan e Valkyon explicavam como que o ritual funcionava, fui questionar a Cris que se ajeitava diante do Cristal o que ela lhe tinha prometido, mas ela não quis comentar. Me senti desconfortável por algum motivo. Ela começou com as suas preces e a Oráculo Branca se manteve presente desde o momento em que apareceu nos dizendo que ainda faltava uma pessoa.
Após o ritual ter início, fiquei impressionada com a rapidez do acúmulo de energia que a Erika estava portando. Sem falar do resultado final daquele reunir de maana! A liberação de maana já havia ficado mais forte depois que a Cris se uniu aos rituais, mas hoje... Com a ajuda do Lance... Era como se o triplo da energia estivesse sendo liberado! A Cris ainda não tinha terminado as orações dela, mas acabou chamando seu black-dog para perto e lhe fazendo algum pedido ao ouvido dele.
Com tanta maana liberada dessa vez, não era surpresa não demorar para Jamon ter que ficar barrando as pessoas de entrarem na sala. Absol levou o Lance embora e a Erika não estava demonstrando qualquer sinal de cansaço. Permiti que Jamon deixasse os outros entrarem e, se não fosse pela maana que a Cris estava liberando enquanto acaba de orar, não acho que aquele povo ia se acalmar tão cedo...Cris 2
Não sei se entendi bem o que a Oráculo Branca havia dito quando apareceu, mas me lembrei do Lance na hora! (O quão mais eficaz esse ritual pode ficar se ele ajudar também?...) Bem que eu estranhei a demora do Absol em trazer o Lance para a sala do Cristal... Lance não parecia querer acordar.
Como os outros mencionaram, o Gelinho não parecia mesmo propenso a nos dar uma mão, mas consegui convencê-lo (eu só espero não me arrepender de fazer tal promessa... _corada/suando frio_).
Igual às outras vezes, fiquei observando o Ritual de Maana pelo reflexo do Cristal, e caramba! Quase não acreditei no tamanho da bola de energia que a Erika erguia dessa vez! Aquela “bola” devia ter de um metro à um metro e meio de diâmetro! (Fáfnir disse que se as Sementes Oráculos fossem reunidas, eu só precisaria de alguns meses para ajudar a reconstruir Eldarya. Isso era sem a participação do Lance por acaso? Porque se for... Ele vai passar a participar de TODOS os rituais!).
Pedi ao Absol que, quando fosse levar o Lance embora, que o deixasse na Morada não só para que eu não tivesse preocupações na compra das estantes (que espero que possam me ser montadas ainda hoje), como também por causa da promessa que havia feito ao Gelinho (tenho a forte impressão que ele vai “acabar” comigo).
Assim que o Lance partiu, Miiko deu o consentimento para que aquele povo que o Jamon estava barrando pudesse entrar. Sorte minha eu ainda não ter terminado de rezar! O povo se acalmava de acordo iam entrando. Quando eu terminei finalmente, muitos eram os que tinham perguntas para mim. Reconheci alguns do baile de solstício. Respondi como podia as suas preocupações e lhes agradeci a consideração. Alguns acabaram me presenteando (sério isso? Algum deles já ouviu falar na Lei do Retorno? - mas você gosta de ganhar presentes! - não começa consciência...) e eu lhes agradeci de coração.
Me despedi daquele pessoal que eu havia conseguido tranquilizar sobre a minha pessoa, e fui até o meu quarto. Dono me ajudou a levar os presentes que eu havia recebido e ele se impressionou com o meu quarto. Deixei as coisas sobre a mesa e peguei a maana que havia acumulado para ir pro mercado.
Dono ficou me fazendo companhia por um tempo, mas agora, com a confirmação de que eu estava “bem”, ele precisava arrumar suas coisas para viajar de volta pra casa. Continuei a minha busca usando o meu capuz.
– Olá! Olá! Olá! Em que posso lhe ajudar senhorita?! – questionava a Purreka da loja de móveis.
– Estou em busca de algumas estantes. Acumulei muita coisa em meu quarto e não há mais espaço no armário...
– Mas você veio para o lugar certo! Sim! Sim! Sim! Me acompanhe por favor.
Entre as opções que ela me apresentou, havia uma estante muito parecida com a que tinha em meu quarto, só que era como se duas daquela estante tivessem sido unidas para fazer uma só. E ainda tinha variação de cores! Optei por elas, uma na cor branca e outra na cor ímbuia (mas na hora em que ela me falou o preço... vou ter que escolher entre as duas...).
– E aí Persina? Estou precisando falar com você. – Purral entrava na loja bem na hora em que eu colocava a maana sobre o balcão.
– Estou no meio de uma venda agora, tem como esperar um pouquinho? Por favor? Por favor? Por favor?
– Sem problem... Espere um minuto! – ele analisava a maana – Porque algumas dessas maanas são brancas?
– Porque fui eu que as criei. – confessei ao Purral e ele logo me reconheceu.
– Sua maana?!? – lhe assenti meio sem jeito – Persina, você ainda tem aquele spirit libra?
– Claro! Claro! Claro! Já vou buscá-lo. – e a purreka sumiu por alguns instantes em uma sala dos fundos, retornado com uma balança que me fez lembrar os julgamentos de Anúbis na mão – Aqui está!
Purral pegou a balança, colocando uma de minhas maanas em um prato, e ficou colocando da maana azulada no outro prato até surgir o equilíbrio. Haviam cinco azuis quanto a balança se equilibrou com a minha branca.
– Fascinante! – se impressionava o Purral – A sua maana é cinco vezes mais forte que a maana que estamos acostumados!
– Pretende espalhar ou vai guardar entre os purrekos? Hein? Hein? Hein?
– HuuUUUuum... Princesa?!
– O que foi Purral?
– Você se importa de fazer suas compras unicamente com a sociedade purreka?
– Como? – notei que a Persina parecia refazer as contas.
– Permita que só nós purrekos saibamos desse diferencial inesperado e, se você efetuar todos os seus pagamentos com a sua maana, tem a minha palavra que você sempre terá 50% de desconto em qualquer compra que venha a fazer. E se o valor pedido for em ouro... pode usar sua maana no lugar das moedas.
(acho que ganhei uma vantagenzinha...) – Se eu puder levar as duas estantes que gostei e estou precisando, e elas puderem ser entregues e montadas ainda hoje... Tudo bem.
– Persina?!
– Sem problema. Sem problema. Sem problema. Refazendo as contas, a maana entregue é o suficiente para ela levar os móveis. As estantes estarão prontinhas no quarto dela antes do fim do horário do almoço.
– Combinados então. – declarei sorrindo – A partir de hoje, guardarei a maana que eu mesma produzir para comprar somente com os purrekos.
– Agradecemos muito!
– Agradecemos muito, muito, muito!
Purral se despediu e eu aguardei pela arrumação do meu pedido, para acompanhar os entregadores/montadores até o meu quarto. Esperei uma meia hora para poder acompanhá-los. E mais uma hora e meia para ter as estantes prontas em meu quarto! A branca ficou entre a porta e o jardim, com a ímbuia ficando entre o armário e a porta.
Eles se preparavam para irem embora e eu comecei a esvaziar a caixa para poder trazer minhas coisas de volta ao normal. Alguns dos montadores acabaram se oferecendo para me ajudar a trazer tudo aquilo ao seu tamanho original, o que agradeci. Mais uma hora se passou, e tudo que tinha intenção de colocar naquelas estantes ocupavam os seus devidos lugares. Agradeci mais uma vez e descemos todos para o almoço (mas não antes de dar uma ligada pra casa!).
Durante o almoço, muitos foram os que me cumprimentaram, felizes por eu ter “recuperado a saúde”. Alguns me elogiavam pelo ritual impressionante de hoje (depois repasso isso ao Gelinho) e outros me questionavam quando que eu retornaria à minha rotina normal (sobre isso, eu teria que ver com a Miiko. Por causa da falsa doença).
Anya grudou em mim! E voltei para o quarto junto dela para poder terminar de arrumar minhas coisas (no caso, minhas roupas terráqueas) e... conversaaaamos um pouquinho. Ela realmente ficou chateada por eu ter lhe escondido a verdade sobre o meu irmão e sobre a minha viagem, mas ela me pareceu compreensiva com os meus medos sobre aquilo tudo. Graças à Anya, que ficou me ajudando enquanto falávamos, eu guardei toda aquela roupaiada em menos de duas horas. E ainda ficamos mais uma conversando sobre as coisas que estavam nas estantes novas! (e ela pareceu ter tido um interesse especial em meus DVD’s de animês).
Desci mais uma vez, acompanhada de Anya, para poder pegar um lanche com o Karuto (ainda bem que Absol passou o dia na cozinha!) e depois retornei ao quarto, com o lanche na mão e sozinha, para poder tomar o meu merecido banho.
Deixando o banheiro, comecei a admirar meus móveis novos com todas as minhas coisas antes de sentar para comer – Isso foi covardia... – me sussurrava Lance ao ouvido, me abraçando por trás. Comecei a suar frio.
.。.:*♡ Cap.105 ♡*:.。.
Lance
Eu não percebi quando foi que minha Ladina deixou a cama, mas definitivamente não estava afim de acordar ainda.
– Seu black-dog chato, porque é que você não vai perturbar a Cris ao invés de mim. – reclamava daquela criatura que ficava me incomodando.
Aquela praga resolveu ficar tentando me forçar a sair da cama por quê? Eu não tinha nenhuma obrigação urgente! O quarto eu havia limpado ontem. Mesmo depois de ter “cuidado” da Cris, me vesti para dormir (vai que Anya me resolve aparecer no quarto!) e a Cris só ia precisar de ajuda com a organização das coisas dela depois que encontrasse algumas estantes novas. Então, qual o problema do Absol em me deixar dormir mais um pouco?
A claridade que ocupava o quarto começou a sumir (o que ele está tramando??) e logo comecei a me sentir desconfortável (mas o que essa praga está fazendo?), mas nem por isso abri os olhos (esse black-dog não vai me obrigar a nada!).
– Ei, Lance. – comecei a ouvir a minha Ladina (agora o Absol me deixa em paz) – Lance, acorda.
– Só mais um pouquinho vai... – eu realmente quero dormir mais...
– Acorda dorminhoco! Ou você acha que ainda está na cama? – (como é??).
Acabei abrindo os olhos e fiquei pasmo de me ver na Sala do Cristal ao invés do quarto (black-dog dos infernos). Fui reclamar com ele e a Ladina me repreendeu. E ela quer que eu ajude com aquele ritual detestável?!
– Eu já cheguei a te contar o porquê de eu odiar esse ritual?
– Não. Mas se você ajudar, eu... – ela se aproximou de meu ouvido – Eu deixo você repetir a “carta branca” que lhe dei no dia que tomei aquela poção da verdade do jeito que quiser comigo. – essa era uma oferta que não dava para eu dizer “não” – E se mesmo assim você se recusar, juro que o faço se arrepender! – ameaçou-me ela se afastando completamente vermelha (e super fofa).
– Vou mesmo poder fazer o que me disse? – preciso ter certeza, para que valha mesmo a pena.
– Por mais difícil que me seja dizer isso agora... _respira fundo_ Eu te prometo.
Agora que eu não posso mesmo recusar! – Ok. – me afastei dela sério – Me digam o que é que eu tenho que fazer. – pedia me juntando ao Valkyon e ao Leiftan.
– Você vai realmente nos ajudar? – perguntava-me o Leiftan, totalmente pasmo assim como todos os outros.
– Se você tivesse recebido o mesmo tipo de promessa que acabei de ganhar, só que da Erika, até você aceitaria fazer algo que detesta. – respondi a ele e ao meu irmão.
Eles se entreolharam por um instante e depois me explicaram tudo que eu precisava saber. A ideia de ter que ofertar 80% da minha maana para a Erika não me agradava (se fosse para a Cris eu não me incomodaria), fiz o melhor que eu pude para ter certeza que a Cris não ia me arranjar desculpas para tentar escapar de mim depois da promessa feita, e caramba! Fiz tanta diferença assim nessa porcaria de ritual?!
“Volte para que os rituais possam parar.” – pedia a Branca ainda ao nosso lado.
– Quer que eu continue ajudando nesse ritual?? – ainda não estou convencido disso.
“Se ajudar, logo os rituais não serão mais necessários.” – declarou ela entrando no Cristal em seguida.
Não tive chance de questionar sobre esse... pedido, pois começaram a aparecer gente querendo entrar na sala e Absol se apressou em me levar embora dali.
E outra vez ele me sacaneava... Ele me deixou na Morada ao invés de me deixar no quarto! E porque, que ela, me parece, diferente?
– Como foi a viagem? – virei-me assustado (e não é que ele achou mesmo este lugar?!).Nevra
Graças à Karenn, pude perceber mais um truque que a Cris usou para esconder os seus segredos. E após superar aquela pequena armadilha dela, consegui encontrar a bendita “Morada do dragão” (e a Cris conseguiu mesmo mover aquela pedra sozinha no dia do ataque?!).
Entrando no lugar, usei um de meus orbes para iluminar tudo. Isso até encontrar a luminária e eu acendê-la. Francamente... Como foi que o Gelinho conseguiu esconder tudo aquilo até mesmo do Leiftan? Examinei tudo com cuidado sem bagunçar nada (e algumas coisas aqui precisam ser no mínimo substituídas...) e consegui encontrar um pouco de maana e algumas moedas em uma das caixas que tinha ali (já que o esconderijo é do Lance... que os consertos deste lugar saiam do bolso dele).
Comecei com a arrumação daquele lugar no dia seguinte (não há como eu permitir que a Cris continue vindo a esse lugar no atual estado!) e ainda consegui fazer com que o Absol, Toby e Shaitan me ajudassem com aquilo tudo. Absol, por meio de sua umbracinese, me ajudava com o transporte das coisas mais grandes (cama semiapodrecida, cobertores mofados, colchão de molas enferrujadas...) enquanto Toby e Shaitan se livravam dos menores (itens vencidos, estragados ou quebrados). Também dei um jeito nas camadas de poeira presentes lá dentro (ele ao menos limpava isso para a Cris não ficar espirrando sem parar?) e usei do dinheiro que encontrei no lugar para obter os substitutos do que estava arrancando de lá.
Procurei por itens mais ou menos iguais ao que estava removendo de lá (eu só quero que a Cris se mantenha saudável caso fosse de novo para lá) e acabei descobrindo objetos bem interessantes no meio das coisas do Gelinho (itens roubados para ser mais exato).
Gastei mais ou menos uma semana para terminar de arrumar aquele lugar, isso sem deixar de cuidar de meus afazeres como líder da Sombra! Também procurei arranjar algumas coisas que ajudariam na preservação dos móveis, cobertores e o que mais de novo que coloquei naquele lugar. Só não mudei as coisas de lugar porque percebi que tudo lá havia sido arrumado de modo estratégico, como a goteira responsável por manter aquela schmidtiana viva (acho que vou ficar visitando esse lugar a cada dois dias...).
Um ou dois dias (já não sei mais por conta do cansaço) após terminar de arrumar aquele lugar, notei que Absol e Toby haviam sumido do QG (Absol parece “ensinar” Toby a se virar sozinha). Na hora imaginei que eles estivessem em algum tipo de exploração longe daqui uma vez que eu os vi partindo por meio da umbracinese, mas eles estavam demorando demais para retornar.
Comecei a querer me preocupar com a demora do retorno deles, mas essa preocupação desapareceu assim que eu vi Purriry correndo para a despensa com Leiftan logo atrás (eles foram buscá-los). Mais cedo ou mais tarde, Gelinho ia ter que retornar para a Morada, pois duvido que alguém que não saiba dele acabe entrando no quarto da Cris. Resolvi esperá-lo lá. Para poder explicar as mudanças do lugar. Eu só não esperava ter que aguardar por um dia inteiro pela chegada dele.
– Como foi a viagem? – perguntei assim que o vi acompanhado de Absol e ele se sobressaltou com a minha pergunta.
– Mas quê!... Como conseguiu achar este lugar? – ele me pareceu um tanto nervoso.
– Enquanto ajudava a vigiar a Cris no dia que ela lotou a nossa biblioteca, consegui pegar a agenda poética dela emprestada. Eu quase me perdi dentro desses labirintos por causa daquela armadilha dela! – me expliquei.
– “Emprestada”, rá! Vou fingir que acredito. Por que esse lugar parece diferente? – me cobrava ele sorrindo (parece que o fato de eu ter quase me perdido o acalmou um pouco).
– Você realmente teve coragem de trazer a Cris pra este lugar do jeito que estava antes? Cara! Ainda não entendi como é que você, a Cris e Absol conseguiram dormir naquela cama e ela continuar inteira.
– Do que está falando? O que tem de mais na cama? – ele se intrigava.
– Metade da madeira estava podre. – ele se espantava – O colchão enferrujado por dentro e os cobertores mofados. Sem falar de algumas coisas estragadas que encontrei por aqui.
– Está me dizendo que você... reformou, a Morada do dragão? – perguntou ele sentando-se na cama já que eu ocupava a cadeira.
– Algo assim. E já que esse lugar é seu... usei do seu dinheiro.
– QuÊ! – surpreendeu-se ele já indo até o lugar em que havia encontrado o dinheiro – Com que direito você fez isso?!
– No direito de querer proteger a saúde e bem-estar físico da Cris. Ao menos você limpava este lugar quando a trazia para cá? – ele acabou esfregando a mão no queixo.
– Não vou dizer que dava muita atenção a isso porque eu não tinha tanto zelo por ela como tenho agora. E em nenhum momento havia parado para reparar nos efeitos que o meu tempo sem vir a este lugar deixou aqui.
– Bom, ao menos este lugar ficou decente agora. – me erguia da cadeira – Mas você ainda não me respondeu, como que foi a viagem à Terra? Sem muitos “problemas” eu espero.
– Acaso está me pedindo um relatório oficial? Se quer tanto saber basta perguntar aos outros!
– Mas você é o único que pode estar carregando informações extra oficiais que só nós dois temos conhecimento. – falei sério. E ele acabou me encarando por alguns momentos antes de falar alguma coisa.
– Está se referindo à Negra? – apenas lhe assenti e ele acabou soltando um suspiro – Olha sanguessuga, ela vive me falando para não contar dela e da Branca pra ninguém. Incluindo a Ladina! E você só está sabendo delas porque ficou me espionando. Já até tomei bronca daquela chata porque lhe confirmei que aquelas duas vêm me ajudando em segredo.
– Tá, tudo bem. Mas alguma delas os acompanhou nessa viagem?
– A Negra... – ele realmente não gosta muito da semente de Apókries – Acaso aquele cretino tentou alguma coisa enquanto estávamos fora?
– Fala dos que estão atrás dos dragões e aengels?
– Eles mesmos.
– Não sei o porquê exatamente, mas eles estão bem quietos. Como a Ewelein já conseguiu terminar de identificar todos os espiões da Ēnukungi, estamos só os observando com cautela. Miiko me disse que convidou uma das minhas que, graças ao mascote da mesma, tinha conseguido descobrir a verdade sobre quem está ocupando a sua cela e mais algumas coisas,... – Lance me pareceu duvidoso – ...a nos ajudar a continuar de olho nas ações de todos eles.
– Que tipo de mascote é o dela? E o quê, é ela?
– Elgella. Ela é uma elfa natlig que possui um sgarkellogy como mascote.
– Ahff! Um mascote fofoqueiro! – acabei rindo.
– É. Não dá pra discordar muito. Mas agora conta como é que foi a viagem vai. E o que foi que aconteceu para que o ritual liberasse tanta maana como liberou a pouco?
Lance ainda parecia contrariado, mas ele resolveu contar. Meu queixo ficou querendo cair no chão com algumas coisas, e tive que me segurar como nunca diante de outras para não cair na risada. Mas o que me deixou em choque mesmo foi saber que ele aceitou ajudar no Ritual de Maana hoje a pedido da Cris – O quê que a Cris lhe disse para lhe convencer?!
– Ela me prometeu algo bem particular. E espero que você não esteja planejando nos espionar essa noite! Já até planejei minhas precauções sobre isso... A Cris ainda não lhe cobrou as promessas que você fez na Púrpura não é mesmo?
– Heim! Eu prometi atender aos pedidos dela e não seus! – (mas que abusado!).
– _riso_ E Anya? Ela já cobrou os dela? – acabei deixando um suspiro escapar.
– Ela já fez dois. Um para que ela pudesse aprender sobre as poções e venenos utilizados pela Sombra no lugar dos treinos físicos, coisa que só o Chrome tinha condições de fazer verdadeiramente; e que essas “aulas” durassem até o retorno de vocês.
– A pirralha deve ter aprendido muito com o cachorrinho...
– Não vou negar, mas dá para tratar os meus subordinados com um pouco mais de respeito?
– Como quiser! Mamãe Sombra. – ele acabou rindo e eu tive que me segurar para não avançar e dar um soco nele – Mas falando sério agora, trate de sair daqui e voltar pra suas coisas. Não te cobro pelo dinheiro gasto porque você gastou com este lugar, agora se manda! Vá conseguir mais detalhes sobre tudo da viagem com os outros.
Respirei fundo e o deixei sozinho (já estou sabendo mais do que os outros mesmo!).Lance 2
Não acredito que o sanguessuga realmente conseguiu achar este lugar. E ainda roubando as coisas da minha Ladina?? (Ao menos a armadilha dela o ludibriou por um tempo! _riso_). Sem vergonha. Gastou todas as minhas economias sem ao menos pedir permissão (mas não tenho como discordar dos motivos dele para fazê-lo).
Meio que a contragosto, acabei contando da viagem para ele (e como esperado, ele ficou se segurando para não rir quando falei dos meus sufocos nas mãos de minha Ladina e da família dela) e não vou negar que gostei muito da cara que ele fez quando revelei que aceitei ajudar no Ritual de Maana dessa vez.
Informações dadas e provocações feitas, consegui convencê-lo a me deixar em paz (além de perder um esconderijo 100% confiável). Fiquei absolutamente sozinho ali dentro. Nem Absol ou a Negra apareceram ali (mas Absol ainda me enviava a minha comida). Como o sanguessuga comentou que havia bastante coisa danificada no esconderijo, decidi averiguar tudo que tinha lá dentro agora (e o lugar está mesmo limpo...).
Depois de terminar de conferir tudo, resolvi dar alguma atenção à minha schmidtiana, cuidando de mim em seguida. Quando terminei meus exercícios... já estava ficando impaciente para poder retornar ao quarto (mas a que horas que aquele black-dog vai me buscar??).
Ficava conferindo a hora através do Sanduhr Zeit que o sanguessuga deixou aqui (se bem que minha Ladina ia gostar mais dele do que eu) e o Absol só resolveu me aparecer depois de dar 20hs. Chegando finalmente ao quarto por meio da umbracinese, pude ver minha Ladina de costas para mim (que pelo perfume... acabou de deixar o banho), observando duas grandes estantes posicionadas cada uma de um lado da porta completamente ocupadas (então... foi ela que fez com que Absol me mantivesse até agora na Morada. Para que as estantes fossem montadas e as suas coisas arrumadas sem que houvesse “problemas”).
– Isso foi covardia... – falei ao seu ouvido já a abraçando por trás e a assustando.
– Lance! – ela se virava para mim nervosa – O... Absol já lhe trouxe?!
– Sim. – lhe acariciava o rosto – Porque está tão nervosa?
– Bom. Eu. É que... – me aproximei para beijá-la – Chuveiro! – travei.
– Como é? – ela meio que me afastava.
– Eu disse chuveiro. Vá já tomar um bom banho porque você está com um cheiro esquisito. Sem falar que estou com um pouco de fome e... – ela encarava a mesa – Tenho certeza que quando eu entrei no banheiro só havia um embrulho sobre a mesa. O que quer dizer que o seu também já está ali lhe aguardando. Agora, _respira fundo_ banheiro.
Acabei a encarando desconfiado (ela não está tentando fugir de mim né? Quebrando a “promessa” dela certo?) – Tudo bem. Não me demoro. – acabei cedendo já me dirigindo ao banheiro.Cris
Ai minha Nossa Senhora... porque é que eu estou tão nervosa assim? (Talvez seja porque tu prometeu deixá-lo repetir aquela noite do jeito que ele bem entendesse? - já estou nervosa o bastante, não me ajude a ficar pior! - _outro eu revirando os olhos_). Será que o Lance ficou zangado de eu ter pedido ao Absol para levá-lo pra Morada ao invés do quarto?... Ou será que ele ficou nervoso por ver que eu não o deixaria me cobrar minha promessa de hoje cedo logo de cara? E caramba! Eu ainda tenho um monte de coisas para fazer amanhã! (por favor, que ele não acabe comigo, meu Pai).
Respirei fundo. Encarei as estantes por mais alguns segundos (é. Acho que está tudo bem organizadinho sim) e resolvi me sentar para comer logo (quer tratar de ficar quieto seu barulhento? Já vou te dar!).
O lanche que Karuto me fez estava tão saboroso que resolvi degustá-lo devagar (acho que o que ele queria mesmo era superar a minha mãe _sorriso_) estava na metade do sanduíche quando o Lance deixou o banheiro e se sentou para comer (e pela cara que ele fez ao provar o dele, acho que concordará com a minha hipótese). Começamos a conversar na refeição.
– Essas estantes ficaram mesmo bem cheias! Arrumou tudo sozinha? – começou ele.
– Não. Alguns dos que me montaram as estantes me ajudou a trazer as minhas coisas de volta ao normal e depois a organizar tudo nelas. Depois do almoço, Anya me ajudou com as roupas. Ela realmente não gostou de termos escondido essa viagem dela...
– Hunf. Vai ver foi por isso que ela não quis saber de atender ao pedido que fiz à ela.
– Que pedido?
– De cuidar desse lugar em nossa ausência. Tirando as plantas que estavam bem cuidadas, esse lugar parecia até que estava abandonado! – um riso acabou me escapando com a sua indignação – Não ria. Nem no meu primeiro dia como responsável pela limpeza tive tanto trabalho como ontem!
– Relaxa Lance. Anya ainda é criança! – (apesar de ser mais velha que eu...) – Não dê tanta importância a isso...
– E o sanguessuga conseguiu encontrar a Morada... – falava ele baixinho (e eu acabei me engasgando).
– COMO?! De que jeito??
– Ele me disse ter pegado sua caderneta “emprestada”. – _boquiaberta_ – Mas ele acabou se perdendo por causa do seu truque lá embaixo. – terminou ele quase rindo.
Continuamos com a conversa com ele dizendo o quê que o Nevra fez na Morada, para depois o que ele acabou fazendo enquanto aguardava Absol buscá-lo (ele realmente não gostou de ser mandado logo para lá...). Repassei o meu dia pra ele da mesma forma, e também lhe informei sobre alguns dos deveres que eu tinha para cumprir assim que amanhecesse (tomara que isso me ajude a fazê-lo pegar leve). Acabada a refeição, fui cuidar dos meus dentes. Quando terminei, Lance tinha um dos meus livros terráqueos em mãos.
– Achou interessante? – perguntei sem me aproximar muito.
– Você não brincou quando disse que gostava de dragões! Já consegui encontrar mais de dez entre esses aqui.
– Espero que esteja recolocando todos no lugar certo. – falei pegando o livro com cuidado e sem resistência dele – Meus livros são meus pequenos tesouros. Tive um pouco de trabalho para arrumar todos eles nas prateleiras. – falei após encontrar o lugar daquele que tinha em mãos e guardá-lo.
Mal tirei minha mão do livro e Lance me lançou contra a porta fechada, cercando-me e me deixando com o mesmo nervoso que estava mais cedo – Você não pretende faltar com a sua palavra, não é? – perguntou ele perto demais do meu rosto.
– Eu... Não, mas, sabe...
– De deixo tão desconcertada assim? – ele me acariciava o rosto, mas o meu coração continua na boca.
– Olha eu... Estou um pouco assustada! Lembra que você primeiro me apavorou naquela noite? Sem esquecer que você meio que acabou comigo... – (ficou calor aqui de repente...).
– Apenas fique bem caladinha... – ele me beijava o pescoço (aaaaiiiii...) – E confie em mim. – terminou ele me tomando os lábios.
Pude percebê-lo trancando a porta e apagando a luz enquanto nos beijávamos e, ainda sem interromper, ele me pegou em seu colo e começou a me carregar pelo quarto até me colocar cuidadosamente sobre a cama (mas eu acho que ele está esquecendo de uma coisinha de novo) – Lan... – ele colocava seu indicador sobre minha boca.
– Shiiii... Eu lhe disse que a queria calada! – ele estava com aquele sorriso. Eu apenas lhe revirei o olhar e passei a encarar o armário, onde a poção anticoncepcional estava guardada – Espere quietinha sim?
– Tenho escolha?
– Graças a sua promessa? Não. – declarou ele já pegando um dos frascos – Aqui. – ele me entregava a poção roxa-avermelhada que eu virei – Só preciso cuidar de mais umas coisinhas...
– Como o qu... !! – aiaiai... ele quer mesmo que eu fique calada pelo jeito como ele começou a me beijar.
Mal nos afastamos para respirar e ele começou a citar algo na língua antiga. Me surpreendi por ver a porta sendo lacrada por gelo (e só a porta!). Lance começou a fechar as cortinas do dossel e eu comecei a ficar me segurando para perguntar o porquê de tudo aquilo.
– A porta é para ter certeza que Anya não entrará caso demoremos para acordar. – fiz “hum” para ele prosseguir (já que ele não parava de fechar as cortinas) – Já o dossel é para evitar espionagens do sanguessuga. – tenho a plena certeza que agora estou mais vermelha que uma maçã! (e quase correndo também...) – Quase tudo pronto.
– Hein? – acabei deixando escapar. E ele só me abriu um sorriso maliciosamente largo (mas o que é que essa criatura está planejando meu Deus?!).
Depois dele terminar de fechar as cortinas, ele acendeu a pequena vela aromática que instalei de forma segura naquele dossel com suas chamas, deixando um pequeno clima romântico, e começou a beijar-me.
Ele me beijava o pescoço, seguindo para o ombro e fazendo uma trilha em meu braço até a minha mão. Acabei fechando meus olhos com todo aquele carinho (pensei que ele ia ser um pouco mais... cruel comigo), mas assim que senti alguma coisa sendo amarrada em meu pulso... Abri os olhos na hora e ele amarrava alguma espécie de corda de luz em meu pulso.
– Mas o que é isso?! – perguntei querendo libertar minha mão com a outra e ele acabou a pretendo junto, sem eu entender direito como (essa “corda” tem vida própria por acaso?).
– Apenas não desejo sofrer com suas garras outra vez. – declarou ele sério – Confie em mim e não irá se arrepender. – terminou ele com uma mistura de ternura e malícia.
– Porque você gosta tanto de me apavorar... – acabei falando baixinho.
– Você desperta em mim vontades que não senti com nenhuma outra mulher. – falava ele me aproximando dele.
– E eu devia me acalmar ou me preocupar com isso? – questionei ainda observando minhas mãos presas.
– O pior... – ele me beijava os pulsos morosamente – É que nem eu sei lhe responder isso (ai meu Deus!...).
Graças a aquelas amarras, não me sentia nenhum pouco no clima. Mas ele foi paciente, carinhoso e sedutor. Aos poucos foi despertando em mim o desejo, mesmo estando presa e a mercê de sua vontade. E sem perder a “selvageria” característica dele, ele fazia meu coração e meu sangue disparar. Principalmente depois que ele resolveu me vendar os olhos! Ele praticamente me fez de “boneca” pelo o que me pareceu ser a noite toda (ele teve acesso a algum exemplar do kamasutra por acaso?).
Quando ele finalmente se satisfez, eu mal conseguia manter meus olhos abertos de tão cansada e suada (acho que me entreguei umas três ou quatro vezes no meio disso tudo... Patife! Agora mais do que nunca ele terá que ajudar em todos os Rituais de Maana até eles não serem mais necessários!).Para os interessados...
Essa é a Sanduhr Zeit
Caso ainda não tenha ficado claro, a Sanduhr Zeit é uma espécie de ampulheta que funde: uma ampulheta digital, uma ampulheta de areia, e uma ampulheta de agua e óleo.
O “líquido” que a ampulheta contém se acumula em um dos lados e, assim que termina de passar para um deles, começa a efetuar o caminho inverso sem ter a necessidade de a ampulheta ser virada para isso.
Os números presentes seriam o fator “digital” da ampulheta, já que são eles que em cima indica as horas (contagem 24hs), e em baixo os minutos. Estes números são uma espécie de feitiço especial que auxilia a saber com certeza quanto tempo já se passou e quantas vezes a substância interna mudou de lado (que ocorre a cada uma hora completa).
.。.:*♡ Cap.106 ♡*:.。.
Anya
Se a Ewelein não tivesse me convencido, eu não teria deixado a Cris sozinha com o Gelinho sem esperá-la acordar depois daquela febre. Todo mundo que não sabia da viagem à Terra pensou que a febre fosse consequência da “doença” dela. E ainda ouvi bronca da minha mãe por ter ficado tanto tempo junto da Cris (como se a Cris tivesse tido a chance de pegar alguma coisa contagiosa...).
No dia seguinte, na conclusão do Ritual de Maana, não tinha como eu não querer questioná-los sobre o que é que tinha acontecido ali. Foi o ritual mais poderoso que eu já senti até hoje! Não me surpreendi nenhum pouco ao ver a entrada da Sala do Cristal lotada de gente querendo entrar, mas porque é que a entrada não foi selada dessa vez??
Pensei em ver o Lance para questioná-lo sobre o que foi que poderia ter acontecido e não encontrei ninguém no quarto (ele está na Morada por acaso? Porque tão cedo?!). Resolvi então me juntar com a Cris, mas acabei impedida. Karenn me pediu ajuda para encontrar o Becola que parecia estar sumido desde ontem e tinha algumas coisas para resolver com ele. Aconselhei-a a procurá-lo nos túneis subterrâneos, explicando que ele havia pegado um dos cadernos da Cris que ela escrevia várias coisas, inclusive o caminho para o esconderijo que ela “encontrou” lá embaixo. E nisso ela me comentou que o Chefinho tinha meio que mencionado que havia sido jogado pra trás quando o encontrou perdido lá (_riso_ Nevra precisa começar a ficar um pouquinho mais esperto com a Cris).
Procurei a Miiko para saber aonde que estava a Cris (pois não a vi a caminho do quarto enquanto estava nos corredores com a Karenn) e ela me repassou que a Cris saiu, disfarçada, acompanhada de um dos que vieram para Eel em direção ao mercado (...).
Bom. Mesmo já tendo conseguido aprender um pouco mais sobre a minha sinestesia, eu não estava muito afim de ficar a procurando naquela bagunça de lojas e barracas. Fui atrás do Chrome para continuar minha aprendizagem sobre a alquimia utilizada na Sombra antes que o Becola decidisse me colocar para voltar a aprender combate (e eu ainda não consegui decidir qual será o terceiro favor que irei fazer à ele...). Estudei com o Chrome até a hora do almoço, onde eu pude reencontrar a Cris e ainda a ajudei com aquele monte de roupa que ela trouxe da Terra. Ela me contou tudo que podia sobre a viagem, além dos motivos de ter escondido ela e o irmão de mim (quem será o filho de um black-dog que está atrás dela e dos outros?? Acho que vou procurar aprender a poção de raiz de mandrágora só para usar nesse cara) e também o porque do ritual hoje ter sido tão poderoso como foi. Mas porque ela não quis dizer o que tinha prometido ao Gelinho para ele poder ajudar?
Com tudo terminado de guardar, e explicado o que era cada coisa que eu nunca tinha visto que ocupava as novas estantes dela, descemos e nos despedimos lá embaixo. Como ninguém mais duvidava da “recuperação” da Cris, minha mãe não quis me encher os ouvidos de sermões como ontem.
– Aproveitou bem a tarde com a Lys, Estrelinha? – questionava meu pai já me recebendo dentro de casa.
– Aproveitei sim. Nós conversamos bastante e ainda a ajudei a organizar algumas coisas.
– Graças a todos os deuses que ela conseguiu recuperar a saúde. – comentava a minha mãe, pondo à mesa o jantar – Nunca imaginei que uma doença pudesse bloquear tanto poder assim!
– Se bem que ela nunca esteve doente... – acabei cochichando.
– Como é que é!?! – _travada_ mas acho que cochichei um pouco alto demais... os dois me ouviram!?
– O que você quis dizer com isso Anya?! – era a minha mãe – Não é de hoje que eu sinto que você está me escondendo algo sério. E espero honestamente que não tenha nada a ver com o que aconteceu durante a chegada dos contaminados antes do Solstício!
– Que quer dizer mãe? – (ela descobriu que eu estava alimentando o Gelinho quando ele estava na prisão?).
– Não gostei nem um pouco dos boatos de estarem querendo de expulsar da Guarda e fui atrás do Becola,... – (amo quando ela aprova os meus apelidos) – ...e consegui convencê-lo a me esclarecer aquela historia. Não tem vergonha de ter ficado ajudando aquele criminoso?! Se não fosse pelo fato confirmado de ele ter salvado a sua amiga quando vocês voltaram de Memória, graças a essa sua ajuda, eu teria de colocado de castigo por um mês inteiro!
– Mais castigo?! A punição que o Becola me deu e que só acabou semana passada não era o bastante não?
– Esse não é o problema agora, Estrelinha. – meu pai se aproximava – O que você quis dizer com... – ele baixava o tom da voz – “a Cris nunca esteve doente”?
Fiquei um pouco nervosa, reparando imediatamente nas janelas abertas. Meus pais notaram e fechamos juntos todas as portas e janelas para depois, sentados à mesa que ficava bem dizer no centro da casa, eu começar a lhes contar sobre a verdade da “doença” de minha amiga em voz baixa. Mas não antes de lhes implorar o silêncio deles sobre isso! Acabado de contar tudo, minha mãe até me pediu desculpas por algumas das reclamações dela durante o tempo em que a Cris estava fora.
– Agora sim as coisas fazem sentido... Você realmente tem aprendido bastante coisa com a Cris, Estrelinha!
– E eu achava que essa relação entre vocês duas estava se tornando algo problemático, mas com a forma com que ela tem a ajudado a ficar mais esperta, não sei se isso é mesmo certo... Mas ainda não quero saber de você se enviando em situações perigosas! Ainda é muito nova!
– Valeu pai. Compreendo mãe. Mas por favor, por favor, por favor, não deixem que ninguém descubra que eu revelei isso a vocês...
– Juro por todos os deuses minha filha. A Cris esteve do-en-te nesses últimos dias. E ninguém me fará dizer o contrário! E em pensar que existe um portal natural para a Terra...
– Ou para sabe-se lá onde! Não é mesmo querida? – minha mãe apenas assentiu com a cabeça para o meu pai – Mas você não está mais indo para a prisão com parte das nossas porções para alimentar o Lance, né?
– Não. Ele agora tem que se contentar com o que recebe do Karuto. Sem falar que passaram a vigiar melhor a prisão agora.
– Ainda bem. Não quero saber de você indo para aquele lugar novamente, está me entendendo?
– _suspiro_ Sim mãe... – (ainda mais não precisando mais ir até lá para vê-lo).
Mudamos de assunto e terminamos a refeição. Eu e meu pai cuidamos juntos da louça, e depois de tudo arrumado, fomos todos dormir.
Com o ressurgir da aurora, me arrumei rápido para poder conversar um pouco mais com a Cris e saber como e quando ela ia retornar às suas rotinas em Eel. Acabei passando no salão para ver o Karuto e questioná-lo se eu podia tomar o meu café junto com a Cris e o Gelinho. Ele me permitiu apenas porque ainda não tinha conversado com a Miiko sobre o retorno da Cris em seus afazeres em Eel (o que acabou sendo bom para o meu lado!).
Ele me preparou as marmitas e eu subi depressa até o quarto dela. Mas quem disse que eu consegui entrar? Eu até que estranhei Absol dormindo do lado de fora, mas porque é que mesmo usando a minha chave a porta não queria abrir?Cris
Acordei no susto. Ouvindo alguém batendo na porta, Lance me abraçando por trás, minhas mãos ainda amarradas e as cortinas de minha cama fechadas.
– Ei Cris! – começava a ouvir – Sou eu! A Anya! Abre a porta! Absol foi embora e não me levou pra dentro! – ela voltava a bater.
– Espere um pouco Anya! – gritei para ela, fazendo o Lance se remexer – Acorde Lance. – o cutucava – Nós dois temos que nos vestir e você ainda não desamarrou as minhas mãos.
– Não podemos deixar a pirralha esperando mais um pouco lá fora? – pedia-me ele me beijando a nuca e me envolvendo ainda mais.
– Lance. Por favor. AGORA! – não dava para ignorar o “grunhido” dele – E depois dessa noite você vai passar a sempre ajudar com o Ritual de Maana, gostando ou não!
– Se me permitir repetir quase metade de tudo que fiz ontem... Faço-o sem reclamar um piu. – declarou ele me roubando um selinho ao mesmo tempo em que me libertava as mãos.Lance
A Cris realmente me enlouquece. Eu não consigo me conter nem um pouco com ela! (tenho certeza que ela vai me cobrar por essa noite...). Acordei com ela pedindo à Anya que esperasse para entrar (ainda bem que eu selei aquela porta). A contragosto obedeci à ordem de minha princesa, com nós dois nos levantando em seguida.
Nos vestimos, começamos a ajeitar o quarto juntos, e eu removi o gelo da porta que permaneceu intacto a noite toda.
– Dá pra explicar porque a porta não se abriu depois que eu usei a chave? – Anya entrava desconfiada, carregando uma sacola, ao ter a porta aberta pela Cris.
– Não queria invasões logo cedo como você foi impedida de fazer. – respondi enquanto terminava de arrumar a cama.
– Que quer dizer com isso??
– Anya... Vamos deixar isso para uma outra hora vai. – Anya começou a nos encarar intercaladamente.
– Há algum problema elfinha? – comecei a me aproximar para comer.
– O Gelinho me parece bem feliz... – (estava lendo nossas auras?!) – Já a Cris me parece um tanto brava, mas contente também. – !! – ... O quê foi que vocês fizeram?
Ela meio que demorou para perguntar isso. E não vou negar que gostei de ver o rosto rubro de minha Ladina. Mas não estou afim de ser eu a revelar o mundo adulto para a pirralha.Cris 2
Porque é que a Anya faz questão de perguntar as coisas mais inconvenientes, heim – Errr... Anya! Porque não deixamos isso de lado por enquanto e comemos a comida antes que esfrie o que está quente. Você quis comer com a gente, não foi? Há três marmitas aqui!
– Foi. Acaso o motivo de eu não ter conseguido entrar sozinha, e de Absol ter dormido do lado de fora, tem a ver com a promessa que você disse que fez ao Gelinho para convencê-lo a ajudar ontem no Ritual de Maana?
– Exatamente elfinha. – respondia o Lance já começando a comer – E a menos que você não tenha nada a fazer depois que acabar a refeição... – interrompia-se para beber um gole – Sugiro que comece a comer logo.
E foi o que fizemos. Anya até que tentou nos fazer deixar escapar alguma coisa, mas nós dois estávamos atentos. Lance também comentou sobre os planos que ele fez para dar continuidade aos meus treinos e estudos da Língua Original e dos meus poderes, e Anya questionou sobre o meu retomar da rotina. E céus! Eu ainda tenho que escrever o relatório sobre a viagem à Terra! Estou cheia de coisas pra fazer...
Terminávamos de comer e eu rachava a cabeça para poder organizar tudo isso, quando alguém bateu na porta. E quando eu abri...
– Miiko?
– Bom dia Cris. – falou ela um pouco simpática e já entrando – Anya, Nevra a está procurando, pode ir ao encontro dele por favor?
– Ok... – respondeu a Anya um tanto desanimada e já levando as vasilhas vazias.
Bom. Não sei quanto ao Lance, mas a presença da Miiko no meu quarto, com ele bem à vista, ainda me deixa um pouco desconfortável. E ela só começou a dizer o que queria depois da Anya ter ido embora.
– Muito bem Cris, precisamos conversar sobre o seu retorno à Eel.
– Então trate de se sentar. – declarava o Lance me espantado, e acho que a Miiko ficou com um pouco de desconfiança pelo erguer da sobrancelha.
Combinamos tudo. Eu só ia voltar a trabalhar na cozinha após a entrega do meu relatório, para ajudar nos disfarces sobre minha “doença”. Retomaria minha aprendizagem com o Gelinho ainda hoje, era só Absol retornar (ele saiu enquanto nós estávamos comendo). E até segunda ordem, tudo iria voltar a ser como era antes de viajarmos após a entrega de meu relatório (ao qual a Miiko deu ênfase que eu tinha de o entregar o mais breve possível _suspiro_). A Miiko até que tentou descobrir como foi que eu convenci o Lance a ajudar ontem.
– Ela apenas me prometeu algo que me era impossível negar. – respondeu ele dando aquele sorriso.
– E ele vai ajudar em todos os Rituais de Maana. – declarei fazendo o sorriso dele ser substituído por insatisfação.
– Isso sem dúvidas será de uma imensa ajuda! – sorria a Miiko, deixando o Lance ainda mais incomodado – Eu vou indo, pois tenho trabalho a fazer. Bons estudos para você Cris. – despediu-se a Miiko já se erguendo.
Miiko nos deixou sozinhos e logo iniciamos com as minhas revisões, começando pela língua original. Sobre os treinos de meus poderes d'água, Absol sempre nos levava para aquela mesma clareira da primeira vez, mas bem que ele podia nos levar para um lugar diferente hoje...
Absol só chegou, carregado de pergaminhos, quando estávamos quase acabando o almoço. Enquanto eu guardava aqueles pergaminhos (mas quem será que fica espalhando essas coisas por aí??), Lance arrumava uma bolsa com toalhas, agua, um pequeno lanche, e suas anotações sobre o meu desenvolvimento e evolução nos treinos.
– Não é por nada não... – falava o Lance com eu terminando de me arrumar no banheiro – Mas tem como você convencer esse black-dog a nos levar para um lugar diferente?
– Também quer ir para algum lugar diferente hoje?! – acabei deixando escapar, surpresa.
– Acho que não sou o único que está um pouquinho enjoado daquela clareira... – sorria ele já jogando a bolsa nas costas – E então, guardião. – (eu realmente não gosto quanto ele faz pouco do Absol...) – Tem como ou não?
Absol revirou os olhos e me apressou a chegar no Lance para ele nos transportar ao local do treino (e sinceramente, tem que haver algum outro meio de sair por aí com o Lance sem ser através da umbracinese). Fiquei boquiaberta ao descobrir que o local do treino de hoje não era aquela clareira.Nevra
Mal deixo os túneis após conversar com o Gelinho e Karenn me arrasta até uma mesa cheia de documentos que precisavam de minha atenção _suspiro_. Vi Anya passar próximo da sala de reuniões da Sombra acompanhada de Chrome e, já que eu estava atolado de burocracia, ela podia estudar mais hoje alquimia ao invés de combate e defesa como foi por quase todo o período de viagem da Cris.
Fiquei sabendo das ocupações da Cris durante a tarde e deixei Anya aproveitar mais ainda o tempo com ela. Como eu estive “sumido” por quase um dia inteiro, Miiko me pões para ajudar a organizar as coisas após a partida de parte dos visitantes que vieram à Eel pela Cris.
Eu só fui ficar livre de afazeres à noite. Hoje eu não fazia parte das rondas noturnas, mas como eu ainda estava um pouco longe de ter sono, resolvi dar uma olhada naqueles dois (ainda não consegui tirar aquele pedido dele de não os espionar...).
Diante do quarto, Absol estava do lado de fora. Claramente irritado. Pensei que ele me impediria de me aproximar como na última vez que o vi daquele jeito, mas ele me ignorou totalmente. Ao me aproximar da fechadura, pude sentir o cheiro de gelo, e no que eu consegui olhar, me assustei de ver o dossel da Cris de cortinas fechadas. Só que foi o som abafado que eu consegui escutar que me fez entender o quê que o Gelinho quis dizer mais cedo _corado_.
Eu ainda não consegui aprovar essa relação e como não estou nem um pouco afim de continuar ouvindo aquilo (que com certeza é o motivo de Absol estar tão irritado), retornei para o meu quarto. Fiquei estudando alguns documentos e informações obtidas das últimas missões efetuadas pela Sombra fora de Eel.
Amanhecido o dia, era hora de conferir o que foi que Anya conseguiu aprender com o Chrome e o quanto ela enferrujou no combate. Fui cumprimentar o Karuto que já conversava com a Miiko sobre a Cris, e fiquei sabendo que a Verdheleon já tinha ido atrás da Lys (Lance pensou nisso também, não foi?). Como a Miiko já estava a caminho do encontro da Cris, ela me disse que ela mesma mandaria Anya me procurar e foi logo deixando o salão.
Comi minha porção, e segui até o porão. Mal cheguei lá e Anya chegava logo atrás com cara emburrada.
– Está chateada porque vai retomar os treinos de combate ou porque a Miiko te colocou pra fora do quarto da Cris?
– As duas coisas mais o fato de eu não ter conseguido descobrir o que eu queria Becola. – respondeu ela ainda de braços cruzados.
– E o quê você não conseguiu descobrir? – começava a pegar o material para o treino dela.
– O porquê de Absol ter dormido do lado de fora e de eu não ter conseguido entrar no quarto. E o Absol ainda sumiu não sei pra onde assim que comecei a bater na porta dela! Nem pra me dar uma carona pra dentro...
(Então o Lance realmente pensou na Anya também _riso_) – Você ainda tem muito o quê aprender Anya... – tentava meio que consolá-la – O que lhe falta de treino, também lhe falta de experiência. Anda, vamos começar.
– Não tem como você me fornecer um pouco daquela... Nonrs Visdom? É isso? Aí eu a usaria com o Gelinho!
– Eu não duvido disso. _sorriso nervoso_ Mas sugiro que aprenda a adquirir as informações que procura sem o uso de poções arcanas primeiro. – (principalmente porque tem muita coisa que você ainda não está preparada para ouvir).
– Qualquer dia desses eu consigo um frasco no laboratório! – declarou ela já pegando as armas de treino (preciso alertar o Ezarel sobre isso).
Começamos com o treino dela e até que ela está muito boa para alguém que ficou quase um mês sem praticar! E ela ainda ficou perto de me derrotar umas duas vezes...
– Me diz Anya... – questionava ao fim do treino – O que você ficou fazendo quando não estudava com o Chrome ou cuidava do quarto?
– Agradeço a minha sinestesia e ao meu pai. – (heim!?) – Meu pai ficou me ensinando até eu estar finalmente habituada a essa habilidade, a como obter vantagem com ela nas lutas. Sem falar, que Chrome me contou historias bem interessantes de quando ele aprendia a lutar com o senhor durante nossas aulas.
– Aquele lobo... Já falei para ele não pegar a mania de falar demais da Karenn! – Anya acabou soltando uma pequena gargalhada – Vamos lá comer Verdheleon.
– Certo, Becola. – Anya ainda ria.
Nós dois nos separamos no salão. Depois de acabar de comer, eu apenas queria relaxar um pouco, então resolvi ir até a praia. A praia é o único lugar de Eel em que quase não há neve graças à salinidade do mar. Não ventava muito e o mar estava consideravelmente tranquilo. E ainda nos dispúnhamos de um solzinho hoje!
Estava de boa deitado sobre a areia, quase cochilando, quando comecei a ouvir algumas vozes que quase me fizeram saltar do lugar.Cris 3
– Você nos trouxe para a praia?! – acabei falando – Mas que tristeza ainda estarmos no inverno...
– Se quiser... – Lance verificava nosso redor – Você pode usar a Crista de Maana para entrarmos na agua sem tanta roupa sobre o corpo!
– Nem vem Lance! _vermelha_ Mesmo se eu estivesse com roupa de banho, eu só a exibiria mediante a presença do calor! Pode manter o seu woolapiyou na areia que você não vai me ver de roupa íntima aqui não!
– Que lástima... – falava ele dramático.
– Mas o que é que vocês estão fazendo aqui?! – tremi de choque ao ouvir o Nevra que se aproximava de nós.
– Absol achou que a praia era um bom lugar para ela treinar com a agua, no lugar daquela clareira. Está aqui para nos vigiar o treino por acaso?
– Eu estava aqui para relaxar um pouco. Não é arriscado vocês fazerem isso na praia? E se alguém os ver?!
– Ficaremos em algum canto mais reservado. E se está tão preocupado, porque não ajuda Absol a ficar de vigia enquanto nós dois nos concentramos na agua? Muito ocupado para nos fazer esse favorzinho? – provocava-o o Lance, e Nevra parecia pensar em sua sugestão.
– Ocupado realmente não estou agora. – confessava o Nevra – E eu me pergunto se Absol não fez isso sabendo que eu estava aqui, completamente sozinho.
– Bom, nesse caso,... – entrei na conversa – ...vamos logo fazer esse treino Gelinho. E conto com a sua segurança Nevra.
– Pode deixar, my lady. – Nevra me fazia reverência (da qual Lance não gostou muito).
– Vamos logo nos ocultar dos curiosos Ladina. – declarou o Lance já me guiando até o fim da praia.
Protegidos de olhos xeretas, iniciamos com o treino. Começamos revisando tudo o que eu já tinha aprendido não só para testar minha memória, como também para conferir os efeitos de ter ficado tanto tempo sem parte de mim.
Eu não sei se foi impressão minha ou se era fato, mas eu sentia como que as coisas fluíssem com mais facilidade agora. Tanto que as coisas difíceis estavam parecendo medianas; as medianas estavam parecendo fáceis, e as fáceis estavam sendo baba de fazer.
– Estou impressionado! – alegava o Lance – Desse jeito vamos poder começar a trabalhar seu lado terra ainda nessa semana!
– Não me atrapalhando de escrever aquele bendito relatório, por mim tudo bem. – falei sem me desconcentrar do que fazia.
– Então vamos colocar um pouco mais de esforço nisso para que você possa ter bastante tempo para escrever aquilo. – falou ele anotando alguma coisa.
– Acaso você tem memória ruim? Valkyon não precisa de ficar anotando as coisas como você está fazendo.
– Nada disso. O motivo de eu anotar seus avanços é para melhor organizar os outros treinos depois. E vai que eu acabo tendo algumas ideias com aqueles seus livros da Terra! – (eu realmente não sei se essa seria uma coisa boa ou ruim).
– Ei, vocês dois! – Nevra se aproximava – Tentem não chamar atenção porque têm gente vindo aí.
– Então apenas se livre deles! Quer que eu o faça?
– Laaanceee... – chamava a atenção dele séria – Trate de se comportar! Vai lá Nevra. E obrigada pelo aviso.
Ele só assentiu e afastou-se de nós até um grupo de jovens que pareciam querer fazer fogueira para se divertirem nas areias frias. Como o Nevra parecia estar com um pouco de dificuldade em mandá-los embora. Lance me sugeriu a tentar fazer o mar parecer um pouco menos sereno. Tive de entrar no mar gelado para poder tentar aquilo.
Dentro d'água, tive uma sensação semelhante a que eu tive quando me transformei em sereia. Me senti um com o mar. Ali, dentro da agua, meus poderes pareciam fluir ainda mais, e foi moleza fazer o mar parecer agitado. Se eu me concentrasse mais um pouco, as ondas alcançariam onde eles estavam rapidinho.
Não sei se o Nevra desconfiou ou não de eu ser a causa daquilo tudo, mas o grupo desistiu de ficar na praia. Esperei até que o próprio Nevra decidisse vir ao nosso encontro para poder sair do mar (e como que esse mar está frio! _batendo os dentes_).
– Impressionante! – declarou os dois juntos quando terminei de me aproximar.
– Obrigada. – falava sem jeito – Mas agora... – me concentrei em remover a agua gelada do meu corpo – Tudo o que eu quero é algo quente! – declarei ao me ver livre daquela agua, fazendo os dois rirem de leve.
– Parece que a feitiçaria daquela criatura acabou te ajudando no final das contas. – avaliava o Lance – Só quero confirmar mais algumas coisas e podemos dar fim ao treino de hoje. Contente assim?
– Vamos logo porque eu não sou feita de gelo!
Os dois riram de novo, e Lance e eu retomamos de onde havíamos parado. Lance me questionou sobre como que eu havia me sentido enquanto manipulava o mar daquele jeito, e ele me aconselhou a sempre me recordar daquele sentimento quando eu tentasse usar qualquer um dos meus poderes (difícil vai ser lembrar disso em algum momento de ansiedade ou tensão).
Assim que o treino foi declarado encerrando, Absol levou todos nós para o meu quarto. Deixei os dois conversando e fui tomar o meu banho...
Um banho beeeem quentiiiiinho...
.。.:*♡ Cap.107 ♡*:.。.
Nevra
Quando o mar começou a se agitar, achei estranho. Não havia tanto vento para aquela mudança (a Cris está fazendo isso?). Como parecia que eu era o único a desconfiar de tanta mudança sem condições naturais suficientes para aquilo, consegui fazer aquele grupo desistir de sua festa na praia. Por hoje pelo menos. A agua estava quase alcançando o lugar em que estávamos quando aquele povo começou a deixar a areia!
Assim que eu deixei de ouvi-los, as aguas começaram a se acalmar novamente, e eu fui ao encontro do Gelinho – Foi a Cris quem manipulou o mar?
– Você parecia com dificuldade para se livrar dos festeiros, então sugeri para ela tentar dar uma animada nas ondas. – respondeu-me ele sem tirar os olhos do mar. Logo vi a Cris saindo dele.
– Impressionante! – acabamos falando o Gelinho e eu ao mesmo tempo.
– Obrigada. – respondia ela corada e se livrando da agua que parecia congelá-la em seguida.
Rimos um pouco e os dois retomaram o treino com eu voltando a ficar de vigília à distância enquanto Absol se mantinha próximo deles. Me mantive prestando atenção no treino deles, por isso, quando ouvi a declaração do encerramento daquele treino, voltei pra junto deles. Não esperava que o Absol fosse me dar uma carona para o QG também.
A Cris foi tomar banho e eu e o Gelinho ficamos a conversar – Posso não ser especialista no controle da agua, mas pelo o que eu ouvi e vi hoje, ela já controla isso.
– Concordo. – estávamos os dois sentados à mesa – Tudo que eu tinha de conhecimento sobre a agua em si já passei à ela, para ela aprender mais terá de conversar com um especialista ou se desenvolver por si mesma. Acho que a transformação em evigêneia dela lhe facilitou algumas coisas depois de ter seu poder finalmente liberado com a Púrpura.
– Vai parar de continuar a ensinando?
– O poder dela não vem só da agua. – ele sorria com sarcasmo, baixando a voz em seguida – A Negra me revelou que Absol havia iniciado a terra nela com esses seus treinos absurdos. – fiquei intrigado, e ele voltou a falar normalmente – Recebi algumas sugestões para completar isso, mas eu queria poder pesquisar mais sobre o assunto, e assim montar um plano de treino mais elaborado.
– Está me pedindo acesso à biblioteca ou que eu procure o material que você deseja lá?
– Seria realmente muito mais agradável se eu pudesse circular pelo QG igual Absol, mas... Na ausência dessa possibilidade... – (esse lagarto está folgado...) – Tem como você me trazer essas coisas? Você é perfeccionista, então não vai ficar pegando coisas fáceis como é quase certeza que é o que a Ladina faria se eu pedisse à ela.
– Ok. Estava te achando folgado agora, mas com essa observação sou obrigado a mudar de ideia já que você não pode ficar livre por aí. – falei já me levantando – Vou atrás do que está me pedindo, mas só porque é para a Cris!
– Apenas não fique dando em cima dela que eu já fico grato. – disse ele me abrindo a porta com a chave da Cris, que ela deixou sobre a mesa.
– Vou ver se trarei tudo até amanhã e...
– E o quê.
Encarei-o um pouco antes de responder – Trate de deixar a Cris dormir essa noite, vai. – e já me fui embora o ouvindo me xingando baixo enquanto trancava a porta.
Fui para a biblioteca onde acabei encontrando o Valkyon e a Erika dando uma mãozinha para organizar as montanhas de livros ainda não catalogados que a Cris transcreveu (foi necessário o tempo da viagem toda só para organizar aqueles que foram para a sala restrita!). Acabei dando uma ajuda também. Nisso conversei um pouco com os dois e contei do treino da Cris para eles e do pedido do Gelinho também. Valkyon me deu auxílio nas minhas buscas a pedido do irmão dele e deixei a biblioteca carregando uns dez livros sobre as diferentes formas de uso do elemento terra.
Ficou tarde e eu fui para o meu quarto com os livros. Hoje, eu precisava dormir.Lance
Sanguessuga intrometido miserável. Para ele ter dito aquilo é porque Anya não foi a única que se deparou com um quarto selado para enxeridos. Ao menos ela tem mais educação que o chefe dela.
Absol, que tinha saído logo após deixar nós três no quarto, reaparecia carregando uma pequena cesta contendo uma garrafa de suco, frutas, dois pedaços de bolo e um sanduíche dividido para dois (parece que o sátiro está bem humorado hoje). Resolvi arrumar a comida na mesa de modo um pouquinho especial (o sanguessuga pode ser intrometido, mas eu realmente exagerei ontem) e a Cris deixou o banheiro assim que terminei de arrumar tudo.
– É o lanche do Karuto? – ela se aproxima secando os cabelos.
– Chegou assim que o sanguessuga foi embora. – ela observava a mesa.
– Ficou bonito... – _sorriso_ – Mas se está tentando me seduzir, esqueça! Se não fosse por Anya eu teria dormido muito mais hoje. E é o que eu quero fazer essa noite! – acabei deixando um riso escapar com sua seriedade.
– Sinto muito. – desculpei-me me aproximando dela – Prometo que te deixarei dormir tranquila. – guiava-a para que se sentasse – Vamos comer agora. Depois você reza as suas orações enquanto eu tomo o meu banho, e em seguida dormimos sem ninguém perturbando ninguém. – sentei-me ao seu lado – Combinados assim? – terminei de falar erguendo meu copo, como em brinde, para ela.
– Tudo bem. – ela me sorria desconfiada – Façamos assim por hora. – concordou ela fazendo o brinde.
Comemos. Conversamos sobre coisas aleatórias. Limpei tudo enquanto ela escovava os dentes. Ela foi orar enquanto eu me banhava (onde eu terminei antes dela). E nos deitamos cada um do seu lado (apesar da minha vontade de estar abraçado à ela...).
Ressurgido o sol, acordei antes dela. Observá-la dormindo se tornou algo agradável gradualmente para mim, antes mesmo dela me ceder o descanso na cama. E como ela estava tranquila... _suspiro_. Levantei-me com cuidado, pois precisava ir ao banheiro. Leves batidas na porta, feitas em código, me interromperam o caminho. Abri a porta conferindo o sono de minha amada.
– Seus livros. – me estendia o sanguessuga uma pilha de livros, com voz baixa – Valkyon me ajudou a escolher e conversei um pouco com a Miiko ao deixar meu quarto hoje, sobre ontem. Os dois estão querendo uma conversa particular com você.
– Não é nem sete horas ainda e você já me traz noticias desconfortáveis? – falei já segurando tudo.
– Não posso fazer nada! – sussurrava ele, dando de ombros – Bom dia pra você também e boa sorte aí. – terminou ele de dizer já indo embora.
Coloquei os livros sobre a mesa e fui ao banheiro. Comecei a lê-los assim que terminei, e a Cris só veio a acordar umas sete e meia mais ou menos.Cris
Posso não ter ouvido a conversa daqueles dois durante o meu banho, mas percebi quando o Nevra foi embora. Fiquei surpresa com o mimo que Lance havia feito quando finalmente deixei o banheiro (mas minha vontade era de não deixá-lo me tocar por pelo menos um mês, depois de ontem à noite).
Não me permiti baixar a guarda durante a refeição, mesmo com a conversa agradável que estávamos tendo. Quando me sentei na cama para fazer minhas orações, haviam algumas frutas e tecidos ao lado da minha cama, e Absol já dormia na dele (não sei não, acho que Absol está se esforçando demais com essas explorações e tomando conta de mim). Guardei as coisas enquanto rezava mesmo. Terminado, me deitei. Lance ficou do lado dele me observando até eu adormecer. Ele realmente me deixou dormir em paz... Nem vi a noite passar!
Quando acordei, logo vi o Lance sentado à mesa lendo alguma coisa e Absol ainda dormia na cama dele.
– Dormiu bem?
– Dormi... sim. – respondi me espreguiçando sem me descobrir – Que livros são esses? Não os reconheço. – me levantava aos pouquinhos.
– Apenas algumas coisas que eu queria estudar. Meu irmão e sua mulher já estão sabendo de ontem.
– Ele esteve aqui ou foi Nevra que o informou? – saía finalmente da cama, terminando de me esticar.
– Sanguessuga.
– E o quê exatamente você está estudando? – me aproximei.
– O seu treino de terra. – (QuÊ!?!).
– Não seria melhor terminar o de agua primeiro? E o quê exatamente terei de aprender com a terra?
– Sobre a agua, você já consegue se virar sozinha. Tudo o que eu conhecia já lhe passei. Se quiser aprender mais terá de procurar algum mestre de agua, como uma ondina por exemplo. – _boquiaberta_ – Agora, sobre a terra... Quero primeiro averiguar as possibilidades para ver o que pode ou não ser compatível com você. Não vai servir de nada eu lhe exigir algo que não faça parte da sua natureza.
– E como exatamente você vai descobrir isso?! – (porque que eu acho que esse próximo treino me pode ser ruim??...).
– Primeiro, devo me lembrar que seus dons terrestres provêm do seu lado humano, então preciso pensar em coisas que não sejam impossíveis para um. Segundo, também irei verificar aqueles que só são possíveis diante do controle de outros elementos, no caso, agua e luz. E terceiro, também vou conferir os poderes dragônicos daqueles que recebem a benção de Deméter.
– Muita coisa... – falei seguindo para o banheiro e ouvindo uma risada que fugia do Lance.
Me arrumei para mais um dia e desci para a cozinha. Cheguei e cumprimentei o Karuto, com Absol aparecendo dois segundos depois... Como o Karuto e eu quase não conversamos depois que retornei ao QG, ele me sentou na cozinha já me servindo o meu, e pões Absol para levar o do Lance enquanto eu contava tudo sobre a viagem nos por menores. Além do que eu tinha combinado com a Miiko ontem mais o treino que tive, e o quê Lance mencionou hoje.
Karuto me disse conhecer alguns amigos de longa data que poderiam me dar uma mãozinha em meu aprimoramento aquático, e que ia questioná-los se aceitavam me dar uma ajudinha caso eu quisesse. Não neguei a proposta, mas pedi para ele esperar que eu ao menos entregasse o relatório da viagem primeiro. Acho que não consegui esconder o meu nervosismo pela risada que ele deu com a minha resposta.
Acabada a refeição, me pus a caminho de meu quarto na intenção de escrever logo aquele documento, e me encontrei com a Erika no caminho, que quis me acompanhar até o quarto. Ela me repassou o que Nevra havia contado à ela e ao Valkyon enquanto os dois trabalhavam na biblioteca ontem, como voluntários (acho que quando eu tiver uma brecha, vou dar uma ajudinha lá também).
Entrando em meu quarto (que já estava arrumado), dei logo de cara com Miiko e Valkyon conversando com o Gelinho – Se importam se eu saber a pauta dessa reunião particular? – questionei temerosa e vendo que Absol não se encontrava no quarto (porém, já havia algumas coisas entre a cama dele e a minha).
– Seus treinos. – respondia meu chefe (temia por isso _incomodada_) – E eu também quero fazer uma revisão sobre suas habilidades de batalha e manuseio de armas. E estou pensando em pedir ajuda do Nevra para lhe ampliar os tipos de armas que sabe usar.
– Mais armas?? Se está planejando pedir ajuda do Nevra, acho que a próxima será uma faca ou coisa do tipo. Mas eu ainda não sou boa no arco!...
– Sabemos bem disso. – falava o Lance e todos sorriam – Eu consigo dominá-la fácil demais às vezes, e é para fugir de situações assim que meu irmãozinho pretende de preparar.
– Mas claro, isso depois de você já ter ao menos aprendido o básico do treino de terra. – intermediava a Miiko. – Valkyon e eu demos uma mãozinha no planejamento disso ao sabermos como que foi o seu treino ontem.
– Muito obrigada! – falei com ironia e guardando o que Absol tinha deixado no quarto.
Eles riram de leve e retomaram a conversa deles que durou só mais uns dez minutos. Erika me explicou como que os relatórios eram feitos para que eu escrevesse o meu nesse tempo (e já me avisando que o dela gastou uns três pergaminhos _suspiro_).
Miiko, Valkyon e Erika saíram, e eu juntei o material para escrever. Ficamos nisso a manhã toda e só pausamos para o almoço, trazido pela Erika à pedido do Karuto. Assim que Lance terminou seus planos de tort... digo, de treino, ele ajeitou todo o material dele e foi fazer seus exercícios. Fiquei totalmente focada em meu respectivo trabalho.
Eu já tinha terminado de escrever duas páginas e meia (que por sinal eram maiores que uma A4 e menores que uma A3, seu dobro, e eu tentava manter minha letra pequena também) quando Lance foi para o chuveiro depois de eliminar alguns milhões de calorias. Eu ainda trabalhava na terceira página no momento em que ele deixou o banheiro, passando a me encarar da poltrona (eu estava sentada de costas para a janela à mesa).
Tentei ignorá-lo, mas o reparar incessante dele começou a me incomodar – Algum problema comigo? – perguntei tentando continuar escrevendo.
– Nenhum.
– Então porque me observa tanto.
– Porque não importa o que você faça ou deixe de fazer, continua linda para mim. – acabei revirando os olhos e negando com a cabeça – Cris.
– O que quer? Estou ocupada.
– Cris... – o olhei com o canto do olho e ele me chamava com o indicador.
– Já disse que estou ocupada.
– Traz consigo! – passei a encará-lo séria – Por favor.
– Pra. Quê. – (estou perdendo a paciência...).
– Apenas vem, vai. Por favor... – seus olhos pareciam suplicar.
Acabei olhando para o alto e respirando fundo. Me ergui da cadeira com as mãos sobre a mesa, ainda contrariada. Peguei o papel em que trabalhava ainda com uma mão e a caneta com a outra e me pus diante da peste – Pronto. Agora diga o que quer de uma vez. – exigi dele. Na hora ele não falou nada, apenas ficou me encarando com olhar doce – Não vai dizer nada não? Então eu vou voltar para a mesa! – declarei já me virando e ele me agarrou o pulso me forçando a ficar em seu colo quase do mesmo jeito que ele havia feito durante a Púrpura. Por pouco que eu não lhe perfurava com a caneta devido a surpresa – Mas o quê é qu...
– Fica aqui. – me interrompia ele baixinho – Eu só quero abraçá-la. Ter-lhe bem pertinho, mais nada. – comecei a suar com o rosto ardendo.
– Essa... posição é um tanto ruim, para continuar escrevendo... – falei meio sem jeito.
Sem me deixar afastar, ele me ajeitou em seu colo de modo que dava para eu usar as pernas e algum suporte sólido como apoio para o papel (acho que ele vai me segurar tanto quanto ele o fez ao se transformar pela primeira vez para mim...). Sem graça e sem escapatória, acabei dando continuidade ao meu relatório, no qual não estava mais conseguindo me concentrar direito...
Mas felizmente para mim (e infelizmente para o Gelinho) não ficamos mais que cinco minutos daquele jeito.Leiftan
– E é isso Leiftan. – Miiko terminava de me repassar a pequena reunião que fez no quarto da Cris, discretamente – Tem como você encontrar gente de confiança que possa ajudar a Cris com o aperfeiçoamento dos poderes dela?
– Achar alguém para ajudá-la com a agua será fácil, mas os tributos terra e luz vão ser mais complicados, já que eles carregam muitos sub-atributos.
– Converse com o Gelinho para descobrir quais subcategorias correspondem à nossa Lys, e consequentemente os mestres ideais para ela. Acho que ela vai passar o dia de hoje trabalhando no relatório dela e o Gelinho elaborando os testes de treino para ela.
– Certo. Irei vê-los assim que concluir meu trabalho. – me prontifiquei.
– Ótimo! Agora faça-me o favor de entregar essas mensagens, sim. – me entregava ela uma bela pilha de rolos de papel, explicando qual era pra quem e pra onde.
Coloquei todas elas na bolsa e comecei minha caminhada. Como ficou claro o motivo de Ykhar sempre reclamar de ter “pernas curtas”... Ser mensageiro cobra um esforço considerável! Não é à toa que ela estava sempre sem fôlego.
O mais complicado de se trabalhar como mensageiro não é fato de você ter que procurar as pessoas, o complicado é: você nem terminou de entregar as que já tinha, e novas lhe chegava para ter de entregar aos seus destinatários. Você mal para! E quando arranja um jeito de se descansar alguns minutos... o trabalho se acumula. Ainda mais se a cidade estiver cheia de visitantes. Sem falar que como “faz tudo”, eu ainda tinha que ir atrás dos documentos que os preguiçosos (cof!...Ezarelcof!...) não entregavam no prazo respectivo _suspiro_.
Me pus a serviço. Hoje eu tinha mesmo muito trabalho. Tanto que quase não consegui pegar meu almoço. Eu ainda pude ver Anya acompanhada do pai e do chefe dela quando fui atrás da minha comida (deviam estar conversando sobre as habilidades da garota). Não me demorei com a refeição porque queria me livrar logo de todas aquelas mensagens, não me esquecendo dos documentos que Ezarel teve de arrumar hoje (quem será que o terá nas mãos amanhã?...).
Ao finalmente terminar, pensei em levar eu mesmo o lanche da tarde da Cris, para me ficar mais fácil de falar sobre a solicitação da Miiko. Acabei encontrando a Anya no balcão da cozinha planejando a mesma coisa.
– Qual é Karuto... Deixa eu levar a comida da Cris, vai!
– Não mesmo, Pequena Rainha. Nem preciso saber como foi o seu treino hoje para entender que, a junção do morcego com o elfo berserker foi demais para você hoje. Você vai é acabar deixando tudo cair na metade do caminho, e de jeito nenhum que vou te deixar sair daqui sem tomar ao menos uma de minhas “super vitaminas restauradoras especiais”, fui claro?
– E se eu carregar para ela? – questionei me intrometendo.
– Faria isso Leiftan?! Por favor, por favor, por favor!! – questionou-me ela já implorando para o sátiro permitir-me ajudar.
– E com que propósito está a querendo ajudar? – desconfiava o Karuto de mim.
– Preciso conversar com o Gelinho sobre uma coisa que a Miiko me pediu. – respondi baixo e Karuto começou a tamborilar os dedos sobre o balcão, reflexivo.
– Imagino que prefira que eu coloque algo para você também, considerando o pouco que o vi almoçando...
– Eu realmente seria muito grato, Karuto.
– Vai deixar!?! – Anya sorria de orelha a orelha – Muito, muito, muito obrigada!
– Aguardem só um pouco. – pediu o Karuto sério.
Anya me agradeceu com um abraço por ajudá-la e, depois do Karuto me entregar uma sacola com as quatro refeições, ela e eu nos colocamos a caminho do topo da torre. Chegando lá em cima, Anya se apressou para poder destrancar a porta (Miiko não a obrigou a abrir mão de sua chave, mas a kitsune foi a única a obter uma cópia após aquele incidente pós-bibliotecário que quase custou a vida da Cris). Eu entrava na frente e quando vi a Cris quase pulando do colo de Lance...
– Desculpe. – pedi vermelho e impedindo a entrada de Anya – Não queríamos... interromper.
– Não, por favor! – meio que implorava a Cris corada, e Lance me assassinando com o olhar.
– Deixe eu passar logo Leiftan! – forçava Anya passagem para dentro.
– Entrem vocês dois. – pedia a Cris se apoiando na mesa – _respira fundo_ Eu estava mesmo com dificuldades de continuar o meu relatório, então uma pausa me fará bem.
– Anya eu fico calado, mas qual o motivo de você estar aqui, ex-sócio. – se erguia ele ainda irritado.
– Miiko me pediu para conversar com você sobre os treinos da Cris. – me explicava esvaziando a sacola sobre a mesa e espantando a Cris – Ela me pediu para encontrar gente de confiança para ajudar com o aperfeiçoamento dos treinos dela.
– Aperfeiçoamento?! – se impressionava a Anya – Você já está tão avançada assim, Cris?!
– Porque não comemos ao invés de falar de treinos... – choramingava a Cris (ela é realmente um pouco preguiçosa...).
Nos sentamos todos. Anya conversava com a Cris sobre o dia das duas, ontem e hoje. Lance me explicou mais ou menos o que ele havia elaborado a contragosto. A comida amenizava alguns desconfortos de nossa “invasão”. Lance e eu concordamos que eu só iria tentar ver alguém para o aperfeiçoamento da agua agora. Terra e luz só seria preocupação quando ela já adquirisse um controle ao menos mínimo dos mesmos.
Tive de carregar Anya quando deixamos o quarto. Karuto estava mesmo certo sobre a condição da pequena elfa... Despedi-me daqueles dois com a Cris me pedindo cuidado com Anya. Levei Anya para os pais dela e, depois de cuidar um pouco de mim, fui logo atrás dos registros de guardiões da Guarda e moradores de Eel para conferir (entre os que eram seguros) quem seria mais aconselhável para ajudar a Cris agora.
Trabalho esse que me gastou boa parte da noite...Cris 2
Leiftan e Anya foram os meus salva-vidas. Não só me permitiram fugir daquele grude repentino do Gelinho, como também estava começando a pensar em comida. Mas o Leiftan tinha que ter aparecido para falar justo de treinamento?!
Anya e eu ficamos conversando entre nós duas, e coitada... Ela parecia estar tão exausta quanto eu após cuidar de uma boa quantia de contaminados (e realmente não apareceu nenhum novo enquanto eu estava fora??). O pai dela e o Nevra se juntaram para testar todas as capacidades de luta dela hoje, além de também colocar à prova tudo o que aprendeu com o Chrome.
– O Becola deixou escapar que só não me promovia para agente porque me falta experiência de campo. Coisa que eu só iria obter com missões onde ele e/ou meu pai me acompanhassem...
– _riso_ Lamento por sua falta de sorte, mas você também não pode julgá-los. Especialmente o seu pai!
– Eu sei. Minha mãe só não é controladora porque sempre dou um jeito de fazer o que eu quero. ... Mesmo tendo de aguentar uma tonelada de sermões e castigos depois... – acabei rindo outra vez – O Becola vai mesmo te ajudar com os treinos de armas?
– Dependendo de mim? Não. Já tenho treinos e treinadores demais. Sei que não sou 100% humana e que aguento bastante coisa. Mas eu sou só uma! Me deixem respirar!! – desabafei fazendo a Anya rir.
– Pode me contar sobre os treinamentos que já teve até agora? O que o Gelinho já te obrigou a fazer? E o quê fizeram ontem?
Comecei a descrever tudo para a Anya, e ela meio que caiu no sono enquanto eu lhe falava. Em nenhum momento deixei de prestar atenção no que Lance e Leiftan conversavam entre eles (e como imaginei, o treino de terra vai ser complicado...). Já que Anya dormiu, aqueles dois decidiram encerrar a conversa deles também.
– Cuidado com ela Leiftan. – pedia a ele que a tomava no colo – Ela está mesmo exaurida e não ficaria surpresa se a mãe dela tivesse um troço por vê-la assim.
– Pode deixar Cris, irei direto para casa dela. E me explicarei se for necessário. Boa noite para vocês dois.
– Some! – Ordenava o Lance já abrindo a porta para ele.
– Lance. E-du-ca-ção! – cobrei dele.
Ele apenas cruzou os braços me desviando o rosto irritado. Leiftan acabou dando um sorriso e foi embora após despedir-se.
– Nem encosta! – ordenava ao vê-lo querendo se aproximar depois de eu fechar a porta – Não tinha porque você se desfazer do Leiftan daquele jeito!
– Mas eu... – lhe arregalei os olhos em reprovação – _suspiro_ Me desculpe... Eu só... Só queria aproveitar sua presença perto de mim, só isso. E sei que você não ia permitir isso na frente dos outros. Especialmente da Anya.
– Mas ainda assim não é motivo para você ser grosseiro daquele jeito! – ele se mostrava impaciente e eu virei-me em direção ao guarda-roupas – Vou tomar o meu banho agora. Não quero saber de você me atrapalhando ou “ajudando”. Já me bagunçou com o relatório que não consigo mais terminar hoje, e agradeceria se me deixasse descansar mais essa noite. – entrava no banheiro – Fui suficientemente clara?
– Exagerei tanto assim para você me querer tanta distância?
– Minhas pernas ainda estavam trêmulas quando me levantei ontem, o que você acha? – declarei ligando o chuveiro em seguida.
Não falamos mais nada. Tomei meu banho sossegada, e quando saí, Lance lia algo sobre a mesa. Já estava de cabeça cheia, então apenas fui atrás de fazer minhas orações para poder dormir. Absol apareceu bocejando e me entregando uma nova bolsa de viagens cuja cor eu gostei bastante. Guardei-a e quando olhei para Absol novamente, ele já estava em sono profundo.
– Me pergunto por que que ele ainda se preocupa tanto em lhe trazer essas coisas...
– Também acho que Absol tem se esforçado demais... – deixei escapar, acariciando as orelhas de Absol que nem parecia notar meu carinho. Coitado...
– Vamos descansar também. – disse ele fechando o que lia – E pode ficar tranquila que não começaremos com a terra amanhã. Pode terminar o seu relatório sossegada.
– Tentando me agradar ou só está magoado com o jeito que lhe tratei? – sentava-me na cama.
– Acho que um pouco dos dois. – ele voltava da estante (então era um livro meu que ele lia?!) – Me deixei ser levado pela irritação e acabei a irritando também. Sinto muito.
– Lance... – acabei lhe acariciando o rosto sem querer – Vamos dormir, sim? – lhe disse sorrindo, fazendo-o sorrir também.
Nos aconchegamos um no outro. Lance ainda me deu um beijo na testa e adormecemos.
.。.:*♡ Cap.108 ♡*:.。.
Ēnukungi
– Mestre, posso falar-lhe?
– O que quer Eralco...
Eralco, praticamente o braço direito do líder de Ēnukungi, aproximou-se com cautela do senhor que parecia perdido em pensamentos, recordando as palavras de Melídia enquanto sentado em sua poltrona.
– O senhor irá de fato não perturbar mais a Lys de Eldarya até que ela mesma venha para Apókries, certo?
– Infelizmente sim. Por que.
– Bom, mestre. Segundo nossos malsins, Lance permanece na prisão do QG de Eel, então não compreendo porque vossos planos não têm funcionado como deve.
– Também sei disso. Diga o que quer de uma vez. – requeria o mestre ainda em seu refletir.
– Bem é que... Algumas coisas me passaram pela cabeça, e que como nos chegou a noticia que a Lys havia adoecido, preferi aguardar sua melhora para poder mencioná-las ao senhor.
– Que ideias? – o Mestre se interessava.
– Melídia disse que: nenhum plano do senhor, seria efetivo. Mas... E se a ideia vir de uma outra pessoa?...
O Mestre passou a dar uma verdadeira atenção à Eralco. Ouviu as ideias de seu melhor subordinado, e autorizou ele ou algum outro membro de seu grupo, a agir por si mesmo caso tivesse algum plano interessante (do qual ele não poderia ter opinião sobre o mesmo se eles desejassem alguma garantia de efetividade).
Nevra
Acordei mais cedo do que eu esperava, e bem descansado. Assim que coloquei meus olhos sobre os livros que peguei para o Gelinho, resolvi levantar. Arrumei tudo e fui logo entregar aquilo para evitar questionamentos desnecessários (mas a Miiko tinha resolvido deixar o quarto ao mesmo tempo que eu...).
– Que montanha de livros é essa Nevra?
– Bom dia para você também, Miiko. Isso aqui é só um favorzinho que o Gelinho me pediu para preparar o próximo treino da Cris.
– Próximo treino?!? – acabei falando sobre o treino dela de ontem, assim como fiz com o Valkyon e a Erika – Compreendo... Irei conversar com ele sobre este assunto. Vá lá entregar isso. Tenho que terminar umas coisas antes.
– Como quiser Miiko. – despedi-me já tomando o meu caminho.
Chegando no quarto, preferi dar uma olhada lá dentro primeiro. Não percebi nenhum dos sinais que tinha encontrado na noite trasada, e Lance se levantava da cama com um cuidado elevado. Deduzi que ele tentava não forçar o despertar da Cris, então tentei fazer o mesmo ao bater na porta.
Lance não demorou para abrir, e eu aproveitei para passar os recados da Miiko e do Valkyon. Material entregue, fui atrás do meu café e de meus afazeres. Mal terminei minha refeição e Voronwe entrava no salão segurando Anya pela mão (em minha direção...).
– Bom dia, chefe da Sombra.
– Bom dia, Elfo Berserker. Posso ajudá-lo em alguma coisa? – perguntei escondendo meu temor diante da ansiedade clara do coraçãozinho de Anya.
– Meu pai quer testar tudo que eu aprendi na Guarda até agora... – explicava Anya desanimada. Me senti um pouco mais relaxado.
– Pois é. E como é você o chefe dela, o ideal é que nós dois o fizéssemos juntos, uma vez que tem sido você o principal treinador dela.
– Tudo bem Voronwe. Apenas me diga como exatamente planeja fazer esse teste.
Ficamos conversando por uns dez minutos, analisando as melhores formas de verificarmos os limites de Anya (que só não correu até a Cris porque seu pai não lhe soltava o pulso). Decidimos averiguar suas capacidades com armas no campo de treinamento recém-construído próximo aos jardins. Depois a testaríamos no porão para averiguar suas habilidades furtivas. E por último, com o Ezarel presente, checaríamos também seu conhecimento alquímico por conta das aulas que ela teve com o Chrome. Seguimos os três para os testes assim que ficou tudo decidido.
No campo de treino, equipado com alvos, arena cercada, pista de corrida, bonecos, etc e tal. Voronwe colocou Anya para experimentar cada tipo de arma presente ali. Ela não se deu muito bem com armas de grande porte como lanças, espadas pesadas e martelos ou machados. Mas as armas menores e/ou de projetil como facas, espadas leves, arco e chakran se adaptaram consideravelmente bem à Anya. Seu pai ainda pensou em analisar armas especiais como chicote e leque, mas o convenci para deixar isso para um outro dia. A variedade de armas que fizemos Anya testar era grande, e nos custou a manhã toda. Ela já suava quando acabamos e seguimos para o almoço.
Refeição concluída, era a vez de seguirmos para o porão e conferir suas capacidades de batalha como membro da Sombra. Primeiro ela lutaria com o pai dela, para testar sua capacidade de defesa contra inimigos fortes (e seu pai lutou sério, mesmo se contento com a filha), onde a Anya se saiu mais ou menos bem. Depois foi a vez dela lutar comigo, como inimigo rápido. Eu não peguei nem um pouco leve com ela, mas claro, tomando o cuidado de não lhe atingir pra valer (era impossível não perceber o receio que o pai dela apresentava de acordo com seu batimento cardíaco). Talvez seja porque ela já estava acostumada a lutar comigo, mas ela se saiu bem melhor nessa luta. Ainda lhe propusemos alguns desafios de lógica, arrombamento e encantamentos básicos de defesa, onde ela se saiu melhor ainda.
Só faltava agora a alquimia. Subimos até o laboratório e conversamos com o Ezarel. De início ele não parecia à vontade para ser o avaliador de Anya, mas tanto eu quanto o Voronwe conseguimos amaciar o ego dele e ele acabou aceitando. Após averiguar a lista de poções mais utilizadas pela Sombra, ele a mandou reproduzir dez delas, nos explicando que cada poção carregava um nível diferente de dificuldade produtiva. E, julgando a cara que o Ezarel fazia ao final de cada poção, ela se saiu bem ali também.
– Por favor... Digam que isso tudo acabou finalmente... Estou exausta e quero ver a Cris. – nos pedia a Anya quase chorando.
– Por mim você pode sumir e tirar o dia de amanhã e depois de folga, se tudo o que esses dois me disseram foi mesmo verdade. – dava de ombros o Ezarel, guardando as poções produzidas por Anya.
– O alquimista está certo. Pode ir Estrelinha, vou só conversar mais um pouco com esses dois aqui e te aguardo em casa, está bem?
– OBRIGADA!!! – gritou ela já correndo para fora com se estivesse fugindo de um black-dog.
– Vocês dois realmente maltrataram a pirralha para ela correr tão desesperada assim daqui... – comentou o Ezarel sem nos encarar.
– Como eu disse antes da Verdheleon começar a chorar, as habilidades que ela apresentou em todos os testes me seriam o suficiente para elevá-la em dois níveis na Sombra, se não fosse pela falta de experiência em campo.
– Experiência essa que ela só vai adquirir em missões supervisionadas. – adicionou o Voronwe.
– Eu não sei não... – agora Ezarel arrumava sua mesa – Dentro de Eel, a pirralha já é tão furtiva quanto uma musarose. Na minha opinião, vocês dois estão a protegendo um pouco demais. A única viagem que ela fez até agora foi a de Memória! Sem falar que durante o baile, o natlig aí a forçou a ir para a segurança assim que a encontrou na batalha.
– Quando a encontrei, por pouco ela não era atravessada por uma lâmina. Ela foi precipitada uma vez que nunca tinha participado de batalhas antes.
– Mas ela ainda conseguiu derrotar sete guerreiros. Quem você acha que verificou as “vítimas” dela? – terminava Ezarel de reclamar, anotando alguma coisa que me entregou em seguida.
– O que é isso, Ezarel?
– Minhas notas e observações sobre as poções que ela fez aqui. Posso ser brincalhão, mas alquimia é algo bastante sério para mim. E vocês já podem sair do meu santuário!
Um riso escapou de nós dois e fizemos o que Ezarel nos pedia. Voronwe e eu ainda trocamos mais algumas palavras antes de nos separarmos nas escadas de entrada.Lance
Minha Ladina saiu e o black-dog resolveu acordar. A criatura ainda ficou enrolando no canto dele e eu comecei a arrumar tudo. Ele mergulhou em sua sombra dois minutos depois de ter começado a arrumar a cama, retornando depois que eu acabei, com o meu desjejum. Me sentei para comer e ele se mandou mais uma vez.
– Qual o problema dele? Porque ele não tira um dia de descanso pelo menos? – acabei comentando ao observar algumas coisas aparecendo entre as camas por intermédio das sombras.
“Deixe-o em paz. Ele apenas está juntando itens que podem ser úteis em breve.”
– Úteis em breve?? Não me diga que está se referindo ao grupo de imbecis!
“Um pouco sim.” – _respira fundo_ – “Porque acha que minha irmã e eu lhe pedimos para se apressar com os treinos?”
– A Cris é poderosa, mas tem limites como qualquer um. Se ela for forçada demais pode acabar se prejudicando.
“Tenho certeza que conseguirá encontrar uma boa solução quando Valkyon e Miiko chegarem aqui.”
– Quando você me disse para ensiná-la a “enxergar”, acaso se referia à habilidade de Adaptação Ambiental? – questionei folheando um dos livros que trabalhava esse tipo de poder e semelhantes.
“Bem por ai. Ela é capaz de perceber o ambiente ao redor dela como se ela tivesse uma visão de 360°. Os treinos de Absol e da Obsidiana só está a ajudando a perceber parte dos seres que se aproximam dela, e não o ambiente em geral como ela é capaz de analisar. Se lhe fornecerem o devido treinamento é claro!...”
– Esse tipo de poder é realmente muito bem-vindo quando há malucos querendo colocar as garras em você... – comentei já retomando meus estudos sobre as habilidades ligadas ao elemento terra.
“Vou indo!” – disse ela sumindo mais rápido que um piscar de olhos, e antes que eu pudesse pensar no motivo da retirada repentina dela, batiam à porta outra vez (ainda não me sinto confortável com mais sete pessoas conhecendo os códigos que nós três havíamos criado...).
– Entrem logo. – exigi ao ver meu irmão e a kitsune incendiaria – Não sei vocês dois, mas eu estou ocupado então digam logo o que desejam. – declarava voltando a me sentar.
– Queremos saber mais sobre o que você planeja fazer com a Lys de Eldarya. – afirmava ela com neutralidade.
– E também se há alguma maneira de mais gente ajudá-la sem sobrecarregá-la. – completou meu irmão.
– Bom, se você conseguir a ensinar a escapar de situações em que ela fique encurralada, já vai ser uma senhora ajuda Valkyon. – sugeri me recordando da facilidade que costumo ter ao fazê-lo (e se quem o fizer não for eu... Que todos os deuses tenham pena do infeliz!).
– Do que é que você está falando?!? – se assustava a kitsune.
– Digamos que às vezes gosto de provocá-la... – respondia sorrindo com os dois me olhando confusos – Mas eu mato qualquer um que tentar o mesmo. – isso foi o bastante para eles entenderem (os dois ficaram vermelhos _riso_) – E infelizmente não posso ficar do lado dela o tempo todo para evitar esse tipo de situação.
– Acho... que a aprendizagem de outros tipos de arma, como uma adaga, podem lhe ajudar com isso. – comentava meu irmão se sentando com a Miiko o imitando.
– Todos esses livros são os que Nevra e Valkyon escolheram para a sua pesquisa? – ela segurava um dos livros.
– São. – dissemos nós dois em uníssono.
– É mesmo bastante coisa... Mas com o quê planeja começar? – ela folheava um livro atrás do outro.
– Com isso. – apresentei o livro que estudava.
– “Poderes da Terra - Análises ambientais”? Pretende começar ensinando-a a enxergar seu redor sem a necessidade dos olhos em si?
– Esse seria um bom começo Miiko. – intervertia o Valkyon – Se ela puder perceber o perigo bem antes dele se mostrar, a Cris poderá se defender e até se esconder melhor.
– E quem sabe assim ela também não aprende a controlar a sua emissão de maana. – pensei alto, batendo o indicador na mesa.
– Isso é algo que ela realmente precisa aprender a fazer se quiser ajudar a se esconder daquele pessoal de Apókries. – coçava a incendiaria a própria cabeça – Nevra pode ajudar nisso também. Quero dizer, com as técnicas de fuga.
Quis matar ela. Ela estava tentando empurrar a minha Ladina pra cima daquele sanguessuga mulherengo?!?!
– Ele também é um dos melhores no manuseio de lâminas de pequeno porte. Nevra e eu podemos trabalhar juntos e assim evitar acidentes.
– Se você permitir que aquele vampiro de uma figa encoste um dedo nela... – continha como podia a minha raiva daquela ideia.
– Você sempre foi mais ciumento Lance, sei bem do que você é capaz. Ou acha que eu me esqueci o que você fez com aquele ryōude?
– Eu ainda acabei pegando leve com ele... – confessei fazendo algumas anotações.
A kitsune riu e meu irmão suspirou. Continuamos com a montagem dos próximos treinos de minha amada, onde optamos em nos focar nos pontos em que já tínhamos conversado. Valkyon e eu montamos nossos próprios esquemas de treino para ela em cima desses pontos e logo ela apareceu acompanhada da anjinha. Não me foi surpresa o aborrecimento dela ao descobrir sobre o quê conversávamos.
Como era Absol quem costumava escolher os locais de treino da Cris, os dois não ficaram me questionando onde que eu pretendia ensiná-la. Sem esquecer que Valkyon conseguia rastreá-la mais ou menos, mesmo com o uso do amuleto que aqueles guardiões esquisitos cederam para nós (acho que para a Cris se esconder de verdade, ela precisaria de uns três amuletos daquele). Colocamos fim à conversa e eles se foram, com a Ladina se colocando a escrever aquele bendito relatório que a kitsune cobrou dela. Achei melhor estudar um pouco mais sobre os poderes terrestres e assim já dar uma averiguada no que mais havia de compatível com ela.
Estávamos tão focados em nossas ações que nem percebemos o tempo passar. E ainda bem que a anjinha nos trouxe o almoço! Depois de ler tudo que eu considerei útil para a Cris (que parecia mais escrever um livro do que um relatório), ajeitei aquele material todo e fui fazer os meus exercícios, tomando o meu banho em seguida.
Ela ainda escrevia quando eu deixei o banheiro e acabei me sentando na poltrona, onde podia observá-la mais confortavelmente. A luz da tarde que pousava em suas costas a deixava com um ar místico, sábio e sedutor. Não conseguia tirar os olhos dela de tão bela que me parecia naquele momento.
– Algum problema comigo? – perguntou ela sem parar de escrever.
– Nenhum.
– Então porque me observa tanto.
– Porque não importa o que você faça ou deixe de fazer, continua linda para mim. – confessei e ela não pareceu gostar tanto – Cris. – chamei-a.
– O que quer? Estou ocupada.
– Cris... – ela me olhou com o canto do olho e lhe chamei com o indicador direito.
– Já disse que estou ocupada.
– Traz consigo! – me encarava ela bem séria – Por favor.
– Pra. Quê. – (ela é bonita mesmo sem paciência).
– Apenas vem, vai. Por favor... – lhe supliquei com o olhar.
Ela se ergueu estressada e se pôs diante de mim com pergaminho e caneta em mãos – Pronto. Agora diga o que quer de uma vez. – (como ela pode ser tão bela aos meus olhos, mesmo com raiva?) – Não vai dizer nada não? Então eu vou voltar para a mesa! – não pensei muito. Agarrei-lhe o pulso de modo a colocá-la em seu colo quase do mesmo jeito que lembrava ter feito na Púrpura. Por pouco não era perfurado com a caneta dela – Mas o quê é qu...
– Fica aqui. – lhe pedia baixinho – Eu só quero abraçá-la. Ter-lhe bem pertinho, mais nada. – envolvia-a em meus braços com cuidado.
– Essa... posição é um tanto ruim, para continuar escrevendo... – (a deixei encabulada _sorriso_).
Não a deixei sair de meus braços, mas ajudei ela a ficar um pouco mais confortável para que continuasse com a sua “literatura”. Não era necessário que ela me desse atenção, apenas a queria ali! Nos meus braços. Sentindo o seu calor e o seu cheiro. Se brincasse, eu dormiria com ela daquele jeito. Mas Anya tinha que querer aparecer... E com o daemon junto dela?? Dando a Cris uma oportunidade ainda maior de fugir de mim?! (Quero estrangulá-lo).
Os dois entraram se explicando e revelando a comida que haviam trazido com eles. Pela forma com que a Cris avançou no lanche, ela estava com fome. Ficamos todos à mesa, mas a Cris só parecia dar atenção à Anya e vice-versa. Enquanto eu falava com o “cachorrinho arrependido”.
– O que você quer saber exatamente Leiftan. – falava irritado.
– Olha, o motivo de eu estar aqui é para ajudar a Cris. Sinto muito se nós não chegamos em uma boa hora.
– Na pior das horas. Como ficaria se fosse eu interrompendo você com a anjinha?
– Esconderia meu desprezo e meu ciúme pelo bem da Erika. – aquilo me irritou ainda mais – E como disse antes, Miiko me pediu para encontrar gente de confiança para completar os treinos dela. Pode me contar como você fez para ensiná-la a agua e o que pretende fazer para lhe ensinar a terra?
– Muito cuidado na hora de escolher alguém para ficar perto dela! – lhe alertava com ele sorrindo – Tá rindo do quê?!
– Parece que nossos papéis se inverteram. Antes, era eu que lhe ameaça caso se atrevesse a machucar a Erika, e agora é você que o faz em relação a Cris.
Tentei ocultar meu embaraço com a comida, e lhe contei o que ele tanto queria saber. Tomando o cuidado de não assustar demais a minha Ladina, pois consegui reparar que ela estava sim ouvindo o que nós dois conversávamos.
Não posso julgá-la, porque eu fazia o mesmo sobre a conversa delas. E não é à toa que o pai da elfinha é chamado de berserker! Se brincar, ele seria o mais próximo a suceder meu irmão na Obsidiana. Isso devido a tudo que pude ouvir falar dele e se ele aprendesse a se controlar em uma batalha. A Anya simplesmente desmaiou depois de terminar de comer!
– Vamos parar por aqui e leve a tusmørke com você.
– Tudo bem. – se erguia ele já pegando a Anya – Vou ver o que eu encontro baseado no que conversamos.
– Como quiser. – continuava segurando minha vontade de expulsá-lo.
A Cris se mostrou preocupada com Anya, e eu acabei deixando escapar um pouco da minha irritação ao abrir a porta, o que claramente não agradou minha Ladina. A forma como ela me repreendeu me entristeceu um pouco, mas eu não podia tirar a razão dela. Eu estava me deixando levar pelo ciúme e pela possessão. Lhe pedi desculpas. Mas ela estava mesmo chateada com o meu comportamento (e pelo visto, um pouco ressentida pela noite retrasada. Tenho que aprender a me controlar).
Para não incomodá-la como ela me exigia (e ainda me dando ideias que eu só poderia por em prática se ela estivesse de bom humor), resolvi ler um dos livros dela. Acabei pegando um pequeno, de poesia, e que acabou me fazendo refletir sobre a forma com que eu tratava minha Ladina quando estávamos sozinhos.
Estava quase acabando ele quando minha Ladina deixou o banheiro. Continuamos sem falar nada e ela começou a rezar. Absol resolveu reaparecer novamente, exausto ao que pude notar, mas graças a ele consegui trocar algumas palavras com a Cris sem discussões.
Sei que o carinho que ela me fez foi involuntário, o que significava que ela não estava com tanta raiva assim. Não mais, pelo menos. Me senti aliviado de ela querer me abraçar para dormirmos, mas fiz de tudo para respeitar seu descanso (ainda tenho que mudar muito para ser digno do coração dela).Cris
Acordei ainda nos braços de Lance. Ele dormia tranquilo... De expressão serena... Com cuidado para não o acordar, me virei para o lado de Absol, e pude vê-lo se forçando a levantar-se de sua cama e começando a mergulhar uma das patas na própria sombra, sem nem mesmo abrir os olhos.
– Por favor não vá Absol! – falei fazendo-o ele se detiver e me olhar – Vem aqui, vem!... – lhe pedi estendendo-lhe a mão.
Absol pareceu respirar fundo, e subiu na cama deitando-se sobre mim em seguida. Comecei a lhe acariciar a cabeça. E rapidinho ele adormeceu novamente (porque você está se forçando desse jeito Absol...).
Fiquei deitada por mais um tempo, acariciando Absol com uma mão, e segurando a mão de Lance com a outra (será qual dos dois que vai abrir os olhos primeiro...). Como sempre, por causa do inverno, a manhã estava gelada fora das cobertas. O que só me fazia querer ainda mais continuar naquela preguicinha gostosa onde eu murmurava uma canção de ninar.
– Pena que você não está sentada, – me assustei – ...aí nós dois poderíamos desfrutar de um cafuné.
Um riso escapou de mim – Bom dia Lance. – falei com doçura.
– Bom dia para a mulher mais formosa que já conheci em toda a minha vida. – declarou ele me beijando o rosto e me deixando totalmente vermelha.
– P-para com isso! Você está exagerando além da conta. Não sou isso tudo que diz... – terminei de dizer encolhida e com Absol abrindo os olhos outra vez.
– Ah é, é? Absol! – os dois se encararam – Acaso você conhece alguma mulher mais especial que a Cris em Eldarya? – Absol pareceu refletir um instante para logo depois negar com a cabeça e depois me lamber em carinho – Viu só? Até seu black-dog concorda comigo.
– Vocês são dois puxa-sacos, isso sim! – falei tentando fugir das cócegas que Absol me fazia – Vamos cuidar da vida? – perguntei a eles, afastando Absol de meu rosto com um sorriso.
– Se é o que a nossa princesa deseja!... – declarou Lance, beijando minha mão (fazendo as cobertas parecerem excessivas) e se levantando em seguida.
Absol, que agora me parecia um pouco melhor, pulou da cama direto para dentro de uma sombra. Levantei para vestir uma roupa quente e, não seria hoje o dia normal do Ritual de Maana? Lance arrumava a cama e eu deixava o banheiro já trocada, quando bateram na porta. Sendo um dos seis... No caso, Leiftan.
– Bom dia Lys.
– Bom dia Leif. Por favor, me diga que você não está aqui para falar de treinamentos... – eu meio que implorava.
– Oh, não! Nada disso! – _suspiro aliviado_ – É que a Miiko deseja saber se você prefere que o ritual seja feito hoje ou amanhã, já que graças a sua intervenção, o último ritual foi realmente poderoso.
– Ladina? – a insatisfação de Lance, que se afastava da cama já arrumada, estava estampada em seu rosto. Refleti um pouquinho.
– Hum... Sabe me dizer onde Absol está? Porque além da umbracinese, não conheço nenhum método rápido e sutil o bastante para levar o Gelinho até a Sala do Cristal sem ninguém ver nada.
– Ladina... – me choramingava o Lance e Absol ressurgiu perto da mesa com uma sacola na boca.
– Vou avisar a Miiko que vocês querem tomar o café primeiro, e depois Absol os levará para lá. E Lance, você não sabe a sorte que tem por poder se recuperar mais depressa que o restante de nós.
– Se está querendo me pedir um pedacinho da Cris, pode esquecer! – declarava o Lance arrumando a comida na mesa.
– Ei! Isso não devia ser uma decisão minha?! E como assim “um pedacinho de mim”? – me indignei.
– Não se preocupe Cris. – Leiftan segurava um riso – É só o ciúme dele falando mais alto. Eu vou indo. Até breve vocês dois. – despediu-se ele já sumindo no corredor.
– Você realmente tem que dar um jeito nesse seu comportamento para com os outros! – afirmei me sentando à mesa, após fechar a porta.
– Fiquei desacostumado? – tentava ele escapar da bronca.
– Desacostumado ou não, isso não é desculpa para deixar de respeitar os outros! – começava a comer.
– Tem minha palavra: Eu vou ser uma pessoa melhor para que eu possa ser digno de estar ao seu lado!
– Olha que eu cobro! – acabei dizendo com um largo sorriso.
Consumimos o nosso café (leite e cookies de chocolate) e Absol nos deixou na Sala do Cristal em seguida. Nos posicionamos todos em nossos respectivos lugares, com Jamon guardando a entrada do lado de fora. Sei que não houve muito tempo para o Leiftan e o Valkyon se recuperarem, mas a bola da Erika estava quase do mesmo tamanho da última! Lance que se acostume, porque ele não vai parar de ajudar até esses rituais se tornarem desnecessários.
Acabado tudo, Absol levou o Lance depressa para o quarto. Quando eu terminei minhas orações, a Miiko veio me questionar sobre o relatório da viagem e eu lhe prometi entregá-lo até à tarde, e me pus em direção do meu quarto assim que deixei a sala.
Outra vez em meu quarto, Lance estava meditando em um canto. Fui para a mesa e as coisas para eu poder terminar aquele documento já estavam me esperando (...).
Para poder conseguir dar continuidade àquilo, tive que ler tudo o que eu já havia escrito primeiro, o que me levou um tempinho, para aí sim poder terminá-lo. No final das contas, o meu relatório sobre tudo o que fiz e vivenciei durante essa viagem, gastou cinco páginas inteiras (boa sorte para a Miiko ao ler isso tudo aqui!).
– Acabou finalmente? – Lance me questionava.
– Sim. Acabei finalmente. Mas agradeceria se você me deixasse aproveitar a paz e o sossego por mais tempo.
– Onze e meia agora. Porque não comemos assistindo a algum dos seus filmes?
– Tu não pretende tentar nada né? – perguntei duvidosa.
– Deixarei pra noite, pois assim terei a certeza que ninguém vai interromper.
– _respira fundo_ Não sei se quero lhe permitir “aproximação”... – declarei arrumando o relatório para entregá-lo logo para a kitsune.
– Vou me controlar. Você vai ver. – terminou ele me beijando a testa.
.。.:*♡ Cap.109 ♡*:.。.
Anya
Meu pai tinha que querer confirmar os resultados de todos os meus treinos e estudos obtidos após fazer parte da Guarda de Eel... E olha que o Chefinho ainda tentou amenizar as coisas para o meu lado! Até o Ezarel concordava que aqueles dois estavam pegando pesado comigo.
Mas ouvir do Chefinho que eu, uma ainda recruta, já tinha condições no que se refere à habilidade de me tornar uma agente... (a ordem de comando dentro da Sombra é: recruta > novato > agente > perito > sombra > sombra mestra > líder) fez todo aquele sofrimento valer a pena. Quem sabe um dia eu não alcanço a Karenn e Chrome? Ambos são “sombras mestras”, sub-líderes da Sombra (quando é que vão me dar missões de verdade heim?... Sem elas eu nunca que irei subir de nível!).
Assim que toda aquela coisa acabou, tirei energia nem sei de onde para poder correr até a cozinha para pegar um lanche e ficar o máximo de tempo possível ao lado da Cris (e do Gelinho também, vai). Mas se não fosse pelo Leiftan, meus planos não teriam funcionado.
Lá em cima, no quarto da Cris, eu estava impressionada com os avanços da Cris. E nossa! Como o Gelinho pega pesado! Infelizmente, meu pai e meu chefe me forçaram tanto hoje, que eu nem vi quando foi que eu acabei dormindo...
– Mas o quê é que você tem na cabeça para forçá-la tanto assim?! – acordei em minha cama, com a voz da minha mãe.
– Hadassa... Tente entender! Não posso impedir Anya de fazer missões sérias para sempre. Nem o chefe dela pode! – (como é que é?) me aproximei da porta para ouvir melhor a conversa.
– Ela ainda é nova demais! E ela é sua filha! Não sua recruta para forçá-la até acabar desmaiada! – (Ei! Eu não fui tão maltratada assim!).
– Querida, me escuta. Nevra e eu já conseguimos convencer a Miiko de não mandá-la para missões de leve periculosidade duas vezes. – (Quê!?!) – Eu tinha que confirmar por mim mesmo as capacidades de nossa filha para que eu pudesse ficar só um pouco mais tranquilo sobre ela. – (tudo bem, pai. Você e o Becola estão perdoados por me massacrarem hoje).
– Anya ainda não completou seus estudos, sabe disso melhor do que ninguém. Logo ela terá de ficar um tempo com minha irmã para poder completá-los em Lund'Mulhingar! – (mas hein?! Nem pensar! Só deixo Eel se for para cumprir uma missão!).
– Eu não fico com a tia Elvira nem morta! – falei pra eles, saindo do meu quarto.
– Anya! – os dois pareciam surpresos.
– Quando acordou Estrelinha?
– E quem dormiria com vocês dois discutindo desse jeito? – os dois pareceram engolir seco – Eu prefiro mil vezes passar por tudo o que passei hoje todos os dias, que a passar um dia que seja com a tia Elvira. Aquela burā ḍaiṇa... – sussurrei no final.
– Olhe as palavras Anya! Ela ainda é sua tia!
– Ela me acorrentou à cama apenas para eu não deixar o meu quarto, bem no dia dos meus 22 anos! – retruquei (como eu detesto essa parente!) – E apenas porque ela não queria me deixar me divertir com os meus amigos no meu aniversário.
– Hadassa, contra isso você não pode reclamar. Lembro muito bem que vocês duas brigaram feio porque ela fez isso com Anya. Pra ser sincero, preferi habitar os regimentos de guarda de Lund'Mulhingar a me hospedar na casa de sua irmã quando eu estava em missão por lá.
– Sei melhor do que ninguém como minha irmã pode ser um pouco... déspota. Mas isso não é motivo para faltar com o respeito!
– Mas nem com isso em mente a senhora se importa com o que vai acontecer comigo nas mãos dela, não é mesmo mãe?! Se criança ela teve a coragem de me acorrentar, imagine o que ela não pode me querer fazer agora que sou quase moça! – essa historia só está me deixando cada vez mais indignada.
– Bom Estrelinha, depois de hoje, duvido que ela seja capaz de lhe prender por mais que algumas horas... – comentava ele mal disfarçando um sorriso.
– É né?! E é o senhor e o Becola os responsáveis por eu não receber nenhuma missão fora de Eel, não é mesmo?! – e o sorriso some... – E em pensar que o motivo do Becola ainda não ter me elevado dois níveis era a influência de vocês dois!...
– Dois níveis? Assim tão depressa?! – se espantava a minha mãe.
– Tão depressa?? Mãe! Até mesmo alguns que entraram pra guarda depois de mim já se elevou pelo menos para “novato”, e eu continuo sendo uma “recruta”! Vocês estão empacando o meu desenvolvimento dentro da guarda. EU. NÃO. VOU. MORAR. COM. AQUELA. TIA! – declarei retornando ao meu quarto.
– Anya, venha aqui. – ignorei a minha mãe e tranquei a porta – Anya, abra essa porta. – continuei ignorando e peguei a minha “bolsa de emergências”.
– Estrelinha, abre essa porta. Vamos tentar conversar com calma! – enquanto eles tentavam me convencer a abrir a porta, eu pulava a janela pra fora.
– Anya! – deixei-os me chamando e fui em direção aos jardins.
No momento em que eles perceberem que eu não estava mais no quarto, com toda a certeza eles irão me procurar primeiramente com a Cris, então terei que procurar outro lugar pra passar essa noite. Eu bem que gostaria de saber como chegar na tal “morada do dragão”, mas na falta dele... Acho que meus pais vão demorar para pensarem na caverna das cheads. Sei que disse que só deixaria Eel para cumprir uma missão, mas eu estou em uma missão! A missão de deixar claro para os meus pais que não aceito a forma com que eles estão me tratando.
Acabei encontrando a Esmeralda enquanto eu me dirigia a passagem do parque e ela me seguiu. Ela sempre gostou de ficar passeando de noite, mas fico um pouco preocupada quando ela demora pra voltar. A tia Elvira nunca gostou de crianças ou de mascotes, o que significa que a Esmeralda não poderia vir comigo se acaso eu aceitasse completar meus estudos em Lund'Mulhingar (e porque que eu tenho que ir pra lá para fazer isso? Qual o problema de eu completar meus estudos em Eel?).
Corri o caminho todo para poder me abrigar do frio o mais rápido possível. A neve ajudava a clarear o caminho. E eu não me demorei naqueles corredores em que eu ainda me lembrava do caminho. Chegando no abrigo, as cheads logo me reconheceram (e a Toby também está aqui!). Me ajeitei em um canto e, tanto Toby, quanto minha Esmeralda e todas as cheads, se juntaram a mim para ficarmos todos aquecidos durante a noite.
Amanhecido o dia, comi o pão que havia trazido na mochila e algumas frutas que cresciam na caverna (nossa! Como elas têm um gosto diferente! E sem deixar aquela sensação de comer agua ou vento). Ainda não estava com vontade de voltar para casa. A ideia de ter que passar um dia que seja com aquela elfa ainda me perturba.
_respira beeem fundo_ – Vamos lá Anya! – comecei a falar para mim mesma, igual à Cris – Recomponha-se garota, porque ficar fugindo não vai resolver coisa nenhuma! Tenho que pensar em algo melhor pra fazer. – mal terminei de falar e Toby me estendia uma espada de treino, e todas as cheads e minha Esmeralda se posicionavam ao meu redor, de forma aparentemente estratégica – Er... Acaso vocês todos estão querendo treinar comigo? – acabei por perguntar e todos os mascotes assentiam com a cabeça (Puxa! Essa é uma sensação no mínimo estranha. Será que foi assim que a Cris se sentiu em seus primeiros treinos com Absol?).
Bom, eu não queria retornar para Eel ainda, e treinar um pouco podia me ajudar a esclarecer as ideias. Começamos com o treino, onde Toby e Esmeralda sempre tentavam me atacar com tudo, e as cheads tentavam me prender usando suas teias. Tive que me desdobrar como nunca para escapar dos fios delas! E se eu me distraísse por um milésimo que fosse... Ia acabar ganhando uma bela mordida da Toby ou da Esmeralda (como é que a Cris aquenta treinos assim??).
Tivemos uma pausa de alguns poucos minutos instantes depois de sentirmos a onda do Ritual de Maana (é impressionante a diferença que o Gelinho faz neles...). Só dando fim àquele treino diferente quando deu mais ou menos a hora do almoço, onde outra vez me alimentei de parte do pão que tinha comigo e das frutas que cresciam ali.
Observando melhor a caverna, reparei que as cheads continuaram trazendo coisas para dentro da caverna, assim como faziam quando a Cris morava ali. E tinha alguns livros que falavam sobre a cultura élfica!
– Ei turma! – chamava a atenção de todas aquelas cheads – Tudo bem se eu ficar com algumas coisas que estão aqui? – além das cheads, Toby e Esmeralda também me assentiam em permissão.
Ao todo eram seis livros élficos, que falavam de coisas que eu nunca tinha ouvido falar antes e de forma que eu conseguia compreender com facilidade (acho que irei carregá-los comigo para tudo que é lado). Também encontrei alguns equipamentos interessantes no meio de tudo aquilo, como algumas gemas místicas em forma bruta e algumas armas claramente de origem élfica (até parece que essas coisas foram reunidas especificamente pra mim!). Aproveitei alguns frascos e ervas que encontrei para fazer algumas poções que eu queria, mas não conseguia ingredientes ou acesso ao laboratório. Acabei por me recordar das aulas que dava à Cris...
Guardadas as poções já prontas, fiquei em dúvida se eu dava um jeito de trabalhar com aquelas gemas ou se eu começava a ler um dos livros referente à minha espécie, quando comecei a ouvir alguém se aproximando nos corredores da caverna.Cris
Estava no meio do caminho até a cozinha para poder me encontrar com o Karuto e lhe pedir o almoço para viagem, quando o Voronwe me interceptou.
– Cris! Acaso Anya está no seu quarto?
– Não. Não a vi hoje ainda. Aconteceu alguma coisa? – ele parece preocupado.
– Mais ou menos. Anya ouviu uma discussão entre mim e a mãe dela e...
– Está tudo bem com a Anya? – estou começando a me preocupar.
– Ela não passou a noite em casa. – (o-ou...) – De imediato, sei que ela não iria até você, mas pensei que talvez ela já tivesse a encontrado, já que ela não está em lugar nenhum.
– E porque ela fugiu ontem à noite? – estava intrigada.
– Como explicar... – ele começou a me contar mais ou menos o que tinha acontecido, e minha Mãe... não é à toa que Anya resolveu sumir por um tempo... – Hadassa está começando a querer me culpar pelo o que aconteceu, mas é nós dois que temos culpa.
– Olha, vou ver depois se Absol me ajuda a encontrá-la, já que ele sempre sabe aonde eu estou, e depois vou ver se converso com ela. Mas eu não tenho como tirar a razão dela pelo o que vocês fizeram e querem fazer com ela. E teria como me explicar porque que Anya precisa ir até Lund'Mulhingar para completar os estudos? Qual o problema dela fazer isso em Eel?
– Não é tão simples... Esses estudos são sobre assuntos exclusivamente élficos. Uma... herança racial, digamos assim.
– E tudo que se refere a esses segredos se encontram apenas em Lund'Mulhingar? É isso?
– Exatamente. Esses estudos não é algo em que se pode escolher ou não querer aprender. É algo que todo aquele com sangue élfico necessita aprender. Sem falar que esses estudos gastam muito tempo para serem completados... Hadassa e eu precisamos explicar melhor sobre isso para que ela entenda o porquê dela ter que fazer essa viagem. Para assim podermos a planejar de uma forma mais confortável...
– Já vi que a confusão vai ser grande!... – ele apenas deu um suspiro – Irei avisá-los se eu conseguir encontrá-la. Mas por favor me deixe conversar com ela!
– Tudo bem. Impedirei minha Estrela de “capturar” nossa filha se você a encontrar. – (senti uma vontade de rir...) – Boa sorte Lys.
– Igualmente colega! – despedi-me dele (mas, estranho, porque não me sinto preocupada com Anya? Será que é porque ela está bem?).
Segui meu caminho ainda tentando entender a minha despreocupação. Aproveitei que já carregava o relatório da viagem e dei uma passadinha rápida na Sala do Cristal, onde a Miiko ainda estava, e já o entreguei à ela (quase que não consegui segurar o riso com o esbugalhar de olhos dela ao receber e ver o tamanho do meu relatório _riso_). Peguei o almoço com o Karuto, e retornei para o meu quarto.
– Aconteceu alguma coisa? Você demorou um pouco. – me questionava o Lance aparentemente revisando tudo para podermos assistir durante a refeição.
– Anya sumiu e o pai dela me questionou se eu sabia dela. – respondo colocando a comida na mesa.
– Anya sumiu? Como assim? – pedia ele espantado. Expliquei mais ou menos o que Voronwe me contou e começamos a comer, ouvindo música ao invés de assistindo um filme – Você não me parece muito preocupada com a elfinha...
– Também estranhei isso em mim.
– Acaso está com algum pressentimento de que ela esteja bem?
– Ponderei isso também. Assim que Absol aparecer, vou pedir para ele me levar até onde a Anya está.
– Tomara que ele não apareça então... – sussurrava ele.
– Como é que é?!?
– Eu disse: tomara que não seja nada não! – _revira olhos_.
– Preste atenção no que diz Lance! Ou vai se arrepender! – o alertei.Lance
Acordar com o som de uma doce melodia é uma das melhores coisas que eu posso desejar. Ainda mais se eu tiver como provocar um pouco a mulher mais impressionante que já pude conhecer nessa vida. Mas o daemon tinha que aparecer para estragar minha manhã... E o pior é que eu nem tenho escolha! Ou eu ajudo, ou eu ajudo com aquele ritual desprezível.
Absol me deixou no quarto e sumiu. Arrumei as coisas para que minha Ladina pudesse terminar logo de escrever aquele... minilivro de relatório dela e fui meditar. Logo a Cris chegou e começou a terminar seu “projeto literário” _riso_ (aquela kitsune vai ficar bem ocupada com ele...).
Fiquei observando minha Ladina (de forma mais discreta) quando resolvi dar fim a meditação, e no que percebi ela começar a juntar tudo, supus que ela o tinha terminado (até que fim!). Lhe sugeri almoçarmos assistindo um dos filmes dela e ela desceu já carregando a redação dela (o que significa que ela vai demorar um pouquinho se encontrar a kitsune incendiária no caminho).
Resolvi adiantar as coisas mais uma vez para poder me grudar em minha Princesa mais depressa, arrumando um bom jeito de podermos assistir naquele not dela durante a refeição. Mas, mesmo que ela fosse ver a Miiko, ela estava demorando um pouco demais para retornar (alguma coisa não está certa...).
“Preocupado?” – quase dei um pulo com o susto!
– O que é que você quer Negra? Se está aqui para saber sobre os treinos da Cris, irei passar para o próximo elemento ainda nessa semana.
“Isso é bom, mas não é por isso que estou aqui não.” – (é porque motivo então?) – “Queria dar uma olhada em você. Ver se realmente está tentando se comportar de forma decente.”
– O que está insinuando?! – parei o que fazia para observá-la meio nervoso.
“Olha, se você conseguir voltar a ser o homem que era antes de ter se voltado contra Eldarya, a Cris vai ser “sua” até a morte. Mas!... Se você continuar dando trabalho pra ela e ficar agindo amarrotado de ciúmes...” – voltar a ser como eu era antes... Isso vai ser bem difícil... – “E já vou lhe adiantando que o dia de hoje não será como você planejou, ok?” – e sumia ela, me dando uma piscadela.
Acaso a Negra se referia aos meus planos para a tarde e a noite?? Detestei esse aviso... Terminei de ajeitar tudo e fiquei conferindo se tinha como melhorar algo ou não até o retorno da minha Ladina. No que ela chegou (finalmente), ela logo esclareceu o motivo da demora quando a questionei e o que ela planejava fazer em relação ao assunto (bem que a Negra avisou... _suspiro_).
Por culpa da Anya, ao invés de assistirmos um filme, ficamos ouvindo música durante a refeição, e Absol apareceu uns cinco minutos antes de terminarmos de almoçar. Carregado de peças finas (a Cris já não tem roupas sofisticadas o suficiente não?).
– Ei, Absol! – ela se aproximou dele antes que ele se deitasse – Você consegue descobrir onde que está Anya agora? – o black-dog pareceu pensar, mas assentiu com a cabeça – Maravilha! Pode me levar até ela, por favor?
– Realmente pretende ir atrás dela?
– Mas é claro! – ela se punha de pé – Está com medo que me aconteça alguma coisa por acaso?
– Se eu dizer que “sim”, o que vai fazer?
– Te carrego comigo. Serve?
– Vamos logo. Quanto mais rápido acharmos a fugitiva, mais rápido voltamos.
– _riso_ Fico me perguntando o que é que lhe está dando medo...
Não respondi nada. Apenas a abracei com Absol nos levando em seguida. Acabado o “passeio” por umbracinese, estávamos na clareira da floresta de Eel – Não vejo Anya por aqui... – comentava olhando ao redor.
– Era aqui que eu costumava treinar com Absol e os outros... – comentou a Cris, olhando ao redor também. Isso até o black-dog latir nos chamando a atenção e começando a se embrenhar pelo mato – Mas é claro! Porque que eu não pensei nisso antes!!
– Não pensou no quê antes? – perguntei já a seguindo correndo atrás do nosso “guia”.
– Apenas me segue. Já sei onde Anya está nesse momento.
Obedeci, mas não sem ficar prestando bastante atenção ao nosso redor (aposto que o meu irmãozinho vai querer satisfações por estarmos fora de Eel nesse momento). Segui-a até a entrada de uma caverna, a qual tomava bastante cuidado para não perdê-la de vista (será que essa é a caverna em que ela se escondia antes?). Não demorou para chegarmos no fundo, e lá estava Anya... acompanhada de ao menos alguns quilos de mascotes.
– Anya! – minha Ladina abraçava a pirralha – Como que você está? Seu pai me procurou hoje! Porque você não foi atrás de mim primeiro? – eu aproveitava para observar melhor o lugar (como foi que ela conseguiu criar tantos candelabros?).
– Não te procurei de imediato porque sabia que iriam atrás de você para me procurarem. Na verdade... eu queria ter ido na tal da Morada,... – (no “meu” esconderijo???) – ...mas como não sei chegar nele, a única opção que sobrou foi a caverna.
– Conseguiu se proteger do frio aqui? – perguntei observando alguns objetos que haviam ali e as plantas que pareciam estar se desenvolvendo bem ali dentro.
– Toby, Esmeralda e as cheads me ajudaram, por quê?
– Porque se você tivesse ido na “morada”, era bem possível que você tivesse passado frio. – respondia – Lá, à noite, costuma ser tão frio quanto o lado de fora durante o inverno. Comeu das frutas para não passar fome?
– Sim. E também um pão que tinha comigo. As cheads me deixaram ficar com algumas coisas que elas trouxeram para cá e também treinei um pouco com elas. Estava pensando se eu trabalhava com algumas das coisas que peguei pra mim antes de vocês aparecerem.
– Vamos pro meu quarto Anya, seu pai meio que me adiantou algumas coisas e quero ouvir seu lado das coisas antes de avisá-lo sobre você como prometi.
– Tenho mesmo que voltar pra Eel?! – ela cruzava os braços meio emburrada.
– Tem. – declarei – Sei o suficiente da relação de vocês duas para ter a certeza que a Cris só vai deixar esse lugar acompanhada de você!
– Ainda não quero ter que voltar pra casa... – sussurrava ela.
– Anya... Ficaremos em meu quarto! E você só volta para sua casa quando se sentir à vontade. Pode ser? – (não gostei muito dessa proposta).
– Tá, pode ser.
– Ótimo. Absol, pode nos dar uma carona? – minha Ladina chamava a atenção da criatura que parecia conversar com os mascotes presentes.
Ele e o corko (provavelmente a tal Esmeralda) se aproximaram das duas com eu fazendo o mesmo. Absol carregou nós cinco para o quarto com a sua umbracinese.
– Agora Anya. – falava a Cris, assim que terminamos de chegar: ela, a elfinha, Absol, Esmeralda e eu – Me conte tudo o que aconteceu desde o começo até nós a encontrarmos. – (porque tenho a sensação que trazer Anya pra cá, não vai colaborar com as minhas intenções...).Cris 2
Lance está mesmo “pedindo” um belo puxão de orelha... Ele realmente achou que eu não iria atrás de procurar Anya, mesmo não estando tão preocupada como deveria? Ele precisa tirar o cavalinho da chuva... Ah, não! Espera! O certo em Eldarya é: manter o woolapiyou na areia _riso_. Pedi esse favor ao Absol quase imediatamente após ele chegar (e me trazendo algumas roupas lindas), e Lance tinha que continuar arranjando desculpas... Acabamos indo todos atrás de Anya.
Não acredito que não me lembrei de minha primeira “casa” em Eldarya... Porque eu não pensei na caverna antes! Foi preciso ver Absol fazer o caminho de volta para lá para eu lembrar da existência dela?! (que vergonha Cris!) E eu me enganei, eu estava sim preocupada com Anya, ou do contrário não teria sentido alívio ao vê-la lá dentro quando chegamos.
Consegui convencer Anya a nos acompanhar até o meu quarto e depois pedi para ela me esclarecer toda a historia. Jeeesuuus... Acho que todo mundo tem pelo menos um parente “praga” na família... Não tem como Anya ficar sobre a tutela de alguma outra pessoa não? Ninguém merece!
– Ok, Anya. Eu já havia tido ao seu pai que não concordava muito com as escolhas deles, e agora que eu não concordo mesmo!
– Que maravilha você ter nascido com sangue élfico, não é mesmo?
– Nem vem Gelinho! – Lance não gostou da resposta de sua provocação – E Cris, você tem certeza que meu pai lhe disse isso mesmo? Que a única forma de eu completar meus estudos é indo para Lund’Mulhingar?
– Pro seu azar... sim. – respondi, e ela apenas escondeu a cabeça entre os braços sobre a mesa, resmungando baixinho alguma coisa em outra língua – Acalme-se Anya... Vamos achar uma... solução confortável para tudo isso, vai.
– Boa sorte com isso. Vai ficar aqui até quando, elfinha? – não estou gostando da impaciência do Lance...
– Até eu alcançar a maioridade. Serve? – acabei rindo, e Lance me pareceu querer ter um ataque de raiva.
– Eu até que não me importo Anya...
– Como é que é?! Não posso estar ouvindo isso!... – o Lance está mesmo inconformado... _riso_.
– Mas você está azeda Anya. Seu último banho foi anteontem, é?
– Aaa... _vermelha_ Bem...
– Já pro chuveiro Anya. E eu te empresto uma das minhas camisolas para que possa dormir aqui.
– Valeu Cris! – disse ela já correndo pro banheiro.
– Vai mesmo deixá-la passar a noite aqui?? – Lance me questionava espantado enquanto eu começa a escrever um recado para o Voronwe.
– Qual o problema nisso? – terminava o bilhete.
– Ladina... Por favor!... – me aproximei de Absol que só observava tudo – Pede para ele levar a elfinha pra casa!
– E trair a confiança de Anya para me arriscar a ela fugir outra vez e sumir para algum lugar em que não há certeza de que ela ficará bem durante a noite?! Não. – respondi séria e determinada para ele que parecia querer se desesperar. Voltei-me para Absol e Esmeralda que estava ao seu lado – Pode entregar isso ao Voronwe pra mim Absol? E Esmeralda, tem como você trazer uma muda de roupa de Anya? Tenho certeza que aquele cheiro todo não vinha somente da Anya... Tem como ajudá-la nisso Absol? – os dois assentiram e partiram por umbracinese.
– Ladina, por...
– Preste bastante atenção, Lance. – o interrompi, pegando a roupa para a Anya – Eu não vou “abandonar” a Anya só para lhe agradar. E se fosse na época em que você e o Valkyon eram crianças? Com seu irmão no lugar de Anya? Passando pelo mesmo problema? Você iria apenas deixá-lo para lá sem mais nem menos??
A única resposta que tive dele foi um suspiro seguido do silêncio. Deixei a roupa no banheiro e esperei a saída de Anya. Valkyon me bateu a porta para nos questionar o motivo de termos saído de Eel, sendo o Lance quem explicou tudo em voz baixa para Anya não perceber. E eu ainda lhe pedi para que ele me deixasse cuidar dela à minha maneira.
Absol e Esmeralda chegaram instantes antes de Anya acabar, com a muda de roupa que pedi e uma resposta do Voronwe, avisando que ele não revelaria o “esconderijo” de Anya para a mãe dela até o dia surgir novamente _sorriso_. Acho que meu chefe avisou ao Karuto sobre Anya, pois o sátiro trouxe refeição para três mais tarde. E o Gelinho tinha que continuar me dando trabalho...
.。.:*♡ Cap.110 ♡*:.。.
Lance
Alguém me belisca para ver se eu estou tendo algum pesadelo. A Cris vai mesmo deixar a Anya passar a noite aqui?!? AQUI?!?! _suspiro choramingado_ Eu até que tentei convencê-la do contrário, mas fui obrigado a ficar calado quando ela me questionou sobre o que eu faria se fosse eu e meu irmão nos lugares dela e de Anya. Porque eu realmente agiria de forma semelhante naquela época. Enquanto a elfinha tomava banho, e Absol e a corko dela não retornavam, “alguém” resolveu bater na porta (e pela batida, sei bem quem é).
– Que quer Valkyon... – atendi com voz baixa, sem deixá-lo entrar.
– Porque saíram? E porque está com a voz baixa? O que está acontecendo?
– Fomos atrás de encontrar a Anya com a ajuda do Absol. Ela está aqui e a Cris a convenceu a passar a noite aqui. – ele me olhava confuso – A Cris também avisou o pai da elfinha por meio do black-dog, e eu estou sendo obrigado a dividir a Cris com ela calado. Mais algum questionamento?
– _riso_ Está tudo bem com as duas. – apenas assenti com a cabeça – Certo então. Nevra e Voronwe já ganharam uma bronca da Miiko, que ainda os proibiu de ficar colocando todo mundo no rastro de Anya, já que parte da culpa dela ter fugido de casa, é deles. Voronwe havia me tido ter questionado a Cris sobre Anya já ter a procurado ou não, antes da bronca, então o sumiço de vocês está justificado.
– Bem que podiam ordenar a retirada da Anya daqui... – falei meio que pra mim mesmo.
– E a Cris ia concordar?!
– Não. _suspiro_ Ela ia bancar o “black-dog” em defesa de Anya...
– Devo supor que você tinha planos pra hoje? – tudo que eu conseguir fazer foi respirar fundo – Vou entender isso como um sim, o que explica seu mau humor.
– Valkyon? Algum problema? – a Cris se aproximou da porta, também falando baixo.
– Bem que eu disse que iriam questionar nossa “retirada não autorizada” da cidade. – um risinho escapou dos dois.
– Valkyon, poderia me fazer o favor de não revelar para a mãe de Anya que ela está aqui? Acho que sei o que Anya pode estar precisando nesse momento, e não é com os pais dela que ela o vai ter!
– Tudo bem Cris. Não direi nada a ninguém que possa acabar falando para a Hadassa, ou para outra pessoa que possa deixar essa informação escapar.
– Muito obrigada mesmo. – (como aquele sorriso dela foi lindo!).
– Tudo bem, eu vou indo. Boa sorte pra vocês. – se foi ele rindo de leve (rindo de mim, eu aposto).
Os mascotes chegaram uns cinco minutos depois, com a Cris indo rápido até eles para pegar as roupas.
– Muito obrigada Absol e... o que é isso?
– Que aconteceu? – ela tinha um papel nas mãos (dando um risinho divertido antes de me responder).
– Voronwe mandou uma resposta ao meu recado: “Graças ao Oráculo que você conseguiu encontrá-la! Estou realmente muito agradecido. Lhe atenderei o pedido porque também não quero que Anya suma novamente. Como a Hadassa não vai pensar duas vezes em correr até aí e “raptá-la” de volta, vou esperar o dia amanhecer para lhe repassar a noticia. Conto com você colega.” _riso_ Sinceramente, isso é um pouco exagerado.
– Eu não me incomodaria de a buscarem... – ainda não estava conformado com aquela decisão.
– Queime pra mim. – ela me estendia a resposta – E faça antes que Anya deixe o banheiro!
– Tenho mesmo? – aquela cara zangada e séria foi tudo que eu precisei receber de resposta dela – Certo então... _desanimado_.
Incinerada a mensagem, ela seguiu até o banheiro ao encontro da elfinha. Saindo as duas quase que imediatamente depois. Elas começaram a conversar sobre suas “parentes venenosas” e o sátiro cozinheiro apareceu para nos deixar o lanche/janta... Para nós três! (foi o berserker ou o meu irmão?). Enquanto comíamos, a Cris resolveu ficar curiosa sobre os “achados” da Anya.
– O que exatamente as cheads acharam que lhe causou interesse, Anya?
– Uma faca e um arco e flechas com aljava, sendo todos de origem élfica; alguns livros que tratam da minha cultura racial; e algumas pedras de grande poder místico que ainda precisam ser trabalhadas.
– Eram nelas que você planejava trabalhar antes de nós aparecermos? – perguntei.
– Também... Estava indecisa se trabalhava com elas ou se lia os livros antes...
– Hum... No seu lugar, eu leria os livros primeiro. Vai que algum deles ensina a como mexer ou fazer algo especial com uma dessas pedras! – sugeria a Ladina – Posso dar uma olhada neles?
– Poder até pode, mas...
– Deixe-me adivinhar... – cortava Anya – ...estão escritos em élfico. – ela assentiu, sem graça, com a cabeça.
– Coisa chata...
– Foi mal, Cris. Mas algumas ilustrações são bem interessantes!
Com isso as duas passaram a ficar mexendo nos livros que estavam com ela. E a minha única questão sobre o assunto é: acaso teve dedo da Negra na reunião de tantos itens élficos por partes dos mascotes?
“Algum problema se tiver?” – semente dos infernos! Tive de me conter como nunca por causa do susto que essa coisa me deu! – “Hihihihihi! E então, hehehe, qual o problema se eu tiver alguma coisa a ver?” – (por qual motivo você teria feito isso?) respirava fundo para me acalmar e não chamar a atenção daquelas duas – “Por qual motivo!? A Cris ainda precisa da ajuda da Anya em algumas coisas, mas essa aprendizagem obrigatória é um estorvo. Então pedi para as cheads encontrarem algumas coisinhas que permitiriam que Anya conseguisse completar esse conhecimento de forma bem mais rápida.” – (mais rápida? Mais rápida quanto?) – “Em situações normais, leva-se de cinco a dez anos, para aprender tudo.” – (_boquiaberto_) – “Mas com o material reunido, cinco anos vai ser o máximo de que Anya precisará de tempo. E ainda estou pensando em como reduzir ainda mais esse período!”
Agora sim que eu estou abismado (porque a elfinha é tão importante assim para a Ladina?!) – “Uma tem grande importância para o desenvolvimento da outra. Anya cresceu muito após conhecer a Cris, e a Cris só ficou “preparada” para encarar Eldarya, por causa do que aprendeu com Anya.” – (preparada?) – “O que você acha que a Miiko teria feito se a Cris tivesse vindo de cara para Eel?” – (na melhor das hipóteses?) a Negra me assentia (ela teria confinado a Cris em algum lugar por sabe-se lá quanto tempo) – “Impedindo-a totalmente de fazer o que tinha de fazer. Anya a ensinou sobre esse mundo. Sobre sua situação, habitantes, ciência, suas habilidades faelianas e ainda a ajudou a adquirir a confiança da Guarda.” – não dá para negar nada disso... – “Por causa da raça de Anya, a separação das duas é inevitável, mas quem disse que precisa ser algo tão difícil assim ou demorado?” – ela sorria traquina como sempre (ok. Já entendi suas razões, mas tem certeza que esse também não é o seu jeito de agradecer Anya por toda a ajuda que ela deu?) – “Ah, não... Se fosse para olhar dessa forma eu e minha irmã teríamos que fazer ainda mais por Anya...” – um riso me escapou.
– Algum problema, Lance? – me questionava a Ladina – Do que é que está rindo aí?
– Nada de mais! – respondi – Só estava pensando em algumas coisas, mas não é nada do qual precise se preocupar. Eu garanto.
– Hunf. Olhe lá o que vai me aprontar! Voltando Anya, o que es... – voltava a Cris a dar atenção só para a elfinha.
“Eu vou indo. Boa noite para vocês três.” – (espere um po...) sumiu de novo... _suspiro_.
Não demorou para a noite cair e aquelas duas decidirem se prepararem para dormir. Pensei que Anya já estava acostumada com o liberar de maana da Cris durante as suas orações. E não teve como evitar uma nova discussão por causa da cama... Anya acabou fazendo o antigo papel do Absol bem dizer! Me impedindo totalmente de me aproximar da Cris... _deprimido_ Mas... No meio da noite, acabei meio que mudando de opinião um pouco.Anya
Mas esse Gelinho anda folgado... Pra quê monopolizar a Cris desse jeito?! Cai fora criatura chata! Quando eu entrei no banheiro, a mando da Cris, pude ouvir aqueles dois conversando (nunca pensei que o Lance podia ser tão mesquinho assim), mas fingi não estar ouvindo nada, já que a Cris estava querendo mesmo me ajudar a ficar longe dos meus pais por hora, e ainda garantir a minha segurança em relação ao inverno.
Não consegui ouvir direito quando... o Valkyon? Bateu à porta (provavelmente querendo saber da Cris, uma vez que ela deixou Eel para ir atrás de mim). E francamente, qual o problema do Gelinho sobre eu ficar no quarto essa noite? A Cris não é posse dele não!
A Cris entrou no banheiro primeiro me trazendo uma camisola e, quando eu terminava de me vestir, trazia as roupas que ela explicou ter pedido para a minha Esmeralda buscar com a ajuda de Absol (espero que meu pai demore bem mais que a chegada da aurora para contar pra minha mãe onde é que eu estou!...). Deixado o banheiro, vestindo a camisola e uma blusa de frio, eu e a Cris conversamos mais um pouco sobre a minha tia, e eu não esperava que ela tivesse uma tia parecida com a minha (ô azar...).
Karuto trouxe comida para nós três (já até imagino o que ele vai cobrar por isso depois...) e depois eu e a Cris começamos a dar uma olhada nos itens que eu peguei na caverna. Foi uma excelente ideia a que a Cris teve de começarmos com os livros, às vezes aparecia alguma coisa que eu não entendia muito bem, mas a Cris me ajudava com a compreensão de texto depois que eu lhe traduzia mais ou menos o que eu não entendia. Isso quando ela não percebia coisas que eu só não reparava por causa do ponto de vista (algumas imagens mudavam totalmente de sentido se fossem vistas de um ângulo diferente), o que me fazia ficar cada vez mais impressionada com o conteúdo daquelas páginas.
Começou a ficar tarde e nós duas ficamos querendo dormir. Guardei minhas coisas mais ou menos, apoiando-as em um canto do quarto e a Cris foi fazer as orações dela. Ela não rezou o tal terço dela, já que já o tinha feito diante do Cristal, mas ainda fiquei impressionada com a quantia de maana que ela liberou com aquelas poucas orações! Ela estava liberando ao menos o triplo do que eu via ela liberar na caverna. Mas quando foi a hora de deitar...
– Ah não... Anya vai ficar deitada no meio de nós?! – reclamava o Gelinho.
– E qual o problema nisso? A cama é grande o suficiente para acolher nós três, Lance. Mas se você faz tanta questão de espaço... A poltrona está disponível pra você.
– Não é isso Cris... E você sabe do que eu estou falando!
– Deixe de ser avarento Gelinho! – retruquei – A Cris não é propriedade sua, então para de querer tomar a Cris só pra você!
– Anya está certa Lance. Se você não consegue dormir com ela no meio de nós... Não há lugar para você na minha cama.
Eu não entendi direito o quê que o Lance estava sentindo. Sua aura era uma confusão de: tristeza; raiva; indignação; desespero; e sei lá mais o quê. Mas de forma resumida, a conclusão era: o Lance estava me enxergando como empecilho para alguma coisa (o impedia de quê??). No final ele acabou se rendendo e deitamos os três na cama. Lance ficou de costas pra gente e eu e a Cris dormimos nos abraçando.
Não demorei muito para adormecer, mas minhas preocupações e medos acabaram me afetando. Tive um pesadelo. Sonhei que estava na casa da tia Elvira, havia pilhas de livros que eu não conseguia entender diante de mim e correntes prendendo meus pés e mãos ao chão e à mesa de pedra que estava diante de mim. Minha tia estava lá também. Ela me obrigava a ler e compreender aquilo tudo imediatamente. E se eu fazia qualquer reclamação que fosse, ela me batia com uma palmatoria ou em minha cabeça, ou em minhas costas, ou em qualquer outra área que não fosse a palma de minha mão, e ainda me chamando de inútil, idiota e outros insultos menosprezíveis (ainda bem que a Cris me arrancou daquilo!).Cris
Os livros de Anya eram mesmo interessantes, pena eu precisar de tradutor para compreender o conteúdo... Mas ainda pude ajudar Anya! Lance pareceu estar mesmo desesperado por não ter como “me tocar” essa noite _riso_, mas ele precisa aprender que não posso dar atenção somente à ele! Entender que eu tenho vida própria e que há mais gente que quero perto de mim em minha vida. Posso aceitar ser parceira dela, mas nunca vou aceitar ser tratada como objeto ou propriedade. E é bom que ele perceba isso depressa!
Imaginei que ele se daria por derrotado por conta do desprezo que ele tinha pela poltrona como leito, por isso nem me importei por ele ter ficado de costas para nós duas na cama. Não sei se eu fui a última a dormir, com Anya possivelmente tendo sido a primeira, mas acabei acordando com Anya se remexendo, chorando e resmungando alguma coisa. Lance também acabou acordando por causa dela, ficando igualmente preocupado ao meu ver.
– Anya. Ei, Anya! – chamava-a.
– Acorde elfinha! – Lance lhe sacodia o ombro – Sai desse pesadelo! – mas a coisa parecia feia...
– ANYA! – acabamos a chamando nós dois ao mesmo tempo e ela despertou, claramente assustada.
– O que foi Anya?! O quê que aconteceu?!
– Que pesadelo foi esse, elfinha?
– Eu... – Anya ainda chorava e ofegava. Quando finalmente se acalmou, ela nos repassou o pesadelo – Não quero viver com a tia Elvira, tenho pavor daquela mulher! Acho que nem quero mais dormir...
– Anya... – meus olhos quiseram marejar por conta do sofrimento dela – Tente pensar em qualquer outra coisa! Porque você precisa descansar.
– Pra voltar a me ver nas mãos daquela criatura maligna?? Prefiro ficar doente.
– Vá lá Anya, também não é pra tanto. – Lance intervia – Vai ver aquela sua presa de greifmar está mexendo com o seu subconsciente. Vamos voltar a dormir, sim?
– A minha presa está dentro do envoltório dele, no fundo da minha mochila que se encontra do outro lado do quarto. Não há como ele estar me afetando sem mexer com vocês também. Não é culpa do meu amuleto.
– Independente da causa Anya, você tem que se acalmar e descansar. – tentei convencê-la (mas ela não estava mesmo afim de voltar a dormir...).
– Acho... que tenho uma ideia...
– Que ideia Lance? – questionamos juntas.
– Bom... Quando Valkyon e eu éramos novos, Alanis tinha um truque que sempre funcionava em situações desse tipo... – falava ele meio vermelho.
– Que truque? – perguntei.
– Nós... compartilhávamos o mesmo quarto, mas cada um em sua cama! E quando eu ou o Valkyon acordava no meio da noite por causa de pesadelos horrorosos, nós...
– O que vocês faziam Gelinho? – Anya cobrava a resposta que estava demorando. Lance acabou respirando fundo antes de terminar de falar.
– Nós três nos deitávamos todos juntos, se abraçando, com a “vítima” no meio. E assim voltávamos a dormir. Com os dois que abraçava protegendo quem teve o pesadelo. Era isso que fazíamos e sempre funcionava.
Eu não esperava uma ideia assim do Lance, considerando o quão chateado ele ficou por Anya estar entre nós, e o quão constrangido ele parecia com aquela ideia – O que acha Anya? Quer tentar? – acabei por questioná-la, pois eu gostei da ideia.
– Acho... que não custa tentar... – respondeu ela cabisbaixa e falando baixo.
– Vamos logo com isso então. Eu quero voltar a dormir. – declarou o Lance ainda vermelho.
Bem, como Anya ainda era pequena em relação à mim, era fácil para mim abraçar ela e o Lance ao mesmo tempo. E vice-versa também. Acabado de nos ajeitarmos, ainda era possível sentir um... desconforto. Comecei a murmurar uma melodia de ninar e logo fomos todos nos acalmando. Anya retornou ao seu sono, e reparei que Lance agora a encarava com uma expressão zelosa, o que me fez sorrir. Logo adormeci novamente também.Lance 2
Dormi ainda revoltado, mas acabei arrancado de meus sonhos pela elfinha que parecia estar encarando uma guerra dentro da cabeça dela. E que guerra... A discussão que ela e a Ladina estavam tendo me fez recordar de uma vez que o Valkyon também tinha ficado desesperado ao acordar de um pesadelo quando tínhamos uns 5/6 anos (e a forma com que o problema foi resolvido).
Meio sem jeito, acabei sugerindo a fazermos o mesmo daquela vez. Ainda não me sentia lá muito confortável com a situação, não sendo o único a pensar assim. A Cris começou a murmurar uma melodia agradável e Anya voltou a dormir. Continuei recordando da época em que eu era criança enquanto observava a elfinha, e continuava ouvindo minha Ladina que não demorou para dormir também. As duas sorriam ao dormir.
– Tudo bem elfinha, não vou mais ficar bravo com você. – sussurrava antes de as acompanhar.Cris 2
Acordei com o quarto quase todo iluminado pela manhã (vixi, olha a hora! Será que o Karuto me dá um desconto por causa da Anya?). Me levantei com cuidado para não acordar a Anya e o Lance que ainda estavam sossegados e comecei a cuidar de mim. Mas antes mesmo que eu entrasse no banheiro, alguém resolveu me bater a porta. Em código.
– Karuto? Bom dia! Sei que estou um pouquinho atrasada...
– Pode ficar tranquila Rainha! – ele me sorria e me estendia uma sacola – Tanto o Voronwe quanto o Valkyon conversaram comigo sobre Anya ontem. Te estendo a sua folga para poder cuidar dela mais hoje. Está tudo bem com ela?
– Teve pesadelos. – ele me encarou preocupado – Mas Lance e eu conseguimos fazê-la se acalmar e voltar a dormir.
– Entendo... Ela ainda está dormindo?
– Os dois estão. – abri um pouco mais a porta para que ele mesmo pudesse ver – Me assustei ao perceber que estava atrasada e pulei da cama para me arrumar.
– Ainda bem que vim vê-la cedo então. Eu até que espera a encontrar no meio do caminho pela hora, mas logo imaginei que algo tivesse acontecido entre vocês para não a ver no caminho.
– Juro que amanhã irei levantar na hora! Juro mesmo!
– Hehe. Sem problemas Rainha. Vou ver se consigo ajudá-la a esconder a Pequena Rainha aqui por mais um tempo. Se ela chegou a ter pesadelos, é porque o assunto de ontem/anteontem foi mesmo desagradável.
– O senhor nem imagina!...
– Vou indo. E põe o Gelinho para ajudar também! Ou eu vou reduzir a porção dele por não trabalhar, hehehe.
Um risinho me escapou – Pode deixar Karuto, ele vai me ajudar... Ou vai assumir as consequências!
– Vai torturá-lo física ou psicologicamente? – ele tinha um sorriso laaaargo no rosto.
– Psicologicamente tem mais efeito. – respondi traquina.
Ele apenas deu mais um riso baixo e se foi. Fechada a porta, comecei a arrumar a comida sobre a mesa. Lance foi o primeiro a acordar antes mesmo de eu terminar.
– Você não ia retomar o seu expediente na cozinha hoje? Porque voltou com o café? – ele se sentava.
– Ia, mas acordei atrasada. E quando eu estava começando a correr para me arrumar, o Karuto veio para trazer o café e avisar que eu iria ganhar mais um dia por causa da Anya.
– Sério?!
– Sim. E ele também me disse para fazê-lo ajudar a cuidar dela ou te reduziria a comida.
– QuÊ!?
– Se bem que... há formas melhores de lhe punir, não é mesmo?...
Antes mesmo que ele abrisse a boca em protesto, lhe pedi silêncio com a mão (o que ele não gostou muito). Karuto havia trazido o leite do qual eu estava acostumada e três grandes fatias de bolo de chocolate fresquinho. Cujo cheiro foi o suficiente para fazer a Anya acordar.
– Hein! Acaso pretendiam comer tudo sozinhos é?
– Até que não seria uma má ideia...
– Lance... – e fui logo lhe dando um tapa na mão para não encostar no bolo, com ele dando um “AI!” que fez a Anya rir.
– Mas Cris, não era pra você voltar a trabalhar na cozinha hoje?
– Ela ganhou um dia extra de folga graças a você, elfinha.
– Sério!?! – apenas assenti com a cabeça – Será que o Chefinho fará o mesmo comigo??
– Isso eu já não sei te responder, Anya. Agora senta e vem comer antes que o Lance meta a mão no seu.
– Como se eu fosse deixar!
Tomamos o café da manhã entre risos. Anya agradeceu ao Lance pela ideia que a ajudou a voltar a dormir tranquila, e eu repassei o “pedido” do Karuto para o Lance, o que a fez sorrir. Planejamos o quê que iriamos fazer em meu quarto (uma vez que, se nós saíssemos, as chances de acabarmos nos encontrando com o Voronwe ou a Hadassa eram altos) e como faríamos caso a mãe dela resolvesse me bater a porta (ainda bem que só o pai dela era provido de sinestesia! Assim o Lance pode enganar a mãe dela, se ela resolvesse invadir o quarto). Acertados os “planos”, Lance começou a cuidar da limpeza do quarto e nós duas retomamos de onde havíamos parado com os livros dela após nos trocarmos.
Entre as coisas que aqueles livros ensinavam, um deles mostrava como criar uma espécie de armadura que se adaptava magicamente ao formato do corpo de seu criador, e consequentemente, único usuário. O que despertou um grande interesse em Anya! Mas infelizmente, ela estava sem inspiração para desenhar a armadura dela... Foi então que eu dei a ideia de darmos uma olhada nas imagens de meu not, pra ver se alguma musa a tocava.
– Ô Cris!
– Fala Anya. – eu procurava em meus cadernos de desenho por algo que pudesse ser interessante.
– Porque algumas das suas imagens são estranhas? – (estranhas??) me aproximei da mesa.
– Estranhas como, Anya. Deixe eu ver. – reparei que ela estava na pasta de fanart’s e animês diversos.
– Porque algumas parecem ser um sonho louco ou aparece alguém... preso?
– Como é que é? – Lance questionava (e não é hora para essa criatura “ganhar” ideias... Ele já tem demais).
– Termine com o seu serviço Lance!
– Tudo que me faltaria agora é a mesa... – ele sorria largamente, já se sentando ao lado de Anya (eu mereço... viu!) _suspiro_.
– Eu simplesmente achei as imagens interessantes Anya. Tente ignorar aquelas que você não entender, pode ser?
– Reparei que muitas lembram os trajes da terra natal da Miiko! As Terras do Norte...
– A pasta que você está vendo agora é quase toda ligada à cultura oriental da Terra. Japonesa para ser mais direta.
– A mesma dos animês?!
– Imagino que você já tenha reconhecido alguma coisa por aqui, não?
– Bem que achei alguns nomes das sub-pastas familiares...
– Eu vou continuar com os meus cadernos, e nada de impedir a Anya de trocar de imagem! Fui bem clara, Lance? – a única “resposta” que ele me deu foi um sorriso (Virgem Santíssima me guarde...).
– Também percebi uma grande variedade de faerys aqui... Mas porque algumas das armaduras que aparece são tão... ineficazes?
– Provavelmente porque não era bem na armadura que o autor do desenho se concentrava... – respondia o Lance (mas que!...).
– Como assim?
– Eu já não disse para você pular as imagens que não entendesse, Anya? Assim você não vai terminar nunca! – Anya acabou bufando e Lance rindo de forma contida (esse dragão me paga!).
Mal passou cinco minutos de silêncio entre nós três, e alguém me batia a porta. Era a Purriry.
– Pensei terrr tido que essa blusa ficava na Terra! – reclamou ela ao reparar no que eu vestia.
– Sem ofender Purriry, mas você viu por si mesma como costuma ser o clima onde eu morava. Essa blusa é uma das mais quentes que eu tenho e desde o começo eu já pretendia não usá-la fora do meu quarto. E não acho que a forma com que eu estou vestida em meu quarto seja o motivo de sua visita...
– Contanto que esse farrapo não cruze a porta!... – essa “gata”... – Eu queria lhe pedir para me deixar dar mais uma olhada nas suas peças de renda que eu havia autorizado o trazer. Quero confirmar uma coisa.
– Tudo bem. Espere só um pouquinho. – pedi deixando-a entrar.
– O que vocês estão fazendo?
– Conferindo as imagens que a Cris tem no not dela para ver se a Anya consegue inspiração para um projeto alquímico dela. – respondia o Lance.
– Projeto alquímico? De que tipo? – se interessava a purreka (também observando as imagens). Anya explicou tudo enquanto eu juntava minhas roupas sobre a cama. Purriry até que se ofereceu para criar o desenho para ela, mas como que, para o projeto dar certo e a vestimenta funcionar de forma correta, Anya tinha de fazê-lo sozinha, Purriry não insistiu. Mas Anya disse que aceitava sugestões, para não desagradar a felina. – Miau, ainda vai demorar muito Cris?
– Essa é a última Purriry. – declarei colocando mais um vestido de renda sobre a cama – E que mal lhe pergunte... Quando que vai cumprir a promessa que você fez na Terra? Aquela para ganhar os seus tecidos? – questionei-a.
– Nessa semana ou na outra eu termino os trajes. – falava ela começando a olhar peça por peça – E aproveito para efetuarrr alguns lançamentos também, pois a primavera está quase chegando, e com ela, o Dia dos Amores. Dei graças ao Oráculo por Purroy ter conseguido recriarrr os tecidos que trouxemos. E com variações por sinal! Pode deixar que, quando elas estiverem prontas, irei buscar você e a Erika pessoalmente para que possam pegá-los.
– Eu posso estar inclusa nessa visita? Pro caso de eu não ter chegado a uma ideia ainda...
– Sem problemas! Me sentirei horrrada por ser sua fonte de inspiração. Mas nada de plagio!
Rimos um pouco. Purriry terminou de examinar as roupas e partiu quase “voando” do meu quarto. Mal terminei de guardar as minhas roupas e outra, vez, me, batem, a porta... _suspiro longo_. Mas a “visita” que apareceu, não era a das mais desejadas...
– Cadê a Anya. Já passou da hora dela retornar para casa.
– Hadassa... Minha Estrela amada. Fique caaaalma!
– Calma nada! – (espero que Lance e Anya já tenham terminado de se esconderem) – Foram duas noites que ela passou fora de casa, sendo que a primeira nem tenho ideia de onde ela a passou. Abra essa porta Cris.
– Olha, você vai me desculpar Hadassa, mas Anya já sumiu outra vez por sua causa.
– Como é que é?! – os dois perguntaram juntos.
– Anya não está mais à vista!... Mas posso garantir que ela não está correndo nenhum risco.
– Como pode ter tanta certeza disso? – Hadassa “entrava” em meu quarto com Voronwe permanecendo do lado de fora (Lance e Anya estavam em um canto do quarto, ocultos pela ilusão, com Absol próximo deles) – Que garantia tenho de que não a está escondendo de mim?
– Eu não tenho ou sei usar nenhum poder que me permita escondê-la de seus olhos, senhora. E mesmo ontem, após seu marido e meu colega de guarda, me revelar sobre o sumiço de Anya, eu não me senti preocupada com ela. E isso porque ela estava sim em segurança.
Hadassa continuou olhando ao redor do quarto e ainda chegou a olhar no banheiro e dentro do armário. Ela realmente não percebia o truque do Lance. Voronwe me sussurrou ao ouvido, perguntando se eu sabia onde Anya estava, e eu apenas assenti com um balançar de cabeça.
– Hadassa... Vamos voltar! Aposto que essa noite Anya estará em casa para conversarmos com ela. Não é mesmo Cris? – acabei respirando fundo (ele está praticamente me obrigando a fazer Anya retornar pra casa).
Ainda indignada, e sem falar nada, Hadassa me deixou o quarto com o Voronwe a seguindo após me pedir desculpas pela mulher dele (e reforçando o pedido para eu fazer Anya voltar...).
.。.:*♡ Cap.111 ♡*:.。.
Miiko
– Eu bem que lhes avisei que algo assim poderia acontecer, não avisei? – mas era tudo o que eu queria... Mal recebo o relatório de missão da Cris (que vai me manter ocupada por um booom tempo) enquanto terminava de acertar algumas coisas com o Nevra, e o Voronwe me pede permissão para reunir um pequeno grupo de busca para encontrar a Anya que fugiu de casa após descobrir que estavam a querendo mandar para estudar longe? E também que ela só não evoluía dentro da Guarda porque seu chefe e seu pai a protegiam?! – Eu disse: “Vocês estão a protegendo demais. Quando ela descobrir haverão problemas.” E vejam agora!
– Ezarel já comentou isso conosco ontem, Miiko. Após nós dois terminarmos com todos os testes de habilidade dela.
– Habilidades sem experiência graças a vocês, Nevra. Eu não quero saber de nin-guém deixando de lado seus afazeres por causa da superproteção de vocês! Estou sendo suficientemente clara?
– Claríssima Miiko. – Voronwe respondia (eu só consigo falar de forma livre com ele, quando ele sabe que está errado) – Mas eu estou um pouco preocupado porque não a encontrei no QG inteiro e nem a Cris a viu desde ontem. – (me pergunto como é que ele reagiria se descobrisse que ela está tomando conta do verdadeiro Lance...).
– Espera! A Cris já está sabendo disso?! – questionei ao perceber o que ele havia dito.
– Acabei me encontrando com ela nos corredores, porque fui procurá-la para conferir se Anya já estava lá ou não. – (tomara que a Cris não resolva ir atrás de Anya... Não sozinha, pelo menos).
Permiti ao Voronwe continuar procurando pela filha, mas SOZINHO! Nevra se ofereceu para ajudar quando estivesse com o tempo livre. Dei mais uma bronca naqueles dois por causa da péssima decisão deles de não deixarem Anya efetuar missões, e pedi para Voronwe avisar a Hadassa que nunca é bom esconder coisas sérias da Anya. Eu posso não compreender a forma educacional dos elfos, mas mesmo sendo rejeitada por minha família, nunca me esconderam nada sobre as particularidades da cultura das kitsunes (e nem o que não é exatamente cultura depois de ter alcançado determinada idade...).
Meu dia seguiu o mais dentro do normal possível. Como eu estava sobrecarregada de afazeres (só em relação à Cris eu tinha: o relatório dela; a lista de possíveis mestres d’água que Leiftan montou; as burocracias da “doença” dela, e... teria alguma maneira da Cris não precisar passar quase o dia inteiro no quarto quando não estiver de serviço na cozinha ou treinando com Valkyon?) e por isso pedi para que alguém avisa-se o Karuto de me enviar o almoço na sala do Cristal (acho que mais cedo ou mais tarde vou procurar algum construtor para averiguar a possibilidade de reformas no QG...).
Estava de boa, comendo meu almoço enquanto me entretia com o relatório da Cris próxima ao Cristal (até que ela é boa para escrever historias!), quando começaram a me chamar.
“Miiko?”
– Pode falar, estou ouvindo. – declarei sem desviar da leitura.
“Miiko...”
– Estou ouvindo! Fale o que deseja. – continuava com a minha refeição e minha leitura.
“Miiko!” – (Aaaffffhh...).
– Eu já falei que po... – (por Inari...) fiquei em choque ao finalmente dar atenção a quem me chamava (Semente Branca?!).
“O dever dela não é só com o Cristal, e logo ela terá que deixar a segurança. Mas sem se afastar de seus guardiões! Em breve chegará a mensageira para guiá-los.”
_boquiaberta_ ... Fiquei paralisada por uns momentos, mas ela sumiu assim que terminou de passar sua mensagem e eu passei todo o meu dia com aquelas palavras na cabeça... A Cris vai ter que se arriscar por Eldarya afora?? E o Lance e o Absol precisam estar com ela?!? Quando chega e quem é essa mensageira que nos ajudará com esse desafio???Anya
Francamente, eu não estava tendo confiança naquela ideia do Gelinho. Aquele pesadelo realmente me afetou (e eu não pensei que o Gelinho pudesse ser tão gelado nos primeiros instantes de seu toque). Só que... Aquele murmurar sonolento que a Cris fazia, mais o calor que o abraço dos dois me davam, me acalmou. E eu voltei a dormir SEM pesadelos! (obrigada divindades guardiãs dos sonhos!).
A noite seguiu direto depois que eu fechei os olhos. Mas acordei quase babando por causa de um cheirinho delicioso que preenchia o quarto (me deixem o meu!!). Sabia que eu estava dando trabalho pra Cris... Mas ao menos pude lhe garantir alguns benefícios! Pois duvido que em condições normais, o Karuto iria abrir mão de sua tão preciosa ajudante de cozinha.
Enquanto o Gelinho assumia seu trabalho de faxineiro, a Cris e eu continuamos a averiguar os conteúdos dos livros élficos. Ela me ajudou a entender e perceber várias coisas por estar observando de um ângulo diferente, e pude perceber ainda mais ao ficar mudando os desenhos de lado após esse detalhe.
Entre as ferramentas que um deles ensinava a criar com alquimia, um traje que protegia contra magias e elementos naturais (fogo, chuva, ventanias...) me chamou bastante a atenção. Principalmente pelo fato dele ser totalmente personalizável e de eu ter todas as gemas obrigatórias para a criação da mesma. Mas quem disse que eu tinha alguma ideia de como desenhar essa roupa?
A Cris me salvou novamente ao me sugerir dar uma olhada nas imagens dela para eu obter ideias. E ainda podia pedir conselhos à Purriry! (se não fosse exigência eu fazer tudo, teria aceitado a oferta dela sem pensar duas vezes). Estava olhando as imagens ainda quando a voz de minha mãe alcançou meus ouvidos...
Eu praticamente pus tudo o que aprendi na Sombra em prática. Lance me impediu de pegar minhas coisas e escondeu tudo com seu poder ilusório, me arrastando com ele até um canto do quarto. Escondendo nós dois em seguida.
Cheguei a prender a minha respiração quando ela invadiu o quarto. A Cris até que tentava a convencer que eu não estava ali, e quase que ela não tinha conseguido segurá-la o suficiente para eu me esconder. Fiquei querendo saber como fazer o coração parar quando minha mãe apurou a audição para me procurar.
A Cris e meu pai conseguiram convencê-la a ir embora, mas já vi que não vou escapar de ter que retornar para casa hoje _suspiro_ – Sua mãe é mesmo um problema, elfinha! Quer que eu a “sequestre” essa noite? – sugeria o Gelinho enquanto dissipava suas ilusões.
– Lance! Não ouse!! – declarou a Cris nervosa.
– Calma! Eu estou brincando! – não consegui segurar o riso daqueles dois.
– Eu não me importaria se você fizesse isso, Lance. – falei retornando para a mesa.
– Nem brinque com uma coisa dessas Anya. Não irei ajudá-la a fazer coisas erradas. – repreendia-me ela.
Retornei às imagens. Em uma das pastas, haviam imagens de pessoas que tinham sido desenhadas vestidas de forma parecida com as criaturas que estavam do lado delas (até que não seria uma má ideia...) – Será que eu consigo fazer algo assim, Cris? E que mascote eu escolho?
– Pense em um com aparência fácil de adaptar! E de preferência que possa usar em suas missões também. Seja ela qual for!
– Ainda bem que posso contar com o auxílio da Purriry.
– Você pode procurá-la amanhã. Depois de já ter se acertado com os seus pais.
– Não posso mesmo usar a ideia do Gelinho?
– ANYA... – (vixi! ela se irritou).
– Cadê aquele seu livro sobre mascotes para darmos uma olhada? – tentei mudar de assunto.
Ela foi atrás do livro dela, mas ainda um pouco nervosa. Ficamos o resto do dia olhando possibilidades para diversos mascotes serem convertidos em um traje. O Gelinho ficou provocando a Cris de vez enquanto (quase que o vi levar um cascudo dela uma vez!) e eu meio que me diverti com isso tudo. Almoçamos... Assistimos alguns animês... A Cris conversou comigo sobre eu voltar para casa... E quando o crepúsculo estava para se anunciar, ela e Absol me acompanharam até em casa (com o Gelinho de olho em nós da janela!).
Depois de ter ficado sozinha com meus pais, escutei umas duas horas de sermões da minha mãe com meu pai amenizando pro meu lado quase o tempo todo. Eles também me explicaram melhor sobre o Skjult Viden, o tipo de estudo que eu iria adquirir em Lund'Mulhingar e apenas lá, por ser um conhecimento secreto sobre a raça élfica, repassado obrigatoriamente a todos que carregassem sangue élfico (pois esse conhecimento até ajudava a prevenir alguns problemas entre os mestiços). Após uma looonga conversa sobre o Skjult Viden, deixamos para ver melhor sobre a minha estadia em Lund’Mulhingar um outro dia (mas eu não quero ir tão cedo!...).
Não contei a nenhum deles sobre as coisas que ganhei dos mascotes, mas tive que contar onde foi que eu passei cada uma dessas noites e com quem (ou quase... até parece que vou contar que o Gelinho está vivendo com a Cris!). Guardei as minhas coisas e arrumei uma bolsa que passaria a carregar para cima e para baixo, igual a Cris, com ao menos os livros élficos (vou estudá-los em cada momento livre que eu tiver) e um bloco de notas para eu anotar as coisas (incluindo o meu projeto de vestimenta). Tudo arrumado, fui me deitar para procurar Purriry logo cedo.Lance
Eu pensei que teria de “cuidar” de Anya sozinho quando amanhecesse, mas fiquei espantado de ainda ver a Ladina no quarto, arrumando o desjejum sobre a mesa. Mas aquela peste de cozinheiro tinha que colocar condições...
Mas não foi de tudo ruim. Mesmo realizando a faxina do quarto enquanto elas se divertiam, consegui vislumbrar algumas coisas interessantes graças às observações de Anya (será que eu consigo ficar sozinho com Anya para poder rever melhor aquelas imagens que intrigou a elfinha? Já que não conheço a senha daquele aparelho... _sorriso malicioso_). Só pude ver algumas um pouco melhor por causa da purreka.
E a mãe de Anya? Por pouco que eu não tinha tempo de envolver eu, a elfinha e os pertences óbvios de Anya em minha ilusão! Ainda bem que Absol estava diante de nós e a... Hadassa(?), ficou com receio de chegar muito perto da gente, ou ela poderia nos descobrir usando a audição (agora entendo o porquê de Anya ser tão boa em se fazer despercebida. Escapar da mãe dela é um desafio!). O fato do berserker ter se mantido porta afora do quarto, também ajudou muito a nos escondermos.
Estando a área limpa outra vez, não só parei de desperdiçar minha força como também acabei conseguindo provocar a Cris. O que eu acabei fazendo em cada chance que pude encontrar... _riso sem vergonha_. Mas parei depois de escapar por pouco de apanhar na cabeça (eu posso ser o mais forte quando ela está nervosa, mas não quero experimentar sua força enquanto estiver sendo movida pela raiva).
Almoçamos assistindo alguns episódios de um tal de Cantabile. Depois a Cris conversou com a Anya sobre ela voltar pra casa (o que a elfinha ainda não estava querendo fazer...). Como eu não podia deixar o quarto para acompanhá-las (pois a neve ia me denunciar na hora), avisei que eu ficaria as observando pela janela enquanto o black-dog as acompanhava (será que... eu consigo convencer alguém a me deixar andar disfarçado por Eel, ao lado da Cris?). Minha Ladina não se demorou muito na casa da elfinha, e voltou já trazendo a janta com ela.
– Algum problema na hora de vocês se separarem? – perguntei já a ajudando com a comida.
– Não. Anya se despediu de boa. Posso fechar minha janela?
– Sim, pode. – (você já está diante dela mesmo...) – Vai tomar seu banho agora ou depois de comer?
– Acaso não está planejando nada “indecente”, está?...
– Acho... Que hoje não é um bom dia para eu ter “ideias”. Não estou afim de ficar me desviando de você.
– É bom mesmo, Lance! Hoje você ficou passando dos limites nas provocações!
– E nem mesmo ficando furiosa você deixa de esbanjar beleza diante dos meus olhos... – declarei lhe segurando o queixo com delicadeza, e ela ficou vermelhinha _sorriso satisfeito_.
– Tô... Tô indo pro chuveiro! – ela corria em busca da roupa – Não se atreva em nada! – pedia ela já entrando no banheiro.
– Pode deixar! – respondi tentando segurar o riso e ajeitando a comida para nós dois.Cris
Esse Lance... Ai, QUE VONTADE DE ESPANCAR ELE! Não perdia uma brecha para me irritar! E ainda bem que ele desviou quando tentei dar um cascudo nele, pois tenho certeza que a minha mão ia doer pra caramba se o acertasse.
Só me acalmei um pouco na hora do almoço. Foi Absol quem buscou a comida, que comemos assistindo a primeira temporada de Nodame Cantabile. Assistimos os dez primeiros apenas, ou do contrário não teria nunca a minha conversa com Anya...
– Bem Anya, acho que já está na hora de falarmos sobre o seu retorno para casa.
– Temos mesmo, Cris? Tem tanta coisa que eu queria ver com a sua ajuda...
– Anya. Você viu o tamanho da preocupação de sua mãe quando ela apareceu aqui!
– Estava mais para raiva do que para preocupação. – se emburrava a Anya.
– Infelizmente a Ladina está certa, elfinha. Sei por experiência própria que o quê que sua mãe tinha ao chegar aqui era preocupação de superprotetor. Aposto que ela passou as noites em que você estava na caverna ou aqui, totalmente em claro.
– Está tentando fazer eu me sentir culpada para ter certeza que a Cris vai ser só sua por acaso? – perguntou ela intrigada.
– A intenção não era essa. Mas não vou negar que penso um pouquinho assim.
– Lance. Você já torrou com a minha paciência hoje. Agradeceria se não me dêsse dor de cabeça. – ele apenas me sorriu e seguiu para o banho dele.
– Com o que exatamente o Gelinho está te irritando?
– Melhor não saber, Anya. Melhor não saber! – acabei respirando fundo enquanto ela dava de ombros – Mas voltando ao assunto, Anya... Você vai me acompanhar até a sua casa hoje, certo?!
– Se eu puder prolongar minha estadia por aqui o máximo possível...
– O pôr do sol é o máximo que eu vou permitir. E o Absol vai nos acompanhar também.
– Ei! Assim fica impossível de fugir!
– Pois é exatamente esta a ideia Anya! Gostando ou não, você vai precisar se acertar com os seus pais. Tente negociar com eles o atraso dessa viagem ou a troca de responsável enquanto você estiver por lá! Eu não sei o que você estará aprendendo com esse estudo especial, mas se é de fato importante, é melhor aprender...
– Tá, tudo bem! Eu escuto eles hoje à noite... – cedeu ela emburrada e com a voz um pouco abafada nas últimas palavras.
– E trate de dormir na sua cama! Nada de cavernas, clareiras, camas estranhas, ou o que for! – ela acabou meio que bufando outra vez.
– Tem como eu ganhar alguma coisa em troca disso? – (ai, essa Anya!...).
– Alguma coisa como o quê? – (o que essa traquina tem em mente?).
– Ah... Sei lá! Que tal... me deixar assistir as pastas/DVD’s +16? – não gostei da ideia (mas ao menos não é a tarja preta).
– Se não for mais que um POR MÊS!... Posso ceder.
– Já é um começo! – tentava ela esconder o sorriso.
Começamos a arrumar as coisas dela para ficar mais fácil de irmos ao dar a hora. Lance terminou logo o banho dele e depois de saber que hora eu levaria Anya para casa, insistiu em permiti-lo nos seguir com os olhos pela janela, mesmo com Absol nos acompanhando até a casa de Anya (espero que o Lance não esteja querendo ficar no meu pé igual a Hadassa fica querendo fazer com Anya...).
Quando finalmente deu a hora de Anya ir, ela mostrou um pouco de resistência sobre voltar pra casa. Tanto que eu praticamente a empurrei o caminho todo com a ajuda de Absol, e chegando lá, Hadassa a agarrou e abraçou-a tão forte, que eu pude ouvir os ossos de Anya estalarem. Voronwe me agradeceu por eu ter cuidado de Anya e eu fui embora. Absol me acompanhou até a entrada do QG (pedi para que ele vigiasse a casa de Anya para ter certeza que ela não fugiria de casa como me havia prometido. Sabe como é, cuidado às vezes nunca é demais).
Passei na cozinha para pegar a refeição e contei bem rapidinho para o Karuto e o meu chefe o que Anya e eu (e o Gelinho) fizemos durante o dia. No que eu saía, pude ver a Miiko rapidinho e que me pareceu... preocupada? Pois ela nem me percebeu ao seu lado, e parecia dizer alguma coisa séria para o Valkyon no que olhei antes de deixar o refeitório.
No meu quarto outra vez, Lance me deu uma mãozinha com a comida. Fechei a janela antes que começasse a nevar no quarto e aquele dragão sem vergonha tinha que me provocar outra vez!? (Senhor, me dê paciência... mas não me dê força não! Ou eu acabo com esse dragão!).
Tomei meu banho. Comemos a nossa refeição (torta de legumes e suco de frutas). Contei ao Lance como foi com Anya ao que eu sabia. Nos preparamos para nos deitarmos (onde ele optou por me deixar dormir sossegada, se ele não tivesse feito assim...). E descansamos a noite toda.
No dia seguinte, não me atrasei para levantar, assim como havia prometido ao Karuto. Deixei Lance ainda dormindo, com Absol trazendo o café do Gelinho e me acompanhando até a cozinha. Conversei um pouquinho com ele durante o caminho e comecei com o meu dia na cozinha.
– Chegou mesmo na hora, Rainha. Dormiu bem à noite? O Gelinho estava dormindo ou acordado quando o deixou?
– Dormi muito bem Karuto. – sentava para tomar logo o meu leite que tinha como acompanhamento um pão de grãos com o que parecia ser requeijão – O deixei dormindo. No caminho para cá, Absol me confirmou que Anya se manteve em casa ontem.
– Isso é bom. Anya passando a noite em algum lugar desconhecido, sem avisar ninguém, não é algo que me agrada muito...
– Se ela tiver sobrevivido à mãe dela ontem, ela sobrevive a qualquer coisa! – nós dois rimos.
Karuto saiu para o jardim e eu me apresei a terminar o café da manhã. No que ele retornou, com alguns maços de ervas na mão, já me preparava para cuidar da louça.
– Já está sabendo?
– Do quê Karuto?
– Miiko convocou a Reluzente para uma reunião hoje cedo. Parece que a razão disso é você, Rainha.
– QuÊ?! O que foi que eu fiz para ser pauta de reuniões em que não posso estar presente??
– Não acho que seja algo que você tenha feito, Rainha... Mas, do pouco que ouvi quando ela avisava pessoalmente o Valkyon, parece que tem algo a ver sobre alguma visita ou coisa do tipo.
– E que tipo de visita poderia ser essa? Ainda mais com eu estando no meio.
– Não tenho resposta pra isso Rainha. Se ninguém lhe explicar nada até a hora de você retomar os seus treinos, cobre do seu chefe! E se ele se recusar... Avise-o que ele terá de se lidar comigo, hehehe...
– _riso_ Valeu mesmo Karuto.
Retornamos ao serviço, conversando um pouco melhor sobre o dia de ontem. Karuto me ensinou algumas coisas e eu lhe contei sobre algumas das tecnologias domésticas terrestres. Foi um dia até que divertido na cozinha (mas ninguém apareceu para conversar comigo sobre a tal reunião...).Leiftan
Fiquei meio surpreso ao ver que a Miiko decidiu efetuar uma reunião com a Reluzente nas primeiras horas do dia, principalmente diante do fato dela mesma chamar cada um dos membros ao invés de me ordenar isso.
Eram seis da manhã quando terminamos de nos reunir. Ezarel se mostrava cansado (mas também, com todo o castigo dele!...); Valkyon e Erika, preocupados (acho que eles já receberam alguma noção do assunto); Nevra, eu e todos os demais estávamos sérios, porém curiosos; mas quem me intrigou mesmo foi a Miiko...
Quando eu cheguei na sala, sendo um dos primeiros, a Miiko parecia estática diante do Cristal! Não ficaria nada surpreso se ela tivesse passado a noite em claro, junto do Cristal, por conta de como a havia visto. Até a Ewelein acabou a questionando sobre o seu estado de saúde.
– Parece... que já estão todos aqui. – começava a Miiko – Convoquei essa reunião pessoalmente porque temos um... desafio, em nossas mãos. – muitos começaram a sussurrar (desafio??).
– Do quê exatamente está falando, Miiko? – perguntava o Keroshane.
Ela respirou bem fundo antes de contar para todos o novo aviso da Branca e acabei tendo um calafrio quando ela terminou falar – A Semente não deixou nem mesmo uma pista sobre quem poderia ser essa mensageira; além de ser uma mulher, claro; ou sobre quando ela apareceria.
– Ao menos alguém aqui conseguiu descobrir quem, além de Absol, pode ser tratado verdadeiramente como guardião da Cris? – perguntava a Benelli.
– Isso já foi descoberto. – se apresou a Miiko – Mas diante de tantos espiões na Guarda, é melhor manter isso como informação sigilosa para o maior número de pessoas possíveis. – (principalmente porque esses espiões não podem descobrir de forma alguma que o meu ex-sócio está “livre”. Será que essa “guia” sabe o que temos de fazer para que ele possa andar por aí ao lado da Cris se levantar suspeitas?).
– Imagino então que o ideal seja manter a segurança sobre aviso para a chegada de qualquer mulher que não faça parte de Eel. – sugeria a Erika.
– Isso, se a tal mensageira realmente não for alguém de Eel. – comentava o Ezarel com um pouco de desgosto – Sem esquecer que tanto pode ser alguém que conhecemos, como alguém que nunca vimos!
– Ezarel está certo. – analisava a Miiko em concordância – E eu não sei se o “em breve” da Branca é de dias ou semanas.
– E imagino que a senhora pensa o mesmo sobre o “logo”.
– Exatamente Leiftan.
Todos nós ficamos em silêncio, refletindo, por alguns momentos. Aos poucos fomos tendo ideias sobre quais cuidados poderíamos tomar para podermos proteger a Cris, mas ficamos todos em dúvida se contávamos ou não sobre essa visitação a ela. No final das contas, a Miiko me pediu para eu avisar o outro guardião da Cris, sobre isso tudo _suspiro_.Lance 2
Já que eu havia deixado minha Ladina consideravelmente nervosa, não me atrevi a querer tê-la essa noite. Contentei-me em apenas abraçá-la aconchegada a mim. E, pela forma que eu dormi tão profundamente, me pergunto se a Branca não resolveu fazer uma visita a mim durante a noite. Eu nem vi quando a Ladina saiu! Não posso estar ficando preguiçoso...
Arrumei o quarto e fui comer. Entre dar uma última olhada nos planos de treino terra e fazer meus exercícios, decidi começar pelos planos (queria mesmo era começar com esses treinos hoje). Estava quase acabando de averiguar tudo quando alguém resolveu me “visitar” (mas quem pode estar querendo o quê comigo logo cedo?!).
– Espero não estar atrapalhando nada... – (mas eu mereço...).
– Não é porque você e mais um monte de gente está sabendo que eu estou aqui ao invés da prisão e, que por causa de vocês, a Cris tem me deixado com a porta destrancada, que sou obrigado a aceitar qualquer solicitação vinda de vocês.
– Acredite. Estou tão “feliz” quanto você.
– Que quer dizer?
– Acho... Melhor você se sentar. – pediu ele já puxando uma cadeira.
Leiftan começou a me contar o recadinho da Branca (do qual a Negra não me contou nada _irritado_) e o que eles haviam decidido tomar como precauções. Sendo o revelar disso tudo a mim uma delas.
– Já contaram isso para a Cris? Ou acham que podem esconder isso dela?
– Concordamos que isso seria algo decidido pelos guardiões dela...
– Ou seja, eu e Absol.
– Precisamente. Acha que isso vai fazer bem ou mal a ela?
– Com toda a certeza, ela vai ficar ansiosa. E eu não ficaria surpreso se ela ficasse receosa também! Ela está sempre tentando imaginar todas as possibilidades boas e ruins de cada coisa, e essa “visita”... definitivamente, não será uma exceção.
– Então... está me dizendo que é melhor não contarmos nada?
– Ao menos não de cara! Melhor isso ser repassado aos poucos, discretamente, para ela não ficar enchendo a cabeça com pensamentos desnecessários.
– Entendi. Vou repassar isso para o Valkyon e os demais antes que a Cris comece a estranhar algo ou cobrar respostas de alguém. – declarava ele já se levantando.
– Então é melhor correr! Ela pode ser distraída às vezes, mas basta uma palavra para ela começar a colocar a cabeça para trabalhar.
– Sei bem disso. – ele abria a porta – Vou indo. Bom dia para você.
Não respondi. Apenas fechei a porta e comecei a observar todo o quarto.
– Negra? – acabei perguntando (e pelo jeito... essa Semente dos infernos não está afim de me dar respostas...).
.。.:*♡ Cap.112 ♡*:.。.
Cris
Terminei o meu expediente e nada de aparecer ninguém para me falar da tal reunião. Acabei indo atrás do meu chefe para, revisar minhas habilidades físicas. O encontrei no quiosque, conversando com o Leiftan e a Miiko.
– Olá para vocês!... – cumprimentei, fingindo não saber de nada.
– Olá Cris. Pronta para revisarmos suas capacidades? – falava o Valkyon.
– Não tenho muita escapatória, não é mesmo? – falei sorrindo e todos acabaram sorrindo também – Há algum motivo para vocês três estarem reunidos aqui? – comecei a lhes dar a chance de me contarem sobre mais cedo.
– Conversávamos entre nós sobre uma visita que teremos em Eel. – falava a Miiko.
– Que visita? – perguntei.
– Isso no momento é segredo. – falava o Leiftan (...) – E não temos certeza de quando que essa visita irá chegar. Mas adianto que a razão dela é você.
– Eeeeu?!? – ai...
– Nós ficamos em dúvida se lhe contávamos sobre isso ou não, mas acabamos decidindo lhe contar. E por favor, evite falar com estranhos sem estar acompanhada de um de nós. – explicava/pedia a Miiko.
– Tá, tudo bem. Vamos começar logo com o treino Valkyon? Antes que eu comece a ficar pensando besteira?
– Certo _riso fungado_. Já terminaram de construir o campo de treinamento do QG, vamos para lá antes que ocupem a parte reservada para o seu treino. – determinou o Valkyon sem perder o sorriso do rosto.
Segui o Valkyon deixando o Leiftan e a Miiko para trás. Caméria estava segurando o nosso lugar e ela também ajudou na minha revisão de golpes e manuseio de armas (mas alguma coisa me incomodava... o que exatamente essa visita quer de mim?).
– Caramba garota! Ficar tanto tempo parada não conseguiu te enferrujar nem um pouquinho! Acaso o motivo da demora de sua recuperação era não parar quieta dentro do quarto?
Eu ri – Ai Caméria... quem me dera uma coisa dessas! Enquanto eu estava passando mal, fiquei bem comportadinha para poder me recuperar logo.
– Se todo recém-recuperado tivesse metade da sua energia, a Ewelein não teria tantos problemas com os pacientes dela.
– Entendo onde quer chegar Caméria... – falava o Valkyon – Mas acredito que seja o bastante por hoje. Vamos todos guardar essas armas de treino e comer?
– Vamos. – falamos Caméria e eu juntas.
Caméria cuidava de alguns alvos e eu ajudava o Valkyon com o arco e as espadas.
– O que mais vocês não estão querendo me contar por agora? – questionei o Valkyon num sussurro.
– Como?
– Sei que vocês três não me contaram tudo quando me falaram dessa visita aí. Sinto isso.
– Olha Cris... – ele parecia pensar nas palavras – Nós realmente estamos tentando saber mais sobre essa visita. Apenas não queremos que você se estresse com coisas que podem ser de pouca importância!
– Se fosse de pouca importância, vocês não teriam feito uma reunião com a Reluzente. – Valkyon pareceu que ia me retrucar – Karuto já havia me avisado sobre isso logo cedo. – ele ficou neutro – Por favor, seja sincero.
– Cris, realmente estamos tentando não deixá-la preocupada. Você tem os seus treinos e o seu trabalho para ocupar a mente e o tempo. Não queremos que você esquente a cabeça com coisas demais, você já tem... o Gelinho, como “adicional” aqui em Eel, por isso estamos tentando não sobrecarregá-la.
Refleti um pouco – Tudo bem Valkyon. – acabei por ceder – Mas faça-me o favor de não me deixarem totalmente às cegas ou vou acabar indo atrás de respostas eu mesma.
– Pode deixar que irei repassar isso aos outros. – prometeu-me ele com um sorriso leve.
Terminamos de levar tudo para a forja e seguimos para o salão. Acabei comendo por lá na companhia daqueles dois e depois fui pro meu quarto. Lance meditava diante dos jardins, então segui para o meu banho.Lance
Após a “agradável” visita de manhã, e com quem eu mais queria ver não querendo nem dar um suspiro diante de mim (eu ainda racho a cabeça dessa Negra!), me apressei em gastar minha energia antes que cometesse alguma coisa por conta da raiva. Só parei meus exercícios quando Absol me trouxe o almoço, deixando o que parecia ser uma bolsa carregada de itens sobre a cama e se deitando em seguida (essa criatura come quando?). Cheguei a querer conferir o conteúdo da bolsa, mas deixei para ver junto de minha Ladina.
Comi minha refeição e fui dar uma olhada na janela (me pergunto o quão bom pode ser esse campo de treinamento... Quando eu era o líder da Obsidiana cheguei a ficar um ano inteiro pedindo pela construção dele!), e após dar uma observada em tudo, fui tomar meu banho, com um pouco de meditação em seguida.
Estava tão focado em minha concentração que eu só percebi o retorno de minha princesa ao ouvir o som do chuveiro (o daemon fez como eu disse ou ela ainda não está sabendo dessa “visita”?) – Como foi o dia hoje? – perguntei assim que ela deixou o banheiro.
– Você primeiro. Absol me trouxe o quê dessa vez? – dizia ela já conferindo a bolsa sobre a cama.
– Cuidei do quarto ao notar que estava sozinho; tomei meu café; revisei os seus próximos treinos comigo; recebi uma visita do Leiftan; fu...
– O Leiftan veio aqui?! – me interrompia ela, com eu já me sentando na cama para também ver o conteúdo da bolsa: itens de alquimia.
– Veio. O pessoal que manda em tudo por aqui me procurou para saber se era ou não seguro lhe contar uma coisa.
– Fala da visita misteriosa que eu vou ter? – ela erguia uma das sobrancelhas.
– Descobriu sozinha ou eles ouviram o meu conselho? – a ajudava a separar as coisas sobre a cama para poder observar melhor.
– Descobri com o Karuto hoje cedo, Miiko me contou um pedaço a tarde, e o seu irmão me explicou um pouco no final do treino de hoje. O que será que Absol está querendo que eu faça com todas essas coisas...
– Entendo. – comecei a ajudá-la a guardar as coisas – E julgando por tudo que ele tem lhe trazido, parece que ele está se preparando para uma viagem.
– Uma viagem??
– Claro! Só com as coisas que estamos guardando dá para produzir duas poções de cura, três de defesa, uma de furtividade e uma de ataque.
– Ai... E ainda tem esse ser querendo me ver...
– Fique tranquila Princesa... – lhe beijava a fronte – Faça o que puder para recebê-la aqui dentro e tem a minha palavra que farei de tudo para lhe garantir a segurança – tanto ela como eu acabamos deixando um suspiro escapar – Queria poder ficar te acompanhando fora desse quarto... – deixei escapar. Ela sorriu.
– Para isso eu teria que colocar uma coleira em você! – (QuÊ!?) – Igual a Erika fez com o Leiftan.
– Eu com certeza iria sofrer nos primeiros dias... – falei incomodado, com ela rindo mais um pouco.
– Seria um tratamento de choque, imagino eu.
– Com toda a certeza... – falei me imaginando naquela... situação, com nós dois terminando de guardar tudo.
Enquanto eu comia (que hora o meu jantar chegou?), expliquei como que planejava mais ou menos o treino de terra para ela, e Absol, que já estava desperto, recebia um pouco de carinho da Ladina (é nessas horas que eu mais gostaria de estar no lugar do black-dog).
O sanguessuga, acompanhado do meu irmão, resolveram aparecer assim que eu terminei de explicar tudo a ela, para que pudessem saber quando que aquele treinamento elemental começaria. Consegui convencer meu irmão a me deixar ficar com ela durante a tarde de amanhã (e espero que Absol nos leve para um lugar longe o bastante para que ninguém resolva “assistir” ao treino).
A Cris chegou a lhes perguntar um pouco mais sobre a tal visita que iria vê-la e eu acabei ajudando no que podia de fato ser repassado ou não para que ela não ficasse preocupada demais. E ainda comentei sobre as atitudes estranhas de Absol (coisa que acabei guardando do meu ex-sócio) e isso foi o suficiente para fazer a Ladina ficar sabendo que mais cedo ou mais tarde ela teria que “explorar” Eldarya.
– Vamos torcer para que você já tenha conseguido terminar ao menos de controlar os seus poderes, Cris. Acham que a terra vai ser mais difícil que a agua?
– Como é que eu vou saber, Nevra?! Tudo o que eu sei é que eu aprendo na prática!
– Isso eu pude confirmar com os meus próprios olhos.
– Nem vem Valkyon! Você vive tendo chance para tirar uma lasquinha dela e só não o faz porque já é comprometido!
– Mas se o sanguessuga se atrever a se dar essa liberdade durante os treinos... Eu vo...
– Você não vai nada, Lance! Porque eu mesma irei fazê-lo pensar quinze vezes antes de tentar algo desse tipo novamente. Trate de se comportar!
– Quinze vezes?!? – o sanguessuga ficou pálido, enquanto Valkyon e eu contínhamos o riso.
– Exatamente o que ouviu, Nevra. Se dou conta desse dragão trabalhoso, porque não daria conta de um vampiro atrevido?
O sanguessuga e eu acabamos meio sem jeito, e meu irmão cobria a boca para ajudar a não rir.
– Acho melhor você descansar agora, Cris. – comentava ele ainda tentando segurar o riso – Está ficando tarde e você terá um longo dia amanhã. – ele se levantava – Boa noite para vocês dois. Vamos, Nevra.
– Vamos. – ele o seguia – Boa noite Ladina Cris! Boa noite dragão trabalhoso!
– Tchau Valkyon. Adeus vampiro atrevido.
– Tá bom! Já chega. – minha Ladina cortava a discussão – Boa noite para todo mundo e até amanhã. – terminou ela já os guiando para fora e trancando a porta em seguida.Cris 2
Assim que tranquei a porta, acabei me escorando nela. O Nevra não tem amor a vida... Só pode! Ele sabe o quão ciumento o Lance é, e ficar querendo provocar a onça com vara curta? Estou exausta...
– O que acha de nos deitarmos agora? – me sugeria o Lance.
– E você vai me deixar dormir?! – (se eu disser que eu não gosto da forma com que ele me põe “nas nuvens”, estarei mentindo feio. ... Sou uma sem noção.)
– Você bem que me parece precisar dar uma relaxada. – aquele sorriso... _engole seco_ – Mas não vou forçá-la. Ainda mais porque você deve estar com a cabeça cheia e também terá um longo dia amanhã. – _respira fundo_ – Vem. Vamos fazer uma visita a Morpheus.
– Só espero que ele não rejeite a minha visita... – acabei deixando escapar enquanto ele me guiava pela mão até a cama.
– Ah, mas ele vai... Qualquer coisa você ainda tem da poção que o bobo-da-corte lhe deu. – um riso fungado me escapou.
Nos deitamos e ele ficou me fazendo carinho até eu adormecer. Amanhecido o dia novamente, acordamos quase juntos. Me arrumei para a cozinha enquanto o Lance cuidava do quarto, e desci. Como eu havia confessado ao meu chefe que tinha sido o Karuto quem me alertara sobre a reunião feita por causa da tal visita que eu receberia, a Miiko resolveu conversar com ele. O Karuto havia decidido que hoje eu só precisava trabalhar durante a manhã depois dessa conversa. No horário do almoço eu estaria dispensada para que eu pudesse começar logo com o meu treinamento e assim terminar logo de controlar os meus poderes (pela forma com que ele me repassou isso, fiquei a entender que talvez essa visita queira que eu a acompanhe depois...). Acabei achando melhor almoçar no meu quarto.
– Então é por isso que terei o prazer de ter minha Ladina comigo no almoço? – me questionava o Lance com aquele sorriso sem vergonha, depois de eu terminar de explicar.
– Sim, foi sim. Agora, vamos logo terminar de comer para que eu possa me ver livre logo do treino de hoje!
– Não precisa ficar tão ansiosa... Até Absol está sossegado. Prometo começarmos devagar, para que possa compreender melhor o que eu quero que você faça. Se lembra de tudo o que eu lhe expliquei ontem a noite?
– Deixe-me ver... O objetivo primário desse treino é me fazer capaz de enxergar 100% do ambiente a minha volta, sem precisar dos meus olhos. – ele assentia – Pra isso terei que me concentrar de forma semelhante a que eu fiz quando manipulei o mar no último dia de treino de agua com você.
– E que eu tentaria te atrapalhar de vez enquanto para que você consiga ser capaz de fazer isso em qualquer circunstância, como em uma luta por exemplo.
– Certo... – (eu realmente não estou gostando do método desse treino...) – Consegue imaginar para que tipo de lugar Absol possa estar planejando nos levar hoje?
– Não. Mas seja lá qual for, é um em que ele se sentirá seguro. Como sempre...
– E acaso você queria que existisse algum risco?
– Não exatamente. – lhe ergui uma sobrancelha – Eu, apenas queria, poder lutar um pouco com alguém. O novo campo de treinamento é bom? Adoraria poder experimentá-lo...
– _risinho_ Vou tentar lembrar de conversar sobre isso quando eu ver a Miiko.
– Eu lhe seria muitíssimo grato.
Conversa vai, conversa vem, terminamos de almoçar, arrumamos uma bolsa com o que sempre levávamos para os treinos e partimos com Absol.???
Ai, ai... Só mesmo uma mensagem de minha priminha para me convencer a deixar a minha amada Torre... Como será que é a Lys de Eldarya? Eu até que tentei descobrir algo em minhas leituras, mas não consegui. O destino dessa moça é complicado! Com tantos altos e baixos, que eu nem sei como que uma pessoa normal poderia aguentar.
Me pus a caminho de Eel no mesmo dia em que recebi o mascote de Melídia. E nisso já se passaram cinco dias! Nem acredito que finalmente estou chegando... E se não fosse pelo o meu querido Homam, ai. Não quero nem pensar em quanto tempo essa viagem iria demorar mais. Se Wazn não fosse tão novinho... Bom, Melídia dizia na carta que eu podia aparecer subitamente sem problemas.
Quando chegamos em Eel, Homam pousou em um dos jardins próximos aos portões da cidade. E não demorou nada para que guardas nos cercassem (pelas minhas estrelas...). Um elfo se aproximou de mim enquanto desmontava de Homam.
– Desculpe perguntar senhora, mas quem é você, e o que pretende em Eel?
– O que eu pretendo?! – (Melídia estava mesmo certa?) – Vim ver a Miiko e a Lys de Eldarya! – notei que alguns se mostraram meio receosos – Portanto pode avisá-las que: Lunna, a Astronâmini está aqui para vê-las...Lunna
Miiko
Leiftan só gastou uma hora, se muito, para consultar o Gelinho sobre as novidades da Semente Branca, e eu meio que já imaginava que ele iria nos mandar revelar pelo menos uma parte disso tudo para ela (posso não estar convivendo com ela tanto quanto ele, mas já tive oportunidades suficientes para compreender mais ou menos como é a personalidade da Cris).
Não sei se o que lhe contamos, Leiftan, Valkyon e eu, foi o bastante para deixá-la satisfeita ao ponto de não querer mais informações, mas não pude evitar de lhe pedir para não ficar sozinha com pessoas que ela não conhecia (ainda bem que entre os espiões, o Ghadar tinha sido o único a tentar se aproximar dela, e que o restante de nós que sabem sobre eles, faz o possível para que nenhum deles mais consiga uma aproximação com ela).
Fiquei espantada quando o Valkyon me revelou mais tarde que o Karuto havia alertado a Cris sobre a nossa reunião. Mais que depressa eu fui conversar com o cozinheiro (preciso me lembrar de sempre adicionar o Karuto quando o assunto for a Cris. Ele parece adquirir audição vampírica quando o nome dela aparece!). Após explicar detalhe por detalhe para o sátiro, ele me fez concordar que era melhor a Cris ficar menos tempo na cozinha para que ela conseguisse completar os treinos dela mais depressa, antes que ela não tivesse escapatória de correr riscos por Eldarya.
Nevra e Valkyon, que tinham ido conversar um pouco mais com a Cris sobre o assunto a meu pedido, apareceram e nos repassou sobre como o Gelinho planejava seguir com o treino elemental da Cris. Acho que a decisão do Karuto será de grande ajuda para ela. Fui descansar.
Começando um novo dia de muito trabalho, tudo seguia mais ou menos dentro do esperado. Já havia acabado o horário de almoço. Eu estava na Sala do Cristal, conferindo algumas necessidades do QG junto de Kero e Ewelein, quando o Shiroiyoru entrou quase desesperado no lugar. – Miiko, você não vai acreditar!... – (lá vem...) – A “visita” que aguardávamos, é a Lunna!
– COMO!?! – acabamos falando todos juntos.
– Explique isso direito Shiroiyoru. – pedia a ele.
– E-e onde ela está agora? – Kero suava frio.
– Réalta está com ela agora, próximos a Grande Porta. Ela chegou montada em um galorze e mandou que avisássemos à senhora e à Cris que ela está aqui para ver vocês duas. Se apresentando como Lunna, a astronâmini em seguida.
Respirei fundo para poder conseguir pensar rápido – Kero, faça-me o favor de reunir a Reluzente e Ewelein me veja se a Cris está em seu quarto ou se ela já foi treinar. Ah! E... peça para o Ezarel ou o Leiftan trazerem alguma “bebida” para a nossa visitante, Kero.
– Norns Visdom?
– Só por precaução. – respondi à ele que saiu em seguida com a Ewelein não aprovando muito o meu pedido pela expressão dela, voltei-me para o Shiroiyoru – Agora, me leve até Lunna, por favor.
– Sim senhora. – respondeu-me ele já andando na frente.
São poucas as pessoas que realmente chegaram a conhecer a Lunna. Ela raramente deixa a Torre Celeste, sua casa e local de trabalho. Existem comentários que ela é um pouco... excêntrica, mas eu nunca tive a chance de conhecê-la pessoalmente.
Me aproximando do lugar, consegui entender o porque de a chamarem de excêntrica. Ela se vestia de modo extravagante, quase como uma nobre pronta para participar de um grande baile. E como ela aquenta usar um Chapéu cabalístico?? E o dela está muito mais cheio do que todos os que eu já vi! Ela carrega o quê naquela bolsa para sobrecarregar a cabeça?
– Oh, imagino que a senhora seja a Miiko, correto? – perguntou ela assim que me viu.
– Sim, sou a Miiko. Líder da Guarda de Eel. – me apresentei – Pode acompanhar-me até a Sala do Cristal?
– Claro, Joia Negra! – (joia negra??) – Mas quem irá tomar conta de Homam para mim? – ela acariciava o seu galorze.
– Deixe que eu o faço. – se oferecia o Réalta.
– Oh, muito obrigada Estrela Élfica. – nós dois ficamos confusos – Pelas estrelas... Acha mesmo que eu não sei que o significado de seu nome é “estrela”?
– Hm?! Ah! É verdade. Às vezes me esqueço disso...
– Pois não devia, meu caro. Seu nome é um dos bens mais preciosos que se pode ter. Especialmente no mundo da magia. – (eu que o diga... Por qual motivo será que ela me chamou de “joia negra”?).
Começamos a nos encaminhar para a Sala do Cristal. Eu não consegui deixar de observar os conteúdos do chapéu dela. O equilíbrio dela é excelente! Nada sequer tremia com seus passos. Entrando na Sala, todos já estavam reunidos. Exceto a Cris (ela já deve estar treinando...).
– Pelas Zorya! Como o Cristal é fascinante! – Lunna se colocava diante do Cristal – Pena que o que temos aqui é menos da metade...
– Eh... Lunna, certo? – Ezarel lhe chamava a atenção – Imagino que a sua viagem tenha sido bem longa. Aceita um refresco antes de começarmos?
– Mas é claro! – ela é mesmo a maior astronâmini que já existiu? – Contanto que você beba metade dele antes de mim. – acho... que me enganei.
– Tudo bem. – declarou Ezarel que bebeu um tanto zangado, oferecendo a outra metade a Lunna.
– Muito bem todos. Poderia por favor se apresentar cordialmente para todos e nos explicar as razões de sua visita à Eel? – pedi após ela entregar o copo vazio para o Ezarel.
– Com todo o prazer! Sou Lunna Vega, também conhecida como Lunna, a astronâmini. Porque sou simplesmente a maior e melhor astronâmini presente em toda a Eldarya até o momento. – (não são todos que conseguem se exibir e se manterem humildes ao mesmo tempo...) – Sobre a razão de eu ter deixado a minha querida e amada torre e estar aqui em Eel,... – ela levava uma mão até o chapéu, à procura de algo – Um momentinho por favor... Encontrei! – ela retirava um pequeno pergaminho do meio daquela bagunça – Recebi uma mensagem de minha talentosa priminha que, por conta do acordo que ela tem com os ent’s que a protegem, pediu-me para vir aqui no lugar dela e dar uma mãozinha para a nossa querida Lys! – ela me entregava o pergaminho – E... acho que ela não está entre nós aqui, certo?
– Ela está em meio a um treinamento para controlar os poderes dela agora. – declarei já começando a ler a carta (ELA É PRIMA DE QUEM?!?!) – Sua prima é Melídia?! A Suprema?!?
– Incrível, não é?! – toda a Reluzente estava espantada – Nem eu estava acreditando quando nós duas descobrimos isso! Onde e quando poderei me encontrar com a Lys? E como exatamente vocês a estão ajudando? Nunca conheci alguém de destino tão complexo quanto ela.
– Infelizmente não temos ideia de onde ela possa estar treinando agora. A única certeza que podemos ter, é que ela está acompanhada de seus guardiões. – explicava o Ezarel.
– Entendi. E como você bebeu metade da poção que me deu, posso confiar em você da mesma forma que confio nas estrelas.
– Mas quê... – Ezarel reagia por todos nós.
– Eu não acabei de dizer que o destino da Lys de Eldarya é complicado? Com tantas obscuridades ao redor dela, surpresa seria se vocês não tentassem me dar nada para terem certeza sobre a minha pessoa!
– Sinto-me aliviada por não se sentir ofendida ou algo do tipo por fazermos isso com você. – comentava – E peço-lhe desculpas pelo nosso excesso de precaução.
– Por Hélio... Voltemos ao que nos interessa, sim?
_respira fundo_ – Bom, pelo o que eu entendi dessa mensagem, Melídia lhe pediu para que ajudasse a Lys a como descobrir o que ela teria que fazer após terminar seu treino elemental e... como nós poderíamos ajudá-la a se manter segura? Compreendi certo?
– Isso mesmo Joia Negra. Agora, o elfo encantado poderia por favor responder aquela minha segunda pergunta que ficou sem resposta? Sobre o quê que vocês estão fazendo para ajudá-la?
– Conseguimos localizar a parte do Cristal que está com a outra semente da Oráculo; estamos mantendo a identidade do segundo guardião dela em segredo; preservando alguns segredinhos... íntimos, dela; e procurando mestres que possam ajudá-la a concluir seus treinos sobre cada elemento do poder dela. – repassou Ezarel, contando nos dedos.
– Hum!... Por minha querida Astéria... – a Lunna ficou com o olhar perdido no teto por alguns instantes – Vocês tem uma lista ou algo do tipo com os nomes daqueles que já escolheram para ensinar a Lys?
– Sim. Temos. – Kero pegava a lista entre os papéis que ele segurava para mim – Aqui está. Imagino que queira dar uma olhada nela, por isso questionou.
– Precisamente, posso? – Kero lhe entendeu a lista após o meu assentir – Muito obrigada. Ah! Antes que eu me esqueça, tenha uma boa viagem elfo encantado!
– Mas do que é qu... AAAHH!! – Ezarel teve sua fala interrompida por Absol que apareceu do nada e o levou embora antes mesmo que pudéssemos compreender o que havia acontecido.
– Hum-hum-hum-hum! Imagino que o black-dog especial seja um dos guardiões da nossa Lys, está correto?
– O quê? Ah, sim. – preciso recuperar meu controle – Aquele, aquele era o Absol, guardião declarado da Cris. Porque motivo ele fez isso?
– Perguntem ao elfo após acabar o que foi convocado a fazer. – (convocado??) – Agora... sobre essa lista... “Bidh lasraichean Hélio, fo stiùireadh Artéria, a ’dol à sealladh leis a h-uile susbaint nach eil airson an tè dha bheil an dreuchd seo an dùil.”
Imediatamente após ela terminar de pronunciar, uma enorme chama furta-cor envolveu o documento, deixando alguns de nós pálidos.
– Mas o que foi que você fez?! – se desesperava o Leiftan.
– Deixei essa lista melhor. – respondia a Lunna lhe entregando a folha quase negra, e que fui verificar junto dele (como assim “a deixou melhor”?) – Recomendo usarem esse pequeno encantamento quando montarem as listas de possíveis professores para ajudar a Lys com os próximos elementos. Alguém aqui o conhece?
– Eu conheço o idioma. – declarava a Benelli – É gaélico norte! Apenas me confirme se eu entendi direito, o que você pronunciou foi: “Chamas de Hélio, sob a guia de Artéria, suma com todo o conteúdo que não está a favor daquele a quem este papel se destina.” Está correto?
– Corretíssimo, minha querida Alkaid!
– Então... A razão de só dois nomes continuarem legíveis nessa lista que você “quase” incinerou, é porque apenas essas duas pessoas sabem o que falta para a Lys aprender?? – (e nenhum deles se encontra em Eel no momento...).
– Em pleeena certeza, Joia Negra. E... Acho que lhes seria muito mais recomendável deixar que a própria Lys escolha qual dos dois que estão aí ela prefere ter como mestre. – (minha cabeça está começando a estourar...) – Mas agora é definitivamente sério. Já posso subir para o topo da torre?
.。.:*♡ Cap.113 ♡*:.。.
Cris
Ai... Será que existe algum tipo de encantamento de teletransporte para não ter mais que apelar à umbracinese de Absol?
Hoje Absol nos levou até a clareira em que costumávamos treinar. Estava tudo mais ou menos da mesma forma que quando Absol me trouxe para cá para encontrarmos Anya. O rochedo que lembrava uma pequena mesa quase no centro e a neve espalhada até os limites da clareira. As arvores quase brancas pela neve acumulada, e a “mesa” com uma ou outra flor pequena, de cor branca ou fria ao seu redor. Não havia vento e o pouco sol que penetrava a área deixava o lugar um pouquinho mais aconchegante.
– Tem certeza que esse local é seguro, black-dog? – questionou o Lance observando Absol que rodeava a clareira.
– Se ele não parece incomodado com o lugar, deve ser, né? – Lance negava com a cabeça.
– Espero que esteja mesmo certa. – ele se aproximou do rochedo e começou a retirar a neve que resistia aos raios solares – Vamos começar logo. Tire o máximo de roupas que você puder, incluindo os sapatos e assuma a posição de lótus aqui em cima.
– Ham... Poderia me relembrar do porque disso ser necessário? – (mesmo com o sol, ainda está frio por demais!).
– Quanto mais contato direto com a terra você tiver, mais fácil será de você se tornar “uma” com o ambiente no começo. Depois que você já estiver conseguindo se assimilar com o espaço a sua volta sem nenhuma dificuldade, você pode fortificar o seu contato com o ambiente colocando suas roupas como empecilho para essa afinação.
– E você vai cuidar de mim se eu acabar doente, né?
– _riso_ Com toda a certeza minha princesa. – ele me roubava um selinho – Mas eu não tenho qualquer intensão de lhe permitir adoecer durante esse treinamento.
– E o que vai fazer para impedir isso? – ele me ajudava a tirar uma parte das roupas (que eu quero de volta no corpo... _choramingando_).
– Não posso usar a Crista de Maana agora porque ela interferiria no seu treino, então ficarei cuidando de você sempre que eu perceber que você está fria demais. Vou aquecê-la um pouco. E isso apenas já será o suficiente para lhe atrapalhar a concentração no começo, acordados assim?
– Espero conseguir poder continuar treinando com minhas roupas no corpo ainda essa semana! – declarei já tremendo e subindo na pedra.
– Então é bom você se dedicar o máximo possível! Agora comece. – eu já estava na devida posição (tremendo de bater os dentes) – Feche os olhos; recorde-se de como você se concentrou quando controlou as aguas do mar; ignore ao máximo o frio que a cerca; e tente enxergar TODA essa clareira sem precisar se mexer ou abrir os olhos.
Tentei fazer o que ele pedia. Fechei os meus olhos e fiz de tudo para me manter calma e serena naquele lugar (apesar dos “calafrios” que me atacavam quase todo o tempo). Não estava sendo nada fácil... o frio estava realmente atrapalhando. Tanto que eu quase não sentia o toque do Lance quando ele me aquecia as extremidades ou o peito! Ficamos hooooras nisso. E eu só fui começar a perceber alguma coisa depois de muuuuuito tempo.
– O crepúsculo já está chegando... – abri meus olhos ao ouvir o Lance disser isso – Vamos terminar por hoje. Amanhã você tenta outra vez.
– Minhas roupinhas por favor!... – pedi quase correndo até elas, mas sem conseguir me mexer direito por causa do frio.
– Devagar, Ladina... O frio deixa a pele sensível...
– Mas a sua não, né? – vestia minha roupa com um pouco de dificuldade – Como você é de gelo... Isso significa que você não atura o calor?
– O calor pode me incomodar, mas posso atravessar um rio de lava sem problemas.
– Ai. Eu não gosto mesmo de extremos de tempo...
Ele riu. O Lance aqueceu a comida que tínhamos conosco e deu uma leve amornada em nossa agua, apenas para que ela ficasse fresca ao invés de gelada. Estávamos quase terminando de recolher tudo quando Absol começou a rosnar para um dos lados da clareira, fazendo o Lance ficar de guarda alta.
– O que aconteceu Absol? – o som de algo caindo na mesma direção para a qual ele rosnava, me fez me erguer. Absol correu até o local no mesmo instante. – Quem está ai? – Perguntei me aproximando com cautela e sem nenhuma resposta. Lance me acompanhava e quando chegamos onde Absol estava, e choramingava, uma... mulher de agua estava caída no chão – Meu Deus! Você está bem? Diga alguma coisa! – me aproximei sem saber bem se era seguro ou não tocá-la (e acho que a ouvi pedindo ajuda).
– De onde foi que essa ondina saiu? Ela está quase nas últimas!
– O quê?! – me assustei com a declaração dele.
– Seu corpo está muito frágil. Ela precisa de agua para se reestabelecer, mas tem que ser agua fresca e rica em minérios! Se ela tentar absorver a neve...
– O que irá acontecer com ela?
– Vai congelar e quebrar. Se ela não estivesse tão frágil como agora, eu até poderia usar do meu poder nela, mas nesse estado... Sabe me dizer o que você sente sempre que eu trato de algum ferimento seu para você?
– Sinto um frescor. – comecei a observar um pouco mais o nosso redor – Então imagino que se você tentar tratá-la, será o mesmo dela absorver a neve.
– Exatamente. – pousei meu olhar sobre algumas plantas suculentas que Anya havia me ensinado serem muito ricas em vitaminas e minerais ao ponto de serem usadas em algumas poções de cura. Cenas de dobra d´água correram pela minha mente, e sem perceber/entender, extrai toda a agua daquelas plantas e a usei na ondina – O que é isso?! – Lance se surpreendia e a ondina começou a se mostrar um pouco mais... firme, digamos assim – De onde tirou a ideia de arrancar a agua daquelas plantas desse jeito? – ele alternava o olhar entre as plantas secas e a ondina.
– Dobra d’água. – ele me encarou confuso – Todo ser vivo tem uma determinada quantia de agua fazendo parte da composição de seu corpo, podendo chegar até uns 90%. Em uma das séries animadas que eu assisti, tiveram cenas parecidas com o que eu acabei de fazer, mas que fique bem claro! Eu só fiz isso porque se tratava de uma emergência! E só de observar aquelas pobres plantas você já deve imaginar o porquê disso.
– Acho... Que controlar um corpo com alta porcentagem de agua, seria algo possível para você, não?
– Quer que eu teste a teoria com você? – perguntei com um toque de malícia.
– Não obrigado. – um riso me escapou com o nervoso dele – Ela não me parece mais em perigo imediato,... – voltamos a observar a ondina – ...mas ainda corre o risco de acabar congelada se eu usar o meu poder nela, sem falar que ela não tem condição alguma de ser carregada por umbracinese para o QG. – outra vez ficava sem saber o que fazer – Seria preciso que alguém delicado a levasse nos braços.
– Delicado? – ele assentiu com um “huhum” – Hã... A primeira pessoa que me vem a mente é o seu irmão, o Valkyon.
– _riso_ Cuidar de musaroses realmente exige delicadeza, mas assim como eu posso acabar congelando essa ondina, meu irmão pode acabar a evaporando por ser um dragão de fogo. Você ainda não controla bem os seus dons curativos, que geralmente costumam ser fortemente ligados à luz, então uma outra pessoa terá de cuidar dela. Ou você vai aceitar deixá-la a própria sorte aqui?
– Você sabe muito bem qual que é a minha resposta, não é mesmo. – segurava minha irritação mediante a insinuação dele.
– O pior é que eu sei muito bem...
– BLACK-DOG DOS INFERNOS! O QUÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! – gritava alguém da clareira, chamando a nossa atenção (Ezarel?).
– Ei! Bobo-da-corte! – Lance lhe chamava a atenção – Vem aqui!
Ezarel nos viu assim que escutou o Lance lhe chamando, se dirigindo até nós claramente nervoso – Dá para me explicarem porque que esse black-dog dos infernos me rap... Marine?!? – ele mudou de expressão assim que viu a ondina.
– Conhece ela? – perguntei ao vê-lo examiná-la com cuidado.
– É uma das minhas melhores subordinadas! Faz uns cincos meses que ela saiu em missão e não voltou mais. Até já cheguei a pedir permissão para a Miiko para tentar descobrir o que havia acontecido com ela. Como ela ficou nesse estado?
– Nós só a encontramos porque a ouvimos tombar no chão e porque Absol correu até ela. – explicava o Lance de braços cruzados e observando os movimentos de Ezarel que preparava alguma coisa com os frascos e ervas que tinha espalhadas pelas vestes – Foi a Cris quem lhe forneceu os primeiros socorros. – terminou ele apontando para as plantas que eu sequei.
– Você fez isso com aquelas plantas?! – ele me pareceu horrorizado com o que restou delas.
– Era uma emergência! Ou salvava a vida das plantas, ou salvava a vida da... Marina?
– É Marine. E depois disso fiquei com medo de descobrir o que mais você pode fazer com a agua. – um riso quase escapou de mim – Espero que o seu treino já tenha acabado por hoje, porque já tem alguém esperando para poder te ver lá no QG. – declarou ele derramando o líquido criado sobre o peito dela.
– Alguém, quem? – perguntava o Lance na minha frente.
– Lunna... – ele falava em meio a um sorriso – ...A Astronâmini! – (QuÊ!?!).
– Você não está tentando descontar o susto que Absol lhe deu em cima da gente, está? – Lance parecia tão espantado quanto eu que fiquei boquiaberta.
– Antes fosse! A Miiko pediu para dar da poção da verdade para ela, para sabermos que era ela mesmo, e a criatura me fez tomar metade do refresco que preparei para ela. Ou seja... – ele terminava de guardar entre as roupas os frascos que havia usado – Mesmo que eu quisesse fazer algo assim, por culpa da poção, eu não conseguiria.
– Sério mesmo? – questionei – Verdade verdadeira?
– Infelizmente... – ele se preparava para pegar a Marine nos braços – E acho que é uma boa ideia vocês voltarem com Absol agora.
– Será que você poderia tentar nos contar uma mentira agora? – lhe pedia – Apenas para não ficar nenhuma dúvida.
– Uma mentira sobre o quê?
– Que tal sobre a sua relação com essa ondina? – sugeria o Lance – Você ama ela?
– Ela é o a... A... – ele não parecia conseguir continuar a fala – ... Essa poção consegue mesmo ser incomoda! – declarou Ezarel massageando a garganta – Acho que irei fazer alguns testes pessoalmente depois que me ver livre da punição da Miiko.
– Vamos indo Lance... – (quero um banho quente!) – Absol! Nos leve por favor. E... ela vai ficar bem, certo Ezarel?
– O que eu acabei de fazer é apenas paliativo. Mas sei que assim que eu a deixar nas mãos da Ewelein, Marine vai ficar boa rapidinho.
Absol nos carregou de volta para o quarto e eu ainda consegui ver o Ezarel começar a correr em direção ao QG com a ondina nos braços. No quarto, deixei o Lance cuidando das coisas e “voei” para o chuveiro quente.Miiko
Como princesa, fui obrigada a aprender muitas línguas mesmo! Mas o gaélico norte não estava entre elas. Ainda bem que pelo menos um membro da Reluzente a conhecia ou eu ainda estaria imaginando o quê que aquelas palavras usadas pela Lunna significavam.
Os nomes que sobreviveram naquela lista eram o da Marine, uma ondina que está em missão já faz um bom tempo; e o do Hav, um telquines que se mudou para outra cidade alguns meses depois do fim da Guerra do Cristal (não vai ser fácil contatar qualquer um desses dois... O quê que deu no Leiftan para colocar estes dois na lista? E eles tinham que serem os únicos a ficar?!).
Ah! E tem o Ezarel. Pra onde será que Absol o levou? E o que será que a Lunna quis dizer ao falar que o líder absintiano foi “convocado”? Preciso de algumas guloseimas...
Eu sei que eu mencionei o nome da Cris naquela conversa com a Lunna, mas não lembro de ninguém comentando que o quarto da Cris fica no topo da torre.
– Lunna, espere. Nós não sabemos se a Lys já retornou ou não do treinamento dela. – falei para impedi-la de deixar a Sala do Cristal.
– Ai, por minhas estrelas... Vem junto Joia Negra! E assim descobrimos juntas se ela já retornou ou não!
– Mas esse não é o único problema, dama estrelada. – comentava o Nevra que, junto de Kero, Leiftan, Valkyon, Benelli, Jamon, e mais dois que não sabiam do “Gelinho”, nos acompanhava.
– E qual seria o outro problema, meu caro Shaula...
– Meu caro o quê?! – Nevra me pareceu espantado (ou seria ofendido?) – A Cris não gosta de ter seu espaço invadido e nem sabemos se, caso ela já tenha retornado, ela vai poder ou não lhe abrir a porta! – pelo tom dele, Nevra está é um pouco ofendido.
– Ouçam bem crianças, tudo o que as estrelas consideravam importante eu saber, elas me contaram. Vocês subestimam aquela jovem assim como se subestima um bebê bhemoth ou um lapy. Eu sei muito bem o que eu preciso estar fazendo nessa cidade, e o meu assunto direto com vocês já acabou. Meus deveres agora é apenas com a Lys. – _boquiaberta_ – Disseram que ela se chama Cris, certo? Espero que ela seja divertida!
Lunna continuou subindo, com quem que já nos acompanhava nos seguindo. Eu não sei o que o resto da Reluzente que não seguiu Lunna ficou fazendo (espero que tenham ido atrás do Ezarel), mas ninguém que subia até a Cris se atreveu a questionar algo depois da declaração da Lunna.
Diante do quarto, Lunna se impediu de bater na porta e começou a esperar de braços cruzados diante dela – Algum problema Lunna?
– Sei que você também está ouvindo a agua caindo Shaula,... – (o que será que isso significa para incomodar tanto o Nevra?) – ...por isso estou esperando ela acabar o banho! E se não for muito incomodo, irei entrar sozinha.
– Sozinha?! – (será que Absol vai tirar o Lance de lá?) – Tem certeza disso? Não é melhor que alguém entre junto com você?
– Totalmente desnecessário. Eu sou a única que precisa falar com quem está lá dentro nesse momento. Tratem de manterem distância da porta após minha entrada! Já bastam as sombras nos espionando...
Ficamos todos mudos enquanto Lunna se mantinha com o olhar fixo na porta, sem deixar a posição assumida ao desistir de batê-la. “Sombras os espionando”? Isso foi uma indireta para avisar que apenas o Nevra pode estar espionando o que acontecerá ali dentro?? No que encarei os que continuavam conosco, Leiftan, Nevra e Valkyon pareciam ter tido a mesma conclusão que eu.
Como a Cris demorava um pouco com o banho, Kero, Nevra e Jamon foram os únicos que continuaram esperando comigo, o restante do pessoal foi conferir a ordem no QG e tentar acharem o Ezarel. Acabamos tendo que esperar uma meia hora naquela porta...
No que finalmente acabou o barulho de agua, Lunna só esperou cinco minutos para bater a porta, entrando um tanto quanto desesperada na minha opinião depois que a Cris a abriu (ninguém teve tempo sequer de falar um “a” antes da porta voltar a ser trancada).Lance
Apesar de Absol ter me parecido bastante a vontade naquela clareira fria, eu não me sentia tão confortável como ele. Por conta do tempo frio, eu esperava que ele nos levasse para algum lugar que fosse um pouco mais quente para ajudar a preservar a saúde da Cris, mas ele aumentou em muito a dificuldade para ela!
Antes, eu pensava em distraí-la com conversas ou pequenos sustos, mudei a tática para cuidados da minha Ladina... Depois que ela terminou de se posicionar (após um enorme esforço para retirar suas roupas, ficando apenas com uma chemise de renda branca sobre a roupa íntima), comecei a prestar extrema atenção em todas as reações que o corpo dela apresentava mediante o frio. Era notável que o clima a atrapalhava de se concentrar, e várias vezes precisei aquecê-la, sendo que ela quase não me percebia a tocando no começo quando o fazia.
Muitas vezes tive vontade de terminar com aquele treino em condições tão severas assim, mas ela parecia se esforçar para conseguir, o que acabava me impedindo de interrompê-la. Mas quando o céu começou a dar indícios de querer mudar de cor... Chegamos ao fim por hoje. Queria que existisse uma maneira de repassar parte de minha resistência térmica à ela...
Enquanto ela se vestia desesperadamente, eu aquecia a comida que trouxemos e “quebrava o gelo” da agua. Ao mesmo tempo em que ela conseguia nos fazer rir (rir ajuda a aquecer o coração, então assim é melhor). Estávamos consideravelmente tranquilos, até Absol resolver rosnar para alguma coisa... (não vai me dizer que, só porque eu desejei um pouco mais de ação para mim, aqueles canalhas vão vir nos incomodar!?).
Seguimos atrás do black-dog até o som de algo grande que tombava na direção para a qual ele rosnava, e fiquei espantado de ver aquela ondina! (mas eu realmente não tenho sorte...) Observando a condição daquela mulher, sabia que a Cris ia querer ajudá-la de um jeito ou de outro, então, antes que ela me ordenasse ajudá-la, já que ela mal conseguia usar os próprios poderes a favor dela mesma (poderes de cura costumam ser mais próximos da luz, talvez quando ela conseguir dominar esse elemento, ela consiga usar o poder de cura dela com mais liberdade), fui logo dizendo quais que deveriam ser os primeiros socorros para aquela ondina. Assim eu evitava problemas.
Fiquei impressionado e espantado com a forma com que ela extraiu cada gota de agua de dentro daquelas Senecios púrpuras. Isso deu estabilidade à forma daquela ondina, mas se a Cris conseguiu secar aquelas suculentas energizantes, o que ela é capaz de fazer sobre um ser vivo como eu ou como aquela ondina? Ainda mais depois daquela explicação dela sobre a presença de agua nos seres vivos...
A chegada do bobo-da-corte foi uma boa. É necessário delicadeza para ser um alquimista e já que o sem graça possui algum conhecimento de prontos-socorros pela reação dele. Absol escolheu bem. E a ondina ainda é membro da Guarda? (Pelo o quê que ela passou para acabar naquele estado??).
O aviso dele de que havia alguém esperando pela minha Ladina, (Lunna a astronâmini, para ser mais exato) não me agradou nem um pouco. Absol nos levou daquela clareira a pedido da Cris e deixando a ondina com o elfo.
No quarto, a Cris foi desesperada de encontro a agua quente! _riso_ Comecei a guardar as coisas que havíamos levado conosco. Estava quase terminando quando comecei a ouvir passos do lado de fora.
– Algum problema Lunna? – reconheci a voz do sanguessuga na hora.
– Sei que você também está ouvindo a agua caindo Shaula, por isso estou esperando ela acabar o banho! – (essa é a tal da Lunna?) – E se não for muito incomodo, irei entrar sozinha.
– Sozinha?! – (Sozinha?) ouvia a Miiko – Tem certeza disso? Não é melhor que alguém entre junto com você? – (ou que Absol me tire daqui?).
– Totalmente desnecessário. – ?? – Eu sou a única que precisa falar com quem está lá dentro nesse momento. – (isto inclui a mim?) – Tratem de manterem distância da porta após minha entrada! Já bastam as sombras nos espionando...
Eu não sei o que essa mulher aí está planejando, mas acho que ela se referiu ao sanguessuga ao dizer “sombras”, e... Pra onde que o Absol foi? (não sei se é uma boa ideia essa mulher aí me ver...). Acabei entrando no banheiro...
– Tem gente à sua porta. – falei em voz baixa, causando um pequeno susto na Cris.
– Lance?! – ela tentava conter a voz – Você me assustou! Quem está lá fora?
– A sua visita.
– Hein?
– Ela está acompanhada. Do sanguessuga e da Miiko pelo menos, de acordo com as vozes que ouvi. E Absol já deu no pé!
– De deixando para trás? – apenas assenti – Ou ele se esqueceu de você, ou ele não se preocupou com você.
– Das duas eu arrisco a segunda. Mas não me sinto confortável com a ideia dessa tal Lunna entrando aqui sozinha.
– Mas você não disse que ela está acompanhada??
– Eu a ouvi falando que ela era a única que precisava entrar para falar com quem estivesse aqui dentro. Mas eu não sei se ela estava se referindo só a você, ou a mim também, pelas insinuações dela.
– Ai... Você já terminou de arrumar as coisas?
– Quase.
– Pois termine o mais silenciosamente possível e se esconda em seguida. Não sabemos o que exatamente essa mulher quer comigo e, se for seguro você aparecer, você para de se esconder e fica do meu lado.
– De acordo. – declarei.
– Agora, sai logo do banheiro e vai cuidar!
Um riso me escapou. Deixei o banheiro e fui terminar de guardar as coisas, sem fazer qualquer ruído. Absol não aparecia, o que aumentava a minha crença de que ele não se importava de eu estar ou não presente no quarto naquele momento. Quando a Cris deixou o banheiro, eu me escondi imediatamente, com alguém batendo na porta quase que ao mesmo tempo.
Através do espelho da penteadeira, pude assistir a “invasão” daquela mulher (aquele chapéu passou mesmo pela porta??) que fechou e trancou a porta tão rápido quanto entrou. Aquela mulher se apresentou mais ou menos e já foi seguindo para a mesa ao mesmo tempo em que pedia algumas coisas para a minha Ladina. Tendo terminado de arrumar seja lá o quê, sem tirar os olhos do que havia na mesa, ela estendeu o indicador na minha direção de modo a me chamar (ela realmente sabe que eu estou aqui?!?). Estava claro no olhar de minha Ladina, que ela compartilhava da minha preocupação, mas, no momento que percebi que aquela mulher erguia uma Sana Clypeus...Cris 2
Mas que delícia de agua quentinha a daquele chuveiro... Sei que é desperdício de agua, mas a minha vontade era de passar horas debaixo daquele calor aconchegante. No entanto, quando o Lance apareceu dizendo que eu tinha visitas, quase que deixei o sabonete cair das minhas mãos (ainda bem que as cortinas tem efeito embaçante!).
O fato de Absol já ter saído, deixando o Lance para trás, e essa Lunna querer entrar sozinha para falar comigo, me preocupou consideravelmente (o que é que vai me acontecer agora, meu Senhor amado...). Me acertei mais ou menos com o Lance sobre o que faríamos e o mandei terminar de arrumar as coisas do treino de hoje.
Totalmente contra a minha vontade, me apresei para desligar o chuveiro e fui me vestir o mais rápido possível. Lance já estava envolto em suas ilusões quando eu deixei o banheiro, seguindo para detrás do biombo. Bateram na porta quase ao mesmo tempo.
No que eu abri a porta, quase caí para trás com a mulher que entrou com tudo no meu quarto (de onde foi que essa criatura espalhafatosa saiu??). O chapéu que ela tinha na cabeça (não havia uma outra bolsa para ela poder carregar as coisas dela não?) parecia ter o mesmo diâmetro de suas saias, que lembravam muito os vestidos das princesas da Disney. Ela foi rápida até para trancar a porta! Nem tive tempo de espiar quem mais aguardava lá fora com ela.
– Lys de Eldarya?
– O quê?! Oh, ah sim, sou eu. – (trate de se achar dona Cris...) – Mas por favor, me chame de Cris.
– Lunna Vega. – ela me estendeu a mão em cumprimento, que aceitei – Também conhecida como Lunna, a astronâmini. Desculpe aparecer assim do nada, mas é que foi preciso.
– “Preciso”?! Como assim??
– Eu já te explico. Mas antes... – ela observava o quarto – Você teria uma bandeja, prato ou sei lá o quê do tipo que seja bem raso e grande ao mesmo tempo?
Me lembrei de uma bandeja ornamentada de prata que achei linda e resolvi comprar para dar de presente a minha mãe quando fosse para a Terra novamente – Ter, tenho. Mas para quê?
– Apenas me empreste por uns momentos. – ela abria espaço na mesa ao mesmo tempo que tirava algumas coisas daquele chapéu dela – Logo tudo ficará claro como o sol.
Eu não estava muito confiante naquilo tudo, mas peguei a bandeja mesmo assim. Lunna afastou as cadeiras da mesa e organizou várias coisas sobre a mesa. Colocou agua na bandeja que estava posicionada bem a frente dela e pegou um pequeno baú de cima do chapéu que estava cheio de bolinhas que pareciam ser bolinhas de gude verde, mas aparentando ter um pequeno universo dentro delas.
Acho que fiquei apavorada quando ela começou a chamar o Lance com o indicador para perto (mas como? Ela é capaz de ver por trás das ilusões como eu por acaso??). Ele não se mexeu de imediato, mas quando a Lunna ergueu uma daquelas bolinhas... Ele se aproximou sem nenhum temor da mesa (o quê que é isso que ela está segurando??).
– Muito bem. “Extend Angerona potestate. Nos ab invitis auribus diligens abscondite nos a sono.” – declarou ela segurando a bolinha na palma aberta.
Eu não entendi o que ela falou, mas a bolinha começou a brilhar e a crescer depois dela ter pronunciado sei lá o que. Cheguei a querer me afastar daquela esfera que não parava de crescer e de... “engolir” o que ela tocava, mas Lance me impediu. Ele me manteve próxima dele e da mesa. E aquela bolinha só parou de crescer depois dela ter envolvido nós três e a mesa por completo!
– Sana Clypeus. – falava o Lance (Sana o quê?) – Em poucas palavras, um escudo acústico. – explicava ele (caramba!...) – Para a senhora trazer algo desse tipo é porque já pretendia manter algumas coisas em segredo. Pois duvido que ninguém vá tentar espionar essa conversa.
– Exatamente Draco. – (hãm?) Lance também parecia confuso – Na verdade, quem devia estar aqui e agora falando com vocês dois era a minha prima, Melídia Orakel. Também conhecida como Melídia, a suprema.
– Quem?! – Lance se surpreendia – Isso é sério mesmo?!
– Desculpe, mas quem é essa? – perguntei.
– Melídia, a suprema, é simplesmente a única vidente de toda a Eldarya que nunca, mas é nunca, conseguiu errar uma previsão que seja em toda a sua vida!
– Precisamente. – falava a Lunna após a explicação do Lance – Alguns dias atrás, eu recebi a visita do mascote dela me trazendo alguns pedidos dela... Mas cadê? – ela procurava alguma coisa naquele chapéu enorme (só de vê-la já estou com dor no pescoço...) – Ah! Aqui está. – ela entregava um pequeno pergaminho ao Lance que ele lia – Na verdade... A Melídia é filha, do filho, da sobrinha, do neto, do filho, da tia do meu tataratataravô.
– QuÊ?
– E eu sou filha, do filho, do filho, da filha, do filha do meu tataratataravô! – (buguei).
– Vocês tem certeza que são mesmo parentes? – questionava o Lance – E que historia é esse de “Por causa do acordo, não posso deixar minha casa”? E você realmente trouxe todas as coisas pedidas aqui para ela? – terminou ele de questioná-la me apontando com o polegar (pediram para trazer o que para mim?).
– Nós duas também nos surpreendemos ao descobrirmos que éramos parentes! E nós duas utilizamos a Ahnenblut para conferir.
– Anem o quê?
– Ahnenblut. É uma poção arcana utilizada para identificar as ligações sanguíneas entre duas pessoas. A poção geralmente é dourada, mas, ao adicionar uma gota de sangue de duas pessoas que não sabem ou que querem confirmar, se são ou não parentes, fica vermelha para positivo. E negra para negativo. – explicou a Lunna.
– Ah entendi. É como um exame de DNA.
– DNA? – agora sou eu quem precisa explicar à ela...
– Bom, como eu explico... Todos os seres vivos, possuem uma espécie de mapa dentro deles. Mapa esse que carrega toda e qualquer informação sobre o corpo da pessoa: aparência natural, habilidades naturais, propensão à doenças, e antecedentes e descendentes. Geralmente, ele é utilizado para confirmar o tipo de parentesco que existe entre duas pessoas.
– Os humanos conseguem descobrir o tipo de parentesco entre eles?!? – se assustava a Lunna – Até que nível é possível confirmar a ligação sanguínea?
– Não tenho certeza. Mas acho que é menos de 10 gerações. – respondi.
– Pelas estrelas... a ahnenblut consegue identificar até 15 gerações, mas ela só denuncia a ligação! Quem quiser saber o tipo de parentesco, tem que examinar toda a arvore genealógica das pessoas até encontrarem a ligação delas...
– E imagino que não foi nada fácil para vocês duas... – sorria o Lance.
– Ficamos duas semanas estudando isso depois que, em meio a uma conversa da qual nós duas estávamos muito afinadas, decidimos fazer o teste e a poção ficou vermelha... Mas não é por isso que eu estou aqui.
– E é porque então? – estou ficando cansada...
– Para ajudá-la com as suas viagens. – (heim?!?!).
.。.:*♡ Cap.114 ♡*:.。.
Cris
Mas só pode ser brincadeira... Além de quase acabar congelada em meu primeiro treino de terra, agora vou ter que sair passeando por Eldarya? Com um bando de loucos querendo ficar no meu pé?! – Como assim, “minhas viagens”? Viajar para onde?!
– Acho que preciso me explicar melhor...
– Faça-nos o favor, sim. – acabei por pedir.
– A Melídia acabou tendo algumas visões com você Lys, e, por causa dessas visões, era necessário que ela conversasse com você, mas... Ela não pode deixar Apókries mesmo que ela queira! A menos que ela esteja disposta a ariscar toda a segurança garantida que ela ganhou por lá. Você pode questioná-la melhor sobre isso se algum dia se encontrar com ela.
– Prossiga, por favor. – pediu o Lance.
– Certo. Como ela não podia deixar seu lar, ela procurou descobrir quem seria capaz de lhes fornecer a mesma conversa que ela queria estar tendo agora com vocês, no caso, eu.
– Porque você é prima dela?
– Oh, não, minha cara Lys! Acaso já chegaram a lhe explicar o que é um astronâmini? – apenas lhe assenti com a cabeça – Pois bem, além poder realizar previsões por meio das estrelas, durante as regências dos astros ligados à agua, como a de câncer em que estamos passando, também sou boa em previsões através das aguas!
– Por isso a bandeja com agua...
– Exatamente, meu caro Draco! Melídia sabia que eu iria conseguir ter as mesmas visões, ou parte delas, que ela teve relacionas a vocês. E antes que alguém pergunte algo, sim, eu já sabia que o Draco havia trocado de cela. Sem falar que, em várias das leituras que consegui fazer sobre você Lys, o do gelo aqui estava ao seu lado. Inclusive hoje quando me entreguei à Artéria, Titãnide-deusa grega das estrelas, pude ver que vocês dois estavam juntos. – acabei arregalando os olhos para ela – Mas chega de conversa desnecessária.
– Um minuto. Você ainda não explicou que viagens são essas que eu tenho que fazer! Pra onde e quando?
– Sobre o onde e o quando, as aguas nos darão as respostas. Sobre o porquê, pude confirmar com os astros que são viagens que lhe ajudarão a cumprir com mais rapidez o seu dever em Eldarya. Ou seja, essas viagens fazem parte de sua grande missão neste mundo. E eu pude constatar que você está ansiosa para poder voltar a viver de forma livre e despreocupada novamente!
– Não posso negar... – acabei por confessar – A ideia de ter um bando de loucos atrás desses poderes que não esperava realmente ter, me deixa tão insegura quanto a andar sozinha em minha cidade na Terra durante a noite...
– Certo... – Lunna me encarava com compaixão e Lance me abraçava protetoramente por trás – Vamos logo com isso para que você possa voltar a se concentrar no doutrinamento de seus dons. – declarou ela já se concentrando sobre a bandeja d’água. Ela ficou concentrada por uns cinco minutos antes de voltar a falar – Huuuum... Parece que os lugares aos quais você teve ir lhes serão revelados por meio dos sonhos...
– Dos sonhos?? – nós dois questionamos juntos.
– Sim... O lugar lhe aparecerá por meio deles, e... Aquele que lhe servirá de guia em cada um desses lugares, será a dica para saber com certeza aonde você deverá estar indo. Em cada um deles, haverá algo que você precisa ajudar a consertar...
– Ela ao menos terá tempo de terminar de aprender a controlar seus poderes antes de se arriscar fora dos muros?
– Com toda a certeza... – ela parecia observar algo mais atentamente – Sim, ela já terá aprendido. E você está do lado dela em todas as viagens. – (hein?!?!).
– O Lance está comigo??
– O que você viu que me permitiu continuar ao lado dela?
Lunna respirou fundo antes de nos responder, sem nunca sair daquele estado de transi dela – Há um homem totalmente armadurado a seguindo. E apenas nos momentos em que vocês dois estão sozinhos que posso ver que é você por trás da máscara, Draco.
– É isso! – já sei como permitir o Lance me acompanhar para tudo que é lado – Lance, você não havia se passado por outra pessoa quando decidiu se voltar contra Eldarya? Usando máscara e tudo para enganar a todos sobre você?
– Sim, mas... As pessoas não iriam desconfiar se o Ashkore voltasse a andar por Eldarya?
– Nas minhas visões você veste azul e verde ao invés de vermelho... – comentava ela.
– Mesmo assim! Uma hora ou outra alguém pode desconfiar ao não darem falta de ninguém em Eel.
– E se... – minha imaginação trabalhava – Eles tiverem que desconfiar de mais de uma pessoa?
– Como assim?? – os dois me questionavam.
– Lance, para esconder que você não está mais na prisão, o Almir está se passando por você lá. E para esconderem que é ele e não você ali, foi espalhado que ele está em missão em sei lá onde, por não sei quando tempo.
– E?... – ele pedia.
– Se conversarmos com a Miiko, podemos ver com ela outras pessoas que tenha um porte físico semelhante ao seu, e depois espalhar para todos que o meu guardião é na verdade uma dessas outras pessoas que, enquanto você estivesse do meu lado, as mesmas estariam cumprindo missão em algum lugar para ajudar a desorientar quem não pode saber que é você quem vai estar do meu lado!
– Compreendo Lys. O que você está nos sugerindo é criarmos iscas. Chamarizes, para que os inimigos não descubram quem que está ao seu lado.
– Exatamente! O que acha Lance? – ele refletia sobre a minha ideia.
– Realmente... Esse é um plano bem plausível... Mas imagino que teremos de conversar com bem mais gente para isso poder funcionar.
– Logo todos aqueles que poderão ajudar com isso chegará até nós. – declarou a Melídia antes de deixar aquela expressão longínqua – Bom, essas eram as visões que eu precisava estar repassando. Agora vamos às coisas que minha priminha me pediu para lhe entregar e... Mas o que é isso?!? – Se surpreendia ela ao sentir algo enquanto buscava por alguma coisa em seu chapéu – Pelas estrelas, Wazn?! Seu pequeno travesso! Eu não lhe mandei ficar em casa sob os cuidados da Esthela? – ela bronqueava com o pequeno passarinho que apoiava sobre a mesa.
– Mas... qual é o problema desse lovigis? – interrogava o Lance – Onde está o par dele?
– Como? Ah, não... É um erro comum, mas o Wazn não é um lovigis... – Lunna esclarecia – Ele é um Bywink's! Se você prestar bastante atenção, notará diferenças sutis entre ele e um lovigis. Além, claro, do fato dele ser só um e não um par!
Nós dois começamos a observar o passarinho – Os “corações” do corpo dele... – observava o Lance – São todos de uma cor só!
– Correto, Draco. Os lovigis tem corações rosas e azuis em seus corpos, mas o bywink’s tem todos os corações azuis, se for macho como o Wazn, ou rosas se forem fêmeas. Ao contrário do que muita gente acredita, os lovigis não nascem em pares. Eles sempre nascem como casais! Um macho e uma fêmea. Por isso que quando eles se reúnem sempre há a formação do casal.
– Mas como explica o gênero deles? – continuava questionando o Lance e eu só prestava atenção.
– O que acontece é, cada lovigis recém-nascidos tem tendência a seguir a linha de raciocínio da ave mais forte. Se a fêmea for mais forte que o macho, o comportamento do casal será mais feminino, e vice-versa! Mas há mais uma diferença que poucos conseguem perceber entre os lovigis e os bywink’s.
Lance e eu começamos a reparar melhor no passarinho que eu acariciava. E acabei notando um detalhe que havia achado muito fofo quando Anya me ensinou sobre os lovigis – As peninhas douradas dele... Elas não formam um coração!
– Muito bem, Lys! As penas douradas dos bywink’s são duas “gotas” bem separadas!
– Mas como foi que você conseguiu um desses se eles são tão difíceis de diferenciar? – voltava a questionar o Lance.
– Os bywink’s são muito mais raros que os lovigis. O jeito mais fácil de encontrá-los é durante o período de procriação, onde eles se misturam com os lovigis. De cada 15 casais que voam nesse período, somente um ou dois são bywink’s na verdade.
– E foi durante um desses períodos que você conseguiu encontrar esse pequenino aqui ou os pais deles? – perguntei observando o pequeno beber a agua da bandeja.
– Foi. Um bando deles resolveu sobrevoar a minha torre e eu acabei identificando um casal de bywink’s no meio deles. Foi uma das poucas vezes que saí de casa. Segui aquele casalzinho até descobrir onde eles construiriam o seu ninho. Depois de achá-los, tomei para mim um dos três ovos que haviam sido colocados e choquei esse pequenino um dia antes de receber o chimori de Melídia me trazendo as solicitações dela. E era para esse pequeno sem vergonha ter ficado em casa! Não escondido até agora em minha cabeça. Ele teve estar sedento agora pela forma com que está secando a agua da travessa.
Um riso me escapou – O que ele come? Talvez eu tenha da comida dele aqui.
– “Estrelas de açúcar”. Pequenos cristais doces coloridos que lembram a forma de uma estrela. Não são muito fáceis de achar.
– E porque não? – perguntei tomando coragem para atravessar aquela... bolha.
– Essas “estrelas” são na verdade o néctar de uma flor chamada lanceolata que, ao misturar-se ao orvalho sob a luz do sol, cristalizasse no formato de pequenas estrelinhas cuja cor se contrapõe a cor da flor. E antes que me pergunte, na Terra existe uma flor parecida que, se não me engano, se chama estrela-do-egito. E a lanceolata costuma ter as mesmas cores do céu: azul, claro ou escuro; ou laranja avermelhado, ou roxa. Comecei a cultivar algumas em minha casa para ficar mais fácil de alimentar o Wazn.
– Não há nada assim no meio das coisas que Absol lhe trouxe, Ladina.
– Infelizmente... – desistia de atravessar aquela bolha verde – Espero que ele consiga aguentar ficar sem comida mais um pouco...
– Não se preocupe com esse traquina... Ele fica bem. – ela retirava o chapéu finalmente da cabeça (provavelmente para conferir se não havia mais nenhuma surpresa) – Olha só aqui. – ela pegava alguns... cristaizinhos de estrela – O danadinho trouxe comida consigo! Ele só esqueceu da agua... – o riso fugiu de mim e do Lance enquanto Lunna o observava inconformada (esse Wazn é mesmo um sapeca!) – Bom, já que eu retirei o chapéu... Isso é uma poção chamada Mensligo;... – ela começava a tirar as coisas do chapéu e colocar sobre a mesa, dizendo o que era cada coisa – ...a caixinha de Sana Clypeus já está na mesa; e... Ah! – ela largou o chapéu no chão para buscar algo dentro da bolsa dela – E uma adaga de orichalcos.
– Se importa de me explicar pra quê que a poção e a adaga servem?
– E também o porquê dela precisar dessas coisas? – adicionava o Lance (um tanto incomodado).
– Como o Draco já teve ter percebido, a poção está incompleta.
– QuÊ?!
– Ainda lhe falta uma gota de sangue daqueles que irão a utilizar, não estou certo? Com quem que ela vai ter que ligar a mente dela?
– Mas hein? Do que o Lance está falando Lunna? Que historia toda é essa aí?
– _suspiro_ Pelas Zorya... A poção Mensligo, uma poção arcana nível A, é uma poção que permite que duas pessoas tenham suas mentes conectadas, tipo telepatia, por um certo tempo. Ela só fica completa após a adição de uma gota de sangue das duas pessoas que irão se utilizar da poção. O tempo de duração do efeito é: de 4 à 6 horas se apenas um dos dois tomar uma colher de chá, e de 8 à 16 horas se os dois tomarem uma colher de chá cada um. – eu meio que suei frio – Essa poção irá permitir que vocês dois possam conversar entre si sobre coisas que não poderão falar no meio das outras pessoas! O que vai ajudar a manter o disfarce do Draco.
– Não sei se a ideia de ter a Ladina ouvindo cada pensamento meu, e eu os dela, é algo que me agrada...
– Também não estou gostando disso muito não!
– Mas foi a Melídia quem me pediu para lhes trazer isso. O que significa que vocês irão acabar utilizando. Agora... – ela abria o pequeno frasco de líquido vermelho e vapor alaranjado – Tratem de completar logo essa poção, e decidam entre vocês dois quem que vai tomar a dose para que possam compreender os efeitos dela e assim já saberem como deverão reagir ao utilizá-la durante essas viagens! – meio que ordenava ela já nos estendendo uma pequena agulha para cada um.
Lance e eu nos encaramos. E era óbvio que nenhum de nós dois estava querendo concordar com aquilo. Lunna nos apresava e eu acabei sendo a primeira a pegar uma das agulhas. Lance pegou a que era oferecida a ele contrariado. Furamos nossos dedos com as agulhas juntos, colocando-as sujas de nossos sangues dentro do frasco assim como Lunna pedia. Com o agitar e misturar de nossos sangues na poção, o líquido antes vermelho ficou azul furta-cor, e o vapor alaranjado tornou-se dourado (nota mental: vapores dourados significam poções que afetam a mente).
– Muito bem. Qual dos dois irá tomar?... – Lunna balançava a colherzinha que tinha nas mãos apontando-a para mim ou para o Lance.
– Ímpar/par? – sugeria ao Lance.
– Ainda não estou convencido...
– Olha aqui Lance, estou com tanta vontade de beber isso quanto você, e se a gente for mesmo ter que usar essa coisa é melhor colaborar! O quê que vai ser.
– Ímpar, vai!
Tiramos a sorte e a azarada fui eu (mas que maravilha!...). Aquela poção parecia agua colorida no que a observei ao ser colocada na colher, mas na boca... Aquilo tinha uma textura um pouco pegajosa. E o gosto parecia geleia de pimenta com sal. Não deu dois segundos e uma confusão de sons invadiu a minha cabeça.Nevra
Essa tal de Lunna é mais estranha do que eu ouvi falar. Linda! Mas estranha. Logo percebi que ela gostava de apelidar as pessoas, em sua maioria, com nomes de estrelas, mas ela tinha que me apelidar logo de Shaula? Ferrão em árabe?? (que se não me engano é uma das estrelas da constelação de escorpião) Em que sentido ela resolveu me apelidar assim?!?
