Meu conto — Rosas para o vento

  Em uma tarde, após o grande e belo cisne abandonar seu lago encantado, o qual o mesmo considerou como uma casa por diversos anos, ele e o viajante, que ao passar do tempo a ave começou a considerar como seu companheiro, acabaram passando pelo vilarejo que o lobisomem, a criatura que o levou a conhecer e apreciar a flora que existia longe de sua solitária montanha, morava. O vilarejo era bem simples e pequeno, entretanto a arquitetura e composição das casas, além do fato de que ela ficava em uma clareira onde os céus são limpos e bastante azulados, tudo aquilo era esplêndido para o Alfeli, principalmente, os moradores daquele lugar, que, além de seu amigo lobisomem, eram as primeiras formas de vida que o mesmo presenciava, então, após seu parceiro apresentar a belíssima ave para todos que viviam naquele lugar, o cisne, que estava sendo apreciado por todos, escutou um pequeno sussurro de dor de alguma criatura, que aparentemente, os seres que o rodeavam não pareciam ter escutado, assim, a ave levantou vôo na direção onde o sussurro tinha soado, e quando o mesmo chegou no local avistou um canino com flores florescendo em sua pele, era o primeiro ser como ele que tinha visto e isso o fascinou, o que fez com que o pássaro encantado se aproximasse da raposa.   
  A raposa ao ver a ave, ficou maravilhada com as cores e beleza da plumagem do mascote em sua frente, então decidiu se aproximar da mesma e se deitar no chão, olhando-a para conseguir apreciar melhor sua beleza, neste mesmo momento, a ave pousou no focinho da raposa e soltou seu harmonioso canto que o mesmo entendia sendo um “Olá!”, como forma de se comunicar com aquele ser em sua frente, mesmo que estivesse descrente de que o mesmo iria entender o seu chamado, contudo, no mesmo instante, a raposa soltou um grunhido que dizia “Olá para você também”, na mesma hora, a ave, que estava surpresa e alegre, saiu de seu focinho para ir até o chão e encarar o canino em sua frente.
  - Você me entende? - disse observando as flores avermelhadas do indivíduo albino adiante.
  - Claro. - disse dando voltas ao redor de Alfeli - Qual o seu nome? De onde você é? Você gosta de correr? Suas penas são bonitas! - disse animada enquanto cheirava as penas do mesmo.
  - Quantas perguntas! - disse soltando um piado de alegria - Bem, eu não tenho um nome, mas meu dono gosta de me chamar de Alfeli, é um nome que eu me apeguei pois ele foi o primeiro ser que eu vi em anos! - disse voando em espiral e mostrando suas belas asas - Eu amei as rosas em seu corpo, como você as conseguiu? - disse enquanto voava alegremente.
  - Tudo começou com um silfo, ele parecia-me bastante machucado, então fiquei ao lado dele até que ele se sentisse melhor e depois, essas belas rosas começaram a nascer em meu corpo. - disse passando as patas em seu rabo, uma das regiões onde a mesma possuía mais rosas - E onde eu passo, eu deixo alguma pétalas caírem, e assim, diversas outras rosas começam a nascer no lugar. - disse enquanto se levantava e se balançava para espalhar algumas pétalas naquele local - Está vendo? - disse enquanto colocava sua cabeça perto do chão para apreciar as pétalas enquanto o Alfeli descia para pegar uma das pétalas com suas afiadas garras.
  - Mas que pétalas leves! - cantarolou enquanto dava cambalhotas no ar com a mesma - Você se importaria caso eu levasse algumas para o meu amigo? Acho que ele adoraria algumas para decorar seu jardim.
  - Não! - latiu alegremente.
  E desta forma, os dois mascotes começaram a conversar de forma alegre e acabaram nem se importando muito com o passar do tempo, ambos estavam contando suas estórias e vivências pessoais, seja Rowtsya contando sua antiga vida como raposa e como era a mesma quando era apenas uma filhotinha. Já Alfeli mencionou sua antiga vida na montanha e o lago em que morava, tentava descrever perfeitamente cada detalhe, pois mesmo que aquele lugar já estivesse desvanecendo em sua mente e memórias, o cisne amava lembrar do mesmo, uma vez que era o lugar que o mesmo passou a vida e o que ele tinha as melhores lembranças, mesmo que estivesse solitário naquele lugar.
  Depois do céu escurecer e as estrelas começarem a resplandecer na imensidão daquele pedaço de universo acima de suas cabeças, a albina, que no momento já era uma grande amiga para a majestosa ave, escutou alguns sons estranhos, de algo parecido com fogo, de imediato, ela levantou-se e começou a recuar para o lado contrário de onde o barulho de fogo estava vindo, Alfeli demorou para perceber o que estava acontecendo, até que viu uma fumaça escura saindo do vilarejo o qual estava faz algumas horas atrás, destarte, a ave voou agitadamente em direção àquele lugar pouco povoado, sem, aparentemente, a presença de Rowtsya, que tinha ficado para trás graças ao seu medo de caçadores. Ao chegar naquele local, era possível observar diversas pessoas evacuando suas casas e ver o fogo consumir toda a madeira existente ali, isso só preocupou ainda mais o pássaro, principalmente quando ele escutou o grito de Kourt, o viajante que o acompanhava, o qual estava sendo causado pois o lobo estava com a perna presa debaixo de uma pedra, logo, em meio ao desespero, foi em sua direção, todavia, mesmo com suas garras afiadas e pontudas, a pedra não conseguiu ser removida, então, a ave deitou-se ao lado de seu companheiro e fechou os olhos, negava ver o que iria acontecer consigo e com o homem à sua esquerda, e ao inalar a massa de ar preta, consequência da combustão, acabou desmaiando, sendo assim, as últimas coisas que escutou foi um uivo.
  Posteriormente, depois de abrir seus olhos, viu Kourt com uma faixa em sua perna machucada enquanto fazia carinho em Rowtsya, no entanto, ao verem que o cisne havia acordado, ambos foram em sua direção, pela parte da Rowtsya, ela esfregou seu focinho nas asas de Alfeli, que retribuiu soltando um pio de alegria que indicava um “Obrigado”, para a mesma. Já pela parte do lobisomem, ele pegou a ave em seus braços e verificou o estado de suas asas e penas, para verificar que ele estava bem, e o resultado foi positivo, então, depois de um tempo, Kourt e Alfeli se despediram da jovem raposa, ambos com um sorriso em seus rostos, e voltaram a sua jornada.
  E desde então, o cisne focou em fazer amizade e conhecer os diversos mascotes que habitavam Eldarya.

Quantidade Total de Palavras: 1116

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Meu conto — O fantasma da floresta de pinheirinhos

    Em um certo dia de inverno, o gracioso Alfeli e seu companheiro viajante exploravam o País de Natal, quando pararam na casinha dos duendes para descansar. Enquanto este ainda estava bastante cansado, aquele, em apenas uma noite de repouso, já havia voltado à sua plena forma. Então, na manhã seguinte, decidiu sair para um breve passeio nas terras geladas. Antes da partida, porém, o amigo faery aconselhou-o:
    — Cuidado! Os duendes me contaram que um fantasma tem assustado aventureiros na floresta de pinheirinhos.
    Apesar de não achar possível haver uma criatura do tipo por aquelas bandas, o mascote agradeceu pelo aviso e partiu.
    Durante seu trajeto pelo país das neves, apreciou a luz e a alegria dos que se preparavam para fazer um belo natal. Sentiu o frescor do vento gélido soprando em suas delicadas, longas, finas, sedosas asas, e isso o preenchia de fascínio pelo que descobria em sua primeira viagem àquele lugar. Viu, também, um mar estrelado, o deserto cintilante, o castelo cristalino, doces em forma de construção e planta e um rabugento duende solitário espionando o que se passava do outro lado do estreito.
    Foi ao sobrevoar a floresta de pinheirinhos pintados de branco de neve que o vento, até então brincalhão, porém manso, passou a soprar violentamente. O mascote tentou corajosamente enfrentá-lo, mas perdeu a contenda e caiu. Foi tudo muito rápido. À medida que despencava, chocava-se contra galhos e flocos de gelo, que arranhavam suas belas penas. Tentava desesperadamente fincar as garras das patas nos troncos das árvores próximas, mas eles o traíam e o deixavam derrapar. No fim, não conseguiu se fixar em nada. Então, apesar do esforço, em vão, o cisne espatifou-se no chão.
    Ferido, imóvel e solitário, ele ficou ali, na neve. Não poderia voar de volta para casa enquanto suas asas estivessem naquele péssimo estado. E agora, pensou, o que faço? Não vejo nada que possa curar estes ferimentos...
    Enquanto se perdia nos próprios pensamentos à procura de uma solução e tentando lidar com a dor, ouviu um barulho. Haveria mais alguém ali além dele? Lembrou-se do aviso do companheiro faery, para o qual não dera a devida atenção. Seria esse som obra da tal criatura sobrenatural? O ruído de arrastar-se na neve foi ficando mais frequente, maior, aproximando-se rápido, rápido, rápido!
    Então parou. Silêncio completo.   
    O cisne já olhava para o lado, quando muito perto dele uma criatura apareceu de repente, fazendo-o saltar de susto. Aqueles seus olhos fitaram-no com curiosidade, sem permitir que suas intenções fossem lidas para além disso. O estranho ser checou-o de cima a baixo, inclinou a cabecinha para a direita, tilintando as bolinhas douradas presas às longas e pontudas orelhas, e finalmente sumiu por detrás de sua vista, tão misteriosamente como surgiu, acompanhado do ruído de outrora.
    O cisne ainda processava o que acabara de acontecer. Aquele era o tal fantasma? Se sim, embora não fosse a criatura medonha que imaginava, ele havia realmente se assustado com sua aparição repentina. Porém, apesar desse encontro ser uma novidade animadora para a desbravadora ave, ainda não resolvia seu problema. Para piorar, o felpudo havia ido embora, levando consigo a sua única chance de sobrevivência. Voltara a ficar abandonado na vastidão da floresta, apenas ele e suas chagas...
    E assim anoiteceu. Sem ver outro jeito, o Alfeli lambeu as feridas e molhou-as no gelo para tentar mantê-las limpas. Já ia pegando no sono a fim de poupar as energias quando acordou com o mesmo som de arrastar anteriormente ouvido. Desta vez, percebeu o longilíneo “fantasma” se aproximando à medida que corria sobre a neve, e ficou feliz pelo seu retorno inusitado. Reparou que o outro trazia em uma espécie de trouxinha amarrada nas costas algumas ervas e uvas élficas. Pelo Oráculo, onde arrumara aquilo tudo?! Era a sua salvação! O pequeno virou-se de modo que a trouxinha caísse das costas, abrindo-se com esse movimento. Depois, começou a mordiscar as ervas para que soltassem um óleo que aceleraria a cura dos ferimentos do Alfeli. Este, por sua vez, devorava as uvas élficas com uma fome de Liclion, até porque não comia nada há um considerável tempo. Passaram a noite juntos, a criaturinha enrolada contra as penas do cisne, mantendo ambos aquecidos.
    No dia seguinte, o Alfeli viu suas asas completamente curadas, e, por gratidão, agarrou com suas patas o simpático mascote para um passeio aéreo pela região. Em um certo momento do voo, o novo amigo apontou para uma pequena casa solitária na neve. O cisne, curioso, aterrissou, e ambos bateram à porta. Quem atendeu foi uma senhora faery.
    — Oooh, meu querido Okanya, você voltou! E quem é esse que veio consigo? Um novo amigo? — disse a senhora, dando dois beijos no Okanya e acariciando a cabeça do Alfeli.
    Os dois entraram. Casa aconchegante, relacionamento próximo entre o — então esse era o seu nome — Okanya e aquela mulher... O Alfeli foi juntando as peças: percebeu que ela era a dona daquele mascote, cujas patinhas, ainda, faziam um som diferente de quando corria na neve, menos ruidoso e fantasmagórico. Além disso, a faery contou que o furão tinha o costume de sair sozinho para a floresta e se esconder em lugares quentes, como bolsas e peças de roupa.
    — Aqui, não é surpresa achá-lo enfiado nas minhas meias... — explicou a senhora. Então a história do fantasma da floresta devia ser apenas um boato criado por aventureiros desavisados sobre um okanya “passos leves” e adorador de ambientes calorosos. Mistério resolvido! Quanto à trouxinha “milagrosa”:
    — Notei que ontem à noite ele voltou agitado. Fuçava o armário onde guardo diversos alimentos de mascotes e quase derrubou o pote das uvas élficas. Depois correu para as ervas medicinais. Pensei que precisasse delas para algo, talvez tivesse encontrado algum forasteiro necessitando de ajuda rapidamente, então embrulhei tudo e amarrei nas suas costas. — Virou-se para o Okanya. — Mas não imaginei que se tratava de um mascote ferido... Você me matou de susto por ficar a madrugada toda sumido, seu arteiro! — E deu-lhe um forte abraço, estendido também ao Alfeli.

