Creepypasta: A Contadora de Histórias
18 de outubro de 2018, essa é a data que ficou registrada na minha mente como o pico das minhas noites delirantes dormindo com a luz acesa até o mês acabar. Isso me faz lembrar todos os dias de quando o jogo me avisa de haver mensagens novas, do porque de eu nunca abrir nenhuma delas, não importa de quem seja. Porque eu ainda me pergunto: e se ela ainda espera por mim?
O mês era de Halloween e como todas as pessoas jogadoras de Eldarya, eu estava ansiosa para o evento que aconteceria que era um dos melhores do ano. Eu não fazia nada de diferente enquanto esperava pelo evento, apenas as mesmas coisas. Certo dia, quando eu entrei no site para dar uma olhada no fórum, havia uma notificação de solicitação de amizade, eu aceitei por ter poucos amigos, se eu não me engano, uns cinco na época.
"Posso te contar uma história?"
Essa foi a primeira mensagem dela, nada de ''oi'', nada de ''como vai?'' e eu não me preocupei de olhar o perfil. Eu a respondi, descobrindo depois que ela era uma contadora de histórias, e foi assim que eu comecei a chamá-la.
Ela começou a mandar diversos contos diferentes e eu opinava quando achava necessário, já que ela me pedia isso, pois a mesma queria ser boa o suficiente para continuar com o que fazia. Mas a sua boa vontade não durou muito, as suas respostas começaram a ser grosseiras e rudes, eu pensei até em pedir para ela parar, eu não queria mais trocar ideias sobre o que ela escrevia, não daquela forma.
Foi então que ela me mandou um último conto com a promessa de que depois daquele ela pararia, aquele cujo título era suspeito, mesmo assim eu li. Eu não sabia o que tinha acontecido, pois aquele em especifico era pesado demais, ela até então não havia mandado algo tão macabro daquela forma. Depois daquilo eu pedi para ela parar de vez, eu não queria saber o final, e percebendo que ela continuaria a me mandar, eu resolvi a tirar da minha lista de amigos e a coloquei na lista negra, porém não rápido o suficiente para que ela não pudesse me enviar a sua última mensagem: ''eu posso ver os seus olhos através da tela''.
Sem saber o que aconteceria nos dias seguintes com ela, eu continuei no jogo normalmente. Eu nem me preocupei se ela havia sido punida de alguma forma por mandar algo daquele tipo para alguém em um site como aquele, eu não sabia como o esquema de mensagens funcionava e nem queria notícias dela. Tudo estava bem, pois eu não havia visto mais sinais daquele usuário, mesmo quando eu andava no fórum.
22 de outubro de 2018
Era quase meia noite quando eu resolvi ir pra cama, estava tudo bem até eu despertar no meio da madrugada sem conseguir me mexer, na penumbra escura. No começo eu pensei que era uma paralisia do sono, mas era mais que isso. O meu coração já batia descompassadamente e a minha respiração estava desregulada, era como se a minha mente estivesse me alertando de algo.
''Posso te contar uma história?''
Até hoje me lembro como se fosse agora de quando a sua voz baixa, rouca e cansada soou ao pé do meu ouvido, e eu sentia a cama afundar ao meu lado. O meu braço tocou algo frio o suficiente para me arrepiar dos pés à cabeça. Eu não precisava ver para saber que era ela. Eu sabia que era ela.
Por que ela está aqui? Eu a irritei? O que eu fiz?
Foi o que eu pensei por segundos antes de sua respiração gélida bater em meu rosto, me desconcentrando, me causando calafrios. Eu sentia o meu corpo afundar cada vez mais na cama, como se a qualquer momento ela fosse me engolir, meu corpo estava desprotegido pelo cobertor que eu nem sabia onde estava, e tudo só parecia piorar.
''Ou você prefere ouvir como termina a sua?''
A voz voltou a soar baixo. Minhas mãos já tremiam e eu começava a suar, era agoniante. Eu não conseguia me mexer. Então ela tocou o meu rosto e me melou com algo de cheiro forte e quente e continuou falando.
''Você sabe por que eu estou fazendo isso? Porque eu não começo uma coisa que não posso terminar, e essa é a mesma regra para você, lembre-se disso. Implore por algo que possa te salvar, e sinta os seus ossos sendo quebrados, meu doce...''
Meus olhos se arregalaram quando escutei estralos, minha mente gritava repetidas vezes ''não'', era como se eu já esperasse pela dor em meu corpo, porque eu sabia que eu sentiria.
Eu morreria ali, sim, eu tinha certeza, e mesmo esperando por meus últimos suspiros dolorosos, eu implorei que tudo acabasse.
Foi então que a lâmpada foi acesa. O quarto ficou iluminado e eu pulei da cama e corri para o banheiro sem me importar com quem havia acendido a luz. Eu me encarei no espelho a procura de algo; não tinha nada no meu rosto além de suor e lágrimas nos meus olhos. Chequei o reflexo atrás de mim e respirei aliviada, pois também não tinha nada. Mas se eu chegasse perto o suficiente do espelho e encarasse os meus olhos, através do brilho doloroso deles, eu podia ver ela, e a sua frase ecoou na minha cabeça.
"Eu posso ver os seus olhos através da tela."
Amanheceu, eu quase não dormi. Eu mantive a luz acesa para garantir que o que tive foi um delírio, mesmo com a imagem assustadora em meus olhos, mesmo sentindo uma sensação estranha no meu corpo e fortes dores nos meus braços.
Quando o sol nasceu eu entrei em Eldarya, era quase seis da manhã. Eu tinha planos de ver se aquele perfil ainda estava lá, e para a minha surpresa, não estava. Não tinha nada no fórum e nem na minha lista negra, mais uma vez parecia que estava tudo bem.
Eu continuei no site enquanto afirmava na minha cabeça que o que aconteceu foi um delírio por conta dos contos daquele usuário, aquela era a única forma de não pensar que eu estava enlouquecendo. Foi então que deu 06:00 da manhã, o evento foi liberado e eu estava conectada na hora. Lembro-me da sensação de euforia que aquilo me causou. Eu recarreguei a página e fui olhar os trajes, um deles pouco a pouco tirou o meu sorriso, pois era estranho demais.
O traje tinha uma pele nova, sangrenta e de aspecto gélido, as unhas cumpridas não eram novidades, mas elas pingavam sangue. Em uma mão estava um livro simples e na outra tinha um saco preto grande que arrastava no chão. Os olhos eram brancos com veias destacadas e a boca era cheia de dentes pontudos com sangue tingindo os lábios, ressaltando aquele sorriso macabro. O que ela vestia parecia uma camisola longa e branca e o cabelo era repicado e bagunçado, na altura dos ombros. E como se fosse uma simples coincidência, o traje se chamava "The Storyteller". Seria uma homenagem para a minha amiga macabra?
Meus olhos percorreram todo o site, chocada. Eu não sabia ao certo o que eu procurava, mas acho que o meu subconsciente sim, pois logo eu estava arrastando o mouse até a caixa de mensagens daquele site. Quando enfim a página carregou, eu me deparei com aquela mensagem que brilhava na tela, eu nem precisei abrir para saber do quê e de quem se tratava, pois o usuário era outro, e mesmo eu não tendo aceitado nenhuma solicitação, a mensagem estava lá... a mensagem era a mesma, e ela continuou se repetindo.
Ela continuou se repetindo...
"Posso te contar uma história?"