Ao menos ela me permitiu poder espionar a conversa dela com a Cris, se as indiretas dela me tiver ficado claras. No que a Cris abriu a porta para a Lunna, aquela mulher foi mais rápida do que eu conseguiria ser em uma missão! Que tipo de faery será ela?
– Ei, Nevra! – a Miiko me chamava – Está esperando o quê? Um convite?!
– Me dê só um segundo Miiko. – respondi já me aproximando da fechadura e apurando a minha audição – Espero que tenhamos mesmo entendido certo que só eu tenho a autorização dela para ficar espiando.
– Sem brincadeiras, Nevra. O que elas estão fazendo ou falando?
– Puxa! Não esperava isso de você Kero.
– Nevra está com gracinha. O que acontecer no quarto?
Respirei fundo e comecei a prestar atenção no que acontecia lá dentro – A Luna está pedindo algumas coisas para a Cris. Acho que ela vai tentar alguma coisa durante a conversa.
– Segundo a mensagem que Lunna me mostrou, Melídia pediu a ela que realizasse uma espécie de consulta com a Cris no lugar dela. Talvez... a Lunna esteja se preparando para prever o futuro da Cris ou algo assim?
– É. Pode ser. – continuava observando – Eu não acredito!
– O que aconteceu Nevra?
– A Lunna pretende usar uma sana clypeus!
– QuÊ!? – todos se espantavam e eu acabei boquiaberto ao ver a Lunna chamando o Gelinho para perto das duas (agora está explicado porque só eu podia estar de olho).
– O que mais está acontecendo Nevra?
– Não acho que vá adiantar muito, Miiko. Mesmo uma audição vampírica não consegue atravessar a proteção de uma sana clypeus.
– Minha audição pode ter sido bloqueada, mas minha visão não. Eu ainda posso usar leitura labial aqui Kero.
– E o que elas conversar?
– Se me deixarem me concentrar Jamon, eu lhes repasso o que eu conseguir.
– Não deixe de nos repassar nada do que conseguir. Estão só as duas aí dentro?
– Está a Cris, a Lunna... E o guardião da Cris...
– Então o Absol a está acompanhando? – neguei disfarçadamente para a Miiko a pergunta do Kero (e pelo disparo cardíaco dela, ela ficou tão espantada quanto eu).
– O importante é conseguirmos saber sobre o que acontece aí dentro. Não é só o futuro da Cris que elas estão discutindo, mas de toda a Eldarya!
– Miiko muito nervosa. Nevra, faça logo seu trabalho!
– Já estou fazendo Jamon. Já estou fazendo.
Como a Cris e o Gelinho estavam de costas para mim, eu só conseguia pegar uma parte do que era falado através da Lunna (é sério que Melídia e Lunna só precisaram de duas semanas para descobrirem a arvore genealógica delas após testarem positivo com a Ahnenblut? Fiquei confuso com aquela ligação). Aparentemente a Cris ficou curiosa sobre a sana clypeus... E realmente Lunna pretende prever o futuro da Cris, só que usando a agua.
– Não sabia que Lunna também fazia previsões através das aguas... Faça o possível para não lhe escapar nada, Nevra!
– Estou tentando Miiko... – algum tempo se passou – Como é que é?
– O que houve? – perguntava o Kero.
– O quê que vai nos dizer para onde e quando que a Cris vai em Eldarya, são os próprios sonhos da Cris!
– Nevra brincando conosco?
– Talvez não Jamon. Mas se a Cris for mesmo depender dos sonhos dela, será um problema se ela deixar escapar algo importante...
– Tem como você a ajudar nesse requisito Miiko?
– Eu não sei Kero. Até que existem alguns métodos, mas não sei qual realmente ajudaria a Cris. O que mais está conseguindo pegar, Nevra?
– Hãm... Parece... que a Cris estará acompanhada de alguém a protegendo sem se revelar... Acho que nisso ela vai acabar conversando com você Miiko. – acho que a Miiko assentiu apenas, já que eu não tirava o olho dos lábios de Lunna – E... Ufa! Essas viagens só ocorrerão depois da Cris já ter controle sobre os seus poderes.
– Isso é bom. Mais alguma coisa interessante?
– Espere Kero porque parece que a conversa ainda tem chão. – acabei deixando um riso escapar quando a Lunna descobriu seu mascote escondido no chapéu.
– O que acontecer? O que ser engraçado?
– A Lunna teve uma surpresa inesperada entre os seus pertences. ... Kero, Miiko, algum de vocês já chegou a ouvir falar no mascote bywink’s?
– Eu já. – respondia o Kero – É muito raro e, pelas minhas pesquisas, ele é muito parecido com os lovigis.
– Já eu nunca ouvi falar. Porque perguntou sobre isso Nevra?
– Porque a Lunna tem um, Miiko. E que se escondeu no chapéu dela até agora. – acho que todos acabaram ao menos sorrindo depois dessa pelo o que eu ouvi – A Lunna trouxe algumas coisas para a Cris a pedido da Melídia. Incluindo uma caixinha cheia de sanas clypeus.
– E o que Lunna trazer mais para a Cris?
– Hum... Uma poção... e uma adaga de orichalcos. – claro que eu ocultei o tipo de poção que Lunna trouxera (uma mensligo?!?!) – Parece que a Lunna está querendo que a Cris teste a poção agora. Mas pelo o que estou percebendo... a Cris não está muito afim...
– Que tipo de poção, Nevra?
– Melhor ver com elas Kero! Parece que é uma poção arcana, do que eu estou entendendo.
– Tá. Ok. Algo mais? – pedia-me a Miiko. Fiquei prestando atenção.
– Parece que a Cris aceitou fazer o teste...
– Espero que a Cris fique bem...
– Todos nós estamos torcendo para isso Miiko. – (concordo plenamente Kero).Lance
Com uma sana clypeus ativa, não havia motivos para me preocupar com o sanguessuga espionando. Afinal, a audição dele fica inútil! A tal da Lunna começou a explicar as intensões dela e eu quase não acreditei naquela lista de coisas que a Melídia lhe pediu para dar à minha Ladina por meio daquela mensagem (mas o que é que aquela vidente viu afinal??).
Essa historia de que a Cris só irá saber pra onde ela terá que viajar através dos sonhos dela, me preocupou um pouco, mas... como haverá uma maneira de eu poder permanecer ao lado dela para poder lhe cuidar... (tenho quase certeza que vão colocar aquela purreka das roupas para ajudarem com isso). A explicação sobre o bywink's ajudou a descontrair um pouco, no entanto, aquelas coisas não podiam ficar sem explicação.
As sanas clypeus realmente poderão ser úteis, e a adaga de orichalcos (também conhecida como “Lâmina Novata”) será de grande ajuda para a Cris desenvolver os seus poderes. Mas uma poção Mensligo?!? (ao menos quem irá compartilhar o uso sou eu, mas, mesmo assim...) Eu não me sentia nada confortável com a ideia de ter a Ladina ouvindo cada pensamento meu (e seria seguro eu ficar ouvindo os dela?).
Depois que a Lunna terminou de explicar sobre a poção, nem eu e nem a Ladina estávamos muito interessados em completar a mensligo, e muito menos a ser o primeiro a testar aquela poção. No final, não só concluímos a poção, como também tiramos a sorte para ver quem seria a “vítima” a testá-la. Nunca usei essa poção antes, não são muitos os que concordam com o uso dela, e fiquei meio que aliviado por não ser eu o primeiro a conhecer o gosto daquele líquido.
Instantes depois da Cris ter tomado a dose da poção, comecei a ouvir uma verdadeira algazarra dentro da minha cabeça (a mente da minha Ladina é tão ativa assim?!) e se eu fechava os meus olhos, parecia que eu estava vendo vários vídeos ao mesmo tempo (por tudo que é divindade!).
– Cris! Pelo amor de seu Deus, acalme esses pensamentos! – implorava.
– E acaso eu sou a única que está precisando fazer isso? Eu pensei que só eu tinha a cabeça cheia!
– Acalmem-se vocês dois, minhas estrelas. – conseguia meio que distinguir a astronâmini dizendo – Tentem se acalmar da mesma forma que vocês fazem quando estão meditando.
Tanto eu quanto a minha Ladina respiramos fundo e tentamos fazer o que ela pedia. Demorou um pouco, mas devagar a bagunça da minha cabeça se acalmava. E de acordo as coisas ficavam mais tranquilas, mais fácil também ficava de distinguir aqueles pensamentos que não me pertenciam (e alguns pensamentos eram bem... constrangedores). E imagino que algo similar acontecia com a minha Ladina pelo corar dela.
– Muito bem. Tentem manterem esse estado de espírito mental para conseguirem aprender a lidar com os efeitos da poção. Assim, quando decidirem a usar nessas viagens, saberão o que fazer para manterem a mensligo em segredo.
– Quanto tempo ela tem de duração mesmo?
– De quatro à seis horas, Lys. Te aconselho a tomar cuidado com os seus pensamentos Draco!
Não gostei muito do que ela me ordenava (queria poder dar um tapa nela...). E acabei ganhando uma cotovelada nas costelas da minha Ladina – Porque fez isso?! – perguntei massageando o local.
– Não ouse erguer um dedo que seja contra ninguém! Estou sendo bem clara? – (conseguiu ouvir as minhas intensões?!? - “O que você acha?”) pude ouvi-la falar em minha mente (já estou odiando essa poção...) – Se você é capaz de ver e ouvir os meus pensamentos do mesmo jeito que estou vendo e ouvindo os seus... Então somos dois!
– Ok. Sem discussões agora. – Lunna chamava a nossa atenção – Deixem para resolverem os problemas pessoais depois que eu terminar de explicar tudo e concluirmos todas as conversas importantes comigo.
– As bolinhas cósmicas verdes você já explicou. As sanas clypeus...
– Sim. Agora falta eu lhe falar sobre a adaga de orichalcos.
– Como conseguiu uma? – a questionei – Essas adagas não são fáceis de se obter. Elas até chegaram a ser um dos primeiros prêmios oferecidos nas competições entre guardas quando existiam!
– Recebi essa adaga como pagamento de uma hamadríade por uma de minhas previsões, Draco. – ela sorria (...).
– Mas... As hamadríades não são ninfas que não podem se afastar de suas arvores? Pensei que você havia tido que não costuma sair de sua Torre...
– Eu não costumo sair Lys, mas quando a necessidade é alta eu saio. Principalmente se houver um excelente pagamento pelos meus serviços...
(“interesseira?”) pude ouvir a Ladina meio que dizer na minha cabeça, e eu meio que posso concordar.
– Bom, como o Draco mesmo comentou, não é lá muito fácil adquirir uma adaga desse material e há uma grande razão. O orichalcos é um metal extremamente difícil de se trabalhar e ele também possui uma característica mística pra lá de útil para usuários de magia e controle de maana.
– Que característica?
– O orichalcos, em quantia suficiente e trabalhado para o formato de lâmina, tem a propriedade de regular e permitir fluir o poder de uma pessoa com mais facilidade. – acabei falando – Pessoas que estejam no começo da aprendizagem do controle de seus poderes naturais ou de poderes adquiridos se beneficiam muito com este tipo de equipamento, por isso que também é conhecida como “Lâmina Novata” esta adaga.
– Isso quer dizer... – a Cris pegava na adaga para observa-la com mais atenção – Que se eu tiver uma dessas durante os meus próximos treinos... Não vou mais precisar ficar perto de estar congelada para conseguir?!
– Exatamente Lys! Gostou dela?
(“Ai daquele que se atrever a roubar de mim...”) um calafrio me percorreu toda a espinha (Ei! Você sabe que eu estou ouvindo os seus pensamentos, certo? - “Isso também vale pra você, Lance.” - O quão assustadora você pode se tornar se irritada? - “Nem queira saber, dragão. Nem queira saber...”) voltei a suar frio.
– Eh... Há mais alguma coisa que você precisa entregar para ela? Ou é só essas três coisas mesmo?
– Hum... – ela batia o indicador direito no rosto, apoiando o cotovelo na outra mão – Não. O que eu tinha de entregar à ela era só isso mesmo. Melhor abrir a porta, não?
– Abrir a porta?!? – nos surpreendemos juntos.
.。.:*♡ Cap.115 ♡*:.。.
Ēnukungi
Após o consentimento do Mestre da Ēnukungi, Eralco deu alguns dias para que todos os interessados em elaborar algum plano para capturar a Lys de Eldarya e os outros dragões e aengels de Eldarya, montassem suas sugestões. E havia chegado o dia de cada um expor o que conseguiram elaborar.
– Então estes serão os planos que tentaremos... – eles conversavam entre si depois de avaliarem cada ideia apresentada e aceita por todos.
– Nenhum deles tem 100% de garantia, mas se ao menos um funcionar... – o Mestre apenas observava a reunião feita sem impor nada sobre sua opinião em relação a cada uma daquelas ideias (que ele enxergava mais defeitos do que desejava).
– Novidades! – entrava alguém que ajudava na área de mensagens – A astronâmini Lunna está em Eel para falar com a Lys!!
– Como?!?! – todos, incluindo o Mestre, se espantavam.
– Cada um de nossos malsins está enviando uma mensagem alertando sobre isso! – entregava ele sobre a mesa as mensagens recebidas.
– É verdade... – examinava Eralco uma das mensagens, com o Mestre pegando uma outra para si e imaginando o que tal acontecimento poderia significar (ninguém da Ēnukungi tinha conhecimento da relação de Lunna e Melídia) – Segundo tudo isso, Lunna deixou bem claro que precisava conversar com a Lys de Eldarya e com a Miiko Mazushi, mas não deixou nenhuma pista sobre o quê que precisava conversar com elas...
– Rapaz. – o Mestre se fazia presente na conversa – Mande cada um enviar tudo o que conseguirem descobrir sobre isso o mais breve possível. E que não esqueçam de nenhum detalhe! Pois essa visita pode fazer toda a diferença nos planos deles. – ordenava o Mestre ao encapuzado, apontando para os reunidos na mesa de estratégias.
– Como ordenar Mestre. – se prontificou o rapaz, deixando a sala.Ezarel
Aquele black-dog... Esse foi um dos piores sustos que já levei até agora. Mas ao menos a Marine finalmente retornou, apesar do estado dela. Já estava cansado de ter que fazer eu mesmo as poções arcanas de nível B para baixo, no entanto, o que raios aconteceu para essa ondina acabar em um estado tão deplorável? (E é melhor eu tomar mais cuidado ao provocar a Paladina, fiquei horrorizado com o estado daquelas senecios púrpuras! Parece que ela tem uma desenvoltura parecida com a da Marine no que se refere à agua)
Após fornecer uma poção de revitalização própria para ondinas que produzi na mesma hora para a Marine, tomei-a nos braços com aqueles três retornando para o QG por meio do poder de Absol. (Ainda não acredito que a Lunna já havia previsto isso... Aquela... O que ela é mesmo?) _recordando da Norns Visdom enquanto continua o caminho para a enfermaria_.
– ... Bom, vejamos: a Lunna nã... _trava na voz_ Hum... A Lunna é mestiça. – (essa poção é mesmo algo desconfortável) – Ok. Agora... Quais são as descendências dela? É mais de duas raças? Não. – !?! – Seus pais são de raça pura cada um? Sim. – (Puxa!) – Hãm... A Lunna é uma astronâmini, então, a raça dela tem relação ao tipo de poder dela. Os poderes dela estão ligados com a noite? Não. _suspiro_ Ok. Nesse caso, a ligação seria a luz então? Sim. – (ótimo. Não há muitas raças ligadas à luz) – Certo. Aengel não tem como ela ser, o que nos leva às... fadas talvez? Quase. – !! – Quase? Então ela é parte ninfa? Ninfa da luz?! Correto. – (a Paladina deve ter ficado pra lá de confusa com o poder da poção da verdade, porque eu estou embasbacado!) – Muito bem, uma raça descoberta. – (que com toda a certeza é a mãe dela) – Agora vamos a outra. Ehh... Também é uma raça ligada diretamente à luz? Não. – ... – A um elemento então. Sim. ... Um elemento puro? Sim. – acabei encarando a Marine que carregava com o máximo de cuidado possível e o mais rápido que conseguia andar naquela situação. Será que... – O pai de Lunna é um ondina? Sim. _chocado_.
Inacreditável. Quase travei no lugar ao ter chutado certo logo de cara, mediante tantas opções que eu poderia ter imaginado. A luz e a agua se combinam e muito! Não é à toa que aquela mulher é tão boa no que faz. E aposto que ela deve conseguir fazer previsões por meio das aguas também já que ela compreende a astrologia e é filha de um ondina.
Me demorei um pouco mais do que desejava para conseguir atravessar os portões de entrada (existe alguma maneira daquele símbolo ser impresso na “pele” de um ondina?), mas fiz o possível para compensar esse tempo no resto do caminho até a enfermaria. Quando entrei, Ewelein pareceu se assustar tanto quanto eu.
– Marine?! Pelo Oráculo! O que aconteceu com ela?!? Ponha-a na agua, depressa!
– Tem certeza? A Paladina e eu a ajudamos um pouco, mas, é mesmo seguro colocá-la nesse estado? A Marine não vai acabar se fundindo à agua?
– Quem é que se especializou em medicina aqui? Eu ou você? – não retruquei mais e coloquei a Marine dentro da agua com cuidado – Me diz: O que você sabe sobre o estado dela até agora? Quem a encontrou primeiro? Como que você e a Cris a socorreram? – questionava-me ela já examinando a Marine.
– Quem a encontrou foi a Paladina e o Gelinho, foi por isso que o Absol me raptou do nada. Ao que entendi, a Paladina arrancou cada gota de agua de dentro das senecios púrpuras que haviam por perto e a lançou sobre a Marine. – Ewelein me encarou espantada por um minuto – Acho que a habilidade aquática da Paladina é semelhante à de Marine.
– Certo. E você? O que fez?
– Criei uma poção de revitalização própria para ela no mesmo instante em que a reconheci e lhe dei. Depois me pus a caminho daqui o mais rápido possível, já mandando a Cris e o Gelinho voltarem para cá por causa da Lunna. Ela já foi atrás da Paladina?
– Sim, ela já foi. E é ótimo que a Marine tenha finalmente retornado, afinal... – ela pegava algumas medicações que ajeitava sobre a bancada – Marine é a única em Eel capaz de completar os treinamentos de agua da Cris.
– Como?? E aquela lista de quase 20 nomes que o Leiftan criou?
– Lunna usou um encantamento que apenas a Benelli conseguiu compreender para reduzir o número de nomes. Só restou dois e o da Marine é um deles. Agora eu entendi o porquê dela ter tido que você havia sido convocado logo depois de Absol o levar daquele jeito.
– Que eu fui o quê?! Aquela meio ninfa, meio ondina... – Ewelein apena me encarou confusa – A caminho daqui, acabei curioso sobre a raça dela e decidi me aproveitar que ela praticamente me obrigou a dividir a bebida com ela, para meio que estudar o funcionamento da poção Norns visdom.
– E com isso conseguiu descobrir que ela é mestiça de ninfa e ondina?!
– Ninfa da luz e ondina. – Ewelein ficou boquiaberta, mas sem parar o que fazia – Onde ela está agora?
– Após Lunna alterar a lista de professores da Cris, ela se dirigiu para o topo da Torre na intenção de conversar em particular com a Cris. Alguns a seguiu como a Miiko e o Nevra por exemplo, mas outros retornaram às suas tarefas como eu. A poção que vocês dois tomaram ainda vai durar muito?
– Eu preparei aquilo de modo a durar duas horas, mas como tive de tomar metade, cada um está incapacitado de mentir por uma hora pelo menos. Quanto tempo já se passou desde que bebemos da poção?
– Acho que uns quarenta minutos depois que você bebeu. E a Lunna bebeu uns dois minutos depois de você.
– Pelo menos 20min. para mim, e 22min. para ela. – ela apenas concordou com a cabeça, sem parar de tratar a Marine – Acho que vou até lá em cima para ver o que está acontecendo... Avise quando a Marine estiver bem outra vez. Só assim poderemos descobrir o que foi que aconteceu com ela.
– Pode deixar. – respondeu ela enquanto eu passava pela porta.
Mal fechei a porta da enfermaria e me impressionei de ver o black-dog acompanhando a mercenária da Purriry, carregando o que parecia ser o material de trabalho da purreka.
– Purriry? – questionei parando aqueles dois – Aonde vai acompanhada do Absol?
– Miau, parrrece que meus talentos da alta-costura se fazem necessários para a Cris. – declarava ela meio que convencida.
– Então eu acho que fiz bem em preparar uma refeição para cinco ou seis. – declarava o Karuto quase me causando uma ruptura no coração.
– Que quer dizer com “uma refeição para cinco ou seis”?
– A Rainha está acompanhada da Lunna lá em cima, certo? Não creio que esteja só as duas no quarto agora.
– Miau, não tive a chance de poder ver a Lunna... Minha loja estava lotada hoje! Até o Absol precisou esperar.
– Até o...? – encarei o black-dog que revirava os olhos e “suspirava” em seguida.
– Se vocês vêm, andem logo! – Karuto chamava a atenção já seguindo caminho, acompanhado do Absol. Purriry e eu nos apressamos em segui-los.
Durante o caminho, a Purriry ronronava; o Karuto cantarolava; e até o black-dog parecia contente! (haja paciência...) Não via a hora de chegarmos logo lá em cima, e quando chegamos... Fiquei pasmo com o que víamos.
– O quê que você está fazendo morcego? E com todos lhe permitindo?! – bronqueava o Karuto que surpreendeu a todos.
– Nevra fazendo leitura labial para sabermos o que Lunna e Cris conversam. – respondia o Jamon – Foi Lunna que permitiu.
– Miau, e só ouvir não bastava? Quanta indelicadeza para com o quarto de uma dama... – declarou a Purriry meio indignada.
– Se a Lunna não tivesse se utilizado de uma sana clypeus para esconder a conversa, não teríamos feito assim. – explicou a Miiko.
– Espera. – interrompi – Se elas estão usando uma esfera silenciadora, como que vocês podem dizer que a Lunna autorizou que vocês soubessem da conversa? – questionei aqueles quatro.
– Antes de Lunna poder entrar,... – falava o Keroshane – ...ela nos disse que queria entrar sozinha e, que “bastavam as sombras espionando a conversa”. Foi disso que concluímos que o Nevra era o único que podia estar conseguindo ficar simultaneamente a par da conversa. Mas Nevra, você não havia tido que o Absol estava lá dentro?
– Não vi Absol saindo do quarto. – respondeu ele (acaso o Gelinho está participando da conversa?).
– Sim. – acabou me escapando. E que surpreendeu alguns.
– “Sim”, o quê, Ezarel?
– Efeito da poção Miiko. Me fiz uma pergunta e a resposta saiu sem que eu quisesse. – (sendo uma reação inesperada para mim. Então não é necessariamente preciso fazer a pergunta em voz alta. Bom saber).
– Oh, a poção da verdade. Ela é mesmo uma poção poderosa! Miau.
– E-e-eu pensei q-que a Norns visdom e-era um segredo da, da Reluzente!...
– Trate de ficar calmo Kero. – falei.
– Ezarel está certo, meu caro unicórnio, miau. Descobri sobre a existência dessa poção enquanto tratava de negócios com ele. E troquei um pouco da poção arcana por alguns descontos.
– Descontos?? Que descontos?!
– Tive todas as minhas dívidas com os purrekos cortadas pela metade Miiko! – falei antes que a felina comentasse sobre a redução no preço de cada frasco (eu guardei esses descontos para mim, mas se a Miiko descobre... E o meu castigo ainda não acabou!)
– Ah, tá. – _aliviado_ – Mas o uso dessa poção está sendo exclusiva para os purrekos, Purriry? – questionava a Miiko.
– Mas é claro! Se Purroy ou algum outro alquimista de nosso meio pudesse reproduzir poções arcanas, nós já estaríamos fornecendo a Norns visdom para clientes pré-selecionados. – (acho que com “pré-selecionados” ela se refere ao mercado negro ou pessoas podres de ricas) – E só utilizamos a poção para circunstâncias particulares da sociedade purreka.
– Compreendo Purriry. Então acredito estar certa em pensar que fora os purrekos e o Karuto, “ninguém” que não pertence a Reluzente tem conhecimento da existência de uma legíitima poção da verdade, não é mesmo?
– Miau, até onde eu sei, sim.
– Certo todo mundo. Eu vim aqui para trazer a refeição da Rainha, elas já terminaram de conversar morcego? Já se livraram do encantamento para impedir que ouvissem a conversa?
– Ainda nã... Como?! – Nevra começou a se afastar da porta.
– O-o que aconteceu Nevra? – Kero perguntou na frente de todos.
Não foi preciso esperar que o Nevra nos respondesse, pois a porta foi aberta quase que imediatamente depois.Cris
Mal a Lunna deu a ideia de abrir a porta, e ela estalou os dedos fazendo aquela esfera verde que nos cercava estilhaçar-se como algo de vidro que quebra dentro da casa do vizinho do outro lado da rua, desaparecendo no ar como um vapor que se dissipa.
– Vai lá Lys! E pode permanecer no mesmo lugar, Draco. – meio que ordenava ela.
Eu até que tentei retrucar, mas ela apenas me apresou a fazê-lo. Estava receosa de abrir a porta, temendo que alguém que não soubesse do Lance estivesse do outro lado e acabasse o vendo. E no que abri a porta, meus medos estavam meio que certos.
– Minha nossa! O que todos vocês fazem parados em minha porta?
– Os líderes, a modista e o cozinheiro podem entrar! O resto, se manda! – declarava a Lunna.
– Oh, bem. Já que é assim... – Miiko parecia sem jeito – Kero, Jamon, vocês podem descer e cuidarem de seus afazeres normais. Após tudo estar acertado aqui dentro reunimos a Reluzente para repassar o que for necessário.
– Tudo bem, Miiko. Vamos Jamon. Uma boa noite para você Cris.
– Obrigada Kero. Até mais Jamon. – os dois me sorriram e se foram pelo corredor – Ham... Entrem né! – liberava a passagem para todos eles. Notei que, assim como o Lance que coçava a cabeça, todos pareciam meio sem jeito (tirando a Lunna que sorria com simpatia). Quando Absol entrou por último, fiquei surpresa – O que é isso que você está carregando Absol?
– Minhas ferramentas de trabalho, miau. – ???? – Não me olhe desse jeito, Cris. Absol apareceu do nada em minha loja, já segurando minha maleta. Lhe questionei se acaso você estarrria precisando de meus dons e o black-dog assentiu. Como a minha loja estava lo-ta-ta hoje, não pude vir de imediato, miau.
Fiquei boquiaberta, Absol saiu para buscar a Purriry e ainda a ficou esperando?
– Agora ficou explicado porque que só o Nevra podia espionar o conversa daqui de dentro... Eu não teria conseguido disfarçar que era o Lance e não o Absol quem lhes fazia companhia. – declarava a Miiko – Sem falar do uso das sanas clypeus.
– Deixarei a Lys com uma caixa delas. Tenho certeza que elas serão bastante úteis no futuro, mas... Por todas as divindades estelares, estou faminta!
– Hehehe, trouxe comida para bastante gente! – Karuto esvaziava a sacola que carregava sobre a mesa, com Lunna e Lance ajudando a liberá-la – Espero que minha comida lhe agrade madame.
– Só por esse cheiro maravilhoso sei sem consultar qualquer estrela que vou apreciar muito a sua comida!
– Hehe. Muito me agrada ouvir isso madame. Trate de me trazer as vasilhas vazias depois Nevra!
– Não se preocupe. Absol pode cuidar disso sem problemas.
– Eu disse você! Morcego atrevido. Ainda não admito o que eu vi quando cheguei lá fora.
– E o que foi que você viu? – perguntava o Lance.
– Como nem todos dos que aguardavam lá fora por vocês sabia de você Lance e, que sanas clypeus foram utilizadas, o Nevra ficou fazendo leitura labial para que pudéssemos saber um pouco sobre o que vocês conversavam. – explicava a Miiko. Isso me surpreendeu (Nevra tem mais talentos do que eu podia esperar!), mas o Lance não me pareceu muito contente com isso.
– Imagino que você só tenha conseguido utilizar essa técnica com a astronâmini aqui. – Lance parecia um pouco nervoso.
– Você e a Cris se mantiveram de costas para a porta o tempo todo. Óbvio que a Lunna, que estava de frente para a porta, era a única que me forneceria alguma coisa.
– Ok vocês dois, nada de discussões inúteis aqui, por favor. – interrompi aqueles dois – Vamos comer e depois tratamos do que nos interessa.
– Miau... Eu até que aceitaria seu plano Cris, mas eu ainda tenho muito o que fazer e não estou com fome, então... Se puderrr me contar em que exatamente sou necessária...
– Precisamos de uma armadura para o Draco. – falava a Lunna apontando o polegar para o Lance e comendo um pedaço de fruta em seguida – Uma que o esconda totalmente das pessoas... _termina de engolir_ E que lhe permita acompanhar a Lys para cima e para baixo, protegendo-a sem problemas em qualquer circunstância. Consegue algo assim, minha cara modista?
– Se eu consigo? Miau! Eu vou amar fazer esse trabalho! Arranque logo essa camisa Lance, para que eu possa tirar suas medidas e trabalhar o mais rápido possível!
– Espera. Como assim deixá-lo ficar acompanhando a Cris por tudo que é lugar? – perguntava o Ezarel.
Enquanto a Purriry arrastava o Lance para perto da poltrona em que ela subiu para alcançar as medidas mais altas dele, Lunna e eu explicamos mais ou menos tudo o que a astronâmini viu, e a ideia que eu tive para conseguir colocar tudo aquilo em prática.
– Não há muitas pessoas cujo porte se assemelhe ao do Lance... – comentava a Miiko – Mas não posso negar que essa é uma ótima ideia para despistar qualquer um sobre o Lance ao seu lado.
– E por qual nome iremos nos referir à ele?
– Qual o problema de só o chamarmos de “guardião”, Ezarel? – perguntei.
– Primeiro, porque se não dermos um jeito na voz dele, alguns poderão desconfiar. Segundo... porque estou morrendo de vontade de poder usar o apelido que você e Anya deram a ele, sem o risco de apanhar dele!
– Como é que é?!
– Fique quieto dragão! Ou não consigo tirar suas medidas direito! – bronqueava a Purriry que se equilibrava nas costas da poltrona para alcançar a cabeça dele – Uma armadura versátil normal já não é algo fácil de criar, e uma com tantas exigências é mais complicado ainda! E duvido que você esteja disposto a usar uma armadura desconfortável 24hs por dia, 7 dias por semana. Ou está?
– Termine logo com isso. – (“antes que eu resolva quebrar a cara desse elfo convencido...”) o Lance está mesmo irritado...
Passou-se um tempinho e o Karuto já havia se retirado. Terminei de explicar tudo no que se refere ao Lance e essas minhas viagens que eu teria de fazer. Faltava pouco para terminarmos de comer quando Purriry terminou de anotar todas as medidas de que precisava.
– Sua armadura pode me ser trabalhosa, miau. – ela recolhia seus materiais – Mas irei trabalhá-la com muito gosto... Ei Cris! Você resistiu por quanto tempo a esse Apolo aqui?
Eu e mais qualquer um que estava bebendo na hora, acabamos nos engasgando. Acho que virei um tomate com o comentário daquela felina, e quase não pude encarar o Lance que parecia tão envergonhado quanto eu (sem falar da imagem do Lance sob a aparência de uma divindade grega em minha mente... tomara que ele não veja isso! - “Tarde demais” - _suando frio_ POR FAVOR, TENTE ESQUECER ISSO! - “Não precisa gritar! Mas vai ser um pouco difícil lhe atender esse pedido” - Socorro meu Deus...).
– Eu sou mais bonito... – Ezarel e Nevra acabaram falando em uníssono. Ficando ambos vermelhos ao se darem conta do que haviam tido juntos.
– Será que são mesmo?! – Lunna parecia animada.
– Va-vamos voltar ao que interessa aqui sim? – pedia a Miiko extremamente vermelha – Você disse que confiou à Cris uma adaga de orichalcos, uma caixa de sanas clypeus e uma poção arcana a pedido de Melídia? Que tipo de poção, Lunna?
– Hum... Porque não pergunta à Lys e ao Draco, Joia Negra? E elfo encantado, a sua poção ainda vai durar muito? Como sabemos que o efeito dela já acabou?
– Tente mentir! Se conseguir é porque o efeito acabou. – explicava o Ezarel – Se bem... que se já tiver passado uma hora desde o momento em que você a tomou, o efeito já terá acabado com certeza.
– Não sou fã de mentiras, e só se passou 58min. se muito depois que dividi a bebida com você, então vou esperar mais um pouco para ter a certeza que não serei forçada a dizer nada que eu não deva.
– Que quer dizer Lunna?
– Você sabe melhor do que eu como o silêncio pode ser importante, meu caro Shaula. – (shaula??) – E tenho certeza que a Lys compreende como é fácil alguém alterar o futuro. Por isso... Há coisas que eu simplesmente não posso revelar no momento. Ou as coisas podem se tornar complicadas pela frente.
(“Do que essa maluca está falando?” - Depois eu lhe explico Lance) – Miiko, vamos deixar a historia da poção de lado por enquanto. O que eu pretendo mesmo é me concentrar em terminar os meus treinos. E Ezarel, o que foi que aconteceu com a Marine? Ela já está bem?
– O QuÊ?! – a Miiko e o Nevra se espantavam (qual o problema deles? - “Vai ver é porque eles não esperavam pelo retorno da ondina. Lembra que o bobo-da-corte disse que ela estava sumida há um bom tempo?” - Verdade...).
– A deixei sob os cuidados da Ewelein. Pedi que ela avisasse quando Marine estiver bem, e Nevra, é bom você esperar ela estar pelo menos 90% antes de fazer o seu trabalho com ela! Se não fosse pela Paladina e por mim, ela estaria morta.
– Como assim? O que foi que aconteceu com ela?
– Não sabemos. – respondia o Lance.
Lance e eu explicamos para todos a forma e a condição em que encontramos a ondina, com Ezarel explicando a parte dele logo em seguida. E a Marine pode ser capaz de me ajudar com o meu aperfeiçoamento sobre a agua?! Acho que eu gostei, mas preciso esperar para saber se ela estaria ou não de acordo com isso.
– Ok, Ez. Passarei mais tarde na enfermaria para confirmar com a Ewelein se ela tem alguma estimativa de quando poderei conversar com a Marine. Ela realmente esteve fora por muito tempo! E para retornar em um estado desses... Por coisa boa que ela não passou.
– Acho... que podemos todos ir atrás de descanso agora. – Miiko começava a reunir as vasilhas vazias, reunindo o que deixamos para o Lance em uma vasilha só – Acredito que já tenhamos um quarto disponível para você passar essa noite Lunna e...
– Vou dormir por aqui. – declarou a astronâmini (“Não, não, não, não, NÃO! Por favor Ladina... Não deixe não!...”).
– Ham... Não que eu esteja reclamando Lunna, mas... Porque no meu quarto? – Lance não era o único pego de surpresa.
– Wazn? Onde você está?! – ela chamava o pequeno bywink's que começou a piar em resposta, mas onde que ele estava?
– Seu pequeno pestinha. Sai já daí! – reclamava o Lance para... E não é que o danadinho resolveu se aninhar no dossel da minha cama! – Tem ideia do trabalho que é limpar isso daí? Cai fora!
– Lamento informar Draco, mas o Wazn só vai sair daí quando o dia amanhecer ou se o dossel pegar fogo. E onde esse arteiro ficar... Eu fico também! – (“Nem pensar que abro mão da cama!” - Lance! Comporte-se!) o Lance estava inquieto (“Já sei!”).
– Miiko! Não tem como você criar uma ilusão para fazê-lo acreditar que o tecido está em chamas? Kitsunes são capazes disso, certo?
– B-bem, sim, mas, apenas kitsunes com pelo menos cinco caudas são capazes de utilizar o poder da ilusão. E elas só são verdadeiramente convincentes se a kitsune for portadora de pelo menos sete caudas... – a Miiko declarou aquilo meio que triste consigo mesma (“Mulher-raposa inútil.” - Lance!)
– Esfria a cabeça Draco. Tenho uma cama de viagens em minha bolsa, então você pode ficar tranquilo na cama. Pode ficar abraçado à Lys o quanto quiser enquanto dorme que eu não estou nem aí...Lance
Não esperava que o sanguessuga fosse capaz de poder saber da conversa mesmo com uma sana clypeus em uso (vampiro inconveniente. - “Não está de tudo errado...”), mas ao menos eu fiquei seguro dos que ainda não sabem de mim. E aquela purreka parecia querer tentar tirar uma lasca de mim durante algumas das medições dela (volta pro inferno de onde saiu, sua purreka! - “Tá querendo que eu lhe deixe na poltrona hoje como punição é?” - Diz isso porque não é você nas mãos dessa criatura - “E acaso você irá fazer pessoalmente a sua armadura? Com que ferramentas? Purriry é a única costureira em toda a Eldarya que sabe a verdade sobre você, e ela já é gente demais!” - Não posso negar...).
Não via a hora de me livrar daquela imitação de costureira (e a Negra nem aparece para me dar algumas respostas... - “Quem é Negra?”). Droga... Porcaria de poção! (é a vidente que me contata telepaticamente quando ela quer. - “Ah... Gosta dela?” - Vivo morrendo de vontade de dar ao menos um soco naquela criatura irritante! - “Oook... Não toco mais no assunto.”) Foi mal Ladina.
Quando finalmente fiquei livre da felina, não esperava por uma pergunta daquelas. Não tinha como eu não ficar sem graça com aquilo e ao ver o que a minha Ladina imaginou quando fechei os meus olhos... Ao menos não sou o único que precisa tomar cuidado com essa poção (essa mensligo ainda vai nos dar muita dor de cabeça... - “Para dizer o mínimo, não é?” - _suspiro_ É). E Afrodite que me perdoe, mas ela nem chega aos pés de minha Ladina.
Estava um pouco ansioso para poder ficar sozinho com a Cris e assim conversarmos mais sobre a poção, mas a maluca das estrelas tinha que declarar que ficaria aqui à noite?? Eu praticamente me desesperei! E não demorei nem um pouco para perceber o esconderijo que o pestinha havia escolhido para si. E a Miiko tinha que ser inútil quando eu mais precisava dela? Porcaria...
– De qualquer forma Lance, vem logo comer o seu e tomar um banho em seguida. Isso se você realmente quiser dormir em minha cama hoje.
– Se importam se eu tomar um banho também? Minha viagem de casa até aqui foi realmente longa...
– Tudo bem Lunna, precisa de alguma coisa para o seu banho?
– Oh, não Lys. Tenho tudo em minha bolsa. E pode relaxar Draco, que amanhã mesmo, depois do café da manhã é claro, eu volto para minha casa. Sente-se melhor assim?
– Eu não tenho muita escolha, tenho? – sentava-me para começar a comer o meu jantar.
– Quer realmente saber?! – aquela “disposição” dela me dá calafrios...
– Não. Vá logo pro chuveiro ou use os banheiros públicos para se lavar.
– Miau, estou indo agora. Avisarei vocês imediatamente quando a armadura ficar pronta. – declarou a purreka já passando a porta.
– Ai droga. Esquecemos de avisar a Purriry sobre as cores da armadura!
– Fique tranquila Lys... Isso é desnecessário.
– Como pode ter tanta certeza?
– Simples, meu caro Shaula. Eu não analisei apenas uma linha de tempo, mas várias delas! E em todas, as cores usadas pelo Draco, são sempre as mes-mas.
– Linhas de tempo?
Tanto a Lunna quanto a Cris forneceram as explicações sobre o assunto (não esperava que você soubesse tanto sobre “futuros”, Ladina. - “Sei bastante coisa porque são curiosidades que adiquiri, mas não tenho nenhum conhecimento aprofundado. Só o básico mesmo.” - Ainda assim, Ladina. Ainda assim).
O excesso de gente saiu e a astronâmini foi para o banho dela. Terminei de comer o meu e ainda tive de aguardar uma meia hora para poder tomar banho (“Doce...” - Como é? - “Meus doces acabaram... Estou com vontade de comer doce.” - Acabou de comer e já quer mais? - “Não estou falando de frutas adoçadas, estou falando de doce, doce! Da Terra de preferência...”) acabei fechando os olhos por um instante, mas os reabri quase imediatamente. Ela estava com a imagem de dezenas de doces “brilhando” na cabeça dela!
– E o que exatamente você está querendo comer?
– Aaaaaiiii... Um bolo de chocolate com recheio de frutas, ou um pavê de frutas e chocolate feitos pela a minha mãe... Torta de limão com merengue... Croissant de chocolate... Trufas variadas... Pão-de-mel recheado com brigadeiro ou beijinho... Sorvete de flocos, sensação, de bombom, passas ao rum, abacaxi ao vinho, chocomenta e sei lá mais quais sabores mais acompanhados de caldas também de vários sabores e coberturas de granola, frutas picadas, granulados, biscoitos e...
– Chega, chega! – pra cada doce que ela mencionava uma imagem apetitosa daquilo lhe aparecia na mente, me atiçando também – Tente pensar em alguma outra coisa porque você está me fazendo babar! – ela choramingava igual um mascote – Pense... em algo de sal! Quem sabe assim não lhe diminua a vontade de comer um doce.
– De sal... – essa não – De sal também há coisas que estou com vontade de comer... – por favor, nã... – A torta de frango que a minha mãe faz... – ai – Pão de batata recheado com requeijão... Frango frito acompanhado de polenta e batata fritas... Pizza x-tudo... Rodízio de sushi... Lasanha de molho branco... Um mec ou um king... Risoto de pêra com castanhas!... Arro...
– Para, para, para Ladina! Você está me fazendo babar! Não me torture assim, por favor...
.。.:*♡ Cap.116 ♡*:.。.
Lance
Apesar de ter pedido para a Ladina parar de pensar em todos aqueles pratos, ela só parou de pronunciá-los. Não podia fechar os olhos que a desagradável imagem de um apetitoso prato me era visível na mente. Nem sei quantas vezes tive de engolir a agua acumulada na boca! (Porque você está me torturando assim Ladina... - “Já que eu estou com vontade de comer essas coisas, vou deixá-lo com vontade também como punição pelo seu mau comportamento. Entendidos?” - Você é cruel... - “E você? Além de querer ficar agredindo quem aparece aqui para me ajudar, ainda fez pouco da Miiko só porque ela não podia ajudá-lo do jeito que você queria.” - Reconheço minha falta...).
Fiz como pude para comer e tomar o meu banho fazendo de tudo para nem piscar os olhos. Eu praticamente evitei de encarar aquela astronâmini que não queria no quarto, mas quando acabei colocando meus olhos nela, tenho certeza que o sanguessuga ia estar segurando a baba.
(“Trate de manter o seu woolapiyou na areia! Sabe muito bem que não tenho nada parecido com o que a Lunna está vestindo, então pare de me imaginar vestida como ela!” - E se eu pedir para a Purriry se por acaso ela aparecer aqui? - “C-como?!”) pude ver minha Ladina vermelhinha sentada na cama (Tiro do meu bolso! Seria um... Presente de Dia dos Amores, que tal? - “Tenho medo do que você me pediria como presente...”) _sorriso safado/amoroso_.
“Constrangimentos” à parte, minha Ladina continuou pensando em comida. De modo que eu precisei pedir a ela que tomasse da poção do sono feita pelo bobo-da-corte para que tanto ela quanto eu dormíssemos em paz (vamos ter que estudar os efeitos da mensligo em outro dia... - “E de preferência em um dia que fique só nós dois mesmo, assim você não pensa maldades.” - Seus castigos são cruéis, então vou fazer o possível para não merecê-los. - “Nenhum de nós é santo, e se você ao menos conseguir evitar pensamentos injustos durante o efeito da mensligo, já fico grata.”)
Lunna dormiu sobre um colchonete aparentemente bem confortável, o que me fez crer que a bolsa dela possuía algum feitiço de expansão para que ela pudesse carregar bem mais coisas com ela, estendido aonde estava a poltrona. O mascote dela não abandonou o dossel em momento algum e, mesmo depois de ter tomado da poção para dormir, não deixei de sonhar com inúmeras guloseimas e belas refeições... Meu travesseiro estava todo molhado quando eu acordei! Tenho que dar um jeito nessa vontade da Ladina.
Como o dia já estava para amanhecer, levantei-me o mais silenciosamente possível e escrevi um recadinho para o cozinheiro. Confessando à ele o tipo de poção que a Lunna nos entregou e a vontade torturante que a Ladina me fez passar junto com ela.
– Ei, Absol. – acordava o black-dog baixinho – Absol, acorda por favor. – ele só me abriu um olho, incomodado por eu chamá-lo, imagino eu – Absol, eu nunca lhe pedi nada, mas isso aqui é pela Cris. Entrega essa mensagem pro Karuto para mim. – ele me encarou um tanto desconfiado – Te imploro! _mãos juntas em oração_.
Acho que isso bastou, pois o black-dog soltou um suspiro; pegou minha mensagem com a boca, e sumiu mergulhando nas sombras (espero que o sátiro me socorra...). Observando minha Ladina dormir, reparei que ela também babava (se eu soubesse o que me aconteceria... também teria dormido com uma toalha sobre o travesseiro).Karuto
Fiquei super contente de saber que a Marine finalmente retornou ao QG, apesar da situação física dela. Ela sempre me ajudou a aproveitar cada grama de tudo na cozinha, evitando o desperdício ao máximo! E eu ainda dou uma lição naquele atrevido do Nevra... Nada justifica ele ficar espionando a minha Rainha pela fechadura. Aposto que no dia em que o Absol não o deixou se aproximar da porta para espioná-los, era o mesmo em que a Rainha me disse ter experimentado as roupas intimas novas, com o Gelinho se denunciando em vez de se manter calado por a ter espiado (conhecendo o morcego, a Cris nunca sequer iria suspeitar que ele o teria feito se o black-dog tivesse lhe permitido aproximação). Será que eu consigo deixar o meu “mingau” ainda mais intragável, porém saudável? Ele sempre me foi um ótimo castigo...
Se não é eu nesse QG... _suspiro_. Levantei-me para mais um longo dia de trabalho. Lavei o rosto, arrumei a cama, e hora de ir para a cozinha. Separei as facas e panelas que utilizaria no preparo do desjejum de todos, e segui para o salão para baixar as cadeiras e limpar as mesas. Depois foi ir direto para a despensa e pegar os ingredientes necessários para preparar o que decidi enquanto arrumava o salão.
Eu andei estudando bastante aqueles livros culinários que o pessoal me trouxe de presente. E tive várias ideias para adaptar os alimentos de Eldarya às receitas que eu li e que me interessaram. Até estou planejando algumas experiências baseadas em algumas das técnicas ensinadas em um dos livros! Hehehe... Vou deixar essa gente babando pela minha comida (e vou superar a mãe da Rainha! Apesar... de eu ter vontade de experimentar a comida da tal Helena. O pessoal que foi pra Terra ficou elogiando demais a comida daquela mulher!). Ainda terminava de colocar os ingredientes sobre a mesa quando o Absol resolveu aparecer.
– Bom dia pra você, Absol. Resolveu aparecer bem cedo hoje! Ainda não preparei nada para você entregar ao lagarto de gelo pra mim. – ele meio que choramingou, me fazendo prestar mais atenção nele, e reparei que ele tinha algo na boca – Tem algo para mim hoje? O que seria?
Absol se aproximou da mesa e me entregou o pergaminho que tinha consigo. Me sentei para ler.
“Oh grande e magnifico cozinheiro!...” – quem é que já está me puxando o saco tão cedo?? – “... Imploro por sua misericórdia em nome de todos os deuses a quem você venera e ao amor que tem por sua Rainha. Por favor, prepare para a Cris algo digno de ser a sobremesa de um banquete divino! Não me importo de receber apenas um pedaço de pão duro no desjejum como pagamento por tão precioso favor que lhe peço. ...”
– Essa mensagem é do lagarto de gelo, Absol? – questionei o black-dog ao interromper minha leitura para mim mesmo, e Absol me assentiu _boquiaberto_.
“... E antes que você me negue este pedido, deixe-me explicar o porquê de eu fazê-lo. Como você já deve estar sabendo, aquela astronâmini maluca, a Lunna, entregou para a nossa Lys uma poção arcana a pedido da prima dela, a Melídia. Mas... nenhum de nós três revelou que poção era essa para ninguém, porém, para que você compreenda o meu desespero terei que confessar isso ao senhor: a poção é uma mensligo, uma poção que permite que duas pessoas possam ser capazes de se comunicarem telepaticamente por um certo período de tempo. ...” – comunicação telepática?!? – “... A mando da Lunna, nós tomamos a dose mínima para conferirmos o funcionamento da poção. Não estávamos conseguindo esconder pensamento algum um do outro...” – odiei essa poção – “... Nós dois até que estávamos nos virando mais ou menos para podermos compreender o funcionamento da mensligo, mas... Como os doces da Cris acabaram, ela começou a ficar com vontade de comer um. E foi onde começou a minha tortura...” – hehehehe, acho que já sei onde o Gelinho quer chegar – “... Eu não podia nem mesmo piscar os meus olhos que eu acabava deslumbrando a imagem de um prato mais atiçador que o outro! Nós dois só conseguimos fechar os olhos para dormir com o auxílio de uma poção do sono, e mesmo assim, não parei de sonhar com doces e salgados que me fizeram despertar sobre um travesseiro afogado de baba...” – _pequena gargalhada contida_ – “... Mediante de tudo isso, eu lhe suplico, oh grande e magnifico cozinheiro, ofereça à minha princesa e rainha sua o mais doce, suave e sublime manjar dos deuses, ou o mais saboroso, aprazível e apetitoso lanche divino que só o senhor, Karuto, o Grande, é capaz de cozinhar. Lhe serei eternamente grato se poder atender ao pedido desse humilde sofredor.
Ass: (odeio esse apelido) Gelinho.”
Ri até quase perder o fôlego ao terminar de ler. Não existe tortura pior do que a de alguém que gosta de comer, falar e mostrar sobre as mais variadas delícias que não pode consumir, e deixar a outra babando sem poder provar nenhuma delas! (A Rainha sabe mesmo ser cruel quando quer, hehehe). Já que o Gelinho estava tão disposto a ficar sem um café da manhã propriamente dito, apenas para que eu matasse parte do desejo edaz da Rainha, acho que posso ajudá-lo um pouco.
Peguei meu caderno de anotações, onde escrevia algumas das ideias culinárias que tive, para confirmar o que seria melhor e se eu tinha tudo o que precisava. Juntei o que havia e questionei Absol se ele me conseguiria o que ainda faltava. Ele encontrou tudo!
– Agora prepare-se Rainha... _enrolando as mangas_ Você nunca experimentou ou conseguirá experimentar um café da manhã como o de hoje, hehehe...Lance 2
Logo o sol iria se mostrar. Já, já minha Ladina desperta. Mas foi a astronâmini quem despertou primeiro.
– Hum!... _espreguiçando-se_ Bom dia, Draco! Dormiu bem?
– Graças à mensligo, só não tive uma das piores noites de minha vida porque tomei uma poção do sono.
– Ai. Por Artéria, sinto muito por isso. Mas você e a Lys precisam aprender a como utilizar a mensligo discretamente, pois ela realmente vai lhes salvar mais pra frente. E mais de uma vez! Pode ter certeza!
– Quando que o pestinha vai sair de lá de cima? – encarava o dossel.
– Quando ele acordar, tenho certeza que ele irá direto para o meu chapéu. A comida que ele escondeu para ele me acompanhar cladestinamente ainda está lá.
– Como consegue carregar tanta coisa na cabeça? E não é mais prático guardar tudo nessa sua bolsa? – observava-a recolher o leito dela.
– Talvez. Mas algumas coisas precisavam estar ao alcance da mão, e imagino que você já tenha percebido que isso não seria tão fácil de ocorrer dentro da minha bolsa.
– O quanto maior por dentro ela é se comparado ao lado de fora?
– Umas 15x, Draco. – (quinze vezes!?!?!) – E ela também tem um encantamento que a faz parecer ter um terço do peso que realmente tem. – então é por isso que ela consegue carregar com tanta facilidade – A Semente Negra da Oráculo não tem lhe aparecido, não é mesmo.
– O qu... – até isso ela sabe?!
– Não se preocupe. Logo ela volta a lhe perturbar e deixar escapar algumas informações para você. Tem quanto tempo que Absol saiu?
– Uns trinta minutos mais ou menos, por quê?
– Mantenha-se fazendo sombra sobre a mesa e vai descobrir. – essa Lunna até parece a Negra... – Vai entrar no banheiro agora?
– Não.
– Estou indo me arrumar então. Relaxe Draco! Daqui a pouco você se livra de mim! Sem falar que, graças à adaga que eu trouxe para a Lys, o frio de lá de fora não será um problema por muito tempo, não concorda?
– Realmente. – a respondia de frente à mesa vazia enquanto ela entrava no banheiro – O inverno pode estar perto do fim, mas ainda está muito frio para a Cris.
Ela começou a cantarolar baixo no banheiro e continuei a fazer sombra na mesa. Quase cinco minutos depois, uma mensagem aparecia por umbracinese sobre a mesa. Peguei o papel para ler.
“Como vai o sofredor esfomeado?!...” – é do bode – “... Preciso que você preencha a mesa toda com uma sombra. Me lembro perfeitamente do tamanho dela e já preparei tudo para que os três tomem o café da manhã. Já fui informado que a Lunna passou a noite com vocês, e que você não gostou nem um pouco, hehe. ...” – não gostar é eufemismo... – “... Ande logo que Absol está esperando e o que está quente não pode esfriar.”
Como me transformar iria ocupar espaço demais no quarto, corri para pegar uma das cobertas do armário e a usei para conseguir a grande sombra de que necessitava. Como era Absol quem iria enviar a comida, então com toda a certeza ele saberia quando tudo estivesse pronto. Não passou nem mesmo um minuto e várias maravilhas emergiam sobre a mesa. Só parei de fornecer sombra para a mesa depois que Absol surgiu ao lado da mesa.
– Que cheiro maravilhoso é esse?!Cris
Aquela vontade imensa que resolveu me dar ontem à noite foi mesmo cruel (ao menos não sofri sozinha!), passei a noite sonhando com tortas, sushis, sobremesas, docinhos, saladas, risotos, frituras, enfim, todos os tipos de maravilhas da cozinha que eu pudesse imaginar. Não seria surpresa nenhuma acordar numa poça de baba.
Agora. O que eu não esperava, era despertar sentindo um monte de perfumes que faziam questão de convidar meu estômago para perto – Que cheiro maravilhoso é esse?! – me levantava vendo o Lance se aproximar da mesa, apoiando um cobertor em uma das cadeiras – O que foi que você aprontou Lance? E... – me surpreendi com a mesa posta – E que mesa mais linda é essa!?! _boca enchendo d’água_.
– Fiz um pedido ao cozinheiro por causa de ontem à noite. Espero que ele tenha conseguido lhe abrandar um pouco da sua vontade agora.
– Lance você é um amor! – acabei lhe beijando a bochecha – Muitissísimo obrigada! Já podemos comer?! – sentei-me já tentando escolher o que provava primeiro.
– Lunna está no banheiro, mas se não estiver afim de esperar por ela...
– Eu já estou aqui, Draco. – assustei-me de leve com a Lunna que puxava uma cadeira para si – Vamos todos agradecer ao divino e comer. Essa mesa está mesmo bem apetitosa.
Nos sentamos; rezei em voz alta a oração que sempre faço antes das refeições (pelo menos antes do almoço e do jantar), e começamos a comer. Acompanhando o leite do qual eu não abro mão, Karuto havia preparado: salada de frutas com mel, chocolate e granola; omelete (creio eu) de legumes; pão de batata recheado com catupiry!; “tapioca” com recheio sensação (morango com chocolate) ou frios (presunto e queijo); suco de abacaxi com laranja e... Aquilo é bolo quente com sorvete!?
– Pelas Zorya! Esse cozinheiro é incrível! É uma maravilha melhor que a outra!
– Verdade. – Lance falava de boca cheia – Nunca provei nada tão saboroso assim!
– Lance, te amo. Graças a você estou tendo o melhor café da manhã de toda a minha vida! Vai pedir a Absol para entregar uma mensagem de agradecimento; prefere que eu mesma repasse, ou acha melhor agradecer pessoalmente quando lhe for possível?
– Todas as opções. – me respondeu ele sorrindo amorosamente – E vê-la feliz desse jeito me faz sentir-me ainda mais grato à ele. – acho que corei um pouquinho...
Continuamos com a refeição e Lunna nos repassava mais alguns conselhos sobre os meus treinamentos, futuras viagens, e uso das coisas que ela me presenteou. Consumido até o último farelo daquele café maravilhoso, me arrumei para descer acompanhada da Lunna, enquanto Lance arrumava o quarto.
Chegando na cozinha, não me contive. Eu praticamente pulei no Karuto! – ObrigadaobrigadaobrigadaOBRIGAAADAAAA!!!
– Wow! Hehehe, imagino que isso significa que você gostou da surpresa. Resolveu parte do seu problema?
– Você é o melhor sátiro cozinheiro do universo! – _beijo estalado na bochecha_ – Foi o café da manhã mais incrível de minha vida! Ah,... – me aproximei de seu ouvido – ...e o Gelinho também lhe está bastante agradecido.
– Hehehe, já recebi um recado de agradecimento dele através de Absol. E você madame? A refeição estava de seu agrado?
– Se estava de meu agrado?! – eu descia dos braços do Karuto – Por todas as estrelas do céu e por todos os mistérios das aguas! Eu já cheguei a participar de alguns banquetes privilegiados, mas nada. Mas é nada! Conseguiu chegar perto de todo prazer que foi o festim que degustei lá em cima. – o sorriso do Karuto mal estava cabendo no rosto.
– Tudo bem se eu souber a razão de tantos elogios ao cozinheiro? – Nevra surgia, se apoiando no balcão – Bom dia belas damas! Bom dia mestre-cuca.
– Hunf, estava bem dizer perfeito até você aparecer morcego.
– Nossa Karuto... Eu só vim pegar o meu café de manhã e fiquei curioso com a razão de tanta alegria na cozinha... O que eu fiz para merecer tanta desfeita?
– Quer a lista por ordem alfabética ou cronológica? – Karuto questionava enquanto pegava o café do Nevra (xiiiii...) – Pegue e coma tudo! – ordenou ele entregando uma tigela de mingau para o vampiro.
– Eh... mingau? – até a Lunna acabou tendo um arrepio ao ver o prato entregue – Por... qual razão mesmo?
– Não importa se houve consentimento ou não. Nunca mais se atreva a espiar o quarto da Rainha! E era para você ter comido isso no jantar de ontem também, mas como eu estava ausente da cozinha na hora em que você veio pegar o jantar, isto será a sua refeição o dia in-tei-ro!
– Droga... Sabia que eu teria problemas ao ter conseguido jantar corretamente... – nem eu e nem a Lunna conseguimos nos impedir de rir do Nevra.
– Venha Rainha, vamos por mãos à obra. – convidava-me o Karuto com afeição – Vai treinar mais cedo hoje também? – (encarar o “frigorifico” hoje de novo?!).
– Eh...
– Vá sem medo Lys! – me encorajava a Lunna – Vai ver como o orichalcos vai lhe beneficiar e muito.
– Se você diz... Então tudo bem Lunna. Bora trabalhar Karuto?!
Ele apenas deu um riso como resposta, já assumindo o fogão. Nevra ficou conversando com a Lunna, e não demorou para a Miiko se juntar à eles. Algumas pessoas chegaram a tentar querer ver a sua sorte com ela, mas a Lunna deixou implicitamente claro que só faria isso mediante um pagamento que ela considerasse justo (ainda bem que o meu caso era de graça! ... Foi de graça, não foi?).
Aproximada a hora do almoço, eu me preparava para levar o meu e o do Lance para o quarto quando a Lunna voltou a se aproximar de mim.
– Lys, minha querida, deixe-me despedir-me de você agora.
– Mas não vai nem almoçar, madame? – perguntava o Karuto meio que entristecido.
– E ficar sem uma refeição divina?! Pelas minhas estrelas, não! Quero me despedir dela agora porque sei que não a verei mais hoje. – ela me segurava as mãos (com eu sentindo ela colocar alguma coisa em uma delas) – É apenas por isso, meu caro Botein. – Karuto não respondeu nada, apenas assentiu com a cabeça sem expressão. Acho que, assim como eu, ele deve ter ficado um tanto confuso com o apelido (o que será que Botein significa?) – Agora Lys, rezo por todas as estrelas pelo seu sucesso. Tanto em seus treinos, quanto em suas viagens. Sei que, apesar de todas as dificuldades que estão por lhe vir, você vai ter sucesso em sua missão.
– Obrigada Lunna. Mas o que fo...
– Shii! – me interrompia ela de questionar sobre o que tinha nas mãos – O Gelinho te espera! Bom apetite e verá o quanto que meus presentinhos lhe auxiliará hoje.
– Tudo bem. Mais uma vez, obrigada Lunna.
– Que o divino lhe guarde e rege sempre, Lys querida. – terminou ela me abraçando.
Karuto me entregou a sacola com os almoços (em que eu coloquei disfarçadamente o pergaminho que tinha nas mãos) e eu corri para o quarto.
– Liberada mais cedo de novo? Se a razão for os treinos, ainda bem que você tem aquela adaga agora.
– E não é só isso... – pegava o papel para ver do que se tratava.
– O que tem aí? – ele me via desenrolá-lo.
– Eu não sei. Lunna me impediu de questionar na frente dos outros. Sem falar que ela o entregou a mim sem ninguém perceber. – terminei de abrir e... tinha que estar na língua original?!
– Isso só pode ser brincadeira...
– O quê? Já sabe o que é isso aqui?
– A receita da mensligo. – como?! – Ela realmente parece querer que usemos essa coisa... Deixe eu destruir esse papel.
– Nem pensar! – protegi o papel.
– E porque não? Quer realmente ficar usando essa coisa direto?
– Também não, né! Mas vai que a poção acabe realmente nos salvando. Não é melhor ter como obter mais nós mesmos sem ninguém ficar sabendo?
– Talvez. E se ela não acabar não nos ajudando em nada?
– Façamos o seguinte Lance; se até o acabar do frasco pronto de mensligo, essa poção não nos ajudar em nada... Aí destruímos essa receita. Porém, se o oposto ocorrer, e a mensligo se fazer útil... Acabada, temos a receita para mais. De acordo assim?
– Pode ser... Mas onde vai guardar isso? Sem esquecer que poções arcanas tem um preparo complicado.
– Deixe eu ver... Já sei. Vou manter essa receita guardada dentro dos meus grimórios. Assim ninguém mexe e se o uso dessa receita for necessária, nós dois trabalhamos juntos na fabricação. Problema resolvido?
– Guarde logo isso e vamos almoçar.
Acabei por sorrir. Ajeitei a receita no meu grimório aengel e fui almoçar. Ainda não estava muito confortável com a ideia de retomar o treino de ontem (minha pele ainda está sensível por causa do frio que encarei), mas me pergunto: essa adaga... ela vai mesmo mudar as coisas?Lance 3
O Karuto foi além do que eu pedi. Aquela comida toda estava incrível! Mas o melhor mesmo foi ver a alegria da Ladina ao degustar tudo aquilo. Foi Absol que enviou a louça de volta para a cozinha (junto de um bilhete de agradecimento). Cuidei de tudo após ser deixado sozinho e ainda conferi se o porcariazinha não fez muita sujeira no dossel, que graças aos deuses, estava limpo.
Absol parecia mais interessado em ficar no quarto hoje. Deitado sobre o sol que entrava e movendo lentamente a cauda. O sossego dele acabou me contagiando, de modo que não tinha qualquer interesse de fazer meus exercícios de rotina. Se eu decidisse meditar, era arriscado eu acabar dormindo.
Não existia formas de melhorar os planos de treino da Cris no momento, e eu não estava muito afim de estudar sobre a terra hoje, então... Acabei pegando um dos livros da Cris para ler, um que parecia ter um dragão azul como capa (e que tinha mais três livros como continuação da historia, tendo cada um a imagem de um dragão diferente como capa). No meio da historia, pude começar a entender de onde que a minha Ladina aprendeu os truques de fala dela (será só esta coleção ou há mais livros que ensinam a usar as palavras nessas prateleiras?). Só abandonei temporariamente a leitura com a chegada dela.
O quanto mais de problemas que aquela astronâmini maluca pode querer me causar... Ela realmente deu a receita da mensligo para a Cris?!? A Ladina pode até ter me convencido a guardar aquilo, mas rezo para não terminarmos de usar nem mesmo o frasco que aquela louca nos deixou. Durante a refeição, minha Princesa parecia um pouco distraída.
– Algum problema com a comida? Porque pra mim ela está tão incrível quanto o café da manhã de hoje! – acabei a questionando.
– Que nada! A comida está realmente magnifica. ...
– Então o que é que está mantendo sua mente em sei lá onde?
– Hum... Lunna meio que sugeriu para eu retomar o treino de ontem, mas...
– Mas... O quê? – ela não está nem um pouco interessada em retornar para o frio, ao que percebo.
– Essa adaga que ela me deu, ela realmente vai fazer muita diferença hoje? Ainda estou meio que dolorida de ontem...
– Acredite em mim Ladina,... – segurei-lhe carinhosamente as mãos – ...de todas as coisas que ela fez e lhe deixou neste quarto, as únicas pelo qual agradeço, é essa adaga e o meio de poder me manter ao seu lado fora daqui. Vai por mim, essa Lâmina Novata lhe veio na melhor de todas as horas.
– Você parece bem confiante com esse orichalcos... – ela sorria triste – Me diz, há outras formas de se utilizar esse... metal verde, ou ele só é útil na forma de adaga?
– Há outras formas. E a forma que é dada ao orichalcos altera seus efeitos sob o portador dele.
– Me conte por favor. – a curiosidade brilhava em seus olhos _sorriso_.
– Bem, como já foi explicado, o orichalcos em forma de lâmina, lhe permite assumir um melhor controle sobre a sua própria energia e lhe facilitar o controle ou o adquirir de poderes.
– Certo. E quais são os outros formatos? E como cada um é capaz de influenciar?
– Deixe eu ver... Se você o utilizar sob a forma de fragmentos encrustados em uma bola de pedra, o orichalcos neutraliza os seus poderes, de forma que você não consegue usá-los. Mas há um limite para a quantia de poder que cada fragmento consegue anular. Quanto maior a bola e mais fragmentos incrustados, maior a quantia de poder que pode ser neutralizada por ele.
– Imagino que esse uso esteja reservado para prisioneiros perigosos, não? Chegaram a colocar algo desse tipo em você antes de acabar na prisão?
– Assim que eu desmaiei durante aquela guerra ao ter todo o meu poder roubado...
– Oi?!
– Um outro dia, quem sabe, eu lhe conto mais. – (odeio me lembrar desse dia!).
– Hum... Tá bom. Existem mais usos para o orichalcos?
– Sim. Uma esfera de orichalcos é capaz de funcionar como... um escudo para se esconder.
– Como assim?
– Diferente das algemas, as esferas escondem o seu poder de todo mundo, mas você não fica incapacitada de utilizá-los. Eles não são neutralizados, são ocultados. E... Bem que aquela maluca podia ter lhe trazido uma dessas junto da adaga...
– _risinho_ Realmente!... Há mais algum uso?
– Dentre os mais relevantes? Só mais um que eu não sei bem como é feito e... acho que quase ninguém sabe também!...
– Que seria...
– Se você utilizar os formatos corretos, e na combinação certa, o orichalcos é capaz de ampliar os seus poderes em 100%.
– Eu posso ter o meu poder dobrado por ele?! Que formatos e combinações seriam essas?!?
– Não sei ao certo. Mas ouvi boatos que é uma combinação de joias. – ela ficou boquiaberta – Bom, o que acha de terminarmos de comer logo e reiniciarmos o nosso treino o mais rápido possível?
Ela apenas soltou um suspiro e voltamos a comer quase em silêncio. Ela não parecia mais enrolar com o prato, mas ainda parecia distante. Enquanto ela se arrumava, depois de eu terminar de juntar tudo que levaríamos, resolvi ficar dando uma olhada na cidade. Pude ver aquela astronâmini espalhafatosa se preparando para partir de Eel montada em um garloze (e que não volte nunca mais!). O “pégaso” noturno levantou voo sem cerimonias, mas ele parecia brincar um pouco no ar antes de realmente se mandar. Tomei um choque quando eles passaram diante da janela! E com aquela maluca me acenando em despedida!! A Cris não chegou a ver aquilo. Ela só deixou o banheiro quando aqueles dois, ou melhor, aqueles três (já ia me esquecendo do pirralhinho que fez a maluca passar a noite no quarto) já haviam sumido de vista.
Absol nos levou para a clareira novamente. E outra vez, a Ladina deu trabalho para remover as suas roupas. Mas dessa vez... O treino avança!
.。.:*♡ Cap.117 ♡*:.。.
Cris
Tomara que essa faca me ajude mesmo a não ter mais que encarar todo esse frio – Não precisa me ajudar Lance. Consigo tirar sozinha as minhas roupas para esse treino torturante.
– E que parecerá ainda mais torturante se você continuar demorando desse jeito para ficar apenas com o mínimo sobre o corpo. Vamos lá Ladina...
Não podia discordar, eu estava fazendo o máximo para me manter vestida e ele tinha a razão: quanto mais eu demorasse para começar, mais difícil seria encarar aquilo tudo. Fiquei finalmente apenas de roupa íntima e aquela camisola medieval (porém em estilo muito mais moderno (renda)) como proteção contra o frio. Posicionei-me sobre a pedra e questionei o Lance assim que ele me estendeu a lâmina – O que exatamente tenho que fazer com essa faca para ela me ajudar?
– Se concentre normalmente no que você precisa fazer, segurando a adaga com as duas mãos, e com a ponta reta para baixo. – ele me ajudava a segurá-la corretamente – O orichalcos irá guiar a sua energia para que você alcance o seu objetivo com mais facilidade. Depois que você conseguir “enxergar” tudo, estando bem vestida, poderemos tentar sem o uso dela. Seu corpo já terá aprendido a como guiar sua energia corretamente quando chegar nesse ponto.
– E eu farei o quê quando chegar nesse ponto?
– Só vamos ter que trabalhar a sua força sobre essa habilidade depois. E também...
– O que...?
– _suspiro_ Vai ser a hora de você começar seus treinos com o meu irmão e o sanguessuga...
Choraminguei. Posicionada, respirei bem fundo e comecei a tentar me concentrar. Meu corpo ainda tremia inteiro por causa do frio. Ontem, tudo o que eu via era a escuridão que o fechar dos meus olhos me permitia enxergar. Sendo que lá no finalzinho da tarde, tenho quase a certeza que pude perceber uma claridade um pouco maior do que me era possível perceber ao manter meus olhos fechados.
Talvez seja por causa da adaga, mas aos poucos, o frio deixava de me incomodar tanto. Notava melhor quando Lance me tocava para me aquecer e, após um bom tempo nesse estado de... total entrega ao nada. Comecei a “enxergar” os passos de algo próximo.
Não sei se era eu que estava conseguindo me assimilar com o ambiente da clareira, ou se era a minha audição que estava ficando mais sensível hoje, mas uma coisa era certa: finalmente comecei a entender o que o Lance me pedia para fazer. Ainda era um pouco devagar, mas bem aos pouquinhos, eu conseguia “ver” cada vez mais detalhes do que tinha ao meu redor.
Quando o Lance declarou fim do treino de hoje (o tempo já passou?) olhei imediatamente para o lado que me pareceu ter alguém quase às minhas costas. E de fato, Absol estava lá.
– E aí? Em quanto tempo você acha que irá conseguir dominar isso com a ajuda da Lâmina Novata?
– Eu... eu não sei Lance, mas...
– O que você conseguiu “enxergar” dessa vez. O frio lhe incomodou menos do que ontem? – ele me entregava as minhas roupas e pegava a adaga para que eu pudesse me vestir.
– Sim, o incômodo foi menor. Até consegui perceber direito quando você me aquecia. E... sobre o que eu “enxerguei”, acho que pude perceber o Absol se movendo na clareira.
– Por isso que foi logo olhando diretamente para onde ele estava?
– Sim. – ele me ajudava a terminar de vestir – Queria ter certeza que não era um engano. Isso significa que eu estou conseguindo?
– Significa que você está finalmente dando os primeiros passos. Você só terá conseguido a assimilação com a terra quando for capaz de “enxergar” até mesmo as raízes das plantas que estão por baixo da terra.
– Iiihh... Então vai demoraaar... – rimos.
Terminei de pôr minhas roupas; comemos o nosso lanche; Absol nos levou de volta; e fui atrás do meu banho quente.Nevra
Com um melhor esclarecimento sobre tudo o que eu havia conseguido captar com a leitura labial, e com uma análise melhor da situação, todos nós deixamos aqueles três sozinhos no quarto (e confesso que é divertido assistir o desespero do Gelinho diante da ideia de dividir o quarto com mais alguém além da Cris). Levei quase toda a louça utilizada na merenda que Karuto deixou no quarto (porque que é tão raro a Cris jantar de verdade...?) para a cozinha e aproveitei para pedir o meu jantar. Fiquei contente de poder pegar uma comida decente, mas... fiquei com um mal pressentimento ao devolver o meu prato vazio.
Deixei o salão e fui direto para a enfermaria atrás da Marine. Pelo o quê aqueles três repassaram, a Marine deve ter passado por um grande sufoco para conseguir retornar à Eel. A Ewelein ainda estava lá quando cheguei, e ela ainda conversava com a Miiko e com o Ez sobre o estado da ondina. Segundo ela, a Marine já não corria mais nenhum perigo, no entanto, devido ao estado em que ela foi encontrada, iria levar um tempo para ela acordar. Seu corpo já estava bem, mas a sua maana estava muito baixa, de modo que ela precisava ficar sob observação.
Bem, como eu não tinha muito o quê fazer, tanto ela quanto o Ez estavam exaustos, e os enfermeiros confiáveis estavam de folga hoje, eu me ofereci para velar pela ondina durante a noite. De cara a Ewelein não estava querendo aceitar, mas como a paciente não tinha nada que pudesse atrair-me (como um corpo “quente” por assim dizer) e a Marine era a única que poderia ajudar a Cris em seu progresso (ou seja, eu também estarei garantindo a segurança da Marine enquanto ela dorme), consegui o consentimento da enfermeira. Ewelein me repassou todas as precauções e cuidados que eu deveria ter caso Marine acordasse e me deixou sozinho com ela. Ezarel até que me forneceu alguns cuidados extras que eu poderia precisar com aquela ondina em especial (no caso, com a capacidade de manipulação de líquido dela) e foi embora, sofrendo por antecipação, o dia que estava por vir (assim ele aprende a usar um pouco mais a cabeça, mas é ele ou ela quem o terá nas mãos amanhã?).
Fiquei sentado próximo à piscina em que Marine dormia. Para me manter entretido, aproveitei o luar que entrava, intensificado pelo refletir das aguas, e fiquei lendo um livro que encontrei sobre uma mesa (e vendo que o assunto é sobre algo que nunca ouvi falar na vida, DNA, deve ser um dos livros que a Cris e companhia trouxe). A noite passou pacientemente... E Marine pareceu-me estar tendo o descanso há muito cobiçado.
O dia chegou tranquilamente. Marine não despertou em momento algum, e Ewelein não demorou a chegar. Aproveitei que ela ia examinar a ondina para ir atrás do meu desjejum. Nem precisei entrar no salão direito para ouvir aquela explosão de alegria emitida pela Cris! Que não perdia para os elogios que a astronâmini fazia ao Karuto. E eu estava realmente certo sobre a minha intuição após receber a minha refeição...
Enquanto forçava aquela coisa para dentro, Lunna me explicava a razão de tanta apreciação para com o tirano da cozinha (mas o que foi que o Gelinho disse ao Karuto para conseguir um café tão maravilhoso?!?). Fiquei fazendo companhia a ela até a chegada da Miiko. Voltei para a enfermaria depois porque era realmente importante saber como que a Marine tinha acabado daquele jeito (sem esquecer que não sabemos se ela chegou ou não a ver a Cris e o Lance, antes de tombar). Ewelein me mandou ir cuidar de meus afazeres ao invés de ficar na enfermaria, dizendo que, assim que a Marine abrisse os olhos, ela mandaria alguém me chamar imediatamente, já que, por meio dos exames que ela havia feito, não conseguiu encontrar outra coisa além de extrema exaustão como justificativa para aquela situação. Marine despertou, 90% recuperada, por volta do meio dia.
– Então... Foi isso tudo o que lhe aconteceu? Não esqueceu-se de nenhum detalhe importante, né? – terminava de questioná-la após ouvir tudo o que tinha acontecido com ela, com apenas eu, ela e a Ewelein na enfermaria inteira.
– Foi, foi isso tudo. Não acho estar esquecendo de nada importante. – sua voz carregava todo o cansaço e aflição dessa missão desastrosa dela – Espero que aquela moça tenha conseguido escapar também. E se não... que o plano B que fizemos a tenha protegido...
– Pode ter a certeza que eu darei o meu jeito colocar fim nos negócios desses facínoras! – (ainda mais com a possibilidade de haver dedo do biltre daquele homem que sou obrigado a chamar de pai).
– Muito bem Nevra, você tem um senhor desafio com que trabalhar. Como médica, eu não devia lhe pedir isso, mas... Se você conseguir se encontrar com qualquer um desses miseráveis que fizeram o que fizeram com a Marine e com nem sei mais quantas pessoas, traga-o vivo para que eu mesma tenha o prazer de dissecá-lo!
– Pode deixar Ewelein! – ela ficou mesmo furiosa com os algozes da Marine – Vou ver se consigo trazer o carrasco pra você.
– Muito bem. Agora saia porque a Marine ainda precisa de descanso.
– Esperem. Quem foi exatamente que me ajudou? Lembro de ter ouvido vozes que não reconhecia antes de desmaiar.
– Quem te encontrou foi a Cris, a Lys de Eldarya. Foi ela e os guardiões dela que lhe deu os primeiros socorros; Ezarel deu o primeiro atendimento de emergência e lhe trouxe para a enfermaria, e por fim a Ewelein terminou de lhe tratar e examinar. – expliquei da forma mais simples que podia.
– Consegui ouvir sobre a Lys de Eldarya mesmo naquele lugar. Como ela é? E quem seriam esses... guardiões?
– Vamos com calma Marine. – lhe orientava a enfermeira – Após ouvir toda a historia, há alguns exames que gostaria de lhe fazer. Algumas... situações, precisam lhe serem explicadas e... mais tarde você conhece a Cris e fala pessoalmente com ela. Podemos fazer assim?
– Tudo bem. Não há problemas. – declarou a Marine.
Ewelein me pediu para me retirar mais uma vez e que eu encontrasse a Miiko para conversar com as duas sobre o ocorrido. Não demorei em atender-lhe a vontade.
Segui o cheiro da kitsune a partir da Sala das Portas até os jardins, onde pude vê-la se despedindo da astronâmini que começava a alçar voo sobre o galorze. Fiquei os observando sobrevoarem a cidade e fiquei espantado ao vê-la acenar para a janela da Cris antes de sumirem nos céus (Lunna estava se despedindo da Ladina ou do lagarto?)
– Algum problema Nevra? – assustei-me com a pergunta da Miiko.
– Bom, problemas temos vários, mas se o que deseja saber é sobre os novos...
– Que novos?? – repassei-lhe mais ou menos a historia resumida de Marine e a Miiko precisou respirar fundo para não perder o controle das chamas – Já estou indo conversar com ela. E eu mesma irei lhe repassar cada detalhe do que acontece aqui.
– Cada detalhe?
– Cada detalhe seguro!
– Ah, tá. Vou para o escritório da Sombra agora, lá tenho alguns relatórios que podem ter ligação com o que aconteceu com a Marine, mas preciso averiguar primeiro.
– Tudo bem. Faça isso. Pedirei ao Valkyon para que me avise quando a Cris retornar do treino dela. Quanto mais rápido ela e Marine puderem se conhecer, melhor.
Concordei com ela e seguimos juntos até a Sala das portas, onde nos separamos. Coletei as cópias dos relatórios que havia mencionado e os levei todos para o meu quarto na intenção de compará-los com alguns arquivos pessoais.Lance
Assim como eu imaginei, a Lâmina Novata deixou o treino muito melhor. Minha Ladina parecia se dar um pouco melhor com o frio; me percebia melhor quando a ajudava, fisicamente falando; e conquistou algum resultado significante também (espero poder estar do lado dela antes de começar os treinos com o sanguessuga).
Não houve surpresas hoje como ontem (o que de certa forma é bom) e outra vez a Ladina não pensou duas vezes em ficar debaixo da agua quente do chuveiro. Ela ainda se banhava quando o meu irmão e a Ewelein bateram na porta.
– Como foi o treino de hoje? Algum avanço? A Cris está com a saúde em ordem? Sabe que humanos não se dão muito bem com o frio, né? – interrogava a elfa.
– Porque não vai até o banheiro e veja por si mesma sobre o estado de saúde dela? Assim ela não acaba com a agua quente do QG! – sugeri arrancando um riso dos dois.
– Eu vou vê-la. CRIS!... – bradava ela já entrando no banheiro.
– Sei que o orichalcos ajudou a Cris hoje. – Valkyon falava sentando-se em uma cadeira – Mas a pergunta que vale é: o quanto que ele conseguiu ajudá-la?
– Se for para comparar os treinos de ontem e de hoje... Fez uma grande diferença. Mais alguma coisa a querer saber ou a informar?
– Acha que ela vai demorar muito para avançar com esse treino? Ela não é lá uma das pessoas de mente mais tranquila. – (eu que o diga...).
– Acho que comparar as ideias que correm pela mente da Cris com um festival, não seria lá muito exagero...
– Entendo. Marine já acordou, caso tenha alguma curiosidade.
– Quem vai ficar mais satisfeito em saber isso é a Cris. Já sabem o que foi que aconteceu com ela para acabar daquele jeito?
– Como posso dizer... Ela acabou tendo que realizar “servidão cativa”, e não lhe foi fácil escapar.
– Servidão... Estou louco por uma batalha nesses últimos dias, tudo bem se eu deixar um dos responsáveis pelo o que aconteceu com a ondina, meio vivo, se eu acabar me deparando com algum?
– Ouvi a Ewelein dizendo que pediu ao Nevra, caso ele capturasse algum deles, para lhe trazer vivo e assim ela poder dissecá-lo.
– Então não há problemas _risos_.
Eu e ele conversamos um pouco mais sobre isso; sobre as informações repassadas para a tal da Marine (onde o meu nome foi ocultado); repassei-lhe o treino elemental da Ladina em detalhes; expliquei um pouco melhor sobre os planos para eu poder ficar acompanhando a Ladina por onde ela fosse (e quem sabe poder experimentar o campo de treinamento com ele) enquanto a reunião sobre o assunto não era realizada pela Reluzente; e procurei saber um pouco mais sobre essa Marine (ela não é gejo, é?).
– Puxa Ewelein, estou feliz de saber que a Marine está bem, mas eu também estou! – as duas deixavam finalmente o banheiro – Não vejo necessidade de fazer exames de sangue. Lance cuidou de mim e você sabe que eu detesto agulhas!
– Sim, eu sei de sua aversão, e compreendo os dons curativos dos dragões, mas eu quero confirmar se esses treinos podem ou não causar alguma mudança inesperada em sua natureza. Eu ou a Erika já chegamos a lhe explicar como os faelianos podem ser... misteriosos?
– Se falaram, eu não me lembro. Lance, Valkyon, me socorrem por favor... – ela se aproximou de nós quase implorando.
– Quando foi o seu último exame de sangue? – perguntei.
– Foi quando ela esteve internada após a tentativa de matarem ela e a Miiko, e que você impediu. – respondeu a elfa.
– Já se passou um bom tempo... – era o Valkyon – E não vejo nada de errado em conferir os efeitos, ou falta deles, que todos esses treinos, e até mesmo o poder do Kurui’pira, possam ter feito em você Cris.
– Não diga isso chefinho... – choramingava a minha Princesa – Lance...
– Perdoe-me Ladina, mas eu concordo. Os faerys e os humanos podem não ter evoluído das mesmas maneiras, mas há coisas que nos percebemos muito melhor com alguns procedimentos do que os humanos. Um check-up não vai te matar. E eu precisei ajudá-la bastante durante o treino, posso acabar tendo deixando algo pra trás sem perceber! Meu poder de cura não é tão aprimorado quanto eu gostaria... – ela choramingou ainda mais.
– Ninguém está do meu lado aqui... E eu não vou precisar de jejum, vou Ewe?
– A menos que queira que eu tire duas amostras, sim, você terá de estar em jejum. Passe na enfermaria amanhã antes de correr até o Karuto. E estive pensando... se importa se eu fizer um check-up em você Lance? Como você mesmo disse, até os dragões possuem limites para o que podem fazer com seus poderes de cura.
– Acho que não me importo não. – menti, mas não quero arriscar não estar bem em algum momento importante – Vai trazer o seu material de trabalho, ou vou ter de pegar uma carona com Absol até você?
– Trarei o meu material no primeiro momento livre que eu tiver. Bom, se me dão licença, ainda tenho algumas coisas para resolver. – declarou a enfermeira já deixando o quarto.
– Acho que é sensato eu já ir também. – se erguia o meu irmão.
– Que quer dizer com “sensato”, Valkyon?
– Quero dizer que você deve estar cansada de certa forma e que seria melhor você descansar. Apenas isso Cris.
– Ele tem um pouco de razão Ladina. A Lâmina Novata pode ter lhe ajudado hoje, mas você ainda teve de se esforçar naquele frio. Seu corpo merece descanso. – ela suspirou como que derrotada e sentou-se na cama.
– Ok. Vocês venceram. Até amanhã Valkyon, tenha uma boa noite.
– Igualmente para vocês. – declarou ele se retirando em seguida.
Tendo ficado nós dois sozinhos, não me era impercebível o desânimo da Ladina.
– Sente-se cansada por causa de todos esses acontecimentos e dos treinos, ou só está aflita por causa dos exames amanhã? – perguntei lhe abraçando por trás carinhosamente.
– Um pouco dos dois, eu acho.
– Será que a bela guerreira me permitiria fazer-lhe uma massagem para aliviar-lhe a tensão?
– Com ou sem segundas intenções? – ela me encarava desconfiada.
– Sem. _selinho_ Eu apenas quero que você descanse um pouco de tudo isso.
– Sendo assim, então eu aceito.Cris 2
Não esperava ouvir a Ewelein me chamando, e por isso acabei me assustando ao ouvir a voz dela. Não sei se foi o fato de eu estar debaixo d’água ou de vê-la (ou os dois juntos!), lembrei-me na hora da ondina e questionei sobre o seu estado. Fiquei aliviada ao saber que ela havia recebido alta um pouco antes da Ewelein resolver me ver, mas ela não quis me repassar nada sobre o como que a fez ficar daquele jeito. Além de me avisar que ela já estava ciente de quase tudo sobre mim e o QG (será que ela vai se importar de me ajudar a concluir a agua?).
Antes mesmo que eu começasse a me vestir, a nossa queridíssima enfermeira achou uma boa ideia aproveitar a oportunidade para me examinar... Sobre os meus treinos poderem estar sendo uma fonte de preocupação para alguns, isso era de se esperar. Mas ao ponto da Ewelein me querer fazer exames de sangue?? Me tacar uma agulha?! Ah... Isso não. Até cheguei a pedir ajuda ao Lance e ao Valkyon (meu chefe deve ter chegado junto com a Ewe) para que eu pudesse fugir do exame, porém, os dois, apresentaram razões das quais eu não tinha como contrariar. E tenho certeza que o Lance mentiu sobre concordar em ser examinado por minha causa (ele nunca encara diretamente as pessoas quando mente, já aprendi isso).
Quando eu e ele ficamos sozinhos, Lance me ofereceu uma massagem (e convenhamos, meu corpo está precisando) que acabei aceitando e me fez muuuuito bem. Sem esquecer que eu só acordei rapidinho uma vez durante a noite. No que o dia amanheceu (tô com fome) me apresei em me arrumar e correr até a enfermaria para que eu pudesse “voar” até o Karuto. Nem reparei se o Lance havia acordado com o meu corre-corre ou não.
Livre das agulhas, Karuto já tinha companhia com ele – Bom dia Karuto! E... Você é a Marine, certo?
– Sim, me chamo Marine. E a senhorita? – ela movimentava uma das mãos e todo o suco da fruta que ela segurava com a outra, abandonou o alimento e foi para dentro de uma jarra (dobra d’água?) – Moça?
– Hãm? Ah! Desculpe. Fiquei impressionada com o que você fez agora. Sou a Cris, também conhecida como “Lys de Eldarya”.
– Sério?! Não poderia estar mais contente por conhecê-la! Muito obrigada por ter me salvado. E você pode ter certeza que terei muito gosto em ajudá-la a aprender mais sobre a agua.
– Já te falaram sobre isso?! Me diz que você não foi obrigada.
– Pode ficar tranquila que ninguém é capaz de obrigá-la a nada Rainha. E a Marine ainda pode lhe ensinar enquanto vocês estão na cozinha. Não há ajudante melhor que ela para evitar o desperdício na cozinha, e quando em batalha... Nem as sereias são tolas de enfrentá-la na agua.
– Sem exageros Karuto, por favor. – pedia a Marine com o Karuto dando uma pequena risada como resposta – Mas venha cá Cris. Quero nos conhecer mais. Isso vai ajudar bastante a eu saber como que posso ensiná-la.
– Beleza então. – declarei me sentando e recebendo a refeição do Karuto.
Conversamos sobre bastante coisa na cozinha. Sobre nossas vidas; nossas experiências em Eldarya, e o que eu tinha feito para ajudá-la anteontem.
– Então quer dizer... que você manipulou a agua do mesmo jeito que estou fazendo agora? – ela terminava de extrair o líquido da última fruta que seria servido no almoço.
– Mais ou menos. Não sei ao certo como fiz aquela... dobra d’água. – respondi cuidando da louça.
– Dobra d’água??
– Em uma das séries animadas que lhe expliquei, há cenas semelhantes ao seu controle de agua. E para essa habilidade, era dado o nome de “dobra d’água”, e aqueles com esse poder eram chamados de “dobradores de agua”, pois dobram a agua de acordo com as suas vontades.
– Dobra d’água... É um conceito interessante, mas até onde ele funciona?
– Em tudo que envolva agua. Esteja ela líquida, sólida ou vaporosa. E em condições especiais alguns... também são capazes de manipular/controlar seres vivos através de seus sangues. ... Isso seria de fato possível? Fazer uma pessoa de marionete por meio de seu sangue?
– Teoricamente sim. Principalmente se a quantia de agua presente no corpo da pessoa for extremamente alto. Mas me diz: o quê é a agua para você?
– Bem Marine, eu sempre enxerguei a agua como “fonte de vida”, pois quase não há seres capazes de sobreviverem sem a existência dela.
– Não está de tudo errada... mas é só isso que você consegue me dizer sobre a agua?
– Hãm... Acho... que também pode ser vista como um elemento volátil. Onde a forma com que ela é trabalhada pode torná-la tanto algo poderosamente perigoso, quanto delicadamente relaxante. Tudo uma questão de manipulação.
– Nada mal. Mas... o que você me diz sobre ela, no sentido espiritual? – ela se apoiava sobre o balcão a frente da pia, me observando.
– Espiritual?
– Sim.
– Bom, como eu disse, ela é relaxante. Muitos a ligam com a cura e a purificação, o que não é de tudo mentira já que tem gente que exagera os efeitos da agua. Desconsiderando totalmente as coisas que precisam ser unidas a ela para de fato ter tais efeitos. É uma das forças naturais mais simples, e ao mesmo tempo mais complexa, que se pode encontrar na natureza. ... Há algo de errado em tudo o que penso até aqui?
– Não. Você até que compreende bem a agua. Reconhece os seus benefícios e não ignora o seu poder. – disse ela “brincando” com a agua que bailaaaava diante de mim – Acho que será divertido ensiná-la. Mas precisamos acima de tudo fazê-la se recordar como que você extraiu até a última gota de dentro de uma senecio púrpura para poder me salvar. E há como você me mostrar essa série em que existe os dobradores de agua para que eu compreenda melhor o tipo de “conhecimento” que você tem do assunto?
– Claro, sem problemas! Eu só preciso que você me dê um tempo para arrumar as coisas no quarto. Preciso encontrar o material para poder te mostrar. – (e tirar o Lance de lá!).
– Combinadas. Tem como você me mostrar o que conseguiu aprender até agora?
– Não quero bagunças na minha cozinha... – o Karuto reclamava mexendo no fogão.
– E se possível, as coisas mais simples para não irritarmos o chefe da cozinha, e deixamos as mais complexas para a praia ou o Parque do Chafariz. – completou a Marine, com um pequeno riso escapando de nós duas.
– Acho que não tem problema algum de fazermos assim. – respondi sorrindo e já começando a mostrar um pouco do que eu conseguia fazer.Miiko
E mais uma vez, a Cris consegue me surpreender. As ideias que ela e a Lunna apresentaram para fazer com que Lance pudesse deixar o quarto e cuidar da Cris eram elaboradamente boas! Quase perfeitas. E a Cris não só encontrou a Marine, um dos professores de agua “disponíveis”, ao final de seu treino, como também salvou a vida dela?! Meu santo Oráculo!
Pensei em esperar para reunir a Reluzente e repassar as ideias após a Purriry terminar a armadura, pois assim, eu poderia repassar desculpas melhores que ajudassem a esconder o fato de ser o Lance dentro dela. E pedi para o Valkyon me confirmar quais membros da guarda tinham um perfil físico semelhante ao do irmão, sendo que o Almir ainda não pode deixar a prisão no momento (será que ele pode ajudar com essa seleção também?). Eu até que consegui alguns conselhos e sugestões da Lunna até dar a hora de sua partida no dia seguinte e que me ajudarão muito a elaborar os planos.
Pensei que quando Marine despertasse eu receberia um pouco de alívio, mas foi totalmente o contrário (eu ainda acabo com essa “raça” de miseráveis!) e me apressei em conversar com ela sobre os problemas que ela teve. Além claro, de atualizá-la sobre o estado de Eel. Ocultei dela apenas as informações que se referiam ao Lance diretamente, ou seja, que ele se encontra ao lado da Cris e não na prisão como todos acreditam.
Conversei um pouco mais com a Ewelein depois dela ter terminado de examinar e liberar a Marine. Dei-lhe o meu consentimento para fazer uma avaliação de saúde na Cris e nos Lances por segurança e pedi a opinião médica dela nos esquemas que eu já havia montado, para uma maior garantia de conseguir convencer todo mundo e os nossos planos funcionarem.
Chegado o dia seguinte, pude ver a Cris e a Marine conversando na cozinha, aparentemente se dando bem as duas. Isso é bom. Pedi para a Elgella que ficasse de olho em todos os espiões que tentassem se aproximar de Marine enquanto o resto da Reluzente vigiava quem tentava se aproximar da Cris.
Observando as duas, e recordando a forma como que o tempo da Cris é utilizado, pensei em liberá-la do serviço na cozinha enquanto Marine lhe ensinava. Mantendo assim os treinos dela com o Gelinho sem sobrecarregá-la...
– Tudo bem Karuto se a Cris fizer assim por um tempo? – questionava-o com as duas ainda presentes.
– Você quer me tirar duas das três fontes de alegria e ajuda que tenho nessa cozinha?! Não tem como você conversar com o treinador de terra da Cris não?
– Karuto meu amor, você sabe melhor do que ninguém que a Cris aprende rápido. Ela até conseguiu ajudar a Marine com o extrair do suco de algumas frutas para você! E espero que essa terceira fonte de alegria seja eu. – intercedia a Twylda.
– O meu doce... É claro que você é a minha terceira fonte! – Karuto se apresou em segurar as mãos dela – Na verdade, você ocupa um pedacinho de ouro em meu coração... – nunca imaginei ouvir algo tão doce vindo dele... – E Cris e Marine que me desculpem, mas o espaço de vocês aqui dentro é de prata! – todo mundo riu.
– Não é problema Karuto. – respondia a Marine com um leve sorriso.
– Também não me importo. Mas eu iria ficar muito brava com o senhor se você coloca-se qualquer pessoa que não fosse a Twylda, sua namorada, em primeiro lugar nesse seu coração aí.
– Agradeço pelo apoio Cris. – falava a Twylda abraçada ao braço do Karuto.
– Retomando Karuto. Ao menos enquanto a Cris aprende o que lhe falta sobre a agua, para que fique preparada para encarar Eldarya com mais segurança, o senhor aceita ficar sem a sua favorita na cozinha durante os treinos? Ao que eu soube, foi uma habilidade semelhante a da Marine que permitiu que a Cris salvasse a sua outra favorita.
– Se a Cris e os guardiões dela não se importarem... _suspiro_ Tudo bem. Eu permito.
– E quem são esses guardiões mesmo? – questionava a Marine.
– É um black-dog de tamanho e comportamento totalmente incomuns chamado Absol, e um faery que, por conta das “consequências” que lhe expliquei, está tendo sua identidade protegida.
– Um black-dog?!? – se espantava a Marine – Você conseguiu domar um black-dog?!?
– Eu não o domei. – A Cris falava sem jeito – Lhe fiquei amiga no dia em que o conheci, e, desde lá até hoje ele vem tomando conta de mim.
Marine ficou boquiaberta. Conversamos mais um pouco e Absol resolveu aparecer para buscar a refeição do Lance. Quase que a Marine construía um escudo de agua por causa do susto que teve ao ver o Absol. Conseguimos acalmá-la, mas definitivamente a Marine não desejava ver Absol como inimigo, ainda mais com ele sendo munido de umbracinese. Uma habilidade capaz de isolar qualquer faery não sombrio de toda e qualquer fonte de poder.
.。.:*♡ Cap.118 ♡*:.。.
Cris
No que eu terminei de almoçar, já tendo tudo acertado com a Marine e a Miiko, voei até o meu quarto para procurar os DVD’s com os episódios de “A Lenda de Aang”.
– Pensei que almoçaríamos juntos... O que está procurando? – ele me questionava enquanto eu verificava os CD’s.
– Desculpe se o deixei comer sozinho. Ou na companhia do Absol!... – nós dois fungamos um riso – Estava conversando com a Miiko e a Marine sobre o término do meu treino de agua, e o que eu estou procurando é o que eu tenho de noção sobre o controle de agua.
– E existe algo assim entre a suas coisas?
– Tenho sim. Achei! – coloquei tudo de volta aos lugares depressa e segui para a mesa onde estava o meu not, segurando os que me interessava – Marine me pediu para vê-los e assim compreender melhor o que eu tenho de entendimento sobre o controle da agua.
– E ela assistirá isso aqui ou você vai levar tudo até ela?
– Assistirá aqui. O que significa que você terá de passar um tempo na Morada enquanto a sua armadura não fica pronta. Leiftan também fará companhia à ela durante o meu treino com você.
– Porque o Leiftan?
– Primeiro, porque ele já sabe de você e pode ajudar se a Marine estranhar “alguma coisa”...
– Segundo...
– Porque não quero, bem... Me arriscar à Marine acabar estragando o meu not sem querer com aquele corpo de agua dela...
– _risada contida_ Certo. Tudo bem. Mas espero que você não tente usar isso para fugir do treino hoje.
– Tá de brincadeira?! – deixava o not copiando os episódios – Quanto mais rápido eu puder dominar essa habilidade sem ter que tirar uma peça de roupa que seja nesse frio me-lhor!
– Vou terminar de arrumar as coisas para sairmos. – declarou ele rindo.
Deixei o not trabalhando e partimos com Absol para a clareira ainda branca de neve. No treino, consegui enxergar tudo com um pouco mais de nitidez se comparado a ontem à tarde, mas ainda me falta muuuuitooo. Depois disso, ficamos combinados que Absol sempre levaria o Lance para a Morada assim que ele percebesse a chegada da Marine no corredor do meu quarto, e só o traria de volta ao quarto depois da saída dela. O mesmo valeria para quando fosse a hora do meu treino de terra (tenho que arranjar um jeito de compensar o Absol por todo esse trabalho...).
Durante o tempo em que Marine ficava no meu quarto (com ela chegando entre 07:30 e 08:00 da manhã), eu que lhe fazia companhia até a chegada do Leiftan. Só precisei explicar uma vez como funcionava o mídia player e o carregador solar para ele. Eu o deixava sozinho com a Marine e Absol me levava até a clareira onde Lance já me aguardava. A Marine assistiu às três temporadas em apenas dois dias (o que fica um pouco óbvio se ficar pulando as aberturas e encerramentos), e o Leiftan me pareceu ter gostado da série também, apesar de não ter assistido todos os episódios... Mas eu fiquei bem aliviada por a Marine não ter querido assistir a segunda fase desse desenho: “A Lenda de Korra”, para poder ver mais sobre a dobra d’água.
Lance não ficou chateado com a Marine por dois motivos: 1º, ele sempre estava dormindo ao meu lado, sendo que Absol podia ter decidido deixá-lo o tempo todo na Morada e não só até às oito/nove da noite (hora que a Marine ia embora). E 2º, porque o Nevra lhe fazia visitas e acabava o distraindo. Se passaram alguns dias onde, de manhã eu treinava com a Marine no Parque do Chafariz, e de tarde eu treinava com o Lance.
Se bem que... tentaram me sequestrar outra vez... Foi um lobisomem. Ele me bateu a porta instantes depois da Marine ir embora, dizendo que o nosso chefe, o Valkyon, queria falar comigo e que só não tinha ido pessoalmente me encontrar porque ele estava meio enrolado. Como eu estava de pantufas, lhe pedi para que me esperasse trocar de calçado. Ele me pediu para entrar já que Absol não se encontrava no quarto naquela hora, e como o Lance estava ao lado de uma das estantes (envolto por uma ilusão), acabei permitindo. Aquele cara só não conseguiu me cobrir o rosto com um pano cheio de poção sonífera por trás de mim porque o Lance o nocauteou antes. A primeira pessoa que encontrei depois de sair às pressas foi o Leiftan. Ele ajudou bastante a me livrar daquele traíra e não deixar ninguém ficar sabendo do ocorrido. O miserável tinha até um saco grande o bastante para me colocar dentro e me levar sem quase ninguém perceber! (tomara que ele esteja dentro de uma cela agora).
Com a Marine, aos poucos, eu realmente comecei a me sentir uma “dobradora de agua”. E sobre a capacidade de percepção, eu finalmente não tive de tirar nenhuma peça de roupa para o treino! Mas... também estou cada vez mais perto de ter que treinar com o Nevra e Valkyon já que o Lance está quase me tirando o orichalcos do meu treinamento...
Bom. Ontem Marine me declarou formada como “dobradora d’água” (ela realmente gostou dessa historia _sorriso_) e me recomendou apenas a praticar de vez enquanto para eu não esquecer tudo o que aprendi e, se me fosse possível, experimentar tentar controlar algum corpo rico em agua durante as luas para conferirmos se a dobra de sangue funciona na prática, ou só na teoria (não foi fácil, mas consegui convencer o Lance a ser a minha cobaia. Ai minhas pernas...).
Por alguma razão, comecei a querer carregar um pouco da Norns Visdom comigo. Procurei a Miiko para ver se ela não se importava de eu fazê-lo e ela até me ajudou a conseguir um frasco menor para que eu pudesse levar a poção sem problemas. Ezarel se mostrou do contra quando ficou sabendo disso, mas como é a opinião da Miiko que pesa mais...
Ontem também foi o último dia de castigo do Ezarel. E do jeito que o vi passar por mim de manhã, em direção da enfermaria, pensei que a Miiko o tivesse feito trabalhar até o sol nascer! O coitado mais parecia um zumbi!! E ainda acabei ouvindo que a Ewelein lhe aconselhou a descansar por pelo menos uma semana para que pudesse se recuperar de toda a punição dele (e tomara que ele tenha realmente aprendido a lição).
Apesar de ainda ter muita neve, já é possível ver o verde se espalhando por causa da aproximação da primavera. Como eu avancei consideravelmente bem com a minha concentração de “ver” o ambiente, Lance começou a me colocar para me defender. Ele começou a me jogar pedras de vez enquanto, sem me acertar, e ele ficava zangado toda vez que eu me desconcentrava com isso. O motivo era porque o objetivo dele era me fazer aprender a distinguir quando um perigo é ou não relevante. A perceber quando algo pode de fato me ferir e, sob uma saraivada de flechas por exemplo, eu só me preocupar em me livrar daquelas que realmente me feririam. Não ficar desperdiçando tempo e energia com aquelas que passariam longe de mim. Não foi nada fácil ignorar os seus blefes de ataque...
– Vamos fazer uma pausa Ladina.
– Sério mesmo? Não é um de seus truques para me desconcentrar?
– Não. Eu pretendia lhe remover a Lâmina hoje, por isso que não queria trazer nada além da agua. Que por sinal, já acabou.
– E vamos ter que passar sede até a hora de voltarmos?
– Sabe que há um riacho aqui perto. Me escondo e pego a agua para nós com você aguardando quietinha aqui. Você pode tentar me “vigiar” enquanto espera, que tal?
– Se eu fizer isso... – me sentava entre as raízes de uma arvore – Não será uma pausa.
Ele apenas sorriu, se envolveu com a sua ilusão e me deixou sozinha na clareira. Eu realmente estava disposta a esperar tranquila pelo retorno do Lance mas... Enquanto eu relaxava, comecei a ouvir o que parecia ser um choro de criança (acaso alguma venho a ser perder na floresta?). Já que eu havia resolvido trazer algumas poções defensivas (duas do sono e uma de névoa paralisante) reuni todas as minhas coisas e, com minha adaga de orichalcos na mão (melhor prevenir do que remediar!) fui atrás da fonte do choro.
Eu não andei muito e nem fui para muito longe. Absol não me acompanhava e segui o choro até ficar pertinho de um barranco. Tentando observar a parte de baixo sem me deixar ser vista, acabei escorregando e nem percebi quando foi que eu caí.*****
(é aqui que se é aconselhável a fazer uma pausa em “Eldarya - Uma aventura inesperada” e começar a ler a fanfic “Amnésia transdimencional”. Mas ninguém é obrigado a fazer essa pausa. É só uma sugestão.)Lance
Não deixo de me surpreender com a velocidade com que a minha Ladina consegue aprender as coisas (apesar de ela ter uma Lâmina Novata a ajudando). Ela até conseguiu me convencer a deixá-la tentar controlar a agua presente em meu corpo! Coisa que só aceitei ela fazer na presença da Ewelein ou do Bobo-da-corte para o caso de alguma coisa dar errado; apenas durante as luas cheias; e com a promessa de eu poder me “divertir” com ela caso eu sobrevivesse ao... experimento, digamos assim (com eu já encomendando mais başlamadan ao elfo metido a engraçadinho). E se ela realmente conseguir fazer algo assim... Bom. Só precisarei tomar cuidado quando ela estiver mal humorada.
Queria ter começado o treino de hoje sem o orichalcos, mas ela tinha que me contrariar... Eu só não sei o que foi que deu nela para começar a carregar poções consigo (será que ela começou a perceber alguém observando aos nossos treinos?). De qualquer forma, o treino de hoje está seguindo muito bem. Tão bem que achei melhor fazer uma pausa um pouco mais cedo e, já que a agua tinha acabado (ela tinha que ter bebido quase tudo sozinha...), a deixei me esperando junto do black-dog na clareira enquanto eu buscava agua no riacho sozinho.
Cheguei lá sem nenhum problema. Ciente que Absol estava do lado da Cris, e sentindo a presença dela mesmo com o amuleto ganho da Kaa’pora, me sentia parcialmente tranquilo ao ficar afastado dela. Mas eu quase entrei em pânico quando estava para terminar de pegar a agua. A presença dela, antes quase clara para mim, havia desaparecido! Larguei o cantil que tinha comigo e corri até o lugar em que a havia deixado.
De volta a clareira, a Cris não estava lá. Apenas Absol (deitado claramente irritado) e a Branca estavam no lugar – Cadê ela? – fui logo questionando aquela imitação – O quê você e a maluca da sua irmã fizeram com ela?
“Ela está bem. Minha irmã está com ela. As duas tem uma tarefa a fazer que ajudará a Lys a crescer.”
– Que vai ajudar?!? – Absol não vai ser o único a ficar irritado aqui... – Pra onde que aquela praga a levou?? Porque que eu não sinto nem mesmo um fio da presença dela?!
“Aguarde como Absol.” – foi tudo o que ela disse antes de desaparecer.
Ficar esperando cheio de ansiedade e preocupação?? – Espero que não se importe de eu tentar descobrir como que a minha Princesa sumiu, “guardião”. – declarei para aquele black-dog que apenas me rosnou como resposta sem se mexer (mas que pensei o ouvir choramingando quando me afastei dele).
Comecei pelo o exato ponto em que a deixei antes de buscar agua. Não encontrei nada dela na clareira, então o sensato era que seus pertences estivessem com ela. Encontrei rastros dos sapatos dela e comecei a segui-los. Segui-os até chegar em uma ribanceira com mais ou menos a minha altura de distância do chão. Imediatamente encontrei a Lâmina Novata dela lá embaixo. Após descer para recuperar a faca, reparei que algumas das plantas do paredão estavam quebradas, e algumas partes haviam sido arrancadas de alguma forma (sinais de queda, mas cadê ela?). Procurei com extrema atenção, mas não achei nada que me indicasse a direção que ela teria tomado depois dessa queda.
Frustrado por estar sem qualquer pista (começou a chover por acaso?), retornei até onde Absol estava com a adaga da Cris em mãos. Ele já não estava mais sozinho quando eu voltei.Nevra
– Já faz algum tempo que não vejo a Anya. Pensei em questionar o Voronwe, mas estou com receio da reação dele. – conversava com o Valkyon no quiosque à caminho do QG.
– Ela não está se escondendo ao lado da Cris outra vez?
– Pior que não.
– Imagino que tenha falado com o “Gelinho” então. – apenas assenti com a cabeça – O que ele lhe disse?
– Disse que é possível que a Anya esteja trabalhando em um projeto particular dela que resolveu fazer enquanto ela se escondia com eles.
– Projeto particular? Que projeto?
– Ele se recusou a dar qualquer explicação. Me mandou descobrir sozinho ou questionar Anya diretamente. E eu não tive chance de questionar a Cris sobre isso...
– Bom, se a Cris não está pre... – Valkyon travou na hora, como em choque e olhando apressadamente para trás – Não pode ser...
– O quê que foi Valkyon? – ele me pareceu angustiado – O que aconteceu?
– Vem comigo. Depressa! – solicitou-me ele já correndo na direção oposta que seguíamos.
– Qual o problema Valkyon? Para onde estamos correndo?
– Ela sumiu. – hein? – Mesmo com o amuleto eu era capaz de senti-la, mas agora... É como se ela tivesse deixado Eldarya.
– Ela? – juntava as palavras chaves – Está falando da Lys?!
Ele não respondeu nada, mas apertou o passo. Comecei a compartilhar de sua preocupação e concentrei todos os meus sentidos para encontrar qualquer coisa da Cris, do Lance e do Absol, já que, pela hora, era para os três estarem na floresta juntos, treinando.
Como meus sentidos eram mais confiáveis, fui eu o guia dentro da floresta até chegarmos na clareira. Onde encontramos Absol, nervoso, deitado sobre as raízes de uma das arvores que cercavam o local. Nem tivemos tempo de falar alguma coisa ao chegarmos e encontramos o Lance se aproximando (e ou eu estou ficando maluco ou o Lance está chorando).
– O que aconteceu Lance. Cadê a Cris? – Valkyon tomava a frente.
– Também quero saber. – respondia ele sentando-se junto a Absol, compartilhando de seu nervoso – Me separei dela apenas para buscar um pouco de agua... E ela desapareceu neste meio tempo. – logo reconheci a adaga na mão dele.
– Essa é a adaga da Cris, não é mesmo. Onde a encontrou? – perguntei.
– Perto de uma ribanceira. Segui a trilha que ela havia deixado para trás e encontrei apenas essa adaga. – sério mesmo que ele está chorando?? – Ao que parece, ela acabou caindo e todo e qualquer possível rastro sumiu.
– Talvez... Ela tenha sido levada por céu? – ponderei me movendo em direção de onde o Lance veio.
– Impossível. – declarava o Valkyon – Se fosse esse o caso, a presença dela não teria sumido tão bruscamente.
– Realmente. – concordava o Lance – Absol parece saber o que aconteceu, já que está aqui parado ao invés de ter ido atrás dela, então esperarei com ele. Se quiserem ir em busca de mais pistas fiquem à vontade.
(Esse comportamento inusitado do Lance está começando a me preocupar...) – Valkyon, porque você não volta ao QG e avisa a Miiko? Vou ver se acho mais alguma coisa com o meu olfato.
– Pode ser. Vai ficar bem aqui, irmão?
Lance apenas soltou um suspiro e se escondeu com uma ilusão. Para confirmarmos que ele ainda estava lá, ele apoiou a adaga da Cris em pé sobre uma raiz e ficou a balançando bem a nossa vista.
– Vai lá Valkyon. Qualquer coisa eu aguardo junto dele. – ele não respondeu nada. Apenas partiu em silêncio. Quando eu percebi que o Valkyon já estava longe, questionei o Lance mais um pouco antes de ver o que eu achava – Lance. Por acaso... as Oráculos Branca e Negra tem alguma coisa a ver com esse sumiço?
– Sim. – (puxa vida, essa voz melancólica do Lance está me incomodando) – De acordo com a Branca, a Cris está com a Negra não sei aonde para fazer não sei o quê. Ela mandou aguardar como o black-dog. Mas eu tinha que saber da Ladina...
– Entendi. Vou ver se encontro mais alguma coisa além da Lâmina Novata. Tudo bem se eu repassar o recado da Branca para a Miiko e o Valkyon?
– Não me importo.
Fiquei com receio de me afastar do dragão de gelo diante de tanta tristeza, mas fui atrás da Cris (ou do caminho que ela fez!...). Guiado pelo meu olfato, e observando bem tudo o que eu via, Lance fez o exato caminho dela. Encontrando a ribanceira (que não era nada pequena) pude conferir que a Cris realmente havia caído, no entanto, ela não chegou a alcançar o chão (pra onde e como que a Negra levou a Cris embora??). Investiguei a área minuciosamente, e não achei pista alguma.
Desde o momento em que o Valkyon reagiu, até o momento que eu retornei a clareira, onde era possível sentir a melancolia do Lance, já tinha se passado um pouco mais de duas horas. Ele e Absol não me pareciam nem um pouco dispostos a deixar o lugar em que estavam até a Cris resolver reaparecer, então segui para o QG. Lá, fui logo me encontrando com a Miiko que parecia preocupada com o Valkyon ao seu lado. Repassei à eles o recado da Branca e isso pareceu amenizar um pouco as coisas.
– Vamos aguardar por noticias aqui então. – declarava a Miiko – Melhor só nós sabermos desse... incidente, por enquanto. Igual ao Turoki. Valkyon, assim que você voltar a senti-la, avise-me imediatamente. Espero que Absol não demore em trazê-la para o quarto... Quero muito saber o que aconteceu...
– Pode deixar Miiko. – Valkyon se comprometia.
– E você Nevra, quero que fique de olho em nossos... “bisbilhoteiros” em Eel, está bem?
– Sim senhora.Lance 2
Pra onde será que ela foi... Nunca imaginei que ela fosse capaz de me deixar tão deprimido ao sumir assim, do nada. Me sinto um fraco. Meu único consolo é saber que foram as imitações de Oráculo que sumiram com ela, e não aqueles canalhas que quero matar.
É agoniante não poder fazer nada além de esperar. O que fica mais que explicado a irritação do black-dog quando eu o vi assim que deixei de sentir a Ladina. Depois que me sentei ao lado dele, não conseguia pensar em mais nada além dela.
O tempo parecia se arrastar mais lento que qualquer ser que eu conhecesse. Mas no momento em que a presença de minha Princesa reapareceu... Tanto Absol como eu simplesmente pulamos do lugar! Só precisei de dois segundos para encontrar a posição dela e menos de um minuto para a encontrar, desacordada, sob uma relva próxima da clareira.
Ergui ela com cuidado, conferindo se havia algum ferimento nela (não era essa a roupa que ela estava usando...) e só encontrei um arranhão ou outro já tratados. Comecei a chamá-la e ela demorou a acordar. Isso me preocupou. E ao Absol também. Continuei a chamando mas ela só acordou mesmo, assustada, quando lhe chamei pelo nome inteiro (rezo a todos os deuses para que só nós três tenha ouvido isso).
Ela não parecia se lembrar de nada do que tinha acontecido. O “choro” que ela disse ter ouvido devia ter sido a Negra ou a Branca a atraindo para onde elas queriam e, me recordando da altura da qual ela tinha caído, resolvi não lhe fazer mais perguntas. Apesar de não ter conseguido evitar o meu espanto ao sentir o que parecia ser o cheiro do Leiftan impregnado nela (tomara mesmo que o deamon não tenha nada a ver com isso).
Absol nos levou para o quarto e a Cris foi direto para o banho. No que fui arrumar a bolsa dela, notei que apenas a Norns Visdom continuava dentro da bolsa entre as poções (o que foi feito das outras?).
“Tivemos que utilizar todas.” – e aparece a “despreocupada”... – “Nossa tarefa foi bem executada, mas fiquei preocupada com a possibilidade de que as poções não fossem suficientes... É até bom que a Cris não se lembre de nada por enquanto.”
(O que você quer dizer com isso? Onde estavam? Fazendo o quê? E como foi que você fez para a presença dela sumir daquele jeito?) – “Olha aqui, antes de mais nada, tu precisa estar ciente que, enquanto para vocês se passaram apenas algumas horas, a Cris e eu estivemos fora por alguns dias.” – (O QuÊ?!?) – “Você ainda se lembra das explicações sobre dimensões paralelas?” – ela sorria com a sua costumeira “traquinagem” no rosto (claro que eu lembro! Mas isso não responde todas as perguntas) – “Sei disso. Nós duas apenas resolvemos um problema e, de quebra, conseguimos uma coisa que vai ajudar a Cris com os seus poderes de luz.”
Voltei a confirmar o conteúdo da bolsa, não encontrando nada além do que a Cris já carregava consigo antes de desaparecer, salvo a adaga que esteve comigo (não encontro nada de diferente nos pertences dela, e também não me lembro de ter visto nada especial junto dela) – “Mais tarde pedirei a Absol para a buscar. Como posso dizer? O que trouxemos não é algo que qualquer um possa lidar...” – (tem como ser mais clara uma vez na vida?) – “Outra hora vemos isso.” – declarou ela sumindo em seguida.
Antes mesmo que tivesse a chance de ter qualquer reação ao sumiço da praga, batiam em código na porta – Vim assim que soube. Cadê a Cris? O que aconteceu com ela? – questionava a kitsune incendiaria com o meu irmão atrás dela.
– Ela está tomando banho agora. Entrem. – e assim eles fizeram – E ela parece não se recordar de nada agora.
– Como é?! – a Miiko se espantava.
– Ela me disse que a última coisa da qual se lembra foi de cair.
– Mas ela está bem? A amnésia é o seu único problema?
– Parece que sim Valkyon. Ela até que tinha alguns arranhões, provavelmente causados pela queda, mas já estavam todos tratados.
– Ela de falou mais alguma coisa? Viu algo anormal quando a encontrou? – perguntava a kitsune que parecia se segurar para não invadir o banheiro.
Repassei a eles tudo o que tinha acontecido em detalhes (ou quase) e os dois pareceram concordar comigo sobre não forçar a Cris a se recordar do que lhe tinha acontecido.
– Agora é tarde, e a Cris pode estar precisando de descanso. Mas amanhã a Ewelein pode dar uma olhada nela e conferir se está tudo bem mesmo.
– Valkyon tem razão...
– Miiko? Valkyon? – minha Ladina deixava o banheiro – Algum problema? Se for por causa do meu... sumiço! Eu não tenho como explicar nada agora, pois não me lembro de nada.
– Sim, já estamos sabendo. – a Miiko falava – Lance nos explicava sobre isso. Mas tirando a falta de memória, sente alguma coisa?
– Até o momento... Apenas um sentimento de confusão por não conseguir me lembrar o que aconteceu. Ainda mais pelo fato de eu ter sumido vestida de um jeito... E ser encontrada vestida de outro...
– Você deve estar querendo um tempo para organizar os pensamentos. E eu já sugeri aos outros para que você se consultasse com a Ewelein amanhã.
– Farei isso senhor. Mais alguma coisa Miiko? Ou eu posso ir atrás de comida? Tenho a sensação que não comi nada há um tempão!
Acabamos todos rindo, e Absol apareceu com uma cesta de comida na boca – Continuaremos com as perguntas uma outra hora. – ajudava minha Ladina com a comida – Vocês dois podem se retirar agora se não for incômodo.
– Laaanceee...
– Não se preocupe Cris. – defendia-me o Valkyon.
– Os dragões estão certos. Coma e descanse agora, e amanhã você vê a Ewelein. Se seja lá o que for que você esqueceu for importante, se lembrará mais cedo ou mais tarde. Tenha uma boa noite Cris. E tratem de cuidar bem dela! Guardiões.
A Cris riu, mas acho que Absol não gostou muito da insinuação da kitsune assim como eu. Os dois saíram deixando a Ladina sozinha comigo e com o black-dog. Nem comentei ao meu irmão que a Cris já poderia estar treinando com ele e com... _suspiro_ o sanguessuga (pena que a minha armadura não ficou pronta ainda...), justamente para que a Cris pudesse descansar melhor.Cris 2
O que foi que me aconteceu???... Enquanto tomava banho, eu tentava de tudo para tentar entender o quê que me aconteceu. Como foi que eu sumi e voltei sem me lembrar de nada? Como foi que eu troquei de roupa? Como foi que eu escapei daquela queda quase ilesa? Ai. E essa dor de cabeça que não para de incomodar toda vez que tento forçar a memória? Ela é consequência da queda ou do que me causou essa perda de memória? _suspiro_.
Apesar de toda aquela confusão mental, tentei parar de pensar em toda essa falta de respostas e dei fim ao meu banho. Lance já tinha me confessado ter se desesperado com a minha ausência misteriosa, então não me foi surpresa alguma ter gente esperando por mim no quarto. Eu já cogitava procurar a Ewelein mais cedo ou mais tarde sobre todo esse mistério. Nem era preciso que o Valkyon me recomendasse procurá-la amanhã, e ainda bem que o Lance deu as explicações durante o meu banho.
Como não adiantava de nada ficar “arrancando os cabelos” por causa disso, apenas foquei em comer o lanche enviado pelo Karuto através do Absol (porque estou me sentindo como se eu não comesse desde de manhã?) e segui para os cobertores quentinhos de minha cama.
Lance não ficou me questionando como imaginei que ele faria. Ainda mais com aquela historia estranha de que eu tinha o cheiro do Leiftan em mim (como raios o Leiftan se encaixaria nessa bagunça?), tudo que ele fez foi me tratar com extremo carinho. Esse meu desaparecimento realmente o assustou. Ele até me cantou uma cação de ninar! _risinho_ Dormi com o Lance me “protegendo” o tempo todo.
Quando o dia amanheceu, reparei que o Absol rodeava a mesa, rosnando de leve, e observando alguma coisa que estava na mesa – Mas o que é isso?!
– O quê? O que aconteceu? O que é isso o quê? – acordava o Lance assustado com o meu questionamento espantado.
– Sobre a mesa. – respondi apenas.
Ele levantou da cama junto comigo. E juntos, nos aproximamos da mesa para observar melhor o que tinha sobre ela, e que Absol não parava de ficar vigiando. Era uma esfera de uns 10cm de circunferência mais ou menos, totalmente negra com uma espécie de névoa tão negra quanto a própria esfera querendo emanar dela. No que eu a observei claramente, uma aflição tomou o meu peito.
– Ladina? – Lance me observava – O que houve Princesa?... Porque está chorando meu amor?...
– Essa... Essa esfera...
– O que tem essa coisa. – ele me abraçava cuidadosamente.
– Eu não gosto dela. Não sei o quê ela é, mas está me deixando agoniada!... Não a quero aqui dentro. Porque foi que você trouxe essa coisa Absol? _fungando_.
– Absol nunca lhe traz nada que não lhe tenha alguma utilidade. E seja lá o que for essa bola, é importante o suficiente para ele lhe trazer mesmo não gostando nenhum pouco dela, como você.
– Tenho medo... – confessei quase sem voz.
– Espera. Eu já sei. – ele pronunciou alguma coisa olhando para a bola e, pude notar que alguma coisa se formava envolta dela – Pronto. Seja isso o quer for, não poderá fazer nada desse jeito.
– O que você fez? – até o Absol parecia mais tranquilo agora.
– O envolvi com um escudo especial impenetrável que é à prova de qualquer tipo de poder. Enquanto não descobrimos o uso correto dela, vamos deixá-la aí dentro por segurança.
– Quanto tempo dura esse escudo? – acabei perguntando.
– Até eu removê-lo ou eu ser morto. – _boquiaberta_ – Se bem que eu ainda não descobri tudo sobre essa barreira... – o ouvi sussurrar.
– Como assim? O que quis dizer?
– Como explicar... O livro em que aprendi sobre essa barreira era extremamente antigo. Tão antigo que algumas partes não estavam totalmente legíveis, e por isso... Não conheço verdadeiramente todos os limites dessa proteção/prisão. Mas eu fiz dezenas de testes e em todos essa barreira se mostrou efetiva e confiável.
– _suspiro_ Tudo bem, Lance. Se até Absol ficou um pouco mais tranquilo depois de você ter colocado essa barreira aí, vou lhe confiar também. – (mas ainda tenho receio de me aproximar dessa coisa) – Vou me arrumar e descer. Cuide de tudo por favor.
– Como a minha bela e magnifica Princesa desejar... – terminou ele dizer já me dando um beijo _sorriso_.
.。.:*♡ Cap.119 ♡*:.。.
Cris
– Então... A dor de cabeça sumiu pelo menos? E ainda não consegue se lembrar de nada?
– Não Karuto. Não me lembro de absolutamente nada. E quanto à dor de cabeça... _massageando as têmporas_ Acho que não tem mais nada não.
Depois de ver a Ewelein, que me confirmou estar tudo bem com o meu corpo, assim que cheguei na cozinha, fui logo contanto sobre o estranho caso que aconteceu comigo ontem, e sobre a esfera assustadora que Absol me trouxe. Ao menos ele me confirmou que o Leiftan ficou a tarde toda no QG e sempre acompanhado de alguém. Reforçando o que eu já sabia sobre o encantamento de controle que a Erika havia colocado sobre ele.
– Consegue imaginar o “porque” de Absol ter trazido esta bola negra pra você, se nem ele gosta dela?
– Por enquanto não. Tudo o que me vem quando penso nela é um sentimento ruim. Uma sensação agoniante que me faz querer ficar a milhas de distância dela.
– Cada vez mais fico curioso em vê-la... E o Gelinho tem razão: se ela não fosse realmente importante para você, Absol nunca a teria lhe trazido se ele parece a detestar tanto assim.
– Pode até ser. Mas enquanto esse “pra quê” não ficar claro, de forma alguma que eu me aproximo daquilo!Lance
Não vou dizer que tive uma das melhores noites. Aquele “desaparecimento” da Ladina me deixou tão assustado que eu fiquei acordando toda hora com medo da Ladina não estar mais na cama comigo. Toda hora eu abria os olhos e só me acalmava ao ver o rosto sereno de minha amada. Acho que se eu tiver feito isso umas vinte vezes foi pouco, e quase que entro em pânico com a forma que acordei com a Ladina! E quando olhei para o que havia sobre a mesa...
Eu nunca fui um homem covarde, mas aquela bola negra e sombria fez cada fibra do meu corpo implorar por distância o mais rápido possível (mas que @%$*¨%¨%$ é essa??). A forma com que o black-dog reagia à aquela coisa não era nada tranquilizadora. E ficou ainda pior ao perceber o quanto que aquela coisa conseguia afetar a minha Princesa.
Na tentativa de acalmá-la (e a mim também), coloquei uma barreira ao redor daquela coisa. Como o Absol se mostrou um pouco mais despreocupado com aquela bola após eu fazer isso, acredito ter deixado tudo um pouco mais seguro (mas o Absol ainda me pareceu desconfiar daquele objeto).
Com a Ladina mais calma, começamos a cuidar de nossos afazeres. A Cris se arrumou para descer (nem me importo dela não querer tomar o desjejum comigo com essa coisa sobre a mesa); Absol foi atrás da minha refeição, e eu arrumei tudo no quarto. Consumindo a minha refeição, inquieto, eu não parava de ficar vigiando aquela esfera.
“Bem pensado! Essa barreira que você colocou vai realmente cuidar bem dessa coisa até a hora dela ser usada.” – (o que é isso? Nem Absol confia nisso!) – “Isso, é o que a Cris e eu acabamos trazendo. Essa bola está sobrecarregada de energia corrompida. Em quantia tão grande que é capaz até de ter vontade própria.”
– Energia corrompida?!? E como exatamente vocês conseguiram isso? E o que exatamente essa coisa poderia fazer com “vontade própria”?
“Vamos por partes. Primeiro, apoie a sua mão sobre um ponto dessa barreira e observe sem retirar a mão.” – hesitei fazer de imediato, mas quando apoiei minha mão em uma das pontas da “caixa”, a bola pareceu reagir. Veios negros começaram a sair da esfera, que se aproximou um pouco da ponta em que eu tocava, e pareciam querer agarrar o meu dedo, sem sucesso por causa da barreira. – “Viu? Foi isso o que eu quis dizer com vontade própria.”
– Onde raios vocês conseguiram isso?... E, o quê, essa coisa tentou fazer agora? – questionei recolhendo minha mão e com aquela coisa demorando alguns segundos para recolher os próprios “fios”.
“Como eu mencionei, essa esfera está sobrecarregada de energia corrompida. Durante a nossa viagem, ajudei a Cris a remover toda essa energia de uma pessoa que, não só se deixou ser corrompido, como também cometeu atrocidades que nem queira imaginar! Se você não tivesse perdido a Guerra do Cristal, e nem mesmo conhecido a Cris, muito provavelmente, você acabaria do mesmo jeito que o antigo dono dessa corrupção toda aí.”
– Eu nunca que iria trocar o meu belo e puro poder de gelo por magia negra. – falei insultado.
“Eu disse que isso é energia cor-rom-pi-da! E não magia negra. A raiva e a ganância são capazes de converter qualquer tipo de poder límpido em algo sombrio. O dono dela, no começo, tinha um poder um pouco mais puro. De um tipo sombrio, mas ainda assim, consideravelmente seguro. No entanto, a forma com que a ganância e a raiva dele o dominou, e as coisas que ele fez, fez com que seu poder se torna-se tão assustadoramente perigoso, que se a gente não tivesse arrancado isso tudo aí dele não, AI da dimensão em que ele vive!”
– Ok. Acho que entendi a diferença. Mas ainda não entendi bem o mal que isso pode ser capaz de provocar. Acaso essa coisa tentou “se hospedar” dentro de mim?
“Antes fosse... O que essa corrupção tentou fazer foi é lhe roubar até a última gota de sua energia vital para que assim pudesse ganhar uma forma própria. Deixar de ser um punhado de massa energética e converte-se em uma criatura viva.” – _engole seco_ (e o quê exatamente você quer que a Cris faça com isso?!?) – “Isso é algo que até um sinesteta que acabou de aprender a domar a própria habilidade saberia dizer.”
– Como?
“Você tem visitas!...” – terminou ela de dizer com a porta sendo destrancada em seguida.
– Oi Gelinho! Espero que não se importe de ter a minha companhia um pouquinho e... QUÊ QUE É ISSO?!
– O quê que é o quê, Anya? – acabei questionando a pirralha que parecia encarar o mais aterrador dos demônios.
– Essa coisa em cima da mesa! Alguém precisa purificar isso aí com grande urgência! Quem foi que trouxe isso pra cá? A criatura ainda está viva? – explicou-se a elfinha encarando a bola com receio de se aproximar da mesa (agora estou entendendo o objetivo da Negra).
– Quem trouxe foi o Absol. Ninguém aqui gostou disso aí, nem mesmo o próprio black-dog, por isso que eu coloquei essa barreira.
– Menos mal... – ela ainda encarava a esfera.
– Mas o que você quis dizer com: “alguém precisa purificar isso com urgência”? Acha que Absol trouxe isso para a Cris aprender a usar os poderes de luz dela?
– Para a Cris?!? Olha Lance, não sei se a Cris daria conta de purificar essa coisa aí não. A quantia de energia corrompida dentro disso aqui é assustadora! E se ela não for purificada logo não, nem quero imaginar os tipos de problemas que essa coisa poderia causar. Como foi que Absol achou esse troço medonho?
– Eu não tenho ideia de onde isso possa ter saído Anya, mas graças a você, agora sei o motivo dele estar aqui. E por sinal... Qual o motivo de você ter resolvido me visitar mesmo? Conseguiu terminar de fazer aquela sua roupa especial?
Ela abriu um sorriso tão traquina quanto o da Negra...Cris 2
Depois daquela conversa com o Karuto, resolvi retomar meus deveres na cozinha. E usando o máximo que eu aprendi sobre a agua junto da minha imaginação para poder me facilitar ao máximo nas tarefas, como espremer frutas ou lavar louça. E até mesmo mexer uma panela ou congelar alguma coisa (Marine ampliou muito as suas capacidades ao mesmo tempo em que me ensinava após aprender sobre a dobra d’água).
Na hora do almoço, Purriry acabou me segurando na cozinha, dizendo que precisava falar comigo sobre a “encomenda” que eu havia feito à ela. E nisso o Nevra resolveu aparecer e aceitou acompanhar a purreka até o meu quarto, já que a Twylda me implorou por ajuda com a louça. Acabado tudo. Corri para o meu quarto.
– Miau... Vejo-os novamente um outro dia. Tchauzinho! – ouvia a Purriry ao entrar no corredor de meu quarto – Oh, Cris! Parece que algo interessante espera por você em seu quarto... _ronronando_.
– Algo interessante?
– Não se preocupe! É coisa boa. Bom, já conferi o que eu precisava em seu quarto. Agora vou retornar ao meu atelier.
– Espere Purriry! Sem querer ser muito inconveniente, mas ainda vai demorar muito para você cumprir “aquela” promessa?
– Estou nos ajustes finais. Sua encomenda me atrasou um pouquinho as coisas, mas acabou me inspirando algumas ideias. Não se preocupe! Vou arrastá-la de onde estiver para lhe mostrar as minhas criações. E por curiosidade... Que pedidos você cobrou do líder da Sombra?
– Pedidos?
– Sim! Que você ganhou como recompensa por vigiá-lo durante a Lua Púrpura!
– Ihhh!... Nem tava me lembrando disso! Vou tentar pensar em algo logo antes que até ele esqueça disso.
– Hihihihi! Peça para ele me comprar um traje para você! Farei questão de cobrar o preço integral à ele! Tchauzinho minha querida. – despediu-se a purreka sumindo no corredor _cabeça em negativa_.
Terminei de chegar em meu quarto. Mas quando eu entrei... cadê todo mundo? – Lance? – acabei o chamando já que não o via no quarto (e não era para o Nevra estar aqui também? Os dois estão na Morada por acaso?).
Notei que Absol também não estava no quarto, mas o que me aliviou só um pouquinho foi o fato de aquela “caixa” que Lance colocou ao redor daquela bola estar coberta. Me aproximei da mesa para dar uma olhada melhor naquela coisa (Karuto e Lance estão certos, se essa esfera medonha não tivesse alguma utilidade para mim, Absol não a teria trazido. Sempre encontrei utilidade para o que for que Absol me trouxesse).
– BU!! – quase que grito com o ser que me assustava por trás – _gargalhada_ Caramba Cris! – era Anya quem ria de mim – Estava “voando” tão alto assim pra esse “tombo” todo?! _riso_.
– Mais ou menos e... – reparei na forma como ela estava vestida – Você terminou a tal roupa! Ficou bem legal. Você se inspirou no crowmero, não é?
– Isso mesmo! – ela vestia um vestido tipo balonê cinza; acho... que uma blusa justa de mangas compridas da cor do vestido para cobrir a pele de cima; meias-calças também cinzas e com detalhes verde-fosforescente; botas que iam até um pouco abaixo dos joelhos, imitando a pele da ave e com o salto sendo o quarto “dedo”; uma capa presa às mãos por meio de luvas imitando as asas, com um capuz que imitava a cabeça de um crowmero; não consegui reparar bem o que lhe estava imitando a cauda do mascote, mas ela também carregava uma bolsa que, proporcionalmente ao tamanho dela, se passaria por um ovo de crowmero sem problemas – Terminei ontem de fazer os desenhos para poder produzi-la e o fiz aqui dentro. Você não se importa né?
– Nem um pouco! Mas porque motivo você quis me assustar?
– Se você tivesse usado o seu poder de assimilação ambiental,... – Lance surgia escorado na entrada do banheiro com Nevra ao seu lado – ...não teria sido pega de surpresa pela Anya.
– Vocês dois estavam no banheiro todo esse tempo é?
– É, pois é Cris. Concordo com o Lance de que você precisa aprender a usar esse dom de “enxergar” tudo toda hora, e em todo lugar. Já pensou se a Anya fosse uma inimiga? – apontava o Nevra – E bem que você podia ter me avisado sobre esse seu projeto aí Verdheleon.
– Nem pensar Becola! Você provavelmente iria querer ficar palpitando sobre a minha roupa! E tenho certeza que você não ia me deixar fazer algo inspirado em um mascote.
– Não vou negar, ainda não concordo com toda essa fosforescência de sua roupa. Você só vai conseguir enganar alguém com ela se estiver no escuro, ou se quem lhe ver tiver a visão ruim.
– Pois eu a quis assim e a Purriry me ajudou e muito a conseguir desenhá-la do jeito que eu queria.
– Que seja!... – acabei rindo de leve da situação entre Anya e Nevra – Mas agora é a sua vez Cris.
– Como é?! Minha vez com o quê??
– Ao invés de você treinar comigo hoje, vai começar seus treinos com o sanguessuga e o meu irmão.
– Heeeiiin?!?
– Você já está em condições de começar a treinar com eles Ladina. Eu só queria que essa bendita armadura já estivesse pronta para que eu pudesse estar presente também... – terminou o Lance de explicar meio emburrado.
– Você tem certeza, Lance? Certeza absoluta? Não é melhor esperar mais alguns diazinhos?
– Sem desculpas Lys de Eldarya! – Nevra se aproximava de mim por trás – Hoje você vai aprender a como se defender em batalha comigo e com o seu chefe. – começava ele a me empurrar até a porta – E enquanto Valkyon e eu cuidamos de você, Lance fica analisando como que aquela bola bizarra pode ser útil para você.
– Eu já falei... – se intrometia a Anya que nos seguia – Essa coisa precisa ser purificada... – (purificada?) – Perguntem a qualquer um que seja capaz de distinguir energia negra de energia corrompida.
– Como?!?!
– Vai logo Princesa. – pedia o Lance sentando-se à mesa e descobrindo aquela coisa (é impressão minha ou a caixa está cheia de névoa?) – Quanto mais rápido você puder ir e castigar o sanguessuga que a está empurrando, mais rápido poderá retornar e descansar.
– Muito engraçado “Gelinho”. – deu para notar bem a raiva estampada no rosto do Lance – Fique observando se quiser, mas eu não irei dar motivos ou chances para me transformar em saco de pancada dessa bela guerreira aqui não.
(Ô meu Senhor amado...)Lance 2
– Vocês tem certeza que essa coisa vai de fato ajudar a Cris a aprender o uso dos poderes de luz dela?
“Sim.” – respondia aquelas duas juntas, que apareceram quase imediatamente depois de eu ficar sozinho.
– E ela só terá que... purificar essa coisa, como Anya mencionou?
“No momento em que ela tiver terminado de limpar toda a corrupção presa nessa esfera, ela já será capaz de dominar praticamente todo o poder dela!”
“Mas não será uma tarefa fácil.”
“Pois é, minha irmãzinha está certa.”
– E quando ela vai ter que começar isso? Vou poder ajudar de alguma forma? – ainda carrego um mau pressentimento sobre essa coisa...
“Não prestou atenção no alerta da Anya não?!? Quanto mais rápido ela puder começar melhor! Caramba.”
“Cuide das necessidades dela e já estará ajudando.”
– Que querem dizer com isso?
“Logo, logo você descobre Gelinho.” – _contento a raiva_ – “E já adianto que você terá de convencer a Cris a começar o serviço. Ela ficou bem abalada durante o processo do que fizemos...”
– Será que tem como você me explicar exatamente o que foi que aconteceu Negra?
“Hããããmmm... Não.” – _respirando fundo à força_ – “Mais pra frente você descobre por seus próprios olhos. Ou algo assim.”
– Pelo amor à mãe de vocês... sejam claras... – acabei implorando.
“Não podemos.” – até quando elas continuarão me testando...
“E se você não a convencer por conta própria não, nós o forçaremos.”
– Pois eu só quero ver, peste.
“Olha que você se arrepende!...” – passei a ignorar a presença daquelas duas e fui atrás de tomar o meu banho.
Terminado, resolvi dar uma olhadinha no treino da Cris pela janela. Olhei bem a tempo de quase ver o sanguessuga levar um golpe no ponto fraco. Mas perdi todo o ânimo ao perceber que alguém parecia observar tudo na surdina (já tem outra praga querendo grudar no pé dela?! Cadê o Absol?). E essa armadura que não fica pronta...
“Pragas atrás dela e dos outros é o que não vão faltar! Absol saiu atrás de ingredientes para poções de revitalização.” – (não me lembro de lhe ter dirigido a palavra...) _nervoso_ – “Eu sei. Só quis provocá-lo mesmo já lhe informando um pouco.”
– Só uma pergunta e me respondam de forma direta: O canalha que a está seguindo não vai conseguir tocar nela, vai?
“Ela o despistará. Enquanto o trabalho não começar, não há com o quê se preocupar.”
“E sabendo isso pode ficar de cabeça fria se por acaso ela demorar a chegar!”Cris 3
Aquele lobisomem da semana passada já me foi mal suficiente para compensar toda a alegria que ganhei com a Marine, mas o universo parece estar me reservando alguma coisa para eu ter de encarar dois guerreiros de elite após eu passar por nem sei o quê.
Nevra ficou me empurrando o caminho todo até o campo de treino, e Anya estava chamando a atenção de todos com a roupa dela _sorriso_. Quando chegamos ao campo, Valkyon e Voronwe conversavam, e o elfo ficou parecendo atônito ao ver a filha!
– Estrelinha?! Isso que você está usando é uma armúr mistéireach??
– Sem dúvidas papai! Gostou?
– Ficou... único! Com toda a certeza, mas como aprendeu a criar uma?
– Quando Anya fugiu de casa, ela conseguiu obter um livro élfico em que ensinava a produzi-la com os mascotes. Desde então vem trabalhando nela. – expliquei por ela.
– Livro??
– É papai. Posso mostrá-lo depois se quiser. Muita coisa eu só consegui entender com a ajuda da Cris mesmo... – (porque é que o Voronwe me pareceu assustado?).
– Gostaria muito que me deixa-se ver Estrelinha. – agora ele sorria – Vamos indo pra casa?
– Vamos! Até mais Cris!
– Byebye Anya! – e os dois se afastaram juntos. Quando eu me virei para o Valkyon, Nevra parecia terminar de repassar as novidades – Er... atrapalho?
– Nem um pouco. – os dois falaram juntos (ai...)
– Já faz algum tempo que você não treina comigo, então é melhor revisarmos o básico primeiro.
– E com o adicional de que terá que estar utilizando o que aprendeu com o Gelinho recentemente! – complicava o Nevra. Acabei choramingando.
– Vamos lá Cris. Se concentre e comecemos com o treino.
Respirei fundo para conseguir me acalmar. Já concentrada, a revisão do básico em lutas estava consideravelmente fácil. A capacidade de estudar todo o ambiente sem ter de “observá-lo” ajudava muito a me mover com mais fluidez. Tanto que nem percebi quando já havíamos saído do básico e estávamos lutando de verdade. No começo, era só eu e o meu chefe. Nevra parecia observar o melhor momento para se meter na batalha (se concentrar em lutar e ficar vigiando outra pessoa não é tarefa fácil).
Não demorou muito para o Nevra se meter na luta. E não foi fácil eu me defender daquele vampiro escorregadio! Quase perdi a concentração umas três vezes porque ele estava consideravelmente atrevido. Tão ousado que eu quase lhe atingi nos “documentos” em sua última afronta.
– É melhor terminarmos por hoje. – declarava o Valkyon segurando a risada pelo o meu quase “acerto” – E torça para que o guardião da Cris não tenha assistido a nenhuma de suas “tentativas” Nevra.
– Refere-se a qual dos dois?
– Qual que você acha que seria mais perigoso Nevra? – questionei com malícia.
– Francamente, eu não sei. Qualquer um dos dois me daria um enorme trabalho se eu tiver de enfrentá-los.
– Então é melhor parar de criar motivos para essa contenda. Deixe que eu e o Nevra cuidamos de tudo aqui Cris. Pode ir comer, ou banhar-se, ou o quê você quiser fazer.
– Obrigada mesmo chefinho. – declarei doce – Tchauzinho atrevido. – despedi-me azeda.
Deixei os dois cuidando das coisas e resolvi dar uma passeada nos jardins um pouquinho. Mesmo já estando liberada, não parei de continuar usando a “visão” ambiental, pois, se sem a domar direito me facilitou tanto assim nos treinos de batalha, o quão boa irei me tornar depois que aprender a usá-la com perfeição?
Tentei observar tudo enquanto passeava e... acho que fiz bem... Durante o treino, não foi difícil reparar que várias pessoas paravam para nos assistir. Mas apenas um continuou me observando depois de tudo encerrado, e parecia estar até me seguindo.
Não importava aonde eu ia, lá estava sei lá quem próximo de mim. Às vezes mais perto e às vezes mais longe. E sempre que eu me virava na direção da criatura, ela se escondia (não estou muito afim de uma nova tentativa de “assédio”). Na esperança de me livrar de seja quem fosse, fui para tudo que é canto tentando me esconder, mas estava difícil... Só consegui a minha chance quando eu entrei no Corredor das Guardas. Aproveitei que estava longe o bastante para não ser vista no corredor e passei pela primeira porta aberta que encontrei. Rezando para que seja lá quem fosse que estava no meu pé não me descobrisse.
Cheguei a ouvir alguém correndo pelo corredor, mas fiquei em pleno silêncio para não ser descoberta. Ao “enxergar” que o meu perseguidor havia se afastado, voltei a respirar. Por via das dúvidas, achei melhor aguardar escondida mais um pouco, aproveitando o quarto vazio. Qualquer coisa eu podia contar a verdade do que me aconteceu ao dono do quarto que... por algum motivo, parecia-me bem familiar, mesmo sendo a primeira vez em que entrava nele (odeio a sensação de déjà-vu).
Atravessei o quarto sem tocar em nada e observando tudo (gostei da decoração desse quarto!), e me aproximei da janela sem me deixar ser vista pelos de fora. O canto zen construído de frente a janela no quarto me ajudava a relaxar do meu abalo. Mas quase que o meu coração pula para a boca ao ouvir a maçaneta da porta!
– Cris? – era o Leiftan – O que faz em meu quarto?
– Seu? Bom, desculpe a invasão, mas era uma emergência.
– Como assim? – expliquei a ele todo o ocorrido e ele me pareceu compreensivo – Entendi. Que bom que eu esqueci de trancar minha porta então.
– Desculpe de novo por entrar aqui sem autorização.
– Tudo bem. Não se preocupe com isso. Conversarei com os que sabem do Gelinho sobre isso e tentaremos descobrir quem era que estava te perseguindo.
– Lhe seria muito grata Leiftan. – um silêncio um tanto desconfortável acabou caindo entre nós – Acho... que é melhor eu ir indo, não? – acabei por falar.
– Posso lhe acompanhar se quiser. Quero disser, para uma maior garantia de segurança.
– Não seria incômodo? Se não se importar com a possível reação do meu colega de quarto, aceito sim senhor.
– Incômodo nenhum. My lady... – ele me abria a porta e seguimos juntos até o meu quarto.
No caminho ficamos conversando sobre a decoração do quarto dele, e ele me pareceu contente por eu ter apreciado o gosto dele. Chegando ao meu quarto, eu quase não me lembrava mais da aflição que eu senti antes.
– Está entregue Cris. Sã e salva.
– Mais uma vez obrigada Leiftan. Uma boa noite pra você.
– Bom descanso Cris. E pode deixar que não esquecerei de reunir o pessoal para conversar sobre... o seu passeio de hoje à tarde.
– Valeu mesmo Leiftan. Tchauzinho. – despedi-me já entrando no quarto e o vendo sumir no corredor vazio.
– Está tudo bem com você? De que passeio você e o meu ex-sócio falavam? Era ele com você agora, não era?
– Por favor Lance... Não estou com cabeça para lidar com os seus ciúmes... – falei lamentando.
– Não é ciúme Ladina. – seu tom estava gentil – É que, eu reparei pela janela que alguém parecia de seguir! – _espantada_ – E como você demorou para aparecer me preocupei um pouco.
– Bom, se é mesmo esse o caso... Você está certo. Alguém estava me seguindo. E consegui me livrar de seja lá quem for ao entrar no primeiro quarto que pude entrar no corredor das guardas. Quarto este que descobri pertencer ao Leiftan mais tarde.
– Então, imagino que você tenha explicado tudo a ele, e depois ele se ofereceu em lhe acompanhar até aqui, por garantia.
– Exatamente Lance. – acabei me deparando com a esfera sobre a mesa – Conseguiu descobrir qual que seria a utilidade dessa coisa?
– É. Mais ou menos. – ?? – Parece que a Anya estava certa. O que se deve ser feito com essa bola é purificar a energia dentro dela.
– Vou pro meu banho. Nevra me testou a paciência hoje e não consegui ter o passeio que eu queria. Se não fosse pelo Leiftan eu ainda estaria tentando reunir coragem para voltar.
– Tudo bem Princesa. Karuto passou mais cedo para deixar a refeição e eu preferi esperá-la pra comer. Arrumarei tudo enquanto se higieniza.
– Muito obrigada. – declarei sorrindo e seguindo para o chuveiro.
.。.:*♡ Cap.120 ♡*:.。.
Lance
A Cris demorava, e eu estava ficando preocupado. O par de videntes não deixou o quarto, mas ficaram quietas em um canto. Estava quase resolvendo questionar aquelas duas assombrações enquanto encarava aquela bola negra, quando finalmente pude ouvi-la do lado de fora (mas ela tinha de estar acompanhada do Leiftan?).
Tentei conter meu ciúme porque a minha preocupação com ela era maior naquele momento, e comecei a ajeitar a nossa refeição durante o banho dela.
“Não esqueça de convencê-la a começar hoje a cuidar dessa coisa!”
Ignorei a Negra e continuei com o que fazia. Logo a Cris se sentava à mesa para a refeição e começamos a conversar.
– Como foi o seu treino Ladina?
– Em questões físicas, um horror! Nevra ficou brincando com fogo lá embaixo.
– Eu imagino... _sorriso malicioso_ Eu vi quando você quase o “acertou”.
– Pois é. Nesse sentido o treino foi horrível, mas...
– Mas?
– Eles me mandaram “enxergar” tudo durante o treino, e isso me ajudou bastante em tudo. Tanto que acabei decidindo continuar observando tudo para me aprimorar nessa habilidade. E ainda bem que o fiz...
– Pode me disser como foi a sua... perseguição?
Ela respirou fundo e começou a me contar tudo, cada tentativa feita para se livrar de seja lá quem que me pareceu ser mais ou menos bom em perseguições já que se não fosse a capacidade recém adquirida de enxergar o ambiente mais amplamente, ela não o teria percebido.
– E em nenhum momento você conseguiu ver quem lhe seguia?
– _suspiro_ Não... Eu até que tentei vê-lo mas, ainda não “enxergo” com nitidez o que está à minha volta... Tenho muito o que melhorar...
“Vai ficar enrolando até quando Gelinho?!” – como se eu fosse obedecê-la...
– Mas e quanto à essa coisa Lance? – ela apontava para a esfera – Lembro que a Anya comentou alguma coisa sobre ela ter de ser “purificada”, não é isso?
– Sim. Foi sim. – fiquei em silêncio e minha Ladina também.
“Argh!... Já perdi a paciência!” – declarava a Negra se aproximando de mim junto da branca.
– Lance, o que você acha que eu devia fazer? Quanto a bola.
– Sobre isso... – logo senti que as duas assombrações me agarravam a nuca e a garganta – Acho que você devia trabalhar o quanto antes com ela. – (é o quê?!).
– Trabalhar o quanto antes? Purificar eu mesma essa bola... agora? – (de jeito nenhum!).
– Exatamente. – por mais que eu desejasse, não conseguia me mover ou dizer o que eu queria (tá para me largarem suas pestes!) – Talvez lhe dê algum trabalho conseguir fazer toda essa escuridão se converter em luz, mas, sei que conseguirá. Você é a mulher mais incrível e poderosa que eu já conheci em toda a minha vida! Por isso tenho certeza que terá êxito. E qualquer coisa, posso ajuda-la no que me for possível.
– Lance, eu... – ela estava corada com as palavras que não eram minhas (por favor não aceite ainda...) – Tudo bem Lance, irei tentar. – (nããããoooo!!!) – Obrigada por me encorajar e se oferecer para me ajudar.
(Pragas miseráveis! Me deixaram sem qualquer escapatória!) – “Nós te avisamos Gelinho. Nós te avisamos...” – elas se afastaram em seguida.
– Há algum problema Lance?
– Não! – (ai, se eu conseguisse encostar naquelas pragas...) – Só estava pensando que, já que aceitou lidar com essa coisa...
– Não é comum você se contradizer Lance.
– Não! Não é nada disso! – aquelas pragas... não posso acabar com a autoconfiança que elas me fizeram dar à Ladina e muito menos a em mim – Eu só estava pensando: nós podíamos aumentar a sua segurança se você o fizesse enquanto faz as suas orações! Não dá para confiar nessa esfera.
– O que está querendo dizer Lance?
Respirei fundo e removi o pano que havia colocado para cobrir aquela coisa.
– Experimente apoiar um dos seus dedos na barreira que coloquei sobre isso e observe. – pedi à ela.
Ela estranhou meu pedido, porém o atendeu. A esfera, que estava mais próxima de mim, acabou rolando para mais perto dela e começou a liberar os mesmos fios negros que tentaram me agarrar, agora indo atrás dela, e ela afastou a mão apressadamente antes que os fios lhe “tocasse”.
– O quê essa coisa tentou fazer Lance? – ela estava assustada.
– Eu, pessoalmente, não saberia lhe explicar, mas definitivamente não é boa coisa. Por isso que essas trevas precisam se tornar luz logo. Não sabemos o que pode acontecer se não tratarmos dela logo... E de modo seguro.
– Entendo agora onde quer chegar. Trate mesmo de me ajudar! Eu não quero acabar me dando mal por culpa dessa coisa! – me exigia ela quase que desesperada.
Um riso me escapou sem querer e terminamos a refeição. Sugeri à ela que começasse depois de já pronta para se deitar, e que evitasse ficar deitada para não acabar adormecendo enquanto segurava aquela coisa, e minha Ladina aceitou sem reclamações. E na hora de remover a barreira...
– Não... é melhor você começar com suas orações primeiro e depois pega na bola?
– Hum... Talvez tenha razão... Um segundinho! – declarou ela já indo atrás de seu terço.
Esperei ela terminar a tal da persignação e só depois removi a barreira. A maana que ela estava emanando era realmente tranquilizante, mas, aparentemente, aquela esfera reconheceu o perigo que toda aquela boa energia podia ser para ela, já que tenho certeza que a via tentando se afastar da Ladina.
Ela tomou a esfera em suas mãos e sentou-se recostada à cabeceira da cama. Ajeitei-me mais ou menos do lado dela para fazer-lhe companhia.
“Depressa Gelinho! Acorde logo!” – ergui a cabeça assustado (quando foi que eu dormi?) – “Quando que você dormiu não interessa, o que interessa é que a Cris, não, devia, ter, dormido!”
– Não faz isso... – ouvi minha Ladina disser, e fiquei chocado com o que vi.
– O quê essa coisa está fazendo com ela?! – perguntei quase desesperado.
Minha princesa dormia sentada. A esfera ainda estava em suas mãos e ela envolvia os braços de minha amada com aqueles fios negros até os cotovelos dela. Alguns desses fios pareciam avançar por dentro da pele dela!
“Está roubando a força vital dela. Fazendo-a ter pesadelos com o antigo dono dessa energia aí. No que ela caiu no sono, a esfera tirou proveito do interrompimento do processo para purifica-la. E se não a impedirmos depressa não, ai... A Cris não pode morrer!!”
– É o QuÊ?! – ajoelhei-me num pulo – Como que impedimos essa coisa?
– Lance... me ajuda... – a Cris começava a chamar, o que por algum motivo não me agradou.
– E com o quê exatamente essa coisa está a fazendo sonhar?
“Errr... Sobre o que ela está sonhando, só digo que é melhor você não saber para evitar que inocentes pague no lugar de culpados.” – declarou ela com o rosto um tanto escurecido (como é que é?) – “E quanto ao meio de ajuda-la... De que tipo é o seu poder de cura?”
– Como?? Desde quando existe tipagem para esse poder?
“Ai céus... Existem três categorias para o poder de cura: o catalizador, que acelera a própria capacidade regenerativa dos curados; purificador, que elimina qualquer substância de origem externa que venha a prejudicar o corpo; e o retroativo, que faz com que todo e qualquer mal retroceda no tempo até parecer que a moléstia nunca existiu no corpo da pessoa. A identificação dessas classes geralmente estão ligadas ao elemento que a pessoa é capaz de controlar. Sei que o poder de seu irmão, que controla o fogo, é do tipo catalizador. O poder da Cris é catalizador por causa da agua, e purificador por causa da Luz. Já o gelo pode ser de qualquer um! Por isso que estou te perguntando isso, pois o tipo que precisamos aqui, é o retroativo!”
– Eu... Eu não sei! – observava minha Ladina que estava vermelha e começava a suar – Nunca soube que existiam essas classificações. Por isso nunca reparei na forma que o meu poder de cura agia... Você mesma não consegue descobrir isso visualizando o futuro não?
“Esqueceu que o futuro é um mar de possibilidades? E eu não acabei de dizer que os manipuladores de gelo podem ser de qualquer uma das classificações?! Existem vários universos em que você controla cada um desses tipos, e se o seu eu que está diante de mim não for da classe retroativo, nossa única esperança será um ritual de exorcismo, do qual não teremos muito tempo.”
Engoli seco. Tentei respirar fundo para me acalmar e tentar me concentrar – Eu vou tentar. – me decidia já rezando para ser capaz de socorrer minha Ladina.
“Pois se apresse! Não temos todo o tempo do mundo!”
Ainda tentando concentrar o meu poder, abracei a Cris que parecia arder, e, focando o meu poder de cura ao máximo sobre os seus braços, pude notar que muito devagar, aquelas linhas começavam a recuar. Agradeci à todas as divindades... Sou da classe Retroativa! Até a Negra começou a agradecer aliviada. Concentrei todas as minhas forças para expurgar aquela coisa da minha Princesa.
A esfera até que tentava resistir, mas a agonia que todos aqueles pedidos de ajuda de minha amada me causava só me fez esforçar-me cada vez mais em expulsar aquelas linhas negras que se mantinham presa nela.
Após alguns árduos minutos, a bola finalmente recolheu seu último fio e caiu rolando no chão. A Cris estava molhada de tanto suor e respirava pesado, além de chorar.
“Ufa, ainda bem. Você não só conseguiu salvar ela como também restaurou um pouco do que ela havia perdido para aquela bola.”
– Ela está mesmo bem agora? – ainda estava preocupado.
“Está. Mas é melhor acordá-la agora porque o pesadelo que ela teve não foi brincadeira.”
– Está certo. – envolvia-a com mais cuidado – Cris... Cris!... – chamei-a e ela começou a pedir perdão (por quê?) – Cris... acorde!...
Assim que eu disse “acorde”, ela arregalou os olhos e se ergueu como se não soubesse nem onde estava.
– O... O que aconteceu? Foi tudo um pesadelo? Quando eu dormi e onde foi parar aquela bola?
– Calma. Respire fundo. – tentava tranquiliza-la – Quando você dormiu eu não vi, pois também caí no sono sem perceber. – ela ainda parecia desnorteada – Acordei ouvindo pedidos de ajuda e, quando lhe vi, aquela bola tinha um monte de fios agarrados em você até mesmo por dentro da pele.
– Mas hein!?
– Aparentemente ela estava se “alimentando” de você. Drenando a sua vitalidade para si. Eu não sabia bem o que fazer para ajuda-la a se libertar daquela coisa, então arrisquei usar poder de cura e... funcionou. – ela parece transtornada – Me deu trabalho, mas aquela coisa te largou. Mas estou curioso, o que você sonhava enquanto presa naquilo? Fiquei agoniado com os seus apelos.
– Eu... Não sei se... Se seria uma boa hora para lhe dizer... – não estou gostando disso. Ela ficou vermelha só de lembrar do pesadelo? – E onde você disse que aquela bola dos infernos foi parar?
– Deve estar em algum lugar do chão. – falei me levantando para procura-la e aprisiona-la.
– Disse que ela estava... se “alimentando” de mim? Roubando de mim a vida?
– Foi. E olha aqui ela... – encontrava ela entre as pernas das cadeiras.
– Ótimo. Vou dar uma passada de agua no corpo porque fiquei uma sopa. Não tire os olhos dessa coisa! Pois ela me paga!
– E o que é que você planeja??*****
(É nesse intervalo que a leitura do especial +18 de “Amnésia Transdimensional” seria recomendável. Inicialmente, eu não iria deixar nenhum spoiler sobre o conteúdo do especial, mas... Diante dos ocorridos quando o postei... Deixarei mais ou menos resumida a historia aqui. Aqueles que, já cientes do enredo, ainda tiverem interesse em ler o capitulo, entrem em contato comigo via MP para que eu possa lhes enviar o capitulo (em spoiler) por MP também. Mas atenção! Eu só irei enviar para aqueles que realmente leram tudo até aqui! E para confirmar se os interessados leram mesmo ou não, farei três perguntas aleatórias tanto sobre essa história, quanto sobre “Amnésia”. E olha que eu sou boa em fazer perguntas difíceis, heim! Explicações dadas, sigamos em frente.)Cris
Bem que aquela bola me dava calafrios. Não acredito no que ela me fez passar! Se o que aquela bola me fez sonhar tivesse sido ao lado do Lance, aquele teria sido o sonho “quente” mais fascinante do mundo! Mas... Me fazer passar por tudo aquilo com o Leiftan??... E ainda por cima com ele sendo um dragão e não um daemon?! Qual o problema daquela bola?
Se fosse o Lance no sonho, eu teria me entregado a tudo aquilo plenamente! E com toda a certeza aquela bola teria conseguido roubar bem mais forças de mim. Será que foi por isso que estava sonhando com o Leiftan ao invés do Lance? Teria sido essa troca uma tentativa de defesa do meu subconsciente?
De qualquer forma, de jeito nenhum tenho coragem de contar isso tudo para o Lance (vai que ele decide querer matar o Leiftan por causa de um sonho!), aliás... Não tenho coragem de contar isso nem para o próprio Leiftan! E... será que ele era mesmo daquele jeito? Eu não sei até onde era coisa daquela bola e até onde poderia ter sido a minha consciência tentando resistir, mas... Se fosse comparar minhas noites com o Lance com o que vivi naquele “sonho”, Lance é bem mais silencioso. Sem falar que ele nunca estragaria nenhuma roupa minha (ai do Lance se ele se atrever a me estragar uma chuquinha de cabelo que seja!).
As explicações que o Gelinho me deu, somados àquele pesadelo me fez trocar o medo que sentia por raiva. E se fosse outra pessoa a vítima ao invés de mim?! Como que eu poderia permitir que... Anya, por exemplo, acabasse passando por tudo aquilo no meu lugar? Ou quem sabe a Erika? Ou então Caméria, ou Miiko, ou... sei lá quem! Não... Eu não iria permitir que ela atacasse mais nin-guém com aquela covardia...
Fui para o chuveiro rapidinho (já que aquela coisa me fez suar como se realmente tivesse passado por tudo aquilo) e vesti uma roupa confortável. Tomei um belo copo d’água, peguei o meu terço e voltei a me aproximar daquela bola.
– Tire a barreira Lance. – pedi ao finalmente terminar de me preparar.
– Tirar? Tirar pra quê? Você mal conseguiu escapar dessa coisa e já quer pega-la de novo?!
– Vai ser diferente dessa vez. Antes, eu não sabia do que ela era capaz, agora eu sei. E de jeito nenhum vou permitir que ela faça com outra pessoa o que me fez.
– Ladina... Pense bem. Estamos no meio da noite, não é melhor descansar agora e cuidar disso amanhã?
– Foi você mesmo que disse que essa ameaça precisa ser eliminada o mais rápido possível, e ainda prometeu me ajudar, então, faça-me o favor de cumprir a promessa. E TIRE ESSA BARREIRA JÁ!
Notei que Lance estava receoso, mas diante de minha determinação, ele fez o que pedi sem falar nada. Respirei o mais fundo possível... E comecei a pensar em todas as pessoas que queria manter em segurança daquela coisa, e a rezar um rosário infinito (pois antes daquela coisa ficar limpa eu não a largaria).
Apesar de todas as súplicas que Lance me fazia, passei a noite em claro. Andando às vezes para ter a certeza de que não cairia no sono outra vez.Miiko
– E foi isso o que a Cris me contou. Depois eu me ofereci para acompanha-la até o quarto dela, por questões de segurança e ela aceitou. Deixei-a no quarto e fui atrás de todos vocês.
Não acredito que esse QG não pode ter um momento de paz no que se refere à Cris...
– A Cris não conseguiu nenhuma pista sobre quem poderia ser o novo stalker dela?
– Aparentemente não Erika. – terminava de explicar o Leiftan.
– Nevra, Valkyon, vocês não perceberam nada de estranho durante o treino que tiveram com ela à tarde? – resolvi questionar.
– Muita gente decidiu assistir ao treino Miiko, e quando acabou, eu disse a Cris que ela podia ir para onde quisesse enquanto Nevra e eu cuidávamos dos equipamentos de treino. Depois disso, não a vi mais.
– Pois é. Fui forçado a ficar ajudando com aquele monte de metal e madeira e nem pude ir atrás de saber o quê que o Gelinho decidiu sobre a esfera sinistra que Absol resolveu trazer para ela.
– Bola sinistra?! – me preocupei – Do que é que você está falando Nevra?
Nevra começou a nos explicar sobre a esfera de energia corrompida que a Cris tinha no quarto e que Anya havia tido que ela tinha de ser purificada com urgência.
– E só agora você decide nos repassar sobre isso!? – falou a Ewelein na minha frente.
– Ei! Eu só fiquei sabendo daquela coisa quando fui atrás da Cris por causa do treinamento! E o Gelinho me falou que pretendia manter a Cris longe daquela coisa pelo maior tempo possível.
– Ok Nevra. Eu estava quase saindo para o quarto dela e assim examinar pessoalmente esta esfera. Mas como a Cris já deve estar quase se deitando a esta hora, vou deixar para vê-la amanhã.
– Espero que não se importe de eu querer ir junto. – oferecia-se o Leiftan – Pode ser que eu seja capaz de ajudar em alguma coisa.
– Sendo assim eu vou também. – declarava a Erika.
– Eu também vou. Para conferir a condição psicológica da Cris. – se adicionava a Ewelein.
– Muito bem, Nevra: vou incumbi-lo de descobrir quem é o nosso próximo estorvo. Valkyon: gostaria que você analisasse a condição da nossa segurança nas proximidades do quarto da Cris. E amanhã, Erika, Ewelein, Leiftan e eu visitaremos a Cris logo cedo para estudar essa esfera de que o Nevra falou. Vamos encerrar essa reunião agora.
– Ótima _bocejo_ ideia... A Cris anda tendo tantos problemas quanto eu... – declarou o Ezarel já deixando o quarto de Leiftan (onde havíamos nos reunido) para se preparar para mais um dia depois de livre da servidão (a Absinto acumulou bastante trabalho para ele. E ai dele se não der conta logo!).
Nos retiramos em seguida aos poucos, tendo sido eu a última a sair.
Em meu quarto, houve um momento em que uma sensação ruim me tomou o peito, mas que durou apenas uns cinco minutos. Cheguei a pensar na Cris e estava quase indo atrás dela mais cedo quando aquela sensação desapareceu. Foi uma situação estranha. E como aquela aflição desaparecera, deixei para ver a Cris amanhã como tinha combinado com os outros.
Não vou dizer que dormi mal, mas também não foi a melhor das noites. Alguma coisa... ainda me preocupava. Acabei levantando antes mesmo da hora em que devia acordar, e comecei a me arrumar. Ao sair de meu quarto, Leiftan fazia o mesmo. E Erika e Ewelein já nos aguardavam no corredor, com a Erika segurando uma grande cesta que, pelo cheiro, devia ser o café da manhã de todo mundo.
Nos cumprimentamos, Erika confirmou minha suspeita, e seguimos juntos até o quarto da Cris.
Pela demora em abrir a porta, pensei que aqueles dois ainda estariam dormindo, mas eu fiquei pasma com as olheiras que Lance tinha ao finalmente nos abrir a porta!
– Mas o quê que foi que aconteceu? – questionei com ele ainda nos mantendo do lado de fora.
– Muita coisa. – ele respondia desagradavelmente – Vejo que a Ewelein está junto de vocês, talvez ela possa ajudar.
– Ajudar em quê? O que aconteceu aí dentro? – questionou a Ewelein já empurrando a porta para poder entrar.
Seguimos ela e eu não poderia ter ficado mais chocada com o que via. A Cris estava escorada à janela dela, rezando. Até aí tudo bem, mas... Não tinha como não reconhecer a esfera da qual Nevra comentou! E a Anya está absolutamente certa, aquela coisa precisava ser purificada com urgência.
– A-aquela coisa que a Cris está segurando, é a esfera que Absol trouxe para ela? – perguntava a Erika tão assustada quanto eu.
– É sim. – respondeu o Lance com indiferença e esfregando o rosto – E agora ela está tentando purifica-la.
– Desde quando ela está fazendo isso? E porque essas olheiras? – perguntei com todos nós mantendo distância da Cris por hora.
– Desde ontem à noite... – _boquiaberta_ – Nós dois acabamos caindo no sono enquanto ela lidava com essa coisa e quase que aquela bola não mata ela se eu não tivesse sido acordado a tempo.
– E mesmo assim ela voltou a pegar nessa coisa?! – espantava-se o Leiftan.
– Bem que eu tentei convencê-la a só retomar depois que o sol amanhecesse, mas fui ignorado e ainda forçado a vigia-la para que aquela quase tragédia não acontecesse novamente. Isso com a anjinha é comida? – Erika já estava esvaziando a cesta sobre a mesa.
– É sim. Ewelein e eu achamos melhor trazermos o café da manhã pois não sabíamos quanto tempo gastaríamos com a análise da esfera. Acaso é seguro nos aproximarmos da Cris?
– Seguro ou não a Cris necessita de descanso. Me passe essa bola Cris. – declarei já me aproximando dela, mas, antes mesmo que tivesse conseguido ficar a 15 centímetros dela, um feixe de teia negra disparou de dentro da bola em minha direção que só não me atacou porque alguém me puxou por quase um metro para trás – Mas!... O quê que?... – a liberação de maana da Cris pareceu mais intensa naquele instante.
– Sem estar envolto por algum tipo de escudo protetor, não é seguro para ninguém aproximar-se. – reparei que quem me salvara era o Lance, e as teias negras se recolhiam devagar – E a menos que eu esteja muito enganado, pelo o que eu observei, ela só vai largar essa coisa depois que terminar de limpa-la.
– Como é que é?!? – acabamos declarando todos juntos.
– Isso o que ele está nos dizendo, é mesmo verdade Cris? Você realmente pretende fazer o que ele disse? – perguntou o Leiftan onde a Cris respondeu apenas com um assentir lento de cabeça.
– E como se não bastasse... – Lance se encaminhava até o armário – Deem só uma olhada no que o black-dog trouxe para ela minutos antes de vocês chegarem e ele partir outra vez. – terminava ele de falar já colocando várias coisas sobre a mesa.
– Mas isso... são ingredientes para poções de revitalização! – reconhecia a Erika.
– E que definitivamente ela vai precisar se realmente pretender não largar aquela coisa por nada. – declarava a Ewelein já inspecionando os ingredientes – Ou Absol já sabia das intenções da Cris, ou alguém o avisou disso tudo.
– No seu lugar, arriscaria a segunda possibilidade. – declarou o Lance já começando a comer (do que ele está falando??).Lance 2
Essa noite foi mesmo longa... Tanto eu quanto a Cris chegamos até a caminhar dentro do quarto para não acabarmos adormecendo outra vez (não posso permitir que aquela coisa a agarre de novo). Sem falar que aquela bola é bem traiçoeira... Lá pras duas da madrugada, ela me pediu agua. No que me aproximei dela para dar-lhe a agua, aquela coisa só não conseguiu me atacar porque fui rápido em me afastar.
A Cris rezou tão intensamente naquele momento, que a bola foi forçada a recolher os seus fios para tentar manter a energia que tinha e assim sobreviver contra a Ladina. Eu não podia deixa-la passando sede, foi então que a praga me sugeriu que eu envolvesse as mãos dela com uma barreira e eu lhe desse a agua. Ainda bem que a ideia funcionou. Pude me aproximar sem aquela bola conseguir me avançar.
Absol apareceu finalmente trazendo consigo vários itens que deixava sobre a cama. A Cris já caminhava mais uma vez pelo quarto e eu resolvi guardar tudo aquilo para me manter acordado, com o black-dog observando nós dois. Ele partiu novamente depois que nós dois nos sentamos.
Eu estava cansado. Não havia me sentado nem por dois minutos direito, e já estava quase cochilando. Se não fosse pela porta, sabe-se lá quando eu teria despertado. Abri a porta para aquele povo e fiquei contente em ver a elfa enfermeira no meio deles (não posso ficar vigiando a Ladina sozinho). Repassei para eles mais ou menos o que tinha acontecido e, se não fosse pelo o alerta da Negra... A raposa incendiaria teria virado refeição da porcaria da bola.
Comi um sanduiche rápido para poder alimentar minha Princesa e repassei alguns detalhes dos quais estava me esquecendo. Enquanto alimentava minha amada, usando o mesmo truque para manter aquela bola sob controle, o pessoal se decidia como nos ajudar naquela situação toda.
– Vou descer com esses ingredientes e fazer poções deles. Você me ajuda Érika?
– Com toda a certeza Ewelein! Mas... tem certeza que você e o Leiftan serão o suficiente para ajudarem a Cris com isso tudo? Não seria melhor adicionarmos mais gente para acompanhar todo o processo?
– Precisamos de gente que tenha compreensão mística sobre as sombras, que saiba conjurar pequenas barreiras e, se necessário, que também seja capaz de efetuar um ritual de exorcismo. Eu tenho esses conhecimentos, mas como líder da Guarda, há muitos afazeres que me impedem de estar ajudando.
– Verdade Miiko. Valkyon pode ser bom com barreiras agora, mas entende bem pouco sobre as sombras. E Érika, você pode já estar razoável no entendimento das sombras, mas ainda tem que melhorar em relação ao equilíbrio de uma barreira.
– Não vou discordar de meu ex-sócio anjinha. – falava eu após terminar de ajudar minha Ladina – A última coisa que quero é o meu irmão em cima de mim por causa disso tudo aqui. Esteja em condições primeiro se quiser ajudar qualquer um.
– Eu vou indo antes que a Cris precise ser socorrida, e Leiftan fica sendo o primeiro enquanto o Lance descansa. Vem comigo Érika?
– Claro Ewelein! E eu já te ajudo. – declarou a anjinha já ajudando a elfa a carregar tudo.
– Não deixe de chamar qualquer um de nós se achar necessário Leiftan. – ordenava a Miiko já acompanhando as outras duas.
– Pode deixar Miiko. E como disse, a Rasul pode me substituir sem problemas.
– Muito bem. Conversarei com aquela yokai e lhe pedirei para que assuma o seu lugar por meio período. Cuido de tudo até a hora de trocar com a Ewelein.
– Farei isso. Até mais tarde Ewelein. – terminou ele de se despedir antes de fechar a porta (e eu fui dormir!).
.。.:*♡ Cap.121 ♡*:.。.
Lance
Minha Ladina estava mesmo determinada em purificar aquela coisa... Graças ao Leiftan, pude descansar um pouco, acordei com a Ewelein que trouxe umas cinco poções na mão, conversando com o daemon sobre como foi a vigília dele sobre minha amada. Lá para o começo da tarde.
A elfa permaneceu no quarto até tarde da noite, me ajudando com tudo o que a Cris não poderia estar fazendo sozinha por estar com as mãos ocupadas (e também com o que não seria muito cavalheiro em eu fazer).
Me questionando o porque da Ladina não querer fazer pausa alguma, a peste da Negra apareceu explicando que, se a Cris interrompesse por um minuto que seja o processo de purificação, aquela bola conseguiria recuperar uns 2% de sua força sombria a cada um minuto que ficasse “abandonada”, prorrogando ainda mais o tempo e o esforço de minha Ladina com aquela coisa (queria poder assumir o lugar dela um pouco...).
Nem sempre era fácil adivinhar o que a minha Ladina queria ou precisava, já que ela se mantinha concentrada ao máximo em seu trabalho. Pensando sobre isso, acabei me deparando com o frasco de mensligo enquanto a Ewelein a ajudava no banheiro (e o pior é que ela vem bem ao caso...).
A enfermeira e eu combinamos de fazer turnos entre nós até o Leiftan aparecer para tomar o lugar da enfermeira outra vez, sendo eu a pegar o primeiro. E, enquanto ela dormia na cama, peguei o frasco de mensligo para conversar com minha amada.
– Ladina. – ela virava o rosto devagar para mim, com eu falando baixo – Err... Já entendi que você não vai parar com isso até estar tudo terminado, mas... _respira fundo_ Fica um pouco difícil de ajuda-la sem saber direito as coisas que você deseja. Você viu, não viu? Quanto tempo demoramos para perceber suas necessidades?
– Ideia? – disse ela sem parar o que fazia. Acabei respirando fundo mais uma vez e lhe mostrei o frasco que tinha nas mãos.
– Não sei se você vai querer concordar ou não com isso, mas, na atual situação, ter nossas mentes conectadas poderá nos ajudar muito agora. Ao menos, poderei lhe socorrer mais depressa... E tentarei controlar os meus pensamentos ao máximo para não te atrapalhar!
– Nós dois. – falou ela e precisei de um instante para entender.
– Você aceita a utilizarmos se for nós dois a beber? – ela assentia devagar – _suspiro_ Tudo bem. Me dê um minuto. – pedi para buscar uma colher e depois para envolver a esfera negra com a barreira.
Fiquei o mais calmo possível e tomei minha dose primeiro para depois dar a dela. Não sabia bem o que iria acabar vendo depois da poção fazer efeito, e esperava que, por causa do nosso estado de espírito, quase não notássemos o efeito. Porém, assim que a minha dose começou a agir (com eu ainda dando a da Ladina) pude ouvir o que parecia várias vozes (que às vezes era só uma) rezando com ela.
Fechando os meus olhos, pude me ver no que parecia ser um imenso jardim florido, cheio de... “aengels”, ao redor de uma grande e frondosa arvore. E debaixo dela, estava a minha Ladina segurando aquela esfera, com duas pessoas extremamente próximas dela. Prestando mais atenção, notei que quem usava um longo manto anil e um véu branco era uma mulher, e o outro, de cabelos meio longos, barba e roupas brancas, um homem. Os dois pareciam abraçar minha Ladina, e aquela bola negra, com alguns fios à solta, não se aproximava nem um pouco deles (mas quem seriam eles??).
“Acaso já se esqueceu dos patronos da fé seguida pela Cris?” – (Neg...!) tentei me deter – “Não se preocupe. Estou escondendo nossa conversa da Cris e você ainda vai ver muito aqueles dois nos pensamentos dela. A mensligo realmente vai ser de grande ajuda aqui...” – (e... porque eles dois? Porque há tantos “aengels”?) – “Ela se sente mais segura e confiante com todos eles. E também a impede de esquecer em quê seus pensamentos precisam estar focados para a purificação dela ser efetiva.” – (compreendo) voltava a abrir os meus olhos sem deixar de ouvir o incessante “ave-maria” (mas sabe me dizer quanto tempo isso vai levar? Você não me respondeu isso antes de sumir na última vez) – “Infelizmente, levará alguns dias...[/color]” – (dias?!?!) – “Continue tomando conta dela! Especialmente quando tudo isso acabar, pois ela ficará esgotada.”
Respirei fundo enquanto a Negra partia... E voltei a velar por minha amada.
Durante todo o efeito da mensligo, procurei sempre manter pensamentos de carinho e incentivo na cabeça para auxilia-la (se bem que às vezes me via orando junto com ela), e não demorava nem dois segundos para lhe levar tudo que desejasse. Se sua vontade me chegava enquanto eu dormia, eu despertava e logo avisava à elfa ou ao daemon sobre o que ela queria (nos casos que era o Leiftan conosco na hora em que ela desejava o banheiro, eu me levantava para ajuda-la pessoalmente).
Absol continuou trazendo ingredientes para poções de revitalização, e a purificação acabou durando uns quatro dias. (Em um dos meus turnos noturnos, pensei ter visto asas nas costas dela por um segundo). Ela chegou a receber uma visita ou outra, como a do sanguessuga durante um dos meus turnos noturnos, avisando ter descoberto o último seguidor de minha Ladina, um khajiit que fazia parte da sombra e que é menos um no pé da gente agora.
Um benefício que observei durante todo esse processo: a Cris estava finalmente começando a controlar a sua emissão de maana. Ela estava conseguindo manter cada vez mais a maana dela junto de si, concentrando ainda mais as suas habilidades místicas, pelo o quê a Negra me explicou quando notei essa mudança (agora entendo porque me foi tido que ela já seria capaz de controlar todo o seu poder quando terminasse aquilo, se ela controlar sua maana... aprenderá qualquer coisa em apenas um dia. E ainda poderá se esconder melhor de nossos algozes).
No dia do Ritual de Maana, pensei que a Cris ou ia deixar de participar do ritual, ou ia pausar com aquela bola, mas ela não fez nenhum dos dois! Absol me levou por umbracinese para a Sala, e a Ladina seguiu a pé, com o meu irmão, a anjinha, o sanguessuga e o bobo-da-corte lhe fazendo cortejo até ela entrar, impedindo qualquer um de acabar se tornando comida daquela esfera que, nesse dia, estava quase lembrando um ovo de homúnculo da meia-noite.
No exato momento em que aquela coisa finalmente ficou 100% limpa, ouvi minha Ladina agradecer a Deus e vi ela deixar a esfera cair, quicando no chão sem se quebrar. Por muito pouco não consigo impedir dela bater a cabeça ao desmaiar depois de tanto tempo sem descansar! Ewelein que estava no banheiro se preparando para assumir o primeiro turno dela, começou a examina-la assim que terminei de colocar minha Ladina na cama, depois de ter ouvido o barulho da esfera cristalina sobre o chão.Cris
Sabia que o quê eu tinha me auto-icumbido de fazer não seria uma tarefa fácil, ainda mais com aquela coisa se mostrando tão traiçoeira daquele jeito. Cheguei até a imaginar um escudo envolta daquela esfera nas duas vezes em que ela tentou atacar alguém. Mas caramba... De todas as pessoas para ser a primeira a permitir um descanso ao Lance, tinha que ser o Leiftan?!? Esforcei-me como nunca para o que havia sonhado com ele não atrapalhasse o meu serviço (ô Mãezinha... ô meu Jesus... me acolham...).
Não esperava que o Lance fosse me sugerir usarmos a poção ganha por Lunna naquela situação, e como ela foi útil... Não precisei mais ter de ficar encarando as pessoas e apontando as coisas ou lugares que eu desejava, era eu pensar nelas, e Lance já me providenciava. Isso sem falar de todo o carinho e ânimo que ele ficava me repassando! E eu meio que fiquei feliz quando o percebia me acompanhando em minhas orações...
Sempre que pessoas queridas vinham me ver, como Anya, Karuto, Twylda ou Purral por exemplo, eu recordava mais o porque de estar fazendo aquilo. Ganhando força e coragem para seguir em frente até o fim.
No dia do Ritual de Maana, mesmo consumindo várias poções que funcionavam como energéticos, o sono estava tentando me vencer. Mas a reação do Lance ao saber que tinha como eu participar sim dele, me ajudou a acordar. Mesmo sem intenção aquele dragão tonto me ajudava _sorriso_.
Eu dei tudo de mim para conseguir neutralizar a ameaça que sentia habitar naquela bola e, quando finalmente deixei de ver ou sentir qualquer coisa negativa dentro dela... Senti o maior dos alívios.
– Obrigada meu Deus... – foi tudo o que eu consegui dizer antes de finalmente soltar aquela bola (agora límpida) e me deixar cair nos braços do sono que tanto rejeitei.Lance 2
A Ewelein a examinou de cima a baixo com o que tinha em mãos, deixando-me agoniado com toda aquela minuciosidade, sendo que, por conta do efeito da mensligo, a Ladina não deixou passar nada de “anormal” para a situação em questão.
– Parece que a Cris não irá despertar tão cedo... – terminava ela de examina-la – Mesmo com uso de poções para se manter desperta, não esperava que ela fosse aguentar tanto tempo sem dormir.
– Mas está tudo bem com ela. Nas... Atuais condições. – meio que a questionei enquanto cobria minha Princesa.
– Aparentemente sim. Só poderei ter uma análise mais assertiva depois que ela acordar e falar com ela, até lá... É melhor que ninguém interrompa o seu descanso.
– E... Ainda acha necessário continuar com as vigílias sobre ela?
– Hum... A esfera já não é mais uma ameaça para ninguém. – declarava ela observando a esfera que pegou perto dela – Geralmente o purificar de alguma coisa só causa cansaço no executor da tarefa, mas nunca soube de nenhum processo que tenha gastado tanto tempo como aconteceu com a Cris.
– Até esse ponto eu compreendo, mas ainda não responde se você considera melhor passar essa noite aqui, ou se prefere voltar a vê-la amanhã de manhã.
– Vai respeitar o descanso dela?
– O que pensa que eu sou para ter esse tipo de dúvida? – me indignei com a insinuação dela.
– Perguntei para ter certeza. Acho que não haverá problema em voltar amanhã. Soube que o Nevra fará parte da ronda noturna essa noite, mande-o me chamar se qualquer coisa acontecer com ela. – ordenava-me ela, e o black-dog retornava para o quarto – Nem que seja através de Absol!
– Tudo bem. Quer que eu lhe acompanhe à porta? – tentei ser gentil.
– Não é preciso. Absol, ajude esse dragão a garantir que a Cris descanse tudo o que ela precisa, ok?
O black-dog apenas entregou para a elfa uma flor que eu sabia ser portadora de várias propriedades medicinais e depois se deitou aos pés da Ladina. A Ewelein quase se esqueceu de minha Ladina ao ter aquela planta em mãos, indo embora em seguida quase sem nem olhar para trás.
– Mas você heim Absol... Pretende dar o quê aos outros que ajudaram a cuidar dela? – o black-dog apenas me revirou os olhos e permaneceu sossegado sobre a cama.Ewelein
A Cris me preocupava, achei aquela amnésia dela muito estranha. Isso sem falar de seus machucados que tinham bem mais que algumas horas de existência, sendo que eu sabia que ela não tinha machucado nenhum antes de passar por seja lá o que for (manter a saúde dela em dia está ficando cada vez mais complicado).
Quando Leiftan nos repassou que outra pessoa tentou seguir ela, sabia que sua condição psicológica poderia estar fragilizada. Principalmente depois do que Nevra havia nos revelado. Não dormi direito a noite preocupada.
Ao deixar meu quarto, a Érika cambaleava de sono dizendo que tinha de ir buscar a comida. Logo entendi o que ela queria dizer e lhe fiz companhia para, depois de estarmos carregadas de delícias (quando a comida é para a Cris, Érika ou Anya, Karuto sempre capricha) e termos repassado mais ou menos o que sabíamos para o cozinheiro, ficarmos aguardando pelos outros no corredor.
Lá em cima, no que pude colocar meus olhos sobre a Cris, fiquei em choque. Se não fosse pela minha sinestesia, eu teria corrido até ela sem pensar duas vezes, e eu não sei se o Lance conseguiria me impedir a tempo como foi com a Miiko. A visão que eu tinha era de uma imensa nuvem branca/dourada suprimindo um bolo de massa extremamente negra. E claro, altamente perigosa. O que me impediu de calcular com certeza quanto tempo seria necessário para aquela escuridão ser dissipada.
Assim que o Lance colocou os itens trazidos pelo Absol sobre a mesa, e terminou de explicar todos os ocorridos, apesar de todas as dúvidas e receios que tinha por conta de tudo aquilo, uma certeza eu tinha: a Cris precisa ser capaz de concluir a purificação.
Arquitetamos todos juntos os cuidados que ofereceríamos à ela e fui preparar as poções, o mais fortes e rápidas possível. Deixei Erika e os outros enfermeiros cuidando dos pacientes e me concentrei em fazer o maior número possível de doses. Acabados os ingredientes, coloquei tudo o que havia produzido em uma caixa e aguardei a hora de assumir o lugar do Leiftan.
De volta ao quarto, Leiftan me repassou que a Cris tinha se mostrado um tanto desconfortável por ter ficado bem dizer sozinha com ele (já que o Lance só estava acordando naquele momento), e alguma coisa me fez lembrar do tal pesadelo que Lance havia comentado (será que há ligação?). Assumi-lhe o lugar e combinei as coisas com o dragão. E devo confessar, nunca imaginei que alguém seria capaz de fazê-lo ter alguma compaixão que fosse por alguém! Bem que dizem que o amor é capaz de transformar uma pessoa...
O progredir da purificação foi preocupante. Apesar de todo o poder que a Cris possui, ela demorou a começar a concentrar melhor a sua energia, para que a purificação ficasse mais eficaz. Até parece que essa purificação é algum tipo de treinamento de luz! E como é que o Lance estava conseguindo adivinhar tudo que a Cris desejava daquele jeito?
Isso tudo levou muito mais tempo do que eu gostaria, me deixando cada vez mais preocupada com os efeitos que isso tudo possa causar na Cris. Por isso não foi nenhuma surpresa ela ter desmaiado quando aquilo tudo finalmente acabou. A examinei do jeito que pude, como pude, e era quase impossível não perceber o quanto que Lance esteve incomodado em ter de ficar “longe” da Cris e “acompanhado” durante todo o procedimento de purificação. A Cris não deixou nem mesmo um rastro para trás naquela bola! Foi um trabalho perfeito.
Por garantia, diante daquela pressa em ficar sozinho com ela, acabei questionando Lance se ele iria mesmo assegurar o pleno repouso da Cris. Sabia que ele iria se irritar... Mas eu tinha de confirmar. E Absol não podia ter aparecido em momento mais propício, no entanto, eu nunca iria esperar que ele me aparecesse trazendo uma echinacea-centaurea, uma das flores medicinais mais poderosas de Eldarya, e super rara também! Só com uma de suas finas pétalas, é possível criar 5 poções de cura de nível arcano! Não demorei em deixar o quarto, pois já sei como aproveitar o presente de Absol.Lance 3
Finalmente eu pude ficar sozinho com a minha Bela Adormecida (ou quase, o black-dog ainda é um incômodo quando na cama). Poder me aproximar dela sem receios é realmente muito bom. Poder abraça-la... Beija-la... Acaricia-la... Ficar pertinho sem ter de me preocupar com aquela maldita esfera.
Vê-la descansando finalmente depois de tudo aquilo me deu um grande alívio, e me pergunto por quanto tempo de verdade ela vai ficar dormindo, mas seja como for, espero que os planos daquelas duas pragas realmente tenham funcionado como elas queriam. Que a Cris agora esteja muito mais forte do que era antes disso tudo. E muito mais capaz de se defender dos canalhas que ficam a perseguindo.
O sanguessuga até que chegou a querer nos “visitar” durante a sua ronda, e como minha Ladina continuava a dormir serenamente... Não tinha nada para repassar à enfermeira. Dormimos a noite toda.
Amanhecido o dia, eu já esperava que minha Princesa permaneceria dormindo. Arrumei o quarto e deixei a bola cristalina em cima da mesa. A anjinha e o meu irmão foram quem nos trouxeram o café da manhã hoje, e eles também pareceram bastante aliviados por aquela bola não ser mais preocupação para ninguém. Erika saiu para avisar a Miiko e os outros e meu irmão ficou para conversar.
– Ewelein deu alguma estimativa para ela acordar?
– Nenhuma. – respondia – E eu não ficaria nada surpreso se ela continuasse assim por um ou dois dias.
– Isso com certeza será um atraso para os treinos dela...
– Talvez aos físicos, mas quanto aos místicos, acho que será bem o oposto.
– O que foi que você percebeu?
– Posso estar enganado, mas... Tenho certeza que agora ela aprendeu a controlar a maana dela, porém só poderemos confirmar isso depois do despertar dela. Até lá... Melhor que ela durma tudo o que não dormiu. – comecei a observa-la em seu sono calmo.
– Sabe que há uma chance daqueles caras tentarem vir atrás dela assim, inofensiva, não é?
– Aquela porcaria de armadura pode não estar pronta ainda, mas se algum daqueles miseráveis achar que irão conseguir chegar perto dela comigo aqui, estão redondamente enganados.
– _riso_ Ainda bem que a Cris criou o costume de largar a chave na porta, assim você sempre poderá abrir para os nossos.
– Se forem dos nossos. Se. – ele riu mais um pouco e logo alguém batia na porta. Não me demorei em abri-la.
– Como a Cris está? Como que ela terminou tudo? Aconteceu alguma coisa enquanto ela dormia? Ela ainda está dormindo? Acaso a Ewelein está com vocês?
– Errr... Bem; daqui a pouco lhe digo; não; sim; e não sei nada da elfa. Mais alguma pergunta imediata? Senhora kitsune. – por um instante ela me pareceu envergonhada.
– Não... Tudo bem se eu vê-la?
Abri passagem para a Miiko que estava sozinha e ela se aproximou da cama para observar minha Ladina que, naquele momento, abraçava o black-dog (mas que criatura abusada!).
– Sabe me dizer... se ela falou alguma coisa enquanto dormia? – questionava a kitsune acariciando a fronte da Ladina.
– Eu dormi a noite inteira bem dizer, e não a ouvi dizer qualquer coisa depois de se entregar a Morpheus. Porque a pergunta?
– Acaso se esqueceu das tais viagens que ela terá de fazer? Não sabemos se os sonhos que mostrarão para onde ela deve ir ocorrerão antes, ou depois da armadura estar pronta. E se ela acordar já sabendo do seu primeiro destino?
– É um bom ponto. – ponderava o meu irmão – No caso de isso acontecer, e se o que você me disse estiver certo Lance, ela poderá estar pronta para a sua primeira viagem antes que nos demos conta.
– Eu bem que gostaria de praticar combate um pouco antes... – deixei escapar.
– Mas você não acaba meio que o fazendo enquanto ensina a Cris?
– Eu acho Miiko, que o meu irmão está se referindo à batalhas sérias. Do tipo que só é possível ter com pessoas acostumadas a lutar, e não com alguém que está aprendendo.
– _suspiro_ É como o Valkyon disse. A Cris, até onde sei, não pode ser considerada uma boa oponente para mim. Ela se defende, mas não 100%. E ela também não gosta de atacar, não mortalmente.
A kitsune se afastou da cama em meio a um suspiro e começou a caminhar pelo quarto, refletindo consigo mesma.
– Os únicos que poderia estar permitindo praticar com você são o Leiftan, o Nevra, Ezarel e Valkyon, por serem os mais fortes que sabem sobre você. ... Vou ver o que posso fazer sobre você Lance. Será mesmo um problema se, quando for a hora... Você estar enferrujado. Pode me ajudar com isso Valkyon?
– Sem problemas Miiko. Agora Lance, como foi mesmo que aconteceu depois que a Cris terminou?
A kitsune se sentou e eu repassei detalhadamente tudo o que tinha acontecido durante o meu desjejum. Terminado, os dois foram embora dizendo para eu observar o sono de minha Princesa e me prometendo darem um jeito para que eu pudesse enfrentar alguém antes que essas viagens comecem.
O dia teria sido mais um monótono e comum dia (por exceção da Cris estar dormindo na cama) se o celular da minha Ladina não tivesse resolvido fazer barulho ao final da tarde. Corri para silencia-lo antes que ele conseguisse perturbar minha Princesa (e não era para ele não funcionar dentro do quarto?).
Antes que eu desligasse a chamada (já que a Ladina me ensinou um pouco sobre o funcionamento dessa coisa), reparei que quem ligava era a mãe dela. Por isso, ao invés de desliga-lo, resolvi atendê-lo.
– É... Alô? – falava baixo do lado de fora do quarto sob o efeito de uma ilusão e com o Absol de guarda na porta.
“Alô? Quem tá falando? Pode passar pra Cristinne por favor?” – logo reconheci a voz da dona Helena.
– Quem fala é o Lance e... A Cris está dormindo agora.
“Ah, é o sujeito... Acorde-a, ué! Mas eu quero falar com ela. Era para ela ter ligado ontem e estou quase a semana inteira preocupada com ela não sei por quê.” – (a semana inteira?!) – “Trate de tirar sua namorada da cama pra mim, vai.”
– Sinto muito. Mas realmente não será possível fazer isso. E a quantos dias que você disse estar preocupada com ela?
“Com hoje são quatro ou cinco. O que foi que aconteceu? Me diga.”
– Bom, de forma bem resumida, ela exagerou um pouco em sua última tarefa aqui no QG e acabou completamente esgotada.
“Como é?!”
– Ela mal terminou o que fazia, que por sinal era algo extremamente importante para a segurança de todo mundo e dela mesma, e desmaiou. Isso aconteceu ontem à noite e a enfermeira daqui disse, depois de examiná-la, que não era pra ninguém a impedir de descansar tudo o que ela precisava. Acho... Que depois que a Cris acordar, ela fará novos exames em sua filha, mas até lá... Ninguém pode acorda-la.
“Hum...”
– Eu sinto muito mesmo senhora, mas terá de espera-la acordar como todo mundo para falar com ela.
“Está bem sujeito. Assim que ela acordar, mande-a falar comigo imediatamente! Fui bem clara?”
– Si-sim senhora!...
“Não se esqueça!” – e desligou.
Caramba! Não é à toa que a Ladina reclama tanto da mãe dela. Até parece um líder de Guarda! Voltei para dentro antes que fosse visto e larguei o aparelho sobre a mesa, desligado. Assim evitava novas surpresas. Absol voltou a ficar na cama, só saindo para beber agua ou para sumir por alguns poucos minutos (ou ele sai para comer ou para “ir ao banheiro”).
Como a Miiko havia ordenado a vigiar o sono da Cris por causa de seus possíveis sonhos, voltei a ter companhia extra durante a noite. O sanguessuga ou o meu ex-sócio ficavam no quarto para velar o sono da Ladina no período noturno, e isso não me deixava nada confortável (ao menos espero que ela esteja tendo sonhos agradáveis...).
.。.:*♡ Cap.122 ♡*:.。.
Cris
"*Observava Eel pela minha janela aberta e o dia estava bonito.
– Ei Cris! Vamos dar uma volta? – era a Anya, sob a forma daquela fada-inseto, quem me chamava.
Não tive tempo de dizer nada. Ela pegou na minha mão e começamos a voar uma ao lado da outra tão rápido que nem sei qual era o caminho que fazíamos.
– Você vai amar esse lugar... Se não fosse por uma certa pessoa, eu o visitaria todos os anos.
– E pra onde estamos indo? – perguntei finalmente.
– Veja você mesma! – declarou ela e, quando eu olhei para a frente, estávamos diante de uma grande e bela cidade que parecia fundida com a natureza.
Pousamos, e comecei a prestar um pouco mais de atenção naquela cidade. Todas as construções eram de pedra que tinha a mesma textura do mármore, e cada casa tinha a sua própria cor de pedra. Algumas eram azuis, outras verdes, pretas... Cada prédio tinha a sua própria cor, eu só não achava branco. Mas o detalhe mais importante, é que eu não encontrava nem mesmo uma parede que não tivesse pelo menos uma videira bem cuidada nela.
Eram arvores, jardins, trepadeiras e arbustos espalhados por todos os lados. Nas casas, lojas, fontes, tudo! Um perfeito exemplo de harmonia entre cidade e natureza.
– Vem Cris! Vamos passear! – Anya, em sua forma normal, me puxava outra vez.
Corremos. Atravessávamos toda a cidade com eu a admirando cada vez mais! Até que finalmente acabei por encarar o primeiro edifício que era branco. E pelo tamanho, não ficaria surpresa se ele fosse algum tipo de castelo ou palácio.
Como os portões estavam abertos, curiosa, adentrei no lugar. Não tinha como eu não me impressionar com aquela construção imponente. As colunas e o teto eram ornadas com detalhes de plantas que pareciam serem feitos de ouro, prata e pedras preciosas, sem mencionar as plantas de flores magnificas que nunca tinha visto. Tudo era tão detalhado e bem trabalhado que era impossível alguém os olhar sem se fascinar com tamanha beleza.
Continuei caminhando por corredores, salas e escadarias cada vez mais incríveis, sem que eu pudesse perceber quando que havia ficado sozinha. Continuei me aventurando até chegar em uma grande porta dupla de madeira clara com vários elfos ou fadas (não tenho certeza) esculpidos nela e ornada com várias gemas, ouro e prata. Entrei ainda em êxtase.
Lá dentro, pude notar que aquela era uma sala do trono. Haviam muitas pessoas lá dentro vestidas elegantemente, mas não conseguia ver o rosto de ninguém. Perto do trono consegui reconhecer duas pessoas: uma era o Ezarel. Vestido de forma tão elegante, que o confundiria com um nobre facilmente. A outra pessoa, um pouco mais afastada do governante, era a Emiery, também vestida com elegância, mas... Uma, espécie de sombra estava atrás dela (e eu também pude ouvir o que parecia serem correntes).*"
Abri os olhos e fui logo me espreguiçando toda.
– Muito bom dia! Minha Bela Adormecida...
– Lance? – ele me afagava a cabeça – Por quanto tempo eu dormi?
– Por quase três dias. Descansou bem? Teve algum sonho interessante?
– Sim e sim. – me levantava sentindo o estômago queixar-se – Mas gostaria de falar sobre isso diante de comida. Tem aqui ou eu preciso ir atrás? – Lance riu antes de me responder.
– Troque de roupa enquanto eu ajeito tudo para você. Há uma bela cesta de comida em cima da mesa só te aguardando.
Senti a boca encher d’água. Pulei da cama e corri para me trocar no banheiro (e aproveitando para usa-lo também). No que eu saí já pronta do banheiro, Anya e Ezarel faziam companhia ao Lance.
– Cris!! – Anya pulava para me abraçar – Que bom que você está acordada finalmente!
– E faminta também. Olá para você também Ezarel.
– Se eu soubesse que você estaria acordada, teria recusado o pedido da Ewelein e a feito vir mesmo estando ocupada com aquele ferido.
– Deixe de ser ruim, Ezarel! – broqueava a Anya – E só por isso eu vou agora avisar a Miiko e repassar o que disse pra ela.
– Não! Pera aí! – tentou ele impedir Anya que saiu correndo e ele terminou com a porta na cara – Por favor me ajudem.
– Acho que estou ouvindo coisas... – falava o Lance com eu já atacando a comida – O elfo egocêntrico está nos pedindo ajuda?! Qual é a armadilha? – _riso_.
– Sai dessa dragão. Não estou em condições de encarar problemas agora.
– Definitivamente, você não tem nada a ver com o quê que eu sonhei.
– E o que você sonhou Ladina? – os dois se sentaram e eu comecei a contar sobre o sonho.
Eu não prestei atenção em suas reações, pois estava mais preocupada em acalmar a minha barriga, e quando eu finalmente terminei de contar tudo, fiquei surpresa com o que o Ezarel disse.
– Lund'Mulhingar.
– Como é? – Miiko entrava junto da Ewelein.
– O lugar que você descreveu em seu sonho Cris, é Lund'Mulhingar! Esse deve ser o seu primeiro destino de Eldarya!
– Quem apareceu em seu sonho Cris? Como que foi esse sonho? – exigia-me a Miiko.
– Sonhei com a Anya, o Ezarel e a Emiery. Sobre o sonho... – falei mais uma vez como tudo tinha ocorrido – ...E depois acordei! Vocês tem certeza que eu sonhei com Lund'Mulhingar?
– Sim. – responderam os elfos juntos.
– E até que isso venho a calhar...
– Que quer dizer Miiko? – Lance perguntava na minha frente.
– Acabei de receber um convite para a Cris do rei de Lund'Mulhingar. Convidando-a para participar do festival que eles terão daqui alguns dias. Estava prestes a começar a escrever a recusa quando Anya me avisou que você havia acordado Cris. E pedi a ela para que avisasse aos outros que você estava desperta.
– Ok!... Melhor me preparar para uma enxurrada de visitas, amarrotadas de perguntas... – um riso escapou de todos.
– Mas só depois de eu terminar de examiná-la. – Ewelein erguia uma maleta que trazia consigo – Importa-se de sentar-se na cama?
Funguei um suspiro em meio a um sorriso e fiz como ela pedia e ela começou com o trabalho dela.
– Antes que eu me esqueça Ladina, sua mãe ligou enquanto dormia. E exigiu que você falasse com ela assim que acordasse.
– Minha mãe!? O que foi que você disse pra ela?
– Que você estava dormindo por ter exagerado e que todos tinham sido proibidos de acorda-la. Não sei se ela gostou muito disso não...
– Ai... Ligarei assim que der um horário melhor. Mais alguma coisa que seja melhor eu saber depressa?
– Você dormiu por três dias; um monte de gente deseja falar-lhe, incluindo sua mãe; Lance conseguiu dar um jeito de treinar luta com o Valkyon; acaba de receber um convite real; já sabe onde será sua primeira missão fora de Eel... Não, acho que não há mais nada não... – me confirmava o Ezarel (Lance conseguiu o quê?!).
– De qualquer forma... – Miiko cortava – Temos que avaliar os efeitos que aquela purificação causou em você, para depois nos prepararmos para que você possa ir para Lund'Mulhingar. Preciso saber se você já é capaz ou não de controlar seus poderes para poder responder ao rei se você poderá ou não participar da festa.
– Que festa é essa? E ela vai acontecer quando? – perguntei.
– Com toda a certeza é o Festim de honra à Arianrhod. Ele acontece em toda primeira lua cheia da primavera. Ou seja, o festim ocorrerá daqui oito dias.
– E Eel se encontra a mais ou menos cinco dias de viagem de Lund’Mulhingar, o que significa que o nosso tempo limite para nos decidirmos é de três dias. – complementava Ewelein a fala de Ezarel _boquiaberta_.
Fiquei meio que sem reação por alguns momentos, permitindo à Ewelein terminar de me examinar. Acabado tudo, antes que eu tivesse tempo de questionar mais alguma coisa que tinha acontecido enquanto dormia, reconheci a voz da Erika vindo do corredor.
– Calma aí, já disse para parar de me arrastar desse jeito!
– Finalmente acordada. – declarava Purriry arreganhando minha porta e quase voando até o meu guarda-roupa – Você tinha que nos aprontar mais essa, não é mesmo Lys.
– Errr... Como é que é?? – escapou-me.
– Sinto muito Cris, não sei o que foi que deu na Purriry. Num minuto estava ajudando na enfermaria e no outro ela estava me arrastando até aqui.
– Miau, vista isso depressa e me acompanhe mais rápido ainda. – declarou a purreka me jogando uma de minhas capas com capuz. – Vamos! Vamos! Vamos! Eu queria ter as arrastado anteontem, mas eu prometi leva-las juntas! E não uma de cada vez.
– Do que essa felina está falando?!? E a minha armadura?
– Tudo no seu tempo Apolo querido... Agora... Me acompanhem já! – declarou Purriry já me arrastando assim que terminei de cobrir a cabeça, trazendo Erika junto.Miiko
Eu fiquei lotada de afazeres depois que a Cris decidiu fazer sozinha a purificação daquela bola saída de sei lá onde (aonde é que Absol encontra essas coisas?...), e eles não diminuíram nem um pouco depois que ela resolveu dormir por não sei quanto tempo.
De novo várias pessoas de fora de Eel quiseram vê-la com eu fazendo o possível para que apenas aqueles que eram mais próximos pudessem visita-la; consegui montar com os líderes de Guarda um horário para que Lance pudesse treinar combate com eles; analisei aquela esfera na tentativa de descobrir a origem dela (não tem cabimento permitir que outra esfera como aquela exista em Eldarya); analisava cada relatório de vigília da Cris detalhadamente... Nem o Taro deixava de me auxiliar no que podia!
Já estava para completar o terceiro dia dela dormindo se não acordasse antes do sol se pôr, e eu estava analisando um monte de correspondências que precisavam ser separadas para depois repassadas para os membros correspondentes do QG. Quase não acreditei quando vi o nome da Cris no meio daquilo tudo! (Quem está querendo o quê com ela?).
Sei que o certo é não ler a correspondência alheia, mas no caso da Cris, é questão de segurança...
No final das contas, o Eru, atual rei de Lund’Mulhingar, queria que a Cris participasse de um evento anual que ocorreria em breve em seu reino. Claro que não tinha como eu ver isso como algo seguro. Já estava prestes a começar a escrever a resposta quando Anya entrou no meu novo escritório.
– A Cris acordou finalmente!
– O quê?!
– E o sem vergonha do Ezarel ainda a desdenhou depois de vê-la de pé ao invés de ficar aliviado.
– Anya eu... Preciso que você avise a todos sobre isso, mas priorizando aqueles que sabem do Gelinho! Disse que foi o Ezarel quem subiu para vê-la ao invés da Ewelein?
– Sim. Ewelein pediu para aquele sem cérebro ir no lugar dela porque estava cuidando de um paciente.
– Tudo bem. Eu mesma irei falar com a Ewelein e subir com ela para ver a Cris. Vá fazer o que lhe pedi, por favor.
– Sim senhora. – respondeu a menina já correndo para fora.
Larguei todas aquelas mensagens e corri até a enfermaria. Ewelein terminava de enfaixar o que parecia ser uma múmia quando eu cheguei – A Cris está acordada. – foi tudo o que eu precisei dizer para ela confiar seja lá quem aos outros e correr para preparar sua mala de exames e subir comigo.
Eu carregava a minha cópia da chave do quarto da Cris hoje então não me preocupei em bater na porta.
– Lund'Mulhingar.
– Como é? – acabei por questionar ao ouvir Ezarel declarar sua antiga casa.
Eu não saberia dizer se aquele convite era coisa do destino ou apenas mera coincidência, mas ainda precisava ter certeza de que a Cris estaria preparada para partir tão depressa.
– Me diz Lance, além do sonho que ela nos contou, ela falou sobre mais alguma coisa? – cochichava com o dragão enquanto Ewelein trabalhava.
– Só que estava faminta. – respondeu ele no mesmo volume.
– Vai querer conferir-lhe os dons hoje ou amanhã? Quero dizer, para o caso de aceitarmos que ela participe dessa festa.
– Olha Miiko, o que eu realmente quero é essa armadura que irá me permitir ficar ao lado dela o tempo todo. Sou grato, por ter dado um jeito de eu poder treinar com o meu irmão e os outros, mas ainda tenho muitos receios sobre essas viagens incertas aí.
– Não é o único preocupado. Isso você pode ter certeza. Irei questionar Purriry mais tarde sobre ela e, Valkyon já me forneceu uma pequena lista de nomes dos guardiões que podemos usar para escondê-lo.
– Quantas pessoas?
– Cinco. E estou pensando seriamente a não revelar os seus nomes. Para complicar o lado de nossos inimigos.
Pelo sorriso que ele me deu, ele aprovava a ideia. Ficamos em silêncio. Ewelein estava prestes a terminar de examinar a Cris quando reconheci as vozes da Erika e da Purriry vindas do lado de fora. A purreka levou a Cris consigo tão rápido, que eu nem pude perceber direito o que foi que aconteceu.Cris 2
– Calma aí Purriry! Vou acabar caindo desse jeito! – reclamei com a felina assim que chegamos no Corredor das Guardas.
– O que é que exige tanta pressa ao risco de fazer nos ferirmos Purriry? – questionou a Erika com a felina sem parar de nos arrastar até a sua loja, imagino eu.
– Como eu disse, queria já ter lhes mostrado há dois dias, e faço questão de mostrar a vocês duas ao mesmo tempo. Relaxem... Verão como valerá a pena.
Erika e eu acabamos nos encarando. Ao que mesmo que ela estava se referindo?! E realmente ela só parou de nos arrastar depois que entramos em sua loja. Nos fundos dela para ser mais exata, onde havia vários manequins cobertos com lençóis.
– Ok Purriry, o quê é que você queria tanto nos mostrar? – era a Erika.
– _ronronando_ Era isto! – ela começava a descobrir os manequins e meu, Deus... Era um traje mais incrível do que o outro! – Eu estive pensando... O que vocês acham de, no lugar do desconto que eu lhes havia prometido, vocês não escolhem quatro ao invés de um traje exclusivo? Estou me segurando como nunca! Para liberar essa nova coleção, pois quero que vocês tenham cores ú-ni-cas dos conjuntos que escolherem.
– O que acha Cris? Quatro conjuntos totalmente de graça vale a troca de 50% de desconto nas próximas cinco compras?
– Quando pretende fazer os seus lançamentos Purriry? – perguntei.
– Amanhã. Hoje deixarei minha loja fechada para produzir os modelos da cor que vocês não escolherem. Por isso a minha pressa. Ah! E Cris, S já me informou que você foi convidada a estar participando do festim que irá ocorrer em Lund’Mulhingar, então preparei algo especial para você. – declarou ela removendo o pano sobre o último manequim. Fiquei maravilhada!
– Erika, eu não sei você, mas eu vou aceitar a oferta da Purriry. – falei analisando os detalhes daquele vestido lindo.
– Também irei aceitar. Esses trajes irão render uma fortuna para a Purriry! Não tem como não querer compra-los...
– Pois façam suas escolhas meninas! Façam suas escolhas... – nos pedia a Purriry sorrindo de orelha a orelha.
Enquanto ela revelava os trajes, tive uma sensação de familiaridade. Só que eu só identifiquei de onde saía essa sensação quando pus os meus olhos sobre um traje em especial... – Ei! Purriry! – chamava-a baixinho em um canto – Você se inspirou nas imagens do meu not, não foi?
– Shhiiii!!! Não espalha! Ou o Purral pode descobrir que a minha viagem inspiradora foi na Terra! Ele só parou de querer descobrir o porquê de ter feito a promessa que fiz a vocês duas, depois de eu ter tido que essa informação poderia ameaçar a segurança de Eldarya se vazada. E em defesa, eu não fiz nenhum plagio. Já tive de me acertar com Anya pelo silêncio dela.
– Só que eu não sou a Anya...
– Afh... Tudo bem. Eu lhe forneço... 80% de desconto em um traje de sua escolha.
– Por Deus! De onde a Purriry consegue tirar ideias para trajes tão incríveis?! – escandalizei quase, já escolhendo meu traje quase gratuito – Há problemas se eu aproveitar e levar mais? Prometo não usar antes do lançamento.
– Sem problemas. Mas deixe bem claro qual que será este extra.
– Nesse caso... – passeava entre os manequins – Você já me escolheu o que usar na tal festa, então... Vou querer este para a viagem... Este me parece bom até para treinos e batalhas... Esse aqui, também me interessou... – (pude notar uma expressão maliciosa nelas _corada_) – E mais esse aqui como extra. Me acerto com você sobre este último agora ou mais tarde? – parei diante de um que lembrava bem os uniformes de sailormoom.
– Irei preparar suas escolhas, peço apenas que espere a tarde para levar o último para que eu não me esqueça das cores na hora de fazer as cópias. – pedia ela já despindo o sailor-manequim – Terminou suas escolhas Erika?
– Terminei sim. Posso já recolhê-los para ajuda-la?
– Mas é claro! Coloque sobre o balcão para que eu possa embala-los de modo seguro. Vai ajudar com as suas escolhas também Cris?
– Já estou pegando! – falei diante do traje de festa.Trajes escolhidos pela Cris
Erika, Purriry e eu recolhemos as roupas com cuidado, e Purriry empacotou uma de cada vez em caixas separadas. Enquanto eu pagava o meu traje extra, Erika levava os demais manequins para a loja à pedido da felina. E eu aproveitei para questionar a purreka.
– Purriry... Caso me seja autorizado a participar da festa para qual você preparou um dos trajes mais lindos que eu já vi, aquela encomenda especial, já vai estar pronta?
– Fala da encomenda do Gelinho? – apenas assenti com a cabeça – Será entregue ainda hoje. Junto de seu quinto traje. Esse era apenas um dos motivos de eu estar com pressa.
– Então imagino que a partir de amanhã a Miiko irá informar para toda a Eel que passarei a estar sempre acompanhada, não importa para onde eu vá _sorriso nervoso_.
– Evitando as pulgas que insistem em lhe perturbar... É o que importa.
– _riso_ Tem toda a razão Purriry. Quer uma ajuda Erika? – questionei-a após concluir com a Purriry.
– Por favor! Pode não parecer, mas esses manequins são pesados.
– Ok... – falei rindo.
Arrumamos a loja. Purriry foi cuidar das suas roupas e Erika e eu retornamos para os nossos quartos carregando os nossos “presentes”. Como tudo estava um pouco pesado para segurar com um braço só, optei por bater na porta.Lance
Ainda bem que deixei minha vontade de poder treinar escapar. A Miiko e os outros arranjaram para eu poder desfrutar do campo de treinamento das duas às cinco da manhã, tendo sempre um dos líderes como parceiro, enquanto algum reluzidiano tomava conta de minha Princesa junto de Absol. Sendo que era o Absol quem se encarregava de me levar e trazer até o campo (finalmente pude dar alguns golpes naquele sanguessuga e no bobo-da-corte. Pena que eles souberam se defender bem...).
Já estava começando a ficar impaciente, fosse pelo despertar da Cris, fosse pela minha armadura que não chegava nunca. Já não tinha mais nada para fazer naquele quarto. Nem as sementes de oráculo estavam aparecendo. Sempre que algum visitante que não sabia de mim aparecia, eu me escondia no banheiro para poupar as minhas forças. Mas quando eu pude finalmente ver minha Ladina se espreguiçando na cama... Não tinha como eu não ficar contente com tal visão.
Já imaginava que ela acordaria faminta. Eu sempre deixava o que ela gostava mais reservado, para o caso dela despertar enfim. No que organizava tudo para ela, enquanto ela se arrumava, Anya e o elfo pateta apareceram para fazer a vigília que não era mais necessária. Ver a expressão de medo do azulado após a Anya dizer que o entregaria pela falta de consideração que ele teve com a minha amada, quase me fez gargalhar. Mas ele tinha de se enviar nos sonhos dela?!
Descobrir qual seria o primeiro destino da Cris em Eldarya, e que ela já havia até recebido um convite para estar presente nesse mesmo lugar em poucos dias, só me fez ficar ainda mais ansioso pela armadura que não chegava nunca. Ao menos tinha mais gente com as mesmas preocupações que eu, e que meio caminho para poder me manter ao lado de minha Ladina já estava andado.
Após a invasão e rapto de minha Ladina por aquela purreka, tinha de me acertar com aquele povo que se mantinha no quarto.
– Se a Cris estiver apta a fazer essa viagem de modo a participar desse festim aí, quem vocês pretendem colocar para nos acompanhar? – questionei.
– Ezarel e Anya estavam presentes no sonho dela, então eles deverão participar querendo ou não. Um dos dois, ou os dois, devem ser o guia do qual Lunna nos avisou.
– Então é melhor que Anya não saiba do nosso destino!
– Ezarel está certo. Das conversas que tive com Anya, ela não deseja nem um pouco ir para Lund’Mulhingar agora. – explicava a Ewelein.
– Nesse caso irei conversar com os pais dela então. – refletia a kitsune – E é possível que Voronwe se junte ao grupo também.
– O que já dá uma equipe de cinco. Mas se eu tiver que limitar os meus poderes para ajudar a me manter em segredo, é melhor colocar mais gente aqui. E que seja capaz de lutar com a cabeça fria! – comentei.
– Lance está certo sobre precisarmos de mais gente competente para participar da viagem. – declarava a elfa terminando de guardar suas coisas – Graças ao último presente que Absol me deu, deixei preparadas algumas poções que poderão ser extremamente úteis. Vou deixar minhas ferramentas na enfermaria e trazer as poções que mencionei. Vê se não exagera ao conferir os poderes dela Lance.
– Pode deixar. – respondi com ela já passando a porta – Muito bem!... E quem mais poderemos incluir nisso?...
– Apesar de Ezarel já ter até servido na corte de Lund’Mulhingar, ele não é muito bem vindo por lá então... Enquanto você estiver cuidando da Cris, e Voronwe de Anya, acho que Réalta pode cuidar do Ezarel.
– Ainda acho seis pessoas pouco. Ainda mais com uma sendo menor de idade. – dava minha opinião à fala da Miiko.
– Confirmarei com a Reluzente quem mais pode acompanha-los. E eu irei anunciar o guardião dela assim que me for confirmada as atuais capacidades da Cris, que nos determinará também o dia da partida. Vou descer agora para escrever a resposta do convite feito, deixando incerto se ela estará ou não presente nessa festa. Além de lhes recomendar métodos de segurança para protegê-la...
– Nesse caso, permita-me auxilia-la na tarefa. Posso não ser bom de lábia como a Emiery, mas não creio que a personalidade de sua majestade Eru tenha mudado tanto.
– Certo Ezarel, acompanhe-me então. – ordenava a kitsune se encaminhando à saída – E não deixem de me informar sobre o estado da Cris!
– Pode deixar! – assenti fechando a porta atrás deles.
Sozinho novamente (e dessa vez sozinho mesmo), comecei a cuidar da cama. Enquanto trabalhava, tentava imaginar a razão daquela agiota em miniatura ter levado minha Ladina daqui tão velozmente (tomara que minha armadura esteja pronta). Era perto do almoço quando alguém, aparentemente com o pé, bateu na porta. Para não me arriscar, me escondi com uma ilusão já que podia ser a Ladina de mãos ocupadas (diz que é a minha armadura!).
– Tem como me dar uma mãozinha? Está pesado! – desfiz minha ilusão assim que confirmei que era mesmo ela e comecei a ajuda-la (mas porque tantas caixas?).
– O que é tudo isso? – perguntei após trancar a porta.
– O cumprimento da promessa de Purriry pelos tecidos que lhe compramos na Terra, e antes que eu esqueça, sua armadura nos será entregue hoje à tarde, junto de mais um conjunto em que eu consegui algum desconto. O que foi que vocês decidiram enquanto eu estava fora?
– Bom, pra começar... Teremos quatro elfos nos fazendo companhia...
Repassei tudo à ela enquanto a ajudava com os embrulhos, sendo que dois ela não me permitiu ver de jeito nenhum (qual a razão de tanto segredo?), e ela ainda me explicou como conseguiu um dos trajes por uma verdadeira pechincha, 800 moedas no lugar de 4000. E como ela já estava combinada com os purrekos, ela só precisou criar o equivalente de 800 maanas. O que com certeza está muito melhor nela, já que, antes dessa purificação, a Cris conseguia produzir sem sentir-se cansada, apenas 600 maanas, e se ela tinha conseguido ultrapassar esse limite... O quão poderosa ela está?
– O que você acha, de a testarmos depois do almoço? Quanto mais rápido pudermos descobrir seus novos limites, mais tempo teremos para nos preparamos para Lund’Mulhingar.
– Depois do almoço... É. Pode ser. Já chegou a participar de alguma festa élfica?
– Nenhuma! Não tenho ideia de o quê que estará nos aguardando por lá.
– Por exceção de Emiery...
– Ela que se atreva a desrespeita-la lá. Duvido de que serei o único a querer prestar contas.
– Tem toda a razão... – (como me alegro ao vê-la sorrindo...).Mesmo esquema dos frascos
Quais destes trajes vocês teriam escolhido no lugar da Cris?
Lembrando que o evento que Eel está prestes a ter é o do Dia dos Amores(Namorados).
.。.:*♡ Cap.123 ♡*:.。.
Cris
Após terminar de guardar as roupas, onde não deixei o Lance ver o traje da festa e nem o quarto que me deixou vermelha com a insinuação daquelas duas, Karuto nos trouxe pessoalmente o almoço e conversou um pouco com a gente sobre a confirmação de minha situação... mística, com Absol aparecendo diante de mim no meio da comida pela primeira vez no dia.
Acabada a refeição... Era a hora chata!... Absol transportou a mim e ao Gelinho até a clareira mais uma vez (e ou eu estou imaginando coisas... ou a umbracinese de Absol foi um pouquinho mais cômoda dessa vez). A neve estava quase terminando de sumir e a primavera começa amanhã.
– Muito bem. – era o Lance – Você já brincou um pouquinho com a agua durante o almoço, agora é hora de vermos o que consegue sobre o que treinávamos antes dessa loucura ter início.
– Fala da percepção ambiental?
– Exatamente. Tenho até uma venda comigo para ter certeza que você não usará os seus olhos e sim seus poderes.
– Acha mesmo que eu irei querer trapacear?...
– Como você mesma diz: é melhor prevenir do que remediar. Agora chegue perto. – me aproximei dele um tanto inconformada, e deixei que me vendasse os olhos para que terminássemos logo com aquilo – Ainda se lembra como que se faz?
– Perfeitamente. – declarei um pouco impaciente.
– Pois comece então.
Respirei fundo. Por algum motivo não tinha nenhum ânimo ou paciência para aquela revisão. Como se fosse uma perda de tempo, mas sei que não é assim. No que eu me concentrei, levei um susto. Cheguei até mesmo a conferir se a venda estava mesmo ou não em meu rosto!
– Algum problema?
– Sim! Digo, não. Quero dizer, talvez!
– Assim eu não entendo. O que você está vendo?
– Tudo!
– Como é que é?!
– O que ouviu! Estou enxergando tudo com muita nitidez! Estou vendo as florzinhas que estão balançando com a brisa... Absol à minha esquerda com metade do corpo dentro de sua umbracinese... As raízes, maiores que eu, da arvore que está atrás de você... O casal de musaroses que está neste momento nos observando entre os arbustos à minha direita... E claro, a sua boca quase beirando o chão de tão espantado.
– Mas isso é... Inacreditável! Simplesmente impressionante você já conseguir tudo isso após só treinar algumas vezes, sem a ajuda de uma Adaga Novata, e com você não sendo capaz de distinguir o que via direito antes de pegar naquela bola!
– Não esperava que aquilo tudo fosse capaz de me transformar desse jeito... – falei meio sem jeito.
– De qualquer forma, este é um excelente avanço. Queria que tivéssemos mais alguém para conferirmos o uso disso como defesa...
– Nesse caso... O Leiftan está quase aqui.
– Como?!
– Eu não tenho certeza de até onde eu consigo enxergar por meio desse dom, mas estou vendo ele a caminho daqui ao que parece. – falei apontando o polegar para trás de mim, onde via Leiftan seguindo em nossa direção – Daqui a pouquinho ouvimos os passos dele.
– Você tem certeza?? – nem precisei responder. Lance mal terminou de questionar e começamos a ouvir a folhagem.
– Os encontrei. – era o daemon – Espero que não se importem de... eu ajudar um pouco, nas verificações...
– Já está ajudando. – respondi.
– Como sabia que estávamos aqui? – questionava o Lance.
– Valkyon e eu estávamos juntos quando soubemos que a Cris estava acordada. Imaginamos que haveria a possibilidade de vocês quererem conferir o poder dela ainda hoje, com o Karuto nos confirmando isso pouco depois. Nós dois concordamos que, para avaliar com mais eficácia os efeitos que a purificação causou na Cris, o ideal seria que mais de uma pessoa a testasse. Valkyon me repassou onde vocês estavam assim que sentiu ela fora do QG e corri para cá. Que quiseram dizer com “eu já estou ajudando”?
Expliquei ao Leiftan o que estava me acontecendo e ele me pareceu tão surpreso quanto o Lance.
– Você acabou aparecendo em boa hora mesmo. Quero conferir as capacidades de combate dela com o auxilio dessa visão, e averiguar o que mais ela consegue fazer. Você tem bastante conhecimento sobre a luz, pode nos ajudar também a conferir o que ela consegue fazer dentro dessa área. – avaliava o Lance.
– Cris, me responde uma coisa, até onde você consegue “enxergar”?
– Como assim Leiftan?
– Quero saber o limite da área que sua “visão” é capaz de abranger. Até onde, no máximo, você consegue visualizar?
– Bom eu... Espere. – me concentrei o máximo que pude, tentando enxergar o mais longe possível e parei de avançar assim que comecei a querer ofegar, bem na entrada da caverna em que morava no começo (e que fica a uns vinte ou trinta minutos de onde estávamos) – A caverna é o meu máximo. Ela é o meu melhor ponto de referência para calcular a área cúbica. – respirei fundo com Lance me dando apoio para descansar um pouquinho.
– Sem dúvidas esta é uma boa distância, mas é melhor que você se limite para evitar esse exaurir que a deixará vulnerável.
– Concordo com o Lance. A distância que você cobriu para me perceber já deve ser mais que o suficiente para você agora. Não há a necessidade de cobrir o equivalente aos muros de Eel no momento. Pronta para conferirmos o restante?
– Errrr... Não! – respondi já imaginando tudo o que eles fariam comigo.
– Não se preocupe Ladina... Você acabou de acordar, pegaremos leve com você.
– Defina: “leve”, Lance. – os dois riram.
Logo Lance, ajudado por Leiftan, fizeram de tudo um pouco comigo. Batalhei com eles, sendo que em algumas tive de enfrentar os dois ao mesmo tempo; experimentei o manipular das plantas e da neve para me dar vantagens; Leiftan me apresentou algumas coisas que envolviam o poder da luz e em todas eu me mostrei ao menos razoável (pelo menos eu já consigo usar o meu poder de cura agora); Lance me fez fazer vários exercícios de controle de maana, onde também estava me dando muito melhor que antes; E tudo isso de olhos vendados! Usando a minha “visão” o tempo todo!
Mas enfim, eles me exigiram tantas coisas, que eu não ficaria surpresa se eu acabasse dormindo por mais três dias depois.
– Vamos terminar por hoje... – declarava finalmente o Leiftan
– Até que fim!! – clamei já me jogando no chão – O conceito de “leve” de vocês dois é muito diferente do meu.
– Vamos voltar agora, porque eu fiquei sabendo que minha armadura fica pronta hoje. Absol?
Um riso acabou me fugindo com o argumento do Lance, e Absol levou a nós três para o meu quarto. A Miiko, junto da Purriry, já nos aguardava lá dentro.Lance
É simplesmente inacreditável o nível de controle que minha Princesa tem agora. Aquelas sementes não brincaram quando disseram que a Cris já seria capaz de controlar os seus dons quando terminasse com aquela esfera. Sem falar que, além dela estar finalmente controlando a sua emissão de maana, ela está conseguindo absorvê-la também!
A criatividade dela para ataque e defesa combinando o que já tinha aprendido com a percepção ambiental a torna uma adversaria cada vez mais difícil. Um verdadeiro orgulho para qualquer mestre, e um grande pesadelo para qualquer inimigo com alguma honra em batalha.
Depois que Leiftan e eu decidimos encerrar com o treino, fomos todos para o quarto com a ajuda do black-dog, e espero que a razão daquela purreka estar nos aguardando junto da kitsune seja a entrega de minha armadura.
– Miiko, Purriry, vocês se importam de eu tomar um banho antes de falar com vocês? Esses dois aqui acabaram comigo e eu estou pingando suor...
– Miau... Não há problemas Cris. Pode banharrrr-se tranquila. Fiquei aqui aguardando é pelo o seu guardião. Ah! E eu já aproveitei para guarrrdar o seu traje que ficou comigo.
– Valeu mesmo Purriry. Miiko?
– Eu não me importo. E também aproveito para ouvir deles qual que é a sua atual condição em relação aos seus poderes.
– Nesse caso... – ela se afastava do guarda-roupa com uma muda nas mãos – Vou indo. E acho que você vai gostar do que irá ouvir Miiko!...
– O que ela quis dizer? – nos perguntava a Miiko com a Cris já dentro do banheiro.
– É melhor se sentar Miiko, porque o que Lance e eu comprovamos com os nossos próprios olhos ainda está me impressionando.
– Vocês dois podem se sentar, mas o Gelinho não. A menos... que ele não queira experimentar a armadura...
– É o quê?! Passe-a já pra minha mão! Não vejo a hora de poder ter um pouco mais de liberdade.
– Hihihi! Vamos até o biombo. Já deixei tudo ajeitado para você. – me empurrava a purreka.
– E você Leiftan, pode começar a falar como que foi tudo. – inquiria a kitsune arrastando o daemon.
Acompanhei a felina e comecei a vestir minha armadura com a purreka me explicando cada detalhe da armadura e conferindo a necessidade ou não de algum ajuste. Por causa disso, gastei uns 20 minutos para terminar de me vestir, mas quando me olhei no espelho...
– Nada mal. – minha Ladina deixava o banheiro – É uma armadura realmente impressionante mas... Essa máscara... Vou levar um tempo para não ficar me assustando.
– Miau... Cris querida, a função dele será manter os inimigos bem longe de você; se ele não puder nem intimida-los, como que ele vai proteger até a si mesmo?
– Ela está certa. – declarei (já estranhando minha voz).
– Mas o que foi isso?!? – se assustava minha Ladina.
– Isso é coisa sua Purriry? – interrogava a Miiko.
– _ronronando_ Sim. Graças às tecnologias que nossos querrridos terráqueos nos apresentou, a sociedade purreka conseguiu desenvolver algumas coisinhas... Como por exemplo, o modulador de voz que criamos para situações muito especiais. Mas ainda está em fase de testes!
– E imagino que a ideia de usar o guardião da Cris para testa-lo tenha sido sua, estou certo?
– Mas é claro! Deseja oportunidade melhor? Leiftan querido...
– Ok, a voz estranha dele está explicada... – comentava a Cris enquanto me conferia o tal “colar” que eu usava – Mas se está em teste ainda, acho que é melhor que o Lance evite de falar com as pessoas. Vai que o equipamento falha na pior hora!
– Tem toda a razão Cris. – concordava a Miiko – E também... Lance, é melhor que você não pronuncie nada além do necessário em público. E ao lidar com as pessoas, chame-as apenas pelo nome ou por sua profissão. Apelidos podem acabar o entregando sem querer.
– Como quiser... – respondi.
– Bem, meu trabalho já está concluído. O Gelinho já está nos ajudando com os testes do modulador... e de mais algumas coisinhas... – (que “coisinhas”??) – Então não irei cobrar nada por ela. Não deixem de chamar à mim ou ao Purral caso alguma coisa estranha aconteça com a armadura.
– Estranha como o quê Purriry? O que mais a sua sociedade está testando além do aparelho de voz? – a Cris perguntava na frente.
– A armadura em si é feita de um novo material. Lance estará testando sua resistência e durabilidade nas mais diverrrsas situações enquanto a estiver protegendo; a máscara, deve ser suficiente para protegê-lo em todos os tipos de situação, pois o tecido não é apenas para lhe cobrir o rosto e o pescoço, mas também para resguarda-lo de gases nocivos e falta de ar, como um filtro. Outra coisa que o material dessa armadura necessita ser capaz, é o de se adaptar a qualquerrr tipo de ambiente habitável ou inóspito. Enfim, ele estará testando a armadura SUPREMA! – se vangloriava a felina (armadura suprema, heim?... interessante...).
– Tudo bem Purriry, já entendemos que você está extremamente orgulhosa de seu trabalho apesar de não compreender totalmente a eficácia do que foi criado, ao ponto de aceitar não nos cobrar nada por ela na troca de avaliarmos o equipamento para os purrekos em todas as situações imagináveis e inimagináveis. Imagino que, no lugar das maanas ou do ouro, você ou o Purral recebam relatórios detalhados sobre a qualidade de tudo.
– Miau... Exatamente minha cara Miiko. E mesmo o ajudando a vesti-la, não pude deixar de ouvir sobre os progressos magníficos que nossa Lys conseguiu ter com os poderes dela. É seguro dizer que permitirá à ela estar participando do festim élfico? E quando irá apresentar o... Guardião, para o restante de Eel?
– Bem... Depois de tudo que eu ouvi através do Leiftan... A Cris tem permissão para participar da festa. E amanhã cedo começarei a reunir a Reluzente para repassar sobre o plano para esconder e apresentar o segundo guardião da Cris para todos. Até o almoço, todos saberão que haverá um guerreiro grudado na Cris 24hs por dia.Cris 2
Apesar de estar morta de cansaço, não me demorei muito no banho, e fiquei impressionada ao ver Lance vestido com a tão desejada armadura! (quais são as chances daquelas pedras serem orichalcos?) Não esperava que os purrekos decidissem copiar a tecnologia da Terra (e espero que eles não cometam os mesmos erros dos humanos no que se refere ao preservar da natureza), mas convenhamos que há muita coisa que será de grande ajuda para Eldarya se eles tiverem sucesso.
Explicações dadas, permissões consentidas, perguntas respondidas e planos semi-decididos, finalmente tinha chegado a hora do descanso. Leiftan, Miiko e Purriry me deixaram o quarto com Absol chegando com um pequeno agrado enviado pelo Karuto em seguida.
Lance tirou a armadura que pareceu agrada-lo e foi para o banho, enquanto eu ajeitava tudo para dormir após ligar para a minha mãe que não deixa de me surpreender com o sexto sentido dela. Ela até me ameaçou vir para Eldarya! (coitada se o fizer...).
– Não se importa por ter que ficar vestindo algo que ainda está em fase de testes? – perguntei ao Lance quando deixou o banheiro, com eu analisando minhas unhas do pé sentada na cama (amanhã tenho de dar um jeito nelas...).
– Nem um pouco. – ele atravessava o quarto – Ela me é bem confortável, e se realmente tiver todas as qualidades que a felina mencionou... Será perfeita.
– Perfeita para me manter em segurança, eu espero.
– Não se preocupe Ladina... Eu vou me comportar. Não sairei atacando ninguém. Não vou nem poder estar conversando!
– Temos que separar tudo o que levaremos pra viagem e rápido. Será depois de amanhã, logo cedo, que partiremos, não?
– Exatamente. – sussurrou ele “provocativo” ao meu ouvido – Que tal aproveitarmos o tempo que temos a sós... – sem querer, acabei reagindo e dando uma cabeçada no nariz dele (eu realmente não estou com pique para esse tipo de “diversão”) – Ai! Porque fez isso?
– Treino!
– Quê?! – (como é que é dona Cris?...).
– O que ouviu. Treino. – pensava rápido – Você não disse que conseguia me dominar fácil demais? E que eu tinha de aprender a me livrar de meus inimigos? Pois bem, nós faremos o seguinte: suponhamos que, por algum motivo, eu acabe presa, sozinha, em algum lugar desconhecido, incapaz de usar meus poderes, e sem saber onde é ou não seguro tocar.
– Essa seria uma situação bem complicada...
– Eu sei. E se tivesse alguém querendo me agarrar nesse ambiente complicado ficaria pior ainda.
– Então a sua ideia... É simularmos essa situação? Onde eu seria o seu predador?
– Isso! – (pra onde Absol está indo?) – Ou vamos todos apenas dormir. – (por favor, queira dormir. Por favor, queira dormir...).
– E você não vai mesmo usar nenhum de seus poderes ou os objetos presentes no quarto para escapar de mim? _sorriso safado_ – (ai... perdi).
– Sim... Mas que fique bem claro que eu não deixarei de atingi-lo para poder escapar!
– Sua ideia me parece bem interessante... Quando que começamos?
– Já começamos.
Ele levou a mão ao nariz e eu apenas assenti, fazendo-o sorrir assustadoramente (_engole seco_) – Vamos ver por quanto tempo você consegue fugir de mim...
– 30 minutos!
– 30 minutos... o quê?
– O tempo limite é de 30 minutos. Se eu conseguir escapar por todo esse tempo, eu ganho e vamos dormir. Mas se você me pegar antes desse tempo...
– Você é o meu “prêmio”?
– Não esqueça que temos muito o quê fazer amanhã! – (ai minha Mãe... me ajuda a escapar por todo esse tempo, vai...).
– Não vou esquecer. Eu posso usar os meus poderes? – ele começava a se aproximar.
– Aí eu teria de usar os meus também. – (sossegue coraçãozinho...) – Irei usar apenas aquilo que possuo como humana, meu conhecimento de autodefesa, então você só pode usar habilidades físicas que qualquer um possa ter também. – declarei me afastando como podia.
– Quanto tempo já se passou desde a sua explicação?
– Err... Entre cinco e dez minutos? – confirmava a hora atual no relógio mais próximo.
– Significa então que ainda tenho 20 minutos para capturar minha princesa... – desviei-me dele no último segundo, disparando para o outro lado do quarto.
– Se, conseguir me capturar, não é mesmo?!
A cara que o Lance fez por ter me “perdido” animou-me para continuar com aquela ideia maluca. Eu realmente não usei poder nenhum. Não tinha energia para isso. Mas ver a cara de tacho dele toda vez que eu “escorregava” de suas mãos estava cada vez mais divertido.
Ele tentava me pegar de tudo que era maneira, mas eu sempre lhe escapava, fosse lhe acertando em algum lugar, fosse apenas me esquivando dele. Sempre que eu podia, eu confirmava quanto tempo ainda faltava para eu poder dormir finalmente, e aquela brincadeira já havia se arrastado por uns quinze minutos.
Na tentativa seguinte do Lance, ele me agarrou por trás. Para escapar, eu acabei o atingindo naquele lugar. Sem más intenções, é claro.
– Foi mal aí Gelinho,... – me afastava da mesa onde ele estava caído – ...mas pense que seria melhor um inimigo receber isso, do que ele conseguir fazer o que bem entendesse comigo.
– Compreendo... – declarava ele sem se mover.
Lance não saía daquela posição, e sei que ele não é do tipo que desiste com facilidade. Como só faltavam uns dois minutos para o tempo acabar e ele continuava naquela posição, comecei a me preocupar.
– Lance. – me aproximava receosamente dele – Lance, está tudo bem com você? – ele continuava não se mexendo (eu o acertei tão forte assim?) – Lance levanta. Você está começando a me assustar. – ele continuou parado e sem me responder, o que me fez aproximar um pouco mais dele – Lance?
Antes mesmo que eu me desse conta, ele conseguiu me derrubar e usou o próprio corpo para me impedir de levantar ou escapar, com um pequeno grito me escapando no processo.
– Regra número um quando se está fugindo de um inimigo: nunca tenha compaixão. Por mais grave que seja o estado físico dele, pois nunca se sabe se ele vai estar de fato ferido, ou só fingindo para lhe fazer uma armadilha. – ele sorria, e do jeito que pude, conferi que o tempo havia acabado de acabar.
– Perdi. _suspiro derrotado_ Mas vai mesmo fazer no chão? E sem a poção?
– E acaso você iria continuar onde eu a deixasse?
– Bom... Se você fosse alguém querendo a minha vida, acho que eu já estaria morta agora.
Ele sorriu com malícia. Saiu de cima de mim após me dar um selinho demorado, ergueu-me do chão e me levou no colo até a cama. Depois me deu a poção por meio de um beijo e bem dizer descontou tudo o que lhe fiz. Ele foi carinhoso, mas forte e intenso também. Eu me retorcia e suava com a forma que ele se movia, e fazia de tudo para não acabar desmaiando antes de tudo acabar (ficar acordada até o final está ficando um desafio cada vez mais difícil). E graças aos céus que ele se satisfez com apenas uma vez.Lance 2
Depois de eu e a Cris ficarmos sozinhos outra vez, por exceção do black-dog, e tendo concluído a minha refeição, achei melhor tomar o meu banho. A nova armadura pode parecer um pouco trabalhosa para pôr e tirar, mas é extremamente confortável. Não pesa e nem limita os meus movimentos, o que poderia ser prejudicial em uma batalha.
Apesar de eu poder finalmente ter meios de me aproximar sem receios de minha princesa depois que ela terminou com aquela esfera, permitindo à ela crescer magnificamente em relação aos seus poderes, eu tive de continuar segurando a vontade de “tocar” ela. E, apesar de provavelmente eu e o Leiftan a termos esgotado, e de estarmos cheios de afazeres para amanhã, eu não podia mais conter o meu desejo de tê-la. Só não esperava levar aquela cabeçada!
Ficou-me óbvio que aquela ideia de treino de minha Ladina, era apenas uma tentativa de escapar de mim essa noite, mas eu estava tão desejoso dela que resolvi entrar na dança. Acho que a proibição do uso de poderes, era porque nem ela estava em condições de usa-los. Pensei que, por estar um pouco mais energizado que ela, conseguiria pega-la com facilidade, mas não foi bem assim...
Ela era ágil. Muito esperta e forte também. Toda vez que ela me golpeava para escapar eu imaginava que quem recebia aqueles golpes eram os miseráveis que desejo bem longe dela, para assim não acabar me irritando com aquilo tudo. E quando ela me atingiu “nas partes” (imagine o sanguessuga! Imagine o sanguessuga!), percebi que a única forma de conseguir pega-la a tempo era utilizando uma armadilha.
Ok, me aproveitar da bondade de minha Ladina é golpe baixo, mas com o pouquíssimo tempo que me restava, não haveria outra maneira. E já que ela havia tido que tudo aquilo era um “treino”... Alerta-la contra armadilhas desse tipo era algo crucial. Sorri muito mais do que desejava ao finalmente tê-la à minha mercê. E outra vez, se não fosse por ela, eu teria a tomado bem onde estávamos mesmo.
Após deita-la na cama e dar-lhe o anticoncepcional, recordando o amanhã, tentei aproveitar cada segundo que tinha com ela acordada. Explorei cada milímetro de sua pele. Beijei e acariciei cada ponto sensível de seu corpo. Fiz ela “cantar” de deleite pelo o que lhe fazia e me libertava de parte daquele libido por ela que me corroía. Executei tudo de modo que pudesse me aplacar em uma única vez. Não foi nada fácil controlar o que eu fazia, especialmente quando percebia que ela estava muito próxima do êxtase. E depois que eu finalmente me entreguei... com ela me acompanhando... Ela só precisou de alguns segundos para cair em sono profundo.
Ajeitei-a nos lençóis com cuidado e me ajeitei para dormir depois. Dando-lhe um beijo demorado na fronte antes de adormecer. Acredito que nós dois dormimos a noite inteira.Cris 3
Acordei com a luz da manhã que invadia o quarto. Do jeito que Lance havia “trabalhado” ontem, pensei que só acordaria com alguém me derrubando a porta! Pela forma com que fiquei cansada. Mas acabei acordando cedo (e com o dragão bem abraçado à mim).
Queria um banho. Sentia-me grudando de tanto que havia suado à noite, mas o Gelinho não parecia querer me deixar escapar de seus braços mais uma vez...
– Ei! Lance! – comecei a chama-lo baixo e ele apenas respirou fundo, me aconchegado ainda mais pra junto dele (ai, ai, ai...) – Lance... Acorde! Já amanheceu...
– Ainda é cedo. Só mais um pouco... – um riso me escapou.
– Lance... Temos muito o que fazer e estou com vontade de tomar um banho. Me solta vai... – ele só me abriu um olho – E se alguém resolver aparecer? Até onde me lembro, você não tomou nenhuma precaução sobre isso.
Ele voltou a fechar o olho e soltou um longo suspiro – Tudo bem. Você venceu. – fui surpreendida com um longo beijo – Mas só porque temos mesmo muitas tarefas e porque eu realmente me esqueci de me prevenir contra visitantes.
– Bobo! – deixava os seus braços – E é melhor se comportar direitinho diante dos outros! – levantava da cama.
– Pode deixar! – ele pulava do leito no outro lado – Serei obediente como um golem. E só me darei um pouquiiinho mais de liberdade quando não tiver ninguém que desconheça a verdade próximo de mim. Posso tomar banho com você?
– Hein?! Não sei se vai ser uma boa ideia para o meu lado não!... – falei após terminar de escolher a roupa do dia.
– Você nem imagina o quanto eu me segurei ontem... – sussurrava ele ao meu ouvido, me causando um arrepio de cima abaixo com o seu abraço por trás – Por favor Ladina... – terminava ele já me beijando e acariciando a pele.
– Lance... – eu podia sentir o desejo acendendo – E se alguém resolver aparecer?!...
– Bloqueio a porta. Já que faz tanta questão...
Nos beijamos bem demoradamente, mas... Pelo sim ou pelo não...
– Temos muito o quê fazer. – declarei ao separarmos nossos lábios – E eu preciso de minhas pernas firmes para fazê-las. – dei-lhe um selinho – Uma outra hora damos continuidade a isso, agora vai cuidando, sim? – e me desenrolei dele já correndo para o chuveiro.
– Você realmente sabe ser cruel, sabia?! – ouvia-o reclamar no quarto.
– Ande logo para concluirmos tudo o que temos de fazer e taalveez, mais taarde, continuamos com o que estávamos fazendo.
.。.:*♡ Cap.124 ♡*:.。.
Valkyon
Assim que Anya espalhou a noticia de que a Cris estava finalmente acordada, praticamente a Obsidiana inteira sentiu-se aliviada, mas nem por isso lhes permiti baixarem a guarda, já que todos nós estávamos atentos para qualquer possibilidade de rapto enquanto ela estivesse inconsciente (o que graças ao Oráculo não ocorreu). Logo me prontifiquei em organizar tudo o que eu podia em relação ao QG e, depois de quase tudo acertado, resolvi dar uma passadinha em meu quarto antes de ir almoçar. Quase não acreditei nas roupas que Erika experimentava quando eu entrei. Ela estava... Linda! E ela também aproveitou para me explicar como que as havia conseguido (aquela Purriry...). Fomos almoçar juntos.
No salão, Leiftan acabou se juntando a nós na refeição e começamos a conversar sobre a Cris. Fiquei espantado de saber que os elfos haviam a convidado para participarem de uma de suas festas, e mais ainda por ser justamente lá, em Lund’Mulhingar, o primeiro “destino de sonho” da Cris.
Erika me deixou escapar que a encomenda do “Gelinho” iria ser entregue hoje, e Leiftan me repassou que a Miiko já o havia ordenado a avisar toda a Reluzente que teríamos uma reunião às sete da manhã para repassar sobre o que fosse decidido depois que meu irmão avaliasse as habilidades da Cris. Nisso, acabei sugerindo ao Leiftan que se juntasse à eles para a avaliação, depois que o Karuto nos confirmou que isso realmente seria feito. Pois, além de eu ainda ter muita coisa para fazer, ele como daemon/aengel experiente, poderia dar uma ajudinha no processo. Tanto que, assim que percebi que eles estavam na clareira da floresta (será mesmo que a Cris precisa de mais de um amuleto para esconder-se plenamente? Ou é só porque ela não está se preocupando em ocultar a própria energia?), fui logo o avisando e Erika se ofereceu para avisar os membros restantes sobre a reunião de amanhã.
Voltando ao trabalho, tinha quase certeza que, independente do resultado da avaliação sobre a Cris, o Lance não iria querer treinar amanhã de madrugada. Por conta das conversas que tivemos durante nosso treino noturno, acho muito difícil que ele não prefira aproveitar a companhia da Cris à praticar combate comigo ou bater no Nevra ou no Ezarel (_riso_).
A Miiko me procurou mais tarde, e pediu-me para que eu acompanhasse a Cris e o Gelinho até a Sala do Cristal amanhã cedo. Já me adiantando alguns detalhes. Achei melhor encontra-los um pouquinho mais tarde do que a Miiko me pediu. E acho que fiz bem.
– Bom dia chefinho! Posso ajuda-lo em alguma coisa? Está cedo, eu acho. – me falava ela ao abrir a porta dois minutos depois de eu bater.
– A Miiko me pediu para escolta-los até o Cristal ontem. Vocês já estão prontos?
– Quase. Lance está terminando de vestir a armadura. Quer ajudar?
– Mas falta tanto assim? – perguntei já entrando.
– Os mais difíceis já foram. – respondia o meu irmão – Bem que imaginei que iriam mandar alguém atrás da gente.
– Foi para o treino? Hoje seria a vez do Ezarel, certo? – decidi confirmar.