    Finalmente o sol se punha e, após se conhecerem melhor, era hora do cisne voltar. Afinal, seu companheiro viajante deveria estar tão preocupado quanto aquela senhora ficara com seu mascote. Antes de partir, ela o presenteou com outra trouxinha de uvas élficas. O Alfeli despediu-se pela última vez do novo amigo Okanya, e então voou.
    Durante o retorno para a casinha dos duendes, ele refletiu sobre esse inusitado encontro. Acontecimentos cuja origem nos é desconhecida podem gerar rumores excêntricos. Esses rumores podem estar equivocados, originando pensamentos que embasarão reações calamitosas. Mas, às vezes, eles podem permitir revelações surpreendentemente boas, que irão de encontro com tudo aquilo que um dia cogitaram ser a verdade.
    “Que bom que fiz essa pequena viagem, pois descobri um novo amigo!”

    Chegando finalmente na hospedaria, seu outro amigo, o viajante, recebeu-o com preocupação:
    — Que susto! Encontrou o fantasma da floresta? O que aconteceu para demorar tanto?
    Então percebeu uma trouxinha de alimentos e a expressão sorridente do mascote e sorriu também, suspirando aliviado:
    — Esqueça o que perguntei, afinal, com certeza você fez uma boa viagem.

Total de palavras (Word): 1180
Total pelo Contador de Caracteres/contadorcaracteres: 1193

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Meu conto — Patinho Feio

A floresta em que se encontrava ficava cada vez mais destoante de sua lagoa no topo da montanha, onde ele não enxergava nada além do céu e suas nuvens, que pareciam estar apenas esperando o cisne pousar em toda sua fofura e maciez. Contudo, isso não significava que não era tão maravilhosa quanto. Seus olhos eram tomados por tons de verde, alguns mais opacos, outros tão vívidos quanto ele próprio.
"Quantas coisas eu perdi por todos esses anos, tendo medo de deixar meu amado lago?" Se perguntou mentalmente, eriçando as penas com a sensação de dúvida e arrependimento invadindo cada parte de seu corpo esguio.

Cisnes dificilmente vagavam à esmo pela terra. Era perigoso, quase um suicídio, visto que sua carne tenra era desejo de inúmeros predadores, podendo ser facilmente caçado por ter somente suas asas e bico como defesa. Mas ele não se importava, preferia deleitar seus olhos com as mais fantásticas visões e acabar com seu gigantesco pescoço na boca de um Minaloo - ou pior um Black Gallytrot! - do que permanecer em sua apática vida, convivendo apenas com seu reflexo.

Em sua andança, ele via de relance inúmeras criaturas, que assim como ele não pareciam animais normais mas uma mistura do fantasioso com o real, pequenos - e grandes - frankensteins da natureza. Seu desejo por ora era encontrar um destes animais que o acalentasse e fizesse companhia, por mais que nada fosse recuperar os milênios de solidão. Apressadamente pôs-se a vasculhar cada canto da floresta, em busca de alguém que fizesse consigo o trato da amizade.

O primeiro que avistou foi uma espécie de lagarta com traços felinos, que ao vê-lo começou a se arrastar lentamente em sua direção, porém, assustado com seu tamanho, o cisne correu na direção contrária e a pobrezinha desistiu de se aproximar.
O segundo lhe causou mais espanto ainda, sua face de crânio, sua pelagem negra como o breu e seus olhos que não passavam de dois buracos sem vida o aterrorizaram. O bicho bufou ao notar sua presença e tomando como um sinal de afaste-se, o cisne voou para longe.
Ao pousar, encontrou o terceiro, que carregava um ar divertido. Seu corpinho era longo e flexível, coberto por listras vermelhas e douradas, extremamente chamativas. Por tê-lo achado bonitinho, o cisne se aproximou sem hesitação e abriu as asas, ostentando suas penas coloridas.
— Veja, eu também tenho adornos pelo meu corpo!
Os olhos da criaturinha se estreitaram ao ver suas penas, ele esticou as pequenas patinhas com garras para frente e correu, seu corpo longilíneo fazendo curvas como se fosse feito de mola. Sem entender, o cisne sentiu uma pontada de dor em seu traseiro. Quando se deu por conta, só conseguiu distinguir a silhueta do outro com uma de suas penas azuis na boca, correndo para longe em ziguezague.
— Ora essa! Mas que falta de educação! — Grasnou, vociferando todos os xingamentos conhecidos pela língua dos animais. Enquanto amaldiçoava o ladrãozinho, ele ouviu um arrulhar próximo, ergueu sua cabeça seguindo o som e se deparou com duas aves, suas cores eram pastéis, e eles voavam ao redor de um ninho construído de forma caprichosa e perfeita.
O-olá! — Cumprimentou animado. — Vocês vão ter filhotes? — Suspirou de felicidade, pensando nas bolinhas de penas — Posso ver??
Mas o casal se silenciou, parando completamente os arrulhos, assovios e esvoaçadas, recostaram-se as cabeças um no outro e viraram de costas para o cisne, deixando visível para o mesmo somente suas caudas de um ouro reluzente em formato de coração.
— Ah... Entendi, vocês não querem ser incomodados, não é? Não vou atrapalhar o namoro de vocês... — Disse baixinho, dirigindo-se para longe do casal.
"Para duas criaturas com corações nas caudas, eles são bem insensíveis."
Mal sabia o desafortunado cisne que, ao se distanciar, as duas aves retornaram com seu festejo, e os filhotes, recém saídos dos ovos, colocaram suas cabecinhas peladas para fora do ninho, piando desesperadamente por uma primeira refeição.

Fatigado e colérico, o cisne desistiu. Caminhou cabisbaixo, seu extenso pescoço quase tocando o chão, tamanho era seu desencanto, até chegar em um córrego e por ali desatar a chorar.
— Por quê não consigo encontrar alguém para me fazer companhia? — Fungou — Tudo que consegui nessa jornada foi me assustar com esses seres estranhos e com minha transformação ter minhas belas penas roubadas!

Liberando toda sua mágoa, o cisne não notou a chegada de uma intrusa ao seu pequeno refúgio. De forma silenciosa a Danalasm chegou ao outro lado do córrego, para saciar sua sede. Ouvindo o som da água mexendo, o cisne parou de se lamentar e encarou o novo ser que ali estava.
Era linda, com olhos de um dourado líquido leitoso e encantador, contornados por pelos de cor azul real e ornados por longos cílios pretos. Seu focinho era azul bebê e suas galhadas eram como gelo esculpido em curvas. Tinha pernas delgadas e exageradamente finas, o pelo branco do corpo sarapintado de manchas azuis, deixavam-na com uma aparência etérea, quase divina.
Percebendo ser observada, a Danalasm atravessou o córrego e deixou sua cabeça na altura do cisne, numa espécie de leve reverência.
— O que você é? — Questionou. Sua voz era doce e quase inaudível. 
— Eu sou um cisne! Não percebe? Eu só fui transformado ao beber a água de uma lagoa mágica e fui aprimorado, por isso estou diferente! — Respondeu de forma bruta, ultrajado.
— Agora compreendo porque você está aí, chorando as pitangas, abandonado. — Ela continuou. Não falava de forma grosseira ou má, mas não deixava de ser dura. — Por fora você pode ser um lindo cisne, toda via, por dentro ainda é um patinho feio, julgando todos os meus irmãos da floresta por suas aparências e escolhendo qual seria digno de sua aproximação ou não.
O cisne ficou com o pescoço ereto, irritadiço e contrariado, prestes à retrucar aquela criatura petulante, mas ela não deixou.
— Você fugiu da minha irmã Catatapillar, quando ela de bom grado tentou ir até você, se não o tivesse feito, teria uma boa companhia pelo resto de sua vida na floresta.
A raiva se dissipou, e agora ele a ouvia silencioso.
— Mas eu sou piedosa. Irei te ensinar a conviver com todos os mascotes que aqui vivem e a tratá-los como seus irmãos. E você terá que aprender mais sobre cada um, para não acabar tendo todas as suas penas roubadas também. — Ela piscou e parou para respirar. — Escolha um novo nome, você já não é mais um cisne, se não quiser viver sozinho, terá que viver como um de nós, perpetuar sua espécie e ensinar aos seus descendentes a conviver com os faeries que aqui vivem, alguns poderão se tornar companheiros deles também.
O cisne, que já não era mais cisne, colocou uma asa sobre o bico, matutando tudo que havia sido dito. A Danalasm permaneceu ali, sorvendo da água do córrego.
— E então? Escolheu?
— Alfeli.

Quantia de palavras: 1156.

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Apresentação: A Guardiã dos Cervos | OC: Salander, a Rainha dos Cervos | Instagram: @Salanderinlove

Meu Conto-A última aventura...A sós

No alto de uma montanha onde havia um lago límpido e encantado, morava um Alfeli belíssimo, porém solitário. Muitas criaturas tentavam escalar a montanha sem sucesso...
Até que um jovem Corko aventureiro e brincalhão decidiu que o maior desafio de sua vida seria escalar a montanha e descobrir as maravilhas que haviam nela. Com muito esforço e pausas pelo caminho, ele finalmente chegou ao topo e ali avistou um lago, de águas límpidas e de tons diversos de azul que o hipnotizavam e atraiam-no até ele, curioso como era o jovem Corko foi correndo até o lago para banhar-se, mas foi nesse exato momento que ela apareceu: “ A mais bela das criaturas”; foi o que dissera sua dona Alice.
Era uma espécie de cisne branco, suas asas pareciam ter se fundido com asas de uma borboleta e uma libélula, a cauda com tons de azul e um dourado majestoso, encantavam qualquer um que as visse.
Então o pássaro veio em sua direção e o pegou com as garras e o retirou de perto do lago (afinal só ele conhecia seus poderes);
O Alfeli pousou com o invasor para longe do lago e perto de uma árvore, curioso sobre essa criatura que havia conseguido escalar a montanha indagou:
- Como conseguistes escalar a montanha?
O Corko espantado respondeu:
-Disse a mim mesmo que conseguiria escalá-la e descobrir as maravilhas do local.
- Mas nunca houve nenhuma outra criatura aqui em cima- Afirmou o cisne desconfiado- Você teve a ajuda de bruxas?
- Não, não. – Diz sorrindo para o pássaro - Minha dona me deixou explorar locais além do que o de costume, ela é uma das anciãs da cidade de Eel e vagou por muitos reinos a procura de um cisne legendário, que dizia ser “A mais bela das criaturas”; nunca o encontrou então desistiu da procura e se instalou nas terras de Eel.
- Quer dizer que há lendas sobre mim? - Disse o pássaro com ar amigável- E onde se encontram essas terras de que tu tanto falas? E que tipo de criatura tu és?
-Calma, calma, uma pergunta por vez...- Diz o Corko quase confuso por conta de tantas perguntas- Sim, há lendas sobre você; e as terras de Eel estão a léguas da montanha, nem imaginas o que tive de passar para
chegar aqui. Eu sou um Corko, ainda não evolui, como percebestes sou um espécime de lagarto com nadadeiras. - Sorriu.
- Uau!- Diz maravilhado com a descoberta de um mundo cheio habitantes e criaturas de diferentes espécimes, muito de diferente daquele lugar gelado e solitário- Posso lhe pedir algo?
- Claro- respondeu o intruso- O que seria?
- Me leve par as Terras de Eel? Não quero mais viver sozinho, quero conhecer o mundo, novas criaturas, lagos, árvores, tudo! –Fuma breve pausa e suspirou- Ah, quero encontrar uma companhia para a vida toda, ter alguém para compartilhar minhas experiências, sabe?
- Sei sim- Concordou o Corko- Então te levo... quer dizer você me carrega e eu te guio até as Terras de Eel, quem sabe você more comigo para sempre?
O cisne feliz e empolgado apressou-se em pegar o seu primeiro amigo com suas patas e voou, tão distante que já nem enxergava a montanha e o lago. Em seus pensamentos imagens de como seria o lugar onde estava viajando com seu amigo verde.
- Ei! - Gritou o Corko - Veja! Olha quantos outros lagos e florestas que há por aqui, esse é meu local favorito para explorar, há muitas relíquias por aqui.
- Sério?- Indagou o Alfeli- O que são r-relíquias?
-Hahaha- gargalhou o lagarto- Relíquias são objetos difíceis de se encontrar, igual você.
-Ah, sim- Suspirou e voou mais empolgado do que já estivera em milênios.
O lagarto verde também havia ficado encantado com as paisagens vistas de cima, mas também enjoado. Seu hobbie era nadar e explorar locais baixos a medianos, nunca havia ido tão alto. Era como se tivesse alcançado as nuvens!
Foram quarenta e oito horas de viagem até as Terras de Eel, o Corko avistou o Q.G de longe e gritou:
- Ali está, desça, desça!
- Acalme-se, já estou pousando. – Retrucou.
- Venha, vamos. Teremos de ir caminhando até a caverna de minha dona.
- O-ok – Concordou Alfeli.
Caminharam cinco minutos por entre as aberturas da caverna até chegarem num local que emanava uma luz intensa azul cintilante.
-É aqui! - Exclamou o lagarto
- Que lindo local. – Diz o cisne
- Venha, vamos encontrar Alice!
Chegando na sala de estar do recinto, o lagarto não avista sua dona “Mas onde será que está? ”, se perguntou. “Será que ela partiu em minha procura? ”
Então Corko foi se aproximando dos quartos, até ouvir por de trás das portas soluços baixos e constantes; a porta estava entreaberta e quando adentrou viu que ali jazia sua dona chorando por não telo visto durante a semana. Sem perceber pisou num quadro caído no chão, o que fez com que Alice levantasse a cabeça e o visse.
-Thorn! - Ela exclamou- Por onde andastes meu lagartinho verde? Senti saudades.
A anciã pegou sua mascote nos braços e o abraçou, Thorn retribuiu o carinho, mas depois começou a ficar e inquieto e queria que a dona visse sua nova amizade. Ele se sacudiu e saltou para fora dos braços de Alice e começou a morder as calças dela fazendo sinal para que o seguisse.
Ela o seguiu até a sala de estar e ficou paralisada com a criatura que ali estava sobre sua escrivaninha. “É ele! -Pensou- Mas como Thorn o encontrou? É uma criatura milenar e vive no topo da montanha”.
O Alfeli se assustou com a chegada da mulher e voou pairando no ar, se mostrando ainda mais lindo do que quando o corko o conhecera.
O lagarto então o chamou:
- Alfeli venha para perto de mim, minha dona não irá lhe prejudicar.
O cisne hesitou, mas foi para perto amigo.
- Está tudo bem, - disse o corko o acalmando- ela está aqui para te ajudar.
- Tudo bem. Eu aceito a ajuda dela então. – Afirmou, mas com receio.
O lagarto olhou para a dona como se estivesse implorando para manter o amigo com ele, Alice como se o entendesse acenou que sim com a cabeça.
- Cisne ela te aceitou! Você pode permanecer comigo o tempo que quiser, para sempre talvez!
- Eu quero e muito! - Alegrou-se o cisne.
-Então fique e explore Eldarya inteira comigo, assim não ficaremos sozinhos e poderemos fazer mais amigos por aí. Certo?
- Certo? – Confirmou confiante da escolha.
E assim começou a amizade dos dois cheias de aventuras e brincadeiras, diferentemente da solidão que Alfeli sentia. Agora ele tinha alguém com quem podia compartilhar de tudo.

