✙ Olá Guardiões e Guardiãs de Eel!
O Halloween em Eldarya foi de arrepiar e após tantos estórias e fantasias criativas, finalmente foram escolhidas as mais horripilantes!
Foi uma decisão extremamente difícil para os moradores de Eel, visto que todos foram assustadores. Mas finalmente eles conseguiram se decidir.
Será que você foi um dos escolhidos?
RESULTADOS
✙ 1º Lugar ✙
@LírioBranco
750 Maanas
Participação
Itens utilizados: 1) Camisola Loleaster; 2) Tatuagem Salty Queen; 3) Sandálias Roving Lass; 4) Saia Voodoo Priestess; 5) Pendentivo Astral Prophet; 6) Capa Veiled Claws; 7) Jaqueta Glassy Light Queen; 8) Colar Gelado; 9) Colar Shiny Lady; 10) Blusa Veiled Claws; 11) Adereço Voodoo Priestess; 12) Tapa-olho Lost Soul.
A vidente do pendentivo prateado
Nevra caminhava à noite na Floresta de Eel com seu mascote Shaïtan rumo a um vilarejo da região para investigar misteriosos deslizamentos de terra que vinham acontecendo lá sem causa aparente. No trajeto, notou uma jovem sentada sobre uma pedra no canto da estrada. Suas roupas eram majoritariamente roxas, a saia parecendo uma colcha de retalhos, e portava um lenço dessa mesma cor, que caía desde a cabeça. Nevra percebeu, ainda, que ela tinha tecidos pretos grampeados de qualquer jeito cobrindo os olhos. Sua aparência quase miserável fez o sentimento da pena dançar em sua mente.
— Está com pena de mim? — A pergunta repentina da moça fez Nevra parar de susto. Ela lera seus pensamentos? — Desculpe-me por assustá-lo. Sou Seleni. O senhor poderia me fazer um favor? Preciso chegar o quanto antes até o vilarejo no final desta estrada, mas tenho dificuldade de caminhar... — disse, mostrando, através da fenda da saia, manchas escuras nas suas pernas. O vampiro não sabia o que eram, mas deviam ser graves a ponto de fazê-la ter dificuldade de andar. — O senhor me ajudaria? Se não for incomodar muito...
— É claro — Nevra respondeu de imediato. Não sabia por que, mas tanto não tinha vontade de recusar, como sentia vontade de ajudá-la. — Inclusive, estou indo para o mesmo lugar! — complementou, alegre.
Nevra carregou a moça nas costas e seguiram juntos até o destino. No caminho, não resistiu e lhe perguntou o que havia acontecido para que seus olhos estivessem vendados.
— Diziam que eles eram amaldiçoados, então arrancaram de mim... — murmurou. Nevra, por sua vez, congelou. O simples pensamento de como um vil ato pôde ter sido feito lhe causou um misto de agonia e repulsa. — Bem, isso já faz tempo e, sendo sincera, não é como se eu precisasse deles. Já enxergo muito... A natureza me diz bastante sobre mim, os outros e você também — riu. — E também... sobre o futuro... — Dito isto, Seleni começou a parecer distante e a conversa foi encerrada.
Algum tempo depois chegaram finalmente em frente ao vilarejo. Nevra queria que entrassem juntos, mas ela recusou e deixou suas costas, dizendo que até ali era o suficiente. Antes de se despedirem, ela quis retribuir prevendo o futuro do vampiro. Desenrolou o pendentivo prateado que trazia na cintura e começou a se concentrar na previsão.
— Sua vida corre perigo. Seus apelos serão em vão. Mas não se preocupe: depois da tempestade, tudo estará resolvido.
Dito isto, ela agradeceu-o pela ajuda, despediram-se e cada um seguiu seu caminho.
No dia seguinte, Nevra ainda tomava café no restaurante da estalagem onde passara a noite, quando ouviu um tumulto nos arredores, que deixou todos ali assustados. Ele seguiu os outros curiosos para fora do recinto e viu, no meio de uma multidão, Seleni caída com sua mão sobre a bochecha e um homem mais velho do que ela gritando:
— Saia daqui, feiticeira imunda! Suas previsões são é maldições!
— Precisa me escutar! Vocês vão morrer!
O homem ignorou seus gritos e agarrou-a pelo pulso. Ia abrindo caminho para fora da concentração quando Nevra correu para alcançá-los e se colocou na sua frente.
— Sou da Guarda de Eel. Me chamo Nevra e vim investigar os misteriosos deslizamentos de terra que vêm acontecendo aqui.