– O que você acha Valkyon?... – ele me sorria malandro.
– Que ele madrugou à toa. – respondi com a mesma expressão.
– Pois acertou. – rimos todos – A Ladina e eu teremos que descer agora? Sem direito nem a um café da manhã?
– Iremos passar na cozinha antes, pois, enquanto você estiver usando essa armadura, a cozinha é o único lugar seguro para as refeições de vocês dois, quando fora deste quarto, pelo o quê Miiko e eu conversamos.
– Já que é assim... – a Cris nos interrompia – Ande logo Gelinho, que eu estou com fome. E a cozinha só é mais ou menos vazia até as seis e meia.
Rimos novamente. Dei uma mãozinha ao meu irmão com as partes finais e seguimos para a cozinha. Como era impossível não acabar se encontrando com alguém durante o caminho, muitos quiseram saber quem era o de armadura que nos acompanhava. Para cortar conversa, eu apenas respondia para a pessoa: “Saberá junto de todo mundo. E temos de ir agora. Se nos der licença...”
Alguns faziam cara feia, enquanto outros nem pareciam se importar. Chegando finalmente na cozinha, Karuto pediu para a Cris e seu acompanhante desjejuarem em seu recanto privado, onde eles teriam ainda mais sossego para comerem (parece que não fui o único a receber explicações antecipadas da Miiko).Miiko
Ainda estou chocada com as coisas que o Leiftan me repassou sobre a Cris. Cada vez fica mais claro o porquê dela ficar sendo perseguida, e até mesmo de Lance parecer um pouco mais submisso à ela (li em algum lugar que dragões tem preferência a respeitar mais, quem tem mais poder). E devo dizer que a Purriry fez um trabalho impressionante, apesar das circunstâncias de “pagamento” (espero mesmo que aquela armadura seja tudo o que ela disse).
Eu não perdi tempo. Assim que deixei o quarto da Cris, comecei a pôr em prática o que havia planejado para poder apresentar o segundo guardião da Cris para todos.
Avisei o Valkyon para que os buscassem no quarto amanhã e ao Karuto para preparar um local seguro para as refeições deles; enviei os membros que seriam as “iscas” para missões cuja duração levaria alguns messes; revisei as informações que iria estar repassando para a Reluzente e depois para o restante da Guarda e de Eel; pedi para todos os sub-líderes de cada Guarda (exceto a Reluzente) que avisasse aos demais membros da Guarda e os habitantes de Eel para se reunirem no Salão das Portas (meia hora mais tarde que a Reluzente) para eu poder passar um “comunicado especial”; e fiz uma visita rápida à prisão.
Como o treino de Terra da Cris estava concluído no que se refere ao Lance, encontrei o Leiftan para que ele me fornecesse, com o auxilio da Benelli, o nome de quem poderia ajuda-la a se aperfeiçoar nesse ponto e que avisasse o ser para estar presente na reunião amanhã. Para que a Cris começasse logo. E que ele aproveitasse e já conferisse os possíveis mestres de luz também.
Não foi fácil, mas consegui terminar os preparativos a tempo de descansar a noite.
Levantei cedo. Estava tão ansiosa com tudo que quase esqueço de pegar meu café antes. E dentro da Sala do Cristal, eu não conseguia ficar quieta.
– Miiko, pelo Oráculo Original, fique parada! A senhora vai acabar deixando todo mundo ansioso também, assim! – reclamava o Ezarel e, ao reparar no rosto dos que já estavam presentes, notei que ele tinha razão.
– Sinto muito. É que há tanta coisa acontecendo de uma só vez, e temos tantos problemas para lidar, que me está difícil de encontrar um pouco de calma.
– Compreendemos Miiko... – era a Erika – Mas ficar agitada assim não ajuda nem a você, e nem a ninguém. Portanto respire fundo, e tente relaxar nem que seja por apenas um minuto.
– Além do Valkyon, quem mais está faltando para começarmos logo com essa reunião? – questionava a Benelli – Eu tenho muito trabalho a fazer em minhas pesquisas! Não tem como falar agora e depois alguém repassa para quem faltou?
– Não Benelli. Terá de esperar por todos. Principalmente porque uma das pessoas que estará presente na reunião, é a razão de a estarmos fazendo. – respondi à ela, e ela apenas bufou cruzando os braços em impaciência.
– Nos desculpe a demora. – Valkyon entrava (finalmente!) – Muitos quiseram nos parar para fazer-nos perguntas. – a Cris e o Lance entravam atrás dele, causando espanto em quase todo mundo (espero terminar rápido...).Cris
Sabia que alguém iria acabar aparecendo logo cedo na minha porta... Ao menos foi o meu chefe! E nós já estávamos quase prontos para descer.
A reação dos que viam o Lance naquela armadura já me era bem esperada, e se não fosse pelo Valkyon, eu teria sido no mínimo grosseira com alguns por causa da fome. Chegamos na cozinha a passo de tartaruga, bem dizer.
– Rainha! E... Esse é o seu segundo guardião? Espero que consiga comer sem muitas dificuldades! – falava o Karuto assim que nos viu lá dentro.
– Pois é, Karuto. E ele ainda está proibido de falar mais do que o necessário para que ninguém descubra a identidade dele... Vamos comer aqui mesmo? Tô com uma fominha...
– Hehehe... Você e seu guardião irão comer no meu espaço particular. Assim ninguém os incomoda. O seu também já está lá Valkyon, Erika me avisou que você comeria com eles.
– Muito agradecido Karuto, vamos todos então?
– Sim.
– Sim!
Lance e eu falamos juntos, com o Lance parecendo mais seco no tom (esse emulador combinado com aquela máscara realmente me incomodam...). Seguimos para o pomar do Karuto guiados por ele, e nos sentamos à mesa que continha a refeição de nós três. Valkyon e eu comíamos tranquilos, mas o Lance tinha que passar tudo por baixo do tecido que o ocultava. E tendo dificuldades com o liquido.
– Aqui, use isso guarda-costas. – Karuto entregava o que parecia ser um canudo ao Lance – Demorei dois messes para conseguir criar um desses com a ajuda da Erika, e poderá lhe ser útil. É só colocar uma ponta no copo e sugar a bebida pela outra.
– Isso é mesmo um canudo?? Do que é feito?
– De uma massa especial que criei usando estrela-das-geleiras. É comestível e ainda refresca as bebidas. Bem bolado, não é não Rainha?! – Karuto sorria.
– Muito! Acho que iremos precisar de alguns desses para a viagem, não concorda não Gelinho? – posso não estar vendo o rosto dele, mas tenho certeza que ele ficou espantado – O quê? Eu posso! Os outros usar esse apelido com você é que é outra historia...
O Lance se mostrou claramente incomodado, enquanto o Karuto e o Valkyon seguravam o riso.
Brincadeiras à parte, terminamos com o café e seguimos para a Sala do Cristal. Valkyon entrou na frente, como havíamos combinado entre nós, e o Lance entrou quase colado atrás de mim (e acho que alguns estão exagerando na reação...). Não estávamos lá nem a um minuto e Absol apareceu do meu outro lado.
– Bom, muito bem. Cris e Guardiões, aproximem-se por favor. – obedeci a Miiko um pouco incomodada (essa kitsune sabe que eu não gosto de palco...) sem o Lance ou Absol se afastarem de mim – Como alguns dos presentes já devem estar imaginando, este ao lado da nossa Lys, é o segundo guardião dela depois de Absol. A armadura que ele está vestindo tanto serve para resguarda-lo como para ocultar sua real identidade, de modo que ele estará evitando até mesmo de falar para que não acabe reconhecido por “alguém”. E diante dessa proteção, ele passará a estar acompanhando a Cris como se fosse sua sombra.
– Mas que dureza de trabalho... Heim, “Gelinho”. – argumentava o Ezarel que estava do lado do Lance, recebendo um belo chute no calcanhar – AAAIII!!! Paladina, vai deixar isso assim?
– Vocês dois são adultos, se virem! Você o conhece melhor que eu Ezarel, e sabe o quanto ele detesta esse apelido. – respondi o observando massagear o próprio pé após ter se afastado da gente.
– Espere um minuto. O Ezarel sabe quem que está por detrás dessa máscara?! – perguntava um dos presentes.
– Ele e mais alguns entre nós. – era o Nevra – E, assim como a Miiko havia mencionado antes, é melhor que ninguém saiba quem ele é, ou quem carrega essa informação. E espero que ninguém tente tirar isso de você Ezarel, pois não creio que os nossos “amiguinhos”, iriam ser gentis para conseguir lhe tirar isso.
– Não se preocupe. – Ezarel passava alguma coisa em seu pé – Posso ser morto que eu não falo. E já tomo precauções contra pelo menos uns 20 tipos de poderes diferentes. E eu não sou a sua irmã...
– Já chega dessas bobagens! – se irritava a brownie que, se não me engano, se chama Benelli – A apresentação do grandalhão aí era a única coisa que a senhora pretendia nos contar, ou há mais Miiko?
– Há mais sim. Todos aqui se recordam da visita que tivemos de Lunna, certo? – Miiko começou a explicar o restante da historia que envolvia a astronâmini e também repassou sobre a minha viagem para Lund’Mulhingar, meu primeiro destino, com alguns se voluntariando a participar do grupo – Parte dos preparativos necessários para se prosseguir com tudo isso, só puderam ser concluídos ontem. Há alguma dúvida entre vocês até aqui?
– Eu tenho uma. – erguia a mão uma moça que fazia parte da minha guarda (cujos olhos vermelhos-opacos que nunca se mexem me incomoda um pouco).
– E o que é, Huang Tomoe?
– O porquê de eu precisar estar entre os primeiros a saber de tudo isso. Qual a razão de eu não ser informada junto de todos os outros?
– Isso eu posso responder. – agora era o Leiftan – Segundo o quê eu mesmo pude confirmar, a Cris já pode começar a trabalhar com um especialista para dominar totalmente o seu poder sobre a terra e, assim como o encantamento que Lunna nos repassou determinou que a Marine era a mais indicada a ajudar a Cris com a agua, você, Huang Tomoe, foi a única cujo nome sobreviveu ao encantamento.
– Vê se não ensina ideias malucas para ela igual fez com a Marine, Paladina. Pelo amor ao Deus que você segue.
– Não eram ideias malucas Ezarel, eram coisas que ela mesma não tinha parado para observar. – me defendia.
– De qualquer forma, espero poder contar com você Huang Tomoe. Existe mais alguma coisa que gostaria de saber? – questionava a Miiko.
– Hum... Se não se importar, eu gostaria de conversar em particular com a Cris. E o guardião dela pode estar junto se ele quiser. – (porque eu tenho a impressão de que a desconfiança dela não me será boa coisa?...).
– Guardião? Cris? Vocês tem algo contra o pedido dela?
– Eu acho que não Miiko... – respondi com o Lance usando apenas a cabeça para negar.
– Ótimo. Nesse caso, o melhor lugar para vocês duas se acertarem é no seu quarto mesmo Cris. Graças à barreira, é preciso ter audição apurada para conseguir ouvir por trás da porta, sem esquecer todas as Sanas Clypeus que você ganhou da Lunna...
– Fez bem lembrar delas Miiko, mas... Elas vão conversar agora, ou a senhora vai repassar parte do que foi falado aqui para o restante de Eel?
– O comunicado primeiro, Nevra. Pela hora, acredito que todos já estejam reunidos no Salão das Portas, apenas nos aguardando. Por isso, se não houver mais nenhum questionamento, já é hora de nos juntarmos à eles.
Houve alguns instantes de silêncio, e como ninguém disse mais nada, saímos todos até a Sala das Portas onde a Miiko repetiu quase tudo para todos que se encontravam amontoados no salão. Eu só fiquei observando aquele povo e... Pude notar todo tipo de reação...
Alguns pareciam irritados; outras, assanhadas; alguns intimidados; outros neutros... Enfim, se não fosse por essa memória de vento minha no que se refere a fisionomia, aquele breve observar já seria o bastante para eu saber com quem teria de tomar mais cuidado (espero que o Lance tenha feito as mesmas observações que eu...).
Acabado tudo, a Tomoe acompanhou a mim e os meus guardiões até o meu quarto (mas eu continuo com uma sensação desagradável... Será por causa dos olhos dela que me agoniam?) – E então, Huang Tomoe. Sobre o quê você queria falar em particular comigo?
– Melhor usarmos as Sanas Clypeus antes. Por garantia.
Lance e eu acabamos nos encarando (sobre o quê que ela quer falar???). Lance pegou uma das bolinhas de dentro da caixinha sobre a penteadeira e nos reunimos todos à mesa. Foi ele quem recitou o encantamento e, depois que já estávamos todos envoltos... – Ok Tomoe. Já estamos a sós, e com a conversa plenamente protegida. Sobre o que você deseja falar?
– Quem é que está na prisão? – gelei. E acho que o Lance ficou nervoso também.
– Errr... Oi?
– Pode ser honesta comigo Cris. Assim que vocês entraram, eu vi, por trás da máscara. Sei que quem está aqui do nosso lado, responsável por sua proteção junto de Absol, é o Lance. – _engole seco_ – E imagino que ele esteja vivendo do seu lado desde o seu retorno de Memória, pois é desde lá que, sempre que vou à prisão, tenho a sensação de que alguma coisa está errada naquele lugar.
Lance respirou fundo, e retirou o emulador do pescoço – Imagino... Que o quê me denunciou para você... Seja a sua habilidade de “enxergar” o que está a sua volta... Eu estou certo?
– Precisamente Lance. Vão me explicar a historia agora?
– Eu conto ou você conta Ladina?
– Você por favor Lance. Eu... Eu não sei se consigo agora não...
– Tudo bem. Tente respirar fundo para se acalmar, sim?
– Tá.
Lance começou a explicar as coisas para a Tomoe, enquanto eu não parava de ficar mordendo os dedos da mão por conta do nervoso. Minha nova mestra parecia bem compreensiva durante as explicações e eu devo dizer, se ao final do meu treinamento com ela eu conseguir “enxergar” tão bem como ela... Serei obrigada a concordar plenamente com o Lance sobre eu me tornar uma inimiga perigosa!
Diferente de quando nós fomos para a Terra, Lance repassou apenas o essencial. Guardou para si apenas os detalhes mais pessoais, sem a Tomoe questionar sobre nada. Quando tudo terminou de ser contado, com a entrega da armadura ontem, todos nós acabamos por respirar fundo.
– Estou impressionada Cris. Não são muitos os que se dispõem a fazerem tantos sacrifícios como você. E muito menos aqueles que conseguem mudar um pouco um coração tão duro quanto o que o dragão de gelo tinha antes. Se você fosse um pouco mais altruísta, poderia ser vista como uma fenghuang sem qualquer problema. Me será uma honra ensinar-lhe o que sei.
– Eu... Eu não sei bem... O... O que lhe dizer...
– Não há necessidade de continuar nervosa Cris, e só temos dois dias de treino até você deixar Eel. Espero conseguir lhe passar o essencial antes de sua partida, para retomarmos quando você retornar. – disse ela segurando minhas mãos.
– Ela está certa Ladina. Podemos aproveitar que já estamos aqui, e ela lhe faz algumas explicações enquanto preparo a nossa bagagem. O que acham?
– É uma boa ideia Guardião. E o que é isso que Absol está segurando agora? – (quando foi que Absol se afastou da mesa?).
– Vem cá Absol. Me mostre o que tem aí. – Absol veio, e, assim que reconheci o frasco, acabei por arregalar os olhos.
– Espera, esse não é o frasco da poção que a louca nos fez completar? – Lance também reconhecia.
– É sim. Será... Que ele quer que a usemos durante meu treinamento com a Tomoe?
– Essa poção é capaz de afetar a condição de espírito de vocês dois?
– De certo modo. – respondia o Lance.
– Então é melhor que a utilizem. Controlar a própria condição de espírito é fundamental para o nosso treinamento.
Não gostei muito da ideia. E acho que o Lance pensa igual. Mas após alguns instantes, respirei bem fundo... E tomei uma dose da poção. Me arrependendo quase imediatamente após começar a ouvir a algazarra da cabeça do Gelinho (qual é?! Custava se preparar quando me viu pegar a colher?! - Desculpe Ladina. Você agiu rápido.).
– Está tudo bem com vocês dois? Podemos prosseguir com o que planejamos?
– _respira fundo_ Acho que sim Huang Tomoe. O que exatamente eu preciso saber antes de partimos para o treinamento prático? – perguntei com Lance já eliminando a barreira e se erguendo para fazer a nossa mala.
– Deixe-me apenas confirmar algumas coisas antes de começarmos de fato. – pediu-me ela.
Tomoe me fez perguntas sobre o que eu sabia fazer e sobre o que eu conhecia, igual a Marine. Lance arrumou nossas coisas com eu lhe avisando telepaticamente o que tinha de ser levado sem falta, como o meu traje de festa que fiz o possível para não deixa-lo ver nem em meus pensamentos.Ezarel
Se alguém ainda carregava dúvidas, agora não deve ter mais nenhuma. A Cris é plenamente louca! Ninguém em são juízo faz o que ela fez. E acho que ela tem prazer em preocupar os outros. Duas semanas, foram quase duas semanas tomando conta dela e depois vigiando o sono dela. Com intervalos de madrugada para treinar o Gelinho que, obviamente, ficava querendo no mínimo me quebrar um osso. E isso tudo sacrificando parte do meu tempo de descanso precioso (ai de mim se eu não tivesse minimizado os meus problemas na Absinto durante a minha punição...).
Pensei que quando a Paladina acordasse, meus problemas diminuiriam, mas graças à Anya, corro o risco de ter novos. Fiquei tão desesperado que nem hesitei em pedir auxilio para a Paladina e o Gelinho (o que acabei me arrependendo um pouco).
Para minha sorte, a Miiko não se preocupou muito com isso, depois de descobrir que o primeiro destino de Eldarya da Cris era em Lund’Mulhingar, e que eu teria de estar a acompanhando. E eles estavam certos, sem um guarda-costas, não me era nada seguro entrar em Lund’Mulhingar outra vez.
Segui com o meu dia dentro do possível depois de ajudar a Miiko com a carta-resposta para a sua majestade Eru, recebendo de Leiftan a confirmação da reunião às sete da manhã (sendo que eu teria de me levantar e estar presente no campo de treinamento às três da manhã, já que era a minha vez de desenferrujar o Gelinho).
Aquele lagarto de gelo miserável... Passei a madrugada toda sozinho naquele lugar gelado. Desisti de espera-lo assim que notei os primeiros sinais da aurora.
Cansado e faminto, segui para a cozinha, partindo para a Sala do Cristal logo depois. Como se já não bastasse o meu mau-humor, ainda estava tendo de aturar o desassossego da Miiko que estava me agoniando também. Não me aguentei. E ouvir a kitsune pedir desculpas é algo um pouco raro em situações como aquela.
Quando os últimos membros necessários para se dar início à aquela reunião apareceram, fiquei me perguntando se a razão do lagarto ter me deixado plantado foi a armadura dele, ou se foi a depravação dele.
Pensei que, como estávamos juntos de muita gente, o Lance não se atreveria a ser violento se eu descontasse parte do que passei nessa madrugada por causa dele, mas me enganei. E a Paladina nem para repreendê-lo?! (ainda dou um jeito de fazer esses dois me pagarem. Ah se dou!). Felizmente eu estou sempre prevenido, e pude socorrer rápido o meu pobre pezinho...
E me pergunto se o Nevra realmente me conhece, depois que ele resolveu questionar minha capacidade de guardar informações sigilosas... (que também não deixei barato).
Bom. A Miiko repassou a situação para todo mundo... Nevra e mais dois se ofereceram como voluntários para participarem da viagem... A nada cega da Huang Tomoe é a próxima mestra de especialização da Paladina... (e que a Cris não me invente de colocar coisas malucas na cabeça daquela fenghuang como fez com a Marine. Controlar seres vivos por intermédio de seus sangues?!? Não, não, não e não!) Ninguém ficou com dúvidas sobre o que fosse em relação ao Gelinho ou à viagem da Cris... Aquilo que era consentido todo mundo saber foi repassado na Sala das Portas... E comecei os meus preparativos para retornar a Lund’Mulhingar.
Essa viagem promete. Ainda mais se formos para participarmos do festim.
.。.:*♡ Cap.125 ♡*:.。.
“Muito bem, muito bem... Hora de colocar essa historia para frente!”
– Mas do que é que você está falando, criatura?!?
“Bora explorar Eldarya. A primavera já chegou e o dia de você visitar minha atual moradia está cada vez mais próximo.” – senti um arrepio me percorrer a espinha.
“Irmã... Assim você vai assustá-la! Seja paciente, sim?”
“Apesar de também ser uma oráculo, paciência não está sendo o meu forte, irmãzinha.”
– Há algo especial que eu deva saber?... – as duas começaram a refletir.
“Acho... Que a única coisa que podemos lhe adiantar, é que você precisa tomar cuidado.”
“E também lembrar de que não estará sozinha. Além de aproveitar ao máximo tudo o que puder.”
– Certo, então... Vamos prosseguir?
“Sim.”***Cris
Esses três dias passaram que eu nem vi.
A Huang Tomoe me explicou as coisas de um modo tão fácil, que quase não tive problema algum durante as suas aulas práticas (a Miiko quase desmaiou quando ela foi nos ver no meu quarto e a Tomoe se referiu ao Lance pelo nome _sorriso nervoso_). Lance terminou de arrumar nossa bagagem ainda naquela manhã, e eu comecei o treino logo após o almoço.
Graças à presença do Lance, muitos foram os que tiveram receio de se aproximar de mim. E a Tomoe pediu para uma maga especializada em maldições a me tirar a visão durante o treinamento. Confesso que de cara não gostei da ideia, mas ficar sob a mesma exata condição da fenghuang fez uma grande diferença (não era à toa que os olhos dela nunca se mexiam).
Segundo a Tomoe, com apenas dois dias de treino, a minha percepção ambiental estava quase perfeita. Eu só precisava dominar a percepção emocional das pessoas com o uso dessa habilidade. Reconhecer movimentos durante uma batalha, e perceber quando alguém mente ou não para mim. Entre outras coisas.
Lance continuou com seus treinos de madrugada (se bem que às vezes o meu chefe o convidava para uma batalha durante o meu treinamento. Mas claro, os dois lutavam próximos de mim.) e Anya, que estará participando da viagem como minha “dama de companhia”, não foi informada de nosso destino (se não fosse pelo Lance por meio da mensligo, eu teria aberto o bico). Ela até que chegou a desconfiar por causa de tantos elfos no grupo, mas como nenhum dos voluntários eram elfos, ela tentou ignorar, por ser uma missão oficial da Guarda.
Mas finalmente, chegou o momento de colocarmos os pés na estrada (mas bem que eu gostaria que Eldarya desenvolvesse meios de transporte semelhantes aos da Terra... 5 dias de caminhada?!? Ai...). Nós partimos de Eel com a chegada da aurora. Havendo poucas pessoas para se despedirem do grupo, não nos demoramos muito. A razão de estarmos viajando à pé, é que alguns trechos de nosso percurso não são acessíveis aos mascotes utilizados como montaria (ao menos o primeiro dia de viagem foi tranquilo!).
– Tudo bem com você até aqui, Cris?
– Sim, Nevra... Está bem sim. Mas ainda gostaria que tivéssemos algum tipo de transporte para chegarmos mais depressa.
– Então somos duas, Cris. – Anya seguia do meu lado – Qual é mesmo o nome daquele transporte que aparecia em alguns dos seus animês? Carre?
– Acho que você quis dizer: “carro”, Anya.
– Esse mesmo. Iria facilitar muito a nossa locomoção até a cidade para a qual estamos indo. Tem certeza que eu conheço o nosso destino? Não me recordo nem um pouco desse percurso...
Pobre Anya... Para ajudar a manter o nosso destino segredo dela, os elfos do grupo ficaram horas estudando uma rota diferente que fosse igualmente “rápida” e “segura” – Olha Anya, no meu sonho você me havia tido que só não o visitava todo ano porque não dava e, pelo pouco que pude ver em meu sonho, me parece um lugar muito legal.
– Hum... Ok... E o seu Guardião? Ele está encarando bem o caminho com essa armadura aí? – perguntava ela andando de costas para melhor observar o Lance que caminhava atrás de mim.Lance
Sabia que aquela armadura me seria extremamente útil. Não só pude deixar o quarto sem grandes riscos, já que a armadura escondia minha identidade, como também pude observar melhor toda aquela gente que vive em Eel (e não gostei muito de algumas reações quando fui apresentado à todos).
Aquela fenghuang realmente me surpreendeu. Ela era capaz até mesmo de ver por trás das roupas de alguém?!? Chego a temer o quão poderosa minha Ladina poderá se tornar sob os cuidados dela... (Mas porque é que a Cris fez tanta questão de não me deixar saber como eram algumas das roupas que ela carregaria, heim?...).
Graças ao meu irmão, pude testar a armadura em várias situações, e ela se mostrou tão confortável quanto versátil, mas ainda tenho que dar um jeito de aprender a vesti-la de forma mais ágil. Seria um problema se ela me fosse um estorvo durante uma batalha, por exemplo. Não tinha me esquecido de alguns dos rostos dos que estavam presentes no dia do comunicado, e tomava cuidado extra com os que me pareceram perturbados. A Negra até que apareceu de vez enquanto para me dar alguns conselhos quando eu estivesse em meio ao público.
Ficarmos sob o efeito da mensligo também foi útil. Assim como aconteceu quando ela estava purificando aquela coisa, ela acabou sendo o meu salva-vidas em várias situações uma vez que eu não podia falar livremente. Consegui aprender uma coisa ou outra por causa dos treinos dela, e ainda pude impedi-la de acabar deixando escapar para a elfinha que nós estávamos viajando para Lund’Mulhingar, lugar que Anya não queria visitar tão cedo.
Por experiência própria, eu já sabia que aquela viagem não seria nada agradável para a minha amada. Ela não precisou nem mesmo de um dia para querer reclamar na viagem da Terra! E se a pirralha não se acostumar com isso logo não... Vai ser difícil ela crescer dentro da Guarda.
Muitas foram as vezes que a Ladina precisou me lembrar que era para eu usar gestos ao invés de palavras para responder as perguntas que me eram feitas (O quão contente você está por poder voltar a correr em Eldarya? - Você sabe que não é essa a minha liberdade... - E se não tivesse a obrigação de velar por mim? De estar verdadeiramente livre? - Tudo o que eu preciso para me sentir verdadeiramente livre, é poder estar ao seu lado sem esconder quem eu sou. - _corada_ Seu bobo! - É sempre um prazer encabula-la, minha amada...).
– Acaso está com sede Gelinho? – (você faz isso de propósito, não é mesmo? - E porque não?! Só eu que tenho que ficar sem jeito aqui e ainda não poder explicar o porquê?).
– Ei vocês dois! Que tal pararem com o xaveco e voltarem a andar? Esqueceram que vocês devem permanecer no centro do grupo? – reclamava o bobo-da-corte.
– Eu não estou ouvindo quase palavra nenhuma sendo trocada entre nós dois, Ezarel. Como pode afirmar que estamos xavecando? – apressávamos o nosso passo.
– Fácil Paladina! Você só fica corada desse jeito aí, quando estão mais sozinhos. E seu guarda-costas só aceita você o chamando de Gelinho. Até a Anya quase apanhou dele ao se referir a ele assim! – e eu quase briguei com o berserker por causa disso...
– Vai por mim Ezarel, se não fosse pelo compromisso que ele tem com a Cris, nem ela escapava de alguma punição por chama-lo por este nome.
– Também não é para exagerar, né Anya.
– Você tem certeza Cris? Eu não sei não... – um riso acabou me escapando e até o black-dog acabou revirando os olhos.
– Não é por nada não, mas agradeceria se evitássemos conversas durante a caminhada. Isso não só poupará nossas energias como também me permitirá escutar melhor o que acontece à nossa volta.
– E por acaso você já conseguiu ouvir al... – (o que foi?) perguntei assim que ela travou, com todos nós parando juntos (o que aconteceu?).
– Tem um grupo consideravelmente armado próximo de nós... – sussurrou ela.
– Terra ou Eldarya? – perguntou o elfo que cuidaria do Ezarel, com todos em alerta e sussurrando também.
– Eldarya.
– Vamos fingir que não os percebemos, mas eu não estou escutando nada ainda. Tem certeza que você está limitando o seu raio de alcance com a sua percepção?
– O limite para eu não me cansar, depois de treinar com a Tomoe, é do Salão das Portas até o quiosque central. Sua “apurada” audição vai até onde, Nevra?
– Uns dois metros menos que isso. Mas meu olfato consegue ir mais longe! Especialmente se o cheiro for de sangue.
– Vamos torcer que seja apenas um mero grupo de viajantes como nós. – comentava o berserker – Seguiremos a sugestão do vampiro só que um pouco mais depressa. Posso te carregar um pouco Estrelinha, se você quiser.
– Eu estou bem pai. – continuávamos sussurrando – A Cris é quem precisaria de mais ajuda do que eu. Nossa próxima pausa seria daqui vinte minutos certo?
– Ia. Mas agora, a menos que a Cris nos confirme que esse grupo aí não está nos seguindo, é melhor adiarmos um pouco a nossa parada.
– Então vamos logo Nevra. Já me basta o cansaço físico, não estou interessada em cansaço psicológico também. – minha Ladina avançava, com todos nós fazendo o possível para acompanha-la.Cris 2
A viagem me estava sendo tão sossegada... Mesmo com as provocações que o Lance me fazia o tempo todo. Mas eu tinha que avistar um possível grupo de malas?! Eu bem que queria ter a mesma esperança do Voronwe, mas a reação de Absol, rosnando assim que eu travei, me fez logo compreender que aquele grupo era mesmo um problema.
Ignorei totalmente as reclamações de minhas pernas e apertei o passo como podia. Totalmente focada em vigiar o grupo misterioso (Tem certeza que é uma boa ideia não prestar atenção no caminho que faz? Pode acabar se machucando se ficar os vigiando desse jeito... - Confiarei meus passos à você Lance. Só me sentirei mais tranquila quando eles estiverem bem longe de nós. Acaso não percebeu a reação de Absol? – _longo suspiro_ Percebi sim...).
Seguimos naquela pressa por um tempo, e nada daquele grupo sumir do meu campo de “visão”. Ignorava todos os sons que aconteciam à minha volta e acho que quase quebro o nariz ao me esbarrar em quem estava à minha frente.
– Ei! Porque paramos ass... – choquei com o que tinha à nossa frente.
– Black-dogs... – afirmava Réalta – Tudo o quê precisávamos agora... Tem como o Absol nos dar uma mãozinha aqui Cris? – me pedia ele com armas em mãos e sem tirar os olhos dos cães, assim como todos os outros.
– Err... Absol?
Absol que estava atrás de todos nós, atravessou até a frente do grupo aparentemente contente. O grupo de cães negros com fumaça arroxeada (é realmente esta a verdadeira aparência de Absol?) com mais ou menos metade do tamanho dele, pararam de rosnar assim que o viram. E eles pareciam... conversar.
– Alguma ideia de o quê Absol pode estar tramando? – Anya me sussurrava.
– Nããaooo... Mas se ele conseguir fazer com que eles nos ajudem vai ser uma maravilha! – sussurrava de volta.
Depois de alguns minutos, Absol criou um enorme “buraco de sombra” por onde todos aqueles black-dogs mergulharam. Sumindo completamente de nosso caminho. Acho que não teve um que não acabou respirando de alívio.
– Acho... Melhor fazermos aquela pausa agora... – sugeria a Darfn, uma das voluntarias da viagem.
– Eu não se... – o som de gritos ao longe chamou a nossa atenção, interrompendo o Nevra – Mas o quê?! Absol! Mandou aquele grupo de black-dogs para cima dos nossos perseguidores por acaso?? – Absol apenas balançou a cauda sentado, como um cão feliz – Mas você é mesmo cheio de surpresas heim! Vamos descansar só enquanto continuamos ouvindo a luta, assim não perdemos muito do tempo que nos foi garantido por aquela matilha.
– Valeu mesmo black-dog! Agora posso beber agua um pouco sossegado. – declarava Ezarel que limpava uma rocha para se sentar.
Eu parei de ficar “enxergando” assim que o ataque dos black-dogs começou. Não estava nem um pouco interessada em ver a cena que prometia ser bem sangrenta pela forma como que eles saltavam da escuridão bem no meio daquele grupo, e que os gritos que ouvíamos me confirmava.
Sinceramente, aquele som me agoniava. Lance chegou a me abraçar de forma protetora, e pude notar Anya se encolhendo junto ao seu pai. Acho que o cheiro de sangue chegou ao nariz do Nevra, pois ele pediu para retomarmos o caminho antes do combinado.Nevra
Desde que eu me ofereci a participar dessa viagem junto de Darfn e Roeze, sabia que teríamos problemas mais cedo ou mais tarde. Darfn é bastante perspicaz e uma lutadora talentosa, e Roeze, pelo o quê eu entendi das explicações da Ewelein, é um dos melhores enfermeiros que temos em Eel. Somando eles dois às minhas habilidades vampíricas e de Sombra, mais as capacidades naturais dos elfos (sendo um, um berserker), a força do Lance (apesar das limitações) e os poderes de Absol e da Cris, sabia que seriamos capazes de lidar com qualquer problema. Mas eu esqueci de considerar as minhas fraquezas...
Os dias até a nossa partida, mais o primeiro dia de viagem, foram mais tranquilos do que eu esperava. Mas eu não aguardava por um grupo inimigo e uma matilha de black-dogs, em um mesmo dia. Um pouco demais sem sombra de dúvidas! Porém, ter um black-dog anormal do nosso lado se mostrou mais do que útil para a nossa viagem. Absol conseguiu empurrar aquela matilha pra cima do outro grupo que, pelo o que eu pude perceber (depois de ter me concentrado em “observar” eles) não largavam do nosso pé.
A Cris havia tido que o grupo estava consideravelmente armado, e o ataque dos black-dogs pra cima deles foram o suficiente para eu poder confirmar esse fato, pois o som do metal se chocando contra presas e garras, mais o cheiro de sangue, eram inconfundíveis. E ou o grupo era maior do que a Cris me fez acreditar (o “passo fantasma” deles é quase perfeito), ou eles eram mais... brutos, do que o Voronwe quando fora de controle. O cheiro de sangue que eu estava sentindo era tão forte que, se nós não nos afastássemos logo daquele lugar em que paramos para reaver o fôlego, iria acabar avançando no primeiro pescoço próximo de mim.
– Precisamos continuar. Agora!
– Mas já?! Não se passou nem cinco minutos depois que nos sentamos! – reclamava o Ezarel.
– Nevra, você está sendo... afetado? – perguntava a Cris receosa, fazendo com que todos me encarassem. Como resposta, apenas assenti – Vamos nos apresar então. Lidar com inimigos já é complicado, ter de lidar com aliados também é demais para mim. – declarou ela já se erguendo.
– O senhor ao menos trouxe alguma bolsa consigo por precaução?
– Apenas uma Roeze. E pretendo fazê-la durar a viagem toda, e não apenas um dia.
– Qualquer coisa você pode pegar um pouco com a Paladina! Aí nós nos revezamos em carrega-la enquanto ela não tiver condições...
– Gelinho! Se acalme! – a Cris segurava o Lance, que aposto que está querendo decapitar o Ezarel com a insinuação dele e pela forma com que está segurando o pomo de sua espada – Pense em como descontar esse desaforo depois que tivermos retornado para Eel sãos e salvos! Nada de querer matar esse palhaço antes, ok?
– Sim. – foi tudo o que Lance respondeu sem desviar de Ezarel, que não perdeu tempo em seguir em frente (ainda bem que a Cris consegue aplacar aquele dragão...).
Caminhamos em direção de Lund’Mulhingar até o anoitecer. Levou um tempo para eu parar de sentir o cheiro do sangue, confirmação de que nossos perseguidores estavam longe, ao menos por enquanto (espero que os black-dogs tenham conseguido ferir todos. E que aquele grupo seja o único a estar em nosso caminho). Erguemos um acampamento simples e de fácil e rápido desmontar; comemos nossa refeição; dividimos entre nós a tarefa de fazer vigília (com a Anya e a Cris ficando de fora, e Voronwe ou Lance fazendo companhia à elas) da mesma forma que havíamos feito ontem à noite e seguimos com uma noite sem problemas.
Quando o sol ressurgiu, não perdemos tempo algum em retomar a viagem. Eu ainda não estava sentindo nenhum cheiro de sangue, mas isso não queria dizer que estávamos em segurança. Já tínhamos caminhado por umas cinco horas mais ou menos.
– Nevra... Por favor... Vamos parar... – a Cris ofegava – Estou exausta... Tanto que... Estou até há uma meia hora... Sem usar a minha percepção... Para me aguentar em pé...
– Meia hora e só nos avisa agora?!? – reclamava o Ez – Você tem noção de que eu só estava “tranquilo” até agora porque tinha a plena certeza que não havia ninguém nos seguindo?? E se os sobreviventes dos black-dogs de ontem ou um outro grupo estiver na nossa cola agora?? Já parou para pensar nisso?!
– Ô Ezarel, vê se dá um tempo! A Cris pode ser da Obsidiana, mas ela ainda é uma faeliana. Até eu que sou uma faery completa e ainda “criança” estou exausta! O que dirá ela...
– Anya tem razão chefe, a Cris ainda não possui total controle de suas capacidades e carrega limites físicos semelhantes ao de uma criança por ser faeliana. Já caminhamos muito sem qualquer descanso, e ficar sem forças para até mesmo se defender é uma péssima ideia em nossa situação.
– Concordo com a Anya e com o Roeze, Ezarel. A “visão” da Cris pode superar a minha audição, mas não o meu olfato. Principalmente quando se trata de sangue. Consegue nos dizer com certeza a quanto tempo que deixou de estar em guarda Cris?
– 28 minutos. – respondeu o Lance entendendo um cantil para ela, que agradecia pela agua (a voz dele ficou mais esquisita do que no Baile de solstício...).
– E como é que você sabe disso Guardião? Até agora eu não escutei nenhuma conversa entre vocês.
– Provavelmente... – lá vem o Ez... – Esses dois devem ter feito um monte de combinações entre si para poderem se comunicar sem usar palavras propriamente dito, Darfn. Esqueceu que o grandalhão está proibido de falar muito?
Respirei fundo e comecei a analisar com cuidado a nossa situação – Vamos fazer uma pausa para o almoço. Eu não escuto ou sinto qualquer ameaça à nossa volta e precisamos mesmo parar um pouco. Está na cara que a Cris não é a única que precisa dessa parada. – decidi ao terminar de confirmar o ritmo cardíaco de todos.
– Obrigada Nevra! – a Cris se deixava cair sentada no chão – Lhe agradeço mesmo!Lance 2
Eu ainda mato esse elfo de uma figa... Onde já se viu?! Mandar o sanguessuga fazer da minha amada de “lanche”??? Bem que eu gostaria de servir ele de lanche para os black-dogs que o Absol jogou em cima dos nossos perseguidores. Se a Ladina não tivesse me segurado e nem ele se preparado para correr... Teríamos um elfo a menos no grupo!
Fiz o que pude para me manter calmo e não piorar ainda mais a situação para a Ladina, pois, graças à mensligo, já estava bem ciente de toda a agonia que ela estava sentindo por causa de tudo isso. Como na noite passada foi o berserker quem fez companhia à ela e a elfinha, essa seria a minha vez de poder descansar a noite inteira ao lado delas (como eu queria que fosse só eu e a Ladina... _suspiro_).
Assim que o sol nasceu, nós dois tomamos nossas doses da poção e recolocamos o pé na estrada. Apesar de ter ficado muito tempo “parado”, não estava tendo nenhuma dificuldade em seguir o nosso caminho, mas estava preocupado com a Cris, uma vez que ela não possui a mesma resistência.
(Tudo bem com você Ladina? Acabou de parar de usar a sua “visão”! - Eu estou bem Lance. Apenas tentando continuar mais um pouco. E além do mais... Não “vi” nada de preocupante até agora. - E acredita que as coisas continuarão sempre assim? - Não sou vidente. Não tenho a resposta, mas eu espero que sim. Ao menos por hoje.).
Comecei a fornecer apoio para ela até finalmente pararmos. É formidável a força de vontade dela quando ela se decide a algo. E outra vez quis espancar aquele palhaço quando minha Princesa revelou não estar mais vigiando os arredores. Minha única satisfação era saber que mais gente a defendia ali.
Paramos para descansar e almoçar por quase uma hora e minha Ladina parecia quase desesperada por um bom e longo banho, de acordo com a mensligo. Foi o Réalta quem chamou todos para retomar viagem, e ele ainda sugeriu para a minha Princesa que não usasse mais a sua percepção hoje, pois, segundo ele, ele tinha a intuição de que seria melhor assim. O bobo-da-corte até que tentou reclamar, mas o berserker e o sanguessuga o cortaram antes mesmo de conseguir falar uma frase.
Duas horas. Só tivemos sossego por duas horas de viagem antes de novas dores de cabeça resolverem nos aparecer.
.。.:*♡ Cap.126 ♡*:.。.
Cris
Banho. Agua quente. Um sabonete perfumado. Ai... Porque essa viagem tinha que demorar tanto? É horrível ter de dormir com o corpo e a cabeça coçando de sujeira e suor, sem falar no desconforto que é dormir “no chão” vários dias seguidos. E essa foi só a segunda noite! Acho que se eu encontrar um riacho... Pulo dentro dele! Sem pensar duas vezes.
Assim que acordei, com o Gelinho me chamando, nós dois tomamos nossas doses da mensligo. Conseguimos aprender seu tempo correto de duração durante meu treinamento com a Huang Tomoe, por isso, se tomássemos antes do sol nascer, o efeito da poção acabaria com o fim do crepúsculo. Permitindo a nós dois dormirmos sossegados se assim nos fosse permitido.
Eu não estudei muito sobre os biomas de Eldarya, nem mesmo os que estavam mais próximos de Eel, então eu não sabia o que esperar depois da floresta (ainda mais não sendo o caminho normal até Lund’Mulhingar). Andamos a manhã toda bem dizer, e quando paramos para o almoço, pensei que o nosso caminho teria continuidade dentro da selva do Tarzan com tantos cipós altos que começavam a surgir acima de nós.
– Acho que já podemos retomar viagem. O que acha Nevra?
– Concordo com você Réalta. Infelizmente, não podemos nos dar o luxo de baixarmos a guarda até chegarmos onde queremos. Se quisermos chegar... – todo mundo acabou respirando fundo.
Estava quase terminando de me ajeitar para recomeçar a viagem quando o Réalta veio falar comigo.
– Cris, se importa de nos fazer um favor?
– Se for para avisá-los quando eu ver alg...
– Não! Não! Não! Nada disso! Quero dizer... Quase nada disso.
– Pode ser mais claro?
– Gostaria que você não ficasse mais vigiando o nosso redor como tem feito até agora.
– Heim?! – Ezarel tentou reclamar também, mas bastou o Voronwe lhe segurar um dos ombros para ele nem terminar de abrir a boca.
– Você não está acostumada com viagens como a que estamos fazendo, e a sua “vigília”, gasta bastante de sua energia, e... Pode até ser excesso de preocupação minha, mas... Acho que seria melhor você se poupar daqui pra frente.
– Réalta pode estar certo. – Nevra entrava na conversa – Você não precisa ficar se esforçando, todos nós somos bem capazes de perceber o perigo, caso ele se aproxime, antes que vire uma ameaça iminente. É mais sensato que você guarde suas energias para conseguirmos concluir a viagem.
– Hãm... Vocês tem certeza? Ninguém vai “reclamar”... – encarava o Ezarel – ...se eu parar de velar por todos nós?
– Não vejo motivos para reclamações. – declarou o Voronwe ainda segurando o ombro de Ezarel.
– E qualquer coisa... – era o Nevra de novo – Caso “alguém” resolva reclamar, este poderá ser obrigado a ajudar o Purrero a limpar os viveiros dos mascotes de sua loja por um mês inteiro. Todos concordam com isso? – terminou ele de falar já encarando o alquimista frescurento que fez cara de nojo e com todos concordando com o vampiro.
– Bom. Já que é assim, tudo bem! Vou deixar a nossa segurança com os ouvidos das orelhas pontudas de vocês. E falando em ouvir... Alguém aí escuta algum riacho para eu entrar nele? – todo mundo acabou rindo de leve.
– Vai por mim Cris, se encontrássemos algum, eu seria a primeira a mergulhar nele! – comentou a Darfn já jogando a mochila dela nas costas e começando a caminhar.
Retomamos a viagem. Por causa da necessidade de manter o silêncio para assim perceber mais fácil qualquer anormalidade, as coisas estavam beeeem entediantes...
A selva que nós atravessávamos parecia se fechar aos poucos, com cada vez mais plantas e cipós nos fazendo sombra (Me diz Lance: essa selva ainda vai ficar mais fechada? Ficar mais escuro para nós não pode acabar se tornando arriscado? - Pensei que você não tinha medo do escuro! - Do escuro em si, não. Mas do que pode estar escondido nele, sim. - Relaxa minha Princesa... Nem que eu tenha que perder um braço, você vai estar segura o tempo todo. - Credo! Que exagero! Não fala assim que atrai a desgraça! - Hehehe. Se acalme meu amor. Ninguém aqui tem intenções de lhe permitir receber sequer um arranhão, tudo bem? - Apenas não fique brincando com o meu emocional vai. Quero um baaaanhooo! _choramingando_).
Ainda lamentava por uma boa ducha quando o grupo inteiro resolveu travar. Eu pretendia questionar o porquê daquilo, mas vi Nevra fazendo sinal de silêncio. Nem Absol parecia contente!
– Felizes agora por terem dado uma folga à Paladina? – questionava o Ezarel já sacando a sua espada.
– Estamos cercados. – (heim?!?!) sussurrava o Nevra – Vamos fazer como combinado. Com cuidado.
O combinado era: Anya, Roeze e eu ficaríamos no centro do grupo; Nevra, Lance e Voronwe formariam um triangulo ao redor do grupo; e Absol, Ezarel e Darfn formariam um segundo triangulo, entre o meu grupo e o de Lance, para o apoio.
Eu não estava nas minhas melhores condições para uma batalha. Não conseguia pensar direito no quê que eu poderia fazer (Fique calma Ladina. Respire fundo e lembre-se do que aprendeu comigo e com a fenghuang, assim saberá o que fazer. Mas tente se manter fora da luta. Essa viagem tem a deixado bem desgastada. - Vou ver o que eu consigo.) respirava fundo o máximo que eu podia.
Mal tínhamos terminado de assumirmos nossas posições e eles começaram a aparecer. Eram muitos eldaryanos que “brotavam” das sombras e das arvores. Armados com facas e espadas das quais cujo formato prometiam causar um imenso estrago se alcançasse algum de nós. Sorrindo e rindo macabramente baixo fazendo com que eu sentisse um calafrio na espinha.
– São muitos... – Anya sussurrava ao meu lado – Será que... Daremos conta?
– Vamos ter que dar Anya. – respondia o Roeze engolindo seco diante daquele grupo que parecia ser 5x vezes maior que o nosso.
A tensão mal durou trinta segundos antes daqueles estranhos que ocultavam seus rostos, como se fossem ninjas ou algo do tipo, começassem a nos atacar. Eles eram violentos. Quase implacáveis. Mas Lance e os outros conseguiam detê-los em parte.
O grupo de Absol fazia o possível para impedir o avançar dos que passavam pelo Nevra e os outros que estavam ocupados com pelo menos três inimigos cada um, e não demoraria para que o meu grupo acabasse almejado também.
Estava nervosa. Não conseguia pensar direito (pra onde que fugiu aquela calma que eu sempre sinto em situações como esta???). O avançar daqueles seres era rápido. Muito mais rápido do que eu poderia desejar! Eles já estavam quase me tocando quando...
(ACALME-SE!) uma barreira surgiu do nada em volta do meu pequeno grupo, impedindo os caras de nos agarrarem (Tente ficar calma! E lembre-se: a única forma dessa barreira sumir e se eu mesmo removê-la ou se eu morrer. Coisa que não pretendo deixar acontecer de jeito nenhum!).
– Ei! Quem foi que invocou essa barreira?! – reclamava a Anya, me tirando um pouco de meu pânico.
– Eu não sei. Mas não é coisa deles, já que está os impedindo de nos alcançar. – respondia o Roeze analisando a barreira.
Isso me fez me acalmar um pouco. Respirei tão fundo, mas tão fundo... Que sem querer acabei ativando a minha percepção ambiental. Me fazendo enxergar cada inimigo que havia presente a nossa volta, além do lugar em si. Várias ideias começaram a surgir em minha mente (Lance, você não me havia dito que não era possível usar poderes quando dentro desta sua barreira? - Disse, mas... Eu também lhe falei que não pude descobrir todas as limitações dela! Estou surpreso que seja capaz de usar a sua “visão” dentro dela. - Pois bem, você não se importa de eu testar essas limitações um pouco, não é?) perguntei o observando lutar (Sinta-se à vontade Ladina) via-o possivelmente sorrindo para mim.
Depois de terminar de verificar tudo o que eu poderia utilizar ao meu favor, concentrei-me em meu controle da agua. Da agua presente dentro de todos os cipós e trepadeiras ao nosso redor... Assim que me senti no controle de todas aquelas cordas naturais, atirei-as com tudo em cima de nossos inimigos. Começando por aqueles que estavam mais afastados que deveriam ser o reforço dos que nos atacavam na frente.
As reações que estes mais afastados tiveram com a surpresa do meu ataque acabou chamando a atenção de alguns dos que nos atacavam, facilitando para o Lance e os outros. Continuei manipulando as plantas o máximo que pude, e não demorou muito para que os que estavam do meu lado percebessem que era eu quem estava por trás daquele golpe vegetal.
Anya e Roeze compartilharam um pouco da energia deles comigo para que eu pudesse continuar, e os outros tomavam cuidado para não acabarem me atrapalhando, fazendo apenas movimentos realmente necessários e se desviando das minhas ramas.
Quando eu finalmente terminei de prender até o último de nossos inimigos muito bem preso, me soltei com tudo no chão. Acho que não consegui me manter acordada por nem mesmo um minuto depois.Nevra
Desde que amanheceu, fiquei prestando extrema atenção em tudo que nos cercava. Ter a Cris gastando parte de sua energia para cuidar de todos nós me preocupava um pouco, tanto que não hesitei em apoiar o Réalta quando este pediu a ela que não usasse mais a sua percepção ambiental (e ainda dando um jeito de manter o Ezarel calado).
Eu não senti cheiro algum de sangue durante o dia, mas... Ao que pude perceber... Havia mais de um grupo atrás da gente. E esse segundo grupo se mostrou potencialmente perigoso. Fosse por suas armas, ou fosse pelo seu numero, nossas chances eram um tanto baixas demais para mim.
Não foi difícil perceber durante a luta que aqueles seres não carregavam qualquer intenção de nos deixar partir com vida. Até parecia que eu estava revivendo a Guerra do Cristal! Eram tantos que avançavam em cima de mim que não havia jeito de impedir que alguns deles se aproximassem da Cris, o claro alvo deles. E percebendo, através dos batimentos cardíacos, que a Cris não estava nem um pouco perto daquele estado que a permitiu enfrentar mais de vinte homens sozinha e ao mesmo tempo, comecei a temer.
Estava prestes a entrar em pânico quando avistei o surgir repentino de uma barreira ao redor do grupo da Cris. A reconheci assim que lhe pus os olhos. Podendo ficar só um pouquinho mais tranquilo. Foquei-me ao máximo em neutralizar aquela horda de vilões que não parecia ter fim.
O esforço e o cansaço daquela luta já estavam começando a querer me perturbar quando ouvi gritos de espanto vindo de dentro da mata fechada. O som de algo se rastejando por todos os lados à nossa volta, mais o olhar rápido que dei em direção da Cris me fez entender o que acontecia. E quando vi o primeiro daqueles homens sendo erguidos com tudo para o alto das arvores através dos cipós que pairavam em nossas cabeças, tive a confirmação plena de que a Cris estava por trás daquilo (Ezarel vai ter de parar de reclamar do treino dela com a Marine).
A Cris não os capturava todos de uma vez, mas nenhum dos que eram pegos conseguiam fugir das plantas. Ainda me defendendo de um ou outro que insistia em lutar, reparei que Anya e Roeze haviam começado a fornecer energia para a Cris. O que significava que aquilo tudo estava lhe custando um enorme esforço.
Quando finalmente podia parar de lutar, com o último ser se debatendo inutilmente entre as copas, fiquei em dúvida se interrogava algum deles ou se caíamos fora daquele lugar. Foi o Lance quem tomou a decisão.
– Vamos fugir! – declarava ele já tomando a Cris cuidadosamente nos braços – Depressa!
– Não sinto minhas pernas...
– Sem problemas Estrelinha. Eu te carrego. – declara o Voronwe já pegando a filha no colo e acompanhando o Lance.
– Tá fazendo o quê parado aí Nevra?! Pé na estrada! – reclamava o Réalta que ajudava a Darfn com o Roeze, e Ezarel atento ao nosso redor.
Corremos todos o máximo que podíamos em direção de Lund’Mulhingar e só paramos quando anoiteceu. Ezarel examinou cada um de nós e, no que se refere a ferimentos, Darfn era a única com algum machucado digno de preocupação, no braço. O resto de nós só tínhamos cansaço mesmo.
Graças a esses dois ataques, nossa viagem já estava quase um dia menor. Erguemos acampamento. Deixamos a Cris descansando (pois ela continuava desmaiada) e nos reunimos ao redor de uma fogueira.
– Me desculpem...
– Desculpa-la pelo o quê, Estrelinha?...
– Estou sendo um peso-morto... – vi as lágrimas lhe caírem.
– Não diga isso Estrelinha... Como que você pode estar sendo um peso-morto para nós?!
– Não pude fazer nada até agora. E ainda tive de ser carrega para podermos fugir de nossos últimos inimigos...
– Isso não é verdade Anya. Ou vai me dizer que já esqueceu que você e eu ajudamos a Cris a deter aqueles caras? E por sinal... Quem é o autor daquela barreira?
– O Guardião da Cris. – respondemos o Ezarel e eu ao mesmo tempo (ele também a reconheceu).
– Sendo assim, muito obrigado Guardião. Sei que a sua única intenção era a de proteger a Lys, mas ao protegê-la, também protegeu a minha Estrelinha. – Lance apenas assentiu e ergueu-se para ir até a Cris, conferi-la.
– De qualquer forma, não há porque você se achar inútil Anya. Todos nós temos nossas diferenças, seja de habilidade ou força, mas cada um de nós é necessário nessa viagem. Por isso... Não quero saber de você repetindo esse tipo de coisa. Fui bem claro mocinha?
– Está bem Chefinho. Eu acho _bocejo_ que vou me recolher. Estou cansada. Boa noite a todos.
– Boa noite Estrelinha. Logo me juntarei a vocês duas.
– Está certo pai. – ela cambaleava até a barraca em que havíamos deixado a Cris.
Passou-se um tempo e aos poucos aqueles que não iriam fazer vigília ainda se recolhiam. Eu seria o primeiro hoje, junto de Lance (que passaria a noite toda em claro, bem dizer).Cris 2
Logo que abri meus olhos, vi Anya dormindo. Erguendo um pouco a cabeça, percebi estar dentro da barraca; Voronwe dormia atrás de Anya; ainda era noite, e meu estômago reclamava (ô meu amigo... a noite foi feita pra dormir! Não pra comer. Nós nem somos criaturas noturnas!...). Recordando tudo o que tinha acontecido, junto da dor da fome, resolvi sair para saber melhor o que tinha acontecido... E fazer um lanchinho rápido, vai.
Sai com cuidado para não acordar os elfos, e o único que encontrei acordado, de frente à fogueira com Absol dormindo próximo, era o Nevra.
– Você é o primeiro a fazer ronda ou já está substituindo alguém? – perguntei me aproximando.
– Primeiro. Mas em breve o Ezarel me substitui. – o barulhento resolvia reclamar _vermelha_ – Sente! Ainda sobrou um sanduiche para você.
– Obrigada. – agradecia meio sem jeito, recebendo o lanche em seguida – O Gelinho está aonde? – questionei depois da primeira mordida.
– Dando uma volta ao redor do acampamento. Para conferir a nossa segurança.
– Entendi... – dava outra mordida no lanche – O que... O que aconteceu depois que desmaiei?
– Seu Guardião removeu a barreira que a protegia; te pegou no colo com Voronwe fazendo o mesmo com Anya, e Réalta e Darfn deram apoio ao Roeze; disparamos daquele lugar parando apenas quando a noite começou a cair; Ezarel examinou todo mundo incluindo você e o Gelinho; e aos poucos todos se recolheram ficando apenas eu e o Gelinho acordados.
– Anya e Roeze também desmaiaram? Se não fosse por eles... Acho que não teria conseguido impedir todos aqueles caras.
– Não, eles não desmaiaram. Mas ficaram bem exaustos! E Ezarel não teve coragem de reclamar por termos decidido deixa-la poupar parte de sua energia depois do que fez.
– Ao menos isso, né! – um riso escapou do Nevra e eu continuei comendo.
A noite mostrava-se tranquila. Os sons naturais e da madeira crepitando me convidavam para voltar aos braços de Morpheus, mas... Logo após ter terminado de mastigar e beber quase um meio litro de agua? Nã! A última coisa de que eu preciso é um possível refluxo. Teria de enrolar um pouco por ali para que se tornasse seguro deitar outra vez. Fiquei tentando imaginar cenas e seres dentro das labaredas dançarinas para não adormecer ainda.
– Ladina. – tremi de susto com o Lance me chamando recostado à uma arvore – Você vem?
– Hãm. Nevra?
– Contanto que eu possa continuar os escutando, sem problemas.
– Valeu, Nevra. – agradeci já me erguendo e seguindo o Lance que ia para dentro da floresta.
Por causa da fogueira que nos aquecia, eu não tinha conseguido reparar, mas quando mais eu seguia o Lance para dentro da vegetação, mais fascinante o lugar se mostrava para mim. Quase todas as plantas e flores possuíam bioluminescência! E em várias cores... Uma compensação por muitos dos problemas que tivemos até agora, se for pedir a minha opinião.
– Ei Gelinho! – comecei a chama-lo ao reparar que quase não via mais a fogueira – Até onde você pretende se afastar? Pode ficar perigoso assim!
Lance parou e se virou para mim sem a máscara no rosto. Por causa da pouca luminosidade, não conseguia entender direito a expressão de seu rosto, e consequentemente, suas intenções. Ele começou a olhar ao redor como se procurasse por algo (o lugar em que estamos é lindo!!) e começou a se aproximar muito rápido de mim.
Tão rápido que nem entendi direito como que tinha acabado contra uma arvore com ele me beijando. E era um beijo intenso... Ardente e envolvente. Fiquei totalmente sem fôlego quando nossos lábios se separaram!
– Queria poder toma-la. Aqui e agora. – (socorro bombeiros!! Acudam esse dragão em chamas!!!) – Mas como você mesma disse, pode ser perigoso. Um outro grupo de canalhas poderia aparecer e a última coisa que desejo é ter nosso momento a sós interrompido. – (Ufa! Ele ainda tem bom-senso).
– Talvez... Depois que chegarmos... E descansarmos um pouquinho de toda essa estrada _risinho_. Nós... Possamos aproveitar... Um tempinho. Só nós dois. Em segurança.
– Rezo por isso, Princesa... – ele me acariciava o rosto – Você foi incrível sabia? Mas ainda precisa aprender a controlar melhor a sua maana.
– Nevra já me resumiu tudo o que aconteceu após eu apagar. Queria mesmo era poder ter sido capaz de controlar os inimigos ao invés das plantas, assim poderíamos escapar deles de forma mais rápida.
– Errr... Acaso se refere àquela coisa de “dobra de sangue”? – assenti rápido e acho que ele acabou engolindo seco – Bom, isso ainda pode ser apenas teoria, não? A ondina conseguiu fazer isso já?
– Eu não sei. Nós combinamos de tentar esse tipo de coisa somente durante as luas cheias, mas não há garantia que alguma nós venha a conseguir. Você ainda vai me ajudar, não é? Sendo a minha cobaia?
– Sim, mas não nessa lua. Estamos no meio de uma viagem e... não sabemos o que poderemos encontrar...
O pavor de Lance sobre o assunto estava bem nítido, e um riso acabou me escapando por causa disso. Ficamos alguns instantes em silêncio, apenas trocando olhares gentis.
– Você deve estar exausto não? – quebrava o silêncio – Ainda acho que você e Voronwe podiam dividir a noite ao invés de alternarem entre si.
– Não precisa se preocupar Ladina. As poções revitalizantes que Ewelein preparou para nós são muito boas. Não estou cansado. Quero dizer, não ao ponto de chegar a ser uma preocupação.
Um outro risinho me escapou e comecei a observar o lugar em que estávamos mais detalhadamente.
– Este lugar é realmente bonito. Olha para essas flores que parecem serem feitas de luz! Incrível... – meus olhos lagrimejavam.
– Assim que comecei a conferir os arredores do acampamento, tive a certeza que você iria gostar de ver tudo isso.
– E por isso pediu-me para acompanha-lo.
– Nossa viagem não tem se mostrado ser das mais agradáveis até aqui, então era justo que você tivesse pelo menos uma memória boa de tudo isso.
– Lance... – puxei-o para um beijinho – Muito obrigada, meu dragãozinho amado...
Com um sorriso malandro no rosto, ele me tomava os lábios como na primeira vez. Tudo estava tão deliciosamente agradável que, se não fosse pelo latido de chamado do Absol, muito provavelmente teríamos atendido o desejo que o dragão havia me revelado ali.
– _suspiro_ Parece que já é hora de voltarmos...
– Parece, né?... Vamos indo!?
– Vamos! Fazer o quê... – desabafava ele já recolocando a máscara.
Um outro riso acabou me escapando e guiei o Lance pela mão até de volta ao acampamento.Ezarel
Pra quê raios que a Paladina tinha que ter me colocado dentro daquele sonho dela... Essa viagem está se mostrando uma porcaria! Já sinto falta do meu laboratório amado... Custava a viagem ter continuado tranquila igual foi no primeiro dia?! Estou que-bra-do.
Não vejo a hora de poder repousar sobre uma cama confortável. Isso se mais nenhum grupo de “loucos” resolver nos perturbar. E ou nós estamos tendo muita sorte, ou muito azar. Quero dizer, quais são as chances de se deparar não com um ou dois, mas uma matilha de black-dogs, e os mesmos acabarem servindo de “escudo” contra um bando de energúmenos? Ou então, de que a decisão de deixarem a Paladina “de folga”, pudesse acabar nos salvando a vida? (Apesar disso a ter apagado totalmente. Cada vez mais eu temo os resultados do treinamento que ela teve ao lado da Marine). O lado bom, é que já avançamos muito mais do que havíamos planejado.
Depois de terminar de conferir o estado de saúde de todo mundo e cuidar da Darfn, me recolhi para conseguir descansar um pouco mais antes de assumir meu lugar na vigília noturna. Graças a uma das poções que eu desenvolvi para uso próprio e que agem quase como um despertador, mesmo cansado me levantei para fazer o meu turno da vigília.
– Cadê o Gelinho? E aconteceu alguma coisa interessante enquanto eu dormia? – perguntei ao reparar que Nevra parecia sozinho junto a fogueira, já me sentando ao seu lado.
– Ele está dando uma volta. Com a Cris.
– Ah tá. Ele está... O QuÊ?! – o rosnado do black-dog me fez perceber meu escândalo (além de eu ter mudado de lugar para ficar longe dele!) – Aqueles dois estão “passeando”?? Depois de tudo que passamos?! Acaso bateu com a cabeça no último ataque e eu não percebi ao examiná-lo para deixar isso acontecer?? – reclamei com a voz mais baixa.
– Só tem alguns minutos que eles saíram, sob a condição que se mantivessem dentro do meu raio auditivo, e como você bem disse, el... – o rosto esquálido dele ficou vermelho de repente.
– O que foi? Ficou envergonhado porq... – _ideias devassas_ – Não me diga que...
– Apenas acabei escutando algo... íntimo, entre eles. – me cortava o Nevra.
– Por favor, me diga que aqueles dois não estão pra fazer o que eu estou pensando... – (isso lá é momento?!).
– Eu disse que escutei algo íntimo, não que eles estão fazendo... “aquilo”. Nesse ponto os dois me parecem bem cientes de nossa atual situação. – um longo suspiro me escapou.
– Mas eles vão demorar? Sozinhos eles são alvos fáceis! – questionei após quase um minuto.
– O Gelinho está tentando compensar a Cris pelos sufocos vividos até aqui com a flora especial desta área. E pelo o que consigo perceber... – ele apontava para a própria orelha – Ele o está conseguindo com êxito.
– Agradar a Paladina até que é fácil, difícil é lidar com a maluquice e a raiva dela. – recordava a personalidade da louca.
– Bom, louca ou não, estamos dependentes dela. E espero que eles não demorem demais para que eu possa descansar um pouco também.
– Quem mandou você lhes autorizar o passeio...
– Qual é Ezarel... Você sabe muito bem que eles têm todo o direito de ficarem alguns minutos a sós!
– E nisso já se passou quanto tempo? Lembrou de lhes limitar o tempo de passeio por conta de nossa situação?
Nevra acabou suspirando um pouco irritado antes de responder – Não. – _revira olhos_ (eu mereço...).
– E agora você vai ter que ficar aí até eles resolverem retornar? Você realmente não está com a cabeça funcionando, meu amigo.
– Todos estamos um poucos desgastados por causa dessa viagem Ezarel. Esqueceu o que a Anya chegou a dizer poucas horas atrás?
– Não. A única coisa que vejo como boa nisso tudo é que estamos muito mais perto de Lun... – Nevra fez sinal de silêncio (a pirralha está acordada?) – De nosso destino, enfim, se comparado ao que havíamos planejado antes.
– Concordo.
Ficamos mais alguns instantes em silêncio e assustei-me com o Absol latindo do nada. Quase como se fosse um código e parecendo inquieto depois.
– Eles estão voltando. – voltava a encarar o vampiro – Acredito que já me seja seguro descansar. Fique atento _bocejo_ até acabar a sua vez...
Fiquei sem saber o que dizer enquanto Nevra partia para o mundo dos sonhos (mas esse vampiro não dorme a cada duas ou três noites?!?). Senti-me inquieto igual ao black-dog, e depois de uns cinco minutos, os lovigis resolviam aparecer.
– Se divertiram bastante? É realmente uma ideia maravilhosa sair para namorar cercados de inimigos loucos pelas nossas cabeças, não é não?
– Vê se não estraga a minha noite, seu mala. – respondia ela ríspida com o Gelinho pressionando a empunhadura de sua espada e o black-dog me rosnando de leve do outro lado.
– Só estou comentando que vocês tiveram uma atitude irresponsável! Não precisam se ofender.
– Calado, você já está errado. Porque se fosse tão arriscado assim, nem Nevra e muito menos Absol nos teria consentido. – declarou ela já retornando para dentro da barraca.
Absol continuou me rosnando baixo e Lance não largava a espada enquanto me encarava. Essa será uma longa vigília...
.。.:*♡ Cap.127 ♡*:.。.
Ēnukungi
Exatamente como eu havia imaginado, cada um dos planos sugeridos e aceitos pelo Eralco e os demais... Falharam!
Eles ignoravam detalhes simples, possibilidades importantes, e também havia falta de informação.
Graças ao pacto que tenho com cada um que me serve, pude assistir de camarote o falhar de cada plano executado até agora. E eu não deixei de jogar na cara dos autores desses planos (quando o mesmo não partia desse mundo por meio das cápsulas de mamona-espirradeira), cada motivo disso ter acontecido.
Quando foi decidido que a Lys de Eldarya viajaria para algum lugar (aparentemente Lund’Mulhingar), ninguém perdeu tempo em bolar emboscadas para o grupo. Porém... Outra vez estava faltando informações confiáveis para o criar de um plano bem-feito e confiável.
Para começar, quem era aquele guardião da Lys? Acaso seria ele uma das razões de tantos planos falharem? E se for, existe uma chance dele ser o Lance? Se bem que Melídia me confirmou, de um modo estranho, que o dragão continuava acorrentado...
E se eles estavam de fato à caminho de Lund’Mulhingar, porque mudar tanto assim a rota de viagem? E ainda mais uma em que nenhum mascote estaria os acompanhando?? Algo me diz que o evitar dos meus servos não é o único motivo dessa rota inusitada...
Dez grupos, de vinte a quarenta membros, foram enviados para o decorrer das várias rotas conhecidas até o reino élfico, mas somente três, tinham condições de alcançar nossos alvos antes que ficasse realmente complicado atacá-los. E desses três, dois foram derrotados. O primeiro por uma estranha matilha de black-dogs que quase exterminou o mesmo; e o segundo por um estranho ataque vegetal que, pelo pouco que pude perceber, teve dedo da Lys. E o pior, é que essas falhas ainda encurtaram a viagem dela até os elfos em quase um dia!
Se o terceiro grupo falhar em captura-la antes deles alcançarem as fronteiras de Lund’Mulhingar... Será um grande incômodo, mas novos planos pre-ci-sa-rão serem feitos... (e dessa vez, muito bem-feitos).Cris
Ezarel... Aquele... “Crianção” de uma figa! Graças às insinuações dele não consegui dormir quase nada. Ele tinha que ter acabado com a paz que o Lance havia me dado com aquele passeio?! Praga!
Quando Voronwe me chamou para levantar, eu ainda estava morrendo de sono. Fiquei cambaleando a manhã toda. Peste de elfo!... E para piorar, seguíamos apressados, para tentar evitar novas possíveis “dores de cabeça”. Principalmente porque a Darfn não podia brandir suas armas com o braço ferido, reduzindo consideravelmente a nossa defesa.
– Acelera aí Paladina! Prometo que te deixamos cochilar por uma hora inteira depois que alcançarmos a floresta que faz fronteira com o lugar pra onde estamos indo.
– Eu não precisaria de cochilo se você não tivesse sido uma peste ontem a noite.
– Mas qual que é o problema entre vocês dois? Porque é que você está querendo bater no Ezarel, Cris? – questionava a Anya.
– Porque não pede para o seu chefe explicar Anya? Afinal, foi ele quem autorizou o começo disso tudo...
– Vê se fecha essa matraca Ezarel! E agora eu entendi o porquê da Cris estar tão nervosa se ela estava um mar de tranquilidade antes de eu trocar de turno com você. Foi você que acabou com tudo, não é mesmo?
– Acabou com o quê, Becola?
– _respira fundo_ A Cris acordou um pouco antes da troca de turnos. Conversamos um pouco, ela se alimentou e bebeu agua, e o Guardião dela a chamou para dar uma pequena volta. Desde que eles se mantivessem dentro do meu raio auditivo.
– Isso é verdade? – Lance e eu assentimos juntos para o Réalta.
– Ainda não entendi o motivo da raiva...
– Provavelmente Estrelinha, Ezarel faltou com a delicadeza quando os dois retornaram do tal passeio. A área em que acampamos não era qualquer uma! Aposto que a Lys apreciou de coração essa volta.
– Realmente Voronwe... Não me lembro de já ter visto tanta beleza como vi ontem à noite... Mas essa porcaria aí tinha que estragar a minha alegria!
– Ah, qual é?! A quase mordida que levei do seu black-dog hoje já não foi castigo suficiente não?
– NÃO! – respondemos bem dizer todos juntos e com Absol rosnando.
Ezarel, que liderava a trilha, cruzou os braços de cara fechada e apertou o passo (filho da mãe!). Depois de quase uma hora de pré-corrida, onde Lance me fornecia apoio para continuar seguindo, Anya recomeçou a fazer perguntas sobre o nosso destino.
Eu usava a minha sonolência como desculpa para não lhe responder nada, enquanto Voronwe e Réalta eram os únicos que lhe dava respostas como: “em breve descobrirá”, “falta pouco agora”, “mais um pouco e verá por si mesma”. Mas essas respostas estavam deixando Anya tão irritada com eles, quanto eu estava com o Ezarel.
Fizemos a parada do almoço um pouco antes do meio-dia. E pela forma com que Nevra, Ezarel e Voronwe ficaram trocando olhares entre si, acho que eles estão tramando alguma coisa... E o Réalta ainda me pareceu cochichar com o Ezarel. Mas eu só fui descobrir o que todos eles tramavam uns cinco minutos antes de retomarmos a estrada.
– Ei! Alguém aí sabe me dizer se há ou não alguma fonte de agua mais pra frente? A minha agua acabou! E eu jurava que estava sabendo economiza-la...
– Não se preocupe Anya! – era o Réalta – Aqui, bebe um pouco da minha. Pois, infelizmente, não encontraremos nenhuma fonte d’água até chegarmos na cidade.
– A tão misteriosa cidade, não é mesmo? – retrucou a Anya já virando o cantil que Réalta lhe tinha entregado – Mas o quê que é isso?!
– Réalta, seu filho de um black-dog! O cantil que você entregou para a pirralha é o meu!
– E o que foi que eu acabei de beber Ezarel?!? – ela ficava de pé num pulo.
– Uma poção do sono com duração de efeito controlado pela quantia que se é tomada. – respondeu ele com um sorriso que assustou até a mim.
– E por quant... Temp... – Anya desmaiava, com seu pai amparando sua queda e pegando o cantil antes de derramar o conteúdo.
– Terminando a pergunta de minha Estrelinha: por quanto tempo ela irá dormir?
– Só um momento. – Ezarel recuperava o frasco, analisou a quantidade ainda restante e fez alguns cálculos de cabeça (imagino eu) – Acho... Que ela continuará dormindo por mais umas seis ou sete horas mais ou menos. O que significa que temos menos de seis horas para chegarmos na floresta Vakhataure.
– Floresta o quê? – questionei.
– Vakhataure. – Voronwe ajeitava Anya para carregá-la – Este é o nome da floresta que forma a fronteira de Lund’Mulhingar e também a protege da maior parte dos inimigos.
– Entendi. E ela conhece bem essa floresta, não é? Percebi que vocês estavam aprontando alguma coisa. Era como fazê-la beber dessa poção sem que ela notasse a armadilha, certo?
– Bom, nós não podíamos arriscar a possibilidade dela querer correr sozinha de volta para Eel assim que visse a fronteira, Cris.
– Ela irá odiar todos nós, Nevra...
– Conhecendo minha Estrelinha como a conheço, realmente ela levará um tempo para nos perdoar por isso. Mas vamos logo. Enquanto não estarmos dentro de Vakhataure, não conseguirei me sentir tranquilo quanto a essa viagem.
– O Berserker tem toda a razão. Hum!... Quero logo fazer um curativo decente em meu braço.
– Pegue leve Darfn! Fiz o melhor que eu pude com o que tínhamos. – reclamava o Ezarel indignado.
Sem muita discussão voltamos a andar.Nevra
O Ezarel sabe mesmo como enfurecer alguém. Achei estranha toda aquela irritação por parte da Cris e dos guardiões dela para com o alquimista, mas graças à Anya pude obter minhas respostas (e em pensar que esse cara é importante para essa missão...). E a Anya também não fica atrás. Quantas vezes eu já disse para essa tusmørke não confiar em tudo que é servido à ela? Juro que eu rezava para que essa armadilha falhasse... (que sirva de lição!).
Seguimos estrada o mais rápidos que a Cris conseguia andar (já a estou ouvindo reclamar de dores nas pernas quando chegarmos...) e rezando para que nada acontecesse até estarmos dentro da fronteira de Lund’Mulhingar, a Floresta Vakhataure. Mas, infelizmente, os deuses não estão de ouvidos limpos hoje... Nós já havíamos andando por quase duas horas, ainda tínhamos chão pela frente, mas a menos que eu esteja alucinando (o que duvido, pois não vejo outro motivo para Absol estar rosnando), já tínhamos um novo grupo de pragas em nosso encalço.
Não fiz nada para que os inimigos pudessem perceber que eu já os tinha notado, apenas me aproximei um pouco mais do Ezarel para questionar algumas coisas.
– Ezarel, me responde uma coisa: quanto tempo se leva para fazer aquele tal ritual que irá nos garantir passagem segura pela floresta?
– Em situações normais, pelo menos 10min. Mas em casos de emergência, é possível reduzir em até 5min. Porque a pergunta? – apenas lhe fiz sinal com os olhos como resposta – Ô!... Isso pode ser um problema...
– O que pode ser um problema? – perguntava a Cris.
– Precisamos entrar naquela floresta meio que... Agora! – a Cris só não travou no lugar com as palavras do Ez porque o Lance a empurrava para continuar andando – Réalta até pode me ajudar, mas ainda precisaríamos de uma distração. Não dá para fazer o rito longe de Vakhataure. Temos de estar diante dela!
– Alguém que seja capaz de segurar aqueles caras tempo suficiente para alcançarmos a fronteira, e depois fugir facilmente e nos alcançar, teria de ficar para trás.
– Só que não é qualquer um que pode fazer isso Voronwe. Esqueceu que é preciso ter conhecimento dos ritos élficos para poder entrar em Lund’Mulhingar?
Absol começou a ladir para chamar a atenção, a Cris parecia refletir antes de falar – Esta barreira aí, é capaz de barrar umbracinesianos?
– Como é?! – se espantava o Ezarel.
– Bom, Absol sempre consegue me achar não importa onde eu esteja. Talvez... A umbracinese dele possa ajudar?
– É bem possível... – considerava o Roeze – Se bem me lembro, as condições para se viajar por dentro das sombras é: já ter estado no lugar para o qual deseja ir, ou haver alguém que o umbracinesiano conheça bem e lhe seja próximo, no caso, a Cris. Absol até que poderia ser a nossa ajuda, mas não acho que ele daria conta sozinho...
– Eu fico para ajuda-lo. – me ofereci, falando um pouco mais baixo já que nossos inimigos pareciam se aproximar um pouco mais – A umbracinese não me afeta tanto, mas temos que nos apresar!
– Está certo então. Enquanto o berserker e o Guardião carregam os seus tesouros, Roeze ajuda a Darfn a correr, e o Réalta me ajuda a preparar o nosso passaporte. Vê se você e o black-dog se mantenham inteiros e cheguem logo até nós!
– Pode ter a certeza Ezarel de que faremos isso.
Acertados e meio que já correndo contra o tempo, Lance colocou a Cris sobre as costas e fomos todos nos preparando para correr, ou para ficar para trás, como eu e Absol. Assim que terminamos de nos organizar o mais discretamente que podíamos, contei até três... E nos separamos.
No que todos fugiam, o novo grupo de perseguidores saiu para ir atrás deles, mas o que parecia ser uma parede negra que tinha se erguido do chão os impediu de seguir.
– Espero que os amigos não se importem de terem a companhia minha e de Absol por um tempinho...Cris 2
Aiaiai... Porque essa viagem não podia terminar de forma sossegada... Ainda mais com as nossa forças estando reduzidas! Mesmo que eu quisesse, eu não conseguiria correr para fugir de sei lá o quê, acabei foi dando trabalho extra para o Lance. Como Anya era mais leve que eu, Voronwe se ofereceu em carregar a minha bolsa para que o meu guardião não acabasse sobrecarregado (qualquer ajuda seria mais que bem vinda quando disparássemos).
Todo mundo (menos eu e Anya que ainda dormia) bebeu um frasco cada um de poção revitalizante e, depois que ficamos mais ou menos prontos... Corremos com tudo deixando apenas Absol e Nevra para trás (e eu ainda pude ver um paredão negro se erguer atrás da gente)
O pessoal corria com tudo. E se eu não me segurasse direito no Lance não, pararia no chão (o quão longe estamos ainda? - Se prosseguíssemos com “calma” como fazíamos, ainda nos faltaria umas quatro ou seis horas, mas correndo desse jeito, chegaremos em três no máximo! - Três horas correndo?!? Tem certeza que vocês conseguem manter isso?!? - Se não quisermos sobrecarregar o sanguessuga e o Absol... Vamos ter que aguentar. - Ai, meu, Deus...).
O grupo não parava de correr por nada. Eu não aguentaria continuar naquele ritmo mesmo sob o efeito de poções! E notei que Réalta e Ezarel pareciam discutir alguma coisa enquanto corriam. Sem mencionar que eu estava preocupada com o Absol e o Nevra.
Após uma longuíssima corrida, comecei a avistar uma floresta. Mas quando eu comecei a enxerga-la, ainda estávamos um tanto longe. Levou uma meia hora, imagino eu, para as alcançarmos! E acho que comparar a altura delas com a de um titã adulto, livre do efeito de poções, não é nenhum exagero...
Quando finalmente paramos diante da tal floresta, Ezarel e Réalta começaram a colher ramos e folhas pertencentes à floresta para fazerem algum tipo de arranjo cada um, e Lance e Voronwe desceram a mim e a Anya de suas costas, deixando-nos junto de Roeze e Darfn, assumindo posição de defesa logo em seguida. Prontos para enfrentarem qualquer ameaça que pudesse nos surgir.
– Se puderem ser um pouquinho mais rápidos, seremos todos muito gratos. – declarou o Voronwe atento.
– O que é que vocês dois estão fazendo exatamente? – perguntei assim que Ezarel terminou primeiro.
– Apenas estamos enviando um recadinho de emergência para os donos dessa floresta. São eles que irão nos permitir chegar em Lund’Mulhingar em segurança.
– Donos?? Mas a floresta não faz parte do território élfico??
– Não exatamente Cris. – me respondia o Réalta – E espero que não demorem em nos buscar.
– E quem é que irá no... – parei de falar assim que comecei a ouvir o que parecia ser passos de algum gigante, e com as arvores parecendo se mexerem de onde estavam. E uma... Arvore humanoide, surgiu e parou diante de nós. Nos encarando por um momento antes de começar a falar.
– A mensagem falava que estavam em dez. – sua voz parecia ter a idade do mundo – Mas só vejo oito aqui. E também... – ele observava o horizonte – Não vejo qualquer perigo imediato.
– Isso porque dois dos nossos, sendo um umbracinesiano, ficaram para trás para que nós conseguíssemos invocar o seu povo a tempo. Assim que alcançarmos a segurança, eles nos seguiram usando a Lys de Eldarya como orientação – explicava o Réalta, me indicando para o gigante-arvore.
– Hum... Umbracinese. Bem como elas nos alertaram...
– Elas?! – questionou alguns de nós em voz alta.
– Agora não é o momento. – disse ele se abaixando e estendo suas mãos, rende ao chão, para nós – Subam para que eu possa atravessa-los de uma vez.
E obedecemos. Voronwe pegou Anya no colo e eu subi andando. Receosa. Com a situação em si. Fiquei com medo de acabar caindo com o tremor que senti ao sermos erguidos. Lance me deu suporte e alguns de nós, diante consentimento, ficaram nos ombros daquele ser enquanto o restante continuou em suas mãos. Pude notar uma leve neblina se formar ao nosso redor.
– Me diga Lys de Eldarya, porque motivo você vem para Lund’Mulhingar?
– Bom... Ao que parece... Tenho que estar resolvendo alguma coisa ali. O quê, eu não sei lhe dizer! Senhor...
– Me chame de Umdala.
– Certo, Umdala. E eu também fui convidada pelo rei para participar das festividades que irá ocorrer em breve.
– O Festim de honra à Arianrhod. É uma boa festa, mas sugiro a tomar cuidado. Já faz algum tempo que o meu povo vem sentindo que há algo de errado em Lund’Mulhingar, mas não conseguimos identificar.
– Agradecemos pelo aviso. – falava Ezarel – Mais algum alerta para nós, luminar Umdala?
– Não existe comprovação, mas é possível que vocês consigam encontrar algum fragmento do Cristal de Eldarya lá, pois um dos nossos jura ter visto um fragmento caindo em Lund’Mulhingar quando ele foi atacado pela primeira vez.
– Um fragmento?? Mas luminar Umdala, nada disso chegou à guarda de Eel. Sem falar que se for mesmo verdade, eles deveriam nos entregar o fragmento o mais rápido possível! O Cristal só é verdadeiramente forte quando completo! – retrucava o Réalta.
– É exatamente por isso que disse que é possível, e que existe algo de errado.
– Compreendemos luminar Umdala. E mais uma vez agradecemos. – declarava o Voronwe – Isso sem dúvidas será algo que teremos de investigar. Não tem muito tempo que estive em Lund’Mulhingar e não havia notado nada de anormal.
– Não há problemas criança. – declarou a arvore que continuava caminhando de modo tranquilo e sorridente (e me espantando também).
– Ei Voronwe! – chamei-o cochichando após uns minutos – O quê exatamente é um “luminar”? – perguntei assim que ele se aproximou.
– _pequeno riso_ “Luminar” é o mesmo que “sábio”, é assim que nós elfos nos referimos aos spriggans, habitantes ancestrais de Vakhataure e guardiões dela. A maioria deles viu Eldarya nascer, por isso que fui chamado de criança pelo luminar Umdala.
– Uwou! Impressionante! Mas... Como exatamente... eles a protegem?
– A neblina que vê à nossa volta... – respondia o spriggan – É criação nossa. Qualquer um que entrar nessa floresta sem o nosso consentimento, ficará perdido até que um de nós decida guiar o intruso para fora de Vakhataure. Longe de Lund’Mulhingar.
– E senh... Digo, luminar Umdala, porque vocês aceitaram ajudar a proteger Lund’Mulhingar? E porque só agora está falando sobre essas suspeitas?
– Fizemos este acordo com os elfos assim que este mundo nasceu. Eles nos permitiriam viver em Vakhataure do modo que desejássemos sem eles quererem se envolver com nada das nossas decisões. E em troca, apenas os elfos, e aqueles que os acompanhassem, teriam a nossa permissão para atravessar Vakhataure e nós também não nos envolveríamos com as decisões deles. Resolvi comentar-lhes isto porque elas sugeriram.
– Elas... Quem? – perguntou o Ezarel.
– Não posso dizer. Pedido delas pois é importante. A Lys possui mais alguma dúvida?
– Sim, err... O arranjo que vi o Ezarel e o Réalta fazerem, era algum tipo de mensagem élfica ou coisa do tipo para vocês?
– Exatamente Lys. Os únicos que ganham consentimento pleno nosso para atravessar são os mascotes. Ou aqueles que não entram na floresta propriamente tido.
– Como os usuários de umbracinese? – recordei-me de Absol.
– Ou os seres que conseguem voar bem alto.Nevra 2
Acho que consegui contar 23 integrantes formando o novo grupo de inimigos. E desses, cinco tentou correr contra o “muro” erguido por Absol. Ficando completamente presos nela, chocando os demais e fazendo o Absol sorrir.
– Parece que alguns de vocês estão precisando ganhar umas aulinhas sobre a umbracinese! – declarava – Umbracinese não é controle sobre alguma “névoa” negra, é o controle sobre uma “massa” sombria com poder dimensional... Correr contra a “sombra” de um umbracinesiano inimigo, é uma péssima ideia.
O grupo pareceu começar a analisar melhor a situação deles, e Absol começou a criar “veios” de “sombra” espalhados por onde estávamos (e reduzindo um pouco a altura do “muro”. Com toda a certeza o Absol tem limites) limitando ainda mais os movimentos de nossos inimigos.
De início, ninguém se mexeu por quase meia hora depois que aqueles cinco que tentaram correr atrás da Cris e dos outros, acabaram “engolidos” pelo poder de Absol. Fazia o possível para continuar vigiando os movimentos de cada um deles, pois não tinha ideia do que eles poderiam tentar fazer, e nem como que aquela “teia sombria” poderia me afetar. Absol rosnava diante de cada mínimo suspiro deles.
Eu não sei o quão rápidos esses caras são capazes de ser, e muito menos o quão ligeiros os guardiões poderiam ser também, mesmo com o uso de uma poção de revitalização extra forte. O que significava que: quanto mais tempo essa inércia durasse... Maior a chance deles alcançarem a segurança de Lund’Mulhingar.
Após quase uma hora de encaramento, um deles decidiu lançar uma adaga contra mim, mas para a minha surpresa, quem acabou atingido por ela foi um dos homens capturados pela sombra de Absol. O sujeito se transformou literalmente um escudo vivo! E foi liberado das “garras” de Absol assim que morreu com aquela adaga.
Os caras ficaram tão surpresos quanto eu, e voltaram a se encarar entre si, me deixando seriamente preocupado, pois, se o líder deles não hesitava em elimina-los caso qualquer um deles fosse considerado uma ameaça a organização deles, o que os próprios membros seriam capazes de fazer?
A conversa muda deles só durou uns quinze minutos se muito, e todos decidiram lançar suas armas contra mim e o black-dog! Absol fez o restante de seus prisioneiros serem nossos escudos outra vez, mas os seus “aliados” não pareceram se importar nem um pouco. Acabados os “escudos”, até mesmo um cego notaria os sorrisos daqueles desprezíveis. Precisei respirar fundo para não partir para cima deles ao assistir tamanha frieza.
– Vocês não tem qualquer consideração pelos seus não?! Canalhas! – Absol também parecia se segurar no lugar.
Dois deles decidiram lançar adagas contra mim (quantas armas eles carregam afinal?), mas para a surpresa deles, que muito provavelmente acreditaram que Absol e eu estávamos indefesos agora, Absol ergueu sua sombra diante de nós da mesma forma que havia feito para criar aquele “muro” (sumindo com ele) e as adagas foram “capturadas” pela umbracinese, reaparecendo através de alguns dos veios no chão, acertando-os em pontos perigosos. E fazendo-os perceber também que, se eles quisessem se livrar da gente, teriam que fazer isso lutando corpo-a-corpo, o quê claramente eles não gostaram nem um pouco.
Os ainda sãos começaram a quererem se mexer de suas posições, mas Absol começou a fazer aquela “teia” dele ficar inquieta. Cheguei a me questionar se minha presença era realmente necessária naquela situação toda já que Absol parecia ter pleno controle, mas observando melhor o black-dog, pude notar os mesmos sinais de cansaço que eu costumo notar na Shaitan, e o ideal era segurarmos aqueles caras por pelo menos umas quatro horas no total. E só tínhamos conseguido, se muito, uma hora e pouco até aquele momento.
Depois que quase duas horas haviam se passado no total, ou nossos inimigos haviam perdido a paciência, ou eles começaram a se desesperar, pois começaram a correr em nossa direção com armas em mão sem se importar mais com a armadilha de Absol. Aqueles que pisavam na “sombra” acabavam presos, mas os que vinham atrás usaram os da frente como ponte para chegar até nós! Eu finamente precisei lutar contra eles, e procurei fazer de todo o possível para também proteger o Absol que não se movia para poder controlar suas sombras de modo a “engolir/emergir” rápido com aqueles que eram pegos. Cheguei até a me recordar da batalha no dia do solstício (agora eu entendi o porque de não o ter encontrado naquele dia. Ele devia estar em segurança em algum lugar com plena visão da batalha! E como era noite, ele devia estar na vantagem).
O reagir meu e de Absol fez com que os ainda intactos repensassem a estratégia suicida deles e as coisas voltaram a ficar calmas mais uma vez (mas o sangue dos já abatidos está começando a querer mexer com a minha cabeça...).
As coisas voltaram a ficar calmas, mas só por mais uma meia hora... Eu acabei avançando em um deles e lhe agarrando a jugular. Houve quem tentou tirar proveito disso para atravessar o colega de modo a me matar também, mas Absol interviu outra vez erguendo uma camada de sombra entre mim e o meu “lanche”. Fazendo com que mais um deles caísse no nosso lugar. Não me demorei muito com a minha presa (delicia de mulher lorielet), pois não havia me esquecido que todos eles carregavam veneno dentro do corpo e eu não tinha certeza se aquelas capsulas podiam ou não ser rompidas mesmo com o portador delas estando morto.
Saciei parte da minha sede, mas ainda tínhamos mais uns seis inimigos para lidar. Cheguei a pensar em pedir para Absol nos levar embora dali, porém imagino que ele já o teria feito se fosse seguro. Ficamos todos estagnados por mais uma hora...
Passadas três horas e meia desde a nossa separação, Absol começou a recolher parte de sua sombra. Se era por consequência de seu cansaço, ou porque já era seguro para fugirmos eu não tinha certeza. No entanto, novos “amigos” estavam começando a surgir...
– Errr, Absol? – questionei o black-dog sem deixar de encarar nossos inimigos.
Acredito que o nosso dever estava finalmente cumprido. Não passou nem cinco segundos depois da chegada do reforço inimigo e uma massa escura começou a me envolver.
Última modificação feita por Tsuki-Hime (25-01-2024, às 11h27)
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.。.:*♡ Cap.128 ♡*:.。.
Anya
Droga. De quem exatamente foi a ideia daquela armadilha? Pois só pode ter sido isso. E o Becola vai ficar falando por dias na minha orelha... Eu não sei o que aconteceu enquanto eu dormia, mas a última coisa que eu esperava ver ao acordar era um spriggan aparentemente retornando para a floresta Vakhataure.
– Nós estamos em Lund’Mulhingar?!? – relutava para descer dos braços de meu pai.
– Acordou atrasada pirralha. Quem mandou estar presente nos sonhos da Cris como eu?
– Mas com tantos lugares você tinha que sonhar justo com o último lugar em que eu quereria estar, Cris?!
– Sinto muito Anya... Se não fosse pelo Gelinho, eu teria te contado sem querer...
Encarei cada um deles irritada, mas... – Cadê o Absol e o Becola?
– Ficaram para trás para que pudéssemos escapar. – declarava o Réalta.
– Como?!?
– Acontece Anya _bocejo_ que nós quase fomos atacados pela terceira vez...
A Cris, meio que cambaleando de sono e sendo ajudada pelo Lance, começou a contar tudo enquanto seguíamos para a cidade, pois ainda havia uma distância de uma meia hora entre a floresta e as primeiras casas. E será mesmo que Lund’Mulhingar está escondendo um fragmento do Grande Cristal?
– Alguma ideia de que em que hora aqueles dois irão se juntar a nós?
– Nenhuma Anya. Ficamos horas correndo o máximo que podíamos e só descansamos depois que o Umdala nos pegou para nos atravessar a floresta. A gente vai receber cuidados primeiro ou iremos nos apresentar ao rei logo de cara? – falava a Darfn.
– A menos que Taenmil tenha extraviado a mensagem que Miiko e eu escrevemos para sua majestade, eles primeiro cuidarão de nós para que só depois nos apresentemos ao rei. Se bem... que eles podem não estar esperando nossa chegada agora.
– A Ēnukungi realmente apresou os nossos passos. E pela hora... – Roeze encarava os céus que anunciavam o crepúsculo – O sensato seria que nos dessem os cuidados de que precisamos e conversássemos amanhã! Que seria o nosso dia de chegada se não fossem por todos os problemas.
Continuamos nosso percurso até a cidade e quando finalmente chegamos, alguns guardas que nos avistaram se assustaram conosco (também! Estávamos todos em um estado lastimável!) e, assim que meu pai e Réalta explicaram para eles toda a nossa situação, eles logo se colocaram a nos guiar para o palácio com um correndo na frente para avisar o rei de nossa chegada precipitada.Cris
Apesar de ter sido carregada por toda aquela corrida final, e ter ficado sei lá quanto tempo sobre as mãos de Umdala (acho que aquela neblina também mexe com isso...), eu me sentia exausta!... Não conseguia saber o que é que eu queria mais: banho, comida, agua, cama... Talvez aceitasse essas coisas nessa ordem mesmo, mas para isso... Tínhamos que alcançar o palácio... Me sentia pior que um caco (e espero que Absol não demore a aparecer. In-tei-ro!).
Se não fosse pelo Lance, sempre me ajudando a continuar de pé, eu já teria me descambado no chão há muito tempo (e ainda teremos o caminho de volta... _choramingando_). Estava tão... tudo! Que eu nem reparava em como que era a cidade. Eu praticamente andava dormindo. Quase aceitei ser carregada no colo pelo Lance de tão mal que eu estava, mas ao menos consegui notar que nosso grupo já estava repassando a nossa situação para alguém.
O tempo todo me senti guiada para tudo que era lugar. Houve um momento em que acho que fui examinada ou algo assim, porém eu só consegui abrir os olhos mesmo quando eu comecei a sentir o que parecia ser cheiro de agua e óleos essenciais.
– Não acredito... UM BANHO!! – declarei já pulando para dentro da agua – Me deixem aqui por um mês, por favor... – pedi quase saboreando aquela agua maravilhosa.
Foi diante das risadas de Anya, Darfn e mais umas três elfas (que se não fosse pelos vestidos diferentes, seriam perfeitas trigêmeas) que eu comecei a reparar direito naquele lugar. Parecia que estávamos em fontes naturais, com o céu noturno brilhando sobre nossas cabeças e várias lanternas tipo poste ajudando a iluminar o lugar. Tinha uma pequena cascata no meio das raízes de uma grande arvore de flores azul-roxeadas na beirada das “piscinas” (haviam três no total) que fluía agua quente para todas, com as pétalas das flores boiando na superfície límpida. Muitas flores belas e coloridas (provavelmente a fonte dos perfumes) cresciam ao redor da agua com uma ou outra flutuando, e foi chegando perto de uma delas que eu notei que elas eram bioluminescentes. Também haviam mascotes que lembravam criaturas d’água no lugar e alfelis aproveitando a agua. Me aproximei com calmas das meninas.
– Desculpem a forma com que eu entrei, mas eu realmente estava desejosa de um bom banho. Até fiquei mais desperta!
– Não se preocupe Lys de Eldarya. – era uma das elfas – Depois do que as suas colegas de viagem nos contaram, é compreensível a sua reação.
– Como está a agua na sua opinião? – perguntou uma segunda elfa.
– Ma-ra-vi-lho-sa!... – acabei respondendo – Um verdadeiro balsamo depois dessa viagem cansativa. Estamos em alguma espécie de casa de banhos ao ar livre?
– Algo assim, Cris. – falava a Anya já se lavando – Em Lund’Mulhingar existe um total de cinco termas espalhadas pelo reino, sendo a do palácio a maior e mais bonita de todas. Que por sinal, é onde estamos agora.
– Já estamos no palácio?! Eu realmente não prestei atenção em nada... – cobria o rosto com uma das mãos, um pouco envergonhada.
– Notamos isso no caminho para cá Cris. – era a Darfn – Você nem imagina a minha satisfação em finalmente poder cuidar direito do meu braço.
– Nós aguardávamos a chegada de vocês amanhã, mas ainda bem que resolvemos concluir com os preparativos para vocês ainda hoje. Nós as guiaremos até os seus quartos após terminarem o banho e degustarem uma refeição.
– Entendi... – foi então que eu me lembrei – Desculpe mas, por curiosidade... Homens não entram junto de mulheres nesse banho, certo? E como que vocês preparam esses quartos?
– Existem horários para os banhos neste lugar. Um só para homens, outro só para mulheres e crianças, e mais um onde todos podem entrar juntos caso queiram. Neste momento, ainda estamos no horário feminino. – explicou uma das elfas.
– No caso dos quartos,... – prosseguia a terceira elfa – ...preparamos três: um para as mulheres de seu grupo, outro para os homens, e um terceiro para você e seus guarda-costas. Que por sinal... além daquele guerreiro de armadura, quem mais é responsável por sua proteção pessoal?
– Não chegou ainda. – falava a Darfn tranquila e espantando as elfas – Ele e mais um do nosso grupo ficou para trás para poder retardar um novo grupo de inimigos que tentou avançar na gente, para que pudéssemos conseguir chegar nas suas fronteiras à salvo. Quando vocês menos esperarem aqueles dois irão chegar.
– E falando nisso... Onde que os outros estão? – perguntei.Lance
Esse se mostrou mesmo ser um dia bem duro. Mas nem durante a batalha da Guerra do Cristal eu cobrei tanto do meu corpo como hoje. O lado bom é que chegamos na cidade élfica no crepúsculo ao invés do meio-dia do dia seguinte. A carona daquele spriggan foi um ótimo acalanto para as minhas pernas (tenho quase certeza que sei quem são as “elas” que ele mencionou), e tomara que o black-dog só tenha ficado empacando aquelas pragas o suficiente para não sermos alcançados por eles.
Minha pobre Ladina estava mesmo cansada... Ela deve ter passado a noite em claro bem dizer, e aquela peste do bobo-da-corte não facilitou nem um pouco as coisas. Isso sem mencionar a preocupação que ela carregava com Absol e o sanguessuga! Como se todo o estresse da viagem em si já não fosse suficiente...
Ela estava quase no mesmo estado que a Branca a tinha deixado no dia do solstício! Precisei segura-la firme o tempo todo para alcançarmos o palácio depois de nos encontrarmos com os primeiros guardas, que por sinal, não eram fãns do bobo-da-corte.
– Pode explicar que raio de loucura foi o que lhe atingiu para se atrever a pisar nessas terras outra vez? Seu miserável! – falava o guarda já apontando sua lança contra o alquimista, que se escondia atrás de Réalta e do berserker.
– Acredite em mim Angrod, se não fosse uma convocação do destino, nunca, que você veria esse rostinho lindo outra vez!
– Que quer dizer com isso? – perguntava um outro guarda com indiferença e segurando a arma apontada para o praga.
– A presença dele foi exigida no grupo que estaria acompanhando a Lys de Eldarya até Lund’Mulhingar, e, como o Ezarel bem disse, essa exigência foi feita pelo destino dela. Portanto sugiro que contenham suas raivas e não matem esse idiota enquanto estivermos na cidade.
– Vocês só estavam sendo aguardados amanhã. O que aconteceu para chegarem antes do que foi previsto? – perguntava o mesmo que havia segurado a lança enquanto um outro guarda saía correndo.
Voronwe explicou toda a nossa situação ao mesmo tempo em que éramos guiados até o palácio. No caminho, pude notar todo tipo de olhar para cima de nós: curiosidade, repulsa, ódio, receio... O alquimista fazia de tudo para ficar escondido no meio de nós. Cheguei a questionar minha princesa se ela queria que eu a carregasse por conta de sua dificuldade em ficar de olhos abertos, mas ela recusou.
Assim que chegamos no palácio, fomos diretamente levados à área médica onde já estávamos sendo aguardados, sendo a mãe do elfo quem liderava todos ali.
– Ezarel! Meu amor!! Como eu fico feliz em poder vê-lo novamente! – ela o abraçava enchendo-o de beijos e deixando a criatura vermelha _risinho_.
– Ca-calma mãe! Estou ficando sem jeito! Va-vamos primeiro cuidar de quem precisa e d-depois conversamos! Pode ser?
– Está certo, meu querido. – ela o largava se virando para nós – Sou Luthien e, bem... O que é que estão esperando?! Sentem-se cada um em uma maca para que possamos examiná-los.
Ajudei minha Ladina a se sentar na mais próxima e foi a própria Luthien quem veio cuidar de nós.
– Irei precisar que tire a armadura para poder examina-lo, senhor.
– Deixe que dele eu cuido mãe! Esse aí é o guarda-costas pessoal da Cris, que foi proibido de revelar sua identidade à qualquer um para a nossa segurança. – intercedia o palhaço.
– Humm... Pensei que essa historia fosse mais uma de suas piadas quando li sua última carta. – (como é que é?).
– Mas eu fui totalmente sério, mãe.
– Muito bem. Atrás daquele biombo do canto há uma maca vazia, vá com ele para lá e examine-o enquanto dou uma olhada nessa menina. E lembre-se! Um alquimista que não é minucioso...
– ...Não merece ser chamado de alquimista... Eu sei bem disso mãe. Vamos lá, o da armadura.
Terminou de falar ele já me empurrando para o local indicado, sem eu deixar de observar a minha princesa que já estava tendo o pulso medido pela Luthien.
– O quanto falou de mim para a sua mãe? – perguntei baixo, tirando a armadura e a apoiando na maca.
– Escrevi apenas o que todo mundo sabe. Relaxa e anda logo com isso para terminarmos de uma vez.
Me apresei como podia, e sempre questionando o elfo sobre sua mãe já que minha Ladina estava nas mãos dela. Acho que gastamos no máximo uns 20min, me juntando à Cris já oculto novamente em seguida.
– Ela está bem? – acabei perguntando à elfa.
– Nada que uma boa refeição e muito descanso não resolva. Ela está tão aérea de cansaço que nem está sabendo responder minhas perguntas! Pelo o que foi que vocês passaram para ela acabar nesse estado? – do seu jeito, Ezarel resumiu toda a historia – Por todos os deuses!... Agora está explicado. – um grupo de cinco elfos, sendo dois homens – entravam na sala – Nessa, Estel, Calen, acompanhem as mulheres até o banho por favor. Tirando a menina, nenhuma delas está em boas condições, sejam elas higiênicas ou exaustivas.
– Como desejar mestra Luthien. – respondeu as três mulheres já ajudando a Ladina e as outras.
Tive de me segurar para não ir atrás delas (não sei em quem posso estar confiando neste lugar...)
– Quando me chegou aos ouvidos de que você estava junto Ezarel, eu não estava acreditando. – declarou o mais velho com desdém.
– Eu também fiquei “feliz” de ser colocado neste grupo, Ondabrar. – respondeu o bobo ao elfo mais velho com o mesmo desdém na voz.
– Ondabrar, lembre-se de onde você está. – advertia a Luthien.
– Não se preocupe mestra. Respeitarei seu local de trabalho, já o seu filho...
– Foi exigência da Lys de Eldarya ele estar com ela, então lhe sugiro não arrumar confusões desnecessárias.
O tal do Ondabrar fechou a cara ainda mais depois de ouvir isso. – Quem é ele? – acabei cochichando com o Ezarel.
– Ondabrar Prezrivo Okrutno. Meu ex-sócio que me entregou quando tentei mandar Marie-Anne de volta para a Terra, 1º conselheiro do rei, e tio da Desastre, a Emiery. – (já detesto esse cara).
– Como as mulheres que estavam com vocês já se retiraram para poderem ficar mais... dignas de associação. – (vou quebrar esse canalha...) – Peço para os demais que me acompanhem. Sua majestade deseja saber de vocês, como foi a viagem até a nossa digníssima cidade. – (eu realmente não gosto desse velho...).
Seguimos o canalha por vários corredores até chegarmos em um imenso salão de jantar, onde alguns elfos se encontravam sentados à mesa (que tinha a forma de um retângulo não fechado) vazia. O nojento se aproximou do que estava no centro da mesa, que devia ser a sua majestade, e cochichou-lhe algo ao ouvido.
– Soube que passaram por dificuldades durante o caminho até esta bela terra! E que nomes... inesperados, faz parte de seu grupo. Gostaria de me dissessem, nos por menores, o que foi que aconteceu. – pediu gentilmente o senhor, antes sentado, após se erguer.
– Nos seria um prazer majestade. – respondia o berserker (então aquele é mesmo o rei) – Mas só para ter certeza, nosso grupo não está interrompendo a realeza, está? – assim como eu, ele deve achar que lhe estamos interrompendo o jantar.
– Seu grupo não está interrompendo nada. – falava uma donzela próxima ao rei – Não era para haver mulheres entre vocês? Onde está a Lys de Eldarya?
– Frida, tenha paciência. Estamos no horário feminino esqueceu? – alertou o rei à moça.
– Oh! É verdade. Acabei me esquecendo sim, meu pai. Mas vamos! Conte-nos como foi a viagem!
– Se é mesmo verdade que não interrompemos nada... – começava o Réalta – Permita-nos falar.
Já que eu não podia abrir a boca mesmo, os elfos e o enfermeiro ficaram intercalando entre eles para repassar todo o nosso desatino. Desde o primeiro dia de jornada até a nossa chegada na floresta.
– E ainda não há noticias dos que ficaram para trás?! – perguntava um rapaz bastante interessado em nossa historia – Nada por parte da nossa guarda!?
– Alteza... Eu já sugeri ao guarda que me alertou sobre a chegada deles, que espalhasse a noticia e ficassem atentos. – respondia o Ondabrar.
– Os que ficaram para trás era Nevra, um vampiro que é o atual líder da Guarda Sombra; e Absol, uma... criatura anormal que possui umbracinese e que é o segundo guardião da Lys. Será por meio desse poder que eles nos alcançarão. Tendo a própria Lys como guia. – concluía o Voronwe.
– Umbracinese? Parece que foi mesmo você quem não compreendeu a carta, Ondabrar. – (como é que é?).
– Perdão majestade, mas... ao que se referem? – perguntou o bobo-da-corte.
– Quando lemos a carta de Miiko, nos sugerindo proteções, eu compreendi que o quarto da Lys carrega proteções contra qualquer tipo de possível intruso, exceto, um umbracinesiano. Porém, Ondabrar entendeu que o maior inimigo atual da Lys é um umbracinesiano. De modo que todos os ambientes importantes desse palácio, incluindo os quartos separados para vocês, receberam barreiras especificas contra esse tipo de poder. – um riso acabou me escapando.
– Não há problemas majestade. Devido ao tipo de criatura que Absol é, muitos foram os que fizeram isso nos próprios quartos em nosso QG. Ezarel só não colocou uma em nosso laboratório de alquimia porque a Miiko o impediu. – explicava o Réalta.
– E eu ainda não desisti de convencê-la a mudar de ideia... – meio que resmungava o alquimista, fazendo alguns rirem de leve.
– Se me dão licença, tenho alguns assuntos pessoais a tratar. – saía o Ondabrar do salão por uma pequena porta do lado oposto de onde entramos.
– Ok, mas... Que tipo de... criatura, é este Absol? – perguntava a princesa, nos deixando meio sem jeito. Foi o Voronwe quem tomou a coragem de falar.
– Bom... Ele é...
– Demoramos muito?Cris 2
Após uma boa conversa entre mulheres durante um bom e mais que merecido banho, Anya, Darfn e eu aceitamos o convite das trigêmeas (elas realmente são trigêmeas) de nos vestirmos com os trajes locais ao invés de recolocarmos as nossas roupas de antes (eu acabei pulando na agua com roupa e tudo, e acho que até elas ficaram agradecidas por aquele mergulho!), para que elas pudessem ser levadas à lavanderia.
Os vestidos eram simples, mas com cores e texturas que acho que dariam centenas de ideias para a Purriry. Ainda nos vestíamos e ajeitávamos os cabelos quando o estrondoso resolveu se manifestar no meio de nós. Fiquei vermelha. Todas acabamos rindo, pois eu não fui a única a emitir “protestos estomacais”, e nos apresamos para o salão de refeições.
Como eu havia ficado curiosa com a reação dos rapazes mediante o nosso visual, consegui fazê-las não só terem a mesma curiosidade que eu, como também convencê-las de entrarmos no salão em silêncio.
Ao adentrarmos, todo mundo não parecia nos perceber entrando. Nem mesmo os que estavam sentado à uma mesa que mais parecia uma moldura de quadro retangular gigante, sem um dos lados menores, quase como uma... “ferradura quadrada”. Nos colocamos atrás do meu grupo de mansinho e, já que os rapazes estavam plenamente concentrados nos ocupantes da mesa, e vice-versa... Decidi nos denunciar.
– Demoramos muito? – todos se surpreenderam com a nossa presença, inclusive os que estavam à mesa.
– Nossa! Mas esse banho com toda a certeza fez maravilhas para vocês. Estão lindas!
– Agradecemos o elogio Réalta, mas a Cris, Anya e eu estamos um tanto que famintas. Se importam de cumprirmos logo com as formalidades? Nevra e Absol já apareceram?
– Ainda não nos foi chegada qualquer noticias sobre os companheiros restantes de vocês, e eu poderia ter o prazer de saber quem são as belas joias que adentraram o salão?
Lance, que havia se aproximado de mim, passou a encarar o rapaz da mesa que fez a pergunta.
– Um pequeno conselho alteza. E conselho de amigo! Os guardiões da Lys de Eldarya são mais do que super protetores, por isso, eu pensaria sete vezes antes de querer ficar... íntimo, da Lys aqui. – alertava o Ezarel.
– Ficamos gratos pelo aviso Ezarel. – declarou o senhor que ocupava o centro da mesa, falando alguma coisa em voz baixa para o rapaz que não me pareceu gostar muito – Mas sentem-se por favor! Estávamos apena aguardando pela chegada das senhoritas para que pudéssemos ter a refeição servida, com seus amigos nos contando sobre a... difícil viagem que tiveram até aqui.
– Muito obrigada senhor...
– Sou Eru, Eru Hæderlig Klog Stærk. Atual rei governante de Lund’Mulhingar. Já cheguei a ouvir muitas coisas sobre a Lys de Eldarya, mas preferi conhece-la pessoalmente, por isso me permiti convida-la para as nossas celebrações depois de amanhã.
– Bem, majestade, o seu convite apenas me facilitou o visitar de suas terras. – declarei já me sentando no lugar que me era indicado, com Lance ao meu lado.
– Que quer dizer?
Contei ao rei sobre Lunna e Melídia, e sobre o sonho que tive. Assim como respondi todo tipo de perguntas que todos sempre me fazem em Eldarya ao me conhecerem. Tudo isso enquanto jantávamos algum tipo de salada com... doces de frutas? Como sobremesa.
– Estou fascinado senhorita Lys. Você está se mostrando para mim um ser muito mais interessante do que eu imaginei. – declarava o rei.
– Interessante... Em que sentido majestade?
– Você me parece mais sábia, e pura! Do que a maioria dos humanos. – acabei por respirar fundo.
– Rei Eru. Eu... Posso não ter total compreensão da visão que o seu povo tem sobre os humanos, mas... É preciso deixar uma coisa muitíssimo clara. Entre os humanos, há pessoas de bom coração, e há aqueles que não merecem receber nem mesmo o sentimento de pena, o que dirá ódio ou compaixão. No entanto, o mesmo vale para os faerys! Nem todos os faerys são exemplos a serem seguidos. E nem todos são dignos de compaixão ou reconhecimento, portanto... Declarar que todos os humanos são iguais, é um erro que... está além do apocalíptico. E repetindo... O mesmo, se aplica, aos faerys. – a mesa toda ficou em um silêncio desconfortável – Enquanto... me preparava para viajar para este reino, me havia sido alertado como que a maior parte do seu povo, enxerga pessoas como eu. Sinceramente, eu esperava que, depois da Erika ter começado a sacrificar a própria vida em prol de manter Eldarya viva, este preconceito, teria diminuído. Mas, infelizmente, parece que estou enganada...
– A faeliana aengel está morrendo por causa de Eldarya?! – espantava-se o príncipe Võrgutav.
– Estava! Graças à Paladina aí, não está mais. E do que eu pude observar enquanto nos dirigíamos para cá, eu não vou ser o único que só poderá caminhar pela cidade se estiver cercado de guarda-costas...
– Amanhã toda a corte irá se reunir para poder conhecer a Lys de Eldarya. – era o rei – Não vou negar que há uma imensa verdade no que você acabou de nos declarar minha jovem. Tanto que, se não for incomoda-la, repetirei suas palavras para todos. Não digo que o... preconceito, como você bem disse, irá sumir de imediato. Mas ao menos espero que eles reflitam antes de resolverem a menosprezarem por ser faeliana.
– Eu imagino... Que os faerys tenham sofrido bastante nas mãos dos humanos da era medieval. Uma das eras mais... Desumanas, de nossa historia. Porque os absurdos sociais vividos como “corretos” naquela época eram... _suspiro_ Simplesmente inadmissíveis.
– Para você falar assim do seu próprio povo, significa que os humanos mudaram muito com o decorrer dos anos... – comentava a princesa.
– Sim e não... – continuei – Ainda há muitos... Lixos! Vivendo entre os humanos. No entanto... Aprendemos o que é verdadeiramente ser humano. Acho... que entre os faerys, isso seria o mesmo que... Ter um coração puro. Porém ainda temos um looongo camiiinho!...
O ambiente voltou a ficar leve. Quando acabamos de comer, os rapazes foram guiados para o banho, sendo que, a mando da mãe de Ezarel, um espaço reservado foi preparado para o Lance (já que ele não podia remover a armadura na frente dos outros) e para o Ezarel (pois ainda tinha muita gente querendo a cabeça dele por ali). Mas claro, como Absol ainda não tinha aparecido... Lance deu trabalho para se afastar de mim. Ele só aceitou seguir para o banho depois que Darfn, Anya e o próprio rei, juraram por suas vidas que não permitiriam que nada me aconteceria enquanto ele estivesse longe. Com o príncipe e os guardas presentes no salão reforçando a promessa.
– Por que o seu guardião estava com tanto receio assim de se afastar de você? – questionava a Estel, uma das trigêmeas.
– Toda vez que a Cris fica sem a companhia ou do Gelinho, ou do Absol, alguma coisa... chata, acaba acontecendo com ela. – explicava a Anya.
– Como o quê por exemplo? – se interessava o Võrgutav.
– Bem... – repassei para eles todos os atentados e perseguições que sofri por meio do grupo de Apókries, cobrindo os ouvidos de Anya em algumas partes. O rei e sua família ficaram claramente pasmos com essas minhas... experiências.
– Agora compreendo a desconfiança de seu guarda-costas!... – Võrgutav falava em choque – Você realmente não é nem um pouco fraca.
– E também explica a quantia de recomendações feitas na carta recebida. – refletia Eru – Tem a minha palavra de honra, Lys, seja o que for que você tenha de cumprir neste reino, darei o meu mais pleno apoio e auxilio no que precisar.
– Mais uma vez lhe agradeço majestade.
– E é bom que não achem ruim da Cris compartilhar o quarto que foi separado para ela com os guardiões dela!
– Anya! _corada_.
– O quê? O Becola e o Absol ainda não chegaram, e eu duvido que o Gelinho vai aceitar te deixar sozinha em um quarto que, se houver gente mal intencionada querendo colocar “as patas” em você, poderá ser tudo, menos seguro na cabeça dele.
Todos acabaram deixando escapar ao menos um sorriso pela declaração de Anya, e acho que minhas historias acabaram demorando mais do que imaginei, pois a rapazes chegaram logo em seguida.
Devido a hora (e a viagem...) o rei pediu paras as trigêmeas nos mostrarem nossos quartos. Jurando nos avisar imediatamente caso Nevra e Absol chegassem finalmente.
.。.:*♡ Cap.129 ♡*:.。.
Nevra
Acho que se se passaram dez segundos depois que Absol me envolveu com a umbracinese antes de me liberar novamente, foi muito. No que eu voltei a ver a luz, pude perceber que estávamos no alto de uma escarpa (e nós não estávamos próximos da parte baixa de uma antes?). Sem me erguer do chão, pois estava com um dos joelhos apoiado nele, não encontrei nenhuma ameaça. Me mantendo rende ao solo, me aproximei da beirada da escarpa, e logo reencontrei o local em que Absol e eu enfrentávamos aqueles caras.
Alguns deles corriam para a direção de Lund’Mulhingar. E outros amontoavam os corpos para os incinerarem em seguida (ao menos se importaram em lhes dar algum funeral). Retornei para junto de Absol com todo o cuidado.
Encarando o black-dog novamente, logo entendi o porque dele não ter nos levado para mais longe. Ele mal se aguentava em pé! Acabou por abusar de seus poderes umbracinesianos. Procurei uma forma de podermos nos abrigar até ele estar em condições de nos levar até a Cris, para depois voltar a vigiar nossos inimigos até eles não serem mais uma ameaça para nós.
Avistei uma arvore, cujas raízes podiam funcionar como abrigo temporário e carreguei Absol nos braços até lá. Aproveitei para confirmar se ele não tinha nenhum ferimento, mas o seu único mal era cansaço mesmo.
– E eu esqueci de perguntar para a Cris ou para o Karuto o que é que você come... Aceita um pouco de agua Absol? – questionei já com o meu cantil em mãos e ele logo ergueu a cabeça. Utilizei a minha pequena tigela rasa de prata que às vezes me servia de espelho para dar-lhe a agua – Descanse tudo o que precisar Absol, assim poderemos nos juntar à Cris e os outros mais depressa.
Absol e eu secamos o cantil e eu voltei a vigiar os inimigos até que eles terminassem de ir embora (o que levou uma meia hora...). Ficando a área segura, retornei para junto de Absol, não precisando de muito para perceber que o black-dog estava faminto.
– Sério, Absol. Eu realmente devia ter perguntado o que você costuma comer. – falei me sentando do lado dele com ele deitado, choramingando de estômago roncando.
Respirei fundo para tentar me recordar se acaso eu já o teria visto comendo alguma vez, com meus olhos fechados. Concentrei-me por apenas um minuto, porque um rosnado vindo da direção oposta ao Absol me chamou a atenção. Lamentei pela Shaitan não ter vindo junto... Ela com toda a certeza daria um jeito rapidinho naquele black gallytrot. Talvez... tenhamos pegado o seu abrigo? Evitei de me mover de qualquer maneira para não acabar ainda mais encrencado com o mascote que não parava de rosnar.
Quero dizer, não parava até ele avistar Absol! Os dois pareceram conversar amigavelmente entre si e cinco minutos depois o gallytrot saiu correndo. Respirei aliviado...
– Eu não sei qual é o tipo de relação que você consegue ter com os mascotes selvagens e domésticos Absol, mas estou feliz por estar do seu lado nessa situação.
Como resposta, ele apenas abanou de leve a cauda. Voltei a tentar me lembrar o quê que ele comia, mas nada me vinha na memória. Levei um susto ao perceber que aquele gallytrot havia retornado! E carregando algumas gallyflores consigo, oferecendo-as ao Absol que as devorou em seguida (então black-dogs e black gallytrots se alimentam do mesmo?). Bom, com um problema resolvido, era a minha vez de ser alimentado.
Apesar de ter conseguido beber um meio litro de sangue mais ou menos, ainda tinha fome. E como a minha bolsa havia ficado aos cuidados do Roeze antes de nos separarmos, eu teria que usar de comida normal para saciar-me. No caso, o que eu tinha era um pouco de carne seca. Eu nem cheguei a encostar a carne na boca, e já estava me deparando com o olhar esfomeado de Absol em cima dela. Lambendo a boca, sem desviar o olhar da minha carne.
– Você só pode estar brincando comigo... Também se alimenta de comida normal?! – a única resposta dele foi o adicionar da cauda abanando para cima da minha carne – Eu vou ter que dar uma vasculhada na biblioteca sobre os black-dogs... – declarei já partindo a carne ao meio para dividir com o Absol. Ele a devorou com mais satisfação do que a gallyflore.
Acabada a pequena refeição, ele resolveu dormir. Com o gallytrot (que não tinha ido embora ainda) aparentemente fazendo vigília, e decidi imitar Absol. Ajeitei-me mais ou menos para poder tirar um cochilo breve e fechei os olhos.
Quando acordei, a aurora já se anunciava (eu dormi a noite toda?!?), Absol se alongava e o black gallytrot havia sumido. Mas havia duas folhas com formato de cálice cheias d’água, um ramalhete de gallyflores e meia dúzia de frutas eldaryanas. Absol e eu consumimos tudo em uma meia hora aproximadamente.
– Acho que agora já passou mais que da hora de nos juntarmos aos outros, Absol. A Cris, principalmente, deve estar bem preocupada com nós dois. – falei limpando as folhas secas da roupa – Bora para Lund’Mulhingar?
Abanando a cauda, Absol começou a invocar seu poder para nos envolver e viajarmos através das sombras. Gastamos quinze minutos, no máximo, creio eu, dentro daquele oceano de escuridão com manchas de cores escuras de vez enquanto. Não emergimos próximos da Cris, como eu imaginei que aconteceria depois daquela explicação do Roeze, mas sim entre uma floresta de arvores gigantes e o que parecia ser a beira da cidade élfica, com alguns guardas nos avistando.
Os guardas só se aproximaram metade do caminho até nós, quando eles finalmente conseguiram compreender o quê que Absol era. Quando isso aconteceu, eles pegaram em suas armas imediatamente na intensão de aponta-las para nós, ou melhor, para o Absol. Diante disso, Absol começou a correr disparado, passando por eles, de modo a atravessar a cidade sob as vistas de todo mundo.
– ABSOL! O QUE VOCE ESTÁ FAZENDO?! – gritei perdendo-o de vista em menos de um segundo.
– Absol?!? – acabaram questionando aqueles guardas sem saber se falavam comigo ou se corriam atrás do black-dog.Cris
Ontem à noite, depois de Estel me mostrar o quarto que eu, Lance e Absol, ocuparíamos enquanto estivéssemos em Lund’Mulhingar, eu mal encostei na cama e desmaiei. Abri meus olhos apenas depois que bateram na porta chamando para me arrumar e me preparar para a tal apresentação da corte élfica. O sol ainda não tinha aparecido direito quando acordei, mas descansei muito bem.
Ajudei o Lance a vestir a armadura para que eu pudesse permitir a entrada de quem chamava e comecei a cuidar. Me arrumei bem rápido ao meu ver, mas enquanto a Calen e a Nessa me ajudavam (elas pediram para que eu vestisse um traje nobre élfico que me pareceu um tanto trabalhoso. Quase pedi ao Lance para que incinerasse parte daqueles panos!) questionei sobre Nevra e Absol, porém ainda não havia noticia alguma deles (que eles realmente estejam bem, meu Senhor...). Estel nos trouxe o dejejum (frutas doces e algum tipo de pão) e depois seguimos para o local em que eu seria anunciada a todos.
Acho que ontem as trigêmeas me disseram que haviam sido selecionadas para serem minhas aias, de modo que elas estariam me ajudando no que eu precisasse e... Sei que tem mais razões...
Em compensação à falta de informações sobre os sombrios, me foi explicado que, assim que o rei ficou sabendo que eu já tinha chegado no reino, ele mandou avisar cada um dos nobres que estariam presentes que a tal reunião aconteceria mais cedo que o previsto (estou achando que eu já estou é atrasada nesse ritmo...).
Outro detalhe: agora, de mente e corpo descansados, reparei melhor no palácio. E não é que ele é realmente do jeito com que havia sonhado?! Até os mais pequenos detalhes eram como eu sonhei! (não vejo a hora de dar uma volta na cidade... - Não esqueça que não estamos aqui a mero passeio. - Sei muito bem disso, estraga-prazeres. - Posso lhe fornecer prazeres bem mais interessantes quando cair a noite... - _hiper vermelha_).
Seguimos pelos imponentes corredores até aqueles mesmos portões ornados do meu sonho, a sala do trono. Os guardas que velavam as portas fechadas, impedindo a entrada dos meus colegas de missão, nos pediu que aguardássemos alguns instantes pois o rei estava tendo um discurso especial com o restante dos nobres.
– Discurso especial?
– Exatamente Paladina. O mesmo que você deu ontem à noite sobre humanos e faerys. Entraremos todos juntos depois que ele terminar, assim ninguém corre muito risco.
– Acho que você quis disser que você, não estará correndo nenhum risco. Você está simplesmente escondido no meio de todos nós!
– Não exagere minha Estrelinha... Se bem que há um pouco de razão no que disse.
– Ha-ha, muito engraçado. Isso porque não são vocês que correm o risco de parar no empíreo a qualquer segundo nestas terras.
– No seu caso, o correto seria o érebro... – resmungou um dos guardas fazendo Ezarel se irritar, e parte do meu grupo segurar a risada.
– Érebro?
– É o mesmo que inferno, Cris. – me esclarecia o Réalta.
Discutimos (rimos) mais um pouco enquanto nos organizávamos para poder entrar quando chegasse o momento. Eu entraria na frente de todos, com Lance atrás de mim (se Absol já estivesse aqui seria ele de um lado e Absol do outro), seguida pelas trigêmeas, Anya, Ezarel entre Réalta e Voronwe, e Darfn e Roeze no final. Estava nervosa por ser a primeira, e não demorou para se ouvir batidas rápidas na porta. Era o sinal.
Respirei fundo enquanto aqueles enormes portões eram abertos e, assim que avistei o Eru em frente ao seu trono, comecei a entrar devagar. Reparando em todos durante meu caminho até o rei, notei que ou as pessoas me olhavam com curiosidade, ou elas pareciam me analisar. Algumas pareciam ter espanto ou raiva ao verem algo por trás de mim (Ezarel...). Tudo estava muito parecido com o meu sonho, mas... Além de Ezarel (que claro estava mais atrás de mim), eu também não via nem Emiery, e nem aquela sombra estranha que estava com ela.
– E aqui está ela! – exclamava o rei após eu ter parado fazendo uma reverência bem diante dele – Esta bela jovem é a nossa Lys de Eldarya. A nossa convidada especial para o Festim de amanhã, e nossa hóspede de honra enquanto o destino deseja-la entre nós, junto de seus companheiros.
– O que esse traidor faz junto dela? – ouvi alguém questionar com raiva.
– Ele é o meu guia! – respondi para seja lá quem for – Não conheço essas terras e também não compreendo bem os seus costumes. Se com traidor estiverem se referindo ao Ezarel, ele é o único, depois de Anya,... – segurava o ombro de Anya para deixar claro quem era ela – ...em que posso confiar sobre esse assunto. Apesar das diferenças entre mim e esse elfo patife, sei que ele não permitiria que possíveis pessoas mal intencionadas me prejudicassem utilizando minha ignorância como armadilha. Mas se ainda assim acharem ruim terem de tolerar a presença dele entre vocês, peço que façam queixa com Melídia, a Suprema.
No que eu mencionei o nome da vidente, muitos ficaram surpresos e vários eram os cochichos entre eles. Eru voltou a falar com todos e eu comecei a observar nobre por nobre dentro daquele lugar. Quando os meus olhos alcançaram os portões, que foram mantidos abertos, pude perceber um pequeno reboliço do lado de fora. E ou eu fui a única a notar, ou os que notaram estão ignorando para evitar maiores alardes e confiando nas capacidades dos guardas palacianos.
No entanto, assim que percebi que a causa daquele reboliço era Absol que corria até onde eu estava, fiquei super feliz. No que ele alcançou as portas da sala, disparei ao seu encontro. Acho que não teve um nobre que não tenha no mínimo se assustado ao verem o meu querido black-dog no meio deles, e ainda pude perceber o som de espadas sendo sacadas.Ezarel
Se eu tivesse que classificar nossa viagem como boa ou ruim, eu a classificaria como péssima. Minha mãe sabe que eu detesto aquele exagero de afeição e que, por ela ser justamente a minha mãe, eu não a desgrudaria de mim como faço com todos os outros, mas sou grato por ela pensar em todos os detalhes que poderiam me custar o pescoço.
O rei e sua família não me pareceram muito contentes em me ver, mas a explicações que demos para eles parece ter sido suficiente para eles me tratarem apenas com indiferença (ser ignorado é muito melhor que ser assassinado com os olhos). E a Cris provou que realmente não tem medo de ser sincera. Não são muitos que falam do jeito que ela falou e sai impune e/ou reconhecido por Eru. E o Absol e o Nevra não estão demorando não? Eles foram derrotados ou apenas estão esgotados demais para chegarem?
Após uma boa e merecida noite de sono, era hora de lidar com os meus possíveis algozes. Tive de aguardar junto dos outros até que todos os nobres estivessem reunidos na sala do trono, para que o rei os preparassem para podermos sermos apresentados. E lá, diante das portas fechadas, a Paladina foi a última a se juntar a nós com o seu cortejo particular. E nem enquanto aguardávamos o consentimento de nossa entrada era deixado em paz!
Com as portas abertas, só se eu fosse cego e surdo para não notar o “apreço” que havia sobre mim enquanto atravessávamos o salão. A cara que os meus “admiradores” fizeram quando a Paladina terminou de me defender foi inestimável (apesar da forma como ela se referiu a mim). O rei voltou a falar com aquele bando de lorpas, que iam ter de me engolir, e comecei a reparar que alguma coisa acontecia do lado de fora (já é encrenca para nós ou é só Absol que chegou finalmente?)
Eu e os outros conseguimos impedir os elfos próximos de nós de atrapalhar a Cris de alcançar o black-dog quando ele entrou na sala, e como me pareceu divertida a reação de todos eles quando a ela abraçou o black-dog bem no meio do salão.
– Mas tu demorou, heim Absol! Onde está o Nevra que devia estar com você? – declarei em alta voz, me aproximando daqueles dois (e como estava adorando o pavor daquela gente...).
– Este black-dog está com vocês?!? – perguntou um dos guardas parados próximo às portas.
– Absol é meu guardião junto ao guerreiro misterioso. Sinto muito pela confusão que ele possa ter causado. – declarava a Paladina enquanto acariciava a cabeça do “monstrinho” – Mas o Ezarel está certo Absol. Aonde está o Nevra que devia estar com você?
– Estou aqui! – ouvíamos a voz do vampiro gritando longe, que chegou até onde estávamos uns dois minutos depois – Mas porque é... que você correu desse jeito... Absol! E à vista de todos!! – (Absol com toda a certeza espalhou o terror _gargalhada contida_).
– Mas o que foi que aconteceu Nevra? Porque vocês só chegaram agora?
– Longa historia Ezarel. E agradeceria se o Roeze me entregasse aquela bolsa agora.
– Não estou com ela agora, ficou no quarto, mas aguente só mais um pouco que já lhe entrego. – falou o Roeze já carregando o vampiro consigo até o nosso quarto.
– Majestade, acredito que os seus guardas podem ser dispensados no que se refere à presença deste black-dog. – sugeri enquanto examinava a criatura, aparentemente bem.
– Tem toda a razão Ezarel. Os guardas podem retornar para as suas respectivas tarefas, e repassem para os demais a informação de que um dos guardiões da Lys de Eldarya é um black-dog. – os guardas se curvaram e deixaram o local, com nós três assumindo nossos lugares junto ao rei – E eu preciso lhe dizer Lys, este é o maior black-dog que eu já vi em toda a minha vida!
– Compreendo majestade. Graças a essa viagem, pude notar o quão diferente Absol é.
– E é bom que todo mundo fique ciente que Absol não é do tipo que deixa um insulto à ela ficar barato! Da última vez que ficaram a “elogiando” pelas costas, ele mandou as sgarkellogys para a enfermaria. – alertou a pirralha fazendo um monte de gente engolir seco _sorriso malicioso_.
– Ficamos muito gratos com o seu aviso criança. Agora, como eu falava antes...
O rei retomou o seu discurso e, como o festim era apenas amanhã à noite, ele convidou a Paladina a conhecer o palácio e a cidade. Mas uma coisa me intriga: aonde que foram parar a Emiery e o Ondabrar??Cris 2
Depois daquele “pequeno” susto, e com a conclusão das formalidades imediatas, todo o grupo de Eel mais o rei e o príncipe, saímos atrás do Nevra para nos informamos sobre o que tinha acontecido com eles. Eu não sei bem descrever o senti enquanto ouvia a historia, mas já fico grata pelos dois terem nos alcançado sãos e salvos.
O príncipe se ofereceu para nos mostrar o palácio ou a cidade ou qualquer outro lugar de Lund’Mulhingar que eu quisesse. Preferi começar pelo palácio mesmo, com todo o grupo me acompanhando. De acordo ele nos mostrava/explicava o que era cada lugar, os elfos se afastavam dois passos por causa de Absol _risinho_, o que deixava o passeio bem interessante.
O Roeze acabou ficando na enfermaria, onde ele ficou conversando com a Luthien, mãe de Ezarel (fiquei um pouco vermelha por causa do meu estado ontem ao ser novamente apresentada à ela); Darfn se perdeu nos domos da biblioteca (se eu soubesse a língua élfica, provavelmente faria companhia a ela), e Voronwe ficou nos quarteis para conversar com os amigos que havia feito ali. A última parada foi nos campos de treinamento.
– Me diga Cris, você disse que estava aprendendo a usar o arco, certo? – apenas assenti com a cabeça – Se importa em me mostrar o que sabe? Qualquer coisa posso lhe ensinar alguns truques! Modéstia à parte, no que se refere ao arco, sou o melhor de toda a Lund’Mulhingar.
– Olha Võrgutav... E não tenho muita certeza não... – acabei falando ao observar as irritações de meus guardiões.
– Juro para os seus guardiões de que não tentarei nada que possa perturba-la. As historias que eu ouvi foram mais que suficientes para não querer arriscar minha pele contra eles. – (Se Absol permitir, eu permito também, mas quebro ele se tentar qualquer gracinha para cima de você. - _suspiro_ Esfria a cabeça Lance. Esfria a cabeça.)
Encarei Absol e ele não desviava o olhar do príncipe, porém, havia parado de rosnar – Tudo bem Võrgutav, mas já vou avisando! Esses dois aqui não costumam dar segunda chance para ninguém!
– Como eu disse, não quero arriscar minha pele contra eles. Senhorita!... – ele me guiava até a parte em que os arcos ficavam.Lance
Esse principezinho... Não, confio, nele! Foi só ele colocar os olhos pela primeira vez em cima de minha Princesa, que ele pareceu se interessar um pouco demais nela. Ele simplesmente não tirava os olhos de cima dela! E posso estar exagerando, mas eu tenho quase certeza que, se o bobo-da-corte não tivesse o avisado sobre mim e Absol, aquele príncipe teria a feito se sentar ao lado dele. Isso para não mencionar a breve conversa que tive com o rei!
**A Ladina e eu estávamos sendo os últimos a nos erguermos da mesa. Os príncipes seguiram juntos pelo lado oposto ao que ocupávamos, eu estava prestes a ajudar minha amada que já recomeçava a dormir em pé quando o rei me segurou um dos ombros.
– Se importa de trocarmos algumas palavras rápidas, guardião?
– É importante? – tentei limitar as palavras.
– Acredito que sim, já que envolve pessoas importantes para nós dois.
– O que tem a Lys?
– Bom, meu filho, Võrgutav, acabou de alcançar a maioridade. Mas ele ainda não superou um pequeno defeito dele que, ao que notei durante o jantar pode vir a causar alguns... incômodos.
– Não me dando motivos, não farei nada com ele.
– E é nesse ponto que eu quero chegar. – respirei fundo e continuei o encarando – Se por acaso, Võrgutav passar dos limites enquanto junto da Lys de Eldarya, peço que, tente se conter com ele.
– Pode não ser fácil. O último que tentou passar dos limites se encontra no inferno agora.
– Como?
– O recuperar do conhecimento de Yiyen.
– Oh, sim. O caso do ryōude. Não creio que meu filho tenha coragem de avançar até esse ponto.
– Nem o permitiria.
– Terei uma conversa pessoal com ele. O tal de Absol, é como você?
– Em que sentido.
– Sobre a tolerância.
– Absol é pior.
– Compreendo... Bem, eu já o prendi demais, fique a vontade para conferir as condições do quarto separado para vocês pessoalmente, e tenha um bom descanso depois dessa longa viagem.
– Eu agradeço. Majestade... – e me apresei em alcançar minha Ladina.**
De fato eu só me senti tranquilo para dormir depois de ter averiguado cada detalhe daquele quarto. As trigêmeas haviam explicado que uma barreira do mesmo tipo que existe no quarto de minha Princesa havia sido instalada ali, sendo uma delas a mestra do lugar. Qual, não tenho ideia. Se não fossem pelas roupas e pelos penteados eu nem saberia quem era quem! E quando elas apareceram na manhã seguinte, as três estavam idênticas.
Estava estranhando aquela demora do black-dog, pois, sendo um dos responsáveis pela segurança da Cris, sei que aquelas assombrações irritantes não o deixaria totalmente desamparado (ou pelo menos acho). Dentro da sala do trono, observando todos aqueles elfos de nariz empinado, alguns deles me passavam o mesmo “conforto” que sinto ao lado de sua “alteza”.
Mas eu preciso dizer, as reações que aqueles engomados tinham diante de cada “surpresa” que aparecia eram muito divertidas. A historia que o sanguessuga nos repassou acabou sendo interessante, mas aquele elfo real estava começando a me irritar. Se não fosse pelo som do mexer em minha espada e os rosnados de Absol, aquela “mão boba” dele já estaria sangrando no chão (será mesmo que o rei conversou com esse depravado?).
Quando chegamos no campo de treinamento do palácio, decidi que, se Absol não ensinasse aquele miserável na próxima “recaída” dele, eu o ensinaria, já que Absol também consentiu em permitir que a Cris praticasse arco com aquele ser.
No começo, tudo acontecia consideravelmente bem. A Ladina não errava o alvo, mas também não acertava o centro, e o alteza não abusava da sorte. Isso, até ele começar a ensina-la a como corrigir o arco...Cris 3
– Tente não forçar demasiadamente a corda, pois isso não só acaba com a sua força, como também traz instabilidade para a flecha.
– Entendi Võgutav. Preciso encontrar o equilíbrio entre a força e a gentileza, certo?
– Precisamente, Lys. Você sem dúvidas é uma mulher bastante inteligente. – podia ouvir Lance sacando a espada e Absol dando alguns passos em meio ao seu rosnado enquanto o príncipe baixava um de seus braços por trás de mim.
– E eu, no seu lugar... – liberava o tiro que acertou bem no centro (YUPI!!!) – Parava de testar minha sorte contra aqueles dois _sorriso_.
– Errr... Meu pai conversou comigo, mas... Alguns hábitos são difíceis de abandonar...
– Francamente alteza, eu não sei qual é o deus que está mantendo o controle sobre a coleira desses dois, mas o senhor tem de ser é muito grato a ele por já não estar ao menos na enfermaria agora. – declarava o Ezarel que observou tudo de braços cruzados.
– Chega de treino! – ordenava o Lance com sua voz um tanto assustadora, por causa da raiva e do emulador, se aproximando de nós ainda de espada na mão e junto de Absol – Para o seu bem...
– Já entendi! – Võrgutav erguia as mãos em rendição – Deixarei que vocês retomem o passeio sem mim agora. Qualquer coisa vocês podem pedir ajuda a qualquer um dos guardas, eles já foram ordenados a auxilia-los no que lhes for preciso. Alguma dúvida?
– Já que perguntou, eu tenho uma. – era o Ezarel outra vez – A Desast... Digo, a Emiery está fora de Lund’Mulhingar por acaso? E para onde que o Ondabrar foi?
– Meu tio, depois de informado sobre a chegada do restante de seu grupo, ganhou o consentimento para poder organizar os negócios pessoais dele, aos quais ele havia ignorado para cuidar de mim que não me sentia muito bem até hoje de manhã. Mais alguma pergunta Zar querido? – respondia a Emiery que surgia no campo de treino, mas no que me virei para visualiza-la...
(meu... Jesus...).
.。.:*♡ Cap.130 ♡*:.。.
Cris
No que eu me virei para encarar a Emiery depois que ela resolveu dar o ar de sua graça para nós, eu fiquei em choque. Mas o que foi que aconteceu com essa criatura??? (Qual o problema Ladina? - Tem alguma coisa de errado com ela, é como se eu estivesse encarando o Leiftan! Só que de uma forma bem mais assustadora. - Há mesmo um mistério a ser resolvido nessas terras...).
– Err... Emiery, tem certeza de que está realmente bem agora?
– Mas é claro, Cris querida. Porque eu mentiria? – não conseguia parar de observa-la.
Assim como o Leiftan, ela tinha uma corrente presa ao pescoço, porém, a dela era negra; dava várias voltas ao redor dela de tão grande; e as correntes pareciam ter alguma “aura” sombria (em quem está presa a outra ponta??). Ela só conversou com a gente por uns cinco minutos, indo cuidar de seus afazeres em seguida, com o Võrgutav a acompanhando.
– Me diz Anya,... – cochichava com ela – ...acaso a Emiery pareceu... diferente, para você?
– Quando a conhecemos eu não tinha sinestesia, e não a vi mais depois que a desenvolvi durante a Púrpura, por isso não tenho como responder do jeito que deseja saber Cris. Talvez meu pai o possa. Mas uma coisa eu lhe garanto! A aura dela não é de um tipo agradável.
– Hum... Tudo bem Anya. Obrigada.
– O que acham de darmos uma olhada na cidade agora?
– Pode ser Réalta, mas... Ezarel vai ficar ou vai se arriscar passeando com a gente?
– Eu vou ficar Paladina. Aqui ninguém tem desculpas para querer a minha cabeça e conseguir sair impune. Mas não se demorem na cidade! Não é porque conseguimos chegar em Lund’Mulhingar inteiros, que quer dizer que não existe perigo aqui dentro.
– Ezarel está certo. – respondia uma das trigêmeas.
– Nós três somos o suficiente para lhe mostrar ou explicar o que quiser da cidade. – respondia a segunda – E o companheiro de vocês pode continuar cuidando das costas de Ezarel.
– E imagino que os seus guardiões não deixarão de nos acompanhar. – terminava a terceira. Tanto o Lance quanto o Absol se mostraram bem mais calmos com a ausência do príncipe elfo.
– Eu posso acompanhar vocês também?
– Não vejo nenhum problema senhorita Anya. – respondeu a “segunda” trigêmea.
Já fora do palácio, chegava até a esquecer a... situação de Emiery, com o admirar da beleza da cidade élfica.
– Porque o palácio é a única construção em pedra branca? – começava com as minhas dúvidas, após sentarmos em uma praça para comermos sanduíches como almoço.
– A cor da pedra usada em cada construção identifica a função dela. Rosa para comércios de itens femininos, verde para boticários e casas de curandeiros, azul para casas de banho ou lavanderias, amarelo para comércios alimentícios, entre outros. O branco é usado para identificar construções governamentais, no caso, o palácio, uma vez que tudo que está relacionado a este assunto tem um aposento próprio lá. – respondia uma delas.
– Todos os nobres de Lund’Mulhingar moram no palácio ou há alguns na cidade? Costuma haver grande diferença entre as residências?
– As casas usam cinza, para os nobres, ou roxo, para os plebeus, como identificação. Geralmente os únicos nobres que moram no palácio são os que pertencem à família real, junto de alguns dos funcionários mais importantes. Como o Ondabrar, que é chefe da equipe de ‘Pesquisas Alquímicas de Combate’ e ‘Primeiro Conselheiro’ de sua majestade. – respondeu outra das trigêmeas.
– Sendo que a Emiery, solteira e parente única dele, tem o pleno direito de morar no palácio como ele... – argumentava a terceira (Emiery...).
– Me... desculpem a estranheza de minha pergunta, mas... Depois que Emiery retornou de Eel, no solstício, ela... Ficou diferente de alguma forma?... Ou aconteceu algo de estranho com ela?... – as trigêmeas passaram a refletir.
– Depois que ela retornou de Eel, Emiery parecia outra pessoa... – elas começaram a responder.
– Ela estava mais... humilde! E respeitosa também. A mudança repentina dela foi algo que surpreendeu a todo mundo. Inclusive o rei.
– Mas, depois de quase um mês, ela adoeceu misteriosamente. Foi quando ela “voltou ao normal”. Ondabrar cuida dela pessoalmente, e não deixa que ninguém mais a examine. Nem mesmo a mestra Luthien! Que é uma médica renomada em toda a Eldarya.
(Isso é muito suspeito... - Penso igual Lance)
– Disse que Emiery adoeceu? É a mesma doença da qual ela nos falou no campo de treinamento? – as três assentiram – E não houve mais nenhuma... Mudança, nela? O que aqueles que possuem sinestesia acham disso?
– Sobre isso... os comentários são parecidos...
– Uma amiga nossa chegou a dizer o seguinte depois da primeira crise dela: “Ela voltou para Lund’Mulhingar purificada, mas essa doença a fez ficar pior que antes!”, sinceramente, muitos ficaram se questionando pelo o quê que ela teria passado em Eel, para tentar fazê-la passar por tudo de novo.
– Eu imagino... Vocês também disseram que ela er...
– Por favor, não digam que eu estou com vocês! – interrompeu-me Anya já se escondendo entre nós.
Absol começou a rosnar e, no que eu me virei na direção para a qual ele rosnava e Anya se escondia, avistei Voronwe se aproximando (meio sem jeito) de nós junto de uma elfa que, se não fossem pelos cabelos azul-turquesa, seria idêntica à mãe de Anya.
– Muito bem, sei que a pestinha está com vocês, mostrem-na agora! – declarava a mulher (mas quanta simpatia...).
– Educação nunca fez mal a ninguém Elvira... – argumentava o Voronwe com reprovação.
– Calado mofino! E ainda deixar aquela incivil com as trigêmeas?! Seu nível de bom-senso é ainda mais baixo do que eu pensei! – (essa “bruxa” está me incomodando...) – Andem logo porque eu vi a pirralha se escondendo atrás de vocês! – ela voltava a nos encarar.
– Porque raios o senhor tinha de trazer essa mulher aqui, pai? – se revelava Anya sem sair de trás da gente.
– Mas olha só!... – ela observava Anya com repulsa – Um verdadeiro desastre! Será quase impossível conseguir um bom casamento para ela.
– É o QuÊ?!? – dizemos bem dizer todos juntos e Absol rosnava ainda mais para aquela bruaca.
– Alto lá Elvira. Hadassa e eu somos os únicos com algum direito, por lei, sobre Anya neste assunto. E nós dois decidimos que quem faria essa escolha seria ela, minha filha. E apenas quando ela tivesse idade! – respondia Voronwe um pouco nervoso.
– Viu só pai o porquê que eu não queria vir para Lund’Mulhingar? Ainda não aceito ser obrigada a estar aqui para fazer esse maldito Skjult Viden!
– Ora sua...! – Elvira pareceu querer bater em Anya, mas recuou quando tanto Absol quanto Lance se colocaram em seu caminho em defesa de Anya – O que esse black-dog anômalo e esse mascarado pensam que estão fazendo?
– Protegendo a minha melhor amiga! O que mais eles estariam fazendo? E por sinal, sou a Cris! Também por todos conhecida como “Lys de Eldarya”. Mas e você? Quem é você, ser escroto? – acho que se ela explodisse de raiva diante de um rosto tão vermelho, ninguém lhe sentiria a falta.
– Infelizmente, essa criatura aí é a minha tia. Irmã de minha mãe, Elvira.
– Eu realmente lamento a sua sorte, pequena... – declarava uma das trigêmeas.
– E eu gostaria de lembra-la senhora, que eu e minhas irmãs servimos no palácio. Tendo contato direto com o rei! Por isso agradeceria se nos respeitasse. – declarou uma delas com a mesma seriedade de alguém que foi gravemente ofendido.
– E além do mais... – novamente era uma delas – Espero que não tenha se esquecido que, durante a aprendizagem do Skjult Viden, nenhum parente pode intervir na educação! Muito cuidado com as suas ações e palavras, ou poderá ter problemas sérios com as nossas leis. De novo...
Quase dava para ver fumaça saindo de dentro da cabeça daquela criatura. Vermelha como nunca havia visto alguém, ela rosnou e foi embora sem dizer uma palavra.
– Eu realmente sinto muito por toda essa... situação. – Voronwe se desculpava – Conversamos juntos com aquele “ser” no palácio, Estrelinha? Onde ela será obrigada a se controlar?
– Huuum... Pode ser pai. Mas só se o senhor permitir que pelo menos um desses dois estejam do meu lado! – pedia Anya apontando para Absol e Lance.
– Justo. _sorriso largo_ Vou tentar colocar algum juízo na cabeça daquela mulher e repassar o nosso combinado. Melhor... Você se manter no palácio até estarmos arranjados Estrelinha. Cuidem dela para mim, por favor. – pediu ele já se afastando.
Assim como Voronwe sugeriu, demos o passeio na cidade por encerrando e voltamos para o palácio. No caminho, Anya recontava a experiências terríveis que ela havia tido com a Elvira, e as trigêmeas contavam o que todos sabiam sobre ela em Lund’Mulhingar (Aquela ideia de sequestro ainda está vedada? - Ainda está Lance. Ainda está!...)Anya
A Cris e o Absol vão causar muita confusão em Lund’Mulhingar, não há a menor dúvida disso. E se o príncipe não começar a tomar cuidado não, já, já ele vai ter de ser internado na enfermaria...
Eu não sei o que a Cris conseguiu ver quando a Emiery apareceu, mas de jeito nenhum ela está bem. Não com aquela aura de quem parece carregar uma doença grave ou uma maldade preocupante (será que tem alguma relação com o que o spriggan nos contou? Sobre a existência secreta de um fragmento do grande Cristal aqui?).
No passeio pela cidade, tudo continuava tão impressionante como sempre, mas eu tinha que ter avistado a última criatura de todo o universo com quem iria gostar de estar lado-a-lado?! Tentei me esconder, mas o fiz tarde demais. Aquela coisa conseguiu me ver. E ela continua tão insuportável quanto eu me lembrava (como é que essa coisa pode ser parente de minha mãe? Seria muita ofensa aos meus pais pedi um teste de parentesco?), ainda bem que eu não estava sozinha. Todo mundo me protegeu daquela coisa.
Ouvindo o meu pai, a gente retornou para o palácio, o que foi uma pena, já que ainda tinha muita coisa que a Cris poderia estar vendo. Acabei contando o que passei com aquela burã daina para as damas de companhia da Cris e elas nos repassou como que aquela peste era conhecida em Lund’Mulhingar, e mesmo depois de quase parar na prisão umas seis vezes aquela criatura não mudava?!? (Meus pais devem ter resolvido deixar o reino por vergonha daquela arrogante).
– Já voltaram da cidade?? – Ezarel, acompanhado da mãe dele, nos questionava – Eu posso ter ficado anos fora de Lund’Mulhingar, mas duvido que vocês tenham conseguido mostrar tudo para a Paladina.
– Realmente Ezarel, se não fosse por um certo... encontro; nós ainda estaríamos visitando a cidade.
– Que encontro, Lys querida?
– Nos encontramos com a tia da pequena, mestra Luthien: Elvira.
– Elvira? – ela pareceu se assustar – Elvira, a Tirana Hostil?
– A alcunha não podia combinar melhor com essa minha “tia”! – acabei declarando – Ainda mais depois do que ficamos sabendo por meio das amigas aqui.
– Oh criança, lamento tanto por você compartilhar laços com aquele ser... – declarou a Luthien já me dando um abraço semelhante ao de minha mãe (fiquei com saudades dela agora...) – Meu filho me explicava que um dos motivos de você estar fazendo parte desse grupo é o seu Skjult Viden. Tenha a certeza de que farei de tudo ao meu alcance para que aquela “mulher” não lhe incomode durante seu tempo de estudos.
– Poderia repetir isso na frente dela? Meu pai sugeriu que nós três conversássemos aqui no palácio, para ela se controlar, e... Cris! Quem que você vai deixar me protegendo contra aquela coisa?
– Hum... O Gelinho não pode sair falando por aí, então é melhor que Absol faça isso. Qualquer coisa ele pode usar a umbracinese dele para te carregar para um lugar mais seguro em Lund’Mulhingar.
– Me diz Anya, seu pai disse onde que vocês terão essa conversa, aqui no palácio? – neguei com a cabeça para responder Luthien – Bem, nesse caso... Há uma área na biblioteca que, se você elevar a voz um pouquinho que seja acima do permitido, você pode acabar visitando a prisão...
– E minha tia sabe disso?
– Não que eu saiba... – acho que todo mundo “sorriu”.
– Perfeito! Não tenho certeza de que hora meu pai conseguirá arrastar tia Elvira para cá, então o que acha da senhora já me fazer companhia e por lá me explicar melhor todas as regras desse lugar aí?
– Será um imenso prazer criança. Continuamos nossa conversa mais tarde, meu querido?
– Sem problemas mãe. Graças à Paladina, aqui no palácio, posso andar sem me preocupar muito. Mas sabe se é possível encontrar o Ondabrar por agora?
– Quando ele não está ao lado do rei ou no centro do qual ele é responsável, ele costuma estar no quarto ou cuidando de Emiery, ou fazendo suas pesquisas particulares. Mas porque você quer saber dele? Sabe muito bem que foi ele quem reuniu o grupo que o denunciou ao rei quando você tomou a decisão de enviar aquela menina de volta para a Terra.
– Sim, eu sei. É que fiquei curioso sobre a doença da Emiery... Qual a sua opinião sobre o assunto?
– Se aquele grookhan tivesse me dado ao menos uma chance de dar uma olhada naquela menina, eu teria uma resposta para lhe dar. E é o meu instinto materno que me diz que aquele homem está aprontando alguma coisa!
– Então é mesmo verdade o que nos foi dito?? – se assustava a Cris que, após o assentir da Luthien, levou a mão ao rosto de modo a pensar – Hum... Seria pedir muito Ezarel, que me deixe acompanha-lo para que eu possa dar uma olhadinha nesse tal de Ondabrar?
– Não me importo nem um pouco, mas... Desconfia de alguma coisa em especial?
– Não tenho certeza. Quero observar e conferir algumas coisas para saber se estou imaginando coisas ou não. Você se lembra não é? Do que o Umdala nos disse?
– Lembro. Assim como também me lembro de como esses seus olhos funcionam. Ainda me recordo onde fica o quarto dele, se formos mesmo procura-lo, é melhor começarmos por lá.
– Muito bem, leve-a consigo meu filho. Vamos para a biblioteca minha querida?
– Sim senhora.
E nos separamos. Absol, Luthien e eu fomos para a biblioteca, com ela pedindo para que um guarda avisasse meu pai onde eu estaria aguardando por ele; Nessa, Estel e Calen foram preparar o quarto da Cris para o Absol poder ficar melhor instalado por lá; e a Cris, Gelinho e Ezarel foram atrás do tal do Ondabrar, alguém cuja aura me “agradou” tanto quanto a da Emiery.Cris 2
Quanto mais eu ouvia sobre o estado de Emiery, mais desconfiada eu ficava do tio dela, Ondabrar. Consegui fazer Ezarel me deixar acompanha-lo pela busca da criatura, mas o bendito parecia habitar do outro lado de Lund’Mulhingar de tão longe que ficava o quarto dele de onde saímos! E o pior, era que ele não estava lá...
O laboratório em que ele trabalhava também não era próximo ao quarto dele, onde ele também não estava... (_rosnando_ - Calma Ladina... - Diz isso porque não vai ser você quem irá acabar com as pernas moídas nesse ritmo! - Faço-lhe uma boa massagem depois se quiser, mas tente relaxar...). Me aproximando do zero de paciência, e quase desistindo de ver o “abençoado”, foi ele quem acabou por cruzar caminhos com a gente.
– Pensei ter ouvido que era sua alteza Võrgutav quem mostraria o palácio para a Lys... – ainda não o encarei, mas já não gostei do seu tom de voz. Emiery consegue ser bem mais simpática.
– E sua alteza o fez. O que nós três procurávamos era o senhor, Ondabrar. Tenho algumas perguntas para você e a Lys ficou curiosa em conhecê-lo, apenas isso.
– Mesmo?! Confesso que quando os vi na enfermaria no dia em que chegaram, a Lys não parecia muito perceptiva ao que lhe rodeava, então compreendo o desejo dela.
– Realmente. – encarei-o após terminar de massagear os olhos – Eu realmente não... estava... – e o que eu vi me deixou em choque – Bem. Ontem.
– Algum problema senhorita? – _chocada_
– Qual o problema Paladina? Travou por quê?
– O quê? Não me... Me desculpem! – ainda não acreditava no que eu via – É que eu... Eu... Me lembrei de uma coisa que não devia ter esquecido de jeito nenhum!
– Algo que você esqueceu??
– Sim Ezarel! E já se passou tanto tempo...! Já sei. Já sei o que vou fazer. Vou já para o meu quarto e escrever uma mensagem e pedir que Absol a entregue pra mim. Céus!! Espero que não seja tarde. – e já saí de lá correndo para o meu quarto com o Lance me seguindo.
E se não fosse pelo Lance, eu teria me perdido naquele palácio.
– Espere Ladina. – ele me parou quando entramos em um corredor deserto – O que foi que você enxergou quando viu aquele elfo? Porque motivo você mentiu daquele jeito?
– Lance, eu... Eu já cheguei a lhe explicar como que eu enxergo os contaminados?
– Não tenho certeza, mas o que isso tem a ver? – encarando o nosso arredor, fiquei com receio de ter minhas palavras ouvidas – Quer... que conversemos no quarto?
– Sim. E... Usando aquelas bolinhas verdes. – (Sabe que podemos conversar telepaticamente, não é? - Prefiro usar as palavras. Assim me livro de parte desse nervosismo)
– Está bem.
Continuamos o caminho até o quarto com eu roendo a unha do meu polegar. Calen, Estel e Nessa já não estavam mais no quarto. Tranquei a porta assim que ficamos sozinhos enquanto o Lance pegava uma das esferas. Nos sentamos no divã branco que tinha ali e Lance recitou o encantamento.
– Muito bem Ladina. Já pode me contar.
– Bom _aspira_ vamos começar com o que lhe questionei antes.
– Fala da aparência dos contaminados para você? O que tem isso.
– Bem. Eu já expliquei para quem ouviu, que, quando eu vejo um contaminado, ele não carrega a aparência de que todos falam. Eu vejo o faery que foi contaminado envolto por correntes dentro de uma “sombra”, que na verdade é a criatura que todos veem.
– Sim. E onde deseja chegar?
– Quando... Quando eu encarei o Ondabrar. Foi... foi exatamente o contrário!
– Como é?
– Eu vi, o fragmento de cristal dentro do corpo dele! E aquelas mesmas correntes que vejo aprisionando os faerys, estavam envolvendo o, cristal! – apesar do meu nervoso, pude notar o espanto do Lance sobre o que eu contava – É como... Se invés do cristal estar controlando o seu portador, o portador é quem controla o cristal!
– Princesa... Respire fundo. Isso que você está me contando é extremamente sério. Muito mais sério do que imaginei.
– E tem mais Lance... Lembra mais cedo que eu disse que, encarar a Emiery era como encarar o Leiftan?
– Acaso... Estava se referindo ao encantamento que a Erika lançou nele para lhe controlar as ações?
– Exatamente. Além das “correntes” do cristal, ele também tinha preso ao pulso outro tipo de corrente, idêntica à que estava rodeando a Emiery.
– Então... A sua teoria é que a tal “doença” daquela exibida é nada mais, nada menos que alguma maldição lançada nela por seu tio, Ondabrar?
– Isso... O que explicaria o porquê dele não deixar ninguém cuidar dela, fora ele. Para que ninguém descubra e desfaça a maldição, feitiço, ou seja lá o que ele fez. Mas ainda restaria o “porque” e o “pra quê” dele fazer isso com a Emiery.
– E se há mais alguém ciente desses fatos também... – adicionava ele, aumentando o meu pranto nervoso – Olha Princesa, amanhã é o Festim. Vamos deixar esse assunto para depois da festa, mas sem baixarmos nossas guardas contra o conselheiro e sua sobrinha. Na hora do banho, repassarei o que me contou para o sanguessuga e o bobo-da-corte. Logo chegará a hora do banho feminino e do jantar. – ele me secava as lágrimas delicadamente com o polegar – Faça o que puder para que ninguém perceba o que você descobriu, está bem?
– Sim. _fungada_ Está bem sim. _fungada_
– Venha cá minha Princesa. – disse ele já me puxando para um abraço que, se não fosse pela armadura, seria bem reconfortante.Ondabrar
– Eu digo e repito Ezarel, o estado de saúde de Emiery é algo que só diz respeito a mim e mais ninguém.
– Mas impedir até que a minha mãe, Luthien, a Salvadora, a examine? Isso é sem dúvidas uma imensa imprudência!
– Como você mesmo disse, ela é sua mãe! E não irei confiar minha sobrinha a ninguém com o mesmo sangue que você.
– Ondabrar, o q...
– Chega. Não vou mais perder o meu precioso tempo com a escória. E o trabalho me espera. – encerrei aquela discussão inútil afastando-me antes que eu acabasse realmente irritado.
Emiery... Desde que eu decidi criar aquela pirralha para que se tornasse útil para mim no futuro, que ela só me dá dor de cabeça. Décadas moldando a personalidade; afastando-a de qualquer exemplo não benéfico para mim; aprimorando a inteligência dela herdada pelos pais; tudo para que, em uma única viagem, fosse completamente arruinado.
Eu estranhei aquela... “bondade”, recém adquirida quando ela retornou de Eel, após o solstício. Pensei que aquilo era apenas trauma por consequência do ataque que ocorreu durante a festa, mas, quanto mais o tempo passava, pior era a condição dela!
Eu, que a treinei para ser a bhean perfeita, havia perdido a minha melhor peça! No entanto, consegui dar um jeito de consertar isso. Apesar daquele “eu” bonzinho dela insistir em querer sair do meu controle, cujas “crises” estão ficando cada vez mais assíduas, eu ainda precisava dela. Perdi minha bhean, mas Emiery ainda me é útil como easpag ou tuir.
Mediante a catástrofe que testemunhei, fiquei pela primeira vez na vida curioso em conhecer um humano. Mais especificamente, essa Lys de Eldarya. Depois de muitas reflexões, consegui desenvolver um plano para arrastar a aclamada humana para Lund’Mulhingar, além de como “prendê-la” aqui. Gastei umas duas semanas para convencer o idiota do Eru a convida-la para a única festividade da qual eu poderia executar o meu plano de forma a poder sair quase ileso.
Quase não pude conter a minha satisfação ao saber que o convite havia sido aceito, porém não esperava tantas recomendações de segurança. Questionar Emiery sobre o assunto era fútil. O método que utilizei para recuperar minha “sobrinha”, faz perder as memórias que causou a mudança de comportamento dela. O que com toda certeza incluía as informações que almejava referente ao caso.
Quando me chegou a noticia que o grupo que escoltava a Lys havia chegado mais cedo do que o calculado, e que aquele arlequim desprezível fazia parte da comitiva, precisei conferir por mim mesmo antes de falar com o “rei”. Se não fosse pelo o meu cargo e a influência daquela bruxa branca da Luthien, eu teria dado à aquele miserável a morte da qual ele fugiu e merecia (se não fosse pela Emiery, sob a ação de uma poção de indução da verdade que eu testava, nunca que teria descoberto o verdadeiro motivo dele querer abrir um portal para a Terra às escondidas).
Observando mais ou menos o grupo que era examinado pela equipe de Luthien, apenas Voronwe, o Berserker, e o guerreiro mascado me inspiravam cautela. A humana, que diziam ser a única capaz de salvar este mundo, me pareceu tão patética quanto uma blobbette, no entanto, ouvindo junto da família real a calamidade que foi a jornada deles até o reino, era obrigado a admitir que, para uma humana, a tal da Cris até que estava em boas condições quando a vi.
Se não fosse pela sensação que sentia sempre que Emiery tentava fugir de mim, teria ficado para conhecer de verdade a Lys de Eldarya. Passei metade da noite reforçando o meu encantamento sobre aquela ingrata, sendo que eu teria um dia atarefado quando amanhecesse. Tarefas essas que me impediu de participar da reunião de apresentação daquela mulher para os nobres de Lund’Mulhingar, e o guardião umbracinesiano dela é um black-dog?!? Mais um para estar vigiando...
Passei o dia não só assumindo as minhas responsabilidades, como também fazendo os ajustes de que necessitava para colocar meus planos em ação. Não esperava acabar encontrando a humana (e junto do exibido) no palácio depois de ouvir quais eram os planos dela para o dia de hoje. E, a menos que eu esteja com o meu julgamento avariado, ela não estava nos dizendo a verdade depois que olhou para mim. Era como... Se ela vesse muito mais do que era possível enxergar (que tipo de poderes ela possui?), e a forma com que ela “fugiu” me deixando com aquela peste era muito suspeita.Obs:
Uma pequena explicação que acredito ser necessária, Ondabrar enxerga tudo e todos como um jogo. No caso, o xadrez.
Mas, para que tudo fique mais “élfico”, eu traduzi os nomes das peças para o irlandês (um dos países que foram habitados pelos celtas) com a ajuda do google tradutor. Sendo que:
Rí => rei
bhean => dama
easpag => bispo
tuir => torre
capall => cavalo
saighdiúir => peão
Espero ter deixado claro.
(P.S. = Se estiver alguma coisa errada, reclamem com o google!)
.。.:*♡ Cap.131 ♡*:.。.
Lance
Só não me arrependo de ter vindo para essa viagem porque tenho a Cris do meu lado. A cidade é bonita e tudo mais, mas os seus habitantes... É um miserável atrás do outro. Primeiro aquele príncipe atrevido que vivia querendo se “aventurar” sobre a minha Ladina; depois aquela peste em quem eu dei uma lição em Eel (e que está aparentemente amaldiçoada agora); depois aquela elfa repulsiva que infelizmente é parente da pirralha (me recordei na hora daquela ideia de sequestro que tive quando Anya estava se escondendo de sua mãe); e para fechar com chave de ouro, um contaminado diferente que ainda por cima é o tal tio da exibida.
O nervosismo de minha Ladina diante de tudo isso me preocupava. Ela estava assustada, preocupada e desorientada pelo o que pude ver por meio da mensligo. Tentei acalma-la como podia, e estava mais que claro que nossa estadia nesse reino não nos seria fácil.
Depois de uma meia hora serenando a minha amada, as nossas “babás” bateram na porta. Afastei minha princesa com cuidado, quebrei a barreira e fui abrir a porta.
– Se estivermos incomodando de alguma forma, podemos retornar uma outra hora. – declarou uma delas ao ver os olhos vermelhos de minha Princesa.
– Não. Está tudo bem, err...
– Nessa.
– Certo. Vocês podem entrar sem problemas Nessa, e... Sério mesmo que vocês três não podem usar absolutamente nada que ajude a distingui-las? Nem mesmo só para mim?
– Sentimos muito Cris. Mas não. Como a única forma de se exterminar a barreira é eliminando o mestre dela, nós três somos as escolhas perfeitas para isso. Já que ninguém de Lund’Mulhingar teria coragem de ferir qualquer uma de nós...
– E por quê? – questionei – Tem relação ao que Elvira disse?
– Os gêmeos... Não são bem vistos entre os elfos... – respondia uma delas enquanto ajudava uma das irmãs a preparar o espaço de Absol.
– E porque não? O que há de errado em ter um ou dois irmãos gêmeos?
– Acontece Cris, que boa parte dos elfos são bastante supersticiosos e, desde não sei quanto tempo que, gêmeos são vistos como luz e sombra.
– Que quer disser?
– Como Estel disse, gêmeos são vistos como “Sombra” e “Luz”. A maioria acredita que uma das crianças é fonte de alegria e prosperidade. Uma benção.
– Enquanto a outra criança é vista como fonte de trevas. De desgraças e misérias. Uma maldição.
– Que horror! Mas e quando são trigêmeos, igual a vocês?
– A terceira criança é vista como neutra. Alguém que equilibra a luz e a sombra de forma que aqueles que estão ao seu redor não deslumbre nem o “bem” e nem o “mal” das outras crianças.
– Hum... O que acontece quando gêmeos nascem? Existe uma forma de saber antes do nascimento ou é tudo surpresa mesmo?
– Qualquer sinesteta é capaz de perceber se uma mulher está gravida ou não. Principalmente se for de uma ou mais crianças.
– Existe... Um ritual, que os pais possuem o direito de fazer, caso se descubra a existência de gêmeos... Mas claro, tanto o pai quanto a mãe precisam estar de acordo.
– Que ritual? – até onde vai o preconceito dos elfos?
– É um ritual de vida e morte. Segundo as crenças, o ritual encerra a vida da criança “amaldiçoada” e permite a sobrevivência apenas da “abençoada”.
Pude ouvir a Cris engolindo seco – Eee... E quando há mais de duas crianças? Como vocês?
– Ou todas morrem. Ou todas sobrevivem. Muito raramente só há uma perda. Que no caso, seria da criança “amaldiçoada” – respondia a Nessa.
– Meu Deus! E vocês não passaram por esse ritual, passaram?
– Graças ao nosso progenitor, sim. Passamos por ele e sobrevivemos.
– Progenitor? – (não era para o chamarem de pai?)
– Sim, progenitor, guardião. Nosso progenitor queria nos expor a este ritual, mas a nossa mãe não e, ignorando totalmente a vontade dela, tirando proveito de que era necessário que nossa mãe ficasse inconsciente para a realização do ritual, ele a pôs para dormir e a expos ao processo.
– Mentindo para todos que ela havia concordado.
– Meu Jesus amado! _sinal da cruz_ Mas houve consequências, não houve?
– Houve sim. Quando nossa mãe acordou, e soube o que tinha acontecido, ela bradou para o mundo inteiro que não havia concordado em nada com aquilo, e só se tranquilizou ao saber que estávamos todas bem.
– Nossa mãe ganhou o pleno direito do divórcio e nosso progenitor foi sentenciado a nós repassar todo e qualquer bem ou riqueza que viesse a adquirir até a nossa maioridade.
– Além de receber o desprezo de todos aqueles que souberam do caso! Apesar de preconceituosos, os elfos valorizam muito a vida em sua maioria, por isso é preciso o consentimento de ambos para se fazer o ritual.
– E o que aconteceu com ele depois que vocês cresceram?
– Tivemos piedade de nosso progenitor. Ele tinha uma mercearia, que só continuou recebendo clientes por nossa causa, porque todo o lucro dele seria entregue para nós depois. Mas quando chegou a hora, nós três decidimos deixa-lo continuar trabalhando naquela mercearia.
– Na condição que ¾ do lucro fosse entregue para nós sempre. E outra vez é por nossa causa que ele continua recebendo clientes.
– Uau! As leis élficas são bem mais severas que as do meu país... Mas... O que acontece se algo acontecer a uma de vocês? Porque todos teriam medo de ferir qualquer uma?
– Porque se uma de nós morrer, o equilíbrio será quebrado. Se a “luz” morrer, a “neutra” se torna sombras e as maldições caem em dobro. Vice-versa se quem morre é a “sombra”. E se quem morre é a “neutra”, as gêmeas restantes não podem nunca andar separadas para que o equilíbrio não seja interrompido.
– Quanta asneira... – deixei escapar.
– Lhe concordamos plenamente guardião. Existem tantas crendices e preconceitos em nosso povo, que eu e minhas irmãs simplesmente não compreendemos a permanência de suas existências.
– O preconceito contra os humanos é um deles?
– É sim Cris. Lembra o discurso que você deu ao rei ontem, no jantar? – a Cris assentiu com a cabeça – Pois bem, compartilhamos de seus pensamentos. E a Erika, que venho da atual Terra, além de você claro, são as provas de que precisamos.
– Fico feliz de saber que não sou odiada por todos neste reino apenas porque sou parte humana...
– Bem... Já terminamos de acertar os lugares de seus guardiões nesse quarto. O que acha de um banho Cris? Até chegarmos lá, já terá iniciado o horário do uso feminino.
– Tudo bem. Pode ser.
– Absol pode acompanha-la? – já que eu não posso mesmo.
– Pode sim guardião. Não há restrições para a entrada de mascotes. Apesar de Absol ser um black-dog... Nesse caso teríamos de passar na biblioteca antes, para averiguar se a conversa da senhorita Anya já está concluída. Vamos?Cris
Cada vez mais me surpreendo com Eldarya. A única diferença, bem dizer, entre ela e a Terra é o seu nível populacional e a tecnologia, porque de resto... Ainda estou tentando encontrar as diferenças.
Depois que Calen sugeriu o banho, Lance acompanhou nós quatro até a biblioteca, onde Anya, Luthien e Voronwe terminavam de conversar com a Elvira (que parecia pronta para matar qualquer um). Chamamos Luthien e Anya para se juntarem à nós e Luthien disse que o faria assim que acabassem com a conversa (com ela dizendo que tinha curiosidade sobre viagens por umbracinese. Tomara que ela aprecie a carona de Absol!).
Deixamos elas terminando a conversa e seguimos para as fontes, com Lance ficando parado na porta pelo lado de fora. Não se passou nem cinco minutos depois que entramos na agua, e Anya e Luthien surgiram perto das fontes com Absol. Anya não perdeu tempo em entrar na agua, já Luthien parecia... pasma talvez? Com a experiência tida. Se não fosse por Anya, sabe-se lá quando que ela entraria na agua.
Enquanto eu massageava o meu ombro, eu reparava nas costas de cada uma das trigêmeas e, observando bem, reparei que cada uma delas parecia ter alguma coisa ao fim das costelas.
– Isso são marcas de nascença? – e as três logo se afundaram na agua para esconderem o sinal.
– Você é bastante observadora Lys querida. – era Luthien – De fato as três possuem marcas de nascença que costumam ficar muito bem escondidas pelas roupas. Essa é a única maneira segura de diferencia-las quando arrumadas de forma idêntica. Eu e a mãe delas éramos as únicas que conheciam isso.
– E se não for pedir muito Cris, tente guardar segredo. Porque nenhum de nossos sinais são iguais. Definitivamente.
– E o que há de diferente neles? – tentava ver os sinais com elas fugindo de costas.
– A minha é uma estrela.
– E a minha é uma folha.
– Já a minha é uma flor.
– Estel, Calen e Nessa escondem seus sinais com cuidado porque eles são a única pista que existe para saber quem é a “luz”, a “sombra” e a “neutra”. Eu tenho minhas suspeitas, mas de jeito nenhum quero comprova-las. Melhor que continue um mistério.
– A senhora também tem preconceito contra os gêmeos?
– Oh, pelos deuses! Não! Um médico deve sempre ser indiferente sobre as vidas que estão em suas mãos. Negar o direito à vida para alguém apenas por causa de costumes sem sentido? Nunca! O que importa de verdade para se julgar uma pessoa é o seu caráter, e não a sua aparência, origem ou antecedência.
– Fico feliz de saber que a senhora pensa assim, mas... Pelo o que ouvi da Erika, o Ezarel não parece concordar tanto assim com a senhora.
– Ah! Isso foi culpa do mentor de Skjult Viden dele. Acho... que foi o avô do mentor dele... Que infelizmente foi escravizado pelos humanos quando era criança. Uma historia bem triste que ficou sendo repassada na família dele.
– Lamento por isso...
– Não há porque se lamentar pelo passado dos outros Cris. – a “flor” me consolava – Triste é alguém ficar remoendo o passado e repassar suas dores para aqueles que não tiveram nada a ver, ao invés de procurar seguir em frente.
– Hãm... Lembro que uma de vocês três comentou que os parentes não podem intervir nessa aprendizagem aí. Por quê?
– Porque quando um parente é colocado para ensinar o Skjult Viden para alguém, ou ele pega muito pesado, ou muito leve. São poucos aqueles que são capazes de ensinar com indiferença. Respeitando os limites e as capacidades da criança.
– Ok. Mais cedo, a “tia” de Anya se mostrou contra gêmeos e elfos negros. Elas já me explicaram o porque dos gêmeos. – (apontava o polegar para as trigêmeas) – Mas e quanto a elfos como o Voronwe ou Anya?
– Pelo o que eu soube... – Anya se anunciava – Há muito, muito, mas muito tempo atrás mesmo, havia algum tipo de rixa entre os elfos natlig e os dagtimerne. Fazendo com que os tusmørkes sofressem tanto quanto os faelianos. E foi Titânia, uma rainha que viveu há uns mil anos atrás mais ou menos, quem pôs fim nessas encrencas.
– Mas infelizmente o preconceito perdurou. – prosseguia a “folha” – As leis criadas por Titânia forneceram a paz dentro do povo élfico, mas isso não impediu que a discriminação continuasse...
– O povo élfico é um tanto problemático não? Quero dizer, se pararmos para analisar certos casos.
– Relaxe Lys. O que você disse é de fato uma verdade, e você não precisa se preocupar se nos sentimos ofendidas ou não. Pois imagino que o mesmo recaia no que se refere ao julgamento dos humanos em geral, não concorda?
– Concordo sim.
Mudamos o assunto da conversa para as festividades que aconteceriam amanhã à noite. Para tentar descobrir melhor como eram os sinais das trigêmeas, eu ativei a minha “visão” para ver se eu conseguia. Sem sucesso... Mas... Quando as três estavam perto de deixar a agua... Consegui “ver” entre as copas de algumas arvores mais ou menos longe de nós um arqueiro que pretendia lançar três flechas de uma só vez!
Agi rápido assim que ele as lançou. Ergui sem pensar duas vezes a agua, congelando-a em seguida, de modo a formar um escudo para as trigêmeas. Salvando-as das flechas que iriam acerta-las em cheio.
A minha atitude fez algumas delas gritarem. Absol, que já rosnava no instante que percebi o assassino, correu atrás dele. Alcançando-o, pelo grito de dor que ouvimos.
– O que houve?! – Lance invadia, nos fazendo ou mergulhar o corpo na agua ou agarrarmos toalhas às presas – Porque gritaram?!
– Primeiro: trate de ficar de frente para alguma parede! – reclamei – Segundo: alguém tentou matar as trigêmeas e eu impedi. Absol já pegou ele.
– Sabe muito bem que eu não me importo com o que alguém mostra ou deixa de mostrar no que se refere a um corpo. – declarou ele de braços cruzados e rosto de lado.
– Você não se importa, mas nós sim. Porque não vai procurar os outros para repassar o ocorrido ou tenta ajudar Absol?
– Acabaram as ameaças?
– Hum... – concentrei-me de modo a conferir se havia algo relevante – Não. A única ameaça que tinha é o arqueiro que Absol está segurando com as suas sombras. Ele deve estar tentando decidir para onde o levar.
– Entendo. Vou alertar os outros. Tome cuidado enquanto está sozinha. – decidiu ele, já saindo.
– EU NÃO ESTOU SOZINHA!Lance 2
Ficar de guarda na entrada é realmente tedioso. Do que me era possível ouvir, elas pareciam se divertirem na agua, me dando ideias que só seriam possíveis de executar no último horário de banho. _respira fundo_ Sozinha a Cris já costuma demorar, conversando então!... Mas quando as ouvi gritando de pavor, instantes antes do efeito da mensligo acabar, não hesitei em entrar para ver o que é que acontecia.
Não sei se tem a ver com a minha natureza, mas eu não entendo qual a preocupação de mostrar ou não o próprio corpo para os outros. Principalmente as mulheres. Se algum doente aparece, é só envia-lo para o inferno e pronto!
Ouvidas as explicações, e confirmado que não existiam mais preocupações naquele lugar, decidi ir alertar os outros já que o alvo, naquele momento, não era a minha Princesa. Um riso me escapou quando a ouvi gritando de que não estava sozinha quando eu me retirava (ela deve estar vermelhinha _risinho_).
Segura ou não, me apresei para encontrar os outros e assim voltar a fazer a guarda de minha Princesa. Os primeiros que encontrei foi o berserker com o bobo-da corte.
– Temos problemas. – fui logo falando – Tentaram matar as acompanhantes da Cris.
– Como é?!?!
– A Cris impediu e Absol está com o assassino. Todas estão fisicamente bem.
– Onde Absol está. – pedia o berserker nervoso.
– Em algum lugar lá fora. Quem é o responsável pela segurança desse lugar?
– Deixe que disso cuido eu. Volte já para junto da Cris, pois, se tentaram matar as trigêmeas, era para conseguir ter acesso ao quarto dela. Voronwe pode tentar encontrar Absol lá fora próximo às fontes ou me acompanhar se quiser, mas lembre que precisamos do cara vivo! – lembrava Ezarel ao berserker.
– Vou com você Ezarel. Não vou conseguir me conter se for atrás de Absol.
– Tchau para vocês. – declarei já voltando para junto de minha amada que, assim como as outras, já estava vestida.Nevra
Depois de um exame completo, minha bolsa de sangue acompanhada de mais algumas doações e um pouco de descanso, eu já me sentia bem novamente. Roeze, que veio me ver acompanhado de uma linda magnólia, membro da equipe de Luthien, me repassaram melhor tudo o que tinha sido preparado para a nossa estadia, as regras de funcionamento do palácio, e como seria a festa de amanhã.
Orientado sobre tudo, quis conhecer o palácio. Mas graças à minha natureza (e o meu tipo de trabalho na guarda), fui obrigado a sempre estar acompanhado de um espadachim mal encarado (eu pensei que todos os elfos eram galantes, já que nem o Voronwe tem no corpo, fora os músculos, algo que cause intimidação). Conheci todos os lugares em que a minha entrada não tinha sido barrada.
Logo pude conhecer o rei apropriadamente e seus filhos. Diante daquela camélia de múltiplas cores não consegui evitar de enaltecê-la um pouco, corando-a, e isso fez com que o rei ficasse um pouco apreensivo comigo. Diferente do príncipe, que me pareceu no mínimo curioso com a minha pessoa. Võrgutav acabou me convidando para almoçar junto dele, permitindo-me entender melhor a razão de sua curiosidade durante a nossa refeição, tínhamos um “defeito” em comum, ambos amávamos as mulheres.
Continuando a conversa até mais tarde, trocamos experiências, conselhos, e até alguns golpes de treino de batalha (além de alguns segredinhos “ousados” sobre as nossas casas). Võrgutav até pretendia me mostrar alguns desses “lugares especiais” pessoalmente, mas acabou sendo impedido pelos os seus deveres reais. Mas ele me consentiu em tentar esses lugares sozinho (e claro, prometendo me fazer por desentendido se acaso acabasse sendo pego).
O primeiro lugar que fui tentar eram as termas palacianas, por serem as mais próximas e mais fáceis de se dar uma desculpa convincente. Aguardei um pouco antes de tentar encontrar o esconderijo do príncipe e, quando fui, fiquei pasmo ao reconhecer as vozes angelicais que ouvia (se o Gelinho descobre as minhas intenções... ele me arranca a cabeça! Isso se a Cris não me castrar antes). Não me atrevi a espiona-las. Não esse grupo de mulheres! Aguardei no lugar que elas deixassem o banho para poder vislumbrar o próximo grupo, impressionado com as conversas que elas tinham, já que alguns dos assuntos eram interessantes, mas algo me perturbou.
Apesar da diversão tentadora que ouvia, consegui perceber o que parecia ser o som de um arco sendo armado um pouco mais próximo delas. Abandonei o local assim que ouvi os gritos delas e o que parecia ser alguém tentando correr do local que, pelo o que pude distinguir, acabou capturado por Absol. Avistei um par de sentinelas que passava próximo e fui alertá-los sobre o ocorrido, com um deles me acompanhando até onde Absol estava e o outro indo atrás de avisar o resto da segurança.
Ao chegar no local em que Absol segurava o criminoso, o sentinela quase que petrificou com o que vimos. O ser capturado por ele, estava totalmente envolto por uma espécie de casulo negro. Umbracinese com toda a certeza. O que me fez lembrar de uma das peculiaridades desse poder: o isolamento do mundo (será que...)
– Me responde uma coisa cara, além do quarto separado para a Lys de Eldarya, há algum outro cômodo no palácio com o mesmo tipo de barreira protetora?
– Além dos quartos da família real?
– Sim. – afirmei já erguendo o ser sobre os ombros.
– Há só mais dois lugares que eu saiba, mas porque o deseja saber?
– Tem como levarmos este ser aqui até lá dentro de um caminho sem luz para que o casulo não enfraqueça?
– Eu... Eu não sei ao certo.
– Há sim. – Võrgutav, Ezarel e mais quatro guardas se aproximavam – No entanto esses cômodos são particulares, deseja levar esta criatura até um deles por quê?
– Porque a umbracinese consegue agir de forma semelhante à aquelas barreiras alteza.
– Espere Nevra, você não está pensando em...
– Estou rezando para estar errado Ezarel. Agora... – ajeitava o ser que não parava de se remexer – Se puderem mostrar o caminho, eu agradeço.
Võrgutav ordenou aos guardas que estavam conosco que preparassem o trajeto até o quarto dele, o cômodo em que ele sentia mais segurança. Durante o nosso percurso, Ezarel explicou ao príncipe o porquê da necessidade daquela barreira em especial, deixando-o atônito em relação aos nossos inimigos. Assim que alcançamos o primeiro guarda que nos aguardava para poder reacender as luzes após nossa passagem, Ezarel questionou se não haveriam orbes feitos com flores de schmidtiana, para assim confirmamos minhas suspeitas.
– Temos sim algumas – era Luthien que passava por perto – Posso busca-las agora mesmo, mas para onde devo leva-las?
– Para o meu quarto mestra Luthien. É lá que iremos questionar o algoz da senhora e das outras. Como elas estão?
– Um pouco nervosas, especialmente as trigêmeas, o que não é para menos. Estava indo buscar algumas ervas tranquilizantes para todas quando lhes ouvi a conversa.
– A senhora pode nos entregar as orbes depois de levar as ervas mãe, ainda teremos de arrumar algumas coisas para podermos utiliza-las nessa criatura aqui. – declarou o Ezarel, apontando para o agitado sobre os meus ombros.
– Farei isso o mais rápido que eu puder. E tentem se apresar também! Corredores escuros desse jeito não são nada seguros. – ordenou ela já saindo apressada.
Também nos apresamos, pois Luthien estava coberta de razão. E se houvesse mais de um inimigo? Deixar brechas para eles definitivamente não é algo que pode fazer parte de nossos planos agora. Gastamos uns quinze minutos até o quarto, com a noticia sobre o ocorrido já tendo alcançado todo o lugar.
Já éramos aguardados no aposento que era preparado para o interrogatório, com as orbes de schmidtiana terminando de serem instaladas. Sentando o sujeito em uma cadeira, após a porta estar devidamente fechada, com Ezarel, Võrgutav, eu e mais dois elfos, sendo um deles um dos conselheiros do rei, Absol começou a remover parcialmente o seu “casulo” do individuo. E de acordo Absol ia fazendo isso, eu e o outro elfo removíamos os seus pertences com cuidado, para ter a certeza de não deixar nenhuma arma para trás.
Infelizmente, graças às orbes, conseguimos comprovar minhas suspeitas... A Ēnukungi conseguiu adentrar em Lund’Mulhingar.Cris 2
Tendo Lance caído fora depois de me irritar, todas nós nos vestimos o mais rápido possível para irmos pro meu quarto. Como uma tentativa de assassinado de gêmeos era algo completamente impensável para os elfos, as trigêmeas ficaram em estado de choque. Elas estavam acostumadas com a rejeição de alguns mas, por causa das superstições, nunca ninguém se atreveu a agredi-las, o que dirá mata-las. Cada uma de nós, Anya, Luthien e eu, precisou ajudar uma das gêmeas a se vestir.
Lance chegou na hora que saíamos do vestiário. Disse já ter repassado o ocorrido para o Ezarel e o Voronwe, deixando tudo nas mãos deles. Luthien decidiu ir atrás de algo para acalmar os nervos e seguiu um caminho diferente do nosso.
Já no meu quarto, sentamos as elfas no sofá que serviria de cama para o Lance, e tentávamos conversar com elas. Luthien chegou com alguns chás de ervas um tempo depois e, após muita conversa e afeto, as três acabaram adormecendo em minha cama (que por sinal tinha o formato de uma grande flor redonda, abrigando três pessoas sem nenhum problema).
– Eu até que lhe sugeriria a passar a noite comigo já que elas lhe ocuparam a cama, mas não tenho certeza se essa seria de fato uma boa ideia...
– Não se preocupe Luthien. Me viro em qualquer canto desse quarto, e elas precisam de um local seguro tanto quanto eu depois de hoje.
– Quem tentou fazer isso com elas é maluco. Ou então suicida. – declarava a Anya.
– Espero que meu filho e os outros descubram tudo o que tiverem de descobrir com o responsável. E rezo aos deuses que ele seja o único estraga festas.
– Espalhem luzes de schmidtiana no palácio. – sugeria o Lance – Com sorte ou azar, descobriremos se há mais.
– E porque mesmo que essas luzes são importantes?...
– É porque Luthien, todos os membros do grupo que me deseja nas mãos, possui uma tatuagem em alguma parte do corpo que só se torna visível se exposta a luz dessas flores. Pelo menos foi o que eu soube!...
– Compreendo Lys. – minha barriga acabou reclamando _corada_ – Suponho... Que já esteja até mesmo passando da hora do jantar. Pedirei que tragam o seu e de seu guardião para cá, Anya vai querer comer com eles ou irá me acompanhar no intuito de mostrar ao seu pai que está bem?
– Vou com a senhora. Meu pai deve estar um tanto preocupado.
– Certo. Vamos indo? – disse ela já se encaminhando para a porta.
– Peça para Absol vir. Não me sinto seguro com nós dois longe dela. – pedia o Lance me apontando com o polegar.
– Farei isso. Imagino que me esteja pedindo isto não só para poder higienizar-se como também para saber mais sobre quem nos atacou.
– Exatamente senhora.
Luthien sorriu e deixou o quarto junto de Anya. Como as minhas acompanhantes dormiam em minha cama, Lance e eu começamos a conservar em voz baixa.
– Você dorme no sofá, e deixa que eu me ajeito no chão ou em sei lá onde. Meu único lamento é não poder ficar sem essa armadura para ficar mais confortável.
– E porque não pode tirá-la? – ele apenas me indicou as elfas adormecidas – Oh... Bom... Que tal usar o roupão que me foi oferecido? – questionei ao vê-lo enquanto vagava com os olhos pelo quarto – Ele é longo, tem mangas compridas e capuz também. A única coisa que não vai dar para ficar sem é a máscara.
– Não é má ideia, mas e se alguma delas despertar enquanto me troco?
– Podemos aguardar Absol ou improvisar uma cortina!
– Improvisar a cortina me parece mais fácil.
– Estamos combinados sobre a armadura então.
– Só sobre a armadura?
– Quero atenção... – falei da forma mais infantil que pude.
– E o quê que a minha “princesinha” quer dizer? Que eu a deixe usar meu colo de travesseiro ou algo assim?
– Acho que dessa forma ficará mais confortável, do que de qualquer jeito chão... – comentei pensativa – E o abraço de mais cedo não estava tão agradável quanto eu gostaria... _voz triste_ Culpa justamente dessa armadura aqui! – terminei de falar batendo o indicador no peitoral dela.
– Tem certeza que não é uma desculpa para ficar colada em mim? – era notável que ele sorria por trás daquela máscara.
– Não sabia de que precisava de desculpas para ficar “próxima” de você. – declarei de braços cruzados e lhe dando as costas.
– Não fique zangada... – ele me abraçava por trás – Apenas não quero acabar a colocando em situações “perigosas” enquanto estivermos nesse reino.
– O perigo pode querer me rodear em qualquer lugar. Seja na Terra ou em Eldarya.
– Ladina...
Encerramos a discussão ali, pois Ezarel me batia a porta trazendo Absol, e Luthien, acompanhada de um outro elfo, trouxe uma bandeja cada um quando Ezarel estava prestes a ir embora. Lance preferiu se banhar primeiro e eu optei por espera-lo para comer. Mas eu quase não aquentei espera-lo... Tive de aguardar quase uma hora pelo o seu retorno... (mas o que é que ele tanto ficou conversando?). Após a refeição, ajudei Lance a retirar a armadura e nos ajeitamos mais ou menos no sofá. Utilizamos os travesseiros extras da cama para criar um apoio melhor para o Lance que ficou sentado no sofá, e eu me ajeitei deitada em seus braços para dormirmos.
.。.:*♡ Cap.132 ♡*:.。.
Ezarel
Esse dia está mesmo me saindo algo preocupante. Ele me começou desagradável por conta da reunião com os nobres; ficou divertido com a defesa da Paladina e o aparecimento de Absol; curioso ou quem sabe receoso durante o passeio para se conhecer o palácio (eu não sei quem iria resistir mais, o príncipe ou os guardiões dela); intrigante com o aparecer da Emiery dizendo ter adquirido uma doença desconhecida; passivo até o retorno da Paladina e toda a sua corte do passeio da cidade; suspeito, depois de observar a reação da Cris ao finalmente nos encontramos com o pérfido do Ondabrar; tedioso enquanto não era servido o jantar após ter sido largado pelo Conselheiro do Inferno; e assustador com a noticia que o Gelinho repassou para mim e para o Voronwe, com quem conversava sobre a reação da Cris na tentativa de reduzir o tédio.
Mandei ele voltar pra juntos das garotas e arrastei Voronwe comigo até o lugar onde imaginava poder encontrar o rei Eru naquele momento. Para a minha sorte, não só encontramos o rei, como os seus conselheiros e chefes de guarda estavam junto dele.
– Alguém tentou o quê?!?
– O que ouviu majestade. Tentaram contra a vida das trigêmeas durante o banho com a Lys de Eldarya impedindo o desastre e seu black-dog capturando o responsável e aguardando com ele do lado de fora. Isso foi tudo o que o guardião misterioso da Lys nos repassou antes de voltar para junto delas.
– Mas isso é inadmissível! Permita-me majestade organizar uma varredura por todo o palácio e depois na cidade.
– Faça-o capitão. E não deixe de averiguar um centímetro que seja de Lund’Mulhingar. – o capitão assentiu e saiu apressadamente do aposento – Filho, vou pedir para que você acompanhe Ezarel, junto de alguns guardas, até lá fora para se encontrarem com Absol e tragam o pecador para ser devidamente interrogado.
– Com sua permissão majestade, gostaria que me permitisse participar do interrogatório, já que faço parte de uma das áreas militares.
– Tem o meu consentimento Ondabrar. Prepare tudo para o inquérito e tome nota de tudo que considerar crucial para a nossa segurança.
– Bom, se nos derem licença, preciso guiar Ezarel e alguns guardas até a área externa das fontes, onde provavelmente Absol está nos aguardando. – declarou Võrgutav em meio a uma reverência.
Ele chamou alguns dos guardas que estavam presentes e saímos atrás do lugar por ele mencionado. Voronwe acabou por acompanhar Ondabrar, mais para ficar de olho nele do que para ajuda-lo uma vez que a nossa conversa fez aumentar a desconfiança que ele tinha do conselheiro.
Chegando no lugar, fiquei impressionado com a forma com que Absol capturou o meliante, e eu duvido que a presença de Nevra naquele lugar seja uma mera coincidência. Ainda mais depois de ficar sabendo que ele e o príncipe ficaram consideravelmente amigos durante o dia após Võrgutav se separar de nós no campo de treinamento.
A hipótese que Nevra levantou foi o que realmente me deixou sério sobre o que acontecia. Quero dizer, me preocupei sim quando o Gelinho nos deu a noticia, mas eu esperava que aquilo fosse alguma tentativa de nos expulsarem de Lund’Mulhingar, e não o pessoal de Apókries perseguindo a Cris (mas que gentinha irritante!).
Já que o príncipe havia mandado os soldados que nos acompanhavam antes a correrem para fazer o que Nevra pediu, tive de aguardar até encontrarmos novos guardas para solicitar as orbes de schmidtiana, e acho que eles só as tem por causa das cartas que troquei com a minha mãe, pois me lembro muito bem de ter comentado em uma delas que precisei criar aquelas orbes para “iluminar” parte de nossos problemas.
Acredito que alguém convenceu minha mãe a entregar as orbes por ela, ou de jeito nenhum que elas conseguiriam chegar antes de nós ao quarto do Võrgutav. E quase não consegui evitar de sorrir ao ver que o Ondabrar estava incomodado por ter que fazer o interrogatório naquele cômodo ao invés da sala que ele normalmente usa (ele sempre foi um pouco sádico com quem interrogava naquele lugar com a ausência da realeza, mas aqui, com o príncipe do lado, ele teria de colocar o seu “divertimento” de lado).
– Muito bem Absol, já pode começar a tirar as suas amarras dele. Mas faça devagar para que possamos desarma-lo e conferirmos se ele de fato faz parte ou não do grupo “dor-de-cabeça”. – pedi a ele após Võrgutav trancar a porta do quarto.
Absol o fez aos pouquinhos. Liberando primeiro as áreas de seu corpo que tinham armas para depois os seus trajes para que as orbes fossem realmente eficientes, parando quando a imagem apareceu. O símbolo dele estava nas costelas, na região abaixo do braço esquerdo (como foi que essa praga entrou?), mas o que surpreendeu mesmo, foi o fato de nos darmos conta que aquele ser era um natlig!
– Tem como esse black-dog remover logo as sombras da boca para que possamos fazê-lo beber uma poção de indução da verdade?
– Uma poção de indução, Ondabrar?! Trouxe algo muito melhor comigo ex-sócio... – falava já mostrando o frasco que havia trazido comigo.
– Ei Ezarel, esse não é o seu frasco. Este seria um dos frascos extras? A Miiko está ciente disso?
– Tá sim Nevra. Conversei por quase duas horas com ela para conseguir o consentimento dela para trazer uma de presente para o meu pai, que infelizmente está em missão fora do reino.
– E o que é isso Ezarel?
– Uma poção da verdade alteza. Uma legítima e 100% funcional.
– Impossível! Eu não acredito.
– Pois comprove com seus próprios olhos e ouvidos, senhor conselheiro. – declarava o Nevra sorrindo e terminando de retirar a última lâmina daquele desterrado.
Absol estava mantendo os olhos, ouvidos e boca do cara bloqueados o tempo todo, com o Nevra e um guarda o amarrando de acordo era limpo e liberado da sombra de Absol (ter esse black-dog como inimigo é uma péssima escolha). Pensei em fazer o cara tomar da poção em estado puro mesmo, duas gotas seriam o bastante, e foi Absol quem ajudou a fazer aquele cara abrir a boca para derramar a poção.
– Muito bem,... – Võrgutav começava depois de Absol recolher todas as suas sombras – ...quem é você e porque tentou matar as trigêmeas?
– Llofrudd. Queria apenas facilitar o meu acesso à Lys de Eldarya.
– Acaso se esqueceu das consequências de se matar um gêmeo?! – perguntava indignado o Ondabrar.
– Refere-se à asneira de luz e sombra que vocês vivem pregando?! Rá! Eu também sou um trigêmeo! Eu não provei nem da sorte e nem do azar quando meus irmãos morreram! E com quase dez anos de diferença entre as mortes deles! Sofremos o inferno com essa baboseira toda e por quê? Por causa de um bando de ordinários covardes preconceituosos!
– Sua raiva é compreensível. – intervia o Nevra – Mas não esclarece suas ações. Não por inteiro, pelo menos. Como que conseguiu entrar em Lund’Mulhingar? Veio sozinho?
– Cruzei a floresta como os elfos fazem, e eu estou soz... so...
Enquanto os outros pareciam não entender o que acontecia, inclusive o Llofrudd, Nevra e eu nos entreolhamos. – Há outros membros da Ēnukungi infiltrados em Lund’Mulhingar? – questionei.
– Sim. _confuso_ Espera, sim??? Eu respondi sim por quê? Era para eu ter sido enviado sozinho!
– Já, já te explicamos. Agora... São muitos ou poucos os seus “colegas” que estão dentro do reino?
– Poucos. _refletindo_ Isso é consequência do que me fez engolir por acaso?
– É mais ou menos de cinco? – perguntou Nevra ignorando o cara.
– Menos. O que vocês me fizeram beber? E é algum tipo de barreira o que está me mantendo vivo até agora?
– Repita as suas dúvidas para si mesmo e irá descobrir. – sugeri ao homem que acabou acatando, ficando claramente surpreso por responder a si mesmo (com os demais presentes ficando igualmente pasmos).
– Ei Ezarel,... – me cochichava o príncipe em um canto – ...como conseguiu descobrir essa poção? E o quão confiável ela é?
– É uma curiosa, longa e perigosa historia alteza, e como eu disse antes, ela é 100% confiável. Eu mesmo já fiz vários testes incontestáveis.
Continuamos interrogando o Llofrudd, e não só descobrimos toda a sua historia (um irmão morreu assumindo o lugar do pai na guerra de uma outra cidade élfica longe dali, fazendo com que o preconceito sobre ele e a irmã dobrasse de peso, e que ela morrera se sacrificando para salvar a vida de uma criança que estava prestes a ser esmaga por uma rocha solta, resultando no banimento dele da cidade ao constatarem que a boa sorte não o rodeava e, após chegar em Apókries, aceitou fazer parte da Ēnukungi pela promessa de vingança), como também que todos os ataques lançados à Paladina desde o “recuperar” da saúde dela eram autônomos em relação ao mestre deles, uma vez que Melídia o ordenou a deixar a Paladina e os demais aengels e dragões em paz (bem que eu achei as últimas tentativas em Eel um tanto fracas se comparadas às primeiras).
Encerradas todas as perguntas possíveis, e sem nos esquecermos da garantia de morte do Llofrudd caso ele deixasse a proteção da barreira (Ghadar só começou a morrer dentro do quarto naquele dia porque a barreira da Paladina estava danificada, se não fosse por isso teríamos arrancado mais informações daquele cara), ficou decidido que Võrgutav passaria a noite em outro aposento para caso tivéssemos novos questionamentos para o assassino.
E eu não sei o que parecia irritar mais o Ondabrar, o fato de que ele não tinha como “maltratar” aquele desafortunado com o seu “interrogatório”, ou o fato de eu ter ao meu dispor uma poção da verdade verdadeira.
Nevra, Võrgutav e eu deixamos o Llofudd sob os cuidados dos guardas e nos dirigimos até o rei para repassar nossas descobertas e para eu explicar detalhadamente sobre o funcionamento da poção que trouxe para Lund’Mulhingar.Ondabrar
Até onde esse pessoal de Eel irá me irritar? E eu não esperava que pudesse existir “falhas” na segurança do reino (natligs nojentos) e aquele elfo desprezível que já tive o desprazer de chamar de sócio, ainda me arranca a oportunidade de descontar o meu estresse. E usando por cima uma poção que nem devia existir!
Era impressionante a efetividade daquela poção, e pelo o que pude entender do comentário do vampiro, Eel parece ter um pequeno estoque daquela poção perigosa, militarmente falando (será que aquele é o único frasco com eles?).
Mas o que me irritou mesmo, foi o vislumbrar do emblema do grupo que persegue aquela humana intrigante. Eu realmente não esperava vê-lo outra vez...
Me contive, pois não podia correr o risco de acabar tendo os meus planos comprometidos. Aguardei pelo momento que o tal do Llofudd ficasse sozinho para poder conseguir prevenir alguns incômodos. Fui para o meu quarto na intenção de pegar algumas poções particulares e retornei para o ex-aposento do pirralho. Fiquei observando de longe, pois tinha de conseguir ficar sozinho com aquele ser. Fui paciente, e quando eu vi o último guarda que estava presente no aposento durante o interrogatório sair, aproveitei minha chance.
Para que os outros pudessem entrar e sair do quarto sem problemas, uma segunda barreira foi colocada ao redor do exilado, e eu só precisei dar a desculpa de que havia dado falta de um pertence importante e que desejava averiguar se o mesmo teria caído no quarto. Conseguida a permissão, onde entrei sozinho, primeiro encarei aquele ser por um momento. Com repugnância. Travei a passagem da porta para ninguém interromper e inalei uma das minhas poções especiais.
Removi aquela segunda barreira e, graças ao efeito de minha poção, ergui silenciosamente a cadeira com o ser até próximo de uma das janelas. Terminado o reposicionamento, com aquele futuro cadáver me questionando o que eu pretendia, utilizei de um amuleto especial (e extremamente raro) para poder abrir a janela sem sofrer danos.
– Sararm? – falei rápido para conseguir passar meu recado, com aquele coitado diante de mim ficando sem entender – Se realmente for você por trás dos olhos e ouvidos desse natlig diante de mim, devo acreditar que o controle por veneno não foi a única magia negra que você dominou e aperfeiçoou. – Llofudd continuava não entendendo, mas ficou calado dessa vez – Passaram-se o quê? 200 anos desde o seu banimento do Conselho de Magos que hoje não existe mais? Imaginei que fosse você assim que vi o seu símbolo tatuado na pele desse coitado. Aquele a quem eu fui o único que você mostrou antes de decidir como nomear o grupo que você planejava criar, antes de ser banido por pesquisa e uso de magia negra.
– Você e o mestre se conhecem?
Ignorei o verme e continuei falando com Sararm – Soube que você tem planos para os dragões e aengels de Eldarya... Incluindo aquela humana que foi absurdamente intitulada de “Lys de Eldarya”, e também que as atuais tentativas de rapto dela foram idealizadas pelos seus e não por você especificamente. O que... Acredito ser o suficiente para saber que você ainda está respeitando aquele acordo que fizemos no passado, quando educadamente me recusei a fazer parte do seu grupo, hoje chamado de Ēnukungi.
– O que exatamente você quer repassar para o Mestre?
Se Sararm ainda for o mesmo que me lembro, ele também deve estar ficando impaciente – O nosso acordo era: eu não interferiria em seus planos, e nem você nos meus. Lamento até hoje o descuido daquele seu assistente que desencadeou a sua expulsão do Conselho... Mas, sabe Sararm, suas crianças estão querendo bagunçar em meu quintal! Labutei muito para conseguir parte do que desejava, porém, se seus pirralhos continuarem fazendo baderna na minha cidade, corro o risco de perder o pouco que conquistei.
– Acaso o que você quer é que o Mestre ordene o afastar dos nossos de Lund’Mulhingar? – ao menos o exilado não é tão tolo assim.
– Exatamente rapaz. E então Sararm? Tem como Lund’Mulhingar amanhecer livre de todos os seus? Ou será que eu devo considerar isso a quebra do nosso velho acordo e, o consentir para eu deixar escapar algumas informações sobre você e o seu grupo? Acha que eu não sei em que lugar de Apókries você habita agora? Eel pode ser um inimigo no mínimo complicado, mas você não tem ideia do poder bélico que Lund’Mulhingar possui. Será que o seu grupo é forte e inteligente o suficiente para continuar existindo após um ataque nosso?...
– Você está ameaçando a Ēnukungi?!
– Estou alertando. E preciso avisar também que o pessoal de Eel conseguiu criar uma poção da verdade. Você Sararm pode não a ter visto em ação, já que há barreiras capazes de romper temporariamente sua ligação com seus fantoches... – o natlig ficou claramente ofendido, como se eu me importasse – Mas eu testemunhei claramente o poder assustador dessa poção. Sua gente que o diga. O rapaz aqui por exemplo, não teve a menor chance contra a poção. – me pus a encarar o céu noturno por um instante – Acho... Que isso é tudo o que eu tinha para dizer até agora... E o que me diz, caro Sararm? O que pretende fazer?
Imediatamente após minha pergunta, o natlig começou a ter um ataque convulsivo, e decidi compreender isso como o acatar de minha solicitação. Deixei falsas pistas no quarto para justificar a morte daquela criatura de modo a ocultar o meu envolvimento. Construí uma ilusão temporária para que demorassem para perceberem a morte do inútil, e não menti aos guardas para justificar minha demora no quarto. Sobre eu ter conversado um pouco com quem estava no quarto. Indo direto repousar em meus aposentos.Sararm
Detesto quando perco a ligação com os meus membros. Dificilmente dá para saber se foi proposital ou não. E fico temeroso quando isso ocorre após uma falha. O tjenerlenke, como resolvi nomear o encantamento que funciona como uma ligação serviçal, me permite ver e ouvir tudo o que aqueles que aceitaram se submeterem ao julgamento do veneno, ou seja, posso saber tudo o que acontece com aqueles que aceitaram ter as suas vidas em minhas mãos e ainda elimina-los caso fizessem ou dissessem algo que eu não admitiria. O único defeito deste encantamento, é que eu só posso saber isso ou liberar o veneno se o portador estiver consciente e/ou dentro do meu alcance, onde só uma barreira de pleno isolamento é capaz de me cortar.
Já estava impaciente pelo reaver do contato com o 97 quando finalmente obtive a reconecção. Estava prestes a me livrar dele, mas...
– Sararm... – me impedi no mesmo instante que ouvi o pronunciar de meu nome (não são muitos os que o conhece).
Através das informações que recebi por meio do 97, logo entendi que quem estava falando com ele, ou melhor, comigo, era o Ondabrar. Aquele elfo calculista estava em Lund’Mulhingar? Com tantas cidades élficas por aí?! Mas essa descoberta não foi de tudo ruim, Ondabrar acabou me repassando informações preciosas demais para ignorar o seu pedido de ordenar a retirada dos que estavam infiltrados. Sem falar, que ter dados sobre mim espalhados é completamente desagradável.
Assim que Ondabrar terminou de dizer o que queria, dei fim à vida do 97 e comecei a escrever uma carta para aquele velhote. Além de chamar Eralco.Lance
– Ela disse o quê!?! – espantava-se o bobo-da-corte que se banhava junto de mim e do sanguessuga, após eu terminar de contar tudo o que a Ladina conseguiu descobrir, depois deles me repassarem sobre o interrogatório.
– O que ouviu. Que o nosso amiguinho Ondabrar está com o fragmento relatado pelos springgans dentro do corpo! E que provavelmente também é o responsável pela “doença” da sobrinha dele.
– Eu até que tentei saber sobre o fragmento com o Võrgutav enquanto conversávamos, depois que vocês me contaram. Mas ou realmente ninguém sabe da existência desse fragmento no reino, ou eles sabem esconder muito bem essa historia. – comentava o sanguessuga.
– De qualquer forma, tudo o que a Paladina descobriu em um único dia já é muito com o quê trabalharmos. E conhecendo Ondabrar como conheço, é quase certeza que ninguém esteja sabendo desse fragmento dentro dele. E isso é certo! Seja lá o que for que aquele Conselheiro do Inferno esteja aprontando, coisa boa que não é.
– E também precisamos obter provas físicas sobre o assunto se quisermos fazer essas acusações...
– Tem toda a razão Nevra! Porque sem isso, aquele miserável vai tentar jogar a culpa para cima da gente sem sombras de dúvida. A Paladina não trouxe nada em que possa nos ajudar não?
– Além das sanas clypeus, ela também trouxe um pouco da Norns Visdom dela e o aparelho celular com o carregador. Talvez possamos armar algum tipo de emboscada para desmascara-lo.
– Mas teríamos de planejar isso com cuidado guardião. O que você sabe sobre o Ondabrar que nos poderia ser útil Ezarel?
– Deixe-me ver... Ele é fraco contra o álcool. Evita de beber ao máximo quando em público, mas quando de folga passa o dia no quarto para beber seu licor favorito sem incomodar ou ser incomodado. E pelo o que eu soube, quando bêbado, ele pode até mesmo causar uma guerra que não se lembra de nada quando volta a ficar sóbrio.
– Descubra que licor é esse. Interroga-lo bêbado e sob o efeito da poção da verdade pode nos ser uma ideia.
– Você tem certeza? – questionei – Para usar isso teríamos de convencê-lo a beber acompanhado. E não creio que ele aceitaria a companhia de qualquer um para fazê-lo. Sem esquecer que não conhecemos o comportamento dele quando embriagado.
– Bom ponto a considerar. Vou ver se consigo obter informações com a minha mãe e alguns conhecidos que o despreza tanto quanto eu. Também teremos de conversar com os outros sobre o assunto. E eu que pensei que não teríamos de nos preocupar com Apókries dentro de Lund’Mulhingar...
– Ao menos descobrimos que os últimos ataques feitos foram independentes! Já que o mestre deles foi ordenado a esperar por nós.
– O que é mais um motivo para replanejarmos essa viagem do solstício. Não gosto da ideia da Ladina estar se entregando de bandeja, bem dizer, para aquele miserável. – comentei irritado.
– E como foi mesmo que você conseguiu prevenir aquele desastre no aniversário dela?
– Já lhes disse que não tenho como explicar. Agora se me dão licença, além de eu já ter me demorado demais com vocês, ainda tenho que dar um jeito em minha armadura para não ter de ser obrigado a utilizar outra coisa durante a festa amanhã. – falei já me erguendo da agua – Amanhã ou depois discutimos sobre o velhote e o que faremos com ele. – e saí o mais discretamente possível sem dar muita atenção a eles.
Ficar longe da Ladina com um ser como aquele contaminado solto por aí e com sabe-se lá quantas pragas mais nos rondando, não me acalmava nem um pouco. Ela podia estar dentro de um espaço seguro e com o black-dog do lado dela, mas eu ainda me sentia desconfortável. Talvez possa ser culpa da armadura, limitando levemente meus movimentos por conta da sujeira entre as articulações, ou só o meu nervosismo mesmo pois, assim como o alquimista mencionou, não esperávamos que os insetos apokrienses aparecessem no reino élfico.
Retornei para o quarto em passo acelerado, e quando cheguei, reparei que ela não havia comido ainda e estava a brincar com o black-dog.
– Ficou me esperando por acaso? – perguntei em voz baixa para não acordar as elfas que continuavam dormindo.
– E já estava me arrependendo disso. Porque demorou? Terá de esquentar/gelar o jantar agora.
– Me desculpe. – pedi já “consertando” a comida – A conversa entre mim e os líderes acabou demorando um pouco.
– Sobre o que conversaram?
– Sobre o interrogatório do assassino e o quê você viu hoje. Combinamos de conversar melhor sobre isso com todos amanhã ou depois.
– Me repassa tudo o que vocês falaram, vai. – pediu-me ela já começando a comer.
Fiz o que ela pediu, contei tudo o que havíamos conversado entre nós três durante a refeição e ela pareceu apenas pensar no assunto. Acabada a comida, fizemos nossas higienes e ela me ajudou a remover a armadura já ajeitando tudo para que pudéssemos limpa-la amanhã.
Com o amanhecer de um novo dia, não sabia bem como me erguer sem despertar a minha Princesa, pois tinha de cuidar e vestir minha armadura antes que as elfas acordassem.
– Sabe que se eu ajudar vai ser mais rápido, não é? – ela ainda mantinha os olhos fechados.
– Desculpe se a acordei.
– Elas continuam dormindo? – erguia-se ela devagar.
– Estão. – respondi sem me erguer e encarando-as na cama – E espero que elas continuem assim até eu estar pronto, pelo menos.
– Ontem foi um dia puxado para todo mundo, e elas beberam umas seis xícaras cada uma daquele chá tranquilizante. Não creio que elas acordarão cedo mesmo se tiverem esse costume.
– Tudo bem Ladina. _selinho_ Só vou fazer alguns exercícios rápidos antes, e depois... Me ajuda com a armadura, por favor?Nessa
Ser trigêmeo na atual sociedade élfica sempre foi algo difícil para mim e minhas irmãs. Desde a nossa infância, todos tentavam manter distância de nós por causa das superstições sem sentido que os antigos criaram. Toda e qualquer criança que tentava se aproximar da gente era imediatamente afastado de nós por seus responsáveis (que sempre nos encarava com um olhar desdenhoso que nos machucava mais do que se algum deles nos jogasse uma pedra, por exemplo).
Relacionamentos amorosos... Sem possibilidade. Ninguém queria que nós três ficássemos separadas e, consequentemente, nenhum rapaz queria ter a companhia de duas de nós enquanto falasse com a que lhe interessava. E se nos afastássemos um pouquinho só uma das outras, todos fugiam de nós como se tivéssemos algum tipo de doença extremamente contagiosa. É sempre horrível.
Apesar de todos os males, ninguém se atrevia a nos maltratar propriamente tido. Elas nos feriam com seu desprezo e o seu medo, mas nunca nos ofendiam ou agrediam. Principalmente com o conhecimento das ações de nosso progenitor. No entanto, sermos alvejadas por algum assassino nos chocou. Eu não sei quanto à Estel e à Calen, mas eu me sinto um pouco confusa sobre o que sentir depois do ocorrido.
Eu fiquei assustada, não nego, mas... A pessoa que tentou nos tirar a vida sabia das superstições sobre nós? Ele estava as levando em consideração ao tentar acabar com nós três ao mesmo tempo ou simplesmente não ligava para isso? Na possibilidade de esse ser não estar nem aí para essa bobagem de sombra e luz, eu deveria ficar feliz por ser tratada como uma simples elfa qualquer? Que é o quê eu sou? Espero poder ter a chance de falar com o responsável por aquilo...
Entre nós três, eu sempre fui a que tem o sono mais leve. Não importa se nos derem a mais forte das poções do sono ao mesmo tempo, eu sempre sou a primeira a acordar. Tanto que eu sou o despertador natural das minhas irmãs e, assim como eu sou a de mais leve sono, Calen é a que dorme mais. Pra dizer a verdade, é mais fácil acordar um beriflore do que acordar a Calen, mesmo com a Estel me ajudando. O que me faz lembrar... Onde foi que nós três dormimos mesmo?
– Aqui. Segura isso para mim. – comecei a ouvir um homem falando baixo (espera, foi no quarto da Lys que a gente dormiu!)
– Devíamos ter começado mais cedo. Isto aqui vai dar trabalho! – reconheci a voz da Lys falando baixo (é com o guardião dela que ela está falando? Sua voz está muito diferente!)
– Verdade e temos que limpar isso rápido. Ainda bem que você me convenceu a deixa-la me ajudar. – (acho... que ele deve estar falando da armadura...)
– Eu já imaginava que limpar esse tipo de coisa era trabalhoso, mas nem tanto.
O ouvi rindo e depois eles ficaram quietos. Não sabia ao certo se eu me erguia e os ajudava também ou se eu continuava com os meus olhos fechados, deitada na cama.
– Ladina, pode pegar o meu caderno de notas sobre essa armadura? Deixei-o junto de seu celular na bolsa. – (celular?) – Quero adicionar mais algumas coisas para aquela felina.
– Claro. Só um minuto.
Comecei a me sentir mal por ficar deitada na cama que nem era minha ao invés de fazer meu trabalho, o de ajudar a Lys no que ela precisasse. Foi então que decidi me erguer para ajuda-los, mas... Petrifiquei com o que eu vi. Ele estava de costas, mas estava quase nu!
A Lys foi a que me notou primeiro e correu para fazer aquele homem de pele morena com algumas cicatrizes, cabelos brancos e corpo definido, ocultar o seu rosto, que ainda não tinha visto, com a máscara (bem que ela comentou no banho que ele não se importava de exibir-se).
– Que isso Ladina!? Porque o desespero?! – eu não sabia bem o que falar, mas como a Cris não parava de me encarar (provavelmente assustada) o guardião dela resolveu olhar para trás, ficando de pé assim que me viu desperta – Há quanto tempo está acordada? – sua voz soava fria.
– Me... me desculpem. _corada_ Eu... lhes ouvi conversando, imaginei que fosse por causa da armadura, e...
– Será um problema se ela revelar a alguém sobre a minha aparência física. – declarava ele vestindo o roupão com capuz – O que fazemos com ela? – comecei a sentir medo.
– Não faremos nada. Tenho certeza que ela é capaz de manter segredo sobre isso, pois já deixamos bem claro para ela e as irmãs o porquê de você se esconder totalmente com essa armadura. Não estou certa, hãm...
– Nessa. E sim Lys, não intenciono dizer nada sobre a aparência física dele. Isso seria contra o compromisso que assumi ao aceitar esse trabalho e... Sinto muito por essa situação. Se eu não tivesse adormecido aqui...
– Não esperávamos que alguma de vocês pudesse acordar tão depressa...
– Acordando rápido ou não, ainda não confio nela. Pelo o que me foi tido, nenhuma das iscas para despistar as pragas se parece comigo, tirando a altura e o porte.
Comecei a me preocupar. Posso não ter visto tudo (apesar de ter visto muito mais do que gostaria), mas ele definitivamente não é um elfo, e sinto calafrios sempre que recordo das coisas que ele fez só para proteger a Lys – E se eu revelar um segredo meu? Como compensação?
– Que tipo de segredo? – perguntava a Lys.
– Deixe eu ver... A guardiã da barreira desse quarto. Ela é aquela que possui a marca de nascença em forma de flor. – (no caso, eu)
– Só isso? Não sei se é uma troca justa... – (mas que rude!)
– Isso é informação suficiente sim senhor! Ela viu o seu corpo, não o seu rosto. Sem falar que eu mesma já me impedi de pronunciar o seu nome umas mil vezes, só ontem! Tudo o que ela poderia repassar para alguém são pistas, assim como ela acabou de nos fornecer. Então larga de ser mala e vamos logo terminar com essa armadura antes que tenhamos novos problemas! – ordenava ela ao seu guardião com uma autoridade que eu não sei onde foi que eu já vi.
– Tudo bem. Deixarei esse assunto para lá. – o guardião ainda me pareceu contrariado – Mas mesmo que tenhamos mais um par de mãos trabalhando, não acho que iremos conseguir terminar depressa. – reclamou pegando uma das braçadeiras, o que me fez me lembrar de uma coisa.
– Acho que sei como facilitar e muito a limpeza de sua armadura guardião.
– E como seria?... – ele fingia não se interessar.
– Calen. – comecei a chama-la – Calen acorda! – ô criatura trabalhosa... – Anda logo sua beriflore, tem trabalho para você!
– Hum... Mais cinco minutinhos vai...
(Que Arianrhod me forneça um pouco de sua paciência...) – Levanta Calen! Preciso que você me traga aquela poção especial que você desenvolveu para limpar metais e gemas preciosos!
– Aquela que eu uso para limpar as coroas reais? Pra quê que você a quer agora?
– Para a armadura do guardião da Lys. Esqueceu que é hoje o festim? Ele vai precisar dela muito bem limpa e apresentável hoje, então vai já buscar aquele seu estoque guardado sei lá onde em nosso quarto.
– Nosso quarto?? – agora ela erguia a cabeça do travesseiro – Pelos deuses! Dormimos no quarto da Lys.
– Sim, dormimos. O que faz de nossa obrigação para com eles também um agradecimento e um favor. Agora vai enquanto chamo a Estel para ajudar também.
– Estou indo... Estou indo. – disse ela com a sua “boa vontade” matutina de sempre – (essa beriflore... Nem parece que é uma excelente alquimista)
Chamei Estel e ela logo começou a ajudar. Enquanto eu arrumava a cama, ela foi buscar o café da manhã, e nesse meio tempo, a Lys, seu guardião e eu concordamos em manter sigilo sobre a troca de informações que acabamos fazendo.
.。.:*♡ Cap.133 ♡*:.。.
Cris
Calen e Estel chegaram bem dizer juntas. A poção trazida pela Calen precisava ficar alguns minutos sobre a sujeira para fazer efeito, então fomos todos comer. Quando terminamos, Lance pareceu consideravelmente surpreso com a eficácia da poção da elfa, tanto que acabou pedindo a fórmula à ela para quando tivesse que limpar a armadura novamente.
– Obrigado. – Lance acabou dizendo e chamando a atenção de todas nós que limpávamos cada uma, uma peça metálica.
– Pelo o quê guardião?
– Por me ajudarem com a armadura. Se não fosse pela poção da dorminhoca e por todos esses pares de mãos, eu não estaria nem na metade da limpeza.
– Nós é que ficamos gratas por poder ajudar, afinal... Graças a nós você e a Lys não devem ter tido uma boa noite.
– Eu não teria tanta certeza minha cara. – acabei comentando – Nós dois conseguimos nos virar muito bem para dormirmos. Melhor do que os acampamentos da viagem até aqui.
– Após concluirmos com a armadura, nos podemos começar a escolher o seu traje de festa Lys. Temos alg...
– Sinto interrompê-la Nessa, mas eu já tenho um traje completo para esta noite.
– Traje esse que nem eu sei como é. – sussurrava o Lance.
– Quero fazer surpresa sobre ele! Inclusive de você.
– Mas... A viagem não terá amassado a roupa? Não é melhor a conferirmos antes de dar a hora de arrumar-se?
– Talvez sim, mas... Como eu disse, quero fazer surpresa até mesmo do Gelinho. E ele ainda não pode deixar o quarto para podermos mexer na roupa.
– Eu já acabei a peça em que trabalhava. – declarou a Estel apoiando o pedaço dela onde o pegou – Vou atrás de um manequim para podermos ajeitar o traje secreto depois que seu guardião ficar do lado de fora do quarto. Não me demoro. – terminou ela já atravessando a porta.
– Vão me expulsar daqui?!
– Vai ser só enquanto fazemos os preparativos guardião. Depois que terminarmos de ajeitar tudo, você volta a poder entrar no quarto. – falava Calen.
– E com um manequim nos auxiliando, podemos esconder a roupa com um lençol grande ou as cortinas do quarto. – completava a Nessa – Também terminei a peça em que trabalhava, vou até a lavanderia buscar algumas ferramentas para o caso de termos de desamassar a roupa. Volto logo. – e Nessa saía da mesma forma que Estel.
Calen, Lance e eu ficamos em um silêncio meio desconfortável. Absol continuava dormindo, não o vi acordar em momento algum desde ontem à noite. Sendo que ele havia adormecido sobre as minhas pernas, substituindo as cobertas uma vez que Lance me protegia o torso.
Assim que a última peça ficou limpa, pedimos para que Calen aguardasse do lado de fora enquanto ajudava Lance a vestir a armadura. Não sei se alguma coisa ficou subentendida, mas ela deixou o quarto com o rosto vermelho.
Mesmo com eu ajudando o Lance, ele levou quase meia hora para vestir tudo (aquele sem-noção ficou tentando me tirar uma lasquinha quase o tempo todo). E quando ele estava finalmente pronto (com a armadura parecendo nova), as três elfas já estavam reunidas do lado de fora só aguardando para poder entrar. Lance saiu, e elas entraram.
Enquanto ele ficava ao lado da porta, lá fora, e as meninas ajeitavam tudo, eu desembrulhava sobre a cama o embrulho que mantive dentro da mochila de viajem o tempo todo. E pela reação delas diante de minhas vestes depois de terminar de desenrolar tudo... Purriry terá novas clientes ao final dessa festa.
– Desisto totalmente de tentar convencê-la a usar um de nossos trajes formais. Esse vestido é magnifico!
– Como é que é? – questionei enquanto trabalhávamos com a roupa no manequim.
– Nessa foi ordenada a sempre lhe convencer a usar roupas que pertencessem aos nossos costumes, como tentativa de sua aceitação por todos os demais.
– Baboseira. Se não se gosta de alguém por quem ela é, não há porque gostar dela pelo o quê que se parece. – declarei um pouco indignada – E sem ofensas, mas eu detestei ter de colocar aquela montanha de panos.
– Há um pouco de verdade no que diz. E concordo com a Nessa, nunca vi uma roupa que combinasse tão bem com o tipo de festa que teremos essa noite. Até parece uma oferenda de amor à Arianrhod! – (não gostei muito desse comentário... será que essa roupa é exagerada?)
– Não vejo a hora de poder ajuda-la a vesti-lo e lhe arrumar os cabelos... Você vai ficar divina!
– Menos gente, por favor. Até onde eu sei, eu sou apenas uma mortal.
– Mas não qualquer mortal. – declarou a Nessa com um pouco de malicia.
Gastamos menos de uma hora para terminarmos de desamassar o vestido e tudo mais e, quando mais elas elogiavam aquele traje, mais eu tinha receio de participar da festa com ele. Tudo pronto e devidamente ocultado com um lençol violeta, além de estarmos combinadas de nos arrumarmos nós quatro em meu quarto, Lance já não nos aguardava mais sozinho.Lance
Espero mesmo que a decisão de confiar naquela elfa esteja certa (bem que a Ladina avisou que eu estava abusando da sorte...). A flor é quem guarda a chave? Não vou negar que é uma pista considerável (se aquele assassino soubesse disso, ele só teria de mirar em uma pessoa). Uma marca do tamanho de uma unha do mindinho no começo da lombar... Um bom local para se esconder um sinal que só fica realmente visível para todos quando se está nu.
Nunca que imaginei que fosse possível conseguir limpar essa armadura de forma tão rápida. Espero conseguir fazer aquela poção da dorminhoca sem muita dificuldade, ela foi realmente incrível! Mas quanto mais a Ladina tenta me esconder o que foi que aquela purreka fez para ela usar essa noite, mais curioso fico com o tal vestido. Aquelas três me parecem impressionadas demais para o meu gosto. E espero de verdade não ter que me segurar com aquele príncipe atrevido hoje.
– Já expulso logo cedo? – e lá vem os outros malas... – Qual a razão de ter sido obrigado a ficar do lado de fora?
– Elas estão arrumando o traje de festa da Cris. – respondi pro palhaço.
– Sério?! E como é que ele é?
– Não sei. – respondi apenas para o sanguessuga.
– Não acredito... Mesmo grudado na Paladina como se fosse a sombra dela, ela consegue lhe esconder as coisas?! Só pode ser piada...
– E acaso queria que ele desenvolvesse telepatia ou usasse alguma poção que lhe desse poder semelhante e assim entrasse na cabeça dela, Ezarel? – defendia-me o sanguessuga (foi durante o meu primeiro treino com ele que o sanguessuga me confessou saber qual era o tipo de poção que a louca da Lunna havia dado para a Ladina).
– Não. Apenas estou surpreso por saber que ela consegue guardar segredos de quem ela quiser.
– Ela com certeza é melhor que você. – acabei murmurando e tenho certeza que ele e o sanguessuga ouviram, já que ele se irritou e o Nevra riu.
– Já acabamos Gel... Ezarel! Nevra!! Bom dia a vocês. – os dois responderam à ela ao mesmo tempo – Como foi a noite de vocês? O Gelinho me repassou parte da conversa de vocês ontem.
– Dentro do possível Paladina. Conversamos meio que por cima com os outros e achamos melhor deixar a nossa... discussão, para amanhã. A festa de hoje é muito especial e não valerá a pena estraga-la agora.
– Se diz... E cadê todo mundo?
– Voronwe e Anya foram conferir quem será o tutor da Verdeleon; Roeze está com a Luthien e Darfn, assim como você, está preparando o traje dela para a festa. Alguma dica sobre o que você estará vestindo Cris?
– Saberá na festa. Assim como foi no solstício.
– Então estará deslumbrante. – _rosnando_.
– Vou agora buscar os trajes de minhas irmãs para mais tarde. Com a licença de todos. – declarou uma das elfas já meio que correndo com uma outra dizendo para se encontrarem nos jardins.
– Menos uma companhia agradável... Que tal tomarmos o café da manhã agora? – esse sanguessuga...
– Lamento Nevra, mas nós já comemos. Fique à vontade para aproveitar a companhia do Ezarel. Agora... Onde mesmo que posso me encontrar com Anya? Soube que será feito um tipo de cerimônia nos jardins antes da festa, e eu queria que ela nos acompanhasse para me contar sobre suas experiências pessoais.
– Voronwe a levou até a biblioteca. Para que o Öğretim escolha o mentor da pirralha.
– O o quê?
– O bibliotecário-chefe que é responsável pela guarda de tudo que se refere ao Skjult Viden dentro da principal biblioteca de uma cidade élfica. E antes que pergunte, Lund’Mulhingar não é a única cidade élfica de Eldarya, então sim, é possível efetuar o Skjult Viden fora deste reino. Porém Lund’Mulhingar continua sendo a cidade élfica mais próxima de Eel.
– Cinco dias de viagem e é a mais próxima?!? Tô indo encontrar Anya... – declarou a Ladina quase me fazendo rir.Cris 2
Continuei com os meus planos para esse dia acompanhada pelas trigêmeas (que por enquanto são só duas) e os meus guardiões, mas com um pequeno desvio dos jardins para poder passar na biblioteca e convidar a Anya (estou achando que esse não sei o quê Viden é mais complicado que estudar direito ou medicina...). Nem precisei entrar na biblioteca, Anya já a deixava (emburrada) com seu pai atrás dela.
– Bom dia Anya! Pra quê essa cara? Topa um passeio comigo?!
– Bom dia Cris. É, um passeio parece ser boa ideia...
– Mas o que foi que aconteceu, senhorita Anya? – perguntava uma das trigêmeas, igualmente preocupada com o desânimo de Anya.
– Perdoem-na por isso. – respondia o Voronwe – É que ela não gostou muito da decisão do Öğretim para o Skjult Viden dela.
– Fala do professor dela? – ele me assentiu – E quem que ele escolheu?
– Euzinha, minha querida. – senti um arrepio ao ouvir a voz da Emiery – Acontece que, além da condição de não ser um parente, o tutor também precisa conhecer o aluno há pelo menos algum tempo, para que saiba quais são os limites do aluno, e sou a única em toda a Lund’Mulhingar que se encaixa nesse quesito, graças, ao solstício em Eel.
– Entendi... – não consigo olhar para ela sem me sentir preocupada com aquelas “correntes” – Eee... Quando que vocês irão começar?
– Daqui duas semanas. A Anyazinha não vai ser a única a começar o Skjult Viden, por isso todos os alunos e professores são reunidos para uma explicação básica, que é feita pelo Öğretim, antes de podermos iniciar. Nos vemos depois do almoço, Anya? Para conversarmos mais sobre nós mesmas?
– Claro! Não tenho lá muita escolha mesmo...
– Você vai ver minha pupilinha, comigo, você conseguirá concluir o Skjult Viden com grande louvor! Igualzinho foi comigo. Deem-me licença porque tenho um monte de coisa para arrumar para a festa de hoje. Tchauzinho!... – declarou ela já partindo.
– Queira me desculpar Voronwe, mas você realmente concorda com essa decisão?? – perguntei depois de Emiery sumir de nossas vistas.
– Eu até que queria que existissem mais candidatos para Anya, e o Öğretim sempre considera cada detalhe ao escolher os professores de cada aluno. De modo que fica difícil discutir contra as decisões dele. No entanto, depois do que Ezarel me repassou ontem à noite, acho que não seria uma má ideia colocar Anya para ficar de olho naquela elfa.
– Como é que é??
– Amanhã lhe explico melhor Anya, com todos que estão fazendo essa viagem juntos. Para ser sincero, nunca gostei do Ondabrar. Ele e Elvira são quase farinha do mesmo saco. A diferença é que Elvira não mede a língua como o conselheiro. E nem faz outras coisas...
– Outras coisas como o quê? – perguntava uma das trigêmeas.
– Primeiro temos de conferir alguns fatos. Na hora certa vocês também saberão. – declarou o Lance de modo a encerrar a discussão.
Graças ao comentário do Voronwe, Anya trocou o desânimo pela intriga. Sua curiosidade sobre sua futura tutora era clara, mas consegui convencê-la a deixar para depois. Nos jardins, minha terceira “dama de companhia” já estava nos aguardando, e ela também não pareceu gostar muito de saber quem que iria ser a tutora de Anya.
Empurrando esse assunto de lado, ficamos a manhã inteira falando sobre a festa e o significado dela. Além de quem que era a Arianrhod segundo os elfos (vai lá saber o que é ou não exagero na mitologia celta). Anya só se separou da gente quando a Emiery a chamou para o almoço, e nós comemos nos jardins mesmo.
Por causa do que ocorreu ontem, eu e as trigêmeas fomos ordenadas a sermos as primeiras a utilizarmos as fontes para banho, uma vez que, por conta do horário da festa, todos os banhos não só ocorreriam mais cedo, como também seriam mistos (ainda bem que os sentinelas colocados para velarem o lado de fora durante a nossa vez eram todas mulheres, e que eu tenho dois guardiões).
No meu quarto, foi uma verdadeira algazarra nós quatro nos arrumando. Uma ajudava a outra como podia, sendo os nossos cabelos e nossas maquiagens o que mais demorava. E o pior, é que quando mais elas me “louvavam” pelo meu vestido, menos eu tinha vontade de participar da festa. Mesmo eu tendo sido informada que durante a cerimônia, todos deveriam estar usando um manto com capuz em respeito, como o véu dentro da igreja durante as orações (que pouca gente ainda usa hoje em dia).
Como eu não tinha nenhum conhecimento sobre aqueles ritos, me foi consentido de ficar no fundo de tudo, mesmo sendo uma convidada especial. Infelizmente, o meu manto me seria entregue um pouco depois de eu ficar pronta, pois ele não havia sido concluído antes de eu ter retornado para o meu quarto...Lance 2
Já vi que essa questão do conselheiro e da nojenta vai dar muito o quê falar, mas tenho de concordar com o que o berserker disse. A pirralha é uma ótima escolha para ficar de olho naquela elfa amaldiçoada. Duvido alguém suspeitar dela tão fácil.
Nos jardins, a conversa sobre os costumes élficos parecia que seria infinita, e não sei se as precauções tomadas para evitar novos atentados me agradou muito. Só me senti seguro para tomar o meu banho (em um cantinho ocultado com biombos, já que, pela quantidade de usuários essa seria a única forma de eu ter “privacidade”) depois de ter acompanhado minha Ladina até o quarto.
Mais uma vez os dois líderes me fizeram companhia, e eu não gostei nem um pouco da resposta deles quando os questionei sobre o natlig apokriense...
– Morto? Quando que isso aconteceu?
– Também não sabemos. O que sabemos é que as pistas deixadas para trás sugerem que isso tenha ocorrido no meio da noite. Parece que alguém conseguiu acessar o quarto pela janela com o uso de um amuleto, fornecendo assim a brecha de que o “Mestre” deles precisava. O amuleto não tinha vestígios da energia de seu último dono, então não é possível encontrar o intruso por meio dele.
– Nem investigando as tais das impressões digitais de que a Anjinha e a Ladina quase sempre falam? – questionei ao sanguessuga.
– Nevra até poderia ter sugerido isso daí, mas um monte de gente já havia pegado no objeto sem qualquer proteção, portanto, nada feito. Nem o rei gostou disso. Ele reclamou do ocorrido ainda na mesa, dizendo que tinha algumas perguntas a ele depois de reler os relatórios do interrogatório durante a noite.
– Foi o pior café da manhã em que posso me recordar até hoje. Sem belas companhias e com más noticias...
– Menos sanguessuga. _respira fundo_ Já tenho um idiota real para ficar de olho e uma montanha de elfos em que não posso confiar. Não me dê mais dor de cabeça.
– O guardião está certo Nevra. Não é porque vamos participar de uma grande festa daqui algumas horas que nós podemos baixar nossas guardas. E por sinal, o que é que a Paladina ficou sabendo sobre a festa de hoje, através daquelas três?
– Que a cerimônia será às 18:30, e a festa às 19:15. Que dos jardins até o salão ela não poderá tirar a túnica de forma alguma; e que à meia-noite, ou quando a lua estiver em seu ápice se ocorrer antes, uma oração especial será feita por todos. Sendo que os participantes da festa só poderão deixa-la após essa oração.
– E o que mais?
– Só lembro disso. Agora se me dão licença, tenho que me apresar para chegar no quarto pois acabei ouvindo que quem vai entregar a túnica de minha protegida é aquele príncipe devasso. – declarei já saindo e me apresando em ficar pronto. Sem dar atenção para aqueles dois.
Entrei no corredor pertencente ao meu quarto junto daquela criatura que realmente era quem estava nos levando os mantos.
– Olá guardião! Pensei que já estivesse fazendo a guarda da Lys de Eldarya.
– Já estava a caminho. – declarei seco – Qual é a minha? – questionei encarando os tecidos.
– Hãm... É esse verde-agua aqui. Para combinar com a sua armadura. Também tenho uma negra para o black-dog, como tentativa de tornar a presença dele menos... desconfortável, e esse azul marinho para a Lys. Ela disse que estaria vestida com um azul escuro, não foi?
– Não sei como ela estará vestida. – falei já vestindo a minha enquanto seguíamos pelo corredor.
– É uma pena. Mas já fico feliz de não ter que aguardar até a chegada no salão para saber como estará a aparência dela. – _rosnando_
– O último que tentou passar dos limites com ela, está no inferno. Eu mesmo o enviei. – falei, e pude ouvi-lo engolindo seco claramente.
– Eu... Não irei fazer isso. Têm a minha palavra.
Não disse nada. Continuamos o caminho em silêncio e fui eu quem bateu na porta. Uma das trigêmeas, cheia de rolinhos no cabelo, apenas abriu rápido a porta para dizer que era para eu ficar aguardando ali. Ela nem reparou que eu estava acompanhado! E aquele príncipe se mostrou determinado a ver minha Ladina antes de todo mundo. Nem “ameaçando” aquele cara-de-pau aceitava deixar que eu mesmo entregasse o manto da minha princesa quando ela deixasse o quarto.
Ficamos parados no corredor diante da porta por quase uma hora. E quando ela saiu, logo atrás das trigêmeas... Fiquei sem palavras. Ela estava... Divina! Nunca a vi tão bonita como hoje.
– E então? O que vocês acharam? – pergunta-nos ela, um pouco corada.
– Até parece que a própria Arianrhod está se colocando presente diante de meus olhos... – declarou aquele príncipe quase babando (vou arrancar a cabeça dele!)
– É oficial. Se estou sendo comparada a uma divindade é porque esse vestido realmente está exagerado. – declarava ela nervosa – Vou me trancar no quarto e só sair amanhã de manhã!
– NÃO!!! – exclamamos todos com a trigêmeas a impedindo de voltar.
– Por favor, por favor Cris, Lys de Eldarya... – implorava o miserável de joelhos para ela – Perdoe-me se a ofendi de alguma forma, mas não negue sua presença a todos... E eu ainda receberei dezenas de punições se isso chegar aos ouvidos de meu pai.
(Quer considerar deixa-lo de castigo Ladina? - Por mais que ele mereça, não. - Mas que pena...) – Tudo bem alteza, vou à festa. Mas só porque fui convidada especialmente para isso!
– Lhe sou muito grato Lys. – declarou ele já estendendo para ela o manto que ela usaria, com eu a ajudando a vestir.Cris 3
Não sei o quão confiável foi o julgamento do príncipe com a minha roupa, já que ele se mostrou ser quase um segundo Nevra. E nem no do Lance, uma vez que estamos juntos de certa forma. Assisti a celebração sentada em um banco de jardim que ficava bem no extremo do local, acompanhada do pessoal de Eel (mas o que é que a Anya tem debaixo do capuz?), de meus guardiões e das trigêmeas, que me explicavam cada detalhe da cerimônia de acordo ia acontecendo.
E para a minha sorte, como só se pode deixar a festa depois da tal oração, hoje a lua resolveu aparecer bem mais cedo. O que significava que eu não era obrigada a ficar mais do que o meu próprio corpo gostaria.
Outra coisa que observei durante o rito, é que todo mundo usava mantos de cores escuras e/ou que lembravam a noite. Até mesmo a realeza, que parecia ter os mantos mais bonitos, utilizava cores escuras. A cerimônia estaria encerrada quando a orbe de cristal, representando a lua, fosse colocada nas mãos de uma estátua de mármore branco, representando a deusa celebrada, que aguardava no centro do local em que festejaríamos, sendo o refletir em cheio do luar sobre essa orbe o sinal para o encerramento da festa se os elfos assim desejassem.
Diferente de todos os ritos que eu já tenha assistido, a esfera, carregada pelo sagard (sacerdote), seria a última a entrar no salão. Com todos apenas virando de costas no lugar em que estavam, e seguindo passo para o local sem deixar a posição entre si (se eu soubesse que ser a última significaria ser a primeira, teria me ajeitado no meio do povo mesmo).
Guiei o trajeto (com Nessa me contanto ao ouvido cada detalhe do que eu deveria ou não fazer) até o lugar que, além de ter um teto cristalino, também tinha uma claraboia bem sobre a estátua. Nessa me ordenou a ficar de costas para a estátua e ficar aguardando, sozinha, pela chegada da orbe, pois seria eu (_suando frio_) quem que a colocaria nas mãos da estátua (golpe baixo!). Como a armadilha já estava feita e concluída (me ajude a me acalmar minha Mãe...), aguardei pela esfera que apareceria depois que aquele povo todo terminasse de ocupar o salão.
Minhas mãos tremiam com a ideia de ter de segurar aquela bola de cristal (Relaxe Princesa... Depois você joga os black-dogs para cima dessa gente. - Com você ajudando, eu imagino. - Já me dou por satisfeito se puder cegar um olho daquele príncipe!). Quando vi o clérigo que carregava a esfera entrar, respirei o mais fundo que pude. Ele só pousou a esfera em minhas mãos após recitar alguma coisa que demorou uns cinco minutos. Para que pudesse alcançar as mãos da estátua sem o risco de derrubar a orbe ou coisa pior, os ajudantes do sacerdote não só me removeram o manto que me ocultava (que acabou causando surpresa/espanto em todo mundo pela reação deles) como eles me ofereceram suas mãos como degrau para eu poder alcançar a estátua (ainda bem que as sombras de Absol me deram suporte para manter o equilíbrio!).
Dei um beijo na esfera, depositando uma pequena parte de minha maana nela através desse beijo, do jeitinho que Nessa me explicou para fazer antes de largar a orbe, e eu não esperava que ela me fosse brilhar em furta-cor com esse pequeno gesto (que não impressionou só a mim).
De volta ao chão firme, eu e os reverendos nos reverenciamos, concluindo enfim todos os ritos até o ápice lunar. Com todos removendo suas capas sob uma salva de palmas durante o nosso cumprimento.
– Isso foi incrível, Cris! E você está um arraso.
– Anya? O quê que é isso em sua cabeça?! – questionei ao ver Anya do meu lado, acompanhada dos parentes dela.
– Essa pirralha já é caso perdido. E eu só me pergunto que tipo de sortilégio você terá jogado sobre todos nós.
– Oi??
– Elvira, vo...
– Você acaso está querendo passar o resto do festim dentro das masmorras? Elvira, a Tirana Hostil. – era Võrgutav, acompanhado do Lance e do restante da família real, quem interrompia o Voronwe.
Tudo que a Elvira fez foi dar um resmungo e se afastar com o nariz empinado.
– Aquela louca quase arrancou meu cabelo ao descobrir o penteado que a Emiery fez em mim...
– Espera, foi a Emiery quem lhe ajudou a se arrumar Anya?!
– Foi sim! Eu pensei que a nossa conversa do almoço me seria o maior pé no saco, mas, como o ditado do seu mundo diz: “o inimigo de meu inimigo, é o meu aliado”, dei um pouco mais de consideração à ela depois dela me contar que detestava a minha tia também. Se dependesse da chata que saiu, eu estaria parecendo aquelas velhotas ali do canto... – apontava ela com o polegar fazendo todos rirem discretamente – Mas como quem me ajudou foi a minha futura professora... E aí? Eu estou ou não representando a noite?
– Você está linda, Estrelinha. Mas lembre-se de não baixar totalmente a sua guarda com ela!
– Pode deixar papai! – o grupo riu mais uma vez.
– Mas... meio que retomando o assunto, o quê que a Elvira quis dizer com “sortilégio”? E pelo amor de Deus! Porque é que não me disseram que estavam empurrando uma tarefa tão séria para cima de mim?! – questionei um pouquinho indignada.
– Sentimos muito por isso. – era Eru – Na chegada de vocês, enquanto você se banhava, seus amigos disseram que você era consideravelmente tímida ao que se refere ao público.
– Se eu estiver sozinha, eu me apavoro.
– Compreendo. Por isso percebi na hora que a senhorita não aceitaria fazer a “Promessa da Benção”, que foi o que você fez ao colocar sua maana com um ósculo na orbe. Quando chegar o ápice lunar, será essa maana depositada a responsável pela transferência da Benção de Arianrhod sobre todos nós. – (_suando frio_) – E eu não esperava que sua maana fosse tão bela.
– Errr, obrigada. Eu acho.
– Isso para não comentar o seu vestido. Fiquei assustada quando as trigêmeas me repassaram que você estava usando um traje próprio ao invés de um dos trajes específicos para esse rito... – era a princesa (É o QuÊ!?!?!?) – Mas a roupa que está vestindo é perfeita! Agora entendo porque elas não obedeceram.
– Por favor. – era Võrgutav de novo – É costume que a primeira musica seja dançada pela família real, mas, nesse caso, ou eu ou meu pai ficaria sem par, já que ele é viúvo. Me concederia esta honra, my laid?
– O-o-olha. Eu... Eu não sei dançar não!... – (Aceita Ladina! Aí você acaba com o pé dele! - Sossegue o facho Lance)
– Não se preocupe. Os passos são fáceis. E se meu filho tentar algo que não deva... A senhorita tem o meu total consentimento para doutrina-lo.
– Majestade! – se indignava o príncipe com alguns de nós rindo (Gostei desse rei).
Aceitei participar de mais essa “travessura” feita comigo pela realeza. Vi Absol, ainda com a capa, nos observando de uma pequena sacada que havia no salão (deve ser de lá que os discursos costumam ser feitos aqui dentro) e Lance ficou nos observando junto a estátua (ele não pensou duas vezes em “me resgatar” quando a primeira música acabou).Anya versão “Festim de honra à Arianrhod”
.。.:*♡ Cap.134 ♡*:.。.
Lance
Coitada de minha Princesa... Ela ficou tão nervosa quanto nas vezes em que nosso relacionamento era descoberto. Mas apreciava com gosto a forma como ela impressionava todo mundo (ao menos quem ajudou ela foi o black-dog e não um daqueles elfos. Vai lá saber onde que eles colocariam as mãos para auxilia-la). Não gostei nem um pouco da insinuação da megera que é parente da Anya (se bem que a elfinha devia estar se divertindo pela forma que estava arrumada) e eles não podiam fazer uma exceção nas tradições, não? Com tanta elfa naquele lugar, aquele principezinho tinha de querer dançar justo com a minha Princesa?! Só não o ergui pelo colarinho porque a ideia dele levar aquela pisada me animava.
Enquanto eles dançavam, reparei que algumas mulheres encaravam a Ladina de uma forma não muito agradável (se eu pudesse, falava para todo mundo a minha verdadeira relação com a Cris, e aí eu iria querer ver aquele atrevido continuar dando em cima dela). Fui resgatar minha Princesa assim que a musica acabou.
– Com fome Lys? – abortei-os.
– Claro! Aproveite as próximas musicas alteza. Com sua licença. – declarou ela já fazendo uma leve reverencia e me acompanhando pelo braço antes mesmo daquele príncipe ter chance de reclamar.
– Acha que vai conseguir tirar algum proveito dessa festa depois de tudo que lhe aprontaram?
– Eu não sei Gelinho. Se a comida for saborosa já terá valido a pena passar por aqueles pequenos sufocos.
Um riso me escapou enquanto seguíamos para as mesas que, eram separadas por tipo de prato/bebida. Onde minha Ladina resolveu começar pela mesa dos doces.
As trigêmeas e a Anya acabaram se juntando à ela nas guloseimas, e eu fiquei observando um pouquinho mais de canto. Consegui convencê-la a me acompanhar em uma ou duas danças (com ela recusando educadamente qualquer pedido que não fosse o meu); Absol não parava de observar tudo do alto e... Para onde que o resto do nosso grupo foi parar?