Quantidade de palavras=1128

Meu conto - Para cada amigo, uma aventura

Depois do ocorrido com o peregrino, mesmo sem entender o motivo no qual o Alfeli fez o que fez, os dois se tornaram amigos e começaram a viajar juntos. O viajante levava o Alfeli para vários lugares e o animal se gostava ficava feliz em conhecer tanto lugares mesmo que não fosse os melhores, era bom conhecer diferentes culturas e realidades.
  Durante uma das aventuras a uma costa desconhecida, o Alfeli aproveito enquanto o seu companheiro arruma um pequeno acampamento para passar a noite. Durante esse passeio o animal ouviu um choro e curioso ele seguiu em direção ao som, ele sentiu que não podia ignorar o som, mesmo que o levasse a um grande perigo.
  Escondido atrás de um arbusto ele pode ver um pequeno animal, dourado e cumprido. Ele pode ver o medo da pequena criatura e se perguntava o porque dele estar daquele jeito, era visível ver os ferimentos que ele tinha, mas ele sentia que naquele choro havia algo mais.
  O Alfeli olhou para o lado quando ouviu barulhos de folhas sendo amassadas e galhos quebrando e viu um animal grande de pelagem totalmente escura com uma aura assustadora, ele nunca imaginou nem desejará ver uma criatura daquelas e então compreendeu o porque do pequenino chorar tanto. Ele estava em perigo, mas, como iria conseguir ajuda-lo?  Era perigoso atacara diretamente e só tentar fugir junto com o ele não iria adiantar, a criatura poderia alcança-los rapidamente se só fizesse isso. Naquele instante o Alfeli pensou em desistir, mas ele não poderia, ele nunca iria se perdoar caso fizesse tal ato.
  Não tendo mais tempo de pensar por causa da criatura que estava mais e mais perto de dar o atacar final no animalzinho ele teve que pensar rápido. Jogando um galho próximo na criatura para despistar sua atenção do pequeno, ele também arranhou sua face com suas afiadas garras e depressa pegou o animal e levantou vou, mas o assustador animal não tinha desistido ainda e os perseguia. Com medo da possibilidade de colocar seu companheiro em perigo o Alfeli desviou de seu caminho e voou para além do mar por um tempo até achar um conjunto de ilhas próxima da li, onde pousou e cuidou do animal ferido. 
- O-obrigado – Disse o pequeno animal que ainda não conseguia para as lágrimas em seu rosto.
- Eu nunca me perdoaria se o deixasse naquele estado sem oferecer nenhum tipo de assistência- o Alfeli enxugou algumas lágrimas do rosto do pequeno com sua asa direita- Eu queria fazer mais. Infelizmente eu não sou bom em cuidar de feridas... Quem me dera ter poderes curativos. Minhas sinceras desculpas... 
- Você já fez muito! Além disso eu não tenho nem como expressar minha gratidão pelo oque você fez, os outros fugiram quando eu pedi ajuda!-O pequeno olhou para o seu salvador e antes de abrir a boca para falar novamente abaixou sua cabeça e voz - A única coisa que posso fazer é dizer obrigado...
- Acredite em mim quando digo que somente isso é o suficiente, não peço nada mais nada menos em troca. Mas não posso acreditar que outros se recusaram a mudar alguém em perigo!
  O pássaro parou por alguns segundos e olhou o sol poente, o céu ficaria escuro em alguns minutos e seria uma noite sem lua. Retornar seria impossível naquela escuridão certamente se perderiam, a única opção era passar a noite no local.
- Antes de mais nada, devemos nos apresentar! Eu sou um Alfeli e viajo junto a um peregrino explorando e conhecendo o mundo. Você, meu amigo, é o primeiro animal que conheço pessoalmente – Ele fez uma reverência e o pequenino o imitou rindo.
- Nunca tinha conhecido alguém como você, suas asas são lindas! Maravilhosas! – O pequeno parou a admiração quando lembrou que tinha que se apresentar- Eu sou um O'oluray e é um prazer conhece-lo também! - O pássaro ri da tentativa de imitação do O'oluray e voltou a tentar cuidar de suas feridas. 
- Teremos que passar a noite aqui meu pequeno amigo, será impossível viaja no escuro. Durante o voo vi uma grande árvore que acho que poderá nós abrigar.
  Os dois conversaram durante o trajeto sobre suas vidas, desejos e sonhos. Durante a fria noite o Alfeli cobriu o O'oluray que tremia por causa do frio. Assim que o sol surgiu os dois partiram em direção a costa.
- Você tem sorte de poder viajar para todo lugar! Eu queria poder fazer também, mas não acho que conseguiria ficar muito tempo em locais desconhecido... – O pequeno disse em tom alto era difícil falar e escutar com as batidas de asas e vento se sobrepondo.
- Realmente felizmente não estou sozinho, se quiser pode vir conosco, eu não vejo problema em carregar mais um. Pense no assunto!
  Ao chegar o passar o foi direto no local que seu companheiro estava erguendo o acampamento quando saiu, mas para sua surpresa ele não estava lá, somente as cinzas da fogueira. O Alfeli não conseguia entender, era cedo ainda, como ele não poderia estar aqui. Ele só conseguia imaginar seu provável já ex-companheiro o abandonaria tão rápido assim? Logo na primeira oportunidade?
  O pequeno O'oluray percebeu o quão seu novo amigo estava aflito, queria fazer algo para ajudar, mas oque poderia fazer? Normalmente o pequeno comia sua refeição preferida, , mas ele tinha dúvidas quanto ao gosto do pássaro. Então sua única opção era fazer a segunda coisa que mais gostava. Abraços sempre o deixavam melhor, então subiu nas costas de Apelo e com seu comprido corpo se entrelaçou nele e com suas pequenas patinhas o seu o seu melhor e caloroso abraço que podia dar.
- Meu amigo! Oque está a fazer?- O Alfeli nunca tinha visto ou não lembrava de tal gesto , mas por alguma razão ele gostava o fazia sentir melhor apesar de tudo.
- Abraço! Isso sempre me ajuda quando eu fico triste! Se quiser também pode me contar oque aconteceu... Somos amigos afinal.
  O pássaro se encheu de alegria, seu mais novo amigo estava tentando fazer de tudo para anima-lo apesar das lembranças de seu antigo amigo virem a tona. Mas mesmo assim ele resolveu desabafar é contar oque lhe entristecia. O pequeno seu a sugestão que talvez o peregrino tivesse apenas ido buscar algo ou procura-lo, e a reposta otimista realmente podia fazer sentido, mas aonde ele poderia ter ido? Não havia trilhas para serem seguidas. Ele percebeu que tinha medo de perder aqueles que era importantes, os anos e anos de solidão ainda eram temidos apesar de ter feito outro amigo.
  Os pensamentos ruins em sua mente foram cortados pelo som de passo, folhas e galhos secos que se aproximava. Os dois se viraram e rapidamente o Alfeli reconheceu o peregrino que sorriu quando o viu e sem perceber voou para lhe abraçar com suas longas asas. O final acabou sendo um final feliz e o pequeno O'oluray aceitou a propostas de viajar com o seus mais novos amigos. 
  O trio de peregrinos viaja conhecendo diversos lugares, pessoas e diferentes mascotes. Afinal quando novas aventuras aparecem quando se fazem amigos.


Quantidade de palavras: 1188

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Meu conto — Confiança e amor

