/!\ Atenção! Os itens pele, olhos, boca e cabelo não entram na contagem dos 20 itens utilizados e podem ser de qualquer raridade.

/!\ Atenção! Não é necessário manter o look até o final do concurso. Para confirmar a autoria do visual e que tem todos os itens utilizados você deve postar, junto da sua participação, um print de uma postagem sua no fórum usando sua vestimenta.

/!\ Atenção! Os itens usados podem ser referentes a  qualquer evento, não precisando utilizar somente aqueles de Halloween!

Como hospedar minha foto?

Photobucket e Imageshack
Cadastre-se no site, clicando em Sign up. Após isso, clique em upload e envie sua imagem.

Casimages
- Este site não possui versão em português, mas ainda assim, é fácil de utilizar. Clique em Séléctionner des images, selecione a imagem que quer hospedar, e em seguida clique em upload
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Postimages
- Deixe as configurações disponíveis em Não redimensionar e Sem prazo de validade.
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- Pegue o link de Link direto e adicione o BBCode de imagem à este link.

Tumblr
- Para hospedar neste site, é preciso ter uma conta.
- Vá na pagina de seu blog. O link deve ser algo parecido com https://www.tumblr.com/blog/NOME DO BLOG
- Clique em foto> adicionar fotos. Selecione a imagem que deseja hospedar. Assim que ela tiver carregado, clique em "Publicar"
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Ressaltamos que estes sites são sugestões pois sabemos que funcionam no Fórum Eldarya. Você pode utilizar outros servidores, mas caso haja algum problema com a visualização da imagem, será desclassificada.
/!\ Salvos os problemas de visualização pelo bug de link da imagem externa

Como salvar a imagem da minha guardiã?

Há inúmeras formas de salvar a imagem de sua guardiã, embora algumas delas não funcionem em qualquer dispositivo.

Exclusivo para computador

1. Vá na página inicial de Eldarya e clique sobre a imagem de corpo inteiro de sua guardiã. Em seguida, selecione "Salvar como" e salve em uma pasta na qual você irá se lembrar.

Para computador e celular - Método 01

Apesar de funcionar, este método tem como desvantagem, o fato de cortar um pouco sua guardiã.

1. Vá a uma postagem sua no fórum e clique sobre sua guardiã com o botão direito do mouse. Caso esteja no celular, basta manter seu dedo pressionado sobre a imagem. Irá aparecer uma caixinha. Abra a imagem em uma nova guia.



2. Irá abrir uma tela similar à da imagem abaixo. Clique com o botão direito do mouse (ou mantenha seu dedo pressionado) sobre a imagem. Salve a imagem



Para computador e celular - Método 02

Há ainda a possibilidade para salvar a imagem de sua guardiã com fundo.

1. Vá na página inicial de Eldarya, ou em seu perfil e tire um print de sua guardiã. Se possível, corte a imagem, para focar apenas na imagem de sua guardiã.

Minha Participação

Itens utilizados:
Saia Shooting Star
Pulseiras Wind Traveler
Espada Sword and Roses
Mangas Fortune Beads
...(Continua)

A Casa Mal-Assombrada

Há muitos anos atrás, uma casa situado perto do Q.G. foi considerada assombrada por moradores locais. Havia rumores de que era possível ser ouvido gritos, pedidos de socorro...mas ninguém nunca ousou verificar.
Diz a lenda, que uma bela Daemon foi assassinada ali. A pobre criatura encontrava-se com um vestido vermelho e costumava usar vendas em seus olhos...(a estória continua...)

Comprovante de Vestimenta

✙ Todas as Regras do Jogo e do Fórum devem ser respeitadas.

✙ Só serão aceitas as participações enviadas até às 23h 59min do dia 07/11.

✙ Só serão aceitas as participações que atendam aos requisitos deste concurso.

✙ Postagens editadas serão desclassificadas! Lembre-se de utilizar o botão “Pré-visualização”.

✙ Postagens que não estiverem seguindo o modelo de postagem serão desclassificadas!

✙ Uma participação por IP, caso uma jogadora se inscreva com mais de uma conta, será desclassificada e banida por fraude e conta-múltipla.

✙ Nada de chat neste tópico! Qualquer postagem que não seja uma participação do concurso será considerada como flood e o usuário será punido de acordo. Para conversar sobre o concurso, clique aqui.

✙ Acima de tudo... Divirta-se!

Ainda assim possui alguma dúvida? Não hesite em utilizar nossa Central de Dúvidas! Você também pode optar por fazer contato direto com as moderadoras via MP!

ahyuga ☪ JinxCute ☪  Mattie ☪ Paullete ☪ Valonqar ☪ YueReiko



Haverá três vencedores! Quem serão os escolhidos?!

✙ 1º Lugar ✙
750 Maanas

✙ 2º Lugar ✙
500 Maanas

✙ 3º Lugar ✙
300 Maanas

Desejamos boa sorte à todos!

Atenciosamente,
A Moderação.

Minha Participação

Itens utilizados: meia-calça traje beriflore, body vertiginoso, cascos evil baroness, garras wolf druid, top skeleton witch, vestido evil baroness, chifres evil baroness, olheiras sweet mourne, maquiagem love goddess, malefício veiled claws

O demônio do espelho

31 de outubro de 2019... Era uma noite fria e nebulosa, mais precisamente uma noite de Halloween, data bastante apreciada pelos moradores de Eldarya, com explorações em massa e doces e travessuras. O povo de Eldarya comemorava no Quartel General mais uma de suas festas temáticas que acabavam só pela madrugada, pelo fato de ser muito querida. Na meia noite, um pouco cansados, Ezarel e Nevra decidem dar uma volta na cidade de Eel para espairecer, até que Ezarel escuta uma batida na Grande Porta e , meio assustado, decide abri-la. Os rapazes se deparam com uma pequena moça, de pele e cabelos pálidos, com um ar inocente, e visivelmente assustada. Meio a contragosto os rapazes a deixaram entrar no QG e a levaram ao jardim, onde conseguiram acalmá-la e conversar com ela para entender melhor a situação. A garota, chamada Courtney Sofi, mas que preferia ser chamada apenas pelo primeiro nome, revelou que era humana e que ao pisar em um círculo de cogumelos tinha parado naquelas terras. Nevra ficou chocado, mal conseguiam controlar Érica, quem dirá mais uma humana entre eles. A garota, porém, disse que conhecia razoavelmente Eldarya, por ter lido um livro de fantasia em seu mundo, e que ouviu falar de uma lenda que poderia levá-la de volta para o seu mundo, não tinha certeza ainda, mas poderia funcionar. Ezarel sugeriu levar Érica junto, mas Courtney discordou pelo fato de não ter certeza se daria certo. Os rapazes voltaram ao Quartel General para pegar seus equipamentos, uma faca para Nevra e uma espada para Ezarel, e acompanharem Courtney em sua missão. Antes de começarem sua jornada, a menina explicou melhor acerca do plano: Eles deveriam ir até o Vilarejo dos amaldiçoados, viagem que duraria quase uma hora, e procurar um espelho encantado, assim que objeto fosse encontrado, bastava encará-lo durante 3 minutos, que ela voltaria a sua terra natal. O vampiro e o elfo acharam um tanto estranho, mas resolveram não discordar, só queriam se livrar de tudo isso e voltar a aproveitar a festa de halloween. Depois de longos 50 minutos de viagem, navegando no navio fantasma, em seguida indo à ilha das bonecas, e posteriormente à floresta desencantada, eles finalmente encontraram o Vilarejo dos amaldiçoados, lugar sombrio e medonho, no qual se podia ver espíritos ao longe, gritos e risadas assustadoras. Mesmo assim, todos começaram a vasculhar em meio de abóboras e casas com portas rangendo, as quais, após serem abertas morcegos saiam voando velozmente. Até que Courtney vê algo brilhante na casa central, se aproxima e pega, em seguida comemora junto aos rapazes ao ver que era o espelho tão cobiçado, então a garota o segura em frente ao rosto e começa o ritual, encarando o espelho por 3 minutos. Porém, ao invés de acontecer o esperado, aparece uma criatura vermelha e aterrorizante no espelho, que dá um grito esganiçado e quase ensurdecedor, Courtney fica aterrorizada, mas antes que pudesse reagir, a tal criatura sai do espelho em forma de espírito e entra em seu corpo, fazendo-a virar uma espécie de besta com três metros de altura. No lugar de seu semblante fofo e inocente havia algo medonho e horripilante, um sorriso macabro, olhos angustiantes, e a garota também tinha recebido um par de chifres demoníacos, unhas enormes, semelhante a garras, e seus cabelos estavam completamente emaranhados, além da garota ter recebido pernas semelhantes às de um cervo. Ezarel e Nevra ficam horrorizados, mas decidem lutar ou pelo menos maneirar as coisas, temendo que a criatura se aproxime do QG e estrague a festa de Halloween, bastante querida e esperada o ano inteiro pelo povo de Eldarya. O último pega sua faca e parte para cima da Ex-Courtney para atacá-la, entretanto, a criatura reage dando um grito esganiçado que o empurra para trás. O Grito faz com que a névoa aumente e os meninos ficam vulneráveis a qualquer ataque surpresa. Nevra pega sua faca e tenta atacar o demônio novamente, mas por não conseguir enxergar direito devido à névoa, erra feio, acertando a faca numa casa de madeira. O vampiro não consegue tirar a faca da casa, por ter feito um corte muito profundo, e acaba por ficar completamente desarmado, a mercê da sorte. A criatura demoníaca agarra Nevra por vingança e arranha sua face e tórax por completo, até deixá-lo todo deformado, Ezarel, com sua espada, tenta detê-la sem machucá-la, mas sem sucesso. Nevra, sangrando muito e quase inconsciente consegue golpear a criatura com um soco no olho, que geme de dor, porém Nevra cai em seguida e diz a Ezarel que ele deve matar a criatura, que Courtney não existe mais, que a partir do momento que um corpo é tomado por um demônio, não tem mais volta, que será ele ou o demônio. Por fim, sem mais forças pra continuar e após ter perdido muito sangue, o vampiro dá o último suspiro. O elfo desaba em lágrimas, mas não tem tempo a perder e ataca a criatura, já um pouco ferida pelo último golpe de Nevra. O demônio, porém, agarra Ezarel pelo pescoço, quase o enforcando-o, para matá-lo e posteriormente matar o resto das criaturas de Eldarya. Mas o garoto, com o auxílio de sua espada, consegue fazer um corte nas mãos da criatura, que devido à dor, deixa o espelho cair. O espelho cai no chão, mas não quebra por ser resistente. Em seguida, Ezarel pega o espelho do chão e sai correndo para a Ópera de Odessa, pensando em subi-la, jogando o espelho de uma altura mais elevada, e assim, quebrá-lo. O demônio não deixa barato e sai correndo rapidamente e gritando esganiçadamente até chegar ao local, mesmo com as mãos feridas. Ezarel finalmente chega ao local e começa a escalar a torre, mas o demônio se aproxima com suas unhas, pretendendo fazer o mesmo que fez com Nevra, mas Ezarel dá outro golpe certeiro nas mãos da criatura, que sangram e o demônio não consegue pegá-lo. Até que enfim, Ezarel sobre na Ópera e Odessa e joga o espelho demoníaco lá do alto, que faz um barulho estrondoso e quebra em milhões de pedaços. A criatura em que Courtney se transformou vira pó, que voa com o vento, e o espírito do demônio dá mais um de seus gritos tenebrosos e se espalha no ar. Ezarel crê que tudo acabou, mas mesmo assim volta perturbado ao QG e a festa de Halloween, tão aclamada pelo povo, acaba da pior maneira, todos choram pela morte do vampiro. Na manha seguinte, Ezarel levanta agitado, por mal conseguir dormir, para em frente ao espelho de seu dormitório e reflete sobre tudo o que aconteceu na noite passada... A morte da garota Courtney Sofi e a de seu velho amigo Nevra, toda a tragédia que poderia ter acontecido caso ele não tivesse detido a criatura, etc. Até que de repente aparece o mesmo demônio em seu espelho e o ciclo se repete Mal sabia o elfo que após quebrar o espelho original e o demônio ser liberto do pó, ele se espalhou para todos os espelhos de seu mundo, bastava olhá-lo por 3 minutos e a tragédia estava feita. O ciclo se repetiu várias vezes até Eldarya ser dizimada, pois poucos sabiam a lenda do demônio do espelho, e até hoje, ninguém sabe quem inventou a versão que enganou Courtney Sofi, ou se foi tudo uma mentira dela mesma para destruir Eldarya. Com o fim de Eldarya, porém, há quem diga que demônio se espalhou para outros espelhos ainda existentes, como os da terra, por exemplo, e dá o seu grito ensurdecedor para, em seguida, possuir o corpo da vítima e matar todos a sua volta até que a vítima seja morta para poder procurar outra, numa reação em cadeia. E você, quer brincar de encarar o espelho por 3 minutos?
Obs: Conto inspirado no objeto “Espelho do baixo astral” ganho pelos membros da guarda absinto no mês de setembro.