– Te achei finalmente. – Ezarel ofegava do meu lado – Não sei o que foi que deu na Desastre, mas desde o começo da festa que ela não larga do meu pé.
– E o quê exatamente você quer comigo?
– No banho, você foi embora antes de eu terminar de questioná-lo. _respira fundo_ Me diz, a Cris foi avisada sobre os símbolos de identificação das mesas?
– Símbolos? – agora que comecei a reparar – Não estou informado de nada. Qual o problema com eles?
– Temia por isso. Espero que as aias da Paladina só tenham se esquecido mesmo.
– Vai falar o significado deles ou não. – (estou com um mal pressentimento...).
– Bom é qu...
– Zar! Te achei finalmente.
– E-E-Emiery?!
– Não sabe que é muita grosseria deixar uma dama sozinha, Zar?! Ande. Vamos voltar para a pista de dança. – terminava ela já o arrastando de volta com ela.
– Não deixe a Paladina consumir nada do símbolo vermelho! – foi tudo o que ele conseguiu dizer antes de perdê-los de vista (“símbolo vermelho”?).
Averiguei as mesas ao mesmo tempo em que procurava a Ladina, e a encontrei uma mesa antes da que o Ezarel se referia (tenho que me apresar). Estava no meio do caminho até ela quando o luar alcançou a orbe da estátua. Parecia até que um véu de aurora boreal estava sendo lançado sobre todos nós! Todos os elfos pararam o que faziam e começaram a orar, juntos. Alguns de pé, outros de joelhos, e outros de braços estendidos para a fonte daquela luz bela.
Enquanto eles não terminavam com a sua oração, estava impossível continuar me aproximando de minha Princesa. Tive de aguardar a prece inteira para voltar a alcança-la, no entanto, reparei que o tal de Ondabrar fazia alguma coisa na mesa da qual minha Ladina não podia se aproximar. E ela estava sozinha?? Para onde que as trigêmeas e a pirralha se foram??
Quando a visão colorida acabou enfim, me apresei, quase atropelando aos outros, para chegar na Cris. E aquele “contaminado” estava oferecendo de beber para ela?!
– O que está bebendo Cris?Cris
Se não fosse pela comida, aquela festa estaria um saco. A música não era ruim, mas eu não sabia classificar seu ritmo (medieval? Zen? Clássica? Romântica?) e eu não conseguia acompanhar a conversa das elfas que estavam comigo. Lance até que me fez aceitar dançar um pouco com ele umas vezes, mas eu não estava nada confortável naquele salão.
Houve algumas pessoas que tentaram conversar comigo, só que não tinha jeito. Eu não conhecia nada deles para que pudesse ocorrer uma conversa com mais de cinco minutos, e eles não pareciam ter qualquer interesse na vida humana, pois ninguém quis saber de questionar-me sobre o assunto (ao contrário do que havia acontecido nos outros eventos em que participei).
Estava começando a me perguntar quanto tempo mais teria de ficar aguardando para poder deixar o salão (pois o sono começava a me chamar) quando aconteceu. A visão proporcionada pelo ápice lunar era incrível! Todos os desconfortos tidos até aquele momento acabaram valendo a pena mediante de uma imagem tão estonteante. Aquela luz colorida, que me fazia lembrar a uma aurora boreal, era quente e aconchegante (agora entendi porque a chamaram de “benção”). Eu amei aquela luz. Tanto que até fiquei meio triste quando ela havia acabado...
– Aceita uma bebida?
– O quê?! – me assustava com a oferta (e mais ainda com quem oferecia) – Ah! Errr, Ondabrar, certo? Desculpe, mas eu não tomo álcool.
– Não se preocupe. Já fui informado de sua... fraqueza. Eu também não lido bem com o álcool. O que estou lhe oferecendo é 100% seguro.
Eu ainda não confiava naquele homem assustador, mas, como não havia vapor colorido algum no cálice que ele me oferecia, acabei pegando.
– Só uma pergunta antes de provar, de onde o senhor a tirou? E... sabe me dizer o que são esses símbolos em cada mesa? Não consegui perguntar às trigêmeas e Anya não conseguia se lembrar o significado deles...
– Não é nada de mais. Eles apenas identificam o que cada mesa têm a oferecer. Doces, salgados, apimentados, alcoólicos... Eu peguei isso na mesa de símbolo vermelho. Imagino que você estava prestes a provar do conteúdo dela, não?
– Bom... Sim, eu ia. – cheirava a bebida.
– Pois então! Que tal um brinde por essa “Promessa” tão magnifica que você nos garantiu de Arianrhod?
Por mais que eu procurasse, não estava conseguindo encontrar motivos para desconfiança, por isso acabei aceitando brindar com ele. Eu não sei que bebida era aquela, mas acho que consegui reconhecer chocolate, morango e pimenta no meio daquilo tudo.
– Até que não é ruim! – declarei após beber uns três goles – Estava meio que com medo de não gostar.
– Imaginei que gostaria após saber que doces são os seus pratos favoritos.
– O que está bebendo Cris?
– Ai! Não me assusta Gelinho! Você quase me fez derrubar o copo!
– O que eu ofereci à ela não é nada de mais Guardião. Precisa de alguma coisa? – já vi que os santos desses dois não se dão bem...
– Lys, em que mesa isso foi pego?
– Ondabrar disse que na de símbolo vermelho. Cheguei a ter receio, mas não notei nada de errado. – (ao menos por enquanto).
Mas o Lance não parecia ter a mesma opinião que eu...
– Acho que já podemos deixar o salão agora. – declarava ele já me tirando a taça das minhas mãos.
– Como é?
– Ela está acostumada a deitar-se cedo, e já passou bastante de sua hora de recolher. Não estou certo Lys?
– Eu... Eu realmente já estava ficando com sono antes do ápice lunar ocorrer finalmente mas... Acho que poderia segurar mais um pouquinho.
– Melhor não arriscar. Não temos certeza de como a tal Benção irá agir em você, e temos um longo dia para amanhã. – Lance insistia – Por favor, vamos para o quarto.
– Ok então. – (não é sempre que o Lance me pede “por favor”) – Tenha uma boa noite Conselheiro.
– Igualmente, Lys de Eldarya.
Lance e eu deixamos o salão com calma, porém ele praticamente correu comigo para de volta do quarto assim que deixamos de ver o salão. Cheguei a querer reclamar daquela pressa, mas ele se mostrou preocupado durante o caminho, o que me fez permanecer calada.
Quando chegamos no quarto, enquanto o Lance trancava a porta, comecei a me sentir... quente. Não estava entendendo bem o que me acontecia, mas... ao observar o Lance começando à tirar a armadura, entendi o que eu queria...Lance 2
No que a Ladina me disse que o quê ela bebia tinha vindo da mesa que fui avisado para não deixa-la visitar, fiquei preocupado. Porque motivo o Ezarel me disse para não permitir que ela consumisse nada de lá? A Cris falou que não viu nada de mais no que lhe havia sido oferecido, mas aquele alquimista não teria me dito aquilo se não fosse importante. E como foi o “contaminado” quem fez questão de oferecer aquilo para ela, definitivamente aquele ser está aprontando alguma coisa. Mas seja lá qual for o seu plano, não o deixarei mais se aproximar de minha Princesa assim.
Tirei a bebida dela e dei uma desculpa plausível para tirar minha Princesa de lá sem muita resistência de quem quer que fosse, e consegui notar que Absol já não estava mais no púlpito enquanto nos afastávamos do conselheiro. Corri com ela até o quarto assim que saímos do campo de visão de todos os participantes da festa. Sabia que ela não iria gostar da minha atitude, mas estava preocupado demais com ela naquele o momento (o que raios tinha de especial na comida daquela mesa??). Tranquei a porta e reforcei como podia para ter certeza que aquela peste não entraria ali de forma alguma enquanto estivéssemos dormindo.
Seguros, me permiti relaxar só um pouco, e comecei a remover aquela armadura para poder descansar um pouco.
– Lance!...
– O que foi Ladina.
– Será que você poderia... – travei ao encara-la – Me ajudar com esse vestido?
– _engole seco_ Err... Precisa mesmo de ajuda?
– Não alcanço o fecho das costas direito. Por favor!...
Acabei por engolir seco outra vez (é efeito do que ela bebeu??) e com receio, ajudei-a com o vestido. E ela se insinuava discretamente com cada gesto que fazia. O olhar provocativo... O sorriso malicioso... Os movimentos sedutores... Até o luzir da pele clara dela atrativamente revelada me atiçava! Mas me contive, pois não tinha certeza se era de fato ela quem estava fazendo aquilo tudo.
– Obrigada Lance. – declarou ela ao se ver livre do vestido – Quer que, eu lhe ajude também? Com a armadura... – terminou ela de dizer com seus dedos passeando pela armadura.
– Cris. Você realmente está se sentindo bem? O que foi que aquele contaminado te deu?
– Eu não estou bêbada. Se for essa a sua preocupação. – ainda não me sinto convencido – Estou muito bem ciente de minhas ações, mas... Você vai querer colaborar com elas?
– Eu... não sei se devemos. – sua voz e seus gestos me estimulavam cada vez mais – Ezarel tentou me dizer algo durante a festa, mas não o conseguiu.
– Relaxe... – _engole seco_ – Já estamos trancados aqui. Não há com o quê se preocupar.
– Mas... E os seu ciclos? – isso sempre foi uma preocupação para ela.
– A menos que minhas contas estejam muito erradas, hoje, é nossa noite de sorte...
Ela tomou-me os lábios com uma ferocidade delicada, já me alcançando algumas das travas da armadura. Acabei me recordando do nosso pequeno momento durante a viagem... e não resisti mais. Evolvi-lhe a cintura e nos beijamos até não termos mais fôlego. Ela me ajudou a tirar o resto da armadura, acariciando-me a pele com as pontas dos dedos e provocando com as unhas, após afastarmos momentaneamente nossas bocas.
Pude senti-la ardente claramente, e eu nunca a vi tão sensível como naquele momento. Lhe massageava e beijava sobre a cama quando algumas batidas na porta nos quis interromper.
– Deixe que continuem batendo. – sussurrava ela rouca em meu ouvido.
Eu até pensei em fazer a vontade dela – Lys? – mas reconheci a voz de quem batia – Você ainda está acordada, certo? – e ele não parece querer ir embora tão cedo...
– Fique deitadinha.
– Mas... – lhe detive os lábios com o indicador (com a praga batendo outra vez).
– Só vou me livrar dele. Vai ser rápido. – declarei já vestindo o roupão e colocando o emulador e a máscara – Quando eu abrir para dispensa-lo, não faça nem mesmo um suspiro, tudo bem?
– Não me deixe passar frio. – ordenou ela me provocando ainda mais.
Me recompus como pude para poder enxotar aquele mala logo – O que você quer?Ondabrar
Assim que o sol nasceu, pude me deparar com o calunko do Sararm. Fiquei impressionado por aquela criatura ainda estar viva e como não há muitos calunkos negros por aí (calunkos negros são uma anomalia na natureza), era impossível duvidar disso considerando os ocorridos da noite anterior. Ele me trazia uma mensagem do Sararm, explicando por alto seus atuais planos e repassando o que ouviu de Melídia (espero conseguir prender a Lys em Lund’Mulhingar o suficiente...), e também informando que já havia ordenado a retirada dos demais lacaios de modo que, se estes já não estivessem longe, estariam partindo. Terminado de ler tudo, escrevi a resposta agradecendo pelo manter de nosso velho acordo, e também expliquei, como ele, sobre os meus planos.
Enviada a mensagem, era hora de fingir não saber de nada. Fui informado do ocorrido quando estava na metade do caminho, agi do modo que me seria exigido pelo o meu cargo e me apresei em tornar a morte daquele peso-morto algo totalmente feito pela gente dele. Ainda bem que fiz o ex meu amuleto ser pego por quase todo mundo, sério mesmo que eu podia ter sido descoberto só por tê-lo pego com a mãos limpas? As descobertas humanas me preocupam.
Resolvido entre parênteses o caso do natlig, me apressei em cumprir meus preparativos para o festim. Meu plano de prender a Lys em Lund’Mulhingar era simples! Eu só precisava tirar proveito de nossas regras sobre os costumes e crenças desta festa em especial, conseguindo fazer ela consumir o prato certo sem ela saber o que havia por trás dele, e, de forma a garantir que ninguém atrapalharia isso.
Não foi difícil pedir a Emiery que distraísse aquele ignóbil para mim, e convenci vários “colegas” a fazerem companhia aos amiguinhos e as aias da Lys.
Inicialmente, eu pretendia colocar o sem vergonha do Võrgutav para fazê-la comer da mesa que eu desejava, nem que fosse sem ele perceber, pois com a fama que ele mesmo havia desenvolvido, não seria grande surpresa um ato desses vinda da parte dele. Porém aqueles guardiões estavam sendo um problema... Os dois não deixavam de vigiar nem o príncipe e muito menos a humana! Acabou sendo que, se eu quisesse que ela consumisse do que eu precisava, eu mesmo teria de ofertar à ela. A minha fraqueza até poderia me ajudar a me salvar mais ou menos ileso depois, mas ainda era arriscado (ao menos aquela humana é agradável aos olhos...).
O anunciar da Promessa da Benção me fez me impressionar com aquela humana pela segunda vez. O brilho daquele evento sempre foi meio azul, meio lunar. Nunca imaginei que fosse possível um brilho opalino. E de uma amabilidade... que quase me fez esquecer-me de preparar o que iria oferecer para a “dama” da noite. Analisando o conteúdo da mesa, escolhi brindar com ela usando da bebida mais forte que havia ali, para menos desconfianças (ainda não consigo tirar da cabeça que ela tem alguma coisa contra mim).
Ela meio que se mostrou resistente a aceitar beber comigo, mas consegui convencê-la a brindarmos. Pena ela não ter consumido o cálice todo. O guardião dela pode a ter levado embora, mas o pouco que ela consumiu já era o suficiente para fazer efeito até no mais casto dos castos.
Guardei nossas taças como prova de que realmente havíamos bebido daquilo juntos e me preparei para o sacrifício. Estando pronto, fui até o quarto dela para concluir o meu plano, visto que ela deve ter começado a sentir os efeitos antes mesmo de chegar no quarto (no mínimo, pois eu já começava a sentir). Respirei fundo antes de bater na porta, e imagino que a razão de eu precisar insistir era aquele guardião dela uma vez que foi ele quem abriu (e de onde saíram aquelas correntes na porta?).
– O que você quer?
– Boa noite guardião. Eu apenas desejo trocar algumas palavras com a sua protegida.
– Ela já está deitada.
– Entendo, ela já est... Está deitada?!? – (como isso é possível?).
– Qual a surpresa? Eu não disse que ela se deitava cedo? – (será que o quê ela bebeu não foi o suficiente?) – E ela também disse que já estava ficando cansada. – (ou será que acabou tendo efeito contrário nela?).
– Sim, sim. Foi dito isso sim. Mas ela também disse que podia se manter acordada um pouco mais. – (não posso ter falhado desse jeito!).
– Ela tem o mau hábito de exagerar. Ultrapassar seus limites. Se bem que dependendo da situação, isso pode ser visto como qualidade ao invés de defeito. Mais alguma pergunta ou posso descansar um pouco finalmente?
– Não há mesmo como eu falar com ela agora? – (vero mesmo que esse plano colapsou?!).
– Se quiser conversar com ela, terá de esperar por amanhã e... É bem possível que, por ela ter se deitado mais tarde que o costume, ela demore para despertar amanhã. Por isso não se incomode se ela demorar para se levantar. – (será que a Lys é parecida com a trigêmea beriflore??) – Boa noite para o senhor. – declarou ele já trancando a porta em minha cara.
Me pus a caminho de meu próprio quarto desnorteado. Sem entender exatamente em que ponto eu errei. Encontrei com uma de minhas assistentes no caminho e, como ela parecia estar mais ou menos sóbria diante de seu próprio quarto, questionei-a se ela me ajudava a me livrar daqueles efeitos “desagradáveis”, o que ela aceitou.
Não parava de pensar em meu fracasso, e acabei por esvaziar todo o meu cantil de licor buaidh quando retornei para o meu quarto.Lance 3
Dispensadas as inconveniências, voltei-me para a minha Ladina, que me chamava com o indicador. Deixei tudo cair no chão e retornei para os braços ardentes dela.
Ela estava mais que envolvente essa noite. De um jeito que eu nunca a vi antes. Mas o que eu não sabia, era que aquilo não passava da ponta do iceberg que tinha diante de mim.
– Você já acabou?... – me perguntava ela provocativa após eu ter me entregado.
– Você quer mais?
– Muuuito maaais... – _engole seco_.
– Tem certeza? – me preocupei – Não disse que estava sonolenta no salão?
– Naquela hora sim. Mas agora não. Acho... _beijo no ombro_ Que hoje... _beijo no peitoral_ Os nossos papéis... _beijo no queixo_ Se inverteram. – acabei engolindo seco outra vez pois não tinha forças para um segundo round naquele momento – Você não vai me largar com toda essa chama e dormir, vai?
– Qu... Que quer dizer? – tentava respirar com calma.
– Eu sempre fiz de tudo para me manter firme até que esteja satisfeito. Acaso não é capaz de fazer o mesmo por mim?... Vai mesmo me largar com toda essa vontade.
O olhar e voz duras nas ultimas palavras me deixou bem claro que, se eu a “abandonasse” eu pagaria caro. Muito caro.
– De forma alguma faria uma coisa dessas com você Ladina... – tentava contornar – Eu só quero ter certeza de que está bem!
– Estou muuuuito bem... – sussurrava ela ao meu ouvido, sedutora novamente.
Voltei a cobri-la de beijos, e usei de todos os truques que conhecia e que aprendi após me envolver com ela para conseguir descansar entre cada round (porque ela não estava assim na nossa primeira noite após ela largar aquela bola?). A volúpia dela parecia não ter fim. Ficamos nos relacionando quase a noite inteira! Tanto que acabei rezando para tudo que é divindade da pureza e do libido para que minha Ladina ficasse satisfeita logo. Nunca me senti tão grato quando ela finalmente adormeceu.
Apaguei assim que fechei os olhos.Cris 2
– Paladina acorda!! – acordava com o barulho de batidas insistentes na porta.
– Hã?... – ainda com sono, me forcei a observar a minha volta.
– Anda logo e abre essa porta! – Ezarel voltava a martelar contra a porta.
O quarto estava bem claro, o que significava que eu havia dormido bastante. Lance ainda estava deitado, o que significava que a noite foi “puxada” para nós dois (mas ainda bem que ele não me deixou naquela “febre” sozinha).
Ezarel continuava perturbando, então me levantei cambaleante e cheguei na porta. Derreti o gelo que Lance havia colocado para selar as frestas da porta e mantive a corrente para que ninguém entrasse e o visse sem máscara.
– O que você quer Ezarel... Acaso não é cedo? – fingia não estar ciente da hora.
– Cedo? CEDO?!? Já está quase dando 11 da manhã e você chama isso de cedo?!? O que vocês ficaram fazendo a noite toda para chamar isso de cedo?
– Bem... _corada_.
– Não, espera. Melhor não me dizer. Sinto que irei odiar ficar sabendo. Apenas trate de tirar o seu guardião da cama e se arrumarem logo. E traga as suas Sanas Clypeus para que tenhamos a nossa reunião de uma vez.
– Reunião aonde?...
– No quarto ocupado pelos rapazes. Por ser o maior.
– Tudo bem. Nós logo... _bocejo_ ...estaremos lá.
– É bom mesmo! – declarou ele já se mandando irritado.
Fechei a porta. Respirei beeeem fuuundo... Dei aquela espreguiçada, e fui acordar o Gelinho. Assim como eu, ele não estava lá muito afim de sair da cama, mas assim que soube a hora que era, aceitou fazê-lo meio contrariado.
Nós dois nos ajudamos a nos vestirmos sem qualquer segunda intenção no processo. Vesti uma de minhas roupas que havia trazido mesmo e peguei as bolinhas cósmicas como Ezarel havia exigido. Estávamos deixando o quarto quando me deparei com as trigêmeas.
– Bom dia garotas! Se não for boa tarde... Estão aí há muito tempo?
– Bom dia. Nós até que tentamos chama-la quando amanheceu o dia, mas ninguém respondia.
– Chegamos até a pensar que vocês já estivessem com os seus amigos e saímos para procura-la entre eles.
– Porém não os encontramos nem com eles e nem em parte alguma do palácio...
– Ai... Perdoem-me por todo esse trabalho... – acabei me desculpando com elas.
– Não se preocupe Cris. Quando dizemos ao Ezarel que, ao tentarmos chama-la, Absol estava dormindo ao lado de sua porta pelo lado de fora, ele logo veio para cá e... E fez aquele escarcéu para desperta-los.
– Ficamos sem jeito de nos anunciarmos enquanto conversavam e... Se não for muita inconveniência... Ao quê exatamente ele se referiu ao declarar que iria odiar saber o que lhes aconteceu?
– Calen! Cadê a sua discrição?!
– Perdão Nessa! Eu só fiquei curiosa, mais nada.
– Não é nosso trabalho se intrometer na vida pessoal dos outros! – (o que foi que deu na Nessa?).
– E não é porque que o nosso algoz pereceu antes de você falar com ele, que precisa descontar a sua frustação em cima de suas irmãs...
– Nã... Não tem nada a ver Estel! – Nessa estava totalmente vermelha – A-apenas a repreendi por indecoro, mais nada.
– Sei, sei, irmãzinha. Sei muito bem. – declarou Estel lhe apoiando o ombro, fazendo Nessa ficar ainda mais vermelha.
– Lys, estão nos esperando... – Lance me chamava a atenção.
– Tem razão. Depois conversamos mais meninas, pois tenho algumas coisas a resolver com meus colegas. Até mais.
– Não vão tomar café da manhã?
– Hãm... Acho... Que o ideal seria terminar de esperar a hora do almoço, Calen _riso nervoso_.
– Tudo bem Cris, mas ao menos aceitem uma fruta como... aperitivo. – declarou Calen já nos oferecendo o que parecia ser duas carambolas cor-de-rosa.
Aceitamos as frutas (isso tem gosto de iogurte de frutas vermelhas!) e entramos no quarto onde todos nos aguardavam.
.。.:*♡ Cap.135 ♡*:.。.
Ezarel
– AQUELE CRETINO FEZ O QUÊ?!? – acabei berrando ao escutar o quê que aquele Conselheiro do Inferno resolveu aprontar, através do dragão (bem que eu senti que havia algo de errado naquela festa).
– Ele só me ofereceu uma bebida agradável. O que há de tão grave nisso Ezarel? – observando rápido, Voronwe e Réalta pareciam tão atônitos quanto eu, e o restante do pessoal se mostrava confuso.
– Anya, tem como você nos fazer o favor de chamar a minha mãe para que ela dê uma examinada na Paladina por mim? Mais cedo ela me falou que ficaria na biblioteca pesquisando algumas coisas... – Roeze até que tentou desfazer a minha mentira (estávamos juntos quando conversei com a minha mãe), mas o Voronwe o impediu antes que a pirralha percebesse.
– Tudo bem... Apesar de eu também não entender esse seu desespero repentino. Pensei que aquela mesa só era proibida para menores de idade! Agora... É seguro atravessar isso? – ela apontava para o escudo (onde acabamos utilizando duas esferas para caber todo mundo) já o encarando.
– Não se preocupe. Essa coisa só impede a passagem do som e de mais nada. Vai por mim! Será como atravessar uma fina névoa.
– Ok...
A pirralha atravessou a camada verde de olhos fechados em um único passo, e só deixou o quarto após conferir o próprio estado físico e soltar um suspiro aliviado.
– Certo, a Verdheleon já saiu, agora peço para os elfos presentes que nos expliquem o quê de tão grave aconteceu noite passada. E como assim, “mesa proibida para menores de idade”?
– Antes de mais nada, nos diga Cris: o Ondabrar lhe procurou depois que deixou a festa? – perguntava o Réalta.
– Sim. – respondia o Gelinho, e eu precisei me segurar no assento – Mas o despachei imediatamente. – _aliviado_...
– Mas agora é sério gente. O que é que havia demais em beber algo daquela mesa vermelha? Em quê ela tinha restrições?!
– E como foi que vocês sabiam que o nosso “contaminado” procuraria por ela? – completava a Darfn os questionamentos da Paladina.
– Bom. Para isso, teríamos de explicar algumas coisinhas sobre o festim primeiro... – começava o Voronwe passando a mão nos cabelos.
– Pois continuem! Quero entender o motivo de Ezarel precisar mentir para tirar Anya daqui. – Roeze tinha que ter deixado as mulheres e o Gelinho ainda mais preocupados?
– Tudo bem. – assumi a conversa – Primeiro: todo mundo aqui sabe quais são as atribuições dadas à Arianrhod?
– Além dela ser uma deusa da Lua?
– Exatamente Paladina.
– Eu soube que ela também é uma divindade da justiça, da magia e do destino.
– Só que há mais coisas Darfn. – era o Réalta – Arianrhod também é vista como uma virgem e uma mãe. Além de deusa da noite também...
– Ainda não enxerguei o problema... – a Paladina cruzava os braços com uma sobrancelha erguida.
– Espera. “Mãe” e “noite”? Existe mais um “atributo” cedido à ela? – e o mulherengo número um de Eel percebe!...
– Existe Nevra. E imagino que além de já ter descoberto que atributo é este, também compreende o motivo de minha Estrelinha ter de sair.
– E porque raios vocês preparam uma mesa afrodisíaca para essa festa?! – se irritava o vampiro.
– A-a-a-a-afrodisíaca??? Então... Foi isso que aconteceu comigo? Essa, é a proibição?!
– Respondam as perguntas! – exigia o Gelinho.
– Relaxa aí guardião! Pois ainda falta algumas explicações!
– Então façam o favor de parar de nos enrolar aqui. – exigia a Darfn.
– Calma lá. Assim como Nevra percebeu, Arianrhod também é tratada como uma divindade do... libido. O que nos leva para a importância da Promessa da Benção que é o que geralmente encerraria a festa. A crença é que essa Benção fornece saúde para as gestantes; sabedoria para as mães; e... fertilidade para os casais. A mesa aonachd, a mesa identificada com o símbolo vermelho, foi criada nesse festim com o intuito de... auxiliar os casais que desejam se tornarem pais. Funcionando também como uma espécie de casamento...
– CASAMENTO?! – se desesperava a Paladina me interrompendo – Aquele velho tentou... casar-se comigo?!?
– Se ele tivesse se “deitado” com você Paladina, sim. Vocês dois estariam casados agora, depois de consumirem da mesa aonachd juntos. Sendo esse um dos motivos dela ser proibida para menores.
– Mas relaxa Cris! – se apresava o Réalta – Diferente de um casamento oficial, uma união realizada durante o festim pode ser totalmente anulada se for confirmado que ele não recebeu a aprovação dos deuses.
– Do que está falando?
– É o seguinte guardião. – explicava o Voronwe – Nem sempre as famílias dos casais são a favor de suas uniões, por isso, se dentro do prazo de três meses não for confirmada nenhuma gestação, prova irrefutável da aprovação direta dos deuses sobre o enlace, o casamento é anulado.
– Três meses? Porque três meses?
– É porque uma criança começa se tornar “visível” para um sinesteta, e firmasse no ventre de sua mãe, dentro desse tempo Darfn. Não estou certo?
– Totalmente Roeze. E o casal é obrigado a viver em quartos separados para que se tenha a certeza de que a criança não será fruto de... tentativas pós-festim. No entanto, uma regra mais é exigida quando um dos dois é “estrangeiro”, como no nosso caso...
– Que, regra. – já vi que o Gelinho está querendo decapitar o Conselheiro do inferno...
– A Paladina estaria proibida de deixar a cidade até que os três meses acabassem.
– O QuÊ!?! – se não fosse a barreira, acho que o palácio inteiro teria escutado o nosso grupo (dadinhos dos nossos ouvidos apurados...).
– Eu teria que ficar presa aqui por todo esse tempo?!? Não quero ficar nem metade disso! – a Paladina se irritava – Que ganho aquele velhote teria me mantendo aqui?
– É só um palpite, mas talvez teria relação com o fato dele esconder ter um fragmento do Grande Cristal dentro de si?
– Não temos como comprovar isso Nevra, mas... Se formos capazes de provar que ele tentou “casar-se” com a Cris, ganharíamos mais credibilidade quando o fossemos acusá-lo de outras coisas.
– Nisso Réalta tem razão! Sabe o que foi feito da bebida que você não terminou de engolir Paladina?
– Não. Foi só o Gelinho saber de onde que tinha vindo aquilo que ele foi logo tirando da minha mão e “me arrancando” do salão em seguida.
– Então imagino que, ou o Ondabrar se livrou das taças, ou ele as guardou como prova. Tudo é uma questão do tipo de intuito que ele carregava ao fazer isso.
Ficamos todos a refletir por um momento sobre o argumento da Darfn, e toda e qualquer ideia que me passava pela cabeça não me agradava em nada.
– Não é segredo para ninguém que ele detesta humanos e qualquer outra raça faery que não seja élfica. Mais especificamente os dagtimernes. Eu só consigo imagina-lo tendo interesse nos poderes da Cris, e não nela em si... – deixei escapar.
– Ela não será cobaia de nenhuma peste!
– E nenhum de nós permitiria isso guardião, pode ter a mais plena certeza. – afirmava o Voronwe.
– Com ou sem as nossas evidencias nas mãos... – retomava outra vez – Temos que planejar muito bem planejado, uma forma de arrancarmos todas as respostas que desejamos do Conselheiro do Inferno.Cris
Só pelo fato daquele elfo velho ter um fragmento de Cristal dentro de si, eu já sabia que não podia confiar naquele conselheiro. Mas tentar me transformar em sua esposa?? Qual que é o problema daquele velho!? Quanto mais eu ouvia sobre ele, mais eu desejava arrancar satisfações dele (mas não sozinha, é claro).
– O que foi que você fez da Norns Visdom que trouxe para o seu pai Ezarel?
– Isso é sigiloso Voronwe. O rei e eu concordamos em guardar a poção, que nem está mais no mesmo frasco, em um lugar seguro para evitar inconveniências. Mas sei que a Cris e o Nevra estão carregando um pouco com eles!
– Eu com certeza gostaria de oferecer algumas gotas para aquele velho... Posso gravar a conversa com o meu celular e o Gelinho ficaria monitorando tudo escondido. – dava a minha sugestão.
– Só a poção da verdade não seria o suficiente para fazê-lo nos contar tudo sem que ele mesmo percebesse. – era o Nevra – Acaso conseguiu Ez? Descobrir a “fraqueza” dele?
– Se estiver se referindo à bebida favorita dele, na qual ele até se tranca no quarto apenas para evitar confusões enquanto embriagado; sim. É um licor chamado buaidh. Até consigo obter uma garrafa, mas não sei exatamente onde e como que poderíamos a estar oferecendo para ele.
– E se eu mesma a oferecesse? Dizendo que foi um presente que ganhei e fingindo não saber que é a favorita dele?
– Você está realmente levando a sério a ideia de ser você quem interrogará o Conselheiro do Inferno, Paladina?
– Consegue pensar em mais alguém para fazer esse trabalho de modo que ele desconfie só um pouquinho menos entre nós? Pense bem Ezarel, aquele cara te odeia; ele sabe que Nevra, Darfn, Voronwe e o Gelinho não iriam fazer algo assim sem segundas intenções por trás; Anya é menor de idade, o que a torna incabível; Roeze não é um elfo, então aquele velho dispensaria a companhia dele imediatamente; e finalmente, sou aparentemente um alvo dele. Há mais algum motivo que acaba fazendo de mim a melhor escolha entre nós? – terminei de falar, contando nos dedos, cada motivo.
Todos refletiam um pouco, com alguns coçando alguma parte do corpo ou soltando um suspiro.
– Infelizmente, a Cris está certa em cada ponto apresentado. Entre nós, ela é de fato a nossa melhor escolha. Mas não é algo que me deixaria tranquilo... – declarava o Nevra um tanto pesaroso.
Estava prestes a falar alguma coisa quando a porta do quarto foi aberta, com Anya (aparentemente irritada) e Luthien entrando em seguida. Ezarel “estourou” a barreira na hora (acho que os planos do interrogatório irão esperar...).
– Muito bem Ezarel, comece a explicar. Porque motivos você mentiu para essa menina sobre onde eu estava, se você sabia muito bem que eu estava na enfermaria examinando o Llofudd?
– Hãm... sobre isso mãe... – Ezarel se ergueu e se aproximou dela para sussurrar-lhe ao ouvido.
– Ondabrar fez o quê?!
– Exatamente o que ouviu mãe. Mas infelizmente não temos como provar o ato dele uma vez que só existe nossos testemunhos.
– Aí é que você se engana, meu filho. – ela sorria com malicia (do que ela está falando?) – Hoje de manhã, o black-dog da Lys me entregou algo bem interessante...
– Interessante??
– Exatamente, senhor Nevra. Na hora eu nem dei muita atenção, mas agora... Ouvindo o que ouvi! Fez todo o sentido.
– E o que Absol lhe entregou, Luthien?
– Dois cálices contendo a mais forte bebida da mesa aonachd, meu caro Voronwe.
– Como?!? – todo mundo se surpreendia.
– Absol deve ter usado a umbracinese dele para consegui-las sem que o velhote percebesse... – comentava o Lance.
– Podemos falar com o rei sobre isso depois, mas me diga Lys, como é que você se sente? Estou sabendo que demorou para acordar hoje. – ela já me examinava, igualzinho a Ewelein.
– Tive uma noite um tanto longa, mas estou bem.
– Como foi essa noite?
– Está perguntando como médica ou como amiga? Pois há coisas que eu prefiro guardar para mim no momento _corada_.
– Hum... – Luthien me observou um segundo e depois todo o grupo, onde o Lance meio que evitava a nossa direção – Tudo bem Lys. Conversaremos como médica e paciente mais tarde. E o quê todo mundo acha de um almoço? As trigêmeas nos avisou que sua majestade deseja sua companhia na refeição Lys. Uma boa oportunidade para colocar aquele Ondabrar contra a parede...
– Essa é uma boa ideia mãe. E depois gostaria de falar um pouquinho em particular com a senhora.
– Pois vamos então. – chamávamos a Luthien.
Imagino que o motivo da Anya não ter ficado reclamando para Deus e o mundo sobre a mentira do Ezarel, fazendo-a atravessar todo o palácio à toa (pois a enfermaria era bem próxima de onde estávamos) foi por causa da reação da médica.
Fizemos uma parada rápida na enfermaria para que a Luthien pegasse as provas contra o Ondabrar, e seguimos para o salão de refeições, com todos nós concordando que eu que daria a noticia do golpe que tentaram me dar. Ondabrar estava presente na mesa, com cara de quem dormiu pouco.
– O que foi que você disse?!? – pasmava o rei quando revelei casualmente o que seu conselheiro fizera, fazendo o mesmo congelar no lugar.
– O que ouviu majestade. Após o encerrar da Benção, Ondabrar me ofereceu uma das bebidas pertencentes à mesa identificada com um símbolo vermelho. Era para eu ter rejeitado?
– Ele não devia nem mesmo lhe ter oferecido, se o que diz é fato. Ondabrar?
– Eu... Eu não me recordo de tal ação majestade. E como que a Lys pode provar a sua acusação? Notei que ela não parece apreciar muito de minha presença.
– Sobre as provas, Absol já se encarregou disso. – declarou Luthien depositando os cálices sobre a mesa e fazendo o velhote arregalar os olhos – Recebi isso dele essa manhã e agora... – ela derramava um pouco de uma poção colorida em cada taça, de onde uma “linha de luz” clara começou a surgir de cada um.
As linhas se enroscaram e depois se esticaram uma ponta até mim, e a outra até o Ondabrar, que parecia estar suando frio.
– Me diga Lys, Ondabrar chegou a procura-la após o festim? Ainda à noite? – me perguntava Eru, encarando seriamente o Ondabrar.
– Bom, eu não o vi, mas... o Gelinho disse o ter dispensado ontem antes de deitar-se. O quão grave foi a atitude dele?
– O suficiente para fazê-lo perder o cargo que possui. – falava o Võrgutav que imitava seu pai – Disse que não se recorda de ter feito isso? Como é possível.
– Bem alteza... Quando despertei hoje, estava com o meu cantil de licor vazio nas mãos, sem me lembrar ao certo quando foi que tinha retornado para o meu quarto. Talvez... Eu tivesse consumido álcool sem notar durante a festa? Juro que não desejo o mal da Lys de Eldarya. Meu interesse nela é igual ao de todos os habitantes de Eldarya. – defendia-se o nojento.
– Luthien, quero que você confirme se de fato Ondabrar esteve embriagado como ele afirma. E se confirmado, deixarei que saia dessa apenas com um aviso Ondabrar. No entanto, se eu receber provas de que está mentindo para mim Ondabrar, não só perderá todos os seus privilégios como também passará uma temporada nas masmorras. – declarou Eru brando, porém sério.
– _engole seco_ Como desejar majestade. – quase senti pena do velhote... Quase!Ondabrar
Eu não acredito... Além de falhar em prender a meio-humana em Lund’Mulhingar por um longo tempo, ainda tive as provas roubadas de mim?! Quando que isso ocorreu se os feitiços e barreiras de segurança de meu quarto não foram acionados? Maldito black-dog! E maldita Luthien! Por causa deles eu quase perdi o meu precioso cargo. Se não fosse por todo o licor que eu bebi ontem à noite... Fui consideravelmente descuidado. Não posso mais continuar subestimando os aliados da Lys, ou tudo o que eu conquistei irá ruir.
Tentei focar meus pensamentos em meus deveres para evitar ainda mais inconveniências, mas preciso encontrar um meio de obter o perdão de sua “majestade” (ainda é cedo para lhe arrancar a coroa). Posso tentar usar a Emiery para isso... E também tenho que encontrar alguma forma de reduzir a desconfiança que a escória carrega em cima de mim. Essa humana está me saindo mais problemática do que havia imaginado... Foi um erro querer estudar os poderes dela para o meu uso. E eu não posso expulsar nenhum deles sem que outra pessoa lhes erga uma denuncia grave o suficiente, e que não haja qualquer rastro de interferência minha (eu me arranjei uma dor de cabeça...).
Passei o dia evitando qualquer conversa que não tivesse a ver com o trabalho, para depois inspecionar o meu quarto e tentar entender quando foi que o black-dog me roubou as provas que pretendia destruir ao fim do dia, chegando na conclusão que o umbracinesiano devia tê-lo feito antes de eu adentrar meu quarto ontem.
Já era quase fim de tarde quando, enquanto atravessava os corredores em que o pessoal de Eel estava hospedado, alguém resolveu me chamar pelo nome.Lance
O meu desejo, é de decapitar aquele velho desde o primeiro instante que fiquei sabendo qual que era o verdadeiro objetivo daquele nojento quando ele apareceu na porta ontem. Estou me contendo como nunca! Para não avançar naquele miserável, e assim arriscar acabar com o meu disfarce (espero conseguir continuar me contento se realmente formos fazer como a minha Ladina sugeriu).
Aquele cara se mostrou incomodado quando a Cris revelou o que ele tinha feito, mas ele ficou nervoso mesmo foi ao ver os cálices que Luthien recebeu do Absol. Quero estar presente quando aquela praga for jogada na prisão. Com sorte, posso dar um belo soco naquela cara murcha, sem ser criticado por isso depois.
A médica foi atrás de cumprir as ordens do rei antes mesmo de concluirmos a refeição, enquanto nós terminávamos de comer primeiro para depois irmos ao seu encontro. Até a família real queria que a Ladina fosse examinada para ter certeza de que ela estava mesmo bem! (Com eles meio que a perturbando com perguntas... complicadas, após a saída do conselheiro e da médica).
Quando chegamos na enfermaria, acompanhados da princesa, o cretino já tinha retomado os seus afazeres. O bobo-da-corte aproveitou a primeira chance que teve para, muito provavelmente, revelar a Luthien a verdadeira relação entre mim e a Ladina pelo jeito que ela reagiu e passou a nos tratar, eu e a Cris, ao retornar com o material que o palhaço a ajudou a buscar.
Acabou que, depois da Cris ter sido examinada, a princesa levou a Anya para passear, junto das “babás” de minha Ladina, e demos continuidade à reunião ali mesmo na enfermaria. Com a Luthien sendo a única “estrangeira” em nosso grupo para aconselhamento sobre o que decidirmos fazer de fato.
– Mediante de tudo o que vocês disseram, devo concordar com os argumentos da Lys. – era a médica – Ainda mais depois do que aconteceu na refeição em frente ao rei. Ondabrar vai fazer o que puder para se acertar com o rei, e, se para isso ele tiver que ter uma conversa em particular com a Lys para assim ser perdoado, ele não perderá a oportunidade. Mas me falem mais sobre essa poção que pretendem utilizar.
– Eu trouxe um frasco para poder confia-lo ao meu pai, mas eu não esperava que ele estivesse fora da cidade justo nessa época.
– Por favor meu filho, evite este assunto. Não concordei com essa missão que o tirou da cidade e continuo não concordando. – (está óbvio que ela queria ter passado a noite do festim junto do marido) – Seja direto e objetivo.
– Como desejar senhora Luthien. – declarava o Ezarel fazendo reverência para sua mãe com uma mão sobre o próprio peito – É uma poção que cria uma espécie de vinculo entre quem a toma com as deusas nórdicas do destino, as Norns. Através deste vinculo, enquanto a poção estiver fazendo efeito, quem a consumiu fica incapaz de dizer uma única mentira que seja. Não importa o quanto ele ou ela acredite em algo como verdade, se esta informação estiver errada... De modo algum irá conseguir pronuncia-la como uma verdade. A senhora já teve acesso ao relatório do interrogatório do apokriense?
– Mais ou menos, mas... Para eu ver se compreendi corretamente os efeitos, se por acaso eu der dessa poção para uma pessoa que não saiba de nada sobre o interrogatório feito com o Llofudd, e questiona-la sobre ele, ela vai ser capaz de me responder tudo sobre ele?
– Não exatamente Luthien. – a Cris respondia – Tudo o que ela vai poder lhe responder será “sim” ou “não” para as suas perguntas. Nomes? Intenções? Só se a pessoa já conhecer as informações por si mesma. A poção só ajuda a diferenciar os fatos das ficções, e há um limite de uso para não causar efeitos colaterais naquele que bebeu da poção.
– Entendi. Conversarei mais profundamente sobre isso com você em um outro momento, meu filho.
– Tudo bem, mãe. Mas a senhora sabe nos dizer onde que poderíamos conseguir uma garrafa de buaidh rapidamente? E... A senhora sabe se será seguro para a Paladina ficar com ele quando embriagado?
– Sim e sim. Seu pai comprou uma, que era a última da loja no momento, apenas para irritar aquele velho. Sobre a sua condição psicológica, contanto que a Lyz não venha a... “se oferecer” ao Ondabrar... – (Como é que é?) – ...e nem nenhum dos dois comece uma briga, Ondabrar se comportará como se deve. Buscarei a garrafa e quero que você venha junto Ezarel, assim nós dois já batizamos a bebida e ainda preparamos tudo para que não fique evidencias de que já tenha sido aberta.
– Mas quando que iremos oferecê-la?
– Võrgutav me disse que o Ondabrar costuma se manter focado em seu trabalho até o começo da tarde, Darfn. Então teremos que colocar o plano em ação perto do fim do dia. Em um horário e uma situação que não pareça muito suspeita.
– Então acredito que isso seria perto do horário dos banhos femininos caro Nevra. Horário que o Ondabrar encerra o seu expediente quando tem problemas pessoais a resolver. Ezarel e eu teremos de nos apressar com a garrafa, e a Lys terá que ficar de olho nos corredores pois, Ondabrar tem o habito de prolongar o trajeto ao próprio quarto nos corredores ocupados por vocês quando tenta esclarecer as ideias. – declarava a Luthien.
– Conveniente demais. – deixei escapar.
– Não vou discordar de você guardião, mas sou a melhor referência do grupo de vocês sobre os hábitos daquele conselheiro. Na verdade, meu marido e eu sempre procuramos ficar de olho naquele homem desde o dia que Ezarel teve de deixar Lund’Mulhingar para continuar vivo.
– Ok então. O tempo está passando e os preparativos para pegarmos aquele asqueroso não se cumprem sozinhos. – Darfn se erguia de seu assento com as mão na cintura – Vamos logo cuidar de tudo. Eu posso distrair as trigêmeas para que elas não acabem interrompendo sem querer...
– Boa ideia. Voronwe pode fazer o mesmo com Anya e Roeze e eu com os demais elfos. Mas me diga Luthien: onde é o lugar mais tranquilo e relaxante deste palácio? A Cris definitivamente precisa se acalmar um pouco ou não conseguirá fazer o interrogatório mesmo com o guardião dela lhe protegendo... – tinha que concordar com o sanguessuga, minha Ladina estava bem nervosa com o dever que recebia.
– O Jardim Naomh é o lugar mais tranquilizante que existe aqui, de acordo com os sinestetas. Não é muito longe da área em que estão hospedados, e acho que Voronwe conhece o caminho. A princesa meio que é a responsável daquele lugar, então é possível que encontrem as meninas com ela.
– Faremos isso, Mestra Luthien. Vamos? – chamava o berserker já se encaminhando.
Deixamos todos a enfermaria com cada um seguindo o seu destino. Luthien e Ezarel em preparo e busca da bebida que usaríamos; Nevra e Roeze “em guarda” do nosso corredor; Darfn, Voronwe, minha Ladina e eu para o tal jardim onde nos “distrairíamos” um pouco.
Chegando no lugar, a princesa tocava uma imensa harpa para todas elas. E havia ao menos uma dezena de mascotes as cercando para ouvir a melodia também.
– Vocês demoraram... – comentava a princesa sem parar a melodia – Acaso Mestra Luthien acabou encontrando algo de errado com a Lys? – questionou ela abandonando as cordas.
– O quê? – às vezes essa facilidade dela em se distrair me preocupa...
– Segundo Luthien, a Cris não tem nada de errado fisicamente falando. Nos demoramos porque aproveitamos para dar continuidade a um assunto de mais cedo, tendo a Luthien como uma conselheira nossa sobre a conversa. – explicava o Voronwe.
– A Cris ficou meio nervosa com toda a historia e Luthien nos aconselhou a trazê-la para cá. Como exatamente uma princesa se torna responsável por um jardim? – completava a Darfn.
– Sendo muito mais que uma princesa, e não sendo um simples jardim. – respondia a Nessa (eu acho) acordando o lado curioso da Ladina.
– Se importam de explicar, por favor?
– Mas é claro Lys. Sente-se! – a Cris sentou-se próxima à harpa – Me foi confiado o dever de velar este lugar porque sou sensitiva. Qualquer perturbação que seja, por mais ínfima que pareça, eu consigo perceber facilmente! – explicava a nobre – E vocês estão vendo aquele arco de pedra? – apontava ela para um grande arco de pedra rusticamente ornado com videiras – Ele é o portal que Lund’Mulhingar utiliza para obter comida terráquea uma vez por ano, pelo menos. Se alguém tentar usá-lo sem permissão, irei saber imediatamente se eu estiver dentro do raio de uma légua.
– Nossa... – se impressionava minha Ladina junto todos nós – Frida! Você se importa se eu fizer minhas orações por aqui? Ando meio descuidada com elas... – não estávamos tendo tempo nem para descansar direito, o que dirá cuidar de nossa espiritualidade.
– Sem problemas Lys. Se não se importar de eu retomar minha melodia também... _risinho_
– Tenha a certeza que irei apreciar muito, Frida. – como amo ver o rosto sorridente de minha Princesa...
Enquanto a Cris retirava o terço do pescoço, a princesa retomava os acordes. Frida deu continuidade a melodia de antes e ela quase se interrompeu ao sentir a maana da Ladina que não a estava contendo direito, e impressionando a todas as nativas.
– Lys, concentre em sua maana. Está extravasando. – alertei-a gentilmente e, com um respirar fundo dela, ela controlou corretamente sua maana que estava atraindo os mascotes próximos (para o meu desagrado).
.。.:*♡ Cap.136 ♡*:.。.
Cris
A refeição foi complicada. Apesar de ter conseguido revelar o caso ao rei de forma indiferente, estava com um pouco de dificuldade de acalma-lo em relação ao “como” que tinha sido a minha noite...
– Majestade, sem querer ofender, mas não acho conveniente insistir em saber como foi que lidei com os efeitos do que foi consumido. Posso lhe garantir que, desde que deixei o salão ontem a noite, eu só revi o seu conselheiro agora, na mesa. O Gelinho dormiu no mesmo quarto que eu como sempre, mas o nosso comportamento entre nós seguiu com o mesmo respeito que temos um com o outro. – (isso depois de ficarmos juntos, é claro).
– A Lys está certa pai. Tanto o senhor quanto o meu irmão estão sendo inconvenientes. Mas por via das dúvidas, Mestra Luthien já lhe examinou Lys?
– Não exatamente Frida... Por conta da hora, e da situação em si, Luthien aceitou me examinar um pouco mais profissionalmente mais tarde. Acho que posso vê-la assim que terminar a refeição.
– Quanto mais rápido puder fazer isso, melhor. Desde que o Grande Cristal foi quebrado pela primeira vez que há vezes que Ondabrar parece agir de forma estranha. Não foram muitas, mas houve uma ou duas ocasiões que me perguntei se não seria sensato afasta-lo de suas obrigações por um tempo. – (Não creio que “afasta-lo” seria suficiente... - Lance...) – Acompanhe-a também minha filha! E se houver qualquer problema digno de me ser reportado, alerte-me o mais breve possível.
– Pode deixar majestade.
Terminamos a refeição e seguimos para a enfermaria. No que eu entrei, fui logo procurando pelo conselheiro.
– Ondabrar já saiu para o seu trabalho, Lys. – era a Luthien – Pode ficar tranquila quanto a isso.
– E o resultado?
– Ele de fato consumiu uma boa quantia de álcool ontem à noite alteza. Parece que aquela criatura conseguiu escapar mais uma vez.
– Bom. Nesse caso então só nos resta averiguar o estado da Lys.
– Realmente, mas há gente demais aqui dentro. Aceito a presença dos adultos que estão viajando com a Lys, mas os demais terão de se retirar. Incluindo vossa alteza.
– Sem problemas. Anya, porque você, as trigêmeas e eu não visitamos um lugarzinho especial do palácio enquanto aguardamos? – Anya acabou nos encarando com dúvida. Tenho certeza que ela percebeu que estávamos tentando manter alguma coisa segredo dela. Mas ela acabou aceitando e foi com as elfas.
– Certo. Vou querer as opiniões e observações de cada um de vocês sobre a reação da Lys ao saber o que de fato aconteceu ontem. Lys querida, por favor vá para detrás daquele biombo e retire as roupas para que eu possa verificar tudo. – _suando frio_ – Tem uma camisola hospitalar sobre a maca e Darfn pode auxilia-la se desejar. E Ezarel, ajude-me a pegar o material necessário para os exames. Todos os enfermeiros estão almoçando agora, por isso estou sozinha por aqui.
– Sim senhora, mãe. – respondia o Ezarel um tanto sem jeito.
Obedeci a médica e Darfn me ajudou como havia sido sugerido. Eu ainda terminava de tirar minhas roupas quando... – COMO?!? – Ouvi claramente o espanto de Luthien (acho... que Ezarel abriu a boca...).
Ela não demorou muito para aparecer diante de mim e, pela cara dela... Ezarel deve mesmo ter lhe revelado que Lance e eu estamos secretamente comprometidos. Era quase como se fosse a Ewelein estivesse me examinando, Luthien era bem minuciosa e ficou questionando os outros sem deixar de me coletar tudo que é tipo de amostra, leituras, exames e sei lá mais o quê sem deixar de anotar cada comentário fornecido pelos outros. Seja ele mais técnico, no caso do Roeze, Nevra e Ezarel, ou mais emocional, como com a Darfn, o Voronwe e o Réalta.
Acabado tudo, Ezarel optou por pedir o aconselhamento de sua mãe sobre a nossa reunião e o plano que estávamos desenvolvendo. Ela não só ouviu tudo, como também nos ajudou com o que nos faltava para colocar tudo em prática.
Apesar de ter sido eu mesma quem sugeriu o plano de interrogatório, não pude evitar de ficar nervosa com a ideia. E isso não escapou nem ao Lance e nem ao Nevra. Segui Voronwe junto dos demais, mas sem perder a ansiedade. Acho, que não gastamos nem dez minutos de percurso, e o lugar era realmente tranquilizante.
O jardim era todo verde com muitas flores de diversas cores e doce aroma espalhadas. Alguns mascotes pareciam estar relaxando sobre a relva brilhante e a melodia que vinha da harpa tocada pela Frida me transportava o espirito para bem longe das preocupações. Nem percebi que havia sido questionada!
Saber do dever que Frida tinha naquele lugar me fez recordar que, desde que havia deixado Eel, eu mal havia feito qualquer oração durante a viagem! E já que eu tinha uma tarefa complicada a cumprir em breve, pedi o consentimento de rezar meu terço por ali, o conseguindo sem problemas.
Apesar de já ter começado a ter real controle sobre os meus dons ligados à luz e minha maana, eu ainda tinha dificuldades para fazê-lo de forma totalmente natural. Continuava tendo que me focar para manter o controle sobre minha própria energia (por favor meu Pai, que o Lance não me venha perturbar-me com isso mais tarde...).
Conclui minhas orações ao som da harpa, que só parou no momento em que Frida percebeu que eu já havia terminado.
– Agora entendi porque a “Benção” ontem foi tão especial. Sua maana é bem poderosa e gentil.
– Obrigada Frida. – (eu acho).
– Não! Não há motivos para agradecer. Você realme... Pelos deuses!!
Virei-me apresada para a direção que causou espanto na princesa, não sendo a única, e me deparei com Absol se aproximando acompanhado de um mascote branco, preto e dourado que caminhava muito elegantemente.
– Quem é o seu novo amigo Absol? – perguntei quando eles terminaram de se aproximar.
– Golden. – era Frida – Este voclaunn é minha mascote Golden. Estou perplexa. Golden sempre foi de uma timidez preocupante de certa forma, e estou lhe vendo acompanhando um black-dog totalmente atípico?! Não resta mais dúvida alguma para mim que Absol é muito especial.
– Absol sempre sabe impressionar princesa. Não tem um mascote em Eel que não o respeite. Nem a minha Esmeralda, uma corko, contraria Absol.
– Eu acredito, Anya. Mas... é impressão minha, ou o Guardião parece incomodado Lys?
– Oi? – encarei o Lance por conta do comentário de Frida (Gelinho? - Tem mascotes demais aqui.) acabei soltando um pequeno suspiro em meio a um sorriso sem jeito – Não se preocupe Frida, é só que... no passado, ele acabou tendo algumas experiências desagradáveis com mascotes e... desde então ele não se sente à vontade no meio deles... – terminei de explicar encarando as pequenas criaturas que nos rodeavam.
– Oh, eu lamento. Nesse caso, porque seu guardião não tenta aproveitar esse momento para se reconciliar com eles?
– Hum? – (Do que ela está falando??) – Ao que se refere Frida?
– Golden é a mascote mais doce e gentil que pude conhecer até hoje. Ela nunca se aproximou de ninguém que considerasse uma ameaça para si mesma, por isso... Se o seu guardião quiser tentar uma reconciliação com os mascotes, ela pode ser um bom começo! Não concorda?Lance
Eu não sei o que conseguia me deixar mais nervoso, aquele monte de mascotes me cercando; ou o fato de estar cada vez mais perto o momento de “permitir” a aproximação de minha Ladina daquele miserável. E ainda tinha a questão dos poderes de minha Princesa, vou ver se a convenço a fazer alguns exercícios de controle hoje (espero que o Leiftan já tenha descoberto quem é o mestre ideal para ela quando voltarmos).
Respirei fundo várias vezes para não perder o controle diante daquela situação. Eu até que iria gostar de desfrutar um pouco da maana relaxante de minha Ladina, mas definitivamente aquele não era um bom local para isso.
No entanto, quando a princesa elfa sugeriu que eu ficasse amiguinho do mascote dela como “tratamento”, quase mudei de opinião.
(Lance, você realmente vai se recusar a abandonar o seu ódio pelos mascotes? - O quê?) – Por favor!... Tente! Pelo menos uma vez... – me pedia ela com aquele olhar que me deixava desconcertado.
– Eu...
– Aceite Guardião. Eu não sei pelo o quê exatamente você passou, mas sei que minha Golden poderá ajuda-lo a superar seja lá o que for.
– Vai lá Gelinho! Ou pretende magoar a sua protegida se negando? – (pirralha...).
As outras elfas também tentavam me encorajar, e imagino que a brownie e o berserker estejam tentando imaginar quem que eu seja por trás da máscara com essa informação. Pressionado por tudo que é lado, com um longo respirar fundo, acabei me dando por vencido – Tudo bem. Eu tento. Mas não prometo nada!
– Venha aqui Golden. – chamava a princesa a criatura dela enquanto a Ladina me sorria – Fique pertinho do guerreiro, meu amor.
Tanto a Ladina quanto a princesa me colocaram sentado entre elas, com o voclaunn sendo igualmente “incentivado” pelo Absol. Ficando ela sentada bem diante de mim, eu não tinha ideia do que poderia fazer para... para tentar qualquer interação com aquela criatura. (Porque não começa lhe estendendo a mão? - Estendendo a minha mão?? - Sim. Dê à ela o seu voto de confiança, e vejamos o que acontece.)
Pensando muito francamente, achava tudo aquilo uma grande perda de tempo. Mas fiz a vontade de minha Ladina. Com toda a suavidade que era capaz de fornecer, estendi cuidadosamente minha mão para aquela criatura. De imediato, ela pareceu desconfiar, mas, como me mantive parado, esperando por ela, ela acabou confiando e apoiando a cabeça em minha mão. Acabei lhe afagando a base do pescoço delicadamente sem nem perceber. A sensação que tive foi... acho que nostálgica. Por um pequeno instante acabei me recordando de Nevihta. Especialmente de suas ultimas palavras antes de eu mata-lo (“Espero que um dia, seu ódio possa abandoná-lo”). Tirando o meu irmão, Nevihta era o único que sabia que eu era um dragão, e apesar dele ter todos os motivos para me desprezar e mais ainda me abandonar, ele continuou pensando no meu bem até o ultimo momento. Nem acreditei quando senti lagrimas escorrendo em meu rosto.
– Gelinho? Está tudo bem com você?
– Sim... Está sim Lys. – a mascote se afastou devagar e eu acabei encarando os céus (está quase na hora...) – Lys não é melhor irmos cuidar logo daquelas coisas? Você sabe! Do que lhe aconselhou a Luthien.
– Que a Luthien aconselhou?... Ah, sim! É verdade. Estava até me esquecendo.
– O que foi que Mestra Luthien lhe falou?
– Não é nada grave, mas acho que a Cris vai acabar perdendo o horário do banho feminino por causa disso... – comentava a Darfn – Acham que haveria problema se ela utilizasse o ultimo horário, o misto, hoje? Assim ela faz o que lhe foi tido para ser feito e, podendo estar junto dos dois guardiões dela, ela se higieniza tranquila mais tarde. Alguém é contra?
– Eu sinceramente não me importo... De ter a companhia dos dois durante o meu banho.
– Bem, considerando a forma como ele não parece se importar com... a natureza física das pessoas, imagino que não haja problema não. – comentou uma das trigêmeas (eu realmente não entendo o que elas veem de mais nesse assunto...).
– Está certo então. É correto supor que talvez você não jante com a minha família Lys?
– Eu não sei Frida. Deixarei o meu banho para o ultimo horário. Se eu conseguir terminar de fazer tudo o que me comprometi de fazer a tempo do jantar, me junto a você e ao rei.
– Tudo certo então! Errr... Trigêmeas. Será que vocês poderiam me ajudar a encontrar algumas coisinhas na biblioteca? De preferencia que estejam escritas em alguma língua que eu conheça...
– Mas é claro! – respondia uma delas entre risos – Será um prazer ajuda-la senhorita Darfn.
– Tem como eu lhe ajudar em alguma coisa Cris?
– Infelizmente não Estrelinha, pois nós dois temos alguns assuntos a tratar.
– Hein??? Mas do que é que o senhor está falando pai? – (ô gente difícil de dispensar...).
– Não se preocupe Anya, o Gelinho e o Absol me ajudam. Pode ficar tranquila.
– Vamos indo então? – chamava a Darfn já se virando para a saída do jardim.Cris 2
Após uma boa distração (e quem sabe um pouco de tratamento psiquiátrico) era hora de começar a trabalhar. Todo mundo deu um jeito de assumir a sua parte do plano. Continuaram comigo apenas os meus guardiões, e quando chegamos em meu quarto, Ezarel estava na frente da minha porta nos esperando.
– Estavam namorando por acaso? Achei que ia acabar encontrando o Conselheiro do Inferno antes de vocês aparecerem!
– Está com o que precisamos. – Lance era indiferente.
– Bem aqui. – Ezarel nos mostrava uma garrafa embrulhada elegantemente – Minha mãe e eu colocamos quatro gotas aqui dentro, ou seja, vocês só tem um máximo de duas horas para conseguirem arrancar a verdade daquele traíra. Tentem não estragar as coisas.
– Pois digo o mesmo a vocês. Quem que está mais se arriscando aqui é ela. Então trate de não colocar tudo a perder.
– Shiiii! Vocês dois, já chega! Nada de brigas para estragar tudo! – falei já abrindo a porta – Entre logo Gelinho, e Ezarel fique preparado para qualquer coisa. Absol, será que você poderia ficar de olho em mim e no Ondabrar ao mesmo tempo, sem ser visto? – Absol apenas deu o seu sim à moda canina e desapareceu dentro de uma sombra.
Fechei a porta e Lance e eu começamos a arrumar tudo para a armadilha. Ainda bem que eu deixei o meu celular carregando antes de sairmos de manhã! A bateria não ia ser um problema. Mostrei ao Lance o que ele teria de fazer e depois escolhemos onde ele se esconderia.
Achei melhor desembrulhar a garrafa e deixa-la sobre a mesa, para ver se eu convencia o velhote mais fácil quando, através da minha “visão” que havia ativado desde que entrei no quarto, reconheci o que parecia ser a silhueta da criatura. Mandei o Gelinho se ocultar e corri até a porta para conferir. De fato era ele. Mas ele estava tão imerso em seus próprios pensamentos que ele nem reparou que estava quase passando reto por mim.
– Ondabrar?
– Hum? Oh, Lys de Eldarya. Posso ajuda-la em alguma coisa? Quero dizer, se minha presença não a estiver ofendendo.
– O quê? Ofendendo?? Não, não! Nada disso! É que... bem... como eu posso dizer...
– Está sozinha por acaso?
– Mais ou menos. Tanto o Gelinho quanto o Absol estão me fazendo alguns favores agora. Ouvi o som de passo no corredor e pensei que pudesse ser um deles... Mas era o senhor. Como o senhor parecia pensativo eu imaginei que, talvez... pudéssemos conversar um pouco, sabe.
– Bom. Eu realmente estava pensando em alguma forma de poder me desculpar com você por... Por ontem à noite.
– A caminho do meu quarto, eu acabei ganhando um presente. Pensei em dá-lo ao Gelinho e aos outros... Mas acho que não há problemas em oferecer ao senhor. Aceita... entrar para conversarmos?
Ele pareceu pensar na minha oferta como se estivesse calculando alguma coisa – Não vejo problema algum em uma conversa amistosa, mas... e se um dos seus amigos aparecer?
– Eu o estou convidando. A responsabilidade sobre o que acontecer é minha.
– Me convenceu. Posso? – abri passagem para ele sorrindo e seu corpo travou assim que viu a garrafa sobre a mesa – Aquilo é o que eu penso que é?!?
– O quê?
– Posso conferir a garrafa?
– À vontade! Este é o presente que mencionei.
– Uma garrafa de licor buaidh... – os olhos dele brilhavam como o de uma criança diante do melhor dos presentes de natal – Você... realmente intenciona oferece-la a mim?
– Sim. Acho, que podemos chamar isso de “oferta de paz”, não é mesmo?!
– Uma garrafa especial dessas realmente seria uma oferta de paz para mim.
– Sente-se! Acho que tenho algum copo ou algo assim que você possa utilizar para provar da bebida. Só não te acompanho porque, se é licor, é alcóolico, e eu ainda não me recuperei nem um pouco do trauma que foi a minha primeira ressaca...
– Foi tão desagradável assim?
– Bom... _corada_ Eu pessoalmente não me lembro de nada, mas... Todos me disseram que eu me comportei como uma criancinha teimosa e bagunceira. Ou pelo menos alguma coisa assim. Ainda me questiono se algumas das coisas que disseram eu ter feito são mesmo verdade... Isso para não mencionar a ressaca em si! – terminei de falar colocando uma taça de cristal com prata sobre a mesa e me sentando o mais oposta possível à ele.
– Parece-me que você teve uma reação interessante sem dúvidas, mas não sei se me seria uma boa ideia beber agora.
– Meus amigos acabaram questionando a Luthien sobre como costuma ser o seu comportamento quando embriagado. Já sei o que devo ou não fazer para evitar confusões com o senhor. E qualquer coisa, o Gelinho pode me ajudar a lidar com o senhor se for realmente necessário.
– Quando que ele vai chegar?
– Não sei dizer, mas espero que ele só demore o suficiente.
– Tudo bem. Aceitarei sua oferta apenas porque este é o meu licor favorito.
– Sério?! – ele começava a se servir – Não esperava por isso...
Comecei a jogar conversa fora com ele, e antes que ele terminasse a segunda taça, já estava meio embriagado (esse cara é realmente fraco com o álcool! - Conseguindo interroga-lo antes de adormecer... - Eu sei Lance. Eu sei.) Como eu já tinha enrolado mais que o suficiente, decidi começar a obter respostas sobre a Emiery, avisando ao Gelinho antes para ligar o gravador.
– Então Ondabrar, soube que você é parente da Emiery. Sério isso? Foi o senhor o responsável pela educação dela?
– Sobre a primeira pergunta, a resposta é não. E sobre a segunda, a resposta é sim.
– Não entendi.
– Emiery não é minha sobrinha de verdade. Decidi cria-la porque tinha interesse nas posses dela e porque ela poderia me ser útil com a educação adequada.
– Perdão, mas, acho que ouvi me disserem que vocês são parentes de sangue. Como é possível?
– Promete não disser uma palavra sobre o que eu lhe contar?
– Minha boca é um túmulo!
– Certo, então vou te contar... – ele começava a encher a quarta taça – Como mencionei, tenho interesse na herança dela. Na verdade, fui eu que encomendei a morte dos pais dela ao falhar de convencer aquele tolo a me repassar suas propriedades e tesouros alquímicos.
– Ao falhar?
– De forma resumida, tentei fazer uma associação com ele para lhe tomar as pesquisas e materiais. E também falsifiquei documentos para conseguir passar suas posses para o meu nome. Mas em nenhum momento aquele cara acreditou em mim! No fim das contas... Acabei pagando um grupo de mercenários ladinos para saquearem todo o trabalho daquele idiota, e se livrar dele e da família para que ninguém descobrisse. Pois aí era só eu transcrever tudo e depois apresentar como meu. – (Me diz que você fez como eu disse Lance! - O tempo está contando, então continue. E com cuidado...)
– Emiery permanece viva, então... Imagino que nem tudo tenha saído como planejou. O que deu de errado?
– Aqueles idiotas não conheciam o significado da palavra “discrição”. Eles levaram tudo o que eu havia exigido sim, mas eles tentaram matar todos apenas com o incêndio da casa.
– Hãm? Eles colocaram fogo na casa? Entendo que isso impeça de saber o que foi ou não roubado da casa, mas...
– Aquele idiota e sua esposa se fizeram de escudos-vivos para proteger a Emiery. – (meus Deus!) – Os homens que paguei para fazer o serviço não os executaram antes de atear fogo no lugar, por isso que o casal conseguiu proteger a pirralha. Eu havia terminado de falsificar alguns documentos de compra da casa destruída, acompanhado de algumas pessoas de alta influencia que pretendia usar como testemunhas, e fui ao encontro do desastre. Fui eu que encontrei a pirralha, viva, e em completo estado de choque.
– Ela devia ter ficado incapaz de testemunhar o que tinha acontecido... Quantos anos ela tinha? Se lembra?
– Por volta dos cinco. – (canalha...) – E nem mesmo se a colocassem sob o efeito de poções ou sei lá que tipo de encantamentos ela seria capaz de dizer alguma coisa naquela época.
– Sei... – (pobre Emiery...) – Mas espera aí! Como foi que você fez para passar a ser o “tio” dela?
– Hunf! Apelei a essa estratégia porque demorei para reagir ao descobrir que ela havia sobrevivido.
– Ahm... Pode ser mais claro?
– Como eu disse, fui até aquela casa com um grupo de pessoas que pretendia usar de testemunhas. Quando encontrei a pirralha, pensei na hora em acabar com ela, mas devido ao choque de descobrir que existia sobreviventes, eu demorei para agir! E um dos que foi comigo nos encontrou antes mesmo que eu pudesse alcançar alguma arma. Pelas leis élficas, toda a herança de um órfão fica congelada e conservada até o completar do Skjult Viden da criança, então inventei a historia que eu era na verdade meio irmão do pai dela para que assim eu tivesse o direito de supervisionar os bens. E quase que eu não conseguia uma amostra de sangue de um dos pais dela para sustentar a minha mentira e garantir meu acesso a tudo... – (Miserável. - Concordo plenamente)
– O sangue de um dos seus pais? Você teve que fazer algum tipo de teste de parentesco ou algo assim? – perguntei lhe enchendo a taça e fazendo de tudo para manter meu sangue frio.
– Precisamente. Tive que fazer um teste de parentesco. E já que acabei decidindo por assumir aquela pirralha... Fiz de tudo para que ela me valesse o esforço. E sendo filha de quem era, ela poderia me vir a ser bem útil com a educação correta.
– Imagino então que você tenha sido o responsável pelo o quê ela é hoje...
– Pelo menos 70% sim. E eu não sei o que foi que aconteceu quando ela esteve representando Lund’Mulhingar em Eel, mas vocês quase a estragaram!
– Estragamos? Estragamos como?? – (Qual é o limite de tempo de gravação? E ainda temos que questionar sobre o Cristal! - Enquanto houver memoria no celular, continuará gravando. E não pare de gravar! Pois eu não me esqueci do que devo questionar. - Você que sabe)
– Eu sempre ensinei Emiery a ser orgulhosa e nunca baixar a cabeça para ninguém sem necessidade. Fiz de tudo para aperfeiçoar a sua oratória e ela se tornou capaz de superar até mesmo a mim. Ensinei-a quase todos os truques imagináveis para ter alguém na palma de sua mão. Mas!... Quando Emiery retornou de Eel por causa das sereias aladas, ela praticamente acabou jogando tudo isso fora.
– Sério?! – (então Eel realmente consertou um pouco a Emiery) – Mas, ela não me pareceu diferente do que vi no primeiro dia... – declarei já lhe servindo mais um pouco de licor.
– Isso porque eu a consertei.
– Oi??
– Quando Emiery retornou, achei que aquela “humildade” dela era consequência do choque do ataque lançado contra a cidade. Algo momentâneo. Mas não foi assim. Cheguei a querer questiona-la sobre isso quando lhe pedi a colheita...
– Colheita?
– Sim, sim. Colheita é como decidimos chamar os pertences pessoais de pessoas importantes para o uso de poções e magias especiais. Fui eu quem ensinou a Emiery a sempre obter “lembrancinhas” de onde ela se hospeda. Realmente fiquei impressionado por ela não ter conseguido trazer absolutamente nada seu. – (Mas que educador maravilhoso... - Sem sarcasmo agora Gelinho!) – Mas voltando. Quando fui cobrar a colheita dela, além de ter me dito não ter conseguido nada, ainda passou a me evitar. – (Primeira atitude sensata por parte dela).
– Deve ter sido difícil para o senhor. Mas como exatamente você a concertou?
– Bem... Parte foi graças à aquele dragão idiota. – (Como é que é?!? - Shii!) – Você sabe qual é a aparência de um fragmento do Grande Cristal quando ele acaba de ser danificado?
– Errr... Não. Não sei.
– Ele parece um slime. Ou a tal da sobremesa terráquea chamada gelatina. Quando o primeiro ataque aconteceu, vi um “fragmento” cair em Lund’Mulhingar e o escondi.
– Para quê? O verdadeiro poder do Cristal não se manifesta quando ele está inteiro?
– Sim, é verdade. Mas eu sempre quis uma amostra do Cristal para estuda-la e nunca ganhei consentimento, por isso mantive segredo de todos sobre ele. Aaahhh!... Quantas descobertas minha cara... Quantas descobertas... – (Esse velho é mais louco que muita gente que eu já encontrei!)
– O-kei... Mas como exatamente isso “conserta” a Emiery?
– Em meio às minhas pesquisas, onde até consegui algumas cobaias graças às consequências desse ataque, consegui desenvolver um encantamento especial que me permite... Como posso explicar de modo fácil... Oh, sim. Que me permite aprisionar o Eu de uma pessoa ao lhe bloquear algumas das memorias que possa lhe ter causado uma grande mudança de personalidade. Foi assim que eu corrigi o comportamento de Emiery, mas aquela ingrata insiste em arriscar a vida para livrar-se ao invés de continuar como está agora.
– Arriscando a vida?! – _suando frio_ – Como assim arriscando a vida? É isso a tal doença dela?
– Mais ou menos. – e lá se foi metade da garrafa – Ela... É como se carregasse duas personalidades: o Eu atual dela, e o Eu antigo que foi trazido de volta. Sou eu quem está mantendo o “novo” aprisionado que, se insistir em se libertar para desaparecer com o “antigo”, por conta de todo o esforço necessário para obter essa liberdade, não vai sobreviver por muito tempo.
– E como o senhor pode ter essa certeza? – eu já apertava minhas unhas contra a pele escondida para ocultar minha raiva.
– Com as cobaias que obtive! Foi graças à elas que consegui aperfeiçoar muitos feitiços. Aqueles que haviam conseguido se libertar do encantamento, não duraram nem cinco minutos depois. E como ainda preciso dela... Ao menos por enquanto. Estou sempre a impedindo de se libertar. Contento as “crises” dela.
Acabei respirando fundo para não acabar chorando, e eu ainda tinha muitas perguntas para aquele ser – Como foi que você conseguiu fazer isso com a Emiery? E há como desfazer sem colocar a vida dela em risco? – (O quê está tentando conseguir Ladina? - Não é óbvio.)
– Não foi difícil, mas também não foi fácil. Lembra que eu disse que ela passou a me evitar? – assenti com a cabeça – Precisei inventar uma boa desculpa para convencê-la a tomar um “chá” comigo. Foi assim que eu consegui. Sobre uma “libertação” segura, é possível sim. Tenho um livro bastante especial onde anotei todas as minhas pesquisas relacionadas ao fragmento que está comigo. Livro este que mantenho dentro de meu quarto, cheio de alarmes e armadilhas de proteção contra intrusos. Se aquele seu black-dog tivesse tentado me roubar aquelas taças depois de eu ter entrado, ele com certeza teria no mínimo sido ferido.
(Esse velho miserável...) – As taças... Então o senhor estava ciente quando me ofereceu aquela bebida. Porque motivo você arriscou tudo para... me unir ao senhor?
– Hunf! Era para aquele moleque de príncipe ter lhe oferecido em meu lugar. Tudo que eu desejava era mantê-la em Lund’Mulhingar tempo suficiente para estudar os seus poderes e quem sabe usa-los em meu beneficio. Mas os seus guardiões me forçaram a mudar alguns detalhes.
– Hãm... O senhor se encarregou de garantir eu acabar sozinha na hora do ápice lunar e, como o Võrgutav estava longe de mim, você lhe assumiu a “tarefa” de... me “cortejar”, digamos assim. É isso?
– Exatamente isso. – comecei a mata-lo em minha imaginação (Err... Ladina?)
– Tenho mais uma perguntinha se me permite fazer. – ele fez um gesto para que eu continuasse – Esse fragmento do Grande Cristal, ele está escondido em seu quarto? É definitivamente impossível obter qualquer coisa de lá sem ativar qualquer armadilha?
– Bom. Os alarmes estão postos em alguns dos objetos de meu quarto, e as armadilhas só se ativam se você entrar nele sem o uso da minha chave. Quanto ao fragmento do Cristal _sorrisso largo_ ele está dentro de mim.
– Dentro... Mas não é perigoso? Vi e tratei muitos contaminados!
– Graças aos resultados de minhas pesquisas, não. Encontrei um meio de controlar o poder do fragmento sem me deixar ser influenciado por ele. – declarava ele orgulhoso (Acho que agora ele já revelou tudo o que precisávamos Ladina. O jeito que você o está torturando mentalmente está me assustando! - Talvez esteja certo, sobre as perguntas. Você já pode parar de gravar e vou ver se consigo fazer esse monstro dormir. - Cuidado com o seu coração, minha Princesa...)
Enrolei como podia aquele ser asqueroso e ele só dormiu finalmente depois de ter consumido a ultima gota de licor.
.。.:*♡ Cap.137 ♡*:.。.
Lance
Aquele conselheiro apareceu mais rápido do que eu gostaria. Por muito pouco que não consigo me preparar a tempo, e só espero fazer tudo o que a Ladina me disse sem problemas. Eu estava realmente preocupado com a presença daquela criatura no mesmo ambiente que a minha amada, mas fiz o que pude para manter o plano.
Monstro do inferno... Quanto mais respostas inadmissíveis ela conseguia arrancar dele, sem que o miserável desse conta por causa da embriagues, mais raiva eu tinha daquele sujeito. Só mudei de sentimentos depois que a minha Ladina começou a executá-lo várias vezes em sua imaginação. Sendo um método mais cruel que o outro. Confesso que teria o maior prazer em aplicar tudo aquilo no patife, mas... Não quero perder a minha meio-aengel...
Parei e salvei o áudio depois de conseguirmos declarações suficientes e contive como pude a minha impaciência para aquele cara dormir logo.
Finalmente apagado, removi a ilusão que usei para me manter oculto até o fim, e fui deitar aquele asqueroso no sofá com cuidado para que não acordasse (mas só agi com cuidado porque foi a Ladina que pediu).
– Muito bem. – falava baixo após tomarmos um pouco de agua para acalmar os nervos – Temos as nossas provas e algum tempo enquanto esse lixo aí se mantem inconsciente. De que forma pretende prosseguir?
– De que forma? Simples! Você vai levar esse áudio para o rei e os outros, e eu, vou arrancar a chave do quarto dele e fazer uma vistoria.
– Quer invadir o quarto dele?! Pra quê? – ela me encarou com um olhar para lá de irritado.
– Vou repetir o que disse antes: não é obvio.
Pensei um pouco e foi então que entendi – Pretende encontrar o livro que pode salvar a Emiery?!
– Exatamente. Como você mesmo disse, graças ao licor temos algum tempo até ele acordar. Tremo só de imaginar o sofrimento que esse canalha causou e ainda causa para aquela coitada. E se ela ter uma “crise” agora... Ai, eu quero encontrar esse livro. – terminou ela de falar, aflita com a ideia.
– Entendo o que quer dizer... Ainda mais depois de ouvir tudo o que ouvimos, mas como fará para evitar os alarmes? E se não forem apenas “alarmes” o que tiver naquele lugar?
– Lembra a vez que nós meio que treinamos eu fugir de você sem poder usar poderes ou tocar em nada?
– Com certeza eu me lembro do trabalho que tive!...
– Errr... certo. _vermelha_ Mas recordando do principal, será uma situação parecida. Terei de procurar sem tocar em absolutamente nada. E eu ainda tenho a minha visão especial que me permite identificar objetos perigosos, lembra? Isso para não mencionar o efeito da mensligo! E Absol pode me acompanhar... Se algo der errado, e eu não puder lidar sozinha, você aparece e me resgata.
– _suspiro_ Está bem. Me convenceu. Mas tome muito cuidado mesmo! Absol está aqui dentro por acaso?
Ouvi um ganido que pertencia a ele e logo o encontramos com meia cabeça para fora da sombra da Ladina.
– Parece que ele se enviou dentro da minha sombra. _risinho_ Está vendo? Ficarei bem. Vá logo mostrar essa gravação enquanto tento ajudar aquela coitada. E... pensando bem, é melhor que ela esteja presente também. Emiery tem todo o direito de saber quem que ela veio aceitando como parente até agora.
– Tem toda a razão. Assim que eu encontrar alguém, peço para reunir ela e a realeza em um lugar só e apresento o áudio. Mas vou me manter concentrado na mensligo! Estou mesmo preocupado com você depois de tudo isso.
– Ohhh... – ele me puxou um pouco e beijou-me a fronte (ou seria se não fosse a máscara) – Tente relaxar só um pouquinho meu amor. Quanto mais rápido “limparmos” Lund’Mulhingar, mais rápido voltamos para casa, certo?
– Vamos antes que ele desperte. Já perdemos bastante tempo até aqui.
– É verdade. Absol? – ele ergueu a cabeça para fora – Preciso de alguns favorzinhos: primeiro, você pode tirar as chaves que esse elfo velho esconde entre as roupas e me dar? – Absol apenas encarou o bêbado, enegreceu a sombra da Ladina e a lançou sobre o patife. Removendo quase imediatamente depois e entregando um molho de chaves para a Cris. – Muito obrigada Absol. Agora eu quero que você me acompanhe até o quarto do dorminhoco aí, para eu não acabar me perdendo. E depois que continue vigiando tanto a mim quanto a esse cara.
Absol apenas abandonou a sombra dela e se dirigiu à porta, abanando a cauda, de modo a espera-la.
– Não sei se o black-dog consegue ser suficiente, mas se ele puder me buscar para chegar mais rápido ao seu socorro se necessário, fico mais calmo.
– Relaxe Gelinho... Eu vou tomar cuidado, e tenho o apoio dos guarda-costas mais fortes e amáveis que eu poderia desejar. Agora vamos.
Nós três deixamos o quarto de porta fechada e nos separamos. Enquanto a Ladina seguia acompanhada de Absol por um lado, eu fui até o quarto do resto do grupo onde o bobo-da-corte ficaria nos esperando.
– Cadê a Paladina? E o Conselheiro do Inferno? Conseguiram cumprir com a missão? – questionava ele nervoso.
– A Cris foi atrás de algumas coisas junto de Absol. Deixamos o miserável, totalmente apagado, dormindo no quarto e... Sobre o interrogatório... É melhor que a Emiery esteja presente quando mostrarmos o áudio ao rei.
– E porque que a Desastre precisa estar presente??
– Quando você ouvir o que temos gravado, vai entender.
– Tudo bem. Acho que dá para conseguir isso sem problemas se for uma exigência de sua majestade. Agora vamos logo ao encontro dele, pois aí os guardas cuidam de juntar todo mundo. Não vejo a hora de colocar aquela peste no devido lugar.
– Você não tem ideia! – declarei já soltando um suspiro e o seguindo até uma espécie de salão em que estava o Eru.
Ezarel apenas falou que tínhamos algo de extrema importância para revelar à ele e que precisava ser na presença do nosso grupo, da família real, da Emiery, e também pediu o consentimento da presença de Luthien. Isso foi o suficiente para deixar o rei intrigado, e ele não pensou duas vezes em pedir para que todos fossem reunidos na Sala do Trono, onde a acústica era melhor.
Acho que só levou quinze minutos para terminarmos de nos reunir na Sala, e isso com eu dizendo que eles não precisavam se preocupar com a minha Ladina naquela hora... (fiquei acompanhando cada passo dela através da mensligo).
– Muito bem então Guardião. Agora, o que de tão grave você me deseja mostrar Ezarel, ao ponto de precisar reunir toda essa gente.
– Antes de mais nada majestade, há algumas coisinhas que o senhor deve saber...
Ezarel começou a explicar sobre o alerta que recebemos dos springgans, de alguns poderes da Ladina e os efeitos da Norns Visdom, com eu arrumando tudo para ativar o áudio para todos ouvirem. Quando ele terminou, foi a minha vez de explicar sobre a tecnologia terráquea e ativar o áudio.
A Emiery, que antes estava sorrindo, foi mudando de expressão de acordo a gravação seguia. Chegando até mesmo a chorar ainda no meio da conversa. Claro, ela não foi a única a ficar chocada com tudo o que ouvíamos, até mesmo percebi alguns ficarem vermelhos de raiva ou brancos de pavor. Apesar de não ter deixado de continuar observando a minha Ladina (Cuidado onde pisa! Não sabemos o que pode ter aí! - Ai, foi só um tropecinho leve! Não toquei em nada ainda não, poxa...)
Mal terminamos de ouvir o áudio, e a Emiery começou a ter uma crise, ou melhor, a tentar se libertar – Emiery, me escute! – tentava ajuda-la pelo bem da Ladina – Não tente lutar agora. Espere um pouco! – lhe segurava os ombros, quase a abraçando e falando o mais perto possível de seus ouvidos – É possível você ficar livre desse sofrimento, mas não desse jeito! Assim você só vai conseguir acabar morta, e não acho que seja isso o que você deseja. Não lute. Não ainda. A Lys não está aqui, agora, nesse momento, porque foi atrás de lhe salvar...
– Como é que é?!? Aonde que a Cris está?! – me interrompia o sanguessuga, mas eu só o ignorei.
– Agora Emiery, se acalme. Seja paciente. Confie na Lys que deseja verdadeiramente te ajudar. – ela começava a se acalmar – Isso. Respire com calma. Não lute agora. Não ainda.
Luthien e Roeze começaram a querer examina-la assim que ela ficou calma. Todos pareciam estar em confusão por conta do áudio e do ataque da Emiery. O sanguessuga e o berserker já começavam a querer me cobrar respostas outra vez quando algo muito mais sério aconteceu.Cris
Muito bem. Um passo para colocar aquele monstro dentro da jaula que merece já foi dado, agora eu tinha que arrancar as correntes que ele havia jogado na coitada da Emiery (e em pensar que ela é do jeito que é por culpa daquele miserável...). Não sei a fonte do meu nervoso agora é tudo o que aquele ser me contou ou se é o temor pelo o quê posso acabar encontrando dentro do covil dele. E nem tenho como tirar a razão de Lance em ficar preocupado comigo pelo o que eu estava prestes a fazer (só um completo sem noção não se preocuparia).
Absol me acompanhou de boa até o lugar, mas demorei para conseguir destrancar a porta. Aquele nojento carregava umas 30 chaves! Porém consegui acertar na sétima. Absol tentou entrar mas foi repelido. Provavelmente uma das proteções que o nojento mencionou. Então pedi a Absol que ficasse escondido, vigiando a mim e ao crápula e, se alguma coisa que eu não pudesse dar conta sozinha acontecesse, que ele buscasse o Gelinho o mais depressa possível para me ajudar.
Se não fosse pela minha forma diferente de enxergar tudo, aquele seria um quarto razoável. Mas... Graças a essa minha visão especial... Aquele quarto era no mínimo macabro. Quase tudo emitia alguma aura de aparência sombria! Tive de respirar bem fundo para poder fechar a porta e começar a minha procura. E ainda bem que aproveitei a enrolação dele para dormir finalmente para obter informações extras que não haviam sido gravadas! Como a aparência do livro que pode salvar Emiery, por exemplo (Muito cuidado Ladina, ainda acho um erro você fazer isso sozinha. - Fique frio Lance, ou vou acabar cometendo um erro por sua culpa).
Me movia muito lentamente dentro daquele lugar, como se amarras limitassem cada movimento meu, apenas para não tocar em nada que me causava receio. Tanto que, levei uns cinco minutos para chegar na metade do quarto, sendo que não precisava nem de dez segundos para chegar nesse espaço. Eu conferia cada item que podia o mais próxima e afastada que dava deles. Só houve um momento que esses meus pés atrapalhados decidiram brincar com o tapete no chão e eu quase caí (Cuidado onde pisa!) Olhando rápido os itens sobre o móvel em que me segurei, parece que consegui não tocar em nada (Não sabemos o que pode ter aí! - Ai, foi só um tropecinho leve!) Me ergui massageando o braço que doeu com o choque (Não toquei em nada ainda não, poxa...).
No lado em que havia menos itens ameaçadores, não encontrei nada do que procurava, especialmente o livro. Precisei seguir até a parte que deveria ser o laboratório particular que aquele monstro mantinha ali dentro para continuar minha busca. Nessa parte, por causa do que eu via, tinha até medo de respirar de tantos itens atemorizantes que havia ali. Me aproximei de uma mesa que ficava mais ao fundo... e lá estava ele.
Um livro azul groso de capa dura, um pouco menor que um A4 e com dois ou três dedos de espessura. A capa era desenhada de prata e dourado, com o desenho de um cristal em seu centro e ornamentos celtas ao seu redor e uma ou outra gema preciosa nos cantos. Graças à Deus que não tinha “névoa” alguma saindo dele. Peguei o livro com cuidado e admiração. Folheei algumas das paginas finas e levemente amareladas, escritas e desenhadas com tinta preta e uma letra fina, tentando reconhecer alguma das palavras que havia aprendido com o Anya na vez que ela ganhou os livros élficos das cheads.
Guardei-o dentro da sacola de ombro que havia levado comigo e comecei a me afastar da área mais “sombria” daquele ambiente. No centro do quarto, encarei mais uma vez aquele pedaço assustador abraçando a mim mesma e preparando-me para sair dali. Eu podia ter aproveitado para procurar os registros que ele mencionou ter feito sobre cada vitima dele, além de dezenas de arquivos e pertences que ele obteve incivilmente, mas era melhor deixar isso para o rei e seus servos.
Soltei um longo suspiro e comecei a me virar para a porta. Mas o meu coração quase parou com o que vi diante de mim.
– O que faz em meu quarto? Lys de Eldarya...Palácio de Lund’Mulhingar
Ao contrário do que a Cris havia imaginado, quando ela tropeçou dentro do quarto de Ondabrar, sem que ela sequer sentisse, acabou encostando sem querer a ponta de uma de suas unhas em um enfeite que possuía um dos encantamentos de alarme.
Esse alarme, fez com que o elfo bêbado despertasse, mas já sem memoria de qualquer palavra trocada entre ele e a Cris depois do primeiro copo de buardh. Se vendo sozinho no quarto da Lys e não se apercebendo que foi desperto por causa de um de seus alarmes, achou melhor terminar de descansar em seu próprio quarto. Movendo-se com calma e cautela, ele seguiu seu caminho de maneira a esconder sua embriagues.
Ondabrar estava a uma esquina de seu quarto quando sentiu Emiery querendo se libertar mais uma vez. A “crise” o fez ficar desperto, mas não o livrou de toda a embriagues ainda. Ele não desviou nem seis metros de seu caminho original antes de perceber que a resistência dela ao seu encantamento diminuía.
(Aquela estúpida desistiu de se libertar por conta própria? O EU dela está fraco ou foi alguém que a convenceu??) refletia ele retomando o caminho de seu quarto em passos silenciosos.
Diante de sua porta, não conseguiu encontrar suas chaves consigo, e mesmo com o álcool ainda lhe atrapalhando o raciocínio claro, ele tirou uma poção especial contra umbracinecianos e jogou sobre as sombras à sua volta onde, infelizmente, acabou atingindo Absol que se mantinha observando e em prontidão para buscar o dragão ao primeiro sinal de perigo contra a Lys, ficando preso temporariamente dentro das sombras.
Ondabrar testou sua maçaneta com o mesmo cuidado que tinha quando não queria ser descoberto pelos outros nos corredores, e estranhou sua porta estar destrancada. Ainda em máximo silencio, ele adentrou em seu aposento. De cara ele se deparou com alguém de costas para ele, no meio do quarto.
O conselheiro entrou e fechou a porta sem ser notado, e sem deixar de observar o intruso. Apesar dos restos de álcool ainda correndo em sua rede sanguínea, conseguiu reconhecer sem problemas que quem estava a sua frente era a Lys de Eldarya. Ela se abraçava observando o seu laboratório e, apesar dela estar efetuando gesto totalmente inocentes, eles pareceram... atrativos, aos olhos do velho elfo levemente embriagado. Especialmente depois que ela soltou um longo suspiro e chocou-se ao descobrir que não estava mais sozinha.
– O que faz em meu quarto? Lys de Eldarya...Cris 2
(LADINA!) Virgem santíssima misericórdia meu Pai eterno!... Quando foi que esse velho entrou???
– O-Ondabrar! Vejo... vejo que já acordou. Como está se sentindo?
– Ainda com um pouco de buardh me afetando a cabeça, mas bem dentro do possível. E quanto a você? Não me respondeu o que faz aqui... – ele se aproximou um passo enquanto eu recuava outro.
– Be-bem... – pensa rápido garota! – Depois que o senhor caiu no sono eu... Eu achei que não seria algo bom para o senhor se, se descobrissem que acabou bebendo outra vez e... Dormindo em meu quarto... Depois de ontem à noite... Podia ser bem pior se notassem isso então...
– Então o quê? – ele se aproximou novamente e eu quase caí na cama ao me afastar um pouco mais.
– Achei que se o senhor trocasse de roupas, para reduzir o cheiro de bebida, pudesse ajudar a lhe proteger de ideias erradas. Consegui pegar suas chaves sem perturbar o seu descanso... E me lembrei do caminho até aqui, mas...
– Mas... – não gosto do jeito que ele está me olhando... (Lance? - Pra onde foi o black-dog??)
– Entrar assim no seu quarto, mesmo que com boas intenções, não é lá algo muito ético, certo? E por isso, fiquei meio que com remorso de estar aqui sem o seu consentimento...
– Entendo... Chegou a pegar em alguma coisa?
– Não... – desviava o olhar, torcendo que ele pensasse que fazia aquilo por vergonha e não porque mentia.
– Tudo bem. E a ideia de eu trocar de roupas realmente não é ruim. – ele pronunciou alguma coisa que fez com que a quantia de itens emitindo aura simplesmente dobrasse – Que tal ajudar-me com as que estou usando agora?
– O-o que foi que o senhor fez? Exatamente? E-e o que quer dizer com “ajuda-lo”?
– Sabia... Que apesar de você não ser uma elfa dagtimerne... Você é bem formosa?
Aaaaiiiii... Quando foi que eu me insinuei sem querer para esse nojento? (Não deixe ele chegar perto de você! Já estou na metade do caminho! - Pois se apresse mais!) – O-olha Ondabrar. N-não acho que seja uma boa ideia nós... Nós nos “relacionarmos” agora. – continuei o evitando com cuidado extra para não tocar em nada que tivesse “fumaça”.
– O festim já se foi, então nenhuma restrição lhe será imposta se ficarmos “juntos” por alguns momentos. Sem falar que seus movimentos graciosos me faz querer ainda mais abraça-la.
– QuÊ!?! – (Vou matar ele... - Acho que o rei vai querer questioná-lo antes... Cadê você?!)
– Vem aqui Lys... Prometo que não se arrependerá.
– Acho... – me desviei dele por pouco – Que isso continua sendo uma má ideia!
– Bancando a difícil só me anima.
– Ondabrar. Pense racionalmente! Você quase perdeu o seu cargo de conselheiro esta manhã. – tentava apelar à lógica.
– Cargo de conselheiro... Hunf! Fique a senhorita sabendo que o que eu desejo é a coroa! E não um cargo submisso. – (Lance, está ficando difícil aqui... - Estou quase aí.)
– Mais importante ainda! Quer mesmo colocar, de novo, tudo a perder por causa de um pouco de luxuria? Sejamos sensatos meu caro...
– Sensatez? Você está conseguindo escapar de cada armadilha presente neste quarto, me atiçando com a sua “dança” cada vez mais, e eu que não estou sendo sensato?
– Armadilhas?!? – então foi isso o que ele fez – Que armadilhas??
– Não é nada de mais... – brincava ele com um frasco “enevoado” sem o tocar – Além de não poder usar ao menos alguns seus poderes, sejam eles quais forem, você só ficaria presa ou paralisada por um tempinho. – _engole seco_ (LANCE!!! Você ainda não me ensinou aquela barreira!!).
Escapei dos braços daquele velho enérgico demais mais duas vezes, e o tempo parecia não andar até que finalmente acabei encurralada.
– Ondabrar... Por favor! Não faça nada... – apelei quase chorando.
– Oh... Não precisa chorar, bela donzela... – ele estava a dois passos de mim – Prometo ser bastante gentil com a senhorita. – senti o coração subir à garganta com o sorriso dele, mas antes que ele pudesse se aproximar mais... – Mas o qu...! – a mesma barreira que eu queria que Lance me ensinasse, e que já me salvara algumas vezes, surgiu ao redor daquele elfo.
– Desculpe a demora. Você está bem? – perguntava o Lance, ainda próximo da patente para evitar as armadilhas _aliviada_.
– Você demorou sabia?! Mais alguns segundos e eu achei que já era! – reclamei por conta de meu nervoso e me apresando para chegar até ele, evitando as armadilhas e as reclamações do encarcerado.
– Não gastei nem vinte minutos da Sala do Trono até aqui. E ainda me deparei com o som de algo arranhando do lado de fora, onde consegui encontrar o que parecia ser o Absol tentando romper uma sombra. Esse canalha deve ter feito alguma coisa para nos atrapalhar de ajuda-la mais cedo.
– Tudo bem. – o abraçava muito mais tranquila agora – Vamos logo falar com o rei ou com a Luthien. Já tenho o que eu tinha vindo buscar. Mas e o Absol? – encontrava a sombra que Lance mencionou ao passar a porta.
– Alcançamos. – me espantava com o Nevra e o Ezarel entrando no corredor – Mas parece... – Nevra continuava falando ao terminar de se aproximar – Que já foi tudo resolvido. Ou quase. Absol está preso? É isso mesmo que estou percebendo?
– Aparentemente sim. E eu já enclausurei o traidor lá dentro também.
– Parece que o Conselheiro do Inferno usou algum tipo de poção anti-umbraciana. – Ezarel cheirava o que parecia ser restos de liquido em uma parede – O efeito é temporário, mas se eu soubesse que tipo de poção ele usou, poderia libertar o black-dog agora. Você veio atrás de quê no quarto do demônio Paladina?
– Disso. – mostrava o livro que mantive comigo – Da chave para libertar Emiery de sua maldição.
– Agora você me impressionou Cris! Correr todo esse risco por alguém que é quase um inimigo? Em todos os meus anos de Sombra, não me lembro de já ter visto tanto altruísmo assim! – declarava ele espiando o quarto.
– Pois está vendo agora. E se eu fosse você, não entraria aí agora! Está empanturrado de armadilhas.
– Como sabe?
– Agora não é hora para isso. – empunhasse o Lance – Sabe dizer por quanto tempo mais Absol ficará incapacitado de acompanhar a Ladina?
– Para saber com certeza teria que saber que tipo de poção foi utilizada. A mais forte que conheço é capaz de durar no máximo uns quarenta minutos e, supondo que ela teria sido lançada até cinco minutos antes de você sair correndo desesperado, Absol continuará aí por, se muito, quinze minutos.
Acabei soltando um suspiro de pena e de alívio por Absol. Me aproximei da sombra que ele tentava romper e procurei acalma-lo. Nevra se ofereceu a ficar fazendo companhia à Absol e disse também que queria dar uma olhada no Ondabrar e em seus pertences. Alertei-o mais ou menos quais itens ele deveria evitar por eu enxergar algum tipo de névoa saindo deles, e fui ao encontro dos outros com Ezarel e Lance me acompanhando.Lance 2
Apesar de ter demorado alguns segundos por causa do barulho feito por Absol, fiquei aliviado de ter conseguido alcançar minha amada a tempo. Quem imaginaria que aquela desculpa esfarrapada que ela havia me dado antes seria útil algum dia? Acho que tentarei repedir aquele “treino” com ela qualquer noite dessas, depois que voltarmos. Nem me importei com a injustiça dela ao notar o quão aliviada ela estava por eu ter chegado na hora.
Seguimos até a Sala do Trono, encontrando alguns guardas no meio do caminho que pareciam seguir para o lugar que tínhamos deixado, onde o Eru e os outros continuaram nos aguardando.
– Graças aos deuses Lys de Eldarya, onde você estava?
– Na toca do black-dog majestade. – esclarecia o bobo-da-corte causando espanto em todos – Ela foi buscar as “chaves” da Emiery e acabou precisando ser ajudada pelo Guardião dela. Por isso que ele correu desesperado daqui. O Conselheiro do Inferno está preso em uma barreira feita por esse aqui... – ele me indicava com o polegar – ...e o meu amigo vampiro ficou para dar uma olhada no lugar e para aguardar a libertação do Absol que acabou preso dentro da própria sombra por causa do traidor.
– Eu... Eu não sei o que lhe dizer Lys de Eldarya. Mas tenha a certeza que aquele ser vai pagar por cada crime por ele cometido!
– Está tudo bem rei Eru. Passei por alguns sufocos ali dentro, mas... – ela pegava e estendia o livro que havia pegado – Acho que o encontrar disso o mais rápido possível era algo mais importante.
– Este é o livro mencionado na gravação?! – perguntava a Luthien que cuidava da Emiery que estava sendo mantida calma em uma cadeira.
– Exatamente. Está em élfico e como não conheço... Traze-lo é tudo o que podia fazer.
– Você com certeza fez bastante. – declarou a elfa com olhos marejados e retornando para junto da Emiery já procurando pelo encantamento.
Tanto eu quanto a Ladina soltamos um longo suspiro juntos, com pelo menos eu fechando meus olhos. Só que, na hora que os abri, parecia que tinha duas imagens diante de mim! E quando, sem piscar meus olhos, me voltei para a Emiery, pude enxerga-la exatamente da mesma forma que a Ladina me havia descrevido! E, percebendo isso, me voltei para a minha Ladina, onde tive outra surpresa. Era como, se nossas visões estivessem sobrepostas! (O que é que está acontecendo aqui?!?) Nós dois esfregamos nossos olhos, e ao voltar a abrir os olhos, tudo havia voltado ao normal. (Como foi que “trocamos” de olhos? - Eu não sei Ladina. Será... que a mensligo tem algo a ver?)
– Há algum problema? Lys? Guardião? – perguntava o rei.
– Não! – falamos juntos.
– Não é nada majestade. – continuava ela (O que você sabe sobre a mensligo? - O mesmo que você.) – Acho que estou apenas um pouco cansada. Sem querer, e nem sei direito como, acabei “animando” o Ondabrar e tive um pouco de trabalho para evita-lo.
– Aquele miserável... – se irritava o rei (Acha que conseguimos descobrir mais sobre o que aconteceu por aqui?) – Sem dúvidas que a lista de infrações daquele crápula não será pequena! – (Se o for com o bobo-da-corte tudo bem. Não quero arriscar a sua segurança com mais um elfo lixo.)
– Tenho certeza de que o senhor irá tomar providências contra ele e também contra qualquer possível aliado que estivesse ciente de suas ações. – (Pelo o quê aquela peste nos revelou, não devem haver muito “ajudantes” dele por aí.) – Mas há várias coisas que ele me revelou que não foram gravadas... – (Que tal usarmos o ego de Ezarel contra ele para descobrir se ele é capaz de nos ajudar?) – Apesar de eu ter prometido não falar nada...
– Você prometeu, mas eu não. – declarei (Acho que pode ser divertido brincarmos com o bobo-da-corte um pouquinho... Mas não agora.) – Posso contar tudo e você só precisaria confirmar as coisas. Confirmar não é revelar.
– Você está certo. – (Nos dois assuntos.)
Acertados assim, comecei a contar todas as demais revelações feitas pelo conselheiro embriagado com a Ladina confirmando o que fosse necessário. Devo confessar que tive de me conter quando vi o rosto branco do Ezarel ao revelar que a tal da Emiery tinha uma quedinha por ele, por isso era fácil convence-la de distrair o alquimista ou obter informações sobre ele.
– Espera. Espera, espera, espera! Isso que vocês estão dizendo é mesmo sério? A Desastre “gosta” de mim??
– Segundo Ondabrar, Ezarel, ele só conseguiu descobrir a verdadeira razão de você querer abrir um portal às escondidas por causa do ciúme dela contra a... Mariane? Foi esse o nome?
– Quase isso Paladina.
– Pois bem. Foi o ciúme dela que a fez falar disso enquanto o Ondabrar testava uma nova poção de indução da verdade com ela. Emiery não contou por mau, mas isso quase lhe custou o pescoço.
– Não perdi minha cabeça, mas vários colegas de confiança sim. Mesmo que não tenha sido por querer, ela foi responsável por um belo estrago. Ainda não conseguiu achar o tal feitiço mãe? Daqui a pouco o calmante que dei a ela vai perder o efeito!
– Tenha calma meu filho. Há muita coisa aqui e francamente, só metade do que já li até agora é o suficiente para aquele monstro pegar prisão perpétua. E isso com eu sendo boazinha!
– Não há necessidade de ser boazinha com Ondabrar, Mestra Luthien. Apenas concentre-se em salvar essa criança da perversidade daquele homem. – falava o rei com neutralidade – E espero escrivão, que o senhor não esteja esquecendo de nenhuma palavra sobre as acusações e revelações sobre Ondabrar.
– Estou anotando cada sinal, majestade. – declarava o franzino com óculos de fundo de garrafa – Quando o guardião e a Lys terminarem seus testemunhos irei querer ouvir a tal gravação para anota-la também.
– É de fato prudente fazê-lo, pois não nos dispomos do mesmo tipo de tecnologia que a Lys carrega consigo. Por favor, prossigam. Quanto mais logo terminarmos, mais cedo poderão descansar.
.。.:*♡ Cap.138 ♡*:.。.
Cris
Depois que terminamos de contar tudo o que dava para contar, e com Absol quase me atropelando de afeição depois de finalmente se ver livre enquanto Lance e eu ainda contávamos tudo, optamos quase todos por jantar alguma coisa.
Luthien e Emiery acabaram tendo de ir para a enfermaria, pois a médica estava com dificuldades para encontrar o encantamento certo, e em seu local de trabalho ela tinha mais recursos para continuar mantendo a Emiery tranquila enquanto continuava com a sua busca. Além de aproveitar para fazer um check-up completo na coitada.
O jantar foi... silencioso. Eru não participou da refeição pois tinha pressa em resolver as coisas, com Võrgutav lhe ajudando no que dava. Lance até teve de interromper a comida para poder libertar o traste que acabou dormindo por causa do efeito restante da bebida. Ninguém ousava questionar o que fosse por ainda estarem em choque pelas revelações que consegui trazer à tona. E Absol não se atrevia a afastar-se de mim por nada.
Quando os ocorridos terminaram de se espalhar pelo palácio (e logo, logo pelo reino), Nessa e suas irmãs me disseram para não retornar aos meus aposentos ainda, pois elas fariam uma senhora faxina ali para que não ficasse nem mesmo um traço da presença de Ondabrar no lugar. Acabei aguardando pelo esvaziar das fontes na biblioteca, onde tentei “informar” direito a Anya sobre o que estava acontecendo, e até ela acabou tendo um pouco de compaixão com a sua professora, se comprometendo a visita-la na enfermaria ainda nesse dia.
– Hoje foi sem dúvidas um dia complicado... – argumentava já entrando nas aguas para espairecer.
– Absol e eu que o digamos. Aceita uma massagem nos ombros? – Lance entrava comigo, sendo só nós dois e Absol sob o luar recaindo nas aguas.
– Eu em você ou você em mim?
– Pode ser o dois se quiser...
– _risinho_ Bobo! Parece... que Absol tomou um pouco de raiva das sombras. Não entrou em sombra alguma desde que conseguiu sair. – observava Absol que estava deitado, mas atento, próximo às margens.
– Se eu tivesse ficado preso naquela Sala, com você correndo perigo, totalmente incapaz de ajuda-la como aconteceu com ele; eu também não iria querer retornar para lá tão cedo.
– Sério? Então teríamos de mudar o local da conversa se tivesse sido você, ao invés de Absol, aquele que não teria conseguido me ajudar?
– Pode ter a certeza que sim. _beijinho_ Eu ficaria com uma tremenda raiva de cada uma daquelas portas e não me submeteria à “proteção” delas por um bom tempo.
Acabei o abraçando com um sorriso no rosto. Tudo o que eu queria era relaxar um pouco e aproveitar a melodia noturna que deixava o lugar agradavelmente reconfortante.
– Quando que iremos questionar o Ezarel? Sobre a mensligo...
– Vamos deixar isso para amanhã Gelinho. Assim eu posso usar o meu tempinho na biblioteca como parte da desculpa que darei para questiona-lo sem levantar suspeitas.
– Ok. Como você é bem curiosa, vai ser difícil ele estranhar alguma coisa. É melhor mesmo que você se encarregue de questioná-lo. Se eu o questionar, é possível que ele pense que estou tentando controla-la ou coisa assim.
– Você não me controla! Auxiliar talvez, mas não controlar.
– Não acho que eles pensariam assim de boa. _suspiro_ Não era exatamente assim que eu desejava ficar com você aqui dentro...
– Deixe-me adivinhar: você tinha ideias um pouco mais... a-tre-vi-das. – falei quase rindo e brincando em seu peito em cada sílaba de “atrevidas”.
– Não vou negar nem um pouco. _sorriso malicioso_ É só uma pena eu não estar com espirito algum para isso. Você estaria?
– Sinceramente não. Ia ser interessante! Mas eu só quero repouso mesmo.
– O rei disse que fará o julgamento daquele desprezível ainda amanhã. Só depois disso, e do recolher do fragmento de cristal, que estaremos livres para retornar para Eel.
– Ou seja, ainda estamos presos em Lund’Mulhingar por pelo menos dois dias. Pela quantia de crimes daquela criatura, não seria nenhuma surpresa o julgamento durar o dia inteiro.
– Vamos apenas descansarmos o que pudermos até lá, e o que acha de aumentarmos as dificuldades da próxima vez que “treinarmos”?
– Do que está falando?
– Da noite que te ajudou a se salvar hoje. Nós dois concordamos que aquela experiência acabou se mostrando útil, então se por alguma desventura do destino você vier a passar por aquilo outra vez... Talvez, possamos conversar com a Miiko para obtermos permissão de usarmos outros ambientes para aumentarmos a sua perspicácia.
– Err... bom. Você pode ter alguma razão. Mas eu quero estar descansada nesse “treino”!
– _riso_ Justo. – ficamos um tempo em silencio sentindo a brisa que equilibrava a temperatura da agua – É melhor não ficarmos nos demorando muito por aqui. Ainda estou preocupado com os idiotas de Apókries e os possíveis amigos daquele cara-murcha.
– É uma pena. Porque está realmente uma delicia ficar aqui.
– Digo o mesmo.
Trocamos um beijinho e depois saímos da agua. Seguimos para o quarto que estava de outra cor e suavemente perfumado. Estel preparou um leve lanche noturno para nós e a Calen acabou enfeitiçando uma harpa para que ela tocasse uma melodia tranquila, sozinha, por um certo período. Confesso, estava amando cada um daqueles paparicos. Lance e eu dormimos abraçados com Absol deitado sobre nós.Ezarel
Por todos os deuses... Acho que a Paladina é mais azarada do que sortuda, pois, é ca-da, coi-sa, que a-pa-re-ce, que simplesmente não dá para acreditar. Não bastava apenas encontrarmos o fragmento mencionado pelos springgans? Tínhamos que lidar com um demônio disfarçado de elfo medíocre? Tenha a mais santa paciência... Isso para não mencionar a segredinho da Desastre (continuo tendo calafrios de lembrar).
E quando é que essa faeliana vai parar de me surpreender? Depois do jantar, enquanto ela se distraía com a “Estrelinha” do berserker na biblioteca, me foi pedido para ajudar a remover todas as armadilhas que existiam no quarto do Conselheiro do Inferno, e céus! Como que ela conseguiu se locomover ali dentro ilesa?!? Aquela mulher me assusta.
Sua majestade declarou que realizaria o julgamento oficial do Ondabrar no dia seguinte logo de manhã, com o Ondabrar sóbrio e sob o feito da poção da verdade, uma vez que ficará esperando pelo fim da bebedeira dentro de uma cela vigiada por dois guardas de elite, e dois magos de alto nível, até removermos o fragmento do Grande Cristal de dentro dele (ele vai estar totalmente ferrado...).
Acabei indo ver a Desastre para saber se minha mãe já tinha conseguido se livrar da maldição dela, e eu acabei tendo que ajuda-la a fazer isso. O encantamento utilizado era de alto nível! Não dava para desfazer aquilo sozinho. No final das contas, eu, minha mãe, e mais três curandeiros tivemos de nos unir para pronunciar aquela ladainha e termos poder suficiente para romper com as correntes que aquela peste havia jogado na Desastre. Aposto que ele só conseguiu lançar aquela maldição sozinho por causa do fragmento que tinha dentro de si. Deu trabalho! Mas juntos conseguimos remover aquela porcaria e minha mãe se comprometeu em vigiar a Desastre até ela acordar.
No que eu caí na cama, não vi a noite passar. Tanto que nem acreditei que o dia já havia amanhecido quando me chamaram para levantar (essa viagem está me desgastando tanto quanto o castigo que recebi por embebedar a Paladina). Acabei sendo o último a deixar o quarto, mas parece que o meu dia será cheio de surpresinhas...
– Bom dia Ezarel! Dormiu bem?
– Oi Paladina. O que você quer de mim tão cedo assim? – ela não escondia o interesse...
– _sorriso_ Perguntar sobre algo que li ainda em Eel e que nunca me lembro de perguntar. A não ser que você não saiba me responder e eu tenha de encontrar algum alquimista que seja mais inteligente...
Lá vem ela me desafiando... – O que você quer que eu responda.
– Você já ouviu falar numa tal de “mensligo”? – hein??? – Eu meio que li essa palavra em livro que comecei a folhear para passar o tempo e fiquei curiosa. O que é isso exatamente?
– De forma simplificada, é uma poção que funciona como uma telepatia artificial entre duas pessoas em especifico.
– Telepatia artificial?
– Sim. Ela só tem efeito em duas pessoas pré-escolhidas porque precisa de uma amostra de sangue daqueles que vão usa-la. O efeito da poção é temporário e sua duração depende da quantia ingerida pelos usuários.
– Interessante... Mas como exatamente funciona essa “telepatia”? É só uma forma de se comunicar ou é possível manipular de alguma forma a mente do outro?
No quê que essa maluca está pensando... – Só comunicação mesmo. Se bem que, foi confirmado que, se os usuários da mesligo conseguirem ficar em total e absoluta sincronia, eles podem acabar trocando de visão...
– Trocan... Como assim trocando de visão? Um vai passar a enxergar o mesmo que o outro? É isso?
– Bem por aí Paladina. Porém é quase impossível duas pessoas conseguirem se sincronizarem desse jeito por conta própria. É preciso agir junto até no mesmo milésimo de segundo.
– Realmente interessante... E você já conheceu alguém que tenha conseguido fazer isso?
– São poucos os que aceitam usar a mensligo, o que dirá conseguir a sincronia. Claro que não conheço ninguém! – senti o estômago apertar – Agora se não tiver mais nada relevante para me questionar, sugiro irmos comer alguma coisa se já não o tiver feito ainda. Daqui a pouco o julgamento começará.
– Tem toda a razão Ezarel. Muito obrigada por esclarecer a minha dúvida. – e ela partiu sorrindo (será mesmo que ela me questionou só por curiosidade??).Lance
Tive uma noite consideravelmente casta e renovadora, mas quase tive um ataque com a primeira coisa que eu vi ao acordar primeiro.
“Bom dia Gelinho! Pronto para mais um dia em Lund’Mulhingar?” – (o que raios vocês duas fazem aqui?!) – “Minha irmã está aqui para ajudar na recuperação do fragmento do Cristal, já eu estou para lhe explicar isso e também pedir para que dê uma forcinha à Cris quando isso for feito. É o suficiente para você?” – (foram vocês que pediram aos springgans que nos contassem sobre o fragmento, não é mesmo?) – “Sim fomos nós. E como método de precaução que fizemos isso. Ainda há muitos fragmentos do Grande Cristal espalhados por Eldarya... E muitos em lugares que só a Cris poderá recuperar!” – (Quantas viagens a minha Ladina vai ser obrigada a fazer??) – “Quantas forem necessárias. No dia em que o Cristal ficar completo, ela estará livre para fazer o que bem entender de sua vida. Mas... Até lá... Melhor ser paciente.”
Respirei fundo e comecei a observar minha Ladina que dormia serena (quando que a Branca vai fazer a Ladina pegar o fragmento com o patife?) – “Na hora que o miserável receber isso como sentença. Isso acabará exigindo um encantamento diferente do que a Cris sempre usou, por isso que ele não foi recuperado ainda.” – (entendo. Bem que eu havia estranhado vocês não terem forçado a Ladina a pega-lo de volta ainda).
“Os crimes daquele elfo tinham de ser revelados.” – sussurrou a Branca – “Ou suas maldades não se encerrariam.”
“Pois é, é o que ela disse. Assim é um a menos no pé da Cris. Bom, eu vou indo agora. Tenham um bom julgamento todos vocês!” – declarou a Negra sumindo imediatamente depois.
– Acho que você não vai falar mais nada com a Negra longe, certo? – perguntei sussurrando, e a Branca só me assentiu com a cabeça como resposta. Observando outra vez a Ladina, e depois o quarto, decidi que era melhor nos levantarmos – Ei, Ladina. – comecei a chama-la – Acorda minha Princesa... Já amanheceu.
– Hurrmmm... Tem certeza? – _riso_ ela se encolhia nos lençóis.
– Tenho. E não é melhor questionarmos sobre a mensligo antes do julgamento?
– Pode ser. Mas aqui está tão gostosinho...
– Ôoo Ladina... – comecei a encher-lhe o rosto de beijos, conseguindo até mesmo alguns risinhos dela.
– Tá bom! Tá bom! _risinhos_ Eu aceito sair da cama _selinho_ Mas vou cobra-lo por me forçar a sair.
– Se for algo que eu possa fazer sem me machucar... Aceito como se fosse o seu mais humilde servo.
– Me engane que eu gosto!... – divertia-me com seu sarcasmo e começamos a nos arrumar.
Enquanto nos arrumávamos, combinamos como que faríamos para saber sobre a mensligo. Concordamos de que ela o interrogaria sozinha (tendo apenas Absol como companhia) e eu acompanharia tudo através da poção. Ela sempre foi boa em perguntar as coisas então não me preocupei com os métodos que usaria.
Segui para o salão de refeições onde ficaria na entrada e deixei a Ladina (com a Branca grudada nela) aguardando pelo alquimista na nossa porta, porém, apesar do patife ter feito o maior escarcéu quando nós dormimos um pouco mais ontem, ele também demorou para deixar a cama (A essa altura já era para o palerma estar de pé! - Fica frio Gelinho... Ontem o dia não foi fácil para ninguém. E é apenas sete da manhã! - Com o julgamento tendo sido marcado para as dez. É bom que ele já esteja ao menos de pé. - Ô Lance... Ele está vindo!).
Ouvi-a cumprimentando o Ezarel e ele já foi desconfiando logo de cara. Ao menos na parte interesseira. Cheguei a ficar meio assustado quando ela questionou se era possível controlar o outro usuário da poção (Que raio de pergunta é essa Ladina?!?) – Trocan... – (Ué, essa não é uma das características da telepatia?) – Como assim trocando de visão? – continuava ela com o inquérito, e eu prestava o máximo de atenção possível nas explicações que ela ouvia.
(Quando nós dois suspiramos ao mesmo tempo ontem, você também fechou os olhos? - Sim. E parece que de alguma forma, conseguimos sem querer reabri-los no mesmo exato momento. - Humm. E você Lance? Chegou a conhecer alguém que já tenha conseguido fazer isso? - Você e eu somos os primeiros que descubro. E ainda por cima como acidente) – Tem toda a razão Ezarel. – (Deseja continuar a conversa agora ou em outra hora?) – Muito obrigada por esclarecer a minha dúvida. – (Outra hora. Quando estivermos livres de Lund’Mulhingar de preferência. - OK.)
Aguardei por ela e pelo alquimista, e só entrei para comer na presença dela. Comemos e depois seguimos para a Sala do Trono onde aconteceria o julgamento, que por sinal, já estava cheio de gente.Cris 2
Total sincronia... Nunca pensei que a poção ganha pela Lunna fosse capaz de algo tão inesperado. Será que haverá alguma situação em que essa “habilidade” se mostrará necessária no futuro? Pelo sim, pelo não, nem que eu tenha que convencer o Gelinho, nós dois vamos dar um jeito de dominar isso.
O desjejum foi tão animado quanto o jantar de ontem, e na Sala do Trono, tudo já estava arrumado para o julgamento (só queria que tivesse umas cadeiras para sentarmos...). Eru já ocupava o trono; Emiery estava com Luthien ao seu lado; meus amigos estavam atrás de mim; fiquei sabendo que minhas “babás” estavam mantendo Anya distraída em algum lugar; e me lembrei de vários rostos (ou acho) que tinha visto no dia que o rei me apresentou à todos.
Quando todo mundo estava finalmente reunido ali dentro, Eru deu a ordem para que Ondabrar fosse buscado. Ondabrar chegou algemado, indiferente, e acompanhado dos mesmos guardas que lhe velou a noite. Causando incompreensão em muita gente.
– Sua majestade se importa de explicar-me o porquê de eu ter amanhecido dentro de uma cela e de estar recebendo este... Tratamento?
– Com todo o prazer Ondabrar. Võrgutav, príncipe de Lund’Mulhingar e filho meu, importa-se de pronunciar para todos as razões de estarmos reunidos aqui?
– Me será uma honra. – ele desenrolava um pergaminho após reverenciar o pai – Senhoras e senhores, estamos reunidos aqui para efetuar o julgamento do homem conhecido como Ondabrar Prezrivo Okrutno; Primeiro Conselheiro do Rei e Diretor de Pesquisas Alquímicas de Combate, pelos crimes de: falsificação de documentos; fraude de exames primordiais; exploração de inocentes; utilização indiscriminada de magia negra; planejamento... – Võrgutav pronunciou uma lista bem extensa de acusações que deixava todo mundo cada vez mais chocado com o que viam e ouviam, e fazendo com que o próprio Ondabrar ficasse pálido – ...e finalmente, tentativa de abuso íntimo. Seu julgamento será efetuado e decidido pelo meu pai, rei Eru de Lund’Mulhingar, com a confirmação e averiguação de cada um dos crimes mencionados, onde todas as testemunhas, afetados e o réu serão submetidos aos efeitos de uma poção da verdade legítima. – esse detalhe me pareceu ser o que mais impressionou aquela gente – Com a sua palavra majestade. – concluiu ele enrolando o pergaminho e fazendo uma nova reverencia ao pai.
– Agradeço-lhe. Para começarmos, peço para que Ezarel Ædeldrik explique para todos como que a poção da verdade funciona, para que assim possamos iniciar de fato com este julgamento.
– Como ordenar majestade. – aceitava Ezarel já começando a falar (eeltreck?).
Todo mundo o ouvia com atenção e notei que o frasco que ele apresentava a todos era o que pertencia ao Nevra. Ele fez uma demonstração com ele mesmo (já que seria uma das testemunhas) e concluiu a sua aula, deixando um monte de gente apreensiva.
Eru esclareceu que, por conta do tempo limite de efeito da Norns Visdom, cada interrogado tomaria da poção em sua respectiva vez, e declarou aberto o julgamento, começando a questionar (logo depois de fazer o Ondabrar tomar da maior dose possível) pelo Ezarel, para aproveitar o fato dele já estar sob os efeitos da poção.
Foi um procedimento bem demorado, pois eram muitas as testemunhas, incluindo eu. Na minha vez, Lance testemunhou junto de mim, igual ontem à noite, para que eu pudesse continuar mantendo a promessa feita ao réu, e com o escrivão confirmando o testemunho que nós dois havíamos dado antes. Quando chegou na vez da Emiery, eu realmente lamentei por ela. Ela chegou perto de descobrir a verdade sobre os seus pais quando ainda era pequena! Mas a pouca idade a impediu de perceber a realidade.
Várias vezes Ondabrar quis acusar que o quê ouvia eram calúnias, mas em todas elas a poção o impediu. Comprovando contra si mesmo a veracidade das acusações. E ainda teve que tomar novas doses umas duas vezes! (claro, com uma pequena pausa no julgamento para que a repetição das doses não ativassem seus efeitos colaterais, e para que todos tomassem um ar).Emiery
Eu nunca pensei que tudo isso poderia estar acontecendo comigo. Como que o meu... “tio”, teve aquela coragem?! Desde que aceitei tomar aquele chá com ele em seu quarto, quando adquiri a minha “doença”, eu bem reparei que não me sentia estar sendo eu mesma. Sem falar... que tinha me esquecido de quase tudo que havia vivido quando estava em Eel. E para piorar, sempre que eu tentava me lembrar o quê que tinha acontecido, sentia meu peito e minha cabeça doerem terrivelmente! Uma dor brutal que só me deixava quando eu desistia de reaver essas memórias, convencida pelo Ondabrar (a dor era o meu verdadeiro eu querendo reassumir o controle?).
Quando pequena, apesar de não conseguir falar nada com ninguém, eu me lembrava, e ainda lembro, de cada detalhe daquela noite horrível. E não hesitei em contar, quando chamada a testemunhar, que ainda novinha, cheguei a ver meu “tio” conversando com alguns homens que se pareciam muito com os que tinham nos atacado. Como Ondabrar havia tido que era o meu tio, conseguindo fraudar até mesmo o Ahnenblut diante de todos, eu imaginei que ele talvez estivesse investigando os causadores daquela tragédia, e não que ele era o mandante.
Choro ao recordar do que ouvi na gravação que a Lys fez com o auxilio de seu guardião. E que tive de ouvir duas vezes! Ao menos já estou livre do controle daquele monstro e me recordo de tudo o que ele tentou arrancar de mim (mas confesso que fiquei totalmente sem graça de ter o meu pequeno segredinho, minha quedinha pelo Zar, revelado à todos _corada_).
Ondabrar, quando interrogado, tentou de tudo para se fazer de inocente, porém, graças ao Zar e seus amigos, todas as suas tentativas foram frustradas. Demônio. E em pensar, na quantidade de coisas que acabei fazendo para ajuda-lo algumas vezes... Nem sei como que eu poderia compensar todos os males que causei achando estar fazendo a coisa certa. Mas graças ao meu tempo em Eel, já sei como posso refazer minha vida, ou pelo menos como devo começar.
Apesar de todos tivermos ganhado uma pausa de uma hora para alimentação, e outra de meia hora para espairecermos, aquele julgamento estava sendo consideravelmente longo e cansativo. Quase não tive apetite no almoço. O crepúsculo já devia estar prestes a se anunciar quando sua majestade decidiu finalmente declarar seu veredito.
– Todas as provas e testemunhos foram apresentados. Graças a Norns Visdom, nenhuma mentira foi permitida nesse julgamento. Mediante tudo o que foi comprovadamente revelado neste salão, chego a seguinte decisão: Ondabrar será destituído de todos os cargos que possui; terá todos os seus bens tomados e confiscados, sendo que, uma vez terminado de averiguar e recolher tudo o que for incriminatório sobre ele, serão transferidos indiscutivelmente para Emiery, uma das maiores vítimas dele; viverá nas masmorras até o fim de sua vida e finalmente, quando terminado de encerrar todas as sua atividades facínoras, terá o fragmento do Grande Cristal removido de seu corpo, o que significará a sua morte. E tenho tido.
Não vou negar que essa foi uma decisão adequada para tudo que meu “tio” fez, mas... Ele ser morto... É realmente necessário?
– Um momento majestade. – a Lys se anunciava – Não há a necessidade de mata-lo para recuperarmos o fragmento. – declarou ela já se encaminhando para frente de Ondabrar, acompanhada de seu guardião.
Por algum motivo, ela me parecia diferente. E quando ela e Ondabrar ficaram frente à frente, ela começou a pronunciar o que parecia ser um encantamento poderoso.
– Até parece... Que ela foi possuída!... – ouvi um sinesteta que estava perto de mim comentar.
Enquanto ela “cantava”, a aparência de Ondabrar se transformava. Correntes de aspecto medonho surgiam ao redor dele; uma aura maligna emanava de seu corpo, e o fragmento tornava-se visível para todos! Estávamos enxergando aquele homem do mesmo jeito que ela descrevera o enxergar!
Ondabrar se rebatia e gemia como se estivesse sofrendo uma imensa dor. As correntes, muito dificilmente, se rompiam uma por uma, desaparecendo e liberando o fragmento dentro dele. Reparei que o guardião da Lys estava transferindo a sua própria energia para ela! Alguns quiseram interromper a ação da Lys de Eldarya, mas Zar impediu a todos explicando que nós a colocaríamos em risco se tentássemos para-la. Após o que parecia ter sido uma eternidade (e que na verdade foram menos dez minutos), o fragmento que antes era mantido dentro de meu “tio”, passou a fazer parte do colar de cristal que a Lys usava.
Tanto Ondabrar quanto a Lys acabaram inconscientes. Luthien correu para examinar Ondabrar, enquanto Zar e o amigo enfermeiro dele foram até a Lys, que era sustenta dificilmente pelo seu guardião (que na minha opinião, ele só não desmaiou também por sorte). Absol não se desgrudava dela e tanto ela quanto o guerreiro foram carregados até o quarto para descansarem, já que o Zar explicava que aquela não era primeira vez que a Lys executava uma tarefa aparentemente impossível e acabasse desacordada depois.
Como a Luthien não encontrou nada demais na saúde do Ondabrar, ele foi levado em seguida para de volta à sua cela. No que eu saí um pouco do palácio, o julgamento daquele homem, assim como a sua decisão, já era noticia em todo o reino. Alguns até que me procuraram para conversar comigo. Já outros, quiseram tirar satisfações por causa de alguns dos meus atos que causou grande prejuízo para certas pessoas.
Talvez... Seja melhor eu refazer minha vida em outra cidade como fez o Zar... Por segurança.
.。.:*♡ Cap.139 ♡*:.。.
Lance
Esperava que o julgamento do cara-murcha fosse um pouco mais interessante. Não tinha como eu deixar de sorrir toda vez que ele se ferrava ainda mais por conta própria, mas ainda assim, aquilo estava um tédio. A Sala do Trono conseguiu reunir ao menos três dúzias de “marionetes” daquela praga, sem mencionar a gente de Eel.
E concordo com a minha Ladina, porque raios eles não arranjaram algumas cadeiras para todos se sabiam que o julgamento ia gastar o dia inteiro? Tenho certeza que o estoque de poções contra dores musculares da cidade inteira vai ser consumido rapidinho. Quase que dei graças a tudo que é divindade quando o Eru decidiu encerrar aquilo e dar o veredito finalmente!
“Está na hora.” – a Branca acabou sussurrando.
– Disse alguma coi... – minha Ladina tinha sua fala interrompida pela Branca que lhe assumia o controle – Um momento majestade. – deve ser a Branca falando pela Cris – Não há a necessidade de mata-lo para recuperarmos o fragmento.
Segui ela que se encaminhava até o cara-murcha sem saber direito em quê eu teria de auxilia-la. Nem mesmo com o uso da mensligo eu conseguia ver ou ouvir os pensamentos dela. Tudo soava muitíssimo baixo, e quando fechava meus olhos, só enxergava um vazio branco. Era obrigado a contentar-me apenas com o que era capaz de observar por mim mesmo.
Eu já imaginava que não seria fácil para a Cris conseguir arrancar aquele fragmento de dentro do traste, mas ele parecia estar travando um cabo-de-guerra com ela! Não me demorei em entender em quê que ela precisaria de ajuda, quase que fico sem maana de tão teimoso que aquele velho se mostrou em entregar o pedaço de Cristal. Até a Branca parecia exausta quando ela deixou a minha Ladina! Se não fosse pelo Ezarel e pelo Roeze, tenho certeza que, ao invés de nos permitirem descansar no nosso quarto, a Ladina e eu teríamos sido encaminhados para a enfermaria.
No final das contas, quem ficou “cuidando” de nós dois foram a Anya, o Nevra e o Absol. Enquanto a Ladina ocupava a cama, eu fiquei descansando em uma cadeira que arrastei para perto dela. Não sei bem quando foi que caí no sono, mas quando abri os olhos já era madrugada. Anya e Absol dormiam junto da Cris, e o sanguessuga não estava no quarto. Selei a porta.
Senti o cheiro de comida (já fria) e encontrei duas refeições sobre a mesa. Com o meu estômago protestando, aqueci um dos pratos e comecei a comer. Pelo o que eu podia observar, a Cris não iria acordar tão cedo, pois ela não havia se movido nem um pouquinho desde que foi deitada na cama. Tendo terminado de comer, e ainda faltando um pouco para o amanhecer, optei por fazer um bom alongamento e meditar em seguida. Mas claro, apenas depois de remover as partes barulhentas de minha armadura e assim diminuir o risco de acorda-las sem querer.
Um melomantha bebê acabou pousando na janela aos primeiros raios de sol, e o seu canto veio a despertar minha Ladina.
– Quê? Já é de manhã?
– Precisamente Ladina. Descansada?
– Acho que sim, mas... Ai Deus, não acredito!
– No quê? – porque ela está tão assustada?
– Não acredito que dormi sem tomar banho depois de ter suado um rio por culpa daquele traste!
– _riso_ Você ficou chocada por causa disso?
– Tá rindo do quê Gelinho? Sabe muito bem que não gosto de dormir suja. Só o faço se estiver além de exausta.
– Ladina... – não continuei porque a pirralha acordava.
– Tudo bem com você agora Cris?... E... Gelinho! Que é que faz sem a armadura?! Se uma das trigêmeas entrar aqui você será visto!
– Não acho que o sanguessuga deixaria este lugar sem se prevenir sobre isso antes, e além do mais, eu prendi as frestas da porta com gelo assim que nos percebi sozinhos.
– Mas você continua querendo brincar com fogo, não é mesmo, meu querido... – falava minha Ladina se erguendo e aparentemente procurando um meio de se limpar – Já tivemos incidentes mais que suficientes nessa cidade. Agradeceria se você levasse meu estado de espirito em consideração.
– Se faz tanta questão assim de um banho, eu posso arranjar e aquecer um pouco de agua para que possa lavar-se do mesmo jeito que me contou ter feito quando morava naquela caverna.
– Faria isso mesmo?! – ela realmente estava desesperada por uma ducha... – Jura que vai fazer isso?!
– Anya, você não quer ajuda-la? Assim ela termina mais depressa.
– Mas é claro! Deixe que eu mesma crio a tina!
E assim fizemos. A Princesa me ajudou a recolher a maior quantia de agua possível dentro de um cesto vedado dos lados, para que eu pudesse aquecê-la, e Anya conseguiu fazer com que algumas pedras e parte do piso se unissem de maneira a formar uma bacia grande para a Ladina usar, através de algum tipo de encantamento.
Enquanto as duas “brincavam” com a agua, eu limpava o que era preciso da armadura e já a vestia. Só apareceu gente à nossa porta quando já estávamos quase arrumados para sair.Cris
Velho trabalhoso! Além de voltar a não entender o que me acontecia direito, tendo que me deixar levar para me ver “livre” outra vez, aquele Ondabrar ainda resistiu em me devolver o fragmento do Grande Cristal. Se não fosse pelo Lance... Mal terminei de ver o pedaço se unir ao meu colar, e nocaute. Apaguei. Só fui acordar no começo do dia seguinte com a sensação de suor seco no corpo.
Não vou dizer que graças ao Lance consegui tomar o melhor dos banhos, mas me ver livre da sensação de suor velho é de fato relaxante. E com Anya ajudando foi até divertido. Acabei decidindo me vestir com roupas élficas, meio que para deixar transparecer que não tinha rancor contra os elfos em geral. Anya me ajudou outra vez, e quando estávamos quase terminando de lidar com aqueles panos...
– Ué? Porque a porta não abre? – reconheci a voz de uma das trigêmeas – Lys? Já está acordada?
Encarei Lance por um instante para saber se já podíamos ou não abrir a porta e reconheci o frasco da mesnligo que ele segurava de modo a esconder de Anya – Só um momento! – acabei meio que gritando – Anya, pode ir cuidando das coisas enquanto eu ajudo o Gelinho?
– Claro! – e ela continuou arrumando a nossa “bagunça” sozinha.
– Eu abro ou tu abre? – perguntei já pegando a colher.
– Posso remover o gelo, mas é melhor que pensem que foi você quem selou a porta. – decidiu ele com nós dois engolindo a poção (Como quiser. Quando voltarmos para Eel, iremos treinar o quê primeiro?) – Ao quê se refere?
– À sincronia e à fuga em lugares fechados.
– Vamos deixar para ver isso quando chegarmos. Você ainda tem o seu treinamento com a Tomoe e de luz.
– Sem esquecer os meus experimentos de agua, não é mesmo? _sorriso sapeca_.
– É... Tem também... – o nervoso dele para o assunto sempre me diverte (É melhor andarmos logo.)
– Como quiser, meu dragãozinho fofo. – acho que nunca o vi tão vermelhinho assim _risinho_.
Lance removeu o gelo da porta após colocar a máscara e eu convidei as trigêmeas para entrarem.
– O que Anya está fazendo? – perguntava uma delas.
– Sabe o que é... Eu não gostei nem um pouco de descobrir que fui para cama sem tomar um bom banho antes, então ela e o Gelinho me ajudaram a livrar-me da suadeira que aquela praga me causou.
– Entendi. Parece que você estava certa Nessa.
– Eu bem que lhes disse, Calen. Sabia que algo assim aconteceria por conta da reação dela ao ir para as fontes pela primeira vez. – todas acabaram rindo e eu me senti um pouco sem jeito – Mas nos diga Lys, chegou a comer da refeição que lhe foi deixada ontem?
– Refeição?
– Não, ela não comeu nada ainda. – era o Lance – Eu o fiz assim que senti o cheiro, mas a Cris só conseguia pensar em banho depois que acordou, bem depois de mim.
– Ainda bem que ela não o fez ainda então.
– Nevra? – ele se apoiava na patente da porta – O que quer dizer com isso? Precisa de mim para alguma coisa por acaso?
– Não. É que eu estava conversando com o príncipe há pouco e ele me pediu para confirmar se você aceitaria tomar o café da manhã com a nobreza. Parece que ele resolveu armar algum tipo de festinha para lhe agradecer por desmascarar aquele traidor.
– EEEHHH!?!?... Isso irá “forçar” a nossa estadia no reino por quanto tempo mais?? Sem ofensa meninas. – já me apressava em me desculpar com as trigêmeas.
– Eu sei lá! Desejo poder voltar para Eel tão rápido quanto você. Sabe deus o que estará nos aguardando no caminho de volta e você precisa devolver o fragmento recuperado ao Grande Cristal. Isso para não mencionar o ritual que ainda é necessário para manter Eldarya de pé. O Leiftan chegou a lhe contar sobre as observações feitas por ele durante o período que não foi possível executa-lo?
– Não exatamente. Mas quero terminar logo de aprender a controlar os meus poderes para quando tivermos de ir buscar a outra metade dele. – respondi observando a “pedrinha” do meu pescoço.
– E o que acha de irmos indo com o Becola então? Já terminei de arrumar a nossa baguncinha e você está linda Cris. Se tem uma festa nos esperando vamos logo, se bem... que não vou poder voltar para Eel junto de vocês... – meio que sussurrava Anya no final.
– Ô Anya... – abaixei-me para poder abraça-la e lhe dar um beijo na testa – Não é porque você terá de ficar para trás que quer dizer que irei parar de pensar em você! E além do mais, você estará livre para voltar a Eel assim que terminar o seu sei-lá-o-quê. Tudo o que você precisa fazer é termina-lo o mais rápido possível! Ou eu estou enganada?
– Não... Não está enganada. – um sorrisinho tímido lhe escapava – Muito bem, farei o possível e o impossível para terminar esses estudos ainda neste ano!
– Não acha que isso é auto-exigência demais? Nós mesmas gastamos quase três anos para conseguirmos completar o nosso Skjult Viden! – comentava uma das trigêmeas.
– Isso porque vocês ficaram de preguiça. Ouçam o que eu digo! Eu vou terminar essa coisa, com total êxito, antes do próximo solstício de inverno! Ah se vou!
– Apenas tente não exagerar para acabar adoecendo Anya... – abraçava a menina mais uma vez – Mas o que acham de deixarmos de papo e irmos comer? Minha barriguinha está começando a doer...
Alguns risos escaparam e nos dirigimos todos para o salão de refeições. Lá no salão, a mesa, que devia ter lugar suficiente para umas cinquenta pessoas mais ou menos, estava quase toda ocupada.
– Lys de Eldarya! – declarava o Võrgutav, fazendo com que todos se erguessem da mesa – Que grande alegria vê-la bem! Você está bem, não é?
– Estou muitíssimo bem alteza. Desculpe se acabei preocupando todo mundo e... Estamos interrompendo algo? – questionei ao observar as pessoas à mesa.
– Lys querida, muita coisa aconteceu enquanto você estava inconsciente.
– Muita coisa!? Que tipo de coisa Frida? Ninguém me contou nada até agora.
– Acalme-se Lys... Sente-se e lhe explicarei tudo. – me pedia o rei amavelmente.
Nos ajeitamos todos à mesa. Ao que pude notar, fui colocada em um local de honra, e quando terminamos de ocupar a mesa, começaram a servir o café da manhã (se bem que eu já sinto falta do meu leitinho com achocolatado matutino...). Enquanto consumíamos pães de grãos, frutas, doces de frutas, sucos, mel e outros mais, Eru começou a contar o que aconteceu depois que aquele traste “acabou” comigo.
– Após Ezarel ter convencido a mim e aos demais de que você estava bem e que só necessitava de descanso, alterei uma pequena parte de minha decisão. Eu pensei que, como você não havia recuperado o fragmento que Ondabrar tinha se apossado mais cedo, você não tinha condições de faze-lo como ocorrera com os contaminados de que ouvi falar. Por isso que optei pela execução dele quando todas as investigações sobre ele estivessem concluídas. Mas... Como aparentemente a senhorita estava apenas aguardando o momento certo,... – (quem dera tivesse sido esse o caso...) – ...decidi apenas lhe dar prisão perpétua com ganho mínimo de viveres, assim como foi feito com o traidor de Eldarya.
– Traidor de Eldarya?
– Meu pai está se referindo ao dragão de gelo que é mantido acorrentado em Eel.
– Se de fato forem fazer isso princesa, tenham a certeza que aquela praga vai odiar cada segundo de seu castigo.
– Como pode ter tanta certeza, Guardião?
– Digamos que eu tenha assistido a punição daquele dragão por tempo mais que suficiente... – (Gelinho...)
– Chegou a trabalhar nas prisões de Eel? Não deve ter lhe sido fácil assistir tal lamento. Se bem que não podemos condenar a sua ira.
– No desespero, os primeiros faerys a habitar Eldarya caçaram e perseguiram todos os descendentes dos dragões. Como exatamente não se enfurece com um ato desses? – (Lance. Por favor. - Relaxa Ladina, não farei nada. Tem minha palavra.)
– Entendo bem o que quer dizer Guardião. Os dragões entregaram suas vidas de boa vontade por todos nós, e tinham nos mestiços a esperança da salvação de sua raça. Mas como você mesmo disse, agimos de modo egoísta e causamos tanto mal a eles, quanto a nós mesmos. Mas voltando ao meu ex-conselheiro. Mesmo durante o julgamento, ordenei a um grupo que investigasse todos os “negócios” de Ondabrar e foi descoberto não só sua lista de vítimas, como também foi encontrado o local que os sobreviventes eram mantidos. Alguns, infelizmente, ainda se encontram na enfermaria por conta de suas condições. Mas a maioria desejava ardentemente conhecer sua salvadora, a Lys de Eldarya.
– Me-me conhecer? – quase todos na mesa assentiam (Se algum deles tentar qualquer gracinha, vão se arrepender! - Lance!!) – Ma-mas majestade, onde... exatamente o senhor pretende me reunir a eles? _suando frio_.
– Já estamos reunidos.
– Heim?!?
O rei me sorria, e foi então que me toquei. Durante as refeições, quase não havia gente reunida à família real. Era só gente do meu grupo ou pessoas com assuntos sérios a discutir com o Eru. Situação totalmente diferente da desse momento. Comecei a observar os estranhos que ocupavam a mesa e meus olhos começaram a lagrimejar. Todos sorriam. Alguns até choravam como eu, mas todos carregavam um rosto claramente sofrido. Eram eles. Eles eram as pessoas que acabei salvando junto de Emiery. Chorei ainda mais ao terminar de conta-los. Haviam vinte e seis desconhecidos naquela mesa! Eram homens, mulheres... adultos, crianças... “brancos”, “negros”...
– Eu... Eu não...
– Muito obrigado, Lys de Eldarya! – declarou um menino, menor que Anya, que estava entre eles.
Eu, que já não estava conseguindo conter as lagrimas direito, acabei deixando um rio escapar dos olhos – Não há de quê. – foi tudo que consegui responder a ele de voz embargada, especialmente depois que outros sobreviventes começaram a imita-lo me agradecendo por ajuda-los.
– Sugiro um brinde! – anunciava o Ezarel se erguendo da cadeira com um copo na mão – Pelo desmascarar de um demônio; o recomeçar de uma nova vida; e por aquela que nos permitiu estarmos comemorando tudo isso e muito mais: a Lys de Eldarya. VIDA LONGA!
– VIDA LONGA! – bradou todos com poucos se mantendo sentados.Lance 2
Esses elfos tem prazer em provocar a minha Ladina... Mas pelo menos, aprontaram uma coisa boa dessa vez. Ela ficou sinceramente emocionada ao descobrir que toda aquela gente eram pessoas que foram salvas. Pelo número, e sabendo que havia mais deles internados, tenho certeza que se quem tivesse descoberto aquele miserável tivesse sido o Leiftan, na época em que éramos sócios, ele teria estraçalhado o cara-murcha. Quero dizer, mesmo ele sendo um daemon digno de temor naquele tempo, ele ainda carregava pensamentos bem aengels, e se ele visse aquelas seis crianças com o cara-murcha por perto... E isso sem parar para imaginar o numero de baixas entre os cativos! Sofrer o que eu sofri pode acabar sendo pouco para aquela praga.
Assim como o Nevra comentou ainda no quarto, o desjejum acabou se tornando mesmo uma pequena festa. Minha Princesa recebeu tanta gratidão e carinho daqueles elfos, que tive de respirar fundo para não acabar com ciúmes daqueles desafortunados, depois que eles nos repassaram parte de seus sofrimentos enquanto nas garras daquele monstro. E ela ainda acabou visitando os coitados que estavam internados. Recebendo a mesma afeição daqueles que estavam acordados.
Durante as montanhas de agradecimentos dados a ela pela manhã, acompanhada pelo black-dog que ninguém mais parecia temer, resolvi ter uma conversinha com o príncipe que nos acompanhava nos jardins palacianos.
– Sem querer ser rude, mas quando é que o meu grupo poderá leva-la de volta para Eel? Se é que isso nos será uma tarefa fácil...
– Não se preocupe Guardião. Já estamos fazendo os preparativos para que vocês consigam ter uma viagem segura.
– E eu posso saber que preparativos são esses?
– Estamos tentando manter sigilo por hora. Ainda não acabou as investigações sobre o Ondabrar e nem temos certeza do que aconteceu direito com os companheiros do assassino enviado pelo grupo de Apókries, mas você será avisado. Chegou a perceber alguma anormalidade sobre eles?
– Não. O que significa que: ou eles desistiram ao ver um dos seus capturado rápido demais; ou estão planejando algo mais “eficiente” para aprontarem. Isso se aquele conselheiro não os tiver atrapalhado de alguma forma.
– Você acha mesmo que Ondabrar possa ter alguma coisa a ver com o grupo que persegue a Lys??
– Vai saber. Porque não o questionam com a Norns Visdom? Eu não ficaria surpreso se ele conhecesse algum membro de lá.
– Tem razão. Eu nem imaginaria tal coisa antes, mas... Com tantas perversidades reveladas, não é impossível que você esteja certo.
– Esses preparativos... Vão demorar muito? É questão de horas ou de dias?
– Está me perguntando isso para se sentir seguro mais rápido, ou para poder ficar sem essa máscara mais depressa?
– As duas coisas?
– _riso_ Eu compreendo. – ficamos em silencio por alguns minutos, apenas observando a minha Ladina brincando com as crianças salvas – Vocês dois são um casal, não é mesmo?
– O quê?!? – me surpreendia com a pergunta.
– Peço perdão. Mas anteontem acabei os ouvindo no banho.
– Voc...
– Fiquei preocupado. – cortou-me ele sem parar de observar a Cris – Não sabia bem o que podia vir a acontecer em um horário tão tarde e... Acabei lhes ouvindo a conversa.
– Só ouviu? E o quê ouviu?
– O suficiente para saber que não tenho a menor chance com ela. Foi você que a ajudou depois do festim não é verdade? Ela deve ter te dado um imenso trabalho...
– Errr... Bom. Suponhamos que esteja certo. E que realmente ela me tenha dado um pouco de trabalho. Onde você está tentando chegar com essa conversa?
– Gostaria de ganhar um pouco do que foi oferecido à ela naquela noite?
– Quê!? – comecei a me irritar – Importasse de me disser o que você deseja de fato?
– Que ela seja feliz. – quase que aquele sorriso de “príncipe bonzinho” me convencia – Já me está mais do que claro que ela é uma mulher muito especial. E se ela aceitou você ao lado dela... Não tenho qualquer direito de intervir. Mas nada me impede de querer dar uma mãozinha para que a relação entre os dois fique um pouquinho mais interessante!
– Finjamos que eu acredito em você. O que me garante que essa “informação” não escapará para ouvidos indesejáveis?
– E assim colocar sua companheira em perigo?! Nem pensar! A Lys não é a primeira mulher de que abro mão para que continue sorrindo tão belamente. Não... Se depender de mim, serei o único a conhecer essa verdade entre os habitantes de Lund’Mulhingar. Mas... Vocês realmente... Aceitaram usar a mensligo?
– Ordem daquela vidente. Ou do contrário a Lys nem descobriria a existência dela.
– Mas foi graças à essa poção que você pôde socorre-la a tempo no quarto de Ondabrar, não?
– Não posso negar que às vezes essa poção é bem conveniente. Então... Devo mesmo confiar no seu silencio?
– Se você soubesse quantos segredos de casais eu guardo... – fiquei em dúvida se o questionava mais ou se deixava o assunto de lado, mas ele se adiantou afastando-se de mim e chamando a Ladina e as crianças para o almoço.
(Acaso deseja convida-lo para uma conversa particular, parecida com a que fizemos ao Ondabrar? - Prestou atenção na conversa toda? - É difícil ignorar quando o assunto é nós dois... – O uso da poção da verdade nele me acalmaria um pouco sim, mas não tenho certeza se isso nos poupará, ou aumentará os nossos problemas. - Bom, você é o meu guardião. Então aceitarei a sua decisão nessa historia.) Refleti por uns instantes enquanto a Ladina e todos os outros se aproximavam para entrarmos. (Aquele cara me provocou quase além dos limites, mas... - Mas?...) ela sorria já pertinho de mim (Se tudo o que ele disse for mesmo verdade, e muito provavelmente sabendo que você podia estar a par da discussão, acho que não seria ruim lhe dar uma chance.) – Então torçamos para que ele saiba aproveitar bem esta chance. – declarou ela com o príncipe perto de nós, fazendo-o compreender que estávamos “falando” sobre ele.
O almoço seguiu de forma semelhante ao café da manhã, só que dessa vez com parentes das vitimas do traste que se preparavam para dar-lhes a última despedida. Nesse ritmo minha Princesa vai acabar desidratada.
– Ei Gelinho! – me sussurrava o bobo-da-corte – Preciso conversar com você. Rápido.
– O que você quer palhaço? – continha a voz (e a irritação).
– É sobre... – ele conferia o nosso arredor discretamente – Nossa viagem de volta. – terminou de falar ele sussurrando mais baixo ainda.
– Fale rápido ou conversemos em algum lugar em que possa continuar observando a Cris. – declarei o mais baixo que podia conseguir (Ei!).
Sem falar nada, o alquimista me arrastou para um canto mais escuro e começou a explicar – Partiremos hoje depois da meia-noite, enquanto todos dormem.
(Como??) – Mas já?
– Teríamos partido ontem se a Paladina não tivesse resolvido se esgotar daquele jeito. Minha mãe e eu estamos preparando poções para aguentarmos melhor o começo da viagem. Que por sinal, ocorrerá com escolta de alguns dos melhores magos do reino. E antes que me pergunte, esses magos estarão nos escondendo com alguns encantamentos especiais. Vamos seguir o caminho mais reto possível e com apoio de mascotes. Deixe a Paladina preparada.
Respirei fundo com a noticia – E “todos” já estão cientes disso?
– Se estiver se referindo à pirralha, não. Voronwe também ficará até as aulas dela começarem, portanto, se a Paladina quiser se despedir da pequena, vai ter de fazê-lo sem que a Anya perceba.
– As duas não gostarão disso... – (E não gostei mesmo! Lembra como ela ficou chateada quando fomos para a Terra?)
– Se elas gostam ou não, não me interessa. A única coisa que me importa agora é garantir uma viagem rápida, tranquila e segura. Estou errado?
– Nem um pouco. – (Chato!...) – Mas está bem. Irei ajuda-la no que for necessário. Teremos de aguardar em nossos quartos ou haverá algum ponto de encontro?
– Quarto. Todos deverão pensar que amanheceremos no palácio amanhã. Conto com você. – despediu-se o alquimista já sumindo pelos corredores de fora do salão.Cris 2
Ô minha Nossa Senhora... Eu não vou mesmo ter pelo menos um dia de sossego durante esta viagem? Quando não é uma coisa, é outra. Espero poder ao menos cochilar durante o caminho. Assim que chegar em Eel, quero o direito de três dias de folga no mínimo! (e que realmente possamos acreditar no sigilo do Võrgutav...).
Aproveitei o dia como pude me despedindo indiretamente de quase todos. Fazendo todo o possível para não deixar ninguém suspeitar de nossa partida. No quarto, enquanto o Lance arrumava as nossas coisas, eu escrevi uma carta enoooorme para a Anya, pedindo para que ela me desculpasse, mantivesse contato, se cuidasse, e que tivesse muita sorte nos estudos. Deixei para pedir ao Absol que entregasse a carta à ela na hora de partirmos.
Bem que os “banheiros” de Eel podiam ser parecidos com os de Lund’Mulhingar... Com certeza sentirei falta dessas fontes. Espero poder retornar para cá quando as coisas ficarem verdadeiramente seguras (tanto dentro quanto fora!). Na espera da hora de ir, acabei caindo no sono.
– Ladina, está na hora...
– Hum? Que horas são? – perguntei um pouco desnorteada.
– Hora de partirmos. E faça-nos o favor de não fazer barulho. – declarava o Ezarel à porta.
– Absol? – ele apareceu do meu lado na hora – Pode entregar isso para a Anya rapidinho? – entregava o envelope para ele, onde enviou metade do corpo na sombra com a mensagem na boca.
– É a sua carta de despedida? – perguntava-me o Gelinho, quem me acordou.
– Sim. Va... _bocejo_ ...mos logo.
Apesar do sono, consegui despertar o suficiente para deixar o palácio e depois a cidade. Três springgans já nos aguardavam à beira da floresta com cinco magos e alguns mascotes de alto porte semelhantes à corcéis junto deles.
Os mascotes foram carregados por dois springgans e o nosso grupo foi levado pelo terceiro. Não tenho certeza se cochilei durante a travessia (e acho que o fiz) porque quase não vi o tempo passar quando terminamos de atravessar a floresta.
Enquanto montávamos, os magos nos cercavam e pronunciavam alguma coisa. Acabei voltando a dormir sobre a criatura.
.。.:*♡ Cap.140 ♡*:.。.
Ezarel
Finalmente à caminho de casa. Já não aguentava mais! A viagem toda foi praticamente dor de cabeça em cima de dor de cabeça. Nevra e eu conseguimos combinar com sua majestade a forma de voltar para Eel. Eu já estava até resignado de voltar sem conseguir recuperar o fragmento do Grande Cristal primeiro, já que a Paladina não o havia pegado ainda, mas ela sabe “aprontar”!
Graças à ela a viagem foi adiada, no entanto, deixar Lund’Mulhingar com um sentimento festivo ao invés de uma sensação dolorosa acabou sendo boa coisa. A maioria de nós se acertou às escondidas e acabei sendo o escolhido para repassar tudo ao Gelinho. De todos nós, ele é quem tem mais chances de fazer a Paladina efetuar o que queremos sem reclamar muito, afinal... Os dois estão bem acostumados com o jeito do outro.
Tudo estava correndo às mil maravilhas, bem dizer. E esse adiamento nos forneceu tempo para terminar de arrumar as coisas de forma um pouco mais minuciosa. Não prestei muita atenção na Paladina, estava ocupado auxiliando minha mãe e os magos que nos acompanhariam, mas me foi repassado que ela havia discretamente se despedindo de todo mundo. Eu pessoalmente, depois de ter feito ela nos contar que escondia o Gelinho sem que quase ninguém suspeitasse, não duvido de quase nada que ela possa fazer (ela devia ter entrado na Sombra ao invés da Obsidiana... Isso faria muito mais sentido).
A noite caiu e todos fomos para os nossos quartos como se de fato fossemos dormir.
– Já estão todos prontos? – perguntava o guarda que havia sido ordenado a nos chamar.
– Neste quarto sim. Já chamou os outros?
– Não, senhor Ezarel. E tenho de voltar rápido para a minha ronda. Chamem os demais vocês mesmos, e sejam bastante discretos.
– Pode deixar que seremos camarada. Ezarel, chame você a Cris e eu cuido da minha Estrelinha. – declarou o Voronwe já saindo (nem quero imaginar o caos que a pirralha vai querer provocar ao ver seu pai no lugar da Darfn e ficar sabendo que estaremos longe).
Respirei fundo e fui bater na porta do casalzinho (não fazendo nada “desagradável”, eu espero).
– Está na hora. – declarei ao Gelinho quando ele abriu.
– Ok. Só um momento. – pediu ele indo acordar a dorminhoca da Paladina para seguirmos.
Nos dirigimos todos juntos até o local em que éramos aguardados, e me estava mais que claro que a Paladina agia meio que como sonâmbula. Duvido que ela vá se lembrar de ter se despedido da família real antes de deixarmos o palácio.
Seis steuduasales haviam sido escolhidos para nos ajudarem na viagem. Mesmo com apenas metade deles ficando conosco até chegarmos em Eel, estava bem feliz por ter aquelas belezinhas de olhos diamantinos como montaria. O steuduasal é um mascote bem refinado. De dia, seu pelo corporal é alvo como a neve nova e a sua crina (assim como a cauda e a metade das patas dianteiras) são de um verde claro brilhante, ornado (no caso das fêmeas) com miúdas e delicadas flores douradas, mais os chifres que são parecidos com os dos pimpéis (porém sem as flores) e cascos dourados. Suas cores mudam à noite, o que os tornam ainda mais fascinantes. O branco tornasse azulado com um leve reluzir opalino, o verde claro é substituído por verde musgo, o dourado vira prata, e os chifres passam a emitir uma leve luminescência branco-azulada quando despertos. Com um andar sempre elegante e refinado, independente do solo em que pisam ou do peso que carregam, são capazes de transportar até mesmo o Jamon sem parecer ter algo em seus dorsos.
Quando deixamos a Vakhataure, a Paladina não perdeu tempo em voltar a dormir depois de terminar de montar (sendo que ela adormeceu durante a travessia toda da floresta). Ela bem que podia dar uma ajuda aos magos que criariam um escudo de invisibilidade ao nosso redor (depois dos springgans terem tido o trabalho de garantir que não teria nenhum “observador” de olho na gente quando deixássemos seus domínios), onde cada um de nós se intercalaria para fornecer maana aos magos para que eles pudessem manter o encantamento, mas... Como ela meio que abusou de si mesma nessa viagem... Vou lhe dar uma colher de chá.
A viagem ocorreu com uma pacificidade de gritar de alegria! Mesmo depois de ficarmos sem a proteção do encantamento e ganharmos uma escolta “diferente” no restante do caminho. Levamos apenas quatro dias, caminhando com calma, graças aos mascotes. Só que... Depois de finalmente chegarmos em casa, já haviam visitas à nossa espera...Lance
Não sei se foi por causa do que passei com o mascote da princesa élfica, mas não senti o mesmo incomodo que sempre sentia ao montar em um mascote. Fiquei satisfeito pela viagem ter acontecido sem grandes problemas (bem diferente de antes...). Tive de aceitar ter um dos magos fazendo companhia para a Ladina no começo da viagem, para que eu pudesse auxiliar um dos magos que estariam erguendo a proteção com a minha maana, isso até tanto magos quanto suportes fossem substituídos para manter o escudo.
A primeira noite foi toda seguida em claro. Quanto mais distantes conseguíssemos ficar de Lund’Mulhingar antes da primeira parada, melhor seria para manter o disfarce.
Como graças aos mascotes a gente pode continuar a viagem com bem menos pausas, já que os steuduasales dormem tanto quanto os vampiros, esse foi o percurso em grupo mais tranquilo que já percorri até hoje. Não vou dizer que lamentei termos de nos separar dos magos quando a metade da jornada foi alcançada. Na verdade, fiquei foi é aliviado de ter de ficar me suprimindo para que eles não percebessem que eu não era um faery qualquer. A Cris fornecer maana indiscriminadamente é uma coisa, mas eu? Eu simplesmente estaria me entregando para eles! E prefiro mil vezes dividir a montaria com a minha Princesa do que com um elfo velho.
Absol foi a garantia de que nada nos atrapalharia depois de termos nos despedido dos magos. Chegamos até mesmo a acabar reencontrando aquele grupo de black-dogs que nos tinha salvado, com eles agindo tão docilmente que quase acreditei que estava tendo alucinações. Eles, foram a nossa nova escolta até alcançarmos as terras de Eel.
Chegamos com o dia amanhecendo. Os steuduasales seguiram a noite acordados então continuamos caminhando mesmo com alguns de nós dormindo (como a Cris, por exemplo). Entramos na cidade sem desmontar. Já havíamos combinado de fazer isso diante do estabelecimento do Purrero para que ele preparasse os corcéis para serem enviados de volta. Foi enquanto nós os entregávamos aos cuidados do bichano que minha Ladina acordou e que descobrimos que éramos esperados.
– Até que fim vocês resolveram aparecer! E aí louca? A festa com os elfos foi boa?
– Crhistiano??? Quando foi que você chegou?! – se surpreendia a Ladina assim como todo o restante de nós.
– Ontem por volta do meio dia. Mudei um pouco de ramo depois de ter voltado para casa e vim para cumprir algumas promessas. Aproveitando o fato de ter conseguido convencer a Hua a me deixar ficar com uma poção de encolhimento para trazer um bocado de coisa. Esse da máscara é o “Gelinho”?
– Já lhe explicaram a minha situação? – perguntei respirando fundo para não avançar em meu “cunhado”.
– Já, já me explicaram sim. É bom que cuide direito dela, ouviu?!
– Ah, por favor Christiano! Você mal daria conta de enfrenta-lo no pra valer. Mas me diz, está tudo bem em casa?
– Aqui ou na Terra? – começamos a nos dirigir para o QG.
– Nos dois. A quais promessas você se referia?
– Bem... Na Terra tá tudo bem. O Henrique conseguiu dar um jeito na dor de cabeça que ficou nos perseguindo naquela vez, graças principalmente às câmeras de segurança do hotel. Mas quase não consigo convencer a velha de ficar em casa! Acho que na próxima vez que eu voltar para cá, ela vai estar de mala e cuia comigo.
– Ai céus! Ela vai surtar se ver metade do que só você viu!
– Talvez, não sei. Mas continuando, eu havia prometido algumas coisas para algumas pessoas com as quais acabei fazendo amizade. Depois de estudar muito sobre tecnologia e sustentabilidade, porque falando sério, deixar este mundo com a mesma aparência da Terra atual é uma baita sacanagem, vim atrás de cumpri-las. Mesmo passando por não sei quantas dificuldades nesse mundo, tudo parecia muito mais simples aqui do que lá.
– Entendo o quê quer dizer... – comentava – Não dá para comparar o ar daqui com o da cidade de vocês...
– Não dá mesmo grandalhão.
– Mas me diz Christiano, você chegou em Eel sozinho ou a Toby estava te esperando?
– Olha... Realmente a Toby estava lá com a maluca da Caipora, mas mesmo que não tivesse ninguém me esperando, eu não estava sozinho.
– E quem que estava com você? Algum parente? – me interessei.
– Sim, era parente. Só que não meu.
– Como??Erika
Na mesma semana que a Cris iria para Lund’Mulhingar, Valk e eu decidimos passar um tempinho em Memória. Já estava dando o tempo dele retornar para poder compreender melhor os seus dons dragônicos e, como a Cris não ia estar presente para fazermos o ritual de maana mesmo... O melhor era aproveitarmos a oportunidade (além de eu ter alguns questionamentos para o Fafnir).
Enquanto a Cris se preparava para visitar terras élficas, nós dois nos preparávamos para a ilha dos dragões fantasmas. Partimos no dia seguinte ao Dia dos Amores. Valk e eu fomos voando, pois eu precisava praticar um pouco mais de voo, e seria mais rápido assim.
Não me foi fácil encontrar uma oportunidade para conversar em particular com o avô do meu amor. Sempre havia algo ou alguém meio que atrapalhando. Sem mencionar que eu dava a preferência para o Valkyon! Mas consegui ter a minha oportunidade na noite de nosso sexto dia em Memória.
– Fafnir?
– Venha eleita. Em que posso ajuda-la? – me convidava ele diante do portal.
– Bom, é que eu queria tentar tirar algumas dúvidas antigas, se não lhe for incômodo. – atravessava a sala das memórias com o grande espirito ao meu lado.
– Dúvidas antigas? De que natureza?
– Eu... Não sei bem como explicar. É em relação a uma experiência que tive na época em que o Valkyon partiu com o Lance na tentativa de me proteger... E que meio que se repetiu durante a partida para a Terra com a Cris.
– Pode me contar mais sobre essas experiências? – parávamos diante da grande balança.
– Claro! Vejamos... Quando eu retornei para Eel, depois do Valkyon ter se separado da gente, eu acabei tomando conta da Floppy, a mascote dele. Até aí tudo bem, mas...
– Mas...
– Bem. Não sei se foi porque eu estava meio abalada pela decisão tomada pelo Valkyon, mesmo com eu tendo o implorado para não fazer aquilo. Mas... Por um momento, a Floppy literalmente conversou comigo! Eu a entendi da mesma forma que estou fazendo com o senhor agora.
– Prossiga. – pedia-me ele com um sorriso.
– Depois daquele dia, isso nunca mais tinha se repetido. E por algum motivo, passei a meio que compreender os sentimentos dos mascotes. Porém, entende-los, entende-los como tinha acontecido com a Floppy, nunca mais. Isso até o dia da viagem para a Terra.
– Você conseguiu compreender algum mascote daquela mesma forma? Foi isso?
– É. Foi isso sim. E também só por alguns instantes. Se bem... Que o ser que eu compreendi é tratado como “criatura” e não “mascote”.
– Deixe-me adivinhar: o ser que você compreendeu foi o black-dog que acompanha a Pequena Eldarya: o Absol.
– Exatamente! Mas como o senhor adivinhou? – ele realmente sabe de alguma coisa.
– Me diga eleita, você já ouviu falar no termo: revixit?
– Errr, não. O quê é isso?
– Revixits são faerys que decidiram reencarnar quase que imediatamente nessas terras. – _boquiaberta_ – Geralmente eles assumem a identidade de um mascote, uma vez que não se dão o tempo necessário para poder fazê-lo sob a forma de um novo faery, onde seria uma reencarnação normal. Mas poucos são aqueles capazes de reconhecer os revixits.
– Faerys... Reencarnados? Tipo, ciclo espiritual de vida?
– Exatamente. Eu não tenho como confirmar a forma com que seus dons aengels agem sobre o assunto, mas com toda a certeza você tem a chance de reconhecer um revixit. Nem que seja só uma vez.
– Mas... Eu não entendo. O que leva um faery a se tornar um revixit? Há como descobrir que faery foi esse que decidiu se tornar um mascote? E... A Cris comentou uma vez, que via a rosa da cauda de Floppy com uma cor diferente, assim como a pelagem de Absol. Isso tem ligação?
– Uma pergunta de cada vez. Primeiro: muitos podem ser os fatores capazes de levar um faery a querer voltar a fazer parte do plano dos vivos, mas o que nunca falha, é o sentimento familiar de amor e proteção. E esse fator se encaixa tanto para a Floppy quanto para o Absol.
– Mas Absol não é um mascote.
– Já chego lá. Não seria fácil descobrir quem é um revixit sem antes conhecer o faery em si. No caso da Floppy, podemos dizer que a faery que optou por tornar-se uma musarose era alguém muito gentil, amoroso e com grande amor pela espécie em sim.
– Amor pela espécie?
– Sim. Um rexivit não costuma divergir muito de sua raça original, a menos que o apreço do faery por uma espécie particular de mascote supere seu apreço por si mesmo. Por sua própria espécie. Que foi parte do que aconteceu com a Floppy, uma vez que originalmente ela era uma fenghuang.
– Floppy era uma fenghuang?!? Como o senhor sabe disso???
– É muito, muito fraco, mas os revixits carregam pequenos traços energéticos de suas raças antecessoras. Traços esses que quase sempre só são percebidos pelos próprios mascotes, por isso eles dificilmente são atacados ou desrespeitados pelos mesmos. Outra característica que se deve ser notada, é o fato de que os revixits só se aproximam, inicialmente, daqueles que lhes são mais próximos, como amigos e familiares.
– Um momento Fafnir. – um quebra-cabeça se formava em minha cabeça – Fenghuang; amante de musaroses; próximo do Valkyon e do Lance; e sentimentos... maternos?!? O senhor não vai me dizer que a Floppy é a versão revixit da Alanis, vai? A mãe adotiva de seus bisnetos? – nunca vi o Fafnir sorrir tanto... – Pelo Oráculo!! Ainda bem que foi o Valkyon, e não o Lance, quem se tornou o responsável por ela!
– Realmente... Nada seria mais triste para uma mãe, mesmo adotiva, do que ser morta por seu próprio filho após decidir se converter em um revixit, apenas para ficar mais próximo daqueles que ama...
– O senhor disse que Absol também é um revixit, e eu que a Cris havia comentado ela enxergar algumas coisas um pouco diferentes. Como os dois se relacionam? Que provas o senhor possui para afirmar isso do Absol, pelo menos?
– A Pequena Eldarya possui o dom de enxergar a natureza real daqueles que a cercam, então reconhecer um revixit é algo fácil para ela já que os revixits se destacam espiritualmente entre os mascotes. Absol possui uma energia consideravelmente superior aos demais black-dogs, e foi isso o que me levou a crer que ele era um revixit. Muito provavelmente um daemon, mediante a escolha de reencarnação.
– Um daemon? Porque não um dragão, Fafnir?
– Como eu já expliquei, dificilmente um faery se converte em algum mascote diferente de sua raça original. Se esse ser próximo da Lys de Eldarya fosse um dragão, sua reencarnação seria a de um mascote semelhante a nós. Como um draflayel, por exemplo. – (isso é realmente interessante...) – Os black-dogs são criaturas, não mascotes. Por isso, pela lógica, não seria possível existir black-dogs revixits, mas... Diferente de todas as criaturas viventes em Eldarya com origens terrestres, os black-dogs acabaram se adaptando à Eldarya de tal forma, que foi possível até mesmo o nascimento de um mascote com ligação a eles: os black gallytrotes. Essa é a explicação que encontro para que se permita a existência de black-dog revixit. Agora, os black-dogs estão entre as criaturas mais poderosas desse mundo sem que tenham habilidades especiais, e para que um faery, ou no caso um faeliano, consiga tornar-se um revixit de uma espécie tão singular, o reencarnado precisa ter um grande poder. E pela natureza dos black-dogs... um grande poder do tipo sombrio.
– Entendi... Quando a Cris disse que enxergava a rosa da Floppy na cor azul, eu logo me lembrei que, a rosa azul, é relacionada à historias místicas na Terra, além do Valk sempre ter tido que ficava sempre aliviado da Floppy retornar em segurança para casa toda vez. Também achava estranho a Cris dizer que enxergava o Absol com pêlo branco e não negro como todo mundo, e várias outras divergências mais.
– Só o fato de Absol ser umbracinesiano e ter ao menos o dobro do tamanho se comparado aos demais black-dogs é o suficiente para se suspeitar que ele seja um revixit. Mas criança, eu gostaria que você não repassasse nada disso nem para o gêmeos, e nem para a Lys. Deixe isso ficar entre nós.
– E porque isso Fafnir?
– Primeiro, porque a existência dos revixits é pouco aceita pela maior parte de Eldarya. Segundo, porque nem todos reagem bem ao descobrir que seus “mascotes” na verdade são pessoas próximas que não aceitaram se afastar deles quando a morte lhes chamou.
Pensei um pouco e tinha de concordar. Se algum parente meu tivesse decidido se tornar a minha Mia, ou eu iria ficar triste por ela ter ficado por se preocupar demais comigo, ou indignada por esse próximo não ter confiado em mim para seguir em frente sem ela.
– Tudo bem Fafnir. Não vou falar sobre isso para ninguém. Ao menos não por um tempo. Não gosto muito de ficar escondendo as coisas do Valkyon...
– Compreendo. Talvez, você possa ir o preparando aos poucos para lhe contar sobre a Floppy.
– Farei isso. Pesquisarei o que eu puder sobre os revixits para assim ir preparando a noticia. Existe mais alguma informação que o senhor possa ir me fornecendo sobre os revixits?
– Não mais do que eu já lhe revelei. – um vento forte e frio adentrou o salão me fazendo arrepiar-me toda – Está tarde. Vá deitar-se que logo amanhecerá. Tenha uma boa noite criança. – terminou ele de declarar antes de desaparecer no ar, aparentemente observando algo ao longe.
Achei mais prudente começar a minha pesquisa em Eel, então não incomodei mais o Fafnir com o assunto. Ficamos aproximadamente uma semana em Memória e não via a hora de começar minhas buscas. Mas eu nem mesmo sonhava o que estaria me aguardando em casa, logo após adentrar o QG.
– Érika!Valkyon
Depois de um dos meus melhores feriados, me determinei a superar todos os meus limites. Com o começar da primavera, não está muito longe o dia de partir para Apókries. E preciso estar muito mais do que preparado para encarar esta missão. Afinal, eu estarei adentrando na toca dos hydracarys!
Meu treinamento com o Fafnir e os outros espíritos não foi muito fácil. Eu mesmo havia lhes pedido que pegassem o mais pesado possível comigo para que eu fosse plenamente capaz de defender-me e defender os que estivessem comigo dentro daquelas terras sombrias.
Mas eu nunca imaginaria a situação que nos aguardava em casa. Quando a Erika e eu pousamos na praia, logo encontramos colegas que nos repassavam as ultimas noticias. O grupo do meu irmão havia chegado junto com a aurora desse mesmo dia (estou curioso com os acontecimentos de lá) e ontem, o Christiano havia aparecido em Eel junto de alguém que desejava falar com a minha amada.
– Alguém vindo da Terra querendo falar “comigo”? Quem é essa pessoa Flerr?
– Eu realmente não sei Erika. Ainda mais depois de ficar sabendo que uma poção de esquecimento foi usada em você.
– Não gosto disso. – deixei escapar – Vamos logo entrar porque estamos exaustos. Podemos deixar isso para depois de estarmos um pouco descansados, o que acha Erika?
– Você pode estar certo Valk, mas... Quem, que poderia ser essa pessoa?
Respirei fundo verdadeiramente preocupado. Subimos as escadas de arenito, adentramos os portões e atravessamos a cidade. Estávamos quase na metade da Sala das Portas quando ouvimos.
– Érika!
Virei-me imediatamente para o alto das escadas, próximas à enfermaria, e lá havia um homem que, por alguma razão, me era levemente familiar (mesmo nunca tendo o visto antes).
– Im... possível... – ouvi minha amada declarar quase sem voz.
O homem se pôs a correr até a gente e a Erika parecia em estado de choque. Antes mesmo que pudesse compreender direito o que acontecia, ele já a abraçava como se estivesse diante de uma pessoa amada.
– Eu ainda quase não acredito em tudo isso... – declarava ele se demorando em solta-la _ciúme..._ – Mas me diz Erika, você está bem?
– Ti-tio Jorge? É, é realmente o senhor? – (tio???).
– Sou eu mesmo Erika. Irmão de sua mãe. – (agora entendi o porquê dele ter me parecido familiar).
– Mas... Mas como? Como que o senhor se... lembra...
– Acredite Érika, fiquei tão chocado quanto você agora, e é uma longa historia. Fiquei sabendo que você estava viajando, quer descansar um pouco primeiro e depois conversamos?
– Vamos fazer como ele está sugerindo Érika. – me interpus – Nossa viagem foi longa e será mais fácil de vocês conversarem se você se acalmar um pouco antes.
– Vai lá Érika. Segue com... o seu noivo? – ela corava – E depois que estiver mais bem disposta nos falamos. Garanto que eu tenho feito todo o possível para ficar ao menos inteiro nesse mundo!
Ela assentiu para o tal Jorge sem falar nada. Seguimos até o nosso quarto e ela se manteve em silencio o tempo todo. Nem durante o banho ela se atreveu a dizer alguma coisa. Ela deve estar com os pensamentos a mil, tentando entender a situação (e convenhamos, ela não é a única. Se nem os pais delas escaparam do efeito da poção de esquecimento, como foi que ele escapou?)
Cheguei a procurar a Miiko ou algum outro responsável do QG para tentar receber alguma explicação enquanto a Érika descansava um pouco no chuveiro, mas estavam todos ocupados. O único que encontrei foi o Jorge, que me pareceu um tanto nervoso em um canto do salão principal.
– Você é realmente o tio dela? – lhe questionei sentando a uma distância segura dele na mesa que ocupava.
– Pior que sou. Ainda estou meio que me recuperando do choque dessa descoberta e... Se não lhe for muito incômodo, prefiro ter essa conversa na presença de minha sobrinha. Pois duvido que as suas perguntas sejam diferentes das que ele deve ter agora na cabeça.
– Nós dois nos encontramos com os pais dela na Terra. Nenhum deles sequer suspeitaram que pudessem ser parentes da Erika.
– Eu sei. Eu os vi no dia do acidente.
Não sei o que me deixava mais desconfortável, o fato dele ter estado presente naquele dia, ou de ele ter conseguido de alguma forma ter superado a magia. Mas... Será que ele realmente se recorda de tudo? Não consegui questionar mais nada, porém permaneci na mesa. Em silencio assim como ele.
Não avisei nada à minha noiva sobre deixa-la sozinha no quarto, mas sei que ela irá acabar vindo para o salão de um jeito ou de outro considerando o quão desgastante foi o nosso voo. Karuto chegou a nos oferecer alguma coisa, mas tanto Jorge quanto eu preferimos por esperar a Erika primeiro.
Aguardamos por ela durante uma meia hora. E só depois dela ter se juntado a nós que Jorge nos contou a sua historia (e que história!!).
.。.:*✧ Capitulo especial – Flashback 2 ✧*:.。.
Jorge
Mas que saudade de poder acampar... Eu posso ser fanático por programas de sobrevivência e esportes, mas nada se compara a colocar parte desse conhecimento em prática. Apesar dessa pandemia ter me atrapalhado pra caramba.
Fui na onda desse nosso presidente... e quase que bato as botas. Antes tivesse me vacinado desde o começo como a Mirian insistiu. Nunca mais dou voto algum para aquele mentiroso de uma figa! Graças à ele, bem dizer um terço da nação foi para a cova. Literalmente.
Sempre acampei pelo menos uma vez a cada dois meses, mas graças ao isolamento, tive de ficar dois anos de molho sem ver o verde livre da natureza. Como é bom voltar a respirar o ar puro... Principalmente com o pessoal que vive na região tendo receio de sair! Nunca aproveitei tanto o parque como essa vez (tomando todos os cuidados. Óbvio).
Porém, como diz o ditado: “tudo que é bom, dura pouco”. E está na hora de voltar para casa.
Sempre estaciono minha barraca o mais longe possível da civilização, então já devem imaginar a bela caminhada que eu tinha pela frente. Metade de um dia, bem dizer.
Quando eu estava me aproximando do estacionamento, antes mesmo de deixar a mata, reconheci a voz da Mirian e do Richard. Milagre aqueles dois quererem sair de casa juntos! Não fui de imediato até eles por dois motivos: primeiro, estava morrendo de sede. Tinha de parar e beber um pouco de agua. Segundo, eles pareciam ocupados com um casal jovem.
Estava meio que sem voz por conta da sede, e já estava quase convencido de que perderia minha possibilidade de carona para casa, só que aquele casal os atrasou o suficiente para que eles não partissem antes de eu puder gritar por eles. No entanto, antes mesmo que eu anunciasse uma letra, o som de algum maluco fazendo racha me fez querer saber o que é que estava acontecendo. Me fazendo presenciar a pior visão que poderia imaginar na vida!
Eu fiquei em choque. Mas o que me impediu mesmo de reagir foi o grito daquela moça diante do que havia acontecido: Pais??? Quem era aquela menina?? Arregalei meus olhos ao assistir a força quase monstruosa daquele bombado que partiu para o resgate de minha irmã e seu marido.
Continuei assistindo a tudo, sem entender o que acontecia. Do quê que aquela moça estava falando?! Como que ela poderia ser minha sobrinha se minha irmã nunca teve uma menina? E que historia sem noção é essa de não se lembrar?
A explosão do carro de Richard abafou qualquer ruído que minha mochila pudesse ter feito quando a soltei, e aquele cara “domou” as chamas da explosão?!? Me pergunto se não acabei comendo alguma erva alucinógena sem querer no caminho. Porém o som de sirenes me fez entender que aquele incidente era mesmo real. A explosão era real. E decidi descobrir quem eram aqueles dois de verdade.
A vegetação ajudou a me manter escondido de todos o tempo todo, então aproveitei isso para segui-los depois que eles resolveram se afastar da minha família. Eu os segui até o lago que ficava próximo onde os dois se limparam e... se transformaram. Eu praticamente caí para trás! Aquela moça... Era um anjo?!? E o musculoso? Ele era algum tipo de dinossauro alado? Não, espera. Ele controlou as chamas do incêndio que podia ter ameaçado o parque inteiro então... ele seria algum tipo de espécie de dragão?
De qualquer forma os dois levantaram voo, e por muito pouco que não reparo no lenço que a anja deixava cair. Após perdê-los de vista, fui atrás do tecido, sujo de sangue, que logo reconheci pertencer à Mirian, pois fui eu mesmo que a presenteei com aquele lenço (será o sangue da anja ou da Mirian? Já sei como descobrir isso).
Guardei o lenço e corri para junto de Richard e Mirian. Cheguei bem a tempo de poder acompanha-los na ambulância, e claro, ocultei de todo mundo o que eu havia testemunhado. Fingindo ter acabado de chegar e, de longe, ter reconhecido a minha irmã (se até eu estou tendo dificuldades para acreditar no que eu vi, o que dirá os outros?).
Acompanhei de perto a investigação do ocorrido, refletindo sobre várias coisas. E também enviei o lenço para um laboratório particular na intenção de desvendar a quem pertencia aquele sangue, dando o meu DNA para a comparação. Colocando essa historia de pais a limpo.
Seja lá o que for que aquele grandalhão fez, ele realmente salvou a minha irmã e seu marido. Os médicos não paravam de dizer que era um milagre eles estarem vivos! E todos lamentavam a “inexistência” de provas ou testemunhas do que tinha acontecido.
Richard e Mirian só ficaram dois dias hospitalizados e conversamos bastante sobre o jovem casal que tinha passado o dia com eles (incidente que fez os pais dela a esquecerem?). Este foi justamente o tempo gasto pelo laboratório para concluir a análise também.
– Meus parabéns senhor Jorge. – me cumprimentava o responsável por me repassar o resultado, já que eu dei a desculpa de estar tentando encontrar um parente perdido – O senhor reencontrou a sua sobrinha. – (é o quê?!) – O seu irmão ou irmã deve ficar bem aliviado agora. Quando pretende repassar as boas novas?
– É sério isso?! Essa moça é realmente a minha sobrinha?
– Por garantia o exame é sempre repetido para que haja a certeza de que não haverá erros durante a comparação. E sim, o DNA comprova que a dona do sangue no lenço que o senhor nos forneceu é sua sobrinha. Necessita de alguma orientação para repassar a noticia?
– Não. – tomava o resultado em minhas mãos – Na verdade, eu nem conversei com... a minha sobrinha, direito ainda. Então não é só a minha irmã quem devo preparar.
– Compreendo. Desejo-lhe boa sorte na reunião familiar.
– Obrigado.
Afastei-me tentando parecer o mais natural possível, e sentei-me no primeiro assento que encontrei com o resultado aberto em minhas mãos. “Feminino”... “probabilidade de parentesco...”... “99,999...%”... Olhava aquelas informações ainda tentando entender como que aquilo era possível. (“Ela disse que seus pais sofreram algum tipo de acidente que os fez perder toda a memória sobre ela”) recordava minha conversa com Mirian no hospital, correndo os olhos pelas informações (“Ela realmente parecia ferida por dentro com tal infortúnio...”) que tipo de incidente faz com que toda a família de uma pessoa a esqueça? (“Ei Jorge! Você se lembra daquela conversa que tivemos enquanto a Mirian estava no hospital por causa do Erik?”) agora era a conversa que tive com o Richard durante uma ultrassonografia da minha irmã (“Sobre eu ter tido sonhos sobre uma filha, mas nunca me lembrar direito deles? Pois bem. Eu poderia jurar que essa moça com que passamos um tempo, poderia ser ela”) Isso é realmente muito estranho.
Enquanto recordava as conversas que tive no hospital com eles, lendo e relendo o relatório de DNA, uma forte dor de cabeça me atingiu. Mas foi uma dor tão forte, mas tão forte que as lagrimas escorreram. Até parece que eu tinha acabado de cair de cabeça do 10° andar de tanto que me doeu. Mas. Do mesmo jeito que ela surgiu, ela também amenizou. E no que amenizou, centenas de lembranças vieram à minha cabeça. Érika... Minha primeira sobrinha Erika!
Recordei-me da alegria de Mirian ao dar a noticia para toda a família. De sua gestação. Da festa que foi o nascimento daquela menina! Sua infância... Seus aniversários... As brincadeiras que fiz com ela... Cada momento que compartilhei de minha vida com aquela criança! Não é de hoje que o Richard sempre me fala que havia alguma coisa de errado nas fotos de família. Era a Érika! Ela havia desaparecido de todas as nossas fotos! E mais! Também recordei de seu desaparecimento! Do inferno que o sumiço repentino dela estava causando para depois... Puff! Quem é Érika? (Que tipo de bruxaria foi a que lançaram na nossa família?).
Respirei fundo para me recompor.
Primeira constatação: Érika é minha sobrinha, filha de Mirian com Richard. Segunda constatação: há aproximadamente três anos ela desapareceu e, antes que encontrássemos qualquer pista sobre ela, esquecemos totalmente a sua existência em nosso mundo. Terceira constatação: não sei como ou porque, mas após obter esses resultados consegui de alguma forma recuperar a minha memória sobre ela.
Tenho que dar um jeito de conversar com a minha sobrinha.
Fui atrás de um detetive de confiança e pedi para que investigasse o paradeiro de Erika. Com a ausência de fotos, os raros olhos lilases dela era a melhor pista que eu podia dar depois do retrato-falado que forneci ao homem. As investigações dele levaram uma semana, e tudo o que ele conseguiu me fornecer foi o paradeiro do irmão mais novo de um de seus companheiros de viagem, que por sinal, estava tentando colocar um grupo de perseguidores “malucos” na justiça (parece que não sou o único com problemas... surreais).
Dei um jeito de me encontrar em particular com o rapaz e lhe contei a minha historia. Já ciente do risco de que ele pudesse vir a querer me internar. Mas ele se mostrou mais compreensível do que eu podia esperar.
– Olha aqui Jorge, eu não sei se você é muito sortudo ou muito azarado. Se não fosse pela minha própria experiência de endoidar qualquer um, eu lhe sugeriria procurar um profissional para examinar a cabeça. Mesmo depois de tudo ainda estou tentando aceitar algumas coisas.
– Não vou mentir Christiano, quase procurei um psiquiatra durante essa investigação. Mas você pode ou não me ajudar? É a minha sobrinha! Quero entender o que aconteceu e que ainda acontece!
– Hum... O máximo que posso fazer por você é: te explicar o que a minha irmã e o pessoal que vive com ela me explicou; e tentar ti levar comigo quando eu for vê-la outra vez. Aceita?
– Sou todo ouvidos.
Ele me contou sobre uma tal de Eldarya, um mundo criado a custa das vidas de toda uma raça mística, em que só existe dois exemplares puros como prova de tal existência, para que os seres mágicos pudessem fugir das perseguições humanas. Tendo isso ocorrido a mais de mil anos!
Explicou o que sabia da condição desse mundo que, por falta de poder mágico, não conseguia se sustentar sozinho direito e que era a irmã dele, minha sobrinha e mais dois homens que estavam dando um jeito de consertar essa deficiência. Falou da diferença tecnológica existente entre os mundos; da fauna; da flora; dos habitantes. Tudo era como ouvir um interessante conto de fadas. Como o porém de não ser um conto propriamente dito...
Christiano chegou a me questionar o quê eu sabia sobre sobrevivência e nisto tive um grande gosto em compartilhar tudo o que tinha adquirido através da tv e de minha própria experiência.
Após muita discussão, analises e planos, ajudei-o a organizar sua viagem para Eldarya. Se não fosse pelos acontecimentos inimagináveis, de jeito nenhum iria aceitar a existência de um liquido capaz de fazer as coisas encolherem (isso seria extremamente útil em meus acampamentos...) e ainda bem que o antidoto pode ser encontrado nessa tal de Eldarya.
Fiquei tão ansioso com essa expedição, que já nem lembro mais quanto tempo foi que gastamos para executá-la. No hotel em que fizemos uma pausa, o chefe do lugar, o Apoema, me fez ter um longa, mas longa conversa com ele. Até parecia que eu estava sendo minuciosamente entrevistado para O cargo de emprego (será que os faerys ainda tem remorso dos humanos? Pelo o quê Christiano me repassou...).
Seguimos pela mata com o Ubiratan de guia que, assim como o Christiano, não sabia se eu poderia ou não continuar a viagem até o fim. O que exatamente os preocupavam? Se a questão for a sobrevivência, eu já tenho pratica suficiente para lidar com quase tudo (Christiano já me adiantou que nem todas as lendas estão corretas. Não 100%).
Durante o caminho, os dois me falaram mais sobre aqueles que iriam ou não permitir a minha travessia para Eldarya. Caipora e Curupira... Sem eu bem me lembro, as lendas os revelam como primos, crianças com grandes poderes sobre a natureza da qual são guardiões. Quem será que iremos encontrar? O “Kurui’pira” ou a “Kaa’pora”? A forma com que os dois me repassavam as diferentes personalidades dos dois me deixava cada vez mais curioso em conhecê-los.
Assim que avistamos a névoa que protegia e escondia a passagem que usaríamos, fomos recebidos pelo Curupira. Ele não era o que eu esperava... (mais do que nunca existem equívocos nas lendas!) mas nem por isso o temi menos.
– Ubiratan? – ele se voltava ao nosso guia.
– Abaetê buscando anama.
– O que foi que você disse aí? – eu questionava o guia.
– Algo entre mim e o cacique. – declarava firme o Curupira – Mas mim ainda querer perguntar algumas coisas. O que tenta obter do outro lado?
A forma com que ele me olhava, como se estivesse tentando enxergar algo que eu não era capaz me preocupou. Mas respirei bem fundo para lhe responder o que fosse da forma mais sincera possível – Quero apenas encontrar a minha sobrinha, Erika. Entender o que aconteceu com ela e com a minha família já que, até alguns dias atrás, eu nem sequer imaginava a existência dela.
– Não tinha memória?
– Absolutamente nada. O Christiano chegou a me comentar sobre ela ter sido obrigada a beber alguma coisa que fez ela ser esquecida por todos. Quero tirar essa historia a limpo e descobrir o que foi que me permitiu lembrar tudo sobre ela.
– Hum... – a forma com que ele me encara me dava vontade de recuar... – Não vejo nada em você. É um humano comum. Também não entendo o que lhe aconteceu. E ainda não confio em tua presença.
– Qual é Kurui’pira... Quebra um galho aí! Eu me responsabilizo pelas atitudes dele no outro lado. Eu só não sei o que lhe fornecer como pagamento pela passagem dele! Se fosse a Kaa’pora, eu teria o maior prazer de presenteá-la com um bolo de mandioca de meio kilo. Mas como é o pajé...
– O que leva consigo para o outro lado?
– Apenas comida, livros e algumas coisas que irei precisar para conseguir cumprir algumas promessas que fiz a uma certa brownie.
– Não parece carregar tanto.
– Consegui um pouco de poção de encolhimento da morena que nos acompanhou antes. A que lhe deu um tal remédio como pagamento.
– Ainda tem da poção?
– Um minuto que tá na mão! – declarava o Christiano já a procurando em suas coisas – Olha ela aqui! – estendia ele o frasco.
– Isso é tudo o que tem?
– Não acho uma boa ideia deixar uma gota que seja para trás.
– Então aceitarei isto em troca de levar o seu amigo. Sei que poderá conseguir mais aonde vai.
– Negócio fechado! Vam’bora? – chama Christiano já com a sua mochila de volta às costas.
Ubiratan tomou o caminho do hotel e nós dois seguimos o índio dos pés invertidos pela neblina. Diante da caverna, o Kurui’pira me questionou se já me havia sido explicado como que a travessia funcionava, onde respondi que sim (o que eu mais tenho feito nesses últimos dias, é pensar em minha sobrinha). Estava mais que determinado em segui em frente, só que eu quase olhei para trás umas duas vezes por conta de todo o tempo que passamos naquela escuridão singular. Para não mencionar o susto que tomava quando algum tipo de luz passava disparada próximo de nós. Foi um alívio ver a claridade novamente.
– Kaa’pora tá kañymby. Desde quando os yvypóra tem pokatu de vir pra cá? – questionava uma mulher animalesca que me encarava à distância.
– Este é exceção. Mnemósine foi superada.
– Quê?? Angaturama ou anhangaba?
– Não sei.
– Do quê que esses dois estão falando? – sussurrava com o Christiano.
– Nem imagino. Lembra que eu comentei que a Caipora não tá nem aí se você conhece ou não a língua indígena? Eu nem me esquento mais com o quê ela fala. Não entendo bulhufas mesmo...
– Mas, e se ela acabar falando algo importante?
– Os dois não podem ficar muito tempo no mesmo mundo, então se essa coisa dizer algo importante, o Kurui’pira traduz. Ele sim te leva em consideração.
– Ei! Cariboca!
– Lá vem ela... – se lamentava o rapaz _riso_.
– Kaa’pora sente cheiro de macaxeira. Que tem aí?
Segurei o riso diante da cena. A Caipora é mesmo uma criatura um pouco doida. Enquanto o rapaz não entregou o bolo preparado para ela, ela não o deixou em paz.
– Tutóia. _chupa dedo_ Tutóia! _chupa outro dedo_ E tutóia... _chupa o último dedo_. Segue logo para o jabaguara, angirũ. E Kaa’pora segue pra Pindorama. Boa guataha! – terminou de declarar ela adentrando a caverna.
O Curupira nos repassou alguns conselhos e depois desapareceu de nossas vistas. E eu quase tive um ataque cardíaco quando um... bicho, saltou com tudo para cima do Christiano.
– Toby! Há quanto tempo garota! Sentiu muito a minha falta? – a criatura parecia até esses cães em vídeos de reencontro com os donos da internet – Deixe eu te apresentar, Toby, esse moço aqui é o Jorge. Tio da Érika. Jorge, essa é a Toby, a minha fenri... hãm... A minha mascote, vai.
– Prazer em te conhecer, Toby. – acabei por dizer. Eu não esperava a reação que ela teve (assumindo postura sentada e depois me reverenciando com a cabeça em cumprimento) mas não tive duvidas de que ela era uma criatura inteligente.
– Já chega de enrolação Jorge. Daqui até Eel são uns cinco dias de viagem, pronto para continuar com essa aventura de destruir a sanidade?
– _riso_ Estou pronto para obter respostas! Pois louco acho que já fiquei há muito tempo.
– Esse é o espirito!...
Seguimos com a viagem que acabou sendo bem fascinante. A presença da tal Toby foi de grande ajuda para nós dois (ela foi capaz de viajar sozinha de Eel até nós? Como ela saberia que o seu “dono” estava chegando?), mas evitamos ter de lidar com os faerys desconhecidos, já que nem todos eram apreciadores dos humanos. Ainda mais depois da historia que o Christiano me havia contado sobre como ele impediu um verdadeiro massacre contra alguns faerys gentis.
Em algumas situações, vi o Christiano apresentar algum tipo de emblema para os faerys com que lidávamos inevitavelmente, o que não me deixou claro se aquele símbolo era algo bom ou ruim nesse mundo, julgando as reações de alguns deles. Mas o objeto nos poupou de vários dilemas.
Christiano não brincou com a distância que teríamos de percorrer! A viagem durou mesmo uns cinco dias... Nem consegui evitar de me sentir parcialmente aliviado quando nos colocamos diante dos portões da cidade em que minha menina morava. E chegamos faltando bem pouco para eles os trancarem! Graças à Deus que um dos guardas responsáveis reconheceu meu companheiro de longe, instantes antes de moverem aquelas portas (elas devem ser bem pesadas...)
– Christiano?! É você mesmo?
– E aí, Shiro! Tem quarto sobrando para um viajante que veio visitar a família? Como tá tudo por aqui?!
– Em Eel está tudo bem, por enquanto. Mas acho que você tem que falar primeiro com a Miiko antes de fazer qualquer coisa aqui dentro.
– Tá falando sério?? Por quê?!
– Err... É melhor que você converse com ela mesmo e... Quem é? – o guarda (que parecia uma mistura de homem com raposa) me encarava um pouco desconfiado.
– Um amigo que está atrás de respostas bem difíceis de se achar. Pelo menos na Terra seria impossível! – declarava o Christiano já adentrando a cidade, com eu o seguindo.
– Um faeliano?
– Aparentemente não. – continuávamos o caminho pela cidade – Mas não custa fazer aquele teste mesmo assim. Vai lá saber! Agora... Onde é que eu acho a manda-chuva? E a Cris?
– Acho que a Miiko pode estar na Sala do Cristal agora, e sobre a Cris, melhor você conversar com a Miiko mesmo.
– Aconteceu alguma coisa com ela por acaso? – Christiano parou na hora – Pra quê tanto segredo??
– Questões de segurança. Ninguém aguardava por você ou por outros visitantes... – ele me encarava de soslaio e voltamos a seguir em frente.
– Segurança... Não estou gostando dessa historia... – resmungava o Christiano com todos nós retomando o caminho em silêncio.
– Errr... Shiro, certo? – arriscava-me no caminho – Acaso conhece uma moça que atende pelo nome de Erika?
– O que quer com ela? De onde a conhece? Quem é você? – (será que esse cara é algum amigo intimo dela??).
– Ô Jorge! É melhor a gente tratar disso direto com a Miiko mesmo. E fique esperto! A menos que queira ariscar-se sendo vitima de algum feitiço perdido ou flecha errante.
– Como é?! – me assustava, com o tal Shiro segurando o riso.
Retomamos o percurso outra vez, e quando chegamos no que parecia ser a parte comercial da cidade, algumas “pessoas” começaram a cumprimentar o rapaz. Teve uma moça, com chifres de bode, que ficou especialmente feliz em vê-lo outra vez (e parece que ele havia prometido alguma coisa para ela). Só não nos demoramos no caminho porque o guarda logo se apresava em dizer que estava no levando para ver a tal Miiko (“miiko” não significa “sacerdotisa” em japonês?).
Entramos em uma imensa torre branca, atravessamos o hall de entrada e seguimos por um corredor onde entramos na primeira entrada à esquerda que encontramos. Era um ambiente realmente grande. Acho que todo o povo da cidade consegue entrar aqui dentro. E o enorme cristal branco era realmente impressionante (esse é o tal cristal “incompleto”?! Responsável pela vida existente neste mundo?).
Uma... Kitsune, é o termo correto? De quatro caudas tão negras quanto os cabelos dela estava de costas para nós conversando com um loiro que demorou um momento para nos perceber. Fazendo-a se virar bruscamente para a nossa direção e parecer tão surpresa quanto o loiro que estava à sua frente.
– E aí Miiko! Leiftan! Cadê vocês sabem quem?
– Christiano?? Nós não o esperávamos! Quem é esse com você?
– Historia tão longa quanto a minha ao chegar aqui pela primeira vez, mas eu quero a minhas respostas primeiro. – declarou ele cruzando os braços e deixando a mulher visivelmente desconfortável.
– Shiroiyoru, faça-me o favor de aguardar lá fora. E Leiftan, pode ficar vigiando a entrada para mim enquanto converso em particular com o Christiano e o...
– Jorge. – me anunciei – Irmão sanguíneo da mãe de Erika. – declarei (e quase que os faerys presentes caíam para trás com o que eu falei).
– Im... Im... Impossível!!!
– Nem tanto Miiko. Mas desembucha logo sobre o que eu quero saber, para que o meu amigo aqui conte sua saga depois. E Shiro! Faça-me o favor de manter segredo disto aqui por enquanto. Ao menos sobre a parte dele ser parente da Erika.
– Ce...ce-ceeerto. Com... com licença. – (qual o problema dessa gente?...)
Depois que ficou só nós dois com a kitsune (sendo que o rapaz lhe entregou alguma coisa antes de sair), ela nos contou sobre as mudanças feitas desde a ultima vez em que o Christiano esteve nessa cidade, e o que a irmã dele estava fazendo agora.
– Tá tirando uma com a minha cara? E aquela historia de não poderem permitir que ela deixasse a cidade?? Alguma ideia de quanto tempo serei obrigado a esperar para vê-la outra vez?
– Os mascotes dos guardiões do grupo dela tem me enviado relatórios dos acontecimentos em sua volta quase todos os dias. Eles já iniciaram seu caminho de volta e é possível que cheguem amanhã, então não se preocupe.
– Sei. E tem como você ir me adiantando o que foi que esses relatórios descreviam?
– De forma bem resumida, a Cris descobriu um criminoso perigoso naquele reino, o desmascarou e ajudou a puni-lo. Poderá conversar de forma mais detalhada com ela, assim você não se preocupa desnecessariamente. – Christiano apenas bufou irritado e evitou olhada (coitado... eu meio que o entendo) – Agora... Jorge. Será que você poderia beber só uma gota disso aqui e me contar que historia é essa de... Tio?!?
– Se me explicar o que exatamente está me pedindo para beber...
– Isso é uma poção da verdade. De poder absoluto. Assim não terei qualquer razão que seja para duvidar do que for que o senhor me contar.
– Ok. – bebi do liquido furta-cor e comecei a falar.
Contei tudo o mais detalhadamente que podia me lembrar, sem qualquer tipo de problema e sem ocultar as observações que o Richard havia me revelado antes de eu presenciar aquele dia. Apesar da Miiko ter tido que não iria duvidar de minhas palavras enquanto estivesse sob o efeito da tal poção (e será que está fazendo efeito mesmo? - Sim - ???) ela parecia cada vez mais incrédula com a minha historia.
– Eu nunca... Nunca ouvi falar de um caso semelhante. Isso devia ser impossível! O senhor é realmente humano, Jorge?
– 100% humano e 0 faery. Que teste era esse do qual o Christiano mencionou? Pode fazê-lo comigo se ainda não estiver acreditando.
– Não há necessidade. Só a sua palavra sob o efeito da poção é prova mais que suficiente para mim. Mas... Espero que o senhor aceite ser examinado por nossa enfermeira para ver se conseguimos alguma pista do porque de você ter conseguido recuperar a memória sobre a Érika.
– E falando nela, onde que a Erika está? Eu no lugar dela já teria “voado” até aqui para descobrir quem é que estava me acompanhando.
– A Erika e o Valkyon estão em Memória agora. Uma ilha que guarda a maior parte da verdadeira historia dos dragões entre outras coisas. Acho... Que eles também chegarão amanhã.
– Ótimo! Ninguém que queremos ver em casa. Vou puxar a orelha daquela maluca quando ela chegar.
– Também não é preciso tanto Christiano. E o monte de coisas que trouxemos para que você pudesse cumprir umas promessas que fez por aí? Você pode cuidar disso enquanto a espera, não?
– Coisas para cumprir promessas? Do que ele está falando Christiano?
– São só alguns livros, objetos, comida, equipamentos e tecnologias terrestres que precisei usar da poção de encolhimento que a Hua me deixou ficar, e que tive de entregar pro Kurui’pira para que ele permitisse o Jorge viajar comigo. Vocês vão me deixar voltar para casa com um novo frasco, né?
– Veremos isso depois. Quero saber melhor sobre o que foi que você trouxe. – alguns estômagos roncavam – E de preferência, durante o jantar. Me acompanham?
– Com todo o prazer! – declaramos juntos, e concluímos a conversa entre nós três durante a refeição.
Christiano e eu nos lavamos no banheiro público e compartilhamos do mesmo quarto que nos foi cedido. Por conta da ansiedade em rever minha sobrinha (e entender o que foi que aconteceu), não consegui dormir direito mesmo cansado da longa viagem.
Amanhecido o dia, Christiano teve sorte. A irmã dele chegou junto com o sol. Eu até pensei em ajudar o rapaz com as coisas que ajudei a trazer, mas eu mal terminei de comer o café da manhã e a Miiko já me arrastou até a enfermaria para ser examinado.
Precisei explicar tudo outra vez sobre o que tinha acontecido comigo antes de recuperar a memória sobre a Erika. A Ewelein me obrigou a contar cada mínima sensação que tive e ainda me pediu para mostrar o exame que me revelou a verdade (ainda bem que o trouxe comigo...). Gastei bem dizer o dia inteiro naquele lugar. Sendo examinado dos pés à cabeça. Não demorou muito para que fosse espalhado que eu era um simples e “comum” humano. Assim me livrava de alguns problemas que pesariam sobre o Christiano se soubessem que ele era irmão da famosa Lys de Eldarya.
Aquela montanha de exames, testes, e sei lá mais o quê estava começando a me chatear. E com o dia acabando, sem qualquer noticia da chegada de minha sobrinha, me deprimindo também.
Quando a elfa me liberou finalmente, estava bem desanimado. Mas, quando encarei o salão de entrada lá de cima, me foi impossível não reconhecer aquela senhorita.
– Erika!Dicionário da Kaa'pora 4
E para quem não fala linguagem indígena...
Anama = família
Kañymby = perdido
Pokatu = permissão
Yvypóra = humanos
Angaturama = bom presságio
Anhangaba = diabrura, malefício, ação do diabo ou feitiço.
Jabaquara = refúgio dos fujões/quilombo
Cariboca = procedente do branco, mestiço
Angirũ = amigo
Guataha = viagem
.。.:*♡ Cap.141 ♡*:.。.
Cris
– Tá de brincadeira comigo... – acabei declarando ao terminar de ouvir sobre o novo “amigo” de meu irmão, com a gente conversando no meu quarto.
– Quem dera eu estivesse, doida. Vai ver a tal poção que empurraram para cima da Erika possui alguma falha ou coisa assim.
– Isto seria uma bela novidade... – comentava o Lance – O uso dessa poção se tornou proibido justamente por ninguém ter conseguido encontrar uma forma de desfazer os efeitos.
– Talvez não o fosse possível no passado. Faz quanto tempo mesmo que descobriram o DNA?
– Acho que se tiver uns 50 anos, é muito Christiano.
– Pois é, doida. Acho que uma prova definitiva de parentesco é a chave para se desfazer a bruxaria aí. – uma batida da porta meio que nos interrompeu. Fui atender com o Lance correndo para recolocar a máscara.
– Oi Benelli! Posso ajudar?
– O Christiano está com você, certo?
– Estou aqui sim Nelli! Já posso montar tudo lá?
– Mais que pronto! Demorei um pouquinho para terminar de arrumar as coisas e preparar o contra-poção, mas já está tudo acertado. Tem até um grupo de purrekos alquimistas que se ofereceram para ajudar no que fosse possível e também para descobrir o quê que pode ser usado nesse mundo.
– Certo. Já entendi. Você ainda está naquela mesma sala das escadarias sem fim, né?
– Continuo sim. Porta do sexto nível para baixo. Onde está o que disse ter trazido? Posso já ir levando se quiser.
– Está tudo no quarto em que estou hospedado. – meu irmão se erguia da cadeira – Vamos lá buscar tudo. Só espero que as baterias que eu trouxe sejam suficientes para fornecer a energia necessária, ou que consigamos descobrir um bom substituto para elas.
– Se depender dos purrekos isso não será um problema. Não por muito tempo, pelo menos.
– Então vamos lá. Você vem doida?
– Talvez mais tarde Christiano. Tenho que arrumar minhas coisas e... Fazer o relatório dessa viagem traiçoeira para a Miiko _cansada_.
– Cê que sabe! Vamos indo Nelli. Trabalhe direito Gelinho! – despediu-se meu irmão quase correndo para fora.
– Ele está abusando... – disse o Lance depois de eu ter fechado a porta.
– Mas você não vai encostar um só dedo que seja no meu irmão! Já que o único outro termo que ele poderia usar com você é o de guardião. E não acho que ele irá querer usar isso tão cedo.
– Só que ele está tirando proveito demais! – ele tirava a máscara outra vez – Já não foi fácil fazer a Anya parar de me chamar assim.
– Ah, é... E quase que você brigou com o Voronwe por causa disso. Será... que ela ficou muito zangada com a gente?
– Se tiver ficado, de que adianta agora? Deixamos aquele reino há dias e já temos confusões mais que suficientes para arrumar.
– Fala do tio da Erika ou das promessas de meu irmão?
– Acho que os dois. E esse tio em especial. Como será que o Valkyon vai reagir?
– Com certeza ele ficará sem saber o que fazer. Ele não foi um dos que concordaram com o uso da poção?
– Foi. Tendo sido eu quem revelou a mentira que estavam jogando para cima dela. Bando de covardes! – um riso acabou me escapando – Do que está rindo?
– Ah, sei lá! Só fiquei pensando agora: se tivesse sido eu ao invés da Erika, você teria destruído a poção para garantir que eu não a tomasse... ou só me teria alertado como fez com ela?
– Eu não sei. – ele começou a se aproximar de mim – Não sei nem mesmo se teria me apaixonado por você naquela época. Eu fui mesmo um grande idiota com você no começo... – terminava ele de falar me abraçando.
– Sim. Você foi. E eu sou uma sem juízo para aceita-lo mesmo depois de tudo o que me aprontou.
– Então devo agradecer eternamente por essa falta de juízo _beijinho_. Pois farei de tudo para que a sua decisão de me aceitar nunca se torne um arrependimento.
Aquelas palavras acabaram me aquecendo o peito. Me abrindo um sorriso no rosto – Vamos cuidar do que temos de fazer, sim? – sugeri aproveitando só mais um pouquinho daquele abraço.Christiano
Essa guarda está me deixando cada vez mais preocupado... O emblema que o Keroshane me deu se mostrou realmente útil. Útil, e revelador, pois ao menos metade das pessoas que o mostrei não pareceu gostar de saber que eu tinha conhecidos dentro dessa guarda. Como o capitão do barco que nos forneceu carona, por exemplo.
**– Você é amigo daquela guarda?!
– Sim e não. A pessoa que estou indo visitar vive por lá. Ainda não confio totalmente naquele pessoal.
– Pois nem confie! Já basta eles estarem monopolizando o Cristal e a Lys de Eldarya. Para não mencionar os seus erros do passado. Nem sei se quero você e o seu amigo em meu barco depois disso.
– Olha aqui camarada, a sua opinião sobre eles é uma coisa. Mas as minhas necessidades é outra! Acha realmente justo recusar-se a ajudar alguém a rever um parente, apenas porque não gosta da gente que vive no lugar em que ele está?! Isso meio que não te iguala à aqueles de que não gosta?
– Hum... Mais ou menos... Está certo. Levo vocês até o porto mais próximo daquela cidade. Mas isso é o máximo!**
Nem toquei mais no assunto depois de ter conseguido a carona dele. E assim que eu tiver chance, quero que o Keroshane me explique direitinho sobre isso. Afinal, essa Guarda de Eel é do bem ou é do mal?
E essa historia de viagem de sonho? Não tinham desculpa melhor para inventar não? Pelo menos o Absol não é mais o único a estar tomando conta da Cristinne, mas tinham de colocar justo aquela coisa? (ai dele se falhar na tarefa!).
Quando a Cristinne começou a me contar todas as coisas que ela tinha vivido nessa viagem ao tal reino élfico, eu não sabia se sentia medo ou raiva dessa gente mágica. Mas que f**** da p***!! Se o Gelinho tivesse dado uma boa surra naquele corno, eu o veria um pouco melhor. Pelo menos parte das bagunças que esses seres fazem tem como serem desfeitas. Ou são só em alguns casos? Se não fosse pela Nelli, teríamos continuado com a conversa (aposto que o Gelinho ficou querendo me torrar, hehe).
Corri junto da moça-bode até meu quarto, e juntos carregamos tudo para o galpão dela (quem precisa de academia com tantas escadas neste lugar?), com os gatos falantes já nos esperando lá.
– Onde esses cabos se encaixam? – me perguntava um dos gatos, depois de termos terminado de trazer as coisas de volta para o tamanho normal.
– É só conferir as cores das pontas dos fios. Vocês conseguem diferenciar essas cores aí, não conseguem?
– Mas é claro que sim! Mas porque motivo eles são diferentes? É só para saber qual se deve conectar aonde?
– Não. Cada cabo é responsável por transmitir um tipo diferente de informação. Um é responsável pelo som, outro pela imagem...
– Eu ainda estou admirada de vocês humanos terem se tornado capazes de guardar informações dentro de um disco tão pequeno. Você não sabe mesmo explicar como que isso é possível?
– Olha Nelli, por mais que eu estude sobre o assunto, não sei bem como lhe explicar tudo de forma que compreenda de imediato. Nem eu sei tudo!
– Então apenas nos diga o que você acredita ser a explicação mais fácil agora. Ei! Cuidado aí! – pediu um dos gatos que quase caiu para trás quando um outro puxou o fio que ele segurava.
– Tá ok. Hãm... Há alguns anos, foi desenvolvido um tipo de código com a intenção de facilitar as comunicações. De acordo a necessidade de comunicação cada vez mais rápida foi aumentando, o código evoluiu e abriu portas para outros tipos também. O código que hoje utilizamos no mundo inteiro, bem dizer, foi desenvolvido por uma mulher, que não me lembro nome, e aperfeiçoado por um cara que conseguiu criar a internet. Mas acho que já estou fugindo do que vocês querem saber aqui.
– Mas, em poucas palavras, você está nos dizendo que um código especial foi registrado neste disco aqui. Certo?
– Sim. E para poder se acessar esse código necessita de equipamentos capazes de “ler” ele. Só que existe vários tipos de código que são gravados do mesmo jeito, com diferentes funções. Sendo que em alguns deles é possível interagir com os códigos, como estes que eu trouxe como exemplo.
– Interagir??? – questionava o gato que me ajudava com o monitor.
– Sim. É o caso dos jogos, por exemplo. Feitos como forma de entretenimento e/ou aprendizagem.
– E como esses jogos funcionam, Christiano?
– Eles são como simulações, Nelli. Você tem um pré-roteiro para seguir e completar a historia, que tanto pode ser uma historia totalmente fictícia como ela pode ser baseada em fatos reais, onde suas ações e decisões não podem escapar muito do que precisa ser realmente feito para que você possa chegar no fim da historia. Essa foi a melhor ideia que eu consegui ter para lhe mostrar mais ou menos o poder das armas de fogo. Eu também podia ter escolhido lhe trazer alguns filmes, mas...
– Mas o quê?!
– Fiquei com preguiça de ficar escolhendo filmes e eu já tinha os jogos. Quase desisti deles porque não estava conseguindo fazer o meu Playstation funcionar outra vez. Sem falar que acho um jogo muito mais interessante que um filme.
– E o que é um filme?
– Deixa eu pensar como é que explico isso...
– É como estar dentro de livro.
– Oi?! – me surpreendia com um dos gatos.
– Já cheguei a conversar sobre isso com a Erika e com a Lys. Elas explicaram que filmes são historias contadas através de centenas de milhares de imagens que, quando vistas uma atrás da outra muito rapidamente, parecem se mover como se tivessem vida; e que são combinadas com sons de modo a fazer você ver a historia como se você estive vendo e ouvindo tudo o que acontece dentro de um livro, por exemplo. Ou um sonho. A Lys me mostrou alguns exemplos nos aparelhos dela e me explicou algumas coisas parecidas com o quê o rapaz disse aí.
– Se você já sabia de tudo Pornn, porque é que se ofereceu para ajudar? – boa pergunta, Nelli.
– Não é que eu desconfie das explicações da Lys, que são bem mais coerentes que as explicações da Erika, mas eu queria poder ouvir isso de mais algum humano que compreendesse do assunto! Já que a própria Lys confessou não entender totalmente a própria tecnologia humana...
– Poucos são aqueles que realmente compreendem como a tecnologia humana funciona, errr... Pornn, certo? – o rajado assentiu – Por isso vai ser difícil encontrar alguém que saiba lhe explicar sobre tudo. Até os livros que eu trouxe, explicando como é o funcionamento de algumas coisas, só ensina sobre uma pequena parte das invenções humanas. E ainda assim, algumas delas não foram criadas de modo a ajudar a proteger o meio ambiente. Algumas são até mesmo prejudiciais à saúde.
– Cheguei a ouvir comentários assim... E se você está dizendo isso também Christiano, é mesmo fato que os humanos, em sua maioria, não sabe dar valor ao que possui.
– Se estiver se referindo à natureza em si, Nelli, não tenho como discordar. Já tem algumas décadas que o desrespeito da humanidade sobre ela já vem castigando todo mundo, mas ainda continua tendo gente dizendo que isso é paranoia de “gente desocupada”. Isso para não mencionar do monte de vagabundos que só sabem piorar as coisas e depois ficam querendo dar desculpa que não teve nada a ver com o problema. Pronto! – terminávamos de instalar o último cabo – Agora vamos largar essa conversa chata de lado e começar com o jogo.
– Tudo bem, mas você poderia explicar mais sobre esses jogos? – me pedia a Nelli.
– E também sobre o funcionamento dessas... baterias? – me pedia um dos gatos.
– Mas é claro! Vejamos...
Expliquei primeiro como eu podia sobre as baterias para os gatos (espero mesmo que eles consigam criar alguma coisa não tóxica para usarmos mais para frente) e depois sobre os jogos de guerra que tinha comigo. Quase tentei comprar mais alguns já que eu quase não tinha jogos que trabalhassem com armas que realmente existem. Mostrei como o controle funcionava após ficar aliviado pela a nossa gambiarra ter funcionado de boa, e me divertia com as reações de todo mundo, ao mesmo tempo que explicava um monte de coisas... Ainda bem que consegui uns livros para ajudar, mas... “Fúria dos titãs”? Não é um nomezinho meio grande para “bomba” não?Lance
Eu não sei o que é pior: continuar suportando as provocações do Christiano, ou a reação do Valkyon quando descobrir sobre a visita da Erika. Se já me está sendo difícil ter de lidar com a família de minha Ladina com quase ninguém sabendo as coisas que fiz contra ela, imagine ele se toda a família da anjinha resolver se lembrar dela. Antes, ele só tinha de conseguir o perdão dela. Mas agora? Acho que dá para dizer que já estamos partilhando do mesmo barco.
A Cris e eu gastamos metade do dia só para arrumar nossas coisas e o quarto, sendo que finalmente consegui convencer a Ladina a vender parte das coisas que ganhou de Absol, para abrir um espaço melhor para os meus pertences ali dentro. Agora que todos sabem da minha existência (apesar de desconhecerem a minha identidade), não há mais a necessidade de esconder minhas coisas no quarto. Não tudo, pelo menos.
Como o Valkyon e a Erika estão em Memória ainda (ou pelo menos no caminho de volta), pensei em conversar um pouquinho com o cara que é tio da anjinha, mas a Ewelein o monopolizou totalmente. Entendo a necessidade de se descobrir o que foi que permitiu que o homem recuperasse a memória, só que conversar sobre as intenções dele também é importante! Estou mesmo preocupado com o meu irmão...
O dia seguiu, e a noticia de ter um humano no QG querendo falar com a Erika se espalhou mais rápido que um jorro de chamas. Pelo menos o cara não vai poder ser alvo dos apokrienses, já que eles só tem interesse naqueles com sangue dragônico e aengel.
Durante o almoço, a Miiko nos fez comer em seu quarto, para que pudéssemos lhe dar um relatório oral ao invés de escrito (ela com certeza se demorou com o ultimo relatório de viagem da Ladina _risinho_) além de nos mostrar as mensagens que ela havia recebido de nossos companheiros de missão. Isso facilitou muito a tarefa, pois ela mesma completava as informações com as nossas explicações pessoais.
Eu não sei o que foi que o Christiano arranjou de fazer com a Benelli, mas se não fosse pela Ladina, ele teria acabado parando na enfermaria ao invés da cozinha. Eles passariam praticamente o dia inteiro sem comer ou beber ali! O que o meu futuro cunhado trouxe é tão interessante assim? Bem, que seja. Não ficamos tempo suficiente para descobrir o que eles tanto faziam porque a fenghuang cega resolveu arrastar a Cris para retomarem os treinos. A Tomoe nos fez terminarmos de descer as escadas, ela queria fazer os treinos no porão.
Estando tão perto de meu... antigo “quarto”, fiquei curioso em conhecer o meu substituto. E já que o Absol se manteve junto da gente o dia inteiro...
– Alguma de vocês se importam se eu fazer uma visitinha a um certo prisioneiro?
– Eu, pessoalmente, não me importo guardião. – falava a fenghuang – O meu treinamento é o pior momento para alguém querer “atrapalhar”. A não ser que a criatura seja muito, mas muito tola mesmo.
– Não há como discordar. E como Absol está aqui também... creio que não há motivos para eu me preocupar. Por isso pensei em descer.
– E quem exatamente você está querendo ver Gelinho?
– Quem que você acha Cris? – perguntei já apontando discretamente para mim mesmo. Fazendo-a arregalar aqueles olhos brilhantes mesmo com tão pouca luz.
– Tem certeza disso?! Você realmente deseja ver “ele”?
– Estou curioso. E também quero ver se passo a entender algumas coisas pessoais com esse encontro. – começava a me afastar – E trate de prestar atenção em seu treinamento, Cris! – terminei de dizer já acessando as escadas (e provavelmente com ela resmungando).
Depois de ficar alguns minutos perto de ficar tonto, e convencer o guarda responsável a permitir minha entrada, me coloquei diante de minha antiga cela. Respirei fundo sem querer...
– Mas vejam só. A quem eu devo a visita?
– Vim apenas conferir uma “sombra”. E agora eu entendo o olhar de Valkyon.
– Com certeza as visitas do líder da Obsidiana para este lugar sempre foram difíceis. – e ele já percebeu quem sou eu...
– É. Eu sei. – toda vez que o Valkyon aparecia para me ver, logo de cara ele apresentava um olhar triste que eu sempre dava um jeito de fazer sumir de seu rosto. Não sabia o quão lamentável era a minha aparência naquele lugar. Me pergunto se minha “estadia” ali, foi pior ou melhor que a ideia de eu estar morto para ele – Mas... acaso já se arrependeu de ter sido colocado aí?
– Estar aqui é complicado. Não é qualquer um que pode suportar essa situação por muito tempo, não é verdade?
– De fato. Mas não responde a pergunta.
– Gostando ou não, estar aqui forneceu alguns benefícios depois que a Lys passou a viver em Eel. E confesso que ver esse lugar livre de contaminados torna tudo um pouquinho mais agradável.
– Imagino. – ficar preso aqui com as outras celas cheias deles era realmente um saco – Então devo supor que você não se arrepende de estar aqui?
– Se apesar dos infortúnios que este lugar me fornece, eu tiver conseguido algumas vantagens, não vejo porque eu deveria me arrepender. Mas se fosse para “me” fazer uma pergunta, esta seria: “eu” não teria ficado preocupado por estar aqui na época que os humanos ameaçaram atacar Eel, pouco depois da Lys ter chegado em Eldarya?
– Se nem os faerys “lhe” confiavam solto, o que dirá os humanos. “Você” com certeza deve ter ficado preocupado, pois as chances deles quererem “te” matar assim que vissem essa cela com todas essas correntes, são bem consideráveis...
– Por certo. Hum... Será que “eu” já agradeci à Lys por impedi-los até mesmo de chegarem perto da cidade? Garantindo a vida de todo mundo? E como você acha que foi o momento que ela mandou os humanos capturados e trazidos pelas cheads para fora de Eldarya? – (ele está meio certo).
– Sobre os humanos sendo chutados para fora de Eldarya, aposto que sentiu inveja por não poder sair dessa prisão como eles. Quanto ao agradecimento, tenho certeza que nem passou pela cabeça fazer tal coisa.
– Pois é, não é. – ficamos em silêncio por um breve momento – Soube que a Lys viajou. A viagem foi boa?
– Se estivesse em meu lugar, creio que teria ficado bem perto de matar algumas pestes. Já que essas eram mais vis que alguns dos “seus” antigos subordinados.
– Mas se fosse para me esconder, acha que eu teria conseguido me comportar?
– Ah, teria... “Você” não abriria mão da liberdade de jeito nenhum.
– _riso_ Verdade. Verdade. Ainda mais com alguns loucos querendo correr atrás da “minha” cabeça. Será que... me será possível deixar essas algemas depois que esse grupo for dissolvido e o Cristal consertado?
– A sementes do Oráculo devem ter a resposta. Mas se fosse para eu chutar, eu diria que poderia haver essa possibilidade.
– Mas eu não sei se o resto de Eldarya iria concordar. A não ser talvez, se um grande segredo for revelado a todos.
Grande segredo... Ter o fato de que eu estive meio que mantendo a segurança da Ladina já faz um bom tempo, pode me favorecer para ficar livre de verdade. Não dei continuidade à conversa porque o guarda dizia ter esgotado o tempo que ele me deu. Saí de lá dizendo apenas um obrigado para o meu sósia.Erika
Estou chocada. Como nunca pensei que poderia ficar até agora. O tio Jorge... está aqui?? E ainda se lembra de mim?!? Como que isso é possível? O quê tornou isso possível? Minha mente está um verdadeiro caos, tentando encontrar respostas.
Se não fosse o Valk do meu lado, acho que nem no quarto certo eu teria entrado de tão transtornada. Fazia as coisas que tinha de fazer mecanicamente. Nem percebi quando foi que fiquei sozinha (devo ter demorado demais no banho) e espero que o Valk não tenha decido confrontar o meu tio. Ao menos não sem mim. Tenho medo do que essa conversa possa causar em nossas relações.
Graças ao ronco de meu estômago, lembrei-me do quão faminta eu estava. Valkyon poderia ter saído para guardar um lugar para nós, afinal, o salão principal fica bem disputado na hora das refeições. Terminei de me arrumar para poder dar pelo menos os cuidados mínimos ao meu corpo, para depois socorrer a minha mente. Me dirigi ao salão e... engoli seco quando vi Valkyon e tio Jorge ocupando a mesma mesa (sobre o quê que eles já conversaram??).
– Eu... interrompo? – tentei ser cautelosa.
– Nem um pouco Erika. Estávamos esperando por você para comer e... conversarmos um pouco. – explicava o meu tio.
– Vocês... já conversaram sobre alguma coisa? Preferem comer ou falar primeiro?
– Vamos conversar, enquanto comemos, meu amor... Só estávamos te aguardando para pedirmos a comida. E assim respondemos todas as perguntas de todos, com um pouco mais de tranquilidade. Eu até que tente falar com alguém sobre... essa situação. Mas não havia ninguém livre. E quando entrei no salão, vi o Jorge e acabei lhe fazendo companhia enquanto aguardávamos por você. Quer sentar-se agora?
– Sim! – nem reparei que ainda estava de pé – Sim, eu vou sim. Mas espere. Quem vai fazer os pedidos?
– Deixe que eu anoto, menina. – quase que dou um pulo com o Karuto aparecendo atrás de mim – Hoje temos ensopado de carne ou empanado de legumes, acompanhados de frutas carameladas e vinho ou suco de frutas. O quê vão escolher?
– Acabou a cerveja Karuto?
– Não Valkyon, não acabou. Vinho combina melhor com o empanado e o suco com o ensopado, mas se insiste em não querer a sugestão do chefe...
– Sinto muito Karuto, mas vou continuar com a minha bebida favorita. E com a fome que estou, acho que vou querer um pouco dos dois.
– Se importa se o meu pedido for igual ao do rapaz aí? Ouvi falar muito sobre a sua comida e a cerveja de Eldarya...
– Ok. Mas só porque é a primeira vez que você prova de meus pratos. E você Erika? O que vai querer?
– Deixarei que escolha por mim. Estou com fome, mas nunca sei qual prato é o mais gostoso.
– Hehehe... Como queira. Já que todos aqui tiveram um dia puxado, podem deixar que eu lhes entrego a comida.
– Obrigada Karuto.
Enquanto esperávamos, eu fiquei contanto ao meu tio o que estávamos fazendo durante esse dia. Voltando para Eel de uma ilha especial onde o Valkyon aprendia mais sobre ele mesmo e treinava. Depois, com a comida servida, foi a vez dele de contar toda a sua historia, onde fiz de tudo para não interrompê-lo até o fim. Onde ele terminou contando sobre o nosso reencontro.
– Então... foi graças ao resultado de um DNA que você conseguiu se lembrar de mim? Bem que me dei falta do lenço de minha mãe...
– Aparentemente essa pode ser uma das causas. Mas há a possibilidade de existir mais fatores. Já fiquei sabendo que você não foi muito a favor de tomar a tal poção... – explicava ele olhando de soslaio para o Valkyon, que evitava encarar o meu tio.
– De que outros fatores o senhor está falando?
– Lembra o que eu falei sobre o seu pai? Dele ter me revelado ter tido vários sonhos com uma filha que nunca conseguia se recordar quando acordava? A enfermeira que me examinou de cima a baixo disse que, por conta da herança faérica, talvez existisse alguma resistência contra os efeitos da poção, já que seus olhos vieram do lado de seu pai. Mas ainda não esclarece o porquê de eu, um 100% humano, ter conseguido frustrar a poção.
– E... o papai... realmente disse que suspeitou que eu fosse a moça dos sonhos dele? O que a mamãe disse sobre o assunto?
– Você conhece a sua mãe, Erika... Acha mesmo que o Richard teria coragem de contar uma coisa dessas para ela?!
– Não. _riso_ Ele não teria.
– E porque não? – Valkyon nos olhava sem entender.
– Apesar de não parecer, Mirian é um tanto... severa, quando o assunto é proteger sua família. Nem sei que reação minha irmã teria se ficasse diante dos responsáveis por tudo isso.
– Eu... Eu compreendo. Mais ou menos. – pobre Valkyon...
– Mas me conta Erika, o quê exatamente você tem feito neste mundo? Qual que tem sido o seu trabalho de verdade nesta guarda?
– Ai, tio... Ainda bem que o senhor está sentado! – comecei a contar todas as minhas aventuras e desventuras em Eldarya. Deixando o meu tio impressionado em alguns momentos... e assustado! Em outros. Eu podia ter escondido os problemas amorosos que tive, mas achei melhor deixar tudo em pratos limpos. Principalmente se a possibilidade de meus pais recuperarem a memória sobre mim for mesmo real.
Aconteceu que a conversa durou hooooras. E só fomos para nossas camas porque o Karuto já estava dispensando todo mundo para fechar o salão. Na conversa, meu tio chegou a prometer dar um jeito de trazer os meus pais para Eel, e ver se isso os ajuda a reaverem suas lembranças (além de ficar fazendo segredo sobre alguma coisa...), mas que para eles não pirarem como quase aconteceu com ele, deixaria para lhes revelarem tudo quando estivéssemos todos juntos. Difícil não perceber o Valkyon suando frio...
.。.:*♡ Cap.142 ♡*:.。.
Miiko
EU QUERO FÉRIAS!! (ou pelo menos alguns dias de folga...)
Já esperava que essas viagens da Cris poderia me causar um pouco de dor de cabeça, mas os problemas superaram as minhas expectativas! Para adquirirmos experiência, e sabermos melhor como planejar as nossas defesas nessas viagens, fiz todos concordarem que eu receberia relatórios a cada dois dias sobre tudo o que teria acontecido. Nem que tivesse de ser por umbracinese, eu receberia esses relatórios. E logo no primeiro, já havia começado a suar frio. Piorando a cada novo relatório que recebia.
Só consegui dormir um pouco melhor com os relatórios do caminho de volta, porém, eu nunca sequer imaginaria o bague que tive antes da chegada deles. O Christiano apareceu com um parente da Erika?? E se lembrando dela?!? O que é que está acontecendo neste mundo, por tudo que é deus?
Ouvi a historia do tal Jorge, mas ainda não entendo como ela é possível. Até onde eu sei NUNCA houve um caso de gente conseguindo superar a poção de esquecimento. Todos os atingidos SEMPRE esqueceram. Nem mesmo os faerys escapam do poder da poção. E agora aparece este humano que conseguiu contradizer tudo?!? Nem pensei duas vezes em manda-lo ser examinado! E para completar, como ele aceitou beber a Norns Visdom, não tinha como acusa-lo de estar inventando aquela historia.
Apesar do meu estado de choque, consegui manter a ordem no QG de modo a evitar confusões desnecessárias, mas ainda tinha de preparar o terreno para quando a Cris e a Erika chegassem. Como foi o Leiftan quem ficou de vigia enquanto conversava com eles na Sala do Cristal, pedi para que ele providenciasse um quarto para os dois e que desse um jeito de deixar claro para todos os curiosos que o Jorge não tinha nada de faery no sangue. Assim, se alguém viesse a descobrir que ele fazia parte da família sanguínea da Erika, não teríamos os mesmos tipos de problemas que a Cris e os outros possuem (cheguei a flagrar gente espionando os quartos dos dragões e aengels duas vezes desde o incidente do ryōude. Ainda bem que pude contar com a Elgella depois).
A conversa que tive com os dois durante o jantar me deixou curiosa sobre várias coisas, mas não conseguiram me fazer esquecer dos problemas que tinha para solucionar. Amanhecido o dia, pulei da cama para me apressar em cuidar. O grupo da Cris chegou realmente cedo, e deixei o irmão dela em suas mãos enquanto lidava com os problemas mais urgentes.
Procurei pelo Jorge e o encontrei no salão, pronto para começar o seu desjejum. Sentei-me em um local próximo para poder observa-lo e, assim que ele terminou de comer, levei-o urgente para a Ewelein. Na enfermaria, eu fui clara, direta e seca. Eu realmente tinha muito o que tratar e estava confiando à Ewelein a tarefa de descobrir como raios a poção perdeu efeito sobre aquele homem.
Agora, tinha que lidar com o relatório da missão em Lund’Mullingar da Cris (e eu não estou nem um pouco afim de ler outra redação...). Me encontrei com o Christiano nos corredores junto da Benelli, e ele me avisou que a Cris estava ocupada no quarto arrumando as coisas por lá, quase me fazendo engolir seco quando ele terminou de me repassar os planos dela. Fiquei rezando para que eu me encontrasse com ela antes dela começar a escrever. Graças aos deuses que minhas preces foram ouvidas... Posso não ter conseguido almoçar direito, mas apenas “completar” os relatórios recebidos antes com as observações dela e do Lance me facilitou em muito o trabalho. E eu ainda liberei a Cris de ter de fazer qualquer relatório escrito sobre qualquer missão que ela fizesse.
Não pude deixar de notar o excelente trabalho que o Leiftan estava tendo sobre espalhar a novidade que era o Jorge. E ele fez bem em ocultar que aquele homem era parente da Erika! Todos teriam que saber primeiramente que o Jorge era de fato um humano comum, assim os espiões não o perturbariam tão cedo. No entanto, de quanto tempo a Ewelein precisa para conseguir descobrir alguma coisa?
Erika e Valkyon estavam demorando para chegar, por isso mandei alguém para a praia para esperar por eles e... avisa-los que a Erika tinha alguém a esperando. Posso estar enganada (o que é um pouco raro), mas tenho certeza que fazê-los saber que tem humanos os aguardando, pode amenizar só um pouquinhozinho as coisas.
Trabalhava como nunca. Eel tinha muitas questões a serem resolvidas e queria ter podido conversar um momento com a Erika e o Valkyon antes deles se encontrarem com o Jorge, mas foi no jantar que eu percebi ter me demorado demais para tal coisa. Os três já estavam reunidos em uma mesa mais no canto, com o Karuto me repassando a quanto tempo que eles estavam juntos, e que a Cris e o Lance estavam jantando lá fora após terem arrastado o Christiano com eles (a Benelli precisa parar de se grudar tanto assim naquele jovem...), me alertando que a Cris lhe parecia exausta do treino no porão (treino no porão?? Acho que irei conversar um pouco com a Huang Tomoe).
Diante de todas as circunstâncias, não havia jeito. HOJE, não é mais possível se reunir com todos para uma discussão mais formal. Pedirei logo cedo para o Leiftan me reunir a reluzente, dragões, aengels e... _suspiro_ familiares às quatro da tarde de amanhã. Se não fosse a equipe de construção que convoquei para averiguar as condições das construções de Eel, eu efetuaria essa reunião bem mais cedo!Cris
Depois que o Lance voltou de seu... “encontro”, a Tomoe já havia me feito perder um litro de agua do corpo através do suor. E se não fosse pela minha barriga roncando... ela teria me feito perder mais um litro (mesmo não havendo nenhum maluco em nosso pé e recebendo carona de mascotes durante o caminho de volta, essa viagem me deixou quebrada). Até que foi fácil convencê-la a dar o treino por acabado hoje.
Fazendo um “esforço extra” para poder subir aquele mundaréu de escadas, acabei parando na porta em que meu irmão estaria trabalhando com a Benelli (Será que eles ainda estão aí?). Batendo de leve na porta, não tive nenhuma resposta, mas, por garantia, usei de meus poderes para confirmar se de fato a sala estaria vazia, me revelando que: ou aquela porta era muito boa em não permitir/causar ruídos, ou eles estavam surdos por causa de seja lá o que for que estivessem fazendo.
Fiquei sem acreditar no que via quando eles finalmente abriram a porta após eu fazer uma algazarra maior que a do Ezarel na manhã depois do festim. Meu irmão não tem jeito mesmo... Quando ele começa a jogar ele esquece de tudo! Não vou negar que aquela era uma forma interessante de mostrar mais ou menos como funcionavam algumas armas humanas. E nem acredito que eles conseguiram fazer uma televisão e um videogame funcionar fora da Terra, mas eles nem almoçaram direito! Pelo o que entendi do resumo dos purrekos.
Convenci aquele quase gamer a me acompanhar na refeição para terminarmos a conversa de mais cedo. Com ele só nos acompanhando depois de ter salvo o jogo e desconectado as coisas de sua fonte improvisada de energia.
– Eu vou te dizer doida, eu realmente não esperava que eles tratassem parte da ciência como “magia negra”. E sinceramente, até que as bombas, ou “Fúria dos Titãs” para eles, são realmente algo do mal em mãos erradas.
– Oh, Christiano... Acaso não sabe que, no nascimento das tecnologias que deram origem ao que conhecemos hoje, a ciência era enxergada como feitiçaria por um monte de gente? Até pela igreja?
– Até pode ser. Mas ainda acho um tremendo exagero. “Nós somos como água suja que não há processo que filtre. Juntos somos carvão, enxofre e salitre. Juntos temos mãos sujas que não há confissão que absolva. Com qualquer pressão, é natural que se exploda”...
– Mas o quê que é isso??
– Preocupe não Gelinho... Isso aí é só uma canção de uma das bandas favoritas do meu irmão. Mas fugindo um pouquinho do assunto, acha possível criar uma “sala de cinema” para todo mundo ver alguns filmes? Às vezes alguns me pedem para assistir em meu not, mas com uma tela pequena...
– Olha, até que essa não é uma má ideia, doida. Se os gatos que me ajudou mais cedo conseguirem construir uma fonte melhor do que a gambiarra que montamos lá embaixo, pode ter a certeza que vou dar um jeito de trazer um home theater para ligar na tv que já trouxe. Isso se não acabar decidindo comprar uma de 75”... Com uma poção de encolhimento é fácil carregar coisas grandes sem muita dificuldade.
– 75”!?! Isso não é um pouco exagerado? Que tamanho seria isso?
– Se não me engano, a largura é do seu tamanho. Com quase um metro de altura de tela.
– Com certeza daria para bastante gente enxergar sem muitos problemas... – comentava o Lance – Mas o que exatamente vocês fariam essa gente assistir? A forma como que os humanos enxergam os faerys hoje? Historias que retratem o cotidiano atual dos humanos? Suas crenças? O quê?
– Acho... que deixar claro as divergências existentes atualmente sobre o que é cada faery, seria algo um pouco mais suave para o começo...
– Como o quê, doida?
– Harry Potter... Senhor dos Anéis... Crepúsculo ou Drácula. Há vários filmes de fantasia que poderíamos usar, sendo estes os primeiros que me vem à mente. Depois de esclarecer algumas das visões humanas sobre eles, poderíamos mostrar filmes históricos e quem sabe documentários, para só depois apresentamos aqueles que são futuristas ou surrealistas.
– Surre o quê?
– Fantasiosos Christiano... Como os filmes da Marvel, por exemplo.
– Ah, tá. Os que misturam ficção com realidade. Até que essa seria uma ordem interessante... Mas aí eu teria que trazer uns cem quilos de milho de pipoca. Filme sem pipoca não tem graça.
– E precisa ser pipoca? – questionava o Lance fazendo nossa discussão cinematográfica durar a refeição toda.
Acabada a comida (e cansada da silva), fomos todos nos recolher. Lance e eu nos despedimos de meu irmão diante da porta do quarto cedido à ele. Em meu quarto, tomei uma ducha rápida e caí na cama. Eu apaguei! E se não fossem as batidas na porta, às sete da manhã, acho que teria dormido por mais uma ou duas horas.Lance
Essa historia de cinema me deixou curioso. Especialmente com a possibilidade do Ezarel acabar louco da vida por causa de alguns filmes, pelo o quê aqueles dois explicaram _riso_. Espero que a Ladina e o Christiano consigam as condições para colocar essa ideia em prática.
Dadinha da minha Princesa... Ela estava tão cansada que quase tive de ajuda-la a terminar de subir as escadas, e desmaiou assim que encostou a cabeça no travesseiro. Enquanto a observava dormir, refletia a conversa que tive com... qual é mesmo o nome do meu “substituto”? Enfim, recordando nossa conversa, aos poucos lembrava de muitas, mas muitas coisas que eu devia ser grato à minha Ladina (e que eu nunca havia percebido direito...). Dormi pensando em alguma maneira sincera de lhe agradecer corretamente.
Apesar do longo dia de ontem, acordei assim que clareou. A Ladina dormia profundamente ainda e, não tive coragem de acorda-la. Preferi deixa-la descansar o quanto ela quisesse. Estava me ajeitando no banheiro, após um pouco de alongamento, quando bateram (em código) na porta.
– Sobre o quê é dessa vez, Leiftan? – perguntei no instante que percebi ser o loirinho.
– A Miiko pretende fazer uma reunião com a Reluzente, os alvos de Apókries e seus próximos essa tarde.
– Oh. Eu bem que estranhei ela não ter solicitado isso ontem, imagino que deixou para hoje porque meu irmão e a noiva chegaram tarde. Mas diga, qual é o horário? E porque ela não chamou para fazer isso de manhã?
– A Miiko já havia combinado uma vistoria em todas as edificações de Eel com um grupo de engenheiros renomados para esta manhã. As confusões que você e eu causamos nessa cidade no passado não foram poucas... Por isso ela decidiu fazer essa reunião às 16hs de hoje, na Sala do Cristal mesmo. Tomara que ela aprove a criação de uma sala só para essas reuniões... Ficar horas de pé não é fácil para ninguém.
– Não acabando com o Campo de treino recém-construído... Podem fazer o que bem entender na minha opinião. Mais alguma coisa?
– Não. Era só isso mesmo. Um bom dia para vocês dois.
– Até mais tarde. – despedi-me já fechando a porta.
– Então teremos uma reunião essa tarde? – minha Ladina esfregava os olhos ainda na cama – Concordo com o Leiftan _bocejo_ Ter um local com cadeira só para essas reuniões quase sempre chatas é uma excelente ideia.
– Quando acordou Ladina? Foi sozinha ou por culpa nossa? – me aproximava enquanto ela se encaminhava para o banheiro se espreguiçando.
– Acordei com as batidas na porta. – fui arrumar a cama – Acordou faz muito tempo?
– Mais ou menos.
– E porque não me chamou?
– Porque você estava tão serena dormindo, que não tive coragem de arranca-la do mundo dos sonhos.
– Sério? – ela deixava o banheiro e eu só assenti como resposta – Ai, puxa. Assim eu fico um pouco sem graça...
Não disse nada, mas um sorriso largo havia se formado em meu rosto, e ela foi procurar uma roupa enquanto eu terminava de arrumar a cama. Acabei terminando antes dela terminar de se vestir e, vendo-a se vestindo, não resisti ao desejo de abraça-la.
– E-ei! Assim eu não termino!
– Obrigado. – foi tudo o que consegui dizer a pressionar o corpo dela de costas contra o meu.
– Obrigado... Pelo quê?
– Por tudo e muito mais.
– Hein? – sua incompreensão era mais que normal, por isso, sem solta-la ainda, comecei a me explicar.
– Graças à minha conversa com o cara que tomou o meu lugar na prisão, percebi que devia ter lhe agradecido por dezenas de centenas de coisas que, se eu fosse listar todas elas, só terminaria quando amanhecesse o dia de amanhã. Obrigado por ter me tratado bem quando eu não merecia. Obrigado por me fornecer momentos de diversão, que não teria prazer com nenhuma outra pessoa. Obrigado por nunca ter desistido de querer me fazer mudar, sem forçar-me a nada. Obrigado por me ter permitido continuar ao seu lado, mesmo quando você tinha todo o direito de me expulsar de sua vida. Obrigado por aliviar todas as sombras que habitavam eu meu coração. Simplesmente, obrigado por entrar em minha vida e, pouco a pouco, transformar o homem que sou.
– E... E... E-eu não... Não sei o que responder.
Soltei-a um pouco apenas para poder vislumbrar o seu rosto, que estava tão vermelho quanto uma rosa, com algumas pequenas lágrimas lhe correndo pelas faces escarlates. Acabei beijando-lhe os lábios doces e macios sem pensar muito, sem deixar de perceber seu novo sobressalto pelas minhas ações. Seria capaz de beija-la por horas se o fôlego nos permitisse, mesmo sendo um beijo simples, mas me privar daquela visão que chegava perto do divino parecia-me injusto. Sem falar... que eu já estava começando até mesmo a ouvir as batidas do coração dela de tão forte.
– Que tal... seguirmos com o nosso dia agora e... continuarmos com isso à noite. Se quiser...
– Lance, eu... Tudo bem. – devolvia-lhe o abraço terno que ela me dava – Fico feliz de saber que lhe fiz tanto bem assim.
– Sou obrigado a admitir que “bem” é eufemismo para o quê a sua presença faz em minha vida.
– _riso contido_ Vamos cuidar de nossos afazeres. E depois... Quando voltarmos a estarmos sozinhos neste quarto... Possamos apreciar da presença do outro um pouco mais.
– Terei o maior prazer em aceitar tão agradável convite.
Trocamos mais um beijo carinhoso e terminamos de nos arrumar.Cris 2
Definitivamente, o Lance sabe como me fazer perder o chão (no bom sentido). Aquela declaração dele mexeu com todo o meu ser. E, apesar de eu mesma ter dito que tínhamos de deixar aquele quarto, minha vontade verdadeira era de permanecer nos braços dele até o fim do mundo decidir bater na porta.
Descemos para tomar o café da manhã onde o Karuto não se demorou nem para me servir meu querido copo de leite achocolatado, e nem para reclamar da falta que ele sentia de mim na cozinha. Entre uma vinda ou outra que ele retornava para colher alguma coisa, eu repassava para ele um pouco sobre a viagem em Lund’Mulhingar. Quase que ele destruiu uma de suas plantas quando contei sobre a armadilha que aquele nojento tentou me lançar no festim.
Acabado o desjejum, me deparei com meu irmão conversando com o Kero e a Benelli no salão.
– Bom dia! Estão conversando sobre o quê? – me intrometi.
– Bom dia doida. O Kero só está me fazendo algumas explicações sobre o quê é essa guarda de verdade junto da Benelli. Lembra o que eu te contei que aconteceu com o emblema que ganhei do unicórnio aqui?
– Ah, sim. Eu me lembro. Você contou que metade das pessoas pra quem você o mostrou não gostaram muito de saber que você vinha para cá.
– Exatamente. Antes, eu achava que esse lugar funcionava como se fosse uma ONU com deficiência de comunicação, mas pelo o que entendi deles, essa guarda está mais para um serviço de segurança privada. Só ajuda quem os procura.
– O quê é uma ONU? – perguntava o Lance.
– “Organização das Nações Unidas”. Uma organização onde representantes de diversos países se encontram para discutirem e efetuarem acordos e decisões sobre diversos assuntos no intuito de prover paz e harmonia mundial. Claro que apenas uma parte dos países do mundo, que imagino ser uns 90%, faz parte dessa organização, e que nem sempre eles conseguem cumprir essa tarefa, mas considerando que existe mais de duzentos países na Terra, onde a população mundial já ultrapassou os sete bilhões... – explicava eu.
– Sete bilhões!? – se impressionava a Benelli – Ainda bem que os humanos que nos fazem mal pertencem à organizações secretas. Mesmo se juntássemos todos os faerys de Eldarya em um único lugar, nós mal somaríamos os dois bilhões! Isso para não mencionar o poder bélico dos dois lados.
– Er... Bem. Realmente os humanos meio que se superaram em relação aos faerys. No mal sentido. Mas isso também está tipo que acabando com a gente também. Se os humanos tivessem metade do bom senso dos faerys, talvés não tivéssemos tantos problemas.
– Não sei se podemos concordar com isso Christiano, mas agradeço de coração pelo atlas que você me deu. Isso com certeza me dará uma boa base para poder mapear Eldarya também, além de ajudar um pouco mais a compreender o funcionamento atual da Terra.
– Boa sorte com isso Kero!
– Certo Christiano, você ainda tem mais alguma pergunta sobre o propósito da guarda ou já podemos voltar para a minha sala? Onde está montado o seu play... play o quê mesmo?
– Playstation, Benelli. Vamos logo zerar aquilo para estarmos livres quando for começar essa tal reunião que a raposa de quatro caudas convocou. – declarava meu irmão já se levantando – Até a reunião, doida!
– Até, Christiano! – dava um Tchauzinho para ele abandonando o salão junto da Benelli – Ei, Kero! Sabe me dizer onde está a Erika ou a Huang Tomoe?
– Eu até entendo você perguntar pela Huang Tomoe, mas e a Erika?
– Bom, é que... Eu queria saber mais sobre o que está acontecendo com ela e... Acho que posso estar um pouquinho preocupada com a situação complicada que ela e o meu chefe estão passando agora. Pelo menos, um certo alguém tem ficado um pouquinho inquieto desde que ficamos sabendo.
– Sério? – o Lance acabou fingindo uma tosse – Eu ainda não me encontrei nem com a Erika, nem com o Valkyon, e muito menos com o Jorge. Imagino que o Leiftan já tenha avisado aos três sobre a reunião, então, pelo menos na hora da reunião, vocês poderão se encontrar com eles.
– E quanto a Huang Tomoe... – requisitava o Gelinho.
– Não tenho certeza, mas acho que a Miiko pediu à ela mais cedo que lhe desse um dia de folga Cris. Eu realmente fiquei surpreso dela não ter lhe deixado descansar da viagem ontem.
– Ah, é!... Bem. Eu realmente fiquei bem cansada ontem... _sorriso nervoso_ Nesse caso... Ontem me convenceram a abrir mão de algumas coisas que tenho no guarda-roupa. Vou aproveitar a manhã para ver o que eu consigo vender no leilão.
– Desejo-lhe boa sorte, Cris.
– Muito obrigada Kero. Vamos lá então, Gelinho? Sozinha não vou dar conta!
– _suspiro_ Não tenho lá muita escolha mesmo...