— Pode ir embora — bufou o homem. — Já resolvemos o caso.
— Como? — indagou Nevra, confuso.
— Ela é a causa! — O homem levantou Seleni pelo braço, como que exibindo a “culpada”. — Toda vez que vem aqui “prever” alguma coisa, algo grave acontece. Desta vez foram os deslizamentos, que nunca tinham acontecido antes. Ela nos amaldiçoou com suas malditas “previsões”!
Nevra não entendia o que estava acontecendo, e por isso mesmo precisava falar com a pessoa certa:
— Preciso falar com o prefeito, onde ele está?
— Eu sou o prefeito — o mesmo homem respondeu, impaciente. — Já falou com ele. Agora, com licença. Vou terminar de resolver esta situação.
O prefeito virou as costas, puxando Seleni consigo pelos pulsos, enquanto a jovem gritava desesperadamente que precisavam escutá-la. Nevra ia tentar novamente segurar o líder local ali, mas este ameaçou expulsá-lo se insistisse mais. Antes de desistir e deixá-los ir, havia mais uma coisa que o vampiro precisava saber:
— Há poucos dias um membro da Guarda de Eel veio para iniciar as investigações do caso antes de mim, mas não tivemos mais notícias dele...
— Sinto muito, não o vi.
E com isso, o prefeito finalmente foi arrastando Seleni para algum lugar desconhecido. Seria a jovem realmente uma feiticeira? Culpada? E a multidão inerte? Por que não fizeram nada para ajudá-la; pelo contrário, pareciam... assentir? E ainda pareciam incomodados depois daquela cena... O vampiro sentia que não devia se meter na situação, se não era o que queriam. Mas acionaram a Guarda de Eel e não lhe deram boas explicações para convencê-lo de que o problema estava resolvido. Além disso, o que fariam com Seleni? Ela realmente os havia amaldiçoado? Pois não parecia ser exatamente perigosa... Ou era? E onde estava o membro da Guarda que havia desaparecido?
Na calada da noite, Nevra decidiu investigar. Shaïtan farejou o cheiro da moça e chegaram a uma casa que parecia ser uma prisão. Deixaram os guardas desacordados e entraram, encontrando Seleni em uma das celas. Talvez não devesse, mas ele ia fazê-la escapar, o que ela recusou. Apenas pediu que evacuasse o vilarejo, pois previu que um novo deslizamento aconteceria e todos morreriam. Seu pendentivo nunca falhava.
Antes mesmo que o vampiro pudesse insistir na fuga, os guardas acordaram, impediram-no de sair e chamaram o prefeito. Nevra tentou avisar sobre a evacuação, mas foi expulso do vilarejo.
Então, aproveitou para investigar os arredores do lugar e seguiu para uma colina, onde os deslizamentos poderiam ter ocorrido. Notou de longe que a encosta não era muito arborizada, mas foi ao subir que viu as raízes expostas das árvores e o quão rala a vegetação ia ficando, até que, em algumas partes, a terra ocupava a maior parte da vista, no lugar das plantas, e parecia erodida, como que pela passagem frequente de pessoas e, talvez, equipamentos. Lá em cima, encontrou um terreno completamente plano e terroso. Como um canteiro de obras, havia montes de terra por todo lugar.
Nevra concluiu que, sem as raízes das árvores no topo da colina para absorver a água da chuva e segurar a terra, quando chovia claramente haveria deslizamentos. A terra parcialmente úmida indicava que chovera recentemente na região. Assim, Seleni não era culpada nem havia maldição alguma; a ação inconsequente dos habitantes que causava a si mesmos problemas.
“De qualquer forma, por que escavaram tanto o terreno?”
Nevra interrompeu seu pensamento ao tropeçar em um bolo de terra. Quando se levantou e viu melhor, sua espinha gelou. Era um braço. Com a ajuda de Shaïtan, escavaram a área e descobriram.
O corpo. Do membro desaparecido da Guarda de Eel.
O moreno e seu mascote escavaram outras partes do terreno apenas para verem o mesmo resultado: centenas de cadáveres. O topo da colina tinha sido usado como uma grande vala comum. E isso não poderia ter sido obra de apenas um assassino, ainda que em série. O que estava acontecendo?
“Não me diga que...”
O dia seguinte estava cinzento. Apesar da expulsão, Nevra voltou ao vilarejo para tirar satisfações. A entrada estava sinistramente deserta. Ele seguiu até o centro e viu, no meio da aglomeração de, provavelmente, todos os moradores, uma cena que o deixou em choque: Seleni amarrada a um tronco de madeira com outros mais sob seus pés.