Comprovante de Vestimenta

Minha Participação

Itens utilizados: Peruca Aregonde; Pele Espectral; Olhos Vazios com lágrimas; Boca Censurada; Saia Stained-glass Widow; Véu Lost Bride; Algemas de couro Frankenstein; Pulseiras Frankenstein; Top Magicold girl e Botas Veiled Claws.

O Medo Alimenta

Era comecinho de Abril em Eldarya, o vilarejo situado a alguns quilômetros do templo dos Fenghuangs borbulhava de faeries de todos os cantos de nossa terra, sempre fazendo uma pequena parada pela vila acolhedora antes de seguirem com suas viagens. Tudo ia de acordo com os planos e eu estava radiante! Sorria um sorriso fácil e bobo enquanto limpava o balcão da Taverna e servia bebidas aos clientes restantes. Os mesmo faziam suas gracinhas costumeiras, porém, bem intencionadas ao notarem minha não tão costumeira alegria e saberem muito bem o motivo.

— Vendo você assim da até vontade de fazer graça e ir contar para o Jun, pequena brownie. Mas o rapaz consegue ser ainda pior. – riu o ferreiro centauro, amigo de meu noivo.

— Nem me fale, hoje ele estava tão distraído e cheio de caraminholas na cabeça que passou duas horas afiando uma lâmina que já estava afiada hahaha. – disse Karue, irmão mais velho de Jun, entrando na brincadeira e piscando pra mim. – Não sei que feitiço usou no meu irmãozinho pra deixar ele assim, mas deu certo Marin. Hehe.

Revirei os olhos e ralhei com eles, fingindo estar brava. ── Ahh, deixem disso e vão pras suas casas, seus velhos beberrões! – Fazendo a taverna inteira que observava a cena rir ainda mais. – E já disse que não sou nenhuma feiticeira ou seja lá o que pensa que sou nas horas vagas, Karue! – joguei o pano que usava para limpar o balcão nele, acertando sua cara em cheio enquanto me retirava para os fundos da taverna. Pena que o ato só fez o vampiro gargalhar mais alto e suspirei, pela milésima vez naquele dia, ao ouvir “mal posso esperar pra você se juntar a familia, cunhadinha!”. 

Retirei meu avental e olhei para o meu chefe, um sátiro de meia idade, que tinha um sorriso calmo graciando suas feições enquanto preparava uma nova infusão de bebida. Perguntei-lhe novamente se ele tinha certeza que não precisaria de ajuda para fechar a taverna hoje e ele assentiu com a cabeça, afirmando que sim e que eu não precisava me preocupar.  Agradeci e desejei-lhe boa noite ao sair da taverna.  O ar fresco daquela noite de verão era agradável sobre minha pele e me pegava pensando novamente nos preparativos do casamento no caminho para casa.  Iria me casar na próxima semana com a pessoa mais divertida, calorosa e amiga que conheço e eu mal conseguia me conter de tanta felicidade. Jun e eu trabalhamos duro para conseguirmos o necessário para a realizaçãp da cerimônia e da festa. As pessoas da vila, gentis como sempre, contribuíram com o que puderam sem precisarmos ao menos pedir.

Cheguei a minha humilde residência - que não era muito diferente das outras casas da vila -, mas, se encontrava um pouco mais afastada das restantes porque meu falecido pai costumava ser um dos guardas do vilarejo. Eu não sentia fome então tratei de aquecer a água, acendendo o fogo e colocando mais lenha para que eu pudesse tomar um banho quentinho e depois dormir.

Revirava-me na cama, suór frio cobria meu corpo da cabeça aos pés até que o desconforto me fez despertar com um solavanco. Grogue, ergui meu torço e estiquei o braço para pegar o copo de água que estava sobre o criado-mudo.  Não me lembrava do que se tratava o meu sonho, mas tinha certeza que era desagradável o suficiente para me acordar. Tomei a àgua em duas grandes goladas, olhei sobre meu ombro e através da janela sobre a cabeceira de minha cama, o posicionamento da lua cheia indicava que não deveria ser mais do que três horas da manhã. Suspirei e voltei o olhar para o breu de meu quarto.

Foi quando eu a notei.

No canto esquerdo de meu quarto, havia uma mulher parada. Sua pele era de um pálido tom lilás e translúcida, seus cabelos eram longos e negros como a escuridão que cobria sua forma, ela usava um vestido de noiva tão fantasmagórico quanto seu corpo e correntes em seus pulsos e tornozelos. No entanto, nenhum desses detalhes me causara tanta vertigem quanto olhar para o rosto dela. Seus lábios eram apertadamente costurados, ela parecia olhar pra mim, mas suas órbitas oculares eram vazias e ela chorava lágrimas de sangue escarlate.

Meu corpo inteiro tremia, mas, eu não queria me mexer. Eu queria gritar, mas, não encontrava minha voz.

Assisti ela levantar uma mão transparente e apontar para trás de mim. Fechei meus olhos e rezei para todos os deuses para fazerem-na desaparecer. Mas quando os abria, ela ainda estava lá. Ainda apontando.

Amaldiçoei-me por nunca ter aprendido a lidar com fantasmas, expurgar espíritos ou até mesmo lutar como os guerreiros da guarda de eel.

Estando desamparada de qualquer proteção fechei meus olhos com força e, como as crianças fazem, joguei as cobertas sobre minha cabeça e esperei ela desaparecer. Senti então uma dor pontuda em minha nuca como se algo houvesse me picado e apalpei meu pescoço imediamente, mas não havia ferida alguma. Criando coragem finalmente, joguei as cobertas no chão e me preparei para lutar pela minha vida se necessário, mas a fantasma havia sumido.

Ao amanhecer, preparei-me para começar um novo dia de trabalho como se nada houvesse acontecido. Ver fantasmas era lugar comum para os habitantes do nosso mundo mágico então procurei não debater muito sobre a aparição daquela mulher. Talvez ela fosse apenas um espírito que ficou preso nesse mundo pois não conseguiu prosseguir para o próximo plano ainda. Eu não fazia ideia e desejei que o exorcista do vilarejo não tivesse saído de viagem na semana passada para que ele pudesse expurgar ou afastar esse espírito, fantasma ou seja lá o que fosse. Fiz uma pequena prece aos deuses para que a ajudassem seguir em frente e parti de casa em direção a taverna.

Na madrugada seguinte, o mesmo aconteceu. Quase às três da manhã acordei suando e assustada novamente, e lá estava ela. A mulher ainda apontava para algo atrás de mim e eu com muito pavor de olhar, de novo, joguei as cobertas sobre minha cabeça e esperei ela partir. Só que dessa vez eu conseguia ouvir sons sinistros que vinham de sua garganta translúcida e saiam pelos seus lábios costurados como se fossem sibilos. Me estremeci por inteira e rezei para que ela desaparecesse até que senti uma nova picada em minha nuca e me aprecei para inspeciona-la com as palmas de minhas mãos, mas, como no dia anterior não havia nenhum sinal de uma picada.
A noiva fantasma desapareceu e eu desmaiei logo depois.

Despertei um pouco depois das dez da manhã ao escutar batidas na porta de frente da casa, me sentia muito doente como se uma potente virose tivesse se apossado de meu corpo. Com muita dificuldade, levantei da cama para abrir a porta e me deparei com a expressão preocupada de Jun. Assim que o vampiro notou meu estado, me fez retornar para a cama imediatamente. Tentei explicar para ele o que havia acontecido, mas minha boca estava tão seca e a voz tão rouca que não conseguia proferir uma única palavra. — Fique aqui e não se mexa. Vou chamar a curandeira o mais rápido possível. – e saiu correndo pela porta, me deixando só e aterrorizada pois a cada minuto que passava estava me sentindo cada vez mais fraca.

A curandeira não sabia explicar o que estava acontecendo com o meu corpo porque eu adoeci de repente, e só piorava. Ela checou a estabilidade de minha maana e me fez ingerir algumas infusões de ervas medicinais. Eu sentia muita vertigem e estava debilitada demais para dizer qualquer coisa então dormi algum tempo depois que ela partiu, deixando instruções a Jun para que ele ficasse de vigília sobre o meu estado e a chamasse se eu não demonstrasse melhora.

Acordei sentindo muito frio e com uma sede insaciável, meu corpo estava inerte sobre a cama de solteiro com lençóis já úmidos do meu suor. Não conseguia me mover. Cerrei os olhos tentando me acostumar com a escuridão de meu quarto, iluminado por apenas um faixo da luz da lua pela fresta da janela. Eu não precisava virar minha cabeça sobre o travesseiro para verificar o posicionamento da lua porque eu sabia que já eram quase três horas da manhã. Porque lá estava ela.