Nos despedimos do Kero e subimos para o meu quarto. Lá, eu peguei as minhas maiores bolsas que também estaria tentando vender e comecei a encher todas elas com o quê levaríamos. Eram roupas; comidas de mascote; itens de alquimia perto de vencerem; objetos que não havia encontrado utilidade alguma (deixando um pouco para trás para o caso de finalmente encontrar alguma serventia), e várias outras coisas. Eu não tinha certeza se haveriam interessados em todas aquelas coisas, mas se eu conseguisse vender o equivalente de uma bolsa (estava levando umas quatro bolsas), já me daria por satisfeita.
– Como percebeu?
– Como percebi o quê, Gelinho? – estávamos terminando de guardar as coisas.
– Que eu estava preocupado com o Valkyon?
– Você parecia estar nem aí com o quê o Christiano nos contava, mas foi só ele começar a falar do Jorge que você mudou de atitude. Foi só “parente da Erika” e “recuperou a memória” entrar no assunto, que tu começou a querer participar da conversa. Valkyon agiu mal com a Erika da mesma forma que você foi vil comigo, e olha como você e meu irmão se tratam! Acha mesmo que os familiares da Erika irão se portar de forma boazinha com o Valkyon logo de cara depois de tudo que fizeram com a coitada? Você conhece muito bem essa resposta...
– Verdade. E isso sendo o seu irmão o único a conhecer a verdade sobre nossa relação.
– Pois, é! Mas vamos atrás dos purrekos responsáveis pelo leilão para ver o que consigo com tudo isso aqui.
– Sim senhora. – confirmava ele já pegando todas as bolsas bem dizer (só carreguei uma) para descermos.
Quando chegamos na Sala das Portas, avistei a Miiko com um grupo que parecia estar examinando as pilastras do lugar. E eles olhavam para elas com uma cara bem séria...
– Ei Miiko! – resolvi me aproximar para confirmar – Há algum problema? Quem são esses aí?
– Ah! Oi Cris. Sobre a sua pergunta, acho que posso dizer que sim. Essas pessoas fazem parte de uma equipe renomada de engenheiros que chamei para dar uma conferida nas condições das instalações de Eel e... bem, aparentemente, elas não estão nada boas.
– Eles já conferiram tudo? O que vai ser do meu quartinho querido?
– Pelos deuses Cris! Aquele quarto foi praticamente reconstruído do zero! Estou rezando para que não tenhamos de mexer em absolutamente nada dele, e em quantos cômodos mais forem possíveis. Mas... – a voz da Miiko soava pesada – estou com cada vez menos esperanças de não precisarmos fazer com o resto de Eel o mesmo que fizemos em seu quarto.
– Fala de reconstruir do zero?
– _suspiro pesado_ Exatamente. Espero conseguir terminar de mostrar o QG a eles antes da reunião dessa tarde.
– Senhorita Miiko. – um anão que fazia parte do grupo a chamava – Já terminamos de avaliar este ambiente, podemos continuar com os locais ligados a este recinto?
– Claro, sem problemas. Nos falaremos na reunião, Cris. E então senhores? Por qual lado desejam começar?...
– Vamos indo também? – me chamava o Lance enquanto eu via a Miiko subir as escadas.
– Vamos.
Quando entrei na casa de leilões, não tive de esperar nem dois minutos para ser rodeada pelos felinos. Pelas regras, eu só podia leiloar três itens de cada vez, mas como o Gelinho me acompanhava... Ganhei o direito de leiloar seis. E em uma hora conseguir me desprender da primeira bolsa (eu cobrei barato demais ou descobriram que era eu quem vendia? Do jeito que esse povo é meio doido por mim...).
Continuei vendendo as minhas coisas, pausando apenas para o almoço. Era eu colocar, esperar quinze minutos no máximo, e já tinha vaga para mais um item outra vez. Às vezes os purrekos me sugeriam preços para leiloar as coisas, mas quase sempre eu achava o valor deles um pouco exuberante! Baixava em muito o que eles queriam que eu cobrasse. Afinal... Eu queria que aquelas coisas fossem vendidas! E não devolvidas a mim. Sem falar que eu sempre observava o leilão. Tinha uma noção de como era fácil ou difícil vender certas coisas, por determinados preços.
Faltando uma hora para a reunião, Lance me alertou e, faltando apenas uma bolsa cheia de peças para vender (maravilha!) deixei o lugar com seis itens aguardando por compradores. Corremos até o meu quarto (onde estará o Absol agora?) para largar a bolsa não leiloada em um canto e depois ficarmos esperando pelos outros na Sala do Cristal (dependendo for, posso fazer o Lance de cadeira lá).
.。.:*♡ Cap.143 ♡*:.。.
Christiano
– _sons de tiroteio_ Rápido! Rápido! Temos que entrar naquele forte para conseguirmos! – Kero pode ter conseguido aliviar parte das minhas dúvidas sobre essa guarda...
– Cuidado! Tem alguns soldados vindo em nossa direção!
– Joga uma granada! Joga uma granada! _barulho de explosão_ – mas ainda não sei se estou totalmente satisfeito. Ao menos tanto ele quanto a Nelli gostaram da ideia de montar um cinema para todo mundo.
– Estamos perto. _mais tiroteio_ Aquele tanque é inimigo?!
– Entra na trincheira! Rápido! Cuidado com os inimigos! – os dois disseram que me ajudariam a fazer a Miiko autorizar a ideia durante a reunião de hoje. – Aqui! Me segue! Me segue! – pelo menos depois de terminarmos de falar dos assuntos que a fez necessária.
– Quase lá... Quase lá... Entramos!! Até que fim conseguimos...
– Jogo zerado. Alguma dúvida sobre as armas utilizadas nele? Quer começar o próximo ou não vai dar tempo? – conferia os outros jogos que tinha trazido.
– Deixe eu ver... Sobre as armas utilizadas durante a Segunda Guerra... Não, não tenho nenhuma. Quanto ao tempo... Segundo o meu sanduhr zeit não podemos. A reunião começará daqui uma meia hora e você ainda não se acostumou com as escadas.
– Desculpe por não estar habituado a subir e descer escadas infinitas todos os dias... – começava a guardar tudo.
– As escadas do QG fazem muito mais que nos levar para lugares mais altos ou baixos. – ela me ajudava – Elas auxiliam nossas condições físicas e respiratórias durante o nosso dia-a-dia. Pense que essa é uma maneira de juntar o útil com o agradável!
– Sei. Onde até para fazerem uma simples limpeza aqui embaixo, executam um belo treino de pernas com o auxílio das escadarias.
– Só fica gordo quem tiver algum tipo de doença ou se estiver roubando comida. – terminava ela dando de ombros – Amanhã podemos começar a jogar o segundo. O tema é igual ao que jogamos? Ainda bem que não tivemos de recomeçar desde o começo...
– Um viva aos Memorys cards! O próximo é um pouco mais de espionagem do que de guerra e... Apesar de fugir bastante ao assunto, também acabei trazendo uns de terror: Resident Evil. O primeiro é um pouco difícil se comparado às sequências, e se você não se importar em conhecer parte da imaginação sombria dos humanos... Pode acabar gostando. O que achou do Playstation até agora?
– O que posso dizer?... É interessante, estressante e divertido ao mesmo tempo. Apesar de eu ter me atrapalhado com os comandos no começo, e do programa estar em outra língua...
– Não tem esse jogo em português. Não oficialmente, pelo menos. Se eu estava com preguiça até de pesquisar filmes, o que dirá comprar jogos dublados ou com legenda em português. E eu avisei para começarmos no modo normal já que você não queria o fácil para se acostumar com o controle, mas não! Você queria que queria jogar logo no modo difícil!...
– Não imaginei que poderia ser tão complexo assim. Tudo o que eu queria era ter uma experiência séria, coisa que não aconteceria se jogássemos de forma facilitada. Se não fosse pelo seu memory aí, teríamos de ter retornado ao começo pelo menos umas quinze vezes. Mesmo com você já sabendo tudo o que precisávamos fazer.
– Que posso dizer? Você é uma mera novata e eu um exper. Claro que passaríamos por apuros se não tivesse como salvar nosso avanço no jogo.
– Tá, mas vamos logo trancar essa sala e nos dirigirmos para a Sala do Cristal.
– Ficou irritadinha, é? – brincava enquanto ela trancava a porta.
– Não. – (mentirosa) – E agora vamos logo.
Subindo aquelas escadarias “até o céu”, me recordei do tal ritual que esse povo faz para manter o mundo em pé e... Eu não cheguei a vê-lo ainda. Será que eu conseguiria causar alguma diferença se por acaso participasse?
– Me diz Benelli, como é mesmo o ritual de vocês em que a doida lhes ajuda?
– Os dragões e aengels se juntam para reunir a maana deles e depois a distribuem por toda a Eldarya através da Erika que, de alguma forma, consegue amplificar essa energia reunida. Antes da chegada da Cris, não sabíamos que isso consumia uma parte da vida de Erika, mas graças à Lys... Não só os rituais ficaram mais poderosos, como também está recuperando o que a Erika sacrificou por este mundo.
– E... como exatamente isso é feito? O juntar e liberar do maana.
– A Erika, o Valkyon e o Leiftan desenham juntos um circulo ritualístico que, junto ao encantamento que é recitado pela Erika, recolhe e dispersa o maana dos três. A Cris não participa do desenho, mas ela nem precisa! Quando ela começa a rezar, ela libera tanta maana, que fica até difícil alguém se cansar perto dela. Acreditamos que é esse excesso de maana dela o que permiti a Erika se recuperar/proteger do encantamento, e aumentar a maana distribuída por este mundo. Se bem...
– O que foi?
– Bom. Depois que a Cris se “recuperou” da “doença” dela, o ritual conseguiu distribuir muito mais maana ainda! O que exatamente aconteceu com ela enquanto estava “de cama”?
– Não conheço nenhuma resposta que possa lhe dar. – (além dela ter convencido o cuspidor de gelo a ajudar também)
– De acordo a Cris vai aprendendo a dominar os próprios poderes, ela fica cada vez mais poderosa. Talvez isso tenha relação.
– Pode ser...
Chegamos na Sala das portas e não paramos. Ao entrar na Sala do Cristal, encontramos os responsáveis do ritual, juntos, riscando o chão.
– O que é isso? – perguntei me aproximando deles com a Benelli seguindo para o outro lado da sala.
– Ah, oi Christiano. – era a Erika – Decidimos fazer o Ritual de Maana enquanto aguardamos todos. Não só quero mostrar ao meu tio a minha importância maior aqui no momento, como também já faz tempo que não o realizamos.
– Algum problema se eu der uma olhada de perto no desenho?
– Problema nenhum. Já nos foi uma grande sorte eu ter encontrado a Cris antes mesmo de sair para avisa-la disso. – declarava o Leiftan e eu logo vi minha irmã junto do Cristal com o guarda-costas do lado.
– É... Este realmente é um circulo bem detalhado... – observava aquela montanha de símbolos mais de perto – Mas... o circulo nesse pedaço é incompleto mesmo? – comentava ao notar uma pequena falha já pegando um pedaço de giz ou seja lá do que é feito os bastões que eles usavam.
– Não. O circulo precisa ser perfeito e fechado. Quem foi que deixou esse centímetro para trás?
– Eu é que não fui Valkyon! Mas... como faremos para que “alguém” participe também?
– Com tanta gente presente, Leiftan, talvez tenhamos que deixa-lo de fora dessa vez... – a Erika sussurrava (e eu acabei completando aquele pedacinho)
– O que está fazendo Christiano?
– Que isso doida! Tá querendo me enfartar por acaso? – ela ria.
– Então... Este é o circulo do ritual. Até que é um desenho interessante!
– Você não o tinha visto antes não? – perguntei e ela só me negou com a cabeça – Pois então... – colocava o bastão que usei nas mãos do Gelinho – Nem você vai saber se está ou não faltando alguma coisa nele. Se bem que logo de cara eu havia encontrado uma falha que já está consertada. Será que esse seu guarda-costas aí consegue achar outro defeito?
Me afastei deles sem olhar para trás. Fui para junto da Benelli, já que era com ela que eu tinha mais amizade e comecei a esperar como todo mundo. Batendo um papinho com ela até o ritual começar.Jorge
Quando eu finalmente pude conversar com a minha sobrinha, fiquei aliviado e preocupado ao mesmo tempo. Não esperava que os faeries pudessem ser tão egoístas e mal-agradecidos como me pareceu ao ouvir tudo o quê a Erika me contou. Sorte deles ela ter puxado a personalidade do pai dela ao invés da personalidade da Mirian! Se Eel não tivesse sido a única regaliada...
Bem, depois de realmente conseguir dormir uma noite, me levantei ao ser despertado pela aurora. Erika tinha combinado comigo de conhecer o QG e a cidade junto dela (graças aos meus “exames”, não pude conhecer nada direito dessa cidade), além de darmos continuidade a conversa que acabou cortada pelo sátiro (as lendas sobre eles os retratam como criaturas extremamente fogosas, mas esse cozinheiro me pareceu um tanto casto demais. Ele é uma exceção à regra, ou são as lendas que estão mentirosas demais?).
Erika me mostrou cada pedacinho da cidade. O QG, o mercado, os jardins, área residencial e lugares externos. Me mostrou tudo já me repassando algumas das experiências que teve em cada lugar. Se não fosse pelo problema de ter um grupo correndo atrás dela e de mais alguns que viviam ali, eu teria tentado dispensar os dois soldados que ficaram nos fazendo companhia com uma certa distância. A presença deles me dava a sensação de que seriamos atacados a qualquer momento... Antes fosse o platinado a nos fazer companhia, pois aproveitava para saber mais dele já que está noivo de minha “menininha”, mas sendo ele um líder responsável (o que é bom), ele não podia abandonar seus afazeres para ficar passeando com a gente.
Nosso passeio foi encerrado na praia, com o... Leiftan? Nos avisando que a reunião marcada para a tarde, em que fomos avisados pouco antes de deixarmos a torre, iria começar em uma hora. E ele também havia sugerido à ela para que eles fizessem o “Ritual de Maana” antes da reunião, já que havia umas duas semanas que eles não o efetuavam (como será esse “ritual” exatamente?).
– Erika, meu amor: tudo bem eu assistir esse ritual aí? Ou os únicos que podem estar presentes são aqueles que participam?
– Ah... É fato que quase sempre que o fazemos, fazemos com quase ninguém de fora assistindo, e não acho que a presença do senhor possa atrapalhar em alguma coisa. O que acha Leiftan?
– Eu também não vejo qualquer impedimento. Mas vamos questionar os outros para saber se eles concordam também, caso todo mundo aceite fazer o Ritual de Maana antes da reunião.
– Justo. Vamos entrando então? – nos chamava ela já tomando a frente para entrarmos (nisso ela puxou a Mirian!...).
Seguimos caminho e acabamos nos encontrando com o Valkyon e a kitsune que manda em tudo. Erika a questionou sobre o ritual e minha presença, e a mulher-raposa não pareceu se incomodar nem um pouco com a ideia, correndo ela na frente para avisar os demais sobre a realização do ritual. Seguimos para a Sala do Cristal logo após darmos uma passadinha no laboratório onde eram guardados os materiais usados. Acabei dando uma leve ajudinha nessa parte.
– Me diz Erika, do que são feitos esses gizes? – questionei ajudando a espalha-los para facilitar no desenho.
– São uma mistura de poeira arcana, areia fina perolada, agua purificada, mel de fogo e argila brilhante. Nem sei como é que eu fui chegar nessa receita, mas o desenho deve ser feito com todos esses componentes que levam umas duas semanas para ficarem prontos na forma desses bastões.
– Duas semanas? E quantos vocês acabam gastando em cada desenho? – questionava observando os bastões cilíndricos que deviam ter de 18 a 20 centímetros de comprimento, e espessura de mais ou menos um centímetro.
– No mínimo nós usamos uns dez bastões desses, senhor Jorge. – me explicava o Leiftan _olhos arregalados_ – Apesar deles parecerem bons para desenhar, é preciso esfregar umas três vezes para que o traço deles fique bem nítido. Depois que o Ezarel descobriu o quão ruim esses bastões são para essa tarefa, que infelizmente é indispensável para esse ritual, ele sempre prepara algo perto de duas mil unidades para não ter de se preocupar tão cedo com isso.
– E ele só prepara mais quanto falta uns 30 para acabar. Sem esquecer que é fundamental concentrarmos nossos desejos de ajudar Eldarya enquanto desenhamos. – terminava de explicar o guerreiro que já começava com os traços.
– Eu vou lá chamar a Cris. Sabem se ela está no quarto ou em outro lugar?
– O Kero comentou comigo que ela iria para o leilão hoje. Para vender algumas coisas. Ainda temos um pouco mais de meia hora até a reunião e como ela não gosta de se atrasar para as coisas, ou ela já está voltando de lá, ou deve estar deixando o quarto. Um dos dois.
– Obrigado Valkyon. Vou dar uma olhada no corredor antes. Com sorte nem preciso andar muito para acha-la. – declarou o loiro que mal chegou na porta e já se deparava com a moça que é irmã do Christiano. Ele deve ter explicado rápido para ela o que pretendiam fazer, pois ele logo voltou para junto do grupo e tomou um bastão.
Como eu não podia fazer nada mais que observar, acabei me escorando em algum canto. Só observando todos e esperando tudo começar.Lance
Estou boquiaberto. O espaço que a Ladina liberou ao separar as coisas que ela estava acumulando por acumular não só me permitia guardar tudo o que era meu, como até sobrava lugar! E a fortuna que ela estava conseguindo com a venda rápida e barata daquilo tudo? Eu devia ter a convencido há mais tempo...
De qualquer forma, era preciso vigiar o nosso tempo. Trabalho que acabou sobrando para mim. Calculando o nosso tempo de percurso até o quarto dela (pois sabia que, mesmo vendendo seis itens ao mesmo tempo, não conseguiríamos terminar de vender as coisas) e à Sala do Cristal, mais a “pontualidade” da Ladina, 15h era o nosso limite naquele lugar. Tendo que chama-la para sairmos um pouco antes para terminarmos de acertar as coisas com os purrekos a fim de partirmos.
Quase que a gente se choca contra o Leiftan ao entrarmos na sala. Pretendem realizar o Ritual de Maana antes da reunião?? Não sei se me sinto aliviado ou chateado com essa decisão, pois, com tanta gente que não sabia de mim assistindo, eu não poderia auxiliar. E se eu não podia estar ajudando, também não podia estar cobrando de minha Ladina a “recompensa” por fazê-lo.
“Mas há como você ajudar sem ser descoberto!” – maldita semente negra! (Está tentando fazer eu me entregar por acaso?! Quantas vezes tenho que lhe dizer para não me assustar desse jeito?) – “Esfria aí, Gelinho...” – _rosnando por dentro_ – “É o seguinte. Não é necessariamente preciso que você se ajoelhe diante da Erika para fazer sua doação à ela. Isso você pode fazer do ladinho da Cris.” – (Como é que é?!) – “A única exigência de verdade é que você tenha tido alguma participação no desenho do circulo ritualístico. Não importa se for só de um simples risquinho, você tem que ter participado.” – (Entendo... Se não sou obrigado a me curvar na frente da “pontífice”, realmente há como participar sem ser percebido, mas... Como faço para contribuir com o circulo sem erguer desconfianças?) – “Deixe isso comigo!” – declarou aquela coisa se apresando em beijar o topo da cabeça da Cris, me fazendo suar frio com o que essa peste poderia estar fazendo.
– Er... Gelinho.
– O que foi? – (o que foi que essa coisa fez com você?)
– Acha... que há algum problema em eu ver como é o desenho do circulo do Ritual de Maana?
– Porque está perguntando isso? – (então foi isso que a Negra aprontou?)
– Sabe o que é... Eu... meio que tenho curiosidade no desenho, mas nunca o vi. Nem pronto e nem incompleto pois sempre me apresava em rezar minhas orações que são um pouco demoradas, então... já que estamos fazendo isso de última hora, eu pensei que talvez não haveria problema em eu atrasar minhas orações um pouquinho...
– Eu pensei que você já tinha dado um jeito de vê-lo há muito tempo, mas já que não é o caso, vamos lá! Não vejo qualquer desculpa que eles possam lhe dar, e além do mais, olha o Christiano ali. – indicava-os, fazendo a minha Ladina sorrir.
Nos aproximamos de mansinho, e sei que ela se divertiu ao acabar assustando o irmão. E é sério mesmo que a praga deu um jeito do Christiano participar também? Pela forma como ele comentou colocando o bastão em minha mão discretamente...
– O que exatamente ele quis dizer com isso? Vocês realmente estão deixando falhas para trás?
– Não intencionalmente Cris! Pelo menos... E é verdade! – se surpreendia a Erika – A falha que ele encontrou já está arrumada! Será que... – ela encarava de soslaio muito provavelmente o meu cunhado, e com efeito, eu acabei mesmo encontrando outra falha.
– Até parece que tem “alguém” atrapalhando vocês de desenhar tudo direito... – comentei fazendo a minha participação de modo a disfarçar que estava só juntando os bastões sobressalentes – Me pergunto com que intuito...
– Se for para garantir que todos os capazes tenham como participar, acho que não me importo. – Valkyon havia enxergado através do meu disfarce.
– Seja qual for o motivo, o importante é que o ritual seja feito corretamente. – me erguia novamente – Já terminaram ou ainda falta muito para o lado de vocês começar?
– Falta pouco para terminarmos, e é melhor você começar logo Cris! Já iremos atrasar a reunião por causa do ritual e você é a que mais demora por causa de suas orações. Sem falar... que eu ainda me sinto um pouquinho cansada ao final dele...
– Tem toda a razão Erika. Acho que irei rezar apenas um terço hoje, tentem terminar antes de mim.
– Pode deixar, Cris. Agora, vá lá.
– Estou indo Leiftan. Até daqui a pouquinho gente! – e voltamos para perto do Cristal.
Espero que esse truquezinho da Negra realmente funcione, porque se funcionar... Eu não serei o único a ajudar às escondidas.Christiano 2
Depois que a minha irmã voltou para perto daquele cristal enorme, comecei a questionar a Benelli.
– Ô Benelli... Você pode me explicar mais sobre esse ritual aí? Está mesmo tudo bem a gente estar aqui?
– A Miiko não expulsou ninguém até o momento, o que significa que realmente não há problemas estarmos presentes. E não é a primeira vez que o ritual é efetuado com espectadores. Mas o quê exatamente você deseja saber?
– Você me disse que o Valkyon e o Leiftan doam a energia deles para a Erika, mas como é que eles fazem essa doação?
– Eles rezam.
– Hãm?!
– O que ouviu.
– Mas como assim “eles rezam”... Eles adoram a Erika por acaso?
– Não é preciso estar adorando para se rezar por alguma coisa. Todo desejo que fazemos com sinceridade de coração, é uma oração.
– Então... Se por acaso eu tivesse condições de participar desta coisa aí, eu só teria que desejar passar minha energia para a Erika? É isso?
– E no porque de querer transferir sua maana para ela! Tanto o Valkyon quanto o Leiftan doam suas forças para ela, pensando no bem de Eldarya. Mas porque é que você está me perguntando tudo isso? E o que foi que você tanto fez junto deles?
– Eu, nada. Só fiz algumas perguntas sobre o desenho porque quero saber exatamente no que é que a doida está ajudando. Saber no que de fato ela está se metendo.
– E porque, que você se preocupa tanto com ela? – ela me erguia uma das sobrancelhas.
– Porque essa doida é como uma irmã mais velha para mim. – tentava fugir – Ainda não engoli todos os desaforos que ela é obrigada a aturar nesse mundo aqui.
– Se o que diz é verdade, é compreensível. Esse mundo dificilmente se mostra gentil com os faelianos, mas graças à Erika, isso já se amenizou um pouco.
– Mas não o suficiente, né? Já que são alvos de alguns... – fui tomado por uma sensação de leveza e calma revigorantes – ...bandidos... O que é isso?
– A maana da Cris. Veja! – ela apontava para o Cristal que brilhava bastante agora com a Cristinne ajoelhada diante dele – A sua “irmã” já começou a rezar. Não é impressionante a forma como ela afeta o seu redor?
– Muito. – ainda não acredito no que a minha irmã é capaz de fazer – E quando é que os outros começarão?
– Já vão começar. Pode ver. Estão assumindo posição para o ritual.
Os encarei e era verdade. A forma como que aqueles homens se “rebaixavam” para a dona, me deixava um tanto desconfortável. E... Será que aquele pedacinho que eu risquei é o suficiente para que eu possa ajudar, nem que seja com uma miséria?
Rezar. Tudo que tenho que fazer é rezar, para tentar. Mas de que jeito? Se for para colocar meu desejo em palavras, o que eu quero é que esse negócio possa terminar logo de arrumar este mundo para que a Cristinne fique livre de uma vez das correntes que a prende neste mundo. Que ela só fique aqui porque ela quer, e não porque está sendo obrigada. Este é o meu desejo. Eu mal terminei de definir minha vontade de mãos juntas, e comecei a sentir como se as forças me escapassem de leve.
– Há algum problema Christiano?
– Problema nenhum Nelli. – a força que parecia me escapar era semelhante à de uma caminhada – Só não estou acostumado com essas sensações que estou tendo agora.
– É, pois é. Eu também fiquei bem balançada com os efeitos que a maana da Cris causa na gente. É ótimo para se sentir renovado.
– Está me dizendo que isso é como uma terapia para você? – será que a minha irmã sente esses efeitos também?
– Mais ou menos. Talvez até seja efeito da presença da Oráculo Branca...
– Oráculo Bran...? _espantado!_ Quando foi que aquela criatura se grudou na Erika?!? E de onde ela saiu? – questionava fazendo de tudo para conseguir continuar “rezando” (e é impressão minha, ou aquela criatura está sorrindo para mim?).
– Aquela “criatura”, é a Oráculo Branca de quem eu falava. Ela costuma habitar dentro do Cristal, e é uma espécie de vidente. Depois que a Cris começou a orar durante o Ritual de Maana, a Branca começou a participar também. Acho que... ela canaliza parte do que a Cris libera e direciona para a Erika. Melhorando os resultados, e amenizando os danos deste ritual.
– Que danos?
– Esqueceu-se que a Erika estava morrendo aos poucos por causa desse ritual? A maana da Cris está impedindo esse sacrifício, e restaurando a vitalidade dela. Pelo menos foi isso o que nos explicaram!...
– Eu entendi. Acho.
– Melhor não esquentar a cabeça com isso, Christiano. Vamos apenas esperar eles terminarem para começarmos logo com essa reunião.
– Pode ser. – encerrava a conversa onde, em meu silencio, continuava rezando pelo fim daquela “prisão” que cercava a minha irmã.
E falando sério, cheguei a pensar que eu estava vendo uma cena de DragonBall na vida real. Aquela bola de energia que a Erika juntava mais parecia uma Genki Dama bebê! Não pude evitar de me abaixar quando aquela coisa “explodiu” encerrando o ritual. Com tudo acabado, o elfo palhaço e a Ewelein se apresaram a entregar algum tipo de bebida para todos eles, enquanto a criatura que tinha se grudado na Erika entrava no cristal (tive a impressão de vê-la sorrindo para mim outra vez, me fazendo ter um calafrio). Tivemos de esperar minha irmã terminar de rezar para começar com a reunião novamente, por isso decidi perguntar o que é que eles estavam bebendo (sinto como se eu tivesse corrido por uma meia hora... Será que essa bebida aí me ajudaria também?).
– O que é que vocês estão bebendo?
– Uma espécie de energético saudável, Christiano. Quer provar?
– Que gosto tem isso aí Erika? – sério, essa experiência me cansou, mas tenho uma boa desculpa para esconder a razão verdadeira.
– Prove e descubra! – me desafiava o azulado já me estendendo um frasco – E eu soube que você não anda se alimentando direito por causa de sei lá o quê que você está fazendo junto da Benelli. Está querendo adoecer por acaso? Pode mandar pra dentro!
– Não sabia que você tinha se tornado o meu médico... – comentei cheirando o liquido.
– Medicina é uma das áreas que eu cubro como líder da Absinto, e eu não estou a fim de ter de tomar conta de ninguém que está caindo pelos cantos por não se cuidar como deve. Ainda mais se for alguém próximo da Paladina.
– Acaso tem medo da doida?
– Digamos que ela vive me dando motivos para não querê-la como inimiga. Agora anda logo e vira essa poção, tenho que dar dela para o Gelinho e sua protegida também, e não ficarei satisfeito enquanto não tiver a certeza que você bebeu mesmo isso aqui.
– Mas você é mala, heim. – reclamei já virando aquele troço melado (credo! Batida tem menos açúcar que essa coisa! Como eles conseguem beber isso?) – Mas o que é que tem nessa coisa? Açúcar concentrado?
– Com uma pitada de sal doce...
– Palhaço.
.。.:*♡ Cap.144 ♡*:.。.
Erika
– O quê que você é da Erika?!? – para tentar proteger o meu tio dos inimigos,...
– Exatamente o que ouviu, dona. Sou tio dela. Irmão de sua mãe e estou bem longe de ser o parente favorito dessa garota. – ...ele e eu concordamos em fazer todos acreditarem que eu não gostava dele.
– E a Ewelein não conseguiu descobrir o porquê de você ter reavido a sua memória?? – não sabíamos se isso de fato funcionaria!
– Apesar de todos os meus exames e testes nele, não consegui encontrar o motivo exato ainda. – por isso manteríamos uma mínima vigilância sobre ele.
– Porque exatamente o senhor não é o “favorito” dela? Erika me pareceu bastante animada com a sua presença durante o dia. – ainda assim...
– Quando ela era criança, sem querer a deixei cair bem no meio de um matagal de urtigas que quase a deixou hospitalizada. Ela ficou duas semanas usando medicação para cuidar das queimaduras. E pela demora, chegamos a suspeitar que ela fosse alérgica à planta. Esse é o motivo principal! Deseja saber mais, senhor Leiftan? – não tenho certeza se gosto de deixa-lo revelar coisas... constrangedoras, sobre mim para isso.
– Não há porque ser tão respeitoso, caro Jorge... Mas eu adoraria ouvir mais historias.
– Ezarel. A sua prioridade devia ser ajudar a Ewelein a descobrir o porquê da poção de esquecimento ter perdido o efeito sobre ele, e não arranjar formas de irritar a Erika depois. – mas acho que dá para contar com o apoio da Miiko.
– Não sei se podemos de fato confiar nele... Vocês não acabaram de ouvir tudo o que ele fez só para encontrar ela aqui? – no entanto, isso não impedirá algumas dores de cabeça.
– O que qualquer parente com algum afeto faria. Estou certo ou não?
– Completamente certo Christiano. Sem falar que de todos aqui, o Valkyon, o Ezarel e a Miiko são os que deviam ficar mais preocupados. A ideia foi da Miiko; Valkyon concordou, e o Ezarel a fez beber. Eu fui contra o tempo todo. E aposto que o Leiftan também teria sido se estivesse junto.
– Muito obrigado senhor Nevra por me esclarecer os nomes de quem devo desconfiar mais.
– Ei! Eu também não estava de acordo com essa historia!
– Mas não pareceu se importar com a forma que me faria engolir aquela porcaria. – recordar aquela época me incomoda até hoje.
– Err... Gente? Nós não estamos fugindo um pouquinho do assunto não? – a Cris tentava interceder – O que já se passou, passou. O negócio agora é entender o presente. E não acho que o Jorge será a única coisa discutida aqui, pois para isso eu não preciso estar presente. Não é verdade?
– Pode crer, doida. Não tenho nada a ver com a roupa suja aí. Tudo o que eu fiz foi servir de carona para ele, com ele tendo recebido a permissão de me acompanhar até aqui daqueles dois, que com toda a certeza vão querer explicações também.
– Por causa do tempo que já se passou, já não existe mais nada da poção para a efetuação de alguma analise, que poderia ser muito útil uma vez que meus exames não apresentaram nada que pudesse fornecer uma explicação mais nítida.
– Entendo o seu lado Ewelein, por isso que estava ordenando o Ezarel a ajuda-la nesse caso. Além de deixar bastante clara a situação para toda a Reluzente. Se eu puder contar com o apoio de todos para evitar confusões desnecessárias, pois já temos problemas demais para lidar, eu ficaria realmente agradecida.
– Todos aqui se sentiriam assim Miiko. Pelo o quê pude observar, todos pensam que o Jorge é algum amigo próximo da Erika, assim como o Christiano é da Cris.
– Ótimo. Façamos com que todos continuem pensando assim por enquanto, Kero. Há alguma dúvida sobre o caso do Jorge entre vocês?
– Ele irá embora junto do Christiano ou será mantido em Eel até descobrirmos o que o permitiu recuperar a memória?
– Ô, qual é Benelli? É claro que ele vai voltar comigo! Vocês vão deixar ele voltar, não vão?
– Vão. – declarei decidida e já encarando a Miiko, bem séria – Eel vai permitir o retorno seguro de meu tio junto com você Christiano. Tio Jorge pode não ser o meu melhor parente, mas se há uma forma de eu me livrar dessa agonia que persegue o meu coração até hoje, quero descobri-la.
Miiko acabou engolindo seco. Não sendo ela a única. Alguns deixavam um suspiro pesado escapar e meu tio parecia orgulhoso. O clima ficou em um silencio tenso por quase dois minutos, sendo o Valk a corta-lo.
– Certo. Imagino que podemos tratar o tópico “Jorge” encerrado por enquanto. Com todos nós garantindo a segurança dele em Eldarya.
– Encerrado nada Valkyon! – Nevra cortava – Alguém terá de ir com eles para ver se consegue encontrar alguma pista do que foi que subjugou a poção.
– Olha senhor Nevra, eu não me importo de ter alguém para cima e para baixo comigo na Terra em busca dessa resposta, mas vai ter que ser alguém o mais fisicamente humano possível. E que possa ser boa atriz também, para ao menos fingir ser alguém de minha plena confiança para que eu possa a aproximar de minha família sem levantar muitas suspeitas.
– Atriz? Acaso está sugerindo que alguém seja sua namorada de mentirinha, é?
– Não sei se há alguma mulher daqui que possa aceitar uma tarefa dessas. Mas não iria me opuser à ideia. Uma “namorada” seria bem mais fácil de levar para dentro de casa.
– Nevra e Ezarel poderiam ver entre eles alguém apto para isso, senhor Jorge. E eu até que concordo com a ideia. Os líderes da Sombra e da Absinto são capazes de cumprir uma tarefa dessas rapidamente, não é?
– Isso depende. Quando é que você e o Christiano pretendem darem no pé de Eldarya?
– Só depois do Christiano terminar de me mostrar tudo o que ele trouxe!
– Relaaaxa Nelli... O primeiro jogo a gente levou bem dizer um dia para zerar, parando para explicar e retomar várias vezes. Você já conseguiu pegar o jeito da coisa mais ou menos, então eu acho que com mais dois ou três dias terminamos tudo, se não ficarmos parando muito para outras coisas.
– Tratem de não se descuidarem! Já estou sabendo de como vocês “cuidaram” da alimentação de vocês.
– Sim senhora, sargento Ewelein! – declarou o Christiano fazendo continência. Deixando ela vermelha e fazendo alguns segurarem o riso, como eu.
– _pigarreando_ Muito bem. Isso resolve parte do problema por enquanto. Agora vamos tratar da Cris.
– O que tem eu? Fora a minha última viagem, é claro.
Gastamos uma meia hora discutindo sobre a segurança das próximas viagens delas.Cris
O tio da Erika realmente deixou todo mundo bem surpreso, mas estou dando completo apoio para a Erika nessa historia. Acho que eu faria mais ou menos igual no lugar dela... E é melhor colocarem alguém para ficar cuidando do meu irmão e da Benelli enquanto eles jogam!...
Quando eu passei a ser o assunto da reunião, aí sim que a coisa ficou chata. A Miiko estava me parecendo essas mães superprotetoras! Ainda bem que tive ajuda dos meus semelhantes e treinadores para convencê-la a exagerar um pouco menos.
– E antes que eu me esqueça Cris, já encontramos o seu mestre de luz para quando o treinamento da Huang Tomoe acabar.
– Mas já? E quem é que vai ser Miiko?
– Er, bem, vai ser eu.
– Sério? E porque que é que você parece tão sem jeito assim Leiftan? Não quer me ensinar o que sabe ou tem medo que eu acabe aprendendo sombras ao invez de luz?
– Não é nada disso não Cris!... Ou quase. – acabei erguendo uma pestana para a Erika – Eu ajudei na montagem da lista e... como não são muitos os que controlam luz aqui em Eel, eu coloquei o nome dele na lista mais por curiosidade do que por lógica.
– Fiquei surpreso ao ver que o nome sobrevivente ao encantamento de Lunna era o meu, por isso lhe prometo que darei o meu melhor para ensina-la o que eu puder. Você ainda se lembra das explicações básicas que lhe dei?
– Acho que sim. Espero não decepciona-lo. Algo mais a falarem sobre a minha pessoa aqui?
– Teve algum sonho essa noite passada?
– Não. Se tive nem vi Miiko. Apaguei! De tão cansada que fiquei ontem.
– Espero mesmo que você não tenha sonhado com nada importante. Retome os seu treinamento amanhã e não deixe de vigiar os seus sonhos para que possamos nos preparar. Me diga Huang Tomoe, ainda falta muito para você concluir o seu treinamento?
– A Cris já está quase dominando o intermediário, e acredito que adicionar o que ela já aprendeu com os outros treinos que ela teve possa ajudar a fazê-la avançar mais depressa. E já estou incluindo os ensinamentos de Leiftan também. – (acho que vou desmaiar...)
– Ô-ô-ô-ô! Que isso?! Pretendem fazer pó dela é?
– Não se preocupe Christiano, lógico que tentarei não forçar demais os limites dela. Não seria bom ela se tornar totalmente incapaz de defender-se ao final dos treinos, ou de conseguir ter sonhos durante a noite.
– Menos mal. – mas não acho que meu irmão esteja satisfeito... – Tem mais alguma coisa que vocês estejam querendo discutir ainda?
– Apenas o esclarecimento sobre tudo o que você trouxe dessa vez Christiano. Pode começar?
– Sem problemas.
Meu irmão explicou sobre tudo o que ele tinha trazido, sendo que eu e a Erika tivemos de dar uma mãozinha para tentar explicar duas ou três coisinhas. Todos pareceram bem interessados em quase tudo.
– Benelli, você também acredita que os purrekos sejam capazes de recriar de alguma forma parte da tecnologia que o seu favorito trouxe?
– _corada_ O Christiano não é o meu favorito! Mas os purrekos que nos ajudaram pareceram bem determinados a cumprir parte desse desafio. O que me faz lembrar... O Christiano me repassou uma ideia bem interessante para que todos do QG possam se atualizar sobre a Terra e a sua atual realidade.
– E que ideia seria essa? – Nevra questionava já encarando o meu irmão.
– Na verdade, a ideia foi da doida. Nós montaríamos uma espécie de cinema quando eu voltasse outra vez para repassar alguns filmes para vocês.
– Inicialmente mostraríamos historias que mostram como que os faerys são imaginados pelos humanos nos dias de hoje, para depois como é a nossa realidade, e depois como imaginamos o futuro e/ou como a Terra poderia ser se existissem heróis nela. – completei.
– Que quer dizer com isso? – perguntava o meu chefe.
Nós, terráqueos, nos juntamos para explicar como podíamos sobre o assunto. E a Miiko aprovou a ideia! Mas só se os purrekos conseguirem criar uma fonte de energia sustentável que realmente funcionasse como precisávamos (eles já deram uma olhada até nos meus carregadores solares, ganharam material do meu irmão e ainda viram as baterias trazidas por ele. Concordo com a Benelli, isso não será um problema por muito tempo).
Dada a reunião encerrada finalmente, o jantar já estava sendo servido há um tempão. Meus “professores” resolveram se juntar a mim no jardim do Karuto. Se a Ewelein não tivesse exigido conversar com o meu irmão no salão, era bem provável que a Benelli tivesse tentado se juntar a mim e o Gelinho também.
Refeição concluída, era a vez do banho. Depois de todo o treinamento que tive com a Marine, nem me preocupo mais com que hora eu decido molhar meu cabelo. Na verdade... acho que minhas molinhas estão até mais bonitas! Se bem que me levou um tempinho para aprender o movimento correto para deixa-los secos sem tirar agua demais ou detonar com os cachos. Até minha pele parecia melhor agora. Toalhas? Passei a usar elas apenas como proteção térmica depois dos banhos!
Na verdade... depois de tudo que aprendi com a Marine, consigo controlar tão bem a agua do meu próprio corpo que eu duvido não conseguir controlar a agua do físico de outras pessoas também. Mas... eu não podia por isso à prova antes da próxima lua! Ou a minha “cobaia” podia querer fugir ou acabar machucada sem eu querer. Estava aproveitando de boa a agua quente massageando as minhas costas, quando um toque gelado agarrou a minha cintura arrepiando meu corpo inteiro.
– Lance!?! Mas o que pensa que está fazendo?! – ele já estava do jeito que se vem ao mundo...
– Você estava demorando. E eu não estou muito a fim de desperdiçar o pouco tempo tranquilo que ainda tenho com você. – declarava ele se deixando molhar com o chuveiro e um olhar de desejo.
– Sei que por causa desses meus treinamentos não nos será muito fácil aproveitar momentos íntimos, mas... eu pensei que você não gostava de agua quente!...
– E não gosto. Mas por você eu a tolero sem qualquer problema. – suas mãos me passeavam pelas costas, fazendo-me arrepiar outra vez.
– O que vai fazer se todo esse choque térmico acabar me fazendo mal? _sorriso provocativo_.
– Assumirei a responsabilidade e cuidarei de você pessoalmente. Sem esquecer que...
– Que o quê? – estávamos muito próximos um do outro.
– Quero poder reivindicar minha recompensa por ajudar hoje. – sussurrou ele sedutoramente quase me tomando os lábios.
– Ritual de Maana? – perguntei baixinho com a mão em seu rosto, acariciando-lhe os lábios.
– Assim como o seu irmão. Muito provavelmente...
– Então foi uma doação menor dessa vez, se os dois realmente tiverem ajudado, por que... se eu não me engano, não teve muita diferença entre o ritual de hoje e o da última vez.
– Pode ser. – sua mão passeava por lugares ousados – Isso talvez signifique que eu deva pegar um pouco mais leve?
– _gemido_ E você sabe pegar leve?
– Já descobrimos. – terminou ele de falar já me tomando os lábios e me abraçando.
Me entreguei ao seu beijo. Mas não esqueci de onde nós estávamos nos envolvendo! Não é porque a agua utilizada nos banhos do QG vinha do mar, após passar por um processo de filtragem que era repetido para retornar ao mar depois do uso de acordo com a Marine, que era sensato ficar desperdiçando agua. Busquei com uma das mãos o registro, e creio o Lance percebeu minhas intenções, porque foi ele quem fechou a agua sem me largar.
Definitivamente. Pegar leve, não é o forte desse dragão. Ao mesmo tempo em que ele era intenso, fazia meu corpo ferver. Nossos movimento eram quase que instintivos, sendo que eu aproveitava ao máximo cada carícia e cada sensação que aquela “brincadeira” nos fornecia. Sem mencionar que era a primeira vez que fazíamos aquilo fora da cama! E devo confessar, estava sendo uma experiência fascinante...
Depois de nos entregarmos juntos, conclui o meu banho com ele me ajudando (fiquei um pouco cansada...) e eu ajudando ele. Me livrei da agua de nossos corpos com ele se segurando no colo, sendo que ele me carregou até a cama onde nos deitamos lado-a-lado. Conversando bem brevemente sobre nossa nova experiência, descansamos o suficiente para mais uma vez antes de dormirmos de verdade, aconchegados nos braços um do outro.Lance
A não ser que eu esteja muito errado, a ideia da Negra funcionou. Com apenas aquele risquinho de nada que fiz no desenho, foi o suficiente para eu ter minha maana tomada. Não foi tanto como nas outras vezes, mas eu senti um cansaço. E como não parecia ter nada de diferente no resultado final, com certeza o Christiano acabou ajudando também.
A reunião acabou sendo bem dentro do que eu já esperava, então não tenho do que reclamar. A não ser, claro, do tempo ainda menor que teria para ser eu mesmo junto da Ladina. E nem no jantar tivemos sossego?! Cada vez fico mais ansioso pelo término do treinamento da Cris.
No quarto, analisando todo o tempo que realmente teríamos para nós dois, acabei decidindo aplicar uma das minhas muitas ideias para com ela. E como gostei... Essa mulher é realmente incrível! Ela faz cada minuto que passo a sós com ela valer mais e mais a pena. Não hesitaria em sacrificar-me por ela se fosse necessário. Nem em sonho eu imaginava encontrar alguém como ela. Chego a me questionar se eu realmente a mereço em minha vida.
Amanhecido o dia, era hora de dar inicio à nova rotina de treinos da Ladina. Apesar dessa nova rotina estar seguindo exatamente o que foi combinado durante o jantar após aquela reunião, não estava sendo nada fácil para ela... A junção de todo mundo (ou quase, pois a ondina estava de férias) realmente pesou para a minha amada. Ela só recebia alguma folga quando estava nas mãos do Leiftan! E se meu irmão não estivesse ali para ajuda-la, eu o teria feito. Mesmo que isso significasse entregar a minha identidade para todos.
O Christiano se manteve enfurnado junto da louca da pólvora durante três dias inteiros. Acho até que aqueles dois dormiram no laboratório privado da brownie para que terminassem mais depressa com os tais jogos deles. Nós mal os víamos. Também não prestei atenção no tio da anjinha. Mas como não ficamos sabendo de qualquer tipo de confusão, ele deve ter ficado bem nesse tempo.
Assim como eu havia imaginado, a Ladina e eu não estávamos tendo tempo algum para nós dois. Os treinos estavam a deixando tão cansada, que ela quase dormiu no meio do banho uma vez. A Ewelein me fez um enorme favor quando reclamou com a Huang Tomoe (uma vez que era ela quem liderava a “tortura” de minha Princesa) para que pegasse um pouco mais leve na cobrança física.
Os dias em que Jorge e Christiano permaneceriam em Eel, passaram em um piscar de olhos vamos assim dizer. E isso porque os dois gastaram um dia inteiro para organizarem a partida de volta deles! Por muito pouco que a Ladina não conseguia se despedir do irmão dela. Mesmo ficando combinado que o Absol daria uma carona aos dois até a passagem para a Terra. Ou seja, o ponto de partida deles seria dentro do nosso quarto.
– Tem certeza que não preferiria estar dormindo agora? Aquela morena cega tem acabado com você!
– Eu estou muito _bocejo_ bem Christiano. Não precisa se preocupar. – para a despedida estávamos todos os parentes (ou quase parentes) deles, os mestres da Ladina, a Ewelein e os amigos.
– Mas o Christiano tem um pouco de razão. Eu posso ter conversado com a Huang Tomoe sobre o seu treinamento, mas você não precisava madrugar apenas para poder se despedir.
– Por favor, Ewelein. Sem ofensas, mas não comece. Estou dormindo pouco, eu sei, mas quando mais rápido eu puder me livrar de toda essa aprendizagem, passar mais rápido para o apenas praticar, mais cedo o meu único mestre será eu mesma e o Leiftan. Discorda?
– Não necessariamente. – respondeu a Ewelein um pouco contrariada.
– Relaxe Ewelein. Erika e eu estamos ajudando a Cris a não ficar totalmente sem forças, sendo que o guarda-costas dela também a ajuda um pouco.
– Valkyon, eu sou responsável pelo controle de saúde de todos os presentes em Eel, e a Cris está sendo tão forçada quanto quando ela entrou para a sua Guarda. Nesse ritmo, mais cedo ou mais tarde ela não conseguirá nem se manter em pé corretamente.
– Eu não reparei, mas você também é forçada aos limites igual ela, Erika?
– Não tio Jorge. A situação da Cris é um pouco mais especial que a minha e... Nirbhaya, você está mesmo preparada para acompanhar o meu tio?
– Não se preocupe Erika, ao menos enquanto o Christiano estiver com a gente, acredito que não terei motivos para me preocupar. – Nirbhaya era uma ninfa mestiça que pertencia a Absinto e recebeu um treino especial do Nevra apenas para ajudar o Jorge a descobrir mais sobre o caso dele – E eu irei aproveitar cada coisinha que aprendi com você para me localizar durante minha estadia.
– Não confie demais! Principalmente nos homens. Quem dera a Terra tivesse o mesmo respeito às mulheres que Eldarya tem. Isso para não mencionar os “Ezaréis” que existem por lá!
– Agradeço o aviso Lys.
– Acho que agora já é hora da gente ir. Se cuida Toby, desculpe não ter passado muito tempo com você dessa vez. – Christiano se despedia da fenrisulfr que parecia triste pela partida dele – Cuidem-se todo mundo. Bora lá, cão das trevas?
– Mais respeito com Absol, Christiano...
– Vê se não demoram muito para voltar. E pode deixar que me encarrego de acompanhar tudo para termos a nossa sala de cinema pronta quando vocês retornarem.
– Estou contanto com você Nelli! Até mais todo mundo.
Houve mais algumas trocas de despedida enquanto Absol envolvia todos com sua umbracinese para finalmente sumirem do quarto. Engolidos pelas sombras, a Toby foi a primeira a deixar o quarto, cabisbaixa.
– Bom. Eu preciso voltar ao trabalho. Se não for pedir muito Cris, tente tirar nem que seja um cochilo antes de começar o sofrer. E pelos deuses! Não a façam precisar de mim! – reclamou a Ewelein deixando o quarto logo em seguida.
– Não é por nada não, mas se a nossa enfermeira está falando daquele jeito é porque ela está de fato preocupada. Estou indo cumprir minha promessa com o Christiano, e vocês tratem de poupar um pouco mais a Lys de Eldarya. Tchau-zinho. – e lá se ia a brownie.
– _suspiro_ Que hora é agora?
– É exatamente seis horas, Huang Tomoe. – respondia o Leiftan.
– Certo. Iniciaremos com os treinos às sete e meia. Prepare-se como você desejar Cris. – declarava a megera já saindo também.
– Me preparar... Como? Se eu deito a cabeça no travesseiro de novo... Não irei acordar tão cedo!
– Porque você não medita Cris?
– É uma boa ideia Valkyon. Meditação não só ajuda a relaxar como também é um dos exercícios para o controle da luz. Faça isso Cris! Posso ajuda-la se quiser.
– Não a menor necessidade de você ajuda-la com isso. – me indignei.
– Gelinho... Não retroceda todo o seu avanço! – acabei desviando o olhar.
– A Cris está certa. Você até começou a chamar as pessoas pelo nome ao invez de apelidos! – acabei encarando o meu irmão (quando foi que eu tive essa mudança?).
– Seja como for, tente descansar o que puder Cris. Nos encontramos no treino.
– Tudo bem Leiftan _bocejo_ Me encontro com vocês em breve.
A Ladina foi se ajeitar em frente à janela e eu acompanhei todos à saída. Para ajuda-la a descansar melhor, eu não só utilizo meus poderes de cura sem ela perceber, como também lhe faço massagens nos poucos minutos sozinhos que temos. Como agora.
– Muito obrigada Lance. Não deve estar sendo muito fácil toda essa situação para você.
– Não Ladina. Difícil está sendo para você! Para mim toda essa situação está sendo... desconfortável.
– Espero que meu irmão e os outros tenham uma viagem segura. E sucesso em seus planos.
– Você ainda não sonhou com o seu próximo destino, sonhou?
– Hum... Não. Eu acho que não. Pelo menos... – ela bocejava enquanto se espreguiçava – Não me recordo de nada muito interessante. Alguma suspeita de qual ele poderia ser?
– Se eu tivesse isso, já estaria me preparando. Absol esteve meio sumido depois da reunião no último Ritual de Maana... Acho que ele já possui alguma suspeita.
– Absol parece ter uma intuição formidável para as coisas... – (ou um par sementes que o informa de tudo...) – Cadê a mensligo? Ainda não tomamos dela hoje.
– Um minuto que já pego. – declarei lhe abandonando os ombros e seguindo até a penteadeira.
Tomamos da poção. Meditamos um pouco. Descemos para tomar o desjejum. E seguimos para o treino. Foi mais um dia rotineiro de treino intensivo. Acredito que Absol esteja à procura de alguma coisa em especial, pois não apareceu para o treino, no entanto, a ondina já havia retornado, e a fenghuang não esperou nem dois minutos para fazê-la participar dos exercícios _longo suspiro_.
Os malucos de Apókries estavam quietos, o que era muito bom para o momento. Se bem que com a fenghuang cega por perto, é bastante difícil tentar qualquer coisa que seja sem ser percebido. Ainda estou espantado com o fato dela ter conseguido me descobrir sem a necessidade de eu remover minha nova máscara! Me pergunto se esses loucos não teriam medo dela.Cris 2
Eu não esperava que a Tomoe pudesse vir a ser a minha pior professora. Graças à ela eu cheguei a dormir no-banho! Pode uma coisa dessas?! Ela está fazendo picadinho de mim... E isso nem é o pior. Coitado do Lance... Eu vejo quando ele me quer, mas ele se limita a somente me ajudar diante da catástrofe que eu me torno ao final do dia. Quase me senti mal uma vez por não ter condições de agrada-lo como ele gostaria. Mas estava realmente grata pela sua compreensão e cuidado.
Meus sonhos... Espero de verdade não estar esquecendo nada que seja importante. Tenho até medo de não conseguir sonhar o que devo de tão exausta que fico. Até nas minhas pausas eu estou em aprendizagem! A Tomoe dividiu meu treinamento da seguinte forma: de manhã, eu trabalharia minha “visão” junto daqueles que me ensinaram a lutar, ou seja, Lance, Valkyon e Tomoe, com o Absol e o Nevra participando só quando podiam/queriam (do que será que Absol está indo atrás agora...). Durante as minhas pausas obrigatórias (descanso entre exercícios e refeições), Leiftan me repassava mais da parte teórica sobre os poderes de luz, com eu pelo menos tentando por essas teorias em prática antes retomar os exercícios físicos no período da tarde.
Não foram poucas as vezes em que Valkyon precisou usar seus poderes de cura em mim... Aposto que o Lance ficou se segurando para não fazer o mesmo! Eu estava tão imersa nesse treinamento do cão que nem percebi quando o meu irmão já estava se preparando para voltar para casa. Tive de fazer um esforço extra para conseguir me despedir dele. E tomara que eles não tenham problemas com o Kurui’pira e a Kaa’pora!...
Mas hoje... Realmente... A Tomoe exagerou. A Marine nem conseguiu nos dizer um “oi” direito após retornar de suas férias, e a fenghuang já a estava adicionando à aquele cálculo de tortura controlada! Mas confesso que gostei de trabalhar com a agua no meio daquilo tudo, e... Pode ser que eu esteja errada, mas... Acho que compreendi o objetivo da Tomoe nessa bagunça toda. Com a adição da Marine, as coisas ficaram parecendo um pouco mais claras para mim.
Senti... como se tudo fluísse um pouco melhor. Isto é, senti como se todas as habilidades que eu havia adquirido até ali estivessem finalmente se harmonizando entre si. Não sentia mais como se cada “poder” fosse uma coisa em separado, e sim como se cada um fosse um complemento do outro! Enfim, acredito que as intenções da Tomoe eram me fazer ser capaz de utilizar tudo o que já tinha aprendido, junto. E não apenas quando uma técnica em específico se punha necessária. Eu sentia estar alcançando um melhor equilíbrio entre o meu ataque e a minha defesa.
No entanto, não fiquei nem um pouco menos cansada quando tudo aquilo acabou.
.。.:*♡ Cap.145 ♡*:.。.
Cris
“* Caminhava dentro do que parecia ser algum tipo de castelo gótico. Tudo era escuro, mas consideravelmente iluminado; frio e silencioso. Silencioooso, cooomo uma tumba! Eu chegava a passar por alguns servos, mas... Era como se eles nem me enxergassem, ou se não se importassem com nada além de seu trabalho.
Quando eu encontrei uma janela, o clima do lado de fora se mostrava frio e nublado. E havia um nevoeiro que deixada o exterior tão “convidativo” quanto o interior.
Continuei visitando o lugar sem incomodar ou ser incomodada por ninguém. Haviam muitas decorações interessantes, mas tudo parecia repassar alguma coisa sombria. Especialmente os servos, que nem pareciam serem vivos de tão pálidas que eram suas peles, e tão vidrados que eram os seus olhos (que tipo de faerys são eles?).
Seguindo sem saber por onde exatamente, acabei entrando em um corredor cheio de quadros de retratos que, mesmo não tendo ideia de quem aquelas pessoas seriam, por algum motivo elas me pareciam familiares. Observava um de cada vez sem deixar de avançar pelo longo corredor e, logo acabei me aproximando de uma porta escura onde tinha uma menininha (acho que conheço essa menina...) de cabelos e vestes negras espiando o interior daquele cômodo. O som do que parecia ser uma discussão acabou me atraindo também.
– Não aquento mais! Não há como eu continuar convivendo com uma coisa dessas! – haviam duas pessoas. Um senhor e um jovem (eu conheço esse rapaz!...)
– Não fales besteiras... Estais consciente de nossos modos desde bebê. Porque vens a te incomodares agora? – não sei dizer se o lugar onde eles discutiam era uma sala ou um escritório, mas sua decoração era tão sombriamente requintada como todo o resto do que vi.
– Porque não tinha consciência do quão errado era tudo isso. Sem mencionar que quebra os acordos feitos na última Guerra de Portais! – eu ainda não entendi sobre o quê exatamente eles estão discutindo...
– Nossos métodos são seguros. Tu mesmo podes os confirmar, já que ajudastes várias vezes. – ...mas julgando a cara do rapaz, a coisa é pra lá de séria.
– O que me faz ter mais vergonha ainda. Aqui. Eu não fico mais! – o rapaz se mostrou irritado durante todo o tempo.
– Sois meu herdeiro. Não durarás nem um dia fora do clã. – enquanto o senhor se mostrava tão calmo, que estava até me incomodando.
– Eu não só viverei MUITO melhor fora deste lugar, como também irei dar fim a este absurdo!
– Pura rebeldia. Se algum dia conseguires escapar destas paredes, quando retornardes, estarás perdoado logo após recebestes uma punição à altura de tuas tolices. – (credo! Que velho convencido!)
– Vamos ver quem vai punir quem! – terminou de declarar o rapaz, deixando o local quase que soltando fumaça pela cabeça, e com eu e a menininha nos afastando depressa da porta dupla.
Ainda pude ouvir o velho soltando um suspiro durante a retirada do rapaz.
– Crianças... – foi tudo o que o homem declarou antes de se sentar em uma grande poltrona negra.
Um fungado de choro me fez lembrar da menininha que parecia indecisa entre entrar naquela sala, e ir atrás do rapaz. Decidindo-se após soltar um longo respirar fundo – Irmão... – consegui a ouvir sussurrar antes de correr em silencio na mesma direção seguida pelo rapaz.
Estava prestes a sair dali também quando reparei em um quadro totalmente diferente dos que eu havia visto. Ao invez do que parecia ser um/uma nobre do período medieval, o retrato era de uma jovem dos dias atuais. Rezando e segurando uma corrente com um crucifixo prateado muito bonito mesmo.
(Espera. Esse quadro já estava aí mesmo?) *”Lance
Depois de mais um dia de treino que praticamente acabou com a minha bela Ladina, e mais uma noite um pouco casta demais para mim, me assustei ao acordar e não ver minha amada ao meu lado, no leito. A encontrei sentada à mesa.
– O que houve? Teve pesadelos? – perguntei deixando a cama.
– Eu não diria pesadelo, mas... – ela parecia estar transcrevendo o que havia sonhado – Com toda a certeza foi estranho.
– Posso dar uma olhada?
– Claro, à vontade. Já terminei de escrever mesmo. – respondeu ela me estendendo o papel.
Tomei-o e comecei a ler. De acordo absorvia as palavras, um sentimento de alerta ficava cada vez mais nítido dentro de mim – Tem certeza que conhece as pessoas desse sonho?
– Essa foi a sensação que tive. Não me lembro de já ter visto eles antes, ao menos... não com a aparência que tinham no sonho. – ainda ruminava a possibilidade do que aquele sonho dela seria de verdade quando alguém bateu na porta – Eu abro. Oculte logo o seu rosto já que não é ninguém que saiba quem você é.
– Está certo. – aceitei me apresando para pegar a máscara e também me ocultar no banheiro, pois minhas cicatrizes poderiam me denunciar dependendo de quem estive lá fora (bem que a Negra poderia me aparecer agora para confirmar minhas suspeitas...).Cris 2
No que eu abri meus olhos, ainda com as imagens de meu sonho correndo pela minha mente, decidi na hora escrever aquilo tudo. Eu já tive muitos sonhos estranhos, mas esse foi realmente preocupante. Mas que raios de lugar era aquele?! E porque eu tinha a sensação de conhecer aquelas pessoas? Será que eu acabei sonhando com o meu próximo “destino”? Se sim, aonde seria isso? E quem era aquela jovem que vi no final? Ela não parecia ter nada de eldaryano nela.
Estava quase acabando quando o Gelinho resolveu acordar. Lhe dei o papel para que pudesse ler, e ele também pareceu preocupado com aquele sonho. Ia questiona-lo sobre a minha teoria e acabaram batendo na porta. Como o nosso código não havia sido utilizado, resolvi abrir para que o Lance se escondesse, me deparando com uma mulher de cabelo cor-de-rosa do outro lado.
– Errr... Posso ajuda-la? – (quem é ela??)
– Nossa, Cris. Magoou. – ?? – Já tem algum tempo que eu decidi mudar de aparência e você foi a única que não conseguiu me reconhecer.
Esses olhos verdes... E essa indiferença... – Karenn?
– Primeira e única até onde sei. – _chocada_.
– Nossa! Me desculpe! É que... Uau! Você está um mulherão se comparada à última vez em que a vi!
– _espantada_ Como eu parecia para você antes?
– Algo meio que parecida com a Anya.
– Então demorei muito para tomar aquela decisão. – ela sorria – E se o que diz é verdade, que me transformei de criança à mulher, te perdoo por não ter me reconhecido.
– Se importa de esclarecer o motivo de sua visita? – Lance surgia do meu lado já vestido – Sei que vampiros dormem pouco, mas não deixa de estar bem cedo agora.
– Relaxa aí guardião. Não vou retrucar sobre o seu comentário da minha raça, mas eu realmente estava bem à toa em meu quarto quando, não sei por que motivo, tive vontade de vim ver a Cris. E mesmo com a possibilidade dela não estar acordada, trazendo-lhe um bom café-da-manhã também. – terminava ela de declarar erguendo uma cesta que só agora percebia ela carregar.
– Café-da-manhã?! E o que foi que o Karuto lhe confiou? – questionei já enchendo a boca d’água com o cheirinho que escapou da cesta quando ela a abriu.
– Estou tão curiosa quanto você! O meu também está aqui dentro. – anunciava ela já entrando e apoiando a cesta na mesa – Não me atrevi a conferir para não acabar comendo antes de chegar em sua porta.
– Não me levem a mal, mas vocês acham mesmo uma boa ideia comermos juntos? – questionava o Lance (e eu nem tinha parado para pensar nele...)
– Já disse para não se preocupar, guardião. _apática_ Sei muito bem como guardar segredos de hiper sigilo. De modo algum revelaria para alguém o nome do portador de sua máscara caso eu viesse a descobrir.
– Ainda assim eu...
– Gelinho. Por favor. Todos os meus dias tem sido extremamente puxados e uma descontração me faria um extremo bem. Deixa, vai... – pedi-lhe com voz infantil no final, deixando-o sem jeito (o que costuma ser sinal de consentimento).
– Eu... _suspiro pesado_ Ok. Tudo bem.
– Muito obrigada Gelinho!!
– Também lhe agradeço guardião. Na verdade, parte da culpa pela Cris não ter me reconhecido foi minha. Não nos encontramos nenhuma vez depois que mudei minha aparência! E olha que fiz isso no dia que o Ezarel foi o meu servo.
– Nossa. Então realmente tem bastante tempo. – me assustava, ajudando-a com o distribuir da comida.
– Mas e isso aqui? – ela pegava o papel com o meu sonho – O que é isso?
– O sonho que ela teve esta noite. – Lance parece ainda não gostar da presença dela...
– Sério? Tudo bem se eu ler?
– Por mim... _dando de ombros_ Leia o quanto quiser!
– Obrigadinha, Cris. – sentava-se ela já começando a comer uma fruta.
Lance e eu também começamos a nos servir, e fiquei observando a Karenn enquanto ela lia. No começo, ela tinha um sorriso no rosto, mas de acordo ela avançava com a leitura, o seu semblante feliz era substituído por um de... medo, talvez? Ela chegou até a parar a comida no meio do caminho!
– Cris! Você se importa se eu ficar com esse texto só por hoje?
– Heim?! – não estou gostando da cara dela – Acho, que não me importo não, mas... Porque?
– Você já tem problemas demais para lidar no momento. Primeiro quero conferir uma coisa e depois lhe devolverei o papel. Pelo Oráculo...
– Acha que este sonho pode estar relacionado com o próximo “destino de sonho” dela? – Lance perguntava com tom desinteressado.
– Se for esse o motivo, então somos três. Também tenho essa suspeita, mas não consigo dizer quem são as pessoas que aparecem nele.
– Prometo devolver-lhe antes do fim do dia. Vamos manter isso aqui... – ela balançava a folha – ...só entre nós por enquanto.
Lance e eu concordamos. Para nos distrairmos do assunto (do qual já estou com medo) resolvermos contar entre nós como que havíamos feito o Ezarel pagar pelos seus erros. E foi beeem divertido... _riso_. Mas a diversão durou pouco, pois logo a Tomoe apareceu para começarmos com mais, um dia, de treino.
Nevra
Documentos... Relatórios... Solicitações... _longo aspiro_ Lidar com toda a burocracia de uma guarda é bem cansativo, ainda mais se você se descuida e deixa o trabalho acumular. Mas foi por uma boa causa. Eu sempre dei tudo de mim para reunir provas contra aquele crápula, mas, infelizmente, tudo o que eu consigo reunir possui formas de permitir o esquivar daquele canalha de qualquer punição. É desanimador... Porém!... Depois do que aconteceu em Lund’Mulhingar, com o desmascarar daquele miserável, acabei voltando a ter esperanças.
Dado que até o Ondabrar teve seus crimes expostos, porque que aquele homem não poderia ser exposto também? Tudo o que eu precisava era de apenas uma prova, da qual ele não pudesse escapar. Mas é justamente essa “uma” que não estou conseguindo obter. Se eu fosse um completo irresponsável sem noção, eu até que pediria para a Cris me acompanhar naquele lugar para uma visita. Se, eu fosse assim! (como até eu me descontrolei com ela, o que dirá os outros que vivem por lá!...)
Passei os últimos dias coletando informações que pudessem me guiar à prova de que tanto necessitava, e agora tenho uma resma para por em ordem o mais depressa possível. E mesmo virando a noite, só consegui terminar metade. Nem pude participar dos treinos da Cris! Estava realmente determinado a acabar com a “alegria” do velhote. Estava finalmente começando a última pilha de folhas quando a Karenn resolveu entrar.
– Nevra, preciso que você leia o que tenho comigo urgente.
– _suspiro_ Karenn... Seja lá qual for a missão que completou, posso ler seu relatório depois. – falei retomando o documento que já tinha começado a estudar.
– Meu líder de Guarda, Nevra. – desviei o meu olhar do papel para ela – Eu preciso que você leia o que tenho agora. – ela me estendia um pequeno rolo.
Tomei-o para mim. É extremamente raro minha irmã se referir a mim daquele jeito, ao ponto de eu ser capaz de contar nos dedos de uma só mão quantas vezes que aquilo tinha acontecido (incluindo agora) e em todas essas vezes, ela tinha algo que podia ser classificado como uma missão de rank S. Sem exageros.
Enquanto desenrolava aquilo, reparei que tinha sido escrito pela Cris! (o que me deixou ainda mais preocupado) E quando comecei a ler...
– O quê é isso??
– Um relato do que a Cris sonhou esta noite. E muito provavelmente, seu próximo “destino”.
– I-isso é realmente sério?! _suando frio_
– Acha mesmo que o teria tratado daquele jeito se não fosse sério?
– Karenn, ela ter de ir naquele lugar é extremamente perigoso...
– E porque acha que eu corri para lhe ver depois de ter me separado dela com a Huang Tomoe a arrastando para mais um “Treino de Sombra”? Eu não participei da reunião que foi feita quando vocês retornaram de Lund’Mulhingar, por isso não sei como teremos de prosseguir.
– Temos que garantir a segurança dela contra os habitantes de lá primeiro... _coçando a cabeça_ Para só depois bolarmos alguma coisa.
– Posso ver isso com a Purriry agora mesmo. Aí eu deixo o resto contigo.
– Tudo bem Karenn. Enquanto isso... – retomava o documento que olhava antes meio que por cima, com seu conteúdo me dando uma ideia – Acho que já sei o que poderemos fazer, mas tenho que conversar com a Miiko primeiro. – (espero que isso possa dar certo).
– Estou indo. Mas se não se importa, quero esse papel de volta. Prometi à Cris que o devolveria hoje, e ele pode acabar me ajudando com a Purriry. Espero que a modista já conheça a letra dela!...
– Entendi. Porém se puder mostra-lo à Miiko ou para algum dos congêneres da Lys antes, eu agradeço.
– Tentarei lembrar. Agora, tchau! – despedia-se ela já se retirando da sala.
Pelo Oráculo... Ou acabei de ter a maior sorte, ou de ter o maior azar. Nin-guém, além de mim e da Karenn sabe sobre aquele dia dentro de Eel. Não há como duvidar da próxima viagem de sonho da Cris nestas circunstancias. Apesar de todo o perigo que teremos naquele lugar, essa pode ser a minha única e melhor chance de acabar com a festa daquele homem. Tenho que fazer de tudo para não desperdiça-la e ainda garantir a segurança de todo mundo.
Mas ainda assim... Com tantos possíveis lugares, tinha que ser Yaqut seu próximo local?!?Miiko
– O que foi que você disse?!?
– Calma Miiko. Já falei sobre isso com o meu irmão. Ele não deve demorar muito para procura-la e assim conversarem melhor sobre o assunto.
Sentava em minha cama ainda atordoada com a “novidade” – Permitir a Cris viajar para uma terra de vampiros?? O quê vocês já fizeram até agora, Karenn?
– Nevra, eu não sei. Mas eu encomendei com a Purriry algo que possa ajudar a Cris a se proteger daquela gente. Nós dois estamos tão preocupados com essa viagem, quanto a senhora. E isso porque a Cris nem sonha com que tipo de lugar que ela terá de “visitar”!
Comecei a sentir dor de cabeça... – Está bem Karenn. Tentarei reunir os iguais da Cris, líderes da guarda e... mais algumas pessoas para vermos melhor sobre essa nova viagem. Vai fazer alguma coisa agora?
– Acabei de sair da Purriry. Preciso organizar algumas coisas pessoais e também prometi devolver o “sonho” para a Cris, antes do fim do dia. Mande alguém me avisar onde e quando nos reuniremos para tratar disso! Afinal... Eu estava presente no sonho, então também preciso estar presente na viagem.
– Poderia me deixar pelo menos copiar o conteúdo antes de sair? – questionava já pegando o material – A não ser que não se importe de ser eu a devolver o papel.
– Hum... Prometi que eu o devolveria até o final do dia, e não sei se será uma boa ideia ter cópias disso espalhadas por aí...
– Você e o Nevra são os únicos de Eel que poderiam saber que este sonho se refere à Yaqut atualmente. Ou você deixa o papel, ou deixa uma cópia, que por sinal, estarei usando uma tinta especial por conta dessa mesma razão que levantou agora.
– Então faça a cópia. E torçamos para que todo mundo pense que o original é o único que existe. Vai reunir todos de uma vez? Como aconteceu da última vez?
– Não. Primeiro conversarei com o Nevra, pois imagino que ele seja o mais interessado de todos nós nesta viagem...
– Também penso assim...
– Então, depois de falar com ele, é que decidirei como contatar os outros.
– A senhora é quem sabe! – declarou ela dando de ombros.
Fiz a cópia e a deixei sair de meu quarto, confiando-lhe o método de segurança física da Cris por lá. Como se já não bastasse os problemas cotidianos... Espero que aquele vampiro já tenha mesmo alguma ideia de como fazermos essa viagem de forma bem mais segura que a anterior. Não imaginei que a próxima viagem poderia ocorrer tão rápido assim. A Cris teria que dar um tempo no treinamento dela para poder se preparar, mas... Se quisermos evitar de fornecer chance de Apókries em captura-la, ela terá de seguir sua rotina normalmente.
Que situação...
Com a cópia na mão, comecei a analisar melhor o texto. Também peguei o transcrito do último sonho de viagem da Cris que pedi para ela fazer, e assim comparar os seus sonhos, para ver se existia algum tipo de padrão ou coisa parecida.
A única certeza é que a Karenn e o Nevra deverão acompanha-la. Os servos que a Cris comentou, o pai dos vampiros e a mulher mencionada no último retrato podem carregar a chave sobre o “o quê” que a Cris precisa estar fazendo ali.
Considerando o tipo da raça dos que vivem em Yaqut, e o fato de que não seria uma boa ideia a Cris interromper totalmente o seu treinamento, posso escalar o Leiftan a participar da viagem também. Junto de quem mais? Ezarel não vai dar. Ele deixou bem claro que só participaria de uma nova viagem no decorrer desde mês se fosse uma questão de vida ou morte, não sendo as “viagens de sonho” necessariamente o caso. Será que o Chrome aceitaria conhecer o futuro sogro? _risinho_ Isso certamente seria desconfortável para aquele lobo. E ainda precisaríamos de força bruta capaz de lidar com aqueles vampiros, sem arriscar expor o Lance, caso venha a ser necessário...
_longo suspiro_...Ondabrar
(alguns dias atrás...)
Bando de pascácios. Inaceitável! É inaceitável que eu tenha de permanecer nessas celas por mais tempo! Como me arrependo de ter ajudado a arrastar aquela humana nojenta até este reino. Aquela... Mistura de banki com verdheleon! Devia ter desconfiado que ela só me traria a ruína no momento em que a Emiery retornou de Eel. Mas eu tinha que ter cobiçado o poder dela!...
Perdi séculos de conquistas... em um pouco mais de um dia. MAS QUE ÓDIO!!!!
E não posso esquecer-me daquele arlequim fugido do érebro. A poção que ele trouxe só piorava cada vez mais as circunstâncias! E quase que acabei dizendo o que não devia hoje.
Desde que aqueles miseráveis fugiram de volta para Eel na sordina da noite, que eu venho sendo submetido à interrogatórios sob o efeito daquela poção. Revelando contra a minha vontade, muitas das coisas que tive de fazer para chegar onde cheguei. No entanto, não entendo bem o porquê, hoje o pirralho real decidiu me questionar sobre o natlig que tentou matar as trigêmeas.
** – Tenho uma pergunta me incomodando... Ondabrar, acaso você tem alguma relação com a morte do Llofudd? O elfo natlig que tentou contra a vida das trigêmeas?
Não esperava aquele tipo de pergunta, tentei conter a resposta, mas ela acabou por fugir da minha boca – ... Sim. – claro que todos ficaram chocados.
– Como? O que tens a ver com isso exatamente? E porque? – me questionava o Eru.
– Ele era um risco para mim. – respondi apenas e já encarando a responsável pela ampulheta que velava o tempo de efeito da poção.
– Um risco? – retrucava a princesinha – Que tipo de risco?
– A presença dos inimigos da Lys poderia estragar os meus próprios planos, então tinha de tomar providências. – (e essa areia que não termina logo de cair...)
– Compreendo o que diz. No entanto, auxiliar em sua morte não justifica tamanho medo. Não uma morte tão rápida assim. Você o conhecia de algum lugar por acaso? – mas que reizinho mais enfadonho...
– Não. Aquela era a primeira vez que ficávamos frente-à-frente. Nunca o havia visto antes.
– Estranho... – o quê que esse príncipe de araque está pensando... – Mas nos diga: ele ser inimigo da Lys era o único problema? Havia mais algum motivo para você querer se livrar dele tão rápido daquele jeito?
Maldito pirralho! Aquela era uma pergunta que eu não podia responder! Ao menos, não com a verdade. Tentei me segurar em responder e, antes que a resposta começasse a fugir dos meus lábios, o som de algo quebrando ou coisa assim chamou a atenção de todos. Eu mantive meus olhos na ampulheta e, enquanto todos se distraíam com o barulho, a tusmørke que cuidava da ampulheta trocou a que estava sendo usada por uma cujo tempo mostrado estava quase no fim! (porque ela está fazendo isso exatamente?)
– O que foi que aconteceu, guarda?
– Não foi nada majestade. Uma decoração caiu e se quebrou. Provavelmente por algum descuido de um dos responsáveis pela limpeza ou por traquinagem de alguma criança. – respondia o guarda que havia ido verificar a fonte do barulho.
– Limpem a bagunça então. E descubram quem foi o responsável por isso.
– Como ordenar majestade.
Eru respirou fundo junto de quase todo mundo que estava presente na sala do trono. Aquele incidente até havia quebrado parte da tensão que havia por causa do meu interrogatório (além de fornecer uma chance muito boa para aquela mulher).
– Vamos retomar. Ondabrar, você ia...
– Majestade, me perdoe. – era a mulher da ampulheta que interrompia – Não seria melhor deixarmos isso para amanhã? O tempo da poção está para acabar!
– Mas já?! Nosso tempo já se reduziu tanto assim?
– Olhe para a ampulheta você mesmo! Senhor Ondabrar, acaso há algum erro com o tempo marcado pela ampulheta que está à vista de todos?
– Não. – respondi sem remorsos – ela está funcionando como qualquer ampulheta. – (apesar de não ser a mesma de antes)
– Certo então. Levem Ondabrar de volta para sua cela. Não quero arriscar nenhum dos efeitos colaterais da Norns Visdom e nem começar a ouvir mentiras que ele venha a disfarçar de verdades por não termos visto o tempo acabar. **
Todos acataram a ordem de Eru e fui guiado de volta para as celas. A ampulheta substituída por aquela mulher, exibia que a poção só teria mais cinco minutos de efeito. Mas a verdade, é que eu ainda tinha pelo menos quinze minutos de efeito. Sendo que oito deles haviam sido gastos pelo percurso até a prisão. Nem cheguei a ver para onde que aquela mulher teria ido depois que Eru deu meu interrogatório como encerrado, mas assim que me vi sozinho comecei a me questionar.
(Aquela mulher fez aquilo para me ajudar?) – Não. – (fez para se ajudar?) – Sim. – ... (ela conhecia aquele natlig?) – Não. – (eram condiscípulos?) – Sim. – (condiscípulos? Então Sararm mentiu sobre ter mandado todos os seus subordinados saírem de Lund’Mulhingar?) – Sim.
Respirei fundo. Com toda a certeza Sararm ficou querendo ficar de olho em mim. Ao menos é o que eu faria! Mas ainda resta uma preocupação: o que ele pretende fazer em relação ao meu caso? Falei a ele sobre aquela poção assustadora, e aquela mulher acabou me salvando hoje!
Mas aquele ardil não funcionará uma segunda vez. O quê, se fosse eu, só me restaria duas soluções: ou me ajudava a fugir da prisão; ou me silenciava. E Sararm, apesar de toda a sua “clemência”, consegue ser mais mordaz do que eu. Lembro de ter ouvido boatos de que ele teria usado o assistente, que lhe fez perder o lugar no extinto Conselho de Magos, como cobaia em suas experiências e estudos da arte das trevas. Ele sempre foi assim. À primeira vista, é caprichoso como um bhemoth; para mais tarde se revelar um verdadeiro greifmar!
– Ei! Patife! Hora da refeição! – alertava o vigia das celas (em que só a minha estava ocupada) me atrapalhando em minhas reflexões – E seja rápido dessa vez! Para que possam lhe levar o prato logo.
– Não se preocupe amigo. Eu não me importo de espera-lo terminar. – falava a responsável de hoje por me trazer a comida.
– Um canalha como esse aí, fazendo uma beldade como você ficar esperando num lugar desses?? É inaceitável! – (um galanteador... _revirando os olhos_)
– Eu não me importo e... Ai não. Eu esqueci de trazer a agua!
– Não se preocupe, flor rara. Deixe que eu busco para você. Não demorarei nada!
– É muito gentil de sua parte... – (namorico na prisão...) – Eu lhe agradeço mesmo. – (quanta falta de classe!...)
Ouvi o enamorado correr para fora, com a portadora de minha refeição se encaminhando até mim. Não prestei atenção em quem vinha me servir porque queria continuar com os meus pensamentos sobre Sararm.
– Como foi o interrogatório hoje? Soube que algo estranho interrompeu. – ela me indagava pouco depois de ter me entregue o prato.
– Foi apenas uma decoração destruída. Nada muito sério. É impressão minha ou essa comida está meio amarga?
– Tem certeza que foi apenas isso? Quarta Cadeira Azul, Ondabrar Prezrivo Okrutno.
– Como?? – fiquei em choque – Mas... você é...
– O Mestre ordenou-me a observa-lo, para que assim ele pudesse aprender mais sobre o funcionamento da Norns Visdom.
– Só... observar-me?
– Mas é claro! Que não. – comecei a sentir que algo não estava certo comigo – Também fui ordenada a recuperar qualquer documento que envolvesse a Ēnukungi em Lund’Mulhingar!
– E... conseguiu, encontrar? – aos poucos sentia minha respiração pesar e meus membros enfraquecer.
– Foi uma verdadeira luta conseguir me aproximar dos seus documentos sem levantar suspeitas, mas a sua organização sobre essas coisas me ajudaram a encontrar o que queria. Não se preocupe! Já transformei tudo em cinzas.
– Mas... e, e quanto a mim? – comecei a sentir tonturas e acabei encarando o prato – Você, me envenenou?
– As ordens que recebi foram simples: “desapareça com as provas sobres nós em Lund’Mulhingar, e tome conta de meu velho amigo.” O Mestre conhece perfeitamente bem os meus métodos de trabalho, por isso não fiz nada que ele já não esperasse de mim.
– Ora sua!... – me desesperava. Aos poucos tinha cada vez mais dificuldades até mesmo para me manter sentado.
– Calma... Calma... Geralmente eu não dou tempo nem mesmo para que percebam o que foi que aconteceu, mas como você e o Mestre se conhecem... Achei melhor deixa-lo saber de tudo antes de dar adeus a este mundo, colocando uma dose bem inferior a que costumo usar para que eu pudesse explicar tudo.
– O... guarda...
– Direi ao guarda que você decidiu tirar um cochilo após provar da comida. E que me mandou dar uma volta para não ficar parada dentro desse lugar. – não estava interessado em deixar as coisas daquele jeito. Sararm, seu grande traidor – Opa! Cuidado com o seu prato! – me impedia ela de quebrar o prato para chamar atenção – Do contrário poderá ficar difícil de recolherem a comida envenenada.
– Você será... descoberta.
– Hum... Acho difícil... Já estou com tudo pronto para poder voltar para casa. Com a historia de você ter decidido visitar Morpheus, vão demorar para perceberem o que lhe aconteceu. E quando perceberem... Acredito que já estarei bem longe! – tentei contra-argumentar, mas minha voz já não saía mais e acabei caindo no chão – Acho que acabei reduzindo demais a dose... Lamento pelo sofrimento prolongado, mas pense pelo lado bom, você está finalmente livre de ter que beber daquela poção da verdade outra vez! Livre da agonia de tentar esconder inutilmente a verdade. E mais importante ainda! Não vai mais precisar se preocupar com o manter da promessa que existia entre você e o meu Mestre! – aquela mulher miserável... a pressão da poção da verdade era cem vezes mais confortável que a dor do veneno que essa criatura me deu – Já deu minha hora. Adeus senhor Ondabrar.
Declarou ela apoiando o prato, virado, próximo às grades. Minha visão já embaçava, mas pude acompanha-la partir tranquilamente daquele lugar. Sentia meu peito arder e meu corpo se contorcer, com minha visão ficando cada vez mais escura.
Várias lembranças acabaram se repassando em minha mente, especialmente aquelas com a participação do Sararm, aquele facínora... Mas não vou deixar as coisas assim... concentrei toda a força e magia que ainda tinha em mim para poder conseguir dizer um último encantamento. Meu presente de despedida para um velho partidário:
– Sararm, keu a wumumjula keu gu voemomnum ozalo, lunalhu jomo ny vag o gumgo guwywo wu nue wumwúg.
Quase que não conseguia terminar de falar. Só sei que, antes de terminar de dizer, já não sentia mais dor, e não enxergava mais nada.
.。.:*♡ Cap.146 ♡*:.。.
Cris
– Nada mal, Cris. Acho que já podemos parar para o almoço.
– Sério?! Verdade verdadeira Tomoe?!
– É Huang Tomoe Cris...
– Valkyon, por favor deixe-a me chamar da forma que ela preferir. Me sinto mais próxima dela assim.
– _suspiro_ Vamos logo comer...
Os treinos da Tomoe são sempre puxados, ainda bem que ela não faz questão de formalidades como quase todo mundo. Eu até consegui empatar pela primeira vez na vida com o meu chefe! A Tomoe pode ser barra pesada, mas nunca imaginei que poderia crescer tanto ao lado dela (O que me deixa em dúvida se isso é algo bom ou ruim... - Ah! Vê se não me enche! - Enche-la de incômodo ou de “afeto”. - _vermelha_ Tonto sem noção!).
Deixamos o campo de treinamento e seguimos para o salão. Almocei no “meu cantinho” mesmo, acompanhada apenas do Lance e do Leiftan. Tudo seguiu de boa, com o Leiftan me ensinando o que podia durante a refeição. Mas enquanto eu deixava o salão para poder tentar por tudo em prática, alguém me chamou.
– Voronwe?! Já está de volta!?
– Também pensei que iria demorar mais para voltar e... – ele me estendia um envelope – Minha Estrelinha me pediu para lhe entregar. Acho... que foi por causa de sua carta de despedida que ela ficou mais calma do que eu esperava depois de descobrir que havia sido “deixada” para trás.
– Ai. Tenho até medo do que irei ler. Mas me diz! O que foi que aconteceu? Pensei que você só retornaria depois de mais ou menos um mês.
– Aconteceram algumas coisas que o rei achou melhor informar a Guarda. – ele está encarando quem? – Aí eu vim, após ter a garantia de que Anya estaria bem.
– Que tipo de coisas?
– Cris. – era o Leiftan – Porque você não deixa para conversar com o Voronwe depois de ler a sua carta? Pode fazê-lo agora mesmo se quiser. Talvez... Você o faça com mais conforto em seu próprio quarto? Não precisa se preocupar com o treinamento agora.
– Mas e a Tomoe, Leiftan?
– Conversarei com ela depois. Leve-a guardião, e deixa que eu mesmo guio o nosso elfo até a Miiko.
– Mas...
– Ouviu o seu professor. – Lance começava a me empurrar – Vamos subindo que você não tem tantas chances assim para descansar do seu treinamento. – (Vocês estão me escondendo algo, não estão? - Se estamos ou não, mais cedo ou mais tarde você vai acabar descobrindo. Mas se prefere esgotar sua energia treinando ao invés de ter noticias da sua elfinha preferida... - Certo. Me convenceu.)
Parei de resistir e subi para o meu quarto com o Gelinho atrás. Outra hora eu coloco o Voronwe contra a parede. Se bem... que tenho até medo da possível bronca que Anya me mandou pela carta...
Entrando em meu quarto, Lance não perdeu tempo e se esticar na cadeira e colocar a máscara sobre a mesa – E então? Que noticias a Anya nos mandou?
– Está curioso? _sorriso sapeca_.
– Mas é claro! Aposto que a elfinha não perdeu chance para praticar suas habilidades de Sombra por lá.
– _riso_ Tem razão. – me sentava à mesa também – Ela com certeza encontrou um jeito de aprontar alguma coisa.
– Agora diz: eu leio a carta em voz alta, ou você o faz?
– Eu faço... _rindo_ _respira fundo_ Vamos lá.
“ Bonito, heim dona Cris...
Eu devia mesmo ter desconfiado pela forma com que você estava falando com todo mundo... Não perdi tempo em ler a sua carta ao vê-la no que abri meus olhos. Pelo menos dessa vez você se dignou de se despedir ao invés de sumir sem mais e nem menos.
“Desculpa, desculpa, desculpa”? Faça-me o favor Cris! E relaxa. Quando você menos esperar, já vou voltar a ficar assistindo os seus animês e ainda aproveito para ler alguns dos seus livros. Por isso pode ficar tranquila em relação aos meus estudos.
E falando sobre o Skjult Viden, eu realmente tirei a sorte grande! Sabe aquele meu traje especial que eu fiz seguindo os livros que ganhei das cheads? Acontece que ele é uma espécie de... TCC? É assim que você disse que é chamado o trabalho final de estudo sobre alguma coisa? Reunindo tudo o que foi aprendido? Pois bem, quando contei sobre a minha roupa para a Emiery no dia em que almoçamos juntas para nos conhecermos melhor, ela nem acreditou que eu já tinha conseguido construir aquilo sozinha! Mesmo depois de eu a ter mostrado para ela no meu corpo. Foi graças à ele que a Emiery teve a ideia de fazer aquele penteado no meu cabelo no dia do festim.
Quando foi no dia da reunião, ela já tinha me convencido a participar daquilo usando o meu armúr mistéireach. Você devia ter visto a cara que o Öğretim fez ao ver meu traje... De inicio ele quis dar bronca no meu pai e na Emiery, achando que tinham sido eles que haviam me ensinado sobre o armúr mistéireach antes da hora, mas eu não perdi tempo em revelar como foi que tudo de fato aconteceu. E gente!... Como eu devo agradecer aquele velho por ter escolhido a Emiery como minha mentora. Acredita que ele queria que eu des-tru-í-se a minha roupa só porque ela não “respeitava” os “costumes e crenças do povo élfico”? Por todos os deuses... Emiery não só conseguiu tirar essa tolice da cabeça dele com sua oratória, como também o convenceu a me permitir ter DOIS armúr mistéireach’s, já que estes trajes especiais carregam uma parte de nossa personalidade em sua construção. Não vejo a hora de aprender a falar que nem ela... Vai ser uma habilidade incrível para conseguir informações e manipular inimigos! (Para fazer o bem, é claro).
Falando em fazer o bem, aconteceu algo bem estranho alguns dias atrás. E aposto que nem meu pai e nem ninguém vai querer te contar. Não imediatamente, pelo menos. Sabe o Ondabrar? Ele está morto. Ninguém queria informar nada de forma concreta, mas dei meu jeitinho e consegui descobrir que isso teve dedo do pessoal que está te perseguindo. Parece que ele sabia de alguma coisa sobre a Ēnukungi e foi silenciado antes que revelasse algo que não devia com o uso da poção. Estou tentando descobrir mais sobre o assunto para te repassar caso ninguém lhe diga nada. E claro, sem me descuidar do meu Skjult Viden para que eu possa voltar logo para Eel.
Outra coisa interessante que também envolve a norns visdom. Depois das coisas que o rei ficou sabendo do interrogatório do elfo que atacou as trigêmeas durante o nosso banho, e testemunhar o poder da poção para fazer com que todos sempre digam a mais absoluta verdade, Eru, a pedido do pai do Ezarel, decidiu reunir todo o povo para colocar todas as crenças élficas em xeque para expulsar as injustiças do reino. Ele explicou os motivos dele ter decidido fazer aquilo; explicou sobre o funcionamento da poção (um dos motivos para estar fazendo aquilo, o estudo dos efeitos da poção); sorteou diante de todos aqueles que seriam colocados sob o efeito da poção onde, uma das trigêmeas, minha tia e o Öğretim acabaram fazendo parte do grupo de seis pessoas que participariam; e começou a fazer várias perguntas diante de todo mundo. E Cris... Você não tem i-dé-ia do efeito que isso causou no povo de Lund’Mulhingar.
Nessa e suas irmãs devem ter ficado de almas lavadas! Pois o preconceito criado por causa daquela mentira de sombra e luz foi completamente derrubado. Enquanto todos os elfos quiseram declarar aquele absurdo como verdade, Nessa (a trigêmea sorteada) foi a única que conseguiu declarar que aquilo era falso. Enquanto que a minha tia tentou que tentou declarar aquilo como algo legítimo e não uma superstição sem fundamento que é o que é. Junto de dezenas de mentiras que sempre haviam sido tratadas como verdades, e de verdades que eram vistas como mentiras.
E caramba! Isso me salvou de ter que aprender uma montanha de mentiras como verdades no meu Skjult Viden! Acho que isso já me reduziu bastante coisa dele... (^-^)
(p.s.= ainda não consegui confirmar, mas parece que uma das trigêmeas foi pedida em casamento depois que tudo acabou)
Deixe eu ver... Há mais alguma coisa que é bom que esteja lhe passando? Hãm... no momento nada me vem à cabeça para estar te escrevendo. A não ser que você siga as mesmas “ordens” que me deu em sua carta antes de desaparecer do reino. Dê o seu melhor no seu treinamento, sem abusar demais de si mesmo. E sem deixar de tomar cuidado com os possíveis inimigos que possam estar te rondando! Se tiver um tempinho, tente me escrever contando o quê de interessante lhe aconteceu e me atualiza sobre Eel.
Beijinho e até quando menos esperar,
Anya. ”
Meu. Deus.Lance
E eu que pensei que hoje seria mais um dia “comum”... Estranhei ver o pai da Anya de volta tão cedo, e a forma como ele encarou o Leiftan foi mais que suficiente para entender que alguma coisa séria havia acontecido. Até a Ladina reparou isso pela forma com que os dois ficaram tentando “se livrar” dela. A Ladina começou a ler a carta até que animada, mas, quando chegou na noticia sobre o velhote nojento... cheguei a pensar que ela não iria querer continuar com a leitura e, no que eu peguei gentilmente em sua mão, tudo o que ela fez foi forçar um sorriso e prosseguir com a leitura. As noticias que a Anya deu em seguida até que amenizaram um pouco a situação, mas não o suficiente para impedir da Cris ficar preocupada.
– Qual será que era a relação daquele velho com a Ēnukungi?... – ela questionava para consigo mesmo.
– Ladina... – lhe segurava a mão com as minhas duas – Seja lá o que for que ele tinha a ver com eles, o Ondabrar já não é mais uma ameaça para nós, já que está morto.
– Sei disso. Mas você não fica intrigado? Durante todo o tempo que falei com ele para obter provas, em momento algum ele mencionou nosso inimigo. E olha que ele não resistiu nem um pouco enquanto bêbado!
– Sim... eu lembro bem disso... E também não houve qualquer comentário sobre eles durante o julgamento daquela praga. Será que ele foi questionado sobre a morte do elfo que os atacou?
– O elfo que nos atacou? Fala daquele que tentou contra a vida das trigêmeas? – assenti com a cabeça – Mas porque pensou nele??
– Sei lá. Tive uma intuição que talvez Ondabrar tivesse tido alguma ligação com a morte do coitado.
– Coitado?!?!
– É! Aquele cara não havia se juntado com esses loucos apenas porque tinha sido discriminado sem motivo a vida inteira? Se não fosse por todos os absurdos vividos por ele, provavelmente ele nunca teria sequer cruzado o nosso caminho. Pelo menos não de forma tão negativa. – reparei que ela me encarava espantada e boquiaberta – O que foi? Disse algo errado?
– Não! Você não disse nada de errado. É que... Eu não esperava ouvir algo assim de você. Não ainda! – acabei corando. Mas será que eu mudei tanto assim ao lado dela?
– Errr... Bom. E o que você pretende fazer agora? Responder a carta de Anya; tentar fazer o Voronwe lhe contar mais sobre isso; ou apenas praticar seu treino de luz e esquecer que a Tomoe pode estar te esperando lá embaixo?
– Hum... Agora, no momento, não tenho muita coisa a estar repassando para Anya... Isso fora a visita do meu irmão com o tio da Erika.
– Isso com certeza iria deixar a pirralha chocada...
– _riso_ Sim, é verdade. E tenho certeza que ela não iria gostar de perder a primeira Sessão de Cinema de Eel.
– E também tem o seu sonho! Com a possibilidade de ser a sua próxima viagem...
– Verdade. Que por sinal!... Nem sei para onde seria...
– Pela cara que a Karenn fez, ela parece saber para onde.
– Também teve a sensação de que ela parecia reconhecer alguma coisa?
– Estaria mentindo se dissesse que não. No entanto, vamos aguardar um pouco mais para descobrirmos o que ela irá aprontar.
– Certo. Acho que você tem razão. – ficamos em silencio um pouco, com um fazendo carinho na mão do outro. Até alguém bater na porta – Oi Karenn! Já terminou de fazer sei lá o quê com o meu sonho?
– O que eu podia estar fazendo, sim. Por isso que estou lhe devolvendo agora. – ela estendia o pergaminho para a Ladina que logo o tomou para si.
– E o que foi que você fez. – perguntei sem interesse.
– Hãm... Sobre isso...
– O que foi Karenn?
– Relaxa Cris! Não há porque você se preocupar agora. Eu só o mostrei para três pessoas e mais ninguém.
– Que pessoas? – o que essa vampira está aprontando?
– Duas são a Miiko e o meu irmão, já que são eles que decidem a segurança das viagens da Cris.
– Então esse sonho foi mesmo um aviso?! Para onde que eu vou ter que ir??
– Olha Cris, a Miiko me disse para não lhe contar nada agora para que lhe fique mais fácil esconder tudo isso, mas lhe adiando que sei quem são a menininha, o rapaz e o senhor que você mencionou nesse sonho.
– E quanto à mulher do retrato? – questionei recordando o conteúdo.
– Essa eu não sei. Talvez o... crucifixo? Nos ajude a encontra-la.
– E você não pode me dizer mais nada sobre isso, Karenn? – droga... a Ladina já está ansiosa – Já recebi más noticias hoje.
– Más noticias? De quem?
– De Anya. – intervi – Reparou que o Voronwe retornou?
– Acho que ouvi a voz dele na Sala do Cristal instantes antes da Miiko e do Nevra entrarem lá. Estranhei porque ele deveria demorar mais para chegar, mas... O que a minha pequena aprendiz lhe informou é tão ruim assim?
– Talvez... Quer ler você mesma? – perguntava a Ladina voltando para a mesa e apoiando o rolo devolvido nela.
– Estaria mentindo se eu dissesse que não. Estou curiosa sobre os avanços dela em Lund’Mulhingar, mas... Minha presença não é um incômodo para o guardião mascarado?
– Te faço uma exceção. – declarei – Qualquer coisa para que a Cris fique mais tranquila.
– Muito obrigada então! – declarou ela sorrindo e eu acabei indo no banheiro.
Fiquei ouvindo as duas conversando sobre aquele nojento morto e acho que a Cris acabou esquecendo um pouco da viagem de sonho. Só que isso não a fez desistir de buscar respostas com a Reluzente...Miiko
– Pela sua cara, eu diria que você já tem algo em mente para trabalharmos, Nevra. – Karenn disse que tinha acabado de ver a Purriry quando me avisou, e que logo o Nevra me procuraria também.
– Realmente. Irei atrasar a documentação da Sombra mais um pouco porque passei a manhã toda elaborando um plano de viagem. – o ruim foi que ele apareceu em minha porta bem dizer no horário do almoço.
– Hunf! Espero que essa sua ideia realmente seja funcional. Kero me disse que a Sombra está mais atrasada que a Absinto! E você sempre foi o primeiro a colocar toda a papelada em dia. – (ai dele se ele não conseguir fazer essa nova viagem ser segura!)
– Admito que não ando me reconhecendo neste quesito, mas foi graças à essa papelada que pude bolar alguma coisa.
– Que seria... Sério Nevra, não me enrole. Sabe o quanto fico nervosa quando com fome.
– Tentarei ser o mais direto possível. Entre as solicitações que eu tinha de analisar, encontrei uma que pedia mantimentos e ao menos um investigador para um vilarejo que, por graça do destino... Se encontra bem no meio do caminho até Yaqut.
– Deixe-me adivinhar: pretender usar essa missão para esconder a Cris?
– Acha ruim a ideia de esconder ela e o Gelinho na carroça dos mantimentos até estarmos longe daqui?
– Não necessariamente. Mas aí ela não iria poder levar muitas pessoas consigo.
– A menos que algum umbracinesiano busque o restante das pessoas que viajarão com ela quando já estivermos na vila! E eu já enviei uma mensagem para a minha mãe pedindo a intervenção dela para que esse encontro ocorra da forma mais amigável possível.
– E você acha que ela irá ajudar?
– Bom, apesar de todo o conservadorismo dela, ela é mais flexível que qualquer outro vampiro de lá! Por isso estou torcendo pelo sim.
– Entendi. – estou com um mau pressentimento... – Fale-me mais sobre essa missão de fachada que usaremos.
– É o seguinte, o vilare... – mais alguém me batia à porta... _revirando os olhos_
– Leiftan, estou tendo de uma reunião complicada aqui.
– Nesse caso Miiko, aconselho-a a continua-la na Sala do Cristal. O Voronwe está lá.
– Voronwe?! – Nevra se adiantava – Mas o que ele faz tão cedo aqui?
– Boa coisa que não é. – minha dor de cabeça está voltando... – Vamos logo ao encontro dele. Espero que isso não afete os seus planos Nevra.
– Sim senhora.
Seguimos juntos até a Sala do Cristal, e eu sabia que só pelo fato do Voronwe ter retornado antes do esperado, más noticias me aguardavam. E quando o vi... Não podia ter mais certeza disso.
– Miiko! Finalmente a senhora chegou.
– Antes de mais nada Voronwe, deixe-me avisa-lo que estou com dor-de-cabeça, por isso seja o mais claro e direto que puder sobre o assunto urgente.
– Se é assim... Ondabrar foi assassinato.
– É o QuÊ?! – berramos quase todos juntos.
– E pelo o que confirmamos, a Ēnukungi foi a responsável. – senti um arrepio na espinha.
– Ondabrar tinha ligação com os nossos inimigos? – era o Nevra – Como chegaram a essa conclusão?
– Acho... Melhor reunirmos os interessados ao assunto primeiro. Com exceção da Cris. – sugeria o Leiftan.
– Faça isso. E faça para ontem! – ordenei fechando meus olhos com a destra sobre minha fronte e respirando fundo para me acalmar e acalmar a dor-de-cabeça.
Enquanto esperava a chegada de todos, fiz o máximo para não pensar nos problemas e assim relaxar só um pouquinho para poder tomar as melhores decisões possíveis naquele momento. Não sei ao certo quanto tempo se passou durante minha tentativa de lassidão, mas não demorou muito para que todos estivessem reunidos.
– O que foi que aconteceu? E Voronwe, pensei que o seu retorno antecipado era apenas boato!
– Bem que eu gostaria que tivesse sido o caso, Erika.
– O que foi que aconteceu em Lund’Mulhingar para você já estar aqui? Por acaso a sua Estrelinha estava dando tanto trabalho que você decidiu fugir?!
– Essa não é a melhor hora para se fazer piadas, Ezarel...
– Voronwe está certo, Ezarel. – respirei fundo para começarmos – Agora, conte-nos desde o começo que historia é essa da Ēnukungi ter assassinado o Ondabrar.
– É o quê!? – arregalava o Ezarel os olhos com todos os demais compartilhando o seu espanto pela novidade.
– Como desejar. O último interrogatório feito com ele, acabou interrompido logo após Ondabrar ter confirmado, mediante o questionamento do príncipe, ter tido participação na morte de Llofrudd, o elfo que tentou contra a vida das damas de companhia da Lys por lá. Depois de averiguado que o que havia interrompido não era nada de mais, a mulher que havia sido colocada como responsável para velar pelo tempo de duração da poção alertou-nos que já não tínhamos mais tanto tempo e, para evitar mentiras entre verdades, o rei decidiu continuar no dia seguinte.
– Perdão pelo interrompimento. – era o Nevra – Mas não lhes parece muita coincidência o interrogatório ser interrompido em um momento desses?
– E com o tempo da poção se esvaindo bem na hora também. – complementava o Leiftan.
– Lhe havia sido dado o limite máximo da poção. Uma hora e meia. E esse questionamento veio perto do fim mesmo.
– Independente das condições, não deixa de ser algo oportuno. – refletia o Valkyon – Mas por qual motivo ele foi questionado sobre esse assunto?
– Também tive essa curiosidade e fui falar com o príncipe. Ao que parece, ele teve essa ideia por causa do guardião da Cris. E como Ondabrar tinha sido o último a falar com Llofrudd, parecia lógico tirar essa dúvida. Apesar de não parecer haver ligações de inicio...
Acho que o Lance ainda não parou de enxergar o pior de todo mundo... – Mas voltando ao assunto primário, Voronwe: como que vocês descobriram que Ondabrar havia sido assassinado? E justo por alguém da Ēnukungi?
– O responsável por lhe levar o desjejum o encontrou caído no chão de sua cela, com o prato do jantar do lado de fora, e cuidadosamente virado. Nisso Luthien foi imediatamente chamada e, após análises, foi encontrado veneno de mamona-espirradeira na comida que lhe tinha sido entregue como jantar.
– Ok, isso mostra que ele foi assassinado, mas como confirmaram que foi de fato o pessoal de Apókries que o eliminou e não alguém querendo vingança dos atos dele?
– Nós usamos a Norns Visdom, Erika. E foi o pai do Ezarel quem fez auto-questionamento não só para filtrarmos a verdade, como também para estudar os efeitos da poção por si mesmo.
– Consegue se lembrar quais foram as perguntas utilizadas para isso?
– Se bem me lembro, Ezarel, as que receberam “sim” foram: “foi um membro da Ēnukungi que o matou?”; “quem o matou estava presente no interrogatório?”; “Ondabrar tinha alguma informação que poderia ser uma ameaça para a Ēnukungi se revelada?”; “ele conhecia alguém importante dentro da Ēnukungi?”; e várias outras que só nos ajudou a reduzir a possibilidades de relação entre o ex-conselheiro e a Ēnukungi.
– Interessante. E o que foi que vocês conseguiram descobrir com toda essa filtragem. – Nevra parecia ser quem mais prestava atenção.
– Que ele conhecia o líder da Ēnukungi; esse líder é alguém que já trabalhou com ele no passado, não sendo um elfo; Ondabrar sabia onde eles se escondem em Apókries atualmente; e que a pessoa que o envenenou também foi o responsável pelo interromper de seu interrogatório.
– Maldição! – me excedi por um instante – Não acredito que tivemos informações tão preciosas assim arrancadas de nossas mãos!... – todo mundo pareceu tentar se recuperar desse bague – Certo. Há mais alguma coisa que tenha sido o motivo de seu retorno antecipado?
– Não senhora, Miiko.
– E vocês não estão fazendo nada para conseguirem se aprofundar mais nessas informações adquiridas?
– Um grupo foi formado para estudar os documentos guardados pelo Ondabrar, mas... O responsável pela sua morte, que já foi identificado, se apresou em transformar tudo o que lhes era perigoso em cinzas.
– Deixe-me adivinhar... O responsável por todo esse desastre não teria sido a mulher que ficou responsável pelo controle de tempo da poção, foi?
– Precisamente Nevra. – novas reações de pesar surgiram – E ela já havia deixado o reino há muito tempo quando descobriram a morte do ex-conselheiro.
– Bem... Já não nos adianta mais ficar chorando o leite derramado. Tem alguma outra coisa que queira tratar com todos nós Miiko?
– Já que você comentou Erika, acho que podemos aproveitar que está quase todo mundo aqui para lidarmos com um outro assunto.
– “Quase” todo mundo? Quem está faltando ainda, Miiko?
– Acho que ela está se referindo aos participantes da próxima viagem de sonho da Cris, Ezarel.
– Quê?! Ela já teve um novo sonho?!
– Teve sim Ezarel. – e essa dor-de-cabeça... – E o próximo local é ainda mais complicado que Lund’Mulhingar...
– E para onde que eu vou ter que ir dessa vez? – (Pelo Oráculo! De onde foi que a Cris saiu?).
.。.:*♡ Cap.147 ♡*:.。.
Cris
Após conversar um pouco com a Karenn sobre as possibilidades em relação à morte de Ondabrar, decidi junto dela ir atrás de sondar a reunião que a Miiko estava tendo com o Voronwe. Não sei o quanto da reunião eu perdi, com a Karenn e o Gelinho ao meu lado, mas descobrir que Ondabrar sabe o nome de quem está no meu pé foi mais que suficiente para eu não querer mais justificações daquela gente para o silenciar eternamente. O quão monstruoso aquele velho conseguia ser??
Lance já havia tentado me convencer a não bancar a espiã com a Karenn antes de descermos, e depois de ficar sabendo daquilo, ele ficou querendo me arrastar de volta para o quarto, mas... com o pronunciar de informações sobre a minha próxima viagem de sonho, eu é que não ficaria no escuro.
– E para onde que vou ter que ir dessa vez? – entrei de supetão, surpreendendo todo mundo.
– Cris?! Há quanto tempo você está aí?
– Só o suficiente para descobrir o porquê daquele asqueroso estar morto, Erika.
– QuÊ! Mas como que... – balançava a carta de Anya para o Voronwe – Não acredito. Minha Estrelinha conseguiu descobrir isso?!
– Se estiver se referindo ao fato de Ondabrar ter sido morto pelo pessoal de Apókries que não larga do meu pé, sim ela conseguiu.
– Porque é que eu não estou surpreso... – revirava os olhos o Ezarel.
– Mas ela não teve tempo de descobrir o porquê disso ter acontecido. E nem por isso ela desistiu. Ela me disse que faria o possível para descobrir o que podia para estar me repassando. Anya sim é alguém em quem posso confiar para obter a verdade.
– Ótimo! A Estrelinha do Berserker será uma “Karenn segunda”!
– Ei! Não fale assim de minha aprendiz! Adquirimento de informações sigilosas é uma das habilidades da Sombra, esqueceu?
– Ah, claro! Se com “informações sigilosas” você também estiver se referindo à fofocas...
– Ezarel, cale-se! – Miiko encerrava a discussão – Já temos problemas mais que suficientes para ter que lidar com picuinhas desnecessárias também.
– E aí?! Para onde que eu vou dessa vez?
– Digamos, que o seu próximo destino fica aos arredores de um oásis. – respondia o Nevra a contragosto.
– Um oásis? Não tinha nada se parecendo com um deserto em meu sonho...
– E nem será seu percurso direto também.
– Do que está falando Nevra? – Valkyon se mostrava confuso assim como eu.
– Aposto que ele já planejou os desvios para evitar gente indesejada, Valkyon.
– Algo assim, Ezarel. – explicava o Nevra um pouco descontente.
– Sou toda ouvidos. – declarei cruzando os braços e encarando ele.
– Existe um pedido de ajuda para uma vila que fica no caminho para o lugar em que você terá de ir, Cris. Nevra estava me explicando tudo antes do Leiftan me chamar por causa do Voronwe.
– E o que exatamente essa vila tem a ver? Pretendem usarem o pedido de ajuda deles para esconder a Cris por parte do caminho?
– Precisamente Erika. E quando já estivermos lá na vila, Absol pode buscar através da umbracinese os outros que irão participar da viagem.
– A ideia não parece ruim. – palpitava o Leiftan – Mas quem seriam os participantes dessa vez?
– Eu já decidi. Os que irão acompanhar a Cris são: o Nevra, a Karenn, o Chrome, o Valkyon e você Leiftan. Mas, como a Cris está mais atrasada na aprendizagem do domínio da luz, acho que quero que a Erika os acompanhe também para poder auxiliar no treinamento.
– Um minuto Miiko. Você quer que eu continue treinando durante a viagem?
– Nosso tempo está esgotando, e eu só estou mandando o seu mestre de luz. Você pode voltar a treinar todos os seus elementos, juntos e misturados, depois que voltar.
– Tudo bem. Ok. Mas que vila é essa e o que exatamente ela está pedindo da gente? E quem que irá para a vila e quem que ficará esperando por Absol? – questionava a Karenn com um tom neutro.
– É a vila de Yah-navad’y. Eles estão com poucos recursos, alimentícios e medicinais, porque algo ou alguém está afanando tudo. Tentaram descobrir o/os responsáveis sozinhos, mas a situação começou a ficar crítica e agora estão pedindo ajuda tanto para descobrir o causador do problema, quanto para obterem mais recursos. – explicava o Nevra.
– Sem dúvidas este é um problema sério. O que acha Miiko, para levantar menos suspeitas podemos mandar a Karenn e o Chrome.
– Mas aí não estaríamos enviando dois investigadores, Valkyon?
– Acha que uma pessoa sozinha pode defender uma carroça de mantimentos de um inimigo desconhecido e ainda fazer a investigação, Voronwe? E até onde eu sei, os dois são uma dupla: Chrome com conhecimento alquímico e Karenn com habilidade física. Na verdade, acho que eu gostaria de poder acompanha-los também para o quesito de força bruta.
– Sua sugestão é muito boa, Valkyon. Chrome é de fato o melhor alquimista da Sombra, e minha irmã tem potencial para ser a melhor lutadora também. Alguém mais velho para mantê-los na linha durante o trabalho seria ótimo também.
– Nevra, meu irmão querido... Chrome e eu já somos adultos.
– E extremamente “próximos” também, ao que me lembro. – a Karenn ficou vermelha. Com alguns a imitando e outros fingindo uma tosse.
– Tudo bem. Tudo bem. Enviarei os três para a missão de Yah-navad’y. Mas quero que explique direitinho qual que é a sua ideia para realizarmos essa viagem.
– Certo. É o seguinte.
Nevra explicou que a carroça com os mantimentos seria preparada aos olhos de todos, mas Absol os acompanhariam às escondidas até fora da cidade. Depois que eles entrassem na floresta, Absol buscaria a mim e ao Gelinho, mas nos faria aparecer dentro da carroça em um espaço já preparado para nos escondermos até chegarmos na tal vila. A poucos metros dela, eu e o Gelinho deixaríamos a carroça e fingiríamos fazer parte do grupo desde o começo. Mentiríamos quem éramos se isso se mostrasse necessário. Quando já estivéssemos devidamente instalados na vila, Absol iria buscar o restante dos membros de minha comitiva e, assim que o problema da vila estivesse resolvido... Partiríamos para o meu verdadeiro destino. Achei tudo um pouco cansativo, mas se isso me poupar de ter metade dos problemas que tivemos até Lund’Mulhingar... Que seja!
Como o Chrome era o único participante ausente nessa reunião, Karenn se encarregou de repassar a missão que fariam a ele. Logo saímos para começar nossos preparativos e espero que estejamos em uma época boa para se viajar pro deserto. Já me é meio difícil lidar com o calor do nordeste brasileiro, pois meu pai é cearense, então como é que eu vou ficar em um deserto?Leiftan
Estava surpreso pelo retorno precoce de Voronwe, e fiquei pasmo com o motivo que o fez voltar mais cedo. Mas o que me impressionou mesmo, foi o fato da Cris já ter uma nova viagem para ser organizada o mais rápido possível.
De acordo Nevra ia explicando o seu plano para garantirmos a segurança da Cris, mais eu ia reparando que o nome do local para qual iriamos de verdade, não era citado por ninguém. Na hora ignorei, pois sabia que devia ter um excelente motivo para nem ele e nem a Miiko o fazerem, e como eu ainda não tinha ouvido falar naquela vila, não conseguia imaginar de qual deserto estávamos tratando.
Quando a maior parte do plano estava explicado, Miiko decidiu terminar a reunião por ali, por enquanto. Karenn não perdeu tempo em ir atrás do Chrome para dar o aviso da nova missão que fariam, e Voronwe acompanhou a Cris (e o Lance) para fora na intenção de saber o que mais Anya lhe tinha contado por meio da carta dela. No que ficou somente a Miiko, o Nevra, Ezarel, Valkyon, Erika e eu dentro daquela sala, encarei a kitsune e o vampiro já os questionando.
– A Cris já se foi, agora poderiam por favor nos dizer aonde de verdade que ela estará indo?
– _longo suspiro_ Acho... que agora é seguro dizer. Nevra?...
– Certo. Lá vai. A Cris estará “visitando” os meus pais. É o bastante para todos entenderem?
Fiquei estático por um momento. E acho que não fui o único a entrar em verdadeiro choque com o que Nevra havia dito.
– Enlouqueceu?!? – reclamava o Ezarel antes que qualquer um tivesse tido a chance de falar algo – Vamos enviar a Paladina para um lugar onde ela pode ser feita de refeição num instante?!? E a Miiko ainda pretende enviar a Erika de sobremesa!...
– Menos Ezarel! Pelo amor de Deus!
– A Erika tem razão. – comentava após recuperar o raciocínio – Mais cedo eu vi a Karenn pedindo para conversar em particular com a Purriry, então imagino que já estejam sendo tomadas as devidas precauções.
– Sim, e você é a minha precaução extra, Leiftan. Não estou te enviando apenas como professor, mas também como assistente de guarda para o Gelinho e o Absol. Com sorte, aqueles dois terão menos problemas em cumprir essa tarefa, como tiveram em Lund’Mulhingar, se houver mais alguém os ajudando.
– E quanto ao nosso casalzinho? Está pensando em usar a Erika como distração e o Valkyon como guarda-costas dela? – encarei o Ezarel fazendo o possível para conter o sangue fervente dentro de mim.
– Ezarel, lhe aconselho a não brincar com fogo aqui. – alertava o Valkyon com seriedade – Não pense que irei ignorar você outra vez se tiver a coragem de repetir tamanho absurdo novamente.
– Permita-me fazer-lhe companhia, Valkyon. – completei a ameaça dentro de minha fúria silenciosa e ver o azulado engolir seco me deu um leve conforto.
– Muito bem. Já chega! Ezarel, não me obrigue a força-lo a trabalhar com o Karuto por um mês inteiro por causa dessas suas piadas sem graça! – Miiko cortava a tensão – A Cris não é a única que precisa melhorar seus poderes de luz até o solstício, por isso que quero enviar a Erika junto, para que ela se desenvolva mais depressa junto da Cris. Você pode cuidar disso, não pode Leiftan?
– Se o Valkyon puder ajudar a garantir a segurança dela, imagino que sim. Mas continuará sendo uma carga pesada para mim se os membros da Sombra não puderem nos reforçar.
– Tenha a certeza de que faremos isso, Leiftan. E Erika, só por sugestão, mas porque você não corre até a Purriry e encomenda com ela o mesmo traje de proteção que a Karenn pediu para a Cris?
– Sua sugestão é mais que bem vinda. Vou ver até mesmo se eu consigo ajuda-la em alguma coisa. Com a licença de todos. – terminou de responder ela já deixando a Sala do Cristal.
– Nos diga Nevra: o quê mais precisamos saber em relação à essa viagem? Alguém pode nos dizer como é que foi esse sonho da Cris?
– Eu tenho uma cópia do sonho comigo, Valkyon. – Miiko mostrava um rolo de papel – Copiei usando tinta especial para que ninguém descubra de imediato.
– Tudo bem se eu ler? – pedi já estendendo minha mão em direção do documento.
– Faça-o em voz alta. Assim todos ficam cientes.
– Todos, menos a Erika e o Chrome. – não teve um que não encarou aquele elfo tagarela – Que foi? Dessa vez eu não fiz nenhuma piada.
Respirei fundo para depois ler o texto. Fiz a leitura com bastante calma e atenção, no intuito de encontrar alguma pista sobre o “o quê” que a Cris teria de estar resolvendo por lá. E devo confessar que alguns detalhes me chamou a atenção consideravelmente.
– Nevra, poderia por favor me explicar como exatamente um humano consegue tornar-se um vampiro? – questionei ao acabar a leitura.
– Um humano precisa receber o sangue de um vampiro puro quando estiver entre a vida e a morte por causa de uma mordida. E também sobreviver ao processo de transmutação que é extremamente doloroso.
– Chances de sucesso?
– De vinte humanos, geralmente só um consegue, Valkyon.
– Todos os outros dezenove morrem? – perguntava o Ezarel agora levando o assunto à sério.
– Se tiverem sorte, sim. Caso contrário, eles acabam se tornando “servos”, onde as possibilidades são de cinco em vinte.
– Imagino que os empregados presentes no sonho da Cris sejam estes “servos”. – refletia a Miiko – Eles podem nos fornecer algum problema?
– Depende da ordem que tiverem recebido. Os “servos” são como... Golens de carne. Obedecem ao seu criador sem reclamar até o fim, independente do que lhes aconteça. Totalmente desprovidos de livre arbítrio.
– Uma realidade bastante triste. – comentava – E pelo o que pude observar, seus pais parecem terem crescido bastante os seus negócios.
– Estou alimentando a esperança que, por fim a essas atividades, seja uma das tarefas que a Cris tem por lá.
– Fornecimento de “comida” e “mão-de-obra barata”. Nevra, se nós finalmente conseguirmos obter as provas de que os vampiros de Yaqut quebram parte dos acordos de paz criados no fim das Guerras dos Portais, nós com certeza teremos dado um grande passo para tornar Eldarya um mundo decente.
– Concordo Miiko. Mas termos de enviar a Cris para lá, não deixa de ser algo muito perigoso. Se não se importar Nevra, gostaria que você tentasse participar um pouco mais do treinamento de minha subordinada para que ela possa estar um pouco mais preparada par lidar com um vampiro, caso necessário.
– Será um prazer Valkyon. Na verdade, antes de procurar a Miiko, eu me concentrei em trabalhar nos planos de viagem justamente para poder me focar nisso. Espero que não se importe de eu colocar a Karenn e outros vampiros para ajudar, pois, se tal situação vier de fato a acontecer, não creio que só haverá um vampiro para ela ter de lidar.
– Se não for pedir muito, Nevra, eu também gostaria de experimentar uma simulação dessas. Não que eu não confie na capacidade de proteção de um dragão, mas quero e preciso estar preparado para qualquer situação.
– Essa é uma boa ideia, Leiftan. Ordeno que todos os que participarão da missão faça pelo menos uma hora de treino para prevenir tal situação. Estão todos compreendidos?
– Sim, Miiko. – respondemos todos em uníssono.
– Certo. Vocês partirão no dia seguinte ao término dos trajes encomendados para nossas faelianas, estejam todos preparados. Nevra, me acompanhe para conversamos com o Kero sobre a missão de Yah-navad’y, e PELO ÓRACULO, não deixem a Cris perceber para onde que ela estará indo antes de entrar no deserto!Cris 2
Depois de conversar um pouco com o Voronwe, onde ele me repassou mais detalhes das coisas que Anya me escreveu, voltei para o meu quarto e fui deixar minha bagagem pronta para quando fosse a hora de partir.
– O que me aconselha a levar para o deserto Gelinho? Você já esteve em um antes? – perguntava estendendo algumas das roupas mais frescas e cobertas que tinha no guarda-roupas sobre a cama.
– Sim, já estive. Acho que você pode optar pelas mais claras que colocou aí, mas dê preferencia às mais leves. Quanto menos peso tivermos que carregar em um deserto, melhor.
– Algum palpite de para onde estaremos indo? Quantos desertos existem em Eldarya?
– Não muitos. O maior deles é praticamente desconhecido pelos faerys, e entre os já explorados, o maior leva um mês para ser atravessado de ponta à ponta.
– E o menor deles?...
– Acho que uma semana basta. Aonde será que o Black-dog anda? Já tem dias que eu não o vejo!
– Tem toda a razão. Desde que retornamos de Lund’Mulhingar que Absol está mais ausente que presente. Até parece que... – senti um arrepio com o meu pensamento – Que algo semelhante ao que aconteceu no dia do meu aniversário pode vir a ocorrer.
– Nem pense em tal Absurdo! Não permitirei tal coisa de jeito nenhum!
– Como pode ter essa certeza? Conhece o futuro por acaso?
– Não. Mas... – ele começou a se aproximar de mim – Independente de poder ou não saber o futuro!... – ele começou a abraçar-me – Faria qualquer coisa para protege-la _selinho_.
– Às vezes me pergunto o quão determinadas são as suas palavras... _revira olhos_
– Não acredita em mim? – seus braços continuavam firmes ao meu redor.
– Bem. Você já se arriscou por mim algumas vezes, mas... Também já me apontou uma lâmina... _sorriso sapeca_
– Estava cego. E insistia em me manter assim. Só que... – suas mãos passeiam enquanto seus olhos não desviavam de mim – Eu devia ter aceitado a luz que havia diante de mim e... – ele se aproximou de meu rosto – Lhe enchido de carícias desde o começo. – sussurrou ele ao pé do meu ouvido já me enchendo de beijos no pescoço.
Aos poucos aquilo estava se tornando uma cena quente, mas um latido seguido de um choramingo interrompeu.
– Absol? – Absol estava em frente à poltrona – Aonde que você estava, rapaz! – falei deixando o Lance respirando fundo para trás – E o que é que você tem aí?
– Mas o que é tudo isso? – se interessava o Lance quando coloquei o “presente” do Absol sobre a mesa, no caso, seis pulseiras – Mas isso... Não. Não pode ser.
– O que é que não pode ser, Lance.
– Me deixe ver as suas Contas de Ovira por um instante. – não gostei de sua preocupação, mas lhe estendi o meu pulso, e o Lance comparou, cuidadosamente, cada uma daquelas pulseiras com a minha. A cara que ele fazia ao terminar de examinar cada uma delas não me agradava muito... – Infelizmente, não há erro.
– O quê, não há erro?
– Tudo isso são Contas de Ovira.
– Quê!?! Mas são muitas! E eu já tenho uma.
– Olha... Vamos fazer o seguinte: coloque todas elas junto com a bagagem do deserto. Espero estar errado, mas acho que elas serão necessárias. Ou Absol não teria tido o trabalho de juntar tantas. – declarava ele já as juntando e levando para junto das roupas sobre a cama.
– Se é assim, fique com uma desde já.
– Não vai adiantar comigo agora.
– E por quê?
– Porque eu nunca tive meu corpo controlado antes como no dia em que a forcei a me acompanhar até o meu esconderijo pela primeira vez. Sem essa experiência, elas não passam de simples pulseiras para mim.
– OK... Mas... Você ainda tem daquele pó horroroso que usou em mim?
– O que tem em mente?
– Se o problema é ter vivido algo como aquilo... Controlo você um pouco apenas para que aceite a minha oferta.
– Acho que fiquei com medo agora...Lance
A Karenn e a minha Ladina são mesmo uma combinação perigosa. Não tinha lógica que conseguisse convencer aquelas duas de desistirem de espiar a conversa do Voronwe. E me pergunto se existe alguém capaz de fazer a Ladina recuar, não importa a situação.
O “plano” elaborado pelo Nevra me deixou intrigado. E estava óbvio que todos procuravam esconder o nome do lugar apresentado pelo sonho da Cris. Se não fosse o fato de eu não poder me afastar dela, eu teria ficado na Sala apenas para saber quais eram as informações que eles estavam escondendo dela.
Fiquei fazendo o possível para não repassar minha inquietação para a Ladina enquanto ela conversava com o elfo sobre a carta de Anya, e acabei recebendo ajuda de minha “informante favorita”...
“E aí, Gelinho! Sentiu minha falta?” – (Você quer que eu seja realmente sincero?) – “Vou fingir que não ouvi isso.” – (Apareceu para me contar algo importante ou foi só para me irritar.) – “As duas coisas, hehe.” – _respirando fundo_ – “Certo. Falando sério agora. Você deve estar querendo saber para onde que a Cris tem de ir agora e aonde que Absol anda.” – (E as respostas seriam...) – “Bem. Digamos que o destino principal de...” – (Destino principal? A tal vila que usaremos de fachada também faz parte do caminho dela?) – “Sim. Faz parte. Mas se me interromper outra vez não irei contar mais nada.” – ela não parecia estar brincando, então apenas continuei fingindo prestar atenção na conversa que a Ladina e o berserker tinham – “Muito bem. Como eu estava dizendo, o destino principal dela, não é lá o melhor lugar para um humano visitar...” – (Como assim?) me preocupei – “Tenho certeza de que você irá perceber se refletir um pouco mais. Ainda mais depois que Absol chegar trazendo um item de segurança que será bastante útil por lá.” – (Que item de segurança? Ela já está praticamente blindada no quesito magia!) – “Ela não vai ser a única que pode vir a precisar deste item. Por isso que apareci para que você garanta que a Cris coloque tudo o que Absol trouxer na bagagem. Ah! E antes que eu me esqueça! Se a Cris lhe fizer um pedido “desagradável” hoje, lhe recomendo a atende-lo.” – (Pedido desagradável?! Mas do que é qu...)
Sumiu. Praga! Um lugar inóspito para humanos? E que precisarão de um item de segurança para todos?! Minhas únicas pistas extras é o deserto e o fato de Karenn e Nevra parecerem saber que lugar é este. Terei de aguardar a chegada do black-dog para tentar encaixar esse quebra-cabeça.
E o mais preocupante: que tipo de pedido a Ladina poderia me fazer para que eu considere “desagradável”? Ainda mais um que é melhor eu não estar negando... _suspiro_ É melhor eu esperar pelo Absol para continuar pensando nisso tudo. E torcer! Para que tal “pedido” de minha Ladina não seja nada que me coloque em risco.
Esperei pacientemente pelo término daquela conversa que pareceria estar fazendo minha Ladina se divertir, para depois começarmos a preparar nossas coisas.
De volta ao quarto, enquanto ela corria para o chuveiro, eu preparava minha bagagem (roupas de baixo, itens de higiene, primeiros-socorros, meu bloco de notas sobre a armadura e dois ou três itens que pudessem ser úteis). Terminei de arrumar tudo bem na hora que ela acabou o banho. Sendo a minha vez de banhar-me, o que fiz rápido.
Deixando o banheiro limpo, a Ladina ainda nem tinha escolhido o que levar ainda. Eu já estava carregando preocupações suficientes em relação a essa viagem, a Ladina não tinha que se desgastar com isso também. Planejava fazer nós dois esquecermos um pouco desse mistério, mas o black-dog apareceu para estragar tudo.
Eu já estava começando a ficar com dor de cabeça, mas... no instante em que coloquei meus olhos no que Absol havia trazido... (“Tenho certeza de que você irá perceber se refletir um pouco mais. Ainda mais depois que Absol chegar trazendo um item de segurança que será bastante útil por lá.”) Queria não ter recordado o aviso da Negra. E muito menos confirmado o que era aquilo! Mas tive de fazê-lo para acreditar...
A primeira coisa que me veio à mente quando vi aquelas contas, foi o que a Ladina me contou ter acontecido quando o Nevra perdeu o auto-controle com ela: o poder hipnótico dos vampiros. E havia contas suficientes para todos! Esse detalhe me fez acordar para o fato de que o clã do qual ele e a irmã faziam parte, moram no deserto. E como a própria peste havia comentado, aquele é um péssimo lugar para se levar humanos, considerando o tipo de vida levada lá. Mas preciso confessar, ficar à plena mercê da Ladina me deixa bem mais assustado.
– Medo de quê, Lance? Aposto que aquela coisa é mais segura que a dobra de sangue.
– Não duvido disso. – argumentava a observando ir atrás do grimório dela – E corro um sério risco de irrita-la se eu disser o porquê de não ser muito a favor.
– Tá. Vou ignorar isso. Mas você ainda tem daquela porcaria ou teremos de fazer mais? Qual é a página certa? – ela folheava o livro.
– Nada do que eu dizer vai lhe fazer mudar de ideia, não é mesmo.
– Prefere que outra pessoa faça algo do tipo, arriscando ter a sua identidade revelada?!
– _suspiro_ Você venceu. – (acho que era sobre isso que a Negra estava se referindo) – Ainda tem sim do pó necessário para se utilizar o Lutka, então você só vai precisar conseguir recitar o encantamento. Que se não me engano, está na página 28. – informava enquanto procurava pelo pó entre as minhas coisas.
– Achei. Mas acho que vou te dar um pouco de trabalho... Tinha que estar na Língua Original?!
– Foi você quem decidiu usar o feitiço, se bem...
– Bem o quê?
– Pensando melhor, é realmente preferível que eu passe por isso através de você do que por outras pessoas.
– Vamos lá então. – aquele sorriso sapeca realmente conseguia me fazer suar frio, mas seguimos.
Sabia que ela iria ter dificuldades com o Lutka... Ela só acertou a pronuncia lá para a décima tentativa! Preciso pegar mais no pé dela nesse quesito. Ainda bem que a convenci a aceitar aprender novos encantamentos só para colocar o idioma em prática.
Porém, ela foi bem ousada nas ordens que meu ao conseguir usar o lutka. No bom, e no mau sentido... Ela chegou até a me arrancar uma escama! Desejei que a próxima lua cheia, momento em que havíamos concordado que eu a permitiria tentar controlar a agua de meu corpo, não chegasse nunca.
.。.:*♡ Cap.148 ♡*:.。.
Cris
Ou o Gelinho gosta demais de mim, ou ele tem paciência de Jó. Que dureza para conseguir pronunciar aquilo direito antes de lhe jogar o pó!
– Onuhwo oam guem vagohwam mug howo lumymnyl, jufa tlupu gaguhna keu yló jlammuzuyl. – esperei um instante – E aí? Funcionou? Pronunciei direito?
– Com toda a certeza senti algo quando terminou de falar.
– Eu posso fazer alguns testes?
– Tente... não ser muito cruel. Pode ser? – um riso acabou me escapando.
– Vejamos... Quero que você se transforme.
Lance ergueu uma das pestanas diante de meu pedido, mas o cumpriu na hora. Apenas afastou a poltrona, como na primeira vez, para poder fazê-lo.
– Eu já me transformei na sua frente antes. E até a deixei “explorar” o meu corpo. Porque me pediu isso?
– “Explorei”, virgula! O tempo todo tive medo de fazer algo que o motivasse a me morder ou sei lá o quê. Por isso eu quero que você me permita ver cada detalhe de seu corpo, sem reagir a nada e nem fazer barulhos que possam levantar suspeitas de você para qualquer um que venha a estar no corredor!
– Hunf. Algo me diz que você está querendo me fazer passar por tudo e um pouco mais do que você experimentou quando usei o lukta em você. – declarou ele se deitando no chão. E eu sorri sem nem perceber.
Me aproximei dele sem qualquer receio e comecei a examinar cada coisinha que desejava. As nervuras de suas asas; os formatos de seus espinhos; o cumprimento de seus chifres; tudo! Notei que Absol acabou dormindo durante a minha investigação. E o arrancar sem querer de uma das escamas foi a garantia de que o encantamento tinha realmente funcionado, pois tudo o que Lance fez foi se estremecer pelo choque, sem qualquer “ai” que uma pessoa normalmente gritaria.
– Desculpe.
– E isso porque lhe pedi para não ser cruel. – ele ficou claramente irritado.
– Eu pedi desculpas... tudo o que eu queria era ver a espessura de suas escamas, não arrancar uma.
– Ainda assim. – ele lambia o lugar com algumas chamas lhe escapando na língua – Isso doeu. Falta muito para você terminar o seu “exame”?
– Já acabei. – declarei um tanto chateada e pousando a escama, que não devia ter saído de seu lugar, sobre a mesa.
– Ótimo. Então posso mudar de forma.
– Não. Não pode não.
– E por quê?
– Porque eu não quero. – me sentava, emburrada, ao lado da barriga dele.
– Está sendo infantil.
– Não estou nem aí... – abraçava minhas pernas com a cabeça sobre os joelhos.
– Ladina. – o ignorei – Ladina!... – continuei no meu canto – Qual é, Princesa... – sentia-o encostar a cabeça na minha – _suspiro_ Tudo bem, Princesa. Desculpe pelo jeito que falei. – virei a cabeça apenas o suficiente para ver-lhe o rosto reptiliano – Você pode ser cruel às vezes, mas sei que não é de machucar os outros sem motivos.
– Não esperava que suas escamas fossem tão frágeis... – levantava a cabeça para sentir um pouco mais de seu carinho.
– Ela já devia estar quase caindo, e quando mexeu nela, caiu de vez. Mas como ainda estava meio presa em mim...
– Acabou doendo do mesmo jeito. Já passei por algo parecido. Uma de minhas unhas ficou doente e ficou por um fio de cair. Acabei a arrancando sem querer e me fez tremer. Igual você fez. Acho que levou um mês para nascer outra bonita e saudável no lugar.
– Há mais alguma curiosidade sobre o meu corpo que você queira averiguar? – sua voz agora era mais risonha.
– Talvez... – ele até que tentou, mas não conseguiu disfarçar o engolir seco dele de mim – Só que está mais em relação às crenças e historias feitas pelo homem sobre os dragões.
– Crenças e historias?? O quê exatamente os humanos fantasiaram sobre a minha raça?
– Bom, é que em algumas historias, sempre aparecem dragões enoooormes que acabam pedindo que mulheres do meu mesmo tamanho ou menor, virem suas esposas. E nessas historias, os dragões não possuem qualquer capacidade de assumirem forma humanoide, e aí vem a pergunta: tal relação seria realmente possível? Como raios esses dois poderiam ter uma criança sem arriscar a vida da mulher?? Isso seria algo completamente sem lógica, certo?
– Olha. Entre os poucos arquivos deixados pelos dragões que consegui encontrar e ler, não me recordo de ter visto algo do tipo. Mas!... Não é incomum encontrar mestiços de raças bem diferentes.
– Diferentes fisicamente ou culturalmente?
– As duas coisas. – declarou ele ao pé do meu ouvido – Se quiser, e se se sentir confortável, podemos estudar as... “possibilidades”. – sussurrava ele já me lambendo o pescoço _hiper vermelha_.
– Va-vamos com calma. – sentia como se o meu coração estivesse na garganta – Pois isso não deixa de ser uma baita loucura. Você tem pelo menos o triplo do meu tamanho nessa forma!
– Não se preocupe. Não tenho intenções de feri-la, mas sempre me fascino quando a vejo assim, vermelhinha. – sinto que fiquei completamente vermelha agora, e o Lance parecia estar se divertindo às minhas custas – Mas me diz: o que acha de ampliarmos um pouco os seus conhecimentos de magia? Um desses encantamentos pode acabar lhe salvando a vida!
– Eu... É. Tem toda a razão. Preciso mesmo estudar um pouco mais esses meus grimórios. Tomara que o meu sensei possa ser paciente comigo.
– Traga o livro. E vejamos o que estudaremos primeiro.
Levantei para buscar o livro, mas logo retornei a me recostar nele. A experiência de ficar junto dele, como se fosse um mascote gigante, era diferente, porém agradável. Entre um encantamento ou outro, ele acabava me fazendo um carinho aqui ou ali que me deixava entre o feliz e o nervosa. Na hora de dormir, eu não fui para cama (que por sinal, continuava cheia de roupas), dormi aninhada no corpo escamoso de meu Gelinho.Lance
Incrível o poder de curiosidade da Ladina. É capaz de fazer qualquer um ficar curioso assim como ela em relação a certos assuntos. E fiquei surpreso dela ter conseguido aprender três novos encantamentos em um único final de dia! Aposto que até o convencido do Ezarel teria se impressionado com a proeza dela (apesar dela precisar praticar um pouco). Ajudei-a com a mala de viagem pouco depois de amanhecer o dia.
– Pronto. Agora nossas coisas estão arrumadinhas para quando for a hora de partirmos.
– Perfeito. Agora... – eu a abraçava por trás – É hora de comermos para voltar a avançar em seu treinamento, com eu já usando as Contas de Ovira escondido de todo mundo.
– E você consegue? Usar essa pulseira no meio dessa armadura?
– Eu sabia... Durante os dias de seu treino extra puxado, você nem notou que a modista esteve aqui para saber de minhas avaliações em relação à essa armadura.
– QuÊÊÊÊÊÊ?!? E eu não vi isso?!?
– Por pouco que você nem se despedia do seu irmão!
– É verdade. _respira fundo_ Bora lá encarar a batalha de mais um dia?
– Seguirei você para onde for. – disse já lhe beijando antes de pegar a minha máscara sobre a mesa para descermos.
Lá embaixo, tudo indicava que seria mais um dia “comum” de treinamento intenso para ela, mas isso mudou quando a Huang Tomoe apareceu dizendo que, por conta da aproximação do solstício, ela planejou efetuar uma “simulação de batalha” no porão com todos que poderiam estar participando da missão, e que alguns guardiões escolhidos pelo Nevra, iriam ajudar. Aposto que a ideia, na verdade, saiu do vampiro.
Chegando no local de treino para hoje, meu irmão já realizava o teste. Um circulo de areia demarcava o espaço do desafio onde, se os “inimigos” conseguissem forçar a “vítima” a sair do círculo dentro do tempo estipulado... A vitória seria deles. E o fato de todos os “inimigos” serem vampiros, que não estavam pegando nem um pouco leve naquele exercício, apenas me reforçou a teoria de que visitaríamos Yaqut. Por pouco que o Valkyon não falhou!
A simulação estava sendo feita com intervalos de quinze minutos entre as “vítimas” para que os atacantes pudessem descansar, e já que o Sanguessuga estava fazendo parte do grupo de atacantes... Aproveitei que a Ladina recebia instruções da Tomoe para aproximar-me dele.
– Essa “simulação” é coisa sua, não é?
– Porque diz isso.
– Absol finalmente pareceu encontrar o que tanto buscava nesses últimos dias...
– Sério? E o quê qu... – mostrava minhas Contas disfarçadamente – Contas... de Ovira??
– Sim. – ele engolia seco – E ele trouxe o suficiente para todos. Pois um vampiro não pode controlar outro, ou pode?
– Não, não pode. _suspiro_ Por isso Karenn e eu não precisaremos delas. No entanto, nós dois vamos ter que usar o Controle em alguns de vocês para que elas passem a funcionar de verdade.
– Comigo não precisa se preocupar. A Cris já me fez de fantoche ontem, usando o mesmo encantamento que a preparou para utilizar aquelas contas.
– Ok. Uma preocupação a menos. Acho que assim só ficarão faltando a Erika e o Chrome mesmo.
– Talvez. – não continuamos a conversa porque a fenghuang já o chamava para começarem o próximo desafio. E a minha Ladina tinha sido colocada para observar todos os desafios por meio de sua percepção ambiental até chegar sua vez de fazer o desafio onde, assim como o meu irmão, por muito pouco não acabou falhando.Cris 2
O que foi que deu na Tomoe para um treino daqueles? Cruzes! Até parecia que aqueles vampiros estavam tentando querer me comer! Nem a emboscada que tive durante o percurso para Lund’Mulhingar foi tão intenso daquele jeito. E ela ainda repetiu os testes no dia seguinte...
Fiquei moída. Mas admito que examinar os movimentos de batalha de um vampiro foi meio que interessante. Como esse “treino” acabou com todo mundo, Tomoe decidiu dar um dia de folga para mim.
Aproveitei a manhã para terminar de vender as coisas que havia separado no leilão e, depois de já ter almoçado e recebido algumas aulas do Leiftan (já que estou “atrasada” com o meu domínio de luz) decidi passar o resto da tarde em meu quarto. Relaxando, ou quem sabe praticando os encantamentos que aprendi com o Lance.
Lance estava meditando, Absol cochilando, e eu havia acabado de me alongar. Pronta para decidir como prosseguir com a minha tarde. Mas antes que eu pudesse decidir entre meus livros, notebook e grimório, alguém resolveu querer me visitar. Como Lance parecia não tirar mais a armadura, eu só lhe joguei a máscara antes de ir abrir a porta.
– Cris, querida! Eu finalmente acabei. – Purriry invadia com uma caixa enorme nos braços, seguindo para a minha cama – Sacrifiquei os meus cochilos, mas valeu a pena.
– Errr... Desculpe Purriry, mas... Do quê, você está falando?
– Da sua vestimenta de proteção. – heim?? – Faça-me o favor Guardião, de ficar no banheiro ou me trazer o biombo para que eu possa fazê-la experimentar o traje.
– Desculpe Purriry, mas... Ainda não entendo. – declarei vendo-a espalhar peças sobre a cama com o Lance indo atrás do biombo.
– Oh, não se preocupe minha querida... A Karenn já me explicou tudo. – Karenn??? – Mas deixe de enrolar e venha logo! – terminava ela de falar já me arrastando e arrancando a roupa do corpo para me fazer vestir seja lá o que for que ela trouxe.Lance 2
Esconder da Ladina que iriamos visitar um clã de vampiros, que dificilmente hesitariam de tentar devora-la, só não estava ficando cada vez mais difícil porque a Mestra de Terra dela não lhe dava tempo de espiar a minha mente com o uso da mensligo.
Por dois dias ficamos treinando como nos defendermos de ataques vampíricos, trabalhando na possibilidade deles tentarem nos atacar de forma discreta. Com pouca gente. E encarar esse tipo de raça, sozinho, mesmo para um dragão (ao menos, sem se transformar) é uma tarefa complicada. Consegui me sair melhor que o meu irmão naquele teste, e nós dois combinamos que, caso vier a ser necessário, Valkyon se transformaria para que pudéssemos enfrenta-los melhor. Se o Valkyon não tivesse se concentrado tanto em obter força física e trabalhado um pouco mais a agilidade que nem eu... Com toda a certeza ele teria se dado melhor naquele desafio.
A Ladina pode ter recebido uma folga (e automaticamente, eu também), mas todos os outros continuariam com o treino. A Cris conseguiu dar uma bela engordada no bolso... E queria que ela pudesse ter um descanso do Leiftan também.
Um dos truques que venho usando para esconder a verdade dela é a meditação. Porém não vou conseguir esconder isso para sempre, em algum momento vou acabar deixando escapar alguma informação. E espero que a minha meditação me ajude a encontrar alguma solução para evitar um estrese desnecessário. Mas aquela purreka modista não parece querer auxiliar em meus planos...
– Ai! Isso doeu. – como aquela felina não usou o código para entrar, não hesitei em colocar a máscara – Tenho mesmo que usar tudo isso?
– Oh, por favor minha querida... – e apesar da purreka saber muito bem quem eu sou,... – Eu não crio nada sem pensar muito bem em cada detalhe. – ...não dei a mínima em removê-la do rosto.
– Mas pra quê é tudo isso afinal? – posso não saber o que exatamente ela aprontou, graças ao biombo.
– Eu já disse, Lys... É para protegê-la! – mas a demora delas está me fazendo ficar curioso... – Pronto. Dê uma olhadinha no espelho querida, o que acha? – eu devia ter reposicionado o biombo um pouco mais longe do espelho...
– Meu Deus! Diga que poderei vestir alguma coisa por cima... – como é que é? – Não dá para eu sair com isso de jeito nenhum!
– Não se preocupe minha querida... Incrível como você e a Erika são parecidas. Ela também teve essa preocupação enquanto me ajudava na criação. E olha que... _bocejo_ ...a “armadura íntima”, está incompleta.
– Incompleta??
– O que é que vocês estão aprontando aí? – não conseguia mais conter a curiosidade.
– _risinho_ É verdade. Mostre logo suas vestes ao seu Guardião!
– O QUÊ! Espera! – e a purreka a arrastava para fora da proteção do biombo. _boquiaberto_Traje de proteção vampírica
– Pode fechar a boca Guardião, ou a baba irá escorrer.
– Eu não estou boquiaberto! – me recuperava daquela visão maravilhosa que era ela toda corada, conferindo se a máscara que não removi estava colocada certa.
– Sei. E eu desaprendi a fazer o meu trabalho...
– Do... Do que isso é feito? Porque ainda está incompleto? – disfarçava sem deixar de admirar a Cris que estava toda sem jeito.
– O tecido é feito de fios de: ametista e fluorita, que tem propriedades purificantes e relaxantes; e prata, óbvio, com as propriedades de afastar os males e reforçar todas as habilidades de luz dela. Só com isso imagino que você já tenha descoberto o que está faltando. Como eu não tinha certeza se a prata do tecido iria ser o suficiente, também me dei o trabalho de bordar e criar acessórios com prata pura e obsidiana-violeta, que fossem o mais confortáveis possível para reforçar a proteção, já que ela não poderá retirar isso nem mesmo para tomar banho, quanto mais dormir.
– É o quê?! Nem mesmo para tomar banho?? Essa “roupa” é para me proteger do quê exatamente? E eu não posso ficar com isso para entrar na agua não! Pois eu duvido que esse tecido não vá ficar mais transparente que organza. – (transparente?...) – E não se atreva a imaginar tal coisa! – ela me ordenava, me apontando o indicador.
– Hahahaha... Relaxe, Cris querida. Nenhuma mulher merece passar por tal constrangimento! Pode ficar tranquila que o tecido é hidrofóbico. E já que irão para o deserto, o desenvolvi com proteção térmica e solar também.
– Parece que pensou em tudo Purriry... – comentava, observando o traje – Mas porque não energizou a prata?
– Como é? Porque eu preciso usar uma roupa de prata energizada? Acaso tem vampiros descontrolados para onde vamos? – nem eu e nem a felina respondemos de imediato – Perderam a língua por acaso? Respondam!
– _respira fundo_ Serei honesto Ladina, graças ao que Absol lhe trouxe outra noite, eu meio que adivinhei para onde você tem que ir e o confirmei com o Nevra. Então, sim, haverá alguns vampiros que, muito provavelmente, não saberão lidar com o cheiro de humanos perto deles.
– Alguns, quantos?
– Não sei lhe dizer. Por isso ao invés de continuarmos discutindo, é melhor você começar a meditar ou rezar, de forma a energizar tudo isso com a sua maana.
– Ok. Tá legal. – vê-la nervosa assim me preocupa... – Quanto que eu lhe devo Purriry.
– Nem uma moeda. – (heim?) nós dois a encaramos espantados – Nevra se encarregou de pagar tudo como “pedido de desculpas”, segundo ele. E se for te ajudar a se sentir melhor, vou confessar-lhe que cobrei 20% a mais por ter tentado lhe esconder uma informação tão séria.
– Tomara que tenha saído caro... – consegui ouvir a Cris sussurrando.
– Bom, meu trabalho está feito. Como não possuo controle sobre a maana, deixo o trabalho de energização com você. E agora se me dão... _bocejo_ ...licença, retornarei para a minha loja que estará fechada até amanhecer o dia. Tchauzinho. – declarava a modista deixando o quarto e bocejando outra vez.
A Ladina e eu voltamos a ficar sozinhos, mas agora eu tinha uma fera para tentar acalmar, e convencer a concluir sua proteção.
– Então... – tentava escolher as palavras com cuidado – Deseja começar agora... Ou prefere comer algo antes?
– Quando pretendia me contar que lidaríamos com vampiros. – estou pisando em ovos...
– Eu não conheço, propriamente dito, o lugar com que sonhou. Apenas ouvi rumores. – confessava, apoiando minha máscara sobre a mesa – Imagino que os outros tenham escondido essa informação para que não ficasse nervosa como agora, antes que tudo estivesse seguramente preparado.
– Não tenho ideia de quanto tempo irei precisar para energizar toda a prata sobre o meu corpo. – seu tom seco me faz querer engolir seco.
– Posso ajuda-la se quiser. Mas é indispensável que você se acalme. – ela respirou extremamente fundo (e espero que isso seja o bastante) para só depois começar a se mexer. Mais especificamente, em direção do banheiro – O que vai fazer?
– Descobrir como exatamente seria um banho usando isso. Depois quero que me ajude com essa prata, e mais tarde vejo se faço ou não uma pausa para um lanche.
– Entendo.
Ao perdê-la de vista, resolvi me sentar à mesa respirando fundo. Não conheço muito da magia lítica, mas de algumas coisas eu entendo. Com tantas pedras protetoras ela tinha de ter escolhido logo a obsidiana?!
“Agradeça por ela ter optado pela obsidiana-violeta e não a negra!...” – (E acaso existe diferença?...) minha paciência já ficou pequena – “E põe diferença! A obsidiana negra repele qualquer um de seu portador, já a obsidiana violeta repele apenas aqueles em que o seu portador não tenha confiança.” – (Espere. Então não haverá problemas em me aproximar da Ladina?) – “Contanto que você não pise na bola com ela... Não.” – senti um grande alívio se apoderar de mim – “Mas você ainda precisa dar um jeito nessa ansiedade dela ou não conseguirão fazer a energização de forma correta.”
– E o quê você sugere? – sussurrei observando o livros da Ladina sobre a mesa.
“Dê uma olhada na página 48 do Trótula dela.”
Desconfiei. Mas fui atrás do livro na estante. Abrindo na pagina mencionada, encontrei um procedimento de aromaterapia para combater o estrese, porém... (Não sei se a dispensa possui todos esses ingredientes. É uma receita com elementos da Terra!) – “Você só precisa usar os elementos presentes aqui no quarto com nomes semelhantes. Eles não só funcionarão bem, como serão até mais eficazes. Qualquer coisa lhe dou uma mãozinha...” – encarei a receita indeciso (E isso fica pronto antes dela sair do banho?) – “Ela vai demorar porque vai ficar explorando a nova vestimenta. Vamos começar logo ou prefere continuar de preguiça? Ela já vai ter que gastar quase a viagem toda até Yah-navad’y para terminar de energizar toda aquela prata, quanto mais cedo ela começar, melhor!”
Depois de ouvir isso, ainda sem muita certeza, comecei a preparar aquele negócio com a Negra dando sugestões e palpites o tempo todo em relação às mudanças que fazíamos. Armei um difusor improvisado e, apesar de não ter seguido nada ao pé da letra, com a Negra se despedindo em seguida, aquele liquido começou a emitir um aroma bem agradável que se alastrava depressa.
– Que cheiro é esse? – a Ladina deixava o banheiro se aproximando da mesa onde deixei o difusor, e eu me afastava da estante após terminar de guardar o livro – O que é isso que você aprontou Lance?
– Apenas uma tentativa de lhe facilitar o trabalho com a prata. Sua nova roupa passou no teste de agua?
– Como a Purriry disse, ela não ficou nem um pouco molhada. E nem me atrapalhou de me lavar também. Só essa coroa que fica querendo se enroscar nos meus cabelos. – ela ajeitava os cabelos diante do espelho – Espero que isso tudo não me impeça de dormir!
– Pode ser que atrapalhe a mim de ficar com você. – via surgir um sorriso malandro em seu rosto – No entanto, se você estiver segura, é tudo o que me importa.
– Lance... – me aproximei para beija-la, e realmente a obsidiana nela não me jogou longe – Mas me diz: o quê que eu preciso fazer mesmo para tornar toda essa prata energizada?! Eu ainda não entendi como foi que o consegui com o meu terço.
– Venha cá. – arrastava-a delicadamente até os jardins – Você já aprendeu a controlar boa parte de sua maana, tudo que precisa fazer é invoca-la como sempre faz em suas orações, e redireciona-la para suas vestes. Como muito provavelmente temos pouquíssimo tempo, irei auxilia-la com o redirecionamento. Ficou tudo claro até aqui?
– Claro como o gelo... – sorri satisfeito.
Nos sentamos perto das plantas do mesmo jeito que fazíamos quando a ensinava a controlar sua maana. Não sei se foi por causa da ametista e da fluorita que teciam a roupa, ou do liquido que evaporava no difusor, ou as duas coisas, mas a Cris estava tão dócil quanto uma criancinha gentil. Para facilitar o trabalho, decidimos energizar as peças por partes, e antes de resolvermos dormir já havíamos terminado com a coroa, os sapatos e as meias. Ela queria fazer o colar também e tive de convencê-la a deixar para amanhã, pois ela já estava se cansando (e eu também).Cris 3
Esse povo tem que aprender a parar de quererem me fazer de tonta. Qual o problema de me revelarem que terei de lidar com um ou dois vampiros?! Eu já não lidei com o Viktwa quando ainda não sabia como me proteger deles durante os meus ciclos? E com o Nevra durante a Lua Púrpura? O quê que custava eles virem e disserem: “Olha Cris, não é para te assustar não, mas o seu novo destino de sonho tem alguns vampiros vivendo por lá e por isso teremos de prepara algumas coisinhas para lhe garantir a segurança, ok?” Custava alguém vir me disser algo do tipo? Não. Não custava. Estou até pensando em perguntar ao Nevra quanto foi que a Purriry cobrou dele pela roupa, só para confirmar se ele ainda precisa de castigo ou não.
No banho, aquela roupa teoricamente feita de pedra e metal se mostrou muito mais confortável do que eu esperava. O tecido fino e muito macio era bastante resistente e não limitava movimento nenhum. Podia me mover como eu bem entendesse. A agua parecia escorrer por uma superfície plástica ao invés de têxtil, e sem impedir a evaporação da umidade interna. Acho que não irei demorar para me acostumar à essa “segunda pele”. Mas bem que a Purriry podia ter pensado em outra coisa para eu usar na cabeça, essa coroa está ameaçando de arrancar os meus fios.
Eu estava terminando de conferir se não estava deixando agua para trás quando comecei a sentir um suave cheiro doce que simplesmente extinguiu a minha irritação. Por mim, eu terminava de energizar aquilo tudo no mesmo dia, pois não queria ficar vestindo aquilo o tempo todo... Mas fui convencida a deixar o colar e as roupas para o próximo dia.
No dormir, não tenho certeza se foi por causa do esforço com a minha maana ou se foi por causa do traje mesmo, mas dormi bem.
Tomoe e Leiftan vieram bater cedo em minha porta para me explicarem um pouco mais detalhadamente como que seguiríamos minhas rotinas para escondermos a viagem. Refiz minha bagagem porque precisei trocar algumas roupas, graças à segunda pele que fui obrigada a usar e a entreguei ao Leiftan para ele guarda-la junto aos suprimentos (viajaríamos entre o fim e o começo do próximo dia); pedi ao Absol que se escondesse na sombra da Karenn para que ele soubesse quando nos buscar, e voltei a praticar fugas de vampiros depois do café.
Não consegui convencer o Nevra a me revelar o preço do meu traje (oculto por um vestido fluido, tenho que saber me defender em quaisquer circunstâncias!), mas a cara feia que ele fez foi o suficiente para compreender que causei um rombo nas finanças dele (bem feito! Hehehe...).
Acabado o almoço, Nevra foi ajudar a Karenn e o Chrome a arrumarem a carroça de suprimentos para a vila, e eu voltei pro meu quarto para receber mais aulas do Leiftan até a hora de dormir, ou que Absol viesse buscar a mim e ao Lance. Absol reapareceu um pouco antes do sol nascer...
– Se apresse Ladina!
– Calma aí, Gelinho. Não vou partir sem usar o banheiro não! – terminava de me ajeitar – Já basta eu estar partindo com sono, e em breve, com fome.
– Você pode exigir uma indenização da Guarda depois disso tudo. – ele me abraçava com Absol já nos “teleportando” – E já que estaremos deitados... você pode voltar a dormir o quanto quiser.
– É o que veremos... – acabei por dizer, fechando os meus olhos para adentrar a escuridão do meu primeiro guardião.
Não demorou nem um minuto. E eu pensei que seria colocada dentro da tal carroça de um jeito diferente...
Pela explicação que me foi dada, eu imaginei que Lance e eu ficaríamos deitados lado-a-lado, bem no meio do fundo da carroça. Mas na verdade, Absol colocou o Lance para ser o meu “colchão” naquele espacinho apertado em que eu mal podia me mexer. Só não reclamei em voz alta porque o Lance me impediu a tempo. Se eu soubesse... Teria dado um jeito de conseguir algum colchonete para me proteger daquela armadura dura dele.
.。.:*♡ Cap.149 ♡*:.。.
Valkyon
Não há como dizer que o Ezarel não sabe ser exagerado, mas não dá para negar que levar humanos para um lar de predadores é sempre algo preocupante.
Não é que eu esteja dizendo que os vampiros de Yaqut sejam bárbaros. Nevra e sua irmã sempre souberam se controlar muito bem, apenas os mestiços que se mostraram com uma ou duas complicações em situações específicas.
Mas eu não consigo deixar de pensar nessa situação como arriscada. Ainda mais considerando os costumes do ex-clã de meu amigo. O que me fez até perceber que a viagem para Apókries iria oferecer tanto risco para mim, quanto Yaqut oferece para a Erika e Cris. Sem dizer que não me seria nenhuma surpresa se viéssemos a lidar com vampiros naquelas terras sombrias.
Foi avaliando todos estes pontos que pedi ao Nevra para efetuarmos algumas simulações. Eu já cheguei a enfrenta-lo em alguns treinos, mas... Enfrentar um vampiro em uma batalha amistosa, mesmo dando tudo de si, é uma coisa. Enfrentar vários com plena sede é outra!
Ninguém foi contra esse “treino”. E eu tenho muito o quê melhorar no que se refere a inimigos ágeis. Mal pude acreditar na roupa que a Purriry criou para a proteção das garotas, era simplesmente... deslumbrante! Tive o maior gosto de auxiliar minha noiva na energização daquele traje, mas bem que eu queria ter tido tempo para ajuda-la até o fim... Se não fosse pelo encantamento que mantém o Leiftan na linha... Das duas, uma: ou iria dar um jeito de trocar de lugar com outra pessoa para ir até a vila, ou arranjaria uma maneira da Erika se juntar a nós naquela missão de fachada. Sério que não havia ninguém que pudesse ajuda-la no lugar do Leiftan dentro de Eel?
Arrumei a carroça de mantimentos que transportaríamos com a ajuda de dois rawist’s, junto da Karenn e do Chrome, e logo o Nevra apareceu para nos ajudar também. Não foi fácil ocultar um bom espaço vazio ali dentro, mas espero que seja grande o bastante para que a Cris e o meu irmão consigam caber sem serem pressionados.
Leiftan apareceu para trazer algumas bolsas que estávamos nos “esquecendo” de por na carroça, e também me aconselhou a ficar de olho na sombra da Karenn (deve ser aonde Absol estará se escondendo). Como terminamos de arrumar tudo tarde demais para partirmos, combinamos de madrugar.
Erika e eu aproveitamos bem a nossa noite, antes de eu partir e deixa-la aos cuidados do Leiftan para terminar a proteção dela. Karenn, Chrome e eu partimos sem qualquer problema, e Absol esperou alcançarmos a clareira da floresta de Eel para buscar o meu irmão e a Cris, ao que pude perceber.
Por um bom tempo, fiquei um pouco receoso com a possibilidade de estarmos sendo seguidos de alguma maneira por minha causa. Nossa formação era: Karenn e Chrome à frente, com cada um ficando ao lado de um dos mascotes para cobrir a frente e os lados da carroça; e eu atrás para cuidar da retaguarda e ajudar os mascotes caso fosse necessário. Após já termos andando bastante em um considerável silencio, foi o Chrome quem o rompeu.
Pelo decorrer de nossa conversa, me estava claro que a Karenn não revelou tudo ao Chrome. Ela fez aquilo por não confiar tanto assim no noivo dela ou só por mero profissionalismo? Às vezes não entendo bem o funcionamento interno das outras Guardas. Mas devo admitir, a confirmação da Karenn de não haver ninguém nos seguindo (ou melhor, me seguindo), me deu um pouco de conforto. Não vou negar que a sugestão dela também é boa (não sei como é que o meu irmão e a Cris estão se sentindo naquele espaço, mas com toda a certeza eu e a Erika não caberíamos ali), e também pude sentir bem fracamente a maana da Cris (ela deve estar continuando com a energização da prata na roupa dela).
Caminhamos por um bom tempo antes de finalmente decidirmos descansar.Lance
– Acho que já estamos bem longe de Eel agora... – a forma com que eu e a Ladina estávamos dentro da carroça estava longe de ser a mais confortável – O que é que vocês acham?
– Chrome, se você está dizendo isso apenas para fazermos uma pausa,... – mesmo com aquele balançar chato e o barulho feito pelas rodas, parece que a Ladina conseguiu adormecer em cima de mim – ...você pode desistir. A vila de Yah-navad’y fica a uns três dias de viagem, sem bagagens.
– Não é por isso que estou perguntando, chefe. – acho que já deve ter se passado umas duas ou três horas desde que entramos nesse “buraco”...
– E é porque então, meu lobo? – eu já estava ficando bem entediado até o Chrome resolver começar uma conversa lá fora.
– Karenn, minha linda. Você sabe tão bem como eu que é quase impossível enganar o meu nariz. – mas agora eu me pergunto se não teria sido melhor termos ficado esperando em Eel – Aparentemente não tem ninguém em nosso pé. Vão me explicar ou não?
– Chrome, Chrome... Eu não te expliquei que teríamos uma segunda missão assim que terminássemos com essa? Ela será i-me-ti-a-da-men-te a esta, meu lobinho!
– E enquanto não estivermos perto de nosso primeiro destino, é melhor evitarmos falar sobre isso. Como você mesmo disse Chrome, aparentemente, não estamos sendo seguidos.
– Mas eu acho que podemos relaxar um pouco, Valkyon. Não sinto ou escuto qualquer coisa que possa nos causar preocupação.
– Isso inclui os mascotes Karenn?
– Sim. Incluem sim. Não esqueci que aquele povo doido que está de olho em você também, utilizam mascotes como ferramentas. Não identifiquei qualquer coisa que pudesse estar nos seguindo. No entanto, ainda acho melhor o senhor se transformar e usar suas asas para ocultar a carroça quando pararmos para uma pausa. – essa seria uma excelente oportunidade para eu e a Cris sairmos desse aperto.
– Espero que essa pausa não demore demais...
– Já acordou Ladina? – perguntava sussurrando bem baixinho, igual à ela.
– De que jeito? Mal consigo me mexer; sua armadura é cheia de relevos que fazem um chão de pedras parecer confortável; o barulho das rodas já está ecoando na minha cabeça; parte do meu corpo ficou dormente; e para completar, estou com fome. Quem é que dorme? Estou quase gritando para me deixarem andar a viagem toda ao invés de aceitar continuar nessa situação. – terminava ela de se explicar em tom irritado.
– Também não estou gostando. Se eu tivesse adivinhado como que estaríamos aqui dentro, eu teria deixado para vestir a armadura na hora do nosso desembargue. Aí eu poderia senti-la melhor.
– Pois saiba que se não fosse por essa sua armadura, já que eu não consigo me mexer o suficiente para te bater, eu já estaria lhe dando um belo beliscão por ficar com esse tipo de pensamento numa situação dessas. Você é um dragão ou um íncubos no final das contas?
– Um dragão perdidamente apaixonado por você... – pena ser tão escuro naquele aperto... Pelo jeito que ela se calou, tenho certeza que está tão vermelha como o sangue agora – Vamos ter um pouco mais de paciência, Princesa... Que tal... tentarmos nos concentrar no trabalho de energização da sua roupa por hora? Você poderá se esticar o quanto quiser quando fizermos uma pausa.
– Pensei que para fazer isso, eu tinha de estar re-la-xa-da. E é o que não estou nem um pouquinho.
– Tentarei ajuda-la. O quê exatamente está dormente?
– Hum...
– Quer que eu lhe ajude ou não a se sentir melhor?...
– Meus membros esquerdos e meu pé e mão direitos... – confessou ela sem jeito. Como queria poder lhe enxergar o rosto agora...
Deslizei minha mão esquerda por suas costas até alcançar-lhe o quadril, e minha mão direita até o ombro esquerdo dela, concentrando o meu poder de cura para lhe recuperar a circulação sanguínea.
– Melhor?
– Você continua gelado como sempre, mas sim. Está melhor. E acho que já consegui acordar a minha mão e o meu pé.
– O que só ficaria faltando dar um jeito em minha armadura; no barulho;... e na comida?
– Espero que você só esteja querendo me deixar mais confortável mesmo. E não procurando uma desculpa para rir de mim.
– Oh Princesa... – parece que essa situação a deixou bem sensível – Não é porque eu gosto de provoca-la às vezes, que eu não irei levar a situação em consideração. Só quero ajuda-la a conseguir um mínimo de conforto aqui! Para nós dois.
– E como exatamente pretende faze-lo? Já estou começando a ficar com um pouco de sede também... – esse jeitinho infantil de falar... ela sempre me dobra com esse tom. E tenho que admitir, não estava conseguindo pensar em uma boa solução para os problemas restantes. Enquanto não parássemos, isto seria complicado.
– Acho que vamos ter que sermos um pouquinho pacientes.
– Não consigo me sentir relaxada para nada nestas condições.
Procurei pensar rápido – E se usarmos isso como um desafio?
– Desafio?
– Sim! Ou vai me dizer que quando estivermos em Apókries, você vai conseguir se manter calminha quando necessário?
– Já entendi onde quer chegar... Está me propondo um senhor desafio aqui.
– Vamos tentar coloca-lo em prática então!?
Como resposta, ela apenas respirou bem fundo para depois começar a murmurar uma melodia, abafada pelas rodas. Foi fácil sentir sua maana e me apresei em auxilia-la para direcionar aquela energia para o que faltava energizar no corpo dela. Começando pelo colar. Tenho certeza que foi por causa das condições em que nos encontrávamos, pois com o mesmo tempo que cuidamos do colar dela, nós havíamos cuidado das meias e das sandálias anteontem.Cris
Acho que vou mesmo precisar dar um castigo extra ao Nevra... Isso aqui está horrível! Mas nem quando eu tive de andar de uma cidade para outra quando criança em uma viagem do Ceará para visitar uma tia, debaixo de um baita sol quente de verão, que já experimentei uma viagem tão ruim assim! Antes achava o percurso até Lund’Mulhingar, com todos os desesperos que surgiram, ruim. Mas isto aqui está pior! Muito pior!
Nem sei como é que eu consegui tirar um cochilo no começo. Devia ter sido os resquícios de sono. E agora tudo o que quero é que essa carroça vá para o quinto dos infernos! Horas imobilizada? Desconfortável? Com dor de cabeça devido ao barulho? Nã! Aquele vampiro sem vergonha vai ter que ganhar algum castigo por isso.
E agora que eu me lembrei... Eu ainda não lhe cobrei os meus três favores... Acho que vou tentar aproveitar essa viagem!... _sorriso malicioso_
Depois de ficar suportando calada aquilo tudo por um tempo, o Lance (depois de me ter provocado a paciência e testado o mau humor) me convenceu a continuar com a energização da prata de minha “segunda pele”. Tentar esquecer toda aquela agonia para me concentrar nessa tarefa foi difícil. Nunca trabalhei tanto o meu autocontrole como naquele momento. Ainda bem que era o Lance, que me ajudava com a tarefa, quem que conferia se a peça já estava ou não com a energização concluída, pois, se dependesse só de mim, ou a peça ficaria incompleta, ou ficaria energizada demais. Não sei medir direito, ainda, esse tipo de coisa.
Quando paramos pela primeira vez (graças à Deus... meus ouvidos agradecem...) tinha acabado de terminar o colar. O Valkyon pedia ao Chrome que buscasse madeira para uma fogueira, e para a Karenn que desse uma conferida na área, mas que ela deixasse a “sombra” para trás! (Até que fim vou sair desse aperto!).
Não demorou muito para eu sentir o poder de Absol me envolvendo, e menos ainda para eu sentir a liberdade de movimento fora da carroça... Meus olhos estavam um pouco sensíveis à claridade, mas isso era o de menos para mim.
– Como foi a viagem até aqui? – ouvia de trás de mim enquanto me alongava de pé.
Virei-me e me deparei com o que devia ser o meu chefe em sua forma dragônica. Vermelho e bem musculoso, parecendo ser feito de magma em algumas partes e com asas que pareciam ser grossas (ocultando a carroça e, consequentemente, a mim e o Lance dos que poderiam estar do outro lado), ele era tão interessante quanto o Lance, mas, em questões de estética, ainda prefiro o meu Gelinho.
– O senhor quer que eu seja sincera? – perguntei.
O Valkyon apenas olhou de forma discreta para o irmão, sentado no chão com Absol ao seu lado. E o Lance apenas negou com a cabeça em resposta – Acho que irei passar dessa vez. – me respondia o Valkyon – Logo a Karenn e o Chrome retornarão, não querem aproveitar para se refrescarem? – sugeria ele apontando com a cabeça para um riacho, que estava à uns três passos de mim.
– E você acha que realmente não haverá problema? – questionava o Lance se alongando ainda sentado.
– Nenhum problema, Guardião. – declarava a Karenn que apareceu do nada, já mexendo em algo na carroça – Não há absolutamente nada para nos oferecer ameaça aqui. E tome! – ela jogava um embrulho de pano negro em direção dele – Não pude deixar de ouvir as reclamações da Cris. Trouxe isso para evitar de virar um bebê pinchú debaixo do sol forte, acho que servirá para deixar vocês dois um pouco mais confortáveis.
O Lance desenrolou aquele pano que se revelou um manto enorme – Tem certeza disso?
– Mas é claro Guardião! Até a noite cair, e pelos próximos dois ou três dias, vocês terão que continuar dentro da carroça durante o caminho. – acabei fazendo cara feia... – O único descanso de vocês dois será durante as refeições e a noite. O quanto de prata vocês conseguiram trabalhar naquele cubículo?
– Apenas o colar. – respondia ele, com eu matando a sede e lavando o rosto na agua fria e límpida – Agora só falta energizar os tecidos. Acho que iremos precisar de todo o resto da viagem até a vila para isso. É muito tecido.
– Mas isso vai ter que esperar. – declarava retornando para junto deles e me sentando em frente ao Lance – Estou morrendo de fome. Podemos comer agora ou será preciso cozinhar primeiro?
– Aqui, pegue. – a Karenn me entregava uma fruta de sabor pesado – Karuto nos preparou provisões quentes e cruas, para nos alimentarmos parados ou andando. Precisaremos de energia para concluir a viagem.
– Compreendo. – falei já terminando metade de minha fruta que parecia um... mamão crocante.
– Me diga Cris, só a remoção das proteções do tronco seriam o suficiente para você, ou há mais partes que ficaram lhe machucando? Tem como me ajudar aqui, Absol?
– Bem... – observava o Absol criar uma espécie de bolha ao redor do Lance – Suas joelheiras me incomodaram um pouco e... Acho que suas braçadeiras meio que me pesaram em minhas costas.
– Certo. Algo mais? – perguntava ele dentro daquela bolha com ele colocando partes da armadura para fora.
– Acho que não. Tem alguma coisa que você prefira que eu retire também? Já que não terá mais sua armadura o protegendo...
– Não se preocupe com nada disso. – declarava ele – Se há alguma coisa que pode vir a querer me incomodar é o seu colar que acabamos de energizar – (também o senti me incomodar um pouco...) – Mas sei que podemos dar um jeito nisso sem você o remover. Lembra que combinamos de você não retirar nada até terminarmos com tudo?
– Lembro... Você disse que assim seria mais fácil de equilibrar as peças entre si para não haver problemas...
– Exatamente. – ele deixava a “guarda” de Absol – E espero que a “minha” proteção, obrigado Absol, não nos atrapalhe mais de terminar a sua.
– E espero que vocês terminem antes de chegarmos. Quer uma ajudinha para guardar isso aí? – Karenn se oferecia observando o Lance, sem sair do lugar. Acho que tudo o que ele não tirou foram as luvas, as calças, as botas, e lógico, a máscara e o elmo.
– Não há necessidade. – ele levava tudo o que tirou para a carroça – Apenas continue garantindo que não há ninguém nos seguindo em momento algum. Mais cedo ou mais tarde, alguém de Apókries vai perceber que a Cris não está em Eel. E eu, no lugar deles, suspeitaria primeiramente dessa missão aqui.
– Estamos bem cientes disso, guardião. – Chrome chegava com a lenha – Porque você está com o manto da Karenn?
– Necessidades de peso maior, meu lobo. Ande logo com essa fogueira que eu já explico.
A Karenn e o Chrome trabalharam na fogueira, que foi acendida pelo Valkyon, com a Karenn esclarecendo o porquê do Lance estar do jeito que estava. Continuei me alongando de todas as formas após terminar a minha fruta até o almoço ficar pronto. E o lance ficou conversando com o Valkyon.
Comi até me sentir satisfeita. Lance pareceu mexer em alguma coisa na carroça com a ajuda de Absol, e quando chegou a hora de voltar para o “buraco”... _suspiro_ Espero que agora tudo seja mais confortável...
Lance e eu nos abraçamos o mais apertados possível e deixamos Absol nos instalar no esconderijo. Sentir o corpo do Lance ao invés daquela armadura era de fato melhor, mas receio que isso possa causar ideias... improprias, naquele dragão libidinoso.
– Porque há palha debaixo de você? – perguntei ao sentir que o chão da carroça parecia forrado.
– A armadura protegia minhas costas do fundo, então tive de pensar em algo para poupa-las no lugar dela.
– Parece que eu vivo te dando trabalho...
– Não vou negar que tem um pouco de verdade nisso, mas este é um dever que cumpro com gosto agora. Ainda mais depois de tudo que eu fiz... – quase que não conseguia ouvir sua última frase de tão baixo que ele falou.
– Gelinho... Obrigada. – agradecia dando um beijinho em seu peitoral coberto pelo manto.
– Não há porque agradecer Ladina... Ai! – reagia ele ao meu beliscão.
– Não é porque você está sem aquela armadura agora, que eu te dei autorização para passear com essa sua “mão boba”. Ainda tenho um trabalho para terminar, lembra? Com você me ajudando.
– Foi mal. Você está certa então... Vamos começar?
Como resposta apenas comecei a invocar controladamente a minha maana. Quanto mais rápido eu ficasse livre daquela tarefa, mais depressa poderia ficar livre para pensar no que eu quisesse.
O alongamento, a agua e a comida fizeram diferença naquela tarefa. Estava bem mais tranquila. E graças à remoção daquela armadura, mais relaxada também. No entanto... continuava sem poder me mexer direito.Valkyon 2
Nosso percurso estava totalmente planejado. Se as anomalias causadas pela quebra do Cristal não tiver afetado as fontes de agua do trajeto, sede não iremos ter em nossas paradas. Levou um tempo até alcançarmos a primeira fonte, um riacho que me pareceu menor que a última vez que o vi há uns três anos. Com a assentir da Karenn e do Chrome, me transformei e usei uma de minhas asas para ocultar a carroça. Como reforço, pedi ao Chrome para ir atrás de lenha para a fogueira, conferindo se o lado exposto da carroça estava mesmo seguro, e à Karenn que averiguasse o lado de trás, deixando Absol comigo.
Absol veio para o meu lado quase que imediatamente. E também não se demorou em tirar a “bagagem” da carroça. A Cris não perdeu tempo em se esticar de todas as formas possíveis e quando lhe perguntei sobre como lhe tinha sido a viagem até aquele momento, logo notei que a resposta que receberia não ia ser boa, e depois de confirmar minha suspeita com o Lance, preferi não ouvi-la.
Para a Karenn oferecer suas próprias roupas ao meu irmão, as reclamações da Cris deviam estar bem ruins. Observei que a Cris não parava de se alongar de tudo que era maneira, evitando ao máximo de ficar deitada.
– Ficou apertado demais o espaço de vocês? – perguntei ao meu irmão enquanto ele guardava as peças removidas do corpo.
– Mais alguns milímetros a menos de espaço e nós dois mal conseguiríamos respirar. Como foi que vocês organizaram o nosso espaço?
– Quem montou o esconderijo de vocês foi a Karenn e o Nevra, com ela falando que do jeito que eles estavam arrumando poderia haver problemas. Chrome e eu apenas lhes passamos as coisas que estavam sendo organizadas dentro.
– Tive de usar das possíveis situações que teremos em Apókries, para ajuda-la a controlar a irritação e conseguirmos trabalhar com a proteção dela.
– Queria eu poder estar com a Erika agora... – deixava escapar.
– Eu ouvi direito? Você, admitindo estar com inveja de mim?!
– Eu não disse isso! _vermelho_
– Mas foi o que deixou a entender. – me calei diante do “sorriso cínico” dele por não ter uma resposta satisfatória.
Comemos. Juntamos todas as coisas. E na hora de retornar para dentro da carroça, a Cris (que não tinha parado de ficar se alongando) não parecia nem um pouco à vontade de fazê-lo. Mas pelo o que escutei durante a minha transformação, acho que o meu irmão se arrependeu de ter tirado parte da armadura _risinho contido_.
Retomando a viagem, andamos sem parar até a noite começar a se anunciar. Paramos em uma pequena clareira fechada onde iriamos erguer três barracas de lona densa e bem escura, onde dormiríamos eu (eu e Absol) em uma, o Chrome (Chrome e Karenn) na outra, e a Karenn (Cris e Lance) na última. Absol é quem seria o encarregado de organizar tudo sem que alguém de fora viesse a perceber.
Para ajudar a desviar a atenção, caso houvesse algum observador, nós três, Karenn, Chrome e eu, faríamos tudo o que precisássemos dentro de nossas “respectivas” barracas, e acionamos dois tipos de barreira para um mínimo de tranquilidade. Uma acústica, com as sanas clypeus da Cris, e outra de guarda, no caso, a barreira utilizada e invocada pelo meu irmão, uma vez que ainda não domino este tipo de proteção (e o meu tempo para terminar de aprender de fato essas coisas está acabando...).
Absol nos auxiliava com a umbracinese para fazer parecer que a Karenn entrava e saía de sua respectiva barraca, quando na verdade ela fazia isso da barraca do Chrome. Algo me diz que, se a Cris pudesse escolher, ela passaria a viagem inteira dentro de uma barraca ao invés da carroça. Já que na barraca ela tinha muito mais mobilidade. Mas me pergunto de quanto tempo mais ela precisará para terminar com as vestes de prata dela.
Assim seguimos viagem até Yah-navad’y. Durante o dia, parando apenas para o almoço, ao lado de alguma fonte de agua, com eu me transformando para esconder a carroça e algumas coisas mais. E ao se aproximar a noite, acampando em um lugar de difícil acesso para inimigos, com proteções extras para garantir ainda mais a nossa segurança.Cris 2
Esse Gelinho... Ainda bem que ele é responsável. Se não fosse pelo meu trabalho de terminar aquela roupa, aquele malandro teria tentado coisas bem atrevidas agora que não havia mais uma armadura entre nós dois. Tive de belisca-lo mais uma vez para fazê-lo lembrar que aquilo não era lugar! E bem que podíamos ter feito uma segunda parada durante o dia.
Quando a noite estava chegando, eu não vi nem o céu. Absol nos levou direto para dentro de uma das barracas onde a Karenn estava encolhidinha para nos explicar que passaríamos a noite inteira ali dentro, e também nós pediu para que criássemos uma barreira ao nosso redor (onde Absol ajudou a calcular a área que deveria ser coberta) além de me pedir algumas das minhas bolinhas silenciadoras. Depois que ela saiu, não entrando mais naquela em que estávamos, o espaço ficou um pouco mais confortável, e Absol nos entregava a comida através das sombras.
Lance e eu acabamos tomando um banho de gato e fomos dormir. O tempo todo fiquei dormindo de lado para o chão, e de costas para o Lance que, ou ficou com medo de levar outro beliscão de mim, ou não o vi me tocando. Acordei com ele chamando para o café.
– Conseguiu dormir bem? Teremos outro longo dia hoje... – me perguntava ele já me estendendo uma caneca com suco.
– Até que dormi. Colocou alguma coisa aqui dentro? – questionava após ter provado do suco que estava estranho.
– A poção de Lunna. – respondia ele olhando para a entrada da barraca – Ontem, por causa da pressa para sairmos, não a tomamos.
– Ah! É. Nem me lembrei. Mas também!...
– Bebe logo que já, já teremos de voltar para o “buraco”.
– _gemido de lamento_ Temos mesmo que ficar lá hoje também?
– Temos. E vai ser assim até chegarmos na vila. Me deixe dar uma olhada em sua... segunda pele? Foi assim que você chamou o seu traje de proteção?
– Foi. – empurrava para dentro o suco que ficou ruim com a poção – Acha que ainda falta muito para isso acabar?
– Hum... – ele me segurava a saia, sentindo o tecido de olhos fechados – Se não conseguirmos terminar hoje, amanhã acabaremos com toda a certeza.
– E acha que chegaremos na vila hoje ou amanhã?
– Isso quem vai poder responder é o Valkyon ou os outros dois. Eu não acompanhei com eles em relação à trajetória dessa missão para que ninguém percebesse que iriamos também.
– _sus..._ Ok _...piro_.
– Já vamos desmontar as barracas. – ouvimos a Karenn nos falar do lado de fora.
Choraminguei outra vez e me ajeitei junto ao Lance para retornar pra carroça. Absol não esperou nem um minuto direito para nos levar, e outra vez fiquei sem nem ver o céu. Parece que os meus únicos momentos sob a luz celeste será durante o almoço nesta viagem. (Vamos voltar a trabalhar em sua roupa para nos distrairmos dessa situação? - Vamos né! Que escolha eu tenho?).
.。.:*♡ Cap.150 ♡*:.。.
Cris
– Aaaatééééé queeeee fiiiimmm!!!! – me espreguiçava totalmente satisfeita por não ter mais que me manter dentro daquela carroça.
– De todas as viagens que fiz até hoje, essa, foi sem dúvidas a mais complicada. – argumentava o Gelinho se alongando ao meu lado.
– Nem vou perguntar de que viagens você está falando, mas agora me daria por contente se pudesse me devolver minha capa logo. – solicitava a Karenn com indiferença e mexendo no conteúdo da carroça.
– E se a Cris puder nos ajudar a sumir com esse vazio da carroça, eu ficaria feliz também.
– Chrome e Karenn, peguem leve com eles. Não esta vendo que até a Cris está com dificuldade para ficar firme sobre as próprias pernas? E Cris, vocês conseguiram terminar com a roupa pelo menos?
– Entre duas a três horas atrás. – respondia o Lance já envolto pela sombra de Absol – Não via a hora de podermos sair de vez daquele buraco exíguo. O quão perto ou longe estamos de Yah-navad’y?
– Assim que passarmos este morro, já poderemos vê-la. Já conseguiu se estabilizar, Cris? E por curiosidade... Pretendem usar nomes falsos para esconderem quem são de verdade, já que oficialmente vocês não estão com a gente?
– Falsos nomes Karenn. Vocês podem me chamar de “Kuris” e ao Gelinho de “Lan”. Decidimos isso pouco depois de terminarmos com a prata.
– Mas eu bem que queria ter alguma coisa a mais para desviarmos a atenção sobre a gente, caso aquele povo maluco venha a desconfiar dessa missão. Toma. – Lance devolvia o manto à dona.
– O fato de você não poder mostrar o rosto, e todo mundo já saber da cor de sua armadura pode acabar fornecendo uma pista, se eles acabarem mandando alguém para confirmar. – apontava a Karenn.
– Mas... – Chrome segurava alguns pesos – Se dizermos que vocês por acaso seguiam parte do mesmo caminho que a gente... Somando os nomes falsos, talvez eles considerem ter sido mera coincidência. Se conseguirmos deixar a vila antes que algum deles chegue aqui para conferir, é claro.
– De qualquer forma, não podemos demorar muito aqui. Se alguém da vila ou de outro lugar resolver aparecer antes de termos terminado de desaparecer com esse vão, as chance contra nós só irão aumentar. – alertava o meu chefe removendo a estrutura criada para criar o esconderijo na carroça.
Me apressei em ajudar com o Lance fazendo o mesmo. Aquela viagem foi pra lá de desagradável. No começo, insuportável. Assim como havia constatado no começo do segundo dia, só via a cor do céu durante a hora do almoço, que, fora a noite, era a única hora que aqueles três paravam a carroça.
Dentro daquele cubículo, fiquei trabalhando na minha roupa quase o tempo todo. Mesmo com parte das energias recuperadas durante o almoço, eu ainda tinha de pausar um pouco com aquilo. E nisso, Lance e eu conversávamos por meio da mensligo. Ainda bem que eu só preciso de um dedo para conseguir mover a agua para matar a nossa sede, ou do contrário ficaria mais seca que um damasco naquele espacinho sufocante e quase sem luz.
Ouvir do Lance que finalmente havíamos terminado de concluir a minha proteção me foi um baita alívio... Menos um item na lista de tarefas. E foi aí, ainda naquele escuro, que resolvemos conversar sobre o que fazermos dentro da vila para continuarmos nos “escondendo”. Apelidos para mim não faltavam, podia usar qualquer um dos que usava na internet, mesmo não sendo muitos, já o Lance... Decidimos que o chamaria do jeito que mais provavelmente o faria se não houvesse a obrigação de escondê-lo.
Terminada a carroça, era hora de voltar a andar. E dessa vez, com eu usando as minhas próprias pernas. Para maior garantia, Absol resolveu se manter escondido dentro da minha sombra, e seguimos em frente. Karenn tinha razão, passado o alto do morro já era possível visualizar a vila. Ela parecia ter sido construída dentro de um vulcão adormecido! Um gigantesco prato raso para crianças, tendo apenas três passagens naturais para se entrar/deixar a vila.
Chegando perto, reparei que as “paredes” deviam ter a mesma altura dos muros de Eel, e haviam dois centauros fazendo guarda na entrada que escolhemos. Um homem e uma mulher.
– Quem são vocês? – a mulher se aproximava com o arco semi pronto na mão – São de Eel? – ela observava a carroça.
– Saudações. Sou Valkyon, um dos sub-chefes da Guarda de Eel que está no comando dessa expedição. – Valkyon se adiantava – Estes são Karenn e Chrome, também membros da guarda, que foram enviados para ajudar nas investigações. – apresentava ele aos dois, segurando o ombro de cada um deles.
– E vocês dois... Também fazem parte do grupo? – perguntava o homem que se segurava para não sacar a espada.
– Err... Bem...
– Não somos exatamente do grupo, já que nos juntamos à eles por termos um trajeto parecido. – Lance me socorria – Por conta da longa viagem que ainda temos, minha filha e eu imaginamos que não haveria problema em nos permitir descansarmos uma ou duas noites em sua vila. Podemos trabalhar para pagar nossa estádia se for necessário.
– E porque oculta o rosto? – perguntava a mulher com desconfiança no semblante.
– Sofri um acidente no passado. Não vai gostar de ver o que tenho por trás da máscara.
– Seus nomes...
– Me chamo Kuris. – respondia ainda um pouco nervosa para o homem – E... meu pai, Lan.
– Peço perdão à vocês por ela. Desde a perda mãe para assassinos, que ela fica nervosa quando armas são apontadas para ela. – (Ei! Que historia é essa de meter a minha mãe como morta?! - E queria que eu desse o quê como desculpa para o seu nervoso? Quer estragar tudo?! - Que tal ter dito apenas que eu tinha medo de estranhos? Nunca mais meta minha família no meio!)
– Tudo bem. – declarava a mulher recolhendo o seu arco – Não há porque se envergonhar Kuris. – eu devia estar vermelha, mas não pelo motivo que ela imaginava – Guiarei vocês até o líder. Ele decidirá se vocês dois podem ou não ficar em Yah-navad’y. O mesmo vale para o grupo de Eel. E por sinal, me chamo Cassandra.
– Prazer conhecê-la, Cassandra. – anunciava o Valkyon – Vamos indo então?
– Vamos. – respondemos quase todos juntos.
Cassandra nos guiava enquanto o homem ficava para trás na entrada. Ao que parece, toda a vila é formada por centauros, o que me faz perguntar sobre que tipo de lugar eles teriam preparado para “nos” receber. Após uns quinze minutos de caminhada atravessando a vila, paramos em frente a uma... casa? Onde ela bateu na porta e logo um centauro de aparência muito forte (mas, provavelmente de meia idade) saiu sem nem nos reparar.
– Potrinha! Pensei que estivesse de guarda, minha linda.
– P-Pai... Quantas vezes preciso dizer ao senhor que não, sou, mais pequena?
– Você e sua irmã sempre serão minhas potrinhas... E... – agora ele nos viu – Quem são eles?
– O pessoal enviado de Eel e alguns viajantes. Estes são: Valkyon, Karenn e Chrome,... – cada um assentiu ao ter seu nome pronunciado – ...que vieram para nos ajudar, e Lan e sua filha Kuris,... – Lance e eu assentíamos – ...que querem permissão para descansar algumas noites por aqui. Lan disse que estão dispostos a trabalhar em troca do consentimento.
– Entendi. – o centauro nos encarava de um modo que acabei ficando um pouco nervosa – Me chamo Kidemónas, atual líder de Yah-navad’y. – seu tom de voz mudou, de amigo descontraído para líder sério – Imagino que essa seja a carroça de suprimentos, quem é o líder entre os três?
– Sou eu senhor.
– Valkyon, certo? – meu chefe só assentiu – Muito bem. Conversarei com o senhor lá dentro, os demais podem acompanhar Cassandra até a Hipodâmia para auxilia-los com o conteúdo. E é senhor Lan?
– Sim. Senhor Kidemónas. – afirmava o Lance.
– Certo. Se está mesmo disposto a trabalhar em troca de pousada, quero que venha junto do Valkyon para que eu possa saber em que vocês podem auxiliar.
– A Kuris pode vir conosco? – perguntava a Karenn procurando com os olhos quem seria melhor para essa permissão. No final, Valkyon, Lance e Cassandra acabaram por encarar o Kidemónas.
– Acho que não há problema, leve-os Cassandra. Senhor Valkyon, senhor Lan, me acompanhem por favor. – declarava o líder já abrindo a porta de sua casa para eles entrarem.Lance
Eu já encarei muitos tipos de viagem mesmo. Seja dentro ou fora da Guarda... Antes ou depois de eu fazer parte dela. E eu posso dizer com toda a certeza que esta daqui, está sendo a mais desconfortável que já fiz. Até a viagem para a Terra, onde havia muitas coisas que eu desconhecia, consigo declarar como mil vezes melhor do que esta.
A situação em que a Ladina e eu ficamos a deixou tão irritada que se não fosse pela tarefa de energizar a prata da roupa dela não, eu iria sofrer ainda mais com ela descontando essa irritação em cima de mim. Não podia lhe fazer nem o menor dos carinhos que ela logo interpretava como segundas intenções. Até para dormir ela se mostrava diferente por causa dessa viagem! Ela, que sempre dormiu encolhidinha na cama, agora, ao menos na barraca “da Karenn”, fazia questão de esparramar o corpo de alguma forma.
E o pior é que nem adiantava mexer com ela, mesmo fazendo o possível para não atrapalhar o sono dela (pois não queria ainda mais irritação para cima de mim) ela simplesmente não acordava. Gastava uns dez minutos para conseguir fazê-la despertar para que pudéssemos retornar pra carroça.
Como eu queria ao máximo evitar de ser feito de bode expiatório, evitei como pude toda e qualquer conversa com ela dentro daquele aperto, mas ainda haviam coisas das quais nós precisaríamos conversar antes de abandonarmos aquele lugar. Deixei isso para quando finalmente terminássemos.
(Acho que acabamos Ladina. Toda a sua roupa me parece perfeitamente energizada agora - Tem certeza? Já acabamos mesmo? Será que a vila ainda está longe? - Sobre a roupa, sim, acredito estar tudo certo. Agora... Sobre a vila...) _suspiro_ (Estou tão ansioso quanto você. - Hum...) – tínhamos que discutir logo como que faríamos para continuarmos nos “escondendo” na vila, mas preferi esperar ela descansar um pouquinho antes de tocar no assunto.
(O quê que...) acabamos pensando juntos depois uns dez minutos (Vo-você primeiro Lance. - Ok. Errr... Alguém combinou alguma coisa com você sobre nossa passagem dentro da vila? - Está se referindo às nossas identidades? - Exatamente. - Não. Ninguém falou nada sobre isso comigo. E com você? Falaram? - Também não. O que prefere? Usar nossos nomes ou inventar alguma historia? - Já vamos estar fingindo termos nos juntado ao grupo por acaso, então é melhor que usemos nomes falsos mesmo. E de preferência, nomes que não iremos esquecer fácil e que nos ajude nós mesmos a nos identificarmos... - E você já tem algo em mente?) vários nomes já passavam dentro da cabeça dela (Acho que já me decidi. Vou usar um dos meus apelidos de internet: Kuris. - Esse nome tem algum significado? - Sim. Se forem traduzir o meu nome para o japonês, ou nipom, como vocês o chamam, ele ficaria Kurisutinne. Se usar só o Cris, Kurisu. E como eu tenho mania de simplificar os nomes... Usei apenas Kuris. Eu me identifico fácil com esse apelido, então saberei que estarão falando comigo se alguém me chamar assim. Mas e você? Como gostaria de ser chamado? - Hãm... Eu nunca fui de usar apelidos... Usei “Ashkone” por muito tempo para fingir estar morto, e... tirando o apelido de mascote que você e Anya me deram, e que não vamos poder usar nessa missão, não sei o que poderia usar.) uma ideia acabou passando pela primeira vez em minha mente (Me diz: se não fosse pela necessidade de me esconder, que nome vocês teriam usado para mim? - Deixe eu pensar... Você se chama Lance então... Acho que ficaria lhe chamando por “Lan”. - Lan? - Achou ruim? - Lan... Não, até que soa bem. Certo, decidido. Enquanto estivermos dentro de Yah-navad’y, meu nome será Lan. Tudo bem para você, “Kuris”? - Perfeitamente “Lan”. Mas... o que mais usaremos para manter o disfarce? - Ninguém lhe disse nada sobre isso?) ela apenas negou com a cabeça (Parece que empurram essa parte toda para nós e se esqueceram de avisar...) ela acabou rindo, pela primeira vez desde que começamos essa viagem (Você é a melhor com a imaginação aqui, alguma ideia? - Bem... O que você sabe sobre essa vila? - Além do motivo dela solicitar a Guarda? - É. - Nada. Nem mesmo os tipos de faerys que vivem nessa vila. - Assim fica difícil. Você já teve de improvisar muito nesse tipo de coisa? - Algumas vezes. Está querendo deixar para mim a tarefa do que fazer? - Você sabe mais sobre a forma de pensar de cada tipo de faery do que eu. Não quero sugerir ideias que, quando lá estivermos, não poderão ser usadas de maneira alguma. - Entendo onde quer chegar. Sendo assim... Você confia em mim? - Se estiver disposto a assumir as consequências caso venha a decidir por algo que me desagrade... Sim. Seguirei o que você decidir. - Combinados então. Decidirei o que faremos de acordo com as reações de quem nos receber. Agora... poderia me dar um pouquinho d’água? Estou com um pouco de sede.)
Ela soltou aquele risinho brincalhão que há dias sentia falta e atendeu meu pedido. Ainda bem que o espaço limitado que ocupávamos não a impediu de controlar a agua como bem entendesse, mas ainda era bem desconfortável. Tentamos conversar um pouco mais enquanto não chegávamos, o que demorou um pouco. Fazíamos o que podíamos para nos distrairmos e evitarmos o retorno do mau humor até a hora de darmos adeus definitivo para aquela situação.
Quando paramos, cedo demais para estar anoitecendo, sabia que era a tão esperada hora da nossa liberdade. Absol nos tirou de lá e o alívio por deixar aquele buraco, agora de vez, foi enorme. Me apressei em colocar minha armadura de volta, para depois ajudar os outros a sumirem com as provas da carroça. Terminando o caminho para Yah-navad’y, ainda de longe consegui perceber que os responsáveis por velar as entradas da vila eram centauros, e centauros são faerys difíceis de lidar quando desconfiados.
A melhor forma de lidar com eles é apelando às suas qualidades: carismáticos, sérios, corajosos (em sua maioria), fiéis, sábios e guardiões da família. A ideia de fazer eu e a Ladina parecermos parentes era o que parecia que ia funcionar melhor, eu só não esperava que a Cris fosse se irritar tanto com o que eu falei de sua mãe... Talvez eu tenha exagerado um pouquinho.
Cassandra nos guiou até o líder da vila, e me surpreendi ao saber que ela era filha do líder. Pela mudança de postura do Kidemónas, não tive dúvida alguma que ele costuma separar bem emoções de deveres. Um homem responsável e sério (ao menos por enquanto). Ele chamou a mim e ao meu irmão para conversarmos em particular com ele enquanto o resto de nosso grupo ajudava com os mantimentos que trouxemos.
Kidemónas nos reuniu em frente a uma mesa que parecia ser utilizada apenas para tratativas pertencentes à vila, já que ela tinha mapas, listas e possíveis documentos organizados sobre a mesma. O centauro começou a nos contar os ocorridos com mais detalhes e também a me questionar sobre para onde eu a “minha filha” estávamos viajando, mas devo dizer, as informações que estava obtendo através da mensligo eram um pouquinho mais interessantes...Cris 2
Lan e Valkyon entraram na casa do pai de Cassandra e ela guiou o resto de nós até um prédio que parecia ser o maior de todos na vila.
– Cassandra! Me diga que o que estou vendo é a ajuda que pedimos.
– E que já estava mais que na hora chegar, Hipodâmia. – declarava a Cassandra com um sorriso enorme – Como está as coisas por aqui?
– Graças aos deuses... Bem agora que todas as casas receberam os mantimentos e os doentes, tratamento.
– Ótimo! Mas, deixem-me apresenta-los. Esta é Hipodâmia, curandeira de Yah-navad’y e minha irmã mais nova. Hipodâmia, estes são Chrome e Karenn que vieram de Eel, e a Kuris, que está aguardando permissão de nosso pai para passar umas noites em nossa vila.
– Vamos continuar com a conversa durante o trabalho. Quem mais estão com eles? Com quantas pessoas papai está lidando? – questionava a outra já avançando com o conteúdo da carroça.
– O líder da Guarda Obsidiana de Eel que está nos liderando nesta missão e o pai da Kuris. A situação está tão ruim assim? – perguntava o Chrome com todos nós ajudando a curandeira.
– Veja você mesmo!
No que entramos no lugar, devia ter uns 20 centauros de diferentes idades deitados no centro do lugar. Uma parede estava cercada de mesas com várias prateleiras semelhantes às do laboratório de alquimia; a do outro lado tinha várias estandes com tecidos de diferentes tipos (cobertores, toalhas, panos...) e recipientes de diferentes tamanhos; e no fundo, muitas estantes semelhantes às dos supermercados para onde estávamos levando as coisas, com quase todas vazias. Não pude evitar de ficar chocada com o que via.
– Há quanto tempo vocês estão nessa situação?! – perguntava a Karenn tão espantada quanto o resto de nós.
– Alcançamos este nível na semana passada. Se não fosse a teimosia de papai querer resolver o problema sozinho, não estaríamos assim agora. Algum de vocês é alquimista?
– Já servi de assistente para a nossa médica inúmeras vezes, isto serve? – respondeu o Chrome para a Hipodâmia erguendo timidamente a mão.
– Muito. Traga todos os remédios para as mesas e depois me auxilie por favor. Irmã, vou deixar o organizar e distribuir da comida com vocês.
– Pode deixar. – respondia a Cassandra já mostrando pra mim e pra Karenn onde colocarmos tudo.
Era bastante trabalhoso, e Cassandra, por conta do “porte equino”, carregava os mais pesados em seu... lombo? Karenn os de peso mediano e eu os mais leves. Chrome não se demorou nada para buscar os medicamentos e nem a prepara-los. Enquanto ajudava com a descarga da comida, comecei a reparar melhor nas centauras.
Cassandra era musculosa; pele cobreada, a cor de seu dorso quase se misturava à de sua pele; seus cabelos eram compridos e negros assim como sua cauda, e ela ainda usava um enfeite nas orelhas que as faziam parecerem pontudas. Bem parecida com o pai dela, o Kidemónas.Cassandra
– Finalmente uma pausa sem remorsos... – declarava a curandeira se sentando no chão do jardim que havia nos fundos do depósito/enfermaria – Muito obrigada pela ajuda de vocês.
– É para isso que estamos aqui, Hipodâmia. – respondia o Chrome – Se bem que o quê fiquei sabendo não é bem o que vimos. Importa-se de nos contar o que de fato aconteceu? Valkyon não costuma ser detalhista nas explicações. – (mas eu estava ouvindo tudo direto do Kidemónas, graças à mensligo).
– Não é nada muito complicado. Após a segunda quebra do Cristal aconteceu uma tempestade onde um raio atingiu o nosso celeiro e metade da comida foi destruída, e um terremoto causou um deslizamento bem perto daqui, ferindo e matando pessoas que tinham saído no dia seguinte para ir atrás de recursos para consertarmos as coisas. Só diante dessas desventuras, já era para o papai buscar por auxílio externo, mas aí veio a Guerra do Cristal e o cabeça dura do papai preferiu se virar com o que tínhamos por um tempo. Estávamos até que conseguindo lidar mais ou menos até que no mês trasado começaram a haver roubos dos mantimentos quase ao mesmo tempo em que algumas pessoas ficaram doentes. Sobre a doença conseguimos descobrir que a causa era o cadáver de um ornak que estava envenenando uma de nossas fontes de agua, mas nos faltava material para produzir os medicamentos corretos, e sobre os ladrões... Ainda não achamos nada.
– Wow! É mesmo bastante coisa! – comentava ao terminar de ouvir a versão simplificada da Hipodâmia com um toque de sarcasmo.
– E vocês não conseguiram nenhuma pista sobre o ladrão? Nem uma coisinha? – confirmava a Karenn.
– Se eu não tivesse sido roubada, já estaríamos com o nosso culpado nas mãos. – respondeu a Hipodâmia com um sorriso de lado que parecia conter irritação e nervoso misturados.
– Espere. Como assim “roubada”? O que levaram de você para atrapalha-los tanto?
– Só a minha memória, senhor Chrome... Só a minha memória... – (heim?) tirando as centauras que pareciam frustradas, ficamos todos confusos.
– Deixem... que eu explique melhor. – Cassandra assumia – Lembram que minha irmã comentou sobre um deslizamento?
– O que foi causado por um terremoto? – perguntei.
– Exatamente esse, Kuris. Acontece que... Minha mãe e Hipodâmia estavam no grupo que foi atrás de recursos, onde minha mãe faleceu e a Hipodâmia... bem...
– Fiquei inconsciente à beira da morte por quase uma semana, e quando acordei, só tinha como última lembrança o incêndio causado pela tempestade do dia anterior.
– Tá. Mas... Onde que isso entra? – perguntava a Karenn e alguns filmes começaram a surgir em minha memória – Até onde eu sei é normal não se recordar de um acidente ao despertar.
– Errr... Desculpe interromper, mas... Hipodâmia. Pode ser que você ache minha pergunta estranha, mas, o que você lembra de ter feito ontem?
– Parece que você já viu gente como eu antes... – ela sorria de canto com desgosto – Pois bem. A última coisa que eu lembro de ter feito “ontem”, foi ter ajudado a combater o incêndio causado por um raio da tempestade que caiu.
– Como?!? – Karenn e Chrome reclamaram juntos enquanto eu apenas soltei um suspiro pesado por realmente ter adivinhado.
– Mas vocês não acabaram de contar que esse incidente aconteceu há uns dois anos atrás??
– Não para ela, senhor Chrome. – respondia a Cassandra, afagando os cabelos da irmã.
– É o seguinte Chrome: Hipodâmia pode ter sobrevivido ao deslizamento, mas ela sofreu dano em uma região específica de sua cabeça que lhe tirou a capacidade de guardar memórias novas. Eu não cheguei a conhecer pessoas com esse tipo de problema, mas ouvi algumas historias. Imagino que isso seja uma experiência horrível... – explicava.
– Não imagina o quanto Kuris... Tem noção do que é acordar e descobrir que pessoas amadas morreram a tempos sendo que a última vez que os viu foi ontem? Ter que lidar todos os dias com um luto do qual todos já se acostumaram e que pra você é novo? De acordar com a sua casa, sua vila, estando totalmente diferente de quando você havia se deitado? De ter que dar continuidade a tarefas que, se não fossem pelos registros,... – ela apontava para as joias espalhadas em seu corpo – ...você nem saberia como que as iniciou? Tem ideia do que é ver suas lembranças congeladas no tempo, enquanto seu corpo, conhecidos e lar mudam, e você tem que aceitar isso como um golpe de espada no peito? Horrível, não chega nem, perto de resumir o que eu sinto. – terminou ela de se abrir com lagrimas correndo em seu rosto.
Não pude evitar de chorar junto dela por conta de seu desabafo. Chrome e Karenn pareciam estarem se segurando, e Cassandra esfregava as costas de Hipodâmia com uma das mãos, lhe enxugando as lágrimas com um lenço usando a outra. Ficamos em silêncio por alguns instantes, até a Karenn o romper.
– Longe de mim querer parecer insensível diante de tamanho infortúnio, mas... Como exatamente funcionam esses seus “registros”?
– É uma invenção élfica. – explicava a Cassandra – No começo, quando ela finalmente acordou, ninguém desconfiou de seu estado. Quando ela acordou no dia seguinte após o seu despertar pós-acidente, estranhamos ela reagir como se tivesse acordado naquele momento e não no dia anterior. Isso ficou se repetindo dia após dia, fazendo alguns acharem que ela estava “brincando” para fugir das tarefas, mas eu conheço a minha irmã! Sei que ela nunca brincaria com algo tão sério assim. Quando um mês se passou, tendo a Hipodâmia sido afastada de suas funções como curandeira, uma caravana élfica pediu permissão para passarem algumas noites dentro da vila. Assim como a Kuris e seu pai.
– Nosso pai só os permitiu fazerem isso se eles descobrissem o que eu tinha e conseguissem, de alguma forma, resolver o meu problema. Acho que disseram que fiquei sendo estuda por eles durante quase duas semanas...
– Duas semanas e meia. Foi graças a eles e seus experimentos que entendemos que o acidente acabou destruindo a capacidade de Hipodâmia de guardar memórias novas. E depois de mais umas duas semanas, eles desenvolveram um sistema para substituir a habilidade perdida.
– E são as joias que a sua irmã usa? Conseguiu recuperar a memória não salva com a ajuda delas?
– É sim, Karenn. Cada uma dessas pedras em meu corpo tem uma função especifica. Sobre as memórias que já tinha perdido, eles até que conseguiram me fazer recordar, mas... O que eu recordei foram sensações. Emoções, alguns sons e alguns vultos indefinidos. Não sei se dá para chamar de memórias de modo claro.
– Podem sim Hipodâmia. – intervi lhe chamando a atenção – Afinal de contas, esses elfos conseguiram fazer com que você tomasse consciência da sua memória física. Memórias que foram registradas pelo seu corpo, e não por sua mente. Todos nós temos duas memórias: a física e a psicológica.
– Nunca parei para pensar dessa forma... – comentou baixo a Hipodâmia, observando uma das gemas de seu braço.
– Certo, certo. Esse negócio de memórias é bem interessante, mas como exatamente virou um problema para a solução do caso? – retoma o Chrome.
– Estão vendo essa gema do meu braço? – todos nós assentimos – Ela é a responsável por guardar todas as novas memórias que crio. Infelizmente há um limite do quanto ela consegue guardar, por isso tenho várias, mas... sem ela... É como se eu não tivesse memória alguma.
– Então, está nos dizendo, que o ladrão conseguiu lhe roubar a gema que usava quando o viu!? O quanto de memória você perdeu com isso?!?
– Tive uma intuição, senhorita Karenn. E a gema que perdi era nova. Com registros apenas do que tinha feito a partir da hora que saí para fazer a vigília.
– Eu tenho uma dúvida, se me permite dizer.
– Qual seria, Kuris?
– Existe alguma forma de mais alguém além de você visualizar essas memórias? Do contrário, porque o ladrão a levaria? Ele podia muito bem dizer que você havia se confundido caso o delatasse, não?
– Sim Kuris, há como mostrar o que vi sim. – ela sorria um pouco mais animada – Mas para isso é fundamental que eu tenha a gema com a memória desejada. É o seguinte, Cassandra, tem como você me trazer um recipiente com agua?
– É pra já irmãzinha...
Cassandra foi atrás da agua e a Hipodâmia nos explicou como cada uma das gemas que ela usava funcionava. Quando a agua chegou, ela nos mostrou como que tudo funcionava para repassar suas memórias para os outros. Até parecia que a agua tinha se tornado uma espécie de monitor que mostrava tudo pela visão de uma “câmera”. Mas foi a Karenn que surpreendeu todo mundo quando as explicações acabaram.
– Isso tudo é fascinante Hipodâmia. Seria incrível se a minha guarda pudesse ter alguns equipamentos desses que você usa, mas um pensamento me passou pela cabeça... Se suas gemas são capazes de recuperar as suas memórias físicas, também seria possível para elas recuperar sonhos antigos?
– Olha senhorita Karenn... Eu nunca testei isso antes, mas podemos tentar. Só preciso configurar uma gema nova para que ela faça isso. Que tipo de sonho você quer recordar?
– Sonho meu? Nenhum. Eu quero é ver os sonhos da Kuris. – ficamos todos espantados, eu principalmente – Durante a viagem, ela nos falou sobre alguns sonhos muito interessantes que ela teve, e fiquei curiosa sobre como seriam eles se os vessemos do mesmo jeito que você fez agora com as suas próprias lembranças.
– Bem. Se a Kuris não se importar e aceitar... Eu até posso tentar fazê-lo. Mas só se formos utilizar a gema memorial que me foi roubada. Posso continuar mantendo contato com Iston e os demais elfos que me ajudaram, me fornecendo gemas com capacidades de armazenamento cada vez maiores, mas... Eu só tenho mais uma para o meu uso, e vai demorar para que me enviem mais.
– Em outras palavras, o “recuperar” dos sonhos da Kuris seria uma recompensa pela recuperação da gema roubada. É isso?
– Esse é um modo de ver as coisas, senhor Chrome. – respondia a Cassandra dando de ombros.
– Pois eu acho bem justo. – declarei – Eu não quero ser a responsável por deixar a Hipodâmia “no escuro” só por causa de alguns sonhos. E você não disse que leva um tempo até você relembrar tudo o que esqueceu antes de retomar a sua rotina, Hipodâmia?
– Sim. Levo um décimo de segundo para cada um dia registrado. E eu revejo todas as minhas memórias para não deixar nada importante para trás. É como se eu reassistisse minha vida todos os dias, sendo as primeiras memórias as mais desagradáveis por não serem nítidas.
– Pois é. Eu é que não quero deixar outro buraco desses pra você. Mas e agora? Como que faremos para recuperar a gema ausente?
– Aí estão vocês. – Kidemónas, junto de Valkyon e Lance apareceram nos assustando – Vão continuar conversando até quanto? Há trabalho para ser feito, não?
– Nos desculpe papai. Eu estava explicando a eles sobre a minha condição e como ela interfere no nosso problema.
– É verdade pai. Ficamos tão empolgados que nem percebemos o tempo correr. Já vamos voltar.
Todos nós nos levantávamos enquanto as centauras se explicavam.
– Que seja. Pode até ser que isso facilidade algo para o lado deles, mas agora venham vocês três. Irei lhes mostrar onde poderão passar a noite aqui na vila. E quanto a vocês duas, já para o trabalho!
– Sim senhor! – declarou as duas já galopando de volta para suas tarefas.
Chrome, Karenn e eu pegamos nossas coisas que haviam ficado na carroça e depois nos juntamos a eles sem dizer nada. Lance já estava com as minhas na mão então só tivemos de aguardar o casal. Kidemónas nos guiou até duas casas vizinhas que eram as únicas com uma aparência mais comum.
– O pessoal de Eel pode ocupar a da esquerda, e Lan e sua filha ficam na da direita. As duas casas foram construídas para moradores bípedes, então não terão do que reclamar uma vez que servem justamente para receber visitantes como vocês. Valkyon, Lan, repassem para os seus o quê já combinamos e descansem por essa noite, irei fazer a vigia dos novos mantimentos como decidimos antes. Uma boa noite para todos. – despediu-se ele já indo embora.
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Valkyon
– Entrem por favor. Desculpe não ter cadeiras para lhes oferecer, mas tenham a certeza que as instalações preparadas são mais receptivas para seres bípedes como vocês.
– Agradecemos a consideração, senhor Kidemónas. Não concorda, senhor Lan?
– Havendo um teto para me abrigar, um leito para descansar, e agua e comida para me manter... Contendo-me com o quê me oferecerem.
– É o básico da vida, senhor Lan, mas... e quanto ao conforto de sua filha?
– Ela pode ser um pouco caprichosa às vezes, mas ela tem bastante bom senso para não deixar que alguns caprichos atrapalhem nossa viagem. Se bem que isso não a impede de reclamar um pouco...
– _risinho_ Sei bem o que quer dizer... sou pai de duas, afinal! Mas vamos deixar isso para outro momento, pois temos negócios a tratar. – parava o Kidemónas em frente à uma mesa cheia de papéis, sendo que ele selecionava alguns.
– Para começarmos senhor, poderia me dizer quando que os problemas de Yah-navad’y começaram? – Kidemónas apenas me indicou o Lance com o olhar – Não se preocupe com o Lan. Ele e sua filha já estão cientes do objetivo de meu grupo aqui, após muito conversarmos, e eles se ofereceram para nos ajudar.
– E em quê os dois poderão nos auxiliar?...
– O senhor pode me considerar um guerreiro, mas faço de tudo um pouco. O mesmo vale para a Kuris, apesar dela preferir evitar as batalhas.
– Entendo. Permitam-me então contar tudo desde o começo, no caso, quando soubemos que o Grande Cristal havia sido atacado pela segunda vez.
Não foi difícil notar meu irmão engolindo em seco. Kidemónas nos contou uma longa história sobre tudo o que tinha lhes acontecido com bastante detalhes. Acabei sentindo um pouco de compaixão pelo povo daqui diante de tantas desgraças, causadas em parte por meu irmão (que por algum motivo parecia estar com a sua atenção dividida).
– Enfim... – ele terminava de nos contar tudo – ...Como a condição especial de minha filha não nos ajudou com o problema, pelo contrario, acabou a prejudicando, não nos restou mais nenhuma alternativa além de apelar à Guarda. É possível que aqueles que ficaram ajudando as minhas meninas possam já ter recebido um resumo de tudo que lhes contei através da Hipodâmia, minha menina mais nova. Ela anda um pouco sobrecarregada por tudo isso...
– Não se preocupe. A gente entende bem esse tipo de pressão. – declarava o meu irmão e eu deixava um suspiro pesado escapar – Mas acredito já estar ficando bastante tarde e todos estamos um tanto cansados da viagem. Aposto que o lado onde o resto de nosso grupo se encontra já está resolvido, o que nos resta cuidar da segurança dos mantimentos, e descobrir e capturar o ladrão de recursos.
– Se estiver certo, Lan, eu e mais dois homens de minha plena confiança podemos fazer a vigília esta noite. Vocês descansam por essa noite, já explicando a situação aos seus, e amanhã começam com as investigações. Lan pode ajudar vocês ou a mim, e a Kuris pode ajudar minhas filhas. Ficamos acertados assim por enquanto?
– Não vejo problemas. Valkyon?
– Também estou de acordo. Vamos ao encontro deles então? – sugeri já me virando, com Kidemónas concordando e os dois me seguindo.
Deixamos a casa de Kidemónas com ele explicando onde ficava o quê da vila se viéssemos a precisar de algo. Chegando na clínica, que também estava sendo usada como armazém até a captura do ladrão, a carroça estava estacionada nas laterais do prédio, contendo apenas os nossos pertences dentro e com os rawists descansando já livres dela.
Entrando na clínica, só os pacientes estavam lá dentro. Contei 21 centauros. A maioria estava dormindo, mas uma senhora que tinha uma criança ao seu lado nos disse que a curandeira estava conversando com a irmã e os visitantes no jardim dos fundos. E já fazia algum tempo...
Pelo tom que o centauro usou com as suas filhas, ele realmente não gostou de saber que os pacientes (e os recursos) tinham ficado abandonados. Terminamos de pegar nossas mochilas e fomos guiados até as casas que ocuparíamos dentro da vila. O lugar era simples: uma cozinha, banheiro, dois quartos... Dava para nós três nos instalarmos sem dificuldades e, assim como Kidemónas alertou, tudo era feito para seres bípedes como nós.
– Muito bem. Chrome, você divide o quarto comigo. Karenn dorme sozinha no outro.
– Mas Valkyon... Acho que é melhor o meu lobo ficar comig...
– Nem pensar. – a interrompi – Estamos aqui em missão, e não de férias. E tenho a certeza que qualquer um tomaria a mesma decisão que eu no meu lugar. – Karenn emburrou e Chrome ficou parecendo sem jeito. Respirei fundo antes de continuar – Kidemónas já me explicou, com detalhes, o que vem acontecendo por aqui, Cassandra ou Hipodâmia lhes explicaram alguma coisa enquanto ajudavam?
– Elas nos contaram tudo de forma resumida. Mas eu ainda não entendi Karenn, porque foi que você pediu para a Hipodâmia nos mostrar os sonhos da Kuris?
– Como? O quê exatamente as duas lhe contaram? – sentamos os três à mesa e começamos a trocar explicações. Eu, contanto tudo que soube por Kidemónas, e eles, repassando tudo o que ouviram das filhas. A condição de Hipodâmia é interessante, mas ainda não captei as intenções da Karenn – E o quê exatamente você planeja Karenn?
– Os sonhos de “destino” dela. – _surpreso_ – Pense bem Valkyon, mesmo que ela transcreva tudo, sempre há a possibilidade de esquecer-se de algum detalhe, e não tem como algum de nós conferirmos se conhecemos ou não alguém que possa ter chamado a atenção da Kuris em seus sonhos!
– Como a mulher do retrato que ela mencionou no final?
– Exatamente, Chrome! Se Hipodâmia nos ajudar a revermos os sonhos da Kuris, da mesma exata maneira como ela os sonhou, é possível que consigamos muito mais pistas! Não concordam comigo?
Refletia um pouco comigo mesmo e não tinha como negar – O que você diz tem lógica. E admito que um sistema desses seria útil não só para o caso da Cr... digo, Kuris, como também de outros casos. Tentem conseguir o contato desses elfos que ajudam a Hipodâmia e façam o possível para conseguirmos recuperar esta joia que foi roubada dela. É tarde para a missão de Lund’Mulhingar, mas ainda há tempo para a de Yaqut.
– Certo.
– Pode deixar.
Os dois respondiam ao mesmo tempo. Decidimos mais ou menos como que faríamos nosso trabalho amanhã, e depois nos alimentamos e nos preparamos para dormir. Espero que a Cris e meu irmão estejam bem nas acomodações deles.Lance
Longa viagem, horas de explicação, e agora finalmente estou debaixo de um teto com espaço bem amplo para descansar. Fui logo abraçar a minha Ladina, mas...
– Pode ir saindo! “Pai”.
– Mas Lad...
– Shi! Incesto para cima de mim, não. Foi sua escolha. Tivesse pensado melhor antes.
– Centauros valorizam muito a família. – (Haviam menos chances de desconfiança se fôssemos parentes de sangue.) completei aproveitando que a mensligo ainda estava ativa.
– E é assim que iremos agir! Considere isso um bônus! – (Por “matar” minha mãe. _ríspida_) quis me dar um soco pelas minhas decisões, e tive a impressão de ouvir Absol rindo de mim... – Agora... que tal a gente explorar a casa antes de comermos e depois dormir?
– Como queira... – declarei desanimado.
A casa não era muito grande, acho que se a casa que está sendo ocupada pelo o meu irmão for exatamente igual a que nós estamos, as duas cabem dentro do quarto da Ladina. A cozinha, que era formada por uma bancada na parede, alguns armários contendo comida e utensílios, e uma mesa quadrada com quatro cadeiras, ficava na entrada. Um corredor cuja entrada ficava no meio da cozinha dava acesso a três portas: uma à direita, uma à esquerda, e uma nos fundos. A porta dos fundo levava a um banheiro que tinha uma grande tina que devia servir de banheira, uma pia, um grande espelho, e alguns ganchos e prateleiras que serviriam para apoiarmos as nossas coisas. As portas laterais davam para os dois quartos iguais que tinha ali: duas camas de solteiro, sendo ambas paralelas às paredes com uma cômoda de quatro gavetas entre elas e uma janela grande o bastante para qualquer um do nosso grupo as pular acima do móvel.
– Ao menos podemos ocupar o mesmo quarto? – perguntei ao vê-la provando o colchão da última cama.
– Hum... O mesmo quarto, talvez. Mas a mesma cama... – (Acho melhor não arriscarmos o disfarce que você criou.)
Respirei fundo. Discutir com ela agora era uma péssima ideia. Não só estava me arriscando piorar o humor dela, como também de fazer algum centauro próximo da casa estranhar se viesse a escutar algo. Contentei-me com o que tinha mesmo e a ajudei com a nossa refeição, uma pequena sopa rápida. Cada um se lavou na sua vez e quando chegou a hora de nos deitarmos, ela ainda me fez engolir seco com a possibilidade dela querer ficar no outro quarto, mas para o meu alívio ficamos no mesmo quarto. Já não sei mais dormir longe dela...Cris
Mas que dia mais longo que foi hoje! Estou exausta. Não vejo a hora de poder me esticar em uma das camas da casinha que nos foi cedida. Apesar de não saber se aqueles colchões são feitos de palha ou de espuma...
Ainda bem que o Lance me ajudou com a comida, aquelas caixas que Karenn e eu ajudamos a Cassandra a carregar eram bem pesadinhas. Isso para não mencionar a pequena dor de cabeça que estava sentindo por conta de todas as informações que havia recebido num único dia. Aproveitei o banho para ver se eu conseguia relaxar só um pouquinho a alma depois de tantas emoções sentidas e presenciadas.
Estômago satisfeito; alma acalmada; era a vez do corpo relaxar. Mas... Dormia no mesmo quarto que o Gelinho... Ou dormia em um quarto diferente? Já faz tanto tempo que não durmo sozinha que talvez seja até bom nós ficarmos separados um pouco. Quero dizer, na falta de um, tenho dois guardiões! E não acho que preciso ter os dois colados em mim o tempo todo. Deixei para decidir no momento em que fossemos nos deitar.
Ambos prontos, fomos os dois para o corredor e Lance abriu uma das portas como que me esperando entrar. Acabei meio que cruzando os braços com o indicador sobre os meus lábios, em reflexão.
– Er... Ladina? – ele parecia nervoso, mas não ousou fazer uma reclamação que fosse – Me desculpe outra vez se exagerei um pouco então... Se não quiser minha presença, eu...
A mesnligo não estava mais fazendo efeito, mas a poção era totalmente desnecessária para perceber o quão nervoso o Lance estava. Era quase divertido vê-lo naquele estado. Decidi que só aquele “sofrimento” já era castigo suficiente para ele no momento.
– Pode ficar calminho aí, “papai”. – resolvi brincar um pouco – Não sou tão velha ao ponto de não poder dividir o mesmo quarto com o senhor. Mas com toda a certeza estou meio grandinha para dormimos na mesma cama _sorriso sapeca_.
– Ok. – havia alívio em sua voz – Posso superar isso. Mas... Se, “por acaso”, tiver medo ou se sentir solitária... Meus braços lhes estarão sempre abertos.
Um riso fungado acabou me escapando enquanto balançava a cabeça em negação, já adentrando o quarto. Haviam cobertores limpos dentro de uma das gavetas do móvel e acabei pegando algumas porque o clima estava ficando frio. Estando nós dois devidamente ajeitados nas camas, Lance desligou um orbe que funcionava como abajur e desejamos boa noite um para o outro.
Eu realmente preciso passar mais noites sem o Gelinho colado em mim, tinha até me esquecido o quanto que a cama demora para ficar quentinha sem o dragão do lado! E mesmo com a vaga claridade da noite preenchendo o quarto, não me demorei pra dormir. Dormir uma noite que nem percebi terminar.
– Kuris querida, acorda amor!...
Remexi-me antes de encarar o Lance que me chamava, sentado na cama que eu ocupava – Mas já amanheceu?...
– Amanheceu. E precisamos trabalhar para merecermos estar ocupando essa casa, lembra? – ele declarava aquilo sorrindo e um gemido de insatisfação fugiu de mim – Venha... Já até preparei o café da manhã para nós dois.
– Já?!? – o encarava incrédula, e ele ergueu do chão uma bandeja que ajeitava sobre a cama, sorrindo.
– Já. E agora... – ele colocava mensligo em uma colher – Está na hora de tomarmos o nosso “remédio”, o nosso dejejum, e começarmos a trabalhar. “Filhinha”.
– Como queira! – abocanhava a colher para tomar a poção – “Papai”.
Brincadeiras à parte, comemos, nos arrumamos, e saímos da casa para nos encontrarmos com os outros. Valkyon, Chrome e Karenn também deixavam a moradia cedida para eles quando trancávamos a nossa porta.
– Bom dia senhor Valkyon! Vocês já decidiram o que farão hoje? – perguntei me aproximando deles.
– Bom dia. Já nos decidimos sim. Karenn e eu vamos pedir ao Kidemónas que nos mostre o local original em que os recursos eram mantidos, e o Chrome tentará obter mais informações enquanto auxilia Hipodâmia com os doentes. Se desejarem se unir a nós, Lan pode me acompanhar e você pode seguir o Chrome. Aceitam assim por hoje?
Encarei o Lance de modo a questionar “tem algo contra?” para que ele decidisse se aceitava ou não.
– Bom, se eu puder confiar até nas sombras... – Lance encarava minha sombra que mudou levemente a aparência, confirmando a presença de Absol dentro dela – Não vejo nenhum problema em seguirmos desse jeito por hora.
– Então vamos logo ver o líder da aldeia. Estou doida para me ver livre da vigília do Valkyon. – declarava a Karenn já andando na frente, totalmente emburrada.
– Aconteceu alguma coisa, Chrome? – sussurrei para o lobo.
– Digamos apenas que o Nevra deixou MUITAS, recomendações para o Valkyon... – me respondeu ele no mesmo tom, e com um “ah!” mudo meu, seguimos todos para a casa de Kidemónas.
Ao chegarmos na casa, fomos recebidos pela Cassandra – Acordaram cedo! Mas entrem, por favor. – ela nos pedia abrindo bem a passagem.
– Viemos ver seu pai para que nos ajudasse com o nosso trabalho por aqui. Onde ele está agora? – Valkyon se apresava.
– Meu pai está descansando da vigília noturna e me deixou no comando durante este tempo. Em quê exatamente posso ajuda-los? – meu chefe explicou todo o plano de investigação e eu fiquei observando a casa que, se não fosse pela falta de assentos (bancos, sofás etc) e pelas portas bem mais largas, seria uma casa totalmente comum para mim – Entendo seus objetivos. Terei o maior prazer em guia-los no local na ausência de meu pai. E podemos ir agora mesmo se desejarem. Chrome, Kuris, peço que aguardem mais um pouco antes de irem à clínica. Hipodâmia não deve demorar muito para terminar de se preparar pro dia-a-dia e acredito que a ajuda de vocês ainda é muito bem vinda para ela.
– Tudo bem. Aguardamos de boa. – respondia o Chrome na minha frente.
Cassandra agradeceu e saiu com resto do pessoal deixando Chrome e eu esperando por Hipodâmia. Ficamos em pleno silencio por uns dois minutos, e nisso me deu vontade de ir ao banheiro... Avisei ao lobo sobre a minha vontade e procurei pelo banheiro. Testava uma porta de cada vez, se estivesse aberta, abria devagar para conferir se era o que procurava. A primeira estava trancada, Kidemónas roncava atrás da segunda, a terceira era um quarto vazio (as camas deles é um monte de almofadas espalhadas em um canto do chão...), e acabei me deparando com a Hipodâmia na quarta porta.
– Já nos conhecemos? – me surpreendia ela antes que eu terminasse de fechar a porta.
– De-desculpe. Nós... nos conhecemos ontem. Estava aguardando por você junto de meu amigo e acabei precisando achar um banheiro. Sinto muito por interrompê-la. – estava sem jeito, pois seu rosto estava molhado de lágrimas.
– Não. Está tudo bem. O banheiro fica na próxima à esquerda e eu já estou terminando. Só... me falta uma gema... – disse ela encarando a pedra na mão.
Fechei a porta engolindo seco. Até perdi a vontade quando entrei no banheiro. Fiz um esforço pois não sabia quando teria aquele momento de privacidade outra vez e, quando abri a porta para sair, Hipodâmia esperava do outro lado. Fiquei desconfortável ao notar que parecia que ela havia chorado mais e tentei sair em silencio.
– Espere. – ela segurava o meu pulso – É Kuris, certo? – apenas assenti com a cabeça – Se importa de me fazer companhia por uns momentos?
– Tudo bem. Eu acho...
– Vem.
Nós duas entramos no banheiro. Ela lavou o rosto e soltou um longo suspiro. Eu me sentia fora do lugar e, sem nem que me desse conta direito, a curandeira me abraçava. Demorei alguns instantes para lhe devolver o abraço, e ainda bem que ela se ajoelhou para fazê-lo, já que todos os centauros adultos deste lugar pareciam ser mais altos que o Jamon por conta do corpo cavalariço, fazendo com que eu me sentisse ainda mais baixinha com os meus 1,65m.
Passados alguns minutos com ela contendo soluços em minhas costas, ela soltou os meus braços aparentemente mais calma.
– Me desculpe. E obrigada.
– Sente-se melhor agora, Hipodâmia? – ela assentia – Então podemos trabalhar agora? Seus pacientes devem estar lhe esperando, não?
– Sim. Tem toda a razão, Kuris. Te colocaram para me auxiliar hoje?
– Eu e o Chrome, que está nos esperando há não sei quanto tempo na sala. – falei com um pouco de ironia, arrancando um pequeno riso dela.
– Então é melhor nos apressarmos. Poderia me contar tudo o quê ficou decidido entre vocês durante o caminho até a clínica?
– Com todo o prazer! – declarei.
Fomos ao encontro do lobisomem (que já estava impaciente) e seguimos para a clínica. No caminho Chrome e eu explicamos tudo o que tinha sido decidido e começamos a ajuda-la com os pacientes assim que entramos no lugar. Chrome a questionava sobre tudo durante o trabalho, enquanto eu apenas fazia o que me pediam. Assim seguimos até a hora do almoço.
Quando paramos para comer, Chrome decidiu falar com o Valkyon, me deixando sozinha com a Hipodâmia. Isso até alguém resolver falar com a gente.
– Olá Hipodâmia! Como que está tudo por aqui?
– Oi Damon. Está tudo muito bem. Graças à ajuda que finalmente chegou.
Eles continuaram conversando, e eu fiquei observando. Eu pensei que todos os habitantes naturais de Yah-navad’y eram centauros, mas esse tal de Damon aí mais me parece um amontoado de massa que parece imitar a forma de um centauro. E ainda havia o detalhe de que ele tinha uma pedra dentro do corpo, que parecia ser semelhante às gemas de memória da Hipodâmia. A conversa deles foi breve, pois Damon ainda estava em serviço. Quando ele sumiu de nossas vistas, resolvi questionar.
– Desculpe perguntar, mas esse Damon é amigo seu?
– Oh, pelo Oráculo! Esqueci totalmente de apresenta-los!
– _risinho_ Não se preocupe, outra hora fazemos isso. Agora, quanto a minha pergunta...
– Certo. Damon é um amigo de infância meu. O centauro mais confiável que há em Yah-navad’y. – (centauro?!?) – Mas... de uns dias pra cá...
– O quê? – tem algo extremamente errado aqui – Ele ficou estranho ou algo do tipo?
– Não, não é isso. É que... Eu sempre me sentia bem segura ao lado dele, no entanto, um pouco antes de ternos nossos estoques surripiados, eu sei lá! Não consigo mais sentir o mesmo conforto de antes. Cheguei a pensar que pudesse ter acontecido alguma coisa entre nós dois durante meu tempo de escuridão memorial, mas Cassandra me garantiu que não aconteceu nada entre nós dois então, eu não entendo.
– _engole seco_ Talvez... Seja a sua própria memória a alertando... – comentei com tom meio contido perante a possibilidade que surgia em minha mente.
– Minha... Memória me alertando?? O quê quer dizer? – acabei mordendo o lábio. Não tinha como eu contar minhas suspeitas pra ela sem revelar quem sou de verdade.
– Hãm... Me diz Hipodâmia: como, que você faz com... segredos.
– Segredos? – ela movia uma das mãos até uma pequena gema escondida embaixo do bracelete de seu antebraço – Segredos... Tenho alguns truques para preserva-los. Mas porque exatamente deseja saber isso?
– Err... Existe algum lugar, SEGURO, para continuarmos essa conversa?
Ela demorou um instante para responder – Será que... poderia me aguardar atrás da clínica? Tem algo que quero buscar.
– Tudo bem. Vai demorar muito?
– Se depender de mim, não. Te encontro lá. – declarou ela já se mandando de onde estávamos. Terminei de beber o meu suco do almoço e me apressei até o local. Tive de esperar por uns cinco minutos – Desculpe a demora. Não poder se lembrar de certas coisas é meio complicado.
– Sem problemas. O que foi buscar?
– Uma coisinha que vai nos garantir a privacidade. – explicou ela estendendo algumas bolinhas em sua palma.
– Isso... São sanas clypeus?
– Conhece?
– Digamos que já ganhei e até usei algumas. Mas as minhas eram verdes, e não negras como essas aí.
– Essas são sanas clypeus um pouquinho diferentes. São até mais difíceis de se conseguir.
– E por quê?
Ela apenas me sorriu. Recitou o encantamento para ativar a bolinha e o escudo começou a se formar. Diferente das que eu conheço, as sanas de Hipodâmia parecia criar um céu noturno ao nosso redor. Se não fosse pelos pontos de luz (e algumas das gemas de Hipodâmia) e não enxergaria nada ali dentro.
– Sabia que algumas pessoas conseguem saber o que você está falando só observando o movimento dos lábios de uma pessoa?
– Leitura labial. As suas impedem que quem está do lado de fora seja capaz de nos enxergar aqui dentro?
– Exatamente. Agora... – ela começou a pressionar a gema “oculta” de antes, que passou a brilhar moderadamente – O quê você estava querendo me contar antes?
– Primeiro: você já ouviu falar na “Lys de Eldarya”?
– Algumas coisas...
– Saberia reconhecê-la se ela estivesse diante de ti?
– Você saberia? _desconfiada_ – sorri, e decidi brincar um pouquinho antes de começar com o assunto sério.
– Ela possui cabelos castanhos escuros, longos e cacheados como os meus;... – brincava com meus fios – ...olhos grandes, também castanhos escuros como os meus;... – arregalava meus olhos – ...tem a minha altura. Ela consegue: manipular agua;... – controlei um pouquinho de agua – ...manipular luz;... – fiz uma pequena esfera de luz, como o Leiftan me ensinou – ...é uma ótima guerreira com percepção ambiental;... – peguei, sem olhar, um pequenino mascote que cabia na palma de minha mão e que estava atrás de mim, que nenhuma de nós duas havia percebido na hora que a clypeu foi ativada – ...E tem mais uma habilidade, que é realmente especial.
– Kuris... – Hipodâmia parecia assustada – O que você...
– E tem mais uma coisa que nos ajuda a identificá-la. – ela engoliu seco – A Lys está sempre com dois guardiões cuidando dela. Um guerreiro totalmente coberto por uma armadura, e o Absol! – Absol pôs a cabeça para fora de minha sombra – Um black-dog anormalmente grande e que possui umbracinese. Legal, não é? – terminei de falar afagando a cabeça de Absol que logo voltou a se esconder em minha sombra.
– Vo... Você é... É A LYS?!?!? – Hipodâmia estava mesmo em choque.
– Algum tempo atrás, Lunna visitou ela lhe dizendo que ela teria que fazer algumas viagens por Eldarya para resolver alguns problemas. Oficialmente, a Lys se encontra em Eel se preparando para a sua próxima viagem. Ou será que ela já partiu?...
– Por isso o segredo. – as reações de Hipodâmia foram mesmo divertidas, mas a graça acabou.
– Quanto ao porque do sigilo, lembra que eu mencionei que tenho mais uma habilidade especial? – ela só assentiu – Pois bem, essa habilidade acabou sendo chamada por alguns de: Visão Clara.
– Visão Clara?
– Não importa que poderes você use; que poções você beba; ou seja lá qual for o truque que queira usar para se esconder. A mim, você não engana. Irei reconhece-lo, vê-lo, percebe-lo independente da tática que use para se esconder de mim. – esperei um momento e ela parece não ter entendido ainda – Lembra o que eu comentei mais cedo sobre o seu “amigo”?
– Acho, que você disse que a minha memória poderia estar me alert... – acho que agora ela entendeu – O que exatamente você viu quando o Damom apareceu?! – expliquei detalhadamente tudo o que eu tinha enxergado, e ela parecia refletir – Segundo as minhas memórias, Damon tinha saído da vila para conferir as proximidades, você acha que...
– Que alguma coisa aconteceu com ele? Que alguém, muito provavelmente, está assumindo o lugar dele? E que há fortes possibilidades dele ser o nosso ladrão escorregadio e que a pedra que eu vi dentro dele pode ser a sua gema? Se forem essas as suas perguntas, sim, eu acho sim.
– Damon... – ela parecia querer chorar, mas então ela respirou fundo com ar de determinação – Temos que dar um jeito de montar uma armadilha para esse cara. E descobrir o quê aconteceu com o Damon. O verdadeiro.
Última modificação feita por Tsuki-Hime (25-01-2024, às 11h41)
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Valkyon
Após a separação do grupo, Cassandra nos guiou até um barracão danificado que era o depósito original da vila.
– Essas paredes quebradas ficaram assim antes ou depois do roubo?
– Um pouco antes e um pouco depois, senhorita Karenn. Tinha muita coisa para ser consertada depois do terremoto que ocorreu por aqui, e não estava sendo lá muito fácil de atender as prioridades.
– E como que vocês definiram as prioridades? – questionava o Lance, analisando o local de maneira geral.
– Atendimento aos feridos; garantia de abrigo; controle de comida, e por último, a reconstrução da vila. – respondia ela contando nos dedos – Acha que escolhemos mal as nossas prioridades?
– Não exatamente Cassandra, mas a reconstrução de áreas importantes, como esse barracão, devia estar lado-a-lado com a garantia de abrigo. – respondi.
– Os danos não arriscavam a conservação dos mantimentos, então apenas colocamos gente para ficar vigiando até o momento em que pudéssemos deixar o paiol como novo.
– Mas parece que não puseram gente suficiente, não é mesmo? – comentou a Karenn verificando parte dos danos.
– Antes do envenenamento, pelo menos oito vigias eram deixados aqui. Após isso... mal tínhamos metade disso para cuidar desse lugar. Lembra o pessoal que minha irmã está cuidando? – nós três assentimos – Aqueles são os casos mais graves. A maior parte da aldeia está doente, mas não incapaz de trabalhar. Dá para contar nos dedos aqueles que estão de fato bem por aqui.
– E a sua família faz parte dos que escaparam?
– Meu pai e minha irmã escaparam, já eu não. Servi de cobaia para ela descobrir o que estava fazendo mal a todos, e como tratar a doença também. Só voltei a ficar 100% mesmo um dia antes de vocês chegarem.
– Você tem coragem, admito, mas tem como nos explicar de que jeito cada um dos buracos daqui se formaram? – perguntava o meu irmão que já estava junto da Karenn.
– Mas é claro! – prontificava-se a Cassandra.
Ela explicou tudo. Os danos que foram consequência do incêndio; os que pertenciam ao terremoto, e os que surgiram por culpa do nosso criminoso. Passamos várias horas da manhã só averiguando a estrutura do lugar, e graças ao meu irmão, por conta de toda a sua... experiência “negativa”, conseguimos perceber detalhes que haviam passado desapercebidos pelo povo daqui. Terminamos o reconhecimento no mesmo momento que Chrome chegou para a hora do almoço.
– Chrome... Karenn... Não esqueçam que estamos aqui a trabalho. – comentei ao vê-los sussurrando entre si.
– Nossa, Valkyon. Parece que o meu irmão conversou demais com você em relação a este trabalho. – comentava a Karenn com indiferença – Até parece que é o Nevra quem está com a gente.
– Não é por nada não chefinho, mas será que dá pra nos dar uma colher de chá ao menos nas refeições?! – reclamava o Chrome com algum respeito.
– Desculpe, mas o quê está acontecendo?
– É o seguinte Cassandra. – Karenn tomava à frente – Chrome e eu somos noivos. Pertencemos à mesma guarda na qual o meu irmão, Nevra, é líder. E também um dos melhores amigos do chefe obsidiano aqui.
– Nevra não perde uma chance de ficar empacando entre mim e a Karenn. A gente só tem um pouco mais de sossego quando ele está ocupado demais para ficar nos vigiando.
– Vai ver ele só não quer ficar segurando vela para vocês dois enquanto pensa na noiva dele. – comentou o Lance que continuava comendo.
– Nã-não é nada disso! – tentava me defender (apesar de não ser totalmente mentira...) – Apenas quero conseguir terminar logo o que temos de fazer aqui! Daqui já tenho outra missão a cumprir!
– _risinho_ Entendo o que é querer estar em um lugar, ou fazer algo que deseja, e não ter o consentimento para isso... – declarava a centaura brincando com a comida.
– Que quer dizer com isso Cassandra?
– Bom Karenn... Eu quero fazer mais por Eldarya. Queria poder me juntar à Guarda de Eel, mas...
– Mas o quê? O quê a impede? – perguntava o meu irmão.
– Meu pai. Desde o incidente que levou a minha mãe, e deixou minha irmã naquele estado, que meu pai fica inventando mil desculpas para não permitir minha partida de Yah-navad’y. Ele morre de medo de que algo grave venha a me acontecer.
– Ossos do ofício. Não tem como você não acabar se arriscando ao fazer parte de um grupo que trabalha como a guarda. Ao menos tem algum conhecido em Eel? – falava o Lance de forma um pouco insensível.
– Pior que tenho sim, senhor Lan. Um primo que trabalha como bibliotecário. Ele é bastante tímido, mas soube que está tentando se envolver com uma titânide com a habilidade natural de mudar de tamanho.
– Ah, eu conheço esse! O nome me fugiu agora, mas parece que ela só está afim de amizade com ele. Chega até a dar dó às vezes.
– Assim como outros sentiam por mim quando você não me dava bola, Karenn?
– Menos meu lobo. Diferente de mim, essa titânide não fica tentando tirar proveito dos sentimentos do rapaz como eu já fiz muito com você.
– Hora!... Quero saber mais dessa historia. – pedia a Cassandra bem animada.
O assumir do assunto até que estava divertido para eles, mas não me foi difícil reparar numa leve mudança de comportamento vindo de meu irmão. Como se ele tivesse ouvido algo extremamente sério.
– Que tal isso Cassandra, um pouco antes de deixarmos a vila, Karenn e eu podemos conversar com o seu pai!
– E se nós dois não o convencermos, podemos pedir ao seu primo que o lote de cartas para que você consiga o consentimento de se juntar a nós. Não é mesmo meu lobo!
– Com toda a certeza, Karenn.
– Eu realmente agradeço muito a vocês dois. Ingressar na Guarda é um de meus maiores desejos, mas para isso temos que descobrir o responsável pelos problemas aqui primeiro.
– Será mais rápido do que imagina... – sussurrou o meu irmão mau humorado, chamando a atenção de todos sem querer.
– Do que está falando, senhor Lan? Ao que qu...
– Cassandra!!! – Hipodâmia interrompia – Cassandra, preciso de sua ajuda em algo muito, mas muito sério mesmo.
– Pode falar irmã! O que foi que aconteceu?
– Aqui não. – respondeu ela segurando o antebraço esquerdo.
– Tudo bem. – parece que elas possuem um código particular – Vamos para o nosso cantinho. Volto assim que puder gente.
– Senhor Lan, converse com a sua “filha”. E eu deixei uns brinquedinhos com ela.
– Eu agradeço. Boa sorte com a sua parte. – respondeu o meu irmão e isso deixou todos um pouco confusos.
Hipodâmia arrastou Cassandra como se fosse uma emergência e passamos todos a encarar o Lance que começava a se levantar da mesa.
– Do que você está sabendo? “Lan”. – acabei o interrogando.
– Porque não nos reunimos todos em uma das casas que nos foram cedidas para conversamos sobre tudo o que foi descoberto hoje? – declarou ele sério, já se retirando.
Chrome, Karenn e eu nos encaramos ainda sem entender. Estava claro que algo importante estava acontecendo, mas o que é que o meu irmão podia ter descoberto sem que o resto de nós percebesse? E mais importante, descoberto algo que a Cassandra e a Cris muito provavelmente estariam sabendo também? Apesar das dúvidas, acabamos por optar em seguir meu irmão. Ele só tinha se afastado alguns passos antes de decidirmos segui-lo.
Ele foi para a casa ocupada por ele. Abriu a porta e ficou esperando entrarmos antes de fecha-la após entrar também. Logo de cara, encontramos a Cris sentada à mesa brincando com algo em suas mãos.
– Lan. Será que você poderia? Eu não quero me arriscar. – pedia a Cris oferecendo ao meu irmão o que tinha nas mãos (espere, aquilo são sanas clypeus??).Lance
Sei que meu poder vem do gelo; sei que o inverno já acabou tem um bom tempo; sei que já estive em lugares bem álgidos, e sei que já encarei nevascas bem tempestuosas. Mas, ontem foi a noite mais fria que já vivi em toda a minha vida! Nunca pensei que a ausência da Ladina durante o sono pudesse me deixar tão frio por dentro como fiquei. Mal dormi a noite!
Já ela, porém... Ficou totalmente apagada a noite inteira. Talvez fosse porque ela estava mais confortável agora, ou apenas estivesse com a cabeça exausta demais, mas ela não me pareceu ter tido qualquer problema para dormir.
Depois de alguns breves cochilos, desistindo de ter com Morpheus, e com a manhã se aproximando, resolvi abandonar aquele leito que só me desprezava e fui preparar algo para comer. E porque não também um agrado para a minha “filhinha”? Se eu conseguir melhorar o humor dela, pode até ser que eu consiga algumas brechinhas se estivermos sozinhos.
A manhã começou muito bem, eu diria. A Cris me pareceu bem animada, ao seu modo, para o novo dia. Só que a ideia de passar o dia longe dela, como havia sugerido o meu irmão, não me agradava muitos, mas!... Se isso ajudasse a mantê-la segura e agilizar o nosso trabalho ali dentro, tudo bem.
Poder abandonar o quarto de minha Ladina foi aliviante, mas ter a chance de exercer parte de minhas habilidades e experiências foi revitalizante. Esses centauros haviam deixado brechas demais em sua segurança! Não sei como é que eles não tiveram problemas maiores!
Com o término do reconhecimento do perímetro, era hora de comermos. A Ladina e a curandeira pareciam estarem tendo uma conversa bem agradável no lado delas, assim como esse pessoal aqui se divertia. Contudo...
Eu esperava identificar o ou os responsáveis do problema depressa, mas a Cris, graças àquela visão especial dela, conseguiu fazê-lo antes da gente! E com tantos possíveis arruaceiros para nos incomodar, tinha que ser logo algum tipo de metamorfo?! Os mais difíceis de se capturar?? Isso quando se consegue capturar.
Dei mais atenção à conversa delas do que à do meu grupo, e elas até que montaram um plano interessante. Arriscado. Mas com chances de acerto. Me preparei para poder convencer, se necessário, aquela gente a me seguir para que a Ladina repassasse tudo a eles, mas graças à Hipodâmia que chegou bem mais rápido do que eu esperava, não precisei de nada para ser seguido.
Fui direto para a minha moradia temporária, onde a Cris chegou primeiro por estar mais perto. Tendo todo mundo entrado (e conferindo por cima o exterior), tranquei a porta e nos reunimos todos à mesa. Como só haviam quatro cadeiras, acabei ficando de pé à mesa. Recebi as esferas com que a Cris brincava antes (então essa é a aparência das sanas noturnas?) e recitei o encantamento usando as duas de uma vez.
– Muito bem. – era a vampira – Alguém pode começar a explicar o que é que está acontecendo?
– Já descobri quem é o nosso ladrão... – começa a falar a Cris um pouco tímida e impressionando os outros.
– É o quê?! Como?? Como você descobriu e como o que o Guardião aqui ficou sabendo antes de nós?
– Primeiro Karenn, como que você e o Chrome fazem para conversarem sem que o Nevra os entendam quando por perto?
– Ela e eu meio que criamos um tipo de código. Vocês dois também tem algo assim?
– Exatamente Lobisomem. – falei – Mas vamos deixar nossos métodos de comunicação para outra hora. Cris?
– Certo. Voltando ao assunto. _respira fundo_ Durante o almoço, um “amigo” da Hipodâmia venho falar com ela, só quê, o único centauro que eu enxergava era ela! O tal do Damon que falava com ela não era mais do que um monte... de massa ambulante que tentava imitar um centauro.
– Um metamorfo?? É isso o que nós estávamos procurando?! – interrompia o meu irmão.
– É o que parece. – declarei com um pouco de asco.
– Mas como você chegou à essa conclusão Cris? Não lembro de você já ter conhecido um metamorfo antes.
– Hãm... Sobre isso Chrome, eu meio que...
– Que o quê, Cris. – meu irmão parecia já saber a resposta.
– Bem. Eu não podia contar pra ela, sem antes explicar como tinha percebido que o amigo dela, não era o seu amigo. Por isso... Revelei quem sou de verdade para ela...
– _suspiro_ Imagino que ela tenha truques para guardar os segredos, não é? – como resposta, a Ladina apenas assentiu para o Valkyon, que parecia conformado.
– E?... O que foi que vocês duas combinaram? Pela forma com quê a Hipodâmia se aproximou da gente, estava claro que vocês duas já planejaram alguma coisa. – requeria a Karenn.
– Err... A Hipodâmia me explicou as inconveniências de ter um metamorfo como inimigo. Mas também me contou que, um dia antes do incidente que levou a mãe dela, ela havia aprendido com a mãe a como lidar com esse tipo de faery, e que conhecia um circulo magico que é capaz de paralisar qualquer metamorfo que entre nele.