— Vamos nos livrar de vez dos nossos problemas! — gritou o prefeito, com uma tocha em punho, e logo a multidão urrou viva.
Seleni parecia estar desacordada e tinha marcas vermelhas no corpo até onde as roupas rasgadas permitiam ver. Nem sabia o que lhe esperava. E Nevra não ia esperar acontecer.
O prefeito já ia abaixando a tocha para acender a fogueira, quando Nevra gritou que parassem. Conseguira chegar ao centro da aglomeração sem ser notado graças ao quanto o povo estava absorto pelo espetáculo.
— Vai haver um novo deslizamento! — Nevra alertou.
— Não haverá! — retrucou o prefeito. — Uma vez a bruxa eliminada, o mal que nos assola irá com ela.
— Você...! Vocês não entendem! O solo da colina está extremamente erodido, na próxima chuva, ela vai deslizar com tudo pra cá!
Era o desastre que Seleni vinha tentando alertar e Nevra podia evitar, agora que todos o olhavam.
— Vocês vão morrer se ficarem aqui!
— Você foi lá... Certo... — O prefeito sorriu.— Você é que irá.
— O quê?!
Seis homens cercaram, lincharam e amarraram Nevra, enquanto este esperneava aos berros de “por que” e “me soltem”. Todos o olhavam com sorrisos de escárnio e sadismo, repetindo que iam se livrar de seus problemas.
Então era isso. Foram eles que descapinaram a colina para enterrar os corpos nas valas comuns e mataram todas aquelas pessoas porque acreditavam que, assim, resolveriam qualquer inconveniente. Eles eram loucos!
O céu fechou de vez. Nevra estava amarrado em um tronco, assim como Seleni, mas em outra fogueira, próxima à dela.
— Vamos começar.
O prefeito jogou a tocha na fogueira da vidente. Ela ainda dormia, como se nem as labaredas pudessem alcançá-la. Nevra não queria, mas olhava a cena, seus olhos se enchendo de lágrimas e seu rosto se contorcendo de raiva. Já a multidão se regozijava.
O vampiro lembrou-se de quando se despediram na entrada do vilarejo, perguntando-lhe se era capaz de fazer previsões para si mesma.
— Não preciso. Este dom é mais útil para ajudar outras pessoas.
— Mesmo se você estiver correndo perigo?
— Aham. E, de qualquer forma, sei que ficarei bem.
Ela havia dito aquilo se fazendo de forte. Agora, finalmente acordando e percebendo seu corpo queimar, queria soltar gritos de dor e medo, porém não conseguia mais, o fogo já havia consumido suas cordas vocais. Entretanto, Nevra podia escutá-los.
Quando só havia praticamente os ossos, os céus trovejaram e um relâmpago caiu na fogueira da vidente. Após o clarão, outros caíram também e uma tempestade começou.
— A bruxa está se vingando! Fujam!
Os habitantes, antes animados, agora corriam desesperados para fora do vilarejo. A evacuação acabou acontecendo, mesmo que Nevra pensasse que eles não mereciam todo o esforço para serem salvos depois de tudo o que fizeram. Enfim, agora não importava mais o que ele pensava. Ficara para trás. Só ele, as cinzas de Seleni e a chuva, com suas trovoadas. E o pior, preso ao tronco, apenas esperando que um raio caísse em sua cabeça e pusesse fim àquilo tudo.
Foi quando sentiu a corda ao redor dos pulsos relaxarem e uma sombra gigante sobre si. Era Valkyon, que chegava com reforços para ajudá-lo. Shaïtan, que retornara ao Quartel General na noite anterior, tinha guiado o grupo até ali. Nevra quase não acreditava, mas ele estava salvo! Indagado sobre o que havia acontecido, ele explicou tudo, desde o caminho para o vilarejo até o momento atual. Depois foi levado para a carruagem-enfermaria de volta ao QG, enquanto os outros faziam as buscas pelos moradores.
Uma semana depois, Nevra soube o que houve com os habitantes da vila. Foram encontrados em uma caverna na colina. Mortos. Soterrados por um deslizamento de terra. As previsões de Seleni para ele e os moradores haviam se concretizado.
Antes da sua partida de regresso ao QG, o vampiro havia pedido que recuperassem o pendentivo da moça. Queria dar-lhe um enterro digno de quem tentou ser forte até onde pode e de ajuda mesmo a quem não merecia e que, por isso mesmo, viu sua vida chegar ao fim. Não era como se suas previsões fossem maldições. Só o seriam se assim acreditassem. E só seriam de ajuda se assim acreditassem também.