                             Era o terceiro dia da bebê Chestok com sua nova dona. E ela se demonstrava arisca e imprevisível desde que fora chocada. Um sentimento de desconfiança inundava seu pequeno coração de borboleta-morcego.
                             Naquela manhã, a dona, Selene tinha uma missão, e tinha dito a ela.
                             – Me ajude, e eu darei um petisco para ti, que tal? Só preciso de ao menos 4 Frutas da Lua Vermelha! – Empoleirada em seu ombro a Chestok somente chiou para a oferta e nem esboçou reação para o carinho na barriga que recebera. Chegando na entrada da Floresta Selene tenta agradá-la novamente dando o alimento dela pela segunda vez, mas a mesma pega-o com a boca e levanta voo criando um pequeno redemoinho de terra para atazanar sua dona, que fica tossindo e abanando o rosto.
                            Estava decidida a não trazer a tal fruta da lua vermelha, mesmo que soubesse onde encontrar ela. Nas 5 explorações seguidas somente trouxe roupas esfarrapadas, e alguns insetos.
                            Na sexta vez que adentrou a floresta rumou para mais longe, queria chegar no centro dela, mas, no caminho ela avistou de longe, em uma clareira um mascote, que brilhava a luz do sol, ele voava em volta de um viajante, que sorria e dizia. – Cuide de nosso acampamento viu? Vou procurar comida, lembro de ter visto alguns frutos ao norte – Ele passa a mão por suas penas rosas, um breve carinho, e abre caminho por entre as árvores.
                            O Alfeli que estava rodando o local logo viu a Chestok, e de maneira quase que evasiva e se esquecendo de continuar cuidando do local foi em sua direção. – Olá! Olha! Que asas lindas você tem! – Qualquer humano que ouvisse, só entenderia um piado longo e estranho.
                            – Oi! Você… pode me entender? – Ela chega mais perto.
                            – Pelo jeito sim! Estou tão confuso quanto você! É a primeira vez que vejo um mascote igual a ti... pra falar a verdade é a primeira vez que vejo um! Mas, me diga! Qual o seu nome?
                            – Você fala bastante – Ela emite um som que pode ser considerado um sorriso. – Eu já vi outros como nós, mas nunca um como você! – Voando em volta do Alfeli ela completa. – Que asas majestosas! Como faz para ficarem tão... lindas assim?
                           – Eu... nasci assim – Ele coça o bico levemente envergonhado. – Hum...Você não respondeu minha pergunta, qual seu nome?
                           – Muito modesto você…Gostei! Sobre meu nome? Eu ainda não tenho um, sou só da raça Chestok, minha dona disse que ainda não sabe que nome me dar. – Ela grasna de irritação e desce em direção ao acampamento. – Seu humano pediu para ficar de olho, você vai mesmo ficar?
                           – Espero que em breve você tenha um nome tão lindo quanto suas asas – Ele empurra ela de leve ao chegar no chão também. – Sobre o Darek, porque eu não cuidaria?
                           – Oras, você confia neles? Nos humanos? Pois eu não! E ainda faço a minha dona de boba!
                           – Por que todo esse rancor querida? … hã... Posso te chamar assim?
                           – Pode sim, mas… você está...fler..– Ela estreita os olhos. – Deixa pra lá! Onde estávamos?
                           – Rancor? Humanos?
                           – Sim, eu só não confio! Desde que nasci não fui com a cara dela… – ela cochicha. – Parece intimidadora, um olhar frio, mas parece estar querendo me agradar agora, não entendo!
                           – Pelo que está me falando, não parece ser a mesma pessoa.
                           – Bem, devo admitir que o cabelo parece diferente, mas é sim a mesma pessoa… não tem como existir duas pessoas iguais não é?
                           – Essa nem eu sei a resposta.
                           Uma brisa faz algumas flores e folhas voarem e as asas da Chestok se abrem com o vento. – Talvez eu devesse ficar aqui, com você…
                           – M-mais...M-mais – Ele se engasga com as palavras, será que mascotes poderia sentir sentimentos como “gostar” ou até “amar” outros dos seus? O Alfeli estava descobrindo as respostas para isso. – E a humana?
                           – Ai! Eu já não disse!? Não gosto dela!
                           – Tá! Mais ela já te fez algum mal?
                           – Não.
                           – Você já viu ela sendo maldosa com alguém?
                           – Talvez sim, não lembro.
                           – Sem respostas vagas! A humana não parece ser tudo isso então querida, talvez você devesse reconsiderar. Humanos são sim imprevisíveis, mas se nada ela te fez, você deve ficar com ela. – Ele engole um  choramingo por estar incentivando ela a ir embora. – E de qualquer forma, tenho um humano comigo também, você certamente não vai gostar dele não é?
                           – Não sei, eu não o conheci!
                           – AHÁ! Está vendo? Você admite!
                           – Admito o que? Ta delirando?
                           – Você não o conhece, por isso não pode julgar, assim, você deveria pensar o mesmo sobre sua dona, não acha?
                           Com um tom irritadiço ela diz. – Por que você tem que ter razão? Aish…
                           – Viu? Não é tão difícil.
                           – É, de qualquer forma, foi eu quem a escolhi, porque senti seu coração, só que ela não pareceu a mesma quando a vi pela primeira vez. – Uma flor entra em sua boca e ela cospe de forma nada graciosa. – Hã... Por fim, acho que se ela for má, talvez seja por que eu sou também, ou me tornarei. – Ela encolhe suas asas para perto do corpo pequeno.
                           – Não não querida, nunca ouvi tanta bobagem! Se ela for realmente má, por que você não poderia ser a ponte para a bondade dela? Se ela precisar de ajuda? E for você a sua salvação? Se for! Agarre-a e leve a um lugar seguro, e nunca a desampare. – Ela tenta interrompê-lo, mas ele continua. – Porém, se ela for boa? E você que não deu a chance para ela? Então, pode tratar de levantar voo com suas asas de borboleta e ir ao encontro dela querida!
                           A Chestok se aproxima dele, ainda estava digerindo toda aquela conversa, precisava de um tempo para decidir sobre algo que já tinha resposta. Ela encosta sua cabeça no pescoço dele, era uns bons centímetros menor. Ele não pode deixar de imaginar as incríveis aventuras que eles juntos poderiam viver, mas, talvez não naquele momento, ou talvez nunca, mas só o fato de ter ela ali, ao seu lado, já bastava para ser o Alfeli mais feliz de toda Eel.


Contagem de palavras conforme o Word: 1013
Contagem de palavras conforme o Google Docs: 1076

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Meu conto — Antes só do que mal acompanhado?

  Por quanto tempo exatamente eles estavam voando, o cisne não sabia. Minutos, horas? Não importa, as paisagens que encontrava não o permitiam pensar em mais nada senão o que ele perdeu durante todos esses anos.
  -Hã, com licença?
  Despertada de repente de seus devaneios, a ave olhou para baixo. Sua "presa" a olhava, um tanto quanto impressionada.
  -Oi, é, então... Você poderia pousar, por favor? Já estamos assim há um tempo, e gostaria de voltar ao chão.
  Atendendo ao pedido do peregrino, o mascote localizou dentro da floresta que sobrevoavam uma clareira e foi descendo até alcançarem o solo. Tudo bem, ainda assim era uma experiência nova. Pensava nas várias possibilidades enquanto olhava sua companhia tirar algo das costas e mexer lá dentro.
  -Sabe, nunca vi uma criatura como você- disse ela em um momento.  É um mascote, não? Deve ser único daquela montanha, nem relatos ouvi de algo parecido. Devo ser o primeiro a explorar aquele lugar em séculos. Está com fome? Tenho um pouco de comida aqui.
  De fato, agora que parou para pensar nisso, o pássaro estava mesmo faminto. Pouco comera naquele dia antes de sair do seu lar, e a viagem exigira muito dele. Se aproximou cuidadosamente do outro, que lhe estendia um punhado do que pareciam ser frutas. Cheirou, abocanhou, aprovou. Que delícia! Bem diferente do que ele costumava comer em sua antiga casa.
  -Gostou, né? Chamam-se Uvas Élficas. Lá onde moro há uma plantação delas. Infelizmente não tenho água para lhe oferecer. "Alguém" não me deixou me reabastecer de água. Por falar nisso, por que você fez aquilo?
  Um olhar triste tomou conta da criatura. Ela desviou o olhar, abriu todas as suas asas e olhou para elas, como se mostrando. Depois as fechou e abaixou a cabeça, com os olhos no chão. O homem compreendeu o que ela queria lhe dizer.
  -Entendi... Foi aquela água que o deixou assim, não foi? Bom, eu poderia ficar bonito como você. Mas, também, eu poderia ficar... Ai, não quero nem pensar.
  Deu-se um silêncio mórbido após esse diálogo. Um se sentia constrangido pelo outro, o qual novamente remoía sua solidão de até então. Chega! Não queria mais se sentir assim. Se virou para sair dali, já estava alimentado, nada o impedia de continuar.
  -Ei, aonde você vai? Vem cá! Preciso da sua ajuda!
   Já estava saindo da clareira.
  -Te dou mais Uvas Élficas!
  Ele parou. "Pensando bem, sempre é bom ter provisões consigo, não é mesmo?", pensou. Deu meia-volta e viu que a pessoa lhe estendia algumas frutinhas.  Quando estava prestes a alcançá-las, ela fechou a mão e a tirou de sua frente.
  -Não, antes você vai ter que fazer algo para mim.
  Um pouco bravo, o animal simplesmente grasnou e se sentou, aguardando  sua missão.
  -Excelente. Olha, o sol daqui a pouco vai se pôr, e tenho que fazer um abrigo para mim. Porém, também preciso pegar água e tomar um banho. Como você não pode fazer nada disso por mim, pode pelo menos procurar um lugar com água para eu ir depois?
  Um tanto contrariada, a criatura decolou e partiu em busca do "lugar com água". Pensou que, do alto, teria uma visão melhor da região e encontraria algo. Contudo, depois de alguns minutos percebeu que estava errada. A floresta era demasiado densa, impossível de se ver algo por cima dela, exceto a sua clareira, provavelmente a única. Decidiu continuar sua busca no chão mesmo.
  Assim que pôs suas patas no chão, ela ouviu um barulho. Seu coração acelerou. Lembrou-se que não há só belezas no mundo, há também perigos. Ouviu novamente, agora semelhante a um gemido. A curiosidade falou mais alto que o medo, e seguiu aqueles sons.
  Para sua surpresa, era outro mascote a fonte dos ruídos. Maior que ele, era uma espécie de réptil aquático verde com traços de outros animais. Olhando melhor, o pássaro notou que uma de suas patas estava presa debaixo de um tronco de árvore caída. Felizmente, a árvore não era tão grande, e a ave conseguiu erguê-la de forma que o outro pudesse sair dali. Feito o salvamento, o curioso animal ficou tão grato que começou a dar lambidinhas e mordidinhas em seu salvador. "Pronto, trabalho número dois cumprido, agora de volta ao trabalho número um", pensou consigo.
  A criatura deu as costas e retomou a busca. Ao longo do caminho, todavia, ela teve a sensação de estar sendo seguida. E realmente, quando se virou para conferir, viu seu colega recém-salvo atrás dela, feliz e de língua de fora. Grasnou para ele ir embora, e se virou. Mas novamente com aquele sentimento olhou para trás e viu ele ali de novo. Soltou ainda mais a voz e abriu as asas para convencê-lo, e até chegou a girar o pescoço para sair, mas de um salto tornou o corpo e aquele ser ainda estava ali! Irritada, avançou em sua direção, gritando e mostrando suas garras. Conseguiu afugentá-lo, e depois de um tempo esperando para ver se ele havia ido mesmo, voltou a andar.
  Já estava escuro quando a ave entrou em uma parte da floresta mais aberta. As árvores, mais espaçadas e com copas menores, permitiam vislumbrar o céu nublado. Ainda pensava no que acabara de acontecer. Não era culpa do mascote brincalhão, mas talvez uma companhia a atrasasse na sua jornada.
  Subitamente, sentiu um pingo em seu bico. Depois outro em sua cauda. Então veio a tormenta. Aquelas nuvens que apenas cobriam as estrelas na verdade traziam uma forte tempestade, com gotas pesadas e ventos fortes. A visibilidade ficou nula, o cisne estava sendo levado de um lado para o outro por aquelas forças, perdeu completamente a direção. Foi enfim levado a um rio, mas acabou sendo jogado dentro dele e a correnteza o afogava. Em um momento de desespero, sentiu dentes e uma língua familiares que o puxavam para fora da água e o levaram a uma toca próxima.
  Quando pôde abrir os olhos, o  ser se viu cercado por seu amigo levado e outros como ele. Molhado, frio... O grupo se aconchegou ao seu redor e empeçou a lambê-lo. Aquele contato era tão quente, confortável... Não descansara desde que saíra da montanha...
  Acordou no dia seguinte já de manhã com seu camarada esfregando o focinho levemente em seu rosto. Os outros dormiam. Acabado o serviço, o novo salvador foi até a saída da toca e fez um gesto com a cabeça para que ele o seguisse. Saíram, foram se afastando do rio até se encontrarem em uma clareira.
  -Graças ao Oráculo, você está bem!
  Corria na direção dos dois o viajante, e abraçou o pássaro.
  -Fiquei tão preocupado, com aquela chuva... E tudo bem que pedi para você achar água, mas trazer um Corko?- Ele acariciou a cabeça do bicho.
  Com últimas mordidinhas, o "Corko" se despediu da ave. "Depois de tudo, talvez uma companhia não seja tão ruim assim, afinal", ela imaginou.
  -Estive pensando- disse o peregrino-, não sei como te chamar, mas você me lembra minha irmã Faline. Bonita, irritadiça, gulosa... O que acha do nome?
  A criatura grasnou em reprovação.
  -Tudo bem, tudo bem... Fal, Al, Fi, Fe... Alfeli! Que tal?
  Alfeli... Taí, merece batidas de asa de aprovação.

Quantidade de palavras: 1200

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Meu conto — Sob a luz de pequenos vagalumes

Aquele poderia ter sido um dos dias mais belos que o cisne já vira em toda sua vida. O sol banhava as árvores com seu brilho dourado, desabrochando as flores e soprando vida. O céu era do mais lindo tom de azul, lar de nuvens que flutuavam como enormes bolas de algodão. Pássaros dos mais coloridos voavam, cantando e cantando ao lado dos insetos que zumbiam para lá e para cá, à procura das flores mais cheirosas, das pétalas mais suaves e das frutas mais deliciosas. O vento suave sussurrava entre as árvores, e suas folhas farfalhavam com o vai-e-vem de pequenos animais sobre os galhos.

Poderia ter sido um dos dias mais belos. Mas não era.

Pois havia sangue na grama e morte no ar.

O viajante estava morto. E o cisne, em choque, era arrastado para longe enquanto observava a terra ser encharcada de vermelho.

De repente, o sol não era senão uma bola de luz fria, o céu uma prisão longínqua e as nuvens um presságio da chuva. Os pássaros grasnavam maldições, os insetos eram pragas e as frutas estavam podres. E o vento sussurrava entre suas penas, trazendo-lhe promessas de dor, histórias de ruína e memórias de morte.