– É o quê!?! – interrompia a Karenn – A gente tem que convercer ela nos fornecer uma cópia desse conhecimento! Todo mundo da Sombra tem dificuldade para lidar com esse tipo de faery!
– Mas ainda pode haver um problema: como farão esse círculo sem ele saber... ou até mesmo fazê-lo adentrar nele?
– Ele estará fora da vila esta noite. Foi ele mesmo que disse para a Hipodâmia na conversa deles durante o almoço. Mas como a Hipodâmia não consegue desenhar tudo sozinha sem levantar suspeitas para o resto da vila, ela decidiu pedir a ajuda da Cassandra, para a qual irá contar tudo o que revelei para ela assim como estou fazendo com vocês.
– E imagino que a tarefa de fazê-lo falar tudo o que aprontou por aqui fique para a gente.
– Mais ou menos, Valkyon. Eu dei para ela metade da Norns Visdom que tenho comigo, então o que teremos de fazer mesmo, caso seja necessário, é ajudar a buscar o verdadeiro Damon, seja lá onde ele estiver, recuperar o que foi roubado, se ainda existir, e, caso estejam dispostos, a reconstruir um pouco da vila.
– Encontrar o centauro e o que foi roubado pode até ser, mas a reconstrução dessa vila não vai dar. Esqueceu que daqui já temos para onde ir, Cris?
– Não, não esqueci. Na verdade, vocês nem me dão tempo para isso, Chrome. Mas não sabemos quanto tempo os outros levarão para chegar mesmo com a ajuda de Absol, então uma... uma hora e meia de serviço braçal de cada um de nós não deveria ser ruim. – essa minha Ladina... aposto que essa compaixão é apenas uma desculpa para atrasar a jornada no deserto.
– Olha Cris, sem querer ser chata, mas tem como você recontar tudo para nós, detalhe por detalhe? Desde a conversa do metamorfo com a Hipodâmia até a nossa reunião aqui?
Apesar de contra a vontade, a Ladina contou tudo tintim por tintim para eles. Como estava ficando tarde, deixei ela contando tudo para os três e fui atrás de preparar algo para jantarmos. A conversa estava longa, tanto que cheguei a me questionar se eu terminaria com a comida antes ou depois deles (já que sair de dentro da proteção de uma sana clypeus é fácil, mas entrar depois que a barreira já estava erguida... impossível). Mas eles derrubaram a barreira quase ao mesmo tempo que eu terminei a refeição.
Comemos, e meu irmão escreveu uma mensagem que foi enviada para Eel por meio do mascote do Chrome.Hipodâmia
– Nã-não pode ser... O Damon que esteve com a gente nesses últimos dias é... um impostor?!
– Infelizmente Cassandra... – não conseguia evitar de chorar após terminar de contar tudo para a minha irmã – Se não fosse pela Ly... Pela Kuris, eu nunca que iria entender isso. Mesmo com todos os alertas que o meu próprio corpo me fornecia.
– Depois dessa acho que o Iston vai querer se mudar para cá por algum tempo só para aprofundar o assunto “memória”.
– Eu não duvido... Mas então Cassandra, você me ajuda ou não com o circulo?
– E ainda me pergunta?! Cadê o livro da mamãe com o desenho? Queria expor aquele farsante ainda hoje!
– Acredito em você, minha irmã. – nos abraçamos e depois fomos atrás das coisas para trabalharmos.
Com o livro de nossa sábia mãe em mãos, seguimos para o lugar que expliquei para a Lys onde que colocaria a armadilha (espero que ela não esteja tendo problemas com o grupo dela...). Minha mãe foi uma grande maga curandeira, então era fácil esconder dos outros o verdadeiro motivo de eu e Cassandra estarmos trabalhando em algo, já que, sempre que tentava algo novo com base nos conhecimentos dela, Cassandra era a única pessoa que me fazia sentir confiança e tranquilidade no desafio que me aplicava. E meu pai que me perdoe, mas se conseguirmos fazer isso tudo funcionar... Aconteça o que acontecer, ele vai ter que permitir que a Cassandra siga com os sonhos dela. Incluindo o de entrar na Guarda de Eel.
O desenho era complicado, e não podíamos errar nada. A gente deixou para começar depois da hora que o falso Damon disse que sairia da vila, e por isso gastamos o resto da tarde e o começo da noite para terminarmos. Ainda no meio de tudo, o black-dog da Lys apareceu saindo de minha sombra bem discretamente. Quase que Cassandra sofria uma fissura do coração com o susto _risinho_, eu tinha esquecido de avisá-la que a Lys ia mandar o guardião dela cuidar de mim depois que terminasse de contar nosso plano para o seu grupo.
Não me é comum, mas eu não consegui sequer cochilar durante a noite. Continuei acordada o tempo inteiro. Minha mente nem deu chance para a minha consciência esquecer nem mesmo um espirro de alguém que eu tenha atendido ontem. Mas talvez tenha sido melhor assim. Eu costumo levar muito tempo para recuperar as lembranças, ficando cada vez mais demorado a cada dia que passa, e isso com eu levando dois ou três segundos para reaver um dia vivido cada.
Cansada de me revirar em meu leito e com a aurora dando seus primeiros sinais, decidi erguer-me de uma vez. Com o Absol ainda junto de mim, fui espairecer as ideias caminhando pela vila. Andava meio que sem rumo e estava até mesmo me aproximando do lugar em que eu e Cassandra colocamos a armadilha.
– Hipodâmia! Bom dia!
– Heim?! Ah! Bom dia! – (falso Damon.) ele se aproximou rápido.
– Levantou bem cedo. Está tudo bem?
– Está tudo bem sim. Devem ser os problemas da vila, passei a noite em claro. Nem tive chance de esquecer qualquer coisa. – sorria fazendo o máximo para não deixa-lo descobrir que eu sabia que ele não era o verdadeiro.
– Ficou em claro?!? Mas isso é um problema sim! Esqueceu o que lhe explicaram sobre o sono poder influenciar a memória?
– Não, não me esqueci. – me pergunto o quão legítima é a preocupação desse estranho... – Sei que ficarei bem, mas... não era para você estar fora da vila?
– Terminei os meus afazeres a pouco. Estava a caminho de minha casa quando lhe vi. Acha mesmo que eu poderia ignora-la? – ele sorria, e realmente, o Damon que eu conheço nunca deixava de me cumprimentar quando me via. Que tipo de metamorfo é esse para conseguir imita-lo tão bem?
– Foi mal. É que eu imaginei que você estaria cansado demais para cumprimentar alguém. Ainda tem algo de importante para fazer antes de descansar? Como não consegui dormir, decidi caminhar sem rumo pela vila um pouquinho.
– Te faço companhia por um tempinho. Conseguirei dormir bem mais relaxado se fizer isto.
– É? E por quê? – comecei a andar com ele me acompanhando (mais precisamente em direção da armadilha).
– Isso é segredo. Mas e o pessoal que chegou anteontem? Já descobriram alguma coisa?
– Não... – mentia o mais suavemente possível, pois depois de minha família, era o Damon quem melhor me conhecia – Quero dizer, nada que eu pudesse garantir sozinha. – mas acho que os truques que a Lys me repassou serão úteis.
Continuamos com a caminhada o mais tranquilos possível. Jogávamos conversa fora sobre o que havíamos feito nas últimas horas, com eu fazendo o possível para ele não perceber o quê que estava o aguardando.
Ele chegou a querer ir embora quando estávamos a poucos centímetros do circulo, e eu não podia deixar isso acontecer tão cedo.
– Porque será?...
– Porque será o quê, Dâmia? – prendia a sua atenção.
– Nós dois. Eu sempre me sentia confortável ao seu lado, mas por algum motivo, eu perdi essa sensação. Passei a me sentir... ansiosa! Quando ficamos juntos. Cheguei a perguntar para Cassandra se havia acontecido alguma coisa entre nós, mas ela garantiu que não.
– Então... É por isso que você tem me evitado? Mesmo nós sendo tão próximos? – (próxima de você, não. Próxima do Damon).
– Eu... Nunca tive coragem de tocar nesse assunto com medo de magoá-lo sem querer. Então... – atravessei o circulo andando de costas como tentativa de atraí-lo, ao mesmo tempo em que lágrimas sinceras me corriam pelo rosto (Damon... Onde será que você está?...)
– Hipodâmia, eu... Eu não sabi ARGH!!! – funcionou.
No que ele pisou dentro do circulo, alguma força invisível o empurrou todo para dentro e começou a aplicar pressão sobre ele o mantendo preso ao chão. Até a aparência dele começou a ficar... amassada? Como se o circulo estivesse tentando força-lo a assumir sua aparência verdadeira. Comecei a enxugar minhas lágrimas e respirar fundo.
– Hipodâmia, argh. O quê, huuumm! O quê que está acontecendo? – perguntou-me ele em meio às suas tentativas de se reerguer.
– Absol. – minha sombra se enegreceu – Avise aos outros, por favor. – e minha sombra normalizou.
– Hipodâmia?
Resolvi me aproximar só um pouquinho daquele faery, com todo o sangue frio que eu podia reunir – Quero deixar bem claro que comigo você só terá uma única chance de liberdade.
– Mas... O quê... – encarei ele o mais séria que podia, deixando-o completamente parado por um momento.
– Me responda: O quê que aconteceu com o verdadeiro Damon?
.。.:*♡ Cap.153 ♡*:.。.
Cris
_suspiro pesado_...
Estou com uma sensação desagradável... Não foi nada fácil para mim contar aquilo tudo para o meu grupo. E só se eu fosse muito burra para não perceber a desaprovação de alguns deles pela minha decisão de contar a verdade para a Hipodâmia. Espero realmente não ter errado em confiar nela.
E o plano dela para capturar o metamorfo? Será que vai de fato funcionar? Ela me garantiu que, apesar da insegurança que ela sempre tinha em usar as técnicas da mãe dela sozinha, ela nunca tinha falhado ao receber a ajuda da Cassandra ou do Damon (o verdadeiro, é claro), mas eu ainda não consegui me sentir confortável.
Por causa dessa preocupação, não só pedi para que Absol ficasse com ela para ajuda-la, caso fosse necessário, e nos chamar quando o metamorfo fosse capturado, se ela o conseguisse sem a nossa ajuda, como também não consegui dormir direito a noite.
Eu só consegui tirar um cochilo ou outro. Como se eu estive jogando pega-pega com o sono. Eu até cheguei a buscar arrego nos braços do Lance, mas não foi o suficiente. Levantei sem ânimo e arriscando a descontar o mau humor da noite ruim em qualquer um que resolvesse me provocar.
– Não conseguiu dormir direito, não é mesmo? – Lance me impedia de deixar a cama segurando o meu pulso.
– Não mesmo. Acordou por minha culpa ou só não conseguiu dormir também?
– Um pouco dos dois. Se não estivéssemos brincando de papai e filhinha, eu teria te convidado a relaxar comigo.
– Olha aqui, mesmo que pudéssemos fazer isso sossegados, eu não teria cabeça. Ficou claro?
– Ficou. – ele se sentava na cama sem soltar a minha mão – Mas ficar nervosa e preocupada assim não vai lhe fazer bem algum. Quer procurar a Hipodâmia para ver se ela te oferece alguma coisa mais tarde?
– O que eu quero é que essa bagunça acabe de uma vez. – acabei falando de forma dura e soltando a minha mão para levantar de verdade. No que fiquei de pé, o Absol apareceu – Absol? O quê que você está fazendo aqui?! Era para você estar com a Hipodâmia!
Ele apenas revirou os olhos e me puxou pela roupa de uma das pernas, fazendo eu cair sentada na cama.
– Espera. Não me diga que já foi? – Lance parecia alarmado.
– Que já foi, o quê?
– O metamorfo! Ele já foi capturado? – Absol latiu em afirmação.
– QuÊ!? Mas ainda é muito cedo! Não é? – questionei incrédula (já vi que o dia vai ser complicado...).
– Talvez sim, talvez não. O que sei é que temos de nos apressar em nos vestir e chamar os outros. – ele já se vestia.
– Ok. – imitava-o – Absol, porque você não vai chamando os outros? Pode fazer o que achar necessário para derruba-los da cama. – Absol deu outro latido e mergulhou em suas sombras.
Não deu nem dois minutos e já ouvimos um grito (que acho que pertencia ao Chrome...). Nos apresamos em nos arrumar e quase que esquecemos de tomar a mensligo antes de corrermos para fora. Valkyon e os outros dois já faziam o mesmo quando saímos.
– Alguém pode explicar o porquê de eu ter sido expulso da cama?! – Chrome reclamava.
– Não temos tempo para você bancar o cachorrinho medroso. Temos é de nos apresar! – declarou o Lance se dirigindo para o local da armadilha com eu o seguindo.
– EU NÃO SOU CACHORRO!! – vociferou o Chrome nos seguindo e fazendo o Lance correr ainda mais.
Num segundo já estávamos no local. Hipodâmia parecia tentar conversar com o monte de massa que estava diante dela, cercados por um circulo que brilhava alaranjado, com a Cassandra os observando fora do circulo. Hipodâmia estava ajoelhada, e o metamorfo parecia com dificuldade para se afastar do chão. Nos aproximamos com calma dos três.
– Precisa de ajuda em alguma coisa, Hipodâmia? Cassandra? – perguntava a Karenn.
– Não tenho certeza. – respondia a Hipodâmia – Este metamorfo é estranho. Mesmo usando a poção que ganhei da Kuris, parece que ela não ajuda muito no caso dele. É como se ele e o verdadeiro Damon tivessem se fundido ou coisa assim. – (como é que é? - Fundido?...)
– Hãm??? Que perguntas você fez para ele??
Enquanto a Hipodâmia explicava para a Karenn e aos outros o interrogatório dela, fiquei observando mais atentamente a criatura. Não sei se era por causa do circulo, mas a aparência dele, como se estivesse meio que começando a derreter, e com a voz meio esquisita (a voz dele parecia estar duplicada ou coisa assim. Qual que é o nome desse tipo de problema acústico?) me enjoavam um pouco. Prestando um pouco mais de atenção, notei uma fina linha no chão que saía dele e seguia para não sei onde. Ela tinha a mesma cor da “massa” que formava o metamorfo e decidi segura-la para lhe examinar melhor.
– AAAARRRRGGGGHHHHH!!!! – gritou o metamorfo me fazendo soltar a linha na hora – NÃO CORTE O VÍNCULO OU MORREREMOS!!!! – alertou ele me causando calafrios na espinha inteira com aquela voz de “coro metálico” (e acho que não fui a única...).
– Kuris!
– O-oi. – respondia ao Lance.
– O que foi que você fez antes dele gritar desse jeito?
– E... Eu, apenas vi uma linha no chão. Como ela parecia presa ao cara aí, toquei-a para examinar melhor e... no que eu toquei...
– Linha? Mas que linha?? – me perguntava a Cassandra procurando a linha que eu mencionei, aparentemente não a enxergando.
– Essa linha colorida aqui. – apontava ela para todos – Vocês não estão a vendo?
– Não estamos vendo linha alguma por aí, Kuris. – me avisava o Valkyon – Tem certeza do que está nos dizendo? – apenas assenti como resposta.
(Não é possível... Um kaspersky? - Um o quê?) Imediatamente, o Lance colocou uma barreira envolta do metamorfo e começou a destruir o circulo que o aprisionava.
– Mas o quê é que você está fazendo?! – Hipodâmia se indignava.
– Não temos tempo para discussões! – ele alertou – Karenn e Cassandra, vocês duas ficarão de olho nesse cara. Hipodâmia e Chrome, vocês vão correr agora para a clinica e pegar todo e qualquer material que tiver lá para um tratamento de emergência; sendo que você Chrome, é quem ficará responsável de se juntarem a nós. E Kuris, quero que você guie o resto de nós até o final dela linha que só você consegue enxergar, E JÁ!
Ninguém entendeu aquele desespero frio dele, mas, mesmo sem entender, começamos a obedecê-lo. Comecei a seguir a linha, sem toca-la outra vez, o mais rápida e cuidadosa que conseguia, com o Valkyon e o Lance me seguindo. (O quê que está acontecendo Lance? O quê é um casper-não-sei-o-quê? - Apenas se aprese Ladina, porque se eu estiver certo, o centauro substituído está com sérios problemas.)
Acabei engolindo seco, e aquela linha seguia para fora da vila, acima nos muros naturais. Lance correu para fora me pedindo para que eu avisasse quando ele estivesse do outro lado da gente, para que soubéssemos mais fácil de onde continuar seguindo. Ele realmente estava com pressa... não esperei nem dez minutos direito para enxerga-lo com a minha percepção para que Valkyon e eu fossemos atrás dele.
– Me diz Lan:... – Valkyon questionava durante o caminho em meio ao matagal – ...o quê exatamente você tem em mente?
– Valkyon, pense um pouco. – o tom do Lance era de repreensão – Que tipo de metamorfo consegue copiar perfeitamente alguém ao ponto de parecer que ele e o original se fundiram; precisa manter uma ligação entre ele e a vítima o tempo todo, e não pode de jeito ne-nhum deixar a vítima morrer?
– Um metamorfo que exige essas condições...? – meu chefe só precisou de uns dois minutos de reflexão – !?! Espera! Você não está insinuando que...
– Olha aqui, quando decidirem compartilhar a informação, é só dizer, ok? – declarei um pouco revoltada por estar sendo mantida na ignorância ali.
– Como disse antes, não temos tempo para discussões. Acha que ainda falta muito?
– Como é que eu vou saber?! Estamos seguindo uma linha que só eu enxergo, esqueceu?
Em momento algum eu tirava os meus olhos daquela “linha”, mas era impossível não ouvi-lo suspirando pesadamente.
Passados mais uns cinco minutos naquela floresta, acabamos chegando em um amontoado de raízes e galhos nada normais. Por conta da minha estranheza, decidi usar a minha percepção para avaliar melhor o local... e quase que tenho um piripaqui. Havia um centauro escondido debaixo daquilo tudo! (e aparentemente nada bem...)
– Achamos! – falava preocupada – Achamos ele, mas...
– Tem alguma passagem para entrarmos? – neguei com a cabeça – Então apenas diga se estamos derrubando alguma coisa em cima dele. – pediu-me o Lance já arrancando a madeira do caminho com a ajuda do Valkyon.
Eles arrancavam tudo de forma quase impetuosa, mas nada parecia ameaçar a segurança do centauro. Em menos de três minutos, Lance já estava avaliando a situação física do coitado que, tirando a sujeira e a magreza, ele só parecia estar dormindo.
– Qual o estado dele?
– Ele parece estar no leito de Thanatos. Nos três vamos ter que trabalhar juntos enquanto o Chrome não traz a curandeira.
– Hãmm... leito de thanatos? – perguntei com o Lance me ajudando a descer para dentro do abrigo.
– É assim que falamos quando alguém está dormindo nos limites da morte. – me explicava o Valkyon que se ajeitava para usarmos nossos poderes de cura.
– Acho que se não me engano, os humanos chamam isso de “estado de coma” – agora era o Lance – Valkyon, você cura os ferimentos medianos, vou me concentrar no ferimento que parece ser o mais grave, e você se encarrega de purificar qualquer possível contaminante que ele possa ter no corpo. – ele me ordenava – Se realmente estivermos lidando com um kaspersky, no momento em que o fizermos sair da zona de perigo, aquele metamorfo vai parar de fingir ser esse cara.
– Espero que vocês me esclareçam sobre isso direito depois. – falei já começando a me concentrar com a cabeça do centauro em meu colo após reunir a agua que estava se acumulando perto.
– Pode deixar que o faremos. – sorria o Lance já apoiando as mãos sobre o local de uma enorme ferida que ficava entre a “divisa” dos “corpos” do centauro.
Durante o procedimento, ficamos em completo silêncio. Não sei quanto tempo ficamos naquilo, mas só paramos quando o centauro puxou o ar como se tivesse acabado de se lembrar como que se respirava. E bem a tempo do Chrome e da Hipodâmia chegarem após pararmos de usar nosso poder curativo nele.
– Pelo Oráculo!
– Damon! – Hipodâmia parecia aterrorizada – O que aconteceu com ele?!
– Para isso teríamos que tira-lo daqui antes. – Lance me ajudava a subir para que Hipodâmia descesse.
– Conseguimos lhe prestar os socorros mais imediatos, porém não sei se é possível movê-lo agora. – esclarecia o Valkyon dando o seu espaço para o Chrome que se apresava em auxiliar Hipodâmia.
Os dois usavam tudo que era coisa que haviam trazido com eles. Poções, bandagens, instrumentos, tudo! E o Damon não parava de respirar de forma pesada. Quando os dois terminaram de fazer o que dava, todos nós nos viramos nos trinta para conseguirmos tirar o ser daquele buraco, depois de tecermos uma maca com parte das raízes que haviam formado o abrigo e que tinha à nossa volta. Retornar para a vila também não foi moleza, uma vez que o caminho era um pouco acidentado. Sem falar que quando finalmente chegamos, toda a vila já estava ciente de que tinham convivido com um impostor aquele tempo todo.
Depois de deixarmos os centauros e o Chrome na clinica, seguimos para onde o metamorfo estava, onde Karenn e Cassandra já não o vigiavam mais sozinhas.
– Dá para alguém me explicar o que é que está acontecendo aqui!?! – o Kidemónas questionava um pouquinho alterado a frente dos outros centauros.
– Eu já explico. – se adiantava o Lance passando por ele e indo direto até a Karenn e a Cassandra – Tem muito tempo que ele parou de se passar por quem não era?
– Acho que já tem mais ou menos uma hora. Encontraram o que buscavam? – falava a Karenn.
– Sim. E como eu suspeitei, esse cara aí é um kaspersky. – todos pareceram chocados, mas foi a Cassandra quem teve a reação mais séria.
– Onde está o Damon agora?! Qual é o estado dele?! – questionava ela segurando o Lance pelos ombros.
– Na clinica sendo tratado pela sua irmã. Se quiser saber mais que isso terá de ir vê-los. – respondeu o Lance com a Cassandra lhe soltando e disparando para a clinica imediatamente depois (Acaso são namorados? Eu heim! - Lance...) – E você kaspersky? Como se chama e como veio parar nessas redondezas?
– Me identificam por Agýrtis. – respondia a criatura que agora parecia mais com... uma bolha de prata? E mantendo a voz metálica e duplicada de antes, só que agora mais calma – Se sabe que sou um kaspersky, também sabe que encontrei o centauro por acaso, uma vez que sou um ser nômade.
– E sua vinda até a área foi totalmente aleatória ou algo o atraiu?
– Seguia sem rumo. Chovia e tive um incidente com um ornak gravemente ferido. Nós dois caímos na agua, mas apenas eu fui arrastado. Pouco depois de sair da agua, encontrei o centauro inconsciente. Porque não deram fim em mim como a maioria das pessoas fazem? – (mas heim?!).
– Nosso trabalho era capturar o ladrão, não executa-lo. E você viu, não viu? O cara que você usurpou a identidade era querido por alguns daqui.
– Não são muitos os que pensam assim.
– Desculpe interromper a historia triste, mas será que tem como você devolver a pedra que roubou da Hipodâmia, Agýrtis? – Karenn se intrometia.
– Hum... Quero garantia de vida.
– Nesse estado você é praticamente indestrutível, Agýrtis... Arrisco até a dizer imortal.
– Você não tem noção do que as pessoas são capazes de fazer para conseguir exterminar um kaspersky. – _engole seco_.
– Senhor Kidemónas? O senhor é o chefe dessa vila.
– Se o Damon sobreviver sem sequelas, tudo o que vou querer é essa coisa bem longe daqui. Leve-o com vocês para Eel e decidam lá o que fazer com essa coisa. – decidia o chefe da vila já se afastando (muito provavelmente, indo para a clinica).
– Você ouviu a resposta. – era o Valkyon – Reze para que ele fique bem.Lance
Metamorfos... Esses seres são sempre preocupantes. Passei a noite tentando me recordar de cada tipo de que existe deles: suas características, costumes, forças e fraquezas, tudo enfim. Fiquei surpreso quando senti a Ladina se enviando em meus braços. Ela devia estar bem mais preocupada do que eu pensei. E quanto ela pareceu ter se cansado de disputar com o sono, me privando de seu calor, acabei a segurando.
Se algo de muito bom não acontecesse não, eu com toda a certeza do mundo teria problemas para lidar com ela diante de tanto mal humor logo de cara. Mas não é improvável que a captura do metamorfo, logo tão cedo, seja uma noticia “boa” para o caso. Estava tão ansioso em por fim naquilo tudo (pois minha Ladina não era a única cansada aqui) que acabei deixando escapar alguns maus hábitos do passado (tirar uma com a cara do Chrome era sempre um deleite).
Diante do metamorfo (que realmente já havia sido capturado) fiquei observando com cuidado cada detalhe sobre ele para reduzir o número de possibilidades e assim descobrir mais fácil que tipo de metamorfo era ele. No entanto, quanto mais observava, mais eu temia o resultado. Voz que se assemelha à vibração de um metal? “Fusão” entre metamorfo e copiado? E a característica mais assustadora de todas quando a Ladina tocou na “linha” que ela dizia enxergar, se separados ambos podiam morrer?! Só existe um tipo de metamorfo que se encaixava naqueles atributos: um kaspersky.
Se isso fosse mesmo correto, o centauro copiado estava em sérios apuros, mas parcialmente seguro. Sem pensar muito, protegi aquele ser e organizei todos para encontrarmos o centauro antes que pudesse ser tarde. Essa seria a primeira vez em minha vida que correria para salvar um inimigo. Eu até ignorei a curiosidade da Cris de tão rápidos que tínhamos que ser. E será possível que esse meu irmão é tão lento assim para se recordar de coisas que aprendemos juntos?! Mais cedo ou mais tarde vou acabar fazendo ele revisar todo o conhecimento que adquirimos lado-a-lado só para que esse tipo de coisa não venha a se repetir.
No quê que encontramos o verdadeiro Damon, confirmando o estado dele, não tive mais dúvida alguma. Estávamos lidando mesmo com um kaspersky. Nós três tivemos que dar o nosso melhor para tirar aquele homem do leito de Thanatos, e ainda bem que o conseguimos antes dos alquimistas chegarem (eu já dei dicas demais de quem sou para aquele lobo).
Foi complicado, porém conseguimos levar aquele centauro são e salvo de volta para a vila. São entre aspas, né. Considerando a condição física dele.
De volta para o metamorfo, aquele amontoado de metal liquido indestrutível me confirmou ser de fato um kaspersky. E não tinha como discordar dele, pouquíssimos são aqueles que não se importam de manter um kaspersky vivo, uma vez que não é qualquer um que consegue romper a ligação criada entre esses metamorfos e aqueles que eles copiam. Se eu não tivesse recebido a ajuda do Valkyon e da Cris com aquele centauro, definitivamente não o conseguiria.
– Olha Agýrtis, vamos cortar a enrolação. Você ouviu o chefe da vila. Contanto que o Damon escape ileso de sua... substituição, você passará a ser responsabilidade da Guarda de Eel. As chances disso acontecer são altas ou baixas? – simplificava o interrogatório.
– O acidente que o deixou inconsciente não pegou pontos vitais essenciais, mas o fez perder bastante sangue e pode ter danificado de leve alguns nervos. Para poder assumir-lhe o lugar, concentrei-me apenas no fluxo sanguíneo. Com ele recebendo um tratamento completo, poderá ficar totalmente normal em poucos meses. Se ele o quiser, é claro.
– Entendi. Isso significa que ele precisará de bastante reabilitação. – ele se moveu de maneira que parecia uma afirmação de cabeça – Vamos ter de deixar isso bastante claro para o Kidemónas.
– Era realmente você quem estava roubando a comida e os remédios? – a vampira se intrometia.
– Sim. Uma vez que havia assumido o lugar de Damon não podia permiti-lo morrer, ou seria arrastado com ele para o limbo.
– E nisso acabou ficando com uma coisa que pertence à melhor amiga do Damon, não é verdade?
– Se estiver se referindo à gema memorial de Hipodâmia, senhorita,... – ele mostrou a pedra que retirava de dentro do corpo – ...de fato acabei a roubando. – ele voltou a guarda-la dentro de si – A curandeira tinha me visto destrancando a porta, sem o uso de uma chave propriamente dita. Fiz o possível para respeitar os sentimentos de Damon quando a deixei inconsciente antes de fugir para cuidar do centauro.
– Que tal isso Agýrtis: você nos entrega essa pedra de boa, e faremos o possível e o impossível para conseguir tira-lo daqui a salvo. Aceita? – oferecia o meu irmão.
– Hum... Concordarei com a oferta se me responderem a duas perguntas. – tive um mal pressentimento.
– Faça-as! Se for algo que possamos responder, responderemos. – se comprometia a Karenn.
– Como descobriram que eu não era o verdadeiro Damon? – ficamos todos em silencio. Não por surpresa, pois uma pergunta dessas já era esperada. Mas por conta do fato que escondíamos quem todos nós éramos.
– Fui eu que percebi. – (Ladina! - Me deixe, Lance.) – Não posso lhe explicar o como que fiz isso agora, e quanto a sua outra pergunta...
– Quero ter uma conversa particular com você. Que foi quem me percebeu, posso? – sabia que não ia gostar...
– Conversa particular?? A resposta é...
– Sim.Cris 2
Detesto quando sou ignorada sobre assuntos importantes que podem por em risco a minha segurança. Ninguém parecia interessado em me esclarecer o que é que havia de tão grave com aquele ser. Do pouco que pude entender pelo o que via e ouvia, os kasperquis(?) parecem uma bolha de metal com voz esquisita; não são muito queridos pelas pessoas; são nômades; não morrem fácil; possuem amplo conhecimento de anatomia (ou do contrário não seria possível fornecer um diagnóstico tão preciso daquele jeito); só se passavam por alguém se estivesse à beira da morte, cuidando deles, para não morrerem juntos; e pareciam ter alguma espécie de telepatia. Mas será que isso é tudo sobre eles?
Ninguém parecia se importar com a minha ignorância, então, no momento que vi uma chance para entender melhor as coisas, agarrei-a sem pensar duas vezes – Sim. – respondi antes que o Lance negasse o pedido do Agýrtis de conversar comigo.
(Perdeu o resto do juízo que tinha, Ladina?! Isso pode ser perigoso! - Já disse para me deixar, Lance. Se insistem tanto em não me explicar nada, farei com que ele mesmo me explique!) – Não sei se isso é uma boa ideia, filha.
– Relaxe papai. É só uma conversa! E eu ainda tenho uma das bolinhas que Hipodâmia me deu. – (e graças à mensligo, você estará a par de tudo o tempo todo).
Lance ainda tentou discutir comigo, mas consegui fazê-lo aceitar mesmo que claramente contrariado. Ele até que tentou me convencer a deixa-lo dentro da barreira da clypeus, uma vez que fez questão de usar o encantamento, mas o pus para fora. Dei um longo suspiro enquanto sentava no chão diante do Agýrtis.
– O seu pai é realmente superprotetor, não é mesmo?
– Mais ou menos. E então. Sobre o quê deseja conversar?
– Podemos começar com você me explicando o como que me reconheceu.
– Hãm... Tá. Aparentemente eu nasci com a capacidade de enxergar a verdadeira natureza dos faerys. Posso perceber a verdade física sobre qualquer tipo de disfarce que usem diante de mim.
– Qualquer tipo?
– Poções, feitiços, habilidades... Seja lá o que você tente usar para me enganar, não vai funcionar.
– Nunca ouvi falar em tal habilidade. Que tipo de faery é você?
– Err... Na verdade verdadeira, sou faeliana.
– Sinto que tem dúvidas sobre a minha existência, que tal trocarmos conhecimentos? – isso me interessou. Até podia ser uma faca de dois gumes como o Lance ficava me alertando, mas preso naquela barreira feita por ele, não tinha medo do metamorfo.
Kasperskys: seres metamórficos cujo corpo gelatinoso de metais e voz vibranosa metálica é naturalmente indestrutível e à prova de qualquer tipo de encantamento. Sem uma forma física clara quando naturais, só assumem a aparência de alguém se este estiver entre a vida e a morte. Isso porque para eles conseguirem assumir a aparência de outra pessoa, eles precisam realizar uma espécie de fusão psíquica onde o kaspersky tem acesso a todas as memórias da pessoa copiada. Para evitar problemas psicológicos, a pessoa copiada é forçava a ficar em estado de coma, onde, tudo o que o kaspersky ver, será como se a pessoa estivesse vendo. Em outras palavras, o quê o metamorfo vive, a vítima também o vive só que em sonho. Apesar dos kasperskys serem indestrutíveis, quando eles estão assumindo o lugar de outra pessoa, é o único momento em que um kaspersky se torna vulnerável, pois a ligação psíquica faz mais que ligar mentes, ela liga a alma. A única forma segura de romper essa ligação é fazendo a vitima sair do coma ou se ela falecer naturalmente, e como não há muitos faerys capaz de acabar com o coma (Lance, Valkyon e eu tivemos que trabalhar juntos para conseguir!) a maioria optava apenas por matar a vitima, arrastando o kaspersky junto. Por conta dessa rejeição, estão sempre vagando pelas terras, obrigados a viver uma eternidade de solidão, que só era interrompida se conseguissem tomar o lugar de alguém e lhe tomasse conta até o fim.
Eu meio que fiquei com pena da existência desse tipo de ser, e nem tive receio de falar a verdade sobre mim. Além de esclarecer o porquê de querermos a pedra que estava com ele e de lhe implorar seu sigilo sobre mim.
– Terei o maior prazer em auxilia-la Lys. Posso muito bem agir como teu servo se puder salvar-me a vida. Diferente de todos que conheci nesta minha longa existência, você foi a única que não se importou com o “o quê” que sou.
– Fico um pouco lisonjeada, Agýrtis. Mas devo confessar que a sua voz me dá um pouco de dor de cabeça.
– É o meu timbre. Infelizmente não há nada que eu possa fazer sobre isso. Agora... Sobre a minha condição...
– Acho que já sei. Absol? – ele tirava a cabeça de dentro da minha sombra – Consegue deixar o Agýrtis em meu quarto? – (Você só pode estar de brincadeira!) – Depois irei escrever uma mensagem que deve ser entregue para a Miiko, tudo bem? – Absol encarou o Agýrtis por um momento, mas acabou por concordar – Muito obrigada mesmo Absol! – declarava lhe enchendo a cabeça de carinhos (enquanto o Lance não parava de perturbar a minha...).
Agýrtis retirou a pedra de dentro do corpo (que Absol me entregou com umbracinese) e partiu com Absol dizendo que ficaria aguardando em meu quarto o tempo todo, e reforçando que a recuperação do Damon dependeria totalmente da força de vontade do centauro.
Sumidos os dois totalmente, fiz o Lance sumir com a barreira dele e rompi a barreira acústica com a pedra em minhas mãos.
– O que quê aconteceu com o metamorfo?!?! – me questionava um dos centauros que lá estavam.
– Sumiu dentro de uma sombra. Ao menos deixou a gema de Hipodâmia para trás. Será que ela ainda está cuidando daquele cara? – falava me erguendo na intensão de procura-la.
– Um momento aí. – um outro centauro me barrava – Como assim sumiu em uma sombra? O que conversaram.
– Deixe que disso trato eu. – Lance se colocava entre nós – Não ouse fazer um arranhão que seja nela ou se arrependerá pela eternidade. – difícil não suar frio com a forma que eles se encaravam...
– Não acho que brigas agora vai nos ajudar em alguma coisa. – se interpunha a Karenn, separando aqueles dois – Todo mundo sabe como é difícil lidar com metamórficos, vai ver ele tinha algum amigo umbracinesiano ou algo do tipo. – desviei o olhar quando ela me encarou – Vamos nos concentrar no que de fato importa aqui. Vamos devolver essa gema para a dona dela e depois falamos sobre o quê que foi discutido entre a Kuris e o Agýrtis.
– Mas...
– Sem mas! Em todas as vezes que acabei lidando com algum tipo de metamorfo, nenhum quis saber de voltar para o lugar de onde escapou sem um fortíssimo e excelente motivo. E duvido que vá ser exceção com esse que se foi. Sobre os mantimentos roubados, já está mais do que claro que foram usados para preservar a vida do amigo de vocês, o que soluciona todos os mistérios.
– Nem todos. – retrucava o centauro que não me tirava de seus olhos.
– Ainda temos de conversar com o Kidemónas. Seria muito melhor para todos se ninguém agisse de forma desinteligente. – declarava o Valkyon em tom firme e de braços cruzados encarando o centauro que acabou por desistir finalmente – Vamos. – chamou ele com um olhar especialmente duro para mim _engole seco_.
.。.:*♡ Cap.154 ♡*:.。.
Valkyon
Não esperava que tivéssemos um metamorfo como inimigo. Refleti muito durante as explicações da Cris. E não posso reclamar de sua decisão de se revelar para a Hipodâmia, eu no lugar da curandeira, só acreditaria nessa historia de metamorfo se a Cris tivesse revelado quem ela de fato era, assim como aconteceu.
Ouvindo o plano sobre o plano de Hipodâmia, o considerei razoavelmente arriscado, mas funcional. Tudo dependeria do nível de aproximidade entre ela e o verdadeiro Damon, que estava sendo tão bem imitado ali. O que me faz ficar ainda mais intrigado sobre o tipo de metamorfo que enfrentávamos. Escrevi uma carta com tudo o que estava acontecendo e sendo feito para entregar à Miiko com a ajuda de Chrome, além de claro, avisar que estivem prontos o mais rápido possível pois Absol poderia busca-los a qualquer momento (se não fosse pela carroça, teríamos levado um dia e meio a menos de viagem para chegar em Yah-navad’y, e voando, um dia e meio é o máximo que se leva daqui até o QG).
Eu devia ter prestado mais atenção quando Alanis nos ensinou sobre os vários tipos de metamorfos que existem. Não conseguia lembrar nem de metade deles! Aposto que o Lance só vai precisar de dois minutos de conversa com ele para descobrir o seu tipo. Minha mente vagava de tal maneira durante a noite, que eu não sabia dizer se eu estava pensando ou sonhando com as lembranças que tinha sobre aquelas aulas. Isso até Absol aparecer e começar a perturbar o Chrome!
(O que ele faz aqui tão cedo??) Eu lembrava que a Cris havia tido que colocaria o Absol para auxiliar a Hipodâmia, mas ainda era cedo demais para ela precisar de nossa ajuda. Ignorei a presença dele e comecei a me arrumar. Mas sem deixar de observar o que acontecia do meu lado.
Chrome não parecia ter o menor interesse em levantar, e Absol não parecia muito paciente uma vez que compreendeu que eu não o ajudaria a tirar o lobo da cama. Qual foi a minha surpresa ao assistir o modo que Absol decidiu convencê-lo a levantar... Absol manipulou as sombras para criar uma silhueta aterrorizante que faria até eu tremer se fosse pego do jeito que o Chrome foi. O coitado se afastou com tudo, esquecendo dos limites na cama e caindo no chão em meio a um grito que acabou despertando a Karenn no outro quarto.
– O que foi que aconteceu?! – perguntava ela ao abrir de supetão a nossa porta quase dois minutos depois do berro de Chrome.
– Não foi nada. Arrumem-se vocês dois. Parece que já temos trabalho. – declarei observando Absol que me assentiu com a cabeça e sumiu em seguida.
– Trabalho?!? – os dois questionavam juntos.
– Sim. Trabalho. Agora se apressem.
Nos arrumamos e vimos meu irmão e a Cris deixarem a casa deles ao mesmo tempo que nós. A razão de sermos tirados da cama tão cedo era sem dúvidas séria, ou do contrario meu irmão não se esqueceria que não podia ficar fazendo suas brincadeiras, mesmo em um tom tão sério.
Fiquei surpreso ao finalmente entender o motivo daquilo tudo. Não esperava que a captura do metamorfo fosse tão rápida. Intercalando minha atenção entre Hipodâmia e o metamorfo, quase saquei minha arma com o grito dado pelo prisioneiro. E eu estava certo. Pela forma como o Lance passou a se comportar, ele definitivamente já sabia a espécie daquele faery (ou ao menos suspeitava).
Não gostei muito da forma que fui repreendido por ele quando decidi lhe questionar as suspeitas, mas não podia negar que o merecia um pouco. Um kaspersky... Mas que bela dor de cabeça foi cruzar nosso caminho... Ainda bem que a união de nossos poderes dragônicos foram o suficiente para trazer aquele centauro de volta. Eu só não lembrava o quão pesado que um guerreiro adulto pudesse ser tão pesado. Foi bem complicado levar o Damon para dentro de Yah-navad’y.
De volta ao kaspersky, deixei meu irmão tomar a iniciativa do inquérito. Eu só não esperava pelo desenrolar que estava tendo. Depois das decisões tomadas pela Cris, estava de acordo com o meu irmão de não deixa-la conversar sozinha com o Agýrtis, só que o aviso que a semente branca da Oráculo nos deu, no dia em que a Cris iniciou o concerto do Grande Cristal, sempre esteve gravado em minha memória, por isso não me meti para impedi-la, se era aquilo que ela queria fazer.
No entanto... Isso não foi impedimento para eu desaprovar a decisão dela de libertar o Agýrtis sem nos consultar. Acho que irei questionar o Lance sobre esse método especial de comunicação deles. Ele era o único que podia remover a prisão que ele mesmo criou.
Depois de ajudar a Karenn a impedir um atrito desnecessário, seguimos até a clinica para sabermos mais sobre o estado do Damon e para a Cris nos contar o que é que havia sido conversado entre ela e o metamorfo.
– Damon não está em perigo, mas... Eu queria ter mais recursos para poder cuidar dele. O que exatamente vocês fizeram? – falava a Hipodâmia enquanto preparava algum medicamento para ele, com o Chrome auxiliando aqui ou ali; Damon inconsciente em um canto isolado e parcialmente ocultado, e Cassandra conversando com o pai nos fundos do lugar.
– Uma das habilidades que os dragões possuem é a da cura. Mas esse cara aí estava no Leito de Thanatos!... – explicava meu irmão.
– Eu entendo... Imagino que Cris trabalhou em conjunto com o Valkyon para fazê-lo acordar. Quem diria que para se vencer esse problema precisaria de mais de um dragão. – (na verdade, precisou de três) ela não desvia o olhar do que fazia – Será que... Vocês poderiam ajudar o Damon só mais um pouquinho?
– Quer tanto assim que ele acorde? – reclamava o Lance.
– Pense bem, Guardião. Sem o relato do enfermo, não poderemos concluir o nosso trabalho aqui. Então se ele puder estar em condições mais facilmente, mais depressa partimos para a próxima missão. Não concorda? – argumentava a Karenn.
– Sou obrigado a concordar com a senhorita. – declarava o Kidemónas que retornava para junto com a Cassandra – Sabem, algumas coisas de Eel acabaram meio que chegando aos meus ouvidos e, se não for muita ofensa, desejo todos vocês partindo dessa vila o mais breve que conseguirem. – terminou ele de falar encarando a Cris e o Lance.
– Nada nos daria mais prazer, Kidemónas. – respondia meu irmão de modo protetor sobre a Cris.
– Vão ajuda-lo? E estou bastante curioso sobre o que vocês decidiram em relação ao kaspersky.
– Errr, senhor Kidemónas. Não tenho nada contra ajudar o paciente, mas... O senhor sabe que essa discussão é um pouquinho... complicada, né?
– Entendo sim, senhorita Kuris. Hipodâmia, restou alguma noturna?
– Acho que ainda há mais umas cinco em meu quarto. Poderia busca-las? Não posso abandonar isso aqui.
– Posso. Cassandra venha comigo, você sabe bem melhor onde é que sua irmã guarda as coisas dela. Voltamos logo. – ficamos o observando deixar a clinica acompanhado de Cassandra.
– Bem... Continuarei com o preparo da poção para não atrapalha-los. Você pode continuar me ajudando, Chrome?
– Claro! Sem problemas. É tudo o que posso fazer no momento mesmo.
– Eu não tenho nenhum poder de cura, e nem sou nenhum exemplo de alquimista, mas também posso ajudar na poção se me permitirem.
– É mais que bem-vinda Karenn. – Hipodâmia sorria – Avisem se precisarem de qualquer coisa. – nos oferecia ela sem desgrudar do que fazia.
Respiramos fundo para nos reunir ao redor do Damon, de modo que Lance pudesse ocultar a sua participação (todo mundo sabe que só existe dois dragões soltos por Eldarya). Tocamos cada um em uma parte de seu corpo, assim como havíamos feito dentro daquele buraco, e concentramos nossos poderes no centauro.
– Kuris, se puder extravasar um pouco de sua maana, vai ajudar bastante. – sugeria o Lance depois de alguns minutos.
– Ok. Me avise se eu estiver passando dos limites. Sabe que ainda não consigo equilibrar isso direito.
– Pode deixar. – ele se comprometia e a Cris começou a cantar algo que parecia uma oração. Renovando as minhas forças e até ajudando o centauro a respirar mais tranquilamente.
– Preste atenção no que faz Chrome! Largue eles para lá e concentre no seu! – ouvi a Karenn reclamando. É difícil não ter a atenção chamada ao sentir a maana da Cris (mas fiquei com a impressão que ela tentava era impedir os outros de nos ver trabalhando. Nós três).
A Cris parecia perdida em seu canto, enquanto Lance e eu vigiávamos as reações do centauro. Assim que notamos que ele parecia querer acordar, paramos com tudo fazendo a Cris se silenciar também.
– Hi... Hipodâmia...Hipodâmia
Qual o problema daquele Guardião? Será que ele tem ideia do quão trabalhoso foi para mim e Cassandra desenharmos aquele círculo?! E o pior é que ele nem me deu tempo de reclamar do que fosse! Saiu dando ordens para todos como se fosse o manda-chuva de tudo. Nem sei o que foi que me deu para obedecê-lo. O Chrome era sem dúvidas um excelente assistente, muito melhor que muitos que já tive. Eu até pensei em questiona-lo sobre aquele mascarado prepotente, mas não conseguia coragem para interrompe-lo de procurar pela Lys e os outros.
Quando finalmente os encontramos, senti como se algo estive prestes a rachar dentro de mim. Eles tinham encontrado o Damon!! O meu Damon... Seu estado era grave, para dizer o mínimo. Mal respirava direito; estava cheio de escoriações e feridas minimamente tratadas; magro, parecia ter perdido metade da massa muscular que tinha antes; levemente desidratado; era... era desesperador vê-lo naquele estado! Ele parecia estar na beira da morte, fazendo o possível para lutar contra ela.
Precisava tirá-lo dali. Leva-lo para a clinica e lhe salvar. Chrome me ajudou a fazer tudo o que era possível para locomovê-lo em segurança e ainda bem que ele estava ali, porque as lágrimas de aflição e agonia não paravam de me embaçar a visão.
O caminho até a clinica me ajudou a acalmar-me o suficiente para conseguir controlar o meu pranto. Uma vez dentro de meu ambiente de trabalho, organizei tudo de que precisava. Não podia estar mais grata pelo par de mãos extras que estava tendo naquele momento. Com a mente um pouco mais no lugar, reavaliei cada um dos machucados de Damon. Inspecionei cada arranhão que havia nele e me apresei em fornecer o que ele precisava para poder acordar mais confortável.
Porém. Não importava o que eu fazia, ainda era pouco para ajuda-lo realmente. Não tinha os recursos necessários para socorre-lo corretamente. Tudo o que eu podia fazer eram paliativos com o que tinha. E foi só no preparo deles que eu me dei conta: como que ele conseguiu sobreviver por aquele tempo todo? As feridas que analisei deviam terem sido mortais quando ocorreram! O metamorfo cuidou do Damon? Que historia era aquele de que os dois morreriam se o “vinculo” fosse cortado? A Lys e os outros estavam cercando ele dentro do buraco... Eles fizeram alguma coisa para ajuda-lo? Não. Definitivamente eles fizeram alguma coisa, ou do contrario não teriam tido que o Damon foi arrancado do Leito de Thanatos.
Não parava de trabalhar no que dava, até que a Lys e os outros voltaram para saber da condição do Damon e devolver a minha gema (que mais tarde, depois de assistir o conteúdo dela, eu teria que apagar e reencantar para que ela possa recuperar sonhos. Preço pequeno a pagar diante do que a Lys está fazendo por nós). Deixei a gema em um canto e expliquei a situação, sem largar o meu trabalho com as poções. Fiquei surpresa com a informação que dragões são capazes de curar como habilidade natural. Tanto que eu não sabia dizer se aquilo era uma imensa sorte ou destino. Nem hesitei em pedir a ajuda deles outra vez.
Com o sim da Lys e do Valkyon, me senti um pouquinho mais animada. Continuei cheia de medos e receios durante o meu trabalho, mas... quando a Kuris começou a cantar, liberando ao mesmo tempo uma maana tão diferente de tudo que eu já havia sentido até hoje, meus medos e receios foram dispersados. Fui tomada por uma paz tão revigorante que passei a ter certeza absoluta de que tudo daria certo de alguma maneira.
No instante que eu ouvi a voz de me chamando, eu disparei até o Damon ao lhe ouvir a voz – Hipo... dâmia...
– Estou aqui Damon. – lhe segurava uma das mãos – Estou aqui. – e os três se afastaram me dando um pouquinho mais de espaço.
– O que foi... aconteceu? Nós... conversávamos e... – ele ainda estava fraco. E com a voz rouca também.
– Espere um momento Damon. – corri atrás de agua – Aqui, beba. – lhe auxiliava – Você passou por poucas e boas Damon. O quê está sentindo?
– Estranho. – a agua o ajudou na voz – Meus olhos... Minha garganta... Meu corpo inteiro! Tudo arde ou não me responde direito. Porque está falando baixinho? – (ai, Damon...)
– Estar no Leito de Thanatos afetou os seus sentidos. Tem quanto tempo mesmo que você não estava se sentindo à vontade na presença “dele”? – me questionava o Guardião.
– Se meus registros estiverem certos, foi um pouco antes da doença surgir na vila. Ou seja, faz mais ou menos dois meses.
– Dois meses sem usar o próprio corpo... Decerto vai levar um tempinho para se ver livre das consequências, que parecem ser leves, considerando tudo. – argumentava o Valkyon.
– Ao quê... se referem?
Respirei fundo antes de continuar – Me diz Damon: Acha que consegue nos responder algumas perguntas? – ele pareceu meditar um momento com os olhos fechados, para depois assentir com a cabeça – Por acaso, você se lembra de ter lhe acontecido alguma coisa antes de eu... de eu começar a evita-lo? Sei lá! Uma queda... Uma luta... Qualquer coisa?
– Algum incidente...? – ele se demorou para responder. Não sei se por culpa de seu estado ou pela possibilidade de sua memória estar alterada por culpa do metamorfo – Lembrei.
– Do quê lembrou exatamente. – pedia a Lys com suavidade.
– Estava fazendo a ronda nos arredores. Era de tarde, se não me engano. Andava preocupado por causa de Hipodâmia. Queria ajuda-la! Me descuidei e caí. Lembro de ter sentido uma dor enorme e acho... que desmaiei. – _engole seco_
– Preocupado comigo?! – (agora vou me sentir culpada...) – Consegue... Consegue lembrar de mais alguma coisa?...
– Não exatamente. Acordei muito dolorido, mas não tinha, ou não achava, nenhum ferimento que podia ter sido o verdadeiro responsável pela dor que senti. Já era noite, então decidi retornar para a vila pois não me sentia em condições de continuar.
– Eu lembro desse dia. – era a Cassandra – Parecia até que ele tinha se deparado com um hydracarys faminto ou um black-dog. Era difícil acreditar que tudo aquilo era resultado de uma queda!
– Nem me lembre disso irmã... – e foi no momento que o toquei que passei a sentir que havia alguma coisa errada – Mas Damon, consegue se lembrar de mais alguma coisa? Qualquer coisa que até mesmo tentado esconder da gente?
– Hum...
– Damon. Não ouse esconder nada de nós agora! Isso é EXTRE-MAMENTE, SÉRIO. – alertava a Cassandra.
– Continuei sentindo dores mesmo já estando recuperado. – não tem paciente que se negue a responde-la quando ela usa aquele tom – E passei a ter lapsos de memória às vezes. Quase sempre de noite. Já tínhamos problemas demais para lidar, por isso não disse nada.
Acabei suando frio – E você ficou escondendo isso este tempo todo?! Sofrendo sem contar à ninguém?!
– Conversei com o Iston quando ele esteve aqui da última vez. Segundo ele, eu parecia estar bem, mas me mandou ficar alerta se os sintomas piorassem ou aumentassem.
– Se ele tivesse revelado isso antes, talvez Agýrtis fosse descoberto mais cedo. – o Lan acabou comentando.
– Que Agýrtis? – todo mundo ficou desconfortável, mas fui eu quem começou a explicar tudo. O Lan e Lys me ajudaram um pouco – Que vergonha... Isso explica muita coisa. Mil perdões Hipodâmia, querendo poupa-la, só lhe trouxe mais problemas e preocupação.
– Você teve foi é sorte de ter sido substituído por um kaspersky. Acho que esse é o único metamorfo que precisa manter o original vivo. Os outros quase sempre se livram dos originais sem nem pensar duas vezes. – argumentava o Lan com um tom de bronca.
– E falando em kasperskys, o que vocês decidiram fazer com o Agýrtis?Cris
Bem que achei que as coisas estavam indo “bem” demais... – Trouxe as clypeus, Papai? – questionava a Hipodâmia que recebeu a resposta com um assentir de cabeça – Então porque vocês não vão se organizando antes? Tenho certeza que o senhor precisará ser informado de algumas coisas antes de tratar dessa questão. Estou errada?
– Nem um pouco, Hipodâmia. – respondia o Valk – E sugiro que essa conversa se limite a reunir eu, Kidemónas, Kuris e Lan. Discorda em algo?
– Não, em nada. Assim eu vejo melhor o que repasso ou não para o restante da vila. E Damon, espero que não se importe, mas irei aguardar que se recupere mais para lhe repassar os detalhes que vou receber agora.
Ao mesmo tempo que o centauro parecia fazer um gesto de “não me importo” com a mão, ele retinha uma tosse que preocupou Hipodâmia.
Kidemónas guiou o grupo até os fundos da sala e aplicou a barreira. O Valkyon foi quem começou a conversa. Voltando a se apresentar e apresentando quem nós éramos de verdade (ou quase). Ele contou sobre as minhas habilidades, meu “dever” em Eldarya, e a verdade sobre a nossa viagem.
Eu, pessoalmente, não me meti em nada durante o esclarecimento de meu chefe. Tudo o que eu fiz foi é começar a escrever a mensagem que precisa mandar à Miiko. Absol apareceu quando estava na metade do bilhete, ajudando a convencer o centauro, que ouvia meio incrédulo o meu chefe, que tudo o que ouvia era sim verdade (não tenho ideia de quanto tempo gastamos ajudando o Damon, mas tenho certeza que quando Absol for buscar o restante de minha “comitiva”, ele vai demorar um pouco). Absol se foi para entregar o bilhete na mesma hora que tinha chegado a minha vez de “falar”...
– Muito bem, Cris. Pode começar. O quê foi que você conversou com o kaspersky?
– Antes de mais nada, imploro para que ninguém fique me julgando. Pelo menos não antes de termos retornado para Eel. Já me basta o que ficarei ouvindo desse guerreiro aqui. – apontava o polegar para o Lance.
– Acredito que esse possa ser um direito seu, mas prossiga. – me encorajava o Kidemónas.
– Ok. O quê aconteceu foi o seguinte... – contei tudo o que conversamos da melhor forma que me lembrava. Eu pedi para não ser criticada, mas era impossível ignorar as feições de meu chefe. Kidemónas também não parecia aprovar minhas decisões, porém não parecia querer rejeita-las – ...e assim como informei ele, enviei uma mensagem sobre isso para a Miiko através de Absol. Alguma pergunta que não seja uma crítica ao que fiz?
– Não. Agora, não. – mas já sei que o Valkyon vai querer comer o meu fígado... – Kidemónas?
– Eu não me importo. Contanto que nenhuma pata suja desses malfeitores aí entre nessa vila, vocês podem fazer o que bem entenderem. Como são as pessoas que o black-dog irá buscar?
– É um loiro alto de olhos azuis; um moreno um pouco mais baixo que só enxerga com um dos olhos cinzas; e uma moça mais ou menos do meu tamanho de cabelos castanhos e olhos lilases. Precisa de mais detalhes?
– Não. Isso é o bastante, Kuris. Alertarei aos outros para o caso deles aparecerem fora da vila. Esse seu black-dog é confiável mesmo?
– Mais confiável que muita gente por aí. Pode ter a mais plena certeza disso. – comentava o Lance em tom contrariado.
– Então estamos resolvidos. Por enquanto!... – Valkyon me encarava _engole seco_ – Nosso grupo vai continuar ajudando a vila no quê nos for possível até que outros cheguem para que possamos partir. Alguma dúvida por aqui? – todos negamos – Nesse caso, vamos logo trabalhar.Miiko
– Miiko, me diz que isso é uma piada de muito mal gosto. Um metamorfo?!
– Sinto muito Nevra, mas não é piada alguma. Não importa o quanto qualquer um de nós deseje, o conteúdo da carta de Valkyon não vai mudar.
Assim que eu recebi, e li, a mensagem de Valkyon que o mascote do Chrome trouxe, reuni imediatamente todos os que faziam parte da comitiva para Yaqut e informei sobre o caso.
– Me diz Miiko, Valkyon deixou alguma estimativa de quanto tempo eles irão precisar para lidarem com esse metamorfo?
– Não Leiftan, não há nada do tipo na mensagem, pois segundo o Valkyon, tudo iria depender do plano que a Cris e a curandeira de Yah-navad’y criaram. Mas conhecendo a sorte, ou falta dela, que a Cris tem nesses casos, sugiro que todos fiquem preparados para partirem a qualquer momento. Já tem muita gente desconfiando da ausência dela?
– Um pouco... – era a Erika – Seus colegas da Obsidiana chegaram a me questionar, mas eu consegui contornar. Só não sei por quanto tempo mais consigo manter...
– Você e o Leiftan tem treinado dentro do quarto dela, e Karuto, que sabe de tudo, levou-lhes as refeições pessoalmente em uma cesta. Isso auxilia com a ideia de fazer todos acreditarem que ela está focada no treino de luz, ao ponto de ficar exausta.
– Sim, mas isso não irá funcionar para sempre. O Valkyon informou mais alguma coisa?
– Parece, Nevra, que eles descobriram um meio de visualizarmos os sonhos da Cris. Hum... eu não entendi direito, vocês terão que pedir informações mais claras quando se juntarem.
– Desculpa Jamon interromper. – o quê foi dessa vez... – Mas Absol estar aqui fora com mensagem na boca.
– É o quÊ!?! – me surpreendi – E porque ele não entrou?!
– Sala protegida agora. Miiko esquecer? – droga... são tantos problemas de uma vez só, que já ando esquecendo pequenos detalhes óbvios – E Absol não permitir que Jamon pegue a mensagem.
– Tudo bem Jamon. Eu já vou. Esperem todos aqui, eu não me demoro. – pedi aos que estavam comigo e fui ao encontro do black-dog.
Absol estava sentado, contudo ergueu-se assim que me viu. No que eu estendi minha mão para ele, ele me entregou o bilhete que tinha sem dificuldades. Eu esperava que Absol sumisse logo em seguida, porém não foi assim. Ele parecia esperar por algo. Resolvi dar uma olhada na mensagem e, de acordo eu ia lendo, meus olhos se arregalavam cada vez mais.
– Comecem já a se arrumarem! – declarei para os três às pressas – Acho que Absol só está esperando por vocês!
– É o QuÊ!?
– Não pode ser...
– Eles já pegaram o metamorfo?!? Como!?!
– É o quê ouviu Erika; pode ser sim Leiftan; e eu não tenho ideia Nevra. – respondia aqueles três dando continuidade à leitura que me deixava cada vez mais atônita.
– Eles vão ter que me explicar MUITO bem explicado! – declarou o Nevra que começava a sair nervoso – Usaremos o “ponto de partida” de sempre?
– Acho... que é melhor vocês partirem dentro do quarto de um de vocês... – (o metamorfo com que eles lidavam está dentro do quarto da Cris???).
– E porque isso? O quê está escrito aí?
– Agora não é hora Erika. Vão logo de uma vez. – começava a me irritar.
– Vamos indo Erika... E que tal nos juntarmos no quarto do Nevra? Do jeito que lá é escuro, pode acabar facilitando para o Absol.
– Os espero lá então! – pude ouvir Nevra falar antes de chamar Absol para acompanha-lo, pelo o quê me pareceu.
Pelo Oráculo!... O quê é que a Cris tem na cabeça?? Enviar um kaspersky para o quarto dela?!? Eu não sabia se ia ou não vê-lo. Fugir ele não vai. Não sem ajuda, por causa da barreira que existe lá. Entretanto ele podia se aproveitar se eu ou outra pessoa lhe abrisse a porta. No entanto... A Cris não o enviaria para lá se não tivesse alguma confiança nesse... _relendo o nome_ Agýrtis, não é mesmo? Lá ele tem muitos tesouros! Sem mencionar a facilidade que ele teria para lhe armar uma armadilha...
Fiquei rodeando a sala de um lado para o outro identificando cada possibilidade do que poderia ocorrer com aquele ser dentro daquele lugar. Só parei quando me sentei recostada ao Cristal, respirando fundo.
– E a Oráculo Branca tinha que ter nos dito para não intervirmos nas decisões dessa maluca!?!
.。.:*♡ Cap.155 ♡*:.。.
Cris
Quando abandonamos a bolha que nos ocultava, ninguém perdeu tempo em começar/continuar com seu trabalho. Valkyon e eu (e o Lance) tratamos o Damon mais um pouco, aproveitando que caíra no sono; a Karenn acompanhou Cassandra e Kidemónas para repassarem os ocorridos ao povo da vila; Chrome continuou auxiliando a Hipodâmia, e Absol ainda não havia retornado (provavelmente ele não irá voltar sozinho...).
Assim que o Lance decidiu que nós já podíamos parar, já que ele era o mais experiente nisso, resolvi dar uma olhada no que Hipodâmia fazia, visto que ela não estava mais mexendo com poções.
– O quê está fazendo Hipodâmia? – ela mexia em sua gema.
– Já terminaram com o Damon??
– Segundo o dragão, o que nós podíamos fazer, está feito. Agora é com o seu amigo que está descansando ainda.
– Graças ao Oráculo e a todos o deuses... – ela respirava aliviada, e eu estiquei meu olhar para a mesa – Estou deixando tudo pronto para quando reajustar a gema. Vocês partirão antes ou depois de fazerem o que me pediram?
– Depois! De preferência!! – declarava a Karenn que entrava acompanhada dos outros – Demora muito para fazer esses ajustes aí?
– Não. – acho que ela esqueceu por um instante em como a audição de um vampiro é apurada – A tarefa gasta no máximo uns quinze minutos se já estiver tudo preparado. Chrome, precisa que eu lhe explique alguma coisa?
– Por hora não, Hipodâmia. Mas teria como dar uma olhada se eu anotei tudo o quê me disse corretamente? Ezarel vai me esfolar se não estiver tudo certinho. – um risinho escapou de quase todos.
– Tudo bem. Cassandra, pode me preparar a agua enquanto isso? Para sermos mais rápidos...
– Certo, irmãzinha... Mas só porque você trabalhou muito nas últimas horas!
– Ei Kuris! Será que sua habilidade também funciona na visão de outra pessoa?!
– Essa... É uma boa questão, Chrome. Só testando para saber.
– Pois nós faremos isso. – afirmava Cassandra com uma bacia que ela apoiava sobre uma mesinha que também serviria de banco alto – Pronto para quando você quiser, irmã.
– Lhe agradeço muito Cassandra, e Chrome, isso aqui é dez-e-sete, e não dezessete.
– É muita coisa para fazer um ajuste. – o Chrome se defendia – Bem que esse seu médico de memória podia fazer uma visita à Eel.
– Olha!... Se ele recebeu a mensagem que enviei, já deve estar correndo para cá! – todos rimos com o comentário de Cassandra – Pronta irmãzinha!?...
– Sim. – ela aproximava a gema da agua, como havia mostrado antes – Cheguem todos os que querem ver para mais perto e façam o máximo de silêncio possível.
Tirando o Lance que ficou do lado de Damon (acho que ele vai aproveitar a mensligo...), todos nós cercamos a bacia de agua de forma organizada. A bacia era grande, então podíamos rodeá-la sem qualquer problema.
As imagens começaram mostrando a Hipodâmia deixando o seu quarto e seguindo para o armazém (ver e ouvir pelos olhos de outra pessoa é meio intrigante). Passado um tempo, onde nada de mais acontecia, foi possível ouvir um ruído que era difícil não deixar alguém curioso, foi nesse momento que a Hipodâmia teve o seu contato com o Damon, ou melhor, com o Agýrtis. Eu ainda me recordava da aparência de Agýrtis enquanto usurpava a identidade do centauro, mas não era assim que o estava enxergando nas imagens. Se não fosse os detalhes que fez com que Hipodâmia se assustasse com ele ao encontra-lo, nem eu teria imaginado que aquele não era o Damon! As únicas coisas que o denunciam eram os seus olhos que brilhavam de maneira colorida e o fato de uma de suas mãos estar “derretendo” para dentro da fechadura da porta. As imagens acabaram com a visão de... Um ataque de massa colorida? Que veio extremamente rápido para o rosto dela (acho que Agýrtis a fez desmaiar por falta de ar... Por isso ela não tinha sinais de agressão).
– E então? – Valkyon, que estava do meu lado, apoiou a mão no meu ombro – Quem que você viu agora, o Damon ou o metamorfo?
– O Damon. – ele pareceu preocupado – Acho que minha visão especial só funciona com o “ao vivo”. Gravações, como acabamos de ver, não parece ser algo que meus olhos possam distinguir.
– Isso é uma pena. Se bem que já se era de se esperar. Você não consegue diferenciar nem as fotos que você mesma tira!...
– É. Você está certa Karenn. Quanto tempo mesmo para podermos testar a gema com os sonhos, Hipodâmia?
– Que sonhos?Nevra
Impossível. Inadmissível. Um milagre!! COMO que eles conseguiram em apenas UM DIA, não só identificar um metamorfo, como também o capturarem?! Não. Não há como. Em toda a historia feérica nunca houve algo assim. Sempre que um problema envolvia metamorfos, em menos de um mês... nunca era resolvido. (Vou ter que convencer o Valkyon e a Cris à aceitarem a transferência dela para a Sombra).
Chamei Absol para vir comigo para o meu quarto, uma vez que Leiftan tinha sugerido de o usarmos para partirmos, e fui logo agarrando minha bolsa para missões no deserto (tenho várias mochilas de viagem arrumadas. Uma para cada tipo de terreno que eu vá ter que lidar: mar; floresta; cidade; deserto; vale; etc), mas não conseguia ficar parado enquanto aguardava pelos outros.
Leiftan chegou primeiro, com a Erika (que parecia estar ouvindo recomendações da Ewelein) aparecendo quase dez minutos depois. Nos ajoelhamos e cada um de nós agarrou na coleira de Absol, que não perdeu tempo para nos envolver com suas trevas e começar a nos levar para algum lugar de Yah-navad’y.
Eu não sei se era o choque sobre toda essa historia de metamorfo, ou se era a distância entre Eel e Yah-navad’y, mas eu perdi totalmente a minha noção de tempo dentro daquelas trevas. Não consigo dizer com certeza se aquela viagem estava sendo rápida ou demorada. Ao sairmos finalmente da escuridão, notei que Absol havia nos levado para dentro de uma cabana, onde pude sentir o cheiro de meus amigos.
– Onde estamos?
– Provavelmente onde Valkyon e os outros estão hospedados, Leiftan. Sinto o cheiro dele e dos meus aqui.
– Refere-se ao Chrome e à Karenn?
– Exatamente Erika. Você está bem? – questionei ao notar-lhe a palidez.
– Mais ou menos. – ela se sentava e o Leiftan corria para lhe servir um copo d’água – Acho que a umbracinese acabou me afetando um pouco. Essa viagem demorou!
– Vocês acham? – desse jeito, vamos acabar atrasando nossa saída daqui...
– Um pouco. Aqui Erika, bebe. Não percebeu a demora, Nevra? Até eu comecei a me sentir estranho por conta da viagem.
Parei para analisar um pouco a minha condição, não notando nada de anormal – Eu estou ótimo, fisicamente falando. Ainda não engoli essa historia e talvez tenha sido por isso que nem me dei conta do tempo que gastamos. Onde será que está todo mundo? Absol? – falava já que ninguém aparecia.
Absol apenas se alongou todo e depois ficou sentado observando a Erika. Parece que ele quis aguardar ela estar bem antes de nos levar até os outros. Somente depois dela declarar estar melhor que Absol se ergueu até a porta, esperando por nós.
Deixamos nossas coisas sobre a mesa e começamos a segui-lo, sendo que eu ia na frente com o Leiftan cuidando da Erika atrás. Não demorou muito para que as pessoas da vila nos notassem e começassem a correr ou nos cercar.
– Acaso vocês fazem parte de Eel? – perguntava um centauro que nos observava, claramente receoso com Absol.
– Somos. – respondia – Sou Nevra e esses são o Leiftan e a Erika. Onde estão Valkyon, Karenn e Chrome?
Com apenas um sinal de mão, ele fez com quê os que nos cercavam abaixassem as armas e se retirassem, nos pedindo para que lhe seguíssemos depois. O centauro prosseguiu na mesma direção para a qual Absol nos levava antes, então resolvi dar uma ouvida na vila. Demorou um pouquinho para eu começar a ouvir vozes familiares.
– Acho que minha visão especial só funciona com o “ao vivo”. – (como é que é??) – Gravações, como acabamos de ver, não parece ser algo que meus olhos possam distinguir. – (o quê eles estão fazendo?)
– Isso é uma pena. – minha irmã está junto... – Se bem que já se era de se esperar. Você não consegue diferenciar nem as fotos que você mesma tira!... – elas estão testando a Visão Clara da Cris em quê?
– É. Você está certa Karenn. Quanto tempo mesmo para podermos testar a gema com os sonhos, Hipodâmia?
– Que sonhos? – perguntei assim que passei a porta, encontrando todos e alguns centauros reunidos ao redor do que parecia ser uma bacia.
– Nevra! Há quanto tempo vocês chegaram, irmão?
– Tem alguns minutos. Nos demoramos para sair da casa em que vocês estão hospedados, pois a Erika não se deu muito bem com a umbracinese. – respondia o Leiftan, fazendo o Valkyon quase correr até ela.
– Eu estou bem. Não se preocupem. – Erika se adiantava antes que qualquer um falasse algo – Mas o quê acontece? E Nevra, de que sonhos você está referindo?
– É o quê eu quero saber! E cadê o metamorfo que vocês capturaram?
– Em Eel. – o Lance, que estava mais afastado, respondia me deixando pasmo – Uma sugestão: porque enquanto a Hipodâmia reajusta a gema, vocês não explicam tudo para esses três? É uma forma do tempo passar mais depressa...
– Se importam... De fazer isso lá fora? A clinica está ficando um pouco cheia.
– Acho que a Hipodâmia está certa, e o Lan também. – comentava minha irmã (Lan?!?) – Chrome, vai ficar para observar o trabalho dela?
– Vou sim. Boa sorte com o contar de toda a historia.
– Então é melhor sairmos logo, e se querem um conselho, é melhor vocês terem essa conversa na casa de meu pai. Precisa de ajuda em alguma coisa mais, irmãzinha?
– Agradeço, mas não Cassandra. Pedirei para alguém chama-los quando tudo estiver pronto. Kuris, vou precisar que você fique.
– Ok. – respondia a Cris (deve ser um nome falso, assim como “Lan”).
– Me sigam então. – respondia o centauro mais velho.
Tirando o Chrome e a Cris que ficaram para trás junto da tal Hipodâmia, acompanhamos o centauro que foi se apresentando durante o caminho, o Kidemónas. Dentro de sua casa (com pouca mordomia para seres bípedes), Valkyon começou a contar toda a historia, com a Karenn e o Kidemónas ajudando em um pedaço ou outro.
– Me digam uma coisa... – eu não ia deixar uma chance dessas me escapar – Cassandra, certo? – ela me assentiu – Teria como nos fornecer uma cópia das instruções antimetamórficas? Você não tem noção do quão precioso esse tipo de conhecimento é! E isso ignorando o uso da habilidade especial de uma certa mestiça...
– Se for só uma cópia, tudo bem. No caso de não tiverem pressa demais, posso lhe entregar as informações amanhã de manhã! Se eu começar agora, é claro.
– Você pode levar o tempo que quiser para fazer as cópias que Nevra está pedindo. – se intrometia o Leiftan – Não tem problema se partirmos antes que o tenha terminado. Você ou alguém de sua confiança pode entregar os documentos em Eel. – os olhos de Cassandra brilharam com a sugestão dele, enquanto os de Kidemónas pareceram se enfurecer.
– Mas mudando de assunto, que historia de “sonhos” é essa? – perguntei para evitar uma possível discussão, com a centaura já deixando o local.
– Pensamos em usar o sistema de memória de Hipodâmia para “assistirmos” aos sonhos “especiais” da Kuris. Acontece o seguinte... – explicava a Karenn.
A Karenn esclareceu sua ideia em detalhes, e o seu plano para tirar proveito do equipamento da curandeira era realmente interessante. Só de ouvir, fiquei curioso em saber como é ver os sonhos de outra pessoa...Cris 2
– Pronto, terminei. Agora Kuris, você precisa apoiar a gema na sua testa e pensar no sonho mais antigo que puder, enquanto repete o encantamento comigo.
– No mais antigo Hipodâmia? Não posso apenas me concentrar nos sonhos que queremos ver?
– Não Kuris. Para conseguirmos obter o resgate das memórias de seus sonhos, temos que recuperar todos os que você teve desde aquela época até hoje, inclusive os que você não se lembra de ter tido. Pensar no sonho mais antigo que tem lembrança vai permitir que recuperemos seus sonhos de hoje para trás de forma mais eficaz.
– Deixe eu ver se eu entendi: a gema vai retroceder as minhas memórias noturnas? É isso?
– Sim.
– E vai caber dentro da gema?!
– Memórias do subconsciente são bem menores que as conscientes. Só tem a duração do sono e nem é o tempo todo. Pronta para dizer o encantamento? Falarei devagar para que dê certo de primeira. Não é muito difícil, mas é preciso falar direito.
– Se não pode errar, porque não a faz praticar antes?
– Concordo com o Chrome, Hipodâmia.
– _suspiro_ Ok, então preste atenção.
Hipodâmia tinha razão, não era um encanto difícil, mas por ser um idioma diferente acabei travando a língua na primeira tentativa. A Hipodâmia me explicou que eu deveria ficar repetindo o encantamento até a gema parar de brilhar e, depois de já ter conseguido pegar o jeito, comecei.
Decidi me concentrar em um sonho antigo que até hoje me faz pensar nele (todos para quem o contava, me questionava o quê que eu tinha fumado para sonhar com aquilo. Sério, eu só tenho uma cabeça maluca, minha gente!). Ficava me recordando dele como podia, sem deixar de pronunciar o encantamento certinho.
Cheguei a ouvir o Chrome perguntar se aquilo demoraria, e com a confirmação dela, ele sugeriu que fossemos ao encontro de todos no lugar de fazer todos virem até nós quando eu terminasse. Bem, eu não podia perder o meu foco, mas senti muito bem alguém me pegando e me colocando sentada sobre o dorso de Hipodâmia, que começou a andar com eu em cima dela. Definitivamente devíamos estar indo para a casa dela, pois era onde todos os outros estavam.
Como demorávamos para chegar, imaginei que ela estava andando devagar. E já estava começando a ficar com a garganta seca de tanto falar aquela ladainha quando a gema finalmente parou de brilhar em minha testa...
– Chegamos! Onde está Cassandra?
– Me fazendo um favor senhorita Hipodâmia, e Chrome, vocês não iriam nos chamar quando tivessem terminado?
– Economia de tempo. – Lance se apressava – Viemos da clínica até aqui quase nos rastejando de tão lentos e a Kuris só terminou o procedimento, que já tinha sido começado uns dez ou quinze minutos antes de virmos para cá, faltando dois passos para batermos na porta. Mais alguma pergunta?
– Já podemos testar a gema para conferirmos os sonhos dos quais temos interesse?
– Sim er... Senhor Leiftan? – o daemon assentia – Tudo de que precisamos agora é um grande e largo recipiente de agua, como uma bandeja por exemplo. Se ajeite como puder Kuris, vou buscar uma na cozinha.
– Tudo bem. – falei me aproximando da mesa que todos rodeavam – Que favor é esse que você mencionou, Nevra?
– Os métodos de se capturar um metamorfo. Sério mesmo que você enviou o daqui para Eel?!
– Também vai ficar julgando as minhas escolhas, né...
– Eu posso te listar agora mesmo a quantia de riscos que a sua “escolha” poderia nos fornecer, mas nossa prioridade no momento é outra.
– Aqui está. – Hipodâmia apoiava um refratário sobre a mesa – Pronta para nos mostrar os seus sonhos?! – ela sorria de forma brincalhona.
– O quê eu preciso fazer?
– Concentre-se no sonho que deseja nos apresentar; segure firmemente a gema entre as mãos, próxima ao coração; depois lhe sussurre o seguinte encantamento: “Ojlumuhnu om gugályom keu ue wumuca”, e, sem parar de pensar no sonho em questão ou largar a gema, apoie ela sobre a agua. Entendeu?
– Ojlumuh... o quê?! – ela respirou fundo (“Deixa que eu te ajudo, só faça por onde isso dar certo para podermos voltar mais rápido para casa.” - Você não é o único que quer voltar a ter mais conforto).
– Ah! E Kuris, comece com o sonho de Lund’Mulhingar. Para compararmos os sonhos.
– Tudo bem, Karenn. Hipodâmia...
Hipodâmia me repetiu o encantamento e o Lance ficou o reforçando em minha cabeça. Já que a Karenn me pediu para começarmos pelo sonho élfico, fiz de tudo para pensar só nele. Ao me sentir pronta, recitei o encantamento para a gema e coloquei dentro da vasilha bem na beirada para não atrapalhar os outros de verem, igualzinho a centaura havia feito no dia que ela nos mostrou as capacidades daquelas gemas memoriais.
A ação foi imediata. Víamos e ouvíamos tudo com muita clareza. Haviam detalhes que eu estava até esquecendo que existiam naquele sonho.
– Caramba Kuris! Todos os seus sonhos são impressionantes assim?! – comentava o Chrome quando o sonho terminou.
– Também estou impressionado. – era o Nevra – Ainda mais com o detalhe de Ezarel ter aparecido nele com o mesmo traje que usou no festim.
– Sério!? Eu nem reparei nessa coincidência... – encarava a vasilha, recordando o sonho resgatado – Eu sempre sonhei com algo assim... Poder rever os meus sonhos da mesma exata forma com quê os sonhei... Detalhe por detalhe...
– Mas esse não é o único sonho que eles queriam conhecer, não é mesmo?
– Realmente Hipodâmia. Ainda falta um sonho em especial. – me concentrei no sonho de Yaqut... e ele começou a aparecer. Fiquei surpresa de não ter sido necessário recitar o feitiço outra vez, mas me mantive concentrada naquele sonho... desconfortável.
– Se ainda me restava alguma sombra de dúvida... Ela acabou de sumir. Definitivamente esses aí eram eu e meu irmão quando mais novos. – declarava a Karenn depois que tudo acabou.
– Era mesmo assim que vocês viviam antes de virem para Eel?... – questionava a Erika bem incomodada, assim como eu durante o sonho.
– Tirando o começo, com ela caminhando em meio aos servos, e o fim, com a imagem daquele quadro que nunca havia visto antes, me senti como se estive olhando para uma janela com ligação direta ao passado. – argumentava o Nevra com uma certa indiferença no rosto – Aquela discussão aconteceu exatamente como acabamos de ver agora.
Um silencio desconfortável ficou pairando sobre nós por alguns instantes, sendo ele cortado pelo meu chefe.
– Disse que nunca viu o quadro do final do sonho? Será que a moça retratada nele, e a cruz que ela segurava, já que me pareceu ganhar um destaque especial, são pistas do quê devemos fazer por lá?
– Ou são pistas do problema, ou são pistas da solução. – intervia o Lance – Assim como foi com a Emiery em Lund’Mulhingar.
– Emiery foi a chave em Lund’Mulhingar?
– Assim que pus os meus olhos nela, Leiftan, eu vi que tinha algo de errado com ela. Foi a nossa preocupação com ela que abriu o caminho para descobrirmos a verdade.
– Entendo... Então existe a possibilidade dessa moça, que possui essa cruz, acabar nos ajudando em Yaqut.
– Mas bem que você podia ter sonhado com algo mais agradável do meu lado Kuris... Tenho certeza que eu poderia lhe fornecer sonhos melhores.
– Nevra, com você eu só tive pesadelos até agora.
– Fala do sonho que teve logo após retornarmos de Memória?
Acabei por soltar um suspiro pesado como resposta e, inesperadamente, o sonho que tive com o Nevra começou a ser mostrado. Na hora eu tentei afastar a gema de mim! Porém meu corpo estava travado. Não conseguia nem tirar a gema da agua e muito menos solta-la. Como se algo estivesse me obrigando a revelar mais sonhos do que eu gostaria. Quando o sonho acabou (com eu morrendo nas presas do Nevra), Lance ergueu o vampiro na hora.
– Espera! Espera! ESPERA!! Eu nunca em sã consciência faria algo do tipo com ela!
– Quase o fez durante a Lua Púrpura! Se não fosse por mim... – (Lance... Se acalme!)
– Por isso que eu disse “em sã consciência”! E eu agradeço mesmo por você ter estado presente naquele dia. Agora... Dá para me soltar, fazendo o favor?...
– Kuris! Não dá para você largar essa gema e acalmar o Lan, não?!
– Eu bem que gostaria Erika, mas não posso! Não queria nem mesmo ter mostrado o sonho que tive com o Nevra.
– Não foi culpa sua. – como é que é? – E a razão de você ter tido este tipo de pesadelo é porque este canalha não larga do seu pé e até tentou usar o controle em você uma vez.
– Eu vou disser de novo: “em, sã, consciência” eu não me atrevo a causar-lhe nem mesmo um arranhão! E você não tem direito de me tratar assim! Você também já causou pesadelos pra ela.
– Eu nunc... – Lance parou de falar e começou a me encarar, soltando o Nevra ao mesmo tempo (“O... O quê exatamente você sonhou na noite que eu tentei... você sabe... quando fiquei lhe espiando provar aquelas, lingeries...”)
Corei. Me recordei do sonho na hora e, assim como aconteceu com o sonho do Nevra, o sonho que tive com o Lance começou a ser mostrado na agua. Da mesma forma que não havia conseguido soltar a gema antes, não a largava agora. Todos pareciam ver agoniados tudo aquilo, especialmente nas cenas mais fortes. No momento do grito de morte do vandrak, eu estava desesperada em soltar aquela pedra (ainda bem que consegui solta-la instantes antes do beijo...)
– Cris... Esse... Sonho...
– Resultado da reunião sobre Apókries. – respondi depressa enquanto testava os nervos de minhas mãos – Foi por causa dele que estava buscando um lugar para ter paz, no dia em que eu “conheci” a Pernas-curtas.Lance
Depois de ajudar a cuidar daquele centauro, eu não conseguia mais ver a hora de poder abraçar de verdade a minha Ladina. Absol demorou pra caramba para chegar com o resto do pessoal, mas quase não consegui esconder o meu descontentamento por ter escolhido errado o meu disfarce, ao ver meu irmão se aproximar de sua noiva sem qualquer receio.
Me mantive perto do Damon, só observando tudo e todos. Estava ansioso para deixar a vila e poder ficar com um pouco mais de liberdade do lado da Cris, por isso, ao notar que o processo para “resgatar” os sonhos dela iria demorar, cutuquei o lobo indicando a Cris para ele e ele percebeu fácil o que eu queria.
– Escuta Hipodâmia.
– Hum?
– Esse processo aí, ainda vai demorar muito?
– Ela está fazendo a gema absorver algo próximo de 1200 horas de sonhos, é obvio que isso vai levar um tempo.
– E quanto tempo mais ou menos? – questionei.
– Menos de meia que não vai ser. Algum de vocês de algo em mente?
– Podemos ir andando ao encontro dos outros e ela termina o processo por lá, no lugar de ficar só esperando aqui e depois chamar todos para cá outra vez. – sugeria – Fazê-la andar vai atrapalhar?
– Ela não pode perder a concentração, então não poderá prestar atenção enquanto anda, mas... Se algum de vocês puder coloca-la em meu dorso, podemos seguir sua sugestão um pouco mais tranquilos.
– E imagino que arrastar o nosso passo também pode ajudar. – se espreguiçava o Chrome.
– É uma boa ideia. Deixem apenas eu dar uma última olhada no Damon e um de vocês pode coloca-la sobre mim para irmos.
Esperamos ela fazer o seu exame e depois eu coloquei a Cris em cima dela. Fiquei alerta para a segurança dela e nós realmente enrolamos para chegar na casa da curandeira, até parar para conversar com os curiosos nós paramos. Já estávamos diante da casa quando a Cris finalmente terminou. Ajudei-a a descer e fomos entrando.
Trocadas algumas explicações, era hora de começarmos com o quê realmente nos interessava ali. Ajudei minha Princesa e, enquanto ela ainda mostrava o sonho de Lund’Mulhingar para todos, vi a Negra aparecendo por trás da Cris (Porque você veio pra cá??)
– “Vou corrigir sua pergunta: Porque só agora eu estou podendo lhe ver?” – (Como é?) – “Faz um tempão que estou na vila! Fui eu quem empurrou o Agýrtis para dentro da armadilha para garantir a captura dele. Excelente trabalho ao identificar a espécie dele e encontrar o centauro verdadeiro.” – (e você está atrás da Cris porque...) perguntei desconfiado com a Cris já mostrando o sonho que nos leva para Yaqut – “Apenas para garantir que ela mostrará todos os sonhos que é melhor vocês verem. Para tentar amenizar algumas situações...” – (e que sonhos exatamente?) questionava com ela apoiando as mãos sobre os ombros dela – “Apenas observe.” – respondeu ela me dando uma piscadela.
Nisso, a Cris começou a nos mostrar um pesadelo que teve com o Sanguessuga. Não consegui conter minha raiva ao vê-la “morrendo” nas presas daquele conquistador barato.
– Espera! Espera! ESPERA!! Eu nunca em sã consciência faria algo do tipo com ela!
– Quase o fez durante a Lua Púrpura! Se não fosse por mim... – o recordava (“Lance... Se acalme!”)
– Por isso que eu disse “em sã consciência”! E eu agradeço mesmo por você ter estado presente naquele dia. Agora... Dá para me soltar, fazendo o favor?...
– Kuris! Não dá para você largar essa gema e acalmar o Lan, não?!
– Eu bem que gostaria Erika, mas não posso! Não queria nem mesmo ter mostrado o sonho que tive com o Nevra.
– Não foi culpa sua. – acabei deixando escapar, com a Negra ainda a segurando – E a razão de você ter tido este tipo de pesadelo é porque este canalha não larga do seu pé e até tentou usar o controle em você uma vez.
– Eu vou disser de novo: “em, sã, consciência” eu não me atrevo a causar-lhe nem mesmo um arranhão! E você não tem direito de me tratar assim! Você também já causou pesadelos pra ela.
– Eu nunc...
– “Noite das Ligeries.” – me interrompia a Negra me fazendo lembrar que, amanhecido o dia depois daquilo, a Cris havia comentado ter tido um pesadelo comigo nele. Comecei a encará-la (O... O quê exatamente você sonhou na noite que eu tentei... você sabe... quando fiquei lhe espiando provar aquelas, lingeries...)
Corada, ela começou a mostrar o pesadelo daquela noite. Não era à toa que ela havia se remexido tanto na cama naquela vez... Era tão atormentador quanto o pesadelo com o sanguessuga! (se bem que dentro dele eu a protegia, mas não preciso ser um romântico para perceber que nenhuma donzela espera ser salva por um homem banhado de sangue e com aparência de morte) – “Acho que já está bom.” – declarava a Negra lhe soltando os ombros, instantes antes de eu fazer alguma coisa ao me aproximar muito dentro daquele pesadelo.
– Cris... Esse... Sonho... – falava a Erika.
– Resultado da reunião sobre Apókries. – respondia ela, testando os nervos das mãos – Foi por causa dele que estava buscando um lugar para ter paz, no dia em que eu “conheci” a Pernas-curtas.
– O que eram aqueles seres do salão?
– Contaminados, Karenn. Ou algo do tipo!
– E é assim que você costuma enxerga-los?
– Sim e não, Leiftan. Sim, é assim que os vejo, mas... Diferente dessas, eu também vejo o faery que foi contaminado, inconsciente e acorrentado dentro delas, É sempre uma visão... desagradável.
– E o homem que a salvou? Quem era? – questionava o Kidemónas.
– Apenas um guardião problemático. Não há porque se preocupar com isso. – Leiftan se apresava em responder.
.。.:*♡ Cap.156 ♡*:.。.
Leiftan
A notícia de que o grupo enviado para Yah-navad’y estaria lidando com um metamorfo me deixou bem preocupado. Nós ainda tínhamos que ir para Yaqut e problemas com esse tipo de faery costumam demorar muito para serem resolvidos. No entanto, quando a Miiko disse que a mensagem trazida por Absol informava que eles já haviam terminado de lidar com a situação, fiquei boquiaberto. Não duvido nada que o Nevra tente convencer a Obsidiana de transferir a Cris para a Sombra, considerando a reação dele à noticia.
Fui para o meu quarto e peguei as minhas coisas para viajarmos. Definitivamente o Nevra não estava fazendo questão alguma de esconder o seu choque sobre o metamorfo...
Enquanto Absol nos transportava, ficava imaginando sobre o avanço que a Cris teria conseguido alcançar no controle de seus dons, já planejando como prosseguir com ela dependendo de seu atual nível. A jornada demorou, então pude pensar cuidadosamente no assunto. Só uma coisa me surpreendeu, sendo eu um daemon, um ser “das trevas”, deveria ter conseguido efetuar aquela viagem sem qualquer problema, porém... Não consigo entender o motivo agora, mas senti um formigamento surgir em todo o meu corpo um pouco antes de chegarmos, e esse formigamento só sumiu depois de deixar de ser envolto pela umbracinese (o quê isso significa?).
Não tive muito tempo para refletir sobre isso, pois a viagem realmente pesou para a Erika. A última vez que a vi tão fraca daquele jeito, foi enquanto se recuperava do ataque da Naytili. Graças aos deuses que o meu sangue era compatível ao dela... Quando foi que a umbracinese de Absol se tornou tão perigosa assim? No caso de ter sido isso.
Como Absol parecia ter algum tipo de preocupação enquanto aguardávamos o reestabelecer de Erika, acredito que o mal estar dela foi realmente por culpa das sombras (preciso encontrar uma maneira de fazer a Erika mais resistente a poderes sombrios, e de quebra, a Cris também).
Eu esperava que Absol fosse buscar um dos nossos para nos guiar pela vila, e não que ele mesmo fosse fazê-lo. A reação do centauros era mais que esperada naquela situação, só fiquei surpreso de aparecer alguém que, muito provavelmente, já sabia sobre nós e sobre Absol. O quê será que aconteceu por aqui...
Após recebermos todas as explicações dos últimos eventos, fiquei me questionando se a presença da Cris nessa vila não teria sido uma artimanha do destino. Nós não só estávamos tendo a chance de analisarmos os sonhos de viagem com muito mais clareza, mas como também estávamos descobrindo novos limites das habilidades da Cris. Na hora em que ela nos mostrou os seus sonhos, fiquei impressionado com a riqueza de detalhes presentes neles. Se não fossem pelos sonhos que ela disse ter mostrado contra a vontade, iria imaginar que aquela riqueza era consequência por ser mais uma espécie de visão do quê um sonho em si (e acho melhor pararmos de assustar a Cris com essa historia de Apókries...).
– Guardião problemático? – questionava o líder da vila, encarando o Lance de canto – Problemático em que sentido?
– Um pouco superprotetor e só podendo ser “controlado” mesmo pela sua protegida. – terminava de respondê-lo.
– Hunf! Não causando problemas nessa vila, pode fazer o que bem entender. Sem querer ser grosseiro, mas quando que todos vocês vão embora?
– Papai!...
– Você mesma viu Hipodâmia, quem se mete com a mocinha aí pode se meter em problemas bem piores. Não quero que os inimigos dela e dos demais tragam transtornos para nós. Já temos muito o quê resolver sem isso e acredito que o bônus que estamos lhes dando é bastante justo por tudo o quê nos fizeram.
– Eles poderiam ao menos descansar essa noite antes de partirem.
– Se importam de eu lhes perguntar uma coisa? – Erika se manifestava.
– O que quiser. – autorizava a curandeira com gentileza.
– Sobre essas gemas de memória, há mais delas? Nossa amiga precisaria fazer como e o quê para “guardar” seus novos sonhos?
– Bom... A gema que ela usou agora, é a que me havia sido roubada. Nós a enchemos totalmente com tudo o quê ela sonhou de ontem para trás, ou seja, ela precisaria de uma nova para guardar novas memórias, e infelizmente, só possuo a que estou usando agora.
– Ela pode ficar com a minha. – declarava um centauro que custava a andar com o auxilio de um cajado, entrando e surpreendendo a todos.
– Damon!?! – Hipodâmia corria até ele – Mas por tudo que é deus, o quê é que você está fazendo aqui!?! Você devia estar descansando na clinica! – bronqueava ela o ajudando a deitar-se em um canto.
– Sabia que você me ia dizer isso... – ela o encarou da mesma maneira que a Ewelein faz com os seus pacientes mais teimosos – Só que... – ele retirava uma pedra de dentro de uma bolsa, entendendo-a para a curandeira.
– Mas isso é... Como conseguiu uma?!
– Lembra que eu disse que procurei o Iston por causa dos meus lapsos de memória? – ela assentia – Pois bem, ele me deu essa pedra para caso os lapsos viessem a virar um problema pra mim. Ele me explicou como fazer para usar, mas... Nunca a usei. Não sei se foi por influência do kaspersky, ou de alguma outra força, só que eu acredito, que neste exato momento, ela será mais útil aos meus salvadores do que a mim. Alguém discorda?
– Acredito que ninguém, rapaz. – se pronunciava o Valkyon – Mas nos diga: essa pedra já estava com você ou você foi busca-la? Não me lembro de a ter visto enquanto lhe salvávamos.
– Fui busca-la. Acordei na mesma hora que Dâmia terminou de me examinar e os ouvi falando sobre o quê fariam. Conhecendo essa garota como conheço... – ele segurou a mão da centaura que ainda o encarava brava – De jeito nenhum ela me deixaria levantar.
– Não mesmo. Olha para o seu estado! E você abandonou o Leito de Thanatos HOJE! De jeito nenhum que você poderia sair da cama ainda. Quem lhe ajudou, para que eu possa dar uma merecida bronca?
– Ninguém. Esperei vocês saírem e me arrastei até um lugar onde eu pudesse me apoiar. Encontrei o cajado que estão vendo e o usei para chegar em minha casa, e depois vir aqui. Não foi fácil ficar de pé no começo! Parecia que minhas pernas tinham se esquecido como é que faz para funcionarem, mas eu tinha de lhes trazer a gema antes que partissem sem ela.
– Duvido que suas pernas fiquem falhas por muito tempo, mas você não podia apenas ter pedido para que alguém fizesse isso por você? O que Hipodâmia disse está absolutamente certo. – falou minha Erika em apoio à curandeira, que pareceu gostar de ouvir.
– Não. Tinha que ser eu. Estava guardando a gema em um lugar... especial. – foi sutil, mas eu percebi (ele gosta da curandeira!?).
– Não importa. Ficou feliz que você esteja entregando essa pedra e tudo mais, mas!... Você vai retornar AGORA para a clínica e não sairá mais de lá sem o meu consentimento. Nem que para isso eu tenha que amarrá-lo!
– Deseja ajuda com alguma coisa? Sou a melhor enfermeira assistente da Ewelein em Eel.
– Talvez eu precise, se for realmente necessário amarrar esse teimoso aqui!... – todos rimos.
– E quanto à gema que ele nos trouxe?
– Não se preocupe, Kuris. Vou aproveitar que as ferramentas estão na clinica e preparar a gema por lá. Você pode esperar um pouco para dormir, não?
– Acho que a minha prioridade mesmo seria uma refeição...
– Prioridade de todos nós! A gente comeu bem dizer nada o dia inteiro. E estou faminto...
– Aguente só mais um pouquinho meu lobo... Já, já você mata o que está te matando.
– Tentaremos não demorar muito, e Chrome, porque você não nos acompanha também para continuar com as anotações sobre as gemas?
– Tudo bem... – respondia o Chrome cabisbaixo.
Ele e Erika ajudaram Hipodâmia a levar o enfermo, ficando só o restante de nós para trás.
– Bom, agora que já está quase tudo resolvido, deixa-los passar mais uma noite por aqui não deve nos causar problemas. Ainda. Acredito que os três que chegaram podem se acomodar com os demais sem problemas.
– Erika pode se juntar a mim em nossa cabana, e o meu irmão e o Leiftan ficam na cabana do Lan e da Kuris. A não ser...
– A não ser o quê, Karenn?
– Que o Chrome possa ficar comigo e a Erika com o Valkyon, e que o Leiftan ao invés do Lan possa dividir o quarto com a Kuris. – (que divisão é essa?!) – Graças a você, Nevra, Chrome e eu não tivemos um minuto sozinhos a jornada inteira! Pra quê que você tinha de mandar o Valkyon ficar nos empacando? – (agora compreendi. Explica até a irritação).
– Eu prefiro não me meter nisso. – declarava apressadamente (pela forma com que o Lance e Cris se observavam, imagino que os dois queiram conversar em particular sobre os sonhos mostrados) – Não me importo de dividir com o Nevra, e não acho apropriado intervir no trabalho do Lan.
– Não me importo... – declarava o chefe obsidiano em meio a um suspiro – É melhor irmos logo preparar as nossas refeições. Partiremos de Yah-navad’y amanhã de manhã, agradecemos muito por toda a colaboração e compreensão em nosso trabalho senhor Kidemónas. E se puder nos fazer um pequeno favor de...
– Os únicos membros da Guarda que estiveram aqui foram um guerreiro, uma vampira e um lobisomem. Mais tarde, um homem com sua filha que estavam viajando, pediram abrigo por algumas poucas noites, se oferecendo para trabalharem como pagamento pela estadia. Depois que o pessoal da Guarda conseguiu resolver o problema, graças à ajuda desses viajantes, reforços da Guarda chegaram e, como o problema já se encontrava resolvido, todos partiram para não sei onde. E isso é tudo que tenho a dizer. – relatava o Kidemónas.
– Muito obrigado. – agradecia o obsidiano em meio a uma reverencia – Acho melhor irmos indo. Karenn, poderia ir para a clinica avisar aos outros que estaremos aguardando nas cabanas?
– Tá, mas... Essa noite irei dormir acompanhada do meu lobo ou da Erika?
– Da Erika. – Nevra e eu respondemos juntos, e claro, tanto a vampira quanto o dragão não gostaram.
Sem mais discussões, deixamos todos a casa de Kidemónas e nos colocamos à caminho das que seriam nossos alojamentos por uma noite (com a Karenn seguindo para a clinica). Chegando, Valkyon nos explicou as separações e Nevra e eu tivemos de entrar na cabana designada para o Valkyon, Chrome e Karenn, já que foi dentro dela que Absol emergiu com todos nós do segundo grupo. A Cris e o Lance começaram a preparar juntos a refeição enquanto arrumávamos nossas coisas no segundo quarto da casa, e francamente, do jeito que o Lance não parava de olhar tordo para o Nevra, espero não ter tido o azar de aparecer em qualquer sonho que seja da Cris!Lance
Leiftan conseguiu lidar bem com o Kidemónas. Todos entenderam que era eu no sonho, mas estava bem difícil de eu ser reconhecido naquela aparência deplorável. (Será que... Podemos conversar sobre isso? - “Fala desses últimos sonhos?” - Sim. É possível? - “Podemos jantar primeiro?”) Logo entendi que a conversa poderia ser desconfortável, então aceitei. Deixarei que ela decida quando tocar no assunto.
A chegada de Damon me surpreendeu. Aquele cara vai se recuperar mais depressa do que podia esperar! E ele até serviu de distração para o atual tema tratado, sem falar que poderemos deixar essa vila já mais preparados.
Depois de uma nova discussão proposta pela vampira com dor-de-cotovelo, ficou decidido que os dois seres que eu menos deseja com a gente, ficassem em nossa cabana (e ainda com eu escapando de uma companhia desagradável). Adentrando a cabana, eu e a Cris começamos a preparar algo para saciarmos nossa fome.
Ficamos brincando um com o outro para nos descontrairmos durante o preparo, e comemos com gosto junto dos outros dois.
Ficamos conversando sobre a viagem até essa vila; o quê aconteceu em Eel; as reações da Reluzente sobre o que acontecia por aqui, e como cada um daqueles três havia reagido à umbracinese de Absol. Aquele vampiro metido à besta não perdeu tempo em querer “convidar” minha Ladina a mudar de guarda, coisa que ela não parecia nem um pouco interessada.
Antes que o Sanguessuga pudesse insistir, Hipodâmia apareceu para entregar a gema que estava com Damon para ela. A Cris só tinha de dormir com ela sob o travesseiro após recitar um encantamento que, pelo menos por mim, foi decorado na hora.
Com a curandeira se despedindo, a Cris não perdeu tempo em se retirar para tomar banho e se deitar. Não deixando qualquer chance para aquele líder tentar mudar sua opinião (coisa que comigo ele definitivamente não iria conseguir). Absol estava ao lado dela, então preferi ficar de olho no Nevra.
Dada a hora de deitar, sendo eu o último a me recolher, encontrei minha Ladina sentada em sua cama ao invés de dormindo como imaginei que estaria – Há algum problema? – questionava terminando de fechar a porta (e trancando).
– Você... Ainda quer saber o final daquele sonho?
Me aproximei dela devagar, ajoelhando-me diante dela – Se for algo que não for a incomodar, tenho esse desejo. Mas não quero força-la.
Ela parecia pensar, encolhendo e mordendo os próprios lábios, encarando a janela alguns segundos depois – Absol, a janela. Por favor...
O black-dog pareceu incomodado com o pedido e ainda revirava os olhos, ao mesmo tempo que uma sombra negra subia pela parede ocultando a janela e deixando apenas a luminosidade interna preenchendo o quarto.
– Lan...
– O deseja minha Princesa?
– Tire a máscara por favor.
Ela não deixava de me parecer misteriosa, mas confiei. Tirei a máscara aproveitando que não tinha como ninguém nos espiar mesmo e aguardei. A Cris parecia nervosa, e até mesmo corada. Fiquei imóvel, aguardando pacientemente por seja lá o quê fosse que ela queria fazer e com toda a serenidade possível. Depois de alguns minutos, ela soltava o ar como se estivesse tomando coragem e, ainda corada, ela resolveu segurar em meu rosto e... me beijou.
Confesso que fiquei surpreso. Ela nunca tomava a iniciativa daquele jeito. Não era à toa que ela estava toda nervosa. Foi um beijo simples de poucos instantes (mas que me deixou um gosto de “quero mais”), com ela se afastando devagar, do mesmo jeito com que havia se aproximado.
– Disse que queria saber como que aquele sonho do castelo de cadáveres havia terminado... – palavra alguma saía de minha boca – Foi isso. Você me beijou. Me deixando com a memória do gosto de sangue na boca e consideravelmente confusa ao acordar. – eu até tentava, mas continuava mudo – Acho... Acho que eu... Meio que já estava, começaaaando a gostar de você, naquela época.
Ficamos em silencio por um momento. Não sabia se eu me sentia bem ou mal com isso ao observa-la toda corada e quieta. Seus olhos até pareciam querer lagrimejar.
– Me desculpe. – saía finalmente – Me desculpe de novo pelo o que te fiz naquela noite. por causa dessa minha indiferença sobre o corpo alheio, muitos me questionaram se era gejo, como você fez naquele dia, mas nunca, nunca antes havia reagido de forma tão... imprópria, como fiz com você. Eu insistia para mim mesmo que, o meu ciúme desde quando lhe invadi o quarto, nada mais era do que o desejo não perder tanto conforto como estaria tendo ao seu ao lado, diferente da prisão. Mas... a verdade, é que eu já devia estar abalado por você e... talvez por isso, não tenha aceitado a possibilidade de você não me querer por achar que não gostava de mulheres ou que eu não a levaria a sério caso nos envolvêssemos. Eu...
– Lance? – ela me erguia o rosto que acabei baixando com delicadeza – Acredito já o ter desculpado por isso. E lembra que você já me fez coisas piores e eu ainda estou aqui, com você?!
– Você é a minha retenção. Não sei o que seria de mim se eu a perde-se agora.
Ela sorria entre lagrimas com o quê disse, e acariciava o meu rosto. Segurei suas mãos, ainda próximas de meu rosto, com ternura para depois beija-las.
– Será que poderíamos dormir juntos essa noite? Papai...
– _riso fungado_ E quanto à sua gema? Ela não pode acabar misturando os nossos sonhos?
– E se dormirmos no chão? Onde há mais espaço para duas pessoas?
– Tem certeza disso? Amanhã começaremos a viajar para Yaqut, lembra?
– Hum... Será que Yaqut é muito longe daqui? E a gente vai ir para lá andando ou de carona?!
– Espero que de carona. Atravessar um deserto a pé é para poucos! Você pode não gostar da experiência.
– Eu já estarei a caminho de um covil de vampiros questionáveis, acha mesmo que isso é pior que um simples, porém ardente deserto? Tentarei o meu melhor para não reclamar muito.
– E eu para que você consiga ficar mais confortável durante a viagem.
Sorríamos cúmplices. Ajeitamos o chão como nos era possível para que pudéssemos ficar mais confortáveis e impedir a gema de absorver sonhos alheios (e como eu pensei, tive de ajuda-la com o encantamento). Oramos, trocamos alguns carinhos simples e dormimos.Cris
Ai. Esta vila está me sendo um desafio emocional. Não quero nem imaginar o quê que estará me aguardando em Yaqut. E quando voltar para Eel... a dor de cabeça irá continuar por causa do Agýrtis (espero que ele se comporte por lá). E isso sem saber direito o que terei de enfrentar no deserto e no “covil”!
E não é só por causa da viagem em si que isso tudo está me desgastando. Não. Esse negócio dos sonhos também está me abalando um pouquinho. Porque raios eu não conseguia soltar aquela gema sem vergonha?!? A atrevida tinha que sair mostrando meus pesadelos que não interessavam a ninguém?! Ela causou uma baita confusão que por muito pouco não acabou com cabeças rolando. Espero que essa outra gema que a Hipodâmia me entregou, graças ao doido do Damon, não me apronte igual a anterior (será que a minha “loucura interna” afetou o funcionamento da gema?).
Bom. Também não posso negar que aquela pedra atrevida acabou me proporcionando um momento... único! Ao lado de Lance.
Quando deu a hora de acordar, levei alguns segundos para lembrar onde que eu estava e porque, respirando fundo para tomar a coragem de levantar. Ouvia pássaros, sentia o cheiro de orvalho, via uma leve claridade, que me permitiu ver o Lance dormindo todo sereno e... Perceber que Absol não estava ali. (Para onde que ele foi tão cedo??)
Lembrei da gema debaixo do travesseiro e a peguei (será que ela conseguiu gravar alguma coisa?). Não me lembro de ter sonhado com qualquer coisa que seja, então aproveitei que anotei o encantamento em um dos meus cadernos, e que tinha uma bacia com agua limpa dentro, para testar o resultado. Acontece que não vi nada que fizesse sentido. Uma mistura de cenas sem pé nem cabeça que nem dava para formular uma historia. Se eu soubesse como, apagava aquilo da gema. Vai ver é por isso que tem vezes que sinto que não sonhei nada, é porque não tinha sonhado com nada que fizesse algum sentido!
Tirei a gema da agua e a guardei depois de seca, juntando minhas coisas em seguida.
– Isso é ansiedade para ir ou só aproveitando enquanto tem coragem para juntar as suas coisas? – Lance me abraçava por trás.
– Aproveitando a coragem. Bom dia para você também.
– Tomara que nos seja um excelente dia. – ele me roubava um selinho – Sonhou alguma coisa interessante?
– Nem sei se o que aquela gema gravou dá para ser chamado de sonho. Quem vai preparar a comida?
– Acho melhor ser a gente. O Leiftan até que se virou sozinho por um tempo no passado, mas o Nevra... Sinto que ele sempre foi um mimado. – não consegui segurar o riso.
– Ok então. Vamos logo antes que um dos dois resolva querer assumir a cozinha. – saíamos entre risinhos.
Apesar de toda a nossa enrolação no quarto, ainda era bem cedo. Leiftan e Nevra apareceram somente quando já estávamos na metade do preparo. Como eu já estava bem mais disposta se comparado a ontem, Leiftan resolveu me questionar sobre a minha evolução com a luz, para assim saber como prosseguir com o meu treinamento (que vai começar assim que deixarmos a vila...). Terminamos a refeição e deixamos a casa arrumada antes de pegarmos nossas coisas e a devolver à vila. Valkyon e os demais faziam o mesmo quando saíamos.
– Bom dia a todos. – Kidemónas nos cumprimentava, com todos nós retribuindo a saudação – Acordaram mais cedo do que imaginei. Como pretendem seguir com a viagem de vocês?
– Alguns de nós seguirá montado nos rawists que usamos para trazer os mantimentos, enquanto os outros seguirão à pé mesmo. – esclarecia o meu chefe (eu quero ficar na montaria!).
– Olha!... Sou obrigado a dizer que isso vai não ser possível.
– Não?? – questionamos quase todos (_beiço choramingando_)
– E porque não?!
– Bom, senhor Nevra, é por que... Eles sumiram!
– É O QUÊ?!?!
– Tanto a carroça como os rawists sumiram. Mas!... Em compensação, um grupo de shau'kobows apareceu do nada em frente aos portões, com aquele black-dog os vigiando.
– Isso explica porque Absol não estava no quarto... – declarava com todo mundo sendo envolto pelo alivio – Ele deve ter levado os corcéis para Eel, e depois nos buscado as aves para o transporte.
– Seja como for, vocês viajarão com algum conforto. Minhas filhas e alguns de nossos guardas estão terminando de prepara-los para vocês. Vamos ao encontro deles? – nos convidava o Kidemónas e passamos a segui-lo.
Chegando à entrada da vila, Absol se encontrava sentado, um pouco mais afastado, atento a tudo e observando tudo; Cassandra e Hipodâmia (com o Damon sentado próximo à elas) e mais três centauros amarravam celas e bolsas nos shau'kobows, que eram quatro no total.
– Kuris! – Hipodâmia se aproximava animada de mim – Como foi a sua primeira noite com a gema? Deu tudo certo? Sonhou com algo interessante?
– Acredito que tenha dado tudo certo sim, mas eu não sonhei com nada que viesse a fazer algum sentido. E... Como é que anda o seu “paciente”? – questionava encarando e indicando o Damon, que conversava com Kidemónas.
– Até que se comportando. – declarava ela com um pouco de desgosto e o encarando por um momento – Fiz-lhe novos exames hoje e confirmei que ele está melhor do que eu esperava. Graças a vocês! Muito obrigada mesmo. – ela agradecia sorrindo e segurando em minhas mãos.
– Que isso... Nós só fizemos aquilo que podíamos.
– E foi muito mais do que desejávamos. Estamos sinceramente agradecidos.
– O que acha de montarmos logo? – sugeria a Karen já arrastando o Chrome com ela – A jornada será meio longa!
Seguimos seu exemplo e nos aproximamos dos mascotes. Chrome e Karenn montaram num instante e antes que qualquer decisão de divisão fosse tomada. Ela chegou a encarar o Nevra, que parecia discordar da decisão dela, como irritação. Nevra só ficou calado porque o Valkyon lhe segurou um dos ombros, negando-lhe com a cabeça qualquer discussão, e montando junto da Erika em seguida, fazendo uma troca de olhares entre eles que só fez o vampiro suspirar. Lance já tinha me colocado sobre a criatura e montava atrás de mim logo em seguida, restando ao vampiro apenas a companhia de Leiftan.
– Que o Oráculo e todos os bons deuses estejam ao lado de vocês. Tenham uma boa viagem.
– Somos gratos, senhor Kidemónas. Espero que as coisas possam se resolver finalmente por aqui. – comentava Valkyon.
– Rezo para que nossos caminhos possam se cruzar novamente. E em melhores condições! É claro.
– _risinho_ Isto seria bom para todos Cassandra. E eu adoraria se pudesse ter você como colega de guarda. Não fiquei aqui tanto tempo quanto os outros, mas já compreendi que você é uma guerreira poderosa e bastante confiável.
– Como gostaria que “algumas” pessoas enxergassem isso também, senhorita Erika... COMO eu gostaria...
– Pois estou torcendo para que isso aconteça. E rápido! – as duas encaravam o Kidemónas, que me parecei incomodado com o assunto (alguém aqui teve tempo de falar com ele sobre isso?).
Depois de mais algumas despedidas, seguimos viagem. Como só havia uma única estrada que guiava até a vila antes de alcançarmos o topo da colina que a ocultava, seria difícil alguém afirmar se eu e o Lance havíamos ou não nos separado do restante do grupo, por isso, se algum dos chatos de Apókries resolvesse aparecer ali, ele não teria como saber se tínhamos nos separado ou não durante a viagem (ou ao menos assim espero).
Em nossa primeira pausa, para o almoço, Valkyon me contou que Kidemónas e Cassandra haviam aparecido na cabana deles para entregar os documentos sobre metamorfos, e aproveitaram para tentar convencer o centauro a deixar Cassandra fazer o que desejava, entrar na Guarda de Eel. O que é bom, já que nós havíamos prometido fazer isso em troca da gema que estava comigo.
Leiftan resolveu que usaríamos parte do tempo de nossas pausas para treinar a luz comigo e com a Erika (com ela me ajudando muito em algumas coisas, uma vez que ela era mais avançada que eu), e ainda acabamos nos deparando com algum faery que corria desesperado na direção contrária à nossa. Se não fosse pelo Nevra, eu nunca que iria entender que se tratava de um elfo (será que é o médico da Hipodâmia? O que foi que a Cassandra escreveu para ele?!?).***
“E aí? O que está achando da viagem?”
– Bem cansativa. Mas feliz por ver que essa fase acabou. Porque vocês duas não apareceram no começo? – encarei as duas.
“Errr... É porque ela ainda não acabou.”
– Não?!? – as duas balançam a cabeça em negativa – Como “não”?! Já viram o tamanho dessa fase até agora? Ela já devia ter acabado há muito tempo!
“Entendemos a sua irritação, mas você ainda tem trabalho a fazer nessa fase. Que está na metade.”
“Nós até que queríamos aparecer mais cedo, porém sabíamos que você reagiria desse jeito e por isso esperamos metade dela. Quase que optávamos por não aparecer!”
– Oooh! Céus... E quanta complicação ainda me espera?
“Acretido que o mais difícil que terá de lidar está em Yaqut. As suas outras obrigações nesta fase lhe serão mais amenas.”
“Mas não podemos prometer o mesmo sobre as suas opiniões. Faça o possível para se manter forte aí.”
– Você está me fazendo ficar mais preocupada do que relaxada, Negra.
“Boa sorte no deserto.” – e as duas se foram. _suspiro_...
.。.:*♡ Cap.157 ♡*:.。.
Cris
Da vila até o deserto, foram dois dias de viagem. E como Lance e eu não estávamos mais nos escondendo igual foi até chegarmos na vila, o percurso pareceu mais rápido e com toda a certeza mais confortável.
Leitan ficou me treinando tanto que agora eu até consigo criar a minha própria barreira de proteção, assim como a Erika. Se bem que a dela era totalmente invisível e a minha parecia uma película de agua. Influência do meu lado dragônico, imagino eu.
Quando chegamos no deserto, paramos para nos trocarmos antes de dar continuidade. E céus! Como era quente!... Nas primeiras horas até que encarei bem, mas logo me cansei daquele monte areia escaldante. Nem o calor do nordeste era tão ruim daquele jeito! E olha que o ar de lá costuma fazer o meu nariz sangrar de tão seco, a diferença maior é que, no Ceará, mesmo com o nariz ficando machucado por dentro, eu conseguia me acostumar com o calor. Mas nesse deserto de Eldarya?? Ele parece querer fazer meu cérebro fritar!
Eu até que tentei usar a minha barreira para aliviar o calor como desculpa de estar praticando, mas levei bronca por ficar gastando energia que me seria cobrada por aquele oceano de areia. Não preciso nem dizer que aquele calor estava me causando um mau humor tão grande quanto a carroça que levamos para Yah-navad’y.
Depois de uns três dias vendo areia e mais areia, chegamos em um pedaço de paraíso tão belo, que na hora pensei que fosse uma miragem. Uma enorme cachoeira de agua cristalina que formava uma lagoa, cercadas de vegetação fresca, e o que parecia serem feixes de areia dourada que me aparentava estar lá para proteger aquele salva-vidas do deserto. Descansamos naquele lugar por um dia inteiro.
Aquela agua fresca era um verdadeiro bálsamo contra todo aquele calor e areia. Todo mundo acabou tomando banho na lagoa e na cachoeira. Nem Absol ficou de fora! Eu meio que estava ressuscitando ali.
Durante a refeição, Nevra nos contou como que as coisas funcionavam em Yaqut, seguindo uma pirâmide econômica... Igual à Terra. E pelo o quê eu entendi, Lance estava mesmo certo ao dizer que Nevra podia ser um tanto mimado. Se Nevra realmente tiver pertencido a uma família mais abastada.
Quando chegou a hora de retomarmos viagem (eu queria ficar mais... _choramingando_), com nossos suprimentos de agua renovados e nossos corpos um pouco mais dispostos a retornar ao mar de areia, Erika e eu já havíamos vestido nossos trajes anti-vampíricos por segurança extra. E láááááá se foooooram mais três dias de duuuunas e mais duuuunas de areia...
Estava prestes a perder a paciência de vez quando começamos a avistar uma espécie de rochedo. Era Yaqut. Durante a nossa aproximação daquela formação rochosa, Nevra nos dava cada vez mais explicações de como as coisas funcionavam lá dentro, especialmente com o quê nós mais devíamos tomar cuidado (Erika e eu principalmente). Ele voltou a dizer que havia enviado uma carta à mãe dele para avisar sobre a nossa inevitável visita, mas ainda não estou segura se seremos ao menos respeitados lá dentro, pois, na minha mais sincera opinião, desejar que sejamos considerados bem-vindos por eles será um pouco demais.
Chegando finalmente (com Absol escondido dentro de minha sombra), tive a impressão de que seriamos atacados pela forma com que o responsável de lá de cima estava nos tratando, mas logo baixaram o que viria a ser um elevador para que pudéssemos entrar.
Lá dentro, com tudo estando bem mais escuro se comparado à luminescência fornecida pela areia quente, havia um grupo de pessoas em trajes do estilo árabe nos esperando. Uma mulher que fazia parte do grupo não hesitou em aproximar-se.
– Nevra! Meu querido... Como é bom poder revê-lo depois de tanto tempo! Mas, o que houve com seu olho? E como você está crescido e bonito! Dê-me um abraço. – terminava de declarar a mulher já o abraçando. Um abraço não correspondido (acho que isso vai ser ruim...) – Karenn? É você mesma? – agora ela se voltava para a vampira – Mas como você está crescida! Nem parece aquela menininha. – e foi logo a abraçando também, mas diferente do Nevra, a Karenn devolveu o abraço.
– Hun-hurn. Desculpem o enlevo de minha mulher. – falava um homem que mal parecia se manter em pé com o auxilio de uma bengala – Importam de nos dizer, qual de vocês é o enviado do Oráculo?
– Permita-me fazê-lo, Kellinroe. – prontificava-se o Nevra – Estes comigo são: Chrome, Leiftan, Valkyon, Erika, Cris e seu guardião...
– Lan. – declarava o Lance – Vocês podem me chamar de Lan.
– Certo, Cris e o seu guardião Lan. O senhor me perguntou qual deles é o enviado do Oráculo, nesse caso temos duas: a Erika, que é quem impediu de Eldarya ruir... – o grupo começou o cochichar no meio deles – ...e a Cris que está reconstruindo o Grande Cristal e reforçando a estabilidade de Eldarya. Tecnicamente, só a Cris foi ordenada a vir para cá, mas como uma complementa o trabalho da outra, as duas acabaram vindo.
– E pelo o que estou vendo... – ele inspirava o ar de um jeito que não gostei – As duas são humanas. – gerando ainda mais cochichos entre eles.
– Faelianas! – se adiantava a Karenn – Agora é a vez de vocês se apresentarem para o nosso grupo, eu imagino.
– Perdoe-nos a incordialidade. Sou Kellinroe Velika Berrycloth Bertoldo Constantinescu Dalca, chefe de uma das famílias mais influentes deste clã. – (já vi que é mala...) – Minha esposa Maora... Este à minha direita é o Youssef, braço direito de nosso atual líder, o Orgelz; à minha esquerda está Haidar, meu mais fiel assistente; e Hakim e Sahir, meus guarda-costas.
– E como meu marido parece ter esquecido de mencionar, ele e eu somos os pais de Nevra e Karenn. – esclarecia a Maora, lançando um olhar frio para o marido que só revirou o olhar para o detalhe _suspiro..._.
– Bom, acho que não é lá muito apropriado continuarmos com essa conversa no meio do Grande Hall. Porque não seguimos para a sua habitação, Kellinroe? – sugeria o Nevra com uma frieza que já estava me incomodando.
– Claro. Já tenho quase tudo pronto para a estadia de todos vocês. Agradeço por ter deixado claro à Maora sobre o tamanho de sua comitiva. Descansem um pouco agora e conversaremos melhor durante o jantar. Youssef, está convidado a acompanharmos caso nosso líder lhe permita.
– Muito obrigado, lord Kellinroe. Com a licença de todos... – se retirava o homem após uma reverência (e um olhar aparentemente faminto para mim e Erika).
– Sigam-me. – ordenava o Kellinroe que andava à frente com o auxilio de Maora e de seu tal assistente pessoal.
Os seus guarda-costas ficaram atrás do nosso grupo, que também havíamos nos organizado de maneira a garantir a segurança de nós faelianas. Erika e eu estávamos lado-a-lado com “nossos” dragões do lado de cada uma, Nevra e Leiftan à nossa frente, e Chrome e Karenn às nossas costas. E para completar, a sombra por baixo de meus pés e dos pés de Erika parecia mais escura (Absol...).
Enquanto seguíamos caverna adentro, reparei que nada se assemelhava ao meu sonho. No meu sonho eu vagava dentro de um castelo medieval! E não dentro de uma caverna de decoração dos países do deserto. Notei que alguns dos que passavam por perto acabavam nos encarando, quase sempre “guiados” pelo cheiro (espero que essa roupa que a Purriry fez realmente faça efeito). Só depois de termos passado os portões que separavam a residência dos pais de Nevra (ao ponto de parecer que atravessávamos um portal dimensional de tão diferente que era a aparência do lugar) que eu consegui me senti um pouco menos ansiosa.
– Desculpem eu perguntar, mas este portão que acabamos de atravessar é um portão comum? – questionava o Chrome, e parece que nós dois não fomos os únicos a ficarmos confusos.
– Opa! Nevra esqueceu de mencionar esse detalhe aos lhes explicar sobre Yaqut, meu lobo.
– Quando o nosso clã decidiu se instalar em definitivo em Yaqut,... – Maora explicava – ...algumas famílias, como a minha, preferiu trabalhar as rochas para que ficassem mais parecidas com o antigo lar de cada uma delas. No passado, quando os Berrycloth Bertoldo ainda viviam na Terra, era mais ou menos assim a nossa residência.
– Muitos queriam ter feito como nós. – completava o Kellinroe – Mas nem todos tinham condições para fazê-lo.
– Agradecemos o esclarecimento, senhor. – agradecia o Leiftan com uma certa formalidade.
– Não há o que agradecer e... – um homem lhe aproximou para sussurrar-lhe algo ao ouvido – E o quê está esperando para dar-lhes o que precisam? Aprese-se!
– Sim, senhor. – respondia o homem que se retirava e... é impressão minha ou a mulher que sumiu na direção em que ele seguiu, se parecia com a jovem do meu sonho?
– Algum problema Kellinroe? – perguntava o Nevra com indiferença.
– Nada com que deva se preocupar. – ele pegou uma sineta que, após ser tocada, um homem e duas mulheres se aproximaram – Este pessoal são nossos convidados por alguns dias. Mostrem-lhe os quartos preparados.
Os três fizeram uma reverência com a cabeça como resposta e, como se estivessem sincronizados, nos fizeram um gesto para segui-los, e o fizemos, deixando os pais de Nevra e os outros vampiros para trás.
Caminhando pela “mansão”, conseguia reconhecer uma coisa ou outra do que tinha em meu sonho, assim como aconteceu em Lund’Mulhingar. Havia menos servos do que no sonho, porém todos eram tão... maquinários, quanto os que vi dentro dele, inclusive reparei o olhar vidrado de alguns deles. Apesar da “residência” ser grande, aqueles três pareciam estar nos levando direto para o local de nossos quartos (e eu não consegui reaver aquela mulher de jeito nenhum...), tanto que quando entramos em um determinado corredor, cada um avançou só até que três portas das que lá tinham tivessem um deles parado diante delas.
– Estes são os quartos preparados para os senhores. – falava o homem pela primeira vez – Atrás de mim está aquele que foi reservado para os homens de seu grupo.
– De mim, está o reservado para as mulheres. – declarava a mulher cuja porta ficava na mesma parede em que o homem estava parado.
– E de mim, o que foi reservado para o servo do Oráculo. – (a palavra “servo” não saiu de um jeito meio pesado da boca dela não?) esclarecia a mulher diante de uma porta na parede oposta.
– Por favor entrem. – falou os três simultaneamente, abrindo as portas também ao mesmo tempo.
– Desculpe, mas acho que podemos fazer um pouquinho diferente, já que temos duas representantes do Oráculo conosco, e um guardião que não pode se separar de uma delas. – comentava o Chrome (e obrigada pela amenização do termo!).
– Ordens são ordens. – falava o homem parecendo um robô – Se há mais de um representante, ambos terão de ocupar o mesmo quarto, e o guardião irá para outro. E sem mais discussão.
– Mas...
– Espere Chrome. – Nevra o interrompia – Vamos fazer como nos está sendo exigido por enquanto. Me diz Karenn, como é o seu quarto?
– Tirei a sorte grande. É o mesmo que eu usava antes! Grande o bastante para caber todos nós juntos se nos fosse permitido. – revelava Karenn com um grande sorriso (e eu já entendi o que ela de fato quis dizer).
– Fico feliz que tenha gostado, e que tal todos nós entrarmos e nos organizarmos? Alguém fará vigília neste corredor?
– Se de fato algum de vocês já foi morador desta casa, não tenho nada a responder sobre isso. – como ele é simpático...
– Então a segurança continua igual. Com seguranças rondando a casa inteira a cada duas horas. – refletia o Nevra – Alguém nos chamará quando for a hora do jantar?
– Com toda a certeza senhor. Agora adentrem em seus respectivos quartos, fomos ordenados a mantermos suas portas trancadas por questões de segurança.
– Segurança de quem, eu me pergunto... – ouvi Lance retrucar baixinho perto de mim, onde acabei lhe chamando discretamente a atenção.
– Muito bem então, vamos todos entrar e nos prepararmos para o jantar. Até mais tarde pessoal! – se despedia a Karenn, que teve sua porta trancada pela mulher logo depois de entrar.
– Vamos fazer o mesmo. Lan, vem com a gente, e Erika, vai com a Cris. Até a nossa reunião. – sugeriu o Valkyon já puxando o irmão que entrava contrariado.
Erika e eu mal tínhamos terminado de colocar nossos pés dentro do lugar (um opulento quarto que podia ser de casal, em tons de roxo escuro, preto e cobre), e já escutávamos a chave girando no trinco. Não pude evitar de fazer uma careta de desagrado para a situação em si. Nós duas nos encaramos por um instante e depois peguei em seu pulso para o mais longe possível daquela porta, com a gente jogando nossas bolsas sobre a cama.
– Ei, Absol! – sussurrava em direção ao chão, agachada em um canto com a Erika junto. Uma orelha emergia da escuridão – Tem como você reunir todo mundo onde a Karenn está agora?
A massa sombria começou a envolver nós duas ao mesmo tempo em que a orelha mergulhava de volta. Em poucos segundos deixamos o quarto gótico roxo, e adentramos outro que era pink, preto e dourado. Tão opulento quanto, mas um pouco mais delicado.
Os rapazes chegaram ao mesmo tempo que nós, bem dizer.Nevra
A viagem no deserto foi difícil, mas bem dentro do esperado. Não me lembro de já ter visto a Cris tão mal humorada daquele jeito, ainda bem que a nossa pausa na cascata a acalmou. Fiz o que pude para deixar todos o mais à par possível do funcionamento social de Yaqut, mas sempre há coisas que você acaba deixando de falar (espero não ter esquecido de nada essencial).
Nossa recepção pelo clã de Yaqut foi bem dentro do esperado. Tenho certeza que aquela gente só não partiu para cima da Cris e da Erika, porque eu estava deixando bem claro que nenhum de nós desejava estar ali, reforçando que elas duas não eram meras humanas nas quais eles poderiam avançar sem consequências.
Enquanto éramos guiados até minha antiga casa, pude notar muito bem que os vampiros não estavam fazendo qualquer esforço para ocultar as intenções deles ao perceberem a presença das faelianas. Sabia que estava esquecendo de explicar alguma coisa... Só a “pequena” prova que eu tinha fugido de uma família altamente burguês, da qual eu não me havia dado conta quando mais novo.
Tirando isso, aquela casa parecia continuar funcionando da mesma forma, por isso não fiquei perdendo tempo discutindo antes de sermos “colocados em segurança”. Que bom que tanto a Karenn quanto a Cris compreenderam o que eu queria! Não foi preciso aguardar nem cinco minutos para estarmos todos reunidos em um mesmo ambiente.
– Absol pode ficar vigiando para nós? – perguntei depois de termos ativado um par de sana clypeus (acho melhor eu começar a procurar mais algumas para as próximas viagens...).
– Pode fazer isso Absol? E não espere nem um segundo para mandar algum de nós de volta para o quarto se alguém resolver aparecer para falar com a gente! – pediu a Cris. E Absol deitou-se no chão de modo que metade do corpo desapareceu no chão.
– Bem, então acho que podemos começar a conversar mais tranquilos. A nossa recepção acabou sendo melhor do que esperava, mas irmão, aquela sua frieza com a nossa mãe era realmente necessária?!
– A Karenn está certa Nevra. Maora me parece ser uma mãe tão amorosa... Porque trata-la daquele jeito? E o pai de vocês? Ele sempre foi tão... frio? E ele sempre foi meio fraco ou aconteceu alguma coisa com ele?
– Cris, sobre a Maora, talvez tenha um pouco de razão. Estou tendo dificuldades até de encarar os vampiros daqui por conta das mesmas razões que me levaram a abandonar este clã. Quanto ao Kellinroe, sim, ele sempre foi frio, e não, ele nunca foi fraco. Alguma coisa grave aconteceu para ele estar naquele estado.
– Pelo o que vimos nos sonhos da Cris, imaginei que encontraríamos mais gente trabalhando aqui. Havia um exagero no sonho da Cris ou alguma coisa mudou?
– Existe três possibilidades Valkyon: ou Kellinroe andou vendendo mão-de-obra; ou ele os está mantendo “guardados”; ou eles simplesmente “quebraram”.
– Pera, pera, pera! Do que é que você está falando Nevra? Como assim “vendidos”, “guardados” ou “quebrados”? Eles são seres vivos! Não são? – questionava a Cris, me fazendo engolir seco.
– Eles foram seres vivos. Agora estão mais para “golens de carne”. Eles ainda precisam de tudo que um ser vivo normal necessita, como agua, comida, período de descanso... Mas não possuem qualquer liberdade de pensamento ou ação. Não possuem mais o livre arbítrio.
– Mas isso... Isso é horrível!! Isso é... Escravidão! Do pior tipo!! Como que o povo daqui teve coragem de fazer uma barbaridade dessas?!
– Foi exatamente essa indignação uma das causas que levou meu irmão a deixar Yaqut, Cris.
– Tenho até medo de ouvir o resto das coisas! – declarava a Cris consideravelmente irritada.
– Mas voltando ao que interessa. – retomava o assunto – Independente de haverem muitos ou poucos “servos”, eles não nos serão problemas desde que não sejam ordenados a fazer nada em especifico contra nós. E com a umbracinese de Absol, podemos ficar reunidos da forma que acharmos melhor, sem que ninguém perceba.
– Então deixa eu aproveitar para dizer que não irei ficar em um quarto diferente do da Cris! Nem que eu tenha de dormir no chão, eu irei ficar no mesmo quarto que ela. – declarava o Lance.
– Lan está certo. Não só é trabalho dele estar sempre junto de nossa Lys de Eldarya, como eu duvido que não haja alguma passagem secreta no quarto delas para que os vampiros daqui tentem alguma coisa.
– Passagens secretas? Isso não é um pouquinho clichê, não?
– Eu não acho, Erika. – argumentava o Leiftan – Eles construíram a sua comunidade dentro de um conjunto de cavernas. Não ficaria surpreso se houvessem alguns “corredores” pouco utilizados por aí.
– Precisamente Leiftan. Eu não sei se tudo continua igual, mas até onde eu sei... – Karenn empurrava um móvel com o pé, revelando uma pequena abertura na parede – Algumas coisas parecem exatamente iguais. Só não estou me lembrando de quantas e onde é possível achar “aberturas” como esta... – explicava ela recolocando o móvel no lugar.
– Mais um motivo para eu permanecer ao lado dela. Como será a nossa verdadeira divisão de quartos?
– Você fica com a Cris e o Absol; Valkyon e Erika também ficam juntos e eu posso ficar com eles, Nevra Karenn e Chrome ficam no terceiro.
– Não que eu ache a sua divisão ruim, Leiftan, mas acho melhor que alguém do segundo grupo troque de lugar com alguém do terceiro.
– E porque isso Nevra!? – perguntava a Karenn exaltada.
– Questão de equilíbrio. No grupo da Cris, Lan é bom guerreiro e possui alguns truques, mais Absol, um black-dog, que auxiliado com a sua umbracinese pode identificar qualquer possível ameaça. Já no grupo da Erika, não vou inferiorizar as habilidades de Valkyon ou de Leiftan, mas qual deles tem a audição sensível o suficiente para identificar a presença de um vampiro entre eles? Alguém do terceiro grupo terá de tomar o lugar de um dos três.
– Absol terá de ficar vigiando para nos trocar de quartos, então imaginei que ele ficaria atento com os três quartos.
– Leiftan está certo, Nevra. Posso não saber direito quando que Absol prefere dormir, mas tenho certeza que ele perceberia na hora se houvesse alguma coisa errada. – defendia a Cris.
– Entendo o que quer dizer Cris, mas a menos que Absol tenha ficado dormindo por toda a nossa travessia no deserto, acho melhor não abusarmos da resistência dele. Lan, conto com você para garantir que todos nós sejamos “acordados” nos quartos em que fomos divididos pelos nossos vigias.
– Hum... – Lance parecia hesitar.
– Há algum problema Lan? – questionei.
– Não acho que a divisão sugerida pelo Leiftan seja ruim. – notei que ele parecia observar algo em especifico (a semente Negra está aqui por acaso??) – Você informou em alguma carta o quê cada um de nós é? Nossas raças?
– Não. Não havia informado nem que os representantes do óraculo eram humanos.
– E ainda bem que não o fez. Viram a cara que cada um fez ao ouvirem Kellinroe dizer que a Cris e a Erika eram humanas? Conhecendo Maora como conheço, tenho certeza que minha mãe teria nos tido algo como: “convivendo ao lado de humanos? Nossa “comida”?! Uma vergonha! Uma desonra para o clã! Para a família! Para a nossa raça em si!” ou alguma coisa assim. Tenho certeza.
– Sua mãe seria tão doida assim Karenn? Eu até posso tentar engolir o preconceito, mas ao ponto de ser considerada causa de desonra??
– Acredite em nós, Cris. Maora é exatamente esse tipo de pessoa, por isso que tenho dificuldades de ser gentil com ela.
– _riso_ Mas eles vão ter que mudar de opinião enquanto estivermos aqui.
– Lan. Não me apronte nada! – alertava a Cris.
– De qualquer forma, sobre os quartos, eu e Absol ficamos no quarto em que a Cris está hospedada, Você e o Chrome ficam neste quarto e o restante se junta no terceiro quarto. Se ainda carrega receios sobre essa divisão, um dos três de cada quarto pode ficar fazendo vigia para ter certeza que não receberão visitas indesejadas. Mais alguma observação que deve ser compartilhada?
De inicio, ninguém parecia querer falar nada, isso até a Cris erguer a mão um pouco receosa – Qual o problema Cris? Está com alguma dúvida?
– Não é bem uma dúvida...
– Então é o quê Cris? – perguntava a Erika.
– Lembram o homem que veio falar com o pai de nossos vampiros? – todos assentimos – Quando ele se retirou, Tinha uma mulher o esperando que foi embora junto com ele.
– E o que tem essa mulher?
– Tive a impressão dela ser a mulher do meu sonho, Karenn. – não esperávamos por isso – Foi só uma impressão. Não consegui vê-la direito para ter certeza. Tentei procura-la enquanto nos traziam para cá, mas... Não a achei.
– Vamos primeiro nos inteirar da forma mais discreta possível, qual a atual situação de Yaqut. Entender o porquê de Kellinroe estar naquele estado e se algo “diferente” vem ocorrendo por aqui. Aqueles que tiverem chance, podem explorar o lugar e tentar conferir se encontra algo especialmente anormal para eles, ou significativo para nós. Seguimos a sugestão de Leiftan e Lan sobre os quartos, mas gostaria, se for possível, que Absol deixe “passagens” nos três quartos que nos permita transitar entre eles sem que Absol tenha de se preocupar conosco, pois todos os quartos parecem escuros o suficiente para ocultar passagens assim.
– Hum... Isso é possível Absol? – questionou a Cris encarando o black-dog, em dúvida.
Absol abanava a cauda. Esticou a pata dianteira não mergulhada em direção à porta, e duas manchas negras surgiram próximas da parede e ocultas da visão de qualquer um que não ultrapassasse a porta.
Após nos encararmos por um segundo, Chrome se levantou e foi até uma das manchas. Ele ainda nos encarou antes de colocar o pé sobre a “mancha” esquerda que, logo se ergueu uma massa negra que começou a cobri-lo. Chrome se abaixou para ser envolto mais rápido, sumindo em no máximo cinco segundos. Passou-se um tempo. Acho que não foi mais que dez minutos, mas estávamos todos preocupados com a possibilidade de sermos descobertos de alguma forma. Chrome ressurgiu na “sombra” da direita com um sorriso de “sucesso” estampado na cara, aliviando a tensão sobre nós.
– Acho que isso significa que Absol conseguiu as passagens que você desejou, Nevra. Vamos todos experimentar as passagens e nos prepararmos para o jantar... Ou ainda há algo para ser discutido?
– Eu voto por conferirmos tudo, Cris! – Karenn declarava de braço erguido – Já que temos esse acesso secreto e exclusivo nosso, bem que poderíamos averiguar quantas, onde e como são as possíveis passagens dentro de cada quarto. Aí nós podemos obstrui-las para reforçar ainda mais a nossa segurança.
– Concordo com a Karenn. – apoiava o Valkyon – Se pudermos reduzir o numero de ameaças contra todos nós, teremos mais chances de evitar problemas desagradáveis.
Todos começaram a concordar, então ficou resolvido que examinaríamos cada um dos quartos para ficarmos mais precavidos. Sem trocar palavras (já que havíamos destruído a barreira sonora), Chrome nos contou que cada mancha levava para o quarto cuja direção ocupava. Ou seja, no quarto da Karenn, a passagem esquerda pertencia ao quarto da Cris, e a da direita para o “dos homens”. No quarto da Cris, a da esquerda levava para o dos homens e o da direita para o da Karenn. E finalmente, no quarto dos homens, a da esquerda para o quarto da Karenn e da direita para o quarto da Cris.
Seguimos todos juntos para o da Cris, logo depois de bloquearmos todas as aberturas no quarto da Karenn que, contanto com o buraco que ela nos mostrou ao movimentar aquele móvel, eram três. Encontramos uma no quarto da Cris, e mais duas no último quarto (ou eles estão nos subestimando, ou pretendem aprontar alguma coisa com a gente).Cris 2
Minha preocupação neste lugar só aumenta. Como se não bastasse ter de ficar alerta contra os demais vampiros daqui, ainda haviam as passagens secretas espalhadas pelo “castelo”. Depois de terminarmos de complicar o uso de qualquer uma delas, começamos a nos preparar de verdade para o jantar.
De início, faríamos isso dentro da divisão feita por nossos anfitriões, mas... Quando fossemos dormir... Seguiríamos a divisão feita por nós mesmos.
Já que a nossa reunião e buscas consumiram uma boa parte do nosso tempo, todos nos apressamos em estar apresentáveis para quando fossem nos buscar. E ainda bem que corremos! Não se passou nem cinco minutos depois de Erika e eu terminarmos de nos ajeitar, e nos bateram na porta (já a destrancando) avisando que era hora do jantar ser servido e que era para nos apressar (como se a culpa fosse nossa...).
Por cima da minha “armadura”, tudo o que eu vesti foi um vestido lilás de saia longa lisa e plissada, sem mangas e com a parte de cima bordada. Já a Erika optou por um vestido de tecido fino e leve cinzento, onde a manga comprida que começava no meio do ombro e terminava no pulso, era partida de modo a parecer que o tecido estava dependurado no braço exposto, e saia assimétrica com efeito volumoso.
Considerando o conservadorismo deste povo, espero que nossas escolhas estejam de bom tamanho. Karenn, Chrome, Nevra, Valkyon e Leiftan também estavam vestidos de forma um pouco mais formal, porém leve, por conta do calor. Lance infelizmente não possui escolha como o restante de nós, uma vez que sua única escolha de vestimenta é a armadura que não pode estar sendo retirada na frente do lobisomem e dos vampiros daqui.
Foi um homem diferente quem nos guiou até a sala do jantar. Os três que vigiaram nossas portas continuaram de guarda nelas. Fomos guiados até um pequeno salão que tinha em seu centro uma mesa capaz de receber (se eu tiver contado certo) até 20 pessoas. Kellinroe, Maora e... qual é o nome do assistente pessoal dele mesmo? Bem, os três já estavam à mesa nos aguardando.
Enquanto nos ajeitávamos nos assentos (do outro lado da mesa), dois homens adentravam o salão. Um era o tal braço direito do líder do clã e outro... Ele não parecia querer se apresentar primeiro. Como se fossemos obrigados a já sabermos quem era ele. Foi Kellinroe quem deu um jeito no nosso desconforto.
– Senhor Orgelz! Seja muito bem vindo à minha mesa. Ou só está aqui por curiosidade sobre a enviada do Oráculo?
– Meu caro Kellinroe... A menos que o jantar seja o nosso tão precioso néctar, receio que a única coisa que me traz aqui. Isso, se essa “visita forçada”, não for uma mentira convencional para que Eel possa espionar nosso clã.
Não aguentei – Desculpe interromper, mas o senhor acha mesmo, que eu iria colocar minha tão preciosa vida, em risco, por algo tão idiota assim?
– E QUEM seria você? – me questionava ele de nariz em pé.
– Uma faeliana abduzida da Terra pelas sementes do Oráculo, responsável pela reconstrução do Grande Cristal, cura dos contaminados e também limpeza de algumas sujeiras deste mundo. Nomeada pelos representantes de todos os governos de Eldarya de: Lys de Eldarya. Ah! E também alvo de um grupo de malucos que desejam controlar todo este mundo. Esqueci de alguma coisa? – terminava questionando os meus amigos.
– Acho que de nada Cris. – me respondia a Karenn que segurava o riso com as expressões dos vampiros – Porque não nos sentamos e começamos logo com o jantar? Eu não sei vocês, mas eu estou com fome. E adoraria poder comer makluba outra vez... Se tivermos ataifs para a sobremesa então!...
– Não se preocupe minha querida. Eu mesma garanti que o jantar fosse de agrado para todos. Vamos nos sentar? Orgelz, nos acompanha na refeição para conversarmos mais?
– Aceito. Mas apenas porque desejo saber que absurdos são esses que essa mocinha aí declarou. Sementes do Oráculo? Reconstrução do Cristal? Conquistadores de Eldarya?! Quais são as invenções que vieram tentar nos fazer engolir?
– Esse é o maior problema quando alguém resolve se isolar do restante do mundo... – declarava o Nevra em meio a um suspiro pesado – Presos em seu “mundinho”, Yaqut nem percebeu as ameaças que também sofreu...
– Não sei Orgelz ou Kellinroe... – o cara que tinha vindo com o ensebado falava atrás de mim (quando foi que ele se aproximou???) – Mas eu tenho grande interesse nessa historia. Que tal nos sentarm...
Do nada, assim que aquele cara tocou em meus ombros enquanto ainda falava, ele foi jogado com tudo contra a parede que havia atrás de nós por uma força invisível. O sujeito não ficou desacordado e Maora, auxiliada por uma serva, o averiguava lhe ajudando a levantar. Eu não entendi nada.
– Pensei que fosse algo óbvio. – Karenn se anunciava – Pelo pouco que a Cris mencionou, imaginei que não seria preciso explicar que, devido a importância dela, e da Erika, para toda a Eldarya, vocês constatariam por conta própria que não traríamos as duas até aqui sem antes lhe garantirmos a segurança contra os desavisados de Yaqut. Você está bem, Youssef?
– Como? – questionava o Orgelz tão perplexo quanto eu (fui eu que joguei o cara daquele jeito??).
– Do que são feitas as roupas dela? As mãos dele estão levemente queimadas!
– Prata energizada e obsidiana-violeta. Tanto a Cris quanto a Erika estão usando roupas feitas desses materiais. – respondia o Nevra – Mesmo que alquimia não seja o forte dos vampiros, não acho que o clã tenha se esquecido do poder de queimadura que a prata energizada tem sobre a nossa raça, e nem do poder repelitivo da obsidiana.
– E como se trata de obsidiana-violeta,... – Leiftan lhe completava com a mesma indiferença do Nevra – ...apenas aqueles em que as duas não possuem qualquer confiança ou familiaridade serão arremessados como este senhor foi. Podemos nos sentar agora?
– Podemos sim. – declarava o You-não-sei-das-contas que fingia não estar sentindo dor – Agora, mais do que nunca, desejo ouvir-lhes a história.
Orgelz optou por ficar, então ele assumiu o lugar que iria ser de Kellinroe e nos sentamos todos na seguinte ordem a partir da direita dele: Orgelz; o assistente do Kellinroe, Haidor; Maora; Nevra; Leiftan; Erika; eu; Lance (que quase preferiu ficar de pé atrás de mim); Valkyon; Chrome; Karenn e Youssef. Nevra e Karenn formavam a “ponte” (ou “muralha”) entre os nossos grupos e foram eles que repassaram todos os infortúnios sofridos por este mundo por causa do Lance enquanto vários pratos de aparência arábica eram servidos.
– Acaso Yaqut não sofreu nada com os ataques lançados ao grande Cristal? – Leiftan questionava incrédulo com a ignorância de Yaqut sobre os últimos eventos.
– Bom, nós notamos algumas irregularidades nos últimos anos. – comentava a Maora.
– A agua de nosso território se tornou mais escassa de repente e o deserto vivia em tempestade, e quando o dia e a noite decidiram ficar imprevisíveis, uma doença desconhecida resolveu cair sobre o nosso povo. Kellinroe foi um dos afetados. – esclarecia o Haidor.
– E foi por causa de doença que o senhor acabou neste estado?
– Infelizmente sim, Nevra. – lamentava a Maora.
– Eu e mais vários ficamos incapazes até de nos levantarmos. Alguns morreram e eu estava prestes a me juntar a eles quando uma onda de energia atravessou toda a Yaqut. Posso estar com sequelas, mas graças à essa onda que reaparecia toda semana bem dizer, estou vivo. Assim como metade dos que haviam adoecido. Apesar dessa onda ter ficado mais irregular e poderosa nesses últimos messes.
– Fico feliz de saber que o ritual que desenvolvi tenha lhe salvado. – comentava a Erika por comentar.
– COMO?? – quase todos os vampiros se surpreendiam.
– O que ouviu Kellinroe. A “onda” da qual você está falando, é resultado de um ritual que a Erika desenvolveu durante a Guerra do Cristal. Ela, com a ajuda dos aengels e dragões remanescentes de Eldarya, concentra e partilha a própria maana com toda a Eldarya. Impedindo este mundo de ruir. Mas não sem deixar consequências.
– Que tipo de consequências, meu filho?
– Esse ritual estava matando a Erika, Maora. Sem contar para absolutamente ninguém, ela estava abrindo mão da própria vida por todos os faerys. – o clima só não continuou um pouco consternado, porque o Orgelz começou a falar com ignorância.
– Está nos dizendo que todos deste mundo só estão vivos graças a uma humana?! Sinto dizer que ela não me parece estar definhando nem um pouco.
– Meu irmão disse que ela “estava”. No tempo passado. Graças à chegada da Cris, quando ela se juntou ao ritual logo depois de reconstruir o Cristal em uma única grande pedra, a maana da Cris não só melhorou a onda que era enviada, como também consertou os danos provocados pelo encantamento. E também é por causa dela que o ritual ficou inconstante, já que ficou decidido que só o realizaríamos com a participação dela, e mais poderosa. A maana da Cris é realmente impressionante. Especialmente depois da Lua Púrpura que tivemos recentemente. – esclarecia a Karenn, calando a boca do Orgelz. – E se ainda não acredita, acho que não existe problema em convidar alguém de Yaqut, da escolha de vocês se assim o quiserem, para assistir o ritual e confirmar por si mesmo a veracidade do que estamos contanto.
.。.:*♡ Cap.158 ♡*:.。.
Nevra
– Pensarei em sua oferta.
Honestamente, aquele não estava sendo o jantar mais agradável de minha vida. Não digo isso pelas coisas que conversávamos nele, mas pela falta de noção daquele Orgelz. Yaqut está com sérios problemas enquanto aquele idiota continuar sendo o líder.
– Falando em Lua Púrpura... – Maora mudava o rumo da conversa – Como que vocês lidaram com ela, meus filhos? Quais são os procedimentos de Eel para evitar... “danos”.
– Os afetados ficam reclusos em seus dormitórios e residências com alguém os vigiando. No meu caso e de meu lobo, uma amiga tomou conta de mim enquanto o marido dela ficou responsável pelo Chrome.
– “Meu lobo”? – Finalmente Youssef retrucava... – Minha cara Karenn, você floresceu, mas parece que seu gosto se deteriorou um pouco.
– Muito pelo contrário, Youssef... Os meus gostos não se deterioraram, eles se refinaram! Duvido que qualquer vampiro de Yaqut possa ter sido capaz de fazer metade das coisas que Chrome já fez por mim.
– Eu não teria tanta certeza... _sorriso convencido_.
– Trate de manter o seu woolapiyou na areia! Se não fossem por alguns imprevistos em Eel, Chrome e eu já estaríamos casados!
Acho que nunca vou esquecer a cara que Youssef fez. Kellinroe chegou a se engasgar com a comida, e Maora congelou por um momento. Nem Orgelz e Haidar deixaram de arregalar os olhos em espanto. Os vampiros de Yaqut sempre se consideraram a raça faery mais superior do mundo. Perdendo apenas para as três grandes raças. E como nossos pais planejavam juntar ele à minha irmã em matrimonio antes de decidirmos abandonar este lugar, ele com toda a certeza deve estar se sentindo ofendido por ter sido trocado por alguém “inferior” a ele. Sendo que na verdade o Chrome é cem vezes mais digno de minha irmã do que ele, mesmo com todos os defeitos e o passado de Chrome.
– No-nos diga Nevra. Co-como foi a, a sua passagem pela Púrpura? A... a pessoa que tomou conta de você, teve muito trabalho? – tentava a Maora fugir do assunto “casamento”.
– Fácil que não foi, isso a senhora pode ter certeza! – respondia a Cris sem deixar de comer e voltando a surpreender esse povo.
– O que está insinuando, senhorita... Lys?
– Que foi ela que tomou conta de mim durante a Púrpura! E eu ainda não acredito no quão submisso acabei ficando à ela naquela noite.
– Submisso?!? – se assustava a Maora – Do que é que vocês estão falando?
Bom, como não tinha nenhuma criança entre nós, acabei contando tudo o que havia acontecido naquela noite. Com a Cris ou o Lance comentando/explicando sobre uma coisa ou outra. Deixando absolutamente todos impressionados.
– Não é justo Nevra. Eu e o Chrome não nos lembramos de nadica de nada do que aconteceu naquela noite. Como foi que você conseguiu se lembrar?
– Ewelein e eu suspeitamos que a causa tenha sido o sangue que eu bebi da Cris. Talvez, por ela ser faeliana mestiça de dragão e aengel, com a possibilidade da maana dela ter influenciado também, seu sangue tenha me ajudado de alguma forma a preservar minha memória. Ao menos do básico.
– Se de fato tudo o que vocês estão nos contanto é mesmo verdade, sou mais do que obrigado a admitir que essa criança é muito mais do que aparenta. Tão nova e consegue até manter um vampiro adulto sob controle em plena Púrpura?!
– Errr, perdão senhor Kellinroe, mas... Como assim “tão nova”? Quantos anos acha que tenho?
– Sei que os humanos, faelianos ou não, envelhecem rápido. Julgando sua aparência, não lhe dou mais do quê uns 16 anos.
A Cris começou a rir quase que imediatamente. Lance também parecia querer se segurar. Erika parecia refletir alguma coisa, e depois sorriu balançando a cabeça negativamente. Depois de quase um minuto rindo, a Cris voltava a conversar.
– Ninguém nunca me reduziu tanto a idade quanto o senhor. Qual que você acha que é a estimativa de vida de um ser humano hoje em dia?
– Cinquenta anos, não? Não era esse o tempo médio de vida dos humanos antes do Sacrifício Azul?
– Durante a era medieval, sim Orgelz. Naquele tempo!... A estimativa era de uns cinquenta anos ou menos. No entanto, a civilização humana evoluiu de tal modo que, se um humano viver sua vida de maneira saudável, sem cometer imprudências, ou sofrer acidentes sérios. É possível viver até os 120 anos mais ou menos.
– Impossível!... – Haidar deixava escapar com todos os outros estando tão perplexos quanto ele (quando eu ouvi isso pela primeira vez, também fiquei surpreso).
– Não. Não é impossível não... E só para vocês saberem, eu tenho pelo menos o dobro da idade que Kelliroe me deu. – (agora fiquei com inveja do Gelinho).
– E eu farei vinte e cinco. – completava a Erika – E como se não bastasse os seres humanos terem se tornado capazes de viver bem mais, eles também se multiplicaram demais. Ou vai me dizer que uma população de sete bilhões de pessoas não é um pouco demais?!.
– Sete bilhões?!? Os humanos se tornaram uma espécie de praga?!?
– Olha Orgelz, se não fosse por todos os tipos de problemas que esse excesso de gente causa, eu até me incomodaria com o seu comentário. Mas, por causa justo desses problemas, mais especificamente falando das maçãs podres que estão misturadas, realmente é possível comparar a humanidade com uma praga. E se quer a minha mais sincera opinião, mesmo com todos os perigos e dificuldades, Eldarya me parece um paraíso se comparada à Terra atual. E espero honestamente que os loucos que estão atrás de mim não carreguem o desejo de atacar a Terra também! Ou os faerys serão extintos de vez.
– Os faerys? Extintos pelos humanos?! Rá! Agora sei que vocês estão inventando. Acha mesmo que os humanos só precisam de números para derrotar um vampiro como eu por acaso? Ridículo!
– Olha Orgelz... A questão não é números. – ele bufafa para a Cris – Um único humano é o suficiente para acabar com você, por exemplo. E sem nem você perceber o que aconteceu!
– Isso é algum tipo de blefe?
– Receio que não, senhor Kellinroe. – Valkyon se manifestava – As armas utilizadas pelos humanos evoluíram muito! Se tornaram capazes de efetuar verdadeiras chacinas, sem nem saírem do lugar. Os senhores sabem que alguns grupos de humanos, do mesmo tipo do qual o povo faery fugiu, os sedentos por poder, às vezes conseguem de alguma maneira chegar em Eldarya e nos atacar. A Guarda de Eel já precisou lidar com alguns deles, por isso sei do que estamos falando.
– Isso para não mencionar o quão desagradável se tornou viver na Terra agora... – comentava o Lance.
– Como vocês dois definem a atual Terra, chefe? – a Cris questionava curiosa.
– Hum... Acho que a palavra “caos”, define a minha experiência por lá. Gente demais; barulho demais; poluição demais. Ainda não esqueço o tanto de luminosidade que havia nas ruas durante a noite, em um céu de lua nova, e onde a claridade era tanta que mal dava para ver as estrelas no céu.
– Isso para não mencionar os barulhos. Quase que ficava com a noite em claro por causa dos transportes barulhentos que só transitam de noite. – reclamava o Lance (e que pelos relatórios que li, a Terra tornou-se um inferno para portadores de audição apurada).
Ainda falávamos da atual vida da Terra quando o Kellinroe decidiu conversar comigo em voz baixa, e em árabe...
– Me diga Nevra, qual é o tipo de relação que você tem com essa Lys?
– O quê o senhor está querendo de fato me perguntar? – questionei no mesmo idioma por intuição.
– Já pensou e casar-se? Eu até poderia dar um jeito de permitir seu retorno para Yaqut após fazer dela sua mulher. E de preferência depois de “convertê-la”.
Comecei a me irritar. O Lance acabou quebrando a taça que segurava em sua mão naquele momento (ele deve ter compreendido cada palavra. Uma vez que já se juntou aos marids para atacar os kappas), dando uma desculpa e aparentemente ignorando minha “conversa”.
– Em primeiro lugar, minha vida amorosa não é de seu interesse. Segundo; o que o faz crer que eu possa vir a querer retornar para esse lugar? E terceiro, acaso enlouqueceu?! A Cris não é importante só para Eel, ela é importante para TODA A ELDARYA!
– Se estiver dizendo isso por causa de seus poderes, é só deixar para transforma-la depois que ela tiver terminado de arrumar a bagunça causada por essa Guerra do Cristal aí. E se a sua preocupação for a sobrevivência dela ao veneno, depois de tudo o que vocês contaram, tenho 90% de certeza que ela consegue sobreviver.
– _respira fundo_ Vou fingir... Que o senhor não disse isso. E rezar! Para que o companheiro dela não lhe cace.
– Está me dizendo que ela já é comprometida?
– E BEM comprometida. – espero não estar mentindo sobre o relacionamento deles. Mas por segurança... – Apesar deles manterem isso meio que em segredo por conta de nossos inimigos.
– Entendo. Isso pode facilitar as coisas.
– Como é que é?!
– Você é um líder de guarda em Eel, certo? Você poderia encontrar uma forma de fazer esse “companheiro” dela lhe acompanhar em algum trabalho e... Acidentes sempre acontecem, não é mesmo?
– Agora o senhor foi longe demais! – declarei em voz normal – Mais uma palavra sobre isso e tenha a certeza de que o farei se arrepender por falar tanta sandice!Lance
Preciso tomar nota para estar repassando à lista de itens de planejamento da próxima viagem de sonho: garantir um meio de transporte que não faça a Ladina se transformar em um black gallitrot ou um ferinsulfr durante a viagem. É quase impossível agrada-la com tanto mau humor! Se não fosse por aquela cachoeira...
Nossa recepção em Yaqut foi fria. Muito mais fria do que eu poderia esperar e, se eu não ficar atento não... Ela poderá ser um tanto “sangrenta” também (mas definitivamente o sangue não será o da Cris!). Quanto mais adentrávamos naquele “covil”, mais inquieto me sentia, e a presença “extra” no quarto entregue para a Karenn não me fornecia bem um reconforto.
“O que está achando de Yaqut até agora?” – (Sinceramente? Sinto que se eu não desconfiar de toda e qualquer sombra, a Cris não sairá daqui inteira. Algum conselho antes de desaparecer e só voltar quando precisar forçar ela a alguma coisa?) – “Suas palavras quase me magoam. Imagino o que é que você estaria me dizendo agora se eu não tivesse feito o Nevra efetuar uma pausa naquelas aguas...” – (Nosso descanso foi coisa sua?!) – “Mas é claro! E sobre o conselho que me pediu: Primeiro; concorde com as decisões do Leiftan enquanto estiverem dentro desse labirinto vampírico. Segundo; não faça absolutamente nada quando algum vampiro daqui se aproximar ou falar da Cris durante o dia e na presença da Karenn e do Nevra, deixe que um dos dois resolva as coisas. E terceiro; mantenha-se junto a Cris sempre que possível, pois, quando a hora chegar, ela não só precisará do seu reforço de maana, como também de suas habilidades de guerreiro.” – (De minha maana e de minhas habilidades como guerreiro?! Qual é a “tarefa” dela por aqui???) – “No momento certo saberá. Não esqueça o que eu disse e boa sorte!”
Eu definitivamente não estou gostando nada disso. A Cris precisar de mais maana para realizar as loucuras dessas sementes vai lá, mas até da minha capacidade de luta?! Se a intenção da Negra era me deixar ainda mais preocupado, ela conseguiu.
Quase não prestei atenção no que era conversado naquela reunião. Eu só concordei com o Leiftan porque a ideia dele me permitia continuar ao lado da Cris, e não porque a Negra sugeriu. Fiquei surpreso com a sugestão de Nevra para Absol, e bastante satisfeito pelas passagens pedidas por ele serem uma solicitação tangível (tenho certeza que serão úteis). Fui para o “meu” quarto através delas, sendo mais rápido do que havia imaginado.
Chrome resolveu tirar uma soneca até o jantar, então aproveitei para pedir ajuda com a remoção da areia de minha armadura. Nevra preferiu se arrumar e adiantar as roupas dos outros a auxiliar Leiftan, Valkyon e eu com o meu “disfarce”. Ainda bem que eu havia me escondido para dar um jeito naquela areia! Pois não acho que essa gente daqui conheça o significado da palavra “privacidade” quando vieram nos chamar para o jantar.
Reunidos na sala de jantar, tinha cada vez mais “afeição” por esses vampiros. Aquele abusado só não me deixou mais irritado por se aproximar de minha Ladina sorrateiramente daquele jeito, porque eu admirei o poder das obsidianas que ela usava. Tinha dúvidas sobre aquelas pedras quando a Ladina as colocou pela primeira vez, mas agora... Se aquele folgado não for apenas consideravelmente resistente, pedirei ao Absol que consiga mais obsidianas-roxeadas para a Cris. É uma grande pena ele ter continuado consciente depois daquele golpe.
O jantar seguiu com os mais variados assuntos. E todos chocavam esses vampiros reclusos e ultrapassados. Estava até esquecendo minha raiva contra aquele atrevido quando o nosso “anfitrião” resolveu conversar em “particular” com o Nevra. Minha raiva foi tão grande, que a taça em minha mão acabou vitimada.
– Desculpem. Às vezes não controlo direito a minha força. Eu sinto muito mesmo.
– Não se preocupe senhor Lan. Acidentes acontecem. Tragam uma nova taça para ele, por favor. – pedia a Maora enquanto uma serva recolhia os cacos da mesa.
– Me desculpe outra vez. – pedi outra vez fazendo de tudo para não avançar naquele velho miserável.
(Lance, você não perdeu o controle de sua força. Você reagiu a algo que ouviu, não foi? - Queria que a mensligo me permitisse ocultar isso de você. - Foi sobre mim? Por isso ficou tão irritado? - Ainda é!) fingia não olhar para aqueles dois (Queria até não estar entendo o que aqueles dois estão conversando, assim não teria que ficar segurando minhas emoções desse jeito. - Quer desabafar?)
Não respondi ela de imediatamente por dois motivos: 1º - a última declaração daquele sórdido me fez agarrar a faca mais próxima sem pestanejar. E 2º - a reação do Nevra, se erguendo e declarando em alto e bom som (mas ainda em árabe) sua posição ao dito daquele cretino. Se não fosse pelo Nevra, eu teria me erguido e fincado a faca que ainda segurava bem no coração daquele velhaco.
Eles ficaram se encarando, e ninguém ousou dizer nada até que minha Ladina resolveu questionar.
– Err, Nevra? Há algo de errado?
– Não Cris. – ele respondia com bastante auto-controle – Você não precisa se preocupar com as... besteiras! De um velho ignorante.
– O que dis...
– Querido. Se acalme. – Maora o interrompia – Você sabe muito bem que passou um pouco dos limites. – ela o encarava severa, mas dizer que ele passou “um pouco”? Quanto eufemismo!... – Nevra, meu filho, por favor sente-se. Já é a vez de servirem a sobremesa. Todos estão gostando da comida?
– A comida está ótima, mãe. – Karenn devolvia o sorriso à mãe – Espero que nossa estadia aqui não cause muitos problemas.
– Eu também, minha filha. Eu tam-bém! – terminava ela de falar com severidade, encarando o marido.
– Tragam a bebida que pedi para servirem com a sobremesa. – ordenava aquele canalha com indiferença.
Os pratos estavam sendo trocados e duas mulheres começaram a encher os copos (NÃO BEBA).Cris
Sinto como se eu estivesse repetindo o meu primeiro jantar em Lund’Mulhingar. A diferença é que há mais algumas informações nessa conversa e tenho ajuda para falar sobre a Terra. Eu até que estava me divertindo com as reações desse povo daqui, mas... O que é que o Nevra e o pai dele tanto conversavam em outra língua? E ao ponto de deixar todos os vampiros desconfortáveis e pior! Enfurecer o Lance?!
Não só o Lance, seja lá o que for que aquele homem disse ao Nevra, deixou o mulherengo em cólera e irritou ainda mais o Gelinho. Maora conseguiu fazer as coisas se acalmarem um pouco, mas pela forma que ela tratou o marido, o assunto foi definitivamente grave. Eu até que poderia deixar seja lá o que for que tinha sido discutido de lado se não fosse por um detalhe.
Enquanto os pratos eram recolhidos para que servissem a sobremesa, a bebida que Kellinroe pediu já estava sendo servida, e o quê eu enxerguei vindo delas me preocupou. A garrafa que enchia as taças minha e de meus amigos liberava um vapor. De imediato pensei que fosse uma bebida quente, porém percebi que a outra garrafa não tinha vapor nenhum. E olhando mais de perto, o vapor era colorido.
A cor era quase a mesma das poções de sono que eu tinha, só que menos densa. Lance não parecia querer esperar terminarem de servir todos e por isso tive de segurar o seu pulso (NÃO BEBA. - Por quê? Há algum problema? - Vapor colorido.) Graças à mensligo, sabia que ele estava se irritando outra vez, e uma ideia me passeou na cabeça (Você pode me ajudar com isso? - Será um prazer!...)
Aproveitei que ninguém havia se aproximado das bebidas ainda, para chamar a atenção de nosso “anfitrião” – Senhor Kellinroe, o senhor me permite dizer algumas palavras antes que peguemos nossas taças? – (espero que todos entendam que devem deixar as taças na mesa!).
– Sinta-se à vontade, minha jovem. – me autorizava ele.
– Bom. Nesse caso... – (agora, Lance!)
Lance puxou a toalha com tudo, derrubando quase todas as taças (porque eu tinha pego a minha) e até fez alguns se erguerem (e Kellinroe ainda fez a mulher com a garrafa batizada, que estava atrás dele, derrubar o frasco no chão. Virando mil).
– Mas o quê significa isso?!
– Significa o seguinte, Kellinroe: o quê você mandou misturarem na bebida oferecida à mim e aos meus amigos.
– Como?? – retrucava o velho.
– O senhor mesmo disse: “tragam a bebida que pedi para servirem”. Ou seja, o senhor planejava nos drogar de alguma forma, que efeito essa coisa teria em nós?
– Isso é um absurdo! Vocês est...
– Eu reconheço esse cheiro! – Chrome o interrompia com o nariz praticamente grudado no liquido diante dele – Isso é valeriana. Um sonífero.
Todos nós, todos nós mesmo! Passamos a encarar o Kellinroe de modo a cobrar respostas.
– Estão inventando... Eu não ordenei nada disso.
– Se é assim... Porque não toma do que há em minha taça? Duvido que alguém acredite que eu possa ter colocado algo para lhe incriminar com todas as circunstâncias que me impedem de tal coisa. – declarei oferecendo minha taça a ele.
Ele encarou a taça parado. Até chegou a pega-la de minha mão. Mantendo a expressão calma e indiferente.
– Não são muitos os que tem acesso aos viveres de minha casa, mas, se realmente há algo nessa bebida que não deveria ter, outra pessoa pode o ter colocado.
– Outra pessoa quem?! – reclamava o Nevra – Seus servos nunca fariam qualquer coisa sem serem ordenados por você ou pela Maora, ou pelo Haidar. E não acho que Maora, pelo menos, seria capaz de tal infame. Isso para não mencionar o seus status!
– Eu não sei. – Kellinroe se mantinha frio – Irei investigar isso pessoalmente. – posso não ter sinestesia, mas eu cismei com esse cara agora.
Graças a esse caso, ninguém mais ficou querendo da sobremesa (exceto Karenn e eu, que conseguimos pegar um pedaço antes de deixarmos o salão para que nos mostrassem os banheiros). Todos nós nos retiramos, nos lavamos, e fomos deixados outra vez trancados em nossos quartos. Nos reunimos no quarto dos rapazes dessa vez.
– Como fez aquilo Cris? Como percebeu que a bebida não era segura antes de mim ou do Chrome?
– Percebi algo que não parecia certo Nevra. E por isso... desconfiei! – tentava fugir do interrogatório (ainda não quero revelar minha “habilidade extra”).
– A reação do Lan me assustou. Vocês dois não haviam trocado nenhum gesto significativo para que ele fizesse o que fez.
– Desculpe por isso Erika... Mas fico feliz que todos entenderam que não era para beberem.
– Eu vi você impedindo o seu guardião de fazê-lo, por isso impedi meu lobo de avançar na taça também.
– Mas eu teria percebido o calmante quando estivesse com o nariz perto o suficiente. E pelo cheiro... Acho que só queriam garantir que dormiríamos a noite inteira.
– Dormir a noite inteira para quê? Para que não fugíssemos do quarto e investigássemos seus segredos... Ou para garantir que conseguiriam levar um de nós?
– Valkyon, se eu não conhecesse essa gente, eu diria que você está alucinando. Mas como eu conheço, essas são as únicas respostas possíveis que eu consegui. Alguém tem alguma ideia?
– Descansarmos. – falava o Leiftan – Estamos todos cansados, seja do deserto, seja desse jantar. Já demos um jeito nos quartos para ficarem “seguros”, então é melhor dormirmos para que possamos nos planejar com mais lucidez. Eu, pessoalmente, estou com a cabeça fervendo.
– Preciso concordar com o Leiftan. Já que falharam em nos colocar para dormir, não acho que tentarão algo contra nós agora. E eu irei dormir acompanhada de meu irmão e meu lobo, certo?
– Sim. E tanto você quanto o Leiftan estão certos, Karenn. Seria imprudência demais o povo daqui tentar qualquer coisa enquanto dormimos. Hoje, pelo menos. Chrome, como você tirou um cochilo antes do jantar, você será o primeiro a fazer vigília, por segurança.
– _suspiro_ Como quiser, Nevra...
Nevra insinuou que o Valkyon estava ficando doido, mas parece que quem está ficando paranoico é ele! Enquanto cada grupo não definiu a ordem de vigilantes, ele não aceitou que ninguém fosse para a cama. Nos separamos seguindo a nossa divisão pessoal.
No quarto, estando apenas eu, Lance e Absol, fiquei só com o meu traje especial sobre o corpo. Absol parecia já estar dormindo, e Lance removia a armadura para se deitar comigo.
– Não vai fazer a vigília como Nevra insistiu?
– Estou cansado. Quero dormir mais do que você imagina! Mas eu não vou cometer a estupidez de fazê-lo sem nos proteger antes. – ele sentava na cama – Se bem que isso pode fazer com quê eu acorde um pouco cansado...
– Do que está falando?
– Já vai saber. Mas antes... Tudo bem se eu absorver o máximo de maana de suas orações? Para que eu consiga acordar um pouco mais disposto.
– O que você pretende, Lan... _revira os olhos_.
– Isso. – ele pronunciou um encantamento. Convocou a barreira dele que envolveu a cama inteira – Posso abraça-la para obter o meu reforço de maana?
– Se puder me acompanhar nas orações... – brinquei.
Sorrimos juntos e nos sentamos na cama da mesma forma que fazíamos quando ele começou a me ensinar para valer o controle sobre a maana. Só que dessa vez, ele me envolvia com muito mais carinho.
– Cuidado com a mão boba!
– Pode deixar, Princesa _sorriso maroto_. Se bem que essa sua “armadura” me atrapalharia um pouco.
– Nem vem que não tem. Diferente de você, eu não posso tirar nem as sandálias para que as solas de meus pés não fiquem “expostos”. Eu quase que invejo você!
– Coragem... Logo, logo você fica livre dessas “correntes”. Bora começar para podermos dormir?
– Sim. – respondi já me persignando e me deixando o mais entregue possível às minhas orações.
Ele quase adormeceu durante as últimas Ave-Marias. E dormimos feito duas pedras!
.。.:*♡ Cap.159 ♡*:.。.
Cris
– Ei, Cris! – hurm... quem tá mexendo com o meu soninho tão sossegado... – Acorda aí! – Erika?
– Você também Lan. – e o Leiftan também?! – Já esqueceram o que havíamos combinado?
– Lan... Oh! Lan... Levanta aí!... – acabei pedindo e mexendo nele.
– Se nem você está levantando... Porque eu deveria? – criticou ele aparentemente tão “desperto” quanto eu.
Acabei me irritando e por isso me forcei para ficar sentada, sem tirar os pés da cama ainda – Satisfeito agora?...
– Vai voltar a se deitar depois que eu me levantar? – resolveu ele questionar com um olho aberto.
– E acha que vamos deixar?! Saiam já da cama vocês dois! – piedade, Erika...
Lance se ergueu ainda contrariado. Sentou-se e depois se espreguiçou todo para ajudar a ficar atento. Eu até que tentei deixar meu corpo cair pra cima da cama, mas... A Erika me impediu.
– Nem pense nisso mocinha! Também não gosto da ideia de levantar tão cedo, mas não temos direito a esse luxo aqui. Levanta e tenta ajudar o Lan com a armadura, antes que venham nos buscar para o café da manhã.
– Tá certo, mamãe... – acabei deixando escapar com um bocejo e uma espreguiçada felina em seguida, para me ajudar a acordar.
Eu ouvi que a Erika resmungava alguma coisa, mas não entendi o quê, e já tinha tarefa à fazer.Lance
Eu podia encontrar mil motivos para reclamar desde lugar, mas as camas não era um. Não sei se foi consequência de todo o cansaço, ou se era a qualidade dessa cama, ou quem sabe a maana que peguei de minha Princesa, apenas sei que dormi muito bem, e que dormiria muito mais.
– Leiftan, não havia uma barreira ao nosso redor quando vieram nos acordar? – questionei-o ao recordar das precauções que havia tomado, enquanto vestia a armadura.
– Tinha.
– Mas... Como??
– Assim que Erika e eu vimos a proteção ao redor de vocês, não tínhamos ideia de como acorda-los sem causar desconfiança do lado de fora. Foi Absol que nos mostrou o ponto fraco.
– Ponto fraco??? – minha Ladina se juntava – Que ponto fraco?!
– Bom. Quando vimos a barreira, ficamos sem reação. As barreiras do Lance sempre foram muito poderosas! Isso até Absol resolver ficar encarando um ponto próximo do chão...
– Próximo do chão? – ainda não estou acreditando nisso.
– Sim. Quando Erika e eu nos aproximamos, notei que aquele ponto parecia... frágil. Acredito que era por ele que a passagem normal do ar era feita. E como as pessoas costumam se preocupar apenas com o quê está ao seu redor ou acima!... Esquecendo totalmente dos pés!...
– Não conseguem perceber essa “fraqueza” da barreira e fica preso de bobo. – completava a Ladina – _suspiro_ Vai ver é por esse “buraco” que os encantamentos lançados por quem está dentro resolvem escapar.
– Mas eu não gostei de descobrir essa falha. – falei mau humorado.
– Pois não devia.
– Por quê? – encarava o daemon ainda incomodado.
– Porque mesmo o encontrando, Erika e eu tivemos que trabalhar juntos para conseguirmos dispersar a barreira. Mesmo com você dormindo e não fornecendo suporte direito à ela. E se não fosse por Absol, ainda estaríamos tentando pensar em alguma forma de acorda-los, sem chamar atenção desnecessária!
– Acho que isso quer dizer que a barreira do Lance é segura. Não é?
– Ao meu entender, sim, Cris. Pronto para voltar ao “seu quarto”, Lan?
– Vamos logo antes que eu comece a ficar mau-humorado. – respondi incomodado não só com as descobertas de minha barreira, mas também com o fato de que não podia estar ali dentro quando abrissem aquela porta.Cris 2
Trocada a minha companhia, me espreguicei mais uma vez e fui vestir roupa. Perguntei à Erika como tinha sido a noite dela e, pelo o quê eu entendi, ela dividiu a cama com o Leiftan e o Valkyon do mesmo jeito que eu tinha feito com o Nevra e o Lance na Púrpura. Por causa dessa divisão de quartos, o Lance dividiu a mensligo em dois frascos durante as minhas orações ontem, com nós dois concordando em dizer que eram vitaminas caso alguém perguntasse.
Estava terminando de vestir a roupa quando ouvimos a porta sendo destrancada, entretanto, bateram na porta antes de abri-la. Diferente do que tinha acontecido ontem.
– Senhora Maora? – Erika abria a porta – Podemos ajudar em algo?
– Vim para chamar todos para o dejejum. E eu não queria repetir a mesma indelicadeza que lhe fizeram ontem ao chama-los para o jantar. Estão acordadas há muito tempo?
– Não muito. – respondia – Na verdade, acho que teríamos dormido bem mais se não fosse pelo risco de sermos pegas de surpresa, como ontem.
– Novamente peço-lhes desculpas pela falta de respeito dos nossos servos. Devíamos termos sido um pouco mais claros na hora de lhes darmos as ordens... – alguns segundos desconfortáveis se seguiu – Mas, bem. Vocês duas já estão prontas? Se não, eu vou chamando os outros.
– Eu estou pronta! – declarei.
– Também já terminei de me arrumar. Quer ajuda, Maora?
– Chamarei minha filha. Vocês podem bater na porta dos rapazes. – sugeria a Maora se virando para as outras portas do corredor, e estendendo as mãos e direção dos “guardas” para que eles destrancassem os nossos amigos.
Enquanto Maora fazia o convite de modo carinhoso para a Karenn, Erika e eu chamávamos os rapazes para fora. Reunidos todos no corredor, Maora explicou que mais tarde mandaria alguém arrumar os quartos pelo costume que existia na casa. Não pude “deixar de escapar” o meu desejo de ter Absol cuidando de nossas coisas durante essa limpeza...
Claro, Maora questionou quem era Absol. E tudo o que lhe respondemos é que ele era o meu outro guardião.
No mesmo salão em que havíamos jantado, nos sentamos para o café da manhã. Kellinroe assumiu o lugar usado por Orgelz, e Maora o que tinha sido usado pelo Youssef. Kellinroe não parecia nem um pouco interessado em conversar. Estava mais calado do que uma estátua durante a refeição.
Acabei pedindo permissão para visitar toda a casa, e o restante de Yaqut, com a desculpa de querer saber onde eu poderia ou não estar entrando, e de querer deixar todos os outros vampiros conscientes de quem eu era para não correr o risco de passar outra vez por algo semelhante ao que aconteceu com o Youssef.
– É realmente uma boa ideia prevenirmos novos “inconvenientes”. Pena que Nevra e eu somos considerados traidores por aqui... Me seria um enorme prazer mostrar tudo pra vocês, pessoal.
– Concordo que prevenirmos “acidentes” é uma excelente razão para lhes mostrarmos tudo o que pudermos. E é realmente lamentável a forma como meus filhos são visto pelo clã. Haidar, se meu marido não se importar, o senhor me faria o favor de ajudar-me com essa excursão? Este será um grupo grande.
– Será um prazer auxilia-la a garantir a segurança de todos. Mestre?
– Vá! E seja bem claro sobre os lugares proibidos para forasteiros. – concedia o Kallinroe, claramente mau humorado. – E também sugiro a dividir o grupo em dois! Se possível, mantendo Karenn e Nevra por aqui. – terminou ele de falar, já se erguendo.
– Aonde vai, querido?
– Para o meu escritório. Ainda preciso descobrir quem e porque adulteraram aquela garrafa de ontem. – (mas como ele é cínico...)
Ele se retirou, e Maora nos pediu desculpas pelo comportamento grosseiro dele. Haidar chegou a comentar que, depois que ele ficou fisicamente limitado por conta da doença, Kellinroe passou a apresentar mau humor por longos períodos quando há algum problema pendente de solução. Me pergunto qual a verdadeira natureza do “problema” que o incomoda...
Por conta da sugestão do dono da casa, Nevra, Karenn, Chrome e Valkyon formaram um grupo que visitaria a cidade sob a tutela do Haidar, e o restante de nós conheceria a casa tendo a Maora como guia. Inverteríamos os passeios após o almoço.
Não sei se estou sendo exagerada, mas a Maora fez aquele passeio parecer uma aula de história! Sempre falando de épocas; comentando eventos relevantes; mencionando nomes importantes; contando sobre lendas; enfim, um passeio interessante e maçante ao mesmo tempo.
Para fugir um pouquinho do tédio que estava ficando especialmente alto por causa do “Corredor dos Ancestrais”, o mesmo corredor de quadros que havia visto em meu sonho, pedi licença à Maora para poder estar indo ao banheiro que ficava na entrada do corredor.
Enquanto eu me preparava para voltar a ouvir o blá-blá-blá dos Berrycloth, acabei me esbarrando em uma mulher que não vi estar passando – Ai, me desculpe! Não fiz por querer...
– Chiedo scusa anche io! – (eu recebi resposta?) – Dovrei stare un po' più attento. – (e é impressão minha, ou isso é italiano?)
– Aceita ajuda? – perguntei receosa e tentando ver “quem” era a pessoa.
– Non è necessario. – era uma mulher muito bem coberta, que se apresava em recolher o que pareciam serem itens de primeiros-socorros – Non voglio disturbarla.
– Eu insisto. – declarei já a auxiliando com as coisas, e tentando ver mais do rosto dela...
– O que acontece aqui? – Maora surgia, aparentemente irritada – Alessa, che ci fai qui?!
– Qualcuno si è fatto male e ho dovuto procurarmi altre bende. Ci scusiamo per l'inconveniente, signora.
– Lui sta bene. Sbrigati così non avremo problemi più seri.
Antes que a Alessa(?) fosse embora, após curvar-se para a Maora, consegui enxergar melhor o pingente de seu pescoço – Que bela cruz! – declarei fazendo as duas me encararem – Eu posso? – questionava quase pegando ela para vê-la melhor.
Alessa pareceu assustada com o meu pedido, encarando Maora. Maora apenas lhe assentiu com a cabeça e, após soltar um suspiro, a moça me estendeu o crucifixo sem o retirar do corpo.
– É realmente lindo... – e agora não me resta mais nenhuma dúvida – Do que é feito?
– Argento e ossidiana. – ela respondia depois de Maora me traduzir – È un regalo di mia madre. – explicava ela em um sorriso triste.
– Acho melhor a deixarmos trabalhar agora, Cris. – dizia a Maora, já afastando minha mão da joia – Alessa, sbrigati!
Alessa fez uma nova reverência e eu “chamei” por Absol antes dela ir embora (espero que eu tenha sido a única a reparar na tonalidade das sombras no chão!). Maora me “arrastou” até onde os outros nos aguardavam para prosseguir com a sua aula de historia familiar.
(É a mulher do seu sonho? - A menos que eu esteja muito errada ao reconhecer o crucifixo... Sim, é ela. - Então teremos de repassar isso para os outros o mais breve possível. Foi esperta ao pedir que Absol a seguisse. - Na verdade eu me arrisquei. Absol podia não estar comigo no momento. - Com tantas possíveis ameaças à sua volta? Não... Ele não se desgrudaria de você sem um bom motivo...)
Maora nos apresentou o resto da casa com o término da historia do último ancestral. Com ela sendo bem rigorosa sobre termos de nos manter longe de determinados locais (um deles deve ser onde a Alessa fica...). O passeio gastou a manhã toda. Tanto que estavam chamando para servirem o almoço quando acabou (o povo aqui tem costume de almoçar por volta das 13hs, e como o café foi por volta das 7hs...).
Kellinroe se manteve no escritório dele, e o pessoal que verificou a cidade terminou a excursão deles bem antes do meu grupo. Haidar foi claro e direto ao mostrar tudo para os outros, bem diferente da Maora...
Com a ausência de Kellinroe na mesa, Karenn e Nevra pareciam um pouco mais à vontade na refeição. Tanto que Nevra não se importou de ficar sentado do lado do Lance, “trocando” informações entre si.Lance 2
Mal entrei no “meu quarto” e eu me lembrei que não havia tomado a mensligo ainda (que bom que eu dividi a poção em dois frascos!)
– O que é isso?
– Vitaminas. – respondia ao Chrome – Sugeriram para mim e para a Cris que tomássemos uma vez ao dia, pelo menos.
– Lunna? – me questionava o Nevra, e eu apenas assenti – Entendo. Espero não termos novos problemas durante as refeições.
– Ficarei mais atento quanto ao cheiro do quê nos é servido agora. Tivemos sorte ontem da Cris ter percebido a tempo!
– Você, Karenn e Nevra deviam estar atentos aos cheiros o tempo todo, Chrome. Nada garante que a Cris continuará nos salvando como ontem. E recebendo a ajuda do Lan!
– Não pense que eu fiquei feliz em derrubar tudo daquele jeito! Por mais irritado que aquele Kellinroe estive me deixando, a comida estava boa demais para ser desperdiçada. – retruquei – E antes que alguém critique mais alguma coisa, a ideia não foi minha.
– Está tentando jogar a culpa na Cris por acaso? Porque eu não acredito!
– Chrome, vamos parar com essa discussão tola e focarmos no que de fato nos interessa: a segurança de todos nós. Valkyon tem razão, nós três devíamos ter ficado mais atentos a tudo o que nos rodeia. Baixamos nossas guardas ao estarmos um pouco mais “seguros”, e eu esqueci do que aquele homem é capaz depois que decide algo.
– O que aconteceu, aconteceu. Agora devemos trabalhar para não repetirmos os erros. Quais são as chances de seu pai tentar algo novamente contra nós, Nevra?
– Não são nulas, Leiftan. Talvez ele tente repetir o truque em uma ocasião diferente, nos oferecendo outra coisa. Ou opte por truques diferentes, analisando o nosso comportamento enquanto estivermos aqui.
– Ou seja... De um jeito ou de outro, não podemos confiar em nada que proceda de Kellinroe.
– Isso é algo que definitivamente devemos evitar, Lan.
Para mudar de assunto, Leiftan resolveu falar sobre as suas descobertas em relação à minha barreira. Com o meu irmão sendo o mais interessado no assunto por razões óbvias. Logo destrancaram a nossa porta e, ver minha Ladina nos chamando para comermos ao invés destes vampiros traiçoeiros ou bonecos sem alma, diminuiu um pouco da minha tensão.
Na mesa, acho que está para nascer um vampiro mais hipócrita que esse Kellinroe. Ainda bem que eles aceitaram atender ao desejo de minha Princesa. Pois assim nos ficará claro quais são os lugares que devemos suspeitar mais.
Não me foi difícil perceber o conservadorismo dos predecessores de nossos vampiros, mas essa Maora excedeu as minhas expectativas! Quase que dou um jeito de escapar dela assim como a minha Ladina.
A Cris e eu ainda não conseguimos ficar sincronizados pela mensligo do mesmo jeito que fizemos acidentalmente em Lund’Mulhingar, mas... Em meio às nossas tentativas, descobrimos que podíamos ver e ouvir tudo o que o outro via e ouvia, se aquele que “espia” manter seus olhos fechados e a mente vazia. Graças à máscara, ninguém consegue saber se meus olhos estão abertos ou fechados, então me é bastante fácil espiar através da Ladina, sem que ninguém perceba.
E eu não esperava encontrarmos uma “italiana” aqui. E nem que os vampiros de Yaqut (ou pelo menos a família de Nevra) conhecessem esta língua (Nevra ou Karenn conhecem também, ou Maora aprendeu mais tarde?). Pela visão da Cris, não consegui enxergar se aquela moça era mesmo ou não a “pista” para o que tínhamos de fazer em Yaqut. E acho um pouco difícil de duvidar diante da grande atenção que minha Ladina deu à joia daquela moça. Joia essa que veio sem sombras de dúvida da Terra, ou as obsidianas daquela cruz teriam ferido minha amada. Pela forma como Maora pareceu tomar um cuidado considerável sobre o tocar daquela peça, não ficaria surpreso se fosse feita de prata energizada.
Confirmei minhas suspeitas com ela através da mensligo. Ter Absol seguindo a Alessa, nos facilita a encontrarmos ela outra vez, mas como que faremos para contata-la em segredo? – “É só seguirem as sugestões do Leiftan! Eu já disse isso...” – (E porque exatamente eu tenho que concordar com tudo o que meu ex-sócio decidir?) _incomodado_ – “Porque o Nevra só vai aceitar, aquilo que você apoiar.” – (Porque? Ele vai estar confiando no nosso desejo de proteger a Cris e a Erika, ou no fato de eu ter você me atazanando sempre que lhe tem vontade?) – “Leiftan está mais racional do que qualquer um aqui, e você recebe informações privilegiadas de mim e de minha irmã. É só por isso que ele vai concordar com tudo aquilo que vocês dois juntos aceitarem.” – (Ok. Mas se continuarmos abusando dos poderes de Absol, vamos acabar nos encrencando em algum momento.) – “Não vão não!... Eu estou auxiliando Absol, da mesma forma que te auxiliei na Terra. Se não mais! Já que aqui eu tenho mais poder.” – (Sei...).
Com a Negra sumindo outra vez, até não sei que momento, tentei prestar atenção nos lugares em que a Maora nos avisava para ficarmos longe. Graças às “explicações” da vampira, conhecer cada canto de Eel seria mais rápido. E eu me pergunto se existia mais alguma coisa que ela quisesse nos mostrar antes de sermos chamados para o almoço. Espero que a ausência do Kellinroe na mesa, deixe a refeição mais agradável.
– Como foi a visita pela casa? – Nevra, que se sentou do meu lado, me questionava baixinho.
– Sem querer encontramos a pista que buscávamos. – respondia mantendo o mesmo volume.
– Como??
– Você ou a Karenn falam italiano?
– Não sei de ninguém que conheça esse idioma, por quê?
– Porque parece que a nossa anfitriã ganhou motivos para aprender.
– _suspiro_ Vamos nos reunir depois após conhecermos o resto dos lugares. E tomem cuidado lá fora! Não é porque vocês estarão indo depois que quase todo mundo já comeu, que quer dizer que ninguém deixou para comer mais tarde ou que não aceite uma “sobremesa”.
– Viu algum lugar interessante que pudéssemos usar para nos reunir se necessário?
– Alguns, mas não sem as esferas.
– A audição vampírica pode mesmo ser algo inconveniente às vezes...
– Eu que o diga. Dependendo do horário então...
Continuamos com a refeição e mudamos de assuntos para não chamarmos atenção de quem não precisava. Acabada a comida, Maora parecia bem ansiosa em apresentar a casa para o meu irmão e o lobo, enquanto o Haidar, nosso guia para a Yaqut em si, se mostrou focado na tarefa que lhe foi dada.
Ele nos mostrou tudo de forma bem direta. Nós entrávamos em câmara, ele dizia o nome do lugar e o que era feito nele, e logo partíamos para o próximo ambiente. Na metade do tempo que Maora levou para nos mostrar metade de sua casa, Haidar nos apresentou o dobro de lugares e ainda manteve o cuidado de vigiar os outros vampiros que nos encaravam. Ou melhor, que encaravam a Cris e a Erika.
Queria que a Karenn ou o Nevra tivessem se juntado ao nosso grupo quando a Maora nos mostrou a casa... Ao retornarmos para dentro da casa, meu irmão também já tinha terminado de conhecer o lugar. E a Maora parecia bem “insatisfeita”, com alguma coisa. Como ainda faltava muito tempo para o jantar, Leiftan não perdeu tempo em pedir pelo o que precisávamos.Leiftan
Não tenho certeza do que está havendo, mas me é um pouco estranho ver o Lance concordando com as minhas decisões sem questionar. Será que ele está mais preocupado em ficar vigiando os vampiros que não param de encarar as nossas faelianas? (Ai daquele que conseguir roçar as presas na pele de minha Erika!) E esse Killenroe? O quê que ele está querendo tramar contra a gente? Se não fossem pela Cris e o Lance... Não posso confiar nem no que como?!
De qualquer maneira, poder descansar no mesmo leito que a Erika foi bem reconfortante para mim. Mesmo que a dividindo com o Valkyon e sem poder tocar sua pele como eu gostaria...
Queria ter descoberto aquela fraqueza da barreira de Lance há muito mais tempo. Muitas coisas poderiam ter sido bem diferentes se eu soubesse daquilo antes. E está bastante claro que o Nevra está ciente de vários segredos do dragão de gelo. Só me pergunto quando que seria seguro ele nos revelar o quê.
Apreciei muito a sugestão da Cris de conhecermos a casa e o restante de Yaqut. Isso nos permitirá pensar melhor em nossas ações e a tomarmos melhores decisões. Sem falar que também estaremos atualizando o conhecimento dos nossos próprios vampiros sobre este lugar.
Após o término da turnê com o Haidar, analisando todos os lugares propícios para serem usados ou para reuniões, ou para treinamentos, aproveitei que estávamos todos reunidos na sala de visitas da família de Nevra para fazer as minhas próprias solicitações.
– Senhora Maora, acredito estarmos todos apreciando de sua morada e deus zelos para com o meu grupo, mas a senhora se importaria de pedir para que os nossos “guardas” não nos tranquem mais em nossos quartos? Ou melhor, teria como a senhora nos apresentar algum bom lugar em que possamos nos reunir para discutirmos as razões de estarmos neste lugar?
– O senhor tem algum lugar em mente? Senhor Leiftan. – me respondia ela com certa indiferença.
– Aceito qualquer lugar em que possamos nos falar sem o risco de sermos prejudicados pelos residentes. E há alguns lugares que eu gostaria de consulta-los para uso de treinamento dos poderes de luz da Cris e da Erika, ao qual sou o responsável.
– Seu pedido me parece bastante compreensivo. Se meu marido não estivesse o ocupando, eu lhes recomendaria o escritório dele para as suas reuniões. Os outros lugares que poderia estar lhe recomendando seria um dos quartos de hospedes, ou um dos nossos salões de reunião, como essa sala ou a sala de refeições.
– Compreendo.
– Haidar pode ajuda-lo melhor com os locais de treino, e como ainda faltam algumas horas para servirem o jantar, acho que vocês já podem fazer a reunião de vocês. Só peço que já estejam limpos quando a refeição for servida.
– Pode ter certeza que faremos todo o possível para estarmos apresentáveis à mesa, Mãe. – declarava a Karenn sorrindo.
– Ficarei sinceramente grata com isso, minha filha. Agora, se me dão licença, vou ver o que meu marido tanto faz para não o ter visto de novo até o momento, após nos separarmos no café da manhã. – e ela se retirava.
Haidar me questionou quais lugares eu tinha considerado e ele me confirmou quais eram totalmente seguros para a Cris e a Erika, com eu as avisando que revisaríamos tudo o que já lhes havia ensinado amanhã logo cedo (nenhuma das duas escondeu a “satisfação” dessa noticia). Com o problema do treinamento resolvido, pedi ao Haidar que se retirasse para que nós oito pudéssemos conversar com mais privacidade.
Ele se retirou sem qualquer resistência. Uma vez que Karenn, Nevra e Chrome afirmavam não haver ninguém nos espionando, começamos a conversar (e eu não imaginava que já estávamos tão avançados assim em nossa missão...).Lance 3
– Você tem certeza disso, Cris? Essa... Alessa, é quem nós procuramos para melhor entendermos o quê você tem que fazer por aqui?
– Tenho Karenn. Eu posso não ser boa com fisionomias, mas aquela cruz... Não tem como eu esquecer uma joia como aquela.
– Precisamos dar um jeito de conversarmos com ela em particular. – refletia o meu irmão – Mas alguma coisa me diz que só conseguiremos fazer isso de forma escondida.
– Há entre nós alguém que fale italiano? Pois eu nunca soube que minha mãe o falava.
– Eu. – respondi de forma seca pra vampira – Conheço o idioma. Porém, não creio que ela irá querer se abrir com um estranho.
– Um estranho “mascarado”, com certeza não.
– O que está insinuando, Leiftan?
– O quê estou prestes a propor é arriscado, mas, me diga Erika: quando o Lance a libertou no dia que chegou em Eldarya, você sentiu confiança nele?
– Honestamente estava em dúvida. Mas continuar naquele lugar definitivamente não era uma escolha para mim.
– E se você tivesse sido colocada em acomodações um pouco menos... “frias”, você teria deixado a sua cela?
– Bom. Se eu tivesse sido jogada em um lugar que fosse um pouco mais decente, considerando a primeira impressão que tive dos que encontrei, não tenho muita certeza se o teria seguido. Quero dizer, fecho os meus olhos dentro de uma floresta e os abro dentro de uma sala esquisita; uma mulher que parece ter saído de um conto de fadas surge e começa a gritar sem nem mesmo me dar tempo para pensar o quê que está acontecendo, e sou arrastada e ignorada para ser trancafiada em lugar estranho totalmente perdida e confusa com tudo. Acho que as chances de eu confiar em alguém que não tem coragem de mostrar o próprio rosto seria pequena.
– Acho que já entendi onde você quer chegar, Leiftan. – dizia em meio a um suspiro – Mas acha que mostrar o meu rosto para essa mulher será o suficiente para que ela confie em mim?
– Pelo o quê a Cris descreveu, talvez isso não seja tão fácil. Ainda mais se considerarmos o tipo de ambiente em que estamos. Se ela for mesmo uma humana, já que as obsidianas de sua cruz não reagiram como as obsidianas de Eldarya, é bem provável que ela desconfie até das sombras que a cercam.
– Sombras... Eu pedi ao Absol que ele a seguisse. Acham quem podemos tirar proveito de sua umbracinese?
– Talvez. Mas teremos de fazer isso em um ambiente mais seguro. E com o mínimo de testemunhas possível.
– Estou vendo onde é que você quer chegar, Nevra... Tirando eu e o Chrome, há mais alguém entre nós que desconheça o dono dessa máscara aí?
– Só vocês dois, Karenn. Tirando os líderes das guardas e mais cinco pessoas, aqueles que são alvos de Apókries são os únicos que sabem quem eu sou.
– Mais cinco?! – se espantava o lobo – Eu conheço algum deles?
– Todos eles. – Chrome e Karenn pareciam ainda mais indignados – Mas pode ter certeza que o que eu mais quero é não precisar mais ter de usar essa máscara. Por isso, quanto mais rápido conseguirmos nos livrar daqueles malucos, mais rápido me seguro encara-los de frente.
– Certo. Ouçam bem o quê quero propor... – nos pedia o Leiftan, já nos explicando a sua ideia.
.。.:*♡ Cap.160 ♡*:.。.
Lance
A proposta do Leiftan era bem simples, mas muito arriscada. O plano iria depender totalmente da umbracisene de Absol e da minha habilidade de persuasão. Ficou decidido que tentaríamos executa-lo à noite, depois do jantar, onde os únicos que estariam no mesmo quarto que eu e a Ladina seriam: o Nevra, o Leiftan e a Erika.
Dada a hora combinada, usamos das passagens criadas por Absol para nos reunirmos, após sermos trancados mais uma vez _suspiro_. Envoltos pelo escudo formado por duas sanas clypeus, a Ladina tentou chamar por Absol.
– Ei, Absol! – ela falava, agachada, com a sombra abaixo dela – Absol, você está me ouvindo? – senti um pouco de alívio ao vê-lo erguer a cabeça das sombras – Me diz, Absol, você seguiu a Alessa como eu queria? – me parece que a resposta foi positiva com o sorrir da Ladina para o black-dog – Que ótimo! Pois eu preciso de um favor muito especial. Preciso que você ajude o Lance a conversar com ela, conosco aqui. Você pode fazer isso? – não me foi surpresa alguma ser encarado com desconfiança por aquela criatura... – Por favor Absol... É importante!
Aquele black-dog podia gostar de mim tanto quanto eu gostava dele, mas acabou aceitando nos ajudar. Ele criou um pequeno portal, semelhante aos criados para nos movermos entre os quartos sem o povo daqui saber, mas apoiado apenas no ar ao invés de no chão ou nas paredes como ele sempre havia feito. Passei apenas uma mão, com receio, por não saber bem o que esperar disso.
– Deixe de enrolação e vai logo, Lance! Sabe que precisamos ser rápidos.
– Não enche, Sanguessuga. É a primeira vez que eu fico “dividido” em dois lugares.
– Agora não é hora de se sentir preocupado. – “acalmava-me” o Leiftan – Quanto mais rápido você conseguir “trazê-la” para cá, para assim conversarmos com um pouco mais de segurança, mais rápidos terminaremos com isso sem o povo daqui perceber.
Acabei respirando fundo. A Negra estava realmente certa ao afirmar que o Leiftan era o mais racional aqui. Como eu não senti nada de anormal ao passar a minha mão, a não ser talvez a sensação de atravessar algum tipo de película aquosa, coloquei o meu rosto, de olhos fechados, e atravessei parte daquilo.
Eu passei apenas o meu rosto mesmo. Observando o outro lado, notei que a passagem dava para um ponto da parede próximo ao chão. Uma passagem discreta diante da pouca luminosidade que encontrava. Levei um tempinho para encontrar a moça que, pelo o que pude reconhecer, parecia seguir a mesma fé de minha Ladina. Estava em italiano, mas definitivamente eram as mesmas orações que a Cris quase sempre faz antes de dormir. Ela estava sentada em uma cadeira posicionada bem em frente de uma grande porta. Também pude ver a Branca e a Negra um pouco mais à frente, com a Negra me encarando e indicando a moça como se me dissesse: “está esperando o quê?”
Respirei fundo mais uma vez para me acalmar, pois se eu realmente quisesse convencer aquela mulher a aceitar o convite de uma pessoa totalmente estranha, para “atravessar” uma parede, dentro de uma casa cheia de “predadores”, a última coisa de que eu precisava, era assusta-la.
– Psiu! Psiu! – chamava a atenção dela, que ficou imediatamente em alerta – Psiu! Aqui! – chamava-a baixo e já em italiano.
– Q-quem é? – ela pressionava tanto a joia que nos permitiu reconhecê-la, que pude ver seus dedos se esbranquiçando de onde eu estava – Q-quem, ou o quê, está me chamando? – vou ter que ser bem cuidadoso...
– Um amigo, eu espero.
– Amigo?
– Você é católica, não é? Reconheci a ladainha. – notei que isso havia a surpreendido – Será que podemos conversar?
– Sim, eu sou. Mas quem é? Onde você está?
– Em primeiro lugar, não grite ao me ver. Minha cabeça está a prêmio mesmo fora desse covil de sanguessugas. Fiz algumas besteiras graves no passado e por isso nem o meu rosto posso estar mostrando, não ainda. Ou seja, vir falar com você me é tão arriscado quanto você passear sozinha por este lugar. E eu não estarei lhe escondendo o meu rosto!
– Eu... Eu entendo... – ela parecia se acalmar um pouco – Não irei gritar.
– Ótimo. Estou do seu lado, perto do chão. – ela não me encontrou de imediato, mas se ergueu bem assustada da cadeira ao me encontrar, e tampando a boca para não gritar.
– Mas... O quê que...
– Por favor, tente não alarmar ninguém. – mantinha minha voz o mais suave e tranquila que conseguia – E como eu disse, você é a única daqui que está vendo o meu rosto. É o meu voto de confiança que estou cedendo a você.
– Eu sou... a única?
– Sim.
– Por quê?!
– Porque eu preciso conversar com você! Na verdade, quem precisa fazer isso é a moça com que você se esbarrou esta manhã. Mas infelizmente, ela não conhece italiano, e por isso eu meio que terei que fazer isso no lugar dela.
– Moça?... – ela levou um tempinho para se recordar – !! O quê ela é?! Minha Cruz Guardiã não reagiu com ela.
– Uma terráquea que acabou caindo em Eldarya por ter o poder de ajudar este mundo. Ela só veio para cá porque existe alguma coisa para ela estar resolvendo neste lugar e... Pelo pouco que conseguimos descobrir, você, muito provavelmente carrega a pista sobre esse “o quê” que ela precisa estar fazendo. Não quer vir comigo para conversarmos mais à vontade, não?
Ela não respondeu de imediato. Parecia refletir sobre alguma coisa, encarando o vazio – Não posso deixar esse lugar sem vigilância... Sou a única esperança dos outros.
(outros?) – Acha mesmo que lhe faria esse convite se não fosse possível ocultar a sua ausência? – tentava lhe adquirir a confiança – Sabe, o poder que está sendo usado para que eu consiga estar aqui, conversando com você desse jeito, não é meu. É de um colega que irá ficar responsável de acobertar a sua “fuga” enquanto estivermos conversando. Ninguém está querendo prejudica-la. Pelo menos eu e os meus companheiros, não.
Ela ainda parecia indecisa. Isso até a Branca se aproximar dela e colocar as mãos sobre a sua cabeça. Parece que a Branca está removendo as dúvidas de sua mente, com eu observando seu semblante ficar aos poucos mais tranquilo e confiante.
– Quem é você? Qual o seu nome?
– Imagino que você já tenha conseguido me ver em algum momento. Sou o guerreiro mascarado do grupo que chegou por esses dias.
– Nome.
– Pode me chamar de Lan.
– Não quer me dar o seu nome por medo ou por falta de confiança?
– Te mostrei o meu rosto. Só isso é o suficiente para eu estar à beira da morte neste lugar. O tempo está passando e não creio que a conversa será curta. Sem falar que não tenho certeza se teremos outra chance de conversarmos. – (e eu já estou ficando sem paciência, sendo cutucado no quarto) – Eu disse que você possuía uma pista do que estava trazendo o meu grupo para este lugar, mas e se você for a razão de nossa presença aqui?
Meu último comentário pareceu acordar alguma coisa nela. Ela até engoliu seco! Após respirar BEM fundo, ela se aproximou e se abaixou até mim – Onde está o amigo que você mencionou?
(Finalmente!) – Absol? – chamei o black-dog e ele logo apareceu, fazendo a mulher arregalar os olhos para ele – Esta criatura vai ficar vigiando em seu lugar e também vai impedir que qualquer um desconfie de que você não estará aqui. Precisa de ajuda para vir? – questionei lhe estendendo uma das mãos.
Eu não sei se essa mulher é medrosa por natureza ou se foi o que viveu em Yaqut que a deixou tão receosa. Ela levou quase um minuto para pegar em minha mão. E, para não perder a confiança conquistada, “puxei-a” com calma para o quarto.
Tendo finalmente conseguido trazer a Alessa para o quarto, era hora de falar sobre o que realmente interessava.Cris
A demora do Lance em trazer a Alessa para o quarto já estava me deixando agoniada. Até o Nevra, cujo trabalho exige paciência, estava o cutucando para tentar apressa-lo. No entanto, quando eu vi o cuidado que ele usava para finalmente trazê-la, me deixou claro que ele teve dificuldades para convencê-la.
Os dois ficaram falando em italiano. Lance nos apresentou a ela, explicou sobre a barreira, e passou a questionar sobre a vida dela, para compreendermos como que ela havia chegado em Yaqut, e o quê ela era. Houve momentos que até o Lance precisou pedir para ela se acalmar de tão difícil que estava sendo compreendê-la. Fosse por culpa da voz embarcada, fosse por culpa do nervoso que a fazia falar rápido demais.
Durante a conversa, tanto eu quanto a Erika ficamos procurando pelos sinais faelianos que Fafner havia nos ensinado, mas... Se a Alessa era mistura de europeu com africano, eu não sei dizer com certeza se os possíveis sinais eram herança faeliana, ou se eram rara consequência genética. Essa diferença de origens afeta? Ela era alta; magra; longos cabelos trançados e com enfeites; olhos verdes marcantes e cheios de olheiras; no escuro, suas roupas a tornariam invisível, uma vez que sua pele e as roupas pareciam ter a mesma cor das rochas de Yaqut diante da ausência de luz. E eu me pergunto o quê ela tanto carrega naquele monte de bolsos dos cintos. Não tenho ideia de quanto tempo a conversa entre eles demorou, mas comecei a sentir um pouco de alívio quando o Lance se voltou finalmente para nós.
– E então? – pedia o Nevra.
– Vou tentar resumir tudo. – se endireitava o Lance – Alessa nasceu na Terra em um país chamado Líbano. Seu pai é um médico italiano que trabalha em uma ONG mundial, e sua mãe uma sacerdotisa Waaqeffanna que nasceu na Etiópia. Ambos se conheceram no Líbano durante atividades humanitárias e, indiferente das divergências religiosas, tiveram a Alessa e passaram a viver no país em que se conheceram.
– Que romântico... Mas como isso nos ajuda a entender as coisas? – questionava a Erika.
– Continuando. Para evitarem discussões desnecessárias, os pais dela decidiram lhes ensinar tudo sobre as próprias culturas. Idioma, religião, historia, costumes... Ela cresceu aprendendo sobre três povos diferentes. Os dos seus pais e dos país em que ela vivia. No que se refere à religião, os seus pais lhe deram total liberdade sobre qual fé seguir, depois deles lhe terem ensinado tudo e a feito passar por todos os rituais da infância. Nisso ela se identificou mais com o cristianismo e, inspirada no altruísmo de seus pais, decidiu virar enfermeira.
– Imagino que essas decisões tenham relação com a presença dela aqui hoje...
– E tem, Leiftan. Por consequência de suas escolhas, uma de suas vontades era a de conhecer a cidade-sede de sua fé, que fica no país de origem do pai que, graças a parentes de lá e ao próprio grupo do qual fazia parte, encontraram uma oportunidade.
– Porque eu sinto que essa oportunidade não foi tão boa assim?... – comentei meio que adivinhando o avançar da historia.
– A mãe dela também pensou parecido. Por isso que encomendou o crucifixo de prata dela e passou dias orando com ele nas mãos, antes de presenteá-la com a joia. Que por sinal, é totalmente terráquea. As obsidianas da cruz não tem poder algum, diferente da prata em si que está bem energizada. É possível que Alessa seja faeliana por parte de mãe, e vocês vão entender o porque quando eu acabar.
– Tente se apressar. Já nos demoramos muito e Alessa me parece um tanto impaciente.
– Qualquer um ficaria assim no lugar dela, Leiftan...
– Que quer dizer? – me intrigava.
– Bom, depois da Alessa ter recebido o presente da mãe dela, a viagem aconteceria em dois dias. Era um grupo de umas vinte pessoas, que visitariam a cidade-sede pelo tempo de duas semanas. O percurso em si até lá gastaria entre três e quatro dias, tanto na ida quanto na volta, pois a viagem seria feita por terra. Os problemas aconteceram no meio da ida...
– Que, problemas. – Nevra ficou tão interessado de repente...
– O grupo dela foi interceptado e capturado por algum bando de miseráveis, que muito provavelmente, faz parte de uma das organizações que sempre dão dor-de-cabeça para a Guarda. E que infelizmente, mantem relações “comerciais” com Yaqut. – o clima ficou tenso por um momento – Segundo Alessa, antes de ela e quase todo o seu grupo ser “oferecido” aos daqui, eles ficaram uns dois dias presos em masmorras, e sempre eram mantidos de olhos vendados. Eu só não entendi ainda como é que os canalhas não roubaram o crucifixo dela, se os demais pertences dela e de seus demais companheiros foram todos confiscados.
– E... Como foi, que eles “chegaram” aqui?
– Acho que você já sabe como é isso, Nevra.
– Estou questionando pelo ponto de vista dela.
– Vamos evitar discussões no momento. – intervia o Leiftan, antes que eles começassem a brigar – Prossiga com o quê ela lhe contou, Lan.
– No dia que eles seriam entregues a Yaqut, todo o seu grupo foi guiado até uma grande câmara onde eles viram o portal ser aberto bem diante deles. Na hora ela pensou que estivesse alucinando ou tendo algum tipo de pesadelo. Depois de ter sido empurrada com os demais para o outro lado do portal, ela pensou que se tornaria escrava ao ver que os homens que forçavam sua travessia, recebiam caixas do pessoal daqui. Bem, não sei se posso dizer que ela estava errada...
– Deixe suas observações pessoais para depois. – Nevra se irritava – Prossiga.
– A troca foi feita e o portal sumiu. Seu grupo foi mais uma vez guiado até um cômodo que... Do que ela disse ter visto e sentido, imagino que seja o lugar onde os vampiros fazem a sua... “colheita”. – alguns engoliram em seco. Eu senti um calafrio na espinha! Não quero nem imaginar como foi esse momento para a Alessa – Alessa foi a primeira a ser puxada para passar pelo processo.
– Como foi que ela escapou disso?! – Erika perguntava na minha frente.
– Assim que Alessa entendeu o que estava prestes a acontecer com ela, ela disse ter se agarrado à cruz dela, e recitado uma das orações de proteção da mãe dela, e ainda agrediu com a sua cruz o vampiro que a arrastava. Nisso, não só uma poderosa barreira se formou ao redor dela e de seus companheiros, como também o vampiro que a agarrava foi lançado longe e ganhou uma bela marca de queimadura onde a cruz se chocou contra o rosto.
– Por isso que você disse que ela podia ter descendência faery por parte de mãe. – refletia o Leiftan – Mas continue.
– No que eu pude entender, esse avançar inesperado dos eventos deixou todo mundo em choque. Ninguém parecia saber como reagir, e o vampiro arremessado sofreu um corte em um dos braços por conta de alguma ponta afiada que estava no caminho, ficando atordoado e quase inconsciente. Quando a Alessa percebeu o ferimento dele, sua profissão acabou por falar mais alto e ela o socorreu, afastando-se o mais rápido possível depois de terminar.
– Esse é um dos motivos de ela ainda estar viva? – perguntei meio receosa.
– Parece, Cris. Foi a Maora quem lidou com a situação ao ser informada do ocorrido. Alessa e mais uma pessoa eram os únicos no grupo inteiro que conheciam o árabe e o italiano. Como no impulso ela falou com Maora primeiro em italiano, ela decidiu fingir não conhecer a outra língua, assim, se alguém dissesse alguma coisa que fosse importante perto dela, ela saberia. O outro cara aceitou ajuda-la com a ideia e por isso aceitou “trabalhar” como intérprete para as duas.
– E foi essa conversa o que a ajudou a ainda estar entre nós? – Nevra parecia meio incrédulo.
– Sim. Maora questionou sobre a vida dela por conta do poder que ela usou - e que continuava fazendo efeito - para entender o quê que Alessa era. Aparentemente a profissão dela chamou a atenção de Maora, mais precisamente o processo de doação de sangue.
– Deixe eu adivinhar. – o interrompi – Após conhecer esse processo, Maora convenceu o resto do povo a trocar os métodos utilizados para obter o sangue que tanto apreciam.
– E também passou a garantir o mínimo de bem estar para garantir a qualidade de sua “comida”. Passando a serem tratados como... Come hai definito tu stesso il tuo gruppo?
– Mucche da latte. – respondia Alessa.
– Grazie. Mucches leiteiras. – Lance voltava para nós. – Não sei como traduzir mucche, já que não conheço sobre a fauna da Terra, mas entendi que é o nome de um mascote criado para se obter o leite.
– Vacas. Vacas leiteiras. – eu explicava – Na Terra nos criamos vacas para termos o leite que consumimos depois de crescidos. Há outros animais criados com o mesmo objetivo, mas o mais comum são as vacas. Não deve ser nada fácil ser tratado como se fosse um mero gado...
Quase todos deixaram um suspiro escapar como eu e o Lance continuou – Com a Alessa sendo a única capacitada para efetuar as “doações”, Maora forneceu roupas e itens que pudessem ajudar Alessa a se manter mais ou menos segura nestas terras, e passou a aprender o italiano, para que não “dependessem” mais de um intérprete. Alessa é a única que pode ficar circulando pela casa, graças à cruz de prata dela e do escudo que ela consegue invocar sempre que faz a oração protetiva que aprendeu com a mãe. Mas ainda assim... Ela nunca pode baixar a guarda por aqui.
– As coisas parecem não estar nada fáceis para ela... – comentava a Erika, bem sem jeito com a situação.
– Acho melhor mandarmos a Alessa de volta. O tempo todo ela esteve inquieta e acho que agora entendo o porquê. É ela a responsável por garantir a segurança dos outros, não é?
– Realmente, Leiftan. Alessa tem garantido o máximo de segurança possível aos outros, sacrificando parte de si mesma. Ela confessou estar perto de perder a própria fé por conta de tudo que viveu aqui.
Meus olhos marejaram ao ouvir isso. Sem pensar muito, e não conseguindo segurar as lagrimas que se formavam, eu peguei nas mãos de Alessa que me pareceu assustada. Não sabia bem o que eu estava fazendo, mas a agua do cantil que ela carregava deixou o frasco e veio de encontro às nossas mãos. Foi semelhante ao que tinha acontecido com aquele dalafa, só que a agua “absorvida” envolveu todo o corpo de Alessa. Não sei se isso a ajudou muito, mais seu rosto me pareceu um pouquinho melhor, e ela parecia mais calma também.
Acabei a abraçando no final. E Erika imitou o meu gesto ficando nós duas abraçando aquela moça que, diante do que fazíamos, começou a chorar rios, apertando ainda mais aquele abraço e fazendo bem dizer todo mundo chorar com ela.
Após quase quinze minutos chorando como uma criança, Alessa finalmente parecia estar calma de verdade. Lance a chamou para voltar ao seu ponto de vigília e, depois de fornecemos mais agua para ela (uma vez que seu cantil ficara totalmente vazio), Alessa deixou o quarto.
Conclusões que tiramos com isso: Yaqut mudou levemente seus sistemas, e há terráqueos vivos e presos por aqui. Será que a minha “tarefa” é a de libertar esse povo???Alessa
Crescer sob a influência de várias culturas não é fácil, mas pode ser divertido. As diferentes culturas existentes no mundo são todas fascinantes! Meu pai com seus costumes italianos, minha mãe com as tradições etíopes, e todo os resto que nos cercava, já que sou libanesa. Enfim, cresci aprendendo: três línguas; três costumes; três religiões (por causa dos meus amigos, colegas e vizinhos) e muitas outras coisas de forma triplicada.
Sempre admirei o amor que existe entre os meus pais... Eles eram diferentes um do outro em praticamente tudo! E mesmo assim se respeitavam e se amavam. Um amor pleno e sincero do tipo muito difícil de se encontrar por aí.
Sou muito grata por eles me terem permitido escolher a minha própria fé. Mesmo com as duas religiões tendo alguns pontos em comum, acabei me identificando mais com o cristianismo do que com o waaqeffanna. E fiquei aliviada por minha mãe não ter se magoado com a minha escolha.
Os dois estavam sempre trabalhando com serviços comunitários. Meu pai Ferdinando era médico, prestando assim serviços de medicina para todos, sem pedir nada em troca. E minha mãe Jahzara era uma sacerdotisa, ajudando o meu pai com seus pacientes na parte espiritual e homeopática. Por isso decidi estudar enfermagem, nutrição e farmácia, para poder ajudar os dois com esse trabalho tão caridoso.
Quando você escolhe trabalhar com a saúde de todos, sua vida fica um pouco complicada. Não em questões de psicológico, já que sempre há os pacientes difíceis e as situações sem solução. Digo isso porque, uma vez dentro desta área, é quase impossível tirar férias de verdade. Principalmente se o seu trabalho for comunitário. Mesmo que você consiga viajar para algum lugar, sempre acontece algo em que sua profissão é exigida bem na sua frente e, por estar acostumado a nunca dizer “não” para um paciente... Você quase sempre age sem pensar.
Um de meus sonhos, era conhecer as cidades santas do catolicismo. Como conhecer Jerusalém é um pouquinho arriscado, eu já me contentava em visitar o Vaticano, e de quebra conhecer meus parentes italianos que só conhecia por vídeo-chamadas, mas eu nunca tinha essa oportunidade.
No entanto, uma oportunidade de ouro havia aparecido para mim.
Um dos colegas de meu pai havia sido informado para ele, que um grupo de turistas estavam buscando um substituto para um dos intérpretes do grupo, pois o que eles tinham havia adoecido. Mais especificamente, o intérprete de italiano! Meu pai se informou de tudo e o serviço de poucos dias pagava muito bem, sem falar que meus parentes paternos estavam totalmente de acordo caso eu conseguisse o trabalho.
Não podia estar mais feliz por poder realizar um de meus sonhos uma vez que tudo corria às mil maravilhas, só que a minha mãe não parecia compartilhar de minha felicidade. Ela não era contra a viagem, mas parecia preocupada com tudo. Soube pelo meu pai que ela tinha encomendado um “amuleto” para mim e que ela estava passando as noites em claro para abençoa-lo. Francamente, mesmo sabendo que minha mãe sempre teve uma boa intuição, acho isso um exagero. Está certo que o mundo de hoje não é lá muito seguro, mas ainda assim...
De qualquer forma, quando ela terminou de preparar o tal amuleto, dois dias antes de eu partir para Roma, não podia ter ficado mais feliz com o presente. Era a cruz mais linda que eu já tinha visto! E ela a mandou fazer com quase toda a prata que ela tinha e com uma enorme obsidiana que eu havia encontrado quando criança e lhe dado de presente. Não que eu acredite em amuletos e coisas do tipo, mas vendo todo o amor que existia naquela peça que minha mãe me entregava, me aconselhando a nunca abandonar a fé que eu tinha escolhido seguir, não havia como eu duvidar de sua proteção.
Quase que eu não conseguia me reunir ao grupo a tempo por conta da despedida dos meus pais. Minha mãe estava tão agoniada com essa viagem que eu quase desisti dela, mas tudo estava correndo exatamente como havia sido planejado. Bom, quase tudo.
Por conta dos incidentes com o intérprete, o grupo perdeu o voo que os levariam direto para Roma, e por isso o caminho seria feito por terra até lá. A viagem duraria aproximadamente uns três dias com as paradas para descanso, entretanto, após alcançarmos metade do caminho, o desastre aconteceu.
.。.:*♡ Cap.161 ♡*:.。.
Alessa
A primeira coisa que reparei quando me juntei ao grupo, é que todos eram maiores de idade e não havia ninguém que precisasse de cuidados especiais, como deficientes ou idosos, o que facilitava a lidarmos uns com os outros. No nosso percurso, teríamos que atravessar uma ponte que, quando estávamos na metade dela, estava quebrada.
De início, todo mundo estava achando que aquilo tinha sido um acidente infeliz, mas os responsáveis pela segurança do grupo não pareciam pensar assim. Estávamos nos preparando para dar meia volta quando aconteceu. Um grupo de combatentes armados apareceu do nada, de todos os lados e nos cercaram. Fomos capturados, amarrados e vendados (será que era sobre isso que a minha mãe estava tão preocupada??)
Quem tentou resistir acabou inconsciente. E quem tentou conversar com eles acabou amordaçado. Ninguém tinha escolha a não ser obedecer em silencio. Tivemos todas as nossas coisas tomadas, menos a minha cruz (talvez por sacarmos ou sadismo?) e viajamos por várias horas até chegarmos em algum lugar que mais parecia algum tipo de prisão medieval. Lá, não éramos maltratados. Na verdade, eles até que se preocupavam com a nossa condição de saúde e nossa aparência. Só consegui chegar a uma conclusão com essas observações: seríamos vendidos como escravos.
Assim, o problema nem era bem ser feita de escrava. Minha preocupação era saber o tipo de escravidão que nos aguardava. Se fosse à moda africana, todos nós teríamos uma chance de liberdade, pois já houve até casos de escravos que conseguiram se tornar reis mais tarde, e todos nós teríamos a chance de comprar nossa liberdade se trabalhássemos o suficiente.
Agora. Se fosse à moda romana de escravidão... Senhor, tenha misericórdia de nós!! A escravidão romana trata as pessoas como meros objetos de posse, e não como seres vivos como ocorre na escravidão africana. Isso quando o “senhor” tinha algum senso de humanidade no peito, dando um mínimo de zelo pelos seus vassalos e assim aumentar a “durabilidade” de seus “pertences”.
Uma pequena janela, perto do teto alto da cela em que éramos mantidos, nos ajudava a compreender o passar do tempo. Por causa da cruz que eles não me tomaram, eu sempre me recordava do conselho de minha mãe quando a recebi, até nos sonhos eu a ouvia me dizendo para não perder a minha fé. E por isso, tudo o que eu fazia era rezar. Com todos os outros rezando junto de mim.
No terceiro dia, se não me engano, fomos todos reunidos e levados até um grande salão redondo e vazio que não me agradava em nada. Três homens que usavam mantos de capuz escuros estavam reunidos no centro, cantarolando alguma coisa que não conseguia entender nada. O surgir de uma luz, que se tornava uma espécie de massa luminosa que se expandia até formar um... Sei lá! Um portal, talvez? Me fez questionar a minha sanidade. E quanto maior aquilo ficava, mais distante eu me desejava daquele lugar.
Mas ninguém teve escolha... Assim que, o “portal” se abriu, todos nós fomos empurrados para o outro lado daquilo. E foi uma sensação indescritivelmente estranha. Não achei ruim, fisicamente falando, mas também não me senti bem, emocionalmente.
Reparando no outro lado, acho que estávamos dentro de uma caverna. As pessoas dali eram extremamente pálidas e todas usavam trajes desérticos, além de falarem em árabe. Acho que eram os nossos “senhores”, pois ao mesmo tempo que nós éramos entregues àquela gente, eles entregavam caixas cheias de coisas estranhas para os homens que nos capturou.
Com a troca concluída, o portal desaparecido completamente, e nenhuma ideia de como qualquer um de nós poderia voltar para casa, começamos outra vez a sermos guiados para algum lugar.
Observando os nossos “senhores”, ficava imaginando que tipo de “trabalho” eles poderiam vir a exigir de nós, até que paramos diante de uma grande porta de aço para onde éramos direcionados. Ao entrar naquele lugar, senti o desespero querer me dominar. O lugar era enorme, cheio de correntes com algemas nas paredes, e itens que serviriam tanto para um torturador quanto para um açougueiro sobre uma mesa. Vários frascos vazios ocupavam as prateleiras dali, insetos rodeavam os fundos e o inconfundível cheiro de sangue seco enchia o lugar.
Nós não seríamos escravos, nós seríamos executados! Fossem eles traficantes de órgãos, canibais ou que seja, a realidade era de total desesperança para nós. Vai ver era até por isso que aqueles homens não me tomaram a minha cruz. Eles sabiam que, não importava o quanto qualquer um de nós rezássemos, não escaparíamos com vida. Que podíamos implorar socorro o quanto quiséssemos que estaríamos sozinhos e abandonados.
Lágrimas de pavor me escapavam pelo rosto ao me conscientizar do destino cruel que nos esperava ali dentro. E pior! EU estava sendo a PRIMEIRA a ser puxada para aquilo tudo! Com os outros sendo acorrentados para “aguardarem a sua vez”.
Tentei resistir. Me agarrei a minha cruz e a bati com tudo no homem que me agarrava. Na hora, eu queria clamar por Deus, mas não sei o porque que recitei uma das orações de proteção de minha mãe no lugar. Senti o homem me soltar e me encolhi no chão de olhos fechados. Um minuto de total silencio se seguiu, e estranhando aquilo, resolvi olhar o que acontecia.
Eu não estou entendo mais nada. No que abri os olhos, uma... bolha branca e transparente me cercava. A mim e ao meu grupo. As pessoas que havia nos levado para aquele local pareciam em choque, e o homem que antes me arrastava, estava jogado do outro lado, gemendo.
Devo ter perdido toda e qualquer noção de perigo... Pois assim que entendi que o meu carrasco estava ferido, corri até ele para trata-lo. Quando terminei de tratar o seu braço ferido, que foi a única coisa nele que eu dei atenção, me apressei a juntar-me com o restante de meu grupo.
Nisso, uma mulher apareceu e começou a pedir explicações. Os homens dali contaram o que tinha acontecido e ela foi conferir o ferido. Seus olhos se arregalaram ao ver algo, exigindo saber qual era o “humano” que tinha feito aquilo (como assim o “humano”?). Imediatamente eu fui denunciada, e ela se aproximou de mim já me questionando.
Nervosa e apertando minha cruz junto ao peito, acabei lhe falando em italiano ao invés de árabe. Ficou claro que ninguém ali me compreendeu, exceto o Victor, o outro intérprete de italiano que também conhecia o árabe. A mulher, que mais tarde soube se chamar Maora, perguntou para o restante do meu grupo se havia alguém que entendia a nós duas. Foi nessa hora que eu decidi manter o meu italiano, para que nenhum deles tivessem receio de falar perto de mim, e pedi ao Victor que me ajudasse. Creio que ele entendeu o meu objetivo, porque ele se aproximou e serviu de intérprete para nós duas.
A primeira coisa que Maora me questionou era: “o quê eu era?”, e me fez contar bem dizer toda a minha historia de vida, o que não parecia dar à ela a resposta que queria. No que ela nos revelou que era uma vampira, assim como todos os habitantes daquele lugar, fiquei pasma. Vampiros??? É realmente sério isso?? Para onde que foi o meu chão?
Maora me pediu mais explicações sobre o meu trabalho e parecia bem interessada no processo de doação de sangue, ou melhor, no método de coleta das doações. Tanto que ela fez questão de providenciar o material necessário e me fez demonstrar, coletando o sangue de Victor.
A forma com que seus olhos brilhavam durante o processo, e a maneira como ela parecia se conter onde estava, aos poucos me fazia querer acreditar em suas afirmações. Terminado de fazer o curativo em Victor, Maora ficou do meu lado em menos de um segundo! E ela foi logo provando do sangue, exibindo satisfatoriamente as suas presas (Como foi que eu vim parar neste inferno?).
Maora me questionou de quanto em quanto tempo aquilo podia ser repetido, e se eu poderia o estar fazendo sempre, pois aquele processo havia “valorizado” o gosto do sangue. Eu não sou nada burra! E com a ajuda de Victor, não só contei todas as exigências padrões (aumentando algumas que na verdade eram só recomendações), como também implorei por melhores condições para nós, humanos.
Ela aceitou tudo de muito bom grato. Providenciou tudo o que eu pedi e também me forneceu vestes que me ajudariam a me manter segura naquele lugar, e, como eu era a única capaz de me defender dos vampiros, eu também seria a única que poderia deixar o nosso “dormitório”. Por isso exigiu que eu lhe ensinasse o italiano para que o Victor não ficasse tão exposto ao perigo.
Na hora em que recebi minhas roupas, pelo jeito que ela havia encarado o meu corpo, tive a impressão que um dos receios dela era que eu acabasse seduzindo alguém, no lugar de ser atacada. Como se eu estivesse tão “sedutora” assim... _indignada_ Mas o que me impressionou mesmo, foram os anéis, que pareciam garras, que ela fazia questão de não lhes tocar ao me entregar.
Segundo ela, aqueles anéis me seriam tão úteis quanto a cruz em meu pescoço, se não mais, depois de explicar os efeitos daqueles objetos nos vampiros. Se não fosse pelo meu reencontro com o homem que eu tinha acertado no rosto, onde ele parecia estar se recuperando de uma queimadura com o mesmo formato de minha cruz, mais o ataque que sofri em meu terceiro dia (e que nunca estive tão grata por ter ouvido o meu primeiro namorado e feito aulas de auto defesa) onde aquele ser reagiu como se eu o tivesse ferido com ferro quente ao invés de “unhas”, eu nunca que teria acreditado na eficácia daqueles objetos (mais uma vez, obrigada mãe pelo seu presente).
Quanto mais tempo se passava vivendo e observando aquele lugar, mais eu era levada a acreditar na “realidade” que Maora nos repassou. Após estarmos meio que acostumados com a “nova casa”, e de eu ter montando um esquema de rotinas que ajudaria a manter a saúde de todos, e de nunca deixar faltar sangue aos vampiros, percebi que se eu não fizesse algo logo, teríamos problemas de nutrição.
A comida em si não era ruim, mas era como se comêssemos agua ou vento! O que me forçou a colocar todos os meus conhecimentos em prática. Com o apoio de Maora, construí meu laboratório e consegui, depois de umas duas semanas, desenvolver um shake que nos ajudaria com a nutrição. O gosto não era dos melhores, mas nos sustentava e era isso o que importava. Por pouco que eu não fui atacada mais uma vez enquanto trabalhava... Meu novo agressor havia entrado no meu espaço de trabalho sem fazer qualquer ruído até mesmo da porta. Se não fosse pela sua curiosidade e surpresa ao experimentar um dos componentes que tinha desenvolvido, eu nunca que o teria percebido ali dentro. Passei a manter uma armadilha sonora na porta como prevenção.
Os dias se passavam. Depois de quase ter sido atacada no mercado, enquanto era acompanhada para obter mais ingredientes para o shake, acabei proibida de deixar a casa de Maora. Por pouco que não acabava morta naquele dia. Meus colegas, que eu protegia com o máximo de esforço, começavam a estar em dúvida sobre eu ser uma bruxa ou uma santa, ignorando todo o meu desgaste que ficava cada vez pior com o passar dos dias.
Tanto que, durante uma coleta de sangue, sem querer acabei machucando o doador por quase cair no sono no meio do trabalho! Estava sem material para curativos, por isso invoquei aquela bolha branca e corri para buscar as bandagens. Na volta, acabei me esbarrando em uma moça, que tinha visto no dia anterior, quando precisei pedir por mais agua para nós. Não tinha dado muita atenção aos convidados de Maora, por isso me foi uma surpresa tanta gentileza por parte daquela moça.
Pelo idioma, me era claro que ela tinha origem latina, por isso pude entender mais ou menos o que ela dizia. Mas... Quem era ela? Pensei que todos os visitantes eram vampiros também! Como eu não podia ficar conversando, voltei ao meu trabalho, deixando-a para trás.
O dia seguiu como sempre. Cuidei de meus amigos e fiquei diante da porta à noite, em vigília como sempre.
"*– Filha... Não perca a sua fé!!
– Mãe? Cadê você?!*"
Droga. Caí no sono outra vez. Mas quem eu estou querendo enganar? Estou um caco! Eu, que sempre fui cheinha, e com minhas gorduras bem distribuídas pelo corpo, mas não tão cheia quanto as modelos pluz size, agora conseguiria facilmente seguir a carreira de top model de tanto peso que já perdi. Estou com tantas olheiras, que pareço estar usando uma máscara. Meus cabelos quase negros, agora estão mais para castanho do que para preto. E eu quase não consigo me manter acordada nas horas mais importantes.
“Não perca a sua fé”. Estou tão cansada de tudo, mas tão cansada, que me pergunto como é que os santos mártires conseguiram se manter diante de seus suplícios. Será que algum deles chegou a encarar algo parecido com o que tenho vivido? Comecei a rezar um pouco, mas sentindo que minhas palavras soavam vazias, e congelei, ao notar que alguém me chamava àquela hora da noite.
Eu pensei que não existisse cristãos neste mundo, então como é que aquele ser misterioso descobriu minha religião? Depois de finalmente encontrar o meu “visitante”, eu não poderia ter ficado mais chocada (com que tipo de demônio eu terei que lidar agora??).
As explicações que eu recebia dele, faziam surgir mais e mais dúvidas em minha cabeça. Em quê exatamente este mundo precisa ser ajudado?? E realmente há mais terráqueos fora daquele deserto?! E como assim, “sou uma pista”??
Quando ele me convidou a segui-lo, estava apavorada. Não sabia se estava para cair em uma armadilha, ou para abraçar uma esperança. Até que eu senti, bem devagar, uma calma tomar conta de mim. Me convencendo a aceita-lo. Me surpreendi ao ver aquele cão negro enorme (será que todas as lendas são reais por aqui?), mas não tanto com o esmero que aquele homem me dava.
“Atravessar” aquela parede me foi semelhante à travessia do portal que me trouxe a este mundo, e logo reconheci os membros do grupo de Lan. Ele me apresentou a todos, contou o que cada um deles era (inclusive os que não estavam presentes), o porquê de estarem em Yaqut, e me pediu para eu falar de mim.
Não sei se fiz certo, mas resolvi lhe contar tudo. Assim como havia feito com a Maora, porém com a adição de todas as minha experiências naquele inferno. Às vezes eu me atropelava por conta do nervoso, ou nem conseguia falar direito por causa do pranto que me escapava. Eu desabafei. Coloquei tudo o que guardava para fora.
Terminado de falar. Ele começou a repassar minha historia aos seus amigos. Era muita coisa. E só agora me toquei que já se passou um enorme tempo! Precisava voltar para junto dos outros depressa.
Quando o Lan terminou, todos passaram a me olhar com compaixão. Especialmente a Cris, que parecia conter as lágrimas. No que ela pegou em minhas mãos, não sabia o que esperar. Fiquei muito surpresa ao ver a agua do me cantil se mover por conta própria, brilhar e ser absorvida pelo meu corpo. Eu não sei o que estava acontecendo, mas aquilo estava me fazendo um bem...
Aos poucos, eu deixava de me sentir cansada. Me sentia mais disposta, mais relaxada. Como se eu estivesse sendo curada de algo. Nem me lembrava de ter me sentido tão bem daquele jeito desde que tudo começou, mas... Quando ela me abraçou, depois de eu ter terminado de absorver aquela agua. Não pude me conter.
Eu chorei enquanto falava tudo para o Lan, mas aquelas eram as lágrimas que não tinha conseguido conter! Aquele abraço que recebia me fez derramar cada gota que tenho mantido comigo por todo esse tempo. Chorei; chamei por meus pais; desabafei; implorei por Deus sinceramente após tanto tempo e, quando finalmente acabei, me sentia extremamente leve. Renovada e pronta para retomar a batalha.
Depois de ter meu cantil reabastecido por eles, voltei para a minha vigília. O... Absol? Esfregou a cabeça em minhas pernas, como um cão carinhoso, antes de sumir.
Sentei na cadeira e retomei minhas orações. Agora mais legítimas. Aproveitando para decidir minhas reações daqui para frente, e pedindo para que essa “missão” da Cris em Yaqut, seja a de salvar a mim e aos meus amigos.
(Mãe, eu não vou mais perder a minha fé. NÃO VOU!)Leiftan
Essa Alessa passou mesmo por um tremendo aperto. Só pela voz, enquanto ela falava com o Lance, já me estava bastante claro que ela estava nos limites de suas forças. E depois que o Lance nos repassou a sua história... Não são muitos que são livres, desde criança, para escolherem a fé que queiram seguir, mas, quando você recebe essa dádiva, começar a querer desistir da religião que você mesmo escolheu, costuma ser o sinal de que a pessoa está prestes a desistir até mesmo de viver.
Não há como eu conseguir manter qualquer indiferença com ela numa situação dessas... Ainda mais depois que ela começou a chorar como uma criança pequena, após receber algum tipo de tratamento da Cris. Quase me juntei àquelas três naquele abraço consolador. Não o fiz porque algo dentro de mim me dizia para deixar apenas a Cris e a Erika cuidando de Alessa.
Tendo a Alessa finalmente se acalmado, a enviamos de volta com uma aparência muito melhor da que ela tinha ao chegar (e é hora de trabalharmos).
– Bom... Eis o que temos até agora: já temos um reconhecimento parcial do terreno; Yaqut agora mantem os humanos “adquiridos” com vida; e temos uma faeliana que tem servido como “guardiã” e “fornecedora de alimento”. Que tipo de conclusão cada um aqui já conseguiu obter com o que temos? – questionei as opiniões deles.
– Se for para chutar, seria o devolver dessa gente com a Alessa para a Terra. – falava a Cris – Mas eu não sei se manda-los de volta com tantas memórias ruins, seria algo bom.
– Principalmente a Alessa... – Erika lhe complementava – Ela está praticamente vivendo um martírio aqui! Duvido que, mesmo voltando para casa, ela não acabe sendo assombrada pelas lembranças deste lugar.
– Se o problema for as lembranças, acho que conseguimos dar um jeito. Chrome não parava de “invadir” o laboratório durante o tempo em que Ezarel tentava produzir uma nova poção de memória.
– Para isso, teríamos primeiro que repassar para o restante de nós, tudo o que Alessa nos contou por meio do Lan, Nevra.
– Mas se for para comparar com a experiência de Lund’Mulhingar,... – intervia o dragão – ...pode ser que enviar os humanos para casa, seja apenas um detalhe da tarefa da Cris aqui.
– Como assim, “um detalhe”?
– Pense bem, Erika. E todos vocês também. No sonho que a Cris teve para Lund’Mulhingar, ela sonhou com a Anya, que ficou por causa dos estudos dela; com o Ezarel, que junto de sua mãe nos ajudou em várias coisas; e com a Emiery, que no caso foi a chave de tudo.
– E onde você está tentando chegar com isso?
– Cris, por meio da Emiery, a gente descobriu um crápula do pior tipo. Graças a ele, nós: expomos um vigarista; demos fim aos seus “projetos”; libertamos suas vitimas; conseguimos um pedaço do Grande Cristal; alteramos suas crenças e costumes, graças à Norns Visdom que levamos; e de quebra, conseguimos novas informações sobre o nosso inimigo em Apókries. – declarava o Lance, enumerando nos dedos – Ou seja, e já adianto que é apenas a minha observação pessoal!
– Tudo bem, Lan. Prossiga com o seu raciocínio. – pedi.
– Certo. No meu entender: Anya foi a chave para os costumes; Ezarel foi a chave para algumas da soluções, e a Emiery foi a chave para o centro do problema. Agora, no que se refere a este lugar...
– Em primeiro lugar, porque você acha que a Anya foi a chave para a reformulação da cultura élfica? – questionava o Nevra (dúvida essa que também estou tentando resolver).
– Pra começar, graças à Cris e aos mascotes que conviveram com ela, a Anya já havia iniciado o Skjult Viden dela, “errado”. Encontramos vários elfos, em especial as aias e guardiãs da Cris por lá, que eram contra várias crenças élficas. E repetindo, com o uso da poção da verdade naquele lugar, mais precisamente no elfo que pertencia ao grupo apokriense, colocamos em cheque algumas das afirmações deles. Não estou dizendo que a Anya foi a causa, estou dizendo que ela foi a guia para uma das incumbências que a Cris tinha naquele lugar.
– Acho... Que entendo onde você quer chegar, Lan – refletia comigo – Sendo assim, o quê exatamente você acredita ser a missão dela por aqui? Baseado com o quê já temos.
– Hum... O fim das atividades de Yaqut é óbvio. Alessa alterou alguns dos costumes deles sem querer, então pode ser que mais “mudanças” tenham que ser impostas por aqui. Também tem o fato de que ela finge não conhecer o idioma local, podendo obter informações que os vampiros daqui não iriam gostar dela ouvindo. E eu não sei se devemos colocar inimigos externos dentro desse cálculo.
– Em poucas palavras: você está nos dizendo para conseguirmos mais informações deste lugar, com a ajuda da Alessa, para só depois começarmos a agir? É isso o que eu entendi?
– Obter mais informações antes de começar a agir é algo difícil para o líder da Sombra?! – Nevra não respondeu à provocação do Lance, apenas se manteve indiferente e calado.
– De qualquer forma,... – eu rompia o silêncio – ...o que sabemos ainda é pouco. Lan levantou alguns pontos interessantes e que devemos dar atenção. Nevra, dê um jeito de confirmar com o Chrome se ele de fato consegue recriar a poção que foi utilizada com os humanos em Eel.
– Já vou deixando claro que eu não tinha ideia do que estava fazendo!... – me interrompia a Cris.
– Compreendemos. Mas nada a impede de fazer aquilo de novo se vier a ser necessário mais uma vez. – a Cris me pareceu desconfortável com o comentário de Nevra.
– Se por acaso você não conseguir repetir aquilo, Cris, nós daremos um jeito de uma maneira ou outra. Então não se preocupe ainda.
– Tudo bem, Leiftan... Mais alguma coisa?
– Na verdade sim. Voltando ao que eu dizia, Nevra, depois de conversar com o Chrome, mesmo que ele diga não ser capaz disso, faça com que ele e a Karenn deem um jeito de se aproximarem da Alessa. Sei que vampiros são péssimos alquimistas, mas parece que a Alessa pode ser enxergada como uma ótima. Por isso duvido, que o laboratório utilizado por ela não seja o melhor que há disponível por aqui.
– Conversarei com os dois ainda hoje. Quero dizer, isso se os dois já não tiverem desmaiados na cama. Está bem tarde agora!
– É melhor irmos logo dormir... – Lance se espreguiçava – Esse povo acorda cedo e os nosso aengels terão treino logo pela manhã. Quando estivermos melhor informados, retomamos as questões sobre o que fazer. Vem comigo, Ladina? – convidava-a ele, lhe estendendo a mão.
– Não sei se conseguirei dormir direito, mas estou mesmo um pouco cansada.
– Você não é a única, Cris. A historia da Alessa acabou com o meu emocional. Temos mesmo que fazer o treino logo de manhã, Leiftan?
– Prometo pegar leve com vocês duas, Erika, mas nós temos que treinar o poder de luz de vocês. Sorte nossa a Cris ser rápida em aprender, ou ela estaria muito mais do que atrasada se comparada a você.
– Aquela bola que ela purificou merece os créditos. Depois que a Cris concluiu aquela coisa, seu controle sobre os seus poderes deram um grande salto. – declarava o Lance antes de deixar a barreira – Boa noite para todos vocês.
– _respira fundo_ Vamos nos recolher também. Nevra, não deixe de fazer o que pedi na primeira chance que tiver. E Erika, deixe que eu mesmo repasso tudo para o Valkyon. Pode ir direto dormir, se quiser.
– Ok.
Rompi a barreira e nos retiramos do quarto pelas passagens de Absol. Chegando em meu quarto, Erika, que bocejava cobrindo a boca, foi direto para a cama, e o Valkyon, que parecia estar meditando ao entrarmos, não perdeu tempo em nos notar.
– Vocês demoraram. Deu tudo certo? E o que conseguiram? – me perguntava ele em voz baixa. Repassei-lhe o resumo de tudo, pois eu também precisava dormir – Parece que Yaqut será tão complicado quanto foi Lund’Mulhingar. Sou só eu ou você também acha que o Nevra está um pouco apressado para sairmos daqui?
– Eu esperava que ele fosse o mais sensato entre nós, mas parece que as emoções dele estão tentando lhe atrapalhar o raciocínio. Espero que isso não nos venha a ser um problema.
– Ele só precisa de um tempo. Ele tem motivos tanto para ficar, quanto para correr de Yaqut. Conversei muito com ele durante o percurso do deserto.
– Mas ele precisa se focar depressa no dever. Se puder conversar com ele enquanto eu treino a Cris e a Erika, eu agradeço.
– Farei isso e... – ele encarava a cama, onde a Erika já dormia no meio da cama – Melhor nos deitarmos...
(Acredite Valkyon, eu também queria me deitar sozinho com ela.)
.。.:*♡ Cap.162 ♡*:.。.
Chrome
Eu andava de um lado para o outro dentro do quarto, enquanto a Karenn lixava, despreocupadamente, as suas unhas.
– Como consegue ficar tão calma, Karenn? Nem parece você!
– Chrome, Chrome... Meu lobo querido... Você está muito enganado! Acha mesmo que eu já não olhei pelo menos umas dez vezes para esses portais de umbracinese? Estou apenas tentando ocupar a cabeça para não pular ali.
– Nevra está demorando. Será que eles conseguiram convencer a tal moça?
– Pelo plano que o Leiftan fez, aquele guerreiro parece ser muito bom de lábia. Não sabemos a quanto tempo que aquela mulher está aqui, então também não sabemos se ela tem muito, ou pouco, para nos contar. O meu desejo é que ela possa nos ajudar a sairmos de Yaqut mais rápido.
– Pensei que estivesse feliz em rever a sua mãe.
– Convenhamos, está na cara que ela não aprova muito o meu companheiro, e, ao que pude notar, nem o meu estilo. Ela está sendo gentil conosco, mas acho que é apenas para evitar atritos com o meu pai e os demais vampiros.
– Mesmo que ela venha a ser a mais chata do mundo, tente aproveitar a presença dela enquanto pode. – acabei por comentar, e ela me encarou de início espantada, para depois com compaixão.
– Te compreendo, meu lobo. Queria eu que ela lhe pudesse ser uma sogra melhor.
Apenas lhe assenti em silencio.
Continuamos assim, calados, por mais um tempo. Não sei ao certo quanto tempo, mas para tentar enganar a ansiedade, resolvi falar com a Karenn outra vez – E aquele seu plano para convencer o Nevra de lhe deixar efetuar missões SS? Como anda?
– Muito bem, até o momento.
– E eu não posso mesmo saber o quê você está fazendo? Mesmo já tendo lhe ajudado não sei quantas vezes, com não sei o quê que você fez?
– Sem ofensas, meu lobinho. Às vezes você tem a língua mais solta que eu, e quanto menos gente souber o que estou tramando, maior será a minha satisfação ao ver a cara de Nevra depois de lhe provar que eu SOU SIM de confiança para missões de último nível.
– É que eu estou preocupado! E se alguma coisa do que está fazendo der errado?
– _risadinha_ Não vai. Eu tenho certeza disso.
Acabei por respirar fundo, rezando aos Oráculos para que ela estivesse certa. Nem quero pensar no que pode acontecer a ela se o que ela tanto planeja falhar. Acho que passou-se uns dez minutos...
– Ainda acordados?!
– Nevra! – falamos juntos ao vê-lo, e nos colocando de pé também.
– Vocês demoraram, Nevra. Conseguiram falar com a moça?
– Se sim, o que vocês falaram? – completava eu a pergunta da Karenn.
– Sim, conseguimos. E a historia dela não foi nada pequena... – Nevra começou a nos repassar tudo, inclusive as decisões tomadas por enquanto – O que acha, Chrome? Você consegue recriar a poção que a Cris modificou para usar nos humanos?
– Se for para eu depender do meu olfato, sim. Ezarel vivia me expulsando do laboratório, e a sua última tentativa, a que foi utilizada pela Cris, foi a única poção que conseguir acompanhar do começo ao fim. Mas eu quase não consegui ver tudo o que ele utilizou! Por isso dependo do olfato. Só memorizei os cheiros do que foi usado, e do resultado de cada uma das combinações efetuadas.
– _suspiro_ E ainda há o problema de haver ou não todos os ingredientes necessários... – adicionava a Karenn ao problema.
– Tente, Chrome. Pelo menos tente recriar aquela poção. E Karenn, contando com a possibilidade de Alessa estar presente no laboratório, queremos que você consiga mais informações com ela. A menos que você tenha conseguido ensinar o árabe para o Chrome!...
– Não. Não consegui. Parece que o árabe não é um bom idioma para o meu lobo... Mas pode contar comigo para fazermos dela, uma aliada!
– Muito bem. Melhor descansarmos um pouco agora. Especialmente você, Chrome! Já que não é um vampiro.Agýrtis
Minha vida nunca foi fácil, mesmo com toda a minha resistência ao que for. Mas eu nunca pensei que o meu encontro com aquele ornak, pudesse me resultar em uma experiência tão diferente.
Eu apenas perambulava sem rumo, como já fazia a alguns poucos anos, desde que a senhora que assumi o lugar pela última vez, havia descansado. Aquele mascote egoísta... Se ele tivesse me ignorado e me deixado seguir o caminho que fazia, nenhum de nós teria caído naquele rio. Era de se esperar que ele não conseguiria ter a mesma sorte que eu, no que se refere à sobrevivência.
Me deixar ser levado pelo rio, era uma forma de se seguir o fluxo do destino. Por isso não me impressionei quando minha telepatia começou a funcionar outra vez.
Foi fácil notar que a voz pertencia a um macho, e ele não parava de chamar pelo nome de uma fêmea: Hipodâmia. Encontrei-o fácil. Um centauro caído e com um galho lhe atravessando a barriga. Não sei dizer quem é que estava tendo mais sorte: ele, pelo galho não ter lhe atingido qualquer ponto vital, de acordo com o meu exame; ou eu, que por meio dele, poderia dar uma pausa em minhas perambulações.
