Esperamos que tenha aproveitado o festival! Infelizmente, Ykhar se atrapalhou um pouco com os papéis da votação ,e portanto, acabamos tendo um pequeno atraso com a divulgação dos resultados, mas...
Agora que o Festival foi encerrado e todos os problemas resolvidos, está na hora de dizer quem foram os vencedores de todas as atividades disponíveis!
O Fantasma da Floresta de Pinheiros - Conto de LírioBranco
Em um certo dia de inverno, o gracioso Alfeli e seu companheiro viajante exploravam o País de Natal, quando pararam na casinha dos duendes para descansar. Enquanto este ainda estava bastante cansado, aquele, em apenas uma noite de repouso, já havia voltado à sua plena forma. Então, na manhã seguinte, decidiu sair para um breve passeio nas terras geladas. Antes da partida, porém, o amigo faery aconselhou-o:
— Cuidado! Os duendes me contaram que um fantasma tem assustado aventureiros na floresta de pinheirinhos.
Apesar de não achar possível haver uma criatura do tipo por aquelas bandas, o mascote agradeceu pelo aviso e partiu.
Durante seu trajeto pelo país das neves, apreciou a luz e a alegria dos que se preparavam para fazer um belo natal. Sentiu o frescor do vento gélido soprando em suas delicadas, longas, finas, sedosas asas, e isso o preenchia de fascínio pelo que descobria em sua primeira viagem àquele lugar. Viu, também, um mar estrelado, o deserto cintilante, o castelo cristalino, doces em forma de construção e planta e um rabugento duende solitário espionando o que se passava do outro lado do estreito.
Foi ao sobrevoar a floresta de pinheirinhos pintados de branco de neve que o vento, até então brincalhão, porém manso, passou a soprar violentamente. O mascote tentou corajosamente enfrentá-lo, mas perdeu a contenda e caiu. Foi tudo muito rápido. À medida que despencava, chocava-se contra galhos e flocos de gelo, que arranhavam suas belas penas. Tentava desesperadamente fincar as garras das patas nos troncos das árvores próximas, mas eles o traíam e o deixavam derrapar. No fim, não conseguiu se fixar em nada. Então, apesar do esforço, em vão, o cisne espatifou-se no chão.
Ferido, imóvel e solitário, ele ficou ali, na neve. Não poderia voar de volta para casa enquanto suas asas estivessem naquele péssimo estado. E agora, pensou, o que faço? Não vejo nada que possa curar estes ferimentos...
Enquanto se perdia nos próprios pensamentos à procura de uma solução e tentando lidar com a dor, ouviu um barulho. Haveria mais alguém ali além dele? Lembrou-se do aviso do companheiro faery, para o qual não dera a devida atenção. Seria esse som obra da tal criatura sobrenatural? O ruído de arrastar-se na neve foi ficando mais frequente, maior, aproximando-se rápido, rápido, rápido!
Então parou. Silêncio completo.
O cisne já olhava para o lado, quando muito perto dele uma criatura apareceu de repente, fazendo-o saltar de susto. Aqueles seus olhos fitaram-no com curiosidade, sem permitir que suas intenções fossem lidas para além disso. O estranho ser checou-o de cima a baixo, inclinou a cabecinha para a direita, tilintando as bolinhas douradas presas às longas e pontudas orelhas, e finalmente sumiu por detrás de sua vista, tão misteriosamente como surgiu, acompanhado do ruído de outrora.
O cisne ainda processava o que acabara de acontecer. Aquele era o tal fantasma? Se sim, embora não fosse a criatura medonha que imaginava, ele havia realmente se assustado com sua aparição repentina. Porém, apesar desse encontro ser uma novidade animadora para a desbravadora ave, ainda não resolvia seu problema. Para piorar, o felpudo havia ido embora, levando consigo a sua única chance de sobrevivência. Voltara a ficar abandonado na vastidão da floresta, apenas ele e suas chagas...