Aquele dia jamais poderia ter sido bonito. Pois era apenas o começo de seu pior pesadelo.

***

Tudo aconteceu rápido demais. Quando o cisne deu por si, estava preso, engaiolado numa jaula suja e apertada. Seu corpo tremia; as asas doíam por estarem presas durante todo o caminho até aquele lugar. Ele não sabia onde estava. Mas havia mais alguém junto dele.

Logo ao seu lado, numa jaula próxima, um outro animal o encarava com grandes olhos curiosos. Mesmo encolhido num lugar tão apertado, era possível ver como suas pernas eram compridas. Em sua pele escura, padrões semelhantes aos de borboletas azuis se desenhavam, e duas antenas despontavam de sua cabeça. O cisne jamais havia visto um animal tão belo quanto aquele. E, para a sua surpresa, o cervo disse que jamais havia visto um animal tão belo quanto o cisne.

Não sou um cervo, disse-lhe o animal. Sou Baccara, a dalafa. O que é você?

O cisne não respondeu.

Seu companheiro o chamava de Alfeli. O cisne jamais esqueceria aquele nome — quando aquele elfo subira até seu lago e, depois, quando o cisne o levara para longe dali, algo fez com que um não quisesse abandonar o outro. O cisne adorava a presença sorridente daquele elfo viajante, que ele não tardou a chamar de companheiro. E o elfo passou a chamar-lhe Alfeli, que ele disse ter sido o nome de alguém há muito perdido, mas para sempre amado.

Mas não era essa a primeira memória que lhe vinha à mente quando pensava no elfo. O que lhe vinha era a memória dos gritos de Alfeli! Alfeli! e da interrupção abrupta de sua voz quando uma flecha perfurou-lhe as costas. Se lembrava não dos cabelos dourados, mas do sangue que o manchara quando o faery cuspiu sangue. E, pior de tudo — ele se lembrava do brilho de medo que vira em seus olhos, antes de tudo se apagar.

O cisne sabia que não era, de fato, um cisne. Há muito havia deixado de ser, com suas penas coloridas e garras douradas. Tampouco ainda era Alfeli. Não tinha um nome. Aquilo morrera com seu amigo. Mas agora ele entendia o que ele quisera dizer. E, à sua própria maneira, o cisne o faria ser amado para sempre.

Sou um alfeli, respondeu, por fim. Não tenho um nome.

***

Havia várias jaulas naquele lugar, todas cheias. Nelas o alfeli viu o que pareciam ser pássaros, gatos, ursos e cavalos enormes. Eram diferentes de tudo o que ele já vira. Ele se perguntava se aqueles animais haviam também se banhado num lago mágico e se tornado algo completamente único e especial. Eram mascotes dos mais raros, Baccara havia lhe dito; muitos deles tão incomuns poderiam não passar de lendas. Era o caso do gato de três cabeças e do dragão tão pequenino que mais parecia uma flor cheia de plumas. Há pessoas que pagam muito por eles, ela dissera, e por isso as pessoas más os tiram de suas famílias e os guardam aqui, até que alguém os compre.

Aquela ideia parecia deixar Baccara extremamente assustada. Havia algo em seus movimentos, na maneira como ela movia apenas o pescoço, sem em momento algum tentar se reacomodar naquele pequeno espaço. Um dia, quando as pessoas ruins foram embora após lhes darem comida, o alfeli perguntou se ela estava bem. E Baccara, num sussurro tenso, lhe disse: Minha pata está quebrada. Não sei o que podem fazer comigo caso descubram.

Assolado pelo medo por sua amiga, assombrado pelo destino de sua antiga família, o alfeli chorou.

***

Certa vez, as luzes que iluminavam o lugar em que os animais eram mantidos se apagaram. Não parecia ser novidade para os outros mascotes ali presos, mas, para o alfeli, era como se estivesse se afogando num mar de piche. Quando tentou fugir, não foi capaz de mover-se além dos poucos centímetros que a jaula lhe permitia.

Dominado pelo pânico, começou a gritar.

Preciso fugir, era tudo no que pensava. Desesperado, aquilo que antes fora um cisne se debatia e gritava por ajuda. Suas asas doíam pelo impacto contra as grades, sua cabeça latejava e sua garganta ardia. Socorro!, ele pedia, mas ninguém vinha ajudá-lo.

Ele conseguia ouvir a voz de Baccara chamando-o, mas para os ouvidos do alfeli aquilo não passava de gritos que queriam rasgá-lo e torná-lo escuridão. O alfeli gritava, chorava, mas ninguém vinha ajudá-lo.

Até que algo brilhou entre as trevas.

O alfeli demorou alguns momentos até entender o que era. Vários pontos de luz dos mais pequeninos, belos como pequenas estrelas. Eram azuis como o céu, brilhantes como a lua. E foi aí que o alfeli percebeu. Eram os vagalumes de Baccara.

Pouco a pouco, o pânico que o dominava diminuiu. Ele jamais havia visto um animal tão belo quanto ela. Os pequenos vagalumes flutuavam no breu e jogavam luz em seus olhos, como se dissessem que iria ficar tudo bem. O alfeli acreditou. Baccara nunca mentiria para ele.

Foi de súbito, porém, que ele ouviu a tranca de sua gaiola ser aberta. E, mais rápido do que jamais voara, o alfeli desenredou-se das mãos que tentaram pegá-lo.

Com os olhos acostumados à pouca luz dos vagalumes, o alfeli pôde ver uma pequena saída daquele lugar. Se fosse rápido, talvez conseguisse fugir daquelas mãos que tentavam arrastá-lo de volta para as sombras. Como uma última despedida, o alfeli olhou para sua amiga.

E foi então que viu que não poderia fugir. Não poderia deixá-la lá à mercê de seus captores. Não poderia abandonar todos aqueles mascotes que, assim como ele, foram arrancados de suas famílias. E por isso o alfeli deixou-se ser alcançado por aquelas mãos ásperas, levado de volta para uma jaula fria — dessa vez, longe de Baccara.

Porque ele faria com que todos ali fugissem, não só ele. Porque ele era um alfeli. Ele era Alfeli. Porque todos ali estavam perdidos. Mas poderiam encontrar uma nova família.

Para serem, enfim, amados.

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[BL][Valkyon]Pó de Estrela

Meu conto — Valente Coração

Desde que salvara o peregrino de um salto em um encanto desconhecido, Alfeli – nome escolhido por seu mais novo companheiro – dedicou todo seu tempo a acompanhá-lo por entre as terras até então desconhecidas de Eldarya. Desbravavam as imensas florestas com determinação, sempre ao lado um do outro.  A fome e o cansaço os fizeram parar em meio a uma clareira, após um árduo e longo caminho.

O viajante havia ordenado que o esperasse, pois iria procurar algo para se alimentarem e sabia que o animal estaria exausto após um dia inteiro de viagem e, afagando-lhe as têmporas, despediu-se de seu companheiro alado, adentrando ainda mais a profunda e solitária floresta. O sol ostentava seus últimos raios dourados no horizonte, anunciando a chegada da noite. A ave, obedecendo à ordem que recebera, recostou-se em uma árvore próxima para descansar. Estava a poucos segundos de cair nos braços de Morfeu, quando um alvoroço o fez levantar, em estado de alerta.

Seu coração explodia de medo, mas isso não o impediu que fosse atrás da arruaça – afinal, quem sabe o que poderia estar acontecendo com seu fiel companheiro nesse instante? Ele seguiu, batendo suas belas asas o mais freneticamente quanto pôde. Avistou uma fraca luz ao longe, seguida de gritos e rosnados apavorantes. A poucos metros de onde pousara, a visão que teve não era a das mais amigáveis: homens que brandiam espadas afiadas e tochas encurralavam um animal, um dos mais magníficos que já havia visto e o primeiro desde muito tempo. Seu pêlo era mais negro que as noites onde a lua, envergonhada, escondia-se dentre as nuvens; à sua volta, reluzia uma aura fraca e ameaçadora. Para muitos seria considerado perigoso, mas não no estado em que se encontrava. Estava cansado, ferido, acuado.

Assim como ocorrera com o homem, o instinto da ave de proteger aquela criatura indefesa de um desastre fatal era maior que seu medo de ser ferido por aqueles brutamontes ou pela ferocidade que o animal exalava. Mas o que uma criatura como ele poderia fazer? Levá-lo para longe? Enfrentar os homens prestes a atacar? Em meio à confusão, respiração frenética e os nervos explodindo de ansiedade decidiu-se pela primeira opção. Em um mergulho ágil, mas cauteloso, agarrou o animal pela crista. Vacilou um pouco, era mais pesado que imaginara. Juntou todas as forças que tinha, ou pelo menos as que sobraram, para içá-lo. Sem entender o que se passava, o canino debatia-se, tornando a fuga ainda mais complicada. Após percorrer uma longa distância, Alfeli, exausto, perdeu o equilíbrio e rolou juntamente com o misterioso animal, sujando suas exuberantes penas com o que havia pela frente.

Naquela vasta escuridão, próximo a uma gruta iluminada somente pela fraca luz da lua, não ouvia nada além da ofegante e pesada respiração do blackdog, que o encarava com desconfiança, raiva e medo. Alfeli retribuía com um olhar caridoso e amigável. Tentou aproximar-se para que pudesse reconhecê-lo como uma “não-ameaça”. A criatura instintivamente atacara, mas como seus ferimentos não puderam ser ignorados, imediatamente cedeu à dor e a fadiga, desmaiando logo em seguida. A ave percebeu que tudo o que poderia fazer para ele no momento era descansarem. Alçou vôo, pousando sobre um galho robusto de uma pequena árvore próxima, estando disposto a montar vigia aquela noite.

Em um pulo, o enorme animal de pelos escuros acordara assustado. Já era manhãzinha, o sol surgia por entre as enormes montanhas, aquecendo o ar. Bem ao longe, ouvia-se o som de outros familiares, o ar era invadido pelo frescor do orvalho. Observando ao redor, notou a presença de uma criatura que não lhe era desconhecida, alimentando-se de pequenas frutas aos pés de uma árvore próxima. Observou também um amontoado de frutas e flores diversas um pouco a frente e, aproximando-se dos alimentos e farejou-os, até encontrar sua dose diária de gallyflore, a qual devorou em um instante. Alfeli ficou ali a observá-lo, satisfeito por ter encontrado o alimento certo para seu amigo enfermo. Ao terminar, o blackdog encarava-o novamente, mas dessa vez, com um olhar menos ameaçador e mais agradecido. Ficaram assim por alguns segundos, até notarem a aproximação de outras mascotes. Eram mais quatro animais de pelo escuro que se dirigiam à entrada da gruta. Pararam bruscamente e Alfeli logo notou que faziam parte do mesmo grupo que seu amigo. Rosnavam sedentos por causa da presença daquele invasor estranho. Aproximavam-se lentamente, olhos fixos em sua presa que, ao julgar a situação, sabia que qualquer movimento que fizesse poderia ser fatal. A tensão só aumentava, Alfeli dosava a respiração para pelo menos tentar escapar vivo daquela situação. Seria aquele seu fim? A imagem de seu companheiro viajante apareceu como um flash em sua cabeça, poucos instantes antes de... seu amigo blackdog entrar no meio, separando ambos. Com um breve e autoritário rosnado, os quatro de sua espécie dissiparam-se, seguindo seu caminho original, adentrando a gruta.

Alfeli relaxara e, após lançar-lhe um último olhar, sobrevoou àquelas enormes árvores, rumo à clareira onde encontraria o peregrino, deixando cair algumas de suas penas. O blackdog o observava seu salvador cada vez mais distante. Quando não conseguia mais vê-lo, foi juntar-se a seus familiares.

A poucos quilômetros do seu ponto de encontro escutava uma voz longínqua, aos gritos: “.......... feee..... feeeeli...... Alfeeeeeeli!”.Quanto mais se aproximava, melhor distinguia a voz e mais rápido batia suas belas asas, agora um pouco sujas pela noite anterior. Ao chegar à clareira, seu amigo o recebera em um enorme e reconfortante abraço.

- Ah, meu amigo! Pensei que havia fugido. Como estou feliz em te ver bem! Encontrei um vilarejo a poucos quilômetros e lá disseram que um blackdog havia escapado da casa de um domador nas montanhas rochosas. Consegue imaginar alguém domesticando aquele animal? Dizem que são os mais ferozes e perigosos de toda essa terra e não sentem apreço por nenhum outro fora os da própria espécie. –Alfeli apenas o escutava, sem esboçar grandes reações, pois sabia que nada disso era totalmente verdade. Se encontrar algum, fuja! Eles podem te atacar sem dó. Mas vamos, lá nos ofereceram abrigo e comida e me deram isso também.