Eu também podia tê-lo deixado morrer, por conta de todos os riscos que estaria colocando para mim mesmo, mas ele parecia tão desesperado pela tal Hipodâmia, que acabei nos ligando. Penetrei-lhe o corpo para remover o galho e fechar a ferida. Mergulhei minha mente até o mais profundo do subconsciente dele e nos liguei. Enquanto coletava todas as informações de que necessitava, fui construindo ao nosso redor um abrigo confiável.
Terminado de conhecer o Damon (e quase me arrependendo de minha decisão), deixei o abrigo através de suas frestas e assumi a forma do centauro. Como em todas as outras vezes, escondi minha existência no mais profundo de meu consciente, permitindo-me virar apenas um observador, para que o Damon pudesse “continuar sua vida”, usando o meu corpo. Com eu visitando o seu corpo verdadeiro, noite sim, noite não, para lhe garantir a sobrevivência enquanto dormia. Conferindo e garantindo que não lhe faltasse nem agua, nem comida, nem calor, nem nada.
A condição de Hipodâmia, a mulher que Damon ama em segredo desde quando eram crianças, me pareceu ser uma ameaça contra mim. Nunca conheci ninguém como ela em todos os meus séculos de existência. E aquele ornak tolo tinha de envenenar toda a vila?!
Como o corpo usado por Damon era o meu, o veneno não nos era nenhum problema, mas precisava “sussurrar-lhe” para tomar cuidado. Garantir que ele não fizesse nada que poderia me expor. Houve vezes que eu precisei lhe assumir o controle (deixando um vácuo em sua memória) para impedi-lo de fazer algo errado, ou até mesmo para que eu pudesse cuidar de seu corpo verdadeiro. Sem falar que, como sua “consciência”, sempre o convencia a não utilizar a pedra que ele recebeu do elfo que toma conta de Hipodâmia.
A escassez de mantimentos por conta do envenenamento, era um problema. Garantir a sobrevivência de Damon era a minha única prioridade, por isso não tive nenhum remorso em roubar a gema de memória de Hipodâmia quando ela me flagrou. Foi em respeito aos sentimentos de Damon, e à própria condição especial dela, que eu apenas a deixei inconsciente. Se não fosse por isso... Yah-navad’y iria ficar sem a sua curandeira.
A condição estava realmente crítica para aquela gente, ou o líder deles não cederia a pedir ajuda de gente de fora. Fiz o que pude para evitar erguer desconfianças. Inclusive forçar o Damon a manter distância do grupo que veio em resposta ao pedido. Mas mesmo que eu quisesse, eu não podia impedi-lo de ir atrás de Hipodâmia...
Eu sabia, sabia que a mudança de comportamento dela para com o Damon, depois de lhe ter assumido o lugar, iria ser um problema. Damon não reparou, mas eu notei claramente a expressão de confusão da mulher que almoçava junto com a curandeira.
Pretendia fazer com que Damon ficasse o maior tempo possível sem ver a Hipodâmia outra vez, enquanto aquele grupo de investigadores continuasse na vila, mas ele tinha que ter visto a sua amada antes de ir para cama... Logo depois de tê-lo feito ficar exausto a noite inteira...
Se não fosse por aquela armadilha... Talvez ainda pudesse me esconder por mais tempo. Para proteger a sanidade de Damon, e consequentemente a minha, o fiz “dormir” e lhe assumi o lugar naquele interrogatório. Não demorou para que eu e Hipodâmia não fossemos mais os únicos. Sentir o choque de algo mexendo em minha ligação com o Damon foi totalmente inesperado. Eu praticamente me entreguei, quando implorei para que não fôssemos separados! E pro meu azar, um dos investigadores parecia saber sobre minha espécie.
Já estava aceitando a morte. Porém, o inimaginável aconteceu. Minha ligação com Damon foi desfeita, SEM a presença da morte. Como eles conseguiram?
Como ainda tinha a gema que roubei, pensei em usa-la para negociação. Não era a primeira vez que era capturado sem estar ligado a ninguém. Assim como também me lembro de todas as torturas que suportei, mesmo não sendo tecnicamente ferido. Ainda bem que os forasteiros aceitaram conversar e negociar. Mesmo com alguns tendo as suas objeções.
Eu não esperava... Não esperava me encontrar com alguém como a Cris em nenhum momento de minha longa vida. Ela era tão curiosa e compreensiva ao mesmo tempo, que cheguei a pensar que estava sonhando. Não pensei duas vezes em me oferecer como seu servo se ela pudesse me ajudar.
Entreguei-lhe a gema memorial, e fui levado por umbracinese até o quarto dela. Chegando no quarto, me surpreendi de novo. Era enorme! Grande o bastante para caber até um titã! Comecei a explorar o lugar para ver o que podia ou não estar fazendo enquanto minha “mestra” não retornava.
O quarto em si, não precisava de nada. Parecia que alguém o visitava de vez enquanto. O jardim estava bem cuidado, parece que alguém o regou recentemente. Observando os ovos, que eram muitos, pude notar que alguns deles eclodiriam por conta própria dentro de dois ou três meses (preciso avisá-la para que os choque, ou doe, antes que isso aconteça). As barreiras existentes aqui também são muito boas! Elas não conseguiram me ferir, mas me repeliram totalmente.
Imaginei que alguém fosse aparecer para me interrogar, no mínimo, uma vez que a Lys havia dito que mandaria uma mensagem falando de mim para os responsáveis daqui. Mas só me foi aparecer alguém na porta, no dia seguinte. E quem apareceu, não quis entrar. Talvez a pessoa esteja com receio de falar comigo, pois passaram-se alguns dias, seguidos, com alguém se aproximando da porta, às vezes, até mexendo na maçaneta, mas ninguém entrando. Isso, até uma certa noite!
Kaspersky’s não se cansam. Desde que não estejamos assumindo a identidade de ninguém, podemos passar anos trabalhando sem pausa, que não ligamos. Por isso eu não tinha qualquer necessidade de dormir à noite. Ou seja, eu estava muito bem desperto quando resolveram visitar o quarto tarde da noite... Usei minha telepatia para conferir as intenções da mulher que entrava.
(“Finalmente! Sabia que ficar de olho na Miiko para conseguir essa chave era uma ação muito mais inteligente do que ficar perseguindo a Lys de cara.”) Perseguindo a Lys? (“E também...”) Ela encarava a cama. (“Sabia que essa historia dela estar confinada em seu quarto, fazendo um novo treinamento de luz, era a mais pura lorota. Não duvido nada que ela tenha dado um jeito de partir, junto do grupo de Valkyon. Aquele black-dog é mesmo uma dor de cabeça...”) Cada vez gostava menos do comportamento daquela mulher, por isso aproveitei que não tinha sido visto ainda, e movi-me discretamente para detrás dela. (“Mas agora não é hora disso. Preciso me apressar em investigar esse lugar para devolver a chave, antes, que alguém perceb...”) Agarrei-a por trás, bloqueando-lhe a respiração do mesmo jeito que fizera com Hipodâmia.
Por hábito, depois de a ter deixado inconsciente, eu comecei a lhe verificar a condição física, e me deparei com algo estranho dentro de um de seus pulmões. Com cuidado para não lhe bloquear a respiração, penetrei-lhe o esôfago e alcancei o objeto, removendo dela em seguida. Analisava o objeto ainda, quando comecei a ouvir algo vindo do corredor.
– Me solte sua peste! Pare de ficar me arrastando e me deixe voltar pro laboratório! Ah!... Quando o Christiano resolver dar as caras em Eel outra vez... Ele vai ouvir poucas e... – a porta do quarto, que estava só encostada, foi aberta de supetão por um fenrisulfr que arrastava um homem – Mas o quê...???
– Me diga, senhor. – ignorava o espanto dele – É comum dentro da Guarda, seus membros carregarem veneno dentro do corpo? – questionei-o no mesmo instante que compreendi o quê que era o que eu havia retirado daquela mulher. E ele me pareceu ainda mais surpreso.
– Veneno?? Dentro do corpo dela?! Me explique o que está acontecendo. – meio que me exigia ele. Expliquei-lhe tudo. E logo compreendi que ele se tratava de um elfo (elfos não suportam bem o timbre dos kaspersky’s). Mesmo com minha explicação concluída, ele permanecia chocado – Inacreditável... E como é que você se chama mesmo?
– Agýrtis.
– Certo, Agýrtis. Vou pedir-lhe que me ajude a levar esta mulher até um certo quarto, e depois retorne para cá, mantendo a porta trancada. E depois que amanhecer, irei voltar aqui acompanhado, para conversar novamente com você. Pode fazê-lo?
– Não vejo porque negar-me.
– Ótimo. Me acompanhe então.
Segui o elfo, carregando a mulher. O fenrisulfr sumiu. Descemos a torre inteira e mais um pouco, com eu retornando ao quarto da Cris em seguida. Algumas horas depois de clareado o dia, eu finalmente conhecia os responsáveis dessa Guarda.Cris
Acordei sozinha. Sonhei vivenciando uma mistura das historias de Alessa e Hipodâmia (como será “reassistir” esse sonho?). Mal comecei a me erguer da cama, e eu já via a Erika e o Valkyon usando os portais de Absol. Erika bocejava, enquanto Valkyon parecia estar bem desperto.
– Bom dia para vocês dois. Ei, Lance. – começava a mexer nele – Acorda. Está na hora.
– Sonhou com alguma coisa interessante para já estar desperta?
– Mais ou menos. Mas nada que possa nos ajudar, pelo que me lembre. Vai, levanta aí! Seu irmão já está aqui para te buscar.
Ele respirou fundo e se ergueu num pulo. Desfez a barreira à nossa volta enquanto esfregava o rosto, e começou a vestir a armadura. Erika, ainda sonolenta, me ajudou a cuidar da cama para nos arrumarmos em seguida. Valkyon e Lance não demoraram em se retirarem, e se eles tivessem demorado mais cinco minutos... Mas já estão nos batendo à porta?!
– Pois não? – atendia a porta, e era o assistente de Kellinroe.
– Vim chamar todos para o café, e conferir com o Leiftan, qual local ele escolheu para o treinamento de vocês duas.
– Certo. Pronta aí, Erika?
– Sim. Pronta sim. Vamos indo?
– _engole seco_ Vocês... Podem ir batendo na porta da senhorita Karenn enquanto chamo os homens. – e correu para a porta do lado (eu fiz alguma coisa para deixa-lo nervoso??).
Depois de chamarmos todo mundo, nos dirigimos até a mesa com o Leiftan e o homem conversando pelo caminho (pelo o que entendi, Leiftan optou por escolher um lugar fora da segurança dos Bertoldo). Na mesa, outra vez o Kellinroe se fez ausente na refeição.
– Mãe, a senhora sabe me dizer se o meu lobo pode utilizar o laboratório de alquimia? Aqui ainda há um laboratório, não é? – (???).
– Sim, ainda há. Mas para quê o querem?
– Nós acabamos consumindo todas as poções que havíamos trazido durante a travessia do deserto. – falava o Chrome – Então, para aumentarmos nossas garantias durante a volta, pretendo criar novas. Isto é, se me for possível.
– Compreendo. Bom, modéstia à parte, nós temos o melhor laboratório de Yaqut. Conversarei com a responsável, se seu pedido é admissível. E Lys, querida, onde é mesmo que você estará fazendo o seu... treinamento?
– O senhor Leiftan optou por usarem a Clareira Coberta. Irei deixa-los lá, para eu poder servir o mestre Kellinroe, e mais tarde irei busca-los. – explicava o Haidar.
– A Clareira Coberta... Esse é mesmo um local bem amplo e iluminado. Espero que não tenham nenhum tipo de problema durante o treinamento de vocês.
– Também desejamos isso, senhora. Cris? Erika? Eu já terminei de comer, e vocês?
– Mas já? – me preocupava – Você não vai “acabar” com a gente, vai, Leiftan?
– Cris... Deixe de preguiça! Erika?
– _suspiro_ Também já acabei... Mas espero que você nos cumpra a promessa de ontem!
– Antes que saiam: Nevra, você e o... Valkyon, certo? – meu chefe assentia – Muito bem, você e o Valkyon serão os únicos a ficarem. O que pretendem fazer nesse tempo?
– Não temos certeza, Maora. – argumentava o Nevra – Nós dois pensamos em reunir tudo o que sabemos e que observamos, para tentar entender o motivo de precisarmos estar aqui. Sabe me disser se Kellinroe ainda está no escritório? Pode ser que nós dois encontremos uma pista por lá. Mas claro, não pretendemos entrar lá sem companhia de algum residente.
– Acredito que ele esteja tratando de negócios neste momento. Fora do escritório. Espere eu ver a questão do laboratório primeiro, aí eu mesma irei lhes fazer companhia no escritório. Tudo bem assim, meu filho?
– Não vejo nenhum problema. Valkyon?
– Não. Podemos ficar aguardando aqui, inclusive. – Maora apenas assentiu como resposta.
– É melhor nos apressarmos. – declarava o Haidar, já se erguendo e com o Leiftan se erguendo junto – Quanto mais breve vocês puderem começar, melhor.
– Ok, né! Se não tem jeito... – deixei escapar ao me levantar. Com a Erika soltando outro suspiro e o Lance em silencio, ao se levantarem.
– Muito bem. Karenn, meu amor, você poderia ficar aguardando com o lobisomem por aqui enquanto eu converso com a nossa alquimista?
– Tudo bem, mãe. Leve o tempo que precisar.
Por exceção de Chrome, Karenn, Nevra e Valkyon, todos nós nos levantamos e seguimos nossos caminhos.Alessa
A conversa que tive com aquelas pessoas, realmente me fez bem. Mesmo caindo no sono durante a vigília, eu não me sentia nada cansada. Ainda mais tendo adormecido com aquele “escudo” em ação.
Geralmente, quando eu faço isso, dormir com ele ativo, me faz acordar parecendo que eu corri uma meia maratona. Mas eu estava totalmente disposta! Eu não sei o quê foi que aquela moça fez comigo, mas nunca me senti tão bem. E também... Bom, eu voltei a sonhar com a voz de minha mãe, mas, diferente de TODAS as outras vezes, a minha mãe me pedia algo diferente! “Filha, confie nessas pessoas!” Essa foi a mensagem que escutei dessa vez.
Enquanto eu trabalhava na produção de mais sheik no laboratório, eu ficava meditando essa mudança. Será isso um reforço para eu ajudar aquele grupo no que me for possível? Ou de apenas não denunciar coisa alguma que eles venham à fazer, para o pessoal daqui?
– Alessa? – levei minha mão ao meu crucifixo assim que ouvi a voz de Maora (fazer isso toda vez que escuto alguma voz se tornou um hábito vicioso).
– Po-pois não? – meu italiano tremia.
– Desculpe assusta-la. Está muito ocupada?
– Mais ou menos. Estou produzindo mais sheik para fazer novas coletas depois. Há algum problema?
– Ainda bem que mudamos nossa forma de obter o sangue. – comentava ela em árabe – A nova remessa está muito atrasada.
Apertei ainda mais a minha cruz ao ouvi-la – Perdão? – questionava em italiano.
– Não é nada. – Maora retomava o italiano – Mas, me diga, Alessa: você se importa de dividir o laboratório com outra pessoa, hoje?
– Outra pessoa?
– Sim. O alquimista que faz parte do grupo de meus filhos, deseja poder fazer algumas poções para quando partirem. Acaso você se importa?
(“...confie nessas pessoas!”) – Não. – respondi com a mensagem de minha mãe se repetindo em minha cabeça – Não vejo problema. Quero dizer, se ele não for um vampiro. Ele é?
– Não. Meus filhos são os únicos vampiros do grupo deles. Seu alquimista é um lobisomem. Vou busca-lo para que possa conhecê-lo. Aguarde um momento.
– Tudo bem. – respondi com Maora já se retirando.
Retomando o meu trabalho enquanto esperava, eu fiquei pensando: será que de fato essas “poções” existem? Ou será uma desculpa daquele grupo para conseguirem falar comigo? Não posso negar que o uso do laboratório seria uma boa desculpa para nos falarmos, no entanto... O Lan não havia dito que ele era o único que conhecia italiano?
– Alessa? – Maora retornava acompanhada de um homem de cabelos negros, orelhas e cauda caninas, e de uma mulher de cabelos cor-de-rosa, olhos verdes e roupa chamativa – Este é o alquimista de que falei, Chrome. E essa outra é a minha filha, Karenn.Chrome 2
Depois que a Maora se retirou, ficando só alguns dos nossos, e a Karenn me confirmando que não havia ninguém de butuca na gente, resolvi questionar em voz baixa (por garantia).
– Procurar “pistas”, Nevra? O quê exatamente está planejando?
– Quero conferir sobre os efeitos que Yaqut sofreu durante o período da Guerra do Cristal. Essa gente pode ainda não ter o hábito de registrar a historia, mas Kellinroe sempre foi meticuloso em relação aos negócios. Duvido que ele não tenha registros completos sobre tudo o que foi consumido/adquirido durante aquele período.
– Ou seja... Se aquilo que a Cris precisa estar resolvendo por aqui tiver alguma relação com o que aconteceu na época, esses registros serão a nossa base.
– Exatamente, Valkyon. E de quebra, como eu não creio que essa gente prefira desconfiar mais dos outros do quê de mim, ainda mantemos a atenção desse povo no escritório ao invés do laboratório. Mas vocês ainda terão de ficar atentos aos transeuntes dos corredores!
– Pode deixar, irmão. Ficarei totalmente de vigia neste aspecto. Eu só espero que o laboratório tenha tudo de que necessitamos.
– Se não tiver para a poção de memória, espero que ao menos tenha para poções de revitalização. Estamos realmente um pouco escassos delas.
– Façam aquilo que puderem, vocês dois. Se não fosse pelo o nosso acordo mútuo de nunca deixar um de nós “sozinho”, eu teria acompanhado a Erika e os outros.
– Desculpe ser o seu estraga-prazeres, Valkyon. Mas às vezes, um leigo acaba percebendo coisas, que até os especialistas acabam ignorando sem perceber. Ter você do meu lado pode acabar sendo útil.
– É o que descobriremos... – pobre Valkyon... Mas eu também ficaria meio assim se estivesse no lugar dele.
– Desculpem a demora. – Maora retornava – Nossa alquimista aceitou, sem nenhum problema, compartilhar o laboratório. Queira me seguir por favor, senhor Chrome.
– Eu vou junto também.
– Não vejo necessidade, filha. Acaso não confia no seu _pigarro forçado_ companheiro?
– Não é isso. No Chrome eu confio de olhos fechados. É em possíveis vampiros ressentidos que eu não confio.
– Ok... – essa senhora realmente não gostou da ideia de me ter como genro... – Eu... Compreendo. Nevra, meu filho, por favor aguarde mais um pouco por aqui. Para que eu possa lhes fazer companhia no escritório.
– Tudo bem, Maora. E melhor assim, pois posso ter perguntas.
Maora apenas assentiu e chamou a mim e à Karenn para a seguirmos. Durante o caminho, ela foi nos explicando que a única alquimista que vivia na casa não falava o mesmo idioma que nós, e que ela não era uma vampira. Por isso, não era para nós nos preocuparmos caso ela se mostrasse desconfiada em relação a nós.
– Alessa? – Maora chamava assim que abriu a porta – Questo è l'alchimista di cui ho parlato, Chrome. E quest'altra è mia figlia, Karenn. – vixi! Ainda bem que ela finge não saber o árabe.
– Benvenuto, penso. Qualcuno di loro capisce l'italiano? – e essa é a Alessa (se aqui dentro estivesse escuro, eu teria dificuldades em distingui-la).
– Sfortunatamente no. Ma non preoccuparti. Nessuno di loro si metterà sulla tua strada. – Maora se voltava para nós – Irei deixa-los com ela agora. Karenn, tem certeza que quer ficar?
– Tenho sim, mãe.
– Tudo bem. Como sabem, estarei no escritório com o seu irmão e o seu outro amigo. Qualquer problema, é só me chamarem.
– Lhe agradecemos muito. – falamos eu e a Karenn juntos.
Maora se retirou e esperamos não ouvir mais passo algum pelo corredor. Alcançado o “silencio”, Karenn começou a puxar conversa com a Alessa em árabe (idioma mais difícil de aprender... Até parece que está falando com a língua enrolada!), e eu me aproximei dos materiais presentes me recordando dos cheiros de cada ingrediente usado por Ezarel. Felizmente para mim, não só encontrei todos eles, reunindo-os em uma parte da mesa, como também encontrei ingredientes para as poções de revitalização de que poderíamos vir a precisar na volta.
.。.:*♡ Cap.163 ♡*:.。.
Alessa
– Bem-vindos, eu acho. – cumprimentava aqueles dois, mas... – Algum deles entende italiano? – questionei, com o “lobisomem” não parando de me encarar.
- Infelizmente não... – então o Lan falou mesmo a verdade...
Ouvi a Maora terminar de falar com eu retomando o meu trabalho, e observando, dentro do possível, aqueles dois enquanto Maora terminava de lhes falar.
Mal a Maora terminou de fechar a porta e, tanto a mulher quanto o lobisomem grudaram uma das orelhas na porta. (O que está acontecendo exatamente?) Eu até tentei voltar a me concentrar no que fazia, mas não conseguia tirar os olhos deles. (Será que eles realmente desejam usar o laboratório?)
– É... Parece que agora já é seguro falar. – declarava a moça, em árabe – Muito bem, Alessa. Acaso conversar um pouquinho comigo irá atrapalhar o seu trabalho? – acabei por morder os lábios, observando o lobisomem se aproximar das prateleiras, e pegar o que queria após averiguar o cheiro – Não se preocupe com o Chrome. Ele realmente tem trabalho por aqui e... Você sabe que vampiros tem excelente audição? E meu irmão, o Nevra, já nos repassou a sua historia. Se ainda tem receio de conversar comigo, você pode apenas sussurrar, para que eu seja a única a lhe ouvir falando em árabe. Só peço que não se assuste se por acaso eu aparecer de repente diante de você e lhe tampar a boca! – (me tampar a boca?!) – É que eu tentarei me manter na porta para o caso de alguém aparecer nos corredores lá fora...
(“...confie nessas pessoas!”) Acabei respirando fundo ao me recordar mais uma vez das palavras de minha mãe em meus sonhos – Está certo... – sussurrava – Mas agradeceria se evitasse de me assustar, como acabou de me alertar.
– Farei o que eu puder. – declarava ela em um tom baixo, mas audível para mim – Tudo bem se me responder algumas perguntas? Nem tudo o que meu irmão nos repassou, esclareceu alguns detalhes.
– Por exemplo?
– Há quanto tempo você e os outros estão em Yaqut?
– Não tenho muita certeza, mas acho que algo próximo de meio ano, segundo o calendário romano.
– E quanto que isso seria em dias, mais ou menos?...
– O calendário romano conta com 365 dias, divididos em 12 meses, sendo que a cada quatro anos recebe um dia a mais.
– Ou seja, você e os seus colegas estão aqui já faz pelo menos uns 170 dias... Quantos novos grupos de humanos chegaram depois de vocês? – (Novos grupos?).
– Depois de nossa chegada, nenhum novo humano foi enviado.
– COMO?! – se exaltava ela um pouco, surpresa pelo o quê eu disse e cobrindo a própria boca enquanto conferia possíveis passos no corredor – Tem certeza do que está me dizendo?? NENHUM novo humano apareceu depois de vocês, nesse tempo todo?! – retomava ela o controle da própria voz.
– Sim. Qual é o problema nisso? E... Pensando bem, antes da Maora sair para buscar vocês, ela comentou algo sobre: “a nova remessa estar muito atrasada”... Quantos humanos mais já deveriam ter sido enviados para cá, depois de nós?
– Bom. Mesmo quanto mais nova, eu nunca fiquei muito por dentro dos “negócios” de meu pai, mas... Pelo tempo que você disse já estar aqui, era para eles estarem aguardando pelo menos por um segundo grupo de humanos.
(SEGUNDO?!?!?).Cris
– Muito bem. Para o treino de hoje, vou querer que cada uma das duas, crie e manipule a luz de vocês como objeto físico. Mas! Ao invés de vocês fazerem isso com um objeto, terão de fazer com três!
– É o QuÊ!?
– Tá de brincadeira com a gente!?
– E mais um detalhe: os três objetos precisam ser diferentes!
– Ahfh!...
– Não foi isso que você me prometeu, Leiftan!
– Erika, eu disse que iria pegar leve. Não que lhes daria um treino fácil. A manipulação de três objetos diferentes, criados por vocês com luz, é tudo o que lhes pedirei para fazerem. Querem mais tarefas além desse pequeno desafio?
– Não mesmo, Leiftan. – o quê que o Leiftan tem na cabeça? Durante o nosso caminho até chegarmos naquela cavidade ampla e iluminada, o daemon se recusou a nos disser o que faríamos no treino de hoje, mantendo um sorriso indiferente no rosto. E ele nos joga ISSO na cara?! – Isso aí que está nos mandando fazer já é sacanagem suficiente para um dia. – mas eu acho que ele acabou me deixando algumas brechas...
Erika e eu nos sentamos no chão, emburradas, para começarmos a nos concentrar. Eu respirei bem fundo de olhos fechados para escolher o quê criar. Criei três flores que lembravam lírios.
– Cris, sem trapaças! Eu disse três, objetos, DIFERENTES!
– Mas as minhas flores estão diferentes! – me defendia – Uma está de ponta cabeça; uma está inclinada para a esquerda, e outra está inclinada para a direita!
– E apesar das diferentes posições, as três, estão fazendo as mesmas coisas, não é verdade?...
– E acaso acha que é fácil fazerem elas mexer as “mesmas pétalas” estando em posições diferentes? – comecei a gira-las. Cada flor em volta de si mesma, e todas juntas em circulo. Como um “sistema solar” de três flores.
– Cris... Queria eu ter a mesma imaginação que você... – declarava a Erika que vi estar tentando manter uma esfera, uma pirâmide e um cubo sob controle.
– Não é surpresa alguma que a Cris tem uma imaginação admirável, mas isso não é desculpa para trapacear em meus treinos.
– Dê uma colher de chá para ela, Leiftan. _riso_ O que ela está fazendo, é difícil até para você. – me apoiava o Lance.
– Eu não acho... – declarou ele fazendo o mesmo que eu, só que com sombras, mais facilidade, e sorrindo meio maldoso.
Acabei torcendo o “bico” pro lado com o que via, desfazendo as minhas flores no ar. Erika acabou fazendo o mesmo com os blocos dela. Como se ela os estivesse jogando para o alto, em total desistência.
– Quem disse que vocês podiam fazer os seus objetos sumirem? E Cris, se você quer mesmo insistir com as suas flores, pelo menos se baseie em espécies diferentes. 100%, diferentes.
Ainda me sentia um tanto irritada com a facilidade apresentada pelo meu “professor”. Acaso ele tinha consciência do esforço que tinha feito para conseguir me concentrar como queria com os meus “lírios”?!
Mudei minha estratégia. Ao invés de um “sistema floral”, criei um buquê. Leiftan me pareceu querer reclamar de novo, mas, como comecei a brincar de cirandinha com a minha rosa, minha margarida e a minha tulipa, acho que ele esperou pra ver se realmente estava repetindo o de antes ou não.
Aquilo era um pouco cansativo. E não sei se a Erika retomou os blocos, ou se mudou de itens como eu. Fazia o que dava para brincar com elas, sem permiti-las desaparecerem (o que quase aconteceu uma vez).
– Já chega. – ouvia o Leiftan declarar, com Lance colocando uma mão em meu ombro para chamar-me a atenção. O Leiftan fazia o mesmo, só que com a Erika – Vamos fazer uma pausa. Ou vocês duas vão acabar desidratadas de tanto esforço.
– É o quê?! – acabei levando a mão até minha têmpora, e quando foi que fiquei com a cabeça molhada daquele jeito?? – Não imaginei que esse treino estava cobrando tanto assim da gente...
– Me diz que essa pausa inclui uma soneca de meia hora. – Erika se deitava para trás, no chão – Tu, se, su-pe-rou, Leiftan...
– E eu que achava a Cris exagerada... – comentava o Lance, que negava com a cabeça, enquanto se aproximava de um cesto que... Quando foi que ele surgiu ali? – Acho melhor vocês duas fazerem um lanche e tomarem um pouco de agua. Você prefere doce ou salgado, Cris?
– Você sabe muito bem qual é a resposta, Lan.
Um pequeno riso lhe escapava enquanto ele pegava não sei o quê para mim. Leiftan se juntou a ele, para pegar o da Erika, muito provavelmente. Como eles pareciam querer começar a discutir alguma coisa, resolvi levantar para buscar o meu lanche.
– Sangue...
– Como? – questionei ao ouvir uma voz baixa.
Foi muito rápido. No que eu virei para trás, um homem que não me parecia bem, me encarava. Mal pisquei um olho, e ele estava diante de mim, me agarrando pela roupa. E piscando outra vez, o mesmo homem estava se chocando contra a parede, igual havia acontecido no jantar de anteontem. Ou quase. Ele estava demorando para se erguer.
Ainda sem entender bem o que havia acontecido, vi o Leiftan impedindo o Lance de se aproximar, furioso, daquela cara.
– Fique com a Cris. Eu mesmo irei verificá-lo.
– É bom que esse cara tenha uma boa desculpa, ou estará morto!
Leiftan seguiu em direção do homem, e Lance se colocou do meu lado. A Erika se ergueu do chão e se juntou a mim. Leiftan o examinava com cuidado, medindo o pulso e conferindo até os seus olhos.
– Acho que você não vai poder culpar as ações dele, Lan. Este homem está debilitado!
– Como assim “debilitado”? – retrucava o Lance.
– Sedento. – esclarecia ele, encarando à mim e à Erica _engole seco_ – O cheiro delas deve ter o atraído sem querer.
– Tá, mas, o que a gente faz agora?! – questionava a Erika – Porque ele ficou assim? E ele é o único a estar assim??
– Espero que não seja o caso de uma Lua de Sangue... – resmungava o Lance, me fazendo lembrar de tudo o que eu tinha ouvido o Nevra dizer do meu sangue.
– Não sei como responder suas perguntas, Erika. E Lan, se este fosse o caso, nós já teríamos sido notificados há muito tempo. Mas se esse cara não receber algum sangue logo, alguém vai acabar seriamente machucado.
– E... Se eu lhe der um pouco? – questionei, erguendo a mão com receio, e fazendo aparentemente todo mundo se surpreender com minha sugestão.
– Ficou louca?!
– Acalme-se, Lan. Você não se lembra de tudo o quê o Nevra comentou sobre o meu sangue? Não podemos deixar esse cara, desse jeito, solto por aí. Não é melhor resolvermos o problema dele, nós mesmos, e quem sabe, conseguir algumas informações? – isso o deixou nervoso.
– Lan. – era o Leiftan outra vez – O que ela disse faz sentido. Ajudando este homem, podemos estar nos ajudando. Sugiro que permita que a Cris faça isso, pois não creio que já tenha se esquecido do que ela está vestindo. Mas você deverá estar emanando a sua maana, Cris. Do mesmo jeito que disse ter feito na Lua Púrpura!
– Tudo bem, Leiftan. Mas como me sugere fazer isso? Já que me fez lembrar da prata...
– Hum... Sente-se como você estava antes. Eu tive uma ideia. – dizia ele já retirando de seus ombros a capa que usava.
Ele vestiu sua capa no homem. De modo a garantir que ele não teria contato com a minha vestimenta. Apoiando-lhe a cabeça em meu colo. Lance acabou fazendo o que pareciam ser amarras surgirem, ao redor dos pulsos do vampiro que estavam no chão.
– É apenas por garantia. – me respondeu ele após encara-lo – Você realmente quer continuar com isso, Cris?
– Quero.
– _suspiro pesado_ Está bem. – ele criou uma adaga de gelo para me oferecer – Aqui está. Mas ainda acho uma loucura.
– Ande logo com isso, Cris. Quando mais nos demorarmos, maior será o risco de outros como ele aparecer.
– Valeu o incentivo, Leiftan. – falava com sarcasmo.
– Disponha. Agora se apresse.
Ajeitei o vampiro em meu colo, e respirei fundo para usar a adaga em minha mão (e eu detesto sentir dor...). Senti as mãos do Lance sobre as minhas – Assim ficará mais difícil de se curar. – ele ajeitava a lâmina em minha mão – Desse jeito vai ser melhor. Para os dois.
– _engole seco_ Me ajuda?... – acabei meio que lhe implorando, e pude percebê-lo sorrindo.
– No três. Um... Dois...
– _arrepio de dor_ Aiii... Não era no três? – retruquei sentindo o corte arder e o sangue escorrer, enquanto continha as lágrimas.
– De surpresa dói menos. Preste atenção no que faz para não haver “desperdício”. E que tal começar a cantar uma daquelas suas orações?
Incrível como esse homem consegue não perder o foco das coisas. Respirei fundo com ele mantendo minha mão meio fechada para controlar o fluxo que me escapava. Comecei cantando o Pai-Nosso. Erika segurava o vampiro para ter certeza que ele não iria atrapalhar, e Leiftan ficava de olho para ter certeza que outro vampiro não atrapalharia. Não demorou para que o vampiro em meu colo despertasse.
– Não se mexa. – Erika o alertava – Ou pode se ferir com a prata. – isso foi o bastante para ele permanecer quieto, e de boca aberta.
Aos poucos, eu começava a me acostumar com a dor. Mas não deixei de prestar atenção em mim mesma. Quando comecei a sentir o meu braço tremer, fiz por onde querer largar a adaga e fechar minha mão.
– Precisamos curar sua mão, rápido. – Lance comentava, pressionando suas mãos sobre a minha, após sumir com a adaga de gelo.
– Eu faço. – declarava o homem em meu colo – Me deixem fazê-lo. Como pedido de desculpas.
Nos encaramos. Eu estava cansada, fraca, e não tinha lá muito raciocínio para conseguir me curar direito. Sem falar que se não déssemos um jeito logo em minha mão, eu teria problemas.
– Tudo bem. – decidia o Leiftan – Mas vai ter que nos responder algumas perguntas depois. – terminou o Leiftan, já o ajudando a erguer-se.
Usando do manto de Leiftan, o homem isolou a pele dele de minha roupa. Sugou o sangue que me escorria e foi abrindo a boca.
– Se você se atrever a enfiar suas presas nela... – ameaçava o Lance.
– Ao contrário da maioria deste clã, eu sei ser grato. – declarou ele já passando a língua em meu corte, que ardeu.
Tive de conter as lágrimas outra vez, e liberando ainda mais maana enquanto rezava pra mim mesma. Mas logo o ardor desapareceu. E minha mão não doía mais.
– Obrigado. E me desculpe. Seu sangue é especial. Definitivamente.
– Certo. Certo. – Lance o afastava de mim – Só desembucha sobre como foi que você acabou naquele estado. E tem mais gente passando fome igual você? – questionava ele, já me entregando um belo e cheiroso sanduíche (QUE DELÍCIA!!).
– Já faz bastante tempo que os estoques de sangue diminuíram. Devíamos ter recebido novas demandas há muito tempo! Os Bertoldo são os únicos que ainda possuem sangue para oferecer, e o fazem com um sistema de racionamento.
– Errr... De quanto tempo, nós estamos falando? Mais ou menos? – a Erika acabou questionando, com eu engolindo o meu lanche.
– De meses. Tem vampiros no clã que estão em um estado pior que o meu. E eu até convidado por um grupo, para atacarmos os estoques dos Bertoldo, de tão crítica que estão ficando as coisas.
– Vocês planejam matar a única fonte de “comida” de vocês?! – falei sem pensar.
– Como é que é?! – pedindo a promessa de seu sigilo, e a recebendo, nós explicamos sobre o grupo de Alessa e as doações de sangue – Entendo... Isso resolve o mistério do porque eles ainda terem uma humana viva com eles, e o porque deles continuarem tendo sangue a oferecer.
– E você prometeu não espalhar isso por aí! – lhe cobrei.
– Eu sei. Por isso acho que vou tentar convencer o grupo que tinha mencionado, a retardar os seus planos. Ao menos, por enquanto. Os Bertoldo conseguem ser mais egoístas do que eu havia imaginado, mas permitir a destruição de nossa única atual fonte de alimento, está totalmente fora de cogitação.
– Se quer a minha sincera opinião, vocês deviam aprender a se alimentarem de outra forma. – falava fria – E parava de continuar recebendo esses miseráveis que lhes enviam humanos como se não passassem de gado. Isso ainda irá lhes custar extremamente caro.
Ele não falou nada. Baixou a cabeça e parecia refletir. Permanecemos em silencio por um tempo, sem nos mexermos. Foi a chegada do Haidar que quebrou a nossa inércia.
– Said? O que faz aqui?! E... Como está indo o treino, Leiftan?
– Acho que já o encerramos por hoje. Este homem, Said, certo? Acabou desmaiando próximo de nós e a Cris lhe deu um pouco de seu sangue, depois que percebemos que o seu mal era “sede”.
– Oh, eu... Eu sinto muito por isso, eu... Devia ter colocado alguém para lhes velarem o treino, e...
– Acalme-se, Haidar. Estamos todos bem, aqui.
– Mas...
– Você não tinha como adivinhar que algo assim pudesse acontecer. Ou podia? – acabei o questionando e ele ficou mudo.
– Porque foi que você apareceu mesmo? – Lance questionava, me ajudando a ficar de pé (ainda estou meio fraca...).
– Vim chama-los para o almoço. Acho melhor vocês não deixarem mais a morada de meu mestre enquanto continuarem em Yaqut.
– Concordo com suas palavras. – declarava o Said – Ao menos por enquanto, não recomendo que vocês fiquem expostos como estavam. Especialmente a Lys! Alguns dos nossos não precisam “tocar” para ferir alguém. – alertava ele olhando fixamente para mim, ficando de pé – Mais uma vez, lhe agradeço por me ajudar. E me desculpem pelas preocupações. Agora, se me dão licença...
Ele começava a se retirar. Quando ele passou perto do Haidar, Haidar lhe segurou pelo ombro e lhe sussurrou alguma coisa. E pela cara que Haidar fez, a resposta de Said não lhe agradou nada.Nevra
Não tivemos de esperar muito pela minha mãe. O que significa que o laboratório de Alessa não ficava muito longe de onde Valkyon e eu estávamos. Já que este era um dos cômodos que ficamos sem conhecer durante a “visita” da casa.
Comecei minha busca com os documentos de negócios do Kellinroe. Claro, aqueles referentes ao tráfico de sangue não faziam parte do que eu consultava sob a vigia de Maora. O que eu examinava era o adquirir/venda de remédios e poções que ajudam no reestabelecer das forças. Eu entendo que o Kellinroe possa precisar dessas coisas por conta da atual condição dele, mas aqueles números... Quantos mais estão passando pelo mesmo que ele?
– Há algum problema, meu filho?
– Maora, quantos mais dentro do clã, estão na mesma situação de Kellinroe?
– Bom. Alguns. Estamos passando por uma... Situação complicada no momento. Mas sei que conseguiremos resolver muito em breve.
– Se diz... – continuava analisando os papéis que tinha comigo.
Eu sei que se eu perguntar sobre essa “situação complicada” da qual ela comentou, ela vai me enrolar e não contar absolutamente nada. Então, comecei a olhar o tinha com mais cuidado. O que eu queria mesmo, era conferir os registros sobre as coletas de sangue. Documentos estes que nunca me permitiriam ter acesso nem mesmo com supervisão.
Só que parece que alguém deve estar querendo me ajudar...
Eu não sei se foi desleixo de alguém, ou se tem alguém querendo nos ajudar a descobrir o que está acontecendo de verdade em Yaqut. No meio dos papéis que eu consultava, havia uma folha que falava sobre o grupo da Alessa!
Tentei me manter o mais natural possível. Ocultar 100% a minha surpresa, e memorizar aquelas informações o mais rápido possível. Assim eu poderia questionar aquele erro como se eu tivesse acabado de perceber, dando algum voto de confiança para o clã.
Segundo aquela página, o grupo de Alessa foi a última demanda enviada para Yaqut. E isso ocorreu poucas semanas depois da chegada da Cris em Eldarya?? Mas isso é tempo demais! Se os prazos continuavam os mesmos, já era para pelo menos mais duas demandas ter sido colocada sob os cuidados da Alessa. Uma vez que aquela pagina continha todas as doações que Alessa coletou até hoje. E se for juntar isso com o que eu sei sobre doações de sangue... Definitivamente, Kellinroe não tem sangue suficiente para suprir todo o clã de maneira segura.
Essa deve ser a “situação complicada”. Yaqut deve estar passando por sérios problemas. Essa demora por parte dos mercenários humanos é proposital, ou aconteceu alguma coisa com eles? Isso não me cheira nada bem...
– O que é isso? – começava o meu teatro.
– O que é isso o quê, Nevra? – perguntava o Valkyon que averiguava outro tipo de documentação, chamando a atenção de Maora.
– Um registro de “doações de sangue”??
– O que isso faz aí!? – Maora correu para pegar o papel de mim – Quem foi o irresponsável que misturou os documentos desse jeito? Kellinroe irá ficar furioso! – averiguava ela o documento, já o guardando em um armário com chave em seguida.
– Quem foi o coitado que cometeu este erro, eu não sei, mas quando foi que vocês começaram a efetuar “doações”?
– Apenas descobrimos novos métodos que valorizam o “néctar”. E isso até tem nos ajudado com a situação que eu mencionei. Não estou interessada em lidar com novos problemas, então não deixem que esse incômodo chegue aos ouvidos de meu marido.
– Não é tarefa nossa supervisionar os documentos presentes neste lugar, logo, também não temos qualquer obrigação de mencionar qualquer forma de desordem para ninguém. Não precisa se preocupar.
– Lhe agradeço muito, senhor. Nevra? Posso contar com o seu silêncio?
– Não acho que deixar Kellinroe saber disso nos seria benéfico. Também não quero ter de lidar com brigas que podem ser evitadas.
– Ótimo. Já terminaram de ver o que queriam? Possuem alguma pergunta sobre o que já viram?
– Eu tenho uma. Tem ocorrido brigas entre os membros do clã? O que estou analisando são registros de adquirimento de armas e proteções, e vocês parecem ter adquirido muitos, recentemente.
– Bom... Como vocês tem faelianas com vocês, sou obrigada a afirmar que alguns do clã tem tido dificuldades para controlar a sua “sede”. Fomos obrigados a obter mais equipamentos para que possamos proteger melhor os nossos estoques.
– E só nos diz isso agora?! – espero que o grupo do Leiftan esteja bem.
– Nenhum membro deste clã é tolo, Nevra. Apesar de ter havido um descontrole ou outro, ninguém se feriu ainda. Não ao ponto de gerar preocupação. Não os alertei sobre isso antes porque, com tudo o que vocês explicaram no primeiro jantar, e após ver o que aconteceu com o Youssef, acredito que essas recaídas não são uma ameaça para o grupo de vocês, meu filho.
– Ainda assim, teríamos apreciado a atitude de vocês se tivessem nos avisado antes. Ainda mais com o fato de que alguém tentou nos colocar para dormir nesse mesmo jantar.
– Hum. Não vou negar que há um pouco de verdade em suas palavras, senhor Valkyon. Porém reitero o meu julgamento sobre a capacidade de defesa de todos vocês.
– Vamos parar, antes que isso vire uma discussão desagradável. – me metia – Acho que já terminei de ver tudo o que eu podia nesses documentos. Valkyon?
– Tirando o que questionei, também não vejo nada demais neles.
– Perfeito então. Acho que o almoço está prestes a ser servido, porque não nos preparamos todos para a mesa?
– Tudo bem. – acabamos falando juntos.
Valkyon e eu ajudamos minha mãe a reunir de forma organizada todos aqueles documentos, para podermos almoçar sem preocupação (por enquanto). Terminado tudo, seguimos para a área de refeições.
Parece que todo mundo tinha resolvido se reunir ao mesmo tempo, porque estávamos mesmo chegando todos juntos na sala de jantar. Mas uma coisa eu estranhei. A Cris estava pálida. E caminhava com um pouco de apoio por parte do Gelinho. Descartei a possibilidade de ser culpa do treinamento ao observar a Erika, que se mostrava em um ótimo estado. Cansada, mas de aparência saudável.
– Aconteceu alguma coisa durante o treino, Leiftan?
– Mais ou menos.
– A Cris acabou repetindo o que tinha feito pra você durante a Púrpura. É o bastante? – respondia o Lance mal humorado, e fazendo todo mundo por fora do assunto os encarar.
– Que fez comigo durante a Púrpura? – levei menos de um segundo para entender – Como foi que aconteceu tudo?!
– Comida primeiro! Por favor... – implorava a Cris.
– Já vai ser servida. – declarava secamente o Kellinroe (espero que o almoço possa ser um pouquinho tranquilo...) – Expliquem ao que se referem, enquanto a comida é colocada na mesa.
– O que aconteceu... Foi o seguinte. – Leiftan começava a contar.
Ele foi detalhado em seu relato, mas me estava óbvio que ele escondia um pouco do que havia acontecido. Porém, não deixa de ser preocupante o que ocorreu.
– Quem foi o “felizardo” que recebeu o sangue da Lys?
– Said, senhor Kellinroe. Pretendo conversar um pouco com ele, mais tarde, por causa desse ocorrido.
– Conversar?
– Fiquei curioso com os possíveis “efeitos” do sangue da Lys.
– Entendo... Irei junto de você. Afinal, estamos responsáveis pela segurança dela e de seus companheiros. Temos a obrigação de impedir que esse inconveniente se repita.
– Não posso discordar, querido. Diga-me Lys: precisa de alguma coisa, além da alimentação reforçada, para conseguir se recuperar mais depressa?
– Apenas descanso, Maora. Tudo de que a Cris precisa é descanso, depois de se alimentar bem. – respondia o Leiftan – Após o almoço, é melhor que ela se mantenha descansando no quarto. Algum de vocês se importam se o guardião dela ficar lhe fazendo companhia, lá dentro?
– Um homem e uma mulher, não casados, dentro de um mesmo quarto?!
– Mãe. Esqueça desse medievalismo. E só para a senhora ficar sabendo, já tem meses que esses dois vivem assim. Por isso, mãe querida, não queira impor essas besteiras em cima deles. – acho que não me lembro de já ter visto a Maora tão envergonhada desse jeito.
– E por acaso, são todos de Eel, que dividem seus quartos com pessoas do gênero oposto? – questionava o Kellinroe com desdém, e alternando olhar entre a Karenn e o Chrome.
– Geralmente, cada guardião tem o seu próprio quarto. – respondia eu – São raros os casos que pedimos para eles dividirem seus quartos, mas nada impede que casais compartilhem do mesmo ambiente. Diferente dos costumes de Yaqut...
Houve um momento de desconforto. Ficamos todos em silencio. Silencio esse que foi quebrado pela própria Maora.
– Karenn, minha querida... Como, como foi no laboratório? – Karenn e Chrome se entreolharam.
– Excelente. – respondia o Chrome – Pude fazer TODAS as poções que pretendia. A qualidade de tudo o que vocês tem é muito boa! Tenho certeza que Ezarel pensaria o mesmo, se visse tudo aquilo.
– Ezarel?
– Líder da Absinto. Sub-guarda responsável pelo setor de alquimia em Eel. Se o Chrome está afirmando isso, é porque o laboratório de vocês é realmente bom, Maora. – respondia a ela, que não sabia se estava feliz ou incomodada por ter sido respondida pelo lobo.
– Isso é muito bom. Mais alguma observação, Karenn? – é, a Maora não gostou de ser respondida pelo “genro”.
– Tudo o que eu digo é: preciso ampliar minha diversidade linguística. Tentei conversar com a Alessa, mas...
– Eu disse que ela não falava o nosso idioma. E também lhe disse que estaria perdendo tempo se tentasse fazer isso.
– Chrome ter conseguido efetuar as poções de que precisávamos é bom. Mas Chrome, acha que alguma delas pode ajudar a Cris a se recuperar mais depressa? – começava a arranjar uma desculpa para que todos nós pudéssemos nos reunir.
– Para isso eu teria que dar uma examinada nela. A Erika pode ajudar com isso? E... acho que quero ouvir outra vez tudo o que aconteceu, para ter certeza de que as que tem prontas vão servir mesmo.
– Tudo bem. Mas eu fiquei um pouco aérea por conta do treino. Não prestei muita atenção no que aconteceu ali. Seria melhor que todo mundo se reunisse no mesmo lugar. Tudo bem se for no nosso quarto mesmo, Cris?
– Se eu puder ficar quietinha na cama, Erika, vocês podem fazer o que bem entenderem perto de mim.
– Então está combinado. Enquanto a Cris descansa, Chrome e Erika lhe examinam com cuidado. Depois, Lan e eu repassamos mais uma vez tudo o que aconteceu. E de quebra, Chrome, gostaria que você nos contasse melhor sobre quais poções que fez, e quantas. Karenn fica também para o caso dele se esquecer de alguma coisa.
– Tudo bem se o Valkyon e eu nos juntarmos, Leiftan? Para repassarmos o que conseguimos, sob a supervisão de Maora. – Kellinroe me encarou na mesma hora, com Maora o acalmando no mesmo momento.
– São bem-vindos. Assim resolvemos tudo de uma só vez.
.。.:*♡ Cap.164 ♡*:.。.
Cris
Mesmo depois de devorar um sanduíche mediano sem a menor educação, e beber metade do suco que o Leiftan havia trazido totalmente sozinha, eu ainda não tinha forças para sair andando por aí como se nada tivesse acontecido. Eu quis parar o sangramento no mesmo momento em que meu braço começou a formigar, mas demorou até que o Said (é esse mesmo o nome dele?) curasse totalmente o meu corte. E ele com toda a certeza deve ter aproveitado a “sobremesa”...
Se não fosse pelos riscos, eu que não iria me mexer dali antes de conseguir descansar o suficiente para conseguir ficar de pé, sem o meu corpo tremer. Ainda bem que o Lance me deu apoio para andar. Erika também acabou ganhando um pouquinho de ajuda por parte do Leiftan, e nós duas caminhamos lado-a-lado, com nossos “guarda-costas” cuidando das extremidades. Haidar seguia em nossa frente, olhando e desconfiando de tudo ao nosso redor. Ele só abandonou a ansiedade (que estava me incomodando um pouco) depois de entramos na casa dos pais do Nevra.
Seguimos todos juntos para a mesa, com todo o restante do pessoal se sentando à mesa também. Eu não dava muita atenção ao que era conversado ali. Meu único interesse era me recuperar logo do sangue “doado”. Prestei atenção só na comida que recebia.
Terminado de comer, fui para o quarto. E lá, tanto o Chrome quanto a Erika ficaram me examinando como se fossem a Ewelein. Leiftan recontava o ocorrido para todos os presentes, que era todo o meu grupo, mais a Maora e acho que dois servos, e tudo o que eu queria era sossego.Leiftan
Essa missão em Yaqut está começando a ficar delicadamente perigosa. Já me era complicado aceitar a ideia de lidar com tantos vampiros rodeando a Erika, mas além de estarem em grande número, eles ainda estão sofrendo por carência de sangue?! E ao ponto de já estarem planejando atacar os estoques de nosso anfitrião!?! Espero que Nevra e Karenn tenham conseguido obter as pistas de que necessitamos para descobrirmos o que a Cris veio fazer aqui, depressa. Há limite para o quanto que podemos ficar nos arriscando.
Depois da Cris se deitar, com o Chrome e a Erika a examinando, comecei a contar mais uma vez como foi o “ataque” que sofremos. Assim como a solução que utilizamos na hora.
– Foi mesmo uma situação complicada a que vocês passaram, Leiftan. E... Tirando a fraqueza pela “perda” de sangue, a Cris não tem nada de mais mesmo. Uma das poções que fiz podem sim ajuda-la a se recuperar um pouco mais depressa.
– Pode deixar que eu pego para você, meu lobo. Já deu o tempo de descanso das bebidas agora, não deu?
– Deu sim. Mas você sabe qual é a certa que eu quero aqui?
– Não seria uma das poções energizantes? Que restaura a energia e acelera a regeneração caso você tenha algum pequeno ferimento?
– Essa mesma, Karenn. Um frasco é o bastante, as outras você pode continuar deixando lá. Quanto mais a poção descansar, mais eficiente ela se torna com a concentração.
– Entendido! Quer me fazer companhia, mãe?
– Hum... Me diga rapaz: além da poção, há mais alguma coisa que possa ser feito para ajudar sua amiga a se recuperar mais depressa?
– Bem... Sei que acabamos de comer, mas um pequeno lanche, de qualquer tipo, pode reforçar os efeitos da poção. E se esse lanche puder ser rico em ferro, já que a Cris está com pouco sangue, melhor ainda.
– Pensarei sobre isso durante o caminho. Vamos filha, e você. – ela apontava para um dos servos – Nos acompanhe também.
A pessoa assentiu e passou a segui-las. Esperamos não ouvir mais os passos delas e, antes que tivesse se passado dois minutos depois disso, Nevra já estava nocauteando a serva que havia sido deixada para trás.
– Isso não irá nos causar problemas?
– Problema algum, Valkyon. Não é incomum os servos acabarem desmaiando no meio das tarefas que lhe são atribuídas. – explicava o Nevra enquanto colocava a mulher em uma poltrona – Perderam o livre arbítrio, mas ainda tem necessidades físicas, por isso é necessário atenção com eles, dependendo do trabalho que lhes é dado, pois eles pararam de se preocupar consigo mesmos.
– Compreendemos. – tenho pavor de imaginar minha Erika numa condição dessas – Mas agora que o caminho está “livre”, comece a nos contar como é que foi no laboratório, Chrome.
– Muito bem, como eu mencionei no almoço, eu consegui fazer todas as poções que podia. Estava com medo de não conseguir encontrar todos os ingredientes que precisava, e nem muito confiante em fazê-lo tendo apenas a memória do meu olfato como referência, mas, tenho 90% de certeza que eu consegui recriar a poção que a Cris modificou para poder usar nos humanos.
– 90%? – questionava o Lance.
– Tanto o cheiro quanto a cor me parecem serem os mesmos. 100% de certeza mesmo só teremos na hora que a Cris pegar nela.
– Ou se for a hora de usar ela...
– Que quer dizer com isso, Lan?
– Acaso, Nevra, você esqueceu que a Cris só tentou recuperar o pedaço do Cristal de dentro do corpo daquele velhote, depois que ele recebeu isso como sentença? Sendo que ela teve inúmeras chances de fazer aquilo antes!?
– É. Realmente. Eu bem que estranhei ela não ter reagido da mesma forma que sempre fez quando diante de contaminados, depois que nos disseram essa descoberta.
– Ondabrar não estava contaminado. – a Cris se anunciava – Ele estava controlando o poder do Cristal. É diferente.
– De qualquer forma, tendo o Chrome conseguido ou não fazer a poção de forma correta, nós só iremos saber quando for a hora dela ser utilizada. – declarava o Lance, sentando-se na cama, ao lado da Cris.
– Você pode estar certo. Acho... Que é melhor mantermos essa poção por perto da Cris. De preferência nas mãos de alguém que tenha menos chances de ser atacado sem querer pelo clã, e que possa se manter perto dela. Alguém contra?
Ninguém foi contra a sugestão do Nevra, mas... Porque é que eu tenho a sensação de que o Lance e o Nevra estão nos escondendo alguma coisa?...
Chrome continuou nos contando quais eram as poções que ele tinha conseguido fabricar, e ainda nos alertou sobre um pequeno teatro que ele e a Karenn combinaram, para termos a certeza que ninguém do clã notaria o que fazíamos e permitindo à Karenn de nos repassar com mais tranquilidade o que havia conseguido ao conversar com Alessa, antes de dar continuidade. Para depois eu repassar o que não havia dito na presença da Maora.
Não demorou muito para que a encenação começasse...
– Está aqui a poção, meu lobo. – Karenn entrava mostrando a poção criada por Ezarel (se o Chrome realmente tiver tido sucesso) com Maora logo atrás dela.
– Mas essa é a poção errada, Karenn!
– Errada como? Essa não é a poção à base de melão picante com alga gasosa? – (que raio de mistura é essa??).
– Não. Eu não encontrei algas gasosas, então tive de fazer outro tipo de poção revigorante. Essa poção aí é para proteção durante os acampamentos de volta. A mesma que Ezarel inventou.
– Fala daquela feita com broto de bambu e insetos?!
– Exatamente esta.
– Eca!! Que nojo! Não acredito que estou segurando essa coisa fedorenta.
– O cheiro dessa poção é tão ruim assim? – questionava a Maora.
– O suficiente para a senhora não conseguir distinguir o cheiro das coisas por umas duas ou três horas, mãe. Interessada em conhecer como é o cheiro dessa coisa?
– Agradeço, mas não, Karenn. E eu bem que lhe disse que essa era a única garrafa diferente entre as outras.
– Me dê esse frasco, Karenn. Do jeito que você o está segurando, não demorará muito para que toda a Yaqut conheça o cheiro dessa coisa. Deixa que eu mesmo volto para o laboratório e pego uma das poções corretas.
– Vá lá. Mas tente não demorar. Maora já encomendou o nosso “lanche”.
– Certo. Err... Qual é o caminho certo mesmo? Estas cavernas me lembram um labirinto...
– Eu o guio. Para que não entre onde não deve. – se oferecia a Maora usando um tom de tédio. Mas só até finalmente reparar na mulher que Nevra nocauteou – O quê aconteceu com ela?
– Caiu de repente. A colocamos no sofá, pois ninguém aqui se sentiria bem deixando-a desmaiada no chão.
– Estranho. Tenho certeza que ela recebeu o descanso dela. – Maora nos encarava, desconfiada. Especialmente o Nevra.
– Todo mundo aqui ou estava concentrado na conversa, ou na condição da Lys. Se vocês abusam de seus empregados, não é culpa nossa. Que ganho teríamos ao força-la a dormir? Já temos preocupações suficientes aqui. – declarou o Lance com uma mistura de impaciência com indiferença – Chrome, você vai buscar a tal poção ou não? A Cris precisa ficar em condições de defender-se, urgente!
– Já estou indo! – declarou o Chrome já saindo, e fazendo Maora esquecer a serva para acompanha-lo.
– Valeu pelo socorro, Lan. De forma bem rápida, o que o meu Lobo lhes disse para eu poder continuar.
– Nos contou sobre cada uma das poções que conseguiu fazer e quantas, e também da cena que vocês fizeram para afastar a Maora.
– Obrigada Leiftan. Isso significa que só me resta contar sobre o que conversei com a Alessa. Vamos lá... Pra começar, demorei um pouquinho para convencê-la a conversar comigo. Ela parece ter muito medo que descubram que ela compreende o árabe.
– Isso é justificável. Mas sobre o quê falaram?
– Nevra... Não estou lhe reconhecendo com tamanha impaciência.
– Karenn. Nós não temos muito tempo. – tentei fazê-la se recordar.
– _suspiro_ Detesto ser curta e grossa... Mas vamos lá. Alessa e seu grupo já estão aqui há muito tempo, tanto que ela nem sabe direito mais. Ao que entendi, eles parecem estar aqui já faz entre três e quatro meses, e nenhum novo humano foi enviado desde então. Ela também disse que ouviu a Maora comentar que “as novas remessas” estavam muito atrasadas, e que estava feliz por terem mudado os seus métodos de “colheita”. Também disse que observou que os vampiros parecem estar mais preocupados, ou nervosos, ao ver dela. E toda vez que ela questionava minha mãe se estava acontecendo alguma coisa com o povo daqui, ela sempre lhe respondia a mesma coisa: “Não é nada com que deva se preocupar no momento. Minha casa irá sempre garantir a sua segurança e de seu grupo.”
– Maora devia estar tentando não deixar o grupo dela planejar uma fuga desesperada. – comentava o Nevra – No escritório, consegui encontrar um documento, erroneamente guardado, contendo a informação da chegada do grupo de Alessa e das doações efetuadas. A menos que Kellinroe tenha decidido continuar com os registros de “entrega” em outra folha, o quê duvido, nenhum novo grupo foi entregue a Yaqut. E o grupo de Alessa chegou por aqui na mesma, época, que a Cris!
– Na mesma época?! Mas eu já estou em Eldarya faz um tempão!
– Isso é realmente preocupante. – comentava – Pelo o seu tom, imagino que mais de um grupo já deveria ter chegado depois de Alessa.
– Era para eles estarem aguardando pelo terceiro. O que explica muito bem a “crise” que eles estão tendo agora. Minha maior preocupação, é o que está causando todo esse “atraso”.
– Este “porque” pode estar relacionado ao que temos de fazer por aqui. Explique-nos mais sobre o funcionamento desse “sistema de entrega” e as mudanças que você conseguiu conferir.
Da forma mais direta possível, Nevra atendeu ao meu pedido. Os prazos, os números, quantias adquiridas, enfim, TUDO. E ele terminou instantes antes de Maora começar a se aproximar. Comecei a falar da melhora da Cris e da Erika nos treinos para disfarçarmos.
– Já voltamos... – declarava a Maora, trazendo uma bandeja com um jogo de chá, acompanhada do mesmo homem que havia saído com ela no começo portando outra com o que pareciam ser doces, entrando os dois logo depois do Chrome.
– O que exatamente é isso, Maora?
– Chá de maçã vermelha com canela e Flor de Kaqu'tu, e um pouco de Halawi Istambul para acompanhar o chá.
– Err... Canela??
– Alguma coisa de errado com a canela, Lys?
– Mais ou menos... É canela originária da Terra ou de Eldarya? Sou alérgica à terráquea e, mesmo sabendo que as plantas de Eldarya são diferentes das da Terra, não tenho certeza se terei as mesmas reações...
– Oh! Eu... Eu não tenho certeza... Vou até a cozinha conferir a origem, e qualquer coisa, posso solicitar a preparação de outro tipo de chá para você. Eu não me demoro. – terminou ela de dizer, fornecendo instruções para o servo que a ajudou antes de sair.Cris 2
As noticias não podiam estar “melhores”. Cada vez fico com mais receio de permanecer neste lugar. Qual é o meu propósito aqui afinal? Quero voltar logo para Eel, onde eu consigo me sentir muito mais segura. Mesmo com todas as controvérsias.
Quando a Maora trouxe o “lanche”, tive que fingir não me importar dela estar nos trazendo chá, e mentir! Que tinha alergia alimentar (“Em quê quer que eu te ajude?” - Se o Nevra deixar este cara inconsciente como fez com a mulher, ele vai estar declarando a sua culpa. O que sugere que façamos para que ele vá embora por um tempinho? - “Já vai ver.”).
O homem estava servindo o chá para todos, e todo mundo estava aguardando que ele terminasse de fazê-lo para poderem beber. E óbvio, me encarando.
Quando chegou a vez do Lance, ele se fingiu de desastrado e deixou a xícara cair com tudo no chão – Ai... Me desculpe. Não estou muito atento às minhas ações.
– Sem problemas. – declarava o homem com indiferença – Vou buscar material para limpar isso. Não toque em nada por segurança. – e ele se retirou para fazer o que havia dito.
– Cris... Explique-se. – me exigia o Leiftan após sermos deixados no quarto.
– Lan, poderia me ajudar com o resto do chá? E, Absol? – ele erguia a cabeça perto de mim – Tem como você nos trazer urgente, ingredientes para fazermos um novo e a Maora não perceber a substituição?
– O quê está acontecendo? – Valkyon questionava, enquanto eu resfriava o chá para joga-lo fora.
– Valeriana. De novo...
– Está brincando?!... – Karenn cheirava o próprio chá – Kellinroe aprontar uma dessas vai lá, mas até a minha mãe?!?
– Não necessariamente, Karenn. É possível que Maora seja inocente, tudo é uma questão de condições. – declarava o Nevra que nos ajudava com o dispersar da bebida.
– Que condições? Deixe que eu esquento a agua. Absol já trouxe as ervas? – Valkyon questionava e ajudava.
– Como ela decidiu nos oferecer o chá, e quem estava perto. Se ela tiver sido influenciada nas escolhas sem perceber, ela pode nem saber do sonífero. Vê o numero de xícaras? Ela também tinha intenções de beber do chá, que foi trazido em um único bule.
– Ok, você pode estar certo. – agora era a Erika que recebia de Absol as ervas para o chá novo – Mas dessa vez você vai ter que nos contar, Cris. Como foi que você percebeu? Não dava nem para sentir o cheiro daquilo de onde você estava!
Todos começaram a me encarar, sem parar de preparar o novo chá (“Acho que dessa vez... Você não tem escolha, Ladina.”) _suspiro_...
– Ok! Eu confesso! Estou escondendo o jogo desde o dia que o Valkyon descobriu a identidade do Gelinho.
– Fala de quando você e o Gelinho encontraram o Wasi? E o quê exatamente você esconde desde aquela época? – Leiftan ajudava a colocar tudo no lugar.
– Bom, é que... Sabem a minha “visão clara”? – todos assentiam ou resmungavam em positivo – Pois bem, acho que ela melhorou de alguma forma depois dos meus primeiros treinos com o arco, pois, toda vez que eu encaro alguma poção destampada, ou algum prato/liquido contendo poção dentro, eu vejo... Uma espécie de “vapor colorido”. E a cor varia de acordo com a potência, quantidade e finalidade da poção.
– Então... Naquele jantar...
– Na garrafa que nos era oferecida, Karenn, eu via um vaporzinho meio verde. Primeiro pensei que fosse da bebida em si, mas como a garrafa oferecida para os outros, que devia ser exatamente igual à nossa, não tinha absolutamente nada saindo dela, me era óbvio que havia algo de errado.
– E o mesmo aconteceu com o chá de Maora? Me passem as xícaras para eu enchê-las, aquele homem foi buscar material de limpeza aonde?
– Sim, Leiftan, foi isso sim. Mal a Maora pões a bandeja sobre a mesa, e o vapor verde começou a se erguer. O “verde” está mais fraco, então significa que há menos poção. – respondia a pergunta feita pra mim.
– Já sobre o servo,... – Nevra esclarecia, ajudando o Leiftan com as xícaras – ...o depósito de materiais mais próximo fica a uns quinze minutos daqui. E parece... que ele está adentrando o nosso corredor agora.
– Então é melhor mudarmos de assunto... Este chá ficou bom?
– Diante das circunstancias... Está ótimo, Erika.
– O que mais você pode nos dizer sobre este novo talento, Cris?
– Apenas o que eu já expliquei, Leiftan. E se não for pedir muito,... – o homem entrava para começar a limpar – ...gostaria que não ficassem espalhando essa novidade por Eel. Principalmente para o Ezarel!
– Ezarel realmente iria ficar incomodado ao descobrir isso. Ele não terá mais como tentar pregar peças em você! Já que todas que ele tentou até agora, falharam.
– Como é que é, Chrome?! Todas que ele tentou??
– Teve um dia, um pouco antes de descobrirmos o poder de Absol, que o vi andando pelos corredores com cara de quem ia aprontar algo. Eu estava trabalhando na limpeza, então não dei atenção. Mas ele voltou bem rápido, e com cara de quem perdeu uma grande chance no leilão, após uma batalha difícil para adquirir o item.
– Aposto que foi o Absol quem o impediu. Aquele alquimista só dá um passo para trás se for para ele.
– Concordo com você, Lan. Até hoje ele continua tentando convencer a Miiko de permiti-lo colocar uma barreira no laboratório.
– Eu já voltei e... O que aconteceu? – Maora entrava no quarto, com uma nova xícara na mão.
– Fui desajeitado. Sinto muito. A senhora dizia?...
– Nossa canela é proveniente da Terra. – falava ela com desgosto – Eu mesma fiz outro chá para servir à Lys.
– Eu realmente lhe agradeço pela consideração, dona Maora, e mais uma vez nos desculpe pelo mau jeito de meu guardião. – declarei recebendo-lhe a nova xícara.
– Minha querida... Como eu havia explicado antes, se ainda utilizássemos as classificações monárquicas da Terra, eu seria condessa! Esqueceu?
– Ops!...
– E quanto ao seu guardião... _suspiro_ Por favor, tente tomar mais cuidado.
– Farei o meu melhor, senhora. Foi sua a ideia de nos oferecer chá? – Lance começava a beber o dele, me observando beber o meu (que não tinha vapor colorido algum).
– Não. Sinceramente, não tinha ideia de o quê lhes oferecer com abundância em ferro, como havia recomendado o lupino.
– Então como foi que a senhora chegou nessa ideia, mãe?
– Estava no escritório conversando com o seu pai, filha, enquanto você passava no banheiro antes de pegar a poção errada. Ele acabou pedindo um chá para ele e eu me lembrei de alguns chás que ajudam na produção de ferro dentro do sangue.
– E quem acabou ordenando o preparar desse chá? A senhora ou o Kellinroe?
– Seu pai, Nevra. Por quê? Há algum problema com o chá?
– Problema algum, Maora. Esse chá que a senhora me deu, é de quê? Tão docinho... – apreciava com calma, uma raridade para mim.
– Usei apenas a flor de Kaqu'tu, e adocei com mel de flor rara. Gostou? _sorriso_
– Eu amei! Espero que os outros também estejam gostando do outro chá.
– Fico muito feliz de saber que esteja apreciando.
Com a Maora presente, não falamos mais sobre os meus dons ou sobre as nossas descobertas em Yaqut. Trocamos o assunto para o cotidiano de Eel, para o caso de algum dia Maora decidisse visitar os filhos.
Acabado o meu chá, eu comi quase metade dos doces que ela havia trazido, e levei bronca por causa do jantar que ainda iria ser servido.Nevra
Quanto mais descobríamos sobre a realidade de Yaqut, que tentavam nos esconder, mais preocupado e intrigado eu fico com a situação.
A Cris também nunca para de surpreender. Ela bem que podia ter nos revelado antes essa nova capacidade dela. Me pergunto quantas surpresas mais essa mulher esconde da gente.
A Maora não percebeu que trocamos o chá, o que foi bom, mas cada vez mais fico desconfiado das intenções de Kellinroe. E depois do que aconteceu com a Cris de manhã... Meu medo é que Kellinroe tente aprisionar a Cris junto do grupo de Alessa, e assim fazer fortuna com o sangue dela.
O jantar ocorreu sem problemas e, como haviam colocado sonífero no chá servido por minha mãe, todo mundo resolveu agir meio que com sono (sem nem termos combinado isso). Se bem... Que a Cris, a Erika e o Chrome, não precisavam dar desculpas para dizerem que estavam cansados, eles realmente trabalharam para estarem querendo descanso. Eu e o Valkyon tínhamos a papelada que examinamos para acusar cansaço psicológico, e o Leiftan e o Lance podiam usar a preocupação deles para com nossas faelianas, para denunciar cansaço mental também. Acho que a Karenn era a única que não tinha desculpas para querer se recolher mais cedo.
Eu ainda procurei ficar observando o Kellinroe. Queria ver se ele deixava escapar algum sinal de que havia aprontado para cima de nós outra vez, mas ele não deixou escapar nada. Fico me perguntando se ele sempre foi bom ator daquele jeito e eu não havia percebido, ou se ele se aperfeiçoou depois que deixei o clã.
Mudamos de aposentos depois de sermos trancados e, por conta de todo o estrese reunido até o momento, deixamos para tratar dos problemas depois que o sol ressurgisse. Admitindo ou não, de fato todos nós precisávamos de um pouco de repouso psicológico. Mas claro, ninguém tinha intenções de fazê-lo com a guarda totalmente baixa.
E ainda bem que ficamos de vigília...Lance
O Leiftan não esqueceu mesmo como é ser cruel – Não acha que está pegando um pouquinho pesado para a nossa atual situação não?
– Do quê está falando, Lan?
– Ora “do quê”... Esqueceu onde é que estamos?! Esse não é o melhor lugar para você pedir algo tão cansativo assim para elas. E ainda as humilhando!
– Elas precisam se apressar antes de partirmos para Apókries. Esse exercício pode ser complicado, mas se elas conseguirem dominá-lo, vai aumentar em muito o autocontrole delas sobre os próprios poderes.
– Talvez. Mas isso não deixa de ser demais para elas. – observei o quanto elas estavam suando por conta do esforço – Não é melhor as fazermos parar agora? Fazer uma pausa?
– Se não fosse pela pressa, eu já as teria feito parar bem antes. Mas agora é o bastante. Só falar para elas pararem não basta, chame a atenção da Cris pelo ombro e eu faço o mesmo com a Erika.
– Certo.
Sacudi minha Ladina e ela nem havia se dado conta do quão árduo estava sendo aquele treinamento. Tanto eu quanto o Leiftan resolvemos buscar alguns lanches que a Maora nos enviou por meio de um de seus servos, um pouco depois delas terem começado aquele desafio pra valer.
“Tente ficar calmo!” – (como é que é?).
Não tive muito tempo para entender o que fosse. O som de algo grande sendo jogado contra uma parede chamava toda a minha atenção. Quando eu vi que minha Ladina encarava algo, que estava por trás, dela, e que esse algo era uma pessoa (ou melhor, um vampiro), uma fúria começou a crescer dentro de mim.
Se o Leiftan não tivesse me impedido, eu o teria estrangulado. Pela forma como a Cris o encarava, ele definitivamente tentou ataca-la. Mas! Graças às roupas que ela vestia, nada ele pode fazer.
Eu preferiria deixar aquele homem morrer seco, mas o olhar de determinação da Cris acabou me convencendo a permiti-la dar de seu sangue para aquele canalha (apesar dela me ter pedido ajuda para poder fazer a ferida).
Ajudei-a como pude em tudo. E tenho que admitir que aquele Said acabou nos ajudando bastante. Ele nos passou informações importantes e ainda se dispôs a nos ajudar com os vampiros mais problemáticos.
De volta à casa, não sentia que as coisas pudessem melhorar. Depois do almoço, todo mundo parecia ter conseguido descobrir a mesma coisa que nós, cada um à sua maneira, deixando a severidade do problema cada vez mais claro. O quê exatamente a Ladina vai ter de resolver por aqui?...
Não estou nem aí de ter ganhado o desgosto da Maora ao ficar quebrando as suas louças. Ela que reclame com o marido dela por ficar nos atacando daquele jeito.
Kellinroe... Está para nascer um vampiro mais descarado do que esse. Deixe-o acreditar que teve sucesso em nos colocar para dormir dessa vez. Ele não perde por esperar...
Tomei as mesmas precauções que estava tomando antes de eu e a Ladina nos deitarmos, mas mesmo assim, não consegui dormir tranquilo pensando no “pra quê” daquele canalha ter tentado nos colocar para dormir. Já devia ser madrugada quando eu comecei a ouvir barulhos no quarto. Mais precisamente, nas passagens que havíamos bloqueado.
Me levantei devagar e me escondi entre as sombras do quarto, mantendo a barreira ao redor da cama. Não demorou muito, após alguns minutos de esforço, o intruso conseguiu entrar no quarto. Ele mal conseguiu entrar e se deparou de cara com a minha barreira. Aproveitei a sua confusão pela situação e o nocauteei por trás. Invoquei meu poder sob a forma de cordas e o amarrei, além de amordaça-lo caso acordasse. Fui atrás de uma luz e reconheci aquele idiota: era um dos guarda-costas de nosso anfitrião...
– Também receberam “visitas”?
– Nevra? – reconhecia-o, próximo das passagens de umbracinese, sussurrando – O que faz aqui? E tentaram atacar a sua irmã também?
– Tentaram. Mas para o azar do invasor, eu estava fazendo a vigília esta noite. O nocauteei rápido, mas não tinha como interrogá-lo sem alertar os nossos “vigias”, por isso estou aqui. Eu queria pegar algumas sanas clypeus da Cris para usar com ele.
– Essas esferas vão acabar antes da próxima viagem, desse jeito. Mas eu entendo. Conseguiu reconhecer quem atacou a sua irmã? E acha que eles também enviaram alguém para o “nosso quarto”?
– Eu não sei. E se tiverem o feito, é possível que seja por minha causa. Ou, pelo menos, assim espero.
– Lan?... – nos voltávamos para a Ladina – O que aconteceu? Porque não está na cama?
– Não é nada. Volte a dormir e logo, logo volto a estar com você.
– Ok _bocejo_ Não demore... – a observava voltar a dormir.
– Pegue as sanas clypeus. Eu vou até o outro quarto para conferir se aconteceu algo também, mas...
– O quê mais te preocupa?
– O quê que nós faremos com os nossos “visitantes noturnos”. Se foi Kellinroe quem os enviou, não podemos deixa-los ir embora. Alias... Não podemos deixa-los ir embora nem se tiverem sido enviados por outra pessoa.
– Temos que dar um jeito de escondê-los e fingir que não os vimos. Porém, onde os esconderemos? – um canido baixo nos fez olharmos para um canto onde eu pude reconhecer a cabeça de Absol – Umbracinese??
– Essa não seria uma má ideia. Resolveria vários tipos de problemas com os invasores.
– Porque é que eu sinto que estamos abusando desse black-dog nos últimos dias?...
– Vamos deixar esse tipo de discussão para outra hora, e aproveitar a oferta de Absol, pois eu duvido que ele tenha resolvido aparecer justo na hora de que precisávamos, por conta própria.
– Por conta própria... Acho que aquela semente Negra pode ter a ver com ele estar aqui. Mas concordo que não é hora para discussões, já que alguns dos meus temores estão resolvidos.
– Então vamos cuidar logo para que possamos descansar um pouco. – declarou o Nevra já seguindo para o outro quarto.
Fui buscar as esferas que Nevra queria e pude ver Absol envolvendo o vampiro que capturei. Leiftan também havia impedido um intruso, no caso, o Haidar. O que fora detido pelo Nevra era o outro guarda-costas do pai dele. Por já estar tarde da noite, e termos colocado os três invasores para dormir, decidimos interroga-los outra hora, com Absol tomando conta deles.
Este lugar está me dando cada vez mais dor de cabeça...
.。.:*♡ Cap.165 ♡*:.。.
Leiftan
Yaqut está me deixando cada vez mais ansioso... O que é que estamos esperando acontecer para terminarmos logo o que viemos fazer aqui?
Por causa do chá, Valkyon e eu decidimos fazer vigília esta noite, tirando a sorte entre nós para ver quem descansava primeiro junto da Erika. Pro meu azar, Tyhke estava a favor do dragão esta noite. Ele nem se deu ao trabalho de disfarçar! Sorrindo igual a um menino bobo enquanto se deitava ao lado da Erika, que já havia se entregado aos braços de Morpheus.
Tive de respirar fundo diante dessa derrota em nossa batalha intima pela aengel (ela pode ter escolhido o Valkyon, mas isso não significa que eu não possa conquistar um pedacinho de seu coração).
Ser obrigado a observá-lo abraçando ela, e não ter o mesmo prazer, me irritava. Não via a hora de chama-lo para trocar de lugar e ser eu a estar a abraçando daquele jeito. Estava quase dando a hora de arrancar o Valkyon de lá quando comecei a ouvir ruídos vindo de uma das passagens bloqueadas dentro do quarto. Me escondi o melhor que pude para conferir quem era o meu possível saco de pancadas (dentro do que a Erika me permitiria fazer...).
Graças aos nossos bloqueios, o intruso teve dificuldades para entrar sem fazer muito barulho, e quando finalmente conseguiu entrar, pareceu estar confuso.
– Só dois? – sussurrava ele – Para onde foram os outros três?! – ele se aproximou da cama ocupada (com eu fazendo o possível para me aproximar sem ele me perceber) – E o quê... Quê que essa mulher faz aqui!?!
– Lhe faço a mesma pergunta. – declarei já o agarrando e nocauteando.
Posso não ser mais tão poderoso como era antes de ceder minha vida para salvar a da Erika, mas ainda tenho poder mais que suficiente para lidar com um vampiro sozinho e confuso, com eu estando consideravelmente irritado.
Carreguei o desmaiado até uma cadeira próxima para amarrá-lo e assim poder acordar o Valkyon, e acabei reconhecendo o assistente de nosso anfitrião, Haidar (definitivamente isso tem dedo do Kellinroe). Precisei continuar respirando fundo para me manter calmo e, quando estava prestes a chamar o Valkyon...
– Essa não é mesmo a nossa noite de sorte...
– Nevra? – reconhecia-o diante do desmaiado, com várias sombras começando a envolver o Haidar – Acaso algo parecido aconteceu com você?
– E com a Cris e o Lan também. – só pode ser brincadeira... – Espero que consigamos arrancar as nossas respostas, sem muita dificuldade.
– Já interrogaram algum?
– _cabeça em negativa_ Tanto eu quanto o Lan acabamos fazendo o mesmo que você. Colocamos os intrusos para dormir. E o Lan e eu concordamos em deixar para questioná-los amanhã, fingindo não ter acontecido nada durante a noite, enquanto Absol fica responsável por ocultar esses três.
– Não é uma ideia ruim. Veio só para conferir se este quarto também recebeu “visitas”?
– E para repassar o que nós dois havíamos decidido fazer. Você não é contra, é?
– Não. Na verdade... _sorriso malicioso_ Eu estou é curioso com a cara que seu pai fará ao perceber que seus subordinados desapareceram, sem cumprir com as suas ordens...
– _risinho_ Talvez seja divertido. Bom, então boa noite para você.
– Boa noite. – despedia-me com ele retornando para o quarto da irmã. Voltei-me para o dragão – Ei, Valkyon! Acorda! É a sua vez de ficar de vigília.
– Já... Já está na hora?
– Está.
– Aconteceu alguma coisa durante a sua vigília?
– Nevra deu um pulo aqui para dar uma olhada na gente e já se foi. Amanhã falamos melhor sobre essa noite.
– Ok _espreguiça_ Tenha um bom descanso.
– E você, uma boa vigília. – (enquanto aproveito para ter a Erika só para mim pelo resto da noite).Nevra
Como Lance e eu decidimos deixar o interrogatório para o dia seguinte, parei de me preocupar um pouco com as invasões. Resolvi descansar um pouco, pois precisava colocar as ideias no lugar para poder pensar direito.
Não digo que eu adormeci, mas tentei relaxar o máximo possível até o sol resolver surgir no horizonte. Dada a hora de nos levantarmos, fui para o “meu” quarto como se nada tivesse acontecido. Fomos chamados para o café da manhã, e seguimos para a sala de refeições sem o menor problema.
Estávamos todos à mesa, por exceção de Kellinroe. Mas quando este finalmente apareceu para o dejejum...
– Há algum problema Kellinroe? O senhor me parece assustado!
– Não... Não é nada. Eu só me esqueci por um momento que vocês estavam aqui. Nada de mais.
– Esqueceu-se de nossas visitas?! Meu amor, estou cada vez mais preocupada com a sua condição de saúde.
– Não se preocupe com algo pequeno assim, Maora. Mas... Me digam! Como foi a noite de todos vocês?
– Dormi que não vi a noite passar. – declarava a Erika.
– Eu também dormi bem, eu acho. E quanto a você, Lan?
– Não dormi tão bem quanto gostaria por causa das preocupações. Mas tirando isso, foi uma noite tranquila.
– Concordo com você. – declarava o Leiftan – Acho que estamos todos um pouco ansiosos por causa dos últimos ocorridos, mas uma noite tranquila sempre ajuda a se acalmar.
– Err... Karenn, você também compartilha da sorte de seus amigos?
– Com toda a certeza, Kellinroe. Não lembro de ontem ser a minha noite de descanso, mas mesmo assim eu dormi. Por curiosidade, porque o senhor está se preocupando com isso, pai?
– Por nada Karenn. Estava apenas tentando obter uma conversa agradável. – Leiftan, Lance e eu nos entreolhamos. Ele definitivamente tem culpa pelo o que aconteceu ontem à noite.
Continuamos com o dejejum, discutindo o que faríamos hoje. Estávamos quase concluindo a refeição quando Maora resolveu questionar – Onde está Haidar? Ordenou alguma coisa a ele para justificar sua ausência no café, querido?
– A última vez que o vi foi ontem. Depois de encerrarmos nossa conversa com Said.
– Bom... Espero que ele não esteja passando por nada desagradável. – (isso depende de como aqueles três estão lidando com a escuridão de Absol) – E falando em “desagradável”, já conseguiu descobrir o que foi que aconteceu com aquela garrafa do jantar?
– Ainda estou estudando o caso. Não se preocupe. – declarava ele já se levantando – Vou para o escritório agora, se alguém ver o Haidar por aí, diga que desejo falar-lhe o mais breve possível.
Todos concordamos e ele partiu da mesa. Ficou decidido que a Cris ficaria mais hoje de repouso, por garantia. Por isso, Erika treinaria dentro do quarto com a Cris apenas observando tudo. Chrome iria passar no laboratório para dar uma conferida nas poções e depois passaria a observar a Cris, com a Karenn lhe fazendo companhia o tempo todo. Lance não iria sair do lado da Cris, então, para que Valkyon e eu pudéssemos nos manter dentro do quarto também, uma vez que não tínhamos nada o que fazer naquele lugar com a “liberdade” que tínhamos, decidimos assistir ao treino da Erika, e quem sabe, praticarmos meditação em grupo. Esse último era para ter certeza de que Maora não só se manteria de fora, como a faria pensar ser completamente desnecessário colocar alguém para ficar nos observando (ao menos é o que eu espero!).
Por sorte, a Maora acabou fazendo mesmo como eu imaginava e, depois que o Chrome e a Karenn se juntou a nós no quarto, Leiftan convidou todos a fazermos aquela meditação em grupo que eu havia sugerido, pedindo ao nosso “vigia” que mantivesse a porta do quarto fechada e que não deixasse ninguém nos interromper. A mulher que cuidava da porta das representantes apenas assentiu com a cabeça e nos fechou a porta. Sem tranca-la. Tive de colocar uma pequena armadilha improvisada para quando alguém fosse abri-la.
Nos posicionamos como se nós realmente fossemos meditar, ativamos quase todas as sanas clypeus restantes e Lance, Leiftan e eu começamos a falar sobre o ocorrido dessa madrugada.Lance
– Aconteceu o quê ontem à noite!?
– Todos os quartos receberam intrusos. Há algum problema, Valkyon?
– Não. – meu irmão respondia encarando o Leiftan com irritação – Por enquanto, não. – onde o mesmo disfarçava olhando para os lados (o Leiftan deve tê-lo feito de bobo _sorriso nervoso_).
– Mas, continuando. – eu assumia o lugar do Nevra – Cada um de nós que estava acordado no momento, não só os paramos como também os nocauteamos. Absol se encarregou de mantê-los em segurança para nós.
– E como foi o Absol quem se ofereceu para nos fazer esse favor, deixamos para interroga-los hoje. E agora se todos estiverem de acordo.
– Só uma pergunta, Nevra.
– E qual seria, Karenn?
– Quem são esses intrusos? Nós os conhecemos?
– São Haidar e os dois guarda-costas pessoais de seu pai, Hakin e Sahir. Eram esses os nomes, certo?
– É sim, Leiftan. – confirmava o Nevra – E eu acho... Que já estamos prontos para questionarmos os nossos prisioneiros. De preferência o Haidar, já que ele é o mais próximo de Kellinroe. – declarava ele brincando com o frasco de norns visdom dele. – Cris? Poderia nos chamar o nosso umbracinesiano favorito?
– _suspiro_ Absol? Você pode me ouvir? – a cabeça dele saía do centro do circulo que havíamos formado – Tem como você nos trazer o Haidar para que possamos questionar suas reais intenções? E se puder mantê-lo preso durante isso, lhe agradeço de coração.
E assim o black-dog fez. Após “nadar” para o lado dela, mantendo só a cabeça fora de suas sombras, ele começou a fazer alguém emergir no lugar em que havia surgido. De joelhos, sentado sobre os próprios calcanhares e com as mãos “amarradas” às costas. Nevra aproveitou que o coitado estava sendo mantido vendado e se ergueu para força-lo a engolir algumas gotas de poção, o que Haidar fez bem contrariado e insultando também. Tendo o líder retornado para o seu lugar, Absol resolveu remover as sombras de seus olhos.
– Com mil diabos! O que é que está acontecendo e... Espera, são vocês?!? Onde estamos? E quem é o responsável pelo meu estado?
– Primeiro você! O que você e os guarda-costas de Kellinroe queriam ao invadir nossos quartos? – questionei encarando-o com indiferença e seriedade, assim como os demais.
– Seguíamos ordens apenas. Dá para me esclarecerem?! – gritava ele, cada vez mais alto.
– Estamos dentro do quarto que me foi cedido. Sob a proteção de sanas clypeus, por isso, se não for pedir muito, gostaríamos que parasse de gritar, porque não adiantará nada. Estará gastando sua voz à toa. – respondia a Ladina, massageando os próprios ouvidos e deixando o vampiro estático.
– Se importa de nos esclarecer que ordens seriam essas, Haidar? Pois pode ter a certeza que ninguém aqui está feliz com a situação. – declarava a Karenn.
– Depois da conversa que Kellinroe e eu tivemos com o Said, Kellinroe nos ordenou a pegarmos as humanas e seus filhos e levá-los a um de seus esconderijos à prova de ataques vampíricos. Qual de vocês está me mantendo preso? – Absol latiu, e, se não fossem pelas “amarras”, o Haidar teria saltado para o extremo de nosso circulo.
– Este é Absol, o outro guardião da Lys. Um black-dog “gigante” com umbracinese. – esclarecia o Leiftan – O quê exatamente vocês conversaram com Said? E que intenções Kellinroe tinha ao ordenar isso?
– Nós descobrimos sobre o plano de ataque contra os nossos estoques, além da recuperação impressionante que ele teve graças ao sangue da Lys. Kellinroe pretendia esconder todos os humanos e sua família dos possíveis invasores e deixá-los com o restante de vocês. Vocês usaram umbracinese para trocarem de quartos por acaso? O que a Erika fazia no quarto que só devia haver homens?
– Nunca fomos de acordo com a forma com que nossos anfitriões decidiram nos separar, então, sim, usamos da umbracinese para realizarmos a nossa própria divisória. – respondia com um pouco de satisfação – Qual era o verdadeiro objetivo de seu mestre? Pois eu não creio que “proteção” tenha sido o único objetivo de Kellinroe ao raptar alguns de nós.
Haidar tentou ficar calado, forçando-se a ficar de boca fechada – É perda de tempo. O que você engoliu forçadamente é uma poção da verdade. Quanto mais resistir, pior será a sensação. – alertava-lhe o meu irmão que pude notar, pela forma com que batia o indicador no próprio braço, que estava bem nervoso.
– As humanas seriam adicionadas aos nossos estoques. – soltou ele após não conseguir segurar mais – E Kellinroe forçaria seus filhos a voltarem a pertencerem ao clã.
– QuÊ!? Com que milagre?? – perguntava o Nevra totalmente indignado.
– Depois de descobrirmos a Alessa, uma faeliana especial que estamos abrigando, Kellinroe decidiu averiguar se entre os nossos humanos havia alguém que lhe valesse a atenção. Mantendo segredo de todos sobre isso.
– E havia? Se sim, em que sentido? – questionava a Erika.
– Há um homem. Um médico especialista no funcionamento da mente, que usa de técnicas de hipnose para os seus tratamentos, que interessou ao mestre.
– Hipnose?? Kellinroe planejava manipular a minha mente e da Karenn, é isso?!
– Acalme-se, irmão... Para isso o medico teria de ser capaz de nos hipnotizar. E você sabe muito bem que hipnotizar um vampiro é uma das coisas mais difíceis, se não impossíveis, de se fazer!...
– E o Jeffrei conseguiu.
– E o quê?!
– Foi humilhante de assistir. As cobaias foram o Sahir e o Hakin. Jeffrei os mandou imitarem a ave mais tola que conheciam, depois de os enrolarem com uma conversa, que pra mim, não fazia qualquer sentido. Os dois passaram a ficar agindo como se fossem becketts. Ciscando e cacarejando até que o médico lhes ordenou a parar.
– Errr... Cris! Você não tem uma pulseira protetora sobrando não? De repente, eu meio que perdi minha confiança vampírica...
– Sinto muito, Karenn. Talvez Absol consiga achar alguma para você e o Nevra, mas... Até lá... Melhor tomarem cuidado.
– Humanos realmente sabem como surpreender... – declarava o Valkyon em meio a um suspiro – E como que é tratamento dado a esse Jeffrei? Ele tem as mesmas liberdades de Alessa?
– Mesmas liberdades??
– Nós já conversamos com ela, Haidar. Na verdade, ela é uma das chaves para descobrirmos o quê que viemos fazer aqui. E estamos fortemente convencidos que isso tem relação a ela e seus amigos, e também à atual situação dos vampiros de Yaqut. – informava o Leiftan.
– Mas como... – ele voltou a encarar a “cabeça” de Absol – Mas é claro. O usuário de umbracinese. E um de vocês deve conhecer o italiano também.
– Conhecer várias línguas é sempre útil. – comentei satisfeito – E quanto às perguntas de Valkyon...
– Jeffrei não recebe regalias. Não às claras, pelo menos. Kellinroe aumentou o conforto dos humanos que mantemos, como pagamento por tudo que Jeffrei lhe ensina sobre a psicanálise. E os dois fazem questão de usarem de suas habilidades para manterem suas conversas e encontros em segredo. Jeffrei até ajuda a manter os demais humanos sob controle.
– Me questiono até que ponto esse tal de Jeffrei é de fato confiável. – refletia a Erika.
– Certo. Alguém consegue pensar em mais alguma pergunta importante?
– Eu tenho, Nevra. O quê iremos fazer com os três? Continuar os mantendo presos dentro das sombras de Absol?
– Se puderem me poupar desse tratamento, eu agradeço. Sou um vampiro, mas aquela escuridão é bem desconfortável, senhorita Lys.
– Não podemos libertá-los. Seja por conta da possibilidade dele e os demais nos entregarem, seja pela possibilidade de termos novas perguntas a fazer. Mesmo que peçamos para que Absol os abandone em alguns oásis longe daqui, não há garantia que eles consigam retornar antes de já termos partido.
– Finalmente consegui encontrar alguma semelhança entre o senhor e Kellinroe. Ambos são frios e calculistas quando se trata de negócios... – Nevra pareceu se zangar, mas Karenn e Chrome o manteve no lugar – Acho que posso suportar mais um ou dois dias nas trevas. É melhor do que ficar perdido lá fora, debaixo de um sol escaldante.
– Então faremos assim. – decidia o Leiftan – Vamos mantê-los sob a tutela de Absol o máximo possível e, depois que tivermos resolvido o que há para resolver, os libertaremos. Só tenho mais algumas perguntas antes de Absol devolvê-lo para a escuridão.
Leiftan o questionou um pouco mais sobre tudo o quê nós já havíamos descoberto e pediu detalhes sobre a mapeamento da casa e de Yaqut. Quando finalmente ficou satisfeito, Absol o recolheu e removemos a barreira, pois, apesar de todas as pistas, ainda não sabíamos o que viemos fazer aqui. Por isso decidimos continuar fingindo não saber de nada sobre Haidar e os outros, e nem da gravidade da situação de Yaqut.Kellinroe
Suportar os choros abafados de Maora, pelos filhos que abandonaram o clã, se tornou extremamente complicado desde que consegui sobreviver à doença. Principalmente se as sequelas resolvem me perturbar. Mas não posso dizer que o recebimento daquela carta dizendo que os ingratos estariam nos visitando, me cheirava boa coisa.
Além de ter que lidar com as sequelas, ainda tinha que continuar lidando com as consequências geradas pelo atraso de novas remessas de sangue. Se Maora não tivesse tomado conta de tudo enquanto eu estava de cama... Alessa nos forneceu uma boa solução para evitarmos uma crise severa.
Queria que nossos alquimistas fossem mais habilidosos. Assim me seria possível descobrir se o sangue de Alessa é seguro para consumo também. Poucos vampiros tem consciência disso, mas o sangue de alguns faerys, são como veneno para os vampiros! Por isso decidi confirmar por mim mesmo se haveriam outros faelianos no grupo daquela criança.
Não achei mais faelianos, mas as habilidades de Jeffrei, aquele anglo-saxão, realmente me impressionaram. E ao que se refere à pensamentos sociais, ele até que me é um bom conselheiro. Ainda custo a acreditar que os humanos conseguiram desenvolver técnicas capazes de hipnotizar até a nossa raça. Se não fosse por isso, dificilmente acreditaria em todas as evoluções efetuadas pelos humanos até o momento.
Na época que o clima ficou estranho, Orgels tinha acabado de ser escolhido como novo líder do clã, e um pouco antes do mundo “se normalizar” outra vez, ele já considerava a ideia de retornarmos para a Terra, e eu, em minha sincera opinião, achava aquilo absurdo. Depois de conhecer o Jeffrei então!... Ainda bem que ele desistiu dessa ideia quando tudo voltou a estar estável.
Confesso que ainda tinha as minhas dúvidas sobre as coisas que Jeffrei havia me revelado, mas, ao observar as reações de Alessa diante dos materiais que lhe eram fornecidos (como se estivéssemos lhe oferecido paus e pedras para trabalhar) e pelas historias que nos eram contadas pelas terráqueas do grupo de meus filhos, eu nunca teria passado a acreditar em tudo sinceramente.
Falando em terráqueas... Aquelas humanas eram realmente intrigantes. Não só se diziam descendentes de raças extremamente poderosas, como também possuíam um “perfume” interessante. Especialmente a que foi intitulada como Lys de Eldarya. O seu perfume, era realmente tentador, no entanto, havia algo nele que me fazia ficar em alerta. Receoso. Um sinal de perigo que não consigo explicar bem.
Graças às experiências que obtive nas conversas com Jeffrei, eu já planejava dar um jeito de “convencer” Karenn e Nevra a retornarem definitivamente para casa, e assim não precisar mais ficar aturando os choramingos de Maora. Por isso eu já havia planejado tudo com antecedência. Porém...
Eu não sei que truque essa tal de Lys utilizou, mas eu ainda descubro como foi que ela percebeu a poção no vinho que mandei oferecerem ao seu grupo, no jantar. Ainda mais depois de ter resolvido adicionar aquelas mulheres aos meus planos, uma vez que o sangue delas não nos representava perigo de beber.
Pedi ao Haidar que ficasse de olho neles por mim, enquanto trabalhava em um novo plano para conseguir obter o que eu queria. Deixei Maora cuidando das coisas e concentrei-me apenas nisso.
Quando me chegou a noticia de que aquela Lys foi atacada, fiquei imediatamente curioso com o resultado disso. Me apressei a visitar o Said e, graças ao que aprendi com Jeffrei, pude obter tudo o que eu queria dele.
Said é um dos que ficaram tão ruins quanto eu, mas diferente de mim, não tinha tanto acesso ao néctar, deixando sua condição ainda mais grave. E até onde eu sei, ele é um dos poucos que sabem que devemos ser cautelosos com faelianos que não conhecemos, o que só comprova o quão precária era a sua situação para ataca-la sem pensar duas vezes.
Sua reação ao sangue recebido daquela mulher me deixou embasbacado. Ela não só saciou TODA a sua sede, como também o curou completamente! Said parecia nunca ter sofrido daquela doença como eu. Era praticamente um milagre!
Isso me fez perceber que eu tinha a obrigação de concordar com o Nevra, transformar aquela mulher é um erro desmesurado. É estar jogando fora o cálice da vida! Mais do que nunca desejo aquela criatura dentro do meu estoque, que terei de mudar de lugar graças ao grupo de idiotas que desejam saqueá-lo. Eles me acham mesquinho? Imagina o que diriam do Orgels, que, além de ter uma boa reserva de néctar escondida, ainda faz todo mundo pensar que ele adquiriu o seu néctar comigo! Sendo que na verdade, se eu tivesse continuado com o mesmo procedimento que utilizamos antes da chegada de Alessa, hoje eu não teria mais néctar algum para vender (que diante das circunstâncias, eu o vendo a um preço bem justo).
De volta para casa, precisava pensar rápido em como acelerar os meus planos para não arriscar a perder nem minha família, e nem minha fonte de renda. Imaginando que uma das ações que o grupo provavelmente tomaria seria o reforçar da alimentação da Lys para que ela possa se recuperar mais depressa, pensei em todos os pratos que eram boas fontes de ferro, e lembrei-me de alguns chás que poderiam ser úteis.
Instrui uma serva a como prosseguir e convenci a Maora, sem que ela percebesse, a me ajudar com meu plano. Ela muito provavelmente ficará furiosa quando descobrir isso, mas é para o nosso bem. Porém, alguma coisa me parecia bem errada. Questionei a Maora sobre como tinha sido o lanche deles, e não gostei nem um pouco de saber que a Lys havia tomado um chá diferente, sem mencionar que a Maora não parecia cansada como deveria se de fato também bebeu daquele chá.
Tenho um mau pressentimento...
Diferente do que planejei inicialmente, não levei Maora para o meu abrigo secreto enquanto ela dormia, mas me reuni com o Haidar, o Hakim e o Sahir conforme o combinado. Enquanto eu deveria me preocupar com Maora, era para aqueles três pegarem os meus filhos e as humanas. Por causa da revelação de Maora, eu quase que mandei o Haidar ir atrás das humanas ao invés de meu filho, já que ambos seriam igualmente complicados, todavia, acabei não o fazendo por me lembrar que a Lys ainda se encontra fraca (ela devia ter dado muito mais sangue do que imaginei ao Said).
Fui para o local onde os manteríamos e aguardei. Aguardei. E aguardei. Aguardei até o momento que o dia resolveu se anunciar. Mas que tormento! Onde que aqueles três estão? Porque é que eles não apareceram? O que foi que lhes aconteceu?
Já que a aurora surgia, resolvi voltar para encontrar aqueles três e obter explicações, no entanto, eles haviam sumido. Não os encontrava em lugar algum, nem seus cheiros eu estava sentindo! Há algo extremamente errado por aqui. Talvez... fosse a minha doença afetando os meus sentidos, e consequentemente feito com quê nos desencontrássemos? Porém não consigo aceitar essa possibilidade como legitima.
Chegando à mesa, tomei um susto. TODO MUNDO ESTAVA LÁ. Não faltava ninguém!!! Ninguém exceto meu assistente e meus guarda-costas pessoais. Aproveitei a conversa para observa-los. Tirando o guardião da Lys, seu professor de luz e o meu filho, ninguém parecia estar escondendo algo ali. Todos pareciam terem tido noites tranquilas. Diferente dos três que mencionei, que não paravam de trocar sinais entre si de acordo a conversa avançava.
Minha intuição me diz que eles podem ter alguma coisa a ver com o sumiço de meu pessoal. Mas como? Por mais que Nevra ainda se lembre das passagens de Yaqut, muitas sofreram mudanças depois de sua partida, e estando em “território inimigo”, eles não teriam onde escondê-los. É uma situação bem intrigante...
Quando Maora reapareceu em meu escritório, para averiguar se eu estava bem, ela me contou que deixou o grupo inteiro reunido no quarto das faelianas, e que iria até o mercado para conferir algumas coisas. Incluindo o paradeiro de Haidar, já que não apareceu em momento algum do dia. Aproveitei a saída dela para conferir se aquela gente estava de fato fazendo o disseram que fariam.
Chegando na porta do quarto, mal conseguia ouvir os seus batimentos cardíacos. Pensei em entrar, mas o servo me pediu para reconsiderar a ideia, pois eles mesmos haviam pedido, por meio da Maora, que não fossem interrompidos, para assim evitar possíveis acidentes com alguns deles. Como arriscar a segurança daquele “cálice” está definitivamente fora de questão, acabei cedendo.
Ainda me sentia aturdido com tudo, então resolvi procurar o Jeffrei para conversarmos.
– Algum deles pareciam mentir para o senhor?
– Não. – pedia-lhe conselhos, após ter explicado tudo – Ninguém mentia, mas todos pareciam... Esconder algo. Especialmente os três de que falei. – mas lidar com as mudanças da língua saxônica ainda me é desagradável.
– O guardião de armadura, o professor e o seu filho.
– Exatamente.
– Bom, eu não compreendo muito da natureza psíquica de seres não humanos. Já me é bastante complicado lidar com o caso da Alessa.
– Ainda não aceitou que as lendas não são meras historias?
– O senhor também ainda não parece acreditar na evolução humana. – respirei fundo para evitar de entrar no jogo dele, e acabar dizendo algo que não devo – Mas retomando a questão. – ele retomava após um momento de silencio entre nós – O senhor disse desconhecer a raça desse guerreiro mascarado. E também não compreende toda a extensão das capacidades dessa moça cujo sangue pode ser capaz de curá-lo.
– Said foi de fato curado...
– Porque ela lhe cedeu sangue de boa vontade. E se as intenções dela for um fator? Pensastes nisso?
– Hum... Acho que irei conversar com Said mais uma vez... E quanto ao grupo?
– Continua a mesma coisa. Preciso usar de minhas habilidades para mantê-los calmos e tranquilos. O nível de ansiedade tem aumentado muito por conta da forma que os vampiros nos encaram, quando passam por algum de nós.
– A culpa é daqueles que nos entregaram vocês. Se o poder de Alessa não tivesse se manifestado, todos vocês já seriam poeira nestas alturas. E a situação ainda mais crítica.
– Eu nunca fui lá muito religioso. Quase me considerava um ateu. Mas Alessa foi realmente um presente divino para o nosso grupo. E aconteceu alguma coisa com ela nesses últimos dias?
– Porque a pergunta?
– Pode ser apenas uma impressão, mas me parece que ela vem demostrando um pouco mais de esperança ultimamente. E quando a questionei, tudo o quê ela me respondeu é que teve um “sonho” diferente. Se sua mente não fosse tão forte... Eu conseguiria usar minhas técnicas nela.
– Desconhecemos a descendência dela. Se ela tem alguma capacidade profética, não temos como averiguar. Pensarei em algo para evitar o encontro entre algum de vocês e os membros do clã. Continue com o seu trabalho.
– Tenha uma boa noite, senhor.
Deixei-o batendo a porta com força, para que os outros humanos pudessem recobrar suas consciências de meu poder hipnótico. Maora retornou com suas compras, e zero pistas sobre o paradeiro de Haidar. Fui de encontro ao Said e, assim como Jeffrei sugestionou, a cura milagrosa de Said podia ter dependido de alguns detalhes da situação.
A noite se foi e parte da manhã também. Estudava alguns documentos quando comecei a ouvir um som peculiar e inconfundível.
– E é bom que eles tenham uma boa explicação.
.。.:*♡ Cap.166 ♡*:.。.
Cris
"* – Se preparem. Eles finalmente estão chegando.*"
(Como é que é?) – Quem está chegando, Lance?... – perguntava ao Lance, enquanto acordava.
– Do que está falando? Está sonhando?? – questionava ele, me fazendo ficar mais desperta.
– Não foi você quem disse: “Se preparem. Eles finalmente estão chegando”?
– Definitivamente, não. – aiaiai... – Pegue a sua gema. – ele pulava da cama – Praticou o encantamento como eu lhe disse?
– E acaso eu tive cabeça para isso? – respondi o observando ir atrás de um recipiente, após romper com a própria barreira em tempo recorde.
– Esse lugar está acabando com a gente... _suspiro_ Anda. Repete comigo. – me ordenava ele já colocando uma pequena bacia de agua à minha frente.
Recitei o encantamento com a ajuda dele. E para ter certeza que não deixaria nada para trás, me concentrei em querer rever todos os sonhos que tive desde o que sonhei misturando as historias de Alessa e Hipodâmia. Lance pareceu gostar do que via, já que me sugeriu transformar os meus sonhos em livros.
Eu não havia percebido, mas quando eu acordei por causa daquela frase, ainda era madrugada. Fim de madrugada! Mas nem por isso deixava de ser cedo demais para se acordar. Meus sonhos parecem demorar mais do que me parece quando os sonho... Erika e Leiftan apareceram segundos antes da frase que me despertou, com eles a ouvindo junto de nós.
– “Finalmente estão chegando”?? O que isso significa?!
– Sei tanto quanto você, Erika. Acordei com esse aviso pensando que era o Lan quem me dizia.
– Ao menos sabe nos dizer a quem poderia pertencer essa voz?
– Ahm... Olha Leiftan, lembrar eu não me lembro não. Mas... Ouvindo-a outra vez, ela até que me parece familiar. Mas não sei de onde.
– É melhor repassarmos isso aos demais e ficarmos atentos. Pode ser que esse seja o nosso último, ou penúltimo, dia em Yaqut. – comentava o Lance que parecia refletir sobre alguma coisa.
– É uma boa ideia. Arrume-se logo Lance, para que possamos falar com os outros. Informar isso à Karenn pode ser um pouquinho complicado, já que tecnicamente ela está sozinha em seu quarto.
– Nevra ou Chrome podem dar um jeito nisso com certeza. – Lance começava a se arrumar – Me ajude a terminar aqui ou se retire logo. Não estou bem humorado com as possibilidades do dia.
Todo mundo acabou respirando fundo de alguma maneira e começamos a nos ajudar, antes que nossas portas fossem destrancadas.Lance
Eu nunca desejei tanto o fim de uma viagem como estou desejando agora. Tanto que eu preciso tomar cuidado para não acabar cometendo algum erro (o quê essas sementes estão esperando para começarem a trabalhar?...).
Não sou de invejar os outros, mas bem que eu gostaria de ter a mesma facilidade da Paladina para pegar no sono. Quando ela acordou me questionando sobre alguém chegando, tive um mau pressentimento. Me apresei em fazê-la me mostrar os seus sonhos para assim poder entender melhor do que ela falava (se bem que os sonhos dela podem ser ótimos entretenimentos, de tão impressionantes...).
Como eu queria não ter reconhecido aquela voz que nos dava o alerta... – “Eu não sabia que você apreciava tanto assim a minha voz. Me sinto lisonjeada.” – (Corta a conversa mole e explique isso! Quem está chegando? E como exatamente precisamos nos preparar?) – “Sobre o quem, logo, logo vocês descobrem. Sobre o como, deixe tudo com Absol. E antes que você reclame, sim, de fato estamos abusando do black-dog por aqui. Mas isso é apenas porque a umbracinese dele é a nossa única e melhor arma contra os vampiros deste clã.” – (Não sei se concordo com o “única”...) – “Talvez. Mas continua sendo a nossa melhor. Esteja pronto para o que for. Fui!”
Eu não sei como que essa peste pode achar divertido deixar alguém confuso e perdido quando suas intenções são de ajudar, e não de atrapalhar.
Para não ser obrigado a me justificar com ninguém, decidi avisar que estava mal-humorado. E funcionou! Já que ninguém quis ficar me questionando depois que o Leiftan repassou o aviso para os outros.
O café da manhã seguiu de forma razoável e eu não parava de pensar nesse “logo” da Negra. O tempo todo, não parava de ficar de olho em tudo que era sombra, para quando Absol começasse a agir. Outra vez, ficamos reunidos no quarto da Ladina para... Meditarmos? Que tipo de exercício nossas aprendizes da luz poderiam estar fazendo na atual situação?
– Me diz, Cris, você está mesmo se sentindo bem?
– Não sinto nenhuma dor; não estou cansada; e parece que consigo pensar com clareza, então... – respondia ela, contanto nos dedos. – Sim, Maora. Acredito já estar bem sim.
– Ainda bem. – (fico me perguntando o quão sincera essa Maora pode estar sendo...) – Mas... Ainda assim, não é um pouco cedo para ela voltar a fazer esforço?
– A Cris é mais forte do que aparenta ser, mas ainda possui limitações como faeliana. O que pretendo fazer com elas é apenas alguns exercícios simples de concentração.
– Simples... Como, Leiftan? O último exercício de concentração que você nos deu nos deixou esgotadas.
– A Erika está certa. – comentei.
– Não nego que naquele dia eu deixei as coisas um tanto complicadas, mas hoje não será o caso. Bem como a Maora mencionou, ainda é cedo para pedir muito esforço à Cris. Por isso eu... Hum... Acho que podemos revisar as formas de concentrar a luz, para depois utiliza-la de acordo com a necessidade do momento. Alguma objeção?
– Não me fazendo suar... Tudo bem.
– Faço minhas as palavras da Cris.
– Está certo então. Sei que o Lan vai querer ficar junto independente do que acontecer e...
– Eu também ficarei. – Valkyon se impunha, encarando o Daemon muito seriamente.
– Ok... Mais alguém vai querer ficar e assistir ao treino delas?
– Não tenho o que fazer, então acho que irei ficar. Chrome? Karenn?
– Eu peguei as poções no laboratório ainda ontem, por isso também não tenho nada para fazer, Nevra. Ficarei para ver se aprendo alguma coisa.
– Se o Chrome vai ficar, eu também vou. – agarrava-se a vampira ao lobo, deixando alguns um pouco sem jeito – Andei observando uns olhares bem tortos para o meu lobo.
– Compreendemos. Err... E a senhora, Maora?
– Acho que seria melhor eu conferir os preparativos para o almoço. – declarava ela se erguendo e desviando o olhar de sua filha, totalmente corada – Divirtam-se com o treino.
Ela deixou o quarto com quase todos nós se despedindo dela. A porta foi fechada e só respiramos fundo depois dos nossos vampiros confirmarem o afastamento dela.
– Uma pergunta: você realmente pretende continuar com essa ideia de treino, Leiftan? O quê exatamente a Cris sonhou?
– Nevra ou Chrome não conseguiram lhe repassar?
– Não tão claramente, pelo menos...
– Eu também não entendi bem, Karenn. Foi só um aviso de que era para estarmos preparados porque alguém está finalmente chegando. Nenhuma pista de como nos prepararmos ou de quem que está chegando.
– Você realmente gosta de nos dar missões complicadas...
– Blasfêmia! Eu estou “apreciando” isso tanto quanto você, Nevra!
– Sem discussões! – Leiftan interrompia – Nevra, se não consegue pensar em nada que nos forneça pistas para as respostas de nossas perguntas, não provoque. E Cris, não estamos lhe culpando de nada, então não se irrite ou chateie-se com nada que qualquer um de nós vier a falar. Estamos todos um pouco tensos, perdidos e preocupados.
– Certo, mas... O que exatamente poderíamos fazer estando presos neste quarto?
– Erika tem razão, Leiftan. A Cris nos repassou a mensagem de que devíamos nos preparar. Mas nos preparar para o quê? E sem essa resposta, não sabemos aonde cada um de nós precisaria estar quando a hora chegasse.
– Não acho que temos de nos preocupar com isso... – deixei escapar, recordando-me da Negra de manhã, enquanto meu irmão falava. Chamei a atenção de todos sem querer.
– Não temos de no preocupar?? Do que é que você está saben... – Karenn me pareceu congelar no meio da frase. Ela parecia prestar atenção em algo que ouvia, e o Nevra, antes sentado de modo mais relaxado, também me pareceu ter ficado em alerta – Nevra. Isso é o que eu estou pensando?
– Definitivamente. Faz anos que não escuto esse som, mas duvido estar enganado. Devem vir nos trancar a qualquer momento para não atrapalharmos.
– Não atrapalharmos com o quê?
– Com as “trocas”. – declarava a minha Ladina, aparentemente já possuída pelas duas sementes, julgando o brilho que lhe envolvia – Absol. – o black-dog apareceu imediatamente – Conto com a sua ajuda. Leve cada um de nós para onde precisamos estar.
Sem aguardar por segunda ordem, Absol lançou as suas sombras sobre cada um de nós, sem sequer tivermos a chance de reclamar. Quando me dei por mim, estávamos perto do centro do mercado de Yaqut eu, minha Ladina, Erika, Valkyon, Leiftan e Nevra. Não avistava nem a Karenn e nem o Chrome em lugar algum. Os vampiros de Yaqut que se juntavam, não pareciam entender nada do que acontecia assim como nós.
– MAS O QUE É QUE VOCÊS FAZEM AQUI!? E COMO CHEGARAM!?! – reconhecia a voz de Kellinroe, furioso, se aproximando de nós.
– Cale-se. – ordenava minha Ladina a ele – E obedeça, se de fato desejar viver mais um dia. – Kellinroe só não avançou para cima dela porque tanto o Nevra quanto o Said (de onde ele saiu?) agarraram o velho e lhe tamparam a boca – Erika, irei precisar de sua ajuda.
– Minha ajuda?!? Minha ajuda em quê???
– Você saberá. Valkyon, Leiftan e Nevra, estejam prontos para lutar a qualquer momento. Lan, também precisa estar pronto, e se possível, mantenha-se próximo de mim. Sugiro o mesmo para o Valkyon, só que com a Erika. – Valkyon e eu obedecemos após uma troca rápida de olhares.
Diante da confusão, não havia reparado que um portal parecia estar se abrindo no meio de nosso grupo. Ele ainda estava pequeno, e formava-se devagar. E quanto mais ele crescia, mais com uma guerreira determinada minha Ladina se assemelhava...Said
As sequelas da doença que quase me matou eram cruéis. E esse racionamento apenas piora a situação. Até quando ele terá de durar? Pelo o que sei, Kellinroe é o único que continua fornecendo néctar para todos, mas o preço dele é alto demais. Antes do racionamento ser declarado, o dinheiro que agora eles pedem pela mesma quantia de néctar, dava para comprar o triplo da quantia. E há boatos de que o tirano pretende aumentar ainda mais o preço!
A situação de alguns era tão ruim, que aos poucos, por conta da sede, membros do clã começavam a perder o controle de si mesmos e arranjavam briga. Eu mesmo quase fui arrastado para uma. Porém essas brigas sempre era apartadas a tempo de se evitar as tragédias.
O boato acabou se confirmando. Kellinroe realmente havia aumentado o preço do néctar por ele oferecido. Sei que ele manteve uma das humanas que ele recebeu viva. Supostamente uma faeliana de sangue diferente. Ou será que é dela que vem o néctar que ele vende, e por ser ela a sua única fonte, que ele cobra tão caro?
Eu cheguei a vê-la no mercado uma vez. Seu cheiro era doce. Não parecia esconder veneno nas veias. Era mantida sob vigília. Não esqueço a vez em que, durante a visita dela ao mercado em busca de... ingredientes? Um sedento tentou atacá-la, e uma barreira muito bonita se formou ao redor dela, depois de ela bater na cabeça de seu atacante com o pingente de cruz que levava ao pescoço. Após isso ela nunca mais voltou ao mercado. Como eu fui um dos que socorreram o sedento, percebi que ele havia ganho um ferimento por prata. Bem onde apanhara da moça...
Havia um segredo por detrás daquela moça.
O tempo passava. E a condição dos mais humildes só piorava. Sendo eu, um deles. Diante da dificuldade em matar minha sede, agravada pela doença que me martirizava, sentia às vezes meu auto-controle querer fugir de mim. Um grupo de pessoas me ofereceu meio cálice de néctar e me convidaram para participar de uma reunião.
Reunião... Hunf! Reunião uma tolice! Aquilo era um grupo de saqueadores, isso sim. Não importa o quão grave esteja a minha condição, nunca irei me rebaixar a um ato vil desses. Claro que lhes dei a minha palavra que não contaria nada daquilo para ninguém do clã, como agradecimento pelo gole de néctar que eles me deram, e como eu nunca quebro uma promessa, eles me permitiram ir embora.
No dia seguinte, eu estava sentado escondido entre as pilastras do Grande Hall, tentando pensar em uma solução mais pacífica quando me chegou às narinas um cheiro... Que me fez querer encontrar a origem imediatamente. Logo avistei um grupo de visitantes escoltado por Kellinroe e sua esposa. Não consegui identificar todos, mas havia humanos entre eles. Dois, pelo menos. E um desses humanos... Exalava um cheiro... Tão diferente de tudo que já senti!...
Era um cheiro deliciosamente doce. Mas também, extremamente amargo. Doce e amargo ao mesmo tempo. Doce e amargo... como a vida.
– Remédio do meu mal... – acabou saindo de minha boca enquanto os observava entrar na casa do tirano do néctar (e de onde foi que eu tirei isso??).
Voltei para casa. Logo se espalhou a noticia de quem eram os visitantes, e confesso que fiquei bem curioso de conhecer aquelas faelianas e o tal dragão. Especialmente pelo fato das humanas serem escolhidas do Oráculo.
Acho que, no terceiro dia após a chegada deles, minha sede apertou de tal modo, que tudo o que me lembro foi de sentir aquele cheiro fascinante... E de uma horrível dor. Quando me dei por mim outra vez, eu estava... deitado no colo de alguém? Não conseguia me mexer. Estava preso. Ia relutar mas congelei ao ouvir a palavra “prata”. Prestando mais atenção, finalmente percebi que alguém me dava néctar. E de um sabor sem igual.
Era o sangue do dono daquele cheiro, sem dúvida. O gosto era deliciosamente doce, com um toque de amargo que me impedia de querer continuar bebendo por muito tempo. Também comecei a notar uma maana muito acalentadora, acompanhada de uma melodia, que me cercava naquele momento. Ela era relaxante, e esclarecedora! Pois, de acordo ia bebendo, e me entregando aos efeitos daquela energia, me recordava do que tinha acontecido. Eu avancei sobre uma das humanas logo após elas pausarem o treinamento delas, sendo lançado com tudo para longe da mesma.
Com essa memória recuperada, eu teria feito de tudo para parar de continuar recebendo aquele sangue se não fosse por um detalhe: para onde foram as minhas dores? A dor de ser lançado; a dor das sequelas; a dor da sede; não estava sentindo nada! Eu realmente estava sendo curado de tudo! Comecei a me sentir envergonhado pelo que tinha feito à aquela menina... E foi nesse momento que me ofereci em curar a mão de minha salvadora ao ouvir que a mesma precisava ser tratada logo.
Poder provar só mais um pouco daquele liquido milagroso, foi reconfortante, uma vez que não sabia quando que poderia matar minha sede outra vez. E a conversa que eu tive com a Lys e os demais foi incrivelmente esclarecedora.
Eu prometi para aqueles homens que não contaria nada sobre os seus planos para outros membros do clã, mas a minha salvadora não é parte do clã, por isso me senti na obrigação de contar sobre eles para ela e seus amigos. Além de me comprometer a ajudá-los nos que me fosse possível.
Não conversamos mais porque o Haidar resolveu aparecer. E quando fui embora e ele me agarrou dizendo:
– O quê exatamente aconteceu aqui.
– Covardes. Vocês estão com uma raridade nas mãos! Melhor protegê-la direito... – acabou sendo a minha resposta para aquele convencido. Que o deixou pasmo o suficiente para me permitir ir embora.
Eu ainda não sei direito como foi que aconteceu, mas ainda nesse dia, bem mais tarde, acabei contando tudo sobre o ocorrido ao Kellinroe. Até mesmo sobre os planos de atacarem a sua casa. Ser enganado ao ponto de quebrar minhas promessas me irritou, porém, com o respirar fundo que dei ao perceber meu erro, consegui dar um jeito daquele dissimulado me passar algumas informações também. Quem diria que existiam DOIS tartufos nesse clã. E um deles era alguém que eu ainda não tinha conseguido entender como é que ele havia conseguido a sua atual posição dentro do clã: Orgelz.
Deixando isso de lado, não me lembro da última vez que me senti tão bem quanto estou me sentindo agora. Alguns até me questionaram o que havia acontecido comigo e tudo o que lhes respondi foi “tive a vida devolvida por uma santa”. Claro que isso os fez pensar nas faelianas que estão com o Kellinroe e, para tentar impedir o ataque à casa dele, acabei dizendo que há mais faelianas formidáveis na casa dele do que o clã imagina.
Ontem à noite, tive um sonho estranho.
"* – Está feliz? – uma criatura, que me lembrava a descrição do Oráculo, me questionava.
– Feliz com o quê, exatamente? – lhe questionei sentado na poltrona de meu quarto.
– Por estar saudável outra vez. Sem falar de ter a sua sede finalmente saciada.
– Com toda a certeza, sim! Só de não sofrer mais com aquela doença, já me sinto um novo homem! Meu saciar foi um mero bônus.
– Isso é bom de ouvir, mas... O quão grato você está por isso?
– O quê exatamente você quer saber de mim? – questionei desconfiado das intenções daquela criatura.
– Muito em breve, a Lys de Eldarya irá concluir sua missão em Yaqut, e precisará de ajuda para que os vampiros daqui não a atrapalhe. Você a ajudaria?
– Se eu a ajudaria?! Contando que eu não tenha que tirar a vida de nenhum membro do clã, faria o que ela precisasse!
– Perfeito! Não tenha medo das sombras e faça tudo o que ela lhe pedir. *"
Acordei de sobressalto. Sem me recordar direito quando foi que adormeci e sem esquecer uma vírgula que seja daquele sonho. Foi estranho. Resolvi dar uma volta por Yaqut para refletir melhor sobre esse sonho.
Andando sem rumo, acabei parando na Clareira Coberta. Local onde agi de forma estúpida e ainda assim, fui salvo por aquela que havia atacado. _longo suspiro..._ Analisei cada canto daquele lugar, me recordando de cada detalhe do que acontecera ali. Comecei a ouvir o ruído característico dos portais quando os humanos o abriam, mas não dei atenção. Além de não fazer parte do grupo que costuma ter o controle sobre as “remessas”, eu estive refletindo muito sobre o que me foi tido naquele lugar (e eu não posso negar a verdade do que eu ouvi).
Yaqut já foi próspera. E vivíamos bem com sangue sintético. Nosso isolamento não nos fez bem. Fiquei sabendo que ocorreram grandes mudanças no mundo durante a nossa “solidão”; nosso comércio ficou meio que estagnado por conta da falta de novos produtos e clientes; nossa alquimia decaiu, já que vampiros em geral não são bons alquimistas; sem mencionar que eu sempre me senti receoso sobre esse acordo com os humanos. Como que pessoas que entregam o próprio povo para ser sacrificado podem ser verdadeiramente confiáveis? Por mais que o néctar fosse prazeroso, não conseguia acreditar que continuar com tudo aquilo realmente valia a pena. Estou fortemente desconfiado do motivo de tanto atraso por parte desses humanos.
Ainda estava refletindo sobre o assunto, quando uma massa escura se ergueu do chão e começou a me cercar. Pensei em fugir! Mas foi então que me recordei das palavras daquela criatura em meu sonho: “não tenha medo das sombras”. Respirei fundo. E deixei que aquela coisa me envolver. Ao me ver livre, estava no Grande Hall, bem próximo do portal que se abria. Não compreendi bem o que acontecia, mas, assim que percebi que Kellinroe pretendia atacar a Lys que estava... diferente de certo modo, o agarrei e tampei-lhe a boca junto de seu filho.
– Posso deixá-lo com você? - perguntava o Nevra, após receber a “ordem” da Lys.
– Graças a ela, sem o menor problema. O que está acontecendo?
– Sinceramente, não sei. Mas fique atento. Estou com um mau pressentimento. – me respondeu se afastando para mais perto do portal.
– Said? – ela me chamava – Você poderia cuidar dos complicados para mim, como está fazendo agora?
– Farei o meu melhor, senhorita. – respondi entendendo a quais complicados ela estava se referindo.
– Obrigada.
– Lhe devo a minha vida. Uma tarefa tão simples não é nada se comparado ao que fez por mim. – o sorriso que ela deu foi tão gentil, que acho que corei sem querer.
O portal continuou se abrindo vagaroso como sempre. Fazendo com que cada fez mais vampiros se reunissem ao seu redor. Faltando pouco para ele se firmar, um grupo de humanos guiados pela filha do Kellinroe, com o que parecia ser um black-dog imenso ao lado dela, e todos envoltos por uma grande bolha branca, começaram a adentrar o lugar. Reconheci na hora a tal da Alessa.
– O QUE É QUE VOCÊS FAZEM AQUI!? – reclamava o Kellinroe fazendo com que todos os presentes (exceto a Lys que não tirava os olhos do portal) olhassem para eles.
– Sinto muito papai, mas isso não é da sua conta. E um conselho! Mude AGORA a natureza de seus negócios.
Kellinroe só não ficou mais furioso, porque todos os sedentos do lugar começaram a querer avançar nos humanos, fortemente protegidos por aquela barreira branca. A Karenn procurava acalmar os humanos mais assustados, e eu acabei tendo uma ideia.
– Não seria muito mais fácil vocês irem atrás do estoque secreto do Orgelz ao invés de ficarem se machucando nessa barreira?
– É o quê?! – respondia vários deles, incluindo Orgelz que estava próximo, após ouvirem minha sugestão.
– Quem lhe contou tamanha mentira?! – questionava o Orgelz, claramente nervoso.
– Recebi essa informação de uma fonte bastante segura, Orgelz. Acho... que era dentro de um dos armários de suas acomodações?
– E-eu não tenho nada escondido em meu guarda-roupa! – respondeu ele, se entregando sem se dar conta. Afinal... Eu disse “dentro de um armário”, e todo mundo sabe que ele possui vários armários em suas acomodações, mas como ele disse claramente guarda-roupa...
O grupo abandonou na hora os humanos protegidos e começaram a seguir na direção da residência de Orgelz, encarando o mesmo com raiva na face. Sempre soube que o nosso “líder” era um covarde. Como ele não conseguia convencer todos aqueles sedentos que ele não possuía um esconderijo, acabou se encolhendo no chão para não ser dilacerado pelo grupo que não diminuiu nem um pouco os seus passos em direção ao néctar que tanto queriam.Erika
Eu não sei o que está acontecendo, mas estou nervosa. Tudo parece que vai resultar em uma tremenda confusão. Assistir aquele portal se abrindo, me apertava o coração. Sentia uma aflição que aumentava junto com o tamanho dele. A Cris disse que precisava de minha ajuda e que eu saberia o que fazer, mas não tenho ideia do que ela queira dizer com isso.
Apesar da presença do Valkyon geralmente me confortar em momentos assim, minha agonia não parecia querer cessar. Foi quando eu vi Karenn e Absol trazendo com eles Alessa e todo o seu grupo, gerando uma certa confusão que foi rapidamente resolvida pelo Said.
Encarando a barreira que os guardavam, acabei tendo a ideia de criar uma ao redor do portal. Não sei por que pensei nisso, mas fazer isso fez com que quase toda a minha preocupação se dissipasse. O tempo parecia se arrastar, e eu quase não acreditei no olhar da Cris quando a encarei! Era o mesmo olhar guerreiro que me lembrava de ter visto nos rostos de quase todos de Eel, antes da grande batalha da Guerra do Cristal começar.
Acabei por engolir seco. Respirei fundo e me concentrei o máximo que podia na barreira que havia criado. Tomando o máximo de cuidado para que ela fosse uma cúpula perfeita e forte. Eu realmente não sei o que esperar de toda essa situação. Quando o portal se tornou tão grande quanto... qual é mesmo o nome daquele mascote que dizem ser da realeza élfica mesmo? Ah, sim! Panalor. Quando o portal se tornou tão grande quanto, alguns vampiros começaram a se aproximar um pouco mais do portal (especialmente da minha barreira...).
– Se eu fosse todos vocês, eu manteria distância. Para a minha própria segurança. – declarava a Cris, se preparando para alguma coisa.
Os vampiros que ouviram seu aviso não pareceram gostar. Na verdade, alguns, com rosto irritado, começaram a se aproximar era de nós, duas, ao invés de se aproximar do portal! Valkyon não perdeu tempo em se colocar entre mim e eles, com Lance fazendo o mesmo pela Cris.
Eu já estava vendo a batalha que se iniciaria ali quando algo muito mais grave aconteceu.
Depois do portal ter finalmente se estabilizado, não foram humanos a primeira coisa que o atravessou. Foram projéteis. Projéteis que se chocaram com tudo contra a minha barreira, que estava recebendo uma camada extra, criada pela Cris! Nós duas estávamos impedindo aquela saraivada de balas de alcançar qualquer um dos presentes.
.。.:*♡ Cap.167 ♡*:.。.
Leiftan
– Não atrapalharmos com o quê?
Perguntei sem entender direito as reações da Karenn e do Nevra, que me distraíram do comentário estranho de Lance. Para que fosse a Cris, já se preparando para nos fazer uma nova e grande “surpresa”, a nos dar a resposta de maneira confusa.
Fiquei nervoso quando Absol começou a envolver a todos com a umbracinese dele, a pedido da Cris. E precisei respirar bem fundo, para tentar entender por mim mesmo o quê que a Cris planejava, pois, no atual estado dela, tentar obter respostas claras por ela, era inútil. Ela simplesmente fará o que ela quiser, como quiser. E caberá a nós lidarmos com as consequências de suas ações.
Depois que Absol nos liberou, a primeira coisa que eu reparei foi o fato de estarmos no Grande Hall. A segunda, foi que todos os vampiros pareciam estarem se reunindo ali, causando desagrado para alguns deles (em especial o nosso anfitrião). E a terceira coisa que notei, me permitindo compreender um pouco melhor o que estava acontecendo, foi que um portal se abria vagarosa mente bem no centro de nosso grupo, que no momento era formato por mim, Erika, Valkyon, Nevra, Lance e a Cris. Não importava para que lugar eu olhava, eu não encontrava nem a Karenn, nem o Chrome e muito menos Absol (aonde que os três estão??).
Minha conclusão pessoal: a Cris estava prestes a intervir de alguma maneira no acordo do clã de Yaqut com os humanos. Era claro que ela não iria permitir que as coisas acontecessem como costumavam acontecer, especialmente pela forma com que Absol nos posicionou no hall, cercando o portal que tentava se abrir, e pelas “ordens” que ela passou para cada um de nós.
Algumas confusões tentaram se formar, mas foram rapidamente resolvidas ou por nós, ou por aqueles que se colocaram para nos ajudar. Fiquei focando o meu olhar em três pontos: o portal, que era o mais demorado que eu me lembro de se abrir; a Erika, que me parecia extremamente desconfortável com toda a situação; e a Cris, que cada vez mais me passava a impressão de que uma batalha estava prestes a ter início.
Depois que o portal parecia ter finalmente terminado de se abrir, muitos vampiros haviam se aproximado dele. Mas não muito! Receosos pelo o quê que a Cris poderia estar planejando com toda aquela luz e “autoridade” que ela emanava.
Levei um grande susto quando, alguns segundos após o portal ter terminado de se abrir, vários projéteis não me atingirem por pouco. Uma barreira formada pela Cris, e aparentemente pela Erika também, impedia que aquela “chuva” chuva alcançasse qualquer um do hall. Eu estava a apenas dez centímetros, se muito, de distância da barreira! Precisei respirar fundo para me recuperar do susto que fez com que vários vampiros corressem do saguão.
Por estar tão perto daquele jeito, pude observar melhor do quê aquela barreira estava nos salvando. Senti minha espinha gelar ao reconhecer o que nos atacava. Era munição de armas de fogo! Projéteis muito mais rápidos e fortes que qualquer flecha lançada pelo maior dos arqueiros! Está óbvio que o “atraso” dos humanos no acordo com Yaqut era proposital, mas por qual motivo eles resolveram trair o clã?
Os tiros vinham tanto pela frente, quanto por detrás do portal. E durou por algo perto de um minuto. Quando acabou, menos da metade dos vampiros que estavam presentes, permaneceram no salão depois que os tiros começaram. E ainda tivemos de esperar por quase cinco minutos para ver alguém o atravessando.
Um grupo de pessoas armadas e vestidas para encarar o deserto, começaram a atravessar. Acho que contei vinte deles. Assim que eles se depararam com a barreira, que só era visível por causa do poder da Cris, eles ficaram chocados. Alguns olhavam para todo o salão, como que procurando por feridos ou coisa do tipo, e outros analisavam ou a barreira ou as capsulas caídas ao redor do portal e dentro da barreira. Vi que teve um que parecia estar esfregando os olhos, depois de coloca-los sobre o grupo de Alessa, que se encontrava a meio caminho do portal (ele devia ter visto o grupo dela sendo enviado para cá).
– Vocês que traíram primeiro. – a Cris falava, chamando a atenção de todos (todos mesmo) – Então imagino que estejam prontos para receberem a punição que merecem por tudo o que fizeram.
Eu não sei se eles a entenderam, mas definitivamente eles enxergaram a Cris como uma inimiga, ou do contrário não teriam aberto fogo contra ela, esquecendo-se da barreira que nos protegia de suas armas.
Geralmente, eu veria aquela indiferença e calma da Cris como uma conduta admirável de um guerreiro verdadeiramente forte, mas, ao perceber que a Erika gemia de acordo a barreira era atingida pelas armas deles, fiquei em dúvida se ela estava mantendo aquela postura por causa da luz que a envolvia, se era porque ela não estava sentindo nenhum choque na barreira como a Erika, ou se ela estava ignorando a si mesma por haver algo mais sério diante dela.
Das duas, uma: ou eles eram completamente covardes, ou completamente idiotas, pois eles acabaram com a munição que tinham tentando atingir a Cris, ignorando a barreira que havia entre eles e me irritando cada vez mais com a dor que eles estavam causando à Erika.
– Nevra. Leiftan. – lá vêm novas “ordens”... – Derramar sangue é uma péssima ideia. Não atravessem sem Absol passar antes. – ela mal terminou de dizer isso e a barreira sumiu. Nevra e eu começamos a derrubar cada um deles um atrás do outro. Até alguns vampiros, irritados pela traição por parte dos humanos, ajudaram a nocauteá-los (foi observando esse detalhe que entendi o porquê dela dizer que feri-los seria ruim).Lance
Humanos nos atacando foi algo bem espantoso para mim. Esperado, mas ainda surpreendente por conta do nível de violência deles. Se não fosse pela barreira criada pelas faelianas, isso aqui teria virado um mar de sangue! E com tantos vampiros ao nosso redor, não existe situação mais indesejada que essa. E o preço por toda essa “segurança”...
Que aquele ataque estava atingindo a anjinha de meu irmão, era óbvio para todos, mas a minha Ladina não. Acredito que ninguém percebeu, mas eu vi. Foi bem discreto. Imperceptível de certo modo, mas a Cris estava sentindo dor com aquilo. E tive que ficar a assistindo dar pequenos tiques de dor até a munição daqueles estúpidos acabarem. Como eu queria poder arrancar as mãos daqueles idiotas... Servi-los de banquete para os vampiros daqui.
Depois que aquela barreira finalmente sumiu, eu só não fiz a minha vontade por causa do que a Ladina disse. Que era ruim lhes arrancar o sangue e que eu devia me manter próximo dela. Os covardes que estavam mais próximos de mim eu derrubei com um golpe só! Um belo soco na boca do estômago e eles já estavam inconscientes. Fracotes. Não é à toa que são tão dependentes daquelas armas traiçoeiras.
Após o último deles ter sido nocauteado, com os vampiros, especialmente Nevra, tendo impedido os mais próximos de fugirem pelo portal, a Cris pediu para que nós os amarrássemos. A Erika parecia exausta, mas não me lembro de já tê-la visto se cansar desse jeito com uma simples barreira. Foi observando melhor um dos... Cartuchos? É este o nome certo? Que estavam perto de mim. Eles eram enormes. Então imagino que o estrago que eles teriam feito ia ser tão grande quanto uma baforada minha ou de Valkyon. Elas deviam ter gasto uma energia considerável para manter aquela barreira.
– Lan.
– O que deseja, Ladina. – ignorei o mundo e me virei para ela assim que a ouvi me chamar.
– Quero que você impeça toda e qualquer pessoa de me tocar.
– Isto inclui a mim?
– Especialmente a você.
Senti um calafrio me percorrer a espinha, e dei o meu melhor para cumprir o que ela me pedia. Não sei bem por qual motivo, alguns vampiros resolveram querer ir atrás de minha Ladina. Vai ver eles achavam que, se conseguissem se livrar dela, poderiam se banquetear com os prisioneiros ou coisa assim. Mas o que quase fez o meu queijo ir para o chão, foi o descobrir do porque dela me pedir para não deixar ninguém encostar nela.
Primeiro, ela se aproximou do portal e lhe “encostou”, fazendo com ele assumisse uma aparência mais “sólida”. Uma aparência mais “firme”. Depois ela “pediu” para que Absol assumisse a frente e atravessasse o portal, deixando para ele as decisões do que fazer ou não com os que estivessem do outro lado. Absol atravessou correndo, e o Leiftan e o Nevra o seguiram quase dois minutos depois.
Se não fosse pela voz irritada de Kellinroe reclamando, eu ainda demoraria um pouco para perceber que mais um grupo havia adentrado no salão...
– O QUE É QUE TODOS VOCÊS FAZEM AQUI!? VOLTEM AGORA PARA OS SEUS TRABALHOS! – berrava aquele “mala-sem-alça” (como a Ladina às vezes diz) do Kellinroe para todos os servos reunidos que se aproximavam (de onde saíram tantos?).
– Lamento, meu senhor, mas recebemos ordens de nos reunirmos todos aqui, e não sairmos enquanto o portal estiver aberto.
– Quem ordenou tamanha besteira? Preciso de meus servos cuidando de minha casa! – reclamava um cara que parecia ser tão desprezível quanto Kellinroe.
– Não importa quem os ordenou a vir. – era a Ladina – O que importa é que eles precisam estar diante de mim. E para aqueles que ainda não entenderam, não devem tentar me tocar no momento.
Essa declaração fez alguns deles recuar, mas outros, como Kellinroe, apenas se irritaram ainda mais! Se o Valkyon já não estivesse ocupado com a noiva dele, eu teria lhe pedido ajuda para afastar aqueles malucos da Cris. Quando os servos pararam de chegar, ela começou a se mover em direção deles, me complicando a tarefa de não deixar ninguém tocá-la (inclusive eu).
Juro que fiz o que pude para atender ao pedido dela. Mesmo depois do alerta que ela deu, fazendo o numero de estorvos diminuir. Mas vampiros são seres complicados. Ainda mais quando você está tentando esconder suas verdadeiras capacidades. No instante que eu tentava me livrar de um chato, Kellinroe conseguiu pegar no pulso dela, e o quê aconteceu, fez todo mundo travar.
A Cris ainda estava protegida pelo tecido imbuído de prata energizada, e percebi que o Kellinroe estava usando luvas incomuns quando ela a segurou, mas... Por algum motivo que eu não sei (e nem sei se quero saber), a mão de Kellinroe começou a se desintegrar.
– Eu avisei para não me tocarem. – disse ela com indiferença e terminando de se aproximar dos servos, que estavam tão indiferentes ao que acontecia quanto ela.
Quando perto deles, a Cris começou a lhes dar o ósculo um por um, com grande ternura em seus gestos. E, um por um, cada um daqueles servos iam se desintegrando e desaparecendo do mesmo jeito que acontecia com Kellinroe. A única diferença entre o vampiro e os “falsos golens” é que Kellinroe virava pó cercado por desespero. Fosse desespero dele, fosse desespero de quem assistia com medo de toca-lo e acabarem sofrendo o mesmo. Enquanto os servos...
Eles pareciam receber aquilo com grande paz e gratidão. Quase todos reagiam de forma semelhante. Eu ainda consegui ouvir eles (entre os que eu conseguia reconhecer o idioma) lhe agradecerem; declararem liberdade; invocarem as divindades deles. Enfim, era como... Se eles estivessem recebendo o seu livre arbítrio de volta.
Aproveitei aquele momento... Incomum? Para reavaliar o local.
Quem atravessou o portal ainda não tinha voltado; Said vigiava (e protegia) os humanos que derrotamos; Alessa e seu grupo assistiam a tudo, pasmos; Maora chorava ajoelhada ao lado do que seriam as... Está correto eu dizer “cinzas”? Do que um dia foi seu marido; Erika e meu irmão já pareciam estar mais tranquilos; e quase todos os vampiros ainda presentes encaravam, boquiabertos, o que a minha Ladina fazia.Alessa
Eu vejo, mas ainda não estou acreditando. Como que eu podia imaginar que o dia de hoje poderia se converter naquele caos!?
Meu dia começou como outro qualquer. Hoje era dia de pausa nas coletas de sangue para que eu pudesse examinar melhor as condições de cada um. Eu comecei os exames um pouco mais cedo que o normal, aproveitando que alguns deles haviam resolvido cair da cama hoje, por isso, ao invés de só ter examinado metade deles durante a manhã, eu já estava era terminando. E todos me pareciam estar em excelentes condições! _sorriso aliviado_.
Eu sempre fiz essas verificações, supervisionada por um ou dois “servos” (continuo tendo calafrios sempre que me lembro como eles ficaram assim) e eles nunca se retiram antes de eu terminar de registrar tudo e entregar os documentos para eles, para que possam entrega-los ao Kellinroe ou à Maora. Nunca falhava. Mesmo se eu lhe dissesse que eu mesma poderia fazer isso, eles sempre agem como máquinas e não se vão por nada sem os papéis em mãos. Até conversar era algo difícil! Pois tudo o que eles sabiam dizer era o porquê de estarem ali, mais nada. Para a maioria das coisas que lhes fossem ditas, não vindas de um “mestre”, eles só nos davam o silencio. Era deprimente. Por isso, imaginem o meu espanto de não ver o meu “supervisor” do meu lado, quando finalizei com a papelada. E ninguém o percebeu saindo!
Só por isso, comecei a sentir receio de deixar o nosso “alojamento” (ainda não consigo enxergar essa... cela confortável, como um quarto comunitário), e ficou mais forte quando eu percebi uma movimentação anormal entre os vampiros que seguiam pelo corredor.
Talvez minha preocupação tenha sido repassada aos demais, ou apenas intensificou o que eles já poderiam estar sentido ao percebermos o sumiço do servo. Ainda bem que tínhamos um psicólogo entre nós e que ele já estava trabalhando de modo a deixar todo mundo calmo. Bem, calmos até o Absol resolver aparecer no meio do quarto, emergindo das sombras, com a Karenn do seu lado. Se eu não tivesse os conhecido antes, e reconhecido a filha de Maora, eu teria entrado em pânico como quase todo mundo!
– Parece que a chance de vocês voltarem para a Terra finalmente apareceu. – declarava ela, em árabe, com toda a calma.
– O que foi que você disse?!? – Victor questionou aquilo com tanto espanto, que os demais passaram a prestar mais atenção nele do que na Karenn.
– O que ouviu, amigo. Mas... Acho que a nossa chegada deixou todos vocês um pouquinho nervosos...
– Karenn,... – assumia a conversa – ...o que você quer dizer com: a nossa chance finalmente apareceu?
– Um portal para a Terra está se abrindo neste exato momento. E não acho que seja para trazer mais “doadores” que ele está se abrindo.
– E o que nos sugere?! Alessa, você confia nela? Acha seguro ouvirmos o que ela está dizendo?
– _respira fundo_ Victor, eu confio de coração na Karenn e no Absol. – ele começou a encarar o cão que estava sentado, perto da Karenn, observando a todos – Eu não mencionei antes, mas, depois de ter conhecido alguns deles, o sonho que sempre tenho com minha mãe mudou! Ela me pedia para confiar neles, e é o que farei.
O Victor me pareceu estar em dúvida e, ainda observando a Karenn que aguardava a resposta dele de forma calma, acabou dando um daqueles grunhidos baixos de derrota – Tudo bem. Vou dar uma chance para essa aí. Mas só farei isso porque tudo o que você tem decidido acabou nos protegendo!
– Obrigada Victor. Agora, Karenn, como exatamente pretende nos ajudar?
– Bom, para começar, deixe eu lhes explicar umas coisinhas...
Karenn nos repassou tudo o que estava sendo mantido em segredo da gente. A condição de Yaqut; o problema do portal; as armações de Kellinroe, e quem diria que tínhamos um hipnotizador no meio de nós. Pelo pouco que já conheço do Victor, tenho certeza que ele está se segurando para não bater no Jeffrei por causa disso.
– Meu plano é o seguinte, e já aviso para confiar em mim! – apenas assenti, com Victor repassando o que achava necessário para o resto do grupo – Seguiremos todos juntos, envoltos pelo seu escudo, até o Grande Hall onde o portal está se abrindo. Absol e eu seguiremos na frente, pois, assim como todo mundo aqui levou o maior susto ao ver Absol, os outros também terão receio no início. Quando a Cris dizer que é seguro vocês voltarem para a Terra, vocês atravessarão o portal e depois seguirão com as suas vidas.
– Só isso?!? Está falando sério?!? Já esqueceu o que acabou de nos falar?? O poder de Alessa é bom, mas não conhecemos os seus limites. E se resolverem pular aos montes em cima de nós?
– Olha, Victor, sua observação é bastante válida, mas como eu disse antes, precisam confiar em mim. E tenha a certeza, enquanto todos vocês não tiverem retornado para o seu mundo, de jeito nenhum irei me afastar de vocês.
– Tem certeza sobre a mensagem de sua mãe? – Victor me sussurrava.
– Acredite, tenho tantos receios quanto você neste plano dela, mas depois do bem que eu senti graças à Cris, eu simplesmente não consigo duvidar de quem está do lado dela. Não ao ponto de não querer fazer o que me pedem.
– Acho que vou precisar de acompanhamento psicológico pelo resto de minha vida quando isso tudo acabar...
Um sorriso triste, assim como um suspiro, acabaram fugindo de mim com a confissão de meu amigo. Sem mais delongas, começamos a nos preparar para irmos até o centro de Yaqut. Karenn e Absol seguiriam na frente, abrindo caminho, eu iria atrás deles e à frente do grupo, e Jeffrei e Victor iriam por último, atrás do grupo. Com todos nós sob a proteção de meu escudo.
Realmente, apesar de Absol estar dentro da minha proteção, assim que os vampiros daqui colocavam seus olhos sobre a criatura, arredavam o pé por instinto. Não vou negar que fiquei bem assustada quando alguns vampiros, depois que chegamos no salão, começaram a vir para cima de nós (agora eu entendo como que uma presa se sente...). Ainda bem que aquele homem conseguiu convencer todos aqueles “famintos” a conseguirem comida em outro lugar! (Não me lembro de tê-lo visto junto do grupo da Cris... Ele era um infiltrado ou um novo aliado?).
Passado o primeiro momento de perigo, tive de respirar fundo várias vezes não só para poder manter o meu escudo, mas também para me recuperar do susto que tive com aquela tentativa de ataque. Karenn, Victor e Jeffrei faziam o que podiam para acalmar os outros também (e tenho que concordar com o Victor. Sorte será se eu conseguir dormir tranquila depois disso tudo).
Só nos restou aguardar a abertura do portal que, diferente da primeira vez que o vi se abrindo, eu não via a hora de poder atravessa-lo. Mas eu nunca que iria imaginar que a primeira coisa que sairia dele seria uma tempestade de balas! (Será que o meu escudo funcionaria contra aquilo??). Assistir os vampiros correrem apavorados, me fez entender o que a Karenn tanto temia: os vampiros foram traídos. (Mas também!... Com o tipo de gente que eles foram se envolver!...)
A forma com que a Cris e seus amigos impediram uma chacina, quase me fez esquecer da barreira que ainda era preferível manter de pé. Meio que senti receio depois que Absol “saiu” de minha proteção para atravessar o portal antes de qualquer um. Imagino que ele tenha ido incapacitar o resto das pessoas que estão do outro lado, do mesmo jeito que foi feito com os que vieram pra cá.
Fiquei tão surpresa quanto os vampiros depois que todos os servos resolveram aparecer, reunidos, no saguão. Gerando um tumulto semelhante ao que eu e meus amigos causamos ao chegarmos.
Eu pensei que o Lan estava afastando os vampiros da Cris para protegê-la, de acordo ela se aproximava dos servos. Meu queijo quase caiu no chão ao descobrir que era o contrario. Não esperava ver algum vampiro virando cinzas só de tocar em uma pessoa (o quê exatamente a Cris fez??). Fiquei com o meu olhar dividido entre o que acontecia com o Kellinroe, e o quê acontecia com os servos.
– Mas o que é que está acontecendo aqui?! – Victor questionava ao meu lado, tão chocado quanto eu.
– Eu não sei, mas... – respondia apontando para os servos – Seja lá o que for, eles parecem estar bem de acordo.
– Tem razão. Estão todos sorrindo!
– Soube que, de certo modo, os “servos” já não podem mais serem considerados seres vivos, então... Ela estaria lhes retirando a “imortalidade”?
– Depois que a Maora nos explicou como que os servos “nascem”, eu não me importaria de virar pó para adquirir a minha liberdade de volta.
– Acho... Que eu também não me importaria.
Continuamos assistindo o desaparecer de todas aquelas pessoas, com eu dando uma espiada no portal de vez enquanto. Alguns instantes após o desintegrar do último servo, a Cris estendeu sua mão para o Lan, que levou alguns segundos para pegá-la, e os dois comeram a se aproximar da gente. Absol apareceu no mesmo instante que ela parou diante de mim.
– Alessa? – me aproximei um pouco mais – Você poderia, por favor, remover o seu escudo?
Sem pensar muito, acabei lhe concedendo (e espera! Ela falou em italiano??) – Como você...
– Agora não é hora. A menos que não queiram voltar para casa. – _engole seco_.
– Há algo... Que queira que façamos antes de nos deixar voltar para casa?
– Há sim. – ela estendeu a mão livre para o lado, recebendo um frasco nela pelo licantropo (de onde que el... Ah! Absol está do lado dele) – Isso aqui é algo que os ajudará a terem paz depois que atravessarem o portal. E acredito que ficarão meio que sozinhos depois de atravessarem. Absol já se encarregou de parte do problema, mas terão que ter forças para conseguirem retornar aos seus lares.
Victor e eu repassamos o aviso dela para os demais, e ninguém parecia contra a seja lá o que for que ela estava prestes a fazer. Com o consentimento de todos, ela ergueu o frasco e começou a cantar algo que fez o conteúdo do frasco mudar de cor, e se espalhar sobre nós como uma espécie de névoa viva. Vi que os homens amarrados perto do portal também foram atingidos.
Depois que a “neblina” acabou, observei que todo mundo estava com um olhar estranho. Como... Se estivem hipnotizados ou sei lá o quê.
– Alessa. – voltei-me para a Cris – Infelizmente, por você ser faeliana, não posso lhe apagar as memórias de Eldarya como fiz com resto de vocês... – (apagar as...) _olhos arregalados_ – Mas! Tenha a certeza que elas não irão lhe incomodar o seu subconsciente. Peço que tenha cautela sobre o que for revelar se questionada pelo o que aconteceu com vocês.
– E... O quê exatamente você me sugere dizer? – (sério. Sempre fui péssima para inventar historias).
– Pode dizer a verdade! – _boquiaberta_ – Diga que vocês foram raptados para serem entregues a um grupo com hábitos vampíricos. Que você conseguiu convencê-los de não lhes matar graças às doações de sangue e que um grupo de bem feitores lhes ajudaram a escapar.
– E quanto à memória?...
– Há um hipnotizador entre vocês, certo? Diga-lhes que foi ele quem manipulou a memória de todo mundo, inclusive a própria, para conseguirem esquecer o inferno vivido por aqui. Mas de forma alguma mencione a existência de um outro mundo! A menos que queira correr o risco de parar em um hospício ou em um laboratório.
– Nenhum dos dois! Pode ter a mais plena certeza! – tanto ela quanto o Lan acabaram rindo, e uma dúvida me surgiu – Cris? E quanto a... Aos meus poderes?
– Eles são seus. Você só tem mais facilidade de utiliza-los aqui, em Eldarya. Também será capaz de usá-los na Terra, mas apenas em lugares sob pleno domínio da natureza. Só em lugares assim, de preferência com bastante vegetação, que você conseguirá ter maana suficiente para usar os seus dons. Os humanos podem não precisar de tanta maana quanto os faerys para poderem viver, mas precisam de uma quantia mínima para ao menos manterem a saúde. Tenha prudência ao usar os seus dons... E sinta-se livre para descobrir suas origens!
– Muito obrigada, Cris. De verdade. Mas... Como faremos para nos achar do outro lado? Quase ninguém entre nós sabe como se sobreviver no deserto!
– Com licença... – o homem que convenceu os famintos a nos deixar de lado, se aproximava (mais um que entende italiano?).
– Fale, Said.
– Perdoe-me se for muita ousadia, mas... Caso os humanos aceitem, eu posso acompanha-los pelo deserto até encontrarmos algum povoamento que lhes possa ajudar. E... depois de tudo o que eu fiz, como vampiro deste clã, não me importo de perecer sob o sol terráqueo.
– Alessa? Deixarei que você decida. Said sem dúvida sabe o que se esperar do deserto, no mínimo. Seus sentidos aguçados poderão lhes ajudar a evitar os perigos e encontrar ajuda com mais facilidade. E mesmo não conhecendo todas as ciladas escondidas nas areias terráqueas, imagino que ele será capaz de compreendê-las antes que tenham a chance de efetuarem vitimas.
– Bom... Acho que não vejo problema, se o que você disse sobre que todo mundo vai esquecer de tudo com relação à Eldarya. Só fico preocupada de ele não ser mais capaz de voltar para casa depois.
– Fico grato pela sua preocupação, senhorita. Mas eu ficarei bem. Estudei muito sobre os “caminhos” que os faerys criaram para poderem conseguir voltar para Eldarya, então acredito ser capaz de me virar.
– Estamos combinados então. Apenas peço que seu grupo aguarde por todos os que precisam voltar, antes de atravessarem o portal.
– Que precisam voltar? – questionei encarando o portal e... De onde vieram aquelas criaturas?
.。.:*♡ Cap.168 ♡*:.。.
Nevra
Depois que terminamos de prender todos aqueles soldados, Absol atendeu ao pedido da Cris um pouco rápido demais para o meu gosto. Sei que o meu trabalho sempre foi algo perigoso, mas de jeito nenhum queria atravessar aquele portal primeiro. E pelo jeito com que eu e o Leiftan nos encaramos... Ele também não queria. Acabamos optando por atravessarmos juntos.
Eu não sei o que foi que a Cris fez com o portal, mas... Como eu posso dizer? A travessia me pareceu muito mais... Confortável? Se comparado aos outros portais que acabei precisando utilizar em algumas missões? Porém a surpresa que tive com a travessia não era nada se comparado ao que Leiftan e eu encontramos do outro lado.
– Acho... Que Absol está de mau humor hoje.
– Vou concordar com você, Leiftan...
Estávamos no centro de um salão arredondado, com vários homens caídos no chão. Julgando pelas posições deles, quase todos reagiram ao Absol.
– Eles estão mortos?
– Não. Não há ninguém morto aqui, ainda.
– Ainda?!
Eu estava verificando a condição de um dos homens próximos de mim – Alguns estão só inconscientes. Já outros irão bater as botas a qualquer momento se não receberem socorro. Ajudamos os moribundos?
– A Cris disse que Absol poderia agir da forma que achasse melhor por aqui. E se ele acha que eliminar alguns deles é o melhor... – gritos vindos de um dos corredores daquele salão nos chamava a atenção. E os gritos estavam acompanhados do som de tiros – Em quê exatamente teremos de ajudar Absol?
– Não sei dizer. – me erguia, tentando analisar o local com mais atenção – Mas... – me aproximei de uma mancha diferente no chão – Acho que Absol quer que sigamos por aqui! – apontava para uma “seta” deixada pelo black-dog.
– O som que estamos ouvindo vem dessa mesma direção?
– Não. – nos assustamos com o que parecia ter sido uma pequena explosão – Está vindo de outro corredor. A menos que cada um deles se conectem em algum lugar.
– Vamos logo. Não quero correr o risco de acabar confundido com os inimigos pelo Absol.
– Então somos dois.
Após respirarmos fundo para tomarmos coragem, avançamos com cuidado pelo caminho indicado. Encontramos uma pessoa ou outra caída, do mesmo jeito que naquele salão. Alguns inconscientes, e outros beirando a morte. Haviam outros corredores, assim como novas indicações deixadas por Absol. Nisso, entramos em um corredor que devia ser as prisões do lugar. Não poderia ter ficado mais chocado com o que tínhamos encontrado.
– São... faerys? – acabei perguntando, ainda não acreditando.
– São. – Leiftan me confirmava com uma voz dura.
Do pouco que pude observar sobre o deamon, só há uma coisa que o irrita tanto quanto ver a Erika sendo ferida: crianças maltratadas. Talvez tenha relação com a infância dele, mas definitivamente não era uma boa ideia querer discutir com o Leiftan quando seus olhos ficavam de esclerótica negra.
Analisando a situação, reparei que ao lado de cada cela havia uma espécie de caixa metálica. Me aproximei de uma das celas para eu poder confirmar minha suposição.
– Com licença. Alguém pode conversar um instante comigo?
– Quem é você? – ouvia uma voz feminina fraca, vinda do fundo.
– Nevra da Guarda de Eel. Como e porque vocês estão aqui?
– Sobre o “como”,... – uma silhueta se erguia – ...acho que é correto dizer que fomos capturados. – a silhueta pertencia a uma natlig que se aproximou das grades – Já sobre o “porque”, eu não sei lhe dizer com certeza, mas seja lá o que for, não creio ser algo bom, considerando o estado daqueles que eles carregam e depois trazem de volta para as celas. Quando os trazem.
Senti um calafrio na espinha. Alguns deles aparentavam terem sido submetidos a algum tipo de tortura, e eles eram de idade, raças e gêneros variados! Não me parece que foi feita qualquer distinção entre eles, sobre seja lá o que for que os donos deste lugar estão fazendo.
– Outra pergunta: como assim “capturados”? O que aconteceu?
– Bom... Todos aqui presentes fazemos parte do mesmo grupo. Atravessávamos o deserto em caravana para a cidade de Zlatna Oaza. Alguns para negócios, e outros para turismo. Foi perto da região de Yaqut que aconteceu. De repente, dardos com tranquilizantes começaram a serem lançados contra nós, seguidas de redes que eram muito grandes e pesadas. Estávamos prestes a fazermos uma pausa e eu estava cansada, não me lembro de mais do que isso antes de adormecer, e acordar neste lugar.
_respira fundo_ – Eee... Como, que vocês são colocados/retirados destas celas? Não vejo nenhuma fechadura.
– A caixa de metal é o que controla o abrir e fechar das celas, ... – (bem como imaginei) – ...só que eu não sei como funciona.
– Se é só isso, posso dar um jeito. SE ALGUÉM ESTIVER PRÓXIMO DAS GRADES, SE AFASTE AGORA! – declarava o Leiftan pra lá de irritado, indo para o começo do corredor de celas. Corri para ter certeza que todo mundo atenderia ao “pedido” dele.
No que ele alcançou o começo do corredor, uma grande quantidade de raios negros começaram a ser formar e partir dele, em direção à todas as celas. Explodindo as caixas metálicas e abrindo as portas das celas. Aos poucos, os faerys tomavam coragem para saírem e se unirem uns aos outros no corredor. Não pude deixar de reparar que alguns deles estavam bem fracos...
– Precisamos levar essa gente de volta para casa. Talvez seja esse um dos motivos de estarmos aqui.
– Concordo com você, Nevra. – aqueles olhos assustadores permaneciam em seu rosto – Mas ainda temos que descobrir onde Absol está. Ajudar essa gente pode não ser nossa única incumbência por aqui.
– Tem toda a razão. Senhorita! – voltava a falar com a elfa – Saberia me dizer se um... black-dog anormal passou por este corredor?
– Aquela criatura gigante está com vocês?!
– Então vocês o viram. Em qual direção ele seguiu? – era o Leiftan quem questionava.
– Ele seguiu em frente. Aterrorizando e derrubando as pessoas que estavam em seu caminho. Apesar... dele ter me parecido ter compaixão em seu olhar quando olhou para nós...
Sem dúvidas ajudar essa gente é uma de nossas tarefas em Yaqut, mas como o Leiftan mencionou, pode haver mais coisas, e investigar este lugar me é uma oportunidade e tanto! Tive de pensar rápido.
– Leiftan, acha que dá conta de ajudar essa gente enquanto eu procuro por Absol?
– Posso fazê-lo. E qualquer coisa posso pedir a ajuda dos outros se necessário. – (pelo menos ele parece mais calmo agora).
– Muito bem então. Seguirei em frente em busca de Absol. Se você tiver terminado de levar essa gente e eu estiver demorando muito, ou se Absol já tiver voltado e eu não, grite por mim para que eu possa voltar mais depressa.
– Este lugar é enorme pelo o que percebemos, acha que só um grito será o suficiente para você me ouvir?
– A estrutura deste lugar parece me favorecer sonoramente. Ainda não parei de ouvir o caos que Absol parece estar fazendo por aqui.
– Pois muito bem. Boa sorte e tenha cuidado.
– Pode deixar. – me despedi do Leiftan já correndo para fora do corredor.
Avancei passando por várias salas e corredores. Alguns claramente visitados por Absol. Tinha uma sala que mais parecia ser uma espécie de depósito de algum liquido, totalmente destruído, no qual não conseguia ficar lá por muito tempo. Seja lá o que for que havia naquele lugar, o cheiro me deixava sonso e um pouco enjoado.
Não muito longe, encontrei uma sala que mais parecia ser algum tipo de laboratório. Ou seria alguma câmara de tortura? Me aprofundando nela, atrás de uma porta que estava no fundo daquele local, acredito ter encontrado os faerys que não tinham sido devolvidos às celas... Ainda bem que o Leiftan ficou ajudando os outros.
Respirei fundo para retomar minhas buscas pelo black-dog, memorizando o máximo possível do caminho para que eu pudesse voltar para recuperar aqueles corpos e assim lhes fornecer uma despedida decente.
Avançando mais um pouco (e seguindo novos sinais-guia de Absol), acabei chegando em uma sala de grandes portas duplas que, uma vez dentro, me pareceu ser o escritório principal desta fortaleza. E estava tão “bagunçado” quanto a sala em que o portal se encontra...
Para ter tanta gente aqui, algo realmente precioso se encontra guardado neste lugar. Mas o quê?
Revistei cada canto, porta, gaveta, móvel, cortina, enfim, verificava tudo que podia estar escondendo alguma coisa. Mas foi atrás de um quadro, que caiu de repente, que avistei o que parecia ser um cofre. E não era um cofre qualquer! Era um cofre de segredo bem do jeito que a Erika me falou uma vez. Só espero que a minha audição realmente possa me ajudar a ganhar a aposta que nós dois fizemos!...
Aquilo foi um desafio e tanto. Acho que gastei uns vinte minutos, no mínimo, para conseguir desvendar o segredo daquela coisa. E o que eu encontrei ao o abrir... Acho que parte das pessoas que Absol eliminou eram as que sabiam do que eu havia acabado de encontrar. Aquilo parecia até mesmo impossível! Arranquei uma das cortinas grossas para poder envolver aquilo e levar comigo.
– Tenho a impressão que a Miiko vai querer desmaiar ao por os olhos nisso...Leiftan
Eu sabia, sabia que no momento que eu atravessasse o portal, iria ver algo desconcertante. Mas aquele corredor de celas foi demais. A primeira pessoa que eu vi, foi um bebê de colo! E prestando um pouco mais de atenção, pude perceber pessoas enfraquecidas por razões não naturais. Senti o meu sangue ferver com aquilo (Absol não precisava ter deixado exceções).
Marva, a natlig que o Nevra interrogou, me ajudava a guiar todos até o portal. E se ela não tivesse o visto, não acreditaria que estávamos na Terra e não em Eldarya. De volta à Yaqut, não foi difícil perceber que algo havia acontecido, mas achei melhor deixar para depois de terminar de ajudar aquela gente.
Observando rápido, encontrei a Cris e o Lance conversando com a Alessa e o Said (eu acho); Maora estava no chão, chorando diante de alguma coisa; praticamente todos os vampiros encaravam a Cris irritados ou assustados por algum motivo; Chrome e Karenn ajudavam alguns humanos, que pertenciam ao grupo de Alessa, a pegarem os homens que detemos, para poderem levá-los com eles (se eu tivesse sabido antes o que eles faziam na Terra...). Erika e Valkyon, que pareciam bem, se aproximaram de mim.
– Leiftan? Quem são essas pessoas?
– Uma caravana que foi capturada pelos humanos enquanto passavam próximo de Yaqut. Ao menos foi isso o que Marva nos passou. – respondia à Erika, apontando o polegar para a elfa.
– E quanto ao Nevra...
– Ficou para procurar Absol e aproveitar para investigar o lugar, imagino eu.
– O que mais vocês dois viram?
Repassei o que Nevra e eu havíamos encontrado para os dois, sem deixar de continuar ajudando os faerys, e recebendo a ajuda deles e de Chrome, que correu em auxilio assim que percebeu os combalidos. Vi a Cris usando os seus dons de cura em alguns dos faerys. Karenn estava ocupada organizando os humanos, e Chrome fazia o mesmo com os vampiros do clã, e com os faerys recém-chegados, por isso os dois dragões não se importaram em ajudar a Cris com os tratamentos. A Erika também os ajudavam com seu conhecimento adquirido com a Ewelein.
Como nem Nevra e nem Absol apareceram ainda, resolvi questionar sobre o que tinha acontecido enquanto eu estava do outro lado e... Como eu posso dizer?... Ainda BEM que a Cris não é a minha inimiga.Lance
Quando a Cris estendeu sua mão para mim, depois de ter feito o último servo virar poeira, senti receio de tocar-lhe. Mas ao perceber que sua mão tremia, compreendi não só que me era seguro tocá-la, como aquilo que ela fez acabou as forças dela! Peguei-lhe a mão já repassando metade de minha maana para ela (preciso manter uma parte para mim, pois não sei o que mais serei incumbido de fazer por aqui).
Não sei como ela consegue manter aquela postura forte, que pode estar ajudando a manter os vampiros longe dela, mas definitivamente o trabalho dela por aqui não acabou.
Quando foi exatamente que Absol voltou para este lado? E é só ele?! Nada de Nevra ou Leiftan?
Eu sei que a Ladina não fala italiano. Ela teve até dificuldade de compreender a Alessa quando a convenci a conversar com a gente! Ela ter sido capaz disso para conversar com Alessa agora, deve ser coisa das sementes que ainda estão a controlando.
Eu não me lembro bem da “canção” que a Ladina entoou dentro da prisão, entretanto... Tenho quase certeza de que o quê ela cantou agora, é diferente do que foi cantado naquele dia.
– Onde é que você estava? – resolvi questionar o Chrome, sussurrando para não atrapalhar a conversa da Cris.
– Absol me levou até o quarto onde eu mantinha as poções. Karenn estava junto e foi ela quem me pediu para esperar por lá depois dela perceber, não sei como, que era para eu estar a postos com todas elas em mãos. O que aconteceu aqui até agora? Onde estão Nevra e Leiftan?
– Muita coisa que ainda estou tentando digerir, e eles atravessaram o portal ali, seguindo Absol. Espero que o black-dog tenha ido atrás deles, já que sumiu de novo.
– Se ele foi buscar Nevra e Leiftan, eu não sei, mas temos um novo problema para lidarmos ao que estou vendo.
Encarei o portal, uma vez que Chrome o fazia, e fiquei espantado. Como que aqueles faerys estão surgindo?
A Cris sugeriu à Alessa que ela e seus amigos se organizassem para voltar para a Terra, levando os humanos que capturamos com eles. Karenn se ofereceu para auxilia-la com isso depois de ter dado uma olhada na própria mãe. Sem pensar duas vezes, a Cris também pediu ao Chrome que ele ajudasse os faerys que estavam chegando. Não demorou muito para o Leiftan reaparecer e, após ouvir a explicação superficial de quem era aquela gente, me aproveitei que Karenn e Chrome estavam distraídos para ajudar a minha Ladina, já que ela curava alguns dos coitados que voltavam para Eldarya.
Leiftan e Erika conseguiram convencer alguns vampiros a ajudarem também. Acho que o grupo de retorno para Eel será muito maior do que antes...
Depois que já estavam quase todos socorridos. Fosse com tratamento, ou com agua e mantimentos (de onde Absol trouxe toda aquela comida?). Nevra finalmente aparecia carregando alguma coisa, do tamanho de um plumobec adulto mais ou menos, envolta em algum pano que ele devia ter pego do outro lado, considerando a aparente sofisticação do tecido. Resolvi questioná-lo uma vez que estávamos próximos.
– O que tem aí?
– Provavelmente a “chave” usadas pelos humanos.
– Chave??
– Onde está Absol? Se ele puder manter isso guardado para nós, será uma grande ajuda. Não quero nem imaginar o problema que poderíamos ter se alguém como... Como o Orgels, por exemplo, colocasse as mãos nisso.
– Eu bem que gostaria de saber. Ah! E antes que eu me esqueça, meus pêsames. Graças à arrogância de Kellinroe, Maora agora é viúva.
De imediato, Nevra me pareceu mais indiferente do que surpreso. Depois de alguns segundos de reflexão, ele voltou a me encarar.
– Vou questionar sobre isso depois. Primeiro temos que terminar de lidar com esse portal e com aqueles que precisam dele.
– Você é quem sabe. Epa! – me assustava com Absol surgindo ao meu lado – Terminou o que tinha de fazer? Porque o amigo aqui está querendo lhe pedir um favor. E... Falando em favor, o que foi feito daqueles vampiros que você prendeu para nós, Absol?
O black-dog soltou o que me pareceu ser um suspiro e começou a mexer suas sombras. Uma grande bola de massa negra se ergueu entre nós três, se abrindo como uma bolha de sabão (mas de forma mais lenta) e revelando os três vampiros que pareciam... um tanto inertes (ficar tanto tempo presos na sombras os afetou por acaso?). Mal eles surgiram, e a massa negra foi se dirigindo para o objeto que Nevra segurava. Sumindo na escuridão da mesma forma que tudo que Absol captura em suas sombras.
– Bem... Um problema a menos. Sabe quem está livre para me ajudar a buscar os outros faerys que estão do outro lado?
– Há mais gente presa lá?! – Leiftan se juntava.
– Eu... Não diria bem “presa”. Mas se queremos fechar isto logo, vou precisar de ajuda para trazê-los.
– Vou pedir aos nossos. Lance fica para ajudar a Cris e impedir que mais inconveniências surjam.
– Acha que eu não tentei evitar o que aconteceu, Leiftan? Honestamente, acho que Kellinroe mereceu aquilo. Ao menos ele serviu de exemplo. Sem ofensas, Sanguessuga.
– Já disse que irei questionar isso em outra hora. Chame logo quem quer chamar, Leiftan, para podermos acabar logo com isso.
– Certo. – se afastava o Leiftan, se dirigindo até o Chrome e depois ao Valkyon.Alessa 2
Eu realmente não entendo os objetivos do grupo que nos jogou neste inferno. Como e por que havia tantos faerys do outro lado?? Acho que eles planejavam fazer o mesmo com os vampiros daqui, por isso que atrasaram o reencontro. Para poder enfraquecê-los e assim pegá-los mais facilmente. Mas continuo sem compreender o pra quê de tudo isso.
Um pouco depois de ter parado de chegar faerys da Terra, vi parte do pessoal do grupo do Lan se reunir e atravessar. Acabei respirando fundo, pois não via a hora de poder fazê-lo também.
– Relaxe, Alessa.
– Cri-Cris?! – quando foi que ela chegou perto de mim??? – Desculpe, mas... O que ainda est...
– Eles foram buscar os que faltam. Quando todos os faerys retornarem, será a vez de vocês de retornar ao devido mundo.
– Entendo... Se... Importa se eu perguntar algumas coisas?
– Pode. Só não lhe garanto as respostas.
– Ok. O que foi que você fez com os servos?
– Libertei-os. Eles já não eram mais seres vivos. Seus corpos nada mais eram que prisões eternas para as suas almas. Dar fim aos corpos, foi dar liberdade para as suas almas. – fiquei boquiaberta sem querer – Mais alguma dúvida?
– Sim! – voltava a mim – Como você fez aquilo? Acaso você é algum tipo de... “divindade”? – questionei me recordando de várias historias de fantasia.
– Não sei bem como explicar, mas uma coisa eu lhe garanto: eu não sou deusa nenhuma. No máximo, uma ferramenta. Não passo de uma mera faca. O que faço ou deixo de fazer, depende da mão que me segura.
Levei um tempo para assimilar o que ela disse. A Cris estava querendo dizer que ela estava sendo manipulada naquele momento? Manipulada por quem? Ou o quê? Isso explicaria o porquê dela ter conseguido falar italiano sem problema?
Fiquei com a minha cabeça tão confusa por causa daquilo, que quase não percebi os que haviam ido para a Terra voltarem carregando algo grande que não procurei entender o que era. Só vi que eram vários.
– Alessa?
– Hãm?! – era o Victor quem me tirava de minha reflexão.
– Está na nossa hora. O que foi que aquela mulher lhe disse para estar tão distraída?
– Ela apenas me deu algumas respostas que me deixou ainda mais confusa. A Cris e a Erika vieram da Terra assim como nós, porém tiveram uma sorte diferente da nossa.
– Se elas estão tendo sorte ou azar, não é problema nosso. Agora é a nossa chance de poder voltar pra casa. Quem é mesmo que você disse que iria nos acompanhar até que encontrássemos socorro do outro lado?
– Acho que seu nome é Said. É o vampiro que fez os que estavam famintos procurar sangue em outro lugar.
– Certo. Fiquei sabendo que o nosso sol é nocivo pra eles e o daqui não. Se ele sair da linha, só preciso arrancar o capuz dele.
– Não se preocupe com isso. – (meu Jesus amado! Eu quase tive um infarto!) – Tem a minha palavra que farei de tudo para conter e que avisarei! Quando eu começar a sentir sede. Mas espero que não se importe se eu me oferecer para cuidar de algum ferimento de corte ou algo do tipo.
– Pretende ficar “beliscando” para tentar controlar a sua “sede”?
– Sempre tive um excelente autocontrole, senhor. E se quer saber... Com licença. – ele pegava minha mão e, após obter me consentimento para o que fosse, ele fez um arranhão pequeno e fundo em meu antebraço – Há um segundo motivo para eu lhes pedir isso. Nós vampiros temos muitas habilidades. Entre elas... – ele lambeu o arranhão do começo ao fim, sorvendo todo o sangue que escapou, e jogando agua em cima logo em seguida, me deixando pasma com o que via – Temos a habilidade de curar ferimentos não mortais. Basta que “limpemos” a ferida.
– Isto que o senhor fez me parece um pouco nojento. Mas, útil, no fim das contas. Só que ainda continuarei de olho em você.
– Se isso o deixa mais confortável, não vou questioná-lo.
Victor só bufou e afastou-se. Não me lembro de já o ter visto tão ansioso como agora, mas eu não posso julga-lo. Eu mesma não vejo a hora de poder voltar a abraçar os meus pais! E ainda tem essa questão de minha antecedência. Largo essa historia de lado e finjo nunca ter tido poderes, ou vou atrás de tentar descobrir alguma coisa e aprendo a controlar meus dons para usá-los pelo bem?.
– Senhorita Alessa?
– Sim? O que foi Said?
– Quase todos já passaram de volta para a Terra. Não acha melhor pelo menos se aproximar do portal agora?
– Quê!? – confirmava por mim mesma as suas palavras – Eu realmente estou distraída. E eu ainda não me decidi se tento ou não descobrir mais sobre a minha existência.
– Fala de seu lado faery?
– Sim. Na Terra... Eu não terei muitas pistas, não é mesmo?
– Será mais difícil, sem sombras de dúvida, porém, não impossível. – uma pequena confusão envolvendo a Cris, chamou nossa atenção por um instante, mas logo retomamos a conversa – Eu já irei ter dificuldades para retornar a Eldarya, então... Se for de seu agrado, enquanto eu estiver procurando por um meio de voltar, posso ajuda-la a descobrir mais sobre si mesma. Isso se o sol não acabar comigo antes!...
– _riso_ Pensarei em sua oferta enquanto não encontramos socorro do outro lado.
– Said! Alessa! Vocês são os próximos! – Lan gritava nos chamando (já é a nossa vez?!?).
Nos dirigimos para perto do portal, mas a Cris e o Lan nos impediram de atravessarmos de cara.
– Said, pegue isso. – a Cris (que continuava falando em italiano) entregava uma pedra azulada para ele.
– Mas... Isso é...
– É o que os humanos estavam utilizando para conseguir abrir portais. Lancei um pequeno encantamento sobre ela. Quando você decidir que é hora de voltar para Eldarya, segurando este pedaço na mão você dirá: “Gamnlu-gu eg vogyhba jolo vomo”, e ela o guiará até o circulo de bruxa ou passagem mais próximo de você.
– Eu realmente lhe sou muito grato, Cris. Isso me facilitará muito as coisas. – agradecia ele colocando a pedra azul em um saquinho que dependurava no pescoço.
– Fiquei sabendo que tem como você criar algumas “reservas” do outro lado. Tente ser discreto para não incomodar os humanos.
– Muito obrigado senhor Lan. Farei como me sugere, por segurança.
– E Alessa. – era a Cris outra vez.
– Pois não? – mal questionei e ela começou a me abraçar. Era aquele mesmo abraço que ela me deu pela primeira vez e que me foi tão reconfortante. Tive de me segurar para não chorar outra vez.
– Viva sua vida da forma que acredite ser aquela que lhe trará mais felicidade. E pense sobre o que fará com a “faca” que são os seus dons.
– Obrigada. – aproveitei aquele abraço caloroso que tinha me reacendido a esperança. E só a soltei porque eu não consegui entender o que ela havia me sussurrado – O que foi que disse??
– Apenas vão. – declarou ela já me empurrando para o outro lado.
– Espera! – acabei gritando e já me vendo de novo naquele salão onde tudo havia começado.
Assim que me vi na Terra, tentei voltar para questionar o quê que ela havia dito, mas fui impedida por duas pessoas. E bem a tempo! Antes que eu tivesse encostado no portal, a aparência dele tinha mudado. O portal que anteriormente me passava segurança começou a me transmitir pavor!
– Qual o seu problema, Alessa? Ficou louca de querer se aproximar dessa coisa estranha?!
– Victor? – ele era um dos que me impediu (coisa estranha? A memória dele sobre Eldarya já está apagada??).
– Recomponha-se. Temos que descobrir o que raios aconteceu aqui e encontrarmos urgente por socorro para todos nós. Quem é esse que me ajudou a impedi-la?
– Sou o que ficou para ajuda-los a encontrar esse socorro. Sou Said.
– Said... E... O quê aconteceu? Como foi que esses homens que nos capturaram acabaram desse jeito?
– Reúna todos em um lugar seguro primeiro. Depois repassarei o que aconteceu para vocês.
– Está bem. – Victor começou a fazer o que Said pedira. E todos pareciam tão perdidos quanto ele.
– Adeus, jovem aziza.
– Como??
– Foi isso que a Cris lhe sussurrou antes de força-la a atravessar o portal. – _boquiaberta_ – Parece que agora você já sabe por onde começar as suas buscas.
– Aziza... Este nome me parece familiar...
– Bom, o que eu sei, é que os azizas são uma raça faery muito sábia e altruísta. Tentarei ajuda-la no que me for possível se quiser, mas... Seria lhe pedir muito uma ajuda para coletar um pouco de sangue dos cadáveres que estão por aqui? Lan e Nevra me explicaram algumas coisas enquanto a Cris lhe abraçava.
– Estão... Todos mortos? – olhava as várias pessoas caídas no chão.
– Só alguns. Temos de nos apresar para que os que estão inconscientes não atrapalhe a fuga. Vai me ajudar?
– Claro! Se você puder ficar na Terra o máximo possível para me ajudar com essa pesquisa. E além do mais... Seria uma pena desperdiçar tanta “bebida” assim.
Said riu. Ajudei ele a encher os cantis vazios que encontramos e depois nos juntamos ao meu grupo. Todos estavam bastante assustados e confusos com o que estava acontecendo, mas eles se acalmaram um pouco depois que Said e eu lhes repassamos a historia que a Cris havia me sugerido.
Fingir não saber de tudo não me foi lá algo muito fácil. Ainda bem que Said teve a ideia de fazer todo mundo se dividir em grupos para buscarmos por recursos dentro daquele forte, para que pudéssemos partir logo daquele lugar.
Alguns de nós conseguiu recuperar parte de seus pertences, coisa que, unido aos mapas que Said recebeu, nos permitiu reencontrarmos civilização em menos de uma semana.
Não existem palavras que sejam capazes de explicar o que senti quando me coloquei diante de meus pais outra vez. Ficamos abraçados por horas. Cada um que viveu aquele inferno buscou seguir com suas vidas, sem qualquer rastro de lembrança do que aconteceu. Só eu não pude compartilhar daquela dádiva. Mas! A Cris tinha tido a verdade. Apesar de ainda me lembrar muito bem de cada minuto do que aconteceu, nenhuma daquelas memórias me perturbavam o sono.
Said permaneceu ao meu lado. Usando a desculpa que queria me observar por um tempo por causa da minha “resistência à hipnose”.
Também tirei proveito disso para convencer os meus pais a me permitirem viajar para o país de minha mãe, a Etiópia, pois com algumas pesquisas, consegui descobrir que a origem dos azizas está na África. Eles até que resistiram um pouco, mas tanto o meu pai quanto a minha mãe, aceitaram.
.。.:*♡ Cap.169 ♡*:.。.
Cris
Abri os meus olhos devagar, porém já erguendo e esticando os meus braços. Até parecia que estava acordando de uma das minhas cirurgias (o que é que eu estava fazendo mesmo?).
Consegui reconhecer o meu quarto em Eel, mas ainda me sentia letárgica. Quando eu me lembrei de Yaqut, me ergui do travesseiro com tudo.
– Bom dia, Princesa. Dessa vez você trabalhou, heim!
– Lance? – parecia estar só nós dois e ele estava sem a máscara – O que aconteceu? O que foi que eu fiz? Quando foi que voltamos para Eel?
– Uma coisa de cada vez. Como está se sentindo? – ele pegava em minha mão, sentando-se ao meu lado.
– Bem... Sinto como se eu tivesse dormido um pouco demais. Alguém me deu alguma coisa para eu continuar dormindo? – desconfiei.
– Não se preocupe. Ninguém lhe deu poção alguma. Está com fome? Ou sede?
Prestei um pouco mais de atenção em mim mesma, e até que uma aguinha seria bem vinda.
Por mais que eu pedisse, o Lance se recusava a me falar qualquer coisa antes de ter certeza de que eu estava bem. Ficou cuidando de todas as minhas necessidades até ficar satisfeito.
– Acho... Que agora dá para conversarmos sobre Yaqut.
– Fi-nal-mente!
– _risinho_ Vamos lá. Para começar, qual é a última coisa que se lembra?
– Hãm... Acho que foi a Karenn e o Nevra reagindo a alguma coisa que estavam ouvindo.
– Eles ouviram o som de um portal se abrindo.
– Sério!?
– É. E as coisas aconteceram assim...
Lance começou a me contar tudo, adicionando os relatos dos outros aonde ele considerava aceitável. Uma historia que me estava sendo meio difícil de engolir... Mas eu bem que gostaria de poder me lembrar pelo menos das partes divertidas... rsrsrsrs.Lance
Ainda não acredito que estamos novamente em Eel. A Cris ficou dormindo por uns doze dias por causa daquilo tudo! (Para não mencionar a quase vergonha que passei por culpa dela...)
** Depois que Leiftan, Chrome e meu irmão seguiram o Nevra portal adentro, voltei a ajudar a Ladina com os necessitados. Não demorou muito para eles voltarem. Carregando corpos de faerys com eles (essa gente penou tanto quanto o grupo de Alessa. Se não mais).
A Cris resolveu ir para junto de um dos homens amarrados e eu a segui.
– Lan, poderia revistar este homem, de cima a baixo, para mim? Quero evitar maus entendidos...
– “Maus entendidos”??
– Sim. Poderia ser rápido, por favor?
Eu realmente achei aquele pedido dela estranho. O quê exatamente aquelas sementes estavam querendo daquele soldado? Ainda desconfiado, resolvi fazê-lo. O verifiquei meticulosamente e, a menos que aquele homem seja algum tipo de aberração, eu consegui entender o que ela estava querendo dizer com “mal entendido” (e eu já tenho problemas suficientes com esse tipo de coisa...).
– Ei, Nevra! – decidi usar o vampiro já que ele estava livre.
– O que você quer, Lan?
– A Cris me pediu para revistar esse homem no lugar dela, mas... O que ele escondeu... Está... Na êngua...
– Na onde?!? Mas que nojo!
– E inapropriado também. Pega pra mim aí, vai.
– Ficou louco? Eu não faço isso se houver outras alternativas. Isso costuma acabar com a reputação de qualquer homem. Porque não faz você?
– Uma coisa é eu ser questionado, outra é eu fazer algo do tipo. Nem morto que irei meter minha mão ali. Como é a Cris que está pedindo o que está com ele, não sei se é boa ideia pedir para alguém que não seja do nosso grupo. Não vou admitir ela fazendo e tenho certeza que nem o Leiftan e nem o Valkyon vão querer fazê-lo ou permitirão a Erika o fazer. Eu até que pediria para a sua irmã, mas ela já está comprometida e o Chrome com certeza será contra de fazê-lo.
– É mais fácil eu fazê-lo e cortar minha mão fora em seguida do que permitir que a Karenn sequer chegue perto dali.
– Que eu chegue perto do quê, Nevra? – a fofoqueira tinha se aproximado com o Leiftan do lado.
– Nada do seu interesse, Karenn.
– Se envolve o meu nome e do meu lobo, é de meu interesse sim.
– Não precisa se preocupar com isso Karenn. – tentava evitar uma discussão – Agora... Quebra logo um galho aí, Nevra.
– Eu não te devo nenhum favor, então se vire.
Favor? Imediatamente eu me recordei e, pelo sorrir maliciosamente traquina da Ladina... Eu não fui o único – Bom, realmente você não me deve nada. Mas para a Cris...
– O quê?!
– Nevra. Acaso você se lembra que ainda está me devendo três favores i-ne-gá-veis?... – não imaginei que fosse possível aquele vampiro ficar ainda mais pálido – Lan já nos fez o favor de encontrar o que quero, mas como ele se recusa a pegar... PEGUE no lugar dele! Por favorzinho, sim?
Aquilo foi como um xeque-mate. Ele até abriu a boca para tentar dizer alguma coisa, mas bastou um olhar da Ladina para ele se portar como um derrotado. Eu meio que senti pena, então tentei agir como um escudo para que ninguém visse o que ele faria. A Cris me ajudou com isso, além da Karenn e do Leiftan que faziam o mesmo (ela estava sussurrando algo ao ouvido do Leiftan, que tentou segurar um riso após terminar de ouvir. Acho que ela acabou ouvindo a conversa e trouxe o daemon de propósito _riso contido_).
– Agora eu entendo a sua insistência Cris. – reclamava o Nevra (e tá de brincadeira com o quê ele pegou) – Mas acho melhor esterilizarmos isso primeiro. Argh...
– Aqui, use isso.
– Valeu mesmo. – Leiftan lhe estendia um frasco de álcool que estávamos usando para limpar as feridas dos que tratávamos, e Nevra praticamente lavou a mão naquilo, assim como a pedra.
– Será que algum outro humano possui mais?
– Esse é o único, Leiftan. – a Cris respondia já aproximando a pedra do rosto – E é justamente o que precisamos.
A Cris começou a sussurrar alguma coisa com a pedra quase colada em seus lábios, enquanto o restante do pessoal resolveu ajudar os humanos a atravessarem. Notei que a Alessa e o Said não estavam por perto, por isso os chamei assim que os encontrei.
Às vezes me pergunto por que é que eu permito que essas sementes continuem fazendo de minha Ladina a fantoche delas. A Cris mandou a Alessa para o outro lado tão rápido, que eu nem tive tempo de questioná-la antes dela começar a fechar o portal! E, pela lufada de ar que o portal provocou ao ser fechado em segundos, acho que nenhum outro portal conseguirá se abrir dentro dos arredores de Yaqut.
– Mas o que pensa que está fazendo?! Que feitiço foi esse que você usou?!? – Orgels se manifestava como se ele tivesse todo o direito disso. Minha Ladina o encarou com tanta raiva, que comecei a temer pelo idiota.
– OUÇA BEM O QUE VOU LHE DIZER. PRESTE MUITA ATENÇÃO, VOCÊ, E O POVO DE YAQUT! COMO OUÇAM ACEITAR QUALQUER TIPO DE ACORDO COM UM GRUPO DE PESSOAS QUE SÃO CAPAZES DE ENTREGAR SEUS PRÓPRIOS “IRMÃOS” PARA A MORTE? COMO QUE VOCÊS COMETEM O ERRO DE CONFIAR EM PESSOAS QUE NÃO ESTÃO NEM AÍ PARA O FUTURO DE QUEM ERA ENTREGUE A VOCÊS, CONCIENTES DO DESTINO DELES? HOJE, VOCÊS FORAM POUPADOS DA MORTE. HOJE, VOCÊS ESCAPARAM DE SEREM CAÇADOS E MASSACRADOS DA MESMA FORMA QUE FAZIAM COM SUAS VÍTIMAS. NUNCA PARARAM PARA PENSAR NISSO ANTES? NUNCA IMAGINARAM QUE, AO ACEITAREM TAL ACORDO, NO QUAL NÃO HAVIA A NECESSIDADE PARA A SOBREVIVÊNCIA DE TODOS VOCÊS, CEDO OU TARDE VOCÊS SERIAM TRAÍDOS? E SE PENSARAM, PORQUE NUNCA FIZERAM NADA PARA SE PREVENIREM DISSO? PORQUE, PERMITIRAM QUE ESSAS NEGOCIAÇÕES MACABRAS CONTINUASSEM?...
– Você não tem qualquer direito de nos julgar. Você é só um...
– CALE! ESSA! BOCA!! – ordenava ela ao Orgels, que acabou se encolhendo ao ser interrompido – “SENHOR” ORGELS, VOCÊ NÃO TEM UM PINGO DE CONDIÇÃO DE SER LÍDER DE NINGUÉM! É UM LOUCO, COVARDE E NÉSCIO DEMAIS PARA TAL ENCARGO. SE NÃO FOSSE POR MEU GRUPO E PELA HUMANA DE NOME ALESSA, PELO MENOS METADE DE TODOS VOCÊS JÁ ESTARIAM MORTOS, OU APRISIONADOS COMO OS FAERYS RESGATADOS DO OUTRO LADO. OU REALMENTE ESTÃO ACHANDO QUE A ATUAL CONDIÇÃO DE TODOS VOCÊS NÃO FOI PLANEJADA? QUE O POVO DE YAQUT NÃO FOI ENFRAQUECIDO DE PROPÓSITO?
– E O QUE NOS SUGERE, SUA BRUXA! – essa era a Maora, com o rosto ainda em lágrimas.
– Que recomecem agora enquanto ainda há tempo. Que voltem a viver como viviam antes daqueles demônios em pele humana começarem a ter “negócios” com vocês. E PELO AMOR DE DEUS! NUNCA MAIS DEIXEM ALGUÉM TÃO SEM NOÇÃO QUANTO O ORGELS, OU QUANTO O ESTÚPIDO QUE ACEITOU AQUELA OFERTA DO INFERNO, SER LÍDER DE VOCÊS OUTRA VEZ!
A Cris se calou, observando cuidadosamente todos os vampiros presentes. Muitos deles pareciam refletirem sobre as palavras dela, apenas um ou outro me parecia inconformado/irado ou arrependido/magoado. Os faerys resgatados estavam boquiabertos, assim como o nosso grupo. Após quase cinco minutos de um silêncio perturbador, a Cris se voltou para o meu lado.
– Deixo nas mãos de vocês agora. – declarou ela quase sem voz com as sementes a abandonando logo em seguida.
Me aproximei dela. Diante de tanto esforço, não me seria surpresa alguma se ela desmaiasse agora – “Rápido! Dê toda a maana que puder à ela!” – o alerta da Negra, antes mesmo que as duas terminassem de deixar o corpo da Cris me causou um calafrio. No que eu a segurei ela estava gelada! E imediatamente comecei a transferir tudo o que podia pra ela. **
Se não fosse pelo Valkyon... Me parando e depois dando maana para a Cris junto dos aengels em meu lugar, acho que eu também teria corrido risco de vida. Leiftan e Nevra assumiram o controle da situação e começaram a tratar de tudo. Ficamos ainda mais três dias em Yaqut para organizarmos a viagem de volta. Esses três dias, graças aos recursos trazidos por Absol, foram o suficiente para que a caravana que salvamos pudesse ir por conta própria, por exceção de uns cinco deles que aceitaram irem para Eel para nos falar mais sobre o que passaram.
Graças à Cris, Orgels e outros vampiros “de influência” passaram a serem ignorados pelo clã. 90% deles estavam em acordo com as coisas que a Ladina lhes havia dito, não tendo qualquer dificuldade para aceitarem sangue sintético no lugar do sangue verdadeiro.
Enquanto estava fraco, Valkyon e Erika ficaram cuidando de mim e da Ladina. E quase que Absol dava cabo do Haidar! O miserável estava querendo usar do sangue da Ladina para fazer com que os vampiros se recuperassem mais depressa, assim como tinha acontecido com o Said. Sorte nossa que todas as considerações de Leiftan e Erika o fez desistir, já que a Ladina precisava estar consciente para conseguir tal proeza (e ainda bem que a Branca se encarregava de manter a Cris dormindo).
Mas!... Com a Cris inconsciente, viajar por umbracinese estava fora de cogitação. Resolvemos usar o caminho mais reto e direto possível para voltarmos para Eel, montados nos shau'kobows. Nevra convidou o seu antigo clã a nos seguir. A recomeçarem suas vidas em Eel mais ou menos como a Cris havia sugerido. Muitos acabaram nos acompanhando, inclusive a Maora. E eu ainda dou graças por aquele mala do Orgels ter ficado para trás!
Eu só não esperava que, durante a nossa passagem pelo território onde os roohks fazem seus ninhos, a Ladina iria acabar adquirindo um novo mascote! Ainda não consigo esquecer aquela hora...
** A Cris continuava dormindo tranquilamente em meu peito enquanto a sustento sobre o mascote. As sombras criadas pelos rochedos daquela “floresta” eram um acalanto contra o calor do deserto. Os vampiros que o digam! Absol ainda seguia ao nosso lado, ofegando devagar por conta do calor.
Tudo seguia razoavelmente bem até que um par de olhos rechonchudos me chamou a atenção. Nos aproximávamos de um ninho com um bebê roohk que nos observava. De início, eu pensei que ele estava curioso com todo o grupo, mas seus olhos não olhavam nada além de mim e da Ladina.
– Qual o problema daquela coisa?!
– O que te incomoda, Lan? – Leiftan se aproximou da gente.
– Aquilo! – indicava com o queijo – aquela bolinha depenada não para de nos observar exclusivamente.
– Talvez... Seja por causa de Absol? Deve estar curiosa, só isso.
– Se estivesse encarando o black-dog eu não teria me incomodado. É para mim e para a Ladina que aquela coisa está olhando. E agora nem está mais sozinha! – comentava encarando a possível mãe daquela bola rosa que resolveu aparecer ao lado dela.
– _suspiro_ Você está é um pouco paranoico, mas não posso culpa-lo. Não depois de tudo em Yaqut. Ainda bem que ela continua dormindo.
– Ainda tem gente querendo “se curar” com o sangue da Ladina?
– Aqueles que a procuraram, são todos testemunhas da recuperação de Said e que ouviu o Haidar explicar o segredo dele. Erika e eu conseguimos convencê-los a desistir, mas ainda tem um ou outro que nos questiona se a Cris já acordou ou não. Você está usando algum tipo de encantamento para mantê-la dormindo?
– Eu não tenho este tipo de poder, não é verdade Ab... Ué? Cadê o black-dog?? – tanto eu quanto o Leiftan começamos a procura-lo com os olhos.
– Ele está lá. Conversando com os seus “admiradores”. – apontava o Leiftan para o rochedo em questão, com a bolinha não desgrudando os olhos de nós.
– Eu realmente não estou gostando disso... – encarava aquele trio incomodado.
Enquanto o Leiftan ria e se afastava, eu não tirava os olhos daqueles três.
Se aquelas criaturas ficaram juntas lá no alto por mais de cinco minutos, foi muito. E para o aumento do meu nervoso, a ave adulta agarrou o bebê com uma das patas e ergueu voo até onde estávamos. Tanto o mascote em que montávamos como as pessoas mais próximas de nós se assustaram com aquela aproximação inesperada. Se não fosse por Absol, reaparecendo do nada como sempre, eu e a Ladina teríamos sido jogados no chão pela nossa montaria.
Aquela pelanca gorda não parava de nos encarar. Ou melhor, não parava de encarar a Cris! Antes que eu percebesse, uma bolsa de água quente antiga havia surgido entre as mãos de minha Ladina. Com a ajuda do roohk adulto, a bolota conseguiu subir. Ela se esfregou buscando afago nos braços dormentes dela e pulou em cima da bolsa em seguida. Quase que não consigo agarrar o ovo em que a bolota se transformou antes de cair!
Absol usou suas sombras para ajeitar o ovo nos braços da Cris, e o roohk acariciou o ovo com a cabeça antes de partir voando para longe daqueles rochedos. **Cris 2
– Então quer dizer, que agora eu tenho um ovo novo?! – perguntei já procurando, e encontrando, o ovo vermelho entre as flores cristalizadas.
– Exatamente. Normalmente, é o tutor quem escolhe os seus mascotes, e não o contrario. Todos que viram aquilo ficaram boquiabertos.
– Se eu já não estivesse tendo dificuldades para cuidar de mim mesma, acho que eu chocaria todos esses ovos e faria por onde eles aprenderem a serem independentes. Incubadoras eu tenho. Comida também. Mas eu não sei se teria paciência com a sujeira apesar de todo o espaço deste quarto.
– Será que poderia esperar eu desenvolver tolerância a mascotes primeiro?
– _risadinha_ Ok. Eu espero um pouco e você me ajuda a tomar conta de todos com Absol. Mas continue! O quê mais aconteceu?
– A viagem seguiu sem nenhuma surpresa ou problema. Assim que chegamos em Eel, a Ewelein me obrigou a ti levar direto para a enfermaria. Ela também me examinou de cima a baixo, mas só depois de se dar por satisfeita depois de ti examinar detalhadamente demais.
– Lembro que a Erika me contou uma vez que as duas tinham brigado porque a Ewelein já não estava sabendo o que fazer para manter ela livre de seus cuidados. Espero que ela não esteja se questionando de novo por minha causa...
– Você é um caso raro. Não acho que ela irá pensar em algo assim. Ao menos... Ela não me pareceu pensar assim enquanto lhe contava tudo o que você tinha feito antes de desmaiar.
– Tá bom... Mas e os vampiros? Eles se deram bem aqui?
– No começo foi complicado. Muitos estavam desconfiados e não concordavam muito em dividirem seus alojamentos com eles. Só agora que os receios acabaram. Ah! E eu fiquei sabendo ontem que eles se acostumaram com o sangue sintético bem rápido! O que honestamente, era a maior preocupação minha, do Valkyon e do Leiftan.
– Deixe eu adivinhar: os dragões e daemons estavam preocupados com as suas faelianas... Acertei?
– Com toda a certeza...
Rimos um pouco. Lance continuou me contando as coisas que tinham acontecido, mas antes que ele me contasse o que foi que Absol havia guardado para o Nevra, a Miiko resolveu aparecer acompanhada da Ewelein e da Erika.
– Finalmente você acordou mulher! Acaso você conhece o significado da palavra “limite”?
– Oi pra você também, Miiko. Ewelein, me diz que você não planeja fazer exames de sangue agora...
– Não se preocupe Cris, estou evitando todo e qualquer procedimento deste tipo por enquanto. Lance já te contou o que aconteceu com você e como vocês voltaram?
– Ele estava prestes a me dizer o que foi que o Nevra achou no forte terráqueo.
– Oh, sim. A descoberta do Nevra. Eu quase desmaiei quando ele revelou o que era aquilo!
– Que era... – instigava a Miiko a terminar de falar.
– Um pedaço do Grande Cristal. Um pedaço gigante! O maior fragmento que já vi em toda a minha vida! E eu ainda não consigo entender como que um pedaço daquele tamanho foi parar na Terra...
A forma com que a Miiko falou aquilo me deixou de queijo no chão. Estava claro que aquele achado era algo absurdo de existir. Eu até que queria ouvir mais sobre o assunto, mas um desconforto no ventre me obrigou a procurar o banheiro. E quando eu cheguei lá...
– Bem... Ao menos você esperou eu acordar antes, né, sua chata. – acabei dizendo para mim mesma, encarando a calcinha levemente manchada de vermelho.
– A semente rejeitada.Lance 2
– AAAHHHH!!!!
Corri até o banheiro sem pensar duas vezes ao ouvir o grito da Ladina, para encontrar o quê? Agýrtis, parado no meio do banheiro, e a Cris se vestindo às pressas.
– Você tem dois segundos para se explicar, kaspersky!
– Sinto muito se a assustei. – como a voz dele é irritante... – Eu apenas vim conferir algo que me atraiu.
– Que te atraiu?? Como o quê? E que historia é essa de “semente rejeitada”? – como é que é???
– Eu já vou me explicar, mas antes, me permita fazer uma coisa, Cris. – ele esticou um “braço” até a Cris, lhe envolvendo a região do quadril. Por instinto quis impedi-lo, porém um segundo “braço” me manteve afastado – Pronto. Assim eu não irei perdê-la.
– Não irá perder o quê?! – questionei enquanto ele recolhia os “braços”.
– Mas o que é que acontece aqui? – a Miiko resolvia se intrometer.
– Está tudo bem com você, Cris?
– Vai depender da explicação do Agýrtis, Ewelein. – respondia a Cris, antes de mim – O que foi isso que você fez comigo?
– Vamos pro quarto. – pedia o kaspersky já saindo.
Antes que ele começasse a se explicar, a porta do quarto foi aberta com tudo.
– O que aconteceu?! Eu ouvi um grito! – era o Nevra. Acompanhado de Valkyon, Leiftan e Ezarel.
– Agýrtis me deu um susto e estava prestes a se explicar. E quanto ao resto de vocês? Vieram ver se eu já tinha acordado?
– Não seja convencida, Paladina. Eu só vim aqui para questionar a Ewelein de algumas coisas que não estou encontrando.
– Também não precisa dessa frieza, Ezarel... Mas admito que o motivo de minha presença é porque eu queria falar com o meu irmão.
– Já eu, estava atrás da Miiko. Chegou alguns documentos que ela precisa analisar o mais breve possível. – esclarecia o Leiftan – O que foi que Agýrtis fez?
– Se me deixarem, eu direi.
– Pois comece de uma vez. – exigia.
– Muito bem, e falarei mais baixo por conta dos sensíveis ao som. E preciso lhes perguntar algo antes: alguém aqui sabe como os kasperskys se reproduzem? – todo mundo negou (e pensando bem, não havia essa informação quando estudei sobre eles...) – Foi o que eu pensei.
– Mas o quê que a reprodução dos kasperskys tem a ver com o que aconteceu aqui? – questionava o elfo, aparentemente irritado com o som.
– Bom. Eu ainda não tenho certeza se compreendo bem como isso acontece, pois estou vivo desde muito antes do Sacrifício Azul e nunca me reproduzi durante todo esse tempo.
– Você está vivo desde quanto?!? – questionava a Miiko por todos nós.
– Muito tempo. E tudo o que sei em relação aos nossos métodos de reprodução está em uma música que aprendi a muito, muito tempo.
– Música? Que música? – questionava o Leiftan.
– Esta: – ele se esticava e ondulava, gerando um som que me lembrava do tal hang drum que escutava às vezes no notebook da Cris – “Indestrutível e sem forma os kasperskys são,
mas imortais para sempre não o serão.
Ouça bem se estiverem para sumir,
pois entre si, sozinhos, não poderão se reconstruir.
Só há uma forma dos kasperskys se multiplicar,
e é com as sementes que a fonte da vida rejeitar.
Encontrem a mãe suprema!
E com as sementes dela, resolvam o dilema.
Ohhh!! Ooo-ooohhhh! E com as sementes dela, resolvam o dilema.”
Acabei ficando boquiaberto. Não só com a letra, mas também com a sonoridade que estava bem agradável. Mas a explicação dada por essa música não é um pouco rasa?
– Sementes rejeitadas pela fonte da vida?!? O que isso significa??
– Caro senhor Ezarel, todo aquele capaz de gerar vida dentro de si, é uma fonte de vida.
– O meu reiniciar cíclico... Era sobre isso que você se referia?
– Exatamente, Cris. E como você por si só já é uma fonte de vida, seus poderes, que me explicaram se resumirem justamente sobre isso, podem muito bem me fazer considera-la como “a mãe suprema”. Pois eu nunca me senti atraído por algo como estou me sentindo agora.
Essa conversa está começando a me soar esquisita... – Tudo bem, você está de olho no que o corpo dela está jogando fora. Mas como pretende pegar isso dela?
– Já o estou fazendo.
– Fala dessa coisa que você colocou em mim?
– Sim. Esse plasma irá absorver tudo o que sair de seu ventre, inclusive a semente.
– Não tem um outro jeito não?... E de preferência, mais rápido. Essa coisa me passa uma sensação estranha! E um tanto desagradável...
– Hum... Acho... Que posso coletar tudo por mim mesmo, mas... Para não machuca-la, eu teria que deixá-la em um estado semelhante ao clímax.
– Semelhante ao o quê? – perguntava a Miiko que, assim como a Erika, a Ewelein e o elfo, não pareciam entender do que Agýrtis falava. Bem diferente do meu irmão, do Leiftan e do Nevra, uma vez que estes estavam corados.
– Saiam todos. – eu meio que exigia – Isto aqui está virando assunto particular. Se não for um habitante deste quarto, saia fora. – e incitava-os a se retirarem.
A Miiko quis resistir, mas Valkyon ajudou a fazê-la se retirar. E por precaução, acabei pedindo ao Nevra que não bancasse o líder naquela hora, antes que eu fechasse (e trancasse) a porta.
_respira fundo_ – Agýrtis... Me explica melhor essa coisa.
– Refere-se ao método que eu mencionei?
– Exatamente. Alguém já lhe disse que eu e a Cris estamos... Juntos?
– É exatamente por isso que não fiz do outro jeito de imediato. Isso não é algo do qual eu precise só do consentimento dela, precisaria do seu também.
– Pois saiba que a ideia de deixa-lo assumir o “meu lugar”, me dá vontade de testar a sua imortalidade _nervoso_.
– E a minha opinião? Ela não conta?!
– Desculpe. – Agýrtis e eu acabamos pedindo juntos.
– Olha Agýrtis, eu não me importo nem um pouco em lhe deixar levar a minha “semente”, só que essa coisa está me incomodando demais! Também não quero fazer algo que possa ser tratado como traição, e eu não entendi bem como que você faria essa... coleta.
– Tentarei sem mais claro.
O kaspersky começou a explicar melhor sobre o método que ele tinha em mente, mas eu continuo desconfortável com isso.
“Vocês podem entrar em um acordo!” – era tudo o que eu precisava... – “E só para a sua informação: o Agýrtis, é literalmente o último kaspersky de todo este universo. As “sementes” da Cris, são a única esperança de salvação desta espécie.” – (Está de brincadeira comigo!?) – “Adoraria estar fazendo isso, mas não. É sério. A última “mãe suprema” existiu há milênios atrás.” – (e como exatamente poderia existir um “acordo” nesta historia!?!) – “Hehehe... Deixe isso com a Cris e o Agýrtis...”
.。.:*♡ Cap.170 ♡*:.。.
Erika
Acho que essa viagem para Yaqut foi a viagem mais complexa que fiz em toda a minha vida. Eu posso ser uma aengel, mas minhas capacidades não chegam nem a um terço do que a Cris parece ter. ela é inacreditável! Tanto no bom, como no mal sentido.
Absol não fica atrás! Mesmo sabendo que ele não é uma criatura comum, tirando o fato dele ser a reencarnação de algum parente da Cris, explicando assim sua grande inteligência, sua capacidade de utilizar umbracinese me parece ser uma super mão na roda para tudo! Eu só me pergunto de onde ele está tirando as coisas que nos traz. Seria uma baita problema se o que estávamos consumindo pertencessem a outras pessoas.
A Cris dormindo por tanto tempo me deixou preocupada. Mas como tinha um monte de vampiro querendo que ela fizesse por eles o mesmo que havia feito pelo Said, é bom que ela demore o máximo possível para acordar. Teve alguns que me questionaram se eu não podia fazer o mesmo! Ainda bem que o Nevra já havia provado do sangue de nós duas e que pode servir de testemunha clara sobre as nossas diferenças.
Espero não termos muitos em Eel por causa dos vampiros que aceitaram a oferta de se mudarem para Eel, por pelo menos um tempo. Para reaprenderem a viver como viviam antes daquele comércio horroroso nascer; se atualizarem sobre a realidade de Eldarya; e reaprenderem a produzir o sangue sintético para eles. Fiquei tão feliz de que os mais conservadores(teimosos) como Orgels, tenham escolhido não virem com a gente... O deserto em si já era um desafio para o bom humor, com gente mala nos dando trabalho seria tortura! E a forma como a Cris acabou conseguindo um novo mascote me foi realmente curioso. Tirando o uso de uma isca e do pequenino se transformar em ovo, até parecia uma visão da Terra, pois até hoje eu nunca vi um mascote se juntar com uma pessoa por vontade própria daquele jeito aqui (será que o solo não é a única coisa que a Cris está influenciando com a sua maana?).
De volta a Eel, a Miiko parecia tão perdida quanto o Karuto tinha ficado com a chegada de nossos reforços na Guerra do Cristal, após encarar a caravana de vampiros que nos acompanhava (nos esquecemos de lhe informar sobre algumas coisas antes de partirmos de Yaqut).
Ewelein estava com ela, por isso, antes mesmo que a Miiko tivesse chance de abrir a boca para cobrar explicações, a enfermeira quase surtou ao ver a Cris inconsciente! E obrigou o Lance a leva-la urgente para a enfermaria.
Nevra e Leiftan se encarregaram de dar uma explicação prévia de tudo para a Miiko, enquanto o resto de nós ajudava os nossos convidados a se instalarem como dava.
Inicialmente, a Miiko planejava esperar que a Cris acordasse para fazermos a reunião sobre a missão de Yaqut, mas desistiu de esperar depois de ouvir o Lance disser que não ficaria surpreso se ela dormisse por mais alguns dias, depois de ter ficado à beira da morte por conta de toda a maana utilizada (e pelo o que vi, o Lance não pensaria duas vezes em lhe tomar o lugar. Se o Valkyon não o tivesse parado, e ele, Leiftan e eu não tivéssemos assumido a tarefa de doar maana para a Cris...).
Contamos o que era possível e fiquei embasbacada com o que o Nevra encontrou. Como foi que aquele pessoal conseguiu adquirir tanto do Grande Cristal? Não era à toa que eles conseguiam abrir portais sempre que quisessem. E como há mais grupos que dão dor de cabeça para Eldarya... Não ficaria nada surpresa se existissem mais um ou dois pedaços daquele tamanho na Terra (o que não deixa de ser bem preocupante).
Mas a gente não era os únicos com surpresas a contar. Apesar de todas as reclamações lançadas contra a Cris, o Agýrtis se provou extremamente útil para a Guarda. Quem diria que ele conseguia remover as cápsulas de veneno que tanto nos atrapalhava em relação aos infiltrados de Apókries?
Foi complicado, mas conseguimos introduzir os vampiros à Eel. E mais rápido do que eu imaginei! A maioria conseguiu se instalar no refúgio, mas soube que um ou outro às vezes dorme no QG, como a Maora por exemplo (e parece que ela vem causando dor de cabeça em um monte de gente por conta de seu conservadorismo. Chrome, Karenn e Nevra devem estar passando por maus bocados com a Maora).
A condição médica da Cris era normal. Não entendíamos o porque dela demorar tanto para acordar, pois segundo a Ewelein, sua maana já estava normal. Lance não saía do lado dela, por isso alguém sempre tinha de lhe levar a comida. Muita gente perguntava sobre ela, mas apenas aqueles que conheciam o segredo dos dois tinham a permissão de vê-la.
Hoje, Ewelein, Miiko e eu resolvemos dar uma olhada nela. Já era para termos realizado o Ritual de Maana umas três vezes se não fosse por essa missão... Sendo ontem a terceira! Não vejo a hora do Cristal estar inteiro finalmente.
A bronca que a Miiko dava me despertou de meus pensamentos no Cristal, e ver a Cris de pé me dá um pouco de alívio. Se bem... Que a conversa que se seguiu ainda era sobre o Cristal.
Enquanto a Cris usava o banheiro, eu não espera aquele avançar de eventos. Nunca imaginei que Agýrtis fosse capaz de emitir uma melodia tão agradável. Apesar do conteúdo confuso. E porque que o assunto se tornou particular para o Lance?
– O que está fazendo, Nevra?
– Não importa o que o do gelo disse, Erika. Eu quero saber como é que aqueles três vão resolver este assunto.
– Eu sabia que você era bisbilhoteiro, mas não ao ponto de se meter na vida intima dos outros.
– Leiftan. Acaso se esqueceu que sou um vampiro? E que há mais dezenas da minha raça em Eel agora?! Se isso vai nos afetar de alguma forma, eu preciso descobrir.
– Eu até que entendo o seu ponto, Nevra. Mas qual é o motivo do nervosismo do Lan e do Leiftan?
– Está de brincadeira, né, Miiko. O que você acha que o Agýrtis quis dizer com “clímax”? Que tipo de relação “íntima” entre um homem e uma mulher poderia causar constrangimentos aqui?
– Entre um e uma... – Miiko interrompeu a própria pergunta ficando vermelha ao entender algo – Pelo Oráculo... Porque eu não percebi isto antes?!
Observei o restante de nós e reparei que alguns ficavam vermelhos do mesmo jeito que a kitsune, enquanto outros apenas respiravam fundo. Eu precisei de mais alguns segundos para finalmente entender, e como sou burra por não perceber antes! Céus! Mas que situação!
– Ainda assim, Nevra. Não acho certo o que está fazendo. – Valkyon o criticava. E pensando bem...
– Nevra. Me explica uma coisa: como é que o sangue morto consegue afetar os vampiros?
– Sangue “morto”??
– Isto não é verdade, Erika. – Ewelein começava a explicar pelo Nevra – O reiniciar cíclico é como uma hemorragia controlada. O sangue liberado por este procedimento, não é morto. Ao menos, não nos primeiros momentos após deixar o ventre.
– Exatamente. Mas ainda é um sangue diferente de uma ferida normal, pois ele fica “temperado”. Bem “temperado”. Para os mais depravados, o sangue dos reinícios é como uma “iguaria”. E eu já adianto que este não é o meu caso!
Senti um pouco de nojo e alívio ao mesmo tempo.
– Independente das suas preferências, Nevra, ainda não acho que seja certo você ficar os espionando agora.
– Eu até posso compreender o seu ponto de vista, Leiftan, mas eu ain... É o quê!?
– O quê que foi? O que é que eles estão dizendo? – questionava o Ez.
– Eu não entendi muito bem mas... Parece que aqueles três vão fazer “aquilo” juntos!
– Como?
– Como é?
– Do que está falando? – questionavam quase todos ao mesmo tempo.
– Está nos dizendo que eles planejam um ménage? – questionei sem pensar.
– Um o quê? O que é isso Erika? – perguntava a Miiko.
Ao me dar conta do que eu havia questionado, acabei cobrindo a minha boca totalmente envergonhada.
– Erika, poderia nos explicar o quê exatamente é um “ménage”? – Ewelein pedia, e eu precisei respirar fundo para conseguir responder.
– De forma bem direta, ménage é o nome dado a um tipo de relação íntima. Onde, dois homens concordam em... fazer amor com a mesma mulher, e... ao mesmo tempo... – expliquei meio sem graça. Todos ficaram vermelhos.
– Eu não acredito que os humanos fazem isto...
– Ei! Mas não é todos que fazem isto! – respondia à indignação da Miiko – Poucos concordam em tentar isso, e entre os que aceitam, o fazem por curiosidade. Para experimentar uma vez e nunca mais. Eu mesma nunca fiz uma coisa dessas.
– Olha... Sinceramente isso até que me parece interessante, mas só se forem com os papéis invertidos. – comentava o Nevra – Dividir a cama com duas mulheres vai lá. Mas com um homem no meio? Não é pra mim. Tem esse tipo de “relação” também?
– Tem. Mas recebe outra denominação. Assim como vários tipos de relação.
– Acho... Que é melhor encerrarmos este assunto por aqui. – sugeria o Leiftan vermelho.
– Tem toda a razão, Leiftan. Mas olha pelo lado bom,... – Ezarel apoiava o braço de forma camarada nos ombros de Leiftan – ...se você e os outros entrarem num acordo, você ainda pode ter esperanças!
– Esperanças?? Como assim?
– Hora essa. Você, o Valkyon e a Erika! – _vermelhona_ – Essa seria uma boa forma de você conseguir um pedacinho de nossa aengel só pra você. Mas claro, tanto ela quanto o dragão teriam que aceitar também, né?
Cobri o rosto com isso. Mas não antes de perceber que o Leiftan e o Valkyon estavam tão vermelhos quanto eu me sentia estar agora. O Ezarel se superou dessa vez.
– Chega de tudo isso! – exigia a Miiko igualmente vermelha – Leiftan, você não havia dito que tem alguns documentos esperando por mim? Vamos de uma vez resolver isso.
– Sim! Er... Sim. Tem toda a razão. – respondia o daemon já sendo arrastado pelo braço pela kitsune.
– O que me faz lembrar, você não havia dito algo semelhante Ezarel? Vamos de uma vez! – agora era a Ewelein que repetia o exemplo com o Ezarel.
– Ainda vai ficar ouvindo a conversa alheia, Nevra?
– Só mais um pouquinho, Valkyon. Quero terminar de ouvir as explicações do Agýrtis. Depois eu caio fora.
– Certo. Vamos embora, Erika. Não acho que tenha algo que possamos fazer por aqui.
– Você tem razão. Vamos.Lance
– Deixe eu ver se eu entendi. Você vai se aproveitar do meu estado de... completa entrega... para poder “raspar” e recolher tudo o que o meu corpo faria naturalmente? É isso mesmo?
– Precisamente, mestra. Seria como uma aceleração do processo de seu ciclo. O processo que naturalmente duraria alguns dias, seria concluído em alguns minutos.
– Bem... Não vou negar que isto me interessa um pouco. Mas como eu mencionei antes...
– Ele a tocando em meu lugar ainda é algo que não consigo aceitar. – francamente, por mais benefícios que isso possa trazer para a minha Ladina, eu ainda não consigo aceitar a ideia de dividi-la com outro ser.
– E se fosse você a tocando?
– Como é? – _intrigado_.
– Existem duas formas de ligação que os kasperskys conseguem fazer. A ligação que exige deixar alguém no Leito de Thanatos é apenas uma.
– E... Que outra ligação seria essa, Agýrtis? – perguntava a minha curiosa.
– Vejamos. Quando alguém da minha espécie toma o lugar de alguém, ele conecta a própria alma com a daquele que assume o lugar. Mas, não é explicitamente necessário que seja assim.
– O que exatamente tem de diferente? – (acho que não conheço tanto sobre os kasperskys como pensei).
– Primeiro, eu teria de receber o seu consentimento. Segundo, eu poderia assumir sua aparência, mas apenas no que se refere à sua silhueta e textura! Cor de pele, voz, temperatura corporal, essas características continuariam sendo as minhas. Sem mencionar o bônus.
– Que bônus?
– Tudo o que eu sentisse, ele sentiria também, mestra. Cada toque, cada risco, cada sensação física à qual eu fosse exposto, ele também a sentirá como se fosse no corpo dele e não no meu. Estaríamos profundamente ligados, mas ainda assim, bem separados. Porque ele continuaria consciente de tudo que acontecesse e ainda poderia intervir da forma que quisesse, já que não seria obrigado a estar dormindo como acontece com o primeiro tipo de ligação.
– Então... Se eu entendi direito... Você se ligaria a mim apenas fisicamente? E eu estaria livre para fazer o que eu bem entendesse?
– Exatamente.
– E essa ligação é reciproca? O que eu sentir, você também sentirá?
– Com o diferencial que se você decidir cometer suicídio, por exemplo, só você morreria. Eu não. Eu sentiria a sua dor, mas não morreria junto com você.
– Entendo... – ficamos em silencio. A proposta de Agýrtis me era, no mínimo, curiosa. Eu até que poderia querer aceita-la se minha Ladina estivesse totalmente de acordo. Apesar de continuar com uma pequena resistência para a ideia – Ladina?
– Sim?
– O que você acha?
– Err... Bem... – ela estava vermelha, e acabou respirando fundo antes de prosseguir – Olha... Confesso que já tive imaginações com algo do tipo. Com eu me envolvendo com mais de um homem ao mesmo tempo, mas... Não sem total concordância de meu parceiro... Ou plena confiança em todos os envolvidos.
– Tomem um tempo, vocês dois, para pensarem mais na oferta. Contanto que eu consiga pegar a semente, não me importo com o método que prefiram utilizar.
A Cris resolveu ir até a janela, e eu resolvi me aproximar dela.
– Você... Realmente já desejou algo assim? – perguntei baixinho (não estamos sob o efeito da mensligo, então se eu quiser saber alguma coisa, preciso ter a coragem de questioná-la).
– Olha... Na verdade, verdadeira. Eu... _respira fundo_ Eu me imagino tendo a experiência de fazer isso com três parceiros... – _boquiaberto_ – Você... deve estar me considerando a mulher mais sem-vergonha que já conheceu.
– Bem, eu de fato estou um pouco chocado. Mas mesmo que você fosse uma meretriz, eu ainda iria querer ser o seu preferido.
– Está falando sério?
– Bem sério. O que o Agýrtis explicou me fez ficar curioso pela experiência. Suponhamos que eu aceite a oferta dele, você também aceitaria?
– Tem certeza disso? Você não se magoaria depois?
– Ainda existe essa possibilidade. Mas tudo iria depender do resultado dessa experiência.
– Continuo com um pouco de vergonha da ideia...
– Podemos criar condições para fazer isso.
– Condições...
Parece que ela está predisposta a aceitar. E honestamente, eu também estou.Cris
Dizem que para apimentar a relação de um casal é preciso realizar loucuras. Atender fantasias de um, ou dos dois não se importando com o quão absurdas elas possam parecer. Eu desenvolvi várias em minha vida! E o Lance conseguiu atender muitas delas. Mas... Eu não imaginava que ele poderia aceitar realizar as mais... complicadas delas. Principalmente com ele sendo ciumento do jeito que é.
– Gostaria de estar livre. – declarava pensando nas condições que o Lance sugeriu – E que o quarto estivesse completamente escuro. Tão escuro que eu não conseguiria saber se quem estaria tocando era você, ou o Agýrtis.
– Isso com certeza faria as coisas parecerem mais ousadas...
– Acha possível fazer desse jeito?
– À noite seria mais fácil.
– Essa noite? Quando mais rápido pudermos dar fim a isto, acho que me sentiria melhor.
– Essa “fralda” que ele colocou em você, é tão incômoda assim?
– Porque não experimenta ter alguma coisa fria, mole e passeando no seu corpo como estou tendo agora? Parece até o momento que o sangue resolve sair, só que sem o calor e no quadril inteiro.
– Se não fosse pela mensligo, eu nem conseguiria imaginar essa situação. E falando nela... Você prefere com, ou sem poção?
– Acho que sem poção. – em minha atual condição psicológica, nós dois ficaríamos doidos se usássemos ela – Se acabarmos gostando e se quisermos repetir isso, aí usamos da poção. De outro jeito não sei se será seguro não!...
– _riso nervoso_ Ok. Vamos nos juntar ao Agýrtis e planejar isso direito. – pediu-me ele, segurando em minha mão.
Nos sentamos à mesa, onde Agýrtis aguardava, e repassamos a nossa decisão. Combinamos como que faríamos mais ou menos tudo, e seguimos com o dia até que a noite chegasse.Miiko
Acho que a minha sanidade mental está à beira de um colapso. A Cris me fez tolerar loucuras demais! Como que alguém pode ser fonte de tanta luz... E caos ao mesmo tempo? Aquela historia de... “ménege”, estava quase virando a gota d’água.
Saí de lá o mais rápido que podia, usando o comunicado do Leiftan como desculpa. Precisava distrair minha cabeça com algo sério ou aquilo iria ficar me perturbando.
Os documentos em questão não eram muitos. Alguns complexos, e outros mais simples, mas que me permitiram esquecer o assunto com facilidade. Só me lembrei mais ou menos daquilo quando vi a Cris no salão, na hora do almoço. Ela e o Lance estavam se dirigindo para o jardim do Karuto, e eu procurei me concentrar em minha comida.
– Miiko, você viu se a Cris já passou por aqui? – era a Erika quem me questionava.
– Eu a vi indo almoçar com o guardião dela. Por quê?
– O Ritual de Maana. Já se esqueceu? Ele ainda é necessário e a Cris já está em condições de participar.
– Ah, é! É verdade. E pode ser que ela consiga resolver o problema com o fragmento que o Nevra descobriu.
– Também pensei nisso. Vou lá falar com ela.
– Ok. – e a Erika se foi.
O Ritual de Maana... Depois que recuperarmos o pedaço de Apókries, não precisaremos mais nos preocupar de continuar o realizando. Uma vez que o Cristal esteja completo, pode ser que não precisemos mais buscar a ajuda da Terra. Não em tudo, pelo menos. Graças aos conhecimentos que a Erika e a Cris nos trouxeram, conseguimos melhorar muita coisa por aqui. Parte do avanço tecnológico dos humanos é de grande valia para os faerys. Só precisamos evitar os mesmos erros deles.
Terminei de comer e voltei para a Sala do Cristal. O pedaço encontrado pelo Nevra ainda estava tentando se fundir ao grande Cristal. Todo esse tempo e mal conseguiu assimilar metade! Tomara mesmo que a Cris possa dar um jeito nisso...
– Boa tarde, Miiko! – e falando no minalo... – O quê que é isso aí?...
– Isso? – indicava o pedaço que me preocupava, com ela me confirmando – É o pedaço que Nevra trouxe de Yaqut. Ou melhor, da Terra.
– Tudo isso?! Está tentando o fundir com o Cristal agora?
– Na verdade, ele está sendo absorvido desde o momento que o Nevra terminou de explicar como conseguiu isto. O que já faz quase três dias, e só uns 25% foi fundido até agora.
– Credo! Costuma demorar sempre assim sem a minha ajuda?
– Na verdade... – encarei o Lance, que estava ao seu lado, antes de continuar – Quando o Cristal foi quebrado pela primeira vez, nós só precisávamos aproximar seus pedaços para que se fundissem imediatamente. Depois do segundo golpe... – encarei mais uma vez o Lance e, se ele estava desconfortável... o escondia bem – O Cristal, infelizmente, ficou recusando os pedaços recuperados. E pior! Quando mais tempo se passava, mais e mais os pedaços espalhados perdiam o poder deles, mas pararam com isso graças ao ritual desenvolvido pela Erika.
– E o quê mais?... – a Cris questionava olhando de lado para o Lance, como uma mãe que escuta as reclamações sobre a sua criança _riso contido_.
– Eles pararam de perder o poder, mas ainda eram rejeitados pelo corpo principal, então passamos a acumula-los por aqui. Uma vez que juntos, conseguiam emitir mais energia do que espalhados. Se não fosse por você, acho que eles nunca iriam voltar a serem um único Cristal.
– Certo. Mas que explicação você acha que pode ser dada para este pedação aqui?
– Você.
– Heim?!
– Você, de alguma forma, alterou totalmente a natureza do Grande Cristal. É possível que as Sementes do Oráculo também tenham algo a ver com isso, mas... Há a possibilidade de você conseguir dar um empurrãozinho para esse pedaço aqui.
– Mas será com o Ritual de Maana que pretendemos tirar essa dúvida.
– Já trouxe todo mundo, Erika?
– Não estava difícil achar os que faltavam, Cris. Pronta para começarmos?
– Eu mais do que vocês! Agora vá lá! Gelinho...
Lance apenas soltou um suspiro desanimado e se reuniu com todos para prepararem o ritual. A Cris encarava a pedra mal fundida com receio de tocá-la, para só depois de tirar o colar de prata dela e assim dar início às suas orações.
Decidi me afastar para poder conseguir observar a tudo.
Mal a Cris começou a orar e notei que alguma coisa parecia abandonar o fragmento azul. Ao mesmo tempo que ele começava a se assimilar mais depressa também _aliviada_.
O ritual ocorreu sem qualquer problema. Com a diferença que, depois de ter ajudado a desenhar os símbolos, o Lance ficou o tempo todo ao lado da Cris, e não junto de Leiftan e do irmão (o que acabou sendo bom. Eu não selei a sala e alguns dos vampiros de Yaqut acabaram entrando para assistirem a tudo).
Bom. Incumbências do Cristal resolvidas; situação dos vampiros sob controle; a Cris bem outra vez; parte dos planos para Apókries aperfeiçoado; e Eel, em geral, está no devido lugar. Por exceção de uma solicitação ou outra vindas de outros lugares, acho que, por enquanto, eu posso ficar um pouquinho sossegada.Lance 2
Essa kitsune...
Não tenho como fugir de minhas ações. Isso é impossível! Mas a Miiko tinha que ter explicado os problemas do Cristal, justo hoje?
Eu já estou nervoso com a ideia do que me permitirei fazer essa noite, e a Miiko tinha de deixar a Ladina nervosa comigo?! Se eu não for receber um sermão, sem dúvidas irei receber algo bem pior que isso por parte da Cris (_engole seco_).
Tive que respirar fundo, e esperar. Esperar para descobrir o que estaria me sendo reservado por causa do Cristal.
Como a Cris e eu não estávamos usando a mensligo hoje, eu não conseguia sequer imaginar o que poderia estar se passando pela cabeça de minha amada. E isso me deixa um pouco nervoso.
Eu fiquei aguardando por sua bronca desde o momento que o ritual terminou, mas ela não me disse nada. Nem mesmo agia de forma diferente do habitual. E sinceramente, não consigo decidir se devo enxergar isso como algo bom ou ruim.
Chegando a noite. Após eu ter jantado e a Cris lanchado. Era a hora de nos encontrarmos com o Agýrtis, pois ele explicou que a tal ligação faríamos, precisa de tempo para se consolidar. Tempo esse que a Ladina iria usar para se preparar também.
– Vou tomar banho. Vocês dois se virem aí, como havíamos resolvido, ok?
– Não se preocupe com nada, mestra. E prometo que farei o possível para que possa apreciar o suficiente para cogitá-la à repetirmos isso no futuro.
– E... Eu vou indo... – ela entrava no banheiro vermelha e toda sem jeito (e depois de ouvir isso, acho que não estou melhor que ela...).
– Agora, Guardião.
– Hã? Ah. Desculpe. Pode dizer.
– Não precisa ficar tão nervoso. Lembra tudo o que eu expliquei que era preciso para efetuarmos a ligação?
– Não resistir à ligação; me permitir sentir tudo o que você sente e vice-versa; não querer rompê-la enquanto feita.
– Correto. Não preciso nem começar para perceber que o senhor está nervoso, então tente relaxar o máximo possível para que funcione de imediato. Também pretendo fazer alguns pequenos testes para que possa se acostumar mais fácil com a ligação e consequentemente não estragar as coisas. Vocês... não desistiram. Desistiram?
– Digamos que ainda carrego alguma resistência a isso. – a criatura se remexeu sem fazer qualquer vibração – Mas a forma com que você explicou as coisas e... A forma, com que a Ladina me disse se sentir agora, me faz querer continuar.
– Compreendo. E confesso que ouvir isso me alivia um pouco.
– Também está nervoso?
– Essa será a primeira vez que faço, de fato, este tipo de ligação. Sei como fazê-la, mas não sei o que esperar dela. A única vez que tentei me ligar com alguém desse jeito, a pessoa acabou me rejeitando no meio do caminho e aquilo causou uma dor terrível em nós dois. – essa informação me fez suar frio.
Inspirei e expirei, o mais profunda e demoradamente possível umas duas vezes – Acho que estou pronto. Pode começar.
– Muito bem. Fiquemos de pé, e me estenda os seus braços.
Fiz como ele pediu. Fiquei de pé diante dele e lhe estendi os meus braços. O Agýrtis se esticou até ficar mais ou menos da minha altura e estendeu “braços”, em direção aos meus, começando a envolvê-los.
Acho que estou começando a compreender o que a Ladina quis dizer ao me explicar a sensação que tinha com aquela “fralda”. O toque daquela “massa” fria, que deixava uma sensação de umidade, sendo que não havia umidade nenhuma, era de fato desconfortável. Ajuda a entender o porquê do Agýrtis ter sido rejeitado na primeira vez. Fiquei respirando fundo várias vezes para não cometer esse erro sem querer.
Agýrtis estava envolvendo o meu corpo inteiro. E eu fiquei engolindo seco diversas vezes para não interromper. Além de fechar os olhos para ver se ajudava.
Uma vez que todo o meu corpo estava “gosmento”, um formigamento começou a surgir em mim. Esse formigamento parecia seguir o mesmo caminho feito pela massa que me envolvia. Caminhando sobre mim muito lentamente. Sem o meu auto-controle, essas sensações poderiam me enlouquecer! (Deve ser por isso que o outro cara desistiu no meio do caminho.) Fiz o máximo para conseguir suportar aquilo, usando de minha imaginação para enxergar aquilo como uma espécie de treinamento... Ou de punição pelos erros que cometi (depois do meu questionamento para a Ladina, quando ela estava sobre o efeito da poção da verdade, acabei me arrependendo de muitas coisas).
Não demorou muito e logo o formigamento pareceu parar. Alguns segundos depois, também comecei a sentir a gosma que me envolvia, me abandonar. Não sentindo mais nada, resolvi abrir meus olhos.
Levei um susto. Parado diante de mim havia uma espécie de estátua metálica, nua, completamente idêntica a mim. Em cada detalhe, e em cada centímetro.
– Está feito. – (mas a sua voz ainda soa metalizada) – Mas lembre-se! No momento em que você desejar verdadeiramente acabar com a ligação, ela será desfeita.
– E o que eu vou sentir quando isso acontecer?
– Não tenho certeza. Segundo um irmão que encontrei, e que conseguiu fazer essa ligação sem problemas, parece que tudo o que você sentirá será... uma sensação de algo “caindo” do seu corpo. Como um manto ou uma capa que se solta de cima de você.
– Entendi. E que tipo de testes você pretende fazer agora?
– Pra começar... – eu o vi levar os braços para trás, e eu comecei a sentir como que uma unha passeando pelo o meu braço – O senhor sentiu isso?
– Você esfregou a unha no próprio braço?
– Exatamente. Até aqui, tudo bem. Experimente fazer algo, sem que eu perceba, da mesma forma que fiz agora.
– Certo... – dei-lhe as costas pensando no que tentaria fazer, e acabei pousando o olhar na adaga que passei a carregar na cintura – Estou livre para tentar qualquer coisa?
– Lembre-se que estará fazendo em seu próprio corpo.
– Sei bem disso. – falei já começando a forçar um de meus dedos contra a ponta da lâmina.
– Ai! Você não tem pena de si mesmo não?!
Não pude evitar de rir ao vê-lo chupando o dedo indicador esquerdo. O mesmo que eu feri levemente em mim.
– Só uma confirmação: esta ligação se limita ao nosso tato, correto?
– Sim. Com você decidindo o tempo de duração. E acho que já fizemos testes o suficiente, vamos começar a preparar o quarto como a mestra pediu?
– Está com pressa? – perguntei um pouco enciumado.
– Eu precisaria ser cego, e muito aéreo, para não perceber o quão incômoda ela parece se sentir com a minha massa grudada nela. Então, quanto mais rápido pudermos começar, mais rápido ela volta a se sentir confortável.
– Entendi. – ficava mais calmo – De fato a sensação causada pelo o seu “corpo” sobre a gente, é um tanto desagradável. Vamos a isso de uma vez.
.。.:*♡ Cap.171 ♡*:.。.
Atenção:
Este capítulo possui cenas subentendidas.
Estão avisados.
Cris
Eu tentei passar o dia da forma mais normal possível com essa coisa grudada em mim. Até resolvi usar saia hoje para ajudar a esconder essa massa metálica. Mas só o fiz nas aparências...
Mesmo com a agua do chuveiro caindo, essa coisa não se desgruda da minha pele! Fiquei tentando me recordar se já havia lidado com alguma coisa que me causasse as mesmas sensações sobre a pele, e a única coisa que me veio à mente, foi aquela geleca de brincar. Partes da musiquinha do comercial da amoeba não paravam de passear na minha cabeça por ter lembrado daquilo. Essa coisa parece ser mais hidrofóbica do que o tecido de proteção que usei em Yaqut!
Uma outra observação que fiz sobre este negócio esquisito, é que não tive nenhuma vontade de ir no banheiro. Comi e bebi normalmente. E ainda assim não me vi caçando um banheiro nem para o numero um, nem para o numero dois. Mas sentia o sangue descer normalmente. Eu reparei, durante o meu banho, que essa geleca parecia estar um tanto rosada na região pélvica, e me pergunto se essa massa não acabou absorvendo minhas necessidades também. A menos que eu esteja enxergando o reflexo de minha pele. Vou ter que questionar o Agýrtis sobre isso.
E não só sobre as minhas necessidades! Como se não me bastasse essa coisa grudada e se remexendo no meu corpo, essa massa ainda ficou me fazendo provocações o dia inteiro! (Com intervalos de uma meia hora, mas ainda assim, o dia inteiro). Perdi a conta de quantas vezes essa coisa fez “carinho” nos meus pontos sensíveis dali embaixo, o que me fazia recordar o que tínhamos concordado em fazer. Será que foi por culpa dessa coisa que eu acabei confessando uma de minhas insanidades ao Lance? Eu nunca tinha tido coragem de mencionar isso pra ninguém, até hoje, em toda a minha vida! E muito menos esperaria uma resposta como a que ele me deu...
– _ suspiro_ Não importa o quê se diga, continua sendo uma loucura... – acabei dizendo para mim mesma. Me encarando no espelho, praticamente pronta para lidar com aqueles dois – E onde será que eu coloquei aquilo?...
– Ladina? – um gritinho de susto escapou de mim – Desculpe te assustar. Você esqueceu de pegar isso. – ele me estendia a faixa que costumo usar para vendar meus olhos nos treinos.
– Justo o que eu estava procurando... – peguei a faixa da mão dele, e as minhas preocupações voltaram a encher a minha cabeça – Vocês... já terminaram? E quanto à ligação?
– Agýrtis e eu acabamos de terminar de preparar o quarto, mas preciso que você espere só mais um pouquinho para que eu possa me igualar a ele.
– Entendo... Lance!...
– O que foi, Princesa?
– É que... Você está mesmo bem com tudo isso? Não vai ficar magoado... Ou zangado... Ou sei lá o quê depois de tudo isso? Sei o quanto você é ciumento...
– De fato o que estamos prestes a fazer me parece extremamente absurdo. – _engole seco_ – Mas agora que eu compreendi a sua situação, pretendo fazer o possível para encarar de boa.
– Oi?
– Você reclamou da massa presa ao seu quadril, certo? – assenti em resposta – Agýrtis cobriu o meu corpo inteiro para que pudesse nos ligar e... não me lembro de já ter tido uma experiência tão repulsiva como essa... Precisei usar todo o meu autocontrole para que pudéssemos concluir a ligação.
– E onde quer chegar?
– Se alguns minutos foram o suficiente para me perturbar, ter aquilo sobre o corpo, mesmo que em uma área reduzida, por alguns dias, poderia ser tratado como uma tortura! E já que podemos lhe prevenir esse sofrimento com um ato de loucura, que lhe garantirá o alívio uma vez que o Agýrtis foi bem claro que não desistiria da sua semente, porque não optar por ele?
– Está aceitando fazer isso, por mim?!
– Principalmente por você. E por sinal, você fica sempre linda nessa camisola...
– Lance... eu... !!
– O quê foi?! – (droga de meleca! Essa coisa está me provocando de novo!) – Ladina, você está bem?
– Estou. É só nervosismo. Não disse que tinha de se igualar ao Agýrtis? O que quis dizer com isso?
– Já, já você vai entender. Só espere mais alguns minutos antes de vir ao quarto.
– Certo. Tudo bem.
– Eu te amo. – declarou ele já me beijando antes de sair do banheiro com aquele sorriso “irritante” no rosto.
Inspirei fundo; dei uma sacudida na cabeça; e expirei devagar. Fui para o espelho outra vez e comecei a vendar (com a porcaria me “atacando” mais uma vez... Desse jeito eles não terão dificuldades em me deixar louca!).
Respirei fundo mais algumas vezes e me guiei pela parede até o interruptor. Esperei parar de ouvir barulhos no quarto para sair. Não escutando mais nada, fiz meu caminho, bem devagar, até estar próxima da janela. E foi ali, diante da janela, que eu comecei a enxergar tudo sem o uso de meus olhos. Entendendo imediatamente o que o Lance quis dizer... Os dois estavam do jeito que se vem ao mundo!
Eles estavam no meio do quarto, lado a lado. Dois Lances igualmente provocantes fisicamente. Eu nem sabia o que dizer com aquilo.
– Antes de começarmos... – a voz devia pertencer ao Agýrtis (apesar de parecer uma mistura das vozes dos dois), que começou a falar depois dos dois assentirem entre si. Mas os dois estavam “falando” ao mesmo tempo, me impedindo de conseguir saber quem era quem – Há uma coisa que preciso fazer.
Os dois estenderam uma das mãos em minha direção. Cada um do seu jeito. E a massa em meu quadril começou a se mexer de forma esquisita. Pude sentir que algo era mexido dentro do meu corpo, e parte daquela massa se separava de mim. A parte retirada flutuou e se espalhou pela terra dos jardins, enquanto a que permaneceu sobre mim, ficou mais fina e quieta em meu corpo.
– O quê foi que você fez, Agýrtis?
– Lhe removi o excesso de material fisiológico que poderia nos atrapalhar, uma vez que fiquei os reteno para não correr o risco de perder a semente que ainda está em seu ventre.
– Eu realmente queria lhe questionar sobre isso, sabia? E não só isso!
– Responderei tudo o que você quiser depois que terminarmos. – o que mais esses dois combinaram para eu não conseguir identifica-los? – Está pronta?
Outra vez essa coisa!? Tive que respirar fundo mais uma vez – Vamos... Vamos logo com isso.
Os dois assentiram novamente entre eles e se separaram. Um se sentou bem à vontade na poltrona, e o outro ficou de pé, apoiado na mesa com os braços cruzados. O combinado era eu me aproximar primeiro, uma vez que eu já queria por à prova essa ligação que eles fizeram. Tendo que descobrir sozinha qual deles era o meu dragão, e qual era o metamorfo. Resolvi ir atrás do que estava de pé.
Apesar de hesitar, acabei lhe tocando, começando pelos ombros. Tocava-lhe com cautela, sentindo e explorando os seus contornos; temperatura; textura; cicatrizes... Tudo, até os cabelos e o “amigo”, pareciam estarem certos pra mim (se esse diante de mim não for o Lance, o quão perfeita essa imitação consegue ser??).
Continuei tentando descobrir quem que estava diante de mim, sentindo o meu corpo arder aos poucos cada vez mais. Não percebia diferenças pelo tato. Também não o conseguia pelo cheiro. Com ambos calados, o som também não me ajuda. Do que eu poderia usar para distingui-los, não estava encontrando nada incoerente, o que me leva a crer estar realmente diante do meu Gelinho. Bom, se eu estiver mesmo certa, tudo o que me resta... é beija-lo. (droga. Como que eu errei?!)Lance
Enquanto Agýrtis e eu deixávamos o quarto mais escuro, o kaspersky me contou o que aquela massa que ele colocou na Cris realmente fazia. Para evitar que o sangue contendo o que ele tanto desejava se misturasse com o que ele não queria, ele estava reteno/coletando o material fisiológico separadamente do sangue. De forma sutil para não incomodar ela durante o dia.
Quase quebrei a ligação depois que ele me confessou o quê mais ele estava fazendo com aquela massa grudada na Ladina. Bem que havia notado que ela parecia reagir a algo quase toda hora, imaginei que fosse desconforto com aquela coisa se mexendo, mas nunca que iria imaginar que ela estava sendo “provocada”, de propósito, o dia inteiro (se bem que eu compreendo o motivo que ele me explicou: ajuda-la a ficar mais “à vontade” quando a noite chegasse).
Ainda digerindo essa “novidade”, eu encontrei a venda que ela usaria para o nosso “jogo” sobre a mesa...
** – Um jogo? Que tipo de jogo, Agýrtis? – a Ladina questionou na minha frente.
– Eu sempre confiei bastante em minhas habilidades que copiar os outros, mas a sua visão especial me pegou desprevenido, então eu pensei: se a mestra não tivesse esse dom, ela ainda conseguiria me reconhecer?
– Deixe eu ver se eu entendi. Está sugerindo fazer com que ela tente descobrir qual de nós dois é o “verdadeiro” e o “falso”? – questionei já começando a me interessar na brincadeira.
– Exatamente. Mas... Como o tipo de ligação que pretendo fazer é bem diferente da que executo normalmente, há mais condições que precisaremos fazer para que ela não tenha “pistas” sobre quem é quem.
– Por exemplo...
– Além dos olhos vendados, mestra, também só poderá usar o seu tato para tentar nos distinguir. Tanto eu quanto o Lan teremos de ficar extremamente calados, e você não poderá nos tocar com os lábios.
– E porque isso?! – ela perguntava intrigada.
– Conseguirei mudar minha forma, mas não minha voz ou minha cor, de acordo com o irmão que me explicou a experiência dele.
– Tá, mas... O que eu ganho com isso?
– Ou perde? – acrescentei à pergunta.
– Pensei no seguinte: a mestra pode escolher analisar um de nós como bem desejar. Respeitando as limitações que eu disse antes! Quando ela se sentir satisfeita, ela poderá beijar aquele que ela acreditar ser o seu guardião.
– Onde se eu acertar...
– A senhora poderá escolher como que tudo irá acontecer. – os olhos da Ladina se arregalaram de leve – No entanto... Se a senhora beijar a pessoa errada, no caso, eu, será o Lan e eu quem irá decidir como as coisas acontecerão e a senhora não poderá reclamar.
– É o quê?!
– Eu meio que gostei da ideia. – declarei me divertindo com o rosto vermelho de minha Ladina.
– O que acha, mestra? Aceita fazer este “jogo”? Tenho certeza que ele ajudará a deixar as coisas mais fáceis.
– Hum... – ela ficou fazendo aquela carinha de quem quer aceitar mas está com medo.
– Teremos piedade de você se acabar errando. – provoquei-a.
– Se, eu errar! – ela se irritou (consegui!) – Tudo bem. Eu aceito esse desafio. **
Levei o tecido para a Ladina. E bem na hora, ela já estava à procura da venda. Com a rápida conversa que tive com ela, não pude deixar de reparar em sua beleza naquele momento... E nem na reação dela! Era o mesmo “choque” que observei o dia inteiro e que ela disfarçava (tenho certeza que ela irá querer ter uma loooonga conversa com o Agýrtis depois que tudo acabar...).
Deixei-a terminando de se preparar e fui me despir para ficar igual ao Agýrtis, uma vez que ele não podia “criar” roupas nesse estado, e nem sabia direito como lidar com elas, uma vez que ele sempre transmutou o próprio corpo para parecer que está vestido quando era preciso.
Não que eu me importe em estar ou não nu diante das outras pessoas e vice-versa, mas eu me senti... estranho, em fazer aquilo na frente de um “segundo eu”. Mesmo sendo uma versão de aparência metálica.
Assim que a luz do banheiro se apagou, Agýrtis e eu ficamos lado a lado, em pleno silencio. Como combinamos. Foi fácil notar a surpresa da Ladina sobre a nossa condição... Tentei imitar o Argýrtis em tudo que podia para que ele pudesse terminar com os “preparativos” (se alguém com problemas de prisão de ventre ficar sabendo do que o Agýrtis é capaz, com toda a certeza não pensará duas vezes em procura-lo. Posso não ter a melhor visão noturna, mas percebi facilmente a redução do abdômen de minha Ladina após ele retirar o que ficou retendo) e nos afastamos.
Honestamente, eu quero muito que a Cris erre. Então para facilitar pro meu lado, eu assumi uma postura que a deixaria desconfortável o suficiente para não vir direto em minha direção. E funcionou melhor que o esperado.
Quando ela começou a inspecionar o Agýrtis, foi... impressionante. Se eu fechasse os meus olhos, conseguia visualiza-la claramente acariciando a mim, e não ao kaspersky. Nunca imaginei que pudesse existir uma ligação assim. E a Ladina estava definitivamente sendo muito cuidadosa em sua analise. Ela estava até mesmo me acordando lá embaixo! Porque ela não errava de uma vez para que eu pudesse me aproximar e começássemos logo?
Aquilo estava me parecendo uma espécie de tortura. Estava bem perto de acabar me entregando quando ela finalmente resolveu beijar a nuca do kaspersky (essa mulher ainda me enlouquece qualquer dia desses...), me resgatando parte da sanidade com sua reação.
– Não pode ser. Agýrtis?!?
– Agora entende o porquê de eu ter tido que um beijo seria o suficiente para nos diferenciar? – eu já tinha me levantado e estava a caminho deles.
– Mas... É impossível! Ou deveria ser. Ahr!... – aquela voz dela, cheia de incompreensão e êxtase, a deixava cada vez mais atraente (mas quase me sinto mal por deixar o Agýrtis continuar a provocando).
– A textura de minha superfície pode estar idêntica à de seu guardião, mas eu ainda sou de metal nesse tipo de ligação que fizemos.
– Ainda não consigo acreditar...