De pé e ao lado da cabeceira de minha cama, bem próxima ao meu corpo adoecido.

Eu a fitei, cansada demais para sentir horror ou desespero. Queria chamar a Jun que cochilava na sala adjacente ao meu quarto, mas ele não ouviria porque eu estava sem voz.

Observei a noiva fantasma levantar uma mão pálida e apontar para algo debaixo de minha cabeça. Eu queria virar o pescoço para ver o que era, mas meu corpo já não respondia aos meus comandos. Ela apontava e sibilava com mais intensidade e eu lhe perguntava em pensamento:

“O que? Me diga o que é. Você quer me matar? É isso, não é?”

Ela grunhiu produzindo um som espectral, balançou a cabeça e voltou a apontar. Ela chorava lágrimas sangrentas que agora caiam sobre os lençóis da cama como se fossem tangíveis.

“Medo...ele....me-do...não sin-ta...” – ela sussurrara de volta em meus pensamentos com uma voz quase inaudível enquanto suas lágrimas corriam por seu rosto como uma cascata carmesim.

Três horas da manhã.

Senti uma picada intensa na base de minha nuca. Dessa vez, a dor era excruciante e fazia todas as células de meu corpo queimarem como se estivessem em chamas ou como se milhares de estacas de gelo tivessem sido enterradas em meu corpo. Eu gritava de angústia e implorava para que essa coisa que estava tentando me matar acabasse comigo logo. Ouvi alguém dando porradas na porta do quarto que fora selada por algum tipo de magia das trevas, era Jun que gritava por mim desesperadamente.

A dor parou e eu sentia frio. Muito, muito frio.

── Sinto... mui-to... não conseg-... ajuda-lá...ele... que-ria mais... – ela soluçou.

Eu sentia que estava de pé, ao lado da mulher fantasma e eu ouvia sua voz claramente agora. Minha boca não se movia, meu rosto estava úmido e eu só enxergava escuridão e sangue. Tanto sangue. Usava um vestido e sentia pesos nos meus pulsos e tornozelos. Eu sabia no que havia me transformado.

Eu já não estava mais no meu corpo original que agora se encontrava imóvel em cima da cama. Percebi com horror uma energia maligna no quarto, uma criatura pequena e asquerosa em cima do travesseiro se alimentava da energia restante pela base da nuca de meu corpo humano. Eu chiei de ódio e aflição.

A mulher disse que aquilo era um homúnculo que fora enviado por seu mestre para sugar as almas de jovens noivas prestes a se casarem e transformá-las em suas esposas.

Se ao menos eu a tivesse compreendido quando ela tentou me avisar. Se ao menos pudéssemos evitar que mais jovens fossem mortas da mesma forma durante os anos de colheita da criatura.

Mas o medo é um sentimento impossível de se controlar e é dele que os seres da noite se alimentam.

Comprovante de Vestimenta

Minha Participação

Itens utilizados:

PELE ASTRAL PROPHET
BOCA TWISTED HARPY
OLHOS POSSUÍDOS
ALHÉNA
1 COLLANT EVIL SUCCUBUS
2 TATUAGEM VOODOO PRIESTESS
3 TATUAGEM BELLS BEARER
4 LANTEJOULAS LOVE GODDESS
5 GARRAS TWISTED HARPY
6 UNHAS PONTIAGUDAS
7 ASAS EVIL SUCCUBUS
8 COLAR EVIL SUCCUBUS
9 CHIFRES EVIL BARONESS
10 LÁGRIMAS STAINED-GLASS WIDOW
11 OLHEIRAS SWEET MOURNE
12 ESPECTRO SPIRITED AWAY
13 RESPINGOS LOST BRIDE
14 OLHO SPIRITED AWAY
15 CAUDA EVIL BARONESS

Amanancy

Já era tarde da noite e todos os preparativos para a festa de Halloween no QG estavam prontos. Ezarel, Valkyon, Nevra e Leiftan estavam em uma rodinha, contando como foi cansativo o dia e blá blá blá. Eu, a Miiko e a Ykhar estávamos mais exaustas do que eles e, mesmo assim, ainda revisamos se estava tudo bem.

- Eles nem perguntaram se precisamos de ajuda... - Diz Ykhar, fechando a cara logo em seguida.
- Vai ver eles pensam que podemos cuidar de tudo, é algo positivo, Ykhar. - Digo, não gosto muito da Ykhar, porém gosto menos ainda quando as pessoas ao meu redor tem pensamentos negativos, ainda mais esse mês.
- É... sim, talvez... - Responde Ykhar.
- Bom, agora que já está tudo resolvido, vamos nos juntar a rodinha deles. - Comanda Miiko.

Nós 3 nos aproximamos dos meninos, que estavam sentados no chão da sala das portas. Leiftan foi o primeiro a perceber a nossa vinda, seguindo de três batidinhas no chão, ao lado de seu corpo. Acredito que era um convite para juntarmos a eles.
Após nos sentarmos e a rodinha ter aumentado, Nevra e Ezarel tiveram uma brilhante ideia.

- Vamos contar história de terror - Nevra e Ezarel dizem em uníssono.
- O-Oque ?! Vocês são loucos, é Halloween... - Ykhar se opõe.
- Ah, vamos Ykhar, essas lendas são falsas. - Leiftan tenta acalmar Ykhar.
- Lendas? Que lendas? - Eu pergunto.
Miiko suspira - Diz a lenda que, se você tem um lado ruim e escuta as famigeradas histórias de terror, no Halloween, esse seu lado pode vir a aparecer. - Explicou a Kitsune.

Eu começo a suar frio, ninguém do QG sabe da existência do meu lado demoníaco, prefiro manter ele em segredo de tudo e todos. Já destruí muitos planetas, não quero que Eldarya sofra o mesmo.

- Bom, tanto faz para mim. Irei dormir, estou cansada - Afirmo e logo em seguida levanto.
- Quer que eu te acompanhe? - Valkyon pergunta.

Antes que eu pudesse responder, Leiftan se opõe.

- Ainda está tão cedo e, pelo o que eu me lembre, você nunca ouviu nenhuma história de terror de Eldarya. - Leiftan diz.
- Ou você está escondendo algo de nós - Diz Ezarel.

Valkyon dá uma leve cotovelada nas costelas de Ezarel. Não quero esconder nada deles, mas sei o quão assustador pode ser o meu lado cruel.

- Eu... bem... eu... - Tento dizer algo.

Todos estão me olhando, eu não gosto disso, odeio atenção. Quero gritar, quero correr e me esconder, mas não posso, não agora, não aqui, preciso contar a eles, preciso...

- Eu tenho medo de histórias de terror! - É o que sai da minha boca.

Todos parecem normais. Pensei que ao menos o Ezarel iria rir, mas eles assentem. Porém, para a minha desgraça, Ykhar abre a boca.

- Bom, podemos ficar abraçadinhas com você, assim você não sentirá muito medo. - Ela supõe.
- Valkyon poderia fazer isso por você - Diz Ezarel, com um sorriso medíocre no rosto.

Alguns de nós sabemos que a Ykhar gosta do Valkyon, porém mais de nós sabemos que eu gosto do Valkyon. Sem poder responder, sentei. Ykhar veio até mim, imaginei, o Obsidiano está muito envergonhado para fazer alguma coisa.
Como se já não bastasse, quem começa os contos é o Ezarel, umas histórias ridículas sobre necromantes e blá blá blá. Em seguida, o Nevra, com mais histórias de vampiro. E então, o Leiftan, contando sobre os Aengels. Estou começando a me sentir desconfortável.
Estou suando frio? Não, salivando? Por favor, não. Preciso ir embora, estou com medo dessa lenda, desse mito, quero sair mas... sinto falta, quero destruir, eu gosto do sangue, sinto falta do sabor dele, das minhas unhas cravando nas minhas vítimas. Minha respiração... ah, ela está... rápida...

- Amanancy? Está com medo mesmo? - Ykhar responde. Bom, eu acho que é a Ykhar, não sei, não me importo, eu só quero matar...

- Amanancy... o que... - Parece ser a Miiko.

Não me importo, eu explodo. Não sei o que está acontecendo, tudo está escuro, quero matar, quero matar, quero matar. Escuto gritos, vejo borrões. Os meninos estão com suas armas, como? Elas não estavam aqui a um segundo atrás.
Vejo uma coelha, ah, uma coelha... é uma coelha? Não me importo. Vou em direção a ela, com garras e dentes preparados e afiados. Escuto gritos, sinto o sabor do sangue, vejo desespero. Sim, eu gosto.
Vejo sangue, caindo de mim. Ah não, estou chorando. Ferida? Eu? Nunca, só minha mãe consegue me atacar nesse estados. Eu realmente estou chorando sangue, de novo? Por que? Qual o motivo de eu chorar? Eu gosto de tudo o que está acontecendo, não gosto? Então... por que choro?
Algo está vindo, algo está vindo, preciso desviar, desviar. Desvio. Mas... quero mais, mais, mais, mais.
Avanço e avanço, ataco cada ser que vejo. Dentes, garras, sangue, dor, gritos. Eu gosto, eu gosto.
Por quanto tempo mais? Não me importo, eu quero, eu desejo, eu suplico. Uma kitsune, sempre quis saber seu gosto. Avanço. Sou atingida. Sou atingida? Isso nunca aconteceu, fica... tudo... estranho...
Caio. Vejo uma silhueta. Kero? Kero? Quem é Kero?
Meu coração... está tão rápido... mãe, pai, eu não quero destruir esse mundo, por favor, façam parar!

E o silêncio toma conta. Apenas escuto uma voz distante, está chamando meu nome? Ela é familiar... quem... quem pode ser?

- Amanancy acorde! Sou eu! Valkyon! - Ele grita.

Pulo logo em seguida, consigo ver tudo, todos, está... normal. Todos parecem assustados, estão machucados, sangrando. Eu fiz isso? Mais importante; eles pararam isso?
Corro meus olhos por todos, tento achar uma resposta, alguém, algo. Kero percebe a minha sede de respostas, e ele me oferece-a.

- V-Você... atacou a todos. Eu estava no meu quarto e... bom, não só eu... todos no QG... bom... - Kero tenta explicar, mas Miiko se põe à frente.
- Você tem um lado cruel e nós não sabíamos. Se tivesse nos contado a verdade nós não forçaríamos você a ficar. Estamos todos surpresos, Amanancy e talvez... com medo. - A kitsune me responde.
- Eu não tenho palavras para... só me perdoem. Meu passado me condena e persegue... meu pai... o meu pai... ele é um demônio desconhecido, não sabemos de onde ele vem e nem do que ele é capaz. Eu e minha mãe teorizamos que esse lado veio dele. Eu não queria que vocês tivessem medo de mim, me perdoem, eu... como? Como me pararam? - Falo, desabafo, pergunto.
- Eu te selei. Lembro de você sempre andar com um colar com pedra azul, não vi ele em você, então eu... eu tomei a liberdade de entrar no seu quarto e procurar um! - Kero responde.