Dizem que é possível encontrar nas estradas de Eel o fantasma de uma vidente cega que, em troca de pequenos favores, faz previsões aos viajantes. Ela é pálida e maltrapilha e carrega consigo um pendentivo prateado.
✙ 2º Lugar ✙
@Aloe
500 Maanas
Participação
Itens utilizados:
Coroa Stained-glass Widow
Lágrimas Stained-glass Widow
Vestido Fortune Teller
Braços Gelados
Feridas Ouvertas Sweet Mourne
Botas Veiled Claws
Sapato Petrifying Empress
Seus olhos
Nevra, de todos os habitantes do Refúgio de Eel, era o que mais tinha conhecimento acerca do Halloween ou, como os anciões com quem teve contato em sua infância chamavam, do Samhain, o dia de culto aos mortos. Diferentemente dos dias que o sucediam, o Samhain não tinha a intenção de honrar os mortos e suas memórias, mas sim de cultuá-los em rituais profanos e deturpados que brincavam com a moral e sanidade. Não era à toa que esta noite era conhecida pela noite em que o véu entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos estava baixado, permitindo que almas vagassem para ambos os lados desta moeda corroída por medo e superstições.
Mas o líder da guarda da Sombra sabia muito bem que superstições sempre tinham um fundo de verdade, quer os outros acreditassem ou não. Por mais que sua fama o fizesse ser conhecido como o detentor do conhecimento das melhores lendas, aquelas que faziam todo o seu ciclo de amizade ficar com os pelos da nuca em pé, Nevra tinha total noção de que brincava com algo muito perigoso. Por mais que os cidadãos de Eel fossem pessoas com muitas ligações espirituais, eram indivíduos que preferiam deixar as histórias das terras sombrias como meras estórias, contos e fábulas criados para divertir à todos em uma noite como aquela. Noite cujo significado fora subvertido para tratar-se de horas escuras de diversão, envolvendo doces, festas e interações como as rodas de estórias de terror que seus colegas faziam, rodas nas quais Nevra era considerado o rei.
Nevra tinha total respeito pelas estórias que contava ou pelas estranhas tradições que os povos sombrios carregavam, mas nem por isto ele deixava de ser audacioso. Com a intenção de impressionar seus amigos, o moreno decidiu contar uma história verdadeira há alguns anos. Nada aconteceu à ele ou aos presentes, o que lhe serviu como incentivo para continuar, ano após ano, a contar histórias que tinham raízes profundas e ancestrais, que carregavam sentimentos poderosos em suas palavras. E a sensação de intangibilidade acabou por apoderar-se do faery, que já não media mais o que falava nas noites de 31 de Outubro, certo de que nada lhe aconteceria. Espíritos não se importavam com discursos longos sobre suas história… Ao menos, era isto que ele tinha concluído após anos desafiando a ira dos mortos. E o vampiro não poderia estar mais enganado.
Naquela noite de Samhain, Nevra se arrumava em seu quarto para juntar-se à seus colegas na borda da floresta, onde fariam a sua reunião anual para contar estórias de terror. Sempre após a caça aos doces terminar; sempre após a última vela se apagar. O moreno terminava de ajeitar o fraque em seu tronco, orgulhando-se do tom de ébano que havia escolhido. Por mais que o natural fosse todos estarem acabados e desarrumados após a primeira fase de diversão, o faery não deixava a vaidade de lado naquela reunião, especialmente quando ele tomava o papel de protagonista e mantinha os olhos de todos fixos em si, observando cada uma das reações assustadas e tensas de seus amigos, até mesmo dos mais valentes como Valkyon. No entanto, era a expressão aterrorizada dos “mais fracos ao terror” que o encantava, que o dava poder naquelas horas escuras para encarnar as lendas mórbidas que contava, desde os movimentos da ponta de seus dedos à voz baixa e atormentadora, capaz de deixar todos sem fôlego — caso ele assim desejasse.
Naquela noite, ele já estava decidido sobre a história que seria o ponto alto da noite, a “cereja do bolo” como Erika bem o havia ensinado. Nevra tinha escolhido uma história há muito enterrada e esquecida até mesmo pelo povo sombrio com quem ele coabitara em seus dias de infância. Uma vez pronto, Nevra saiu de seu quarto, deixando Shaïtan dormindo tranquilamente embaixo de sua cama. Talvez, se o jovem líder tivesse esperado alguns segundos mais, ele tivesse percebido os ganidos de medo emitidos pelo Black Gallytrot ao encolher-se como uma bola de pelos, agonizando… Mas talvez estivesse aí a malícia daquele que o perseguia naquela noite profana; a crueldade de devorar o que cercava Nevra antes de chegar até ele, o prato principal.