E assim anoiteceu. Sem ver outro jeito, o Alfeli lambeu as feridas e molhou-as no gelo para tentar mantê-las limpas. Já ia pegando no sono a fim de poupar as energias quando acordou com o mesmo som de arrastar anteriormente ouvido. Desta vez, percebeu o longilíneo “fantasma” se aproximando à medida que corria sobre a neve, e ficou feliz pelo seu retorno inusitado. Reparou que o outro trazia em uma espécie de trouxinha amarrada nas costas algumas ervas e uvas élficas. Pelo Oráculo, onde arrumara aquilo tudo?! Era a sua salvação! O pequeno virou-se de modo que a trouxinha caísse das costas, abrindo-se com esse movimento. Depois, começou a mordiscar as ervas para que soltassem um óleo que aceleraria a cura dos ferimentos do Alfeli. Este, por sua vez, devorava as uvas élficas com uma fome de Liclion, até porque não comia nada há um considerável tempo. Passaram a noite juntos, a criaturinha enrolada contra as penas do cisne, mantendo ambos aquecidos.
No dia seguinte, o Alfeli viu suas asas completamente curadas, e, por gratidão, agarrou com suas patas o simpático mascote para um passeio aéreo pela região. Em um certo momento do voo, o novo amigo apontou para uma pequena casa solitária na neve. O cisne, curioso, aterrissou, e ambos bateram à porta. Quem atendeu foi uma senhora faery.
— Oooh, meu querido Okanya, você voltou! E quem é esse que veio consigo? Um novo amigo? — disse a senhora, dando dois beijos no Okanya e acariciando a cabeça do Alfeli.
Os dois entraram. Casa aconchegante, relacionamento próximo entre o — então esse era o seu nome — Okanya e aquela mulher... O Alfeli foi juntando as peças: percebeu que ela era a dona daquele mascote, cujas patinhas, ainda, faziam um som diferente de quando corria na neve, menos ruidoso e fantasmagórico. Além disso, a faery contou que o furão tinha o costume de sair sozinho para a floresta e se esconder em lugares quentes, como bolsas e peças de roupa.
— Aqui, não é surpresa achá-lo enfiado nas minhas meias... — explicou a senhora. Então a história do fantasma da floresta devia ser apenas um boato criado por aventureiros desavisados sobre um okanya “passos leves” e adorador de ambientes calorosos. Mistério resolvido! Quanto à trouxinha “milagrosa”:
— Notei que ontem à noite ele voltou agitado. Fuçava o armário onde guardo diversos alimentos de mascotes e quase derrubou o pote das uvas élficas. Depois correu para as ervas medicinais. Pensei que precisasse delas para algo, talvez tivesse encontrado algum forasteiro necessitando de ajuda rapidamente, então embrulhei tudo e amarrei nas suas costas. — Virou-se para o Okanya. — Mas não imaginei que se tratava de um mascote ferido... Você me matou de susto por ficar a madrugada toda sumido, seu arteiro! — E deu-lhe um forte abraço, estendido também ao Alfeli.
Finalmente o sol se punha e, após se conhecerem melhor, era hora do cisne voltar. Afinal, seu companheiro viajante deveria estar tão preocupado quanto aquela senhora ficara com seu mascote. Antes de partir, ela o presenteou com outra trouxinha de uvas élficas. O Alfeli despediu-se pela última vez do novo amigo Okanya, e então voou.
Durante o retorno para a casinha dos duendes, ele refletiu sobre esse inusitado encontro. Acontecimentos cuja origem nos é desconhecida podem gerar rumores excêntricos. Esses rumores podem estar equivocados, originando pensamentos que embasarão reações calamitosas. Mas, às vezes, eles podem permitir revelações surpreendentemente boas, que irão de encontro com tudo aquilo que um dia cogitaram ser a verdade.
“Que bom que fiz essa pequena viagem, pois descobri um novo amigo!”
Chegando finalmente na hospedaria, seu outro amigo, o viajante, recebeu-o com preocupação:
— Que susto! Encontrou o fantasma da floresta? O que aconteceu para demorar tanto?
Então percebeu uma trouxinha de alimentos e a expressão sorridente do mascote e sorriu também, suspirando aliviado:
— Esqueça o que perguntei, afinal, com certeza você fez uma boa viagem.
E o nosso mês de festas acabou, infelizmente. Mas não se preocupem, ano que vem teremos mais!
A Moderação.