Estou perplexa e todos também, vou ser expulsa da guarda, é lógico que eu vou.

- Não toleraremos mais esses segredos, Amanancy. Amanhã, depois da festa, você me contará tudo sobre você. - Miiko manda.
- Ela precisa de tempo e privacidade - Diz Leiftan.
- Não me importa, olha o estrago que ela causou! - Miiko diz.
- Eu não estava ciente... eu nunca estou ciente... - Digo.

O silêncio toma conta. Tenho medo, não quero perder esse lugar...

- Por favor... me perdoem, eu nunca quis machucar ninguém e... tinha medo de que vocês me tratassem diferente.

Não só eles estavam aqui, o QG inteiro, sem a parte dos refugiados. Escuto cochichos, tenho medo que eles me mandem embora.

- Deve ser difícil para você, eu te entendo, Amanancy. - Ykhar fala, para a minha surpresa.
- O que?! - Miiko ruge.
- Miiko, pense bem, ela fugiu de sua casa, tentou esquecer quem era, ela só queria uma vida nova! Agora que sabemos, podemos evitar isso sempre. Certo pessoal? - Ykhar palestra, todos começam a apoiá-la.
- Ykhar... eu... - Tento dizer, mas sou interrompida.
- Não a agradeça, é a coisa sensata a se fazer. Te deixar solta por aí pode ser perigoso... Bem, quando você se sentir bem... conte tudo. - Diz Miiko.

Começo a chorar, todos ficam surpresos, mas é de alegria. Eles não me expulsaram, eu posso continuar aqui... talvez eu deva contar tudo eu irei contar tudo...
Alguns me abraçam, dizem que vai ficar tudo bem. Eu não destruí nada, só machuquei as pessoas. Ewelein vai ficar brava comigo...
Eu machuquei, quase matei e quase destruí tudo, mas estou bem, estamos bem. Será que isso vai se tornar um conto um dia? Uma história de terror que acabou bem? Eu não sei, mas estou feliz, muito feliz.
Obrigada.

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Itens utilizados:
SAPATOS SALTO ALTO FORTUNE TELLER
SAIA STAINED-GLASS WIDOW
CETRO STAINED-GLASS WIDOW
BLUSA STAINED-GLASS WIDOW
COLARINHO GÓTICO
CHIFRES NECROMANCER
VÉU NECROMANCER
CRUZES ABANDONADAS

A Mulher do Diabo.

Em volta da fogueira, enquanto cada um contava silenciosamente a sua estória e os outros ouviam atentamente, Leiftan se mexia desconfortavelmente no pedaço de madeira, suas mãos se mexiam rapidamente e sua respiração parecia lhe faltar, foi quando Alajéa perguntou cuidadosamente:

Leif, está tudo bem? 

Todos voltaram seus olhares para ele e o faerie parecia ter sido tirado bruscamente de seus pensamentos.

Es- Está sim. - Ele engoliu seco

Todos conhecemos você, Leif, nos conte o que houve. - Disparou Miiko, pacientemente.

Ele se ajeitou no tronco e respirou fundo na tentativa de se acalmar, antes de começar a falar. 

Quando eu tinha apenas dez, talvez onze anos, eu perdi um mascote meu, eu o adorava e não nos desgrudávamos, então foi quando chamei meu irmão para o procurar comigo. - Todos pareciam espantados e olharam mais atentamente para Leiftan. 

Sim, eu tinha um irmão, ele tinha a mesma idade que eu, mas não tinha porque contar isto, nós não tínhamos uma ligação tão forte, mas ele ainda era meu irmão. Era um dia frio demais, quieto demais, mas ele aceitou ir comigo por saber o quanto aquele mascote importava para mim. Já estava a noite, eu sabia que ele havia ido para alguma floresta e foi para lá que seguimos, nós andamos por muito tempo, ele já estava cansado e pediu para deixarmos para procurar outra hora, mas eu insisti, até que no meio do caminho, alguns ossos estavam jogados no chão, as árvores pareciam se mexer mais forte com o vento e o dia mais escuro, cada vez mais escuro, como se me engolisse, eu sabia que devia voltar, mas continuei, foi quando a vi. Ela levitava sob um rio que havia mais a frente, seu rosto era tampado por um véu negro, seus cabelos eram longos e brancos como a neve, ela tinha longos chifres negros, segurava um cetro em uma de suas mãos que possuía caveiras acesas como uma vela e vestia um longo vestido que sua saia rodada aparentava esconder milhares de corpos ali de baixo. Nós congelamos de medo, começamos a tremer, íamos voltar sem que aquela coisa que não sabíamos o que era percebesse, mas ela já estava virada em nossa direção, parecia que estava nos esperando. Ela soltou uma risada rouca e fraca, sem mostrar seus dentes, mas que amedrontava qualquer um, estendeu a mão com suas unhas enormes e pontudas para que fossemos até o lago, e tudo o que fizemos foi correr sem olhar para trás, pra de volta a nossa casa. Não sabíamos o que tinha acontecido, quem era aquele ser, mas não queríamos vê-la nunca mais. Uns quatro dias se passaram, meu irmão estava doente e não levantava da cama por nada desde aquele dia, tentamos alguns remédios, poções, e nada parecia adiantar, ele estava pálido, não proferia uma palavra sequer, não nos olhava, parecia que já estava morto por dentro. - O faerie respirou fundo, algumas lágrimas rolavam por suas bochechas enquanto ele tentava contar da maneira mais fria possível sua estória, alguns já olhavam a sua volta algumas vezes para se certificar de que não havia barulho ou movimento nenhum vindo da floresta, já estavam preocupados e inquietos. 

Foi quando começamos a perceber coisas acontecendo dentro da nossa casa, barulhos estrondosos vindo do sotão como se alguém pulasse lá em cima com uma força descomunal, sons de correntes sendo arrastadas enquanto dormíamos, vozes proferindo palavras rapidamente em sussurros em uma língua desconhecida, e gargalhadas baixas no pé do nosso ouvido como aquela que já havíamos escutado na floresta, ninguém acreditava no que eu dizia e ela estava imóvel demais pra dizer algo. Eu já sabia o que estava acontecendo, eu sabia que aquela coisa estava sugando a energia do meu irmão e queria tomá-lo, foi enquanto segui os mesmos passos e fui atrás dela, eu não a achava, nada estava igual aquele dia, não tinham os ossos e nem ventava igual, eu me sentei de baixo de uma árvore e comecei a chorar, eu ia perder o meu irmão e não sabia como vencer aquela força. Então eu ouvi aquela risada de novo, baixa, vindo de trás de mim, ela também estava de baixo da árvore, mas do outro lado, atrás de mim. Mexi meus olhos um pouco pro lado e pude ver o canto da sua saia rodada aparecendo de trás da árvore. No meio das lágrimas, eu perguntei o que ela queria comigo e com meu irmão, e então ela começou a cantarolar uma música que falava sobre bruxas, sobre ser enforcada e amaldiçoada, enquanto andava lentamente em volta da árvore, a arranhava com suas longas unhas, fazendo seus dedos sangrarem, como se eu não estivesse ali. Ela parou abruptamente na minha frente, se virou para mim, agachou na minha frente, seu rosto a centímetros de distância do meu, ela levantou devagar seu véu, revelando marcas profundas em seu rosto, seus olhos eram brancos, como se não enxergasse, ela sorriu então, revelando também seus dentes velhos e podres. Ela era apavorante, eu estava com medo como nunca havia sentido antes, ela era o meu pior pesadelo, eu queria gritar, mas nada saía. “A alma dele” ela começou, antes de chegar mais perto pra continuar “É minha.” foi tudo que disse antes de sumir.  Depois disso, quando eu voltei, meu irmão não estava mais lá, ninguém nunca o achou e também nunca acreditou em nada que eu disse. Nunca mais encontrei meu mascote perdido, nem o meu irmão querido.

Leiftan, não precisa continuar se não quiser, não iremos te fazer perguntas nem julgar, já foi tenso o bastante. - Disse Nevra, que tinha Alajéa abraçado consigo, que chorava ao ouvir tudo que Leif contava.

Eu me senti culpado por tudo sabe, se eu não tivesse ido até a floresta... talvez ele estivesse aqui ainda. - Ele mexeu na pulseira prata com um pingente de alguma pedra preciosa que acompanhava seu pulso. 

Isso foi a única coisa que me sobrou dele.  Depois de alguns anos eu até cheguei a procurar alguma pista de onde encontrá-la novamente, eu nunca mais a achei, mas encontrei um pouco sobre sua história. Em uma missão que eu completava na Aldeia dos Amaldiçoados, ao conversar com um faerie, descobri que a muito tempo atrás, ali, houve uma grande maldição que levou dezenas de almas, deixando famílias sem seus entes queridos. Uma mulher, exatamente como eu me lembrava, se chamava Medeia, teve sua família morta na sua frente quando fora descoberta bruxa, foi castigada e torturada por anos antes de sumir. Existe a história que quando entraram em seu cativeiro, havia uma explicação de seu sumiço e símbolos nas paredes feitos com seu sangue, Medeia alegou que havia conversado com o Diabo, que era sua última opção, queria seu corpo livre em troca de qualquer coisa. Medeia se tornou mulher do Diabo, começou a usar seu véu pois seu rosto já estava marcado de cicatrizes que deixaram em seu corpo em anos e anos presa ali, seus olhos quase brancos foram conquistados na troca, perdeu quase toda sua visão e seus chifres foram ganhos através de seu pacto. Dizem que sua alma ficou dentro do cubículo onde foi mantida presa, mas jurou antes do seu falecimento que passaria por cima de todos, e levaria todas as crianças que quisesse como seus filhos, e de seu novo marido. E até hoje eu fujo do assunto, eu não quero mais saber, eu não sinto medo de nada, mas Medeia faz meu corpo estremecer até hoje, é a pior coisa que assombra minha vida, parece que vai me acompanhar para sempre.

Todos tremiam e não proferiam uma única palavra.

A noite acabou. - Alegou Miiko.

Há boatos que Medeia talvez estivesse observando toda a história desde o ínicio do canto de alguma árvore no meio da floresta, com sua risada fraca e diabólica, com seu véu tampando toda sua face. Há boatos que ninguém conseguiu dormir aquela noite, principalmente Leiftan, que podia jurar que ela estava ali, deitada do lado da sua cama, rindo em sua nuca.