Caminhando pelos corredores vazios do QG, o vampiro andou a passos rápidos para o lado de fora, ansioso para encontrar seus companheiros, completamente alheio à presença que o observada das sombras, os olhos seguindo o faery como o olhar de um lobo faminto persegue sua presa. Mas até mesmo lobos possuíam alma, e a figura que espreitava atrás do líder da guarda da Sombra já havia perdido a sua há éons.
Sozinho nas ruas desertas e sem vida, o moreno aproveitou a solidão e o clima fúnebre para entrar em sintonia com as histórias que contaria naquela noite. Ele precisava conter sua animação e encarnar a seriedade necessária para arrastar seus companheiros naquelas narrativas distorcidas e macabras. O vampiro fechou os olhos, andando pelo Caminho dos Arcos com facilidade, acostumado com as passagens que usava frequentemente. Em sua mente, repassava os terrores que compartilharia naquela noite, apagando aos poucos sua excitação e entrando em um estado de entorpecimento onde nada era capaz de tirá-lo de sua concentração. Ele repassou todos os contos em sua mente, um a um. Aqueles que observam, a noite branca, o caminho subterrâneo... Todas histórias curtas que aumentariam o medo e tensão até chegar na coroa da noite: seus olhos.
O conto que Nevra havia escolhido era sobre uma humana chamada Ethel Devonshire.
Ethel Devonshire era a filha de um homem rico e poderoso de sua época, uma garota poupada dos fardos que os “comuns” carregavam, uma menina privilegiada, fadada a viver usufruindo do bom e do melhor. A garota cresceu cercada de amor e carinho, tornou-se detentora de uma beleza invejável e de um coração puro capaz apenas de reproduzir o bem. Mas a perfeição está reservada apenas ao divino, e as sementes de podridão escondem-se muito abaixo da superfície, esperando o momento certo de germinar e desabrochar, espalhando o mau que corrompe tudo o que toca.
A humana era detentora de cabelos ondulados, volumosos e ruivos. Olhos verde-grama redondos como amêndoas com raios cor de âmbar que assemelhavam-se ao sol, as duas jóias que davam vida e preciosidade à dama. Uma pele alva e imaculada, macia como fios de algodão entrelaçados em uma coberta quente e aconchegante. Lábios cheios e vermelhos como o sangue, artifícios com a capacidade de provocar o desejo naquele que observasse o beiço por muito mais tempo. Para emoldurar sua beleza e destacar sua boca, Ethel possuía o hábito de vestir-se de carmesim, uma visão que fugia aos padrões da época; uma visão atordoante de tão bela.
Ethel possuía tudo do bom e do melhor. Mas também possuía uma maldição.
Humanos só veem aquilo que podem explicar, aquilo com que suas mentes pequenas são capaz de lidar. O inexplicável, se bom, é convertido em divino. O inexplicável, se ruim, é convertido em maligno. A pobre garota Ethel, poupada das mazelas da vida, viu-se incapaz de lidar com o fardo de sua maldição, que roubou gritos de pavor da menina ao manifestar-se pela primeira vez aos seus dezessete anos. Ethel era dotada do que os humanos, hoje, chamam de mediunidade, a capacidade de enxergar através das barreiras que separam os vivos e os mortos. Aqueles como Ethel, na época em que a menina vivia, eram executados ao demonstrar o menor sinal de sua habilidade — eram considerados bruxos e bruxas, adoradores do Diabo, pessoas com ligações aos faeries. Para o azar da menina, não ter ninguém como ela não significou apenas não ter quem ajudá-la a lidar com suas habilidades mas, também, a ser a única capaz de enxergar; a única capaz de servir como ponte aos dois mundos.
Assim, os espíritos que vagavam pelo reino dos mortos procuravam pela pobre Ethel todas as noites, esperando que ela lhes ajudasse enquanto o Samhain não chegava. Todas as noites e dias, Ethel era atormentada pelas almas que buscavam por ela, almas cheias de bondade ou preenchidas com maldade. Para o infortúnio da pobre garota, suas visitas não estavam restritas a espíritos humanos e suas habilidades chamavam atenção de almas faeries — e, apesar da existência de espíritos malignos entre as almas humanas, eles não eram dotados de habilidades formidáveis como os espíritos faeries. Os feitos distorcidos que um faery faz em vida acompanham-no durante a morte, um reflexo de suas ações perturbadoras que agora eram compartilhadas com a menina Ethel.