O homem estende a mão para a ave, mostrando-lhe um cacho do que parecia ser as frutinhas que havia conseguido mais cedo. Ele aceita de bom grado e juntos, rumaram em direção ao vilarejo, lugar o qual o peregrino não parava de contar sobre o que vira durante sua curta estadia.



Número de palavras: 1067

Quando sonhos tornam-se reais...

As asas cansadas do belo pássaro fizeram a ave pousar sobre a sombra de um estonteante carvalho. Viajou durante horas, buscando um local seguro para passar o resto do dia. Buscava um lugar onde encontrasse, além da proteção, alimento e um pouco de água para se refrescar, mas o cansaço lhe venceu. A ave de asas multicoloridas fincou suas garras douradas sobre as raízes do carvalho. Sentindo a fome, a sede, o cansaço, e a sensação de insegurança tomar de assalto a sua mente, fazendo-o cair em um sono profundo.

Pequenos insetos passavam por suas asas, misturando-se às cores brilhantes do animal que se destacava sobre a relva, mas nada parecia incomodar aquele sono profundo do Alfeli que, a cada suspiro de sua respiração, renovava as energias para mais algumas milhas de voo pelas terras áridas de Eldarya.  Durante o sono, a montanha onde antes habitava sozinho apareceu como em flashs no sonho, mas agora ela parecia tão distante que seria possível preservar suas imagens apenas em suas memórias. Entretanto, durante aquele sono, embalado pela leveza do sonho, encontrou milhares de outras criaturas, parecidas consigo, sentindo-se tão menos solitário e mais alegre em meio ao cume daquela montanha.
Por quanto tempo perguntou-se naquela solitária montanha...  “Quantas outras criaturas devem existir lá fora?”.Até a chegada daquele viajante, ninguém nunca ousou explorar o cume daquela montanha. E o Alfeli permanecia ali, sozinho, observando a beleza do mundo daquele ponto alto e frio.

No momento onírico em que brincava alegremente com as criaturinhas, um breve ruído lhe furtou o final do sonho e, também, o seu sono. Os olhinhos azuis ainda sonolentos do Alfeli procuraram pela origem do som, mas apenas encontrou mosquitinhos em suas asas e o balançar leve das folhagens acima de sua cabeça. Sacudiu as asas, buscando livrar-se dos insetos.

Esqueceu-se que estava em um local desconhecido, e pôs-se a procurar quem estava a fazer aqueles ruídos. Rodeou o carvalho, os olhos agora atentos em sua busca. Sabia que poderia ser algum predador, mas aquele breve sonho lhe fez querer estar em alguma companhia...

Um pequeno uivou surgiu atrás de si. Sem qualquer medo, o Alfeli girou todo o corpo e deu de cara com a criatura que antes lhe tirou o sono.

O corpo coberto por pelos acinzentados parecia brilhar sobre a luz do sol, as pequenas folhinhas verdes destacavam-se sobre a pelagem escura da sua cabeça, os olhos brancos denotavam a visão prejudicada. O filhote de Minaloo soltava pequenos uivos como se buscasse por algo ou alguém. A criaturinha veio com seus passos incertos até o Alfeli, que permaneceu parado, quieto. O lobo franzia o focinho verde que era o seu guia.

Percebeu que o caminhar do pequeno estava prejudicado – por ser filhote, ainda não estava tão acostumado a andar sozinho pela floresta – e, antes que ele trombasse em um arbusto, correu ao seu encontro, colocando sua asa entre ele e o obstáculo, para que o animal não se machucasse.

Não parecia ameaçador, muito menos agressivo. O que foi confirmado ao perceber que o animal parou de uivar e o estudou com seu focinho. Aproveitou também para analisá-lo de perto, percebendo o contraste dele com suas próprias cores.
Entretanto, depois de se conhecerem pelas cores e cheiros, o novo amigo parou, cabisbaixo. Um pequeno grunhido, como um choro, insurgiu do fundo de garganta e o pequeno abaixou o corpinho sobre a relva, colocando a cabeça sobre as patas. O Alfeli não sabia o que havia de errado, mas não queria ver o pequeno triste.  Era filhote, parecia indefeso e perdido. Tão perdido quanto a si mesmo naquele lugar.

Decidiu tentar fazê-lo feliz.

Esticou o pescoço alongado para baixo e encostou a cabeça perto das narinas do pequenino, e encostou sua cabeça sobre a pelagem da criatura, sentindo a maciez dos seus pelos. Rodeou-o, fazendo festas com suas asas, tentando animá-lo para brincarem juntos, mas nada adiantou. O animal continuou parado, as patinhas sobre o focinho, ainda em seu choro.

Afastou-se, alçando as asas para o voo, o que fez o pequeno levantar a cabeça, sentindo o cheiro da ave se afastar, enquanto o Alfeli sobrevoava baixo sobre os ares, a procura de algum alimento.
Voou poucos metros até encontrar uma pequena árvore onde frutinhos de cor roxa se destacavam nos galhos. Não teria problema para voltar, conseguia enxergar o carvalho perfeitamente dali. Poderia ser fome o que seu novo amiguinho sentia... Assim como ele também.  Aproveitou para alimentar-se e, assim, renovar também as suas energias.

Seguiu pelo mesmo caminho, levando as pequenas frutas para o animalzinho. Ele parecia desnorteado rodeando a árvore, como se estivesse a sua procura. O coração do Alfeli encheu-se de ternura quando já estava prestes a aterrissar sobre a grama, e o pequeno reconheceu-o pelo cheiro e veio rapidamente até si, doido por estar em sua presença.

Acabou de conhecer aquela criaturinha  e estava comovido. Sair da montanha talvez não tenha sido tão ruim...
A ave apresentou alegremente as frutas ao Minaloo encostando-os em suas narinas e, depois de analisar o alimento com o focinho, recuou, recusando a oferta.  O Alfeli baixou seu pescoço alongado, cabisbaixo, sem mais saber o que deveria fazer.  O lobinho voltou a sua posição deitado, mas sem mais o choro. A noite caía e ambos tinham apenas eles mesmos para contar.

O tom escuro da noite tomou conta dos céus de Eldarya e, agora, o lobinho uivava mais do que antes. O Alfeli, tentando acalmá-lo, encostou-se sobre ele, envolvendo-o em suas asas. A garganta do lobo já falhava de tanto uivar. Sentindo o calor da ave, o lobo fechou os olhos, cansado, deixando que o sono o dominasse. As cores estonteantes do Alfeli pareciam ainda mais vibrantes e belas reluzindo a luz da lua, pareciam brilhar como um conjunto de joia cheia de cores... A ave fechou os olhos, deixando seu amiguinho descansar sob suas asas.

“Fenrir! Fenrir!”

Uma elfa de cabelos escuros e a pele branca como a pálida luz da lua seguia pela floresta, acompanhada de mais dois companheiros e suas mascotes, em busca do pequeno Minaloo perdido. Sabia que ele deveria estar desesperado... Era sua primeira exploração e tinha se perdido!

Já tinha estava sem esperanças, quando viu uma luz iridescente reluzir perto de um carvalho. Nunca tinha visto nada tão bonito. Debaixo daquela luz, percebeu o pelo acinzentado e algumas folhas verdes... Era seu o lobo! A elfa e seus companheiros correram até os animais, encantada pela beleza da nova criatura desconhecida e aliviada por encontrar seu mascote. O lobo acordou com o barulho e afastou-se do Alfeli, fazendo fez festas ao ver sua mentora. Enquanto isto, a ave se afastou, sentindo que seu novo amiguinho já estava prestes a partir.

Entretanto, o lobinho voltou, rodeou o seu corpo, e empurrou-o em direção ao seu grupo. Estava agradecido por aquele calor, o esforço em vê-lo feliz, e  o alimento, mesmo que recusado.  A mentora do lobinho, vendo aquela bela criatura encolher-se, agachou-se e abriu os braços para ele. Agradecida pela bondade da ave.
Então, chegou a hora do Alfeli aceitar também ser acolhido da mesma maneira. E nunca mais a ave se sentiria tão solitária novamente...
O seu sonho tornou-se uma bela realidade.

Quantidade de palavras: 1198

Meu Conto - Coração de Dragão

Eu me sentia sozinha. Eu me sentia abandonada.
-Hrrrggghhhhhsssssssss!
Eu gritava como uma louca. Mas eles não me entendiam. Eu não me importava. Eu só queria reclamar e aborrecer todo mundo.
Batendo as minhas asas rosadas e cheias de flores, eu sobrevoava o grande cristal, enquanto a Miiko tentava em vão me segurar.
Eu estava triste. Eu queria chorar. Mas dragões de flores não choram, e eu só podia mesmo era gritar.


-O que está acontecendo com esse mascote infernal do Ezarel? - Berrava Miiko, enlouquecida - Ela ficou maluca? Alguém chame Purreru! Chamem um anjo, um demônio, alguém que possa controlar essa coisa!


Coisa! Aquela kitsune desgraçada me chamava de coisa! Eu só queria o Ezarel! Onde estava o Ezarel? Meu Elfo tinha saído para uma missão há meses, e não havia voltado… Eu estava sentindo tanta falta dele, que não conseguia comer e nem dormir!
Num ato de desespero, Jamon deu um pulo e agarrou a minha cauda, me derrubando no chão. Gritei de novo, mas dessa vez foi de dor.
O ogro me segurou com delicadeza e acariciou minha cabeça. Eu estava muito desanimada.


-Draflayel de Ezarel está doente. Ela nunca fazer isso antes. Miiko levar veterinário.


Nada de veterinário! Eu quero meu Elfo, será que ninguém entende isso? Eu não posso viver sem ele! Como me fazer entender?
Alguém me enrolou em uma toalha felpuda. As pequenas flores das minhas asas já caíam, murchas. Eu estava quase sem ornamentos.
Uma vez capturada, só me restava a aceitação. Eu me sentia sozinha. Eu me sentia abandonada. Eu realmente tinha sido abandonada. Ou então, meu Elfo havia morrido. Nenhuma das duas opções parecia melhor para mim. Fui levada para o Purreru, que me examinou, me enfiando uma poção goela abaixo. Com aquilo, meu corpo ficou mole e sonolento.


-Onde está o Ezarel? A mascote está sentindo falta do dono!
-Não sabemos… - Falou MIiko - Ele saiu em uma missão e não retornou. Mandamos várias equipes de busca, mas ninguém o encontrou. Estamos preocupados e pensando no pior.
-Infelizmente, essa mascote não está nada bem. Ela sente falta do Elfo, e está doente por causa disso. Já perdeu quase todas as flores das asas, daqui a pouco ela não será mais capaz de voar. Há quanto tempo ela não come?
Eu não como há dias, gato! Nem tenho fome… Eu nunca mais vou comer… Eu vou morrer…


-Eu não sei há quanto tempo ela está assim. Eu tinha até me esquecido de que ela existia, até ela começar a voar como uma louca pelo QG. Pode ficar com ela aqui?
-Claro. Não vou deixá-la morrer de fome. Mas não posso prometer que ela não morrerá de tristeza.


Tristeza....
Eu me sentia sozinha. Eu me sentia abandonada.
O gato me segurava no colo com carinho. Eu me sentia segura, mas ainda estava triste.
Não sei quantos dias se passaram, enquanto estive internada na loja do Purreru. Ele me obrigava a tomar poções, enfiava comida na minha garganta, me obrigava a engolir, e depois me mantinha sedada, para que eu conseguisse sobreviver. Numa dessas sessões de tortura, eu finalmente ouvi a voz do meu Elfo.


Ezarel! Ele tinha voltado! Voltado para mim!
Comecei a sacudir as minhas asas, ainda sem conseguir abrir meus olhos… Eu só queria ir embora com ele, e viver minha vida em paz!
Mas quando abri os olhos… Ele não estava sozinho. Eu havia sido substituída por outro mascote! Um belíssimo pássaro com penas longas e coloridas estava pousado no ombro do meu Elfo. Ele olhava para mim, com pena. Eu não queria a compaixão daquele treco!


Ezarel chegou perto da gaiola onde eu estava, abriu e me pegou no colo.
-Minha pequena Lua! Senti tanto a sua falta! Olha, eu estou de volta!
-O que aconteceu, Ezarel? E que mascote é esse que você traz no ombro?
-Eu me perdi, Purreru. Acabei num vale distante, e já estava desistindo de voltar, quando essa ave me carregou de lá, até as trilhas de Eldarya. Foi ela quem me salvou. Eu a chamo de Alfeli. Será que eu poderia deixá-la aqui com você, para que a examine e descubra alguma coisa sobre ela? Ela está exausta! Precisa se recuperar. Já posso levar a Lua comigo?
-Não, a pequena Draflayel ainda está muito doente. Eu acho que estava sentindo a sua falta. Volte de noite.