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Itens utilizados:
Cabelo Naia.
Chifres Evil Baroness.
Olhos possuídos.
Boca Twisted Harpy.
Olheiras Sweet Mourne.
Lágrimas Stained-Glass Widow.
Sorriso de anjo.
Collant Evil Succubus.
Tatuagem Salty Queen.
Feridas Ouvertas Sweet Mourne.
Braço Skeleton Witch.
Garras Twisted Harpy.
Cruzes abandonadas. 

A amaldiçoada.

1880

A lua cheia brilhava com intensidade revelando pequenos detalhes da floresta cerrada, tornava nítido os pormenores das máscaras macabras, obviamente feitas de couro que os homens trajavam.
Estranhamente os passos apressados e murmúrios de dor da mulher eram os únicos sons percetíveis, nem os animais ou vento pareciam se opor a tal acontecimento, aquele isolamento importuno roubava os sentidos.

Pensamentos do que podia acontecer rasgava sua mente mais forte que os galhos e pedras que lhe magoavam a pele, o medo a tornava eufórica impossibilitando a respiração.

Os homens, quatro no total, não pareciam estar minimamente importados com bem-estar alheio, enquanto a arrastam pelos braços e cabelo colina a cima.
A mulher gritava quando novamente algo laminava sua perna esquerda superficialmente, podia sentir o sangue espesso escorrer e molhar o leve vestido branco.

- Por favor, meu corpo dói, compadeceis com meu sofrimento.

Suplicava e novamente apenas sons de desagrado ecoaram por baixo da máscara.
Estava cansada de lutar, pois sabia que não a levaria a lugar nenhum, as últimas 2 horas gritando apenas renderam contusões e garganta inchada.

- Tudo acabará em breve, livraremos seu corpo de todo sofrimento permanentemente, alegrai-vos.

Finalmente palavras, porém, não aquelas que almejava. Lágrimas escorreram incontrolavelmente sobre rosto outrora iluminado, enquanto novamente lutava sem sucesso.
Não foram precisas muitas palavras para entender qual seria o seu destino.

A fatídica viajem terminara quando eles se encontravam no topo de uma pequena montanha totalmente gracejada pelo luar, com um altar de pedra manchado de vermelho localizado no cume.

O pânico a cercava e os pulmões pesavam, subitamente a adrenalina a tomou e rendeu forças suficientes para tentar uma fuga desesperada assim que a largaram, resultando apenas em queda feia, quando brutalmente a puxaram pela perna.
Enraivecido um dos homens deferiu um soco em seu rosto tão forte que abalou o cérebro, os outros não satisfeitos se opuseram pondo-se a frente da pobre mulher.

- A deusa não aceitará a oferenda se estiver demasiado danificada!

Gritava um deles e o agressor recuava bufando.
A mulher quase havia perdido os sentidos de tão forte que fora o embate, o gosto do sangue apoderava-se do paladar e a confusão fizera seu estômago se revirar e lançar a última refeição sobre as vestes.

Os homens pareciam furioso pelos seus murmúrios de indignação, um deles sem quaisquer delongas arrancou o vestido do corpo alheio com dolorosos puxões, enquanto a chamava nomes pejorativos.

- Nojenta…

Dizia ao concluir a retirada dos últimos pedaços do tecido úmido e sujo, ao passo que o vento frio fez gelar sua pele desnuda, porém, a vergonha e humilhação a aquecia.

- Vamos dar início.

Ordenava o que parecia ser o líder e todos eles cobriram o cabeça com os capuzes pontiagudos de cor escarlate.
Sussurros arrastados pelo vento arrepiavam a pele da garota que tentava cobrir o pequeno corpo com as mãos, enquanto chorava inconsolavelmente.

- EU NÃO QUERO MORRER!

Gritava mesmo sabendo o quão inútil era, desperdiçando o pouco de forças que restavam.
Dois dos homem a arrastaram totalmente enfraquecida para cima do altar, a amordaçaram e ataram seus pulsos e tornozelos na pedra fria que gelava os músculos tensos.

- Eu não quero morrer…

As palavras ressoavam na mente como cacos de um espelho quebrado, enquanto seus olhos desesperados encaravam a lua, ela parecia não se importar com que acontecia, ao ponto que o brilho outrora azul e puro se tingia de vermelho.
As lágrimas a cegavam e sua mente se via inundada de pensamentos passados que tornavam cada segundo mais longo e torturante.

- Eu… não quero morrer?

Fechava os olhos ao ver que afiada adaga fora erguida nas mãos do líder. As últimas lágrimas aqueceram a face da mulher que aceitara a morte, e nada mais a incomodava. Nem os cânticos estranhos, nem a dor do corpo cansado, nem a lamina deferida várias vezes no peito, nem o sangue que escorria abundantemente e banhava sua pele, e muito menos a alegria da lua.

Sufocava no próprio sangue ao mesmo tempo que o último suspiro lhe fora injustamente arrancado, enquanto os homens se riam entre louvores. 
     
“Você deve estar se perguntando, o que acontece quando um sacrifício não é aceite?”

Após 3 dias o corpo dilacerado iniciava a putrefação, crowmeros e cheads se alimentavam da carne antes preenchida de júbilo e vivacidade. Fora quando seus olhos outrora brilhantes se abriram, tal como poços eram tomados pela escuridão. Os mascotes desertaram no mesmo instante, amedrontados por tal magia negra.
O cheiro podrido se intensificava ao ponto de a vegetação ao seu redor perecer. Ela já não era uma faerie.

A alma agora amaldiçoada exalava ódio e rancor, o coração perfurado que não batia mais ansiava por vingança e movida por esta, começara a caça.

…

Como névoa, aparecia diante de seus carrascos e mostrava a eles como os pesadelos eram feitos. Nada restava para além de ossos, vísceras e grandes poças de sangue. Em menos de 2 dias, três dos homens conheceram o amargo sabor da retaliação, mas não era suficiente.

Com a fome insaciada procurou pelo membro restante, o líder, deixando banhos de sangue por onde não o encontrava, pois, mesmo estando vinculada a ele, o homem parecia particularmente difícil de encontrar. Como consequência, vilas perderam todos homens cujo corações pesavam com crimes passados.

- Pecadores… não me… compadecerei… com vosso sofrimento…

Dizia antes de comer a carne e coração dos infortunados.
Relatavam pessoas que de sua garganta soavam três vozes distintas, tão agoniante que fazia sangrar os ouvidos de quem tivesse a infelicidade de a ouvir, e que de seu crânio surgiram dois grandes chifres semelhante a demónios sanguinários...

Foi apenas na terceira semana, após uma busca intensa que se encontrara o líder, escondido nos recantos obscuros da floresta desencantada. O lorialet não parecia se surpreender com a figura deformada de alguém que outrora viveu como mulher, muito pelo contrário, parecia esperar por ela. A amaldiçoada, por outro lado, esboçava algo semelhante a um sorriso satisfeito.

- Finalmente…

Falava prolongadamente e com certa dificuldade, enquanto a pele de sua face parecia derreter como cera. O cheiro forte e repugnante podia ser sentido pela floresta inteira e nem mesmo as erínias se atreviam a intervir.

- Vós deveis ser grata, transformei-vos em algo mais temido que a morte.

Dizia o homem orgulhosamente, enquanto abria braços admirando seu trabalho.

- Obviamente não foi minha intenção, mas olhei, agora não tens mais que suplicar ou chorar pela vida.

Ria alto exaltando a deusa pagã, a qual o sacrifício supostamente deveria ter sido entregue.
Antes que pudesse abrir novamente os olhos, a mulher disforme arrancou a língua do homem com tal velocidade que o sangue não pude acompanhar, jorrando segundos depois em abundância, acompanhado pelos gritos agonizados do homem.

- Você… quer… um… agradecimento?

Novamente esboçava um sorriso macabro, dessa vez tão grande que a pele se rasgara, apresentando a ele todas as três fileiras de dentes afiados que usara para arrancar o nariz, mais tarde os olhos e a pele.

O massacre durou 4 dias com ele ainda vivo, sem ter como pedir pela morte, enquanto tinha a pele do crânio arrancada tão meticulosamente que a alma não deixou o corpo. No ultimo dia quando incapaz de gritar por todas as forças terem sido drenadas, ela se entediou da falta de entusiasmo, como ato de misericórdia arrancou lentamente o coração ainda batendo, e se alimentou de cada pedaço.

Tudo deveria ter acabado, pois, seus assassinos pagaram pelos crimes e a alma recebera a tão devida vingança, mas não, seu corpo ansiava por mais, mais sangue e carne, mais gritos e pedidos de piedade.
E assim, incapaz de parar, iniciava outra caça a homens pecadores. Resultando em várias famílias destruídas e crianças deixadas órfãs, tudo para saciar sua fome por uma justiça deturpada.

Teve de ser convocada todas as guardas de Eel para a destruir, resultando em muitas almas ceifadas pelo monstro. No final a única forma de a conter foi realizando um pacto com a própria deusa que a amaldiçoou. Oferecendo 100 almas em troca de um selo capaz de a conter nos confins do labirinto das almas.

Cem pessoas ofereceram suas vidas por um frágil acordo pagão, que dizia: “O corpo da amaldiçoada permanecerá em repouso, desde que, jamais um homem usurpe uma alma sobre o olhar atento da lua cheia.”

Obviamente eles não cumpriram o parte do acordo... 

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Minha Participação

Itens utilizados:

Coroa Stained-glass Widow
Lágrimas Stained-glass Widow
Vestido Fortune Teller
Braços Gelados
Feridas Ouvertas Sweet Mourne
Botas Veiled Claws
Sapato Petrifying Empress

Seus olhos

    Nevra, de todos os habitantes do Refúgio de Eel, era o que mais tinha conhecimento acerca do Halloween ou, como os anciões com quem teve contato em sua infância chamavam, do Samhain, o dia de culto aos mortos. Diferentemente dos dias que o sucediam, o Samhain não tinha a intenção de honrar os mortos e suas memórias, mas sim de cultuá-los em rituais profanos e deturpados que brincavam com a moral e sanidade. Não era à toa que esta noite era conhecida pela noite em que o véu entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos estava baixado, permitindo que almas vagassem para ambos os lados desta moeda corroída por medo e superstições.

    Mas o líder da guarda da Sombra sabia muito bem que superstições sempre tinham um fundo de verdade, quer os outros acreditassem ou não. Por mais que sua fama o fizesse ser conhecido como o detentor do conhecimento das melhores lendas, aquelas que faziam todo o seu ciclo de amizade ficar com os pelos da nuca em pé, Nevra tinha total noção de que brincava com algo muito perigoso. Por mais que os cidadãos de Eel fossem pessoas com muitas ligações espirituais, eram indivíduos que preferiam deixar as histórias das terras sombrias como meras estórias, contos e fábulas criados para divertir à todos em uma noite como aquela. Noite cujo significado fora subvertido para tratar-se de horas escuras de diversão, envolvendo doces, festas e interações como as rodas de estórias de terror que seus colegas faziam, rodas nas quais Nevra era considerado o rei.