Ethel ouvia seus sussurros repulsivos. Ethel via suas ações sórdidas e repugnantes. A todos os momentos do dia. A todos os momentos da noite. E a menina estava sozinha, deixada trancada dentro de seu quarto com aquelas aberrações — pessoas como ela eram caçadas naquela época e tudo o que seus pais menos queriam era que a vida de sua doce menina fosse ceifada por aqueles que carregavam A palavra. Usando de seu poder e influência, os progenitores de Ethel a prenderam em sua habitação e fizeram com que o vilarejo enterrasse sua existência na memória. A velha, doce e bondosa Ethel havia morrido. Agora, restava uma casca vazia e perturbada. E os pais, ingenuamente a trancaram em seu quarto, achando que a protegeriam dos horrores do lado de fora.
Tolos.
Os horrores estavam do lado de dentro.
Na noite de Samhain daquele mesmo ano, o ápice da passagem entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos fez com que a pobre garota entrasse em colapso.
Com a lua alta no céu e o silêncio reinando no vilarejo, os pais subiram ao quarto da menina para levar-lhe o jantar, preocupados com a calmaria vinda do quarto da filha — a esta altura, já estavam acostumados com os gritos estridentes e incessantes. Ao abrir a porta, encontraram a menina de pé perto da janela, usando uma camisola de veludo vermelho. O casal observou, quieto e apreensivo, a menina tremer, segurando algo em mãos enquanto conversava sozinha aos sussurros.
— Ethel, meu bem? O que aconteceu? — a mãe ousou chamá-la.
Após proferir aquelas palavras, Ethel deixou cair o que tinha em mãos, virando-se para seus pais. O grito de horror, desta vez, veio dos sãos. A cena que se desenhava a sua frente parecia vinda direto do inferno. Sua amada e doce Ethel havia acabado de deixar cair seus próprios olhos. As bolas brancas rolaram pelo chão, deixando um rastro de sangue conforme as jóias do rosto da menina enchiam-se de poeira e arranhões. Em sua face alva, havia duas órbitas negras e ensanguentadas. Um vazio agonizante capaz de sugar a alma de quem ousasse olhar por muito tempo. Por suas bochechas, as gotas de sangue carmesim escorriam como lágrimas; as lágrimas que a menina chorou ao pedir por ajuda para que seu tormento terminasse.
— Agora eu não os vejo mais, mamãe. — Ela disse com a voz calma. — Mas eu ainda os escuto.
A garota então correu para fora de sua casa, gritando em agonia ao perder-se em sua tormenta. Ela não os via mais, mas os espíritos ainda a acompanhavam. Seu corpo foi achado dias depois, rasgado pelos animais da floresta que se alimentaram se sua carcaça vazia. Em sua cabeça havia uma coroa feita de ossos ensanguentados. Um espírito a mandou fazê-la para que ficasse claro quem era a ponte entre os dois mundos. E Nevra estava disposto a contar sua história.
Pobre vampiro. Se ele soubesse que seu ser guardava rancor dos faeries que a atormentaram... Se ele soubesse que ela não podia vê-lo, mas podia escutá-lo…
Ele continuou seu caminho até o local de encontro, murmurando a história que contaria, planejando como dar mais vivacidade à ela, sem saber que era escutado por Ethel. Sem saber que era seguido por seus olhos.
✙ 3º Lugar ✙
@Especttra_
300 Maanas
Participação
Itens utilizados:
Cabelo - Psinoé
Pele - Salty Queen
Olhos- - Possuídos
Boca - Twisted Harpy
Capa Nightmare Chivalry
Top Skeleton Witch
Braço Skeleton Witch
Cinto Nightmare Chivalry
Meias Queen spider
Sapatos Skeleton Witch
Pacto de Sangue
“Meu nome é Nevra.
Sou um Vampiro.
Um ser das trevas, do inferno, que seja... Um Rei do submundo… Bebedor de sangue, predador, assassino. Seja lá como me chamam, sempre tive orgulho de dizer… Que sou a pior das criaturas do Halloween.
Meu orgulho e meu ego sempre me arrastaram para as piores histórias de que se tem conhecimento… Em proveito próprio, eu usava minha beleza e minha sedução para arrastar para a morte pobres vítimas que de mim se encantavam. “
Esse era meu discurso de Vampiro Presunçoso.