– Melhor acreditar... – sussurrava ao seu ouvido, abraçando-a sedutoramente por trás – Pronta para “pagar a prenda”? _sorriso safado_.Cris 2
Fiquei tão surpresa de descobrir que havia beijado o homem errado, que eu nem percebi o Lance se aproximando.
– Pronta para “pagar a prenda”? – ele me questionou puxando levemente o meu queijo, e dando-me um beijo. Não vou negar, aquilo foi carinhosamente excitante da parte dele.
Ainda com o Lance se apossando de meus lábios, comecei a receber beijos na região da clavícula, o que me surpreendeu um pouco e fez com que os dois me segurassem com mais firmeza. Lance na minha cintura, e Agýrtis em meus braços.
– Você não vai fugir... – declarava os dois juntos (o que me fez querer suar frio).
– Você nos fez o pequeno favor de nos torturar um pouco enquanto tentava nos descobrir... – era o Lance.
– Então nos permita retribuir parte da cortesia. – e agora o Agýrtis.
– Fui muito bem enganada. – tentava me justificar – Não imaginei que pudesse errar a-ah!... Assim... _expira_ Preciso mesmo ter uma conversa séria com você, Agýrtis.
– Mais tarde. – os dois voltavam a falar juntos, com cada um deles me puxando para si.
Os dois começaram a me despejar beijos... “massagens”... carinhos e até mordidinhas ou lambidas. Parei de usar a visão ambiental porque já não estava mais conseguindo me concentrar direito. Lance me monopolizava a boca, por isso era fácil saber quem era quem agora. Mas, de acordo seus afagos se tornavam mais “urgentes”, sentia dificuldades em saber qual mão era de quem. Tanto que não consegui distinguir direito se era só um, ou os dois, que me arrastava as alças da camisola pelo ombro até caírem do corpo.
Eles pareciam querer me disputar da mesma forma que dois predadores disputam uma caça, trocando de lugares quando lhes dava vontade (me enlouquecendo no processo...).
Alcançada a cama, eu não sabia bem o que fazia, ou em quem o fazia. Se eu beijava, abraçava, acariciava. Já estava começando a perder o controle de meus gemidos quando os dois resolveram se adentrar em mim.
Aaarrr... Agora sim eu sentia perder o controle de mim...
Aquilo tudo estava sendo tão selvagemente bom, que achei que fosse finalmente enlouquecer de vez. Não estava conseguindo pensar em nada direito. Quando mais perto do ápice eu me sentia, menos eu conseguia pensar nas coisas. E no momento que eu alcancei o meu máximo... Não consegui pensar mais. Sentia vagar em um espaço de puro bem-estar.
Sem dores, sem medos, preocupações ou o que quer que fosse. Era uma sensação tão... indescritivelmente boa, que não me importaria de repetir aquilo todo mês possível. Passado tudo, e ainda recebendo alguns carinhos por parte de um deles, resolvi remover finalmente a minha venda, começando a perceber o meu cansaço de tudo isso pelo peso de meus braços.
Estava nos braços de meu Gelinho, e o Agýrtis, que me parecia uma estátua de metal do Lance, estava de pé levemente afastado da cama, segurando uma espécie de bolo de massa nas mãos. Sempre que eu fechava os meus olhos, tinha cada vez mais dificuldade para abri-los.
– Tudo bem com você? Princesa...
– Estou bem. Um pouco... cansada, mas bem.
– É melhor ir dormir... – ele me acariciava o rosto – Apesar de ter prometido que pegaríamos leve, acabamos exagerando um pouco.
– Só eu cansei?...
– Se por acaso você tivesse condições de mais, eu teria que aguardar uma meia hora para lhe atender. – um riso me escapou – Agýrtis já conseguiu o que queria, então vamos dormir. Pode ser?
Ele beijou-me na testa. Fechei os olhos para sentir melhor o seu carinho e mal estava tendo forças para me mexer – Tudo bem. – consegui responder – Vamos... dormir...Lance 2
Loucura. Não tem palavra melhor para resumir essa experiência. Graças a essa ligação, parecia que haviam duas Ladinas me tocando. É inacreditável. Eu estava receoso sobre isso e agora... Estou sem palavras.
Uma coisa que procurei deixar bem claro entre eu e o Agýrtis, é que apenas eu teria o direito sobre os doces e macios lábios de minha amada (já que infelizmente estava sendo obrigado a abrir mão de sua “amiga”). Tive, outra vez, que utilizar de algumas coisas que acabei aprendendo com ela para melhor aproveitar essa noite diferente (e acho que cheguei bem perto de perder minha sanidade com tudo isso...).
Eu nunca pensei que ela pudesse me apertar tanto quando em êxtase! E isso porque eu estava me segurando o máximo possível – Ladina? – tentei chama-la enquanto ela tinha espasmos – Ei, Ladina.
– Ela não escuta. – encarei o Agýrtis sem entender – Ela está em um estado tão alto de frenesi, que não está percebendo mais nada ao seu redor.
– Quê?! Como é possível?
– Quando estava provocando ela, estava fazendo mais que estimulá-la. – se explicava ele, já recolhendo seu material – Eu estudava suas reações para conseguir o melhor resultado possível. Minha telepatia não deixou de funcionar, então eu apenas completei as ações de vocês dois para a atual situação. Mas acho... que posso ter exagerado um pouco. Ela está esgotada!
– Bom, ela não é a única.
– Se estiver falando de você, eu concordo. Hum?
– Qual o problema?
– Bem, eu acabei recolhendo um pouco de seu material, e não estou conseguindo separá-lo. Talvez se...
Minha Ladina começou a se mover. Retirando a venda do rosto e depois nos encarando com os olhos pesados.
– Tudo bem com você? Princesa... – questionei um pouco preocupado.
– Estou bem. – o cansaço em sua voz me fez engolir seco – Um pouco... cansada, mas bem.
– É melhor ir dormir... – lhe acariciei o rosto – Apesar de ter prometido que pegaríamos leve, acabamos exagerando um pouco.
– Só eu cansei?... – ela só pode estar de brincadeira...
– Se por acaso você tivesse condições de mais, eu teria que aguardar uma meia hora para lhe atender. – ouvir seu riso em um momento como este, me aliviou um pouco a culpa do que fizemos com ela – Agýrtis já conseguiu o que queria, então vamos dormir. Pode ser?
Beijei-lhe a testa sem pensar muito – Tudo bem. – ela mal respondia – Vamos... dormir...
Acabei engolindo seco mais uma vez com ela desacordada em meus braços. Ajeitei-a na cama com todo o cuidado possível. E sejamos francos, eu também estou acabado.
– Encerre a ligação.
– Hãm?
– Como eu disse antes, não estou conseguindo separar seu material. Há a possibilidade da ligação estar atrapalhando, encerre-a agora. Só você pode fazê-lo, lembra?
– Sim, é verdade. Eu só... Só preciso desejar o fim dela, certo?
– Deseje isso com todo o seu coração.
Espirei bem fundo com os olhos fechados. Me concentrei no desejo de encerrar aquilo e aconteceu. Senti algo como o estouro de uma pequena bolha. No que encarei o kaspersky, ela não tinha mais a minha forma. Decidi acompanhar a minha Ladina e esqueci do Agýrtis.
Dormi feito uma pedra. Não vi absolutamente nada e sol da aurora já penetrava no quarto. A Cris parecia dormir profundamente ainda e eu precisava de ir ao banheiro, mas quando meus olhos pousaram sobre a cadeira em que Agýrtis havia se sentando antes de eu fechar os meus olhos...
– LADINA!! – ela começou a se remexer, respirando fundo _aliviado_ (mas... como quê?...)
– Eu também não entendo... – declarava uma cópia perfeita de minha amada, sentada encolhida, onde estava o kaspersky antes de eu dormir, e com a voz meio metálica – Acho... que a semente dela me influenciou de alguma forma. E não foi só a minha forma!
– Ao que se refere?
– Lembra que eu disse que estava com dificuldades para separar o seu material de minhas substâncias?
– Lembro. Você acusou que a ligação poderia ser a responsável.
– De fato. Porém... – eu não tinha percebido, mas havia uma cópia metálica minha, nua, parada bem perto dos fundos do jardim. Aquilo me surpreendeu (no mau sentido).
– Mas o quê que isso significa?!
– Hurmm... Porque tanto barulho?...
– Desculpe de acordar. Está tudo bem com você?
– Es... _longo bocejo_ Está sim. – ela se sentava durante sua fala – _respira fundo_ Mas que loucura foi tudo isso... – ela jogava a cabeça para trás, expondo o colo (_sorriso safado_).
– Realmente. Foi incrível! Mas acho que temos um novo problema.
– Que pro... – ela viu o Agýrtis – Blema. Eu ainda tô sonhando? – questionava ela apontando para o kaspersky.
– Receio que não. Venha! – ordenava o Agýrtis ao meu clone de metal que obedeceu imediatamente. Deixando minha Princesa de olhos arregalados e queijo caído – Como não estava conseguindo remover o material do dragão de minha massa, resolvi dispensá-la. E quando fiz isso... Ele se moldou.
– Está me dizendo que essa coisa é...
– Como um boneco. – o kaspersky me cortava – Ele obedece tudo o que eu digo. Não tem nenhum tipo de poder e nem fala também, mas parece ter habilidades de batalha.
– Isso é estranho. E porque é que você parece um reflexo meu saído do espelho, Agýrtis?
– No momento que o separei de mim, senti que algo se modificava em mim. Imagino que seja culpa da semente porque tanto ela como os fluidos que lhe adquiri junto dela se encontram todos reunidos no que seria correspondente ao ventre deste corpo. Percebi que tinha me transformado em você quando vi meu reflexo nele. E assim como ele, apesar de estar idêntico a você, existem diferenças.
– Além da voz que lhe denuncia? – questionei.
– Sim. Não carrego qualquer ligação com a mestra, mas lhe assumi completamente a aparência, e não consigo desmanchá-la. Toda a minha atenção parece estar sendo roubada pela semente que guardo, e que de alguma forma, começou a sofrer mudanças dentro do meu corpo. Mudanças que não consigo compreender.
– E você não poderia ter criado algumas roupas sobre si não? – perguntei ao perceber que aquela aparência estava começando a querer mexer comigo.
– Eu já tentei, e não consigo. Como eu disse antes, minha atenção está presa nas transformações da semente.
– Vamos ter que chamar os outros para tratar disso. – minha Ladina se erguia em direção do guarda roupa – Por hora, acho que o Agýrtis pode vestir algumas de minhas roupas... E tentar se manter em silêncio. Só não sei que desculpa poderíamos dar se alguém o visse.
O som de algo caindo chamou a atenção de todos nós. Era a esfera de cristal que a Cris tinha purificado (e quem a derrubou foi a Negra... Onde que ela engana alguém com aquela cara de criança traquina?!). Vê-la rolando pelo chão me deu uma ideia.
– E se ele se mantivesse carregando essa esfera nas mãos? Ele ainda precisaria se manter escondido, mas se alguém o ver, pode pensar que é você fazendo algum tipo de treinamento, Cris. O que acha?
– A ideia não é ruim. – falava o kaspersky – E acho que algo semelhante pode ser feito em relação a ele. Afinal... vocês dois quase nunca se separam, certo?
– É. Isso é verdade. Mas para isso acontecer, precisamos de uma segunda armadura. Aqui, passe os seus braços por aqui. – ela o ajudava a se vestir – Alguém pegue aquela bola, por favor.
Fui atrás da esfera, e antes que eu pudesse entrega-la, alguém resolveu bater na porta.
.。.:*♡ Cap.172 ♡*:.。.
Leiftan
Ezarel, seu filho de um black-dog dos infernos... Nunca te odiei tanto como agora! Elfo de uma figa, pra quê que ele foi dizer uma coisa absurda como aquela ontem?!? Se a Miiko não tivesse me arrastado com ela pra fora dali, eu teria dado um jeito de socá-lo ali mesmo!
Praga miserável... Passei o dia inteiro tentando não pensar no assunto de tão insensato que era. Se eu ficasse um minuto que fosse sem pensar em trabalho, aquelas palavras me assombravam.
Eu me imaginar em um momento íntimo com a Erika era fácil! Conseguia visualizar suas curvas, totalmente expostas para mim, sem qualquer dificuldade. Mas... Meter o Valkyon na mesma visão e nas mesmas condições da Erika? Impossível! Inadmissível! Nem me esforçando! Sem falar que nunca que a Erika iria querer concordar com uma coisa dessas! (Ou poderia?...) ARGH!!!
O pior é que essa loucura me perturbou tanto que até pesadelos eu tive. Sonhei com a Erika praticamente toda entregue a mim. Nos beijávamos e ela chamava meu nome às vezes. Mas de repente, a doce voz de minha Erika tinha sido substituída pela voz do Valkyon, e era ele quem estava diante de mim. O susto que tomei foi tão grande que caí com tudo da cama e eu ainda me arrastei para longe dela.
Fiquei tão possesso com o elfo por causa desse pesadelo, que o encantamento da Erika sobre mim acabou me afetando. Como se aquilo já não tivesse ocorrido no decorrer do dia, enquanto tentava não pensar nessa loucura...
Passei o resto da madrugada em claro. Morrendo de medo de ter mais pesadelos como aquele. E sem conseguir parar de pensar nessa loucura...
Eu tentava meditar para me acalmar, só que não funcionava. O assunto não abandonava minha cabeça nem por decreto! Não vou negar que já estive disposto a fazer qualquer coisa para poder ter a Erika para mim, dentro de um quarto. Mas isso?! Isso está além de tudo!! (Ou eu consigo fazer um esforço?...) AAAAHHHHHH!!! MAS QUE RAIVA!!!
Ao ver os primeiros sinais da aurora, desisti finalmente de tentar meditar e comecei a me arrumar. No salão, procurei me sentar o mais escondido possível e rezando para não ter que me encontrar com o demônio do Ezarel hoje. Essa coisa estava importunando tanto a minha cabeça, que acabei desejando poder esmaga-la para conseguir ter paz.
– LEIFTAN!
– Hãm?! O quê?! – me assustava (especialmente ao ver quem me chamava) – Va-Va-Valkyon? Há... Há algum problema?
– É o que eu pergunto a você. Te chamei várias vezes.
– Eu... Eu não lhe ouvi. Desculpe. Deseja algo comigo? – (além de possivelmente querer me ameaçar?).
– Está assim por causa do que Ezarel nos disse em frente ao quarto da Cris, não estou certo?
– Quê?! Eu... – o dragão me encarava sério, e por algum motivo, não conseguia mentir para ele – _suspiro_ Confesso. Já tive até pesadelos essa noite por causa disso.
– Eu sei. Eu o ouvi gritando. A Erika só não acordou porque tinha tomado uma poção para dormir, enquanto eu, passei a noite em claro pensando nesta historia e nas coisas que ela me contou.
– Que coisas?
– Durante o dia, eu evitei o assunto. Mas quando chegou a noite, eu consegui convencer ela a me contar quais eram os outros tipos de relação que existiam na Terra. Para não ser surpreendido outra vez...
– E?
– Bom. Antes de qualquer coisa, ela me ressaltou o tamanho da população humana, e por isso... Mesmo um grupo pequeno consegue ser bem numeroso. – refleti por um instante e ele tinha razão. Mesmo se a população humana estivesse em um milhão, 1% disso seria de dez mil habitantes – Ela também explicou que as coisas que iria me contar costumam ser no máximo fetiches. Preferências pessoais de algumas pessoas em momentos íntimos.
– Entendo. Sempre existiram pessoas com gostos estranhos.
– E põe estranhos... – acabei com receio pela expressão que ele fez – As coisas que ela me contou... Fez o que ela nos explicou lá em cima parecer travessura de osstoplasm.
– Parecer O QuÊ!? Agora estou até com medo de imaginar o que você possa ter ouvido dela... – eu segurava minha cabeça, com os cotovelos sobre a mesa.
– Também teria pensado assim se eu soubesse no que eu estava me metendo, mas...
– Mas o quê? – questionei após quase um minuto de silêncio – Ela acabou lhe contando algo pior que essas coisas?
– Depende do ponto de vista.
– Pode ser mais claro? Está me deixando preocupado.
Ele começou a me observar como se estivesse me medindo. Como parecia ser algo realmente sério, tentei ser paciente até ele finalmente decidir me contar.
– _suspiro longo_ Tudo bem. Eu vou contar. – _engole seco_ – Depois que ela terminou de me contar tudo o que sabia, acabei questionando a opinião dela sobre o comentário do Ezarel e...
– E?...
– Ela me confessou algo que não esperava.
– “Algo que não esperava”? Como o quê? Posso saber?
– Ela... Ela me disse que... Que se eu não tivesse procurado ser razoável com ela, e se você não tivesse se mostrado tão ausente com ela antes de nos envolvermos... – de acordo o Valkyon liberava sua fala, sentia uma agonia surgindo dentro de mim – Ela... Ela estaria com você ao invés de mim agora.
Maldita. Maldita, maldita, mantida, mil vezes maldita a hora que decidi priorizar meus esquemas a correr atrás da Erika!! Um milhão de vezes MALDITA!! – O... O quê ela... Te respondeu exatamente?
– Como eu posso dizer isso? Ela... Bem. Quando lhe questionei a opinião do comentário, ela demorou muito para responder, o que me deixou preocupado. Depois que eu insisti, ela me disse que depois de mim, só existia uma pessoa em toda a Eldarya que a fazia se sentir verdadeiramente segura e em paz.
– EU?!?!?
– Sim. Você. Mesmo depois de ter parte de sua confiança abalada depois que descobrimos todos os seus atos, ela ainda se sentia melhor ao seu lado, durante a minha ausência.
Aquilo me surpreendeu. Apesar de todos os conflitos em minha mente, aquilo me forneceu alegria (e uma chaminha de esperança). Talvez, só talvez! Ainda exista uma forma de eu ter a Erika. Nem que seja dividindo-a com outra pessoa (mas seria necessário mais gente em pleno acordo) – Isso... Não foi tudo o que ela disse, foi?
– Se você estiver se referindo a ela estar sim ou não de acordo com a sugestão do Ezarel, tudo o que ela me respondeu é que não podia dar uma resposta concreta sem antes conhecer nossas opiniões sobre o assunto. Pois, segundo ela, uma relação dessas precisa ser clara e sincera entre todos os envolvidos para que se funcione.
– Faz sentido... – fiquei encarando o teto do salão por um instante.
– Para não esquecer que esse assunto a fez lembrar de algumas coisas que ela aprendeu com a Yêu.
– Yêu? Fala do caso das almas das quimeras?
– Esse mesmo. Na hora ela não quis me dizer o quê ela lembrou exatamente, e não sei se é uma boa ideia força-la neste assunto.
– Compreendo. Mas... O quê você diz sobre isso? Não falou que passou a noite em claro, refletindo?
– Ainda não tenho muita certeza. Preciso pensar um pouco mais. Porém... Não pretendo abrir mão de trocar alianças com ela. E às vezes me pergunto: que tipo de objeto poderia substituir a aliança?... Nem todas as culturas usam anéis, não é verdade?!
Aquela pergunta me deixou um pouco confuso – O... O quê quer dizer?
– Jurei para mim mesmo que faria o que fosse preciso para torna-la feliz a sua vida inteira, então tentarei fazer o que for preciso para isso. Mesmo que possa ser visto como tabu...
Quase não consegui lhe ouvir a última frase, e ainda assim, quase fiquei boquiaberto de tão espantado. O que significa que, o motivo dele ter feito aquele comentário, era para que eu pensasse em outro meio de me comprometer com a Erika, caso ela aceite? (Tenho que dar um jeito de pesquisar mais sobre isso para evitar confusões desnecessárias!).
– Então... Está querendo dizer que, se for da vontade dela, você estaria disposto a aceitar a “sugestão” daquele elfo??
– Antes de estar casado com ela, não.
(Antes dela ser oficialmente companheira dele, não... Deixando claro quem foi o escolhido, e quem foi o rejeitado... A primeira, e a segunda opção.)
– _suspiro_ Acho que agiria de forma semelhante se estivéssemos em lugares trocados... – falava meio que para mim mesmo, na tentativa de autoconsolo, encarando o teto mais uma vez.
– Temos um problema. – Erika surgia do nada, um tanto ofegante – Preciso que me ajudem a reunir “todos” no quarto da Cris. Já aviso que não encontrei ninguém no caminho até aqui.
– O que aconteceu?
– Algo que tanto pode se tornar uma ajuda, quanto uma tremenda dor de cabeça, Valkyon.
– Deixe que eu procuro pelos outros do lado de fora. – me oferecia.
– Nesse caso, procurarei dentro do QG. Você pode procurar pelos que estão no salão, Erika.
– Tudo bem. Mas é melhor corrermos! – declarou ela quase correndo para a cozinha.
Valkyon e eu nos encaramos por meio segundo e fomos atrás dos outros. Eu não consigo imaginar o que possa ter deixado a Erika tão preocupada daquele jeito. Lá fora, eu encontrei o Nevra e a Huang Tomoe. Erika já havia chamado o Karuto, então faltavam a Miiko, a Ewelein e a peste. Pelo horário, Valkyon deve ter conseguido encontra-los sem problemas.
Segui para o quarto ainda tentando imaginar o quê poderia ter deixado a Erika naquele estado. Cheguei a encontrar a Purriry, que resmungava seguindo na direção contrária, no corredor da Cris, me deixando ainda mais intrigado com o que estava acontecendo. No que eu pus os meus olhos no interior do quarto, entendi totalmente o que a Erika havia declarado. E não podia estar mais de acordo! Ou recebemos uma chance de ouro, ou a mais complicada das dores de cabeça que eu poderia imaginar...Cris
Depois de uma experiência simplesmente inesquecível, estava tendo a noite mais bem dormida que já tive em Eldarya. Eu só queria saber o que é que poderia ser motivo suficiente para se ficar acordando os outros depois daquilo tudo...
Meu soninho estava tão gostosinho... Onde é que eu iria conseguir imaginar uma situação louca como aquela?! E Miiko que me perdoe, mas eu não ia descascar aquele abacaxi sozinha não.
Corri atrás de algumas roupas para o Agýrtis, me perguntando se a Purriry já estaria acordada naquela hora. A ideia do Lance não me pareceu ruim, mas ainda tinha a questão de como esconder as nossas “cópias”, enquanto nós dois também estivéssemos em Eel. Sem mencionar o detalhe que não sabemos quanto tempo aquela “transformação forçada” irá durar.
Travei quando ouvi que tinha gente me batendo à porta. Quase esqueci de como era o código para sabermos quem que batia. Sorte minha o Lance estar de cabeça fria e ter ido atender para nós enquanto eu corria para me cobrir. Coisa que ainda não tinha feito.
– Bom dia! Vim ver como vocês estão e... – Erika entrava, ficando muda ao ver duas Cris.
– Miau! O que foi que vocês aprontaram agora?
– Purriry! Estava mesmo pensando em ir vê-la. Tenho uma encomenda para você. – disse apontando para o Lance de metal.
– AHH! Mas o que é isso?!? – gritou a gata antes da Erika que ficou igualmente chocada ao meu ver.
– Ainda não entendemos bem o que está acontecendo, mas teria como fazer uma segunda armadura para o meu sósia? Não precisa ser idêntica. O mais parecido possível já é o suficiente. – explicou o meu Lance.
– Sim, é possível sim. Mas não será barato! Imagino que queiram a armadura para ontem, não?
– Se tiver como fazê-lo... Sim. E não se preocupe Purriry, eu vou pagar.
– Tudo bem, miau. Apenas deixe-me conferir se as medidas dele são realmente iguais às do dragão. Sabia que ver Absol em minha loja logo cedo não me seria muito bom sinal...
– Absol foi buscá-la de novo?!? – questionei já procurando pelo bendito.
– Mais ou menos. Passei a madrugada trabalhando em novas ideias e resolvi buscar um pouco de leite quente para despertar. Absol estava parado bem na porta de meu ateliê, e ele só aparece em minha loja quando você precisa de mim, Cris querida.
– Entendo. Eu realmente sinto muito pela inconveniência.
– Eu... Acho que vou ir atrás dos outros agora... – comentava a Erika se encaminhando para a porta – Isso aqui pode gerar uma baita confusão se não tratarmos isso com cuidado.
– Seja breve. Se possível. – pedia o Agýrtis.
Erika saiu e eu só pude ouvir passos apresados vindos de fora. Purriry precisou de uma mãozinha do metamorfo para conseguir conferir as medidas do “boneco” e eu me apresei em terminar de vesti-lo.
Lance resolvera arrumar o quarto enquanto ninguém chegava, e me apresei em vestir uma roupa decente. O pessoal não demorou muito e a Purriry se retirou um pouco antes de todos chegarem. E claro, todo mundo que via a existência de duas de mim entrava em pane. Ezarel até chegou a fazer graça ao ver o boneco pelado.
– Meus olhos! Ai meus olhinhos sensíveis!... Alguém explica essa visão do inferno!
– Menos, Ezarel. Mas admito que estou sem entender também.
– Estamos todos no mesmo barco, Valkyon.
– Como assim? O Agýrtis ainda não explicou nem para vocês o que isso tudo significa, Lance?
– Se eu soubesse o que está acontecendo, eu já teria explicado, senhora kitsune. Isto tudo também é novidade para mim. – declarava o kaspersky que continuava com as mãos apoiadas sobre o ventre.
– Vamos parar com a discussão. Agýrtis, conte-nos tudo o que aconteceu.
– E de preferência, pulando os detalhes profanos. – acrescentava o Ezarel ao pedido da Ewelein.
Pulando o “namoro”, o Agýrtis contou tudo o que havia acontecido ontem, detalhadamente. Ewelein acabou fazendo um exame básico em cada um de nós, ao final das explicações, não encontrando qualquer tipo de anormalidade em mim e no Lance.
– A cópia do Lance parece ter características semelhantes com as de um golem, e eu não sei se posso dizer com certeza a minha opinião clínica sobre o kaspersky, uma vez que preciso estudar mais sobre a sua raça.
– E quanto à Cris e ao Lance?...
– Os dois me parecem totalmente bem, Miiko. A Cris principalmente. Acho... que depois que essa transmutação forçada terminar, vou querer que o Agýrtis passe a trabalhar comigo. Seu conhecimento sobre anatomia me parece ser incrível!
– Ser o que sou precisa ter alguma vantagem. Não sou contra de atender o seu pedido, mas, assim como mencionou, só poderei fazê-lo depois que isto terminar. Seja lá o que for que está acontecendo...
– Ok. Deixando o assunto clínico de lado, o que vocês pretendem fazer? Não há dúvidas que podemos usar a condição forçada do kaspersky em nosso beneficio, mas não sabemos quanto tempo isso vai durar, e muito menos que explicações poderemos utilizar.
– Já começamos a tomar algumas medidas, Nevra. Purriry esteve aqui e eu lhe encomendei uma armadura semelhante à de Lance.
– E eu acabei tendo a ideia de fazermos todos acreditarem que o Agýrtis é apenas a Cris fazendo algum treinamento de luz.
– Treinamento de luz? E como exatamente você planejou isso?
– Com isso aqui, Leiftan. – Lance pegava a esfera de cristal deixada sobre a mesa – Quase todo mundo viu a Cris segurando isso enquanto ela a purificava, então não será difícil fazer todo mundo acreditar que “a Cris” está tentando um novo exercício. Basta que ele a segure sobre o abdômen, já que não tira as mãos dessa região. Aqui, Agýrtis. – oferecia-lhe o Lance a esfera, após terminar sua explicação.
Sem muito interesse, Agýrtis pegou a esfera. Mas quando ele a encostou em seu ventre... Uma luz. Um ponto de luz para ser mais precisa, surgiu dentro daquela esfera. E a luzinha estava acompanhada de uma pequena “névoa” luminosa que a cercava e rodeava, com um “fio” ou outro ligando-a ao ponto.
– É isso... É exatamente isso o que sinto ocorrer dentro de mim, com o material que peguei da mestra... – declarou o Agýrtis, impressionado, surpreendendo todos tanto quanto o momento em que aquela luminosidade surgiu.
– Uma espécie de reflexo?? – Lance acabou questionando, roubando parte da atenção sobre Agýrtis.
– Talvez. Eu não sei. – respondia o kaspersky ainda mais concentrado no interior da esfera.
– Bom!... Seja lá o que for o quê que está acontecendo, isso com toda a certeza ajuda com a desculpa de treinamento que você sugeriu antes, Lance.
– Concordo com o Leiftan, mas ainda quero estudar mais esse caso. E espero que você possa me ajudar com isso, Ezarel.
– E ele vai, Ewelein. Porém vocês terão que trabalhar por aqui enquanto a armadura do... Falso golem, não está pronta. É melhor que eles nem saiam deste quarto.
– Só uma perguntinha, Miiko: Lance e eu também teremos de ficar presos em meu quarto, enquanto não arranjamos um local para esconder nossas “cópias”?
– Porque não usamos o esconderijo do Lance? É só o Absol nos dar uma ajudinha com isso, ou esperarmos a noite para levá-los para lá! – (e cadê o Absol?)
– Antes de recebermos a armadura não, Sanguessuga. Quanto menos gente souber o caminho até ali, melhor.
Acho que ficamos mais uns quinze minutos discutindo. Considerando o quão nervosinho o Lance ficou com essa história, parece que está querendo abandonar a Morada e construir um novo esconderijo em algum outro lugar. No fim, acabou decidido que enquanto a Ewelein e o Ezarel não compreendessem o que está acontecendo com o Agýrtis, o kaspersky estaria proibido de deixar o meu quarto.
Uma vez que consigamos essa resposta, o Absol ou o Lance seriam aqueles que guiariam nossas cópias para a Morada, e eles só poderiam ficar andando por Eel se eu e o Lance estivéssemos fora da cidade. Claro, alguém com conhecimento sobre os dois estaria sempre os vigiando para o caso de Agýrtis conseguir voltar ao normal, e os lugares em que eles poderiam ficar também seriam limitados. Tudo pensando no jeito mais fácil de esconder a verdade da maioria.
Essa situação praticamente me devorou a manhã. Quando tudo ficou realmente decidido, o tempo do café-da-manhã já havia acabado. Sorte minha o Karuto ser um amigão e aceitar nos preparar um pequeno lanche quando chegássemos no salão.Lance
Que teríamos de compartilhar aquele problema com mais gente, eu já estava ciente, mas aquela reunião não podia ter sido deixada para depois do dejejum? Porque que a minha futura cunhada não esperou mais um pouquinho para juntar todo mundo?
Fiquei observando todos que chegavam, inclusive a Negra que, além de não ter desaparecido depois de derrubar aquela esfera, não tirava a expressão traquina do rosto.
(O quê é que você está planejando? Senhorita desapareço-quando-não-quero-responder.) – “Fica tão chateado assim quando não lhe tiro as dúvidas?!” – (Sem brincadeiras. Porque motivo você ainda está aqui, se não for falar nada?) – “Tão sem graça...” – (_rosnando_) – “Mas já que insiste, preciso lhe pedir um favor.” – (Um favor??) – “Sim. É sobre Absol. Você precisa ajudar a fazer com que esse povo dependa menos da umbracinese dele. Essa última viagem o cansou muito!” – (Umbracinese cobra tanto assim de seu usuário?) – “Está pensando em quê? A idade também chega para um black-dog!” – (Idade???) – “Black-dogs tem um estimativa de vida de vinte anos. Trinta, se ele tiver uma vida fácil e segura desde o começo. O que não é lá uma coisa muito fácil de acontecer...” – (Eu entendo. Mas, quantos anos Absol tem??) – “Já é a sua deixa!...” – indicava ela para o povo, sumindo em seguida.
Comecei a prestar atenção na conversa deles, bem no momento que o Nevra questionava o que pretendíamos fazer em relação ao Agýrtis. A Cris falou da armadura e eu da esfera que acabei largando sobre a mesa quando a Erika apareceu. Eu quase não acreditei no que via. – “Ah! E essa situação do Agýrtis irá acabar quando a luz da esfera sumir, já que ela estará agindo como uma espécie de reflexo.”
– Uma espécie de reflexo?? – acabei questionando em voz alta. Sem acabar interferindo muito no prosseguir da conversa.
Mas acho que o sanguessuga percebeu que eu tinha recebido a visitinha daquela peste, pois ele me questionou, sem voz, o nome dela, para o qual eu assenti discretamente.
E esse abusado está querendo apanhar... Sabia que deixar a Cris conhecendo o caminho até a Morada seria um erro. Quem eles pensam que são para tratarem meu cantinho como se fosse a casa deles?! Consegui fazer com que essa gente não obrigasse Absol a nada por enquanto como a Negra me pediu, mas estou curioso sobre a idade daquele black-dog superdotado. Espero que ele não seja muito velho...Cris 2
Tomamos o café da manhã no Jardim Secreto, Valkyon, Tomoe, Lance e eu. Ewelein e Ezarel ficaram no quarto para estudarem mais o Agýrtis. Leiftan e Nevra assumiram seus respectivos trabalhos, e Erika e Miiko foram cuidar do Cristal e tentar convocar a Semente Branca para ver se ela nos ajudava em alguma coisa.
Para nos distrairmos de toda essa história, Tomoe quis saber que tipos de feitiços eu já tinha conseguido aprender. Absol resolveu aparecer quando estava quase terminando de comer. Lance ainda estava com a cabeça meio quente, então ele sugeriu que eu fosse treinar tendo o Absol como guardião, e que ele ficaria no quarto até o almoço para conversar um pouco mais com o Agýrtis.
Nem Valkyon e nem Tomoe, viram problema em sua sugestão. E lááa ia eu... Arrastada pelos dois... Para mais um dia de treino.
Treinaríamos na Cerejeira hoje. E de olhos vendados...
– Muito bem Cris, hoje você vai aprender a usar um bastão.
– É o quê?! – reclamei quase não conseguindo pegar o bastão que Tomoe tinha me jogado, sendo que já estava de olhos vendados (e com risos de espectadores ao redor).
– Nem sempre você terá uma lâmina ao alcance de sua mão, então saber se defender até mesmo com um cabo de vassoura, por exemplo, é algo bastante útil. – declarava ela, manejando um outro bastão nas mãos. Atingindo, alguns dos que tinham rido da minha falta de jeito – E é por isso que fazer pouco de alguém que está começando a aprender novas maneiras de defesa, é uma desgraça para um verdadeiro guerreiro.
As risadas tinham desaparecido. Tomoe começou a me ensinar a manejar o bastão, e as vezes que fiquei brincando com as vassouras e rodos de minha mãe estavam se mostrando úteis agora. Demorou um pouco, mas estava começando a pegar o jeito. Só que a Tomoe podia ter deixado o treino com adversários para mais tarde, não? De preferência amanhã ou depois.
Tinha que me virar nos trinta para evitar de apanhar, e a Tomoe me corrigia a postura ou os meus movimentos de vez enquanto. Aquilo já devia estar levando um tempo enorme, pois comecei a sentir cheiro de comida e alguns dos que me assistia “apanhar” tinham marmitas nas mãos. Até Absol que costuma estar sempre atento durante o meu treino estava bocejando! O que me deixou um tanto incomodada.
Tanto descaso por parte dos que só assistiam acabou me irritando. Comecei a focar mais energia naquele treino para assim esquecer aquela “rejeição” que estava recebendo dos outros.
– CRIST...!! – entrei em choque com a voz, bruscamente interrompida, que chegou aos meus ouvidos (O que raios ela está fazendo aqui!?!).
Sem pensar muito, recitei um dos encantamentos que havia aprendido com o Lance (apesar de ainda não ter conseguido decorar o contra-feitiço...) e corri ao encontro daquelas criaturas. (Misericórdia, Senhor. Acaso é a Lei do Retorno já agindo??)
.。.:*♡ Cap.173 ♡*:.。.
Christiano
– Vou perguntar mais uma vez, mãe: tem certeza que não quer desistir e voltar para o Hotel? O Apoema lhe prometeu estadia vip enquanto estivesse lá.
– Pela milhonéssima vez, Gabriel: eu, só volto, depooois de ver a sua irmã!! E se perguntar mais uma vez, eu te meto a mão!
– Sua mãe é uma mulher bem difícil... – me sussurrava o Ubiratan.
– Está mais para impossível. – lhe sussurrava de volta.
Mas que saco! O que foi que deu nela para colocar na cabeça que queria saber onde é que a Cristinne está vivendo agora? Nem com todos os problemas que ela tem, essa mulher desistiu de me acompanhar até Eel! E olha que eu exagerei as dificuldades de nosso percurso para fazê-la repensar isso.
Nin-guém, fosse em casa ou no hotel, conseguiu arrancar essa ideia da cabeça dela. Minha última esperança são as lendas. Se nem o Curupira e a Caipora conseguirem fazê-la desistir... Eu que desisto! _suspiro longo_.
Ubiratan aceitou nos guiar pelo caminho mais fácil e direto possível para poupar as ites da minha mãe, e espero conseguir me locomover mais fácil por Eldarya, caso as lendas fracassem também.
Seguimos caminho em silêncio depois da última ameaça dela, e alcançamos a neblina em mais ou menos meia hora.
– A senhora devia reconsiderar a viagem. – ufa! É o Curupira. Mas porque ele escondeu os pés??
– Até o avaré deu meia volta no começo, kunhã. – eita p***! Até a Caipora tá aqui?!
– Do que foi que essa aí me chamou?? E eu vim de longe demais para desistir agora. Quem são vocês afinal de contas?
– Xii!!... Esta é tiririca. Não teme a pindaíba. – definitivamente a Caipora não está me ajudando...
– Kaa’pora... – o Curupira a repreendia, mas a Caipora apenas deu as costas e se encolheu – Senhora, – ele se voltava para a minha mãe – ...se pretende mesmo ir até o fim, mim precisa alertar: Esta viagem irá mudar tudo o que considera certo ou errado, além de estar cheia de grandes perigos. Ainda assim, deseja prosseguir?
– Em primeiro lugar: eu já disse que não vou voltar atrás. E em segundo lugar: vocês ainda não disseram quem são.
– Somos os escolhidos para guardar a passagem que desejam atravessar. E se deseja mesmo seguir em frente, há regras que jamais deverá quebrar. A menos que queira a visita da morte.
– O que foi que disse?! – Isso, Curupira!
– Mãe, por favor, volta com o Ubiratan pro hotel. Se a senhora continuar a partir daqui, corre o risco de acabar louca na melhor das hipóteses.
Ela estava pensando. E eu rezava para que ela decidisse voltar para trás.
– Que condições são estas? – (Arriégua!! Como pode ser tão teimosa?!)
– Primeiro: quando no escuro, jamais olhe para trás, ou se perderá para sempre. Segundo: em momento algum deixe de pensar na razão de estar fazendo essa viagem. Terceiro: não importa se é a mais velha, obedeça aqueles já sabem o que lhes aguarda. – (gostei dessa condição!...) – E quarta: use, e jamais retire, esta itã enquanto do outro lado.
O Curupira lhe estendia um colar de pedra. Ela veio me encarar e eu mostrei na hora o meu, para ver se ela entendia que aquilo não era brincadeira. Minha mãe pegou a pedra com relutância, e eu estava torcendo para que aquilo fosse um sinal dela desistindo. Mas pro meu azar...
– É só essas quatro mesmo, ou há mais alguma? – perguntou ela já colocando a pedra no pescoço.
Enquanto o Curupira e o Ubiratan suspiravam, eu me desesperava e a Caipora caía na gargalhada.
– De minha parte, só há estas. Como ainda há chão, por sua idade, posso oferecer montaria enquanto na neblina. Aceita?
– Mas é claro! Meu joelho e meu tornozelo agradecem! – minha mãe se animava, mas... será que...
O Kurui’pira deu um alto e longo assobio. Levou uns dois ou três minutos, e lá estava o cão-monstro daquelas lendas.
– Meu Jesus amado, O QUE É ISSO?! – se assustava a minha mãe.
– Mim avisar. Esta viagem irá mudar tudo o que conhece. Última chance, quer carona com Uaiuara?
– Me diz uma coisa, filho: você já montou nessa coisa? – ela me perguntava baixinho.
– Eu não. Mas o Ubiratan já montou. Sem ofensas, mas não quer mesmo voltar pra trás?
Acho que causei o efeito contrário ao perguntar de novo. Ao invés de finalmente se acovardar, ela se encheu de confiança e montou no bicho com a ajuda do pajé do mato. Ubiratan se despediu e seguimos em frente.
Enquanto o Curupira guiava o cachorrão, Caipora seguia tranquilamente do meu lado, sorrindo. Chegando na caverna, fiquei me questionando quem é que faria a nossa travessia.
– Pode deixar com Kaa’pora, irmão. Levá-los ndahasýi.
– Como é que é?!? – retrucava a minha mãe por nós dois.
– Não importa se é fácil levá-los. – (qual é o problema dessa Caipora?) – Sabe que sou eu quem deve atravessar agora.
– Aikuaa aikuaaha. Mas...
– Está querendo cobrar travessia deles? Lembra qual a situação para se fazer isso?
– Ter pytagua... – ela se emburrava de novo (o que significa “pytagua”?)
– Aqui. – o Curupira entregava um bastão saído de não sei onde para a minha mãe – Para auxilia-la na caminhada, e lembre das regras! Nã...
– Não olhar para trás no escuro; não esquecer o motivo dessa viagem, no caso, minha filha; não desobedecer quem entende mais, e não tirar a pedra que me deu do pescoço. Tudo certo?
– Sim. Sigam-me. – ordenava ele já entrando.
Minha mãe o seguiu e eu tive que respirar fundo para ignorar os resmungos da Caipora para entrar.
Querendo ter certeza que minha mãe não iria fazer nada que a arrastaria para aquela escuridão doida, toda hora eu dizia: “olhando pra frente e pensando na Cristinne. Sempre!” Além de me manter segurando, bem firme, o braço dela. Sei que isso a deixou irritada, mas já que ela embarcou nessa loucura... Não pretendo me arriscar.
Só parei com isso depois de ver a claridade do dia outra vez.
– Sua determinação é impressionante. – falava ele enquanto nos ajudava com nossas coisas – Protegeu bem sua mãe.
– Como é que é?!
– Valeu Kurui’pira. Mas só fizemos a parte fácil até agora. O bicho pega a partir daqui.
– Mim sabe. E você terá ajuda! Deixarei os três à própria sorte.
– Três?! Que três?? – minha mãe perguntava, com o pajé desaparecendo – Ei! Volte aqui! Explica isso direito! – tive de agarrar o braço de minha mãe para ela não adentrar naquela névoa que sumia com tudo – Me solte, Gabriel. Aquele índio me deve respostas.
– Mas não é se enviando em um labirinto de neblina que a senhora vai conseguir essas respostas! Já esqueceu as regras que ele te deu? As três últimas ainda estão valendo.
– Eu não estou gostando de nada disso. Quem mais está aqui, além de nós dois?!
Como resposta à pergunta dela, um latido chegou aos nossos ouvidos. Minha mãe acabou gritando de susto, mas eu não podia ter ficado mais feliz ao rever aquele focinho roxo.
– Toby!! – corremos de encontro um ao outro – Como é que vai a garota mais esperta deste mundo... Sentiu a minha falta, menina? – eu a enchia de afagos enquanto ela se esfregava carinhosamente em mim.
– O QUÊ É ESSA COISA?!?
– Ah! Deixe eu lhes apresentar: Toby, essa aqui é a minha mãe. Mãe, essa é a Toby, a minha fenri... Fairi... Ah. A minha raposa-leão-azul, como diz a Cristinne. O que me faz lembrar, nós dois estamos proibidos de falar o nome dela deste lado. O povo daqui pensa que o nome dela é simplesmente “Cris”.
– Como é que é?!? Que besteira é essa?? E como que essa criatura aí pode existir?
– Olha mãe... Nós ainda temos muito chão pela frente, então deixa eu te contar uma historia...
Pegamos a estrada. Contei a ela toda a historia de Eldarya do mesmo jeito que a Anya fez comigo. Claro, minha mãe não estava lá muito disposta a acreditar no meu “conto de fadas”, mas de acordo íamos seguindo, ela parecia entender que aquilo não era historia pra boi dormir (principalmente quando nos deparávamos com algum faery, onde eu inventava que ela tinha problemas mentais para que eles nos ignorassem).
Achei melhor deixar os problemas da Cristinne (e consequente, nossos) para quando chegarmos em Eel. Quem sabe com mais gente contando a mesma história, essa teimosa da minha mãe aceite mais fácil a realidade.
Quando ela descobriu o que eu fazia para conseguir ligar para ela deste mundo, subindo em arvores verdadeiramente gigantescas, imagino que ela vai parar de me exigir de ligar para ela todo santo dia, durante minhas viagens. E isso sendo que ela vive subindo em arvore para colher frutas quando vai visitar o povo de Minas!
A minha velhinha pode não ter gostado muito da Toby, mas essa garota continua sendo a minha salvação de estrada. E eu ainda descubro como que ela faz para sempre estar me esperando.
Por conta da condição da velha, cheia de ites que a atrapalham, demoramos um pouco mais para conseguirmos chegar em Eel. Me dei de cara com um dos colegas de Guarda da doida, que ficou tão preocupado quanto eu depois de eu lhe ter dito quem era a minha acompanhante. Só que a minha preocupação pessoal aumentou um pouco quando ele disse que haviam novos moradores “duvidosos” para a nossa presença (que tipo de gente está na cidade, agora??).
Ele foi nos guiando para dentro, em direção do QG. Acabamos encontrando a doida, treinando, no caminho, e eu não consigo deixar de me surpreender com o novo eu dela... Mas eu devia ter preparado um pouco melhor a velha para esta situação.
– CRIST... – tampei a sua boca o mais rápido que pude (e eu estou encrencado...) – Tire já a sua mão da minha cara!
– O que foi que eu lhe disse antes, mãe?! Ficou doida pra gritar por ela desse jeito?!
– Vou te mostrar o doida já, já se fizer isso de novo. Te meto a mão nessa sua fuç...
De repente, ela ficou muda – Mãe?? O que aconteceu com a senhora? – ela parecia querer falar, mas a voz não saía, por mais que ela tentasse.
– Mas o que é que deu em você para trazer a Dona Lena pra cá?! Vamos já pro meu quarto.
– Agora não, Doida. Onde está a Ewelein?
– Eu a deixei por lá e aposto que ainda está lá. Sem falar que quem pode nos ajudar agora é outra pessoa...
– Como é que é?!? – questionei sem entender, enquanto ela arrastava nossa mãe para dentro.
– Chefe! Vou encerrar mais cedo hoje, ok?
– Deixe que eu assumo por aqui. Agora, se aprese! – autorizava a meia tonelada de músculos de fogo que supervisionava a doida, para o qual só tive tempo de dar um aceno rápido de mão.
– Valeu mesmo! – agradecia a doida, apertando ainda mais o passo.
– Confessa: você sabe o que foi que aconteceu com ela, não é? – questionei a poucos andares do quarto dela.
– Era uma emergência e eu não pensei direito.
– Espera. Então quer dizer que é culpa SUA?!?
– Já vou levar sermão lá em cima, então não comece agora. Porque raios você tinha que trazê-la?
– Eu te falei que ela podia estar comigo quando viesse aqui de novo. E olha que eu perdi as contas de quantas vezes tentei convencê-la a ficar em casa!
– É só problema pra minha cabeça...
– “Só problema”? O que aconteceu com você dessa vez?
– Lá dentro, Christiano. Lá dentro. – ela continuou correndo com a gente até o quarto.
Chegando na porta, de fato a enfermeira estava por lá, mas do lado fora, com o palhaço orelhudo do lado, e algum encapuzado enorme de costas para a nossa direção. Não tive tempo nem de cumprimenta-los direito. A doida nos arrastou para dentro e trancou a porta no maior desespero.
– E olha o Gelinho aí!...Ezarel
Ontem o dia me foi desagradável. Além da ideia maluca de relação íntima que a Erika sugestionou na frente do quarto da Paladina, algumas coisas no laboratório não estavam dando certo. Amanhecendo hoje, acabei batendo a cabeça em um de meus móveis enquanto me arrumava, e nisso, me deparei com o meu calendário élfico, que tinha a explicação para tantos problemas... A Lua Uheldig, a lua dos problemas, começou ontem?!
De todas as luas do ano, está é a que eu mais detesto. Nunca estou preparado o suficiente para ela! Principalmente se eu esqueço de ficar vigiando o calendário élfico. E o pior, nem dá para acusar a existência dessa lua como pura superstição, pois graças à Norns Visdom, eu consegui confirmar que há, sim, alguma veracidade na influência dela sobre a gente. Algo como efeito gravitacional combinado com instabilidades térmicas alterando tenuamente o maana, ainda não tive tempo de analisar o assunto direito.
Mas uma coisa é garantida: enquanto a lua cheia Uhelgig não terminar... Pequenos (e grandes) problemas irão nos assombrar.
Revisando o laboratório (com mais de um dia de atraso) para lidar com os próximos dias, Valkyon me apareceu dizendo que alguma coisa estranha tinha acontecido no quarto da Paladina (lá vem os grandes problemas...).
Coloquei a Marine para continuar o trabalho e me dirigi ao local, imaginando mil coisas que poderiam ter acontecido, e reduzindo as possibilidades com base nas palavras de Valkyon. Eu pensei em muitas coisas. Mas nada que chegasse perto do caso real. Uma das piores (e assustadoras) visões que eu já tive em minha vida! Duas Paladinas?! E dois Gelinhos?!? Sendo o mais estranho completamente nú. Argh, que pesadelo...
Preciso reservar um tempo para estudar os kasperskys. Ainda mais agora que estou vivenciando algo que é novo até para o Agýrtis. Como a Ewelein me pediu ajuda para examinar os “clones”, convenci de ordenarem que o falso Gelinho vestisse alguma roupa (se eu quisesse ficar vendo “penduricalho” dos outros, eu teria virado enfermeiro).
Tirando o Gelinho que queria compreender mais da situação, todo mundo se retirou pra cuidar de si mesmos. Agýrtis, segundo as analises da Ewelein, era uma perfeita e recém-“nascida” gestante, nas primeiras semanas. E graças à aquela bola de cristal, podíamos acompanhar perfeitamente o procedimento do feto (apesar de ainda não compreender bem como aquilo funcionava em kasperskys).
No caso do Gelinho2, ao qual eu fiquei responsável, consegui confirmar as suposições da Ewelein sobre aquilo. Aquela coisa era de fato uma espécie de golem. Diferente de golens normais, sua “carne” era composta de massa metálica no lugar da massa mineral. O que lhe seria o sangue (que me custou oito agulhas para conseguir) parecia ser mercúrio. E não importava o que eu analisasse, força, peso, resistência, tudo no Gelinho2 seguia os mesmos padrões dos golens, sendo a única diferença, sua composição principal: o metal.
– Mas o que é isso?! – se surpreendia a Ewelein, interrompendo a minha concentração.
– Interessante... – ok. Se até o Agýrtis se impressionou, eu também quero saber o que aconteceu.
– O ponto de luz se dividiu em dois por quê? – questionava o Gelinho – E os fios se dividiram também.
Ao me aproximar, pude confirmar o comentário do dragão dentro da esfera. O ponto de luz inicial agora eram dois, e os fios que estavam ligados a ele se distribuíram entre os dois. Uma possibilidade me surgiu na cabeça, mas ela me parece um pouco absurda – Acaso o Agýrtis terá gêmeos?
– Gêmeos?!? – se assustava o dragão.
– Essa pode ser uma possibilidade. Mesmo que não tenhamos a certeza.
– O que a sua sinestesia lhe diz, Ewelein?
– Francamente? Não me diz nada. – (como??) – O Agýrtis é luz pura para mim no momento. Não conseguiria distinguir um feto dentro dele, mesmo que eu tentasse muito.
– Quanto tempo se passou desde que você assumiu esta forma, até o momento que essa bolinha se dividiu, Agyrtis?
– Entre nove e dez horas... Porque a pergunta, Lan?
– Nove ou dez horas... É melhor alguém o ficar observando para descobrirmos se isso se repete ou não, dentro deste tempo.
– É uma boa sugestão, Lan. Esses fios de luz me intrigam, e se juntarmos a hipótese de Ezarel...
– Acha que podemos estar aguardando pela chegada de pelo menos uma dúzia de novos kasperkys?! – questionei um tanto preocupado.
– Ainda não temos certeza de nada, Ezarel, por isso eu gostaria que condesse o seu desespero.
– Eu vou voltar a examinar o Gelinho2!...
– É o quê?! – ignorei a irritação do dragão e voltei a analisar o golem.
Passado um tempo, a “estátua” que antes não se mexia por nada, resolveu se encaminhar até o armário da Paladina, tirou uma das capas dela de lá, se cobriu escondendo até a cabeça, tomou o Agýrtis nos braços ao estilo princesa e saiu do quarto. Ewelein e eu, que não estávamos entendendo nada, resolvemos ir atrás deles, enquanto o Lance parecia bem entretido com a vista da janela.
Não nos foi difícil acha-los. O Gelinho2 estava de frente à janela que ficava no fim do corredor – O que está acontecendo?? – perguntei.
– Não me pergunte. – respondia o Agýrtis – Meu foco está nessas luzes. Não entendi porque ele agiu assim, e estou começando a me sentir estranho...
– Estranho, como, Agýrtis?
– Eu não sei. Parece... Como quando as pessoas com que me ligava ficavam com fome ou sede. – a Ewelein se apressou a usar um de seus equipamentos de analise.
– Você está certo. Estou captando sinais de desnutrição e desidratação. Talvez, por ter assumido a forma da Cris contra a vontade, você tenha se igualado, muito mais do que imaginamos, às nossas condições. Não disse que estava há quase dez horas só se concentrando em seu ventre?
– Sim.
– Ótimo. Mais uma boca para alimentar. Sorte nossa que o Christiano nos garantiu uma boa reserva.
Pela cara que a Ewelein fez, sabia que tinha uma bronca a caminho, mas antes que ela abrisse a boca, começamos a ouvir passos apresados no corredor. Ficamos preocupados, pois dependendo de quem fosse, teríamos que dar um jeito de esconder o Lance-golem (já que essa coisa não parece querer sair do lugar agora).
Consegui soltar o ar quando vi que era a Paladina, mas... Quem era a mulher que ela arrastava?? E o Christiano está logo atrás?!?
– Oi Ewelein! Oi palhaço!
– Entra logo de uma vez!
Muito bem. Se não fosse por aquela mulher misteriosa e o claro desespero da Paladina, eu teria considerado aquilo uma tremenda falta de consideração (mais uma cortesia da Uhelgig...). Acabou que a Ewelein decidiu descer para buscar um kit de primeiros socorros e alguma refeição para o Agýrtis, e me deixou de babá daquelas coisas. Nem tive tempo de retrucar! Ela decidiu e se foi!
Fiquei lá, entre a porta da Paladina e as falsificações, por uns vinte minutos antes de alguém resolver aparecer. No caso, Benelli e Nevra.
– Ezarel, me confirma se o que eu ouvi é verdade: Christiano está em Eel, e veio acompanhado de uma mulher?
– Que a Paladina os arrastou para dentro, sem mais e nem menos, e ali estão até agora. – respondia a ela, que me encarava com uma mistura de surpresa e preocupação.
– E quem é essa mulher? – me questionava o Nevra.
– A mãe, dele. – Valkyon surgia no corredor com a Erika e a Ewelein junto. Nevra e eu ficamos boquiabertos – Benelli, tem como você averiguar se há algum quarto disponível para ele usar? Em segurança.
– Posso sim. Me avisem quando eu puder falar com ele. – pediu ela séria e já se encaminhando sem qualquer pressa.
– Pode deixar. – ficamos em silêncio até o Nevra o cortar.
– Você tem certeza disso, Valkyon?! A mãe “do Christiano”??
– Certeza absoluta, Nevra. Depois de dar um jeito na confusão com a ajuda da Huang Tomoe, achei melhor trazer minhas contas para eles. – explicou ele mostrando as próprias Contas de Ovira.
– Nevra poderia cuidar da exigência para elas funcionarem com eles ou...
Um som de estalo, vindo de dentro do quarto, interrompeu a Erika e chamou a atenção de todo mundo. Inclusive do Gelinho2.
– O que foi isso??
– Me pareceu... Um tapa? – respondia o Nevra à Erika, incrédulo com a própria resposta.
– Se você estiver certo... – o que está acontecendo ali dentro? – Este foi um senhor tapa!Cris
Arrastei minha mãe até o meu quarto, sem dó, nem piedade. Precisava alcançar ele logo. Além de ser onde o Lance estava, era um lugar seguro para conversarmos depois que ela tivesse a voz devolvida. Ainda bem que Christiano me ajudou com ela, ou nós teríamos parado no caminho umas três, quatro vezes (já corro o risco de apanhar só por tê-la deixado assim, espere só até ela ouvir toda a verdade _calafrio_).
Mal olhei para o que estava do lado de fora antes de abrir minha porta, mas consegui reparar que alguém estava meio que escondido no fim do corredor (ótimo. Espero que seja o Agýrtis e a coisa).
Empurrei minha mãe e arrastei o meu irmão, para depois trancar a porta e, aí sim, tomar ar para respirar (acho que minhas pernas vão doer essa noite...).
– E olha o Gelinho aí!... – ouvia meu irmão.
– Só uma pergunta: qual foi a ameaça que ela lhe fez para convencê-lo de trazê-la?
– Teimosia. Acredite, Gelinho, TODO MUNDO tentou fazê-la desistir, mas ela não desistiu. – respondia meu irmão, aproximando minha mãe da cadeira mais próxima.
– Aconteceu alguma coisa com ela? – Lance questionou após observa-la um pouco.
– Pergunte à Doida! Ela fez isso. – o dragão me encarou bravo e sério.
– Era uma emergência! – me defendi – Era isso ou deixa-la falar demais. E sei que você pode desfazer, Lan.
Ele soltou um suspiro, claramente chateado comigo, e se aproximou de minha mãe. Mas, antes de lhe encostar as mãos na garganta para restaurar-lhe a voz, ele pareceu refletir um pouco e depois baixou as mãos – Talvez... Seja melhor assim.
– Do que é que você está falando, Gelinho?
– Diga, Christiano: o que você contou para ela?
– O que eu contei? Só o que a Anya me passou quando cheguei aqui pela primeira vez. Ela ainda está no reino Lud-não-sei-das-contas?
– Até onde sabemos, sim. – declarou ele afastando a poltrona para perto da parede – E acho que, com a sua mãe não podendo falar. – Lance começou a se transformar, fazendo-os arregalar olhos e bocas – Será mais fácil de contar tudo, sem sermos interrompidos. – esclareceu ele já transformado.
– P*** QUE P****!! Era ISSO o que eu estive provocando todo esse tempo?! – um riso orgulhoso escapava do dragão.
– Era sim, Christiano. – falei me encaminhando para minha penteadeira – E eu já perdi a conta de quantas vezes ele me pediu permissão para bater em você por causa disso. – me sentava à mesa, com o que queria nas mãos.
– Caramba... Sabia que estava cutucando onça com vara curta, mas não pensei que fosse tão curta assim. O que está fazendo?
– Agua para cada um de nós. E se você está estranhando o que estou pingando nos copos, é a mesma coisa que Ezarel colocou no seu suco, a mando da Miiko.
– Fala daquele negócio que não te deixa mentir, nem sem saber? – minha mãe o encarou incrédula.
– Isso mesmo. Assim ninguém pode acusar ninguém de estar mentindo. Bebam. – estendia-lhes os copos.
Gabriel virou o dele e eu bebi com calma. Minha mãe ficou com receio de beber, mas bebeu. Assim que terminei minha agua, fui até o Lance, que continuava na forma de dragão, e pedi com o indicador que ele se aproximasse. Pinguei uma gota em sua língua e guardei o frasco para só depois retornar à mesa.
– Acho que agora já dá. – Lance começava – Senhora Helena, preciso que a senhora nos ouça com muita calma e atenção, pois assim como já percebeu, há muita coisa que ainda não lhe contamos.
E assim foi. Lance e eu começamos a contar toda a nossa história. A verdade sobre o sangue dentro de mim e as ameaças que todos nós corríamos. Contamos sobre todos os problemas que tive, com o Lance e com Eldarya, e a atual condição de Eel, que está cheia de vampiros que estão reaprendendo a viver sem sangue humano.
Várias vezes vi minha mãe nos encarar ou com raiva, ou com tristeza. E confesso que vê-la, assim, incapaz de interromper a fala de alguém, me deixa muito satisfeita. Quantas vezes eu quis que ela calasse a boca e apenas ouvisse como faz agora?! Quantas vezes desejei deixa-la incapaz de me impedir de falar tudo o que queria?! Aquilo era quase uma dádiva (preciso aprender logo o contra-feitiço se eu quiser usá-lo outra vez).
Quando terminamos, tendo o meu irmão dado uma ajudinha em alguns pontos (especialmente a eficácia da Norns Visdom), não sabia dizer direito o que a cara de minha mãe transmitia. Ela ficou em “silencio” por alguns segundos, para depois pegar o bloco de notas que tinha sobre a mesa e escrever algo que me entregou.
– “Peça para Lance voltar a ser homem”? – li em voz alta, com ela assentindo (isso não me cheira bem...) – Lan? Dá para fazê-lo? – questionei-o lhe encarando.
Ele não disse nada. Apenas se transformou e manteve a distância (acho que não sou a única desconfiada aqui). Ainda desprovida da própria voz, minha mãe usou do indicador para chamá-lo para perto, e fez isso umas três vezes até o Lance ficar a, no máximo, um passo dela.
– Err... Mãe! – parece que o Christiano também não está gostando dessa situação – O quê que a senho...
Um estalo. Minha mãe deu um tapa tão forte na cara do Lance, que além de interromper a fala do Christiano, acabou ecoando pelo quarto. Lance parecia não entender direito o que acabara de acontecer. Seu rosto tinha uma bela “mão vermelha” nele! Eu sabia que minha mãe ia reagir de forma agressiva com algum de nós, mas acho que ela descarregou tudo de uma vez na cara dele.
– Hã... Tem como... Você devolver a voz dela agora, Lance?
– Sim. – ele ainda parecia em choque – Com sua licença, por favor. – pediu ele meio que no automático.
Ele tocou-lhe a garganta com gentileza e pronunciou o encantamento, se afastando em seguida. Minha mãe testou a própria voz um pouco e tomou mais um pouco de agua antes de me encarar e começar.
– Você não tem vergonha de permitir que alguém como ele, chegue perto de você?!
– Já até cansei de me dar bronca por causa dele, mãe.
– E você sabia dessa palhaçada toda, Gabriel!?
– Fiquei tão chocado quanto a senhora. Pelo menos a Cristinne o faz trabalhar.
– Só me diz uma coisa, Cristinne: o que é que tanto falta para eu te arrancar deste inferno?
– Terminar de consertar o Grande Cristal; estabelecer o equilíbrio desse mundo; encontrar e unir os povos espalhados e escondidos por aí e... Só, por enquanto? – contava nos dedos as minhas “obrigações”.
– Se seu pai fica sabendo de metade das coisas que esse cafajeste fez com você...
– Ah! E eu esqueci de adicionar! Se a senhora ainda quiser que eu lhe dê algum neto, vai ter que aceitar alguém desse “inferno” como genro.
– É o quê?!
– Pelo menos foi isso que o Fáfnir disse. E ainda assim, pode não me ser fácil...
– Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece... E acaso pretende se juntar mesmo com esse miserável?! – ouvi um suspiro vindo do dragão.
– Ele está fazendo por onde se redimir, mãe. E como o Christiano disse, eu o coloco pra trabalhar.
– Você o faz se rastejar até você? Porque é isso o que ele merece! – acho que ela só não dá um novo tapa na cara do Lance, porque a mão dela deve estar doendo.
– Só que, por favor, não esqueça da nossa situação neste mundo. Se os nossos inimigos descobrem que a senhora e o Christiano são parentes diretos da Cris, vocês correrão tanto risco quanto eu, meu irmão, a Erika, e sua própria filha. – pedia o Lance, usando o tom mais suave que conseguia naquela situação.
– Pelo o que eu percebi, “perigo” é o que não falta para qualquer um da minha família.
– Fazer o quê. Entrou na chuva, vai se molhar! – comentei na esperança de amenizar um pouco as coisas.
Antes que qualquer um dê-se resposta ao meu comentário, alguém veio bater na porta. E como toda “distração” é bem-vinda, fui abrir sem hesitar.
– Olá Miiko. Já soube das novidades?
– Se estiver se referindo à mãe do Christiano, sim, fiquei sabendo. Já conversaram entre si?
– Hã... – reparei que do lado de fora, estava quase todo mundo que sabia do Lan – Já contamos o básico. Mas não tem problema se quiserem adicionar alguma coisa. Vão entrar? – perguntei encarando todo o pessoal.
– Com sua licença. – pediu a Miiko já entrando. Com Valkyon, Erika, Nevra e Ewelein lhe seguindo atrás.Dicionário Kaa'pora 5
Ndahasýi = é fácil.
Aikuaa aikuaaha = eu sei, eu sei.
Pytagua = estrangeiro (no caso, faeries que não tenham sangue aengel ou dragônico)
.。.:*♡ Cap.174 ♡*:.。.
Valkyon
A Terra parece ter talento para balançar com a sanidade dos eldaryanos. Nunca imaginei que os humanos poderiam ter relações tão... ousadas, como as que a Erika me contou. Fiquei a noite inteira em claro pensando em tudo que só eu estava sabendo. Para não mencionar as “confissões” que a Erika me fez. Acabei ouvindo um grito no meio da madrugada que, julgando pela distância e pelo timbre, devia pertencer ao Leiftan (não sei se eu aceitaria dividir a Erika com ele, mas... se fosse o desejo dela, eu conseguiria?).
Gastei o resto da noite pensando nessa possibilidade.
Quando chegou a hora de levantar, eu e a Erika resolvemos seguir com a manhã como se a conversa de ontem à noite, não tivesse acontecido. Ela decidiu dar uma olhada na Cris antes de tomar o café, enquanto eu segui para o salão. Lá, pensei em procurar uma mesa mais reservada, e nisso, acabei encontrando o Leiftan.
Me lembrei do grito que ouvi na madrugada e resolvi falar com ele. Precisei lhe chamar várias vezes para conseguir sua atenção. O comentário do Ezarel devia estar lhe perturbando tanto quanto perturbou a mim (ou pior...).
Apesar de receoso, acabei contanto a ele a confissão que a Erika me fez, sobre a nossa relação. Se o Leiftan estava tentando esconder a própria raiva (que acredito ser contra ele mesmo), aquelas escleróticas negras o denunciava totalmente. Essa auto-condenação por parte dele, me ajudou a me decidir: se a Erika desejar, eu farei um esforço. Mas não antes de estar totalmente comprometido com ela! (Ainda não consigo acreditar que alguns grupos de terráqueos usam das diferentes religiões da Terra para fugirem da acusação de bigamia, ou de acordos na justiça para que ninguém os condenem de forma legislativa). Deixei em aberto a possibilidade do Leiftan se comprometer de alguma forma com a Erika, caso ela deseje, e teria conversado mais sobre o assunto com o daemon se a própria Erika não tivesse nos interrompido.
O nervosismo com que ela nos pedia ajuda para reunirmos todos, me deixou preocupado. Ela só fica nervosa daquele jeito quando algo realmente complicado está acontecendo, mas o que poderia ter sido?
Se fosse algo “ruim”, ela não teria dito que poderia nos ser uma ajuda. Chamei todos que pude encontrar dentro do QG e subi. E no final das contas... Não podia ficar mais impressionado com o que via.
De fato aquela situação inesperada poderia nos dar algumas vantagens, mas só se conseguíssemos verdadeiramente compreender o que é que acontecia. Tarefa essa que pesaria sobre a Ewelein e o Ezarel.
Tentando retomar uma rotina razoavelmente normal, fiquei impressionado com a quantidade de encantamentos que meu irmão já conseguiu ensinar para a Cris, enquanto lhe ensina a Língua Original. Mas já estava mais que na hora de fazer a Cris voltar a treinar sério. Minha esperança é que isso a ajude a ganhar resistência e assim ficar menos tempo inconsciente quando resolve “aprontar”. As coisas com que ela lida me parecem se tornar cada vez mais sérias e difíceis.
Também preciso reunir a minha guarda e repassar mais uma vez o que é ser um guerreiro, para eles. Estou de pleno acordo com o que a Huang Tomoe disse antes dela começar o treinamento com a Cris. Assim como ela, eu não gostei do comportamento dos que ficaram rindo de uma “novata”.
A concentração que a Cris busca sempre apresentar nos treinos é algo que nunca deixa de me impressionar. Ela é de fato dedicada quando se determina a fazer algo. Por isso que achei muito estranho ela se distrair ao ponto de quase se machucar. Mas como culpá-la?! Nem eu estava acreditando em meus olhos quando resolvi procurar o responsável por essa distração.
– Quem é, Valkyon? – me sussurrava a Huang Tomoe.
– Mãe do Christiano. – respondi no mesmo volume e isso foi o suficiente para ela entender tudo, uma vez que ela está a par da historia.
Ela me ajudou a colocar os membros da Obsidiana em ordem e se encarregou de avisar a Miiko. Eu achei melhor avisar o Karuto e a Ewelein, tive sorte em encontrar os dois juntos na bancada da cozinha. Erika estava ali também, por isso ela achou melhor me acompanhar, pois a Helena (que nome será que ela aceita nós usarmos no lugar do nome verdadeiro dela?) podia estar com a cabeça em um turbilhão por conta da realidade que é Eldarya.
Definitivamente a Benelle tem alguma queda pelo Christiano. Não passou nem vinte minutos da chegada dele, e a brownie já estava na frente do quarto da Cris, querendo confirmar a noticia. Ainda bem que foi fácil convencê-la a se retirar. Com tantos vampiros sendo readaptados, todo cuidado era pouco. Especialmente com a possibilidade de alguns deles acabarem descobrindo que os “humanos” eram na verdade, faelianos.
A reação dos que não conheciam a senhora Helena, era mais que esperada. Mas o som que nós ouvimos ainda no corredor, não. (Espero que esteja tudo bem com o meu irmão...). Não demorou para que a Miiko e Leiftan se juntassem a nós, diante daquela porta.
Depois que Ezarel e Ewelein explicaram a causa de Agýrtis estar do lado de fora, já recebendo a atenção de Ewelein, Miiko decidiu que Leiftan ficaria responsável por ele e o restante de nós entraria no quarto. Uma vez decidido, a kitsune não fez cerimônia alguma antes de bater na porta. Porta que foi aberta mais rápido do que eu esperava...
Meu irmão e a família da Cris eram os únicos ali dentro.
– Ué? O Leiftan não vai entrar?
– Pedi para que ele tomasse conta do Agýrtis, enquanto ele continua lá fora. Depois que eles voltarem a se esconder, o Leiftan irá atrás de conhecer a sua mãe. Ou melhor, conhecer a mãe do Christiano.
– Recusar a uma mãe que ela não declare um filho como seu, é estar pedindo demais. – a Helena comentava, um pouco irritada.
– Eu realmente lamento por isso. Mas é uma ação necessária tanto para a segurança dela, quanto para a da senhora e do Christiano. O quê vocês dois já repassaram para ela?
– Até chegarmos em Eel, tudo o que a Anya me ensinou. Depois de sermos arrastados pra dentro desse quarto, tudo o que a Doida e o Gelinho passaram.
Encarei o meu irmão sem pensar duas vezes, e ele parecia estar escondendo parte do rosto ao ficar de lado contra a janela – E... Como ela reagiu? Depois de terminar de ouvir tudo?
– Quer saber como eu me senti?! ESTOU UMA FERA! Vocês me disseram que este crápula tinha aprontado por aqui, mas tentar contra a vida dos outros? DA MINHA FILHA?! Eu devia era meter o tapa na cara de cada um de vocês! E não só na desse miserável.
Engoli seco sem nem perceber, e acho que não fui o único. Ewelein se aproximou do Lance e pediu para lhe mostrar o rosto, o que só fez depois de uma nova bronca da Helena. Parecia até que alguém tinha sujado a mão de tinta e depois segurado o rosto dele.
– Não preciso de nada pra passar no rosto, Ewelein. Isso some sozinho e eu não posso sair daqui sem estar usando máscara, sem falar que isso não é nada que eu já não merecesse.
– Ainda bem que você reconhece. E dá para agora me disserem quem e o quê é o resto de vocês? Você, grandalhão, imagino que também seja algum lagarto gigante, já que esse traste aí é o seu irmão.
– Bom. Sim, mais ou menos. O Lance é um dragão de gelo, já eu sou de fogo. Por isso existe diferenças entre nós dois.
– Não quero saber. Me basta saber que você é capaz de se transformar em um lagarto voador gigante. E o resto? Com quem eu devo tomar mais cuidado?
– Se a senhora não teve medo de dar um tapa na cara de um dragão, o tipo mais poderoso de faery que existe, não acho que terá medo de agredir outras raças se assim achar necessário. E antes que alguém me critique, me chamo Ezarel. Um simples, porém talentoso elfo alquimista. E por acaso, também sou líder de uma das subguardas. A Absinto, para ser mais específico.
– Então é você o palhaço sem graça em quem devo ficar mais de olho?
– É o quê?! O que vocês dois falaram de mim para ela?
– A verdade. – os dois falaram juntos, e eu não sei se o Ezarel ficou nervoso ou preocupado com isso.
Terminamos de nos apresentar, um por um, explicando como podíamos o que cada um de nós era. Com a Cris e o Christiano aproveitando cada deixa para fazer piada do que dava. Acho que eles fizeram isso para tentar amenizar o clima.
Com tudo explicado, a Ewelein pediu para que lhe deixasse examinar os dois. O Christiano aceitou de boa, mas, quando explicamos onde que a enfermaria ficava para a Helena...
– Eu tenho mesmo que descer aquele mar de escadas e subir outro?!
– E qual é o problema?
– Ela tem desgaste em algumas articulações das pernas, Ezarel. Só isso. Desculpa aí Madre, eu não pensei direito. – explicava a Cris.
– Isso não é bom. Acredito que tenha algo que possa beneficiar a senhora, mas para fornecer a medicação e a dosagem certa, eu precisaria dos instrumentos que estão lá. Se importa se alguém a carregar até a enfermaria?
– Depende de quem for fazer isso. Não vou confiar no traste; não quero me arriscar com o palhaço, e nem chegar perto do vampiro.
– Ei! Eu sei me controlar muito bem!
– Não te perguntei nada. E ainda tem mais um monte lá fora para eu me preocupar.
– Um dos motivos de eu ter vindo aqui,... – interrompia a discussão – ...era para entregar à senhora um objeto que ajuda a se proteger de algumas das habilidades que os vampiros tem: as habilidades hipnóticas.
– Então já vai entregando pra ela! E tem um sobrando aí pra mim também?
– Eu posso te ceder a minha, mas nenhuma dessas pulseiras irá funcionar se vocês dois não passarem pelos efeitos de algum tipo de controle antes.
– Do que está falando, crápula? – _suando frio_.
– Os amuletos que estamos lhes oferecendo são Contas de Ouvira, e para essas contas funcionarem como proteção contra efeitos de controle mental, é necessário que o usuário já tenha experimentado os efeitos desse tipo de ataque. – explicou o meu irmão, aparentemente ignorando os insultos que recebia.
– Tá. E como é que a gente resolve isso? De forma segura! – perguntou o Christiano, pegando no próprio pescoço e encarando o Nevra na última frase.
– Poxa Christiano! Pensei que você já tivesse confiança em mim!
– Em você, talvez. Mas nos que estão sendo reabilitados? Ainda não estou louco.
– Se não fosse esse detalhe, te acusaria de preconceito.
– Brincadeiras à parte, acho que podemos utilizar do mesmo encantamento que eu usei uma vez na Ladina.
– Que você o quê?!
– Ela usou o mesmo encantamento em mim antes de viajarmos para Yaqut, senhora Helena. E preciso dizer, que ela foi um pouco cruel.
– Sério que ainda está chateado com aquele acidente?
– Ladina, você fez eu me sentir uma cobaia de laboratório!
– Está sendo exagerado.
– Olha só quem fala...
– Será que podemos deixar a discussão amorosa para outro momento?... – interrompeu a Miiko, fazendo com que os dois ficassem constrangidos, pedindo desculpas – Certo. Usar a ideia do Lan não me parece ruim. Também podemos usar dela para ajudar a Helena e o Christiano a não disserem coisas que podem coloca-los em risco. Como já teremos um pequeno desafio em conquistar verdadeiramente a confiança da mãe “do Christiano”, é melhor que a própria Cris faça o encantamento. Ela consegue fazer isso sozinha, Lan?
– Tenho minhas dúvidas sobre ela ainda se recordar do encantamento. Mas acho que se nós fizermos juntos, poderemos evitar erros com mais garantia.
– Juntos como, Lan? – questionei.
– Ela encanta a Helena, e eu encanto o Christiano!
– Oh Doida, o que você vai fazer se ele resolver passar dos limites?
– Ele está me devendo alguns favorzinhos. Tenho certeza que ele não vai querer que eu passe um pouco dos limites também.
– Você sabe como ser assustadora, Ladina.
Eu não sei se é a presença dos parentes da Cris ou se é a situação em si, mas esses dois estavam se provocando o tempo todo. Sendo essas provocações, o que estava impedindo do clima ficar tenso naquele quarto.
A Helena pediu mais detalhes sobre o encantamento, e tanto a Cris quanto o meu irmão, tiveram de contar suas experiências, ambos com um certo receio (espero nunca acabar nas mãos da Cris como aconteceu com o Lance). Com a mãe dela mais tranquila, os dois começaram a preparar tudo. A Cris ainda teve de praticar as palavras antes de usá-las, o que me esclareceu o porquê dele ter tido aquilo sobre ela.Cris
Aquela conversa só não estava ficando tensa porque eu resolvi fazer graça do que podia. O Christiano deve ter percebido o que eu queria, ou não teria entrado na onda tão fácil. Lance demorou um pouquinho para perceber o que fazíamos, mas se juntou a nós assim que entendeu. Espero que a minha mãe consiga aceita-lo um pouquinho... Pelo menos, enquanto eu ainda estiver gostando desse imbecil do Gelinho.
– E aí, Madre? Christiano? Como vocês se sentem? – questionei logo depois de Lance e eu terminarmos de pronunciar o feitiço.
– Como você bem disse... estranha. Sei que algo acabou de acontecer comigo, mas não sei dizer o quê.
– Somos dois.
Lance e eu nos observamos de soslaio por um instante – Ok, então. _respira fundo_ Mãe, preste muita atenção no que direi agora: Eu quero que, de jeito nenhum, a senhora diga o seu nome completo para quem quer que seja. Que a senhora só chame a mim pelo apelido, Cris, e ao meu irmão de Christiano. Jamais diga algo que permita alguém perceber que somos parentes de sangue, mesmo que indiretamente. – acabei apontando o meu irmão para ela, e acho que ela entendeu – Cumpra estas ordens sempre! Não importa se a senhora estiver sozinha, pois tem muito ouvido apurado nesta cidade. – apontava o pessoal com o polegar para ela. – A senhora entendeu tudo?
– Entendi. E eu realmente não gostei do que senti depois de ouvir a sua “ordem”.
– É isso ou corrermos o risco de um de nós perder a cabeça, literalmente, na melhor das hipóteses.
– Tá. E eu? Eu não senti nada depois de ouvir isso tudo, Doida.
– Isso porque o seu “mestre” sou eu. – meu irmão passou a encarar o Lance – E a minha ordem pra você, é: Você fará o mesmo que a sua mãe, e estará proibido de me chamar de Gelinho ou de qualquer outra coisa que não seja “guardião” ou “Lan”. Não peço mais que isso porque eu não quero nem pensar, no que a Ladina poderia fazer comigo depois.
– Só eu que não vou mais poder de dar “apelidos”?! E porque eu tive a sensação de ter tomado um choquinho
– Acho, que engolir os insultos da mãe, já seja mais que o suficiente pra ele, Christiano. E... O seu “choquinho”, foi o encantamento funcionando em você. Porque não tenta insulta-lo agora? – falei.
Meu irmão até que tentou, mas era abrir a boca, e nada. O encantamento o impedia de prosseguir com qualquer palavra “proibida”.
– O encantamento funciona muito bem mesmo. – era a Miiko – Mas acho melhor você passar essa mesma restrição para a sua mãe, ao menos quando eles estiverem em público. Estando os dois sozinhos, seria problema deles. E imagino que iremos nos referir à sua mãe como “Helena”, certo?
– Madre?
– Prefiro ser chamada de Helena mesmo. Pena que você também não tenha um nome composto, filha. E quanto aos insultos, não se preocupem, eu posso me manter calada diante desse filho da mãe. A tal pulseira já funciona agora?
– Ela passará a funcionar depois que o encantamento acabar. Daqui umas seis horas. – respondia o Gelinho.
– É tempo demais... A gente vai receber proteção enquanto a pulseiras não funcionam? E antes que eu esqueça: quem é esse Aithis aí mesmo?
– É Agýrtis, Christiano. – explicava a Miiko – Ele é um tipo de metamorfo que resolveu trabalhar para a Cris e... Está passando por alguns probleminhas. Sobre a proteção de vocês, Benelle já está louca para ter a sua companhia de novo, e acho que um dos membros da Reluzente pode ficar de “guia” para a sua mãe.
– Mas só depois de ela deixar a enfermaria, Miiko. E pelo o que observei até agora, Valkyon pode carrega-la durante as escadas, já que ele é o único forte o suficiente que sobrou.
– Meu joelho só reclama pra descer. Subir eu subo tranquila. Tem quartos disponíveis no térreo?
– Eu já pedi à Benelle que cuidasse disso, senhora. E terei prazer em ajuda-la se a senhora quiser.
– Com essa muralha de músculos aí, não tenho duvidas de que posso contar com você. Mas que tipo de problema é esse? E o que é um meta... meta-o-quê mesmo?
– Metamorfo. Um tipo de criatura que é capaz de assumir a forma e a aparência de outros seres. – explicou a Erika.
– E sobre o problema, Madre, ontem desceu pra mim. Por algum motivo, o Agýrtis ficou MUITO interessado no que o meu corpo estava jogando fora, e me convenceu a deixa-lo pegar tudo, ontem à noite. Não me pergunte como foi que ele fez isso! O que importa é que ele conseguiu o que queria, e agora me parece que ontem o último, e não o primeiro dia.
– Mas isso aí está me parecendo é muito bom! Quem dera tivesse jeito de acabar com isso em um dia só. Só não entendi ainda qual é o problema.
– Agýrtis conseguiu o que queria, mas também aconteceu algo que nem ele esperava. Acho que é mais fácil a senhora ver do que a gente tentar explicar.
Lance deu um sinal de cabeça para quem estava mais perto da porta, no caso, o Ezarel, que soltou um suspiro por estar sendo encarado por todos e chamou Leiftan e Agýrtis para dentro. Meu irmão foi o primeiro a abrir a boca com o que viu.
– Eita p****! Duas doidas?! Qual que é a aparência verdadeira dele? Ou dela?
– Kasperskys não possuem gênero, Christiano. Sua aparência natural é semelhante a um bolo de massa metálica. – explicava a Ewelein.
– E o problema aqui é...
– Ele se transformou na Paladina depois de conseguir o que queria, e agora não consegue voltar ao que era. Por enquanto, pelo menos. Tendo esse clone do Gelinho como extra para tomar conta dele. O Agýrtis comeu tudo, Leiftan?
– Sim, ele comeu. E eu ainda estou impressionado com o que vejo.
– Eu estou chocada. O que é isso que ela está segurando?
– Nossa desculpa se alguém vê-lo. Ainda não entendemos bem o que está acontecendo, mas o que posso adiantar para a senhora é: o Agýrtis, neste momento, é uma versão gestante da Cris.
– GESTANTE?! Essa coisa engravidou ao ficar com a semente da Cris?!?
– Tudo está apontando para isso, senhora. Segundo ele, as luzes que podemos observar dentro da esfera que ele está segurando, são um reflexo do que acontece com o material que ele pegou da Cris. Ewelein e eu ainda estamos estudando o caso, pois há muito pouco que se sabe sobre os kasperskys. É uma raça rara nos dias de hoje.
– Se a Benelle não achar um quarto lá embaixo pra mim e pra minha mãe, eu durmo no laboratório dela mesmo. Eu é que não quero ficar em um quarto com duas Cris.
– Christiano...
– O quê? Eu já fico desconfortável de ter que ficar ao lado do Lan, e agora vou ter que ficar encarando isso?! Ah não, mãe. Dá um tempo.
– Você deixe de coisa, Christiano. E vamos descer logo que o meu tornozelo esquerdo ainda está reclamando. – declarou minha mãe já se dirigindo para a porta.
Por exceção do Ezarel, e claro, do Agýrtis com seu “guardião particular”, todos nós seguimos a minha mãe. Leiftan aproveitou o percurso para se apresentar corretamente à minha mãe, e o povo da Reluzente aproveitava para explicar o que era cada lugar do QG, de acordo avançávamos. Valkyon não chegou a pegar minha mãe no colo, mas ele se mostrou um excelente apoio para ela.
Por conta dessa confiança em meu chefe, a Miiko acabou pedindo para que ele ficasse a acompanhando até o lutka perder o efeito, pelo menos.
– Ainda tenho uma pequena dúvida. – me cochichava o Lan, enquanto minha mãe era examinada na enfermaria – O que pretende dizer a todos sobre ela?
– Em que sentido? – mantinha o volume.
– Parentesco.
– Hum... Lembra do que eu te falei quando conversarmos sobre nossas mães?
– Hãm... Se refere àquela historia de você ter várias?
– Minha mãe biológica; minha mãe espiritual, a Virgem Maria; e minha mãe de batismo, a minha madrinha. Eu pensei em dizer que ela é a ultima, ao invés da primeira, e já estou a chamando de “madre” para ficar mais fácil de convencer todo mundo.
– O Christiano já espalhou que te vê como uma “irmã mais velha”, então acho que esse truque pode funcionar.
– Que truque? – meu irmão se metia na nossa conversa, quase me fazendo saltar com o susto.
– Aaaaiii! Tá querendo que eu tenha um piripaqui por acaso?! – acabei questionando em voz um pouco alta.
– Hehehe. A Benelle conseguiu arranjar um quarto no térreo pra nós, e eu vim ver como minha mãe tava e apresentar ela à nossa brownie benfeitora. De que truque estavam falando?
– De um jeito para melhor proteger a minha madrinha. Sua mãe.
– Ah!... Ok. Beleza. Ainda vai demorar para a Ewelein liberar a minha véia?
– “Velha” o seu nariz, filho da p***. Me chame de velha de novo e eu te meto a mão na cara, na frente de todo mundo!
– Pare de se xingar, mãe!...
– Tu cala a boca que eu posso. Fui eu que te pari!
– Senhora Helena, eu não me importo com o tipo de linguajar que a senhora utiliza, mas gostaria que evitasse palavras de baixo nível, ao menos durante o dia. Há muitas crianças nessa cidade, que podem acabar lhe ouvindo.
– Não te prometo nada, err... Ewelein, certo? – a enfermeira assentiu – Mas vou tentar me lembrar. Vai demorar muito ainda? Estou com um pouco de fome agora.
– Eu já estou terminando de aplicar a pomada. É preciso massagear direito para ampliar a eficácia.
– Certo. Entendi. E o quê vocês costumam comer por aqui? Acabei até trazendo um pouco dos temperos que eu uso, mas acho que eles não vão dar pra nada.
– Eu te avisei, não avisei?... – minha mãe não disse nada, mas encarou meu irmão, com raiva.
– A senhora pode conversar com o Karuto, o cozinheiro daqui, sobre isso. E posso estar errada, mas acho que ele vai gostar de aprender algumas receitas com a senhora.
– Acha mesmo?
– Eu não tenho nenhuma dúvida. – respondia o Gelinho – Acho... Que ele ficou com um pouco de ciúme da comida da senhora.
– Vocês elogiaram tanto assim a minha comida para o povo daqui?!
– E tem como não elogiar? Se depois da chegada da Erika em Eldarya, ele melhorou muito os pratos dele, fico imaginando o quão saboroso mais poderá ficar depois de aprender uma ou duas coisinhas com a senhora. – declarou o Valkyon, recostado a uma parede de braços cruzados.
– Pode para com o exagero, ok? – pedia minha mãe, toda envergonhada.
Ewelein terminou de fazer a massagem e fez a prescrição médica. Minha mãe teria que passar a pomada e repetir aquela massagem duas vezes por dia, por pelo menos um mês.
Descemos até o salão e seguimos direto pra cozinha. O Karuto estava folheando um livro sobre a bancada quando chegamos.
– Rainha!... Chegou na hora certa. Pode me ajudar a decidir o jantar? Ouvi dizer que tem visitantes inesperados em Eel. – acho que ele não está prestando atenção em quem me acompanha...
– Opa! Preparando um jantar especial pra nós?! Estamos importantes, heim!
– Christiano?! Você é o nosso visitante?!
– Eu e essa teimosa aqui, minha mãe, Helena.
– Mais respeito, Christiano...
– Sua mãe? – Karuto me encarou buscando confirmação, e como resposta, só assenti com a cabeça – Ora, mas isso é um privilégio! Ouvi muito sobre as habilidades culinárias da senhora.
– E o senhor é...
– Sou o Karuto. Cozinheiro do QG. Sem querer ser apressado ou coisa assim, mas... A senhora não gostaria de compartilhar um pouco do que sabe?
– Você é o cozinheiro?
– Sou sim. Por quê? – aiaiai... aí vem!
– Pra começar, você cozinha pelado? Ninguém reclama de cabelo na comida aqui não?
– Bom, eu... _corado_.
– E isso em sua cintura era para ser um avental? Está mais parecendo um pano de chão. E dos bem arregaçados! Ao menos você tem a decência de varrer a cozinha, antes de mexer com comida? Me diga que você usa uma touca na cabeça pra cozinhar. Pelo menos isso, porque eu vou precisar de uma também.
– A senhora pode aguardar só um pouquinho, por favor? Eu já arranjo tudo. Ei, você! – Karuto chamava a atenção de um rapaz que lavava a louça – Largue isso por um momento e varra a cozinha. Não é pra deixar nem um cantinho que seja sem limpar! A menos que queira que o seu jantar seja mingau.
– Não vou deixar uma só poeira que seja para trás, senhor! – declarou o rapaz meio desesperado (mas o Karuto não está exagerando um pouquinho?).
O Karuto não demorou muito para voltar. Trazendo dois aventais limpos, dois lenços para servirem de touca, e trajando uma túnica que nem imaginava que ele pudesse ter. O rapaz também foi rápido, e cuidadoso, na limpeza do chão. O velho sátiro começou a explicar tudo o que tinha em sua cozinha e como algumas coisas funcionavam. Minha mãe, em contrapartida, comentava sobre os equipamentos terráqueos hoje existentes, além de todas as técnicas culinárias desenvolvidas que ela conhecia.
– O que é essa coisa aqui?
– É o meu mingau de punição, senhora.
– Mingau?... – nem tive tempo de impedi-la de provar aquela coisa... – ECA! QUE NOJO! Que porcaria é essa? Você faz mesmo essa gente comer isto!?
– Como eu disse, esse é o meu mingau punição. Eu só o dou para aqueles que fizeram por onde merecê-lo.
– Por exemplo.
– Apesar de seu filho ter nos ajudado a enchermos nossa despensa, a comida ainda é racionada em Eel. Qualquer um que consuma toda a sua quota mensal de uma vez ou tente roubar comida, recebe ele como alimento. Apesar do gosto horrível, ele é bem nutricional. Se bem... que às vezes eu o uso como vingança também.
– Vingança?
– Eu sou o único daqui que enfrenta essa cozinha, então todos sabem que se aprontarem comigo de alguma forma, de um jeito ou de outro, eles sabem que só poderão comer aquilo que eu lhes servir.
– Isso com certeza é um pouco assustador. Já chegou a oferecer essa coisa para alguém da minha família?
– Bom!... Digamos que alguns mentirosos ficaram de castigo por umas semanas. Alguns por mais tempo do que outros.
– Entendi.
Os dois ficaram me encarando e, provavelmente, ao Lance também (não sei o Lan, mas eu gostaria de poder sumir agora). Os dois continuaram trabalhando, com minha mãe ensinando o que sabia, e questionando o que desconhecia.
Olhando bem, o Karuto mais parecia um aprendiz naquela cozinha, do que o cozinheiro resmungão que ele costuma ser.
Lembro que disseram que, a chegada da Erika em Eldarya, causou uma senhora mudança nas condições de vida do QG e da cidade. Eu acabei fornecendo novas mudanças por causa de meus poderes e... Tenho a forte impressão, que minha mãe vai ajudar a criar ainda mais mudanças...
.。.:*♡ Cap.175 ♡*:.。.
Christiano
Francamente, minha mãe escolheu mesmo o pior momento para me seguir por Eldarya. “Tráfego de sangue”?? E Eel cheia de vampiros que participavam disso?! É cada coisa em que minha irmã resolve se meter... Só espero que essas pulseirinhas tenham mesmo o poder que disseram ter!
Aquele encantamento era mesmo forte. E graças à Deus que a Cris tem o Gelinho na palma da mão. Eu realmente não consegui fazer nada que fosse contra a ordem daquele réptil! (Espera, eu também sou um pouco dragão, e o Valkyon não tem culpa de ser irmão dele. Acho que não é certo chamá-lo assim.)
Karuto... Coitado. Minha mãe até parecia uma fiscal sanitária! Mas o jantar fez sucesso. Soube até que o sátiro conseguiu copiar o gosto de alguns dos temperos que a minha mãe trouxe!
Apresentei a Benelli para ela durante o jantar, e eu não sei se é por intuição ou se é por desconfiança geral, mas acho que a minha mãe não foi muito com a cara da brownie. Principalmente depois de saber qual que era o trabalho/passatempo dela nessa guarda. Nem tive tempo de questionar sobre a montagem do nosso cinema (apesar de eu já ter trazido quase tudo).
A velha não reclamou nem dos banheiros, nem dos quartos. Benelli conseguiu um para cada um de nós, com a mesma barreira do quarto da Doida instalada. Ficamos combinados que, nos três primeiros dias que fossemos permanecer em Eel, o Valkyon iria ficar escoltando minha mãe por onde quer que ela fosse, e a Benelli seria a minha babá. O que nem era preciso, já que fico mais tempo com ela quando estou nessa cidade, do que com qualquer outra pessoa. Com a Benelli, e com os purrekos.
Para ajudar a chamarmos menos atenção, a Miiko nos pediu que usássemos trajes eldaryanos, assim como a Doida e a Erika fazem. A Cris estava junto quando nos disse isso, por isso ela se comprometeu em pagar pelas roupas. Contanto que nós comprássemos apenas com os purrekos (ela tem algum tipo acordo com eles por acaso??). E espero que a Purriry já tenha esquecido o que a minha mãe ficou falando dela, quando na Terra...
Fomos até a loja da gata, cedo. Para que conseguíssemos nos falar com um pouco mais de liberdade. Fomos os primeiros clientes a aparecer.
– Nossa. Aqui tem mesmo algumas roupas bem interessantes, mas tenho o pressentimento que não acharemos algo do meu gosto.
– Não devia julgar tão rápido assim, senhora. A dona dessa loja tem orgulho de conseguir atender a qualquer pessoa.
– Pelo que vejo nestes manequins, não consigo ter a mesma certeza que você tem. – (e isso porque a senhora nem imagina quem é a dona dessa loja _sorriso nervoso_).
– Ora, ora, ora. Mas vejam só quem são os primeiros clientes do dia, miau. – (e falando no diabo...) – Há quanto tempo! Senhora eu-não-suporto-gatos.
– Espera. Essa aí não é...
– Sim. – Valkyon se antecipava – Essa é a Purriry, dona dessa loja. Nós bem que lhe avisamos que ela não era uma felina comum.
– E como é possível que um gato saiba costurar?!
– Mãe. A senhora já se esqueceu do “Gato de botas”? Felinos inteligentes e capazes de viverem como humanos se assim quiserem. Purriry é uma costureira que vende suas próprias roupas para qualquer um que goste do estilo dela. A senhora bem que podia mudar um pouco o seu jeito, agora que sabe que ela não é a mera gata que pensou que fosse.
– Eu ainda não sei... – (aaahhhrrr... porque a Doida não veio junto?!) – A loja de fato me parece limpa. Acho que não tem problema dar mais uma olhada.
– E o quê, exatamente, vocês buscam em minha prestigiada loja? – Valkyon começou a explicar a situação, e eu nunca fiquei tão nervoso assim em uma loja de roupas. Já a minha mãe ficou passeando pela loja, examinando as roupas – Acaso se interessou por este modelo? – questionou a gata, desconfiada, quando a minha mãe ficou olhando demais a roupa de um dos manequins.
– Talvez. Estou apenas conferindo o tecido.
A roupa em questão era um vestido de festa, e foi quando me lembrei – Tá pensando no vestido de madrinha, mãe?
– Madrinha?
– Uma prima minha convidou meus pais para serem padrinhos de casamento, e minha mãe ainda não achou um vestido que gostasse para usar, Purriry. Qual é a cor mesmo que ela disse que era pra usar?
– Azul. Não foi especificado qual tom de azul, mas ela pediu que fosse escuro.
– Sendo assim... Venha comigo já!
– E-ei! O que pensa que está fazendo?!
Eu não sei o que está havendo, mas eu nunca imaginei que aquela gatinha teria força suficiente para sair puxando e arrastando um humano com mais do triplo do tamanho dela daquele jeito. E bem rápido. Quase não a percebi voltando para pegar uma das caixas perto do vestido que minha mãe analisava.
Prestando atenção nas reclamações, supus que a felina estava fazendo minha mãe experimentar alguma coisa – A Purriry é sempre tão... ousada, assim? – resolvi questionar.
– Não. Purriry costuma usar de boa lábia para atrair as suas “vítimas”, mas todos sabem como os purrekos podem ser rancorosos. Acho... que a Purriry está descontando em sua mãe, todos os sentimentos que ignorou para manter o disfarce, em sua casa.
– Só espero que essas duas não acabem se machucando com isso aí.
– Somos dois, Christiano.
Ainda demorou um pouquinho, mas, depois que minha mãe saiu do provador, ela estava linda! – Mãe!... Acho que a senhora vai chamar mais atenção que a noiva. A senhora está até parecendo mais nova do que já é!(Helena pronta)
– Obrigada filho. Só tenho que dar um jeito nesse defeitinho que o vestido ficará perfeito.
– Defeito?!? Que defeito?? – perguntava a gata arreliada (e eu enxerguei o problema na hora).
– Não tá na cara, Purriry?! Olha só pro tamanho dessa fenda! Se sobrar qualquer ventinho, mostra até o umbigo dela. Não me surpreenderia se meu pai resolvesse picotar isso aí, só para impedi-la de usar.
– É o quê?! Ele não ousaria.
– Na verdade, eu não duvido. Ainda não esqueço da vez que eu comprei um perfume caro, do qual ele não gostou e, para que eu não usasse, ele pegou o frasco, foi para a rua, e despejou todo o perfume em um mato que tinha perto.
– Que horror!! Não imaginava que seu marido pudesse ser tão bárbaro assim!
– Eu não diria “bárbaro”. Mas ele é ciumento. E honestamente, não me sinto bem em roupas tão ousadas assim.
– Não se preocupe, tenho material suficiente para fazer um novo modelo que estará a salvo de barbáries, e ainda continuará lindo.
– Certo, então... Vamos continuar procurando pelas roupas? – acabei sugerindo. Mas quem disse que isso melhorou alguma coisa?
Minha mãe viu várias roupas. Dá para contar em uma mão as que ela teve vontade de experimentar, e não gostou. Mas o que desagradou mesmo a gata, foi a minha mãe começar a procurar roupas no setor masculino.
– Inadmissível! Uma dama vestindo trajes masculinos?!É uma total ofensa de moda!
– E o que mais você quer? Suas roupas são bonitas, mas são todas ousadas demais. Quando não estão mostrando mais do que devem, me apertam o corpo. E eu não tenho mais idade pra ficar vestindo essas coisas. Eu prometi pra líder da torre que usaria as roupas desse mundo enquanto estivesse aqui, mas se a única forma de me sentir confortável com essas roupas é usando roupas de homem, então é roupas de homem que irei vestir!
– De forma alguma!! Um dia! Me dê um dia, e a farei mudar de ideia.
– Que seja então. Volto aqui amanhã à tarde.
– Combinadas. Valkyon, me faça o favor, avise para a Cris que a encomenda dela vai atrasar um pouco. Além de eu ter uma reputação a zelar, isto aqui virou uma questão de honra! Agora com licença, pois tenho MUITO o que trabalhar. – declarou a gata meio que nos expulsando da loja, e colocando uma placa de “Fechado” logo depois de fechar a porta.
– Acho que nunca vi a Purriry tão determinada assim a conseguir fazer alguém a comprar de suas roupas...
– Mas eu falei sério quando disse que prefiro usar roupas masculinas a me sentir desconfortável.
– Eu não iria tão longe assim como a senhora, mas é impossível discordar que aquela modista é bem obscena. – falava uma mulher pálida com ar de arrogância que saiu do nada.
– Senhora Maora, posso ajudar-lhe em alguma coisa?
– Oh não, em nada. Estava apenas passando por perto e acabei ouvindo a discussão dentro da loja. Vamos ver se aquela bola de pelos é capaz de costurar algo decente agora.
– Mãe! Quantas vezes já lhe disse para não sair de perto de mim desse jeito?! – (mãe da Karenn!? Essa aí é um dos “ladrões de sangue”??) – Desculpem, minha mãe estava lhes incomodando?
– Nem um pouco, mocinha. Ela estava apenas compartilhando uma opinião. Nada de mais.
– Entendo. A senhora é a Helena, certo?
– Sim. – reparei que a vampirona começou a sentir o ar como se estivesse sentindo um cheiro delicioso (o que me deixou bem nervoso).
– Sou Karenn, é um prazer conhecê-la. Rezo para que a senhora consiga ter uma boa estadia em Eel. Vamos indo, mãe?
– Acho... que é melhor. Eu meio que estou... ficando com sede.
– Então é melhor irmos já. Mais uma vez, desculpa por qualquer coisa.
A Karenn quase que arrastou a mãe dela consigo, e ainda bem que ela foi rápida! Se só a ideia de ter um sugador de sangue bem na minha frente já me deixava nervoso, imagina depois de ouvir ela dizendo que estava “com sede”.
– Algum problema, Christiano?
– Porque não voltamos lá pra dentro, mãe? Junto do Karuto até a hora do almoço passar?
– Porque a Karenn é a irmã mais nova do Nevra. E Maora, uma de nossas moradoras mais recentes. – explicou o Valkyon, e vi minha mãe engolir seco.
– Tem toda a razão, Christiano. Vamos deixar para conhecer o resto da cidade depois.
– Abram caminho! Abram caminho! – ouvíamos alguém gritando – Levem-no logo para a Sala do Cristal!
– O que está acontecendo?! – exigiu o Valkyon enquanto víamos uma carroça coberta carregando algo enorme dentro dela.
– Peço perdão pelo transtorno, senhor, mas é que... Durante a patrulha de rotina na floresta, acabamos capturando um... paciente para a Cris.
– Outro?! Eu pensei que já haviam acabados todos! – reparei em um brownie (eu acho) que parou para ouvir.
– Lhe garanto que não é o único, senhor. Até parece que eles surgem de propósito! – declarou o guerreiro já se correndo pra alcançar a carruagem (e o sorrisinho que apareceu no cara que eu havia reparado, não me agradou).
– Algum problema aí, amigo? – gritei pra ele.
– Na-não! Eu só... Desculpe. Tenho trabalho a fazer. – e ele sumiu por entre as lojas do mercado.
– E o quê que estamos esperando? Vamos entrar logo! – chamava a minha mãe, já seguindo caminho.
– Ei, Valkyon. – sussurrava – Você não acha que aquele cara pareceu bem interessado no que o guarda falou?
– Você também reparou? Não se preocupe. Alertarei os outros sobre isso, e espero que nada problemático aconteça.
– Tomara.Valkyon
Eu realmente não deixo de me impressionar com a mãe da Cris. Nem a Erika, que foi a primeira a “desafiar” o Karuto, foi tão direta daquele jeito. E se o Karuto não tiver ficado realmente abalado com os nossos comentários sobre a comparação da comida dele com a da Helena, eu não consigo imaginar qualquer motivo para ele se permitir agir daquele jeito. Até parecia que era o Feng Zifu quem estava ensinando a ele!
Nós nos reunimos no jardim do Karuto para jantarmos, e assim aproveitar para apresentar melhor os membros da Reluzente, amigos e professores da Cris. E agora a Helena pode se se referir à Cris como “filha” sem problemas, uma vez que ela explicou ter o hábito de chamar afilhados, sobrinhos, e às vezes até irmãos de filho/filha. Miiko veio se juntar a nós um pouco mais tarde.
– Me diga senhora, tirando o choque, está gostando de nossa cidade até aqui? – perguntava a Miiko de forma cordial à Helena.
– Continuo desconfiada de tudo e de todos, mas acho que estou conseguindo me manter calma o suficiente para pensar de forma racional. Ainda mais com tanta gente me ajudando.
– Dou-lhe minha palavra que não medirei esforços para que a senhora se sinta confortável entre nós.
– Até não precisarem mais da Cris aqui?
– Madre! Pelo amor de Deus! Nem todos os faeries são ruins.
– Esse lugar não é de Deus, minha filha. Não me peça o impossível e me garanta que você vai parar de usar bruxaria!
– Tenha dó, mãe. – intervinha o Christiano – Aqui todo mundo tem capacidade sobrehumanas. Os poderes da Doida é a maior defesa dela contra qualquer um que deseje o mal dela, e a senhora quer que ela abra mão disso?!
– E tem mais uma coisinha, Madre. Os poderes que possuo, são como uma faca. Uma faca em si não faz nada, mas se você a colocar nas mãos de um cozinheiro, ela prepara dezenas de refeições. Coloque-a nas mãos de um médico, e ela salvará vidas! Mas se estiver nas mãos de um assassino... Enfim, a questão não é a faca, e sim quem que segura essa faca. Posso não ser a pessoa mais santa que a senhora conhece, mas pode ter a certeza que “a faca” que são os meus poderes, não será utilizada para fazer o mal, ok?
– Hum... Entendo o que você quis dizer, mas continuo não achando certo.
– Eita mulher teimosa que é a senhora, mãe... _suspiro_ E Doida, cadê o seu black-dog? Eu ainda não o vi até agora!
– O o quê dela?
– Black-dog. – respondia – Uma criatura que pode ser encontrada em Eldarya. Uma espécie de cão negro que os eldaryanos costumam temer por serem bem agressivos. Por exceção do da Cris! Que é bastante diferente dos black-dogs normais.
– Diferente como?
– Além de ser anormalmente grande e muito mais... dócil, o black-dog da Paladina tem o poder de controlar as sombras como lhe dá na telha. Ele foi um grande quebra-galho nas últimas viagens da Paladina, facilitando em muito para o nosso lado.
– Estamos o explorando, isso sim. Por isso que está sumido. – argumentou o meu irmão, o que fez a senhora Helena lhe erguer uma sobrancelha.
– Lan, não sei se Absol está sumido por esse motivo, mas sou obrigado a concordar que estivemos bem dependentes das habilidades dele na última missão. Sem mencionar que nós atravessamos um deserto! Ele só deve estar descansando o máximo que pode em algum lugar.
– Nevra está certo, Lan, e Yaqut também sugou muito de mim. Vocês não disseram que eu fiquei inconsciente por dias? – meu irmão apenas assentiu – Pois então. E vai que ele só está fora em busca de alguma coisa, assim como fez enquanto procurava uma gema Tamashi para mim ou as Contas de Ovira.
– Foi esse bicho aí quem lhes deu essas pulseiras? – questionava a Helena, apontando para as contas que lhe tinha entregue.
– Foi. E também... – começamos a ouvir um ganido perto dos arbustos, que a interrompeu – Absol! Finalmente resolveu aparecer! – mas ele mal saía do lugar – O que foi? Vem cá, rapaz! Vem conhecer alguém importante pra mim.
Absol obedeceu com receio. Achei muito estranho aquele comportamento dele, e não fui o único a perceber aquilo. Quando ficou perto da Helena, ele não parava de a encarar com tristeza.
– Qual o problema desse cachorro gigante?
– Eu não sei, Madre. Ele nunca agiu assim. Até parece que ele quer pedir “desculpas” pra senhora!
– Desculpas pelo o quê?!
– Vai ver é por ter falhado algumas vezes em proteger a Doida. Mas quem pode culpá-lo?! Ela também não ajuda...
– Vê se não enche, Christiano! Ao menos disfarça que está querendo me provocar!
– Falando em disfarce... – Miiko interrompia – Eu andei pensando... Senhora Helena, caso não seja pedir muito, eu gostaria que a senhora e o seu filho começassem a usar roupas de nosso mundo enquanto estiverem por aqui. Roupas terráqueas chamam muito a atenção e considerando alguns de nossos habitantes... Seria melhor que vocês dois se misturassem um pouco mais com os faerys, tudo bem pra senhora?
– Vai depender da roupa.
– Tem um lugar onde podemos ver isso e que vai surpreender a senhora. – declarava a Erika, em um sorriso.
– Não sei não...
A conversa durou o jantar inteiro, e Absol também continuou agindo estranho. Ele parecia querer se aproximar da Helena, mas tinha medo. E a Helena, simplesmente não queria nem mesmo tocá-lo. Nunca pensei que sentiria pena de um black-dog em minha vida.
Como já havia sido decidido que eu ficaria tomando conta da mãe da Cris nos primeiros dias, procurei estar em sua porta antes mesmo dela levantar (ou, pelo menos, antes dela sair). Como Benelli estaria ocupada com os purrekos, por causa do tal cinema que estavam organizando, o Christiano iria à loja da Purriry com a gente, onde pude testemunhar algo inesperado mais uma vez.
Se a Purriry não estiver perdendo o “toque” dela, a Helena é mais dura na queda do que eu pensei. E eu nunca que iria imaginar que o Irineu pudesse ser tão controlador em relação à sua esposa. Bem que me disseram que Eldarya respeita muito melhor suas mulheres. Mas o que mais me surpreendeu foi ver a Purriry “fechar a loja” só para conseguir costurar algo que agradasse a mulher que a detestava.
Saindo da loja, tudo o que acontecia me parecia um tipo de alerta. Primeiro a Maora aparece e fica com “sede” perto dos faelianos; depois recebo a noticia que conseguiram capturar um contaminado, sendo que eu estava finalmente acreditando que não haviam mais; e por último, um dos espiões em que estamos de olho parece estar planejando alguma coisa, com base no que ouviu. Não vejo a hora de ver a missão de Apókries concluída.
Ainda estávamos nos encaminhando para a cozinha, quando nos deparamos com a Cris, “iluminada”, passando por nós com Lance e Leiftan a seguindo.
– Cris? O que aconteceu com você?! – a Helena tentava segurá-la.
– Precisam de mim. – Foi tudo o que ela respondeu, se desvencilhando da mãe e seguindo em direção dos corredores.
– Aconteceu alguma coisa? Estávamos treinando luz e o cristal no pescoço dela começou a reagir, como se tivesse um contaminado por perto. – esclarecia o Leiftan. Christiano e eu nos entreolhamos.
Ele já havia testemunhado a purificação dos contaminados, já carregando uma visão mais ou menos boa desse mundo, mas a Helena?! Ela parece odiar a todos! E tenho certeza que o Christiano não será capaz se segurá-la sozinho.
Nos apressamos em deter a Helena, que insistia em fazer a Cris parar e prestar atenção nela. Só conseguimos na frente da entrada da Sala do Cristal, e ainda assim com a ajuda do Leiftan e do Lance (bem que dizem que mães tiram forças de não sei onde, para defenderem seus filhos...).
Foi a pior bronca que já recebi ao que me lembro. E quando a Helena viu a Cris a poucos passos de um contaminado maior que eu, tivemos todos que nos apressar em segurá-la outra vez. Se não fosse pelo Leiftan, não sei se o Christiano teria conseguido convencer a mãe a observar antes de agir, e, seguindo o mesmo exemplo, acabei notando que todos os contaminados tratados pela Cris, se comportavam do mesmo jeito. Como se lhe tivessem medo. Todos, menos um. O nan’vi trazido pela yukina (o que será que aconteceu com ele?).
Aos poucos, o faery foi encolhendo e transformando até conseguir se revelar um orc. Um gron’hud para ser mais específico (para o meu alívio). Quando a Cris terminou, sentando cansada no chão (o que será que ela estava treinando antes?), a Helena e o meu irmão foram rápidos em averiguá-la, enquanto os outros cuidavam do orc.
– O quê, é essa coisa, Valkyon? – me questionava o Christiano.
– Ele é um gron’hud, um tipo de orc. O mais confiável para ser mais preciso.
– O mais confiável? Quais são os outros tipos? Quantos são?
– Há quatro tipos que se tem conhecimento em Eldarya. Todos medem entre 1,80 e 2 metros de altura. Tem os svinekod, cujas cabeças lembram a um monchon e pele rosada, geralmente gordos e são... Hãm... Bem, de forma bem direta, eles são podem estar perto de ninguém com mais de 50cm durante o cio.
– Credo! Deus me livre! Os outros são assim também? E esse daí?
– Os gron’hud, como este aí, são o tipo mais civilizado dos quatro. Eles são pacíficos, mas excelentes guerreiros quando necessário. Você sempre pode ficar tranquilo ao lado de um gron’hud.
– Certo. E os outros?
– Apesar da falta de auto-controle dos svinekod, são os blodtorstig com que se teve tomar mais cuidado. Fisicamente, são bem parecidos com o Jamón, apenas um pouco mais... desfigurados? Vivem da guerra e as aproveitam para saquear os lugares onde lutam. – (pensando bem, foi uma imensa sorte o meu irmão não querer se aliar a eles na Guerra do Cristal).
– E?...
– Desculpe. Me perdi um pouco em algumas lembranças. Enfim, os blodtorstig não pensarão duas vezes em te eliminar, se achar que isso lhes será algo bom. Sendo essa a maior diferença entre eles e os lajesoldat.
– Lagesolta?
– Lajesoldat. O quarto e último tipo. Se não fosse pela pele cinzenta e as muitas cicatrizes, eles seriam iguais aos gron’hud no que se refere a aparência. Um pouco nômades, são tão inteligentes quanto eles, porém compartilham do gosto pela batalha com os blodtorstig. Desde que essas batalhas lhe gerem lucro.
– Em outras palavras: mercenários.
– Mercenários de pouca confiança! Se eles não acharem a recompensa dada compatível com a batalha travada, eles tomam do contratante o que “falta”. E pode ser qualquer coisa, ouro; suprimentos; tesouros, e até mesmo, pessoas. Ai daqueles que lhes negarem este complemento, pois aí eles complementam a recompensa com a vida de quem lhes contratou, o a vida da pessoa mais amada do contratante. Dizem que os lajesoldat nasceram da união entre membros exilados dos gron’hud com blodtorstig, também exilados de seus grupos, mas não há nenhuma evidência disso.
– É um pior que o outro de qualquer forma. Se o orc não for verde, esquece. Melhor fugir para o mais longe possível.
– Fugir o mais discretamente possível é melhor. Por mais gordo que um svinekod seja, eles conseguem ser bem rápidos quando querem.
– Melhor deixar isso quieto...
– Deixar o quê quieto?
– Nada não, mãe. O Valkyon estava apenas me explicando sobre o cara que a Cris curou. E a senhora entendeu agora porque foi que eu disse que não tinha a coragem dela!? Onde que dava para imaginar que aquela coisa podia ficar menos assustadora??
– Sim, eu entendi. E ela também me explicou que só acabou cansada desse jeito por causa do treino que ela estava fazendo antes. Além de não ter muito controle sobre isso. O Gelinho já a levou para o quarto com o loiro, e eu estou indo para a cozinha agora. Vai vir junto?
Antes que ele pudesse responder, um dos purrekos que está ajudando a Benelli o chamou para auxiliar com os equipamentos em que estavam trabalhando, e Christiano foi com o felino. Durante o caminho até a cozinha com a Helena, nos deparamos com o Nevra e eu o “convidei” (troquei olhares com ele para dizer que tínhamos problemas) a nos acompanhar.
Sem deixar de prestar atenção na sogra de meu irmão (que outra vez fazia o Karuto suar frio), discretamente, eu repassei a ele o que Christiano e eu percebemos. Como estava meio que preso à Helena, o Nevra se encarregou de alertar os outros para mim, e de tomar algumas providências.
Apesar da confusão que aquela mulher exigente conseguia causar na cozinha, o almoço teve tanto sucesso quanto o jantar de ontem. E durante a tarde, nós tivemos a nossa primeira sessão de cinema.
゚・*:.。*:゚・♡Cap.176 ♡・゚:*。.:*・゚
Cris
– Vamos fazer o exercício da manipulação de objetos feitos de luz.
– De novo, Leiftan?!
– Não reclame, Cris. Este é um exercício que trabalha com o controle de energia e a concentração. E enquanto não for capaz de efetuá-lo com o mínimo de cansaço, não terá completado o objetivo.
Grunhi em lamento. De todos os exercícios que o Leiftan me passou até agora, este, é definitivamente o mais difícil. Ainda mais depois da humilhação dele em Yaqut. E o pior, é que eu não paro de pensar no comportamento do Absol com a minha mãe ontem, e com a possível reação que ela terá ao rever a Purriry hoje. Ou seja, me concentrar nessa coisa vai ser uma luta!
Precisei recomeçar tudo umas três vezes...
– O quê a está distraindo tanto? Até em Yaqut você se mostrava melhor! – me dava bronca o Leiftan ao perder minhas “gemas” de novo.
– Estou preocupada com Absol e minha madre. Lembra de ontem? Até o meu irmão, quem conhece menos o Absol, achou estranho aquele comportamento dele. E tem a Purriry! Ficaria surpresa se a purreka tiver esquecido o que teve de engolir.
– Não tenho como contra-argumentar, mas acha que em um campo de batalha, seus inimigos vão se importar com suas preocupações?
– Vê se pega leve, Leiftan. Ela ainda tem o treino com a Huang Tomoe, esqueceu? E a Cris já está suando. – Lan me ajudava.
– Só cinco minutos mais tarde. O ideal, é que ela só comece a suar após 20 minutos de esforço, no mínimo. E não, não me esqueci que ainda tem o treino com a Huang Tomoe.
– Pois não parece. O intervalo da refeição não é longo o suficiente para que ela se recupere 100%.
– _longo suspiro_ Tudo bem, Lan. Já que insiste tanto, nós podemos pa... – Leiftan interrompeu sua fala. O cristal em meu pescoço estava reagindo outra vez! De onde saiu o contaminado de agora?
Levantei como se nada tivesse acontecido e segui para dentro. Estávamos no Jardim do Karuto e eu seguia sem dar muita atenção a todo mundo. Chegando na Sala das Portas, minha mãe chegava da rua e tentava me fazer explicar o que estava acontecendo comigo, mas eu só me desfilhei dela e continuei seguindo para a Sala do Cristal (imagino).
Dentro da sala (eu sabia), fui direto até o homenzarrão verde das orelhas pontudas. Pude ouvir que a minha mãe me seguiu, pena não conseguir ver quantos estão sendo necessários para a impedir de me atrapalhar. E acho que foi culpa do Leiftan... Despenquei, sentada no chão, exausta quando terminei com aquele ser.
– Cris, minha filha! Você está bem?
– Ela está bem, senhora Helena. – Lance me averiguava – Não precisa se preocupar.
– Como não vou me preocupar?! Ela mal está conseguindo ficar de pé!
– Receio que isso seja culpa minha, senhora. Fazíamos um tipo de treino que é bem cansativo no começo. Na verdade, estava prestes a encerrá-lo por hoje, quando o fragmento do Cristal resolveu reagir. E estou realmente surpreso em ver esse orc gron’hud.
– Surpreso porque, Leiftan? Ele é algum faery especial? – perguntei.
– Sim e não. Há quatro sub-raças de orc, e os gron’hud é a única em que se pode confiar com tranquilidade.
– O que torna a presença dele em Eel ainda mais inesperada.
– Inesperada por quê? Filho da mãe.
– Por causa da distância entre essa cidade e a vila mais próxima de gron’huds. – respondia o Gelinho.
– Esse tipo de orc vive tão longe assim de Eel? Como e quais são essas raças?
– A vila de gron’huds mais próxima, fica a um mês de viagem voando. E...
– Um mês de vocês ou um mês nosso? – minha mãe interrompia o Leiftan.
– É verdade. Tem esse detalhe. Me referi a um mês nosso, o quê corresponde a um mês e meio, se não me engano, para a senhora. E repetindo, voando. O tempo triplica se a viagem for feita por terra.
– Então esse sujeito andou para conseguir chegar aqui.
– Exatamente. E no que se refere às outras raças de orc... – Lance deu continuidade à explicação, e eu espero nunca me encontrar com as outras espécies.
As explicações me ajudaram a descansar um pouco, mas ninguém achou seguro eu continuar com os treinos de hoje, por isso fui guiada de volta para o meu quarto.
O Leiftan acompanhou a mim e ao Lance. Já minha mãe, preferiu ir pra cozinha.
Em meu quarto, Ezarel e Ewelein estavam juntos outra vez, estudando o Agýrtis.Lance
Acho que não teve um que não desconfiou do comportamento de Absol. Se aquela praga irritante resolvesse aparecer, eu iria tentar tirar respostas dela. Também não acredito que aquela felina mercenária possa ter algo que a Helena aceite usar, e espero que Valkyon não tenha muitos apuros com minha sogrinha (conseguir um mínimo de afeto por parte dela, vai me dar trabalho).
O dia começou mais ou menos. As luzes apresentadas na esfera segurada pelo Agýrtis, já haviam dobrado outra vez, e Leiftan, que trazia comida para o metamorfo, veio buscar a mim e a Cris para o treinamento.
Sei que o nosso tempo está cada vez mais apertado, mas acho que o Leiftan está abusando! Entendo todos os pontos por ele declarados, mas ainda assim. Os perigos não estão só em Apókries. Agýrtis pode ter facilitado para conseguirmos tirar informações dos espiões, mas ele não fez isso com todos, pelo que eu soube. Se é que isso vai mesmo ajudar a evitar suspeitas!
E eu jurava que esse monte de contaminados tinham finalmente acabado. Para o quão longe que aqueles fragmentos de Cristal voaram?? Acho que até senti alívio ao perceber a raça daquele orc. Espero que as minhas explicações não tenham assustado demais a minha sogrinha...
Apesar de não haver necessidade, Leiftan me ajudou a levar a Ladina para o quarto. Os elfos estavam lá, examinando o Agýrtis, que dormia na cama abraçado à esfera que nos permitia acompanhar a “gestação”.
– Aconteceu alguma coisa? – questionava a enfermeira, olhando tordo para nós por conta do estado da Cris.
– Aconteceu. Um novo contaminado apareceu enquanto treinávamos. Um orc gron’hud.
– Está de brincadeira com a gente, Leiftan?! Esse tipo de faery vive mais do que longe daqui!
– Não, ele não está, Ezarel. E quase que a gente não consegue impedir a Helena de atrapalhar. – declarei.
– Continue. – exigia a Ewelein, examinando a Cris.
– Explicamos à Helena sobre aquela raça e a Cris descansou nesse tempo. Mas como ela ainda não parece “bem”, preferimos deixá-la descansando o resto do dia. Depois eu lido com Huang Tomoe.
– Compreendo, Leiftan. Porque não tira um cochilo, Cris?
– E quanto a “ele”? – questionei apontando para o metamorfo.
– Depois de comer com a ajuda do golen, caiu no sono devido ao cansaço. Contamos agora com 13 luzes definidas e ainda estamos estudando como reagirmos a isso tudo. – explicava o Ezarel.
– Ao menos tem como vocês acompanharem o quê acontece. – comentei dando de ombros.
– Realmente. Quisera eu que fosse possível acompanhar todas as gestantes assim. Só fico em dúvida sobre como isso vai continuar e por quanto tempo.
– Deixe a falsa-Cris aí, Ewelein, e vamos descer. Quero ver com meus próprios olhos esse orc. Voltamos daqui algumas horas, para dar o tempo de descanso do Agýrtis.
– Certo. Vou aproveitar para pedir que tragam os almoços de todos daqui e dar uma olhada na Helena.
– Ewe, se minha mãe começar a querer te dar trabalho, tente ser paciente com ela. Ela sempre acreditou que a existência de todos vocês, nada mais era que “mentiras sem futuro”. E o meu pai é ainda pior nesse quesito.
– Não se preocupe, Cris. Não é a primeira vez que lido com pessoas que se sentem... Deslocadas.
– No mesmo nível? – acabei questionando.
A Ewelein não disse nada, apenas me encarou com o rosto inexpressivo. Os elfos se retiraram e ficamos os quatro sozinhos.
Cada “Cris” ocupava um canto da cama, e o outro “eu” estava sentado, de guarda e braços cruzados, em uma cadeira ao lado do metamorfo. Dizer que não fiquei com vontade de me deitar entre as duas seria mentira. Fora a esfera, eu não conseguia achar qualquer diferença física entre as duas! Vai ser difícil lidar com isso até o fim.
Ainda vai demorar um pouco para o almoço começar a ser servido e eu não posso deixar o quarto sem a Ladina. Treinar eu não posso, a menos que queira me arriscar a acordar elas. Também não posso meditar, pois isso me distrairia e é extremamente arriscado deixar qualquer um entrar.
Pensei em continuar a leitura do livro terrestre que comecei e me bateram à porta. Era o Nevra.
– De quem veio atrás? Já aviso que as Cris estão dormindo. – declarei ainda na porta.
– E o golen? – encarei o ser metálico.
– Eu não sei. O que você quer?
– O quê a Negra te contou sobre essa situação?
– Tem certeza que quer falar sobre isso aqui?
– Já não foi fácil eu conseguir uma brecha de tempo para falar sobre isso, então não complica. – soltei um suspiro e o deixei entrar.
Conversamos em um dos cantos do quarto mais longe da cama, e no volume mais baixo possível. Contei a ele as revelações que aquela peste me fez, e o vampiro não me escondia sua surpresa. Quando terminei de lhe dizer tudo, ele ficou pensativo.
– Reunir e unir todos os faeries...
– Como?
– Essa é uma das tarefas que o Oráculo impôs à Cris. Depois das evigênias, eu pensei que restaurar as amizades perdidas entre alguns povos e o resgatar dos contaminados, fossem a única coisa relacionada a isto. Mas parece que tem muito mais ainda. Eu sabia que os aengels e dragões eram uma raça quase extinta, mas os kasperskys estavam muito piores! Ser literalmente o ultimo de sua espécie, é pressão demais pra mim.
– Ainda mais se houver condições específicas para o surgimento de novos.
– É verdade. Você e o Valkyon ainda podem ter mestiços, mas o Agýrtis... – encaramos o metamorfo adormecido, suspirando – E... Como foi... A noite de vocês?
– Esteve ouvindo a nossa conversa daquele dia?! – questionava irritado, por entender de imediato sobre qual noite ele se referia.
– Eu não brinco com reiniciamentos cíclicos. – _relaxando_ – E também... Estaria mentindo se dissesse que não fiquei curioso. Apesar de eu continuar preferindo inverter os gêneros! – acabei fungando em deboche.
– Ok. Eu conto. Mas que fique claro que tem muita coisa que não vou saber explicar, e que tem coisas que lhe direi bem por cima porque não sou obrigado a dar detalhes.
– É justo.
Comecei falando do jogo que Agýrtis nos sugeriu. Só fui mais detalhado no que se referia às capacidades dos kasperskys, no resto, falei só o suficiente. Ainda conversávamos, com o Nevra cada vez mais interessado, quando o elfos retornaram acompanhados.Helena
Ainda me lembro como se fosse ontem. Eu finalmente tinha conseguido pegar no sono, com o Irineu roncando, quando, do nada, acordo toda agoniada e sendo a Cristinne a primeira coisa que me vinha à mente.
Fui tão exasperada até o telefone no meio da noite, que acabei acordando todo mundo. Meu marido e meu filho até que me convenceram a esperar amanhecer para ligar pra Cristinne, mas antes eu não tivesse os escutado. Passei a noite em claro apenas para saber que ela tinha desaparecido?!
Na hora quis partir com o Gabriel, mas a minha lombar tinha que travar para me obrigar a ficar em casa. Nem quero saber o quanto vou ter que pagar por usar o telefone quase toda hora para falar com aquela empresa filha da ****, mas eles vão ter que se responsabilizar pelo o que aconteceu. E eu bem que avisei ao Gabriel que aquela mulher que ele tinha arranjado não era flor que se cheire.
Quanto mais tempo se passava, mais eu ficava agoniada. Gabriel foi o único, após sumir por alguns dias, que conseguiu achar alguma pista de onde a Cristinne poderia ter se enfiado, mas o fato dele ter resolvido fazer um curso de sobrevivência para poder seguir essa pista, não me acalmava nem um pouco.
Essa situação estava me deixando tão esclerosada, que se não fosse pelo sonho que tive, nunca que eu teria me acalmado.
“* Me via em um espaço branco. Bem iluminado e sem absolutamente nada dentro dele. Fiquei me perguntando o quê é que eu fazia ali.
– Helena? – uma voz gentil me chamava por trás de mim, e me surpreendi com o que via. ERA UM ANJO! De vestes claras em um azul que me fazia lembrar do céu, e não sabia dizer se era homem ou mulher – Helena... Por que está tão preocupada?!
– Minha filha sumiu. Sem rastro e nem cheiro. Como que eu poderia ficar calma com isso? – respondi. E ele, balançando a cabeça em negativa e sorrindo de leve, se aproximou dois passos de mim.
– Ela não sumiu. Sua filha está cumprindo uma missão, que só ela pode cumprir. – me dizia ele de forma calma e gentil.
– Missão onde, que ninguém acha ela?! E que tipo de missão seria essa?
– Não sei como explicar-lhe de forma que entenda sobre o o quê que ela tem de fazer, mas sobre o onde... – ele estendeu uma mão em direção de algo um pouco mais atrás dele, e uma... “mulher” toda esquisita começou a se aproximar – Muitos são os mistérios do Senhor. – ele voltava a dizer (acho que percebeu o meu estranhar) – Nem todas as suas criações, vivem entre os humanos. E esta mulher, é tão bondosa quanto os próprios anjos.
Encarei mais uma vez a mulher. Ela estava nua. A pele era literalmente branca e ficava azulada com a sombra, e olhos pareciam ser branco também. Tinha asas: nos pés; na lombar e na cabeça. E o cabelo era só penas. Também havia um par de chifres meio coloridos na cabeça e um rabo de pele lisa. Também reparei que ela tinha tipo uma faixa de manchas que parecia contornar o corpo dela pelos lados. Ela flutuava e o véu transparente e furta-cor, que tentava lhe esconder as bolas e a periquita, flutuava junto com ela. Eu olhei aquela coisa... E não conseguia vê-la como uma coisa boa.
– Sinto muito por fazê-la ficar preocupada. – começava aquela coisa a dizer, sem soltar a mão anjo – Agora, não é possível que sua filha volte para casa. – _irritando_ – Mas... Acredito que em breve, ela possa voltar temporariamente para a casa.
– Temporariamente?!
– E com tristeza que eu digo, que o que ela está fazendo, é algo que levará bastante tempo. No entanto, quando ela o terminar, estará livre para viver a vida dela, como ela desejar.
– Helena. – era o anjo novamente – Sabemos que está aflita por sua filha, mas não há necessidade para isso. Sua filha é forte e não está sozinha. Por isso, acalme o seu coração e tenha fé, pois o tempo de Deus, é perfeito. *”
Eu acordei logo depois, e não esqueci de nenhum detalhe que seja do que sonhei.
Depois disso, eu realmente comecei a ficar um pouco mais calma sobre o sumiço da Cristinne. Eu até contei sobre esse sonho para os outros! Mas eu devia ter escolhido para quem eu o contava...
Aquela Eris de uma figa... Como pode? Eu fui quem mais a ajudou no passado e ela ficou querendo me internar como se eu estivesse louca?! Agora ela se superou de vez com a cara de pau dela. Sorte minha o Irineu e a minha irmã Luciana terem ficado do meu lado, e a maioria dos irmãos do Irineu me conhecerem de verdade porque o “veneno” da Eris estava escorrendo pelos cantos da boca. Se não fosse pela chamada de atenção que ela recebeu do padre Zenas, substituto do padre Manuel (que Deus o tenha), não duvido nada que ela tentaria me internar à força com a ajuda de seus contatos na área da saúde.
Naquela altura, por conta da falta de resultados nas investigações policiais, metade da família estava aceitando a “morte” da Cristinne, enquanto a outra acreditava no mesmo que eu, que ela estava viva.
Quando o Gabriel acabou o curso, ele partiu pro mato no dia seguinte. Exigi que ele mantivesse contato, pois vi todas as preparações que ele fez durante o curso. Comprou celular militar, roupas de camuflagem, botina (que deu trabalho para achar uma que servisse naquela chulapa de pé), equipamentos para se achar, e sei lá que bagunceiras mais.
O combinado, era que ele me ligasse dia sim e dia não, mas ele só ligava a cada dois dias e olhe lá! E ainda por cima, uma ligação horrível. Mas quando chegou o dia que era a Cristinne quem estava do outro lado... Só me faltou pular de tanta alegria!! Alegria que durou pouco, porque algo definitivamente estava errado. Ela nunca se referiu ao Gabriel pelo primeiro nome! Por que o estava fazendo agora? Gabriel até tentou me enrolar para me fazer desligar mais depressa, mas ainda descubro o que é que está acontecendo.
Contei a boa nova pra família inteira, e que satisfação em ver a cara daqueles que estavam querendo fazer o velório da Cristinne. Organizei tudo para a chegada daqueles dois. Ainda mais com todo o povo do Ceará e de Minas ia vim para verem a “ressuscitada”. Nem consegui dormir direito a noite de sábado para domingo, do dia em que eles dois iriam chegar em casa.
No que eu ouvi o barulho do portão, enquanto preparava uma mesa de café da manhã já pensando nas visitas que chegariam depois deles, corri pra entrada. Abracei minha filha sem dar tempo nem dela me ver direito. Senti-la, viva, em meus braços. Pra depois sentir raiva por toda a preocupação e nervoso que essa cavalona me deu (quê que ela fez para ficar com os braços duros daquele jeito?).
Fiquei aliviada de ver que ela estava bem e de saúde, mas não esperava que os dois voltassem com aquele monte de gente junto na bagagem. E ainda com uma gata véia nas mãos...
Conversando à mesa, eu ainda não conseguia aceitar que a Cristinne teria de voltar para o “fim de mundo” em que ela estava antes. Principalmente com essa historia dela estar curando doentes. Ela sabe tanto de medicina quanto eu! Que é quase nada... (Mas sem dúvidas é mais do que a Erika. Ela me deixou a impressão de ser meio burrinha).
Sobre o namorado dela, tenho que admitir que ela achou um homenzarrão. Mas... Por algum motivo, especialmente depois do que os outros falaram, não conseguia deixar de ter um pé atrás com ele. Ele me parecia sincero, mas ainda assim...
Não demorou muito e a família começou a chegar. Começando pelo meu sogro. A casa ficou cheia antes mesmo que eu me dêsse conta.
A Cristinne deve estar feliz. Ninguém chegava de mãos vazias! Até parece que estávamos comemorando o aniversário atrasado dela (onde, pela primeira vez, os crentes da família aceitavam participar de um aniversário).
Esse pessoal que veio com eles até que parecem decentes. A Huang se mostrou bem curiosa sobre a forma com que a sociedade evoluiu, eles não estavam mesmo brincando quando disseram que possuem um estilo de vida medieval. Parece que os antepassados deles passaram por algo semelhante aos judeus no nazismo. O que não fica atrás do detalhe que isso parece ter acontecido antes de Cabral chegar aqui! E já que eles estavam querendo se esconderem do mundo, faz sentido ninguém ter declarado sobre as américas antes de Portugal errar o caminho até aqui.
O tal Lance também me pareceu ser do tipo curioso, mas mais no seu canto, enquanto a muralha de músculos, só observava. Eles não são muito de falar... Gabriel me explicou que ele e o irmão são guerreiros por lá. Iguais aos dos filmes de castelo e essas coisas, com espadas, armaduras e tudo mais. O que explica ambos terem tantas cicatrizes.
Até aquela gata, em que tentei ficar de olho, me pareceu ter um comportamento bem diferente do seu normal. Assim como Gabriel, Cristinne e os outros tanto insistiam me avisar.
Apesar dos pesares, o dia foi excelente. Só não posso disser o mesmo de como o dia seguinte começou... Não sei se aceitava a explicação deles para aquela febre estranha, mas como ela foi embora logo, resolvi deixar quieto.
As semanas que eles estavam aqui pareceram voar. Aqueles quatro (especialmente o Lance) me ajudaram muito com a casa. Mesmo com quase todos eles sempre saindo para fazer compras ou para regularizarem o que fosse preciso, como foi com a minha filha (pelo o que eu ouvi das conversas deles, parece que compraram bastante coisa, mas onde que escondiam o que compravam?).
Ou esse Lance gosta mesmo da Cristinne, ou ele acabou aprontando algo muito grave mesmo para aceitar ser feito de empregado por ela. Não conseguia decidir se via isso com bons ou maus olhos, pelo jeito que ele me contou isso enquanto limpávamos a casa após a festa de despedida.
Acompanhei todos eles até o aeroporto, de coração apertado.
A Cristinne me disse que eu podia dar as coisas que ela não estava levando consigo, mas... Aonde é que estava tudo?! Só tinha as roupas furadas, coisas quebradas e objetos que necessitavam de uma tomada para funcionar! Não é possível que ela tenha conseguido colocar aquele monte de tranqueira dentro daquela caixinha.
Bom, depois de tudo isso, as coisas pareceram se ajeitar. Gabriel mudou de rumo. Ele começou a fazer curso sobre sustentabilidade e comércio (muita gente gostou daquela cerveja caseira que Valkyon trouxe. Não tomei dela porque vi pelo cheiro que era forte). Ele até conheceu um moço que o ajudou a se preparar pra ir àquele fim de mundo de novo!
Teve um dia, quando estava começando uma novena, Cristinne veio à minha mente. Foi uma sensação ruim e continuei rezando. Quando terminei, eu quase peguei no telefone pra ligar pra ela, mas não o fiz. Porém aquele incômodo durou dias! E quando eu finalmente tomo a coragem de ligar praquela menina, o sujeito é quem me adente, dizendo que a Cristinne que fez alguma coisa que a deixou nocauteada na cama. Tive de esperar três dias para receber a ligação dela! As desculpas dela não me convenceram.
Não consegui ir junto com o Gabriel para a tal Eel, mas na próxima eu iria sem falta.
Sempre que eu pergunto as coisas, tanto Gabriel como Cristinne ficam me enrolando e não dizem nada. E aquela criatura estranha que conheci no meu sonho, sempre me voltava na mente. Me preparei.
Quando Gabriel declarou que iria para Eel outra vez, não tinha santo que me impedisse ir junto. Quase meti a mão na cara dele de tanto que ele ficava insistindo para eu voltar atrás. Não estava disposta a ceder nem mesmo para o meu joelho e o meu tornozelo (se a Cristinne ficou curada do quadril, por que eles não podem fazer o mesmo por mim?).
Eu só comecei a ter um verdadeiro receio sobre este lugar, quando conheci o “bichinho” do indígena que nos guiaria por dentro de uma névoa. Mas eu não vou desistir tão fácil...
Graças ao Gabriel, parte da minha preocupação era trocada por raiva, dentro daquele túnel sem fim, mas depois que saímos...
Quanto mais coisas eu ouvia e via, mais desnorteada eu me sentia. Era tanto absurdo, mas tanto absurdo. Que... Sem palavras! Parecia que eu tinha mergulhado em um pesadelo! E quando chegamos finalmente e eu vi a minha filha? EU ME APAVOREI!
Se a minha voz não tivesse desaparecido enquanto dava bronca no Gabriel por ter me tampado a boca daquele jeito, eu teria catado os dois e os arrastaria de volta pra casa na hora! E que quarto era aquele para o qual ela nos arrastou?!? Que não era nada se comparado a tudo que os três me contaram.
Eu sabia que tinha algo de errado com aquele Lance, mas não imaginei que fosse tanto. Ouvindo a historia completa e verdadeira, não sabia se me sentia triste, magoada, decepcionada, furiosa ou sei lá o quê. Não hesitei em lascar um tapa na cara daquele miserável quando ele se aproximou, homem, outra vez, com eu não podendo falar ainda (mas admito que esse “truque” que a Cristinne aprendeu, é razoavelmente útil).
Escutei o resto das explicações e conheci alguns seres, mas isso não facilitou para eu aceitar essa... “Realidade”. Sem falar que, quanto mais eu aprendo sobre esse mundo, menos apreço eu tenho por ele (por exceção dos remédios! Aquela pomada está me sendo uma bênção!).
Ver o quê que a Cristinne tanto faz aqui, o quanto essa... “gente” (até aquela gata é “alguém” aqui?!), depende dela em certas coisas, me faz ter receio do que eles seriam capazes de fazer para impedi-la de partir desse mundo. Especialmente com ela estando cercada de inimigos.
– _longo suspiro_ Como é que faço para contar isso tudo ao Irineu, sem que ele queira executar os planos absurdos da Eris?...
Última modificação feita por Tsuki-Hime (04-05-2024, às 20h19)
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゚・*:.。*:゚・♡ Cap.177 ♡・゚:*。.:*・゚
Cris
Não sei se eu dormi por horas ou se tinha apenas fechado os olhos, só sei que ergui a cabeça do travesseiro ao ouvir minha mãe xingando o Lance.
– O quê que está acontecendo?...
– Acorda pra vida, Doida. A gente já te trouxe até o almoço. Acorde o seu clone aí também, vai.
Virei o rosto pro lado de Agýrtis, e ainda me sinto estranha em “me ver” daquele jeito...
– Ei, Agýrtis. Acorde aí.
– Estou cansado...
– Se tu está gestante mesmo, trate de levantar e vir comer!
– A Helena está certa, Agýrtis. – Ewelein apoiava a minha mãe – Ezarel e eu conversamos, e chegamos à conclusão que nos será muito mais fácil de acompanha-lo, se você seguir uma rotina.
– Você vai ter hora pra dormir, comer, tomar banho de sol... Bom, você ainda não pode ficar perambulando por aí, mas com um quarto gigantesco como esse não há problema. Só precisa tomar o cuidado de não se deixar ser visto na janela.
– Acha mesmo que preciso de tudo isso, senhor Ezarel?
– Se vai ficar bancando a grávida, sim. E venham logo ou eu arrasto vocês duas pelos cabelos até a mesa.
– Credo, Madre! Também não é pra tanto! – pulava da cama antes que aquela mãe doida cumprisse com a ameaça.
– Descansou direito?
– Sim, descansei.
– E essa aberração?
– Madre! Dá um tempo!
– Só depois que você tiver voltado pra casa.
– E se eu quiser continuar vivendo em Eldarya?
– Te meto a mão na cara e te arrasto do mesmo jeito.
– Mesmo com sua filha se sentindo mais feliz em Eldarya do que na Terra? – do jeito que ela encarou o Lance, pensei que ela iria agredi-lo de novo.
– Senhora Helena, tente ser mais racional. Nem todos os faerys são ruins, do mesmo jeito que nem todos os humanos são bons.
– O Nevra está certo, mãe. Relaxa só um tiquinho aí!... Ou do contrário a senhora vai acabar atraindo problemas pra gente.
– E tu não tem nem um pingo de vergonha nessa sua cara não? Sabia de toda essa palhaçada e não me disse nada!
– E como é que a senhora iria acreditar em mim se eu falasse? Mesmo vendo tudo na sua cara, a senhora ainda teima em não acreditar direito! Eu bem que te falei pra ficar em casa, mas a teimosa aí insistiu em vir junto!...
Antes que Ezarel falasse alguma besteira, fiz sinal de silêncio pra ele. Fazendo-o suspirar pesado assim como Nevra e Lance. Alguns chegaram a me olhar com cara de “essa pessoa existe??”, e eu só revirava os olhos como resposta.
Começamos a almoçar. Ewelein e Ezarel ficaram explicando ao Agýrtis, com mais detalhes, o que haviam decidido para cuidarem melhor dele (ou dela). E quando eles terminaram, meu irmão resolveu criar assunto.
– Diz aí, Doida, o que vai fazer depois de terminar de comer? Seu chefe e o mensageiro já conversaram com a sua professora cega.
– Aaaiii... A Tomoe vai querer arrancar o meu couro como compensação por essa “folga”... Mas por que está me perguntando isso?
– Porque os purrekos conseguiram. Depois que o horário de almoço acabar, vamos arrumar o salão para a primeira sessão de cinema de Eldarya. E vamos fazer igual você tinha sugerido! Deu trabalho, mas eu consegui encontrar um documentário que conta toda a história do cinema e explica direitinho como que os filmes são feitos. Pelas contas da Benelli, dá para fazermos três sessões desse filme hoje. E amanhã começamos a passar filmes que evolvem as coisas desse mundo. Só não sei ainda por quais começarmos.
– Hum... Quais que você trouxe?
– Os mesmos que você sugeriu, “Senhor dos Anéis” e “Harry Potter”. Todos os filmes completos, incluindo “O Hobbit” que vem antes do “Senhor dos Anéis”.
– Podemos deixar que eles mesmos escolham por quais começar!...
– Quem iria imaginar que esses filmes mentirosos, não eram tão mentirosos assim... – _respirando fundo_
– Me diz uma coisa, Ladina: esses nomes que o Christiano declarou, não fazem parte dos livros que você trouxe da Terra?
– Fazem sim! – levantei para pegar os livros – Há vários livros que ganharam uma versão nos cinemas. Alguns, mais de uma releitura. Para que pudessem se adaptar melhor para o público alvo em questão.
Terminamos de comer com eu falando da relação entre livros e cinema. Depois descemos quase todos (Agýrtis terá de se contentar com o meu not se quiser ver alguma coisa) e começamos a preparar tudo.
Aproveitei para questionar os gatos, se eles podiam instalar uma daquelas super baterias no meu quarto para que eu pudesse ter mais de uma hora (que era o meu máximo) de tempo com meu not. Pena que vai me custar uma seis mil maanas... Erika, minha mãe e eu nos concentramos na cozinha, preparando pipoca para todo mundo.
E mesmo depois de explicar como tudo funcionaria para aqueles que fariam a primeira sessão, eles insistiam em ficar falando durante o filme, atrapalhando de prestar atenção no conteúdo. Meu irmão pausou o filme umas três vezes para dar bronca naquele povo que só ficou quieto de verdade, quando foram ameaçados de serem expulsos do salão. Nas sessões seguintes, não houve os mesmos problemas. Alguns que participaram da primeira se juntou às próximas para conseguirem entender o que os tagarelas não deixaram. E nem por isso deixou de ser um sucesso.
No dia seguinte, a Tomoe me “sequestrou” antes mesmo que eu terminasse o café da manhã, e só me liberou quando estava para dar a hora do almoço. Ela me deixou um bagaço depois do seu treino. Certeza que me fez compensar cada minuto de folga com ela. Ainda bem que o Ezarel tinha uma poção pronta para mim com ele ou a minha mãe tinha dado um chilique no meio de todo mundo.
Recuperada as forças após o almoço, era hora de preparar o salão para o cinema outra vez (já que as analises dos engenheiros só ficaram prontas há poucos dias atrás, e o pessoal ainda está organizando os materiais para as reformas). Erika explicou sobre os filmes que pretendíamos apresentar primeiro e o porquê, e que seriam eles quem escolheriam qual saga transmitiríamos primeiro: “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”; “Harry Potter”; e “Crepúsculo” (com tantos filmes sobre vampiros e lobisomens, o Gabriel tinha que escolher justo esses?! Tá certo que os lobisomens dali estão mais próximos dessa realidade, mas a qualidade de história não dá nem pra comparar com a dos outros!).
Depois que a Erika terminou de explicar sobre o conteúdo das histórias (sem dar spoiler) e alertar que, independente de qual série fosse escolhida, alguns poderiam se sentir ofendidos com a forma com que suas raças estariam sendo representadas nas historias, os fizemos escolherem por qual saga começar.
A votação entre Tolkien e Rowling ficou acirrada, mas Potter venceu e por isso seria o primeiro. Depois seguiríamos com a terra média e encerraríamos com os vampiros. Não teria repetição de filme. Mas faríamos pausas no meio dos filmes (máximo de dez minutos) e durante os créditos. Quem não tivesse voltado do banheiro, do reabastecer dos lanches ou do esticar das pernas dentro do tempo limite, que perguntasse para o vizinho o que foi que perdeu.
Esperamos meia hora para começar com o primeiro filme para que todos se preparassem o melhor possível.
Assistimos o primeiro filme sem problemas. Quase ninguém atrasou pra retornar dos intervalos. Começamos o segundo filme, e quando chegou na cena em que o Dobby diz o que ele era... O salão todo caiu na gargalhada! As expressões dos elfos variavam, mas foi o Ezarel quem ficou mais irritado e ainda fez escarcéu. Tanto que meu irmão pausou o filme para poder aplacar o alquimista...
Com tudo um pouco mais calmo (e com Erika dando spoiler sobre os elfos de Tolkien), retornamos aos filmes. Foram apresentados quatro no total, e seguiríamos com os próximos no dia seguinte. Muitos foram os que me questionaram sobre a forma com que eu enxergava cada um deles, para saber se eles, em minha visão, eram de alguma forma parecidos com o que aparecera nos filmes. Coitado do Chrome ao saber que eu o enxergava quase igual ao professor quando transformado... Só um pouquinho mais encorpado.
Ao todo, gastamos cinco dias para passar todos os filmes das sagas. E os cinco dias foram quase iguais ao que demos início a Harry Potter. Com Tomoe me massacrando em treinos durante a manhã, e eu ajudando no cinema à tarde. Mal tinha percebido que minha mãe já estava seguindo a moda eldaryana, dentro dos padrões de beleza dela. Padrão esse que parece estar rendendo para a Purriry.
Todo mundo amou o bruxinho, mas foram as aventuras dos hobbits o que de fato lhes prenderam o fôlego. Quanto a Crepúsculo... Acredito que o motivo dos poucos vampiros que continuaram assistindo, era saber quantos absurdos mais haviam sido inventados sobre sua raça. Ninguém gostou muito da versão purpurina dos seres noturnos, mas os lobisomens gostaram de sua versão, uma vez que era a mais próxima deles. E a menos que eu esteja muito enganada, esses filmes renderam novas ideias aos purrekos.
Quando o povo soube que eu tinha os livros das historias mostradas, apareceu um mar de gente querendo eles emprestados. Confesso, não tenho a menor vontade de deixar os meus livros nas mãos desse povo todo. Tanto que pedi pro Christiano dar um jeito de comprar e trazer pelo menos um livro de cada dos apresentados nos filmes, nem que fosse da versão mais baratinha. Aí o Kero, ou alguém da confiança dele, faz umas duas ou três cópias de cada um, e os meus ficam a salvo.Lance
Dividir o mesmo quarto que a Ladina é mesmo cheio de vantagens. Pra começar, eu tinha prioridade na leitura dos livros dela, e eu podia assistir a qualquer um dos filmes por meio do notebook dela. Ainda mais com ela se recusando a emprestar mais de um livro ao mesmo tempo (me deixando claro onde estava o seu ciúme dragônico).
Mas uma coisa eu ainda não consegui entender direito: como a Ladina conseguiu continuar gostando de faerys enquanto crescia, com os pais que ela tinha? A senhora Helena estava se mostrando um desafio à lógica por se recusar a crer, com tudo que estava bem na sua frente. Lembro que quando fui interrogado na Terra, quando meu irmão e eu estávamos juntos de quase todos os homens da família no “quarto da bagunça”, eu cheguei a questioná-los se eles acreditavam em alguma lenda, mencionando algumas raças faerys como exemplo. A rejeição quanto à nossa existência era bem forte em todos eles. E ainda nos chamaram de “bestas” por “acreditarmos nessas coisas” _suspiro_.
Huang Tomoe não pegava nem um pouco leve nos treinos que dava para a Ladina. E ainda fazíamos o possível para que a Helena não a visse nem durante, e nem depois desses treinos. Não antes da Ladina estar mais ou menos recuperada.
Estava sendo tão difícil lidar com a Helena, que nem lhe elogiando o visual, ela deixava de me olhar com ódio. Algumas pessoas até que desconfiaram disso, mas deixaram pra lá ao dizermos que ela apenas “não gostou muito” de saber tudo o que a Ladina passou, especialmente ao saber que eu era um dos guarda-costas dela (detalhe esse que ainda me surpreende).
Absol se mantinha perto de mim, só observando a Ladina e a família dela. Choramingando. Eu não entendo essa tristeza dele. Se ao menos ele estivesse sendo odiado que nem eu, até que ficava quieto, mas ele parecia estar com medo de chegar perto da Helena! Pois ele nunca tinha tido receio de se aproximar da Ladina ou do Christiano daquele jeito.
Enquanto os filmes eram apresentados, eu ficava lendo os livros correspondentes. Ação essa que me deixou bem claro o quê os faelianos quiseram dizer sobre os filmes não serem capazes de repassar toda a história dos livros. Só tive tempo de ler a pedra filosofal e vi que faltou coisa demais no primeiro filme!
– Agora que os filmes acabaram, quanto que vocês pretendem voltar pra casa? – questionava o Christiano, vendo-o arrumando tudo com os outros.
– Está preocupado com minha mãe e eu ou só quer voltar a ter um pouquinho de paz?
– Um pouco dos dois?
– _suspiro_ Olha, sujeito. Eu sei que a véinha não está te facilitando em nada, mas continue engolindo pois você bem que merece!
– Acho que prefiro o mingau do Karuto aos maus tratos dela.
– Vixi!! Tive o azar de provar aquela coisa. Mas esquenta não!... Já tinha conversado com a Benelli e com a Miiko e, se der tudo certo, partimos de volta depois de amanhã.
– Vocês vão partir cedo.
– Como sempre fiz. E é até melhor, pois assim sempre chego na Terra de dia. Meu lamento é não poder levar a Toby comigo, coitada...
– Será que sua mãe vai reagir bem ao Absol? Sabe ao quê me refiro.
– Não sei. Esse cachorrão tá muito esquisito. Tem certeza que não aconteceu nada com ele durante a viagem do deserto?
– Absoluta. – declarei o ajudando com uma caixa pesada – Ele usou muito de sua umbracinese por lá, mas nada que explicasse o seu comportamento. Até parece que ele já conhecia a Helena!
– Ou que adivinhou como ela era, de tanto observar a Doida!...
– Quem é doida? – a Helena, mais a Ladina e a Erika, saíam da cozinha.
– Essa aí que está do seu lado, mãe. Já acabaram por aí?
– Sim. E estou indo tomar banho para poder passar aquela pomada milagrosa. Enchi a barriga de pipoca e por isso não vou comer mais nada hoje. Amanhã será um dia cheio e me pediram para ir cedo até a sala da pedra gigante.
– Devem estar querendo lhe apresentar o Ritual de Maana. – comentei.
– A tal reza que me disseram estar mantendo esse mundo de pé?
– Esse mesmo, mãe. Sabe se vai ter muita gente assistindo, Lan? – não foi fácil, mas consegui fazê-lo parar de me chamar por apelidos. Acho que ele teve é pena de mim.
– Não fui informado de nenhuma reunião, então... Os participantes e a parte da Reluzente devem ser os únicos que estarão presentes.
– Beleza. Como você tá preso à Doida, não vou lhe pedir pra ajudar a levar essas coisas. Tomara que quando vir de novo, já tenha uma sala fixa pra toda essa bagunça.
– Você não é o único! – declarou quase todos que estavam ajudando.
– Vou indo, filho. Termine logo de levar essa bagunceira pro depósito da bode maluca e tome o seu banho, que você precisa descansar.
– Pode deixar, mãe. Logo, logo estou no quarto.
– É bom mesmo. – declarava ela já se retirando sob a guarda da Erika.
Os que ficaram pra trás acabaram por respirar fundo. A Helena não estava dando brecha de confiança para ninguém! Christiano foi levar o que podia pra fora do salão com os outros, e a Ladina e eu retornamos para o quarto. Lá, Ewelein estava com Agýrtis, que jantava com o auxilio do golen.
– Como está a sua adaptação à rotina, Agýrtis?
– Bem, eu acho, Mestra. Graças ao plano dos elfos, estou começando a poder dar um pouquinho de atenção às outras coisas.
– Atenção suficiente para remover uma cápsula, se necessário?
– Atenção suficiente para conseguir se focar em uma conversa, senhorita Ewelein.
– É um começo. – declarou a elfa se erguendo para ir ao banheiro.
– E como estão indo as suas “luzes”, Agýrtis?
– Estão crescendo, Mestra. Não adquiriram uma forma específica, mas estão crescendo. – ela verificou a esfera com receio de tocá-la, e uma expressão curiosa.
Após o retorno da elfa, a Ladina foi banhar-se e eu fui depois. Ewelein e Ezarel intercalavam as noites entre si para acompanharem o evoluir da “gestação” de Agýrtis, sendo esta noite a vez da Ewelein. E sabe de uma coisa? Estou começando a sentir saudades do tempo em que a Anya era a única pessoa com quem dividia a presença da Ladina neste quarto.Cris 2
Finalmente os filmes acabaram. E acho que não vou querer ver uma pipoca tão cedo outra vez. Mi Madre disse que o dia de amanhã seria todo para se preparar pra voltar para casa, e que havia feito um monte de encomendas para isso. Dona Helena realmente transformou a moda de Eel...
Eu ainda não sei bem como lidar com o Agýrtis e sua “gravidez”, mas estou rezando para que tudo dê certo pra ele.
Acordei antes de todo mundo (isso se o Gelinho-golen for desconsiderado), começando a querer clarear o dia. Ewelein descansava em uma cama portátil que estava à frente da cama de Absol. Eu queria levantar sem acordar ninguém, mas eu estava no meio da cama e Lance me abraçava _suspiro_. Tentei me soltar dele, mas o atrevido começou a tocar em lugares indevidos.
– O que pensa que está fazendo?! Perdeu o juízo?? – sussurrava pra ele.
– Estou com saudades de você... – sussurrava ele ao meu ouvido.
– Pode parar. Nem na cama estamos sozinhos.
– Juro que serei silencioso. Fechamos as cortinas por causa da Ewelein e só ignoramos o Agýrtis.
– Céus! E eu que me achava devassa... Tu não havia dito que não gostava de “plateia”?
– Admito que minhas “ideias” são bem menos absurdas que as suas. E Agýrtis até participou de nossa última “aventura”. Acha mesmo que ele não assistiu nada do tipo durante a vida dele?
– Misericórdia, meu Pai...
– Eu, sinceramente, não me importo. – declarava o Agýrtis no mesmo volume da gente, me assustando – Não vou negar que o quê o Lan mencionou, é de fato verdade.
– Você já fez o quê?!
– Foi em algumas das vezes que liguei minha vida à de outras pessoas. Desde que não fosse uma ameaça para mim, eu deixava que fizessem o que bem desejassem. Incluindo acasalamento. – _boquiaberta_.
– Mas... E quanto às gestações? Você impedia os casais de terem filhos para se proteger? – acabei questionando enquanto lhe observava a “barriga”. Agýrtis, que estava de costas para mim, se virou para o meu lado.
– Isso dependia, Mestra. Se ambos os lados desejassem de verdade uma criança, eu os ajudava. Eu recolhia “as sementes” para colocar eu mesmo dentro do “receptáculo” e assim auxiliar com o nascimento.
– Você fazia inseminação artificial?
– Perdão?
– Este é o nome dado ao procedimento usado para engravidar mulheres que possuem dificuldade em fazê-lo naturalmente. Em alguns casos, nem esse procedimento ajuda.
– Entendi. Acho que era isso sim.
– Você disse que nunca passou por uma gestação antes, então isso significa que toda vez que realizou esse processo, estava tomando o lugar do marido? – questionava o Lance.
– Houve duas vezes em que eu assumi o lugar da mulher, e não me foi fácil não deixar faltar nutrientes para elas e as crianças. E antes que pergunte, não, eu não sentia nada que fosse relacionado aos movimentos do bebê. Essa era uma sensação totalmente pertencente à mulher que assumia. Cheguei até a mudar o esconderijo delas para facilitar quando o parto acontecesse. Momento esse que planejava tudo o que fosse possível para garantir a segurança e saúde de todos.
– E você nunca foi descoberto? – (isso deve ter dado trabalho...)
– Só uma vez. – Lance e eu erguemos a cabeça dos travesseiros – O filho pequeno, mas inteligente o bastante para guardar um segredo, de um homem que havia assumido, me seguiu até o corpo do mesmo. Fiquei muito surpreso quando ele nos viu. “Mas o quê está acontecendo?!”, foi o que ele me questionou.
– E o que foi que você fez? – perguntamos quase juntos.
– Lhe expliquei quase tudo. Aquela era uma vila de povo pacífico que se isolava por escolha própria, e ninguém sabia nada sobre minha raça. Quando terminei de esclarecer que era eu quem mantinha o pai dele vivo, e vivendo no meu lugar, ele me pediu para que o ensinasse tudo o que sabia sobre curar. Não só para impedir que outros ficassem no mesmo estado que o pai, como também para tentar descobrir uma forma de acordá-lo. Ensinei tudo o que eu podia a ele.
– E esse menino nunca te trouxe problemas ou coisa do tipo?
– Não exatamente a mim, Lan. – nós dois ficamos “??” – Como eu disse, a vila de Gil se isolava por conta própria, e por isso, o conhecimento deles era bem limitado. Tive que me aproveitar do corpo de uma pessoa que morreu enterrada viva, e que mudei de local, para provar que o garoto não estava “ressuscitando” ninguém quando a senhora que ele ajudou não tinha morrido ainda. Que ela ainda estava viva e a pessoa que eu encontrei “por acidente” era a prova. Os pais de Gil tinham um orgulho legítimo dele. Ele era conhecido até mesmo como O Milagreiro, na vila.
– Caramba!... Mas ele chegou a conseguir te separar do pai dele?
– Olha, Mestra... Eu até que cheguei a pensar isso, mas não. Por mais que ele me surpreendesse, ele não conseguiu tal feito. A senhora e os dragões foram os únicos que conseguiram até agora.
– Entendi... Deve ter sido difícil para esse Gil...
– Foi difícil para ele lidar com a morte do pai, mas graças a ele, a vila parou de se isolar e muitos decidiram seguir os passos de Gil. Levei seis luas para colocar todo o meu conhecimento em registros, para auxiliar Gil e os demais.
– Quanto tempo tem isso, Agýrtis?
– Não me lembro mais, Lan. Mas garanto que foi muito antes de me encontrar com o kaspersky que me contou sobre a ligação que usamos.
– E quanto tempo tem isso?
– Foi bem recente, Mestra. Acho que uns... 40 verões.
– 40 anos é recente pra você?!
– _risadinha_ Existo há muito tempo, Mestra.
– Por... Curiosidade, Agýrtis: o que faria se, descobrisse-se verdadeiramente ser o último kaspersky? – eu não sei de onde o Lance tirou essa pergunta, mas o Agýrtis demorou pra responder.
– Acho... Que estaria grato por ter conhecido a Mestra a tempo. – ele acariciava a esfera que representava o conteúdo de seu ventre – Ontem a elfa questionou sobre a minha atenção. Tenho certeza que a verdadeira dúvida dela era se eu podia continuar a ensinando ou não.
– Ensinando o quê?
– O mesmo que ensinei para o Gil.
– Você lhe contou a historia como fez agora, ou ela só lhe pediu para ensiná-la mesmo.
– As duas coisas, Lan.
O quarto já estava mais claro e a Ewelein começava a despertar. Resolvemos nos levantar e começarmos com mais um dia.
Hoje era dia do Ritual de Maana, ou seja, dia de folga da Tomoe. Meus planos era de tentar aproveitar a presença de minha mãe até a partida dela. Lance, Absol e eu descemos para o salão antes que Ezarel dêsse as caras. A caminho do jardim do Karuto, nos deparamos com minha mãe e meu irmão.
– Bom dia! Dormiram bem?
– Dormimos sim, Doida. Só que eu me levantei primeiro e já comi. Tudo bem esse seu guarda ir até a Sala do Cristal comigo? Aí você come junto da Veinha e desse seu cachorrão. Ai!
– Já lhe disse para não me chamar de “véia”!
– Lan? – acabei o questionando. Lance encarou o Absol um pouco, antes de responder.
– Se Absol parar agora com esse comportamento anormal, eu o acompanho. Mas se não...
Absol pareceu reagir à condição de Lance, pois ele reagiu como se tivesse ouvido algo importante. O black-dog começou a encarar cada um de nós como se estivesse nos vendo pela primeira vez, para depois sacudir todo o corpo como se estivesse tirando o excesso de algo do corpo. Acho que ele finalmente voltou ao normal, pois não se encolhia mais diante da minha mãe.
– Parece que ele acordou agora. Vamos lá, Lan?
– Não comi ainda.
– Vamos só conferir se está tudo lugar, depois você come. Lembra da última vez que eu assisti a cerimônia? Das falhas que encontramos?
– Lembro. Vamos de uma vez. Não quero me demorar.
゚・*:.。*:゚・♡ Cap.178 ♡・゚:*。.:*・゚
Christiano
Se as sessões seguintes depois do primeiro exibir do documentário sobre cinema tivessem sido iguais à primeira, nunca mais que eu iria querer mexer com isso de novo. Como pode?! A gente explica tudo direitinho, e o povo faz como se não tivéssemos dito nada! Ahfh, mãe...
Ainda bem que foi só na primeira. Se bem... Que as reações de alguns ao conhecerem “suas raças” dentro dos filmes, foi bem divertido. Me rachei de rir com todo mundo com a reação do líder palhaço. Acho que “Dobby”, será o mais novo insulto élfico de Eel.
Tomara que essas reformas que me falaram comecem logo! Por e tirar aquela montanha de equipamentos no salão é trabalhoso demais!! E isso porque estávamos em umas dez pessoas trabalhando.
E o do gelo? Minha mãe estava pegando tanto no pé dele, que acabei ficando com pena. Tanto que nem tive vontade de ficar “brincando” com ele. Ela o insultava por mim, por ela, por meu pai, por meus tios, tias, primas, pela família toda! Já estou até vendo ele suspirando de alívio depois que irmos embora.
Mas bem, a bagunça acabou. Agora é arrumar as coisas para voltar pra casa antes do sol dar as caras outra vez amanhã.
Antes de eu trancar o quarto ontem, pra dormir, a Ewelein apareceu e deixou uns cinco potes de pomada pra minha mãe. Ela pode estar odiando este mundo, mas os remédios daqui... É outra história!
Levantamos cedo porque o ritual é feito cedo. E ainda quero dar um jeito de eu e o Gelinho colaborarmos com isso sem ninguém perceber. Tanto que nem esperei minha mãe pra comer.
Ela veio ao salão assim que eu entreguei o prato, e a Doida e seus guardiões chegaram bem na hora. Consegui fazer com que o do gelo fosse comigo até a Sala do Cristal e de quebra, o Lan conseguiu fazer o Absol acordar.
– E aí, cambada! Como estão as coisas por aqui? – perguntei já confirmando quem é que estava ali dentro, depois de ter passado pelo segurança Jamon – Tô vendo que só tem gente que sabe quem sou eu... Hua! A quanto tempo!
– É bom revê-lo, Christano.
– E é “Huang Hua”, Christiano. – retrucava a Miiko. Torci a cara pra ela.
– A senhora também faz questão dessas formalidades?
– Sinceramente, eu não me importo. Mas as pessoas podem reagir do mesmo jeito que a Miiko. Principalmente o Zif.
– Quem é esse Zif?
– É o Feng Zifu. Ele é tipo um mordomo chato, formal pra caramba, mas que ama seu protegido de coração.
– E onde que esse senhor está agora, Erika?
– Na cozinha. Ele se ofereceu para ajudar em algumas coisas. – me explicava a Hua.
– Mas e quanto a vocês dois? Por que não está junto da Cris, Lan?
– Para que eu e o Christiano possamos fazer a nossa parte sem erguer muitas suspeitas. A Ladina está comendo com a mãe dela.
– Ótimo. Isso nos facilita. – Leiftan se erguia – Peguem vocês dois. – nos entregava um par de bastões pra cada – Ficarão responsáveis de reforçar os traços. Mais fácil que ficar procurando e consertando falhas.
Lance e eu nos encaramos e depois fomos até o desenho. Eu assumi o lugar do loiro e ele o do irmão. Mas ô giszinho sem vergonha aquele. Não risca nem a pau! Mas apagar? Hunf. Apagar era facinho, facinho. Não é à toa que eles demoram tanto pra fazer aquele desenho onde os únicos que riscam de verdade são os que irão participar.
– Preciso voltar. Já me demorei demais aqui e ainda não comi. Terminem vocês. – declarou o do gelo, entregando o giz pro irmão. Nevra o acompanhou até a saída.Cris
O Gelinho e meu irmão sumiam e eu e minha mãe nos dirigimos pra cozinha. Lá dentro, reparei de cara no monte de panelas chiando e pessoas trabalhando.
– Vai acontecer uma festa e não estou sabendo, Karuto?
– Bom dia, Rainha! Hehehehe, logo irá saber. Onde está seu guardião?
– Meu filho o arrastou consigo para o Cristal. E parece que o senhor finalmente aprendeu a se vestir em uma cozinha. – coitado do Karuto... Ficou vermelho com a “bronca”...
– O que a senhora quer dizer?
– Feng Zifu?! – me surpreendia – Quando chegou em Eel? Huang Hua está com o senhor?
– Eu a deixei sob os cuidados de Miiko e chegamos em Eel com a aurora. Precisavam de auxilio na cozinha e cá estou. Quanto à minha pergunta...
– Esta comigo é minha madre, Helena. Ela meio que ensinou algumas coisinhas ao Karuto que meio que transformou a comida do QG.
– Entendo. – alguns segundos de silêncio se seguiram.
– Vocês vão comer no salão ou lá fora? Sabem me dizer se o Lan vai demorar a aparecer?
– Está uma manhã bonita então prefiro comer no seu pomar. Quanto à peste, ele pode passar fome hoje.
– Madre!
– Vejo que a senhora não tem qualquer afeição ao guardião dela.
– Como que o senhor se chama mesmo?
– Feng Zifu Ren-Fenghuang, ao seu dispor.
– Bom, senhor Feng, se o senhor soubesse metade das coisas que descobri só em relação a aquele crápula, o senhor me daria a razão por detestá-lo.
Vi Feng Zifu erguer uma das sobrancelhas, e para evitar de Dona Helena falar demais, fui logo a arrastando para fora. Mas não antes de Zifu nos entregar algumas torradas recheadas com omelete, acompanhadas de iogurte com frutas.
Durante a refeição, expliquei como podia quem era o Feng Zifu pra ela, e o que sabia sobre a raça de Huang Hua.
Lance chegou no fim de minha explicação e meio de nossa refeição. Minha mãe o questionou sobre o que tanto fizeram e ele apenas respondeu que estava ajudando com os preparativos do ritual. Onde minha mãe me pediu, outra, vez, para explicar o quê que eu fazia...
O Lan simplesmente engoliu a comida, e depois seguimos direto para a Sala do Cristal. Nevra e Jamon estavam cuidando da porta e, apesar da boa educação dos dois, minha mãe não abria mão de sua desconfiança para com todos.
Lá dentro estavam: Ezarel, Miiko, Hua e meu irmão, juntos e próximos das janelas. Erika, Leiftan e Valkyon, se erguiam ao redor do desenho no meio da sala. Devem ter acabado de terminar o desenho.
– Já está tudo pronto por aqui?
– Quase, Cris. Vai começar agora com as suas orações?
– É melhor a sala já estar preenchida quando vocês começarem, não?...Helena
Eu não sei que pressa é essa do Gabriel em ir ver aquela pedra gigante. Ele está me escondendo o quê? Nem me esperou pra sair do quarto! Mas de jeito nenhum que irei deixar de fazer as massagens com aquela pomada maravilhosa.
Mau reencontrei o Gabriel e dou de cara com o lagarto-gigante-que-finge-ser-homem. Mas o que eu estranhei mesmo foi aquele cachorro fumacento, que deixou de agir como um chorão, e passou a agir como um cão de guarda, antes da criatura se mandar com Gabriel.
A cozinha estava agitada, e logo nos deparamos com um senhor chinês, após conferir que o bode estava decente para se trabalhar em uma cozinha hoje. Cristinne deve estar querendo evitar confusão, ou não teria me empurrado pra for quando disse que preferiria comer ao ar livre.
E quem diria que existiam outros seres capazes de se misturarem aos humanos, sem levantar suspeitas, além dos “anjos” e dos dragões. E falando em falsos répteis, logo o miserável apareceu para comer com a gente. Aproveitei a chance para saber mais sobre a tal cerimônia, antes de irmos para o local.
No salão em que ficava a pedra, só vi meu filho, os líderes dessa torre, os participantes do tal ritual, e aquela morena que foi pra minha casa.
– A senhora podia ter sido um pouquinho mais honesta, não é não? – falei para a morena.
– Sinto muito, senhora Helena... Admito que nunca me senti bem ocultando a verdade para ninguém, mas, infelizmente, foi um ato necessário. Te peço perdão. – imediatamente ela se curvou diante de mim, me deixando bem sem graça.
– Tudo bem! Tudo bem. Se erga, por favor. Entendo que se vocês não tivessem me contado aquela meia historia, jamais que iria admitir que minha filha voltasse para este inferno de mundo.
– A Miiko já me repassou a sua opinião sobre o nosso mundo e... Bom, acho que não tenho o direito de criticá-la, mas... Julgar algo sem o conhecer direito, sempre será uma fonte de problemas.
Parei um momento. Em casa, na Terra, aquela mulher se mostrou alguém muito mais sábia do que sua aparência indicava (quantos anos será que ela realmente tem?), e todos os conselhos que ela dava eram sensatos e precisos. Talvez, eu esteja mesmo me precipitando sobre os seres deste mundo. Pelo menos com a maioria.
– Pode até ser que você esteja certa, mas, até o momento, tudo o quê eu vi e ouvi não foi o bastante para me convencer do contrário ainda. – declarei olhando de relance, para minha filha e o sujeito perto dela.
– De fato o Lan é um problema. – se pronunciava a Mico, que estava ao lado da Hua desde o começo – Mas a Cris está realmente conseguindo dar um jeito nele. Sinceramente, eu a invejo. Já perdi as contas de quantas vezes tentei conversar com ele, e sempre terminou em nada.
– Eu ainda não entendi o que foi que ele viu nela. Antes, estava disposta a tratá-lo a pão-de-ló, mas depois de descobrir quem que ele é? Ele pode morrer que não irá fazer falta.
– Enquanto a Cris não conseguir terminar com o Cristal, isso não pode acontecer. Ele TEM que garantir que ninguém consiga machucar a Cris. Impedir qualquer um que a atrapalhe de salvar o mundo que ele mesmo tentou destruir um dia.
– E quem foi que determinou isso, Hua??
– O destino, talvez? Ninguém gostou muito dessa historia. Christiano mesmo só não o atacou porque tinha um pouco de bom senso.
– Ainda bem. Não consigo vê-lo dando uma corça naquele crápula, depois de ver o que ele é de verdade.
– Madre! A senhora quer vir rezar comigo? Uma vez o Lan comentou que a senhora possui a mesma habilidade que eu.
– Que habilidade?? – perguntei me aproximando de minha filha e deixando as criaturas para trás.
– A de emitir maana. Não tem muito tempo que ela finalmente aprendeu a controlar isso. Se bem que ainda precisa aperfeiçoar um pouco...
– Vê se larga do meu pé, mané. Você vai ver, quando menos esperar já terei aprendido direitinho a absorver a maana que crio, e a impedir que ela extravase sem eu ver.
– Eu não duvido, mas só se você parar de querer ficar fugindo dos treinos. – pela cara feia que ela fez, ele não estava exagerando.
– Você tem certeza que eu sou capaz disso aí? Nunca percebi nada de diferente no meu dia-a-dia.
– Não percebe porque nas cidades há pouca maana! Ao menos na que a senhora vive.
– Sei.
– Mas então, a senhora me acompanha ou não? – encarei aquela pedra enorme com a Cristinne se ajoelhando diante dela, e pensei enxergar alguma coisa dentro dela.
– Tem algo no meio dessa pedra?
– Reze comigo e a senhora descobrirá. Se bem que nem precisa rezar junto para poder descobrir. Basta assistir a tudo.
– Tá, eu rezo com você. Mas você não reza para o que eu pensei enxergar aí dentro não, né?
– _risinho_ Madre!... Eu rezo para a Virgem Santíssima e pro Nosso Senhor. Talvez para alguns santos e anjos, mas mais que isso, não.
– Tá bom. Puxa a reza.
Começamos nos persignando. As orações que ela fazia eram realmente normais. Mas não tinha como eu não perceber aquela sensação de calma e paz que surgiu enquanto orávamos, o que me aliviou um pouco. Só que, o que eu não esperava, era ver uma “mulher” (que me parecia familiar) sair de dentro da pedra e ficar abraçando a Erika, depois que aqueles três começaram.
Eu encarei aquela criatura, tentando lembrar de onde eu já a teria visto. Nem estava prestando atenção direito na reza. E uma outra “mulher”, que mais parecia uma versão negativa da que saiu do Cristal, resolveu aparecer, fazendo a bola de luz da Erika crescer mais rápido (e acho que já sei onde foi que eu vi uma criatura parecida com elas...).
– São os Oráculos. Ou melhor, as sementes deixadas pelo Oráculo que venerávamos antes. – quando que a Hua chegou perto? – Já lhe foi comentado, que acreditamos que a senhora sonhou com o nosso Oráculo, quando nos contou sobre o sonho que lhe acalmou em relação à Cris?
– Estava pensando nisso agora. De fato essas duas aí lembram um pouco a criatura do meu sonho. Elas sempre aparecem?
– A Branca começou a aparecer depois que a Cris se juntou a nós. – (que susto! Dona raposa) – Mas... A Negra... Ainda estou tentando entender. É a primeira vez que ela aparece para participar.
– Há mais maana. – falava o peste – Helena está fazendo mais diferença que o esperado, mas só se ela voltar a rezar.
– Madre. – sem se interromper, Cristinne me chamava a atenção. Respirei fundo e me rejuntei a ela. Depois questiono o que está acontecendo.Lance
Ter só que contornar pra reforçar os traços foi muito mais fácil que ficar fazendo o desenho do zero (por que ninguém pensou nisso antes?). Fiz o possível para terminar a minha parte bem rápido, e tive de comer a minha refeição mais rápido ainda.
– Me diz que você fez a sua parte. – pedia-me a Ladina, enquanto observávamos a mãe dela conversando com a Huang Hua.
– Eu só queria ter como cobrar a minha recompensa. Essa historia do Agýrtis está sendo inconveniente demais.
– Oh... Meu dragãozinho está tristinho?... Preocupa não. Quando essa bagunça acabar, dou um jeito de lhe compensar. Mas nada de abusar da sorte!
– Vou tentar ser mais paciente. Quer que eu cuide de sua mãe para que não precise largar suas orações?
– Não é má ideia. Duvido nada que ela acabe se distraindo com o que acontecer. Melhor até já começarmos. Madre! A senhora quer vir rezar comigo?
Me recostei ao cristal para aguardar enquanto ela e minha sogra se ajeitavam (Será que a Helena vai fazer muita diferença no ritual?).
“Tanta que irei ter de participar também.” – (Negra?!? Vai participar como??) – “Vou ajudar a redirecionar a maana acumulada para a Erika. Minha irmã não vai dar conta de duas emissoras sozinha.” – (está falando sério?!) – “Só preste atenção! Ah, e eu sou vou me deixar visível para todos quando aqueles três começarem. E aproveite que a maana extra vai impedir que todos fiquem cansados. Quem é que consegue aproveitar uma festa, cansado?” – (que festa???).
Em silêncio, ela apenas flutuou para detrás dos rapazes e ficou esperando. Antes mesmo que eu conseguisse decidir sobre tirar ou não satisfação, a maana emitida pela Ladina e por sua mãe, me petrificaram. Era uma quantia assustadoramente poderosa! Até esqueci o que é que eu queria questionar para aquela imitação.
E o resultado final de tudo isso? De todas as esferas que vi até hoje, essa foi a maior. Superou até a da Guerra do Cristal! Tanto que todo mundo ficou meio que estático com com o nível da onda que se espalhava.
Quando voltamos a nós, os Oráculos já tinham sumido e uma trombeta soava de fora.
– O que foi isso?! Estamos sob ataque por acaso?
– Nada disso, Christiano. A trombeta está apenas anunciando o início do festival que estive planejando. Eu mandei que só a soassem depois que o ritual fosse concluído, mas não esperava esse poder todo. Quando que a Helena pode voltar? O reforço de maana dela foi inacreditável!
– Nem vem, Miiko. Mi Madre vai pra casa! Ela não precisa passar por nenhuma das provações que este lugar nos faz. Ela já sofreu o suficiente e tem uma vida para viver.
– Que festival é esse, Miiko? – resolvi questionar.
– É só um dia de festa que organizei junto com o purrekos para amenizar o estresse de todos. Claro que ele só irá durar até a hora de criança ir para cama.
– Então isso será entre oito e nove da noite. Lembro que quando pequena tinha de ir pra cama às nove, e não aceitava ter que ir dormir antes disso.
– É, eu lembro. Christiano dormia no sofá e tinha de brigar com você pra ir pra cama logo.
– Ué? O Laboratório de Dexter acabava exatamente às nove, por que é que eu iria me deitar sem terminar de assistir? Se o Christiano não aguentava, o problema era dele!
– O laboratório de quê? – Ezarel entregava as poções de energia para todos os participantes.
– É um desenho que muita criança gosta. Eu não quero isso não!
– Não estou perguntando, pegue. Já disse que não quero ver você caindo pelos cantos por não se alimentar enquanto se enfurna com a Benelli naquele cubículo dela.
– Acha mesmo que vamos querer ficar em um buraco fechado com uma festa correndo lá fora? A menos que os preços sejam um assalto, se não forem de graça.
– Será parecido com o festival que acabou interrompido pela Naytili, Miiko?
– Por exceção do fato que terá só um dia de duração e com limite de horário, e que estou rezando para que nada do tipo aconteça outra vez, Erika.
– Não temos o luxo de baixarmos nossas guardas mais do que isso. Mas isso quer dizer que só as comidas mais simples e as brincadeiras das crianças serão de graça, já o resto... Ainda bem que o caso da biblioteca não acabou com a minha carteira. – Leiftan preocupado com dinheiro??
– E como eu fico? Meu filho e eu não temos do dinheiro desse mundo.
– Eu posso te dar um pouco, Madre. E eu aproveito e pergunto pro Agýrtis se ele quer alguma coisa da festa.
– Subo com você. Também quero dar uma olhada naquela coisa, e de quebra confirmar os efeitos da pomada.Cris 2
Minha mãe e eu, mais Lance e Absol (que infelizmente não podem largar do meu pé) subimos pro meu quarto para que pudéssemos pegar o dinheiro e assim aproveitar a festa.
Se bem me lembro, a Erika disse que a tal Naytili era uma bruxa que atacou o QG no terceiro dia do último festival que eles tiveram, e que depois daquilo, fora as festas incanceláveis como o Baile de Solstício de Inverno e mais duas ou três celebrações anuais, mais as reconstruções e concertos do caos deixado pela Guerra do Cristal, Eel nunca mais teve um festival. O que significa... Que eu e minha família não somos os únicos a estarmos aproveitando isso pela primeira vez (acho melhor eu ficar esperta com os trambiqueiros). Preferi até trocar de roupa para ficar mais fácil/seguro de andar no meio do povo!
– Oh, filha!
– Diga, Madre.
– Você tem algum perfume no meio de todos esses frascos?
– Só um. É o frasco cor de rosa decorado.
– Certo... – ouvi o som de frasco sendo aberto e fechado enquanto terminava de fechar os botões de minha blusa – Até que essa garrafinha com fadinha e flores é bonitinha.
– Qual garrafinha?!
– Essa aqui. – gelei ao ver que ela mostrava a poção da verdade.
– Eu vou chamar a Ewelein... – declarou o Lance já se dirigindo ao banheiro.
– Ele vai chamar a enfermeira pra quê?
– O frasco que a senhora pegou. Não é perfume.
– O quê?!
– Esse é o perfume. – pegava e mostrava o frasco certo – O que a senhora utilizou, é a poção da verdade que usei na agua que dei quando contei toda a verdadeira história.
– Mas o frasco que você pegou no dia era muito mais pequeno!
– E a senhora quer que eu ande com esse monte de poção que de tão poderosa, só precisa usar duas ou três gotas?! Pensa um pouquinho, né, dona Helena...
– Tá, mas e agora?
– Agora acho que seria melhor a senhora receber uma ordem de restrição, assim como no dia em que chegou em Eel, e Cris, também acho que é melhor mantê-la sob observação. Ezarel ainda não terminou todas as pesquisas sobre essa poção, e é a usando que descobrimos tudo o que ela faz.
– Tudo bem, Ewelein. Vou ficar de olho. Madre, prefere receber aquele tipo de ordem de mim ou do Gelinho?
– Pode ser ele, já que está proibido de falar em público, fazendo me sentir mais segura.
– Oxi! Confia em mim não?
– Quer mesmo que eu te responda?
Ri para fugir da situação. Ewelein ajudou o Lance com o encantamento e partimos pra festa, prometendo enviar guloseimas por meio de Absol.
Lá embaixo, havia barraquinhas de todo tipo no mercado e no refúgio, sendo que as barracas costumeiras estavam com os preços bem mais baixos. Jogos, brincadeiras e pequenas competições eram anunciadas em diferentes partes do jardim, dando tempo para o povo decidir em quais participar e a se organizar. Nos apressamos em visitar todas a barracas que eram de graça, inclusive os jogos de desafio das Guardas.
– Ezarel... A Miiko te ameaçou como para você aceitar ficar de olho no Egg’Pick?
– De nada. Precisava respirar um pouquinho fora do laboratório e aceitei tomar conta do desafio enquanto o responsável de hoje faz uma pausa. Já testou as suas capacidades?
– Hoje ainda não. Esses desafios são bons para relaxar às vezes.
– Então mostre como que se sai no desafio da Absinto.
Me preparei. Contando que não houvessem trapaças ou problemas externos, eu era muito boa naqueles desafios. Só o desafio da Obsidiana que me era mais difícil uma vez que depende muito mais da sorte que da pontaria. Na primeira tentativa consegui pegar os ovos de brinquedo certos sem problemas; na segunda, consegui por pouco; já na terceira... Forcei a estrutura de modo que a rodada acabou cancelada ao ouvir o Ezarel rindo, com o jogo ficando quase que impossível de conseguir.
– Por que fez isso, sua louca!
– Ezarel. Você complicou o jogo de propósito, não é?
– Eu? Só porque você estava se mostrando mais habilidosa que os membros da minha própria Guarda? Até parece.
Acabei encarando minha mãe, que estava bem pertinho daquele elfo, e depois o Lance. Parece que ele teve a mesma ideia que eu...
– Então quer dizer, que você se incomodou com as minhas habilidades no desafio.
– Incomodado? EU?! Até parece que vou me incomodar com membros de outras Guardas que se mostram melhores do que os meus membros. Ainda mais alguém espertinha como você.
– Sabe Ezarel, mi madre me pediu pra usar o meu perfume antes de virmos pra festa, mas ela acabou pegando o frasco errado. Consegue adivinhar o que ele tinha?
– Você raramente usa o laboratório para esse tipo de coisa, como eu vou saber?!
– É uma poção sua. – Lan dava a dica.
– As únicas poções que fiz e que você tem são as do sono, a başlamadan e a... – ele começou a ficar pálido – Não me diga que...
– Se você está pensando na poção arcana que usou traiçoeiramente comigo, sim, foi ela. E vejam só! Você esteve o tempo todo grudadinho em minha Madre! Será que sem querer você a inalou?...
– Hum... Não me sinto forçado a responder nada. Talvez... Efeito de indução?
– Bem... Fique à vontade para estudar isso, mas CHEGA de ficar interferindo nos desafios!
Ele fez cara feia, mas parou de intervir. E hoje estava sendo o meu dia de sorte! Consegui duas pontuações máximas no Gem’Bomb, o desafio da Obsidiana.
Acabado ali, seguimos para as outras barracas. Nós comemos, compramos algumas coisinhas interessantes, testamos a sorte em jogos com prêmios que nos atraíram, e mais um monte de coisa. Claro, eu não me esqueci de enviar alguns quitutes pro Agýrtis, como prometi.
゚・*:.。*:゚・♡Cap.179 ♡・゚:*。.:*・゚
Christiano
Caramba! Eu não esperava que juntar a veinha e a Doida fosse fazer a Genki Dama da Erika crescer tanto assim. E mais!! Depois que a super Genki Dama se dispersou, tinha um baita festival começando lá fora! Quando foi que a raposa preparou tudo isso?
– Christiano! Estava te procurando. Que tal eu ser a sua guia durante o festival hoje?
– Oi Benelli! Me faria mesmo esse favor? Se bem... Que não teria como te pagar nada!...
– Até parece. Você me ajudou com tanta coisa, que eu poderia lhe comprar o festival inteiro e ainda não seria o bastante para lhe retribuir tamanho favor. Que acha de irmos agora? Assim garantimos os itens grátis que sempre acabam depressa!
– E ainda tem essa?! Bora lá!
Fomos correndo para o mercado. Não estava prestando muito atenção nas pessoas à nossa volta, mas tinha muita gente encarando o QG com cara de bobo. Nisso voltei a pensar naquela Genki Dama.
– O ritual de hoje me pareceu bem efetivo. Quantas vezes isso consegue se repetir? – (se é que tal coisa foi possível só com a Doida).
– Só uma vez... – (acho que toquei no assunto errado...) – Vem comigo, Christiano! Quero te mostrar uma coisa!
– Mostrar o quê?? – perguntei com ela já me arrastando e me deixando preocupado com aquela mudança súbita de reação.
– Acho que aqui está bom.
– Bom para o quê? – questionava depois de ter sido arrastado até um canto isolado das muralhas, ainda dentro dos jardins.
– Já vai ver. – respondia ela retirando alguma coisa de um de seus bolsos.
– Que bolinha é essa?
Sem me responder, ela disse alguma coisa que fez a bolinha crescer sem parar. Tentei me afastar, mas ela me impediu, e a bola só parou de crescer depois de cercar a nós dois.
– Uma Sana Clypeus noturna. – começava ela – Um tipo de barreira que impede que qualquer um de fora nos veja ou nos ouça. Vi Nevra encomendando algumas dessas com os purrekos e tive a ideia de pedir por umas também. Se ele não tivesse pedido por tantas, não teria conseguido comprar o par que tinha na loja.
– Tá e... Por que estamos aqui?
– Christiano. O quê, você é, da Cris?
– Que historia é essa, Benelli?! _suando frio_ Eu já te falei antes. Ela é com...
– Ninguém está nos vendo ou ouvindo, Christiano. – ele me interrompia e eu só consegui engolir seco (tenho como fugir ou essas “paredes” vão tentar me impedir?).
Como eu não respondia nada, ela soltou um suspiro cansado e tirou uma faca de um de seus bolsos e cortou a própria palma. Por reação, tentei impedi-la daquela loucura, mas sem que eu me desse conta, ela estava fazendo o mesmo com a minha e juntou nossas mãos feridas (ela está usando alguma coisa ou os brownies são fortes assim mesmo?), citando alguma coisa em seguida que as fez brilhar por dentro. Quando ela me soltou, não havia nem cicatriz em minha palma.
– Agora responde: o que foi que você fez.
– Um pequeno juramento de silêncio. Se por acaso eu me atrever a revelar qualquer coisa dessa conversa para qualquer pessoa que seja, cairei morta na hora. – _assustado_ – E cada suspiro de vida que eu ainda teria, seria totalmente repassado para você. É uma magia aengel muito antiga da qual poucos conhecem.
– E me surpreende você ter conseguido usar algo assim.
– Porque é preciso que um dos pactuantes seja aengel. – (P*** M****!) – Sabe, Christiano. Na prisão, havia um faery, um dragão, extremamente perigoso preso por lá. Mas. De alguma forma. Ele conseguiu escapar. – (ela está falando do Gelinho?) – Para evitar o pânico, a Cris teve a ideia de mantermos um “substituto” no lugar dele até o encontrarmos, fazendo desse substituto uma isca também. – _respira fundo_ – Não sei se a nossa artimanha estava de fato funcionando, mas Valkyon nos garantia que o fugitivo não estava deixando Eel, e muitas coisas... estranhas, começaram a ocorrer ao redor da Cris. Vários ataques aconteceram contra ela, mas sempre tinha alguém que a ajudava a escapar. Em um desses ataques, no mais ousado e perigoso de todos, conseguimos descobrir que a Cris não era o único alvo de um grupo que estamos investigando e, graças ao nosso substituto, sabemos que eles enxergam o fugitivo como uma grave ameaça.
– Tudo bem, Benelli. Eu me rendo. A Cris não é como uma irmã mais velha pra mim, ela é a minha irmã mais velha. E pode já ir devolvendo esses seus olhos pra dentro, antes que eles caiam!
– Eu estava realmente certa!... E você é...
– Um terço dragão, um terço anjo e um terço humano. Minha mãe é anjo e meu pai é dragão. E como foi que o substituto do Gelinho conseguiu descobrir alguma coisa estando preso?
– Substituto do Gelinh... O GUARDIÃO DA CRIS É O LANCE?!?!
– Já não pedi pra guardar os seus olhos antes que os perca?
– Pelo Oráculo!... Isso explica tanta coisa!... E levanta algumas questões também.
– Você... Vai mesmo morrer se abrir o bico disso tudo pra alguém?
– Vou. Mas não se preocupe porque ainda tenho muito o que viver, e pretendo viver. Queria não ter usado este encantamento, mas não estava enxergando muita escolha.
– Bom. Já que a merda já tá feita, o que mais deseja saber?
Conversamos por um tempo. Ela até chegou a questionar o meu nome, e quando eu ia lhe dizer meu nome inteiro, ela me interrompeu, dizendo que se a minha irmã fazia o mesmo, isso explicava o por quê de algumas táticas não terem sido utilizadas contra a Doida, já que era necessário o nome correto do alvo. E tá de brincadeira que a Genki Dama de hoje conseguiu superar até a que pôs fim à Guerra do Cristal!...
Um explicava o que dava pro outro, e quando a conversa acabou, voltamos pro festival. Nós dois participamos de tudo o que dava. Até competimos juntos em uma corrida de três-pernas! Apesar da gente só ter levado um prêmio de consolação. E por muito pouco que não caía na pegadinha do cozinheiro. O cara que vi pegar na minha frente parecia querer vomitar a falsa guloseima!
Benelli me acompanhou até meu quarto por volta das três da tarde (minhas malas não iam se arrumar sozinhas) e me pediu desculpas por “qualquer inconveniente” antes de ir cuidar de si. C******. Ainda bem que sou brasileiro, porque viver nesse mundo não é pra fracos não.Cris
Apesar da “quermesse eldariana” estar ótima, minha mãe ainda precisava arrumar as coisas dela para voltar pra Terra amanhã. Então... Quando deu umas três, quatro da tarde, acompanhei ela até o quarto e depois segui pro meu para poder tomar um bom banho relaxante, e assim aproveitar melhor os eventos “noturnos”.
– Oi Agýrtis! Aproveitou as guloseimas? Gostou mais de qual? – perguntei trancando a porta.
– Bem vinda de volta, Mestra. Estava tudo muito bom, mas... Me senti estranho com o cheiro de morango-pistache.
– Estranho como??
– Ao que tudo indica, ele ficou enjoado, Cris. – respondia a Ewelein – E muito obrigada pelas guloseimas. Se divertiu?
– Acho que aproveitamos bem, depois de ter dado um jeito no Ezarel.
– Como assim?
– Seu chefe estava como responsável dos desafios de Guardas hoje, e tentou sabotá-la.
– Vou ter que puxar a orelha dele de novo. Consegue adivinhar quantas vezes a Miiko o puniu por isso, Lan?
– Conhecendo ele? Aposto que mais de mil.
Um riso escapou de todos. Fui pro meu banho e ouvi Lance contar todo o nosso passeio pros outros. Logo Ezarel apareceu para substituir a Ewelein, e tomar uma bronca da mesma.
Se bem me lembro, disseram que iriam encerrar o festival com uma dança tipo quadrilha ao redor de uma grande fogueira. Acabada a dança, todos poderiam se dispersar. E parece que o Karuto preparou algo especial para ser servido pra aqueles que não quisessem dançar.
Esperei Lance tomar o banho dele e descemos outra vez.
Como festa para mim é sinonimo de comida, fomos direto para o salão descobrir o que é que o Karuto estava aprontando. Todo mundo por quem eu passava, e que ia comer como eu, só falavam sobre ele estar servindo alguma coisa de nome estranho e que descobri ser uma espécie de sopa. E parece que o prato foi aperfeiçoado, pois tinha muita gente elogiando (terá sido os livros ou as aulas de minha mãe? _risinho sapeca_).
– Que tal darmos uma olhada na fogueira? – convidava-me o Lance após eu estar satisfeita.
– Está curioso com o quê, exatamente?
– Se consigo te fazer dançar um pouco.
– Como é?!
– Me deu vontade. Apesar de desejar isso sem o uso dessa máscara.
– Acaso estou tendo um pequeno deslumbre de seu lado romântico? Você está sempre evitando qualquer sinal de carinho em público por causa dessa máscara.
– É um festival. Ninguém comum irá desconfiar.
– Comum?
– Duvido que os sinestestas de Eel não tenha percebido nada. – _corada_ – Aceita ou não?
– Sabe que sou ruim de dança... – sussurrei.
– E eu sempre sei como guia-la bem.
Ele me estendeu a mão, que aceitei com nervosismo (por que raios sempre fico assim?). Sem presa, seguimos do Jardim Secreto para os jardins próximos ao caminho dos arcos. A visão me fazia lembrar de cenas medievais, cenas de animês e de festas juninas.
– Este está sendo mesmo um ótimo festival, não concorda?
– Oi? – questionava ao senhor que falava bem ao meu lado.
– Você e seu guardião não vão dançar? Do jeito que estão acontecendo as coisas, é possível que demore para que tenham outra chance tão pacífica.
Corei. E também me lembrei do que Lance havia tido (será que esse senhor é sinesteta??). O senhorzinho se afastou com um riso brincalhão e fiquei o observando até o perder de vista entre os acentos.
– Que tal aceitarmos a sugestão daquele senhor?
– Não reclame se acabarmos pagando mico.
– Nem pato, nem mico, e nem nenhum outro mascote terrestre. Vamos?
Funguei um riso e aceitei. Não sabia bem como fazer aquelas danças, mesmo depois de ficar observando os movimentos dos outros, mas com a ajuda do Lance, consegui me virar nos trinta. Acabei me divertindo mais do que esperava. Nem vi quando caí na cama!Agýrtis
Finalmente estou começando a entender o que me acontece. Se não fosse pela rotina que os elfos me impuseram a seguir, eu ainda estaria perdido. Sabia que a presença de uma vida em ventre causava mudanças, mas não esperava que fossem tantas. E nem sei bem explicar o que é que estou sentindo com tudo isso.
Descobri o que é cansaço. O que é fome. O que é sede. O que é ter necessidade de algo. Antes, eu percebia quando algo não estava certo com aqueles que eu assumia a identidade, e analisava o que lhes era necessário para o reestabelecer do equilíbrio físico, mas nunca cheguei a sentir, propriamente dito, suas necessidades. Será impossível esquecer tudo isso...
Ainda estou surpreso por não ter conseguido comer das tortinhas de morango-pistache por causa do cheiro da fruta!
Quando ficou escuro o suficiente para eu estar na janela sem ser visto, fiquei observando o festival. Não tive dificuldades em identificar minha Mestra por causa da armadura de seu companheiro, fiquei até com um pouco de vontade de participar da festa ao observar todos se divertindo. Não é porque eu assumia a identidade dos outros que eu não aproveitava as festividades das quais participava.
Tudo parecia transbordar diversão e alegria. Foi até uma pena quando a música, que quase não chegava ali em cima, cessou de vez. Só não fiquei mais triste porque o sorriso largo que as pessoas sustentavam ao se recolherem, me acalentava.
– Finalmente a festa acabou! Agora vou poder pedir o relatório da poção com a Paladina.
– Acha mesmo que a Mestra vai querer falar disso agora, senhor Ezarel?
– Ela provavelmente ficou o tempo todo comendo, então não vai estar nada cansada.
– Ela dançou com o Lan por um bom tempo.
– É O QUÊ?! Aquele lagarto de gelo...
– Por que irritar-se? É um festival! Eles tem o direito de aproveitar. Não é verdade?
O elfo quis resmungar, mas não disse nada. Afundou-se na poltrona furioso e lá ficou. Não demorou e minha Mestra e Lan chegavam no quarto.
– Divertiu-se?
– O sufi... _bocejo_ ...ciente, Ezarel.
– Será que posso ouvir sobre os efeitos da NornsVisdom? Ou está cansadinha demais para isso...
– Se eu quiser acordar cedo para me despedir de mi madre amanhã, sim, estou “cansadinha” sim. Que foi que mordeu esse elfo, Agýrtis? – ela questionava do banheiro.
– Não sei. Acho que as músicas o incomodava, e não gostou de saber que a senhora estava se divertindo.
– Azar o dele. – o elfo começou a resmungar enquanto ela se ajeitava na cama – Lan, poderia arrancar uma orelha desse elfo se ele começar a me encher a paciência? – um sorriso malicioso surgiu no Lan, e o elfo ficou pálido – Mas sem derramar sangue!
– Hum... Acho que consigo fazer isso se as congelar antes.
– DE JEITO NENHUM! E estou sabendo que você e a Paladina estão planejando alguma experiência maluca. Não vou ajudá-lo se precisar de mim! – declarou o elfo, de pé, ainda assustado, fazendo com que o Lan desanimasse e se deitasse. Ezarel se deixou cair na poltrona aliviado.
Todos adormeceram rápido, mas eu fiquei observando o céu noturno um pouco mais. Passou um tempo, e quando me decidi por descansar, a Mestra começou a brilhar! Ela levantou da cama agindo como se estivesse no controle de algo ou alguém, indo direto para fora.
– Mestra?
– Conto com o seu apoio, Agýrtis. – declarou ela antes de sair descalça e largando a porta aberta. Encarei meu “golem” que me observava.
– Siga-a e não se deixe ser visto. – lhe ordenava – Ajude-a se necessário, ficarei aqui e acordarei os outros.
Ele obedeceu após uma reverência.Cris 2
Estão de brincadeira... Qual é a dessa vez? Por que raios eu acordei daquele jeito? E pra onde que esse cristal maluco está me fazendo ir? Ainda bem que Agýrtis me chamou, ou era arriscado a eu ir não sei pra onde, sem conseguir avisar ninguém.
Tentando entender o quê que acontecia, observava tudo por onde o cristal me levava. Não parecia ter ninguém acordado. Eu até que consegui parar algumas vezes, mas logo o cristal me fazia continuar andando. E só andar! Se eu tentasse me agarrar em alguma coisa... Era como se algo estivesse me segurando de fazê-lo. Desci a torre inteira sem muita pressa.
Ainda refletindo sobre o quê que significava aquilo tudo, consegui minhas respostas ao adentrar a Sala das portas. Esse bando de cabra-da-peste finalmente deu um jeito de usar um de meus pontos fracos contra mim! Bem no alto das escadas, já na porta da torre, três encapuzados filhos-de-uma-santa-mãe prendiam e forçavam um contaminado a me arrastar junto pra eles. Aquilo me deu uma raiva... Era por isso que eu não conseguia parar de avançar!... E aposto que eles deram algum jeito nos responsáveis pela segurança depois do festival, isso se não estiverem usando o contaminado (que deve estar sob efeito de poções) como desculpa-esfarrapada para fazerem o que bem entenderem. É impressão minha... ou eu conheço esse brownie?
Abandonar aquela pobre alma eu não podia. E nem conseguia. Mas tentar ganhar tempo para que aparecesse alguém pra me auxiliar, isso eu podia. Reti os meus passos o melhor que podia, não me permitia ficar menos de quinze passos de distância do trio, o que parecia deixar aqueles mequetrefes nervosos. Devo ter levado uma meia hora só para atravessar o patente da entrada da torre.
Sem perder o grupo de vista, tentava encontrar o que for para me ajudar, mas não tinha uma viva-alma para me socorrer. E parece que são só esses três, porque se tem mais gente participando desse plano, está com medo de chegar perto de mim uma vez que os três eram necessários para arrastar a vítima. E um deles parecia concentrado demais em alguma coisa...
Quando eles passaram perto de uma das luzes, fiquei tão chocada com o que enxerguei que sem querer acabei me aproximando três passos. Aquele era o mesmo senhor que havia falado comigo antes de Lan e eu começarmos a dançar! O que foi que esses canalhas fizeram com ele?! E o pior: reconheci nele o mesmo olhar de suplício que vi naquele avatar na época do solstício! Será que... Não, não acredito... Mas isso... Eles não podem ser tão canalhas assim, podem? Uma contaminação forçada?! Se isso for verdade, o que terá acontecido com o “marido” daquela yukina? (é bom que aquela desmerecida não apareça diante de mim!...). Tive que respirar fundo para não perder o controle de mim e pensar em alguma coisa pra fugir daquela situação.
– Preciso de ajuda. – acabei declarando quando percebi que estávamos quase no quiosque. Quase que no mesmo instante, vi algo começar a surgir por detrás daquele grupo.
Primeiro eu pensei em Agýrtis, mas ele está praticamente incapaz de mudar de forma até onde sei, então me lembrei do golem de metal. Quando ele terminou de se “erguer”, eu estava certa. De imediato ele bateu as cabeças de dois deles uma contra a outra, o que fez o terceiro, o mais concentrado, se assustasse e deixasse o contaminado finalmente escapar deles, gritando e levando um soco no meio da cara que o enviou para o mundo dos sonhos, assim como os outros. O contaminado correu até mim, mas ficou extremamente calmo e de joelhos diante de mim, enquanto o golem derretia e sumia para não sei onde...
– Cris?! O quê... Que acontece aqui?! – questionava um colega de Guarda que chegou assim que terminei o meu canto.
– Antes de mais nada, poderia acorrentar aqueles seres ali? – apontava para os mesmos – São inimigos. Do tipo mais canalha que já vi até agora.
– O que foi que aconteceu.
Mais gente já aparecia e, enquanto explicava, eles davam um jeito nos patifes e socorriam o senhor. Não fui a única a torcer os punhos ao encarar os miseráveis.
– Isso já foi longe demais. – Lan?! – Vou ter uma conversa séria com alguns membros da Reluzente.
– Qual que você disse que parecia concentrado? – era questionada, só o apontei para todos – Agora eu entendi... Esse canalha aqui faz parte da Sombra. Ele tem uma excelente capacidade de ocultação, mas parece que mentiu sobre os seus limites.
– Mantenham ele inconsciente e avisem à Miiko e à Ewelein. É possível que alguma das duas exija a presença de Nevra ou de Ezarel, mas aí é com vocês. Estou levando a Cris de volta para o quarto e... Se possível, não deixem este incidente chegar aos ouvidos da madrinha dela. A menos que estejam dispostos a ouvir insultos como eu e os líderes!
Me segurei pra não rir. Fosse do falar do Lan, fosse das caretas que os guardiões fizeram. Minha mãe conseguiu traumatizar esse povo...
– Você está bem mesmo?
– Estou sim, Lan. Você demorou um pouquinho, não?
– Agýrtis tentou chamar o elfo primeiro, mas ou alguém deu um jeito de sedá-lo, ou aquele elfo “morre” quando está dormindo. Fui eu mesmo que dei um jeito de acordá-lo enquanto o Agýrtis me ajudava a vestir a armadura.
– Entendi. Então imagino que Ezarel já esteja se preparando.
– É mais provável que ele esteja tomando algum analgésico. Eu o agarrei pela nuca e o lancei para o outro lado do quarto. – _espantada_ – Mas isso é o de menos. Vamos indo? – assenti com a cabeça.
Como eu estava descalça, o Lance achou melhor me carregar em seus braços, levando-me diretamente para o banheiro para que eu pudesse lavar a terra de meus pés.
– Está tudo bem, Mestra?
– Está sim, Agýrtis. Muito obrigada por enviar o seu golem. É impressão minha ou sua barriga parece maior?
– A senhora também percebeu? Quando observo as luzes que surgem dentro da esfera de cristal, elas também me parecem maiores.
– Vamos deixar para falar mais sobre isso amanhã. Está tarde e era para estarmos todos dormindo. Princesa? – Lance me entendia uma mão após terminar de cuidar dos meus pés (ele devia estar conferindo se eu não tinha machucados).
Por exceção de Ezarel (que devia estar descascando o abacaxi da noite com os outros) seguimos todos para a cama, e... Aonde estava Absol??Ezarel
Aquele filho de um black-dog... Acaso ele estava tentando quebrar o meu pescoço?! Salamandra de gelo alado... Ele ainda me paga!
– Ezarel? O que faz no laboratório? Não era para você estar no quarto da Cris?
– Era, se aquele guardião maluco não tivesse tentado me matar. Mas e você, Leiftan? Que faz de pé a essa hora?
– Tentaram levar a Cris outra vez. Não lhe disseram nada?
(“Da próxima vez que alguém lhe chamar, VÊ SE ACORDA!”) Isso até que explica parte da brutalidade, já que eu podia sair pra ajudar na hora, diferente do Lance que precisava estar com a armadura. Mas espere aí.
– E Absol? Ele não ajudou? Pois não lembro de ter o visto dentro do quarto antes de eu sair.
– Acabei questionando isso também, mas no que um dos que foram capturados, após serem despertados, ouviu esse nome, entrou em pânico. Fomos obrigados a nocauteá-lo novamente para evitar um novo problema.
– E você veio aqui para...
– Minha Nonrs Visdom acabou por culpa de todos os interrogatórios que fiz após a Ewelein terminar de identificar os insetos, e por isso a Miiko me autorizou a obter mais. Isso não seria necessário se tivessem me deixado fazer os interrogatórios como eu fazia antes de ser controlado.
– Tenho medo de imaginar como que você fazia antes da Erika começar a te limitar. Mas tudo bem. O quanto a Miiko te autorizou a pegar?
– Ela me permitiu encher o frasco todo. E ela me deu um frasco bem pequeno...
– Seu frasco tem a mesma capacidade que o frasco dado ao Nevra. – comentava enquanto pegava os frascos reservas – Mas admito que os frascos das garotas tem capacidades bem maiores que os nossos. Aqui, fica com este. – entregava o frasco azul e dourado – Tem a mesma capacidade que o seu anterior. Pode até dividir o conteúdo com o outro frasco para ter sempre uma reserva. A menos que já esteja planejando por em uso...frasco azul
– _longo suspiro_ Três homens foram capturados. Depois de fazermos o mais complicados deles, e provavelmente o mentor do ataque, acordar, ele ainda parecia resistente a uma conversa. Não achamos que ele irá nos dizer o porquê do pavor de Absol sem o uso da poção.
– Acho que vou junto, ainda não estou satisfeito com as observações sobre essa poção. Sabia que é possível usa-la de modo a apenas induzir as pessoas a disserem a verdade?
– Como é?
Contei o acontecido com a mãe da Paladina enquanto íamos de encontro aos vilões da noite. Chegando lá, aquele que receberia a poção parecia bem... desnorteado.
– Ele está sob efeito de calmantes de mandrágora?!
– Sim, Ezarel. Foi a única maneira disponível de mantê-lo calmo, porém desperto.
– Não atrapalhando os efeitos da NornsVisdom é o que importa, Ewelein. E dá pra começarmos logo? Sabem que eu detesto ser arrancada da cama desse jeito.
– Podemos sim, Miiko. Dê a poção você, Ezarel, pro caso das poções não se darem bem.
– Como quiser, Leiftan...
Dei a poção sem muita resistência do cara. Fiquei atento às suas reações pois o Leiftan disse tem lógica. Após uns cinco minutos, começamos a interroga-lo.
– Quem, e como, que teve a ideia absurda de contaminar uma pessoa para que pudessem usá-la como isca para capturarem a Cris?
– Fui eu mesmo. Ouvi por acaso disserem que a Cris não consegue ter muito auto controle de suas ações, quando iluminada pelo fragmento de cristal que carrega.
– _suspiro_ Sabia que isso poderia nos trazer problemas um dia... – dizia a Miiko por todos nós – E quanto a escolha da vítima usada de isca? Havia algum motivo para escolher aquele senhor ou vocês pegaram qualquer um?
– N-nós pegamos qual-qualquer um que, que tivesse tido a-algum contato co-com a Cris. – (mais alguém reparou nesse medo??).
– Usar aquele senhor, não era o plano original de vocês, era? – questionou o Leiftan.
O rapaz até que tentou resistir, e por um momento pensei que o calmante iria perder o efeito. Sem falar que ele respirou fundo várias vezes antes de nos responder, como se estivesse tomando coragem pra falar.
– O plano original, era pra ter sido executado por quatro pessoas. Não três. – _tensão_ – E... A pessoa que pretendíamos usar como isca, para aumentar o nosso sucesso, era... Era um dos humanos. Christiano ou Helena.
– Eu até entendo a lógica. – comentei – Mas o que os fizeram mudar de ideia?
– A... A... Absol estava lá. Foi... Foi... FOI TERRIVEL!! Sabia que aquela coisa costuma proteger as pessoas de quem a Cris gosta, MAS NAQUELE PONTO?!
– Se acalme. – Ewelein e eu nos aproximamos (ele está realmente apavorado) – O que Absol fez?
– ELE ESTRAÇALHOU O HOMEM QUE ESTAVA COMIGO, MULHER!! Aquele ódio todo para proteger a Cris eu entendo, mas contra estranhos?! Fugi sem pensar duas vezes!!
Acho... Que não teve um que não tenha ficado chocado...
Miiko ordenou ao Leiftan que verificasse e o mesmo saiu na hora. Continuamos com o interrogatório, com cuidado, para não causar uma nova crise de pânico. Conseguimos algumas informações novas, mas ainda tinha muitos problemas para cuidarmos...Leiftan
Se não fosse pelo leve cheiro ferroso no ar, nunca que iria suspeitar que algo pudesse ter acontecido perto do quarto ocupado pela família da Cris. Especialmente com Absol à janela observando tudo com grande atenção (espero que aquele homem nos diga quem era o azarado, pois não estou afim de procurar desaparecidos).
Pensamos, que não haviam testemunhas, mas nos enganamos. Um morador do refúgio, com insônia, estava dando uma volta, e viu a tudo! Fugiu sem ser notado e repassou o ocorrido pro povo logo de manhãzinha. E o detalhe: ele conhecia o Lance. Boatos e teorias malucas surgiram, fazendo muitos irem atrás de Valkyon ou Ezarel para verificá-las. Isso até atrasou a partida dos faelianos.
Eu fiquei de acordá-los para partirem sem serem notados, mas os eventos noturnos me atrasaram um pouco.
– Por que é que Absol amanheceu aqui dentro?
– Acho que ele veio para cá para protegê-los, Christiano.
– Nos proteger do quê? Levei um susto quanto vi esse cachorro!
– Apareceu um contaminado nessa madrugada, senhora Helena. Já está tudo resolvido! Mas a segurança de vocês é a única explicação que vejo possível.
– A gente tá no térreo então você pode estar certo. Bora lá, mãe? Ou a senhora não quer se despedir da Cris antes de irmos?...
– De jeito nenhum irei deixar de ir vê-la, e como mesmo você disse que deixaríamos este lugar?
Acompanhei os dois até o topo, esclarecendo sobre a umbracinese de Absol para a Helena. Quando chegamos, a Cris ainda estava acordando.
– Bênção, madrezita!... Pronta para voltar para o “mundo normal”?
– Deus te abençõe. Se você estivesse junto seria melhor. Conseguiu dormir a noite não?
– Sim e não. Um contaminado acabou me despertando...
– Ah é? Bom, apenas se cuide e se livre logo do que a prende neste lugar. Ainda não sei o que vou dizer pro seu pai e os outros, mas tem chão até eu me decidir.
– Apenas tome cuidado pra não deixar brechas para a tia Eris!
– Pode deixar.
A forma como as duas se abraçaram em seguida, me fez recordar de minha mãe adotiva, e antes que eles partissem de vez, alguém bateu à porta.
– Miau! Ainda bem que consegui chegar a tempo. A senhora ia esquecendo a sua encomenda!
– Eita! E se a senhora precisar ajustar alguma coisa, mãe?
– Tem linha e tecido extras dentro do embrulho caso necessário, miau. Contanto que ela busque uma boa profissional, não terá problemas. E Cris querida, sinto muito pelas inconveniências dessa madrugada, vou dar prioridade TOTAL ao seu último pedido.
– Como?!
– Não se preocupe com isso não, madre. E lhe sou muito grata, Purriry.
– Miau!... Não há de quê. – declarou a purreka, já se retirando.
– Certo. Agora que não está faltando mais nada, que tal pormos o pé na estrada? Pronto para nos dar uma carona, Absol?
– Essa tal Toby vai vir com a gente mesmo?
– Mas é claro, mãe! Ela só não vai poder atravessar a caverna com a gente. Infelizmente.
– Ela é de Eldarya, Christiano. Não seria uma boa ideia deixa-la bagunçar com a fauna terrestre.
– Eu sei muito bem disso, do gelo. E a última coisa que eu quero é vê-la sendo despedaçada em um laboratório.
Após mais algumas despedidas e leves discussões, os dois partiram pela umbracinese de Absol. Deixando todos os problemas que temos, sem saberem que quase foram vitimas...
゚・*:.。*:゚・♡Cap.180 ♡・゚:*。.:*・゚
Cris
"* Passeava por um castelo, templo, não sei, de origem oriental. O vermelho nítido de todo o lugar fazia um bom contraste ao verde da natureza abundante que havia ali. Era fácil sentir-se em paz passeando por todos os lugares dali (apesar de não ver ninguém).
Ainda perambulando, tive minha tranquilidade interrompida pelo som alto de algo se espatifando no chão. E pelo tipo de som, algo frágil. Corri para tentar encontrar a origem do som, encontrando, de acordo eu chegava mais perto (imagino eu), pessoas com vestimentas que pareciam orientais.
Ao chegar na origem do som, tinha um monte de gente cercando um trio de meninos e o que um dia devia ter sido um belo vaso.
– Mas eu já disse, não fui eu! – declarava um menino franzino da pele morena e cabelo branco.
– E acaso está insinuando que meu filho está mentindo?! Eu sempre sei quando alguém mente para mim, rapaz. – reclamava uma mulher com cara de enjoada.
– Pois das duas, uma: ou a senhora desaprendeu a saber a verdade, ou o seu filho descobriu um jeito de enganá-la. – retrucava um outro garoto quase idêntico ao que era acusado – Eu conheço o meu irmão, e o Valkyon nunca mentiria. – (V-Valkyon?!?! Esse é o meu chefe criança???).
– Quanta petulância... É essa a educação dada por aqui?
– Eu digo e repito: Não. Fui. Eu! – declarou o Valkyon já correndo dali.
Lance (se for mesmo ele) correu atrás do irmão, lhe chamando, e deixou o povo que continuou discutindo para trás. Acabei lhe seguindo o exemplo, mas os dois correram para uma floresta próxima, onde os perdi de vista.
Continuei perambulando pela floresta em busca dos dois e comecei a ouvir um choro. Supondo que pudesse ser o Valkyon, resolvi seguir o choro, e de acordo parecia estar me aproximando, uma... névoa amarelada surgia dentro da floresta.
Eu não sei se o Lance já conseguia usar ilusões quando era criança, mas quanto mais eu me aproximava de quem chorava, mais... sem vida, a floresta me parecia. Continuei seguindo o choro com aquela névoa amarela ficando mais densa aos pouquinhos.
– Socorro... – ouvia baixinho no meio do choro – Socorro... – e não era a voz do Valkyon...
Nisso, eu estava diante da entrada de uma caverna, que parecia ser o lugar de onde aquela névoa saía (e que estava começando a atrapalhar de enxergar). Meio que com receio, me aproximei um pouco mais da entrada – Quem tá aí?... – acabei perguntando.
O choro se interrompeu como se eu tivesse acabado de dar o pior dos sustos em alguém que estava tentando se esconder.
– FUJA RÁPIDO DAQUI!!*"
...
Odeio acordar com a sensação de que estava caindo... E ainda bem que agora tenho um “gravador de sonhos” morando debaixo do meu travesseiro, porque eu esqueci quase tudo o que sonhei. Lembro que tinha o meu chefe, uma floresta e alguém chorando, de resto...
A essa altura, no mínimo minha mãe já chegou em casa. Purriry conseguiu entregar a cópia da armadura ainda naquele dia e conseguimos dar fim na confusão sem muita algazarra. Foi rápido, mas não foi fácil. O acelerar das reformas entre as escadarias e a prisão (que terminaram ontem) ajudou a distrair esse povo, pra não dizer que agora o Ezarel parece estar com pavor de mim _risinho_.
Isso porque ontem foi primeiro dia de lua cheia, e sem nada que pudesse me impedir, finalmente descobri que eu eu posso sim ser chamada de dobradora de sangue (acho que nem o Gelinho e nem o Ezarel vão querer arriscar me irritarem de noite). E graças ao fato de ter muita companhia dentro do quarto, não precisei pagar a compensação do Lan ainda.
Pegando o meu celular, vi que era cinco para as seis. Respirei fundo e comecei a levantar.
– O que aconteceu... – Lance questionava ainda adormecido.
– Levante e se arrume. Temos que reunir a Reluzente, ou pelo menos a nata dela.
– Reunir a Reluzente? Pra quê?!
– Acho que o meu próximo destino já está decidido!... – declarei ao pegar a bolinha e balança-la diante do rosto dele.
– Argh... Com o quê sonhou dessa vez?...
– Não sei.
– É o quê?! Tem certeza que recebeu um aviso?
– É a sensação que eu tenho. E acho... que tu também tava nele? Enfim, vamos logo reunir o povo para tratarmos disso direito.
– E o quê que você lembra... – pediu-me ele enquanto se arrastava para fora da cama.
Contei o que lembrava e porque eu tinha esquecido quase tudo. Parece que ninguém gosta de acordar com a sensação de queda.
Tentamos não fazer muito barulho, mas o Agýrtis (cuja barriga está quase igual a que eu tinha quando caí em Eldarya) acabou acordando mesmo assim. Não ficaria surpresa se ele aproveitasse essa chance para passear por Eel, só me pergunto que desculpa ele dará para a barriga...
Nem Ewelein, e nem Ezarel estavam no quarto, então isso significava que ambos foram necessários em alguma coisa (espero não ter dificuldades para achar aqueles dois).
Normalmente eu iria direto para o salão encher a barriga, mas!... Já que consegui o direito de uma folga extra... (Tomoe anda bem satisfeita com os resultados de meu treinamento) Vou aproveitar para ficar relaxando o máximo que eu conseguir, e não ficar esquentando a cabeça com problemas.
Lan e eu deixamos Agýrtis e seguimos para o térreo, prestando bastante atenção para se víssemos um dos que queremos encontrar, no caminho. Acabamos foi é chegando na Sala do Cristal sem nos esbarrarmos em ninguém, e o Jamon estava fazendo guarda na entrada.
– Bom dia, Jamon! A Miiko está aí dentro? Se sim, com quem?
– Bom dia, Cris. Miiko em reunião com os líderes e Ewelein para resolver um problema.
– Ih!... Seja lá qual for, meu problema é maior. E que bom que não vou precisar procurar ninguém!
– Cris não pod... – Lance o impediu de me impedir e entrei antes que ele terminasse de retrucar.
– Hua!! – só de vê-la, recordei uma parte do sonho – Que maravilha tê-la aqui! Com certeza a senhora poderá nos ajudar.
– Mas o que pensa que está fazendo, Cris?! Nós estamos em um... – balancei minha bolinha de memória assim como tinha feito com o Lan e ela se calou, fazendo Valkyon, Ezarel, Nevra, Erika, Leiftan e Ewelein arregalarem os olhos.
– Quem está afim de assistir ao meu sonho dessa noite?
– Pra onde você irá dessa vez??
– Olha Ezarel, eu acordei no susto. Pretendo relembrar o sonho todo agora. Posso ganhar a prioridade?
– É melhor.
– Leiftan!
– Pense bem, Miiko, toda vez que ela teve um “sonho”, estávamos trabalhando com algum assunto que veio a calhar de ser no mesmo lugar. E ela não acabou de dizer que talvez Huang Hua pode ajuda-la?
– Bom eu não sei o que é que vocês estavam discutindo por aqui, mas o Leiftan está certo. Ah, e... Chefinho, acho que agora é a sua vez de se acertar com o passado.
– Como é?
Sem mais discussões, Miiko ordenou que alguém trouxesse uma bandeja com agua e nos colocamos a assistir meu sonho, e não foi à toa que eu acordei no susto.Ezarel
Problemas. Problemas. E problemas. Até parece que a Lua Uheldig ainda não acabou, de tanta perturbação que nos atravessa o caminho. E estou pensando em criar uma poção que permita me comunicar com os mascotes, assim eu passo a entender qual é a daquele black-dog maluco, já que perguntar isso direto para a Paladina se tornou perigoso demais. Tenho calafrios só de me lembrar de ontem à noite!
** Encerrado o trabalho no laboratório por hoje, me apresei em tomar uma de minhas poções especiais para recuperar a energia, ou do contrário não iria aguentar tomar conta do Agýrtis enquanto mantinha um olho no Absol, e o outro no Gelinho.
– Cheguei para trocar de lugar com vo... Cadê a Ewelein?
– Saiu antes do horário, levando Absol com ela. E porque você não demorou mais para aparecer?
– Lan... Não desconte sua irritação nos outros. E pare de querer fugir!
– Não estou fugindo, Ladina, só... Querendo adiar...
– Adiar o quê?
– Apenas garanta que ninguém aqui acabe machucado, Ezarel.
Eu ia questioná-la, mas foi só ela mexer a mão que o Gelinho pareceu travar. De cara eu não entendi.
– Dá pra você relaxar, Lan? Absol mostrou muito mais confiança.
– Eu não sou ele, e não é fácil ficar “relaxado” com o que estamos fazendo.
– Não acho que é muito diferente do que o meu cristal faz comigo, então respire fundo e se deixe levar.
– Mais fácil dizer que fazer.
A discussão deles me ajudou a unir os pontos. Observei que a Paladina fazia os mesmos movimentos de quando ela controla a agua, e o Gelinho, aparentemente levitando no ar, se mexia como se um marionetista estivesse brincando com ele. Descobrir que a Marie-Anne estava em Eldarya e causando problemas, me chocou bem menos. **
Só consegui dormir naquele quarto (após avaliar os possíveis danos no Gelinho, que não foi nenhum) depois de convencer a Paladina a beber um pouco de sonífero. De jeito nenhum iria arriscar dela querer testar aquilo comigo. E ainda assim, tive dificuldades pra dormir! Não parava de ter pesadelos com o que havia testemunhado...
Quando bateram à porta de manhã, muito mais cedo que o esperado para a Ewelein chegar e assim trocarmos de lugar, logo supus que já tinha novos problemas para resolver. E de fato, quem bateu foi o Leiftan, mandado pela Miiko para realizarmos uma reunião de emergência. Minha bronca para a Ewelein terá que esperar.
Deixei todos dormindo e acompanhei o Leiftan até a Sala do Cristal.
– Lady Huang Hua?! A senhora está aqui como conselheira ou...
– Estamos aqui como solicitantes, senhor Ezarel. Ainda precisamos aguardar mais alguém, ou já podemos dar início, senhorita Miiko?
– Começaremos assim que o Nevra chegar, senhor Feng Zifu.
– Zif... Não seja impaciente! Nós já os estamos retirando da cama.
– Lamento, Huang Hua, mas... A situação... Estou mesmo preocupado.
_suspiro_ Dessa vez teremos mesmo algo complicado. Se brincar, supera o último ataque que o templo sofreu por humanos que queriam a Flauta de Hameln Weser. Nevra apareceu uns cinco minutos depois.
– Agora podemos começar. O motivo de estarmos reunidos com tanta urgência, é que há algo estranho acontecendo em uma das florestas que cercam o Templo Fenghuang.
– Mais precisamente na Floresta Oculta, a floresta que fica atrás do Templo. – interrompia o Feng Zifu.
– Exatamente. Agora... Poderia nos dar os detalhes do que está acontecendo, Huang Hua?
– Claro, Miiko. – Huang Hua se voltou para nós – Assim como foi mencionado, o problema ocorre na Floresta Oculta. Pra começar, uma jovem hamadríade que vivia ali, desapareceu faz algum tempo. No começo achávamos que ela poderia ter sido atingida pelo ataque humano que tivemos, ou por algum efeito depois do segundo ataque ao Cristal, mas... Todo aquele que foi verificar isso, simplesmente não voltou. Observamos que os mascotes pararam de ir até aquele local, como se tivessem medo de lá, deixando tudo ainda mais preocupante. E o pior, não foi encontrado nenhum sinal de presença humana daquele ataque, nas áreas mais próximas do Templo.
– O que significa que o problema pode estar mais no fundo da Floresta Oculta, e como todos os que foram investigar não retornaram...
– Achamos mais sensato pedir o auxilio de mais profissionais. Minha irmã, que é a melhor de nossos alquimistas, está uma pilha de nervos por não estar conseguindo entender nada.
– Especialmente depois de proibirmos toda e qualquer busca sem antes descobrirmos o porquê de ninguém estar retornando.
Ficamos em silêncio por um momento (este é mesmo um caso complicado...). Todos pareciam refletir sobre qualquer possibilidade que pudesse explicar alguma coisa. Pensando em hamadríades, acabei me lembrando da Yvoni.
– Tem quanto tempo que vocês não possuem notícias dessa hamadríade? – resolvi questionar.
– Não temos muita certeza, por isso suspeitamos do ataque ou dos efeitos da segunda quebra do Cristal. Também podíamos suspeitar do ataque lançado pela tal Naytili, uma vez que foi um período caótico no Templo.
– Zif está certo. Mas como a possibilidade de ser um dos ataques nos parece baixa, a chance maior de ter relação a algum efeito colateral do Cristal, deixa tudo um pouco mais perigoso.
– Nós já lidamos com uma hamadríade contaminada antes e aquilo foi bem complicado. O que vocês podem nos dizer sobre essa hamadríade em particular? – pediu o Valkyon.
– Uma coisa que podemos dizer com certeza é que ninguém sabia qual que era a árvore dela.
– Que quer dizer com isso, Feng Zifu??
– Acontece, Erika, qu...
– Cris não pod... – ótimo. A Paladina e o Gelinho resolveram invadir a reunião.
– Hua!! Que maravilha tê-la aqui! Com certeza a senhora poderá nos ajudar.
– Mas o que pensa que está fazendo, Cris?! Nós estamos em um... – a Miiko se calou quando ela começou a balançar a esfera de memória dela (sério que ela já tem uma nova viagem?!).
– Quem está afim de assistir ao meu sonho dessa noite?
– Pra onde você irá dessa vez??
– Olha Ezarel, eu acordei no susto. Pretendo relembrar o sonho todo agora. Posso ganhar a prioridade?
– É melhor.
– Leiftan!
– Pense bem, Miiko, toda vez que ela teve um “sonho”, estávamos trabalhando com algum assunto que veio a calhar de ser no mesmo lugar. E ela não acabou de dizer que talvez Huang Hua pode ajuda-la?
– Bom eu não sei o que é que vocês estavam discutindo por aqui, mas o Leiftan está certo. Ah, e... Chefinho, acho que agora é a sua vez de se acertar com o passado.
– Como é?
– Quietos todos! Leiftan ou Ezarel, alguém traga um recipiente com agua para podermos assistir isso logo e resolver o que precisa ser resolvido.
Leiftan e eu nos encaramos – Ela disse o seu nome primeiro. – e com um suspiro, ele saiu.
Não esperamos muito, e aquele sonho da Paladina me deixou boquiaberto por três motivos: 1º, não acredito que o Leiftan estava certo, ela realmente sonhou com o Templo! 2º, eu sei que ninguém nasce musculoso, mas o Valkyon era tão mirrado quando criança, que era fácil confundi-lo com uma garota. E 3º, a fonte dos problemas estranhos do Templo é aquela névoa estranha? Quais são as chances da pessoa que chorava ser a hamadríade desaparecida? E por que ela mandaria alguém fugir?!
Me recusei a ir para Yaqut, mas ao Templo faço questão de estar junto.Cris 2
Está explicado o porquê de eu acordar caindo. Quem não se assustaria com um grito daqueles? E eu nunca pensei que fosse possível sonhar com gente gritando assim, qualquer um acordaria com isso (a menos que estivesse “morto”).
– Falando sério agora, aquela “menina” era mesmo você, Valkyon?!
– Ninguém nasce musculoso, Nevra. E eu não era nenhuma “menina” naquela época.
– Tá, mas, o que era aquela discussão?
– Um incidente que ocorreu na nossa penúltima reunião de clãs. O menino em questão era o Yi-Feng Luzhou, e aquele foi um caso... peculiar.
– Como assim “peculiar”, Feng Zifu?
– Bem, tente entender que alguns fenghuangs possuem a habilidade de “ler” as almas das pessoas. Uma habilidade parecida com a sinestesia, e, assim como a Laide Yi-Huang Lianhua, nenhum fenghuang que tinha a mesma capacidade soube dizer quem poderia estar mentindo, por isso, decidiram acreditar na palavra de um membro do Clã Yi. Mesmo com casos semelhantes tendo ocorrido depois...
– E decidiram isso por quê? – perguntei.
– Porque o clã Yi é o clã que preza pela verdade, o que torna as mentiras daquele pirralho um crime ainda mais grave. – todo mundo acabou encarando o Lance (e eu me lembrei da NonrsVisdom...).
– Como pode ter tanta certeza que é Feng Luzhou quem mente?
– Porquê eu questionei sobre este mesmo caso para a Cris quando ela testou a poção Norns Visdom, sr. Feng Zifu.
– Sinceramente, eu fiquei bem indignada com o assunto, mas ainda não entendi o porquê disso aparecer no meu sonho. – a Hua e o Zifu acabaram se olhando.
– Na verdade, temo em dizer que a solução para esse caso e dos muitos outros que envolvem o Feng Luzhou, não poderia vir em melhor momento.
– Hã?! – todo mundo reagiu à fala da Hua.
– Acontece que muito em breve teremos uma nova reunião de clãs, por isso que essa é a melhor oportunidade para colocar a verdade à prova.
– Exatamente Zif, e também, é por causa dessa mesma reunião que estamos com um pouquinho de pressa em resolver o mistério da Floresta Oculta. Não ficaria surpresa se alguns membros dos outros clãs já tiverem chegado ao Templo.
– Acho que temos muito o que planejar... – comentava o Valkyon – Pra começar: quem, além de mim, da Cris e do guardião dela, irá fazer parte do grupo desta viagem?
– Nem pensem em me deixar de fora! Alquimia é a minha especialidade, afinal.
– É verdade, temos duas questões bem sérias a tratar. Como não sabemos quais fenghuangs estarão presentes na reunião de clãs, é melhor que o plano para o desmascarar de Feng Luzhou seja elaborado no Templo. Já na questão da floresta precisará de especialistas em alquimia para ser tratada.
– Está claro que a segunda questão há bem mais riscos, Miiko, então seria bom se o Chrome fosse colocado nessa equipe. Ele pode ser um dos meus, mas é o melhor alquimista da Sombra.
– Eu normalmente protestaria veemente, mas o nariz dele pode acabar nos sendo útil.
A discussão continuou por mais um tempinho. No final ficou decidido que além de Ezarel e Chrome, Leiftan, Erika, Tomoe e mais um membro de cada Guarda faria parte do meu grupo. Zifu partiu na frente para poder preparar o templo para a nossa chegada.
Para resolver os problemas, Erika e eu decidimos carregar nossos frascos principais de NonrsVisdom (ela também passou uma parte para um vidro menor) para cuidarmos do feng-mentiroso; Leiftan e Tomoe cuidariam das burocracias (sem largarem os meus treinos...); e o restante iria se organizar para cuidar da floresta (comigo junto, já que eu sonhei com o problema. Ahfh!...)
Nos organizamos para partir o mais rápido possível, no caso, na manhã do segundo dia da reunião, após um Ritual de Maana. Nem consegui aproveitar a minha folga extra...
Última modificação feita por Tsuki-Hime (Hoje, às 17h35)
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Ahhh até que enfim!!!!!
Estava ansiosa para que você postasse!!!
Olha, nunca é demais carregar a mochila consigo, ainda mais em um lugar estranho!!! Macacos mãos-leve? Xô, passa!!!
Eu, por mim, agradeceria à tempestade, nada de trilhas para mim, sou bem urbana… Prefiro um bom Wi-fi do que os mosquitos do mato!
Gosto da natureza e dos animais, mas um macaco dormindo em cima de mim, no mínimo me encheria de pulgas, então, não, obrigado. Durma ali no cantinho, senhora macaca com seu filho, não na minha barriga quentinha.
Oxi… Saiu depois da tempestade e ainda escalou uma árvore, de noite? Nááá, obrigada!
Eu acordaria meus colegar de quarto para que não roncassem, mas nunquinha iria para fora!
Mesmo com tudo aquilo, ela conseguiu dormir??? Enfrentaria os roncos de boa, hahaha!
Corta para Eel!!!
Aqui temos uma Erika que namora o Valkyon…
Ela e Leiftan passam mal devido à presença que sentiram. E também o sentiu o pentelhinho do qual tenho ranço… O prisioneiro.
E agora Cris desperta… e se vê sabe-se lá onde! Bem vinda ao clube dos atravessados, hehehe.
Fez muito bem em vestir-se depressa, imagina chegar alguém e te ver seminua! Se bem que no meio da floresta, a chance de encontrar alguém é remota…
E a última coisa que fará na vida é devolver as cobertas ao hotel, hahaha! Roubaste, pequenina…
Pela Deusavaca, você não tem uma mochila, tem uma cápsula hoypoy da Bulma! Onde já se viu carregar tanta coisa assim numa mochila? E como isso tudo cabe aí???
Ah sim, ainda falta o terço…
Vai atrás de uma fonte de água, e por favor, chame um uber…
Começamos o segundo capítulo falando do “rançoso” do Lance. Eca.
Ele está acorrentado dos pés à cabeça? Acorrentem também a língua dele para me poupar da sua voz.
Oxi, Leiftan e Erika continuam sentindo alterações na aura???
E agora Valkyon sente também… Isso não é nada normal!!
Ezarel, como sempre, engraçadinho.
Eles apenas não se decidem: Quem chegou, um Aengel ou um Dragão???
Ou dois seres chegaram? Seria mais plausível, já que as duas raças ficaram balançadas…
Érika tem razão. Nada de procurar ninguém no meio da noite!Essa é das minhas, hahahaha!
Opa, o despertar de Cris realmente foi mais esquisito que o outro. Um lobo branco a olha? Com uma névoa lilás? Perfeito para um bom pesadelo, sacuda a cabeça pra ver se acorda…
Ui, realmente não é hora para desmaiar, e nem para sair correndo,m vai que o lobo corre atrás… MDS tinha um sanduíche na mochila, não teria aí uma pizza também?
Bem, o lobo ficou feliz com o sanduíche. Seria a entrada e ela o prato principal??
Lá vem a mochila mágica, hahaha! Um kit de primeiros socorros é realmente uma coisa que eu levaria na minha. Aliás, eu só dispensaria o terço, cosméticos e bijuterias, e colocaria linha de pesca e anzol na minha mochila… Que foi, também sou prevenida!
Agora ela tem uma amigo!!!
Que delícia dormir na floresta ao lado de um lobo!
Melhor do que macacos, juro!
Sua fic está muito boa, eu não disse?? Espero os outros!!
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Última modificação feita por Tsuki-Hime (22-06-2020, às 23h58)
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Última modificação feita por Tsuki-Hime (29-06-2020, às 22h28)
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Ai, mais um capítulo precisando olhar para a cara rançosa desse Lance!
Não baste ser um cabra da peste, ainda se faz de vítima? E não perde a oportunidade de envenenar o Valkyon sobre a Erika e o Leiftan?
Que cretino desgraçado, por isso vai morrer sozinho (que não demore) e acorrentado... Posso mudar o lutar das correntes? Eu sugiro acorrentar a língua no saco, quem sabe assim ele para de falar besteira...
Valkyon confia cegamente na Erika, então ele gastou saliva venenosa falando às paredes. Bem feito.
Bem, agora de volta á floresta, o pequeno e fofo lobo está trazendo presentes de exploração como um bom mascote!
Acostume-se, querida, pois virão coisas úteis, mas ele trará muito lixo para você...
Pelo menos ele a entende, e sabe onde há água potável, então... Ei, todo mundo vai beber da fonte? Ok, vou beber água com baba canina, não me importo...
Vamos à caverna quentinha!
Não tenho certeza de achar legal partilhar esse dormitório com aranhas, vai que elas resolvem me comer!!!
Mas é o que tem para hoje... Vamos dormir com lobos e aranhas! Aff!!!
Ezarel está sentindo uma presença de maana diferente da habitual? Não é de se espantar, elfos têm mesmo uma sensibilidade maior com as forças da natureza! (falo isso apenas para irritar meu elfo, hahaha!).
E ele tem razão em se preocupar com as distrações de Nevra. E tem razão em zoar o pequeno pedaço de ranço (Lance), independente de ser irmão do Valkyon!
Enquanto isso, Nossa heroína batiza seu lobo de Absol. Eu gostei do nome, e parece que o lobo também!
Mas inada continua levando bichos estranhos para casa? Faça-me o favor, Absol!
Ela está arrumando a casa como se estivesse acampando? Bem, parece que reagiu bem ao fato de estar em um lugar estranho, já está ate´ arrumando a casa! Pretende ficar para sempre? Não está pensando em procurar o caminho de volta? Já sei! Está se divertindo mais do que no hotel com as moto-serras!
Oxi! Ela agora tem vários mascotes!
Tudo bem você se aproveitar das coisas legais que eles trazem... Mas é muita coragem beber a “água salgada” que eles trouxeram, vai que é xixi de corko!!!
Aguardando mais capítulos!!
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Pela Deusaaaaaa, a Erika sonhou com duas figuras oraculóides!!!! Uma clara e outra escura… E um ser estranho ao mundo?
Aguentem mais um pouco? O que isso quer dizer???
Não bastava o sonho estranho, ainda os guardiões da sombra feridos por contaminados. Contaminados por quem? Por fragmentos de cristal corrompido??? E três fugiram? Isso vai dar Treta.
Claro que Nevra fica mordido com o fato de não ter cumprido a missão. Eu ficaria também!
E o que Absol traz para nossa viajante? O cristal branco dos sonhos da Erika. E ela monta um altar para ele… Coincidência? E ela rezar na frente dele também não foi… Bem, já temos a concretização do sonho da Erika!
Claro que você está em um mundo mágico! Se não, estaria esquizofrênica!
Fez muito bem em plantar as sementes que você trouxe! Porque é sempre bom prevenir, e aproveite para perder seu peso extra. Só toma cuidado para não minguar como um pano molhado…
Sua casa me parece bem aconchegante, mas o fato de tomar banho gelado me faz ter frouxos de náuseas! Não tanco com água fria!!!
A deficiência dela sumiu? Ainda bem, mancar numa terra dessas e ficar com dor na coluna não ia ser útil.
Não queira ver os espinhos desse mundo, você não iria gostar… E não me chame banho frio de mar de rosas!
Agora, sobre as constelações, o firmamento de Eldarya seria igual ao nosso? Ou um mundo paralelo? Ou um mundo inteiramente novo? Qual a sua visão a respeito disso???
Ops, não dá para ficar de devaneios quando um “espinho “ bate à sua porta, não é mesmo??
Ahhh, um contaminado! E parece que ela foi “possuída” por alguma entidade do cristal branco, porque começar a cantarolar para acalmar um estranho raivoso e depois abraça-lo, não faria parte da sua lista de afazeres naturais…
Mas o que era de se esperar acontece, e o contaminado se descontamina…
Ok, deixe-o de forada sua casinha, para ele ir embora depressa… E que não leve sua colcha com ele!!
Corta para nossa Erika contando seu sonho com as oraculóides.
Nevra parece estar sendo mais perspicaz e adivinha que a figura estranha do sonho de Erika é seu visitante.
Oxi, um enfermeiro da Ewe está empurrando Jamon? É isso mesmo o que eu li? Não tem amor ao seu rabo, criatura?
Bem, surtiu efeito, não só Miiko, como todo mundo resolveu ir à enfermaria atender ao chamado da Ewe.
E o nosso “espinho” está ali sendo tratado pela equipe médica… Bem, ele já era sabidamente contaminado, e o fato de não estar mais, mostra a eles que a contaminação é possível.
Isso não é uma boa notícia, gente????
Ah, eu seu que é carinho, mas acordar com aranhas gigantes em cima de mim não está na minha lista de desejos…
Quando li a aranha mãe levando comida para ela, imaginei um espetinho de mosquito enrolado na teia!
Ah, é o lobo quem escolhe as roupas dela? Hehehe, espero que tenha bom gosto com combinações, porque vejo no jogo algumas pessoas que mereceriam o título “guardiã entulho” de tanta coisa que enfiam umas por cima das outras, hahaha!
E o fato de precisar de espada não a deixa intrigada?
Ahhh, Absol resolveu treiná-la. Isso não vai acabar de maneira confortável, minha caríssima viajante!!!
Já espero mais um!!
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Você, entulho? Nááá, entulho pra mim é isso aqui ó.....
Guardiã Entulho
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Oh, duas semanas da chegada do dragão misterioso… se for mesmo um dragão, hehehe…
Se for por causa disso e os ex-contaminados estarem subindo de número, perfeito! Que venham mais como esse…
Usar o poço de ranço para procurar um set tão bom? Nááá, Ezarel, deixa ela na lixeira, na privada, onde você quiser, mas não o tire da gaiola. Aliás… Dá para deixar aquelas gaiolas caírem na água e afundarem com ele dentro?
Ah, Nevra, até agora não entendi a coisa ruim, só a boa…
Miiko, os fragmentos estão por aí, v[a procurá-los, hahahaha!
Absol está te castigando? Bem, disfarça e engana ele, como se estivesse em uma aula chata de educação física, hehehe.
O bom isso tudo é que ela se tornou uma espécie de “lavanderia” de Eel, toda a roupa suja vai parar na porta da casa dela… Fica cansada depois da purificação? Não me surpreende. Mas fome também é normal quando se gasta muita energia.
Absol não precisa de um colar, quem sabe ele prende em algum lugar e machuca o bichinho… E espero que ele traga livros que ela possa ler algum dia…
Ih, agora ela começou a colecionar ovos! Bem, pelo menos pode fazer uma graninha no leilão mais tarde!!
Bem, além de ex-contaminados temos um ladrão de comida? Ah, deve ser Absol, hehehe. Ezarel de mau humor é seu normal…
Colecionando mais ovos? Dependendo do que forem vai ficar ryyyyyykaaaaa, hahaha!
Bem, ela acaba de encontrar o “Gato de Botas”. Podia ser né, pelo menos seria útil. Esses gatos de Eldarya só sabem nos extorquir!
Ele pelo menos contou onde ela estava, é o primeiro ser falante que ela encontra!!!
Ela acaba de purificar uma Elfa. Ainda bem que o fez antes dela matar o purrekinho ladrão…
Um exército humano? É sério isso, gato? Mister S??? Não vai dizer o seu verdadeiro nome, seu prêula?
Certo, então o Mr. S levou a elfa desinfetada para o QG, e ele agora pode dar informações sobre a misteriosa purificadora que está vivendo na floresta…
Oxi… Não deveria ela ter ido junto? Afinal, está numa caverna, e lá há um QG, uma cidade. Por que cargas d'água ficar tomando banho frio de caneca quando você pode ter uma banheira quentinha????
Afff, menina!!!
Aguardando mais um!!
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Oxi, Miiko interrogando Mister S? Miiko, todo espião e fofoqueiro que se preze faz questão de ver tudo e ouvir tudo, mas acha que vai sair contando assim sobre as suas fontes? Hehehe, se viu, não vai te dizer…
E além disso, ela tem amigos nada convencionais, vai que resolviam almoçar gato frito!
Ahhh, já estão querendo associar a pobre “lavanderia” ao grupo de humanos podres? Valei-me, Deusavaca, Erika sempre chatinha, putz! E o Valkyon vai na onda…
Pensem em deter o exército de pentelhos ao invés de se meter na vida de uma dona de Black dogs! Ah, e Cheads!
Miiko dá as ordens, o lance dela é checar estoques. Ao invés disso, poderia focar em estratégia de defesas… Bem, ela é a chefe, manda quem pode, obedece quem tem juízo!
Eu tenho certeza de que Nossa Senhora curte os Faeries de montão, pode ficar tranquila… Quanto aos humanos… Não tenho tanta certeza!
OMG 31 dias na floresta tomando banho de caneca!!!! XD
Só consigo pensar numa banheira quentinha!!!!!
Todo mundo cumprindo ordens da Miiko, e ela faz o quê? Ok, parei…
Ah, temos uma pequena clandestina. Escuta tudo, e depois espalha, hehehe.
O Lance recusou-se a ajudar? Ninguém derrubou a gaiola dele com ele dentro no mar não, é??? Ah, ainda não? (Especttra sai sorrateiramente com um poderoso alicate de cortar correntes e vai em direção à prisão com um sorriso feliz…)
Lá se vai nossa jovem espiã checar suas informações. Mas não consegue, pobre garota… Vai ter que ir à prisão. Cuidado, garota, ainda não deu tempo de derrubar o esgoto no mar!
Ahhh não conta seu nome pra esse lixo nãooooooo! Pronto, contou… Ferrou.
Ah, quem se ferrou foi você, seu lixo atômico, a Anya não é tão burra quanto você pensava.
Ele pediu comidinha? (Especttra remexe os bolsos à procura de algum veneno…)
Ah, Anya, eu retiro o que disse sobre não ser burra! Não deixe nada seu nas mãos desse crápula tóxico! Esse anel pode ser usado para… Controlar sua mente… Tarde demais… RIP anel.
Lá se vai ela, toda feliz, seguindo pelo buraco indicado pelo lixo atômico.
Ela vai diretinho para a arena de treino de Cris. Ah, estava atrás de seu pequeno ovinho? Justíssimo.
Bem, elas fazem amizade. É bom demais a Cris ter um contato dentro da cidade para suprir suas necessidades, e ela realmente precisa de alguém para conversar, antes que comece a latir!
Anya finalmente conhece a gangue da Cris. E esclarece um pouco sobre as raças dos mascotes que a estão ajudando…
Isso, Anya, não conte nada sobre ela ainda. Realmente não se sabe se a Miiko vai querer jogá-la na prisão, e só o fato de pensar em ficar em um mesmo cômodo que o Lixo atômico me dá um aneurisma no rabo!
Absol desconfia da Elfa?
Bem, ele é seu protetor, não pode culpá-lo por isso.
Já espero por mais!!!
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Lance comendo o sanduíche de bosta que eu preparei para ele, hehehe. Mal sabe ele, inocente…
E a pobre Anya, na sua ingenuidade, entrega todo o serviço pro fragmento de pleura infectada, aff!
Anya está cada vez ganhando mais a confiança da Cris, quero só ver o que ela vai achar quando descobrir que contou o segredo pro maior traste de Eldarya.
Bem, Anya entende de moda pelo menos, hahaha!
Ahhhh agora que descobriu que Absol rouba a comida, vao deixar de comer? Claro que não!
Cris, guarde bem esses livros raros, creio que eles serão úteis no futuro…
Agora Anya sabe sobre o cristal da Cris, e Cris sabe sobre o fato dos humanos terem sua grande parte maléfica na expulsão dos faeries do mundo antigo.
E que a Oráculo deles RIP…
Bom, Cris já planejou tudo a respeito de como organizar seu tempo , e já se passaram 34 dias!
Corta para o próximo, onde a mãe de Anya esta preocupada. Deveria se preocupar com a sua filha estar perto de um lixo tóxico como esse Lance, isso sim. Cuide melhor da sua criança!
Cris está ensinando Anya a gostar de anime? E está preocupada em manter sua inocência, então selecione bem os animes que vai mostrar à ela… Hehehe, senão adeus inocência.
Se Anya sabe japonês, aprende qualquer língua, hahaha! Õ língua complicada essa…
Cris está montando um verdadeiro arquivo eldaryano, e adorei saber que ela desenha bem!!
Quanto ao fato da sua visão distorcida, talvez Anya tenha razão, Cris deve ser faeliana…
Ou daltônica!
Vamos ver no que dá, estou adorando!!
Última modificação feita por Especttra_ (19-12-2020, às 09h16)
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