    Nevra tinha total respeito pelas estórias que contava ou pelas estranhas tradições que os povos sombrios carregavam, mas nem por isto ele deixava de ser audacioso. Com a intenção de impressionar seus amigos, o moreno decidiu contar uma história verdadeira há alguns anos. Nada aconteceu à ele ou aos presentes, o que lhe serviu como incentivo para continuar, ano após ano, a contar histórias que tinham raízes profundas e ancestrais, que carregavam sentimentos poderosos em suas palavras. E a sensação de intangibilidade acabou por apoderar-se do faery, que já não media mais o que falava nas noites de 31 de Outubro, certo de que nada lhe aconteceria. Espíritos não se importavam com discursos longos sobre suas história… Ao menos, era isto que ele tinha concluído após anos desafiando a ira dos mortos. E o vampiro não poderia estar mais enganado.

    Naquela noite de Samhain, Nevra se arrumava em seu quarto para juntar-se à seus colegas na borda da floresta, onde fariam a sua reunião anual para contar estórias de terror. Sempre após a caça aos doces terminar; sempre após a última vela se apagar. O moreno terminava de ajeitar o fraque em seu tronco, orgulhando-se do tom de ébano que havia escolhido. Por mais que o natural fosse todos estarem acabados e desarrumados após a primeira fase de diversão, o faery não deixava a vaidade de lado naquela reunião, especialmente quando ele tomava o papel de protagonista e mantinha os olhos de todos fixos em si, observando cada uma das reações assustadas e tensas de seus amigos, até mesmo dos mais valentes como Valkyon. No entanto, era a expressão aterrorizada dos “mais fracos ao terror” que o encantava, que o dava poder naquelas horas escuras para encarnar as lendas mórbidas que contava, desde os movimentos da ponta de seus dedos à voz baixa e atormentadora, capaz de deixar todos sem fôlego — caso ele assim desejasse.

    Naquela noite, ele já estava decidido sobre a história que seria o ponto alto da noite, a “cereja do bolo” como Erika bem o havia ensinado. Nevra tinha escolhido uma história há muito enterrada e esquecida até mesmo pelo povo sombrio com quem ele coabitara em seus dias de infância. Uma vez pronto, Nevra saiu de seu quarto, deixando Shaïtan dormindo tranquilamente embaixo de sua cama. Talvez, se o jovem líder tivesse esperado alguns segundos mais, ele tivesse percebido os ganidos de medo emitidos pelo Black Gallytrot ao encolher-se como uma bola de pelos, agonizando… Mas talvez estivesse aí a malícia daquele que o perseguia naquela noite profana; a crueldade de devorar o que cercava Nevra antes de chegar até ele, o prato principal.

    Caminhando pelos corredores vazios do QG, o vampiro andou a passos rápidos para o lado de fora, ansioso para encontrar seus companheiros, completamente alheio à presença que o observada das sombras, os olhos seguindo o faery como o olhar de um lobo faminto persegue sua presa. Mas até mesmo lobos possuíam alma, e a figura que espreitava atrás do líder da guarda da Sombra já havia perdido a sua há éons.

    Sozinho nas ruas desertas e sem vida, o moreno aproveitou a solidão e o clima fúnebre para entrar em sintonia com as histórias que contaria naquela noite. Ele precisava conter sua animação e encarnar a seriedade necessária para arrastar seus companheiros naquelas narrativas distorcidas e macabras. O vampiro fechou os olhos, andando pelo Caminho dos Arcos com facilidade, acostumado com as passagens que usava frequentemente. Em sua mente, repassava os terrores que compartilharia naquela noite, apagando aos poucos sua excitação e entrando em um estado de entorpecimento onde nada era capaz de tirá-lo de sua concentração. Ele repassou todos os contos em sua mente, um a um. Aqueles que observam, a noite branca, o caminho subterrâneo... Todas histórias curtas que aumentariam o medo e tensão até chegar na coroa da noite: seus olhos.

    O conto que Nevra havia escolhido era sobre uma humana chamada Ethel Devonshire.

    Ethel Devonshire era a filha de um homem rico e poderoso de sua época, uma garota poupada dos fardos que os “comuns” carregavam, uma menina privilegiada, fadada a viver usufruindo do bom e do melhor. A garota cresceu cercada de amor e carinho, tornou-se detentora de uma beleza invejável e de um coração puro capaz apenas de reproduzir o bem. Mas a perfeição está reservada apenas ao divino, e as sementes de podridão escondem-se muito abaixo da superfície, esperando o momento certo de germinar e desabrochar, espalhando o mau que corrompe tudo o que toca.

    A humana era detentora de cabelos ondulados, volumosos e ruivos. Olhos verde-grama redondos como amêndoas com raios cor de âmbar que assemelhavam-se ao sol, as duas jóias que davam vida e preciosidade à dama. Uma pele alva e imaculada, macia como fios de algodão entrelaçados em uma coberta quente e aconchegante. Lábios cheios e vermelhos como o sangue, artifícios com a capacidade de provocar o desejo naquele que observasse o beiço por muito mais tempo. Para emoldurar sua beleza e destacar sua boca, Ethel possuía o hábito de vestir-se de carmesim, uma visão que fugia aos padrões da época; uma visão atordoante de tão bela. 

    Ethel possuía tudo do bom e do melhor. Mas também possuía uma maldição.

    Humanos só veem aquilo que podem explicar, aquilo com que suas mentes pequenas são capaz de lidar. O inexplicável, se bom, é convertido em divino. O inexplicável, se ruim, é convertido em maligno. A pobre garota Ethel, poupada das mazelas da vida, viu-se incapaz de lidar com o fardo de sua maldição, que roubou gritos de pavor da menina ao manifestar-se pela primeira vez aos seus dezessete anos. Ethel era dotada do que os humanos, hoje, chamam de mediunidade, a capacidade de enxergar através das barreiras que separam os vivos e os mortos. Aqueles como Ethel, na época em que a menina vivia, eram executados ao demonstrar o menor sinal de sua habilidade — eram considerados bruxos e bruxas, adoradores do Diabo, pessoas com ligações aos faeries. Para o azar da menina, não ter ninguém como ela não significou apenas não ter quem ajudá-la a lidar com suas habilidades mas, também, a ser a única capaz de enxergar; a única capaz de servir como ponte aos dois mundos.

    Assim, os espíritos que vagavam pelo reino dos mortos procuravam pela pobre Ethel todas as noites, esperando que ela lhes ajudasse enquanto o Samhain não chegava. Todas as noites e dias, Ethel era atormentada pelas almas que buscavam por ela, almas cheias de bondade ou preenchidas com maldade. Para o infortúnio da pobre garota, suas visitas não estavam restritas a espíritos humanos e suas habilidades chamavam atenção de almas faeries — e, apesar da existência de espíritos malignos entre as almas humanas, eles não eram dotados de habilidades formidáveis como os espíritos faeries. Os feitos distorcidos que um faery faz em vida acompanham-no durante a morte, um reflexo de suas ações perturbadoras que agora eram compartilhadas com a menina Ethel.

    Ethel ouvia seus sussurros repulsivos. Ethel via suas ações sórdidas e repugnantes. A todos os momentos do dia. A todos os momentos da noite. E a menina estava sozinha, deixada trancada dentro de seu quarto com aquelas aberrações — pessoas como ela eram caçadas naquela época e tudo o que seus pais menos queriam era que a vida de sua doce menina fosse ceifada por aqueles que carregavam A palavra. Usando de seu poder e influência, os progenitores de Ethel a prenderam em sua habitação e fizeram com que o vilarejo enterrasse sua existência na memória. A velha, doce e bondosa Ethel havia morrido. Agora, restava uma casca vazia e perturbada. E os pais, ingenuamente a trancaram em seu quarto, achando que a protegeriam dos horrores do lado de fora.

Tolos.

Os horrores estavam do lado de dentro.

    Na noite de Samhain daquele mesmo ano, o ápice da passagem entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos fez com que a pobre garota entrasse em colapso.

    Com a lua alta no céu e o silêncio reinando no vilarejo, os pais subiram ao quarto da menina para levar-lhe o jantar, preocupados com a calmaria vinda do quarto da filha — a esta altura, já estavam acostumados com os gritos estridentes e incessantes. Ao abrir a porta, encontraram a menina de pé perto da janela, usando uma camisola de veludo vermelho. O casal observou, quieto e apreensivo, a menina tremer, segurando algo em mãos enquanto conversava sozinha aos sussurros.

    — Ethel, meu bem? O que aconteceu? — a mãe ousou chamá-la.

    Após proferir aquelas palavras, Ethel deixou cair o que tinha em mãos, virando-se para seus pais. O grito de horror, desta vez, veio dos sãos. A cena que se desenhava a sua frente parecia vinda direto do inferno. Sua amada e doce Ethel havia acabado de deixar cair seus próprios olhos. As bolas brancas rolaram pelo chão, deixando um rastro de sangue conforme as jóias do rosto da menina enchiam-se de poeira e arranhões. Em sua face alva, havia duas órbitas negras e ensanguentadas. Um vazio agonizante capaz de sugar a alma de quem ousasse olhar por muito tempo. Por suas bochechas, as gotas de sangue carmesim escorriam como lágrimas; as lágrimas que a menina chorou ao pedir por ajuda para que seu tormento terminasse.

    — Agora eu não os vejo mais, mamãe. — Ela disse com a voz calma. — Mas eu ainda os escuto.

    A garota então correu para fora de sua casa, gritando em agonia ao perder-se em sua tormenta. Ela não os via mais, mas os espíritos ainda a acompanhavam. Seu corpo foi achado dias depois, rasgado pelos animais da floresta que se alimentaram se sua carcaça vazia. Em sua cabeça havia uma coroa feita de ossos ensanguentados. Um espírito a mandou fazê-la para que ficasse claro quem era a ponte entre os dois mundos. E Nevra estava disposto a contar sua história.

    Pobre vampiro. Se ele soubesse que seu ser guardava rancor dos faeries que a atormentaram... Se ele soubesse que ela não podia vê-lo, mas podia escutá-lo…

    Ele continuou seu caminho até o local de encontro, murmurando a história que contaria, planejando como dar mais vivacidade à ela, sem saber que era escutado por Ethel. Sem saber que era seguido por seus olhos.

Comprovante de Vestimenta

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Minha Participação

Itens utilizados: 1) Camisola Loleaster; 2) Tatuagem Salty Queen; 3) Sandálias Roving Lass; 4) Saia Voodoo Priestess; 5) Pendentivo Astral Prophet; 6) Capa Veiled Claws; 7) Jaqueta Glassy Light Queen; 8) Colar Gelado; 9) Colar Shiny Lady; 10) Blusa Veiled Claws; 11) Adereço Voodoo Priestess; 12) Tapa-olho Lost Soul.