Eu era um protagonista das piores Histórias de Terror, e sobre mim cantavam versos e trovas, narrando os horrores dos quais seres como eu eram capazes de realizar.
Mas numa noite do famoso Halloween de Eel, tudo mudou.
Lá estava eu, me divertindo com meus melhores amigos, quando escolhi minha presa da noite… Uma bela moça, jovem, olhar inocente, atraente, desprevenida. Cheguei a sentir previamente o gosto do seu sangue na minha boca. Ela me olhava de longe, certamente atraída pelo meu encanto, abaixando o olhar para disfarçar que já estava fascinada por mim.
Eu não fazia ideia de quem ela era, nunca a tinha visto antes no QG. Mas isso não importava. Melhor que fosse desconhecida… Porque em breve ela estaria morta, desaparecida entre tantos outros, que nunca mais voltaram para casa.
Sem demora, me despedi dos amigos, que protestaram quando eu os deixei, indo na direção da moça. Mal cheguei perto dela, seu rosto corou. Um sorriso tímido se abriu e ela se apresentou.
Seu nome? Não me lembro. Nunca precisei nomear minhas vítimas, eu apenas as usava e as esquecia nas sombras da morte.
Depois de algumas bebidas, convidei-a para dar uma volta pela floresta.
-Não é perigoso? - perguntou ela.
-Não se preocupe, estará segura comigo. Ninguém se atreveria a nos atacar, todos me respeitam e me temem… - Disse eu, oferecendo-lhe o braço.
Mais um sorriso, braços dados, caminhamos para fora do QG até a floresta.
Quando finalmente parei para beijá-la, ou mordê-la… Ela hesitou.
-Aqui não, podem nos ver… Vamos entrar mais na floresta.
“Que ingenuidade, ela está me facilitando, quanto mais fundo, menos chance de encontrarem seu corpo…” - Pensei.
Segurando minha mão, deixei-a me conduzir cada vez mais para o ventre da floresta profunda, pensando que poderia me divertir um pouco, antes de mordê-la e drenar sua vida. Afinal ela era bonita!
Quando ela achou que estávamos distantes o suficiente, paramos e eu a abracei. Com um beijo doce, tratei de hipnotizá-la para facilitar as coisas… Eu estava com sede, e nada agora me impediria de beber seu sangue.
Seu olhar ficou cada vez mais perdido no meu… Cravei os dentes no seu pescoço, buscando o calor do seu sangue, ouvi seus gemidos… Quando senti meus pés sendo agarrados e puxados para baixo.
Em alguns segundos, eu estava afundando numa espécie de cova.
Gritei, mas quando senti a terra entrar na minha boca, me calei... Aquela queda parecia não ter fim!
Fui arrastado por lugares úmidos e apertados, até as profundezas mais fétidas daquelas galerias, e perdi os sentidos.
Acordei sentindo os arranhões arderem e o cheiro do meu próprio sangue impregnava o ar. A escuridão do local não era um problema para meus olhos treinados, e eu finalmente pude enxergar ao redor… Eu estava em túneis subterrâneos… Mas não estava sozinho!
Para meu horror, a moça que eu friamente estava prestes a matar, gritava apavorada, a alguns metros de mim, enquanto seres descarnados devoravam-na viva, arrancando com seus dentes a carne do tórax e dos braços.
-Parem! deixem-na em paz! - Gritei eu, vendo a agonia da moça que servia de refeição para aquelas coisas…
Os monstros gargalhavam e continuavam a carnificina, sem dar atenção aos meus protestos... E eu percebi que eu seria o próximo… Ela era a entrada. Eu, o prato principal.
Comecei a lutar com eles, chutar e socar, mas o túnel apertado não me dava espaço para muitos movimentos, raízes e lascas de pedregulho se enganchavam em mim, rasgando até o osso a carne dos meus braços e pernas.
Eu precisava pensar, eu nunca tinha visto aquelas criaturas antes… Uma delas agarrou meu rosto e me obrigou a olhar a moça ser devorada viva, a essa altura, ela já não gritava mais, seu tórax e braços estavam esqueletizados, com pedaços de músculos rasgados pendurados nos ossos… Eles já haviam arrancado seus olhos. Ele queria me deixar impressionado? Pois conseguiu!
-Olhe para ela! - Berrou a criatura.
Eu engoli seco e olhei. A Mulher estava desfigurada… Morta!
-Por quê??? - Perguntei desesperado.
-Diga você! Por quê? Por que lamenta por ela? Você ia matá-la! Apenas o fizemos primeiro!