Ezarel me abraçou e me cobriu de beijos. Eu estava tão feia e pálida! Nunca mais ele ia me amar, com aquela ave maravilhosa perto de mim! Eu queria odiá-la, mas eu não tinha forças.
Meu Elfo me deixou ali, e saiu. Eu tentei chamá-lo e protestar, para que me levasse com ele, mas Purreru não deixou. Ele acomodou a Alfeli em outra gaiola ao meu lado. Ela me olhava penalizada.
Seu olhar me queimava. Eu fechei os olhos e me virei para o outro lado, para não encontrar os olhos dela. Mas ela não estava pretendendo me deixar em paz, e me chamou.
“-Ei! Finalmente conheci a famosa Lua! Muito prazer! Sou Alfeli!”
Eu me virei para insultá-la. Mas ela disse… Famosa?
“-Por que diz que eu sou famosa? Eu não sou nada! Sou um Draflayel abandonado pelo Elfo!”
“-Hahahaha! Abandonado? Esse Elfo só sabia falar de você. Falava tanto, e com tanto amor, que eu já gostava de você, antes mesmo de conhecê-la… Ele dizia todos os dias que precisava voltar para a sua pequena Lua. Eu achei que você fosse uma mulher!”
“-Eu sou uma mulher, idiota, não está vendo?” - E sacudi minhas asas secas e feias, orgulhosa das flores que eu não tinha mais. “Você roubou ele de mim, Alfeli. Eu… Não gosto de você!”

“-Oh, pequena bobinha! Eu não roubei seu Elfo de você! Eu o trouxe de volta para você! Em breve você vai melhorar, e vai voltar para sua vida normal… Sabe… Conhecer o Ezarel abriu as portas do mundo para mim… Mas revelou uma triste realidade. Eu nunca tinha visto nenhum outro ser, além de mim mesma. E eu provavelmente continuarei sozinha. Eu sou a única da minha espécie. Jamais terei uma família”


Foi a minha vez de sentir pena da Alfeli. Não era justo estar sozinha. E ela estava sozinha. Ela não tinha ninguém. Ela trouxe meu Elfo de volta para mim, e provavelmente, salvou a vida dele. E agora eu queria poder fazer algo por ela.

Reuni todas as minhas forças e falei para ela.
“-Você pode fazer parte da nossa família. Eu não quero que fique sozinha no mundo!”
“Oh… Obrigada, Lua… Depois do que você me disse, que não gostava de mim, eu achei…”
“-Achou errado. Eu… Eu gosto de você. Você salvou meu Ezarel. “
A Alfeli balançou as belas asas e cantou. Seu canto era limpo e melodioso. Nós começamos a nos conhecer e a trocar ideias. E no final do dia, estávamos fazendo planos.
Ezarel voltou ao anoitecer e insistiu em nos levar embora para o QG. Minhas flores começaram a nascer de novo, eram apenas botões, mas em breve eu poderia voar novamente.


Bem… Comecei essa história dizendo que… Eu me sentia sozinha. Eu me sentia abandonada… Até o dia em que Ezarel e Alfeli entraram no meu coração.

Contagem de palavras= 1197

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Ficha no “Seres de Eldarya” | Ficha no tópico “Conte sua história” | Minha fanfic Além dos Portais: Temporada 1 e 2 | Temporada 3 - Parte 1 | Temporada 3 - parte 2

Créditos à Mithmel

Meu conto – A Lenda do Pássaro Mágico

Pela primeira vez em milênios voou.

Voou alto e voou sem parar, liberando todos os seus antigos instintos migratórios de cisne em uma terra onde não importa se é Norte ou Sul o rumo dum pássaro. Porém, só havia um detalhe sendo ignorado ali: não tinha um frio para fugir e muito menos um lugar mais quente para ir.

Voava tanto por outro motivo, mesmo que ainda fosse fuga, voaria o mais distante possível daquele lago no qual viveu várias vidas inteiras. Milhas sendo deixadas para trás de sua calda.

Continuamente.

Até que parou.

Porque o pobre peregrino já não aguentava mais ser segurado e principalmente porque voara demais, tanto que seu senso de direção de pássaro migrante enferrujado pelos séculos o dizia nada. Estava confuso, e isso quer dizer que não sabia onde estava.

Uma coisa era certa, seja lá onde pousou também tinha um lago com seu redor uma floresta de plantação de médio-grande porte. Tinha uma outra coisa, algo que havia escutado. Um barulho de movimentação e com certeza não foi o peregrino que...

Que estava ali há pouco tempo, ou seja, que se mandou.

Por ali ficou por dois dias.

...

A floresta é um lugar de vida, cada centímetro dela era formado por vida: no chão, as vidas que se foram e no ar, as vidas que pulsam e mantém o ecossistema funcionando em harmonia.

Em um lugar tão cheio de vida é óbvio que nosso amigo pássaro Alfeli não estaria só. Dois dias depois, um outro animal também estava nas redondezas, um animal verde e elegante procurando por um pouco de água longe de seu pequeno bando.

Era uma fêmea de uma espécie comum chamada Corko que usara a desculpa de ir em busca de água para ter um tempo sozinha. Não era por nada, gostava se seus colegas de bando mas eles podiam ser sufocantes, ainda mais na adolescência.

Ela vai se distanciando cada vez mais do grupo. Aff, o alpha não tinha escolhido esse lugar justamente por ter comida e água por perto?

Alguns pássaros cantam ao longe. Quanto mais adentrava, menos tinha certeza para onde estava indo e mais a desculpa que tinha usado para se afastar se tornava uma necessidade fisiológica.

Um movimento detrás dela se aproximava. A corko ficou tensa, não era comum um movimento terrestre pela área, procurou se camuflar na folhagem da floresta. O movimento se aproximava cada vez mais.

Mais perto...

Aproximando...

GRAU!

ALGO PULA POR TRÁS DELA!

Num movimento rápido do susto, ela salta para trás quase desviando de...

- OTÁVIO? - grune ela, após ser emboscada pelo chato colega de bando. O corko macho foi mais ágil que ela e prendia suas patas traseiras - Mas o que você tá fazendo aqui? - aqui a autora está usando diálogos e coisas equivalente a linguagem humana para demostrar de maneira acessível a comunicação não-verbal entre mascotes.

- Lídia! Quanto tempo! Já deve fazer o que? Quinze minutos?

- Argh, me solta. Por que você tá me seguindo? - ele solta as patas dela.

- Lá com o pessoal tava chato. - ele se levanta - O alpha veio de novo com aquele mesmo papo sobre pensar coletivamente para a segurança de indivíduos e blá blá blá.

- "Chato"? Isso é importante.

- Que seja, terei outras oportunidades pra ouvir o discurso dele. E aí, qual é a sua desculpa?

Impaciente, Lídia volta a caminhar na esperança de deixar o jovem corko para trás. Otávio volta a segui-la, insistindo em puxar assunto.

Por um breve momento Lídia se esqueceu da sede e desejou que o colega se perdesse dela para que a mesma pudesse ficar sozinha.

...

Aquele ambiente era estranho para o Alfeli. E por ser estranho teria que aprender como se virar, arranjar alimento e saber se aquele lago era um lugar seguro para se passar a noite.

Tinha uns peixinhos esquisitos nadando no lago, mas como não era o que comia, resolveu observar. E isso não foi exatamente uma decisão sábia dentre a pequena lista de coisas que deveria fazer, nem mesmo um pássaro milenar consegue fazer o que seria melhor para ele. A primeira lição é que experiência não é sinônimo de sabedoria.

As horas se passaram e a fome pesou no estomago dele, o que o obrigou a fazer alguma coisa a respeito: procurar comida.

Alfeli saiu do lago e foi procurar nas proximidades se tinham as uvas élficas que ele tanto gostava, mas não encontrou. A noite foi chegando e ele teve de improvisar e comer uns frutinhos que achou. Estava longe de ser o ideal mas era o que tinha no momento.

Dedicou os outros dias a buscar comida e os pensamentos sobre a montanha que morara sempre voltavam. Pensava o como lá tinha mais uvas do que poderia precisar, o como aquele lugar era perfeito....

Era perfeito.

E assim se passaram os dois dias.

Até que um dia, um passarinho foi até ele para fazer um pedido.

...

Os dois corkos andavam floresta adentro, sentiram um cheiro e Lídia olha pros galhos de uma árvore.

- Acho que tem comida por ali - pôs as patas na árvore. Como subiria? Ela pega impulso e sobe em busca de algum ninho, de preferência abandonado.

Escala com habilidade até encontrar um ninho e segue sua direção. Ela o cheira e abocanha uns ovos para mastigar quando descesse.

Até que viu uma movimentação nas copas: algo certamente rápido que causava um vento. Seja lá o que fosse não queria dar de cara, principalmente se fosse um dos donos do ninho.

Ela se prepara para descer. Porém era tarde demais, a coisa chega ao galho: era um pássaro grande demais para viver em copas fechadas como aquelas. Bonito, esquisito e feroz. Um como nunca antes vira.

Ele levanta as elegantes asas, não para conquistar, mas sim para assustar sua oponente, suas asas aumentaram seu tamanho e o passáro grunia alto de forma hostil. Tudo indicava que estava prestes a atacar.

Lídia tinha de fazer algo. Olhou em volta em busca de opções.

Descer, pensou. Mas antes do próximo movimento o Alfeli começou a bicá-la defendendo o ninho.

A outra opção era soltar os ovos. Porém não estava em cima do ninho e isso significava quebrar os ovos, ou seja, desperdiçar. Estava no alto, o Alfeli estava em vantagem e ela já com pequenos ferimentos. Ela emite seu barulho numa tentativa de afastar o oponente. Não dá certo. Ela desce da árvore rapidamente, o pássaro atrás.

Ambos se encaram. Alfeli se prepara...

Otávio entra entre eles, de frente para o pássaro. Ele senta e abaixa a cabeça: demonstrava rendição. Alfeli colabora. Lídia não tinha opções além de devolver os ovos mesmo que a contragosto.

Ela se aproxima do animal, põe os ovos no chão, Alfeli aceita, Otávio aliviou-se.

O pássaro põe os ovos no ninho, assim cumprindo seu dever de protegê-lo que um passarinho o pediu. Em gratidão, Alfeli os mostra o caminho para o lago. Os corkos não só beberam, também nadaram na água.

Um dia, o Alfeli viajou às terras élficas, onde encontrou comida e um companheiro.

...

Era uma vez uma antiga lenda entre os corkos sobre um pássaro mágico de beleza inigualável que defende seus iguais...

E essa é sua origem.