A vidente do pendentivo prateado

    Nevra caminhava à noite na Floresta de Eel com seu mascote Shaïtan rumo a um vilarejo da região para investigar misteriosos deslizamentos de terra que vinham acontecendo lá sem causa aparente. No trajeto, notou uma jovem sentada sobre uma pedra no canto da estrada. Suas roupas eram majoritariamente roxas, a saia parecendo uma colcha de retalhos, e portava um lenço dessa mesma cor, que caía desde a cabeça. Nevra percebeu, ainda, que ela tinha tecidos pretos grampeados de qualquer jeito cobrindo os olhos. Sua aparência quase miserável fez o sentimento da pena dançar em sua mente.

    — Está com pena de mim? — A pergunta repentina da moça fez Nevra parar de susto. Ela lera seus pensamentos? — Desculpe-me por assustá-lo. Sou Seleni. O senhor poderia me fazer um favor? Preciso chegar o quanto antes até o vilarejo no final desta estrada, mas tenho dificuldade de caminhar... — disse, mostrando, através da fenda da saia, manchas escuras nas suas pernas.  O vampiro não sabia o que eram, mas deviam ser graves a ponto de fazê-la ter dificuldade de andar. — O senhor me ajudaria? Se não for incomodar muito...

    — É claro — Nevra respondeu de imediato. Não sabia por que, mas tanto não tinha vontade de recusar, como sentia vontade de ajudá-la. — Inclusive, estou indo para o mesmo lugar! — complementou, alegre.

    Nevra carregou a moça nas costas e seguiram juntos até o destino. No caminho, não resistiu e lhe perguntou o que havia acontecido para que seus olhos estivessem vendados.

    — Diziam que eles eram amaldiçoados, então arrancaram de mim... — murmurou.  Nevra, por sua vez, congelou. O simples pensamento de como um vil ato pôde ter sido feito lhe causou um misto de agonia e repulsa. — Bem, isso já faz tempo e, sendo sincera, não é como se eu precisasse deles. Já enxergo muito... A natureza me diz bastante sobre mim, os outros e você também — riu. — E também... sobre o futuro... — Dito isto, Seleni começou a parecer distante e a conversa foi encerrada.

    Algum tempo depois chegaram finalmente em frente ao vilarejo. Nevra queria que entrassem juntos, mas ela recusou e deixou suas costas, dizendo que até ali era o suficiente. Antes de se despedirem, ela quis retribuir prevendo o futuro do vampiro. Desenrolou o pendentivo prateado que trazia na cintura e começou a se concentrar na previsão.

    — Sua vida corre perigo. Seus apelos serão em vão. Mas não se preocupe: depois da tempestade, tudo estará resolvido.

    Dito isto, ela agradeceu-o pela ajuda, despediram-se e cada um seguiu seu caminho.

    No dia seguinte, Nevra ainda tomava café no restaurante da estalagem onde passara a noite, quando ouviu um tumulto nos arredores, que deixou todos ali assustados. Ele seguiu os outros curiosos para fora do recinto e viu, no meio de uma multidão, Seleni caída com sua mão sobre a bochecha e um homem mais velho do que ela gritando:

    — Saia daqui, feiticeira imunda! Suas previsões são é maldições!

    — Precisa me escutar! Vocês vão morrer!

    O homem ignorou seus gritos e agarrou-a pelo pulso. Ia abrindo caminho para fora da concentração quando Nevra correu para alcançá-los e se colocou na sua frente.

    — Sou da Guarda de Eel. Me chamo Nevra e vim investigar os misteriosos deslizamentos de terra que vêm acontecendo aqui.

    — Pode ir embora — bufou o homem. — Já resolvemos o caso.

    — Como? — indagou Nevra, confuso.

    — Ela é a causa! — O homem levantou Seleni pelo braço, como que exibindo a “culpada”. — Toda vez que vem aqui “prever” alguma coisa, algo grave acontece. Desta vez foram os deslizamentos, que nunca tinham acontecido antes. Ela nos amaldiçoou com suas malditas “previsões”!

    Nevra não entendia o que estava acontecendo, e por isso mesmo precisava falar com a pessoa certa:

    — Preciso falar com o prefeito, onde ele está?

    — Eu sou o prefeito — o mesmo homem respondeu, impaciente. — Já falou com ele. Agora, com licença. Vou terminar de resolver esta situação.

    O prefeito virou as costas, puxando Seleni consigo pelos pulsos, enquanto a jovem gritava desesperadamente que precisavam escutá-la. Nevra ia tentar novamente segurar o líder local ali, mas este ameaçou expulsá-lo se insistisse mais. Antes de desistir e deixá-los ir, havia mais uma coisa que o vampiro precisava saber:

    — Há poucos dias um membro da Guarda de Eel veio para iniciar as investigações do caso antes de mim, mas não tivemos mais notícias dele...

    — Sinto muito, não o vi.

    E com isso, o prefeito finalmente foi arrastando Seleni para algum lugar desconhecido. Seria a jovem realmente uma feiticeira? Culpada? E a multidão inerte? Por que não fizeram nada para ajudá-la; pelo contrário, pareciam... assentir? E ainda pareciam incomodados depois daquela cena... O vampiro sentia que não devia se meter na situação, se não era o que queriam. Mas acionaram a Guarda de Eel e não lhe deram boas explicações para convencê-lo de que o problema estava resolvido. Além disso, o que fariam com Seleni? Ela realmente os havia amaldiçoado? Pois não parecia ser exatamente perigosa... Ou era? E onde estava o membro da Guarda que havia desaparecido?

    Na calada da noite, Nevra decidiu investigar. Shaïtan farejou o cheiro da moça e chegaram a uma casa que parecia ser uma prisão. Deixaram os guardas desacordados e entraram, encontrando Seleni em uma das celas. Talvez não devesse, mas ele ia fazê-la escapar, o que ela recusou. Apenas pediu que evacuasse o vilarejo, pois previu que um novo deslizamento aconteceria e todos morreriam. Seu pendentivo nunca falhava.

    Antes mesmo que o vampiro pudesse insistir na fuga, os guardas acordaram, impediram-no de sair e chamaram o prefeito. Nevra tentou avisar sobre a evacuação, mas foi expulso do vilarejo.

    Então, aproveitou para investigar os arredores do lugar e seguiu para uma colina, onde os deslizamentos poderiam ter ocorrido. Notou de longe que a encosta não era muito arborizada, mas foi ao subir que viu as raízes expostas das árvores e o quão rala a vegetação ia ficando, até que, em algumas partes, a terra ocupava a maior parte da vista, no lugar das plantas, e parecia erodida, como que pela passagem frequente de pessoas e, talvez, equipamentos. Lá em cima, encontrou um terreno completamente plano e terroso. Como um canteiro de obras, havia montes de terra por todo lugar.

    Nevra concluiu que, sem as raízes das árvores no topo da colina para absorver a água da chuva e segurar a terra, quando chovia claramente haveria deslizamentos. A terra parcialmente úmida indicava que chovera recentemente na região. Assim, Seleni não era culpada nem havia maldição alguma; a ação inconsequente dos habitantes que causava a si mesmos problemas.

    “De qualquer forma, por que escavaram tanto o terreno?”

    Nevra interrompeu seu pensamento ao tropeçar em um bolo de terra. Quando se levantou e viu melhor, sua espinha gelou. Era um braço. Com a ajuda de Shaïtan, escavaram a área e descobriram.

    O corpo. Do membro desaparecido da Guarda de Eel.

    O moreno e seu mascote escavaram outras partes do terreno apenas para verem o mesmo resultado: centenas de cadáveres. O topo da colina tinha sido usado como uma grande vala comum. E isso não poderia ter sido obra de apenas um assassino, ainda que em série. O que estava acontecendo?

    “Não me diga que...”



    O dia seguinte estava cinzento. Apesar da expulsão, Nevra voltou ao vilarejo para tirar satisfações. A entrada estava sinistramente deserta. Ele seguiu até o centro e viu, no meio da aglomeração de, provavelmente, todos os moradores, uma cena que o deixou em choque: Seleni amarrada a um tronco de madeira com outros mais sob seus pés.

    — Vamos nos livrar de vez dos nossos problemas! — gritou o prefeito, com uma tocha em punho, e logo a multidão urrou viva.

    Seleni parecia estar desacordada e tinha marcas vermelhas no corpo até onde as roupas rasgadas permitiam ver. Nem sabia o que lhe esperava. E Nevra não ia esperar acontecer.

    O prefeito já ia abaixando a tocha para acender a fogueira, quando Nevra gritou que parassem. Conseguira chegar ao centro da aglomeração sem ser notado graças ao quanto o povo estava absorto pelo espetáculo.

    — Vai haver um novo deslizamento! — Nevra alertou.

    — Não haverá! — retrucou o prefeito. — Uma vez a bruxa eliminada, o mal que nos assola irá com ela.

    — Você...! Vocês não entendem! O solo da colina está extremamente erodido, na próxima chuva, ela vai deslizar com tudo pra cá!

    Era o desastre que Seleni vinha tentando alertar e Nevra podia evitar, agora que todos o olhavam.

    — Vocês vão morrer se ficarem aqui!

    — Você foi lá... Certo... — O prefeito sorriu.— Você é que irá.

    — O quê?!

    Seis homens cercaram, lincharam e amarraram Nevra, enquanto este esperneava aos berros de “por que” e “me soltem”. Todos o olhavam com sorrisos de escárnio e sadismo, repetindo que iam se livrar de seus problemas.

    Então era isso. Foram eles que descapinaram a colina para enterrar os corpos nas valas comuns e mataram todas aquelas pessoas porque acreditavam que, assim, resolveriam qualquer inconveniente. Eles eram loucos!

    O céu fechou de vez. Nevra estava amarrado em um tronco, assim como Seleni, mas em outra fogueira, próxima à dela.

    — Vamos começar.

    O prefeito jogou a tocha na fogueira da vidente. Ela ainda dormia, como se nem as labaredas pudessem alcançá-la. Nevra não queria, mas olhava a cena, seus olhos se enchendo de lágrimas e seu rosto se contorcendo de raiva. Já a multidão se regozijava.

    O vampiro lembrou-se de quando se despediram na entrada do vilarejo, perguntando-lhe se era capaz de fazer previsões para si mesma.

    — Não preciso. Este dom é mais útil para ajudar outras pessoas.

    — Mesmo se você estiver correndo perigo?

    — Aham. E, de qualquer forma, sei que ficarei bem.

    Ela havia dito aquilo se fazendo de forte. Agora, finalmente acordando e percebendo seu corpo queimar, queria soltar gritos de dor e medo, porém não conseguia mais, o fogo já havia consumido suas cordas vocais. Entretanto, Nevra podia escutá-los.