Eu não tinha argumentos. Eu era um assassino, e agora seria assassinado. Mas era um morto-vivo… Não ia morrer, ia passar a eternidade sendo devorado e me curando, nas mãos daquelas coisas nojentas e fedidas. Aquele não era o destino certo para um Rei do submundo!
-Vão me devorar? - Perguntei, apreensivo.
-Com gosto. - Disse o bicho, já babando. - Você dará uma excelente refeição. E como é um vampiro, será uma refeição eterna!
Eu precisava pensar depressa, os outros já estavam se aproximando de mim…
-Outros virão me procurar!
-É o que esperamos… Por isso capturamos você… Virão e serão comidos. Outros virão em busca deles, e também serão comidos. E quando pararem de vir, vamos invadir o QG, e comer quem estiver faltando. Todos em Eel serão comidos… Sua família… Seus amigos… Até não sobrar mais ninguém.
Aquilo era um pesadelo do qual eu não podia acordar!
-Mas… O que são vocês? - Perguntei desesperado.
O bicho sorriu arreganhando os dentes pontiagudos.
-Ghouls…
-Ghouls… São comedores de carniça! - Gritei eu - Não comem carne fresca!
-Mudamos nossos hábitos, ao começar a comer os restos das vítimas que você trazia para cá. Como acha que os corpos desapareciam? A culpa é sua, vampiro… Por nos alimentar com carne fresca. Agora cale a boca, e prepare-se para nos servir…
Os monstros avançaram para cima de mim, e me seguraram pelos braços e pernas, rasgando minhas roupas, enquanto alguns já começavam a arrancar pedaços do meu tórax com os dentes. Eu mal me mexia, no túnel apertado… Minha cabeça girava, pensando que todos aqueles que eu amava estavam condenados, por minha culpa! Eu já gritava de dor, quando me ocorreu uma ideia desesperada.
-Parem!!! Eu posso fazer um pacto com vocês! Eu trago vítimas para vocês… Eu… Eu as deixo aqui para vocês! Mas em troca, não matem meus amigos!
Eles pararam de repente. Eu não achei que aceitariam tão depressa!
-Pacto de sangue! - Berrou o líder deles, afundando a unha no meu rosto e cortando até o osso. - Pacto de honra! Se quebrar, mataremos todos!
Dei um grito de dor, enquanto ele girava o dedo na ferida até me fazer concordar.
-Pacto de sangue! - Berrei, desesperado.
Eles então se afastaram e me deram espaço. Olhei mais uma vez para a moça que foi devorada viva, e para minha surpresa, ela se mexia. No lugar onde seus olhos foram arrancados, uma luz azulada brilhava. Suas costelas, coluna e ossos expostos ainda vertiam sangue, quando ela se arrastou até mim e sorriu… No lugar da boca linda e sedutora, havia uma boca escancarada de onde dentes pontiagudos se projetavam.
Ela também era um Ghoul! Uma isca… E eu era o idiota do peixe! Caí como um pato na armadilha deles… Que estúpido!
Saí do buraco derrotado, envergonhado, imundo e fedendo a carniça.
Minhas roupas de gala estavam rasgadas e ensanguentadas, e embora minhas feridas tivessem se fechado por fora, por dentro eu estava destruído, humilhado. Para a segurança daqueles que eu amava, precisava manter o pacto. Estava escravizado.
Durante semanas, meses, anos, atraí vítimas desconhecidas para aquela floresta, a fim de alimentar os Ghouls, e assim, manter vivos os habitantes de Eel.
Eu era agora para sempre um servo daquelas coisas fedidas e nojentas que rastejavam pelas profundezas do subsolo, carregando os pedaços de cadáveres dos desaparecidos de Eel.
Por isso, hoje, mais uma vez, eu digo que… Meu nome é Nevra.
Sou um Vampiro.
Um ser das trevas, do inferno... Um Rei do submundo… Bebedor de sangue, predador e assassino.
Mas agora, não é com nenhum orgulho que eu afirmo… Que sou a pior das criaturas do Halloween.FIM
U M A L E M B R A N Ç A H O R R I P I L A N T E
O concurso acabou, mas você vai levar consigo uma lembrança a mais para manter na memória (e no perfil!) Se você teve uma participação válida, cheque a sua Caixa de Mensagens!
Nos vemos no próximo concurso! Até lá, Guardiões!
Atenciosamente,
A Moderação.
Os prêmios e selos serão entregues no decorrer da semana, fique de olho!
∎ antiga moderadora Valonqar