Meu conto — PEQUENAS LUAS

Primeiro, ele ouviu os estrondos e os gritos. Depois, sentiu o terrível cheiro de queimado. Por último, conseguiu enxergar o selvagem incêndio que estendia-se a quilômetros pela floresta. A fumaça escura era alta, pesada e carregada de más notícias. Estava perto o suficiente para vislumbrar lá de cima a clareira formada por enormes máquinas comandadas por bípedes idênticos ao jovem viajante que havia partido há pouco tempo.
Em um rasante poderoso, desceu rapidamente em meio às árvores que rodeavam o fogaréu, observando com pavor o desespero dos habitantes da floresta ao ajudarem uns aos outros a saírem dali o mais rápido possível. Eram elfas e silfos correndo de um lado para o outro, mostrando o caminho mais seguro ao restante dos fragilizados habitantes. Encolhido atrás de uma frondosa árvore, Alfeli observou a movimentação na clareira com certo desespero.
― Rápido! Andem logo com isso! ― Os humanos com suas enormes geringonças de guerra berravam, sinalizando para entrarem nos veículos poderosos de destruição.
― O que fazemos com o filhote?! ― Um deles bradou entre o caos, apontando com sua arma para uma criatura que, amarrada às árvores em chamas, perdia o ar de tanto chorar, esperneando em busca de alguém.
― As patas ainda são muito pequenas, deixe-o aí! ― Outro instruiu, correndo para fugir, seguido pelo rapaz que sem ao menos olhar para trás, abandonou o bebê acorrentado para sofrer.
Em meio ao fogo, fumaça e caos, Alfeli estremeceu violentamente. Apesar de ter o coração tingido com as piores cores, estabeleceu a prioridade de resgatar o bebê que sofria sozinho. As poderosas asas levaram-no numa questão de segundos para perto do filhote que mal conteve as lágrimas de júbilo quando Alfeli utilizou-se das poderosas garras para destruir a corrente. Envolveu o pequenino corpo com cuidado, alçando voo para bem longe do incêndio.
Era a primeira vez que via um filhote. Tentou acalmá-lo ali nas alturas, alisando o pelo macio da criaturinha quente e fofa com o bico, não deixando de se surpreender com o ouro brilhante em suas patas. Seria esse o porquê da vinda dos bípedes? Destruir um habitat inteiro para conseguir um pouco de ouro? Com o bico ali encostado na face úmida de lágrimas da pequena criatura, Alfeli sentiu seu desamparo; havia acabado de perder tudo o que mais amava num piscar de olhos. Estava sozinho agora, sem mais ninguém que o amasse como antes.
Alfeli conseguiu, acima de tudo, enxergar a si mesmo naquele bebê.
A primeira coisa que fez ao aterrissar em um lugar seguro foi banhá-lo às margens de um córrego. Tirou toda a sujeira provocada pelo incêndio da pelagem bonita do filhote. Ele ainda tremia, focinho verde enfiado entre as penas de Alfeli, cravando nele algum tipo de consolo. Enquanto buscava por alimento, a ave decidiu acomodar o bebê numa abertura aconchegante dentro de um tronco. Apesar de ainda muito traumatizada, a pena criatura confiava em quem havia salvado sua vida.
O que será que ele comia? Plantas? Frutas? Alfeli tentou pensar sobre seu habitat e o alimento que tinha ao redor. Mas como conseguiria, se tudo havia sido queimado? Colheu uma maçã e um inseto, os dois em garras diferentes. Voltou ao esconderijo onde o pequeno filhote descansava, logo fungando o ar, interessado nas coisas que a ave trouxera. Mastigou a contragosto a maçã, o estômago exigindo qualquer coisa àquela altura ― o inseto, no entanto, fora muito bem recebido entre as flores que cresciam nas costas do filhote.
Entendendo que ele comeria qualquer fruto graças a fome, Alfeli retornou à árvore em que havia colhido a maçã. Distribuiu várias dentro da toca confortável, colocando-as à disposição da fome do bebê.
O ato de alimentá-lo pareceu consolidar totalmente a confiança mútua. Conforme a noite caía, o terrível cheiro do incêndio ia embora. Os bons bípedes cuidaram disso, Alfeli tinha certeza. Acomodou-se ao lado do pequeno que apesar do cansaço, não conseguia dormir. O terror noturno era grande demais. O medo de dormir estendeu-se por três dias até que, esgotado, o pequeno bebê adormeceu com lágrimas umedecendo o pelo brilhante.
Alfeli sabia que não podia continuar a cuidar dele. Ele não era a criatura mais apta a cuidar de um ser tão pequeno e fragilizado. Ele necessitava estar entre seus semelhantes ou, no mínimo, entre aqueles que podiam compreender e saciar suas necessidades.
A viagem em busca de semelhantes ao pequeno e preguiçoso Beriflore iniciou-se de manhã. Optaram por andar um pouco pela vívida floresta, Alfeli observando de longe cada movimento que o bebê curioso realizava, a cada minuto libertando-se um pouco do trauma, mostrando suas verdadeiras cores. Assim como qualquer bebê, Beriflore tinha um ímã para problemas: cutucava colméias, enfiava a cabeça em lugares difíceis, corria atrás de outros animais e logo em seguida já se cansava, deitando no meio do caminho para cochilar. Quando chovia, Alfeli protegia a criaturinha com as asas, ignorando o fato de que às vezes o bebê gostava de arrancar algumas de suas penas para brincar.
Brincavam o caminho inteiro, Alfeli às vezes perdendo-o de vista na floresta apenas para encontrá-lo pelas patinhas douradas que brilhavam sob as plantações.
O bebê chorava às vezes. Principalmente à noite, quando a falta que sentia de sua mãe era simplesmente grande demais. E se Alfeli não estivesse fazendo a coisa certa? Será que ele se perdoaria por deixá-lo depois que tudo terminasse? As questões eram intermináveis e as respostas eram invisíveis. Não era sobre Alfeli, no fim das contas, e sim sobre o bebê. Onde ele ficaria melhor? Ao lado de uma ave que não conhecia nada sobre o mundo ou sob os cuidados de seus iguais? O que podia fazer por ele além de recolher frutos que desgostava de comer?
A inquietação em seu peito continuou até finalmente encontrarem um lugar repleto de criaturas idênticas ao bebê: as patinhas com ouro, as ações preguiçosas e as lindas flores nas costas. Agrupavam-se aos montes, adormecidos pela clareira ou mastigando frutos que cresciam baixos em meio aos arbustos.
O bebê estava em choque. Pela primeira vez há dias olhava para criaturas que eram iguais a sua família, apesar do cheiro distinto. Os olhos curiosos buscaram por Alfeli em meio à confusão, pedindo por um conselho.
Antes de tomar qualquer medida, dois ursinhos de focinho verde aproximaram-se curiosamente, fungando Alfeli e o bebê com expressões analísticas, decidindo que gostavam de ambos ao emitirem um chamado alto que atraía a atenção de todos aqueles Beriflores.
Extasiado, o bebê deu alguns passos, pronto para correr em direção à nova ninhada. Parou, no entanto, ao ouvir o farfalhar de penas atrás de si. Rapidamente virou o corpo, encarando Alfeli com dúbia. Ele não podia estar indo embora, não depois de tudo que passarm juntos. Chamou-o alegremente, a pata dourada sumindo em meio às penas brilhantes.
Alfeli aprendeu duas coisas importantes naquele momento: primeiro, ele não podia e nem conseguia negar nada ao bebê. Segundo, ele não precisava ir embora da vida da criaturazinha. Claramente aprenderia mais com outros da mesma espécie, mas ter um amigo que ocasionalmente o resgatasse de alguns Pimpels raivosos ou o levasse para assistir ao pôr-do-sol acima das nuvens era tão bom quanto… certo?

Meu conto - Entre a aurora e a neve

Alfeli sentiu suas asas pesarem. Sabia então que era um momento propício para descansar. Havia voado por várias horas e isso era mais tempo do que pensou ser capaz, quando a única coisa que fazia era repousar à beira de um lago, já há muito tempo.

Infelizmente, estava diante de um vasto campo de neve colorida, parecendo um arco-íris brilhante no chão, azul, púrpura, amarela, verde... e que possuía muitos quilômetros de extensão; em seu campo de visão não avistou um galho onde pudesse repousar. Pensou em retornar, mas a floresta cheia de doces pela qual passou também se encontrava já à alguns quilômetros de distância, separada de si por uma nevasca que surgiu de repente. Olhando para o céu, avistou a lua, grande e brilhante.

Pousou no chão para se alimentar, sem escolha. Seu amigo faery se encarregou de lhe dar vários galhos de uvas élficas, suas preferidas dentre todos os alimentos que já provou. Eram realmente saborosas. Os galhos estavam dentro de uma bolsa de pano improvisada, amarrada gentilmente no fim de seu longo pescoço, facilitando a retirada do alimento com o bico. “É o mínimo que posso fazer” - o faery lhe disse, já que não iria acompanhá-lo dessa vez, pois viajantes também possuem responsabilidades. Alfeli resolveu então encarar isso como um desafio de autoconhecimento. Sabia que o viajante gostava desse tipo de coisa, então também começou a gostar.

Foi uma refeição agradável, mas a ave sentiu algo estranho tomar conta de si. Um sentimento de que não tinha conhecimento antes de encontrar aquele viajante, mas que de maneira inexplicável possuía uma presença forte naquele lugar tão lindo, mas tão vazio. O sentimento de solidão.

A verdade era que aquele local era muito encantador, ao ponto de Alfeli se emocionar por jamais ter visto algo semelhante, mas queria seu amigo faery ali. Ele, que lhe transmitiu tanto conhecimento no tempo em que passaram juntos e lhe contou sobre todos os locais exuberantes que Eldarya possuía e teve o prazer de conhecer, entre eles, o País de Natal, onde Alfeli se encontrava agora e estava realmente animado para visitar ao seu lado. Entretanto, sozinho diante daquele vasto campo de neve colorida, não conseguia apreciar a vista, pois sentia-se solitário como naquela montanha, acreditando ser o único habitante do mundo.


Não havia o que fazer além de seguir adiante. Resolveu andar um pouco, pois suas asas ainda estavam pesadas, e era uma sensação boa sentir suas garras afundando naquela neve colorida. Era fria, mas de maneira mágica sua temperatura não incomodava, também era macia e nada difícil de se locomover. Se não demorasse tanto para atravessar o local, daria um belo descanso para suas asas ao fazer todo o trajeto sobre suas patas.

Andou por um longo tempo. Percebeu como naquele campo de gelo a noite era intensa, o céu azul escuro era coberto por estrelas e a lua, que parecia gigante, iluminava todo o local. Também notou que não havia vento ali, não sentia uma brisa sequer. Se não visse a neve cintilante sob seus pés, pensaria que o tempo estava parado. E estava quase convencido disso, quando, de repente, a neve aos seus pés adquiriu um brilho intenso, intenso e muito mais colorido, pareceu quase cegar-lhe os olhos. Foi praticamente obrigado a olhar para cima e o que viu o fez se sentir grato por esse gesto.

Era como se uma gigantesca cortina descesse do céu, esverdeada, balançando com o vento. Mas sabia que não era o vento a provocar esse balanço, pois ela seguia em todas as direções, e também sabia que não era uma cortina, mas sim o fenômeno que tanto ansiara ver ao lado de seu amigo viajante: a aurora boreal.

Agora mais do que nunca desejava seu amigo ali para lhe explicar algo sobre aquele fenômeno, como sempre fazia em diversas situações. Isso o fez sentir vontade de largar tudo e voltar voando para os braços do faery. O que estava fazendo ali, sozinho? O que custava esperar seu amigo estar disponível para acompanhá-lo, se era o que mais queria?

Enquanto se lamentava, Alfeli sentiu atrás de si uma rajada de vento que o fez se arrepiar até a ponta da cauda, e isso o deixou desconcertado. Havia algo estranho naquele lugar.

Quando se virou, surpreendeu-se com uma criatura flutuando. Nunca havia visto nada semelhante, mas reconheceu o que chamavam de nadadeiras, três em cada lado do corpo comprido que terminava também em uma nadadeira maior, como uma cauda, que se partia em duas pontas. Seu rosto era grande e um pouco redondo, possuía um chifre azul extenso no topo da cabeça, que cintilava junto ao restante de seu corpo que, com exceção da barriga e os olhos, era completamente transparente e decorado com o que Alfeli quis chamar de estrelas coloridas. O mais intrigante, porém, era o fato daquela criatura lhe olhar intensamente e sorrir em sua direção. Mas a ave não podia negar, aquele ser era lindo.

- Olá! - disse-lhe o ser, em uma voz risonha e melodiosa. Alfeli mal podia acreditar que estava, depois de tanto tempo, ouvindo a voz de alguém.
- O-Olá. - respondeu, timidamente.
- Não seja tímido, não quero seu mal, muito pelo contrário. - e se aproximou - Meu nome é Aurorca, qual é o seu?
- Alfeli.
- Muito prazer, Alfeli. Você sabe por que estou aqui? - perguntou, sorridente.
- Não... - respondeu Alfeli, receoso. - Sendo sincero, pensei ser o único ser vivo aqui...
- Eu sei disso, seu coração me disse.
- O quê?
- Ora, não precisa se assustar. É por isso que estou aqui, caro amigo. É o meu propósito. Todos temos um, incluindo você. - disse a sorridente Aurorca, rodopiando no ar enquanto falava. "Parece tão feliz!" Foi o que Alfeli pensou. - Eu nasci do desejo de todos os viajantes que atravessam esse belíssimo deserto cintilante com a solidão dominando seus corações. É um lugar lindo, mas vazio, não concorda?
- Então... você nasceu da magia? - Alfeli perguntou, interessando-se pelo assunto. Seria possível alguém mais além dele ter surgido da magia?
- Claro que sim. Todos nós surgimos da magia. Até mesmo esse deserto, que se tornou cintilante e colorido após ser banhado pelas luzes da aurora boreal e da lua, durante milhares de anos. Assim como um cubo de gelo também surge. E faerys, e eu e você. E todos nós temos algo a cumprir. Você logo descobrirá o que deve fazer. Agora, por que não levanta voo comigo enquanto conversamos?

E Alfeli levantou voo, sorrindo, sentindo a solidão derreter-se de seu coração, como acontece com a neve exposta ao sol. E voaram, rodopiaram, brincaram, cantaram, conversaram enquanto admiravam a aurora boreal. Quando percebeu, Alfeli já estava no fim do vasto campo de neve, que sem perder seu brilho, foi diminuindo cada vez mais, até perder completamente a cor, tornando-se novamente neve comum. Olhando ao redor, não encontrou a sorridente Aurorca, apesar de não sentir mais o vazio em seu coração. Estava repleto de felicidade graças a aquela companhia que agora não sabia dizer se foi um sonho, mas caso fosse, seria o sonho mais lindo de toda a sua vida.

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