    Quando só havia praticamente os ossos, os céus trovejaram e um relâmpago caiu na fogueira da vidente. Após o clarão, outros caíram também e uma tempestade começou.

    — A bruxa está se vingando! Fujam!

    Os habitantes, antes animados, agora corriam desesperados para fora do vilarejo. A evacuação acabou acontecendo, mesmo que Nevra pensasse que eles não mereciam todo o esforço para serem salvos depois de tudo o que fizeram. Enfim, agora não importava mais o que ele pensava. Ficara para trás. Só ele, as cinzas de Seleni e a chuva, com suas trovoadas. E o pior, preso ao tronco, apenas esperando que um raio caísse em sua cabeça e pusesse fim àquilo tudo.

    Foi quando sentiu a corda ao redor dos pulsos relaxarem e uma sombra gigante sobre si. Era Valkyon, que chegava com reforços para ajudá-lo. Shaïtan, que retornara ao Quartel General na noite anterior, tinha guiado o grupo até ali. Nevra quase não acreditava, mas ele estava salvo! Indagado sobre o que havia acontecido, ele explicou tudo, desde o caminho para o vilarejo até o momento atual. Depois foi levado para a carruagem-enfermaria de volta ao QG, enquanto os outros faziam as buscas pelos moradores.


    Uma semana depois, Nevra soube o que houve com os habitantes da vila. Foram encontrados em uma caverna na colina. Mortos. Soterrados por um deslizamento de terra. As previsões de Seleni para ele e os moradores haviam se concretizado.

    Antes da sua partida de regresso ao QG, o vampiro havia pedido que recuperassem o pendentivo da moça. Queria dar-lhe um enterro digno de quem tentou ser forte até onde pode e de ajuda mesmo a quem não merecia e que, por isso mesmo, viu sua vida chegar ao fim. Não era como se suas previsões fossem maldições. Só o seriam se assim acreditassem. E só seriam de ajuda se assim acreditassem também.


     Dizem que é possível encontrar nas estradas de Eel o fantasma de uma vidente cega que, em troca de pequenos favores, faz previsões aos viajantes. Ela é pálida e maltrapilha e carrega consigo um pendentivo prateado.

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Itens utilizados: TOP QUEEN SPIDER
MEIAS QUEEN SPIDER
VESTIDO ROVING LASS
LUVAS NIGHTMARE CHIVALRY
PLASTRON NIGHTMARE CHIVALRY
CAPA DE PENAS
BRAÇOS GELADOS
COLAR SNOW LADY
COROA DE LA MUERTE
MÁSCARA VOODOO PRIESTESS
MAQUIAGEM FERAL NOMAD
RESPINGOS LOST BRIDE
​ESPINHOS ​INVASIVOS


A rosa que sangra

Houve uma época em que eram encontradas pessoas terrivelmente feridas ao fundo da floresta e aos arredores de um pântano. Os sobreviventes nunca se lembravam direito do que havia acontecido, apenas que tinham sido apunhalados com um instrumento cortante e ardente. Algumas vítimas relataram ter ouvido gemidos de uma mulher durante o ataque, mas nunca foi vista realmente; e outras disseram ter encontrado uma estranha roseira, segundos antes do golpe, na qual escorria um líquido viscoso vermelho. Apesar de todas as circunstâncias, o relato de uma roseira no meio do pântano foi o mais estranho.
    A Guarda Absinto de Eel foi designada a investigar esse caso e mandaram uma equipe próximo ao local dos ataques, liderada pelo chefe da guarda, um elfo de cabelos azuis e de humor questionável, Ezarel. Ao saírem em expedição a equipe separou-se em pequenos grupos, todos cobrindo as costas um do outro para não deixar passar nada desapercebido, e se espalharam por toda a floresta.
Passaram-se horas, inicialmente, e então, dias e nada aconteceu ou foi encontrado, nem uma roseira ou uma mulher suspeita ou até mesmo uma nova vítima, apesar de terem conferido todos os cantos do pântano e da floresta. O chefe da Absinto analisou, novamente, as informações dos ataques anteriores e reparou que, em todos os casos, as vítimas eram encontradas no início da manhã, levando a crer que os ataques aconteciam durante à noite. Com essa nova perspectiva, o elfo decidiu, então, fazer uma expedição noturna, a qual seria mais arriscada para seus companheiros, mas necessária para evoluírem na investigação.
A equipe se separou em grupos maiores dessa vez, todos bem alertas e armados, visando a segurança de cada um. Logo na primeira expedição noturna tiveram o seu alerta assoado. Não se passaram muitas horas e já se ouviram gritos. O líder indicou a posição dos grupos e todos se dirigiram ao local do barulho. Quando chegaram lá, avistaram uma forma nas sombras se camuflando com o ambiente
“À primeira vista se vê grandes espinhos saindo de suas costas e vinhas espinhosas à sua volta que obedeciam ao seu comando. Seu corpo todo era verde e suas partes pareciam de plantas, basicamente. Mas o que mais me arrepiou foram seus olhos vermelhos na escuridão.” O líder Ezarel fez seu depoimento do primeiro contato com a criatura. “Sua morfologia era muito semelhante à das hamadríades, só que mais… tenebrosa. ”
Toda a equipe a cercou e recolheram o companheiro que foi atacado. Felizmente, seu ataque apenas tinha passado de raspão e ele estava bem. A suspeita olhou ao redor e, se sentindo ameaçada, tentou atacar os outros guerreiros, os quais conseguiram se defender e estavam prontos para enfrenta-la. A criatura estranha pareceu não gostar dessa dificuldade. Ela encarou cada um e pronunciou palavras com sua voz áspera e profunda. “Nunca vi tantos pecadores ao mesmo tempo.” Ezarel tentou entender o que ela quis dizer e, pensou que precisava conhecer o que estava enfrentando. A fim de não a enfurecer, tentou dialogar. “Quem é você e por que está atacando pessoas inocentes?” Ela franziu o cenho. “Inocentes? Ninguém é inocente.” Ela mudou sua posição. “Todos pecam e devem sangrar por isso!!” Ela o atacou com fúria com suas vinhas que saíam do chão. Por pouco o elfo conseguiu desviar. “E quem é você para decidir o destino dos outros?!” Ezarel indagou corajosamente. Ela o encarou e respondeu, convicta. “Sou uma pecadora, igualmente. Esse é meu direito de julgar meus semelhantes e condená-los, assim como fui condenada.” Ela lançou mais um ataque, dessa vez vindo por baixo, pegando o elfo de surpresa. Ezarel foi atingido, mas não se feriu. Seus companheiros iam ajuda-lo, mas ele pediu para parar e permanecer em suas posições. Seus ataques eram ferozes e afiados, mas não eram precisos ou flexíveis. Essa observação deu uma nova vantagem para a equipe. O líder se comunicou visualmente com seus companheiros e entenderam que uma nova formação seria feita
A Absinto precisava encurralar e imobilizar a agressora, então seu líder continuou a distraí-la enquanto isso, e aproveitou para tirar mais informações dela. “O que te faz uma pecadora? O que você fez?” A criatura hesitou por um momento, mas respondeu. “Me relacionei com um homem comprometido. Eu sabia que era errado e continuei cometendo esse pecado pela minha própria luxúria. Costumávamos nos encontrar nos cantos desta floresta e fazer coisas proibidas. Eu gostava do proibido, e agora, aqui estou recebendo minha punição. Minha alma está presa no que me trazia alegria. Meu amado sempre me presenteava com um buquê de rosas, iguais às de minha prisão.” Ela apontou para um arbusto discreto que ninguém havia prestado atenção. Era uma roseira com flores rubras, e delas, gotejava um líquido de mesma cor. “A rosa que sangra…” Ezarel murmurou para si ao se lembrar dos relatos das vítimas, a mesma roseira misteriosa do pântano.
A mulher continuou sua história. “Sua esposa descobriu a traição e quis se vingar. Ela me enviou uma carta se passando pelo meu amado e pediu para nos encontrar aqui. Quando cheguei no lugar planejado encontrei um buque de rosas e mais uma carta. Estava animada com a surpresa e logo abri o envelope. Na carta dizia: ‘Espero que goste destas rosas tanto quanto irei gostar de tingir a terra com elas.’ Não tive tempo de pensar e ela me esfaqueou por trás. Foi a pior dor que já senti. Quando me virei a reconheci e logo entendi o que estava acontecendo. Não consegui reagir e caí de joelhos. Ela pegou o buquê, separou as rosas, tirou suas pétalas e juntou os ramos com espinhos, e com eles, ela me golpeou inúmeras vezes, preencheu meu corpo de marcas vermelhas e tingiu a terra como ela queria. E foi bem aqui onde ela me assassinou e me fez sangrar até a morte. No final, ela arrancou meu coração e o enterrou neste chão poluído, e no lugar, cresceu aquela roseira que transpira meu sangue, na qual meu espírito está fadado.” Depois de alguns segundos de silêncio, Ezarel comentou. “É, realmente, uma história muito triste.” Essas palavras a enfureceram. “Não é triste. É o que acontece com pecadores!!” Ela o atacou, mas Ezarel já estava preparado e conseguiu desviar, além de ter cortado a vinha com sua espada. “Você não pode fugir de seus pecados!!” Ela gritou com raiva e ia lançar mais um ataque, mas percebeu que a guarda já havia a cercado. Ezarel com triunfo, então disse. “Será que sou eu que está fugindo ou é você que nega o que fez e o que lhe aconteceu e desconta sua frustação em inocentes?” Essa provocação a pegou de surpresa e a enlouqueceu, e sem pensar avançou pessoalmente no elfo com suas garras afiadas, mas a guarda já estava a posta para qualquer ataque e conseguiram imobilizá-la, ao mesmo tempo que seu líder brandiu sua espada e a fincou no peito da alma sofrida.
Ela o olhou intensamente enquanto sangrava e tingia a terra novamente. Sua raiva se dissipou e sua expressão ficou serena, mas seus olhos vermelhos iluminaram o rosto do elfo que sentiu um arrepio na espinha. Ela então proferiu suas últimas palavras enquanto o encarava. “Todo ser vivo sangra, sabe? Faeries, animais, e até mesmo as plantas. Um dia, você também sangrará até a morte e tingirá a terra onde seus amigos pisam.” Com isso, seu corpo enfraqueceu e caiu no chão sem vida. Ezarel permaneceu imóvel encarando suas mãos ensanguentadas, enquanto a roseira murchou e uma última gota de sangue escorreu.
Os ataques dessa criatura eram um reflexo da tortura que ela sofreu em seu leito de morte. Ela atacava, não porque se arrependeu do que fez, mas sim, porque se arrependeu de não ter feito antes o que foi feito com ela. No final, ela era apenas uma alma amargurada que não aceitava seu destino.

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